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EDUCAÇÃO E ENSINO REMOTO EM TEMPOS DE PANDEMIA:

DESAFIOS E DESENCONTROS

Maria José Sousa da Silva 1


Raniele Marques da Silva 2

RESUMO

O novo Coronavírus ou COVID-19 tem afetado a sociedade global em diversos aspectos, e


não é diferente na educação. As mudanças provocadas no cotidiano escolar diante de um
contexto de pandemia nos fazem refletir acerca da função da escola na sociedade frente à
pandemia da COVID-19. Desta forma, este artigo objetiva analisar o papel da escola neste
modelo de ensino remoto e na democratização do ensino, analisando a situação das aulas
remotas que foram implantadas nas escolas públicas e privadas da cidade de Mari, na Zona da
Mata paraibana. A pesquisa se baseou em obras que discutem o uso de tecnologias na
educação e documentos, visto que ainda são poucas as bibliografias que abordam as aulas
remotas. Portanto, a discussão aqui proposta parte de análise bibliográfica e da coleta de
dados através de questionários enviados aos alunos e professores, principais afetados por este
contexto. Através da análise dos dados e da discussão proposta, evidenciam-se as dificuldades
que professores e alunos enfrentam neste momento de adaptação, no qual tiveram suas rotinas
e atividades transformadas em função da necessidade do isolamento social. Fica evidente
também o quanto a escola brasileira não se encontra preparada para um momento de crise,
trazendo à tona a necessidade de um olhar mais atento a esse ambiente de produção de
conhecimento por parte do poder público e dos pesquisadores.

Palavras-chave: Educação, Ensino remoto, COVID - 19, Tecnologias.

INTRODUÇÃO

O novo Coronavírus ou COVID-19 tem afetado a sociedade de forma global,


interferindo em todos os aspectos possíveis. Constata-se que este vírus trouxe uma realidade
atípica para os vários setores sociais do final do ano de 2019 estendendo-se ao longo do ano
de 2020. Além da busca pela contenção do vírus e das mortes provocadas por ele, os
governantes ainda têm a responsabilidade de promover a população um mínimo de conforto e
bem-estar, isso está relacionado ao acesso a bens básicos para o desenvolvimento humano.
Uma das grandes preocupações desse momento é a educação, preocupa-nos como vai
ser a situação do processo de ensino-aprendizagem, as relações sociais pós pandemia, o

1
Mestranda do Curso de Geografia da Universidade Federal da Paraíba - UFPB, [email protected];
2
Pós-Graduanda pelo Curso de Especialização em Ensino de Línguas e Literaturas na Educação Básica da
Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, [email protected].
desenvolvimento dos alunos, entre outras coisas. Uma alternativa adotada por instituições
públicas e privadas em nosso país é o ensino por meio de plataformas virtuais, denominado
por muitos como aulas remotas, utilizando-se de tecnologias para promover o ensino e seguir
com os calendários de atividades letivas.
Diante dessa realidade, fica o questionamento: Como fazer/promover educação em
tempos de pandemia? Será possível promover um ensino de qualidade através de aulas
remotas? As aulas remotas contemplam de fato toda a sociedade ou seria mais um meio de
promoção e evidência das desigualdades sociais em nosso país?
Este trabalho traz uma reflexão acerca do cotidiano escolar no presente momento,
trazendo à tona a necessidade de refletirmos também acerca do futuro da escola após essa
pandemia, em como a escola será afetada, como a sociedade verá a escola após a experiência
das aulas remotas e a forma como a escola resistirá a todo o contexto em que foi exposta,
sendo assim uma discussão fundamental para o atual contexto.
Diante do exposto, este artigo objetiva analisar o papel da escola neste modelo de
ensino remoto e na democratização do ensino, analisando a situação das aulas remotas que
foram implantadas nas escolas públicas e privadas da cidade de Mari, na Zona da Mata
paraibana. Além do objetivo geral, também se pretende discutir aqui as dificuldades que
professores, alunos e pais enfrentam nesse novo modelo de aulas; discutir as desigualdades de
acesso e efetivação das aulas remotas sob a perspectiva das escolas públicas e privadas.

