8 Semana de História
8 Semana de História
8 Semana de História
Cajazeiras, PB
Janeiro de 2017
2017 © Copyright Mundial
UACS – Unidade Acadêmica de Ciências Sociais. UFCG – Universidade Federal de Campina
Grande.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Formatação e organização:
Yan Bezerra de Morais
Observação: a adequação técnico-linguística dos textos, assim como seus conteúdos, são de
responsabilidade dos autores.
ISSN
2525-2836
COMISSÃO ORGANIZADORA
APRESENTAÇÃO
PROGRAMAÇÃO GERAL
Segunda-feira, 21 de novembro
Terça-feira, 22 de novembro
Quarta-feira, 23 de novembro
Sexta-feira, 25 de novembro
O sertão do Piancó
1
Bolsista do PIBIC/CNPq/UFCG no projeto: "Títulos, honras e mercês nos sertões: cargos militares e
redes sociais no Termo do Piancó (Capitania da Parahiba do Norte, séc. XVIII)", com orientação do Prof.
Dr. Rodrigo Ceballos. E-mail: [email protected]
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
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Mapa 1: Em destaque amarelo percebe-se o espaço entendido por sertão do Piancó, fazendo limites
com a Capitania do Rio Grande, do Ceará e do Pernambuco; ao centro (fig. 01) destaca-se a Povoação
do Piancó. Fonte: SOARES, Simone. 2012.
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tarefa de indicar, confirmar e nomear os oficiais aos postos vacantes, o que lhe garantiu
o poder de escolha. Esse poder, conforme nos afirma Costa (2006, p. 118),
2
REQUERIMENTO do capitão-mor João de Miranda, ao rei [D. João V], solicitando confirmação da
carta patente no posto de capitão-mor dos sertões das Piranhas e Piancó, da serra da Borborema, distrito
que compreende a freguesia do Bom Sucesso. AHU_CU_014, Cx. 6, D. 522.
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O cargo foi ocupado por João de Miranda, fidalgo que participara na “guerra dos
bárbaros” em Pernambuco e do processo de conquista dos sertões do Piancó e das
Piranhas, ao lado de Teodósio de Oliveira Ledo. Fiel ao serviço real, Miranda ocupou o
cargo de Alferes até 1715, ascendendo neste mesmo ano ao posto de Sargento-mor, e
em 1725 tornou-se Capitão-mor dos sertões do Piancó, das Piranhas e Serra da
Borborema. Em 1738, João de Miranda, quando já não ocupava mais o cargo de
Capitão-mor, embora carregasse consigo o título, foi registrado como Juiz Ordinário do
Piancó em Livro de Notas de 1738.
Sucedendo João de Miranda, Joseph Gomes de Sá assumiu o cargo de Capitão-
mor do sertão do Piancó e das Piranhas por duas vezes; a primeira em 1733, ao término
do período de João de Miranda, e a segunda em 1749, com atenção à área do Rio do
Peixe, lugar onde estavam localizadas suas sesmarias. Gomes de Sá foi Soldado na
praça do Recife e Capitão da Companhia do Regimento da Cavalaria da Capitania do
Piancó. Joseph, assim como Miranda, também foi registrado como Juiz Ordinário do
Piancó, em Livro de Notas de 1742.
Entre 1733 e 1749, Manuel Rabelo de Figueiredo ocupou o cargo de Capitão-
mor, segundo nos informa sua patente, Manuel era membro de uma das principais
famílias da localidade e um sujeito “experienciado” nas armas. Por esses dois motivos
fora nomeado ao cargo de Capitão-mor dos sertões do Piancó, Piranhas e anexas em
1737. Sua carreira militar contava com a ocupação dos postos de Soldado, de Capitão e
de Sargento-mor (1730)3. E conforme nos informa o Livro de Notas de 1734, Manuel
também foi Juiz Ordinário do Piancó.
Aqui chamamos atenção para algo semelhante entre estes sujeitos, eles foram
detentores da patente de Capitão-mor – que deveria durar três anos – e também
ocupantes da função de Juiz Ordinário – que duraria um ano. Duas funções de caráter
distinto, uma militar e uma jurídica, mas que carregavam consigo um signo de
autoridade local, que proporcionavam aos seus ocupantes distinções e privilégios.
Considerando a importância desse ethos eles passavam a compartilhar entre si as duas
funções, objetivando manter-se autoridade e em decorrência disso manter-se membro de
uma elite local que detinha o poder político, administrativo e econômico no Piancó.
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Temos outros casos para além dos citados acima4, e temos ainda aqueles outros
militares – coronéis, sargento-mores, capitães etc. – que também ocuparam a função
jurídica. Não era regra que militares, fossem Capitães-mores ou outros, ocupassem a
função de Juiz Ordinário, mas podemos perceber que há um considerável número de
casos como esses.
Retornemos às trajetórias.
Embora não tenhamos acesso à carta de nomeação de Francisco de Oliveira
Ledo, filho de Teodósio de Oliveira Ledo e participante do processo de conquista do
sertão, sabemos através de outros documentos5 que ele também fora Capitão-mor do
Piancó, por volta de 1756. Sua trajetória militar está registrada em carta patente de
1732, referente à sua nomeação ao posto de Capitão-mor do Cariri, nela consta que o
mesmo teria ocupado os postos de Soldado da Infantaria paga da guarnição da Fortaleza
de Cabelo e Capitão da Cavalaria do Rio do Peixe.
No tocante aos cargos inferiores destacamos inicialmente o caso de Marcos
Fernandes da Costa, que em 1726 foi nomeado ao posto de Coronel das Ordenanças dos
sertões do Piancó e do Cariri, em razão da ausência de Manoel de Araújo – primeiro
Juiz Ordinário do sertão do Piancó. A ausência de Manoel de Araujo encontrava
justificava na sua transferência para a Capitania do Pernambuco, onde há três anos
estava estabelecido com sua mulher, seus filhos, sua casa e fazenda. Ao se negar a
retomar ao seu antigo posto militar no sertão do Piancó, Manoel acabou sendo
destituído. Em seu lugar foi nomeado Marcos Fernandes, que em sua trajetória militar
ocupou os postos de Soldado das Ordenanças e Capitão da Cavalaria dos sertões do
Piancó e Cariri.
Identificamos ainda Manoel Martins Lopes, nomeado ao posto de Sargento-mor
ad honorem6 do Piancó, em 1766. Martins seguira carreira ocupando os postos de
Soldado, Alferes e Tenente da Companhia do Regimento da Cavalaria. Interessante
notar que Manuel é indicado ao cargo de Sargento-mor ad honorem pelos próprios
principais da terra, que tinham poder de influência junto aos integrantes do Senado da
4 Wilson Seixas (1962), em sua “Relação dos que governaram a magistratura de Pombal desde sua
colonização”, nos aponta o caso do Capitão-mor Francisco de Arruda Câmara (1771 e em 1773) e do
Capitão-mor José Felix Machado (1785).
5
Procurações registradas no Livro de Nota do referido ano. Os Livros de Notas produzidos no sertão do
Piancó durante todo o período setecentista pertencem ao 1º Cartório Coronel João Queiroga (Pombal,
PB).
6
Ad honorem significa “por honra, por prestígio”.
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Câmara, conforme nos informa sua carta patente, e acaba por se tornar representante do
governador da capitania no sertão do Piancó, função que cabia ao Capitão-mor.
À guisa de conclusão
Considerando tudo que foi expresso ao longo dessa discussão, acreditamos que
dedicar-se a análise da trajetória militar dos sujeitos que atuaram no Piancó torna-se
indispensável à compreensão da própria história dos sertões e à revisão historiográfica
que se faz necessária. Ao pensar os militares de ordenanças no Piancó pensamos em
sujeitos integrantes e produtores de uma sociedade dinâmica, em fase de organização
administrativa e jurídica, responsáveis pela defesa do território conquistado e pela
manutenção da sua boa ordem. Passamos a pensar através do papel exercido por esses o
processo de organização social que se deu nesse espaço e os interesses – sejam eles
políticos, econômicos etc. – que moldaram essa sociedade colonial.
FONTES
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REFERÊNCIAS
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PRADO JUNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil: colônia e império. São Paulo:
Brasiliense, 1999. 103 p.
SEIXAS, Wilson Nóbrega. O velho arraial de Piranhas (Pombal). 2 ed. João Pessoa:
Grafset, 2004. 465 p.
SOARES, Maria Simone Morais. Formação da rede urbana do Sertão de Piranhas e
Piancó da Capitania da Paraíba setecentista. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo), Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2012. 186f.
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Introdução
1
Graduanda de Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal de Campina Grande. E-mail:
[email protected]
2
Graduando de Licenciatura Plena e História pela Universidade Federal de Campina Grande. E-mail:
[email protected]
3
Professor adjunto da Universidade Federal de Campina Grande-PB. E-mail: [email protected]
4
CEARÁ. Governo do Estado do Ceará. História do Ceará. Fortaleza, CE.
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5
CEARÁ. Governo do Estado do Ceará. História do Ceará. Fortaleza, CE.
6
Apelido dado a cidade de Aurora em virtude da efetiva participação desta família na conjuntura do
município.
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Os coronéis, Antônio Joaquim de Santana da cidade de Missão Velha, João Raimundo de Macêdo de
Barbalha, Domingos leite Furtado de Milagres e major Inácio do Barro fizeram uma aliança e ajudaram
fazendo pressões ao presidente para que interferisse na luta que acontecia em Aurora – CE.
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Designação dada a região por consequência da abundante presença de um arbusto de mesmo nome.
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Revoltas locais, serão explicadas no próximo capítulo.
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exumarem seus ossos, encontraram sua dentadura alojada na garganta, gerando, assim, a
suspeita de Marica ter morrido por asfixia.
Questão de 810
Até o ano de 1908 a cidade vinha sendo comandada pela família Leite que até
esta data mantinha acordos políticos com já citada Marica Macêdo. Contudo após
algumas divergências a mandatária resolveu deixar a situação. Coronel Totonho
indignado diante tal fato resolveu atacar a matriarca e sua família, sabendo disto Marica
uniu sua prole e foi refugiar-se em Missão Velha na casa de parentes. A caminho
resolveu pernoitar no sítio Taveira, onde o coronel também tinha alguns desafetos, e
desta maneira iniciou-se uma luta em prol do poder da pequena cidade.
Deste modo, o cenário político de Aurora em meados de 1908 encontrava-se em
uma situação tensa, que determinou um palco de jogo de interesses entre duas facções.
Estas se sustentavam em uma relação de equilíbrio, no entanto desavenças políticas vão
tornar essa rede de interesses insustentável, eclodindo assim uma ferrenha disputa pelo
poder local.
Vale salientar apolítica do Ceará que nesta época era comandada pela família
Accioly. Desse modo, essa configuração vai ajudar e intervir nos conflitos de Aurora
atendendo os anseios dos Acciolys. É importante entender o cenário político de Aurora:
A Questão de 8 foi no seu cerne lutas entre famílias, motivadas por interesses
coronelísticos para delimitar quem teria o controle político e quem deteria maior poder
naquele cenário socioeconômico de Aurora.
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Em virtude de ter se sucedido no ano de 1908.
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É importante ressaltar, a grande perda que Marica teve em meio a este conflito
sangrento, seu filho caçula, Cazuzinha, com apenas quatorze anos foi morto enquanto
retirava seu cavalo do meio da guerrilha. Marica pegou o corpo de sua cria encostou em
uma parede e voltou ao combate agora movida com o sentimento de vingança.
Fogo do Taveira11
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Conflito sangrento no Sítio Taveira que desencadeou a Questão de 8 e propiciou a deposição de
Coronel Totonho e ascensão política da família Macêdo.
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Macedolândia
A oligarquia Macêdo foi conquistando espaço nas estruturas de poder, seja ela
na prefeitura, cargos municipais, ou na região local. Desta forma centralizou e
fortaleceu seu poder no então município de Aurora.
Foi esse contexto histórico que proporcionou o engajamento de
sucessivos prefeitos da família Macêdo para a cidade de Aurora. Em virtude da forte
presença desta oligarquia a cidade de Aurora é chamada Macedolândia por amigos de
outras cidades que conhecem a história política do município, um apelido popular que
escancara a verdade acerca da imposição política desta família, refletida numa lista
enorme de membros deste clã em cargos públicos. O domínio dos Macêdo sobre o
município de Aurora criou raízes profundas e fixadas no imaginário popular e nas urnas.
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Conclusão
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A introdução dessa família nas estruturas de poder local deu-se através de uma
revolta de cunho pessoal entre Marica e Totonho, a qual resultou na ferrenha e eficaz
inserção desta oligarquia na história aurorense que uma vez detentora do poder político
soube usá-lo, sendo poucas as vezes que não o usufruiu.
Compreender a atual conjectura política de Aurora é buscar fazer uma leitura do
passado, e este trabalho fez uma releitura deste tempo a partir da injeção da família
Macêdo, seu fortalecimento e detenção da lógica política social de Aurora, através de
uma ótica válida, mas nunca totalizante, usufruindo da pequena historiografia local.
As raízes da oligarquia Macêdo foram fincadas na sua migração para a região
rural de Aurora, onde seu poderio configurou um polo de interesses e grande poder. A
partir dos conflitos da “Questão do 8” e “Fogo do Taveira” esse clã conseguiu fixar-se
num solo ainda maior e fértil, e suas raízes esparramaram-se de uma forma vasta e
profunda na história política de Aurora.
A oligarquia Macêdo é um conjunto de indivíduos unidos pelos laços sanguíneos
e interesses pessoais, que justificam sua autoridade na política através da história local,
alegando sua íntima relação com o crescimento social e econômico de Aurora. Este
centralismo fomentou a produção deste trabalho, a busca do entendimento dessa lógica
vigente levou a uma historicidade instigante, que esclarece alguns pontos sobre a
família Macêdo.
À vista disto, fica perceptível, no título deste trabalho, a tentativa de
compreender a afirmação “Aurora: terra de Macêdos, vulgo Macedolândia”.
REFERÊNCIAS
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1
E-mail: [email protected]
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Fundada pela família do Governador Antonio Mariz, teve o seu nome, antes Pedra Talhada, alterado
para Marizópolis, como forma de homenagear a família Mariz. É também conhecida como a
Mesopotâmia do Sertão por ser situada entre os Rios do Peixe e Piranhas.
3
Art. 1° Fica denominado "Rodovia Governador Antonio Mariz" o trecho da rodovia federal BR-230,
compreendido entre as cidades de Cajazeiras e João Pessoa, no Estado da Paraíba. Art. 2° Esta Lei entra
vigor na data de sua publicação. Brasília, 7 de junho de 2001; 180° da Independência e 113ª da
República. Fonte: <http://www.jurisway.org.br/>. Acesso em: 29/09/2015.
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Continua:
Essas homenagens feitas aos parentes de Mariz e também a sua pessoa mostram
que compartilham do mesmo prestígio, pois o grupo o qual fazem parte é indestrutível.
Como argumenta Regina Abreu, ao apresentar como a “nobreza” se imortaliza.
Continua:
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locais adaptados ao contexto político. O sistema político por vezes se confundia com o
domínio das famílias na política local, havendo a preocupação se esses grupos
familiares estariam servindo ao poder central ou defendendo seus interesses locais.
E continua:
A situação da Paraíba não era uma das melhores no cenário nacional, pois o
estado passava por uma forte crise financeira.
Destacaremos algumas propostas política, em seus principais pontos, a partir do
que relatam seus amigos, correligionários, admiradores:
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A sua base aliada e familiar fortaleceu muito bem a sua trajetória de político,
como descreve o jornalista Nonato Guedes:
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Observa-se na fala do jornalista uma crença total em Mariz, como homem que
veio salvar a Paraíba da situação precária em que se encontrava. As biografias traçadas
por políticos e simpatizantes que acompanharam Mariz em todos os momentos, pousam
numa ilustração de perfeição.
Regina Abreu (1996, p. 67-68) continua:
Com esse argumento da autora Regina Abreu (1996), podemos fazer uma análise
dessas homenagens póstumas feitas aos “grandes” políticos que tiveram suas histórias
escritas, imortalizando os seus feitos e suas representações para uma nação que tem, por
exemplo, a memória de Getúlio Vargas indissociavelmente vinculada à luta da classe
trabalhadora; assim como a memória de João Pessoa está indissociavelmente ligada a de
um “santo” e “herói”. A junção de toda a fabricação desta engrenagem, no qual o
cidadão faz parte significa a “morte em carne e osso e o nascimento do imortal”
(ABREU, 1996, p. 69).
Os estudos feitos sobre a vida pessoal e política de Antônio Mariz foram feitos
por amigos e contemporâneos. Esses escritos trazem uma história que enfatiza um
homem coerente com suas ações e que zelaria pelo bem público. Observamos que os
amigos têm uma preocupação em mostrar que a vida de Mariz pertence(u) ao povo. Isso
nos faz lembrar a história linear e a exaltação feita a Mariz, que nasceu num campo
propício a se tornar um homem público através da própria educação dada pela família.
Essa construção na memória social, construída ao longo dessas décadas,
impulsionada por escritores amigos e familiares, pode ser explicada pelos argumentos
de José Luciano de Queiroz Aires (2013) quando fala da “memória coletiva, lugares de
memória e lugar social”, ao dialogar com autores como Maurice Halbwachs, que
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Ainda nas obras feitas sobre a vida de Antônio Mariz, os escritores têm a
preocupação de expor todos os documentos escritos que registram a conquista do
político: diplomas, relatórios, discursos, sua participação nas decisões políticas
nacionais, os depoimentos dos seus correligionários, transformando tudo isso em uma
História política tradicional, como aconteceu com outras figuras que registram a forma
tradicional de fazer História.
Com isso, a atuação política de Antônio Mariz de prefeito de Sousa a
governador da Paraíba é caracterizada como uma “nova era”, com novos sonhos, novas
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Nessa citação, José Aldemir eleva Mariz a nível nacional quando diz que o
mesmo “vai continuar vivo na memória dos brasileiros”. E quando diz que a Paraíba
continuará sendo governada por aquele que saiu de sua escolha pessoal, dando
sequência à administração, referiu-se ao seu vice-governador, José Maranhão Targino,
que assumiria o poder depois de sua morte e que carregaria a missão de continuar
solucionando os graves problemas do estado.
O dia 16 de setembro de 1995 foi considerado o “domingo da saudade”, pois às
18h58m morria o governador Antônio Marques da Silva Mariz, deixando a Paraíba em
luto. O pronunciamento oficial foi dado pelo secretário Walter Santos. A emissora
Tabajara, que já estava de plantão acompanhando as últimas informações sobre o
quadro clínico de Mariz, descreveu todos os acontecimentos e se colocou como os
“olhos e os ouvidos do povo, registrando com fidelidade o fato histórico” (A UNIÃO,
1995). A rádio Tabajara transmitiu ao vivo todo o cortejo do governador Mariz. Em
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Sendo assim, o mito Antônio Mariz, desde sua morte até os dias de hoje, vem
ganhando força na memória social, despertando interesses de muitos estudiosos para
escreverem a sua história, privilegiando e cristalizando o seu papel dentro da história
política nacional e regional.
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Depois desse, podemos entender que a imagem fabricada de Mariz foi resultado
de discursos que ressaltaram as lutas enfrentadas no decorrer da vida política, que as
pessoas passaram a admirar. A esta discussão, podemos incluir as análises de Michel
Foucault quando ressalta a força do discurso:
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Antônio Mariz soube usar muito bem outros recursos que ajudaram na
fabricação de sua figura política. Um desses recursos foi a própria mídia, sendo o
primeiro político de Sousa a fazer prestação de contas na emissora de rádio, usando essa
ferramenta para se promover. Como diz René Rémond (2003, p. 441),
Com mais forte razão, os meios de comunicação não são por natureza
realidades propriamente políticas: podem tornar-se políticos em
virtude de sua destinação, como se diz dos instrumentos que são
transformados em armas.
Como se observa até hoje, a mídia é uma importante arma que pode ajudar ou
prejudicar uma pessoa. Quanto à imagem de Antônio Mariz, foi sempre elevada pelos
amigos e familiares, ressaltando sempre sua descendência familiar justa, ordeira e
religiosa. Mariz exerceu uma carreira profissional tida como exemplar e fiel aos seus
princípios, conseguindo incorporar esses recursos nos seus discursos e dando uma
forma sólida a sua carreira política.
René Remond (2003) afirma que o político se destaca dentro do governo, por
exemplo, em tempos de guerra, de abastecimento dos exércitos, da divisão da escassez,
pois cabem ao poder público. Dentro do contexto social e político de Sousa, analisando
as propostas do governo de Antônio Mariz e o que realmente colocou em prática,
destacam-se atos e benefícios para a população não realizados por governos anteriores.
Essa preocupação pelo lado social e trabalhista que Mariz destacou levou a
população carente a admirá-lo, a tê-lo como salvador dos oprimidos. Surge-nos a
pergunta: Mariz soube traçar uma boa estratégia política quando se aproximou da cidade
de Sousa? Sim, sem dúvida, pois Mariz demonstrava querer estar presente em todos os
momentos da vida da população.
O que realmente aconteceu nas disputas políticas entre as alianças políticas da
cidade de Sousa na década de 1960 pode ser interpretado como uniões feitas por grupos
que não tinham afinidades. Isso quer dizer que os vários grupos representados pelos
seus líderes políticos faziam intrigas entre si de modo que cada grupo elevasse o seu
próprio representante para poder disputar e excluir o outro candidato. Contudo, surge-
nos outra pergunta: como o grupo de Mariz conseguiu utilizar desse ressentimento da
população sousense para suscitar diferentes emoções e conseguir o apoio dos cidadãos?
Mariz, assegurado desse discurso e desse sentimento, conseguiu o apoio da população
que se sentia dominada pela velha ordem.
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Dessa forma, o que nos cabe analisar, e até então não foi dito em nenhum outro
trabalho de pesquisa sobre a política de Sousa no período em que Antônio Mariz fez
parte, é exatamente essas estratégias que a figura de Mariz usou para conquistar as
pessoas, como essa imagem é apresentada, ou seja, reconstruir essa história que o
transformou num símbolo de herói e mito para a posteridade. Usando esses mecanismos
em plena década de 1960, não há dúvida que Mariz se destacou, pois eram atos não
vistos antes pela população, feitos que marcaram a vida política e a construção dessa
imagem social da população sousense.
Ainda na homenagem feita a Antônio Mariz depois de morto, Nelson Coelho usa
palavras de Getúlio Vargas quando diz:
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dos escalões da política do Brasil. Homens que foram consagrados na história através de
discursos, carregando sozinhos os atos mais corajosos de lutas e conquistas. O escritor
Raoul Girardet (1987) ao analisar os feitos de homens que entraram na história como
heróis, faz a seguinte reflexão:
Essa reflexão que nos traz o autor Girardet (1987) leva-nos a verticalizar a
racionalidade que é dada ao historiador em perceber que na fabricação de um
personagem existem dois lados: o que é real e o que é fruto do “imaginário”. Existe o
lado da “intencionalidade”, o que foi selecionado para ser dito e perpetuado da imagem
do político Antônio Mariz, e o lado dos atos espontâneos, ou seja, a base concreta sobre
o qual o mito é construído.
Esses feitos marcaram a vida política e a construção dessa imagem social da
população sousense. Por sua vez, essa memória social que foi criada de Mariz nos leva a
buscar uma análise de como isso se perpetuou através desse monumento: sua antiga
casa na cidade de Sousa, herança de familiares, que depois virou a casa oficial quando
prefeito da cidade e se transformou em Memorial. A casa onde Mariz morou quando
prefeito de Sousa nos ajudou a entender essa memória cravada na sociedade. E uma das
pessoas responsáveis por essa preservação foi a sua própria esposa, juntamente com
suas duas filhas, amigos e familiares.
O que iremos discutir neste momento é o que fazer com a memória de Antônio
Mariz, os discursos, os documentos e a própria casa. Quais significados tudo isso
apresenta?
Com todas essas recordações, é como se o passado estivesse sempre presente,
apesar de não poder revivê-lo, recuperá-lo. A lembrança de Mariz está sempre presente
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no cotidiano da cidade, nas redes de comunicação social, nos discursos políticos. Com
esse sentimento de perpetuar essa reminiscência, a sua esposa Mabel, com suas duas
filhas e amigos, tiveram a ideia de transformar a antiga casa onde residiram em uma
fundação, com isso, foi criada em 1995 a “Fundação Antônio Mariz”, que em 2014
passou a ser o “Memorial Antônio Mariz”.
O “Memorial” não tem apenas um valor material, onde encontramos os móveis,
quadros de parede com imagem de seus antecedentes, o próprio quarto como era antes,
os objetos pessoais como as roupas, etc. Tem, principalmente, um valor simbólico da
continuidade de um grupo familiar que fez parte da elite social e política da Paraíba.
Como diz Regina Abreu (1996, p. 34), “Os objetos que compõe um museu estão
investidos de uma série de significados simbólicos dos quais emanava o prestígio e o
poder de uma série de pessoas”. Essas escolhas de objetos, desses significados, foram
fortemente influenciadas pela própria esposa Mabel Dantas, que deu apoio à construção
da imagem política do esposo.
Depois de sua morte, amigos e familiares passaram a zelar cada vez mais por sua
memória e cultivar essas lembranças para que nunca fossem esquecidas. Até hoje a casa
recebe o cuidado da viúva que, ao visitar a cidade de Sousa, vai ao Memorial. Os
amigos também zelam a casa e contam toda trajetória política de Mariz, assim como de
seus familiares, ressaltando sempre as conquistas árduas.
Apesar de o Memorial ter sido construído na residência de prefeito com a
intenção de transparecer a sua vida pública, também abriu espaço para a sua vida
privada, como o acesso a seu quarto, à sala de jantar e à cozinha, aos álbuns de
fotografia que trazem as recordações da vida de infância e familiar e também das
disputas e campanhas políticas, lembranças de sua formação acadêmica como
advogado, diplomas e cadernos com anotações: o aspecto físico da casa até hoje
continua o mesmo. A casa do ex-prefeito e hoje Memorial tem um significado maior
que os próprios objetos, pois isso não é medido pela sua força material, mas sim pelo
significado simbólico que apresenta. Tudo o que está exposto em seu memorial tem um
valor único, carrega um valor histórico da família que é apreciado por todos os
moradores da cidade de Sousa, legitimando essa importância do mito Antônio Mariz e o
recolocando em constante evidência.
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REFERÊNCIAS
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Introdução
Revisitando a historiografia
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Aluna do curso de Graduação em História da Universidade Estadual da Paraíba. Trabalho apresentado
em simpósio temático de História Política. Novembro de 2016. E-mail: [email protected].
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Na obra de Carlos Fico, "O Golpe de 1964", o autor trabalha o evento chave da
História do Brasil recente. Nos ajudando a compreender o que dificilmente, se
compreenderá o pais de hoje sem que se perceba o verdadeiro alcance daquele momento
decisivo, o golpe de 1964. Nesse sentido utilizamos a obra no objetivo de compreender
um dos eventos mais decisivos da história recente do Brasil, o regime que durou 21
anos, utilizando ainda essa obra por seu caráter didático, sem tantas amarras
acadêmicas.
Daniel Arão Reis, em seu livro, "A Revolução que Faltou ao Encontro", trouxe
elementos essenciais para construção da nossa pesquisa, pois contribuir no intuito de
entendemos as organizações comunistas brasileiras, os caminhos trilhados por esse
lideres, os fracassos da revolução que não ocorreu da maneira que eles imaginaram.
Através dessa obra, Daniel trouxe depoimentos importantes para nos fazer pensar sobre
a atuação da esquerda brasileira.
Uma das obras mais importantes para pensar sobre o anticomunismo brasileiro, é
a tese de Rodrigo Patto de Sá, intitulada de, "Em guarda contra o Perigo Vermelho: O
Anticomunismo no Brasil (1917-1964)", no qual o autor desenvolve uma amplo
trabalho sobre o impacto desenvolvido pelo anticomunismo no Brasil, trazendo à tona o
papel desse fenômeno em pleno século XX, particularmente nas conjunturas políticas de
1935/37 e 1961/64,quando as ameaças impostas pelo comunismo fornecem o principal
argumento para as duas principais rupturas institucionais, mais sérias do período
republicano, nos ajudando assim a refletir sobre as origens dos regimes autoritários de
maior duração já sofrido pelo país.
Historiografia Paraibana
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a um recorte temporal diferente da nossa pesquisa, essa obra serviu para pensar sobre o
comunismo e o fracasso sofrido pela esquerda paraibana, enriquecendo assim nosso
debate em torno de questões que premeiam o espaço do comunismo.
Outro trabalho que merece destaque na Historiografia paraibana é a tese do
Faustino Teatino Cavalcante Neto, intitulado de " A ameaça vermelha": O Imaginário
Anticomunista na Paraíba (1917-1937), nesse trabalho o autor busca compreender como
se processou a constituição de um imaginário anticomunista paraibano entre 1917 e
1937, observando as suas regularidades e singularidades ao longo de sua dinâmica
histórica. Partindo desse pressuposto devemos destacar a importância elementar que
essa obra traz para nossa pesquisa, no objetivo de buscamos elementos para enriquecer
nosso debate sobre o anticomunismo paraibano.
Ressaltando ainda que esse trabalho foi o pioneiro, na problematização do
anticomunismo, que, até então, era relegado a um segundo plano pela historiografia
paraibana, em favorecimento é claro de questões consideradas de maior importância do
campo político. Desta forma não poderíamos deixar de mencionar esse trabalho,
mesmo pertencendo a um recorte temporal anterior.
Em segundo lugar, examina-se aqui trabalhos que, mesmo sem fazer referência
única e exclusivamente ao período de 1960- 1964. Possam nos auxiliar para melhor
entendimento, ao cenário que se moldou antes do golpe de 1964. Dessa forma
destacamos que alguns estudos contemporâneos foram, em alguns casos apenas citados
de maneira rápida e superficial se comparado aos estudos percussores e fundadores da
referida tradição.
2
Chatier observa que o principal objetivo dessa corrente historiográfica (História Cultural) é identificar o
“modo como, em diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade social é construída e
pensada, dada a ler.
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Uso de periódicos
Como o presente artigo é construído por meio de periódicos, destaco aqui que
esses são minhas fontes e objetos de estudos, a nossa pesquisa, é construída por meio de
jornais paraibanos, e consequentemente fui convidada a me aventurar por campos pouco
explorados, levando em conta que muitos dos trabalhos no campo historiográfico tem se
afastados dos arquivos, devido a mal organização e o processo de burocratização para
chegar nesses espaços.
Para se trabalhar com tal tipo de fonte, utilizaremos como aporte teórico, o
trabalho da historiadora Tania Regina de Luca3. Afirma que pensar sobre a concepção
da história ser construída por meio de periódicos é algo relativamente novo. Pois afirma
que na década de 1970, havia um número pequeno de trabalhos que se valia de jornais e
revistas, como fonte para o conhecimento da História no Brasil. Desta forma podemos
destacar que o ideal da busca pela verdade, não contribuía muito para o uso das fontes.
