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AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA

Capítulo

5. Ajudas e dicas
O que são ajudas e dicas 6? Tipos de dicas. Aprendizagem sem erros. Esvanecendo as
dicas. Diretrizes para uso de dicas.

Para ajudar o processo de aprendizagem, usam-se vários níveis de dica. Uma dica é um
estímulo extra que ajudará o comportamento desejado a ocorrer sob o estímulo correto. A
meta é usar o menor nível possível de dica necessário para conseguir o efeito desejado e
então esvanecer (remover gradualmente) as dicas o mais rapidamente possível, de maneira
que a criança possa fazer tudo sozinha.

Todos usamos dicas na vida cotidiana. Quando escrevemos lembretes para nós mesmos,
isto é uma dica. Quando lembramos nossos filhos de dizer “obrigado”, estamos usando
uma dica. Muitos de nós usamos agendas eletrônicas que nos lembram de um compromisso
30 minutos antes. Quando estamos aprendendo a sacar no tênis, primeiro observamos
alguém demonstrando – estamos recebendo uma dica. Quando queremos que crianças
aprendam habilidades e conceitos, precisamos ajudá-las dando-lhes dicas suficientes para
que possam executar determinada tarefa com sucesso. As dicas vivem acontecendo em
situações naturais. Aparecem nas propagandas, no rádio, TV e em especial nos programas
de computadores. Tomando consciência delas, você perceberá que as usa de maneira
freqüente e natural com seu esposo, filhos, amigos e colegas. Quando você vê um anúncio
de um produto, você está recebendo uma dica. Quando assiste a um programa de culinária,
ou segue um tutorial no computador, ou recebe uma chamada do seu dentista lembrando-
lhe que está na hora do seu check-up dental, você esta recebendo uma dica. Você está se

6
Nota dos tradutores: Os termos “to prompt” (verbo) e “prompt” (substantivo) foram traduzidos: “ajudar,
dar ajuda, ajuda ou dica”.

AJUDAS E DICAS - CAPÍTULO 5-1


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dando uma dica quando marca seu aniversário no calendário, esperando que seu marido
note.

Tipos de Dicas
Há dois tipos principais de dicas: Dicas de Resposta e Dicas de Estímulo (Alberto &
Troutman, 1986 7; Cooper e cols., 1987) 8.

Uma Dica de Resposta envolve o comportamento de outra pessoa que ajuda na efetuação
da resposta. Pode ser:

Verbal – pode ser verbal parcial (VP) ou verbal total (VT). Verbal total é dar a
resposta inteira – dizendo, por exemplo: “Qual é a capital do Brasil? Brasília”,
antes de fazer a pergunta “Qual é a capital do Brasil?”. Verbal parcial significa
dar apenas uma parte da resposta, um tipo de começo, como em: “Qual é a capital
do Brasil? Bra...”.
Gestual – é apontar para a resposta correta ou indicá-la olhando de relance ou na
direção da resposta correta. Pode ser um outro tipo de movimento, como inclinar a
cabeça para dar um sinal ou começar a executar uma ação. Vamos dizer que você
está ajudando uma criança a brincar de esconde-esconde e procurando uma criança
escondida. Você poderia dar uma dica para a criança procurar
no closet inclinando sua cabeça na direção do closet. Se
perguntasse para a criança “O que é alguma coisa bem alta
com degraus onde os bombeiros sobem?” e fizesse
movimentos de subir escadas usando os braços e as pernas,
esta seria uma dica gestual.
Modelação - é quando se mostra à criança como fazer alguma
coisa: Ao pedir para uma criança observar como você anda
de bicicleta, está fazendo uma modelação. Quando pede para
uma criança tocar a própria cabeça e, ao mesmo tempo,
executa o movimento, está modelando o comportamento.
Física – Você ajuda fisicamente a criança a completar uma tarefa pondo sua mão sobre
a dela para pegar brinquedos, empilhar blocos, segurar um giz de cera, escolher um
objeto sobre a mesa, usar um garfo ou colher. Também é chamada condução Mão-
sobre-Mão (Hand-Over-Hand, ou HOH). HOH também pode significar pegar a
criança e conduzi-la até o local desejado. Iniciação é um outro tipo de dica física. É
uma espécie de “cutucada”. Pode ser feita com uma leve pressão sobre o braço,
costas ou ombro. Pode ser feito começando delicadamente um movimento, como
tocar um braço para indicar que está na hora de levantar a mão, tocar as costas para
relembrar a criança de começar a andar, ou dar tapinhas no ombro para indicar “é a
sua vez”.

