2017 - Zunguze - Henrique Pedro
2017 - Zunguze - Henrique Pedro
2017 - Zunguze - Henrique Pedro
FACULDADE DE DIREITO
DEDICATÓRIA ………………………………………………………………………..……….. II
AGRADECIMENTOS……………………………………………………….………………… III
EPÍGRAFE………………………………………………………………………………...…… IV
RESUMO ………………………………………………………...………………………….. VI
ABSTRACT ……………………………………………………………………………...…… VII
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 8
1. OBJECTO................................................................................................................................... 8
2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA................................................................................................. 8
5. JUSTIFICATIVA DO TEMA.................................................................................................... 10
6. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 12
CAPÍTULO I ................................................................................................................................ 14
CAPITULO II ............................................................................................................................... 21
Legislação.................................................................................................................................. 42
Nacional ................................................................................................................................. 42
Internacional .............................................................................................................................. 42
Portugal .................................................................................................................................. 43
Brasil ...................................................................................................................................... 43
Manuais ................................................................................................................................. 43
I
DECLARAÇÃO DE AUTENTICIDADE
Eu, Henrique Pedro Zunguze, declaro por minha honra que o presente trabalho é fruto da
minha pesquisa, foi elaborado em conformidade com o Regulamento vigente na Faculdade de
Direito da Universidade Eduardo Mondlane, e que nunca foi apresentado em nenhuma
Instituição de ensino para a obtenção de qualquer grau académico, muito menos submetido à
qualquer avaliação curricular, constituindo, portanto, resultado da minha investigação, cujas
referências dão a indicação das fontes por mim utilizadas para a sua elaboração.
II
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à memória da minha mãe, ao meu pai, aos meus irmãos pelo apoio tanto
moral como material. Dedico, ainda, aos meus docentes do curso de Direito e aos colegas de
turma do ano 2012, estes sim, foram, ao longo de todo período de formação, uma fonte de
inspiração, aos funcionários da Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo
Mondlane pelo serviço excelente e à Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane.
III
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus, pois o esforço é necessário e inelutável, mas a força divina complementa-o,
aos meus pais, irmãos pelo apoio material e moral, que me deram para que eu chegasse até aqui,
aos meus familiares e, de modo especial, ao meu orientador pela ajuda incansável e pela
disposição que ofereceu desde o início deste trabalho, amigos pelo apoio moral e a todos que,
directa ou indirectamente, contribuíram para que este sonho se tornasse uma realidade.
IV
EPÍGRAFE
(Albert Einstein)
V
LISTA DE ABREVIATURAS
al. - Alínea
Art. - Artigo
Art.(s) - Artigo(s)
BR - Boletim da República
Cfr - Conferir
cit - Citada
CIRE - Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (Portugal)
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho (Brasil)
CPC - Código de Processo Civil
CRM - Constituição da República de Moçambique (2004)
CT - Código do Trabalho (Portugal)
DL - Decreto-Lei (Decreto-Lei n.º 1/2013, de 4 de Junho), que aprova o Regime
Jurídico de Insolvência e de Recuperação de Empresários Comerciais)
ed. - Edição
et al - E outros
Ibid - Ibidem (mesma, mesmo obra, mesma página)
Id. - Idem (mesma obra, mesmo autor)
LT - Lei do Trabalho (Lei de Trabalho aprovada pela Lei nº 23/2007 de 1 de
Agosto, publicada no BR, I série, n.º 31, de 1 de Agosto de 2007)
n.o(s) - Número (s)
Ob. - Obra
p (p) - Página(s)
vd - Vide (ver)
v.g - Verbi gratia (por exemplo
Sec. - Século
VI
RESUMO
ABSTRACT
This work is about “the repartition of worker’s responsibility in relation to his post of work in
case of the company shuts down. Here are discussed the general questions about work in law
and, after, in particular, the most substantial questions about the measures to be taken in the case
of company crisis by the employer to “save” more posts of work. It is underlined that the
legislator doesn’t make direct reference to the company crisis in order to share the risk. For that,
it is important to go through the law and make careful analysis about what has been established
in the level of the law of the country. But it is also our duty to look at the compared law
analyzing the principal aspects related to the theme alone mentioned such as the suspension of
the of the contract and the reduction of service selling, timetable compensation. These measures
are also in law n.o 1/2013 of 4th July which brings up the judicial regime of insolvency and of
recovering commercial company owners in the present law of work.
INTRODUÇÃO
1. OBJECTO
A dinâmica sócio-económica, conjugando-se com os factores globais, que se têm verificado nos
dias que correm, ditam novas soluções para os problemas com que nos deparamos e, por isso,
impõem uma nova abordagem e uma nova perspectiva do Direito do Trabalho.
No que tange à esfera do Direito do Trabalho, é mister dar a conhecer e sobrevoar, em primeiro
lugar, os aspectos gerais do Direito do Trabalho, pois a nossa pesquisa insere-se nesta área do
Direito, e, igualmente, trazer à colação a evolução do Direito do Trabalho em Moçambique dar a
noção de falência nesta área, sendo que estes e outros aspectos serão avançados no contexto da
justificativa do tema, objecto do trabalho, que se pretende desenvolver.
2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Até aqui, do que foi exposto, ressaltam-nos dúvidas que encerram a problemática a que
pretendemos dar respostas, desde logo, colocam-se os seguintes questionamentos:
Será que a entidade empregadora é a única responsável por evitar a falência da empresa?
Como é que o trabalhador pode ter quota-parte na contribuição em relação ao seu posto de
trabalho em caso de falência?
9
O que estabelece a lei quanto à repartição da responsabilidade do trabalhador em relação ao seu
posto de trabalho em caso de falência?
