Douglas Sathler Dos Reis REDES URBANIZAÇÃO AMAZONIA

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Douglas Sathler dos Reis

As redes para além dos rios: urbanização


e desequilíbrios na Amazônia Brasileira

Belo Horizonte, MG
UFMG/Cedeplar
2009
ii

Douglas Sathler dos Reis

As redes para além dos rios: urbanização e


desequilíbrios na Amazônia Brasileira

Tese apresentada ao curso de Doutorado em Demografia


do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional
da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à
obtenção do Título de Doutor em Demografia.

Orientador: Prof. Roberto Luís de Melo Monte-Mór


Co-orientador: Prof. José Alberto Magno de Carvalho

Belo Horizonte, MG
Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional
Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG
2009
iii

Folha de Aprovação
iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, à minha família pela presença contínua em toda a


minha vida e durante o desenvolvimento de todas as minhas atividades no curso
de Demografia no CEDEPLAR. Ao meu pai, Ruibran, minha mãe, Maria Inês, e
meus irmãos, Luciano (e Rebeca) e Cristiano. Aos meus avós e meus tios. Aos
meus primos Leandro (Taty), Leo, Elisa (Plinio), Henrique (...) e a minha afilhada
Camila, por toda a alegria.

Aos meus amigos, sempre presentes. Em especial, aos meus colegas


cedeplarianos, Glauco, Marden, Vitor, Mauro, Cristina, Carol, Gilvan, Kátia, Nina e
Maria Carolina. Ainda, aos amigos Leandro, Evandro, Filipe, Fernando, Batata,
Cleuber, Diego (e Duda), Vladmir, Wanler, Isaac, Fred, Afrânio do posto, Juninho,
Humberto, Gustavo(s), Plínio, Nerso, entre outros, igualmente importantes.

Aos meus Professores do CEDEPLAR e do IGC, em especial: Laura, Diana, José


Alberto, Carla, Eduardo, Bernardo, Cássio, Dimitri, Roberto Nascimento e Ralfo
Matos. Muito Obrigado por todo o aprendizado e pela amizade.

As pessoas que me ajudaram diretamente na concretização da tese: Carla Jorge


Machado, Alfredo, entre outros, minha gratidão. Em especial, aos meus
orientadores: Roberto Luís de M. Monte-Mór e ao atleticano José Alberto Magno
de Carvalho que, apesar de sempre atarefados, nunca mediram esforços para me
ajudar, não apenas com relação à tese.

Aos componentes da banca: Prof. Roberto Monte-Mór, Prof. José Alberto Magno
de Carvalho, Prof. Oswaldo Bueno Amorim-Filho, Prof. Irineu Rigotti, Prof. Alisson
Barbieri e Prof. Roberto Nascimento, meu muito obrigado.

Á FINEP, pelo apoio financeiro ofertado ao projeto “Desigualdades sócio-


espaciais e descentralização territorial no Brasil”, coordenado pelo Prof. Ralfo
Matos (IGC/UFMG). Minha participação voluntária nesse projeto ajudou a
enriquecer bastante o presente trabalho.

À sociedade brasileira, através do apoio financeiro da CAPES e do CNPQ, que


me permitiu completar os estudos de pós-graduação.
v

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEDEPLAR – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional

EUA – Estados Unidos da América

GoM – Grade of Membership

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC – Indicador de Centralidade

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

NGE – Nova Geografia Econômica

NICs – Novos Países Industrializados

ONGs – Organizações não Governamentais

ONU – Organização das Nações Unidas

PIA – População em Idade Ativa

PIB – Produto Interno Bruto

TCG – Taxa de Crescimento Geométrico

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UIA – União Internacional dos Arquitetos


vi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

2 A NATUREZA DO URBANO NA AMAZÔNIA LEGAL ......................................... 5

2.1 Do urbano e rural à urbanização das áreas rurais ........................................... 7

2.2 O Novo Urbano e as cidades da floresta: um estudo a partir das tipologias .. 18

3 A COSMOPOLIZAÇÃO NO UNIVERSO EM EXPANSÃO E CONTRAÇÃO ..... 38

3.1 Cosmópolis: o futuro se impõe, o passado não se agüenta ........................... 39

3.2 As redes móveis na era da informação .......................................................... 46

3.3 Globalização na era das redes em desequilíbrio............................................ 55

4 DESCOBRINDO A AMAZÔNIA DAS REDES PARA ALÉM DOS RIOS ........... 65

4.1 Urbanização e evolução das redes na Amazônia Legal................................. 66

4.2 Especificidades das redes urbanas da Amazônia Legal: a atuação das


grandes cidades ................................................................................................... 73

4.3 As cidades médias e os pequenos centros da Amazônia Legal sob a


perspectiva das redes ........................................................................................ 101

5 HIERARQUIA URBANA NA AMAZÔNIA LEGAL: TEORIA, DADOS E


ANÁLISE ............................................................................................................ 109

5.1 A hierarquia urbana: o início dos debates e os estudos recentes ................ 111

5.2 As cidades amazônicas e a aplicação do Grade of Membership ................ 122

5.2.1 O modelo Grade of Membership .............................................................. 122

5.2.2 As variáveis utilizadas para aplicação do GoM: uma análise descritiva ... 125

5.2.3 A Aplicação do Grade of Membership ...................................................... 146

6 CONCLUSÃO.................................................................................................. 165

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 174


vii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

TABELA 1 – Amazônia Legal - Distribuição dos municípios por classes de


tamanho populacional (1970-2007) ................................................................ 67

FIGURA 1 – Amazônia Legal - Evolução do tamanho populacional dos


municípios (1970-2007) ................................................................................. 70

FIGURA 2 – Amazônia Legal – Percentual da população municipal em idade


ativa - 2000 ..................................................................................................... 72

TABELA 2 – Dimensão das redes de primeiro nível no Brasil, 2007.................... 76

TABELA 3 – Intensidade de Relacionamento Empresarial, Belém e Manaus,


2004 ................................................................................................................ 78

TABELA 4 – Intensidade de Relacionamento Empresarial, São Luís e


Cuiabá, 2004................................................................................................... 80

TABELA 5 – Amazônia Legal - Funcionalidades dos municípios com


população superior a 20.000 habitantes, 2000-2007* ..................................... 82

FIGURA 3 – Amazônia Legal - Nível de diversificação funcional ......................... 85

TABELA 6 – Amazônia Legal - Tempo de viagem entre as sedes municipais


e as cidades mais próximas, com população maior, 2007 .............................. 87

FIGURA 4 – Amazônia Legal - Indicador de Centralidade dos municípios


com população supeior a 20.000 habitantes, 2007 ......................................... 95

TABELA 7 – Amazônia Legal - Indicador de Centralidade (IC), 2007 .................. 96

FIGURA 5 – Amazônia Legal - PIB municipal, 2005 .......................................... 100

TABELA 8 – Relação das variáveis internas ao modelo GOM ........................... 127

FIGURA 6 – Amazônia Legal - Grau de urbanização dos municípios com


população superior a 20.000 habitantes, 2000 ............................................. 133

FIGURA 7 – Amazônia Legal - Taxa de Crescimento Geométrico dos


municípios com população superior a 20.000 habitantes, 2000-20007 ........ 134

FIGURA 8 – Amazônia Legal - Fundo de participação dos municípios com


população superior a 20.000 habitantes, 2005 ............................................. 135
viii

FIGURA 9 – Amazônia Legal - Proporção de pobres nos municípios com


população superior a 20.000 habitantes, 2000 ............................................. 136

FIGURA 10 – Amazônia Legal - IDH dos municípios com população superior


a 20.000 habitantes, 2000............................................................................. 137

FIGURA 11 – Amazônia Legal - Percentagem de pessoas com água


encanada nos municípios com população superior a 20.000 habitantes,
2000 .............................................................................................................. 138

FIGURA 12 – Amazônia Legal - Percentagem de pessoas com acesso a


energia elétrica nos municípios com população superior a 20.000
habitantes, 2000 ........................................................................................... 139

FIGURA 13 – Amazônia Legal - Percentagem de pessoas em domicílios


urbanos com acesso a coleta de lixo nos municípios com população
superior a 20.000 habitantes, 2000 ............................................................... 140

FIGURA 14 – Amazônia Legal - Percentual de pessoas que vivem em


domicílios com computador nos municípios com população superior a
20.000 habitantes, 2000................................................................................ 141

FIGURA 15 – Amazônia Legal - Percentagem de pessoas que vivem em


domicílios com energia elétrica e TV nos municípios com população
superior a 20.000 habitantes, 2000 ............................................................... 142

FIGURA 16 – Amazônia Legal - Percentagem de pessoas que vivem em


domicílios com energia elétrica e geladeira nos municípios com
população superior a 20.000 habitantes, 2000 ............................................. 143

FIGURA 17 – Amazônia Legal - Percentagem de pessoas que vivem em


domicílios com telefone nos municípios com população superior a 20.000
habitantes, 2000 ........................................................................................... 144

FIGURA 18 – Amazônia Legal - Frota de veículos dos municípios, agosto de


2007 .............................................................................................................. 145

TABELA 9 – Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e


freqüencias marginais absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000-2007) ... 148

TABELA 9 – Distribuição dos gik(s) ................................................................... 157


ix

FIGURA 19 – Distribuição dos valores de g1 para os municípios da


Amazônia Legal ............................................................................................ 161

FIGURA 20 – Distribuição dos valores de g2 para os municípios da


Amazônia Legal ............................................................................................ 162

FIGURA 21 – Distribuição dos valores de g3 para os municípios da


Amazônia Legal ............................................................................................ 163

FIGURA 22 – Distribuição dos valores de g4 para os municípios da


Amazônia Legal ............................................................................................ 164

TABELA A 1 – Lista de Funcionalidades ............................................................ 183

TABELA A 2 – Valores de g1, g2, g3, e g,4 para os municípios amazônicos .... 184

DIAGRAMA A 1 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima –


Representação esquemática, 2007 (Manaus) .............................................. 189

DIAGRAMA A 2 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima –


Representação esquemática, 2007 (Belém) ................................................. 190

DIAGRAMA A 3 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima –


Representação esquemática, 2007 (Cuiabá) ................................................ 193
x

RESUMO

Nas últimas décadas, as redes urbanas que se estendem sobre a Amazônia Legal
têm evoluído com o surgimento de cidades de médio porte e com a multiplicação
de pequenas aglomerações urbanas, que seguem os traçados das principais
rodovias e rios da região. Em um contexto de transformações globais, com
aparecimento das Redes Móveis em meio às novas formas de flexibilidade e
interatividade, as redes da Amazônia Legal apresentam diversos aspectos que
devem ser estudados sem “euforia”, diante de uma série de peculiaridades que
merecem ser exploradas com maior profundidade. Mesmo que tenha sido
estruturada uma hierarquia urbana aparentemente similar à das demais regiões
do país, com centros regionais e locais claramente distinguíveis, os diversos
níveis hierárquicos urbanos apresentam dinâmicas demográficas,
socioeconômicas e espaciais distintas. A situação de fragilidade das redes
urbanas amazônicas está relacionada à criação de impedimentos para os fluxos
de pessoas, mercadorias e serviços, cabendo destacar: a) as grandes distâncias
que separam as capitais das demais cidades e vilas; b) a carência de infra-
estrutura nos setores de transporte e comunicação em grandes porções do
território amazônico; c) a grande proporção de população desprovida de recursos
materiais e educacionais decisivos no que tange à sua participação ativa nos
diversos tipos de fluxos. Ainda, o modelo Grade of Membership, utilizado para
avaliar a hierarquia urbana na Amazônia Legal com base em um banco de dados
multidimensional, sugere que, de uma forma geral, critérios estritamente
populacionais parecem fazer sentido na delimitação da hierarquia urbana da
região, já que existe uma relação positiva entre tamanho demográfico e bem
estar/desenvolvimento na Amazônia Legal, ao contrário do que se verifica em
outras regiões do país. Entretanto, alguns municípios de médio porte contrariam
esta tendência geral, o que justifica a validade teórica do arcabouço utilizado.

Palavras-chave: Redes Urbanas; Amazônia; Desequilíbrios.


xi

ABSTRACT

In the past decades, the Amazonian urban networks have been developing with
the emergence of middle size cities and the multiplication of new towns and small
urban agglomerations along the main regional roads and rivers. In the current
context of global transformation, with the rise of Mobile Networks due the new
forms of flexibility and interactivity, the Amazonian urban networks have several
characteristics that should be studied with caution, because of some peculiarities
that deserve to be explored more deeply. Even though there is an urban hierarchy
that seems to be similar to those of other country's regions, with regional and local
centers clearly established, the various urban hierarchic levels have different
demographic, spatial and socioeconomic dynamics. The fragility of the Amazonian
urban networks is related to the creation of barriers for the flows of people, goods
and services, such as: a) the long distances that separate the capitals from others
towns and hamlets; b) the lack of transportation and communication infrastructure
in large areas of the Amazon territory; c) the large proportion of the population
without material and educational resources decisive to their active participation in
the various kinds of flows. Furthermore, the Grade of Membership model, applied
to study the urban hierarchy in the Brazilian Amazon supported by a
multidimensional database, suggests that demographic criteria seem to make
sense for regional urban hierarchic delimitation, due to the relationship between
demographic size and welfare/development in Amazon, contrary to the situation in
other regions of Brazil. However, some middle size municipalities in Amazon have
different patterns that justify our framework.

Keywords: Urban networks; Amazonia; intra-regional unbalances.


1

1 Introdução

As redes urbanas que se estendem sobre a Amazônia têm evoluído com o


surgimento de cidades médias e com a multiplicação de pequenas
aglomerações urbanas, que seguem os traçados das principais rodovias e rios
da Região. Deve-se ressaltar que, há poucas décadas, essa extensa porção do
território brasileiro era caracterizada por um pequeno número de cidades,
dispersas pela floresta e interconectadas por canais de drenagem, vias únicas
de integração daquelas localidades. A população exercia atividades com
características distantes daquelas praticadas nos centros urbanos e a
economia era essencialmente voltada para as ocupações ligadas aos rios e à
floresta.

A urbanização no interior da Amazônia atravessou duas fases historicamente


distintas: na primeira, anterior aos anos 1960, este processo nascia e se
desenvolvia predominantemente pelos rios; já na segunda fase, a exploração
mineral e os grandes projetos estimularam o crescimento urbano com o auxílio
das rodovias, após os anos 1960.

Não obstante o significativo crescimento demográfico das capitais estaduais


nas últimas décadas, a recente conformação de núcleos urbanos dotados de
expressivos contingentes populacionais no interior da Região também conferiu
maior equilíbrio para a rede urbana amazônica. Nesse contexto, o surgimento
de cidades de médio porte e a proliferação de pequenos núcleos urbanos
parecem romper com a enorme dificuldade de interiorização da ocupação em
vastas regiões da Amazônia Legal.

“Nas últimas décadas, foi deflagrada uma verdadeira explosão urbana nas
proximidades das principais rodovias da Região, diante de um dos mais
formidáveis movimentos migratórios de que se tem notícia” (Matos, 2005,
p.155). As taxas de crescimento foram superiores às médias nacionais,
2

resultantes dos intensos fluxos migratórios com origem, sobretudo, nas regiões
Nordeste e Sul.

Entretanto, a Amazônia das redes para além dos rios possui diversos aspectos
que devem ser interpretados sem “euforia”, diante de uma série de
peculiaridades que merecem ser exploradas com maior profundidade. Apesar
de haverem sido estruturados sistemas de hierarquia urbana, em algumas
porções do território amazônico, aparentemente similares às das demais
regiões, com centros regionais e locais claramente distinguíveis, diversos
níveis hierárquicos urbanos apresentam dinâmicas demográficas,
socioeconômicas e espaciais distintas, sobretudo em relação aquelas
estabelecidas nas redes urbanas do Centro-Sul do País.

Neste trabalho, a Amazônia Legal1 será utilizada como unidade de análise,


mesmo considerando que existem outros ecossistemas não florestais incluídos
nessa porção territorial, com destaque para as áreas de cerrado que
extrapolam parte considerável dos limites da floresta. Isso porque existe uma
lógica nessa delimitação, que considera os municípios pertencentes às
principais vias de integração regional, dotados de atividades econômicas com
grandes impactos locais e, também, regionais, que se fazem sentir nas áreas
de floresta da Amazônia Legal, intimamente ligadas às “cidades do cerrado”.

O presente estudo procura lançar luz para a compreensão do processo de


urbanização e das especificidades das redes urbanas da Amazônia Legal. No
Capítulo 2, procura-se oferecer uma série de reflexões teóricas que buscam
entender com maior clareza a natureza do urbano no Brasil e, sobretudo, na
Amazônia Legal, com destaque para o surgimento de médias e grandes
aglomerações e para o transbordamento do urbano em vastas regiões antes
loci quase que exclusivo das atividades agropecuárias e extrativistas. Neste
capítulo, o surgimento das cidades amazônicas é investigado com base em
algumas tipologias, muito úteis, já que o nascimento e o desenvolvimento

1
A Amazônia Legal é constituída pelas UFs pertencentes à região Norte (Amazonas, Pará,
Tocantins, Acre, Rondônia, Roraima e Amapá), Centro-Oeste (todo o Mato Grosso e parte de
Goiás, até o paralelo 13° sul) e Nordeste (Maranhão , até o meridiano 44°W). Esta Região
representa 59% do território brasileiro. (IBGE, 2007).
3

urbano na Região esteve extremamente relacionado à proliferação de


determinadas atividades econômicas, com destaque para as cidades da
borracha, da grande empresa mineradora, do garimpo (des)organizado, das
atividades agro-industriais e as dos projetos de colonização.

No que diz respeito ao dinamismo das redes urbanas, os impactos da


globalização com o encurtamento das distâncias e o aceleramento dos fluxos,
que podem ser sentidos nas redes de todo o mundo, com maior ou menor
intensidade, ganham destaque no Capítulo 3. Diversos estudos2 têm discutido
amplamente a influência da globalização nas redes urbanas das regiões mais
desenvolvidas do mundo, com a participação das grandes cidades nos
sistemas de fluxos. Estes debates, formulados por teóricos que pensaram
sobre uma realidade distante daquela dos países em desenvolvimento, quando
levantados com responsabilidade e cautela, podem servir de arcabouço para
as reflexões sobre as redes urbanas brasileiras e até mesmo das redes
amazônicas. Sendo assim, o desafio é incorporar um “framework” pensado
para países desenvolvidos nos estudos das redes urbanas dos países em
desenvolvimento. Além disso, um novo conceito será apresentado e discutido
neste capítulo: as redes móveis.

O Capítulo 4 apresenta vários elementos que apontam a coexistência de vários


padrões de funcionamento nas redes urbanas amazônicas. O recente surto de
crescimento demográfico não foi capaz de criar redes urbanas equilibradas e
dinâmicas, a exemplo do que pode ser verificado em outras regiões do Brasil.
Ao lado da invasão de uma série de elementos que apontam para a
conformação do que pode ser entendido como rede móvel, que rompe com
maior facilidade as barreiras espaciais, percebe-se a forte existência de outros
padrões que fazem lembrar as redes complexas e, até mesmo, as antigas
redes dendríticas e monocêntricas.

Após estas reflexões, direcionadas para o entendimento da natureza do urbano


e do dinamismo das redes, busca-se compreender melhor os níveis de

2
Ver Castels (1989), Sassen (1991) e Soja (2000).
4

hierarquia e de relacionamento entre as cidades da Amazônia Legal. Assim, o


Capítulo 5 apresenta uma revisão de alguns dos estudos de maior repercussão
sobre hierarquia urbana, seguido de algumas reflexões sobre a necessidade de
abordar o assunto sob uma perspectiva multidimensional, que considere não
apenas o tamanho demográfico das centralidades, mas, também, um conjunto
de características indispensáveis para o entendimento das relações de poder e
centralidade entre as cidades, incluindo variáveis de natureza espacial,
funcional e de infraestrutura, com impactos evidentes no que tange a
dinamização ou desaceleração dos fluxos regionais. Para isso, é proposto a
utilização do método estatístico Grade of Membership (GoM), que é utilizado na
delineação de perfis, com o objetivo de identificar grupos de cidades com
características próximas e de descrever as diferenças entre elas. Não se
pretende realizar uma classificação direta das cidades amazônicas em níveis
hierárquicos, mas, sim, oferecer elementos que podem complementar alguns
estudos de maior abrangência que já existem, como o do IBGE (2008).

Dessa forma, o presente estudo tenta refletir sobre a urbanização da Amazônia


Legal sob uma perspectiva que considera os aspectos mais importantes do
fenômeno: a urbanização propriamente dita, as redes urbanas e as relações
hierárquicas. Com isso, pretende-se avançar no entendimento das formas e
dos processos urbanos que se estabeleceram, nas últimas décadas, com
grande intensidade na Região e com fortes implicações socioeconômicas e
ambientais. Assim, deve-se ressaltar a relevância do tema que, cada vez mais,
desperta a atenção da comunidade internacional.
5

2 A natureza do urbano na Amazônia Legal

Nas primeiras décadas do século XX, a sociedade brasileira se configurava


como amplamente rural. Em paralelo ao expressivo crescimento da população
verificado no País entre 1940 e 1980, observou-se uma inversão da distribuição
populacional entre as áreas rurais e urbanas. Nesse sentido, o esvaziamento
do campo, o crescimento desordenado de grandes cidades e a formação de
centros metropolitanos são reflexos evidentes que sinalizaram um País de um
novo tempo. Surgiram, ainda, a partir da década de 1980, mudanças
significativas no meio rural brasileiro. Observa-se a emergência de um espaço
rural multifuncional, com a introdução de uma maior diversificação econômica,
em meio a novas formas de produção e subsistência, em visível contraste com
o que dominava no passado. A expansão do tecido urbano sobre as áreas
rurais e o crescimento do número de pessoas ocupadas em atividades
consideradas até então como sendo exclusivamente das cidades, indicaram a
existência de um novo paradigma sócio-espacial no País.

Na Amazônia Legal, a atual conformação das redes urbanas foi produzida por
um processo de urbanização distinto das demais regiões do Brasil, sendo
enormemente influenciada pelas intervenções estatais que ocorreram a partir
da década de 1960. O desenvolvimento da fronteira urbana, que pode ser
entendida com sendo a base logística para o projeto de rápida ocupação da
Região, muitas vezes se antecipando à expansão de várias frentes, foi
impulsionada pelo incentivo a grandes empreendimentos e pela política de
migração induzida e financiada pelo Estado. Novos núcleos foram criados,
sobretudo em apoio aos projetos de mineração, agropecuária e colonização.
(Becker, 1990).

A história conta que o surgimento e a proliferação das cidades, de uma forma


geral, estão diretamente relacionados à criação de excedentes nas áreas
rurais. Entretanto, deve ficar claro que, algumas vezes, a cidade pode nascer
6

na frente do campo, como em grandes áreas na Amazônia em que estas


servem como bases logísticas para a reprodução das atividades econômicas
desenvolvidas nas intermediações destas centralidades (Monte-Mór, 2006).

Em boa parte dos casos, as cidades na Amazônia costumam responder ao que


acontece em seus arredores. Nas áreas de mineração, desflorestamento e
mesmo nas áreas tomadas pela agricultura mecanizada, a lógica urbana e
industrial esteve sempre presente. Dessa maneira, assim como em outras
partes do País, em vastas regiões da Amazônia Legal, a urbanização que
ultrapassa as barreiras das cidades, favorecida pelo desenvolvimento do meio
técnico científico e informacional e pelo apoio da forte presença das relações
de produção urbano-industriais, pode ser compreendida com o auxílio do
conceito de urbanização extensiva. Este termo se refere ao avanço do tecido
urbano que extrapola os limites das cidades, com a geração de novas
centralidades, expressando um amplo processo econômico-espacial (Monte-
Mór, 1994).

Nesta seção, a natureza do urbano na Amazônia ganha destaque, diante das


especificidades sócio-espaciais e da crescente complexidade do território
amazônico, em sintonia com a idéia de urbanização extensiva. As diversas
formas de ocupação do território amazônico nos diferentes tamanhos e tipos de
cidades, assim como as manifestações da lógica urbana para além dos limites
das cidades da Região, são de grande importância para o entendimento do
urbano na Amazônia. Assim, o próximo tópico procura realizar uma síntese de
algumas das mais importantes transformações urbanas contemporâneas no
Brasil e no mundo. Mais adiante, em sintonia com as idéias discutidas nesse
primeiro momento, na seção 2.2, apresenta-se uma série de reflexões a
respeito de algumas tipologias urbanas amazônicas, a exemplo das cidades
que surgiram e/ou se desenvolveram a partir da extração da borracha, da
exploração mineral e das atividades agrícolas.
7

2.1 Do urbano e rural à urbanização das áreas rurais: velhos


debates, novas trajetórias

A partir de meados do século XVIII, foram observadas profundas alterações na


distribuição espacial da população da Europa Ocidental. O modelo econômico
vigente evoluía para um estágio mais eficiente de acumulação de capital e,
com isso, toda a sociedade se reestruturava aos moldes industriais.
Desencadeou-se um processo de crescimento das aglomerações urbanas,
concomitantemente ao esvaziamento demográfico das áreas rurais.

Nesse contexto, o rural e o urbano eram vistos como uma forma de


representação das classes sociais que contribuíram para o aparecimento do
capitalismo industrial ou que a ele se opunham na Europa do século XVII e não
a um corte geográfico propriamente dito. A partir disso, o urbano passa a ser
associado ao novo, ao progresso capitalista das fábricas. O rural, ao velho, ou
seja, à velha ordem social vigente (Silva, 1996).

Com o amadurecimento das relações urbano-industriais, ao longo dos séculos


XIX e XX, percebe-se que a produção agrícola passou a se tornar um setor da
produção industrial, contribuindo para que as áreas rurais ficassem submissas
às exigências do capital urbano-industrial. “O tecido urbano prolifera, estende-
se, corrói os resíduos da vida agrária” (Lefebvre, 1999, p. 17). O espraiamento
do fenômeno urbano foi acionado pela expansão do capital industrial. A
explosão do urbano determina o predomínio das manifestações da cidade
sobre a não-cidade.

Tais manifestações são encontradas, contudo, em diferentes graus de


intensidade. Diante disso, a realidade sócio-espacial torna-se mais complexa.
Cada vez mais, os espaços rural e urbano não podem ser compreendidos
separados um do outro, visto que se relacionam e se interpenetram, levando
estudiosos a formular abordagens que consideram os diferentes níveis de
integração ou distanciamento.
8

Nos debates que se estenderam a partir do final do século XIX, as definições


do que seja rural e urbano, de uma forma geral, eram associadas a duas
grandes abordagens: a dicotômica e a de continuum. Na primeira, a ênfase
recai sobre as diferenças que se estabelecem entre estes dois espaços, sendo
o campo pensado como algo que se opõe à cidade. Na segunda, ocorre uma
aproximação entre o espaço rural e a realidade urbana (Bertrand, 1973).

As definições clássicas, que partiam da observação de vários aspectos da


realidade para ressaltar as principais características do espaço rural
estimulavam as formulações de conceituações dicotômicas entre o rural e o
urbano. De acordo com Blume (2004),

“os primeiros debates e reflexões surgem sistematizados por uma


leitura que assume o rural como uma realidade específica e oposta
ao urbano, embasada pelos estudos das diferenças entre
comunidade e sociedade, de Ferdinand Tönnies. Este antagonismo
dualístico para o rural era o tema da corrente denominada de
dicotômica” (Blume, 2004, p. 18).

A partir das décadas de 1920 e 1930, a sociologia rural norte-americana,


influenciada por enfoques diferenciados, se destaca nas discussões referentes
ao desenvolvimento de conceitos que objetivam permitir um melhor
entendimento das questões referentes aos espaços rural e urbano.

Sorokin & Zimmermann (1929) foram os primeiros a introduzir a perspectiva do


continuum rural e urbano. Apesar disso, a obra clássica de 1929 também
acaba se constituindo em um forte alicerce para as conceituações dicotômicas,
uma vez que ressalta as diferenças existentes entre os espaços rural e urbano
como pólos contidos em uma escala de gradação. Podemos confirmar essa
idéia em Solari (1973), pois, embora

“Sorokin e Zimmermann tenham postulado que essas oposições


eram extremos de uma escala gradativa, estes critérios, que no fundo
são uns derivados dos outros, tendo como ponto de partida a
caracterização da atividade produtiva e da técnica de produção,
serviram de base para a elaboração de conceituações dicotomizadas
do rural e do urbano” (Solari, 1973, p. 6).
9

A idéia do espaço continuum, apresentada primeiramente por Sorokin &


Zimmermann (1929), é retomada por Redfield (1947), que observou a
intensificação das relações rurais e urbanas, com o intuito de evidenciar uma
maior relação entre os espaços opositores, diluindo, ainda mais, as diferenças
verificadas pelos clássicos nas primeiras décadas do século XX.

A obra clássica de Sorokin & Zimmermann (1929) sugere uma série de traços
essenciais na diferenciação dos espaços urbano e rural. De acordo com esses
autores, a base para o entendimento do rural está nas particularidades de sua
economia. O rural abrigaria, preferencialmente, a produção agropecuária, e
todas as outras características observadas no campo estariam vinculadas a
essa atividade econômica. Outros tipos de atividades não-agrícolas se
apresentam como acessórias e não se destacam como principal meio de
subsistência dos indivíduos que habitam o meio rural.

É importante ressaltar que, nesse contexto, apesar dos indícios que apontam
para existência de um espaço continuum rural-urbano, diversos autores
realizaram reflexões sobre um mundo com visíveis contrastes entre as
realidades rural e urbana. Portanto, deve-se deixar claro que várias
características presentes nestas definições referem-se a uma realidade
pertencente a um outro tempo. É interessante observar, porém, que alguns
traços intrínsecos às definições clássicas do espaço rural ainda hoje podem ser
encontrados em diferentes graus de intensidade.

Como podemos observar de maneira resumida em Blume (2004), Sorokin &


Zimmermann identificam uma série de diferenças empíricas marcantes entre as
áreas rurais e urbanas, que se relacionam principalmente com as seguintes
características:

“1) Ocupacionais: diferenças no envolvimento das atividades. No


rural, desde jovens, as pessoas se ocupam com um único tipo de
atividade, a coleta e o cultivo;
2) Ambientais: os rurais sofrem influência direta do contato com a
natureza e das condições climáticas;
3) Tamanho das comunidades: correlação negativa entre tamanho da
comunidade e pessoas ocupadas na agricultura;
10

4) Diferenças na densidade populacional: as rurais são relativamente


mais baixas do que as urbanas, devido ao cultivo;
5) Diferenças na homogeneidade e heterogeneidade da população:
os rurais tendem a adquirir características semelhantes por se
envolverem nas mesmas funções, são mais homogêneos, pois não
sofrem os problemas de uma intensiva divisão do trabalho” (Blume,
2004, p. 23).

Apesar de estarem em sintonia com a idéia de continuum, ainda sim, todas as


características descritas mencionam a existência de duas realidades que se
opõem. Porém, em vários países, simultaneamente a profundas alterações
sócio-espaciais, observou-se, sobretudo durante o século XX, a modificação da
característica primária que constitui o embasamento dessa visão: o campo
passa a incorporar elementos, até então tidos como quase que exclusivamente
das cidades, além de abrigar de forma expressiva as atividades do tipo não
agrícolas.

O crescimento das cidades, a industrialização da agricultura e o


transbordamento do urbano nas áreas rurais, verificados em vastas regiões do
mundo no decorrer do século XX, sugerem que a transição entre os espaços
rural e urbano deve ser entendida de acordo com a formulação teórica do
espaço continuum. Nessa perspectiva, a polarização antagônica é substituída
por um gradiente de variações espaciais.

“Metaforicamente é como se um plano fosse dividido ao meio e suas


metades recebessem respectivamente as cores preto e branco. É a
primeira etapa da diferenciação, em que a atenção se foca no
contraste, e não no relacionamento profundo que existe, não pelas
cores, mas pelo fato de serem metades partes de um mesmo plano.
Gradualmente, a fronteira antes nítida entre as cores começa a se
transformar. O preto entra no branco e o contrário, gradualmente, as
tintas se misturam e por fim temos o plano preenchido não mais por
duas metades, mas por um gradiente que vai do branco em um
extremo do plano ao preto em outro, passando por ínfimos tons de
cinza. É a segunda etapa da diferenciação, quando as definições
precisas são implodidas e ressurge gloriosa a relação profunda e a
unidade existente entre o preto e o branco, componentes do mesmo
plano, da mesma realidade”(Siqueira & Osório, 2001, p. 5).

O interessante é que a metáfora de Siqueira & Osório (2001), além de


representar, didaticamente, as duas formas mais comuns de se pensar os
espaços urbano e rural, demonstra que a relação dicotômica se constitui como
a primeira etapa do processo de diferenciação de áreas, para que, só
11

posteriormente, com a urbanização das áreas rurais, possa existir o continnum


rural e urbano.

O espraiamento das manifestações urbano-industriais imprimiu novas


configurações espaciais onde sua autuação foi mais vigorosa, com a
aceleração do rompimento da nítida separação entre as áreas urbanas e rurais.
De acordo com Silva (1997),

“[...] está cada vez mais difícil delimitar o que é rural e o que é
urbano. Mas isso que aparentemente poderia ser um tema relevante,
não o é: a diferença entre o rural e o urbano é cada vez menos
importante. Pode-se dizer que o rural hoje só pode ser entendido
como um continuum do urbano do ponto de vista espacial; e do ponto
de vista da organização da atividade econômica, as cidades não
podem mais ser identificadas apenas com a atividade industrial, nem
os campos com a agricultura e a pecuária”(Silva, 1997, p. 1).

A incorporação das periferias, mais ou menos distantes, pelo tecido urbano tem
se intensificado a partir da segunda metade do século XX, diante do
surgimento e da incorporação de novas formas de apropriação do espaço de
natureza estritamente urbana. Segundo Monte-Mór (2006),

“os adjetivos urbano e rural, entretanto, referentes à cidade e ao


campo, ganharam hoje complexidade e dizem respeito a uma gama
de relações culturais, sócio-econômicas e espaciais entre formas e
processos derivados originalmente da cidade e do campo. No
entanto, a clareza que caracterizava estes adjetivos, marcados pela
dicotomia entre seus substantivos de referência, desapareceu, na
medida em que as fronteias entre espaço urbano e o espaço rural
ficaram cada vez mais difusas e de difícil identificação” (Monte-Mór,
2006, p. 1).

Diante disso, Monte-Mór (2006) argumenta que,

“o sentido contemporâneo do urbano se prende à resolução da


contradição cidade-campo, à superação mesma dos conceitos de
cidade e de campo como formas antagônicas e sua redefinição
metafórica no contexto urbano-industrial total de nossos dias. O que
chamamos urbano, substantivamente, é o tecido urbano-industrial
que se estende para além das cidades sobre o campo e as regiões,
integrando os espaços em um processo que tenho chamado de
urbanização extensiva. Este processo, além de pressupor uma
sociedade virtualmente integrada ao mundo urbano-industrial – a
sociedade urbana, pressupõe também a extensão da práxis urbana,
da polis (política), da civitas (cidadania) e da própria urbe (enquanto
espaço social construído) a todo espaço social e humano”(Monte-
Mór, 2006, p. 10).
12

As transformações sócio-espaciais descritas não se restringiram aos países


desenvolvidos, ganhando força nas últimas décadas, mesmo que com certo
atraso, nos países em desenvolvimento. Atualmente, percebe-se que os
centros de comando industrializados que abrigam expressivos contingentes
populacionais, como as grandes cidades do Sudeste brasileiro e mesmo as
cidades de Belém e Manaus, na Amazônia, irradiam a lógica urbana para além
dos limites das grandes cidades.

No Brasil, tomando como referência a metáfora de Siqueira & Osório (2001),


podemos observar a variação das tonalidades das cores, ou seja, o continuum.
Diante disso, o desenvolvimento do processo de urbanização extensiva assim
como o chamado “Novo Rural”3 brasileiro sinalizam que as relações
dicotômicas existentes entre o que é urbano e rural parecem distantes de
representar de forma adequada a realidade. Sendo assim, a idéia de continnum
rural-urbano se apresenta como a formulação teórica mais coerente para o
caso brasileiro, indicando a crescente necessidade de se abolir de vez
qualquer perspectiva dicotômica.

Além disso, outros termos surgiram com o objetivo de ampliar as discussões, a


exemplo de rurbanização e periurbanização (1982). Segundo Freyre (1976), a
rurbanização seria

“um processo de desenvolvimento socioeconômico que combina,


como formas e conteúdos de uma só vivência regional – a do
Nordeste, por exemplo, ou nacional – a do Brasil como um todo –
valores e estilos de vida rurais e valores e estilos de vida urbanos.
Daí o neologismo: rurbanos” (Freyre, 1976, p. 6).

Já a periurbanização, se refere aos novos espaços de concentração da


população a redor dos centros urbanos, com o crescimento, muitas vezes, de
vastas periferias que carregam características predominantemente urbanas

3
De acordo com Grossi & Silva (2002, p. 5), o “Novo Rural” brasileiro é constituído
basicamente por três grandes grupos de atividades, a saber: Uma agropecuária moderna
(baseada em comodities e intimamente ligada às agroindústrias), um conjunto de atividades
não-agrícolas (ligadas a moradia, ao lazer e a várias atividades industriais e de prestações de
serviços) e um conjunto de “novas” atividades agropecuárias localizadas em nichos especiais
de mercado.
13

que, também, por outro lado, podem estar associadas até mesmo com uma
falta de urbanidade advinda, sobretudo, das carências e das demandas sociais
nessas novas áreas.

Nos últimos anos, foram publicados vários trabalhos4 que mostram


transformações significativas para além dos limites das cidades, enfatizando
novas formas de produção e de sobrevivência, que não se inserem no contexto
das atividades agropecuárias. Segundo Matos et al. (2004, p. 2), “a crescente
urbanização das áreas rurais do País, fato que é observado há tempos nos
países desenvolvidos, imprime um novo significado ao campo”.

As mudanças que vêm ocorrendo nas áreas antes tomadas por características
quase que exclusivamente rurais no Brasil chegam a impressionar, sobretudo
ao se recordar que, há não muito tempo atrás, vários estudiosos temiam o
esvaziamento destes espaços, alardeando-o como tendência inexorável. O fato
é que, mesmo que ainda exista algum êxodo “rural”, este já não consegue
evitar a tendência de recuperação de algumas áreas que, no passado, se
destacavam pelas altas perdas migratórias, com destaque para um conjunto de
pequenos municípios antes marcados por características essencialmente
rurais, sobretudo do estado de São Paulo5, que passaram a atrair população
nas duas ultimas décadas com o aumento das manifestações urbanas nessas
localidades, denominadas de “pequenos notáveis” (Matos et al., 2004).

A diversificação econômica, com dinâmicas bem diferenciadas regionalmente,


ganha maior visibilidade nas áreas que antes eram essencialmente rurais, que
estão mais integradas ao núcleo dinâmico da economia brasileira, o que faz
das regiões Sul, Sudeste, e, em menor proporção, o Centro Oeste, os palcos
principais destas mudanças que surgiram a partir da década de 1980 no País.
Diante disso, a cidade deixa de ser o lócus praticamente exclusivo da indústria,
do comércio e dos serviços.

4
Ver Grossi & Silva (2002) e Matos et al. (2004).
5
Sathler & Miranda (2006) concluem que os conjuntos de municípios com menos de 30.000
(população total) habitantes pertencentes as micro-regiões dos pólos paulistas apresentaram,
entre 1995-2000, o dobro de capacidade de atração populacional, calculada com base no saldo
migratório data-fixa e ponderada pela população, do que os municípios pólos (todos dotados de
cidades médias) sedes das micro-regiões analisadas.
14

No Brasil, as populações das pequenas cidades ou das áreas que extrapolam


os limites das cidades vêm se ocupando menos com as atividades de natureza
agrícola. Crescem as ocupações associadas a uma nova dinâmica no meio
rural, derivada da presença crescente dos setores secundário e terciário, em
atividades do tipo urbano, mas localizadas dentro de áreas rurais, a exemplo
das ligadas ao lazer, ao turismo e mesmo à terceirização de parte das
atividades do processo produtivo da agropecuária (Silva, 1996, 1997,1998).

Pode-se observar este fenômeno nos países em desenvolvimento, embora


sem a mesma magnitude que assume nos países de economia mais dinâmica.
O fato é que a pluriatividade no Brasil aparece como importante alternativa de
emprego e renda no Novo Rural, uma vez que o desemprego e o subemprego
nas atividades agrícolas consistiam, há algumas décadas, em um fator decisivo
na manutenção das altas taxas de êxodo rural. É importante destacar que as
mudanças verificadas nas últimas décadas conferiram às áreas antes
essencialmente rurais e que, recentemente, incorporaram em boa medida a
lógica irradiada das cidades, a capacidade de reter e atrair trabalhadores, a
exemplo dos pequenos municípios com população inferior a 30.000 habitantes
das microrregiões dos pólos paulistas (Ver Matos et al.; 2004, Sather &
Miranda, 2006). Isto é, de uma forma geral, já não se sobressaem os fatores de
repulsão populacional nas áreas do chamado Novo Rural, que contam com
maior diversificação econômica.

Diante de uma série de problemas encontrados nos grandes núcleos de


aglomeração populacional, o Novo Rural se apresenta como uma alternativa de
ocupação e renda para um grande número de pessoas que sofrem com o
desemprego urbano, e mesmo para aqueles trabalhadores inseridos no
mercado formal urbano que se encontram pouco dispostos a arcarem com os
elevados custos de moradia e transporte presentes nas metrópoles. Além
disso, o encurtamento das distâncias pelo desenvolvimento dos meios de
transporte e comunicação em massa garante maior fluidez e cria novas
alternativas locacionais para a instalação de residências, indústrias e
empreendimentos envolvidos na prestação de serviços.
15

Por outro lado, diante dessa interpenetração rural e urbana, sobretudo pelo
avanço de aspectos exclusivamente urbanos para as áreas até então
exclusivamente rurais, cabe um questionamento: poderia existir ruralização em
áreas tipicamente urbanas, ou seja, nas cidades? Talvez sim, se levarmos em
consideração a presença de uma população de origem rural que, em décadas
anteriores, se deslocou para a formação de pequenas cidades e, também,
provocando o aumento populacional expressivo dos médios e grandes centros
urbanos. Mesmo nas grandes aglomerações populacionais, em que as
características rurais parecem mais distantes, pode-se encontrar alguns “traços
rurais” no modo de vida das pessoas, muitas vezes presentes em alguns
bairros com forte senso de comunidade6.

Considerando todas estas transformações, observadas nas últimas décadas


com maior intensidade nas áreas mais desenvolvidas do Brasil e do mundo,
percebe-se que, cada vez mais, o conceito de rede urbana tem se aproximado
e, ao mesmo tempo, se distanciado do conceito de rede de cidades. Por um
lado, a centralidade das cidades tem sido reforçada em resposta à
possibilidade de aprofundamento do relacionamento não apenas entre os
centros urbanos, mas também, destes com espaços que, há algum tempo
atrás, eram marcados pela presença incipiente, e até mesmo pela ausência da
lógica urbana. Por outro lado, as áreas que fogem dos limites das cidades
passam a se destacar e se tornar ativas nas redes de fluxos, que já não são
mais quase que exclusivas das cidades, nódulos das redes urbanas.

