Ciencias Naturais Na Educacao 1 Vol2
Ciencias Naturais Na Educacao 1 Vol2
Ciencias Naturais Na Educacao 1 Vol2
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
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Presidente
Masako Oya Masuda
Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Dayse Martins Hora
Erivaldo Pedrosa dos Santos EDITORA PROGRAMAÇÃO VISUAL
Tereza Queiroz Renato Barros
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
INSTRUCIONAL COORDENAÇÃO EDITORIAL ILUSTRAÇÃO
Cristine Costa Barreto Jane Castellani André Dahmer
H8111
Hora, Dayse Martins.
Ciências naturais na educação 1. v. 2 / Dayse Martins Hora.
– Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2007.
116 p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 85-7648-093-X
1. Educação e saúde. 2. Educação ambiental. 3. Qualidade de
vida. 4. Ensino de ciências. I. Pedrosa, Erivaldo dos Santos.
II. Título.
CDD: 372.35
2007/2
Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
Esperamos que após o estudo dos conteúdos desta aula você seja capaz de:
• Compreender a inter-relação entre educação, saúde e meio ambiente e
suas implicações sobre a qualidade de vida do indivíduo.
• Listar os principais agentes transmissores de doenças.
• Reconhecer os agravantes à saúde humana relativos à problemática
ambiental.
Pré-requisito
Domínio dos conhecimentos-chave relacionados
à educação em saúde e educação ambiental,
apresentados nas Aulas 9 e 10.
Ciências Naturais na Educação 1 | Educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida
PANORAMA MUNDIAL
PROBLEMAS RELATIVOS
MARCOS HISTÓRICOS
AO MEIO AMBIENTE
– Alterações do clima – Relatório do Clube de Roma (1970):
2002
8 CEDERJ
MÓDULO 2
11
Quadro 11.2: Problemática da saúde
AULA
PROBLEMAS RELATIVOS À
MARCOS HISTÓRICOS
SAÚDE HUMANA
– Fome, desnutrição – Conferência da OMS de Alma-Ata/
– Doenças infecto-contagiosas
– DST/Aids
(guerra biológica)
– Violência urbana
GINI
SAÚDE E EDUCAÇÃO NO BRASIL HOJE Índice que mede o
grau de desigual-
O Brasil mudou, felizmente para melhor, segundo o Censo do dade existente na
distribuição de indi-
IBGE de 2000. Aspectos como renda, educação e saneamento mostraram víduos segundo a
renda domiciliar per
melhoras significativas, comparando-se esses itens capita. Seu valor
com os dados dos dois censos anteriores, 1980 e varia de 0, quando
não há desigual-
1990. Entretanto, no que se refere à redução dade, a 1, quando
a desigualdade é
da desigualdade social, o índice que mede máxima (apenas
a concentração de renda, GINI, caiu apenas um indivíduo detém
toda a renda da
4%, o que mantém o Brasil no posto de um sociedade).
Fonte: Programa
dos quatro países com pior distribuição de das Nações Unidas
para o Desenvolvi-
renda no mundo.
mento.
CEDERJ 9
Ciências Naturais na Educação 1 | Educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida
CENSO
O censo demográfico é um grande banco de dados sobre o país, acessível a todos, sendo considerado a principal fonte
de informações sobre a vida da população brasileira, servindo ainda de instrumento para o planejamento das políticas
sociais. A pesquisa é realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a cada dez anos.
falta muito.
Renda
Um chefe de família nordestino recebe em média 448 Houve grandes aumentos de renda em regiões pobres
reais por mês. É menos de metade do rendimento (48,8% no Nordeste contra 37% no Sudeste) e na zona
Educação
Ainda existem 17,6 milhões de analfabetos. A taxa de alfabetização passou de 80,3% para 87,2%.
A maior taxa de analfabetismo está no Nordeste: Quase 120 milhões de pessoas com 10 anos de idade
Saneamento
Dos 44,8 milhões de domicílios brasileiros, 7,5 O número de domicílios servidos com água tratada
milhões não têm banheiro e 3,7 milhões não cresceu de 70,7% para 77,8% e o serviço de coleta de lixo
possuem nenhum tipo de instalação sanitária. Na atingiu 79% contra 63,8% em 1991.O serviço de esgoto
Região Sudeste, o serviço de esgoto cobre mais de também aumentou, passando de 52,4% para 62,2%.
Como você pôde observar, o Brasil avançou na última década, no que se refere aos quesitos
renda, educação e saneamento básico. Entretanto, faz-se necessário avançar em maior velocidade
para reduzir as desigualdades sociais e promover legiões inteiras de pessoas excluídas à condição
de cidadãos, conforme foi discutido na Aula 7.
10 CEDERJ
MÓDULO 2
Em sentido inverso ao Brasil, os países em desenvolvimento ainda
11
apresentam um quadro desolador no que se refere às condições de vida de
AULA
parte da população do planeta, especialmente crianças e adolescentes.
CEDERJ 11
Ciências Naturais na Educação 1 | Educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida
O AMBIENTE EM PERIGO
12 CEDERJ
MÓDULO 2
DOENÇAS RELACIONADAS À ÁGUA
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AULA
A água, segundo a Organização Mundial da Saúde, é o principal veículo
de transmissão direta e indireta de uma
série de doenças que afetam um
grande contingente de pessoas
em todo o mundo.
GRUPOS DE FORMAS DE
PRINCIPAIS DOENÇAS FORMAS DE PREVENÇÃO
DOENÇAS CONTAMINACÃO
Associada sao abas- A falta de água e higiene • Infecções na pele Fornecer água em quanti-
tecimento insufi- pessoal insuficiente cria • Infecções nos olhos: dade adequada e promover a
ciente de água, condições favoráveis para tracoma higiene pessoal e doméstica.
podendo ser con- a sua disseminação através • Piolhos
troladas através do do contato com pessoas
uso da água tratada infectadas
para a limpeza
CEDERJ 13
Ciências Naturais na Educação 1 | Educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida
O Brasil tem uma avançada legislação relativa ao uso da água. Criada em 8 de janeiro de 1997, a Lei 9.433 (Lei das
Águas) reitera que água é um bem valioso. Reconhece que ela é finita, tem valor, define que cabe à lei assegurar às
gerações atuais e às futuras águas em quantidade e qualidade ideais.
A Lei das Águas representou uma conquista para a população: a criação dos comitês de bacias hidrográficas. E o que vem
a ser uma bacia hidrográfica? É o conjunto de rios, lagos ou lagoas e afluentes que deságuam num rio principal.
Os comitês de bacias hidrográficas devem contar com a participação dos consumidores de água (indústrias, residências
etc.), do poder público (governos federal, estadual e municipal) e das organizações não-governamentais. Esses também
são co-responsáveis pelo usufruto da água de uma bacia hidrográfica, zelando pela manutenção de sua qualidade.
ATIVIDADE 1
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MÓDULO 2
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AULA
COMENTÁRIO
Você deve ter percebido como é comum a incidência de determinadas doenças na
população. Existem doenças típicas do verão, como a conjuntivite, enquanto outras
aparecem no inverno. É importante que você, educador, esteja atento à incidência dessas
doenças para alertar seus alunos quanto ao risco que correm de contraí-las. Para tanto, é
necessário adotar medidas de prevenção –, como palestras e campanhas –, bem como
vacinação e sugestão à família de encaminhar à unidade de saúde os alunos suspeitos de
terem contraído alguma doença. Fique alerta!
CEDERJ 15
Ciências Naturais na Educação 1 | Educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida
16 CEDERJ
MÓDULO 2
desenvolvimento sustentado, abrangendo todas as áreas do conhecimento
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(educação, saúde, ciência e tecnologia, ambiente, cultura etc.), tendo como
AULA
lema principal a busca da eqüidade social e a proteção ambiental.
A realidade de segmentos expressivos da população pode ser
expressa através de pequenos retratos do cotidiano dessas pessoas.
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Ciências Naturais na Educação 1 | Educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida
PROMOÇÃO DA SAÚDE
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MÓDULO 2
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ERVAS “MILAGROSAS”
AULA
No Brasil, a fitoterapia (tratamento com remédios à base de plantas medicinais)
conquista cada vez mais adeptos entre o público em geral e os profissionais de
Medicina.
O tratamento de doenças com ervas medicinais já chegou, inclusive, a alguns postos
de saúde da rede pública, mas ainda enfrenta obstáculos como a não distribuição
gratuita dos medicamentos fitoterápicos e a falta de profissionais especializados.
No entanto, os extratos de plantas não devem ser indicados para doenças como
infecções, devido ao seu baixo potencial de ação, sendo mais adequados à prevenção
de certas doenças e à cura de pequenos males. Contudo, é importante afirmar que
qualquer planta que não foi estudada em profundidade pode se revelar um perigo
para a saúde. Entretanto, o futuro é promissor quanto ao uso, em larga escala, de
medicamentos fitoterápicos no Brasil, já que temos a maior biodiversidade do mundo,
com um quarto das espécies conhecidas de plantas. Deste total, apenas 2% das 50.000
espécies foram estudadas, e isso significa dizer que a cura para várias doenças pode
estar próxima de nós. .
CEDERJ 19
Ciências Naturais na Educação 1 | Educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida
20 CEDERJ
MÓDULO 2
Aumento do número de pessoas atendidas pelas unidades básicas
11
de saúde.
AULA
Acompanhamento constante dos problemas de saúde da
população, pelas equipes de saúde.
Redução do número de exames complementares, de encaminhamento
de urgência-emergência e especialidades, de internações hospitalares por
causas clínicas.
CEDERJ 21
Ciências Naturais na Educação 1 | Educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida
ATIVIDADE 2
– ministério responsável;
– resultados.
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MÓDULO 2
11
AULA
COMENTÁRIO
Você constatou que o Governo Federal tem inúmeros projetos sendo executados no país
no momento. Estes projetos atingem variados segmentos da população, por exemplo:
o programa de ajuda de custo a idosos e pessoas portadoras de necessidades especiais
cuja renda seja menor que um salário mínimo; programa da saúde da família, que presta
atenção básica de saúde às famílias em seus domicílios, através dos agentes de saúde;
campanhas de vacinação para idosos contra a gripe, a fim de prevenir doenças respiratórias.
A manutenção desses projetos é importante porque favorecem a manutenção da saúde
por meio da prevenção de doenças. Também melhoram a qualidade de vida de milhões de
pessoas, e não devemos esquecer que esses projetos são custeados pelos impostos pagos
por todos nós e que é um dever do Estado implementá-los adequadamente, conforme
você estudou na Aula 9.
PAPEL DA ESCOLA
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Ciências Naturais na Educação 1 | Educação, saúde, meio ambiente e qualidade de vida
!
Decálogo
CONCLUSÃO
24 CEDERJ
MÓDULO 2
11
RESUMO
AULA
As principais questões ambientais e de saúde no mundo são explicitadas, como o
aquecimento da Terra e os seus desdobramentos relativos à propagação de doenças.
