Aula3-Calculo de Incerteza

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Anexo II

Cálculo de Incerteza de
Medição

Vamos conhecer, agora, um pouco mais sobre o


cálculo da incerteza da medição. Além do que já estudou na aula
Conceitos Técnicos da Metrologia, serão apresentadas outras
formas para se estimar incertezas, o conceito de incerteza-pa-
drão e exemplos do cálculo básico de incerteza. Vamos lá?

Outros conhecimentos necessários para


o cálculo da incerteza

Para calcularmos a incerteza de medição, primeiramente


devemos identificar suas fontes e estimar a incerteza de cada
uma delas. Depois, as incertezas individuais devem ser combina-
das, fornecendo-nos um único valor global. Existem regras para
estimarmos a contribuição de cada incerteza e regras para com-
biná-las, conforme veremos a seguir.

1. As duas formas de estimar incertezas


Há duas abordagens na estimativa da incerteza de medição:
tipo A e tipo B. Na maioria das situações, ambas são necessárias.

Incerteza do tipo A – incerteza estimada a partir da


distribuição estatística dos valores provenientes de repeti-
das medições.

Incerteza do tipo B – incerteza estimada de outra forma


que não a estatística. Pode ser baseada na experiência de
experimentos passados em certificados de calibração, em
especificações de fabricantes, em informações de publi-
cações científicas, entre outros.

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2. Incerteza-padrão
Todas as contribuições de incerteza devem ser expressas com a mesma
probabilidade de abrangência. Para tal, necessitamos convertê-las em incer-
tezas-padrão. A incerteza-padrão é

o intervalo cujo tamanho pode ser pensado como mais ou menos


um desvio-padrão. Normalmente, a incerteza-padrão é represen-
tada pela letra u ou u(y) (incerteza-padrão para y).

2.1 Incerteza-padrão do Tipo A


Quando coletamos várias leituras repetidas, podemos calcular a média
aritmética e o desvio-padrão do conjunto dado. De posse desses parâmetros,
calculamos a incerteza-padrão u a partir da equação 1:

s
u= (1)
n

Onde n é o número de leituras.

2.2 Incerteza-padrão do Tipo B


Quando a informação é mais escassa (em algumas estimativas do tipo B),
provavelmente só seremos capazes de estimar os limites inferior e superior da
incerteza. Teremos, então, que assumir que determinado valor tem a mesma
probabilidade de estar em qualquer lugar entre os dois extremos, isto é, que
ele pertence a uma distribuição retangular ou uniforme. A incerteza-padrão
para uma distribuição retangular é calculada através da equação 2:

a
u
retangular = (2)
3

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Onde a é metade da largura do intervalo entre os limites inferior e
superior.

Distribuições retangulares ou uniformes ocorrem muito comumente, mas


não estamos impedidos de utilizar alguma outra distribuição, se tivermos um
bom motivo para isso.

2.3 Conversão de unidades


As contribuições de incerteza devem ser expressas nas mesmas unidades
antes de elas serem combinadas.
Se medirmos um comprimento, por exemplo, a incerteza da medição
deve ser declarada em unidades de comprimento. Contudo, uma fonte de
incerteza pode ser a variação da temperatura do ambiente. Embora a fonte
dessa incerteza seja a temperatura, seu efeito se dará em termos de compri-
mento e, por isso, ela deve ser contabilizada em uma unidade de comprimen-
to.
Como, ao ser medido, o objeto se expande 0,1% em comprimento por grau
de aumento de temperatura, uma incerteza de temperatura de ± 2 °C refletiria
em uma incerteza no comprimento de ± 0,2 cm, supondo um objeto de 100
cm de comprimento.
Uma vez que as incertezas-padrão estão em unidades compatíveis entre
si, a incerteza combinada pode ser encontrada, como veremos a seguir.

2.4 Combinação de incertezas-padrão


Incertezas-padrão, sejam elas do tipo A ou do tipo B, podem ser combi-
nadas através de soma quadrática. O resultado dessa soma quadrática é a
incerteza-padrão combinada, uc ou uc (y).