No Brasil, no que tange à importância das relações econômicas e sociais no


interior das manchas urbanas, de acordo com o estudo da Embrapa em 20067,

6
No caso de Belo Horizonte, o adjetivo “roça grande” pode ser justificado pela alta
concentração de migrantes diretos e indiretos provenientes de pequenas cidades ou de áreas
exclusivamente rurais. Também, pela presença de uma classe média relativamente reduzida,
em comparação com países desenvolvidos, que freqüenta e faz uso constante dos espaços
“nobres” da cidade (shoppings, cinemas, teatros, festas, entre outros), motivo de constantes
encontros entre pessoas que se conhecem.
7
O estudo feito pela Embrapa para o ano de 2006 buscou responder a uma pergunta não
muito simples: qual seria a área urbanizada do Brasil? Esta estimativa foi obtida com o auxilio
de imagens LANDSAT ETM de todo o país, das bases municipais do IBGE, das sedes
municipais georeferenciadas e das informações disponíveis no Censo Demográfico 2000.
16

a área urbanizada do País seria cerca de 21.285 Km2, preenchendo 0,25% do


território. Para as aglomerações com população urbana superior a 400.000
habitantes, as áreas somavam 6.887 Km2. Já as aglomerações com população
urbana entre 100.000 e 400.000, 5.000 e 100.000 e inferior a 5.000 somam,
respectivamente, 4.560, 8.810 e 1.029 Km2. Cerca de 4.971 Km2 das áreas
efetivamente urbanizadas se encontravam no estado de São Paulo, pouco
mais de 23% do total nacional. Na Amazônia Legal, território maior do que a
metade de todo o País, as manchas urbanas somavam 2.545 Km2, o que
representava 11,96% do total nacional e 0,051% de toda a área da Amazônia
Legal (Miranda et al., 2005).

Mesmo que os valores relativos indiquem que as áreas urbanizadas


representam uma pequena percentagem do território do País, deve ficar claro
que isso não desmerece a importância do urbano no Brasil, nem da elaboração
de recortes espaciais mais condizentes. Em um País de proporção continental,
os valores surpreendem quando pensados em termos absolutos. A título de
comparação, a área urbana total estimada para o País corresponde a cerca de
48,5% da área total do estado do Rio de Janeiro. Além disso, deve-se pensar
no tamanho da representatividade econômica e demográfica situada no interior
dessas manchas urbanas que ocupam uma percentagem relativamente
pequena do extenso território nacional.

Além disso, existem diversas áreas subordinadas à lógica urbana que escapam
da classificação feita pela Embrapa em 2006. Nas últimas décadas, a
urbanização das áreas naturais8 e rurais imprimiu um novo significado onde
sua atuação foi mais significativa. Estes espaços se tornam, portanto,
diferenciados, de acordo com o grau de intensidade da atuação deste
processo. Este fenômeno torna-se mais perceptível nas “áreas rurais” e

8
As definições clássicas do início do século XX, que buscavam representar uma realidade
menos complexa, também não introduzem, de forma adequada, uma formulação teórica que
represente a realidade por não enfatizar a singularidade dos espaços naturais. A dicotomia dos
espaços rural e urbano se configura como insuficiente na representação sócio-espacial, em um
momento da história em que eram expressivas as áreas de natureza intocada. Mesmo na
atualidade, apesar de se configurarem como relativamente escassas em algumas regiões,
essas áreas não perderam a importância, dado que, cada vez mais, se torna mais necessária a
formulação de políticas de desenvolvimento específicas para a proteção do meio natural.
17

naturais que possuem um contato mais íntimo com as grandes cidades que
compõem o núcleo dinâmico da economia brasileira. Assim, ocorreu um
distanciamento maior das adequações das visões clássicas e dicotômicas para
o meio rural brasileiro, diante do aumento da complexidade das formas sócio-
espaciais.

Neste novo cenário, deve-se ressaltar que, não obstante as dificuldades


impostas pelos recortes espaciais adotados pelo IBGE, os maiores desafios
trazidos pelo aumento da complexidade das formas e dos processos
econômicos e sócio-espaciais não estão diretamente relacionados ao conceito
de município ou de urbano e rural, mas, sim, das leituras que vêm sendo feitas
do espaço com o uso das categorias vigentes pelos estudiosos e formuladores
de políticas públicas. O fato de agricultores e pecuaristas, por exemplo,
estarem perdendo direito a certos tipos de benefícios, ofertados para
residentes das áreas rurais, indicadas pela legislação, não pode ser
interpretado como sendo resultado direto das falhas na delineação do
perímetro urbano e das insuficiências do que seja rural e urbano no Brasil,
sendo, em grande medida, responsabilidade das políticas públicas que são
desenhadas de forma a não cobrir esta parcela da população.

Assim, mesmo se fosse possível realizar uma delimitação eficiente, não seria
correto aderir à idéia de que o perímetro urbano é a linha que separa com
clareza o urbano do rural. Isso poderia ser aceito para representar o Brasil de
um outro tempo. Nesse sentido, a linha de perímetro urbano poderia separar as
diversas manifestações do urbano de uma realidade muito mais complexa,
composta por áreas antes tidas como essencialmente rurais e que atualmente
passaram a incorporar efetivamente a lógica urbano-industrial. O espraiamento
do fenômeno urbano faz surgir novos limites entre a cidade e o campo, difíceis
de serem percebidos e cada vez mais indefinidos. Sendo assim, a linha que
define o perímetro urbano dos municípios torna-se um mecanismo de
separação cada vez mais grosseiro e distante da realidade sócio-espacial.

No que diz respeito à tentativa de criar recortes espaciais mais condizentes


com a realidade, um erro recorrente é a criação de modelos não estabelecidos
18

com base em profundas reflexões teóricas. Muito se perde quando o ponto de


partida para o entendimento do fenômeno é o dado, e não as reflexões sobre o
tema. Nesse sentido, é evidente a necessidade de investimentos teóricos que,
mais adiante, poderão fornecer maior consistência, inclusive, às pesquisas que
assumem uma dimensão fundamentalmente empírica.

Nesta perspectiva, a separação entre o que é rural e urbano em todo o Brasil, a


exemplo do que já aconteceu com os países desenvolvidos, também passa a
se tornar cada vez mais desnecessária, diante de uma realidade mais
complexa, que demonstra que estes conceitos se interpenetram mais a cada
dia. De fato, é impossível realizar um recorte espacial perfeito diante de toda a
complexidade composta por diferentes níveis de integração e distanciamento
entre as realidades rurais e urbanas. Mas, para fins de planejamento e
formulação de políticas de desenvolvimento rural e urbano, torna-se coerente a
realização de algumas subdivisões que não buscarão, necessariamente, a total
superação entre as insuficiências teóricas e empíricas do que seja rural e
urbano no Brasil, constituindo-se em uma alternativa que possui sua viabilidade
justificada por razões de ordem prática. O que parece claro é que, nesse
sentido, um recorte espacial em apenas duas categorias não responde de
forma adequada os objetivos propostos, sendo necessária a criação de mais
categorias para a realização de uma melhor captação das singularidades sócio-
espaciais.

O rural e urbano sempre irão existir como uma idéia, uma abstração, que se
demonstram poderosas no que tange ao entendimento das formas e dos
processos sociais, mas sempre, em alguma medida, insuficiente no que diz
respeito à separação de áreas para servirem de suporte para a realização de
questionários e pesquisas com objetivos diversos.

2.2 O Novo Urbano9 e as cidades da floresta: um estudo a partir das


tipologias

9
O termo Novo Urbano foi sugerido pelo Prof. Cássio E. V. Hissa em exposição oral no ano de
2005.
19

Na Amazônia, as diversas formas de ocupação induzidas e financiadas pelo


Estado, ou mesmo promovidas pela iniciativa privada, estimularam, em vários
momentos, o nascimento do urbano desvinculado da criação de um excedente
agrícola local, além da incorporação de áreas tipicamente não urbanas por
atividades distantes da lógica do campo. Esta peculiaridade no
desenvolvimento do processo de urbanização na Amazônia brasileira estimulou
a criação do termo urbanização extensiva (Monte-Mór, 1994), de inspiração
Lefebvriana, importante para o entendimento dos novos padrões de
urbanização na Região e que ocorre, com maior ou menor intensidade no
restante do País e do mundo.

Tendo o urbano como foco privilegiado nas análises das transformações que
extrapolam os limites da cidade, o que muitas vezes foi interpretado como
sendo o Novo Rural brasileiro, na verdade, parece estar mais próximo do que
pode ser chamado de Novo Urbano, cada vez mais presente em áreas que
eram caracterizadas pela existência marcante de atividades e costumes de
natureza essencialmente rural ou em áreas antes não-ocupadas. Em boa parte
da Amazônia, a idéia de Novo Urbano parece fazer mais sentido do que o Novo
Rural, uma vez que a ocupação de extensas áreas na Região, muitas vezes,
ocorreu desvinculada de fortes laços rurais. Nesse sentido, não se trata de
aumento de atividades não-agrícolas em relação às atividades agrícolas, mas,
sim, de incorporação territorial a partir de uma lógica urbana em áreas que, até
então, possuíam densidade demográfica e ocupacional baixa ou nula, a
exemplo dos projetos de mineração.

Mesmo que o transbordamento do urbano e o aparecimento de um Novo Rural,


ou de um Novo Urbano, tenham atingido maior expressividade nas porções
mais desenvolvidas do País, percebe-se que estes processos, discutidos no
tópico anterior, também fazem bastante sentido quando pensados para a
realidade amazônica.

Nas últimas décadas, a explosão do urbano na Amazônia aconteceu em duas


frentes: uma mais definida, que obedece às intermediações do “arco rodoviário”
formado pelas principais vias de integração regional; a outra, atravessa os
20

limites rodoviários e ocorre de maneira mais difusa no território, estimulada


pela descoberta e exploração dos recursos naturais amazônicos, a exemplo
das cidades que nasceram a partir da exploração da borracha, das atividades
mineradoras e do garimpo. Além disso, o crescimento das capitais estaduais,
estimulado pela concentração de serviços públicos, também garantiu um maior
nível de interiorização do urbano na Amazônia.

Várias cidades de porte grande e intermediário do interior da Amazônia


surgiram em resposta aos diversos incentivos econômicos públicos e privados
que, de uma forma geral, estiveram voltados para a exploração de recursos
naturais e para a prática da agropecuária. Dessa forma, o surto de crescimento
demográfico e econômico nessas cidades amazônicas esteve profundamente
relacionado a essas atividades, assim como os costumes e os modos de vida
das pessoas. A partir disso, faz sentido estudar estas centralidades com base
nos seguintes rótulos: cidades da borracha, cidades mineradoras, cidades do
agronegócio e cidades dos projetos de colonização.

Nesse sentido, no que se refere ao processo de formação e de


desenvolvimento da urbanização na Amazônia Legal, pode-se traçar algumas
tipologias bastante úteis. Na maior parte dos casos, estas tipologias
apresentam um ponto em comum: as atividades econômicas que promoveram
o surgimento das cidades amazônicas estiveram direcionadas para o mercado
externo10. Nesse contexto, as cidades da borracha, a cidade industrial
(Manaus), as cidades da grande empresa mineradora, as cidades do garimpo
(des)organizado e as cidades de apoio a projetos agroindustriais aparecem
como importantes do ponto de vista do crescimento do urbano na Amazônia
Legal. De maneira diferenciada, todavia, aparecem os diversos centros locais,
que eventualmente se transformaram em centros de porte intermediário, mas
que foram gerados a partir das necessidades e demandas colocadas por uma
economia agropecuária de pequeno porte ligada aos vários projetos de
colonização, oficiais e privados, que foram implantados por toda a Fronteira

10
De acordo com Becker (2001, p.1), “no caso da Amazônia, sua ocupação se fez em surtos
devassadores ligados à valorização momentânea de produtos no mercado internacional,
seguidos de longos períodos de estagnação”.
21

Amazônica a partir dos anos 1970. Ainda, em todos os níveis hierárquicos


urbanos, as tipologias devem ser contextualizadas no tempo e no espaço,
importantes definidores dos processos e das formas urbanas.

Mesmo antes da proliferação de todas essas formas de exploração econômica


na Amazônia Legal, percebe-se a existência esparsa e incipiente de atividades
de natureza agrícola. Segundo Geiger (1963),

“antes da grande fase do extrativismo já havia atividades agrícolas na


Amazônia. A ocupação dispersa pelo litoral brasileiro, com engenhos
de açúcar, atingiu também o trecho paraense. A agricultura, porém,
não apresentou maior desenvolvimento, tendo-se a Amazônia
prestado mais à caça de indígenas e à exploração das chamadas
drogas do sertão” (Geiger, 1963, p. 408).

Geiger (1963) ainda destaca que,

“alguns produtos agrícolas de significação na economia nacional


aparecem inicialmente na Amazônia, como o café ou o cacau. As
condições amazônicas impedem maior progresso dessa ou daquela
cultura agrária e outras áreas geográficas brasileiras tornam-se os
principais focos da produção. A Amazônia teve relativa importância
como produtora de cacau, mas não pôde competir com a Região que
se desenvolveu na Bahia” (Geiger, 1963, p. 408).

O “ciclo da borracha” foi o primeiro a ter grandes implicações para a economia


amazônica e para o desenvolvimento das cidades na Região. Se a ordem
cronológica é importante, inclusive para a definição conceitual de cidade
grande ou de cidade média, as antigas cidades da borracha que, atualmente,
apresentam porte demográfico expressivo, devem ter prioridade em termos de
ordem de investigação.

Após meados do século XIX, a Amazônia passa a ter um papel central dentro
da economia nacional, diante das transformações industriais observadas na
Europa e, posteriormente, nos Estados Unidos. Com o desenvolvimento
industrial desse período, a borracha extraída na Amazônia era tida como
matéria prima essencial para o impulso das indústrias européias e americanas.
22

A atividade de extração da borracha11, com auge entre 1879 e 1912, foi


responsável pelo primeiro surto de ocupação no interior da Amazônia, não se
restringindo apenas às proximidades de Manaus, maior pólo de
desenvolvimento regional da porção ocidental da Amazônia, e de Belém, a
grande cidade portuária.

Não obstante a atuação desses dois maiores pólos regionais, o


desenvolvimento desta atividade econômica na região amazônica estimulou o
nascimento de uma série de cidades ribeirinhas que, mesmo com populações
nitidamente inferiores às de Belém e de Manaus, eram importantes entrepostos
para o escoamento da borracha, com destaque para Santarém e Parintins, no
rio Amazonas, além de Rio Branco e Porto Velho, na porção Sudoeste, e
Marabá, na parte oriental da Região.

Nesse contexto, Geiger (1963, p. 409) declara que a

“incapacidade da Amazônia de dar maior impulso à economia


agrícola é também causa do menor desenvolvimento de cidades de
nível imediatamente abaixo de Manaus e de Belém”.

De acordo com Geiger (1963, p. 409),

“o maior interesse pelos produtos da floresta, na segunda metade do


século passado, coincidiu com o desenvolvimento da navegação a
vapor e a penetração de linhas regulares pelo rio Amazonas”.

Estima-se que aproximadamente 500.000 nordestinos migraram para a


Amazônia durante o Ciclo da Borracha, sobretudo diante da grande seca de
1877 (Nunes, 2007). Segundo Nunes (2007),

“a seca que assolou as províncias do Ceará, Piauí, Pernambuco,


Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Maranhão, e que nos
dizeres de José Joaquim do Carmo ‘esterilizou a terra, empobreceu e
lançou na miséria o homem’, motivou o deslocamento de uma grande
quantidade de retirantes para a Amazônia” (Nunes, 2007, p. 4).

11
O ciclo da borracha conferiu dinamismo à Amazônia da década de 1870 até 1920, quando
praticamente foi extinto pela concorrência com a produção organizada pelos ingleses na
Malásia. Durante a II Guerra Mundial, face ao bloqueio da região asiática, a borracha
experimentou rápida sobrevida na Amazônia.
23

Apesar de o ciclo econômico da borracha não ter sido capaz de criar cidades
de porte médio, da forma como conhecemos hoje, na Amazônia, deve-se
ressaltar que o nascimento destas cidades no interior da Região foi
extremamente importante no que tange à criação de pontos estratégicos que,
mais adiante, serviram de apoio à implantação de outras atividades que
promoveram o crescimento explosivo destas centralidades.

Nas cidades de Manaus e Belém, as transformações advindas do Ciclo da


Borracha se fizeram mais presentes. O processo de urbanização destas
cidades se enquadrava dentro de uma política que ensejava à população novos
valores culturais, com forte influência européia. Assim, a população precisava
se adequar às transformações oriundas do crescimento econômico, com
destaque para Belém que, na época, se tornou a terceira cidade mais
importante do Brasil, já que concentrava a maior parte dos fluxos de capitais
gerados durante o Ciclo da Borracha (Couto, 2008).

De acordo com Couto, (2008), na cidade de Belém,

“a urbanização e os projetos que embelezaram a cidade de infra-


estrutura durante o auge da economia gomífera, também impuseram
regras e novos modos de vida para a população de Belém, pois
nesse momento a cidade também passa por um processo de
higienização e modernização dos espaços públicos, que mostrassem
uma certa elegância e estética” (Couto, 2008, p. 4).

Daou (2000) complementa, dizendo que

“o embelezamento da cidade resultava de alterações urbanísticas e


arquitetônicas estimuladas por uma legislação que procurava
modernizar os espaços públicos e dotar de certas características as
construções, imprimindo, nas fachadas dos prédios, elegância
estética, graciosidade e uma racionalidade condizente com as
necessidades de ventilação e higiene exigidas pelo clima” (Daou,
2000, p. 31)

Dessa forma, como assinala Sarges (2002),

“parte do excedente que se originou da economia gomífera foi


investido no setor público na área do urbano, com o calçamento das
ruas da cidade com paralelepípedos de granito importados de
Portugal, com a construção de prédios como a do Arquivo e
Biblioteca Pública, Teatro da Paz, além de outros, e a própria
expansão da urbe com a ocupação das terras altas pelas famílias
ricas, favorecendo a criação de novos bairros como Batista Campos,
24

Marco, Nazaré, Umarizal, onde a elite pode construir suas


confortáveis casas, bem distantes do abafado bairro comercial”
(Sarges, 2002, p. 52).

Em Manaus, pode-se destacar a construção do porto e do grande Teatro


Amazonas, entre outras obras como o Palácio da Justiça, o Reservatório de
Mocó, a implantação de energia elétrica e de redes de esgotos, o transporte
coletivo através de bondes, o surgimento de hotéis, casas de espetáculo,
escolas e praças.

Nesse contexto, Daou (2000) ressalta que

“não é inusitado o fato de que, mais do que Belém, Manaus seja


considerada a ‘capital’ da borracha, pois foi na ocasião do boom
desse produto que a cidade ganhou visibilidade, projetando-se
internacionalmente como uma cidade moderna, dotada de
sofisticados meios de transporte e comunicação” (Daou, 2000, p. 33).

Entretanto, Couto (2008) destaca que

“Manaus não teve maior influência que Belém durante o ciclo da


borracha, pois a localização geográfica de Belém na embocadura do
rio amazonas deu o papel a esta cidade de se encarregar de exportar
a borracha para os mercados internacionais. Além desse fato, Belém
concentrava maior fluxo de capital, devido à forte presença da
atividade bancária, de casas aviadoras e o grande crescimento de
seu comércio” (Couto, 2008, p. 5).

No início do século XX, a produção desenvolvida nas colônias inglesas na


Malásia estabeleceu uma forte concorrência que desestruturou as bases
arcaicas enraizadas na Amazônia brasileira, condenando ao fracasso toda uma
estrutura que garantia a riqueza e a prosperidade da região. As vantagens
comparativas da produção na Malásia eram múltiplas: as seringueiras eram
próximas uma das outras; o terreno era limpo e plano; havia proximidade com
os principais postos de venda e produção em larga escala. Ao contrário, as
culturas amazônicas se caracterizavam pelo grande espaçamento entre as
seringueiras, pelas dificuldades de se mover na mata, pelos atrasos em função
do distanciamento dos mercados consumidores e pela exploração
desacompanhada do replantio das mudas (Couto, 2008).

Com isso, as cidades que surgiram e se desenvolveram durante o ciclo da


borracha, responsável pelo grande impulso dado a Manaus e Belém, tiveram
25

que encontrar um modo alternativo de sobrevivência com a decadência dessa


atividade econômica. No caso de Manaus, a criação da Zona Franca atraiu
enormes investimentos que construíram o que hoje é o maior PIB municipal da
Amazônia brasileira (cerca de 20% do PIB de toda a Amazônia Legal, em
2005). Já em Belém, a indústria tradicional, o extrativismo, o turismo, o
comércio e serviços são atualmente responsáveis pela sustentação econômica
desta grande cidade e dos demais municípios que formam seu core
metropolitano.

Como dito anteriormente, outras cidades de hierarquia inferior, posicionadas no


eixo do rio Amazonas, também se beneficiaram com o ciclo da borracha, a
exemplo de Santarém, hoje considerada um importante entreposto comercial
diante de sua posição estratégica, situação que pode se tornar muito mais
favorável se o asfaltamento da rodovia federal BR-163 se concretizar12. Já
Porto Velho, cujo nascimento se deve à construção da ferrovia Madeira-
Mamoré no início do século XX, teve sua sobrevivência e prosperidade ligadas
ao nascimento de novos ciclos econômicos, como o da cassiterita e o do ouro.
Marabá se tornou o maior produtor de castanhas do mundo, atividade que,
posteriormente, decaiu na Região, que vivenciou, após isso, o boom da
produção mineral e experimenta atualmente um crescimento das atividades do
setor da siderurgia.

Com o declínio da produção da borracha, a atividade mineradora garantiu,


após algumas décadas e, com maior intensidade, a continuidade do processo
de interiorização do crescimento econômico e demográfico na Amazônia Legal.

Nas cidades mineradoras, após o início da exploração das jazidas, o


vertiginoso crescimento populacional, com o surgimento de uma série de
incentivos econômicos, desafia os formuladores e gestores de políticas
públicas, que nem sempre conseguem se organizar em prol do atendimento
12
A rodovia BR-163, ligando Cuiabá a Santarém, poderá se tornar importante porta de saída
para a exportação da soja brasileira. Em acordo com o que foi discutido na III Conferência
Nacional do Meio Ambiente – Mudanças Climáticas, as vantagens comparativas da construção
de uma ferrovia face à rodovia são múltiplas, e não exclusivamente de ordem econômica, mas
também ambiental, uma vez que as rodovias causam um impacto muito maior sobre a floresta,
a exemplo do já ocorrido no grande “arco rodoviário” que conformou a fronteira amazônica.
26

satisfatório das novas demandas sociais e econômicas. Nesse sentido, em


vários momentos a insuficiência, ou mesmo a ausência, de planejamento
urbano favoreceu o surgimento de problemas crônicos em várias cidades
amazônicas, sobretudo nos campos de infra-estrutura e serviços.

A atividade mineradora no Brasil tem se destacado com o aumento do volume


de capitais envolvidos e a implantação de novos projetos, em resposta, em
grande parte, aos estímulos internacionais. Seguindo o exemplo do que
aconteceu, no séc. XVIII, no desenvolvimento de vários núcleos urbanos no
estado de Minas Gerais, percebe-se que, nas últimas décadas, a atividade
mineradora contribuiu de maneira expressiva para o crescimento das cidades
em outras regiões do País, com destaque para aquelas aglomerações de porte
médio. Na Amazônia, Monte-Mór (1998, p. 8) destaca que “a produção de um
espaço regional derivado de atividades mineradoras dinâmicas tem paralelos
em vários exemplos em Minas Gerais (...)”. Nesse contexto, a Região passa a
ser um dos palcos privilegiados e aparece como um importante vetor de
crescimento econômico mineral.

Assim como ocorreu na conformação das primeiras “grandes” cidades em


Minas Gerais13 no séc. XVIII, as cidades da floresta ligadas às atividades
mineradoras geralmente nascem desvinculadas de um processo de geração de
excedente originado no campo. Assim, de acordo com Monte-Mór (2006),

“a idéia de que a cidade é na essência a resultante de um excedente


agrícola regular gerador de uma divisão do trabalho interna a dada
comunidade rural dominou tão completamente o pensamento
histórico urbano que poucos são os relatos centrados na cidade da
mineração. A cidade é assim vista como uma decorrência da
evolução no campo e, como tal, um segundo estágio da organização
sócio-espacial” (Monte-Mór, 2006, p.7).

A ocupação de áreas distantes das intermediações de Belém e Manaus no


interior da Amazônia que se iniciou com o ciclo da borracha, deu-se de maneira
mais abrangente diante da influência das atividades mineradoras na Região.

13
Este tipo de exploração, usualmente, atrai grandes volumes migratórios para estas regiões.
No caso de Minas Gerais, Furtado (1971) estima um deslocamento de 300 mil a 500 mil
pessoas para as áreas mineradoras, além de um crescimento demográfico de 300.000 para
3.250.000 no Brasil durante o século XVIII.
27

Estas atividades criam uma série de especificidades no desenvolvimento das


cidades, que variam de acordo com as características da mina e do modo de
implantação do projeto minerador.

De acordo com Monte-Mór (1994),

“the search for mineral riches in Amazonia dates from the early
colonial days when Explorers delved into the jungle through the
Amazon River´s main route of followed the paths along its tributaries
from the Brazilian Central Plateau. By 1720, when a gold province
was established in Mato Grosso, many Paulistas who had left Minas
Gerais´s towns after the Emboabas War moved onto the backlands in
search of new mining areas, following rumors about rich gold
findings”(Monte-Mór, 1994, p. 207).

O autor (1994) ainda revela que,

“Centuries later, tap- mining also became an alternative for decadent


rubber-tapping in Amazonian areas, particularly after the 1920s when
the regional rubber economy went bankrupt from competition with
British controlled Malaysian rubber plantations. Only after World War II
did mining become strong enough to organize micro-regional
economies in Amazonia, eventually producing a new gold rush in
Brazil” (Monte-Mór, 1994, p. 208).

Dessa forma, após a década de 1950, as atividades mineradoras passaram a


sustentar a economia de várias micro-regiões amazônicas. Diante disso, Ji-
Paraná experimentou um boom na produção local e micro-regional de ouro,
diamantes e de cassiterita. No Amapá, o maior depósito de manganês do
mundo, localizado na Serra do Navio, despertou a atenção para grandes
investimentos e reorganizou a economia regional, com destaque para as
transformações sentidas na capital do estado (Macapá), que experimentou
altos níveis de urbanização e aumento na infraestrutura voltada para a
produção. Na década de 1960, a micro-região de Ariquemes se destacou pela
produção de cassiterita, com a presença de cerca de 50.000 garimpeiros que
transportavam a produção através de aviões, que se tornaram relativamente
baratos no mundo pós-guerra. Em 1969, um decreto federal proibiu a atuação
dos garimpeiros em Ariquemes, com a instalação de companhias mineradoras
nacionais e estrangeiras na Região (Monte-Mór, 1994).
28

A partir de 1960, a cidade de Itaituba, na região do Tapajós, tornou-se um


importante distribuidor de bens e serviços para as atividades mineradoras na
Região. Diante das dificuldades de acesso e da situação de isolamento em que
a cidade se encontrava em relação à Região e ao restante do País, Monte-Mór
(1994, p. 220) destaca o surgimento de novos atores a exemplo dos “airplane
pilots, buyers and suppliers, and mining counselors”, que segundo o autor,
“played an important role in that rather strong micro-regional economy”.

De acordo com Monte-Mór (1994),

“until the early 1970s, the international price of gold had been
maintained below historical levels following post-war agreements at
Bretton Woods. In the early years of that decade gold prices began to
rise slowly reflecting the world economic crisis and in 1979 it reached
unexpected and unprecedented high levels reaching its peak in the
1980s at an average price of 850 dollars per troy ounce” (Monte-Mór,
1994, p. 221).

Diante disso, Monte-Mór (1994) esclarece que,

“the impact of high gold prices upon Frontier Amazonia surprised the
country and changed and diversified the forms of frontier occupation
both by strengthening some areas and/or micro-regions and
influencing State policies and plans for the region. Rather
unexpectedly, despite the long historical background and continuous
hopes, reports and traces about the richness of Amazonia´s subsoil,
an extremely high valued product came up that attracted all kinds of
people and interests to the frontier areas” (Monte-Mór, 1994, p. 221).

Nesse contexto, o ouro da Serra Pelada, na porção oriental amazônica,


motivou um verdadeiro surto migratório para a Região, com a presença de mais
de 80.000 garimpeiros no início da década de 1980. Algumas cidades, como
Marabá e Imperatriz, serviram de suporte para as atividades de exploração do
ouro superficial pelos garimpeiros. O dinamismo proveniente das atividades
nas minas de ouro da Serra Pelada teve seu auge na primeira metade da
década de 1980, com sobrevida até o ano de 1992.

Entretanto, foi a grande descoberta mineral em Carajás, em 1967, que, a partir


da década de 1980, provocou as maiores transformações urbanas e em infra
estrutura no leste amazônico. A província de Carajás possui uma alta
29

concentração de vários tipos de mineral, como o ouro, ferro, manganês,


bauxita, níquel, estanho, entre outros. O Projeto Grande Carajás foi
institucionalizado em 1980, compreendendo 280 municípios (900.000 Km2),
uma ferrovia, dois portos marítimos (Maranhão), um porto fluvial (Pará) e a
usina hidroelétrica de Tucuruí. Atualmente, a extração mineral em Carajás pela
Vale engloba uma das maiores áreas de exploração do mundo. (Monte-Mór,
1994).

Nesse contexto, Monte-Mór (1994, p. 241) declara que “the mining economy
(when not an enclave) impacts both urban and regional spaces deepening both
local and distant socio-spatial integration and complementarities”.

No que diz respeito ao avanço da urbanização e às altas taxas de crescimento


populacional na Amazônia Legal, existem algumas características
interessantes que devem ser estudadas: a) a aleatoriedade locacional das
jazidas minerais, com o nascimento de núcleos urbanos não necessariamente
vinculados a uma expansão da fronteira; b) a relação existente entre as formas
de exploração e os padrões demográficos e urbanos exibidos nas grandes
minas; c) o papel exercido pelas centralidades que servem de suporte as
atividades mineradoras; d) a carência de políticas urbanas e econômicas
sustentáveis.

A ocorrência aleatória das minas, que extrapola as áreas de fronteira na


Amazônia, ajuda a explicar boa parte da ocupação no interior da Região com a
conformação de centros de médio porte14. Na Amazônia, a ocupação de áreas
desprovidas de equipamentos urbanos e serviços, a exemplo do que aconteceu
no estado de Minas Gerais no século XVIII, constituiu um grande desafio não
apenas para os agentes econômicos envolvidos, mas, também, para o poder
público (des)organizado que nasce juntamente com as cidades.

14
A expressão “médio porte” está relacionada apenas ao limiar demográfico, ao passo que a
“cidade média” incorpora uma série de outros elementos. Nesse sentido, um município de
médio porte pode ou não ser considerado uma cidade média.
30

O crescimento das cidades de porte médio no interior da Amazônia foi


beneficiado por iniciar-se paralelamente ao boom econômico de Manaus com a
criação da Zona Franca, e com o crescimento demográfico e econômico de
Belém, após a década de 1960. Além disso, deve-se destacar o surgimento de
Brasília e o crescimento de Goiânia e das cidades de Porto Velho e Cuiabá. De
alguma forma, as cidades mineradoras no interior da Amazônia ganharam
algumas vantagens logísticas com a “proximidade” de recursos antes apenas
disponíveis nas capitais mais distantes do Centro-Sul do País.

Nesse contexto, deve-se fazer uma distinção entre os dois tipos de cidades
mineradoras que surgiram na Amazônia nas últimas décadas: a cidade da
grande empresa mineradora e a cidade do grande garimpo (des)organizado.
Em ambos os casos, a ocorrência mineral, distante de aglomerações humanas
de destaque, acaba por estimular uma concentração populacional de porte
intermediário, ou seja, a cidade da grande mineradora e a cidade do grande
garimpo (des)organizado são, por necessidade logística, cidades de porte
médio.

São muitos os estímulos para que o resultado final da proliferação dessas


atividades econômicas na Amazônia sejam as cidades de porte médio. Além de
servir como base residencial para os trabalhadores do setor de mineração, toda
logística voltada para os empreendimentos mineradores está localizado ou
necessariamente passa pela cidade. A produção de riqueza nas minas gera
demandas por serviços básicos e, até mesmo, especializados, a exemplo de
uma variedade de bancos e concessionárias automotivas que. Também, pode-
se destacar a presença de um aeroporto de alto movimento, além da instalação
de empresas prestadoras de serviços para as atividades mineradoras.
Percebe-se um dinamismo exagerado e sem sustentabilidade nessas cidades
em comparação ao que se observa, normalmente, em cidades do mesmo porte
demográfico pertencentes a outros contextos econômicos e regionais.

Nas cidades mineradoras, sobretudo nos momentos iniciais de sua gênese e


crescimento, a necessidade de “importar” quase tudo o que ela passa a
consumir com a presença maciça de “estrangeiros”, faz que isso reforce o
31

papel intermediador de fluxos materiais e imateriais entre esta centralidade e


as outras cidades de porte maior que, indiretamente, servem de suporte às
atividades mineradoras. Ainda, o fato de as atividades econômicas principais
se concentrarem basicamente fora dos limites da cidade, reforça, também, o
papel intermediador da cidade mineradora que, notadamente, atua na
estruturação do território em seu entorno.

Sobre este aspecto na Amazônia Legal, Monte-Mór (2007) faz um paralelo com
o que ocorreu, há tempos, em Minas Gerais. Segundo o autor,

“a grande demanda por mão-de-obra nas minas e inviabilidade


econômica e cultural, dado o apelo das “febres mineradoras” de se
retirar tempo/trabalho da produção mineral para a produção alimentar
e de serviços, face à enorme rentabilidade (potencial, pelo menos) da
atividade mineradora, gerou os mercados (urbanos) até então
inexistentes nas regiões de economia de subsistência e/ou nas
fazendas e engenhos escravagistas. O resultado é o fortalecimento
sem par na colônia de uma rede urbana, tanto diretamente ligada à
produção mineral quanto indiretamente, produzindo alimentos,
serviços de transporte, etc” (Monte-Mór, 2007, p. 4).

Entretanto, tanto na cidade da grande empresa mineradora, quanto na cidade


do grande garimpo (des)organizado, o estado de isolamento em que se deu a
instalação e o crescimento destes núcleos no interior da Amazônia impôs
enormes barreiras no que tange à reprodução desse papel intermediador das
cidades de porte médio no interior da Amazônia.

Apesar de terem vários pontos em comum, sobretudo no início da exploração


das jazidas, a cidade da grande mineradora e a cidade do grande garimpo
(des)organizado apresentam algumas particularidades e diferenças marcantes.

A instalação de grandes empresas mineradoras que podem preceder, ou não,


as atividades garimpeiras, gera uma demanda enorme por trabalho
especializado e por equipamentos e serviços urbanos que, de fato, atendam as
exigências destes trabalhadores, mais elevadas do que no caso dos
32

garimpeiros15, que, em sua maioria, são pessoas com baixa ou nenhuma


qualificação formal.

Além disso, o sistema tributário foi organizado de forma que as atividades


mineradoras gerem os chamados royalties, que são repassados para os
municípios. Isso cria uma série de oportunidades de investimento e
desenvolvimento para os gestores locais, que encontram grandes desafios
diante não apenas das demandas específicas dos trabalhadores mais
especializados, mas, também, das demandas básicas geradas pela presença
de uma massa de trabalhadores de baixa qualificação técnica que chegam à
procura de oportunidades.

Nesse tipo de discussão, deve-se chamar a atenção para um aspecto central: a


natureza finita dos recursos minerais. Diante disso, o que acontece quando os
recursos se esgotam e os capitais dessas grandes empresas deixam estas
localidades? De uma forma geral, pode-se pensar em duas situações
hipotéticas. Na primeira situação, os recursos gerados para o município nos
períodos áureos da atividade mineradora são bem aproveitados e a cidade se
prepara adequadamente para o esgotamento das jazidas, com uma economia
mais diversificada e madura do que anteriormente. Já na segunda situação, a
administração pública é ineficiente na promoção de alternativas econômicas
para o período pós-mineração, o que resulta no esvaziamento demográfico da
cidade, na falência de muitos serviços e num contexto de depressão
econômica.

A cidade da grande empresa mineradora está sujeita ao risco do que foi


descrito na segunda situação, assim como, com maior gravidade, a cidade do
grande garimpo, diante da situação de fragilidade advinda do esvaecimento
dos recursos antes transferido para o município durante o auge da extração
mineral e com a falta de organização e planejamento inerente a estas

15
De acordo com Monte-Mór (1994, p. 219), “the precarious housing conditions and the tough
12-to-16-hour working days in the river beds (baixão) turned into extensive muddy mining sites
(melechete) do not seem to be a problem for those adventurous young men filled with dreams
of richness and grandeur”.
33

“corridas”, que privilegiam o “meio” de reprodução econômica e quase que


desconsideram o “ambiente” (natural e urbano).

Sendo assim, se, por um lado, a instalação de uma grande mineradora em uma
Região pode criar uma série de oportunidades econômicas, a exemplo do que
hoje acontece na cidade de Parauapebas (PA), que usufrui dos royalties da
Vale, percebe-se que o esgotamento da mina pode condenar ao fracasso toda
uma cadeia de serviços com alto nível de dependência desta atividade. Além
disso, a concentração local de capital em atividade dinâmica inserida no
mercado globalizado atrai uma enorme quantidade de população que não
consegue inclusão na economia exportadora local e encontra apenas
condições precárias para sobrevivência econômica e reprodução social.

De uma forma geral, nas cidades sob a atuação das grandes empresas do
setor, os projetos mineradores não prevêem estratégias de sustentabilidade
econômica, para os municípios que lhes dão suporte, após o processo de
desativação das minas com o esgotamento dos recursos. Nesse caso, as
administrações municipais podem não ter eficiência no aproveitamento das
vantagens econômicas diretas e indiretas, oriundas do período de dinamismo
gerado pelas atividades mineradoras. A falta de planejamento acaba por
condenar a cidade à estagnação, com o fim dos royalties e dos demais
impulsos econômicos gerados pela mineração. Assim, a formulação de
estratégias que busquem a re-configuração das bases estruturais
socioeconômicas das regiões mais impactadas, com o diagnóstico das
potencialidades e das oportunidades no processo de re-estruturação produtiva,
aparece como indispensável.

Em situação mais desfavorável, as cidades de apoio ao garimpo


(des)organizado parecem estar mais susceptíveis às forças de estagnação do
período pós-mineração, reflexo da falta de planejamento anterior às altas taxas
de crescimento demográfico que normalmente exibem nos períodos de auge
da atividade. Aqui, pode-se citar o exemplo de Marabá (PA), cidade que obteve
dinamismo com a exploração das minas da Serra Pelada, sobretudo durante a
década de 1980, e que experimentou alguns anos de depressão econômica até
34

que as atividades siderúrgicas constituíssem uma alternativa viável. Por outro


lado, Itaituba (PA), que não conta com as vantagens advindas do
posicionamento estratégico de Marabá, com a proximidade da rodovia Belém-
Brasília e das atividades mineradoras em Carajás, vivencia uma crise de
identidade econômica aguda, com o fim da atividade garimpeira.

Outro tipo de cidade que se destaca na Amazônia Legal é a cidade do


agronegócio. Assim como em todo o País, o surgimento destas cidades tem
despertado interesse por parte dos pesquisadores, não apenas pelo
aprofundamento das relações tradicionais do tipo cidade-campo, mas, também,
na linha do arcabouço teórico adotado neste trabalho, pelo surgimento de
relações da cidade com um campo que passa a abrigar atividades
agroindustriais que conferem um alto grau de envolvimento com uma série de
aspectos de natureza essencialmente urbana.

De acordo com Elias (2008),

“no Brasil, é possível identificar várias áreas nas quais a urbanização


se deve diretamente à consecução do agronegócio globalizado.
Como é notório, a modernização e a expansão dessas atividades
promovem o processo de urbanização e de crescimento das áreas
urbanas, cujos vínculos principais se devem às inter-relações cada
vez maiores entre o campo e a cidade. Estas desenvolvem-se
atreladas às atividades agrícolas e agroindustriais circundantes cuja
produção e consumo dão-se de forma globalizada. Além disso,
representam um papel fundamental para a expansão da urbanização
e para o crescimento de cidades médias e locais, fortalecendo-as,
seja em termos demográficos ou económicos” (Elias, 2008, p. 3).

A localização geográfica das atividades agroindustriais concentrou-se nas


áreas de expansão de fronteira, dependente da proximidade das principais vias
de integração regional da Amazônia, ou seja, do “arco rodoviário”. A grande
agroindústria se organiza de forma a gerar concentrações populacionais em
alguns pontos da rede, que servem de suporte a reprodução destas atividades
e, geralmente, são dotadas não apenas de mão de obra de baixa, média e alta
qualificação, mas, também, de alguns serviços especializados do setor, como o
de revenda de máquinas, de peças e de manutenção, e o de representantes
comerciais de insumos especializados, entre outros. Assim, muitas vezes,
esses pontos acabam por se tornar cidades de médio porte, em boa parte por
35

necessidade logística diante do investimento elevado de capitais nas


intermediações destas centralidades.

Mesmo que existam diversos problemas sociais relacionados à falta de


capacidade, por parte dos poderes públicos locais, em satisfazer todas as
demandas advindas da concentração populacional nas cidades brasileiras do
agronegócio, principalmente diante da escassez de transferências diretas
provenientes das atividades agroindustriais, percebe-se que o surgimento de
toda uma cadeia de serviços voltados para a reprodução dessas atividades
acaba por gerar algumas oportunidades, além de reforçar o papel
intermediador destas centralidades entre os grandes centros regionais e o
“campo urbanizado” ao seu redor. Assim, de acordo com Elias (2007, p. 118),
“isto faz crescer a urbanização, o tamanho e o número das cidades do
agronegócio”. Elias (2007) destaca algumas atividades que, geralmente, estão
presentes nessas cidades, seja através de firmas que se enraízam nas
localidades ou da capacidade intermediadora de serviços especializados com
origem em cidades maiores. Segundo a autora (2007),

“as casas de comércio de implementos agrícolas, sementes, grãos e


fertilizantes, os escritórios de marketing e de consultoria contábil, os
centros de pesquisa biotecnológica, as empresas de assistência
técnica e de transportes, os serviços de especialista em engenharia
genética, veterinária, administração, meteorologia, agronomia,
economia, administração pública, entre tantas outras coisas,
difundem-se por todas as partes do Brasil agrícola moderno”(Elias,
2007, p. 118).

Entretanto, no caso das cidades que servem de apoio aos grandes projetos
agroindustriais na Amazônia Legal, a situação parece ser mais desfavorável do
que em algumas cidades paulistas (Sertãozinho, Matão e Bebedouro) e
mineiras (Uberlândia, Patos de Minas, Janaúba, Montes Claros, entre outras)
ou até do que nas cidades do vale do São Francisco (Petrolina e Juazeiro). Na
Amazônia Legal, a alta concentração de renda e a falta de recursos municipais
são características comuns que podem se refletir na criação de ilhas de
pobreza, cercadas por um oceano que conta com o que há de mais moderno
nesse setor, a exemplo do que ocorre em Balsas (MA). Entretanto, a
diversificação funcional ligada às atividades agrícolas também pode contribuir
36

para a criação de pólos regionais com menores desequilíbrios, como em Sinop


(MT), Sorriso (MT), Primavera do Leste (MT) e Rondonópolis (MT) que, de
acordo com as informações do IBGE Cidades, contam com Intensidade de
Pobreza16 (30,39%, 27,72%, 28,59%, 35,24%, respectivamente) bem inferior
ao que foi verificado em outros municípios da região, como em Balsas
(64,08%), no ano de 2003.

Ademais, entre as cidades que surgiram como lugares centrais de apoio à


atividade agropecuária de base familiar, nos vários projetos de colonização
públicos e privados implantados, ao longo das principais rodovias federais,
algumas se desenvolveram rapidamente, transformando-se em centros
comerciais e de serviços importantes em sua área de influência, por vezes
superando a casa dos 50.000 e até mesmo 100.000 habitantes, a exemplo de
Ji-Paraná, em Rondônia, que em 1980 já contava com uma população de
121.714. A demanda por serviços urbanos e sociais na Região fez, em alguns
casos, que cidades, inicialmente destinadas a exercer funções centrais de
âmbito local, passassem a desempenhar um papel polarizador micro-regional
em suas esferas de atuação.