3. OBJECTIVOS
É imperioso que, em todas as vezes que se lançar mão sobre um estudo, indicar alguns
objectivos. Destarte, quanto ao tema proposto, neste trabalho de fim curso indicam-se os
seguintes objectivos:
São objectivos específicos do trabalho que se pretende desenvolver a partir do presente trabalho
do fim do curso, nomeadamente os seguintes:
4. DELIMITAÇÃO DO TEMA
5. JUSTIFICATIVA DO TEMA
Para a escolha deste tema concorreram razões de ordem objectiva e subjectiva. Quanto a ordem
objectiva, percebe-se que a dinâmica sócio-económica nem sempre tem sido a favor das
empresas e isto impõe aos gestores das empresas a adopção de novas medidas menos radicais de
modo a salvaguardar os interesses da empresa e a consequente continuidade no desenvolvimento
das suas actividades. A superação da crise económico-financeira suportada pelas empresas, com
11
Por outro lado, percebe-se que olhando para o lado do trabalhador, há uma grande preocupação
na medida em que uma das soluções que se tem dado quanto às crises que assolam as empresas,
é a diminuição dos trabalhadores ou seja, as empresas optam muitas vezes pelo despedimento
dos trabalhadores. Todavia, torna-se imperioso, pertinente e oportuno discutir novas formas de
solucionar estes problemas, que sejam sustentáveis e menos lesivas tanto para o trabalhador
como para a própria entidade empregadora. Portanto, ambas as partes têm responsabilidades para
evitar a bancarrota da empresa.
Na óptica subjectiva, indo para o lado do empregador, olhando para o Direito comparado nota-se
que foi introduzido na legislação brasileira em 2001 o banco de horas e é regido pela
Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), equivalente aos Códigos do Trabalho em alguns
países, o qual disciplina, em seu art. 59, que “o tempo trabalhado extraordinariamente poderá ser
compensado, sem pagamento suplementar, mediante folgas correspondentes, desde que 1) seja
negociado em acordo ou convenção colectiva; 2) não seja ultrapassado o limite máximo de dez
horas diárias; 3) não seja ultrapassada a soma das durações semanais máximas legais, no período
máximo de um ano;4) não seja utilizado em contrato a tempo parcial; 5) haja pagamento das
horas extras não compensadas, se sobrevier ruptura contratual antes da compensação integral da
jornada extraordinária”.
De outro lado, a Lei brasileira n.º 4.923, de 23/12/65 prevê alternativa para a empresa, que em
face da conjuntura económica, devidamente comprovada, se encontrar em condições que
recomendem, transitoriamente, a redução da jornada normal ou do número de dias do trabalho.
Nesse caso, poderá haver redução do salário mensal até o limite de 25 % (vinte e cinco por
cento), respeitado o salário mínimo e reduzidas proporcionalmente a remuneração e as
gratificações de gerentes e directores. Para que isso ocorra, todavia, é necessário prévio acordo
com a entidade sindical representativa dos seus empregados, homologado pelo Ministério do
Trabalho e Emprego, por prazo não excedente a 3 (três) meses, prorrogável, mas nas mesmas
condições, se ainda indispensável.
Portanto, é por causa do que acima se referiu que se pretende discutir neste trabalho por se
mostrar pertinente este assunto no âmbito do Direito do Trabalho, e contribuir desta feita para o
fortalecimento de estudos nesta disciplina dogmática, como é o caso do Direito do Trabalho.
6. METODOLOGIA
Para a realização do presente trabalho recorrer-se-á ao inveterado método de pesquisa
bibliográfica, permitindo aceder aos conteúdos que se pretendem desenvolver e que têm uma
correlação com o tema, que é objecto de estudo neste trabalho de fim de curso. Sem descurar dos
outros métodos como o método interpretativo no que tange aos preceitos legais ou seja, à
legislação, seja ela interna ou internacional, desde que traga contributo para a sustentação do
tema.
7. IMPORTÂNCIA DO TEMA
O presente tema reputa-se de grande importância, na medida em que permite discutir sobre a
repartição da responsabilidade do trabalhador em relação ao seu posto de trabalho em caso de
falência e propor soluções menos prejudiciais para ambas as partes e contornar as graves
consequências que adviriam, como são os casos da perda ou diminuição de trabalhadores,
efectuadas na sequência de uma declaração de falência. No mundo empresarial os contratos têm
grande relevância, pois é principalmente através deles que se firmam os negócios comerciais,
logo, os contratos firmados pelo falido também serão atingidos pela decretação da falência. Uma
13
dificuldade que, imediatamente, se apresenta quando se aborda a questão dos efeitos que a
sentença de decretação de falência produz sobre os contratos do devedor são os contratos que
costumam envolver encargos ou créditos do devedor que a massa falida terá que respeitar,
realizando pagamentos e cumprindo prestações, se quiser usufruir de direitos contratuais que lhe
podem acarretar retorno financeiro apreciável. Isso quer dizer que o administrador judicial terá
de tomar decisões delicadas sobre o tratamento que deve ser dado a um contrato, no sentido de
que o seu cumprimento traga o maior proveito possível à empresa, tudo isto, inelutavelmente,
que iria trazer à baila a questão da redução e perda de empregos. A turbulência nos países
desenvolvidos tem demonstrado que os salários passaram a recuar, os empregos a escassear e os
preços a subir. Os contratos temporários ou por prazo certo passaram a se multiplicar e isso
constitui apenas um dos reflexos da crise que pode levar à falência se, previamente, não forem
tomadas medidas prudentes.
Os governos têm procurado adoptar algumas medidas para enfrentar a crise mundial, por
exemplo, o governo brasileiro tomou certas medidas face a crise internacional. Na condução da
política económica, o governo deixa evidente a preocupação com a estabilidade do valor do real
e com o aumento do número de empregos, sobretudo, daqueles com carteira assinada (empregos
formalizados).
8. ESTRUTURA DO TRABALHO
O presente trabalho do fim de curso está dividido em dois capítulos. O primeiro capítulo visa
tecer considerações quanto aos aspectos gerais do Direito do Trabalho e a conceitualização de
alguns temas nesta fase, pois o nosso tema insere-se neste ramo de Direito. Depois, no segundo
capítulo, vamos discutir a questão da repartição da responsabilidade do trabalhador em relação
ao seu posto de trabalho em caso de falência e a proposição de possíveis soluções. Todavia, antes
disso e, também, antes da análise e enquadramento jurídico do nosso tema, vamos analisar na
perspectiva do Direito comparado, olhando para a legislação interna dos ordenamentos jurídicos
estrangeiros. E, finalmente, dedicar-se-á às conclusões e recomendações.
14
CAPÍTULO I
O Direito do Trabalho é comummente considerado por alguns autores como um“ramo jurídico
jovem”1, pois, não obstante as “relações de trabalho serem tão antigas como as sociedades
humanas”2, a prestação de trabalho feita por um homem livre sob a orientação de outrem
começou a consolidar-se a partir do final do séc. XVIII com o advento da Revolução Industrial,
“só em finais do séc. XIX é que começou a regularizar-se a produção normativa na área
laboral”3.
