Trabalho de Conclusão de Curso

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FACULDADE DA REGIÃO SERRANA - FARESE

NEUROPSICOLOGIA

LEANDE CRISTHINE SILVA SANTOS

A NEUROLOGIA DO COMPORTAMENTO CRIMINOSO: IMPLICAÇÕES


PARA A NEUROPSICOLOGIA FORENSE

IPIAÚ – BA
2021
A NEUROLOGIA DO COMPORTAMENTO CRIMINOSO: IMPLICAÇÕES PARA A
NEUROPSICOLOGIA FORENSE

Autor1, Leande Cristhine Silva Santos

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO- Na tentativa de exercer um maior controle sobre o fenômeno da violência e da criminalidade


na sociedade, a Justiça atua principalmente objetivando a punição dos criminosos, entretanto, é
necessária uma integração de conhecimentos e ações pela garantia de medidas e estratégias de
segurança mais eficientes. A Neuropsicologia, em interface com o Direito, tem contribuído para que se
tenha uma melhor compreensão acerca do comportamento criminoso, oferecendo um estudo mais
aprofundado do crime, uma vez que as recentes descobertas da neurociência tem produzido reflexos nos
mais variados campos científicos, especialmente, no que se refere ao comportamento humano. Este
trabalho tem como objetivo central analisar a importância dos estudos neuropsicológicos aplicados aos
conhecimentos forenses, tencionando os fatores biopsicossociais associados ao comportamento violento,
mais especificado nos casos de psicopatia. E como objetivos específicos, compreender as possíveis
causas biopsicossociais da conduta disfuncional de indivíduos em conflito com a lei, descrever os
aspectos neurológicos do Transtorno de Personalidade Antissocial e psicopatia, e reconhecer a
importância da atuação do neuropsicólogo forense nos processos judiciais. O método aplicado refere-se
ao levantamento bibliográfico de maneira exploratória e sistemática, sendo divididos os resultados
encontrados em 2 categorias: (1) Transtorno de Personalidade Antissocial e Psicopatia: aspectos
neurológios; (2) A relevância da avaliação neuropsicológica forense. Ressalta-se a preparação e
qualificação do neuropsicólogo forense em suas atuações, buscando fornecer subsídios cada vez mais
precisos para a compreensão da mente e do comportamento criminoso.

PALAVRAS-CHAVE: Criminologia. Neurocriminologia. Neuropsicologia forense. Psicopatia.

