Ao Cair Da Noite
Ao Cair Da Noite
Ao Cair Da Noite
“Eu pequei! Trai a deus, desapontei meus familiares, não cumpri minhas
obrigações de sacerdote.
Ela era perfeita, nunca vi ninguém assim antes. Seus olhos eram extremamente
expressivos, existia chamas em seu olhar. Seus cabelos possuem vida própria, seus lábios
eram vermelhos como o sangue. Sua voz é encantadora, se assemelha ao cantar de anjos,
seu toque era leve e suave como rosas. Não resisti a tanta perfeição, pequei contra meus
princípios. Eu nunca me senti tão livre! Nunca me senti tão... completo e cheio de vida,
meu peito queimava, algo me tocava por dentro, uma sensação indescritível, era tudo tão
perfeito que não parecia real.
Minha vida sempre foi resumida a um mar de cinzas, meu trabalho e dever me
consumia. Servir a deus era meu único propósito, meu único caminho, meu destino.
Obrigado a ser o que sou, minha vida era infeliz e minha existência uma questão. E por
alguns dias eu pude saber o que é viver, o que era ser livre, o que era amar e ser amado,
mas tudo isso se foi [...]”
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perfeitamente, devido a obrigaçã o de seus pais, nunca brincava, nã o
frequentava escolas, nã o lia nenhum livro a nã o ser a bíblia, sua rotina era sua
casa e igreja.
Aos dez anos de idade Eliezer fez algo que marcaria sua vida para
sempre, sua primeira e até entã o ú nica vez questionando deus. Durante o
jantar numa noite, educadamente ele perguntou a seu pai “por que devemos
seguir as leis de deus e por que essas sã o as suas leis?’’. Nã o houve resposta
para tal questionamento, apenas que... apó s tal pergunta Getú lio levantou-se da
mesa e estapeou o rosto de Eliezer com toda sua força, o garoto caiu no chã o e
chorou pois nunca havia apanhado de seu pai. Furioso Getú lio fez com que
Eliezer tivesse que ficar de joelhos ao milho enquanto ele rezasse cem pai
nosso e repetisse a frase “nunca questione a deus’’, apó s essa noite Eliezer
nunca mais o questionou.
Mas ainda nessa noite algo aconteceu a Eliezer, algo que o amedrontaria
para sempre. Apó s terminar suas rezas Eliezer foi deitar, e naquela noite ele viu
algo. Ele olhou para a janela do seu quarto e viu um homem. Nã o um homem
comum, um homem grande, ele encarava Eliezer pela janela enquanto sorria, um
sorriso estranho e constante. Eliezer ao ver tal criatura ficou em estado de choque,
nã o conseguia dormir, a criatura nã o o deixava. Ela sussurrava “eu posso te ver”.
O homem ficou lá durante a noite toda. Ao amanhecer ele lentamente se virou e
foi embora, e nã o houveram vestígios, pois ao sair da janela, Eliezer levantou da
cama e foi conferir se o homem ainda estava à espreita lhe observando. Mas ao
colocar seu rosto para fora da janela, foi como se ele nunca estivesse estado lá !
Apó s trê s anos rodando pela naçã o em busca de um lar que lê servisse,
Eliezer finalmente achou um lugar que parecia adequado para si. Um vilarejo
localizado no interior, distante de grandes cidades e do urbanismo. Era um
vilarejo de fazendeiros, com grandes produtores de leite, queijo e milho. E era
o que sustentava a cidadezinha economicamente, já que a colheita nã o era tã o
boa. O clima no vilarejo era estranho, parecia sempre outono, os dias eram em
sua grande maioria nublados, poucos eram os raios de sol que iluminavam a
comunidade, era sempre frio, haviam fortes ventos e um cinza depressivo
tomava conta do céu.
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humildes e pobres, nã o haviam muitas pessoas bem de vida naquele lugar, em
sua maioria trabalhadores, e nã o haviam pessoas de alta classe, todos
pertencentes a pobreza. O vilarejo era centralizado num grande campo,
cercado ao norte por uma enorme floresta verde e hú mida, e ao sul por um
có rrego cujo havia uma ponte de pedra, ligando a entrada da vila com uma
longa e extensa trilha que leva até a cidade mais pró xima. Em volta, ao
noroeste havia montanhas, três em especificas, era montanhas enormes
cobertas por vegetaçã o. Ao sudeste do campo havia um pequeno lago que era
ligado ao có rrego citado anteriormente, essa á gua tinha ligaçã o com outros rios
em outras cidades, muitos dos fazendeiros e mercadores usavam esse có rrego
como trajeto até outras cidades, ondem vendiam e trocavam por outras
mercadorias. Havia També m ao nordeste um grande milharal, onde era
plantado e colhido todo o milho produzido pelos fazendeiros.
No vilarejo havia uma igreja, essa igreja que servirá s de abrigo a Eliézer,
se localizava ao topo de um morro, o ú nico morro da vila, já que todo o resto do
local era extremamente plano, e a igreja ficava no lugar mais alto da comunidade,
onde todos pudessem ver, e realmente, a igreja cobria a visã o de todos, era uma
igreja nã o muito grande, porém era o lugar mais rico e bem cuidado da vila.
Tinha espaço para todos da vila, era feita com pedras e blocos, com detalhes
internos e externos de madeira, como a grande ponte, e toda estrutura do teto.
Nela possuía também um campaná rio e um enorme sino de ouro, tal sino era tã o
brilhante que era possível enxerga-lo do alto da montanha.
Fora a Igreja havia também um grande galpã o, feito de madeira forte e era
extremamente reforçado e prevenido de roubos. Lá era armazenado toda a
riqueza da cidade como por exemplo, todo leite e milho colhido, ferramentas e
objetos de trabalho e colheita como inchadas, pá s, foices, arados, ferraduras e
carroças. Fora sementes e grã os de outros tipos de plantio. O galpã o servia de
dispensa para a cidade, pois lá também guardavam toda a comida e estoque de
á gua em galõ es da cidade. Pois a igreja tinha uma restriçã o em relaçã o a
populaçã o da vila, uma restriçã o que controlava a quantidade de suprimentos
que cada família podia pegar. Essa restriçã o foi criada para evitar crises e quebras
em relaçã o ao rendimento do vilarejo.
O povo do vilarejo como descrito anteriormente era um povo simples, em
sua maioria fazendeiros e plantadores. Era um povoado unido e extremamente
religioso, nunca haviam de questionar as normas, regras e restriçõ es que a igreja
colocaras sobre eles. Muitas das casas eram simples, muitas eram feitas com
madeira cortada dos bosques e florestas nas redondezas, quem tinha melhor
condiçã o tinha a casa feita de argila, mas nada que se sobressaia, pois todas eram
extremamente humildes.
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16/01/1851
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– Seja bem-vindo filho, tenho certeza que ira se encaixar nessa vila, sua
chegada é um grande acréscimo a nossa comunidade. Venha, vamos entrar, vou
lhe servir uma boa comida e uma cama confortá vel para descansar, deve estar
exausto. – Disse George.
- É um prazer se juntar a vossa comunidade reverendo. Estou ansioso para
iniciar meu trabalho aqui. – Disse Eliézer de uma forma simpá tica e calma,
mesmo ele sabendo que acabou de mentir.
- Ó timo! – Respondeu Theo auto e Claro. – Amanha podemos...
Theo pediu para que duas crianças que estavam ali fora, ajudassem Eliézer
a levar sua bagagem para dentro de seus aposentos, cujo ficava dentro da
igreja. E assim fizestes, apó s se acomodar em um quarto pequeno que ficava
dentro da igreja, cujo havia apenas uma cama, uma escrivaninha pequena e
baixa, uma janela e uma porta, “Eli” sentou-se a sala de refeiçõ es junto a Theo,
que lê serviu uma boa refeiçã o. Uma boa taça de vinho, Pã es, milho e algumas
frutas como: maçã s e uvas. Enquanto se alimentavam, Theo explicava a Eliézer
suas tarefas, o que ele iria fazer, quando começava, como funcionava, a politica
da cidade, o mercado, quanto ganharia pelos seus serviços, dentre outas coisas.
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Tal conversa durou horas, quatro para ser mais exato. Mas nada parecia
ser grande desafio para Eliézer, pois era acostumado a grandes tarefas e
trabalhos. A ú nica questã o era que... para cumprir todas as suas tarefas, “Eli”
precisaria se dedicar totalmente ao seu trabalho, isso significa que nã o haveria
tempo livre.
Em uma conversa mais intima, naquele mesmo dia, que já havia se tornado
noite, Elié zer começou a notar algumas coisas naquela sala e també m a notar
algumas coisas em George. Por exemplo: uma adaga bonita e chamativa que
estava em cima da mesa. Ela era muito bonita, aparentava ser afiada, tinha o cabo
meio curvado, e tinha estampado nela o desenho de três estrelas, duas
pequenas em cima e em baixo e uma grande ao centro. “Eli” també m notou
uma marca no pescoço de Theo, uma marca de corda.
Theo olhou para baixo com uma expressã o meio sem graça e triste. Ao
tocar no assunto, Theo se sentiu emocionado e logo desabafou.