EDUCAÇÃO REMOTA NA ESCOLA BÁSICA

Sabemos que muitas escolas e sistemas de ensino, sobretudo os de escolas privadas,


adotam plataformas online como ferramenta complementar na educação básica, como
mecanismos que integram as aulas presenciais, conforme permite a Lei de Diretrizes e Bases
da Educacional Nacional, LDBEN (1996) quando discorre sobre a organização do ensino
fundamental no artigo 32: "O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância
utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais", Art 32,
parágrafo 4º da LDB/96.
Nas escolas públicas, a presença de tecnologias ainda é uma realidade pouco presente,
visto que o investimento em educação, nos seus vários setores, ainda é muito aquém do que
deveria para que pudéssemos ter um verdadeiro avanço na educação brasileira. Além da falta
de infraestrutura das próprias escolas, ainda é necessário destacar que grande parte dos alunos
do nosso país não possuem acesso à internet e computador em casa, em muitos casos, nem
mesmo celulares que lhes permita o acesso.
Conforme concorda Kenski (2012), a maioria das tecnologias utilizadas em sala de
aula e no processo educativo da escola básica são instrumentos auxiliares, não são o objeto,
nem a substância ou finalidade da educação. É fato que as tecnologias, por mais avanços que
apresentem, nunca poderão substituir as relações sociais, o aprendizado por meio da interação
pessoal entre os alunos na escola e os alunos com os professores.
Canário (2006) ao discorrer sobre o futuro da escola, aponta que vivemos o que
convencionou chamar de “crise da escola”, crise esta que permeia diversos questionamentos,
tais como: a função da escola na sociedade atual, o papel dos professores no processo de
ensino-aprendizagem na era da informação, a desvalorização da escola e do trabalho docente
frente aos avanços tecnológicos e o acesso fácil a informação. Esse momento de crise
pandêmica nos traz novamente a esses questionamentos, evidenciando sobretudo a
importância da escola e do professor para a formação da sociedade global.
A rapidez com que o cenário educacional mudou em meio a pandemia trouxe um
contexto de incerteza e insegurança aos professores, escolas e alunos. Segundo a Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), 70% da população
estudantil do mundo foi afetada por este momento de instabilidade, tendo suas aulas
suspensas e todo o calendário e planejamento dos vários sistemas de ensino alterados.
No Brasil, no mês de março de 2020, aconteceu a suspensão das aulas nos estados e
municípios, nas redes pública e privada, na educação básica e também no ensino superior.
Diante deste contexto, o Ministério da Educação do Brasil (MEC) autorizou a utilização de
aulas online nas várias modalidades de ensino, cabendo as instituições a reorganização dos
calendários e da dinâmica de dias letivos, algumas escolas optaram pela alteração do
calendário de férias, como é o caso das escolas na cidade de Mari, na esperança que a
pandemia fosse breve e pudéssemos voltar à normalidade no mês seguinte, no entanto, a
realidade se estendeu mais do que o previsto e as escolas de todo o país tiveram que organizar
seus calendários e suas aulas diante de uma realidade de tantas incertezas e preocupações.
Os professores, profissionais mais afetados com o processo de aulas remotas, tiveram
que adaptar todo o seu cotidiano para atender as novas necessidades da educação e de sua
profissão docente. Sobre o papel dos professores ante a tais transformações, Libâneo aponta
que estes,
assumem uma importância crucial ante as transformações do mundo atual.
Num mundo globalizado, transnacional, nossos alunos precisam estar
preparados para uma leitura crítica das transformações que ocorrem em
escala mundial. Num mundo de intensas transformações científicas e
tecnológicas, precisam de uma formação geral sólida, capaz de ajudá-los na
sua capacidade de pensar cientificamente, de colocar cientificamente os
problemas humanos (LIBÂNEO, 2011, p. 03).