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2.4.1 – Soma quadrática para adição ou subtração
Devemos utilizar a soma quadrática quando o resultado que buscamos
é obtido através da adição ou da subtração de uma série de valores medidos.
Por exemplo, se quisermos saber qual é o comprimento de uma cerca consti-
tuída por ripas de madeira de diferentes larguras. Considerando que a incerte-
za-padrão (em metros) de cada ripa que constitui a cerca seja a, b, c, etc., então
a incerteza-padrão combinada do comprimento da cerca será encontrada
através da equação 3:

uc = a ² + b² + c ² + ...etc. (3)

2.4.2 – Soma quadrática para multiplicação ou divisão


Nesse caso, é conveniente trabalharmos em termos de incertezas relati-
vas ou fracionárias, para simplificação dos cálculos. Como exemplo, podemos
citar o cálculo da área A de um tapete retangular, através da multiplicação das
suas dimensões largura e comprimento. A incerteza relativa ou fracionária da
área do tapete pode ser calculada a partir das incertezas fracionárias da largu-
ra e do comprimento. Para um comprimento L1 com uma incerteza u(L1), a
incerteza relativa é u(L1)/L1. Para uma largura L2, a incerteza relativa é u(L2)/L2.
Dessa forma, a incerteza relativa u(A)/A da área é dada pela equação 4:

2 2
u ( A)  u ( L1)   u ( L 2)  (4)
=   +  
A  ( L1)   ( L 2 ) 

Para um caso em que o resultado tenha que ser determinado multipli-


cando três fatores, a equação 5 teria três termos sendo somados dentro da
raiz; se fossem quatro fatores para multiplicar, seriam quatro termos dentro da
raiz, e assim sucessivamente. A equação 5 também pode ser utilizada, exata-
mente da mesma forma, para casos em que o resultado final da medição é
um quociente de dois valores, ou seja, um número dividido pelo outro.

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2.4.3 – Soma quadrática para outras operações
Quando tivermos que elevar ao quadrado (por exemplo, Z2) um valor para
o cálculo do resultado final de uma medição, a incerteza relativa desse valor
terá a seguinte forma:

2u ( Z ) (5)
Z

E quando uma raiz quadrada (por exemplo, √Z) fizer parte do cálculo de
um resultado, então a incerteza relativa desse valor terá a seguinte forma:

u(Z )
(6)
2Z

Obviamente, para chegar ao resultado que buscamos, muitas vezes te-


mos que utilizar fórmulas que envolvem combinações de adição, subtração,
multiplicação, divisão, etc. Um exemplo é o cálculo da potência elétrica P, que
utiliza dados obtidos de medições da resistência elétrica R e da tensão V, con-
forme a equação 7:


P= (7)
R

Nesse caso, a incerteza relativa u(P)/P é dada por:

2 2
u ( P)  2u (V )   u ( R ) 
=   +   (8)
P  (V )   ( R ) 

De forma geral, para cálculos em diversas etapas, o processo de combi-


nação de incertezas-padrão de forma quadrática também pode ser realizado
em várias etapas, aplicando-se as regras apresentadas para cada operação
matemática. Entretanto, a combinação de incertezas-padrão para fórmulas
mais complexas foge aos objetivos deste curso.

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2.4.4 – Correlação
As equações que aprendemos para o cálculo da incerteza-padrão combi-
nada apenas podem ser utilizadas se as incertezas-padrão de entrada não esti-
verem relacionadas entre si ou correlacionadas. Isso significa que é sempre
importante nos perguntarmos se todas as contribuições da incerteza são inde-
pendentes entre si.
Um grande erro em uma grandeza de entrada poderia causar um gran-
de erro em outra?
Alguma influência externa, como a temperatura, poderia ter um efeito
semelhante em vários componentes da incerteza de uma vez só?
Erros individuais frequentemente são independentes, mas, se eles não
forem, cálculos adicionais, que não serão abordados neste curso, são
necessários.