No Direito Romano da Antiguidade existia o trabalho subordinado, que era feito por um
homem livre sob a direcção de outrem, tal situação tida como “locatio condutio operarum” a
troco de “mercês” segundo a qual “uma pessoa se obrigava a prestar certa actividade a outra,
sob orientação desta”4. Para este autor a “locatio conductio operarum”, enquanto raiz do
trabalho subordinado, em Roma tinha de ser celebrado por homens livres e atinente a
“actividades lícitas”5e o ordenado era permanente mesmo que na prática não houvesse trabalho
pelo que “já nessa altura o risco geral do contrato era do empregador ou conductor”6
Por outro lado, autores há que asseveram que, no que tange ao Direito romano, “o trabalho era
assegurado essencialmente por escravos, que eram vistos como coisas, objecto do direito do
proprietário do seu dono”7e que para estes autores é de questionar a importância do Direito
romano como fonte do moderno Direito do Trabalho. Todavia, “não deixou de coexistir o
1
RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Tratado do direito do trabalho: parte I – dogmática geral.3.ed. Coimbra:
Almedina, 2012, p. 41
2
WATY, Mónica Filipe Nhane. Direito do trabalho. Mapu to: W&W Editora. 2008, p. 30
3
RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Tratado do direito do trabalho: parte I – dogmática geral.3.ed. Coimbra:
Almedina, 2012, p. 41
4
CURADO, Armando Antunes (2007) Manual prático do direito do trabalho.4.ed. Lisboa: Qui Juris: Sociedade
Editora, , p. 17
5
Ibid, p. 17.
6
Ibid, p.17
7
CRUZ, Sebastião, apud LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes (2010) Direito do Trabalho.2.ed. Coimbra:
Almedina, , p. 23.
15
trabalho realizado por escravos e aquele que era realizado por homens livres, os quais se
comprometiam por contrato a realização de uma determinada actividade para outrem”8. A
prestação do trabalho em virtude de contrato era considerada no Direito Romano como uma
modalidade de locação em “sentido amplo (locatio)”9, a qual se considerava poder tanto
abranger a concessão de uso de coisas como de pessoa, a troco de retribuição em dinheiro
“(mercês”),” locatio est personae vel rei ad usum facta concessio, mercede in pecunia numerata
conventa“10 A locatio era vista como um “contrato consensual”11desta feita o ”consenso dos
contraentes considerava-se um elemento constitutivo das obrigações, o que dispensava a adopção
de forma especial”12. Na regulamentação do trabalho subordinado, o “Direito romano socorria-se
da figura de locatio conductio”13. E esta correspondia a três modalidades distintas quanto ao seu
conteúdo: locatio conductio rerum, pela qual uma pessoa entregava uma coisa, por certo tempo,
a outra a troco de uma “merces” normalmente periódica, e ficando o beneficiário obrigado à
restituição, esta figura está na origem da actual locação; a locatio conductio operis faciendo, pela
qual uma pessoa se obrigava a realizar, para outra, uma determinada obra, também a troca de
mercês, reside aqui o antecedente histórico da figura de empreitada; locatio conductio operarum,
pela qual uma pessoa se obrigava a desenvolver, para outra sob a orientação desta, certa
actividade, sempre a troco de mercês, era o contrato de trabalho.
Na locatio conductio operarum, figura esta que está na base do moderno contrato de trabalho, o
trabalhador, qualificado como locator, obrigava-se a prestar trabalho a outrem (o conductor)
como actividade, troco de uma retribuição (mercês).
No que toca ao Período Intermédio ou Idade Média, “o trabalho era assegurado em grande parte
por escravos ou por formas mais ou menos humanizadas, sendo a importância de quem
trabalhava muito pequena”14, no entanto, vai se verificar uma substituição do trabalho escravo
pelo novo estatuto servil típico da sociedade feudal. A servidão, diz MENEZES LEITÃO,
8
Ibid, p. 23
9
id, p. 24.
10
.Ibid, p. 24
11
Ibid, p.24
12
Ibid, p. 24
13
MAYER – MALY, apud CORDEIRO, António Menezes (1994) Manual de Direito do trabalho, Livraria
Almedina, p. 37.
14
CURADO, Armando Antunes (2007) Manual prático do direito do trabalho.4.ed. Lisboa: Quid Juris: Sociedade
Editora, , p. 17.
16
“consiste numa forma de trabalho compelido, consistente ou numa adstrição à terra, com a
obrigação da sua exploração, ou numa adsrtição pessoal, com a obrigação de prestar trabalho a
um senhor”15. Nos centros urbanos desenvolveu-se um modelo de organização de relações de
trabalho em “profissões corporativas”. E nestas profissões as novas formas de trabalho
apareciam já hierarquizadas desde os aprendizes, os oficiais até os mestres. “O mestre era quem
dirigia a produção oficinal e era o proprietário da oficina”16e igualmente das ferramentas e da
matéria-prima, não obstante trabalhar juntamente com os oficiais e aprendizes. Nesta altura o
trabalho aparece regulamentado pelos chamados regimentos corporativos das artes e ofícios que
não visava tutelar os trabalhadores mas sim defender profissionalmente a classe que pagava os
salários, por isso, tal regulamentação nada teve a ver com o moderno Direito do Trabalho.
Quanto a Revolução Industrial, esta veio criar inovações no plano das relações jus laborais, “uma
vez que as necessidades de produção tornaram incompatível a manutenção do trabalho num
estatuto meramente artesanal, dada a incapacidade dos artesãos para satisfazer a procura”17.
As máquinas vieram incrementar a produção e estavam a altura da procura desenfreada que se
verificava na altura principalmente no que tange aos bens de consumo. Houve uma grande oferta
de mão-de-obra vinda do campo, e devido a abundância de mão-de-obra criou condições para
grande miséria pois o poder dispositivo do empregador fixava livremente as condições de
trabalho a que o trabalhador era obrigado a aderir para poder subsistir. Tudo isto fez com que
houvesse necessidade de uma intervenção do Estado para estancar ou pôr termo aos abusos no
seio do trabalho e a consequente protecção dos trabalhadores, surgindo desta feita o Estado
Social.
“O intervencionismo estadual iniciou-se pela protecção dos menores, do trabalho das mulheres,
e pela higiene no trabalho”18. Daí que as leis de protecção do trabalhador, são no essencial de
interesse social e ordem pública, não podendo ser afastadas por acordos entre trabalhadores ou
seus representantes e os empregadores.