No entanto, cabe destacar que a realidade em questão chegou de surpresa para todos,
os professores tiveram que adaptar todo o seu cotidiano e práticas para atender as demandas
educacionais, sem uma formação adequada para lhes garantir o suporte necessário ao
desenvolvimento das atividades desempenhadas neste momento.
Assim, surgem alguns problemas na dinâmica de aulas que são comuns nas diversas
realidades da educação e por que não dizer que são comuns a realidade do país, são eles:
problemas com manuseio das tecnologias necessárias, computador, internet ou mesmo os
celulares, falta de disciplina no gerenciamento do tempo, falta de infraestrutura básica,
sobretudo nas escolas públicas para promover aos professores e alunos o material necessário
ao desenvolvimento das aulas remotas.
Diante desta realidade, ainda é fundamental destacar que os professores e alunos
enquanto seres sociais, estão vivendo e sendo afetados por esse contexto de pandemia em
diversos aspectos, não apenas o educacional. Assim, é necessário se preocupar com tais
indivíduos para além do cotidiano escolar, mas também pensar no pós-pandemia, que
profissionais e alunos estarão de volta ao ambiente escolar quando tudo isso passar, sobre esse
pensamento, Tiffin e Rajasingham ressaltam que:

Estamos todos inextricavelmente interconectados em um ambiente global de


informações que nos traz uma consciência global e, com ela uma
responsabilidade global por um desenvolvimento sustentável, pela busca de
soluções para a poluição, a pobreza, as pandemias e as mudanças climáticas,
assim, como pela aprendizagem de como viver juntos (TIFFIN;
RAJASINGHAM, 2007, p. 25).

É certo que o pós-pandemia trará novas formas de pensar a escola, seu cotidiano e a
profissão docente, ratificando questões já outrora discutidas, como o uso das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs), mas também trará uma profunda reflexão sobre o real
papel do docente na sociedade, uma vez que vivemos um contexto de grande desvalorização
desse profissional.

A EDUCAÇÃO E O USO DE TECNOLOGIAS


A relação da escola e do professor com as tecnologias ainda é bastante confusa e
conflituosa, sobretudo nas instituições públicas. Essa realidade se deve a diversos fatores,
conforme já foi abordado anteriormente, contudo, não podemos negar a presença cada vez
mais frequente de instrumentos tecnológicos no ambiente escolar e a necessidade de
utilização desses instrumentos na sociedade globalizada.
É fundamental ponderarmos os impactos do uso das tecnologias em sala de aula, no
cotidiano escolar, e essa reflexão não é nova, desde as décadas de 1980 e 1990 que se discute
acerca do uso de computadores e internet nas escolas, além do uso de outros instrumentos que
datam de tempos mais remotos ainda, tais como o rádio e a tv. Corroborando com essa
reflexão, Barbosa afirma que:

O debate sobre os impactos sociais das TIC no sistema educacional não é


recente e tem alimentado o fortalecimento de uma agenda para as políticas
públicas no campo da educação. Inicialmente focados no provimento de
infraestrutura de acesso, os programas de fomento ao uso das TIC no âmbito
escolar têm como ponto de partida uma expectativa de profundas mudanças
nas dinâmicas de ensino-aprendizagem – sobretudo na busca pela
transformação das práticas pedagógicas e por um aumento do desempenho
escolar. (BARBOSA, 2014, p.27)

