Autodeterminacao para Aprender Nas Aulas de Violao A Distancia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

TESE DE DOUTORADO

AUTODETERMINAÇÃO PARA APRENDER NAS AULAS DE VIOLÃO A


DISTÂNCIA ONLINE: UMA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA DA
MOTIVAÇÃO

GIANN MENDES RIBEIRO

PORTO ALEGRE
2013
GIANN MENDES RIBEIRO

AUTODETERMINAÇÃO PARA APRENDER NAS AULAS DE VIOLÃO A


DISTÂNCIA ONLINE: UMA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA DA
MOTIVAÇÃO

Tese submetida como requisito parcial para a


obtenção do grau de Doutor em Música. Área
de concentração: Educação Musical.

ORIENTADORA: PROFA. DRA. LIANE HENTSCHKE

PORTO ALEGRE
2013
Aos meus pais, Francisco e Luzenir, meus eternos mecenas, e
à minha esposa Priscila, pelo apoio, carinho e paciência.
AGRADECIMENTOS

À Dra. Liane Hentschke, minha orientadora, por acreditar no meu objeto de pesquisa e pelas
confiança, paciência e orientação aberta ao novo.
Aos professores do PPGMUS da UFRGS, por minha formação como pesquisador e pelo
acesso aos fenômenos musicais.
Às professoras Dra. Ana Cristina Tourinho, Dra. Sueli Édi Rufini e Dra. Jusamara Sousa,
pelas disponibilidade e contribuição nesta fase de conclusão de tese.
Aos participantes deste estudo, pela disponibilidade de aprendermos juntos no mundo online.
À minha família pela preocupação, orientação e angústias partilhadas na minha escolha
profissional.
Ao Grupo FAPROM, pelas calorosas discussões que me levaram a enxergar melhor o
fenômeno estudado.
À Isolete Kichel, Secretária do Programa de Pós- Graduação em Música da UFRGS, pela
paciência, pelo carinho e pelo respeito sempre demonstrados.
Aos colegas André Kolodiuk, Tim Jones, Carla Santos, Anete Weichselbaum, Ana Francisca
Schneider, Barbara Ziel, Miguel Besnos, Matheus Leite, Jean Presser, Edson Figueiredo,
Francine Kemmer, Cristina Cereser, Daniele Kohlrausch, Leila Dias, Vânia Fialho, Carla
Lopardo, Adriana Bozzeto, Fernanda Oliveira, Silvia Ramos, Allan César, Márcia Puerari,
Nidia Kiefer, Débora Borges, Pamela Ramos, com cujas trajetórias profissionais pude
aprender muito. Também a Mário André, pela amizade e pelo apoio em várias fases da
pesquisa.
Ao amigo Rui de Britto (in memoriam), companheiro que sempre acreditou no meu sucesso
profissional.
Ao Departamento de Artes da UERN e à Diretoria Acadêmica do IFRN/Mossoró, que me
permitiram investigar outras possibilidades de aprendizagem musical.
Aos professores Lincolln Souza, Elder Pereira, José Miranda Junnior e Alexandre Náder,
pela colaboração durante a realização da pesquisa.
Ao meu fiel escudeiro Ruãnn Cézar, que monitorou cuidadosamente a infraestrutura para a
realização das videoconferências.
À UERN e ao IFRN, por acreditarem e investirem na minha formação profissional.
À CAPES, pelo apoio financeiro disponibilizado para a realização desta pesquisa.
RESUMO

Esta pesquisa aborda a motivação para aprender música em ambientes de aprendizagem


virtual sob uma perspectiva teórica sociocognitiva da motivação. Tem como objetivo geral
investigar os processos motivacionais de estudantes em interações online, em aulas de violão
a distância, no curso de Licenciatura em Música da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UERN), com base na Teoria da Autodeterminação (RYAN; DECI, 2004; DECI;
RYAN, 2008a). E como objetivos específicos analisar as percepções de satisfação das
necessidades de autonomia, competência e pertencimento dos estudantes nas interações
online; identificar a qualidade motivacional dos estudantes para aprender violão em interações
online; discutir influências socioambientais sobre a motivação de estudantes; verificar as
manifestações das necessidades psicológicas básicas em interações síncronas e assíncronas e
destacar as ferramentas de interações online que auxiliaram no processo educacional a
distância. A metodologia utilizada neste estudo foi a pesquisa-ação integral (MORIN A.,
2004). Os dados analisados foram coletados por meio de observação participante, entrevistas
semiestruturadas, filmagens das interações realizadas nas videoconferências e registros de
diálogos em fóruns síncronos e assíncronos. Os resultados apontaram que a principal
motivação dos estudantes não era a intrínseca. Em vez disso, a motivação foi considerada
complexa, multifacetada e sensível a determinadas situações. As interações síncronas e
assíncronas, da forma complexa e complementar proposta nesse estudo, puderam suprir as
necessidades psicológicas básicas dos estudantes, bem como possibilitar uma alternativa
viável e efetiva para a formação musical desses estudantes.

Palavras-chave: Motivação. Teoria da autoderteminação. Interações online. Educação


musical a distância online.
ABSTRACT

This research approaches the motivation in learning music in virtual learning environments
under the sociocognitive theoretical perspective of motivation. The research aims, as general
objective, to investigate the students’ motivational processes in online interaction in guitar
classes through distance education in the Degree in Music at the State University of Rio
Grande of Norte (UERN), based on the Self-Determination Theory (RYAN; DECI, 2004;
RYAN; DECI, 2006). The specific objectives sought to analyze the perceptions satisfaction of
the needs for autonomy, competence and belonging of students in online interaction; to
identify the quality motivational of the students in those online interactions; to discuss the
environmental influences on the students’ motivation, to verify the manifestations of basic
psychological needs for synchronous and asynchronous interactions, and to highlight the tools
that helped the online interactions in a distance education process. The methodology used on
this study was the educational action-research (MORIN, 2004). The analyzed data were
collected through participant observation, semi structured interviews, footage of the
interactions made in videoconferencing and conversation records in synchronous and
asynchronous forums. The results show that the major motivation of the students was not
intrinsic. Instead, the motivation was considered complex, multifaceted and sensitive in
determined situations. The synchronous and asynchronous interactions, in the complex and
complementary way proposed in this study, could provision the basic psychological needs of
the students, as well as, enable a viable and effective alternative to the musical education of
these students.

Keywords: Motivation. Self-determination theory. Online interaction. Online distance music


education.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: O continuum de autodeterminação ................................................................................. 61


Figura 2: Ciclos com as fases internas e externas do processo ..................................................... 81
Figura 3: Disposição dos alunos e dos esquipamentos na sala de videoconferência ................... 92
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Gerações da EAD e suas tecnologias ........................................................................... 31


Quadro 2: Estrutura de coleta, análise e discussão dos dados ....................................................... 95
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 12
2. CARACTERÍSTICAS E CONCEPÇÕES SOBRE EAD .................................................... 18
2.1. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, ONLINE: DESAFIOS
CONTEMPORÂNEOS .............................................................................................. 22
2.2. O PAPEL DA INTERAÇÃO E AS DIFERENTES ABORDAGENS
EDUCACIONAIS A DISTÂNCIA ............................................................................ 25
2.3. EDUCAÇÃO MUSICAL A DISTÂNCIA NO CENÁRIO
INTERNACIONAL.................................................................................................... 35
2.4. EDUCAÇÃO MUSICAL A DISTÂNCIA NO BRASIL.................................... 40
2.5. MOTIVAÇÃO PARA APRENDER NA EAD ONLINE ................................... 48
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO (TAD) ...... 51
3.1. A UNIVERSALIDADE DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO ............. 52
3.2. TEORIA DAS NECESSIDADES PSICOLÓGICAS BÁSICAS ....................... 54
3.2.1. Necessidade de Autonomia............................................................................... 55
3.2.2. Necessidade de Competência ........................................................................... 56
3.2.3. Necessidade de Pertencimento ......................................................................... 57
3.3. TEORIA DA AVALIAÇÃO COGNITIVA ........................................................ 58
3.4. TEORIA DA INTEGRAÇÃO ORGANÍSMICA............................................... 60
3.5. TEORIA DAS ORIENTAÇÕES DE CAUSALIDADE ..................................... 62
3.6. TEORIA DAS METAS MOTIVACIONAIS ..................................................... 64
3.7. PESQUISAS QUE AVALIARAM A MOTIVAÇÃO MUSICAL SOB A
PERSPECTIVA DA TAD .......................................................................................... 66
4. METODOLOGIA.................................................................................................................... 75
4.1. DEFINIÇÃO DO MÉTODO ............................................................................... 75
4.2. PLANEJAMENTO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO ............................. 80
4.2.1. Reestruturação da disciplina ............................................................................. 81
4.2.2. Elaboração do material didático ....................................................................... 82
4.3. INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS ................................................ 86
4.3.1. Critérios para seleção dos estudantes ............................................................... 86
4.3.2. Técnicas de coleta de dados .............................................................................. 87
4.3.2.1. Entrevistas diagnósticas ..................................................................................87
4.3.2.2. Entrevistas centralizadas na questão de pesquisa.......................................... 88
4.3.2.3. Observação participante..................................................................................88
4.3.2.4. Diálogos das interações assíncronas .. .............. .............................................88
4.3.3. Aulas na modalidade a distância....................................................................... 89
4.3.4. Infraestruturas física e tecnológica .................................................................. 91
4.4. ESTRUTURA DA COLETA, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ......... 92
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS.............................................................................. 97
5.1. CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDANTES ..................................................... 97
5.1.1 Síntese dos primeiros contatos com os participantes ....................................... 105
5.2. ASPECTOS INTRAINDIVIDUAIS E INFLUÊNCIAS
SOCIOAMBIENTAIS NA MOTIVAÇÃO EM AULAS DE VIOLÃO A
DISTÂNCIA ONLINE ............................................................................................. 105
5.3. PERCEPÇÕES DA AUTONOMIA NAS AULAS DE VIOLÃO A
DISTÂNCIA ............................................................................................................. 106
5.3.1. Lócus de causalidade percebido ..................................................................... 107
5.3.2. Volição percebida ........................................................................................... 109
5.3.3. Influências socioambientais na motivação em aulas de violão a distância
online ........................................................................................................................ 112
5.3.4. Síntese das percepções sobre a autonomia ..................................................... 119
5.4. COMPETÊNCIA PERCEBIDA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA .......... 120
5.4.1. Desafio originado nas tarefas.......................................................................... 120
5.4.2 Feedback positivo ............................................................................................ 125
5.4.3. Síntese da percepção de competência ............................................................. 136
5.5. PERTENCIMENTO PERCEBIDO NA MODALIDADE A DISTÂNCIA ..... 137
5.5.1. Vínculo social ................................................................................................. 144
5.5.2 Síntese da percepção de Pertencimento ........................................................... 150
6. AVALIAÇÃO ........................................................................................................................ 152
6.1. AVALIAÇÃO DOS DIÁLOGOS E FERRAMENTAS DE INTERAÇÃO ..... 152
6.2. AVALIAÇÃO DO ENCONTRO PRESENCIAL ............................................. 157
6.3. AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO ................................................... 158
6.4. AVALIAÇÃO DAS ENTREVISTAS............................................................... 159
6.5. AVALIAÇÃO DAS OBSERVAÇÕES NAS VIDEOCONFERÊNCIAS ........ 160
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 162
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 168
APÊNDICE A - Material didático.............................................................................................. 188
APÊNDICE B - Carta solicitando permissão à Direção da Faculdade de Letras e Artes para a
realização da pesquisa. ................................................................................................................ 230
APÊNDICE C - Carta solicitando permissão ao Coordenador do Departamento de Artes para
a realização da pesquisa. .............................................................................................................. 231
APÊNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido destinado aos alunos .............. 232
APÊNDICE E - Modelo da carta de Cessão de Direito ............................................................. 234
APÊNDICE F - Questões das entrevistas diagnósticas .............................................................. 235
APÊNDICE G - Questões das entrevistas centralizadas na questão de pesquisa. ..................... 236
APÊNDICE H - Programa do Recital de final das atividades ................................................... 237
12

1. INTRODUÇÃO

Esta tese de doutorado tem como foco a motivação para aprender em aulas de violão
a distância, online, no curso de Licenciatura em Música, modalidade presencial, da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Esta pesquisa utilizou, como
Ambiente Virtual de Aprendizagem Musical (AVAM), um site especificamente criado para
esse estudo, além de diversas ferramentas de comunicação síncronas e assíncronas, inclusive
redes sociais da internet. Nesse processo de aprendizagem a distância, online, estão imersos
professores, estagiário e alunos virtuais. Nesta pesquisa, procuro compreender os processos
motivacionais nas interações síncronas e assíncronas nas aulas de violão a distância, online.
Fundamentado no campo da psicologia sociocognitiva da motivação, sobretudo da perspectiva
de macroteoria da autodeterminação (RYAN; DECI, 2004; REEVE, 2006), da motivação
musical (RENWICK, 2008; LEGUTI, 2010; RENWICK; REEVE, 2012), da Educação a
Distância (MOORE; KEARSLEY; 2008; PETERS, 2006) e da Educação Online (SANTOS,
2003, 2010; LEMOS, 2008; SILVA, 2010), este estudo considera as interações online entre os
sujeitos, mediadas pelo ciberespaço e suas potencialidades interativas.
Entre os desafios enfrentados nos espaços em que atuo como professor de música,
destaco o uso das tecnologias digitais para a aprendizagem musical. Atuando como professor
de Artes/Música nas “Oficinas Violão” e nos cursos integrados do Instituto de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), percebi que os estudantes estavam
complementando sua formação musical apoiados com recursos digitais disponibilizados
gratuitamente na internet, desde o ano de 2004 (afinadores e metrônomo digitais, editores de
partitura, vídeos, etc.). Esses recursos digitais possibilitaram a esses estudantes outras
maneiras de aprendizagem musical que, de certa maneira, despertaram-me a curiosidade.
Em 2007, como docente universitário em um curso de licenciatura em Música, fui
iniciado na modalidade a distância por meio de um convite para participar, como colaborador,
de uma pesquisa-ação1 cujo objetivo era analisar os padrões de interação mais frequentes e
pertinentes observados durante um curso de violão mediado por computador. Minhas
primeiras inquietações nessa modalidade de ensino direcionavam-se às seguintes
problemáticas: que estratégias, nas aulas de violão, são possíveis de serem transpostas para a
modalidade a distância? Quais os desafios, vantagens e características particulares para
ensinar e aprender em um ambiente online? Aliado a essa iniciação, o meu ingresso no grupo

1
BRAGA, 2009 (Tese de doutorado em Educação Musical).
13

de pesquisa Formação e Atuação de Profissionais em Música (FAPROM) do Programa de


Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que vem
estudando as teorias sociocognitivas da motivação desde o ano de 2006, despertou-me para a
possibilidade de investigar a motivação do aluno, especificamente nas aulas de violão, na
modalidade a distância, mediada pelo ciberespaço.
A cultura contemporânea, estruturada pelas tecnologias digitais (cibercultura), vem
possibilitando outras maneiras de socialização e aprendizagem, mediadas pelo ciberespaço.
No campo da Educação, esse espaço é potencializado por ambientes específicos de
aprendizagem virtual. Esse fator também está sendo considerado para a realização deste
trabalho, visto que os ambientes virtuais estão sendo cada vez mais utilizados no século XXI,
implicando, dessa forma, transformações na educação de modo geral, inclusive na EAD.
Sobre a motivação em ambientes online, as pesquisas tratam, em geral, os estudantes
virtuais como intrinsecamente motivados e concebem esses ambientes como propícios para
incentivar a motivação ideal do aluno. Portanto, ainda são poucos os estudos que reconhecem
visões contemporâneas da motivação, principalmente as que enfatizam a relação mutuamente
constitutiva do aluno e do ambiente de aprendizagem. Dessa maneira, somente a partir da
segunda metade dos anos 2000, intensificaram-se pesquisas nos ambientes virtuais, sob as
perspectivas contemporâneas da motivação, inclusive da Teoria da Autodeterminação (DECI;
RYAN, 2008b; ROVAI et al., 2007; SHROFF et al., 2007; SHROFF et al., 2008; XIE et al.,
2006; CHEN; JANG, 2010; HARTNETT, 2010). A Teoria da Autodeterminação (TAD)
pressupõe que os seres humanos apresentam uma orientação geral para o crescimento e o
envolvimento pessoal a fim de satisfazer necessidades psicológicas de autonomia,
competência e pertencimento em direção à motivação autodeterminada. Para a TAD, tais
necessidades refletem diretamente no relacionamento afetivo e saudável do indivíduo com o
meio ambiente, constituindo basicamente os fatores psicológicos que originam a motivação
(DECI; RYAN, 2000; RYAN; DECI, 2004).
A Educação a Distância (EAD) é cada vez mais encarada, nos dias atuais, como um
elemento facilitador nos processos de educação nas mais diversas áreas do conhecimento. Em
comparação a países como Canadá, Inglaterra, Estados Unidos e Austrália, há poucos anos é
que realmente começaram a ser criados, no Brasil, cursos superiores credenciados nessa
modalidade de ensino. Nos últimos anos, o Governo Federal Brasileiro aumentou
consideravelmente seus investimentos na área da Educação a Distância. Nesse contexto, em
2005, foi idealizada e estruturada, na Secretaria de Educação a Distância do Ministério da
14

Educação (SEED/MEC), a Universidade Aberta do Brasil (UAB), que só foi oficializada em


2006, pelo Decreto nº 5.800. Atualmente, a UAB é operacionalizada pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A partir desse momento, o número
de instituições que vem atuando na EAD no Brasil tem crescido consideravelmente (BRASIL,
2011, p. 202).
Essa modalidade de ensino tem despertado o interesse dos pesquisadores brasileiros,
inclusive daqueles ligados à área de educação musical (SOUZA, 2002; CAJAZEIRA, 2004;
HENDERSON, 2007; BRAGA, 2009; GOHN, 2009; KRÜGER, 2010; VIANA JÚNIOR,
2010; WESTERMAN, 2011; BORNE, 2011; OLIVEIRA, 2012). Especificamente na área de
música, atualmente, estão funcionando três cursos superiores em EAD, credenciados no país,
os quais são coordenados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade de Brasília (UNB), que
atendem aos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Bahia, Roraima
Acre, Tocantins, Goiânia, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo (NARITA; MARINS,
2012; RANGEL; NUNES, 2012).
Mesmo diante desse cenário, até o presente momento, não foram localizadas
publicações de estudos na área de música no Brasil em que haja sido investigada a motivação
dos alunos para ensinar e aprender nessa modalidade de ensino. Assim sendo, com a presente
pesquisa, pretendo discutir a motivação para aprender nas aulas de violão a distância, online,
sob a perspectiva de uma macroteoria contemporânea da motivação: a Teoria da
Autodeterminação (RYAN; DECI, 2004; REEVE, 2004, 2006). Dessa maneira, a definição
desse tema vem ao encontro dos meus interesses pessoal e profissional, uma vez que atuo
como docente na área de música, na qual fui iniciado nos últimos anos, em situações e
projetos com o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), inclusive na
modalidade a distância. Esta pesquisa foi realizada em um momento de interesse crescente da
área de educação musical para discutir a EAD no Brasil. Esse interesse pode ser constatado,
por exemplo, nas discussões de grupos de trabalhos específicos sobre essa temática, nos
encontros da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), realizados nos anos de
2003 e 2009, e da Associação de Pós-Graduação em Música (ANPPOM), a partir de 2009.
Além disso, a presença de trabalhos que abordam essa temática tem crescido
consideravelmente nos últimos encontros dessas associações.
Esta pesquisa foi direcionada para Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN), instituição onde atuo como professor de violão do curso de licenciatura em Música.
15

