Aço Ca40 Ca15 Ca6nm

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DOS MATERIAIS

PROPRIEDADES MECÂNICAS DE TRAÇÃO E IMPACTO DOS


AÇOS INOXIDÁVEIS CA15 E CA6NM

Luiz Cláudio Araújo de Paula

São Carlos
2007
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DOS MATERIAIS

PROPRIEDADES MECÂNICAS DE TRAÇÃO E IMPACTO DOS


AÇOS INOXIDÁVEIS CA15 E CA6NM

Luiz Cláudio Araújo de Paula

Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciência
e Engenharia de Materiais como requisito
parcial à obtenção do título de MESTRE
EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

Orientador: Dr. Claudemiro Bolfarini

São Carlos
2007
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar

Paula, Luiz Cláudio Araújo de.


P324pm Propriedades mecânicas de tração e impacto dos aços
inoxidáveis CA15 e CA6NM / Luiz Cláudio Araújo de Paula. -
- São Carlos : UFSCar, 2008.
205 p.

Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São


Carlos, 2007.

1. Aço inoxidável fundido. 2. Propriedades mecânicas. 3.


CA15. 4. CA6NM. 5. Austenita retida. I. Título.

CDD: 669 (20a)


MEMBROSDA BANCA EXAMINADORADA DISSERTAÇÃODE MESTRADODE
LUIZ CLAUDIO ARAUJO DE PAULA
APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO
CARLOS, EM 27 DE FEVEREIRO DE 2007.

BANCA EXAMINADORA:

L0
Orientador/DEMa/UFSCar

Prat. Dr. ~ISOn Gue-desde Alcântara


DEMa/UFSCar

f~~L ~e~
Prat. Dr. Luiz Carlos Casteletti
EESC/USP

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a Deus, meus pais, Maria do Carmo e Luiz, toda a minha família
e a Vanessa.

VITAE

Engenheiro Metalúrgico pela UFOP em 18/08/2001


i

MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE LUIZ


CLAUDIO ARAUJO DE PAULA
APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DOS MATERIAIS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO
CARLOS, EM 27 DE FEVEREIRO DE 2007.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Claudemiro Bolfarini


Orientador/PPG-CEM

Prof. Dr. Nelson Guedes de Alcântara


DEMa/UFSCar

Prof. Dr. Luiz Carlos Casteletti


EESC/USP
ii
iii

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter proporcionado-me saúde e força durante os dias, muitas noites
e madrugadas destes quase 3 anos de trabalho.

Ao meu orientador Prof. Dr. Claudemiro Bolfarini, pela oportunidade,


orientação, paciência e apoio.

A Fundição Moreno Ltda e seus colaboradores indistintamente, pelo apoio e


contribuição na realização deste trabalho.

A UFSCar, pessoal do DEMA, CCDM e PPG-CEM pela contribuição na


realização deste trabalho.
iv
v

RESUMO

A presente dissertação, consiste no estudo das propriedades mecânicas, com


base em ensaios de tração e impacto de dois aços inoxidáveis martensíticos,
fundidos sob designações da norma ASTM, o aço CA15, um aço com 12% de
Cr e o aço CA6NM, um aço com 12% Cr, 4% Ni e 0,65% Mo.
O trabalho atestou os dois aços CA15 e CA6NM, em condições equiparáveis
de ensaios de tração e impacto, a partir de corpos de prova tipo “Keel Block”
fundidos em molde de areia aglomerada com resina, conforme as designações
da norma ASTM.
A efetividade dos tratamentos térmicos e o resultado sob os ensaios mecânicos
foram verificados por meio de ensaios de caracterização microestrutural:
análise metalográfica por microscopia ótica e eletrônica de varredura. No aço
CA15 observou-se a predisposição a obtenção de ferrita delta na matriz
martensítica, e uma fraca tendência a precipitação de carbonetos. No aço
CA6NM, tanto a microestrutura predominantemente martensítica, quanto a forte
precipitação de carbonetos, são traços marcantes.
Os efeitos de dois meios de têmpera: água e ar, sob as propriedades
mecânicas dos aços CA15 e CA6NM, foram investigados e se mostraram muito
significativos.
Para ambos os aços, duas classes de limites de resistência à tração em
temperatura ambiente foram obtidas, uma inferior a 700MPa, e outra superior,
em torno dos 900MPa. No aço CA15 obteve-se maiores valores de redução de
área e menores valores de alongamento, em comparação com o CA6NM.
Os ensaios de tração a quente(500°C), revelaram uma redução nos valores de
limite de resistência(em relação ao obtido a temperatura ambiente), em torno
dos 30% no aço CA15. Mas no aço CA6NM, a redução do limite de resistência
atingiu valores baixos de até 20%, devido à presença massiva de carbonetos.
Após ensaio de impacto em diversas temperaturas, para determinação da
temperatura de transição dúctil-frágil segundo critério 20,6J, o aço CA15
revelou temperaturas de transição maiores que 10°C, enquanto que o CA6NM
revelou valores de temperatura de transição entre -100 e -150°C.
vi
vii

MECHANICAL PROPERTIES OF CAST CA15 AND


CA6NM STAINLESS STEELS

ABSTRACT

The subject of this work was to study the mechanical properties, based in
tensile and impact tests, of two stainless martensític steels cast under
designations of ASTM Standards, namely the CA15 steel, a steel with 12% of
Cr, and the CA6NM steel, a steel with 12% Cr and 4% Ni.
For both steel grades bar tests were machined out from “ Keel Block” coupons
test cast in sand molds bonded with no-bake resin, according to the ASTM
designations. Before machining the “Keel Blocks” were heat treated according
to the ASTM standards as following: solubilization, quenching and tempering.
The effectiveness of the heat treatments and the results of the mechanical tests
were evaluated by means of microstructural characterization using optical and
scanning electron microscopies. The CA15 steel showed the presence of delta
ferrite in the martensitic matrix, and a weak tendency to carbide precipitation.
On the other hand, the CA6NM steel showed predominantly a martensitic
structure and strong carbide precipitation.
The effect of two quenching conditions, namely water and air, were investigated
on the mechanical properties of CA15 and CA6NM steels and showed to be
high significance.
For both steels two distinct levels of tensile strength at room temperature were
obtained, one inferior to 700MPa, and other superior around the 900MPa. In the
CA15 grades were obtained higher values of area reduction and lower
elongation values, when compared to the CA6NM grade.
The tensile tests at higher temperature (500°C), led to a reduction of
approximately 30% in the values of tensile strength for the CA15 steel.
However, in the CA6NM steel, the reduction of the tensile strength was lower(
less than 20%) due to presence of massive carbide precipitation.
After impact tests at several temperatures for determination of the ductile-fragile
transition temperature, according to the 20,6J criterion, the CA15 steel revealed
viii

a transition temperature beyond 10°C, while the CA6NM steel revealed values
between -100 and -150°C.
ix

SUMÁRIO

Banca Examinadora................................................................................... i
Agradecimentos......................................................................................... iii
Resumo...................................................................................................... v
Abstract...................................................................................................... vii
Sumário...................................................................................................... ix
Índice de Tabelas....................................................................................... xv
Índice de Figuras........................................................................................ xix
1 Introdução................................................................................................ 1
2 Revisão Bibliográfica............................................................................... 3
2.1 Propriedades Mecânicas dos Aços...................................................... 3
2.1.1 Ensaio de Tração............................................................................... 4
2.1.1.1 Fatores que influenciam no Ensaio de Tração............................... 5
2.1.1.2 Efeitos dos Elementos de Liga....................................................... 9
2.1.2 Resistência dos Aços ao Impacto..................................................... 12
2.1.2.1 Temperatura de Transição Dúctil-Frágil......................................... 12
2.1.2.2 Efeitos da Composição Química.................................................... 15
2.1.2.3 Efeitos da Prática de Fabricação................................................... 18
2.1.2.4 Prática de Desoxidação................................................................. 18
2.1.2.5 Processo de Fundição................................................................... 18
2.1.2.6 Tamanho da Seção........................................................................ 19
2.1.2.7 Efeito das Condições Superficiais.................................................. 19
2.1.2.8 Descarbonetação........................................................................... 19
2.1.2.9 Eletrodeposição............................................................................. 20
2.1.2.10 Efeitos dos Microconstituíntes..................................................... 20
2.1.2.11 Tamanho de Grão........................................................................ 21
2.1.2.12 Estrutura Submicroscópica.......................................................... 22
2.1.2.13 Fragilização Azul.......................................................................... 23
2.1.2.14 Fragilização de Revenido............................................................. 23
2.1.2.15 Variabilidade dos Resultados no Ensaio de Impacto
Charpy........................................................................................................ 24
x

2.1.2.16 Variabilidade dos Resultados no Ensaio de Impacto Charpy com


a Espessura e Grau do Aço....................................................................... 25
2.1.3 Caráter da Fratura............................................................................. 25
2.1.3.1 Fratura Frágil.................................................................................. 26
2.1.3.2 Fratura Dúctil.................................................................................. 27
2.1.3.3 Fratura Intergranular...................................................................... 28
2.2 Corpos de Prova e Propriedades dos Aços Fundidos......................... 29
2.2.1 Propriedades do Corpo de Prova Versus Propriedades do
Fundido...................................................................................................... 29
2.2.2 Requisitos do Produto....................................................................... 30
2.2.3 Propriedades do Fundido.................................................................. 30
2.3 Transformação Martensítica................................................................ 32
2.3.1 Crescimento da Martensita............................................................... 34
2.3.1 Martensita em Ripas......................................................................... 34
2.3.2 Mecanismo da Transformação......................................................... 37
2.3.3 Martensita em Placas....................................................................... 38
2.4 Estabilização da Austenita na Martensita............................................ 41
2.4.1 Tratamento de Têmpera e Partição.................................................. 41
2.4.2 Formação e Estabilização da Austenita por Tratamento Térmico
Inter-Crítico................................................................................................ 45
2.5 Precipitação de Carbonetos na Fase Austenítica................................ 50
2.5.1 M23C6................................................................................................ 51
2.5.2 M6C................................................................................................... 52
2.6 Aços Inoxidáveis e Aços Inoxidáveis Fundidos................................... 53
2.6.1 Introdução......................................................................................... 53
2.6.2 Metalurgia dos Aços Inoxidáveis...................................................... 54
2.6.3 Relação entre Composição e Microestrutura.................................... 55
2.6.3.1 Liga Ferro-Cromo........................................................................... 55
2.6.3.2 Liga Ferro-Cromo-Níquel............................................................... 57
2.6.3.3 Outras Adições de Liga.................................................................. 58
2.6.4 Designação ASTM para os Aços Inoxidáveis Fundidos................... 60
xi

2.6.5 Aços Inoxidáveis Fundidos Conforme Norma ASTM........................ 61


2.6.5.1 Aços Martensíticos......................................................................... 61
2.6.5.2 Aços Ferríticos............................................................................... 61
2.6.5.3 Aços Endurecíveis por Precipitação.............................................. 62
2.6.5.4 Aços Duplex................................................................................... 62
2.6.5.5 Aços Austeníticos........................................................................... 62
2.6.5.6 Aços Austeníticos com Ferrita....................................................... 63
2.7 Aço Inoxidável CA-15 Conforme Norma ASTM................................... 65
2.7.1 Microestrutura................................................................................... 66
2.7.2 Equivalência em Outras Especificações........................................... 67
2.7.3 Metalurgia do Aço CA-15.................................................................. 67
2.7.4 Propriedades..................................................................................... 72
2.8 Aço Inoxidável CA6NM Conforme Norma ASTM................................. 74
2.8.1 Microestrutura................................................................................... 76
2.8.2 Equivalência em Outras Especificações........................................... 77
2.8.3 Metalurgia do Aço CA6NM................................................................ 78
2.8.4 Propriedades..................................................................................... 81
3 Objetivo do Trabalho e Metodologia....................................................... 85
3.1 Fundição dos Corpos de Prova............................................................ 86
3.2 Corpos de Prova.................................................................................. 87
3.3 Tratamentos Térmicos......................................................................... 89
3.4 Dilatometria.......................................................................................... 90
3.5 Ensaios de Tração............................................................................... 91
3.6 Ensaios de Impacto.............................................................................. 94
3.7 Metalografias por Microscopia Ótica e Eletrônica................................ 96
3.8 Difração de Raios X............................................................................. 97
3.9 Disponibilização e Análise dos Resultados.......................................... 98
4 Apresentação dos Resultados................................................................ 99
4.1 Composições Químicas Obtidas.......................................................... 99
4.2 Tratamentos Térmicos......................................................................... 103
4.2.1 Tratamento Térmico de Têmpera..................................................... 103
4.2.2 Tratamentos Térmicos de Revenimento do Aço CA15..................... 104
4.2.3 Tratamento Térmico de Recozimento do Aço CA15......................... 106
xii

4.2.4 Tratamentos Térmicos de Revenimento do Aço CA6NM................. 107


4.3 Identificação dos Corpos de Prova...................................................... 109
4.3.1 CA15................................................................................................. 109
4.3.2 CA6NM.............................................................................................. 109
4.4 Análise Metalográfica por Microscopia Ótica....................................... 110
4.4.1 Na Condição Bruto de Têmpera....................................................... 111
4.4.2 Após Tratamento Térmico de Revenimento..................................... 113
4.5 Análise Microestrutural por Microscopia Eletrônica de Varredura....... 127
4.5.1 CA15................................................................................................. 128
4.5.2 CA6NM.............................................................................................. 138
4.6 Micro-Análise por MEV........................................................................ 146
4.7 Ensaios de Tração............................................................................... 148
4.7.1 Resultados Obtidos e Discussão...................................................... 149
4.7.1.1 CA15.............................................................................................. 149
4.7.1.2 CA6NM.......................................................................................... 151
4.8 Ensaios de Tração a Quente............................................................... 153
4.8.1 Resultados Obtidos e Discussão...................................................... 154
4.8.1.1 CA15.............................................................................................. 154
4.8.1.2 CA6NM........................................................................................... 156
4.9 Ensaios de Impacto.............................................................................. 158
4.9.1 Resultados Obtidos e Discussão...................................................... 159
4.9.1.1 CA15.............................................................................................. 159
4.9.1.2 CA6NM.......................................................................................... 162
4.10 Análise de Fratura Pós Impacto......................................................... 166
4.10.1 Resultados e Discussões................................................................ 167
4.10.1 CA15............................................................................................... 167
4.10.2 CA6NM............................................................................................ 171
4.11 Ensaios de Dilatometria..................................................................... 175
4.11.1 Resultados Obtidos e Discussão.................................................... 176
4.11.1.1 CA15............................................................................................ 176
4.11.1.2 CA6NM......................................................................................... 180
4.12 Detecção de Austenita Retida............................................................ 184
4.12.1 Resultados Obtidos e Discussão.................................................... 185
xiii

4.12.1.1 Por Difração de Raio X................................................................ 185


4.12.1.2 Por Metalografia com Ataque Colorido........................................ 187
5 Discussão Complementar....................................................................... 191
6 Conclusão............................................................................................... 197
7 Sugestões para Futuros Trabalhos......................................................... 199
8 Bibliografia.............................................................................................. 201
xiv
xv

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1 Composição química do aço CA15 conforme norma


ASTM......................................................................................................... 65
Tabela 2.2 Propriedades mecânicas típicas do aço CA15 conforme
norma ASTM............................................................................................. 66
Tabela 2.3 Equivalências do aço CA15 por outras normas segundo “Key
to Steel”..................................................................................................... 67
Tabela 2.4 Composição química do aço CA6NM conforme norma
ASTM......................................................................................................... 75
Tabela 2.5 Propriedades mecânicas típicas do aço CA6NM conforme
norma ASTM.............................................................................................. 75
Tabela 2.6 Equivalências do aço CA6NM por outras normas segundo
“Key to Steel”............................................................................................. 77
Tabela 3.1 Composição típica de carga para fusão dos aços CA15 e
CA6NM...................................................................................................... 86
Tabela 3.2 Composições químicas objetivadas para os aços CA15 e
CA6NM fundidos....................................................................................... 86
Tabela 3.3 Composição da areia utilizada para a produção dos moldes
utilizados na obtenção dos corpos de prova do aço CA15....................... 87
Tabela 3.4 Composição da areia utilizada para a produção dos moldes
utilizados na obtenção dos corpos de prova do aço
CA6NM...................................................................................................... 88
Tabela 3.5 Ciclos de aquecimento e resfriamento dos aços CA15 e
CA6NM em ensaio de dilatometria............................................................ 91
Tabela 3.6 Reagentes para ataque metalográfico dos aços CA15 e
CA6NM...................................................................................................... 97
Tabela 4.1 Composições químicas obtidas por espectrometria de
emissão ótica, realizadas nos aços CA15 e CA6NM................................ 99
Tabela 4.2 Propriedades mecânicas requeridas para o aço CA15
conforme norma ASTM designação A487................................................ 104
Tabela 4.3 Propriedades mecânicas requeridas para o aço CA15
xvi

conforme norma ASTM designação A487................................................ 105


Tabela 4.4 Propriedades mecânicas requeridas para o aço CA6NM
conforme norma ASTM designação A487................................................ 107
Tabela 4.5 Propriedades mecânicas requeridas para o aço CA6NM
conforme norma ASTM designação A487................................................ 108
Tabela 4.6 Identificação dos corpos de prova do aço CA15..................... 109
Tabela 4.7 Identificação dos corpos de prova do aço CANM6................. 109
Tabela 4.8 Composição química obtida por micro-análise....................... 146
Tabela 4.9 Propriedades mecânicas do aço CA15 em ensaio de tração à
temperatura ambiente(24°C)..................................................................... 149
Tabela 4.10 Propriedades mecânicas do aço CA6NM em ensaio de
tração à temperatura ambiente(24°C)....................................................... 151
Tabela 4.11 Propriedades mecânicas do aço CA15 em ensaio de tração
a 500°C..................................................................................................... 154
Tabela 4.12 Redução do limite de resistência do aço CA15 ensaiado a
500°C, em relação ao ensaio de tração à temperatura
ambiente.................................................................................................... 155
Tabela 4.13 Propriedades mecânicas do aço CA6NM em ensaio de
tração a 500°C.......................................................................................... 156
Tabela 4.14 Redução do limite de resistência do aço CA6NM ensaiado a
500°C, em relação ao ensaio de tração à temperatura
ambiente................................................................................................... 157
Tabela 4.15 Valores médios resultantes dos ensaios de impacto do aço
CA15 em diversas temperaturas............................................................... 159
Tabela 4.16 Desvio padrão dos valores de impacto do aço CA15........... 160
Tabela 4.17 Temperatura de transição dúctil-frágil do aço CA15,
segundo critério 20,6J............................................................................... 161
Tabela 4.18 Valores médios resultantes dos ensaios de impacto do aço
CA6NM em diversas temperaturas........................................................... 162
Tabela 4.19 Desvio padrão dos valores de impacto do aço
CA6NM...................................................................................................... 164
Tabela 4.20 Temperatura de transição dúctil-frágil do aço CA6NM,
segundo critério 20,6J............................................................................... 164
xvii

Tabela 4.21 Comparação entre Ms calculado e obtido.............................. 178


Tabela 4.22 Comparação entre Ms calculado e obtido.............................. 182
Tabela 4.23 Austenita retida em CP6, CP7, CP8 e CP9 por metalografia
colorida...................................................................................................... 189
xviii
xix

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 Variação do limite de escoamento em função da temperatura


para um aço baixo carbono....................................................................... 6
Figura 2.2 Propriedades de tração a quente do aço CA15 da norma
ASTM......................................................................................................... 7
Figura 2.3 Propriedades de tração a quente do aço CA6NM da norma
ASTM......................................................................................................... 8
Figura 2.4 Curva energia absorvida em impacto versus
temperatura............................................................................................... 13
Figura 2.5 Etapas de fragilização de um aço durante revenimento.......... 23
Figura 2.6 Aço 0,03C - 12Cr - 4Ni, após impacto a –150°C..................... 26
Figura 2.7 Aço 0,03C - 12Cr – 4Ni, após impacto a 0°C.......................... 28
Figura 2.8 Reticulado cristalino cúbico de corpo centrado e átomos de
carbono nos intertícios octaedrais............................................................ 33
Figura 2.9 Deformação do reticulado cristalino em função da variação de
c/a............................................................................................................. 33
Figura 2.10 Martensita em ripas de um aço carbono temperado............. 35
Figura 2.11 Desenho esquemático da martensita em ripas...................... 35
Figura 2.12 Temperatura Ms para diversos aços...................................... 36
Figura 2.13 Martensita em ripas com austenita(fase clara) entre as
ripas.......................................................................................................... 36
Figura 2.14 Espectroscopia por emissão de elétrons de “Auger”
revelando interface rica em carbono......................................................... 37
Figura 2.15 Desenho esquemático das fases α’ rica em discordâncias γ
estabilizada por solutos e da interface α’/γ com dicordâncias travadas
por solutos................................................................................................. 37
Figura 2.16 Desenho esquemático da martensita em placas e do
“midrib”...................................................................................................... 38
Figura 2.17 Interface da placa de martensita e austenita......................... 39
Figura 2.18 Microestrutura da martensita em placas no SAE1080........... 39
Figura 2.19 Martensita em placas e austenita retida no SAE1080.. 40
xx

Figura 2.20 Tratamento térmico de têmpera e partição............................ 42


Figura 2.21 Diagrama de equilíbrio forçado pelo carbono........................ 42
Figura 2.22 Efeitos do tratamento térmico de partição em um aço
TRIP.......................................................................................................... 43
Figura 2.23 Austenita estável(pontos claros) em fotografia de MET........ 44
Figura 2.24 Austenita estável, em função da temperatura final de
têmpera..................................................................................................... 44
Figura 2.25 Variação das distâncias de difusão de elementos
substitucionais nos aços em função da temperatura e das fases
presentes.................................................................................................. 45
Figura 2.26 Percentual de austenita em função da temperatura de
partição..................................................................................................... 46
Figura 2.27 Influência de elementos alfagênicos e gamagênicos na
estabilização da austenita......................................................................... 46
Figura 2.28 Variação da composição química na austenita residual, em
função da temperatura de revenido.......................................................... 47
Figura 2.29 Percentual de austenita estável, em função da temperatura
de revenido e meio de resfriamento após revenido.................................. 48
Figura 2.30 Percentual de austenita retida em função do parâmetro de
Larson Miller.............................................................................................. 49
Figura 2.31 Precipitação de carbonetos durante resfriamento lento em
função do cromo em aço 0,1% de carbono.............................................. 50
Figura 2.32 Precipitação de carbonetos durante resfriamento lento em
função do carbono em aço 13% de cromo............................................... 50
Figura 2.33 Diagrama Fe-Cr para uma liga com 0,10%C......................... 56
Figura 2.34 Diagrama Fe-Ni...................................................................... 57
Figura 2.35 Diagrama de Schaeffler, modificado por Schneider............... 59
Figura 2.36 Diagrama esquemático para classificar os aços resistentes a
corrosão segundo designações da norma ASTM..................................... 60
o
Figura 2.37 Diagrama Crequivalente/Niequivalente- N de ferrita........................ 64
Figura 2.38 Estrutura do aço inoxidável CA15, ataque Pícrico-HCl.
Microscopia ótica com aumento de 100 vezes......................................... 66
Figura 2.39 Diagrama Fe-Cr para uma liga com 0,10%C......................... 68
xxi

Figura 2.40 Curva TTT para um aço 0,10%C-12%Cr, equiparável ao aço


CA15......................................................................................................... 69
Figura 2.41 Gráfico profundidade de têmpera para um aço tipo 410,
equivalente ao aço CA15 fundido............................................................. 70
Figura 2.42 Estrutura do aço inoxidável CA15, ataque Pícrico-HCl.
Microscopia ótica com aumento de 100 vezes......................................... 70
Figura 2.43 Estrutura do aço inoxidável CA15, ataque Pícrico-HCl.
Microscopia ótica com aumento de 100 vezes......................................... 71
Figura 2.44 Estrutura do aço inoxidável CA6NM temperado e revenido,
ataque Pícrico-HCl. Microscopia ótica com aumento de 100
vezes......................................................................................................... 76
Figura 2.45 Estrutura do aço inoxidável CA6NM temperado e revenido,
ataque Pícrico-HCl. Microscopia ótica com aumento de 200
vezes......................................................................................................... 76
Figura 2.46 Diagrama Fe-Cr-Ni para uma liga com a relação Cr/Ni em
3/1............................................................................................................. 78
Figura 2.47 Curva TTT para um aço 0,10%C-12%Cr, equiparável ao aço
CA6NM..................................................................................................... 79
Figura 2.48 Variação da tenacidade e resistência à tração com a
temperatura............................................................................................... 82
Figura 3.1 Vista lateral e frontal com detalhes e medidas do corpo de
prova Keel Block dupla perna, adotado pelas designações da norma
ASTM........................................................................................................ 87
Figura 3.2 Desenho esquemático do molde e modelo para fundição dos
corpos de prova do aço CA15................................................................... 89
Figura 3.3 Corpo de prova cilíndrico para ensaio dilatométrico dos aços
CA15 e CA6NM......................................................................................... 91
Figura 3.4 Corpo de prova de tração com dimensões padrões, usinado
conforme designações da ASTM A370..................................................... 92
Figura 3.5 Diagrama tensão-deformação para determinação do limite de
escoamento, pelo método da compensação............................................ 93
Figura 3.6 Corpo de prova de impacto com dimensões padrões, usinado
conforme designação A370...................................................................... 95
xxii

Figura 4.1 Diagrama de Schaeffler modificado por Schneider, com


indicação do campo dos componentes micro-estruturais do aço CA15
após têmpera............................................................................................ 100
Figura 4.2 Diagrama de Schaeffler modificado por Schneider, com
indicação do campo dos possíveis componentes micro-estruturais do
aço CA6NM obtidos após têmpera........................................................... 101
Figura 4.3 Diagrama de Schaeffler modificado por Schneider, com
indicação dos componentes micro-estruturais dos aços CA15 e CA6NM
obtidos após têmpera................................................................................ 101
Figura 4.4 Ciclo térmico de têmpera para os aços CA15 e CA6NM......... 103
Figura 4.5 Ciclo térmico de revenimento para o aço CA15....................... 104
Figura 4.6 Ciclo térmico de revenimento para o aço CA15....................... 105
Figura 4.7 Ciclo térmico de recozimento do aço CA15............................. 106
Figura 4.8 Ciclo térmico de revenimento intermediário para o aço
CA6NM...................................................................................................... 107
Figura 4.9 Ciclo térmico de revenimento final para o aço CA6NM........... 108
Figura 4.10 CA15 bruto de têmpera, após resfriamento em água............ 111
Figura 4.11 CA15 bruto de têmpera, após resfriamento ao ar.................. 111
Figura 4.12 CA6NM bruto de têmpera, após resfriamento em água........ 112
Figura 4.13 CA6NM bruto de têmpera, após resfriamento ao ar.............. 112
Figura 4.14 CP1 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes............. 113
Figura 4.15 CP2 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes............. 114
Figura 4.16 CP3 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes............. 114
Figura 4.17 CP4 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes............. 115
Figura 4.18 CP6 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes............. 115
Figura 4.19 CP7 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes............. 116
Figura 4.20 CP8 temperado e duplo revenido. Aumento de 115
vezes......................................................................................................... 116
Figura 4.21 CP9 temperado e duplo revenido. Aumento de 115
vezes......................................................................................................... 117
Figura 4.22 CP1 CA15 temperado e revenido. Aumento de 465
vezes......................................................................................................... 117
Figura 4.23 CP1 CA15 temperado e revenido. Aumento de 870
xxiii

vezes......................................................................................................... 118
Figura 4.24 CP2 CA15 temperado e revenido. Aumento de 465
vezes......................................................................................................... 118
Figura 4.25 CP2 CA15 temperado e revenido. Aumento de 870
vezes......................................................................................................... 119
Figura 4.26 CP3 CA15 temperado e revenido. Aumento de 465
vezes......................................................................................................... 119
Figura 4.27 CP3 CA15 temperado e revenido. Aumento de 870
vezes......................................................................................................... 120
Figura 4.28 CP4 CA15 temperado e revenido. Aumento de 465
vezes......................................................................................................... 120
Figura 4.29: CP4 CA15 temperado e revenido. Aumento de 870
vezes......................................................................................................... 121
Figura 4.30 CP5 CA15 recozido. Aumento de 465 vezes......................... 121
Figura 4.31 CP5 CA15 recozido. Aumento de 870 vezes......................... 122
Figura 4.32 CP6 CA6NM temperado e revenido. Aumento de 465
vezes......................................................................................................... 122
Figura 4.33 CP6 CA6NM temperado e revenido. Aumento de 870
vezes......................................................................................................... 123
Figura 4.34 CP7 CA6NM temperado e revenido. Aumento de 465
vezes......................................................................................................... 123
Figura 4.35 CP7 CA6NM temperado e revenido. Aumento de 870
vezes......................................................................................................... 124
Figura 4.36 CP8 CA6NM temperado e duplamente revenido. Aumento
de 465 vezes............................................................................................. 124
Figura 4.37 CP8 CA6NM temperado e duplamente revenido. Aumento
de 870 vezes............................................................................................. 125
Figura 4.38 CP9 CA6NM temperado e duplamente revenido. Aumento
de 465 vezes............................................................................................. 125
Figura 4.39 CP9 CA6NM temperado e duplamente revenido. Aumento
de 870 vezes............................................................................................. 126
Figura 4.40 CP1 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 425
vezes......................................................................................................... 128
xxiv

Figura 4.41 CP1 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 1315


vezes......................................................................................................... 128
Figura 4.42 CP1 fotografia MEV. WD-15mm,V-20KV. Aumento de 2250
vezes......................................................................................................... 129
Figura 4.43 CP1 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 3110
vezes......................................................................................................... 129
Figura 4.44 CP2 fotografia MEV. WD-15mm,V-20KV. Aumento de 425
vezes......................................................................................................... 130
Figura 4.45 CP2 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 1315
vezes......................................................................................................... 130
Figura 4.46 CP2 fotografia MEV. WD-15mm,V-20KV. Aumento de 2250
vezes......................................................................................................... 131
Figura 4.47 CP2 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 3110
vezes......................................................................................................... 131
Figura 4.48 CP3 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 425
vezes......................................................................................................... 132
Figura 4.49 CP3 fotografia MEV. WD-15mm, V-30KV. Aumento de 1315
vezes......................................................................................................... 132
Figura 4.50 CP3 fotografia MEV. WD-15mm, V-30KV. Aumento de 2250
vezes......................................................................................................... 133
Figura 4.51 CP3 fotografia MEV. WD-10mm, V-30KV. Aumento de 3110
vezes......................................................................................................... 133
Figura 4.52 CP4 fotografia MEV. WD-15mm, V-15KV. Aumento de 425
vezes......................................................................................................... 134
Figura 4.53 CP4 fotografia MEV. WD-15mm, V-15KV. Aumento de 1315
vezes......................................................................................................... 134
Figura 4.54 CP4 fotografia MEV. WD-15mm, V-15KV. Aumento de 2250
vezes......................................................................................................... 135
Figura 4.55 CP4 fotografia MEV. WD-15mm, V-15KV. Aumento de 3110
vezes......................................................................................................... 135
Figura 4.56 CP5 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 220
vezes......................................................................................................... 136
Figura 4.57 CP5 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 425
xxv

vezes......................................................................................................... 136
Figura 4.58 CP5 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 1315
vezes......................................................................................................... 137
Figura 4.59 CP5 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 2250
vezes......................................................................................................... 137
Figura 4.60 CP6 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 425
vezes......................................................................................................... 138
Figura 4.61 CP6 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 1315
vezes......................................................................................................... 138
Figura 4.62 CP6 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 2250
vezes......................................................................................................... 139
Figura 4.63 CP6 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 3110
vezes......................................................................................................... 139
Figura 4.64 CP7 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 425
vezes......................................................................................................... 140
Figura 4.65 CP7 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 1315
vezes......................................................................................................... 140
Figura 4.66 CP7 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 2250
vezes......................................................................................................... 141
Figura 4.67 CP7 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 3110
vezes......................................................................................................... 141
Figura 4.68 CP8 fotografia MEV. WD-14mm, V-20KV. Aumento de 425
vezes......................................................................................................... 142
Figura 4.69 CP8 fotografia MEV. WD-20mm, V-25KV. Aumento de 1315
vezes......................................................................................................... 142
Figura 4.70 CP8 fotografia MEV. WD-20mm, V-25KV. Aumento de 2250
vezes......................................................................................................... 143
Figura 4.71 CP8 fotografia MEV. WD-19mm, V-30KV. Aumento de 3110
vezes......................................................................................................... 143
Figura 4.72 CP9 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 425
vezes......................................................................................................... 144
Figura 4.73 CP9 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 1315
vezes......................................................................................................... 144
xxvi

