Douglas Sathler Dos Reis REDES URBANIZAÇÃO AMAZONIA
Douglas Sathler Dos Reis REDES URBANIZAÇÃO AMAZONIA
Douglas Sathler Dos Reis REDES URBANIZAÇÃO AMAZONIA
Belo Horizonte, MG
UFMG/Cedeplar
2009
ii
Belo Horizonte, MG
Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional
Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG
2009
iii
Folha de Aprovação
iv
AGRADECIMENTOS
Aos componentes da banca: Prof. Roberto Monte-Mór, Prof. José Alberto Magno
de Carvalho, Prof. Oswaldo Bueno Amorim-Filho, Prof. Irineu Rigotti, Prof. Alisson
Barbieri e Prof. Roberto Nascimento, meu muito obrigado.
IC – Indicador de Centralidade
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
5.1 A hierarquia urbana: o início dos debates e os estudos recentes ................ 111
5.2.2 As variáveis utilizadas para aplicação do GoM: uma análise descritiva ... 125
6 CONCLUSÃO.................................................................................................. 165
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
TABELA A 2 – Valores de g1, g2, g3, e g,4 para os municípios amazônicos .... 184
RESUMO
Nas últimas décadas, as redes urbanas que se estendem sobre a Amazônia Legal
têm evoluído com o surgimento de cidades de médio porte e com a multiplicação
de pequenas aglomerações urbanas, que seguem os traçados das principais
rodovias e rios da região. Em um contexto de transformações globais, com
aparecimento das Redes Móveis em meio às novas formas de flexibilidade e
interatividade, as redes da Amazônia Legal apresentam diversos aspectos que
devem ser estudados sem “euforia”, diante de uma série de peculiaridades que
merecem ser exploradas com maior profundidade. Mesmo que tenha sido
estruturada uma hierarquia urbana aparentemente similar à das demais regiões
do país, com centros regionais e locais claramente distinguíveis, os diversos
níveis hierárquicos urbanos apresentam dinâmicas demográficas,
socioeconômicas e espaciais distintas. A situação de fragilidade das redes
urbanas amazônicas está relacionada à criação de impedimentos para os fluxos
de pessoas, mercadorias e serviços, cabendo destacar: a) as grandes distâncias
que separam as capitais das demais cidades e vilas; b) a carência de infra-
estrutura nos setores de transporte e comunicação em grandes porções do
território amazônico; c) a grande proporção de população desprovida de recursos
materiais e educacionais decisivos no que tange à sua participação ativa nos
diversos tipos de fluxos. Ainda, o modelo Grade of Membership, utilizado para
avaliar a hierarquia urbana na Amazônia Legal com base em um banco de dados
multidimensional, sugere que, de uma forma geral, critérios estritamente
populacionais parecem fazer sentido na delimitação da hierarquia urbana da
região, já que existe uma relação positiva entre tamanho demográfico e bem
estar/desenvolvimento na Amazônia Legal, ao contrário do que se verifica em
outras regiões do país. Entretanto, alguns municípios de médio porte contrariam
esta tendência geral, o que justifica a validade teórica do arcabouço utilizado.
ABSTRACT
In the past decades, the Amazonian urban networks have been developing with
the emergence of middle size cities and the multiplication of new towns and small
urban agglomerations along the main regional roads and rivers. In the current
context of global transformation, with the rise of Mobile Networks due the new
forms of flexibility and interactivity, the Amazonian urban networks have several
characteristics that should be studied with caution, because of some peculiarities
that deserve to be explored more deeply. Even though there is an urban hierarchy
that seems to be similar to those of other country's regions, with regional and local
centers clearly established, the various urban hierarchic levels have different
demographic, spatial and socioeconomic dynamics. The fragility of the Amazonian
urban networks is related to the creation of barriers for the flows of people, goods
and services, such as: a) the long distances that separate the capitals from others
towns and hamlets; b) the lack of transportation and communication infrastructure
in large areas of the Amazon territory; c) the large proportion of the population
without material and educational resources decisive to their active participation in
the various kinds of flows. Furthermore, the Grade of Membership model, applied
to study the urban hierarchy in the Brazilian Amazon supported by a
multidimensional database, suggests that demographic criteria seem to make
sense for regional urban hierarchic delimitation, due to the relationship between
demographic size and welfare/development in Amazon, contrary to the situation in
other regions of Brazil. However, some middle size municipalities in Amazon have
different patterns that justify our framework.
1 Introdução
“Nas últimas décadas, foi deflagrada uma verdadeira explosão urbana nas
proximidades das principais rodovias da Região, diante de um dos mais
formidáveis movimentos migratórios de que se tem notícia” (Matos, 2005,
p.155). As taxas de crescimento foram superiores às médias nacionais,
2
resultantes dos intensos fluxos migratórios com origem, sobretudo, nas regiões
Nordeste e Sul.
Entretanto, a Amazônia das redes para além dos rios possui diversos aspectos
que devem ser interpretados sem “euforia”, diante de uma série de
peculiaridades que merecem ser exploradas com maior profundidade. Apesar
de haverem sido estruturados sistemas de hierarquia urbana, em algumas
porções do território amazônico, aparentemente similares às das demais
regiões, com centros regionais e locais claramente distinguíveis, diversos
níveis hierárquicos urbanos apresentam dinâmicas demográficas,
socioeconômicas e espaciais distintas, sobretudo em relação aquelas
estabelecidas nas redes urbanas do Centro-Sul do País.
1
A Amazônia Legal é constituída pelas UFs pertencentes à região Norte (Amazonas, Pará,
Tocantins, Acre, Rondônia, Roraima e Amapá), Centro-Oeste (todo o Mato Grosso e parte de
Goiás, até o paralelo 13° sul) e Nordeste (Maranhão , até o meridiano 44°W). Esta Região
representa 59% do território brasileiro. (IBGE, 2007).
3
2
Ver Castels (1989), Sassen (1991) e Soja (2000).
4
Na Amazônia Legal, a atual conformação das redes urbanas foi produzida por
um processo de urbanização distinto das demais regiões do Brasil, sendo
enormemente influenciada pelas intervenções estatais que ocorreram a partir
da década de 1960. O desenvolvimento da fronteira urbana, que pode ser
entendida com sendo a base logística para o projeto de rápida ocupação da
Região, muitas vezes se antecipando à expansão de várias frentes, foi
impulsionada pelo incentivo a grandes empreendimentos e pela política de
migração induzida e financiada pelo Estado. Novos núcleos foram criados,
sobretudo em apoio aos projetos de mineração, agropecuária e colonização.
(Becker, 1990).
A obra clássica de Sorokin & Zimmermann (1929) sugere uma série de traços
essenciais na diferenciação dos espaços urbano e rural. De acordo com esses
autores, a base para o entendimento do rural está nas particularidades de sua
economia. O rural abrigaria, preferencialmente, a produção agropecuária, e
todas as outras características observadas no campo estariam vinculadas a
essa atividade econômica. Outros tipos de atividades não-agrícolas se
apresentam como acessórias e não se destacam como principal meio de
subsistência dos indivíduos que habitam o meio rural.
É importante ressaltar que, nesse contexto, apesar dos indícios que apontam
para existência de um espaço continuum rural-urbano, diversos autores
realizaram reflexões sobre um mundo com visíveis contrastes entre as
realidades rural e urbana. Portanto, deve-se deixar claro que várias
características presentes nestas definições referem-se a uma realidade
pertencente a um outro tempo. É interessante observar, porém, que alguns
traços intrínsecos às definições clássicas do espaço rural ainda hoje podem ser
encontrados em diferentes graus de intensidade.
“[...] está cada vez mais difícil delimitar o que é rural e o que é
urbano. Mas isso que aparentemente poderia ser um tema relevante,
não o é: a diferença entre o rural e o urbano é cada vez menos
importante. Pode-se dizer que o rural hoje só pode ser entendido
como um continuum do urbano do ponto de vista espacial; e do ponto
de vista da organização da atividade econômica, as cidades não
podem mais ser identificadas apenas com a atividade industrial, nem
os campos com a agricultura e a pecuária”(Silva, 1997, p. 1).
A incorporação das periferias, mais ou menos distantes, pelo tecido urbano tem
se intensificado a partir da segunda metade do século XX, diante do
surgimento e da incorporação de novas formas de apropriação do espaço de
natureza estritamente urbana. Segundo Monte-Mór (2006),
3
De acordo com Grossi & Silva (2002, p. 5), o “Novo Rural” brasileiro é constituído
basicamente por três grandes grupos de atividades, a saber: Uma agropecuária moderna
(baseada em comodities e intimamente ligada às agroindústrias), um conjunto de atividades
não-agrícolas (ligadas a moradia, ao lazer e a várias atividades industriais e de prestações de
serviços) e um conjunto de “novas” atividades agropecuárias localizadas em nichos especiais
de mercado.
