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REDAÇÃO

O passo a passo para gabaritar


a redação do Enem
REDAÇÃO

Tirar uma boa nota na redação é um


fator extremamente importante para
conquistar a sua vaga na universidade
e curso dos sonhos. Mas, também
exige muita, muita preparação.

Por isso, criamos um e-book espe-


cialmente para te ajudar a atingir os
tão desejados mil pontos na redação
do Enem. Vem com a Filadd!
Na hora de corrigir a sua redação, os corretores
irão avaliá-la por 5 competências. Em cada uma
delas você poderá receber de 0 a 200 pontos.
Separamos todas elas detalhadamente para
você entender e se preparar!

COMPETÊNCIA I
DEMONSTRAR DOMÍNIO DA ESCRITA
FORMAL DA LÍNGUA PORTUGUESA

Para atingir a nota máxima nesta competência,


você precisa fazer o uso correto da língua
portuguesa e a sua gramática. É importante que
você utilize a linguagem formal, atentar-se a
pontuação e sintática na hora de escrever.

REDAÇÃO
COMPETÊNCIA II
COMPREENDER A PROPOSTA DE REDAÇÃO E APLICAR
CONCEITOS DAS VÁRIAS ÁREAS DE CONHECIMENTO PARA
DESENVOLVER O TEMA, DENTRO DOS LIMITES ESTRUTU-
RAIS DO TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO.

Nesta competência, o seu entendimento e ade-


rência ao tema é fundamental para garantir uma
boa nota. É preciso que você preste bem atenção
ao eixo temático, mas, atente-se também aos
detalhes do tema, neles contém a chave para a
sua compreensão total do que está sendo cobra-
do no exame. É importante que você aplique este
contexto ao longo de toda a sua redação.

Seguindo por esta linha, entramos no segundo


aspecto dessa competência: a estrutura textual.
A redação do Enem exige um formato de texto
chamado dissertativo-argumentativo. Nele você
precisará dissertar sobre o tema proposto e
defender um ponto de vista coerente durante
todo o texto, lembrando sempre da estrutura:
introdução, desenvolvimento e conclusão.

Dica: O seu repertório sociocultural é


importantíssimo para esta competência!
COMPETÊNCIA III
SELECIONAR, RELACIONAR, ORGANIZAR
E INTERPRETAR INFORMAÇÕES, FATOS,
OPINIÕES E ARGUMENTOS EM DEFESA DE
UM PONTO DE VISTA.

Lembra que te avisamos que você precisaria


defender um ponto de vista? Pois é! Aqui é o
momento de estruturar tudo isso. Nesta compe-
tência, os avaliadores observarão se os seus
argumentos tem coerência, relevância com o
tema, estão organizados de forma clara e mais:
se o seu texto e argumentação são originais.
Nada de plágio, hein?!

COMPETÊNCIA IV
DEMONSTRAR CONHECIMENTO DOS
MECANISMOS LINGUÍSTICOS NECESSÁRIOS
PARA A CONSTRUÇÃO DA ARGUMENTAÇÃO.

Sabe aquela lista de conjunções que a professo-


ra de português insistia para você aprender?
Então, aqui ela será muito útil! Nesta competên-
cia, você precisará amarrar todas as partes do
seu texto para que ele esteja alinhado e fazendo
sentido. Aposte também no uso correto de
pronomes e sinônimos!
COMPETÊNCIA V
ELABORAR PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
PARA O PROBLEMA ABORDADO, QUE
RESPEITE OS DIREITOS HUMANOS

Este ponto é fundamental para reforçar a sua


argumentação nas competências anteriores.
Toda a problematização que você construiu nos
parágrafos anteriores precisa ser solucionada
agora. Sua proposta de intervenção precisa ser
viável, clara e detalhada. Lembre-se de respon-
der às seguintes perguntas: O que pode ser
feito? Quem pode resolver? Como? O que esta
ação resolverá?

REDAÇÃO
REDAÇÃO
1º Estude Gramática!

Sério. Isso vai te ajudar a escrever um bom


texto e garantir os 200 pontos da primeira
competência tranquilamente. Tópicos priori-
táris de língua portuguesa para estudar:

-Vírgula, crase e as demais pontuações;


- Acentuação;
- Concordância Verbal e Nominal;
- Sinônimos;
- Sintaxe.