A saúde e a educação no Brasil são apresentadas tendo como base os dados do último
Censo do IBGE, em 2000, observando-se as mudanças acontecidas no país na década de
1990. A situação mundial da infância e da adolescência é retratada, a partir de dados
do Unicef, coletados nos países em desenvolvimento, fazendo-se um alerta para a
necessidade de resolução dos problemas existentes. O meio ambiente é mostrado como
espaço no qual as doenças se desenvolvem e afetam a saúde humana, especialmente
através da água, seja direta ou indiretamente. As medidas básicas de promoção da
saúde do homem são listadas sob a forma de ações de educação em saúde. O papel
da escola e do educador é ressaltado como instrumento valioso que deve ser melhor
utilizado na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida do indivíduo.
AUTO-AVALIAÇÃO
Você deve ter observado que esta aula apresenta conteúdos estritamente inter-
relacionados. Por que isso aconteceu? Bem, a resposta está no fato de que a vida
não é segmentada em áreas de conhecimentos específicos, e sim uma totalidade
de conhecimentos e vivências que se justapõem o tempo inteiro. Nesse contexto,
educação, saúde e meio ambiente relacionam-se entre si o tempo todo, e os
acontecimentos nessas áreas afetam, de uma forma ou de outra, nossas vidas. Se
você conseguiu entender a aula desse modo, parabéns; se não, retorne à leitura
de algumas temáticas e refaça as atividades propostas. Até a próxima!
CEDERJ 25
12
AULA
Cidadania e ética
Meta da aula
Discutir ações de cidadania e ética nas práticas sociais de
educação, saúde e preservação ambiental como formas
de construção da qualidade de vida.
objetivos
Pré-requisito
Compreender a inter-relação entre educação,
saúde e meio ambiente e suas implicações na
qualidade de vida do homem, assunto visto na
Aula 11.
Ciências Naturais na Educação 1 | Cidadania e ética
INTRODUÇÃO Na Aula 11, você estudou a inter-relação entre educação, saúde e meio
ambiente e suas implicações na qualidade de vida do homem. No caso brasileiro,
compreender o ambiente de vida no contexto de um país em desenvolvimento
é uma tarefa difícil. Mas a promoção da saúde pode acontecer por meio de
práticas de cidadania e ética. Este é o tema da aula que vamos iniciar.
28 CEDERJ
MÓDULO 2
maneira geral, baixos níveis de saúde, de desenvolvimento socioeconômico
12
e de condições de vida. O Coeficiente de Mortalidade Infantil para o
AULA
Brasil em 2001 foi de 37 por 1.000 nascidos vivos, ou seja, para cada
1.000 crianças nascidas em 2001 no Brasil, 37 morreram. O mesmo
indicador no Estado do Rio de Janeiro, no ano de 2001, foi de 18 por
1.000 nascidos vivos (Fonte: BRASIL, MS, 2001).
Nos últimos anos, houve um aumento na valorização dos direitos
humanos em todos os seus aspectos, dentre eles a defesa da Natureza
e a busca de desenvolvimento aliada à preservação da própria vida em
nosso planeta.
É fato que observamos debates acalorados a respeito de tudo
que possa interferir, negativamente, na qualidade de vida das pessoas.
No Brasil, um marco para essas discussões, no que se refere à saúde, foi
a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986. Um dos seus
resultados consistiu na ampliação do conceito de saúde, que se vinculou
diretamente aos direitos de cidadania.
CEDERJ 29
Ciências Naturais na Educação 1 | Cidadania e ética
30 CEDERJ
MÓDULO 2
As formas como o Estado orienta suas políticas sociais revelam
12
a correlação de forças dos movimentos sociais para reivindicar seus
AULA
direitos e a identificação dos patamares de cidadania a serem alcançados
por essa população.
Não podemos compreender cidadania sem resgatar outro conceito
importante: a ética. A origem da palavra ética se localiza na Grécia
Antiga. Ela vem de éthos, que significa conjunto de costumes e normas
de conduta destinados a ordenar a morada dos seres humanos e os
modos de convivência.
Podemos verificar em nosso cotidiano o quanto o comportamento
de uma pessoa afeta, de alguma maneira, os outros, a sociedade e a
Natureza. Por exemplo, uma pessoa fumando a seu lado, em local
fechado, faz de você um fumante passivo, sem a sua autorização; não
respeita o seu direito de não compartilhar com ela do ato de fumar. Um
motorista no trânsito atira uma lata de refrigerante pela janela. Além do
acidente que pode causar a um pedestre ou a outro motorista e do fato
de estar infringindo o Código de Trânsito, ele agride o ambiente com
sua “distração”, desperdiçando o que seria lixo reciclável.
CEDERJ 31
Ciências Naturais na Educação 1 | Cidadania e ética
32 CEDERJ
MÓDULO 2
desta aula. Mas há outros artigos na Carta Magna (Constituição
12
Federal) relacionados à saúde e igualmente importantes. Dentre eles
AULA
está o detalhamento das responsabilidades do governo na definição
das regras do sistema de saúde, bem como sua fiscalização e controle.
Outro ponto diz respeito à autorização para que instituições privadas ou
filantrópicas possam prestar assistência à saúde da população, de forma
a ampliar o atendimento médico-hospitalar, antes restrito aos serviços
públicos federais, estaduais e municipais.
A Constituição (1988) definiu, ainda, a organização do Sistema
Único de Saúde (SUS). A proposta tentou unificar todas as instituições de
saúde e descentralizar as decisões, responsabilidades e recursos financeiros
em três níveis – o federal, o estadual e o municipal –, mantendo um
comando único através do Ministério da Saúde, das Secretarias Estaduais
e Municipais de Saúde, respectivamente.
Do ponto de vista legal, a população, por meio de seus representantes,
adquiriu poder para participar da administração do SUS. Podemos afirmar
que essa proposta é inovadora, democrática e legítima, porque no processo
de controle social, todo cidadão exerceria o direito e o dever de avaliar
o desempenho do SUS. Nada mais justo, já que financiamos os serviços
públicos com nosso trabalho e impostos.
A regulamentação do SUS se fez somente em 1990, por meio da
Lei Orgânica da Saúde (LOS), e nela estão as regras que definem a saúde
como um direito do cidadão. A regulamentação determinou várias ações.
Dentre elas, foi criada a Vigilância Sanitária, com um conjunto de atos
capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos
problemas decorrentes da produção e circulação de bens e da prestação
de serviços de interesse da saúde.
Dentre as ações de responsabilidade da Vigilância Sanitária,
ressaltamos:
• promoção de condições adequadas de moradia e local de trabalho, no
que se refere a fatores como temperatura, ruído, aeração, iluminação
etc.;
• controle de produtos alimentícios, cosméticos e agrotóxicos quanto
às condições de fabricação, embalagem, conservação, transporte,
armazenagem, comercialização etc.;
• tratamento e controle de elementos como água, lixo e resíduos
industriais, por exemplo, e suas características físico-químicas;
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Ciências Naturais na Educação 1 | Cidadania e ética
34 CEDERJ
MÓDULO 2
– nós, cidadãos – que representem o papel de protagonistas das ações
12
de cidadania e ética, na defesa da saúde como um direito do cidadão e
AULA
um dever do Estado.
Não é um exercício simples ou romântico, ao contrário, exige
empenho e firmeza de intenção. O palco do professor é a sala de aula,
lugar onde deve apresentar aos alunos a saúde como um valor a ser
conquistado. O primeiro passo é a luta pelos direitos sociais, sem os
quais não há possibilidade de acesso à saúde.
PARE, PENSE!
MOMENTO PIPOCA
CEDERJ 35
Ciências Naturais na Educação 1 | Cidadania e ética
36 CEDERJ
MÓDULO 2
12
Quadro 12.1: Evolução do Programa Saúde da Família
2002 2003
AULA
Equipes 16.700 18.700
PARE, PENSE!
NAVEGAR É PRECISO!
CEDERJ 37
Ciências Naturais na Educação 1 | Cidadania e ética
RESUMO
38 CEDERJ
MÓDULO 2
ATIVIDADES FINAIS
12
AULA
1. Por que o Programa Saúde da Família é o centro das políticas públicas de
saúde?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
RESPOSTA
Desde que foi criado, em 1994, o Programa de Saúde da Família (PSF) vem apresentando
resultados positivos porque suas ações são de prevenção, evitando que os problemas de
saúde cresçam e cheguem a necessidades de internações, por exemplo. As ações do PSF
são educativas e realizadas por equipes multidisciplinares (médicos, enfermeiros, auxiliares
de enfermagem e agente comunitário de saúde). Prevenir é melhor que remediar, já diz o
ditado popular.
COMENTÁRIO
Se você respondeu algo parecido com isso, foi no caminho certo, parabéns. Se, no entanto,
você não conseguiu chegar a essa resposta, pense e releia o subtítulo O Programa Saúde da
Família é uma estratégia de promoção da saúde. Refaça sua resposta e, se precisar, entre
em contato com o tutor.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
RESPOSTA
O direito à saúde é garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 196, que
declara que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”.
COMENTÁRIO
Se você respondeu algo parecido com isso, foi no caminho certo, parabéns. Se, no entanto,
você não conseguiu Se você não conseguiu identificar na Constituição Federal as garantias
do direito à saúde, retome o texto. Verifique que a frase “saúde como direito de todos e dever
do Estado” aparece em destaque no trecho citado nesta aula. Se, no entanto, você ainda tiver
dúvidas, não deixe de contactar seu tutor no pólo.
CEDERJ 39
Ciências Naturais na Educação 1 | Cidadania e ética
AUTO-AVALIAÇÃO
40 CEDERJ
13
AULA
Ciências e Educação em Ciências
Meta da aula
Correlacionar conhecimento científico e conhecimento escolar na
Educação em Ciências.
objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
• Conceituar conhecimento escolar como mediação didática.
• Relacionar conhecimento científico e conhecimento escolar.
Pré-requisitos
Você terá mais facilidade na compreensão desta
aula se for capaz de caracterizar o conhecimento
científico como uma forma de conhecer, que se
diferencia das demais por métodos e técnicas
próprios, assunto visto na Aula 2.
Também se sentirá mais seguro para
correlacionar conhecimento científico e
conhecimento escolar se compreendeu bem a
Aula 12, que apresentou a discussão de ações
de cidadania e ética nas práticas sociais de
educação, saúde e preservação ambiental como
formas de construção da qualidade de vida.
Ciências Naturais na Educação 1 | Ciências e Educação em Ciências
INTRODUÇÃO Você estudou, na Aula 12, a relação existente entre cidadania e ética. Viu
como se dá o exercício da cidadania e da ética numa sociedade em que o
conhecimento científico e tecnológico se faz cada vez mais presente.