- Essa marca foi a razã o deu estar aqui hoje! Quando eu era criança, eu
ajudava minha mã e a sustentar a nossa casa. Eu venho de uma família simples
e humilde, mas nunca passei fome, porém, desde cedo eu trabalhei. Quando eu
tinha nove anos... eu trabalhava limpando um campaná rio e o sino de uma
igreja, era um campaná rio bem maior do que a dessa daqui. Eu estava
cumprindo meu trabalho como num dia qualquer, eu tinha acabado de enseirar o
chã o e fui limpar o sino. Eu nã o sei o que aconteceu, eu perdi o equilíbrio, e
escorreguei. Cai em cima das cordas do sino, que se enrolaram no meu
pescoço, e eu fiquei pendurado lá. As cordas me sufocavam, me enforcavam. Eu
sei que parece mentira, mas... eu fiquei pendurado lá pelo pescoço por uns dois
minutos, agonizando, perdendo o ar, sem poder sair e sem poder gritar por
ajuda. Era pra eu ter morrido ali, eu tinha que ter morrido. Eram dois minutos,
mas pareciam horas, nã o é possível alguém aguentar tanto tempo sem
respirar. Mas eu aguentei, nã o sei como, mas aguentei. Até que as cordas de
repente se soltaram e eu cai. Nã o quebrei nenhum osso ou membro, nã o
houveram marcas ou cicatrizes fora essa no meu pescoço. O que aconteceu foi um
milagre de deus, e eu reconheci isso. Entã o desde aquele dia eu abri meu olho, fiz
uma promessa a deus. Ele salvou minha vida, fui testemunha de um milagre, e
desde aquele dia eu vim a estudar para servir a deus, como uma forma de
retribuiçã o eu vim a mostrar as pessoas o caminho, o caminho certo, o caminho
de deus. E aqui estou hoje, salvo
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por deus, agradecendo pela minha vida, dia apó s dia, e esse é o maior presente
que já ganhei em toda minha existência.
Eliézer ficou chocado com a histó ria de Theo, por um momento achou
que fosse mentira, mas ele a contava com tanta sinceridade e emoçã o que logo
esse achismo se foi. Apó s isso, ambos ficaram em silencio por alguns minutos,
Theo chorando de emoçã o e Eliézer pensando sobre tal ocorrido.
- O que aconteceu, realmente foi um milagre. Deus lê deu uma nova
chance e o senhor soube aproveitar, eu o respeito muito por isso. – Disse
Eliézer educadamente.
Theo nã o disse absolutamente nada, apenas sorriu e acenou que sim com
a cabeça.
- Notei que está de olho naquela adaga. - Disse Theo tentando mudar de
assunto.
- Sim senhor, achei ela muito bonita. – Respondeu Eliézer sem jeito.
- Claro, nã o vejo porque nã o. Sei que nã o fara nada com ela. – Respondeu
Theo.
Cerca de dois meses e alguns dias se passaram desde que Eliezer chegou
ao vilarejo. E esse tempo foi de uma certa forma meios que “cinzas”, de uma certa
forma desgostosos, pois “Eli” nã o fez nada além de seu trabalho. Ele rezava
missas e oraçõ es juntamente ao povo da pequena vila, ele cuidava e limpava da
igreja, aprendia com o reverendo a cuidar da economia e produçã o, a manuseá -
la e a manipula-la. Foram dias cinzas e cheios de rotina, Eliézer se sentia numa
bolha, num mar de depressã o, era como se suas obrigaçõ es e deveres o
dominasse. Ele se sentia só , se sentia pra baixo, sentia como se tudo e todos
estivessem contra ele, como se suas obrigaçõ es e deveres com deus fosse mais
importante do que tudo. Do que seu bem estar, do que seu psicoló gico e
sanidade. Sentia-se rejeitado pela vida e pelas pessoas daquele vilarejo. Pois
por incrível que pareça “Eli” nã o saiu da igreja desde o momento em que pisou
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nela.
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Nã o saiu de dentro daquelas paredes a nã o ser para o pá tio que as rodeavam.
Sim, ele ficou focado e dedicado ao seu trabalho durante semanas, dois meses e
alguns dias para ser mais direto.
Tudo era tã o entediante e sombrio, era repetitivo e sufocante. Por, mas que
fosse pouco tempo, “Eli” se sentia sufocado e esgotado, foram dois meses e
alguns dias, mas parecia como uma imensa eternidade. A rotina o cansava e o
estressava, parecia que sua vida estava ligada ao automá tico, parecia que por
mais que ele tentasse fazer de seus dias o melhor possível, o tedio e angustia
saiam ganhando e tornavam seus dias repetitivos e depressivos.
Em uma tarde comum, num dia como qualquer outro, “Eli” estava
realizando confissõ es ao povo do vilarejo, era tarde, pró ximo ao pô r do sol,
quando Eliézer estava realizando o que seria sua ú ltima confissã o, quando
surge alguém. Alguém com uma voz suave e calma, fina e feminina, doce e
encantadora, uma voz estranha para “Eli”, pois já havia confessado com todos
os habitantes dezenas de vezes nesse curto tempo que ficaras no vilarejo, mas
essa voz lê suava estranha, essa voz lê parecia má gica.
- Olá , desculpa chegar numa hora dessas, mas eu preciso confessar. – Disse
a doce voz.
- Eu sempre confesso isso aos padres, e quando digo isso, ou sou julgada
ou expulsa. O que você disse agora, nunca ningué m me disse antes. Obrigada
padre, por ser a primeira pessoa a nã o me julgar por quem eu sou. – Disse a garota
emocionada, chorando e surpresa com a resposta.
- Tudo bem, se assim deseja. Obrigado Elié zer por ter sido humano
comigo.
Eliézer comovido com a garota, resolveu virar-se para ver o seu rosto. E
quando ele fez isso, ele olhou diretamente nos olhos dela. E aquele momento
foi algo magico, foi algo lindo, estranho e inexplicá vel ao mesmo tempo. Ao
virar-se para olhar para ela, “Eli” ficou sem reaçã o, os olhos daquela garota
haviam muitas expressõ es, mais até do que suas palavras e reaçõ es. Era como
se Eliézer pudesse saber tudo sobre ela, a partir do momento em que viu
aquele olhar. A luz do sol batia nas vidraças da igreja, na qual iluminavam e
destacavam o rosto da linda moça, a luz ia violentamente em seu olhar, dando
mais vida a ele, e os seus cabelos longos e loiros pareciam brilhar, como raios
solares ao nascer de um dia. Aquele olhar foi algo inexplicá vel, Eliézer ao
encarar a bela moça, ficou sem reaçõ es, suas expressõ es faciais mudaram, de
tensa para encantada.
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- O prazer foi meu. Eu sinto muito em ter lê tomado tempo, eu tenho que
ir agora, eu tenho coisas a fazer.
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Durante a tarde, “Eli” decidiu sair da igreja e tomar um ar fresco no
pá tio. O pá tio da igreja era um lugar bonito, mais até do que a pró pria igreja. O
chã o, no centro era um mosaico de pedras, era um grande círculo de pedras. E
o resto do pá tio era um chã o gramado, com uma espécie de grama mais fina e
macia. Localizado ao centro do mosaico, havia uma fonte de á gua, muito linda e
detalhada. Era esférica e ficava a um metro do cã o, era feita de pedra escura, e
tinha no centro dela uma estatua de um anjo, uma enorme estátua feita de
argila, que possuía mais de um metro de altura. Havia também no pá tio, uma
arvore grande e extensa, cujo fazia uma grande sombra e que ocupava grande
espaço do lugar, era uma arvore linda com folhas verdes. O chã o estava coberto
das folhas caídas daquela arvore, e abaixo dela havia um banco de pedra, na
qual Elié zer estava sentado.
- Olá .
Na hora Eliézer reconheceu a voz, a doce e suave voz, era Kira. Entã o
rapidamente ele se levantou e aproximou-se dela.
- Olá , nã o esperava vela hoje. Você está bem? – Perguntou “Eli” com um
tom de voz calmo, e se demonstrando surpreso ao revê-la, pois isso era tudo o
que ele queria.
- Eu estou bem. Eu vi as portas da igreja fechadas, achei que nã o
estivesse aqui, por isso vim aqui, para ter certeza. – Respondeu Kira de uma
forma tímida.
- Tudo bem, eu fico feliz em te ver. Venha aqui, vamos nos sentar. – Disse
Eliézer indo em direçã o ao banco.
E apesar de ele ter ficado feliz com a visita de Kira, ele nã o sabia
exatamente o que dizer ou o que conversar. E o mesmo pode se dizer dela. E
durante mais de um minuto eles ficaram em silencio, olhando um para o outro
disfarçadamente. Até que ela disse.
- Nossa! Talvez seja por isso que eu nunca te vi antes. Que triste. – Disse
Kira apó s notar o quã o sem graça ele ficou. Que em seguida tentou mudar de
assunto. – Nã o abriu a igreja hoje, por que?
- Eu tenho trabalhado muito aqui, ainda mais quando o George está por
fora, eu tenho cuidado da igreja e de tudo mais. Eu estou muito cansado, decidi
tirar um dia pra colocar a cabeça no lugar. – Respondeu “Eli” ainda um pouco
sem graça, só que um tom de voz mais alto e claro.