É esperado, assim, que este estudo possa fomentar discussões sobre outras maneiras de
aprendizado em música e contribua para a descoberta de novos caminhos para a concretização
de outras pesquisas em música, a distância, possibilitando, de maneira mais ampla, que a
sociedade tenha acesso a um conhecimento contextualizado com a realidade dessa modalidade
de ensino.
Dessa forma, considerando a temática apresentada, proponho para esta pesquisa as
seguintes questões norteadoras: Quais as percepções de estudantes de um curso de
Licenciatura em Música sobre a satisfação de suas necessidades psicológicas básicas de
autonomia, competência e pertencimento em aulas de violão a distância, online? Que
interações online em aulas de violão a distância podem promover a satisfação das
necessidades psicológicas básicas dos estudantes em uma licenciatura em Música? A partir
desses questionamentos, a presente pesquisa teve como objetivo geral investigar os processos
motivacionais dos estudantes nas interações online em aulas de violão a distância no curso de
Licenciatura em Música da UERN, sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminação. O lócus
deste estudo foi um curso presencial de Licenciatura em Música, especificamente a disciplina
de Prática Instrumental III em Violão. Participaram deste estudo, voluntariamente, cinco
estudantes matriculados nessa disciplina, residentes nas cidades de Mossoró e Grossos, ambas
no Rio Grande do Norte.
Esta pesquisa tem, como objetivos específicos, os seguintes: analisar as percepções
das necessidades de autonomia, competência e pertencimento dos estudantes nas interações
online; identificar os tipos de motivação dos estudantes para aprender violão nas interações
online; discutir as influências socioambientais sobre a motivação dos estudantes; verificar as
manifestações das necessidades psicológicas básicas nas interações síncronas e assíncronas; e
destacar as principais ferramentas de interações online que auxiliaram nos processos
motivacionais a distância.
É importante salientar que, mesmo tratando das características e concepções históricas
da EAD, esta pesquisa foca a subcategoria online da aprendizagem a distância (BATES,
2005) para investigar os processos motivacionais nas interações em aulas de violão em um
curso presencial de Licenciatura em Música. Na pesquisa, portanto, não pretendi utilizar
outros modelos educacionais a distância nem verificar a qualidade do ensino instrumental
(violão) nessa modalidade, ofertado pela UERN.
A metodologia empregada para alcançar os objetivos propostos e responder às
questões de pesquisa foi a pesquisa-ação educacional (MORIN, 2004). O modelo da
16

pedagogia aberta proposta por Morin (2004) entra em consonância com a abordagem
educacional “Estar Junto Virtual”, que prevê a participação engajada dos sujeitos na resolução
de um problema ou projeto (VALENTE, 2010, 2011).
As técnicas de coleta de dados utilizadas foram a observação participante e entrevistas
presenciais de caráter diagnóstico e online com foco nas questões da pesquisa. No entanto, a
natureza dos aspectos pretendidos também requereu a adoção de outros instrumentos de
registros de dados para complementar as informações, tais como: gravações em vídeos,
registros de diálogos nos fóruns de discussão online, dentre outros. Participaram deste estudo
cinco estudantes matriculados no primeiro semestre de 2011 e dois professores do curso de
Licenciatura em Música da UERN.
Esta tese de doutorado foi organizada em sete capítulos. Após o capítulo 1,
Introdução, apresento o capítulo 2, Características e Concepções sobre a EAD, no qual
destaco o papel da interação e as diferentes abordagens educacionais dessa modalidade de
ensino até os mais recentes desafios dos ambientes educacionais online. Ainda traço um
panorama nacional e internacional da EAD na área de música e da motivação para aprender
em ambientes de aprendizagem online. No âmbito dessa temática de estudo, citei
principalmente os trabalhos que tiveram como foco a didática da EAD, online, e a motivação
musical.
No capítulo 3, Fundamentação Teórica: Teoria da Autodeterminação (TAD)
apresento e contextualizo a TAD em contextos educativos, sobretudo os musicais. Os
processos motivacionais foram vistos principalmente a partir das perspectivas da motivação
em ambientes online na visão de Hartnett (2010) e da motivação musical presencial segundo
Renwick (2008) e Legutki (2010).
No capítulo 4, Metodologia, abordo o modelo da pesquisa-ação integral (MORIN,
2004). Apoiado nas concepções desse autor, relato os caminhos percorridos a fim de intervir
em uma realidade social com base na perspectiva implicante entre atores e autores e
utilizando uma pedagogia aberta (MORIN, 2004). Em seguida, explico a combinação das três
maiores fases (planejamento, implementação e avaliação), a partir das quais outros estágios
mais específicos da pesquisa se desenvolveram. Finalizo este capítulo, apresentando os
instrumentos e a estrutura de coleta, análise e discussão dos dados.
No capítulo 5, Análise e discussão dos dados, são expostos a caracterização dos
participantes, as percepções das necessidades psicológicas básicas de autonomia, competência
17

e pertencimento dos estudantes e as influências socioambientais para a motivação musical


(violão) a distância, online.
No capítulo 6, Avaliação da proposta, discuto o modelo e as fases desenvolvidas
nesta pesquisa e teço algumas considerações sobre o modelo de análise desenvolvido para
auxiliar nas questões desta pesquisa, levando em consideração o olhar discente.
No capítulo 7, Considerações finais, apresento as etapas para o desenvolvimento
desta pesquisa, destaco algumas considerações que julgo relevantes para sintetizar os
resultados do presente estudo e aponto algumas contribuições deste estudo para a área de
educação musical, bem como algumas possibilidades que poderiam impactar nas práticas de
ensino e aprendizagem online.
18

2. CARACTERÍSTICAS E CONCEPÇÕES SOBRE EAD

Nas pesquisas e práticas em educação a distância, distintas situações, características e


concepções são percebidas. A evolução dessas práticas é dividida por Moore e Kearsley
(2008) em pelo menos cinco gerações, que se iniciam com a instrução por correspondência e
vão até o ensino e o aprendizado online nos dias atuais. A primeira geração teve como
objetivo educacional o uso da tecnologia para alcançar indivíduos que, de outro modo, não
poderiam se beneficiar dela. Nessa geração, o meio de comunicação era o texto e a instrução
por correspondência. Na segunda geração, a educação foi difundida pelo rádio e pela
televisão. A terceira geração, diferentemente das demais, não foi muito caracterizada pela
tecnologia de comunicação e sim pela criação da organização da EAD nas universidades
abertas. Na década de 1980, aconteceram as primeiras experiências de interação entre grupos
em tempo real a distância, em aulas mediadas por áudio e videoconferências transmitidas por
telefone, satélite, cabo e redes de computadores. A geração mais recente de EAD é
caracterizada pelo ensino e aprendizado online em universidades virtuais (MOORE;
KEARSLEY, 2008). No entanto, a incorporação das TIC, sobretudo a inclusão da internet,
causou uma significativa mudança nas concepções da EAD.
Essa evolução, atualmente, tem sido organizada, por muitos autores, em etapas ou
ondas, pelo fato de essas fases não terem um caráter estanque. Na realidade, todos esses
formatos de EAD ainda podem ser encontrados nos dias atuais (PALHARES, 2009). Hoje,
ainda é possível perceber algumas concepções que dão ênfase à autoaprendizagem, ao ensino
individualizado, desconsiderando-se a necessidade da interação entre os indivíduos no
processo de ensino e aprendizagem, em detrimento de outra tendência em EAD, que valoriza
a interação entre os participantes e o processo colaborativo de construção do conhecimento.
Para Moore e Kearsley (2008), houve um período em que toda a educação estava sob
forte influência da teoria behaviorista da aprendizagem, incluindo o ensino por
correspondência. Sob o ponto de vista behaviorista, o fato de os alunos não estarem ao
alcance imediato do professor foi considerado um problema na otimização do controle desses
estudantes. Para tanto, os cursos utilizavam um alto grau de estruturação, inclusive para medir
o sucesso de todos os alunos de acordo com os padrões precisos incluídos nos objetivos do
programa. Nesses programas, o desafio para o educador era de produzir um conjunto de
objetivos e técnicas que se adaptassem a todos os alunos, em grande número, e a distância, de
19

maneira que ninguém se desviasse do caminho ou suplantasse as dificuldades (MOORE;


KEARSLEY, 2008).
A ideia de os alunos serem indivíduos autônomos, responsáveis pela sua própria
aprendizagem, com base nas suas experiências prévias, recebeu muito pouca atenção, a não
ser de alguns círculos da EAD para adultos. No ensino a distância tradicional, as interações
entre docentes e discentes, bem como dos alunos entre si, eram quase sempre restritas,
implicando dificuldades consideráveis, além do fato histórico de essa modalidade de ensino
ter sido concebida para a educação de adultos com maturidade e motivação para a
autoaprendizagem (PETERS, 2006; BELLONI, 2006).
Questionamentos sobre a eficiência dessa modalidade educacional levaram
pesquisadores a estudar, sob diferentes pontos de vista, os fatores que afetam o sucesso e o
fracasso dos alunos nessa modalidade de ensino (ALMEIDA, 2009; KEMBER, 1995, 2007).
Kember (1995) desenvolveu um modelo de aprendizado aberto na tentativa de prever a
conclusão dos alunos em cursos a distância. Esse estudo identificou determinados fatores
prognósticos de provável conclusão de um curso de EAD. Os alunos que expressam a
intenção (determinação) de concluir o curso, geralmente, conseguem fazê-lo por esse modelo.
Já os alunos inseguros acerca de suas capacidades para concluir apresentam grande
probabilidade de desistência. A entrega antecipada ou pontual das tarefas foi outra causa
apontada para um possível sucesso. A conclusão de outros cursos em EAD foi outro fator
positivo para os alunos concluírem outros cursos subsequentes.
O conhecimento dos fatores apontados no modelo de Kember (1995) pode orientar
professores a identificar alunos em situação de risco de evasão. Esse modelo baseou-se em
várias pesquisas sobre a desistência dos alunos nos cursos presenciais e de EAD. Para
formular e validar seu modelo, ele usou dados empíricos, obtidos por meio de entrevistas e
questionários aplicados a alunos universitários do Reino Unido, Papua - Nova Guiné,
Austrália e China. A análise dos fatores apresentou quatro variáveis para o modelo: integração
social, integração acadêmica, atribuição externa e incompatibilidade acadêmica.
Nos resultados do estudo de Kember, 80% da variação total do número de alunos que
concluíram os cursos puderam ser explicados pelas variáveis do seu modelo. O fator de
integração acadêmica positiva contém as subescalas “abordagem profunda” e a “motivação
intrínseca”. Já o fator de incompatibilidade acadêmica possui as subescalas “abordagem
superficial” e “motivação extrínseca”. Para esse modelo, o progresso do aluno pode ser
melhorado se: a elaboração de um curso priorizar o desenvolvimento de motivação intrínseca;
20

a abordagem profunda da matéria do curso for utilizada, e o curso estiver em conformidade


com as expectativas dos alunos (KEMBER, 1995).
Outras pesquisas em EAD estudaram o sucesso e o fracasso dos estudantes por meio
das características da personalidade e do estilo de aprendizagem dos alunos. Para tais
pesquisas, a persistência, a determinação e necessidade de realização são qualidades que
afetam positivamente o sucesso dos alunos a distância (MOORE; KEARSLEY, 2008;
PALOFF; PRATT, 2005). Para Moore e Kearsley (2008), a natureza da motivação do aluno
(intrínseca ou extrínseca) para se matricular em um determinado curso pode afetar seu
sucesso. Porém, estudos têm revelado que os números de desistência em cursos a distância
têm diminuído consideravelmente nas últimas décadas. Nos cursos universitários norte-
americanos, esses números já são semelhantes aos da educação presencial. Pesquisadores
apontam que a grande dificuldade metodológica para estudar os motivos que levam os alunos
a desistir são os acúmulos e as variedades de causas (MOORE; KEARSLEY, 2008).
No Brasil, a EAD tem crescido de maneira exponencial a partir do ano de 2005.
Todos os levantamentos realizados pelo governo federal brasileiro têm demonstrado uma
evolução em relação ao crescimento do país. Mesmo com a crise internacional a partir de
2008, o crescimento da EAD é notório. Em 2009, os cursos de graduação a distância
cresceram 90% em relação ao número de alunos de 2008 e, em 2010, a oferta de cursos
superiores dobrou em relação aos anos de 2008 e 2009. O Ministério da Educação (MEC)
deixou transparente, por meio de dados, o avanço da educação privada sobre a pública em
EAD. Os dados do último censo realizado pelo MEC revelam uma diminuição significativa
nas taxas de evasão. Os índices revelados foram maiores no setor público, mas os motivos
mais apontados pelos alunos pesquisados de 129 instituições públicas e privadas credenciadas
no país foram a falta de dinheiro e de tempo. Contudo, outros problemas referentes ao
desconhecimento da metodologia e seu estranhamento revelaram números expressivos
(ABED, 2010).
Os modelos de ensino focados em conteúdos prontos parecem ser, para muitos
programas, mais rentáveis do que os modelos colaborativos, que precisam de mais tempo para
mediação, bem como de acompanhamento de professores. Porém, pesquisas têm identificado
e estudado padrões interativos no processo de aprendizagem colaborativa a distância. O
apreço, a inclusão e o senso de solidariedade do grupo, bem como a facilidade de expressão e
a síntese de vários pontos de vista, sem que somente um único aluno se destaque, são
21

consideradas características importantes na construção social online (MOORE; KEARSLEY,


2008; BRAGA, 2009).
Hoje, muitos programas em EAD já permitem um maior exercício da autonomia dos
alunos. Mas isso não significa que esses alunos sejam totalmente autônomos ou estejam
preparados para agir dessa forma ou que devam ser tratados dessa maneira. Para Moore e
Kearsley (2008), a autonomia dos alunos significa as diferentes capacidades nas tomadas de
decisões sobre as peculiaridades de suas aprendizagens. Já Belloni (2006) destaca, como
característica promotora da autonomia, o processo de aprendizagem centrado no aluno,
segundo o qual o modelo tradicional de aprendizagem teria de ser redimensionando. Nesse
sentido, o papel do professor deveria ser assumido como recurso para o estudante,
considerado como ser autônomo, gerente de sua aprendizagem, capaz de autodirigir e
autorregular esse processo.
Para Belloni (2006), os estudos referentes ao conceito de aluno autônomo ainda
estão em fase embrionária, do mesmo modo que o estudante autônomo é ainda considerado
uma exceção para todas as modalidades de ensino. Essa autora acredita que, para que as
discussões avancem, será necessário os professores, principalmente, considerarem que,
embora sejam eles os responsáveis pelas tarefas de “definir e distribuir o currículo”, o autor
da aprendizagem é o aluno. O conceito de aprendizagem autônoma para essa autora implica
nas dimensões de “autodireção” e “autodeterminação”2 que notadamente não se realizam
facilmente por muitos alunos tipicamente virtuais (BELLONI, 2006, p. 46). Para Belloni
(2006), as dimensões de autodireção e autodeterminação são terminologias empregadas,
sobretudo, nos estudos de autoaprendizagem em EAD para adultos. Desse modo,
pesquisadores revelam que atividades a distância, se bem feitas, conferem autonomia aos
alunos e, se associadas a atividades colaborativas, podem compor um conjunto de estratégias
combinadas, muito interessantes e dinâmicas (MORAN; MASETTO; BEHRENS, 2008).
Nos últimos anos, tem sido discutida a importância de políticas que ampliem o
acesso ao ensino superior, garantindo a qualidade e a equidade na educação. Nesse cenário, o
grande desafio a ser enfrentado pela EAD é o equilíbrio dessas três dimensões: acessibilidade,
equidade e qualidade. Algumas análises de cursos de EAD indicam que, na maioria das vezes,
a transmissão de informação tem sido enfatizada em detrimento da construção do
conhecimento. Em alguns casos, essas análises apresentaram as possibilidades de os

2
Autodireção e autodeterminação para Belloni (2006) são terminologias empregadas, sobretudo, nos estudos de
autoaprendizagem em EAD para adultos.
22

estudantes construírem conhecimento com as informações obtidas. Porém, os resultados


apontam ser necessário entender que essa construção individual é limitada, porque, por mais
esforço que os estudantes realizem sozinhos, os conteúdos não poderão ser assimilados sem o
auxílio de especialistas (MORAN; MASETTO; BEHRENS, 2008).
Algumas abordagens contemporâneas, apresentadas na próxima seção, esclarecerão o
modo como alguns meios tecnológicos podem ser combinados, possibilitando melhores
condições para a interação entre professores e alunos e alunos entre si. Entretanto, alguns
estudiosos esclarecem que os maiores desafios da EAD não são apenas de ordem tecnológica
(MAIA; MEIRELLES, 2004). Para esses autores, a EAD ainda está muito vinculada ao
atendimento de massa, de baixo custo, com a qualidade educacional relegada a segundo
plano. Além disso, para que haja interação efetiva entre o professor e alunos é preciso que
esse professor esteja preparado para entender o que significa construir conhecimento e
disponha de tempo para poder interagir com seus alunos.
Alguns modelos educacionais a distância na contemporaneidade oferecem grandes
possibilidades educacionais através dos meios tecnológicos. Todavia, a complexidade de se
criarem circunstâncias ideais para os estudantes construírem seu conhecimento com auxílio de
meios tecnológicos é um desafio. Os resultados de algumas pesquisas apresentadas a seguir
revelam que os cursos a distância deixam muito a desejar nesse sentido. Portanto, é
fundamental entender e reconhecer tais limitações para se conseguir avanços na EAD.

2.1. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ONLINE: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS

Com a incorporação das mais recentes tecnologias de informação e comunicação


pela EAD, desafios complexos emergiram para gestores e educadores sobre as inovações e
particularidades educacionais provocadas pelo ambiente virtual nessa modalidade. Pesquisas
revelam que o ambiente de aprendizagem online requer dos alunos iniciativas, tornando-os
mais ativos e menos controlados pelos professores. Para Peters (2004), o modelo online abriu
espaço para o desenvolvimento da aprendizagem autorregulada.