Os projetos de colonização financiados pelo governo, a partir do início de 1970,


faziam parte de uma tentativa de acelerar o desenvolvimento do País e de
promover a ocupação de vastas áreas no interior do País e da Amazônia.

De acordo com Rabello & Ferreira (2005),

“em termos de planejamento, as etapas e os papéis a serem


cumpridos mantinham determinações importantes: o papel do Estado,
enquanto agente financiador do desenvolvimento na Região; idéia de
vazio demográfico, implicando na impossibilidade do desenvolvimento
pretendido; no perigo político para a política de Segurança Nacional,
que poderia significar a ausência de uma ocupação mais densa na
Região, propondo como alternativa a migração de povoamento”
(Rabello & Ferreira, 2005, p. 3).

16
A intensidade de pobreza se refere à distância que separa a renda domiciliar per capita
média dos indivíduos pobres (R$ 75,50) do valor da linha de pobreza (PNUD, 2003).
37

Mesmo que estes projetos de colonização tenham desempenhado um papel


importante na ocupação de áreas na Amazônia Legal, promovendo o
estabelecimento e o avanço de uma grande fronteira na Região, estas não
foram capazes de promover a ocupação no interior amazônico, se restringindo
às intermediações do “arco rodoviário”.

Todas as tipologias das cidades amazônicas descritas nesse tópico são ligadas
ao desenvolvimento de atividades que, em grande parte, estiveram
descomprometidas com questões referentes ao desenvolvimento local e
regional na Amazônia. Assim, muitas vezes, a floresta, e as cidades da floresta,
não contaram com o apoio de elites locais comprometidas com a
sustentabilidade econômica e ambiental da Região, estando à deriva de
decisões quase sempre distantes e alheias à realidade local e regional,
provenientes de Belém e Manaus, da capital nacional (Brasília), do maior
centro financeiro do País (São Paulo) e até mesmo, do exterior. Isso ajuda a
responder à seguinte pergunta: Qual é a natureza do urbano na Amazônia?
Apesar da complexidade embutida nesse tipo de questionamento, parece claro
que, ao contrário de outras regiões do País, o urbano na Amazônia, após
meados do século passado e ao contrário do que se observava até então, se
proliferou de fora para dentro, e não pela presença de um excedente agrícola
ou com o aumento do dinamismo de alguns centros locais que amadureceram
e passaram a interagir com economias externas à própria Região.
38

3 A cosmopolização no universo em expansão e


contração

A intensificação dos fluxos de pessoas, bens, informações e capitais,


impulsionada pelo surgimento de novos canais de comunicação e pelo
desenvolvimento de meios de transportes mais baratos e eficientes, re-
configurou a forma de organização, o tamanho e a funcionalidade dos centros
urbanos ao redor do Globo. Na literatura especializada, expressões como
Cidade Informacional, Cidade Global e Cosmópolis lançam luz sobre as
recentes mudanças econômicas, sócio-espaciais e culturais das cidades
contemporâneas. A globalização atua aumentando o grau de relacionamento e
conexão entre cidades de diversas partes do mundo, com destaque para o
processo que pode ser chamado de “cosmopolização no universo em
expansão e contração”.

Neste capítulo, o “universo em expansão” representa o alcance cada vez maior


das redes urbanas nacionais, que passam a interagir com maior intensidade e
freqüência com áreas mais distantes. Mesmo as cidades globais podem
ampliar seus níveis de interação e relacionamento, sobretudo com vastas
regiões do planeta que ainda não participam de maneira decisiva dos
processos em escala global. No caso das grandes cidades dos países em
desenvolvimento, os espaços a serem conquistados são bastante extensos,
inclusive dentro do próprio território nacional.

Já o “universo em contração” se refere à compressão do espaço e ao


encurtamento das distâncias entre as várias estrelas (cidades) que irradiam
informações, pessoas, bens e capitais. Em uma situação imaginária, a rede de
cidades do planeta atingiria um grau de integração e proximidade de tal
maneira que a realidade imposta seria algo similar ao universo anterior ao Big
Bang, com a efetivação da superação do espaço pelo tempo. Nesta situação
39

imaginária, teríamos apenas um ponto que concentraria toda a massa e


energia existentes.

Os próximos tópicos inseridos neste capítulo buscam contribuir para as


discussões referentes aos impactos da globalização nas redes urbanas, com
destaque para a realidade dos países em desenvolvimento. Nesse sentido,
busca-se destacar uma série de questões relevantes relacionadas ao
aprofundamento da desigualdade e a criação de áreas de exclusão nas
periferias do mundo.

3.1 Cosmópolis: o futuro se impõe, o passado não se agüenta

O mundo passou, recentemente, por profundas transformações que imprimiram


uma realidade econômica e sócio-espacial bem diferente do que era observado
há não muito tempo atrás. Vários paradigmas se quebraram para a
conformação da atual era da informação, do capitalismo financeiro e dos novos
arranjos produtivos. Nas últimas décadas, a intensificação do processo de
globalização ampliou o raio de influência das cidades e a capacidade de troca
entre as diversas regiões do planeta. Nesse sentido, as grandes aglomerações
urbanas se tornaram eficientes catalisadoras de fluxos, sobretudo nos países
desenvolvidos.

A globalização pode ser entendida como “the compression of the world and the
intensification of consciousness of the world as a whole,” o que alarga e
aprofunda as “worldwide social relations which link distant localities in such a
way that local happenings are shaped by events occurring may miles away and
vice versa”. (Robertson, 1992, citado por Soja 2000, p. 191). De acordo com
Soja (2000),

“the key word here is ‘intensification’, for everything else being


described has been happening to urban-based societies for at least
the past thousand, if not ten thousand, years, ever since the origins of
synekistic urbanism” (Soja, 2000, p. 191).
40

A ordem global busca impor uma única racionalidade a todos os lugares, que
passam a responder ao mundo de acordo com os diversos modos de sua
própria racionalidade. Segundo Santos (1997, p. 272), é a ordem Global que
“funda as escalas superiores ou externas à escala do cotidiano. Seus
parâmetros são a razão técnica e operacional, o cálculo de função, a
linguagem matemática”. Já a ordem local, de acordo com o autor (1997),

“funda a escala do cotidiano, e seus parâmetros são a co-presença, a


vizinhança, a intimidade, a emoção, a cooperação e a socialização
com base na contigüidade” (Santos, 1997, p. 272).

Nesse sentido, Santos (1997, p. 273) conclui que “cada lugar é, ao mesmo
tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo
dialeticamente”.

O conceito de “globalização” tem um forte viés economicista, já que este é um


processo que tem atuado no sentido de integrar regiões distantes em um
sistema econômico global. Nesse sentido, os fluxos de capitais, trabalhadores,
informações e matérias-primas, além das atividades de comando e
gerenciamento são internacionalizados e interdependentes em escala mundial.
(Hammouda, 2000). O espaço econômico (Perroux, 1961) e o espaço abstrato
(Lefebvre, 1991) são fortes referências para se pensar o espaço globalizado,
muitas vezes diante da predominância dos espaços sociais e/ou locais.

Não obstante, a idéia de globalização também possui um forte componente


sócio-espacial, político e cultural. Diante da afirmação de Castells (1989) de
que é impossível estudar a cidade somente sob uma perspectiva urbana, torna-
se evidente a necessidade de abordagens trans-disciplinares para o
entendimento das dinâmicas das cidades.

Estas profundas mudanças na composição, geografia e no quadro institucional


da economia global tiveram fortes implicações para as cidades. Nos estudos
mais recentes, dentre as múltiplas transformações descritas sobre os impactos
da globalização nas redes urbanas, Sassen (1994) afirma que,
41

“uma das mudanças mais importantes ocorridas ao longo dos últimos


vinte anos foi o aumento da mobilidade do capital, em nível nacional
e, sobretudo, transnacional” (Sassen, 1994, p. 15).

De acordo com a autora (1994, p.23), o “comércio internacional continua sendo


um fator importante na economia global, porém tem sido ofuscado em seu valor
e em seu poder por fluxos financeiros internacionais”.

Em meados do século XX, os maiores fluxos econômicos internacionais eram


representados pelo comércio mundial, sobretudo de matérias-primas e outros
produtos primários e manufaturados. Na década de 1980, verificou-se o
aumento do hiato entre a taxa de crescimento das exportações e os fluxos
financeiros internacionais. Nesse sentido, os novos padrões de investimento
modelam as relações espaciais de poder, e o papel das cidades foi fortalecido
com o domínio acentuado do capital financeiro e dos serviços especializados
(Sassen, 1994).

O papel estratégico desempenhado pelas grandes cidades é reforçado pela


combinação da dispersão espacial das atividades econômicas com a
integração dos sistemas que estão no centro da era econômica (Friedmann &
Wolff, 1982). Sassen (1994, p. 24) defende que “as cidades globais são os
lugares-chaves para os serviços avançados e para as telecomunicações
necessárias à implementação e ao gerenciamento das operações econômicas
globais”.

No trabalho de Castells (1989), The Informational City é a cidade do “espaço de


fluxos”, na qual uma série de transformações sociais, econômicas e políticas,
potencializadas pelas tecnologias de informação e comunicação, têm
prenunciado novas formas de interação das pessoas com o espaço urbano.
(Castells, 1989). Para o autor, esta cidade contemporânea deve ser entendida
a partir de uma visão que considere seus aspectos materiais e virtuais, ou seja,
as redes físicas de estrutura urbana e os espaços de fluxos construídos por
meio de relações sociais. De acordo com Castells (1997),

“estamos vivendo um intervalo cuja característica é a transformação


de nossa ‘cultura material’ pelos mecanismos de um novo paradigma
42

tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação”


(Castells, 1997, p. 67).

Entretanto, deve-se considerar que a globalização também coloca os espaços


e suas respectivas funções em um nível cada vez maior de evidência e
importância, dentro de uma rede urbana com um grau de articulação em
constante aumento. Sendo assim, o “espaço dos lugares” também ganha
notoriedade e não desaparece diante do poder dos fluxos. Em publicação
posterior, Castells (1999) destaca que, na cidade global, o espaço dos lugares
e o espaço dos fluxos se sobrepõem em camadas interdependentes e muitas
vezes indissociáveis.

Segundo Sassen (1997, p. 1), “the city and the metropolitan region emerge as
one of the strategic sites where these macrosocial trends materialize and hence
can be constituted as an object of study”. Em publicação anterior (1994, p.25),
a autora declara que, “à medida que essas cidades prosperaram, passaram a
ter mais em comum, umas com as outras, do que com centros regionais
existentes em seus próprios Estados-Nação”.

O raio de atuação da cidade global é delimitado pelo somatório de todos os


pontos em que existe a convergência de aglomerados urbanos e onde se
situam os nós das diversas redes que transmitem a informação ou propiciam a
comunicação. Esse é, na contemporaneidade, o espaço de todas as cidades
que constituem os grandes pólos de desenvolvimento econômico, cultural e
social da humanidade. Ademais, vale lembrar que, sobretudo nos países de
economia mais dinâmica, o transbordamento do urbano nas áreas rurais
acentua, cada vez mais, o que pode ser entendido como o “pano de fundo” das
redes. Nestas regiões, as áreas rurais dos complexos agro-industriais, das
chácaras de lazer e das pequenas propriedades com produção intensiva e
especializada também estão extremamente conectadas à lógica da cidade
informacional.

Nos Novos Países Industrializados (NICs), o Fordismo periférico (Lipietz, 1997)


que se iniciou na década de 1970 apresenta diferentes graus de integração e
extensão nas várias regiões e subregiões. Santos (1994) destaca a importância
43

do que chama de “meio técnico-científico informacional”, que caracteriza o


espaço social como um todo. Monte-Mór (1994, 2004), como visto no capítulo
anterior, utiliza o conceito de “urbanização extensiva”, que se refere à extensão
dos processos e das formas urbano-industriais para além das cidades, que
carrega as condições de produção urbano-industriais e a “práxis urbana”
(Lefebvre, 2003).

Atualmente, a maior capacidade de participação das cidades globais nas


grandes redes mundiais de fluxos ocorreu não apenas devido aos enormes
investimentos em infraestrutura, com destaque para os setores de transporte e
telecomunicações, mas também em razão da qualidade de vida que oferecem
aos principais agentes transnacionais. As cidades globais também se destacam
pelo dinamismo das praças financeiras e pela capacidade de produção de
serviços especializados (Sassen,1996).

No centro do capitalismo, as grandes metrópoles mundiais são os espaços


privilegiados dos fluxos de investimentos, pessoas, informações e inovações
tecnológicas que, segundo Soja (2000),

“are reshaping cityspace and local capital-labor relations, creating


new industrial spaces, a reshuffling of class identities, different urban
divisions of labor, and a repolarized and refragmented pattern of
social and spatial stratification” (Soja, 2000, p. 192).

Cidades globais como Nova York, Londres e Tókio17 combinam dispersão


espacial e integração global, assumindo um novo papel estratégico. Além de
centros de comércio internacional e bancários, estas cidades desempenham
funções multivariadas: a) alta concentração de pontos de comando na
organização da economia mundial; b) lócus privilegiado das finanças e das
firmas prestadoras de serviços especializados; c) sítios de produção, incluindo

17
Apesar de Tókio ser considerada por Sassen (1991) como sendo uma cidade Global, Saito &
Thornley (2003, p. 1) afirmam que “the position of a city in any hierarchy of world importance is
not a static phenomenon”. De acordo com o trabalho de Saito & Thornley (2003), a década de
1990 pode ser encarada como um período em que Tókio passou a perder em uma série de
características especiais. Segundo os autores “these characteristics include its economic
structure, patterns of business ownership, degree of social polarization and immigration, and
the amount of state involvement. Sendo assim, “a pertinent question to ask is whether this fall
at the national level has been mirrored by a change in Tokyo´s world status” (Saito & Thornley,
2003, p. 1)
44

a produção de inovações; d) consolidados mercados consumidores de


produtos e inovações (Sassen, 1991).

Nesse contexto, o uso recente do termo Cosmopolis para se referir às


concentrações urbanas que protagonizam os maiores fluxos mundiais ganhou
espaço na literatura especializada. A Cosmopolis é tida como o lócus do
desenvolvimento técnico, cientifico e informacional. Um espaço que reúne as
condições necessárias para a reprodução do capital financeiro e especulativo,
além de oferecer a infra-estrutura indispensável para a produção e
comercialização de bens especializados.

A palavra Cosmopolis se origina do Grego e concilia a Polis (administração das


cidades) com a idéia de Cosmos (universo astronômico). Este termo foi
lançado pelo filósofo Toulmin (1990) em Cosmopolis: The Hidden Agenda of
Modernity, referindo-se aos espaços urbanos globalizados. Durante a década
de 1990, surgiram dois trabalhos relevantes que contaram com o
comprometimento dos autores em pensar as Cidades Globais sob uma
perspectiva crítica Pós-Moderna. Primeiramente, Isin (1997) argumenta que a
Cosmopolis representa o que denomina de metropolis unbound, ainda
encarada como uma Polis, embora fragmentada, espraiada e globalizada. Já
Sandercock (1998a), evidencia que a Cosmopolis seria uma utopia Pós-
Moderna nunca concretizada, que, mesmo apesar de não existir, está em todos
os lugares. Em publicação posterior, o termo é encontrado em Soja (2000)
como parte do arcabouço teórico que serve de suporte para o estudo da
Postmetropolis (Soja, 2000).

Não há dúvida que os países de economia mais dinâmica que abrigam as


cidades que se aproximam mais da utópica Cosmopolis de Sandercock são os
protagonistas dos fluxos de informações, mercadorias e serviços. Cidades
como Nova York, Los Angeles, Londres e Tókio não se destacam na rede
urbana apenas pelos expressivos contingentes demográficos, mas, sobretudo,
pela maior proporção de pessoas com capacidade de interagir em escala
global.
45

Apesar da primazia de um grupo seleto de centralidades localizadas nos países


de economia dinâmica, Castells (1999) declara que

“o fenômeno da cidade global não pode ser reduzido a alguns


núcleos urbanos no topo da hierarquia. É um processo que conecta
serviços avançados, centros produtores e mercados em uma rede
global com intensidade diferente e em diferente escala, dependendo
da relativa importância das atividades localizadas em cada área vis-à-
vis a rede global” (Castells, 1999, p. 192).

No que diz respeito à hegemonia dos três maiores centros do planeta (Nova
York, Londres e Tókio) e nessa mesma linha de raciocínio, Castells (1999)
destaca que

“(...) outros centros são importantes e até superiores em alguns


segmentos específicos do comércio, por exemplo, Chicago e
Cingapura em contratos de futuros (aliás, praticados pela primeira vez
em Chicago, em 1972). Hong Kong, Osaka, Frankfurt, Zurique, Paris,
Los Angeles, São Francisco, Amsterdã e Milão também são centros
importantes tanto em serviços financeiros quanto em serviços
empresariais internacionais. E vários centros regionais estão aderindo
à rede, enquanto mercados emergentes se desenvolvem por todo o
mundo: Madri, São Paulo, Buenos Aires, Cidade do México, Taipei,
Moscou, Budapeste, entre outros” (Castells, 1999, p. 192).

Apesar da consolidação da globalização nessas cidades, Sassen (1998)


destaca que, paralelamente às grandes transformações na sociedade
contemporânea, existem vastas periferias que estão distantes dos processos
centrais que norteiam o crescimento econômico global. Deve-se ressaltar,
ainda, que estas periferias apresentam diversos níveis de dinamismo
econômico e o ritmo da globalização varia imensamente entre os países em
desenvolvimento, assim como entre muitas regiões e cidades. Estas diferenças
tornam um tanto questionáveis as generalizações no que diz respeito a cidades
e regiões. Entretanto, algumas características em comum encontradas nos
espaços não desenvolvidos (Santos, 1978) e em desenvolvimento devem ser
enfatizadas, para um melhor entendimento dos impactos da globalização
nesses territórios.

Os dois próximos tópicos apresentam uma série de reflexões sobre os


impactos da globalização nas redes urbanas, assim como o desenvolvimento
46

da cosmopolização nas maiores cidades que compõem as redes urbanas dos


países em desenvolvimento.

3.2 As redes móveis na era da informação

As abordagens mais comuns acerca das dinâmicas das redes urbanas buscam
levar em consideração questões importantes, tais como a diferenciação
funcional das cidades, as relações entre tamanho demográfico e
desenvolvimento, a hierarquia urbana e as relações entre cidade e região. A
rede urbana deve ser concebida como um conjunto de centros funcionalmente
articulados e, nesse sentido, a intensificação da globalização em vastas áreas
do globo tem remodelado os padrões de hierarquia e de relacionamento entre
as cidades.

As definições conceituais de rede se enquadram em duas grandes matrizes: a


que apenas considera sua realidade material e a que também leva em conta o
dado social. A primeira se encaixa na definição de Curien (1988, p. 212), sendo
a rede composta por “toda infraestrutura, permitindo o transporte da matéria, de
energia ou de informação, e que se inscreve sobre um território (...)”. Não
obstante, Santos (1997) esclarece que

“a rede é também social e política, pelas pessoas, mensagens,


valores que a freqüentam. Sem isso, e a despeito da materialidade
com que se impõe aos nossos sentidos, a rede é, na verdade, uma
mera abstração” (Santos, 1997, p. 23).

O autor também destaca que graças ao progresso técnico e às formas


econômicas contemporâneas, as redes produtivas, comerciais, de transporte e
de informações vêm se tornando globais. As cidades mundiais são os nódulos
do sistema de fluxos que estruturam e dinamizam as redes urbanas e os
territórios. Entretanto, Santos (1997, p. 23) insiste que nem tudo é rede, já que,
quando olhamos “para a representação da terra nós podemos ver numerosas e
vastas áreas que escapam do design reticular presente na quase totalidade
dos países desenvolvidos”. O autor chama estas áreas de zonas de baixa
intensidade (Santos, 1997).
47

As cidades são os nódulos dos sistemas de fluxos que, por sua vez, dinamizam
a rede urbana e estruturam o território. Na era das cidades industriais, as redes
urbanas se organizavam sob a influência primordial dos fluxos materiais. Com
a revolução técnica, científica e informacional, os fluxos simbólicos se tornaram
mais decisivos na definição das hierarquias urbanas e da capacidade de
polarização de cada um de seus nódulos. Segundo Santos (1978, p. 87),
“convém lembrar que a economia mundial de nossos dias não é mais
governada pelos que detêm as massas, isto é, os que produzem, mas pelos
que se encontram em condições de transformar essas massas em fluxos”.

No que tange ao dinamismo e funcionamento das redes urbanas mundiais, a


globalização exerce uma série de impactos: a) intensifica os fluxos; b) amplia o
alcance das redes e dos diversos nós; c) estimula a regionalização; d) muda a
direção dos fluxos, com a possibilidade de aprofundamento das relações entre
o local e o global sem a atuação de centros intermediários; e) amplia a
possibilidade de especialização funcional por parte das cidades; f) atua na
criação de áreas de exclusão.

A globalização (re)modelou as formas de interação entre as cidades. As


transformações nos meios de transporte e comunicação podem dinamizar os
centros de porte intermediário, ampliando seus raios de influência e
intensificando os fluxos destes nós. Entretanto, deve-se ressaltar, também,
que, muitas vezes, estes centros deixam de ser a principal referência na
intermediação entre as pequenas cidades locais e as grandes cidades mais
conectadas com o sistema mundo.

Se, por um lado, a globalização estimula a conectividade entre as maiores


centralidades do planeta, por outro lado, este processo aumenta a capacidade
de estruturação territorial regional destes pólos, dentro de suas áreas de
influência imediatas. Nos países desenvolvidos, as regiões e as localidades
não desapareceram, mas ficaram mais integradas nas redes internacionais que
conectam seus setores mais dinâmicos (Castells, 1999).
48

A possibilidade de especialização funcional nas redes urbanas mais dinâmicas


cria condições favoráveis para o desenvolvimento local, permitindo que os
principais agentes econômicos destes nós se dediquem com maior intensidade
ao desenvolvimento de atividades em maior sintonia com as “vocações” destas
cidades. A especialização funcional torna algumas cidades, cada vez mais,
dependentes e integradas às redes, fazendo que os retornos econômicos
sejam cada vez mais favoráveis. Mesmo nos países em desenvolvimento, é
nítida a predominância de determinadas funções em cidades pertencentes a
regiões com maior dinamismo.

Não há dúvidas que a rede mundial de cidades ganhou mais dinamismo e


expressividade com as recentes transformações econômicas, sócio-espaciais,
políticas e culturais advindas do surto de inovações técnicas, científicas e
informacionais. Nesse tipo de abordagem, Castells (1999) ressalta que
“devemos levar a tecnologia a sério, utilizando-a como ponto de partida (...)”.
Assim, os países desenvolvidos e parte significativa dos países em
desenvolvimento, especialmente alguns asiáticos18, têm assimilado de maneira
acentuada as transformações advindas da globalização.

A partir da revolução informacional, as cidades passaram a interagir com


lugares cada vez mais distantes. A ampliação abrupta dos raios de influência
das cidades que protagonizaram essas transformações econômicas e sócio-
espaciais atuou na integração de redes que, até então, não se relacionavam ou
se relacionavam com pouca intensidade.

Dessa forma, as décadas anteriores foram marcadas pelo aumento do alcance.


Mesmo diante das extensas áreas de exclusão, o mundo parece ter ficado
pequeno com o poder de alcance dos fluxos. Nesse ritmo de constantes
inovações, outros paradigmas estão sendo quebrados, na atualidade, nas
porções mais desenvolvidas do globo. O alcance já não surpreende tanto,
diante das novas formas de flexibilidade e interatividade que surgiram e/ou se
enraizaram após a virada do milênio.

18
Segundo Lo & Marcotullio (1999), “among developing states, the resulting sets of economic
arrangements have benefited Asia-Pacific countries in particular”.
49

De acordo com Santos (1994, p. 167), a rede urbana é definida por “fluxos de
informação hierarquizados e fluxos de matéria que, nas áreas mais
desenvolvidas, não são hierarquizantes”. Apesar da evidente distinção, deve-se
ter em mente que os fluxos de informações e matérias geralmente estão
intimamente relacionados e não existem separadamente.

No que se refere aos fluxos de informações, estes são, cada vez mais, gerados
por fontes desprendidas do mundo constituído de fixos. O mundo já está bem
diferente daquele imaginado e pensado por Milton Santos e outros grandes
teóricos das décadas anteriores. A flexibilidade das fontes que emanam e
recebem informações atingiu níveis impressionantes.

Nos últimos anos, as ligações realizadas com o uso de telefone fixo têm sido
proporcionalmente reduzidas com a invasão do celular, companheiro sempre
presente que oferece uma mobilidade que mudou a rotina das pessoas. O
correio tradicional e o fax foram, em grande medida, substituídos pelo e-mail,
caixa postal eletrônica que acompanha as pessoas em todos os lugares
dotados de conectividade. Os fluxos materiais também são impulsionados em
um mundo em que se pode comprar e solicitar de tudo pela internet ou pelo
telefone. Maior flexibilidade significa poder gerar ou absorver um fluxo, de
qualquer natureza, de maneira mais imediata e livre, em qualquer lugar que a
pessoa esteja.

De maneira mais recente, o aumento da interatividade tem causado impactos


incríveis no dinamismo das redes mundiais. Um dos grandes agentes da
interatividade, sem sombra de dúvida, é a internet, cada vez mais acessada e
modernizada, criando um mundo de fluxos sem distâncias e direções, ou seja,
para as pessoas, as coisas já não parecem vir de algum lugar, elas já estão o
tempo todo na frente delas.

Como forma de exemplificar o aumento na interatividade, pode-se citar: a) a


eficiência das ferramentas de busca do Google; b) o mundo em imagens do
Google Earth; c) o Google Maps; d) o surgimento e a popularização do Skype,
50

que permite a troca de informações entre pessoas de todas as partes do globo


a custos muito mais baixos do que o sistema tradicional de telefonia; e) a
riqueza do banco de informações do Youtube; f) a difusão de rádio e televisão
via web; g) a divulgação irrestrita de arquivos, vídeos e músicas mp3 na
internet, com ferramentas de busca sofisticadas, a exemplo dos sites de
torrent; h) novos hardwares portáteis, como o HD portátil e o pen drive; i) a
incorporação de novas ferramentas no aparelho celular, que permitem o
registro de fotos, vídeos, o acesso a dados bancários e a caixa de e-mails; j) a
criação de uma identidade digital, através de sites de relacionamento do tipo
Facebook e Orkut.

Diante de todas estas inovações no universo das informações, a rede urbana


ganha força, com o papel central desempenhado pelas cidades e demais
prolongamentos do tecido urbano na intermediação dos fluxos, embora estes
tenham se rebelado contra os caminhos tradicionais.

Na esfera do indivíduo, o grande agente transformador, as redes possuem


pontos que parecem mudar de lugar a todo o momento, além de fluxos que não
obedecem a caminhos rígidos, ou dão a impressão de fazer caminho algum,
saindo e chegando instantaneamente, ou apenas “estando”. Pessoas,
empresas e cidades estimulam um sentimento de onipresença sem
precedentes. Nessa perspectiva, as redes não são mais geométricas. Elas
assumem formas visíveis e invisíveis, impossíveis de serem definidas ou
desenhadas. Assim, o mundo passa a conhecer não apenas as tradicionais
redes dendríticas e complexas, contando agora com vastas regiões dotadas de
redes móveis.

A rede móvel não é exclusivamente uma rede de cidades, já que os fluxos


atravessam os limites definidos entre estes principais nódulos. A rede móvel é,
na verdade, rede urbana, uma vez que a lógica de formação desta nova
realidade ocorre intensamente nestes espaços, transbordados por
características tipicamente urbanas, que extrapolam as tradicionais fronteiras
das cidades.
51

As idéias apresentadas por Castells, ao final do século, no seu livro sobre A


Sociedade em Rede, já traziam alguns elementos que apontavam, em um
plano conceitual, para o nascimento das redes móveis, mesmo sem levar em
consideração o surto de inovações após a virada do milênio. Segundo o autor
(1999)

“o desenvolvimento da comunicação eletrônica e dos sistemas de


informação propicia uma recente dissociação entre proximidade
espacial e o desempenho das funções rotineiras: trabalho, compras,
entretenimento, assistência à saúde, educação, serviços públicos,
governo e assim por diante. Por isso, os futurologistas
freqüentemente predizem o fim da cidade, ou pelo menos das
cidades como as conhecemos até agora, visto que estão destituídas
de sua necessidade funcional” (Castells, 1999, p. 419).

Alguns dos exemplos apontados por Castells (1999) para a década de 1990
parecem se destacar, cada vez mais, nos dias atuais, tais como: a) a
substituição do serviço em ambiente de trabalho pelo trabalho on-line em casa,
com o aumento do teletrabalho e das consultorias em resposta ao processo de
terceirização; b) o ensino à distância, oferecido, sobretudo, pelas
universidades, também apresentou significativo aumento nos últimos anos; c)
apesar de seu caráter complementar às atividades comerciais tradicionais, as
compras via web e telefone cresceram no início dos anos 1990 e se tornaram
um surto após a virada do milênio; d) a supervisão, por vídeo conferência de
procedimentos cirúrgicos. Tudo isso vai ao encontro do aumento da mobilidade
nos países desenvolvidos e, em menor medida, nos países em
desenvolvimento.

Em alguns países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, mesmo diante da


relativa restrição infra-estrutural, principalmente nos sistemas de transporte, o
sistema de comunicações vem se desenvolvendo de forma
surpreendentemente intensa e disseminada. Em algumas regiões, a telefonia
celular atinge proporções comparáveis a países desenvolvidos, e também o
uso de computadores vem aumentando significativamente. Entretanto, em que
pese esta transformação, a cobertura de serviços de comunicação e
informacionais em níveis equivalentes aos países do Centro exigirá ainda muito
tempo e esforço, até porque, daqui em diante, os ganhos percentuais passam a
52

ser mais lentos, com a incorporação de pequenos municípios, exigindo grandes


investimentos em áreas de baixa densidade.

De acordo com os dados divulgados no site da Anatel, 63,6% da população


brasileira (cerca de 121 milhões de pessoas) possuía acesso pessoal ao
telefone celular em 2007, contra 20,3% em 2002. Nesse mesmo período, o
número de telefones públicos fixos caiu de 1.368.200 para 1.142.000 no País.
A título de comparação, os dados do “IBGE Países”, para 2005, indicavam que
46,25% dos brasileiros possuíam telefone celular, valor significativo, mas, ainda
inferior, proporcionalmente, a países como Argentina (57,4%), Chile (67,8%),
Estados Unidos (71,5%), África do Sul (71,6%), Japão (75,3%) e Rússia
(83,62%) no mesmo ano.

Já no que tange ao número de computadores pessoais para cada 100


habitantes, o Brasil (16,9%) estava à frente de outros países em
desenvolvimento como a África do Sul (8,4%), Argentina (9,1%), Rússia
(12,1%) e Chile (14,8%), em 2005. Apesar disso, os dados indicam que, em
2005, os valores desses países em desenvolvimento estavam muito distantes
em relação ao verificado em países como Estados Unidos (76,2%) e Japão
(67,5%). Com relação ao percentual de pessoas que usavam internet em 2005,
o Brasil (21%), assim como outros países em desenvolvimento, como África do
Sul (10,8%), Argentina (17,8%) e Chile (28,9%), ainda apresentavam valores
bem abaixo daqueles encontrados nos Estados Unidos (66,3%) e Japão
(66,6%), no mesmo ano.

Entretanto, mesmo que parte dos países em desenvolvimento passe a


incorporar estes novos elementos relacionados ao aumento da flexibilidade e
interatividade, deve-se ter em mente que, neste contexto de transformações
globais, parte significativa das cidades no mundo não participa ativamente das
trocas e dos fluxos entre os sistemas urbanos transnacionais, dando munição
para o questionamento da idéia de globalidade. Segundo Soja (2000, p. 192),
“in response to those who remind us that capitalism has always operated on a
global scale, the production-oriented globalists argue that a quantitatively new
level of globality is now operating”. Parece claro que a globalidade nunca
53

existiu e, no sentido mais profundo da palavra, provavelmente nunca existirá.


Tudo isso depende da intensidade e da profundidade com que abordamos o
conceito. Os sistemas globais, regionais, nacionais e locais sempre apontam
para uma possibilidade de maior integração, com a união de pontos isolados na
rede. Entretanto, as dinâmicas e as conexões multi-escalares determinam os
vários níveis de integração, inclusão e interação mútua.

Se o avanço e a intensificação da globalização geram uma série de efeitos


positivos, deve-se ter em mente que, por outro lado, o desenvolvimento desse
processo também agrava e amplia vários conflitos sociais. Nas grandes
cidades dos países em desenvolvimento, conectadas de maneira ainda
incipiente com as economias globais, os efeitos perversos da globalização
podem ser sentidos principalmente nas extensas periferias repletas de pobres
e excluídos com baixa qualificação profissional. Em alguns casos, nas
periferias desses grandes centros urbanos a precariedade das condições de
vida pode atingir um nível ainda mais alarmante, em regiões totalmente
desprovidas das condições básicas para a integração dessas localidades com
o mundo.

As redes urbanas dos países em desenvolvimento não apresentam o mesmo


nível de equilíbrio encontrado nos países desenvolvidos. Em vários casos, o
crescimento populacional explosivo experimentado pelos grandes centros
urbanos dos países em desenvolvimento, nas últimas décadas, trouxe
impactos negativos para as redes urbanas dessas regiões. Os desequilíbrios
no funcionamento das redes são agravados pela macrocefalia urbana e pela
concentração exagerada da oferta e da disponibilidade de serviços nas
grandes cidades. Tradicionalmente, nas regiões mais estagnadas, a rede
urbana, ou mesmo alguns dos fluxos que compõem a rede, geralmente
assumem uma forma mais simplificada, denominada de dendrítica. Esse
padrão pressupõe a existência de uma cidade que concentra a maior parte do
comércio atacadista exportador e importador, além de um número
relativamente grande de pequenos núcleos e a ausência de cidades de porte
intermediário. A transição da rede dendrítica para a chamada rede complexa
implica no desenvolvimento de cidades de médio porte que desempenhem
54

funções multivariadas. Na literatura internacional, tem sido freqüente o uso das


expressões redes monocêntricas e redes policêntricas. As cidades dos países
em desenvolvimento parecem experimentar uma conjunção de elementos que
apontam para a coexistência de padrões novos e antigos, específicos tanto das
redes dendríticas, quanto das complexas e móveis.

Nos países desenvolvidos, a presença de cidades médias dinâmicas


espalhadas no território confere funcionalidade para a rede urbana e fluidez
para os diversos fluxos. Mesmo nas porções mais dinâmicas dos países em
desenvolvimento, como no estado brasileiro de São Paulo, estes problemas
são amenizados devido ao maior grau de desenvolvimento e articulação da
rede urbana. A presença de cidades médias capazes de oferecer infra-
estrutura, boas condições de vida e uma série de serviços especializados,
equilibra a rede.

Entretanto, nas regiões mais estagnadas, a exemplo do Nordeste brasileiro, a


globalização econômica não reduziu as distâncias entre as pequenas cidades e
os demais níveis hierárquicos da rede. Nessas regiões, são muitos os atritos
que dificultam os fluxos de pessoas, mercadorias e informações. A carência na
oferta de serviços e equipamentos nas cidades de médio porte dessas regiões
mais estagnadas, além da relativa concentração das atividades econômicas
nas cidades grandes, confere um alto nível de desequilíbrio no funcionamento
da rede urbana.

Em uma rede urbana equilibrada os serviços não estão necessariamente


presentes em todos os lugares; entretanto, sua oferta deve ser imediata diante
da articulação das aglomerações com centros adjacentes em posição superior
na hierarquia urbana. Parece claro, portanto, que as cidades não podem ser
estudadas de maneira isolada, tanto nos países desenvolvidos, quanto nos
países em desenvolvimento. Nesse sentido, o estudo das redes urbanas vem à
tona, embora deva incluir investigações de caráter intra-urbano. Para Santos
(1978, p. 80), “o fato de que existem relações entre as cidades expressa por si
mesmo sua importância, indicando que as investigações a serem conduzidas,
acima de tudo, devem ser a das redes”.
55

3.3 Globalização na era das redes em desequilíbrio

É evidente a necessidade de abordagens que considerem os diversos níveis de


integração e distanciamento das grandes cidades dos países em
desenvolvimento. Apesar de coadjuvantes do ponto de vista econômico e da
capacidade de protagonizar trocas, deveriam estar no centro das discussões,
uma vez que são os palcos principais das mais fortes contradições criadas com
a intensificação desigual desse processo.

Nos países em desenvolvimento, parece claro que a idéia de Cosmopolis


entendida como uma utopia ainda não totalmente concretizada, tem um maior
poder explicativo do que quando utilizada apenas para rotular extensas áreas
urbanas em conexão ainda incipiente com as redes globais. Neste caso, seria
mais válido pensar em Cosmopolização, ao invés de Cosmópolis, direcionando
o foco das atenções para o processo, o que poderia revelar muito mais do que
confundir.

A definição de espaço nos países em desenvolvimento apresenta uma série de


peculiaridades, não sendo comparável às definições adotadas nos países
desenvolvidos. De acordo com Santos (1978), naqueles países o espaço é
derivado, periférico, aberto, seletivo, incompletamente organizado,
descontínuo, não integrado, instável e diferenciado.

A denominação “paisagem derivada” foi lançada por Maximilien Sorre, em


1961, para caracterizar as regiões dos “subdesenvolvidos”, na tentativa de
mostrar suas relações históricas com os países centrais. Segundo Santos
(1978, p. 104), a transformação ou a criação de regiões nos países
“subdesenvolvidos”, em acordo com as necessidades impostas pelo sistema
em vigor, criam os espaços derivados, “cujos princípios de organização devem
muito mais a uma vontade longínqua do que aos impulsos ou organizações
simplesmente locais”.
56

Além de derivado, o espaço nos países em desenvolvimento é igualmente


periférico. Santos (1978, p. 104) declara que o espaço é periférico não apenas
no sentido consagrado, ou seja, por representar uma periferia em relação aos
países mais desenvolvidos, mas também porque o espaço “é geograficamente
ou geometricamente periférico. Com efeito, o centro do país, a região polar, é
raramente central”. O espaço nos países em desenvolvimento também é
aberto, já que a modernização é circunscrita a uma região específica desses
países, deixando vastas áreas livres da ocupação intensa. De acordo com
Santos (1978, p. 106), “é assim que expressões como fronteira agrícola ou
zona pioneira significam que o espaço está ainda aberto e pronto a ser
conquistado”.

Já no que tange à seletividade do espaço, percebe-se que a modernidade


tende a se manifestar em pontos bem determinados do espaço. Nesse sentido,
Santos (1978, p. 106) declara que “as enormes diferenças de renda que
caracterizam a sociedade global dos países subdesenvolvidos têm
conseqüências notáveis sobre a organização do espaço” (Santos, 1978).

Ademais, o espaço dos países com baixos níveis de desenvolvimento é


incompletamente organizado e descontínuo. Nessas áreas, as instalações e
mesmo a presença humana não são fenômenos generalizados sobre toda a
extensão do espaço. De acordo com Santos (1978, p. 107), “o espaço não é
nem completamente organizado pelas vias de comunicação, nem
completamente utilizado ou transformado pelo trabalho”. Segundo o autor
(1978), o espaço também é

“descontínuo não somente pelo fato de que as zonas vazias sucedem


às zonas ocupadas, mas também pelo fato de que as combinações
de variáveis podem passar muito rapidamente de uma situação de
densidade para uma situação de rarefação” (Santos, 1978, p. 107).

Santos (1978, p. 108) também ressalta que o espaço é igualmente fracionado,


ou seja, “ele pode ser objeto de uma multiplicidade de decisões cuja
descontinuidade é responsável por uma soma de influências e de polarizações
de toda espécie”.
57

Outra característica importante do espaço dos países em desenvolvimento


seria a sua não integração com os pólos exteriores. Naqueles países, são raras
as áreas integradas, como no caso das grandes aglomerações, a exemplo de
São Paulo, Bombaim, Buenos Aires, Cairo e Cidade do México. Em vastas
áreas dos países em desenvolvimento predomina a não fluidez, já que, como
pode ser visto em Santos (1978, p. 109), “a mobilidade das pessoas e dos bens
é mínima em relação ao que se pode verificar no mundo desenvolvido”
(Santos, 1978).

As duas últimas características sugeridas por Santos (1978, p. 109)


consideram o espaço dos países em desenvolvimento como sendo instável e
diferenciado. Segundo o autor, “os elementos de modernização que
correspondem à evolução mundial não realizam seu impacto ao mesmo
tempo”. Isso contribui para uma grande instabilidade, já que gera uma
multiplicidade de impactos “que levam aos desequilíbrios, aos ajustamentos
repetidos”. As mesmas forças que fazem dos países em desenvolvimento um
espaço instável, atuam no sentido de transformá-lo também em um espaço
diferenciado, ou seja, um espaço composto pelas forças externas e pela
herança do passado. (Santos, 1978).

Como maneira de finalizar as reflexões sobre o espaço nos países de


economia periférica, Santos (1978, p. 110) ressalta a importância de concentrar
o foco nas áreas atingidas pela modernização. “Mas não lograríamos definir o
espaço dos países subdesenvolvidos por suas partes neutras: devemos fazê-lo
pelas suas partes vivas”. O autor também deixa claro que, “na realidade, uma
ou outra característica apresentada aqui como própria do Terceiro Mundo pode
ser encontrada em qualquer país desenvolvido”. A título de exemplo, o autor
sugere que “pode-se falar de um espaço aberto no Canadá e de fronteiras
agrícolas ou de cidades novas na União Soviética”. Entretanto, “não se deve
procurar encontrar aí a totalidade das características próprias da projeção do
subdesenvolvimento no espaço” (Santos, 1978, p. 110).
58

Algumas destas características do mundo não desenvolvido podem ser


encontradas nos países desenvolvidos; entretanto, a combinação destas não
pode ser facilmente encontrada nas nações ricas. Por outro lado, as diferenças
internas entre os países em desenvolvimento aumentaram imensamente como
resultado da globalização. De maneira particular, as diferenças entre os países
que ficaram de fora do processo de industrialização periférica e aqueles que se
integraram através do “fordismo periférico” (Lipietz, 1987) parecem evidentes,
dentro da nova divisão internacional do trabalho que prevalece desde o final do
último século.

Diante de todas estas peculiaridades espaciais, a pergunta básica é: como


transpor as discussões sobre os impactos da Globalização nas cidades, sob a
perspectiva da Cosmopolis, para a realidade dos países em desenvolvimento?

À primeira vista, o conceito de Cosmópolis parece sugerir que o principal foco


de análise são as relações entre as cidades nas diversas partes do Globo.
Entretanto, para entender, com maior profundidade, como as cidades
interagem e se integram no sistema mundo, também é de grande relevância
aprender a olhar a cidade por dentro, ou seja, conhecer com clareza as suas
especificidades intra-urbanas. Além disso, as dinâmicas regionais e nacionais
também são de extrema importância. Só assim é possível aprofundar as
análises sobre as singularidades da cosmopolização nas grandes cidades dos
países em desenvolvimento, em relação ao que aconteceu nos países de
economia mais dinâmica.

