Concepcoes de Ensino Religioso Dos Doentes Do Ensino Fundamental Do Parana

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CONCEPÇÕES DE ENSINO RELIGIOSO DOS DOCENTES DO

ENSINO FUNDAMENTAL DO ESTADO DO PARANÁ —


POSSIBILIDADES PARA UMA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

RODRIGUES, Edile M. Fracaro — PUCPR


[email protected]

VOSGERAU, Dilmeire Sant’Anna Ramos — PUCPR


[email protected]

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo — PUCPR


[email protected]

Área Temática: Educação: Profissionalização Docente e Formação


Agência Financiadora: Não contou com financiamento.

Resumo

O presente artigo apresenta os dados levantados em uma pesquisa de abordagem qualitativa,


de caráter exploratório, que teve como objetivo geral verificar a concepção de Ensino
Religioso dos professores do Ensino Fundamental do Estado do Paraná. Cada área de
conhecimento requer um curso que projete uma formação, pressupondo um perfil
profissional, pois um docente formado por uma determinada escola de pensamento vai formar
segundo esses moldes. Daí a relevância desta pesquisa. Os autores que deram sustentação
teórica para esta investigação foram JUNQUEIRA, OLIVEIRA, FREIRE, TARDIF,
MARCELO GARCÍA, entre outros. 218 documentos recolhidos no Simpósio da SEED em
outubro de 2006, na cidade de Curitiba, deram sustentação para responder a questão
problematizadora da investigação. Por se tratar de um volume grande de documentos
coletados, foi necessária a utilização de um software que possibilitasse a otimização do
levantamento dos dados. A partir dos dados coletados dos professores de Geografia, Filosofia,
Pedagogia e História, foi possível categorizar quatro concepções de Ensino Religioso:
Transmissão e desenvolvimento de valores, moral e ética, Respostas às questões existenciais,
Estudo das tradições religiosas e manifestação do Sagrado, Área de Conhecimento. Essas
concepções se enquadram em dois modelos de Ensino Religioso: Interconfessional e
Fenomenológico. A análise dos documentos revelou uma mudança significativa para a
história do Ensino Religioso no Paraná, pois os dados sugerem uma superação das
tradicionais aulas de religião e apontam que o professores estão procurando inserir em suas
aulas conteúdos que tratem da diversidade de manifestações religiosas, seus ritos, suas
paisagens e símbolos, suas relações culturais, sociais, políticas e econômicas.

Palavras-chave: Ensino Religioso; Formação de professores; Concepções de Ensino


Religioso.
2508

Introdução

Nos últimos tempos, o interesse dos pesquisadores tem sido o planejamento de ensino,
a avaliação da aprendizagem e do ensino, as crenças e representações dos professores, os
processos cognitivos e decisórios que orientam a ação prática, os saberes produzidos pelos
professores, suas condições de trabalho, o envelhecimento, o desgaste profissional etc.
(TARDIF e LESSARD, 2005, p.41)
Analisar e pesquisar o campo religioso dentro de sua diversidade a partir de uma visão
mais ampla, incluindo-o e tratando-o como área de conhecimento com natureza própria como
as demais áreas do conjunto curricular, tem sido o desafio do Ensino Religioso. Grupos de
estudos sobre o assunto têm surgido em algumas regiões do país e a sua atuação tem
provocado a reflexão no sentido de uma mudança de concepção e prática do Ensino
Religioso. JUNQUEIRA (1996), LONGHI (2004), SCHLÖGL (2005); CORRÊA (2006);
OLIVEIRA et al (2006), são alguns desses pesquisadores.
A compreensão da realidade do professor de Ensino Religioso possibilita verificar
como esse profissional tem concebido essa área de conhecimento e qual a contribuição desse
saber para a reflexão pedagógica sobre um homem dotado de razão, afetividade, inteligência,
corpo e desejo. E diante desse quadro, cada vez mais se percebe a importância da formação
dos professores e que a educação, uma das mais complexas operações humanas, possa
também se ocupar da educação de seus educadores.
Assim, a formação desse profissional da educação carece de uma leitura crítica das
realidades sociais para se buscar os referenciais para a organização e redirecionamento do seu
trabalho em sala de aula. Para Marcelo (1999, p. 11) “a formação de professores está a
transformar-se numa área válida e complexa de conhecimento e investigação, que oferece
soluções e, por sua vez, coloca problemas aos sistemas educativos”.
Essa é a relevância desta pesquisa de abordagem qualitativa, de caráter exploratório,
que apresenta como objetivo geral verificar a concepção de Ensino Religioso dos professores
do Ensino Fundamental do Estado do Paraná. A pesquisa exploratória, que pode envolver
levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas com experiências práticas acerca do tema
pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão, tem como finalidade básica
2509

desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias para a formulação de problemas mais


focados ou levantamento de hipóteses para pesquisas posteriores (GIL, 1999, p. 43).
2510