Nesse contexto, é importante que você reflita sobre o papel da Educação em
Ciências. O Ministério da Educação, no final da década de 1990, iniciou a
produção de uma seqüência de documentos cujo objetivo central se resume em
apresentar diretrizes gerais, norteadoras da ação educativa para os diversos níveis
escolares. O conjunto desses documentos se chama Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), e você deve se acostumar com esta referência, pois ela será
recorrente ao longo da nossa disciplina e deve ser citada também em outras
situações e disciplinas durante o curso de Pedagogia. No que se refere ao ensino
de Ciências, o documento declara que “o papel das Ciências Naturais é o de
colaborar para a compreensão do mundo e suas transformações, situando o
homem como indivíduo participativo e parte integrante do Universo” (BRASIL.
MEC, 2000, p. 15).
Nesta aula, você estudará o conhecimento científico e o conhecimento escolar,
para compreender suas diferenças e descobrir as possibilidades de a Educação
em Ciências ser uma via de formação de cidadãos críticos, participantes de
uma sociedade na qual o conhecimento científico e tecnológico é cada vez
mais valorizado.
42 CEDERJ
MÓDULO 2
2) É um conjunto específico de conhecimentos que tem suas
13
características próprias no plano do ensino, da formação, dos mecanismos,
AULA
dos métodos e dos materiais (JAPIASSU, 1992, p. 88).
A reflexão sobre essas duas conceituações nos leva a afirmar que
as disciplinas científicas são constituídas por discursos especializados e
delimitam um território mantido por mecanismos institucionais bastante
específicos, tais como as disputas por recursos financeiros. As disciplinas
científicas têm seu próprio campo intelectual de práticas, de regras, de
exames, títulos para o exercício profissional, distribuições de prêmios e
de sanções. Temos um exemplo disso nas Academias (de Medicina, de
Ciências) e nas diversas Associações Científicas. As Ciências se organizam
coletivamente, definem espaços de poder, de alocação de recursos, de
reprodução de métodos e princípios de construção do conhecimento.
E como você acha que se conceitua uma disciplina escolar? Através
de conteúdos, métodos e técnicas específicos que se configuram de
maneira própria no espaço escolar. As disciplinas escolares apresentam
uma construção social e histórica que se diferencia das científicas, o que
não significa afirmar não haver nenhuma relação entre elas. A relação
se faz por meio das disciplinas acadêmicas universitárias, também
chamadas disciplinas de referência. Um fator que explica, parcialmente,
o prestígio e a posição hierárquica que ocupa uma disciplina escolar é
sua maior aproximação com uma disciplina acadêmica. Um exemplo
que você deve conhecer é o da Matemática. Sabemos e convivemos com
o fato de a Matemática conferir prestígio, lugar
de destaque na hierarquia entre as disciplinas na
escola, muito diferente da Educação Física ou da
Educação Artística, por exemplo.
Quando falamos de hierarquia, estamos
nos referindo a uma estratificação entre as disciplinas escolares
que, na prática, você conhece muito bem. Há uma hierarquia,
isto é uma escala de valoração entre as disciplinas que
garantem prestígio aos seus professores e aos alunos
bem-sucedidos. É o caso da Matemática, da Física
e da Química, que ficam à frente de outras, como a
Língua Portuguesa, a Educação Física, a Educação
Artística, as línguas estrangeiras etc. Você já deve ter
ouvido os seguintes comentários: “se um aluno não conseguiu calcular
CEDERJ 43
Ciências Naturais na Educação 1 | Ciências e Educação em Ciências
PARE, PENSE!
44 CEDERJ
MÓDULO 2
Mas você deve estar se perguntando como essas coisas foram
13
construídas. Encontramos em Lopes (2000) uma explicação clara sobre
AULA
o processo de constituição das disciplinas escolares que podem ser
compreendidas como:
• disciplinas que na história de sua constituição se aproximaram mais
daquela chamadas de referência (acadêmicas universitárias). Elas detêm
uma relação tão direta com as disciplinas de referência que recebem
denominação idêntica ou muito similar a elas. É o caso da Química,
da Física e da História, que conhecemos como disciplinas escolares no
Ensino Médio. Elas mantêm uma relação direta com a Química, a Física
e a História, existentes como disciplinas acadêmicas universitárias ou
disciplinas de referência;
• disciplinas que foram formadas pela integração de algumas de referência;
é o caso de Ciências (integração de Química, Física, Biologia e princípios
de Geologia) e de Estudos Sociais (integração de História e Geografia);
• disciplinas temáticas que se constituem como resposta a demandas sociais
diversas, em contextos históricos definidos, e sem relação direta com as
de referência, por exemplo, a Educação Moral e Cívica, a Orientação
Sexual e a Cidadania.
Mesmo que haja uma relação direta com a disciplina de referência,
isso não garante que a disciplina escolar represente o mesmo sistema
de pensamento, métodos de investigação, proposições e conceitos.
A disciplina escolar elabora de outra maneira, didatizando, tais sistemas
de pensamento que estão fora da escola, afastando-se deles, às vezes de
tal forma que perde a conexão com aquela de referência. Por exemplo,
os desenhos de células são tentativas de aproximação para alcançar o
entendimento do aluno; isso não é exatamente o que se vê em uma lâmina
no microscópio, em laboratório, na prática concreta do cientista.
Por meio de novas elaborações, a escola retira os conteúdos afastando-
os das suas práticas reais (dos lugares onde são produzidos) e das relações de
poder (econômico, político, social) que estão associadas às práticas da Ciência.
Afinal, nem Ciência, nem cientistas são neutros, pois têm interesses a defender.
No caso das Ciências Naturais, o conhecimento escolar se desloca das práticas
do laboratório, das investigações de campo, da experimentação em simuladores
etc. O que se tem ao final desse processo, dessa mistura confusa e complexa,
não é o mesmo que existia no campo científico original ou na universidade,
pois a natureza e os objetivos desses conhecimentos não são os mesmos.
CEDERJ 45
Ciências Naturais na Educação 1 | Ciências e Educação em Ciências
46 CEDERJ
MÓDULO 2
O modelo escolar de avaliação, de exames e provas não faz parte
13
das questões priorizadas pelo campo científico ao qual correspondem.
AULA
Na maioria das vezes, as atividades na escola são despersonalizadas,
descontextualizadas e têm o fim específico de atender aos objetivos sociais
estabelecidos pelo contexto econômico, político e pedagógico. Estão
longe de ser objeto da Ciência. Vocês se lembram de experimentos que
“não dão certo” na escola e o professor fica enlouquecido sem saber o
que vai responder aos seus alunos?
PARE, PENSE!
CEDERJ 47
Ciências Naturais na Educação 1 | Ciências e Educação em Ciências
!
Você deve ter claro que as disciplinas escolares não podem ser compreendidas como
mera transmissão pedagogizada do conhecimento científico. Elas não constituem
uma a simples adaptação desse conhecimento para a escola. Não são uma mistura
de superposições de princípios lógicos, psicológicos e metodológicos.
A MEDIAÇÃO DIDÁTICA
48 CEDERJ
MÓDULO 2
Como você sabe, toda via de mão dupla tem faixas de rolamento
13
de ida e volta. A escola é uma instituição que difunde o conhecimento
AULA
científico por meio do conhecimento escolar. É também uma instituição
de veiculação do saber cotidiano, da herança cultural que a sociedade
seleciona para as gerações mais novas. Entretanto, não se esqueça de
que esse saber selecionado pela sociedade é um saber de classe, capaz de
privar as classes exploradas do seu próprio saber. Nesse
sentido, o saber selecionado precisa ser questionado,
principalmente quanto a sua validade como um saber que
torna possível uma vida mais digna e de justiça social.
O conhecimento escolar é uma produção e,
portanto, podemos dizer que é um artefato histórico,
social e cultural. Se pensarmos em produção, podemos nos
perguntar: “onde, quando, como e em que situações ele é
fabricado?”. Nossa sociedade não é um “mar de rosas”;
convivemos com os mais diversos conflitos de interesses,
nos quais se localiza também um vasto conjunto de saberes
(culturais, econômicos, científicos etc.) que se confrontam.
A escola elege saberes da cultura social, dentre os que são passíveis de
serem selecionados, e promove sua reorganização. Por exemplo, no ensino
de Ciências, os temas consagrados são água, poluição, energia, máquinas
e nutrição. Essa é uma seleção que indica as escolhas realizadas em um
período histórico para atender a determinados interesses sociais, o que
não quer dizer que outras opções não sejam possíveis. O resultado é um
corpo de conteúdos e métodos que compõem uma cultura escolar sui
generis (peculiar), ou seja, que não apresenta semelhança com nenhuma
outra cultura na sociedade, porque é própria da escola.
!
Estamos assumindo uma concepção de Ciência e Tecnologia baseada na atividade
humana sócio-historicamente determinada. Dessa forma, ela se relaciona a um
conjunto de teorias e práticas culturais, no sentido mais amplo de cultura. O
conceito mais clássico de cultura exclui os empreendimentos das Ciências e da
tecnologia, incluindo somente as contribuições materiais associadas às Artes,
Letras e Ciências desinteressadas. Há cinqüenta anos, era possível argumentar
que as Ciências aplicadas e a tecnologia ligada aos bens materiais não pertenciam
à cultura. Hoje, é impossível pensar assim; ao contrário, já existe pesquisa sobre
a nova sociedade imersa na cibercultura (cultura da tecnologia) e os desafios da
sociedade em rede (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002).
CEDERJ 49
Ciências Naturais na Educação 1 | Ciências e Educação em Ciências
RESUMO
50 CEDERJ
MÓDULO 2
ATIVIDADES FINAIS
13
AULA
1. Como pode ser explicada a constituição das disciplinas escolares?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________
RESPOSTA
As disciplinas escolares se constituem tomando por base as disciplinas de referência (disciplinas
acadêmicas universitárias); podem ser resultado da integração de duas ou mais disciplinas
de referência, ou representam uma temática criada para responder a uma demanda social.
COMENTÁRIO
Esta questão não deve lhe trazer dificuldades. Se você respondeu corretamente, muito bem,
sinal de que está construindo com êxito o seu conhecimento. Caso contrário, tente refletir um
pouco mais. A disciplina escolar é uma produção histórica e social. É uma nova seleção para
responder a um conjunto de demandas sociais, que se expressam na escola. São mecanismos
de controle variados. Por isso, Forquin (1993) diz que é um corpo de conteúdos e métodos
que compõe uma cultura escolar sui generis, porque é tipicamente escolar. Não existe em
outro lugar, não tem correspondentes. Entretanto, elas guardam alguma proximidade com o
conhecimento científico através das disciplinas acadêmicas universitárias e por isso passam
a se chamar disciplinas de referência. No currículo escolar, existem disciplinas que são mais
próximas de referência, por exemplo, a Matemática, a Química e a Física. Há outras que são o
resultado da junção de outras disciplinas de referência, como é o caso das Ciências Naturais,
no ensino Fundamental. Por último, ainda existe a possibilidade de surgirem disciplinas que
guardam menor relação com as disciplinas de referência porque são grandes temas de
discussão, colocados na escola para atender a uma determinada necessidade. É o caso da
Educação Ambiental.