13
que, também, por outro lado, podem estar associadas até mesmo com uma
falta de urbanidade advinda, sobretudo, das carências e das demandas sociais
nessas novas áreas.
As mudanças que vêm ocorrendo nas áreas antes tomadas por características
quase que exclusivamente rurais no Brasil chegam a impressionar, sobretudo
ao se recordar que, há não muito tempo atrás, vários estudiosos temiam o
esvaziamento destes espaços, alardeando-o como tendência inexorável. O fato
é que, mesmo que ainda exista algum êxodo “rural”, este já não consegue
evitar a tendência de recuperação de algumas áreas que, no passado, se
destacavam pelas altas perdas migratórias, com destaque para um conjunto de
pequenos municípios antes marcados por características essencialmente
rurais, sobretudo do estado de São Paulo5, que passaram a atrair população
nas duas ultimas décadas com o aumento das manifestações urbanas nessas
localidades, denominadas de “pequenos notáveis” (Matos et al., 2004).
4
Ver Grossi & Silva (2002) e Matos et al. (2004).
5
Sathler & Miranda (2006) concluem que os conjuntos de municípios com menos de 30.000
(população total) habitantes pertencentes as micro-regiões dos pólos paulistas apresentaram,
entre 1995-2000, o dobro de capacidade de atração populacional, calculada com base no saldo
migratório data-fixa e ponderada pela população, do que os municípios pólos (todos dotados de
cidades médias) sedes das micro-regiões analisadas.
14
Por outro lado, diante dessa interpenetração rural e urbana, sobretudo pelo
avanço de aspectos exclusivamente urbanos para as áreas até então
exclusivamente rurais, cabe um questionamento: poderia existir ruralização em
áreas tipicamente urbanas, ou seja, nas cidades? Talvez sim, se levarmos em
consideração a presença de uma população de origem rural que, em décadas
anteriores, se deslocou para a formação de pequenas cidades e, também,
provocando o aumento populacional expressivo dos médios e grandes centros
urbanos. Mesmo nas grandes aglomerações populacionais, em que as
características rurais parecem mais distantes, pode-se encontrar alguns “traços
rurais” no modo de vida das pessoas, muitas vezes presentes em alguns
bairros com forte senso de comunidade6.
6
No caso de Belo Horizonte, o adjetivo “roça grande” pode ser justificado pela alta
concentração de migrantes diretos e indiretos provenientes de pequenas cidades ou de áreas
exclusivamente rurais. Também, pela presença de uma classe média relativamente reduzida,
em comparação com países desenvolvidos, que freqüenta e faz uso constante dos espaços
“nobres” da cidade (shoppings, cinemas, teatros, festas, entre outros), motivo de constantes
encontros entre pessoas que se conhecem.
7
O estudo feito pela Embrapa para o ano de 2006 buscou responder a uma pergunta não
muito simples: qual seria a área urbanizada do Brasil? Esta estimativa foi obtida com o auxilio
de imagens LANDSAT ETM de todo o país, das bases municipais do IBGE, das sedes
municipais georeferenciadas e das informações disponíveis no Censo Demográfico 2000.
16
Além disso, existem diversas áreas subordinadas à lógica urbana que escapam
da classificação feita pela Embrapa em 2006. Nas últimas décadas, a
urbanização das áreas naturais8 e rurais imprimiu um novo significado onde
sua atuação foi mais significativa. Estes espaços se tornam, portanto,
diferenciados, de acordo com o grau de intensidade da atuação deste
processo. Este fenômeno torna-se mais perceptível nas “áreas rurais” e
8
As definições clássicas do início do século XX, que buscavam representar uma realidade
menos complexa, também não introduzem, de forma adequada, uma formulação teórica que
represente a realidade por não enfatizar a singularidade dos espaços naturais. A dicotomia dos
espaços rural e urbano se configura como insuficiente na representação sócio-espacial, em um
momento da história em que eram expressivas as áreas de natureza intocada. Mesmo na
atualidade, apesar de se configurarem como relativamente escassas em algumas regiões,
essas áreas não perderam a importância, dado que, cada vez mais, se torna mais necessária a
formulação de políticas de desenvolvimento específicas para a proteção do meio natural.
17
naturais que possuem um contato mais íntimo com as grandes cidades que
compõem o núcleo dinâmico da economia brasileira. Assim, ocorreu um
distanciamento maior das adequações das visões clássicas e dicotômicas para
o meio rural brasileiro, diante do aumento da complexidade das formas sócio-
espaciais.
Assim, mesmo se fosse possível realizar uma delimitação eficiente, não seria
correto aderir à idéia de que o perímetro urbano é a linha que separa com
clareza o urbano do rural. Isso poderia ser aceito para representar o Brasil de
um outro tempo. Nesse sentido, a linha de perímetro urbano poderia separar as
diversas manifestações do urbano de uma realidade muito mais complexa,
composta por áreas antes tidas como essencialmente rurais e que atualmente
passaram a incorporar efetivamente a lógica urbano-industrial. O espraiamento
do fenômeno urbano faz surgir novos limites entre a cidade e o campo, difíceis
de serem percebidos e cada vez mais indefinidos. Sendo assim, a linha que
define o perímetro urbano dos municípios torna-se um mecanismo de
separação cada vez mais grosseiro e distante da realidade sócio-espacial.
O rural e urbano sempre irão existir como uma idéia, uma abstração, que se
demonstram poderosas no que tange ao entendimento das formas e dos
processos sociais, mas sempre, em alguma medida, insuficiente no que diz
respeito à separação de áreas para servirem de suporte para a realização de
questionários e pesquisas com objetivos diversos.
9
O termo Novo Urbano foi sugerido pelo Prof. Cássio E. V. Hissa em exposição oral no ano de
2005.
19
Tendo o urbano como foco privilegiado nas análises das transformações que
extrapolam os limites da cidade, o que muitas vezes foi interpretado como
sendo o Novo Rural brasileiro, na verdade, parece estar mais próximo do que
pode ser chamado de Novo Urbano, cada vez mais presente em áreas que
eram caracterizadas pela existência marcante de atividades e costumes de
natureza essencialmente rural ou em áreas antes não-ocupadas. Em boa parte
da Amazônia, a idéia de Novo Urbano parece fazer mais sentido do que o Novo
Rural, uma vez que a ocupação de extensas áreas na Região, muitas vezes,
ocorreu desvinculada de fortes laços rurais. Nesse sentido, não se trata de
aumento de atividades não-agrícolas em relação às atividades agrícolas, mas,
sim, de incorporação territorial a partir de uma lógica urbana em áreas que, até
então, possuíam densidade demográfica e ocupacional baixa ou nula, a
exemplo dos projetos de mineração.
10
De acordo com Becker (2001, p.1), “no caso da Amazônia, sua ocupação se fez em surtos
devassadores ligados à valorização momentânea de produtos no mercado internacional,
seguidos de longos períodos de estagnação”.
21
Após meados do século XIX, a Amazônia passa a ter um papel central dentro
da economia nacional, diante das transformações industriais observadas na
Europa e, posteriormente, nos Estados Unidos. Com o desenvolvimento
industrial desse período, a borracha extraída na Amazônia era tida como
matéria prima essencial para o impulso das indústrias européias e americanas.
22
11
O ciclo da borracha conferiu dinamismo à Amazônia da década de 1870 até 1920, quando
praticamente foi extinto pela concorrência com a produção organizada pelos ingleses na
Malásia. Durante a II Guerra Mundial, face ao bloqueio da região asiática, a borracha
experimentou rápida sobrevida na Amazônia.
23
Apesar de o ciclo econômico da borracha não ter sido capaz de criar cidades
de porte médio, da forma como conhecemos hoje, na Amazônia, deve-se
ressaltar que o nascimento destas cidades no interior da Região foi
extremamente importante no que tange à criação de pontos estratégicos que,
mais adiante, serviram de apoio à implantação de outras atividades que
promoveram o crescimento explosivo destas centralidades.
13
Este tipo de exploração, usualmente, atrai grandes volumes migratórios para estas regiões.
No caso de Minas Gerais, Furtado (1971) estima um deslocamento de 300 mil a 500 mil
pessoas para as áreas mineradoras, além de um crescimento demográfico de 300.000 para
3.250.000 no Brasil durante o século XVIII.
27
“the search for mineral riches in Amazonia dates from the early
colonial days when Explorers delved into the jungle through the
Amazon River´s main route of followed the paths along its tributaries
from the Brazilian Central Plateau. By 1720, when a gold province
was established in Mato Grosso, many Paulistas who had left Minas
Gerais´s towns after the Emboabas War moved onto the backlands in
search of new mining areas, following rumors about rich gold
findings”(Monte-Mór, 1994, p. 207).