Ao estudar as grandes cidades dos países em desenvolvimento, sob a ótica do


processo, a idéia de cosmopolização deve estar ligada a uma abordagem que
considere a interação entre todos os elementos que constroem uma realidade,
rumo ao que é observado nas cidades mais competitivas do planeta. Essa
contextualização é de extrema importância, uma vez que as especificidades
dos países em desenvolvimento ditam uma inserção diferenciada das
verdadeiras Cosmopolis. Sendo assim, pensar em cosmopolização é ter a
oportunidade de refletir sobre tudo o que é diferente, específico e novo, no que
tange às configurações das cidades nos países em desenvolvimento. A
59

mobilidade de capitais, bens, informações e pessoas nesses países


alcançaram novos patamares e estabeleceram novos padrões que precisam
ser amplamente pesquisados.

Os debates correntes sobre os impactos da globalização nos fluxos de pessoas


têm enfatizado os deslocamentos entre os países pobres e ricos. Entretanto,
fortes migrações internas envolvendo, inclusive, grandes distâncias,
acompanharam os vários estágios de desenvolvimento na maior parte dos
países mais pobres. Nos países em desenvolvimento, estes movimentos
internos têm gerado fortes impactos econômicos e sócio-espacias nas
configurações territoriais, com a criação de redes urbanas desequilibradas. As
disparidades regionais de renda e a concentração da terra estão entre os
principais fatores que estimularam estes fluxos nesses países. A estagnação
regional, a existência de numerosas populações pobres, que enfrentam
situações como desastres ambientais (seca, entre outros) e/ou manipulações
sócio-políticas, a ausência de meios de produção e de integração sócio-
espacial devido à ineficiência ou à não existência de infraestrutura e serviços
de transporte e comunicação, geraram, nas décadas anteriores, o movimento
de milhões de pessoas que partiram de áreas rurais e de pequenas cidades
rumo aos maiores centros urbanos desses países. Estes movimentos massivos
lançaram grandes desafios para os planejadores e para as políticas e ações
governamentais. Como a pobreza mudou de endereço, das áreas rurais para
as áreas urbanas, a situação não melhorou significativamente.

As grandes cidades dos países em desenvolvimento, certamente, não estavam


preparadas para receber, em um período tão curto de tempo, esse enorme
número de “refugiados da pobreza”. Políticas insuficientes, assim como a falta
de comprometimento político, contribuíram para a criação de uma vasta
periferia de áreas pobres e favelas nas maiores cidades do mundo em
desenvolvimento. Mumbai, na Índia, por exemplo, em 2007, tinha mais de 50%
da sua população vivendo em favelas. No conjunto do País, aproximadamente
21% da população urbana viviam em favelas, 25% não tinham energia elétrica
ou serviço de esgoto e 37% dos habitantes não possuíam água potável em
casa (Skeers, 2007). No Brasil, as desigualdades no desenvolvimento
60

socioeconômico e na provisão de serviços urbanos responderam pelos


movimentos migratórios massivos, que partiram, há algumas décadas atrás,
principalmente do Nordeste e de Minas Gerais em direção ao “rico” Sudeste,
com destaque para o estado de São Paulo. Ademais, planos governamentais e
políticas públicas de ocupação da fronteira levaram a expressivos movimentos
migratórios para a porção oriental da Amazônia, onde as condições urbano-
industriais de produção criaram algumas oportunidades básicas para as
pessoas mais pobres (Monte-Mór, 2004, 2005). Entretanto, novamente, apesar
dos esforços dos governos, em todos os níveis, assim como a surpreendente
mobilização social nessa Região, a pobreza apenas mudou de endereço. Já na
cidade do México, as várias políticas urbanas e regionais que objetivaram
promover a descentralização populacional no País tiveram um sucesso relativo
apenas no final da década de 1990 e, também, não foram capazes de reduzir,
significantemente a pobreza no conjunto do País. (Garza, 1999).

Contudo, a intensificação da migração internacional tem ocupado posição de


destaque nas discussões sobre os recentes impactos da globalização, não
apenas nos países desenvolvidos, mas também nos países em
desenvolvimento. Segundo Soja (2000),

“over the past thirty years, the volume of labor migration across
national boundaries, as well as other forms of voluntary and
involuntary migration (for example, refugees), has probably reached a
higher level than in any earlier period” (Soja, 2000, p. 195).

O relatório Replacement Migration: Is It a Solution to Declining and Ageing


Populations? divulgado pela divisão de população da Organização das Nações
Unidas (ONU) em 2001, declara que a migração internacional assumirá, cada
vez mais, um papel decisivo e estratégico para os países desenvolvidos.
Segundo este relatório,

“replacement migration refers to the international migration that a


country would need to offset population decline and population ageing
resulting from low fertility and mortality rates” (ONU, 2001, p. 1).

Se, por um lado, a migração internacional ameniza a situação de desemprego


e precariedade nas condições de vida dos países em desenvolvimento, por
61

outro lado, poderá servir de compensação para a redução expressiva da


população em idade ativa, diante do evidente avanço do processo de
envelhecimento populacional nesses países19.

Já no que tange à formação de centros de decisão e negócios que


protagonizam os fluxos de capitais e bens especializados, percebe-se que
estes atributos ditam uma hierarquia urbana global, em acordo com o que foi
denominado de “arquipélago mundial de cidades”. Nesse sentido, mesmo
diante do tamanho demográfico conquistado por meio dos intensos fluxos de
imigrantes, as maiores cidades dos países em desenvolvimento aparecem
como pequenas ilhas, diante da baixa intensidade dos fluxos e da reduzida
capacidade de interação em escala global. Ao refletir sobre a inserção das
cidades dos países em desenvolvimento na economia global com base em um
estudo de caso sobre a cidade de São Paulo, Ferreira (2003) destaca que a
cidade “pouco corresponde, em que pese sua imagem global, a essa
expectativa.” Segundo o autor,

“por vários ângulos que se procure verificar, a maior metrópole do


continente parece mais marcada pelo arcaísmo de sua pobreza e da
não superação dos conflitos herdados da sua formação
historicamente desigual e excludente” (Ferreira, 2003, p. 3).

Nas classificações feitas por pesquisadores interessados no tema, os principais


aeroportos que servem São Paulo não estavam entre os 25 maiores do mundo
na década de 1990, em termos de número de passageiros e quantidade de
cargas. Não estavam, também, entre os 25 aeroportos mais requisitados do
mundo no que tange à origem e destino do tráfego internacional, ao passo que
aeroportos de metrópoles de países de menor porte econômico, como
Singapura, Bangkok, ou Cairo, estavam nesta lista. Neste estudo, São Paulo
não aparecia entre as 25 cidades com maior intensidade de fluxos de

19
Existem vários desafios metodológicos que devem ser superados para se chegar a
estimativas precisas do movimento migratório entre os países desenvolvidos e os países em
desenvolvimento. Parte significativa do montante de emigrantes provenientes dos países
menos desenvolvidos é constituída do que se convencionou chamar de ilegais ou clandestinos,
o que impossibilita a busca de informações por meio dos registros consulares. Como exemplo
disso, é sabido que os EUA abrigam milhões de imigrantes internacionais em situação irregular
de várias partes do mundo, com destaque para a população hispânica.
62

comunicação e nem entre as 25 maiores no que diz respeito ao fluxo de


containeres (Ferreira, 2003, p. 3).

Ademais, a cidade-global também se apóia na transição, nos países


desenvolvidos, de economias industriais típicas do período Fordista para
economias de perfil predominantemente terciário (Castells 1989). Nesse
sentido, Ferreira (2003, p. 3) declara que, tendo como exemplo a cidade de
São Paulo, “não há indícios significativos para afirmar que a cidade esteja
passando por um processo efetivo de transição para uma economia terciária,
quanto menos ‘terciária de ponta’”.

Megacidades como São Paulo e Cidade do México surpreendem em


população, embora o prefixo “Mega” não se encaixe tão bem quando se refere
à intensidade dos fluxos financeiros e de bens especializados para ambos os
casos. Nessa perspectiva, Forrest et al. (2004, p. 2) argumentam que “the
literature on global cities distinguishes between nodes of power, control and
cultural dominance and major concentrations of population”. Dessa maneira os
autores concluem que “megacities are not necessarily global cities”.

De acordo com Friedmann (2001, p. 2535), “world cities articulate territorial


economies with the global system and, like cities everywhere, they reflect the
power of their ‘colonised’ space”. Nos países em desenvolvimento, as grandes
cidades enfrentam uma série de limitações no que diz respeito ao poder de
articulação regional, uma vez que a presença de bolsões de pobreza, além da
existência de outros desafios, como a carência de infra-estrutura no setor de
comunicações, evidenciam as dificuldades de interação e articulação global
dos maiores centros urbanos com as demais regiões no interior destes países.

Mesmo considerando que estas cidades são as maiores portas dos respectivos
países para o mundo, vale lembrar que estas portas “meio abertas” não
permitem que a maioria dos habitantes dessas periferias participem,
ativamente, dos diversos tipos de fluxos globais. Nesse sentido, pode-se falar
em ‘globalidade altamente seletiva’ ou mesmo, de ‘falsa globalidade’ nos
63

países periféricos, embora existam claras evidências de que o processo de


globalização está em curso nessas áreas.

Embora exista uma clara tendência para que o meio técnico-científico


informacional e a urbanização extensiva tomem virtualmente todo o espaço
nacional, as diferenças internas persistem e devem ser qualificadas e
pensadas, com base em suas relações com os contextos urbanos e regionais
específicos. Nos países onde a produção fordista tem requerido a formação de
mercados regionais integrados e a produção do espaço combinou as condições
necessárias (infraestrutura, serviços, legislação, entre outros) para o consumo
de bens duráveis produzidos localmente, a exemplo do Brasil e do México, as
condições urbano-industriais tendem a se espalhar para todos os lugares, com
impactos evidentes no aumento da extensão e do dinamismo das redes
urbanas. Nos países periféricos que ainda não experimentaram um processo
de industrialização baseado em bens duráveis e em que a produção do espaço
ainda não atendeu às exigências da indústria Fordista, as brechas entre os
maiores centros urbanos e o resto do território são bastante grandes. Nesses
casos, o processo de cosmopolização encontrará maiores impedimentos para
lançar suas raízes e atuar na produção de novas formas de organização
urbana e regional, internas às áreas urbanas e externamente nas redes
urbanas (des)articuladas.

Parece claro que os arranjos produtivos locais se organizam, na maioria das


vezes, sob a influência de uma lógica que supera as fronteiras nacionais.
Nesse sentido, a globalização aparece para essa massa de excluídos, mesmo
que de costas, ditando regras e aprofundando desigualdades, com
conseqüências muito mais graves do que é verificado nos países
desenvolvidos. Em alguns países de economia periférica deve-se ressaltar a
importância e a gravidade do fenômeno que Castells chama a atenção em The
Informational City: o aprofundamento da divisão histórica entre trabalho manual
e intelectual. Em outros, a urbanização e/ou industrialização das áreas rurais e
urbanas reduzem as brechas existentes entre a cidade e o campo, o que leva à
produção de novas formas urbano-rurais, que garantem maior complexidade e
diversidade às redes. Entretanto, o que parece caracterizar a reestruturação
64

dos processos urbanos nos países em desenvolvimento, de maneira similar ao


das Cosmópolis, mas com níveis diferenciados, é uma combinação multiforme
de características locais pré-modernas com as vozes e imagens globais pós-
modernas. A cosmopolização está em curso.
65

4 Descobrindo a Amazônia das redes para além dos


rios

Na Amazônia Legal, a intensificação da exploração dos recursos naturais no


interior do território através do garimpo e da extração mineral organizada e
financiada por grandes empresas, assim como as práticas intensas de
desmatamento e a incorporação da terra pela agroindústria e pela pecuária,
juntamente com os projetos de colonização e as políticas induzidas e
financiadas pelo Estado, promoveram um surto de crescimento demográfico
que lançou novos desafios para os formuladores e gestores de políticas
públicas da Região.

A abertura de grandes rodovias nas áreas de fronteira, após a década de 1960,


estimulou um padrão de ocupação diferenciado na Amazônia Legal, diante da
intensificação dos fluxos entre as principais centralidades pertencentes a um
grande “arco rodoviário”. O estímulo a esse tipo de ocupação oferecia diversas
vantagens logísticas e locacionais, bem diferente do que ocorria nas
intermediações das principais vias fluviais da Região.

O capítulo anterior apresentou uma série de reflexões sobre as recentes


transformações nas redes urbanas em todo o planeta. Como foi discutido, o
aumento da flexibilidade e da interatividade estimulou o aparecimento de
padrões diferenciados nos sistemas de fluxos, após a virada do milênio. Nesse
contexto, deve-se entender melhor como a Região responde ao que foi
denominado de redes móveis.

Os próximos tópicos deste capítulo traçam um panorama do que tem sido o


processo de urbanização da Amazônia Legal brasileira, sob a perspectiva das
redes urbanas e dos diversos tipos de fluxos, com o objetivo de investigar
melhor o real significado das relações urbanas na Região.
66

4.1 Urbanização e evolução das redes na Amazônia Legal

Em meados do século passado, as cidades amazônicas eram organizadas de


maneira dispersa e simplificada, apoiadas em uma economia de caráter
colonial. Em 1950, apenas duas cidades, Belém e Manaus, se destacavam em
termos de tamanho populacional na Amazônia brasileira; ambas superavam,
então, o limiar de 100.000 habitantes. Geiger (1963, p. 408) destaca o enorme
contraste na Amazônia, já que “abaixo destas capitais, a maior cidade é
Santarém, com 14.000 habitantes, em 1950, seguida de apenas mais algumas
localidades de população superior a 5.000 hab.” O autor (1963) complementa
que, em 1950,

“a maioria delas, situada à margem de algum rio, é de população


inferior a 5.000 hab., apresentando conteúdo e forma que repelem a
denominação de cidade, para quem tenha a imagem de regiões mais
evoluídas” (Geiger, 1963, p. 408).

Ainda de acordo com Geiger (1963),

“das cidades de mais de 5.000 hab., algumas devem a sua


importância em parte ao fato de serem capitais administrativas de
territórios federais. É o caso de Porto Velho, a quarta cidade da
Amazônia, com 10.000 hab., Macapá, com 9.750 hab., Rio Branco,
com 9.400 hab. Em 1950 tinham mais de 5.000 hab., além das
citadas: Bragança, Abaetetuba, Soure, Itacoatiara e Parintins;
nenhuma, porém, chegou a 6.000”(Geiger, 1963, p. 408).

Ao longo das últimas décadas, o aumento do dinamismo das redes urbanas


nas proximidades das principais rodovias amazônicas explica, em grande
parte, as altas Taxas de Crescimento Geométrico (TCG) para a Região. De
acordo com os Censos Demográficos, a TCG da população da Amazônia Legal
entre 1970 e 1980 (4,43% a.a) esteve bem acima da média nacional (2,5%
a.a)20. Entre 1980 e 1991, o valor da TCG na Região reduziu-se para 3,51%
a.a., caindo ainda mais entre 1991 e 2000 (2,48% a.a). Com base nos dados
da Contagem de População de 2007 (IBGE) e das estimativas realizadas para
os médios e grandes municípios não cobertos pela pesquisa, percebe-se que a
TCG continuou a decrescer, atingindo 1,64% a.a. entre 2000 e 2007, mas

20
O estoque populacional relativamente pequeno da Amazônia Legal no início desse período
deve ser considerado na interpretação das altas TCG entre 1970-1980.
67

permanecendo acima da média nacional no mesmo período (1,15% a.a.).


(IBGE, 1970, 1980, 1991, 2000, 2007).

Com relação à evolução do crescimento das cidades, a TAB. 1 apresenta a


distribuição dos municípios por classes de tamanho populacional, entre 1970 e
2007. Em 1970, havia apenas 20 municípios com população superior a 50 mil
habitantes, e apenas 5 possuíam mais de 100 mil habitantes, ao passo que 239
(72% dos municípios da Região) apresentavam população inferior a 20 mil. Já
em 1980, percebe-se um aumento no grau de complexidade das redes urbanas
da Amazônia, que contava com a presença de 12 municípios com mais de 100
mil habitantes e 31 municípios com população entre 50 e 100 mil.

Tabela 1 – Amazônia Legal - Distribuição dos municípios por classes de


tamanho populacional (1970-2007)
1970 1980 1991 2000 2007
N° de habitantes
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
menos de 20.000 239 71,99 221 60,38 303 59,88 529 69,65 515 67,81
20.000 a 50.000 73 21,99 102 27,87 142 28,06 167 21,94 170 22,34
50.000 a 100.000 15 4,52 31 8,47 43 8,50 43 5,65 49 6,44
100.000 a 1.000.000 5 1,51 12 3,28 16 3,16 19 2,50 24 3,15
mais de 1.000.000 0 0,00 0 0,00 2 0,40 2 0,26 2 0,26
Total 332 100 366 100 506 100 760 100 760 100
Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1970 a 2000. Contagem da População.

Em 1991, já existiam pouco mais de 500 municípios na Amazônia Legal, e


desses, 16 tinham entre 100 mil e 1 milhão de habitantes. Vale destacar que,
naquele ano, Belém e Manaus já superavam o limiar de 1 milhão de pessoas e
que, mesmo com um incremento de 140 novas unidades municipais via
emancipação, entre 1980 e 1991 a participação dos municípios de maior
população no total da Região seguiu aumentando; aqueles acima de 50 mil
habitantes representavam 12% do total de municípios em 1991.

A década de 1990 foi marcada, em todo o Brasil, por uma explosão de


pequenos municípios, resultantes das emancipações ocorridas, sobretudo nos
anos de 1993 e 1997. Nesse período, surgiram 254 novos municípios na
Amazônia Legal. Como a maioria dessas novas localidades se emancipou com
população inferior a 20 mil habitantes, a participação percentual dessa faixa
68

aumentou em detrimento das demais, atingindo valores próximos aos de 1970.


Em contrapartida, o número de municípios com mais de 100 mil habitantes, em
termos absolutos, aumentou de 18 para 21, entre os anos de 1991 e 2000. De
acordo com os dados mais recentes da TAB. 1, parece claro que aumentou a
concentração populacional nas cidades de médio porte da Amazônia. O
número de municípios com população entre 100.000 e 1.000.000 de habitantes
era 19, em 2000, aumentando para 24, em 2007. Da mesma forma, os
municípios com população entre 50.000 e 100.000 residentes aumentaram
para 49 no último ano analisado, contra 43 em 2000.

Como forma de ampliar as possibilidades de interpretação da TAB. 1, a


distribuição espacial das transformações demográfica dos municípios
amazônicos no mesmo período pode ser visualizada na FIG.121. A expansão
urbana (e populacional) foi mais intensa, sobretudo, ao longo das rodovias que
cortam as porções Sul, Sudoeste e Leste da Região, além da ocupação que
segue os contornos do rio Amazonas até Manaus. Assim, torna-se claro o
impacto da malha viária para o desenvolvimento das aglomerações urbanas na
Região. Entretanto, permanece uma vasta região de baixa ocupação no
Sudoeste do Pará e grande parte do estado do Amazonas, além da parte
superior do rio Amazonas, estendendo-se pelo Sul de Roraima até o Norte do
estado do Amapá.

A abertura de grandes rodovias no território amazônico, em grande medida,


estimulou estas altas TCG na Região, o que, sem dúvida, tem aumentado as
demandas por infraestrutura e serviços públicos nas cidades amazônicas, além
da enorme pressão exercida sobre os recursos naturais nessas porções do
território.

Diante disso, existe uma discussão que aponta para a importância de se


repensar os moldes de ocupação adotados na Região. Um ponto importante
que tem sido levantado diz respeito às vantagens comparativas da construção
de ferrovias na Região, ao invés do asfaltamento e da criação de novas

21
A representação está de acordo com a malha municipal de cada ano em questão. Nesse
período, os dados de população para os municípios emancipados não estão agregados.
69

rodovias. Como pode ser visto no relatório divulgado pela III Conferência
Nacional do Meio Ambiente – Mudanças Climáticas - 2008:

“ao contrário do modal rodoviário, que permite o acesso livre e


indiscriminado em todo o trecho da via, o modal ferroviário restringe o
acesso apenas às estações, estrategicamente posicionadas em
locais pré-determinados, onde realmente houver a necessidade de se
ter um ponto de embarque e desembarque de pessoas e produtos”
(2008, p. 9).

Esta forma de ocupação do território amazônico, nas últimas décadas, gerou


um padrão diferenciado na composição da população nas áreas que
experimentaram crescimento mais intenso. A FIG. 2 demonstra que os valores
mais elevados da População em Idade Ativa (PIA) dos municípios da Amazônia
Legal, em 2000, se concentravam naqueles cortados pelo “arco rodoviário”
amazônico, sobretudo na porção meridional da região. Os municípios que
experimentam o avanço da fronteira nos estados do Mato Grosso e Rondônia
se destacam pelos altos valores de PIA, quase sempre superiores a 61,30% da
população. As representações cartográficas das FIGs. 1, e 2 mostram, com
clareza, a relação entre o tamanho demográfico e PIA na Amazônia Legal, que
em vários momentos parece ser positiva, ou seja, quanto maior a concentração
populacional e o tamanho dos centros, maior é proporção de pessoas em idade
ativa. Isso está relacionado com o caráter seletivo, por idade, da migração
nessas porções da Amazônia Legal. No outro extremo, os estados do
Amazonas e do Acre, caracterizados pela ocupação difusa e pela baixa
densidade demográfica, são os que apresentam os menores valores da PIA no
ano 2000.
70
71

As recentes transformações, citadas neste tópico, têm gerado interpretações


que muitas vezes não são condizentes com a realidade urbano-regional,
apoiadas na falácia de que as cidades amazônicas já não estariam
organizadas em um modelo simplificado de rede urbana, do tipo dendrítico ou
monocêntrico, o qual teria sido rompido com a introdução de novas cidades
médias e com o surto de crescimento de pequenos municípios na Região.
Entretanto, mesmo diante das altas taxas de crescimento das últimas décadas,
as redes urbanas amazônicas não apresentam o mesmo nível de equilíbrio e
complexidade encontrado nas regiões dinâmicas do Brasil, ou mesmo em
outras regiões desenvolvidas do mundo. Na Amazônia, a integração
econômico-espacial promovida pela globalização não foi suficiente para reduzir
significativamente as distâncias entre as pequenas cidades e os demais níveis
hierárquicos das redes urbanas, diante de uma série de atritos que reduzem ou
inviabilizam diversos tipos de fluxos. Sendo assim, cabe explorar, com maior
profundidade, as especificidades amazônicas nesse contexto de
transformações.
72
73

4.2 Especificidades das redes urbanas da Amazônia Legal: a


atuação das grandes cidades

Diante das recentes transformações na organização e na estruturação das


cidades no território amazônico, à primeira vista pode-se inferir que existe uma
rede urbana dinâmica, com várias cidades médias e centros locais com forte
poder de interação em algumas porções da Amazônia Legal. Isso porque,
como mostrou a FIG. 1, no Nordeste da Região e ao longo do “arco rodoviário”,
as cidades amazônicas parecem estar organizadas de forma similar à atual
conformação dos centros urbanos no Centro-Sul do País. Entretanto, um olhar
mais atento nos leva a questionar essa interpretação, cabendo destacar aquele
que parece ser o argumento mais imediato: as escalas espaciais da Região
amazônica são bastante distintas.

A situação de fragilidade das redes urbanas amazônicas está relacionada à


criação de uma série de impedimentos para os fluxos de pessoas, mercadorias
e serviços, cabendo destacar: a) as grandes distâncias que separam as
capitais das demais cidades e vilas; b) a carência de infra-estrutura nos setores
de transporte e comunicação em vastas porções do território amazônico; c) a
grande proporção de população desprovida de recursos materiais e
educacionais, decisivos para sua participação ativa nos diversos tipos de
fluxos.

Na Amazônia, as grandes distâncias entre centros locais, cidades de porte


médio e as maiores cidades da Região criam limitações aos fluxos de bens,
pessoas e serviços entre os diversos níveis hierárquicos urbanos. A própria
distribuição dos centros urbanos no território amazônico se dá de maneira
bastante desigual, com nítida concentração de cidades nas intermediações de
um “arco rodoviário” formado pelas grandes rodovias federais que envolvem
e/ou cortam a Região, sem, no entanto, apresentar intensidade forte de
penetração e articulação interna com os espaços regionais. Isso cria uma clara
dificuldade no que diz respeito aos fluxos entre as cidades pertencentes ao
“arco” e os demais centros no interior do território.
74

Parece evidente a carência de infraestrutura nos setores de comunicação e


transportes em grandes porções do território amazônico. Os baixos
investimentos em infraestrutura urbana e regional se refletem na criação de um
ambiente contrário ao que seria necessário para a aceleração dos fluxos no
interior da Região. Mesmo com a presença de alguns investimentos
relativamente grandes na atual carteira de distribuição de recursos
governamentais, percebe-se que, alguns destes, como no caso da construção
de grandes hidroelétricas, priorizam a geração de riqueza e de bens que não
irão ser aproveitados, em grande parte, dentro da Região.

Para compreender melhor a dinâmica das redes amazônicas, não se pode


olhar apenas para os aspectos externos aos centros urbanos. É fundamental
lançar luz sobre as características internas aos centros, exercício indispensável
para compreender a intensidade e o direcionamento dos fluxos. Ao se aprender
a olhar a cidade por dentro, com o objetivo de conhecer melhor suas
especificidades intra-urbanas, torna-se mais fácil entender a forma como as
cidades interagem e se integram.

Nesse sentido, percebe-se que os diversos tipos de fluxos também são


limitados por razões de natureza estritamente sócio-econômica. Na Amazônia
Legal, como em outras partes do País, é evidente a grande proporção de
população que não possui bens materiais e educacionais suficientes para
participar ativamente dos fluxos regionais e globais, sejam de mercadorias e de
serviços, sejam daqueles relacionados a demandas sociais hoje consideradas
básicas, como também daqueles referentes a demandas mais sofisticadas, que
deveriam estar disponíveis em cidades relativamente próximas, em uma rede
urbana em pleno funcionamento.

Mesmo que algumas das novidades tecnológicas do mundo moderno


estimulem o surgimento de alguns padrões diferenciados que, em alguns
momentos, se aproximem de algo que possa ser entendido como rede móvel,
sobretudo em Belém e Manaus, que passam a contar, quase que
simultaneamente, com todas as inovações globais que apontam no sentido da
75

flexibilidade e interatividade, deve-se ter em mente que, este padrão


pertencente às redes urbanas mais dinâmicas do mundo, de fato, está longe de
se estabelecer de maneira sólida na Região.

Diante destas considerações, pode-se afirmar, com segurança, que não


existem condições adequadas para que os dois maiores centros da Região,
Manaus e Belém, consigam estruturar o território amazônico, ou seja, fazer de
maneira suficiente e satisfatória a intermediação entre os pequenos e médios
centros da Amazônia com o restante do País, ou até mesmo com as áreas que
extrapolam o território nacional, na Pan-Amazônia ou no sistema mundial
globalizado.

O estudo realizado pelo IBGE, “Regiões de Influência das cidades 2007”,


divulgado em 2008, apresenta alguns resultados interessantes que vão ao
encontro do que foi afirmado no parágrafo anterior. Assim, foram identificadas
12 redes urbanas de primeiro nível no Brasil, comandadas pelas principais
metrópoles. Entre elas, Manaus e Belém foram citadas como sendo os dois
principais centros estruturadores do território amazônico, comandando as redes
que se estendem nessa porção do País22.

A TAB. 2 demonstra a dimensão das redes de primeiro nível delimitadas no


estudo do IBGE (2008). Apenas as redes de São Paulo e Brasília apresentam
áreas maiores do que as duas redes de primeiro nível da Amazônia. Vale
lembrar que o tamanho territorial das redes amazônicas não é resultado de
uma grande capacidade de articulação regional das maiores centralidades da
Região, mas, sim, devido às peculiaridades espaciais existentes. As redes de
Manaus (1,7%) e Belém (3,8%) somam apenas 5,5% da população brasileira,
com densidade demográfica de 2,15 e 5,53 hab./Km2, respectivamente. Das 83
capitais regionais23 identificadas pelo IBGE, apenas quatro estão nas redes de

22
De acordo com o IBGE (2008, 3), “as redes são diferenciadas em termos de tamanho,
organização e complexidade e apresentam interpenetrações devido à ocorrência de vinculação
de mais de um centro, resultando em dupla ou tripla inserção na rede”.
23
Segundo o IBGE (2008), a capital regional possui capacidade de gestão imediatamente
inferior ao da metrópole e tem área de influência regional, sendo referida como destino por um
grande conjunto de municípios. O centro sub-regional possui atividades de gestão menos
complexas e área de atuação mais reduzida. Seus relacionamentos externos à sua própria
76

Manaus (1) e Belém (3). Estas duas redes possuem 13 dos 199 centros sub-
regionais. Apenas 14 dos 666 centros de zona brasileiros estão no raio de
influência das duas maiores cidades amazônicas. Apesar da área de influência
de São Luiz (MA) e de Cuiabá (MT) não estarem, de acordo com o IBGE
(2008), entre as maiores redes do País, deve-se lembrar que estas cidades
também se destacam do ponto de vista demográfico e funcional na Amazônia
Legal.

Tabela 2 - Brasil - Dimensão das redes de primeiro nível, 2007


Dimensão
Redes de Primeiro Nível Capitais Centros sub- Centros de
Municípios População Área (km2)
regionais regionais zona
São Paulo 20 33 124 1028 51.020.582 2.279.108,45
Rio de Janeiro 5 15 25 264 20.750.595 137.811,60
Brasília 4 10 44 298 9.680.621 1.760.733,86
Fortaleza 7 21 86 786 20.573.035 792.410,65
Recife 8 18 54 666 18.875.595 306.881,59
Salvador 6 16 41 486 16.335.288 589.229,74
Belo Horizonte 8 15 77 698 16.745.821 483.729,84
Curitiba 9 28 67 666 16.178.968 295.024,25
Porto Alegre 10 24 89 733 15.302.496 349.316,91
Goiânia 2 6 45 363 6.408.542 835.783,14
Manaus 1 2 4 72 3.480.028 1.617.427,98
Belém 3 11 10 161 7.686.082 1.389.659,23
Fonte: IBGE, Contagem da População; Área territorial oficial. Rio de Janeiro (2007).

O IBGE (2008) também disponibiliza uma variável denominada “Intensidade de


Relacionamento”, que se refere ao número de vezes em que uma determinada
cidade foi citada no questionário do IBGE. Os valores de Intensidade de
Relacionamento das cidades de Manaus e Belém são, respectivamente, 554 e
1575. A cidade de Cuiabá (1.410) apresenta Intensidade de Relacionamento
próxima a de Belém, ao passo que São Luís (2.072) se destaca pelo maior
valor de Intensidade de Relacionamento da Amazônia Legal. Para se ter uma
idéia, os valores da Intensidade de Relacionamento de São Paulo, Brasília, Rio
de Janeiro e Belo Horizonte são, respectivamente, 12.857, 2.908, 3.124 e
8.520. Todos os dados apontam para a situação de fragilidade das redes
urbanas amazônica no que tange à capacidade de estruturação territorial,
sobretudo no caso de Manaus, com Intensidade de Relacionamento menor do

rede, geralmente, se dão com apenas três metrópoles nacionais. Já o centro de zona,
apresenta raio de atuação restrita a sua área imediata.
77

que algumas cidades de porte médio do Centro-Sul do País, como Juiz de Fora
(1.268), Ribeirão Preto (853) e Montes Claros (845).

Manaus tem sua condição de articulador regional prejudicada pela localização


desfavorável no interior da Amazônia e distante dos principais eixos rodoviários
da Região. Nesse caso, o posicionamento centralizado de Manaus na
Amazônia cria diversos atritos para a centralidade desta grande cidade na
rede. Ou seja, mesmo diante da importância do transporte fluvial através do rio
Amazonas, pode-se dizer que o coração da Amazônia está longe das principais
veias e artérias que dinamizam os fluxos na Região.

Em uma situação mais favorável, Belém, por sua vez, dado seu caráter
locacional excêntrico, situada no extremo norte da Amazônia oriental, é
também incapaz de cumprir o papel articulador das redes urbanas amazônicas,
que caberia a uma metrópole regional do seu porte.

São Luís apresenta a maior Intensidade de Relacionamento da Amazônia


Legal devido ao seu posicionamento estratégico, entre Belém, Teresina e
Fortaleza. Além disso, deve-se destacar a articulação deste centro com outras
cidades dentro do próprio estado, como Pinheiro, Santa Inês, Bacabal,
Pedreiras, Presidente Dutra, Caxias, Chapadinha, Parnaíba, além de Imperatriz
e Balsas (IBGE, 2008).

Cuiabá é o maior centro da porção meridional do arco rodoviário da Amazônia


Legal. É a principal porta de entrada dos agentes econômicos do Sul da Região
para o interior amazônico. Esta cidade se articula com Cáceres, Rondonópolis
e Barra do Garças na porção meridional do estado, além de Sinop rumo ao
interior da Amazônia (IBGE, 2008).

Com base no estudo Cadastro Central das Empresas (2004), que teve alguns
resultados foram publicados em IBGE (2008), pode-se calcular a Intensidade
de Relacionamento Empresarial das principais cidades amazônicas. O IBGE
(2008) define esta variável como sendo “a soma do número de filiais existentes
na cidade B de empresas com sede na cidade A com o número de filiais
78

existentes na cidade A de empresas com sede na cidade B”. Estes dados


geraram uma série de informações valiosas que podem ser visualizadas nas
TAB. 3 e 4.

Tabela 3 - Intensidade de Relacionamento Empresarial, Belém e


Manaus, 2004
Belém Manaus
Ordem
Cidade n % Cidade n %
1 São Paulo (SP) 360 23,53 São Paulo (SP) 602 37,23
2 Rio de Janeiro (RJ) 150 9,80 Rio de Janeiro (RJ) 184 11,38
3 Manaus (AM) 140 9,15 Belém (PA) 140 8,66
4 Macapá (AP) 119 7,78 Brasília (DF) 104 6,43
5 Brasília (DF) 115 7,52 Porto Velho (RO) 96 5,94
6 Fortaleza (CE) 103 6,73 Boa Vista (RR) 64 3,96
7 São Luís (MA) 83 5,42 Recife (PE) 49 3,03
8 Castanhal (PA) 72 4,71 Belo Horizonte (MG) 48 2,97
9 Santarém (PA) 50 3,27 Fortaleza (CE) 46 2,84
10 Marabá (PA) 47 3,07 Campinas (SP) 38 2,35
11 Recife (PE) 45 2,94 Porto Alegre (RS) 36 2,23
12 Curitiba (PR) 40 2,61 Cuiabá (MT) 33 2,04
13 Belo Horizonte (MG) 36 2,35 Curitiba (PR) 33 2,04
14 Altamira (PA) 30 1,96 Macapá (AP) 32 1,98
15 Abaetetuba (PA) 28 1,83 Rio Branco (AC) 25 1,55
16 Goiânia (GO) 24 1,57 Itacoatiara (AM) 20 1,24
17 Capanema (PA) 23 1,50 Salvador (BA) 18 1,11
18 Santa Isabel do Pará (PA) 22 1,44 Goiânia (GO) 17 1,05
19 Paragominas (PA) 22 1,44 Manacapuru (AM) 16 0,99
20 Breves (PA) 21 1,37 São Luis (MA) 16 0,99
Total 1530 100 1617 100
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 2004. Regiões de Influência das Cidades 2007.

A primeira coisa que chama atenção na TAB. 3 é que, de uma forma geral,
Manaus apresenta Intensidade de Relacionamento Empresarial superior a
Belém, considerando as 20 ligações que mais se destacam. Vale lembrar que,
como dito anteriormente, a Intensidade de Relacionamento de Manaus (554)
com as demais cidades de sua rede é bem menor em relação ao que acontece
na rede encabeçada por Belém (1575). Tal situação pareceria improvável e
incompatível com a realidade, não fosse o tamanho do PIB de Manaus (R$
27.214.213.000), mais do que o dobro do PIB de Belém (11.277.414.000), em
2005.

Os valores de Intensidade de Relacionamento Empresarial de Belém e Manaus


com as duas maiores metrópoles nacionais estão entre os mais altos do
ordenamento da TAB. 3. Percebe-se que São Paulo e Rio de Janeiro superam
79

até mesmo o relacionamento empresarial existente entre Belém e Manaus. Se,


por um lado, isso evidencia a grande influência das duas maiores metrópoles
do Sudeste na Amazônia, por outro, reflete, também, a baixa integração
regional entre Belém e Manaus.

A Intensidade de Relacionamento Empresarial de Belém com os municípios do


Pará que estão entre os 20 primeiros no ordenamento (20,6%) evidencia um
maior equilíbrio em relação ao que ocorre no estado vizinho. No Amazonas,
Manaus possui uma Intensidade de Relacionamento Empresarial de apenas
2,22% com os demais municípios do Amazonas presentes na TAB. 3. Todas as
outras cidades presentes nessa tabela estão fora do Amazonas, sendo quatro
delas do Sudeste brasileiro.

Percebe-se que as relações de Intensidade de Relacionamento Empresarial


dos maiores pólos amazônicos, Belém e Manaus, com as cidades de São Luís
e Cuiabá se dão de maneira relativamente fraca. No caso de Manaus, percebe-
se que Cuiabá (33) e São Luís (16) estão citadas na TAB. 3, ocupando a
décima segunda e a vigésima posições, respectivamente. Já Belém, possui
Intensidade de Relacionamento Empresarial significativa apenas com São Luís
(83), uma vez que Cuiabá não está entre as 20 primeiras cidades com maior
relacionamento empresarial com Belém.

São Luís e Cuiabá, de acordo com a TAB. 4, possuem altos níveis de


Intensidade de Relacionamento Empresarial com São Paulo, 160 e 307,
respectivamente. Entretanto, a cidade do Rio de Janeiro, diferentemente do
que ocorre em relação a Manaus e Belém (TAB. 3), não está entre as quatro
primeiras posições em termos de Intensidade de Relacionamento Empresarial
com São Luís (78) e Cuiabá (68), ocupando a quinta e sexta posições,
respectivamente, no rol de cidades com maior valor da variável, em 2004.

São Luís apresenta forte Intensidade de Relacionamento Empresarial com


capitais de outros estados. Sendo assim, as seis primeiras cidades com maior
Intensidade de Relacionamento Empresarial são capitais estaduais (São Paulo,
Fortaleza, Belém, Brasília, Rio de Janeiro e Recife) e somam 69,8% em
80

relação ao total da TAB.4. Imperatriz é a primeira cidade maranhense com alta


Intensidade de Relacionamento Empresarial com São Luís, que aparece na
TAB 4. ocupando a sétima posição.

Cuiabá, no total (1.275), está num patamar superior em relação a São Luís
(810). Em relação a Cuiabá, São Paulo apresenta 24,1% do total na tabela, ao
passo que o Rio de Janeiro apenas 5,3%. Também vale destacar o alto nível
de relacionamento empresarial de Cuiabá com Campo Grande (140) e,
também, com Brasília (117).

Tabela 4 - Intensidade de Relacionamento Empresarial, São Luís e


Cuiabá, 2004
São Luís (MA) Cuiabá (MT)
Ordem
Cidade n % Cidade n %
1 São Paulo (SP) 160 19,75 São Paulo (SP) 307 24,08
2 Fortaleza (CE) 111 13,70 Campo Grande (MS) 140 10,98
3 Belém (PA) 83 10,25 Brasília (DF) 117 9,18
4 Brasília (DF) 82 10,12 Rondonópolis (MT) 109 8,55
5 Rio de Janeiro (RJ) 78 9,63 Sinop (MT) 71 5,57
6 Recife (PE) 51 6,30 Rio de Janeiro (RJ) 68 5,33
7 Imperatriz (MA) 50 6,17 Tangará da Serra (MT) 60 4,71
8 Terezina (PI) 42 5,19 Goiânia (GO) 57 4,47
9 Belo Horizonte (MG) 21 2,59 Curitiba (PR) 38 2,98
10 Bacabal (MA) 20 2,47 Campinas (SP) 38 2,98
11 Salvador (BA) 19 2,35 Porto Velho (RO) 35 2,75
12 Manaus (AM) 16 1,98 Primavera do Leste (MT) 34 2,67
13 Santa Inês (MA) 15 1,85 Manaus (AM) 33 2,59
14 Balsas (MA) 11 1,36 Santo Antônio do Leverger (MT) 30 2,35
15 Itapecuru Mirim (MA) 9 1,11 Sorriso (MT) 26 2,04
16 Caxias (MA) 9 1,11 Presidente Prudente (SP) 25 1,96
17 Macapá (AP) 9 1,11 Cáceres (MT) 24 1,88
18 Pineiro (MA) 8 0,99 Barra do Garças (MT) 23 1,80
19 Goiânia (GO) 8 0,99 Porto Alegre (RS) 20 1,57
20 Vitória (ES) 8 0,99 Cascavél (PR) 20 1,57
Total 810 100,00 1275 100,00
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 2004. Regiões de Influência das Cidades 2007.

A TAB. 5 e a FIG. 3 apresentam o resultado de uma matriz de funcionalidades


elaborada para todos os municípios da Amazônia Legal com população
superior a 20.000 habitantes, em 2007. As funções escolhidas buscaram
abranger desde atividades mais simples, a exemplo de escolas de ensino
médio e fundamental, até as mais sofisticadas, como escolas de nível superior
e a disponibilidade de cursos de pós-graduação com conceito 6 ou 7 avaliados
81

pela CAPES (ver TAB. A 1). Esta variável irá compor o modelo do capítulo
posterior. De um total de 73 funções pesquisadas, Belém e Manaus obtiveram
os maiores valores (71 e 70, respectivamente), seguidos de São Luís e Cuiabá,
ao passo que Nova Esperança do Piriá (PA) apresentou o menor valor (9) entre
todos os municípios pesquisados.

Como pode ser observado na TAB. 5, os sete primeiros municípios no


ordenamento são capitais estaduais. A primeira cidade do interior (não capital)
da Amazônia Legal é Imperatriz (MA), com 83,6% (61) do total das 73 funções
pesquisadas. De todos os municípios pesquisados (243), percebe-se que 77
eram dotados de mais de 50% das funções e apenas 10 possuíam mais de
80%, sendo todos eles sedes de capitais estaduais, com exceção de Imperatriz
e Ji-Paraná. Em situação bem desfavorável, percebe-se que 36 municípios
contidos na TAB. 5 possuíam menos de 20 funções, das 73 pesquisadas.