RESPOSTA
O ensino de Ciências deve proporcionar a todos os estudantes o desenvolvimento de capacidades
que despertem o interesse e a inquietação em relação ao desconhecido. Dessa forma, poderão
desenvolver posturas críticas e realizar julgamentos diante das produções da Ciência e da tecnologia.
COMENTÁRIO
Se você respondeu de forma correta, parabéns, significa que está indo bem. Se não chegou
a esta resposta, pare para analisar. Antigamente, o objetivo de ensinar ciências era preparar
futuros cientistas. Ensinava-se Ciências para todos, esperando que alguns fossem os futuros
CEDERJ 51
Ciências Naturais na Educação 1 | Ciências e Educação em Ciências
cientistas. Nos dias de hoje, com o avanço da Ciência e da tecnologia cada vez maiores,
o domínio dos fundamentos científicos é indispensável como instrumento para que cada
cidadão possa realizar tarefas rotineiras como ler um jornal de forma crítica. As informações
científicas são cada vez mais importantes para a tomada de todas as decisões coletivas de
uma sociedade; por exemplo, o que fazer com os embriões que não foram utilizados nos
procedimentos de reprodução assistida, quando casais por diversos motivos não podem ter
filhos. Jogar fora ou servir à pesquisa?
Agora, volte à pergunta e tente dar a sua resposta, mas se não conseguir, busque o tutor. Não
deixe para amanhã o que pode fazer hoje!
AUTO-AVALIAÇÃO
Fazendo uma avaliação do seu aproveitamento nesta aula, você acha que
conseguiu alcançar os objetivos? Então, você pode ir adiante. Entretanto, se
ainda restaram dúvidas ou conceitos que não foram entendidos, volte ao texto,
refaça as atividades finais e não deixe de consultar o tutor, buscando também a
ajuda dos colegas do pólo.
52 CEDERJ
14
AULA
A crise na Educação em Ciências
Meta da aula
Relacionar a crise atual da Educação em Ciências com a
necessidade de metodologias de ensino mais adequadas à
educação científica e tecnológica para todos.
objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
• Identificar os atores sociais que estão envolvidos com a crise na Educação
em Ciências.
• Descrever os desafios que a crise apresenta.
Pré-requisito
Compreender o ensino de Ciências como um
conhecimento escolar que visa proporcionar ao
aluno uma educação científica para o exercício
da cidadania e da ética, assunto visto na Aula 14.
Ciências Naturais na Educação 1 | A crise na Educação em Ciências
54 CEDERJ
MÓDULO 2
cursou o antigo Normal ou o Curso de Formação do Magistério de
14
nível médio, dependendo da época de sua formação. Outra fração
AULA
fez curso superior de Pedagogia, mas sua qualificação se efetivou nas
especializações (Administração e Supervisão Escolar e Orientação
Educacional) ou no Magistério das Matérias Pedagógicas (habilitação
para lecionar nos cursos de formação de professores de nível médio).
Há professores que concluíram outras habilitações de nível superior,
mas não necessariamente uma licenciatura. Fizeram um bacharelado,
por exemplo, em Psicologia, mas não conseguiram exercer a profissão,
permanecendo no magistério dos Anos Iniciais (antigas Séries Iniciais).
Concluindo, ter pessoas com o nível superior completo não garante
a melhoria da qualidade do ensino. Ainda não conseguimos obter cursos
de Licenciatura com uma proposta exclusiva e definida para qualificar
o professor na complexidade que o desempenho da função exige. Os
cursos de Licenciatura ainda são vistos como mais uma possibilidade
para garantir emprego no mercado, cada vez mais competitivo, além de
ser uma boa oportunidade para as instituições privadas que apostam
numa relação custo-benefício favorável, por serem cursos de baixo custo
e grande procura.
A formação superior para o magistério dos anos iniciais é uma luta
muito antiga na história da educação brasileira, mas, lamentavelmente,
cheia de dificuldades. A maior parte dos educadores, especialistas, e
mesmo os políticos, reconhecem a necessidade de uma formação que
dê maior qualidade ao trabalho pedagógico. Uma das possibilidades
para sua efetivação é o curso superior com o propósito de capacitar
professores para o trabalho pedagógico com os anos iniciais. Isso nos
leva a pensar nas dificuldades de formulação de propostas curriculares
para essa formação, incluindo a qualificação adequada também para o
bom desempenho no ensino de Ciências. Afinal, tudo isso torna-se um
grande desafio, pois esse profissional deve ser habilitado também para
o ensino da língua materna, dos Estudos Sociais, da Educação Artística,
da Matemática etc. Além disso, em todos os campos do conhecimento,
será exigido dele que exerça sua profissão com competência.
Segundo Forez, no plano internacional, de acordo com informações
de dirigentes da economia, de políticos e empresários, há uma queda
de interesse dos jovens por carreiras de base científica. Empresários e
políticos se alarmam com um futuro de poucos engenheiros, físicos,
CEDERJ 55
Ciências Naturais na Educação 1 | A crise na Educação em Ciências
químicos etc. A indústria se preocupa, pois afinal são eles que projetam
novos produtos, possibilitando a expansão de mercados, aumento de
consumo, geração de capital e aquecimento da economina. Alguns
estimam que a crise das profissões científicas se explica pelo fato de a
carreira de engenheiros não ser mais tão lucrativa, e minimizam as causas
culturais do desinteresse constatado.
No campo das Ciências, para a maioria dos cidadãos, o que
merece destaque e valor é o desenvolvimento tecnológico. As pessoas
acompanham as novas conquistas, sabem das técnicas médicas, da
conquista do espaço e da informática, ainda que essas informações sejam
superficiais e fragmentadas. Ou seja, a população em geral se relaciona
com a tecnologia, e não com o conhecimento científico.
Mas o que fazer em relação à crise? Paralisar? Lamentar? Nosso
próximo passo é discutir os desafios que a crise nos propõe para encontrar
caminhos de superação. Vamos lá?
56 CEDERJ
MÓDULO 2
A SUPERAÇÃO DO SENSO COMUM PEDAGÓGICO
14
AULA
Você se lembra do estudo que fizemos sobre o senso comum, ainda
na primeira aula? Pois bem, os pesquisadores em
ensino de Ciências têm criticado o que chamam de
“senso comum pedagógico”, que é a manutenção
das práticas rotineiras e vazias de significados,
desenvolvidas, na maioria das vezes, na escola. No
primeiro descuido, repetimos velhas práticas com base na
crença de que a apropriação do conhecimento se faz pela
transmissão mecânica de informações (DELIZOICOV;
ANGOTTI; Pernambuco, 2002). Paulo Freire denominava
essa rotina como EDUCAÇÃO BANCÁRIA, em alusão aos
EDUCAÇÃO
depósitos de valores em contas correntes no banco BANCÁRIA
(FREIRE, 1985). Veja como se pode identificar o senso Expressão utilizada
comum “bancário” exercido nas aulas de Ciências: por Paulo Freire
(grande educador
brasileiro) para se
Regrinhas e receituários; classificações taxonômicas; valorização referir à prática
excessiva pela repetição sistemática de definições, funções e escolar que julga
“depositar” o
atribuições de sistemas vivos ou não vivos; questões pobres para conhecimento nas
prontas respostas igualmente empobrecidas; uso indiscriminado “cabeças dos alunos”
do mesmo modo
e acrítico de fórmulas e contas em exercícios reiterados; tabelas e
como se faz um
gráficos desarticulados ou pouco contextualizados relativamente depósito em uma
aos fenômenos contemplados; experiências cujo único objetivo conta bancária. Você
deve se acostumar
é a “verificação” da teoria... (DELIZOICOV; ANGOTTI; com esta expressão,
PERNAMBUCO, 2002, p. 32). pois ela será repetida,
com certeza muitas
vezes, ao longo do
seu curso e da prática
A ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA pedagógica.
Preste muita atenção ao que você vai estudar agora, pois este
assunto vai ser trabalhado várias vezes nesta aula e nas seguintes.
Então, vejamos: a perspectiva da alfabetização científica e tecnológica
tem finalidades humanistas, sociais e econômicas. Para a formação do
cidadão, é proveitoso o estudo do ambiente, da poluição, da Tecnologia,
da Medicina, da conquista espacial, da história do universo e dos seres
vivos etc. As orientações presentes nessas propostas são totalmente
diferentes da prática fechada em Física, Química e Biologia, pois
pretendem formar o cidadão para utilizar e criticar a Ciência.
A orientação a favor da cidadania tem objetivos humanistas; visa a
que todos participem da cultura contemporânea, que tenham capacidade
CEDERJ 57
Ciências Naturais na Educação 1 | A crise na Educação em Ciências
ASSIMILAÇÃO DE CONHECIMENTOS
CONTEMPORÂNEOS
58 CEDERJ
MÓDULO 2
principalmente, paradidáticos, vídeos, materiais digitais em web e CD-
14
ROM. De modo geral, o que diferencia esses materiais dos tradicionais
AULA
é a forma como eles apresentam os conteúdos, procurando articular
os avanços tecnocientíficos com as necessidades da sociedade, ao
mesmo tempo que questionam a produção da ciência e da tecnologia ao
problematizar, por exemplo, seus impactos sociais e ambientais.
Ainda permanecemos um pouco inertes, talvez temerosos na
utilização de recursos tecnológicos mais recentes. Também a realidade da
estrutura de nossas escolas não ajuda, sabemos muito bem disso. Entretanto,
é preciso mudar, uma vez que os alunos já lidam com a tecnologia fora
da escola, utilizam celular, jogos e brinquedos eletrônicos. Quando não
levam objetos tecnológicos para a sala de aula, eles levam as representações
desses objetos, ainda que não os possuam. Não podemos nos esquecer da
divulgação que os meios de comunicação fazem da tecnologia.
LIVRO DIDÁTICO
CEDERJ 59
Ciências Naturais na Educação 1 | A crise na Educação em Ciências
Pode servir para que o professor aponte seus erros e acertos, rompendo
com o mito de que o que está escrito no livro não seria questionável. Um
programa de TV que divulgou uma descoberta nova da Ciência pode ser
criticado pela fragmentação da notícia, pela omissão de dados ou pelos
equívocos cometidos. Uma matéria de jornal pode ser útil para sintetizar
uma aula quando apresenta dados mais recentes que o livro didático. Uma
cena de novela falando de saúde pode servir de motivação para desenvolver
os conteúdos que ali não foram apresentados, por exemplo.
60 CEDERJ
MÓDULO 2
14
AULA
!
A Pesquisa na Educação em Ciências
No Brasil, desde a década de 1970, realizam-se, periodicamente, simpósios, reuniões
e encontros de pesquisadores em ensino e professores de Física, Química e Biologia.