2º Adquira repertório sociocultural!

Dados estatísticos, livros, filmes, músicas, séries,


tudo isso pode ser utilizado como referencial na
sua argumentação. Isso vai trazer credibilidade
para a sua linha de raciocínio. Mas, não esqueça:
SEMPRE coloque as referências, sejam elas indire-
tas ou diretas! Não citá-las é plágio e a sua
redação será zerada.

Dica: Consuma diferentes tipos de repertórios e


treine em como aplicá-los ao desenvolvimento em
uma redação.
3º Treinar reescrevendo temas é eficaz!

Você precisa analisar e mapear quais são os seus


pontos fortes e os que precisam ser melhorados.
Reescrevendo um tema é uma forma de aplicar
novos aprendizados, corrigir possíveis erros e
fixar o aprendizado. Tenha isso em mente!

4º Imprima a folha de redação oficial!

Pode parecer bobo, mas, no Enem você tem um limite


de 30 (trinta) linhas para escrever. Treinar nesta folha
fará com que você aprenda a como organizar as suas
ideias num formato adequado para o modelo da prova!

Extra: Você sabe que, aqui na Filadd, você nunca está


só, né? Por isso, pensamos em você e já deixamos a
folha de redação separada para você no final deste
ebook. :)

5º Programe simulados reais!

Na hora de treinar a sua redação, prepare-se como se


estivesse no local de prova. Escolha um local silencio-
so, sem distrações, desligue os aparelhos eletrônicos,
marque o tempo e faça uma proposta de tema. Desta
forma, você se preparará com mais precisão.
6º Organize sua Escrita!

Após ler e reler a proposta de redação com atenção


redobrada, anote suas principais ideias de argumen-
tação. Em seguida, você poderá escrever uma
introdução e uma conclusão que esteja coerente com
o seu desenvolvimento. Após estruturar tudo isso, leia
e refaça o seu rascunho, refinando o texto, corrigindo
possíveis erros e acrescentando ideias que possam
surgir enquanto você reescreve. Depois que tiver
certeza de que seu texto está pronto, passe-o para a
folha oficial de redação.

7º NÃO ESQUEÇA DA ESTRUTURA BASE!

Lembre-se sempre de que o seu texto deve ser cons-


truído respeitando a seguinte ordem: Introdução + de-
senvolvimento + conclusão.

Introdução: Aqui você apresentará o tema e contexto


da proposta de redação ao leitor. Além disso, dará as
suas primeiras percepções sobre o assunto.

Desenvolvimento: É a hora do show! Aqui você deverá


expor a sua argumentação e problematização sobre o
tema. Você precisa ser convicente, claro e apresentar
boas referências para convencer o leitor. Construa
uma tese, não esqueça de caprichar no uso do seu re-
pertório cultural!
Lembre-se: dois parágrafos é o suficiente para isso,
ok? Prefira aprofundar-se ao alongar-se no tema!
Conclusão: Aqui você encerrará com chave de ouro!
Agora que você já convenceu o leitor do problema,
precisa apresentar uma boa solução para toda esta
situação. Lembre-se de todas as dicas que demos
quando falamos sobre a competência V e seja deta-
lhista! Construa uma boa solução e atente-se: respei-
tar os direitos humanos é requisito obrigatório!

Extra: No Enem, não é obrigatório colocar


título na redação!

8º Fique atento ao que é pedido!

Você precisa analisar e mapear quais são os seus


pontos fortes e os que precisam ser melhorados.
Reescrevendo um tema é uma forma de aplicar
novos aprendizados, corrigir possíveis erros e
fixar o aprendizado. Tenha isso em mente!

9º RESPEITE AS REGRAS!

Número de linhas insuficiente ou em excesso, folha


oficial em branco, texto em idiomas que não seja o
português, hashtags, plágio, cópias dos textos motiva-
dores ou mesmo a falta de assinatura na folha podem
te render uma redação zerada. Não perca a sua prova
por detalhes tão simples, mas, importantes!
10º NÃO ESQUEÇA DE LEVAR A CANETA PRETA

Essa pode parecer uma dica muito boba e muito óbvia.


