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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA

COMARCA DE TAQUARITINGA/DF

Processo nº 0712359-16.2021.8.07.0007

AMERICAN LIFE COMPANHIA DE SEGUROS, com sede na


Avenida Angélica nº 2.626, São Paulo – SP, inscrita no CNPJ sob o nº 67.865.360/0001-27, por
seus advogados que esta subscrevem, com escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima nº 1.800
– 4° andar – telefone (11) 3382-0800, e-mail: [email protected], nos autos da ação
interposta por MARIA APARECIDA DE ARAUJO FONSECA em face da ora contestante,
em trâmite perante essa Vara e Ofício respectivo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

DA MANIFESTA OPOSIÇÃO AO “JUÍZO 100% DIGITAL”

Nos termos do facultado pelo artigo 3º da Resolução n. 345 do


Conselho Nacional de Justiça, a seguradora ré se manifesta expressamente contrária à
implementação do “Juízo 100% Digital” nestes autos. Cumpre enfatizar que a
implementação de tal de projeto é facultativa, de forma que, havendo a oposição de
qualquer das partes, não será admitida sua implementação.

Portanto, diante da expressa e definitiva oposição desta parte,


requer que todas as intimações dos atos judiciais sejam feitas EXCLUSIVAMENTE por
meio de publicação em Diário Oficial em nome de Maria Amélia Saraiva, inscrita na
OAB/SP 41.233, sob pena de nulidade, nos termos do art. 272, §5º do Código de Processo
Civil.

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LO 41914
1. DA SÍNTESE PROCESSUAL

Em síntese, alega a autora, em sua exordial de fls., que é titular de


apólice de seguro de vida desde o ano de 1997, o qual fora contratado por intermédio da corré
BRB.

Aduz que desde a contratação o seguro foi de responsabilidade de


várias seguradoras, sendo que a partir março/2016, houve nova encampação para a seguradora
AMERICAN LIFE COMPANHIA DE SEGUROS.

Continua sua narrativa com a afirmação de que em maio de 2017,


recebeu um comunicado informando que os reajustes passariam a ser mensais pelo período de
três anos.

Alega que em nenhum momento a requerente foi consultada com


relação ao aceite ou não da sua parte para cancelamento da apólice antiga e contratação de uma
nova apólice, tudo foi feito sem anuência prévia e expressa do segurado, simplesmente
informaram o reajuste.

Assim, tendo em vista entender que houve descumprimento das


cláusula contratuais, bem como ilegitimidade dos reajustes a requerente busca o judiciário para
ter declarado o suposto descumprimento, com a devolução em dobro dos valores que entende
devidos, além de danos morais.

Em síntese, é o que consta dos autos, entretanto, consoante será


aduzido e comprovado, as alegações autorais não merecem acolhida.

2. DA PREJUDICIAL DE MÉRITO – PRESCRIÇÃO


OPERADA

Antes de se adentrar ao mérito da ação propriamente dito, insta


salientar que o intento autoral se encontra fulminado pela ocorrência da prescrição.
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Veja, Excelência, em resumo a autora maneja a presente demanda
para requerer a restituição de prêmio pago à ora contestante pelo seguro ofertado por esta
referente aos reajustes que entende indevidos.

Ocorre que tal aplicação de atualização no valor pago pela


segurada, ora autora, como ela mesma informa, foi devidamente comunicada em maio de
2017, na oportunidade em que a corré BRB informou à massa segurada acerca do plano de
recuperação da apólice, ante os resultados negativos, o que impossibilitaria a continuação do
seguro.

Dessa forma, considerando-se a previsão estabelecida na Lei


Civil, notadamente no artigo 206, II, “b”. o intento autoral encontra-se prescrito:

“Art. 206. Prescreve:


§ 1º. Em um ano:
(...)
II – a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste
contra aquele, contado o prazo:
(...)
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da
pretensão”.

Ora, Excelência, o fato gerador da pretensão não pode ser


considerado outro senão o momento em que o segurado toma ciência de que poderá pleitear a
algo relacionado ao contrato de seguro, administrativa ou judicialmente.

Dessa forma, deveria a autora ter demandado pelo pleito que


entende devido dentro do prazo de um ano a contar do fato gerador de sua pretensão (ciência do
plano de recuperação da apólice em maio de 2017).

Nesse sentido, inclusive, é o entendimento pacificado de nossos


tribunais e, por consequência, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça veio assim sumular:
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Súmula 101. “A ação de indenização do segurado em grupo
contra a seguradora prescreve em um ano.”

