Fichamento 2 FRIGOTTO, G. Educação e Trabalho - Bases para Debater A Educação Profissional Emancipatória. Otavio

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PROFEPT – MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E

TECNOLÓGICA EM REDE NACIONAL


Componente Curricular: Bases Conceituais para a Educação Profissional e
Tecnológica
Mestrando(a): Otavio Patrício Netto

Referência:
FRIGOTTO, G. Educação e trabalho: bases para debater a Educação Profissional
Emancipatória. Perspectiva, Florianópolis. v. 19, n. 1, p. 71-87.

1 O Trabalho como fundamento criador da vida humana


O autor inicia trazendo a ideia de que os humanos se expressam por uma
tripla dimensão: são uma individualidade; são seres da natureza e dela dependem; e
“produzem as especificidades desta sua individualidade e natureza em relação com
os demais seres humanos” (FRIGOTTO, 2001, p.73). O autor cita Lukács para
colocar que os seres humanos criam sua existência pela ação consciente do
trabalho e cita Marx para falar da dupla centralidade do trabalho quando concebido
como valor de uso: criador e mantenedor da vida humana e como princípio
educativo (ibid. p.73). Explica que nesse conceito está implícito o conceito ontológico
de propriedade, como

o direito do ser humano, em relação e acordo solidário com os demais seres


humanos, de apropriar-se [...] da natureza e dos bens que produz, para
produzir e reproduzir a sua existência, primeiramente física e biológica, mas
não só, também cultural, social, simbólica e afetiva (FRIGOTTO, 2001,
p.74).

Frigotto coloca que, para Marx, o trabalho assume duas dimensões: trabalho
como mundo da necessidade – subordinado à resposta das necessidades do ser
humano enquanto ser natural – e trabalho como mundo da liberdade – “a partir da
resposta a essas necessidades imperativas é que o ser humano pode fruir do
trabalho propriamente humano — criativo e livre” (ibid. p.74). Destaca que neste
contexto se pode perceber a relevância da ciência e da tecnologia na tarefa de
melhorar as condições de vida e ampliar o tempo livre dos trabalhadores, se
tomadas como valores de uso. Argumenta que “o trabalho constitui-se, por ser
elemento criador da vida humana, num dever e num direito” (ibid. p.74).

O autor aponta que nos últimos três séculos o trabalho vem sendo regulado
pelas relações sociais capitalistas, das quais se constituem as classes antagonistas
dos proprietários dos meios e instrumentos de produção e dos que necessitam
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vender sua força de trabalho para sobreviver. Frigotto (2001, p.75) também destaca
que

tanto a propriedade quanto o trabalho, a ciência e a tecnologia, sob o


capitalismo, deixam de ter centralidade como valores de uso [...] Sua
centralidade fundamental se transforma em valor de troca, com o fim de
gerar mais lucro ou mais capital

Segundo colocado pelo autor, a abolição da escravidão seria resultado da


necessidade do Capital, pois, por não serem proprietários de meios e instrumentos
de produção e não serem propriedade desenhores ou donos, os escravos libertos se
convertiam naturalmente em proletários que precisariam vender seu tempo de
trabalho a baixo custo.

2 Crise do capital e do trabalho assalariado


Frigotto considera que após a primeira Guerra Mundial, com o fordismo e as
políticas Keynesianas, foi implementada uma sociedade que integra os
trabalhadores, em parte como estratégia de controlá-los, “mas também como
resultado das lutas de trabalhadores organizados em sindicatos e partidos” (ibid.
p.76). Coloca que apesar de o trabalhador não se tornar um proprietário com
patrimônio, tem a possibilidade de prever seu futuro dentro de padrões minimamente
aceitáveis em termos humanos. Assim, o autor conclui que “o trabalho não vai se
ligar apenas à remuneração de uma tarefa, mas emerge como direito” (ibid. p.76).
Sobre as relações entre empresas e nações, Frigotto (ibid. p.77) aponta que
“as empresas transitam acima do controle efetivo das nações e criam seu próprio
espaço de poder”. Acrescenta que a globalização resulta na perda do poder das
sociedades nacionais controlarem o poder do capital, e que as consequências
seriam a falência dos estados nacionais mediante a perda da capacidade de suas
moedas. Avalia que as reformas do Estado, baseadas em
desregulamentação/flexibilização, autonomia/descentralização e privatização são
políticas de desmonte da sociedade salarial e da estratégia de uma sociedade
integradora.
O autor chama atenção para o crescente monopólio da ciência e da
tecnologia, o que permite ao setor produtivo ter um crescimento sem um efetivo
acréscimo de emprego. Considera que este tipo de desenvolvimento produtivo,
associado às políticas neoliberais e à hegemonia do capital especulativo, desenha