1
[email protected]
INTRODUÇÃO

Sabemos que a violência é considerada um grande problema social global que


acompanha por séculos a história humana, sendo encontrada em todas as sociedades.
E no nosso país, acompanha-se ao longo dos anos, fatos de extrema barbárie,
execuções e extermínios que nos confirmam que, apesar de vivermos em uma nação
regida por leis, carecemos de intervenções assertivas no que tange ao comportamento
violento. As buscas rigorosas por estratégias punitivas, de controle e vigilância, não só
tem se mostrado ineficazes no combate ao crime e à violência, como também acabam
transformando os cidadãos em reféns das próprias leis criadas.
Para que se tenha uma melhor compreensão acerca do comportamento
criminoso, a criminologia e a neurocriminologia trabalham com a finalidade de contribuir
para um estudo mais aprofundado do crime, uma vez que as recentes descobertas da
neurociência tem produzido reflexos nos mais variados campos científicos,
especialmente, no que se refere ao comportamento humano.
Destarte, podemos fazer o seguinte questionamento: “Quais as contribuições que
a neuropsicologia forense pode oferecer na construção de uma perspectiva etiológica
do comportamento violento?” E a partir daí, surgem algumas possíveis respostas.
É certo que a neurocriminologia não poderá trazer todas as respostas, muito
menos a resposta absoluta para os problemas concernentes à violência em nossa
realidade contemporânea. Contudo, o seu crescimento pode ser encarado como um
potencial estímulo de repensar a Criminologia, possibilitando uma maior abertura e
interação com outros saberes. Melhor dizendo, a neuropsicologia forense pode sim
contribuir para a ampliação das nossas perspectivas quanto aos novos caminhos da
criminologia.
O presente artigo tem como objetivo geral analisar a relevante importância dos
estudos neuropsicológicos aplicados aos conhecimentos forenses, tencionando os
fatores biopsicossociais associados ao comportamento violento, e as possíveis
intervenções do Sistema de Justiça, mais especificado nos casos de psicopatia. Para
realizar esse estudo, são enfatizados como objetivos específicos, inicialmente,
compreender as possíveis causas biopsicossociais da conduta disfuncional de
indivíduos em conflito com a lei; posteriormente, descrever os aspectos neurológicos do
Transtorno de Personalidade Antissocial e psicopatia; e, por fim, reconhecer a
importância da atuação do neuropsicólogo forense no processo judicial.
Considera-se que a interdisciplinaridade entre a Neuropsicologia e o Direito faz-
se necessária e fundamental, partindo de um sentido da Psicologia de humanizar a
justiça, interagindo através de suas contribuições complementares para que haja uma
melhor compreensão dos casos e estratégias mais eficazes de medidas punitivas.
Diante isso, a atuação do neuropsicólogo forense vem sendo cada vez mais solicitada
pelas autoridades jurídicas, objetivando avaliar os processos em julgamento de forma
mais precisa.
Para obtenção dos resultados foram realizadas pesquisas bibliográficas atinentes
ao tema, tanto na área jurídica, quanto na área da Psicologia, envolvendo materiais
publicados nacionalmente, disponíveis online em texto completo, incluindo
dissertações, teses, monografias e livros. Artigos científicos sobre a temática foram
acessados nas bases de dados Scielo, Pepsic e Google Acadêmico, publicados nos
últimos 10 anos (2010 a 2020).
Após a seleção, foi realizada a análise e interpretação de dados para organizar
todas as informações necessárias para a consecução dos resultados e discussões. O
início das pesquisas se deu a partir de novembro de 2020, sendo finalizada a
construção do trabalho em fevereiro de 2021.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A VIOLÊNCIA E SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE

As discussões sobre as diferentes definições de violência ao longo dos anos,


trouxeram novos elementos, concepções e interpretações para o debate. Como reforça
Arblaster (1996, p. 803), “conceitualizar violência é adentrarmos em um campo amplo e
controverso”, uma vez que esse fenômeno sempre desempenhou um expressivo papel
na sociedade.
Segundo Almeida (2018), a violência, se tratando de um fenômeno inerente à
natureza humana, não pode ser desprendida da condição do indivíduo e nem tratada
fora da sociedade, visto que tal fenômeno é pertencente da vida social, podendo ser
resultante das relações, da comunicação e dos conflitos de poder. E o que acaba
reforçando este argumento é o fato de nunca ter existido uma sociedade sem violência.
Embora a violência seja própria da condição humana, “[...] também não se pode
deixar de investigar o conjunto de valores que estão associados a certas formas de
violência em sociedades específicas” (DA MATTA, 1982, p. 12). Desta forma, torna-se
necessário ponderar o que os indivíduos e a sociedade representam como violência,
pois esse fator pode vir a interferir em tal realidade, fomentando a necessidade de um
olhar mais analítico e estratégico no que tange às interrogações sobre as relações
objetividade–subjetividade como participantes da definição do fenômeno violência.
Em seu informe mundial sobre la violência y la salud (2003 p.148), A
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), reconhece a violência como um
problema de saúde pública e que exige uma abordagem coletiva de intervenção. Essa
abordagem integra setores como a saúde, educação, serviços sociais, justiça e política
(p.149). Nessa perspectiva, a autora Ruth Gauer (1999), junto com outros
pesquisadores, acentua que o comportamento agressivo se configura como um
problema bastante significativo da sociedade contemporânea, “provocando impactos
sociais, psicológicos e econômicos”.
Para que se tenha uma breve noção da dimensão desse problema, dados
publicados no Informe Mundial sobre Violência e Saúde, da Organização Mundial de
Saúde (OMS) pelas pesquisadoras Linda Dahlberg e Etienne Krug (2007), trazem uma
estimativa de que, além de a violência ser uma das principais causadoras da morte de
pessoas na faixa entre os 15 e 44 anos de idade no mundo todo, ela também
corresponde a um custo bilionário para a saúde e a economia dos países. Esse custo
acaba sendo refletido tanto em despesas diretas com tratamento médico e internação
hospitalar, como também indiretas, por faltas no trabalho ou pela aplicação das próprias
leis.