Havia o desafio de estabelecer interlocução entre as pesquisas nas diversas áreas do
conhecimento. Durante o 1º Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências
(Enpec), realizado em 1997, criou-se a Associação Brasileira de Pesquisa em Ensino
de Ciências (Abrapec), que tem como uma das metas congregar pesquisadores em
ensino e professores de várias ciências. Eventos de caráter mais amplo também
apresentam trabalhos relativos ao ensino de Ciências, dentre eles: as reuniões
da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (Anped) e os
Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino (Endipe).
NAVEGAR É PRECISO!
CEDERJ 61
Ciências Naturais na Educação 1 | A crise na Educação em Ciências
• a relevância do tema;
• os dados e os resultados obtidos;
• as conclusões e suas relações com a realidade que você
conhece;
• a contribuição que os trabalhos podem apresentar para a reflexão
sobre o ensino de Ciências.
Se, por qualquer motivo, você não tiver acesso à internet, faça a
pesquisa em livros de Metodologia do Ensino de ciências. Há referências
bibliográficas para consulta ao final desta aula. Entretanto, se você quiser,
pode consultar outras fontes.
Vamos retomar as questões da pesquisa sobre o ensino de Ciências
na Aula 20. Não deixe de se empenhar nessa tarefa, que vai ajudá-lo
muito na compreensão do que é a pesquisa no ensino de Ciências,
fundamental para que você também seja um pesquisador da sua própria
prática. Você já se imaginou como pesquisador? Então, já pode começar
a tarefa!
INTERDISCIPLINARIDADE
62 CEDERJ
MÓDULO 2
Na Educação, os debates sobre interdisciplinaridade são amplos,
14
porém, sabe-se que a prática não tem a mesma correspondência. Tanto o
AULA
currículo do Ensino Fundamental quanto o da formação de professores dos
mais diversos níveis (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio)
ainda permanecem disciplinares. Mas isso não impede que se realizem práticas
interdisciplinares.
Assistimos, a cada dia, à necessidade de abordagens interdisciplinares
porque o ensino disciplinar tem levado a impasses, principalmente quando
queremos formar alunos para o exercício da cidadania. Nesse caso, pouco
ajuda o acúmulo de conhecimentos gerais, fragmentados e descontextualizados,
que não respondem sobre a diversidade e a complexidade do mundo.
CEDERJ 63
Ciências Naturais na Educação 1 | A crise na Educação em Ciências
RESUMO
ATIVIDADES FINAIS
RESPOSTA
A crise tem vários atores, dentre eles os professores (da Educação Infantil e do Ensino
Fundamental), os alunos, os dirigentes econômicos, políticos e empresariais, os pais, enfim
todos os cidadãos. Os alunos consideram as Ciências uma realização humana importante;
admiram os resultados do avanço científico e tecnológico, mas nem sempre estão muito
interessados em acompanhar o avanço científico. Os professores já enfrentam a crise da
desvalorização do trabalho e sua formação está em defasagem com as exigências da situação
escolar. Os dirigentes, em geral, se preocupam com a produção de riquezas em quantidades
suficientes para satisfazer as nossas necessidades crescentes. Os pais estão preocupados
com o futuro emprego de seus filhos, concordam fortemente com o ponto de vista do mundo
econômico. Para grande parte dos cidadãos, o interesse é centrado no desenvolvimento
tecnológico. Todos querem saber quais são as últimas novidades científicas e tecnológicas,
o que há de mais recente na Medicina e na Informática.
COMENTÁRIO
Se você respondeu algo que expresse um conjunto de problemas, formas de perceber e avaliar
a Educação em Ciências, está caminhando bem. Se, ao contrário, teve alguma dificuldade,
pense na crise do ensino de Ciências, nos problemas que devem ser enfrentados, conforme
estudamos quando abordamos cada participante da crise, utilizando Forez, logo no início desta
aula, volte ao texto e releia toda aula.
64 CEDERJ
MÓDULO 2
2. Apresente e comente um desafio para o professor diante da crise no ensino de Ciências.
14
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AULA
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RESPOSTA
O livro didático é um grande desafio ao ensino de Ciências. Ele é praticamente o único
recurso didático utilizado pelo professor, tornando-se quase uma “muleta” para as atividades
pedagógicas. Isso não deveria ser um grande problema, mas torna-se uma preocupação
tanto pela qualidade dos textos quanto pela habilidade e capacidade de utilização por parte
dos professores. O desafio é fazer bom uso do livro didático de boa qualidade ou não e
ampliar a leitura para outros meios: livros paradidáticos, jornais, literatura infanto-juvenil, TV,
web, vídeo etc.
COMENTÁRIO
Ao realizar esta atividade, você também poderia escolher outros desafios abordados na aula,
tais como: a superação do senso comum pedagógico; a alfabetização científica e tecnológica;
a ciência e a tecnologia como cultura; a assimilação de conhecimentos contemporâneos;
a relação pesquisa em ensino de Ciência com a prática de ensino de Ciências; e a
interdisciplinaridade. Em todos os casos, é importante relacionar o desafio com as condições
materiais concretas para a sua superação.
Se não teve nenhuma dificuldade, ficamos felizes por você!
AUTO-AVALIAÇÃO
CEDERJ 65
15
AULA
Panorama do ensino de Ciências
Meta da aula
Apresentar uma visão geral sobre as diversas práticas
do ensino de Ciências nos últimos anos.
objetivos
Pré-requisito
Para um melhor desenvolvimento desta aula, é
importante que você tenha compreendido
as Ciências Naturais como um conhecimento
escolar que visa proporcionar ao aluno
uma educação científica e tecnológica para
o exercício da cidadania e da ética.
Este tema foi visto na Aula 14.
Ciências Naturais na Educação 1 | Panorama do ensino de Ciências
INTRODUÇÃO Até aqui, você já viu, por diversas vezes, menções às práticas do ensino de
Ciências sem a preocupação de situá-las historicamente. Nesta aula, vamos tentar
mapeá-las, traçando algumas tendências da ação educativa no ensino de Ciências,
de forma que possamos identificá-las na trajetória da educação brasileira.
68 CEDERJ
MÓDULO 2
dotando-as de laboratórios. Revela-se, nesse contexto, o objetivo de
15
formar futuros cientistas. Em tese, naquele momento histórico, vigorava
AULA
a idéia de que o conhecimento era universal (acúmulo da produção
inventiva do Homem). Inicialmente, o material elaborado para os
Estados Unidos poderia muito bem ser implantado no Brasil. No entanto,
a implantação do projeto teria de ser adaptada para a realidade brasileira.
Como não houve tal adaptação, as tentativas de implantação dos
projetos norte-americanos fracassaram no Brasil. Como a adequação do
material estrangeiro era muito difícil, os educadores brasileiros iniciaram
a produção de projetos adequados a nossa realidade, que repercutem
até meados da década de 1970.
No que se refere à metodologia utilizada, o período entre 1960 e o
final da década seguinte vai se caracterizar principalmente pelo conhecido
“método da redescoberta”, cuja concepção envolvia uma sucessão de
atividades com os alunos, que os estimulava a imitar o trabalho dos cientistas.
Em outras palavras, a proposta era que os alunos tomassem o lugar de
cientistas e percorressem o caminho de suas grandes descobertas.
O objetivo, na verdade, era ensinar o processo básico das
Ciências, o controle das variáveis, a observação, o procedimento
das experimentações, a construção de hipóteses e a elaboração de conclusões.
Enfim, partia-se do princípio de que se o aluno dominasse o processo de “fazer
Ciências”, desenvolveria capacidades e atitudes científicas.
Segundo Krasilchick (1987), na década de 1970, observamos
a ênfase na chamada “Ciência Integrada”, difundida por instituições
internacionais, principalmente a Unesco. A proposta tinha por base
a integração entre as Ciências Naturais e a Matemática, excluindo
as Ciências Sociais, chegando muito próximo do esvaziamento dos
conteúdos. Centrava-se na idéia de que bastava ao professor de Ciências
usar os materiais instrucionais, não necessitando ter conhecimento seguro
e relativamente profundo do conteúdo a ser ensinado. O livro passou a
ser uma peça fundamental, impondo-se o modelo do chamado estudo
dirigido, com exercícios em geral compostos de questões de múltipla
escolha (atividades fechadas).
No final dos anos de 1970, grupos de pesquisa em ensino de
Ciências iniciaram uma reflexão sobre o trabalho já realizado na área
e passaram a desenvolver críticas bastante proveitosas, considerando o
desenvolvimento histórico do conhecimento científico e suas implicações
CEDERJ 69
Ciências Naturais na Educação 1 | Panorama do ensino de Ciências
70 CEDERJ
MÓDULO 2
15
PARE, PENSE!
AULA
Você acha que as mudanças que estamos apresentando
ocorreram de um dia para o outro? Parece que não, conforme
estamos observando ao longo da trajetória do Ensino
de Ciências. Que tal você dar um pulinho no Fórum
de discussão da disciplina? Tente conversar com outros
colegas e identificar o que cada um pode contar das
mudanças ocorridas. Há pessoas que podem se lembrar,
pela prática com os alunos, de alguns trechos dessa história.
Outras podem não ter vivido, mas ouviram falar, ou possuem
parentes que comentam. No fórum, essas histórias podem
se ampliar. O mais interessante será identificar, ainda hoje,
a presença de todas nas escolas.
Esta tarefa também pode ser realizada conversando com
pessoas do seu círculo de amizade. Registre por escrito as
histórias que você conseguir coletar, leve para o tutor no
pólo e discuta com ele sobre os resultados obtidos.
CEDERJ 71
Ciências Naturais na Educação 1 | Panorama do ensino de Ciências
72 CEDERJ
MÓDULO 2
vocabulário, dos conceitos e das regras. Por exemplo, a utilização de
15
uma terminologia adequada é importante para a comunicação científica;
AULA
é com ela que os alunos devem se familiarizar para compreendê-la. Se o
termo é introduzido quando é necessário, depois de ter compreendido um
determinado processo ou estrutura, os alunos formarão um vocabulário
gradativamente.
PARE, PENSE!
CEDERJ 73
Ciências Naturais na Educação 1 | Panorama do ensino de Ciências
74 CEDERJ
MÓDULO 2
no futuro. Voltamos ao exercício da ética e da cidadania. Se você já
15
imaginava que não voltaríamos mais ao assunto, ledo engano!
AULA
PARE, PENSE!
CEDERJ 75
Ciências Naturais na Educação 1 | Panorama do ensino de Ciências
76 CEDERJ
MÓDULO 2
15
RESUMO
AULA
O que você precisa saber?
No Brasil, o ensino de Ciências foi introduzido no currículo do ensino básico
como condição da formação geral do cidadão e para atender às necessidades do
desenvolvimento tecnológico do país.
A sociedade urbana industrial foi exigindo um maior grau de conhecimento
científico e tecnológico, principalmente para a inserção desse profissional no
mercado de trabalho.