“until the early 1970s, the international price of gold had been
maintained below historical levels following post-war agreements at
Bretton Woods. In the early years of that decade gold prices began to
rise slowly reflecting the world economic crisis and in 1979 it reached
unexpected and unprecedented high levels reaching its peak in the
1980s at an average price of 850 dollars per troy ounce” (Monte-Mór,
1994, p. 221).
“the impact of high gold prices upon Frontier Amazonia surprised the
country and changed and diversified the forms of frontier occupation
both by strengthening some areas and/or micro-regions and
influencing State policies and plans for the region. Rather
unexpectedly, despite the long historical background and continuous
hopes, reports and traces about the richness of Amazonia´s subsoil,
an extremely high valued product came up that attracted all kinds of
people and interests to the frontier areas” (Monte-Mór, 1994, p. 221).
Nesse contexto, Monte-Mór (1994, p. 241) declara que “the mining economy
(when not an enclave) impacts both urban and regional spaces deepening both
local and distant socio-spatial integration and complementarities”.
14
A expressão “médio porte” está relacionada apenas ao limiar demográfico, ao passo que a
“cidade média” incorpora uma série de outros elementos. Nesse sentido, um município de
médio porte pode ou não ser considerado uma cidade média.
30
Nesse contexto, deve-se fazer uma distinção entre os dois tipos de cidades
mineradoras que surgiram na Amazônia nas últimas décadas: a cidade da
grande empresa mineradora e a cidade do grande garimpo (des)organizado.
Em ambos os casos, a ocorrência mineral, distante de aglomerações humanas
de destaque, acaba por estimular uma concentração populacional de porte
intermediário, ou seja, a cidade da grande mineradora e a cidade do grande
garimpo (des)organizado são, por necessidade logística, cidades de porte
médio.
Sobre este aspecto na Amazônia Legal, Monte-Mór (2007) faz um paralelo com
o que ocorreu, há tempos, em Minas Gerais. Segundo o autor,
15
De acordo com Monte-Mór (1994, p. 219), “the precarious housing conditions and the tough
12-to-16-hour working days in the river beds (baixão) turned into extensive muddy mining sites
(melechete) do not seem to be a problem for those adventurous young men filled with dreams
of richness and grandeur”.
33
Sendo assim, se, por um lado, a instalação de uma grande mineradora em uma
Região pode criar uma série de oportunidades econômicas, a exemplo do que
hoje acontece na cidade de Parauapebas (PA), que usufrui dos royalties da
Vale, percebe-se que o esgotamento da mina pode condenar ao fracasso toda
uma cadeia de serviços com alto nível de dependência desta atividade. Além
disso, a concentração local de capital em atividade dinâmica inserida no
mercado globalizado atrai uma enorme quantidade de população que não
consegue inclusão na economia exportadora local e encontra apenas
condições precárias para sobrevivência econômica e reprodução social.
De uma forma geral, nas cidades sob a atuação das grandes empresas do
setor, os projetos mineradores não prevêem estratégias de sustentabilidade
econômica, para os municípios que lhes dão suporte, após o processo de
desativação das minas com o esgotamento dos recursos. Nesse caso, as
administrações municipais podem não ter eficiência no aproveitamento das
vantagens econômicas diretas e indiretas, oriundas do período de dinamismo
gerado pelas atividades mineradoras. A falta de planejamento acaba por
condenar a cidade à estagnação, com o fim dos royalties e dos demais
impulsos econômicos gerados pela mineração. Assim, a formulação de
estratégias que busquem a re-configuração das bases estruturais
socioeconômicas das regiões mais impactadas, com o diagnóstico das
potencialidades e das oportunidades no processo de re-estruturação produtiva,
aparece como indispensável.
Entretanto, no caso das cidades que servem de apoio aos grandes projetos
agroindustriais na Amazônia Legal, a situação parece ser mais desfavorável do
que em algumas cidades paulistas (Sertãozinho, Matão e Bebedouro) e
mineiras (Uberlândia, Patos de Minas, Janaúba, Montes Claros, entre outras)
ou até do que nas cidades do vale do São Francisco (Petrolina e Juazeiro). Na
Amazônia Legal, a alta concentração de renda e a falta de recursos municipais
são características comuns que podem se refletir na criação de ilhas de
pobreza, cercadas por um oceano que conta com o que há de mais moderno
nesse setor, a exemplo do que ocorre em Balsas (MA). Entretanto, a
diversificação funcional ligada às atividades agrícolas também pode contribuir
36
16
A intensidade de pobreza se refere à distância que separa a renda domiciliar per capita
média dos indivíduos pobres (R$ 75,50) do valor da linha de pobreza (PNUD, 2003).
37
Todas as tipologias das cidades amazônicas descritas nesse tópico são ligadas
ao desenvolvimento de atividades que, em grande parte, estiveram
descomprometidas com questões referentes ao desenvolvimento local e
regional na Amazônia. Assim, muitas vezes, a floresta, e as cidades da floresta,
não contaram com o apoio de elites locais comprometidas com a
sustentabilidade econômica e ambiental da Região, estando à deriva de
decisões quase sempre distantes e alheias à realidade local e regional,
provenientes de Belém e Manaus, da capital nacional (Brasília), do maior
centro financeiro do País (São Paulo) e até mesmo, do exterior. Isso ajuda a
responder à seguinte pergunta: Qual é a natureza do urbano na Amazônia?
Apesar da complexidade embutida nesse tipo de questionamento, parece claro
que, ao contrário de outras regiões do País, o urbano na Amazônia, após
meados do século passado e ao contrário do que se observava até então, se
proliferou de fora para dentro, e não pela presença de um excedente agrícola
ou com o aumento do dinamismo de alguns centros locais que amadureceram
e passaram a interagir com economias externas à própria Região.
38
A globalização pode ser entendida como “the compression of the world and the
intensification of consciousness of the world as a whole,” o que alarga e
aprofunda as “worldwide social relations which link distant localities in such a
way that local happenings are shaped by events occurring may miles away and
vice versa”. (Robertson, 1992, citado por Soja 2000, p. 191). De acordo com
Soja (2000),
A ordem global busca impor uma única racionalidade a todos os lugares, que
passam a responder ao mundo de acordo com os diversos modos de sua
própria racionalidade. Segundo Santos (1997, p. 272), é a ordem Global que
“funda as escalas superiores ou externas à escala do cotidiano. Seus
parâmetros são a razão técnica e operacional, o cálculo de função, a
linguagem matemática”. Já a ordem local, de acordo com o autor (1997),
Nesse sentido, Santos (1997, p. 273) conclui que “cada lugar é, ao mesmo
tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo
dialeticamente”.
Segundo Sassen (1997, p. 1), “the city and the metropolitan region emerge as
one of the strategic sites where these macrosocial trends materialize and hence
can be constituted as an object of study”. Em publicação anterior (1994, p.25),
a autora declara que, “à medida que essas cidades prosperaram, passaram a
ter mais em comum, umas com as outras, do que com centros regionais
existentes em seus próprios Estados-Nação”.
17
Apesar de Tókio ser considerada por Sassen (1991) como sendo uma cidade Global, Saito &
Thornley (2003, p. 1) afirmam que “the position of a city in any hierarchy of world importance is
not a static phenomenon”. De acordo com o trabalho de Saito & Thornley (2003), a década de
1990 pode ser encarada como um período em que Tókio passou a perder em uma série de
características especiais. Segundo os autores “these characteristics include its economic
structure, patterns of business ownership, degree of social polarization and immigration, and
the amount of state involvement. Sendo assim, “a pertinent question to ask is whether this fall
at the national level has been mirrored by a change in Tokyo´s world status” (Saito & Thornley,
2003, p. 1)
44
No que diz respeito à hegemonia dos três maiores centros do planeta (Nova
York, Londres e Tókio) e nessa mesma linha de raciocínio, Castells (1999)
destaca que
As abordagens mais comuns acerca das dinâmicas das redes urbanas buscam
levar em consideração questões importantes, tais como a diferenciação
funcional das cidades, as relações entre tamanho demográfico e
desenvolvimento, a hierarquia urbana e as relações entre cidade e região. A
rede urbana deve ser concebida como um conjunto de centros funcionalmente
articulados e, nesse sentido, a intensificação da globalização em vastas áreas
do globo tem remodelado os padrões de hierarquia e de relacionamento entre
as cidades.
As cidades são os nódulos dos sistemas de fluxos que, por sua vez, dinamizam
a rede urbana e estruturam o território. Na era das cidades industriais, as redes
urbanas se organizavam sob a influência primordial dos fluxos materiais. Com
a revolução técnica, científica e informacional, os fluxos simbólicos se tornaram
mais decisivos na definição das hierarquias urbanas e da capacidade de
polarização de cada um de seus nódulos. Segundo Santos (1978, p. 87),
“convém lembrar que a economia mundial de nossos dias não é mais
governada pelos que detêm as massas, isto é, os que produzem, mas pelos
que se encontram em condições de transformar essas massas em fluxos”.