O cenário da pesquisa

Por mais primitivos que sejam, todos os povos têm religião, magia, atitudes científicas
ou ciência. Para Boeing (1999), “não há época nem espaços humanos sem religião; não existe
vácuo religioso; sua difusão é universal” e cada religião busca oferecer uma orientação global
que dê sentido a tudo que nos cerca. Ela cria valores e normas, estabelece um universo
simbólico que aponta para o além do tangível, do humano e do cotidiano.
Por constituir “parte integrante da formação básica do cidadão” (BRASIL, 1996), a
ênfase do Ensino Religioso está na formação cidadã do ser humano, promovendo o diálogo
intercultural e inter-religioso para que seja garantido o respeito à identidade e à alteridade1.
Mas há que se perguntar: — Precisa-se mesmo do Ensino Religioso? Para Cortella (2006
p.17-18)
uma criança não compreende a religião, seus dogmas e princípios como Teologia.
No entanto, seu sentimento de religiosidade se aproxima ao mágico que tem desde
sempre. Um menino com 3 ou 4 anos de idade possui um imaginário magnífico: ele
se vê, se pensa, se oferece superpoderes, lança forças de inimigos ou de amigos
fantasiosos. A partir de 6 ou 7 anos cria maiores bases de racionalidade e entende
mais a relação de causa e efeito do mundo. Ao formar conexões com algumas
questões fortes da vida, como: “por que isso acontece”, “por que não?” Essas são
formas de espiritualidade e questionamentos que, dependendo dos pais e docentes,
podem ou não ser dirigidas por um canal positivo.

Assim, o Ensino Religioso articulado com as demais disciplinas auxilia na interação


social responsável e atuante, contribuindo “para a construção de outra visão de mundo, de ser
humano e de sociedade, considerando o religioso como uma dimensão humana que vai além
da superfície dos fatos, acontecimentos, gestos ritos, normas e formulações” (OLIVEIRA et
al, 2007, p. 101). Ao lado de outros campos de saber, o Ensino Religioso pode acrescentar à
visão sobre a realidade, mais um modo de discuti-Ia, principalmente ao adotar uma
metodologia pautada na interdisciplinaridade2.

1
ALTERIDADE é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e
interdepende de outros. A IDENTIDADE é definida pela relação do indivíduo com outros indivíduos, isto é,
cada indivíduo se completa e se efetiva no relacionamento com os que estão à sua volta, em seu convívio. Para
Junqueira (2008a, p.14) “a identidade depende de algo fora dela, de uma outra identidade que ela não é. A
identidade é relacional, a diferença é sustentada ao mesmo tempo pela exclusão e pela solidariedade”.

2
Segundo o que diz o PCN do Ensino Médio — Parte 1, p. 22 — interdisciplinaridade é a utilização dos
conhecimentos de várias disciplinas na resolução de um problema concreto ou a compreensão de um
determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista.
2511

O enfoque interdisciplinar, no contexto educacional, contribui para a reflexão de uma