7
Nota dos tradutores: no original em inglês, este trabalho não foi listado nas “Referências bibliográficas”.
8
Idem. Neste caso, concluímos que poderia se tratar da obra “Applied Behavior Analysis” e a incluímos na
listagem (v. Referências Bibliográficas).

AJUDAS E DICAS - CAPÍTULO 5-2


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Uma Dica de Estímulo é alguma coisa que você faz para tornar o estímulo mais saliente e
mais provável de ser escolhido. Há dois tipos:

Dica Intra-estímulo: você muda alguma coisa do estímulo para que se destaque e
tenha mais chances de ser escolhido. Por exemplo, mudando o tamanho (tornando-
o maior que o resto); a forma (pode ser redondo quando todo o resto é quadrado); a
cor (a escolha correta pode ser colorida quando o resto é branco-e-preto).
Dica Extra-estímulo: (Schreibman, 1975 9) – alguma coisa que você adiciona ao
estímulo para ajudar a criança a responder corretamente. Por exemplo, poderia
colocar um adesivo de estrela sobre o cartão que traz a resposta correta.
Posteriormente você poderá remover o adesivo (esvanecê-lo) e, ainda assim,
esperar pela resposta correta. Algumas vezes as mães escrevem um “D” ou “E” nos
sapatos das crianças para tornar mais fácil distinguir direita da esquerda, porque o
próprio sapato como dica não é suficiente.

Aprendizagem sem erros


Apesar do termo e da técnica de Aprendizagem Sem Erros existir há um bom tempo,
tornou-se mais conhecida e mais usada há poucos anos, através da popularização das
técnicas de Comportamento Verbal, trazidas pelo livro “Teaching Language to Children
with Autism or other Developmental Disabilities” (“Ensinando linguagem a crianças com
autismo e outros problemas de desenvolvimento”, sem edição em português) de Mark
Sundberg e James Partington, e por psicólogos e pesquisadores como Patrick McGreevy e
Vince Carbone.

Aprendizagem sem erro significa que você garante que seja dada a resposta correta. É um
sistema de dicas que vai da ajuda MÁXIMA para a ajuda MÍNIMA. Você começa com a
maior dica disponível e gradualmente esvanece para dicas menos evidentes, até retirá-las
completamente.

Aprendizagem sem erro significa que o aluno dará muitas respostas corretas (não cometerá
muitos erros) e, portanto, o valor de fugir da situação de aprendizagem diminuirá. Imagine-
se tentando aprender alguma coisa nova (como um programa de computador!) e errando
muito. Você provavelmente vai querer desistir bem rápido e, se for forçado a continuar,
provavelmente não ficará muito feliz. Se você conseguir ser bem sucedido, provavelmente
se sentirá melhor em relação à situação toda, vai querer ficar mais tempo e, como prêmio
extra, experimentaria o que significa ter sucesso.

Quando estiver ensinando uma nova habilidade, comece com


uma dica grande, para manter a aprendizagem sem erro, e
depois esvaneça gradualmente as dicas.