- Tudo bem – Respondeu “Eli” dando uma risada de canto de boca. – Ele
nã o está , ele volta daqui alguns dias. Por isso nã o abri, decidi aproveitar que
ele está fora e tirar um tempo pra mim.
- Claro. Mas eu peço perdã o pelo meu vocabulá rio na sua presença quando
me referi a ele. É que... ele me odeia. Ele nã o me deixa entrar na igreja, por isso
eu procurei você , pra ver se você seria diferente.
- Ele nã o te deixa entrar na igreja? – Questionou Eliézer fazendo uma
cara espantada.
- Tudo bem, podemos conversar sobre outra coisa. Não tem problema. –
Disse Eliézer tentando mudar o animo dela.
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- Eu nã o sei, esse lugar me pareceu o certo. E depois que meu mentor
morreu, eu nã o conseguia mais ficar em Londres. Ele foi um grande pai pra
mim.
– Respondeu “Eli”
- Tudo bem, eu sei que nã o foi sua intençã o. – Respondeu Eliézer. – Mas
e você ? Você veio de onde? E por que está aqui? – Perguntou “Eli”
- Bem... eu nã o sei o por que deu estar aqui, eu acho que foi o melhor que
consegui. Não é o melhor lugar do mundo ou o mais acolhedor, mas aqui é o
lugar onde eu consigo mais trabalho. Se é que me entende?...
- Entendo! – Interrompeu “Eli”.
- Entã o... essa é a razã o deu ainda estar aqui nesse lugar. Acredite, assim
que eu puder eu vou embora daqui. As pessoas aqui sã o boas, porem sã o
ignorantes e falsas. Eu acredito que o mundo tem mais a me oferecer do que
esse lugar. Eu tenho que viver e aproveitar ao má ximo o possível dessa vida...
- Sim, quer dizer. Apó s essa vida, vira uma outra, nã o é? Você nã o acredita
nisso?
- Encarnaçã o? Eu nã o sei, as vezes eu acho que nã o estou vivendo essa
vida corretamente, as vezes acho que... eu nã o sei. Faz sentido, mas meus
ensinamentos nã o condizem com isso.
- À s vezes a vida, é muito mais do que a gente acha, assim como deus.
Talvez ele nã o nos tenha dado essa informaçã o, porque sabia que íamos usar
de outras vidas para corrigir os erros que cometemos nessa. Entende?
Errarmos nessa sem remorsos para termos uma segunda chance, onde íamos
poder nos redimir. No fundo eu acredito que vamos viver de novo, e sermos
exatamente como somos agora, só que em tempos diferentes.
- Acho muito interessante esse seu ponto de vista. Eu nunca tinha
ouvido algo assim antes. Você é diferente das outras pessoas. – Disse Eliézer
impressionado com tudo que acabaras de ouvir.
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Ele ficou sem graça com a situaçã o, pois nã o sabia se sorria de volta, ou
se voltava a falar imediatamente. Tal acontecimento foi constrangedor para ele,
mas de uma certa forma, també m foi bom. Pois ele ficou encantado com a
beleza do sorriso de Kira. E o sentimento que o incomodava no peito, atacou
dessa vez de novo só que mais forte. Apó s ficar parado ali na frente dela, sem
ter o que fazer, “Eli” tomou atitude e continuou andando, e Kira o seguiu.
- Você disse que nunca saiu daqui? – Perguntou Kira.
- Amanha eu vou te levar pra um lugar legal. O meu lugar favorito desse
vilarejo. Você vira? – Perguntou Kira.
Kira entã o o olhou de um jeito em que ele se sentiu culpado por recusar.
Ele no fundo queria ir, mas nã o sabia como aceitar, e també m temia o que a
proximidade com Kira poderia se tornar. Mas mesmo assim, ele cedeu e disse.
– Tudo bem, eu vou. – Kira entã o se empolgou e alegrou-se e lançou um grande
sorriso em seu resto.
- Sério? Nossa! Que legal, entã o amanhã as quatro horas da tarde eu estarei
esperando aqui para te acompanhar. – disse Kira totalmente feliz.
A noite não foi diferente da anterior, Kira continuava tomando conta dos
pensamentos de “Eli”, e isso o perturbava, nã o de uma forma totalmente
negativa, pois Elié zer começou a perceber o que estava acontecendo. A fixa
finalmente caiu, ele sabia que estava começando a se apaixonar por Kira, e ao
mesmo tempo que ele adorava isso, ele se preocupava, pois ele é um padre, um
padre muito respeitado, e caso as pessoas começassem a notar, isso estragaria sua
reputaçã o. Ele vivia nesse momento um grande conflito interno, ou ele deixava
Kira de lado e seguia com sua vida, deveres e obrigaçõ es., ou ele abandonava
tudo pelo qual lutou desde criança para viver a vida com uma mulher impura e
má aceita pela sociedade. E esse questionamento estava o deixando louco!
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No dia seguinte ao acordar tudo parecia mais calmo. Era como se a noite
de sono houvesse feito bem a “Eli”. Sua cabeça nã o pirava com seus conflitos
pessoais, ele estava mais neutro, porem ainda confuso em relaçã o a tudo. E sua
decisã o foi de deixarem as coisas acontecerem, para que ele possa o escolher qual
rumo tomar. Ele parecia melhor apó s aquela noite confusa e atormentadora. E ao
acordar e abrir a janela ele notou algo diferente. O dia parecia mais alegre, os
pá ssaros cantavam alto e alegremente, e pela primeira vez desde de que
chegou, ele viu o sol iluminar aquela cidade. Os raios de sol refletiam sobre as
arvores, as gramas do pátio brilhavam de verde, o calor se revelou e tomou
conta do clima daquele vilarejo. E o clima depressivo foi-se embora. Era algo
extremamente surpreendente, pois durante todo esse tempo em que ele ficaras
na vila, o sol nunca veio a se mostrar, tudo o que tinha era um imenso céu
cinza, e nesse dia ele estava completamente azul, estava cheio de vida, como
num dia quente de verã o.
O lugar no qual foram, era realmente lindo, assim como havia dito Kira.
O lago era extenso e longo, a água refletia a luz dos raios de sol, que deixava
uma vista inexplicavelmente linda. A beira do lago haviam pedras, pedras
brancas e lisas, as pedras eram tã o lindas que nã o pareciam reais. E pró ximo ao
lago havia uma grande figueira, uma figueira enorme de folhas miú das, folhas
essas que caiam sobre o chã o, assim como neve no inverno. Era uma parte do
céu na terra. O lugar estava vazio, nã o havia ninguém por perto, era o lugar
exato para ambos ficarem.
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despertou a curiosidade de saber, como seria se ele a tocasse, como era a
temperatura de seu corpo, se era frio ou se tinha a pele quente. Sentia atraçã o ao
ver seus braços e pernas molhadas. Ele estava totalmente vidrado nela, ele estava
apaixonado, e tudo era muito estranho, pois era a primeira vez que se sentia
apaixonado e tudo foi muito rá pido e de repente.
Quando Kira saiu da á gua, sentou-se ao lado de Elié zer, que em seguida
lê ofereceu a cesta de frutas. Kira ficou feliz com o presente e o aproveitou ao
má ximo, pois estava faminta e já nã o comia faziam dias. Kira entã o pegou uma
ameixa e a comeu, enquanto ela saboreava a fruta, Eliézer pegou da cesta uma
rosa branca, e a colocou sobre a orelha de Kira, e em seguida ele a acariciou no
mesmo lugar, tocando em rosto, passando seus dedos sobre sua cabeça até seu
queixo.
Eliézer estranhou sua pró pria atitude, passou a mã o sobre o rosto dela,
mas nã o era algo que costumava a fazer. “o que estou fazendo?” pensou ele “por
que fiz isso?”. Seu ato foi remoto, como se sua mã o tivesse criado vida pró pria e
voado em direçã o ao rosto dela, acariciando-a sem pensar. Sentiu sua pele fria e
macia e se arrepiou, nunca havia tocado um rosto tã o lindo e suave. Mas seu
estranhamento fez com que retirasse sua mã o rapidamente e se sentisse
constrangido.
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- O que gostaria de saber?
- Tudo bem, pelo menos tenho ó timas lembranças dele. Do meu irmã o
també m.
- Mas apesar de tudo é uma ó tima pessoa, nã o convivi muito com ele,
mas o adoro. Sinto que nunca mais o verei. Tudo que sei é que ele fugiu com um
circo.
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- Mas e você? O que gosta de fazer? – Perguntou Elié zer fugindo do
assunto.
- Meus pais queriam desde criança que eu fosse um sacerdote. Uma vez
minha mã e disse que se eu nascesse mulher eu seria uma freira, e como eu nasci
homem... vim a me tornar um padre. Eles escolheram isso para mim, eu apenas
cumpri o desejo deles. – Respondeu “Eli” em um tom triste.
- Quer dizer que você nunca quis ser padre? – Perguntou Kira.
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O tom arrogante e grosso de Eliézer assustou Kira, tanto que era
possível notar em seu rosto. Ela nã o esperava tal reaçã o, e isso a assustou, ela o
viu sendo agressivo e descontrolado pela primeira vez.
Eliézer viu o quã o exagerado ele foi, ao ver o rosto de assustada de Kira.