Figura 4.74 CP9 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 2250


vezes......................................................................................................... 145
Figura 4.75 CP9 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 3110
vezes......................................................................................................... 145
Figura 4.76 Analise química sobre o carboneto-CA15 recozido............... 147
Figura 4.77 Analise química da matriz-CA6NM........................................ 147
Figura 4.78 Limites de resistência, escoamento, redução de área e
alongamento do aço CA15 em ensaio de tração à temperatura
ambiente(24°C)......................................................................................... 150
Figura 4.79 Limites de resistência, escoamento, redução de área e
alongamento do aço CA6NM em ensaio de tração à temperatura
ambiente(24°C)......................................................................................... 152
Figura 4.80 Limites de resistência, escoamento, redução de área e
alongamento do aço CA15 em ensaio de tração a 500°C........................ 155
Figura 4.81 Limites de resistência, escoamento, redução de área e
alongamento do aço CA6NM em ensaio de tração a 500°C.................... 157
Figura 4.82 Valores médios resultantes do ensaio de impacto do aço
CA15 em diversas temperaturas............................................................... 160
Figura 4.83 Valores médios resultantes do ensaio de impacto do aço
CA6NM em diversas temperaturas........................................................... 163
Figura 4.84 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a
24°C. Aumento de 400 vezes................................................................... 167
Figura 4.85 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a
24°C. Aumento de 1200 vezes................................................................. 167
Figura 4.86 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a
0°C. Aumento de 400 vezes..................................................................... 168
Figura 4.87 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a
0°C. Aumento de 1200 vezes................................................................... 168
Figura 4.88 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a
-100°C. Aumento de 400 vezes................................................................ 169
Figura 4.89 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a
-100°C. Aumento de 1200 vezes.............................................................. 170
Figura 4.90 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto
xxvii

a 24°C. Aumento de 200 vezes................................................................ 171


Figura 4.91 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto
a 24°C. Aumento de 800 vezes................................................................ 171
Figura 4.92 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto
a -100°C. Aumento de 200 vezes............................................................. 172
Figura 4.93 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto
a -100°C. Aumento de 800 vezes............................................................. 173
Figura 4.94 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto
a -196°C. Aumento de 200 vezes............................................................. 174
Figura 4.95 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto
a -196°C. Aumento de 800 vezes............................................................. 174
Figura 4.96 Aquecimento da amostra durante ensaio dilatométrico......... 176
Figura 4.97 Resfriamento da amostra durante ensaio dilatométrico........ 177
Figura 4.98 Percentagem de martensita segundo equação de Koistinen
e Marburger para o aço CA15................................................................... 178
Figura 4.99 Percentagem de martensita segundo adaptação da equação
de Koistinen e Marburger para o aço CA15.............................................. 179
Figura 4.100 Aquecimento da amostra durante ensaio
dilatométrico.............................................................................................. 180
Figura 4.101 Resfriamento da amostra durante ensaio
dilatométrico.............................................................................................. 181
Figura 4.102 Percentagem de martensita segundo Koistinen e
Marburger para o aço CA6NM.................................................................. 182
Figura 4.103 Percentagem de martensita segundo adaptação da
equação de Koistinen e Marburger para o aço CA6NM........................... 183
Figura 4.104 Espectro obtido por difração de raios X obtido em amostra
de CP6...................................................................................................... 185
Figura 4.105 Austenita retida em CP6, CP7, CP8 e CP9 após ensaio de
impacto em diversas temperaturas........................................................... 186
Figura 4.106 CP7 CA6NM, após ataque com reagente Picral-HCl.......... 187
Figura 4.107 CP7 CA6NM, após ataque com reagente Beraha............... 187
Figura 4.108 CP9 CA6NM, após ataque com reagente Picral-HCl.......... 188
Figura 4.109 CP9 CA6NM, após ataque com reagente Beraha............... 188
xxviii
1 INTRODUÇÃO

A partir de 1970 o cenário dos aços inoxidáveis sofreu fortes mudanças,


ampliando sua aplicabilidade comercial e industrial. Estas se deram
principalmente no processo e rotas de fabricação, bem como no estudo de
processos relativos à aplicação, desenvolvimento e inserção de novas ligas.
Os aços inoxidáveis tipo CA15, padronizado pela norma ASTM, apareceram
desde os primeiros trabalhos com aços inoxidáveis, logicamente especificados
por outras normas e com variações composicionais. São ligas martensíticas
combinando o mínimo de cromo para garantir o caráter inoxidável, carbono
relativamente baixo, propiciando a estabilização de uma microestrutura mista
de martensita e ferrita, que proporciona boa resistência à corrosão atmosférica
e em meios de baixa agressividade, boa resistência à abrasão, boa resistência
mecânica a quente e a frio. Sua aplicabilidade em baixas temperaturas, em
termos de resistência ao impacto é restringida pela presença da ferrita em
alguma extensão, e ausência de níquel e molibdênio, mas ainda se equipara a
de um aço carbono ferrítico, como por exemplo, um SAE1020. No campo
industrial, tem aplicação em sistemas de dutos para alimentação de caldeiras e
beneficiamento de óleos ou derivados de petróleo, e mesmo em atmosferas
sulfurosas.
O aço inoxidável martensítico tipo CA6NM teve sua concepção com base no
aço CA15; é um aço mais nobre em termos de liga, custo e benefício. Tem
como diferencial a presença de níquel e molibdênio, e mais baixo percentual de
carbono. Microestruturalmente é caracterizado por ser totalmente martensítico
na condição “bruto de têmpera”, mesmo com baixo percentual de carbono.
Após revenimento, esse aço torna-se tenaz, com boas propriedades mecânicas
a quente e a frio, principalmente resistência ao impacto em baixas
temperaturas. A soldabilidade é excelente e não exige pré-aquecimentos
maiores que 10°C. É um aço muito versátil e de boa resistência à corrosão,
principalmente em ambientes marinhos.
Infelizmente o custo relativamente baixo do aço CA15 é obtido com prejuízo da
versatilidade de sua aplicabilidade, restringindo seu uso em condições
específicas. Em contrapartida, o aço CA6NM, com grande amplitude de
2

propriedades e versatilidade em suas aplicações, tem custo elevado tornando


sua aplicação muitas vezes até inviabilizada, pela presença de níquel e
principalmente de molibdênio, que é um componente de custo muito elevado,
representando em média, 30% do custo da liga; o níquel por sua vez,
representa 35% do custo da liga.
Em linhas gerais, o aço CA6NM apresenta um custo médio, em termos de
elementos de liga, 150% superior ao do aço CA15. Por este motivo e outros, se
torna justificável fazer um trabalho amplo para comparar as propriedades
mecânicas, visando estabelecer por comparação, não só os limites de
aplicabilidade, mas também alcançar uma conjunção ou campo de intersecção
nesses limites.
3

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Propriedades Mecânicas dos Aços

As propriedades mecânicas dos aços podem ser determinadas por meio de


vários ensaios mecânicos, geralmente destrutivos. Dentre estes ensaios,
destaca-se dois ensaios de maior importância: ensaio de tração e ensaio de
impacto[1].
O critério para a escolha dos ensaios mecânicos aos quais o aço deverá ser
submetido, geralmente depende de sua aplicação final, dos tipos de esforços e
das propriedades mecânicas que se deseja medir. Os ensaios mecânicos
também se prestam ao controle de rotina em produção, estudo e
desenvolvimento dos aços e, principalmente para obtenção de dados de
comparação para qualificação e seleção de ligas.
A facilidade de execução e praticidade tornou o ensaio de tração o mais
importante e utilizado de todos os ensaios mecânicos.
A resistência ao impacto é uma indicação da capacidade de um aço absorver
energia, principalmente, quando entalhado ou quando há um concentrador de
tensão, e é dependente tanto de sua resistência quanto de sua ductilidade. É
de grande utilidade, principalmente para uma análise qualitativa do aço, ou
seja, para avaliar seu caráter dúctil ou frágil. Mas com a padronização dos
corpos de prova, se presta também para análises quantitativas e comparativas
dos aços.
As propriedades mecânicas obtidas por meio dos ensaios de tração e impacto,
podem ser influenciadas sob vários aspectos, por exemplo, do processamento
durante fabricação do aço, grau e composição química, ambiente e/ou
temperatura de trabalho e/ou ensaios, microestrutura e fragilização.
4

2.1.1 Ensaio de Tração

A aplicação lenta de uma tensão de tração, a um corpo de prova padronizado


de aço, provoca uma “reação do aço” em contraposição ao esforço aplicado.
Esta reação constitui-se de tensão, deformação e ruptura do corpo de prova ao
fim do ensaio.
O corpo de prova em geral é elaborado sob diversas normas, mas sempre com
o propósito de que a deformação seja uniforme, em função da tensão aplicada,
até que o limite de resistência do material seja alcançado. A partir do limite de
resistência a deformação não é mais uniforme e ocorre estricção, e quanto
mais dúctil for o aço maior a redução de área, processo que termina com a
falha, quando o limite de ruptura é alcançado.
O ensaio de tração nos aços pode fornecer ao projetista ou engenheiro muitas
propriedades características e as mais importantes são[1]:

Gráfico Tensão-Deformação;
Módulo de Elasticidade;
Limite de Escoamento;
Módulo de Resiliência;
Limite de Resistência;
Limite de Ruptura;
Alongamento;
Redução de área;
Tenacidade.
5

2.1.1.1 Fatores que influenciam no Ensaio de Tração

Módulo de elasticidade é uma das propriedades mais constante e característica


dos aços(210GPa), assim, adições de ligas e tratamentos térmicos, podem
alterar apenas levemente essa propriedade. Entretanto o aumento da
temperatura de ensaio provoca forte redução no módulo de elasticidade, 10%
de redução a 200°C e 25% a 400°C, em relação à temperatura ambiente por
exemplo[1].
Velocidades mais altas de ensaio aumentam o limite de escoamento dos aços.
Concentrações de tensões provocadas por má preparação do corpo de prova,
inclusões e/ou defeitos internos, podem causar reduções e oscilações nos
valores de limite de escoamento. Nos aços em geral, um aumento de limite de
resistência ou dureza é acompanhado por um aumento no limite de
escoamento. Em aços temperados os valores que separam o limite de
escoamento e limite de resistência são mais próximos que nos aços apenas
normalizados. A composição química influencia nos valores de limite de
escoamento. Nos aços, o aumento da temperatura promove a redução do limite
de escoamento[1,2,3,4].
A temperatura exerce forte influência sobre o limite de escoamento,
especialmente nas baixas temperaturas, ou seja, abaixo da temperatura
ambiente. Segundo experimentos durante deformação no regime elástico, há
um ancoramento das discordâncias por atmosferas formadas de átomos de
solutos em torno dessas discordâncias, especialmente os intersticiais como
carbono e nitrogênio, e esta ancoragem pode ser vencida pelo aumento da
temperatura[5,6].
Vários autores têm estudado o efeito das baixas temperaturas no limite de
escoamento dos aços e tem verificado que quanto mais baixa a temperatura,
maior é o limite de escoamento, como mostrado na figura 2.1. Em aços
carbono, por exemplo, chega-se a uma temperatura em que o limite de
escoamento supera o de resistência e abaixando ainda mais a temperatura
esse limite de resistência desaparece porque não há mais deformação
plástica[6].
6

1200

1000

800
MPa

600

400

200

0
-273 -223 -173 -123 -73 -23 27 77 127 177
Temp.(°C)

Figura 2.1 Variação do limite de escoamento em função da temperatura para


um aço baixo carbono[6].

Limite de resistência é uma propriedade de caracterização e especificação de


uma liga ou grau de aço. Sofre basicamente as mesmas influências do limite de
escoamento, e de modo geral um valor tende a acompanhar o outro. Autores
relatam que o efeito da redução da temperatura é mais efetivo no aumento do
limite de resistência do que no aumento do limite de escoamento. Stein[7]
entretanto, correlaciona a razão entre limite de escoamento e limite de
resistência ao módulo de encruamento, e quanto menor for a razão, maior será
o módulo de encruamento, ou seja, maior a capacidade do aço endurecer sob
deformação.
A dureza também é uma propriedade que se relaciona ao limite de resistência
dos aços. Assim uma unidade de dureza Brinell, ou seja, 1HB, é equivalente a
3,33MPa para aços ligados ao cromo, níquel ou molibdênio, 3,43MPa para
aços carbono e aços baixo carbono ferríticos[1].
Valores de alongamento total e da estricção tem grande importância na
previsão da ductilidade dos aços, e quanto maior são esses valores, mais
dúcteis são os aços. Quanto mais dúctil for o aço mais não uniforme é a
deformação ao longo do corpo de prova, principalmente após alcançar o limite
de resistência, onde o efeito da estricção é muito pronunciado. Conclui-se que
7

quanto mais o aço ganha ductilidade, maior é o aumento na estricção e


alongamento. A presença de inclusões ou descontinuidades e de fases frágeis
nos aços podem reduzir os valores de alongamento e redução de área, e
conseqüentemente a ductilidade[1].
Em geral constata-se que com a elevação da temperatura, aumentam-se os
valores de alongamento e redução de área, desde que não haja transformação
de fases. Para os aços baixo carbono e baixa liga isto seria verdade, mas para
os aços inoxidáveis CA15 e CA6NM, devido à presença de vários átomos
substitucionais em solução e em várias concentrações que prejudicam o
desempenho dos mecanismos de deformação plástica, inicialmente há uma
redução da ductilidade até uma temperatura em torno de 700°C. Após esta
temperatura, há uma recuperação da ductilidade, pela solubilização de
carbonetos Cr7C3, precipitação e crescimento dos carbonetos Fe23C6, e
precipitação da fase austenítica. Em torno de 800°C a ductilidade é ainda mais
incrementada pela precipitação de austenita.
As figuras 2.2 e 2.3 mostram o efeito do aumento da temperatura nas
propriedades mecânicas dos aços CA15 e CA6NM da norma ASTM[1,4,8].

Figura 2.2 Propriedades de tração a quente do aço CA15 da norma ASTM[4].


8

Figura 2.3 Propriedades de tração a quente do aço CA6NM da norma ASTM[4].


9

2.1.1.2 Efeitos dos Elementos de Liga

A composição química tem grande influência no comportamento mecânico dos


aços. Abaixo, tem-se de forma resumida o efeito da presença dos elementos
mais comuns aos aços em geral[3]:

Carbono- em geral, dureza e resistência aumenta com o aumento do carbono,


entretanto, tenacidade e ductilidade são reduzidas.

Manganês- em menor grau que o carbono, o manganês contribui para


aumento da resistência mecânica e dureza, e reduz a soldabilidade e
ductilidade. O efeito do manganês no aumento da resistência mecânica é
proporcional ao aumento do carbono contido.

Silício- tem fraca tendência à segregação, proporciona leve aumento da


resistência e perda de ductilidade da ferrita.

Cobre- proporciona aumento da resistência mecânica por precipitação, tem


moderada tendência à segregação, e é detrimental as operações de
deformação a quente e soldabilidade.

Cromo- aumenta a temperabilidade, aumenta a resistência mecânica a quente,


e, principalmente, quando em conjunto com o molibdênio proporciona maior
resistência ao desgaste em aços baixo carbono, tem forte tendência à
formação de carbonetos, e em conjunto com o níquel, conduz-se á obtenção de
propriedades mecânicas em nível de excelência.

Níquel- em solução aumenta a resistência e dureza da ferrita, aumenta a


temperabilidade e a vida em fadiga. Em geral, aços ao níquel alcançam
propriedades de resistência mecânica e ao impacto em nível de excelência.

Molibdênio- é um elemento muito importante e versátil, aumenta a


temperabilidade e estabiliza a formação da bainita por retardar a transformação
10

da austenita em perlita. A adição progressiva de molibdênio acarreta na


necessidade de tratamentos térmicos revenimento em temperaturas cada vez
mais altas, para redução da dureza. Aumenta tanto a resistência à tração a
quente quanto a resistência a fluência do aço.

Vanádio- inibe o crescimento de grão durante tratamento térmico, melhorando


as propriedades de resistência e tenacidade dos aços temperados e revenidos.

Nióbio- em aços médio carbono, adições de 0,02% em peso de nióbio,


aumentam o limite de escoamento em 70 a 100MPa, e em aços inoxidáveis
melhora a resistência à corrosão intergranular por sensitização.

Alumínio- tem influência benéfica nas propriedades de resistência e


tenacidade dos aços temperados e revenidos, por ser o mais eficiente
elemento no controle do crescimento do grão austenítico.

Titânio- elemento nitretante e oxidante, auxilia no controle do crescimento de


grão, e em aços ao boro aumenta a efetividade do boro na temperabilidade.

Boro- nos aços acalmados, em teores de 0,0005 a 0,003% em peso, o boro


aumenta a temperabilidade.

Tungstênio- aumenta fortemente a dureza, promove refino microestrutural, e


sob revenimento em altas temperaturas promove a formação de carbonetos
muito duros e estáveis, prevenindo a perda de dureza por revenimento e
propiciando qualidades de resistência ao calor.

Zircônio- elemento nitretante e oxidante, auxilia no controle do crescimento de


grão, e quando em solução, aumenta levemente a dureza.

Cálcio- comumente utilizado como desoxidante e sulfetante, no sistema de


desoxidação Ca-Al melhora as propriedades mecânicas, agindo como
aglutinador e modificador de inclusões.
11

Chumbo- geralmente adicionado aos aços para melhorar a usinabilidade,


prejudica as propriedades mecânicas propiciando perda de dureza, e também
fragilidade a quente.

Nitrogênio- aumenta a resistência, dureza e usinabilidade dos aços, mas


reduz a ductilidade e tenacidade. Em aços acalmados ao alumínio, forma
nitretos que inibem o crescimento de grão, melhorando as propriedades
mecânicas. Em excesso, fragiliza os aços através da precipitação de nitretos
no contorno de grão. Nos aços ao boro, reduz o efeito do aumento da
temperabilidade proporcionado pela presença do boro.

Fósforo- aumenta abruptamente a dureza e resistência mecânica dos aços,


mas reduz fortemente a ductilidade e tenacidade.

Enxofre- pode estar presente em condições de elemento residual ou


adicionado para melhorar a usinabilidade. Entretanto, reduz fortemente a
ductilidade.

Oxigênio- em quantidades residuais, mesmo em aços acalmados, pode


aumentar levemente a resistência do aço. Mas reduz fortemente a tenacidade.

Hidrogênio- dissolvido no aço, é extremamente fragilizante e portanto


detrimental às propriedades mecânicas.

Estanho- prejudica as propriedades mecânicas propiciando perda de dureza.


12

2.1.2 Resistência dos Aços ao Impacto

A resistência ao impacto é uma indicação da capacidade de um aço absorver


energia quando entalhado ou quando há um concentrador de tensão e tanto
depende de sua resistência quanto de sua ductilidade[1].
Em geral, aços carbono ou ligados, apresentam uma transição de
comportamento dúctil para frágil, na medida em que a temperatura é diminuída.
Dependendo da composição química, do processo de fabricação e do ambiente
de trabalho, esta temperatura de transição pode variar de dezenas de graus
acima a dezenas de graus abaixo da temperatura ambiente.
Inúmeros ensaios foram desenvolvidos para determinação e estudo do caráter
dúctil ou frágil de um aço. O mais amplamente utilizado é o ensaio de impacto
Charpy com entalhe em V.

2.1.2.1 Temperatura de Transição Dúctil-Frágil

Nos aços com estrutura cristalina cúbica de corpo centrado, tais como aços
carbono e baixa liga, uma mudança no caráter dúctil ou frágil é observada no
intervalo de temperatura entre 120 e –130°C. Esta mudança característica
ocorre na temperatura de transição dúctil-frágil. De modo geral, a 120°C, a
fratura é de caráter dúctil e a –130° é de caráter frágil. Na condição dúctil, a
fratura do aço é acompanhada de grande grau de deformação plástica, ao
contrário da condição frágil onde a fratura ocorre com clivagem e pouca ou
nenhuma deformação plástica[2].
Uma curva típica temperatura versus energia absorvida é mostrado na figura
2.4[9].
13

Figura 2.4 Curva energia absorvida em impacto versus temperatura[9].

A curva é marcada por três regiões, uma superior chamada de patamar


superior com 100% de fratura dúctil, região inferior chamada de patamar
inferior com 100% de fratura frágil e a região intermediária que se confunde
com uma reta e apresenta caráter dúctil e frágil combinado.
Há vários métodos para determinação da temperatura de transição dúctil-
frágil[2]:

A porção mediana da seção intermediária da curva energia versus temperatura


pode representar o ponto com 50% de fratura frágil ou dúctil. Constitui-se um
problema devido à necessidade de se traçar à curva e da propensão a erros
que aumenta à medida que a inclinação da reta, na região central, é
aumentada.
A temperatura de transição pode ser tomada como a temperatura na qual o
material absorve 20J ou 15ft.lbf. Este parâmetro em valor de energia foi tomado
no inicio dos estudos de resistência à fratura, durante a segunda guerra
mundial, onde navios feitos com placas de aço sofriam problemas de falhas por
fratura frágil quando navegando em águas onde temperatura levava o aço a
absorver não mais que 20J ou 15ft.lbf. É um critério antigo, mas ainda hoje
utilizado.
A determinação da temperatura de transição através da curva expansão lateral
14

após fratura, versus temperatura, é um método muito utilizado e gera uma


curva semelhante à curva energia versus temperatura.
A temperatura de transição para 0% de fratura dúctil ou NDTT é outro critério
muito utilizado para determinação da temperatura de transição.
Um dos métodos mais utilizados e importantes é aparência fratura na
temperatura de transição dúctil frágil, denominado FATT. Na temperatura de
transição tem-se o FATT 50%, que representa 50% de fratura frágil. Assim,
este método também envolve o estudo da aparência da fratura com auxílio de
referências ou padrões fotográficos. A curva FATT versus temperatura é
semelhante à curva energia absorvida versus temperatura.
Deve-se ressaltar mais uma vez, que a temperatura de transição ocorre na
porção mais inclinada da curva, assim, dependendo do método empregado, a
temperatura de transição dúctil-frágil pode variar no mesmo material de método
para método. Em alguns aços, a aparência fibrosa da fratura provocada pela
presença de inclusões alinhadas saindo na superfície da fratura pode dificultar
a análise. Neste caso, o método mais indicado seria o da expansão lateral ou
energia absorvida versus temperatura.
A seleção do método mais apropriado para medir a temperatura de transição
em uma determinada aplicação é difícil e depende de conhecimento relativo
tanto ao ensaio de impacto quanto do material de ensaio.
Para o estudo da resistência ao impacto e tenacidade dos aços, outros efeitos
devem ser considerados, tais como: composição química, dureza, resistência
mecânica, práticas de fabricação, microestrutura, etc.
15

2.1.2.2 Efeitos da Composição Química

A composição química dos aços fundidos e aços em geral, bem como todo o
histórico de elaboração da liga, tem efeitos determinantes na sua resistência ao
impacto. Abaixo, são listados os efeitos dos principais elementos químicos
utilizados e/ou presentes nos aços[2]:

Alumínio- reduz o tamanho de grão e notoriamente influencia no tipo de sulfeto


formado no aço fundido. O tipo I de sulfetos forma-se com níveis muitos baixos
de alumínio, ou em aços contendo cálcio ou terras raras. O tipo II de sulfetos
forma em níveis intermediários de alumínio e estão presentes nas regiões de
contorno de grão do aço, reduzindo a resistência ao impacto. O tipo III de
sulfetos ocorre em aços com teor de alumínio muito alto. Em valores muito
altos dos teores de alumínio e nitrogênio, e em seções fundidas muitos
grossas, um agente fragilizante(nitreto de alumínio) pode se formar.

Carbono- é considerado um elemento prejudicial nas propriedades de impacto


dos aços.

Cromo- tem sido variavelmente reportado ter um efeito entre ligeiramente


positivo ou ligeiramente negativo na tenacidade.

Hidrogênio- é um elemento residual indesejável nos aços, o qual pode reduzir


a ductilidade e conduzir a trincas, especialmente em seções fundidas muito
grossas.

Manganês- é uma adição benéfica aos aços ferríticos. O efeito do manganês


pode ser detrimental a resistência ao impacto nos aços martensíticos.

Molibdênio- é adicionado para aumentar a temperabilidade e a resistência a


fragilização pelo revenido. Ele é geralmente responsável por um leve aumento
da NDTT do aço.
16

Níquel- é uma das adições mais comuns em aços com utilização em baixas
temperaturas. Aços ao Níquel são mais propensos a problemas com
hidrogênio, que outros aços. Embora o níquel abaixe a energia no patamar
superior, ele abaixa significantemente a temperatura de transição.

Titânio ou zircônio- reduzem oxigênio e nitrogênio solúvel, além de controlar o


crescimento de grão, o que é extremamente benéfico à propriedade de
resistência ao impacto.

Nitrogênio e Oxigênio- são ambos detrimentais a resistência ao impacto.

Fósforo- é um elemento contra indicado aos aços fundidos. Ele tem sido
indicado como um dos causadores da fragilização de revenido e reduz a
resistência ao impacto.

Silício- aumenta a NDTT do aço, pelo menos, quando em níveis maiores que
0,20%.

Enxofre- reduz ambos os patamares, superior e inferior, e a temperatura de


transição dúctil-frágil. Assim geralmente reduz a resistência ao impacto.

Relação carbono-enxofre- o aumento desta relação promove efeitos


detrimentais na propriedade de impacto dos aços ferríticos. Nos aços
martensíticos, este efeito pode não ser significativo.

Relação manganês-nitrogênio- aumentando-se o manganês e reduzindo-se o


nitrogênio, pode-se aumentar as propriedades de resistência ao impacto dos
aços.

Boro- aumenta resistência ao impacto sem diminuir a resistência mecânica,


mas somente nos aços temperados e revenidos de baixo carbono.

Cobre- em pequenas quantidades e em aços onde não há endurecimento por


17

precipitação, aumenta moderadamente a resistência ao impacto.

Vanádio e Nióbio- podem aumentar fortemente resistência mecânica e ao


impacto, por promoverem refino de grão.

Zircônio, Titânio, Cálcio e Terras Raras- podem controlar a forma das


inclusões, causando principalmente a esferoidização de sulfetos. Inclusões
esféricas aumentam o patamar superior de impacto e minimizam a natureza
anisotrópica da resistência ao impacto.

Antimônio, Arsênio e Estanho- mesmo em pequenos traços, estes elementos


reduzem a resistência ao impacto dos aços e aumentam fortemente a
susceptibilidade dos aços ligados ao níquel e/ou ao cromo à fragilidade de
revenido.
18

2.1.2.3 Efeitos da Prática de Fabricação

A resistência ao impacto dos aços não é apenas influenciada pela composição


química, mas também pelos processos de desoxidação, laminação,
solidificação e estrutura resultante[2].

2.1.2.4 Prática de Desoxidação

O aço totalmente acalmado com alumínio, e principalmente quando um


modificador de inclusões como o cálcio é utilizado, apresenta melhores
propriedades de resistência ao impacto que um aço semi-acalmado ou um aço
acalmado ao silício e ao manganês em que as inclusões são maiores, e com
morfologia e distribuição quase sempre prejudiciais. Como regra geral é
importante que o aço esteja limpo, assim deve-se partir de materiais de carga
limpos, com baixo oxigênio e enxofre contido, e durante processo de fabricação
deve haver a máxima eliminação possível de inclusões[2].

2.1.2.5 Processo de Fundição

Da mesma forma que os forjados e laminados, com exceção da direção de


deformação, os aços fundidos sofrem as mesmas influencias de composição
química, microestruturais e práticas de fabricação, nas propriedades de
impacto[2].
Aços fundidos tem praticamente mesma composição química dos forjados ou
laminados, apenas com alguns elementos químicos tais como silício,
manganês e alumínio em teores mais elevados. Os aços fundidos podem ainda
ter como características porosidades interdendríticas e uma microestrutura
mais grosseira que um forjado ou laminado devidamente recuperado e
recristalizado. Assim a resistência ao impacto de um aço fundido é levemente
inferior a de um aço forjado[2].
A resistência ao impacto de um aço fundido temperado e revenido é maior que
19

a de um aço fundido normalizado e revenido ou recozido. Comparando-se as


curvas de resistência ao impacto de dois aços fundidos de mesma composição
química e mesma dureza, mas um com microestrutura completamente
martensítica e outro completamente perlítica, o aço de microestrutura
martensítica tem patamar superior mais alto e uma temperatura de transição
mais baixa que o perlítico. Mas o aço puramente martensítico é mais suscetível
à variação de resistência ao impacto em função da variação da dureza que um
material puramente perlítico[3].

2.1.2.6 Tamanho da Seção

Diferenças microestruturais entre seções finas e grossas de um aço provocam


variações nas propriedades de impacto. O aumento da temperatura de
transição dúctil-frágil em função do aumento da espessura, não se restringe
somente aos aços baixo carbono, mas a todos os aços. Além do aumento da
seção propiciar heterogeneidades microestruturais, a probabilidade de se ter
defeitos internos concentradores de tensões tais como inclusões ou
descontinuidades também é aumentada[3].

2.1.2.7 Efeito das Condições Superficiais

A nitretação e a carbonetação tem efeito negativo nas propriedades de impacto


dos aços carbono e ligados. Mesmo em baixa profundidade(0,15mm), a
nitretação e a carbonetação aumentam a dureza superficial, reduzindo a
ductilidade e a resistência ao impacto. Quanto maior a profundidade maior é o
efeito na perda de resistência ao impacto[3].

2.1.2.8 Descarbonetação

Os aços carbono e baixa liga podem sofrer descarbonetação superficial em


20

temperaturas superiores a 800°C. Embora prejudicial à resistência em fadiga


de um aço, a perda superficial de carbono em uma região entalhada pode ser
benéfica, visto que a capacidade de deformação plástica na raiz do entalhe é
favorecida[3].

2.1.2.9 Eletrodeposição

A eletrodeposição pode prejudicar a resistência ao impacto. O endurecimento


por eletrodeposição, tal como por cromo ou níquel, do mesmo modo que a
carbonetação, pode provocar perdas na resistência ao impacto de um aço. A
eletrodeposição de metais moles tais como zinco e cádmio podem prejudicar
as propriedades resistência ao impacto, não pelo efeito de camada metálica,
mas sim pela absorção e conseqüente fragilização pelo hidrogênio[3].

2.1.2.10 Efeitos dos Microconstituíntes

Em geral, dos principais microconstituíntes encontrados num aço, a ferrita e a


perlita tem maior temperatura de transição, seguido pela bainita superior,
martensita revenida ou bainita inferior. Na prática dos tratamentos térmicos,
variáveis tais como: composição química, a velocidade e meio de resfriamento,
temperatura de austenitização e tamanho de grão austenítico, determinarão a
microestrutura resultante[2].
Os tratamentos térmicos tanto podem proporcionar uma maior resistência ao
impacto de um aço como também, ao contrário, aumentar sua temperatura de
transição dúctil-frágil. Precipitados e partículas de segunda fase são
prejudiciais à resistência ao impacto, principalmente se ocorrerem nos
contornos de grão. O revenimento de aços perlíticos reduzem a dureza
excessiva, esferoidizando a ferrita e a cementita lamelar, e melhorando a
resistência ao impacto. Os aços também podem ter sua resistência ao impacto,
prejudicada por um tratamento térmico de revenimento mal conduzido, na
chamada fragilização pelo revenido[3].
21

Embora haja controvérsia, a martensita revenida apresenta resistência ao


impacto ligeiramente superior a da bainita inferior revenida para mesma
dureza. Estas duas microestruturas são indistinguíveis por microscopia ótica,
sendo possível à distinção apenas por microscopia eletrônica[6].
A precipitação contínua de cementita esferoidizada na estrutura martensítica
por meio da combinação de revenimento em altas temperaturas versus tempo,
pode conduzir a um forte aumento do patamar superior de resistência ao
impacto e forte redução da temperatura de transição dúctil frágil[3].
A presença de austenita pode inibir, em alguns aços ferríticos e martensíticos,
a propagação rápida de fratura por clivagem. Em aços “maraging”
martensíticos por exemplo, a presença de austenita retida melhora a
resistência ao impacto pelo processo de plasticidade induzida por
transformação[3].
Quando grande quantidade de austenita retida está presente(50% ou mais), a
austenita à frente da ponta de uma trinca pode transformar em martensita
induzida pela deformação. Este mecanismo consome energia, aumentando a
energia total envolvida no processo de fratura. Quando a austenita lamelar é
retida em pequenas quantidades, esta bloqueia o crescimento de trincas
secundárias quando à frente da ponta da trinca principal na matriz martensítica,
aumentando também a resistência ao impacto[2].
Os aços puramente austeníticos, apesar de não serem endurecíveis por
tratamento térmicos, são de grande utilidade na indústria, pois além de não
exibirem fratura de caráter frágil, em composições específicas, possuem
qualidades de alta estabilidade microestrutural da fase austenítica, sendo
indicados para aplicações criogênicas. Entretanto sua resistência ao impacto
diminui em caráter linear com o decréscimo da temperatura[2].