Para tanto, é fundamental lembrarmos que esse debate e a introdução de tecnologias na


educação e no cotidiano escolar não acontecerão de forma instantânea, existem uma série de
fatores que precisarão ser pensados antes disso acontecer, tais como a infraestrutura das
escolas, a capacitação dos profissionais para seu uso e mesmo a instrução dos alunos, e acima
disso tudo, a reflexão da necessidade e da colaboração que tais instrumentos podem de fato ter
na educação.
No contexto atual, vivemos uma situação atípica, em que o uso do computador (ou
celular) e da internet se tornaram fundamentais para o cotidiano escolar, a sala de aula foi
substituída pelas salas virtuais, a presença física deu espaço a imagem em telas, o contato
humano trocado pelas vídeoconferências ou vídeoaulas. Tudo isso sem que as escolas, alunos
e professores pudessem se preparar. Um momento em que, além da preocupação com a vida e
saúde, os alunos, professores e demais profissionais da educação também precisam se
preocupar em cumprir horários, metas, e tudo o que envolve os regulamentos escolares.
A reflexão acerca da função social da escola e sua importância tem sido alvo de vários
debates online, por meio de lives, reuniões em vídeoconferência etc. Tem-se refletido no
ambiente escolar para além da produção de conhecimento, mas como ambiente de formação
cultural, compartilhamento de experiências e lutas sociais, conforme concorda Subirats.
A comunidade-escola não pode ficar reduzida a uma instituição reprodutora
de conhecimentos e capacidades. Deve ser entendida como um lugar em que
são trabalhados modelos culturais, valores, normas e formas de conviver e de
relacionar-se. É um lugar no qual convivem gerações diversas, em que
encontramos continuidade de tradições e culturas, mas também é um espaço
para mudança. A comunidade-escola e a comunidade local devem ser
entendidas, acreditamos, como âmbitos de interdependência e de influência
recíprocas, pois [...] indivíduos, grupos e redes presentes na escola também
estarão presentes na comunidade local, e uma não pode ser entendida sem a
outra (SUBIRATS, 2003, p.76).

Diante desse cenário, a escola e a educação são convocadas a uma reflexão


prospectiva acerca de seus valores, conceitos e funções sociais. É evidente a importância da
escola neste momento, esta situação em que profissionais e alunos são privados do ambiente e
das experiências proporcionadas pela escola, desta forma, acreditamos e esperamos numa
valorização a tudo que a escola e a profissão docente representam para a nossa sociedade.
A escola e a educação foram vistas, durante muito tempo, como oportunidades de
ascensão de uma classe social para outra, conforme concordam Arroyio (2003) e Canário
(2006). No entanto, os mesmos autores discutem o verdadeiro sentido da educação em nossa
sociedade contemporânea, na qual há uma clara desvalorização dos diplomas e um aumento
cada vez mais significativo do desemprego. Conforme concorda Rui Canário, “a
desvalorização dos diplomas, na medida em que diminui a sua rentabilidade no mercado de
trabalho, aumenta os níveis de frustração de uma maioria social que mantém com a escola
uma relação fundada na “utilidade” dos estudos”, (Canário, 2006, p. 78).
Neste cenário de pandemia, o questionamento é sobre a escola que teremos após essa
crise, a escola que vai ser (re) existência diante de uma precariedade no modelo de ensino
remoto e na desvalorização do trabalho docente. Pois o modelo de escola voltado para o
desenvolvimento, para a ascensão social e para o progresso já não estão mais tão presentes
nas expectativas e anseios dos nossos jovens e adolescentes.

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da discussão aqui apresentada, foram feitos questionários e


