Auguste Comte
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da ciência social” (pp. 9-10). Mas também concordavam em muitos pontos como, por
exemplo, a necessidade de reorganizar a sociedade e tornar a política uma ciência positiva, tal
qual as outras ciências.
Quanto a essa reorganização da sociedade, seu acontecimento seria possível com a
separação entre a teoria e a prática. Para Comte, se fazia necessário uma especulação prévia;
antes da ação deveria existir o empenho em construir a teoria da sociedade. Em todo esse
processo de reordenamento, os especialistas em política teriam o papel predominante.
Portanto, seria de suma importância que o povo confiasse nesses novos cientistas
sociais, pois eles que seriam os capazes de encaminhar os movidos pelas paixões e pelas
crenças para uma marcha natural mais clara e consciente. Isso seria possível também com o
aperfeiçoamento filosófico, com a compreensão da importância da Física social (Sociologia)
pautada em conhecimentos prévios, métodos, resultados, enfim, marcada pela cientificidade.
Em suma, seguindo essa ideia do científico como primordial, ele considera os
fenômenos sociais regidos por leis naturais invariáveis, como as outras ciências naturais. Por
conseguinte, o Positivismo considera como pressuposto essencial a afirmação de que a
metodologia das ciências sociais deve ser igual a das ciências naturais, posto que a sociedade
é regida por leis do mesmo tipo das da natureza. “Há leis tão determinadas para o
desenvolvimento da espécie humana como para a queda de uma pedra” (p. 12, COMTE apud
MORAES FILHO, 1989).
Assim, a tarefa de seu tempo seria o empenho em conhecer essas leis e tornar todas as
ciências positivas para que, desse modo, a exatidão, a observação e a superação da confusão
de princípios pudessem levar a um conhecimento do rumo da sociedade e seu possível
caminhos para mudanças.. Como enfatiza Evaristo Filho, eis o objetivo prático da Sociologia
na obra de Comte: “conhecer para agir; compreender para reorganizar” (p.16).
Já em Filosofia Positiva, o autor da introdução esclarece sobre a aspiração da filosofia
Comtiana, que seria a de “ser um simples comentário geral, bem informado, dos últimos
resultados das ciências positivas. [...] A filosofia geral das diversas ciências particulares”
(p.17)
No tópico Classificação das ciências e método, Evaristo Filho aponta para o fato de
que Comte admitia cinco ciências que alcançaram o estágio concreto de positividade,
adotando critérios independentes para tal feito: a Matemática, a Astronomia, a Física, a
Química e a Biologia. A Matemática era por ele considerada como uma "espécie de lógica
geral de todas as outras ciências" (p.18).
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Além disso, Conte acreditava que na medida que a ciência se aproxima do homem ela
torna-se mais complexa, ao mesmo tempo que enriquece seu instrumento metódico.
Método, para ele, era algo que após ser estudado e elaborado de forma positiva,
poderia ser aplicado a todas as ciências, pois "cada uma delas possui, por sua natureza, a
propriedade exclusiva de desenvolver especialmente qualquer um dos grandes procedimentos
lógicos dos quais se compõe o método" (p. 19, COMTE apud MORAES FILHO, 1989).
Assim, este novo método geral para a ciência caracteriza-se pela observação em
aliança com a imaginação, sistematizadas, por sua vez, segundo princípios adotados pelas
ciências exatas e biológicas. Contudo vale notar, também, o fato de Comte perceber que cada
tipo de fenômeno possui suas particularidades, o que implica dizer que há um método
específico de observação para cada fenômeno.
Em A Sociologia entende-se que, para Auguste Comte, todos estes aspectos sobre
classificação de ciências devem ser aplicados nos estudos sobre fenômenos sociais, para que
esses possam atingir o estado de Positividade Cientifica. A Física Social seria, portanto, a
complementação da todas as ciências anteriores, seguindo o método histórico.
