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Família, 2º Dia

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Aulas n.ºs 4, 5 e 6.

NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DE FAMÍLIA

A natureza jurídica do direito de família está ligada aos aspectos de


carácter geral que percorrem o direito de família e que evidenciam a
existência do próprio interesse familiar.

a) Natureza de grupo e intercorrente: diz-se que o Direito de


Família é um direito de grupo (tal como o direito do trabalho e o
direito cooperativo) porque se desenvolve dentro de um grupo
restrito e porque, em primeiro plano, regula as relações dos
membros desse grupo social. E é um direito intercorrente
porque circula de membro para membro em reciprocidade.
b) Natureza funcional: os direitos familiares são, na sua maior
parte, verdadeiros poderes funcionais, porque devem ser
exercidos de acordo com a função social que a lei lhe assinala.
O interesse juridicamente protegido é o interesse social, o
exercício do direito desviado do fim legal conduz ao abuso de
direito.
c) Predomínio da natureza imperativa e oponibilidade: os direitos
de família valem “erga omnes”, são direitos absolutos, a todos
oponíveis.
d) Natureza pessoal e exclusiva: é um direito eminentemente
pessoal, pois são direitos essenciais da pessoa e têm de ser
exercidos pelo seu titular de forma estritamente pessoal e
exclusiva. São direitos que pela sua natureza pessoal são
indisponíveis e intransmissíveis. Mesmo em caso de morte do
seu titular, o que há é o direito de acção e não de exercício.
Quando é permitido por lei a representação num negócio
jurídico, a vontade expressa nesse negócio é a do mandante.
e) Natureza formal, tipicidade e susceptibilidade de posse: é um
direito que se caracteriza pela natureza formal e por vezes
solene. A característica da tipicidade deriva da natureza
imperativa do direito da família. Os institutos do direito de
família são limitados por “numerus clausus”, o que quer dizer
que só são permitidos os institutos previstos na lei, não estando
dentro da disponibilidade das partes criar outros por qualquer
via. A susceptibilidade de posse traduz-se na detenção em
concreto e no exercício dos correspondentes direitos e deveres
próprios de certa situação familiar.
f) Estabilidade - estado jurídico familiar: o estado civil é, pois, uma
situação jurídica complexa e duradoura, e é formado por um

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conjunto de direitos, deveres, faculdades, etc. relativos a uma


determinada pessoa enquanto membro da comunidade familiar.
g) Importância e obrigatoriedade do registo civil: o registo civil
torna públicos os factos pertinentes à identificação de cada
cidadão e bem assim ao seu estado familiar. Estão, portanto,
sujeitos a registo os factos que originam, constituem ou
modificam o estado jurídico familiar.
h) Natureza específica da garantia: os direitos pessoais de família
são direitos de garantia frágil, a violação destes direitos fica
muitas vezes sem sanção, isto deve-se, sobretudo, à sua
natureza pessoal. No entanto, há direitos de família cuja
violação constitui um ilícito criminal.

O PARENTESCO

É a primeira fonte das relações familiares.

O parentesco é o vínculo que une duas pessoas em consequência


de uma delas descender da outra ou de ambas procederem de
ascendência comum.

Quando se dá prevalência aos laços de parentesco temos a família


linhagem; se se atende mais aos laços de aliança, temos a família lar.
Também existe o parentesco espiritual, como o do direito Canónico, que
liga os padrinhos do baptismo aos seus afilhados.

Linhas e graus de parentesco

As linhas e os graus de parentesco servem para determinar a


proximidade e a natureza do vínculo, como define o art.º 10º do C.F.

Linhas:

Linha recta ou estirpe: que liga as pessoas que descendem uma da


outra. Quando se considere a linha recta do ascendente para o
descendente (do avô para o pai e para o filho) temos a linha recta
descendente; se caminharmos em sentido inverso, a partir do
descendente (filho, pai, avô) temos a linha recta ascendente, nos termos
do n.º 2 do art.º 11º do C.F.

Linha colateral ou transversal: que liga as pessoas que têm um


ascendente comum. Na linha de parentesco colateral, já se não encontra
o encadeado de relações de filiação, pois essa linha tem origem no facto
de os parentes terem só um ascendente comum. Os ascendentes e os
colaterais bifurcam-se em dois troncos distintos, os da linha paterna e os

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da linha materna, quando o ascendente comum vem por via do pai ou


por via da mãe.