Sem sua iniciativa e atividades, o processo de aprendizagem não poderia se dar ou


seria seriamente prejudicado. Sua independência e autorregulação são, por assim
dizer, parte integrante do sistema. Essa característica em particular deve ser
considerada um importante trunfo de aprendizagem on-line. (2004, p. 197)

Embora as características acima descritas sejam importantes para o sucesso do aluno


virtual, não se pode esperar que todos sejam capazes de agir de maneira autorregulada. Nessa
23

perspectiva, algumas pesquisas sinalizam que o papel do professor é fundamental para lidar
com as necessidades daqueles alunos que mais precisam de intervenções, as quais os ajudam a
ser mais autônomos (PALLOFF; PRATT, 2005; BELLONI, 2006; MOORE; KEARSLEY,
2008).
De acordo com Palloff e Pratt (2005), os alunos de sucesso acadêmico podem, na
verdade, ser aqueles que mais precisarão de ajuda no ambiente virtual. Esses autores
destacaram, em suas pesquisas, que os alunos mais dependentes, mesmo contribuindo com
discussões críticas e recebendo um feedback positivo dos colegas, acabaram demonstrando
um baixo senso de autoeficácia e preocupações com a aprendizagem. Esses estudantes
perceberam, com o auxílio dos colegas, que a necessidade de feedback estava relacionada às
suas angústias e busca pela aprovação. Desse modo, os pesquisadores acreditam que
professores de cursos a distância não devem esperar que todos os alunos virtuais tenham a
capacidade de agir independentemente, pois o aluno virtual precisa de todos os serviços que
são oferecidos ao aluno presencial. Os autores ainda advertem para se cuidar de outras
necessidades e questões relacionadas às características da EAD, principalmente a sensação de
isolamento e problemas potenciais de acesso aos recursos necessários.
De acordo com Peters (2006), a literatura da EAD aponta pouco espaço para o
desenvolvimento dos estudos autônomos nessa modalidade de ensino, e pouco se questiona
sobre as necessidades dos alunos que mais precisam de autonomia. Esse autor acredita que a
educação, em geral, deve transformar-se para dar condições à aprendizagem autônoma.
Pautado nisso, ele propõe, para a didática do ensino a distância, o diálogo com as concepções
de ensino e aprendizagem da Psicologia Humanista, segundo as quais os indivíduos são
considerados seres que desejam a autorrealização, podendo entender a si mesmos e modificar
sua autoconcepção para revelar um comportamento autodirigido.
Mesmo com o impacto que as TIC causaram na EAD, a autoaprendizagem continua
a ter um papel importante nas práticas convencionais dessa modalidade. Segundo Almeida
(2009), o estudo da autoaprendizagem é denominado heutagogia. Trata-se de um conceito que
amplia a concepção da educação de adultos, centrada na concepção do aprender fazendo.
Desse modo, incorpora-se a autodireção da aprendizagem com o foco nas experiências de
vida. Para alguns teóricos da EAD, o aluno nessa modalidade é considerado um indivíduo
autônomo, automotivado e, portanto, capaz de gerir seu próprio processo de aprendizagem,
mesmo sem a presença e o direcionamento de um professor (TRINDADE, 1992). Esse
conceito de Educação a Distância, voltado para um público adulto e autônomo, é denominado
24

de andragogia (ALMEIDA, 2009; BELLONI, 2006). Pesquisas demonstram que a


aprendizagem de adultos não exclui, necessariamente, a possibilidade de crianças e
adolescentes aprenderem de forma autoinstrucional, pois o que deve ser levado em
consideração para a estrutura de um curso e seu público-alvo é a forma de apresentação e
discussão do conteúdo, que deve ser congruente com estilos de aprendizagem diferenciados
(ALMEIDA, 2009; CARVALHO, 2010).
Mesmo com as possibilidades criativas e colaborativas inerentes ao avanço das TIC,
pesquisas revelam que a tecnologia em si mesma, qualquer que seja ela, não garante a
qualidade da EAD. Nesse sentido, pesquisadores contemporâneos buscam estudar
metodologias que possam dar conta das mudanças necessárias. Estudos sobre EAD, educação
presencial, ou semipresencial em ambientes virtuais de aprendizagem, discutem as
características e funcionalidades das tecnologias (SCHLEMMER, 2010). Nesses contextos,
são consideradas as diferenças e particularidades na ação de ensinar jovens e adultos, crianças
e grupos com necessidades específicas (ALMEIDA, 2009; KENSKI, 2008, 2010).
Na segunda metade dos anos 2000, a EAD brasileira passou por uma rápida expansão
e reconhecimento nunca percebido nessa modalidade. Porém, esse crescimento foi pouco
acompanhado por estudos científicos no campo educacional. Para Valente (2010), as
repentinas iniciativas das instituições públicas ou privadas para atender à demanda social por
cursos a distância precisavam ser conscientizadas pelos desafios e inovações pedagógicas
necessárias para os processos educativos na contemporaneidade. No entanto, nos últimos
anos, pesquisadores dos mais diversos campos do conhecimento têm sido desafiados com
questões emergentes no cenário educativo contemporâneo, tais como: os processos
educacionais e a inovação em EAD (MILL; PIMENTEL, 2010); a educação musical a
distância (GOHN, 2011); o papel da interação e as diferentes abordagens pedagógicas em
EAD (MILL, 2010; BEHAR, 2009); o acompanhamento e a avaliação em ambientes virtuais a
distância (KENSKI, 2010; VIANA JUNIOR, 2010); currículo e avaliação na EAD
(ALMEIDA, 2010); avaliação de material didático em EAD sob o olhar discente (PEREIRA;
PINTO, 2010); aprendizagem além-fronteiras e a EAD (FORMIGA, 2012); competência
digital na EAD (RAPOSO, 2012); psicologia humana na EAD (AZEVEDO, 2012); o novo
papel do professor na EAD (TARCIA; CABRAL, 2012); público infanto-juvenil na EAD
(ASSUMPÇÃO, 2012); estilos de aprendizagem na educação aberta online (OKADA;
BARROS, 2010), dentre outros.
25

2.2. O PAPEL DA INTERAÇÃO E AS DIFERENTES ABORDAGENS EDUCACIONAIS


A DISTÂNCIA

Nas pesquisas sobre as características da EAD desenvolvidas, no âmbito


internacional, por diversos autores, a questão da interação recebe tratamento diferenciado. As
primeiras discussões foram iniciadas por Moore (1989), que considerou as relações entre
alunos, professores e conteúdo. Posteriormente, ganhou destaque a adição das interações
aluno/interface (HILLMAN; WILLIS; GUNAWARDENA, 1994), aluno com ele próprio
(SOO; BONK, 1998), vicária (SUTTON, 2001), professor/professor, professor conteúdo e
conteúdo/conteúdo (ANDERSON, 2003b).
Moore e Kearsley (2008) perceberam que, pelo fato de o aluno estar separado do
professor e sozinho, é preciso que ele aceite, comparativamente a um aluno do ensino
presencial, uma maior responsabilidade na condução das suas atividades educacionais.
Portanto, para esses autores, a autonomia se traduz nas diferentes capacidades de os alunos
tomarem decisões a respeito de seu próprio aprendizado. A primeira ideia da interação a
distância para esses autores é que a distância é um fenômeno pedagógico e não apenas uma
questão de distância geográfica. Assim, a interação na EAD acontece na inter-relação dos
professores, alunos e conteúdos, em ambientes que possuem característica especial de estarem
separados entre si. Desse modo, a distância física precisa ser suplantada por técnicas especiais
de ensino.
Nos últimos anos, novas possibilidades de interação no ambiente virtual modificaram
as relações comunicativas entre professores e alunos entre si a distância. Nesse sentido,
pesquisadores têm discutido os desafios contemporâneos dessas interações para a EAD
online. Valente (2010) abordou o papel da interação que ocorre entre professor/aluno e alunos
entre si. Para esse autor, a presença ou não dessas interações define os diferentes
procedimentos didáticos utilizados na EAD, e o desafio da educação contemporânea de um
modo geral, inclusive da EAD, está em criar condições para além da transmissão da
informação, para que o processo de construção do conhecimento também ocorra. Isso implica
inovação e desenvolvimento de diferentes abordagens pedagógicas. No entanto, ainda são
perceptíveis, nos dias atuais, cursos e programas em EAD privilegiando somente a
transmissão da informação. Assim, as ações que criam oportunidades de construção do
conhecimento são raras e a interação com os indivíduos e com os objetos do meio tem sido
substituída por acesso à informação, usando para isso os recursos tecnológicos. Para Valente,
26

apenas disponibilizar a informação não é suficiente para que haja o processo de construção do
conhecimento (VALENTE, 2010).
Segundo alguns pontos de vista educacionais, é impraticável pensar que tudo que uma
pessoa aprende tenha de ser construído de maneira individual, sem o auxílio do outro
(FREIRE, 1996; VALENTE, 2011). Em conformidade com essas ideias, Godoy (2007)
cunhou a expressão Educação Bancária a Distância (EBAD), pautado na metáfora de Paulo
Freire, para revelar as facilidades da prática da educação bancária em alguns modelos de
EAD, principalmente as que negam a dialogicidade, impossibilitando a interação polifônica e
problematizadora entre os sujeitos. Nesse sentido, a EBAD seria o modelo a distância baseado
na transmissão de informações do professor para o aluno. No entanto, outras maneiras
pedagógicas e modelos educacionais têm emergido nos últimos anos como tendências para a
atual geração da EAD. Destacam-se entre elas: a abordagem Broadcast, “estar junto virtual”,
virtualização da escola tradicional e o modelo de educação online3.
A abordagem Broadcast, apesar de usar um dos mais eficientes recursos de busca
mediado por computador, permitindo encontrar de maneira rápida a informação existente em
banco de dados, CD-Roms e mesmo na web, apenas permite que os estudantes realizem
escolhas entre opções oferecidas. Outra característica dessa abordagem é que não existe
interação entre professor e aluno e mesmo entre os alunos. Dessa forma, a ênfase desse
modelo educacional está pautada no material instrucional e nos recursos de entrega da
informação para os estudantes. Assim, os materiais são os únicos meios com os quais os
alunos se relacionam. Nesse modelo, os alunos só poderão construir conhecimento se eles
forem capazes de estabelecer uma interação com o material fornecido, no sentido de esse
material conseguir desafiá-los a se modificar. Para Landim (1997), esse modelo educacional
cria dificuldades em virtude das diversidades psicológicas, sociológicas, culturais e históricas
dos diferentes interagentes desses materiais. Dessa forma, nem sempre é possível atingir a
maioria dos estudantes envolvidos. Assim, uns podem construir o conhecimento a partir do
material disponibilizado, outros não.
Essa abordagem é considerada eficiente para disseminação da informação para um
grande número de pessoas simultaneamente. Um exemplo dessa abordagem, porém usando a
televisão, foi o Telecurso 2000. Para minimizar a falta de interação com o professor, as ações
educacionais eram complementadas em telepostos que desempenhavam as seguintes funções:

3
Educação online é uma expressão contemporânea utilizada para se diferenciar do modelo a distância via
suportes analógicos unidirecionais, como o impresso, o rádio e a televisão (SILVA; PESCE; ZUIN, 2010).
27

servir de pontos de reentrega da informação; ser local de avaliação presencial, exigido para
certificação; e servir como local onde os alunos pudessem receber auxílio no processo de
significação da informação recebida. Apesar de haver sido montada uma infraestrutura
sofisticada, com as mais variadas TIC, a abordagem Broadcast é considerada, do ponto de
vista didático, pobre, porque está, sobretudo, baseada em transmissão de informação. Valente
(2011) acredita que a adoção de soluções educacionais que se limitam à transmissão da
informação são válidas, porém ele não acredita que os modelos baseados apenas na
transmissão da informação possam preparar cidadãos capazes de sobreviver e aproveitar os
sofisticados recursos existentes na atual sociedade do conhecimento.
A abordagem pedagógica “estar junto virtual” é fruto do advento da internet, da
telepresença possibilitada pelo desenvolvimento das TIC de base da telemática4. Essas
tecnologias têm estreitado os espaços e tempos para os processos educativos e os laços sociais
mantidos a distância por meio da interação intensa e dispersa (HARASIM et al., 1995;
RECUERO, 2009; VALENTE, 2010, 2011). Essa abordagem permite a interação mais
próxima entre professores e alunos de maneira virtual. Porém, para que ela seja estabelecida, é
preciso que o estudante esteja engajado na resolução de um problema ou projeto. Assim,
quando surgem dificuldades ou dúvidas, o suporte do professor auxilia o processo educativo
na resolução dos problemas via rede. Nessa abordagem, os alunos que não conseguem
resolver seus problemas enviam suas questões para o professor. Este reflete sobre as questões
solicitadas e envia sua opinião e outros materiais em forma de textos e imagens com
atividades que possam auxiliar os alunos a resolverem seus problemas. Após receber o
feedback informativo do professor, o aluno tenta colocar a atividade em prática, podendo
gerar novas questões que poderão ser solucionadas com o suporte do professor (VALENTE,
2010, 2011).
Embora essa abordagem seja rica em promover o processo de construção social do
conhecimento virtualmente, é considerada limitada quando comparada com outras abordagens
em EAD. Segundo Valente (2010), a manutenção de um nível desejável de interações não
permite que o professor atenda a mais do que vinte alunos. Sua experiência tem atestado que
esse é um número razoável, o que também é confirmado por outros pesquisadores
(HARASIM et al., 1995). No entanto, alguns procedimentos podem ser adotados para

4
Ciência que trata da manipulação e utilização da informação por meio do uso combinado de computador e
meios de telecomunicação.
28

amenizar essa limitação. Essa abordagem também requer uma equipe para auxiliar o
professor e entender o que está acontecendo, monitorando atividades do professor e
auxiliando-o na elaboração do material didático, sob demanda, para ser postado para os
alunos. No Brasil, esse modelo educacional foi adotado em diversos cursos de formação
docente e professores multiplicadores do Programa Nacional de Tecnologia Educacional
(ProInfo) para atuarem nos Núcleos de Tecnologia Educacional (NET) ou adotarem a
informática em suas práticas pedagógicas (VALENTE; PRADO; ALMEIDA, 2005;
VALENTE; ALMEIDA, 2007). Para Valente (2011), essa abordagem gera mudanças
profundas no processo educacional que nem a educação presencial foi capaz de implementar.
Portanto, o professor, nessa abordagem, precisa estar implicado em um ciclo de ações para
efetivar a construção do conhecimento dos alunos.

Na abordagem do estar junto virtual, o professor tem a função de criar


circunstâncias que auxiliem o aluno na construção do seu conhecimento. Isso
acontece porque o professor tem a chance de participar das atividades de
planejamento, observação, reflexão e análise do trabalho que o aluno está
realizando. (2010, p.34)

A interação professor/alunos, proporcionada pelas etapas do processo no modelo


acima descrito, cria condições informativas e desafiadoras no sentido de fazer com que as
ações aconteçam e os alunos cresçam gradativamente para vencer os desafios e as etapas para
a resolução de um problema ou execução de um projeto. Valente (2011) destacou que a
interação estabelecida nessa abordagem sempre se inicia entre o professor e o aluno, embora,
na continuidade do processo, seja notórias, entre os alunos, especialidades em assuntos que
nem mesmo o professor domina. Muitas vezes, alunos passam a auxiliar os colegas, criando
uma oportunidade de aprendizado em rede, em que cada um contribui com o seu potencial,
em colaboração. Para o autor, quanto mais ferramentas de interação o professor e os alunos
tiverem à disposição, mais efetivos e ricos poderão ser os ambientes de aprendizagem criados
entre professores e alunos (VALENTE, 2010, 2011).
A virtualização da escola tradicional está inserida numa posição intermediária entre a
abordagem broadcast e o “estar junto virtual”, pois o professor assume um papel menos ativo,
como acontece na abordagem do “estar junto virtual”, mas prevê algum tipo de interação entre
professores e alunos. Esse modelo busca implementar, utilizando meios tecnológicos, ações
educacionais de maneira semelhante ao ensino presencial. Na virtualização da escola
tradicional, grande parte das ações são centradas no professor, que detém o conhecimento e o
29

transmite aos alunos. De modo semelhante, como acontece nas aulas presenciais, essa
abordagem utiliza mecanismo de interação entre professores e alunos, mediado pelas TIC.
Para Valente (2011), grande parte das interações professor/aluno nessa abordagem
resume-se em o docente verificar se o discente consegue usar a informação fornecida,
exigindo deste uma aplicação dela em um domínio muito restrito, como um teste, uma prova
ou na resolução de um problema. Assim, o professor assume a função de elaborar e
disponibilizar o material didático, bem como as atividades a serem realizadas, e receber as
respostas dos alunos. Nesse sentido, o professor, ao receber as tarefas dos alunos, registra o
recebimento destas, corrige-as e fornece um feedback em forma de conceito ou nota. Esse
modelo educacional limita as interações para estimular o aluno a trabalhar em situações
criadas especificamente para que ele construa e atribua significado ao que está aprendendo
(VALENTE, 2011). Para Primo (2007), esse modelo educacional gera interações
denominadas de reativas, que serão detalhadas nos próximos parágrafos, as quais não são
suficientes para auxiliar os alunos em um processo de construção do conhecimento. Para
Valente (2001), é possível que essa abordagem possa gerar uma interação que leve à
construção do conhecimento. Portanto, o papel tradicional do professor precisa ser
redimensionado, passando a ser mais ativo, como acontece no “estar junto virtual”,
contribuindo para um processo que auxilie o aluno na construção do seu conhecimento. No
entanto, o número de alunos matriculados nas situações de implementações dessa abordagem
geralmente é grande, tornando muito limitada a interação professor/aluno (Valente, 2001).
Para alguns estudiosos da temática, as características do modelo de virtualização do
ensino tradicional apresentam mais desvantagens do que vantagens em relação ao ensino
tradicional presencial (VALENTE, 2011; SANTOS, 2010). Para esses autores, esse modelo
virtual fica a desejar, porque se perde a oportunidade do diálogo que ocorre na interação
presencial e não se utilizam as potencialidades reais das interações online. Para Valente
(2011), as únicas vantagens desse modelo educacional são a diminuição de custos e a
flexibilidade de o aluno gerenciar seus estudos em relação ao seu tempo. Porém, o autor
argumenta que essa abordagem em geral é apresentada de maneira equivocada, como um
modelo que prioriza a construção do conhecimento e a preparação de estudantes autônomos,
capazes de aprender continuamente. Esse modelo de EAD tem norteado grande parte dos
cursos ou ações a distância encontrados na internet. Essas ações acontecem com a mediação
de tecnologias computacionais integradas aos recursos digitais online utilizados pelos
ambientes de educação a distância (VALENTE, 2011; PENTA, 2008).
30

É perceptível a existência de múltiplas concepções pedagógicas em EAD. No entanto,


estudiosos da cibercultura5 argumentam que a educação online é um modelo educacional para
além das concepções da EAD tradicional. Esses pesquisadores defendem que o modelo
online, mediado pelas tecnologias digitais, impulsionou novos arranjos espaço-temporais para
educar indivíduos geograficamente dispersos, assim como ampliou práticas pedagógicas
presenciais. Desse modo, eles apontam que os mais recentes recursos de interação, as redes
sociais da internet, a ampliação da velocidade de acesso, o uso de bases de dados ampliadas,
as inúmeras condições para a realização de multiálogos virtuais (conversas de todos com
todos) e a integração de mídias digitais possuem características diferenciadas e possíveis de
serem desenvolvidas online (FRANCO, 2012; GUIMARÃES, 2012; KENSKI, 2010;
SANTOS, 2010; VALENTE, 2010, 2011).
Para esses ciberpesquisadores, o modelo tradicional da EAD baseada em mídias de
massa (impressos, audiovisuais em geral) não permite interatividade no sentido de promover
maior comunicação para a construção social do conhecimento (SANTOS, 2010; VALENTE,
2010; SILVA, 2010). Eles reconhecem que os estudos sobre a interatividade não emergiram
exclusivamente com o advento das TIC. Porém, defendem que foi no ciberespaço6 que ele
ganhou maior potencialidade. Para esses pesquisadores, o conceito de interatividade no
domínio das telecomunicações é mais suscetível de gerar uma troca bilateral com suas
manipulações complexas do que somente no diálogo homem-máquina. Assim, interatividade
é entendida como atitude intencional de se comunicar com o outro (SILVA, 2010).
Esses autores ressaltam que a educação online não é entendida apenas como uma
evolução das gerações da EAD, mas também como um fenômeno da cibercultura. Assim, ela
ocorre no conjunto de ações de ensino e aprendizagem mediados por interfaces digitais,
disponibilizadas nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), nos quais potencializam
comunicações interativas e hipertextuais como possibilidades de socialização e aprendizado
mediado pelo ciberespaço (LEMOS, 2008; SANTOS, 2010). No entanto, ainda é comum
encontrarmos, na literatura em educação e tecnologias, que a educação online é uma evolução
ou a mais recente geração da modalidade de EAD. Apesar de não concordarem com essa
visão, eles não descartam a possibilidade de a educação online estar na mais recente geração
da modalidade de EAD como mostra o quadro a seguir:

5
Cultura contemporânea estruturada pelas tecnologias digitais online (SANTOS, 2010).
6
O ciberespaço é considerado muito mais que um meio de comunicação ou mídia. Além de diversas mídias, esse
ambiente oferece uma pluralidade de interfaces de comunicação síncronas e assíncronas (SANTOS, 2010).
31

Quadro 1 - Gerações da EAD e suas tecnologias

GERAÇÕES DA EAD TECNOLOGIAS UTILIZADAS

Começa via papel impresso e, anos mais tarde,


Primeira Geração – 1850 a 1960 ganha a participação do rádio e da televisão.
Característica: uma tecnologia predominante.
Os meios são fitas de áudio, televisão, fitas de
Segunda Geração – 1960 a 1985 vídeo, fax e papel impresso. Característica:
múltiplas tecnologias sem computadores.
Correio eletrônico, papel impresso, sessões de
Terceira Geração – 1985 a 1995 chat, mediante uso de computadores, internet, cd,
videoconferência e fax. Característica: múltiplas
tecnologias, incluindo os computadores e as
redes de computadores.
Correio eletrônico, chat, computador, internet,
transmissões em banda larga, interação por vídeo
e ao vivo, videoconferência, fax, papel impresso.
Quarta Geração – 1995 a 2005 Característica: múltiplas tecnologias, incluindo o
(estimado) começo das tecnologias computacionais de
banda larga.
Identificada por James C. Taylor como sendo a
reunião de tudo o que a quarta geração oferece
mais a comunicação via computadores com
Quinta Geração sistema de respostas automatizadas, além de
acesso via portal a processos institucionais.
Enquanto a quarta geração é determinada pela
aprendizagem flexível, a quinta é determinada
por aprendizagem flexível inteligente.
Fonte: http://www.webaula.com.br/index.php/pt/acontece/arquivo-webaula/274-geracoes-de-ead-
marcadas-por-diferentes-tecnologias (acessado em abril de 2012).