3
No livro sobre Fontes históricas, organizado por Carla Bassanezi Pinsky, a autora Tania Regina de Luca
escreveu um artigo sobre o uso de Fontes imprensas, no qual ela discute a História dos, nos e por meio
dos periódicos, a autora trabalhar as concepções acerca de trabalhos que utilizam os periódicos como
fontes documentais, e ressaltar que é algo muito recente na historiografia brasileira. Diante de tais
questões ela nos mostra elementos que sejam capazes de nos ajudar e auxiliar no oficio do historiador.
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Castro falavam” sobre a relação diplomática com o então presidente do Brasil Jânio
Quadros, “Fidel Castro virá assistir à posse de Jânio no Brasil”4. O Correio da
Paraíba, sempre noticiava matérias de cunho político e ideológico, pois trazia elementos
discursivos capazes de demostrar a tristeza ou repúdio que o povo brasileiro sentia a
vivenciar esse momento.
Com o passar dos anos o periódico, foi ganhando mais espaço na capital
paraibana, e consequentemente terminou se tornando o maior e mais lido periódico
paraibano, liderando o mercado editorial impresso, com uma tiragem diária de 75 de
participação na cidades paraibanas.
Em sua maioria as notícias vinculadas se referia à manchetes, opiniões e artigos,
que atuavam em torno da recepção de fatos nacionais, como idas e vindas na
presidência da república, ameaças de possíveis notícias sobre o nazismo em território
brasileiro, interesse dos Estados Unidos no desenvolvimento do Brasil, pedidos de
impeachment, suposta relação de Jânio com Fidel Castro, que posteriormente poderia
ser reconhecida como alianças em torno do Comunismo.
Entre tantas matérias vinculadas no jornal, eram muitas as que vinculavam com
objetivo de mostrar e publicitar a relação que Jânio Quadros, mantinham com o general
Fidel Castro. Determinada matéria tinha como principal manchete: “Jânio não fará um
governo medíocre: diz Fidel”5. Esse trecho é apenas uma das muitas matérias
vinculadas nesse periódico paraibano, que traziam muitas notícias do cenário político,
nacional e internacional.
Um dos fatos que mais impressionou durante as visitas a arquivo do Correio da
Paraíba, foi a capacidade que tal veículo de comunicação tinham de “meramente
reproduzir o que ocorria no cenário nacional”, pois esse primeiro, estava situado na
Paraíba, entretanto não noticiava quase nada sobre o estado, o que se falava sobre
política, era em sua maioria em nível nacional, são raras as vezes, que observamos
matérias com assuntos sobre a política paraibana.
Uma das poucas vezes que observamos matérias vinculadas à Paraíba, foram nos
periódicos de 1962, onde o assunto mais noticiado, inclusive na folha principal, foram
4
- O Correio da Paraíba,01/01/1961. Neste jornal era comum ser vinculado várias matérias sobre a
relação do presidente Cubano e o presidente brasileiro.
5
- Correio da Paraíba, 18/01/1961. Mais uma vez, o periódico fazia referência ao general Fidel Castro e
sua “relação diplomática”, que não era bem vista, pela ala conservadora brasileira.
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6
São tantas matérias vinculadas acerca do tema, que não vamos colocar todas as datas, visto que o
periódico vinculou notícias sobre o acontecimento “o ano inteiro” 1962, o ano em que a Paraíba virou
pagina principal.
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7
Diário da Borborema, 09/07/1963, nesse manchete os candidatos tidos como comunistas, que poderão
ter os registros de candidatura são: José Pereira, conhecido como “Peba”, que era candidato ao cargo de
prefeito da Rainha da Borborema e seu vice: Manoel Monteiro, é interessante, lembramos que ambos,
eram filiados ao Partido Socialista Brasileiro. Logo assim eram constantemente taxados de “comunistas”
ou desviantes da sociedade.
8
Diário da Borborema, 29/08/1963, neste o Chatô, como ficou conhecido, manifesta sem menores
preocupações sua postura conservadora e totalmente anticomunista.
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Podemos mencionar aqui também a figura de Antônio Barros Pontes, que tinham
uma pequena coluna diária no periódico DB, onde ele escrevia sobre acontecimentos
ligados a literatura e poesia, mas algumas vezes se utilizavam desse espaço para falar
sobre questões políticas na cidade de Campina Grande, comentando sobre as eleições
municipais, problemas de administração, entre outras, apesar das informações sobre
esse personagem serem escassas, acreditamos que seja relevante menciona-lo nos
nossos escritos, levando em consideração suas matérias publicadas no Diário da
Borborema.
Outra matéria que foi vinculada no Diário da Borborema, que gerou muitos
comentários a respeito foi, um artigo no qual Assis Chateaubriand, falavam sobre uma
visita que haviam feiro ao Nordeste brasileiro, onde ficou aterrorizado com o
Comunismo e o Marxismo, que haviam se instalado nas igrejas, por parte do clero. Para
melhor expressa tal sentimento ele escreveu e publicou um artigo, no dia 24 de Janeiro
de 1964, intitulado de: A insuficiência mental e moral da parte do clero que apoia
Fidel9:
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pessoas, pois passam a colocar os marxistas, lenistas cubanos, todos em uma mesma
categoria, deixando de levar em conta características particulares de cada corrente, aliás
na visão do próprio Chatô , todos estão no mesmo patamar e deve ser combatidos de
modo ímpio, pois estão traindo a própria democracia, e o próprio sistema
governamental, uma vez que matem o contato com Cuba, e são supostamente pagos por
Fidel, para que assim possam instalar o comunismo dentro das igrejas, dos mais
diversos credos religiosos.
Especificamente no dia 1 de Abril o Diário da Borborema, não publicou
nenhuma notícia de maior relevância sobre o golpe civil militar, com exceção 10 de uma
pequena nota que falavam sobre o clima de instabilidade do Brasil, já fora vivenciado
em outros países Comunistas. Portanto fiquemos vigilantes, para que a nossa pátria, não
caia na escuridão de tais países, é preciso que lutemos, por nossos direitos.
A posição do Diário da Borborema é indiscutivelmente anticomunista, levando
em consideração, todas as matérias aqui abordadas. Inclusive matérias que falavam
sobre a comunização do ensino em Curitiba, no dia 1 de Abril de 1964, onde 30 mil
pessoas entre estudantes e pais de alunos e estudantes de todas as classes socias,
participaram apesar da chuva que caia sobre a cidade paranaense, da passeata contra a
comunização do ensino, que tinham como principal objetivo de impedir encampação
das escolas particulares pelo governo federal.
Notícias como essas só reforçam todas as discussões realizadas nos parágrafos
anteriores, e por fim o artigo que confirma toda uma suposta verdade sobre o golpe de
1964, nas palavras do próprio Chatô: Era tudo verdade11!!!
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Considerações Finais
Como já foi dito no início desse trabalho o objetivo principal foi, produzir uma
análise das representações sobre o anticomunismo em jornais paraibanos. Levando em
consideração que utilizamos trabalhos da historiografia brasileira, com objetivo de dar
maior sustentabilidade ao trabalho aqui produzido. Diante de tais análises em periódicos
12
Sobre verdade, ver o conceito utilizado por Michel Foucault (1979) em ele que explica que por verdade
se entende um conjunto de procedimentos regulados para a produção, a lei, a repartição, a circulação e o
funcionamento dos enunciados. A verdade estar ligada a sistemas de poder que a produzem e apoiam, e a
efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem. Regime de verdade.
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FONTES
REFERÊNCIAS
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Introdução
Discorrer sobre uma temática que tramita em torno das identidades carece de
uma gama de diversas composições teórico-metodológicas na abordagem do agente
narrador-pesquisador, entretanto, averiguamos um notável protagonismo do conceito
representação. Em decorrência desta designação, que avaliamos ser de grande valia para
as investigações que circundam em torno das identidades, advogamos para a percepção
da ideia de representação direcionando-a para o princípio de uma função que carece de
significados, logo, as alegorias das representações se constroem em detrimento de
múltiplos fatores socioculturais. A partir desta amplitude, caracterizamos como
essencial as concepções de pertencimento ou de experiência de um determinado corpo
social ou sujeito, que se encontra imerso em uma identidade auto afirmada, contudo, a
1
Fragmento de uma pesquisa que originará um trabalho de conclusão de curso no mesmo
direcionamento, orientado pela professora Patrícia Cristina de Aragão Araújo.
2
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. E-mail: [email protected]
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constituição do pertencer não se assume como estagnada, mas sim, múltipla por se
constituir e se reinventar de forma efêmera no cotidiano de um respectivo corpo social.
Diante do exposto, destacamos que este breve artigo terá por finalidade
apresentar e analisar como se constituíram as representações das identidades no espaço
de trabalho perante um estudo de caso que foi instrumentalizado nos espaços das casas
de farinha. Tomando por base a referente designação de abordagem, atribuímos como o
lócus de nossa pesquisa a comunidade São João Batista, também conhecida como Lagoa
do Barro, que se situa no município de Lagoa Seca (Paraíba). Dito isto, destacaremos
como se construiu uma ideia de identidade dentre estes sujeitos mediante o espaço de
trabalho, enfatizando os meios e as etapas de produção, proporcionando-se assim, uma
proposição analítica que possibilitará uma demarcação simbólica ao espaço da casa de
farinha, assim, possibilitando-nos a condição de interagir e interpretar este objeto de
estudo transcendendo sua feitura material.
Caminhando neste limiar interpretativo, destacamos como base teórica para a
referente análise as contribuições do historiador inglês E. P. Thompson (2011), no que
tange a ideia de experiência como sendo algo que se forma no interior de uma célula
social, por conseguinte, avaliaremos às experiências de relações de trabalho, no espaço
da casa de farinha, como propulsionadoras da identidade do lugarejo analisado; como
segundo ponto, utilizar-nos-emos da ideia de produção e de consumo, mediante os
estudos do historiador francês Michel de Certeau (1998), principalmente, quando
iremos interpretar o conjunto de ressignificações linguísticas, assim como, em outras
condições que formataram o cotidiano farinheiro naquela referente comunidade.
Partindo deste pressuposto, basear-nos-emos esta análise ancorados metodologicamente
em uma pesquisa de campo na comunidade referida, assim como, através da história
oral; por conseguinte, destacamos que a alusiva pesquisa nortear-se-á por uma
abordagem de caráter qualitativo, sob a perjura de possuir um estudo de caso mais
profundo.
Posteriormente à esta breve exposição, destacamos que nossa abordagem
textual ancorar-se-á a partir de três breves tópicos que otimizarão nossa breve
exposição, respectivamente na seguinte ordem: para principiar a discursão
apresentaremos um breve esboço teórico sobre as casas de farinha, mediante uma
exposição das categorias de produção do espaço e de consumo do próprio, como
consequência, construiremos uma alegoria espaço-discursiva para a percepção da casa
de farinha como um espaço de ressignificação dos farinheiros; em segundo ponto, a
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3
Este nome se trata de um pseudônimo. Por causa de dificuldades logísticas não foi assinado o TLC
(termo de livre consentimento), por conseguinte, devido a referente indisponibilidade preferimos utilizar
um pseudônimo, mesmo com o aval informal para usar o nome do entrevistado. Trata-se de um homem
de idade já avançada que vivenciou grande parte de sua vida na casa de farinha, da infância à meia idade.
Suas atividades foram diversas nestes espaços, pois, no início da entrevista quando ele expos a respectiva
relação com este espaço contou-nos que em sua infância participava de diversas atividades tanto voltadas
para as feituras de transformações materiais, assim como, as brincadeiras. Mediante os deslocamentos nos
meios produtivos o relato deste entrevistado demonstrou que sua participação foi desde a produção à
comercialização nas casas de farinha, por conseguinte, o fundamento base que estabeleceu uma relação de
pertencimento dele com sua família se estabeleceu nos espaços de produção de farinha.
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a casa de farinha. Em primeira instância existe uma fixidez designada sobre o lugar das
coisas formalmente construídas ou instituídas para respectivas finalidades, o caso por
exemplo do forno que servia para o cozimento da farinha, entretanto, na segunda
configuração às especificidades são transformadas pelas prospecções do fazer cotidiano,
assim, o espaço do forno tornava-se um lugar de conversa depois da farinhada
(salientando que depois do esfriamento do forno), principalmente, acompanhados de
água ardente. Neste tramite, a linguagem e seus sentidos emergem como uma
operacionalização informal dos jogos de linguagens cotidianos que se circunscreveram
nos laços sociais dos farinheiros, por consequência, formando uma demarcação de
significância que solidificaram o princípio do ser farinheiro daquele lugarejo.
Demarcando-se os atinentes pontos que foram apresentados na composição
cotidiana dos farinheiros da comunidade Lagoa-sequence denominada de São João
Batista, buscaremos construir uma interpretação acerca do sentido das experiências que
foram construídas nos meios de produção. De uma ação de transformação protagonista
para as fundamentações simbólicas da produção farinheira demarcando o sentido de
representação identitária do ser farinheiro.
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restante da casa de farinha por se tratar de uma máquina. Em um espaço, por vezes,
rústico e inóspito ao moderno as máquinas eram escassas, exceto o motor que realizava
a moagem. Onde a força-motriz humana e animal era regra, a tração a óleo e querosene
era a exceção, de um modo geral, em um espaço de tijolo bruto e corroído pelas
intempéries, o ferro era escasso e “estranho”. Entretanto, esta etapa se destoa das outras
devido a ríspida “solidão” daquele que a exerce, seja pela necessidade de
individualização, por demandas de segurança ou até por questões de impossibilidade de
interação devido ao barulho do motor. Desta forma, nesta etapa um indivíduo era
responsável por friccionar a mandioca raspada no moedor que tornava-a uma polpa
umedecida.
Na massa pastosa que era resultante do processo da moagem fazia-se uma
prensagem que era a etapa onde era necessária mais força, assim como, simbolicamente
permeada de um sentido de união através da tração humana. A prensa pode ser descrita
como a junção fixa de duas madeiras densas (ou grandes vigas) que ficavam paralelas,
formulando uma amarração interligada à um grande tronco em forma de parafuso que
impunha a pressão sobre a massa pastosa tornando-a mais seca. Imprescindível para o
cozimento ou a “torra” da farinha, a prensagem era um modo bem rústico para a
extração do líquido da mandioca. Esta atividade, por suas características mais
vinculadas a força e a tração manual, era mais exercida por homens devido, também, a
próxima etapa ser atribuída, principalmente, às mulheres e/ou as crianças. Salientamos
que o líquido que era resultante deste processo era aproveitado para a pulverização de
plantios que começavam a adentrar nesta comunidade, principalmente com a ação
educativa promovida com os núcleos de diálogo com os agricultores (para caráter de
exemplo o sindicato dos trabalhadores rurais de Lagoa Seca – STRLS).
Com a retirada do líquido, a massa pastosa da mandioca, passava a ficar mais
seca e menos densa, no entanto, ainda restavam impurezas, que eram retiradas em uma
próxima etapa do processo de produção: a peneiragem. Para a retirada de alguns
materiais impróprios para o cozimento da massa, este processo, era essencial para a
produção da farinha. Assim, como não necessitava de demasiada força física, mas sim,
sutileza para com a massa seca, esta parte, era realizada geralmente por mulheres ou
crianças, inclusive, posteriormente a este procedimento as primeiras retiravam-se da
produção de farinha, para o preparo da tapioca, que era muito apreciada pelos
trabalhadores farinheiros. Em uma definição base, o processo de peneiragem,
comportava uma ação bem elementar que era aproveitada para a brincadeira das
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crianças, devido a densidade e maciez da massa que derivava deste processo às crianças
ficavam fazendo colocando a mão na massa resultante e fazendo pequenas esculturas
com a própria.
Para culminar o processo produção da farinha havia o cozimento realizado em
um forno de barro cozido, revestido com placas de cimento encaixadas em um formato
circular. Como era uma atividade cansativa e repetitiva, estava aos encargos de homens,
tanto o cozimento da massa da resultante da peneiragem como a extração das matérias-
primas para a torra da farinha. Com relação as madeiras que alimentavam o forno da
casa de farinha, que possuía algumas plantas de destacaque desde o denominado velame
até a algaroba (Prosopis juliflora) seca. No processo de cozimento, recorrentemente às
noites eram atravessadas e os trabalhadores revezavam o constante movimento
repetitivo que era necessário para a farinha não queimar. Dentro das noites de trabalho
teciam-se os mais diversos diálogos entre os homens que eram responsáveis por esta
etapa, que através de uma linguagem peculiar ao espaço criavam as teias de socialização
que fomentavam a unidade entre os trabalhadores e o espaço de produção como marco
referencial.
Depois deste processo, tornava-se pronto o produto final que era distribuído
entre os compadres e as comadres que participaram da produção; outra parte ficava para
a alimentação da casa do produtor, juntamente, ao dono da casa de farinha; e uma outra
parte era posto em sacas para serem vendidas no comercio local através dos
atravessadores. Dentre às nuanças que coabitavam nos meios produtivos que foram
enfatizados, assim como, nos meios mercadológicos que construíram uma competição
desleal com a entrada da farinha industrial nas feiras e, principalmente supermercados
que passaram a tornarem-se mais atuantes na cidade que possui ligação direta com o
consumo material da cidade Ipuarana (nome anterior dado à Lagoa Seca) Campina
Grande, acompanhando a impossibilidade de produção mediante às condições
infraestruturais que alcançaram a produção da farinha (desde à busca por matéria-prima
até os custos que envolviam a própria produção). Destacando-se os aspectos que foram
apresentados neste meio produtivo, advogamos sob a construção de experiências que
formataram a demarcação de uma identidade dentro do meio produtivo que podemos
ratificar através do tópico subsequente quando iremos apresentar os traços memoriais
que nos foram concedidos nas falas de nossos entrevistados monumentalizando às casas
de farinha.
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Na casa de farinha que tinha aqui no sítio da gente tinha muita história
para contar. Era uma época tão boa. Se juntava um monte de gente
4
O entrevistado contribuiu gentilmente para a fomentação desta análise mediante um termo de
consentimento esclarecido. Destacamos que no incurso da entrevista apresentou-nos que suas
experiências no espaço da casa de farinha foram de bastante valia para sua demarcação como sujeito de
um processo de identidade coesamente integrada a comunidade de Lagoa do Barro. Sua trajetória nestes
espaços começou de forma bastante precoce (ainda na infância) quando trabalhava com seu pai e, por
coincidência, segundo ele, depois de seu casamento seu espaço de moradia foi escolhido por se tratar de
um conjunto de experiências ao longo de sua vida familiar na casa de farinha. Destacamos isto porque
quando casou-se, nosso entrevistado, demoliu a casa de farinha de seu pai e construiu sua casa
exatamente no mesmo local paradoxalmente a destruição do prédio, suas interpretações destacaram, que a
memória daquele espaço nunca fugiu a sua mente.
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5
O entrevistado consentiu com a exposição de sua fala mediante o termo de consentimento. Sua
participação, ou melhor dizendo inserção, na vivência farinheira começou na adolescência e em meio ao
processo produtivo, ressaltou-nos a participação em todas as etapas produtivas, assim como, comerciais.
Por consequência da proximidade dos laços familiares na comunidade ressaltamos que o entrevistado que
o precedeu é o seu tio e, como consequência, dividiram o espaço da mesma casa de farinha pertencente ao
conhecido Manoel Raulino Pereira (falecido aos 89 anos em março de 2013).
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Considerações finais
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REFERÊNCIAS
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano 1 - Artes de fazer. 15. ed. Petrópolis:
Vozes, 2008.
GERTRUDES, E. P., Entrevista Concedida. Lagoa Seca 09/06/2016.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.
MAIA, Pseudônimo. Entrevista concedida. Lagoa Seca 09/09/2016.
MARX, Karl. Processo de trabalho e processo de valorização. In: O Capital, Crítica da
Economia Política – Volume I: O Processo de Produção do Capital. São Paulo: Editora
Nova Cultural Ltda, 1996, p. 297-315.
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NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História.
São Paulo, n. 10, p. 7-28, dez. 1993.
PEREIRA, Carlos José. Entrevista concedida. Lagoa Seca 07/08/2016.
THOMPSON, Edward Palmer. A formação da Classe operária inglesa: a árvore da
liberdade. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
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Introdução
1
Mestrando em História pela Universidade Federal da Paraíba. E- mail: master-splinter-
[email protected]
2
Graduando em História pela Universidade Federal da Paraíba. E-mail: [email protected]
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física e do espaço, como também no que diz respeito a vida dos sujeitos e sujeitas que
viveram naqueles tempos.
Podemos considerar que a maneira como o autor narrou e construiu uma
memória daquele tempo reporta-se não apenas do ponto de vista de apenas representar,
inventariando escolhas, pessoas, pontos de vistas, que trouxesse à tona – e
principalmente para os seus pares – um forte saudosismo de alguém que viveu naqueles
tempos.
Este saudosismo é bastante frequente na obra e nos mostra alguns recursos
discursivos que o autor se utiliza para rememorar um passado longínquo e que não volta
mais, uma forte nostalgia de algo que é bastante característico das obras memorialistas.
Em linhas gerais, o livro analisado nos apresentou algumas inquietações que
serão apresentadas no decorrer deste pequeno ensaio.
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secundarista que veio do sertão e que aos poucos se acomoda no ritmo de vida da
Capital. Realidade de alguns destes lugares de boemia daqueles tempos, o Bar possuía
vários pontos interessantes que foram destacados pelo autor: não possuía porta pois
funcionava 24 horas por dia; fazia as vias de restaurante no dia-a-dia (o famigerado
arroz-com-ovos, predileção de alguns estudantes, inclusive); servia de ponto de
encontro entre casais declarados e não-declarados socialmente; ocasionalmente era um
dos primeiros lugares de disseminação de boatos e fatos das vida política e social
(como, segundo o autor, fora no caso do assassinato de João Pedro Teixeira, líder das
ligas camponesas).
A narração de Paulo sobre os momentos de pico de encontro entre as pessoas,
estudantes, meretrizes, passantes e transeuntes dos mais variados rumos, se davam nas
noites de sexta-feira e sábado, onde confundia-se diálogos em meio a cigarros acesos,
algazarras, gritos, conversas, pedidos e cochichos dentro do salão:
“- Sai um arroz-com-ovos!
- Traz um pirata [ Montilla] e duas cocas!
- Viva Jango! Viva Fidel!
- Sai outro arroz, este está com cabelo.
- Mas só porque é fiado, Chiquinho?
- Me dá o molho Tabajara!
- Grande é Lacerda! Mior é Julião!” (SOARES, 1989, p. 255)
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lançavam encontros as vezes as escondidas com homens suspeitos numa mesa mais
discreta. Geralmente tinham uma outra fonte de renda, como de trabalho doméstico, e
podemos levar a crer que talvez adviessem da região metropolitana. Não viviam nas
pensões, mas muitas vezes os acordos, os programas, tinham nas pensões uma extensão
de seu “local de trabalho”.
Sobre aquelas que viviam no espaço do centro, o autor buscou apresentar dados
mais detalhados sobre a vida delas e que exigiria uma intenção analítica bem maior e
que não compete neste ensaio. Elas viviam nas pensões e bordeis e exerciam seus papeis
em vários pontos, aonde apenas pela manhã tratavam de conversar entre elas sobre os
causos, fatos, experiências e rendimento na noite anterior.
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Política e Combate
Paulo Soares dedica extensas partes para demonstrar a atuação política dos
jovens estudantes naquela época, seja através da participação direta nas entidades
representativas como a União dos Estudantes do Estado da Paraíba, a UEEP, e o
Diretório Central dos Estudantes (DCE), ou nas diversas ações sociais que os jovens
estudantes desempenhavam com a população mais carente de João Pessoa.
Em relação à atividade estudantil dentro das entidades representativas, Soares
nos mostra a luta dos estudantes, tanto os secundaristas, como os universitários, em prol
das melhorias estruturais do ensino e da assistência estudantil. Inicialmente, o autor
descreve todas as atividades relacionadas à Casa do Estudante e o processo de luta em
relação à esse espaço.
Criada através do decreto 782 de 12/03 de 1937, durante a gestão de Argemiro
de Figueiredo, a Casa do Estudante era um espaço de assistência aos jovens que vinham
do interior para estudar na capital e que não tinham condições de se manter nas diversas
pensões localizadas no centro da capital paraibana. Inicialmente, abrigava poucos
estudantes e servia apenas como dormitórios, porém ao longo do tempo foi expandindo
os seus serviços e hóspedes.
Soares nos mostra todo o processo de luta envolvendo as melhorias da Casa do
Estudante, desde a sua estrutura física e chegando até a sua forma de representação
dentro do movimento estudantil. Por ter participado ativamente desse período, o autor
dedicada a maior parte do seu livro a essa questão, incluindo nos seus relatos todos os
tipos de piadas, anedotas e situações engraçadas que envolviam a Casa do Estudante,
mas sempre deixando claro a importância da mesma para os estudantes e os seus
esforços para mantê-la funcionando.
Ainda no âmbito da política estudantil, Paulo Soares relata todo o processo de
luta dos estudantes em relação a outra questão importante para a assistência estudantil
da época: o Restaurante Universitário. Como uma enorme parcela dos estudantes era
proveniente do interior, era muito custoso para os discentes conseguirem se manter na
capital e ainda arranjarem dinheiro para a alimentação. Com isso, a existência de um
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restaurante universitário e gratuito era uma pauta bastante importante para o movimento
estudantil.
A mobilização dos estudantes frente a outros assuntos também é tratada por
Paulo Soares, a exemplo do apoio às ligas camponesas do Estado da Paraíba e também
na criação do Hospital Padre Zé por parte de alguns estudantes de medicina.
Toda essa movimentação estudantil era acompanhada por discussões políticas
mais gerais, a exemplo da situação do país nos anos 60, principalmente na crise
institucional envolvendo o Presidente João Goulart. Soares mostra toda a atividade
estudantil contra as forças conservadoras que planejavam o golpe militar, indicando
diversos estudantes e narrando várias situações de resistência, dentre elas a Greve da
Faculdade de Medicina em 1963 e a ocupação da Faculdade de Direito em 1964.
Com o golpe militar instaurado, Soares diz:
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escrito. A ideia de uma juventude combativa, alinhada aos interesses do país e que
estava sempre presente nas atividades políticas parece ser o ideal que Soares busca em
suas memórias, a fim de resgatar um espírito combativo para o seu presente.
Com o golpe militar e a intensa perseguição aos estudantes, tudo isso atrelado ao
fato de a grande maioria ter começado a tocar as suas carreiras profissionais, o Bar
Pedro Américo passou a ser menos frequentado por Soares e seus amigos. O regime
militar, com seu discurso de ordem e preservação dos costumes, foi bastante repressivo
à esses espaços de boemia e de prostituição, além do medo de ser fichado pelos órgãos
de inteligência do estado, a exemplo do Serviço Nacional de Informação, que coletava
informações de diversas pessoas que frequentavam esses espaços a fim de
“desmoralizar” a imagens delas.
Outro ponto crucial na desarticulação do Bar Pedro Américo e na sua decadência
foi a construção do campus universitário na zona sul da cidade. O Centro abrigava
diversas faculdades e com isso o trânsito de jovens estudantes era bastante intenso nessa
região. Com a desarticulação do centro como espaço para os estudantes, grande parte
dos lugares que os mesmos frequentavam também passou a entrar em decadência, a
exemplo do Bar Pedro Américo, que fechou suas portas no início da década de 1970, e
quase todas as pensões.
Diante de tudo isso, ainda existe outro fator importante que nos explica a
decadência desses espaços: a expansão da cidade para o Litoral. Até início da década de
1960, a linha litorânea e a zona sul da cidade não tinha uma expressiva densidade
demográfica, relegada, como no caso da primeira, a espaços para veraneios e pequenos
estabelecimentos comerciais e bares. Com o avanço da especulação imobiliária e a
expansão do centro para cidade, somado ao processo de inflação demográfica – foi uma
época de considerável êxodo rural para as cidades, principalmente de homens e
mulheres sertanejos para o litoral -, o centro tentou sobreviver com as cartas que
dispunha naquelas circunstâncias: ainda era (e é) um dos principais pontos comerciais
não apenas da cidade, mas de toda a região metropolitana.
Com essa gentrificação urbana, este espaço que de certa forma já adquiria uma
roupagem marginalizada ainda naquela época, mas com o diferencial de que havia bem
maior circulação de pessoas, essa marginalização começa a incorporar maiores
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
elementos de criminalidade, visto que, uma vez que o centro da cidade e alguns dos seus
antigos bares e pensões ainda funcionam nos dias atuais, seu sentido original
transformou-se num espaço de relativa periculosidade. Estas relações todas nos
trouxeram algumas considerações sobre o trabalho e a ideia de espaço do centro nos
tempos do Pedro Américo e nos dias atuais.
Um primeiro ponto que merece destaque diz respeito a ausência de trabalhos
historiográfico que abranjam este momento histórico na idade de João Pessoa e que
tome como recorte justamente estes homens e mulheres que vivem, frequentam e
usufruíram da vida noturna, muito mais para dar sentido cultural ao espaço em questão e
como funcionava as relações de sociabilidade dentro de uma perspectiva que adote o
lugar social destes sujeitos na história, no tempo e, principalmente, na memória. Sobre
estas questões, talvez os apontamentos dados por Michel de Certeau no seu clássico “A
Invenção do Cotidiano”(1994) sobre os lugares sem história destes sujeitos ordinários,
as táticas, as estratégias e as resistências destes no âmbito do dia-a-dia e mesmo neste
processo de gentrificação do centro permita apresentar algumas linhas sobre a vida
cultural, social, boêmia e política nestes espaços fundamentalmente marginalizados.
Sobre estes sujeitos ordinários, um fator bastante curioso para nós ao lidar com a
leitura sobre o trabalho memorialístico do autor e, consequentemente, da época em que
são narrados os fatos, foram a simbiose –como dito anteriormente – entre os estudantes,
os passantes, o Centro, o Bar e a Zona. Sobre esta última, a preocupação em apontar os
bastidores e as várias facetas de um rosto noturno: as moças que se prostituíam tinham
identidades próprias, trabalhavam e viviam no centro integralmente ou não. Isso nos faz
apresentar uma ilustração menos caricatural sobre o que significa a labuta noturna
destas mulheres, dando forma e complexidade a uma prática que moralmente (ou,
melhor dizendo, hipocritamente) relega a elas, muitas vezes, as condições das mais
cruéis na nossa sociedade.