Se Manaus e Belém possuem população bem superior às demais cidades das


redes, percebe-se que, no que diz respeito à disponibilidade de funções
(desconsiderando a quantidade ofertada), cidades de porte médio, como
Imperatriz e Ji-Paraná, podem exibir um nível de centralidade “comparável” aos
das capitais estaduais e mesmo dos maiores centros articuladores das redes
amazônicas, Manaus e Belém.
82

Tabela 5 - Amazônia Legal - Funcionalidades dos municípios com população


superior a 20.000 habitantes, 2000-2007*
Município n % Município n %
Belém 71 97,26 Parauapebas 41 56,16
Manaus 70 95,89 Bacabal 41 56,16
São Luís 68 93,15 Pontes e Lacerda 41 56,16
Cuiabá 68 93,15 Abaetetuba 40 54,79
Porto Velho 67 91,78 Pinheiro 40 54,79
Rio Branco 67 91,78 Primavera do Leste 40 54,79
Palmas 67 91,78 Várzea Grande 40 54,79
Boa Vista 65 89,04 Manicoré 39 53,42
Imperatriz 61 83,56 Conceição do Araguaia 39 53,42
Ji-Paraná 59 80,82 Rondon do Pará 39 53,42
Macapá 59 80,82 Tomé-Açu 39 53,42
Rondonópolis 58 79,45 Porto Nacional 39 53,42
Cacoal 57 78,08 Barra do Corda 39 53,42
Sinop 57 78,08 Grajaú 39 53,42
Araguaína 55 75,34 Campo Verde 39 53,42
Ariquemes 54 73,97 Tabatinga 38 52,05
Santarém 54 73,97 Cametá 38 52,05
Tucuruí 53 72,60 Capanema 38 52,05
Gurupi 53 72,60 Guaraí 38 52,05
Tangará da Serra 53 72,60 Paraíso do Tocantins 38 52,05
Barra do Garças 52 71,23 Zé Doca 38 52,05
Cáceres 52 71,23 Coari 37 50,68
Sorriso 51 69,86 Humaitá 37 50,68
Vilhena 48 65,75 Maués 37 50,68
Balsas 48 65,75 Almeirim 37 50,68
Cruzeiro do Sul 47 64,38 Oriximiná 37 50,68
Altamira 47 64,38 Guarantã do Norte 37 50,68
Marabá 47 64,38 Lucas do Rio Verde 37 50,68
Redenção 46 63,01 Espigão D'Oeste 36 49,32
Alta Floresta 46 63,01 Sena Madureira 36 49,32
Castanhal 45 61,64 Coroatá 36 49,32
Itaituba 45 61,64 Lago da Pedra 36 49,32
Barra do Bugres 45 61,64 Campo Novo do Parecis 36 49,32
Juara 45 61,64 Nova Mutum 36 49,32
Colíder 44 60,27 Pindaré-Mirim 35 47,95
Jaru 43 58,90 Paranatinga 35 47,95
Parintins 43 58,90 Manacapuru 34 46,58
São Gabriel da Cachoeira 43 58,90 Tucumã 34 46,58
Açailândia 43 58,90 Presidente Dutra 34 46,58
Confresa 43 58,90 Vitorino Freire 34 46,58
Rolim de Moura 42 57,53 Tarauacá 33 45,21
Paragominas 42 57,53 Tefé 33 45,21
Santa Inês 42 57,53 Barcarena 33 45,21
Jaciara 42 57,53 Bragança 33 45,21
Juína 42 57,53 Colinas do Tocantins 33 45,21
Guajará-Mirim 41 56,16 Pedreiras 33 45,21
Ouro Preto do Oeste 41 56,16 Peixoto de Azevedo 33 45,21
Pimenta Bueno 41 56,16 Eirunepé 32 43,84
Itacoatiara 41 56,16 Lábrea 32 43,84
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000, IBGE Contagem da População de 2007, Atlas
de desenvolvimento Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, Estatíticas de Saúde do IBGE 2000, IBGE, Perfil
dos Municípios - Cultura 2006. Continua...
* Em um total de 73
funcionalidades.
83

Tabela 5 - Amazônia Legal - Funcionalidades dos municípios com população


superior a 20.000 habitantes, 2000-2007*
Município n % Município n %
Igarapé-Miri 32 43,84 Nova Olinda do Norte 27 36,99
Jacundá 32 43,84 São Paulo de Olivença 27 36,99
Santa Luzia 32 43,84 Baião 27 36,99
Poconé 32 43,84 Capitão Poço 27 36,99
Barcelos 31 42,47 Óbidos 27 36,99
Benjamin Constant 31 42,47 São Geraldo do Araguaia 27 36,99
Ananindeua 31 42,47 Laranjal do Jari 27 36,99
Carolina 31 42,47 Tocantinópolis 27 36,99
Colinas 31 42,47 Governador Nunes Freire 27 36,99
Cururupu 31 42,47 Feijó 26 35,62
Dom Pedro 31 42,47 Careiro 26 35,62
Pio XII 31 42,47 Rio Preto da Eva 26 35,62
São Mateus do Maranhão 31 42,47 Mãe do Rio 26 35,62
Viana 31 42,47 Salinópolis 26 35,62
Alta Floresta D'Oeste 30 41,10 Santana do Araguaia 26 35,62
Buritis 30 41,10 São Félix do Xingu 26 35,62
Carauari 30 41,10 Araguatins 26 35,62
Presidente Figueiredo 30 41,10 Itapecuru-Mirim 26 35,62
Acará 30 41,10 Santa Helena 26 35,62
Dom Eliseu 30 41,10 Santa Rita 26 35,62
Santa Isabel do Pará 30 41,10 Goianésia do Pará 25 34,25
Tailândia 30 41,10 Marituba 25 34,25
Ulianópolis 30 41,10 Moju 25 34,25
Carutapera 30 41,10 Vigia 25 34,25
Estreito 30 41,10 Tuntum 25 34,25
São José de Ribamar 30 41,10 Autazes 24 32,88
Vitória do Mearim 30 41,10 Boca do Acre 24 32,88
Alenquer 29 39,73 Benevides 24 32,88
Monte Alegre 29 39,73 Igarapé-Açu 24 32,88
Xinguara 29 39,73 Soure 24 32,88
Santana 29 39,73 São Domingos do Maranhão 24 32,88
Buriticupu 29 39,73 Barreirinha 23 31,51
Rosário 29 39,73 Rorainópolis 23 31,51
São Bento 29 39,73 Canaã dos Carajás 23 31,51
Mirassol d'Oeste 29 39,73 Itupiranga 23 31,51
Machadinho D'Oeste 28 38,36 Mocajuba 23 31,51
Borba 28 38,36 Ourilândia do Norte 23 31,51
Iranduba 28 38,36 Portel 23 31,51
Breves 28 38,36 Alto Alegre do Pindaré 23 31,51
Concórdia do Pará 28 38,36 Arari 23 31,51
Novo Progresso 28 38,36 Turiaçu 23 31,51
São Miguel do Guamá 28 38,36 Nova Mamoré 22 30,14
Uruará 28 38,36 Porto de Moz 22 30,14
Bom Jardim 28 38,36 São Domingos do Araguaia 22 30,14
Itinga do Maranhão 28 38,36 São Domingos do Capim 22 30,14
Monção 28 38,36 Icatu 22 30,14
Colniza 28 38,36 Paço do Lumiar 22 30,14
Presidente Médici 27 36,99 Curuçá 21 28,77
São Miguel do Guaporé 27 36,99 Eldorado dos Carajás 21 28,77
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000, IBGE Contagem da População de 2007, Atlas
de desenvolvimento Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, Estatíticas de Saúde do IBGE 2000, IBGE, Perfil
dos Municípios - Cultura 2006. Continua...
* Em um total de 73 funcionalidades
84

Tabela 5 - Amazônia Legal - Funcionalidades dos municípios com população


superior a 20.000 habitantes, 2000-2007*
Município n % Município n %
Juruti 21 28,77 Limoeiro do Ajuru 17 23,29
Medicilândia 21 28,77 Marapanim 17 23,29
Rurópolis 21 28,77 Ponta de Pedras 17 23,29
Alcântara 21 28,77 Prainha 17 23,29
Bom Jesus das Selvas 21 28,77 Santa Maria do Pará 17 23,29
Riachão 21 28,77 Muaná 16 21,92
Novo Repartimento 20 27,40 Santo Antônio do Tauá 16 21,92
Oeiras do Pará 20 27,40 Pedro do Rosário 16 21,92
Amarante do Maranhão 20 27,40 Água Azul do Norte 15 20,55
Anajatuba 20 27,40 Curralinho 15 20,55
Arame 20 27,40 Raposa 15 20,55
Santo Antônio do Içá 19 26,03 Senador La Rocque 15 20,55
Anajás 19 26,03 Afuá 14 19,18
Gurupá 19 26,03 Aurora do Pará 14 19,18
Matinha 19 26,03 Ipixuna do Pará 14 19,18
Breu Branco 18 24,66 Maracanã 14 19,18
Pacajá 18 24,66 Bequimão 14 19,18
São Sebastião da Boa Vista 18 24,66 Garrafão do Norte 13 17,81
Viseu 18 24,66 Turilândia 13 17,81
Alto Alegre do Maranhão 18 24,66 Careiro da Várzea 11 15,07
Penalva 18 24,66 Jacareacanga 10 13,70
Augusto Corrêa 17 23,29 Tracuateua 10 13,70
Bujaru 17 23,29 Nova Esperança do Piriá 9 12,33
Irituia 17 23,29
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000, IBGE Contagem da População de 2007, Atlas
de desenvolvimento Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, Estatíticas de Saúde do IBGE 2000, IBGE, Perfil
dos Municípios - Cultura 2006.
* Em um total de 73 funcionalidades.

A FIG. 3 apresenta o nível de diversificação funcional dos municípios com mais


de 20.000 habitantes na Amazônia Legal (percentual em relação ao total das
73 funções levantadas). A maior concentração destes municípios se dá na
porção oriental da Amazônia Legal, sobretudo nas intermediações de Belém e
São Luiz. Na porção ocidental, os municípios representados, não possuem,
geralmente, uma proporção elevada de funções.

A TAB. 5 explora a capacidade de diversificação funcional, característica que


ajuda a definir o direcionamento e a intensidade dos fluxos na Região, ao
passo que as TABs. 6 e 7 tentam explorar a influência dos aspectos de
natureza espacial no funcionamento das redes urbanas amazônicas.
85
86

A TAB. 6 apresenta a população municipal (2007), o tempo de viagem entre os


centros amazônicos e os municípios mais próximos, com maior população,
além do tipo de transporte. Estas informações foram extraídas do Guia 4 Rodas
2007 e aplica pesos diferenciados no cálculo da variável tempo de viagem, de
acordo com o tipo de pista e de meio de transporte utilizado (c=carro, b=balsa e
cb=carro e balsa).

O valor do tempo de viagem entre as cidades na TAB. 6 varia de acordo com o


nível de isolamento da cidade, o tipo de transporte e com o tamanho da
população municipal. De uma forma geral, as cidades que não estão nos
principais eixos rodoviários da Amazônia Legal amargam um tempo de viagem
bem superior em relação àquelas conectadas por rodovias, não apenas pelo
posicionamento disperso na floresta, mas, também, pelo tempo maior de
deslocamento verificado nas vias fluviais da Região.

A variável tempo de viagem foi cogitada para compor o modelo que explora a
hierarquia urbana entre as cidades, e que será apresentado no próximo
capítulo. Dessa forma, toma-se como pressuposto a idéia de que, de uma
forma geral, quanto maior a distância entre uma determinada cidade e um
centro dotado de maior população, maior é sua importância regional.
Entretanto, esta variável não possui boa aplicabilidade para a Amazônia Legal,
podendo ter significados diferentes no interior da Região. Em uma rede urbana
bem estruturada, ou até mesmo em algumas porções da Amazônia Oriental,
pode-se inferir que, quanto maior o valor desta variável espacial, maior a
importância regional de um determinado centro, já que o raio de influência da
cidade seria mais amplo e o tempo de viagem estaria mais suscetível aos
efeitos do tamanho populacional e não do nível de “isolamento” entre as
centralidades. Já em uma rede desequilibrada, a exemplo de extensas áreas
na Amazônia, o valor acentuado desta variável pode ser reflexo de
desarticulação e isolamento, sobretudo para as cidades da Amazônia
Ocidental, fora dos principais eixos rodoviários da Região.
87

Tabela 6 - Amazônia Legal -Tempo de viagem entre as sedes municipais e as cidades


mais próximas, com população maior e tipo de transporte, 2007.
Nome do município Pop. 2007 Distância Município maior mais Tipo de
(h,m) proximo transporte
São Gabriel da Cachoeira 39130 85,06 Manaus b
Eirunepé 29411 67,68 Tefé b
Santarém 274285 65,03 Macapá cb
Tabatinga 45293 59,00 Tefé b
Macapá 344153 50,67 Belém cb
Barcelos 24567 42,24 Manaus b
Coari 65222 36,00 Manaus b
Carauari 25110 29,50 Tefé b
Manaus 1646602 29,17 Brasilia cb
Parintins 102044 28,18 Santarém b
Santo Antônio do Içá 29249 26,00 Tabatinga b
Nova Olinda do Norte 29184 20,79 Manaus cb
Belém 1408847 19,18 Fortaleza c
Tefé 62920 19,00 Coari b
Borba 31098 18,65 Itacoatiara b
Breves 94458 17,65 Abaetetuba b
Porto Velho 369345 17,52 Cuiabá c
Altamira 92105 16,55 Marabá c
Cruzeiro do Sul 73948 16,25 Rio Branco c
São Paulo de Olivença 30727 15,21 Tabatinga b
Maués 47020 13,71 Parintins b
Jacareacanga 37073 12,42 Itaituba c
Novo Progresso 21598 12,06 Guarantã do Norte c
Manicoré 44327 11,43 Manaus c
Laranjal do Jari 37491 11,36 Macapá c
Boa Vista 249853 11,32 Manaus c
Anajás 24942 10,50 Afuá b
Itaituba 118194 10,29 Santarém cb
Cametá 110323 10,26 Marabá c
São Félix do Xingu 59238 10,06 Redenção c
São Luís 957515 9,58 Belém c
Oriximiná 55175 9,52 Monte Alegre c
Colniza 27882 9,22 Juína c
Monte Alegre 61350 8,53 Santarém b
Juína 38422 8,44 Tangará da Serra c
Imperatriz 229671 8,34 São Luís c
Cuiabá 526831 8,33 Campo Grande c
Palmas 178386 8,32 Imperatriz c
Afuá 31183 8,00 Macapá b
Oeiras do Pará 25420 7,68 Breves b
Gurupá 24384 7,56 Porto de Moz b
Soure 21395 6,51 Belém cb
Confresa 21361 6,03 Santana do Araguaia c
Nova Esperança do Piriá 22447 5,74 Capitão Poço b
Barra do Garças 53243 5,43 Rondonópolis c
Tarauacá 32171 5,31 Cruzeiro do Sul c
Alenquer 52661 5,10 Monte Alegre c
Boca do Acre 29818 5,04 Rio Branco c
Juruti 33775 5,00 Oriximiná b
Fonte: Guia 4 rodas e Contagem de 2007. Continua...
88

Tabela 6 - Amazônia Legal -Tempo de viagem entre as sedes municipais e as cidades


mais próximas, com população maior e tipo de transporte, 2007.
Nome do município Pop. 2007 Distância Município maior mais proximo Tipo de
(h,m) transporte
Portel 45586 4,62 Breves b
Porto de Moz 26489 4,56 Almeirim b
Rorainópolis 24466 4,43 Boa Vista c
Alta Floresta 49140 4,38 Sinop c
Ji-Paraná 107679 4,35 Porto Velho c
Redenção 64583 4,33 Araguaína c
Machadinho D'Oeste 31475 4,30 Ariquemes c
Rurópolis 32950 4,26 Santarém c
Guajará-Mirim 39451 4,22 Porto Velho c
Autazes 29907 4,17 Manaus cb
Viseu 53217 4,16 Capanema c
Muaná 28796 4,15 Abaetetuba b
Ponta de Pedras 24276 4,12 Belém b
Carutapera 20285 4,11 Viseu c
Balsas 78845 4,04 Araguaína c
Tucuruí 89264 4,02 Marabá c
Prainha 26436 4,02 Monte Alegre c
Careiro 31070 4,01 Manaus cb
Barreirinha 26645 4,00 Parintins b
Água Azul do Norte 28658 3,55 Redenção c
Barra do Corda 78718 3,54 Bacabal c
Bacabal 95124 3,50 São Luís c
São Bento 37449 3,48 São Luís c
Itacoatiara 84676 3,46 Manaus c
Paragominas 90819 3,40 Açailanida c
Grajaú 54135 3,29 Imperatriz c
Guarantã do Norte 30754 3,24 Sinop c
Tangará da Serra 76657 3,23 Várzea Grande c
Pinheiro 74123 3,15 Santa Inês c
Gurupi 71413 3,10 Palmas c
Humaitá 38559 3,08 Porto Velho c
São Geraldo do Araguaia 24872 3,08 Araguaína cb
Medicilândia 22624 3,08 Uruará c
Marabá 196468 3,06 Imperatriz c
Araguaína 115759 3,06 Imperatriz c
São Sebastião da Boa Vista 20500 3,00 Curralinho b
Pontes e Lacerda 37910 2,50 Cáceres c
Óbidos 46793 2,50 Oriximiná c
Almeirim 30903 2,50 Laranjal do Jari cb
Novo Repartimento 51645 2,47 Tucuruí c
Tucumã 26513 2,47 Água Azul do Norte c
Curralinho 25388 2,18 Oeiras do Pará b
Ariquemes 82388 2,09 Ji-paraná c
Benjamin Constant 29268 1,65 Tabatinga b
Pontes e Lacerda 37910 2,50 Cáceres c
Óbidos 46793 2,50 Oriximiná c
Almeirim 30903 2,50 Laranjal do Jari cb
Novo Repartimento 51645 2,47 Tucuruí c
Tucumã 26513 2,47 Água Azul do Norte c
Fonte: Guia 4 rodas e Contagem de 2007. Continua...
89

Tabela 6 - Amazônia Legal -Tempo de viagem entre as sedes municipais e as cidades


mais próximas, com população maior e tipo de transporte, 2007.
Nome do município Pop. 2007 Distância Município maior mais proximo Tipo de
(h,m) transporte
Canaã dos Carajás 23757 2,44 Parauapebas c
Rondonópolis 172783 2,04 Cuiabá c
Vilhena 66746 2,36 Cacoal c
Santana do Araguaia 49053 2,36 Redenção c
Careiro da Várzea 23023 2,34 Manaus cb
Cáceres 84175 2,34 Várzea Grande c
Pacajá 38365 2,32 Novo Repartimento c
Buritis 33072 2,27 Ariquemes c
Parauapebas 133298 2,26 Marabá c
Mirassol d'Oeste 24538 2,26 Pontes e Lacerda c
Baião 26190 2,24 Igarapé-Miri c
Tailândia 64281 2,02 Abaetetuba c
Arame 27229 2,17 Buriticupu c
Presidente Dutra 40004 2,17 Coroatá c
Colíder 30695 2,16 Sinop c
Rondon do Pará 45016 2,14 Açailanida c
Paranatinga 20033 2,13 Primavera do Leste c
Alcântara 21349 2,12 São Bento c
Campo Novo do Parecis 22322 2,01 Tangará da Serra c
Guaraí 21669 2,09 Paraíso do Tocantins c
Sena Madureira 34230 2,03 Rio Branco c
Acará 47923 1,58 Santa Isabel do Pará c
Capitão Poço 50839 1,56 Castanhal c
Bragança 101728 1,54 Castanhal c
Limoeiro do Ajuru 23284 1,52 Cametá c
Cururupu 34018 1,49 Pinheiro c
Primavera do Leste 44729 1,47 Rondonópolis c
Buriticupu 61480 1,46 Santa Luzia c
São Miguel do Guaporé 22622 1,46 Rolim de Moura c
Turiaçu 32491 1,46 Santa Helena c
Presidente Figueiredo 24360 1,41 Manaus c
Amarante do Maranhão 35727 1,41 Imperatriz c
Alto Alegre do Pindaré 31992 1,40 Santa Luzia c
Jacundá 51511 1,36 Marabá c
Peixoto de Azevedo 28987 1,36 Colíder c
Itapecuru Mirim 54573 1,35 São Luís c
Xinguara 38457 1,35 Redenção c
Carolina 24442 1,34 Araguaína c
Viana 47466 1,33 Santa Inês c
Pedro do Rosário 21714 1,32 Pinheiro c
Estreito 26490 1,29 Araguaína c
Araguatins 25973 1,27 Imperatriz c
Campo Verde 25924 1,27 Primavera do Leste c
Colinas do Tocantins 29298 1,25 Araguaína c
Conceição do Araguaia 45267 1,25 Redenção c
Santa Helena 34022 1,24 Pinheiro c
Manacapuru 82309 1,23 Manaus c
Bequimão 20735 1,22 Alcântara c
Santa Inês 82026 1,21 Bacabal c
Tomé-Açu 47081 1,21 Acará c
Fonte: Guia 4 rodas e Contagem de 2007. Continua...
90

Tabela 6 - Amazônia Legal -Tempo de viagem entre as sedes municipais e as cidades


mais próximas, com população maior e tipo de transporte, 2007.
Nome do município Pop. 2007 Distância Município maior mais proximo Tipo de
(h,m) transporte
Coroatá 60589 1,20 Bacabal c
Nova Mutum 24368 1,02 Lucas do Rio Verde c
Ulianópolis 31881 1,19 Paragominas c
Cacoal 76155 1,18 Ji-paraná c
Poconé 31118 1,17 Várzea Grande c
Colinas 35692 1,17 Presidente Dutra c
Iranduba 32869 1,16 Manaus cb
Abaetetuba 132222 1,16 Belém c
Garrafão do Norte 24619 1,16 Capitão Poço c
Sorriso 55134 1,15 Sinop c
Rio Preto da Eva 24858 1,12 Manaus c
Governador Nunes Freire 24012 1,12 Santa Helena c
Goianésia do Pará 27166 1,10 Jacundá c
Barra do Bugres 32490 1,09 Tangará da Serra c
Itupiranga 42002 1,06 Marabá c
Pedreiras 37984 1,06 Coroatá c
Feijó 31288 1,05 Tarauacá c
Salinópolis 37066 1,03 Capanema c
Bujaru 22535 1,03 Santa Isabel do Pará c
Jaru 52453 1,00 Ji-paraná c
Dom Eliseu 38150 1,00 Açailanida c
Vitorino Freire 30235 1,00 Bacabal c
Turilândia 20119 0,60 Santa Helena c
Curuçá 33768 0,58 Castanhal c
Riachão 21016 0,58 Balsas c
Eldorado dos Carajás 28554 0,57 Parauapebas c
Paraíso do Tocantins 40290 0,56 Palmas c
Rolim de Moura 48894 0,56 Cacoal c
Lucas do Rio Verde 30741 0,56 Sorriso c
São Miguel do Guamá 42987 0,55 Castanhal c
São Domingos do Capim 27094 0,55 Castanhal c
Jaciara 24945 0,54 Rondonópolis c
Lago da Pedra 42666 0,53 Bacabal c
Açailândia 97034 0,52 Imperatriz c
Zé Doca 45008 0,51 Santa Inês c
Várzea Grande 230307 0,50 Cuiabá c
Porto Nacional 45289 0,50 Palmas c
Bom Jesus das Selvas 23827 0,50 Buriticupu c
Concórdia do Pará 21422 0,50 Acará c
Rosário 37920 0,48 São Luís c
São Domingos do Araguaia 21094 0,47 Marapá c
Barcarena 84560 0,47 Abaetetuba c
Ipixuna do Pará 39563 0,47 Paragominas c
Vigia 43847 0,47 Santa Isabel do Pará c
Capanema 61350 0,45 Bragança c
São Mateus do Maranhão 38045 0,44 Bacabal c
Nova Mamoré 21162 0,44 Guajará-Mirim c
Maracanã 28296 0,44 Igarapé-Açu c
Irituia 29746 0,43 Capitão Poço c
São Domingos do Maranhão 32557 0,42 Colinas c
Fonte: Guia 4 rodas e Contagem de 2007.
91

Tabela 6 - Amazônia Legal -Tempo de viagem entre as sedes municipais e as cidades


mais próximas, com população maior e tipo de transporte, 2007.
Nome do município Pop. 2007 Distância Município maior mais Tipo de
(h,m) proximo transporte
Marapanim 26651 0,41 Curuça c
Santa Luzia 69306 0,40 Santa Inês c
Anajatuba 23941 0,39 Itapecuru-Mirim c
Igarapé-Açu 33778 0,38 Castanhal c
Monção 27558 0,38 Santa Inês c
Igarapé-Miri 54673 0,36 Abaetetuba c
Alta Floresta D'Oeste 23857 0,36 Rolim de Moura c
Vitória do Mearim 30935 0,36 Viana c
Mocajuba 23258 0,36 Baião c
Dom Pedro 21479 0,34 Presidente Dutra c
Icatu 24432 0,34 Rosário c
Mãe do Rio 27614 0,34 Irituia c
Castanhal 152126 0,32 Ananindeua c
Alto Alegre do Maranhão 22002 0,32 Bacabal c
Pio XII 21821 0,31 Santa Inês c
Marituba 93416 0,30 Ananindeua c
Pimenta Bueno 32893 0,30 Cacoal c
Santa Rita 30882 0,30 Itaperucu Mirim c
Ouro Preto do Oeste 36040 0,29 Jaru c
Tocantinópolis 21334 0,29 Estreito c
Presidente Médici 22197 0,27 Ji-paraná c
São José de Ribamar 131379 0,26 São Luís c
Moju 63821 0,26 Abaetetuba c
Espigão D'Oeste 27867 0,26 Pimenta Bueno c
Bom Jardim 37659 0,25 Santa Inês c
Santa Maria do Pará 22147 0,24 São Miguel do Guamá c
Breu Branco 47069 0,23 Tucuruí c
Penalva 33473 0,21 Viana c
Raposa 24201 0,19 Paço do Lumiar c
Santana 92098 0,18 Macapá c
Tuntum 37894 0,18 Presidente Dutra c
Augusto Corrêa 37086 0,16 Bragança c
Itinga do Maranhão 25100 0,16 Dom Eliseu c
Tracuateua 26129 0,15 Bragança c
Santo Antônio do Tauá 24814 0,14 Santa Isabel do Pará c
Paço do Lumiar 98175 0,13 São José de Ribamar c
Santa Isabel do Pará 51763 0,13 Marituba c
Ourilândia do Norte 20415 0,13 Tucumã c
Senador La Rocque 20793 0,12 Imperatriz c
Ananindeua 484278 0,11 Belém c
Matinha 20422 0,09 Viana c
Arari 27753 0,09 Vitória do Mearim c
Pindaré-Mirim 30927 0,08 Santa Inês c
Benevides 43282 0,08 Santa Isabel do Pará c
Aurora do Pará 21239 0,08 Mãe do Rio c
Fonte: Guia 4 rodas e Contagem de 2007.

Das 30 cidades com valor tempo de viagem superior a 10 horas, apenas 6


eram conectadas exclusivamente por transporte rodoviário. Destas cidades, 5
92

tinham tempo de deslocamento superior a 50 horas em 2007 (São Gabriel da


Cachoeira, Einurepé, Santarém, Tabatinga e Macapá). Percebe-se que 49
cidades apresentavam tempo de viagem superior a 5 horas, o que, apesar de
ser um valor relativamente elevado, pode ser considerado razoável para os
padrões amazônicos. A noção de tempo/espaço parece ser diferente na
Amazônia se comparada ao Centro-Sul do País.

No caso de Itaituba, a cidade mais próxima de maior tamanho é Santarém,


que, de acordo com a TAB. 6, ficava um pouco mais de 10 horas de viagem,
via balsa. Na prática, este valor é superior, se contabilizadas as paradas para
embarque e desembarque de pessoas e mercadorias. Este mesmo percurso
pode ser feito de lancha em um tempo real de 7 horas. Como se não
bastassem as grandes distâncias, o aeroporto de Itaituba estava sendo
ameaçado de ser fechado recentemente, em 2008, diante da baixa demanda
em uma cidade que vivencia uma depressão econômica pós-garimpo. De
Santarém, as cidades maiores, mais próximas, são Belém e Manaus,
conectadas pelo Amazonas por dias de viagem de balsa. Assim funciona a
rede entre estas cidades amazônicas nessa porção do território. Entretanto, no
imaginário das pessoas da Região, essa situação de fragilidade e
distanciamento parece vir acompanhada por uma sensação de “proximidade”
aparente e virtual. Isso porque, no final das contas, as pessoas parecem que
foram forçadas a se habituar ao fato de que a cidade de destaque mais
próxima se situa a 10 horas de viagem, no caso de Santarém e Itaituba. Apesar
disso, pode-se pensar que estas grandes barreiras espaciais são importantes
no que tange à efetivação da ocupação territorial na Amazônia Brasileira, uma
vez que o grande distanciamento entre os centros de maior população
propiciou uma cobertura mais abrangente do território amazônico.

Com base nas informações contidas na TAB. 6 sobre o tempo de viagem entre
os centros amazônicos, elaborou-se o Indicador de Centralidade (IC), TAB.7,
com o intuito de servir de auxílio às variáveis do modelo de hierarquia urbana
do capítulo seguinte. O IC mede o número de vezes que uma determinada
cidade foi identificada como sendo a mais imediata (mais próxima), com maior
população, em relação a outro centro com população superior a 20.000
93

habitantes em 2007, considerando o tempo de viagem. Deve-se ressaltar que


os centros de segunda a sétima ordem também foram contabilizados nesse
indicador, com pesos diferenciados. Por exemplo, Manaus é a cidade
imediatamente mais próxima, com maior população, de 14 centros (ordem 1)
com mais de 20.000 habitantes na Amazônia Legal, o que confere 14 pontos
ao IC de Manaus. Ainda, 3 dessas 14 cidades foram verificadas com sendo a
maior, mais próxima, de um outro centro (ordem 2), cada uma, o que conferiu
1,5 pontos no IC de Manaus, ou seja, 0,5 para cada uma.

O IC é uma das muitas variáveis que conferem poder na hierarquia urbana, já


que mede o grau de articulação, do ponto de vista puramente espacial, entre os
centros regionais. A utilização deste tipo de variável ajuda no entendimento da
distribuição das centralidades e do nível de inserção das cidades nas redes
urbanas.

Das 242 cidades analisada24, 100 tiveram IC superior a 1, ao passo que 142
tiveram valor igual a 0. Belém (34,81), São Luís (27,84) e Imperatriz (22,56) se
destacam pelo elevado IC em relação às outras cidades amazônicas. Assim, o
IC revela o alto grau de importância destas três cidades nas redes urbanas na
Amazônia Legal. Vale lembrar que estes centros também apresentam altos
níveis de diversificação funcional, como foi observado na TAB. 5, uma vez que
Belém e São Luís ocupam posição de destaque no ordenamento dos
municípios incluídos nessa tabela (primeira e terceira) e Imperatriz está em
primeiro lugar entre os municípios de porte médio do interior (não-capitais).

Apesar de Manaus estar classificada como tendo o quinto maior IC (16,63) da


Região, deve-se destacar que este valor encontra-se em um patamar
diferenciado e nitidamente inferior aos de Belém, São Luís e Imperatriz. Isso
ajuda a entender a importância das variáveis espaciais nas dinâmicas das
redes. No caso de Manaus, fica evidente que a baixa Intensidade de
Relacionamento, como citado anteriormente, está relacionada ao baixo IC

24
Assim como no modelo presente no capítulo posterior, Colniza não foi considerado na
análise diante da deficiência de informações disponíveis para este município. Dessa maneira,
os municípios considerados, maiores que 20.000 habitantes na Amazônia Legal, somam 242.
94

desta cidade. Sendo assim, é interessante observar que, diante da força


econômica do maior PIB amazônico, a Intensidade de Relacionamento
Empresarial se apresenta bem elevada, em um centro de baixa Intensidade de
Relacionamento.

Com exceção de Belém e São Luís, as demais capitais estaduais amazônicas


não apresentam alto IC. Porto Velho (10,75) e Macapá (9,13) estão em um
patamar inferior ao de Manaus (16,63) e Cuiabá (17,5). Com valores bem
inferiores encontram-se Rio Branco (3,75) e Palmas (3,5). Em relação às
capitais estaduais, Boa Vista apresenta um valor ínfimo, com IC igual a 1, ou
seja, a capital de Roraima é a cidade maior, mais próxima, de apenas um
centro amazônico com população superior a 20.000 habitantes em 2007.
Dentre as cidades de porte médio do interior (não-capitais), com população
superior a 50.000 habitantes, 14 obtiveram IC superior a 5, e destas, seis
possuem IC maior do que 10, de acordo com as informações da TAB. 7.

A FIG. 4 demonstra com clareza que, além do tamanho populacional, o IC


depende, em grande medida, da densidade com que os centros se distribuem
na rede, ou seja, as cidades que estão nas intermediações do “arco rodoviário”
e no eixo do rio Amazonas tendem a apresentar maiores valores no IC.
Algumas cidades de porte demográfico médio nas proximidades das maiores
cidades da Região, a exemplo de Ananindeua e Castanhal, acabam por
incorporar um número maior de pontos no IC, a partir da existência de outros
diversos centros que gravitam no entorno de grandes cidades como Belém e
São Luís.
95
96

Tabela 7 - Amazônia Legal - Indicador de Centralidade (IC), 2007


Ordem
Nome do município IC
1 2 3 4 5 6 7
Belém 6 21 36 53 37 12 1 34,81
São Luís 6 20 30 29 11 1 0 27,84
Imperatriz 8 19 18 4 1 0 0 22,56
Cuiabá 4 15 18 10 4 0 0 17,50
Manaus 14 3 3 3 0 0 0 16,63
Bacabal 7 10 11 7 0 0 0 15,63
Santa Inês 7 8 6 0 0 0 0 12,50
Castanhal 6 9 3 2 0 0 0 11,50
Marabá 7 7 2 0 0 0 0 11,00
Porto Velho 4 9 7 4 0 0 0 10,75
Araguaína 6 7 2 1 0 0 0 10,13
Ananindeua 2 7 14 5 2 0 0 9,75
Macapá 4 6 7 3 0 0 0 9,13
Abaetetuba 6 3 2 1 0 0 0 8,13
Ji-Paraná 4 6 3 0 0 0 0 7,75
Santarém 4 6 2 0 0 0 0 7,50
Sinop 5 3 1 0 0 0 0 6,75
Santa Isabel do Pará 5 2 0 0 0 0 0 6,00
Várzea Grande 3 4 2 0 0 0 0 5,50
Redenção 5 1 0 0 0 0 0 5,50
Açailândia 3 3 0 0 0 0 0 4,50
Cacoal 3 3 0 0 0 0 0 4,50
Pinheiro 3 3 0 0 0 0 0 4,50
Tefé 3 3 0 0 0 0 0 4,50
Bragança 3 2 1 0 0 0 0 4,25
Rondonópolis 3 2 0 0 0 0 0 4,00
Marituba 1 5 2 0 0 0 0 4,00
Monte Alegre 3 2 0 0 0 0 0 4,00
Rio Branco 3 1 1 0 0 0 0 3,75
Coroatá 2 3 1 0 0 0 0 3,75
Capitão Poço 3 1 1 0 0 0 0 3,75
Palmas 3 1 0 0 0 0 0 3,50
Tangará da Serra 3 1 0 0 0 0 0 3,50
Viana 3 1 0 0 0 0 0 3,50
Presidente Dutra 3 1 0 0 0 0 0 3,50
Coari 1 3 3 0 0 0 0 3,25
Parintins 3 0 0 0 0 0 0 3,00
Santa Luzia 2 2 0 0 0 0 0 3,00
Tabatinga 3 0 0 0 0 0 0 3,00
Santa Helena 3 0 0 0 0 0 0 3,00
Breves 2 1 1 0 0 0 0 2,75
Tucuruí 2 1 0 0 0 0 0 2,50
Capanema 2 1 0 0 0 0 0 2,50
Parauapebas 2 0 0 0 0 0 0 2,00
Paragominas 2 0 0 0 0 0 0 2,00
Ariquemes 2 0 0 0 0 0 0 2,00
Buriticupu 2 0 0 0 0 0 0 2,00
Oriximiná 2 0 0 0 0 0 0 2,00
Itapecuru-Mirim 2 0 0 0 0 0 0 2,00
Rolim de Moura 2 0 0 0 0 0 0 2,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Guia 4 Rodas, 2007. Continua...
97

Tabela 7 - Amazônia Legal - Indicador de Centralidade (IC), 2007


Ordem
Nome do município IC
1 2 3 4 5 6 7
Acará 2 0 0 0 0 0 0 2,00
Primavera do Leste 2 0 0 0 0 0 0 2,00
Laranjal do Jari 1 1 1 0 0 0 0 1,75
São José de Ribamar 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Altamira 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Cáceres 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Cruzeiro do Sul 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Sorriso 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Igarapé-Miri 1 1 0 0 0 0 0 1,50
São Bento 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Igarapé-Açu 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Almeirim 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Irituia 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Água Azul do Norte 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Oeiras do Pará 1 1 0 0 0 0 0 1,50
Boa Vista 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Itaituba 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Cametá 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Paço do Lumiar 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Itacoatiara 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Balsas 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Viseu 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Jaru 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Novo Repartimento 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Jacundá 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Santana do Araguaia 1 0 0 0 0 0 0 1,00
São Miguel do Guamá 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Paraíso do Tocantins 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Guajará-Mirim 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Humaitá 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Juína 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Dom Eliseu 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Rosário 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Pontes e Lacerda 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Colinas 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Uruará 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Curuçá 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Pimenta Bueno 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Tarauacá 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Afuá 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Vitória do Mearim 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Guarantã do Norte 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Lucas do Rio Verde 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Colíder 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Mãe do Rio 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Tucumã 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Estreito 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Porto de Moz 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Baião 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Curralinho 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Alcântara 1 0 0 0 0 0 0 1,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Guia 4 Rodas, 2007.
98

Como forma de complementar a interpretação do IC, assim como da variável


que mede o nível de diversificação funcional, a FIG. 5 apresenta o PIB
municipal (2005) para todos os municípios da Amazônia Legal. Nessa figura,
fica evidente, como dito anteriormente, a discrepância existente entre o PIB de
Manaus (R$ 27.214.212.000) e os valores encontrados para as outras cidades
amazônicas. Belém (R$ 11.277.414.000), São Luís (R$ 9.340.943.000) e
Cuiabá (R$ 6.672.155.000) também se destacam em termos de produção de
riqueza, embora em um patamar nitidamente inferior se comparadas com
Manaus. Já os municípios de Porto Velho (R$ 3.656.512.000) e Macapá (R$
2.825.458.000) estão num patamar imediatamente inferior. Ademais, Rio
Branco (R$ 2.371.306.000), Boa Vista (R$ 2.265.603.000) e Palmas (R$
1.733.252.000) apresentam valores comparáveis aos de algumas cidades de
porte médio do interior, sobretudo aquelas com maior dinamismo econômico, a
exemplo de Barcarena (R$ 2.796.121.000), Parauapebas (R$ 2.667.460.000),
Rondonópolis (R$ 2.310.470.000), Ananindeua (R$ 2.174.697.000), Marabá
(R$ 2.079.838.000) e Tucuruí (R$ 1.830.060.000).

A relação entre o tamanho do PIB e o nível de diversificação funcional dos


municípios estudados é nítida. Ainda, percebe-se que as variáveis criadas e
divulgadas pelo IBGE (2008), Intensidade de Relacionamento e Intensidade de
Relacionamento Empresarial, estão bastante ligadas ao PIB, à diversificação
funcional e ao IC.

Os indicadores e informações trabalhadas neste tópico revelam que apesar de


Belém e Manaus, de fato, serem os maiores centros de articulação regional,
estas duas cidades não possuem o “controle” efetivo do território da Amazônia
Legal, dadas as peculiaridades espaciais e socioeconômicas regionais. Isso
porque as conexões entre estes dois maiores centros regionais, e destes com
as demais capitais estaduais e com algumas cidades de porte intermediário
não são fortes o suficiente para que as chamadas redes de primeiro nível de
Belém e Manaus funcionem em toda sua plenitude.

As redes urbanas da Amazônia brasileira são caracterizadas como sendo uma


mistura de inserção e exclusão, de velocidade e atraso. A criação de espaços
99

que interagem, coexistem ou se distanciam pode ser percebida nas diversas


escalas de análise. No nível global, deve-se destacar a importância dos
impactos gerados pelo processo de globalização, não apenas na economia e
nas finanças, mas, também, na redefinição do papel do Estado, na natureza e
no aumento da velocidade de transformação das atividades e dos territórios.
Do ponto de vista regional e local, o acesso às redes também é dependente
dos atributos do território, das potencialidades humanas e das iniciativas
políticas (Becker, 2001).

Mesmo que as distâncias para os diversos tipos de fluxos ainda continuem


particularmente grandes na Amazônia brasileira, percebe-se que muitas das
mais recentes inovações do mundo desenvolvido chegam, com simultaneidade,
nas maiores cidades da Região. A mistura de avanço e atraso pode ser
percebida muito fortemente em Belém e Manaus e, até mesmo, nas médias e
em algumas pequenas cidades do interior da Amazônia Legal. Este processo
incorpora características que fazem lembrar não apenas as tradicionais redes
dendríticas, mas também as redes complexas e, em alguns aspectos, chega
até mesmo a incorporar elementos típicos das redes móveis.

Diante do tamanho da Amazônia Legal e sob um ponto de vista que considere


apenas os aspectos positivos do fortalecimento e do equilíbrio das redes
urbanas, seria mais sensato não apenas reforçar a centralidade de Belém e
Manaus, mas também imaginar e estimular políticas que buscassem a
efetivação de novas redes de primeiro nível na Região, a partir do
fortalecimento de centros emergentes em pontos estratégicos, assim como da
infraestrutura das vias de conexão que ligam as centralidades com maior
potencial, para estimular o dinamismo regional.
100
101

4.3 As cidades médias e os pequenos centros da Amazônia Legal


sob a perspectiva das redes

As altas taxas de crescimento demográfico entre as cidades do interior da


Amazônia Legal e as notadas alterações na distribuição populacional na
Região evidenciaram a necessidade de novos investimentos teóricos para um
melhor entendimento destas transformações, sobretudo de natureza urbana.
No que se refere ao aparente surto de “cidades médias” na Região, deve ficar
claro que esses centros de porte intermediário muitas vezes não satisfazem a
complexidade conceitual contida nesse termo.

A cidade média se define, de acordo com Lajugie (1974), antes de tudo, por
suas funções, pela posição que ocupa na rede urbana, entre a metrópole, com
vocação regional, e os pequenos municípios, de influência puramente local.
(Amorim Filho & Rigotti, 2002). As cidades médias, além de terem tamanho
demográfico para este porte, desempenham papéis funcionais intermediários
bem definidos entre a(s) metrópole(s) e as cidades pequenas que compõem
uma rede urbana (Sposito, 2004).

Assim, de acordo com Sposito (2007), as cidades médias

“desempenham papéis de intermediação entre cidades maiores e


menores no âmbito de diferentes redes urbanas e que, portanto,
diferem das denominadas ‘cidades de porte médio’ cujo
reconhecimento advém de seus tamanhos demográficos”(Sposito,
2007, p. 9).

A autora defende que “a adoção da expressão ‘cidade média’ é pouco


adequada, porque alude diretamente ao tamanho e pressupõe hierarquia e
classificação”. Nessa perspectiva, o termo parece ser utilizado de maneira mais
adequada em outras línguas, a exemplo de ciudades intermedias, do espanhol,
ou intermediate cities, do Inglês. Sposito (2007) ainda complementa que

“precisamos explicitar as especificidades que caracterizam essas


cidades, destacando suas condições de serem regionais e/ou não-
metropolitanas e/ou intermediárias e/ou diretamente articuladas às
cidades pequenas de suas áreas de influência” (Sposito, 2007, p. 10).
102

De acordo com Corrêa (2007), a cidade média deve ser entendida como sendo

“um tipo particular de cidade caracterizado por uma particular


combinação de tamanho demográfico, funções urbanas e
organização de seu espaço intra-urbano. Combinação de
características que devem ser contextualizadas geograficamente”
(Correa, 2007, p. 25).