Apesar de a quinta geração ainda ser caracterizada, por muitos autores, pela
aprendizagem flexível inteligente, baseando-se em tecnologias da internet (MOORE;
KEARSLEY, 2008), é notório que, nos últimos anos, outras características foram
incorporadas às mais recentes etapas ou ondas na EAD. Para além da aprendizagem flexível
inteligente online, em que os computadores pessoais armazenavam programas e arquivos
específicos de cada usuário com os riscos de perder o aparelho ou mesmo de sofrer danos, nos
dias atuais, surgiram outras características, como a computação nas nuvens (Clouding
Computing), que permite o armazenamento de programas e aplicativos em servidores
distantes, guardando neles, também, documentos de todos os tipos (áudio, vídeo, textos...). A
mobilidade é outra característica, mediante a qual os indivíduos utilizam cada vez mais
aparelhos simples e leves (laptop, netbook, tablets ou telefone celular). As possibilidades
desses aparatos pequenos e portáteis têm proporcionado o aprendizado móvel (m-learning)
32

(OKADA; BARROS, 2010). Os serviços diferenciados de informação da “Web 2.0” têm


levado alguns pesquisadores a sugerir que tudo que veio antes na web era apenas 1.0 (LITTO,
2010). Para Litto, a mais recente geração do aprendizado a distância online está divida em
duas gerações.

Enquanto a primeira geração caracteriza-se por um processo comunicativo


unidirecional, “de autoridade”, isto é, informação colocada em sites ou portais por
universidades, editoras, jornais e revistas [...] Na segunda geração, o processo
comunicativo era multidirecional, isto é, tinha conteúdo produzido pelos próprios
usuários, de modo descentralizado, voluntário, representando não uma voz de
“autoridade”, mas uma sabedoria vinda das “massas”, das pessoas que antes não
tinham como se expressar e ser ouvidas por um público tão grande, uma
“inteligência coletiva” caracterizada pelo espírito de “compartilhamento”, de
“participação” numa grande “conversação e interação”. (2010, p. 79-80)

Para Santos (2003, 2010) e EID (2011), mesmo com as potencialidades interativas
proporcionadas pelo advento da internet e seus ambientes virtuais de aprendizagem online,
muitos projetos de cursos na modalidade a distância migraram seus modelos para a rede,
mantendo a mesma lógica comunicacional de mídia de massa e dos padrões tradicionais da
EAD que separam os sujeitos dos processos de cocriação do conteúdo e do próprio modelo
didático. Essas pesquisas revelaram que o uso da tecnologia nem sempre estava associada a
uma inovação pedagógica (EID, 2011; SANTOS, 2003, 2010). A pesquisa realizada por
Santos (2003) em oito cursos online constatou que os processos de ensino-aprendizagem nos
ambientes virtuais utilizados poderiam ter sido mais interativos em virtude das
potencialidades de suas interfaces de comunicação síncrona7 e assíncrona8. Contudo, os
modelos educacionais, na maior parte desses cursos, estavam centrados na pedagogia da
transmissão, na lógica da mídia de massa, na autoaprendizagem e no modelo de tutoria
reativa9. Segundo a autora, o “online” era só a tecnologia, a metodologia e as práticas
docentes ainda estavam, sobretudo, baseadas nas tradicionais concepções da EAD de massa.
Nesse modelo, os estudantes interagem com os materiais didáticos sem cocriar, juntamente
com seus colegas e professores, o conhecimento. Por conta do limite das mídias de massa, a
EAD tradicional privilegia didaticamente as concepções de autoaprendizagem em oposição à
aprendizagem colaborativa, interativa e hipertextual. As características dos processos
7
A comunicação síncrona é aquela que simula uma interação em tempo real. Desta maneira, os sujeitos
envolvidos estão online no mesmo momento temporal, como por exemplo, nos canais de chat ou nas
videoconferências.
8
Nas comunicações assíncronas, típicas nos fóruns online e e-mails, a expectativa de feedbacks não é imediata.
Porém, é possível utilizá-los de modo imediato, mas em geral, espera-se que, nesse modo de comunicação, as
pessoas levem algum tempo para interagirem por não estarem presentes online no momento temporal da
interação.
9
Modelo em que o aluno pouco participa das discussões do conteúdo e da estrutura do curso (MATTAR, 2009).
33

baseados em mídias de massa estão mais centradas na abordagem instrucionista. Portanto, a


interação social, quando acontece, é de um para um, ou seja, professor/aluno ou
aluno/professor. No entanto, quando o material didático é bem escrito e desenhado, é possível
a interação dos alunos com o texto do autor. Todavia, interatividade não é possível somente
com a mediação de mídias de massa (SANTOS, 2010).
Entre as possibilidades nos padrões de interação online para além do modelo de
tutoria reativa, destacadas nas pesquisas de Santos (2003, 2010), são ressaltadas as vantagens
das interações mútuas em relação às reativas para os processos de aprendizagem online. Essas
duas formas distinguem-se, segundo Primo (2007), pelo modo de relacionamento mantido
entre os sujeitos.

[...] Interação mútua é aquela caracterizada por relações interdependentes e


processos de negociação, em que cada interagente participa da construção inventiva
e cooperativa da relação, afetando-se mutuamente; já a interação reativa é limitada
por relações determinadas de estímulo e resposta. (2007, p. 61)

Para Primo, as interações mútuas são caracterizadas por participantes reunidos em


torno de contínuas problematizações, enquanto as reativas são marcadas por predeterminações
típicas de estruturas de ensino fechadas, que impossibilitam a relação dialógica entre os
participantes. O autor prefere utilizar o termo interação mediada por computador em vez de
interatividade, porque, para ele, interessa o que se passa entre os indivíduos, sem que o foco
recaia exclusivamente sobre a produção, a recepção ou o canal comunicativo. No entanto, o
autor esclarece que, ao falar de interatividade, é possível pensar na interação homem/máquina,
mas é mais importante considerar a interação dialógica que ocorre entre as pessoas nas
maneiras síncronas e assíncronas mediadas pelo computador. Para Primo, a relação
homem/máquina não possibilita um diálogo, como entre seres humanos. Entretanto, ele
esclarece a importância de se considerar algumas reflexões sobre as interações eletrônicas que
acontecem nos dispositivos móveis, na TV digital, entre outros (PRIMO, 2007). Ou seja, para
o autor, as interações mútuas e reativas em um mesmo programa é uma combinação possível
de ser considerada.
Sobre o Programa de Educação Musical a Distância, Eid (2011) discutiu a construção
do currículo do Curso de Licenciatura em Música a Distância da UAB/UNB, baseada na sua
experiência como tutora a distância em disciplinas de formação de professores. Para a autora,
apesar de o curso da UAB/UNB estar comprometido com os desafios da realidade
contemporânea, bem como com modelos reflexivos para a formação dos professores, os
alunos, na sua experiência, pouco problematizaram suas práticas e, consequentemente, não
34

refletiram sobre elas. Baseada nas ideias de Lévy (1999), que não se concebe mais currículos
rígidos na pós-modernidade, essa tutora percebeu que as disciplinas de formação de
professores estavam prontas, lineares e estáticas para todos os alunos. Na sua percepção, a
maneira como foram pensadas essas disciplinas comprometeu o processo de construção
reflexiva do conhecimento.
Para discussão sobre possíveis práticas flexíveis nas disciplinas, Eid propõe a
concepção hipertextual, na qual atividades poderiam ser sugeridas pelos professores em
ferramentas do ambiente virtual. Nesse ambiente, o aluno deveria ser estimulado a participar
livremente das atividades, inclusive com flexibilização do tempo para realização destas e para
o fechamento dos assuntos estudados. Por sua vez, os tutores não precisariam seguir, a rigor,
um roteiro pré-estabelecido para o cumprimento das tarefas, possibilitando, assim, perceber as
características da turma e agir de acordo com as peculiaridades de cada aluno. Outro fator
apontado foi a possibilidade de os professores atualizarem os conteúdos quando achassem
necessário.
Para Eid (2011), a utilização ampla de vídeos, nesse modelo, pode ser pensada no
sentido de motivar alunos e professores a utilizarem links, imagens e áudios, objetivando
levantar e exemplificar discussões. Em consonância com as ideias da tutora da UAB/UNB,
Mattar (2009) reforça e amplia o papel da integração das mídias para as interações na EAD:

o grau das interações também varia em função das mídias utilizadas, como o texto,
áudio, vídeo, teleconferências entre outras. A combinação planejada dessas
diferentes formas de interação é um dos desafios da EAD. Todos esses tipos de
interação podem ocorrer síncrona e assincronamente, por meio de diversos gêneros
de comunicação. Interações síncronas envolvem um grau de espontaneidade que não
é fácil de encontrar nas interações assíncronas, as quais, entretanto, oferecem mais
flexibilidade para o aluno, já que podem ocorrer em qualquer lugar e horário (2009,
p. 118).

São inúmeros os tipos de aplicação que as tecnologias disponíveis têm recebido no


sentido de propiciar situações educacionais tanto na modalidade presencial quanto na
modalidade a distância. Naturalmente, a quantidade de material e cursos voltados a questões
mais teóricas é predominante. Porém, as interações síncronas mediante as videoconferências
são cada vez mais frequentes nas aulas práticas, inclusive de um instrumento musical
(BRAGA, 2009; KANGASLUOMA, 2010; GOHN, 2011). Nelas, busca-se priorizar
principalmente os aspectos inerentes à natureza prática do estudo instrumental. Ainda de
maneira síncrona, é possível realizar interações através de chats dos Messengers das redes
35

sociais que proporcionam, além da videoconferência, o envio do arquivo de vídeo


imediatamente, para uma posterior discussão de maneira síncrona ou assíncrona.
Na presente investigação, essas maneiras de interação tanto foram utilizadas para
estreitar os laços sociais a distância dos participantes, como para complementar as atividades
realizadas nas videoconferências. Em concordância com Mattar (2009), a flexibilidade
espaço-temporal propiciada nas interações assíncronas é uma característica importante para
manutenção das interações a distância. Nesse estudo, quando as interações foram agregadas às
redes sociais da internet para complementar os fóruns via e-mail, foi percebido que, além da
possibilidade da mensagem verbal, as redes sociais permitiram a troca de arquivos de áudio e
vídeo com mais praticidade entre participantes.
Na pesquisa de Braga (2009), as redes sociais da internet ganharam destaque devido
ao pouco sucesso das discussões em fóruns via e-mails. Como esses fóruns não funcionaram
bem durante o início das aulas, foi decidido usar o fórum do Orkut, rede social que fez muito
sucesso no Brasil e com a qual os adolescentes e jovens tinham muita familiaridade durante
essa pesquisa (BRAGA, 2009). Nesse estudo, os fóruns via e-mail foram considerados de
certa maneira bem sucedidos, porém as redes sociais da internet levaram mais destaque pela
possibilidade de serem enviados vídeos com mensagens verbais. As mensagens verbais
sozinhas não foram muito atraentes, principalmente pelo caráter prático da aprendizagem
instrumental (violão).
As próximas duas seções abordam o cenário internacional e brasileiro da Educação
Musical a Distância em diferentes contextos.

2.3. EDUCAÇÃO MUSICAL A DISTÂNCIA NO CENÁRIO INTERNACIONAL

A Educação a Distância (EAD) é cada vez mais encarada, nos dias atuais, como um
elemento facilitador nos processos de educação musical. Essa modalidade de ensino tem
despertado um crescente interesse de cursos, projetos e pesquisadores ligados à área de
música. A criação da Open Universty, no Reino Unido, em 1969, causou repercussão no
ensino da EAD em âmbito internacional e, especificamente na área de música, essa
universidade já iniciou seus cursos a distância desde 1972. Entretanto, somente na década de
1990, a internet começou a ser amplamente utilizada, surgindo, em 2007, os primeiros cursos
totalmente online (THE OPEN UNIVERSITY, 2010). Outro caso de instituição já
consolidada na Inglaterra é o da Universidade de Reading, na qual surgiu o MTPP (Music
36

Teaching in Professional Practice), que oferece a titulação de mestrado em música


(BANNAN; GOHN, 2004). Atualmente, outras instituições britânicas também oferecem
cursos de pós-graduação em música, tais como: a Northumbria University; University
Sheffield; Queen Mary10.
Nos Estados Unidos, é crescente o número de universidades e faculdades que estão
oferecendo cursos de graduação e pós-graduação em música completamente online ou em
formatos híbridos, principalmente em áreas acadêmicas, como tecnologia em música e
educação musical a distância (INDIANA STATE UNIVERSITY, 2009; OHIO
UNIVERSITY, 2009). Esses modelos combinam educação a distância, aprendizagem em um
ambiente informatizado e discursos presenciais em espaços acadêmicos de aprendizagem
(PETERS, 2004). A Berklee School of Music, situada em Boston, possui um programa
variado de educação musical online. Nessa instituição, os cursos oferecidos vão desde
disciplinas teóricas, como harmonia, percepção, a aulas de instrumentos, arranjo, produção
musical, dentre outros. Nessa escola, as aulas a distância tanto podem ser aproveitadas pelos
alunos matriculados nos programas presenciais, quanto pela comunidade externa,
independentemente da localização geográfica (BERKLEE, 2010).
Os programas com instrução síncrona foram pouco explorados até a metade da
década de 2000. Isso se deve, em parte, à tecnologia não acessível, sobretudo à internet de alta
velocidade. No entanto, a conjuntura atual tem se modificado rapidamente e, cada vez mais, a
aprendizagem por videoconferência tem se tornado uma realidade. A Manhattan School of
Music em Nova York tem viabilizado a expansão de programas de ensino instrumental a
distância. Essa instituição promove eventos e workshops regularmente programados por
videoconferências extremamente eficazes. A referida escola tem utilizado o formato de aulas
que permite ao professor orientar mais diretamente um aluno, bem como, ao mesmo tempo,
interagir com outros que estão participando da aula (Master Class). Essa escola possui
programas de desenvolvimento profissional em música em parceria com a Columbia
University, que lhe cede uma conexão de alta velocidade (ORTO, 2009).
Outro exemplo é o Cleveland Institute of Music, que também oferece programas de
ensino instrumental a distância, além de programas especialmente dirigidos a professores que
desejem atuar nessa área (HANCE, 2009). A Universidade do Estado de Austin utiliza um

10
Relação dos cursos universitários de música a distância: http://www.hotcourses.com.br/study/training-
degrees/international/distance-online/music-courses/smode/3/cgory/f5-3/sin/ct/programs.htm.
37

sistema11 colaborativo, a partir do qual estudantes, a milhares de quilômetros, podem interagir


uns com os outros como se estivessem no mesmo ambiente. Essa situação é descrita por Cruz
(2009) como aula mista ou multiponto. Dessa maneira, o professor e os alunos podem se
situar em uma mesma sala e se comunicar com outra(s) sala(s) onde estão os alunos a
distância. No entanto, a videoconferência simplificada tem sido mais utilizada com ensino de
instrumentos a distância. No Canadá, foram desenvolvidos alguns projetos exitosos, por meio
de parcerias entre a iniciativa privada, universidades e instituições governamentais
interessadas em avançar no conhecimento e em experiências musicais com a utilização da
videoconferência. O MusicPath12, um exemplo notório desses programas, trabalha com
videoconferências no ensino de piano. Para esse projeto, foi desenvolvido um software que
integra pianos elétricos, mediante o protocolo midi, em que, remotamente, os pianos elétricos
são interligados de modo que, quando o professor toca o seu instrumento, o aluno escuta e vê
as teclas do seu próprio instrumento também se movimentando. Igualmente, quando o aluno
toca o seu instrumento, as teclas do piano do professor se movem. Esse projeto foi o primeiro
do mundo a integrar a reprodução acústica de alta qualidade por videoconferência, permitindo
a interação entre professores e estudantes como se eles estivessem em uma mesma sala. O
MusicGrid é outro projeto que trabalha com a transmissão de dados em alta velocidade, o que
permite realizar, por exemplo, videoconferências entre alunos e professores espalhados por
todo o território canadense (MURPHY, 2010).
A Austrália é outro país onde o ensino universitário de música a distância está
bastante difundido. Essa nação é uma das pioneiras na EAD. Leis relativas à EAD já vigoram
desde a década de 1870. Porém, a EAD somente foi amplamente adotada na década de 1920,
com um sistema de educação por correspondência para atender a crianças da pré-escola ao
final da educação secundária. A partir de 1930, a radiotransmissão foi bastante utilizada para
complementar o ensino. Na década de 1960, nos departamentos de educação, foi estabelecido
um programa denominado “Escolas do Ar”, objetivando o aprendizado interativo. Esse
programa ampliou a transmissão que antes só era feita em um sentido. Assim, o
relacionamento entre professores e alunos e entre os pais dos estudantes acontecia por meio
de emissoras de rádio (MOORE; KEARSLEY, 2008). Nas universidades desse país, é
possível o estudante encontrar cursos de graduação e pós-graduação em música a distância.