18
Segundo Lo & Marcotullio (1999), “among developing states, the resulting sets of economic
arrangements have benefited Asia-Pacific countries in particular”.
49
De acordo com Santos (1994, p. 167), a rede urbana é definida por “fluxos de
informação hierarquizados e fluxos de matéria que, nas áreas mais
desenvolvidas, não são hierarquizantes”. Apesar da evidente distinção, deve-se
ter em mente que os fluxos de informações e matérias geralmente estão
intimamente relacionados e não existem separadamente.
No que se refere aos fluxos de informações, estes são, cada vez mais, gerados
por fontes desprendidas do mundo constituído de fixos. O mundo já está bem
diferente daquele imaginado e pensado por Milton Santos e outros grandes
teóricos das décadas anteriores. A flexibilidade das fontes que emanam e
recebem informações atingiu níveis impressionantes.
Nos últimos anos, as ligações realizadas com o uso de telefone fixo têm sido
proporcionalmente reduzidas com a invasão do celular, companheiro sempre
presente que oferece uma mobilidade que mudou a rotina das pessoas. O
correio tradicional e o fax foram, em grande medida, substituídos pelo e-mail,
caixa postal eletrônica que acompanha as pessoas em todos os lugares
dotados de conectividade. Os fluxos materiais também são impulsionados em
um mundo em que se pode comprar e solicitar de tudo pela internet ou pelo
telefone. Maior flexibilidade significa poder gerar ou absorver um fluxo, de
qualquer natureza, de maneira mais imediata e livre, em qualquer lugar que a
pessoa esteja.
Alguns dos exemplos apontados por Castells (1999) para a década de 1990
parecem se destacar, cada vez mais, nos dias atuais, tais como: a) a
substituição do serviço em ambiente de trabalho pelo trabalho on-line em casa,
com o aumento do teletrabalho e das consultorias em resposta ao processo de
terceirização; b) o ensino à distância, oferecido, sobretudo, pelas
universidades, também apresentou significativo aumento nos últimos anos; c)
apesar de seu caráter complementar às atividades comerciais tradicionais, as
compras via web e telefone cresceram no início dos anos 1990 e se tornaram
um surto após a virada do milênio; d) a supervisão, por vídeo conferência de
procedimentos cirúrgicos. Tudo isso vai ao encontro do aumento da mobilidade
nos países desenvolvidos e, em menor medida, nos países em
desenvolvimento.
“over the past thirty years, the volume of labor migration across
national boundaries, as well as other forms of voluntary and
involuntary migration (for example, refugees), has probably reached a
higher level than in any earlier period” (Soja, 2000, p. 195).
19
Existem vários desafios metodológicos que devem ser superados para se chegar a
estimativas precisas do movimento migratório entre os países desenvolvidos e os países em
desenvolvimento. Parte significativa do montante de emigrantes provenientes dos países
menos desenvolvidos é constituída do que se convencionou chamar de ilegais ou clandestinos,
o que impossibilita a busca de informações por meio dos registros consulares. Como exemplo
disso, é sabido que os EUA abrigam milhões de imigrantes internacionais em situação irregular
de várias partes do mundo, com destaque para a população hispânica.
62
Mesmo considerando que estas cidades são as maiores portas dos respectivos
países para o mundo, vale lembrar que estas portas “meio abertas” não
permitem que a maioria dos habitantes dessas periferias participem,
ativamente, dos diversos tipos de fluxos globais. Nesse sentido, pode-se falar
em ‘globalidade altamente seletiva’ ou mesmo, de ‘falsa globalidade’ nos
63
20
O estoque populacional relativamente pequeno da Amazônia Legal no início desse período
deve ser considerado na interpretação das altas TCG entre 1970-1980.
67
21
A representação está de acordo com a malha municipal de cada ano em questão. Nesse
período, os dados de população para os municípios emancipados não estão agregados.
69
rodovias. Como pode ser visto no relatório divulgado pela III Conferência
Nacional do Meio Ambiente – Mudanças Climáticas - 2008:
22
De acordo com o IBGE (2008, 3), “as redes são diferenciadas em termos de tamanho,
organização e complexidade e apresentam interpenetrações devido à ocorrência de vinculação
de mais de um centro, resultando em dupla ou tripla inserção na rede”.
23
Segundo o IBGE (2008), a capital regional possui capacidade de gestão imediatamente
inferior ao da metrópole e tem área de influência regional, sendo referida como destino por um
grande conjunto de municípios. O centro sub-regional possui atividades de gestão menos
complexas e área de atuação mais reduzida. Seus relacionamentos externos à sua própria
76
Manaus (1) e Belém (3). Estas duas redes possuem 13 dos 199 centros sub-
regionais. Apenas 14 dos 666 centros de zona brasileiros estão no raio de
influência das duas maiores cidades amazônicas. Apesar da área de influência
de São Luiz (MA) e de Cuiabá (MT) não estarem, de acordo com o IBGE
(2008), entre as maiores redes do País, deve-se lembrar que estas cidades
também se destacam do ponto de vista demográfico e funcional na Amazônia
Legal.
rede, geralmente, se dão com apenas três metrópoles nacionais. Já o centro de zona,
apresenta raio de atuação restrita a sua área imediata.
77
que algumas cidades de porte médio do Centro-Sul do País, como Juiz de Fora
(1.268), Ribeirão Preto (853) e Montes Claros (845).
Em uma situação mais favorável, Belém, por sua vez, dado seu caráter
locacional excêntrico, situada no extremo norte da Amazônia oriental, é
também incapaz de cumprir o papel articulador das redes urbanas amazônicas,
que caberia a uma metrópole regional do seu porte.
Com base no estudo Cadastro Central das Empresas (2004), que teve alguns
resultados foram publicados em IBGE (2008), pode-se calcular a Intensidade
de Relacionamento Empresarial das principais cidades amazônicas. O IBGE
(2008) define esta variável como sendo “a soma do número de filiais existentes
na cidade B de empresas com sede na cidade A com o número de filiais
78
A primeira coisa que chama atenção na TAB. 3 é que, de uma forma geral,
Manaus apresenta Intensidade de Relacionamento Empresarial superior a
Belém, considerando as 20 ligações que mais se destacam. Vale lembrar que,
como dito anteriormente, a Intensidade de Relacionamento de Manaus (554)
com as demais cidades de sua rede é bem menor em relação ao que acontece
na rede encabeçada por Belém (1575). Tal situação pareceria improvável e
incompatível com a realidade, não fosse o tamanho do PIB de Manaus (R$
27.214.213.000), mais do que o dobro do PIB de Belém (11.277.414.000), em
2005.
Cuiabá, no total (1.275), está num patamar superior em relação a São Luís
(810). Em relação a Cuiabá, São Paulo apresenta 24,1% do total na tabela, ao
passo que o Rio de Janeiro apenas 5,3%. Também vale destacar o alto nível
de relacionamento empresarial de Cuiabá com Campo Grande (140) e,
também, com Brasília (117).
pela CAPES (ver TAB. A 1). Esta variável irá compor o modelo do capítulo
posterior. De um total de 73 funções pesquisadas, Belém e Manaus obtiveram
os maiores valores (71 e 70, respectivamente), seguidos de São Luís e Cuiabá,
ao passo que Nova Esperança do Piriá (PA) apresentou o menor valor (9) entre
todos os municípios pesquisados.
A variável tempo de viagem foi cogitada para compor o modelo que explora a
hierarquia urbana entre as cidades, e que será apresentado no próximo
capítulo. Dessa forma, toma-se como pressuposto a idéia de que, de uma
forma geral, quanto maior a distância entre uma determinada cidade e um
centro dotado de maior população, maior é sua importância regional.
Entretanto, esta variável não possui boa aplicabilidade para a Amazônia Legal,
podendo ter significados diferentes no interior da Região. Em uma rede urbana
bem estruturada, ou até mesmo em algumas porções da Amazônia Oriental,
pode-se inferir que, quanto maior o valor desta variável espacial, maior a
importância regional de um determinado centro, já que o raio de influência da
cidade seria mais amplo e o tempo de viagem estaria mais suscetível aos
efeitos do tamanho populacional e não do nível de “isolamento” entre as
centralidades. Já em uma rede desequilibrada, a exemplo de extensas áreas
na Amazônia, o valor acentuado desta variável pode ser reflexo de
desarticulação e isolamento, sobretudo para as cidades da Amazônia
Ocidental, fora dos principais eixos rodoviários da Região.