qualificação do ensino e da pesquisa. Buscar a visão global da realidade pode possibilitar a
transformação da situação social e existencial. Num processo de reflexão crítica sobre a práxis
que estabelece significados, o estudo e a decodificação do fenômeno religioso no contexto
educativo são fatores de crescimento e de construção coletiva para professores e estudantes.
Para Junqueira et al (2007, p.158), o Ensino Religioso propõe valorizar o pluralismo e
a diversidade cultural presente na sociedade brasileira, facilitando a compreensão das formas
que exprimem o Transcendente na superação da finitude humana e que determinam o
processo histórico da humanidade.
Procurando ampliar a visão sobre o Ensino Religioso, a SEED — Secretaria de Estado
de Educação do Paraná — promoveu um Simpósio na semana de 23 a 26 de outubro de 2006
em Curitiba (PR). Estiveram presentes mais de 350 professores que atuam nessa área do
conhecimento. Com o objetivo de verificar a concepção de Ensino Religioso dos professores
do Ensino Fundamental do Estado do Paraná, foi proposto aos participantes que elaborassem
um desenho e uma frase que expressasse o papel do Ensino Religioso na educação dos alunos.
Foi solicitado também que fossem indicados gênero, formação e tempo de docência,
possibilitando assim levantar o perfil e a formação do professor de Ensino Religioso do
Estado do Paraná.
Buscando uma ferramenta que possibilitasse a associação de texto e imagem e que
comportasse o volume de dados levantados nos 218 coletados, optou-se pela utilização do
software ATLAS.ti. Conhecido como um instrumento eficiente na análise de questionários
com questões abertas e fechadas, bem como na criação de banco de dados e networks (teias de
relações) que possibilitam um panorama eficaz para a proposta de toda pesquisa, esse
software comprovou também ser versátil na associação de textos e imagens.

O perfil dos professores

Em relação ao gênero dos participantes desta investigação, 183 professores


informaram esse dado, sendo 22 professores e 161 professoras. Essa amostra é confirmada
por Garcia et al (2005, p. 47): “Os docentes são uma categoria amplamente constituída por
mulheres, pelo menos no ensino básico”.
2512

O tempo de docência de 186 professores varia de 1 a 31 anos, sendo que 42


professores indicaram lecionar há mais de 11 anos. Já o tempo de docência no Ensino
Religioso, revela o quanto realmente é jovem essa área do conhecimento, pois 94 dos 170
professores que forneceram essa informação estavam atuando há menos de 3 anos no
momento da coleta de dados.

2 meses a 2 anos 94
3 a 5 anos 55
6 a 10 anos 9
11 a 15 anos 10
15 anos em diante 2

Quadro 1 — Tempo de docência no Ensino Religioso dos professores pesquisados

A formação dos 176 professores que apontaram essa informação nos documentos
pesquisados é bem variada, não havendo uma formação específica em Ensino Religioso. A
graduação em História foi a mais indicada pelos participantes, seguida por Pedagogia,
Filosofia, Letras e Geografia. Chama a atenção só dois professores terem formação em
Teologia. A Figura 1 mostra a especialização, extensão e pós-graduação de 31 professores,
vindo a confirmar a pesquisa de OLIVEIRA et al (2006) que diz que basicamente a oferta de
cursos de formação de Ensino Religioso acontece, em sua maioria, na Pós-graduação Lato
Sensu e Extensão.

- ER: 1
- Filosofia: 1

- ER: 4
- Pedagogia Religiosa: 5
- Pastoral de educação e ER: 1
- Antropologia Social e Interdisciplinaridade: 1
- Letras e Pedagogia: 1

- ER: 4 - Psicopedagia Religiosa: 2


- Pedagogia Religiosa: 4 - Língua Portuguesa: 1
- Met. do Ensino de História: 1 - Ensino de Hist. do séc. XX e Inclusão: 1
- História e Cultura: 1 - Hist. do pensamento político brasileiro do
- Educação Especial: 1 sec. XIX e XX e Mestrado em Educação: 1
- Teologia: 1

Figura 1 — Formação dos professores pesquisados


2513

Considerando as formações de Geografia, Filosofia, Pedagogia e História, como


licenciaturas estabelecidas pela Deliberação 01/06 (PARANÁ, 2006) para o exercício docente
do Ensino Religioso, foi feita a análise de 53 documentos elaborados por professores dessas
áreas do conhecimneto. É importante ressaltar que se procurou estabelecer a concepção de
Ensino Religioso dos professores levando em consideração a recorrência dos indicadores e o
maior número de indicadores implicados em uma mesma categorização. As demais formações
indicadas nos documentos analisados e outros indicadores, como por exemplo, a recorrência
de determinadas figuras que necessitariam de uma análise semiótica, não foram focos desta
investigação.
Quatro concepções sobre o Ensino Religioso ficaram evidentes na análise dos
documentos: o Ensino Religioso como “Transmissão ou desenvolvimento de valores, moral e
ética”; “Resposta às questões existenciais”; “Estudo das tradições religiosas e a manifestação
do sagrado” e “Área de conhecimento”. Na figura a seguir, observa-se as concepções mais
apontadas nos documentos analisados.