2.1.2.11 Tamanho de Grão

Tratamentos termomecânicos são os principais tratamentos de refino de grão


de um aço. O tratamento térmico a altas temperaturas, acima de Ac1, pode ter
como principal efeito o crescimento de grão em demasia. O crescimento de
22

grão varia com o tempo, e quanto maior a temperatura, mais rápido ocorre o
crescimento de grão[3].
Além de aumentar a resistência mecânica de um aço, a redução do tamanho
de grão, proporciona aumento da resistência ao impacto.
O efeito fragilizante do maior contorno de grão nos aços ferríticos, pode ser
explicado pela concentração de tensão na extremidade da banda de
escorregamento sobre o contorno de grão. Quanto maior o tamanho de grão,
mais extensa será a banda de escorregamento e maior será a concentração de
tensão, a qual provoca a nucleação de micro-trincas promotoras da fratura[10].

2.1.2.12 Estrutura Submicroscópica

Várias características microestruturais invisíveis à microscopia ótica, podem


produzir efeitos significativos na resistência ao impacto dos aços. Entre estes
efeitos, destaca-se a precipitação de partículas sub-microscópicas durante
envelhecimento por deformação ou pós-têmpera, e a formação de filmes e
partículas frágeis durante revenimento.
A temperatura de transição dúctil-frágil pode aumentar acentuadamente e
continuamente por longo período de tempo, após um aço baixo carbono ser
revenido a partir de temperaturas próximas a 700°C.
O envelhecimento sob tensão é comum em chapas e laminados ou mesmo
com pequenas deformações, pode promover a precipitação de partículas
frágeis e aumento contínuo da temperatura de transição dúctil frágil.
Estes efeitos de Envelhecimento sob tensão ou pós-têmpera podem ser
minimizados com a adição controlada de elementos formadores de carbonetos
e nitretos estáveis, tais como, nióbio, alumínio e titânio.
Aços, médio e alto carbono, de baixa e alta liga, temperados e revenidos são
suscetíveis a dois tipos principais de fragilização: fragilização azul e de
revenido[3].
23

2.1.2.13 Fragilização Azul

O envelhecimento em temperaturas entre 230 e 370°C desenvolve um tipo de


fragilização chamada de fragilização azul. Com mesmo efeito, um aço médio
ou alto carbono revenido em temperatura próxima a 300°C sofre perdas
consideráveis na resistência ao impacto[3].

2.1.2.14 Fragilização de Revenido

A fragilidade de revenido é inerente a muitos aços e pode ser caracterizada


pela redução da resistência ao impacto. A condição de fragilizado pelo
revenimento não tem praticamente nenhum efeito nas outras propriedades
mecânicas a temperatura ambiente[11].
A figura 2.5 mostra esquematicamente o efeito da temperatura na resistência
ao impacto de um aço liga que é fortemente suscetível à fragilidade de
revenido. Muitos aços ligas têm dois intervalos de temperatura de fragilização
pelo revenimento, irreversível ou reversível.
A fragilidade de revenido irreversível pode aparecer dentro do intervalo de 250-
400°C e fragilidade de revenido reversível, dentro da faixa 450-650°C.

Figura 2.5 Etapas de fragilização de um aço durante revenimento[11].


24

A fragilidade de revenido irreversível se deve à formação de filmes carbonetos


nos contornos de grão, resultantes da decomposição durante revenimento. Em
temperaturas mais altas de revenimento, este filme desaparece e não pode ser
restabelecido num reaquecimento posterior entre 250-400°C.
A fragilidade em altas temperaturas de revenimento é um processo reversível e
pode se manifestar de dois modos diferentes:
Como resultado do aquecimento e manutenção em temperatura entre 450-
600°C (independente da taxa de resfriamento subseqüente);
Como resultado do revenimento em temperaturas acima de 600°C com um
lento resfriamento subseqüente dentro da faixa 600-450°C.
Aços não ligados de muito alta pureza são totalmente não suscetíveis a
fragilização reversível pelo revenido, que é causada pela presença de várias
impurezas; em primeiro lugar o fósforo seguido por estanho, antimônio e
arsênio.
Elementos de ligas, tais como cromo, níquel, e manganês, promovem a
fragilidade de revenido reversível, por interferência na difusão dos elementos
de impurezas, citados acima. Quando considerados separadamente, eles
produzem um efeito mais fraco que no modo combinado. Os efeitos de
fragilização mais pronunciados são observados nos aços Cr-Ni e Cr-Mn. O
molibdênio, entre 0,2 e 0,3%, pode reduzir o efeito da fragilização pelo
revenido, enquanto que maiores adições aumentam o efeito[11].

2.1.2.15 Variabilidade dos Resultados no Ensaio de Impacto Charpy

Tem sido aceito que mesmo em condições controladas de preparação dos


corpos de provas e realização de ensaios, um considerável espalhamento de
resultados pode ocorrer. Assim, quando se adiciona a este efeito de
espalhamento, que é alheio a qualidade metalúrgica do aço; variáveis tais
como: lote de várias corridas, lote com poucos corpos de prova, pequenas
discrepâncias na composição química, dureza, procedimentos de fusão e
vazamento, porosidades e inclusões, o espalhamento dos resultados é muito
forte, então, torna-se quase impossível classificar quantitativamente e até
25

qualitativamente uma liga por meio de ensaio de impacto Charpy[1].


A segurança e aplicabilidade dos resultados de ensaio de impacto varia
especificamente de acordo com o número de corpos de prova ensaiados.
Assim algumas especificações determinam o número de corpos de prova a
serem testados em uma temperatura ou faixa de temperatura. Em outros casos
especificam ainda o valor mínimo médio e mínimo individual permitido[3].

2.1.2.16 Variabilidade dos Resultados no Ensaio de Impacto Charpy com a


Espessura e Grau do Aço

Um efeito metalúrgico muito importante no espalhamento dos resultados de


impacto é a espessura da seção representada pelo corpo de prova. Assim
normas tais como, DIN e EN, principalmente nos aços baixo e médio carbono
de baixa liga, ao cromo e molibdênio por exemplo, estabelecem valores
mínimos individuais e médios permitidos por faixas de espessuras, a partir da
espessura da seção fundida. Além dos requisitos de impacto estarem de
acordo com o grau fundido e espessura da qual o corpo de prova representará,
a região na qual o corpo de prova será retirado ou onde um corpo de prova
apenso será fundido é passível de acordo entre cliente e fornecedor, e está
previsto nestas normas[3].

2.1.3 Caráter da Fratura

Na aplicação dos aços comerciais, por um motivo ou outro podem ocorrer


fratura ou falha catastrófica do material. O aspecto da fratura pode representar
muito a respeito do comportamento do material em solicitação, desde a fase
inicial da fratura até a falha catastrófica.
Há várias denominações para se classificar as fraturas, como por exemplo:
fratura fibrosa, fratura dúctil, fratura frágil, fratura por clivagem, fratura
cristalina, fratura intergranular, fratura intragranular, etc.
26

2.1.3.1 Fratura Frágil

No processo de fratura frágil também conhecida como fratura por clivagem,


ocorre pouca ou nenhuma deformação plástica[1].
Em 1920 Griffith sugeriu que a presença de micro-trincas no interior dos
materiais poderia levá-los à fratura. A teoria de Griffith tratava de trincas no
regime totalmente elástico do início ao final da fratura[6].
Na realidade quando uma superfície de fratura frágil é adequadamente
analisada por meio de difração de raios X, uma pequena camada de
deformação plástica é observada sobre a superfície de fratura[6].
Stroh postulou um mecanismo relativamente simples, no qual há um
empilhamento de discordâncias em barreiras, tais como inclusões,
descontinuidades, contornos de grãos, contornos de macla, etc, favorecendo a
nucleação de microtrincas[6].
Cotrell sugeriu um mecanismo em que a nucleação da trinca por clivagem
ocorre a partir da intersecção de dois planos de escorregamento, formando
discordâncias em cunha com alto potencial para nucleação de trincas num
terceiro plano, o de clivagem do material[6].
A presença de contornos de grão bem como os tamanhos dos grãos e as
alterações na orientação individual dos contornos dificultam o processo de
propagação das trincas por clivagem, criando degraus de clivagem, causando
deformação localizada e dissociação das trincas próximas aos contornos de
grão, formando a estrutura em rios como mostrado na figura 2.6[1,6,12].

Figura 2.6 Aço 0,03C - 12Cr - 4Ni, após impacto a –150°C[12].


27

Quanto menor a distância que uma trinca pode percorrer sem mudar o plano de
clivagem, mais resistência à fratura frágil terá o material[6].
A microestrutura nos aços influencia diretamente na resistência à fratura por
clivagem. Assim, uma microestrutura composta por perlita grossa é mais
suscetível à fratura por clivagem que uma estrutura composta por bainita
inferior ou martensita, pois quanto maior o tamanho das partículas de
carbonetos, maior é promoção das trincas por clivagem[6].
O limite de escoamento tem influência muito pronunciada na ocorrência da
fratura frágil. Quando o limite de escoamento de um material é atingido, uma
grande quantidade de discordâncias é liberada, as quais podem agir
conjuntamente na formação de uma micro-trinca. Se a trinca espalha num
tempo muito curto permitindo a relaxação da tensão através do
escorregamento em regiões adjacentes, a fratura frágil ocorrerá. Logicamente,
o processo dependerá ainda da tensão de nucleação da trinca e da tensão de
crescimento da trinca até a fratura. Quanto mais próximos forem, tensão de
escoamento e tensão de crescimento da trinca, mais frágil será a fratura.
Assim, é de se esperar que os fatores que afetam diretamente o limite de
escoamento afetam também a transição da fratura dúctil-frágil. Portanto, como
o limite de escoamento aumenta fortemente com a redução da temperatura, é
normal haver também uma temperatura de transição dúctil-frágil[6,13].

2.1.3.2 Fratura Dúctil

O processo de fratura dúctil é transgranular e envolve três estágios:


inicialmente há a nucleação de pequenos vazios ou “dimples” em regiões
frágeis no interior do metal, ou seja, nas interfaces matriz-precipitados. No
segundo estágio, há o crescimento destes “dimples” por deformação plástica, e
no terceiro estágio há o coalescimento desses dimples, em função da estricção
ou redução de área da região solicitada[1,6,12]. A figura 2.7 mostra o aspecto
da fratura dúctil em um aço inoxidável martensítico[12].
28

Figura 2.7 Aço 0,03C - 12Cr - 4Ni, após impacto a 0°C[12].

Precipitados tais como carbonetos, nitretos, carbonitretos e partículas maiores


tais como inclusões de óxidos e sulfetos, agem como barreiras para a
movimentação de discordâncias, que se empilham na interface matriz-
precipitado, causando um endurecimento por deformação nesta interface.
Assim as tensões geradas nas interfaces, podem atingir níveis muito superiores
aos globais na matriz, ultrapassando um valor crítico que causa o
descolamento da interface e nucleação do vazio[1,6].

2.1.3.3 Fratura Intergranular

Este tipo de trinca freqüentemente é associado à fratura frágil e propagação da


trinca por clivagem, embora haja muito menos energia associada à fratura pelo
contorno de grão que por clivagem[6].
Em aços ao cromo e ao níquel a fratura intergranular é freqüentemente
observada em baixos níveis de tensão e, na maioria das vezes, está associada
à precipitação de carbonetos nos contornos de grãos[6].
Em aços temperados e revenidos entre 500 e 600°C, a fratura intergranular se
deve ao fenômeno de fragilidade de revenido[6,11].
29

2.2 Corpos de Prova e Propriedades dos Aços Fundidos

Os requisitos para ensaios mecânicos em fundidos disponibilizados nas


especificações de materiais da norma ASTM, como por exemplo, para
determinação da resistência ao impacto de um aço fundido sob a designação
A352, ou as propriedades de tração para um aço fundido sob a designação
A487, ou valores mínimos de ductilidade para um aço fundido sob designação
A27. Estes requisitos de propriedades mecânicas foram desenvolvidos a partir
de corpos de prova “Keel Blocks” fundidos. Inicialmente, tinham o objetivo de
verificar a qualidade do aço fundido e não de verificar a qualidade real dos
fundidos[2].
A maioria dos corpos de prova fundidos conforme norma ASTM tem seus
requisitos especificados conforme as designações A781 ou A703. Mas em
ambas, é reconhecido que o comprador ainda pode requerer ensaios
mecânicos realizados a partir de amostras retiradas do fundido para qualificar
não só a liga, mas também o fundido[2].

2.2.1 Propriedades do Corpo de Prova Versus Propriedades do Fundido

O corpo de prova tipo “Keel Block” padrão, de dupla perna da norma ASTM, é o
mais utilizado dos recomendados pela especificação da norma ASTM A370.
Experiências práticas mostram que para o ensaio de tração das duas pernas,
há 95% de certeza que a diferença entre os valores do limite de resistência
fiquem abaixo de 7MPa, e abaixo de 11MPa para os valores de limite de
escoamento. Para a ductilidade, os dados evidenciam que dois ensaios
produzem, com 95% de segurança, resultados de alongamento com diferenças
oscilando em ±3% e valores de redução de área com diferenças máximas de
5%[2].
Quando corpos de prova de geometrias diferentes da do tipo “Keel Block”, mas
ainda com espessuras de 32mm, são adequadamente apensos ao fundido, e
perfeitamente fundidos, as propriedades de tração determinadas para estes
corpos de provas serão comparáveis a aquelas obtidas para o “Keel Block”
30

fundidos separadamente.
Propriedades obtidas a partir de “Keel Blocks” com pernas mais grossas que as
do “Keel Block” padrão de dupla perna da norma ASTM, ou seja, numa
espessura maior que 32mm, podem diferir, especialmente se o aço tiver
temperabilidade insuficiente para que o tratamento térmico empregado produza
a mesma microestrutura do “Keel Block” padrão, da norma ASTM. Experiências
mostram um leve decréscimo da resistência e ductilidade com o aumento da
seção do “Keel Block” para um aço carbono 0,26%[2].

2.2.2 Requisitos do Produto

Sobre as especificações da norma ASTM as quais consideram o efeito de


massa destacam-se a E208, A356 e A757. No caso destas normas, o
comprador de fundidos tem a oportunidade de especificar as propriedades
mecânicas ensaiando barras de testes, as quais, são usinadas a partir de
corpos de prova de tamanho proporcional à seção de maior espessura, crítica
do fundido. Tipicamente as amostras são extraídas a ¼ da espessura, ou seja,
a meia distância entre a superfície e o centro. O custo de tais procedimentos é
substancialmente maior que os envolvidos na preparação e usinagem dos
corpos de prova padrões da norma ASTM tipo “Keel Blocks”. Entretanto, os
compradores de fundidos podem solicitar estes ensaios quando os custos
extras são justificáveis[2].

2.2.3 Propriedades do Fundido

A discussão precedente dos efeitos do tamanho da seção nas propriedades


mecânicas de aços carbono e baixa liga, claramente indicam que as diferenças
podem existir entre as propriedades de corpos de prova e propriedades dos
fundidos, ou seja, as propriedades mecânicas obtidas nos corpos de prova
removidos da peça podem diferir das obtidas a partir da própria peça. Com
freqüência crescente, compradores de fundidos estão especificando que um ou
31

mais fundidos devem ser cortados e destruídos para se ensaiar alguma seção
do fundido. Estes ensaios servem para verificar se os níveis de qualidade
esperados são realmente aqueles esperados em função da composição
química, tratamento térmico e especialmente em função dos processos de
alimentação e massalotagem, os quais controlam a sanidade metalúrgica da
peça[2].
32

2.3 Transformação Martensítica

É uma transformação sem difusão, em que o movimento individual dos átomos


é menor que o espaçamento interatômico[14].
As velocidades de transformação são da ordem da do som no sólido, ou seja,
1100m/s[15].
A composição química da martensita é idêntica a da austenita antes da
transformação[15].
Não é necessário ativação térmica, assim o “driving force” para a
transformação é[14]:

(2.1)

Onde ∆Hγ→α é a entalpia de formação, To é a temperatura final de resfriamento


em Kelvin.
A temperatura para início de transformação, MS, é em torno de 500°C para
aços baixo carbono e decresce com aumento do conteúdo de carbono e
elementos de liga[14].
Após a temperatura de fim de transformação, Mf, austenita retida sempre
estará presente em maior ou em menor grau, devido a tensões elásticas
geradas entre as placas transformadas[14].
A transformação da martensita independe do tempo, como mostrado pela
equação de Koistinen e Marburger[[15; 14]:

1 - Vα’ = e{β(Ms - T)}, onde β = -0,011. (2.2)

Vα’ é a fração de martensita, T a temperatura abaixo de MS.


O percentual de carbono nos aços martensíticos não só aumenta o limite de
escoamento como o grau de tetragonalidade da célula unitária, conforme figura
2.8[13].
33

Figura 2.8 Reticulado cristalino cúbico de corpo centrado e átomos de carbono


nos interstícios octaedrais[13].

Uma relação empírica entre o grau de tetragonalidade e o percentual em peso


de carbono é dado pela equação abaixo[13]:

c / a = 1,005 + 0,045(%C ) (2.3)

No aço carbono, quando o percentual de carbono ultrapassa 0,20% em peso, a


relação c/a aumenta fortemente e o efeito sobre a tetragonalidade é muito
intenso, como mostrado na figura 2.9[13].

Figura 2.9 Deformação do reticulado cristalino em função da variação de


c/a[13].
34

2.3.1 Crescimento da Martensita

Inicialmente placas finas são formadas e posteriormente ganham espessura.


Altas taxas de crescimento indicam que a interface é escorregável, semi-
coerente e com os vetores de Burgers das discordâncias oriundas da
transformação, comuns a ambas as fases[14].
O plano de formação da martensita, em baixas temperaturas, pode não ser o
de escorregamento da austenita, embora seja o de mais baixa energia[14].
Em uma análise plana e transversal de uma seção com estrutura martensítica,
a martensita é descrita como um arranjo acicular ou agulhado, mas em três
dimensões, na verdade a martensita toma uma forma de ripa ou placa[13].
De modo geral, em ligas com percentual de carbono inferior a 0,6%, a
martensita formada é em ripas. Se o teor de carbono for maior que 1%, ou a
temperatura de início de transformação martensítica Ms for inferior a 350°C, a
martensita formada é em placas, em muitos aços ligados e naqueles que o
carbono está presente entre 0,6 e 1%, a martensita formada é um misto de
placas e ripas[16].

2.3.1 Martensita em Ripas

A martensita em ripas ocorre com a formação de pacotes de ripas, em que a


formação ocorre a partir de uma linha ou plano “habit” que atravessa todo o
grão, subseqüentemente as ripas de martensita vão se ramificando, uma
paralela a outra, numa configuração tipo “pena” ou “folha de samambaia”. Vide
micrografia na figura 2.10, dois pacotes de ripas da martensita em ripas[13].
35

Figura 2.10 Martensita em ripas de um aço carbono temperado[13].

Mais comumente a martensita em ripas se caracteriza não só pela formação de


pacotes de ripas, mas também pela formação de pacotes com blocos de ripas,
conforme figura 2.11[12].

Figura 2.11 Desenho esquemático da martensita em ripas[12].

Mader e Krauss[17] mostraram que os pacotes de martensita consistem de


ripas com discordâncias (α’) e se formam em aços com MS acima de 350°C.
Esta temperatura é fortemente dependente da composição, principalmente do
carbono, vide figura 2.12[16].
36

Figura 2.12 Temperatura Ms para diversos aços[16].

Mc Mahon e Thomas[18] mostraram que estruturas de discordâncias nos


contornos da ripas de martensita eram na verdade micro-camadas de austenita
retida, vide figura 2.13[16].

Figura 2.13 Martensita em ripas com austenita(fase clara) entre as ripas[16].

A imagem acima revela a austenita em áreas claras no contorno das ripas de


martensita em áreas escuras. G. Smith[19] concluiu que a interface α’/γ é rica
em carbono, vide a análise espectroscópica por emissão de elétrons de “Auger”
na figura 2.14[16].
37

Figura 2.14 Espectroscopia por emissão de elétrons de “Auger” revelando


interface rica em carbono[16].

2.3.2 Mecanismo da Transformação

Na temperatura MS, a austenita é convertida por cizalhamento em ripas de


martensita ricas em discordâncias(α’), as discordâncias ao longo das interface
α’/γ absorvem carbono e outros solutos, reduzindo sua mobilidade até a
temperatura Mf, cessando a transformação. Isto é esquematicamente mostrado
na figura 2.15[16].

Figura 2.15 Desenho esquemático das fases α’ rica em discordâncias, γ


estabilizada por solutos e da interface α’/γ com dicordâncias travadas por
solutos[16].
A austenita assim é estabilizada por um contorno de discordâncias e por
38

átomos de soluto, especialmente carbono. A percentagem localizada de


carbono nessa interface geralmente é muito maior que o percentual global.
Sarikaya e outros tem relacionado esta estrutura à fragilidade de revenido na
faixa entre 300 e 500°C, resultante da decomposição destas inter-camadas de
austenita em inter-camadas de carbonetos[16].

2.3.3 Martensita em Placas

Na martensita em placas a nucleação se inicia com maclas no modo “midrib”


que pode ser parcial ou completo. No modo parcial, a nucleação se inicia com
maclas transversais ao sentido longitudinal da placa(“midrib”) e termina com a
presença de discordâncias(sem maclas) na região periférica ao “midrib”. No
modo “midrib” completo, as placas são totalmente macladas. A presença das
discordâncias no modo “midrib” parcial se deve ao fato que discordâncias
parciais necessitam de menor tensão para se nuclear. A figura 2.16 é um
desenho esquemático da martensita em placas, com o “midrib” e as maclas[5].

Figura 2.16 Desenho esquemático da martensita em placas e do “midrib”[5].

A martensita em placas tem como principal característica, temperatura de


transformação mais baixa e taxa de crescimento maior[14,15,16].
Na figura 2.17, a imagem obtida por microscopia eletrônica em que o campo de
imagem é da ordem de microns, mostra a interface Martensita com maclas e
austenita[20].
39

Figura 2.17 Interface da placa de martensita e austenita[20].

Na figura 2.18 tem-se uma micrografia, com 100 vezes de aumento, de um aço
SAE1080 na condição bruto de têmpera, em que se pode observar a
microestrutura de martensita em placas[13].

Figura 2.18 Microestrutura da martensita em placas no SAE1080[13].

As placas têm tendência a se aproximarem em ângulos variados (planos


hábitos irracionais). Assim, pontos de alta tensão são criados onde as placas
se tocam, acarretando um caráter mais frágil da martensita em placas. Na
figura 2.19, a mesma micrografia anterior, mas em 800 vezes, mostra além das
placas ou agulhas de martensita, a austenita retida ao fundo.
40

Figura 2.19 Martensita em placas e austenita retida no SAE1080[13].


41

2.4 Estabilização da Austenita na Martensita

Através do tratamento térmico de revenimento, a estrutura martensítica pode


combinar tenacidade e resistência. A supersaturação de carbono pode ser
reduzida através da precipitação de carbonetos, abaixando dureza, resistência
e tensões internas. Além do mais, austenita residual instável pode ser
transformada[6,21].
A presença da austenita não transformada ou retida na martensita é
considerada indesejável por muitos autores, devido ao fato de ser instável,
transformando em revenimento subseqüente a têmpera, o que reduz a
tenacidade[5,16]. Por outro lado, a austenita estável é considerada benéfica
por outros autores, pelo fato da austenita ser uma fase que não exibe
temperatura de transição dúctil-frágil, o que aumenta a resistência ao impacto
em baixas temperaturas, além do mais aumenta a tenacidade a fratura, devido
a absorção de energia propiciado pela transformação da austenita em
martensita, induzida por deformação plástica[14,21,22,23].

2.4.1 Tratamento de Têmpera e Partição

Sabe-se que quando é feito um patamar entre Ms e Mf, um resfriamento


subseqüente não induz, pelo menos imediatamente, a transformação
martensítica, provavelmente devido a segregação de carbono na interface de
crescimento[14].
O tratamento térmico de “Têmpera e Partição” baseia-se na manutenção de
austenita na martensita através da supressão da precipitação de carbonetos e
estabilização da austenita residual[22].
A austenita residual obtida através de interrupção da têmpera numa
temperatura entre Ms e Mf é estabilizada parcialmente. Subseqüentemente é
estabilizada definitivamente através de um patamar na mesma temperatura de
interrupção ou acima. A figura 2.20 evidencia um tratamento térmico de
têmpera e partição hipotético[22]:
42

Figura 2.20 Tratamento térmico de têmpera e partição[22].

Na decomposição da austenita em temperaturas abaixo da subcrítica, há uma


condição de para-equilíbrio, em que ocorre a difusão de curto alcance dos
átomos de carbono. Entretanto, durante tratamento térmico de partição a
movimentação de elementos substitucionais é muito difícil[5,22]. Assim
assume-se que a interface γ-α’ não se movimenta e que a condição de
equilíbrio químico do carbono na austenita e na martensita, é conseguido
através da partição de carbono denominado “equilíbrio forçado pelo carbono”.
Na figura 2.21, o diagrama hipotético da energia de Gibbs versus composição
ilustra o equilíbrio metaestável forçado pelo carbono[22]:

Figura 2.21 Diagrama de equilíbrio forçado pelo carbono[22].

Do digrama acima percebe-se que a estabilização da austenita remanescente


ao processo de têmpera, por partição de carbono se dará em maior ou menor
grau, e dependerá basicamente da fração volumétrica inicial γ/α’ e composição
global de carbono[22].
43

Partindo-se do princípio que a austenita é estabilizada levando-se MS e Mf


abaixo da temperatura ambiente, através de enriquecimento com carbono, a
fração inicial γ/α’ é fator de grande relevância[22].
Se a fração inicial de austenita for alta, a eficiência na estabilização da
austenita fica comprometida pela concorrência na partição de carbono e pela
baixa disponibilidade de carbono oriundo da martensita saturada. Por outro
lado, uma baixa fração inicial de austenita, acarreta em alto rendimento do
processo de partição, mas a fração volumétrica final de austenita será
baixa[22].
Outro fator importante para um melhor desempenho do processo de
estabilização da austenita por têmpera e partição, é a eliminação ou
minimização de fenômenos concorrentes por carbono. O processo de
precipitação de carbonetos, por sua vez está diretamente relacionado à
presença de elementos tais como, Cr, V, Mo, Nb, W, etc, e será ainda mais
intenso, quanto maior for temperatura e tempo do patamar de partição[4; 24].
A figura 2.22 ilustra o tratamento de partição para um aço TRIP alto Al com
50% de ferrita intercrítica[22].

Figura 2.22 Efeitos do tratamento térmico de partição em um aço TRIP[22].

A figura 2.23 mostra um aço médio carbono (0,6%), 1% de manganês e 2% de


silício, após têmpera até 190°C e partição a 500°C por 900 segundos[22].
44

Figura 2.23 Austenita estável(pontos claros) em fotografia de MET[22].

A figura 2.24 também ilustra uma comparação entre o processo de têmpera e


partição teórico e prático obtido para o aço CMnSi[22].

Figura 2.24 Austenita estável, em função da temperatura final de têmpera[22].


45

2.4.2 Formação e Estabilização da Austenita por Tratamento Térmico


Inter-Crítico

O processo de partição do carbono, com interrupção da têmpera entre as


temperaturas MS e Mf, é um processo que na prática de fundição, seria muito
dificultoso e dispendioso, pois requereria o resfriamento rápido, de acordo com
a composição química do aço para se evitar a formação de outras fases além
de martensita e austenita, interromper a têmpera através de um banho pré-
aquecido e finalmente fazer a manutenção do fundido no patamar de partição.
Com o objetivo de se tornar o tratamento de partição, um tratamento térmico
prático, toma-se outro caminho que consiste na completa transformação
martensítica do aço, seguido de aquecimento até uma temperatura em que
ocorre precipitação de austenita, partição de carbono e elementos
substitucionais que efetivamente reduzem MS e Mf e estabilizam a austenita
residual.
O processo de estabilização da austenita por partição de elementos
substitucionais é intimamente ligado ao fenômeno difusional nos aços; o
processo difusional por sua vez é intensificado pelo aumento de temperatura e
é mais rápido na fase ferrítica que na fase austenítica, vide figura 2.25[24].

Figura 2.25 Variação das distâncias de difusão de elementos substitucionais


nos aços em função da temperatura e das fases presentes[24].

Ainda com relação ao processo difusional, torna-se convenientemente pensar


46

em um processo de partição numa temperatura levemente inferior ao campo


intercrítico ou dentro do campo intercrítico onde se tem a nucleação direta da
austenita.
Para um aço CA6NM, através de um ensaio dilatométrico, pode-se demonstrar
a evolução da formação de austenita em função da temperatura de partição,
vide figura 2.26[21]:

Figura 2.26 Percentual de austenita em função da temperatura de partição[21].

O processo de estabilização da austenita é favorecido pela partição de


elementos de liga substitucionais que expandem o campo austenítico, tais
como C, N, Cu, Ni e Mn, mas é fortemente prejudicado pela presença de
elementos alfagênicos tais como Al, Si, Zn, P, V, Ti, Mo, W e principalmente Cr,
vide figura 2.27[12,13,21].

Figura 2.27 Influência de elementos alfagênicos e gamagênicos na


estabilização da austenita[12; 13; 21].

Na figura 2.27, observa-se, que a presença dos elementos gamagênicos,


47

principalmente C e Mn, aumentam a abrangência do campo austenítico.


Nos aços inoxidáveis, além do cromo ser um elemento ferritizante, é um
elemento que tem alta afinidade pelo carbono. Assim o cromo inibe o efeito do
carbono na partição e estabilização da austenita, e reduz a eficiência na
estabilização da austenita retida. Dong-Seok Lêem[25] relacionou a fração de
elementos químicos na austenita em função da temperatura de revenido de um
aço 16% em Cr, 2% em Ni e 0,2% em C, vide figura 2.28[21].

Figura 2.28 Variação da composição química na austenita residual, em função


da temperatura de revenido[21].

Observa-se na figura 2.28 que à medida que a temperatura é aumentada, a


relação Cr/Ni aumenta pela redução gradual do percentual de Ni na austenita.
Como a percentagem de Cr se mantém constante, conclui-se que há um
aumento do percentual de Fe e conseqüente elevação da faixa MS-Mf.
Para o mesmo aço e mesma faixa de temperaturas de partição, foi construído
um gráfico correlacionando percentagem volumétrica de austenita estável,
temperatura e velocidade de resfriamento, vide figura 2.29[21].
48

Figura 2.29 Percentual de austenita estável, em função da temperatura de


revenido e meio de resfriamento após revenido[21].

Observa-se que um aumento da velocidade de resfriamento causa uma


desestabilização da austenita retida, e que há um crescimento do percentual de
austenita retida estável até uma certa temperatura e a partir dessa temperatura
há um decréscimo nesse percentual.
No tratamento térmico de partição de um aço inoxidável Cr-Ni, deve haver um
balanço entre o volume inicial de austenita, que aumenta quase linearmente
com o aumento de temperatura, e a instabilidade da austenita formada que
aumenta, em função do empobrecimento linear de níquel em relação ao
aumento da temperatura[12].
Os diagramas mostrados na figura 2.30, obtidos para dois aços inoxidáveis
martensíticos Cr-Ni-Mo de baixo carbono, não só relacionam a formação de
austenita em função da temperatura como também em função do tempo de
tratamento, através do parâmetro de Larson Miller(P)[12].
49

Figura 2.30 Percentual de austenita retida em função do parâmetro de Larson


Miller[12].

Pelos diagramas acima, para ambos os aços, com o parâmetro P variando


entre 16 e aproximadamente 17,5, tem-se a precipitação de um percentual de
austenita estável entre 0 e 30 ou 35%, acima de P= 18, a precipitação de
austenita aumenta e a instabilidade também, podendo a precipitação chegar
quase aos 100% com P= 20, mas totalmente instável[12].
A estabilização da austenita em altas temperaturas pelo processo de partição
no campo inter-crítico é possível nos aços inoxidáveis, somente em função do
percentual de Ni presente, já que o efeito do percentual de carbono é anulado
pela precipitação de carbonetos, e pelo estabelecimento de uma relação
%Cr/%Ni na medida certa, como previsto no diagrama de Schaeffler modificado
por Schneider[26]. Assim, para aços tais como, AISI410, CA15 e AISI420, é
impossível à estabilização de austenita retida por partição no intercrítico, mas é
possível a nucleação e estabilização de ferrita secundária, o que proporcionaria
um certo refino microestrutural.
50

2.5 Precipitação de Carbonetos na Fase Austenítica

Após solidificação ou durante resfriamento pós-solubilização, dos aços


inoxidáveis ou aços ao cromo, há precipitação de compostos inter-metálicos,
nitretos e carbonetos. Nos aços inoxidáveis martensíticos, compostos
intermetálicos são de pouca relevância por serem de difícil nucleação e de
crescimento lento[27].
Segundo o diagrama da figura 2.31, em um aço 0,1%C, entre
aproximadamente 0 e 5% de cromo a 600°C, deveria ocorrer a precipitação de
M7C3, e com 12% de Cr a 600°C deveria ocorrer tão somente M23C6[13,27].