Amorim Filho (1976) propõe uma classificação abrangente, apoiada em


atributos que extrapolam os critérios estritamente demográficos:

• “a cidade média deve ser capaz de manter interações constantes e de


um nível razoável de intensidade e de qualidade tanto com seu
espaço regional, quanto com aglomerações urbanas de hierarquia
superior;
• a cidade média deve ter as condições necessárias para estabelecer
relações de dinamização com o espaço rural micro-regional que a
envolve;
• uma cidade média só deve ser considerada média na medida em que
já apresente uma certa autonomia na criação de pelo menos uma
parcela de seus equipamentos de relações externas;
• o sistema de redes de cada cidade média deve apresentar uma
intensidade e um grau de conectividade tais que facilitem as já
referidas interações com o espaço micro-regional e com os níveis
superiores da hierarquia urbana;
• a estrutura morfológica interna da cidade média, em consonância com
seu processo de evolução, deve apresentar: a) um centro já
relativamente complexo (com grande número de equipamentos
servindo um espaço que ultrapasse os limites puramente locais); b)
um núcleo variável de sub-centros (cuja forma, funções e espaço de
relações variam grandemente de cidade para cidade, mas que
atendem, em sua maioria, apenas as necessidades de populações
locais); c) uma periferia que evolui muito mais através de saltos
(descontinuidades espaciais repentinas, resultando numa estrutura
poli-nuclear), do que através de uma expansão lenta e homogênea de
toda a coroa periférica do tecido urbano;
• por outro lado, não deve ser desprezado o fato de que aspectos tais
como tamanho, estrutura interna e relações externas das cidades
médias podem variar bastante de região para região, sendo
naturalmente função do nível de desenvolvimento, da posição
geográfica e das condições histórico-sociais de formação de cada
uma destas regiões;
• finalmente, a noção de cidade média não deve ser confundida
necessariamente com a noção de centro de polarização regional ou
micro-regional. A coincidência não ocorre sempre. Além disso, as
relações da cidade média com seu ‘environnement’ nem sempre são
relações de dominação, podendo se também relações de estímulo e
de dinamização (e é nesse sentido que a política das cidades médias
deve ser encaminhada) e, em certos casos, até de dependência”
(Amorim Filho, 1976, p. 7-9).
103

De todos os critérios citados acima, Amorim-Filho & Sena-Filho (2007)


destacam que o da morfologia urbana é o que menos tem sido trabalhado em
publicações em todas as partes do mundo. De acordo com os autores (2007),

“é possível que esta lacuna se deva, de um lado, ao fato de que se


trate de uma das noções mais complexas sobre o espaço
intraurbano, mesmo para geógrafos urbanos e/ou arquitetos-
urbanistas; de outro lado, à necessidade, quase absoluta, da
experiência de campo nas pesquisas morfológicas, o que torna tais
pesquisas bem mais difíceis e custosas” (Amorim-Filho & Sena-Filho,
2007, p. 65).

Mais recentemente, o relatório da União Internacional dos Arquitetos (UIA)


apresentado no XIX congresso da UIA (1999) também ressalta uma série de
características que, de uma maneira geral, estão presentes nas cidades
médias e dialogam com os critérios sugeridos anteriormente por Amorim Filho
(1976). As cidades médias:

• “articulam o território e funcionam como centros de referência em uma


área de influência imediata;
• são centros servidores de bens e serviços mais ou menos
especializados para a população do município e para outros
assentamentos urbanos e rurais vizinhos;
• são Centros de interação social, econômica e cultural;
• são Centros ligados a redes de infra-estruturas que conectam as redes
locais, regionais e nacionais. Alguns destes com fácil acesso as redes
internacionais;
• por razões de escala, possuem sistemas mais equilibrados e
sustentáveis em relação às grandes aglomerações populacionais;
• favorecem uma maior identificação dos moradores com a cidade e a
criação de uma identidade própria;
• quando comparadas aos grandes centros urbanos, geralmente
possuem maior facilidade de governabilidade, problemas ambientais
reduzidos, menor diversidade social e cultural, menor disponibilidade
de recursos humanos e, também, menor competitividade econômica”
(UIA, 1999, p. 1).

Algumas das características citadas em Amorim Filho (1976), também


presentes no relatório da UIA (1999), não são encontradas, ou existem de
maneira incipiente, nos municípios de médio porte da Amazônia Legal, o que
cria desafios a serem transpostos na definição dos parâmetros adequados para
selecionar as cidades médias dessa Região. Diante da nítida importância dos
aspectos funcionais e do componente espacial, percebe-se que, critérios
estritamente demográficos, principalmente no caso amazônico, podem não ser
capazes de estabelecer uma classificação adequada dos níveis hierárquicos
104

urbanos. Sendo assim, muitas das cidades tidas como médias, por
apresentarem expressivo contingente populacional, na verdade não são
médias no sentido funcional, pelas condições adversas para o desenvolvimento
de seu papel de intermediador de fluxos, ao contrário do que se observa em
uma rede urbana em perfeito funcionamento.

Estudos e reportagens têm freqüentemente divulgado as melhores condições


de vida desfrutadas pelos habitantes das cidades médias do Sudeste do País,
que oferecem uma série de amenidades urbanas quando comparadas às
grandes cidades: menores índices de criminalidade, tempo e gasto reduzidos
no trânsito, menores níveis de poluição, custos de moradia, transporte mais
acessíveis e maior proximidade com áreas verdes. (Amorim Filho & Serra,
2001).

Sathler et al. (2007) sugerem que, diferentemente das cidades médias do


Centro-Sul do País, que oferecem novas possibilidades de trabalho e melhoria
das condições de vida para a população, na Amazônia Legal os municípios do
interior, com população entre 100.000 e 500.000 habitantes, refletem
predominantemente desemprego e pobreza. Os autores verificaram que Belém,
Manaus e as demais capitais estaduais da Amazônia Legal ofereciam, de uma
maneira geral, melhores condições de vida em relação aos municípios do
interior com população entre 100.000 e 500.000 habitantes no ano de 2000,
realidade oposta à das regiões que compõem o centro dinâmico da economia
brasileira.

No entanto, pode-se observar certas tendências não presentes nas décadas


anteriores, que apontam para a existência de uma dinâmica diferenciada nas
redes urbanas da Amazônia Legal. As cidades de médio porte aparecem hoje
como novos vetores de crescimento econômico e demográfico sem, no
entanto, afetar a primazia das regiões metropolitanas de Belém (RMB) e a de
Manaus.

Deve-se ressaltar também que, diferentemente do que ocorre nas redes de


cidades do Centro-Sul do País, as referidas enormes distâncias dos municípios
105

de médio porte em relação às metrópoles regionais e às capitais estaduais,


assim como suas evidentes carências de infraestrutura, criam uma situação de
isolamento que, em tese, exigiria que os municípios de médio porte
oferecessem uma série de serviços que não seriam necessários ou
compatíveis nas cidades médias de uma região dotada de uma rede urbana
bem articulada. Entretanto, muitas vezes a fragilidade da demanda efetiva local
e regional, marcada por populações com pequena capacidade produtiva e
baixa renda, exige que os habitantes dessas cidades percorram grandes
distâncias à procura de serviços presentes somente em municípios
pertencentes a níveis hierárquicos superiores nas redes urbanas amazônicas.
Mesmo que a matriz de funcionalidades (TAB. 5) indique que, alguns
municípios de porte intermediário do interior apresentavam um nível de
diversificação funcional próximo aos das capitais estaduais, deve-se ressaltar
que a presença de um determinado serviço em quaisquer dos municípios não
implica, necessariamente, em qualidade, quantidade e diversidade, além de
não significar que a maior parte da população tenha acesso irrestrito a este
serviço.

Assim, considerando as especificidades das redes urbanas amazônicas,


percebe-se que algumas localidades que, na escala nacional, apresentam
porte demográfico intermediário, acabam por ter a responsabilidade de ser o
destino final na procura de serviços para a maior parte da população. Esse
desequilíbrio, de difícil solução, impõe a estes centros de porte intermediário
um maior leque de demandas sociais, ao contrário do que acontece com
centros do mesmo porte em uma rede urbana equilibrada. Diante disso, cabe
aos formuladores e gestores perceberem estas peculiaridades espaciais, no
momento de organizar a oferta de serviços públicos na Região, sobretudo
aqueles de natureza básica.

Ademais, se por um lado as falhas de conexão entre as principais centralidades


da Amazônia impõem desafios difíceis de serem transpostos, sobretudo no que
tange ao papel de intermediador de fluxos, por outro, as demandas criadas e
os estímulos oferecidos às cidades de porte médio na Amazônia Legal, em
grande medida, por atividades de exploração que acontecem nas suas
106

intermediações, tendem a reforçar o papel destas cidades como articuladoras


do território, do ponto de vista da reprodução das atividades econômicas
comandadas pelas elites locais.

No que diz respeito à proliferação de centros locais nas redes urbanas da


Amazônia Legal, deve-se ter em mente que, mesmo diante de todas as
dificuldades existentes relativas à fluidez, esta proliferação pode responder, em
maior ou em menor medida, a uma tendência nacional: os centros locais estão
mais urbanizados e mais integrados do que se observava há décadas atrás.
Sob esta perspectiva, pode-se inferir que existe no Brasil, atualmente, uma
maior integração destes pequenos municípios com os demais centros urbanos
inseridos na rede, assim como uma maior participação destes como nós dos
diversos fluxos materiais e imateriais. Sendo assim, para entender a maior
inserção destes pequenos municípios nas redes urbanas, deve-se não apenas
olhar para as mudanças que estão ocorrendo fora desses lugares, mas,
também, perceber as transformações que estão ocorrendo no interior desses
pequenos centros locais.

No Brasil, e com menor intensidade, em boa parte dos precários centros locais
da Amazônia Legal, esse aumento da urbanidade nas pequenas cidades, que,
anteriormente, tinham sua economia menos diversificada e apoiada, quase que
exclusivamente, nas atividades ligadas à terra, está relacionado a um conjunto
de fatores, tais como: a) melhoria no nível geral das condições de vida e
diminuição da pobreza; b) maior acesso à informação e a sensação de que as
distâncias são menores do que no passado; c) melhoria na infra-estrutura
regional e intra-municipal; d) maior integração dos moradores com pessoas que
residem em municípios médios ou grandes, a exemplo de parentes e amigos,
ou mesmo com migrantes retornados.

Como foi explicitado no capítulo que investigou a natureza do urbano na


Amazônia, existem, de uma forma geral, dois tipos de centros locais na Região:
aqueles próximos do “arco rodoviário” e aqueles mais dispersos pela floresta,
que sobrevivem nas margens dos rios. No primeiro tipo, percebe-se uma
incorporação mais acentuada de aspectos urbanos, que se refletem na
107

infraestrutura local e também, na forma de reprodução econômica dessas


cidades, que tendem, cada vez mais, a incorporarem atividades distantes das
praticadas em áreas predominantemente rurais. O segundo tipo, segundo
Oliveira (2006), é caracterizado por “lugares em que pulsam modos de vida que
diferem significativamente do padrão caracterizado como urbano e
predominante em outras regiões do Brasil”. Assim, a vida e a reprodução frágil
das atividades econômicas nessas cidades estão intimamente relacionadas
aos rios e à floresta.

Mesmo que essas transformações intra-urbanas, que influenciam na


capacidade de participação nas redes urbanas e de articulação dos fluxos,
estejam mais presentes nas cidades que nasceram e/ou cresceram nas
proximidades das maiores rodovias da Região, percebe-se que alguns
elementos indicam que as pequenas cidades ribeirinhas da floresta vêm
incorporando, mesmo que com menor velocidade, alguns atributos
indispensáveis em relação à participação no sistema regional de fluxos.

Oliveira (2006, p. 1) toca em um ponto importante, que pode servir como


exemplo que fundamente esta argumentação: “dessas cidades, temos a
primeira visão de longe quando o barco em que navegamos se aproxima. Se
for dia, vemos a torre telefônica, antes víamos a torre da igreja”. Além do
aumento da capacidade de relacionamento desses centros locais, Oliveira
ainda revela uma outra particularidade das pequenas cidades ribeirinhas
amazônicas. De acordo com o autor,

“as pequenas cidades à beira do rio parecem ter sua dinamicidade


ligada à dimensão da sua sustentabilidade e da biotecnologia,
comandadas quase sempre por ONG´s que estão articuladas ao
mundo, sem se articular com as cidades” (Oliveira, 2006, p. 2).

O fato é que, tanto as cidades de porte intermediário, como os centros locais


amazônicos, estão inseridos num contexto desfavorável à aceleração dos
fluxos materiais e imateriais, o que cria uma série de desequilíbrios nas cidades
da floresta. Sendo assim, os planejadores devem ficar atentos a essas
peculiaridades, sobretudo nas áreas conectadas pelos principais rios da
108

Região, uma vez que muitas cidades de porte intermediário que deveriam ser
consideradas médias, já que possuem tamanho para tal designação, são
pequenas no que diz respeito à sua capacidade de troca. Por outro lado,
sofrem de uma grandeza virtual, já que são, necessariamente, o destino final
na procura de bens e serviços por grande parte das populações que vivem
nessas cidades ou nos centros locais localizados num entorno “suportável”.
109

5 Hierarquia urbana na Amazônia Legal: teoria, dados e


análise

Nos capítulos anteriores, as discussões sobre a natureza do urbano na


Amazônia e as redes urbanas na Região levantaram questões importantes, que
consideram as peculiaridades relacionadas ao processo de urbanização, à
distribuição espacial e à intensidade dos fluxos materiais e imateriais. Neste
capítulo, os estudos sobre hierarquia urbana passam a incorporar outros
aspectos relevantes, tais como as relações de grandeza, poder e
competitividade das cidades na Região.

Em redes urbanas equilibradas, a hierarquia das cidades, quando devidamente


planejada e respeitada, é capaz de trazer uma série de benefícios econômicos
e logísticos. A idéia de rede urbana dialoga com a existência de centros em
uma distribuição hierárquica. Apenas em uma situação hipotética pode-se
imaginar uma região dominada por centros de mesmo “tamanho” (demográfico,
funcional, entre outros aspectos). Assim, é bem plausível imaginar que, onde
existe rede, existe hierarquia urbana.

Durante o século XX produziu-se uma série de trabalhos acadêmicos, que


serão abordados ao longo desse capítulo, nos quais a idéia de organização
hierárquica das cidades aparece de maneira implícita ou explícita, com base
em algumas perguntas básicas que têm conduzido os esforços teóricos e
empíricos: porque as cidades apresentam diferentes tamanhos populacionais?
Existe relação entre tamanho e crescimento das cidades? Como as atividades
econômicas respondem a esta diferenciação no tamanho demográfico dos
centros urbanos? Como as atividades econômicas criam esta diferenciação?
Existe, de fato, regularidade na distribuição do tamanho populacional entre as
cidades de uma determinada região? Caso exista, porque isso acontece?
110

De uma maneira geral, pode-se afirmar que a literatura foi influenciada por
duas correntes de pensamento. A primeira está apoiada na Teoria dos Lugares
Centrais, elaborada por Christaller (1933) e aprimorada por Lösch (1940). A
segunda se desenvolveu com base no modelo dos sistemas urbanos,
elaborado por Henderson (1974). (Krugman, 1996). A Teoria dos Lugares
Centrais considera que diferentes tamanhos populacionais criam diferentes
condições e oportunidades para reprodução das atividades econômicas e
funcionais. Posteriormente, Henderson (1974) estabelece um modelo em que o
tamanho ótimo de uma determinada cidade seria influenciado, sobretudo, pelo
tipo de atividade econômica.

Além destas abordagens, foram elaborados alguns trabalhos de destaque,


como o de Zipf em 1949, que alega a existência de uma regularidade empírica
impressionante na distribuição do tamanho populacional das cidades, verificada
em várias regiões do mundo. Ademais, o modelo de crescimento aleatório das
cidades, desenvolvido por Simon (1955), também merece destaque, sendo
muito citado e discutido nas últimas décadas.

Mais recentemente, os trabalhos25 produzidos dentro da corrente denominada


de Nova Geografia Econômica (NGE) dão continuidade aos debates, com base
na idéia de que os retornos de escala, em relação ao crescimento populacional
das cidades, não são constantes como no modelo de Simon (1955). A NGE
considera que o crescimento populacional das cidades seria resultado de uma
conjunção entre “forças centrípetas” e “centrífugas” de estímulo à concentração
das atividades econômicas.

No Brasil, o estudo elaborado pelo IBGE (2008), preenche uma lacuna


existente nos últimos anos, com relação ao estudo detalhado das áreas de
influência das cidades e da organização hierárquica das centralidades em todo
o País.

25
Ver Krugman (1996).
111

O próximo tópico explora as principais contribuições da literatura, no intuito de


entender melhor algumas abordagens sobre a organização hierárquica das
cidades e, também, sobre quais aspectos mais relevantes devem ser levados
em consideração para a formulação de modelos de hierarquia urbana.
Percebe-se que a variável “tamanho populacional” e outras de natureza
estritamente econômica foram bastante exploradas ao longo dos anos. Assim,
busca-se analisar o fenômeno sob uma perspectiva mais ampla, que considere
os diversos aspectos que estabelecem as relações de ordem e poder de
centralização entre as cidades. A partir desta discussão conceitual, o tópico 5.2
lança mão de um exercício empírico para tentar, de maneira complementar ao
estudo do IBGE (2008), entender melhor a organização hierárquica das
centralidades da Amazônia Legal Brasileira.

5.1 A hierarquia urbana: o início dos debates e os estudos recentes

Em 1755, Richard Cantillon já tentava sistematizar a organização espacial da


sociedade em seu trabalho intitulado: “Essai sur La Nature Du Commerce em
Général”. Diante da nítida importância das atividades ligadas à terra em uma
sociedade predominantemente rural, o autor ressalta a importância estratégica
da existência de aldeias próximas às terras cultiváveis, como forma de reduzir
o tempo de deslocamento dos trabalhadores. Em uma época em que os custos
com transportes constituíam uma barreira quase intransponível, do ponto de
vista das médias e grandes distâncias, percebe-se que as idéias de economias
de aglomeração, economias de escala e de uma organização espacial em
aglomerados hierarquizáveis, com suas respectivas áreas de influência, já
estavam presentes nesse modelo.

Também em sintonia com os estudos sobre a economia rural e agrícola, o


trabalho de Johann Heinrich Von Thünen, de 1826, intitulado “Der Isoliert Staat
in Beziehung auf Landwirtschaft und Nationalökonomie”, descreveu o que ficou
conhecido como Teoria do Estado Isolado. Thünen explorou a disposição
espacial da produção agrícola embasado em alguns pressupostos, a saber:
condições naturais uniformes, a existência de apenas um mercado e de um tipo
de transporte, concorrência perfeita, tecnologia e custos de produção
112

homogêneos. Na tentativa de entender a lógica da distribuição das atividades


econômicas agrícolas, que, por sua vez, influenciavam fortemente a
distribuição populacional, o autor concluiu que os ganhos financeiros possuem
uma relação inversa com a distância das atividades em relação ao mercado
consumidor. De acordo com Costa et al. (2002),

“a abordagem de Von Thünen inspirou vários teóricos do


planejamento urbano. Os custos unitários de transporte e o preço do
solo urbano são, até hoje, funções decrescentes da distância ao
centro” (Costa, 2002, p. 1).

Posteriormente, Alfred Weber publicou, em 1909, o trabalho “Teoria da


Localização das Indústrias”, levando em consideração uma série de fatores
espaciais que determinam a minimização dos custos e a localização ótima das
indústrias. Nesse sentido, o autor estabelece alguns pontos principais: a) deve-
se entender a relação entre o custo de transporte da matéria prima e o do
produto finalizado; b) custos reduzidos de mão-de-obra podem justificar
maiores distâncias a serem superadas; c) deve-se ter em mente as vantagens
referentes à aglomeração e à desaglomeração industrial.

Mais tarde, o trabalho de Walter Christaller (1933), elaborado e pensado tendo


como ponto de partida a rede urbana do sul da Alemanha, fomentou, ainda
mais, os debates relacionados à distribuição populacional e das atividades
econômicas. Assim, a chamada “teoria dos lugares centrais” procurou explicar
a relação existente entre o número de centros, a dimensão destes centros e a
distribuição espacial do sistema regional de cidades. De acordo com o autor, as
atividades econômicas e as populações se distribuem de maneira ordenada no
espaço, o que dá origem às redes e às hierarquias urbanas. Assim, Silva
(2004) elabora a seguinte síntese:

“Christaller considera então, que os bens e serviços podem ser


hierarquizados de acordo com a sua importância. Quanto menor for a
velocidade ou o ritmo de repetição do consumo de determinados
produtos mais elevados eles se situarão na hierarquia, e vice-versa.
No caso do consumo ser freqüente os produtores tendem a localizar-
se próximos dos consumidores, conformando regiões
complementares aos lugares centrais, de reduzida dimensão. No
caso do consumo ser de caráter ocasional os produtores se
localizarão a uma maior distância média dos consumidores, e entre
eles, visando a rentabilidade de sua escala de produção, neste caso,
113

se definirão regiões complementares que se apresentarão com uma


maior dimensão” (Silva, 2004, p. 3).

Na perspectiva de Christaller (1933), o desenvolvimento regional é afetado


diretamente pela forma que os equipamentos terciários estão distribuídos nos
diversos centros urbanos inseridos em uma determinada rede urbana. Existe
um trade-off entre localização/dispersão e acessibilidade destes equipamentos
terciários, regulados pela demanda e pelo nível de sofisticação do serviço.

Dois conceitos importantes são descritos: o de limiar de procura e o de alcance


do bem. O primeiro corresponde ao mínimo de procura que justificaria a
existência de oferta de um determinado bem num dado local que garanta a
viabilidade da oferta. Já o segundo conceito, refere-se à distância e ao custo
máximo que um comprador estaria disposto a percorrer para adquirir um bem
ou para utilizar determinado serviço. Vale lembrar que estes dois conceitos
variam de acordo com o tipo de bem ou função, ambos hierarquizáveis
(Christaller, 1933).

O modelo desenvolvido por Christaller possui alguns pressupostos centrais,


que podem ser resumidos da seguinte maneira: a) a população é distribuída no
espaço de maneira homogênea e o espaço é isotrópico; b) a oferta de
equipamentos terciários está localizada em um sistema de localidades centrais;
c) a procura de bens dos pontos da rede é feita por parte da população
residente e pela população residente na região complementar; d) os bens e
serviços possuem importância de acordo com a freqüência com que são
procurados; e) a ordem dos bens e serviços oferecidos em um centro está
associada à ordem de importância do centro; f) um centro que desempenha
determinadas funções de ordem superior desempenha, também, outras
funções de ordem inferior (Lopes, 1995).

Christaller (1933) trabalhava com a idéia de hierarquia urbana e área de


influência. As áreas de influência de centros de ordem inferior estariam
contidas nas de um centro de ordem superior. As características dos sistemas
urbanos hierarquizados presentes no modelo de Christaller (1933) são: a) a
114

hierarquia das centralidades depende da hierarquia das funções; b) cada nível


de hierarquia possui um conjunto de bens e serviços característicos que só
aparecem nesse nível, dado o seu limiar de procura; c) existem relações de
troca descendentes entre os centros, ou seja, centros de mesma ordem não
vemdem bens e serviços entre si (Lopes, 1995).

Com o objetivo de sofisticar as discussões de Christaller (1933), o modelo de


Lösch (1940), que trabalha sob a ótica da oferta, é tido como sendo mais
flexível e complexo (Goodall, 1972). De acordo com Silva (2004), a localização
no modelo de Lösch é determinada pela “maximização do lucro dos produtores,
divergindo neste ponto de Christaller, para quem o determinante é a
minimização dos custos de deslocamento dos consumidores”. No entanto,
ambos concordam que o arranjo mais eficiente para centros de hierarquia
similar seria dado por áreas de influência de formato hexagonal.

De acordo com Lösch (1940), centros urbanos com o mesmo tamanho não
necessariamente comportam bens e serviços de mesma ordem, como no
modelo anterior. De acordo com o pensamento Löschiano, Goodall (1972, p.
310) declara que “higher order centers do not provide all the functions typical of
lower order urban areas and urban areas which perform the same number of
functions do not necessarily perform the same kind of functions”. O autor
complementa que, “however, large urban areas will logically have the greatest
variety of functions, especially manufacturing” (Goodall, 1972).

De acordo com Parr (1973, p. 350), “one reason for the enduring popularity of
the Löschian system is that in several respects it is able to replicate phenomena
that can be observed in reality”. Como dito no parágrafo anterior, o modelo de
Lösch permite que um centro de pequena população oferte determinados
serviços para um centro de população superior, o que é impossível no modelo
de Christaller. Na perspectiva Löschiana, o padrão de distribuição espacial dos
centros ricos e pobres está relacionado com o posicionamento em relação ao
raio de atuação da metrópole. Outro aspecto que pode ser observado na
realidade é que, algumas vezes, existe uma tendência a uma distribuição
contínua do tamanho dos centros. (Parr, 1973).
115

Walter Isard (1956) integra a questão espacial dos geógrafos alemães com a
análise microeconômica da minimização de custos ou da maximização do
lucro. Como pode ser visto em Silva (2004), Isard (1956) introduz

“os problemas de espaço na teoria econômica através do conceito de


insumos de distância (o movimento de um peso unitário sobre uma
unidade de distância). O preço de um insumo de distância é a taxa de
transporte e, como no caso de insumos de capital, uma redução no
preço causa um efeito de escala e de substituição. Para Isard, os
insumos de distância são simplesmente considerados como um outro
fator de produção, cujo preço é a taxa de transporte e cuja
combinação ótima com outros fatores pode ser determinada pelos
princípios de substituição” (Silva, 2004, p. 271).

Diante das diferentes estruturas regionais de produção, a variável transporte


poderá ser incluída nas diversas funções de custo e, em virtude da sua própria
natureza, influenciará a orientação locacional no marco da teoria convencional
da produção (Isard, 1956).

Na década de 1970, dando início a uma nova corrente de pensamento,


centrada em uma perspectiva diferenciada, Henderson (1974, p. 640) tenta
responder a seguinte pergunta, sob a ótica da produção e do consumo: porque
o tamanho das cidades varia? De acordo com o autor, “city sizes vary because
cities of different types specialize in the production of different traded goods,
exported by cities to other cities or economies”. Assim, “if these goods involve
different degrees of scale economies, cities will be of different sizes because
they can support different levels of commuting and congestion costs”. Ou seja,
o tamanho ótimo de uma cidade depende de seu papel, o que ajuda a entender
a distribuição das cidades nas redes, diante da notada diversidade de
tamanhos e funções.

Krugman (1996, p. 409) declara que o modelo de Henderson (1974) estabelece


uma premissa básica simples: “there is a tension between external economies
associated with geographic concentration of industry within a city, on one side,
and diseconomies associated with large cities on the other”. Krugman (1996, p.
409) complementa que “the net effect of this tension is that the relationship
between the size of a city and the utility of a representative resident is an
116

inverted U”. Em outras palavras, existe uma relação positiva entre o aumento
da população e a atratividade econômica para um tipo de atividade, até que um
determinado limiar populacional seja alcançado, ponto em que esta relação
positiva se inverte.

Assim, verifica-se um trade-off entre tamanho da cidade e bem estar. As


cidades que sofrem transformações econômicas tendem a apresentar
mudanças na quantidade de habitantes. Sobre a teoria de Henderson,
Krugman (1996) afirma:

“Anyone who could organize a ‘city corporation’ that moves a number


of people to a new city of optimal size would be able to profit (perhaps
through land prices). It turns out that developers of often startling size
play a significant role in urban growth in the United States. So,
Henderson argues that the actual city sizes are, to a first
approximation, optimal” (Krugman, 1996, p. 410).

A partir da metade do século passado, ainda antes do trabalho de Henderson


(1973), as discussões que dizem respeito à distribuição do tamanho das
cidades ganharam força, sobretudo após o trabalho de Zipf (1949), que afirma
que existe uma regra de tamanho das cidades que segue não apenas uma
distribuição de Pareto26, mas também possui um coeficiente α igual a 1. Tanto
a perspectiva das localidades centrais trabalhadas por Christaller (1933) e
Lösch (1940) como a abordagem de Henderson (1974) não apresentam
elementos que justifiquem esta regularidade empírica, descrita por Krugman
(1996) como sendo uma “lei poderosa”.

Segundo Oliveira (2005),

“a lei de Zipf ou regra da ordem de tamanho implica que o produto da


população de qualquer cidade multiplicado pela sua posição na
ordenação da região será igual à população da maior
cidade”(Oliveira, 2005, p. 2).

Assim, segundo Oliveira (2005, p. 2) “a segunda maior cidade terá a metade da


população da maior, a terceira terá um terço, e assim por diante”. O autor

26 - α
A distribuição de Pareto pode ser representada pela formula: y=Ax , sendo que x é a
população de uma determinada cidade, y é o número de cidades com população maior do que
x, A é uma constante e α é o expoente de Pareto.
117

esclarece que, sob esta perspectiva, os trabalhos podem ser divididos em duas
vertentes: “as pesquisas teóricas, que buscam construir modelos que
reproduzam a regra de ordem de tamanho, e as pesquisas empíricas, que
visam testar empiricamente a veracidade da proposição feita por Zipf”.
Krugman (1996, p. 410) ressalta que, “at this point we are in the frustrating
position of having a striking empirical regularity with no good theory to account
for it”.

O modelo proposto por Simon (1955), que tenta explicar a distribuição do


tamanho das cidades com base na idéia de crescimento aleatório, toca em
alguns aspectos importantes que podem servir de auxílio na busca de
elementos teóricos que justifiquem esta “lei poderosa”. De acordo com o autor,
o tamanho das cidades não exerce impacto em suas taxas de crescimento, ou
seja, não existem vantagens ou desvantagens na variável ‘tamanho’ que
estimulem ou desestimulem o crescimento das cidades. Assim, segundo
Krugman (1996), apesar da falta de conteúdo economicista, a abordagem de
Simon (1955) representa um grande avanço, devido a três razões:

a) “It predicts a Power Law, whereas the urban system and central place
models do not.
b) The parameter that determines the exponent on the power law is the
probability of forming a new city, which seems less obviously
something that must have changed drastically over the past century
than variables like economies of scale or urban commuting costs.
c) The mysterious exponent of 1, which seems so hard to justify, has a
natural interpretation here: it is what you get when increments to
urban population usually attach themselves to existing cities rather
than forming new cities” (Krugman, 1996, p. 412).

Com base no trabalho de Simon (1955), Gabaix (1999) defende que, tendo
como princípio a idéia de que as taxas esperadas de crescimento de uma
cidade e sua variância são independentes de seu tamanho (lei de Gibrat), é
possível gerar a regra da ordem de tamanho. Entretanto, Fujita et al. (2002)
criticam os modelos de crescimento aleatório, alegando que os retornos de
escala em relação ao tamanho de uma determinada cidade não são constantes
(Oliveira, 2005).
118

Nesse contexto, as abordagens produzidas pela NGE consideram que o


crescimento dos centros urbanos seria resultado de forças contrárias. Por um
lado, as chamadas forças centrípetas estão associadas aos retornos
crescentes que estimulam a aglomeração de atividades e de pessoas para as
cidades. Por outro, as forças centrífugas dispersam atividades e pessoas entre
as cidades, diante dos retornos decrescentes.

De acordo com Oliveira (2005, p. 2), as forças centrípetas, de uma forma geral,
“estão associadas à presença de custos de transporte, externalidades e
retornos crescentes de escala nas atividades produtivas”. Já as forças
centrífugas, segundo o autor, referem-se às externalidades negativas e às
variações no preço da terra. Os modelos de crescimento urbano consideram
como forças centrípetas as seguintes variáveis: a) vantagens naturais de
determinadas cidades (como rios para a construção de portos) e localização
privilegiada; b) externalidades do tamanho do mercado (acessibilidade ao
mercado e aos produtos, trabalho abundante); divulgação do conhecimento. As
forças centrífugas podem ser separadas em forças mediadoras de mercado
(custo do transporte, atratividade de recursos dispersos) e forças não
relacionadas com o mercado (congestionamento, poluição) (Oliveira, 2005).

Apesar de a NGE fornecer um arcabouço teórico plausível em relação à


decisão locacional de atividades e pessoas, essa abordagem não consegue
explicar a regra de ordem de tamanho. Diante disso, Fujita et al. (2002), vistos
em Oliveira (2005, p. 3), admitem esta limitação dos modelos da NGE. Os
autores afirmam: “at this point we have no resolution to the explanation of the
striking regularity in city size distribution. We must acknowledge that it poses a
real intellectual challenge to our understanding of cities” (Oliveira, 2005).

A lei de Zipf tem sido testada sistematicamente em várias regiões do mundo.


Eeckhout (2004), ao estudar o crescimento e a distribuição do tamanho das
cidades nos EUA, chega à seguinte conclusão:

“Cities grow proportionately, i.e., at a stochastic rate that is


independent of city size, and this gives rise to a lognormal distribution
of cities. This property of the stochastic process has been known at
119

least since Gibrat (1931). At the same time, this result can account for
what for over half a century has been the benchmark stylized fact of
economic geography, that the upper tail of the city size distribution
satisfies Zipf's law” (Eeckhout, 2004, p. 1.429).

Entretanto, Naude & Krugell (2003, p. 175) afirmam que, na África do Sul,
“Zipf’s Law does not hold for the country’s cities. The so-called q-coefficient was
found to be equal to_0.75 for the 123 places with population in excess of
100.000”. Oliveira (2005, p. 10) testa a validade desta “poderosa lei” para as
cidades brasileiras entre 1936 e 2000 e declara que “os resultados não
permitem concluir que a regra da ordem de tamanho se aplica ao Brasil”.
Segundo o autor, “somente em 1960 e 1970 esta regra se verifica, porém
representa um período de transição, pois o coeficiente diminuiu
constantemente ao longo do período estudado”, o que representa uma maior
desigualdade, com o passar dos anos, no tamanho das cidades do País. Outra
conclusão de Oliveira (2005, p. 10): “o tamanho da amostra pode alterar os
resultados”, já que as abordagens que consideram apenas as maiores cidades
da região apresentam resultados distintos daquelas que consideram toda a
amostra.

Tendo em mente todos os debates que se desenvolveram principalmente no


último século sobre o crescimento e a organização das cidades, percebe-se
que, no que diz respeito às classificações e delimitações das hierarquias
urbanas, elas variam de acordo com o grau de maturidade e com as
características particulares de cada região. De uma forma geral, Faissol (1994)
identifica a existência de três níveis de sistemas de localidades:

“um sistema urbano/metropolitano de grandes cidades, que atrai


uma migração intensa, e que leva a operar em linha contrária à
da maior eficiência que as economias de escala do tamanho
fariam supor; b) um sistema de cidades médias, beneficiárias
diretas dos transbordamentos metropolitanos, que amplia a
capacidade do sistema espacial de crescer e se desenvolver, e
que precisa fazer a ligação do sistema metropolitano com as
hierarquias menores do sistema urbano, pois o seu segmento
superior (as capitais regionais já fazem uma razoável ligação com
o sistema metropolitano) praticamente atinge apenas o nível
imediatamente abaixo, que é este nível intermediário; c) um
sistema de cidades pequenas, em geral sem centralidade (e às
vezes muito pequenas até mesmo em termos de um conceito de
cidade; elas existem por força de um definição legal de cidade-
sede de município). Em conjunto com os centros de zona(...)
farão a ligação com o sistema de cidades médias, de um lado, e
120

com a economia rural de outro, assim integrando todo o sistema”


(Faissol, 1994, p. 150).

Diante das recentes transformações globais e após os estudos de Castells


(1989; 1999), que estão em sintonia com as idéias de Santos (1978; 1997)
sobre a crescente importância dos fluxos em relação aos fixos, parece claro
que, cada vez mais, a hierarquia urbana passa a ser determinada não apenas
pelas variáveis tradicionais, como tamanho populacional e econômico (PIB) das
cidades em uma determinada rede, mas, também, por variáveis que busquem
medir, direta ou indiretamente, o “tamanho funcional” e a capacidade de gerar e
absorver os diversos tipos de fluxos materiais e imateriais, catalisados na era
da informação com o surgimento das redes móveis.

No Brasil, a hierarquia urbana nacional tem sido identificada e avaliada pelo


IBGE ao longo das últimas décadas. Nos trabalhos mais recentes, o IBGE
passou a adotar uma metodologia com a qual as reflexões desenvolvidas
nesse trabalho parecem bem coerentes. Aspectos como o tamanho
populacional, a disponibilidade de infra-estrutura intra-urbana e nas rotas de
conexão entre os nós da rede, a localização espacial, a disponibilidade de
serviços, a capacidade de estruturar o território e o poder gerador e
intermediador de fluxos são adotados como condições primordiais que
determinam o nível de importância das cidades.

De uma maneira geral, estes atributos caminham lado a lado, ou seja, um


centro de porte demográfico expressivo tem uma grande chance de oferecer
um leque de serviços mais especializados, ou mesmo de oferecer uma
localização privilegiada na rede. Entretanto, em regiões de economia
deprimida, nem sempre o tamanho demográfico reflete, necessariamente, a
presença de alguns equipamentos terciários importantes para se “viver em
rede”.

A publicação recente, em 2008, denominada Regiões de Influência das


Cidades 2007, dá seqüência aos estudos sobre redes e hierarquias urbanas
realizados pelo IBGE, sendo elaborada com base em uma metodologia que
121

considera uma perspectiva mais ampla, como descrito anteriormente. Nesse


estudo, segundo o IBGE (2008)

“para a definição dos centros da rede urbana brasileira, buscam-se


informações de subordinação administrativa no setor público federal,
para definir a gestão federal, e de localização das sedes e filiais de
empresas, para estabelecer a gestão empresarial. A oferta de
distintos equipamentos e serviços capazes de dotar uma cidade de
centralidade – informações de ligações aéreas, de deslocamentos
para internações hospitalares, das áreas de cobertura das emissoras
de televisão, da oferta de ensino superior, da diversidade de
atividades comerciais e de serviços, da oferta de serviços bancários,
e da presença de domínios de internet – complementa a identificação
dos centros de gestão do território” (IBGE, 2008, p. 1).

O IBGE definiu, então, os principais nós das redes urbanas brasileiras em 2007
com o auxílio de um grande número de informações secundárias. O IBGE
buscou identificar as regiões de influência destes centros, tendo como ponto de
partida as redes de interação que conectam as cidades. (IBGE, 2008). Diante
disso, de acordo com o IBGE (2008),

“as informações de fluxos – materiais e imateriais – entre cidades,


que estão disponíveis a partir de fontes secundárias, não tem a
abrangência necessária. Assim, para os municípios que não foram
identificados com centros de gestão, o IBGE realizou um
levantamento específico. De um universo de 5.564 municípios
vigentes em 2007, foram pesquisados 4.625, dos quais cerca de 85%
têm menos de 20.000 habitantes. O questionário preechido pela Rede
de Agências do IBGE em fins de 2007 investigou: 1) as principais
ligações de transportes regulares, em particular as que se dirigem
aos centros de gestão; e 2) os principais destinos dos moradores dos
municípios pesquisados para obter produtos e serviços (tais como
compras em geral, educação superior, aeroportos, serviços de saúde,
bem como os fluxos para aquisição de insumos e o destino dos
produtos agropecuários)” (IBGE, 2008, p. 1).

Diante da complexidade das informações levantadas e utilizadas pelo IBGE


(2008), que conta, inclusive, com uma série de variáveis de fluxo, a abordagem
presente no próximo tópico não pretende elaborar uma delimitação direta da
hierarquia urbana, com o auxílio do modelo Grade of Membership (GoM), que
supere a já realizada pelo IBGE. No entanto, objetiva fornecer alguns
elementos novos que ajudem na compreensão da organização das redes
urbanas amazônicas. Assim como no estudo do IBGE, o modelo ora aplicado
baseia-se na idéia geral de que todos estes aspectos são, diretamente,
protagonistas na organização hierárquica das cidades, ou seja, de que a
122

“grandeza” de uma cidade e a sua posição hierárquica na rede não são


medidas apenas pelo número de pessoas residentes.

5.2 As Cidades Amazônicas e a aplicação do Grade of Membership

5.2.1 O modelo Grade of Membership

Neste tópico, procura-se entender melhor a hierarquia urbana da Amazônia


Legal, com base na utilização do método Grade of Membership (GoM). O
modelo é utilizado para delinear perfis, com base em um banco de dados
heterogênea e multidimensional, o que permite identificar grupos (clusters) e
descrever as diferenças entre os mesmos (Woodbury et al., 1978; Woodbury &
Manton, 1989; Manton et al., 1994; Cassidy et al., 2001).

No Brasil e no exterior, a metodologia tem sido amplamente utilizada para a


elaboração de análises ligadas aos campos da epidemiologia e da demografia
da saúde27. Entretanto, o método não se restringe a estas áreas do
conhecimento, dando suporte a estudos com objetivos diversos. Nesse
trabalho, o GoM será utilizado para ampliar as possibilidades de estudo da
hierarquia urbana na Amazônia Legal.

Diferentemente da maioria dos métodos estatísticos de análise de cluster, o


GoM não considera que pessoas e objetos são organizados em conjuntos bem
definidos. No GoM, um mesmo indivíduo (ou observação) pode ter certo grau
de pertinência a múltiplos grupos, razão porque também é chamado de modelo
de conjuntos nebulosos (Machado, 1997). Ademais, o GoM tem, entre outras, a
qualidade de analisar dados categóricos de pequenas amostras com um
grande número de variáveis.

De acordo com Sawyer et al. (2002), a aplicação desta metodologia para o


delineamento de perfis considera que: a) a associação não observada entre as
categorias das variáveis no modelo delineia dois ou mais perfis bem

27
Ver Sawyer et al (2004); Alves et al (2008); Maetzel et al (2000); MacNamee (2004).
123

determinados que são chamados de perfis extremos; b) esses perfis extremos


possuem todas as propriedades de conjuntos fechados clássicos; c) os graus
de pertinência aos perfis extremos são atribuídos a cada indivíduo. Dessa
forma, o indivíduo que possuir todas as características de um dos perfis
extremos terá 100% de grau de pertinência a esse perfil e 0% aos demais.
Assim, se um indivíduo possui todas as características de um dos perfis
extremos, o grau de pertinência a esse perfil será de 100% e,
consequentemente 0% aos demais. Quanto mais esse indivíduo se aproximar
do perfil extremo, maior será o seu grau de pertinência em relação a esse perfil
e menor em relação aos demais. Não é raro ter-se indivíduos que estejam
eqüidistantes a todos os perfis extremos não possuindo, portanto,
características que os aproximem daqueles perfis gerados. d) os graus de
pertinência dos indivíduos constituem um conjunto nebuloso e, quanto maior o
número de variáveis mais bem definido fica o conjunto; e) no GoM, como os
elementos desse conjunto são atributos individuais, a questão da
heterogeneidade, presente e mal resolvida em muitos métodos estatísticos,
não se torna um problema; f) os parâmetros do método são estimados por
processos iterativos e, portanto, quanto menor o tamanho da amostra, menor o
seu tempo de convergência” (Sawyer et al., 2002).

Segundo Sawyer et al. (2002),

“os itens (c) e (d) conferem ao método, dentro de limites plausíveis, a


vantajosa propriedade de melhores resultados, quanto menor o
tamanho da amostra e quanto maior o número de variáveis” (Sawyer
et al., 2002, p. 759).

Os autores ainda destacam que,

“além disso, como o grau de pertinência de cada indivíduo é dado


pela conjunção, neste indivíduo, de todas as categorias das variáveis
do modelo, o método releva, e de forma muito simples, a
heterogeneidade presente na amostra” (Sawyer et al., 2002, p. 759).