Ademais, Comte também defende a Sociologia como ciência quando se contrapõe a
ideia de que a Economia Política já seria a própria ciência social. A Economia Política, em si,
trata apenas ou privilegiadamente dos fatos econômicos, e a vida social não se resume a isso.
Quanto a Metodologia, a Sociologia fundamentar-se-ia na metodologia já utilizada
pelas ciências anteriores (observação, experimentação, comparação e método próprio), mas
com um foco na comparação e na filiação histórica.
Evaristo de Moraes filho também explana sobre a aplicação da Estática e da Dinâmica
segundo Comte, explicitando o fato de que este pensador direciona cada um desses âmbitos da
seguinte forma: "uma estuda a sociedade em repouso; a outra em movimento” (p.25)
A Estática tem por objeto a estrutura propriamente dita da sociedade, as suas
condições existenciais. Para isso, a sociedade precisa ser observada como um "todo global" e
levar em consideração todos os múltiplos fatos sociais que sempre estão entrelaçados: "Os
fatos sociais se organizam e se alteram sempre de forma interdependente e solidária, embora
com velocidades desiguais" (p.26).
Já a Dinâmica, estuda a sociedade em movimento e é, em suma, a sua teoria sobre a
Lei dos três Estados: as sociedades passam por etapas fixas de desenvolvimento que
progridem em direção a situação mais perfeita. Na primeira etapa, a teológica, as explicações
são dadas através das divindades; na segunda etapa, a metafísica, as situações são explicadas
através da essência dos fenômenos ou das coisas; finalmente, a etapa positiva, onde o que
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importa são as relações entre os fenômenos. Neste esquema, o estado teológico e o metafísico
são ambos considerados etapas necessárias da evolução social, mas condenados a desaparecer
definitivamente assim que o positivismo triunfar.
Por fim, a aplicação de toda essa sua teoria positivista se daria da seguinte forma: O
Estado deveria intervir na vida econômica e na organização social; a sociedade deveria ter um
opinião em comum formada, sólida e forte. Isso se daria através de uma "educação universal"
que deveria abranger "todas as classes da sociedade e todos os ramos do conhecimento
humano” (p.31). Porém, essa educação formada de uma mesma base não deveria nunca
acarretar saltos evolucionários pois, segundo a doutrina, "a mudança social, sem saltos,
processa-se da ordem, condição indispensável para o progresso; sem ordem, não há progresso,
e vice-versa" (p.31).
Enfim, o pensamento do filósofo francês Auguste Comte é muito voltado para um
projeto sociopolítico, para a construção de uma sociedade em que domine a razão e o
conhecimento científico. Este pensador criticou o dogma, no entanto, seu próprio pensamento
já foi eminentemente considerado como uma doutrina incontestável. Há uma série de
contradições no seu pensar sobre a Sociologia, na sua defesa da obrigatoriedade de ciências
com objetos tão diferente seguirem o mesmo método científico de forma tão inflexível. Mas é
certo que seus ensinamentos são, como aponta Moraes Filho, muito representativos da
primeira metade do século XIX, século singularmente importante e cheio de lutas. Também
seu pensamento muito influenciou, e muitas vezes ainda influencia, o modo de entender as
ciências sociais e as próprias instituições voltadas para a educação, entre outras instâncias da
sociedade.
Diante da incontestável influência dessa doutrina, é válido refletir sobre as heranças
desta. Refletir sobre até que ponto o discurso positivista impulsionou o imperialismo europeu,
por exemplo, o qual foi responsável por toda uma história de desigualdades e injustiças entre
os continentes, e em decorrência desse acontecimento, até hoje as injustiças entre nações e
culturas marcam o modo de vida das sociedades.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MORAES FILHO, Evaristo de (org.). “Introdução”, Auguste Comte: Sociologia. São Paulo:
Ática, 1989.
FERRARI, Márcio. Auguste Comte, o homem que quis dar ordem ao mundo. Disponível
em <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/auguste-comte-423321.shtml?page=3> Acesso
em 22 de Fevereiro de 2016.