Nesse sentido, segue entendimento majoritário do Superior


Tribunal de Justiça:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO
CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO. SEGURO DE
VIDA. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. PRETENSÃO INDENIZATÓRIA
DECORRENTE DA EXTINÇÃO DO CONTRATO.
IMPRESCRITIBILIDADE AFASTADA. INCIDÊNCIA DO
PRAZO PRESCRICIONAL ÂNUO. 1. Ação ajuizada em
02/12/2010. Recurso especial atribuído ao gabinete em
26/08/2016. Julgamento: CPC/73 2. O propósito recursal é definir
o prazo prescricional aplicável às pretensões deduzidas pelo
segurado. 3. O recorrido, em sua petição inicial, deduz as seguintes
pretensões: i) a de manutenção das condições contratuais previstas
na "Apólice 40" (apólice já extinta); ii) a declaração de nulidade da
cláusula que prevê o reajuste por mudança de faixa etária prevista
na "Apólice Ouro Vida Grupo Especial" (apólice ainda vigente); e
iii) também, a repetição de indébito relativa aos valores pagos a
maior a este título. 4. Quanto à pretensão de manutenção das
condições gerais contidas na "Apólice 40" (contrato já extinto),
mostra-se imperiosa a aplicação do prazo prescricional anual
previsto no art. 206, § 1º, II, "b", do CC/02, que versa sobre a
pretensão do segurado contra o segurador. 5. Quanto às pretensões
relativas ao contrato ainda vigente, constata-se que as mesmas não
se restringem à declaração de nulidade das cláusulas contratuais,
mas, justamente, à obtenção dos efeitos patrimoniais dela
decorrentes, ou seja, a indenização pelos prejuízos advindos do
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pagamento a maior do prêmio, em virtude da previsão de
atualização segundo a mudança de faixa etária. 6. O prazo
prescricional para a propositura de ação objetivando a
restituição de prêmios em virtude de conduta supostamente
abusiva da seguradora, amparada em cláusula contratual
considerada abusiva, é de 1 (um) ano, por aplicação do art. 206,
§ 1º, II, "b", do Código Civil. 7. A relação jurídica estabelecida
entre as partes é de trato sucessivo, com renovação periódica da
avença, devendo ser aplicada, por analogia, a Súmula 85/STJ.
Logo, não há que se falar em prescrição do fundo de direito e, como
consequência, serão passíveis de cobrança apenas as quantias
indevidamente desembolsadas nos 12 (doze) meses que
precederam o ajuizamento da ação. 6. Recurso especial conhecido
e parcialmente provido. (STJ – REsp: 1637474 RS 2013/0422394-
5, Relatora: Ministra Nancy Andrighi, Data de Julgamento:
15/05/2018, T3 - TERCEIRA TURMA)

Isto posto, considerando que a requerente foi devidamente


comunicada pelo corré BRB em maio de 2017, fato este alegado pela mesma, a pretensão autoral
prescreveu em maio de 2018, todavia, o ajuizamento da presente ação apenas se deu em
13/07/2021, portanto, a autora quedou-se inerte por mais de 1 (um) ano, o que é um absurdo,
ainda mais quando fala dos prejuízos sofridos pelos descontos realizados.

Excelência, beira o absurdo que durante quase 05 (cinco) anos a


autora não realizou nenhum questionamento em relação as alterações previamente comunicadas,
e somente agora, quando prescrita sua pretensão quanto a tais prêmios, vem tentar se socorrer do
judiciário, alegando para tanto prejuízos pelos descontos realizados, que foram tão prejudiciais
que sequer foram notados.

Ad argumentandum, caso v. Excelência não entende dessa forma,


necessário observar que o valor eventualmente a ser restituído deverá ser limitado ao valor
efetivamente pago pelo seguro e não prescrito, nos termos do artigo 206, § 1º, II, “b”, do Código
Civil.
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À vista do exposto, requer a aplicação dos fundamentos da
prescrição ânua, a teor do que dispõe o artigo 206, inciso II, alínea “b” do Código Civil,
declarando extinta a pretensão autoral.

Contudo, caso Vossa Excelência assim não entenda, a ré passa a


expor os motivos pelos quais o pleito autoral não há de prosperar.

3. DO MÉRITO
3.1. DA REALIDADE DOS FATOS
3.1.1. DA LEGITIMIDADE DAS NEGOCIAÇÕES HAVIDAS
ENTRE A SEGURADORA E A ESTIPULANTE

Em introdução à contratação do seguro em tela, necessário


discorrer a respeito da legitimidade das negociações firmadas entre a seguradora e a estipulante,
ocorridas no início de 2017.

Consoante a própria autora afirma, o seguro por ela contratado por


intermédio da corré BRB, vem de longa data (1997) e, conforme comunicado realizado pela
estipulante do contrato a toda a massa segurada, a companhia seguradora anterior (a qual garantia
o contrato aderido pela autora) não teve interesse em manter o contrato garantindo a apólice até
então vigente, ante o manifesto desequilíbrio financeiro que se estabelecera, por conta dos
diversos sinistros que vinham ocorrendo.