Outra consideração nossa diz respeito a um aspecto romântico de nossa análise:
uma história da ebriedade e de seus espaços. Ainda que exista uma relativa timidez na
produção historiográfica sobre o lugar da boemia e seus espaços na sociedade, um
estudo que pensasse ou mesmo conceituasse a ideia de boemia no seu sentido
antropológico e histórico está no nosso horizonte de expectativa de análise – ainda que
esta ainda se mostre bastante limitada devido ao avançar desta pesquisa. Pensar Boemia
enquanto prática social, que culturalmente flui dentro da necessidade de encontrar-se
com seus condiscípulos de vida ou mesmo sozinho, numa mesa de bar ou mesmo na sua
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REFERÊNCIAS
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Introdução
Trabalhar com música como fonte histórica é uma coisa relativamente nova para
os historiadores, os metódicos da França do século XVIII jamais cogitariam essa
possibilidade, as portas vão se abrindo com os Annales no século XX, mas até hoje nós
historiadores temos problemas de usar a música como fonte histórica. Marcos
Napolitano um dos principais teóricos de História e Música no Brasil diz que os
historiadores ainda não sabem usar bem a música como fonte, para ele o principal erro
seria fazer apenas analises de letras musicais esquecendo toda amplitude da canção, ele
vai dizer que além da análise da letra é importante entender a melodia seu contexto de
criação, seu autor, o lugar social do musico também é importante, à época, para qual
público aquela música era destinada, qual sua intencionalidade, ou seja, jamais será
apenas analisar a letra da música.
1
UFCG-CFP. E-mail: [email protected]
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resistência cultural e política a nova organização da indústria, quanto como única via de
acesso ao mercado para um variado grupo de artistas. Essa contradição ela desenvolve
um debate na época entre dois músicos profundamente envolvidos com essa produção o
Helio Ziskind e Lelo Nazário, escrevendo para folha de São Paulo em 14/03/1982 Helio
Ziskind tenta desmistificar o movimento independente afirmando que:
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
vinculados ao Lira Paulistana ocupavam lugares junto a mídia escrita. Vale ressaltar
também que, nesse mesmo período a alternativa independente foi largamente utilizada
também por artistas que atuavam em mercados regionais, na música sertaneja, na
música instrumental e em outros segmentos ignorados pelas grandes gravadoras, ele cita
mesmo Emilinha Borba que ao sair da CBS em 1981, optou por essa forma de
produção.
O mercado independente ele parecia exigir do artista um grau de compreensão
maior dos aspectos envolvidos na produção e comercialização do disco. Antônio Adolfo
afirmava: “eu mesmo lanço e comercializo meus discos. Produzo a parte musical, faço a
capa, mando prensar, mandou imprimir e viajo por todo o Brasil, ido pessoalmente
vender nas lojas o LP”. (O feito em casa em busca de um lugar, Folha de São Paulo,
28/10/1979).
Um fator muito importante a ser considerado é que nomes de maior destaque da
cena independente, como Boca Livre e Oswaldo Montenegro, entre outros, aceitaram
rapidamente os convites feitos por grandes gravadoras para integrar seus elencos. Isso
me leva a considerar que a cena independente nesse momento também assumia um
papel de lançar novos nichos de mercado e forma artistas para grandes gravadoras, ou
seja, respondendo com maior precisão a crescente segmentação do público. O projeto
Lira Paulistana parece mostra isso muito bem.
O Lira é um teatro que foi inaugurado na Vila Madalena, na cidade de São
Paulo, no final de 1970 e ele consegue então polarizar a cena e até mesmo o debate
sobre a produção musical independente no país. Wilson Souto Jr (o Gordo) foi o
idealizador do projeto e ele falava acerca da formados principalmente por estudantes
universitários ou já graduados, mais ou menos atentos as transformações sociais e
políticas do país. Ao mesmo tempo, era considerada a existência de “uma produção
cultural emergente marginalizada pelos espaços institucionais e que vinha sobrevivendo
em porões particulares, garagens e consumida apenas pelos amigos mais próximos”.
Com isso podemos dizer que o Lira era o ponto de encontro da nova produção e do
público que a procurava. Assim, depois do teatro surge à gráfica e o selo fonográfico
que vem a ser criado em 1981, mostrando as potencialidades do mercado em que se
pretendia atuar.
Até o surgimento do Lira os nomes de destaque da cena independente eram os
de Antônio Adolfo, Chico Mário, Boca Livre e Céu da Boca, entre outros, o Lira
apresenta novos grupos, um deles formado por Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção. Isso
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
entre 1981 e 1982, o teatro serviria de palco também para bandas da emergente cena do
rock nacional como Titãs, e no final de 1982, começa a se associar a tradicional
gravadora Continental, onde Wilson Souto iniciaria uma nova carreira, primeiro como
diretor artístico e, depois de sua aquisição pela Warner em 1994, como seu presidente.
Mesmo com toda importância que tinha a cena independente tanto culturalmente
como politicamente era inegável não ter uma sensação de fracasso em relação ao projeto
independente dos anos 80, já que muitas das iniciativas então desenvolvidas acabaram
não tendo continuidade.
Em 1980, por exemplo, tinha sido criado um departamento voltado para
produção de discos independentes dentro da Cooperativa de Músicos Profissionais do
Rio de Janeiro (Coomusa), que tinha como função fazer a divulgação e distribuição dos
trabalhos. Quando foi em 1981 Antônio Adolfo disse que a experiência não tinha tido
êxito por conta da falta de estrutura financeira da cooperativa. Com isso acabou sendo
criado em 16/05/1982 a APID (Associação dos Produtores Independentes de Disco). A
associação era presidida por Antônio Adolfo, tendo Chico Mário como vice. Chico
afirmava existirem, por volta de 600 discos independentes no mercado, além de
gravadoras como Kaurup (RJ), Bemol (MG), Som da Gente e Lira Paulistana (ambas de
São Paulo). Mas quando foi na segunda metade da década, ambos decidiram que a
associação deveria ter suas atividades paralisadas até que surgissem melhores condições
para a sua atuação.
Tinha se ainda esperanças com o projeto do Lira e sua associação a gravadora
Continental, o projeto ele trazia uma série de inovações. Uma divisão mais equilibrada
de lucros, apoio para shows e para obtenção de patrocínios, mapeamento dos espaços
que poderiam sediar eventos em todo o país e a criação em outros estados de núcleos de
aglutinamento de produção nos moldes do Lira, sendo cidades como Porto Alegre, Belo
Horizonte e Recife as escolhidas para dá início a esse projeto. Mas infelizmente a
iniciativa jamais decolou e o projeto foi definitivamente abandonado em 1985, assim
como as atividades do teatro.
Vemos chegando ao fim um primeiro momento da música independente, seria
fácil atribuir esse aparente fracasso a falta de uma visão mais comercial por parte dos
artistas envolvidos nos setor, as dificuldades de distribuição e divulgação enfrentadas
pelos independentes, a o boicote das grandes companhias entre outras coisas, mas tem
também que se levar em conta como Eduardo Vicente aponta em suas pesquisas, a
precariedade do capitalismo nacional como um todo, a espiral inflacionaria, o atraso
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administradores do que autônomos”. Corroborando com sua ideia ele cita uma fala da
cantora Olivia Hime, sócia e diretora da Biscoito Fino, uma das empresas
independentes, ela diz:
Foi com essa postura que em 2001 que as iniciativas empresariais inovadoras
por parte dos novos independentes foram pioneiras no comércio digital de música no
Brasil, através de parcerias com empresas de novas tecnologias, com isso foi fundada a
ABMI (Associação Brasileira de Música Independente). A associação busca ser um
elemento de identidade da produção independente no Brasil e um negociador dos
interesses comuns do setor, como as criações de estruturas próprias de funcionamento,
com distribuição e a abertura de mercados tanto no país quanto no exterior.
Outro fator bem notável é o desenvolvimento de uma estrutura autônoma.
Buscando evitar parcerias desfavoráveis com as grandes gravadoras ou agentes do
mercado de música, os novos independentes têm desenvolvido sistemas próprios de
produção e distribuição, apesar de flexível as estruturas das principais empresas
independentes tendem a concentração de etapas produtivas, coisa que as grandes
gravadoras já tinham terceirizado, como estúdio de gravação e sistema de distribuição.
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
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Introdução
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produzir e apresentar sua própria cultura, podendo assim refletir e reforçar seus traços
identitários.
O museu como espaço institucional ultrapassou suas próprias barreiras
originárias para se tornar lugar de cidadania integrando cultura e sociabilidade com a
sociedade que o inclui. Ramos (apud AMARAL, 2006, p.59) ressalta que: “sua
responsabilidade social [do museu] é excitar a reflexão sobre as múltiplas relações entre
o presente e o passado, através de objetos no espaço expositivo”. Depois que se
descobriu que o verdadeiro motor do crescimento é preservar e potencializar os
elementos culturais peculiares de cada sociedade - e os museus são instrumentos
fundamentais nesse processo - está havendo uma maior conscientização em relação à
manutenção desses espaços, assim como o desenvolvimento de políticas públicas
voltadas a promoção da visibilização dos mesmos com vista a despertar na sociedade o
sentimento de pertencimento, identidade, preservação e cuidado.
A ideia de museu como agente de mudança social e de desenvolvimento
representa uma nova visão de museus que se configura totalmente diferente do sentindo
de preservação e de guarda de peças tidos nos chamados "Gabinetes de curiosidades"
antes do período do Renascimento.
Um aspecto a ser destacado na pesquisa em museu que se constitui em um
problema é em relação à concepção de exposição usada pelo museu. Sabemos que na
grande maioria ocorre apenas uma reunião de objetos que não despertam o interesse do
visitante como também não contribui para formar a imagem desses locais de memória.
Nesse sentido, nossa perspectiva de analise centra-se em destacar a proposta
musicológica, assim como a configuração usada para a leitura dos objetos que serão
tomados como objetos testemunhos nos museus selecionados para pesquisa.
Com isso analisamos as formas de apropriação dos museus da cidade de Areia-
PB, através da percepção das comunidades de seu entorno, fazendo uma
contextualização com as histórias dos museus, através de um levantamento histórico
sobre o processo de criação e vivência dos mesmos, refletindo sobre a importância de
visitar museus, considerando-os como guardiões da memória histórica e social da
cidade de Areia.
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Um pouco de história
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europeu, as peças dessa instituição foram doadas por John Tradesdin a Elias Ashmole.
Porém, o acesso ainda ficou restrito, apenas aos especialistas e estudantes universitários
mantinha acesso ao local.
E a partir do século XIX os museus, de forma acanhada, iniciam propostas
educativas voltadas ao grande público, como por exemplo os museus norte-americanos
Metropolitan (Nova York) e o Boston Museum of Fine Arts. Erma promomidas
palestras e programas voltados ao público.
E hoje, em pleno século XXI, os museus se destacam por suas exposições
virtuais nos quais os internautas se aventuram nos museus desfrutando dos acervos e
objetos com um simples clique e balançar do mouse. Museus como: Museus virtual de
Brasília, Museu virtual do Louvre, Museus virtual da Capela Sistina, e entres outros.
Conceitos
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Acredita-se que o museu deva ser uma instituição dinâmica, comprometida com
o desenvolvimento, a educação e a identificação do grupo a que pertence. Pensa-se
assim, que o entendimento por parte da comunidade em geral de que o patrimônio
promove o desenvolvimento.
Então para que as pessoas se identifiquem com determinado grupo é necessário
que se sintam parte dele, se reconheçam. Isto só é possível através do patrimônio
cultural de sua materialização e representação, neste caso no museu.
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Os museus de Areia
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topo dessa sociedade patriarcal dominava a figura do senhor de engenho, que a tudo e a
todos submetia.
O Museu preserva uma casa-grande típica da região do brejo, ou seja, simples e
despojada, raramente apresentando senzala e capela. Sua construção, portanto, data do
século dezenove e início do vinte. No seu acervo estão utensílios da época, como
móveis rústicos um relógio de parede de 226 anos funcionando perfeitamente, uma
pedra de moer milho, um gargalho de ferro que servia para prender os escravos pelo
pescoço, uma palmatória de ferro e um acervo de 280 garrafas de cachaça, etc.
Devido ao grande número de visitantes ao museu, foi reservada uma sala para
exposições e realizações de cursos, com o intuito de resgatar e divulgar a importância
cultural da cidade.
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tombamento pelo Iphan como patrimônio nacional; e “Areia e a Arte”, registro das
manifestações culturais com destaque para a vida e obra dos pintores Pedro Américo e
Aurélio de Figueiredo e do escritor José Américo, dentre outros.
Considerando a necessidade de ações de salvaguarda e restauração em grande
parte do acervo do Museu Regional de Areia, foi aberta ao público a exposição “Areia e
a Arte Sacra”, composta por Imaginária, Crucifixos, Oratórios, Objetos Litúrgicos,
Paramentos Religiosos, Mobiliário e Iconografia. Lembrando que o Museu Regional de
Areia foi reinaugurado no dia 03 de Fevereiro de 2012. Em comparação ao seu antigo
local (PIO XII), este museu, que está localizado na Rua Pedro Américo ao lado da
Igreja Matriz (Nossa senhora da Conceição), está muito mais organizado. Por enquanto,
foi inaugurada a Arte Sacra faltando à decorativa, visual, dentre outros!
Conclusão
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uma identidade cultural, ter tal projeto ativo, pois, cria na sociedade a conscientização
na valorização de sua história.
Os museus são instrumentos fundamentais para a preservação e potencialização
dos elementos culturais de uma sociedade. Os museus são essenciais no processo de
conscientização nas pessoas para uma maior valorização de sua história. O museu
consegue despertar nas pessoas um sentimento de pertencimento, identidade,
preservação e cuidado para com sua história.
REFERÊNCIAS
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Introdução
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[...] é uma teoria abrangente que trata, em linhas gerais das crenças,
opiniões, valores, conhecimentos, sentimentos, comportamentos e
atitudes de determinada população. Em uma abordagem
contemporânea, é um conjunto de determinadas orientações subjetivas
que interferem na realidade política.
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[...] esses universos de significados não são estáticos. Eles criam e são
recriados pelas pessoas que os utilizam. As pessoas, como membros
de uma determinada coletividade, funcionam, simultaneamente, ou
como atores, mantendo ou reproduzindo, ou como atores, refletindo,
reinterpretando e experimentando esses significados.
3
A partir do livro The Civic Culture revisited é o: “[...] Consenso substantivo da legitimidade das
instituições políticas [...], uma generalizada tolerância de uma pluralidade de interesses e crenças na sua
possibilidade, e um amplo sentido disseminado de competência política e confiança mútua na cidadania”
(Almond e Verba, 1989).
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(2005) era constituída por “personagens grosseiros, desbocados, marcados pela vida à
margem”.
Nesse contexto, Navalha na carne segue a linha revolucionária de fazer teatro,
assim como afirma Ribeiro (2007), Plínio levava “à cena personagens marginalizadas,
denunciando uma estrutura social injusta e excludente”. A peça é de um ato só, no qual
três personagens são construídos sem possibilidades de ascensão social, seja pelas
limitações econômicas ou pelas atividades profissionais e sexuais que praticam.
Vado, Neusa Sueli e Veludo são os componentes da trama. Vado é um cafetão
que abusa da posição que tem em relação à Neusa Sueli, que, por sua vez, cede à
exploração, já que confunde o sentimento de afeto por ele e a profissão que tem.
Veludo, homossexual empregado do hotel onde se passa a história, não obtém sucesso
nem na vida amorosa e nem na econômica, contudo, dá-se o direito de se sentir superior
a Neusa Sueli por ser homem, ainda que esteja na mesma condição miserável que ela.
A maneira que os personagens em Navalha na carne enfrentam a realidade é
fruto de uma linguagem densa que reproduz as condições delinquentes em que vivem.
Elementos como gírias e palavras de baixo calão asseguram essa reprodução eminente
do cotidiano das ruas, que mesmo estando a todo o momento sendo vigiado, não
consegue ser completamente sufocado. Afirma Ribeiro (2007) que,
É nesse aspecto que se reconhece o lugar no mundo que ficou reservado para
essas classes subalternas, onde o discurso proporciona a visão de um cenário
repugnante, que delimita a marca de autoria que singulariza Plínio Marcos.
Após várias discussões de Neusa Sueli com os demais membros da narrativa, a
personagem entra em um monólogo que reflete o quão perturbada ela se encontra
mediante as condições de vida que os três levam,
Às vezes chego a pensar: Poxa, será que eu sou gente? Será que eu,
você, o Veludo, somos gente? Chego até a duvidar. Duvido que gente
de verdade viva assim, um aporrinhando o outro, um se servindo do
outro. Isso não pode ser coisa direita. Isso é uma bosta. Uma bosta!
Um monte de bosta! Fedida! Fedida! Fedida!
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Considerações finais
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REFERÊNCIAS
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Introdução
1
UEPB. E-mail: [email protected]
2
Coautor. E-mail: [email protected]
3
Além do cinema, não poderíamos deixar de destacar a presença de outro meio de entretenimento na
cidade que foi a rádio difusora A Voz de Pocinhos, que atraiam a população para a praça da cidade com
seus bingos, entre outras programações, e consequentemente foi responsável por contribuir com a
sociabilidade pocinhence por volta dos anos sessenta.
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A modernidade na Paraíba
A história das cidades vem ganhando cada vez mais visibilidade no campo de
pesquisa. Fenômeno resultado dos trabalhos realizados nos programas de pós-graduação
cada vez crescente em nosso país. Os estudos partem do campo macro e passam a se
dedicar ao micro, ao regional, à história do pertencimento. Quando voltamos nossos
olhos para a história da Paraíba encontramos diversos estudos que se dedicam à história
das cidades interioranas, com destaque para Campina Grande.
Apesar de se tratar de história das cidades não podemos deixar de tocar no que
diz respeito ao macro, pois é a partir deste que é possível afunilar os conteúdos, tratando
das especificidades de determinados objetos de estudo. Assim, somente através de uma
ponte que possa ligar macro/micro, é possível obtermos um rico conteúdo acerca de um
tema.
Ao falarmos de modernidade na Paraíba, por exemplo, é possível encontrarmos
diversas obras entre elas o trabalho de Gervácio Batista Aranha: Seduções do moderno
na Paraíba do Norte: O trem de ferro, luz elétrica e outras conquistas materiais e
simbólicas (1880-1925). Neste escrito, o autor vai nos trazer diversas reflexões acerca
do processo de modernização na Paraíba, entretanto, logo no inicio não deixa de fazer
uma discurssão acerca das especificidades do que vem a ser moderno nas ‘’cidades
nortistas’’ e o que se tinha até então como cidade moderna.
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Durante os anos sessenta o trabalho com o sisal no município vai passar uma
grande efervescência. Contando com uma abatedora que fornecia fibra (o produto final
do sisal/agave) não só nacionalmente, mas também para o exterior, era possível
empregar na cidade uma grande quantidade de homens, que se destinavam ao trabalho
no campo, além dos poucos operários. Não deixando de lembrar que nesta época ainda
não existiam os motores a querosene, sendo assim, os trabalhos nos campos consistia na
colheita das plantas e transporte desta até a abatedora, que se localizava no sitio olho d’
água de propriedade de Antonio Barreto.
Está foi à atividade econômica de maior importância no município e perdurou
com grande importância até os primeiros anos de dois mil, sem deixar de destacar a
grande queda com o fechamento da abatedora, após o seu proprietário perder as eleições
para prefeito, quando disputou o cargo contra Padre Galvão, um dos ícones da história
pocinhense.
Foi em meio a esse cenário que irá surgir o cine São José que apesar de já há
alguns anos extinto, ainda permanece vivo na memória de todos aqueles que tiveram a
oportunidade de fazer uso desta mercadoria tão moderna para a época principalmente
em um cotidiano pacato do interior paraibano. Esta experiência com à sétima arte que
surge no ano de 1895 em Paris para embelezar, divertir, embalar as vidas dos
apaixonados por arte4.
A chegada do cinema vai contribuir para grandes transformações nos cotidianos
em que são inseridos, é outro ritmo que se estabelece. A presença deste novo lugar de
sociabilidade contribui para completar as noites, mas também tardes, de populações que
até então permaneciam pobres no que diz respeito a entretenimento, tendo em vista que
outros artigos como televisão ou rádio, ainda não haviam se estabelecido. É um novo
espaço que influencia em diversos aspectos, como os encontros entre a juventude que
em uma época de grande moralismo principalmente quando falamos de romances, o
cinema representa um novo espaço e com o seu ambiente escuro e aconchegante, além
do clima romântico, proporcionado pelos famosos filmes de romance, representava uma
ótima oportunidade para galanteios.
Entretanto, não deixemos de refletir e estabelecer as especificidades de cada
local, tendo em vista que assim como, quando falamos em recortes históricos não é
possível perceber as influências do cinema no cotidiano Pocinhece da mesma forma que
4
Segundo Souza 2016, o cinema sugue no século XIX como grande ícone da modernidade e é visto como
tamanha deslumbrante em diferentes lugares no mundo, passando a assumir assim o posto da sétima arte.
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foi visto em Paris no momento de suas primeiras projeções. É muito caro para nós
historiadores contextualizar quais os processos que já vinham ocorrendo em Paris até o
ano de 1895, destacando a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra e a Belle Epóque,
que vai fazer de Paris a capital do que há de mais moderno. Assim como o historiador
Rivaldo Amador de Souza afirma
O município de Pocinhos ver sua emancipação no ano de 1953 após varias ações
iniciadas por Padre Galvão que tinha o objetivo de tornar aquele município
independente de Campina Grande, este que contavam também com uma área que
corresponde hoje ao atual município de Puxinanã, elevando ainda mais a importância
local fazendo deste lugarejo digno de se emancipar, além do grande teor pocinhence
tecidos nas cartas enviadas pelo Padre. Sete anos após sua emancipação o município
inaugura o prédio em que funcionou por muitos anos o cine São José, este que foi
responsável por embalar as noites e muitas das comemorações festivas pocinhences, que
ainda permanecem com grande paixão na memória dos que tiveram oportunidade de
viverem aqueles momentos.
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domingos em que havia durante suas tardes as sessões dedicadas as crianças chamadas
de Matiné.
Mesmo em uma cidade pequena, todas as sessões contavam com um público
satisfatório chegando a lotar o espaço em dias de apresentações musicais, isso tendo em
vista que após alguns anos de funcionamento o cinema São José irá ser composto por
500 assentos comprados de um cinema que fecha suas portas no estado do Ceará. Mas,
além da quantidade de público o que no interessa neste momento é analisar como este
cenário, responsável por marca à juventude de tantas pessoas foi utilizado para as
práticas em torna das idas ao cinema.
124
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5
Tendo em vista a grande influência exercida pela igreja católica no município e que inclusive era
proprietária no prédio em que funcionava o cinema São José.
6
Não foi possível verificar os preços dos ingressos cobrados para a entrada no cine São José, mas
acreditamos que não trata-se de uma quantia muito alta, tendo em vista que muitas pessoas que na época
era consideradas da classe pobre também frequentavam aquele lugar.
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mulheres simples que também são responsáveis por compor aquele ambiente, fazendo
uma mistura entre classes sociais, sexos e idades.
Mas não poderíamos deixar de destacar que está foto pode trate-se de um
registro em uma ocasião comemorativa como a celebração da primeira Eucaristia, já que
os calçados brancos que destinados a ocasiões importantes e as velas nas mãos daqueles
em destaque pode no levar a considerar uma celebração religiosa. Tendo em vista que,
de acordo com as informações coletadas através de nossos questionários as vestimentas
que mais eram utilizadas nas idas ao cine São José, eram roupas de corte simples ou
vestimentas do dia-a-dia. Porém, esta fotografia registra o ambiente do cinema na época
e os possíveis frequentadores das seções de filmes.
Considerações finais
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REFERÊNCIAS
ALVES, Fernanda Karoline Martins Lira. Becos e casebres do norte: na mira da ordem
sanitária. Campina Grande: EDUFCG, 2010.
ARANHA, Gérvacio Batista. Seduções do moderno na Parayba do norte: trem de
ferro, luz elétrica e outras conquistas matérias e simbólicas (1880-1925). João Pessoa:
Ideia, 2005.
CABRAL FILHO, Severino. A cidade revelada: Campina Grande em imagens e
história. Campina Grande: EDUFCG, 2009.
RIBEIRO, Roberto da Silva. Pocinhos o local e o geral. Campina Grande: RG, 2013.
SOUZA, Antônio Clarindo B. de; SOUSA, Rivaldo Amador. Imagens que seduzem
Cinema e sensibilidade na Paraíba (1910-1970). Pará de Minas: Virtual Books, 2016.
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Introdução
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130
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Uma música que vai ligar subjetividades díspares, que vai produzir
um “sentir nordestino”, instituir uma certa “visão nordestina” das
formas e dos sentimentos, cantando a “verdade nordestina” com seu
timbre de dor, tornando a sua própria forma de cantar um índice de
regionalidade. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2011, p. 180).
131
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o folheto e a música que vamos analisar trazem isso sem mencionar a ideia de medição
dos santos.
Considerando o exposto acima, e que historicamente os estudiosos discutiram
certas imagens de Jesus Cristo, entendemos aqui que se torna plausível demonstrar e
analisar as representações de Cristo no sertão nordestino veiculadas pelo cordel e pela
música. Quais os elementos e mecanismos que ambos utilizam para tal? Quais são os
objetivos dessa veiculação? Abarcam este trabalho os conceitos de representação e
apropriação propostos por Chartier (1991), bem como os de veiculação e difusão
imagético/discursiva presentes em Albuquerque Jr (2011).
Está sempre no meio de seu povo observando suas vivências e necessidades, era
uma das características comuns de Jesus Cristo. A proximidade com os fiéis, o contato
direto, viver o espaço das pessoas, parecia ser crucial nas prerrogativas da pregação de
Cristo. O teólogo Tarcisio Loro, ao estudar as formas de comunicação de Cristo, deixa
isso bem claro ao afirmar que ele,
Ô ô Jesus razão
Tão sertanejo
Que entende até de precisão (FINIZOLA, 1977).
132
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
Neste caso, a seca é um elemento base sob o qual se assenta grande parte destes
símbolos sertanejos anteriormente mencionados que norteiam uma ligação com Cristo
segundo as falas do folheto.
O cordel de Pe. Matusalém Sousa também busca assemelhar à vida de Jesus
Cristo em sua missão, a vida do sertanejo. Sua conduta enquanto vivente e pregador
133
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parece enquadrar-se aos “jeitos de ser” no sertão. Em um de seus trechos o folheto nos
diz que Jesus,
Aqui, o folheto busca enfatizar a humildade de Cristo quando ele fala tanto aos
mais velhos quanto aos mais jovens, fazendo alusão a humildade e simplicidade
características do nordestino. Cristo em suas caminhadas levava apenas seu matulão,
assim como os andarilhos e retirantes sertanejos.
Em outra descrição do folheto é reforçada esta semelhança entre Cristo e o
sertanejo, onde outros elementos característicos do povo do sertão parecem se
enquadrarem perfeitamente a conduta de Jesus:
Nas falas do folheto, Cristo, como Bom Pastor, seria Como o Bom Vaqueiro
sertanejo, personagem tradicional da cultura deste povo, às vezes cunhado de “herói”
local. Cristo, como guia e protetor de seu povo, vai lembrar este personagem que é guia
dos rebanhos nas “veredas” do sertão, que os cuida como ninguém, que é fiel e
obediente a sua causa, assim como Cristo foi fiel a sua causa quando obedece a vontade
de Deus. O aboiar da canção pelo vaqueiro que entoa longamente pelas matas, remete a
explanação da palavra de Deus efetuada por Cristo. A palavra de Cristo é a boa semente
plantada no sertão, extremamente valorizada em terras de sequidão.
2
Espécie de saco de carregar pertences, muito comum dos retirantes nordestinos. Cf. Dicionário
inFormal. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/matul%C3%A3o/>. Acesso em 28
nov. 2016.
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Jesus
Meu Jesus sertanejo
Presença maior, minha crença
Nestas terras sem ninguém (FINIZOLA, 1977).
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Silêncio
Na serra, nos campos
Ai desencanto, que a gente tem
E o vento que sopra, ressoa
Ai sequidão que traz desolação (FINIZOLA, 1977).
Percebe-se aqui mais uma vez que o sertão é visto como o lugar da solidão, onde
somente vaga sobre ele o sertanejo solitário e mais ninguém. A ajuda só poder vir dos
céus, porque parece que não há outros meios e possibilidades que ofereçam um suporte
ao lugar senão a atuação do Cristo sertanejo.
O cordel busca ir mais ao cerne desta questão, onde formula um discurso que
busca reforçar a ideia de um Jesus Cristo mais atuante do lado do povo do sertão
nordestino:
3
Grifo nosso.
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4
Grifo do autor.
5
Grifo nosso.
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De acordo com o cordel de Pe. Matusalém Sousa, nada mais restaria ao rico
opressor senão a condenação. Mais uma vez, é interessante notar como o folheto não
menciona a possibilidade de retratação para estas pessoas, o que seria algo natural na
concepção cristã. Nestes versos, o cordel objetiva explicitar e veicular uma visão contra
as injustiças sociais a que, segundo seu discurso, estariam sujeitos os sertanejos. E ele
utiliza para isso a figura daquele que julga ser o protagonista ideal, Jesus Cristo
nordestino.
Em seu último verso, o folheto procura veicular um ideal de liberdade para o
povo nordestino através da boa esperança trazida pela mensagem religiosa:
6
Grifo do autor.
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Considerações finais
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FONTES
REFERÊNCIAS
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Introdução
1
Graduando em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual da Paraíba. E-mail:
[email protected]
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Para estabelecer tais definições o texto foi produzido por meio de uma pesquisa
bibliográfica aportando-se principalmente na produção historiográfica de Albuquerque
Junior “A invenção do nordeste e outras artes”. Aportando-se também nesse tipo de
pesquisa para explicar um pouco sobre a trajetória metamórfica dos conceitos de
identidade e espaço, e a influencia dessas concepções para que o nordeste pudesse ser
“inventado”.
Identidade e Espaço
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
mais uno a sua interioridade, ele precisa para a formação de sua identidade a
convivência com outros indivíduos que trazem consigo os elementos exteriores,
transmitindo símbolos e sentidos, pertencentes à cultura a qual estar inserido. A
identidade sociológica é construída por um dialogo entre o interior do individuo e o
exterior a ele, alinhando nessa construção a subjetividade do sujeito e a objetividade do
campo cultural e social na qual ele mantém relações. A identidade aqui também é
pensada estável, possível pela ligação entre sujeito e estrutura, elementos que segundo
Hall (1997):
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haverá algo imaginário ou fantasiado sobre si em processo para ser formado. Dessa
maneira não podemos falar em Lacan de uma identidade acabada, mas sim de
identificação, sempre em andamento.