GEOGRAFIA FILOSOFIA PEDAGOGIA HISTÓRIA

C C C C
O O O R O
N S R R S N S N E N S R
V H A E V E A H A V H S V H A E
A E G S A S G E G A E P A E G S
L C R P L P R C R L C O L C R P
O I A O O O A I A O I S O I A O
R M D S R S D M D R M T R M D S
E O T T O E O E A E O T
N A A N N N A
T T T T
O O O O

CONCEPÇÕES DE ENSINO RELIGIOSO (Modelos


Interconfessional e Fenomenológico)

Figura 2: Quatro concepções de Ensino Religioso

Essas concepções se enquadram em dois modelos de ER: o modelo Interconfessional


ou Inter-relacional (“Transmissão e desenvolvimento de valores, moral e ética”, “Respostas às
questões existenciais”) e o modelo fenomenológico (“Estudo das tradições religiosas e
manifestação do Sagrado”, “Área de Conhecimento”). Um terceiro modelo de Ensino
Religioso, o Confessional, não foi categorizado nesta investigação, pois apenas um
documento apontou o indicador “confessionalidade”.
2514

O modelo interconfessional toma o seu próprio grupo como o centro de tudo e todos e
os outros fenômenos religiosos são lidos, pensados e sentidos por meio dos valores e modelos
do grupo, no caso, o cristianismo. Nesse modelo, “a idéia da formação religiosa está voltada a
fazer seguidores (reeligere) e de religar (religare) o homem a Deus, visando torná-los mais
religiosos, voltados às práticas de formação de valores e atitudes éticas consideradas ideais”
(CORRÊA, 2006).
Segundo Junqueira (2000), o modelo fenomenológico abrange não apenas uma
dimensão humana, mas também a vida religiosa concreta de cada grupo (cultos, práticas e
crenças e métodos de socialização), sistematizações pastorais e teológicas e a autoridade
expressa por meio de livros sagrados, normas, pessoas (JUNQUEIRA, 1996).

As concepções de Ensino Religioso dos professores de Geografia

Seis professores de Geografia foram identificados durante o levantamento dos dados.


O tempo de docência no Ensino Religioso dos professores pesquisados pode ser considerado
pequeno, pois tem uma variação de dois meses a aproximadamente dois anos.
A concepção de Ensino Religioso que ficou mais evidente na análise dos documentos
dos professores dessa formação foi a “Transmissão ou desenvolvimento de valores, moral e
ética”. Tomando como exemplo a teia (network) da professora S 046, com 13 anos de
docência em Geografia e 8 meses de docência no Ensino Religioso, gerada pelo ATLAS.ti, é
possível observar os indicadores que possibilitaram a categorização dessa concepção, além
dos que emergiram da análise.

Figura 3 – Representação gráfica da análise do documento S 046 — Geografia


2515

O Ensino Religioso pode ser percebido como uma porta para a compreensão de parte
da natureza humana (OLIVEIRA et al, 2007, p. 36), pois, ao apresentar a religiosidade de
diferentes culturas, revela a busca do ser humano para se relacionar com o sagrado para
tornar-se mais pleno. Essa plenitude coopera no desenvolvimento do respeito, da união, do
amor e da solidariedade, valores apontados pelos professores.
Outro fator a ser considerado na compreensão dessa concepção é a cobrança para que
os professores “cumpram funções de família e de outras instâncias sociais, que respondam à
necessidade de afeto dos alunos; que resolvam os problemas da violência, da droga e da
indisciplina [...]” (SEVERINO e PIMENTA in OLIVEIRA et al, 2007, p. 12).

As concepções de Ensino Religioso dos professores de Filosofia

Dez professores de Filosofia tiveram seus documentos analisados. O tempo de


docência Ensino Religioso dos pesquisados em relação aos professores de Geografia é maior:
1 ano a 27 anos. O mesmo acontece em relação ao Ensino Religioso: 1 ano a 5 anos, sendo
que 5 professores estão atuando no Ensino Religioso há 3 anos.
A segunda concepção de Ensino Religioso mais indicada pelos professores foi
“Resposta às questões existenciais”. Ao tratarmos do Ensino Religioso nos deparamos com as
questões fundamentais oriundas do pensamento filosófico: — Quem sou eu? Para onde vou?
De onde vim? — A ciência e as diferentes religiões buscam incessantemente por meio da
investigação ou da comunicação com o mistério, responder a cada uma dessas questões.
A opinião da professora S106 está totalmente integrada ao desenho, como se observa
na Figura 4.

