Lucia Neves A Nova Pedagogia Da Hegemonia
Lucia Neves A Nova Pedagogia Da Hegemonia
Lucia Neves A Nova Pedagogia Da Hegemonia
doi:no10.5007/2175-795X.2011v29n1p229
Brasil 229
anos finais da década de 1980, trazidas, em boa parte, por exilados políticos
que acreditavam numa nova forma de fazer política e que buscaram, para
isso, financiamentos confessionais e laicos de organismos estrangeiros. Só
na segunda metade dos anos de 1990, as empresas brasileiras começam a
expandir sistematicamente suas fundações e desenvolvem, nos anos 2000,
uma rede complexa de intelectuais da nova pedagogia da hegemonia com
vistas à difusão da ideologia da responsabilidade social.
Nos anos de 1990 era muito difícil fazer críticas às ONG, porque elas eram
vistas por parte significativa dos militantes dos movimentos sociais como
organizações “do bem”, porque se achavam situadas na sociedade civil. Nós
caracterizamos as ONG como organismos que tinham como finalidade
principal propiciar a redefinição da relação entre Estado e sociedade civil,
embora algumas delas ainda guardassem a ideologia do projeto democrático
de massas dos anos de 1980. Além do processo de repolitização da política,
o grupo investigou também as mudanças ocorridas na aparelhagem
estatal. O Estado capitalista neoliberal no Brasil redefiniu também a sua
arquitetura e a sua dinâmica, realizando uma reforma na sua aparelhagem,
com vistas a metamorfosear o Estado de Bem-Estar Social – produtor de
bens e serviços – em um Estado gerencial, responsável pela instauração da
chamada “sociedade do bem-estar”.
Um outro conceito gramsciano que nos ajudou a entender as estratégias
da nova pedagogia da hegemonia foi o de Estado educador. Por meio
desse dele, pudemos captar as novas estratégias e dominação de classe da
burguesia brasileira na atualidade. A burguesia, diretamente e por meio
do Estado gerencial, sem abandonar o uso da coerção, passou a utilizar
fartamente estratégias de obtenção do consenso. Esse movimento só começa
a ser percebido com maior clareza quando os estudos oficiais passaram a
divulgar o crescimento das Fasfil (Fundações Privadas e Associações sem
Fins Lucrativos) no Brasil dos anos 2000.
Aquela impressão inicial que tínhamos de que iríamos ser muito criticados
não se confirmou. O tempo da pesquisa foi o tempo necessário para que
os acontecimentos recentes fossem mais bem compreendidos. Quando
iniciamos o nosso estudo, não encontrávamos nenhuma literatura que
nos desse base para seguir com a reflexão que iniciamos. Logo em seguida,
encontramos um lindo texto do Paulo Arantes, Esquerda e direita no espelho
das ONGS.7 Ficamos muito felizes de encontrar alguém pensando próximo
Notas
1 Lúcia Maria Wanderley Neves. Doutora em Educação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professora aposentada da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), professora participante do Programa
de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense
(UFF) e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/FIOCRUZ).
2 Cf. Educação e Política no Brasil de Hoje. 3. ed., São Paulo: Cortez, 1994.
Olinda Evangelista
E-mail: [email protected]