O terceiro descentramento é identificado na linguistica estrutural elaborada por
Ferdinand de Saussure, demonstrando que os significados da língua expressar suas
próprias regras, independem da ação do autor que a fala. O trabalho feito por Michel
Foucault representa a o quarto descentramento, ele destaca um poder que é responsável
por vigiar e moldar o homem, o chama de “poder disciplinar”, que procura moldar o
individuo em toda a sua particularidade, seja, sua vida, saúde física e mental, entrando
em diversos campos de sua vida. Este poder busca construir um ser humano que possua
um corpo dócil, o individuo estar inserido em uma coletividade nas instituições,
sofrendo constantemente uma vigilância e uma observação, sofrendo um isolamento,
construindo uma individualização ainda maior do sujeito individual. E por ultimo a
descentração causada pelo impacto do feminismo, despertando vários movimentos
sociais durante a década de sessenta, buscando diversos direitos, luta pela paz, direitos
étnicos, de gênero, de classe, entre outros, aflorando a luta e o reconhecimento das
identidades minoritárias ou silenciadas. Todos os descentramentos levaram a um
deslocamento do sujeito do Iluminismo que era centrado, para o sujeito pós-moderno,
uma identidade aberta, fragmentada e transitória.
Umas das questões levantadas por Stuart Hall no estudo das identidades além de
um breve esclarecimento sobre a trajetória do conceito, é o processo de formação da
identidade cultural, especificamente a identidade nacional, pois a busca pela criação de
uma identificação nacional no Brasil representa a reação dos diferentes regionalismos e
a instituição do Nordeste para alem de uma fronteira político-administrativa.
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
propicia pelos mecanismos educacionais, que transmiti a tradição inventada que muitas
vezes parecem ser antigas, mas são elaborações recentes, procurando o alinhamento dos
indivíduos em torno dos marcos históricos que remetem desde as origens, processos que
levaram a unificação de territórios e permanência dos limites nacionais. A construção da
identidade muitas vezes transgride a modernidade, retornando a um passado de outrora,
resgatando glorias antigas para representar a grandeza da cultura nacional, mas sem
deixar de pensar nas possibilidades para o desenvolvimento criadas pela modernidade.
Pensar uma identidade nacional possível por uma cultura nacional homogenia e
unificada em torno desejos comuns, é não levar em consideração as diferenças étnicas,
de gêneros e de classes, juntando-as em torno caminho único para a nacionalidade.
Deve-se questionar um sentimento de unificação, já que nem sempre existiu uma
lealdade a símbolos que identifica a cultura da nação. Precisamos pensar a
nacionalidade não como um todo unificado, e sim praticas discursivas que representam
a diferença, diversas características interiores que se busca unificar por um exercício de
poder, uma das representações para isso era a representação cultural pela etnia, uma
etnia única que apresenta uma determinada religião, costumes, língua, etc., processo
tentado pelas nações Ocidentais na Europa e também no Brasil na busca por essa
identidade comum, algo impossível de acontecer pela diversidade cultural e étnica que
compõe os estados modernos, “as nações modernas são, todas, híbridos culturais”
(HALL, 1997, p.67). O discurso racial procurava a supremacia de uma “raça” especifica
sobre as demais, não só no quesito biológico, mas o conjunto cultural produzido,
distinguindo-os.
A construção da concepção de identidade na pós-modernidade percorreu um
longo período de mudanças, de um conceito homogêneo, imutável, centrado ao sujeito,
a imutabilidade das estruturas sócias, desenvolvendo-se em meio as diferenças e
heterogeneidades, que permeia a definição da identidade cultural de um individuo em
meio a imposição de uma identidade cultural nacional homogenia, que engloba em
torno de símbolos de sua representação. Tarefa difícil também se equipara a tentativa de
realizar a construção de uma identidade espacial, na busca por valores, costumes,
sentidos, que exalte e possibilite a invenção de uma tradição, pois, se trata do espaço,
conceito vinculado as concepções de natureza, pensado em uma imutabilidade mais
resistente, a parte da historicidade e do tempo.
A história ate chegar às delimitações de ciência que estuda o passado do homem,
transitou em diferentes áreas e em árduos debates para a elaboração dos seus conceitos e
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formas essas que representam mudanças paradigmáticas, mas que sempre representa
uma visão estática e deshistoricizada do espaço. A primeira concepção de se pensar o
espaço foi construída na Idade Media, os espaços são pensados de forma hierarquizada,
sempre avaliada pelos valores do regime em vigor ditado pelo cristianismo, uma ordem
cósmica, os lugares superiores referentes aos próximos a Deus. Tratava-se de uma
economia dos espaços, os espaços eram referidos como uma localização, que
caracterizava o pertencimento que cada um ocupava nos lugares, de acordo com as
demarcações, de quem detinha o poder sobre os espaços.
Com o Renascimento as concepções de espaço começam a mudar
principalmente a partir das elaborações cientificas feita por Galileu, passando a
contestar a concepção geocêntrica e da finitude do cosmos, que eram a base de
sustentação do poder hierárquico medieval. Alem das mudanças propiciadas pela
ciência, o mundo de abre para novas oportunidades, o espaço fechado em qual vivia a
Europa se abre para as grandes navegações, o espaço deixa de ser localização ditada
pela hierarquia e passa a ser uma extensão, ditados pela volatilidade, mobilidade, o
espaço se abre para possibilidades infinitas de exploração. A extensão dos espaços na
modernidade nasce e cresce junto com o desejo de extensividade da ciência moderna,
que quer abarcar todos os lugares, vasculhar cada cantinho, para contemplar todas as
áreas do conhecimento, cede por saber na qual às ciências humanas também embarcam
para explorar este vasto oceano do conhecimento, mas querendo registrar os passos do
homem ao longo do tempo.
O saber moderno instituiu a extensão como forma de ver o espaço, algo que
contribuiu, para que houvesse dificuldades de se pensar o espaço como pertencente à
trama histórica e do tempo, pois, ao contrário do tempo que é intensivo, o espaço é
extensivo. Diversas dificuldades foram encontradas antes de mudar a forma de ver os
espaços, necessitou-se que primeiro houvesse uma mudança no campo da física
elaborada por Galileu e que ganhou contornos definitivos em Newton, mudança essa
propiciada pela física pós-moderna, os espaços passam a sem uma relação com o olhar
humano, os espaços tornam-se relacionais a partir da idéia de relatividade que é
introduzida na natureza e nos espaços.
O relativismo passa a fazer parte da forma como ver e conceber os espaços,
dessa maneira na contemporaneidade os espaços passam a ser percebidos por noção de
posicionamento, que são ditadas pelas nossas praticas sociais, culturais, econômicas,
políticas, por nossas lutas diárias, pelas relações de poder. Ver o espaço agora em toda a
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A delimitação do Nordeste
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Euclides da Cunha com o livro Os Sertões, 1906, que busca no interior, no homem
nascido do sertão, aquele que realmente detém as características da identidade nacional.
Para se contrapor as produções desse cunho surgi à produção Modernista em São Paulo,
que se alimenta do regionalismo desse espaço, lugar onde prevalece agora o moderno, o
avanço, a superioridade, em relação à região Nordeste, e a produção literária
regionalista-naturalista.
O Nordeste nasce em meio a uma depreciação existente entre Norte e Sul,
crescente desde o século anterior, diferenças justificadas pelos paradigmas naturalistas
que permeavam essa época, da qual a raça e o meio justificavam a superioridade de um
e a inferioridade do outro, uma região avançada e a outra estagnada. Com base na teoria
eugenista, Oliveira Vianna afirma em seu discurso a superioridade de São Paulo em
relação ao Norte, pois, se encontrava ali a fonte do arianismo nacional, e só restava ao
Norte à condição de subordinado. A influencia do meio sobre o Norte vai se tornar a
grande arma política, a seca ocasionada pelo clima, ganha visibilidade com a seca de
1877-79, tornando-se elemento para a exigência de recursos financeiros, cargos no
Estado. Alem da seca, outros problemas que ali surgiram também são atribuídos ao
meio e ate mesmo considerados reflexos da seca, como o banditismo, os movimentos
messiânicos, o atraso na economia, e os males sociais.
Partindo dos estudos feitos por Albuquerque Junior, percebe-se que a região
Nordeste é um espaço fundado historicamente, não é algo inerte na natureza, é um
constructo possível a partir de praticas discursivas e imagéticas que justificam a
espacialidade hoje conhecida:
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Considerações finais
Este espaço surgiu como um objeto de saber, possível por uma discursividade,
utilizando-se de um reflexo do meio natural, a seca, usando as possibilidades oferecidas
por esse discurso para instituir um determinado saber, um objeto possível por imagens e
enunciados, que emerge e torna-se uma problemática, um pensamento formado por
práticas discursivas e não-discursivas. Uma construção imagética formada por uma
discursividade regional iniciada ainda no século XVIII com o regionalismo naturalista,
estabilizando-se de com o discurso da seca propiciado com a grande estiagem de 1877-
79, o discurso da seca foi apropriado pelas elites políticas e posteriormente pelo
regionalismo tradicionalista, na busca por beneficiamentos e a consagração do espaço
regional.
Uma região construída por uma visibilidade e dizibilidade, em cima da memória,
criando uma reação ao poder dilacerador do tempo e da história, uma luta contras as
forças transformadoras do moderno, construindo e instituindo para a região, um espaço
natural, estável, imutável, atemporal, que o homem do presente e do futuro vivesse
sobre os moldes de uma temporalidade resgata pela saudade, tomando como natural as
misérias, as injustiças, o mandonismo, os estereótipos, a docilidade, que retratam os
intelectuais e artistas.
REFERÊNCIAS
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Introdução
Os registros de óbitos nos permitem analisar uma história a partir das visões de
mundo. A fonte deve ser entendida como um produto de uma época, carregada de
sentidos, significados e sensibilidades que envolvem o óbito. Morrer no século XIX em
São João do Rio do Peixe, é provar ser um bom cristão, morrendo na esperança de uma
vida do lado de Deus, em busca da salvação, no qual se estabelece um modelo de “bem
morrer”, uma vez que esse sentimento é percebido através da “morte domada”, como
bem discute Ariès (2003).
Os registros de óbitos começaram a ser registrados na Igreja Matriz Nossa
Senhora do Rosário, em São João do Rio do Peixe, a partir do ano de 1864. Pode-se
dizer que antes disso, São João era subordinado a freguesia de Sousa e através da Lei nº
963 de 28 de novembro de 1863, o templo religioso torna-se paróquia. Assim, terminado
a ampliação do templo santo, a Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário a partir do ano
do ano de 1864, começa a fazer os seus registros.
Para este trabalho, tomamos a morte como ponto de partida. Discutimos a morte
de José Vicente Oliveira, Justina Maria da Conceição, Narcisa Preta (escrava), Vicência
Leopoldina de Sousa, Maria José e do párvulo Manuel. O interesse por essas mortes é
de refletir a mentalidade cristã em São João do Rio do Peixe, pois era um lugar
embebedado pela fé, no qual os discursos religiosos funcionavam como um alimento
para o corpo e a alma.
É dado a perceber, que durante o século XIX, o pequeno povoado tinha como
fonte de economia a agricultura, como os usos da terra para a plantação de milho, feijão,
arroz e no século XX o algodão. São João do Rio do Peixe no século XIX, era
1
Graduanda na Universidade Federal de Campina Grande, Campus Cajazeiras- PB. E-mail:
[email protected]
2
Professor Adjunto da Universidade Federal de Campina Grande, Campus Cajazeiras-PB. E-mail:
[email protected]
3
Sobre o processo de desmembramento, aonde a paróquia de São João torna-se independente e começa a
fazer seus registros de casamentos, batizados e morte, torna-se importante ler o livro “São João na
Colônia e no Império: Fazenda, Povoado e Vila, 1691- 1889”. Abreu (2015, p. 283)
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4
Essa elite usava seu poder por meio dos apadrinhamentos políticos, estabelecendo suas as redes de
compadrio dentro desses espaços. Como também, recebia os títulos de almotacés e as patentes de capitão,
coronel e de alferes.
5
Elemento importante para a economia local.
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
santo e consequentemente para a sua ampliação. Domingos João Dantas6, era um dos
senhores ricos de São João do Rio do Peixe, foi patrono da Igreja do Rosário e maior
bem feitor. Domingos, por ser tão generoso com o santuário divino, logo tem
privilégios, pois o mesmo é sepultado no arco primeiro da capela do Rosário, tendo sido
enterrado em hábito franciscano no ano de 1853 Abreu ( 2015, p. 271).
Sepultar-se nesses locais era privilégio de poucos, reservado apenas as pessoas
de posse. No momento da morte também é dado a perceber as distinções sociais. No
inteiro da igreja os espaços eram classificados entre ricos, pobres e escravos. O morto
era envolto em seu hábito, colocado em uma rede e posto na grade de carregar defunto e
depois era sepultado da grade para cima, ou das grades para baixo em São João do Rio
do Peixe.
As pessoa ricas eram sepultadas das grades para cima, local que fica próximo do
altar-mor e os pobres e escravos eram sepultados das grades para baixo7. Foi costume
no Brasil oitocentista cultivar essas hierarquias na hora da morte e muitas vezes as
pessoas de mais posses, viam o momento da morte como uma forma de redimir-se dos
pecados, podendo escolher ser sepultado entre os pobres, na nave. Os mesmos também
podiam optar por um gestual simples na hora da morte8.
Domingos foi sepultado no interior da igreja em um lugar de destaque, onde
ficava próximo do altar-mor. Talvez ele também tenha sido sepultado nesse lugar, já
que o padre que administrava a igreja era seu filho, o padre José Gonçalves Dantas. O
capelão José Gonçalves era um homem de posses, o mesmo também fez suas doações
para ampliação do templo.
Logo, os padre eram responsáveis por conduzir o rebanho a partir dos preceitos
da palavra sagrada. Durante o século XIX, em São João do Rio do Peixe, foi percebido
mediante análise das fontes, a participação de seis padres. Esses clérigos foram
responsáveis por registrar os óbitos, estabelecendo assim um controle dos fiéis, como o
padre Amélio Marques da Silva Guimarães, Joaquim Théophilo9 da Guerra, Joaquim
Cyrillo de Sá, Francisco Torres Brasil, Antônio Tomaz de Aquino, este foi substituído
6
Domingos João Dantas Rothéia, recebeu o título de alferes, como também de capitão. Abreu (2015)
7
Os enterramento no interior da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, ocorreram até a primeira
metade do século XIX. Esses assentamentos de óbitos encontram-se na Igreja Matriz Nossa Senhora dos
Remédios em Sousa-PB. Abreu (2015, p. 281)
8
Sobre as transformações urbanas que ocasionaram as mudanças de enterramentos da igreja para os
cemitérios, torna-se importante ler a obra de Renato Cymbalista; Cidade dos vivos: arquitetura e atitudes
perante a morte nos cemitérios do Estado de São Paulo (2002)
9
O padre Joaquim Theóphilo da Guerra, era parente do padre José Dantas. O mesmo envolve-se em
relações amorosas, tendo dessa união três filhos. Abreu (2015, p. 286)
158
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por Manuel Vieira da Costa e Sá e o Capelão José Gonçalves Dantas10. Eles registraram
e organizaram os registros de óbitos em três livros. O primeiro livro é do ano de 1864 a
1873 (L.01), o segundo é de 1874 a 1883 (L. 02) e o terceiro é do ano de 1883 a 1907
(L03).
Sobre a produção dos livros de óbitos, Filho e Libby (2016, p.11), discutem que
“Até a instalação da República no Brasil, os párocos recebiam do Estado um pagamento
conhecido como côngrua e a manutenção dos registros paroquiais figuravam entre as
principais responsabilidades desses eclesiásticos no regime do padroado régio”. A igreja
católica era a responsável por manter atualizada esse controle dos cristãos, pois eram
esses homens letrados que encaminham o relatório para o bispado, que regulamentava
as instâncias religiosas.
Desse modo, quando começou a ser feito os primeiros registros de óbitos em São
João do Rio do Peixe, o capelão responsável pela administração da igreja, José
Gonçalves Dantas, passou a realizar as missas e a aferir os sacramentos aos fiéis que
precisassem. Segundo Abreu (2015, p. 271) o padre cobrava emolumentos e sempre
fazia a prestação de contas quando era ordenado, seja pelo juiz municipal, como pela
vigário da igreja de Sousa. Esses emolumentos significam que havia uma cobrança por
parte da igreja aos fiéis e principalmente no que diz respeito à assistência religiosa.
Sobre esses aspectos ao que concerne a questão religiosa, é percebido que a
igreja, através de seus discursos, vai aos poucos espalhando o conceito de ser um bom
católico. Segundo Santos (2011, p.4), o bom católico “era aquele que se submetia aos
poderes eclesiais, que a afastava o ‘fetichismo bárbaro’ e cumpria os sacramentos,
prestando verdadeiro culto a Deus”. O verdadeiro católico deveria professar a sua fé,
pois o socorro vem de Deus e é na hora da morte que o homem busca esse socorro, uma
vez que de acordo com a ideia do “bem morrer”, o católico fica preso aos discurso
eclesiásticos, obedecendo e praticando o que a igreja permitia fazer em vias de salvação
da alma na hora da morte.
Assim, dentro dessa sociedade tipicamente camponesa e cristã, as epidemias
redesenhavam o cenário local, fazendo com que a morte surgisse com mais intensidade.
Tratando-se desse contexto, percebemos que as discussões de Agra do Ó (2003, p.11-
12) são bem pertinentes, pois o mesmo traça um perfil da Paraíba no século XIX e como
as doenças causaram uma alteração no modo de vida das pessoas, e também no modo de
10
O padre José Gonçalves Dantas também teve seus amores e dessa relação teve um filho. O clérigo
também foi vereador e presidente da câmera municipal de Sousa. Abreu (2015, p.276-290)
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morrer, pois “O Brasil ao longo do século XIX sempre foi vítima de epidemias, estas
que deixaram povoados, vilas e cidades em pânico, uma dessas ferozes desgraças foi o
Cólera Morbos, que por onde passava deixava seu rastro”.
A partir da discussão do autor e leituras do óbito, percebemos que várias eram as
moléstias que acarretavam esses sujeitos na Paraíba oitocentista. Assim, ao analisarmos
os registros de óbitos, foi visto com mais frequência as doenças como: o mal interior,
maligna, tisica, bexigas, diarreia que ataca mais no inverno, cancro, garrotilho que
matava mais crianças, febres, doença do mundo, parto, mal desconhecido. Sobre essas
moléstias, uma das mais graves era a bexiga.
Vale ressaltar que o bexiguento11 deveria ficar isolado em quarentena, pois a
doença era transmissível. Muitas vezes por não ter um assistência médica e se tratando
do contexto oitocentista, a cura para a bexiga, vinha dos remédio do mato. Logo, o
doente era levado para um lugar no meio do mato e posto em cima de folhas de
bananeiras, que ajudavam na melhora do moribundo.
A doença é o primeiro sinal de morte próxima e em volta da morte podemos
perceber todo o gestual fúnebre, onde comporta as intencionalidades em vias de
salvação. E para isso cabe aos homens buscar esta salvação, pois ele deve munir-se de
orações, ser vigilante e seguir os preceitos da igreja, sendo um bom católico. Desse
modo, inseridos em um contexto social demarcado pelos discursos da igreja e de um
catolicismo provindo de uma ambiente rural, aos poucos os homens vão aprendendo a
rezar, cuidar do morto, a perceber que alguns rituais facilitam o contato com Deus.
Assim, o gestual que envolve a morte e todas as organizações em torno da morte,
seguem um único pensar- a salvação da alma.
Aos tantos (2) dias de tal mez, e de tal anno falleceo da vida presente
N. Sacerdote Diacono, ou Subdiacono; ou N. marido, ou mulher de
11
Aquele que está doente de bexiga.
160
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
O óbito é um pequeno registro que vale muito, pois para um estudo da história
da morte o mesmo torna-se fonte primordial. Os óbitos da Igreja Matriz de São João do
Rio do Peixe apresentam os dados vitais da pessoa, qual o tipo de assistência
(sacramentos, ofícios), cor da mortalha, estado civil, nome do cônjuge e nome dos pais
caso não seja casado, onde foi sepultado e se foi em uma catacumba, qual catacumba e
se era de alguma irmandade. O óbito mostra se era párvulo, adulto, escravo ou retirante.
Apresenta-nos também o motivo do óbito (doenças, assassinato, queimado e se
morreu subitamente). Algumas vezes indica a condição socioeconômica do defunto e
sua profissão. Também indica se houve missas, onde faleceu e se faleceu no domicilio12.
Portanto, em um pequeno registro pode-se perceber todo um sentido e cuidado com o
morto na hora que a morte se aproxima.
O registro de óbito revela sensibilidades frente o trato com os mortos. Pensando
nessa ideia de sensibilidades, Pesavento (2007) discute que as sensibilidades, são sutis,
difíceis de capturar. Os registros de óbitos são documentos que muitas vezes passa
despercebido a luz de nossos estudos. Esse curto registro carrega traços do cuidado com
os mortos, de uma sociedade que tinha uma estreitamento maior com o fim, de uma
mentalidade cristã, envolvida pelas crenças e medos frente o último adeus. O registro
não reflete apenas uma história demográfica, mas nos contam histórias e traz sentidos e
significados no trato com os mortos e diante da morte.
A fonte obituária nos faz conhecer um pouco do gestual, os significados que os
mesmos carregam dentro de uma determinada sociedade. Reflete o modelo e padrões
estabelecidos de mortes, como de uma boa morte13. É percebido que através dessa
organização, tem-se as crenças no céu, inferno e purgatório. Para o pensamento cristão,
12
Os registros de óbitos não apresentam de forma clara o que foi o domicilio. Sua presença é percebida a
partir do ano de 1884. Acreditamos que o mesmo tenha sido uma espécie de lazareto que cuidava dos
moribundos. A presença desse espaço, dar a perceber que doente deixava seu quarto para morrer neste
outro lugar. Assim, a morte deixa de ser “domada”, ganhando um caráter de interdito como já apontou
Ariès (2003).
13
Segundo Reis (1991, p. 92), a boa morte significa que o fim não chegaria de surpresa para o
indivíduo, sem que ele prestasse contas aos que ficavam e também os instruísse sobre como dispor de seu
cadáver, de sua alma e de seus bens terrenos.
161
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
14
1864, fls1f
15
1864, fls2f
16
1864, fls2v
17
1864, fls2v
18
1866, fls13f
19
O registro de óbito não identifica qual foi a irmandade
20
1869, fls52v
163
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21
1869, fls53f
22
O registro de óbitos não identifica o que foi “leprozado”. Acreditamos que este termo trata-se da lepra.
164
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
“Havia irmandades de brancos, pretos e de pardos”. Cada irmandade tinha uma forma
de organização, como também uma cor para a morte, seja preto, branco ou cores de
santos. Dependendo do poder da irmandade, esses enterramentos, poderiam ser guiados
por vários padres.
As irmandades tiveram um papel muito importante no Brasil oitocentista na hora
da morte. As confrarias davam a assistência aos defuntos, dando-lhe um sepultamento
cheio de aparatos religiosos, muitas vezes pomposos e o morto era sepultado em
catacumbas. As irmandades também tinham suas covas dentro da igreja e isso era
permitido através das dioceses.
Segundo, Cymbalista (2002, p.38), “conforme cresciam os adeptos das
irmandades, e as mesmas iam tornando-se mais poderosas, também construíam suas
próprias igrejas”. Não sabemos quantas irmandades se fizeram presentes em São João
do Rio do Peixe, prestando assistências aos defuntos. O registro de óbitos, apenas nos
apresenta que o defunto foi sepultado na catacumba da irmandade, indicando apenas o
lugar em que a mesma estava situada dentro dos cemitérios, que nos anos de 1874 já
haviam nos cemitério de São João, três catacumbas.
Assim, sobre as tonalidades presentes na organização dos registros, vale
salientar que as cores de Santos foram vistas até o momento através das fotografias, que
encontram-se em arquivos particulares, como os álbuns de família. Percebemos que
algumas pessoas foram amortalhadas de hábitos franciscanos. Nos óbitos encontramos
as cores brancas, pretas, pardas e azul. Então, para o primeiro livro de óbitos, a busca
pelo preto alcança o segundo lugar na hora da morte, pois de um total de 756 fiéis que
partiram usando mortalhas, 140 pessoas foram amortalhadas de preto na hora da morte e
para a cor parda apenas uma pessoa fez uso.
O preto em sua maioria está associado ao luto. Mas para a sociedade analisada
nos estudo de Reis (1991, p. 127), o preto era usado nas pessoas de maior posse, pois
branco era uma cor que cabia no bolso dos mais pobres. Mas isso não quer dizer que
apenas os pobres faziam uso do branco, pois como bem já foi salientado, a mortalha
branca é carregado de um simbolismo e significados para quem faz o seu uso.
Devemos perceber que a escolha da roupas fúnebres já demonstra que havia uma
sensibilidade, como uma preocupação dos familiares em organizar o funeral. A família
logo cuida da casa, de anunciar entre os vizinhos que na comunidade mais um dá o seu
último adeus. Logo, prepara-se a comida para os que iam visitar o morto e passar a
noite. Também tem o banho do defunto, cortar os cabelos, unhas e se for homem, tira-se
165
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
a barba. Quando o defunto estiver na beira da morte, logo chama-se o padre para
absolvê-lo. Tudo isso faz parte dos ritos de incorporação e separação, no qual vertem-se
a lógica do enterro Reis (1991, p.89).
Por isso que na hora que o morto estiver no seu leito, deve chamar logo o padre
para encomenda-lo. No óbito do párvulo Manuel não consta nenhum oficio, pois no
tratando-se de crianças, o batismo bastava para sua salvação. Habitualmente no século
XIX e XX em São João do Rio do Peixe, era costume enterrar as crianças 23 no mato e,
talvez por isso, a família de Manuel não tenha chamado o padre para encomenda-lo, ou
alguém que tinha conhecimento de rezas, pode ter feito a assistência ao pequeno
párvulo.
No caso de adultos é preciso que a assistência seja intensificada com os
sacramentos. Assim como os da penitência, estes que foram administrados em José
Oliveira e em Justina, que recebeu o sacramento da penitência e extrema-unção. Narcisa
preta, escrava, também recebeu o sacramento da penitência. Já Leopoldina foi
confessada pelo padre José Gonçalves Dantas e quase todos foram encomendados pelos
vigários.
Contudo, apenas uma pessoa responsável poderia administrar o alimento
sagrado. O padre direcionava-se até a casa do enfermo e no leito de seu quarto proferia
os sacramentos. Leopoldina escolheu o padre de sua preferência, e quem tivesse mais
posses também podia escolher o enterro e principalmente quantas missas em intenção de
sua alma. Esses sujeitos perceberam que para a passagem é preciso estar purificado dos
pecados e por isso a figura religiosa era importante. De acordo com a igreja era preciso
administrar os sacramentos, como também os ofícios (encomendação e missas). Reis
(1991) nos explica que apenas o padre poderia administrar a extrema-unção, pois o
sacramento era um empurrão para a outra vida. Desse modo, percebemos que:
23
A partir dos registros de óbitos, percebemos que ser criança em São João do Rio do Peixe, no final do
século XIX, era até os cinco, ou seis anos de idade. Logo, com sete anos o sujeito é percebido como
adulto.
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
À guisa de conclusão
24
O regresso do morto, acontece se o mesmo for enterrado com algo desse mundo, como ouro nos dentes,
objetos dentro do caixão, ou se for com sapatos usados e nesses contenham resquícios de terra do mundo
dos vivos. Também se o morto ficou devendo algo, seja financeiro ou promessa, ele pode voltar. Esse
regresso pode ser feito em sonhos, como em aparições a alguém. Acredita-se que o morto não descansa
até que retirem os objetos de seu cadáver, liquide as dívidas e pague as promessas.
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
25
Registro de óbito referente ao primeiro livro (1864-1873) Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário. O
adulto Antônio dos Santos morreu no ano de 1864. Ele era da Freguesia de Sousa e morreu subitamente.
Tinha 60 anos, era branco e foi sepultado em hábito branco no cemitério desta povoação. O falecido foi
encomendado pelo vigário.
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
algo social, onde os cerimonias mudam. Logo, debruçar-se sobre a organização dos
óbitos, é poder ver além do que as fontes podem dar a ler.
FONTES
Livro de óbitos secretária da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, São João do Rio
do Peixe, 1º Livro de óbito ano 1864-1873 (L.01)
Livro de tombo secretária da Igreja Nossa Senhora do Rosário, São João do Rio do
Peixe, 2º Livro de Tombo ano de 1885.
REFERÊNCIAS
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
Introdução
1
Graduanda em História pela Universidade Federal de Campina Grande/ campus Cajazeiras - PB. E-mail:
[email protected]
2
Professor Doutor da Universidade Federal de Campina Grande/Campus Cajazeiras - PB. E-mail:
[email protected]
171
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
alterado diante dos novos problemas que trazem essa nova perspectiva. Em seguida, no
segundo tópico, diante de indagações que perpassam a escrita e o próprio
posicionamento do historiador, percebemos novas exigências atribuídas por essa área.
Nosso ofício se mostra como resultante de escolhas que vão além dos interesses
do historiador, sendo pautado nas condições e causas sociais; além de uma intrínseca
relação com o mercado, que abriga e orienta algumas produções historiográficas. No
entanto, o foco de discussão tem por base o modo como os historiadores lidaram com
seus objetos de pesquisas pautados em uma escrita das sensibilidades. Assim, a
problemática deste texto é como as novas possibilidades e desafios abrangem o
historiador ao escolher trabalhar na área.
Dessa forma, analisamos aspectos que são fundamentais ao trabalho do
historiador, as novas possibilidades partindo das fontes e de outras áreas de
conhecimento. Lidar com esses vestígios exigem, geralmente, uma interdisciplinaridade
entre a História e disciplinas como Antropologia, Química, Física, Biologia, Psicologia
e a Psicanálise, entre outras. Essa exigência é decorrente da complexidade, do estado
das fontes e para melhor compreensão dos signos presentes nos vestígios ou nas
entrelinhas.
É importante destacar a necessidade de um olhar treinado e o uso da
sensibilidade para analisar e registrar as histórias. Não devemos esquecer que nossas
falas concretizam discursos e marcam posições; É necessário cautela, já que na maioria
das vezes não temos os sujeitos de nossas pesquisas para concordar, discordar, apoiar ou
ser contrário as nossas falas.
Possibilidades e desafios
172
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
173
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
Dessa forma, “Logo, este não é apenas um problema de fonte para o historiador,
mas sobretudo, de uma concepção epistemológica para a compreensão da história”
(PESAVENTO, 2007, p. 15) ,ou seja, vai além de utilizar certos tipos de fontes ou
procurar certas relações com o íntimo. Ao escolher enveredar pelo campo do sensível a
própria forma como se vê ou entende a história modifica-se, visto que o historiador tem
a capacidade de construir um discurso que define e marca o seu objeto. Mesmo que seja
uma interpretação, possui um caráter de autoridade nas suas produções. Ou seja, deve-se
ter plena consciência das imagens construídas sobre o sujeito/objeto de pesquisa. Diante
das diversas possibilidades se faz necessário o uso de ferramentas que auxiliam nos
estudos e análise das fontes como a Antropologia, Química, Psicanálise, entre outras
áreas de conhecimento. O uso de tais recursos pode ser interpretado como um dos
desafios dessa área.