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uma realidade onde se encontram a desestabilização dos trabalhadores estáveis
– dada pela intensidade na exploração e pela permanente ameaça da perda de
emprego; a instalação da precariedade do emprego – mediante a flexibilização do
trabalho, trabalho temporário, terceirização, etc; e o aumento crescente dos
sobrantes – contingentes não integrados e não integráveis ao mundo da produção
(ibid. p.78).
Frigotto cita Boaventura Santos avaliando os efeitos das políticas neoliberais
como instauradoras do “fascismo social” (FRIGOTTO, 2001, p.78). O autor explica
que as formas de fascismo “representam quebra do contrato social que se fundava,
em relação ao trabalhador, no emprego e a um conjunto de garantias e direitos. O
neoliberalismo rompe e sepulta essas garantias e direitos” (ibid. p.79). O autor
destaca o fascismo da insegurança, manifestado por “elevados níveis de ansiedade
e insegurança quanto ao presente e ao futuro, de modo a fazer baixar o horizonte de
expectativas e a criar a disponibilidade para suportar grandes encargos” (ibid. p.79).

3 Os projetos societários e educativos em disputa: caminhando no fio da


navalha
Frigotto coloca como desafio distinguir o projeto de educação profissional
patrocinado pelos organismos internacionais do projeto que se busca construir numa
perspectiva de emancipação da classe trabalhadora. Aponta que na atual LDB a
educação profissional é subordinada ao mercado e ao capital e a um modelo
concentrador de renda e excludente. Neste contexto, a educação profissional possui
uma perspectiva de adestramento, de formação individualista e fragmentária de um
“cidadão mínimo” que pensa e reage minimamente (op. cit.).
Sobre a influência quanto à orientação pedagógica, o autor destaca a atuação
do Banco Mundial e cita Rodrigues para explicar que a Confederação Nacional das
Indústrias (CNI)
sempre trabalhou ao nível simbólico e ideológico numa perspectiva
teleológica apresentada como necessária e irreversível para evitar o pior ou
o caos para a sociedade. Trata-se, como mostra o autor, de um mecanismo
discursivo de recomposição da hegemonia industrial (FRIGOTTO, 2001,
p.81).

Frigotto coloca que, no plano ideológico, a responsabilidade social é


deslocada do Estado para o individual, já não havendo política de emprego ou
perspectiva de carreira, mas apenas indivíduos empregáveis ou não (op. cit.).
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Após essa reflexão, o autor fala da concepção de Educação Profissional
centrada numa “perspectiva de emancipação da classe trabalhadora e que se
contraponha ao projeto dominante sustentado pelas forças conservadoras que
governam o Brasil” (FRIGOTTO, 2001, p.82), destacando cinco aspectos centrais
dessa concepção: No plano societário – a construção contra-hegemônica que se
situa no terreno ético-político, num movimento que critica o projeto dominante
centrado no mercado e que afirma a democracia, a igualdade e a solidariedade. No
campo educativo – a concepção de “educação básica pública, laica, unitária, gratuita
e universal, centrada na ideia de direito subjetivo de cada ser humano [...]
omnilateral, tecnológica ou politécnica formadora de sujeitos autônomos e
protagonistas de cidadania ativa” (ibid. p.82). Na formação técnico-profissional
articulada a um projeto de desenvolvimento sustentável, integrada à educação
básica e à dimensão ético-política da formação de sujeitos autônomos e
construtores de processos democráticos. Na premissa de não tomar a Educação
Profissional como política com foco na geração de emprego e integração ao mundo
globalizado – essas ações estão inseridas num projeto alternativo de
desenvolvimento humano, social, político, cultural e econômico, onde o ser humano
se constitui como centro, e não o mercado ou o lucro. Na articulação orgânica das
relações sociais de produção e das relações políticas, culturais e educativas, o que
implica em lutar por um Estado que governe com a sociedade e para a sociedade
(ibid. p.83).
O autor aponta como perspectiva fundamental o “controle democrático do
fundo público e dos processos e conteúdos do projeto educativo da classe
trabalhadora” (ibid. p. 84), destacando o exemplo do orçamento participativo como
forma de aproximar a população das decisões políticas do seu município ou estado.
Conclui trazendo que “a utopia é uma tensão permanente daquilo que é posto como
medida final, como imutável. É para isso que serve a utopia. A utopia é que nos
ajuda a afirmar os princípios da igualdade, solidariedade e a generosidade humana”
(ibid. p. 84).

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Considerações
Impressiona que o texto, publicado em 2001, seja tão atual, principalmente
quanto às estratégias de desmonte do Estado, da precarização das relações de
trabalho e da oferta de Educação Profissional focada no mercado de trabalho e na
submissão do trabalhador. Também impressiona que apesar desse cenário ser
conhecido em 2001, tenhamos evoluído pouco em vários aspectos e, após um
período de pequeno avanço, tenhamos “voltado para trás”

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