Texto da professora S 106: O que é Budismo? Espiritismo? Islamismo? E eu?

Figura 4 – Dados coletados S 106 — Filosofia


2516

Para Freire e Faundez, (1985, p. 23), a inquietação dos educandos, suas dúvidas e
curiosidades sobre o desconhecido são os desafios postos para uma experiência reflexiva e
enriquecedora tanto para o professor, quanto para os alunos. Um professor que considera
todas as perguntas, incentiva a curiosidade do educando, mesmo quando a pergunta lhe pareça
ingênua ou mal colocada, pois sempre há uma razão para aquela pergunta.

As concepções de Ensino Religioso dos professores de Pedagogia

Foram analisados dez documentos dessa área do conhecimento. Quatro professores


não informaram o tempo de docência no ER e os demais apontaram de 1 a 2 anos de
experiência. Portanto, o tempo de docência no Ensino Religioso é menor do que o apontado
pelos professores de Filosofia e maior do que o apontado pelos professores de Geografia.
“Estudo das tradições religiosas e a manifestação do sagrado” foi a concepção mais
apontada nos “riscos e rabiscos” dos professores de pedagogia. Na representação gráfica da
análise do documento da professora S 081 percebe-se os indicadores que possibilitaram a
compreender o Ensino Religioso como “Estudo das tradições religiosas e a manifestação do
sagrado”.

Figura 5 – Representação gráfica da análise do documento S 081 — Pedagogia

Apresentar os conteúdos de Ensino Religioso a partir das tradições dos alunos e de seu
contexto social é um aspecto que merece destaque. Firmar a identidade religiosa do aluno e
as marcas de sua cultura é importante, pois a renúncia dessas marcas pode levar a uma
2517

desvalorização das novas culturas que lhe apresentadas (FREIRE e FAUNDEZ, 1985, p. 17).
Entretanto, o relacionamento com o mundo é uma longa aprendizagem que implica na
descoberta do outro, de outras realidades, das marcas de outras linguagens e de outros gestos.
Assim, a cultura se manifesta nos gestos mais simples da vida cotidiana como as
maneiras diferentes de comer, dar a mão e até mesmo relacionar-se com o outro, e não apenas
na manifestação artística ou intelectual expressa por meio do pensamento.

As concepções de Ensino Religioso dos professores de História

Levando em consideração os 27 documentos dos professores de História que foram


analisados foi constatado que a experiência dos professores dessa área de conhecimento é
maior em relação às outras formações, tanto no tempo de docência (1 a 30 anos) quanto na
docência em Ensino Religioso (até 6 anos).
O Ensino Religioso como “Área do conhecimento” foi a segunda concepção mais
indicada pelos professores dessa área do conhecimento. O indicador “cidadania” foi apontado
vinte e sete vezes nas frases e desenhos desses professores.
Como área de conhecimento e fundamentado numa releitura religiosa do cotidiano, o
Ensino Religioso colabora no processo da construção de um cidadão que compreende o seu
contexto sócio-cultural, político-educacional, econômico e religioso.
O texto e a frase da professora S 127 demonstram como o Ensino Religioso pode
contribuir como marco estruturado de leitura e interpretação da realidade.

Texto da professora S 127 — História: Direcionar o


olhar do aluno para o mundo e sua diversidade,
aprendendo a respeitá-la.

Figura 6: Dados coletados S 127 — História


2518

Tardif e Lessard (2005, p.7) afirmam que “a criança escolarizada é a raiz do homem
moderno atual” e que o “conceito moderno de cidadania é impensável sem o de instrução”. O
exercício da cidadania e o direito da expressão religiosa podem ser desenvolvidos na escola,
já que nesse espaço de aprendizagem, trabalha-se as regras do espaço público democrático,
buscando a superação de todo e qualquer tipo de discriminação e exclusão social, valorizando
cada indivíduo e todos os grupos que compõem a sociedade brasileira.
Na representação gráfica da análise do documento da professora S 134, observa-se a
variedade de indicadores, além dos indicadores “conhecimento” e “cidadania” que apontaram
para a categorização do Ensino Religioso como área de conhecimento.