2.5 Incerteza expandida


Como vimos, a probabilidade de abrangência para a incerteza-padrão
combinada é de um desvio-padrão. Contudo, pode ser que queiramos ou que
necessitemos declarar a incerteza para outra probabilidade de abrangência.
Essa mudança de intervalo de abrangência pode ser feita utilizando o fator de
abrangência k. Multiplicar a incerteza-padrão combinada uc por um fator de
abrangência k resulta no que chamamos de incerteza expandida U, isto é:

u = k .uc (9)

Normalmente, a incerteza expandida é calculada para k = 2, o que signifi-


ca uma probabilidade de abrangência de 95,4 % (considerando que a incerte-
za-padrão combinada siga uma distribuição normal de probabilidade). Se k =
3, considerando uma distribuição normal, a probabilidade de abrangência é
de 99,7 %.

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Outras distribuições de probabilidade, menos comuns, apre-
sentarão diferentes fatores de abrangência.
É importante observar que, sempre que soubermos o valor de uma in-
certeza expandida e do seu fator de abrangência, podemos encontrar o valor
da incerteza-padrão combinada aplicando a equação 9, dividindo a incerteza
expandida pelo fator de abrangência.

2.6 Expressão da resposta final


É importante expressar a resposta final de forma que o interessado pos-
sa efetivamente utilizar as informações. As principais informações a declarar
são:
I. O resultado da medição e sua incerteza. Por exemplo: O compri-
mento da barra é 20 cm ± 1 cm.
II. O fator de abrangência e a probabilidade de abrangência. Por
exemplo: A incerteza declarada baseia-se em uma incerteza-padrão,
multiplicada pelo fator de abrangência k = 2, para uma probabilidade
de abrangência de aproximadamente 95%.
III. Como a incerteza foi estimada. Por exemplo: podemos fazer
referência a uma publicação na qual o método esteja descrito.

3. Cálculo Básico da Incerteza


A seguir, será apresentado um exemplo de cálculo de incerteza. Ele não
é 100% realista, pois o objetivo é que seja simples e claro o suficiente para ilus-
trar o método.

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3.1 A medição: qual o comprimento da corda?
Figura 1 – Medindo o comprimento de uma corda

Fonte: Inmetro

Passo 1: Temos que decidir quais medições e cálculos são necessários


para produzir o resultado final. Efetuaremos a medição do comprimento utili-
zando uma trena. Além do comprimento medido com a trena, é possível que
tenhamos que considerar:
a) Possíveis erros devido à trena:

Ela necessita alguma correção? Qual é a incerteza da calibração?


Ela pode deformar-se?
O uso da trena pode tê-la encurtado? Quanto deve ter mudado o seu
comprimento desde a última calibração?
Qual é a sua resolução?
b) Possíveis erros devido à corda:
A corda permanece reta? Ela está muito ou pouco esticada?
A temperatura e/ou umidade (ou qualquer outra variável) influen-
cia/influenciam no comprimento?
As pontas da corda são bem definidas ou esfiapadas?

c) Possíveis erros devido tanto ao processo de medição quanto à pessoa


que faz a medição:
Quão bem é possível alinhar a ponta da corda com a ponta da trena?
É possível alinhar bem paralelamente a trena com a corda?
A medição é repetitiva?

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Passo 2: Medimos a corda dez vezes e anotamos todos os valores de com-
primento obtidos. Vamos supor que a média aritmética e o desvio-padrão das
dez medidas sejam, respectivamente, 5,017 m e 0,0021 m (2,1 mm). Também é
importante que registremos:

Quando as medidas foram realizadas?


Como as medidas foram realizadas? Por exemplo, se foram efetuadas
horizontal ou verticalmente, detalhes de como realizamos o alinha-
mento da trena e da corda, etc.
Qual trena foi utilizada?
Condições ambientais (se acharmos que elas podem afetar os resulta-
dos).
Qualquer outra informação que julguemos relevante.