Nesse ínterim, a estipulante do contrato, a AEBRB - Associação


dos Empregados do Banco de Brasília, por intermédio da corré BRB Corretora, em conjunto com
a ora ré AMERICAN LIFE, buscaram uma alternativa para que a apólice em tela permanecesse
vigente, contudo, para que o plano vingasse, seriam necessários ajustes contratuais e, dentre eles,
a revisão do valor do prêmio, o qual necessitaria de reajustes, para que a ora ré (ou qualquer outra
seguradora) pudesse viabilizar a manutenção da apólice.

A corré BRB, intermediadora do contrato da massa segurada e a


AEBRB - Associação dos Empregados do Banco de Brasília, estipulante da apólice, visando a
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segurança de todo o grupo, vieram a negociar juntamente à AMERICAN LIFE, a manutenção
da apólice sob sua guarida. Sabia, por evidente, que se tratava de um grupo de pessoas com
idade avançada, com alta taxa de sinistralidade (principalmente em virtude da idade) e da
dificuldade de alocação do risco em outra seguradora.

As medidas adotadas visaram garantir a manutenção do contrato


de seguro, a fim que as pessoas não perdessem as coberturas contratadas com a ocorrência de
eventual distrato.

Assim sendo, a teor do que prevê o Diploma Civil, em seu artigo


801, § 1º, ao estipulante do contrato de seguro é dada tal atribuição:

“Art. 801. O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa


natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela, de qualquer
modo, se vincule.
§ 1o O estipulante não representa o segurador perante o grupo
segurado, e é o único responsável, para com o segurador, pelo
cumprimento de todas as obrigações contratuais.”

A condição da estipulante, representante da massa de segurados,


era simples: ou adequava os riscos às condições de viabilidade para aceitação da seguradora
ou, possivelmente, estaria impossibilitada de migrar o grupo todo para outra congênere.

Importante lembrar que, ao contrário do que fez constar a autora,


ela não foi compelida a aceitar os reajustes reputados abusivos no curso do contrato. A
realidade é que, para dar início a uma nova vigência perante a ora ré (em 2017), as condições
financeiras precisariam ser adaptadas, caso contrário, seria necessário buscar uma outra
seguradora que garantisse o risco apresentado pelo grupo, sendo de conhecimento geral e
notório a quase impossibilidade.

E assim foi feito. Mediante a negociação feita entre a corré BRB,


a estipulante do contrato AEBRB e a seguradora ré, é que houve a oportunidade de se mostrar

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e analisar a métrica atuarial do grupo segurado até então vigente, a qual não se sustentaria
por muito mais tempo.

De forma simplista, o grupo segurado arrecada os prêmios


mensalmente, usando esse dinheiro para pagamento dos sinistros existentes durante sua
vigência. A realidade encontrada era a de que os prêmios arrecadados não estavam suficientes
a acobertar as indenizações tidas durante o ano, bem como o custo de administração da
apólice. Ou seja, os valores recebidos pela seguradora da massa de segurados eram
insuficientes, frente a quantidade de sinistros a serem pagos.

Verificou-se, então, a necessidade de aumento do prêmio. Como


forma de não sobrecarregar toda a massa segurada, é que se chegou ao aumento gradativo e
escalonado, conforme disposto na proposta de contratação encaminhada pela ré à estipulante,
que segue anexa, destacando os pontos de maior relevância:

A condição de aceitação da nova vigência foi:

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Quanto à possibilidade de cancelamento ou renovação da
apólice, novamente em respeito ao princípio da liberdade de contratação e da não perpetuação
dos negócios jurídicos, agora firmada em 36 meses, assim ficou definido:

Como se vê, ao término dos 36 meses iniciados em 2017, as partes


(segurado e seguradora) podem avaliar a pertinência de manutenção do contrato, mantendo a
possibilidade de não renovação.

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Ademais, importante se faz mencionar que tal reajuste, em
princípio, visava sua aplicabilidade em uma única vez, entretanto, sabedores de que o manejo
demandaria grande impacto aos segurados, a companhia ora ré e a estipulante, em profundos
estudos de suas equipes técnicas, chegaram ao modelo executado, de modo a minimizar o efeito
da majoração que seria imprescindível à manutenção do seguro do grupo.

A decisão tomada pelos participantes para que a nova apólice


fosse implementada com o aumento gradual do prêmio, inclusive, se espelhou em entendimento
do Colendo Superior Tribunal de Justiça. Senão, veja-se:

“DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE


SEGURO DE VIDA, RENOVADO
ININTERRUPTAMENTE POR DIVERSOS ANOS.
CONSTATAÇÃO DE PREJUÍZOS PELA SEGURADORA,
MEDIANTE A ELABORAÇÃO DE NOVO CÁLCULO
ATUARIAL. NOTIFICAÇÃO, DIRIGIDA AO
CONSUMIDOR, DA INTENÇÃO DA SEGURADORA DE
NÃO RENOVAR O CONTRATO, OFERECENDO-SE A
ELE DIVERSAS OPÇÕES DE NOVOS SEGUROS, TODAS
MAIS ONEROSAS. CONTRATOS RELACIONAIS.
DIREITOS E DEVERES ANEXOS. LEALDADE,
COOPERAÇÃO, PROTEÇÃO DA SEGURANÇA E BOA FÉ
OBJETIVA. MANUTENÇÃO DO CONTRATO DE
SEGURO NOS TERMOS ORIGINALMENTE PREVISTOS.
RESSALVA DA POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DO
CONTRATO, PELA SEGURADORA, MEDIANTE A
APRESENTAÇÃO PRÉVIA DE EXTENSO
CRONOGRAMA, NO QUAL OS AUMENTOS SÃO
APRESENTADOS DE MANEIRA SUAVE
EESCALONADA. 1. No moderno direito contratual
reconhece-se, para além da existência dos contratos
descontínuos, a existência de contratos relacionais, nos
quais as cláusulas estabelecidas no instrumento não
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esgotam a gama de direitos e deveres das partes. 2. Se o
consumidor contratou, ainda jovem, o seguro de vida
oferecido pela recorrida e se esse vínculo vem se renovando
desde então, ano a ano, por mais de trinta anos, a pretensão
da seguradora de modificar abruptamente as condições do
seguro, não renovando o ajuste anterior, ofende os
princípios da boa fé objetiva, da cooperação, da confiança
e da lealdade que deve orientar a interpretação dos
contratos que regulam relações de consumo. 3. Constatado
prejuízos pela seguradora e identificada a necessidade de
modificação da carteira de seguros em decorrência de novo
cálculo atuarial, compete a ela ver o consumidor como um
colaborador, um parceiro que a tem acompanhado ao longo
dos anos. Assim, os aumentos necessários para o
reequilíbrio da carteira têm de ser estabelecidos de
maneira suave e gradual, mediante um cronograma
extenso, do qual o segurado tem de ser cientificado
previamente. Com isso, a seguradora colabora com o
particular, dando-lhe a oportunidade de se preparar para
os novos custos que onerarão, ao longo do tempo, o seu
seguro de vida, e o particular também colabora com a
seguradora, aumentando sua participação e mitigando os
prejuízos constatados. 4. A intenção de modificar
abruptamente a relação jurídica continuada, com simples
notificação entregue com alguns meses de antecedência,
ofende o sistema de proteção ao consumidor e não pode
prevalecer. 5. Recurso especial conhecido e provido.”
(STJ - REsp: 1073595 MG 2008/0150187-7, Relator:
Ministra NANCY ANDRIGHI,)

Enfim, há de se destacar que esse esforço mútuo para a


implementação de uma nova apólice é que possibilitou a proteção e a segurança da segurada

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(e de toda a massa), buscando que o reajuste fosse aplicado com menor impacto a todos os
envolvidos.

A proposta de nova contratação foi devidamente assinada por


todos os participantes, legitimando as tratativas ali fixadas. E, importante destacar ainda o
bom trabalho realizado pela estipulante nas negociações com a seguradora, o que se deu a fim
de garantir que os segurados não ficassem desassistidos. Do contrário, estariam a autora e os
demais segurados do grupo sem coberturas seguradas.

Como amplamente exposto acima, inexiste razão ao deferimento


da pretensão buscada pela autora, já que a nova contratação foi firmada pelo estipulante, no
uso do mandato concedido pelos segurados e sempre buscando a viabilidade e segurança dos
segurados.

3.1.2. DA CIÊNCIA DADA À SEGURADA E DA AUSÊNCIA


DE ABUSIVIDADE CONTRATUAL

Imprescindível salientar que, consoante denota-se do


comunicado ora anexado pela própria autora, esta foi manifestamente cientificada da
ocorrência acima descrita.

Veja, Excelência, cumprindo os ditames legais, a estipulante


procedeu aos trâmites devidos fielmente, informando toda a massa segurada acerca dos fatos
que vinham ocorrendo e as medidas que precisariam ser adotadas a fim de que o contrato de
seguro pudesse ser mantido, consoante denota-se dos trechos a seguir reproduzidos:

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Nesse ínterim, não há que se falar em aumento abusivo no valor
atribuído ao prêmio, posto que houve nova contratação de seguro, estabelecendo-se, após
muita negociação, premissas para a correta manutenção da base atuarial, como única forma
de garantir a solvência e viabilidade do grupo segurado.

Importante mencionar que, independentemente da existência de


contrato renovado de forma recorrente por muitos anos, o seguro em questão foi transferido
para a ora ré somente em 2017, e COM VIGÊNCIA ANUAL. Assim, terminada a vigência, no
início de 2017, a ora ré e a estipulante negociaram a efetivação de novo contrato que, inclusive,
poderia ter sido transferido para outra seguradora, já que havia expressa manifestação de
vontade da companhia pela não continuidade.