Figura 7: Representação gráfica da análise do documento S 134 — História

O desenho remete a uma convivência e harmonia entre as tradições religiosas. Esse


respeito e harmonia são frutos de uma consciência cidadã. Aprendendo a conviver com as
diferentes tradições religiosas, vivenciando a própria cultura e respeitando as diversas formas
de expressão cultural, o educando estará também se abrindo para o conhecimento. É cidadão
de um mundo complexo, onde se inscrevem relações em rede, não menos complexas. Porém,
é um ser dotado de capacidades criativas e talentosas, autônomo em seu processo de aprender
(JUNQUEIRA, 2008b).
O desenho da professora 131, com 22 anos de experiência na docência em História e 4
anos em ER, e sua frase (Ninguém é igual a ninguém), é um exemplo bem concreto do
2519

respeito à diversidade, pois pode ser feita a relação com a funcionalidade dos dedos das mãos,
Nossas mãos não teriam a mesma funcionalidade se todos os dedos fossem iguais?

Figura 8: Representação gráfica da análise do documento S 131 — História

Assim, de acordo com o que Carniato (2005, p.37) afirma

Além do conteúdo estabelecido, o ER tem um tratamento pedagógico diferenciado.


Ele é mais do que só conhecimento. É preciso oferecer atividades interativas e
participativas que proporcionem experiências. E estas por sua vez, refletidas e
dialogadas, se transformem em construção de saber, de sabedoria, e levem à
educação integral da cidadania terrena e do protagonismo na humanização e na
construção de um mundo novo, de vida para todos.

Educar para conhecer diversas religiões e compreender as culturas que lhes dão forma,
analisar a relação entre presente e passado para produzir um saber histórico, implica em
exercitar o diálogo com o diferente, baseado no respeito profundo e no desejo de preservar a
dignidade e direito de existência de cada manifestação cultural-religiosa. Dessa forma, o
aluno participa ativamente da construção do processo da aquisição de seus conhecimentos,
utilizando a dimensão racional de seu ser, e também as dimensões sensíveis, emocionais e
intuitivas.
2520

Considerações finais

Os direitos fundamentais de liberdade religiosa e de expressão religiosa são frutos de


uma sociedade pluralista que se expressa no Estado não-confessional e laico. A laicidade não
é a negação da fé, mas protege todas as confissões de discriminação e de forma democrática
possibilita a relação entre o cidadão e o Estado, o privado e o público.
Permitir ao outro ser sujeito de sua cultura e de seus desejos é o desafio do contexto
atual. Por isso, os debates e as reflexões prosseguem na busca para estabelecer o Ensino
Religioso como um espaço para pensar o ser humano, numa abordagem fenomenológica que
observe as diversas manifestações religiosas de forma cultural.
A pesquisa na área da educação tem procurado estabelecer e fornecer à formação
inicial dos professores “conhecimentos oriundos da análise do trabalho em sala de aula e na
escola” (Tardif, 2002, p. 290). Cada área de conhecimento requer um curso que projete uma
formação, pressupondo um perfil profissional, pois um docente formado por uma determinada
escola de pensamento vai formar segundo esses moldes.
Os dados levantados nesta investigação apontam a concepção de ER “Transmissão e
desenvolvimento de valores, moral e ética”, que se enquadra no modelo interconfessional,
como a mais indicada nas frases e desenhos dos professores de Geografia, Filosofia e História
(Figura 7). Porém, esse dado não descarta a combinação de vários modelos de ação durante a
sua atividade. Daí a complexidade da ação docente implicar numa variedade de ações e
interações com os alunos.
Os dados também sugerem uma superação das tradicionais aulas de religião e apontam
que o professores estão procurando inserir em suas aulas conteúdos que tratem da diversidade
de manifestações religiosas, dos seus ritos, das suas paisagens e símbolos, as relações
culturais, sociais, políticas e econômicas de que são impregnadas as diversas formas de
religiosidade.
No entanto, há que se preocupar com um esvaziamento se esses conteúdos forem
trabalhados somente em nível de informação e curiosidade, pois é a transformação da
informação em conhecimento que proporcionará a consciência cidadã. Assim, os conteúdos
pensados e elaborados a partir de uma abordagem fenomenológica, podem auxiliar os alunos
a enfrentar os conflitos existenciais e a desenvolver, orientados por critérios éticos, a
religiosidade presente em cada um.
2521

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