Na formação do aluno, é importante reconhecer o conhecimento científico e
tecnológico como um instrumento para ampliar a sua compreensão e atuação
no mundo em que vive.
ATIVIDADES FINAIS
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_______________________________________________________________________
RESPOSTA
Como o próprio nome indica, a metodologia se baseava em “descobrir de novo”, os caminhos
percorridos pela Ciência. Por isso, tentava reproduzir as práticas dos cientistas, repetindo
uma seqüência de atividades que reuniam a observação, os procedimentos, as hipóteses e
a conclusão.
COMENTÁRIO
Se a sua resposta está correta, se é algo parecido com o que foi exposto, você está obtendo
sucesso. Ficamos felizes por você! Se não foi isso que aconteceu, não desanime. Volte no texto,
no trecho em que discorremos sobre o ensino de Ciências no Brasil, no primeiro subtítulo.
Trata-se de uma das primeiras tendências metodológicas na área. Refaça a sua resposta e,
se ainda assim persistirem dúvidas, procure o tutor no pólo.
CEDERJ 77
Ciências Naturais na Educação 1 | Panorama do ensino de Ciências
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_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Resposta
Primeiro, o ensino de Ciências na escola se justifica por ser uma via de formação para os futuros
cientistas. Segundo, para propiciar uma educação científica e tecnológica para todos.
COMENTÁRIO
Esta pergunta não deve ter causado nenhuma dificuldade. Se você acertou, parabéns! Mais
uma vez atingiu o sucesso, que é a sua meta e a nossa também. Entretanto, se não chegou
a esta resposta, pense em como seria a formação de novos cientistas se eles não passassem
pela escola? Ainda que ela tenha uma infinidade de problemas, continua sendo o espaço
socialmente destinado para a transmissão do saber sistematizado e a formação do cidadão.
Logo, a primeira justificativa para o ensino de Ciências na escola é a necessidade de alimentar
a Ciência com novos profissionais. Entretanto, todos estão e permanecerão submetidos aos
avanços da Ciência e da Tecnologia, que se expandem em escalas crescentes a cada dia.
Assim, concluímos que há uma necessidade de educação científica e tecnológica para todos,
e não apenas para alguns.
AUTO-AVALIAÇÃO
78 CEDERJ
O enfoque Ciência,
16
AULA
Tecnologia e Sociedade
no ensino de Ciências
Meta da aula
Evidenciar o enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade como uma
proposta para a ação educativa.
objetivos
Esperamos que, após estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
• Estabelecer a relação Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).
• Refletir sobre a relação do fenômeno científico-tecnológico com o
contexto social.
• Identificar CTS como campo interdisciplinar de estudos.
Pré-requisito
Antes de iniciar esta aula, é preciso que você
tenha compreendido o ensino de Ciências como
forma de aquisição de uma educação científica,
assunto estudado na Aula 13. É importante,
também, que tenha identificado o papel relevante
da alfabetização científica na Educação Infantil
e no Ensino Fundamental. Você terá melhor
desempenho se conseguir articular Educação
Científica com a necessidade de elaborar
propostas mais adequadas para realizá-la, tema
também trabalhado da Aula 13.
Ciências Naturais na Educação 1 | O enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade no ensino de Ciências
INTRODUÇÃO Devido ao estilo de vida da atualidade, é cada vez mais evidente a necessidade
de a sociedade estar presente no controle da atividade tecnocientífica. Por isso, é
importante que o ensino de Ciências seja orientado para propiciar uma formação
da cidadania. A sociedade necessita de indivíduos capacitados para participar de
um mundo no qual a Ciência e a Tecnologia têm grande impacto em nossas
vidas. A abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), desde a década de
1980, tem sido defendida como a mais adequada para fomentar uma educação
tecnocientífica dirigida à aprendizagem da participação como elemento central
da educação cidadã. O enfoque CTS trouxe novos significados para conceitos já
aceitos como alfabetização científica e tecnológica, Ciência para todos ou difusão
da cultura científica. Nesta aula, vamos tratar da abordagem CTS que se apresenta
como um projeto de educação para a participação em Ciência e Tecnologia.
80 CEDERJ
MÓDULO 2
16
!
AULA
A Ciência não é uma atividade isolada, autônoma e imune a fatores econômicos, políticos,
históricos, sociais, culturais e ideológicos da sociedade. Ela é resultado dos conflitos de interesses,
ao mesmo tempo que é produtora de novos embates entre esses diversos fatores.
Hoje não faz mais sentido pensar em uma Ciência com base
em valores do conhecimento, da mesma forma que não se explicam as
tecnologias por meio de valores unicamente relacionados à sua eficiência
ou eficácia. A sociedade também já não recebe e valoriza como benéficos
todos os produtos da Ciência e da Tecnologia. A suposta relação linear
entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, que juntaria os três elementos em
uma cadeia ordenada, só é possível através de uma interpretação ingênua
dos dados da realidade.
A Ciência e a Tecnologia dependem diretamente do jogo de
interesses que caracterizam a vida em sociedade. Como toda e qualquer
prática social, as decisões, as controvérsias, os interesses e os valores dos
diferentes grupos de poder afetam a atividade tecnocientífica.
Entretanto, ainda que você tenha percebido a importância dos
conhecimentos necessários para a crítica das práticas tecnocientíficas,
a maioria da população não possui as condições mínimas de
acesso ao conhecimento científico para formular e expressar
opiniões e, por conseqüência, se posicionar em relação
aos efeitos dos avanços da Ciência e da Tecnologia.
Em contrapartida, de forma perversa, é a população
quem ganha ou perde com os resultados da Ciência e
do desenvolvimento tecnológico, recebe os benefícios
ou sofre as conseqüências dos resultados da pesquisa.
Outra questão que se apresenta é a democratização dos
resultados; o conhecimento e a tecnologia não deveriam
ser privilégio de grupos, ao contrário, deveriam ser
“ferramentas importantes na construção de uma sociedade
cidadã, ou seja, uma sociedade ética, sustentável e solidária”
(SANTOS, 2004).
As discussões sobre Ciência, Tecnologia, Sociedade, democratização
dos resultados de pesquisas e construção de uma sociedade mais ética e
cidadã congregam um conjunto de temas que são objetos dos estudos
compreendidos no campo denominado Ciência, Tecnologia e Sociedade
CEDERJ 81
Ciências Naturais na Educação 1 | O enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade no ensino de Ciências
!
Você já ouviu falar em CTS? É uma abordagem que leva em conta os fatores econômicos,
políticos e culturais que têm influência sobre as transformações tecnocientíficas e ressalta as
suas conseqüências para a sociedade e o meio ambiente. Dessa forma, o enfoque CTS aponta
para uma ruptura com a noção de que Ciência e Tecnologia são atividades autônomas e
independentes da sociedade, e que se orientam na direção do bem e da verdade.
82 CEDERJ
MÓDULO 2
da mesma forma que o desenvolvimento de diversos campos científicos
16
permite conhecer novos âmbitos da realidade.
AULA
O valor da metáfora de Martin Gordillo e Ozório está
na explicação de que o ensino de Ciências é um elemento de construção de
uma educação para participar da Ciência e da Tecnologia. Nenhum interesse
haveria em imaginar estradas sem as pessoas que conduzem os veículos. As
vias de comunicação podem ter diferentes traçados, mas são os seres humanos
com seus interesses que vão definindo por onde vão percorrê-las e como vão
fazê-lo. Para ir de um lugar a outro, podemos escolher transportes públicos
ou privados, trem ou automóvel, por exemplo. Mesmo que nem sempre fique
explícito, essas decisões são humanas e condicionam a vida.
Tomando por base o conjunto de relações entre Ciência, Tecnologia
e Sociedade, as recomendações de uma alfabetização tecnocientífica para
todos incluem propostas do movimento CTS, que aqui resumimos do
trabalho de Acevedo Díaz; Vázquez Alonso e Manassero (2004):
• a inclusão da dimensão social na Educação Científica;
• a presença da tecnologia como elemento que facilita a conexão
com o mundo real e uma melhor compreensão da natureza da Ciência e da
tecnociência contemporâneas;
• a relevância para a vida pessoal e social das pessoas com objetivo de
resolver problemas e tomar decisões responsáveis na sociedade civil;
• os enfoques democratizadores da Ciência e da Tecnologia;
• a familiarização com os procedimentos de acesso à informação, sua
utilização e comunicação;
• o papel humanístico e cultural da Ciência e da Tecnologia;
• seu uso para propósitos específicos sociais e a ação cívica;
• a consideração da ética e dos valores da Ciência e da Tecnologia;
• o papel do pensamento crítico etc.
CEDERJ 83
Ciências Naturais na Educação 1 | O enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade no ensino de Ciências
84 CEDERJ
MÓDULO 2
A idéia de educar para participar já é consenso em propostas
16
designadas como alfabetização tecnocientífica, ciência para todos ou
AULA
difusão científica. Seria mais fácil promover a difusão dessa cultura
científica se desde os primeiros anos da escola os alunos fossem
construindo no cotidiano a necessidade de participar nas decisões que
se relacionem ao desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia.
Desse modo, será mais fácil falar de Ciências para todos nos
contextos educativos, já que a orientação participativa do ensino
dessa disciplina está dirigida ao conjunto dos cidadãos e não à elite da
população que detém a capacidade de tomar as decisões. A Educação
Tecnocientífica como educação para a participação implica a idéia de
democratização dos conhecimentos necessários para uma participação
responsável nas decisões que afetam a coletividade.
NAVEGAR É PRECISO!
Quer saber mais?
Se estamos falando de cidadania e
ética, o exercício da participação pressupõe o
conhecimento dos órgãos e instituições
públicas responsáveis pelas mais
diversas ações sociais que, nos dias de
hoje, estão de alguma forma envolvidas com a Ciência e a Tecnologia. Você
conhece esses órgãos? Sabe quais são os mais importantes? Então, mãos à
obra. Aliás, mãos ao mouse! Tente visitar as páginas de algumas instituições
que sugerimos a seguir. Depois, levante outros sites de instituições correlatas
no seu município. No fórum de discussão da disciplina, troque informações
sobre esses endereços eletrônicos com seus colegas. Leve o resultado de sua
pesquisa para o tutor no pólo e discuta com ele sobre suas descobertas.
Sugerimos alguns endereços eletrônicos. Lembre-se de que você
também deve buscar outros sites, ampliando as possibilidades de ação
educativa no enfoque CTS.
http://www.saude.gov.br
http://www.mec.gov.br
http://www.see.rj.gov.br
http://www.cedae.rj.gov.br/
http://www.rio.rj.gov.br/comlurb
http://www.governo.rj.gov.br/municipios.asp
CEDERJ 85
Ciências Naturais na Educação 1 | O enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade no ensino de Ciências
86 CEDERJ
MÓDULO 2
16
Quadro 16.1: Estratégias de ensino para a CTS
AULA
no conhecimento científico
2. Elaboração de projetos em pequenos grupos cooperativos
PARE, PENSE!