Figura 2.31 Precipitação de carbonetos durante resfriamento lento em função


do cromo em aço 0,1% de carbono[13,27].

Já no diagrama de um aço inox 13% de Cr da figura 2.32, que evidencia a


evolução das fases precipitadas em função do percentual de carbono, a 600°C,
tem-se precipitação de M23C6(C1) até aproximadamente 0,7%C, e acima tem-
se a precipitação de M7C3 até 1%C(C2)[12,13].

Figura 2.32 Precipitação de carbonetos durante resfriamento lento em função


do carbono em aço 13% de cromo[12,13].
51

Os diagramas acima foram obtidos em condições de resfriamento muito lento,


na condição de equilíbrio, o que na prática não ocorre, e então o carboneto
M23C6 é na verdade encontrado após longos tempos de envelhecimento na
seguinte seqüência de formação[28]:

Fe3C>>M2X>> M7C3>>>M23C6;

Segundo Bhadedeshia[28] e outros, quanto mais ligado for o aço inoxidável,


mais complexa será a seqüência de precipitação.

2.5.1 M23C6

A notação mais encontrada é Cr23C6, mas átomos de Ni, Mo e Fe podem


substituir parcialmente os átomos de cromo, apresenta reticulado CFC com
parâmetro de rede 3 vezes maior que o da austenita e se precipita com
facilidade em qualquer estagio, mesmo na austenita em resfriamento. Becitt e
Clarck[29] mostraram que as interfaces de nucleação e crescimento seguem os
planos {111} e {110}, o que propicia uma melhor correspondência atômica com
a austenita[27].
Os principais sítios de nucleação em ordem decrescente são: contornos de
grãos, contornos de macla incoerentes, contornos de macla coerentes e sítios
intragranulares, tais como carbonitretos de nióbio[27].
A precipitação de M23C6 nos contornos de grãos é de grande interesse porque
muitas vezes é associada à corrosão intergranular. Lewis e outros[30]
determinaram que a precipitação e crescimento podem ocorrer em intervalos
de tempo curtos a 750°C.
Nos contornos de maclas, os carbonetos M23C6 formam placas alongadas e
paralelas aos contornos e se precipitam mais lentamente nos contornos
coerentes que nos incoerentes[27].
Na precipitação intragranular o M23C6 pode precipitar como placas ou cubóides.
Os cubóides crescem a partir de discordâncias e as placas a partir de
carbonitretos de nióbio[27].
52

A presença de boro promove a formação de M23(C,B)6 intragranular.


Aumentando-se o percentual de cromo, reduz-se a solubilidade de carbono na
austenita e aumenta-se à cinética de precipitação de M23C6. O aumento do
percentual de carbono entre 0,02 e 0,08 também aumenta a cinética de
precipitação. A presença do molibdênio estabiliza e acelera a formação de
M23C6. A presença do nitrogênio reduz a difusividade do cromo e carbono,
retardando a precipitação e crescimento do M23C6[27].

2.5.2 M6C

O carboneto M6C também referido como carboneto η, é formado após longos


tempos de envelhecimento e é pouco estudado, e assim tem relevância apenas
nos aços resistentes ao calor por exemplo. Tem a estrutura CFC do diamante,
pode ser rico em molibdênio (FeCr)21Mo3C6, nióbio (Fe3Nb3C) ou silício
Cr3Ni2SiC[27].
Para um aço AISI 316, o carboneto M6C assume praticamente a estrutura
(FeCr)21Mo3C6; Weis e Stickler[31] propuseram o seguinte mecanismo de
formação após muitas horas(28000 a 60000horas) de envelhecimento a 600°C:

M23C6 >>> (FeCr)21Mo3C6 >>> M6C.


53

2.6 Aços Inoxidáveis e Aços Inoxidáveis Fundidos

2.6.1 Introdução

À medida que se adiciona mais cromo no ferro base mais espesso se torna o
filme protetor de Cr2O3, chamado de camada passiva.
Com uma adição mínima de 12% o aço se torna inoxidável com boa resistência
a corrosão atmosférica. Entretanto, de todos os tipos de aços, os graus
inoxidáveis são os mais diversificados e complexos, em termos de composição,
microestrutura e propriedades mecânicas[8].
A Harry Brearley, um metalurgista de Shefield, é creditada a descoberta do aço
inoxidável martensítico em 1913, quando estava trabalhando no
desenvolvimento do cano de um rifle feito em aço. Ele percebeu que ao se
adicionar 13% de Cr a um aço comum com 0,3% de carbono, este se tornava
inerte ao ataque químico e livre de ferrugem no ambiente do laboratório. Tal
aço constitui o aço 420 da especificado pela norma AISI e é de grande utilidade
ainda hoje[8].
Devido à necessidade de se desenvolver aços mais apropriados à indústria
química, dois empregados da Krupp, Benno Straus e Eduard Mauer,
descobriram o aço inoxidável austenítico com a liga Fe-C-Ni-Cr e a patente foi
registrada em 1912[8].
Entre os anos de 1920 e 1930, em função do rápido desenvolvimento
tecnológico, foram introduzidos os tipos mais populares, tais como 302, 316,
410 e 430. Entretanto até os idos de 1950, os aços inoxidáveis eram
considerados metais semipreciosos de alto custo.
Até 1960, os aços inoxidáveis eram produzidos em fornos elétricos a arco com
capacidade para 10 toneladas no máximo, numa única etapa onde se fazia
adição de sucata de aço, níquel e ferro-cromo. Entretanto a partir de 1970
foram introduzidas novas técnicas de produção. Inicialmente em fornos
elétricos com capacidade de até 100 toneladas, o processo se dividia em duas
etapas. Na primeira etapa ocorria a fusão rápida da carga a base de sucata de
aço, ferro-cromo alto carbono e outras ligas e ferro-ligas. O segundo estágio do
processo constituía-se na descarburação e condicionamento final do metal,
54

através de sopro combinado de oxigênio e argônio(AOD) ou sopro de oxigênio


e vácuo(VOD)[8].
Em termos de evolução do aço, a partir de 1970 foram introduzidos os graus
com teor de carbono abaixo de 0,03%, diminuindo significativamente os riscos
de corrosão intergranular nos graus austeníticos e melhorando a ductilidade e
resistência a corrosão dos graus ferríticos. Também a partir de 1970, foram
introduzidos os graus ferríticos com baixos teores de intersticiais, com carbono
e nitrogênio combinados, inferiores a 200ppm por exemplo, o que proporciona
ótima resistência à corrosão, principalmente corrosão sobre tensão em meios
cloretados. Outra grande inovação foi o ganho de resistência mecânica
proporcionada pela introdução de até 2000ppm de nitrogênio em alguns graus
austeníticos, a partir de 1960.
Os tipos duplex(austenita-ferrita) oferecem propriedades de alta resistência
mecânica e melhor resistência à corrosão que o aço puramente austenítico.
Embora haja inúmeros aços inoxidáveis e mesmo outras ligas, disponíveis a
todos os segmentos da industria moderna, esses materiais são foco de
constante estudo e desenvolvimento. O aço inox na atualidade deixou de ser
um material nobre em termos de imagem decorativa ou de desejo, e passou a
ser considerado um material nobre do ponto de vista de engenharia, aliando
enormes benefícios a custos acessíveis à indústria e ao cidadão comum.

2.6.2 Metalurgia dos Aços Inoxidáveis

O cromo é o elemento mais importante e em teores superiores a 12% estabiliza


a ferrita delta. Entretanto, em teores de 13%, a 1050°C a microestrutura é
completamente austenítica. Por outro lado, as temperaturas Ms e Mf em um aço
com 12% de cromo e 0,10% de carbono é suficientemente alta para haver
completa transformação da austenita em martensita durante resfriamento a
partir de 1050°C. Mas um aumento do teor de cromo neste aço, conduz a uma
transição gradativa da austenita para ferrita, mesmo em altas temperaturas, de
13,5% até cerca de 17% em cromo.
O níquel é um forte estabilizador da austenita e é adicionado ao aço para
55

preservar a existência do campo austenítico na presença de alto teor de cromo.


Assim, um aço com 0,10% de carbono, 18% de cromo e 9% de níquel se
mantêm numa condição de microestrutura completamente austenítica a
1050°C. Entretanto, tanto pela adição de cromo como pela adição de outras
ligas, a faixa Ms-Mf atinge valores abaixo da temperatura ambiente e abaixo de
0°C. A estrutura final é a austenita de baixa resistência e alta conformabilidade.
Elementos tais como, silício, titânio e molibdênio também estabilizam a ferrita
delta, e elementos tais como, carbono, manganês, nitrogênio e cobre
promovem a estabilização da austenita. Todos estes elementos, em maior ou
menor proporção, abaixam a faixa de temperatura de início e fim de
transformação Ms-Mf.
O balanço entre os elementos estabilizadores da ferrita e austenita determinará
a microestrutura final e o tratamento térmico a ser realizado.

2.6.3 Relação entre Composição e Microestrutura

2.6.3.1 Liga Ferro-Cromo

Os aços inoxidáveis mais simples consistem basicamente da liga Fe-Cr, mas


desse sistema binário, pode resultar uma ampla variedade de microestruturas
com diferentes propriedades. O diagrama Fe-Cr para um aço com 0,10% de
carbono, é mostrado 2.33[8].
56

Figura 2.33 Diagrama Fe-Cr para uma liga com 0,10%C[8].

Há duas características que merecem destaque:

- A presença da fase sigma com 50% de cromo;


- o campo austenítico, freqüentemente chamado de “loop” austenítico.

As ligas comerciais com 0,10% de carbono e teor de cromo variando na faixa


de 11 a 13% apresentam alto grau de temperabilidade de modo que
austenitizando a 1050ºC e resfriando ao ar até a temperatura ambiente, se
obtêm uma estrutura completamente martensítica até uma profundidade de
100mm; e se for temperado ao óleo, a profundidade aumenta para 500mm. A
faixa de início e fim de transformação situa-se acima da temperatura ambiente,
assim austenita retida não é motivo de preocupação[8].
O fato da temperatura de 1050°C representar um ponto de máxima solubilidade
do cromo na austenita com 13,5% de cromo solúvel, tornou esta à temperatura
de solubilização de carbonetos e austenitização para muitas ligas comerciais
Fe-Cr.
Quando o percentual de cromo ultrapassa a marca de 13,5%, a 1050°C a
estrutura nesta temperatura passa a apresentar um misto de austenita e ferrita
delta. A austenita em resfriamento inicia sua transformação na temperatura Ms
57

a ferrita delta permanece inalterada e concorre com o percentual de martensita


na matriz.[8].
Ambas as ferritas delta(δ) e alfa(α) são cúbicas de corpo centrado, mas a ferrita
δ é resultante direta da solidificação e a ferrita α é resultante da transformação
da austenita instável.
A presença da ferrita delta aumenta de 0% com 13,5% em cromo a 100% com
18% de cromo, assim nesta ordem, resfriando-se o aço a partir de 1050ºC,
estrutura varia de 100% de martensita com 13,5% em cromo a 0% com 18%
em cromo.
Acima de 18% de cromo, a estrutura torna-se completamente ferrítica e a
resistência à corrosão aumenta gradativamente, mas há uma tendência à
formação da fase sigma extremamente fragilizante, que se forma em
temperaturas entre 600 e 900°C com composição em torno de 50% de cromo.

2.6.3.2 Liga Ferro-Cromo-Níquel

Se o cromo restringe a formação da austenita, o níquel tem efeito contrário,


como mostrado na figura 2.34, o níquel expande o campo austenítico[8].

Figura 2.34 Diagrama Fe-Ni[8].

Um aço com 17% de cromo e 0,1% de carbono, a partir de 5% de níquel


adicionado torna-se totalmente austenítico a 1050°C. Entretanto adições de
níquel superiores a 4% causam a depressão da faixa de transformação Ms-Mf,
58

de modo a Mf situar abaixo da temperatura ambiente. Adições de níquel acima


de 5%, também causam decréscimo da dureza pela transformação incompleta
da austenita e conseqüente presença de austenita retida.

2.6.3.3 Outras Adições de Liga

O carbono e o nitrogênio são os elementos com maior potencial de


estabilização da ferrita. Elementos tais como o titânio e o nióbio, além de serem
fortes na estabilização da ferrita, têm efeitos adicionais, sendo, fortemente
nitretantes e formadores de carbonetos, e assim inibem o efeito ou parte do
efeito proporcionado pelo nitrogênio e carbono.
Entretanto, todos os elementos, agem de modo a abaixar a temperatura de
início de transformação, Ms. A temperatura Ms pode ser determinada pela
equação formulada por Atkins[33]:

Ms(°C)= 539 - 423C - 30,4Mn - 12,1Cr - 17,7Ni - 7,5Mo (2.4)

E pela equação de Steven e Heynes[2]:

Ms(°C)= 561 - 474C - 33Mn - 17Cr - 17Ni - 21Mo (2.5)

Mas a microestrutura final de um aço inoxidável depende ainda de dois fatores:

- Do balanço entre os elementos estabilizadores de ferrita e austenita em altas


temperaturas;
- Dos elementos composicionais presentes na liga, os quais controlam a faixa
de transformação Ms-Mf e o grau de formação da martensita em resfriamento
até a temperatura ambiente.
Uma previsão microestrutural muito aproximada pode ser vista no diagrama de
Schaeffler, modificado por Schneider[26], mostrado na figura 2.35.
59

Figura 2.35 Diagrama de Schaeffler, modificado por Schneider[8].

A temperatura de solubilização é 1050°C e o resfriamento é feito de modo


rápido até a temperatura ambiente. Neste diagrama, a formação de martensita,
ferrita e austenita é função do cromo equivalente e níquel equivalente. Estes
parâmetros podem ser calculados de acordo com as seguintes fórmulas
mostradas[2]:

Crequivalente(%)= (Cr) + (2Si) + (1,5Mo) + (5V) + (5,5Al) + (1,75Nb)


+ (1,5Ti) + (0,75W) (2.6)

Niequivalente(%)= (Ni) + (Co) + (0,5Mn) + (0,3Cu) + (25N) + (30C) (2.7)

Todas as concentrações são expressas em porcentagem em peso.


60

2.6.4 Designações da Norma ASTM para os Aços Inoxidáveis Fundidos

A norma ASTM, para diferir da designação de forjado, adotada pelo Instituto


Americano de Ferro e Aço(AISI), segue a designação adotada pelo Instituto de
Ligas Fundidas(ACI)[2].
A letra inicial da designação do aço fundido adotado pela ACI ou norma ASTM,
é C para indicar resistência a corrosão ou H para indicar resistência ao calor. A
segunda letra representa o percentual combinado de cromo e níquel, mas o
fator determinante é o percentual de níquel na liga, alternando se de A, nível
mais baixo, a Z, superior em torno dos 70%. A figura 2.36 mostra o código de
letras utilizados em função do teor de níquel na liga ferro-níquel-cromo[2].

Figura 2.36 Diagrama esquemático para classificar os aços


resistentes a corrosão segundo designações da norma ASTM[2].

A porção numérica indica o percentual máximo de carbono contido na liga. Se


outros elementos de liga estão presentes, a letra inicial deste elemento é
encaixada após a porção numérica. Assim a liga CF8M, em percentuais
médios, é uma liga com carbono máximo em 0,08%, cromo de 19%, Ni de 9%
e molibdênio da ordem de 2,5%.
61

2.6.5 Aços Inoxidáveis Fundidos Conforme Norma ASTM

2.6.5.1 Aços Martensíticos

As ligas martensíticas ou caracteristicamente martensíticas são: CA15, CA40,


CA15M e CA6NM. Uma ampla faixa de propriedades mecânicas pode ser
alcançada neste grupo, onde a resistência mecânica pode variar entre 600 e
1500MPa e a dureza pode alcançar valores da ordem de até 500HB. Tudo
resulta do tratamento térmico empregado, que além de promover aumento nas
propriedades mecânicas, pode propiciar excelentes propriedades de resistência
à corrosão em diversos meios, além de promover boa soldabilidade[2].
O aço CA40 é considerado a liga mais pobre e o CA6NM, a liga mais nobre
entre os aços martensíticos da norma ASTM.
A forte resistência à corrosão e a cavitação, proporcionada pela estrutura
martensítica de um aço liga, tem feito do aço martensítico o preferido para
aplicações em bombas, compressores, válvulas, turbinas, propulsores, hélices
e componentes de máquinas.

2.6.5.2 Aços Ferríticos

Os aços caracterizados pela estrutura ferrítica são: CB30 e CC50. São ligas
que normalmente não são endurecíveis por tratamento térmico. Mas se o
cromo for trabalhado no mínimo da faixa, e níquel e carbono no máximo, e for
feito um tratamento térmico conveniente na liga, pode haver formação de
considerável quantidade de martensita[2].
O aço CB30 tem melhor resistência à corrosão galvânica que o CA e por isso,
muitas vezes é preferido para a produção de corpos de válvulas e de
recipientes para a indústria química e de alimentos. O tipo CC50 apresenta boa
resistência à corrosão em meios oxidantes, tais como ácido sulfúrico, misturas
à base de ácido nítrico, e líquidos alcalinos, e se destina, principalmente a
industria de celulose e mineração na presença de água ácida[2].
62

2.6.5.3 Aços Endurecíveis por Precipitação

O aço CB7Cu é o único aço inoxidável endurecível por precipitação, designado


pela norma ASTM. É uma liga martensítica, de baixo carbono, com alguma
austenita retida e ferrita, ambas dispersas na matriz. Partículas sub-
microscópicas de cobre também se dispersam pela matriz, quando tratado
termicamente para envelhecimento numa faixa de temperatura entre 480 e
590°C. Tem resistência à corrosão intermediária, se comparado aos aços CA e
CF, e é utilizado sob condições, onde resistência à corrosão e resistência
mecânica são requisitos, assim sua aplicação abrange desde peças de aço
fundidas para aviação, até a industria de alimentos[2].

2.6.5.4 Aços Duplex

O aço CD4MCu e outras ligas da norma ASTM são ligas austenita-ferrita com o
percentual volumétrico de ferrita variando entre 40 e 60%. Mesmo as ligas
austeníticas tendo algum percentual de ferrita, a tipo duplex é caracterizada por
ter em sua composição, 24 a 26% de cromo e 4 a 9% de níquel. O tipo duplex
também se caracteriza por ter resistência mecânica mais alta que o tipo CF.
Mas a resistência à corrosão é similar, e assim sua utilização se presta a
aplicações em baixas temperaturas, com boa resistência a corrosão por
“pitting” ou galvânica[2].

2.6.5.5 Aços Austeníticos

Inclui-se neste grupo os aços CH20, CK20, CK3McuN e CN7M. Os aços CH20
e CK20 são ligas alto cromo e alto carbono, completamente austeníticas, cujo
percentual de cromo excede o de níquel. Elas oferecem melhor resistência ao
ácido sulfúrico diluído que o aço CF-8 e maior resistência mecânica em
elevadas temperaturas. Ao se trabalhar com ácido sulfúrico em várias
concentrações em temperaturas de até 300°C e com ácido clorídrico em
63

concentrações de 150ppm, a liga CK3MCuN com até 6% de molibdênio é


indicada, principalmente para situações agressivas de corrosão por “pitting”[2].

2.6.5.6 Aços Austeníticos com Ferrita

Neste grupo de ligas se enquadram os seguintes aços: CE30, CF3, CF3MN,


CF8, CF20, CF3M, CF8M, CF8C, CF16F e CG8M. Estes aços contêm entre 5
e 40% de ferrita, dependendo da composição química e do tratamento térmico
de solubilização[2].
A presença da ferrita no aço inoxidável austenítico acarreta três conseqüências
principais: melhor resistência mecânica, melhor soldabilidade e maximização
da resistência à corrosão em meios específicos.
A ferrita melhora a resistência à corrosão sob tensão, pelo fato de bloquear a
trinca em propagação, e por diminuir o efeito da sensitização, porque a
formação de carbonetos é preferencial no grão ferrítico, não ocorrendo no
contorno do grão austenítico.
Os aços puramente austeníticos não são endurecíveis por tratamento térmico,
mas quando a composição química e o tratamento térmico são favoráveis, há
formação de ferrita e ocorre um aumento na resistência mecânica da liga.
Entretanto, a presença da ferrita não é totalmente benéfica, pois reduz a
tenacidade da liga, e em aplicações em altas temperaturas, em torno de 475°C,
ocorre fragilização com perda de tenacidade pela formação de um composto
intermetálico(fase sigma) constituído de 80% cromo e 20% ferro, associado a
ferrita, a qual aniquila a tenacidade do aço.
A relação entre composição química e microestrutura no aço fundido permite
ao fundidor prever e controlar o conteúdo de ferrita formada na liga. Assim
Schoefer, a partir do diagrama de Schaeffler para material de solda em aço
inox, desenvolveu para ligas Cr-Ni fundidas um diagrama relacionando o
número de ferrita a uma razão cromo equivalente e níquel equivalente, vide
figura 2.37[2].
64

Figura 2.37 Diagrama Crequivalente/Niequivalente- No de ferrita[2].

Deve-se destacar entretanto, que esse número de ferrita não representa o


percentual volumétrico de ferrita no aço, mas representa a indução magnética
ou resposta à aplicação de um determinado campo magnético aplicado. O
procedimento para determinar a quantidade de ferrita por meio magnético, é
disponibilizado pela norma ASTM-A799 e A800.
65

2.7 Aço Inoxidável CA15 Conforme Norma ASTM

O aço CA15 é um aço inoxidável martensítico com a mínima inoxibilidade, ou


seja, o percentual mínimo de cromo é 11,5%, tornando-o resistente à corrosão
atmosférica. È um aço de boa temperabilidade, mesmo ao ar.
O aço CA15 é especificado como aço para fundição em três designações da
norma ASTM[33,34,35]:

- ASTM A217

Padrão de especificação para aços fundidos: inoxidáveis martensíticos, e liga,


para componentes trabalhando sob pressão e em altas temperaturas.

- ASTM A487

Padrão de especificação para aços fundidos: adequados a trabalhos sob


pressão.

- ASTM A743

Especificação padrão para fundidos: em ligas de ferro-cromo, ferro-cromo-


níquel, resistentes a corrosão, para aplicações gerais.

A composição química típica é mostrada na tabela 2.1[33,34,35].

Tabela 2.1 Composição química do aço CA15 conforme norma


ASTM[33,34,35].
Grau Tipo Composição(% em Peso)
C Mn Si P S Cr Ni Mo
Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx.
CA15 12Cr - 0,15 - 1,0 - 1,5 - 0,04 - 0,04 11,5 14,0 - 1,0 - 0,50
66

As propriedades mecânicas gerais são mostradas na tabela 2.2[33,34,35].

Tabela 2.2 Propriedades mecânicas típicas do aço CA15


conforme norma ASTM[33,34,35].
Limite de Alongamento Redução de Área
Limite de
Designação Escoamento Mínimo Mínima Øo=
Resistência
Prévia Al.= 0,2% L o= 4 x Ø o 12,5mm
(Kgf/mm2) 2 A
(Kgf/mm ) (%) (%)
CA-15 62,0 45,0 18,0 30,0

2.7.1 Microestrutura

É um aço em que a estrutura tipicamente martensítica predomina, como


mostrado na fotomicrografia da figura 2.38.

Figura 2.38 Estrutura do aço inoxidável CA15, ataque Pícrico-HCl.


Microscopia ótica com aumento de 100 vezes.
67

2.7.2 Equivalência em Outras Especificações

Usando-se o “Software Key to Steel”, um banco de dados com mais de 20000


composições químicas e graus padronizados em normas e designações de
mais de 30 países, no modo de referência cruzada tem-se equivalências
mostradas na tabela 2.3[11].

Tabela 2.3 Equivalências do aço CA15 por outras normas


segundo “Key to Steel”[11].
Material Norma País
SA-487 Grau CA15A ASME USA
GX 40CrSi 13 DIN ALEMANHA
SCM 3 JIS JAPÃO
SCH 3 JIS JAPÃO
SCH 1 JIS JAPÃO
40CrSi 13 MSZ HUNGRIA
T 40 SiCr 130 STAS ROMÊNIA
G X 35Cr 13 UNI ITÁLIA
1.4729 WN ALEMANHA
AS-217 Grau CA15 ASME USA
X 2 CrMoSiS 18-2-1 DIN ALEMANHA
J91151 UNS USA
1.4106 WN ALEMANHA

2.7.3 Metalurgia do Aço CA15

O diagrama de Shaeffler modificado por Schneider[26] evidencia concorrência


entre ferrita e martensita, a partir do aço austenitizado e solubilizado a 1050°C
e resfriado ao ar até a temperatura ambiente.
Com base no diagrama Fe-Cr com percentual de carbono 0,10%, mostrado na
figura 2.39, fica claro que mesmo a temperatura de 1050°C sendo a mínima
temperatura para a solubilização de carbonetos, é interessante austenitizar o
aço CA15 com um percentual de Cr no máximo da faixa(14%), em
68

temperaturas entre 900 e 950°C, garantindo-se assim a completa


austenitização da matriz. Em função do teor de carbono não ultrapassar 0,15%,
a solubilização de carbonetos de cromo e compostos intermetálicos a base de
ferro e cromo não é critica. Entretanto, se o percentual de cromo não
ultrapassar 13%, este aço pode ser austenitizado entre 880 e 1050°C[8,32].

Figura 2.39 Diagrama Fe-Cr para uma liga com 0,10%C[8].

O diagrama TTT, (Tempo,Temperatura e Transformação), mostrado na figura


2.40, indica que para um aço CA15 resfriado rapidamente, pode se ter uma
microestrutura completamente martensítica. A faixa início e fim de
transformação Ms e Mf, varia em torno de 350 e 180°C, respectivamente[32,36].
69

Figura 2.40 Curva TTT para um aço 0,10%C-12%Cr, equiparável ao aço


CA15[36].

Mas também se vê que em torno de 750°C, encontra-se o cotovelo da curva


que separa os campo ferrítico e austenítico do aço em transformação. Assim é
admitido no aço martensítico CA15 resfriado ao ar, mesmo sob resfriamento
forçado, um percentual de ferrita e perlita de até 40% na estrutura bruta de
têmpera[37,38,39], como mostrado no diagrama da figura 2.41 para uma barra
de prova padrão[36].
70

Figura 2.41 Gráfico profundidade de têmpera para um aço tipo 410,


equivalente ao aço CA15 fundido[36].

Nas figuras 2.42 e 2.43 são apresentadas duas micrografias para evidenciar a
tendência deste aço conter ferrita. No primeiro caso houve a formação de uma
extensa malha de ferrita no contorno austenítico, antes da formação da
martensita. A segunda metalografia evidencia a presença de nódulos ou
manchas de ferrita, também nas regiões de contorno e pontos tríplices do grão
austenítico.

Rede de ferrita no
contorno do grão
austenítico.

Figura 2.42 Estrutura do aço inoxidável CA15, ataque Pícrico-HCl.


Microscopia ótica com aumento de 100 vezes.
Após tratamento térmico conforme a norma ASTM A743 e realização de
71

ensaios mecânicos, detectou-se expressiva queda nos valores de alongamento


e redução de área, e para efeito de investigação foi feito um ensaio
metalográfico. Observou-se uma nucleação anormal de ferrita no contorno do
grão austenítico, antes da têmpera, que cresceu, formando uma rede
intergranular de ferrita. Supõe-se que durante o tratamento térmico de
austenitização, houve um descontrole na operação do forno, e a temperatura
atingiu o campo austenita-ferrita, ou seja, a temperatura e o tempo foram
efetivos para completo “bordeamento ferrítico”, mas não suficientemente alta
para desestabilizar por completo o grão austenítico e formar grão ferríticos.

Ferrita
delta(δ

Figura 2.43 Estrutura do aço inoxidável CA15, ataque Pícrico-HCl.


Microscopia ótica com aumento de 100 vezes.

Na figura 2.43, percebe-se nitidamente a presença de coágulos de ferrita no


contorno de grão austenítico antes da têmpera. Pelo formato da ferrita e
posições particulares ocupadas nos contornos de grão e pontos tríplices, é
razoável afirmar que é ferrita delta, e esta tendeu a solubilizar, mas a
combinação tempo e temperatura não foi suficiente para propiciar completa
austenitização da estrutura antes da têmpera.
Na condição bruto de têmpera, a dureza do aço CA15, pode ultrapassar com
facilidade 400HB. Um tratamento térmico de revenimento adequado é
necessário para propiciar boa resistência mecânica e ductilidade. Entre os anos
1950 e 1960, Irvine e Pickering[40] fizeram as seguintes observações, no
72

tocante ao revenimento dos aços com 12% de cromo e 0,10% de carbono:

- Inicialmente, à temperatura ambiente, a estrutura é martensítica com finos


carbonetos Fe3C dispersos na matriz;
- Após revenimento a 350°C, a quantidade de carboneto Fe3C aumenta, mas a
dureza não cai mais que 10 HB;
- Revenindo-se a 450ºC, há endurecimento secundário, em função da
precipitação do carboneto Cr7C3 e pequena quantidade de carboneto M2X na
forma de Cr2C;
- A principal mudança ocorre durante revenimento a 500°C; a dureza cai a
valores abaixo de 240HB, dependendo do tempo. Isso foi atribuído à
precipitação e crescimento de grandes partículas de carboneto M23C6 ricas em
cromo, nas placas de martensita e contornos de grão da austenita original;
- Daí por diante, até 750°C, a dureza cai a valores inferiores a 200HB, em
função da solubilização de carbonetos Cr7C3 e contínuo crescimento das
partículas M23C6.
Concluiu-se que revenindo-se acima de 600°C, o aço perdia praticamente toda
dureza associada à estrutura martensítica.

2.7.4 Propriedades

O aço CA15 é de boa resistência à corrosão atmosférica e a muitos compostos


orgânicos; a resistência mecânica na condição de temperado e revenido pode
atingir os 900MPa, limite de escoamento em torno de 800MPa e alongamento
de 20%. Assim o aço CA15 é indicado a aplicações em sistemas de dutos para
alimentação de caldeiras e aplicações com óleo ou derivados de petróleo.
O tipo CA40 é uma modificação do aço CA15, com carbono especificado entre
0,20 e 0,40% e é uma opção em aplicações onde à resistência mecânica é
requerida em prejuízo da ductilidade, mas com custo similar.
O tipo CA15M é outra modificação do aço CA15, cuja adição entre 0,15 e 1,0%
de molibdênio proporciona maior resistência em altas temperaturas.
Entretanto, o aço CA15 pode ser utilizado em temperaturas moderadamente
73

altas, de até 540°C na presença de ácido sulfúrico e compostos petroquímicos,


com boa resistência a corrosão, ou em temperaturas de até 570°C na presença
de ácido clorídrico, mantendo excelente resistência à corrosão galvânica[2].
A resistência à tração e o limite de escoamento a 300°C é da ordem de 85% do
obtido a temperatura ambiente, mas a 550°C, estas grandezas se reduzem a
55 e 60% respectivamente, limitando-se sua utilização a temperaturas
inferiores a 400°C, em benefício de parâmetros de resistência mecânica
superiores a 80% em relação ao alcançado em temperatura ambiente[2].
A tensão de ruptura sob fluência é estimada em 290MPa em 100 horas a
480°C e 250MPa em 1000 horas a 480°C[2].
A soldabilidade do aço CA15 é prejudicada, principalmente pela ausência do
molibdênio, pela presença do carbono máximo alcançando valores de 0,15% e
pela própria característica de forte endurecimento da liga. Assim designações,
tal como a A217 da norma ASTM, recomenda uma temperatura mínima de pré-
aquecimento de 200°C. Além das características específicas do eletrodo, que
deve ter entre outras, percentual de carbono inferior a 0,10%, deve-se atentar
para a realização de passes curtos e em temperaturas que não excedam em
demasia a temperatura de pré-aquecimento[2].
74

2.8 Aço Inoxidável CA6NM Conforme Norma ASTM

O aço inoxidável martensítico CA6NM teve sua concepção com base no aço
CA15; é um aço mais nobre em termos de liga e benefício. O teor de carbono
foi reduzido a percentuais inferiores a 0,06%, melhorando a tenacidade da
martensita e a soldabilidade. A presença do níquel na faixa de 3,5 a 4,5%
compensa o efeito ferritizante proporcionado pelo alto percentual de cromo na
faixa de 11,5 a 14,0% e pelo baixo teor de carbono, e melhora também a
resistência ao impacto em baixas temperaturas. A presença de molibdênio
proporciona melhorias na resistência mecânica e resistência à corrosão em
ambiente marinho.
O aço CA6NM é especificado como aço para fundição em quatro designações
da norma ASTM[34,35,39,41]:

- ASTM A352

Padrão de especificação para aços fundidos: ferríticos e martensíticos, para


componentes trabalhando sob pressão e também trabalhando em baixas
temperaturas.