9
Nota dos tradutores: no original em inglês, este trabalho não foi listado nas “Referências bibliográficas”.
Neste caso, concluímos que seria a obra que incluímos na listagem (v. Referências Bibliográficas)

AJUDAS E DICAS - CAPÍTULO 5-3


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Exemplo de Aprendizagem sem erro com Dica Verbal Total.


O professor usa uma dica
Professor: Onde você mora? Rio de Janeiro. verbal total imediatamente
depois de fazer a pergunta.
Criança: Rio de Janeiro.

Professor: Certo! Você mora no Rio de Janeiro! A criança repete (ecoa) a


resposta.
Esvanecendo a Dica
Você vai querer retirar a dica o mais rapidamente possível. Nos programas tradicionais
mais antigos de Ensino por Tentativas Discretas, esse processo seguia um formato pré-
estabelecido, onde a criança tinha que dominar completamente a habilidade em cada nível
de ajuda antes de passar progressivamente para um nível de ajuda menos intenso. Isso
poderia levar um longo tempo e tornar-se bem tedioso. Também poderia fazer com que a
criança acabasse cometendo muitos erros – talvez até dois terços do tempo de
aprendizagem. Imagine como aumentaria o valor da fuga para esta criança. Ela ficaria com
muita vontade de livrar-se dessa situação muito difícil e desestimulante. Por isso, você
começará a ver emergirem comportamentos difíceis e crianças que não querem “ir
trabalhar”.

Como professor, você deveria estar preparado para aumentar ou diminuir o nível de dicas
de tentativa para tentativa, conforme o necessário, para produzir todas as vezes a resposta
correta da criança. Geralmente, estará trabalhando para transferir a resposta ao estímulo,
usando a menor dica que puder. Por exemplo, usando o nosso exemplo “Onde você
mora?”, pode ser suficiente dizer simplesmente “Rio de ...” (uma dica verbal parcial). No
entanto, esteja preparado para voltar para uma dica total se a parcial não funcionar.

Exemplo de Aprendizado sem erro com Dica Verbal Parcial.


O professor dá uma ajuda
Professor: Onde você mora? Rio de ...? verbal parcial (Rio de...)
imediatamente depois de
Criança: Rio de Janeiro! fazer a pergunta.

A criança repete (ecoa) a


Professor: Certo! Você mora no Rio de Janeiro!
resposta.

Dica “Não-Não” (também conhecida como NNP 10)


A dica “não-não” se refere a uma técnica em que é feita uma pergunta para a criança e lhe
é permitido que dê duas respostas incorretas antes de receber uma dica. É o reverso da
aprendizagem sem erro, uma vez que segue uma estratégia de dicas da MÍNIMA para a
MÁXIMA. Ela NÃO deveria ser usada para ensinar habilidades novas! Também NÃO
está sendo recomendada aqui como técnica de ensino, mas está apenas sendo mencionada
somente porque existe muita confusão sobre o que ela é e se deveria ser usada. Veja o
exemplo a seguir.

10
“NNP” – em inglês, “No-No-Prompt” (Nota do tradutor).

AJUDAS E DICAS - CAPÍTULO 5-4


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Exemplo de dica “não-não”.

Professor: Onde você nada? Não

Criança: Parque.

Professor: Não, onde você nada? Não


Criança: Nada.
Dica
Professor: Não, onde você nada? “Piscina”.

Criança: Piscina.

O que realmente acontece é que o professor presume que a criança saiba a resposta e,
então, dá à criança duas chances para que ela acerte. O problema é que, embora a criança
soubesse a resposta na última vez, ela não consegue acertar agora. O professor precisa
responder ao que está acontecendo naquele momento.

Algumas vezes, os professores cometem o erro de usar a técnica “não-não” para ensinar
habilidades novas. Isso significa que a criança errará muito e que a situação de
aprendizagem se tornará menos reforçadora e possivelmente aversiva. Isto pode também
ensinar uma cadeia de erros – da próxima vez que você perguntar pra a criança “onde você
nada?”, ela poderá responder “parque-nada-piscina”. Ela encadeou todas as respostas
associadas com aquela situação de ensino.