Foi entã o que ele percebeu sua arrogâ ncia e isso o deixou sem graça. Ele sentia
que precisava se desculpar, mas nã o sabia como, ele mesmo estranhou sua
reaçã o, já que ele tinha costume de ser uma pessoa calma e razoá vel. Foi como
se por um minuto a raiva tivesse tomado conta do seu coraçã o. Ele olhou
profundamente nos olhos de Kira e viu aquele olhar alegre e puro dela se
converter em um olhar de assustada. Isso fez com que ele se sentisse um monstro.
Sem saber o que fazer, deu as costas a Kira, retirou seus sapatos e meias e
entrou no lago, onde a á gua batia em sua canela.
- Tudo bem! Eu entendo você! – Disse Kira em um tom calmo e amigá vel.
– Na verdade... nã o entendo. Pelo pouco que sei sobre você, pelo pouco que me
disse, sei que sua vida nã o foi nada fá cil, que sua vida nã o é aquilo que você
queria que fosse. Você nã o está sozinho, passei por maus bocados também, e
reconheço quem sofre também.
- Desculpa, sou um fracasso. Nã o deveria estar mostrando tanta
fraqueza pra você. Eu sinto muito, estraguei tudo. – Disse Eliézer ainda
chorando, olhando para a á gua de cabeça baixa.
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Kira caminhou em sua direçã o, até onde a á gua batia em suas pernas e o
abraçou. Seu abraço foi como uma libertaçã o para Eliézer, o abraço transmitia tal
energia na qual nunca sentiu antes. Era como se sua alma houvesse sido abraçada
por um anjo. – Eu que agradeço. – Respondeu Kira. Que desfez o abraço e colocou
suas mã os sobre o rosto de “Eli”, e com um sorriso ela o beijou.
“Eli” nunca havia beijado antes, ele sempre criava fantasias em sua
cabeça de como seria se ele beijasse alguém, qual seria o sentimento? Como
seu corpo reagiria? Ele faria de novo? Todas as suas teorias e fantasias foram
quebradas, foi extremamente diferente a sua primeira experiencia. Indescritível
em sua cabeça, apenas prazeroso e emocionante.
LIVRO DE ANOTAÇÕES
“Ontem vivi o melhor dia de minha vida, o que tive com Kira foi especial,
eu me sinto diferente, me sinto bem e feliz. Faz anos que nã o tenho essa sensaçã o.
Nesta manhã fiz algo que nã o me atrevi a fazer desde pequeno. Acordei e nã o
realizei nenhuma oração. Fiquei sorridente durante a manhã , ninguém
apareceu na igreja, tomei meu banho e café da manha pensando em Kira. Será
que ela gostou de ontem? Está pensando em mim agora? É ela a mulher ideal
pra mim? Eu nã o sei, só consigo me lembrar do seu doce beijo e de seu suave
toque sobre meu rosto, das suas mã os frias e deu sua pele clara molhada, seu
vestido molhado apertando seu corpo. Estou enlouquecendo, preciso vê -la
novamente, mas nã o posso ser pego ou deixar meus sentimentos por ela
explícitos, os fié is irã o perceber. De qualquer modo, todo esse sufoco irá
terminar. Decidi durante a noite que vou largar a igreja, vou me casar com
aquela mulher, farei de tudo por ela, darei o meu melhor para deixa-la feliz. Sei
que a conheço fazem poucos dias, mas já a amo mais do que amei meus
pró prios pais. Meu coraçã o está ardente, minha mente dominada, ela é tudo o
que quero.
23
Nesta manha tive uma certa divergê ncia. George voltou de repente, sua
volta foi inesperada, fico grato de nã o estar com Kira nesse momento, tudo
poderia ir a ladeira abaixo caso ela estivesse presente. George nã o aparentava
estar contente, tinha em seu rosto um olhar sério e testa franzida, me encarava
friamente, parado sobre o altar da igreja. – Bom dia Monsenhor. Nã o esperava
seu retorno, seja bem-vindo.
- Ainda bem que voltei, sempre serei bem vindo em meu pró prio lar,
com ou sem sua boas-vindas. – Disse ele em tom rude.
- Soube que o senhor nã o tem mantido a igreja aberta. Qual a razã o? – disse
ele ainda em tom rude.
- Ratos!
- Sim senhor, fiquei com medo dos ratos espalharem doenças para os
fiéis, sabemos que essas criaturas sã o portadoras de doenças. Só quis conter e
evitar uma serie de doenças.
- E onde estã o os ratos que você matou?
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Nesse momento me senti rendido, mas respirei fundo e respondi. – Eu os
queimei, longe da cidade, levei os corpos em uma caixa para a floresta e me desfiz
deles lá .
- Nã o senhor. Estou apenas exausto de ter que caçar ratos e de ter que
limpar o chã o sagrado da igreja de seu sangue sujo. – Respondi sem olhar em
seus olhos, fingindo exaustã o.
- Muito bem! – disse ele apó s uma longa e profunda respiraçã o. Fazendo
sim com a cabeça ele continuou. – Obrigado por me poupar trabalho,
certifique- se de que nã o tenham mais ratos aqui. E por favor mantenha isso
em total sigilo, nã o quero que as pessoas saiam comentando da minha má
manutençã o á casa de deus, ou da sua. Mesmo sendo estranho, nunca em
décadas encontrei se quer um rato aqui. Limpe a igreja, em trê s horas teremos
uma missa, e todos virã o. – disse ele se retirando do salã o.
- Quem?
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- Uma jovem moça loira, uma jovem bonita o senhor deve conhecer, a
que usa vestes brancas. – Respondi calmamente.
- Devo lembra-lo que está sobre meus comandos e que essa igreja ainda
é minha, e eu nã o permitirei que uma impura entre nesse solo sagrado
novamente. O senhor parece menos introvertido, notei uma grave mudança em
seu comportamento, devo lembrar-te qual é o seu lugar? – Disse ele olhando
fixamente em meus olhos me intimidando novamente.
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feliz e aliviado por vê -la. Logo me arrumei e sai pela janela sem fechá-la,
deixando uma frecha aberta para quando eu voltasse.
- Tudo bem. O importante é que está aqui. Obrigado por vir. – Respondi
abraçando-a mais uma vez.
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parecendo uma loucura em primeiras impressõ es. Eu a pedi em casamento ali
naquele momento, me declarei para ela de joelhos. Fiquei nervoso, tinha medo
de ser rejeitado, ou dela me achar louco. Mas ela me surpreendeu mais uma
vez. Ela aceitou. Sorriu para mim, me beijou e disse que sim a minha proposta.
Em breve eu largaria a igreja, em alguns dias eu pegaria todo meu dinheiro e
fugiria com ela para sempre, para bem longe, para um lugar tranquilo. Nos
casamos ali mesmo, dentro daquele galpã o, eu realizei nossa cerimonia. Dei até
uma aliança a ela, peguei um par que estava jogão no meio do ouro coletado da
cidade. Nos beijamos e nos abraçamos. Fizemos juras de amor e prometemos
fieldade um ao outro. Depois disso, saímos do galpã o e fomos para meu quarto
na igreja, dormimos juntos, e tivemos nossa primeira noite de amor.
Finalmente perdi a virgindade, e foi espetacular, mais uma vez indescritível.
Dormimos juntos naquela noite, dividindo a mesma coberta, a mesma cama,
ela deitada sobre meu peito enquanto minha mã o passeava sobre seu corpo.
Nos amamos até o sol nascer. A igreja estava fechada e a janela do meu quarto
estava tampada com uma cortina. Estamos em paz, e está vamos juntos. Isso é
mais do que eu mereço. Foi muito mais do que um desgraçado como meu
poderia ter um dia. Eu estava feliz e nunca senti tal felicidade, eu parecia ser
outro homem. Está vamos em paz e isso era tudo.”
MANHA SEGUINTE...
Eliézer e Kira acordaram num salto da cama. Era George, ele estava no
quarto e tinha pego os dois no Flagra.
- Ratos, hein? Achou que eu ia cair nessa. Eu nã o sou idiota. – Disse
George com um sorriso sá dico em seu rosto.
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Enquanto “Eli” e Kira tinham uma noite româ ntica, eles deixaram
escapar algo, cometeram um erro. Enquanto transitavam entre a igreja e o galpã o
ao breu da noite, eles nã o notaram uma grava falha em sua ideia em serem
discretos. Mary Curtis, a senhora que havia abordado Elié zer em sua chegada,
infelizmente acabou os vendo juntos, entrando e saindo do galpã o. Ela
estranhou ter visto o padre com aquela garota, garota na qual ela odiava e até a
acusava de bruxaria. De todas as pessoas da vila, Marry era quem mais odiava
Kira, e ela nã o fazia questã o de esconder isso. E ela os seguiu, e observou tudo
através de uma frecha na porta do galpã o. Os beijos, os abraços, a troca de
carinho e até o casó rio. Isso a deixou boquiaberta. E no silencio ela voltou para
sua casa e correu para sua escrivaninha, com a intençã o de escrever uma carta
para George, contando-lhe tudo que havia visto.