2.2 CRIMINOLOGIA E NEUROCRIMINOLOGIA: O ESTUDO DO CRIME


Tendo em vista o aumento da criminalidade na sociedade atual, tem se tornado
cada vez mais notória a produção de uma grande sensação de medo e insegurança
que atinge não somente o individual, mas o coletivo de uma comunidade. Em
decorrência disso, visando uma forma de tentar controlar a arbitrariedade do poder
responsável pela implementação das referidas medidas, a criminologia vem sendo cada
vez mais necessária em constante contato com a dogmática penal e com a política
criminal, uma vez que se dispõe a entender o fenômeno delitivo e tudo o que a ele se
relaciona (SANNA, 2013).
Vale destacar que qualquer observação conceitual sobre a criminologia irá se
esbarrar nas diversas e diferentes perspectivas presentes nas ciências humanas,
portanto, é necessária a compreensão de que a definição acerca dessa ciência será
intimamente relacionada com a ótica sob a qual ela está sendo observada, não
desconsiderando a ideia comum relativa às ciências criminológicas (SHECAIRA, 2004).
Molina (1999), conceitua a Criminologia como uma ciência que, baseada na
experiência interdisciplinar, se toma da disciplina do crime, da pessoa do transgressor,
da vítima e do domínio social da conduta delitiva, objetivando estabelecer uma
comunicação verdadeira sobre a gênese do delito, considerando-o como problema
particular e social, bem como sobre os planejamentos preventivos e as técnicas de
intervenção positiva no indivíduo delinquente e nos múltiplos modelos ou sistemas de
revide o delito.
Guimarães (2017) destaca que enquanto para o direito penal, o crime está ligado
diretamente ao conceito de ação ou omissão típica, ilícita e culpável, para a sociologia
ele é definido como um desvio de conduta de grande reprovabilidade. A criminologia, no
que lhe concerne, não se satisfaz apenas com a definição jurídica e sociológica, sendo
o seu entendimento, então, mais abrangente, pois considera que o crime é um
problema social e comunitário.
Paralelamente, adota-se a terminologia Neurocriminologia para fazer menção ao
conjunto de especulações sobre o cérebro de um criminoso, ou sobre a mente
criminosa, acompanhando o processo de “cerebralização” em que nossa cultura está
inserida. A neurocriminologia seria pertencente ao campo maior da Criminologia, se
inter-relacionando, por sua vez, com o neurodireito, o qual também inclui várias outras
disciplinas relacionadas à medicina e a estratégias sociais, éticas e políticas de controle
(AUGUSTO, 2010).
Alves e Silva (2019), descrevem a Neurocriminologia como um novo campo de
estudo que busca analisar o comportamento violento e os fatores influenciadores, bem
como o lugar em que todos os fenômenos do crime se originam: o cérebro humano. Ela
se destaca por ser uma forma de explicar a crueldade de crimes, diante de alto grau de
desumanidade no modus operandi, fazendo grande parte da sociedade se questionar
quanto aos motivos que acabam levando o criminoso a deixar de lado qualquer
resquício de empatia e agir de modo tão sádico com outro ser humano.
Os autores ainda frisam que a neurocriminologia busca realizar uma análise
comportamental do indivíduo psicopata, sociopata ou portadores de distúrbios mentais
específicos, baseando-se em fatores sociais e biológicos, a fim de constatar transtornos
de personalidade e suas origens. Ademais, os casos quando detectados cedo em
crianças e adolescentes, deverão ser tratados de maneira especial, devendo ser
analisado o nível do suposto transtorno mental e sendo iniciado de imediato o
tratamento correspondente, contribuindo a uma futura prevenção ao comportamento
violento e condutas criminosas (ALVES E SILVA, 2019).