15
LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes (2010) Direito do Trabalho.2.ed. Coimbra: Almedina, p. 25
16
CURADO, Armando Antunes. Manual…ob. cit. p. 17.
17
Cfr LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito…ob. cit p. 26
18
Cfr CURADO, Armando Antunes. Manual…ob.cit, p. 21
17
19
De referir que este preceito é da Constituição de 1990 e não de 1975 como se dá a entender na lei anotada.
18
A Constituição de 2004, não representando uma ruptura com o regime constitucional de 1990,
reforçou e consolidou o regime do Estado Democrático de Direito provindo de 1990, cujo
aspecto mais relevante, no que toca ao Direito do Trabalho diz respeito, tinha sido a
constitucionalização dos seus princípios fundamentais, como o da segurança no emprego, a
proibição do despedimento sem justa causa e do lock-out, o direito actividade sindical, à greve, à
segurança social, à justa remuneração, ao descanso e a férias, que se mantêm consagrados na
Constituição de 2004 entre os direitos, deveres e liberdades fundamentais com desenvolvimento
no capitulo dos direitos e deveres económicos, sociais e culturais.
20
ANTUNES, Carlos, et al. Lei do trabalho de Moçambique anotada. Maputo: Escolar Editora, 2015. p. 17.
21
Id, p. 17.
19
“A maioria da doutrina caracteriza o Direito do Trabalho como sendo uma área jurídica
híbrida22ou, segundo Menezes Cordeiro, que opta por defender se pertence ao Direito Privado ou
Público. A tendência expansionista do Direito do Trabalho significa a “perda da
homogeneidade regulativa”23na medida em que o Direito do Trabalho visa “regular uma relação
que, enquanto surja em função do consentimento prestado por ambos os contraentes, traduzido
na voluntária celebração do contrato de trabalho”24 (neste sentido o contrato de trabalho
representa um sinal de liberdade pessoal) daí que o empregador pode muito bem negociar com o
trabalhador sobre todos os fenómenos avessos ao normal funcionamento da empresa, admite-se
nos ordenamentos a partilha dos riscos atinentes ao empregador, como é o caso de redução
salarial, suspensão do contrato, concessão de férias durante o período da redução da actividade,
celebração de contratos parciais, redução das gratificações e salário dos gerentes e directores.
Aliado aos riscos do empregador existe o Princípio do colectivo no Direito português pois tem
essencialmente, a ver com a capacidade de auto-regulação livre, colectiva e uniforme “das
condições de trabalho pelos trabalhadores (por intermédio das associações sindicais) e pelos
22
XAVIER, Bernardo apud RAMALHO, Maria do Rosário Palma (2012) Tratado do direito do trabalho: parte I -
dogmática geral.3.ed. Coimbra: Almedina, p. 122.
23
AMADO, João Leal (2011) Contrato de trabalho.3.ed. Lisboa: Coimbra Editora. p. 31.
24
Id. p. 31.
20
empregadores (directamente ou por intermédio das associações de empregadores) que é
exercida através da negociação colectiva e das convenções colectivas de trabalho”25. E decore
do mesmo princípio, um outro, o da “intervenção dos trabalhadores na gestão que emerge dos
vários direitos que assistem aos trabalhadores relativamente à gestão da empresa”26.
Este princípio reflecte a orientação geral do Direito do Trabalho para valorizar, na concepção e
na disciplina dos fenómenos laborais (incluindo o contrato de trabalho), uma componente
colectiva.
25
RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Tratado…ob. cit. parte I, p. 535
26
Ibid, p. 535
21
CAPITULO II
A Responsabilidade Civil, diz CUNHA LEAL CARMO, “existe quando uma pessoa deva
reparar o dano sofrido por outrem”27. Denota-se que a responsabilidade não se liga à questão da
responsabilidade do trabalhador em relação ao seu posto de trabalho, em caso de falência, há
necessidade de se saber quando ocorrem situações que põem em causa a “vida” da empresa ou
mexem com o trabalhador, como é o caso de acidentes de trabalho e doenças profissionais, quem
é que assume o risco, a entidade empregadora ou trabalhador. “A responsabilidade pela
reparação e outros encargos decorrentes de acidentes de trabalho e doenças profissionais é, em
primeira linha, das entidades empregadoras, no que aos trabalhadores ao serviço concerne”28.
São, todavia, “…obrigadas a transferir a responsabilidade para a cobertura dos entidades
seguradoras legalmente autorizadas na República de Moçambique”29 que, desse modo, se lhes
substituem”. Tal como o Estado deve assegurar a que não sejam causados prejuízos aos seus
cidadãos, também o empregador terá de providenciar quanto a inexistência de danos aos seus
trabalhadores no desenvolvimento de actividade de que estão incumbidos. Segundo PEDRO
ROMANO MARTINEZ, “impera hoje a ideia de que o acidente, a fatalidade como o infortúnio
marcado pelo destino não é de aceitar”30. Procura-se deixar de lado a ideia de que o acidente é
um azar do lesado devendo se encontrar sempre o “responsável”31. Antigamente, a “figura de
acidentes de trabalho não apresentava qualquer autonomia pois estava integrada no regime
comum da responsabilidade civil extra-contratual ínsito no Código Civil de 1866 no artigo
27
CARMO, F. Cunha Leal (2013) Dicionário jurídico: contratos e obrigações. Lisboa: Escolar Editora.Vol. l. p.
208.
28
ALEGRE, Carlos (2009) Acidentes de trabalho e doenças profissionais.2.ed. Coimbra: Almedina. p. 189.
29
Cfr art. 7 do Decreto n.º 62/2013, de 4 de Dezembro.
30
MARTINEZ, Pedro Romano. Direito do trabalho.7.ed. Coimbra: Almedina, 2015. P. 833.