O que fazer se a criança dá a resposta errada


Assim que a criança der a resposta errada, você deve voltar para a aprendizagem sem erro
e fazer um procedimento de correção.

Exemplo de procedimento de correção:


Resposta incorreta.
Professor: Onde você nada?
O professor corrige,
Criança: Parque.
repetindo a pergunta (SD)
com a dica.
Professor: Onde você nada? PISCINA.

Criança: PISCINA.
A criança responde corretamente.
Professor: Onde você nada?

Criança: Piscina. O professor repete a pergunta.

Professor: Muito bem, você nada na piscina! A criança responde


corretamente sem a dica.

AJUDAS E DICAS - CAPÍTULO 5-5


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Diretrizes para o uso de dicas


1. Quando estiver ensinando novas habilidades, use os níveis mais altos de dica –
pode ser mão-sobre-mão, verbal total ou um modelo.
2. Quando estiver ensinando uma habilidade nova, não deve haver demora entre a
apresentação do SD e a dica (0 segundos).
3. Quando você achar que a criança já pode ter aprendido a nova habilidade, você
pode esperar dois segundos entre a apresentação do SD e a dica para ver se a
criança responde corretamente. No entanto, se ela responder corretamente dessa
vez, mas não na vez seguinte, retroceda imediatamente e adicione uma dica – a
menor necessária para conseguir a resposta desejada.
4. Use o procedimento de transferência para ter certeza de que a criança está
realmente respondendo a pergunta, ou respondendo ao estímulo, e não
simplesmente te ecoando.
5. Sonde as habilidades já dominadas. Esteja preparado para retroceder e ajudar, se
necessário.
6. Aumente e diminua o nível de dicas tentativa por tentativa, conforme for
necessário para que a criança responda corretamente todas vezes.
7. As ajudas precisam ser esvanecidas (gradualmente removidas) o mais rápido
possível.
8. Deveriam ser evitadas as dicas não planejadas. Isto pode ser tão mínimo quanto
voltar seu olhar para o item correto ou, inadvertidamente, colocar um item em
uma posição favorável à escolha.
9. Nem todos os tipos de dicas se aplicam a todos programas. Por exemplo, não é
possível usar a dica mão-sobre-mão para conseguir uma resposta verbal.

AJUDAS E DICAS - CAPÍTULO 5-6


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Exercício 15
Instruções:
Identifique os tipos de ajudas/dicas usadas nos exemplos abaixo
1. Maria pede que João lhe passe o leite e o açúcar. João
não responde, então Maria pede novamente.
2. Mamãe oferece um biscoito para Sara, mas não o
entrega até que Sara se lembre de dizer “obrigada”.
3 Margarida pede que Davi lhe mostre o maior dos três
itens sobre a mesa. Quando Davi erra na primeira
tentativa, Margarida repete o pedido, mas desta vez
aponta o item correto.
4. Kátia canta uma canção e espera que João preencha a
lacuna: “Nesta rua, nesta rua tem um bos...”.
5. Maria diz para José: Faça assim, enquanto dá
pequenos saltos.
6. Cris pede que Mateus toque seus dedos do pé. Mateus
não responde, então Cris aponta para os dedos do pé
de Mateus.
7. Dona Clementina pede que as crianças façam fila.
Como Paulo não entra na fila, ela põe gentilmente a
mão sobre seu ombro e o dirige para lá.
8. Gina está ensinando Caio a usar um mouse de
computador, colocando suavemente a mão sobre a
dele, e conduzindo-o levemente para frente.
9. Como Paulo ainda não se dirigiu para a fila, Dona
Clementina pega sua mão e o leva até a mesma.
10. O professor demonstra como escrever a letra “H” e
então deixa que Gabriel tente sozinho.

AJUDAS E DICAS - CAPÍTULO 5-7

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