aplicados em três escolas da cidade de Mari - PB, duas públicas (uma estadual e uma
municipal) e uma escola privada. Os questionários foram destinados aos professores e alunos
das instituições, que não terão sua identificação revelada para salvaguardar a identidade delas
e dos colaboradores que prontamente responderam aos questionários. Os questionários
destinados aos alunos foram respondidos por estudantes do ensino fundamental anos finais (6º
ao 9º ano), com o objetivo de atingir um público de idades semelhantes nas três escolas.
Além dos questionários, também foi enviado aos colaboradores um esquema de
palavra nuvem (word cloud) do site mentimeter.com. Neste esquema, os alunos e professores
colocaram em três palavras o que pensavam da educação nesse tempo de pandemia, o que
gerou uma nuvem com as principais palavras apontadas pelos participantes. Ao todo,
participaram da pesquisa 155 pessoas, sendo divididos em: 32 professores e 123 alunos que
responderam ao questionário, destes mesmos sujeitos, os 32 professores também responderam
a palavra nuvem e apenas 57 dos 123 alunos responderam ao esquema, porém, considera-se
uma participação satisfatória, diante do que será exposto.
Como a situação aqui abordada é uma novidade em nossa sociedade, não há uma vasta
bibliografia sobre o termo aulas remotas, por isto recorremos aqui a discussão utilizando o
termo com base nas experiências pessoais, documentos oficiais e nas experiências relatadas
nos questionários. Desta forma, buscamos artigos e livros que abordam questões acerca da
formação e atuação docente no contexto das TICs, documentos e sites oficiais para embasar as
informações aqui discutidas.
Este trabalho é fruto das discussões do grupo de pesquisas da Universidade Federal da
Paraíba, o Grupo de ensino e pesquisas na educação geográfica - GEPEG, que discute
problemáticas acerca da educação e do ensino da Geografia. Nesse período de pandemia, o
grupo também teve que se adequar ao sistema online e a cada encontro se discutia os impactos
dessa pandemia na educação. Também é fruto das nossas experiências enquanto professoras
da educação básica na cidade de Mari, na rede privada e ensino, bem como dos depoimentos
de colegas da escola pública, surgindo assim o interesse de aprofundar a problemática através
deste artigo.

ENSINO REMOTO: REALIDADE E REFLEXÕES

Conforme exposto anteriormente, para o desenvolvimento deste artigo, foram


elaborados e aplicados questionários com alunos e professores da educação básica. Os
questionários foram enviados para os colaboradores via internet e apresentam questões
objetivas, com o intuito de traçar um panorama da realidade vivida por alunos e professores
nesse contexto de educação.
Enviamos os questionários a professores e alunos de três escolas da cidade de Mari,
localizada na zona da mata paraibana. As escolas escolhidas apresentam um público
semelhante, do ponto de vista das séries, para facilitar a análise, com oferta de educação
básica de ensino fundamental anos finais (6º ao 9º ano).
Ao todo, contamos com a colaboração de 32 professores, visto que nem todos os que
receberam aceitaram responder, além disso, alguns profissionais trabalham em mais de uma
das escolas ou até mesmo nas três. Destes 32,17 (53,1%) são professores das escolas públicas
e 15 (46,9%) da escola privada. Os alunos que responderam ao questionário foram 123,
contando das três escolas também. Divididos em 63 (52,5%) alunos da escola privada e 57
(47,5%) das escolas públicas, totalizando 120 respondentes para a resposta quanto a
instituição em que estudam (nem todos os alunos marcaram uma opção nesta questão).
Além do questionário, também foi pedido aos professores e alunos o preenchimento de
um esquema de palavra nuvem (imagens 1 e 2), para uma reflexão dinâmica do que mais
chama atenção e os afeta nesse cenário educacional. Os 32 professores responderam a palavra
nuvem e 57 alunos também responderam ao esquema.
As palavras apontadas pelos professores e alunos nos permitem fazer uma análise
acerca das principais dificuldades que eles estão enfrentando neste momento de educação
remota. As palavras mais apontadas aparecem em destaque, nos dando uma noção de quais
dificuldades são apontadas pela maioria dos respondentes, conforme poderemos observar a
seguir.
Imagem 1: Pergunta chave enviada aos professores e alunos

Fonte: arquivo pessoal, 2020.


Imagem 2: Respostas dos professores

Fonte: arquivo pessoal, 2020.