Destaca-se, ainda, que a autora anuiu, mesmo que de forma


tácita, à negociação formada pela estipulante para a nova contratação, posto que vem pagando
o prêmio de forma constante no novo contrato, ou seja, desde 05/2017, sem qualquer
insurgência.

Sua permanência na apólice por todo esse período sem que


apresentasse qualquer insurgência revela clara concordância com os atos praticados pela
estipulante na defesa dos interesses de toda a massa segurada. Tanto é assim, que a própria
afirma manter contrato de seguro intermediado pela corré há vinte anos.

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Veja, Excelência, a todo momento foi informado à Autora das
condições contratuais necessárias para a manutenção do seguro, bem como informado o valor
de reajuste do plano de maneira cristalina, não havendo motivos para se falar em abusividade
das rés.

Neste ponto, cumpre destacar que a atividade securitária é


verdadeira administração de fundos e gerenciamento de riscos, devidamente amparada pelo
princípio mutualista de constituição de reserva a garantir a solvência da cobertura de todos os
riscos assumidos pela seguradora.

Fato é que o cálculo do prêmio é feita por profissional especialista


em ciências atuariais para manter o equilíbrio da apólice em grupo. A imposição da presente
liminar ocasiona indiscutível ofensa aos direitos dos demais segurados.

Tem-se que Código Civil, trata o contrato de seguro como um tipo


de contrato de caráter sinalagmático e limitativo, de forma que seus dispositivos devem ser
respeitados, sejam por parte do segurado, sejam por parte daqueles que dele se beneficiam,
como ocorre no caso vertente.

Para garantir o equilíbrio do sinalágma contratual, são


efetuados os chamados cálculos atuariais, que nada mais são do que uma forma de se encontrar
equilíbrio entre a contribuição de muitos e a eliminação dos danos sofridos por poucos
participantes do grupo.

O seguro em análise foi contratado pela Autora por intermédio da


corré BRB e, conforme comunicado realizado pela estipulante do contrato a toda a massa
segurada, inclusive à parte Autora, a companhia seguradora anterior não teve interesse em
manter o contrato, garantindo a apólice até então vigente, ante o manifesto desequilíbrio
financeiro que se estabelecera, por conta dos diversos sinistros que vinham ocorrendo.

Nesse ínterim, a estipulante, ora corré BRB, em conjunto com a


ora constestante, buscaram uma alternativa para que a apólice em tela permanecesse vigente,
contudo, para que o plano vingasse, seriam necessários ajustes contratuais e, dentre eles, a
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revisão do valor do prêmio, o qual necessitaria de reajustes, para que a ora ré (ou qualquer outra
seguradora) pudesse viabilizar a manutenção da apólice.

Ora, a recomposição atuarial é inerente ao próprio sistema, ou


seja, as características que ensejaram a fixação do prêmio e a determinação do risco. Dessa
forma, a renovação automática e por tempo indeterminado, constitui óbice ao
acompanhamento constante do risco e das modificações que, naturalmente, ocorrem ao longo
do tempo.

Frise-se, ainda, que o sistema legal assegura que os contratos de


seguros são temporários, certo que sua extinção ocorrerá nas hipóteses em que não chegam as
partes a um consenso sobre a renovação, ou melhor, tratando-se de contrato de adesão, a
extinção se dará caso o segurado não concorde com as condições lhe apresentadas pelo
segurador.

Não foi alegada qualquer inconsistência nas propostas ofertadas


pela seguradora quanto ao acréscimo do prêmio e o seguro firmado contava com cláusulas
que impunham certas condições a serem observadas pela seguradora na hipótese de não
renovação automática do ajuste.

Ora, não concordando a Autora com as novas condições


contratuais que foram ajustadas para a manutenção do equilíbrio contratual, deveria a mesma
ter solicitado o cancelamento de sua apólice, o que jamais aconteceu.

Cumpre destacar brilhante entendimento proferido pelo E.


Superior Tribunal de Justiça em caso análogo (RESP 1.356.725 - RS), no qual se discute outro
contrato de seguros, mas que é perfeitamente aplicável ao caso em tela. Vejamos ementa:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DE VIDA EM GRUPO


(OURO VIDA - APÓLICE 40). NÃO RENOVAÇÃO PELA
SEGURADORA. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE. NATUREZA
DO CONTRATO (MUTUALISMO E TEMPORARIEDADE).