87
Com base nas informações contidas na TAB. 6 sobre o tempo de viagem entre
os centros amazônicos, elaborou-se o Indicador de Centralidade (IC), TAB.7,
com o intuito de servir de auxílio às variáveis do modelo de hierarquia urbana
do capítulo seguinte. O IC mede o número de vezes que uma determinada
cidade foi identificada como sendo a mais imediata (mais próxima), com maior
população, em relação a outro centro com população superior a 20.000
93
Das 242 cidades analisada24, 100 tiveram IC superior a 1, ao passo que 142
tiveram valor igual a 0. Belém (34,81), São Luís (27,84) e Imperatriz (22,56) se
destacam pelo elevado IC em relação às outras cidades amazônicas. Assim, o
IC revela o alto grau de importância destas três cidades nas redes urbanas na
Amazônia Legal. Vale lembrar que estes centros também apresentam altos
níveis de diversificação funcional, como foi observado na TAB. 5, uma vez que
Belém e São Luís ocupam posição de destaque no ordenamento dos
municípios incluídos nessa tabela (primeira e terceira) e Imperatriz está em
primeiro lugar entre os municípios de porte médio do interior (não-capitais).
24
Assim como no modelo presente no capítulo posterior, Colniza não foi considerado na
análise diante da deficiência de informações disponíveis para este município. Dessa maneira,
os municípios considerados, maiores que 20.000 habitantes na Amazônia Legal, somam 242.
94
A cidade média se define, de acordo com Lajugie (1974), antes de tudo, por
suas funções, pela posição que ocupa na rede urbana, entre a metrópole, com
vocação regional, e os pequenos municípios, de influência puramente local.
(Amorim Filho & Rigotti, 2002). As cidades médias, além de terem tamanho
demográfico para este porte, desempenham papéis funcionais intermediários
bem definidos entre a(s) metrópole(s) e as cidades pequenas que compõem
uma rede urbana (Sposito, 2004).
De acordo com Corrêa (2007), a cidade média deve ser entendida como sendo
urbanos. Sendo assim, muitas das cidades tidas como médias, por
apresentarem expressivo contingente populacional, na verdade não são
médias no sentido funcional, pelas condições adversas para o desenvolvimento
de seu papel de intermediador de fluxos, ao contrário do que se observa em
uma rede urbana em perfeito funcionamento.
No Brasil, e com menor intensidade, em boa parte dos precários centros locais
da Amazônia Legal, esse aumento da urbanidade nas pequenas cidades, que,
anteriormente, tinham sua economia menos diversificada e apoiada, quase que
exclusivamente, nas atividades ligadas à terra, está relacionado a um conjunto
de fatores, tais como: a) melhoria no nível geral das condições de vida e
diminuição da pobreza; b) maior acesso à informação e a sensação de que as
distâncias são menores do que no passado; c) melhoria na infra-estrutura
regional e intra-municipal; d) maior integração dos moradores com pessoas que
residem em municípios médios ou grandes, a exemplo de parentes e amigos,
ou mesmo com migrantes retornados.
Região, uma vez que muitas cidades de porte intermediário que deveriam ser
consideradas médias, já que possuem tamanho para tal designação, são
pequenas no que diz respeito à sua capacidade de troca. Por outro lado,
sofrem de uma grandeza virtual, já que são, necessariamente, o destino final
na procura de bens e serviços por grande parte das populações que vivem
nessas cidades ou nos centros locais localizados num entorno “suportável”.
109
De uma maneira geral, pode-se afirmar que a literatura foi influenciada por
duas correntes de pensamento. A primeira está apoiada na Teoria dos Lugares
Centrais, elaborada por Christaller (1933) e aprimorada por Lösch (1940). A
segunda se desenvolveu com base no modelo dos sistemas urbanos,
elaborado por Henderson (1974). (Krugman, 1996). A Teoria dos Lugares
Centrais considera que diferentes tamanhos populacionais criam diferentes
condições e oportunidades para reprodução das atividades econômicas e
funcionais. Posteriormente, Henderson (1974) estabelece um modelo em que o
tamanho ótimo de uma determinada cidade seria influenciado, sobretudo, pelo
tipo de atividade econômica.
25
Ver Krugman (1996).
111
De acordo com Lösch (1940), centros urbanos com o mesmo tamanho não
necessariamente comportam bens e serviços de mesma ordem, como no
modelo anterior. De acordo com o pensamento Löschiano, Goodall (1972, p.
310) declara que “higher order centers do not provide all the functions typical of
lower order urban areas and urban areas which perform the same number of
functions do not necessarily perform the same kind of functions”. O autor
complementa que, “however, large urban areas will logically have the greatest
variety of functions, especially manufacturing” (Goodall, 1972).
De acordo com Parr (1973, p. 350), “one reason for the enduring popularity of
the Löschian system is that in several respects it is able to replicate phenomena
that can be observed in reality”. Como dito no parágrafo anterior, o modelo de
Lösch permite que um centro de pequena população oferte determinados
serviços para um centro de população superior, o que é impossível no modelo
de Christaller. Na perspectiva Löschiana, o padrão de distribuição espacial dos
centros ricos e pobres está relacionado com o posicionamento em relação ao
raio de atuação da metrópole. Outro aspecto que pode ser observado na
realidade é que, algumas vezes, existe uma tendência a uma distribuição
contínua do tamanho dos centros. (Parr, 1973).
115
Walter Isard (1956) integra a questão espacial dos geógrafos alemães com a
análise microeconômica da minimização de custos ou da maximização do
lucro. Como pode ser visto em Silva (2004), Isard (1956) introduz
inverted U”. Em outras palavras, existe uma relação positiva entre o aumento
da população e a atratividade econômica para um tipo de atividade, até que um
determinado limiar populacional seja alcançado, ponto em que esta relação
positiva se inverte.
26 - α
A distribuição de Pareto pode ser representada pela formula: y=Ax , sendo que x é a
população de uma determinada cidade, y é o número de cidades com população maior do que
x, A é uma constante e α é o expoente de Pareto.
117
esclarece que, sob esta perspectiva, os trabalhos podem ser divididos em duas
vertentes: “as pesquisas teóricas, que buscam construir modelos que
reproduzam a regra de ordem de tamanho, e as pesquisas empíricas, que
visam testar empiricamente a veracidade da proposição feita por Zipf”.
Krugman (1996, p. 410) ressalta que, “at this point we are in the frustrating
position of having a striking empirical regularity with no good theory to account
for it”.
a) “It predicts a Power Law, whereas the urban system and central place
models do not.
b) The parameter that determines the exponent on the power law is the
probability of forming a new city, which seems less obviously
something that must have changed drastically over the past century
than variables like economies of scale or urban commuting costs.
c) The mysterious exponent of 1, which seems so hard to justify, has a
natural interpretation here: it is what you get when increments to
urban population usually attach themselves to existing cities rather
than forming new cities” (Krugman, 1996, p. 412).
Com base no trabalho de Simon (1955), Gabaix (1999) defende que, tendo
como princípio a idéia de que as taxas esperadas de crescimento de uma
cidade e sua variância são independentes de seu tamanho (lei de Gibrat), é
possível gerar a regra da ordem de tamanho. Entretanto, Fujita et al. (2002)
criticam os modelos de crescimento aleatório, alegando que os retornos de
escala em relação ao tamanho de uma determinada cidade não são constantes
(Oliveira, 2005).
118
De acordo com Oliveira (2005, p. 2), as forças centrípetas, de uma forma geral,
“estão associadas à presença de custos de transporte, externalidades e
retornos crescentes de escala nas atividades produtivas”. Já as forças
centrífugas, segundo o autor, referem-se às externalidades negativas e às
variações no preço da terra. Os modelos de crescimento urbano consideram
como forças centrípetas as seguintes variáveis: a) vantagens naturais de
determinadas cidades (como rios para a construção de portos) e localização
privilegiada; b) externalidades do tamanho do mercado (acessibilidade ao
mercado e aos produtos, trabalho abundante); divulgação do conhecimento. As
forças centrífugas podem ser separadas em forças mediadoras de mercado
(custo do transporte, atratividade de recursos dispersos) e forças não
relacionadas com o mercado (congestionamento, poluição) (Oliveira, 2005).
least since Gibrat (1931). At the same time, this result can account for
what for over half a century has been the benchmark stylized fact of
economic geography, that the upper tail of the city size distribution
satisfies Zipf's law” (Eeckhout, 2004, p. 1.429).
Entretanto, Naude & Krugell (2003, p. 175) afirmam que, na África do Sul,
“Zipf’s Law does not hold for the country’s cities. The so-called q-coefficient was
found to be equal to_0.75 for the 123 places with population in excess of
100.000”. Oliveira (2005, p. 10) testa a validade desta “poderosa lei” para as
cidades brasileiras entre 1936 e 2000 e declara que “os resultados não
permitem concluir que a regra da ordem de tamanho se aplica ao Brasil”.
