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DESAFIOS E DESENCONTROS
RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Mestranda do Curso de Geografia da Universidade Federal da Paraíba - UFPB, [email protected];
2
Pós-Graduanda pelo Curso de Especialização em Ensino de Línguas e Literaturas na Educação Básica da
Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, [email protected].
desenvolvimento dos alunos, entre outras coisas. Uma alternativa adotada por instituições
públicas e privadas em nosso país é o ensino por meio de plataformas virtuais, denominado
por muitos como aulas remotas, utilizando-se de tecnologias para promover o ensino e seguir
com os calendários de atividades letivas.
Diante dessa realidade, fica o questionamento: Como fazer/promover educação em
tempos de pandemia? Será possível promover um ensino de qualidade através de aulas
remotas? As aulas remotas contemplam de fato toda a sociedade ou seria mais um meio de
promoção e evidência das desigualdades sociais em nosso país?
Este trabalho traz uma reflexão acerca do cotidiano escolar no presente momento,
trazendo à tona a necessidade de refletirmos também acerca do futuro da escola após essa
pandemia, em como a escola será afetada, como a sociedade verá a escola após a experiência
das aulas remotas e a forma como a escola resistirá a todo o contexto em que foi exposta,
sendo assim uma discussão fundamental para o atual contexto.
Diante do exposto, este artigo objetiva analisar o papel da escola neste modelo de
ensino remoto e na democratização do ensino, analisando a situação das aulas remotas que
foram implantadas nas escolas públicas e privadas da cidade de Mari, na Zona da Mata
paraibana. Além do objetivo geral, também se pretende discutir aqui as dificuldades que
professores, alunos e pais enfrentam nesse novo modelo de aulas; discutir as desigualdades de
acesso e efetivação das aulas remotas sob a perspectiva das escolas públicas e privadas.
No entanto, cabe destacar que a realidade em questão chegou de surpresa para todos,
os professores tiveram que adaptar todo o seu cotidiano e práticas para atender as demandas
educacionais, sem uma formação adequada para lhes garantir o suporte necessário ao
desenvolvimento das atividades desempenhadas neste momento.
Assim, surgem alguns problemas na dinâmica de aulas que são comuns nas diversas
realidades da educação e por que não dizer que são comuns a realidade do país, são eles:
problemas com manuseio das tecnologias necessárias, computador, internet ou mesmo os
celulares, falta de disciplina no gerenciamento do tempo, falta de infraestrutura básica,
sobretudo nas escolas públicas para promover aos professores e alunos o material necessário
ao desenvolvimento das aulas remotas.
Diante desta realidade, ainda é fundamental destacar que os professores e alunos
enquanto seres sociais, estão vivendo e sendo afetados por esse contexto de pandemia em
diversos aspectos, não apenas o educacional. Assim, é necessário se preocupar com tais
indivíduos para além do cotidiano escolar, mas também pensar no pós-pandemia, que
profissionais e alunos estarão de volta ao ambiente escolar quando tudo isso passar, sobre esse
pensamento, Tiffin e Rajasingham ressaltam que:
É certo que o pós-pandemia trará novas formas de pensar a escola, seu cotidiano e a
profissão docente, ratificando questões já outrora discutidas, como o uso das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs), mas também trará uma profunda reflexão sobre o real
papel do docente na sociedade, uma vez que vivemos um contexto de grande desvalorização
desse profissional.
METODOLOGIA
Conforme podemos ver na imagem acima, a palavra mais apontada pelos professores
para definir a educação neste momento de pandemia foi “desafiadora”, seguida de outras
como: difícil, exclusão, frustração, estresse etc. Estas palavras nos permitem refletir o quão
difícil tem sido o processo de adaptação ao modelo de aulas remotas, visto que os
profissionais não tiveram uma preparação para o uso de tecnologias e na maioria das vezes já
possuíam dificuldades com o manuseio destas ferramentas.
Esta realidade traz aos docentes uma carga de estresse muito maior do que aquele já
presente no ensino presencial, pois o desafio vai além do domínio das tecnologias, está
presente também no atual ambiente de trabalho (a própria casa) que teve que ser adaptado no
tempo destinado ao atendimento dos alunos, aulas e tudo o que envolve as responsabilidades
docente.