“Caro Monsenhor, aqui quem vos fala é sua velha amiga Marry. Escrevo essa carta
a você assustada e desesperada. Pois acabo de ver algo horrível, algo que nosso bom deus
jamais aprovaria, uma catástrofe, um absurdo. Pois bem... ultimamente venho notando
uma certa diferença no comportamento do nosso recém chegado padre Eliézer. Ele não
tem sido o mesmo nos últimos dias, ele não tem aberto a igreja, como já lê relatei na
minha carta anterior. Estou lê dizendo isso pela nossa amizade, e por nossa confiança
um no outro, e pelo bem maior da nossa comunidade.
Apó s escrever a carta, ela pagou para um barqueiro envia-la o mais rá pido
possível ate o Monsenhor. E antes do amanhecer ele já havia recebido, um
pouco espantado pelo horá rio da entrega, mas tudo se justificou quando ele leu
a carta, e dentro de sua cabeça tudo começou a fazer sentido, ele juntou as
peças do quebra cabeça e deduziu que Marry realmente nã o mentiu. Furioso
ele pegou parte de suas coisas e voltou com o mesmo barqueiro para seu
vilarejo. Quando chegou já era dia, ainda manhã . E antes de ir para igreja tirar
suas conclusõ es com “Eli”, ele convocou uma reuniã o com Marry, Augustos (um
fazendeiro local, lenhador e pescador, pai de família e um servo leal a George) e
també m alguns fazendeiros. Discutiram sobre dezenas de maneiras de punir
Kira e Eliézer pelo ocorrido. É bom lembrar que nesse horá rio, “Eli” e Kira ainda
estavam dormindo.
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Apó s muita discussã o George chegou a uma conclusã o. Ele havia tomado
uma decisã o, e estava na hora de colocar seu plano em pratica.
George riu de sua cara, era totalmente descrente de que ele cometeria
tal agressã o. – Guarde isso antes que se machuque, você nã o tem peito pra isso
Menino! – Afirmou George. E num salto de coragem e raiva, “Eli” levantou-se da
cama num pulo e enfiou a faca no ombro de George. Por um instante ele ficou
desacreditado no que acabou de fazer, nã o sabia que poderia chegar a tal
ponto. Uma sensaçã o de alivio e novidade tomou conta dele. E enquanto
George caia do chã o gritando de dor, ele correu para se vestir, e pegou um
pequeno baú de dinheiro no mesmo balcã o na qual tirou a faca e enfiou em um
saco, colocou a faca em seu bolso. Agarrou o braço de Kira e correu! - Vamos
embora daqui agora, o mais longe que pudermos. – disse ele enquanto saia da
igreja correndo juntamente de Kira.
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pá ssaro ou cã o de rua. Ele caminhou por todas as ruas, procurando por algué m,
gritando e chamando por Kira. Estava desesperado, temia o que poderia ter
acontecido a ela. Chorava e tremia de medo e desespero. Olhou nas
proximidades do lago e do galpã o, e nenhum sinal de Kira ou de qualquer
morador. Entã o foi quando ele decidiu explorar ao norte, pró ximo a floresta,
entre a fronteira e o milharal.
O vento ficava mais agressivo conforme o tempo passava, e uma
sensaçã o ruim crescia, ele se desesperava cada vez mais. Mas foi pró ximo ao
milharal, onde ele encontrou... encontrou uma grande arvore, cheia de galhos,
uma arvore seca. Ele nã o enxergava direito entã o se aproximou da arvore, ele via
uma sombra nela, como se estivesse balançando sobre os galhos.
Eliézer caiu no chã o, pois nã o sentia forças para se manter de pé. Seu
mundo havia acabado, uma parte dele havia morrido ali també m. Ele chorava
de soluçar, com o rosto no chão suspirando, se sentindo destruído e culpado.
Nã o conseguindo aceitar que nã o ouvira mais a doce voz de Kira, nem olhar em
seus olhos vivos, e ver seu belo sorriso novamente. Ele gritava e chorava, a dor
era o seu maior sentimento, ele estava destruído. Era como se sua vida
houvesse acabado també m.
A noite havia chegado e estava frio, e ele ainda permanecia caído sobre o
chão. Depois de muito tempo jogado ali, tentando aceitar o que havia
acontecido. Ele finalmente com muito esforço enxugou suas lagrimas e se
levantou. Caminhou em direçã o ao corpo exposto de sua amada, e abraçou as
pernas do cadá ver, pedindo desculpas, pois se sentia extremamente culpado por
sua morte. Depois de se lamentar ele subiu na arvore e cortou a corda que
segurava o cadá ver, ela estava a aproximadamente um metro e meio do chã o. E
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quando seu
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corpo caiu sobre o solo, ele desceu em um pulo e arrancou a flecha de seu peito
e abraçou seu corpo, que estava cada vez mais pá lido e sem cor. Ele ergueu o
corpo e o carregou em seus braços, chorando e soluçando, ele caminhou
lentamente com o corpo, de volta ao vilarejo, de volta a igreja.
Kira foi enforcada a mando de George que ficou bem apó s a facada. Esse
era seu plano, matá -la. Ela foi levada por Augustos e os outros fazendeiros
presentes na reuniã o. Sua intençã o inicial era queima-la, mas decidiu nã o o
fazer para que Elié zer pudesse ver. Kira implorou por misericó rdia antes de
morrer, pediu ajuda para o povo e ningué m lê deu ouvidos. Ela chorava de
desespero e gritava por misericó rdia. Seus gritos eram frequentes, ela quase ficou
sem voz de tanto implorar. George se irritou com os gritos de Kira e entã o
pediu para que Augustos atirasse uma flecha em seu peito, e ele o fez. Com uma
mira certeira e nem um pingo de misericó rdia, ele laçou uma flecha sobre seu
peito, com seu arpã o. Apó s a flecha atingir seu peito, George ordenou a
realizaçã o da forca, e enquanto o buraco da flecha a fazia sangrar, a corda a
sufocava. E o povo da vila, gritava e aplaudia tal desastre, a maioria creditava
que ela era uma bruxa, e nã o era de hoje que queriam a sua morte.
Enquanto Eliézer caminhava pela cidade, cada passo era como se ele
estivesse afundando, ele atravessou a cidade até a igreja chorando porem de
cabeça erguida, tudo que ele sentia por aquele povo era desprezo. Agora as
pessoas já estavam presente nas ruas. Antes todos estavam escondidos em suas
casas, esperando Eliézer encontrar o cadá ver, para se divertirem da cena que
seria quando ele a encontrasse. Passo a passo era uma crescente dor em seu peito,
sua mente estava pesada, ele nã o pensava em nada, apenas chorava e caminhava.
Subiu a escadaria da igreja e chegou na porta dela, ainda com o cadá ver de Kira
em seus braços. Ele entrou, colocou seu corpo sobre o altar e fechou a porta. Ele
estava sozinho, George nã o estava presente. Sabendo disso ele se sentia mais à
vontade. Caiu de joelhos sobre o corpo de Kira e uma grande cruz que havia no
altar.
- Deus! – Aclamou ele. – Eu sei que pequei, sei que cometi erros. Cometi
pecados imperdoá veis. Eu sei, eu sei. Mas eu imploro ao senhor, nã o faça ela
pegar pelos meus erros, pelos meus pecados. Ela era tã o linda, tã o jovem, tã o
contente e cheia de vida, ela era uma pessoa maravilhosa. Ela nã o merece isso.
Eu passei minha vida toda servindo ao senhor, e posso passar o resto dela lê
servindo, sem hesitar, sem reclamar. Eu posso! Mas por favor, nã o a deixe
assim, ela não merece... ela... nã o ela, puna a mim, me leve, me castigue pelos
meus erros, nã o a deixe pegar pelos meus pecados. – Disse ele chorando,
rezando e olhando profundamente para a imagem de cristo sobre a cruz.
- Por que? – Gritou ele. – Tudo que eu fiz foi servir ao senhor. Minha vida
toda. Larguei tudo para servi-lo, te amei, te venerei, VOCÊ ME TRAIU! – Gritou
ele apontando sobre a cruz caída no chã o. – Ela nã o merecia isso, ela era inocente,
nã o era uma bruxa, ela já passou por tanto, depois de tudo, VOCÊ A DEIXOU
MORRER! Eu renuncio meus votos, eu te renuncio.
Na hora “Eli” reconheceu o homem, ele já tinha visto esses olhos antes. Ele
se assustou, ficou surpreso e em choque. E de repente uma arvore que estava um
pouco a frente de Eliézer, ao lado entre os dois começou a pegar fogo. E o fogo
iluminou o rosto do homem. Era ele, o mesmo homem que havia aparecido para
“Eli” quando criança, o mesmo homem assustador que o aterrorizou lê
encarando pela janela de seu quarto quando criança. Esse homem apareceu na
noite em que “Eli” questionou deus e agora ele reaparece na noite em que ele
nega deus. Isso ficou na mente de Eliézer, por um segundo bateu arrependimento
por sua atitude mais cedo em relaçã o a cristo.
O homem era muito alto, tinha entorno de dois metros e trinta de altura,
usava um roupã o cinca, tinha olhos vermelhos como o fogo, nã o tinha cabelos e
era extremamente alto. Sua pele era acinzentada e pá lida, nã o possuía nenhum
tipo de pelo, tinha uma olheira escura e profunda, sua mã o era estranha, seus
dedos eram o dobro do tamanho de um dedo normal, e nã o tinha unhas, sua
mandíbula era enorme e chegava a alcançar o peito, tinha em sua boca um sorriso
assustador e constante e sua língua era presta, e seu rosto era extremamente fino
e esticado.