Mas, muita gente vai para o local de prova sem caneta
e perde bastante tempo procurando locais próximos
para comprar ou conseguir emprestado com alguém.
Não custa nada se prevenir com o básico para um dia
no qual você se preparou por um ano, né?

REDAÇÃO
REDAÇÕES

No Enem 2021, a proposta de redação foi


“Invisibilidade e registro civil: garantia de
acesso à cidadania no Brasil”. Apenas 22
candidatos conseguiram a nota máxima
nesta edição do exame. Separamos cinco
destes textos para que você possa visualizar
na prática todas as informações, estratégias
e dicas que demos ao longo deste PDF!
Fernanda Quaresma, 20 anos - Iguaracy (PE)

Em “Vidas secas”, obra literária do modernista Graciliano Ramos, Fabiano e sua


família vivem uma situação degradante marcada pela miséria. Na trama, os filhos
do protagonista não recebem nomes, sendo chamados apenas como o “mais
velho” e o “mais novo”, recurso usado pelo autor para evidenciar a desumanização
do indivíduo. Ao sair da ficção, sem desconsiderar o contexto histórico da obra,
nota-se que a problemática apresentada ainda percorre a atualidade: a não
garantia de cidadania pela invisibilidade da falta de registro civil. A partir desse
contexto, não se pode hesitar – é imprescindível compreender os impactos gera-
dos pela falta de identificação oficial da população.

Com efeito, é nítido que o deficitário registro civil repercute, sem dúvida, na persis-
tente falta de pertencimento como cidadão brasileiro. Isso acontece, porque,
como já estudado pelo historiador José Murilo de Carvalho, para que haja uma
cidadania completa no Brasil é necessária a coexistência dos direitos sociais, polí-
ticos e civis. Sob essa ótica, percebe-se que, quando o pilar civil não é garantido –
em outras palavras, a não efetivação do direito devido à falta do registro em cartó-
rio –, não é possível fazer com que a cidadania seja alcançada na sociedade.
Dessa forma, da mesma maneira que o “mais novo” e o “mais velho” de Graciliano
Ramos, quase 3 milhões de brasileiros continuam por ser invisibilizados: sem nome
oficial, sem reconhecimento pelo Estado e, por fim, sem a dignidade de um cida-
dão.

Além disso, a falta do sentimento de cidadania na população não registrada reflete,


também, na manutenção de uma sociedade historicamente excludente. Tal ques-
tão ocorre, pois, de acordo com a análise da antropóloga brasileira Lilia Schwarcz,
desde a Independência do Brasil, não há a formação de um ideal de coletividade –
ou seja, de uma “Nação” ao invés de, meramente, um “Estado”. Com isso, o caráter
de desigualdade social e exclusão do diferente se mantém, sobretudo, no que diz
respeito às pessoas que não tiveram acesso ao registro oficial, as quais, frequen-
temente, são obrigadas a lidar com situações humilhantes por parte do restante
da sociedade: das mais diversas discriminações até o fato de não poderem ter
qualquer outro documento se, antes, não tiverem sua identificação oficial.

Portanto, ao entender que a falta de cidadania gerada pela invisibilidade do não


registro está diretamente ligada à exclusão social, é tempo de combater esse
grave problema. Assim, cabe ao Poder Executivo Federal, mais especificamente o
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, ampliar o acesso aos car-
tórios de registro civil. Tal ação deverá ocorrer por meio da implantação de um Pro-
jeto Nacional de Incentivo à Identidade Civil, o qual irá articular, junto aos gestores
dos municípios brasileiros, campanhas, divulgadas pela mídia socialmente engaja-
da, que expliquem sobre a importância do registro oficial para garantia da cidada-
nia, além de instruções para realizar o processo, a fim de mitigar as desigualdades
geradas pela falta dessa documentação. Afinal, assim como os meninos em “Vidas
secas”, toda a população merece ter a garantia e o reconhecimento do seu nome
e identidade.
Giovanna Gamba Dias, 19 anos - Recife (PE)

Em sua obra “Os Retirantes”, o artista expressionista Cândido Portinari faz uma denúncia à
condição de desigualdade compartilhada por milhões de brasileiros, os quais, vulneráveis
socioeconomicamente, são invisibilizados enquanto cidadãos. A crítica de Portinari conti-
nua válida nos dias atuais, mesmo décadas após a pintura ter sido feita, como se pode
notar a partir do alto índice de brasileiros que não possuem registro civil de nascimento,
fator que os invisibiliza. Com base nesse viés, é fundamental discutir a principal razão para
a posse do documento promover a cidadania, bem como o principal entrave que impede
que tantas pessoas não se registrem.