O método demanda a estimativa de um escore de grau de pertinência, para


cada indivíduo, relativo aos diversos conjuntos, ou seja, a partição nebulosa
dos indivíduos, para se obter os perfis extremos. Para cada elemento em um
124

conjunto nebuloso existe um escore de grau de pertinência (gik) que representa


o grau com que o elemento “i” pertence ao perfil extremo k (Sawyer, 2000).
Estes escores variam de 0 a 1: 0 indica que o elemento não pertence ao
conjunto; 1, que o elemento pertence completamente ao conjunto. O valor gik
representa a proporção ou intensidade de pertinência a cada perfil extremo.
Assim sendo, temos as seguintes restrições para a medida:

gik ≥ 0 para cada i e j


k

∑g ik =1 para cada i
k =1

Para a formulação do modelo e estimação dos parâmetros (escores), são


necessários, segundo Woodbury et al. (1978, p. 201) os seguintes
pressupostos:

a) “as variáveis aleatórias representadas por Yijl onde “i” se refere ao


indivíduo, “j” à questão e “l” à categoria de resposta de cada variável,
são independentes para diferentes “i”. Ou seja, as respostas dos
diferentes indivíduos são independentes;
b) os gik (k = 1, 2, ..., k) são realizações das componentes do vetor
aleatório ζi =(ζil, ..., ζik) com função de distribuição H(x) = P(ζi ≤ x). Ou
seja, os escores GoM, são realizações de variáveis aleatórias quando
um indivíduo é selecionado na população. A distribuição da amostra
das realizações (os escores na amostra) fornece estimativas da
função de distribuição H(x);
c) se o grau de pertinência gik é conhecido, as respostas do indivíduo
“i” para as várias questões Yijl são independentes para as categorias
de cada variável;
d) a probabilidade de resposta “l”, para a j-ésima questão, pelo
indivíduo com o k-ésimo perfil extremo é λkjl. Por pressuposto do
modelo, existe pelo menos um indivíduo que é um membro bem
definido do k-ésimo perfil. Este pressuposto dá a probabilidade de
resposta, para este indivíduo, para os vários níveis de cada questão.
Podemos então escrever este pressuposto como sendo:

λkjl ≥ 0 para cada k, j e l


k

∑λ
k =1
kjl =1 para cada k e j

e) a probabilidade de uma resposta de nível “l”, da j-ésima questão,


pelo indivíduo “i”, condicionada ao escore gik será dada por:

k
P(Yijl = 1) = ∑g ik λkjl = 1"
k =1
125

Com base nos pressupostos acima, o modelo de probabilidade para a


construção do procedimento de estimação de máxima verossimilhança é
formulado. O modelo de probabilidade, para uma amostra aleatória, é o produto
do modelo multinomial pela probabilidade de cada célula, dada por:
k
E(Yijl) = ∑g ik λ kjl
k =1

onde gik é, por pressuposto, conhecido e maior ou igual a zero.

Considerando os pressupostos acima, o modelo de máxima verossimilhança


pode ser escrito por:
I J L k
L( y ) = ∏∏∏ ∑ g
i −1 j =1 l =1
(
k =1
ik λ kjl ) yijl

O software escolhido para rodar o modelo é a versão freeware 3.3 do “GoM”,


desenvolvido por Peter Charpentier, do Departamento de Epidemiologia e
Saúde Pública da Escola de Medicina da Universidade de Yale, EUA.

5.2.2 As variáveis utilizadas para aplicação do GoM: uma análise


descritiva

Aplicado à proposta da tese, o método utiliza diversos tipos de variáveis, que


objetivam uma maior compreensão da grandeza e da capacidade de influência
das cidades amazônicas. Para cumprir tal tarefa, propõe-se um modelo que
leva em consideração uma diversidade de aspectos que extrapolam as
análises de ordem puramente econômica ou demográfica. Nesse sentido, as
variáveis que medem a funcionalidade e a capacidade de oferta de serviços
básicos e especializados são de grande valia, assim como os indicadores de
acesso a bens e, também, aqueles que dizem respeito aos equipamentos e à
infraestrutura presentes na cidade.

Para gerar o modelo de análise do presente estudo, são considerados apenas


os municípios com população superior a 20.000 habitantes. Mesmo que os
municípios com população entre 10.000 e 20.000 possam assumir certa
126

importância em termos de centralidade, no contexto da Amazônia Legal,


consideraram-se apenas aqueles com mais de 20.000, concentrando as
análises naqueles espaços que sediaram as maiores transformações urbanas
na Região.

Nesse trabalho, a escala escolhida para a análise é a municipal. Isso porque


algumas das informações disponíveis são relacionadas ao município e não a
cidade. Ainda, como foi discutido no capítulo 2, são muitos os problemas nas
definições legais de cidade e campo no Brasil. Ademais, o presente estudo
considera que em várias partes da Amazônia, as atividades que se
desenvolvem para além dos limites do perímetro urbano das cidades,
obedecem, muitas vezes, a uma lógica distante do que deve se entendido
como rural, minimizando os problemas que podem surgir nesse tipo de
abordagem.

A TAB. 8 apresenta a relação das variáveis presentes no modelo, separadas


em seis grupos, de acordo com a natureza das informações, a saber: espacial,
demográfica, socioeconômica, infraestrutura e serviços, acesso a bens,
funcional. Neste momento de apresentação das variáveis, a justificativa para a
sua utilização será seguida de uma análise descritiva das informações das
principais variáveis ainda não exploradas nos capítulos anteriores.

A incorporação das variáveis de natureza espacial parece ser de grande


importância, uma vez que a hierarquia urbana se define, também, sob a
influência da distribuição das cidades na rede, com impactos evidentes na
forma de interação e no relacionamento delas. A variável 1.1 representa o
número de vezes em que uma determinada cidade foi verificada como sendo o
centro urbano mais próximo e de maior população. Cada vez que uma cidade é
verificada como sendo a maior e mais próxima de algum dos centros com mais
de 20.000 habitantes (2007) da Amazônia Legal, a cidade incorpora 1 ponto no
denominado Indicador de Centralidade. Além disso, o Indicador de
Centralidade também acumula pontos do relacionamento das cidades com
centros pertencentes até a sétima ordem da rede, com pesos diferenciados
127

(0,5 para a segunda ordem, 0,25 para a terceira, 0,125 para a quarta e assim,
sucessivamente).

As variáveis demográficas (2.1, 2.2, 2.3 e 2.4) são fundamentais para o


entendimento da hierarquia urbana, já que estão bem correlacionadas com
uma série de outras variáveis de diferentes naturezas. O tamanho populacional
de um centro é acompanhado, geralmente, de outras características básicas
determinantes de seu nível de centralidade. O grau de urbanização também é
importante, já que o acesso à urbanidade e a todos os equipamentos urbanos
proporcionam, normalmente, uma situação mais favorável em relação aos
municípios pouco urbanizados, sobretudo na região amazônica. Já as TCG
municipal e da mesoregião estão relacionadas com o dinamismo local e
regional vivenciado pelos municípios nos últimos anos.

Tabela 8 - Relação das variáveis internas ao modelo GoM


Natureza das variáveis Variáveis
1 - Espacial 1.1 - Indicador de Centralidade: variável que representa o número de vezes
em que a cidade em questão foi verificada como sendo o centro urbano mais
próximo e de maior população
2 - Demográfica 2.1 - Grau de urbanização do município
2.2 - População municipal em 2007
2.3 - TCG municipal entre entre 2000 e 2007
2.4 - TCG da mesoregião entre 2000 e 2007
3 - Sócioeconomica 3.1 - PIB
3.2 - Valor do fundo de participação dos municipios
3.3 - Proporção de pobres
3.4 - IDH municipal
4 - Infra-estrutura e serviços 4.1 - % de pessoas com acesso a água encanada
4.2 - % de pessoas com acesso a luz
4.3 - % de pessoas com acesso a coleta de lixo
4.4 - Número de escolas de ensino fundamental
4.5 - Número de escolas de ensino médio
4.6 - Número de matrículas no ensino fundamental
4.7 - Número de matrículas no ensino médio
4.8 - Número de matrículas no ensino superior
4.9 - Hospitais
4.10 - Leitos hospitalares
4.11 - Postos de saúde
4.12 - Centros de saúde
5 - Acesso a bens 5.1 - Frota de veículos
5.2 - % de pessoas com computador
5.3 - % de pessoas com TV
5.4 - % de pessoas com Geladeira
5.5 - % de pessoas com telefone
6 - Funcional 6.1 - Esta variável é o resultado percentual de uma matriz de funcionalidades
dos municipios em relação a um total (73) de funçoes com diversos níveis de
especialização.
Fonte: Elaboração própria
128

Dos 10 municípios com maior grau de urbanização na Amazônia Legal em


2000, sete são capitais estaduais (Belém, Manaus, Cuiabá, Boa Vista, Palmas,
São Luís e Macapá, respectivamente). Vale destacar que 25 municípios
possuíam, em 2000, grau de urbanização superior a 90%, e 48 tinham grau de
urbanização superior a 80%, o que corresponde a 19,8% do total de municípios
(242) com população superior a 20.000 habitantes em 2007. De acordo com a
FIG. 6, percebe-se, claramente, que os municípios com maior grau de
urbanização na Amazônia Legal, em 2000, obedecem a um padrão de
distribuição espacial determinado pela proximidade das principais vias de
integração regional: o “arco rodoviário”, que cerca toda a Região, e o rio
Amazonas.

A TCG municipal parece não ter forte correlação com o tamanho populacional,
assumindo padrões variados. O que fica claro é que a maior parte dos
municípios analisados (86,8%) apresentou TCG positiva entre 2000 e 2007.
Ainda, verifica-se que, no período, 57 dos 242 municípios representados na
FIG. 7 tiveram TCG alta, superior a 3%a.a., e apenas 32 municípios (13,2%. do
total) tiveram TCG negativas. Para toda a Amazônia Legal, o valor da TCG
esteve mais alto do que a média nacional, entre 2000 e 2007 (1,7% a.a., e
1,14%a.a., respectivamente). Em 2007, dos municípios com população
superior a 20.000 habitantes em 2007, 112 (46,3%) tiveram TCG superior à
média regional; 146 (60,3%), TCG superior à média nacional. Já no que diz
respeito à TCG da meso-região, esta variável foi incorporada no modelo tendo
como base o pressuposto de que as variações no dinamismo regional, no
período analisado, exerceram, em alguma medida, influência no nível de
centralidade de um determinado município.

Ao utilizar a variável “população municipal 2007”, deve-se ter em mente as


limitações da Contagem da População de 2007, que apresenta uma série de
insuficiências que, de fato, comprometeram a qualidade dos dados, sobretudo
para as cidades amazônicas. Mesmo assim, diante da carência de informações
precisas sobre população na escala municipal, decidiu-se adotar esta variável
que também está embutida no calculo das TCG.
129

O Fundo de Participação dos Municípios28 (FPM) é calculado e repassado de


acordo com o tamanho populacional, o que explica a maior concentração de
valores pertencentes às classes menores na FIG. 8, já que 193 municípios
possuem arrecadação inferior ao patamar de R$ 8.000.000 no ano de 2005.
Apenas sete municípios receberam mais de R$ 64.000.000 naquele ano, com
destaque para as capitais estaduais. Esta variável foi incorporada ao modelo
por se tratar de uma remessa de extrema importância para a sobrevivência das
prefeituras.

A proporção de pobres está relacionada com a capacidade de a população de


um determinado município participar, ativamente, dos diversos tipos de fluxos
materiais e imateriais, o que aumenta ou diminui seu nível de centralidade. A
FIG. 9 é bastante ilustrativa e deixa claro que os municípios estudados com
maior proporção de pobres estão distantes das principais rodovias da Região,
com destaque para aqueles mais dispersos na floresta, sobretudo no estado do
Amazonas, Pará e Maranhão. Os dados são alarmantes para o ano de 2000,
pois 83 dos 242 municípios tinham mais do que 70% de sua população vivendo
abaixo da linha de pobreza. No rol de municípios com alta proporção de
pobres, encontram-se, inclusive, alguns de porte médio com população
superior a 50.000 habitantes em 2007 (9), com destaque para Breves (94.458
habitantes em 2007). Ainda que a maioria das políticas federais de combate à
pobreza tenham sido implementadas após 2000, ano ao qual se refere a
variável analisada, a exemplo do Fome Zero, deve-se ter em mente que a
situação deste conjunto de municípios merece uma atenção especial no que
tange à formulação de políticas sociais.

As precariedades de uma realidade composta por uma proporção elevada de


indivíduos pobres estão em acordo com os baixos valores no Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) na Região para o ano 2000. O IDH foi
incorporado ao modelo por ser uma medida síntese de vários elementos
importantes, tais como o nível de riqueza, de educação e de esperança de

28
O Fundo de Participação dos Municípios é composto de 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda e
do Imposto sobre Produtos Industrializados. 10% dos recursos são destinados aos municípios das capitais,
86,4% para os demais municípios e 3,6% para o fundo de reserva dos municípios não-capitais com
população superior a 142.633 habitantes.
130

vida. De acordo com a FIG. 10, apenas 10 municípios possuíam IDH superior a
0,8, em 2000, sendo Cuiabá, Belém e Palmas as únicas capitais estaduais
nesse conjunto. O município de Sorriso (MT) tinha, em 2000, o maior IDH da
Amazônia Legal (0,824), ao passo que Bom Jardim (MA) possuía o menor valor
(0,515). De uma forma geral, a maior parte dos municípios amazônicos
estudados (190) pertence às classes intermediárias do nível do IDH: 0,6 a 0,7 e
0,7 a 0,8.

As variáveis de infraestrutura e serviços presentes no modelo contemplam


algumas necessidades básicas, sendo indicadoras de condições de bem-estar
e qualidade de vida. A proporção de pessoas que vivem em domicílios com
acesso a água encanada também reflete uma realidade perversa. Apenas 38
municípios (15,7%) possuíam, em 2000, mais de 70% da população com
acesso à água encanada. Por outro lado, 176 municípios tinham menos do que
50% da população com acesso a este serviço, com destaque para o grupo de
14 municípios em que este valor não superava a casa dos 10%. Os menores
indicadores são para os municípios maranhenses de Turilândia (1,62%) e
Pedro do Rosário (1,32%). A FIG. 11 demonstra que parte expressiva dos
municípios do Maranhão e daqueles que compõem o interior da Região ao
longo dos estados do Pará, Amazonas e Acre apresentam os menores
percentuais de acesso a água encanada. Diante disso, o Programa Nacional
de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê cerca de R$ 7,3 bilhões de
investimentos em saneamento e habitação na Amazônia Legal, até 2010; R$
3,3 bilhões para as cidades e regiões metropolitanas com população superior a
150.000 (16 municípios) e 4 bilhões para redes de distribuição de água, coleta
e tratamento de esgoto para municípios com menos de 50.000 habitantes.
Entretanto, os municípios não cobertos por estas metas do programa somam
cerca de 5,5 milhões de habitantes.

A FIG. 12 mostra que, em termos proporcionais, a disponibilidade da oferta de


energia elétrica municipal é bem mais abrangente em relação à de água
encanada. No caso da percentagem de pessoas com acesso a energia elétrica,
pouco menos da metade dos municípios estudados (108) oferta este serviço
para mais de 80% de seus habitantes. Entretanto, 34 municípios ainda
131

disponibilizavam energia elétrica para menos do que a metade dos seus


habitantes, com destaque para aqueles do interior do Pará e do Amazonas.

A percentagem de pessoas que têm acesso a serviço de coleta de lixo em


domicílios urbanos na Amazônia Legal é representada pela FIG. 13. Dos 242
municípios estudados, 69 ofereciam este serviço a mais de 80% de seus
habitantes, em 2000. Em situação mais desfavorável, 119 municípios ofereciam
o serviço a menos da metade da população, no mesmo ano. Assim, fica
evidente que o problema da coleta e do destino dos resíduos sólidos nas
cidades da Amazônia em 2000 constituía um grande desafio, sobretudo para
os municípios do interior do Maranhão, Pará, Amazonas e Acre.

O percentual de pessoas que vivem em domicílios com computador, o que


indica o acesso à modernidade, apresentava números bastante baixos na
Amazônia Legal, no ano de 2000. A FIG. 14 mostra que 102 (42,2%)
municípios, entre os 242 com mais de 20.000 habitantes, em 2007, tinham
menos de 1% dos residentes vivendo em domicílios com computador em 2000.
Como dito no capítulo anterior, a média para o Brasil, no ano de 2005, era de
16,1%, de acordo com os dados do IBGE.

Na FIG. 15, observa-se que 119 municípios tinham uma percentagem de


pessoas residindo em domicílios com acesso a TV menor do que 60% em
2000. A situação também é precária no que tange ao percentual de pessoas
com acesso a geladeira (FIG. 16) e telefone (FIG. 17), na Região, para o
mesmo ano. Mais da metade (153) dos municípios amazônicos tinham um
percentual de pessoas que viviam em domicílios com geladeira inferior a 60%,
em 2000, ao passo que 134 municípios tinham menos de 10% das pessoas
vivendo em domicílios com telefone.

A FIG. 18 indica que a frota amazônica em 2007 se concentrava, sobretudo,


naqueles municípios próximos ao “arco rodoviário” e em alguns municípios
localizados nas margens do rio Amazonas, que possuem maior população, PIB
e População Economicamente Ativa, como visto nas figuras do capítulo
anterior.
132

Os dados referentes à oferta dos serviços de saúde e educação não serão


representados em de mapas. Tais informações, estão presentes no modelo
porque são serviços importantes que usualmente estimulam a procura e o
deslocamento de pessoas entre municípios, apesar de todas as dificuldades
discutidas no capítulo anterior no que se refere ao deslocamento inter-
municipal.

Tendo como referência estas variáveis contidas no modelo, de uma forma


geral, percebe-se que os municípios amazônicos apresentavam fortes
carências, não apenas em relação àquelas indicadoras de modernidade, mas,
também, no acesso a serviços básicos, indispensáveis à sobrevivência.
133
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5.2.3 A aplicação do Grade of Membership

Os quatro perfis obtidos foram selecionados com base em dez resultados


gerados com λkjl aleatórios iniciais, ou seja, foram gerados dez modelos de
quatro perfis. A constância observada nos λkjl finais obtidos nos dez modelos
indicou que o máximo global (critério matemático para otimização) foi
devidamente atingido em todos os modelos. Dentre os dez modelos, um foi
escolhido com base na observação da coerência dos resultados encontrados
para a população municipal em 2007 que, sem sombra de dúvidas, é uma das
principais variáveis no que tange ao entendimento da hierarquia urbana29.
Assim, muito embora não se tenha explicitamente procurado uma padrão de
hierarquia nos dados, este emergiu naturalmente das informações, revelando
perfis condizentes com o que seria esperado.

Tendo em vista este resultado, não foram testados outros modelos com
número de perfis diferentes de quatro, tendo-se priorizado a seleção deste
modelo com número de perfis interpretáveis diante da forma com que as
variáveis se comportaram em uma análise inicial, puramente descritiva, além
da razoabilidade dos resultados finais.

A descrição e denominação dos perfis foram efetuadas com base na razão


entre cada probabilidade esperada (E) no nível (l) da variável (j) no perfil
extremo (k), ou seja, λkjl, e a probabilidade observada (O) de resposta (l) da
variável (j) para qualquer município (probabilidades marginais). Esta razão
pode ser denominada, de maneira mais simplificada, de (E/O). Uma razão E/O
superior a 1,2 é indicativa de uma característica “marcadora” ou “descritora” do
perfil; este critério é proposto por Sawyer et al. (2002).

A TAB. 9 apresenta as estimativas de λkjl , por categorias das variáveis internas


e freqüências marginais absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000-2007).
Nesta tabela, os valores marcados por cinza escuro possuem uma razão E/O

29
Vale destacar que este procedimento de seleção do modelo mais adequado é explicitado por Manton et
al (1994).
147

maior do que 1,2. Já aqueles marcados por cinza claro, possuem uma razão
E/O entre 1 e 1,2.
148

Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
Observadas (O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
1 - Grau de Urbanização <= 0 ,10 2 0,0080 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
(2000) 0,11 - 0,20 6 0,0250 0,0000 0,0000 0,0000 0,0727
0,21 - 0,30 25 0,1030 0,0000 0,0000 0,0000 0,2998
0,31 - 0,40 27 0,1120 0,0000 0,0000 0,0000 0,3234
0,41 - 0,50 38 0,1570 0,0000 0,0097 0,1741 0,3041
0,51 - 0,60 32 0,1320 0,0000 0,0000 0,4677 0,0000
0,61 - 0,70 33 0,1360 0,0000 0,1514 0,3582 0,0000
0,71 -0 ,80 31 0,1280 0,0000 0,5445 0,0000 0,0000
0,81 - 0,90 23 0,0950 0,1883 0,2943 0,0000 0,0000
0,91+ 25 0,1030 0,8117 0,0000 0,0000 0,0000

2 - População Municipal <= 30.000 88 0,3640 0,0000 0,2932 0,0542 0,8052


(2007) 30.001 - 50.000 81 0,3350 0,0000 0,4162 0,6463 0,1948
50.001 - 100.000 47 0,1940 0,2922 0,2906 0,2995 0,0000
100.001 - 150.000 10 0,0410 0,2681 0,0000 0,0000 0,0000
150.001 - 300.000 9 0,0370 0,2440 0,0000 0,0000 0,0000
300.001 - 600.000 4 0,0170 0,1112 0,0000 0,0000 0,0000
600.001 - 1.000.000 1 0,0040 0,0283 0,0000 0,0000 0,0000
1.000.001+ 2 0,0080 0,0562 0,0000 0,0000 0,0000

3 - TCG municipal entre 2000 <= -3,00 2 0,0080 0,0000 0,0000 0,0000 0,0259
e 2007 -2,99 - -1,50 6 0,0250 0,0000 0,0794 0,0000 0,0193
-1,49 - ,00 24 0,0990 0,0503 0,0689 0,1518 0,0964
0,01 - 1,50 96 0,3970 0,4475 0,3951 0,4627 0,3243
1,51 - 3,00 57 0,2360 0,2662 0,2379 0,2545 0,2043
3,01 - 6,00 45 0,1860 0,2360 0,0952 0,1311 0,2679
6,01+ 12 0,0500 0,0000 0,1235 0,0000 0,0619

4 - TCG da meso-região entre <=0 ,50 24 0,0990 0,1085 0,2068 0,0997 0,0224
2000 e 20007 0,51 - 1,00 48 0,1980 0,2807 0,0953 0,2916 0,1570
1,01 - 1,50 33 0,1360 0,0000 0,0000 0,2308 0,2026
1,51 - 2,00 52 0,2150 0,3409 0,2124 0,2141 0,1698
2,01 - 2,50 41 0,1690 0,1723 0,0172 0,1638 0,2728
2,51 - 3,00 31 0,1280 0,0976 0,2350 0,0000 0,1755
3,01+ 13 0,0540 0,0000 0,2333 0,0000 0,0000
5 - PIB, 2005 <= 500.000.000 199 0,8220 0,0000 0,8872 1,0000 1,0000
500.000.000 - 1.500.000.000 26 0,1070 0,5287 0,1128 0,0000 0,0000
1.500.000.000 - 4.000.000.000 13 0,0540 0,3580 0,0000 0,0000 0,0000
4.000.000.000 - 7.000.000.000 1 0,0040 0,0284 0,0000 0,0000 0,0000
7.000.000.000 - 12.000.000.000 2 0,0080 0,0566 0,0000 0,0000 0,0000
12.000.000.000+ 1 0,0040 0,0284 0,0000 0,0000 0,0000

6 - Fundo de participação <= 8.000.000 193 0,7980 0,1791 0,8503 0,8458 1,0000
dos municípios 8.000.000 - 16.000.000 33 0,1360 0,3703 0,1497 0,1542 0,0000
16.000.000 - 32.000.000 7 0,0290 0,1968 0,0000 0,0000 0,0000
32.000.000 - 64.000.000 2 0,0080 0,0566 0,0000 0,0000 0,0000
64.000.000 - 100.000.000 3 0,0120 0,0846 0,0000 0,0000 0,0000
100.000.000+ 4 0,0170 0,1126 0,0000 0,0000 0,0000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000. IBGE, Contagem da População, 2007. Atlas de desenvolvimento
Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, IBGE, Estatíticas de Saúde, 2000,. IBGE, Perfil dos Municípios - Cultura 2006, DENATRAN
2007. (continua...)
149

Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Observadas Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
(O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
7 - Proporção de pobres <= 27,00 22 0,0910 0,5273 0,0731 0,0000 0,0000
(2000) 27,01 - 36,54 22 0,0910 0,3190 0,1871 0,0000 0,0000
36,55 - 45,41 22 0,0910 0,1538 0,2754 0,0000 0,0000
45,42 - 52,97 22 0,0910 0,0000 0,2328 0,0000 0,1024
52,98 - 58,51 22 0,0910 0,0000 0,2316 0,0627 0,0459
58,52 - 64,91 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,2967 0,0000
64,92 - 69,66 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,1842 0,1114
69,67 - 72,29 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,2084 0,0869
72,30 - 75,53 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,1335 0,1632
75,54 - 79,59 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,1146 0,1829
79,60+ 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,0000 0,3073

8 - IDH municipal (2000) <= 0,60 44 0,1820 0,0000 0,0000 0,1663 0,4179
0,61 - 0,70 112 0,4630 0,0000 0,1671 0,8337 0,5821
0,71 - 0,80 78 0,3220 0,7719 0,8329 0,0000 0,0000
0,81+ 8 0,0330 0,2281 0,0000 0,0000 0,0000

9 - % de pessoas com água <=20 65 0,2690 0,0000 0,0000 0,0000 0,7586


encanada (2000) 20,01 - 40 81 0,3350 0,0000 0,0000 0,8403 0,2414
40,01 - 60 44 0,1820 0,0768 0,6280 0,1597 0,0000
60,01 - 80 33 0,1360 0,3913 0,3720 0,0000 0,0000
80,01 - 100 19 0,0790 0,5319 0,0000 0,0000 0,0000

10 - % de pessoas com <=40 11 0,0450 0,0000 0,0000 0,0000 0,1371


acesso a energia elétrica 40,01 - 50 23 0,0950 0,0000 0,0000 0,0000 0,2953
(2000) 50,01 - 60 33 0,1360 0,0000 0,0000 0,0006 0,4349
60,01 - 80 67 0,2770 0,0000 0,0000 0,7288 0,1327
80,01 - 90 49 0,2020 0,0000 0,5527 0,2706 0,0000
90,01 - 100 59 0,2440 1,0000 0,4473 0,0000 0,0000

11 - % de pessoas que vivem <= 10,00 12 0,0500 0,0000 0,0000 0,0000 0,1452
em domicílios urbanos com 10,01 - 20,00 17 0,0700 0,0000 0,0000 0,0874 0,1328
serviço de coleta de lixo 20,01 - 30,00 17 0,0700 0,0000 0,0000 0,0904 0,1302
(2000) 30,01 - 40,00 12 0,0500 0,0000 0,0434 0,0681 0,0593
40,01 - 50,00 24 0,0990 0,0000 0,0000 0,1789 0,1400
50,01 - 60,00 37 0,1530 0,0000 0,0000 0,2822 0,2096
60,01 - 70,00 25 0,1030 0,0000 0,1404 0,2481 0,0000
70,01 - 80,00 29 0,1200 0,0637 0,2941 0,0000 0,1283
80,01 - 90,00 37 0,1530 0,4484 0,2993 0,0449 0,0200
90,01+ 32 0,1320 0,4879 0,2228 0,0000 0,0346

12 - Número de escolas de <= 50,00 70 0,2890 0,0000 0,7864 0,0000 0,2352


51,00 - 100 103 0,4260 0,3823 0,1603 0,5875 0,5465
ensino fundamental (2006) 101,00 - 150 32 0,1320 0,1769 0,0533 0,1794 0,1350
151,00 - 200 24 0,0990 0,1399 0,0000 0,2331 0,0448
201,00 - 300 8 0,0330 0,1499 0,0000 0,0000 0,0384
301,00 - 600 4 0,0170 0,1220 0,0000 0,0000 0,0000
601+ 1 0,0040 0,0289 0,0000 0,0000 0,0000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000. IBGE, Contagem da População, 2007. Atlas de desenvolvimento
Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, IBGE, Estatíticas de Saúde, 2000,. IBGE, Perfil dos Municípios - Cultura 2006, DENATRAN 2007.
(continua...)
150

Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Observadas Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
(O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
13 - Número de escolas de <= 8,11 194 0,8020 0,0000 0,8889 0,9528 1,0000
ensino médio (2006) 8,12 - 25,76 33 0,1360 0,5857 0,1111 0,0472 0,0000
25,77 - 43,41 7 0,0290 0,1919 0,0000 0,0000 0,0000
43,42 - 61,06 4 0,0170 0,1112 0,0000 0,0000 0,0000
61,07+ 4 0,0170 0,1112 0,0000 0,0000 0,0000

14 - Número de matrículas <= 5.000,00 23 0,0950 0,0000 0,1098 0,0000 0,2092


no ensino fundamental 5.001,00 - 7.500 61 0,2520 0,0000 0,4095 0,0000 0,4973
(2006) 7501,00 - 1.0000 56 0,2310 0,0000 0,2356 0,2958 0,2936
10001,00 - 2.0000 66 0,2730 0,2104 0,2452 0,7042 0,0000
20.001,00 - 100.000 33 0,1360 0,7060 0,0000 0,0000 0,0000
100.001,00 - 250.000 2 0,0080 0,0555 0,0000 0,0000 0,0000
250.001,00+ 1 0,0040 0,0281 0,0000 0,0000 0,0000
15 - Número de matrículas <= 1000 50 0,2070 0,0000 0,0000 0,0000 0,6057
1.001 - 2.500 121 0,5000 0,0000 0,6891 0,7974 0,3943
no ensino médio (2006) 2.501 - 5.000 40 0,1650 0,2440 0,3109 0,2026 0,0000
5.001 - 10.000 15 0,0620 0,3492 0,0000 0,0000 0,0000
10.001 - 30.000 12 0,0500 0,2970 0,0000 0,0000 0,0000
30.001 - 100.000 3 0,0120 0,0818 0,0000 0,0000 0,0000
100.001+ 1 0,0040 0,0280 0,0000 0,0000 0,0000

16 - Número de matrículas 0 84 0,3470 0,0742 0,2378 0,0538 0,7437


no ensino superior (2007) 1,00 - 1.000 123 0,5080 0,0000 0,6658 0,9462 0,2563
1001 - 5.000 22 0,0910 0,5438 0,0964 0,0000 0,0000
5.001 - 10.000 5 0,0210 0,1486 0,0000 0,0000 0,0000
10.001 - 30.000 4 0,0170 0,1177 0,0000 0,0000 0,0000
30.001 - 40.000 2 0,0080 0,0578 0,0000 0,0000 0,0000
40.001+ 2 0,0080 0,0578 0,0000 0,0000 0,0000

17 - Hospitais (2000) <=0 36 0,1490 0,0000 0,0000 0,0000 0,4188


1 85 0,3510 0,0000 0,3141 0,4756 0,4407
2 48 0,1980 0,0000 0,3365 0,3290 0,1040
3 27 0,1120 0,0974 0,2536 0,1030 0,0365
4 15 0,0620 0,0971 0,0959 0,0924 0,0000
5+ 31 0,1280 0,8055 0,0000 0,0000 0,0000

18 - Leitos Hospitalares <= 100 157 0,6490 0,0000 0,6602 0,5191 1,0000
(2000) 101 - 400 66 0,2730 0,4537 0,3398 0,4809 0,0000
401 - 1.200 14 0,0580 0,4037 0,0000 0,0000 0,0000
1.201 - 3.600 4 0,0170 0,1142 0,0000 0,0000 0,0000
3.601+ 1 0,0040 0,0285 0,0000 0,0000 0,0000

19 - Postos de Saúde (2000) <= 5,00 94 0,3880 0,3421 0,3786 0,2895 0,4942
6,00 - 10, 61 0,2520 0,0536 0,3550 0,3098 0,2210
11,00 - 20 50 0,2070 0,2567 0,1815 0,1484 0,2502
21,00 - 30 19 0,0790 0,1423 0,0849 0,0935 0,0346
31,00 - 50 14 0,0580 0,1738 0,0000 0,1167 0,0000
51,00+ 4 0,0170 0,0316 0,0000 0,0422 0,0000

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000. IBGE, Contagem da População, 2007. Atlas de desenvolvimento
Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, IBGE, Estatíticas de Saúde, 2000,. IBGE, Perfil dos Municípios - Cultura 2006, DENATRAN 2007.
(continua...)
151

Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Observadas Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
(O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
20 - Centros de Saúde (2000) <= 1,00 156 0,6450 0,0000 0,4980 0,7256 0,9327
2,00 - 2,00 27 0,1120 0,1186 0,1640 0,1185 0,0673
3,00 - 4,00 30 0,1240 0,1733 0,2366 0,1559 0,0000
5,00 - 8,00 11 0,0450 0,1891 0,0832 0,0000 0,0000
9,00 - 16,00 11 0,0450 0,3437 0,0000 0,0000 0,0000
17,00 - 32,00 3 0,0120 0,0578 0,0182 0,0000 0,0000
33,00+ 4 0,0170 0,1175 0,0000 0,0000 0,0000

21 - Frota de veículos (2007) <= 5.000 157 0,6490 0,0000 0,0000 1,0000 1,0000
5.001 - 15.000 49 0,2020 0,0000 0,9241 0,0000 0,0000
15.001 - 30.000 16 0,0660 0,3824 0,0759 0,0000 0,0000
30.001 - 60.000 9 0,0370 0,2865 0,0000 0,0000 0,0000
60.001 - 100.000 6 0,0250 0,1832 0,0000 0,0000 0,0000
100.001 - 250.000 4 0,0170 0,1191 0,0000 0,0000 0,0000
250.001+ 1 0,0040 0,0288 0,0000 0,0000 0,0000

22 - % de pessoas que vivem <= 1,00 102 0,4210 0,0000 0,0000 0,5019 0,8427
em domicílios com 1,01 - 2 64 0,2640 0,0000 0,3167 0,4981 0,1573
computador (2000) 2,01 - 3 25 0,1030 0,0000 0,4717 0,0000 0,0000
3,01 - 4 14 0,0580 0,1543 0,1475 0,0000 0,0000
4,01 - 5 8 0,0330 0,1183 0,0641 0,0000 0,0000
5,01 - 6 13 0,0540 0,3148 0,0000 0,0000 0,0000
6,01 - 8 10 0,0410 0,2500 0,0000 0,0000 0,0000
8,01 - 10 4 0,0170 0,1075 0,0000 0,0000 0,0000
10,01+ 2 0,0080 0,0552 0,0000 0,0000 0,0000

23 - % de pessoas que vivem <= 20,00 2 0,0080 0,0000 0,0000 0,0000 0,0251
20,01 - 30 19 0,0790 0,0000 0,0000 0,0000 0,2376
em domicílios com energia
30,01 - 40 34 0,1400 0,0000 0,0000 0,0000 0,4358
elétrica e TV (2000) 40,01 - 50 39 0,1610 0,0000 0,0000 0,2133 0,3015
50,01 - 60 25 0,1030 0,0000 0,0000 0,3467 0,0000
60,01 - 70 41 0,1690 0,0000 0,1597 0,4400 0,0000
70,01 - 80 37 0,1530 0,0000 0,6608 0,0000 0,0000
80,01 - 90 34 0,1400 0,6824 0,1794 0,0000 0,0000
90,01+ 11 0,0450 0,3176 0,0000 0,0000 0,0000
24 - % de pessoas que vivem <= 20 10 0,0410 0,0000 0,0000 0,0000 0,1251
20,01 - 30 35 0,1450 0,0000 0,0000 0,0000 0,4755
em domicílios com energia
30,01 - 40 39 0,1610 0,0000 0,0000 0,1288 0,3994
elétrica e geladeira (2000) 40,01 - 50 40 0,1650 0,0000 0,0000 0,4974 0,0000
50,01 - 60 29 0,1200 0,0000 0,0000 0,3738 0,0000
60,01 - 70 18 0,0740 0,0000 0,3337 0,0000 0,0000
70,01 - 80 31 0,1280 0,0000 0,5908 0,0000 0,0000
80,01 - 90 22 0,0910 0,4958 0,0755 0,0000 0,0000
90,01+ 18 0,0740 0,5042 0,0000 0,0000 0,0000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000. IBGE, Contagem da População, 2007. Atlas de desenvolvimento
Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, IBGE, Estatíticas de Saúde, 2000,. IBGE, Perfil dos Municípios - Cultura 2006, DENATRAN 2007.
(continua...)
152

Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Observadas Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
(O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
25 - % de pessoas que vivem <= 5,00 74 0,3060 0,0000 0,0000 0,1022 0,7953
em domicílios com telefone 5,01 - 10 60 0,2480 0,0000 0,0000 0,6206 0,2047
(2000) 10,01 - 20 57 0,2360 0,0000 0,6374 0,2772 0,0000
20,01 - 30 21 0,0870 0,0000 0,3626 0,0000 0,0000
30,01 - 40 13 0,0540 0,4224 0,0000 0,0000 0,0000
40,01+ 17 0,0700 0,5776 0,0000 0,0000 0,0000

26 - Indicador de 0 141 0,5830 0,0614 0,5093 0,5336 0,8837


Centralidade 0,01 - 1 36 0,1490 0,0383 0,2855 0,1703 0,0848
1,01 - 2,50 24 0,0990 0,0608 0,2052 0,1150 0,0316
2,51 - 5 21 0,0870 0,2564 0,0000 0,1811 0,0000
5,01 - 10 9 0,0370 0,2661 0,0000 0,0000 0,0000
10,01 - 15 5 0,0210 0,1451 0,0000 0,0000 0,0000
15,01 - 20 3 0,0120 0,0863 0,0000 0,0000 0,0000
20,01 - 25 1 0,0040 0,0286 0,0000 0,0000 0,0000
25,01 - 30 1 0,0040 0,0286 0,0000 0,0000 0,0000
30,01+ 1 0,0040 0,0286 0,0000 0,0000 0,0000

27 - Funcionalidades (%) <= 20 11 0,0450 0,0000 0,0000 0,0000 0,1333


20,01 - 30 38 0,1570 0,0000 0,0000 0,0000 0,4566
30,01 - 40 68 0,2810 0,0000 0,1187 0,3810 0,4101
40,01 - 50 48 0,1980 0,0393 0,2609 0,4387 0,0000
50,01 - 60 42 0,1740 0,0849 0,4414 0,1803 0,0000
60,01 - 70 13 0,0540 0,0804 0,1789 0,0000 0,0000
70,01 - 80 12 0,0500 0,4794 0,0000 0,0000 0,0000
80,01 - 90 4 0,0170 0,1228 0,0000 0,0000 0,0000
90,01+ 6 0,0250 0,1932 0,0000 0,0000 0,0000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000. IBGE, Contagem da População, 2007. Atlas de desenvolvimento

Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, IBGE, Estatíticas de Saúde, 2000,. IBGE, Perfil dos Municípios - Cultura 2006, DENATRAN 2007.

A descrição a seguir dos perfis é feita de acordo com a probabilidade esperada


(E) de cada nível da variável relativamente à probabilidade marginal observada
(O). Ou seja, os perfis são descritos com base naquelas características com
razão E/O igual ou superior a 1,2, conforme descrito anteriormente. Cabe
lembrar que esta descrição se refere aos tipos puros (gik =1) de cada perfil.

Perfil 1: 1) grau de urbanização elevado (2000), superior a 80%; 2) população


(2007) de porte médio a alta, maior de 50.000 habitantes; 3) TCG municipal
(2000-2007) alta, entre 3 e 6% a.a.; 4) TCG da meso-região (2000-2007)
positiva baixa/média, entre 0,5 e 1% a.a. e entre 1,5 e 2% a.a.; 5) PIB (2005)
de médio a alto, maior do que R$500.000.000 até a classe R$12.000.000.000
ou mais; 6) FPM (2005) médio/alto, maior do que R$8.000.000 até a classe
153

R$100.000.000 ou mais; 7) proporção de pobres (2000) relativamente baixa


para o padrão regional, menor do que 45%.; 8) IDH (2000) médio e alto, entre
0,71 a 0,80 e 0,80 ou mais; 9) proporção média/alta de pessoas com água
encanada (2000), superior a 60%; 10) proporção muito alta de pessoas com
acesso a energia elétrica (2000), superior a 90%; 11) proporção alta de
pessoas que vivem em domicílios urbanos com serviço de coleta de lixo (2000),
superior a 80%; 12) alto número de escolas de ensino fundamental (2006),
maior que 101 e incluindo a classe de 601 ou mais; 13) número médio/alto de
escolas de ensino médio (2006), superior a 8,11 e incluindo a classe 61,07 ou
mais; 14) número médio/alto de matrículas no ensino fundamental (2006),
superior a 20.001 e incluindo a classe 250.001 ou mais; 15) número médio/alto
de matrículas no ensino médio (2006), superior a 2.501; 16) número médio/alto
de matrículas no ensino superior (2007), maior do que 1.001 e incluindo a
classe 40.001 ou mais; 17) número alto de hospitais (2000), superior a 4 e 5 ou
mais; 18) médio/alto número de leitos hospitalares (2000), maior do que 101 e
incluindo a classe 3.601 ou mais; 19) médio/alto número de postos de saúde
(2000), superior a 11 e incluindo a classe 51 ou mais; 20) médio/alto número de
centros de saúde, superior a 3 e incluindo a classe 33 ou mais; 21) média/alta
frota de veículos (2007), superior a 15.001 e incluindo a classe 250.001 ou
mais; 22) média/alta proporção de pessoas que vivem em domicílios com
computador (2000) para os padrões regionais, superior a 3% e incluindo a
classe 10,01% ou mais; 23) alta proporção de pessoas que vivem em
domicílios com energia elétrica e TV (2000), superior a 80,01%; 24) alta
proporção de pessoas que vivem em domicílios com energia elétrica e
geladeira (2000), superior a 80,01%; 25) alta proporção de pessoas de pessoas
que vivem em domicílios com telefone (2000) para os padrões regionais,
superior a 30%; 26) indicador de centralidade médio/alto/muito alto, superior a
2,51 e incluindo a classe 30,01 ou mais; 27) alta/média diversificação funcional,
apresentando mais de 60,01% das funcionalidades.

Perfil 2: 1) grau de urbanização (2000) de médio a alto, predominantemente


entre 70 a 90%; 2) população (2007) de porte médio, entre 30.000 e 100.000,
com maior destaque para os municípios com mais de 50.000 residentes; 3)
TCG municipal (2000-2007) muito alta, maior que 6% a.a., ou negativas, entre -
154

2,99 e – 1,5% a.a.; 4) TCG da meso-região (2000-2007) positiva alta, entre 2,5
e 3% a.a. e maior do que 3% a.a ou positiva baixa, menor de 0,5%a.a.; 5) PIB
(2005) médio/baixo, entre R$500.000.000 e R$1.500.000.000 e menor do que
R$500.000; 6) FPM (2005) médio/baixo, entre R$8.000.000 e R$16.000.000 e
menor do que R$8.000.000; 7) proporção de pobres (2000) média para os
padrões regionais, entre 27% e 58,51%; 8) IDH (2000) médio, de 0,71 a 0,8; 9)
proporção média de pessoas com água encanada (2000), entre 40% e 80%;
10) proporção alta de pessoas com acesso a energia elétrica (2000), superior a
80%; 11) proporção média de pessoas que vivem em domicílios urbanos com
serviço de coleta de lixo (2000), superior a 60%; 12) baixo número de escolas
de ensino fundamental (2006), menor do que 50; 13) número baixo de escolas
de ensino médio (2006), inferior a 8,11; 14) número baixo de matrículas no
ensino fundamental (2006), entre 5.001 e 7.500; 15) número médio de
matrículas no ensino médio, entre 1.001 e 5.000; 16) número baixo/médio de
matrículas no ensino superior (2007), entre 1 e 1.000; 17) número médio de
hospitais (2000), entre 2 e 4; 18) médio número de leitos hospitalares (2000),
entre 101 e 400; 19) médio número de postos de saúde (2000), entre 6 e 10;
20) médio número de centros de saúde, entre 2 e 8 e entre 17 e 32; 21) média
frota de veículos (2007), entre 5.001 e 15.000; 22) média proporção de
pessoas que vivem em domicílios com computador (2000) para os padrões
regionais, entre 2% e 5%; 23) média/alta proporção de pessoas que vivem em
domicílios com energia elétrica e TV (2000), entre 60,01% e 90%; 24) alta
proporção de pessoas que vivem em domicílios com energia elétrica e
geladeira (2000), entre 60,01 e 80%; 25) média proporção de pessoas de
pessoas que vivem em domicílios com telefone (2000) para os padrões
regionais, entre 10,01% e 30%; 26) indicador de centralidade baixo, entre 0,01
e 2,5; 27) média diversificação funcional, apresentando entre 40,01% e 70,01%
das funcionalidades.