Passo 3: Devemos olhar para todas as fontes de incerteza possíveis e esti-


mar o valor de cada uma delas. Supomos que, nesse caso:
I. A trena foi calibrada e não necessita de nenhuma correção. A incerteza
declarada no seu certificado de calibração é 0,1% do valor lido, consideran-
do um fator de abrangência k = 2 (para uma distribuição normal). Nesse
caso, 0,1 % de 5,017 m é próximo a 5 mm. Dividindo por 2, temos que a
incerteza-padrão (para k = 1) é u = 2,5 mm.
II. A divisão da trena é 1 mm, o que faz com que possamos esperar, na leitu-
ra, um erro não superior a ± 0,5 mm. Além disso, podemos considerar uma
incerteza uniformemente distribuída (os valores medidos podem estar
em qualquer lugar dentro de um intervalo de 1 mm). Para encontrar a
incerteza-padrão, dividimos metade da divisão por 2, o que resulta em,
aproximadamente, u = 0,3 mm.
III. A trena permanece bem reta, esticada, mas vamos supor que a corda
inevitavelmente apresente algumas pequenas irregularidades, não
podendo ficar bem esticada. Dessa forma, a medição provavelmente vai
subestimar o comprimento real da corda. Vamos “chutar” que o valor
medido seja então cerca de 0,2% menor do que o real e que a incerteza de
fazer esse “chute” também seja, no máximo, 0,2%.

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Isso significa que podemos corrigir o resultado somando 0,2% (cerca de
10 mm). Como não temos informações, podemos assumir que a incerte-
za seja distribuída uniformemente. Dividindo metade do intervalo da
incerteza (10 mm) por 2, teremos uma incerteza-padrão u = 5,8 mm.

As estimativas de incerteza, que vimos até agora, são todas do tipo B. A


seguir, veremos uma estimativa do tipo A.
IV. O desvio-padrão nos informa sobre a repetitividade da medição em
si. Vamos supor que, através da equação 1, encontramos s = 2,1 mm.
Dessa forma, calculamos a incerteza como segue:

s 2,1
u= = = 0, 7mm
n 10

Consideraremos que nenhuma outra incerteza necessita ser contabiliza-


da nesse exemplo.
Passo 4: Decidimos se as fontes de incerteza listadas são independentes
entre si. Para esse exemplo, vamos dizer que elas são todas independentes.
Caso elas não fossem, é importante lembrar que cálculos adicionais seriam
necessários.
Passo 5: Calculamos o resultado da nossa medição, incluindo as cor-
reções conhecidas. Nesse caso, o resultado é obtido da média das leituras e da
correção para o fato de a corda não permanecer bem reta, esticada, durante a
medição, ou seja:

5, 017 m + 0, 010m = 5, 027 m

Passo 6: Vamos calcular a incerteza-padrão combinada. Como o único


cálculo necessário para encontrarmos o resultado foi a adição de uma cor-
reção, então devemos utilizar a equação 4 para encontrar o que procuramos:

uc = 2,5² + 0,3² + 5,8² + 0, 7² = 6, 4mm

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Passo 7: Agora podemos calcular a incerteza expandida. Para um fator
de abrangência k = 2, basta multiplicar o valor da incerteza-padrão combinada
(calculada no passo 6) por 2, em conformidade com a equação 10, para uma
probabilidade de abrangência de 95%:

U = 2 x6, 4 = 12,8mm = 0, 0128m

Passo 8: Veremos agora o resultado da medição, a incerteza e a forma


como ambos foram encontrados:
O comprimento da corda é 5,027 m ± 0,013 m. A incerteza expandida foi
calculada multiplicando a incerteza-padrão combinada pelo fator de
abrangência k = 2, para uma probabilidade de abrangência de aproximada-
mente 95%.
A incerteza foi estimada de acordo com o método da aula sobre incerte-
za de medição.

3.2 Análise da Incerteza – Tabela


Com o objetivo de ajudar no processo de cálculo, resumiremos a análise
de incerteza em uma tabela, como será mostrado a seguir.
Tabela 1 – Análise da incerteza

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