CEDERJ 87
Ciências Naturais na Educação 1 | O enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade no ensino de Ciências
88 CEDERJ
MÓDULO 2
16
RESUMO
AULA
O que você precisa saber
O campo dos estudos sociais da Ciência e da Tecnologia é uma grande área de
investigação interdisciplinar que conjuga aspectos sociais, econômicos, políticos,
históricos, culturais, e ideológicos da sociedade, entendendo que a Ciência não é
uma prática autônoma. A CTS possui uma dimensão bastante ampla, atingindo
os campos da pesquisa, das políticas públicas e da educação. A construção das
bases para a participação social em Ciência precisa de investimentos em estratégias
educacionais que assegurem a Educação em Ciências. A partir das pesquisas em CTS,
desenvolvem-se propostas metodológicas para concretização desses objetivos.
ATIVIDADES FINAIS
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
RESPOSTA
Hoje, a alfabetização tecnocientífica é compreendida como um instrumento para a construção
de uma sociedade cidadã, ou seja, uma sociedade ética, sustentável e solidária. A primeira
condição para a participação é o acesso à informação, ao conhecimento sobre os resultados,
possibilidades de uso, benefícios e riscos dos avanços tecnocientíficos.
COMENTÁRIO
Se a sua resposta foi nesse sentido, destacando a participação do cidadão, parabéns! É muito
bom que você esteja se saindo bem, sinal de que está tendo êxito no curso. Mas, se não
conseguiu, é importante que você retome o estudo das Aulas 15 e 16, nas quais estudou a
Alfabetização Científica e Tecnológica.
CEDERJ 89
Ciências Naturais na Educação 1 | O enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade no ensino de Ciências
RESPOSTA
Tome por base o Quadro 16.1 desta aula. Você pode escolher, por exemplo, a estratégia de
ensino número 8 que se refere às propostas de atuação civil ativa na comunidade. Tome por
situação-problema um despejo de lixo nas proximidades da escola. Os alunos sempre comentam
sobre a presença de detritos nas ruas, a freqüência irregular do lixeiro ou o esquecimento das
pessoas sobre os horários da coleta. Uma discussão sobre o assunto, a partir do conhecimento
relacionado aos problemas com o lixo, pode levar, por exemplo, ao contato com profissionais
da companhia de limpeza pública para palestras na escola. Pode-se decidir coletivamente a
organização de um mutirão para a retirada do lixo, substituindo o vazadouro por um jardim
no local ou uma horta, dependendo do que seja mais conveniente.
COMENTÁRIO
O exemplo utilizado na resposta apresentou uma atuação civil ativa da comunidade. Se a sua
resposta foi parecida com essa, que bom. Mas veja, você pode escolher qualquer uma das
estratégias que estão no Quadro 16.1. Não se esqueça de apresentar situações que levem
aos questionamentos sobre os benefícios e os riscos. Isso é importante para se realizar um
trabalho no ensino de Ciências fundamentado no enfoque CTS.
AUTO-AVALIAÇÃO
Quais as relações que existem entre Ciência, Tecnologia e Sociedade? Você foi capaz
de identificar a CTS como um campo interdisciplinar de estudos e pesquisas? Você
já havia se perguntado sobre as possibilidades do ensino de Ciências, estabelecendo
uma conexão com o contexto social e cultural? Observou que desta forma os
conteúdos de Ciências ganham um significado maior e mais amplo?
Se você está seguro da sua aprendizagem, pode seguir para a Aula 18.
90 CEDERJ
17
AULA
Ensino de Ciências nos anos
iniciais do Ensino Fundamental
Meta da aula
Apresentar a discussão sobre as possibilidades da alfabetização
científica e tecnológica para o Ensino de Ciências nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, com base em duas abordagens de
investigação: concepções alternativas e mudanças conceituais.
objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
• Caracterizar as duas abordagens de investigação: concepções alternativas
e mudanças conceituais.
• Identificar as concepções alternativas e as mudanças conceituais como
campos de pesquisa em ensino de Ciências.
• Avaliar as concepções alternativas e as mudanças conceituais como
contribuição à prática docente.
Pré-requisito
Para o estudo desta aula, será necessário que você
compreenda o papel do enfoque Ciência, Tecnologia
e Sociedade como uma proposta para ação educativa
no ensino de Ciências, tema da Aula 16.
Ciências Naturais na Educação 1 | Ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental
92 CEDERJ
MÓDULO 2
Como você já viu na Aula 1, o homem é um ser que integra
17
o universo natural. Ao longo de sua história, interagiu com ele para
AULA
satisfazer a suas necessidades e curiosidades, para alimentar-se,
vestir-se, abrigar-se, buscar explicações sobre os diversos fenômenos
ao seu redor e dar respostas às suas inquietações sobre a vida. Essa
necessidade impulsiona o homem ao desenvolvimento da capacidade
de reflexão, organização e elaboração do conhecimento. Dessa forma, o
conhecimento surge das relações produzidas no ambiente natural, social,
cultural e histórico. E, nesse contexto, o que hoje se preconiza é que o
ensino de Ciências deve permitir ao aluno a compreensão dos resultados
da produção científica; isso sem perder de vista que o conhecimento
científico não é uma verdade única e inquestionável, mas um saber que
pode permitir ao aluno ampliar as concepções prévias que ele próprio
traz para a escola.
Desde os anos de 1970, as pesquisas no ensino de Ciências
acumularam discussões que fortalecem duas abordagens de investigação:
1) as concepções alternativas, espontâneas ou prévias dos alunos e
também dos professores sobre tópicos referentes às Ciências; 2) a
mudança conceitual.
Os dois campos de pesquisa se complementam e, portanto,
precisam ser entendidos nessa inter-relação. A abordagem que se ocupa
das investigações sobre as concepções alternativas, espontâneas ou
prévias dos alunos e dos professores surgiu de estudos que passaram a
se preocupar com a melhor compreensão dos “erros” ou das respostas
“erradas” dos alunos, quando se confrontam com questões relacionadas
ao conhecimento científico. Por conseqüência, nas décadas entre 1980
e 1990, essas investigações levaram aos questionamentos sobre os
procedimentos mais adequados à mudança
desses conceitos “errados”.
O campo de pesquisa da mudança
conceitual busca a elucidação dos mecanismos
e variáveis envolvidas, quando se analisa o
empreendimento de um indivíduo no processo
de mudança; ou seja, quando ele parte de
uma concepção alternativa ou espontânea
para o domínio da concepção científica de um
determinado conteúdo. A seguir, um exemplo
CEDERJ 93
Ciências Naturais na Educação 1 | Ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental
que pode esclarecer essa questão para você é apresentado por Santos
(1991). Um aluno que entende a nutrição das plantas como algo que ocorre
unicamente através da água e dos nutrientes do solo, absorvidos pela
raiz, provoca uma mudança conceitual ao compreender que essa nutrição
envolve um complexo processo bioquímico denominado fotossíntese.
Uma preocupação central do campo de pesquisas das mudanças
conceituais se refere ao desenvolvimento de metodologias que envolvam
os alunos nesse processo, o que implica a compreensão das duas
abordagens: concepções alternativas e mudanças conceituais. Ambas,
como você já deve ter percebido, estão diretamente relacionadas. A seguir,
vamos nos deter nas características de cada uma delas.
!
Você precisa ficar muito atento para reconhecer que professores e alunos têm
concepções alternativas sobre os diversos conhecimentos científicos e tecnológicos.
As concepções alternativas não são exclusivas dos alunos.
MUDANÇA CONCEITUAL
94 CEDERJ
MÓDULO 2
Posner, esboçaram um modelo para explicar esse processo, que se tornou
17
uma referência básica para a investigação na área. Diniz (1998, p. 30-31)
AULA
sintetiza as quatro condições do modelo para a mudança conceitual de
Posner, afirmando que as novas concepções devem:
1. Questionar com os conceitos existentes: o aluno precisa viver
situações em que mudanças pequenas não resolvam o
seu problema, passando a necessitar de mudanças
radicais.
2. Manifestar-se inteligível: o aluno deve
ser capaz de construir uma representação coerente
e com o significado da nova concepção.
3. Mostra-se plausível: o novo conceito
deve ser capaz de resolver problemas.
4. Apresentar caráter frutífero: o conceito
deve ser aplicável em outras situações.
CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS,
MUDANÇA CONCEITUAL E PRÁTICA
PEDAGÓGICA
CEDERJ 95
Ciências Naturais na Educação 1 | Ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental
PARE, PENSE!
96 CEDERJ
MÓDULO 2
A pesquisa na área das concepções alternativas confere grande
17
destaque à necessidade de auto-reflexão para alunos e professores, no
AULA
sentido do exercício permanente de afastamento dos seus próprios
conceitos para ser capaz de avaliá-los, localizando inadequações para
atingir a mudança conceitual.
As concepções prévias são introdutórias, funcionam como suporte
que os alunos já trazem para a nova experiência escolar. A compreensão
do conhecimento científico é facilitada quando o professor busca as
concepções prévias e estabelece relações diretas com a produção científica.
Dessa forma, se constrói uma aprendizagem significativa. Mas isso só
ocorre quando a informação se apóia em conceitos preexistentes e
relevantes para o aluno. As concepções alternativas servem como
âncoras para a construção de novas informações a serem trabalhadas
no ensino. Além disso, o aluno precisa manifestar disponibilidade para
realizar mudanças conceituais, o que somente se concretizará se existir
uma motivação para compreender como o conhecimento científico pode
se relacionar com o contexto social, político e cultural em que vive.
No que se refere às práticas do professor no ensino de Ciências,
as abordagens das concepções alternativas e da mudança conceitual
trazem contribuições em dois níveis. O primeiro diz respeito aos processos
didáticos, nos quais a exigência é de que o professor se aprofunde no
conhecimento dos seus alunos sobre os conteúdos a serem trabalhados.
O segundo está na preocupação permanente do professor com a reflexão
sobre sua prática pedagógica, levando-o, então, a refletir sobre seus
conceitos de ensino, de aprendizagem e dos papéis de aluno e de professor,
visando às mudanças ou às adaptações.
CEDERJ 97
Ciências Naturais na Educação 1 | Ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental
RESUMO
ATIVIDADES FINAIS
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_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
RESPOSTA
A abordagem que se ocupa das investigações sobre as concepções alternativas, espontâneas
e/ou prévias dos alunos e dos professores tem como característica central a preocupação
com a compreensão dos “erros” ou das respostas “erradas” dos alunos, quando se
confrontam com questões relacionadas ao conhecimento científico. Sendo assim, toma
por base a identificação do conhecimento prévio que as crianças já trazem para a escola.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
RESPOSTA
A abordagem de investigação das mudanças conceituais busca entender os mecanismos
que os indivíduos desenvolvem no processo de mudança de uma concepção prévia para o
conhecimento científico de um conteúdo, identificando as dificuldades dessa trajetória.