31
Ibid, p. 833
22
2398”32 Era ao trabalhador lesado que cabia a prova dos factos constitutivos da responsabilidade
aquiliana, o que era deveras difícil demonstrar a culpabilidade do empregador. No entanto, “sem
o dever de assistência por parte do empregador deixa de impender a obrigação de socorrer o
trabalhador em caso de acidente e de o manter em caso estar incapacitado”33. Depois de
responsabilidade presumida ou pelo risco pelo facto de o empregador tirar proveito da actividade
desenvolvida pelo trabalhador, fazendo-se uma equiparação com o disposto dos arts, 491, 492 e
493, todos do CC, mas podia-se equiparar o trabalhador aos incapazes, o que não pode ser. Pois o
empregador podia afastar a culpa, provando a sua inocência. Para pôr fim às situações de
injustiça do trabalhador lesado, veio a terceira via, a da responsabilidade civil objectiva. “A
responsabilidade objectiva ou sem culpa, tem o seu aparecimento relacionado com o
ressarcimento dos danos causados por acidentes de trabalho”34, esta responsabilidade surge no
Direito do Trabalho como “excepção a responsabilidade civil extra-contratual tendo em vista
resolver o problema pontual dos acidentes de trabalho”35 associado ao risco, neste caso, ao risco
profissional v.g., trabalhadores marítimos surpreendidos pela tempestade. O empregador seria
responsável pelos danos causados aos trabalhadores, risco próprio da actividade desenvolvida,
porque poderia retirar as vantagens dessa mesma actividade, isto é, atribui-se o risco a quem tem
os benefícios (“ubi commoda ibi incommoda”). Isto significa que o empregador partilha o risco
do lado do trabalhador.
Ora, o mesmo se verifica quando o risco ocorre do lado empregador, em que mesmo não
havendo culpa do trabalhador assume o risco pelo simples facto de estar ao serviço daquele, ao
estabelecer no Direito pátrio que “O empregador pode suspender os contratos de trabalho por
razões económicas, entendendo-se estas como as resultantes de motivos de mercado,
tecnológicos, catástrofes ou outras ocorrências que tenham ou venham, previsivelmente a
afectar a actividade normal da empresa ou estabelecimento”36 situação esta regulada nos n.os do
ss mesmo preceito legal e na legislação especial e que há-de ser desenvolvida com mais acuidade
nas abordagens subsequentes.
32
Ibid, p. 833.
33
MARTINEZ, Romano. Direito…ob. cit. p, 834.
34
Ibid837.
35
Ibid, p. 837.
36
vd. n.º 1, do art. 123, da Lei n.º 23/2007, de 1 de Agosto.
23
2.1. Portugal
No Direito português, a questão da partilha do risco é algo que vem regulado de forma expressa
ao se estabelecer que “o empregador pode reduzir temporariamente o período normal de
trabalho ou suspender os contratos de trabalho, por motivos de mercado, estruturais ou
tecnológicos, catástrofes ou outras ocorrências que tenham afectado gravemente a actividade
normal da empresa, desde que tal medida seja indispensável para assegurar a viabilidade da
empresa e a manutenção dos postos de trabalho”37.
37
Cfr. o n.º 1, do art. 298.o, Código de Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro com alterações
introduzidas pelas Leis n.º 53/2011, de 14 de Outubro e n.º 23/ 2012, de 25 de Junho.
38
RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Tratado do direito do trabalho parte II: situações laborais
individuais.4.ed. Coimbra: Almedina, 2012. p. 713.
39
Cfr LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito…ob. cit., p. 416
24
manutenção dos postos de trabalho”. Este regime é também aplicável aos casos em que essa
medida seja determinada no âmbito da declaração de empresa em situação difícil, ou com as
necessárias adaptações, em processo de recuperação de empresa (art. 298.o, n.º 3 do CT).
Nos termos do n.º 4, do art. 298.º, do CT, a empresa que recorra ao regime de redução ou
suspensão deve ter a sua situação contributiva regularizada perante a administração fiscal e a
segurança social, nos termos da legislação aplicável, salvo quando se encontre numa das
situações previstas no n.º 3 deste preceito legal. Mas antes de implementação das medidas de
redução da actividade da empresa, ou da suspensão de contratos de trabalho, deve o empregador
comunicar por via de um escrito para comissão dos trabalhadores e, na sua falta, à comissão
intersindical ou comissões sindicais da empresa representativas dos trabalhadores a abranger, a
intenção de reduzir ou de suspender a prestação do trabalho os seguintes elementos40:
Nos termos do n.º 3, do art. 299.º, do supracitado diploma legal, o empregador comunica aos
trabalhadores, a falta dos órgãos indicados no n.º 1, do mesmo preceito legal, e estes podem
designar entre eles, uma comissão representativa dos trabalhadores composta por três elementos,
nos cinco dias posteriores à recepção da comunicação, consoante abranja até 20 ou mais
trabalhadores. O empregador deve disponibilizar a informação nos termos do n.º 1, do artigo em
análise para que os trabalhadores possam consultar, e a mesma deve ser enviada para a comissão
40
Cfr o n.º 1, do art. 299.o, do CT
25
representativa designada41 cuja inobservância do disposto neste preceito legal constitui contra-
ordenação grave, n.º 5 do mesmo preceito legal.
A redução ou suspensão não pode iniciar sem que antes tenham decorrido 5 dias sobre a data da
comunicação, salvo se existir impedimento imediato à prestação de trabalho, que seja conhecido
pelo empregador, caso em que o início da medida pode ocorrer de imediato (art. 301.o n.º 2, do
CT) e que a duração da redução ou suspensão não ultrapasse os seis meses nos termos do n.º 1 do
mesmo preceito legal.
41
Vd. o disposto no n.º 4, art. 299, do diploma em análise.
26
casos em que a inexecução da prestação do trabalho se deve a culpa patronal e aqueles a que
paralisação da empresa se deve à força maior ou, pelo menos, as necessidades de gestão ou,
porventura até a factos que têm a ver com outros trabalhadores da empresa”42 v.g., em greve ou
doença, força maior, caso fortuito. Tem ainda o direito de manter as regalias sociais ou
prestações de segurança social a que tenha direito e a que a respectiva base de cálculo não seja
alterada por efeito de redução ou suspensão (al. b), do n.º 1, do art. 305.o, do CT), e também a
exercer uma outra actividade remunerada (al. c), do n.º 1, do art. 305.o, do CT).
As férias e os subsídios do trabalhador não são afectados pela redução ou suspensão e podem
gozá-los nos termos gerais (n.º 1, do art. 306.o, do CT), tem o direito ao subsídio de férias e de
natal (n.os 2 e 3, do art. 306.o, do CT). E a redução da actividade laboral ou suspensão do contrato
não prejudicam o exercício das funções de representação nos termos do art. 308.o do CT.
