Concepcoes de Ensino Religioso Dos Doentes Do Ensino Fundamental Do Parana
Concepcoes de Ensino Religioso Dos Doentes Do Ensino Fundamental Do Parana
Concepcoes de Ensino Religioso Dos Doentes Do Ensino Fundamental Do Parana
Resumo
Introdução
Nos últimos tempos, o interesse dos pesquisadores tem sido o planejamento de ensino,
a avaliação da aprendizagem e do ensino, as crenças e representações dos professores, os
processos cognitivos e decisórios que orientam a ação prática, os saberes produzidos pelos
professores, suas condições de trabalho, o envelhecimento, o desgaste profissional etc.
(TARDIF e LESSARD, 2005, p.41)
Analisar e pesquisar o campo religioso dentro de sua diversidade a partir de uma visão
mais ampla, incluindo-o e tratando-o como área de conhecimento com natureza própria como
as demais áreas do conjunto curricular, tem sido o desafio do Ensino Religioso. Grupos de
estudos sobre o assunto têm surgido em algumas regiões do país e a sua atuação tem
provocado a reflexão no sentido de uma mudança de concepção e prática do Ensino
Religioso. JUNQUEIRA (1996), LONGHI (2004), SCHLÖGL (2005); CORRÊA (2006);
OLIVEIRA et al (2006), são alguns desses pesquisadores.
A compreensão da realidade do professor de Ensino Religioso possibilita verificar
como esse profissional tem concebido essa área de conhecimento e qual a contribuição desse
saber para a reflexão pedagógica sobre um homem dotado de razão, afetividade, inteligência,
corpo e desejo. E diante desse quadro, cada vez mais se percebe a importância da formação
dos professores e que a educação, uma das mais complexas operações humanas, possa
também se ocupar da educação de seus educadores.
Assim, a formação desse profissional da educação carece de uma leitura crítica das
realidades sociais para se buscar os referenciais para a organização e redirecionamento do seu
trabalho em sala de aula. Para Marcelo (1999, p. 11) “a formação de professores está a
transformar-se numa área válida e complexa de conhecimento e investigação, que oferece
soluções e, por sua vez, coloca problemas aos sistemas educativos”.
Essa é a relevância desta pesquisa de abordagem qualitativa, de caráter exploratório,
que apresenta como objetivo geral verificar a concepção de Ensino Religioso dos professores
do Ensino Fundamental do Estado do Paraná. A pesquisa exploratória, que pode envolver
levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas com experiências práticas acerca do tema
pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão, tem como finalidade básica
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O cenário da pesquisa
Por mais primitivos que sejam, todos os povos têm religião, magia, atitudes científicas
ou ciência. Para Boeing (1999), “não há época nem espaços humanos sem religião; não existe
vácuo religioso; sua difusão é universal” e cada religião busca oferecer uma orientação global
que dê sentido a tudo que nos cerca. Ela cria valores e normas, estabelece um universo
simbólico que aponta para o além do tangível, do humano e do cotidiano.
Por constituir “parte integrante da formação básica do cidadão” (BRASIL, 1996), a
ênfase do Ensino Religioso está na formação cidadã do ser humano, promovendo o diálogo
intercultural e inter-religioso para que seja garantido o respeito à identidade e à alteridade1.
Mas há que se perguntar: — Precisa-se mesmo do Ensino Religioso? Para Cortella (2006
p.17-18)
uma criança não compreende a religião, seus dogmas e princípios como Teologia.
No entanto, seu sentimento de religiosidade se aproxima ao mágico que tem desde
sempre. Um menino com 3 ou 4 anos de idade possui um imaginário magnífico: ele
se vê, se pensa, se oferece superpoderes, lança forças de inimigos ou de amigos
fantasiosos. A partir de 6 ou 7 anos cria maiores bases de racionalidade e entende
mais a relação de causa e efeito do mundo. Ao formar conexões com algumas
questões fortes da vida, como: “por que isso acontece”, “por que não?” Essas são
formas de espiritualidade e questionamentos que, dependendo dos pais e docentes,
podem ou não ser dirigidas por um canal positivo.
1
ALTERIDADE é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e
interdepende de outros. A IDENTIDADE é definida pela relação do indivíduo com outros indivíduos, isto é,
cada indivíduo se completa e se efetiva no relacionamento com os que estão à sua volta, em seu convívio. Para
Junqueira (2008a, p.14) “a identidade depende de algo fora dela, de uma outra identidade que ela não é. A
identidade é relacional, a diferença é sustentada ao mesmo tempo pela exclusão e pela solidariedade”.
2
Segundo o que diz o PCN do Ensino Médio — Parte 1, p. 22 — interdisciplinaridade é a utilização dos
conhecimentos de várias disciplinas na resolução de um problema concreto ou a compreensão de um
determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista.
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2 meses a 2 anos 94
3 a 5 anos 55
6 a 10 anos 9
11 a 15 anos 10
15 anos em diante 2
A formação dos 176 professores que apontaram essa informação nos documentos
pesquisados é bem variada, não havendo uma formação específica em Ensino Religioso. A
graduação em História foi a mais indicada pelos participantes, seguida por Pedagogia,
Filosofia, Letras e Geografia. Chama a atenção só dois professores terem formação em
Teologia. A Figura 1 mostra a especialização, extensão e pós-graduação de 31 professores,
vindo a confirmar a pesquisa de OLIVEIRA et al (2006) que diz que basicamente a oferta de
cursos de formação de Ensino Religioso acontece, em sua maioria, na Pós-graduação Lato
Sensu e Extensão.