Com efeito, nota-se que a importância da certidão de nascimento para a garantia da cida-
dania se relaciona à sua capacidade de proporcionar um sentimento de pertencimento. Tal
situação ocorre, porque, desde a formação do país, esse sentimento é escasso entre a
população, visto que, desde 1500, os países desenvolvidos se articularam para usufruir ao
máximo do que a colônia tinha a oferecer, visão ao lucro a todo custo, sem se preocupar
com a população que nela vivia ou com o desenvolvimento interno do país. Logo, assim
como estudado pelo historiador Caio Prado Júnior, formou-se um Estado de bases frágeis,
resultando em uma falta de um sentimento de identificação como brasileiro. Desse modo,
a posse de documentos, como a certidão de nascimento, funcione como uma espécie de
âncora para uma população com escasso sentimento de pertencimento, sendo identifica-
da como uma prova legal da sua condição enquanto cidadãos brasileiros.

Ademais, percebe-se que o principal entrave que impede que tantas pessoas no Brasil não
se registrem é o perfil da educação brasileira, a qual tem como objetivo formar a população
apenas como mão de obra. Isso acontece, porque, assim como teorizado pelo economista
José Murilo de Carvalho, observa-se a formação de uma “cidadania operária”, na qual a
população mais vulnerável socioeconomicamente não é estimulada a desenvolver um
pensamento crítico e é idealizada para ser explorada. Nota-se, então, que, devido a essa
disfunção no sistema educacional, essas pessoas não conhecem seus direitos como cida-
dãos, como o direito de possuir um documento de registro civil. Assim, a partir dessa edu-
cação falha, forme-se um ciclo de desigualdade, observada no fato de o país ocupar o 9º
lugar entre os países mais desiguais do mundo, segundo o IBGE, já que, assim como afirma-
do pelo sociólogo Florestan Fernandes, uma nação com acesso a uma educação de quali-
dade não sujeitaria seu povo a condições de precária cidadania, como a observada a partir
do alto número de pessoas sem registro no país.

Portanto, observa-se que a questão do alto índice de pessoas no Brasil sem certidão de
nascimento deve ser resolvida. Para isso, é necessário que o Ministério da Educação refor-
ce políticas de instrução da população acerca dos seus direitos. Tal ação deve ocorrer por
meio da criação de um Projeto Nacional de Acesso à Certidão, a qual irá promover, nas
escolas públicas de todos os 5570 municípios brasileiros, debates acerca da importância
do documento de registro civil para a preservação da cidadania, os quais irão acontecer
tanto extracurricularmente quanto nas aulas de sociologia. Isso deve ocorrer, a fim de
formar brasileiros que, cientes dos seus direitos, podem mudar o atual cenário de precária
cidadania e desigualdade.
Sarah Fernandes, 21 anos - São José dos Campos (SP)

Ser é ser percebido

O clássico da literatura infantil inglesa "Oliver Twist" aborda as vivências daqueles marginali-
zados durante a Era Vitoriana e a forma como eram considerados invisíveis por não perten-
cerem à lógica social. Essa percepção sobre uma parcela considerável da população dialo-
ga, analogamente, com a realidade atual de inúmeros brasileiros que não possuem acesso
aos seus direitos civis por não apresentarem os registros primários necessários à inserção
omo cidadãos no próprio país. Dessa forma, torna-se notório que a garantia aos principais
instrumentos de validação pessoal enfraquece problemáticas estruturais da totalidade
tupiniquim, pois a invisibilidade não só fortalece a marginalização, como também mantém
um ciclo de violações.

É nesse contexto que a máxima do Empirismo Radical "Ser é ser percebido" reforça a
urgência em ser considerado um cidadão, uma vez que a existência de um indivíduo diante
do Estado ocorre substancialmente a partir do registro da certidão de nascimento, ou seja,
esse é o meio de ser percebido como um agente social pela estrutura do país. Essa estru-
tura, segundo o antropólogo belga Claudé Levi-Strauss, representa o conjunto de padrões
sociais nos quais a relações interpessoais estão ancoradas e, desse modo, determina o
papel do sujeito na comunidade. Como o registro civil, para obter direitos no Brasil, é estru-
tural à lógica contemporânea, a individualidade só se faz presente por meio dos documen-
tos oficiais, o que promove, portanto, a invisibilidade daqueles que não os possuem.