A palavra “exclusão”, também apontada por vários respondentes, nos leva a refletir
sobre o acesso desigual às tecnologias, tanto por parte dos professores e sobretudo dos alunos,
uma realidade que reflete as desigualdades sociais do nosso país e o acesso desigual aos bens
de consumo, sobretudo aqueles que estão sendo fundamentais neste momento: um
computador ou celular e a internet.
Estes desafios trazem aos profissionais uma carga de responsabilidades muito maior,
pois a escola, sobretudo a pública, não está preparada para um modelo de educação com o uso
de tais tecnologias, visto que não atinge a todos os alunos e nos faz refletir acerca da
democratização da educação neste momento e quem realmente está sendo beneficiado com
esse modelo de aulas online, pois os prejudicados são evidentes.
Imagens 3: respostas dos alunos
A concepção dos alunos para esse momento é mais diversa, visto que apresentam uma
variedade maior de palavras, embora algumas sejam comuns as apresentadas pelos
professores. A principal palavra destacada pelos alunos é “dificuldade”, conforme podemos
ver em destaque. Embora nossa sociedade tenha acesso a tecnologias e internet cada vez mais
cedo, é necessário considerar a finalidade de uso destas ferramentas, principalmente pelos
jovens e adolescentes.
O uso de tecnologias geralmente se dá para redes sociais, jogos e etc, de forma
espontânea, sem cumprimento de obrigações, no entanto, estes mesmos jovens tiveram que se
adaptar ao uso das tecnologias para terem contato com seus professores e a escola, sem
nenhuma preparação, possibilidade de acompanhamento mais próximo, visto que o
isolamento social surpreendeu a todos, modificando nossa forma de trabalhar, estudar e
realizar diversas atividades sociais.
Se para os professores há uma sobrecarga, para os alunos há mais ainda, uma vez que
estes não possuem maturidade para entender esse momento, convivem com os conflitos em
casa, com a possível presença de um familiar que adoeceu com o COVID-19 ou mesmo o
medo e a incerteza pelo futuro, pelas cobranças que lhes são impostas.
Quanto aos questionários, os professores e alunos receberam questões de múltipla
escolha, relacionadas ao cotidiano e andamento das aulas remotas. Algumas questões tinham
o objetivo de conhecer o público para o qual a pesquisa foi destinada, faixa etária e escola
(pública ou privada), visto que os questionários foram enviados para alunos e professores dos
dois segmentos. Analisaremos algumas respostas destinadas aos professores e alunos para
uma reflexão posterior.
Foi perguntado aos professores e alunos se estes já haviam trabalhado de forma remota
antes deste contexto atual, dos docentes, 86,7% responderam que nunca havia trabalhado de
forma remota, enquanto que 86,9% dos alunos também afirmaram que nunca tiveram aulas
neste modelo.
Quando questionados se o isolamento social os havia afetado de alguma forma (física,
psicológica, financeira etc), 100% dos professores afirmaram que sim, enquanto que apenas
51,6% dos alunos afirmaram que sim e 48,4% que não. Do ponto de vista físico e psicológico,
os mesmos apontaram questões como distúrbios no sono, na alimentação, dificuldades para
estabelecer horários e rotinas. Do ponto de vista financeiro, muitos pais e familiares dos
alunos perderam seus empregos e alguns professores de instituições particulares perderam
suas vagas, porque as instituições não conseguiram manter o pagamento do corpo docente.
Quando questionados se os docentes e discentes de consideravam preparados para as
aulas remotas, 76,7% dos professores afirmaram que não e apenas 23,3% respondeu estar
preparado para este momento. Quanto aos alunos, 74,6% afirmaram que sim e apenas 25,4%
afirmaram que não, embora na prática as dificuldades evidenciem que este número é bem
maior. Esses dados demonstram maior familiaridade dos alunos em relação as tecnologias do
que dos professores, uma vez que os jovens se encontram imersos cotidianamente no mundo
digital.
Os professores foram questionados acerca do suporte dado pela escola para o
desenvolvimento das atividades, dos 32 respondentes, 30 marcaram a esta questão da seguinte
forma: 23,3% afirmou que a escola fornecia suporte, 23,3% afirmou que não e 53,3% afirmou
que a escola não possui condições de fornecer o suporte necessário a esse momento da
educação, evidenciando a falta de infraestrutura de muitas escolas em nosso país.