Do regime que está previsto no CT, precisamente não se pode dizer o mesmo quanto ao regime
do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE), ao estabelecer um regime
diametralmente oposto a repartição do risco entre o trabalhador e o empregador, focando mais
nos interesses dos credores do empregador insolvente como função primária do processo de
insolvência que da própria empresa. “Na verdade, em certos casos é precisamente a manutenção
do conjunto produtivo em que se integram os trabalhadores e o know-how de que estes são
portadores, que representa o factor que pode vir a realizar valores que venham a permitir a
satisfação dos credores”43. E critica-se o novo regime do CIRE, na medida que dá razão aos
autores que consideram que o Direito do Trabalho está a cair gradativamente na órbita do
“Direito da empresa”44, pois segundo TYSSIÉ BERNARD45, na Europa, até meados do séc. XX,
a finalidade do processo de insolvência, era com efeito, marcadamente liquidatória, mas a partir
da Segunda Grande Guerra Mundial começam a surgir normas que procuram potenciar a
42
QUINTAS, Paula, QUINTAS, Hélder (2009) Código do trabalho anotado e comentado. Coimbra: Almedina, p.
617.
43
GOMES, Júlio Manuel Vieira (2007) Direito do trabalho: relações individuais de trabalho. Lisboa: Coimbra
Editora. Vol. I. p. 934.
44
TYSSIÉ, Bernad apud GOMES, Júlio Manuel Vieira (2007) Direito do trabalho-relações individuais de trabalho.
Lisboa: Coimbra Editora. Vol. I. p. 935.
45
Id. p. 935
27
2.2. Brasil
Quanto ao Brasil, não escapou às crises que se repercutiram na Europa, esta encerra o ano de
2012 com recessão e com temor com relação a sobrevivência do euro e as possíveis
consequências, caso alguns países deixem de adoptar a moeda comum, os financiamentos têm
sido “mantidos aos países em dificuldade, em troca de algum resgate da dívida, o que os obriga
a uma série de condições”49.
Por outro lado, os Estados Unidos da América, onde começou a crise, ainda não se recuperaram
totalmente, “A turbulência nos países desenvolvidos tem demonstrado que os salários passaram a
46
Id. p. 935
47
MOREIRA, António (2006) VIII Congresso Nacional de direito do trabalho. Coimbra: Almedina, p. 73.
48
Cfr art. 47da Lei de Falências e de Recuperação de Empresas, aprovada pela LEI Nº 11.101, de 9 DE
FEVEREIRO DE 2005.
49
Centro de Estudos Judiciários (2012) Prontuário de direito do trabalho. Lisboa: Coimbra Editora, p. 98.
28
recuar, os empregos a escassear e os preços a subir cada vez mais, os contratos temporários ou
por prazo certo passaram a se multiplicar e isto apenas constitui um dos reflexos da crise”50. Para
alguns analistas como Martha Halfeld Furtado de Mendonça Schmidt51, a “crise económica tem
como causas directas os grandes endividamentos dos Estados e dos particulares, embora
existam também causas mediatas”. Ainda na linha desta autora, a questão europeia não se resume
ao euro, mas também à crescente dependência energética e à migração da produção industrial
para a China, Índia, países do sudoeste asiático e países emergentes. Procura-se saber das causas
do endividamento e para tal, deve-se recuar para a história para perceber os primeiros sintomas
de crise actual. “Nos anos 50 a 60 a economia próspera, com crescimento da ordem dos 5 a 6%
ao ano, combinou-se com demografia equilibrada, levando a actos de consumo, negociação
colectiva protectora e protecção social estendida para os riscos sociais”52. A partir de 1975,
porém, como resultado da crise de petróleo de 1973, a média de crescimento anual das
economias começou a cair significativamente para taxas de 4%, 3%,2%,1% e, mais ultimamente
perto de 0%53.
Ora, “Buscou-se, então, uma solução à nova realidade, por meio da criação de massa monetária
(Estados criam moedas próprias) e, então, surgiu a inflação (anos 70 a 80). Esse modelo
inflacionário tinha efeito desastroso para o detentor do capital financeiro, mas permitia a
manutenção de vantagens de trabalhadores, até também se esgotou”54. Em seguida, começaram
os empréstimos e os endividamentos (anos 90 a 2000 até hoje). Os países da zona euro, por causa
da moeda única, não têm autonomia para fazer política cambial (câmbio defensivo), então se
endividaram, em meio ao frágil sistema produtivo e à pouca regulação do sector financeiro.
50
Cfr Centro de Estudos Judiciários. Prontuário…ob. cit,, p. 98.
51
Ibid, p. 98.
52
Ibid, p. 98
53
Ibid, p, 98
54
Ibid, p. 98
29
Fundo Monetário Internacional e de outros organismos internacionais para o alongamento do
prazo de pagamento das dívidas.
Brasil decidiu adoptar medidas para enfrentar a crise mundial, “Na condução da política
económica, o governo deixa evidente a preocupação com estabilidade do real e com o aumento
do número de empregos, sobretudo, daqueles empregos formais”55. Por seu turno, a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), elaborada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) relativa ao ano 2011, também revela que houve avanço social
em termos de trabalho, renda e redução da desigualdade nos últimos anos, agora “Na América
Latina, embora exista diversidade entre países, a flexibilização ocorreu, em regra, sem
compensação ou contraprestação, com rebaixamento simples de direitos, em troca, no máximo,
da expectativa de melhorar ou manter nível de emprego, se houvesse possibilidade. Na Europa, a
flexibilização ocorrida no mesmo período não teve a intensidade derrogatória que ocorreu nos
países da América Latina”56. A negociação para redução de salários, v.g., poderia implicar em
aumento das férias ou diminuição de jornada laboral ou uma garantia formal de contratação de
número determinado de trabalhadores. Portanto, no Brasil assinalou-se uma evolução normativa
nesta área de trabalho.
55
Centro de Estudos Judiciários. Prontuário…ob. cit. p.100.
56
Ibid, p. 100
57
Aprovado pelo DL n.º 5.452, de 1 Maio de 1943, que aprova a Consolidação das Leis do Trabalho.