11
Esse sistema utiliza um dispositivo chamado codec, que comprime essa distribuição em dados e envia por
circuitos de internet ou telegrafia sem fios para outros locais até milhares de quilômetros
(http://www2.sfasu.edu/distance/music).
12
Ver em: http://musicpath.acadiau.ca/
38

Dentre algumas instituições que oferecem esses cursos estão: a Monash University, University
of Newcastle, Charles Sturt University,University of New England 13).
Os programas australianos em Educação Musical a Distância além de trabalharem
com uma ampla gama de tecnologias (impressos, audiovisual, internet), avançam nos modelos
online totalmente a distância. Para Baker (2012), o impacto crescente da aprendizagem online
no ensino superior contribuiu para reforçar o discurso das investigações sobre pedagogias
online em educação musical em detrimento do domínio da educação musical presencial.
Algumas pesquisas investigam os limites e as possibilidades para tornar o aprendizado
musical efetivo e eficiente nos ambientes de aprendizagem a distância totalmente online
(BAKER; PITTAWAY, 2012). Desde o ano de 2010, Baker coordena uma pesquisa sobre
formação continuada em educação musical para professores generalistas de artes das séries
iniciais do ensino fundamental. Essa investigação explora as percepções das experiências da
aprendizagem online em educação musical dos estudantes para orientar as questões da
pesquisa. Os resultados parciais obtidos nos surveys e entrevistas semiestruturadas revelou
uma significativa importância das interações entre participantes. As interações online foram
significativamente percebidas como diferentes das interações no ambiente presencial. A
importância atribuída pelos alunos nas interações síncronas receberam destaques para a
aprendizagem musical online. No entanto, ambas as interações (síncronas e assíncronas)
foram significativas para a formação continuada dos professores em educação musical. Para
Baker (2012), o conjunto dos dados obtidos, aliado à contínua expansão de ambientes de
aprendizagem online para formação de professores de música, forneceu elementos para
justificar a continuidade do seu projeto de pesquisa. Ele argumentou que investigar os
caminhos que os alunos percorrem para aprender música no ambiente online é um passo
importante para o desenvolvimento das práticas pedagógicas do futuro, bem como para
informar outras abordagens práticas para a formação de professores de música (BAKER,
2012).
Apesar de os países escandinavos possuírem populações pequenas em relação a
outros países mencionados e com tradição em EAD, são caracterizados por populações
dispersas em uma grande área, fora das zonas urbanas. Assim, as pessoas estão isoladas por
causa da geografia e de um rigoroso inverno. A educação e os serviços sociais nesses países
recebem prioridade nas políticas nacionais. Como o nível da educação é muito elevado, as
pessoas desenvolvem aptidões desde cedo nas escolas e, portanto, são capazes de se adaptar
13
Ver em: http://www.hotcourses.com.br/study/training-degrees/international/distance-online/music-
courses/smode/3/cgory/f5-3/sin/ct/programs.htm.
39

com muita facilidade à EAD (MOORE; KEARSLEY, 2008). Especificamente sobre o ensino
de música, recentemente um projeto de pesquisa sobre o ensino a distância de violino e de
instrumentos de corda (Vir Music14) foi organizado por cinco instituições no norte da
Finlândia, Suécia e Noruega. Para Kangasluoma (2010), quando as lições são cuidadosamente
preparadas e o equipamento técnico é utilizado adequadamente, o ensino de violino a
distância não é problemático. Porém, para estudantes iniciantes em violino, o autor acredita
que é melhor que as aulas não sejam virtuais, pois a orientação presencial é necessária. No
entanto, depois de alguns anos de prática e tendo adquirido um bom conhecimento prático,
aulas a distância poderiam tornar-se a modalidade principal, com o professor agindo como um
orientador direcionando os alunos. Kangasluoma (2010) apontou, como desvantagem das
videoconferências, o predomínio da informação verbal transmitida, que não é, na sua visão,
suficientemente eficaz em produzir mudanças para melhorar o desempenho das técnicas de
posicionamento do arco e da qualidade do som.
As experiências com aulas virtuais de violino e outros instrumentos de cordas têm se
desenvolvido suficientemente nos últimos anos para serem aceitas por profissionais de alto nível.
Como exemplo, cito Pinchas Zukerman, um violinista internacionalmente conhecido e um dos
pioneiros no ensino virtual de violino. Os argumentos usados por Maarit Rajamäki (diretor
artístico da Academia de Särestö, Särestö Academy) para uma boa aceitação nas aulas virtuais
estão diretamente ligados à rapidez das atuais conexões da internet, que fazem a qualidade do som
nas videoconferências se aproximar tanto do real que a sensação é de estar no mesmo ambiente
(SÄRESTÖ, 2011). Entre as possibilidades dessa modalidade de ensino, o pesquisador
Rajamäki defende que a EAD, mesmo nas cidades mais urbanizadas, pode ser usada como
uma modalidade extra, juntamente com a educação básica (SÄRESTÖ, 2011). Os problemas
com a disponibilidade de salas de aula e dias letivos podem ser minimizados, pois o professor
pode, de sua casa, dar aulas a distância e mediar o ensino para muitas cidades ao mesmo
tempo (SÄRESTÖ, 2011). Para os pesquisadores da Särestö Academy, embora a Universidade
de Ciências Aplicadas de Oulu (Oulu University of Applied Sciences), a Escola de Música de
Piteå (School of Music in Piteå) e a Universidade de Tromsö (University of Tromsö) hajam
integrado a educação a distância a seus currículos, essa modalidade deve também ser
integrada ao ensino médio (SÄRESTÖ, 2011).
A pesquisa de Dammers (2009) estudou a viabilidade da EAD na aprendizagem de
um instrumento musical por meio de videoconferências. Dammers (2009), em caráter

14
http://vi-r-music-blog.blogspot.com.br/
40

exploratório, realizou um estudo de caso, baseado em nove lições de trompete ministradas por
um professor da Costa Oriental dos Estados Unidos a uma estudante da oitava série do Meio
Oeste do mesmo país. Esse estudo foi pensado para utilizar a tecnologia disponível. Para
tanto, a estudante, de pseudônimo Kate, utilizou um computador de sua família, conexão de
internet via cabo e uma webcam profissional provida pelo pesquisador. O professor, de
pseudônimo Jeremy, utilizou um notebook profissional e uma máquina fotográfica para
capturar as imagens das aulas. A videoconferência foi realizada no software Skype. O
pesquisador concluiu que o formato pareceu servir mais como um complemento das lições
presenciais naquele momento. Vale salientar que, no mesmo país, existem projetos bem mais
caros e inovadores como a Orquestra da Filadélfia (2008), na série de Concertos Globais, que
usam equipamentos de alta definição e internet de alta velocidade, em contraponto a esse
estudo de caso que era relativamente barato, mas imediatamente acessível (DAMMERS,
2009).
Por fim, desde a segunda metade da década de 2000, é evidente a criação de muitos
programas não formais, como, por exemplo, a Virtual School of Music15, nos quais o
estudante pode encontrar diversos especialistas oferecendo seus serviços online. Esse
programa virtual, entre outros, oferece diversas opções para o estudo de instrumentos
musicais nos dias atuais por meio de videoconferências e utilizando tecnologias acessíveis,
inclusive aqui no Brasil, contexto que será tratado na próxima seção.

2.4. EDUCAÇÃO MUSICAL A DISTÂNCIA NO BRASIL

No Brasil, as experiências com a Educação Musical a Distância na área de música


vêm sendo desenvolvidas desde a fundação do Instituto Universal Brasileiro (IUB), em 1941.
No modelo de ensino por correspondência, o IUB oferece, até os dias atuais, dentre os vários
cursos de formação básica, o de violão na área de música (IUB, 2010). Outro exemplo da
EAD em música no país são os programas16 do projeto “Telecurso” (1º grau, 2000, NOVO
TELECURSO). Esse projeto desenvolve programas veiculados em canais de TV aberta desde
a década de 1970, tendo como objetivo a formação em nível básico (NOVO TELECURSO,
2010).

15
http://www.virtualschoolofmusic.com
16
Esses programas podem ser acessados gratuitamente através do site youtube.com
41

Hoje, é crescente o número de programas informais que oferecem serviços online


para o ensino de música no país, inclusive de instrumentos musicais
(www.dmusichouse.com.br, www.maisquemusica.com.br). Nesses cursos, já é possível
encontrar aulas de maneira síncrona. Os softwares Skype e Windows Live Messenger são
amplamente utilizados, inclusive para gravar as aulas, o que possibilita dirimir dúvidas que
persistem. É possível encontrar, atualmente, conteúdos musicais em sites brasileiros.
Especificamente para o estudo do violão popular, as principais fontes de conteúdo,
atualmente, são os sites de cifra (www.cifraclub.com.br, www.cifras.com.br). Esses sites
permitem uma aprendizagem aberta, de modo que as pessoas aprendem no horário, lugar e
ritmo que satisfaçam as suas necessidades.
O momento atual no país pode ser considerado como um período de transição da
revolução das TIC, iniciada na década de 1990 até a entrada da segunda década do século
XXI, com maior clareza, não somente sobre a necessidade de transformação, mas também
quanto ao seu encaminhamento. Nesse sentido, a EAD, as universidades, as faculdades e
outras instituições de ensino estão também sendo influenciadas pelo impacto causado pelas
TIC.
De fato, a implantação de políticas nacionais para o campo da educação superior a
distância é algo recente no Brasil. No entanto, esse cenário vem se modificando cada vez
mais, seja por iniciativa governamental, seja privada. Foi estabelecida, a partir da década de
1990, uma legislação17 que regulamenta os princípios e formas de funcionamento para EAD
no âmbito acadêmico (BRASIL, 2005). Especificamente na área de música, a situação ainda
se encontra em fase embrionária. Somente há poucos anos, é que realmente começou a
criação de cursos credenciados no país. Dentre estes, estão cursos superiores de música,
implantados pelo Programa Pró-Licenciatura e Universidade Aberta do Brasil (UAB), nos
anos de 2007 e 2008, atendendo aos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito
Santo, Bahia, Roraima Acre, Tocantins, Goiânia, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo
(NARITA; MARINS, 2012; RANGEL; NUNES, 2012). Esses cursos são coordenados pelas
UFRGS, UFSCar e a UnB.
Nos cinco primeiros anos do presente século, ainda eram poucas as pesquisas
realizadas no âmbito acadêmico com a temática da EAD na música no país. Krüger (2006)
apresentou um levantamento de todas as teses e dissertações brasileiras relacionadas às TIC
em Educação Musical no período de 1989 a 2003. Entretanto, na realidade, esse levantamento

17
Lei de Diretrizes e Bases-LDB, 9394, de 20 de dezembro de 1996.
42

abrangeu até o ano de 2005, haja vista o acesso ao banco de dados ao qual a autora recorreu
haver se dado em outubro daquele ano, implicando dizer que esses dados abrangem somente a
produção constatada até aquele momento. A pesquisa feita pela referida autora revelou que
apenas 24% desses trabalhos foram realizadas em Programas de Pós-Graduação em Música.
Duas dessas pesquisas desenvolveram práticas em EAD nos quatro primeiros anos do século
XXI, mas ambas não foram mediadas por computador. Souza (2002) investigou limites e
possibilidades da EAD na formação de professores em séries iniciais do ensino fundamental
em Mato Grosso, e Cajazeira (2004) realizou uma pesquisa cujo objeto de estudo foi um curso
a distância para músicos de uma banda filarmônica no interior da Bahia. Mesmo não
investigando as possibilidades de interação online, tais trabalhos são marcos significativos
para a educação musical a distância no país.
Os trabalhos que se detiveram no ensino de instrumento musical na primeira metade
da década passada são os de Lima (2002) e Gohn (2003). Lima (2002), apesar de ter realizado
seu trabalho na área de informática, fez uma interface significativa com o ensino musical,
desenvolvendo um sistema para o ensino de flauta doce a distância, denominado Webflauta.
Gohn (2003) desenvolveu sua dissertação de mestrado na Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (USP). Esse trabalho, intitulado Autoaprendizagem musical, teve
como objetivo estudar a utilização das tecnologias nos processos de autoaprendizagem dos
instrumentos musicais, especificamente dos percussivos.
Na pós-graduação brasileira, os trabalhos acadêmicos sobre a temática começaram a
ser intensificados somente na segunda metade da presente década, concomitantemente com o
período da criação dos cursos superiores anteriormente citados (HENDERSON, 2007;
BRAGA, 2009; GOHN, 2009; VIANA JÚNIOR, 2010; WESTERMAN, 2011; KRÜGER,
2010; BORNE, 2011; OLIVEIRA, 2012). Os trabalhos citados mostram os limites e as
possibilidades da EAD na aprendizagem musical, evidenciando um interesse crescente da área
sobre essa modalidade de ensino. Apenas os trabalhos de Gohn (2009), Braga (2009) e
Westerman (2011) trataram diretamente da aprendizagem instrumental.
Sobre os limites e as possibilidades da educação a distância online, na formação
continuada de professores de música, Henderson (2007) concluiu quão importante é o apoio
institucional na realização de um programa de formação continuada, cujas bases são a
concepção metodológica, a gestão eficiente do ambiente e a adequação do material didático
para tais programas. Krüger (2010) investigou a percepção de docentes que ministraram
cursos de formação continuada em educação musical, apoiados pela a EAD, numa instituição
43

de orquestra. Essa pesquisa revelou que as interações a distância podem ser estendidas,
também, a músicos e regentes, de modo a ampliar e valorizar suas práticas educativo-musicais
nas escolas.
Borne (2011) destacou-se como o primeiro trabalho realizado sobre a formação do
docente que atua nos cursos superiores de música a distância, bem como nos presenciais que
praticaram alguma disciplina nessa modalidade de ensino no Brasil. Sua pesquisa buscou
compreender o trabalho desenvolvido por professores universitários nos cursos superiores da
UFRGS e UNB, a partir das percepções desses profissionais sobre suas práticas. As reflexões
desse trabalho apoiaram-se no referencial sobre prática docente e, dentre os autores
considerados como marco teórico, destacou Tardif e Lessard (2008). Os resultados da
pesquisa revelaram que a formação que os participantes desse estudo tiveram para atuar na
modalidade a distância ocorreu, geralmente, após o início das atividades na EAD. A pesquisa
revelou também que o papel exercido pelo planejamento foi evidenciado no momento em que
a prática docente era ressignificada nas aulas, atividades e avaliações.
Na busca dos aspectos afetivos em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), as
pesquisas têm avançado para além da verificação dos objetivos em relação ao conteúdo. Tem-
se procurado levar em consideração os atributos afetivos que interferem, de maneira
significativa, nos processos mentais, tais como: memorização, raciocínio, atenção e
motivação. Para tanto, as mais recentes abordagens em AVA tendem a unir infraestrutura
tecnológica às relações afetivas, cognitivas e simbólicas, dentre outras, no processo educativo
mediado por esses ambientes (LONGHI; BEHAR; BERCHT, 2009). Essas pesquisas
demonstram que as práticas pedagógicas têm utilizado cada vez mais os recursos tecnológicos
nos processos de aprendizagem, determinando, dessa forma, um redimensionamento na ação
do ensinar.
Algumas pesquisas brasileiras estudaram o papel exercido pelos ambientes virtuais
de aprendizagem para o ensino musical a distância (OLIVEIRA, 2012; VIANA JÚNIOR,
2010). Viana Júnior (2010) pesquisou a viabilidade do ensino semipresencial nas aulas de
harmonia, por meio de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), no processo formativo
de estudantes universitários de um curso de licenciatura em música na modalidade presencial.
Esse estudo adotou o modelo C(L)A(S)P de Swanwick (1988) como marco teórico para o
planejamento das atividades, empregadas no ambiente virtual SÓCRATES18. Além de buscar

18
Ambiente colaborativo criado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), baseado na Web, possibilitando a
criação de projetos e comunidades de aprendizagem de modo a contribuir para a melhoria da formação e
prática pedagógica cotidiana dos professores e pesquisadores.
44

compreender como o aluno se desenvolveu musicalmente, esse estudo identificou os limites e


as possibilidades que as ferramentas de interação do ambiente utilizado impuseram a esse
processo. O pesquisador concluiu que o emprego da modalidade semipresencial, aliada à
incorporação de AVA, constituiu uma possibilidade efetiva para a formação musical inicial de
futuros professores.
Oliveira (2012) trouxe, para a discussão do seu trabalho, a pedagogia musical
constituída em ambientes virtuais de aprendizagem musical (AVAM) em um curso de
licenciatura em música a distância no país. A pedagogia musical nesse estudo incluiu as
metodologias, as ferramentas de interação, os materiais didáticos utilizados no ambiente
virtual moodle e seus atores sociais. Fundamentada nos campos da sociologia da educação
musical, sociologia da comunicação, sociologia da educação e sociologia da educação a
distância, essa pesquisa adaptou o modelo de entrevista desenvolvido, presencialmente, na
visão de Nicolaci-da-Costa (2007) para sua técnica de coleta de dados a partir de entrevistas
online. Esse estudo destacou-se, nessa revisão de literatura nacional, como a primeira
pesquisa acadêmica concluída de maneira ampla sobre os processos pedagógicos musicais
online em um curso superior na modalidade a distância no Brasil. Para tanto, a investigação
envolveu estudantes, coordenadores, gestores, professores autores/supervisores e tutores do
curso de música a distância da UNB/UAB.
Os resultados dessa pesquisa revelaram que é possível aprender música na
modalidade a distância e que a procura por essa modalidade de ensino é crescente no Brasil.
Nesse estudo, o principal fator que contribuiu para a procura dessa modalidade de ensino
esteve baseada na flexibilidade da organização do tempo e do espaço. As sociabilidades
pedagógico-musicais foram constituídas na interatividade proporcionada pelos Ambientes
Virtuais de Aprendizagem Musical (AVAM) e também nos vínculos sociais construídos no
contexto em questão. No entanto, as pedagogias, a análise e a interpretação dos dados
revelaram que a pedagogia musical online precisa ser pensada a partir de demandas
específicas da cada disciplina, vinculada às diferentes realidades contextuais de formação,
além de ser adaptada e transformada para atender às suas necessidades específicas.
No Brasil, o trabalho de Braga (2009) destacou-se como o primeiro a tratar do ensino
de instrumento musical mediado por videoconferência. Ele investigou os padrões de interação
mais frequentes e pertinentes observados entre professores e alunos e alunos entre si em um
curso de violão a distância. O padrão mais frequente e significativo nas videoconferências
desse estudo foi o senso de solidariedade, enquanto o menos frequente foi o da síntese de
45

vários pontos de vista, considerado o mais complexo entre os padrões investigados e que se
mostrou extremamente relevante para o desenvolvimento da criatividade e do senso crítico
musical dos estudantes. O referido autor julgou que cursos realizados por videoconferências
no formato de sua pesquisa já são possíveis para a nossa realidade.
Gohn (2009) discutiu o ensino de percussão a distância na licenciatura em educação
musical a distância da UAB, em parceria com a UFSCar. Essa pesquisa contribuiu para se
avançar nas possibilidades que a EAD oferece para o ensino de instrumento musical
utilizando tecnologias digitais. O aludido autor concluiu que os procedimentos para o estudo
de percussão nos cursos de música podem ser trabalhados a distância.
Westerman (2011) foi o segundo trabalho, em nível de pós-graduação, que discorreu
sobre as práticas de EAD nos cursos de música a distância no país. Esse estudo discutiu os
fatores que influenciam a autonomia do aluno de violão. Nessa pesquisa, a autonomia foi
concebida a partir do conceito de metacognição, oriundo dos estudos de psicologia cognitiva.
Em sua pesquisa, esse autor concluiu que o fator que influenciou a autonomia dos discentes
foi a capacidade de reflexão sobre a própria produção dos alunos de violão. Saliento que, até o
presente momento, são poucas as pesquisas brasileiras que se dedicaram aos limites e às
possibilidades do ensino de instrumento, principalmente quando se trata de aulas com
modelos síncronos mediados por videoconferência.
Outras experiências em EAD, em música, vêm sendo comunicadas nos encontros e
periódicos da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) e da Associação de
Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM): (SANTOS 2006a, 2006b; NARITA,
2009; RIBEIRO, 2010; TOURINHO, 2009; ROSSIT; SANTHIAGO, 2009, 2010; BRAGA,
2010, 2011; CARVALHO, 2011; CORRÊA; ROSSIT; SANTHIAGO, 2011; FUCCI
AMATO, 2011; GOHN, 2011; EID, 2011; MARQUES, 2010, 2011; SCOTTI, 2011;
LACORTE, 2012; PEREIRA, 2012).
Especificamente sobre produção de materiais didáticos para aulas de violão a
distância, destaco os trabalhos de Tourinho (2009) e Marques (2010). Tourinho (2009)
comunicou como os materiais didáticos da disciplina de violão foram planejados e elaborados
no cenário de dois cursos de licenciatura em música na modalidade a distância no Brasil. Para
a autora, o modelo tradicional das aulas de instrumento musical ainda parece ser um tabu
enfrentado pela modalidade a distância. Para minimizar os possíveis problemas causados pela
falta de interação entre professores e alunos, o material didático usado nos cursos de música
da modalidade a distância da UFRGS e da UNB estavam sendo reelaborados para serem
46