Os docentes também foram questionados se consideravam as aulas remotas um
modelo que alcança todos os alunos e 96,7% dos professores afirmaram que não, enquanto
3,3% afirmaram que sim. É praticamente unânime a opinião de que o modelo atual de
educação não contempla todos os alunos, sobretudo nas escolas públicas.
Quando questionados acerca da eficácia do processo de ensino-aprendizagem neste
modelo de educação, 82,8% dos professores afirmaram que não consideram um modelo eficaz
de ensino-aprendizagem e 17,2% afirmaram que sim. Já os alunos, 57,4% afirmaram
conseguir aprender bem neste sistema remoto, 32,8% afirmaram apresentar dificuldades de
aprendizagem e 9,8% não souberam opinar.
Também questionamos aos respondentes acerca do tempo destinado as atividades
remotas e 70% dos professores afirmaram estar trabalhando bem mais, visto que muitos
alunos os procuram a qualquer hora para tirar dúvidas e enviar atividades, outros 26,7%
afirmaram não estar conseguindo gerenciar o tempo, concordando que além do horário das
aulas remotas, postagem de atividades e produção de conteúdo, os professores ainda
disponibilizam tempo extra para dar assistência aos alunos, e apenas 3,3% afirmaram
conseguir gerenciar bem o tempo de trabalho.
Ainda sobre este questionamento, 34,4% dos alunos afirmaram não conseguir
gerenciar tempo de estudos, 29,5% afirmaram que conseguiram montar horários de estudos e
cumpri-los, 14,8% afirmaram que estão estudando mais que o normal, visto que são mais
atividades postadas diariamente e 21,3% não respondeu a essa questão.
Conforme exposto, são muitas as dificuldades apontadas pelos alunos e professores,
tanto no que diz respeito ao manuseio de tecnologias, ao tempo destinado as atividades ou
mesmo ao processo de ensino-aprendizagem. É notório que as escolas e seu público não
estavam preparados para este momento, muito menos para o tempo para o qual ele vem se
estendendo.
A forma como se deu a instauração do ensino remoto, sem um planejamento prévio,
sem discussão acerca de sua aplicação, sem uma preparação dos profissionais envolvidos,
sobretudo os mais interessados, os professores, trouxe consigo uma série de dificuldades que
evidenciam a falta de preparação do sistema educacional brasileiro, sobretudo em momentos
de crise como este.
Vivemos um contexto em que o professor teve que readaptar, reinventar sua prática de
ensino, seu ambiente de trabalho, seu tempo e toda a sua agenda de trabalho para atender as
novas demandas educacionais. Os alunos de todas as idades, alguns com pouco ou nenhum
entendimento real do que estamos vivendo, viram suas rotinas de estudo adaptadas ao modelo
remoto, necessitando estudar sozinhos ou com algum familiar, interagindo com o professor
através da tela algumas vezes na semana.
O ensino remoto impõe a necessidade do manuseio de tecnologias, o que requer um
conhecimento básico acerca do funcionamento de aparelhos, tais como computadores e
celulares, bem como do acesso à internet. A discussão acerca do uso de tecnologias no ensino
não é nova, podemos consultá-la em Cavalcanti (2002), Libâneo (2011), Kenski (2012), entre
outros. Essa discussão quase sempre está atrelada a falta de preparação dos docentes para o
uso das tecnologias e a real função dessas no processo de ensino-aprendizagem, e neste atual
contexto não é diferente, principalmente pelo fato de que cada professor trabalha em sua
própria casa, buscando meios de aprender a manusear as tecnologias sozinho ou com pouca
ajuda, sem o suporte da escola.
No atual cenário, em que todo o processo de ensino se dá por meio de tecnologias, nos
vem os questionamentos: Como os professores estão conseguindo lidar com essa realidade?
De que forma estes profissionais, muitos formados há vários anos, estão conseguindo atender
as novas exigências educacionais? Como acontece, na realidade, o processo de ensino-
aprendizagem? Existe aprendizagem?
Não é nossa intenção aqui dar respostas a todas estas perguntas, mas promover uma
reflexão acerca delas e da forma como essa adaptação da escola ao contexto da pandemia e a
instauração do ensino remoto realmente contribuem ou não para a formação dos alunos,
possibilitando assim o desenvolvimento de pesquisas futuras que possam aprofundar as
discussões aqui propostas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel. A escola é importantíssima do direito à educação básica. In: COSTA, Marisa
V. (org.). A escola tem futuro? Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p. 125-160.