2.3 ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS DA CONDUTA VIOLENTA

O Transtorno de Conduta (TC) pode ser manifestado desde a infância e


adolescência, através de comportamentos incendiários, roubos, crises de birra,
desobediência frequentes e outros comportamentos graves, dando seguimento no
decorrer da vida adulta. Esse transtorno corresponde a um conjunto de
comportamentos em uma conduta repetitiva de agressividade que acabam infringindo
as normas sociais, colocando em ameaça a sua vida e a de terceiros (BARBIERI;
MISHIMA; SELAN, 2013).
A agressividade é uma das condutas visíveis da personalidade de indivíduos no
envolvimento de atos infracionais, e a partir disso, Narvaes (2013) destaca que,
biologicamente falando, os três neurotransmissores (testosterona, serotonina e cortisol)
apresentam uma grande relação com a conduta agressiva. Normalmente, esses
neurotransmissores são inibidores da agressividade, estão associados uns com os
outros, agindo em diversas partes do corpo, mas quando seus níveis estão elevados,
levam o indivíduo à um estado de fúria, provocando uma explosão de comportamentos
agressivos.
Já Pesce (2009), considera o fator ambiental, mais precisamente o ambiente
familiar, como uma variável significativa e influente na modulação do comportamento
desde a infância, pois, quando a criança é constantemente exposta a um ambiente
violento, tal fator será condicionante para a evolução de problemas comportamentais.
Ademais, Moreira et al. (2009) expõe que a cultura é o maior fator ambiental que
influencia em uma conduta violenta, afirmando que a violência sempre foi presente na
civilização, principalmente na cultura brasileira. O autor ainda acrescenta que as leis
são os exemplos mais explícitos da violência cultural, uma vez que esta é a força da
comunidade que está sempre pronta para atingir aqueles indivíduos que não a
respeitam.
Em suma, observa-se que a falta de atenção e cuidados no ambiente social do
indivíduo, pode vir a apresentar consequências desagradáveis que tendem a se agravar
no decorrer do desenvolvimento e fomentar o surgimento de futuros perfis delinquentes,
levando em conta que o transtorno de conduta pode futuramente ser diagnosticado
como um transtorno antissocial, caso ocorra um fracasso na interação do indivíduo com
o meio social em que está inserido (PACHECO et al. 2005).

3. DISCUSSÕES
Como procedência dos artigos lidos e utilizados, foi possível dividir os resultados
encontrados em 2 categorias.

Categoria1:

 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL E PSICOPATIA:


ASPECTOS NEUROLÓGICOS
Especialmente na essência do transtorno de conduta, são identificados o
envolvimento em atividades perigosas e até mesmo ilegais, e a tendência para
apresentar comportamentos incômodos e perturbadores ao ambiente. Esses
comportamentos se caracterizam por causar mais impacto aos demais do que ao
próprio indivíduo, o qual não demonstra nenhum sinal de empatia, sofrimento psíquico
ou constrangimento com as próprias atitudes (Earls, 1994).
Segundo Soeiro e Gonçalves (2010), a definição de antissocial foi utilizada para
se referir às características de comportamento associadas à psicopatia. Baseando-se
em Partridge (1930), Soeiro e Gonçalves (2010) mencionam o Transtorno de
Personalidade Antissocial (TPAS) como a “incapacidade ou falta de vontade de alguns
sujeitos para se sujeitarem às leis da sociedade”.
Em alguns estudos a psicopatia pode ser apontada como um quadro mais amplo
do TPAS, com uma considerável sobreposição dos dois transtornos. Logo, a psicopatia
não pode ser vista como um sinônimo do Transtorno de Personalidade Antissocial, mas
como uma patologia mais ampla e grave, como um desdobramento do mesmo quadro
nosológico (GAUER & LÜHRING, 2013).
Com efeito, o nome de constituição psicopática é atribuído a um desequilíbrio
psíquico degenerativo, peculiar, de grau e que apresenta um tom de anormalidade à
personalidade. Diante dessa anormalidade, os psicopatas na maioria das vezes
acabam agindo por instintos, com mentiras desenfreadas, ausência de culpa ou
remorso, insensibilidade afetiva, além de agirem em desacordo com a moral e os bons
costumes (SANTOS E GANEM, 2012).
Conforme o Código Internacional de Doenças – CID, os principais atributos deste
tipo de transtorno, código nomeado como Transtorno da Personalidade Dissocial,
sinônimo de psicopatia e transtorno da personalidade antissocial, são:
Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das
obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há um desvio
considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas.
O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências
adversas, inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à
frustação e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da
violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer
racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o
sujeito a entrar em conflito com a sociedade.
É necessário enfatizar-se que não se pode afirmar que todo criminoso seja
psicopata, ou que todo psicopata seja criminoso. No entanto, o que devemos ter em
mente é que as anormalidades na formação da personalidade do indivíduo podem
acabar determinando nele a atividade de atos juridicamente repudiados, sem
comprometer-se, necessariamente, numa relação de causa e efeito entre os dois fatos,
e que a ausência de qualquer escrúpulo e a habilidade para manipular e enganar suas
vítimas transformam os portadores do distúrbio em criminosos especialmente perigosos
(CARVALHO E SUECKER, 2011).
Hare (1934, apud, SILVA, 2015) destaca que os psicopatas possuem uma forte
tendência para o crime, ligando essa informação ao fato de que 20% da população
carcerária, independente do sexo que o indivíduo possui, é formado por indivíduos que
apresentam esse transtorno, considerando também que 50% desses crimes são por ele
classificados como “crimes sérios”. O psicólogo complementa, de acordo com seis dos
seus estudos, que a taxa de reincidência é o dobro em relação aos demais criminosos.
Quando se trata de questões biológicas e genéticas moleculares, notamos uma
progressiva colaboração para o entendimento e tratamento dos pacientes psiquiátricos,
contudo, ainda não foram descritos genes específicos para os diversos transtornos
mentais. Nos transtornos de personalidade, por exemplo, os genes podem ser
considerados pela predisposição, e não isoladamente responsáveis pelo transtorno. À
vista disso, é de suma importância considerar-se o ambiente em que vive o indivíduo e
a sua interação estabelecida com esse meio (MORANA; STONE; ABDALA-FILHO,
2006).
Os estudos sobre as bases biológicas que afetam o indivíduo com tendências
psicopatas tem recebido muitas contribuições da área da neurociência cognitiva, visto
que, para aprimorar importantes habilidades como empatia, inteligência emocional,
tomada de decisão e capacidade de viver em grupo, o cérebro humano se desenvolveu
de forma a contribuir para a adaptação e continuidade da espécie, o que ocasionou o
crescimento de áreas e circuitos cerebrais, como córtex, sistema límbico, amígdala, etc.
(AGUIAR E DECARLO, 2020).
O nosso cérebro possui áreas fundamentais para a convivência humana, e o
psicopata apresenta detectáveis problemas em algumas destas áreas, como o córtex
pré-frontal, o córtex ventromedial, a amígdala e o sistema límbico. Conhecido como
sistema executivo, o córtex pré-frontal é responsável pela atenção, comportamentos
sociais, tomada de decisão, afetividade, expressão da emoção, inibição de impulsos,
etc. Essa área possui uma conexão com o sistema límbico, que é responsável pelo
processamento e modulação das emoções vividas. A amígdala é uma área que interliga
com várias outras áreas do cérebro a fim de realizar suas funções de mediação das
atividades emocionais nas externações e preservação da espécie, gerando medo e
ansiedade em situações de aparente perigo, servindo com um alerta e priorizando,
então, a sobrevivência. Além disso, ela é vista como uma estrutura fundamental para o
desenvolvimento de comportamentos e manifestações sociais. Por fim, mas não menos
importante, temos córtex ventromedial, uma área importante para a mediação da
convivência social, envolvida no processamento do medo e risco, bem como a inibição
de respostas emocionais e tomada de decisão. Considerando que o trabalho do cérebro
é bastante complexo, possuindo várias divisões que funcionam em um grande circuito,
Vasconcellos cita que “Para entendermos, portanto, o que há de errado com o cérebro
do psicopata, precisamos pensar não em estruturas isoladas, mas sim em circuitos
dinâmicos” (VASCONCELLOS, 2014, p. 71).