- ASTM A356

Padrão de especificação para aços fundidos: ao carbono, baixa liga e


Inoxidáveis, para componentes tais como, turbinas a vapor com paredes
grossas.

- ASTM A487

Padrão de especificação para aços fundidos: adequados a trabalhos sob


pressão.
75

- ASTM A743

Especificação padrão para fundidos: em ligas de ferro-cromo, ferro-cromo-


níquel, resistentes a corrosão, para aplicações gerais.

A composição química típica desse tipo de aço é mostrada na tabela


2.4[34,35,39,41].

Tabela 2.4 Composição química do aço CA6NM conforme norma


ASTM[34,35,39,41].
Grau Tipo Composição(% em Peso)
C Mn Si P S Cr Ni Mo
Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx.
CA6NM 12Cr/4Ni - 0,06 - 1,0 - 1,0 - 0,04 - 0,03 11,5 14,0 3,5 4,5 0,40 1,0

As propriedades mecânicas gerais são mostradas na tabela 2.5[34,35,39,41].

Tabela 2.5 Propriedades mecânicas típicas do aço CA6NM


conforme norma ASTM[34,35,39,41].
Limite de Alongamento Redução de Área
Limite de
Designação Escoamento Mínimo Mínima Øo=
Resistência
Prévia Al.= 0,2% L o= 4 x Ø o 12,5mm
(Kgf/mm2) 2 A
(Kgf/mm ) (%) (%)
CA-6NM 75,5 55,0 15,0 35,0
76

2.8.1 Microestrutura

O aço CA6NM que tem sua microestrutura mostrada em duas fotomicrografias,


figuras 2.44 e 2.45, se caracteriza como um aço tipicamente martensítico.
Essas duas fotomicrografias são de um mesmo aço CA6NM, temperado e
revenido conforme designação A743 da norma ASTM, em duas ampliações,
100 e 200 vezes.

Figura 2.44 Estrutura do aço inoxidável CA6NM temperado e revenido,


ataque Pícrico-HCl. Microscopia ótica com aumento de 100 vezes.

Figura 2.45 Estrutura do aço inoxidável CA6NM temperado e revenido,


ataque Pícrico-HCl. Microscopia ótica com aumento de 200 vezes.
77

2.8.2 Equivalência em Outras Especificações

Usando-se o “Software Key to Steel”, um banco de dados com mais de 20000


composições químicas e aços padronizados em normas e designações de mais
de 30 países, no modo de referência cruzada tem-se as equivalências
mostradas na tabela 2.6[11].

Tabela 2.6 Equivalências do aço CA6NM


por outras normas segundo “Key to Steel”[11].
Material Norma País
Z4 CND 13.4M AFNOR NF FRANÇA
Z6 CN 13-04 AFNOR NF FRANÇA
Z8 CD 17-01 AFNOR NF FRANÇA
SA-487 Cl. CA6NM ASME USA
AS-352 Gr. CA6NM ASME USA
425 C 12 B.S. REINO UNIDO
0 Ch 12N 4 ML BDS BULGÁRIA
X3CrNiMo13-4 DIN ALEMANHA
G-X 5CrNi 13 4 DIN ALEMANHA
X4CrNi13-4 DIN ALEMANHA
X3CrNiMo 13-4(X 4 CrNi 13 4) DIN ALEMANHA
1.4313 EN UNIÃO EUROPEIA
X 3 CrNiMo 13 4 EN UNIÃO EUROPEIA
SEV 25 JIS JÁPÃO
SV 30 JIS JÁPÃO
SCS 5 JIS JÁPÃO
G-X 5 CrNi 13 4 ONORM AUSTRIA
X 5 CrNi 13 4 S ONORM AUSTRIA
386(G-X 6 CrNi 13 4) SFS FINLÂNDIA
X 5 CrNi 13 4 SNV SUÍÇA
2384 SS SUÉCIA
X 3 CrNiMo 13-4 UNI ITÁLIA
G X 6 CrNi 13 04 UNI ITÁLIA
J91540 UNS USA
1.4313 WN ALEMANHA
78

2.8.3 Metalurgia do Aço CA6NM

O diagrama ferro-cromo-níquel com a relação cromo e níquel de 3/1 é


mostrado na figura 2.46[12,21]. Se for tomado o ponto médio do cromo no
percentual de 12,5%, o conseqüente percentual de níquel é 4,15%, este ponto
representa, com aproximação devido às ausências principais de molibdênio e
carbono, o aço CA6NM.

Figura 2.46 Diagrama Fe-Cr-Ni para uma liga com a relação Cr/Ni em
3/1[12,21].

Uma boa opção para estudo seria utilizar este mesmo diagrama em termos do
diagrama ferro, cromo equivalente e níquel equivalente.
Observa-se na figura 2.46 que a completa austenitização em aquecimento,
ocorre a partir de aproximadamente 720°C e se estende a aproximadamente
1220ºC, considerando-se o aquecimento na condição de equilíbrio. Na prática,
uma maior velocidade de aquecimento conduz a elevação desta temperatura.
Com a presença de um “loop austenítico”, e a possibilidade de completa
austenitização do aço, conduz-se então a possibilidade de uma estrutura bruta
de têmpera completamente martensítica, mas dependente da posição do
intervalo início e fim de transformação Ms-Mf.
Para cálculo de Ms pode-se utilizar a expressão matemática de Atkins[33], com
boa aproximação, e Mf= Ms -150°C[21]. Assim tem-se para resfriamento ao ar,
Ms a aproximadamente 275ºC e Mf a 100°C. Quanto mais rápido for o
79

resfriamento, maior é a tendência desta faixa de temperatura abaixar.


Assim, a partir da condição totalmente austenitizada, tem-se a possibilidade de
se obter a estrutura completamente martensítica do aço em resfriamento ao ar,
sem a presença de austenita retida ou ferrita delta. Na figura 2.47[2],
representando as curvas TTT comparativas para vários aços inoxidáveis, tem-
se um aço com 0,1% de carbono, 12% de cromo e 3% de níquel. Sob as
devidas proporções e limitações, a temperabilidade do aço CA6NM pode ser
analisada.

Figura 2.47 Curva TTT para um aço 0,10%C-12%Cr, equiparável ao aço


CA6NM[2].

Após têmpera, a dureza do material é muito alta, ultrapassando com facilidade


400HB, e nestas condições o material tem baixa tenacidade e usinabilidade.
Assim, é conveniente e é requerido por norma, à realização de um, dois ou
mais revenimentos.
Ainda com base no diagrama ferro-cromo-níquel observa-se a presença do
campo austenítico-ferrítico, que para o aço CA6NM se inicia em torno de
600ºC(AC1) e termina em AC3, a 720°C. A combinação de estrutura
80

predominantemente martensítica com a presença de austenita residual estável,


no aço CA6NM, é benéfica no tocante à tenacidade, mesmo com algum
prejuízo à dureza e resistência mecânica[10].
A prática de tratamento térmico conforme designação A487 da norma
ASTM[34], requer temperatura de revenimento na faixa entre 565 e 620°C para
os aços CA6NM classe A e B. Revenindo-se em temperaturas inferiores a
565°C, não há formação de austenita, e revenindo-se em temperaturas acima
de 625°C, devido as condições de difusão e solubilidade, há uma drenagem de
soluto da matriz martensítica, que até então é uma estrutura saturada de
carbono e outros elementos, e conseqüente enriquecimento da austenita
formada durante revenimento. Esta austenita ao ser resfriada é instável e sofre
transformação martensítica durante resfriamento. Portanto é conveniente e
prático seguir a recomendação da norma ASTM[21].
Além da formação de austenita estável durante revenimento entre 565 e 625°C,
para o aço CA6NM valem as mesmas considerações feitas para o aço CA15
por Irvine e Pickering[40]; ou seja, uma dureza elevada, na condição bruto de
têmpera, em torno de 430HB, e durante o revenimento há precipitação inicial
de Fe3C, endurecimento secundário devido a precipitação de carbonetos Cr7C3
e Cr2C, e ao fim do processo, em torno de 680°C, ocorre a precipitação e
crescimento de partículas de M23C, e a dureza cai a valores inferiores a
240HB[35].
Adições de molibdênio em percentuais de até 1% aumentam a resistência ao
revenimento, retardando a perda de dureza em temperaturas de até 650°C,
permitindo assim sua utilização em altas temperaturas. O efeito de propiciar um
endurecimento secundário e ainda retardar o amolecimento da liga, é atribuído
a um aumento na cinética de precipitação e estabilização de partículas M2X(C
ou N). Com adição de vanádio até 0,9% pode também ocorrer efeito similar.
Como já citado anteriormente, para o aço CA6NM, classes A e B da norma
ASTM designação A487[34], é requerido revenimento final entre 565 e 620°C,
para efeito de formação de austenita. Mas para a classe B, em que a
resistência requerida pode atingir o valor mínimo de 690 MPa, cerca de 70MPa
abaixo do que é exigido para a classe A(760MPa); é requerido um revenimento
intermediário entre 665 e 690°C, possivelmente para proporcionar o efeito do
81

último estágio do revenimento, ou seja, decomposição dos precipitados M2X(N


ou C) e Cr7C3 em benefício da formação dos precipitados M23C que propiciará
redução de dureza adicional no revenimento final. Assim o aço CA6NM classe
B é dotado de grande tenacidade e ductilidade, que com dureza mínima
requerida em 255HB, propicia boas condições de usinagem e é indicado para
trabalhos em meios sulfurosos, onde uma menor resistência mecânica propicia
maior resistência à corrosão sobre tensão.
Ainda pela designação A743, um revenimento intermediário antes do
revenimento final, é opcional, mas na prática, constata-se que é necessário
fazer um mínimo de dois revenimentos, seguindo procedimentos iguais, ou
seja, dois ciclos completos de revenimento. Com apenas um revenimento, a
dureza não cai a valores inferiores a 320HB, mas com a realização de um
segundo ciclo, a dureza cai a valores inferiores a 285HB, melhorando a
tenacidade e resistência mecânica, alongamento e redução de área.

2.8.4 Propriedades

À temperatura ambiente, a resistência mecânica do aço CA6NM é igual ou


levemente superior a do aço CA15, em função de ambas as estruturas serem
martensíticas. Mas, em função das qualidades propiciadas pelos elementos de
liga e pelos efeitos do revenimento, o aço CA6NM apresenta melhor ductilidade
e tenacidade. Assim a resistência pode ultrapassar os 850MPa e durezas de
250 a 290HB, com alongamento e redução de área, mínimos de 24 e 60%
respectivamente[4].
O aço CA6NM exibe qualidades para ser utilizado em temperaturas de até
500°C, onde ambos os limites de escoamento e resistência são reduzidos a
valores em torno de 70% daqueles obtidos à temperatura ambiente. Entretanto
a 300°C, os limites de resistência e escoamento equivalem a 85 e 90%
respectivamente, dos valores obtidos a temperatura ambiente[2].
Sob fluência, o aço CA6NM exibe uma tensão de ruptura de 400MPa a 480°C
em 100 horas e 200 MPa a 540°C em 1000 horas[2].
A presença de molibdênio no aço CA6NM aumenta sua resistência à corrosão
82

em água marinha. Em ambientes com HCl oferece boa resistência à corrosão


galvânica em 3000 horas de exposição a 565ºC[2].
A presença de 12% de cromo garante a resistência à oxidação em
temperaturas elevadas, e a presença do níquel, manganês e silício, auxiliam na
estabilidade da camada passiva diminuindo a formação de carepas sob
variados ciclos de térmicos.
Em ambientes sulfurosos, tais como em aplicações com derivados de petróleo,
com carvão mineral e na indústria química, elementos como o cromo e o silício
são benéficos, mas a presença do níquel é prejudicial, principalmente em
atmosferas com gases sulfurosos em temperatura da ordem de 800°C. Este
efeito se deve a formação de compostos eutéticos à base de enxofre e níquel.
Em baixas temperaturas, o aço CA6NM pode exibir boa resistência ao impacto,
mesmo quando inferiores a -100ºC. A figura 2.48[2], mostra a variação da
tenacidade em deformação plana(KIC) e resistência à tração em função da
variação de temperatura, para um aço CA6NM genérico.

Figura 2.48 Variação da tenacidade e resistência à tração


com a temperatura[2].

A resistência à corrosão intergranular, mesmo com baixo percentual de cromo,


é fortemente melhorada pela presença do molibdênio e pelo baixo carbono.
A revisão bibliográfica realizada mostra que as propriedades mecânicas dos
aços CA15 e CA6NM variam em um largo espectro, dependendo dos
tratamentos térmicos e das condições de fabricação. Basicamente, o aço
83

CA6NM, mais caro pela adição de Ni e Mo, apresenta maior ductilidade que o
CA15, mantendo valores iguais ou superiores dos limites de escoamento e
resistência. A literatura, apesar de grande quantidade de publicações a
respeito, apresenta lacunas de conhecimento ou de resultados quando esses
materiais são processados em condições industriais, na fabricação de peças de
médio e grande porte. Este trabalho, portanto, tem por objetivo estudar as
propriedades mecânicas quando da fabricação de peças reais, em ambiente
industrial, e visa comparar os aços CA15 e CA6NM quanto às propriedades
obtidas após tratamentos térmicos.
A metodologia apresentada no próximo capítulo mostra em que condições este
estudo foi desenvolvido.
84
85

3 OBJETIVO DO TRABALHO E METODOLOGIA

O objetivo deste trabalho foi estudar as propriedades mecânicas dos aços


CA15 e CA6NM sob as designações A487 e A743, cujas determinações
reúnem todos os requisitos, conforme norma ASTM.
O estudo foi feito com base em corpos de provas fundidos em moldes de areia
aglomerados com resina alquídica e no sistema furânico-uretânico em
processo de cura a frio. Foram determinadas as propriedades mecânicas, em
específico: limites de escoamento e de resistência, redução de área,
alongamento, dureza e resistência ao impacto em corpos de prova tipo corpos
prova tipo “Keel Block”, fundidos conforme a norma ASTM designação
A781[42].
Todos os processos de moldagem, fusão, rebarbação, tratamentos térmicos e
usinagem, ensaios de impacto, tração a frio, caracterização metalográfica e
medidas de durezas, foram feitos nas dependências da Fundição Moreno, em
Sertãozinho, Estado de São Paulo, Brasil.
Ensaios de difração de raios X, dilatometria, caracterização microestrutural e
de fratura por microscopia eletrônica e ensaios de tração a quente foram
realizados nas dependências da Universidade Federal de São Carlos-UFSCar,
São Carlos, Estado de São Paulo, Brasil; utilizando-se da estrutura do Centro
de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais - CCDM.
Todos os procedimentos de elaboração dos corpos de prova e realização de
ensaios de impacto e tração seguiram os requisitos da norma ASTM,
designação A370[43].
Ao término dos trabalhos práticos, todos os dados e resultados foram
analisados, estudados e organizados de tal forma a permitir não somente uma
comparação criteriosa entre as propriedades dos aços CA15 e CA6NM, mas
também, incrementar informações de cunho prático além daquelas
padronizadas nas designações da norma ASTM, principalmente no que diz
respeito à resistência à tração à quente, a resistência ao impacto e temperatura
de transição dúctil frágil usando o critério 20,6J.
86

3.1 Fundição dos Corpos de Prova

As cargas líquidas de ambos os aços CA15 e CA6NM, foram elaboradas em


fornos de indução convencionais(cadinho aberto), durante o vazamento de
peças em produção pela Fundição Moreno Ltda.
O procedimento de elaboração das ligas foi feito com adição de sucata,
adições de ligas e desoxidação com a adição de 0,05% de alumínio, 0,20% de
liga CaSi e 0,20% de liga FeSiZr na panela, durante operação de vazamento
do forno. A tabela 3.1 mostra uma carga típica para os aços CA15 e CA6NM.

Tabela 3.1 Composição típica de carga para fusão dos aços CA15 e CA6NM.
Composição na Carga(Kg/ 1000Kg metal líquido)

Níquel Sucata
CaSi FeSiZr FeCr/ BC Gusa FeMn/BC FeMo Al
Grau Eletrolítico AISI409

CA15 4,0 960,0 2,0 2,0 18,0 12 8 - 0,5

CA6NM 35,0 930,0 2,0 2,0 18,0 - 7,0 10,0 0,5

O tempo de fusão variou entre quarenta e sessenta minutos, e as composições


químicas objetivadas foram conforme tabela 3.2.

Tabela 3.2 Composições químicas objetivadas para os aços CA15 e CA6NM


fundidos.
Grau Tipo Composição(% Peso)
C Mn Si P S Cr Ni Mo
Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Máx. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx.
CA15 12Cr 0,08 0,12 0,40 0,80 0,50 1,0 0,04 0,04 11,5 13,5 0,40 0,60 - 0,25
CA6NM 12Cr/4Ni - 0,06 0,40 0,90 0,50 1,0 0,04 0,04 11,5 14,0 3,50 4,50 0,40 0,90

Após ajuste químico e completa fusão, em torno de 1500°C, as cargas dos


aços CA15 e CA6NM foram vazadas nos seus respectivos moldes, em
temperaturas em torno de 1570°C.
87

3.2 Corpos de Prova

Os corpos de prova tipo “Keel Block”, foram fundidos a parte, para ambos os
aços CA15 e CA6NM, e em conformidade com determinações da norma ASTM
designação A781. Detalhes e dimensões dos corpos de prova são mostrados
na figura 3.1[42].

Figura 3.1 Vista lateral e frontal com detalhes e medidas do corpo de prova
“Keel Block” dupla perna, adotado pelas designações da norma ASTM[42].

Foram fundidas 30 unidades de corpos de prova do aço CA15 e 30 unidades


do CA6NM.
Os corpos de prova do aço CA15 foram obtidos a partir de 2 moldes, com 15
corpos de prova em cada molde, no sistema PEP-SET com a composição
mostrada na tabela 3.3.

Tabela 3.3 Composição da areia utilizada para a produção dos moldes


utilizados na obtenção dos corpos de prova do aço CA15.
Componente % em Peso
Areia Nova 100
Furânico Uretânico- Parte 1 0,55
Isocianato de Potássio- Parte 2 0,55
Catalisador 3,5
Fe2O3 2,5

Os corpos de prova do aço CA6NM foram obtidos a partir de 3 moldes, com 10


corpos de prova em cada molde, em areia alquídica com a composição
88

mostrada na tabela 3.4.

Tabela 3.4 Composição da areia utilizada para a produção dos moldes


utilizados na obtenção dos corpos de prova do aço CA6NM.
Componente % em Peso
Areia Recuperada 90
Areia Nova 10
Resina Alquídica 0,9
Catalisador(Isocianato de Potássio) 0,18
Fe2O3 2,5

Os corpos de prova de ambos os aços CA15 e CA6NM foram moldados com


modelo de isopor, numa disposição tipo “espinha de peixe” com o canal de
descida ao centro.
Os primeiros corpos de prova moldados foram do aço CA6NM e optou-se por
um espaçamento 50mm entre os corpos de prova, um espaçamento central-
longitudinal de 140mm entre os corpos de prova, e por motivos de segurança,
um espaçamento de 250mm entre os corpos de prova e as laterais da caixa de
moldagem. Após fundição dos corpos de prova, verificou-se que o
espaçamento entre as laterais da caixa e os corpos de prova poderia ser
reduzido a 50mm com segurança e sem influenciar significativamente as
condições de solidificação. Assim para o aço CA15, optou-se pela fundição dos
corpos de prova com apenas 2 moldes, havendo somente um acréscimo de 2
modelos por molde e uma redistribuição do espaço interno. O espaçamento
transversal ao arranjo, entre os corpos de prova não foi alterado, sendo apenas
alterado o espaçamento longitudinal ao arranjo entre os corpos de prova e o
espaçamento entre os corpos de prova e as laterais da caixa de moldagem.
A figura 3.2 esquematiza a disposição dos corpos de prova do aço CA15 dentro
do molde.
89

50mm

Figura 3.2 Desenho esquemático do molde e modelo para fundição dos corpos
de prova do aço CA15.

3.3 Tratamentos Térmicos

Todos os corpos de prova de ambos os aços foram austenitizados(ou


solubilizados) em uma única etapa e temperatura, ou seja, tanto os corpos de
prova “keel blocks” do aço CA15 como do CA6NM, foram austenitizados a
1000°C +/-10°C por 6 horas.
Após austenitização ou solubilização, 15 corpos de prova do aço CA15 e 15 do
CA6NM foram resfriados em água, e outros 15 corpos de prova do aço CA15 e
15 corpos de prova do CA6NM foram resfriados ao ar. Em ambos os meios, o
resfriamento foi levado até a temperatura ambiente.
Os tratamentos térmicos de revenimento tiveram como objetivos principais,
ajustar as propriedades mecânicas dos aços CA15 e CA6NM, inicialmente na
condição brutos de têmpera, conforme seus diversos e respectivos graus
previstos pela norma ASTM.
90

3.4 Dilatometria

A partir das amostras retiradas dos corpos de prova fundidos e na condição


bruto de têmpera, foram feitos ensaios de dilatometria sob aquecimento, da
temperatura ambiente até a temperatura de austenitização, e sob resfriamento,
da temperatura de austenitização até a temperatura ambiente.
O objetivo foi determinar as temperaturas de transformação dos aços CA15 e
CA6NM: T(α > γ + α) e T(γ +α > γ ) durante aquecimento,T(γ > α + γ ), T(α + γ > α) e as
temperaturas de transformação Mf e Ms durante resfriamento.
Os ensaios de dilatometria dos aços CA15 e CA6NM foram feitos num
dilatômetro que possibilitou aquecimentos desde a temperatura ambiente até
temperaturas da ordem de 1020°C, sendo detectados os pontos de
transformação de fase ferrita(α)- austenita(γ) ou temperatura AC1 e AC3, e
durante resfriamento, possibilitou resfriar até abaixo de 90°C com registro
gráfico, obtendo-se então, os pontos de início de transformação
martensítica(Ms) e fim de transformação martensítica(Mf).
Inicialmente, previa-se uma taxa de aquecimento de 25°C por minuto até
1020°C, onde se manteria a amostra nesta temperatura por 20 minutos para
efeito de solubilização e completa austenitização, e resfriaria-se a 25°C por
minuto até 60°C. Mas como o dilatômetro era um equipamento com o software
de coleta e análise de dados, preparado para ensaiar materiais cerâmicos,
onde as temperaturas finais de resfriamento não são tão baixas quanto 100 ou
60°C, o resfriamento com taxa de 25°C era muito forçado para os aços CA15 e
CA6NM, ou seja, apesar do dilatômetro ser dotado de sistema de refrigeração
a ar forçado, o resfriamento da amostra ficava abaixo da taxa de resfriamento
programada, e quando a temperatura na amostra decrescia a valores em torno
de 200°C, o software encerrava o registro. Assim um novo ciclo de análise foi
programado, conforme tabela 3.5.
91

Tabela 3.5 Ciclos de aquecimento e resfriamento dos aços CA15 e CA6NM em


ensaio de dilatometria.
Estágio Taxa Patamar
Aquecimento CA15 25°C/min. de 25°C a 1020°C. 20min. a 1020°C.
25°C/min. de 25°C a 450°C.
Aquecimento CA6NM 5°C/min de 450°C a 850°C.
20min. a 1020°C.
25°C/min. de 850°C a 1020°C.
25°C/min. entre 1020 e 500°C.
Resfriamento CA15 e CA6NM --
5°C/min. abaixo de 500°C.

Antes de realização do ciclo térmico da tabela 3.5, foi feito um ciclo térmico de
solubilização nos corpos de prova de ambos aços CA15 e CA6NM, no próprio
dilatômetro. Assim as amostras foram aquecidas a 25°C por minuto até
1020°C, manteve-se por 20 minutos e resfriou-se a 20°C por minuto até abaixo
de 100°C.
Os corpos de prova para ensaio dilatométrico dos aços CA15 e CA6NM foram
obtidos a partir dos corpos de prova “Keel Block” após têmpera e revenimento,
e foram usinados na forma cilíndrica conforme figura 3.3.

8mm

15mm

Figura 3.3 Corpo de prova cilíndrico para ensaio dilatométrico dos aços CA15 e
CA6NM.

3.5 Ensaios de Tração

O ensaio de tração foi conduzido à temperatura ambiente e à quente na


temperatura de 500°C, seguindo os requisitos da norma ASTM designação
A781.
Em função dos tratamentos térmicos e condições de fornecimento requeridos
nas designações da norma ASTM, foram realizados 5 ensaios de tração para o
aço CA15 e 4 ensaios de tração para o CA6NM a temperatura ambiente. A
500°C, foram realizados 4 ensaios de tração para o CA15 e 4 ensaios de
tração para o CA6NM.
92

Assim, foi necessário à utilização de 11 “keel blocks” do aço CA15 e 10 “keel


blocks” do aço CA6NM para a produção dos corpos necessários à realização
dos ensaios de tração.
As dimensões e detalhes dos corpos de provas são mostrados na figura 3.4 e
seguem designação A370 da norma ASTM[43].

Parâmetro Mm
A 60
D 12,5 +/- 0,25
G 50 +/- 0,10
R 10

Figura 3.4 Corpo de prova de tração com dimensões padrões, usinado


conforme norma ASTM designação A370[43].

A taxa de carregamento imposto pela máquina de tração durante ensaio de


tração a frio foi de 400MPa por minuto.
A partir do corpo posicionado na máquina de tração foi aplicada à carga de
tração de forma controlada, conforme definido acima, e simultaneamente,
através de um sistema computacional integrado, foi traçada uma curva força de
tração-deformação de engenharia. Através desta curva, obteve-se os valores
de limite de escoamento e de limite de resistência.
O limite de escoamento foi obtido pelo método de compensação. Neste
método, a tensão de escoamento R é tomada como a correspondente ao ponto
r da curva tensão deformação. O ponto r é o ponto de cruzamento do segmento
mn, paralelo ao segmento AO. O segmento mn é traçado a partir do ponto m,
que dista tipicamente em 0,2% de deformação. O segmento OA se confunde
com a porção linear da curva tensão deformação. A região da curva tensão-
deformação entre os pontos de intersecção com os segmentos mn e AO,
representa um comportamento ainda elástico, mas não linear do material, que
termina no ponto “r”. Ver na figura 3.5, a representação esquemática desse
método[43].
93

Figura 3.5 Diagrama tensão-deformação para determinação do limite de


escoamento, pelo método da compensação[43].

O limite de escoamento em MPa é o quociente entre força da tração em


Newtons(N) pela área inicial da seção útil do corpo de prova em mm2.
O limite de resistência em MPa é definido como o quociente entre a máxima
força de tração aplicada pela máquina em Newtons(N) pela área inicial da
seção útil do corpo de prova em mm2.
O alongamento percentual, que foi obtido por medição manual, é o quociente
entre a diferença dos comprimentos antes do ensaio(lo) e após ensaio (lf), ∆l=
lo-lf, e o comprimento útil inicial, G= 50mm.
O percentual de redução de área também foi obtido por medição manual, é o
quociente entre a diferença das áreas, antes do ensaio(Ao) e após ensaio(Af),
∆A= Ao-Af, e a área útil inicial Ao= 122,6mm2.
Os ensaios de tração à quente foram realizados tanto para o aço CA15 como
para o CA6NM com o objetivo de se verificar o comportamento sob tração em
altas temperaturas, em temperatura inferior a aquela última de tratamento
térmico, mas numa única temperatura tal que não só a comparação entre os
graus de cada aço fosse possível, mas também entre os dois aços CA15 e
CA6NM.
94

Como a temperatura mais baixa de revenimento foi a 540°C para CP1 e CP2
do aço CA15, optou-se pela temperatura de 500°C.
O ensaio foi feito numa máquina de tração com capacidade de até 25
toneladas e com software “Blue Chill” para coleta e análise dos dados. O
ensaio foi feito a uma taxa de deformação de 2mm por minuto. Os corpos de
prova foram obtidos a partir dos “Keel Blocks” fundidos, e foram elaborados
conforme norma ASTM designação A370. Nos ensaios de tração a quente se
utilizou corpos de prova de tamanho reduzido, com diâmetro da seção útil de
6,25mm e comprimento de 25mm. A cabeça dos corpos de prova foi
rosqueada, com passo de 1,75 para se evitar qualquer escorregamento durante
ensaio.
No ensaio de tração à quente, de forma análoga ao ensaio de tração a frio, foi
um ensaio de tração convencional, ou seja, não instrumentado, onde obteve-se
a curva de engenharia com limite de escoamento determinado pelo método da
compensação a 0,2%, limite de resistência obtido através da relação máxima
carga aplicada e área inicial, e a redução de área através da relação entre área
inicial e área final. O alongamento diferiu do tipo convencional por ter sido
obtido através do registro da máquina de tração, e assim obteve-se o
alongamento total, ou seja, o alongamento durante regime elástico e plástico.

3.6 Ensaios de Impacto

A partir dos corpos de prova “Keel Blocks” previamente fundidos e tratados


termicamente, foram elaborados três corpos de prova para ensaios de impacto
Charpy em cada uma das quatro temperaturas utilizadas para caracterizar a
resistência ao impacto do material. Os corpos de prova tem dimensões
conforme figura 3.6[43].
95

Figura 3.6 Corpo de prova de impacto com dimensões padrões, usinado


conforme designação A370[43].

Além de ensaio de impacto à temperatura ambiente(24°C), o principal objetivo


foi determinar a temperatura de transição dúctil-frágil, tanto para o aço CA15
quanto para o aço CA6NM, utilizando o critério 20,6J, muito antigo, mas ainda
utilizado. Isto foi feito conforme designação A370 da norma ASTM parágrafo
26.2.2, em três temperaturas, comuns aos aços CA15 e CA6NM, 0°C(ponto de
fusão da água), -100°C(ponto médio entre os pontos de ebulição da água e
nitrogênio) e -196°C(ponto de ebulição do nitrogênio líquido).
Em cada temperatura, foi ensaiado um conjunto de 3 corpos de prova
entalhados de cada grau dos aços CA15 e CA6NM.
Para realização dos ensaios a 0°C e -100°C foi utilizado álcool líquido
hidratado, um composto orgânico com ponto de fusão a -114°C. A primeira
temperatura foi controlada por meio da adição de CO2(gelo seco), que sublima
em torno de –78°C, e a segunda temperatura foi obtida através da adição
controlada de nitrogênio líquido. A temperatura de –196°C foi obtida através da
imersão direta em nitrogênio líquido. A temperatura de 24°C era a temperatura
ambiente medida no momento do ensaio.
De posse dos valores médios da energia absorvida em cada uma das quatro
temperaturas, lançou-se estes valores de energia em Joules(J) no eixo das
ordenadas e os de temperatura em graus Celsius(°C) no eixo das abscissas,
obtendo-se um gráfico referente a energia absorvida em impacto versus
temperatura. Projetou-se retas entre os pontos de correspondência e lançou-se
em escala, o valor 20,6J na ordenada e obteve-se assim a temperatura de
transição correspondente na abscissa.
Em função dos tratamentos térmicos e condições de fornecimento requeridos
96

nas designações A487 e A743 da norma ASTM e a realização dos ensaios de


impacto em quatro temperaturas distintas, foram realizados 32 ensaios de
impacto, sendo 16 para o aço CA15 e 16 para o CA6NM.
Para controle de temperatura, utilizou-se termômetro eletrônico acoplado a um
termopar de Kantall, com precisão de ±1°C. Em cada temperatura de ensaio, o
tempo de estabilização e uniformização dos corpos de prova foi de 10 minutos,
a temperatura de ensaio variou entre ±1°C, o tempo de introdução e solicitação
do corpo de prova ao impacto não ultrapassou os 5 segundos em todos os
ensaios.
A máquina de impacto é um modelo da Wolpert, de fabricação brasileira,
destinada a realização de ensaios de impacto não instrumentado com
capacidade de medir até 300J de energia absorvida.

3.7 Metalografias por Microscopia Ótica e Eletrônica

A partir de amostras retiradas dos corpos de prova de tração e dos “keel


blocks” brutos de têmpera ao ar e em água, e após ataque com reagente à
base de ácido pícrico, álcool etílico e HCl, foram realizados ensaios
metalográficos para caracterização ótica da microestrutura em aumentos de
115, 465 e 870 vezes, visando correlacionar a micro-estrutura com os
tratamentos térmicos realizados. Com o objetivo de detectar e caracterizar a
austenita retida estável no aço CA6NM, foi realizado ataque metalográfico com
o reagente Beraha, à base de HCl e metabisulfito de potássio, que escurece a
martensita e clareia a austenita. Os reagentes utilizados no ataque
metalográfico dos aços CA15 e CA6NM, são mostrados na tabela 3.6.
97

Tabela 3.6 Reagentes para ataque metalográfico dos aços CA15 e CA6NM.
Reagente Fórmula Tempo
Acidos clorídrico e 1 g- Acido Pícrico Ataque de
Pícrico(Villela’s). Reagente para 5 ml- HCl 40 a 100
aços inoxidáveis. 100 ml- Álcool Etílico Absoluto segundos.
Reagente para ataque colorido 20 ml- HCI Imersão 30
aços inoxidáveis(Beraha). 100 ml- Água Destilada a 120s com
Colore a austenita. 0.5-1g- Metabisulfito de Potássio agitação.