30
De outro lado, a Lei brasileira n.º 4.923, de 23 de Dezembro 1965 prevê alternativa para a
empresa, que em face da conjuntura económica, devidamente comprovada, se encontrar em
condições que recomendem, transitoriamente, a redução da jornada normal ou do número de dias
do trabalho. Nesse caso, poderá haver “redução do salário mensal até o limite de 25 % (vinte e
cinco por cento), respeitado o salário mínimo e reduzidas proporcionalmente a remuneração e as
gratificações de gerentes e directores. Para que isso ocorra, todavia, é necessário prévio acordo
com a entidade sindical representativa dos seus empregados, homologado pelo Ministério do
Trabalho e Emprego, por prazo não excedente a 3 (três) meses, prorrogável, mas nas mesmas
condições, se ainda indispensável”58. Ademais, existe a possibilidade de suspensão do contrato
como medida alternativa à dispensa do trabalhador, em momentos de retracção da actividade
económica que, por razões conjunturais associadas ao ambiente macro-económico ou motivações
cíclicas e estruturais causam impactos inevitáveis ao mercado de trabalho. A introdução do art.
476-A da Consolidação da Leis do Trabalho (CLT), ocorreu em 2001, segundo a qual “O
contrato de trabalho poderá ser suspenso, por um período de dois a cinco meses, para
participação do empregado em curso ou programa de qualificação oferecido pelo empregador,
com duração equivalente à suspensão contratual, mediante previsão em convenção ou acordo
colectivo de trabalho e aquiescência formal do empregado”, asseguradas, por ocasião de sua
volta, todas as vantagens que, em sua ausência, tenham sido atribuídas a categoria que pertencia
na empresa (art. 471 da CLT). E existe também a possibilidade de concessão de férias colectivas
a todos os trabalhadores de uma empresa ou de determinados estabelecimentos ou sectores da
empresa (art. 139 da CLT) as quais poderão ser gozadas em dois (2) períodos anuais desde que
nenhum deles seja inferior 10 (dez) dias ocorridos (art. 139, §1.oda CLT) e é um instrumento a
ser utilizado em tempo de crise financeira da empresa.
58
Cfr art. 2 da Lei n.º 4.923, de 23 de Dezembro 1965, que Institui o cadastro permanente das admissões e dispensas
de empregados, estabelece medidas contra o desemprego e de assistência aos desempregados, e dá outras
providências.
31
regime de tempo parcial será proporcional à sua jornada, em relação aos empregados que
cumprem, nas mesmas funções, tempo integral”.
Sem recurso, a empresa decidiu reduzir o plantio das 3 mil, para 1 mil hectares. A empresa estava
sem caixa e ia dispensar 500 pessoas, lembra a directora de recursos humanos. Em negociações
com os sindicatos, a empresa optou pela suspensão temporária dos contratos de trabalho de 347
funcionários, por dois meses. No período, eles fizeram cursos de qualificação para aprender a
operar máquinas que utilizarão na próxima safra (colheita). “O apoio dos sindicatos dos
trabalhadores rurais da região foi fundamental para convencer os trabalhadores de que essa era a
melhor medida no momento”, afirma a directora dos recursos humanos”60.
59
Designação usada em Brasil para referir-se a um estabelecimento fabril ou fábrica.
60
Centro de Estudos Judiciários. Prontuário…ob. cit. p.115.
32
3.1. Falência
O regime jurídico da falência estava anteriormente estabelecido entre os arts 1120 a 1325 do
Código de Processo Civil aprovado pelo Decreto-Lei n.º 44.129, de 28 de Dezembro de 1961,
com as recentes alterações introduzidas pelos Decreto-Lei n.º 1/2005, de 27 de Dezembro, e pelo
Decreto-Lei n.º 1/2009, de 24 de Abril.
A partir de 2013, as coisas mudam de rumo, o Legislador, através do Decreto-Lei n.º 1/2013, de 4
de Julho, aprova o Regime Jurídico da Insolvência e da Recuperação Judicial de Empresários
Comerciais, derrogando, desta feita, o antigo regime jurídico constante do Código de Processo
Civil. E já havia o regrado ao instituto da insolvência e da falência, no novo regime o Legislador
veio a trazer um aspecto novo, não fala apenas de regime jurídico da insolvência, mas também
estabelece o regime jurídico da recuperação judicial de Empresários Comerciais nos termos dos
arts 46 a 68 do Diploma supracitado.
61
PRATA, Ana (1992) Dicionário jurídico.3.ed.Coimbra: Livraria Almedina, p. 269.
62
Ibid, p. 269.
33
O artigo 46 do diploma em apreço estabelece como objectivo da recuperação judicial: “viabilizar
a superação da situação de impossibilidade de cumprimento das suas obrigações vencidas do
devedor”63, o que já havia sido frisado no n.º 1, do art. 1, diploma supracitado, que o regime
Jurídico da Insolvência e da Recuperação dos Empresários Comerciais visa, entre outros
objectivos, “...permitir a manutenção da fonte produtora do emprego dos trabalhadores…”. E
como requisitos do pedido da recuperação, consagra-se que pode requer a recuperação judicial o
devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente as suas actividades há mais de 12
meses e que, cumulativamente preencha os seguintes requisitos64:
a) Não ser insolvente e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
b) Não ter, há menos de 2 anos, obtido concessão da recuperação judicial;
c) Não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio dominante, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos nos arts 167 a 173.
E estão sujeitas a recuperação judicial todos os créditos existentes à data do pedido, salvo nos
casos de poder excluir o regime jurídico, com excepção dos créditos atinentes a importância a
que se refere a alínea b) do art. 81, não sendo permitido, contudo, durante o prazo de suspensão a
que se refere o n.º 5 do artigo 6, a sua restituição; os créditos fiscais, os quais são na recuperação
judicial, objecto de parcelamento a ser concedido pela autoridade administrativa competente. E o
parcialmente na forma definida na lei é requerida, pelo devedor assim que seja deferido o pedido
da recuperação65.
63
Decreto-Lei n.º 1/2013, de 4 de Julho, que aprova o Regime Jurídico da Insolvência e da Recuperação Judicial de
Empresários Comerciais
64
Cfr art. 47 do supracitado diploma legal.
65
cfr o art. 48 do mesmo diploma legal
34
3.1.2. Meios de recuperação judicial
Ora, do acima exposto, releva para o tema em análise, a al. h), do art. 49, pois só nestes casos em
conjugação com a legislação especial, neste caso a Lei do Trabalho, por permitir a partilha dos
riscos entre o trabalhador e o empregador. Esses meios serão chamados à colação quando
analisar os modos de repartição da responsabilidade do trabalhador em relação ao seu posto de
trabalho. Ademais, são riscos em que o papel do trabalhador não é substancial ou determinante.