Categoria 2:

 A RELEVÂNCIA DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA FORENSE

Ao longo da história, a psicologia, a neurologia e, mais recentemente, a


neuropsicologia, foram aproximadas por um contexto de questionamentos dos quais
fazem parte a investigação do funcionamento cerebral e da expressão do
comportamento. Essa aproximação se deu mais precisamente no fim do século XIX, na
Alemanha, a partir da obra Princípios da psicologia fisiológica, de Wundt, deliberando
um conceito que manteve-se por muito tempo e que se tratava do corpo de pesquisas
realizadas em laboratório (Kristensen, Almeida, & Gomes, 2001).
Quando falamos de avaliação neuropsicológica, trazemos o seu objetivo de
estudar a expressão das disfunções cerebrais sobre o comportamento, podendo essas
disfunções serem resultantes de lesões ou doenças degenerativas, ou mesmo estarem
ligadas a quadros psiquiátricos e doenças que têm a disfunção neurológica como
resultado secundário, sem que esta consiga ser detectada por meio de exames clínicos.
Essa avaliação é realizada por meio de testes organizados em baterias que oferecem
informações diagnósticas, permitindo confirmar – ou não – as hipóteses iniciais sobre o
paciente. Os resultados do exame neuropsicológico pode delimitar quais funções
cerebrais estão afetadas e quais estão preservadas (Groth-Marnat, 2000).
De acordo com Hom (2003), uma das primeiras ideias de psicologia forense
surgiu no fim de 1800, com o psicólogo alemão Hugo Münsterberg, considerado por
muitos o precursor da psicologia forense. Münsterberg defendia que a psicologia
deveria ser aplicada à lei. No entanto, apenas em 2001 a APA reconheceu a psicologia
forense como uma especialização no âmbito do estudo da psicologia, e seu
crescimento se dá, sobretudo, por pesquisar e dissecar o comportamento humano
diretamente ligado aos crimes seriais.
Já no tocante à neuropsicologia forense, a história é mais recente, sendo algo
ainda relativamente novo, mas que está evoluindo de maneira crescente e rápida. O
termo “neuropsicologia forense” representa uma subespecialidade da neuropsicologia
clínica, que busca aplicar diretamente práticas e princípios neuropsicológicos a
questões relacionadas às dúvidas jurídicas e à tomada de decisão. O autor ainda
acrescenta que os profissionais de neuropsicologia forense são treinados como
neuropsicólogos clínicos e, posteriormente, se especializam na aplicação de seus
conhecimentos e habilidades no âmbito forense (HOM, 2003).
A principal distinção da prática clínica e forense é que, enquanto na clínica
busca-se ajudar o paciente, na assistência forense procura-se descobrir a evidência
dos fatos. Destaca-se, ainda, o fato de o solicitante da avaliação neuropsicológica
forense ser uma terceira parte, da comunicação dos resultados se dar entre perito e
solicitante, e da avaliação ser inteiramente restrita às questões capazes de responder a
determinada situação legal (Serafim & Saffi, 2012; Serafim, Saffi, & Rigo-natti, 2010).
Em conformidade com Serafim & Saffi (2012), a avaliação neuropsicológica
aplicada à área forense se insere na fase pericial. A palavra “perícia” vem do latim
perior, que quer dizer experimentar, saber por experiência. Consiste em um subsídio
especializado que pressupõe um conhecimento técnico/científico que visa contribuir no
esclarecimento de algum ponto considerado indispensável para o procedimento
processual. Ela converge da compreensão psicológica e neuropsicológica de um caso
para apresentar respostas a uma questão legal expressa pelo juiz ou por outro agente
(jurídico ou participante do caso), fundamentada nos quesitos elaborados pelo agente
solicitante, cabendo então, ao psicólogo perito, investigar uma ampla faixa do
funcionamento mental do indivíduo envolvido em ação judicial de qualquer natureza
(civil, trabalhista, criminal, etc.), por meio do exame de sua personalidade e de suas
funções cognitivas.
Em suma, entende-se a prática da perícia como a aplicação dos métodos e
técnicas da investigação psicológica e neuropsicológica que tem por finalidade fornecer
subsídios a uma ação judicial toda vez que forem instaladas dúvidas relativas à “saúde”
psicológica do periciando, tendo em vista que seu resultado final é levar conhecimento
técnico ao juiz, produzindo evidências para auxiliá-lo em seu livre convencimento, bem
como prover ao processo a documentação técnica do fato, no caso, o laudo pericial
(Serafim & Saffi, 2012).
A investigação neuropsicológica na área penal se distribui pelos estudos de
criminosos sexuais, antissociais e psicopatas, e se destaca em termos de quantidade
quando comparada com a investigação da capacidade civil ou avaliação de risco
(Greene & Cahill, 2012; Kruger & Schiffer, 2011).
Autores como Heilbronner e colaboradores (2010) argumentam a diferença entre
a avaliação neuropsicológica clínica e a forense, seja na área penal, seja na civil. Para
eles, o corpo de profissionais de neuropsicologia, em sua maioria, é eminentemente
clínico e com poucas experiências quando se trata de matéria penal, o que acaba
sendo preocupante para essa atuação.