Ainda em termos de caracterização microestrutural, com aumentos maiores,


foram feitas análises por microscopia eletrônica de varredura, para distinção e
caracterização dos micro-constituintes com aumentos bem superiores a
aqueles obtidos por microscopia ótica.
Para uma observação mais detalhada com boa resolução e definição, tal como
a morfologia dos carbonetos que podem mal chegar a 100nm, são necessários
aumentos superiores a 2000 vezes, obtidos neste trabalho por MEV.
O microscópio utilizado é um ZEIS 940 de fabricação da Phlilips. Tanto para o
aço CA15 como para o CA6NM, as fotomicrografias foram obtidas a partir de
amostras retiradas dos corpos de prova de tração(1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9)
atacadas fortemente com Picral-HCl, 1 minuto para as amostras mais sensíveis
ao ataque e 1,5 minutos para as amostras menos sensíveis ao ataque. Foram
realizadas ao decorrer do trabalho, mais de 100 fotomicrografias.

3.8 Difração de Raios X

Com o objetivo de detectar a autenita retida estável no aço CA6NM, obtida por
partição através dos tratamentos térmicos de revenimento, foi executado
trabalho de detecção e quantificação da austenita retida, por de difratometria
de raios X no CCDM-UFSCar.
Após realização de ensaios de impacto, coletou-se um total de doze amostras
das barras de impacto de CP6, CP7, CP8 e CP9, ensaiados em três
temperaturas distintas, 24°C, -100°C e -196°C. Assim foi possível quantificar e
98

comparar os percentuais de austenita retida em cada um dos quatro graus do


aço CA6NM. Também foi possível verificar o grau de estabilidade da austenita
em cada um dos graus em cada temperatura.
A difração de raios X foi feita em um difratômetro SIEMENS, modelo
Kristaloflex D-5000. A identificação e quantificação das fases foi feita através
de algorítmos de comparação com o software Difrac Plus de fabricação da
Bruker, com base no banco de dados JciS, com cerca de 124000 compostos
registrados.
Os planos hkl para detecção da austenita(γ) são: [(111)/2θ-50,8], [(200)/2θ-
59,2], [(220)/2θ-88,7].
Para detecção da ferrita(α) os planos hkl são: [(110)/2θ-52,4], [(200)/2θ-77,2],
[(211)/2θ-99,7].
Em cada uma das amostras, obteve-se o espectro de raios X difratado com
indicação dos picos de reflexão construtiva e seus planos hkl.
Cada amostra foi exposta ao feixe de raios X por cerca de quarenta minutos,
visando obter o máximo de dados para compilação.

3.9 Disponibilização e Análise dos Resultados

Durante os ensaios, teve-se como objetivo seguir meticulosamente os


procedimentos e critérios determinados pelas diversas normas
regulamentadoras.
Após a obtenção de dados numéricos, relativos aos ensaios de impacto e
tração, estes dados foram expostos através de tabelas e gráficos, propiciando
assim uma melhor ilustração dos fenômenos. A análise e comparação destes
dados foram feitas através do uso de desvio padrão e percentagem.
99

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1 Composições Químicas Obtidas

Para realização da análise química, utilizou-se o processo de espectrometria


por emissão ótica e para tal, utilizou-se um espectrômetro Espectrolab. A
análise química percentual em peso dos aços CA15 e CA6NM são
apresentadas na tabela 4.1.

Tabela 4.1 Composições químicas obtidas por espectrometria de emissão


ótica, realizadas nos aços CA15 e CA6NM.
CA15 CA6NM
Elemento
% em Peso % em Peso
C 0,084 0,057
Mn 0,69 0,84
Si 0,78 0,82
P 0,029 0,032
S 0,011 0,020
Cr 11,61 11,70
Ni 0,60 3,94
Mo 0,12 0,44
Al 0,037 0,032
Cr equivalente 13,73 14,40
Ni equivalente 3,89 6,50

Observa-se que para o aço CA15, o percentual de carbono é quase 50% mais
baixo que o máximo especificado por norma, o que garante melhor ductilidade
e tenacidade; por outro lado o percentual de cromo está no mínimo da faixa,
contribuindo assim para redução do percentual de ferrita delta. Outro fator que
melhora a tenacidade e reduz o percentual de ferrita delta é a presença de
0,60% de níquel. O molibdênio presente em 0,12% melhora a tenacidade, mas
pode contribuir para o aumento da quantidade de ferrita delta presente.
Para o aço CA6NM observa-se que o percentual de carbono quase alcança o
limite máximo permitido por norma, o que pode reduzir tenacidade e
ductilidade; o percentual de níquel se encontra no centro da faixa
especificada(3,5-4,5%), o que garante boa resistência ao impacto,
100

principalmente a frio; mas, por outro lado, o percentual de molibdênio se


encontra no mínimo da faixa, o que pode contribuir para redução da
tenacidade.
Os percentuais de cromo equivalente e níquel equivalente foram calculados
através das equações 2.6 e 2.7 respectivamente, apresentadas anteriormente.
De acordo com limites máximos e mínimos dos elementos químicos
determinados por norma e pelo diagrama de Schaeffler modificado por
Schneider, as microestruturas resultantes vão estar no campo determinado
pelos 4 vértices do retângulo das figuras 4.1 e 4.2 para os aços CA15 e
CA6NM respectivamente.

Figura 4.1 Diagrama de Schaeffler modificado por Schneider, com indicação do


campo dos componentes micro-estruturais do aço CA15 após têmpera.
101

Figura 4.2 Diagrama de Schaeffler modificado por Schneider, com indicação do


campo dos possíveis componentes micro-estruturais do aço CA6NM obtidos
após têmpera.

Através dos valores percentuais em peso de cromo e níquel equivalentes


calculados e apresentados na tabela 4.1, e também através do diagrama de
Schaeffler modificado por Schneider, pode-se fazer uma previsão da
microestrutura presente após têmpera dos aços CA15 e CA6NM, em função de
suas respectivas composições químicas obtidas, conforme figura 4.3.

Figura 4.3 Diagrama de Schaeffler modificado por Schneider, com indicação


dos componentes micro-estruturais dos aços CA15 e CA6NM obtidos após
têmpera.
Observa-se que a microestrutura final do aço CA15 consistirá dos
102

componentes ferrita delta(δ) e martensita(α`); já para o CA6NM o ponto obtido,


situa na região tripla do diagrama, indicando a possibilidade de se ter
austenita(γ) e martensita(α`), ferrita delta(δ) e martensita(α`), apenas
martensita(α`), ou todas as fases presentes, ferrita, martensita e austenita. Em
ambos os casos, porém, a martensita será majoritária.
103

4.2 Tratamentos Térmicos

4.2.1 Tratamento Térmico de Têmpera

O ciclo térmico resultante está mostrado na figura 4.4, relembrando que 15


corpos de prova de cada aço foram resfriados ao ar e 15 resfriados em água.

T.T. TÊMPERA CA15-CA6NM

1200
Patamar a 1000°C/6 horas.
1000

800 Aquecimento
até 150°C/h.
°C

600

400 Resfriamento
em água ou ar.
200

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
TEMPO(h)

Figura 4.4 Ciclo térmico de têmpera para os aços CA15 e CA6NM.

A etapa de têmpera foi bem sucedida em todos os corpos de prova.


104

4.2.2 Tratamentos Térmicos de Revenimento do Aço CA15

Para o aço CA15 realizou-se 2 ciclos de tratamentos térmicos de revenimento


para ajuste das propriedades mecânicas conforme a classe desejada.
Para ajustar as propriedades mecânicas na classe A, norma ASTM designação
A487, do aço CA15 temperado ao ar e em água, realizou-se o ciclo térmico
conforme figura 4.5 em 5 corpos de prova temperados em água e 5
temperados ao ar.
T.T. REVENIMENTO CA15

600
Patamar a 540°C/4 horas.
500
Aquecimento
400
até 150°C/h.
°C

300
Resfriamento
200 ventilado fora
do forno.
100

0
0 2 4 6 8 10
TEMPO(h)

Figura 4.5 Ciclo térmico de revenimento para o aço CA15.

As propriedades mecânicas requeridas do aço CA15, para a classe A,


conforme designação A487 da norma ASTM, são mostradas na tabela 4.2.

Tabela 4.2 Propriedades mecânicas requeridas para o aço CA15 conforme


norma ASTM designação A487.
Limite de
Limite de A AlongamentoA Red. de ÁreaA
Desig. A Escoamento Dureza
Grau Classe Resistência Lo = 4 x Ø o Øo= 12,5mm
Prévia Al.= 0,2% (HB)
(Mpa) (%) (%)
(Mpa)
CA15A CA15 A 965-1170 760-895 10,0 25,0 -
Notas:
A
Valor mínimo, a menos que haja faixa;
B
Métodos e definições conforme ASTM A370. A medição feita a partir de corpos de prova.
105

Para ajustar as propriedades mecânicas para as classes B, C e D, da norma


ASTM designação A487, do aço CA15 temperado ao ar e em água, realizou-se
o ciclo térmico da figura 4.6 em 5 corpos de prova temperados em água e 5
corpos de prova temperados ao ar.

T.T. REVENIMENTO CA15

800

700 Patamar a 670°C/4 horas.

600

500 Aquecimento
até 150°C/h.
°C

400 Resfriamento
300 ventilado fora
do forno.
200

100

0
0 2 4 6 8 10 12
TEMPO(h)

Figura 4.6 Ciclo térmico de revenimento para o aço CA15.

As propriedades mecânicas para as classes B, C e D, da norma ASTM


designação A487, são conforme tabela 4.3.

Tabela 4.3 Propriedades mecânicas requeridas para aço CA15 conforme


norma ASTM designação A487.
Limite de
Limite de A AlongamentoA Red. de ÁreaA
Desig. A Escoamento Dureza
Grau Classe Resistência Lo= 4 x Øo Øo= 12,5mm
Prévia Al.= 0,2% (HB)
(Mpa) (%) (%)
(Mpa)
CA15 CA15 B, C e D 690-795 515 18,0 30,0 235,0
Notas:
A
Valor mínimo, a menos que haja faixa;
B
Métodos e definições conforme ASTM A370. A medição feita a partir de corpos de prova.
106

4.2.3 Tratamento Térmico de Recozimento do Aço CA15

Conforme ciclo térmico da figura 4.7, foi realizado o tratamento térmico de


recozimento em apenas um corpo de prova “Keel block”.

T.T. RECOZIMENTO CA15

900 Patamar a 800°C/16 horas


800
700 Resfriamento
no forno a 50°C
600 máx./hora.
500
°C

400 Aquecimento
até 150°C/h.
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30 35
TEMPO(h)

Figura 4.7 Ciclo térmico de recozimento do aço CA15.

O objetivo foi apenas atender a norma ASTM designação A703, que prevê o
aço CA15 recozido a 750°C mínimo, para um grau de menor dureza e maior
usinabilidade.
107

4.2.4 Tratamentos Térmicos de Revenimento do Aço CA6NM

Foi feito tratamento térmico de duplo revenimento em 10 corpos de prova do


aço CA6NM, 5 corpos de prova temperados ao ar e 5 temperados em água,
cujo revenimento intermediário foi feito conforme ciclo térmico da figura 4.8.

T.T. REVENIMENTO INTERMEDIÁRIO CA6NM

800
Patamar a 690°C/6 horas.
700

600

500 Aquecimento
até 150°C/h.
Resfriamento
°C

400
ventilado fora
300 do forno.
200

100

0
0 2 4 6 8 10 12 14
TEMPO(h)

Figura 4.8 Ciclo térmico de revenimento intermediário para aço CA6NM.

O ciclo térmico de revenimento intermediário tem como objetivo preparar o


corpo de prova, para que após revenimento final conforme figura 4.9, possam
ser obtidas propriedades mecânicas segundo a norma ASTM designação A487
classe B, conforme tabela 4.4.

Tabela 4.4 Propriedades mecânicas requeridas para o aço CA6NM conforme a


norma ASTM designação A487.
Limite de
Limite de A AlongamentoA Red. de ÁreaA
Desig. A Escoamento Dureza
Grau Classe Resistência Lo = 4 x Ø o Øo= 12,5mm
Prévia Al.= 0,2% (HB)
(Mpa) (%) (%)
(Mpa)
CA6NM CA6NM B 690 520 17,0 35,0 255,0B
Notas:
A
Valor mínimo, a menos que haja faixa;
B
Métodos e definições conforme ASTM A370. A medição feita a partir de corpos de prova.
108

O tratamento térmico de revenimento final ou de único revenimento(5 corpos


de prova temperados ao ar e 5 temperados em água) foi feito conforme ciclo
térmico da figura 4.9.

T.T. REVENIMENTO FINAL CA6NM

700
Patamar a 600°C/6 horas.
600

500
Aquecimento
400 até 150°C/h.
°C

Resfriamento
300
ventilado fora
200 do forno.

100

0
0 2 4 6 8 10 12
TEMPO(h)

Figura 4.9 Ciclo térmico de revenimento final para o aço CA6NM.

O objetivo de único revenimento é alcançar as propriedades mecânicas


segundo a norma ASTM designação A487 classe A, conforme tabela 4.5.

Tabela 4.5 Propriedades mecânicas requeridas para CA6NM conforme a


norma ASTM designação A487.
Limite de
Limite de A AlongamentoA Red. de ÁreaA
Desig. A Escoamento Dureza
Grau Classe Resistência Lo = 4 x Ø o Øo= 12,5mm
Prévia Al.= 0,2% (HB)
(Mpa) (%) (%)
(Mpa)
CA6NM CA6NM A 760-930 515 15,0 35,0 -
Notas:
A
Valor mínimo, a menos que haja faixa;
B
Métodos e definições conforme ASTM A370. A medição feita a partir de corpos de prova.
109

4.3 Identificação dos Corpos de Prova

4.3.1 CA15

Após tratamento térmico, os corpos de prova foram identificados em CP1, CP2,


CP3, CP4 e CP5, conforme tabela 4.6.

Tabela 4.6 Identificação dos corpos de prova do aço CA15.


Identificação Condição do Corpo de Prova Quantidade
CP1 Temperado em água a partir 1000°C e revenido a 540°C 5
CP2 Temperado ao ar a partir de 1000°C e revenido a 540°C 5
CP3 Temperado em água a partir 1000°C e revenido a 670°C 5
CP4 Temperado ao ar a partir 1000°C e revenido a 670°C 5
CP5 Recozido a 800°C 1

4.3.2 CA6NM

Após tratamento térmico, os corpos de prova foram identificados em CP6, CP7,


CP8 e CP9, conforme tabela 4.7.

Tabela 4.7 Identificação dos corpos de prova do aço CANM6.


Identificação Condição do Corpo de Prova Quantidade
CP6 Temperado em água a partir 1000°C e revenido a 600°C 5
CP7 Temperado ao ar a partir de 1000°C e revenido a 600°C 5
Temperado em água a partir 1000°C, revenido intermediário a
CP8 5
690°C e final a 600°C
Temperado ao ar a partir 1000°C, revenido intermediário a 690°C
CP9 5
e final a 600°C
110

4.4 Análise Metalográfica por Microscopia Ótica

As análises metalográficas por miscroscopia ótica foram realizadas nas


amostras dos aços CA15 e CA6NM em aumentos de 115, 465 e 870 vezes. No
aço CA15 observa-se que a precipitação de carbonetos é menos marcante que
no aço CA6NM, entretanto, no CA15 há precipitação de ferrita e perlita em
resfriamento pós-têmpera.
A morfologia da martensita em placas encontrada tanto no aço CA15 como no
CA6NM, é diferente da martensita em ripas encontrada nos aços de baixo
carbono e baixa liga temperados. A martensita dos aços CA15 e CA6NM tem
aspecto mais grosseiro, com as placas paralelas ou se cruzando em planos de
90°.
111

4.4.1 Na Condição Bruto de Têmpera

Foram realizadas duas foto-micrografias para o aço CA15 na condição bruto de


têmpera em água e ao ar, que são mostradas nas figuras 4.10 e 4.11
respectivamente.

Figura 4.10 CA15 bruto de têmpera, após resfriamento em água.

Figura 4.11 CA15 bruto de têmpera, após resfriamento ao ar.

Nas foto-micrografias do aço CA15(tempo de ataque de 150 segundos)


observa-se maior sensibilidade ao ataque na amostra temperada ao ar devido
112

a precipitação de carbonetos, ferrita e perlita.


As duas foto-micrografias, figuras 4.12 e 4.13, evidenciam a micro-estrutura do
aço CA6NM bruto de têmpera, com aumento de 465 vezes.

Figura 4.12 CA6NM bruto de têmpera, após resfriamento em água.

Figura 4.13 CA6NM bruto de têmpera, após resfriamento ao ar.

No aço CA6NM(tempo de ataque de 150 segundos) também se observa-se


maior sensibilidade ao ataque na amostra temperada ao ar, devido a maior
precipitação de carbonetos.
113

4.4.2 Após Tratamento Térmico de Revenimento

Após tratamento térmico de revenimento, a precipitação de carbonetos


resultante, torna a amostra mais atacável, portanto, revela a microestrutura dos
aços CA15 e CA6NM. As foto-micrografias das figuras 4.14 a 4.21 são dos
aços CA15 e CA6NM, com tempo de ataque de 40 segundos em todas as
amostras.
Nas amostras de CP1 e CP2 do aço CA15, temperado em água e ao ar
respectivamente, e revenido em torno dos 540°C, observa-se uma menor
sensibilidade ao ataque químico, em relação às amostras CP6 e CP7 do aço
CA6NM, figuras 4.18 e 4.19, temperado em água e ao ar, respectivamente.

Figura 4.14 CP1 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes.


114

Figura 4.15 CP2 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes.

Apesar do aço CA15 ser uma liga de mais alto percentual de carbono, tanto a
temperatura de revenido quanto o tempo de revenimento, são respectivamente
60°C e 2 horas inferiores ao aplicado no revenimento de CP6 e CP7 do aço
CA6NM. Outro fator de grande influência na menor precipitação de carbonetos
no aço CA15 é o percentual de molibdênio, muito inferior que no CA6NM.

Figura 4.16 CP3 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes.


115

Figura 4.17 CP4 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes.

Nas amostras de CP3 e CP4, figuras 4.16 e 4.17 respectivamente, observa-se


estruturas constituídas de martensita em placas, com precipitação de
carbonetos maior na amostra temperada ao ar(CP4) que na amostra
temperada em água(CP3), mas em CP3 pode-se observar a presença de ferrita
delta nos contornos de grão da austenita(prévia a têmpera), em especial nos
pontos triplos, resultado de deficiência no tratamento de solubilização. Em CP4,
é perceptível a formação em que as placas de martensita se cruzam formando
uma estrutura complexa em rede, muitas vezes ocupando toda a superfície do
grão.

Figura 4.18 CP6 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes.


116

Figura 4.19 CP7 temperado e revenido. Aumento de 115 vezes.

Para o aço CA6NM, observa-se nas duas foto-metalografias das figuras 4.18 e
4.19, a martensita em placas, a presença de inclusões de sulfetos e óxidos de
tamanho inferior a 30um, e uma precipitação de carbonetos maior em CP7 que
em CP6.

Figura 4.20 CP8 temperado e duplo revenido. Aumento de 115 vezes.


117

Figura 4.21 CP9 temperado e duplo revenido. Aumento de 115 vezes.

A foto-micrografia de CP8, na figura 4.20, revela uma estrutura com intensa


quantidade de carbonetos resultantes de duplo revenimento e revenimento
intermediário em alta temperatura. Em CP9, figura 4.21 a precipitação de
carbonetos é tão intensa que mal se pode visualizar a micro-estrutura tratada.
Nas foto-micrografias de CP1 nas figuras 4.22 e 4.23, do grau CA15 temperado
em água e revenido a 540°C, observa-se algumas inclusões e ferrita delta.

Figura 4.22 CP1 CA15 temperado e revenido. Aumento de 465 vezes.


118

Figura 4.23 CP1 CA15 temperado e revenido. Aumento de 870 vezes.

A martensita se apresenta em placas e a quase imperceptível presença de


carbonetos aumentou a sensibilidade da amostra ao ataque químico marcando
o contorno das placas e a ferrita delta(δ) na matriz martensítica.
As foto-micrografias de CP2 nas figuras 4.24 e 4.25, do grau CA15 na condição
de temperado ao ar e revenido a 540°C em 465 e 870 vezes de aumento
respectivamente, não evidenciam grande diferença do obtido para a condição
de temperado em água.

Figura 4.24 CP2 CA15 temperado e revenido. Aumento de 465 vezes.


119

Figura 4.25 CP2 CA15 temperado e revenido. Aumento de 870 vezes.

A presença de carbonetos é pouco expressiva e a condição microestrutural


praticamente não se altera, também há presença de ferrita delta como no caso
anterior(neste caso foi omitido na captura da imagem), indicando deficiência no
tratamento de solubilização.
Mas nas foto-micrografias de CP3 com ampliações de 465 e 870 vezes, nas
figuras 4.26 e 4.27, do grau CA15 temperado em água e revenido a 670°C, a
situação é bem diferente se comparado à mesma condição de têmpera e
revenido a 540°C.

Figura 4.26 CP3 CA15 temperado e revenido. Aumento de 465 vezes.


120

Figura 4.27 CP3 CA15 temperado e revenido. Aumento de 870 vezes.

A atacabilidade da amostra é melhorada pela presença massiva de carbonetos


nos contornos de grão, interface ferrita-matriz e entre as placas de martensita.
A morfologia da martensita é em placas que atravessam todo o grão (pré-
austenítico), não há evidência da formação de blocos com pacotes de ripas de
martensita e a morfologia da martensita em placas no aço CA15 é marcante.
As foto-micrografias de CP4 nas figuras 4.28 e 4.29 do grau CA15 temperado
ao ar e revenido a 670°C, evidenciam uma estrutura da martensita com
presença de ferrita delta e carbonetos precipitados.

Figura 4.28 CP4 CA15 temperado e revenido. Aumento de 465 vezes.


121

Figura 4.29 CP4 CA15 temperado e revenido. Aumento de 870 vezes.

Observa-se a presença de carbonetos precipitados entre as placas de


martensita, contornos de grão e na interface ferrita-matriz. A ferrita delta em
destaque, tem uma morfologia bem característica do tipo “gota”, resultado de
um tratamento térmico de solubilização deficiente.
Nas figuras 4.30 e 4.31, observa-se à decomposição da martensita em ferrita
no grau CA15 na condição de recozido. Sob aumento de 465 vezes, figura
4.30, observa-se ao centro a presença de uma grande região constituída de
ferrita, originalmente uma pequena região de ferrita delta, que cresceu após
recozimento.

Figura 4.30 CP5 CA15 recozido. Aumento de 465 vezes.


122

Figura 4.31 CP5 CA15 recozido. Aumento de 870 vezes.

Com aumento de 870 vezes, observa-se na figura 4.31 a presença de


pequenos grãos de ferrita resultantes da decomposição da martensita. No
contorno da ferrita é marcante a presença de carbonetos, resultado da
drenagem do cromo presente na ferrita.
As foto-micrografias de CP6 nas figuras 4.32 e 4.33, do grau CA6NM
temperado em água e revenido a 600°C, evidenciam a forte precipitação de
carbonetos(“rendilhado” escuro) precipitados entre as placas de martensita.

Figura 4.32 CP6 CA6NM temperado e revenido. Aumento de 465 vezes.


123

Figura 4.33 CP6 CA6NM temperado e revenido. Aumento de 870 vezes.

A orientação das placas de martensita é aleatória, e as regiões claras são as


superfícies das placas de martensita que coincidiram com o plano de corte na
amostra.
Com aumentos de 465 e 870 vezes, as foto-micrografias de CP7 nas figuras
4.34 e 4.35 respectivamente, do grau CA6NM temperado ao ar e revenido a
600°C, revelam uma microestrutura muito similar a obtida no CP6.

Figura 4.34 CP7 CA6NM temperado e revenido. Aumento de 465 vezes.


124

Figura 4.35 CP7 CA6NM temperado e revenido. Aumento de 870 vezes.

A microestrutura em CP7 é totalmente martensítica com uma melhor


delineação das placas, causando uma falsa impressão de refino microestrutural
em 465 vezes de aumento, em relação a CP6 com a mesma ampliação.
As foto-micrografias de CP8 nas figuras 4.36 e 4.37, com aumentos de 465 e
870 vezes respectivamente, do grau CA6NM temperado em água e
duplamente revenido, evidenciam uma microestrutura refinada e com
carbonetos massivamente precipitados.

Figura 4.36 CP8 CA6NM temperado e duplamente revenido. Aumento de 465


vezes.
125

Figura 4.37 CP8 CA6NM temperado e duplamente revenido. Aumento de 870


vezes.

A precipitação de carbonetos em CP8 é intensa, se inicia entre as placas de


martensita e avança na direção da porção central das placas de martensita, e
isso se deve principalmente ao revenimento a 690°C.
O ataque químico Picral-HCL por apenas quarenta segundos tornou quase
impossível a observação metalográfica em CP9, devido a forte precipitação de
carbonetos, conforme figuras 4.38 e 4.39.

Figura 4.38 CP9 CA6NM temperado e duplamente revenido. Aumento de 465


vezes.
126

Figura 4.39 CP9 CA6NM temperado e duplamente revenido. Aumento de 870


vezes.

O efeito dos tratamentos térmicos no grau CA6NM temperado ao ar e


duplamente revenido(CP9) é nitidamente superior ao obtido para o grau
CA6NM temperado em água e duplamente revenido(CP8), a quantidade de
carbonetos é muito maior, e assim há um forte aspecto de refino
microestrutural, as placas de martensita são mais delgadas que nas condições
de único revenido, mas esse aspecto de maior refino microestrutural em CP9
que em CP8 se deve ao maior número de interfaces propiciadas pela maior
presença de carbonetos. Isso ocorre devido a presença de carbonetos
precipitados ainda na fase austenítica(Cr7C3 e Cr2C) em temperaturas
superiores a Ms, constituindo-se em potenciais núcleos para a precipitação
massiva de carbonetos Cr23C durante revenimento.
127

4.5 Análise Microestrutural por Microscopia Eletrônica de Varredura

A análise por microscopia eletrônica de varredura permitiu a avaliação e


caracterização microestrutural com ótima resolução e aumentos de até 3110
vezes.
No aço CA15 observou-se a presença da ferrita delta, precipitação de
carbonetos nos contornos de grãos e interfaces martensita-ferrita e a
morfologia mais equiaxial dos carbonetos precipitados.
No aço CA6NM observou-se uma precipitação de carbonetos muito mais
intensa que no CA15, a morfologia é alongada(lenticular), e se deu em maior
intensidade na condição de temperado ao ar que temperado em água.
128

4.5.1 CA15

Apesar de ser previsto um percentual de carbono maior para o aço CA15 de


até 0,15%, no CP1 temperado em água e revenido a 540°C, observa-se já com
425 vezes de aumento na figura 4.40, que a presença de carbonetos não é tão
intensa como no aço CA6NM, mas com 1315 vezes de aumento, na figura
4.41, observa-se alguns pontos claros precipitados nas placas de martensita.

Figura 4.40 CP1 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV.Aumento de 425 vezes.

Figura 4.41 CP1 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 1315 vezes.
129

Observa-se nas figuras 4.42 e 4.43, com aumentos de 2250 e 3110


respectivamente, as placas de martensita intragranulares, e pequenos
precipitados em pontos claros na amostra, não só marcando o contorno das
placas de martensita, mas também sobre as placas de martensita.

Figura 4.42 CP1 fotografia MEV. WD-15mm,V-20KV. Aumento de 2250 vezes.

Figura 4.43 CP1 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 3110 vezes.

Para o CP2, grau CA15 na condição de temperado e revenido ao ar, com


aumento de 425 vezes, na figura 4.44, verifica-se a presença de ferrita, pontos
130

escuros globularizados na matriz martensítica, e como se pode observar, com


aumentos de 1315 vezes na figura 4.45, a presença de carbonetos não é
significativamente maior que na amostra de CP1.

Figura 4.44 CP2 fotografia MEV. WD-15mm,V-20KV. Aumento de 425 vezes.

Figura 4.45 CP2 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 1315 vezes.

Com aumentos de 2250 e 3110 vezes como mostrado nas figuras 4.46 e 4.47
respectivamente, observa-se carbonetos bem finos precipitados tanto entre as
placas de martensita como na superfície delas, as partículas de coloração
131

branca são de carbonetos em crescimento irregular.

Figura 4.46 CP2 fotografia MEV. WD-15mm,V-20KV. Aumento de 2250 vezes.

Figura 4.47 CP2 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 3110 vezes.

No CP3, com aumento de 425 vezes, como mostrado na figura 4.48, observa-
se pela coloração esbranquiçada, uma rede fina de carbonetos em torno das
placas de martensita. No centro da figura 4.48 na diagonal, pode se observar à
presença de ferrita delta no contorno de grão, e a 1315 vezes de aumento, na
figura 4.49, também se observa à presença massiva de finos carbonetos
132

precipitados na matriz martensítica.

Figura 4.48 CP3 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 425 vezes.

Figura 4.49 CP3 fotografia MEV. WD-15mm, V-30KV. Aumento de 1315 vezes.

Com 2250 e 3110 vezes de aumento, vide figuras 4.50 e 4.51 respectivamente,
os carbonetos precipitados em temperaturas inferiores tendem a crescer
durante revenimento a 670°C e preferencialmente nos contornos entre a placas
de martensita. As partículas de carbonetos tem morfologia irregular, mas
parecem tender para a forma globular.
133

Figura 4.50 CP3 fotografia MEV. WD-15mm, V-30KV. Aumento de 2250 vezes.

Figura 4.51 CP3 fotografia MEV. WD-10mm, V-30KV. Aumento de 3110 vezes.

No CP4, o grau CA15 na condição de temperado ao ar e revenido a 670°, nas


figuras 4.52 e 4.53, com aumentos de 425 e 1315 vezes respectivamente,
ocorre à presença marcante de carbonetos precipitados preferencialmente nos
contornos das placas de martensita. Observa-se também uma distribuição mais
heterogênea que em CP3 e a presença da ferrita no contorno de grão(pré-
austenita).
134

Figura 4.52 CP4 fotografia MEV. WD-15mm, V-15KV. Aumento de 425 vezes.

Figura 4.53 CP4 fotografia MEV. WD-15mm, V-15KV. Aumento de 1315 vezes.

Com aumentos maiores em 2250 e 3110, conforme figuras 4.54 e 4.55


respectivamente, observa-se à presença de carbonetos inclusive na interface
ferrita matriz martensítica, o tamanho das maiores partículas e a quantidade de
carbonetos nesta amostra é levemente maior que na amostra CP3.
135

Figura 4.54 CP4 fotografia MEV. WD-15mm, V-15KV. Aumento de 2250 vezes.

Figura 4.55 CP4 fotografia MEV. WD-15mm, V-15KV. Aumento de 3110 vezes.

Na condição de recozido a 800°C por 16horas, com aumento de 220 vezes,


vide figuras 4.56, observa a presença marcante da ferrita delta, placas de
martensita, ferrita acicular e carbonetos. Com aumento da ordem de 425 vezes,
figura 4.57, observa-se à presença marcante de carbonetos no contorno da
ferrita delta.
136

Figura 4.56 CP5 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 220 vezes.

Figura 4.57 CP5 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 425 vezes.

Com aumentos de 1315 e 2250 vezes, nas figuras 4.58 e 4.59


respectivamente, observa-se à distribuição heterogênea dos carbonetos, em
tamanhos relativamente grandes e sua morfologia quase esferoidal, resultado
do coalescimento propiciado pelo recozimento.
137

Figura 4.58 CP5 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 1315 vezes.

Figura 4.59 CP5 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 2250 vezes.

A cinética de precipitação no aço CA15 se revelou mais lenta que no aço


CA6NM, devido ao fato do percentual de carbono no aço CA15 ser apenas
0,03% maior que no aço CA6NM e os percentuais de molibdênio e níquel
serem muito baixos.
138

4.5.2 CA6NM

Na foto-micrografia de CP6 na figura 4.60, do grau CA6NM temperado em


água e revenido a 600°C, com 425 vezes de aumento, observa-se à
precipitação de carbonetos, marcada pelas regiões claras, e na figura 4.61 com
1315 vezes de aumento observa-se partículas nítidas de carbonetos
precipitadas entre as placas de martensita e nos contornos de grão.

Figura 4.60 CP6 fotografia MEV. WD-15mm, V-25KV. Aumento de 425 vezes.