- ER: 1
- Filosofia: 1
- ER: 4
- Pedagogia Religiosa: 5
- Pastoral de educação e ER: 1
- Antropologia Social e Interdisciplinaridade: 1
- Letras e Pedagogia: 1
C C C C
O O O R O
N S R R S N S N E N S R
V H A E V E A H A V H S V H A E
A E G S A S G E G A E P A E G S
L C R P L P R C R L C O L C R P
O I A O O O A I A O I S O I A O
R M D S R S D M D R M T R M D S
E O T T O E O E A E O T
N A A N N N A
T T T T
O O O O
O modelo interconfessional toma o seu próprio grupo como o centro de tudo e todos e
os outros fenômenos religiosos são lidos, pensados e sentidos por meio dos valores e modelos
do grupo, no caso, o cristianismo. Nesse modelo, “a idéia da formação religiosa está voltada a
fazer seguidores (reeligere) e de religar (religare) o homem a Deus, visando torná-los mais
religiosos, voltados às práticas de formação de valores e atitudes éticas consideradas ideais”
(CORRÊA, 2006).
Segundo Junqueira (2000), o modelo fenomenológico abrange não apenas uma
dimensão humana, mas também a vida religiosa concreta de cada grupo (cultos, práticas e
crenças e métodos de socialização), sistematizações pastorais e teológicas e a autoridade
expressa por meio de livros sagrados, normas, pessoas (JUNQUEIRA, 1996).
O Ensino Religioso pode ser percebido como uma porta para a compreensão de parte
da natureza humana (OLIVEIRA et al, 2007, p. 36), pois, ao apresentar a religiosidade de
diferentes culturas, revela a busca do ser humano para se relacionar com o sagrado para
tornar-se mais pleno. Essa plenitude coopera no desenvolvimento do respeito, da união, do
amor e da solidariedade, valores apontados pelos professores.
Outro fator a ser considerado na compreensão dessa concepção é a cobrança para que
os professores “cumpram funções de família e de outras instâncias sociais, que respondam à
necessidade de afeto dos alunos; que resolvam os problemas da violência, da droga e da
indisciplina [...]” (SEVERINO e PIMENTA in OLIVEIRA et al, 2007, p. 12).
Para Freire e Faundez, (1985, p. 23), a inquietação dos educandos, suas dúvidas e
curiosidades sobre o desconhecido são os desafios postos para uma experiência reflexiva e
enriquecedora tanto para o professor, quanto para os alunos. Um professor que considera
todas as perguntas, incentiva a curiosidade do educando, mesmo quando a pergunta lhe pareça
ingênua ou mal colocada, pois sempre há uma razão para aquela pergunta.
Apresentar os conteúdos de Ensino Religioso a partir das tradições dos alunos e de seu
contexto social é um aspecto que merece destaque. Firmar a identidade religiosa do aluno e
as marcas de sua cultura é importante, pois a renúncia dessas marcas pode levar a uma
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desvalorização das novas culturas que lhe apresentadas (FREIRE e FAUNDEZ, 1985, p. 17).
Entretanto, o relacionamento com o mundo é uma longa aprendizagem que implica na
descoberta do outro, de outras realidades, das marcas de outras linguagens e de outros gestos.
Assim, a cultura se manifesta nos gestos mais simples da vida cotidiana como as
maneiras diferentes de comer, dar a mão e até mesmo relacionar-se com o outro, e não apenas
na manifestação artística ou intelectual expressa por meio do pensamento.
Tardif e Lessard (2005, p.7) afirmam que “a criança escolarizada é a raiz do homem
moderno atual” e que o “conceito moderno de cidadania é impensável sem o de instrução”. O
exercício da cidadania e o direito da expressão religiosa podem ser desenvolvidos na escola,
já que nesse espaço de aprendizagem, trabalha-se as regras do espaço público democrático,
buscando a superação de todo e qualquer tipo de discriminação e exclusão social, valorizando
cada indivíduo e todos os grupos que compõem a sociedade brasileira.
Na representação gráfica da análise do documento da professora S 134, observa-se a
variedade de indicadores, além dos indicadores “conhecimento” e “cidadania” que apontaram
para a categorização do Ensino Religioso como área de conhecimento.
respeito à diversidade, pois pode ser feita a relação com a funcionalidade dos dedos das mãos,
Nossas mãos não teriam a mesma funcionalidade se todos os dedos fossem iguais?
Educar para conhecer diversas religiões e compreender as culturas que lhes dão forma,
analisar a relação entre presente e passado para produzir um saber histórico, implica em
exercitar o diálogo com o diferente, baseado no respeito profundo e no desejo de preservar a
dignidade e direito de existência de cada manifestação cultural-religiosa. Dessa forma, o
aluno participa ativamente da construção do processo da aquisição de seus conhecimentos,
utilizando a dimensão racional de seu ser, e também as dimensões sensíveis, emocionais e
intuitivas.
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional LEI 9394/96. Brasília: MEC,
1996.
BOEING, Antonio. O Fenômeno Religioso como Experiência Universal. São Paulo: AEC,
1999. Acesso em 19/09/2007. Texto para estudo disponível em
http://www.aster-to.org.br/download/auniversalidadedofenomenoreligioso.pdf.
CORTELA, Mario Sergio. Educação, Ensino Religioso e formação docente. In: SENA, Luzia
(Org.). Ensino religioso e formação docente: ciências da religião e ensino religioso em
diálogo. São Paulo: Paulinas, 2006.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma Pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1985. Ed. Biblioteca Digital Paulo Freire. Disponível em www.paulofreire.ufpb.br
_______; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luiz Alberto Sousa; KEIM,
Ernesto Jacob. Ensino Religioso no Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez, 2007.
TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O Trabalho docente: Elementos para uma teoria da
docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Vozes. 2005.