Arte Moderna - Edvard Munch

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UNIFESP, Campus Guarulhos

Departamento de História da Arte. UC: Arte Moderna II


Gabriela Lima Lira – Vínculo: 1527768

TRABALHO FINAL

EDVARD MUNCH E A ARTE DE PINTAR A VIDA

Munch e o Expressionismo

É possível interpretar a essência da modernidade como uma busca incessante pela


transformação. Tais interesses tornam-se nítidos ao nos depararmos com as grandes revoluções,
o advindo da tecnologia, os avanços científicos, a proporção tomada pelas guerras que
ocorreram no período, e, como componente fundamental para caso deste estudo, as
metamorfoses sofridas no mundo das artes. Bem como outros movimentos dentro do
modernismo, é a partir desse processo de metamorfose, do desejo por uma identidade única e
particular que nasce o expressionismo alemão. Marcada pelo forte uso das cores, o interesse
pela representação profunda das emoções humanas e pela despreocupação com o realismo, a
vanguarda é fortalecida através de grupos de artistas como o Die Brucke ou o Der Blaue Reiter.
(FERRAZ, 2015). É impossível, no entanto, falar sobre o movimento expressionista e não citar
seus pintores de grande destaque, como Van Gogh (1853-1890), Gauguin (1848-1903) ou
Munch (1863-1944). Aqui, buscarei levantar breves reflexões acerca de alguns trabalhos do
último, pelos quais senti pessoal conexão.

Nascido em 12 de dezembro de 1863, o Norueguês Edvard Munch iniciou sua trajetória


profissional em um curso de engenharia. Posteriormente, desistiu das áreas exatas para seguir
o caminho da pintura. Munch conseguiu realizar sua primeira exposição no ano de 1883, aos
vinte anos, o que seria apenas o início de uma vida tomada pelas artes. A temática de suas obras
passou a ser reconhecida mediante a dramaticidade, o uso autêntico das cores e interesse em
simbolismos, possivelmente influenciado pelos autores Nietzsche, Dostoievsky ou
Shopenhauer, nos quais depositava grande admiração. O artista também esteve desde muito
cedo envolvido por situações pesadas, acompanhou a mãe e a irmã mais velha a morrerem de
tuberculose, o que também pode ser capaz de refletir a expressividade contida em suas obras.
(NOGUEIRA, 2008). É imergindo em tais contextos que se torna possível fazer breves
especulações sobre Munch.

O grito
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A começar por sua obra mais famosa, O grito (1893), nos deparamos com uma pintura
ambígua. Ao mesmo passo em que gera desconforto no observador, talvez pela expressão
inquieta do personagem central, pelo uso de cores chamativas, pelas outras figuras humanas
serem apenas sombras escuras distantes, ou então o movimento ondular do céu em contraste
com os outros elementos do cenário; a imagem se tornou ícone da cultura pop, sendo
referenciada diversas vezes no mundo do cinema, como no filme Pânico (1996) ou então,
Esqueceram de mim (1990). É possível assumir que a fama de “O grito” se dá através,
justamente, do desconcerto e ansiedade que proporciona (BEZERRA, 2009). Não distante das
possíveis interpretações acerca do quadro, o Museu Nacional da Noruega identificou os
transcritos na tela “Só pode ter sido pintado por um louco”, palavras anotadas pelo próprio
Munch em seu trabalho.

A pintura mais reconhecida do artista revela por si só, profundas inquietações sofridas
no âmbito psicológico. A frase registrada na tela traduz a visão que Munch tinha de si mesmo,
alguém além da compreensão de normalidade. Seus outros trabalhos, como Ansiedade (1894),
Ciúmes (1895) ou Inveja (1895) revelam a necessidade em retratar a experimentação humana
além das aparências. Outro fato capaz de aprofundar as temáticas, são os textos deixados pelo
próprio, junto a rascunhos de seus trabalhos.

Eu seguia ao longo do caminho com dois amigos – então o Sol se pôs {eu seguia}. De
súbito, o céu converteu-se em vermelho-sangue – e eu senti um sopro de melancolia
– uma dor languescente sob o coração – Detive-me, apoiei-me contra a cerca, fatigado
até a morte – acima do fiorde negro-azulado e da cidade havia sangue ‹em› línguas de
fogo. Meus amigos seguiram mais além, e eu fiquei outra vez tremendo de angústia –
e eu senti que um grande e infinito grito atravessava a natureza. (Edvard Munch, 1892.
Tradução por ZWICK, 2020)

Autorretratos

Um tema frequente nas obras de Munch eram as representações de si próprio,


combinadas a outros elementos que correspondiam as emoções vivenciadas pelo artista. Stirtle
e Fernandes citam que “Ao realizar um autorretrato, o artista revela ao mundo não só sua
aparência física, mas também sua maneira de ver e conceber a arte”. (STIRLE E FERNANDES,
2014, p.1). É nesse sentido que as pinturas do expressionista ultrapassam seu papel
contemplativo para contar a história e vida do autor. Farei sucintos apontamentos seguindo a
linearidade das pinturas, buscando compreender de que modo o contexto existencial marcou a
visão de Munch sobre si próprio.
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O primeiro autorretrato se dá entre os anos de 1881 e 1882, quando o artista tinha


aproximadamente dezenove anos.