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EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA CONTRATUAL. NOTIFICAÇÃO
DO SEGURADO EM PRAZO RAZOÁVEL.
1. A Segunda Seção deste Tribunal Superior, quando do
julgamento do REsp nº 880.605/RN (DJe 17/9/2012), firmou o
entendimento de não ser abusiva a cláusula contratual que prevê
a possibilidade de não renovação automática do seguro de vida
em grupo por qualquer dos contratantes, desde que haja prévia
notificação em prazo razoável. Essa hipótese difere da do seguro
de vida individual que foi renovado ininterruptamente por longo
período, situação em que se aplica o entendimento firmado no
REsp nº 1.073.595/MG (DJe 29/4/2011).
2. O exercício do direito de não renovação do seguro de vida em
grupo pela seguradora, na hipótese de ocorrência de
desequilíbrio atuarial, com o oferecimento de proposta de adesão
a novo produto, não fere o princípio da boa-fé objetiva, mesmo
porque o mutualismo e a temporariedade são ínsitos a essa
espécie de contrato.
3. Recurso especial da FENABB não conhecido; recurso especial
da Companhia de Seguros Aliança do Brasil S.A. provido e
recurso especial da ABRASCONSEG prejudicada.

Conforme entendimento acima destacado, o exercício do


direito de não renovação do seguro de vida em grupo pela seguradora, na hipótese de
ocorrência de desequilíbrio atuarial, com o oferecimento de proposta de adesão a novo
produto, não fere o princípio da boa-fé objetiva, mesmo porque o mutualismo e a
temporariedade são ínsitos a essa espécie de contrato.

Conforme brilhante voto vencedor, proferido pelo Ministro


Ricardo Villas Bôas Cueva no precedente acima destacado (inteiro teor anexo) “a operação
de seguro funda-se no mutualismo. Isto é, ela somente existe diante da possibilidade de
realização de cálculos estatísticos e atuariais pelo segurador que lhe permitem pu-lverizar os
riscos pela coletividade de segurados.”

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Em verdadeira aula sobre o tema, segue afirmando o D. Ministro:

“Pode-se afirmar, portanto, que o seguro tem por principal


característica transferir o risco de um indivíduo para um grupo
e dividir perdas numa base equitativa por todos os membros do
grupo. Assim, os seguradores são obrigados a manter capital
social e reservas técnicas para suas operações, na forma
determinada pelo Conselho Nacional de Seguros Privados
(CNSP) e regulamentada pela Superintendência de Seguros
Privados (SUSEP). Isso porque, entre as muitas situações que
podem acontecer no tocante ao segurador, está a alteração
superveniente das circunstâncias que tornem insuportável para
ele a continuidade da contratação. Com efeito, tratando-se de um
contrato de longa duração, e levando-se em conta as
peculiaridades de que se reveste o contrato de seguro de vida em
grupo, não há como pretender uma imutabilidade nas
circunstâncias fáticas durante toda a sua vigência.”

Ressaltou, ainda que a boa-fé objetiva deve ser exigida também


do consumidor, que se supõe não alimentar a expectativa de que as condições contratuais,
mesmo com o decorrer dos anos e com a alteração do substrato fático sobre o qual foi
amparado o ajuste inicial, se mantenham eternamente as mesmas.

Desta forma, não há abusividade alguma na conduta desta


seguradora, sendo completamente improcedente o pleito autoral, e, portanto, não há qualquer
motivo para que esta seja condenada a reestabelecer o prêmio inicial da apólice e muito menos
proceder com a restituição de prêmio.

Portanto, não há que se falar em abusividade das rés no


cumprimento do que fora entabulado contratualmente e que fora dado ciência à massa
segurada, restando, assim, a improcedência dos pedidos autorais medida necessária.

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3.1.3 DOS JULGADOS ENVOLVENDO ESTA MESMA
APÓLICE DE SEGUROS

Por todos os motivos acima destacados, os reajustes de prêmios


foram licitamente aplicados em prol da manutenção do equilíbrio econômico do contrato, bem
como foram estipulados de forma legal por intermédio da representante legal do grupo segurado
e devidamente comunicados aos segurados de forma clara e precisa, sendo-lhes faculdado a todo
momento o cancelamento da apólcie.

Assim, não há sob qualquer ótica abusividade dos reajustes de


prêmio ora em discussão. Neste sentido, o E. Tribunal de Justiça do Distrito Federal, ao
analisar Agravo de Instrumento n. 0713689-06.2020.8.07.0000 (acórdão anexo), referente a
caso análogo em que se discute a LEGALIDADE DO REAJUSTE DESDA MESMA
APÓLICE DE SEGUROS, ENTENDEU que é legal o reajuste no prêmio de seguro de vida
praticado pela seguradora, o qual não pode ser confundido com a discussão que envolve planos
de saúde.

Vejamos a fundamentação do v. acórdão proferido naqueles autos,


os quais tratam da mesma apólice de seguro ora em discussão:

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Outro julgado que segue o mesmo entendimento é o proferido
no recurso de apelação nº. 0730015-38.2020.8.07.0001 (acórdão anexo), conforme ementa
abaixo:

Desta forma, analisando a mesma documentação encarta nos


autos, os mesmos reajustes ora discutidos, o E. Tribunal de Justiça entendeu que não houve
qualquer abusividade nas contratações em questão.