98 CEDERJ
MÓDULO 2
17
COMENTÁRIO
AULA
As duas perguntas são correlatas, por isso vamos comentá-las em conjunto. É a existência de
concepções alternativas que pressupõe a possibilidade de uma mudança conceitual.
Se você respondeu algo parecido com o que foi apresentado para as questões, é sinal de que
está obtendo êxito em seu trabalho. Parabéns!
Mas, se você chegou a respostas muito diferentes, verifique se percorreu todo o texto
cuidadosamente. Volte à leitura, principalmente do primeiro tópico desta aula: o enfoque CTS
e a pesquisa sobre o ensino de Ciências. Se as dúvidas persistirem, consulte o tutor no pólo.
AUTO-AVALIAÇÃO
Você teve alguma dificuldade nesta aula? Há algum conceito que não ficou
claro? Se isso aconteceu, conte com o auxílio do tutor no pólo, e não deixe de
conversar com seus colegas. Manter um laço afetivo ajuda muito na construção
do conhecimento.
Depois de ter certeza de que conseguiu realizar todas as atividades sem problemas
e estar seguro da sua produção de conhecimento sobre o assunto, siga em frente,
você está indo muito bem.
CEDERJ 99
18
AULA
Ensino de Ciências na
Educação Infantil
Meta da aula
Desenvolver; situar as possibilidades da alfabetização científica
e tecnológica, sob o enfoque CTS para o ensino de Ciências na
Educação Infantil.
objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
• Valorizar as perguntas das crianças.
• Estimular a curiosidade da criança na tentativa de compreender o mundo.
• Incluir as propostas CTS para a o ensino de Ciências na Educação Infantil.
Pré-requisitos
Para iniciar esta aula, você deve ter claro a
importância das propostas sob o enfoque CTS para a
Educação em Ciências, assunto visto na Aula 16.
Você deve também rever a Aula 17 e avaliar bem as
possibilidades da CTS para o ensino de Ciências nos
anos iniciais do Ensino Fundamental.
·
Ciências Naturais na Educação 1 | Ensino de Ciências na Educação Infantil
INTRODUÇÃO Na Aula 17, vimos as propostas para o ensino de Ciências nos anos iniciais
do Ensino Fundamental, considerando o enfoque da CTS e a necessidade de
uma educação científica e tecnológica que torne todos aptos para o exercício
da cidadania e da ética. Vimos também as dificuldades que enfrentamos na
concretização desse projeto nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Em
relação à Educação Infantil, como a situação se apresenta em nosso sistema
de ensino? Este é o tema da aula que vamos iniciar.
102 C E D E R J
MÓDULO 2
Um estudo recente, realizado por Rocha (1999), a respeito da trajetória
18
das pesquisas em Educação Infantil no Brasil, nesses últimos 10 anos,
AULA
tendo como base 371 trabalhos apresentados nas reuniões anuais das
seguintes entidades: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
(ANPED), Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) entre outras, no
período de 1990 a 1996. Os resultados apontam apenas um trabalho
cuja temática se aproxima do que temos realizado [em Educação
Infantil]. Em outro estudo recente realizado por Amaral (1998) sobre
o estado atual da pesquisa em Ensino de Ciências nas últimas três
décadas, chamou nossa atenção o baixo índice desse tipo de pesquisa
com apenas 1,4% abordando o Ensino de Ciências na Educação Infantil.
Contrapondo-se a isso, o Ensino Fundamental aparece com 32,2% das
pesquisas (ROSA; GISLAINE; TERRAZZAN, 2003, p. 1).
C E D E R J 103
Ciências Naturais na Educação 1 | Ensino de Ciências na Educação Infantil
104 C E D E R J
MÓDULO 2
germinação do feijão em algodão umedecido, a chamada “experiência
18
do feijãozinho”.
AULA
Vamos analisar melhor os dados. Nada contra o plantio da árvore
ou contra as datas festivas; ao contrário, elas podem trazer uma riqueza
de possibilidades para o trabalho pedagógico em geral, e em especial,
ao ensino de Ciências. Você estudou anteriormente que as atividades
deveriam ser integradas a outros conhecimentos
escolares. Vamos retomar o exemplo da “experiência
do feijãozinho”. O problema é que as aulas
ministradas acabam, por vezes, valori-
zando a atividade experimental, mas
repete a observação pela observação,
como única forma de acesso ao
conhecimento científico, banalizando
um recurso tão importante para a
Educação em Ciências Naturais. Outra
questão séria que precisa ser enfocada é
não fazer da atividade de Ciências uma
eventualidade, que ocorre exclusivamente
em determinadas datas do ano, perdendo
a valorização específica da alfabetização tecnocientífica e o caráter
interdisciplinar que tanto destacamos desde o início do nosso curso,
principalmente nas Aulas 13 e 14.
Há uma tendência do professor em buscar formas de explicações
para os fenômenos naturais observados como relacionados ao “mágico”,
ao “fantástico” ou ao “milagre”. Dessa forma, as crianças não encontram
lógica nas respostas que estão sendo apresentadas para os seus “porquês”.
Aliás, elas podem não ter conhecimento científico, mas isso não elimina
seu raciocínio lógico e perfeito de acordo com o seu desenvolvimento
físico e mental. Você já pensou sobre isso?
Parece difícil entender que simplificar a linguagem não significa
apresentar explicações fantasiosas; é muito mais buscar respostas
adequadas à linguagem e à capacidade de compreensão da criança, sem
perder o compromisso com argumentos que estejam o mais próximo
possível do conhecimento científico.
As crianças são curiosas e investigativas sobre o mundo em
que vivem. As perguntas que formulam se referem a um conjunto de
C E D E R J 105
Ciências Naturais na Educação 1 | Ensino de Ciências na Educação Infantil
PARE, PENSE!
106 C E D E R J
MÓDULO 2
Tente recolher outras frases expressivas que revelam a maneira
18
peculiar do raciocínio infantil. Isso pode ser feito na observação efetiva
AULA
de crianças, mas você pode utilizar-se da memória de vizinhos, amigos
ou recolhê-las em livros. No fórum de discussão da disciplina, apresente
e reflita com seus colegas sobre as novas histórias infantis que você
encontrou. Você verá que são inúmeras. Depois leve para o seu tutor no
pólo e debata com ele.
C E D E R J 107
Ciências Naturais na Educação 1 | Ensino de Ciências na Educação Infantil
108 C E D E R J
MÓDULO 2
18
AULA
RESUMO
ATIVIDADES FINAIS
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RESPOSTA
Trabalhar na Educação Infantil utilizando um eixo para congregar Ciência e sociedade se justifica
porque a criança se defronta com uma realidade de fenômenos naturais e sociais integrados,
sem compartimentalizações. Quando chega à escola, traz uma experiência anterior na qual,
pela interação com o meio natural e social, aprende coisas sobre o mundo. As crianças pensam
sobre os fatos da Natureza que observam e que a Ciência descreve, formulam hipóteses
sobres seus fenômenos, tentam explicações.
COMENTÁRIO
Para responder adequadamente à pergunta, você precisou aplicar os seus conhecimentos
sobre a relação CTS, valorizou esta relação para indicá-la nas práticas de Ciências na Educação
Infantil. Se você não analisou a questão dessa forma, pense que o ensino de Ciências não
pode estar fragmentado, porque a Ciência e a Tecnologia são atividades sociais que implicam
interesses. Logo, se isso é apresentado desde cedo à criança que está analisando a realidade
na sua totalidade, mais fácil será o seu entendimento nos outros níveis de ensino. Se você teve
dificuldades nesse ponto, volte ao primeiro tópico desta aula e releia também a Aula 17.
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Ciências Naturais na Educação 1 | Ensino de Ciências na Educação Infantil
2. Por que são tão importantes as perguntas das crianças na Educação Infantil?
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RESPOSTA
Além do caráter afetivo, da atenção à criança e do estímulo à curiosidade, suas perguntas
são reveladoras das suas concepções prévias sobre os temas de Ciência e tecnologia que
você pretender desenvolver com elas.
COMENTÁRIO
Esta pergunta não deve ter oferecido maior dificuldade na resposta. Entretanto, se você
não chegou a esta formulação ou a algo próximo, reveja nesta aula a seção A criança, seus
“porquês” e “como”. Se ainda assim você não sanar as dúvidas, procure o tutor e a ajuda
dos colegas no pólo.
Acabadas as dificuldades, siga para a Aula 19.
AUTO-AVALIAÇÃO
Qual o valor das concepções prévias que as crianças trazem para a escola? Em
que podem ser úteis as perguntas das crianças? Como valorizar a curiosidade
da criança? Quais as sugestões importantes apresentadas pelos Referenciais
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil?
Se você teve alguma dificuldade, tente reler o texto, consulte o tutor, não deixe
as dúvidas se acumularem. Mas se na avaliação do seu desempenho você não tem
dúvidas quanto ao seu aprendizado, siga em frente.
110 C E D E R J
Ciências Naturais na Educação 1
Referências
Aula 11
BRASIL. Ministério Público. O lixo na rua atrai doenças e polui o meio ambiente.
Manaus, AM: Ministério Público, 2002.
MANSUR, Alexandre et al. A saúde brota das plantas. Revista Época, p. 87-92, 23
abr. 2001.
SOARES, Lucila. O retrato do Brasil em dez anos. Revista Veja, p. 32-33, 26 dez.
2001.
Aula 12
______. Datasus: indicadores e dados básicos – Brasil – 2003. Disponível em: < http:
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112 CEDERJ
Aula 13
CEDERJ 113
Aula 14
Aula 15
BIZZO, Nélio. Ciências: fácil ou difícil. 2.ed. São Paulo: Ática, 2000.
MELO, Maria do Rosário de. Ensino de ciências: uma participação ativa e cotidiana.
Disponível em: <http://www.rosamelo.hpg.com.br>. Acesso em: 6 jun. 2004.
114 CEDERJ
Aula 16
SITES RECOMENDADOS:
Rio de Janeiro (Estado). Companhia Estadual de Águas e Esgotos. Disponível em: <http:
//www.cedae.rj.gov.br>. Acesso em: 9 jul. 2004.
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Aula 17
Aula 18
BLOCH, Pedro. 300 novas histórias. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1962.
ROSA, Cleci Teresinha Werner da. Alfabetização científica e tecnológica nas séries
iniciais. Jornal A Página da Educação, ano 13, n. 134, p. 9, maio 2004. Disponível em:
<http://www.apagina.pt/arquivo/ImprimirArtigo.asp?ID=3113>. Acesso em: 11 jun.
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ROSA, Daniela Corrêa da, ROSSETTO, Gislaine A.R. da Silva; TERRAZZAN, Eduardo
Adolfo. Educação em ciências na pré-escola: implicações para a formação de professores.
Revista Educação, Santa Maria,RS, CE/UFSM, v. 28, n. 1, 2003. Disponível em: <http:
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116 CEDERJ