Conforme podemos ver na imagem acima, a palavra mais apontada pelos professores
para definir a educação neste momento de pandemia foi “desafiadora”, seguida de outras
como: difícil, exclusão, frustração, estresse etc. Estas palavras nos permitem refletir o quão
difícil tem sido o processo de adaptação ao modelo de aulas remotas, visto que os
profissionais não tiveram uma preparação para o uso de tecnologias e na maioria das vezes já
possuíam dificuldades com o manuseio destas ferramentas.
Esta realidade traz aos docentes uma carga de estresse muito maior do que aquele já
presente no ensino presencial, pois o desafio vai além do domínio das tecnologias, está
presente também no atual ambiente de trabalho (a própria casa) que teve que ser adaptado no
tempo destinado ao atendimento dos alunos, aulas e tudo o que envolve as responsabilidades
docente.
A palavra “exclusão”, também apontada por vários respondentes, nos leva a refletir
sobre o acesso desigual às tecnologias, tanto por parte dos professores e sobretudo dos alunos,
uma realidade que reflete as desigualdades sociais do nosso país e o acesso desigual aos bens
de consumo, sobretudo aqueles que estão sendo fundamentais neste momento: um
computador ou celular e a internet.
Estes desafios trazem aos profissionais uma carga de responsabilidades muito maior,
pois a escola, sobretudo a pública, não está preparada para um modelo de educação com o uso
de tais tecnologias, visto que não atinge a todos os alunos e nos faz refletir acerca da
democratização da educação neste momento e quem realmente está sendo beneficiado com
esse modelo de aulas online, pois os prejudicados são evidentes.
Imagens 3: respostas dos alunos

Fonte: arquivo pessoal, 2020.