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eu ofereci minha vida em troca disso, eu ofereci servidã o eterna. Ele nã o me
ouviu, ele nã o me ajudou. Eu nunca pedi nada a ele, e ele me ignorou. – Disse
Eliézer chorando sobre o corpo de Kira.
- Nã o será fá cil... eu posso liberta-la. Mas em troca você vai me dar seu
ó rgã o mais precioso, me dera seu coraçã o. E assim... tendo seu coraçã o, terei
sua vida e morte, esses sã o meus termos. – disse o homem ainda mais
sorridente. Eliézer respirou fundo e olhou para Kira. – Ela vale a pena? Estaria
disposto? – perguntou o homem.
Apó s retirar o coraçã o de seu peito, ele esticou seu braço e o ofereceu para
o homem, nã o conseguia olhar para o homem ou para seu coraçã o, por dentro ele
estava tã o morto quanto ela. O homem pegou o coraçã o da mã o de Eliézer e
soltou o corpo de Kira no chã o, que se desfez em chamas. O homem olhou
atentamente para o coraçã o e o guardou dentro de sua veste. – O que
aconteceu com ela? Cadê ela? – Perguntou Eliézer. – Eu a libertei. Ela está livre
do inferno agora, pelo menos paz a alma dela terá . – respondeu o homem
sadicamente. – Nã o! você prometeu a trazer de volta. – respondeu “Eli”
revoltado. – Nã o... o acordo era liberta-la, ela está livre do inferno, por enquanto...
Vai ser interessante!
– disse o homem. E subsequentemente a arvore que estava em chamas de repente
apagou-se, e o homem desapareceu como um flash de luz. E a floresta voltou a
ser um breu. Eliézer sem saber o que fazer, caiu no chã o e começou a gargalhar,
ele havia perdido Kira e agora perdeu a si mesmo. Deus nã o pode trazer os
mortos de volta a vida, mas o demô nio é um ser traiçoeiro, ele engana e retira
tudo o que você tem, e você assina por isso.
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RELATOS, MONSENHOR GEORGE THEODOPOLIS
“Ontem a noite apó s a libertaçã o, pedi para que os fieis fossem para suas
casas e rezassem, e agradecessem, está vamos livres de uma bruxa. O mau que
antes seduzia a mente dos homens e os atraia com seu corpo amaldiçoado,
agora já nã o vive entre nó s. Foi a decisã o certa a se tomar, nã o me arrependo.
já recebi vá rios dos meus fiéis para confissã o relatando terem relaçõ es com
aquela bruxa, o quã o fracos eles foram por nã o resistirem ao seu corpo, de como
ela sorria para eles e dizia coisas obscenas em seus ouvidos, como ela os
enfeitiçava, e os levavam a cometer adultério. Nossas pobres fieis choravam,
pois, seus homens as deixavam durante a noite e iam de encontro a bruxa. Mas
agora estamos livres, e Eliézer estará também. Logo ele verá que estava sobre
feitiços e tentaçõ es satâ nicas, enviadas pelo pró prio demô nio para testar sua
fé. Ele vencera a tentaçã o, voltara para mim e agradecera, ele irá pedir perdã o de
joelhos aos meus pés, eu tenho certeza. Vivemos sobre cegueira, e de nossa
cegueira o demô nio se ponderou, e tirou a paz de meu bom povo. Sinto muito
por Eliézer ter sido a vitima desse demô nio, uma pessoa aparentemente tão
sabia, um rapaz interessante e obediente, eu o admirava muito, ele tinha algo
especial, atraentemente inteligente, mas infelizmente ele foi o escolhido e logo
ele será curado.
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misericó rdia e perdã o, outros gritavam de desespero e tinha até um grande grupo
de mulheres rezando. Estranhei muito aquela situaçã o toda. Levei um grande
susto, uma jovem agarrou minha mã o e se ajoelhou em minha frente e pediu
perdã o aos seus pecados e que queria se confessar antes que fosse tarde.
- É o fim dos tempos padre. Me salva, eu nã o quero ir para o inferno, eu
nã o quero ir para o inferno. – Implorou a jovem assustada.
Na hora, por alguns segundos fiquei sem chã o. Aquilo nã o pode ser
verdade, o reló gio dele deve estar atrasado, eles estã o malucos. Sem pensar
muito, corri para dentro da igreja, lá haviam dois reló gios, o do grande salã o e
o meu reló gio de bolso no qual havia deixado em minha cama. Subi as
escadarias correndo, numa velocidade na qual nã o sabia como consegui
atingir. Abri as portas da igreja rapidamente e entrei, corri em direçã o ao
reló gio do salã o e me assustei quando lá marcava dez horas e seis minutos da
manhã . Fiquei desesperado, corri para meu quarto olhar o meu outro reló gio,
ainda na esperança daquilo nã o passar de um grande engano. E cai em
lagrimas de desespero e medo quando vi que em meu reló gio també m marcava
dez e seis. Quando a noite caiu sobre nó s, ela permaneceu, eram dez da manhã
e o sol nã o havia saído. Entramos ao cair da noite, estamos amaldiçoados!
Fiquei jogado aos pés de minha cama por minutos, chorei desesperado,
confesso ter morrido de medo e o desespero tomou conta de minha mente, sem
ter o que fazer recorri a deus, peguei meu terço e rezei de cabeça baixa e olhos
fechados. Estava quase terminando quando fui interrompido, o jovem Ben
havia entrado em meu quarto. – Padre as pessoas precisam de você, você é a
esperança delas. – disse o jovem Ben desesperado, falando com voz de cansaço
como se estivesse acabado de correr. Ben era um menino especial, o conheço
desde o dia em que nasceu, realizei seu batismo e o vi crescer, confesso ter um
carinho especial por esse garoto, ele é um bom rapaz que acabas de se tornar
um guarda, um dos mais eficientes policiais do nosso vilarejo. Quando
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pequeno foi meu
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ajudante na igreja, passava horas comigo, ele fazia o que Elié zer fazia no início,
me ajudava, eu sempre o presenteava por seus serviços, ele fazia favores especiais
a mim, favores que ninguém mais fazia, obviamente a bené fico de nosso
senhor. Eu já nã o o via a dias, ele recentemente havia se casado com Annie da
família dos Mories, uma menina inadequada para ele em minha opiniã o, mas
ele a escolheu e realizei o casó rio. Quando fui interrompido fiquei zangado,
porem me acalmei quando vi que se tratava de Ben. – Meu filho que bom te ver,
fico confortado em te ver nesse cená rio horrível que nos encontramos. – disse
a ele. – Padre, vamos! Temos que acalmar as pessoas, tem fieis cogitando
suicídio, o senhor nã o pode permitir isso! – Disse Ben em voz de choro. – Claro
meu filho, vamos. Vamos colocar as pessoas em conforto. – Respondi já me
levantando e me preparando.
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pegou sua bíblia e seu terço e começou a rezar ali mesmo, pedindo para Deus
remover aquela má sensaçã o que lê incomodava.
Marry chorava e gemia, nã o tinha forças para gritar por ajuda, ou para sair
correndo de casa, ela estava em choque, e aquela coisa estava lê observando.
Ela se tremia de medo, e foi quando ela ouviu sussurros da “coisa” que estava
lá . “Qual seu pecado?” – perguntou a coisa, sussurrando em seu ouvido. Ela nã o
conseguiu ver o que era, nã o tirou a mã o de seu rosto, nã o conseguia, nã o tinha
coragem de encarar o que estava lá . – Meu deus! – foi a ú nica coisa que Marry
conseguiu falar naquele estado de choque. Seu coração batia tã o rá pido e seu
desespero era tã o grande que sentia dificuldades em respirar, e tudo isso se
multiplicou quando ela sentiu que aquela coisa havia colocado sua mã o em
seus ombros. E puxou sua mã o se seu rosto, a obrigando ver seu resto. Marry
suspirava de medo ao encarar tal coisa, ela tremia e suava frio, e lamentou por
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aquele rosto ter sido a ultima coisa que viu, seguido de uma sombra crescente
atrá s da mesma criatura.
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- O senhor acredita que ele fez isso? Olhe para ela. Ele nã o tem força
para fazer isso, meu filho de quinze anos tem mais força do que ele. –
Questionou o mesmo guarda.
- Ele está certo. Ele está com raiva, e quer acabar com a gente. Marry estava
sozinha e ele aproveitou dela que já é velha e fraca. Ele é um covarde. –
Afirmou o outro guarda presente.
- Exatamente! – Afirmei.
- Vamos contar para as pessoas o que aconteceu aqui, eles devem ficar
atentas com ele, ele é perigoso! – Disse o mesmo guarda.
E assim foi feito, a morte de Marry virou noticia em poucas horas, houve
um enterro digno, porem seu caixã o foi fechado, nã o queria que ningué m visse
o que vimos. E as noticias de que Eliézer foi quem a matou também se
espalharam, e as pessoas direcionaram seu ó dio para ele. E isso meio que
tomou conta da cabeça das pessoas, elas estavam ocupadas odiando Elié zer,
que nem se perguntavam mais qual a origem da escuridã o que caiu sobre nó s.