Além disso, tal apagamento identitário mantém o agravamento da problemática presente


entre as gerações de forma cíclica, pois pais invisíveis geram filhos invisíveis ao país. Como
é preciso ser registrado para ter acesso aos princípios básicos para a manutenção da vida,
os quais, de acordo com a consolidação dos direitos civis durante o iluminismo francês,
são a propriedade, a liberdade e todos os aspectos que envolvem a vida, como educação
e saúde, a garantia de acesso à cidadania representa um caminho para a valorização indi-
vidual. Nesse cenário, a supressão da invisibilidade e, consequentemente, a percepção
pessoal pea totalidade brasileira marcam o início do avanço social no país e afasta, por fim,
da realidade analisada em "Oliver Twist", na qual as pessoas não eram reconhecidas como
seres humanos por não serem percebidas.

Há, portanto, a urgência de findar essa problemática notória na estrutura do Brasil. Cabe,
então, ao ministério da Família e dos Direitos Humanos, responsável pelo encabeçamento
da manutenção da seguridade social, promover, em parceria com prefeituras e subprefei-
turas, um aumento da eficácia de registro civil nos municípios. Essa ação irá ocorrer por
meio de campanhas, as quais promoverão a conscientização sobre o acesso aos direitos
civis, e documento da contratação de funcionários dos fóruns para agilizar o registro, prin-
cipalmente, das certidões de nascimento. Dessa maneira, haverá a diminuição da margina-
lização de uma parcela populacional, seja ativamente pela garantia de acesso à cidadania,
seja pelo rompimento do ciclo de invisibilidade.
Emanuelle Severino, 20 anos - Belo Horizonte (MG)

A cidadania, no contexto relativo à Grécia Antiga, era restrita aos homens aristocratas,
maiores de vinte e um anos, que participassem do sistema político de democracia direta
do período. Diferentemente dessa conjuntura, a Carta Magna do Estado brasileiro, vigente
na contemporaneidade, concede o título de cidadão do Brasil aos indivíduos nascidos em
território nacional, de modo que a oficialização dessa condição está atrelada ao registro
formal de nascimento. Nesse contexto, convém apresentar que, em virtude da ausência
dessa documentação, diversas pessoas passam a enfrentar um quadro de invisibilidade
frente à estrutura estatal e, com isso, são privadas da verdadeira cidadania no país.

Acerca dessa lógica, é necessário pontuar a dificuldade da parcela da população brasileira,


em situação de vulnerabilidade socioeconômica, no acesso ao procedimento de registro
civil. Sob esse viés, destaca-se que, segundo relatório de 2019 do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento, o Brasil é o último país mais desigual do mundo, condição
que implica a existência de indivíduos tupiniquins detentores de rendas extremamente
baixas, as quais, muitas vezes, não são suficientes para fornecer condições de vida dignas
a essas pessoas. A essa linha de raciocínio, os limitantes recursos financeiros podem
impossibilitar o deslocamento desses indivíduos até os cartórios, devido aos custos com
transporte e, por conseguinte, impedir a realização do registro. Assim, a acentuada desi-
gualdade social da nação dificulta a promoção da documentação pessoal, especialmente,
para as classes sociais menos abastadas.

Além disso, é importante relacionar a falta de documentos de nascimento com o senti-


mento de invisibilidade desenvolvido pelos indivíduos sem registro, tendo em vista a priva-
ção dos direitos sociais, civis e políticos desencadeada pela problemática pela problemáti-
ca discutida. Sob essa óptica, somente a partir da certidão de nascimento pode-se emitir
as carteiras de identidade e de trabalho, bem como o título de eleitor e o cadastro de
pessoa física. Nesse sentido, o acesso aos programas do governo, a exemplo do auxílio
emergencial - assistência financeira concedida durante a pandemia da Covid-19 -, à segu-
ridade social e ao exercício do voto dependem, diretamente, da existência do registro civil.
Portanto, a ausência da documentação formal torna parte da população invisível social-
mente, já que essas pessoas não podem beneficiar-se dos serviços e das garantias do
Estado Democrático de Direito brasileiro.