Graus:

O parentesco é medido por graus, e é tanto mais próximo quanto


menos são os graus de parentesco que há entre dois parentes.

Assim, entre o pai e um filho há um grau de parentesco; entre o


avô e neto, dois graus; entre o bisavô e bisneto, três graus.

Na linha colateral, temos os irmãos como parentes em 2º grau; tio


e sobrinho, parentes em 3º grau; os primos filhos dos irmãos, parentes
em 4º grau; e os filhos de primos são entre si parentes no 6º grau.

Nesta linha somam-se os graus.

Classificação de irmãos

a) Irmãos bilaterais (germanos) – de pai/mãe


b) Irmãos consanguíneos unilaterais – de pai
c) Irmãos unilaterais uterinos – de mãe

EFEITOS DO PARENTESCO: direitos, obrigações e


incapacidades

O parentesco produz efeitos de onde derivam direitos, deveres e


impedimentos. Verifica-se que estes efeitos tendem, cada vez mais, a
produzir-se entre parentes de grau mais próximo, pois assiste-se à
tendência de se ir restringindo o círculo familiar.

1ºEfeito sucessório: é o principal efeito do parentesco, no caso do


autor da herança falecer sem deixar testamento são chamados os
sucessores legítimos (que são os parentes e o cônjuge) art.º 2131º do CC.
e ainda o CC. no seu art.º 2157º protege especialmente os herdeiros
legitimários que são os descendentes e ascendentes.

2º Obrigação e direito a alimentos: a obrigação e direito a alimentos


provem do direito e dever de assistência que deve existir entre os
membros da família, art. 249º CF. O direito e obrigação de alimentos
estabelecem-se entre pessoas ligadas por diferentes vínculos familiares,
como o parentesco, o casamento, a união de facto, afinidade e a tutela,
por vezes.

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3º Impedimentos matrimoniais: o parentesco produz ainda efeitos


no campo do direito matrimonial, pois pode constituir impedimento
matrimonial. Há tipos de parentesco que importam a proibição absoluta
de contrair casamento, como é o caso do casamento entre parentes em
linha recta (ex: entre pai e filha ou entre a mãe e o filho) e ainda o
casamento entre parentes no 2º grau da linha colateral, ou seja entre
irmão e irmã.

4º Exercício de funções e direito de accionar: o parentesco tem


ainda relevância no exercício de certas funções de natureza familiar,
como a de membro do conselho da família, (art.º 17º n.º 1 e 2) ou a de
tutor de menor ou interdito (art.º 233º n.º 2 do CF.). E ainda em certas
acções de estado como a acção de reconhecimento da União de Facto por
morte de um dos companheiros, (art.º 123º, al. b)) e de impugnação de
declaração de filiação (art.º 189º do CF.) e os parentes na linha recta têm
o direito de prosseguir na acção de anulação de casamento (art.º 68º, n.º
1 do CF.).

5º Impedimentos e inabilidades: o parentesco impede, por outro


lado, o exercício, em determinados casos, das funções de alguém que
nelas está investido. Pode fundamentar o impedimento o juiz, no caso do
art.º 122º, n.º 1, al. b) do CPC., quando seja parte na causa, por si ou
como representante de outra pessoa, a sua mulher ou algum seu parente
ou afim, em linha recta ou no 2º grau da linha colateral, ou quando
alguma destas pessoas tenha na causa um interesse que lhe permita
figurar nela como parte principal. Pode o parentesco ser causa de
dedução de suspeição com os fundamentos no art.º 127º, n.º 1, al. a) do
CPC.

6º Relevância noutros ramos do direito: o vínculo do parentesco


tem ainda relevância no campo do direito penal1 em certos casos pode
constituir uma circunstância agravante ou desculpante, assim como tem
também relevância no campo do direito do arrendamento, onde se
reconhece o direito à transmissão do arrendamento, por morte do
arrendatário para o cônjuge, descendentes e ascendentes.

1
Nos casos em que existe parentesco entre o arguido e a vítima, tal facto pode constituir
circunstância agravante, como no caso do crime de homicídio qualificado em razão da qualidade
da vítima, que prevê a qualidade de descendente, ascendente, adoptante, adoptado ou parente
até ao terceiro grau da linha colateral do agente do crime, como circunstância qualificativa do
homicídio – art.º 150.º do novo Código Penal.

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