Figura 4.61 CP6 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 1315 vezes.
139

Com aumentos superiores, 2250 e 3110 vezes nas figuras 4.62 e 4.63
respectivamente, observa-se a precipitação de carbonetos nos contornos de
grãos, as placas de martensita atravessam toda a região intragranular e muda
de orientação a partir dos contornos de grão. A morfologia indica um
crescimento lenticular entre as placas de martensita, heterogêneos no
tamanho, mas homogêneo na distribuição.

Figura 4.62 CP6 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 2250 vezes.

Figura 4.63 CP6 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 3110 vezes.
140

As foto-micrografias de CP7 nas figuras 4.64 e 4.65, do grau CA6NM


temperado ao ar e revenido a 600°C, pouco diferem da condição de temperado
em água, mas com 425 vezes observa-se um pouco mais de carbonetos
precipitados não apenas entre as placas de martensita e contornos de grão,
mas também sobre as placas de martensita; a 1315 vezes observa-se que a
distribuição das partículas é muito mais heterogênea, concentradas em
algumas regiões e, completamente ausente em outras.

Figura 4.64 CP7 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 425 vezes.

Figura 4.65 CP7 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 1315 vezes.
141

Nas figuras 4.66 e 4.67 abaixo, com 2250 e 3110 vezes de aumento
respectivamente, observa-se que a morfologia das partículas é lenticular, mas
estão mais agrupadas apesar dos vazios de precipitados, são fragmentadas e
mal formadas e há dificuldade para distinguir uma das outras. Observa-se
também uma orientação ou alinhamento bem definido das placas de
martensita.

Figura 4.66 CP7 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 2250 vezes.

Figura 4.67 CP7 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 3110 vezes.
142

Como mostrado nas figuras 4.68 e 4.69, para CP8, o grau CA6NM temperado
em água e duplamente revenido, a precipitação de carbonetos é intensa. Com
aumento de 425 vezes observa-se à formação de uma malha de carbonetos
sobre e em torno das placas de martensita, com 1315 vezes de aumento
observa-se o crescimento vermicular desses carbonetos, e na região central há
um cruzamento das placas de martensita a mais ou menos 90 graus.

Figura 4.68 CP8 fotografia MEV. WD-14mm, V-20KV. Aumento de 425 vezes.

Figura 4.69 CP8 fotografia MEV. WD-20mm, V-25KV. Aumento 1315 vezes.
143

Com 2250 e 3110 vezes de aumento, nas figuras 4.70 e 4.71 respectivamente,
observa-se na porção central da amostra no sentido vertical, a precipitação nos
contornos de grão. E em relação à condição de temperado em água e único
revenimento, o crescimento e a distribuição das partículas é heterogêneo, e
parece haver uma tendência ao crescimento e formação não de carbonetos em
“bastonetes” mas sim de “plaquetas de carbonetos”.

Figura 4.70 CP8 fotografia MEV. WD-20mm, V-25KV. Aumento de 2250 vezes.

Figura 4.71 CP8 fotografia MEV. WD-19mm, V-30KV. Aumento de 3110 vezes.
144

Para o CP9, do grau CA6NM temperado ao ar e duplamente revenido, a


formação de carbonetos é muito forte. Com 425 vezes de aumento, como
mostrado na figura 4.72, mal se pode observar as placas de martensita,
observa-se na região central, o cruzamento em “x” das placas de martensita; a
1315 vezes, na figura 4.73, observa-se um verdadeiro “enraizamento” das
partículas de carbonetos precipitadas.

Figura 4.72 CP9 fotografia MEV. WD-15mm, V-20KV. Aumento de 425 vezes.

Figura 4.73 CP9 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 1315 vezes.
145

Com aumentos superiores, de 2250 e 3110 vezes, nas figuras 4.74 e 4.75
respectivamente, observa-se que a precipitação de carbonetos é massiva, e na
metade superior da foto-micrografia, região em que o corte da amostra coincide
com um corte inclinado sobre as placas de carboneto, tem-se uma noção de
profundidade, ou seja, os carbonetos estão na forma de plaquetas.

Figura 4.74 CP9 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 2250 vezes.

Figura 4.75 CP9 fotografia MEV. WD-10mm, V-25KV. Aumento de 3110 vezes.
146

4.6 Micro-Análise por MEV

A composição química em peso, localizada, nos aços CA15 e CA6NM foi


obtida em diversas situações através de microanálise. Em comparação com a
composição química realizada por espectrometria de emissão ótica, há
pequenas diferenças. Os percentuais de S e P não são reais, e não houve
possibilidade de medição do percentual de carbono. Podem ser observados na
tabela 4.8, os percentuais pontuais de Cr, Ni e outros elementos.

Tabela 4.8 Composição química obtida por micro-análise.


Elemento(%Peso) Al Si P S Cr Mn Fe Ni Zr Mo Ti Nb+V
Global- CA15 0,01 0,59 0,05 0,25 12,59 0,95 85,46 0,69 0,06 0,51 - -
Ferrita δ- CA15 0,03 0,76 0,12 0,15 15,12 0,67 83,35 0,24 0,14 0,24 - -
Inclusão Globular-CA15 54,28 2,62 6,30 0,16 1,02 0,64 3,53 0,16 32,64 1,35 - -
Nitreto- CA15 3,49 0,44 0,62 0,18 10,25 0,48 27,79 0,22 4,19 0,28 44,26 -
Carboneto-CA15 Recozido 0,02 0,43 0,04 0,07 33,11 1,06 58,22 0,59 0,08 0,53 0,04 0,36
Ferrita-CA15 Recozido 0,02 0,58 0,1 0,05 12,25 0,91 85,28 0,68 0,08 0,14 - 0,02
Martensita-CA15 0,01 0,59 0,08 0,04 12,00 0,95 85,53 0,67 0,03 0,03 - 0,26
Global-CA6NM 0,00 0,67 0,04 0,02 12,3 0,79 81,44 4,08 0,01 0,38 0,03 0,00
Placa Martensita-CA6NM 0,03 0,74 0,08 0,03 12,11 0,61 82,97 2,92 0,00 0,33 0,03 0,27
Inclusão- CA6NM 96,4 4,03 0,08 0,74 0,83 0,07 3,83 0,4 1,97 3,16 0,08 1,2
Carboneto- CA6NM 0,06 0,61 0,11 0,00 11,76 0,74 75,75 4,89 0,09 0,38 0,02 0,31

Como já era previsto e pode ser observado para o aço CA15 na condição de
temperado e revenido, o percentual de cromo na ferrita delta é quase 3% maior
que na composição global, em contrapartida, na placa de martensita, o
percentual de cromo é menor.
No aço CA15 recozido, há dois efeitos notáveis: empobrecimento de cromo na
ferrita delta, e formação de carboneto na interface martensita-ferrita as custas
desse cromo. A alta relação %Fe/%Cr= 1,76 encontrada num carboneto
M23C6 justifica o caráter axial(globularizado) desse carboneto, indicando o
crescimento por enriquecimento de cromo. O percentual atômico de carbono na
fórmula M23C6 é 20%, acarretando um percentual em peso estimado, em torno
de 5%. A figura 4.76 mostra o espectro de composição química obtida por
micro-análise de um carboneto presente na interface martensita ferrita delta do
aço CA15 recozido.
A presença de inclusões de escória no sistema Al-Zr e nitretos a base de Ti,
147

são resultantes do sistema de desoxidação(adição de Al e FeSiZr) e


desnitrogenação(adição de FeTi) respectivamente.
Intensidade

Energia (KeV)

Figura 4.76 Analise química sobre o carboneto-CA15 recozido.

No aço CA6NM, a micro-análise na placa de martensita, vide espectro da figura


4.77, revela o empobrecimento de cromo e principalmente de níquel; este
último sofre uma redução de quase 1,2% em relação à composição global. Em
contrapartida, o percentual de níquel no carboneto M23C6 é cerca de 0,8%
maior que na composição global, portanto, a precipitação de tal carboneto é
forte concorrente da austenita estabilizada pelo níquel. Com uma relação
%Fe/%Ni= 15,5, a morfologia lenticular do carboneto M23C6 está ligada a sua
composição química. Assim, seu crescimento entre as placas de martensita
ocorre em maior grau por coalescência que por enriquecimento através de
átomos de soluto.
Intensidade

Energia (KeV)

Figura 4.77 Analise química da matriz-CA6NM.

O percentual de cromo mais baixo, tanto na placa de martensita como no


carboneto, se deve a estabilização da austenita estável através do
enriquecimento pelo cromo.
148

4.7 Ensaios de Tração

Nos ensaios de tração a frio, dos aços CA15 e CA6NM em função de seus
respectivos ciclos de tratamentos térmicos, obteve-se valores de limite de
resistência e limite de escoamento, respectivamente em torno 750 e 650MPa
para os graus de mais baixa resistência e respectivamente em torno de 950 e
800MPa para os de mais alta resistência mecânica.
Em termos de ductilidade, o aço CA15 apresentou maior redução de área, mas
em contrapartida, menor alongamento; se comparado aos valores obtidos para
o aço CA6NM.
149

4.7.1 Resultados Obtidos e Discussão

4.7.1.1 CA15

Os ensaios de tração do aço CA15 revelaram uma dispersão de resultados,


como mostrado na tabela 4.9, função tanto da temperatura de tratamento
térmico de revenimento quanto do meio de resfriamento.

Tabela 4.9 Propriedades mecânicas do aço CA15 em ensaio de tração à


temperatura ambiente(24°C).
CP R.T.(MPa) L.E.(MPa) Al.(%) R.A.(%) LE/RT(%) AL/RA(%) DU(HB)
1 972 828 16,40 56,70 85,2 28,9 291
2 965 875 14,60 51,80 90,7 28,2 289
3 692 547 19,00 67,5 79,0 28,1 207
4 796 695 18,80 58,01 87,3 32,4 238

Os gráficos da figura 4.78 indicam as diferenças nos limites de resistência e


limites de escoamento de até 100MPa e 140MPa respectivamente, entre o CP3
e CP4, a princípio causado pelo efeito do meio de têmpera em água e ao ar, e
revenimento a 670°C. A diferença de dureza entre os dois graus chega aos
30HB, e em conseqüência, o CP3 apresenta ductilidade aparente bem maior
do que CP4, e em termos de ductilidade relativa, parece haver uma igualdade,
pois o efeito de um menor valor da relação LE/LR em CP3 é compensado por
um maior valor do parâmetro Al/RA em CP4.
Os valores obtidos para CP1 e CP2 são muito similares; a diferença nos
valores de limite de resistência e dureza não ultrapassa 10MPa e 10HB
respectivamente, mas o CP1 com valores de alongamento e redução de área
maiores em quase 2% e 5% respectivamente, apresenta maior ductilidade
aparente que o CP2, e como CP1 tem um valor dureza 2HB maior que o de
CP2, valores praticamente iguais, não há sentido em aplicar conceito de
ductilidade relativa.
150

80

1200 70

60
1000
50
800

%
40
L. R. R.A.
MPa

600
L. E. 30 Al.
400
20

200 10

0 0
1 2 3 4 1 2 3 4
N° CORPO DE PROVA N° CORPO DE PROVA

Figura 4.78 Limites de resistência, escoamento, redução de área e


alongamento do aço CA15 em ensaio de tração à temperatura ambiente(24°C).

Numa comparação do aço CA15, temperado em água e ao ar, observa-se uma


maior ductilidade no temperado em água que no temperado ao ar, em ambas
os ciclos de revenimento, a 540 e 670°C. Em revenimento a 670°C observa-se
que o efeito do tratamento térmico de revenimento, no sentido de diminuir
valores de limite escoamento e resistência e aumentar a ductilidade em função
do aumento dos valores de redução de área e alongamento, é maior na
condição de temperado em água que na de temperado ao ar. Isso se deve a
precipitação de ferrita e perlita, além da martensita proveniente da têmpera ao
ar, o que é evidenciado, principalmente, pelas durezas medidas na condição
bruto de têmpera, 370HB para o aço CA15 temperado ao ar(parcialmente
martensítico) e 415HB para o temperado em água(quase totalmente
martensítico).
151

4.7.1.2 CA6NM

Os resultados obtidos no ensaio de tração para os aços CA6NM, na tabela


4.10, se mostraram muito coerentes, estáveis, sem grandes variações, mesmo
quando comparando a condição de único revenimento com a de duplo
revenimento, em todos graus, principalmente alongamento e redução de área.
No que diz respeito aos valores de limite de resistência, também há coerência,
entretanto, o meio de resfriamento do material sob têmpera se mostrou muito
influente.

Tabela 4.10 Propriedades mecânicas do aço CA6NM em ensaio de tração à


temperatura ambiente(24°C).
CP R.T.(MPa) L.E.(MPa) Al.(%) R.A.(%) LE/RT(%) AL/RA(%) DU(HB)
6 858 716 18,04 50,14 83,4 36,0 257
7 933 765 18,00 48,35 82,0 37,2 280
8 808 648 20,30 53,16 80,2 38,2 242
9 877 731 18,50 51,33 83,3 36,0 263

O limite de resistência oscila entre o mínimo de 808MPa para CP8 e o máximo


de 933MPa para CP7, estabelecendo uma faixa de 125MPa entre o grau de
mais baixa resistência temperado em água e duplamente revenido a 690 e
600°C, e o de mais alta resistência temperado ao ar e revenido a 600°C. Os
valores de limite de escoamento se mantêm numa relação entre 80 e 83% do
limite de resistência. Os valores de alongamento situam-se em torno dos 18%
para CP6, CP7 e CP9 e chega aos 20% em CP8, estabelecendo uma diferença
de 2% entre o maior e menor valor. Os valores de redução de área também
são bem uniformes e situam–se em torno dos 50%, estabelecendo uma
diferença de 5% entre o valor máximo e mínimo.
Os gráficos da figura 4.79 ilustram bem a uniformidade dos resultados de limite
de resistência, limite de escoamento, alongamento e redução de área obtidos
no ensaio de tração a frio dos graus CA6NM.
152

1000 60
900
50
800
700
40
600
L.R. R.A

%
MPa
MPa

500 30

%
L.E. Al.
400
20
300
200
10
100
0 0
6 7 8 9 6 7 8 9
N° CORPO DE PROVA N° CORPO DE PROVA

Figura 4.79 Limites de resistência, escoamento, redução de área e


alongamento do aço CA6NM em ensaio de tração à temperatura
ambiente(24°C).

A máxima dureza obtida foi 280HB para CP7 e a mínima 242HB para CP8,
estabelecendo-se um intervalo de 40HB. Observa-se ainda, que os graus
CA6NM temperados em água apresentam valores de durezas 8% menores em
relação aos temperados ao ar.
O aço CA6NM temperado em água apresentou dureza menor que o temperado
ao ar, mesmo na condição bruto de têmpera, 363HB para o temperado em
água e 415HB para o temperado ao ar. E isso foi devido a maior precipitação
de carbonetos duros na condição de têmpera ao ar.
A ductilidade aparente, como função apenas dos valores alongamento e/ou
redução de área seguem a seguinte ordem de crescimento:
CP8>CP9>CP6>CP7.
A ductilidade relativa que leva em conta o fator dureza através da análise dos
parâmetros LE/LR e Al/RA, é:
CP6=CP9>CP7> CP8.
Voltando-se a atenção para CP6 e CP9, observa que termos de ductilidade
aparente são muito semelhantes, a diferença de dureza não ultrapassa os
10HB. A ductilidade relativa por sua vez, também evidência grande similaridade
entre os dois graus, e essa similaridade poderá ou não ser confirmada através
do ensaio de impacto.
153

4.8 Ensaios de Tração à Quente

Nos ensaios de tração à quente, os aços CA15 e CA6NM apresentaram


valores equiparáveis e coerentes com os obtidos à temperatura ambiente, ou
seja, os graus de maior e menor resistência a frio, apresentaram maior e menor
resistência à quente.
O aço CA15 apresentou redução de até 30% nos limites de escoamento e
resistência, já no CA6NM obteve-se reduções de até apenas 20%, devido à
presença de carbonetos que propiciaram aumento na resistência mecânica à
quente.
154

4.8.1 Resultados Obtidos e Discussão

4.8.1.1 CA15

Na tabela 4.11 são apresentados os resultados obtidos para o aço CA15 em


ensaio de tração à quente a 500°C. Os limites de resistência para os graus de
mais baixa resistência CP3 e CP4 assumiram valores bastante próximos, 544 e
548MPa respectivamente, e para os graus de mais alta resistência, como
ocorrido à temperatura ambiente, assumiram valores muito próximos também,
637MPa e 649MPa para CP1 e CP2 respectivamente. Os valores obtidos para
alongamento oscilaram entre o mínimo de 20,3% para CP2 e o máximo de
23,6% para CP3. Os valores de redução de área por sua vez oscilaram entre
um mínimo de 65,1% para CP4 e um máximo de 68,3% para CP3.

Tabela 4.11 Propriedades mecânicas do aço CA15 em ensaio de tração a


500°C.

CP R.T.(MPa) L.E.(MPa) R.A.(%) Al.(%) LE/RT(%) AL/RA(%)


1 637 612 66,8 20,8 96,1 31,1
2 649 625 67,4 20,3 96,3 30,1
3 544 503 68,3 23,6 92,4 34,5
4 548 510 65,1 21,6 93,0 33,2

Através da figura 4.80, observa-se resultados bastante coerentes, ou seja, os


graus de maior resistência, CP2 e CP3 com limite de escoamento e resistência
muito próximos, a diferença em ambos os parâmetros não chega a 15Mpa, e
no caso dos graus de mais baixa resistência, CP3 e CP4, a diferença é de
7MPa para o limite de escoamento e apenas 4MPa para o limite de resistência.
Observa-se ainda que, por menor que sejam as diferenças, os graus
temperados ao ar, apresentaram sistematicamente maior resistência à quente
que aqueles temperados em água.
155

700 80

600 70

60
500
50
400
L.R. R.A.
MPa

%
40
L.E. Al.
300
30
200
20

100 10

0 0
1 2 3 4 1 2 3 4
N° CORPO DE PROVA N° CORPO DE PROVA

Figura 4.80 Limites de resistência, escoamento, redução de área e


alongamento do aço CA15 em ensaio de tração a 500°C.

Ainda na tabela 4.11, observa-se que nos graus CA15, CP1 e CP2, maiores
valores da relação LE/RT foram obtidos, ao passo que, também se observa
menor relação AL/RA, indicando menor capacidade de encruamento e menor
distribuição da deformação, o que garante menor ductilidade relativa à quente
do grau CA15 revenido em mais baixas temperaturas.
A tabela 4.12 mostra a redução percentual dos limites de resistência 500°C em
relação aos valores obtidos em ensaios à temperatura ambiente.

Tabela 4.12 Redução do limite de resistência do aço CA15 ensaiado a 500°C,


em relação ao ensaio de tração à temperatura ambiente.
CP Redução de L.R.(%)
1 34
2 33
3 21
4 31

Observa-se que as maiores reduções no limite de resistência em função da


temperatura de 500°C ocorreram naqueles graus revenidos em temperatura
mais baixa, e isso se deve praticamente a ausência de carbonetos, como pode
ser observadas nas foto-micrografias e fotografias de MEV para CP1 e CP2.
Pode ser observado ainda, que a menor redução do limite de resistência foi
obtida para CP3, situação que pode ser explicada pela maior presença de
carbonetos em relação a CP1, CP2 e até mesmo CP4.
156

4.8.1.2 CA6NM

A tabela 4.13 disponibiliza os resultados obtidos para os quatro graus CA6NM


ensaiados a 500°C. O limite de resistência oscilou entre 623 e 516Mpa, os
valores de limite de escoamento por sua vez, atingiram entre 90 e 93% dos
obtidos para limite de resistência. Os valores de redução de área atingiram
valor máximo em torno dos 68% e mínimo em torno dos 62%, o alongamento
atingiu valores entre 21 e 24%.

Tabela 4.13 Propriedades mecânicas do aço CA6NM em ensaio de tração a


500°C.
CP R.T.(MPa) L.E.(MPa) R.A.(%) Al.(%) LE/RT(%) AL/RA(%)
6 566 530 65,9 22,9 93,6 34,7
7 622 583 61,7 21,3 93,7 34,5
8 516 471 66,7 24,2 91,3 36,3
9 623 559 68,5 21,8 89,7 31,8

Através dos gráficos da figura 4.81 pode se observar melhor as oscilações em


torno dos valores máximos e mínimos, o aspecto da ordenação gráfica é similar
ao obtido no ensaio de tração à temperatura ambiente, ou seja, a diferença
entre o limite de escoamento e o limite de resistência é mantida constante em
todos os graus. O CP7 apresenta um limite de resistência 9% maior que CP6,
mas além de CP8 ter menor limite de resistência que CP9, o limite de
resistência de CP9 é 17% maior que CP8, a diferença é o dobro do obtido à
temperatura ambiente.
Uma observação marcante é que apesar do CP9 apresentar limite de
resistência 6% menor que CP7 à temperatura ambiente, não apenas CP9
mantêm um alto valor significativo de limite de resistência a 500°C, como
também praticamente supera o valor de limite de resistência de CP7 à quente
em 1Mpa.
157

700 80

600 70

60
500
50
400
L.R. R.A.
MPa

%
40
300
L.E. Al.
30
200
20

100 10

0 0
6 7 8 9 6 7 8 9
N/ CORPO DE PROVA N° CORPO DE PROVA

Figura 4.81 Limites de resistência, escoamento, redução de área e


alongamento do aço CA6NM em ensaio de tração a 500°C.

Observa-se ainda que a relação LE/LR aumenta em relação ao obtido à


temperatura ambiente para valores entre 90 e 93% e isso era de se esperar
pois o módulo de encruamento diminui com o aumento da temperatura.
No gráfico da figura 4.81, observa-se que a maior redução de área ocorreu no
CP9, além do mais, o alongamento se manteve relativamente baixo,
significando uma menor uniformidade de deformação.
A tabela 4.14 mostra a redução percentual dos limites de resistência a 500°C
em relação aos obtidos em ensaios de tração à temperatura ambiente.

Tabela 4.14 Redução do limite de resistência do aço CA6NM ensaiado a


500°C, em relação ao ensaio de tração à temperatura ambiente.
CP Redução de L.R.(%)
6 34
7 33
8 36
9 29

Observa-se que a redução no limite de resistência, em relação à temperatura


ambiente, é mantida de um modo geral em torno dos 34%, mas na amostra
CP9 esta redução é sensivelmente menor que nas demais, 4% em relação a
CP7 e 7% em relação a CP8, e isso é explicado através das foto-micrografias e
fotografias de MEV, pela massiva presença de carbonetos principalmente em
CP9, e também em CP8 com a segunda menor redução no limite de
resistência.
158

4.9 Ensaios de Impacto

O ensaio de impacto teve objetivo de verificar os aços CA15 e CA6NM


qualitativamente e principalmente quantitativamente. Os resultados foram
bastante consistentes, com pouca variação, ou seja, baixo desvio padrão.
Nas diversas temperaturas de impacto, o aço CA6NM mostrou no geral muito
mais resistência ao impacto que o CA15, exibindo caráter dúctil mesmo em
temperaturas abaixo dos -100°C. O aço CA15 por sua vez exibiu caráter frágil
mesmo em temperaturas de 25°C.
159

4.9.1 Resultados Obtidos e Discussão

4.9.1.1 CA15

Na tabela 4.15, verifica-se que o aço CA15 na condição de temperado e


revenido apresenta baixos valores de resistência ao impacto, mesmo quando
submetido ao ensaio de impacto em temperaturas mais altas, tais como 25 e
0°C.

Tabela 4.15 Valores médios resultantes dos ensaios de impacto do aço CA15
em diversas temperaturas.

Temp. Valores Individuais(J) Valor Médio(J)


(°C) CP1 CP2 CP3 CP4 CP1 CP2 CP3 CP4
-196 3 3 3 2 3 2 2 2 2 2 2 2 3 2,3 2 2
-100 3 3 3 3 2,5 2,5 3 3 3 3 3 3 3 2,7 3 3
0 08 10 11 7 7 8 14 12 16 10 11 10 9,6 7,3 14,0 10,3
24 12 16 18 7 11 13 28 32 27 28 29 17 15,3 10,0 29,0 24,6

Observa-se que o aço CA15 temperado em água apresenta melhor resistência


ao impacto que quando temperado ao ar. Assim para CP1 e CP2 temperados
em água e ao ar respectivamente, e ambos revenidos a 540°C, o CP1
apresenta uma resistência ao impacto 50% maior que CP2 a 24°C e 30% maior
a 0°C. Para CP3 e CP4 temperados em água e ao ar respectivamente, ambos
revenidos a 670°C, CP3 apresentou resistência ao impacto 18% a 24°C, e 40%
maior a 0°C.
Do ponto de vista de desvio padrão, conforme tabela 4.16, relativo as três
barras de ensaio para cada corpo de prova do aço CA15, nas quatro
temperaturas de ensaio, pouco se pode afirmar com relação a condição de
100% dúctil, mas a 0°C CP1, CP2 e CP4 estão próximos da condição de 100%
frágil e se pode afirmar que, a -100°C e a –196°C, CP1, CP2, CP3 e CP4,
estão na condição de 100% fratura frágil, pois σ não ultrapassa os 0,6J.
160

Tabela 4.16 Desvio padrão dos valores de impacto do aço CA15.


CP σ/24°C σ/0°C σ/-100°C σ/-196°C
1 3,05 1,53 0 0
2 3,05 0,58 0,29 0
3 2,64 2,00 0 0,58
4 6,66 0,58 0 0

Nas temperaturas de –100 e –196°C, o ensaio de impacto revelou um material


completamente frágil e incapaz de responder plasticamente a solicitação.
O revenimento do aço CA15 em temperatura mais alta, 670°C, aumenta a
resistência ao impacto e reduz a temperatura de transição dúctil-frágil. Assim,
em ensaio a 24°C, a resistência ao impacto de CP3 é cerca de 90% maior que
CP1, ambos temperados em água, e a resistência ao impacto de CP4 é 140%
maior que a de CP2, ambos temperados ao ar.
A figura 4.82 é a representação gráfica da resistência média ao impacto do aço
CA15 em função da temperatura, as interseções entre as linhas do gráfico e o
eixo das abscissas cruzando o eixo das ordenadas em 20,6J marcam as
temperaturas de transição dúctil-frágil para CP1, CP2, CP3 e CP4.
35

30 CP3

25 CP4
20,6J
20
J -196 -176 -156 -136 -116 -96 -76 -56 -36 -16 4 24
15 CP1

10 CP2

0
°C

Figura 4.82 Valores médios resultantes do ensaio de impacto do aço CA15 em


diversas temperaturas.

Como ambos, CP1 e CP2 apresentaram valores de resistência ao impacto,


inferiores a 20,6J a 24°C, e o método não permite extrapolação, foi impossível
a determinação da temperatura de transição dúctil-frágil a 20,6J, mas sabe-se
que é superior a 24°C.
161

A tabela 4.17 mostra a temperatura de transição dúctil-frágil a 20,6J para o aço


CA15.

Tabela 4.17 Temperatura de transição dúctil-frágil do aço CA15, segundo


critério 20,6J.
Temperatura de Transição Dúctil-Frágil 20,6J
CP 1 2 3 4
Temperatura(°C) >24 >24 10,56 17,30
162

4.9.1.2 CA6NM

Na tabela 4.18 verifica-se que para CP6 e CP7 a 24°C, temperados em água e
ao ar respectivamente, e com apenas um revenimento a 600°C em ambos, o
CP6 tem 14% mais resistência ao impacto que CP7. Para a condição de
temperado e duplamente revenido, os valores são maiores, e o efeito
propiciado pelo meio de têmpera também é similar, assim, CP8 temperado em
água, tem valor médio de resistência ao impacto, também cerca de 14% maior
que CP9 temperado ao ar. A 0°C, a superioridade é mantida nos graus
temperados em água, mas o valor percentual muda, CP6 é 21% maior que em
CP7 e em CP8 12% maior que em CP9.

Tabela 4.18 Valores médios resultantes dos ensaios de impacto do aço


CA6NM em diversas temperaturas.

Temp. Valores Individuais(J) Valor Médio(J)


(°C) CP6 CP7 CP8 CP9 CP6 CP7 CP8 CP9
-196 3 4 3 4 6 5 5 5 5 6 5 5 3,3 5,0 5,0 5,3
-100 15 26 21 30 18 21 34 27 30 33 37 32 20,6 23,0 30,3 34,0
0 71 65 73 53 58 51 89 95 91 78 81 82 69 54 91 80
24 78 70 83 68 65 66 94 94 96 84 82 81 77 66 95 82

Os valores individuais obtidos para cada uma das três barras de ensaio de
cada um dos graus, nas temperaturas 24 e 0°C oscilaram dentro de uma
estreita faixa, em torno do valor médio.
Em ensaio de impacto a –100°C, a lógica se repete, ou seja, nos graus CA6NM
duplamente revenidos se obtém maior resistência ao impacto que naqueles
com único revenimento, entretanto, como se pode ver no gráfico da figura 4.83,
há uma inversão da ductilidade em relação ao obtido a 24 e a 0°C. Assim a
energia média absorvida em CP7 é maior que em CP6 e em CP9 é maior que
em CP8, ou seja, as linhas do gráfico entre os pontos 0°C e –100°C se cruzam
para os pares CP6-CP7 e CP8-CP9.
163

100
CP8
CI 3
90
CI 4
CP9
80
CP6
CI 1
70
CP7
CI 2
60

J 50

40

30
20,6J
20
-196 -176 -156 -136 -116 -96 -76 -56 -36 -16 4 24
10
°C
0

Figura 4.83 Valores médios resultantes do ensaio de impacto do aço CA6NM


em diversas temperaturas.

Ainda a –100°C, observa-se que a diferença entre valores médios e os valores


máximos e mínimos individuais não ultrapassam 15 e 10% para o CP8 e CP9
respectivamente, mas para o CP6 e CP7, os valores mínimos foram 25 e 20%
menor que o valor médio do CP6 e CP7 respectivamente, e os valores
máximos em ambos CP6 e CP7 é em torno de 30% maior que o valor médio.
Tal variação expressiva em torno do valor médio, no CP6 e CP7, evidencia que
a temperatura de transição dúctil-frágil(50%) está muito próxima dos –100°C
para CP6 e CP7. Também através da análise do desvio padrão, na tabela 4.19,
relativo aos resultados obtidos nas três barras de impacto, para cada corpo de
prova do aço CA6NM nas quatro temperaturas de ensaio, observa-se valores
de σ relativamente altos para o CP6 e CP7, e mais baixos para o CP8 e CP9,
mas são maiores principalmente a –100°C, indicando que a temperatura de
transição está próxima. A 24°C e a –196°C os valores de σ em geral são
baixos, indicando 100% de fratura dúctil e 100% frágil, respectivamente.
164

Tabela 4.19 Desvio padrão dos valores de impacto do aço CA6NM.


CP σ/24°C σ/0°C σ/-100°C σ/-196°C
6 6,56 4,16 5,51 0,58
7 1,53 3,60 6,24 1,00
8 1,15 3,05 3,50 0
9 1,53 2,07 2,64 0,58

Em ensaio na temperatura de –196°C observa-se que o material se encontra


no patamar inferior ou na zona frágil da curva energia absorvida versus
temperatura, os valores são estáveis, ou seja, sem grande variação em torno
do valor médio, mas o CP6 assume um valor médio em torno dos 3,3J e o CP7,
CP8 e CP9 assumem valores médios praticamente iguais em torno dos 5J.
A temperatura de transição dúctil-frágil 20,6J, como pode ser observado na
figura 4.83, para o CP6, CP7, CP8 e CP9, foi obtida através da representação
gráfica dos valores médios de impacto obtidos nas diversas temperaturas,
fazendo com que o eixo das abscissas interceptasse o eixo das ordenadas a
20,6J, assim, os valores obtidos da interceptação entre as curvas do gráfico e o
eixo das abscissas são as temperaturas de transição dúctil frágil a 20,6J,
conforme pode ser observado na tabela 4.20.