Diante do exposto, conclui-se que o registro civil é um aspecto intrínseco à cidadania no


Brasil. Por isso, o Governo Federal deverá propiciar a acessibilidade das populações mais
carentes, que sofrem com a falta de acesso à documentação, a esse tipo de serviço, por
meio da articulação de unidades móveis para os cartórios do país. No que tange a esse
aspecto, os veículos adaptados transportarão os funcionários dos órgãos de registros até
as áreas de menor renda "per capita" de seus respectivos municípios, um dia por semana,
com o intuito de realizar o procedimento formal de emissão dos documentos de nascimen-
to dos grupos sociais menos favorecidos economicamente. Desse modo, um maior número
de brasileiros acessará, efetivamente, a condição de cidadão.
Iasmin Ferreira, 21 anos - Niterói (RJ)

O conceito "Cidadanias Mutiladas", do geógrafo brasileiro Milton Santos, explicita que a


democracia só é efetiva quando atinge a totalidade do corpo social. A partir dessa pers-
pectiva, é possível observar que a realidade contemporânea brasileira se distancia desse
ideal democrático, uma vez que inúmeros indivíduos ainda permanecem em uma situação
de invisibilidade acarretada pela ausência do registro civil - o qual atua como uma ferra-
menta de garantia de acesso à cidadania no país. Desse modo, é essencial analisar os
principais propulsores desse contexto hostil: o descaso governamental e a falha educacio-
nal.

Sob esse viés analítico, é importante destacar, a princípio, que a inoperância é um fator
preponderante para a ocorrência dessa problemática. Esse cenário decorre do fato de
que, assim como pontuou o economista norte-americano Murray Rothbard, uma parcela
dos representantes governamentais, ao se orientar por um viés individualista e visar um
retorno imediato de capital político, negligencia a conservação de direitos sociais indispen-
sáveis, como a garantia de registro civil. Em decorrência dessa indiligência do poder públi-
co, cria-se um ambiente propício para a precarização infraestrutural de locais especializa-
dos no aporte de documentação pessoal - materializada na carência de cartórios, sobre-
tudo, em regiões mais afastadas dos centros urbanos. Logo, é notório que a omissão do
Estado perpetua o deficitário acesso à cidadania.

Além disso, é válido ressaltar que a lacuna no sistema de educação potencializa essa con-
juntura. Isso acontece porque, desde o século XX, com a implementação de um formato
tradicionalista de ensino pelo ex-presidente Vargas, cristalizou-se um modelo educacional
que negligencia o aprendizado de temas transversais, a exemplo de concepções básicas
da cidadania. Nessa perspectiva, com o desconhecimento de parte da população - oriun-
do da escassez instrutiva - sobre a relevância da garantia de direitos, há uma invisibilização
da situação sofrida pelas pessoas que não possuem documentos basilares, como a certi-
dão de nascimento. Como consequência disso, mantém-se o quadro de ausência de
ações sociais efetivas no que tange à reversão desse contexto, fragilizando, com isso, a
isonomia presente nas relações democráticas. Dessa forma, é imprescindível combater a
falha do processo educacional, visto que marginaliza uma classe da sociedade.

É evidente, portanto, a necessidade de medidas que solucionem os desafios impostos à


garantia de acesso à cidadania no Brasil. Por isso, o Ministério Público - órgão responsável
pela defesa dos interesses sociais - deve, por meio da fiscalização da aplicação dos pode-
res estatais, pressionar o Estado no que se refere ao aporte de infraestrutura ao setor que
oferta o registro civil, a fim de que a retirada desse documento seja ampliada para as diver-
sas regiões do país. Ademais, as instituições escolares públicas e privadas devem, por
intermédio de palestras, instruir os alunos acerca da importância da documentação pes-
soal, com o objetivo de minimizar a invisibilização desse tema, e, com isso, estimular atitu-
des combativas à conjuntura de indivíduos sem registro. Assim, o ideal do geógrafo Milton
Santos será, de fato, uma realidade no país.
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Proposta de Redação: _______________________________________

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