No art 89 do Decreto-Lei n.º 1/2013, de 4 de Julho, que aprova o Regime Jurídico da Insolvência
e da Recuperação Judicial de Empresários Comerciais, temos as causas da declaração de
insolvência:
a) Quando o devedor sem causa justificativa, não paga, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos;
b) O devedor a ser executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita ou não
nomeia à penhora bens suficientes, dentro do prazo legal;
c) Quando o devedor praticar qualquer dos seguintes actos, excepto se os mesmos fizerem
parte do plano de recuperação judicial:
i) Quando o devedor procede à liquidação precipitada de seus activos ou lança mão
de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;
ii) Quando realiza ou tenta realizar, com objectivo de retardar pagamentos ou
defraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou de totalidade de
seu activo, a terceiro credor ou não;
iii) Quando transfere o estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o
consentimento de todos os demais credores e sem ficar com bens suficientes para
solver o seu passivo;
iv) Quando simula a transferência do seu principal estabelecimento com o objectivo
de defraudar a lei ou a fiscalização ou para prejudicar um credor;
36
v) Quando dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente, sem
ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar o seu passivo;
vi) Quando ausenta-se, sem deixar seu representante legal e com recursos suficientes
para pagar os credores, abandona o estabelecimento ou tema ocultar-se do seu
domicílio, do local da sua sede ou do seu principal estabelecimento;
vii) Quando deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de
recuperação judicial.
À luz da Lei do Trabalho (LT) moçambicana não se faz uma referência expressa à questão da
repartição da responsabilidade do trabalhador em relação ao seu posto de trabalho em caso de
falência. Mas, verifica-se que o legislador previu, ainda que de forma implícita, formas de
repartir o risco, em caso de crise empresarial, desde logo, temos a LT e o Decreto-Lei n.º 1/2013,
de 4 de Julho, que aprova o regime jurídico da Insolvência e da Recuperação Judicial de
Empresários Comerciais. São, nomeadamente os seguintes os modos de repartição da
responsabilidade do trabalhador em relação ao seu posto de trabalho em caso de falência:
O período em princípio está previsto para um prazo de três meses, mas se subsistir para além
deste, o empregador e os trabalhadores podem acordar a extinção do contrato sem prejuízo das
indemnizações devidas (art. 123, n.os 6, e 7 da LT);
38
4.3. Direitos dos trabalhadores durante a suspensão do contrato
Durante o período da suspensão do contrato, os trabalhadores têm direito a setenta e cinco por
cento, cinquenta por cento e vinte e cinco por cento no primeiro, segundo e terceiro meses
respectivamente, não devendo em qualquer dos casos serem inferiores ao salário mínimo em
respeito ao princípio da irredutibilidade da remuneração, com as devidas excepções (art. 123, n.º
5, da LT). A suspensão do contrato não prejudica a extinção do contrato se tiver sido celebrado
um contrato a prazo certo, nos termos dos n.º 3, do art. 123, conjugado com o art.122, n.os 4 e 7
da LT. A Inspecção do Trabalho pode pôr termo à aplicação da suspensão do contrato
relativamente a todos ou alguns dos trabalhadores, quando se verifique a inexistência dos
motivos invocados a admissão de novos trabalhadores para actividade ou susceptível de ser
desempenhada pelos trabalhadores suspensos (art. 123, n.º 4, da LT).
39
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
No que tange ao ordenamento jurídico interno, depreende-se que a nossa legislação não muito
clara em relação a alguns aspectos, por exemplo, o art. 49 do DL n.o 1/2013 de 4 de Julho, tem
como epigrafe “Meio de recuperação” primeiro nem diz na epígrafe que se trará de meios de
judicial, e só no n.º 1, do mesmo preceito contrariamente ao que ao se fez quanto a recuperação
extrajudicial é que clarifica que se trata de meios de recuperação judicial, na al. h), do n.º 1, do
mesmo preceito encontramos a redução salarial, a compensação de horários e redução da
40
jornada, mediante acordo ou convenção colectiva. No Brasil estas normas constam também da
Legislação Laboral, o que faz com que os empregadores não tenham que ir a Lei de Falência e de
Recuperação de Empresa, e ter de o fazer via processo judicial ou extrajudicial. E no que toca a
Lei do Trabalho continua a haver confusão, no art. 123 do mesmo diploma, o Legislador
estabeleceu dois casos distintos no preceito, o primeiro é de suspensão do contrato de trabalho
por motivos respeitantes ao empregador em situação de crise, apesar de o ter feito não de forma
expressa, o segundo é o de suspensão do contrato de trabalho por motivos respeitantes ao
empregador, concernente aos casos impossibilidade de recepção da actividade por parte do
empregador, v.g., a inundação que corta o acesso à empresa por parte do trabalhador, a falta de
matéria de prima. Ora, no Direito português encontramos uma situação diferente, pois existe uma
figura de situação de crise empresarial no art. 298 do CT, os regimes são diferentes.
Em termos de recomendações, temos que de legiferenda, era bom que o legislador criasse
normas, estabelecendo um regime especial como muitos ordenamentos jurídicos o fazem. O
nosso legislador não estabelece de formação profissional, concessão de férias colectivas, como
acontece nos outros ordenamentos jurídicos como Brasil, em Portugal. O legislador tem de
flexibilizar cada vez mais a legislação como os outros países fazem e adequá-la à realidade
sócio-económico global num mundo em que os factores externos e internos têm influído no
desenvolvimento das actividades das empresas, obrigando-as muitas vezes a optar por medidas
anti-emprego.
Os governos estão a incrementar esforços para a criação de formas mais sustentáveis para os seus
cidadãos, combatendo a precariedade no emprego através de uma legislação adequada.
41
Legislação
Nacional
Internacional
Portugal:
II. Lei n.º 53/2011, de 14 de Outubro, publicada no Diário da República, 1.ª Série —
N.º 198 — 14 de Outubro de 2011.
III. Lei n.º 23/2012, de 25 de Junho, Diário da República, 1.ª série — N.º 121 — 25 de
Junho de 2012.
IV. Decreto-Lei n.º 53/2004 de 18 de Março, que aprova o Código da Insolvência e da
Recuperação de Empresas, publicado no Diário da República — I Série-A n.º 66
— 18 de Março de 2004.
Brasil:
II. Lei n.º 4.923, de 23 de Dezembro 1965, que Institui o cadastro permanente das
admissões e dispensas de empregados, estabelece medidas contra o desemprego e
de assistência aos desempregados, e dá outras providências.
Manuais