Tabela 4.20 Temperatura de transição dúctil-frágil do aço CA6NM, segundo


critério 20,6J.
Temperatura de Transição Dúctil-Frágil 20,6J
CP 6 7 8 9
Temperatura(°C) -100 -112,8 -136,8 144,8

Como já previsto anteriormente, devido a maior variação em torno da média, a


temperatura de transição dúctil frágil do CP6 é exatamente a –100°C e a do
CP7 –112°C é apenas 12% mais negativo que do CP6. Como já esperado em
função das mais baixas resistências mecânicas proporcionadas pelo duplo
revenimento, o CP8 e CP9 apresentaram temperaturas de transição mais
negativas, o CP8 cerca de 37% mais negativo que o CP6, e o CP9 cerca de
28% mais negativo que o CP7.
Em função da ordem de dureza obtida após tratamentos térmicos, esperava-se
a seguinte ordem de resistência ao impacto: CP8>CP6>CP9>CP7. Entretanto,
165

pela ductilidade proporcionada por redução de área e alongamento, a seguinte


ordem de resistência ao impacto deveria ser esperada: CP8>CP9>CP6>CP7.
A primeira hipótese não se confirmou; a segunda hipótese se confirma nas
temperaturas de 0°C e 24°C. A –100°C tem-se a seguinte ordem de resistência
ao impacto para o aço CA6NM: CP9>CP8>CP7>CP6 e a –196°C a ordem de
resistência ao impacto é: CP9>CP8=CP7>CP6.
Observa-se que o tratamento térmico de têmpera ao ar proporciona maior
resistência ao impacto e inclusive reduz a temperatura de transição dúctil frágil
do aço CA6NM. O duplo revenimento, intermediário a 690°C e final a 600°C,
tem efeito muito mais forte que o meio de têmpera, aumenta em muito a
resistência ao impacto e reduz fortemente a temperatura de transição dúctil-
frágil do aço CA6NM.
O efeito do revenimento e do meio de resfriamento no aumento da resistência
ao impacto e redução temperatura de transição dúctil-frágil pode ser explicado
pela presença dos carbonetos M23C, visto nas foto-micrografias e fotografias de
MEV. Estes carbonetos se tornam massivos quanto mais lento o resfriamento
proporcionado pelo meio de têmpera e pela realização de duplo revenimento.
166

4.10 Análise de Fratura Pós Impacto

A análise da fratura em aumentos de 400 e 1200 vezes para o aço CA15 e 200
e 800 vezes para o aço CA6NM, permitiu a visualização do complexo
mecanismo de fratura dos aços nas temperaturas de ensaio. Assim, nas
condições de fratura dúctil pode-se observar a fratura com formação e
amplificação de micro-vazios ou “dimples”; e nas condições de fratura frágil,
pode se observar o mecanismo de fratura por clivagem.
167

4.10.1 Resultados e Discussões

4.10.1 CA15

A figura 4.84 com aumento de 400 vezes, mostra a região da fratura por
impacto de CP2 a 24°C. Observa-se a presença de inclusões e uma fenda na
região central e superior da amostra que indica a presença de deformação
plástica. Na região central da amostra observa-se a presença de uma área
“alisada”, e esta região é a parte interna de um vazio formado durante
deformação. Mas no geral a fratura é planar.

Figura 4.84 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a 24°C.
Aumento de 400 vezes.

Figura 4.85 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a 24°C.
Aumento de 1200 vezes.
168

Com 1200 vezes de aumento pode-se observar na figura 4.85, a presença de


inclusões, com perceptível separação entre inclusão e matriz, indicação de
deformação em torno dessas inclusões. Há ainda a presença de porosidades,
mas não há formação de “dimples”.
A figura 4.86 mostra a região de fratura do CP3, após ensaio de impacto a 0°C.
Observa-se a presença de uma inclusão de óxido ou nitreto e observa-se que
houve deformação plástica em certo nível, pelo fato de haver um vazio de
separação entre inclusão e matriz e pelo fato da inclusão não estar
fragmentada. O aspecto da fratura é planar.

Figura 4.86 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a 0°C.
Aumento de 400 vezes.

Figura 4.87 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a 0°C.
Aumento de 1200 vezes.
169

Sob aumento de 400 vezes, na figura 4.87, observa-se à presença de poucos e


pequenos vazios globulares, alguns com a presença de inclusões em seus
interiores, mas a fratura é cristalina e não há nenhuma evidência da presença
de “dimples” na região de fratura.
Na figura 4.88, observa-se à superfície de fratura do CP4, após ensaio de
impacto a –100°C. Não se observa a presença de vazios globulares, mas sim
de fendas indicando o destacamento entre as duas superfícies de fratura, que
são planares e com os planos de fratura separados por “rios”. Se comparado
com as fotografias das fraturas em temperaturas de ensaio de impacto
superiores, 24 e 0°C, observa-se que a quantidade de “rios” formados é mais
discreta a –100°C, indicando menor quantidade e menor superfície específica
dos planos de fratura.

Figura 4.88 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a -100°C.
Aumento de 400 vezes.
170

Figura 4.89 Fotografia de MEV do aço CA15 após ensaio de impacto a -100°C.
Aumento de 1200 vezes.

Com 1200 vezes de aumento, como se pode observar na figura 4.89, a fratura
é do tipo “clivagem”, não há evidências de “dimples” e nenhuma deformação
plástica, indicando uma condição de altíssima fragilidade.
171

4.10.2 CA6NM

Na figura 4.90 com aumento de 200 vezes, observa-se à fratura de aspecto


fibroso do corpo de prova CP6, após ensaio de impacto a 24°C. Observa-se a
presença de inclusões de óxidos e sulfetos. A presença desses compostos
acarretam em descontinuidades na matriz que reduzem a ductilidade e a
resistência ao impacto.

Figura 4.90 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto a 24°C.
Aumento de 200 vezes.

Figura 4.91 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto a 24°C.
Aumento de 800 vezes.
172

Com aumento de 800 vezes, vide figura 4.91, observa-se a formação de


pequenos microvazios ou “dimples”, uma formação marcante no processo de
deformação plástica com fratura dúctil. Inicialmente ocorre a formação de
pequenos vazios e a medida em que a deformação plástica ocorre, estes
vazios vão se coalescendo e aumentando de tamanho até a falha final do corpo
de prova. Como se pode observar, todas as inclusões presentes estão ao
fundo dos grandes vazios. Portanto, estas inclusões agem como amplificadores
potenciais de “dimples” que reduzem a resistência ao impacto do aço CA6NM.
A figura 4.92 com aumento de 200 vezes, mostra a fratura do CP8 após ensaio
a –100°C. Já se observa uma fratura de caráter frágil, não há evidências de
“dimples” e a fratura é plana. As linhas claras presentes na fotografia são
irregularidades superficiais proporcionadas pelas facetas de fratura.

Figura 4.92 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto a


-100°C. Aumento de 200 vezes.
173

Figura 4.93 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto a


-100°C. Aumento de 800 vezes.

Em aumento de 800 vezes, conforme figura 4.93, observa-se a presença de


poucos poros e a presença de inclusões de óxidos, sulfetos ou nitretos, e em
torno das inclusões houve leve tendência a formação de vazios, indicando que
primeiramente houve um destacamento da interface matriz-inclusão e
posteriormente a deformação plástica(em uma escala muito reduzida) a partir
da descontinuidade propiciada pela inclusão.
Na superfície de fratura do CP8 ensaiado a –196°C, observa-se na fotografia
da figura 4.94 com aumento de 200 vezes, que o aspecto da fratura não é tão
diferente da fotografia da figura 4.92, mas já se observa que a fratura por
clivagem é muito intensa. Observa-se a presença do nítido destacamento das
duas superfícies de fratura; as linhas que delimitam as intercessões entre as
facetas de fratura são marcantes.
174

Figura 4.94 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto a


-196°C. Aumento de 200 vezes.

Figura 4.95 Fotografia de MEV do aço CA6NM após ensaio de impacto a


-196°C. Aumento de 800 vezes.

Como pode ser observado na figura 4.95, com aumento de 800 vezes, a
superfície de fratura é completamente clivada, lembrando o aspecto da fratura
de uma rocha; há a presença de micro-trincas e vazios de caráter poligonal que
indica a fratura por destacamento ou esboroamento da superfície de fratura.
175

4.11 Ensaios de Dilatometria

Os ensaios dilatometria foram realizados em um dilatômetro específico para


materiais cerâmicos, mas permitiu a obtenção de dados, a respeito das
temperaturas de transformação AC1, AC3, Ms e Mf dos aços CA15 e CA6NM.
Para o aço CA15, as temperaturas AC1 e AC3 situaram em torno de 760 e
890°C respectivamente, Ms e Mf em torno dos 320 e 205°C respectivamente.
No aço CA6NM, as temperaturas AC1 e AC3 situaram em torno de 570 e
800°C respectivamente, Ms e Mf em torno dos 250 e 95°C respectivamente.
176

4.11.1 Resultados Obtidos e Discussão

4.11.1.1 CA15

Com a realização do ensaio dilatométrico, foram obtidas as curvas de


aquecimento conforme figura 4.96.

Temperatura °C

Figura 4.96 Aquecimento da amostra durante ensaio dilatométrico.

Como pode ser observado na figura 4.96, durante aquecimento, a temperatura


AC1 foi obtida da derivada dL/Lo/dt.
Até em torno dos 650°C, assumia-se um valor quase constante, em torno de
0,04%/min.. Em torno dos 700°C há uma perturbação produzindo um pico
negativo da derivada que logo em seguida inflexiona e vai a um pico positivo,
indicado a temperatura AC1 inicial de transformação α > γ+ α a 765°C.
A escala do eixo das ordenadas, derivada dilatação versus tempo, é
relativamente grande, o que torna difícil a percepção, mas após análise e
correlações com o diagrama ferro-cromo 0,1% de carbono observa-se que há
um ponto de inflexão da curva da derivada em torno de 893°C, temperatura
AC3 que marca o fim do campo γ+ α e início do campo autenítico(γ). O campo
austenítico se estende a uma faixa de temperatura relativamente pequena, em
torno dos 80°C e devido à velocidade de aquecimento ser relativamente alta,
não houve tempo para a derivada se estabilizar em torno de uma constante.
Mas a 960°C a derivada assume um valor constante máximo em torno de
177

0,06%/min. até 1000°C, onde há um decrescimento da derivada, marcando o


início da transformação γ > γ+ α.
Após manutenção da amostra 1020°C, para solubilização de possíveis
carbonetos precipitados durante aquecimento, foi feito o resfriamento da
amostra e obtido a curva da figura 4.97.

Temperatura °C

Figura 4.97 Resfriamento da amostra durante ensaio dilatométrico.

Observa-se durante resfriamento, a redução suave da relação dL/L0 e a


derivada dilatação versus tempo assumindo valores constantes em
determinados intervalos de temperatura. A velocidade de resfriamento é alta,
para se evitar o cotovelo da curva TTT, assim não há condições de se obter um
resfriamento uniforme da amostra e conseqüente estabilização da derivada em
torno de um valor constante. A partir dos 500°C observa-se perturbações nas
curvas de derivada e de dilatação devido à redução na taxa de resfriamento
para 5°C por minuto. A 327°C, através de pico muito bem definido na curva da
derivada tem-se a temperatura de início de transformação martensítica(Ms) e a
205°C tem-se a temperatura final de transformação martensítica(Mf),
confirmado através da constatação de um ponto de inflexão na curva de
derivada e do fim de um patamar muito bem definido sobre a curva de
dilatação. A temperatura final de transformação martensítica pode ser
estabelecida através da seguinte equação:

Mf= Ms – 122°C (4.1)


178

Pelas equações 2.4 de Atikins e 2.5 de Steven e Heynes apresentadas


anteriormente, pode se fazer uma comparação entre Ms calculado e Ms obtido,
vide tabela 4.21.

Tabela 4.21 Comparação entre Ms calculado e obtido.


Eq. 2.4 Eq. 2.5 Obtido
330°C 288°C 327°C

A equação de Koistinen e Marburger que indica o caráter atérmico da


transformação martensítica aponta inconsistência no resultado de Mf a 205°C,
conforme gráfico da figura 4.98.

Figura 4.98 Percentagem de martensita segundo equação de Koistinen e


Marburger para o aço CA15.

Na prática, a faixa de transformação martensítica de 122°C para o aço CA15 é


muito menor do que o previsto pela equação de Koistinen e Marburger com β=
-0,011. Assim, adaptando-se a equação para β= -0,053, obtém-se o gráfico
percentagem de martensita formada versus temperatura da figura 4.99.
179

Figura 4.99 Percentagem de martensita segundo adaptação da equação de


Koistinen e Marburger para o aço CA15.
180

4.11.1.2 CA6NM

Para o aço CA6NM, observou-se através do diagrama ferro-cromo-níquel, que


os intervalos de transformações de fase durante aquecimento são estreitos e
que a cinética de transformação de fase poderia se tornar lenta devido ao
“embarrigamento” do campo austenítico. Assim optou-se por uma taxa de
aquecimento inicialmente alta até os 450°C, e entre 450 e 850°C por uma taxa
de aquecimento baixa, de 5°C por minuto, que apesar de influenciar na
possível precipitação de carbonetos, permitiu obter os pontos de transformação
das fases mais bem definidos no gráfico da figura 4.100. A partir dos 850°C a
taxa de aquecimento foi elevada novamente aos 25°C por minuto.

Temperatura °C

Figura 4.100 Aquecimento da amostra durante ensaio dilatométrico.

No gráfico da figura 4.100, entre 450 e 500°C observa-se inicialmente uma


uniformização térmica da amostra devido a mudança na taxa de aquecimento,
a 575°C há uma inflexão na curva de derivada que marca o início da
transformação α > γ+ α e portanto a temperatura AC1. A partir de 575°C há um
decréscimo progressivo da derivada passando por um ponto de mínimo,
voltando a crescer novamente até um novo ponto de inflexão a 750°C, onde o
ponto da isoterma sobre a linha AC1 passa a situar-se sobre a linha AC3, daí
por diante, a ferrita remanescente e em pouca quantidade se transforma
lentamente até um novo ponto de inflexão na curva de derivada, definindo
181

assim o ponto de transformação γ+ α> γ sobre a curva a AC3 a 802°C. Após


850°C a taxa de aquecimento é elevada para 25°C por minuto, fazendo com
que a curva de derivada dilatação versus tempo crescesse acentuadamente
até 1020°C.
A 1020°C foi feito um patamar de solubilização por 20 minutos, garantindo-se
assim completa austenitização e total solubilização de carbonetos. Durante
resfriamento a partir de 1020°C, foi obtida a curva da figura 4.101.

Temperatura °C

Figura 4.101 Resfriamento da amostra durante ensaio dilatométrico.

No gráfico dilatométrico do aço CA6NM em resfriamento na figura 4.101,


observa-se à contração suave da amostra, perturbações na curva de derivada
em função de acomodações térmicas no dilatômetro e falta de uniformidade
térmica da amostra. A 249°C observa-se que a derivada cresce a um valor
máximo e volta a decrescer acentuadamente formando um ponto de máximo
na derivada sobre a temperatura de início de transformação martensítica(Ms). A
96°C, a temperatura final de transformação martensítica é evidenciada pelo
ponto de máximo sobre a curva de derivada da dilatação em relação ao tempo
e fim do patamar na curva de dilatação.
A temperatura final de transformação martensítica pode ser estabelecida
através da seguinte equação:

Mf = Ms – 153°C (4.2)
182

Pelas equações 2.4 de Atikins e 2.5 de Steven e Heynes apresentadas


anteriormente, pode se fazer uma comparação entre Ms calculado e Ms obtido,
vide tabela 4.22.

Tabela 4.22 Comparação entre Ms calculado e obtido.


Eq. 2.4 Eq. 2.5 Obtido
275°C 231°C 249°C

Através da equação de Koistinen e Marburger, o gráfico da figura 4.102, indica


que há cerca de 20% austenita não transformada a 96°C, inconsistente com o
obtido pelo ensaio dilatométrico.

Figura 4.102 Percentagem de martensita segundo Koistinen e Marburger para


o aço CA6NM.

Mas a equação original de Koistinen e Marburger utiliza-se de um coeficiente


β= -0,011, que é função do tipo de aço a ser considerado. Assim, fazendo-se a
alteração de β= -0,044 para o aço CA6NM, tem-se o gráfico percentagem de
martensita formada versus temperatura conforme figura 4.103.
183

Figura 4.103 Percentagem de martensita segundo adaptação da equação de


Koistinen e Marburger para o aço CA6NM.
184

4.12 Detecção de Austenita Retida

Os valores percentuais de austenita retida, obtidos por difração de raios X,


foram bem inferiores a 20 ou 30%, comumente reportados por diversos
autores, mas muito consistentes, situando-se entre 3 e 4%.
A detecção por ensaio metalográfico com reagente Beraha, que proporcionou
um forte contraste entre a austenita retida e a matriz martensítica, se mostrou
muito precisa e funcional na quantificação e caracterização morfológica da
austenita retida.
185

4.12.1 Resultados Obtidos e Discussão

4.12.1.1 Por Difração de Raios X

A figura 4.104 mostra o espectro de intensidade de difração obtido para a


amostra de CP6 a 24°C. Observa-se que os pico relativos a fase α tem muito
maior intensidade e ocupam maior área no espectro de difração.

α α
γ γ γ

Figura 4.104 Espectro obtido por difração de raios X obtido em amostra de


CP6.

O gráfico da figura 4.105 correlaciona os valores percentuais de austenita


estável para cada um dos quatro graus CA6NM em três temperaturas utilizadas
para ensaio de impacto.
186

6
% AUSTENITA
5
MÉDIA MÉDIA
4,33 4,0
4
MÉDIA MÉDIA
4,0 3,0
3
24°C
2

-100°C
1

-196.8°C
0
6 7 8 9
N° CP

Figura 4.105 Austenita retida em CP6, CP7, CP8 e CP9 após ensaio de
impacto em diversas temperaturas.

Para CP6, os valores obtidos são muito coesos, com pouca variação em torno
da média. No CP7 houve expressiva variação em torno do valor médio, em
CP8 o percentual de austenita retida pouco variou em torno do percentual
médio e em CP9 a percentagem de austenita retida manteve-se estável.
O percentual médio de austenita retida obtida para o aço CA6NM após os
tratamentos térmicos de têmpera e revenimento, independente do ciclo térmico
oscilou entre 3 e 4%, muito inferior ao mencionado por alguns autores que
prevêem até 30% de austenita retida após tratamentos térmicos.
187

4.12.1.2 Por Metalografia com Ataque Colorido

A figura 4.106 mostra a austenita retida entre as placas de martensita no CP7,


após ataque com reagente Beraha por 1 minuto; as regiões claras são as
plaquetas de austenita e o fundo escuro é constituído por martensita e
carbonetos. Na figura 4.107, foi feita uma conversão nos limiares do preto e do
branco para cálculo do percentual de austenita estável.

Figura 4.106 CP7 CA6NM, após ataque com reagente Picral-HCl.

Figura 4.107 CP7 CA6NM, após ataque com reagente Beraha.


188

As figuras 4.108 e 4.109 também mostram a presença de austenita estável em


CP9. Observa se que a distribuição da austenita na matriz austenítica é mais
homogênia, as plaquetas de austenita são mais delgadas e em maior
quantidade, e isso foi propiciado pelo duplo revenimento a 600 e 690°C.

Figura 4.108 CP9 CA6NM, após ataque com reagente Picral-HCl.

Figura 4.109 CP9 CA6NM, após ataque com reagente Beraha.

A tabela 4.23 abaixo disponibiliza os percentuais de austenita retida estável


obtidas por metalografia, através de ataque colorido(Beraha). Observa-se que
189

os valores obtidos são muito próximos dos obtidos por difração de raios X.

Tabela 4.23 Austenita retida em CP6, CP7, CP8 e CP9


por metalografia colorida.
Amostra % Austenita
CP6 3,9
CP7 4,5
CP8 3,9
CP9 4,2
190
191

5 DISCUSSÃO COMPLEMENTAR

Após realização dos ciclos de tratamentos térmicos conclui-se por meio das
análises metalográficas que estes foram efetivos no sentido de regularização
microestrutural e precipitação de carbonetos, também em função das
propriedades mecânicas obtidas, houve completo ajuste das propriedades
mecânicas conforme as designações A487 e A743 da norma ASTM.
No aço CA15 o patamar de austenitização não propiciou efeito suficiente para a
solubilização da ferrita delta(δ). O meio de têmpera(ar ou água) não influenciou
na quantidade de ferrita delta presente. Mas influenciou na dureza em bruto de
têmpera, isso porque na condição de resfriamento ao ar(para menor dureza),
houve significativa precipitação de perlita e ferrita(α) a partir do patamar de
austenitização.
No aço CA6NM, o meio de têmpera influenciou a dureza obtida na condição
bruto de têmpera e também após tratamento térmico de revenimento, sendo
que, na condição de temperado ao ar foi obtido maior dureza que na condição
de temperado em água, em função da maior quantidade de carbonetos
precipitados durante resfriamento a partir da temperatura de austenitização.
A análise metalográfica do aço CA15 permitiu observar a presença da ferrita
delta(δ), como previsto pelo diagrama de Schaeffler modificado por Schneider;
a precipitação quase insignificante de carbonetos na condição bruto de
têmpera, e verificou-se após tratamentos térmicos de revenimento, uma
quantidade de carbonetos no aço CA15 temperado ao ar levemente superior a
encontrada no CA15 temperado em água.
Para o aço CA6NM, a análise metalográfica evidenciou uma intensa presença
de carbonetos principalmente após tratamento térmico de revenimento, e na
condição de temperado ao ar e duplamente revenido, a precipitação de
carbonetos foi tão intensa que mal se distingue as interfaces carboneto-matriz.
A precipitação de carbonetos no aço CA6NM foi muito maior que no CA15.
Através da análise metalográfica por microscopia eletrônica de varredura,
observou-se em detalhes no aço CA15 a matriz martensítica, a presença de
ferrita delta, a precipitação de pequenos carbonetos esferoidais, ocorrendo
entre as placas de martensita, nas regiões de contorno de grão e
192

principalmente em torno da interface ferrita delta-martensita. A partir da análise


do grau CA15 recozido a 820°C, observou-se à natureza da precipitação, o
crescimento lento e a morfologia do carboneto no aço CA15, que tende a
assumir uma forma esférica e ao mesmo tempo facetada, é diferente do que
ocorre no carboneto precipitado no aço CA6NM.
No aço CA6NM a microscopia eletrônica de varredura também mostrou com
detalhes a martensita e as regiões onde as placas de martensitas se cruzam
em ângulos de aproximadamente 90°. Mesmo com aumentos da ordem de
2000 vezes não foi possível à detecção e visualização da austenita retida
estável. Entretanto a presença massiva de carbonetos observada já na análise
metalográfica foi confirmada em detalhes, com ocorrência entre as placas de
martensita e principalmente nas regiões de contorno de grão. É notável a
morfologia dos carbonetos presentes na forma vermicular ou plaquetas,
observando-se que na condição de único revenimento a 600°C, os carbonetos
se apresentaram na forma de pequenos vermes, mas na condição de duplo
revenimento, e principalmente no aço CA6NM temperado ao ar, o efeito do
revenimento a 690°C foi muito acentuado, fazendo com que os pequenos
vermes inicialmente nucleados, crescessem e coalescessem com muito mais
intensidade, assumindo a forma de plaquetas que ocuparam toda região de
contorno de grão e as regiões entre as placas de martensita.
Dos ensaios de tração à temperatura ambiente do aço CA15, observou-se um
limite de resistência em torno dos 970MPa para a condição de mais alta
resistência, com um limite de escoamento variando entre 85 a 90% de do limite
de resistência, indicando baixa capacidade de encruamento. Para os graus de
mais baixa resistência, propiciada pelo revenimento a 670°C, o limite de
resistência variou entre 692 e 796MPa, e o limite de escoamento variou
respectivamente entre 79 e 87% desses valores, indicando uma maior
capacidade de encruamento no grau de mais baixa resistência mecânica. No
geral o aço CA15 temperado em água apresentou melhores valores de
alongamento que o CA15 temperado ao ar. Os valores de redução de área
foram bastante expressivos, também foram maiores no aço CA15 temperado
em água.
Os ensaios de tração do aço CA6NM, após revenimento mostraram maior
193

resistência mecânica naqueles temperados ao ar que naqueles temperados em


água, principalmente no grau CA6NM temperado ao ar e duplamente revenido
a 600 e 690°C, apresentou resistência mecânica em torno de 2% maior que
aquele temperado em água e revenido à apenas 600°C. Assim para os graus
CA6NM de mais alta resistência mecânica, o limite de resistência oscilou entre
858 e 933MPa, e respectivamente, o limite de escoamento variou entre 82 e
83% do limite de resistência. Para os graus CA6NM de mais baixa resistência,
o limite de resistência oscilou entre 877 e 808MPa, e respectivamente, o limite
de escoamento oscilou entre 80 e 83% do limite de resistência. Os valores de
alongamento oscilaram em torno de 18% para os graus CA6NM de mais alta
resistência mecânica e entre 18,5 e 20% para os de baixa resistência
mecânica. Os valores de redução de área oscilaram em torno de 50 e 48%
para os graus CA6NM de mais alta resistência mecânica e entre 53 e 51% para
os de baixa resistência mecânica. Ao contrário do ocorrido com os parâmetros
limite de resistência e limite de escoamento, os parâmetros alongamento e
redução de área assumiram valores maiores para o aço CA6NM na condição
de temperado em água que na condição de temperado ao ar. Os valores
percentuais do limite de escoamento em relação ao limite de resistência e
alongamento em relação à redução de área assumiram respectivamente,
valores médios em torno de 82 e 37%, e se comparado ao aço CA15, o
CA6NM evidencia uma maior capacidade de encruamento. Já os parâmetros
que indicam a resistência mecânica, o aço CA6NM é similar ao CA15, embora
a resistência mecânica obtida para o grau CA6NM seja levemente superior. Em
relação aos parâmetros indicadores de ductilidade, a tendência geral foi obter
no aço CA15 maior redução de área e menor alongamento, em relação ao
obtido no CA6NM.
Nos ensaios de tração à quente, realizados a 500°C, para o aço CA15
observou-se maior resistência mecânica para a condição de temperado ao ar
que na condição de temperado em água, mas ambos os valores do limite de
resistência na condição de revenido para maior resistência mecânica oscilaram
em torno de 640MPa e para a condição de revenido para menor resistência
mecânica, ambos os valores de limite de resistência oscilaram em torno de
545MPa. Os valores do limite de escoamento ficaram a 96% do limite de
194

resistência para o grau CA15 de mais alta resistência mecânica e em torno de


92% para a condição de mais baixa resistência mecânica, indicando em ambos
os casos, uma capacidade encruar ainda mais baixa com relação à
temperatura ambiente. Os valores de alongamento situaram em torno dos 20%
e os de redução de área em torno dos 67%. A redução dos valores de
resistência mecânica situou em torno dos 30%, em relação à temperatura
ambiente.
Para o aço CA6NM em ensaio de tração a 500°C, os resultado obtidos foram
de certa forma interessantes, a maior resistência mecânica para condição de
temperado ao ar se repete, sendo que o aço CA6NM temperado ao ar e
duplamente revenido a 600 e 690°C apresentou maior resistência mecânica
que quando temperado ao ar e apenas revenido a 600°C; em função da maior
quantidade de carbonetos precipitados através do revenimento a 690°C. Para o
grau CA6NM de mais alta resistência, o limite de resistência oscilou entre 566 e
622MPa e para o de mais baixa resistência, o limite de resistência oscilou entre
516 e 623MPa.
Os ensaios de impacto do aço CA15 apresentaram baixos valores, sendo que
na condição de mais alta resistência, a fragilidade ao impacto já se apresentou
à temperatura ambiente, em que não se conseguiu ultrapassar os 18J, e a 0°C
não ultrapassou os 11J, portanto a temperatura de transição pelo critério 20.6J
é acima da temperatura ambiente. Para o grau CA15 de mais baixa resistência
mecânica, os resultados mostraram valores médios de 29 e 24J a 24°C e 14 e
10J a 0°C. A temperatura de transição pelo critério 20.6J foi de 10,5°C para o
aço CA15 temperado em água e 17,3°C para o CA15 temperado ao ar.
O aço CA6NM, após realização dos ensaios de impacto mostrou valores muito
superiores aos obtidos para o CA15, inclusive mostrando aptidão para
aplicações em temperaturas abaixo dos -100°C. Em temperaturas de 24 e 0°C
o aço CA6NM temperado em água apresentou melhor resistência ao impacto
que quando temperado ao ar. Mas a –100 e –196°C, a situação se inverteu, ou
seja, o CA6NM na condição de temperado em água apresentou menor
resistência ao impacto que quando temperado ao ar, isso se deveu a
precipitação de carbonetos mais intensa na condição de temperado ar que na
condição de temperado em água. A explicação é que em temperaturas em
195

torno de 24 e 0°C, a maior dureza e o efeito da presença de maior quantidade


de carbonetos agindo como barreiras para a movimentação de discordâncias e
aumentando o limite de escoamento, tem maior peso no sentido de reduzir a
resistência ao impacto. Em baixas temperaturas, da ordem de -100 e -196°C, a
presença do carboneto é benéfica, porque quanto mais se tem, maior é a
drenagem de elementos tais como carbono e molibdênio da matriz.
Principalmente o carbono como elemento intersticial, tem efeito muito forte em
aumentar o limite de escoamento, e quanto mais baixa a temperatura, mais
acentuado é este efeito, chegando ao ponto, de não haver nem limite de
resistência, ou seja, a fratura ocorre no regime quase totalmente elástico.
Assim a temperatura de transição segundo critério 20,6J foi de: -100°C e -
112,8°C para o aço CA6NM temperado em água e ao ar respectivamente, na
condição de mais alta resistência mecânica, e para a condição de mais baixa
resistência mecânica, a temperatura de transição segundo critério 20,6J foi de -
136,8 e 144,8J para o aço CA6NM temperado em água e ao ar
respectivamente.
Da análise da fratura do aço CA15 a 24°C, apesar de haver deformação
plástica, não se observa à presença dos “dimples” ao contrário do que ocorre
no CA6NM; a 0°C já se observa à fratura com clivagem e a –100, a fratura é
frágil com completa clivagem.
A fratura do aço CA6NM mostrou uma superfície com muitos “dimples” mesmo
a 0°C, os pequenos “dimples” foram nucleados em carbonetos e os maiores
nas inclusões; já a –100°C se observou a presença de planos de clivagem,
mas também houve deformação plástica, e a –196°C a fratura foi frágil com
total clivagem.
O ensaio dilatométrico do aço CA15 em aquecimento, evidenciou AC1 a 765°C,
AC3 a 892°C e o fim do campo austenítico a 960°C, o que explicou a
expressiva presença da ferrita delta após solubilização a 1000°C. Sob
resfriamento, observa-se Ms a 327°C, 3°C abaixo do obtido pela equação de
Atikins, e Mf a 205°C.
Para o aço CA6NM, o ensaio dilatométrico em aquecimento, evidenciou AC1 a
575°C e AC3 a 802°C. Sob resfriamento, observou-se Ms a 249°C, 26°C abaixo
do obtido pela equação de Atikins e 18°C acima do obtido pela equação de
196

Steven e Heynes. Mf foi obtido a 96°C.


A difração de raios X apontou um percentual médio de 3 a 4% de austenita
estável no aço CA6NM, mesmo após resfriamento a –196°C. A presença de
carbonetos não apontou grande influência na medição da austenita retida,
porque não houve grande variação entre a medição entre uma amostra com
mais carbonetos e outra com menos carbonetos.
Com base nos resultados globais obtidos conclui-se que o aço CA15 pode ser
uma alternativa viável ao CA6NM, desde que a temperatura de utilização seja a
ambiente. Porém, as propriedades variam muito em função do tratamento
térmico adotado e exige muito cuidado na sua execução.
O aço CA6NM pode ser usado em temperaturas sub-zero, até –100°C com
ductilidade aceitável, é um material mais “amigável” ao tratamento térmico,
sendo que grandes variações nos parâmetros utilizados pouco influenciam nas
propriedades finais. Como conseqüência representa um material muito mais
seguro na utilização.
197

6 CONCLUSÃO

No aço CA15 o patamar de austenitização não possibilitou a solubilização da


ferrita delta(δ).
No aço CA6NM, o meio de têmpera influenciou a dureza obtida na condição
bruto de têmpera e também após tratamento térmico de revenimento.
No aço CA15 a presença de carbonetos foi controlada por difusão, foi discreta
e pouco influenciou nas propriedades mecânicas. Mas no aço CA6NM a
presença massiva de carbonetos influenciou a ductilidade, bem como as
propriedades mecânicas à quente e a frio.
Os ensaios de tração à quente e à temperatura ambiente revelaram
propriedades similares entre o CA15 e CA6NM. Mas à temperatura ambiente, o
aço CA6NM tem maior capacidade de encruamento que o aço CA15.
O aço CA6NM tem resistência ao impacto muito maior que o CA15, mesmo à
temperatura ambiente.
A austenita retida encontrada no aço CA6NM é bem inferior aos valores
reportados por diversos autores.
O aço CA15 pode substituir o aço CA6NM, desde que em temperaturas em
torno da temperatura ambiente e superiores.
198
199

7 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS

Estudar a possível estabilização de austenita retida no aço CA15 e suas


influências nas propriedades mecânicas.

Verificar fatores que promovem a presença de ferrita delta, bainita e perlita na


matriz martensítica do aço CA15, bem como suas implicações nas
propriedades mecânicas.

Estudar fatores que possam promover aumento na resistência ao impacto do


aço CA15.

Verificar efeitos do tamanho de grão, composição química e tratamentos


térmicos sob a precipitação e estabilização da austenita retida no aço CA6NM
pós-têmpera e revenido.

Investigar o processo de precipitação de carbonetos durante tratamentos


térmicos de revenimento, nos aços CA15 e CA6NM, bem como a interface
matriz-carboneto e o processo de partição de elementos químicos envolvidos.
200
201

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