Em 1807, a Família Real Portuguesa fugiu para o Brasil para escapar das tropas de Napoleão Bonaparte. A fuga foi planejada e cerca de 15 mil pessoas, incluindo a corte real, embarcaram para o Rio de Janeiro, que se tornou a nova capital do Reino. A chegada da corte trouxe grandes transformações para a cidade e marcou o início do florescimento do Brasil.
Em 1807, a Família Real Portuguesa fugiu para o Brasil para escapar das tropas de Napoleão Bonaparte. A fuga foi planejada e cerca de 15 mil pessoas, incluindo a corte real, embarcaram para o Rio de Janeiro, que se tornou a nova capital do Reino. A chegada da corte trouxe grandes transformações para a cidade e marcou o início do florescimento do Brasil.
Em 1807, a Família Real Portuguesa fugiu para o Brasil para escapar das tropas de Napoleão Bonaparte. A fuga foi planejada e cerca de 15 mil pessoas, incluindo a corte real, embarcaram para o Rio de Janeiro, que se tornou a nova capital do Reino. A chegada da corte trouxe grandes transformações para a cidade e marcou o início do florescimento do Brasil.
Em 1807, a Família Real Portuguesa fugiu para o Brasil para escapar das tropas de Napoleão Bonaparte. A fuga foi planejada e cerca de 15 mil pessoas, incluindo a corte real, embarcaram para o Rio de Janeiro, que se tornou a nova capital do Reino. A chegada da corte trouxe grandes transformações para a cidade e marcou o início do florescimento do Brasil.
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O dia em que a Família Real fugiu para o Brasil
Uma decisão covarde ou um ato brilhante com vistas ao futuro?
Seja como for, a fuga da Família Real de Portugal deu ao Brasil um status único no continente americano e fez do Rio de Janeiro a capital de um reino europeu.
Quinze mil fidalgos, comerciantes e militares
acompanharam a fuga da Família Real. Em 1807 a Europa vivia um pandemônio. A França de Napoleão Bonaparte e a Inglaterra já em vias de industrialização lutavam pela hegemonia do continente europeu.
Para sufocar a Inglaterra e impedir que exportasse seus
produtos, Napoleão decreta o Bloqueio Continental, ou seja, a proibição do desembarque de mercadorias inglesas em todos os portos europeus. Portugal, aprisionado por diversos tratados econômicos à Inglaterra, dentre os quais o famoso tratado de Methuen, fica entre dois fogos: se desobedece à ordem francesa, D. João VI corre o risco de invasão (e o exército francês já estava na Espanha, bem perto da fronteira); se fecha as portas para a Inglaterra, estaria desagradando a maior potência naval de então, que certamente pensaria em represálias contra Portugal.
A corte se divide: uma parte quer a adesão à França, outra
sustenta a preservação da aliança com os ingleses. Predomina a segunda posição, não deixando ao Príncipe Regente D. João VI outra opção que não fosse colocar-se em segurança no Brasil, fugindo do risco de um confronto direto com o poderoso exército francês.
Uma fuga planejada, mas com os franceses nos calcanhares
O general Junot, comandante das tropas francesas.
A fuga não foi tão súbita e atabalhoada quanto se costuma pensar. Um único fato é suficiente para demonstrá-lo: ao chegar ao Brasil, a corte portuguesa desembarca com todo o acervo da Biblioteca Real – origem da atual Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro – devidamente embalado e catalogado, o mesmo acontecendo com obras de arte e documentos do arquivo real.
Numa fuga decidida às pressas, ninguém pensaria em
cuidar do acervo cultural e artístico com tanto esmero e tantas atenções técnicas. Não foi, portanto, um “salve-se quem puder”, mas uma alternativa longamente planificada e preparada.
Mesmo assim, os fatos parecem ter-se precipitado, criando,
nos últimos dias da permanência da corte em Lisboa, um clima de forte agitação e correria.
O embarque da família real é ordenado por D. João VI para
o dia 27 de novembro de 1807, pela manhã. Naquele dia, sob os olhares apreensivos da gente comum, nobres desembarcam de suas carruagens o dia inteiro no cais de Lisboa e embarcam nos escaleres que os levariam aos navios.
A frota deveria partir na manhã do dia 28, mas o mau tempo
retém os navios no porto por mais 24 horas, enquanto as tropas francesas se aproximam perigosamente da cidade.
Na manhã do dia 29, enfim, “ao nascer do dia”, põem-se em
movimento as oito naus de linha, as quatro fragatas e quatro embarcações menores, que levavam a corte, e mais uns quarenta navios mercantes, onde viajava a elite econômica e social de Portugal.
No total, mais de 15 mil pessoas, numa das maiores fugas
oceânicas de que se tem notícia. Com a corte, vão todos os tesouros do reino, deixando-se nos cofres públicos apenas os títulos de dívidas que nunca seriam pagas.
A fuga muda a história do Brasil e de Portugal. A colônia,
promovida de um momento para outro na capital de um império ultramarino, jamais seria a mesma. A única saída para Portugal estava no mar aberto, rumo ao Rio de Janeiro, destinada a ser a capital do império português.
É como se fosse a expressão fatalista dos versos da canção
de Chico Buarque de Hollanda:
Ah, essa terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um grande Portugal.