A concepção dos alunos para esse momento é mais diversa, visto que apresentam uma
variedade maior de palavras, embora algumas sejam comuns as apresentadas pelos
professores. A principal palavra destacada pelos alunos é “dificuldade”, conforme podemos
ver em destaque. Embora nossa sociedade tenha acesso a tecnologias e internet cada vez mais
cedo, é necessário considerar a finalidade de uso destas ferramentas, principalmente pelos
jovens e adolescentes.
O uso de tecnologias geralmente se dá para redes sociais, jogos e etc, de forma
espontânea, sem cumprimento de obrigações, no entanto, estes mesmos jovens tiveram que se
adaptar ao uso das tecnologias para terem contato com seus professores e a escola, sem
nenhuma preparação, possibilidade de acompanhamento mais próximo, visto que o
isolamento social surpreendeu a todos, modificando nossa forma de trabalhar, estudar e
realizar diversas atividades sociais.
Se para os professores há uma sobrecarga, para os alunos há mais ainda, uma vez que
estes não possuem maturidade para entender esse momento, convivem com os conflitos em
casa, com a possível presença de um familiar que adoeceu com o COVID-19 ou mesmo o
medo e a incerteza pelo futuro, pelas cobranças que lhes são impostas.
Quanto aos questionários, os professores e alunos receberam questões de múltipla
escolha, relacionadas ao cotidiano e andamento das aulas remotas. Algumas questões tinham
o objetivo de conhecer o público para o qual a pesquisa foi destinada, faixa etária e escola
(pública ou privada), visto que os questionários foram enviados para alunos e professores dos
dois segmentos. Analisaremos algumas respostas destinadas aos professores e alunos para
uma reflexão posterior.
Foi perguntado aos professores e alunos se estes já haviam trabalhado de forma remota
antes deste contexto atual, dos docentes, 86,7% responderam que nunca havia trabalhado de
forma remota, enquanto que 86,9% dos alunos também afirmaram que nunca tiveram aulas
neste modelo.
Quando questionados se o isolamento social os havia afetado de alguma forma (física,
psicológica, financeira etc), 100% dos professores afirmaram que sim, enquanto que apenas
51,6% dos alunos afirmaram que sim e 48,4% que não. Do ponto de vista físico e psicológico,
os mesmos apontaram questões como distúrbios no sono, na alimentação, dificuldades para
estabelecer horários e rotinas. Do ponto de vista financeiro, muitos pais e familiares dos
alunos perderam seus empregos e alguns professores de instituições particulares perderam
suas vagas, porque as instituições não conseguiram manter o pagamento do corpo docente.
Quando questionados se os docentes e discentes de consideravam preparados para as
aulas remotas, 76,7% dos professores afirmaram que não e apenas 23,3% respondeu estar
preparado para este momento. Quanto aos alunos, 74,6% afirmaram que sim e apenas 25,4%
afirmaram que não, embora na prática as dificuldades evidenciem que este número é bem
maior. Esses dados demonstram maior familiaridade dos alunos em relação as tecnologias do
que dos professores, uma vez que os jovens se encontram imersos cotidianamente no mundo
digital.
Os professores foram questionados acerca do suporte dado pela escola para o
desenvolvimento das atividades, dos 32 respondentes, 30 marcaram a esta questão da seguinte
forma: 23,3% afirmou que a escola fornecia suporte, 23,3% afirmou que não e 53,3% afirmou
que a escola não possui condições de fornecer o suporte necessário a esse momento da
educação, evidenciando a falta de infraestrutura de muitas escolas em nosso país.
Os docentes também foram questionados se consideravam as aulas remotas um
modelo que alcança todos os alunos e 96,7% dos professores afirmaram que não, enquanto
3,3% afirmaram que sim. É praticamente unânime a opinião de que o modelo atual de
educação não contempla todos os alunos, sobretudo nas escolas públicas.
Quando questionados acerca da eficácia do processo de ensino-aprendizagem neste
modelo de educação, 82,8% dos professores afirmaram que não consideram um modelo eficaz
de ensino-aprendizagem e 17,2% afirmaram que sim. Já os alunos, 57,4% afirmaram
conseguir aprender bem neste sistema remoto, 32,8% afirmaram apresentar dificuldades de
aprendizagem e 9,8% não souberam opinar.
Também questionamos aos respondentes acerca do tempo destinado as atividades
remotas e 70% dos professores afirmaram estar trabalhando bem mais, visto que muitos
alunos os procuram a qualquer hora para tirar dúvidas e enviar atividades, outros 26,7%
afirmaram não estar conseguindo gerenciar o tempo, concordando que além do horário das
aulas remotas, postagem de atividades e produção de conteúdo, os professores ainda
disponibilizam tempo extra para dar assistência aos alunos, e apenas 3,3% afirmaram
conseguir gerenciar bem o tempo de trabalho.
Ainda sobre este questionamento, 34,4% dos alunos afirmaram não conseguir
gerenciar tempo de estudos, 29,5% afirmaram que conseguiram montar horários de estudos e
cumpri-los, 14,8% afirmaram que estão estudando mais que o normal, visto que são mais
atividades postadas diariamente e 21,3% não respondeu a essa questão.
Conforme exposto, são muitas as dificuldades apontadas pelos alunos e professores,
tanto no que diz respeito ao manuseio de tecnologias, ao tempo destinado as atividades ou
mesmo ao processo de ensino-aprendizagem. É notório que as escolas e seu público não
estavam preparados para este momento, muito menos para o tempo para o qual ele vem se
estendendo.
A forma como se deu a instauração do ensino remoto, sem um planejamento prévio,
sem discussão acerca de sua aplicação, sem uma preparação dos profissionais envolvidos,
sobretudo os mais interessados, os professores, trouxe consigo uma série de dificuldades que
evidenciam a falta de preparação do sistema educacional brasileiro, sobretudo em momentos
de crise como este.
Vivemos um contexto em que o professor teve que readaptar, reinventar sua prática de
ensino, seu ambiente de trabalho, seu tempo e toda a sua agenda de trabalho para atender as
novas demandas educacionais. Os alunos de todas as idades, alguns com pouco ou nenhum
entendimento real do que estamos vivendo, viram suas rotinas de estudo adaptadas ao modelo
remoto, necessitando estudar sozinhos ou com algum familiar, interagindo com o professor
através da tela algumas vezes na semana.
O ensino remoto impõe a necessidade do manuseio de tecnologias, o que requer um
conhecimento básico acerca do funcionamento de aparelhos, tais como computadores e
celulares, bem como do acesso à internet. A discussão acerca do uso de tecnologias no ensino
não é nova, podemos consultá-la em Cavalcanti (2002), Libâneo (2011), Kenski (2012), entre
outros. Essa discussão quase sempre está atrelada a falta de preparação dos docentes para o
uso das tecnologias e a real função dessas no processo de ensino-aprendizagem, e neste atual
contexto não é diferente, principalmente pelo fato de que cada professor trabalha em sua
própria casa, buscando meios de aprender a manusear as tecnologias sozinho ou com pouca
ajuda, sem o suporte da escola.
No atual cenário, em que todo o processo de ensino se dá por meio de tecnologias, nos
vem os questionamentos: Como os professores estão conseguindo lidar com essa realidade?
De que forma estes profissionais, muitos formados há vários anos, estão conseguindo atender
as novas exigências educacionais? Como acontece, na realidade, o processo de ensino-
aprendizagem? Existe aprendizagem?
Não é nossa intenção aqui dar respostas a todas estas perguntas, mas promover uma
reflexão acerca delas e da forma como essa adaptação da escola ao contexto da pandemia e a
instauração do ensino remoto realmente contribuem ou não para a formação dos alunos,
possibilitando assim o desenvolvimento de pesquisas futuras que possam aprofundar as
discussões aqui propostas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme proposto, essa breve discussão teve o objetivo de refletir o contexto da