E desde entã o varias medidas foram tomadas para manter a cidade ativa;
tochas eram ascendidas e fincadas ao chã o para iluminar a cidade, tinha uma
tocha a cada dois metros de distâ ncia em ambos os lados das ruas, era proibido
andar sozinho, e ir para longe de locais movimentados. A igreja servia de abrigo
para as crianças enquanto seus pais trabalhavam. Uma grande fogueira foi feita
para iluminar em torno da igreja, agora o local mais seguro da cidade. A
fogueira ficava abaixo da escadaria um pouco ao lado esquerdo, ela era tão
grande que poderia ser vista acima das montanhas. Os guardas rondavam o
vilarejo inú meras vezes, revistando e procurando Eliézer. Respeitá vamos os
horá rios como era feito antes da escuridã o. Dezenas de fazendeiros e guardas
saiam em grupos para caçar Elié zer por toda a redondeza em suas horas vagas.
As coisas estavam diferentes, mas nã o paramos com nossas vidas, e eu me
pergunto toda hora, se Eliézer for pego, para onde irei direcionar a atençã o do
povo para que ignorem a escuridã o que tomou nossa cidade? E até quando
essa escuridã o permanecerá ?
Naquela noite ele se encontrava sozinho em sua casa com sua família,
sua esposa Lola e seu casal de filhos: Gina de dez anos e Thimote de nove. Sua
esposa lê preparava o jantar, e ele aguardava sentado na cadeira sobre a mesa,
com seu machado mã os, e seu arpã o sobre a mesa, mesmo arpã o que usou para
matar Kira. Ele nã o andava sem seu machado, estava crente de que ia pegar
Eliézer e mata-lo com ele, queria arrancar sua cabeça e entregar a George. Seus
filhos estavam sentados ao seu lado na mesa, um em cada cadeira, as crianças
estavam assustadas com toda situaçã o, assim como sua esposa Lola.
- Lola! Tenho fome, preciso comer logo, tem como andar mais de pressa?
– Perguntou Augustos com tom opressor e agressivo.
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- Logo estará pronto querido, em menos de dez minutos. – disse Lola
enquanto cozinhava a carne para Augustos. Lola entã o se afastou de seu fogã o
à lenha e sentou-se ao lado de Augustos. Lola temia muito seu marido, tinha
medo da agressividade e de sua brutalidade, ela fazia de tudo para ser gentil
com ele, e evitar ao má ximo irrita-lo, e com muito esforço ela falou. – Querido?
- Sou eternamente grata por ter você ao meu lado, sinto-me segura com
você, mas será que nã o podemos ir para a igreja onde há mais pessoas, ou para
casa de alguns vizinhos que moram mais pró ximo dela? Moramos tã o longe da
igreja, e as casas do lado estã o vazias, todos foram para mais pró ximo da igreja e
do galpã o. Podemos ir? – Disse Lola tremendo de medo da reaçã o de seu marido.
- Claro. Mas... você nã o tem medo do que está acontecendo? Esse lugar
está amaldiçoado, a escuridã o tomou conta desse lugar, as pessoas estã o
morrendo. Acabaram de achar todos os animais mortos, Duke está lá também,
nosso cachorro está lá , o seu cachorro! Aquele pobre padre nã o fez isso, ele nã o
fez, nã o tem como ser ele. A pobre Marry... meu deus, ela está morta. Ela os
entregou para morte e agora ela morreu, eu tenho medo do que possa acontecer
com você! Você matou aquela menina, você atirou uma flecha sobre seu peito, eu
olhei nos olhos dela e a vi morrer, sofrer! Se ela for uma bruxa... ela causou tudo
isso, ela nos amaldiçoou com a noite, ele matou a Marry e nossos animais, e o
espirito dela vai voltar e matar você pelo que fez a el... – disse Lola com voz de
choro assustada, ate ser interrompida por Augustos que se zangou com que
ouviu e lê esmurrou o rosto, que fez com que a pobre mulher ciasse no chã o. E
com isso as crianças começaram a chorar.
- Olha o que você fez! Você está assustando meus filhos com essa
histó ria de espíritos. Isso nã o existe! Eu matei aquela vadia com uma flecha em
seu peito, ela nã o voltou dos mortos. Foi aquele maldito padre! Aquele
miserá vel covarde. Eu vou mata-lo e colocar sua cabeça em uma estaca para
que todos possam ver! Eu vou vingar a pobre Marry, vou vingar meus dois
amigos desaparecidos na floresta e vou vingar Duke! Ele vai implorar quando
eu o encontrar. – Gritou Augustos raivoso serrando os dentes e apontando
para Lola.
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como uma sombra de calor, em forma humanoide, só que a sombra estava
sobre a casa também. “Qual o seu pecado?” sussurrou a sombra. – Vá para o
inferno! – Gritou Augustos em resposta que tentou golpear a sombra com seu
machado, falhando miseravelmente ao ver o machado atravessar a forma como
ela nem estivesse lá . Assim a sombra se desfez da forma humanoide e se
espalhou atrá s de Augustos, o jogando violentamente sobre a parede.
Assustadoramente Augustos começou a levitar sobre a parede na qual foi
arremessado, e chegou ao teto, nã o havia ninguém o levantando, apenas a
sombra atrá s dele na parede. E seus ossos começaram a se quebrar, como se
alguém os estivesse torcendo, dedo a dedo, braço a braço, perna a perna,
Augustos urrava de dor, gritava, quando se deu conta todos os ossos estavam
revirados, seus pé s estavam para trá s, sua perna de lado, seu braço retorcido. A
dor era insuportá vel, e tudo isso aconteceu em segundos, e sua família assistia
a tudo, as crianças gritavam e choravam e Lola estava em choque, só conseguia
gemer e chorar.
Agora Augustos estava sozinho com seja lá o que for, ele se sentia mais
sufocado a cada segundo que passava. Ela sabia que ia morrer, mas pelo menos
seus filhos estavam a salvo, e isso o tranquilizou. E quando ele já estava ficando
sem ar, de repente o arpã o que estava jogado na mesa, mirado na direçã o da
porta, virou-se em sua direçã o e disparou uma fecha em seu pescoço, que o
matou logo em seguida.
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Nesse momento todos que já estavam assustados, agora estã o
desesperados. George ficou sem reaçõ es, ele estava morrendo de medo e já nã o
conseguia mais esconder isso. – É ela! você a matou! Despertou sua ira sobre nó s,
agora ela quer vingança! Você nos condenou, olha o que você fez! Deveria ter
deixado ela ir embora com ele. – gritou uma fiel aleató ria apontando para George.
George ficou sem reaçã o, nã o sabia o que dizer, no fundo ele sabia que isso era
verdade. Ficou em silencio e olhou ao redor da igreja. E ele viu a falta de
esperança nas pessoas, a falta de fé , ninguém acreditara mais nele, todos o
odeiam agora.
- Reú nam todos. Vamos até a casa de Augustos, ele pode estar vivo e
precisando de ajuda. – Disse George em voz alta, sem ter o que fazer.
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E me arrependo profundamente. Meus olhos doem, mas nã o consigo fecha-los
de medo.
Voltei para igreja de cabeça baixa, mas no caminho algo aconteceu, o céu
começou a relampejar, raios surgiam entre as nuvens e parecia armar chuva. Mas
nã o foi só isso, pró ximo a escadaria da igreja, um corvo desceu e pousou na
minha frente, aquele bicho me encarou nos olhos e gritou para mim. E quando
um corvo grita pra você, te encarrando nos olhos, é sinal de morte. Apó s me
encarar e gritar ele pulou e voo em direçã o da igreja, levantei a cabeça para ver
onde ele ia, quando me deparei com uma visã o assustadora. Uma trilha que
levava até as escadarias da minha igreja. Todos os soldados que haviam ficado,
estavam empalados em fileira, todos eles estavam mortos. As pessoas que
vinham logo atrá s entraram em desespero e começaram a gritar e chorar, era só
o que faziam nos ú ltimos dias. Eu nã o fiquei muito surpreso, tudo o que viesse
dali pra frente talvez já nã o me impressionasse mais. Segui a fileira e o ultimo
empalado parava de frente ao primeiro degrau da escadaria. Todos os guardas
mortos, pais de família, filhos amados, nã o derramei se quer uma lagrima por
eles, até que vi o ultimo deles. Era Ben, meu querido Ben. Todos os guardas
estavam com as mandíbulas quebradas assim como Marry, e com as estacas
atravessadas entre o anus e a boca. Mas Ben... ele estava com a mandíbula
perfeita, mas sem os olhos. Sem aqueles lindos olhos daquele doce garoto. Nã o
encarei muito, derramei lagrimas e subi as escadarias até a igreja, e nã o me virei,
só escutei Annie chorando sobre o corpo de Ben.
Entrei fechei as portas e chorei e rezei aos pés da cruz, implorei por perdã o
e misericó rdia, confessei meus pecados, quase todos eles. Fiquei de joelhos a
cristo e lê pedi perdã o, espero que ele me perdoe por todo que fiz. Espero que me
perdoe por matá -la, por roubar do povo e de te feito coisas ruins em nome
dele. Confessei tudo em voz alta, as pessoas ouviram e eu nã o me importei, eu
ia morrer e tudo que eu queria é perdã o.