Segundo o autor, “somente em 1960 e 1970 esta regra se verifica, porém
representa um período de transição, pois o coeficiente diminuiu
constantemente ao longo do período estudado”, o que representa uma maior
desigualdade, com o passar dos anos, no tamanho das cidades do País. Outra
conclusão de Oliveira (2005, p. 10): “o tamanho da amostra pode alterar os
resultados”, já que as abordagens que consideram apenas as maiores cidades
da região apresentam resultados distintos daquelas que consideram toda a
amostra.
O IBGE definiu, então, os principais nós das redes urbanas brasileiras em 2007
com o auxílio de um grande número de informações secundárias. O IBGE
buscou identificar as regiões de influência destes centros, tendo como ponto de
partida as redes de interação que conectam as cidades. (IBGE, 2008). Diante
disso, de acordo com o IBGE (2008),
27
Ver Sawyer et al (2004); Alves et al (2008); Maetzel et al (2000); MacNamee (2004).
123
∑g ik =1 para cada i
k =1
∑λ
k =1
kjl =1 para cada k e j
k
P(Yijl = 1) = ∑g ik λkjl = 1"
k =1
125
(0,5 para a segunda ordem, 0,25 para a terceira, 0,125 para a quarta e assim,
sucessivamente).
A TCG municipal parece não ter forte correlação com o tamanho populacional,
assumindo padrões variados. O que fica claro é que a maior parte dos
municípios analisados (86,8%) apresentou TCG positiva entre 2000 e 2007.
Ainda, verifica-se que, no período, 57 dos 242 municípios representados na
FIG. 7 tiveram TCG alta, superior a 3%a.a., e apenas 32 municípios (13,2%. do
total) tiveram TCG negativas. Para toda a Amazônia Legal, o valor da TCG
esteve mais alto do que a média nacional, entre 2000 e 2007 (1,7% a.a., e
1,14%a.a., respectivamente). Em 2007, dos municípios com população
superior a 20.000 habitantes em 2007, 112 (46,3%) tiveram TCG superior à
média regional; 146 (60,3%), TCG superior à média nacional. Já no que diz
respeito à TCG da meso-região, esta variável foi incorporada no modelo tendo
como base o pressuposto de que as variações no dinamismo regional, no
período analisado, exerceram, em alguma medida, influência no nível de
centralidade de um determinado município.
28
O Fundo de Participação dos Municípios é composto de 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda e
do Imposto sobre Produtos Industrializados. 10% dos recursos são destinados aos municípios das capitais,
86,4% para os demais municípios e 3,6% para o fundo de reserva dos municípios não-capitais com
população superior a 142.633 habitantes.
130
vida. De acordo com a FIG. 10, apenas 10 municípios possuíam IDH superior a
0,8, em 2000, sendo Cuiabá, Belém e Palmas as únicas capitais estaduais
nesse conjunto. O município de Sorriso (MT) tinha, em 2000, o maior IDH da
Amazônia Legal (0,824), ao passo que Bom Jardim (MA) possuía o menor valor
(0,515). De uma forma geral, a maior parte dos municípios amazônicos
estudados (190) pertence às classes intermediárias do nível do IDH: 0,6 a 0,7 e
0,7 a 0,8.
Tendo em vista este resultado, não foram testados outros modelos com
número de perfis diferentes de quatro, tendo-se priorizado a seleção deste
modelo com número de perfis interpretáveis diante da forma com que as
variáveis se comportaram em uma análise inicial, puramente descritiva, além
da razoabilidade dos resultados finais.
29
Vale destacar que este procedimento de seleção do modelo mais adequado é explicitado por Manton et
al (1994).
147
maior do que 1,2. Já aqueles marcados por cinza claro, possuem uma razão
E/O entre 1 e 1,2.
148
Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
Observadas (O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
1 - Grau de Urbanização <= 0 ,10 2 0,0080 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
(2000) 0,11 - 0,20 6 0,0250 0,0000 0,0000 0,0000 0,0727
0,21 - 0,30 25 0,1030 0,0000 0,0000 0,0000 0,2998
0,31 - 0,40 27 0,1120 0,0000 0,0000 0,0000 0,3234
0,41 - 0,50 38 0,1570 0,0000 0,0097 0,1741 0,3041
0,51 - 0,60 32 0,1320 0,0000 0,0000 0,4677 0,0000
0,61 - 0,70 33 0,1360 0,0000 0,1514 0,3582 0,0000
0,71 -0 ,80 31 0,1280 0,0000 0,5445 0,0000 0,0000
0,81 - 0,90 23 0,0950 0,1883 0,2943 0,0000 0,0000
0,91+ 25 0,1030 0,8117 0,0000 0,0000 0,0000
3 - TCG municipal entre 2000 <= -3,00 2 0,0080 0,0000 0,0000 0,0000 0,0259
e 2007 -2,99 - -1,50 6 0,0250 0,0000 0,0794 0,0000 0,0193
-1,49 - ,00 24 0,0990 0,0503 0,0689 0,1518 0,0964
0,01 - 1,50 96 0,3970 0,4475 0,3951 0,4627 0,3243
1,51 - 3,00 57 0,2360 0,2662 0,2379 0,2545 0,2043
3,01 - 6,00 45 0,1860 0,2360 0,0952 0,1311 0,2679
6,01+ 12 0,0500 0,0000 0,1235 0,0000 0,0619
4 - TCG da meso-região entre <=0 ,50 24 0,0990 0,1085 0,2068 0,0997 0,0224
2000 e 20007 0,51 - 1,00 48 0,1980 0,2807 0,0953 0,2916 0,1570
1,01 - 1,50 33 0,1360 0,0000 0,0000 0,2308 0,2026
1,51 - 2,00 52 0,2150 0,3409 0,2124 0,2141 0,1698
2,01 - 2,50 41 0,1690 0,1723 0,0172 0,1638 0,2728
2,51 - 3,00 31 0,1280 0,0976 0,2350 0,0000 0,1755
3,01+ 13 0,0540 0,0000 0,2333 0,0000 0,0000
5 - PIB, 2005 <= 500.000.000 199 0,8220 0,0000 0,8872 1,0000 1,0000
500.000.000 - 1.500.000.000 26 0,1070 0,5287 0,1128 0,0000 0,0000
1.500.000.000 - 4.000.000.000 13 0,0540 0,3580 0,0000 0,0000 0,0000
4.000.000.000 - 7.000.000.000 1 0,0040 0,0284 0,0000 0,0000 0,0000
7.000.000.000 - 12.000.000.000 2 0,0080 0,0566 0,0000 0,0000 0,0000
12.000.000.000+ 1 0,0040 0,0284 0,0000 0,0000 0,0000
6 - Fundo de participação <= 8.000.000 193 0,7980 0,1791 0,8503 0,8458 1,0000
dos municípios 8.000.000 - 16.000.000 33 0,1360 0,3703 0,1497 0,1542 0,0000
16.000.000 - 32.000.000 7 0,0290 0,1968 0,0000 0,0000 0,0000
32.000.000 - 64.000.000 2 0,0080 0,0566 0,0000 0,0000 0,0000
64.000.000 - 100.000.000 3 0,0120 0,0846 0,0000 0,0000 0,0000
100.000.000+ 4 0,0170 0,1126 0,0000 0,0000 0,0000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000. IBGE, Contagem da População, 2007. Atlas de desenvolvimento
Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, IBGE, Estatíticas de Saúde, 2000,. IBGE, Perfil dos Municípios - Cultura 2006, DENATRAN
2007. (continua...)