“Autorretrato” (Edvard Munch, 1881-1882).

É possível notar a fisionomia jovial de Munch. Sua expressão é fechada e misteriosa, e


se destaca através da luminosidade pelo lado direito, enquanto uma sombra escura que se
mescla com o fundo do quadro toma conta do lado esquerdo. Também se observa que, neste
caso, a representação é realista e busca um retrato fiel do autor, que estava iniciando sua
trajetória nas artes visuais.
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“Autorretrato com cigarro aceso” (Edvard Munch, 1895).

Neste outro caso, é concebível identificar que o artista estava atravessando as


concepções realistas para assumir maior expressividade em seus trabalhos, se autorretratando
com pinceladas fugazes. Sobre a obra, Bortulucce comenta que

Esta identidade construída e reforçada pela presença do cigarro no auto-retrato em


questão é uma espécie de manifesto de afirmação: o cigarro, emblema de uma cultura
decadente e boêmia, ínclui Munch dentre aqueles que recusavam os valores
conservadores do período, fossem estes sociais, morais ou artístico. Um manifesto,
porque Munch afirma-se e se define publicamente como um Outsider, ao assumir para
sí as ideias e os preconceitos em torno do cigarro; ao olhar resolutamente para o
espectador, assume para si a vontade e o risco de ser uma identidade marginal.
(BERTOLUCCE, 2008. p.92).
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“Autorretrato no inferno” (Edvard Munch, 1903).

A seguir, temos uma obra emblemática e inquietante. Munch retrata a si mesmo no


inferno, de pé e centralizado. Ele encara o espectador, como se estivesse perfeitamente
consciente de sua própria maldição. O forte uso das sombras e cores avermelhadas são capazes
de atingir diretamente quem observa. Seu autorretrato no inferno é uma condenação de si, mas
também uma forte provocação a moral e religiosidade.
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“Autorretrato em frente ao céu azul” (Edvard Munch, 1908).

Radicalmente distante da imagem anterior, a presente obra é capaz de transmitir


calmaria no observador. Munch se dispõe ao centro da obra, com uma expressão serena e
trajando uma blusa amarela. O fundo azulado e fluído gera a impressão de uma tarde calma,
natural.

Autorretrato com suéter listrado (Edvard Munch, 1940-1944).


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O último autorretrato ficou pronto no ano de morte do pintor. Transparece, sobretudo, a


imagem da velhice. É possível identificar um fundo claro, amarelo e levemente esverdeado,
bem como uma sombra alheia ao fundo, revelando que Munch não estava sozinho. Contudo,
sua expressão é a única revelada.

Conclusão

Edvard Munch foi um dos nomes mais notórios se tratando do movimento


expressionista. Suas obras refletiram o cotidiano do pintor e a experimentação da existência
humana, em retratos que marcaram as angústias e alegrias de viver. Sua obra mais popular, O
grito, recebeu grande notoriedade e se transformou num ícone popular; entretanto, está apenas
entre uma de muitas pinturas que são capazes de refletir a profundidade e sensibilidade das
temáticas apresentadas pelo artista norueguês.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, Alessandro Paciello de Castro. “O Grito e o Mundo contemporâneo: de Munch aos


Emos”. 2009. Santa Catarina, Blumenau.

BORTULUCCE, Vanessa Beatriz. “O artista e o seu meio social: Considerações acerca da


pintura Auto-retrato com cigarro de Edvard Munch”. 2008.

Edvard Munch: Lista de trabalhos – Todas as obras de arte por data. IN: WikiArt, Enciclopédia
de Artes Visuais. Disponível em: https://www.wikiart.org/pt/edvard-munch/all-works. Acesso
em 14 de fevereiro de 2022.

FERRAZ, João Grinspum. “O Expressionismo, a Alemanha e a ‘Arte Degenerada”. Revista de


História, Política e Cultura, 2015. São Paulo.

NOGUEIRA, Isabel. “Edvard Munch ou a imagem como intensificadora do real”. Revista


estudos do século XX. Nº8. 2008.

STIRTLE, Hilquias Eufrásio; FERNANDES, Mônica Luiza Socio. “Autorretrato, um olhar


para si: Análises comparadas de poesia e pintura”. 2014.
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ZWICK, Ludmila Menezes. “Edvard Munch em tradução: Esboços e textos”. 2020. Minas
Gerais, Belo Horizonte.

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