Diante das possibilidades que surgem com a área das Sensibilidades, enxergar
um novo olhar sobre o objeto de pesquisa e sobre seu próprio ofício são apenas algumas
das resultantes desta área. Mas também ao se escolher trabalhar as novas possibilidades,
ganham-se novos desafios como a não aceitação de tais produções por alguns pares.
Lidar com uma subjetividade assusta alguns pesquisadores que não consideram tais
trabalhos.
Na academia esta se mostra ainda como uma batalha longe de se por um fim,
apesar das grandes produções realizadas sobre o sensível, como as obras de Alain
Corbin. Durante uma entrevista, Corbin nos alerta para a inércia que deve ser evitada
pelo historiador ou professor de história: “Não se deve fazer sempre a mesma coisa,
para que o prazer não se embote. Este é meu conselho...” (2005, p. 30). Fugir de
concepções absolutas, de um único olhar e refletir sobre a própria função da História e
do ofício do historiador são as principais contribuições permitidas ao trabalhar com as
Sensibilidades. É desta forma que Pesavento nos convida a aceitar o desafio de fazer
uma História das Sensibilidades: “se estudar sensibilidades é um desafio, é um ir além,
é ter, possivelmente, mais dúvidas do que certezas, com relação ao passado, talvez aí
resida o charme que se encontra presente em toda aventura do conhecimento... por que
não aceitar o desafio?” (PESAVENTO, 2007, p. 21).
Assim, alguns problemas recaem sobre o pesquisador do sensível que vão das
dimensões epistemológicas, fontes, treino do olhar, aceitação e produção
historiográfica. Temos uma área inovadora que pauta no invisível ou ignorado, mas que
exige uma nova postura. Partindo de experiências, valores, crenças dos quais não
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali
está a sua caça” (BLOCH, 2001, p. 54-55).
No entanto, não é nosso objetivo discutir sobre o principio básico do oficio do
historiador, mas corroborar a partir de Marc Bloch que o foco da História e objeto
central do historiador é o homem. E a História das sensibilidades nos permite um novo
olhar sobre esse homem, seus sentimentos, emoções, ações e subjetividades.
Assim, com novas possibilidades de análises, algumas indagações são
necessárias para entendermos as mudanças proporcionadas por esta área: qual alteração
ocorre no oficio do historiador do sensível? Quais desafios enfrentados? Quais as
possibilidades? Como solucionar ou contornar os desafios dessa área? Essas são
questões que surgem com a nova forma de perceber o homem e que pretendemos
responder, mas analisando dois aspectos definidores e resultantes da escolha do
historiador: as fontes e a escrita.
As fontes
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
A escrita
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indagações que elaboramos, do nosso público e dos interesses que vão do pessoal ao de
terceiros.
Como nos alerta Pesavento, na nossa escrita, deve estar presente os ditos e não-
ditos presentes nos registros íntimos. Salientando que para que tal produção
compreenda as entrelinhas da subjetividade, é necessário saber interpretar as fontes,
focando na elaboração e no meio em que foram produzidas.
Considerações finais
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REFERÊNCIAS
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Introdução
1
Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]
2
Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]
3
Link: https://catracalivre.com.br/geral/dica-digital/indicacao/tutorial-como-fazer-um-fanzine/
181
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
4
Link: http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Documentos/Guia-pratico-de-como-fazer-lambe-lambes-em-
sua-cidade/
5
“Pessoas cisgêneras: pessoas que foram designadas com um gênero ao nascer e se identificam com ele.
Sinônimo de cissexual. Abreviado como cis.” Fonte:
https://feminismotrans.wordpress.com/2013/03/15/cissexual-cisgenero-e-cissexismo-um-glossario-basico/
182
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
regionais. E a produção de dados foi facilitada também por pesquisa de campo, em que
elaboramos entrevistas semiestruturada realizadas com 03 (três) das 09 (nove)
integrantes em atividade regular.
Dividido para fins de análise em dois tópicos, o primeiro trata sobre o
desenvolvimento histórico do movimento feminista, como este avançou na crítica ao
sistema patriarcal utilizando de diversas ferramentas, que incluem a construção de uma
teoria crítica feminista e a apropriação dos meios de comunicação tradicionais e
alternativos para difusão do pensamento feminista. O segundo momento localiza o
movimento feminista na cidade de Sousa, através do coletivo "Valha, o que é isso?",
para entender como se deu seu processo de construção e as implicações na realidade
local.
183
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
ter acesso à educação formal e ao ideário europeu, onde o feminismo já avançava. Dessa
forma, no Brasil:
184
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
foi capaz de fazer com que demandas fossem incorporadas, desta vez,
por largas parcelas dos discursos e propostas sociais, políticas e até
econômicas na atualidade (inclusive no âmbito do próprio Estado e da
sociedade civil).
186
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
apontou Pinto (2003) proporcionado por outros fatores, dentre os quais apontamos o
crescente acesso às mídias sociais e do uso destas pelo movimento feminista enquanto
ferramenta de difusão de conhecimento e técnica de mobilização, conforme
apresentamos no tópico anterior.
É importante saber que não temos conhecimento de muitas pesquisas que se
debruçam sobre a dimensão da cultura patriarcal na cidade de Sousa, o que dificulta a
apreensão sobre a situação da mulher, de forma geral, e do movimento feminista, em
específico, como objetos de estudo nesse contexto. Recentemente, uma pesquisa
realizada para conclusão de curso em Serviço Social pela UFCG em 2016 sobre a
Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Sousa mostrou que “o Município
não dispõe de outros espaços como Secretarias ou Conselhos que possam promover
ações de combate à violência e o desenvolvimento e aplicação das políticas para as
mulheres” (LIRA, p. 37). É revelador também o fato da cidade possuir 01 (uma) das 10
(dez) Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher implantadas no Estado da
Paraíba, com sede própria desde 2011, onde “o ano de 2015 a DEAM registrou mais de
200 inquéritos de violência doméstica e familiar apenas no município de Sousa.”
(LIRA, p. 46), demonstrando que existe uma grande demanda no enfrentamento da
violência contra a mulher. A violência é o fim da linha de um processo de naturalização
da dominação machista que se forja na cultura e se fortalece, entre outros mecanismos,
pelos meios de comunicação locais em que
6
Link: http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2016/04/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf
187
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
7
Os incisos I a V do artigo 7º da Lei 11.340/06 dispõem que são formas de violência doméstica e familiar
contra a mulher, entre outras: a violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Fonte:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
8
Em sua página no Facebook o Coletivo Estação se inscreve no objetivo produzir arte e promover a
integração entre as manifestações artísticas independentes. Fonte:
https://www.facebook.com/ColetivoEstacao/
9
Link: https://www.facebook.com/LevantePopulardaJuventudeSousa/
10
Movimento presente internet em vários endereços. Links:
http://www.marchamundialdasmulheres.org.br/
https://www.facebook.com/marchamundialdasmulheresbrasil
https://marchamulheres.wordpress.com/
189
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11
Espaço de apreciação de arte, cultura e formação de plateia, com programação diária e gratuita.
Instalado na cidade de Sousa desde 2007. Fonte: http://www.bnb.gov.br/centro-cultural-sousa
12
Link: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/
190
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É meio difícil pra essas mulheres virem, porque no sertão ainda tem
essa resistência, elas podem até dizer “ah, isso é massa, eu sou uma
feminista”, mas aí quando você diz que é feminista dentro da família,
eles já têm aquela visão “vixe, agora vai virar isso, vai fazer aquilo” e
todos os tabus que têm com mulheres feministas. Por isso que eu acho
mais difícil que essas mulheres se desenraizem da família em si, que
saiam e que lutem.
Comigo não aconteceu uma coisa grave como aconteceu com E* que
foi...que chegou num momento de violência. Dois homens, do nada,
chegaram numa moto, no meio da rua e derrubaram ela no chão e
chamaram “sua feminista nojenta13” e ela é muito estigmatizada no
colégio.
13
A agressão e ameaça de estupro sofridas por uma das integrantes do coletivo “Valha, o que é isso?”
foram notícias em alguns sites de Sousa e região, assim como denunciada pela vítima no Facebook. Link:
http://www.sertaoinformado.com.br/portal/p.php?pagina=viewnot&id=481
http://www.angelolima.com/2016/07/jovem-e-perseguida-jogada-ao-chao-e.html
193
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
mais lenta, mas mais seguramente, talvez ela possa ser feita através de
meandros em que se constituem os micropoderes, as diferentes formas
de resistência e as atitudes conscientes ou inconscientes de sabotagem
do status quo. A julgar pelas mudanças provocadas pelos múltiplos
movimentos feministas, este tipo de revolução, que se poderia chamar
de “revolução cotidiana”, já conquistou seu lugar na história.
(SAFFIOTI, 1991, p. 161)
Considerações finais
14
Link: http://www.camarasousa.pb.gov.br/site/index.php/vereadores
15
http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/08/11/o-que-e-a-ideologia-de-genero-que-foi-banida-dos-
planos-de-educacao-afinal.htm
16
Link: http://conscienciacristanews.com.br/camara-dos-vereadores-de-sousa-pb-rejeita-a-inclusao-da-
ideologia-de-genero-nas-escolas/
194
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
17
Segundo dados do IBGE de 2010, as mulheres representam 51, 68% da população total. Link:
http://populacao.net.br/populacao-sousa_pb.html
195
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
suas grades, aquelas que se constrangem em entrar em espaços que são tão bem
aproveitados por mulheres brancas ou mulheres com vaginas. Mas é novo “ler” a voz da
sertaneja, captar suas dores, dissabores, que também é voz de vitalidade, alegria e luta.
Que esse artigo se configure como um entre muitos outros que virão para inscrever e
instituir o lugar da mulher - mulher paraibana, mulher sertaneja, mulher sousense - na
História.
REFERÊNCIAS
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Nova Fronteira, s/d. v.1.
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http://www.unicamp.br/cemarx/ANAIS%20IV%20COLOQUIO/comunica%E7%F5es/
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_______. Feminismo e consciência de classe no Brasil. São Paulo: Cortez, 2014.
LIRA, Francisca Cibele de Brito. Afasta de mim esse cale-se: A Delegacia
Especializada de Atendimento à Mulher de Sousa/PB e o Enfrentamento à Violência de
Gênero. Sousa: UFCG, 2016 (Monografia de Graduação em Serviço Social)
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PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora
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1/encontros-nacionais/10o-encontro-2015/historia-da-midia-digital/o-feminismo-
contemporaneo-a-re-configuracao-de-um-terreno-comunicativo-para-as-politicas-de-
genero-na-era-digital/view. Acesso em: 20 set. 2016.
196
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
Introdução
No ano de 1875, José Martiniano de Alencar publica Senhora, na qual faz uso de
uma linguagem rebuscada para nos dar noção de como e quais eram os costumes que a
sociedade burguesa do Rio de Janeiro do século XIX estava habituada. Através deste
romance urbano, o narrador deixa aberta uma discussão sobre valores sociais e morais
que estavam em voga, bem como a emancipação feminina. Estes elementos nos são
apresentados com certa profundidade, de modo a evidenciar o dinheiro como a mola
propulsora daqueles valores.
Assim, o presente trabalho objetiva analisar a representação da personagem
Aurélia diante das circunstâncias vividas antes e depois de receber a herança, haja vista
o papel exercido pela mulher no século XIX. Especificamente, analisamos a educação
que lhe foi conferida, a perspectiva que ela tinha em relação ao casamento burguês em
contraposição ao ideal romântico, a necessidade de um tutor e uma mãe de encomenda,
seu desejo de submissão ao amor que sente por Seixas e a hipocrisia da sociedade na
insistência em se manterem as aparências.
Para dar embasamento teórico a nossa pesquisa, utilizamos a crítica de gênero
encontrada em Bourdieu (2002), Beauvoir (1970), Badinter (1986); as teorias literárias
acerca do Romantismo em Bosi (2006), Candido (2009, 2010), Castello (2004), Citelli
(2007), Coutinho (2004), Moisés (2001); sobre educação e tutela, usamos Vasconcelos
(s/d) e Oliveira (2007), respectivamente. Desse modo, temos uma personagem que é
moldada carregando em si as características do ideal de mulher para o Romantismo. No
entanto, a construção de sua forte e dual personalidade desconstrói esse idealismo
romântico, pois ora Aurélia é “mulher-anjo”, ora ela adquire a postura de “mulher-
demônio”, haja vista sua revolta pela recordação da degradação do seu amor. Diante de
tais fatos, percebemos que as aparências sociais são mantidas nesta personagem, apesar
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de ser contra o sistema vigente, na qual o dinheiro tudo soluciona, mas são os ideais do
Romantismo que prevalecem.
Aurélia Camargo era uma jovem de dezoito anos, pobre, sua mãe era viúva,
doente e já tinha passado por muitos sofrimentos antes de concebê-la, pois seu sogro
não aceitava sua união com Pedro Camargo, seu falecido marido, haja vista que ele
pensava ser D. Emília uma concubina. Além disso, a família dela também não estava de
acordo com seu casamento e a julgava uma "mulher perdida", a amante. Ela vivia
sozinha numa casa à espera do marido que, vez outra, fugindo da fazenda de seu pai, ia
a seu encontro. Desta união, nasceram Emílio e Aurélia. Como a irmã é quem dava
apoio ao irmão, "[...] a mãe só via para a filha o natural e eficaz apoio de um marido.
Por isso não cessava de tocar à Aurélia neste ponto, e a propósito de qualquer assunto"
(ALENCAR, 2012, p. 90).
O casamento ou o celibato eram as duas únicas alternativas para as mulheres
daquela sociedade. Optando-se pela primeira alternativa, as relações tomavam a
proporção de objetos, os seres envolvidos eram coisificados na busca pelo
enriquecimento pessoal. O "mercado matrimonial" movia a sociedade burguesa. De
acordo com Badinter (1986, p. 201), o casamento “é antes de mais nada uma segurança
econômica, um seguro de vida”. Este é um dos pontos que fazia parte da educação
direcionada às mulheres. Elas deviam casar-se com um homem que lhe garantisse
conforto, segurança e uma posição social digna, além de se prepararem para a
maternidade, assegurando a continuação de uma descendência.
No entanto, em troca disto, as mulheres deviam ser submissas às vontades do
marido e ter uma vida restrita ao lar. Neste sentido, Vasconcelos (s/d, p.1) argumenta:
"Dando-se prioritariamente no ambiente doméstico, a educação já se caracterizava em
seu conteúdo na preparação para os papéis a serem exercidos na vida adulta e continha
especificidades próprias das representações de gênero da época". Bourdieu (2002) nos
explica que essa distinção que elegia os homens como seres superiores se deu, a
princípio, pelo fato deles e as mulheres possuírem gônadas diferentes e por
interpretarem os movimentos inerentes à natureza feminina como sendo inferiores. Com
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o avançar dos estudos, novas formulações surgiram para mostrar que esses fatores
fisiológicos e comportamentais não eram suficientes para sustentar os argumentos de
superioridade para eles e de inferioridade para elas.
Assim, a educação se dava de forma desigual para homens e mulheres. Eles
tinham acesso a conhecimentos diversificados para ampliar sua capacidade intelectual,
além da instrução para desenvolvimento da virilidade. Já as mulheres tinham acesso a
conteúdos restritos. Vasconcelos (s/d, p.1) aponta que:
Podemos confirmar que Aurélia havia recebeu esta educação com o seguinte
trecho:
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pessoa até os 25 anos de idade. Esse tutor poderia ser o pai, no caso de
morte da mãe, ou um parente ou conhecido, no caso de falecimento do
pai. Em alguns casos, a mãe poderia ser a tutora dos filhos. O tutor era
responsável por educar e cuidar da herança dessas mulheres, heranças
estas deixadas nos inventários maternos e/ou paternos.
Entretanto, a tutela de Aurélia era apenas para compor o cenário social, e ela só
aceitou ter o tio como tutor para vingar-se dele e vê-lo submetido a suas vontades.
Quando vivia na pobreza, ela havia sido vítima de uma armação de Lemos para separá-
la de Seixas, acrescido ao fato de nunca ter dado a ela e a sua mãe nenhuma assistência
quando mais precisaram. Além disso, para continuar compondo esse cenário, ela tinha
D. Firmina Mascarenhas, uma velha parenta, viúva, que lhe servia de companhia: “Mas
essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos
da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação
feminina” (ALENCAR, 2012, p. 17).
Então, Aurélia com toda sua altivez precisava da presença destas duas pessoas
para continuar dentro do quadro das normas sociais para as mulheres daquela época.
Haja vista que era muito rica e bela e todos se rendiam a seus encantos e desejos,
inclusive quando ela diz que irá reclamar sua tutela ao juiz "[...] Completei dezenove
anos; posso requerer um suplemento de idade mostrando que tenho capacidade para
reger minha pessoa e bens [...]" (ALENCAR, 2012, p. 31). Tendo consciência disso, ela
já poderia ter usado deste artifício para se libertar da necessidade de manter as
aparências para a sociedade, mas ela não o faz. Sua autonomia não havia se
desvencilhado completamente das regras rotuladas como adequadas para uma mulher
menor de idade e órfã.
No entanto, após receber a herança inesperada, há uma rápida transformação em
Aurélia, não no caráter e nem nos sentimentos que permanecem inalteráveis, mas na sua
atitude perante a sociedade hipócrita, que colocava valores fúteis (como o luxo, a
ascensão e a ambição) acima do amor. Por isso, ela tratava os “caçadores de dotes”
(pretendentes) com desprezo e indignação, pois sabia que a pretendiam unicamente pela
sua riqueza. Assim, costumava atribuir aos seus adoradores um valor monetário que
poderiam adquirir no “mercado matrimonial”. Para a maior parte das mães, esses modos
desenvoltos de Aurélia eram considerados “impróprios de meninas bem-educadas”.
Além disso, opera-se uma “revolução” no espírito de Aurélia ao tratar de
negócios: “O princípio vital de mulher abandonava seu foco natural, o coração, para
concentrar-se no cérebro, onde residem as faculdades especulativas do homem”
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(ALENCAR, 2012, p. 30). Esse trecho nos oferece uma amostra do conceito de
sociedade de José de Alencar, visto que Aurélia assume funções “masculinas” ao
realizar tarefas que só competiam aos homens, já que as mulheres deveriam instruíssem
em prendas domésticas, ter noções de literatura, moral e regras de etiqueta social. Por
diversas vezes, ela é apresentada como leitora de romances de alguns escritores, mas o
seu preferido era William Shakespeare, por ser “o sublime escultor da paixão”.
Inclusive, através do narrador, José de Alencar faz referência ao seu outro romance
urbano Diva. Interrogada pelo crítico sobre a “mulher impossível” da obra, Aurélia
responde que conhece uma moça parecida com a personagem, referindo a si mesma e a
sua própria história.
Quando era pobre, Aurélia não saía de casa, com exceção de algum domingo
para ir à missa com a mãe ou algum passeio à noite acompanhada do irmão. Diante da
sua nova posição social, ela passa a frequentar, na companhia de D. Firmina e depois
com o marido, bailes e teatros, tinha como passatempo o piano “[...] que é para as
senhoras, como o charuto para os homens, um amigo de todas as horas, um
companheiro dócil, e um confidente sempre atento” [...] (ALENCAR, 2012, p. 136).
Além disso, Aurélia tinha ao seu dispor vários criados para as mais diversas tarefas, mas
dispensava a mucama para o serviço de sua pessoa (para trocar de roupa, por exemplo),
um costume conservado de quando era pobre.
Para contrariar o poder de tutor de Lemos, ela escolhe com quem se casar e
encarrega o tio de fazer a transação sem citar o nome da pretendente a esposa. Agora,
desfrutando da riqueza, Aurélia toma a resolução de "comprar" Seixas, a um preço
maior daquele oferecido pelo pai de Adelaide, porque tinha convicção de que ele se
arrependeria por ter trocado o amor devoto que ela sentia pelo dinheiro de outra.
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como seu servo [...]” (ALENCAR, 2012, p.172). Diante deste fato, Aurélia se revolta e
se decepciona, então decide se vingar, mesmo sabendo que o preço dessa vingança eram
a tristeza e a mágoa que se acumulavam em seu coração. Vale ressaltar que o fato de
Fernando tê-la abandonado por outra mulher não é o que motiva a vingança de Aurélia,
como ela próprio confessa:
Essa explicação de Aurélia sobre esse “crime” revela uma imagem idealizada do
amado, pois ela “[...] amava mais seu amor do que seu amante, era mais poeta do que
mulher; preferia o ideal ao homem” (ALENCAR, 2012, p. 106). Em outras palavras,
Aurélia adora a imagem daquele homem de alma nobre que acendia a paixão e fazia o
seu coração vibrar, o qual conhecera na rua de Santa Teresa.
Mas Fernando se torna indigno do seu amor, porque entre as conveniências e a
afeição, escolheu o interesse ao amor; e é isso que Aurélia não perdoa. No entanto, ela,
submissa ao amor que sente por ele, quer se entregar a esse sentimento, mas a mágoa, o
orgulho e a decepção que esse homem causou a impedia de desfrutar dessa felicidade:
"– Eu?... Não me importaria que ele fosse Lúcifer, contanto que tivesse o poder de
iludir-me até o fim, e convencer-me de sua paixão e inebriar-me dela. Mas adorar um
ídolo para vê-lo a todo instante transformar-se em uma coisa que [...] nos repele... [...]"
(ALENCAR, 2012, p. 159-160). Esse conflito interno de Aurélia pode ser explicado
pela seguinte característica do Romantismo: “Ao passo que o clássico tende a
simplificar as personagens, o romântico encara a natureza humana na sua complexidade,
construindo tipos multifacetados, mais naturais e mais humanos” (COUTINHO, 2004,
p.10).
Vivem como estranhos na mesma casa durante onze meses, mas socialmente
formam o “casal perfeito”. Porém na intimidade do lar, não pronunciavam o nome um
do outro e passava dias sem se verem. Nem os criados e nem D. Firmina percebia essa
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[...] à inversão que têm sofrido nossos costumes com a invasão das
modas estrangeiras, assentou [...] que o último chique de Paris devia
ser esse de trocarem os noivos o papel, ficando ao fraque o recato
feminino, enquanto a saia alardeava o desplante do leão. “Efeitos da
emancipação das mulheres!” – pensava consigo (ALENCAR, 2012, p.
133).
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
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2016.
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sobre os padrões que eram predominantes, como os gostos pela moda, as apropriações e
como a beleza estava relacionada a esses usos.
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A partir dessas questões, buscamos como aponta Corbin (s/d) perceber não as
causas das mulheres colocarem suas fotos ou permitir serem expostas, mas os sentidos
da escolha. Toda via, pensarmos esses sentidos é pensar as relações constituídas e os
arranjos formados nesse meio, assim existindo toda receptividade dos que expõem as
imagens como também dos receptores. A esse respeito, Mauad (2005, p.134) afirma que
“O papel dos sujeitos sociais como mediadores da produção cultural, compreendendo
que a relação entre produtores e receptores de imagens se traduz numa negociação de
sentidos e significados”, assim nesse meio de produção da revista as imagens nos
aparecem muito além da ilustração.
A partir dessa linguagem visual que as imagens fotografias nos permitem ver e
analisar, buscamos compreender os jogos sensoriais presentes nas imagens analisadas.
Para tanto, tomamos como base Mauad (2005) que nos apresenta uma discussão sobre o
trabalho com a fotografia em revistas do Rio de Janeiro na primeira metade do século
do XX. A autora afirma que as imagens nos contam histórias (fatos/acontecimentos),
atualizam memórias, inventam vivências, imaginam a história. Assim, é importante
percebermos antes da análise das imagens fotográficas das mulheres na revista, como as
mesmas se colocavam em torno dos usos da fotografia e as apropriações em torno dos
estilos voltados para corpo e beleza.
Para tanto, usando de imagens femininas presentes na revista, podemos
compreender um pouco sobre os sentidos, para isso é preciso levantar alguns
questionamentos: Quais os gestos expressos nas imagens? Quais os reflexos da moda
foram expressos? Quais as apropriações? Para tal análise, escolhemos algumas imagens
femininas presentes nas capas como também no corpo do texto. Na edição da revista de
junho de 1930, as autoras colocam na capa a fotografia de D. Joaninha Freire, a mesma
era “Digna” esposa do Sr. Raymundo freire e fazia parte de uma das secções da Ação
Social Católica Feminina.
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Dessa forma, entendemos que a utilização da fotografia era tida como um signo
presente do moderno e que a cidade nas décadas de 1920-1930 já fazia uso, porém nem
toda comunidade poderia usufruir desse aparato tecnológico, tendo em vista os preços.
Assim, a revista traz fotos variadas de fotografias de mulheres e homens, estes
ocupavam cargos importantes na cidade como, já foram citados anteriormente, médicos,
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foto da senhorinha na revista, as mulheres tinham ideais de pureza, beleza e conduta que
eram repassados no periódico.
Logo as fotografias usadas na revista nos deixa brecha para percebermos as
diferenças colocadas entre os sujeitos e os espaços ocupados, mostrando o reflexo da
vida de homens e mulheres que habitavam Cajazeiras nas décadas de 1920-1930 e; faz-
nos refletir sobre as relações de gênero que estão atreladas na sociedade e como as
regras, os discursos e as instituições podem contribuir para a diferença entre os
indivíduos, assim determinando o que é ser homem e o que é ser mulher. Discutindo
sobre esses lugares enquanto construção das identidades para o feminino e o masculino,
Louro (1997, p.28) afirma que:
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Flor de Liz, Anno IV, N° 10-11, Out 1930. Flor de Liz, Anno IV, N° 10-11, Out 1930.
D. Rosinha Mendes Tavares Fortunata Assis
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Flor de Liz, Anno I, N° 12, Nov. 1927 Flor de Liz, Anno I, N° 12, Nov. 1927
Adazgisa Reis Turquinia Albuquerque
É notório que ambas são moças da elite, seguem um padrão de beleza. Adazgisa
usa acessórios como o broche e colar, o vestir nos chama atenção, pois diferentemente
das outras fotografias, a jovem deixa transparecer um pouco do colo, possivelmente
essas vestimentas estavam adentrando os espaços da cidade e despertando os interesses
das moças. A fotografia de Turquinia Albuquerque distingue um pouco das demais por
causa da posição que o fotógrafo utiliza, ela utiliza joias e, assim como as fotos
anteriores, segue um olhar distante. Ambas expressam rostos sérios e sorriso fechado,
dando uma sensação de melancolia.
Sobre esses rostos femininos e suas formas de expressar nas imagens, Luna
(2012, p.26) comenta que, nesse sentido, o desvio do olhar ou mesmo ausência de
sorrisos, certamente é um jogo de apropriações que busca mostrar apenas o que convém
ser revelado. Tudo isso, transcorridos por formas de sentir e maneiras de ser na cidade
de Cajazeiras nos anos de 1920-1930. As fotos demonstram uma particularidade
feminina, essa expressa uma sedução, olhares misteriosos e rostos sedutores, ao tempo
que tudo isso se completa na delicadeza e nos modos de agir.
As imagens das senhoras e senhorinhas que selecionamos apresentam uma
característica comum com relação à técnica, todas apresentam apenas a parte do colo e
rosto, assim percebemos que na revista a predominância era esse tipo de imagem
fotográfica. Sobre o uso dessas técnicas, Luna (2012, p.26) comenta que quase todos os
retratos em plano americano, o jogo de luz e sombra privilegia o rosto e o coloca com
foco destas imagens. O que Deleuze apud Luna (2012, p. 26) chama na cultura
Ocidental de rostificação, ou seja, o rosto como registro e visibilidade das emoções.
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Para entendermos melhor as posturas das mulheres nas fotos e as técnicas usadas
pelos fotógrafos nesse contexto, Silva (2011, p.26) explica que “a maioria são em
planos americanos o corpo comumente está levemente lateralizado, os fundos são
escuros, sorrisos raramente aparece e o olhar quase não fita a câmera, quanto a este
padrão há poucas exceções”. Nesse sentido, os rostos fotografados traziam mais que
simples olhares, poderiam passar sentidos, estes atrelados às formas e aos modos de se
expressar, tanto na revista como também para a sociedade.
Os corpos femininos que surgem nas fotografias permitem vislumbrarmos um
dos mecanismos presentes na sociedade cajazeirense que seria a moda, esta se relaciona
em seu contexto com o corpo e os padrões de beleza existentes no período. Assim,
pensar sobre eles a partir das imagens colocadas na revista é uma forma de analisarmos
que além do ideário de belo ou feio, existia um interesse de se colocar, pois acreditamos
que seria uma forma de adentrar outros espaços, saindo assim do espaço do doméstico e
atingindo “locais masculinos”, tendo em vista que a revista poderia ter uma boa
circulação.
Considerações finais
Todos esses artifícios percebidos nas fotos femininas nos possibilita ver que a
moda e as apropriações feitas pela mesma eram presentes em Cajazeiras e, também
debatidas na Revista Flor de Liz como expressão de modos e comportamentos
acionados por mulheres na cidade. Pensar a moda relacionada com os retratos e analisar
um pouco dos usos e, principalmente, ver o sensível que se relaciona com a mesma,
pois não é apenas a indumentária, mas como esta é produto de uma sociedade e que ao
usá-la, os sujeitos estão se colocando enquanto receptores da mesma. A esse respeito,
Lipovetsky (2010, p. 207) aponta que “no coração do individualismo contestador, há o
império da moda como trampolim das reinvindicações individualistas, apelo à liberdade
e a realização privadas”. Desse modo, podemos perceber a moda como algo que
expressa gostos e vontades, assim os indivíduos podem tomar para si determinados
formas de vestir, mesmo que as receptividades muitas vezes não fossem bem vistas pela
igreja católica.
Nos escritos da revista percebemos uma preocupação com os cuidados com a
beleza, no artigo de janeiro de 1927 ao escrever sobre os concursos de beleza, a autora
afirma que “dir-se-ia que as próprias letras sagradas estimulam a mulher a se preoccupar
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de sua beleza”. Além disso, reforça “não raro as mulheres que se nos propõem como
modelo, utilizaram-se dela para grandes bens”. Dando continuidade ao artigo, a mesma
expõe que “frequentemente são os conselhos das mais autorizadas vozes da igreja, no
sentido de se fazer a mulher agradável pela sua formosura a seus esposos”.