149
Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Observadas Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
(O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
7 - Proporção de pobres <= 27,00 22 0,0910 0,5273 0,0731 0,0000 0,0000
(2000) 27,01 - 36,54 22 0,0910 0,3190 0,1871 0,0000 0,0000
36,55 - 45,41 22 0,0910 0,1538 0,2754 0,0000 0,0000
45,42 - 52,97 22 0,0910 0,0000 0,2328 0,0000 0,1024
52,98 - 58,51 22 0,0910 0,0000 0,2316 0,0627 0,0459
58,52 - 64,91 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,2967 0,0000
64,92 - 69,66 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,1842 0,1114
69,67 - 72,29 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,2084 0,0869
72,30 - 75,53 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,1335 0,1632
75,54 - 79,59 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,1146 0,1829
79,60+ 22 0,0910 0,0000 0,0000 0,0000 0,3073
8 - IDH municipal (2000) <= 0,60 44 0,1820 0,0000 0,0000 0,1663 0,4179
0,61 - 0,70 112 0,4630 0,0000 0,1671 0,8337 0,5821
0,71 - 0,80 78 0,3220 0,7719 0,8329 0,0000 0,0000
0,81+ 8 0,0330 0,2281 0,0000 0,0000 0,0000
11 - % de pessoas que vivem <= 10,00 12 0,0500 0,0000 0,0000 0,0000 0,1452
em domicílios urbanos com 10,01 - 20,00 17 0,0700 0,0000 0,0000 0,0874 0,1328
serviço de coleta de lixo 20,01 - 30,00 17 0,0700 0,0000 0,0000 0,0904 0,1302
(2000) 30,01 - 40,00 12 0,0500 0,0000 0,0434 0,0681 0,0593
40,01 - 50,00 24 0,0990 0,0000 0,0000 0,1789 0,1400
50,01 - 60,00 37 0,1530 0,0000 0,0000 0,2822 0,2096
60,01 - 70,00 25 0,1030 0,0000 0,1404 0,2481 0,0000
70,01 - 80,00 29 0,1200 0,0637 0,2941 0,0000 0,1283
80,01 - 90,00 37 0,1530 0,4484 0,2993 0,0449 0,0200
90,01+ 32 0,1320 0,4879 0,2228 0,0000 0,0346
Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Observadas Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
(O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
13 - Número de escolas de <= 8,11 194 0,8020 0,0000 0,8889 0,9528 1,0000
ensino médio (2006) 8,12 - 25,76 33 0,1360 0,5857 0,1111 0,0472 0,0000
25,77 - 43,41 7 0,0290 0,1919 0,0000 0,0000 0,0000
43,42 - 61,06 4 0,0170 0,1112 0,0000 0,0000 0,0000
61,07+ 4 0,0170 0,1112 0,0000 0,0000 0,0000
18 - Leitos Hospitalares <= 100 157 0,6490 0,0000 0,6602 0,5191 1,0000
(2000) 101 - 400 66 0,2730 0,4537 0,3398 0,4809 0,0000
401 - 1.200 14 0,0580 0,4037 0,0000 0,0000 0,0000
1.201 - 3.600 4 0,0170 0,1142 0,0000 0,0000 0,0000
3.601+ 1 0,0040 0,0285 0,0000 0,0000 0,0000
19 - Postos de Saúde (2000) <= 5,00 94 0,3880 0,3421 0,3786 0,2895 0,4942
6,00 - 10, 61 0,2520 0,0536 0,3550 0,3098 0,2210
11,00 - 20 50 0,2070 0,2567 0,1815 0,1484 0,2502
21,00 - 30 19 0,0790 0,1423 0,0849 0,0935 0,0346
31,00 - 50 14 0,0580 0,1738 0,0000 0,1167 0,0000
51,00+ 4 0,0170 0,0316 0,0000 0,0422 0,0000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000. IBGE, Contagem da População, 2007. Atlas de desenvolvimento
Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, IBGE, Estatíticas de Saúde, 2000,. IBGE, Perfil dos Municípios - Cultura 2006, DENATRAN 2007.
(continua...)
151
Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Observadas Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
(O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
20 - Centros de Saúde (2000) <= 1,00 156 0,6450 0,0000 0,4980 0,7256 0,9327
2,00 - 2,00 27 0,1120 0,1186 0,1640 0,1185 0,0673
3,00 - 4,00 30 0,1240 0,1733 0,2366 0,1559 0,0000
5,00 - 8,00 11 0,0450 0,1891 0,0832 0,0000 0,0000
9,00 - 16,00 11 0,0450 0,3437 0,0000 0,0000 0,0000
17,00 - 32,00 3 0,0120 0,0578 0,0182 0,0000 0,0000
33,00+ 4 0,0170 0,1175 0,0000 0,0000 0,0000
21 - Frota de veículos (2007) <= 5.000 157 0,6490 0,0000 0,0000 1,0000 1,0000
5.001 - 15.000 49 0,2020 0,0000 0,9241 0,0000 0,0000
15.001 - 30.000 16 0,0660 0,3824 0,0759 0,0000 0,0000
30.001 - 60.000 9 0,0370 0,2865 0,0000 0,0000 0,0000
60.001 - 100.000 6 0,0250 0,1832 0,0000 0,0000 0,0000
100.001 - 250.000 4 0,0170 0,1191 0,0000 0,0000 0,0000
250.001+ 1 0,0040 0,0288 0,0000 0,0000 0,0000
22 - % de pessoas que vivem <= 1,00 102 0,4210 0,0000 0,0000 0,5019 0,8427
em domicílios com 1,01 - 2 64 0,2640 0,0000 0,3167 0,4981 0,1573
computador (2000) 2,01 - 3 25 0,1030 0,0000 0,4717 0,0000 0,0000
3,01 - 4 14 0,0580 0,1543 0,1475 0,0000 0,0000
4,01 - 5 8 0,0330 0,1183 0,0641 0,0000 0,0000
5,01 - 6 13 0,0540 0,3148 0,0000 0,0000 0,0000
6,01 - 8 10 0,0410 0,2500 0,0000 0,0000 0,0000
8,01 - 10 4 0,0170 0,1075 0,0000 0,0000 0,0000
10,01+ 2 0,0080 0,0552 0,0000 0,0000 0,0000
23 - % de pessoas que vivem <= 20,00 2 0,0080 0,0000 0,0000 0,0000 0,0251
20,01 - 30 19 0,0790 0,0000 0,0000 0,0000 0,2376
em domicílios com energia
30,01 - 40 34 0,1400 0,0000 0,0000 0,0000 0,4358
elétrica e TV (2000) 40,01 - 50 39 0,1610 0,0000 0,0000 0,2133 0,3015
50,01 - 60 25 0,1030 0,0000 0,0000 0,3467 0,0000
60,01 - 70 41 0,1690 0,0000 0,1597 0,4400 0,0000
70,01 - 80 37 0,1530 0,0000 0,6608 0,0000 0,0000
80,01 - 90 34 0,1400 0,6824 0,1794 0,0000 0,0000
90,01+ 11 0,0450 0,3176 0,0000 0,0000 0,0000
24 - % de pessoas que vivem <= 20 10 0,0410 0,0000 0,0000 0,0000 0,1251
20,01 - 30 35 0,1450 0,0000 0,0000 0,0000 0,4755
em domicílios com energia
30,01 - 40 39 0,1610 0,0000 0,0000 0,1288 0,3994
elétrica e geladeira (2000) 40,01 - 50 40 0,1650 0,0000 0,0000 0,4974 0,0000
50,01 - 60 29 0,1200 0,0000 0,0000 0,3738 0,0000
60,01 - 70 18 0,0740 0,0000 0,3337 0,0000 0,0000
70,01 - 80 31 0,1280 0,0000 0,5908 0,0000 0,0000
80,01 - 90 22 0,0910 0,4958 0,0755 0,0000 0,0000
90,01+ 18 0,0740 0,5042 0,0000 0,0000 0,0000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000. IBGE, Contagem da População, 2007. Atlas de desenvolvimento
Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, IBGE, Estatíticas de Saúde, 2000,. IBGE, Perfil dos Municípios - Cultura 2006, DENATRAN 2007.
(continua...)
152
Tabela 9 - Estimativas de λKjl, por categorias das variáveis internas e freqüências marginais
absolutas e relativas na Amazônia Legal (2000 - 2007)
Probabilidades
Classes Marginais Observadas Probabilidades nos Esperados (E)
Variáveis
(O)
Absoluta Relativa 1 2 3 4
25 - % de pessoas que vivem <= 5,00 74 0,3060 0,0000 0,0000 0,1022 0,7953
em domicílios com telefone 5,01 - 10 60 0,2480 0,0000 0,0000 0,6206 0,2047
(2000) 10,01 - 20 57 0,2360 0,0000 0,6374 0,2772 0,0000
20,01 - 30 21 0,0870 0,0000 0,3626 0,0000 0,0000
30,01 - 40 13 0,0540 0,4224 0,0000 0,0000 0,0000
40,01+ 17 0,0700 0,5776 0,0000 0,0000 0,0000
Humano do Brasil (2000), INEP 2006, Banco Central 2004, IBGE, Estatíticas de Saúde, 2000,. IBGE, Perfil dos Municípios - Cultura 2006, DENATRAN 2007.