educação diante deste período de pandemia, identificando os principais desafios dos
professores e alunos nesta realidade. Desta forma, foi exposto que passamos por um período
de incertezas e adaptações, no qual o professor, aluno e a escola como um todo precisaram
reinventar práticas e o seu cotidiano.
Professores e alunos tiveram suas funções deturpadas pelo novo formato de ensino
remoto, as tecnologias agora ocupam o espaço que antes era ocupado pelas relações sociais, o
diálogo agora é através das telas, a troca de informações, os questionamentos (quando
ocorrem) é por meio de chats e plataformas.
Desta forma, professores acabam se configurando como produtores de atividades,
conteúdos e vídeos exigindo que a sua função vá além do planejamento pedagógico, pois
agora também é necessário que o docente tenha conhecimentos básicos sobre edição,
postagens etc.
Os alunos que antes tinham o apoio do professor e dos colegas no desenvolvimento
das atividades, agora precisam se adequar as atividades online, com o acompanhamento dos
pais (quando estes conseguem dar suporte), muitos sem nenhuma condição de dar conta de
toda a carga de atividades que recebem semanalmente, isso quando estes alunos possuem
acesso à internet.
O ensino remoto reforça não apenas a fragilidade da escola neste momento de crise,
mas também a fragilidade do Estado em promover ensino de qualidade, dos órgãos públicos
responsáveis de promover igualdade no acesso aos meios para a educação. Não considerando
as especificidades de cada escola, de cada lugar do nosso país. Pois as medidas adotadas em
todo país servem apenas para evidenciar as desigualdades socioespaciais que vivenciamos no
Brasil.
Por fim, a reflexão aqui proposta evidenciou a necessidade da discussão e do
posicionamento deste tema a partir dos principais sujeitos envolvidos, alunos, professores e
pesquisadores, na expectativa de dar voz aos sujeitos da educação e promover o combate as
condições precárias de trabalho em meio a uma situação atípica como esta. Reiteramos a
importância da pesquisa e discussão, as quais evidenciam as lutas nos diversos espaços para a
promoção de educação de qualidade, um ensino reflexivo e que garanta o mínimo de
igualdade nas condições de acesso.

REFERÊNCIAS

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