As imagens femininas na revista tomam certo destaque e nos permite perceber
entre os indícios possíveis outras formas de leituras. A beleza física estava atrelada a
manutenção do caráter, ou seja, ser bela e manter-se bela e viver a moda era pertinente
deste que a função da mesma estivesse dentro dos ditames religiosos e princípios
familiares, no qual zelava pela moral e pelos bons costumes.
Por fim, questionamos: O que essas mulheres retratadas tinham em comum?
Essas mulheres compartilhavam normas, dividiam ideias, escreviam para uma mesma
revista, estavam associadas a Ação Social Católica Feminina, cuidavam dos lares e
educavam seus filhos e se interessavam pela moda. Porém, se diferenciavam a partir dos
seus desejos pessoais, pois sentem de formas particulares, por isso ao se pensar as
fotografias femininas não podemos ver apenas a imagem, mas todo um enunciado no
qual engloba as experiências particulares, sentimentos e sensibilidades de uma época
que não é a nossa. Mas que ao olharmos a fotografia surge toda uma inquietação para
refletirmos sobre esses usos e como ao posar para foto, usar o melhor vestido e colocar
em seu corpo os acessórios necessários para deixa-las ainda mais elegantes, tornou-se
possível perceber as imagens de si como uma linguagem visual para se pensar o
sensível.
REFERÊNCIAS
220
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
LUNA, Maria Stella Nunes. Moda e modo: uma leitura do moderno através das capas
da revista Era Nova (PB,1920). Guarabira, 2012. (Monografia de graduação).
MAUAD, Maria Ana. Através da imagem: fotografia e história interfaces. Tempo, Rio
de Janeiro, v. I, n. 2, p.11, 1996.
_______. Na mira do olhar: um exercício de análise da fotografia nas revistas
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Paulo. v.13, n.1, p.133-174, Jan-jun, 2005.
PESAVENTO, Sandra Jatahy; LANGUE, Frédérique. Sensibilidades na história:
memórias singulares e identidades sociais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007.
SILVA, Alômia Abrantes de. As Escritas Femininas e os Femininos Inscritos:
imagens de mulheres na imprensa parahybana dos anos 20. Recife: Universidade
Federal de Pernambuco, 2000. (Dissertação de mestrado).
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Diz Jose Izidro de Souza morador no sitio Tambor deste districto que
tendo chegado ao seu, conhecimento a noticia de que a filha de menor
idade, de nome Maria Luzia da Conceição se achava deflorada,
procurando informar-se da mesma lhe afirmara ser verdade, cujo facto
havia sido praticado com fraude pelo sr. Raymundo Luiz morador no
mesmo sitio Tambor, deste districto há três anos pouco mais ou menos
foi ella deflorada pelo sobredito individuo e que somente agora
chegou ao conhecimento do suplicante e como se trata de uma menor,
vem o suplicante que seja responsabilidade de seu malfeitor [...]
(PROCESSO-CRIME, n. 138 de 1932).
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sentimentos de culpa, de raiva e medo, ou até mesmo por questões não relatadas por ela
ao efetivar o depoimento. Raymundo pediu-a segredo e recompensou-a com um
cruzeiro, que ela parece ter aceitado. O que Maria não poderia contar era que essa
história viria à tona e que a partir disso teria sua vida esquadrinhada, analisada e julgada
por outros.
De acordo com as testemunhas e com a versão de Maria, três anos se passaram
após seu defloramento e ela continuava a manter esse segredo. Ocorre que a vida da
personagem junto a sua família passa por transformações, alguns fatores os levaram a
mudarem de casa e de localidade, e isso acabou interferindo e promovendo novos
contatos e afinidades, ou seja, outras pessoas passaram a transitar em suas vidas.
A vida para Maria e sua família não parecia estar nada fácil, ao que podemos
notar em depoimentos, pois os mesmos estavam em constante mudança de localidade
por conta da ausência de empregos e de renda, em consequência disso, seu pai e sua
família saíram do sítio Tambor em busca de oportunidades que possibilitassem a
manutenção para a família.
Operário da construção do Açude do Boqueirão, o senhor Izidro resolveu seguir
com sua família para essa obra, mas antes disso, passaram pelo sítio Catolé, local onde
mantiveram estadia por um tempo. É nessa localidade que Maria viveu uma reviravolta
em sua vida, tomando outros rumos e sentidos.
De acordo com depoimento do senhor Carró, a pessoa de Antonio Luis,
conhecido popularmente de Antonio Preto, morador da mesma localidade, se “enamora”
por uma das filhas do senhor Izidro, a qual é irmã de Maria. O relacionamento veio a
tornar-se realidade, e ao que consta, desenvolve-se um noivado entre eles. Antonio
Preto, ao que nos parece, desejava uma esposa, uma mulher que pudesse estar ao seu
lado, compartilhando da vida e dos seus planos.
O envolvimento do casal nos parece ter sido breve, mas para Antonio seria o
suficiente para desejar a irmã de Maria como esposa. Não conhecemos os interesses
nem o que motivou, mas sabemos que muitas das relações travadas nesse contexto
levariam em consideração alguns quesitos, por exemplo: ser um homem trabalhador e
que aparentasse boas intenções eram fatores importantes ao iniciarem um envolvimento.
Entre tantas verdades ou não, Antonio Preto convida a irmã de Maria a fugir
com ele, no entanto, ela não aceita. A questão que surge é: o que motivou o convite ao
rapto já que o noivado parecia existir perante a família de Maria? Antonio, talvez
insatisfeito diante da recusa de sua noiva, resolve propor casamento para Maria, o que
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
nos chama atenção e nos intriga. A sugestão é negada pela irmã, mas não por Maria,
que, diante do convite, aceita se casar com Antonio e assim fugir com ele.
Após o rapto, Maria passou a morar no sítio Catolé, na casa de uma família
amiga do então noivo. Segundo a dona da casa, Antonia Dirá, Antonio chegou à noite e
pediu para que abrigassem a sua noiva enquanto ele conseguia dinheiro para realizar o
casamento. Maria permaneceu durante três meses na casa dessa família, ao que ela
afirma, sem ter nenhum contato sexual com o noivo.
É nesse intervalo de tempo que Maria adoece e tenta esconder a sua doença de
todos e todas. A sua opção em ocultar os sintomas nos leva a pressupor que ela poderia
imaginar que a divulgação resultaria não apenas na descoberta de alguma doença, mas
também viesse a alegar a sua desvirginização. E o seu noivado, como ficaria diante
dessa situação? O que poderiam dizer e falar dela? Essa ação de Maria desperta
inúmeros sentidos e também sentimentos, como angústia, dor, vergonha e medo. No
entanto, chegou um momento que Maria não conseguia mais esconder, pois D. Dirá já
desconfiava:
[...] que sentindo ella depoente um mau cheiro que exalava a dita
moça perguntou-lhe o que significava aquillo, respondeu-lhe a mesma
que tinha sido com o aparecimento do estado critico com quatro dias
sem ella ter tomado banho. E nessa ocasião que ella respondente
aconcelhou a dita moça para se receitar a um médico; Respondendo-
lhe a mêsma que não precisava pois Ella mesmo se tratava, mas não
concordou ella depoente a troce para esta cidade [...] (PROCESSO-
CRIME, n. 138 de 1932).
Assim, Maria, sem ter o que fazer e mesmo contra a sua vontade, foi levada ao
médico da cidade, não encontrado de plantão e não realizando a consulta neste primeiro
momento.
Diante da necessidade visualizada por D. Dirá em descobrir o que de fato Maria
tinha, é ajeitada uma consulta com uma parteira “diplomada” que trabalhava pela
região. Mesmo com todas as negativas de Maria, esta teve que se submeter ao exame.
Maria fica em maus lençóis, seu segredo é desvendado a todos: é descoberto que ela não
era mais “pura”, virgem, e para completar a sua falta de sorte, é diagnosticada pela
parteira com uma doença sexualmente transmissível. Perante a divulgação de uma moral
higiênica e conservadora, Maria estava “perdida”, pode-se dizer, na rua da amargura.
Mediante a sua condição, ela confessa que de fato perdeu a virgindade há algum
tempo e pede para que a dona Dirá, que a acompanhou, não falasse nada para o seu
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
noivo. Todavia, ao saberem da condição de Maria, dona Dirá e seu marido resolvem
contar tudo para Antonio Preto, que de imediato põe fim ao noivado. Maria, diante dos
fatos, volta para casa defloramento. É dessa forma que se inicia o desenrolar dos autos
judiciais.
Essa história permite entrar em contato com os sentimentos e as possibilidades
postas ao amor e aos relacionamentos, como os agenciamentos, os desejos, as angústias,
os medos, interesses e incertezas que cercavam Maria.
Problematizar o amor, os relacionamentos, os sentidos e as possibilidades de
vivências a partir dessa relação são o nosso objetivo. Para pensar os sentidos
apresentados nesse envolvimento é necessário que nos aproximemos desses sujeitos. As
discussões nos encaminham e nos interligam ao seu contexto histórico, econômico e
cultural, a exemplo dos valores e moralismos. As escolhas em muito poderiam ser
construídas por interesses, por razões que estão para além do que era normatizado. São
esses sentidos que buscamos visualizar para nortear a nossa discussão.
Saber a intensidade desses sentimentos e a veracidade deles não será possível.
Procuramos tão somente visualizar as inúmeras facetas acionadas e agenciadas nas
dinâmicas de namoros e casamentos.
A história de Maria nos direciona para algumas questões, destacando que as
relações amorosas são bem mais complexas. Neste caso, existem várias possibilidades
que são construídas em torno de Maria, como também em torno do amor. Assim nos
questionamos: o que era necessário para iniciar uma vida a dois? Quais os sentimentos
que motivaram e orientaram o rapto de Maria na indisponibilidade de sua irmã? Que
critérios eram acionados e levados em consideração por Antonio e também por Maria
em seus relacionamentos? Como o amor poderia ser circunscrito nessa relação? Essas
são algumas questões a serem pensadas e analisadas neste trabalho.
Embora o rapto de Maria não seja o foco principal do processo-crime, esse nos
guia a pensar a complexidade das relações travadas nos relacionamentos ao discutirmos
as possibilidades de vivências em Cajazeiras-PB durante esse contexto. Notamos que os
princípios de família estavam embasados numa rede de discursos que norteavam os
relacionamentos e também o amor. Esses discursos indicavam o que seria “certo” ou
“errado”, o “moral” e o “imoral”. Os sentimentos em meio a isso se reelaboravam,
inclusive o amor.
O amor, como discutimos no capítulo anterior, ganhou, nos anos 20, um novo
redirecionamento, tornando-se alvo de discussões. Assim, podemos nos questionar
225
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
quais eram as dinâmicas diante das relações amorosas que foram experimentadas pelos
sujeitos comuns de Cajazeiras?
Entendemos que existiu uma pluralidade de razões e sentidos que podem ser
levados em consideração em um envolvimento amoroso, já que temos inúmeras
possibilidades de vivenciar e acionar as relações amorosas e que nem sempre estão em
sincronia com o que é ditado e instituído. Assim analisamos o contexto da história
buscando nos aproximar dos possíveis sentidos e sentimentos que pudessem estar
presentes em meio às escolhas de Maria e Antonio Preto.
O que teria motivado o rapto já que Antonio não tinha como casar de imediato?
O que o levou a raptar Maria na indisponibilidade de sua irmã? Será que existia algum
impedimento por parte da família da moça? O que não parece ser o caso, já que o pai de
Maria, quando recorre à justiça, nada diz sobre o rapto, apenas acusa o suposto
deflorador. Não poderemos responder as vias que motivaram o rapto, para tanto,
podemos nos aproximar diante do contexto e das possíveis motivações do que poderia
impulsionar e desencadear este relacionamento.
Rosemere Olímpio de Santana (2013), em “Tradições e modernidade: raptos
consentidos na Paraíba (1920-1940)”, alerta para a pluralidade de dinâmicas
desenvolvidas pelos sujeitos ao acionarem as suas relações na Paraíba, assim “seria
impossível traçar um cenário preciso para as histórias de amor e muito menos
determinar comportamentos e sentimentos próprios a uma época” (SANTANA, 2013, p.
29).
Deste modo, definir um ideal de amor para Cajazeiras-PB não é possível, mas a
partir das escolhas, dos interesses e agenciamentos presentes, poderemos estimar
possibilidades, motivações e escolhas para esses personagens ao vivenciarem as suas
histórias de amor. Deste modo, vamos conhecer um pouco mais sobre a vida da nossa
personagem.
226
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
pensar o ano de 1932. Mas para além do tempo, o que mais nos podia remeter as
possíveis sensações das suas vivências? Para isso pensamos os lugares nos quais esses
personagens acionaram as suas experiências, bem como buscamos entender os seus
desejos e vontades.
Mas essas informações seriam rasas e sintéticas, e por si só não respondem a
muitos dos nossos questionamentos, elas precisam ser relacionadas e entrelaçadas com
outras discussões ou fontes, pois não dariam conta de responder as inquietações
levantadas. Deste modo, ao visualizarmos o caso, pensemos o lugar de ação, atuação e
apropriação dos sujeitos envolvidos na nossa história. Maria, moradora da zona rural de
Cajazeiras, de origem “simples”, filha de um operário do açude Boqueirão, resolve fugir
com Antonio Preto, que também era pobre e, segundo as testemunhas, teve que ir em
busca de dinheiro para formalizar o casamento após o rapto. Olhando para o processo,
um fato nos chamou atenção e proporcionou outras questões que auxiliam a pensar esse
momento, como as escolhas dos personagens.
Maria, como já apontamos, era filha de um operário da construção do açude de
Engenheiros Ávidos (Boqueirão) – alguns textos apontam a dimensão dessa obra e a
importância dela para o progresso da cidade. Para tanto, partiremos desta para nos
orientarmos a pensar o cenário em que Maria estava presente. Muito embora algumas
falas sinalizem para a possibilidade desta não ter chegado a viver em meio a essa
construção, percebemos que a implantação do açude de Boqueirão pode ter entrelaçado
as vivências de Maria e, muito possivelmente, suas decisões.
Acreditamos, entretanto, ser necessário discutir o que essa obra foi capaz de
viabilizar e proporcionar a Cajazeiras-PB. Para isso faremos uma breve historicização
no intuito de entendermos a importância da construção do açude para esta localidade,
em seguida, retornaremos ao contexto que a nossa personagem estava vivenciando.
Eliana Rolim (2010) discute a amplitude dessa obra e a importância desta para
cidade de Cajazeiras. Iniciada no ano de 1920, trouxe diversas possibilidades diante do
processo modernizador que Cajazeiras se inseria: os novos aparatos, a pluralidade de
princípios circulantes nesse espaço com a adentrada de diversos grupos que afluíram a
cidade em decorrência dos empregos gerados. Mobilizando nessas circunstâncias uma
população que padecia de fome, vivia uma constante seca que afligia a Paraíba.
Vejamos o que a autora afirma sobre isso:
227
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
Ainda de acordo com Costa (2013), estas mudanças foram capazes de inserir em
Cajazeiras ideais de “civilização”, tendo em vista que esses introduziram alguns ícones
do progresso. Mas atrelado a esse suposto progresso, os moradores da cidade também
acusavam os americanos de promover a indecência, já que foram construídas casas de
prostituição em torno da construção do açude.
Ainda de acordo com Costa (2013), essa obra também foi palco de romances,
brigas e traições. Uma delas trata-se de uma briga de amor que aconteceu nessa
construção, na qual um dos americanos se envolve com uma companheira de um dos
construtores da obra, gerando nesse enredo uma briga que finda com a morte de um dos
americanos:
3
Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas.
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229
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vidas diferentes e com alguns valores que em muito poderiam divergir. Não seria nada
simples viver em meio a essa obra.
Como essa construção pode nos ajudar a pensar o romance de Maria e Antonio
Preto? Como podemos relacionar a ela a vida amorosa desse casal? O senhor Izidro, pai
de Maria, segundo a fala do senhor Corró, seguia trajeto para essa obra, levando consigo
a sua família, mas é nesse mesmo período que Antonio Preto se interessa por uma das
filhas de Izidro e inicia um romance:
230
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
valores morais pregados poderia não ser nada fácil, a proposta de rapto aparecera para
Maria como uma maneira possível de compartilhar valores com os quais não seria
possível se conhecessem o seu desvirginamento.
Podemos assim também imaginar que Maria acreditasse que um casamento
poderia tornar sua vida mais estável, um casamento que lhe garantisse uma casa e uma
família. Assim como também poderia ser o desejo de Antonio formar uma família, ter
uma esposa que pudesse cuidar da sua casa e também da sua vida. Até porque este era
um ideal de família que circulava, ou seja, ele podia estar em busca de uma mulher que
se dedicasse ao lar e ao esposo. Os sentidos eram erigidos em meio aos valores e
normas sociais, embora algumas práticas acionadas por estes não corroborassem com o
ideal de relação, baseados na moralidade burguesa.
Diante dessas possibilidades, pensemos as dimensões das relações amorosas
vivenciadas por esse casal. Para Maria, fugir com o ex-noivo da irmã não parecia ser
algo que a envergonhasse e nem causasse espanto aos demais que testemunharam, pois
em nenhum dos depoimentos encontramos questionamentos a essa conduta. O que nos
pode levar a acreditar que não era algo tão anormal, diante das relações que podiam ser
estabelecidas.
Antonio preto e Maria, ao que consta, não viveram uma relação bem vista pelos
códigos morais defendidos na época, o rapto aliado ao envolvimento com o ex-noivo da
irmã não era aceito, pois os valores pregavam outras condutas.
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
Preto. Imaginemos que Maria desejasse um casamento assim como Antonio Preto, e que
essa relação não necessariamente viesse imbricada pelo romantismo, mas possivelmente
numa relação que propiciasse a ambos a constituição de uma família.
Mas como pensar o rapto em meio a essa relação? Geralmente essa prática é
acionada como um artifício. Foi utilizado por Antonio para concretizar o casamento e
pode ser discutido como um meio possível que muitos casais se utilizavam para viverem
suas relações.
Embora nos autos do processo não conste a versão de Antonio Preto sobre o seu
relacionamento com Maria e as possíveis expectativas visualizadas e desejadas por ele a
respeito dessa relação, podemos perceber pela fala das testemunhas que não existia
impedimento que motivasse o rapto, o mesmo nota-se na fala do pai de Maria, uma vez
que em nenhum momento o senhor Izidro deixa transparecer rancor ou até mesmo
insatisfação com a conduta do rapto de sua filha, não chegando a sequer citar o rapto.
Talvez o rapto, como apontamos, tenha sido apenas um meio de retirar Maria de
casa, pois a família do senhor Izidro iria para o Boqueirão e ter feito acordo com o pai
da menor com a condição de colocá-la em um lar de confiança enquanto o casamento
não se concretizasse. Assim afirma o senhor Corró:
Maria Luiza foi raptada por Antonio Luis vulgo Antonio prêto e
depositada em casa de João Laurentino morador nesta cidade. Que o
casamento da offendida com Antonio Luis era para ser feito em agosto
mas que devido as dificuldades dos tempos ficou para realizar-se em
setembro e ultimamente no mez de outubro (PROCESSO-CRIME, n.
138 de 1932).
Se esse foi ou não o motivo, não podemos saber. Para tanto, pensar como as
relações amorosas se constituem em meio a escolhas, práticas e condutas nos
aproximam também das maneiras como homens e mulheres agenciavam os seus papeis
sociais em meio a essas dinâmicas e sociabilidades.
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Os sentidos traçados por esse casal nos aproximam desses papéis sociais, ser
mulher honesta estava atrelado a virgindade, a inocência sexual, assim como ser um
bom homem podia estar correlacionado ao seu trabalho, a manutenção de uma
virilidade. Louro (1997) concebe que é possível pensar as identidades de gênero como
continuamente se construindo e se transformando. Em suas relações sociais,
atravessadas por diferentes discursos, símbolos, representações e práticas, os sujeitos
vão se construindo como masculinos ou femininos, arranjando e desarranjando seus
lugares sociais, suas disposições, suas formas de ser e de estar no mundo.
As relações amorosas se inserem em lógicas e dinâmicas próprias e circunscritas
a uma realidade sociocultural e econômica, cada caso pode assim nos revelar uma
infinidade de sociabilidades de interesses, de códigos, normas, práticas e vivências que
mobilizam ações e reações, pensá-las em suas particularidades nos faz perceber que
embora o contexto fosse o mesmo e as vivências fossem parecidas, cada sujeito
mobilizava meios distintos de sentir.
No decorrer dessa análise, procuramos nos ater aos sentidos presentes em meio a
um relacionamento amoroso recheado de conflitos, condutas, racionalidades,
mecanismos, escolhas, astúcias e práticas, na tentativa de aproximar dos possíveis
sentimentos vivenciados por um casal ao desenvolver suas condutas amorosas. Como
aponta Arlette Farge (2015), empreender um estudo dos mecanismos de racionalidades
que faziam nascer sofrimentos e prazeres. O caso que analisamos é bastante singular,
pois aponta para alternativas que empreendem medos, desejos, angústias, tristezas e
razões.
Não se trata aqui de tornar a mulher heroína ou vítima dos homens, mas de
pensar que na prática era necessário aprender a jogar com o que se dispunha ou com o
que era possível dispor, o que também não significava o fim dos sonhos e das
expectativas de homens e mulheres apaixonados.
Deste modo, podemos constatar e empreender uma discussão que nos possibilita
entender que
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
Não estamos admitindo, nem determinando que esses fatores sejam os únicos a
gerenciarem esses relacionamentos, que o amor não possa se desenvolver em meio a
outras circunstâncias, em meio a outros modos de sentir, mas esses polos exercem uma
grande força em meio aos sentimentos e sentidos desenvolvidos pelos sujeitos. O amor
se desenvolve por meio das diversas dinâmicas, fabricações e práticas, silenciadas e
ocultas. Como afirma Jurandir Freire Costa (1998), o amor desenvolve mecanismos de
racionalidades próprias. Assim ele afirma:
FONTES
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REFERÊNCIAS
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1
Graduando em Pedagogia pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. E-mail:
[email protected]
2
Professora Associada da Unidade Acadêmica de Educação/CFP/UFCG; Doutora em Psicologia da
Educação pela PUC/SP e coordenadora do NEABIG. E-mail: [email protected]
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
contra o menosprezo a que esse povo estava subordinado. Entre essas entidades e
movimentos podemos citar três que marcaram e marcam a luta do povo negro no Brasil.
São eles: a Impressa Negra, o Teatro Experimental do Negro (TEN) e o Movimento
Negro Unificado (MNU).
Este último, o MNU, em seu programa de ações, no ano de 1982, trouxe entre as
várias propostas de luta, a introdução do ensino de História da África e Afrobrasileira
nos currículos das instituições de ensino3. Essa proposta, entretanto, não se efetivou de
imediato, de modo que só foi debatida após a conferência de Durban, na África do Sul
em 2001, onde o Estado brasileiro reconheceu os males causados pelo escravismo as
populações negras, comprometendo-se em criar medidas para superar o racismo na
sociedade brasileira.
Frente a esse comprometimento, no ano de 2003, o governo brasileiro
promulgou a Lei 10.639 que estabeleceu o ensino de História da África e Afrobrasileira
nos currículos da Educação Básica, que em 2008 foi ampliada com a Lei 11.645,
acrescentando as diretrizes para o ensino da História e Cultura dos povos Indígenas4.
Entretanto acreditamos que essa medida ainda não se concretizou de forma efetiva na
educação, ficando limitada, em muitos casos, a formação continuada de professores que
atuam na Educação Básica e sendo debatida de forma insuficiente nos cursos de
formação de professores.
Apesar de ainda identificarmos problemas para a sua efetivação, podemos
considerar que essa Lei é uma das principais medidas para superação do racismo na
sociedade brasileira, como também quebra a legitimação da cultura europeia como
principal elemento de disseminação de conhecimento em nossa sociedade. Esses
discursos de legitimação eurocêntrica ocorrem desde o final do século XIX, com as
teorias eugênistas, que se direcionavam na busca de constituir uma identidade para o
povo brasileiro, colocando tanto as populações negras, como as indígenas na condição
de inferioridade, como não tendo condições de contribuir na formação de uma
sociedade moderna.
Partindo dessas considerações nos propomos analisar como as discursões acerca
da história da África e afrobrasileira vem sendo realizadas no curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Centro de Formação de Professores
3
DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Tempo
[online]. 2007, vol.12, n.23, pp.100-122.
4
Ver Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de 1996.
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
(CFP), que toma por base o pensamento de autores estudados durante o semestre, como
Hernandez (2005), Lopes (2010), Reis (2008), dentre outros, levando os discentes a
problematizar a visão eurocêntrica sobre o continente africano e suas práticas culturais,
bem como compreender a situação de negação criada para os povos africanos trazidos
ao nosso país.
A formação do pedagogo
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240
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esse ciclo está direcionado para o ensino da história local é a parti dessa necessidade
que os parâmetros curriculares nacionais para o Ensino de História (PCNs) estabelecem
241
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
Não perdendo de vista a proposta desse trabalho, a partir das reflexões que já
fizemos ao abordar a formação do pedagogo, e as problemáticas inerentes a como este
profissional está sendo formado para discutir aspectos sobre o ensino de educação
etnicorracial, sendo que para isso necessita de um conhecimento mais abrangente sobre
a história dos povos do continente africano, e de suas contribuições em nosso país.
242
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
As análises da autora avocam para a necessidade de se ter uma visão mais crítica
acerca das produções cientificas feitas nesse período e como estas interferiram
diretamente no pensamento de vários teóricos brasileiros. Suas considerações, também
põe em xeque uma análise sobre a atual situação de alguns países africanos, que se
fundaram a partir de um processo histórico de exploração, principalmente por parte do
ocidente com a expansão do capitalismo.
Ao longo do processo histórico de desenvolvimento do continente africano,
muitos foram os pesquisadores e exploradores europeus que se propuseram adentrá-lo,
na busca de conhecer suas histórias. Entretanto, muitos desses pesquisadores não viam
esse continente como um local onde se desenvolveu civilizações que tinham estruturas
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Fica evidente a partir das apreciações que toda a cultura brasileira perpassa os
africanos, saberes que ainda hoje se exprimem nas práticas cotidianas, mas que nos
passam despercebidos devido a todo processo de suplantação dos elementos culturais
desses povos, tantos os trazidos do continente africano, como os que foram criados aqui.
Essas exposições nos chamam a tenção para uma análise sobre o fato das
contribuições africanas serem negadas historicamente, e como esse processo tem se
dado até os dias atuais em nossa sociedade. Acreditamos que entender como as
populações afrodiaspóricas tiveram papel efetivo na constituição cultural e social que
hoje nos é apresenta no Brasil, traz para os futuros docentes a oportunidade de criarem
estratégias metodológicas que não se expressem apenas em uma vertente
interdisciplinar, e que dialogue com a realidade dos educandos, pois muitos desses
sabres estão no âmbito do saber popular e não são comtemplados nos currículos
escolares, mas nas práticas cotidianas da vivencia desses alunos.
Entretanto, essas propostas de desenvolvimento de uma prática pedagógica que
se direcione a problematizar as contribuições afrobrasileiras e africanas para a formação
sociocultural brasileira, tem que está no âmbito de não desmerecer outros
conhecimentos, pois até mesmo os conhecimentos que já são hegemônicos nos
currículos como os de cunho eurocêntricos precisam ser considerados, como também
podem ser utilizados para fazer com que os educandos possam refletir e perceber que
tais conhecimentos tem o mesmo valor que os advindos dos povos africanos e
afrodescendentes.
Considerações
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
Portanto, se torna difícil fazer com que os alunos possam ter uma real
compreensão crítica acerca da história das populações africanas e afrobrasileiras, como
também despertem a concepção de tomarem a abordagem desses temas em suas práticas
docentes, como engajamento político na luta pela superação do racismo, em suas várias
formas, e da superação da exclusão socioeconômica a que essa população vem sendo
colocada historicamente em nossa sociedade.
REFERÊNCIAS
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Introdução
1
Faculdade Santa Maria. E-mail: [email protected]
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No antigo Egito, a hipnose era utilizada no “templo do sono” para tratar diversas
doenças, em seguida, os gregos também adotaram a prática. A hipnose tem sido
vivenciada mesmo antes de o fenômeno ser utilizado de forma consciente, pois as
sociedades primitivas já buscavam um estado de transe (similar ao da hipnose) através
das danças ritualísticas e ritmos de tambores (Erickson, Hershman e Secter, 1998, p.19).
Em 1662 na Irlanda apareceu um curandeiro chamado Valentine Greatrakes.
Acreditava-se que esse curandeiro fosse um enviado divino, por ter sido responsável,
através de suas forças sobrenaturais, curas, sacerdócios e exorcismos. Os pacientes
submetidos a essa divindade recebiam uma espécie de “passe” e imediatamente
entravam em estado de relaxamento profundo (Faria, 1979). Visto que essa prática era
fundamentada tão somente através de crenças sem embasamento científico, começaram
a aparecer vários comentários errôneos e falsas conclusões sobre o fenômeno.
Como na época não se compreendia a dinâmica dos fenômenos da hipnose e sua
natureza, além de mal interpretada, ela passou a ser jogada ao esquecimento por muitos
anos. Somente mais tarde ela pôde ser resgatada por duas escolas de pensamento
importantes da França, a escola de Salpêtrière de Charcot (1835-1904) e a escola de
Nancy liderada por Auguste A. Liabeault (1823-1904) e Hipolyte Benheim (1840-1919)
haja vista, que ambas possuíam visões distintas acerca da hipnose. Enquanto as teorias
de Charcot sustentava a ideia de que a hipnose era uma manifestação patológica a qual
trilhava um caminho para a experimentação, Bernheim e Liébeault associava a hipnose
a um fenômeno psicológico comum. Uma grande polêmica então surgiu entre as teorias
de Chercot e a escola de Nancy, pois uma era contraponto da outra e, ao considerar uma
dessas correta, espontaneamente rejeitava a validade da outra. Charcot então retomou as
ideias do magnetismo animal de Mesmer (FARIA, 1979; ALBUQUERQUE, 1959).
Esse jovem médico francês conhecido por Franz Anton Mesmer já apresentava
um conjunto de opiniões que remontavam a racionalidade ocidental. Criador na teoria
do magnetismo animal, Mesmer foi relatado como percursor do movimento do mundo
ocidental para os fenômenos paranormais, sendo assim, respeitados por alguns e,
definido como charlatão por outros. Segundo sua doutrina:
249
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Assim, para Mesmer, a doença era resultado da frequência irregular dos fluidos
astrais, deste modo, para estabelecer sua cura, é necessário regular os mesmos.