2,99 e – 1,5% a.a.; 4) TCG da meso-região (2000-2007) positiva alta, entre 2,5
e 3% a.a. e maior do que 3% a.a ou positiva baixa, menor de 0,5%a.a.; 5) PIB
(2005) médio/baixo, entre R$500.000.000 e R$1.500.000.000 e menor do que
R$500.000; 6) FPM (2005) médio/baixo, entre R$8.000.000 e R$16.000.000 e
menor do que R$8.000.000; 7) proporção de pobres (2000) média para os
padrões regionais, entre 27% e 58,51%; 8) IDH (2000) médio, de 0,71 a 0,8; 9)
proporção média de pessoas com água encanada (2000), entre 40% e 80%;
10) proporção alta de pessoas com acesso a energia elétrica (2000), superior a
80%; 11) proporção média de pessoas que vivem em domicílios urbanos com
serviço de coleta de lixo (2000), superior a 60%; 12) baixo número de escolas
de ensino fundamental (2006), menor do que 50; 13) número baixo de escolas
de ensino médio (2006), inferior a 8,11; 14) número baixo de matrículas no
ensino fundamental (2006), entre 5.001 e 7.500; 15) número médio de
matrículas no ensino médio, entre 1.001 e 5.000; 16) número baixo/médio de
matrículas no ensino superior (2007), entre 1 e 1.000; 17) número médio de
hospitais (2000), entre 2 e 4; 18) médio número de leitos hospitalares (2000),
entre 101 e 400; 19) médio número de postos de saúde (2000), entre 6 e 10;
20) médio número de centros de saúde, entre 2 e 8 e entre 17 e 32; 21) média
frota de veículos (2007), entre 5.001 e 15.000; 22) média proporção de
pessoas que vivem em domicílios com computador (2000) para os padrões
regionais, entre 2% e 5%; 23) média/alta proporção de pessoas que vivem em
domicílios com energia elétrica e TV (2000), entre 60,01% e 90%; 24) alta
proporção de pessoas que vivem em domicílios com energia elétrica e
geladeira (2000), entre 60,01 e 80%; 25) média proporção de pessoas de
pessoas que vivem em domicílios com telefone (2000) para os padrões
regionais, entre 10,01% e 30%; 26) indicador de centralidade baixo, entre 0,01
e 2,5; 27) média diversificação funcional, apresentando entre 40,01% e 70,01%
das funcionalidades.
baixo, menor do que 0,6; 9) proporção muito baixa de pessoas com água
encanada, inferior a 20%; 10) proporção baixa de pessoas com acesso a
energia elétrica (2000), inferior a 60%; 11) proporção baixa de pessoas que
vivem em domicílios urbanos com serviço de coleta de lixo (2000), inferior a
60%; 12) baixo número de escolas de ensino fundamental (2006), entre 51-
100; 13) número baixo de escolas de ensino médio (2006), inferior a 8,11; 14)
número baixo de matrículas no ensino fundamental (2006), inferior a 10.000;
15) número baixo de matrículas no ensino médio, menor ou igual a 1.000; 16)
não existe matrículas no ensino superior (2007), entre 1 e 1.000; número baixo
ou nulo de hospitais (2000), igual a 1 ou 0; 18) baixo número de leitos
hospitalares (2000), menor do que 100; 19) médio/baixo número de postos de
saúde (2000), entre 11 e 20 e menor ou igual a 5; 20) baixo número de centros
de saúde, igual ou menor que 1; 21) baixa frota de veículos (2007), igual ou
menor que 5.000; 22) muito baixa proporção de pessoas que vivem em
domicílios com computador (2000) para os padrões regionais, menor ou igual a
1%; 23) baixa proporção de pessoas que vivem em domicílios com energia
elétrica e TV (2000), inferior a 50%; 24) baixa proporção de pessoas que vivem
em domicílios com energia elétrica e geladeira (2000), inferior a 40%; 25) muito
baixa proporção de pessoas de pessoas que vivem em domicílios com telefone
(2000) para os padrões regionais, inferior a 5,00%; 26) indicador de
centralidade igual a 0; 27) muito baixa diversificação funcional, apresentando
menos do que 40% das funcionalidades.
Perfil 2
Frequência % % acumulada
0 - 0,25 164 67,77 67,77
0,26 - 0,50 20 8,26 76,03
0,51 - 0,75 32 13,22 89,26
0,76+ 26 10,74 100,00
Total 242 100,00
Perfil 3
Frequência % % acumulada
0 - 0,25 137 56,61 56,61
0,26 - 0,50 39 16,12 72,73
0,51 - 0,75 33 13,64 86,36
0,76+ 33 13,64 100,00
Total 242 100,00
Perfil 4
Frequência % % acumulada
0 - 0,25 136 56,20 56,20
0,26 - 0,50 22 9,09 65,29
0,51 - 0,75 27 11,16 76,45
0,76+ 57 23,55 100,00
Total 242 100,00
Fonte: Elaboração própria
De acordo com a FIG. 19, percebe-se que os municípios com alto grau de
pertencimento ao perfil 1 estão distribuídos ao longo dos principais eixos
rodoviários da Amazônia Legal, com destaque para aqueles compreendidos
158
30
Tangará da Serra, Rondonópolis, Barra do Garças, Imperatriz, Araguaína, Ananindeua, e Ji-Paraná.
159
municípios, como de São Luís, Belém e Manaus. Isso parece fazer sentido no
caso de algumas variáveis: Por exemplo, o nível de diversificação funcional de
alguns municípios de porte médio está bem próximo ao que foi verificado para
as maiores cidades da Região. Além disso, as variáveis que medem o
percentual, proporção e grau também contribuem para este resultado.
6 Conclusão
Já no que tange especificamente aos fluxos materiais, não é absurdo dizer que
a Amazônia se apresenta cada vez mais como uma grande rede integrada,
mesmo diante da baixa Intensidade de Relacionamento (IBGE, 2008) de Belém
e Manaus com as demais centralidades das redes urbanas amazônicas. Nessa
perspectiva, o eixo principal seria o rio Amazonas, que liga os dois maiores
centros econômicos da região, além das grandes rodovias que cortam a
Amazônia e ajudam na integração com os grandes pólos nacionais (Brasília e
São Paulo), de onde emanam as principais decisões que afetam a ocupação e
estruturação na Amazônia.
Com base nas considerações dos parágrafos anteriores, percebe-se que uma
abordagem sensata deve levar em consideração que os diversos tipos de
fluxos se comportam de maneira diferenciada no espaço. As fontes geradoras
e receptoras, o alcance, o direcionamento e a intensidade dos fluxos são
31
Nesse aspecto, pode-se citar vários fatores importantes: os hábitos alimentares; a expressão
artística e musical; o relacionamento das pessoas com os rios, presente e importante em várias
cidades amazônicas e os mitos e elementos culturais populares, regionais e locais, entre vários
outros.
168
32
Miossec (1976) considerava três tipos de interações espaciais geradoras de redes: a
distribuição (difusão), a produção e gestão (decisão). Ao retomar a metodologia de Miossec
(1975), Ribeiro (1998) declara que “estas redes apresentam-se superpostas, indicando a
complexidade das interações espaciais”.
169
Além disso, o GoM utilizou duas variáveis que foram elaboradas com objetivo
de conferir maior robustez ao modelo: o Indicador de Funcionalidades e o
Indicador de Centralidade. Com esta novidade metodológica apresentada nos
capítulos 4 e 5, as análises dos padrões hierárquicos representados pelos 4
perfis do modelo estiveram mais próximas do que poderia ser entendido como
“ideal metodológico”, de difícil operacionalização empírica dado a
complexidade do tema, mas presentes nos estudos com viés
fundamentalmente teórico.
Ademais, pode-se dizer que, nas últimas décadas, como dito anteriormente,
diante de todas as grandes transformações urbanas nas cidades de médio
porte e nos centros locais do interior da Amazônia Legal, percebe-se que,
muitas destas, estiveram muito sujeitas a decisões quase sempre distantes,
que partiam dos grandes centros urbanos regionais (Belém e Manaus), de
Brasília, São Paulo, e mesmo de outras partes do mundo. Sob este aspecto,
também cabe refletir sobre as “redes de gestão” na Amazônia, que se parecem
muito com as antigas redes dendríticas, diante da alta centralização do poder
político.
Assim, de uma forma geral, percebe-se uma falta de urbanidade, sentida não
apenas nas pequenas cidades da região, mas também nas cidades de médio
porte e nas aglomerações dotadas de grandes periferias na Amazônia Legal.
Essa falta de urbanidade nasce da carência de infraestrutura e de bens
materiais e educacionais indispensáveis para uma maior inclusão dos
“cidadãos” nas redes de fluxos, regionais, nacionais e globais. Nesses casos,
as cidades apresentam, em grande medida, suas facetas perversas, sentidas
com intensidade e evidentes na ausência de equipamentos urbanos básicos
para a maior parte da população.
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planning response. Urban Studies. Essex, v. 40, n. 4, p.665–685, Apr. 2003.
ANEXOS
183
Diagrama A 1 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Manaus)
175
Diagrama A 2 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Belém) continua...
176
Diagrama A 2 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Belém) continua...
177
Diagrama A 2 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Belém)
178
Diagrama A 3 – Amazônia Legal - Cidade maior, mais próxima – Representação esquemática, 2007 (Cuiabá)