Naturalmente, todas estas possibilidades não estavam na
mente dos que partiam. O que se via nas ruas de Lisboa era a correria de fidalgos e burgueses ricos, em busca de um lugar nos navios abarrotados. Chovera tanto que o cais se transformara num lamaçal sobre o qual soldados lançavam tábuas para que a família real passasse. O povo, apreensivo, lamentava o afastamento dos membros queridos da corte, como o jovem Pedro I, e hostilizava de longe nobres e políticos que não contavam com a simpatia popular.
Ao longe, as tropas de Junot, general do exército de
Napoleão Bonaparte, chegavam…
Fidalgos amontoados no cais de Lisboa: os franceses estão
chegando. O príncipe regente D. João VI teve também, segundo Monterroso Teixeira, "o cuidado de proceder à remessa e embalagem muito cautelosa de uma pepita de ouro nativo, que faz hoje parte dos nossos tesouros nacionais, e que ele terá levado no seu camarote". As tropas francesas terão depois procurado esta pepita por todo o lado, no Palácio da Ajuda, porque vinha citada "numa lista bastante exaustiva de bens a saquear".
Onde estava a coroa?
Mais misterioso é o destino do tesouro da Real Capela de
Vila Viçosa, em relação ao qual os historiadores se dividem, explica Monterroso. Há, por um lado, a tese de que D. João tinha dado ordem para que fosse acondicionado e levado para Lisboa, mas há também quem defenda que foi saqueado pelos franceses.
Certo é apenas que o tesouro desapareceu. Misterioso
também parece ser o destino da coroa, que D. João IV, primeiro rei da dinastia de Bragança, oferecera simbolicamente a Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa pela proteção concedida na altura da Restauração de 1640, e que, por isso, não era usada pelos monarcas.
Só se ouve falar de coroa novamente quando D. João VI
manda fazer em 1817 uma nova, já no Brasil, e que hoje está guardada no Palácio da Ajuda.
Mas, apesar de todas as precauções, conta Lilia Schwarcz,
"nas praias e cais do Tejo, até Belém, espalhavam-se pacotes, caixas e baús abandonados na última hora. No meio da bagunça, e por descuido, toda a prataria da Igreja Patriarcal, trazida por catorze carros, foi esquecida na beira do rio e só alguns dias depois voltou para a igreja. Carros de luxo foram abandonados, muitos sem terem sido descarregados. Houve quem largasse a mala, embarcando de mãos vazias, apenas com a roupa do corpo".
Para trás, "abandonados no porto [...] debaixo de sol e
chuva", ficou também um dos grandes tesouros nacionais - os sessenta mil volumes, encaixotados, da Biblioteca Real da Ajuda (é a história desta biblioteca que Schwarcz reconstitui no seu livro) - que acabariam por seguir mais tarde e por ficar no Brasil.
Entretanto, a tensão crescia, ouviam-se insultos do povo -
"os que estavam prestes a ser abandonados ao invasor francês" (Wilcken) -, cada vez mais numeroso junto ao cais. Já dentro das embarcações, a família real e os nobres ainda tiveram que esperar mais um dia, porque a chuva e o vento impediam a partida.
Só a 29 de manhã as condições melhoraram e a frota régia
deixou, finalmente, o porto iniciando uma longa e difícil viagem até ao Brasil, testemunhas relatam que, quando as tropas de Junot chegaram à cidade, ainda se podia ver a frota no horizonte, carregada com metade do dinheiro circulante em Portugal.
No dia seguinte o General Junot chegava ao porto de Lisboa.
Enquanto isso, do outro lado do Oceano Atlântico, no Rio de
Janeiro ninguém poderia fazer ideia da grande mudança que estava por acontecer. O aglomerado de 60 mil habitantes, de vielas sujas e casas de taipa sem janelas de vidro, ainda vivia no modorrento atraso de sua condição de sede de uma colônia distante. A chegada da corte viria trazer transformações radicais, uma onda de renovação urbanística e um choque cultural de efeitos permanentes.
Tudo isso iria agudizar-se ainda mais após o desembarque
da família real e a chegada de novos tempos de sofisticação cultural e o alívio temporário das pressões que atormentavam o governo de D. João VI.
Aqui, o Príncipe Regente seria rei de um império espalhado
por quatro continentes e faria do Rio de Janeiro a única cidade das Américas a ser capital de um Estado Nacional europeu.
Quando a família real desembarca no Rio, depois de alguns
dias em Salvador, já será o dia 7 de março de 1808. Para sermos mais exatos, a corte desembarca na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e é como se a cidade fundada em 1565 tivesse de esperar esses 243 anos para enfim começar a florescer.
É um momento importante na vida desta cidade destinada a
um grande papel na história, e ao mesmo tempo, palco de contradições insolúveis, onde os extremos se tocam e se confundem.
Do confronto entre os veludos e tafetás da corte e os panos
rústicos dos escravos surgiu um modelo de convivência onde a dualidade, apesar de real, sempre foi de contornos difusos e enganosos.
Esta é a cidade que a corte de D. João revelou. Para Dona
Carlota Joaquina, era o quinto dos infernos. Para o olhar daqueles que viriam, é o lugar onde as culturas se misturam de uma forma que nenhum escritor ou estudioso jamais ousaria imaginar…