No mesmo sentido, o E. Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ao


analisar Agravo de Instrumento n. 1.0000.20.478785-7/001 (acórdão anexo), referente a
caso análogo em que igualmente se discute a LEGALIDADE DO REAJUSTE DESDA
MESMA APÓLICE DE SEGUROS, entendeu que não há prova de abusividade decorrente
da contratação pois o agravado havia sido cientificado das novas condições contratuais, as
quais têm o aval da SUSEP.

Assim, outro entendimento não há de ser o deste D. Juízo. Resta


evidenciado de pronto a ausência de abusividade da contratação em discussão.

4. DA NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE PERÍCIA


ATUARIAL

Entende a autora que os reajustes aplicados no contrato de seguro


em questão estariam em dissonância ao que fora pactuado entre as partes.

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Entretanto, conforme já aduzido, a readequação da importância
paga a título de prêmio pela massa segurada foi necessária para que o seguro que mantivesse
praticável, ou seja, para que os segurados não fossem compelidos ao encerramento da apólice.

Nesse ínterim, consoante o que foi consignado em caráter


preliminar, imprescindível se faz a realização de perícia atuarial, no sentido de que a parte ré
possa comprovar que a implementação dos reajustes foi feita de forma totalmente legítima e
legal, não tendo o que se falar em abusividade, o que, desde já se requer, sob pena de
cerceamento de defesa.

5. DO NÃO CABIMENTO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO

A autora reclama a repetição de indébito dos valores descontados a


título de prêmio a partir do mês deabril/2017.

Ocorre que, conforme exaustivamente informado, a cobrança do


prêmio não foi realizada de forma ilícita, posto que FUNDADA EM CONTRATAÇÃO DE
SEGURO REALIZADA POR ESTIPULANTE MUNIDO DE PODERES DE
REPRESENTAÇÃO DE TODO GRUPO SEGURADO, conforme previsão expressa do já
citado artigo 801, do Código Civil.

Ora, a repetição de indébito caracteriza uma quantia paga


indevidamente, o que, supostamente, ensejaria uma modalidade de enriquecimento sem causa,
fundamentada na inexistência da dívida e em um pagamento incorreto por um objeto lícito.

Portanto, uma vez que não houve qualquer irregularidade no


pagamento/desconto dos valores dos prêmios, não há que se falar em devolução de tais valores,
quiçá em dobro, como requerido pela autora.

Veja, Excelência, mister destacar que a autora esteve durante todo


esse período coberta pelo contrato em questão, ou seja, mediante o pagamento realizado do
prêmio foi ofertada a devida contraprestação, nos termos do artigo 757, do Código Civil:

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“Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do
segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados.”

Com o devido respeito, Excelência, é de causar estranheza que


a autora, durante quase cinco anos, não tenha questionado qualquer insurgência, vindo,
agora em Juízo, alegar descumprimento de contrato de seguro de vida e,
“convenientemente”, requerer a devolução, EM DOBRO, do valores pagos.

A devolução em dobro dos valores cobrados representa,


evidentemente, uma indenização fixada como o intuito de punir o agente da conduta causadora
do dano. Ou seja, a sanção tem o nítido objetivo de recompor o patrimônio da vítima. Há no
instituto da repetição de indébito um claro intuito de emprestar à devolução em dobro uma função
pedagógica e de desestímulo, o que não se apresenta no caso em testilha.

Assim sendo, uma vez que o artigo 42, parágrafo único, do Código
de Defesa do Consumidor lecione que a devolução será em dobro quando a cobrança for indevida,
não há que se falar em sua aplicação, haja vista que, conforme exaustivamente comprovado,
NÃO HOUVE QUALQUER IRREGULARIDADE NA COBRANÇA, motivo pelo qual o pleito
não há de ser acolhido.

6. DA INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL

Requer, ainda, a autora, indenização por danos morais no patamar


de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), porém, com todo respeito à integridade moral da parte autoral,
referido pleito não pode prosperar, visto que não há qualquer prova dos alegados danos morais
sofridos.

Nobre Julgador. É cediço que para ser devida indenização por dano
moral, como para qualquer outro tipo de verba indenizatória, há necessidade de prova inequívoca
da sua existência, não bastando para tanto mera alegação, como faz a autora.

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Em verdade, a autora não sofreu nenhum constrangimento,
dissabor, humilhação ou ofensa à personalidade capaz de provocar dano de ordem moral, aliás,
a cobrança em questão não pode ser caracteriza nem mesmo como inconveniente, uma vez que
foi realizada estritamente dentro da legalidade.

Por oportuno, ainda que fosse o caso (apenas por argumentação),


importante destacar que o mero dissabor NÃO gera dano moral, sendo este o entendimento
pacificado, há muito, por nossos tribunais.