4. CONCLUSÃO

Sendo a violência um fenômeno que perpassa toda a sociedade, segmentos,


classes e faixas etárias, podemos configurá-la como uma das principais preocupações,
não só no Brasil, mas em todo o mundo. Estudar esse fenômeno, por sua vez, visa a
diminuição da angústia da qual ela é revestida, entretanto, nas últimas décadas, diante
de números cada vez mais absurdos e surreais de casos de violência, tem-se
demonstrado uma série ineficiente de programas de governo e orientações político-
criminais.
Conhecer mais a fundo a etiologia da violência, bem como as raízes do crime,
sem falsas colocações sobre a origem da criminalidade, torna-se de suma importância,
tendo em vista que somente conhecendo integralmente o fenômeno do crime é que se
pode enfrentá-lo, circunscrevê-lo e preveni-lo.
Partindo desse princípio, a neurocriminologia ou “neurodireito” apresenta ao
campo jurídico a possibilidade do criminoso ser estudado de forma minuciosa,
analisando desde seus fatores internos biológicos de nascença, até a formação do seu
caráter.
Diante da questão relacionada aos psicopatas criminosos, defende-se que o
Estado pacifique esse problema de forma a acatar os avanços da ciência e
neurociência, cumprindo a função punitiva como Estado, resguardando o direito da
dignidade da pessoa humana, todavia, podendo levar em consideração os
posicionamentos dos especialistas na área da psiquiatria e psicologia forense, se
fazendo necessário que diante de tal problemática, seja criado um Sistema Único de
normas voltadas para o transtorno da psicopatia.
Dessa maneira, estabelecer parâmetros quanto às deficiências da execução da
medida de segurança seria estabelecer objetivos e finalidades para uma considerável
melhoria no sistema penal e na efetividade dos métodos preventivos.
Notou-se uma certa dificuldade na busca por materiais publicados que
contemplassem a intervenção do neuropsicólogo forense no processo judicial,
evidenciando assim, que o envolvimento de pesquisas nessa área ainda precisa ser
ampliado, bem assim como a estruturação de centros formadores de neuropsicólogos
forenses, para que dentro de um esforço coletivo e interdisciplinar, seja possível
contribuir positivamente no enfrentamento dessas situações e no desfecho dos
constantes casos de criminalidade.
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