Determinadas pessoas possuíam naturalmente o privilégio de controlar os fluidos, esses
privilegiados eram considerados, digamos, os donos da saúde e dos fluidos. Esse fluido
vital se aplicava a parte enferma do sujeito como uma espécie de corrente elétrica, onde
ao estabelecer contato, o paciente apresentava crises de convulsões de cunho
terapêutico. Com o aumento da clientela, Mesmer teve que exonerar o toque pessoal ao
sujeito, recorrendo assim, a magnetização indireta, um método habilidoso de hipnotismo
coletivo num ambiente escurecido, contendo música suave e água encantada
(magnetizada), onde os sujeitos sentavam em posição circular. De cada garrafa saía uma
espécie de vara cromada do gargalo, daí então, os pacientes estabeleciam contato com
essas varas, sendo abordados pelas convulsões terapêuticas. Para Mesmer, a hipnose era
uma energia astral semelhante a forças supremas ou um estranho poder sobrenatural que
até hoje, ainda acreditam muitos sujeitos da sociedade atual (CHERTOK E
STENGERS, 1990).
Ainda neste contexto, segundo Faria (1979), o procedimento hipnótico e seus
níveis de transe foram estudados e praticados de várias formas. Podemos ter como
exemplo, os experimentos desenvolvidos na índia por volta do ano de 1845, por James
Esdaile (1808-1859), uma figura devidamente reconhecida na história do mesmerismo
por facilitar a prática cirúrgica sem utilização da anestesia, atingindo analgesia
(sonambulismo magnético) através do estado hipnótico. É possível que o método de
Esdaile não tenha tido maior fidedignidade científica porque os anestésicos químicos
foram descobertos nesta mesma época, passando a fazer parte dos procedimentos
médicos da classe social que possuía poder aquisitivo. Diferente do procedimento
hipnótico, os anestésicos químicos como éter, clorofórmio e óxido nitroso chegaram a
levar muitos pacientes a óbito, ainda assim, as reações desses procedimentos eram
ignoradas. Na concepção de Erickon, Hershman e Secter (1998), Esdaile foi
ridicularizado ao retornar à Inglaterra e expor suas experiências, o próprio enfatizou em
250
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
uma das suas obras o quanto era difícil contrastar a opinião pública, além da dificuldade
que se deparou na tentativa de demonstrar o quão valioso era seu trabalho.
Embora que nos tempos remotos a hipnose fosse considerada um fenômeno
produzido por um poder místico, uma força sobrenatural, destinado a pessoas
selecionadas e suscetíveis, é sabido que essa prática está normalmente integrada ao
desempenho psicodinâmico comum do ser humano, pois ela não se distingue dos níveis
emocionais próprios de cada sujeito. No que se refere aos estados que comumente
alteram os sujeitos em estado de transe, Braid (1843, p. XII) afirmou em seu livro:
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terapêuticos duravam somente durante o contato do paciente com o médico, ou seja, ele
compreendeu que esse contato parecia ser mais importante do que a técnica em si
(Chertok, 1989). Conforme, Stengers (2001), as psicoterapias não incidem em
laboratório, porém, elas possuem uma proposta realista, já que, não se pode lutar contra
as influências e/ou sugestões mútuas, implicando assim, nas relações humanas. No caso
da hipnose, lhe faltava precisamente atender as sujeições que lhe consentisse
modificarem a um objeto domesticado que fosse adequado as exigências do laboratório
ou do setting analítico/clínico.
Caminhando por este cenário, cabe aqui salientarmos as considerações de Jean
Martin Charcot, fundador da neurologia moderna, de quem Freud foi discípulo, sobre
seu interesse pela hipnose a qual não separava do método anátomo-clínico, pois o
mesmo analisou essa técnica como uma mudança fisiológica do sistema nervoso que só
era possível ser observada em sujeitos que apresentavam histeria, uma doença
progressiva e irreversível, pois acreditava ser consequência de um sistema neurológico
fraco, mas que também podia ser de caráter hereditário ou se instalar após o sujeito
sofrer um acidente. No entanto, seus estudos proporcionaram as pressuposições de ao
analisar o fenômeno através da hipnose de simulação, surgiam desconfianças sobre a
veracidade da técnica, chegando a ser taxada de fraude pelos incrédulos que buscavam
respostas sobre a evidência do fenômeno. (CHERTOK E STENGER, 1990).
Em seu estudo autobiográfico, Freud (1924) conta que foi contemplado com
uma bolsa de estudos em 1885, onde teve oportunidade de viajar à Paris e tornar-se
aluno da Salpêrtrière, tendo assim, o privilégio de torna-se discípulo de Charcot. Por
meio do contato com os estudos de Charcot, sentiu-se admirado com suas últimas
investigações referentes à histeria. De acordo com Chertok e Stengers (1990), esses
estudos demonstravam manifestações pela sugestão hipnótica, como por exemplo, a
contraturas histéricas e indução de paralisia que possibilitou a Freud, a capacidade de
diferenciar os distúrbios histéricos dos distúrbios de caráter orgânico. Existem relatos de
que foi através da hipnose que os experimentos de Chercot conseguiram evidencias de
que as manifestações da histeria, como cegueira e paralisia, não era caracterizadas por
uma lesão orgânica, porém, não apreciou a técnica para fins terapêuticos, pois
compreendia que a hipnose não desfazia sintomas, utilizando-a apenas como simulação.
Assim, Freud (1924), buscou aprofundar a sua habilidade hipnótica, realizando uma
viagem a Nicy, e, observando os experimentos de Bernheim, pode perceber a
possibilidade dos processos mentais conservarem-se na consciência humana escondida,
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ele então, conseguiu explorar com maior abrangência acerca da raiz dos sintomas
histéricos, estabelecendo diferenças e grande importância aos significados das emoções
e os atos mentais Freud (1888, p.93), relata que “o tratamento direto consiste na
remoção das fontes psíquicas que estimulam os sintomas histéricos, e isto se torna
compreensível se buscarmos as causas da histeria na vida ideativa inconsciente.” Essa
técnica tem como base a sugestão que dar ao paciente no intuito de eliminar a causa do
distúrbio.
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conexa com a histeria que só após aprofundar seus estudos e aperfeiçoar seus
conhecimentos na Salpétriere e em Nancy, sua ideia pôde ser mais bem esquadrinhada.
Segundo Edelweiss (1994), Freud repudiou a hipnose como forma de tratamento
passando utiliza-la somente para alguns experimentos. Assim, ao abandonar essa
prática, Freud possibilitou a desconsideração acerca das pesquisas realizadas nessa área,
se dedicando somente a Psicanálise a qual ostentou fidelidade a seu fruto. A falta de
conhecimento sobre a temática passou a transmitir informações baseadas nas antigas
crendices, funcionando assim, como um aglomerado de falsas concepções, tanto no
âmbito acadêmico, quanto em outras situações que reforçam cada vez mais a estagnação
do conhecimento ao invés de instigar a busca de subsídios que contribuam para
expandir as perspectivas de pesquisas. Edelweiss (1994) ressalta que alguns fatores
contribuíram para a desvalorização da hipnose a qual vem banalizando sua prática
enquanto ferramenta assisada. O exemplo disto, são as demonstrações em público para
fins de entretenimento que, de maneira aética, exibiam os sujeitos (em estado de transe)
submetendo-os a desempenhar atividades cômicas, expondo-os ao ridículo. Essa prática
deu origem a vários estereótipos e ideias errôneas sobre a natureza do fenômeno
hipnótico. Melchior (1998), afirma que, embora a hipnose não atenda os requisitos da
ciência, de contínuo ela foi abalizada pela sua eficiência terapêutica, pois ela possui o
poder de promover mudanças significativas na vida do ser humano. Vale ressaltar que a
hipnose é uma só, mas pode ser utilizada em contextos bem distintos que se classificam
fundamentalmente em três: hipnoterapia, hipnose de palco, e hipnose de rua.
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Considerações finais
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estudos sobre essa temática para então, atingir maior credibilidade da sociedade, de
profissionais e da ciência.
REFERÊNCIAS
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Introdução
1
Universidade Federal de Campina Grande. Graduando em História.
2
Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em História.
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Nesse sentido, no século XX, surge a partir da Escola dos Annales, uma
discussão que propõe o alargamento do conceito de fonte e de documento. O historiador
pode agora trabalhar com uma abrangência maior de fontes (BRUCE, 2007, p. 5).
A música, a imagem, os monumentos, se antes já haviam sido utilizados, agora
passam a ganhar uma nova conotação para o estudo da História. Surgindo novas
problemáticas sobre como utilizar estes recursos. Vários trabalhos são feitos a partir do
estudo destas fontes, que inserem novas metodologias para o ensino. No entanto, sabe-
se que muitas vezes elas são mal utilizadas.
É também a partir destas discussões em que a História passa a adotar novas
abordagens. A mulher, a criança, os negros, a comunidade LGBT, são alguns dos
exemplos no qual a história agora lança o seu olhar para aqueles que ficaram esquecidos
da História. . Como foi o caso da cultura afro antes da lei 10.639.
Este trabalho se dirige a pensar metodologias que possam beneficiar o ensino de
história a partir das músicas Afro-brasileiras. A partir dos seguintes questionamentos:
Como realizar um ensino reflexivo a partir da utilização de músicas? E como incentivar
o interesse pela cultura Afro-Brasileira a partir das músicas? E ainda, como as leis que
asseguram o ensino da cultura Afro podem se dar através destes meios?
Para isto, uma figura que se apresentou no Brasil nas décadas de 1960 e 1970,
chamou-nos a atenção; Wilson Simonal. Utilizamos de sua figura, influente nestas
décadas, inclusive fora do Brasil, para lançar reflexões sobre como utilizar a sua musica
“Tributo a Martin Luther King” para o estudo da Cultura Afro-Brasileira. No entanto,
deve-se atentar para a multiplicidade de temas que o seu trabalho suscita, nos cabendo
focar apenas na sua contribuição para a cultura Afro-Brasileira.
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Nesse sentido, a música é um instrumento que pode ser utilizado para diversos
fins. Na atualidade, estamos em contato com ela constantemente: nos diálogos, nos
filmes, nas novelas, nas praças, etc. Ela se tornou corriqueira, sobretudo depois da
miniaturização dos equipamentos de reprodução sonora e da digitalização. Podemos
dizer assim que a música popularizou-se. Surgindo a própria MPB. Não é simplesmente
tocada em óperas e em teatros como eram as sinfonias séculos passados. Ela está
presente em todos os lugares; nos bares, nas esquinas, nos celulares, e uma quantidade
abissal de produções é realizada.
No entanto, pouco se sabe sobre o seu contexto de produção.
O historiador deve analisar a música enquanto canção, ou seja, como um
conjunto. Letra e melodia são um só, e não podem ser analisadas separadamente como
se não interferissem na outra. Assim, também o professor de História, deverá utilizar
deste recurso de maneira unívoca. Ainda segundo Napolitano (2001, p. 81)
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Tanto no início do Brasil República, como anos mais tarde, este desejo foi
buscado pelos historiadores. O professor de história possuía a responsabilidade de fazer
com que estes objetivos, que eram os dos governantes, se concretizassem. A criança
deveria aprender desde cedo como e o porquê de ser patriótica.
No entanto, várias críticas surgiram para contestar esse modelo que priorizava a
cultura branca, europeia e civilizada.
Muito recente também, é a inserção, através da historiografia brasileira, dos
estudos sobre a cultura Afro-Brasileira, assim como a inserção da micro-história. Isso se
deveu ao dialogo com as produções exteriores, uma vez que, segundo Hebe Castro
(1997, p. 52)
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Nesse sentido, a música era fruto de uma consciência de que aquele momento
histórico era, para os negros, um momento de lutas, para que unidos alcançassem a paz.
Simonal criava, em plena ditadura, uma canção que representava a rebeldia dos negros
contra o racismo e a desigualdade de direitos. Poucos anos mais tarde, era a mesma
ditadura que havia censurado “Tributo a Marter Luter King” que seria ao seu nome
vinculada por jornais, o que causou na carreira de Simonal um irreversível declínio.
Simonal foi esquecido da história da música brasileira. Aqueles que o recordam,
não conseguem apagar da memória as polêmicas do período ditatorial. Os que o
defendem, afirmam que a sua imagem não pôde ser reconhecida como a dos resistentes
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a ditadura, a exemplo de Caetano Veloso e Chico Buarque, pela sua inocência e por não
ter efetivamente se posicionado contrário nem a favor da ditadura assim como outros o
fizeram. Os que o acusam, afirmam que a sua forma de transmitir alegria era semelhante
a dos ditadores; patrióticos. Além de lembrarem das polêmicas de ser dedo-duro do
DOPS, crítica feita a ele que foi, incansavelmente, negada por ele. (FERREIRA, 2012,
p. 18, 56).
Simonal foi esquecido pela mídia, após ter seu nome intensamente atacado por
ela. Foi através dela que tentou recuperar a sua imagem. Morreu aos 60 anos, vítima do
álcool.
Porém, além de não aparecer na mídia, ele também não aparece nos livros
didáticos. O que não pode se negar, no entanto, é que, embora a sua imagem tenha sido
distorcida, ele representa o movimento negro das décadas de 1960 e 1970
A sua música, “Tributo a Martin Luter King” continua sendo uma das maiores
referências que o Brasil possui de uma música que trata dos movimentos negros
brasileiros, americanos e africanos. A utilização dessa música, assim como a imagem de
Wilson Simonal não podem ser esquecidas.
Nesse sentido, utilizamos desta música para levantar questionamentos acerca da
sua representatividade na cultura Afro-Brasileira.
Campos (2010, p. 25) busca situar a música num contexto onde
Assim, Wilson Simonal co-escreveu a música num período onde tanto no Brasil,
quanto nos EUA, e em outros países, os negros defendiam uma igualdade de direitos
que não tinha sido conquistada.
Através do seu próprio programa, de muito sucesso na época, “Show em
Si...monal”, ele canta pela primeira vez a música. Suas palavras antes de iniciar a canta-
la foram:
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Oh Yes!
Lutar por nós...
Luta negra demais
(Luta negra demais!)
É lutar pela paz
(É Lutar pela paz!)
Luta negra demais
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Pode-se dizer que a música é um chamado aos negros à união. É uma forma de
identificação através da música. Ele convoca para lutar, para ter esperança e acreditar
que “cada negro que for, mais um negro virá”.
Além disso, a esperança no fim da luta não o impede de afirmar que ela é
necessária. (CAMPOS, 2010, p. 27). Nesse sentido, a música inteira é um diálogo entre
os negros, uma convocação, uma identificação entre “irmãos de cor” para lutar, ainda
que com sangue.
Muito embora Simonal não tenha lutado, nem com sangue nem de forma
concreta em protestos, ele demonstra reconhecimento pela luta e convoca a todos para
unirem-se. É uma luta através da música. Daquilo que Simonal mais gostava de fazer
que era cantar.
Considerações finais
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jovens negros, filhos dos que lutavam nos EUA e no Brasil, por um futuro mais
igualitário. As lutas dos negros possuíam os mesmos objetivos.
É possível refletir através da música sobre as questões que ela pode evocar que
vão alem do que aborda; escravidão no Brasil, ditadura militar, cultura Afro-brasileira.
O professor de História cumpre um importante papel social de suscitar no jovem,
a partir do ambiente que ele mesmo parte, o desejo pela sua história e pela cultura do
seu país. É importante que ele incentive a análise crítica no aluno. Com isso, a cultura
Afro-Brasileira e africana devem ser analisadas como pertencentes a história de cada
aluno, ao cotidiano de cada um deles.
Portanto, devido a sua influencia no cenário musical, apesar de ter sido apagado
por grande parte dos livros e da mídia, “Tributo a Martin Luter King” representa, para o
ensino da cultura Afro-Brasileira, uma grande contribuição para incentivar nos alunos, o
interesse por esta cultura, bem como, através da análise critica da música, bem como da
sua estrutura, do seu contexto histórico, e do seu cantor, a luta contra o preconceito. Que
deve ser, segundo a lei 10.639, um objetivo a ser alcançado por todos os professores de
História.
Metodologicamente, o professor deve apresentar a música, acompanhada de uma
explanação da letra, do contexto de produção, da história de vida de Simonal, e a partir
daí analisar com os alunos. Buscando neles quais as semelhanças entre aquele período
de lutas raciais e o atual. E inserindo o contexto do aluno na discussão: se eles
identificam o racismo na casa deles, ou na família, ou na escola.
REFERÊNCIAS
267
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
FERREIRA, Gustavo Alves Alonso. Quem não tem swing morre com a boca cheia
de formiga: Wilson Simonal e os limites de uma memória Tropical. DISSERTAÇÃO
DE MESTRADO. Niterói: UFF, 2007.
HEBE. História social. In CARDOSO, Ciro F., VAINFAS, Ronaldo. Domínios da
história: ensaios de Teoria e Metodologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
NACKED, Rafaela Capelossa. Identidades em diáspora: o movimento black no Brasil.
Teresina, PI, n. 12, Revista dEsEnrEdoS, ISSN. 2175-3903, jan. fev. mar. 2012. ano
IV.
NAPOLITANO, Marcos. História e Música: história cultural da música popular. Belo
Horizonte: Autêntica, 2002.
SILVA, Maurício Pedro da. Novas Diretrizes curriculares para o ensino da História
e da cultura afro-brasileira e africana: a lei 10.369. São Paulo, v.9, n.1: Eccos,
Revista Científica, 2007. p. 39-52.
WILSON, Simoninha. Wilson Simonal canta Tributo a Martin Luther King. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=FH0Ws4Sw0ZE. Acessado em 20 de
novembro de 2016.
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Introdução
1
Graduanda em História pela Universidade Federal de Campina Grande/ Campus Cajazeiras - PB.
Monitora da disciplina Introdução aos Estudos Históricos/ 2015.2 E-mail:
[email protected]
2
Professor do Centro de Formação de Professores CFP/UFCG-Cajazeiras-PB. E-mail:
[email protected]
269
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270
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3
Ver: MOREIRA, Claudia Regina Baukat Silveira e VASCONCELOS, José Antônio. Como ensinar
história. In: Didática e avaliação da aprendizagem no ensino de história. Curitiba: Ibpex, 2007, p. 33-
62.
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textos trabalhados do que mesmo uma inciativa ou uma aprendizagem mais “livre”,
própria do aluno, melhor explicando, havia um certo “apego” ao conteúdo tido como
algo dado. Não era pretendido na forma do professor conceber a disciplina qualquer
conhecimento, mas o conhecimento obtido dos conteúdos apresentados, chegando ao
ponto da reprovação caso o aluno não atingisse tal objetivo.
Os discentes deveriam transmitir mais do que qualquer coisa, o que nos textos
base estava. Prova disso foi a reprovação de um dos discentes da turma por não
conseguir relacionar “revolução industrial” com o século XIX e a história tradicional.
Este discente, infelizmente foi reprovado não por que não aprendeu, mas por que não
aprendeu “o que estava no texto base”.
Com relação a turma, a mesma é composta de alunos ingressantes na
Universidade normalmente com o número 50 (cinquenta) discentes, por ser essa a
quantidade de vagas oferecidas todo semestre na UFCG campus Cajazeiras para o curso
de História, podendo ser um pouco maior somando as vagas que se oferece para alunos
veteranos de outras turmas.
Com base nas observações das aulas, as características da turma em questão são
evidentes se pensarmos que os alunos que a compõe são em grande maioria da rede
pública, vindos de um ensino básico defasado que não cumpre e não atinge o que a
sociedade espera, sendo assim, muitas dificuldades são levadas para a universidade, e
estas se agravam à medida que as exigências do sistema universitário batem à porta.
Algumas dessas dificuldades são percebidas facilmente, como a falta de costume
com a leitura, o enorme problema com a interpretação de textos e a complicação com a
escrita e produção de até mesmo os mais simples trabalhos. Estas não são características
particulares da turma, são problemas que a maioria dos alunos ingressantes na
universidade enfrentam e que nós mesmos como alunos não escapamos.
É importante considerarmos essas questões quando tentamos analisar o
comportamento de uma turma em relação a uma metodologia ou qualquer outra
discussão dessa natureza, pois o alunado é produto de outras realidades que não podem
ser esquecidas nessas análises. Nessa perspectiva, perceberemos mais profundamente
esses caracteres nos próximos pontos, quando problematizamos as aulas e as avaliações
realizadas com a turma.
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Refletir sobre nossas práticas pedagógicas talvez seja o ponto de partida para
que o conhecimento possa ser construído de maneira mais eficaz e colabora para que
interações e trocas de informações sejam o eixo em que se fundamenta a construção
desse conhecimento. Como monitores esta reflexão tende a ser mais profunda no que se
refere a observação das práticas em sala de aula durante nossa formação inicial.
Serva Fonseca (2004) em artigo intitulado “A construção do saber pedagógico
na formação inicial do professor para o ensino de História na educação básica”, diz
que, “A constituição do professor como profissional, pensador, crítico e cidadão
pressupõe pensar a educação como um processo construtivo, aberto, permanente, que
articula saberes e práticas produzidas nos diferentes espaços” (FONSECA, 2004, p.
151).
Sendo assim, coube a nós iniciados em História observar as aulas que
aconteceram primeiramente com o propósito metodológico de interação aluno-
professor. No entanto, percebemos que o processo esperado não estava ocorrendo
efetivamente à medida que os alunos não estavam interagindo e nem correspondendo às
expectativas pensadas para a disciplina. Na maioria dos encontros, a turma não estava
contribuindo para os debates dos conteúdos e muitos poucos alunos pareciam estar por
dentro das discussões, sendo que só se conseguia retorno destes se fossem tocadas
questões paralelas aos assuntos das aulas, e não exatamente o que estava para ser
discutido sobre os livros propostos.
Isso nos faz pensar sobre que tipo prática queremos para a nossa atuação
docente? Como ser professor de História e dar respostas para essa situação? Talvez, seja
necessário dizer que a prática docente precisa antes de tudo de articulação no sentido de
que não haverá interação com os “conteúdos” propostos se a prática docente não se
renova, não busca refletir sobre si mesma. O professor articulado com o pensamento de
que é apenas ele que faz a aula não trará nada de novo para o ensino e a formação
docente. Mesmo que isso não tenha ocorrido em nossas observações, tendo em vista que
o professor da disciplina está atento às suas práticas e a renovação da mesma.
Por isso, as observações feitas na monitoria que identificaram as deficiências dos
formandos com relação as leituras e as dificuldades para realizar articulações sobre o
que a disciplina estava propondo é o ponto de partida para que entendamos que a
renovação das práticas do professor/mestre deve ser constante, sobre o risco de sua
prática não formar críticos, mas passivos bem informados.
273
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274
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que os alunos que entram na universidade pela primeira vez não são conhecedores da
dinâmica e do sistema de conteúdos e de ensino que são utilizados nesse tipo de
instituição, dessa forma, sendo muito complicado esses discentes iniciantes fazerem
escolhas e darem opiniões para a construção das disciplinas em meio a esse contexto.
Assim, seria necessário primeiramente um estudo acerca das condições e dos
pressupostos precisos para analisar a possibilidade do funcionamento da proposta de
inserir os alunos como participantes efetivos da construção das disciplinas de um curso
superior, como o de História. Em que medida essa questão contribuiria para um melhor
ensino-aprendizagem e qual melhor maneira de fazê-la sem ferir a autonomia tanto do
professor quanto do aluno.
4
Produção de Conhecimento Histórico. Método avaliativo idealizado pelo Professor Mestre Isamarc
Gonçalves Lobo do CFP/UFCG-Cajazeiras-PB. Este método consiste em uma avaliação continua por
meio de pequenas produções de textos acadêmicos, os PCHs ou MinePCHs, que são propostos aos
discentes como forma de poderem desenvolver seu pensamento crítico, apropriação articulada de ideias e
construção de uma narrativa científica/acadêmica compreensível e reflexiva.
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docente, fazendo a ligação direta com os outros elementos que possibilitam o processo
de ensino-aprendizagem, sendo que a ação de planejar engloba a reflexão sobre os
conteúdos, os métodos e os objetivos, havendo a preparação das aulas e o repensar dos
procedimentos em torno da relação entre esses pontos.
Dessa forma, entendemos a relevância do planejamento conforme Regina Barros
Leal (s/d):
Considerações finais
Com a reflexão das ideias aqui expostas podemos perceber a dificuldade de usar
métodos que precisamente promovam uma aprendizagem sólida a todos os alunos, essa
questão depende de muitos aspectos e de uma complexidade maior envolvendo todo um
contexto de turma e de sala de aula.
Encontrar uma explicação para o fato de determinada metodologia ser eficaz ou
não é outra questão um tanto complicada, sabendo que apesar de ser um elemento de
5
LEAL, Regina Barros. Planejamento de ensino: peculiaridades significativas. In: Revista
Iberoamericana de Educación (ISSN: 1681-5653), s/d, p. 01-07.
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Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
muita relevância para o ensino e para a aprendizagem, não é o único, podendo ter
muitas outras influências e implicações.
Nas situações específicas observadas, perceberam-se inadequações do método à
medida em que tudo o que foi apresentado apontou para resultados e experiências pouco
proveitosos, podendo ser um reflexo negativo da forma em que foram trabalhados os
conteúdos, como também do contato dos alunos com estes mediada pelo professor ou de
forma independente.
Assim, podemos concluir que provavelmente, se referindo à turma em questão e
à disciplina relacionada, os alunos sentiram dificuldades com a falta de uma explicação
prévia dos assuntos pelo professor para poderem compreender a lógica dos conteúdos e
assim, interagirem com questões relevantes, já que o método se propõe a uma
explanação conjunta dos assuntos por professor e alunos, e não uma exposição do
professor exclusivamente
Tendo também a influência nesse processo do fato de não terem desenvolvido as
leituras como se é preciso, e por isso não terem como discutir tais temáticas, sendo
dessa forma impossível fazer um diálogo sobre os assuntos, considerando que tenham
pouco interesse pelo curso ou pela disciplina nesse caso. Essa situação ainda nos leva a
refletir e considerar sempre a prática de repensar o exercício docente relacionando seus
métodos com as especificidades das turmas em que atua.
Dessa forma, planejar é uma atividade fundamental no processo de ensino-
aprendizagem tendo em vista que é o momento de pensar os elementos essenciais da
prática professoral e também se torna a oportunidade de repensar o que foi executado e
quais os resultados e implicações de tal execução para a reflexão das futuras atuações.
REFERÊNCIAS
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Introdução
1
UFCG/UFERSA. E-mail: [email protected]
2
UFCG-CFP. E-mail: [email protected]
3
UFCG-CFP. E-mail: [email protected]
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Para isso, utilizar de ferramentas lúdicas, textos, imagens, dentre outros recursos
é fundamental para a construção do saber histórico. Pensando nisso é que trazemos aqui
um estudo de caso, baseando na vivência de uma aula de História na EEEF Dom Moisés
Coelho, em Cajazeiras-PB, como ação do PIBID-História (Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência, financiado pela CAPES4).
O PIBID, Subprojeto de História da Universidade Federal de Campina Grande,
campus de Cajazeiras-PB, atua em duas escolas da rede estadual de ensino desde 2014,
trazendo como eixo central a aproximação da Universidade com as escolas de ensino
básico onde proporciona ao acadêmico inserir-se no universo escolar, possibilitando a
troca de experiências entre o supervisor (que é o professor regular da disciplina) e o
discente. Na EEEF Dom Moisés Coelho, o programa atua em turmas do Ensino
Fundamental II e reforça as discussões sobre ensino e práticas pedagógicas no âmbito
do Curso de Licenciatura Plena em História ofertado no Centro de Formação de
Professores.
São as atividades desenvolvidas no PIBID que nos fazem pensar como sujeitos
pertencentes efetivamente de um processo de iniciação à docência, ao passo que,
projetamos as atividades mediante planejamento e metodologia sempre visando a
inserção do alunado atendido pelo programa.
Levando em consideração o exposto até o momento e, refletindo nessa
integração dos alunos, através da utilização de recursos tecnológicos e na discussão de
temas transversais selecionamos o filme “OCandidato Honesto”, estrelado pelo
humorista Leandro Hassun para embasarmos e fomentar a discussão acerca da
corrupção.
4
CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior
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destaca que nas décadas do século XX são produzidos trabalhos relacionados à imagem-
história, acima de tudo, a imagem como um documento.
Nesse viés ainda é ressaltado a imagem como criadora de discurso sobre o
passado, mas que ainda existem ressalvas quanto à utilização pelos historiadores desses
estudos. Para ele com alguns historiadores tradicionais ainda existe retalhos de uma
história positivista que iluminava o documento como uma única verdade.
O que na verdade ocorre são novos horizontes de abordagem da história, a
escrita continuará tendo seu lugar na “expressão de um acontecimento passado”. Ainda
é comum esperar que o filme exiba fatos verídicos, o autor ressalta que o diretor está
envolvido com toda uma lógica que desperte interesse do público, para isso é necessário
atratividade. Esse profissional, de fato, não é um historiador.
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Mais que seu caráter industrial, é o comercia que constitui uma grave
desvantagem para o cinema porque a importância dos investimentos
financeiros que necessita o faz tributário dos poderosos, cuja única
norma de ação é a rentabilidade. (Martin, 1985, p 15)
284
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Teoria e prática são aliadas no embasamento dessas ações, bem como na sua
aplicação, tendo em vista o processo de ensino e aprendizagem.Acerca disso Pimenta e
Lima (2006):
286
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livro vai amadurecendo o enredo, corrobora para a análise das práticas de muitos
políticos, noticiários e, como trazemos à tona neste estudo, ao filme que foi apresentado
aos alunos na Oficina de Cinema.
Na arte do planejar, nós professores e bolsistas ID5, desempenhamos um papel
importantíssimo na organização das ideias para elevar o conhecimento do nosso
alunado.
Ainda com base na citação de Márlon Reis, ela aponta uma questão bem pontual
do filme: a corrupção. No entanto, o audiovisual traz uma mensagem ética que nos faz
(e fez) refletir sobre o nosso papel enquanto cidadãos e agente políticos.
Partindo desse pressuposto começamos uma série de reuniões planejando a
construção do tema chave, a relação com o filme, sobretudo a execução, tendo em vista
ser realizada a oficina à noite, horário oposto as aulas. O plano fez-se primeiramente
com os objetivos, compreendem:
Conceitual: Identificar no filme “O candidato honesto” expressões que
liguem a sua narrativa à construção crítica do ambiente político no nosso país o vendo
como recurso didático com enfoque para a história política da contemporaneidade
compreendendo a noção do papel dos políticos em exercício assim como do cidadão.
Atitudinal: Entender o cenário político brasileiro em função dos
escândalos de corrupção pensando como o sujeito se integra nesse meio a partir da
responsabilidade do seu voto e suas ações cotidianas.
Procedimental: Mobilizar os conhecimentos obtidos para produção de
um debate no projeto “Café gaiato”. Grupo destinado à discussão das temáticas que
circulam na mídia, redes sociais, respaldando na importância de debater-se além
conteúdo programático.