utilizados de maneira autoinstrucional, a fim de minimizar as dificuldades encontradas pelos


estudantes. Além do professor (que elabora o material didático) e do tutor a distância (que
orienta o aluno pela plataforma de ensino), foi criada, para o curso de música a distancia do
Programa Pro-Licenciaturas do MEC, coordenado pela UFRGS, a figura do tutor itinerante,
em virtude da carência de professores habilitados e pelo fato de nem sempre haver esses
profissionais nas cidades onde estão sendo oferecidos esses cursos. Essas estratégias, a
princípio, apontaram possibilidades para esse modelo de ensino, em oposição à descrença de
muitos professores de instrumento (TOURINHO, 2009).
Complementando a comunicação anterior, Marques (2010) descreve a dinâmica do
trabalho de elaboração didática e o papel dos tutores nas disciplinas de violão num polo do
curso superior de música a distância da UFRGS. Para a elaboração do material didático, os
profissionais denominados tutores trabalharam sob a supervisão do professor da disciplina. Os
tutores auxiliam os professores na elaboração de conteúdos, atividades e avaliação, para
aproximar as estratégias de ensino e de aprendizagem à realidade dos alunos.
No curso de música a distância do Programa Pro-Licenciaturas do MEC, coordenado
pela UFRGS, há três categorias de tutores: o residente, o itinerante e o tutor na universidade.
Os residentes são profissionais que atuam onde estão situados os polos e que são responsáveis
pelo atendimento presencial previsto na legislação brasileira para o funcionamento dos cursos
a distância no país, além de interagirem a distância com os professores e tutores nas
universidades. Especificamente para as aulas de instrumento, eles desempenham
principalmente o papel de minimizar as dificuldades técnicas e musicais de maneira mais
dinâmica. O encontro presencial, nesse sentido, é o único momento promotor de feedback
imediato com os estudantes. O tutor itinerante não reside na cidade do polo, mas suas
atribuições são as mesmas do tutor residente e, em geral, são profissionais ligados às práticas
instrumentais. O tutor na universidade, além de auxiliar os professores nas atividades de
criação de materiais e conteúdos das disciplinas, interage com alunos e tutores residentes.
A produção e a elaboração do material didático para a disciplina de violão no curso
superior, apresentado por Marques (2010), são realizadas por uma equipe multidisciplinar de
profissionais ligados às áreas de música, designer educacional e informática. Os trabalhos são
coordenados pelo professor da disciplina que, em conjunto com os demais participantes,
organiza e estrutura o material. Os tutores residentes e itinerantes são responsáveis por trazer
informações sobre a realidade e as necessidades dos alunos. O designer educacional revisa,
adapta e disponibiliza os conteúdos na plataforma Moodle. Os informatas são responsáveis
47

pela transição do material para o ambiente virtual de aprendizagem E-Book de violão19.


Apesar do planejamento sistemático do material didático, o autor relatou alguns problemas
enfrentados nesse estudo para o ensino de violão a distância, tais como: os prazos para entrega
das tarefas; a efetivação da atuação dos tutores, que pareceu estar em processo de construção;
a interação síncrona, devido à má qualidade da banda larga nos polos (MARQUES, 2010).
Saliento que o Projeto Político pedagógico desse curso de música concebeu materiais que
estariam sempre à disposição dos estudantes durante todos os nove semestres do curso, não
importando em que semestre eles estivessem.
Tourinho (2009) apontou alguns desafios enfrentados para ensinar violão a distância.
Primeiramente, essa autora problematizou pressupostos de que o professor precisa estar perto
do estudante para ensinar um instrumento musical, haja vista o aluno necessitar da correção
imediata e de haver um modelo físico a ser seguido. A estrutura dos cursos de música a
distância em que o professor-autor (que elabora a disciplina) está distante dos professores-
tutores e supervisor (que gerenciam a disciplina) que, por sua vez, estão distantes dos tutores
presencias (que lidam diretamente com os estudantes) foi o segundo desafio revelado por essa
autora. O terceiro fator apontado foi de ordem tecnológica. A instabilidade e a velocidade da
conexão da internet nas cidades do interior dos estados brasileiros onde residem os estudantes
provocaram problemas de variadas natureza. Assim, acredito que o grande desafio para os
professores de instrumento na modalidade a distância nos cursos brasileiros também se dá
pelo modelo semipresencial praticado nos cursos de graduação em música na modalidade a
distância. Nesses modelos, o professor de música nem sempre observa e corrige o aluno de
imediato, em oposição às aulas presenciais de instrumento. Para tanto, o presente estudo uniu
lições elaboradas em material impresso, mídia de DVD a um site especificamente criado para
ampliar as possibilidades de acesso a esses materiais e diversas outras mídias digitais online
disponibilizadas gratuitamente. Os alunos ainda participaram de uma lista de discussão via e-
mail, que é uma ferramenta assíncrona bastante utilizada em cursos a distância, e uma rede
social da internet para potencializar as interações online, a partir das quais os alunos puderam
dirimir possíveis dúvidas referentes às lições ou ao próprio curso. Aliada a essas ferramentas,
ainda foi adicionado recursos síncronos como as videoconferências e os chats dos
messengers.

19
http://caef.ufrgs.br/produtos/ebook_violao/release_0.6/index.php?caminho=Apresentação
48

Durante a última década, a EAD passou por um período de mudança considerável. O


crescimento da internet e de tecnologias relacionadas resultaram na fusão do ensino e da
aprendizagem online com outras práticas cotidianas das instituições de ensino. Essas
transformações estão sendo caracterizadas por novos arranjos didáticos que vem
redimensionando a EAD nos dias atuais. Nesse sentido, a aprendizagem online é considerada,
nesta pesquisa, como uma subcategoria da EAD (BATES, 2005) que usa especificamente a
internet e a World Wide Web20. Nos dias atuais, a aprendizagem online tem sido utilizada por
instituições em vários países para oferecer oportunidades e atender às necessidades de uma
população estudantil crescente e cada vez mais diversificada (HARTNETT, 2010).

2.5. MOTIVAÇÃO PARA APRENDER NA EAD ONLINE

As pesquisas que tratam das relações entre a psicologia educacional nos processos de
ensino e aprendizagem da EAD ainda constituem temáticas academicamente menorizadas no
Brasil e no exterior (CAMARGO, 2009; ANDRÉ, 2009). Especificamente sobre a motivação
em ambientes online, as pesquisas são pautadas em concepções da motivação como uma
característica relativamente estável, pessoal do aluno. Essa perspectiva tem contribuído para
a noção de que os alunos online são, em geral, intrinsecamente motivados. Para Moore
(1989), as características de independência, autodireção e motivação intrínseca têm sido muito
associadas aos alunos a distância (MOORE, 1989). Para Bates (2005), a aprendizagem online
pode proporcionar uma série de benefícios, para além da capacidade de superar as restrições
temporais e espaciais de ambientes educacionais. Liberdade de restrição pode ser também
considerada uma característica definidora da aprendizagem online, assim como o
desenvolvimento de relacionamento (ANDERSON, 2006).
Algumas pesquisas contemporâneas identificaram a motivação intrínseca como uma
característica importante para alunos online (CERCONE, 2008; STYER, 2007). Outros
estudos comparativos entre alunos da educação superior online e presencial concluíram que
alunos online são mais intrinsecamente motivados do que seus homólogos, tanto no nível da
graduação quanto no da pós-graduação (HUETT et al., 2008; SHROFF; VOGEL, 2009).
Porém, alguns pesquisadores argumentam que, em geral, é requerido que os alunos online
sejam mais intrinsecamente motivados, porque esses modelos educacionais normalmente
estão baseados em motivação intrínseca e nas características de curiosidade e autorregulação

20
A Rede de alcance mundial é um sistema de documentos em hipermídia interligados e executados na Internet.
49

para envolver o aluno (MARTENS; GULIKERS; BASTIAENS, 2004). Para alguns pontos de
vista, os recursos tecnológicos são vistos em si como um elemento de natureza motivadora,
porque fornecem uma série de qualidades reconhecidas para promover a motivação intrínseca,
tais como: desafio, curiosidade e novidade (LEPPER; MALONE, 1987). No entanto, algumas
pesquisas revelaram que o fator novidade tende a se desgastar rapidamente quando os
indivíduos se acostumam com as tecnologias, podendo diminuir a motivação intrínseca
(KELLER; SUZUKI, 2004). A frustração com problemas de ordem técnica também foi
apontada como outra razão que pode reduzir a motivação intrínseca (HARTENETT, 2010).
As vantagens que a aprendizagem online oferece, sob uma variedade de fatores,
foram identificadas como cruciais para o sucesso de cursos online, e a motivação é destacada
como um fator importante a ser considerado (BEKELE, 2010). A motivação deficiente dos
alunos, juntamente com a inclusão da população de estudantes cada vez mais diversificada,
têm sido identificadas como fatores decisivos que contribuem para as altas taxas de evasão
nos cursos online (MUILENBURG; BERGE, 2005). As perspectivas apresentadas têm levado
alguns pesquisadores a questionarem as suposições que veem os alunos online como
independentes, autodirigidos e intrinsecamente motivados (PALOFF; PRATT, 2005).
Embora a motivação intrínseca seja considerada um importante trunfo para a
aprendizagem online, as pesquisas que sustentam essa visão ainda são consideradas limitadas
em número e escopo (ARTINO, 2008; HUETT et al., 2008). Algumas se concentram na
abordagem do ambiente de aprendizagem relacionada aos fatores considerados necesssários
para oferecer a motivação ideal para o aluno (CHANLIN, 2009; KELLER; SUZUKI, 2004;
ZAHARIAS; POYLYMENAKOU, 2009). Outras consideram a motivação uma característica
pessoal relativamente estável do aluno (BURES; ABRAMI; AMUNDSEN, 2000;
WASCHULL, 2005; WIGHTING et al., 2008; YUKSELTURK; BULUT, 2007). No entanto,
poucas investigações em ambientes online reconheceram uma visão sociocognitiva
contemporânea da motivação, principalmente as que enfatizam a relação situada e
mutuamente constitutiva do aluno e do ambiente de aprendizagem (HARTENETT, 2010).
Os estudos que adotaram especificamente a Teoria da Autodeterminação (TAD) em
ambientes online nos oito primeiros anos desse milênio foram poucos, apesar de já apontarem
uma tendência crescente (MARTENS et al., 2004; ROVAI et al., 2007; SHROFF et al., 2007;
SHROFF et al., 2008; XIE et al., 2006). No entanto, uma limitação notável nesses estudos
ocorreu pela tendência de se concentrarem apenas na motivação intrínseca. Dessa maneira,
esses estudos acabaram explorando, de maneira parcial, o potencial da TAD para a
50

diversidade de motivação, como os tipos mais autônomos de motivação extrínseca. As


pesquisas mais recentes têm demonstrado que a TAD fornece subsídios analíticos úteis para
explorar a complexidade da motivação em contextos online (CHEN; JANG; BRANCH, 2010;
HARTNETT, 2010). Esses estudos, somados com outros em contextos presenciais, inclusive
no âmbito educativo musical (LEPPER et al., 2005; RENWICK, 2008; LEGUTKI, 2010),
confirmam que investigar a TAD de maneira holística é importante, porque essas pesquisas
descobriram que altos níveis de motivação mais autodeterminada (como a regulação
identificada e integrada) podem agir positivamente contra os efeitos mais nocivos das
restrições externas.
Esses estudos sustentam a afirmativa da TAD de que as satisfações das necessidades
psicológicas básicas emergem em oposição aos fatores externos determinados pelo ambiente,
prevalecendo as escolhas na iniciação e na regulação do comportamento. Se, por um lado, a
motivação é um fator crucial para aprendizagem presencial em contextos educativos
(BROPHY, 2010), em ambientes de aprendizagem online não é diferente (JONES; ISSROFF,
2007). Embora exista um grande número de investigações utilizando o modelo da TAD nas
mais diversas áreas acadêmicas, as pesquisa no âmbito da educação musical tanto presencial
como a distância precisam ser ampliadas.
51

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO (TAD)

Conhecida internacionalmente como Self-Determination Theory, a Teoria da


Autodeterminação (TAD) tem sido estudada principalmente pelos pesquisadores Edward Deci
e Richard Ryan. A escolha das pesquisas realizadas por Deci e Ryan (1985, 2000, 2008a,
2008b, 2009) como referencial teórico para a realização desta pesquisa ocorreu em razão de
esses pesquisadores serem os proponentes para os estudos dessa Teoria, a qual foi redefinida
como uma macroteoria da motivação (RYAN; DECI, 2004; DECI; RYAN, 2008b,
VANSTEENKISTE, NIEMIE E SOENENS, 2010).
A macroteoria da autodeterminação está inscrita no paradigma sociocognitivo da
motivação humana. Esse modelo considera que a motivação não decorre exclusivamente de
fatores intraindividuais e espontâneos ou, ao contrário, que a motivação decorra unicamente
em função dos fatores socioambientais. Para além da variação quanto à intensidade, a TAD
salienta a utilidade de distinguir diferentes tipos ou qualidades de motivação. Dessa forma, as
diversas razões que podem explicar o comportamento motivado dos indivíduos são
correspondentes a tipos de motivação suscetíveis de serem ordenadas segundo um continuum,
que reflete o nível de autodeterminação subjacente ao comportamento. Esses tipos de
motivação foram agrupados em três categorias: motivação intrínseca, motivação extrínseca e
desmotivação (DECI; RYAN, 2000).
Na motivação intrínseca, os indivíduos realizam uma tarefa ou atividade por achá-la
interessante ou prazerosa. Alguns estudos destacaram a diferença da qualidade da
aprendizagem quando os indivíduos estão intrinsecamente motivados em detrimento da
motivação extrínseca (RYAN; DECI, 2000a, 2000b). Na motivação extrínseca, o indivíduo
não se envolve pelo prazer da atividade em si, e sim, para extrair benefícios como as
recompensas, por exemplo, ou para evitar punições e sentimentos de culpa. Para as
perspectivas teóricas clássicas da motivação, os fatores externos quase sempre foram
considerados promotores de formas controladoras de motivação extrínsecas associadas a um
desempenho fraco. Entretanto, para a TAD, a qualidade da motivação também está
intrinsecamente influenciada pelos aspectos ambientais. Os diferentes tipos e qualidades da
motivação extrínseca serão detalhados numa seção posterior, que tratará da Teoria da
Integração Organísmica. Por fim, a desmotivação refere-se à noção de falta de intenção para
agir de forma intencional (RYAN; DECI, 2000b; DECI; RYAN, 2008a; REEVE, 2006).
52

A TAD argumenta que os seres humanos apresentam uma orientação geral para o
crescimento e o envolvimento pessoal para satisfazer necessidades psicológicas inatas em
direção à autorregulação, com base numa variedade representativa de pesquisas empíricas em
diversos domínios do conhecimento. Porém, a teoria reconhece que as pessoas podem
apresentar orientações passivas, alienadas ou descontentes. Desse modo, ao invés de apenas
enfatizar as causas da motivação intrínseca, a TAD tem se concentrado também nos fatores
ambiental e intrapessoal que podem minar a tendência natural de os indivíduos crescerem em
direção à autorregulção (RYAN; DECI, 2000a). Para a TAD, as diferenças entre as
orientações motivacionais resultam da interação entre a natureza inerentemente ativa das
pessoas e os ambientes sociais que apoiam ou impedem a propensão inata dos indivíduos ao
desenvolvimento saudável e à autorregulação (DECI; RYAN, 2008a; 2008b).

3.1. A UNIVERSALIDADE DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO

Cada vez mais pesquisadores têm utilizado métodos empíricos e raciocínio indutivo
em diversas culturas para sustentar a argumentação central da TAD: a de que todos os seres
humanos têm necessidades psicológicas de competência, autonomia e pertencimento (DECI;
RYAN, 2008a, 2008b). Porém, a universalidade dessa teoria não é uma afirmativa unânime
no campo geral da psicologia, pois ela contrasta com a visão da perspectiva relativista da
psicologia cultural, que defende que as necessidades psicológicas são aprendidas nas culturas
e limitadas em aplicabilidade quando em culturas diferentes. Essa perspectiva entende que a
autonomia é um ideal ocidental que se concentra no individualismo e que, em culturas
orientais, a autonomia não é uma necessidade tão importante, porque elas estão baseadas,
sobretudo nos ideias de coletividade (KITAYAMA, 2002; MARKUS; KITAYAMA, 2003).
Para Deci e Ryan (2008a), os psicólogos relativistas culturais muitas vezes têm
interpretado autonomia como sinônimo de independência. Ao invés disso, a TAD afirma que
autonomia não é a mesma coisa que independência. Para a TAD, autonomia é uma
necessidade que os indivíduos têm de perceber que o comportamento intencional teve origem
e regulação pessoal, bem como de agirem volitivamente, com um senso de escolha, enquanto
que a independência são os meios necessários para o indivíduo agir sozinho e não depender
dos outros. Para a TAD, as pessoas em geral podem agir de forma independente por vários
motivos, tais como por quererem ser vistas como competentes, ou por não quererem estar
vinculadas à relação de dependência com outras pessoas. Essas possibilidades de atuar de
53

forma independente não constituem a necessidade de autonomia ou vontade como


conceituada pela TAD. Na verdade, esses comportamentos independentes seriam controlados.
No primeiro caso, indivíduos podem ser pressionados a agir independentemente e, no
segundo, por quererem evitar ser prejudicados e não suportarem o sofrimento. No entanto, as
pessoas podem querer depender umas das outras por acharem a vinculação e a confiança
gratificantes e acharem que elas dão um sentido de mutualidade relacional (DECI; RYAN,
2008a).
Em oposição aos relativistas culturais, a TAD se baseia em anos de pesquisas
empíricas sobre a motivação intrínseca e a internalização da motivação em culturas altamente
variadas. Algumas delas foram caracterizadas como individualistas, moderadamente
coletivistas e coletivistas (CHIRKOV; RYAN, 2001; DECI et al., 2001; RYAN et al., 1999;
SHELDON et al., 2001; KIM; KASSER; LEE, 2003). Em todas essas pesquisas, sejam em
culturas com valores mais igualitários ou individualistas, a satisfação das necessidades
psicológicas de competência, autonomia e pertencimento promoveu o bem-estar psicológico.
Vale salientar que essas pesquisas apenas investigaram contextos localizados geograficamente
acima da linha do equador. Porém, é crescente o número de investigações para além do
espaço geográfico descrito anteriormente. Algumas dessas pesquisas analisaram e
compararam amostras realizadas em países como o Canadá e o Brasil (CHIRKOV; RYAN;
WILLNESS, 2005). Outras se detiveram apenas em países localizados no hemisfério sul do
planeta (HARTNETT, 2010; RENWICK, 2008; CERNEV, 2011; FIGUEIREDO, 2010).
A pesquisa realizada por Chirkov, Ryan e Willness (2005) sobre contextos culturais
e as necessidades psicológicas básicas do Canadá e do Brasil (alunos da Universidade Federal
de Minas Gerais) levou em consideração que o Brasil não pode ser precisamente classificado
e caracterizado como individualista ou coletivista. Por um lado, possui traços culturais
hispano-americanos que o caracterizam como autoritário e paternalista, com uma ênfase
relativamente forte sobre a família. Por outro lado, a forte influência de imigrantes,
intensificada no século passado, deslocou o Brasil em direção a valores mais igualitários e
democráticos. Dessa maneira, esse processo trouxe profundas mudanças para a economia e
para as orientações culturais do país. Para esses pesquisadores, as características culturais de
uma nação podem ser distintas em várias regiões de cada país. Para a TAD, as culturas podem
influenciar o comportamento das pessoas de maneira profunda. Entretanto, as pesquisas que já
utilizaram amostras em diferentes culturas do globo sustentam que os seres humanos possuem
uma tendência geral de apresentarem necessidades psicológicas básicas. Nesse sentido, a
54

forma como as necessidades tendem a ser percebidas independe da cultura (DECI; RYAN,
2008a).
Em suma, a TAD assume que a motivação de uma pessoa, o comportamento e a
experiência em uma determinada situação tanto se justificam em função do contexto social
imediato quanto dos recursos intrapessoais que se desenvolveram em seus comportamentos
em função das interações com contextos sociais. O contínuo desenvolvimento baseado em
consistentes estudos empíricos, situa, nos dias atuais, a TAD como uma macroteoria
contemporânea da motivação, composta por cinco miniteorias interrelacionadas e
complementares entre si: 1) Necessidades Psicológicas Básicas (Basic Psychological Needs);
2) Avaliação Cognitiva (Cognitive Avaluation); 3) Integração Organísmica (Organismic
Integration); 4) Orientações Causais (Causality Orientations); 5) Metas Motivacionais (Goal
Contents). As próximas seções fornecem uma breve descrição dessas teorias, que abordam
desde o impacto dos ambientes sociais sobre a motivação intrínseca até questões de
personalidade, autorregulação do comportamento humano, necessidades psicológicas básicas,
metas motivacionais e as relações da cultura com a motivação.