Perfil 3: 1) grau de urbanização (2000) médio entre 50 e 70%; 2) população


(2007) de porte médio, entre 30.00 e 100.000, com maior destaque para os
municípios com população inferior a 50.000 residentes; 3) TCG municipal
(2000-2007) negativa, entre -1,5 e 0% a.a.; 4) TCG da meso-região (2000-
2007) positiva moderada, entre 0,5 e 1% a.a. e entre 1 e 1,5% a.a.; 5) PIB
155

(2005) baixo, menor do que R$500.000.000; 6) FPM (2005) médio/baixo, entre


R$8.000.000 e 16.000.000 e menor do que R$8.000.000; 7) proporção de
pobres (2000) alta para os padrões regionais, entre 58,52% e 79,59%; 8) IDH
(2000) baixo, entre 0,61 a 7; 9) proporção baixa de pessoas com água
encanada, entre 20% e 40%; 10) proporção média de pessoas com acesso a
energia elétrica (2000), entre 60% a 90%; 11) proporção média/baixa de
pessoas que vivem em domicílios urbanos com serviço de coleta de lixo (2000),
entre 10% e 70%; 12) médio/baixo número de escolas de ensino fundamental
(2006), entre 50 e 200; 13) número baixo de escolas de ensino médio (2006),
inferior a 8,11; 14) número médio/baixo de matrículas no ensino fundamental
(2006), entre 7.501 e 20.000; 15) número médio de matrículas no ensino
médio, entre 1.001 e 5.000; 16) número baixo/médio de matrículas no ensino
superior (2007), entre 1 e 1.000; 17) número baixo/médio de hospitais (2000),
1, 2 ou 4; 18) médio número de leitos hospitalares (2000), entre 101 e 400; 19)
médio/alto número de postos de saúde (2000), entre 6 e 10 e superior a 31; 20)
médio número de centros de saúde, entre 3 e 4; 21) baixa frota de veículos
(2007), igual ou menor que 5.000; 22) baixa proporção de pessoas que vivem
em domicílios com computador (2000) para os padrões regionais, entre 1% e
2%; 23) média proporção de pessoas que vivem em domicílios com energia
elétrica e TV (2000), entre 50,01% e 70%; 24) média proporção de pessoas
que vivem em domicílios com energia elétrica e geladeira (2000), entre 40,01 e
60%; 25) baixa proporção de pessoas de pessoas que vivem em domicílios
com telefone (2000) para os padrões regionais, entre 5,01% e 10%; 26)
indicador de centralidade médio, entre 2,51 e 5; 27) baixa diversificação
funcional, apresentando entre 30,01% e 50,01% das funcionalidades.

Perfil 4: 1) grau de urbanização (2000) de médio a baixo, entre 10 e 50%; 2)


população (2007) de pequeno porte, entre 20.000 e 30.000 habitantes; 3) TCG
municipal (2000-2007) muito alta, entre 3 e 6% a.a. e maior do que 6% a.a., ou
TCG muito baixa, inferior a -3% a.a. 4) TCG da meso-região (2000-2007)
positiva média e moderadamente alta, entre 1 e 1,5%a.a. e entre 2 e 3%a.a.; 5)
PIB (2005) baixo, menor do que R$500.000; 6) FPM (2005) baixo, menor do
que R$8.000.000; 7) proporção de pobres (2000) alta entre 64,92% e 72,29% e
muito alta, entre 72,30% ate a classe entre 79,6% ou mais; 8) IDH (2000) muito
156

baixo, menor do que 0,6; 9) proporção muito baixa de pessoas com água
encanada, inferior a 20%; 10) proporção baixa de pessoas com acesso a
energia elétrica (2000), inferior a 60%; 11) proporção baixa de pessoas que
vivem em domicílios urbanos com serviço de coleta de lixo (2000), inferior a
60%; 12) baixo número de escolas de ensino fundamental (2006), entre 51-
100; 13) número baixo de escolas de ensino médio (2006), inferior a 8,11; 14)
número baixo de matrículas no ensino fundamental (2006), inferior a 10.000;
15) número baixo de matrículas no ensino médio, menor ou igual a 1.000; 16)
não existe matrículas no ensino superior (2007), entre 1 e 1.000; número baixo
ou nulo de hospitais (2000), igual a 1 ou 0; 18) baixo número de leitos
hospitalares (2000), menor do que 100; 19) médio/baixo número de postos de
saúde (2000), entre 11 e 20 e menor ou igual a 5; 20) baixo número de centros
de saúde, igual ou menor que 1; 21) baixa frota de veículos (2007), igual ou
menor que 5.000; 22) muito baixa proporção de pessoas que vivem em
domicílios com computador (2000) para os padrões regionais, menor ou igual a
1%; 23) baixa proporção de pessoas que vivem em domicílios com energia
elétrica e TV (2000), inferior a 50%; 24) baixa proporção de pessoas que vivem
em domicílios com energia elétrica e geladeira (2000), inferior a 40%; 25) muito
baixa proporção de pessoas de pessoas que vivem em domicílios com telefone
(2000) para os padrões regionais, inferior a 5,00%; 26) indicador de
centralidade igual a 0; 27) muito baixa diversificação funcional, apresentando
menos do que 40% das funcionalidades.

Complementarmente à esta descrição, a TAB. 10 apresenta a distribuição dos


gik(s) nos quatro perfis do modelo. A Tabela A 2 do Anexo apresenta os valores
detalhados para todos os municípios do modelo. O fato de que, em todos os
perfis, 138 municípios (57%) tiveram um alto grau de pertencimento com gik(s)
superiores a 0,75 (considerado muito alto) é outro indicativo que valida o
número de perfis encontrados e a adequação deste modelo aos dados do
presente estudo (ou seja, os perfis se ‘encaixam’ adequadamente bem a uma
grande parte dos municípios). Além disso, verifica-se que 97 municípios (40%)
tiveram gik(s) entre 0,51 e 0,75 (considerado alto). Sendo assim, 97% dos
municípios possuem gik(s) com valores superiores a 0,50 em algum dos perfis, o
que é bastante interessante já que quase todos os municípios têm um grau de
157

pertencimento alto a algum perfil, sendo bem descrito por um determinado


perfil. Vale lembrar que um município com um mínimo de 0,51 em um único
perfil, não pode ter pertinência superior a 0,49 a qualquer (ou quaisquer)
outro(s) perfil(s), sendo o primeiro perfil o predominante.

Tabela 10 - Distribuição dos gik(s)


Perfil 1
Frequência % % acumulada
0 - 0,25 193 79,75 79,75
0,26 - 0,50 22 9,09 88,84
0,51 - 0,75 5 2,07 90,91
0,76+ 22 9,09 100,00
Total 242 100,00

Perfil 2
Frequência % % acumulada
0 - 0,25 164 67,77 67,77
0,26 - 0,50 20 8,26 76,03
0,51 - 0,75 32 13,22 89,26
0,76+ 26 10,74 100,00
Total 242 100,00

Perfil 3
Frequência % % acumulada
0 - 0,25 137 56,61 56,61
0,26 - 0,50 39 16,12 72,73
0,51 - 0,75 33 13,64 86,36
0,76+ 33 13,64 100,00
Total 242 100,00

Perfil 4
Frequência % % acumulada
0 - 0,25 136 56,20 56,20
0,26 - 0,50 22 9,09 65,29
0,51 - 0,75 27 11,16 76,45
0,76+ 57 23,55 100,00
Total 242 100,00
Fonte: Elaboração própria

De acordo com a FIG. 19, percebe-se que os municípios com alto grau de
pertencimento ao perfil 1 estão distribuídos ao longo dos principais eixos
rodoviários da Amazônia Legal, com destaque para aqueles compreendidos
158

entre Cuiabá e Rio Branco, nas intermediações da BR 364 e BR 070: Cuiabá,


Barra do Garças, Rondonópolis, Várzea Grande, Tangará da Serra, Vilhena, Ji-
Paraná, Ariquemes, Porto Velho e Rio Branco. Também pode-se encontrar
alguns outros municípios com gik superior a 0,75 nas proximidades da rodovia
Belém – Brasília, a exemplo de Gurupi, Palmas, Araguaína, Imperatriz,
Castanhal e Ananindeua. Dispersas no mapa, algumas capitais estaduais se
destacam, como Manaus, Macapá, São Luís e Boa Vista. Desse grupo de
municípios, apenas Sinop, na rodovia 163, parece estar mais disperso e fora do
eixo das grandes/médias aglomerações da Região. Todas as capitais estaduais
tiveram grau de pertencimento máximo ao perfil 1, ao passo que sete
municípios de porte intermediário do interior também atingiram este valor30.

Os perfis 2 e 3, de um modo geral, apresentam características tidas como


intermediárias em relação aos outros perfis. Ainda, deve-se ressaltar que os
perfis 2 e 3 apresentam padrões espaciais bastante distintos. No caso dos
municípios com gik maiores que 0,75 no perfil 2, a FIG. 20 deixa claro que estes
se concentram no interior do estado do Mato Grosso e na porção oriental da
Amazônia Legal. Já os municípios com alto grau de pertencimento ao perfil 3
estão localizados no interior do estado do Amazonas, Acre, na parte ocidental
do Pará e no Leste do Maranhão.

Os municípios dos perfis 2 e 3 possuem médio porte demográfico. Fica claro


que os municípios do perfil 2, mais urbanizados e com maior população em
relação ao perfil 3, são aqueles pertencentes ao arco rodoviário. Já os
municípios do perfil 3, se localizam preferencialmente nas margens dos
principais rios que atravessam o interior da Região. As FIGs. 20 e 21 parecem
sugerir que a influência rodoviária, em relação aos meios tradicionais de
transporte na Região, contribuiu para esta diferenciação de tamanho, grau de
urbanização, diversificação funcional, entre outras.

Já os municípios com gik(s) elevados do perfil 4 estão concentrados no interior


do Pará e do Maranhão e em menor medida, no Amazonas, Acre e Rondônia

30
Tangará da Serra, Rondonópolis, Barra do Garças, Imperatriz, Araguaína, Ananindeua, e Ji-Paraná.
159

(FIG. 22). Os municípios com alto grau de pertencimento ao perfil 4 foram os


que tiveram maior número de tipos puros (30) em relação aos outros perfis.

A aplicação do GoM parece sugerir que o uso de um critério estritamente


demográfico seria capaz de delimitar, com certa eficiência, os níveis
hierárquicos urbanos, já que, na Amazônia Legal, muitas das variáveis
socioeconômicas e indicadoras de infraestrutura e serviços, de acesso aos
bens e de diversificação funcional, de uma forma geral, estão correlacionadas
positivamente com o tamanho populacional dos municípios. Ou seja, os
municípios de menor população com elevado grau de pertencimento ao perfil 4
também são aqueles com piores indicadores socioeconômicos e com as
maiores carências na oferta de serviços básicos, além dos baixos níveis de
acessibilidade aos bens incluídos no modelo. Já os municípios de porte
intermediário, com alto grau de pertencimento aos perfis 3 e 2, parecem estar
em situação mais favorável do que aqueles mais bem descritos pelo perfil 4. Os
municípios com alto grau de pertencimento ao perfil 1, com população de porte
médio/grande, são os que oferecem os “melhores” indicadores
socioeconômicos da Região.

Entretanto, o modelo revelou alguns resultados interessantes que fogem desta


tendência geral. No caso de Santarém, maior cidade do interior da Amazônia
(não capital), o grau de pertencimento ao perfil 1 foi relativamente baixo (0,65
ao perfil 1), considerando seu porte demográfico. Municípios com menos da
metade de sua população, como Ji-Parána e Araguaína, aparecem como tipos
puros do perfil 1; valores bem superiores ao de Santarém. Marabá (0,57) com
quase 200.000 habitantes, Itaituba (0,25), Abaetetuba (0,36), Parauapebas
(0,43) e Parintins (0,28), todos com população superior a 100.000 habitantes,
também apresentam baixo grau de pertencimento ao perfil 1, considerando o
porte demográfico destes municípios. Estes resultados ajudam a justificar a
validade das reflexões teóricas desenvolvidas no tópico 5.1 sobre a natureza
das variáveis utilizadas na delimitação da hierarquia urbana.

Algumas variáveis do modelo fizeram que vários municípios de porte médio


fossem incluídos como tipos puros do perfil 1 juntamente com grandes
160

municípios, como de São Luís, Belém e Manaus. Isso parece fazer sentido no
caso de algumas variáveis: Por exemplo, o nível de diversificação funcional de
alguns municípios de porte médio está bem próximo ao que foi verificado para
as maiores cidades da Região. Além disso, as variáveis que medem o
percentual, proporção e grau também contribuem para este resultado.

Entender a organização hierárquica das cidades na Amazônia parece ser um


exercício de grande importância para a compreensão do dinamismo e das
especificidades das redes urbanas na Região. Nesse sentido, parece evidente
a necessidade de políticas que incentivem o estabelecimento de redes urbanas
mais estruturadas na Amazônia. Uma distribuição mais equilibrada da
população ao longo do território amazônico poderia trazer uma série de
ganhos, sobretudo no que tange à oferta e ao acesso a serviços de diversos
tipos e níveis de sofisticação.
161
162
163
164
165

6 Conclusão

Os estudos sobre rede e hierarquia urbana têm considerado os impactos da


globalização e o conseqüente alcance, cada vez maior, das redes de fluxos, o
que tornou possível pensar na existência de uma hierarquização em escala
global. Nesse sentido, John Friedmann foi o primeiro a analisar profundamente
a nova hierarquia global, articulada, sobretudo, pelos três maiores centros
financeiros mundiais: Nova York, Londres e Tókio. O autor também destaca a
importância de outros centros, como Miami, Los Angeles, Singapura, Frankfurt
e Amsterdam. Na escala nacional, Friedmann (1986) cita Paris, Zurique, Madri,
Cidade do México, São Paulo, Seoul e Sidney. (Friedmann, 1986).

Mais recentemente, as novas formas de flexibilidade e interatividade têm


estimulado o aparecimento de novos padrões de disseminação e absorção de
fluxos que estimularam o nascimento conceitual das redes móveis. Os
conceitos de rede dendrítica e complexa, ou de rede monocêntrica e
policêntrica, privilegiam a disposição e a organização das cidades, principais
nódulos dos sistemas urbanos, ao passo que a Rede Móvel privilegia,
sobretudo, o fluxo.

Nesse contexto, a Amazônia Brasileira, periférica até mesmo em relação aos


centros mais dinâmicos dentro do próprio país, se insere numa mistura de
inovação e atraso, diante da presença, sobretudo em Belém e Manaus, de
formas e processos com origem nas regiões mais dinâmicas do globo, que
coexistem com uma série de traços e estruturas que remetem ao seu passado
de isolamento e que denunciam a fragilidade das cidades da região.

Na Amazônia brasileira, a hierarquização dos centros urbanos apresenta


algumas singularidades, já exploradas nos capítulos anteriores, que merecem
destaque. A situação de isolamento espacial de Manaus e de outras cidades de
tamanho demográfico considerável exerce glande influência no que tange a
166

capacidade de integração e de articulação regional destes centros com o


interior da região. Como discutido, as grandes distâncias entre os centros
amazônicos fazem que cidades de médio porte não sejam intermediadoras de
alguns tipos de fluxos, importante condição para a confirmação do papel
estruturador territorial de uma cidade.

Vale lembrar que a carência de infra-estrutura e de oferta de serviços nas


cidades grandes e médias faz que as cidades situadas em regiões deprimidas
percam centralidade. Entretanto, por outro lado, se existe uma situação de
carência de serviços, até mesmo de caráter mais básico, nos centros menores,
isso faz que as cidades grandes e de médio porte na Amazônia ganhem
importância, mesmo diante das limitações desses centros, já que passam a ser
referência até mesmo para serviços pouco sofisticados.

Todos os argumentos discutidos neste trabalho, sobretudo no Capítulo 4,


poderiam levar a pensar em uma única questão: existe uma rede urbana
amazônica? Ou haveria que se pensar em uma série de questões, implicando a
existência de diversas redes urbanas na região, não necessariamente
articuladas entre si ou mesmo articuladas internamente de forma simplificada?
É possível pensar em amplas redes urbanas hierarquicamente articuladas a
partir apenas dos dois grandes pólos regionais, Belém e Manaus? Ou seria
necessário pensar também em uma ou mais redes de cidades articuladas ao
grande vetor de transformação da Amazônia contemporânea, ou seja, o “arco
rodoviário” que redefiniu sua ocupação nas últimas décadas e marcou sua
integração com o resto do país?

As respostas a esse conjunto de questões não são de forma alguma simples,


mas pode-se dizer que, pensar em uma única rede urbana amazônica, com
toda a complexidade que caracteriza uma rede madura e equilibrada, parece
impossível. De fato, como já discutido, sob a ótica das demandas sociais
imediatas não existem condições materiais e imateriais para que os diversos
tipos de fluxos integrem a região de maneira adequada. Mergulhando mais
profundamente nessa questão, pode-se inferir que o eventual sonho de vários
planejadores de uma Amazônia integrada talvez nunca se concretize, diante de
167

suas peculiaridades espaciais e, até mesmo, naturais. E é possível que seja


melhor assim, o que favorece a diversidade que caracteriza esta região, maior
que o resto do Brasil, e que vem correndo riscos de diversas naturezas que a
ela atingem a partir de decisões distantes, externas aos interesses da própria
região e, muitas vezes, externas aos próprios interesses nacionais.

Já no que tange especificamente aos fluxos materiais, não é absurdo dizer que
a Amazônia se apresenta cada vez mais como uma grande rede integrada,
mesmo diante da baixa Intensidade de Relacionamento (IBGE, 2008) de Belém
e Manaus com as demais centralidades das redes urbanas amazônicas. Nessa
perspectiva, o eixo principal seria o rio Amazonas, que liga os dois maiores
centros econômicos da região, além das grandes rodovias que cortam a
Amazônia e ajudam na integração com os grandes pólos nacionais (Brasília e
São Paulo), de onde emanam as principais decisões que afetam a ocupação e
estruturação na Amazônia.

Existem outros aspectos importantes que dão coesão interna às centenas de


territorialidades amazônicas. Nesse sentido, pode-se supor que, em alguma
medida, estes aspectos estariam relacionados aos costumes e atividades
culturais. Qual o papel da “identidade amazônica”, que simplificadamente pode
ser entendida como a “cultura da floresta”31, presente inclusive nos grandes
centros urbanos? Apesar da carência de dados empíricos que confirmem esta
hipótese, a rede cultural amazônica talvez possa estimular um maior
relacionamento até mesmo entre centros distantes, onde determinados tipos de
fluxos podem estar se direcionando para áreas dentro da Amazônia, por razões
que superam os estímulos de ordem puramente econômica.

Com base nas considerações dos parágrafos anteriores, percebe-se que uma
abordagem sensata deve levar em consideração que os diversos tipos de
fluxos se comportam de maneira diferenciada no espaço. As fontes geradoras
e receptoras, o alcance, o direcionamento e a intensidade dos fluxos são

31
Nesse aspecto, pode-se citar vários fatores importantes: os hábitos alimentares; a expressão
artística e musical; o relacionamento das pessoas com os rios, presente e importante em várias
cidades amazônicas e os mitos e elementos culturais populares, regionais e locais, entre vários
outros.
168

fatores que estão relacionados, em grande medida, com a natureza dos


próprios fluxos. Sendo assim, uma boa forma de imaginar o mundo das redes
seria através da idéia dos “layers”, ou seja, separando os fluxos em camadas
distintas que, quando sobrepostas, formam a realidade em toda sua
complexidade32.

No que tange à organização em níveis hierárquicos entre as cidades das redes


amazônicas, como visto no Capítulo 5, as reflexões teóricas sugerem que a
condição de centralidade conferida a uma determinada cidade está relacionada
a uma associação de qualidades e características. Assim, como dito
anteriormente, em grande parte dos casos, os estudos que procuraram
entender a organização hierárquica das cidades estiveram muito ligados ao
tamanho demográfico e à forma como esta variável influenciava as variáveis
econômicas e as funções das aglomerações urbanas, ou vice-versa. Sendo
assim, pode-se dizer que a hierarquia urbana não se avalia adequadamente
enfocando de maneira privilegiada o tamanho demográfico dos centros, ou
mesmo de que forma o tamanho populacional de uma cidade é afetada por
variáveis econômicas. Mesmo no caso da Amazônia Legal em que, como visto
anteriormente, de uma forma geral, existe uma regularidade entre tamanho
populacional com variáveis de outra natureza na delimitação de padrões
hierárquicos, percebe-se que alguns municípios parecem fugir dessa
tendência, o que confirma a validade teórica do arcabouço utilizado no Capítulo
5.

O modelo GoM mostrou que um município do interior, com alto grau de


pertencimento ao perfil 1, ou seja, com gik superior a 0,75, possui maior
probabilidade de abrigar uma centralidade que desempenha um papel funcional
mais próximo do que se entende como “cidade média”, considerando toda a
complexidade conceitual embutida no termo. Assim, 23 municípios
apresentaram gik elevado no perfil 1. Destes, todas as capitais estaduais da
Amazônia Legal foram classificadas como sendo tipos puros do perfil 1.

32
Miossec (1976) considerava três tipos de interações espaciais geradoras de redes: a
distribuição (difusão), a produção e gestão (decisão). Ao retomar a metodologia de Miossec
(1975), Ribeiro (1998) declara que “estas redes apresentam-se superpostas, indicando a
complexidade das interações espaciais”.
169

Considerando que uma capital estadual, mesmo sendo de porte demográfico


médio, de uma forma geral, está no topo da hierarquia regional e, portanto, não
seria classificada como sendo uma cidade média, percebe-se que, nessa
discussão aplicada para a Amazônia, os municípios de Ji-Paraná, Araguaína,
Imperatriz, Barra do Garças, Rondonópolis, Tangará da Serra, Várzea Grande,
Ariquemes, Sinop, Gurupi, Castanhal e Vilhena se destacam pelo alto grau de
pertencimento ao perfil 1, que se caracteriza pelo tamanho populacional
médio/grande, alto grau de urbanização, alta diversificação funcional e PIB
médio/elevado.

O GoM demonstrou que alguns municípios que abrigam cidades de expressivo


contingente populacional no interior da Amazônia (não capitais) não
apresentaram alto grau de pertencimento ao perfil 1, o que denuncia as
carências existentes em parte dos municípios de médio porte da Região, a
exemplo de Santarém, maior cidade do interior da Amazônia, Marabá, Itaituba,
Parauapebas, Abaetetuba e Parintins.

O GoM permitiu também avaliar a existência de padrões diferenciados na


influência da localização (rodovia - áreas de fronteira / rios - interior) em relação
às variáveis do modelo, já que a descrição e a espacialização dos municípios
com alto grau de pertencimento aos perfis 2 e 3 demonstram isso com clareza.

O perfil 2, caracterizado pelo grau de urbanização de médio a alto (entre 70% a


90%), por uma população de porte médio (30.000 a 100.000) e PIB de baixo a
médio (entre R$ 500.000.000 a R$ 1.500.000.000), abrange um grupo de
municípios que se localizam, predominantemente, no “arco rodoviário” que
corta toda a porção meridional da região. Já o perfil 3 é caracterizado por um
grau de urbanização médio (entre 50% e 70%), por uma população que
também é de porte médio (30.000 a 100.000 pessoas) e PIB inferior a R$
500.000.000, composto por municípios localizados de maneira dispersa pela
floresta e, predominantemente, próximos aos principais rios da região.
Percebe-se que, nesse caso, a população, estudada de maneira isolada, não
ajuda a diferenciar os perfis 1 e 2.
170

O perfil 4 é caracterizado por municípios pouco urbanizados (entre 10 a 50%),


por uma população de pequeno porte (entre 20.000 e 30.000 habitantes), por
um PIB inferior a R$ 50.000.000 e pela presença de uma elevada proporção de
pobres no ano de 2000, entre, 64,92% e 79,6%. A localização destes
municípios não segue os principais contornos rodoviários da região, estando
presentes nas proximidades dos rios e de rodovias secundárias, sobretudo nos
estados do Pará e Maranhão.

Além disso, o GoM utilizou duas variáveis que foram elaboradas com objetivo
de conferir maior robustez ao modelo: o Indicador de Funcionalidades e o
Indicador de Centralidade. Com esta novidade metodológica apresentada nos
capítulos 4 e 5, as análises dos padrões hierárquicos representados pelos 4
perfis do modelo estiveram mais próximas do que poderia ser entendido como
“ideal metodológico”, de difícil operacionalização empírica dado a
complexidade do tema, mas presentes nos estudos com viés
fundamentalmente teórico.

Ademais, pode-se dizer que, nas últimas décadas, como dito anteriormente,
diante de todas as grandes transformações urbanas nas cidades de médio
porte e nos centros locais do interior da Amazônia Legal, percebe-se que,
muitas destas, estiveram muito sujeitas a decisões quase sempre distantes,
que partiam dos grandes centros urbanos regionais (Belém e Manaus), de
Brasília, São Paulo, e mesmo de outras partes do mundo. Sob este aspecto,
também cabe refletir sobre as “redes de gestão” na Amazônia, que se parecem
muito com as antigas redes dendríticas, diante da alta centralização do poder
político.

As falhas de integração territorial são evidentes, inclusive no interior das UFs


amazônicas, a exemplo dos conflitos de natureza política que ocorrem nos dois
maiores estados da região. No Pará, as dificuldades de gestão e de
relacionamento político-administrativo das autoridades estaduais centradas em
Belém, capital excêntrica e distante, com as áreas interioranas no restante da
UF, se refletem na limitação das demais regiões do estado em obter
investimentos e recursos, o que tem estimulado o aparecimento de movimentos
171

emancipatórios, como da criação dos estados do Tapajós e do Carajás. Já no


caso do Amazonas, a própria situação de macrocefalia urbana de Manaus, por
si só, já implica alta concentração do poder político.

As forças econômicas que estimularam a ocupação do território amazônico, de


uma maneira geral, adotaram e adotam um modelo de exploração que não
privilegia o desenvolvimento urbano e regional. As atividades de
desflorestamento, que acabaram com a produção da castanha na região de
Marabá, ou mesmo o fim da atividade garimpeira de Itaituba, em que os
tempos áureos estão apenas na lembrança num presente marcado pela
estagnação econômica, são exemplos da falta de planejamento e
comprometimento com o desenvolvimento social da região.

Neste trabalho, sobretudo nos capítulos 4 e 5, as cidades são tratadas com


base em uma abordagem que considera a escala regional. De uma forma
geral, nesse tipo de abordagem, Barbieri (2006) ressalta que

factors related to living conditions, individual and household life


cycles, household strategies and personal motivations, which are in
great extent directly responsible for much of the environmental
change, have been usually neglected (Barbieri, 2006, p.1).

Assim, percebe-se que este trabalho pode ser, em grande medida,


complementado com estudos voltados para aspectos de natureza local e
domiciliar na Amazônia Legal que, muitas vezes, são responsáveis por
transformações significativas no que tange ao desflorestamento e as formas de
uso e ocupação do solo na Região (Barbieri, 2005, 2006).

Do ponto de vista social, as carências das cidades amazônicas que mais se


destacam são, sobretudo, de natureza básica, ou seja, aquelas relacionadas
aos aspectos essenciais para a reprodução da vida e para o exercício da
cidadania, como o acesso a saneamento básico, serviços adequados de
educação, energia elétrica, pavimentação, entre outros.
172

Assim, de uma forma geral, percebe-se uma falta de urbanidade, sentida não
apenas nas pequenas cidades da região, mas também nas cidades de médio
porte e nas aglomerações dotadas de grandes periferias na Amazônia Legal.
Essa falta de urbanidade nasce da carência de infraestrutura e de bens
materiais e educacionais indispensáveis para uma maior inclusão dos
“cidadãos” nas redes de fluxos, regionais, nacionais e globais. Nesses casos,
as cidades apresentam, em grande medida, suas facetas perversas, sentidas
com intensidade e evidentes na ausência de equipamentos urbanos básicos
para a maior parte da população.

No que tange a formulação de novas políticas para a Região, de acordo com


Becker (2005), “se a Amazônia é efetivamente uma região, então há que se
substituir a política de ocupação por uma política de consolidação do
desenvolvimento”. Segundo a autora,

“uma política de ocupação não tem mais cabimento, porque a região


já está ocupada. As florestas que restaram devem permanecer com
seus habitantes. É necessário articular os diferentes projetos e os
diversos interesses e conflitos que incidem na região. O governo atual
pretende ser um marco no rumo do desenvolvimento regional.
Elaborou um novo Plano Amazônia Sustentável (PAS), com o qual
pretende superar a polaridade conflitiva entre a política ambiental e a
de desenvolvimento” (Becker, 2005, p.1).

Ao final, parece claro que as vantagens econômicas e logísticas advindas da


distribuição organizada e integrada dos centros urbanos fazem que as cidades
em rede sejam muito mais do que a soma das partes (Meijers, 2005). Este é o
pensamento que deveria estar presente em todas as políticas de
desenvolvimento regional pensadas para a Amazônia brasileira.
173

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182

ANEXOS
183

Tabela A 1 - Lista de Funcionalidades


Assistência Médico-Sanitária - 2005 – IBGE IBGE Municípios 2006
Total de estabelecimentos de saúde Coordenadoria Municipal de Defesa Civil - existência
Total Público
Público Federal MEC/INEP - 2007
Público Estadual Ensino Fundamental - Pública - Municipal
Público Municipal Ensino Fundamental - Público - Estadual
Total privado Ensino Fundamental - Público - Federal
Total leitos Publicos Ensino Fundamental Privado
Total leitos privados Ensino Fundamental - Público - Estadual
atendimento de emergência total Ensino Fundamental - Público - Federal
atendimento de emergência Pediatria Ensino Fundamental Privado
atendimento de emergência Obstetricia Ensino superior - Público - Estadual
atendimento de emergência Psiquiatria Ensino superior - Público - Federal
atendimento de emergência clinica Ensino superior Privado
atendimento de emergência cirurgia
atendimento de emergência Traumato ortopedia BANCO CENTRAL DO BRASIL - 2004
atendimento de emergência neuro cirurgia Número de bancos
atendimento de emergência cirurgia buco maxilofacial Número de bancos de atuação nacional
atendimento de emergência cirurgia outros Volume de ativos (R$1.000,00)
Mamógrafo com comando simples Classes de hierarquia de bancos
Mamógrafo com estereo-taxia Presença de agências do Banco do Brasil
Raio X para densitometria óssea Presença de agências do Bradesco
Tomógrafo Presença de agências do Itaú
Ressonância magnética Presença de agências da Caixa Econômica Federal
Ultrassom doppler colorido Presença de agências do HSBC
Eletro-cardiógrafo Presença de agências do Unibanco
Eletro-encefalógrafo Presença de agências do ABN AMRO Real
Equipamento dehemodiálise Presença de agências do Banco Rural
Raio X até 100mA Número de tipos de cursos de graduação
Raio X de 100 a 500mA
Raio X mais de 500mA CAPES
Número de cursos de pós-graduação com conceito 6 e 7
Perfil dos Municípios Brasileiros – Cultura (2006) – IBGE
Jornal impresso local - existência
Revista impressa local - existência
Rádio AM local - existência
Rádio FM local - existência
TV comunitária - existência
Provedor de internet
Bibliotecas públicas - existência
Museus - existência
Teatros ou salas de espetáculos - existência
Centro cultural (7)
Estádios ou ginásios poliesportivos - existência
Cinemas (8) - existência
Unidades de ensino superior - existência
Videolocadoras - existência
Shoppincenters - existência
Lojas de discos, CDs, fitas e DVDs - existência
Livrarias - existência
Clubes e associações recreativas - existência
Fonte: Elaboração própria
184

Tabela A 2 - Valores de g1, g2, g3 e g4 para os municípios amazônicos


(2000-2007)
Municipio g1 g2 g3 g4
Ji-Paraná 1 0 0 0
Porto Velho 1 0 0 0
Rio Branco 1 0 0 0
Manaus 1 0 0 0
Boa Vista 1 0 0 0
Ananindeua 1 0 0 0
Belém 1 0 0 0
Macapá 1 0 0 0
Araguaína 1 0 0 0
Palmas 1 0 0 0
Imperatriz 1 0 0 0
São Luís 1 0 0 0
Barra do Garças 1 0 0 0
Cuiabá 1 0 0 0
Rondonópolis 1 0 0 0
Tangará da Serra 1 0 0 0
Várzea Grande 1 0 0 0
Ariquemes 0,84 0,16 0 0
Sinop 0,82 0,18 0 0
Gurupi 0,79 0,21 0 0
Castanhal 0,78 0,22 0 0
Vilhena 0,76 0,24 0 0
Cacoal 0,74 0,26 0 0
Cáceres 0,66 0,34 0 0
Santarém 0,65 0,25 0,1 0
Marabá 0,57 0,43 0 0
Primavera do Leste 0,56 0,44 0 0
Açailândia 0,48 0,52 0 0
Santa Inês 0,46 0,53 0,02 0
Altamira 0,45 0,55 0 0
Alta Floresta 0,45 0,55 0 0
Parauapebas 0,43 0,52 0 0,06
Santana 0,4 0,6 0 0
Sorriso 0,4 0,6 0 0
Abaetetuba 0,36 0,14 0,5 0
Tucuruí 0,36 0,64 0 0
Lucas do Rio Verde 0,33 0,67 0 0
Redenção 0,32 0,68 0 0
Campo Novo do Parecis 0,32 0,68 0 0
Campo Verde 0,3 0,7 0 0
Parintins 0,28 0,12 0,6 0
Barcarena 0,28 0,66 0 0,05
Bacabal 0,28 0,55 0,16 0
Jaciara 0,28 0,72 0 0
Bragança 0,27 0,09 0,64 0
Paraíso do Tocantins 0,27 0,73 0 0
Nova Mutum 0,27 0,73 0 0
Paço do Lumiar 0,26 0,61 0 0,12
Fonte: elaboração própria. Continua...
185

Tabela A 2 - Valores de g1, g2, g3 e g4 para os municípios amazônicos


(2000-2007)
Municipio g1 g2 g3 g4
Itaituba 0,25 0,45 0,3 0
Marituba 0,24 0,56 0 0,21
Rolim de Moura 0,22 0,78 0 0
Cametá 0,2 0 0,63 0,17
Coroatá 0,19 0 0,81 0
Ouro Preto do Oeste 0,18 0,82 0 0
Pimenta Bueno 0,17 0,83 0 0
Mirassol d'Oeste 0,17 0,83 0 0
Barra do Corda 0,16 0,09 0,75 0
Manacapuru 0,14 0 0,86 0
Pedreiras 0,14 0,86 0 0
Guajará-Mirim 0,13 0,87 0 0
Paragominas 0,12 0,88 0 0
Santa Luzia 0,12 0 0,62 0,26
São José de Ribamar 0,12 0,78 0 0,1
Itacoatiara 0,11 0,34 0,55 0
Breves 0,11 0 0,89 0
Pinheiro 0,11 0,1 0,79 0
Coari 0,1 0 0,9 0
Laranjal do Jari 0,1 0,51 0,22 0,18
Santa Isabel do Pará 0,09 0,79 0,12 0
Anajás 0,07 0 0 0,93
Salinópolis 0,07 0,49 0 0,44
Colinas do Tocantins 0,07 0,93 0 0
Almeirim 0,06 0,35 0,58 0
Conceição do Araguaia 0,06 0,51 0,42 0
Buritis 0,04 0 0,44 0,52
Canaã dos Carajás 0,04 0 0,16 0,8
Lago da Pedra 0,04 0 0,88 0,08
Novo Progresso 0,03 0,2 0 0,76
Governador Nunes Freire 0,02 0 0,21 0,76
Tefé 0,01 0,37 0,62 0
Alta Floresta D'Oeste 0 0,68 0,29 0,04
Espigão D'Oeste 0 0,8 0,2 0
Jaru 0 0,9 0,1 0
Machadinho D'Oeste 0 0 0,54 0,46
Presidente Médici 0 0,72 0 0,28
São Miguel do Guaporé 0 0,17 0,07 0,77
Nova Mamoré 0 0,13 0,38 0,49
Cruzeiro do Sul 0 0,64 0,36 0
Feijó 0 0,03 0,12 0,84
Sena Madureira 0 0 0,89 0,11
Tarauacá 0 0 0,76 0,24
Autazes 0 0 0,32 0,68
Barcelos 0 0 0,12 0,88
Barreirinha 0 0 0,32 0,68
Benjamin Constant 0 0 0,92 0,08
Boca do Acre 0 0 0,95 0,05
Fonte: elaboração própria. Continua...
186

Tabela A 2 - Valores de g1, g2, g3 e g4 para os municípios amazônicos


(2000-2007)
Municipio g1 g2 g3 g4
Borba 0 0 0,35 0,65
Carauari 0 0,19 0,42 0,39
Careiro 0 0 0,2 0,8
Careiro da Várzea 0 0 0 1
Eirunepé 0 0 0,38 0,62
Humaitá 0 0,43 0,57 0
Iranduba 0 0 0,86 0,14
Lábrea 0 0 1 0
Manicoré 0 0 0,62 0,38
Maués 0 0,1 0,9 0
Nova Olinda do Norte 0 0 0 1
Presidente Figueiredo 0 0,67 0 0,33
Rio Preto da Eva 0 0,09 0,41 0,5
Santo Antônio do Içá 0 0 0,12 0,88
São Gabriel da Cachoeira 0 0 0,64 0,36
São Paulo de Olivença 0 0 0 1
Tabatinga 0 0,29 0,71 0
Rorainópolis 0 0,11 0,38 0,51
Acará 0 0 0,31 0,69
Afuá 0 0 0,22 0,78
Água Azul do Norte 0 0 0 1
Alenquer 0 0 0,89 0,1
Augusto Corrêa 0 0 0,31 0,69
Aurora do Pará 0 0 0 1
Baião 0 0 0,17 0,83
Benevides 0 0,73 0,27 0
Breu Branco 0 0 0,37 0,62
Bujaru 0 0 0 1
Capanema 0 0,84 0,16 0
Capitão Poço 0 0 0,95 0,05
Concórdia do Pará 0 0 0,35 0,65
Curralinho 0 0 0 1
Curuçá 0 0,11 0,39 0,51
Dom Eliseu 0 0,33 0,55 0,12
Eldorado dos Carajás 0 0 0 1
Garrafão do Norte 0 0 0 1
Goianésia do Pará 0 0 0,41 0,59
Gurupá 0 0 0 1
Igarapé-Açu 0 0 1 0
Igarapé-Miri 0 0 0,81 0,19
Ipixuna do Pará 0 0 0 1
Irituia 0 0 0,39 0,61
Itupiranga 0 0 0,17 0,83
Jacareacanga 0 0 0 1
Jacundá 0 0,63 0,37 0
Juruti 0 0 0,2 0,8
Limoeiro do Ajuru 0 0 0 1
Mãe do Rio 0 0,11 0,76 0,13
Fonte: elaboração própria. Continua...
187

Tabela A 2 - Valores de g1, g2, g3 e g4 para os municípios amazônicos


(2000-2007)
Municipio g1 g2 g3 g4
Maracanã 0 0 0,21 0,79
Marapanim 0 0 0,52 0,48
Medicilândia 0 0,07 0 0,93
Mocajuba 0 0,3 0,51 0,19
Moju 0 0 0,32 0,68
Monte Alegre 0 0 0,64 0,36
Muaná 0 0 0 1
Nova Esperança do Piriá 0 0 0 1
Novo Repartimento 0 0 0,24 0,76
Óbidos 0 0 1 0
Oeiras do Pará 0 0 0,13 0,87
Oriximiná 0 0,45 0,55 0
Ourilândia do Norte 0 0 0 1
Pacajá 0 0 0 1
Ponta de Pedras 0 0 0 1
Portel 0 0 0,51 0,49
Porto de Moz 0 0 0,18 0,82
Prainha 0 0 0 1
Rondon do Pará 0 0,83 0,17 0
Rurópolis 0 0 0,11 0,89
Santa Maria do Pará 0 0,06 0,55 0,4
Santana do Araguaia 0 0,11 0,32 0,57
Santo Antônio do Tauá 0 0 0,52 0,48
São Domingos do Araguaia 0 0 0,3 0,7
São Domingos do Capim 0 0 0 1
São Félix do Xingu 0 0,35 0,04 0,61
São Geraldo do Araguaia 0 0 0 1
São Miguel do Guamá 0 0 1 0
São Sebastião da Boa Vista 0 0 0 1
Soure 0 0,41 0,43 0,16
Tailândia 0 0,3 0,61 0,09
Tomé-Açu 0 0 1 0
Tracuateua 0 0 0 1
Tucumã 0 0,49 0,51 0
Ulianópolis 0 0,08 0,48 0,44
Uruará 0 0,19 0 0,81
Vigia 0 0,25 0,59 0,16
Viseu 0 0 0,24 0,76
Xinguara 0 0,86 0,14 0
Araguatins 0 0,24 0,6 0,16
Guaraí 0 1 0 0
Porto Nacional 0 1 0 0
Tocantinópolis 0 0,7 0,3 0
Alcântara 0 0 0,06 0,94
Alto Alegre do Maranhão 0 0 0,28 0,72
Alto Alegre do Pindaré 0 0 0,11 0,89
Amarante do Maranhão 0 0 0,27 0,73
Anajatuba 0 0 0 1
Fonte: elaboração própria. Continua...
188

Tabela A 2 - Valores de g1, g2, g3 e g4 para os municípios amazônicos


(2000-2007)
Municipio g1 g2 g3 g4
Arame 0 0 0 1
Arari 0 0 0,61 0,39
Balsas 0 1 0 0
Bequimão 0 0 0 1
Bom Jardim 0 0 0,38 0,62
Bom Jesus das Selvas 0 0 0,14 0,86
Buriticupu 0 0 0,64 0,36
Carolina 0 0 0,77 0,23
Carutapera 0 0,17 0,2 0,64
Colinas 0 0 0,71 0,29
Cururupu 0 0 1 0
Dom Pedro 0 0,53 0,47 0
Estreito 0 0,42 0,58 0
Grajaú 0 0 1 0
Icatu 0 0 0 1
Itapecuru-Mirim 0 0 1 0
Itinga do Maranhão 0 0,51 0,11 0,38
Matinha 0 0 0,25 0,75
Monção 0 0 0,02 0,98
Pedro do Rosário 0 0 0 1
Penalva 0 0 0,02 0,98
Pindaré-Mirim 0 0,43 0,57 0
Pio XII 0 0 0,44 0,56
Presidente Dutra 0 0,65 0,35 0
Raposa 0 0,15 0,17 0,67
Riachão 0 0 0 1
Rosário 0 0,14 0,86 0
Santa Helena 0 0 0,41 0,59
Santa Rita 0 0 0,58 0,42
São Bento 0 0 1 0
São Domingos do Maranhão 0 0 1 0
São Mateus do Maranhão 0 0,18 0,82 0
Senador La Rocque 0 0 0,35 0,65
Tuntum 0 0 0,63 0,37
Turiaçu 0 0 0,26 0,74
Turilândia 0 0 0 1
Viana 0 0 1 0
Vitória do Mearim 0 0 1 0
Vitorino Freire 0 0 1 0
Zé Doca 0 0 0,97 0,03
Barra do Bugres 0 1 0 0
Colíder 0 1 0 0
Confresa 0 0,23 0 0,77
Guarantã do Norte 0 1 0 0
Juara 0 1 0 0
Juína 0 1 0 0
Paranatinga 0 0,81 0 0,19
Peixoto de Azevedo 0 0,87 0 0,13
Poconé 0 0,66 0,34 0
Pontes e Lacerda 0 1 0 0
Fonte: elaboração própria.
174

Diagrama A 1 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Manaus)
175

Diagrama A 2 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Belém) continua...
176

Diagrama A 2 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Belém) continua...
177

Diagrama A 2 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Belém)
178

Diagrama A 3 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Cuiabá)

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