Uma vez de posse dos objetivos da atividade, a metodologia e recursos a serem
utilizados, ativamos o conhecimento prévio dos alunos, reverenciando o cinema
nacional com suas produções, norteando-os que existe um mercado que está além das
produções hollywoodianas. Ao tempo que fomos esclarecendo que os enredos dos
filmes não só trazem romances, comédias, mas toda uma discussão que remete a um
fato histórico como pano de fundo, precisando estar atenta a isso.
A fim de reforçar essa discussão prévia dos alunos, fizemos uso de imagens do
próprio filme e outras que remetiam as eleições (charges, caricaturas, fotografias)
concatenando as ideias e colocando-os de forma (in)direta no contexto abordado.
5
Bolsita ID (Iniciação à Docência), como são costumeiramente chamados dos bolsistas do PIBID
provenientes dos cursos de graduação.
287
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
288
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
o simples ato de colar a prova do colega, o que gerou uma discussão descontraída
quando um apontava o outro, mas entendendo que não deixava de ser errado.
Nosso maior objetivo, para que fique claro, não era apenas discutir o contexto da
corrupção no âmbito da política, mas também outras práticas menores e provocar uma
reflexão no que se refere ao papel do cidadão na cobrança de medidas rígidas de
combate à prática.
Questionando os alunos sobre suas ações no dia-a-dia desde atravessar a rua fora
da faixa, ao fato de não entregarem a caneta do colega, notamos a consciência clara dos
seus atos e reflexão dos acontecimentos na política, no entanto as suas ações são regidas
por vontade própria. Saber que estar errado, ou não, para eles não fazia muita diferença,
como argumento, alegavam que seguem o exemplo da grande maioria e em termos de
corrupção, se tivessem oportunidade fariam o mesmo que alguns políticos fazem.
Após todo diálogo com o conteúdo e participação dos alunos, como método
avaliativo pedimos aos alunos para reunirem material que falasse da temática, desde
noticias, charges, buscadas no facebook, jornal, revista, para exposição de um mural
como panorama da atual política brasileira, enfatizando suas impressões à cerca.
Este momento de produção final da oficina nos fez refletir e avaliar a
importância de se abordar essa e outras temáticas no Cine Clube História.
Conclusão
289
Anais da VIII Semana Nacional de História do CFP/UFCG
REFERÊNCIAS
.
BARCELOS, Renato Hubner. Nova mídia, socialização e adolescência. Um estudo
exploratório sobre o consumo das novas tecnologias de comunicação pelos jovens.
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História. Brasília: MEC, 1998.
PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência:
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http://www.revistas.ufg.br/index.php/article/view/10542/7012 Acesso em: 12 de agosto
de 2016.
290
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PINTO, Luciana. O historiador e sua relação com o cinema. In: O olho da história:
Revista de história contemporânea: Salvador, 2004.
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cultura. In: XII congresso de ciências da comunicação na região Nordeste: Campina
Grande-PB. IJ 4, 2010.
REIS, Márlon. O Nobre Deputado: relato chocante (e verdadeiro) de como nasce,
cresce e se perpetua um corrupto na política brasileira. Rio de Janeiro: LeYa, 2014.
ZAMBONI, Ernesta; OLIVEIRA, Sandra Regina Ferreira de. Resposta para uma
aluna: são muitas possibilidades para a escola pública. Revista Territórios &
Fronteiras, Cuiabá, vol.6, n.3, dez, 2013.
291
HISTORIOGRAFIA AFRICANA: A ÁFRICA EM BUSCA DE SUA
IDENTIDADE
Introdução
1
UFCG. E-mail: [email protected]
2
UFCG. E-mail: [email protected]
292
missionários europeus, e seu discurso foi posteriormente reproduzido e ratificado por
outros pensadores, dentre estes os Iluministas. O movimento Iluminista, por sua vez,
não defendia apenas uma teoria racial, mas uma expressiva maioria de seus
representantes desenvolveram seus estudos no sentido de justificar a superioridade
racial do homem branco sobre o homem negro no contexto das discussões modernas em
torno da questão da atribuição ou não do caráter de humanidade aos africanos.
(MBEMBE, 2001)
Em suma, a presente abordagem analisará as principais características das
produções historiográficas de cunho tradicional sobre a história africana, para só então
apresentar o caminho iniciado pela nova história.
Inicialmente cabe delimitar o que entendemos por história tradicional, para tanto
se faz pertinente a enunciação de Peter Burke (1992, p. 03):
293
mental de caráter provinciano, fundada na crença da superioridade do modo de vida e
do desenvolvimento europeu-ocidental.”, dessa forma desde o Iluminismo foram
criadas, com o uso das ciências, diversas justificativas para a dominação europeia sobre
os outros continentes, na busca de afirmar a sua superioridade em todos os sentidos,
desde o cultural e social até o biológico.
A principal consequência desta abordagem etnocêntrica europeia é o total
deslocamento de sentido da interpretação científica da África seja ela histórica,
sociológica, antropológica ou cultural. Visto que, é construído um conceito unívoco da
África e dos africanos, assim como explica Achille Mbembe:
294
também por ele sofreu e morreu Cristo; enfim, não lhe cabe a culpa de
ter ficado estagnado em determinado estádio evolutivo da
Humanidade, enquanto a civilização ariana lhe passou pelo Norte do
continente (...). Mas, se o primitivo é homem como nós, ele não é,
porém, ser humano, no significado preciso do termo; quero dizer:
homem verdadeiramente consciente e livre (DINIS, 1951 apud
VALVERDE, 1997, p. 81).
It is easy to blur the truth with a simple linguistic trick: start your story
from "Secondly." […] and the world will be turned upside-down. Start
your story with "Secondly," and the arrows of the Red Indians are the
original criminals and the guns of the white men are entirely the
victims. It is enough to start with "Secondly," for the anger of the
black man against the white to be barbarous. Start with "Secondly,"
and Gandhi becomes responsible for the tragedies of the British.
295
“conquista”, quando da ótica indígena talvez algo como “invasão” estivesse mais
próximo de representar sua narrativa própria dos tais eventos. Acontece que a história
tradicional inicia esta narrativa a partir da chegada dos portugueses, todavia se a mesma
história iniciasse com os sujeitos indígenas que já habitavam as terras paraibanas
teríamos uma percepção excepcionalmente diferente.
De semelhante modo, a história africana esteve rendida às narrativas europeias,
não encontrando espaço por muito tempo nem entre seu próprio povo para a produção
de uma narrativa própria de sua história. Séculos de colonialismo europeu deixaram
profundas consequências na cultura africana.
Por conseguinte, a história tradicional africana criou e reforçou a imagem de um
estereótipo que até hoje persiste na mentalidade de diversos países, a África foi
representada de forma tão unívoca a ponto de se tornar no imaginário como um único
país, como se todo o enorme continente se reduzisse a uma mesma cultura e identidade,
empobrecendo sua diversidade histórica. Criando, assim, a ilusão de que há apenas uma
experiência africana, desconsiderando os diversos contextos geográficos, políticos,
econômicos, sociais e culturais que produzem inúmeras especificidades. Esta noção
desestabiliza a construção histórica africana, pois considera que estes povos são
homogêneos, primitivos e desprovidos de história (OLIVA, 2007).
296
africana carregando-a de catástrofes e roubando-lhe a dignidade. A recorrência de
narrativas trágicas foi responsável pela produção de uma representatividade generalista
e negativa destes povos (MBEMBE, 2001).
De acordo com Oliva (2007), é incontestável os acontecimentos trágicos que
afligiram a África ao longo do tempo, a exploração da colonização, as lutas de
independência com os países europeus, guerras entre países africanos, segregação racial,
epidemias de Aids e outras doenças, os bolsões de miséria ao longo do continente, entre
outros. Apresentar e problematizar estas questões é imprescindível, contudo, a
predominância dos discursos historiográficos e também midiáticos em torno apenas
destes temas negativos reforçam a ideia de que a história africana se resume a uma
sequência de calamidades, associando a sua identidade à constante tragédia e
negligenciando a grande riqueza e diversidade sociocultural do continente, suas
inspiradoras histórias de resistências, além de toda a sua criação artística, intelectual e
científica.
Por conseguinte, a persistente repetição e reelaboração do discurso elaborado
pela historiografia tradicional causou a sua instituição enquanto modelo. As várias
versões da história africana passaram a contar sempre a mesma narrativa, a dos
vencedores. O que nasceu como uma opinião eurocêntrica ao longo do tempo e da
repetição, inclusive midiática, se tornou um paradigma fortemente estabelecido e de
difícil desconstrução. O resultado desse discurso é a superficialização da história
africana e a negligência quanto à diversidade de experiências de seus povos, deixando
sua história sempre em segundo lugar.
No contexto da nova história, diversos historiadores têm se dedicado aos estudos
africanos sob uma nova perspectiva, rejeitando a história factual e dedicando-se mais ao
estudo das estruturas como meio de compreensão, além de preocupar-se com a “história
vista de baixo”, isto é, buscando conhecer a experiência das pessoas comuns acerca das
alterações sociais. O novo olhar dessa historiografia deve-se, sobretudo, ao seu lugar de
origem, que não mais advém estritamente da elite europeia, mas abrange historiadores
de diversas nacionalidades, destacando-se dentre elas as nacionalidades africanas. Esta
abordagem pretende compreender a representação que os próprios povos africanos têm
de si, constituindo-se assim numa produção politicamente engajada, defende a
autonomia e inserção desses povos historicamente marginalizados na História.
Muitos autores de diversas nacionalidades reconheceram esta necessidade de
uma abordagem analítica pelo viés da nova história, como por exemplo, John Thornton,
297
um historiador americano considerado hoje um dos maiores africanistas do mundo, sua
principal obra sobre o tema é o livro “A África e os Africanos na Formação do Mundo
Atlântico: 1400-1800” (2004). O autor aborda a história africana redefinindo os lugares
estabelecidos pela história tradicional, sua obra evidencia uma África atuante em sua
própria história e na história mundial.
Thornton (2004) insere os africanos enquanto sujeitos históricos, ao
problematizar, por exemplo, a escravidão ele apresenta o jogo dos interesses que
envolveram o comércio de escravos por meio da negociação entre os chefes locais
africanos e os europeus, observando a formas de resistência e também de cooperação. O
autor elucida ainda diversas outras questões que permeiam a história africana, discute as
formas de escravidão e sua violência, as razões que justificaram a preferência dos
europeus pela mão-de-obra africana e a ação africana nesse processo, além do árduo
tráfico negreiro e também as diversidades sociais e culturas destes povos que foram
trazidos ao mundo atlântico. Sua obra dedica-se ainda a estudar as transformações
sofridas pela cultura africana no mundo atlântico, bem como a sua ativa influência na
formação deste.
As narrativas da nova história apresentam-se mais abrangentes e marcam uma
nova fase da historiografia africana, as análises possuem maior profundidade discursiva,
pois buscam contemplar o olhar de dentro da África.
Cada cultura é única e legitima-se também de forma única, cada povo descreve a
si mesmo e aos outros com base em suas próprias noções. O cerne da renovação da nova
história é o reconhecimento da existência de um saber próprio de cada cultura, sendo
sua compreensão indispensável para contar a sua história.
Dessa forma, vários pesquisadores dedicaram-se ao estudo das representações
formuladas sobre ou pelos africanos. Historiadores como o africano Achille Mbembe, o
afro-brasileiro Muryatan Barbosa e a afro-americana Anne Bailey, e até escritores como
a africana Chimamanda Adichie, são hoje grandes referências para o estudo da África
por inovarem em suas abordagens num esforço de apresentar uma história de dentro do
ponto de vista africano.
Achille Mbembe é um teórico erudito e em suas obras reflete acerca dos
principais pontos que envolvem a história e a política africana, dentre elas destacam-se
o artigo “As Formas Africanas de Auto-Inscrição” (2001) e o livro “Crítica da Razão
Negra” (2004), ambos indispensáveis para a compreensão dessa nova fase de
autoidentificação africana, pois o autor apresenta uma profunda reflexão acerca desse
298
processo, além do anseio por autonomia da África em resistência às várias formas de
dominação ideológica historicamente empreendidas. Segundo o autor, “A identidade
africana não existe como substância. Ela é constituída, de variantes formas, através de
uma série de práticas” (2001, p. 199), assim a composição da identidade africana se dá
através de uma constante redefinição empreendida por seus diversos atores através da
sua produção.
Ainda no que se refere às discussões acerca da identidade africana há, por
exemplo, o filósofo africano Valentim Mundibe e o filósofo anglo-africano Kwame
Appiah, ambos dedicam-se a desconstruir os estereótipos fabricados sobre a África e
buscam a superação do conceito de “raça”, marcando seu lugar de oposição ao
etnocentrismo europeu através de críticas fortemente fundamentadas. Os autores
defendem a construção de uma identidade africana baseada no reconhecimento de sua
intensa diversidade cultural e entendem que sua reformulação deve ser constante
(OLIVA, 2007).
Outra representação desta nova historiografia é a coleção “História Geral da
África”, publicada em oito volumes é um projeto da UNESCO (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) que apresenta uma nova
proposta para a historiografia africana, contando com cerca de 350 especialistas de
várias áreas científicas, com a direção de 39 intelectuais onde dois terços são africanos.
Estas obras apresentam uma compreensão da história africana de forma mais ampla,
visto que contam com contribuições interdisciplinares que permitem uma reconstrução
histórica mais complexa através da exploração de diversas fontes.
Considerações finais
A discussão apresentada neste trabalho não teve por finalidade encerrar o debate
ou apresentar conclusões categóricas, mas pretendeu proporcionar uma via de reflexão,
visto que a historiografia africana apresenta-se como um campo de análise muito denso,
de forma que diversos autores não puderam ser incluídos nas poucas linhas desta
discussão.
As produções da nova história trouxeram grandes avanços para a historiografia
africana, todavia, isto ainda não implica na superação do etnocentrismo europeu ainda
presente tanto nas representações históricas como em suas reproduções. Pois, apesar dos
299
avanços teóricos e metodológicos, paradigmas como o eurocentrismo se desconstroem
mais lentamente.
Os deslocamentos da nova história têm permitido uma interpretação mais
profunda e complexa do papel africano na criação e manutenção de sua coletividade. A
autoafirmação africana tem conferido cada vez mais autonomia e centralidade à sua
atuação histórica, ultrapassando os ideais racistas e atacando frontalmente o
eurocentrismo, com a finalidade de devolver à África seu lugar de direito enquanto
atuante na história humana.
REFERÊNCIAS
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300
VALVERDE, Paulo. O Corpo e a Busca de Lugares de Perfeição: Escritas
Missionárias da África Colonial Portuguesa, 1930-60. Etnográfica, v. 1, n. 1, p. 73-96,
1997.
301
FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL: EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS NO PIBID
Introdução
1
UFCG. E-mail: [email protected]
2
UFCG. E-mail: [email protected]
302
transparecer o caráter fidedigno da pesquisa, esta, inclusive participativa, pois os
bolsistas são parte constituinte do programa.
Dessa maneira, Têm-se como referencial teórico para embasar nossas discussões
sobre formação de professores: NÕVOA (2009), CAVALCANTE (2009),
THOMPSON (2012), CUNHA (2004), entre outros, com a finalidade de refletir a partir
de então, sobre os discursos envoltos das demandas com relação à iniciação a docência,
proposta pelo PIBID.
Desenvolvimento
303
podemos ressaltar a troca da designação pela instituição enquanto simbólica, pois
representa que a partir desse momento também ficou incumbida de criar programas e
projetos que priorizassem a formação da docência. Contudo podemos dizer que neste
contexto a criação do PIBID se promoverá como consequência dessa mudança.
O primeiro edital do programa foi aberto por meio de chamada pública no ano
de 2007. As ações e projetos desenvolvidos nas escolas iniciaram apenas em 2009, dois
anos depois. Em seu surgimento o programa contava apenas com poucos bolsistas e
apenas destinado à área exatas da licenciatura como Matemática, Química, Física e
Biologia, além de atender apenas a modalidade de ensino médio. Diferentemente de
hoje em que a definição dos níveis a serem atendidos e a prioridade das áreas ficam
sobre a decisão das instituições participantes no que se refere a necessidades de cada
estabelecimento de ensino, e assim cada instituição possui autonomia para elaborar seu
projeto institucional e escolher a forma de adaptar o programa á sua realidade
educacional.
Após a criação do PIBID em 2007 o programa não estagnou, ao contrário
houve um rápido crescimento com relação ao número de bolsistas e mudanças quanto a
sua estruturação. À medida que surgiram novos editais ocorre à abrangência de novas
áreas da licenciatura e também a integração de novas instituições. Pode-se afirmar isto a
partir de uma análise de um histórico de editais do PIBID exposto no relatório de gestão
da DEB anos (2009-2013) publicado em 2013:
304
Vemos nessa relação de editais como cada vez mais o PIBID irá compreender
variados tipos de instituições totalmente diferentes do primeiro edital sancionado que
apenas se destinava as instituições de ensino públicas federais. Essa abrangência é
representada por mudanças. Em 2013 ocorreu um crescimento significativo do
programa. Em um mesmo ano houve o lançamento de dois editais.
A abertura de editais destinados as IES, irão se constituir nos processos seletivos
que envolvem o programa. Ao longo de sua história foram abertos oito editais. Esses de
variados formatos e designações se constituíram enquanto os primeiros passos para o
ingresso das instituições no PIBID, realizar uma historização com relação a esses
documentos públicos ajudará a entender como o programa foi se moldando e crescendo
ao longo dos anos.
A variação da demanda as quais as chamadas dos editais designavam apresenta
como o público ao qual o programa abrange foi aumentando e variando de forma
progressiva, o primeiro edital lançado para ingressar o programa foi uma chamada
pública destinada apenas as para instituições federais de ensino superior – IFES no ano
de 2007; No ano de 2009 além das s instituições federais o edital também abrangia as
instituições estaduais de nível superior; Já no ano de 2010 englobou também as
instituições públicas municipais e comunitárias, confessionais e filantrópicas sem fins
lucrativos; o segundo edital do ano de 2010 já era destinado aos programas de formação
de professores Prolind3 e Procampo4 ou seja, o edital também foi destinado à zona rural
e educação básica indígena. Em 2011 para instituições públicas em geral – IPES, em
2012 para instituições de Ensino Superior que já possuem o Pibid e desejam sua
ampliação e para IES novas que queiram implementar o Pibid em sua instituição, em
2013: para instituições públicas, comunitárias e privadas com bolsistas do ProUni.E
finalmente o segundo edital de setembro de 2013 o PIBID Diversidade que englobam
além de escolas indígenas e campo as escolas quilombolas, extrativistas e ribeirinhas.
Ou seja, desde seu surgimento o PIBID foi abrangendo cada vez mais
participantes e diversas realidades escolares e acadêmicas. Pode se evidenciar nessa
retrospectiva um crescimento do programa.
Durante os anos os objetivos gerais do PIBID expressos nos editais vão
mudando à medida que ocorre a variação das instituições e do público participante.
3
Programa de formação de Professores destinado á comunidades indígenas.
4
Programa de formação de Professores na zona rural.
305
Formação docente inicial: processos e discursos em evidência
306
O método de aplicação dos questionários semi estruturados e entrevista orais
com bolsistas e ex- bolsistas do CFP foram um método inicial, porém sozinho foi
insuficiente para responder às indagações as quais a pesquisa se propôs, assim, a análise
dos discursos presentes nas redes sociais acabaram por complementa- lós, auxiliando as
informações encontradas nos questionamentos propostos. A aplicação dos questionários
e realização das entrevistas foi interessante, porém identificou-se que não contribuiu
com as questões levantadas pela pesquisa. Logo, foi adotado outro método de análise.
As análises dos questionários serviram para levantar apontamentos com relação à
pesquisa. No questionário, os bolsistas demonstraram um pouco de resistência,
vergonha, ou até medo de represálias, por fazerem parte do programa. Notou-se que os
entrevistados tiveram dificuldades de expressarem em seus relatos, questões críticas e
posicionamentos com relação ao programa
Dentre os questionamentos realizados aos bolsistas os que mais chamaram a atenção
foram: quais os pontos negativos e positivos que você identifica na participação
programa?
307
1-Gráfico representado em porcetagem - Quais os pontos positivos e
negativos na participação no Programa?
50
40
30
20
10
0
Apontaram apenas pontos Não existe pontos negativos no Não responderam a pergunta
positivos programa
308
bem e realizada, descrevendo detalhes de como as vivências mediante ao programa são
positivas para sua formação:
Assim com este encontramos diversos relatos que se diferem dos adquiridos nos
questionários. Percebemos que os mesmos entrevistados assumem posturas diferentes
nos questionários e nas redes sociais sobre o programa. Ao serem questionados com
relação ao espaço das atividades desenvolvidas, a escola parceira, e as experiências
vivenciadas ao longo do programa.
De acordo com as explicações foucaltianas sobre formações discursivas, deve se
ignorar o dado, o discurso é objeto de compreensão, e será em si composto de
representações, finalidades e composição.
Ora, por mais que o enunciado não seja oculto, nem por isso é visível;
ele não se oferece à percepção como portador manifesto de seus
limites e caracteres. É necessária uma certa conversão do olhar e da
atitude para poder reconhecê-lo e considerá-lo em si mesmo
(FOUCAULT, 1986.p.126).
309
As imagens representam consecutivamente críticas com relação ao caráter de
trabalho coletivo imposto pelo programa aos participantes, discursos de má
remuneração e dificuldades de lidar com os alunos realizando uma comparação entre os
professores e docentes de iniciação sendo os bolsistas apresentados em uma realidade
mais difícil. Essas imagens são apropriadas pelos entrevistados desta pesquisa, porém é
importante salientar que estas situações provavelmente podem ser realidades inerentes
ao programa, mas que de maneira nenhuma desmerecem o seu funcionamento.
Considerando as mensagens midiáticas Thompson (2012) esclarece:
310
usuários das redes sociais tendem a ser sinceros, pois ao mesmo tempo em que estão
expostos se sentem protegidos pelas máscaras das redes sociais.
Desse modo a construção desses discursos gira em torno do que para a página
consiste na identidade Pibidiana, lembrando que todo processo identitário origina–se
entre sujeito e sociedade, estabelecidas por complexas relações de alteridade. Hall
(2011) será esclarecedor deste termo tão complexo ao desenvolver que esta identidade
não precisa ser fixa, é instável e consolidada ao longo das vivências.
311
Esses impasses abrem espaços para reflexões com relação às falas perpetuadas
nas redes sociais sobre o programa. Nessa perspectiva, as redes sociais principalmente o
facebook se propõem enquanto uma forma de promover o diálogo referente à formação
docente que é o objetivo primordial do programa se estabelecendo enquanto fonte de
discussão.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
313
CUNHA, Maria Isabel. Inovações: conceitos práticas. In: CASTANHO, Sérgio;
CASTANHO, Maria Eugênia L.M (Orgs). Temas e textos em metodologia do ensino
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314
PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE
HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
NA ESCOLA JOAQUIM PEREIRA LIMA EM SÃO JOSÉ DE
PIRANHAS – PB
1
Docente da UAE-UFCG-CFP. E-mail: [email protected]
315
durante as aulas de História nas escolas de hoje. Neste sentido, Cruz (2005, p. 2)
ressalta que:
Neste sentido, estudar História e/ou Geografia seria ao mesmo tempo praticar
uma reflexão de si e do mundo ao seu redor. Despertando desejos jamais sentidos. Seria
estudar não somente os grandes feitos e fatos, mas, suas praticas cotidianas vinculado a
uma produção da identidade coletiva. Desse modo, os PCNs ressaltam o ensino dessas
disciplinas estão ligados e que:
2
Levando em consideração a criação do Ministério da Educação, que passou a privilegiar a memoria
nacional e o ensino de Historia do Brasil. Fortificando assim, uma ideia de formação da identidade
nacional brasileira.
3
Que vem de uma corrente filosófica de pensamento totalmente tradicionalista. Trabalhava-se com a
memorização, a hierarquização do pensamento, sempre o professor seria o detentor de todos os
conhecimentos e o aluno uma tabula rasa. Disponível em:
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/positivismo.htm>. Acesso em: 15 de nov. de 2016.
316
Os alicerces do ensino de História se fortalecem cada vez mais com a
consolidação dos controles autoritários por parte dos governos, até que no período
militar, o ensino de Geografia e História são unidos em uma única disciplina: Estudos
Sociais. Essa união estava ligada com o intuito de abranger um controle maior sobre os
alunos, valorizando cada vez mais os valores morais e a exaltação cívica dos indivíduos.
Claro que, boa parte dos professores não ficaram calados, houve muitos
protestos e reivindicações por parte dos mesmos, todavia, nada mudou, os militares
continuaram com as mesmas ideias. Foi somente durante a redemocratização brasileira,
nos anos 80, que as discussões alimentaram e passaram a repensar um novo currículo
para todas as disciplinas. Agora, o foco estava voltado para a autonomia do ensino de
História. Lembrando que, essa proposta não envolveu somente os professores, mas, os
alunos universitários dos cursos de Licenciatura Plena em História daquela época, como
também alunos da educação básica e profissionais da área pedagógica.
Os diálogos que passaram a ser traçados após o ano de 1986 – ano da publicação
preliminar da proposta Curricular para o Ensino de História no Primeiro Grau -, estavam
voltados para a construção de um novo ensino de História, propondo-se um ensino em
que o diálogo e a flexibilidade tanto por parte dos professores, quanto dos alunos,
fossem compreendidos pedagogicamente.
Toda essa construção e fortificação de pensamento, buscavam uma oposição
radical ao ensino “dito positivista” que era pregado até então. Assim, o ensino de
História não estaria pautado somente nos eixos temáticos: História Geral – História
Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea- e o ensino de História do Brasil –
História Colonial, Imperial e Republicana, deveria abordar as temáticas do trabalho e as
experiências e vivências dos alunos inseridos nesse processo educacional. Neste
contexto,
Assim, todos esses debates que serviram de norte para a formulação das novas
propostas curriculares pós anos 80 até os dias atuais, basearam-se nos teóricos da Escola
317
dos Annales4 que estudavam as diversas temáticas das Histórias Social, Cultural e do
cotidiano.
4
A Escola dos Annales foi um movimento historiográfico surgido na França, durante a primeira metade
do século XX. O movimento historiográfico foi muito impactante e renovador, colocando em
questionamento a historiografia tradicional e apresentando novos e ricos elementos para o conhecimento
das sociedades. Apresentava uma História bem mais vasta do que a que era praticada até então,
apresentando todos os aspectos possíveis da vida humana ligada à análise das estruturas. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/historia/escola-dos-annales/>. Acesso em: 16 de nov. 2016.
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Sabíamos da necessidade de mudança porém, não sabíamos ao certo por onde
começarmos. Então, levando em consideração que o estudo do passado nos remete ao
compartilhamento da nossa cultura, aproximando-nos cada vez mais uns dos outros,
reconhecendo-nos como agentes construtores e participativos de uma cultura/tradição,
porque não iniciarmos nosso trabalho com a construção das identidades sociais locais?
Nessa perspectiva, a escola, o professor e a comunidade devem ser envolvidos
em um conjunto, permitindo aos alunos um reconhecimento amplo sobre as tradições
culturais a qual fazem parte. Assim, o reconhecimento social de cada aluno enquanto
sujeito atuante da História, passa a se desenvolver cada vez mais, tornando o alunado
cada vez mais crítico e participativo.
A troca de ideias durante as aulas dialogadas permitiram uma abertura bem
maior para as apresentações orais dos alunos localizando-os no tempo e espaço. É papel
dos professores estabelecerem as pontes de ligação entre o presente e o passado,
desencadeando as interações entre os mesmos, derrubando as barreiras das diferenças
entre o velho e o novo, o antigo e o atual. Assim, Terra e Freitas (2004, p. 7) nos relatam
que:
Inúmeras das histórias que são contadas nas escolas para as crianças perpassam
por um mundo de imaginação e fantasia, desencadeando no imaginário destes, lugares
totalmente distantes e maravilhosos. Essa imaginação faz com que essas crianças
viagem no tempo e conheçam outras dimensões diferentes da sua realidade local. Neste
sentido, durante os anos iniciais do Ensino Fundamental, as histórias do “era uma vez”
despertam nos educandos o interesse na leitura, causando uma curiosidade totalmente
autônoma e sadia.
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Passamos a perceber que a leitura de mundo de cada aluno pode e deve ser
estimulada em sala de aula através de imagens, mímicas, contações de histórias, dentre
outros. Nesse sentido, Paulo Freire (2001, p.11) nos relate que
320
que luta por uma educação melhor. Entretanto, defrontase com sérios
obstáculos de ordem institucional no seu cotidiano. Apesar do seu
empenho pessoal e do sucesso junto aos alunos, trabalha muito, e seu
trabalho acaba por incomodar os que têm a acomodação por propósito.
Sobre isso, o historiador Holien Goncalves Bezerra reflete que: “Importa tentar
perceber quais são os conceitos imprescindíveis para que os alunos saídos da escola
básica tenham uma formação histórica que os auxiliem em sua vivencia como cidadão
(apud KARNAL, 2003, p. 41)”. Leva-nos a deduzir que é na permanência participativa
nas escolas que os alunos aprendem a perceber e participar do conhecimento histórico.
Mediante o que já discutimos, percebemos que o ensino de História é essencial
para a construção da identidade de cada indivíduo, possibilita o entendimento do
homem com o seu meio e os acontecimentos ocorridos ao seu redor. Nesse ponto de
vista, Terra e Freitas (2004, p. 8) discute que o ensino de História contribui bastante
para a formação do cidadão, pois,
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identidades, a elucidação do vivido, a intervenção social e praxes individual e coletiva.”
(FONSECA, 2005, p, 89).
Assim, a construção dinâmica dessa história de si, poderia estar presente nas
respostas de algumas simples perguntas do tipo: Em que Cidade/Estado nasceram seus
pais? Como era o passado dos seus pais, tios e avós? Como eles brincavam
antigamente?
Neste sentido, as inúmeras histórias contadas, recontadas, escritas e reescritas,
floresceriam com mais entusiasmo nas aulas com a interpretação lúdica de cada aluno.
É difícil explicar para os alunos qual o papel do historiador e o que é a história
de fato, mas, podemos mostrar para eles que cada um de nós possuiu uma história e que
sabemos a melhor maneira de contá-la. Então, um acontecimento – seja um passeio,
uma viagem ou uma festinha – será contada de maneiras diferentes pelas pessoas que ali
estejam presentes. É fazer com que eles compreendam que cada ser humano tem uma
maneira diferente de olhar e interpretar os acontecimentos do passado.
Finalizando
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representações de mundo e de épocas diferentes. É de grande importância que os
professores despertem o resgate da memória, visando favorecer a formação intelectual,
social e política de cada cidadão.
REFERÊNCIAS
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OLIVEIRA, S. R. F. de. O ensino de história nas séries iniciais: cruzando as fronteiras
entre a História e a Pedagogia. História & Ensino: Revista do Laboratório de Ensino de
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vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
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