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Quando terminei minha confissã o, me levantei, enxuguei as lagrimas e
olhei para trá s e vi que todos estavam me olhando, todo mundo havia entrado
em silencio, estavam me observando e ouvindo meus pecados. Tomei coragem e
olhei nos olhos deles e vi, expressõ es de nojo, ó dio, raiva, desespero. Nã o sabia o
que fazer. Respirei fundo e disse. - Eu sinto muito. – E isso foi o má ximo que
minha boca conseguiu soltar. Fiquei parado vendo todos me olharem. Foram
segundos de silencio constrangedores para mim. Mas um deles, a fazendeira
Helen veio até o altar e começou a falar.
- Nã o importa. Você errou padre e irá acertar com Deus um dia. Mas
agora... agora temos que ir embora. Já perdemos muita gente, e seja lá quem for
ou o que está nos matando, nã o vai parar. Então temos que ir embora daqui.
Temos que tirar nossos guardas de lá , enterrá -los e nos preparar. Vamos para o
galpã o hoje, ficaremos lá , todos juntos, tem comida para alguns dias, tem moedas
lá e lugar para fazermos fogo para nos aquecermos, vamos sobreviver, mas temos
que ficar juntos, todos juntos. E amanha depois que estivermos preparados,
vamos caminhar até a pró xima cidade, vamos pela ponte... eu sei que a cidade
mais pró xima por esse caminho é dois dias de viagem. Mas qualquer lugar é
melhor que aqui, e eu prefiro arriscar lá fora do que passar mais um dia aqui.
Eu nã o sei vocês, mas eu vou, quem quiser ir é muito bem-vindo. Mas quem
quiser esperar aqui para morrer, apenas lamento. – Assim discursou Helen. E
notei que ela encorajou a populaçã o, a ultima esperança veio dela. E foi aí que
percebi, eu nã o sou escolhido de Deus, isso era uma obsessã o em minha
cabeça.
Todos seguiam Helen agora, e eles fizeram o que ela propô s, eles saíram
da igreja e foram enterrar os guardas. Os acompanhei até a porta e fechei, e a
tranquei. Nã o posso ir com eles, meu lugar é aqui! Estou aqui escrevendo isso
há duas horas e nã o vi mais ninguém. Ninguém bateu naquela porta, estã o
todos no galpã o julgo eu. Estou sozinho, e escrevo isso pois nã o sei o meu destino.
Deixarei essas anotaçõ es em cima da mesa no altar, junto de outras folhas em
branco, caso eu sobreviva. Espero que algué m encontre isso um dia. Adeus!”
George fez o que falou em seus relatos, deixou os papeis em cima da mesa
no altar, e depois disso ajoelhou-se novamente sobre a cruz e deu inicio as suas
oraçõ es. Duas horas depois, ele ainda se encontrava rezando, mas um vento forte
soprou sobre as janelas, na qual as abriu, o vento era muito gelado, e ele sabia
que sua hora estava chegando. O vento soprou e soprou friamente, mas ele parou
de repente e as janelas se fecharam. O ar já nã o estava tã o frio, e George escutou
o som de dois passos.
- Eu sei que está ai! – Disse George. – Me arrependo do que fiz, nã o quis
provocar sua fú ria, só queria que você morresse e deixasse o pobre padre em paz,
me desculpa Kira. – Lamentou George, ainda sem olhar para trá s para encara-
la.
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- Eu nã o sou Kira! – Respondeu a coisa.
Ele estava parado na frente da porta da igreja, olhando para George que
estava caído no chã o, em choque e desesperado, tremendo e gemendo.
- Olha o que você fez comigo! – Disse Eliézer apontando para si.
- Você fez! Eu nunca fui feliz, eu nunca tive nada, ela era tudo pra mim,
ela era perfeita, ela era boa, ela me amou. Ninguém amou! Eu a amei, você a
tirou de mim – gritou Eliézer em voz de choro, derrubando lagrimas negras.
- Me perdoe por favor! Eu me arrependo do que fiz. – Implorou George.
- Se arrepende? Íamos ser felizes, ela só queria viver, ela amava a vida e
você a tirou dela, você a matou da maneira em que mais teme morrer, sem
misericó rdia. Íamos embora daqui juntos, viver juntos, ter filhos. Você tirou
tudo de nó s. – Gritou Eliézer ainda derramando lagrimas negras ainda mais
intensas.
- Me desculpa, me desculpa! – Implorava George soluçando de chorar.
- Eu... Ben... meu maior pecado foi Ben! – Respondeu George com muita
dificuldade. Esse pecado ele jamais confessou a ninguém, nem mesmo para deus.
E depois de ter visto Ben morto, ele sentiu a culpa e resolveu se confessar.
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Eliézer estava finalmente cara a cara com George, ele o agarrou pelos
braços e o aproximou de seu rosto. – Olha nos meus olhos, veja como é o
inferno.
– Gritou Elié zer. Mas George nã o conseguia olhar, ele virava o rosto e nã o
encarava. Ele sabia que era o culpado por tudo isso.
Enquanto Elié zer o segurava pelos braços, duas correntes quebraram o
vidro da janela, e entraram para dentro, elas corriam como se tivessem vida
pró pria, rastejando pelo chão, até chegarem neles. As correntes se agarraram
no pescoço de George e se apertaram, George começou a sufocar, e as
correntes subiam com ele, Eliézer largou de seus braços e elas voaram ate o
teto da igreja, se prendendo lá , e George subiu junto, ele estava a três metros
do chã o, e se contorcia conforme ia perdendo ar, ele resistiu bastante como da
primeira vez. Porém nã o aguentou, e morreu enforcado por correntes em uma
igreja, morreu da maneira que mais temia. E ficou balançando no ar por
minutos.
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Mas tudo piorou quando o fogo cobriu o teto do galpã o que era madeira.
As pessoas estavam tã o desesperadas em sair, que esqueceram das latas de ó leo
que tinham ali. O teto estava sobre chamas, e logo começou a chover pedaços de
madeira em chamas, as vezes pedaços pequenos, as vezes grandes toras. Quem
nã o morria pela força do impacto, morria pelo fogo que se espalhava. E um
pedaço de madeira do teto, logo caiu sobre esse barril de ó leo, o derramando no
chã o e o espalhando, e consequentemente aumentando o fogo. O fogo estava no
lado de fora e agora dentro, em poucos minutos o teto inteiro desabou sobre os
que restavam. E os destroços, a fumaça e o fogo mataram todos ali, sem deixar
um sobrevivente se quer. Toda criança, idoso, homem ou mulher que habitava
aquela vila, havia morrido, e ninguém sobreviveu para contar a histó ria. quando
todos já estavam mortos e boa parte do lugar havia se desfeito, o fim da
madrugada chegou trazendo a manhã . A escuridã o deixou aquele lugar e um
lindo nascer do sol surgiu.
Joshua assustado entrou para ver se tinha mais mortos ou algo assim, e
felizmente nã o achou nenhum. Apenas papeis em cima da mesa no altar. Uma
pilha assinada por George Theodopolis e uma carta fincada na mesa por uma
faca. Joshua pegou a pilha de George e as guardou em seu bolso. Já a carta, ele
removeu a faca, e a leu. E nela dizia:
“Eu pequei! Trai a deus, desapontei meus familiares, não cumpri minhas
obrigações de sacerdote.
Ela era perfeita, nunca vi ninguém assim antes. Seus olhos eram extremamente
expressivos, existe chamas em seu olhar. Seus cabelos possuem vida própria, seus lábios
são vermelhos como o sangue. Sua voz é encantadora, se assemelha ao cantar de anjos,
seu toque era leve e suave como rosas. Não resisti a tanta perfeição, pequei contra meus
princípios. Eu nunca me senti tão livre! Nunca me senti tão... completo e cheio de vida,
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meu peito queimava, algo me tocava por dentro, uma sensação indescritível, era tudo tão
perfeito que não parecia real.
Minha vida sempre foi resumida a um mar de cinzas, meu trabalho e dever me
consumia, servir a deus era meu único propósito, meu único caminho, meu destino.
Obrigado a ser o que sou, minha vida era infeliz e minha existência uma questão. E por
alguns dias eu pude saber o que é viver, o que era ser livre, o que era amar e ser amado,
mas tudo isso se foi quando eu vi o demônio! Eu a perdi, ela foi tirada de mim, ela foi
julgada por coisas que não fez. Eles a tiraram de mim e eu me vinguei. Eles a mataram,
a fizeram sofrer, ela era o amor da minha vida e agora ela se foi. O demônio veio até mim
e me prometeu liberta-la, em troca ele queria minha alma e meu coração e eu o dei, sem
pensar duas vezes, pensei que ele a traria de volta. Mas fui enganado, me tornei um de
seus discípulos, estou condenado a imortalidade, e tenho que matar por ele, para poupa-
la. Eu matei todos desse lugar maldito. Esse lugar me pertence agora!
Não estou preso a esse lugar, posso caminhar pelo mundo inteiro, tudo que
preciso é dar a ele uma nova alma todo dia. Todos os dias devo matar alguém, todos os
dias ando por aí, escolho alguém por seus pecados e dou a ele sua alma. Não adianta se
esconder ou correr, se eu te escolher você vai morrer!”
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