3.2. TEORIA DAS NECESSIDADES PSICOLÓGICAS BÁSICAS

Apesar de a presente investigação ter empregado, para as análises dos dados,


principalmente a Teoria das Necessidades Psicológicas Básicas, as demais miniteorias
também foram consideradas por serem interrelacionadas e complementares entre si. As
necessidades psicológicas básicas que serão tratadas neste trabalho são, às vezes,
denominadas de necessidades psicológicas organísmicas em oposição às teorias mecanicistas
de raízes biológicas, e outras consideradas relativamente mecanicistas (reforço), segundo as
quais o indivíduo se relaciona com o seu ambiente em uma única direção (ambiente-pessoa),
de modo que o ambiente atua e o individuo reage. As teorias organísmicas consideram a
existência de uma troca ativa e dialética da pessoa com o seu ambiente. Ambos (pessoa e
ambiente) estão continuamente em processo de mudança. Desse modo, as necessidades dos
indivíduos são satisfeitas pelo ambiente e o ambiente pode produzir novas formas de
motivação. Nesse sentido, os eventos ambientais podem promover a motivação das pessoas
(oferecendo-lhes desafios, feedbacks positivos, oportunidades de escolha e apoio social). Mas,
em outras vezes, podem ignorar e frustrar todas essas ofertas. Assim, as influências
55

socioambientais podem afetar os recursos motivacionais internos dos indivíduos, tanto para
melhorar quanto para minar a motivação (REEVE, 2006; DECI; RYAN, 1985).
A Teoria das Necessidades Psicológicas Básicas parte do pressuposto de que todos
os indivíduos são movidos por necessidades psicológicas de autonomia (autonomy)
competência (competence) e pertencimento (relatedness). Para a TAD, tais necessidades
refletem diretamente no relacionamento afetivo e saudável do indivíduo com o meio
ambiente, constituindo basicamente os fatores psicológicos que originam a motivação (DECI;
RYAN, 2000; RYAN; DECI, 2004).

3.2.1. Necessidade de autonomia

O interesse, a preferência e a vontade nos processos de tomada de decisão, para se


participar ou não de uma atividade em particular são características do comportamento
autônomo. Esse comportamento evidencia-se por três qualidades subjetivas: (1) Lócus de
Causalidade Percebido (LCP), qualidade essencial para satisfazer a necessidade de autonomia,
porque é por meio dele que o indivíduo revela sentir em si a origem das próprias ações e não
externamente comandado. Desse modo, refere-se à compressão que as pessoas possuem sobre
sua fonte de motivação. Ele é expresso num continuum bipolar (interno para externo); (2)
volição, ou seja, a vontade de engajar-se em uma atividade sem ser pressionado por fatores
externos; (3) a percepção de haver escolhido suas próprias ações, típicas de ambientes
promotores de flexibilidade (REEVE, 2006).
A necessidade que um indivíduo tem de autonomia pode variar de acordo com a
intensidade de apoio ou não imposto pelos ambientes, eventos externos, contextos sociais e as
vinculações com outras pessoas. Pesquisadores da TAD afirmam que, às vezes, o ambiente
envolve e satisfaz os recursos internos dos indivíduos, mas, em outras vezes, ignora e frustra
tais interesses (DECI; RYAN, 2008b).
Os ambientes promotores de autonomia, em geral, incentivam os indivíduos a
estabelecerem suas próprias metas motivacionais, oferecem oportunidades de
autodirecionamento e os impelem a ir ao encontro de seus próprios interesses e valores. É
importante ressaltar que, para a TAD, apoiar o comportamento autônomo distingue-se da
indiferença do estilo laissez-faire (PELLETIER; PATRY, 2011; DECI; RYAN, 2008b). O
oposto de um ambiente promotor de autonomia é um ambiente controlador, que ignora a
necessidade de autonomia dos indivíduos, pressionando estes a uma orientação externa.
56

3.2.2. Necessidade de Competência

Segundo Guimarães (2001), foi incorporada à TAD o conceito de competência da


Teoria da Motivação para a Competência de White (1959). Essa teoria conceitua competência
como a capacidade de o ser humano estabelecer uma interação bem sucedida com o contexto
em que vive, considerando uma tendência motivacional inata ao ser humano para atuar de
forma competente no ambiente. Para essa perspectiva teórica, competência é considerada um
senso motivacional intrínseco, de forma a nortear os indivíduos em direção à forma mais
eficaz possível de interação com o meio. Para a TAD, a necessidade de competência reflete o
desejo que as pessoas têm de colocar à prova suas capacidades e habilidades. Assim, a
satisfação dessa necessidade fornece uma fonte de motivação capaz de gerar esforços para os
indivíduos dominarem desafios em um nível ótimo e obter um feedback positivo. Os desafios
em nível ótimo e o feedback positivo são condições que satisfazem a necessidade de
competência (REEVE, 2006).
Os desafios em nível ótimo são aqueles apropriados do ponto de vista do
desenvolvimento de uma determinada pessoa que é capaz de ser, de maneira eficiente, testada,
seja no estudo, seja no trabalho, seja em outras atividades. Reeve (2006) aponta para o fato
de que esses desafios não sejam nem demasiadamente além das capacidades dos indivíduos,
nem demasiadamente facilitados. Quando tanto o desafio pessoal quanto a habilidade exigida
pelo ambiente numa determinada tarefa são relativamente elevados, as pessoas experimentam
um fluxo, que é um estado psicológico de intensa concentração, uma absorção completa na
tarefa (REEVE, 2006). O principal evento ambiental que envolve a necessidade de
competência é o desafio em nível ótimo e o principal evento ambiental que satisfaz a
necessidade de competência é o feedback positivo. Pesquisas revelaram que existe uma
interdependência entre o desafio e o feedback. O confronto com algumas exigências sociais
como, por exemplo, uma prova ou uma competição, podem levar a um desafio. Contudo, para
experimentar um desafio, a pessoa precisa iniciar uma ação e receber informações de
feedback (REEVE; DECI, 1996).
Para Reeve (2006), a procedência do feedback pode vir de uma ou até de quatro
fontes: da tarefa em si; de comparações atuais que um indivíduo faz com seus próprios
desempenhos anteriores; de comparações sociais que o indivíduo faz dos seus próprios
desempenhos; e das avaliações realizadas por outras pessoas. Todas essas formas fornecem as
informações de que as pessoas precisam para realizar uma avaliação cognitiva de seu nível
57

percebido de competência. Assim, quando essas fontes de informação são interpretadas como
uma atividade bem realizada, os indivíduos experimentam um Feedback positivo capaz de
satisfazer sua necessidade psicológica de competência.

3.2.3. Necessidade de Pertencimento

A necessidade de estabelecer vínculos afetivos e duradouros com outras pessoas é


considerada um construto motivacional importante para a TAD. De modo geral, as pessoas
têm necessidade de pertencer a algo, de ter amigos e de iniciar e manter relações próximas
com outras. Esse desejo de relações com os indivíduos pode estender-se a determinados
grupos sociais, organizações e comunidades.
A literatura tem apontado que, quando as relações interpessoais apoiam os indivíduos
em suas necessidades de pertencimento, eles têm um melhor desempenho e as ocorrências de
dificuldade psicológica diminuem. Para Reeve (2006),

a interação com os outros é a condição primeira que envolve a necessidade de


relacionamento, pelo menos à medida que essas interações prometem a quem nelas
se engaja a possibilidade de ter relações calorosas, de afeto, de preocupação mútua.
[...] As relações que não envolvem o afeto, a apreciação, a aceitação e a valorização
não satisfazem à necessidade de relacionamento (2006, p. 77).

Nesse sentido, não é qualquer interação que nos faz sentir pertencendo a outro
indivíduo ou a um determinado grupo social. Para satisfazer a necessidade de pertencimento,
é preciso estabelecer vínculos com outras pessoas, sendo a interação condição primeira que
envolve essa necessidade, mas por meio de afeto e de apreciação dos outros. O envolvimento
relacional capaz de satisfazer essa necessidade estabelece uma relação autêntica entre o self 21
de um indivíduo e outra pessoa (ou entre o self e um grupo de indivíduos) de maneira afetuosa
e emocionalmente significativa. As interações que não envolvem afeto, aproximação,
aceitação e valorização não satisfazem a necessidade de pertencimento. Nesse sentido, a
vinculação que satisfaz a necessidade de pertencimento está diretamente associada à
qualidade e não à quantidade de relações interpessoais. O contexto social também é
importante para satisfazer a necessidade de pertencimento, pois ele fornece subsídios
necessários para apoiar a internalização do self (REEVE, 2006).
As necessidades psicológicas básicas têm sido investigadas, sobretudo, nas
interações face a face entre os indivíduos, em que os laços de amizades têm sido muitas vezes

21
Self é um autoconceito que energiza e direciona o comportamento dos indivíduos (REEVE, 2006).
58

relacionados à quantidade de convivência entre as pessoas (REEVE, 2006). No entanto, as


mais recentes pesquisas desenvolvidas sobre a TAD ampliaram o domínio da sua aplicação.
Entre os mais recentes, destacam-se os ambientes virtuais (MARTENS et al., 2004; ROVAI et
al., 2007; SHROFF et al., 2007; SHROFF et al., 2008; XIE et al., 2006; CHEN; JANG, 2010;
HARTNETT, 2010). Embora a presente investigação foque a motivação musical na
modalidade a distância, online, foi necessário revisar a literatura de motivação musical na
modalidade presencial, porque, até o presente momento, não foram publicados resultados de
pesquisas sobre a motivação musical na modalidade a distância. Portanto, para fundamentar
essa pesquisa, foi delimitada uma perspectiva sociocognitiva da motivação, a macroteoria da
autodeterminação (RYAN; DECI, 2008b) e principalmente os trabalhos sobre motivação
musical presencial sob a perspectiva da TAD (RENWICK, 2008; RENWICK; REEVE, 2012;
LEGUTI, 2010).

3.3. TEORIA DA AVALIAÇÃO COGNITIVA

A Avaliação Cognitiva foi o ponto de partida para o surgimento da TAD. Foi criada
por Deci, Ryan e Conell nos anos de 1980, quando o conceito de motivação intrínseca
começou a tomar forma com o desenvolvimento cognitivo da psicologia motivacional
emergente na década de 1970. Esses pesquisadores buscavam entender os impactos de
eventos externos (recompensas) sobre as atividades interessantes e prazerosas para as pessoas
(BORUCHOVITCH, 2008). É importante esclarecer os significados de prazer e interesse para
a Avaliação Cognitiva. O prazer é, antes de tudo, o engajamento com a atividade, e o interesse
refere-se à atração por ela (VANSTTENKISTE et al., 2010). Como resultado, o
desenvolvimento de dezenas de estudos nos anos 1970 e 1980 demonstraram um
enfraquecimento da motivação intrínseca ocasionado por eventos externos controladores, tais
como recompensas, ameaças, punição, prazos e concorrência (DECI; RYAN, 1985). A partir
desses achados, Deci e Ryan defendiam que as pessoas possuem, por natureza, uma
propensão inata em direção à motivação intrínseca, mas os eventos externos afetam a
motivação intrínseca quando influenciam o Lócus de Causalidade interno Percebido (LCP).
Os eventos promotores de LCP externo enfraquecem a motivação intrínseca e aumentam a
motivação extrínseca. Os eventos promotores de LCP interno fazem com que individuo
perceba que seu comportamento emana de si mesmo (interno), ao invés do controle e da
coerção. Assim, a motivação intrínseca aumenta, ao passo que a motivação extrínseca
59

diminuiu (DECI; RYAN, 1985). Contudo, a teoria da avaliação cognitiva sustenta a ideia de
que os eventos externos possuem tanto um aspecto controlador quanto um aspecto
informativo (DECY; RYAN, 1985). Para essa teoria, os indivíduos têm necessidades
psicológicas de autonomia e de competência, e o aspecto controlador de um evento externo
prejudica a necessidade de autonomia, enquanto o aspecto informativo afeta a necessidade de
competência. O feedback é um exemplo que pode informar um indivíduo sobre sua
competência em determinada tarefa. Portanto, os eventos externos podem ter tanto um aspecto
controlador quanto um aspecto informacional. Para a Avaliação Cognitiva, os eventos
externos que fornecem o feedback informativo satisfazem a necessidade de competência,
enquanto os eventos relativamente controladores enfraquecem a motivação intrínseca por
meio do efeito que exercem sobre a necessidade de autonomia dos indivíduos. Nesse sentido,
é relevante entender o propósito dos eventos externos, que pode ser o de controlar ou o de
informar a competência dos indivíduos. Os eventos externos que promovem o LCP interno
também promovem a motivação intrínseca, porque satisfazem a necessidade de autonomia,
enquanto os eventos externos promotores de LCP externo reforçam as orientações extrínsecas,
porque eles desconsideram a autonomia. Assim, os eventos externos que aumentam a
competência percebida dos indivíduos promovem a motivação autônoma, enquanto os eventos
que diminuem enfraquecem essa motivação (REEVE, 2006).
Em suma, a Teoria da Avaliação Cognitiva oferece a compreensão e o significado
dos impactos que um evento extrínseco exerce sobre o comportamento humano, bem como
sua influência sobre as necessidades de competência e autonomia dos indivíduos. Ela
apresenta os fatores em contextos sociais que produzem inconstâncias na motivação
intrínseca, bem como discute os eventos e as estruturas que direcionam a motivação intrínseca
por causa da satisfação da necessidade psicológica de competência. Ainda esclarece que
sentimento de competência é dependente do senso de autonomia para promover motivação
intrínseca nos indivíduos, pois a percepção do LCP interno se faz necessária, porque ele tende
a promover um alto grau de motivação intrínseca (REEVE, 2006). Para a Teoria da
Avaliação Cognitiva, o contexto educacional pode facilitar ou dificultar a motivação
intrínseca, apoiando ou contrariando as necessidades de autonomia e de competência
(REEVE, 2006). Vale salientar que a motivação intrínseca ocorre em atividades que contêm
interesse intrínseco para os indivíduos.
O principio central da Teoria da Avaliação Cognitiva é o de que as atividades
intrinsecamente motivadas serão prejudicadas por ameaças à satisfação das necessidades de
60

competência e autonomia. Reeve e Renwick (2012) argumentam que muitos aspectos


cotidianos da vida das pessoas não são intrinsecamente interessantes, inclusive para certos
aspectos da prática musical, como os exercícios técnicos, de aquecimento entre outros. Para
tanto, a Teoria da Integração Organísmica ressalta a forma como os comportamentos
extrinsecamente são internalizados e integrados às metas pessoais. Para melhor compreender
a motivação em atividades que não são intrínsecas, é necessário compreender a natureza e a
dinâmica da motivação extrínseca, que será apresentada na próxima seção.

3.4. TEORIA DA INTEGRAÇÃO ORGANÍSMICA

Nas perspectivas teóricas clássicas da motivação, os fatores externos quase sempre


foram considerados promotores de formas controladoras de motivação extrínseca, associadas
a um desempenho fraco. Entretanto, a abordagem organísmica da motivação parte do
pressuposto de que o organismo é inerentemente ativo e de que as necessidades psicológicas
básicas, os interesses e os valores integrados constituem a fonte dessa natureza inerente
(DECI; RYAN, 1985). A relação dialética entre o indivíduo e o ambiente, para a Teoria da
Integração Organímica, supõe que os eventos ambientais afetam os indivíduos, oferecendo-
lhes desafios, feedback, oportunidades de escolhas e vínculos sociais de apoio, que às vezes
satisfazem e outras vezes ignoram e frustram suas necessidades psicológicas básicas. Desse
modo, a Teoria da Integração Organísmica discute o grau motivacional de que uma
contingência externa não controladora é capaz, promovendo, de certa forma, uma motivação
extrínseca associada a um bom desempenho dos indivíduos (RYAN; DECI, 2000b; DECI;
RYAN, 2008a; REEVE, 2006).
Embora os resultados de pesquisa sobre a Avaliação Cognitiva tenham mostrado que
os motivadores extrínsecos minam a motivação intrínseca, principalmente os controladores, é
possível que as pessoas possam obter um bom desempenho escolar e sentirem bem-estar
psicológico ao serem motivadas pelas formas mais autodeterminadas de motivação extrínseca.
A Teoria da Integração Organísmica aborda os processos por meio dos quais os indivíduos
internalizam, elaboram, aperfeiçoam e integram as estruturas internas do comportamento, ou
seja, as pessoas tendem a internalizar e integrar dentro de si a regulamentação das atividades
que foram solicitadas inicialmente e/ou reguladas por fatores externos. “A internalização
refere-se ao processo pelo qual um indivíduo transforma uma regulação ou valor
externamente prescrito em algo endossado internamente” (REEVE, 2006, p. 78). Mesmo que,
61

para a TAD, o processo de integração seja visto como uma propensão natural, a internalização
e a integração serão mais ou menos eficazes, dependendo do grau em que os organismos
experimentam, no ambiente, satisfação das necessidades psicológicas básicas.
Enquanto a Teoria de Avaliação cognitiva aborda principalmente os efeitos do
contexto social específico sobre motivação, a Teoria da Integração Organísmica se preocupa
mais com a diferenciação de motivação extrínseca de acordo com contextos, internalização,
integração e influências sociais mínimas sobre a internalização da motivação extrínseca.
Portanto, para além da variação quanto à intensidade, a Teoria da Integração Organísmica
salienta a utilidade de distinguir diferentes tipos ou qualidades de motivação. Dessa forma, as
diversas razões que podem explicar o comportamento motivado dos indivíduos são
correspondentes a tipos de motivação suscetíveis de serem ordenadas segundo um continuum,
que reflete o nível de autodeterminação subjacente ao comportamento. O continuum de
autodeterminação aborda desde os comportamentos com ausência de regulação, os regulados
por motivação extrínseca, até os totalmente regulados intrinsecamente. A figura 1 apresenta as
categorias de motivação intrínseca e extrínseca, os estilos de regulação relacionados com o
lócus de causalidade percebido e alguns processos regulatórios relacionados.