Mister ressaltar o ensinamento do Ilustre Magistrado Antonio


Jeová Santos, em sua obra “Dano Moral Indenizável”, 1ª edição, página 35, apontando, no trecho
a seguir reproduzido, que não se pode considerar toda e qualquer alegação como dano moral
indenizável. A saber:

“Nota-se nos pretórios uma avalanche de demandas que


pugnam pela indenização do dano moral, sem que exista
aquele substrato necessário a ensejar o ressarcimento.
Está se vivendo uma experiência em que todo e qualquer
abespinhamento dá ensanchas a pedidos de indenização.
Não é assim porém. Conquanto existam pessoas cuja
suscetibilidade aflorem na epiderme, não se pode
considerar que qualquer mal-estar seja apto para afetar
o âmago, causando dor espiritual.”

Aduzindo, ainda:

“(...) somente ingressará no mundo jurídico, com a


subsequente obrigação de indenizar, em havendo alguma
grandeza no ato considerado ofensivo a direito
personalíssimo. Se o ato tido como gerador do dano
extrapatrimonial não possui virtualidade para lesionar
sentimentos ou causar dor e padecimento íntimo, não
existiu o dano moral passível de ressarcimento. Para
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evitar a abundância de ações que tratam de danos
morais presentes no foro, havendo uma autêntica
confusão do que seja lesão que atinge a pessoa e do que
é mero desconforto, convém repetir que não é qualquer
sensação de desagrado, de molestamento ou de
contrariedade que merecerá indenização. O
reconhecimento do dano exige determinada
envergadura”.

Dessa forma, manifestamente incabível a indenização por danos


morais pleiteada pela autora, tendo em vista que a ré não cometeu nenhum ato ilícito e, ainda que
assim o fosse, o mero dissabor não poderia ser caracterizado como tal.

Contudo, ad cautelam, caso não seja este o entendimento de Vossa


Excelência, o que, por óbvio, não se acredita, impende salientar que o valor de indenização
deverá ser arbitrado com prudência e moderação, de modo a não caracterizar enriquecimento
ilícito da autora.

7. DO NÃO CABIMENTO DE INVERSÃO DO ÔNUS DA


PROVA

No que tange ao pedido de inversão do ônus da prova, há se


estabelecer que o instituto não pode ser aplicado no caso concreto.

A disposição expressa contida no artigo 373 do Código de


Processo Civil é a regra e qualquer outra disposição em contrário consiste em exceção.

Ademais, a inversão do ônus da prova prevista no inciso VIII, do


artigo 6º, do Código de Defesa do Consumidor, é faculdade do juiz e sua aplicabilidade não se
dá de forma automática, ou seja, somente poderá ser aplicada quando o caso reunir os requisitos
exigidos no dispositivo, quais sejam, verossimilhança da alegação e hipossuficiência do
consumidor, dos quais estes autos não trazem o mais tênue indício.

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Portanto, cabe à autora provar o fato constitutivo do seu pretenso direito, já que
não se pode exigir do réu prova que desconstitua o que aquele sequer chegou a constituir.

8. DOS JUROS E DA CORREÇÃO MONETÁRIA

Na remotíssima hipótese de serem julgados procedentes os pedidos


formulados na exordial, a ré requer, desde já, que à condenação seja aplicada os termos legais,
ou seja, a correção monetária deverá incidir a partir da data da distribuição da ação, em
cumprimento ao disposto na Lei nº 6.899/81, e os juros de mora a partir da efetiva citação, a teor
do que prevê o artigo 405, do Código Civil, c/c o artigo 240, do Código de Processo Civil, e, ao
passo que eventual condenação em dano moral seja atualizada monetariamente a partir do
arbitramento, conforme a Súmula 362 do Superior Tribunal de Justiça.

9. DO PEDIDO

Diante do exposto, requer, consoante a preliminar aduzida, a


extinção do feito sem julgamento do mérito ou, no que se refere à prejudicial de mérito suscitada,
a extinção da demanda com julgamento de mérito, face a operação da prescrição ânua. Contudo,
caso Vossa Excelência assim não entenda, aguarda-se a total improcedência dos pedidos autorais,
na medida em que a nova contratação do seguro em questão foi realizada visando salvaguardar
todo o grupo segurado, a qual foi aceita, ainda que tacitamente, pela autora.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em


Direito admitidos, notadamente prova pericial atuarial, o que desde já, requer.

Nesses termos, pede deferimento.

São Paulo, 22 de outubro de 2021.

MARIA AMELIA SARAIVA MICHELL CASTRO CALABRÓ


OAB/SP 41.233 OAB/SP 265.148

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Requer, por derradeiro, que todas as intimações e notificações sejam realizadas
EXCLUSIVAMENTE em nome da advogada MARIA AMÉLIA SARAIVA, inscrita na
OAB/SP sob o nº 41.233, com escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima, nº 1800, 4º
andar, fone: 00-55-11- 3382-0800, CEP 01452-001, SOB PENA DE NULIDADE.

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