Figura 1 - O continuum de autodeterminação

(adaptado de RYAN; DECI, 2000b)

O continuum de autodeterminação aborda desde os comportamentos não


determinados pelo self (amotivação ou não regulação), os regulatórios por motivação
extrínseca até os totalmente determinados pelo self (motivação intrínseca). A Teoria da
integração organísmica classifica os tratamentos regulatórios em quatro tipos de motivação
62

extrínseca. A motivação extrínseca por regulação externa é o modelo clássico da motivação


extrínseca, ou seja, o comportamento é totalmente regulado por consequências externas (lócus
impessoal). Na motivação extrínseca por regulação introjetada, ocorre uma internalização ou
incorporação, não sendo integralmente aceita como própria, e sim por um sentimento de dever
ou obrigação (lócus pouco externo). Na motivação por regulação identificada, ocorre uma
valorização pessoal e consciente das consequências externas (já representa a motivação
extrínseca internalizada autônoma). A motivação por regulação integrada é amplamente
assimilada ao self, constituindo assim o tipo da motivação extrínseca de maior
autodeterminação. As motivações por regulação identificada e por regulação integrada
aproximam-se da motivação intrínseca e apresentam muitas das vantagens desta (REEVE,
2006). Dessa maneira, quanto mais internalizada for a regulação externa, maiores serão os
níveis de autodeterminação.
Para a TAD, a motivação que leva ao comportamento autodeterminado ou autônomo
depende do grau em que as necessidades psicológicas são satisfeitas. Além das diferenças
situacionais, os indivíduos podem apresentar maior ou menor tendência para agir de maneira
autodeterminada ou mais controlada pelo ambiente externo (RYAN; DECI, 2000). As mais
recentes pesquisas sobre a TAD têm realçado que tipos de motivação autodeterminadas são
encontrados na motivação intrínseca e nas motivações extrínsecas por regulações identificada
e integrada. Essas formas são igualmente denominadas de motivação autônoma. As formas de
motivação extrínseca, por regulação externa e introjetada, formam a motivação controlada
(BZUNECK; GUIMARÃES, 2010; DECI; RYAN, 2008a; RYAN; DECI, 2006; REEVE,
2006).

3.5. TEORIA DAS ORIENTAÇÕES DE CAUSALIDADE

A Teoria das Orientações de Causalidade descreve as diferenças individuais nas


orientações do indivíduo em que forças motivacionais causam seu comportamento. A
abordagem das orientações de causalidade adiciona os aspectos da personalidade que são
integrados na regulação do comportamento. Para Ryan e Deci (2004), as orientações de
causalidade podem ser assumidas pelas pessoas em três diferentes graus: autônoma,
controlada e impessoal. A orientação autônoma envolve o comportamento intrinsecamente
motivado e os que o são extrinsecamente por regulação identificada e integrada. A orientação
controlada é baseada no controle e em diretrizes sobre como o individuo deve se comportar.
63

Ela está associada diretamente às regulações externa e introjetada, focando as recompensas e


pressões do ambiente. A orientação impessoal se baseia em indicadores sem eficácia, em
comportamento não intencional, estando relacionada à falta de ação intencional (amotivação).
Para estudar os aspectos comportamentais de personalidade e bem-estar dos
indivíduos, pesquisadores relacionam as orientações de causalidade com os estilos específicos
de regulação (RYAN; DECI, 2004, REEVE et al., 2004). Na pesquisa realizada por Deci e
Ryan (1985), a orientação autônoma foi relacionada positivamente a autoestima,
desenvolvimento do ego e a outros indicadores de bem-estar. As orientações controladas
foram associadas negativamente aos aspectos de bem-estar e ao comportamento orientado sob
pressão. À orientação impessoal foram relacionadas a baixa autoestima e a depressão.
Para Deci e Ryan (2000), os professores que apoiam a autonomia promovem maior
motivação intrínseca, curiosidade e vontade para o desafio. Os alunos demasiadamente
controlados perdem a iniciativa, aprendem menos, especialmente quando as atividades são
complexas e requerem processos criativos. Dessa maneira, a aprendizagem escolar pode
render melhores resultados quando o ambiente funciona a partir do apoio aos alunos para
satisfazerem suas necessidades, explorarem seus interesses e internalizarem valores para uma
forte motivação. Já o ambiente escolar, que pressiona os alunos a deixarem de lado seus
interesses pessoais apenas para seguir as exigências da sala de aula, torna as interações mal
sucedidas, por promover motivação baseada em ameaças e recompensas externas, com baixo
envolvimento nas tarefas e aprendizagem superficial (REEVE et al., 2004).
A pesquisa de Machado (2009) sobre o estilo motivacional de professores do ensino
fundamental e os tipos de interações prevalentes em suas atuações profissionais revelou
alguns dados relacionados às orientações de causalidade. Para a realização desse trabalho, a
autora identificou o estilo motivacional de um grupo de 39 professores. Ela comparou as
médias de desempenho dos professores sob a perspectiva das subescalas de avaliação dos
quatro estilos motivacionais (alto promotor de autonomia, moderado promotor de autonomia,
moderado controlador de autonomia e alto controlador) do questionário “Problemas nas
escolas” (Problem in School), elaborado por Deci e colaboradores (1981) e adaptado e
validado no Brasil por Bzuneck e Guimarães (2007). Os resultados das análises dos dados não
indicaram diferenças significativas entre as variáveis e o desempenho na avaliação do estilo
motivacional.
Nesse estudo, o desempenho desses professores não pôde ser caracterizado
prevalente promotor de autonomia ou controlador, como sugerido no sistema de pontuação do
64

instrumento de pesquisa no original. Nesse estudo, após a etapa de aplicação do instrumento


de autorrelato, foi escolhido o professor com mais alta pontuação e o professor com mais
baixa pontuação na avaliação do estilo motivacional para participar de uma observação
comportamental com o objetivo de identificar as diversas interações entre esses professores e
seus alunos. Como os scores não apontaram nenhum professor com estilo altamente
controlador e moderado controlador, foram observadas na pesquisa uma professora altamente
promotora de autonomia e uma moderada promotora de autonomia. Os resultados da
observação em sala de aula apresentaram um descompasso nos estilos autorrelatados de
ambas as professoras, pois a avaliação realizada com o questionário “Problemas na Escola”
não foi totalmente alinhado com as observações realizadas nas aulas. Para a autora, mesmo
não havendo uma correspondência precisa entre o estilo motivacional dessas professoras, o
instrumento de autorrelato foi sensível em captar diferenças dos desempenhos individuais nas
interações entre as professoras investigadas, fortalecendo, assim, a sua ideia sobre a validade
desse instrumento para as pesquisas educacionais (MACHADO, 2009).

3.6. TEORIA DAS METAS MOTIVACIONAIS

A mais recente teoria adicionada à TAD é a de Metas Motivacionais (Goal Contents


Theory), que examina a correlação de diferentes tipos (intrínseca e extrínseca) de metas ou
aspirações de vida e seu impacto sobre a motivação e o bem-estar psicológico (DECI; RYAN,
2008b; VANSTEENKISTE, NIEMIE E SOENENS, 2010). Essa teoria pressupõe que as
metas intrínsecas (desenvolvimento pessoal, contribuição com o meio social, filiação) são
capazes de satisfazer as necessidades básicas de autonomia, competência e pertencimento,
porque a busca por um objetivo intrínseco pode gerar uma orientação interna apropriada para
satisfazer tais necessidades, enquanto as metas extrínsecas (recompensa financeira, fama)
podem não estar relacionadas à satisfação das necessidades básicas, mas sim a uma orientação
externa focada em atrair somente a autoestima por meio da realização e da validação externa,
prejudicando, assim, a satisfação das necessidades psicológicas básicas (VANSTEENKISTE,
NIEMIE E SOENENS, 2010).
Originalmente as investigações sobre a distinção entre as metas intrínsecas e
extrínsecas foram incorporadas à Teoria das Necessidades Básicas, em virtude de as
aspirações extrínsecas serem consideradas metas compensatórias para os indivíduos que as
valorizam e as buscam no momento em que se sentem privados da satisfação das suas
65

necessidades (VANSTEENKISTE, NIEMIE E SOENENS, 2010). Algumas pesquisas


revelam que a ideia de metas extrínsecas como substitutas das necessidades têm sido
alimentadas pela mídia e pela indústria da publicidade, que retratam a riqueza e o
reconhecimento social como metas finais para o desenvolvimento da identidade e da
felicidade dos indivíduos (DITTIMAR, 2007). Para La Guardia (2009), quando os indivíduos
estão privados de satisfazer suas necessidades, são mais propensos a terem metas extrínsecas,
porque esperam nelas uma fonte de identidade, significado e autoestima. Porém, para a TAD,
as metas extrínsecas não são capazes de proporcionar a satisfação genuína das necessidades
básicas, que é essencial para o desenvolvimento da personalidade saudável e do bem-estar.
A base empírica da Teoria de Metas Motivacionais iniciou com estudos que
distinguiram busca do sucesso financeiro, crescimento pessoal, relacionamentos íntimos e
envolvimentos em comunidade (KASSER; RYAN, 1993). Posteriormente, esses
pesquisadores revelaram que as metas se dividiam em duas categorias gerais, ou seja,
intrínsecas e extrínsecas. (KASSER; RYAN, 1996).
As mais recentes investigações sobre Metas Motivacionais têm se definido com
alguns pontos teóricos, tais como: metas intrínsecas que têm representado uma terceira
manifestação da tendência do crescimento organísmico, juntamente com os estudos da
motivação intrínseca e da internalização abordados como afirmativas centrais nas miniteorias
da Avaliação Cognitiva e da Integração Organísmica. Isso porque os indivíduos têm uma
tendência natural para se mover em direção às metas intrínsecas, embora não isso aconteça
automaticamente, pois eles necessitam de apoio contextual (VANSTEENKISTE et al., 2006b,
2010). A distinção entre metas intrínsecas e extrínsecas não foi somente investigada por
estudiosos da TAD, mas também por outros pesquisadores psicólogos (STICE, 2001; VAN
BOVEN; GILVORICH, 2003). Mesmo sendo relacionadas aos tipos de motivações
intrínsecas e extrínsecas, investigadas nas miniteorias da Avaliação Cognitiva e Integração
Organísmica, as Metas Motivacionais são distintas dessas motivações, porque ambas as
metas, intrínsecas e extrínsecas, podem ser perseguidas por razões tanto autônomas quanto
controladas.
Alguns estudos defendem que as metas intrínsecas e extrínsecas são relacionadas de
forma diferente para prever a satisfação das necessidades psicológicas básicas
(VANSTTENKISTE et al., 2007b; SEBIRE; STANDAGE; VANSTEENKISTE, 2009).
Nesse sentido, o estudo de metas sob a perspectiva da TAD implica uma ligação clara com a
satisfação das necessidades psicológicas básicas. Outras perspectivas investigativas têm sido
66

apontadas para futuros estudos de metas, tais como: o desenvolvimento de avaliações


específicas das aspirações de vida, uma vez que nem todas as metas são igualmente relevantes
em todos os domínios da vida; exames dos efeitos de metas intrínsecas e extrínsecas sobre a
satisfação das necessidades básicas; e análises das relações das metas com as motivações
autônomas e controladas (VANSTEENKISTE et al., 2008a, 2010).
Percebe-se, nas últimas décadas, um crescimento exponencial de pesquisas que
discutem a temática da motivação sob a perspectiva da TAD. Acredita-se que a Teoria da
Autodeterminação tem atraído pesquisadores em diversas partes do mundo, devido aos
numerosos esforços empíricos e ao consistente e contínuo desenvolvimento dessa teoria
(VANSTEENKISTE, NIEMIE E SOENENS, 2010). Sua aplicabilidade para o ensino e a
aprendizagem em música tem revelado concepções multifacetadas da motivação, superando
as concepções indiferenciadas da motivação, muitas vezes, confundidas com o sucesso da
realização e da personalidade, como mostram as pesquisas apresentadas na próxima seção.

3.7. PESQUISAS QUE AVALIARAM A MOTIVAÇÃO MUSICAL SOB A


PERSPECTIVA DA TAD

Esta seção tem como objetivo apresentar resultados de pesquisas que usaram a
perspectiva da TAD nos contextos educativos musicais. Saliento que os estudos que serão
apresentados foram desenvolvidos em contextos presencias, porque, até o momento da
publicação deste estudo, não foram localizados resultados de pesquisa em música sobre a
motivação musical em ambientes online sob a perspectiva da TAD.
Os primeiros resultados de pesquisa no campo musical apontados nesta revisão dão
conta de que a década de 1990 foi cenário de uma série de estudos sobre a motivação musical
com músicos jovens. Essas pesquisas revelaram que o nível de autonomia percebida na
aprendizagem entre estudantes de bandas escolares foi relacionado, com maior frequência,
com as formas mais extrínsecas de motivação nas performances competitivas (ROHER, 1993)
e na relação de participantes de escolas públicas versus privada (MIYAMOTO, 1997). Esses
estudos ainda revelaram que as meninas eram mais intrinsecamente motivadas que os
meninos (MIYAMOTO, 1997; ROHER, 1993). Até os anos finais de 1990, as pesquisas em
motivação musical eram escassas e insuficientes para revelar os efeitos diferenciais da
motivação extrínseca em relação à intrínseca, principalmente quando a questão era voltada
67

para investigar os motivos de os alunos permanecerem ou abandonarem o ensino de música


(HALLAM, 1998).
Para Renwick (2008), os estudos realizados sobre a motivação musical sob a visão da
TAD na década de 1990 exploram essa teoria de maneira parcial. Especificamente sob a
perspectiva da Teoria da Avaliação Cognitiva, McAllister (1996) utilizou o modelo de
controle versus feedback informativo de Ryan (1982; RYAN et al., 1983) para investigar a
motivação na realização de uma leitura à primeira vista de uma obra por estudantes de nível
avançado de um curso superior de música. Nesse estudo, os estudantes foram convidados a
realizar a tarefa da leitura musical tanto com feedback “controlador” (por exemplo, “Você
deve ser capaz de tocar todas as notas corretas na primeira tentativa”22) quanto
“informacional” (“Eu gostaria que você tentasse manter um pulso estável. Mas vá devagar.
Tente e mantenha o tempo estável”23). As questões adaptadas para esse estudo não diferiram
muito no nível do controle da linguagem quando comparado com as do modelo original
(RYAN, 1982; RYAN et al., 1983), em que as instruções estavam determinadas antes da
contratação da tarefa, em vez de formas de feedback. Para aferir a percepção de escolha
percebida típica da motivação intrínseca, McAllister (1996) incluiu outras atividades
musicais, além da leitura à primeira vista. Dessa forma, reduziu ainda mais qualquer diferença
possível entre os grupos emergentes da tarefa com a leitura à primeira vista. Os resultados
desse estudo não apresentaram diferenças significativas nos níveis de controle da linguagem,
ao contrário dos estudos do modelo original (RYAN, 1982; RYAN et al., 1983). Para
Renwick (2008), é questionável se músicos universitários de nível avançado estariam
suscetíveis à mudança pela visão do modelo controle versus feedback informativo, porque,
segundo esse autor, a aplicação fiel desse modelo seria mais proveitosa com crianças menos
comprometidas com o fazer musical especializado, em comparação aos estudantes avançados,
de nível universitário.
A segunda década desse milênio foi destacada nesta revisão com pesquisas em
música que investigaram a TAD de maneira mais holística (RENWICK, 2008; RENWICK;
REEVE, 2012; FIGUEREIDO, 2010; LEGUTKI, 2010; CERNEV, 2011). Para RENWICK
(2008), a interação professor/aluno típica do modelo tutorial nas aulas de instrumento pode
tanto promover a motivação autônoma quanto a controlada. No entanto, para o autor, poucas

22
“You should be able to play all the correct notes the first time through” (McALLISTER, 1996).
23
“I would like you to try and keep a steady even pulse. But go slow. Try and keep a steady tempo”
(McALLISTER 1996).
68

pesquisas exploraram todas as implicações da teoria da autodeterminação no contexto


musical. Para tanto, Renwick (2008) investigou as formas como os alunos manifestaram
múltiplas motivações para o esforço no exigente campo da performance musical. A pesquisa
de Renwick (2008) foi divida em duas fases. A primeira foi composta por candidatos de um
exame de performance musical com idades de 8 a 19 anos. Primeiramente, eles responderam
a um questionário composto por itens que abordavam o comportamento em exercício e a
percepção de competência musical (baseado no questionário original de autorregulação de
Ryan e Connell [1989], e adaptado para explorar a motivação intrínseca e os tipos de
motivação extrínseca para aprender um instrumento musical). A análise fatorial do
questionário de autorregulação revelou cinco dimensões que apresentam correspondência
parcial com pesquisas anteriores: internas, externas, sociais, relacionados à vergonha e ao
exame.
A segunda fase dessa pesquisa consistiu em estudos de caso. O autor realizou a
observação de quatro dos participantes dos questionários da primeira fase que se preparavam
para realizar provas para o ano subsequente. Eles eram músicos adolescentes, de nível
intermediário. Esses jovens foram filmados durante o tempo em que estavam se preparando
nas suas próprias casas. Logo após os estudos, eles assistiam às gravações e verbalizavam, em
voz alta, qualquer pensamento de que se lembravam. Os vídeos foram analisados e
combinados com os dados verbais. Essa etapa foi finalizada com uma entrevista
semiestruturada. O aspecto observacional dos quatro estudos de caso, em grande parte,
confirmou a importância dos processos autorregulados que emergiram na primeira fase desse
estudo. Segundo Renwick (2008), a utilização de métodos quantitativos e qualitativos revelou
um conjunto de informações esclarecedoras sobre a natureza complexa do comportamento e a
motivação de jovens que praticam um instrumento musical. Para esse autor, a classificação
dos cinco motivos para os jovens se esforçarem para dominar um instrumento musical,
encontrados ao longo do continuum de autodeterminação, é uma nova descoberta no ensino de
música, pois grande parte das discussões sobre motivação na música apenas descreveu os
alunos como motivados ou desmotivados em um sentido unilateral.
Diferentemente da pesquisa de Booth (1999), que revelou que os jovens aprenderam
um instrumento musical por vários motivos, que vão do amor pelo instrumento (motivação
intrínseca) a motivos extrínsecos, tais como cumprir as expectativas dos pais, Renwick (2008)
concluiu que o esforço da prática musical foi mais fortemente previsto por motivação
internalizada, e o desejo de se esforçar para aprender música aconteceu por causa de sua
69

importância intrínseca e por prazer pessoal. Renwick (2008) argumentou que, em função da
escassez de pesquisas em música focadas na TAD, ele também buscou suporte em trabalhos
de música que exploraram alternativas teóricas para o campo da motivação musical, como as
crenças de competência (VISPOEL, 1995a, 1995b) e autoeficácia (MCCORMICK;
MCPHERSON, 2003; MCPHERSON; MCCORMICK, 2006), a expectativa e o valor
(MCPHERSON; MCCORMICK, 2000; NIELSEN, 2004), as orientações de metas
(SANDENE, 1998; O’NEILL, 1996; SMITH, 2005), a atribuição de casualidade
(MCPHERSON, 1989; MCPHERSON; MCCORMICK, 2000; VISPOEL; AUSTIN, 1993) e
o fluxo (O’NEILL, 1999a; CUSTODERO, 2002, 2005).
Embora o crescimento do campo da motivação musical tenha iniciado desde a
segunda metade dos anos 1990, pesquisadores revelaram que ainda não são tão expressivos os
números de trabalhos de educação musical no âmbito da motivação (AUSTIN; RENWICK;
MCPHERSON, 2006; HENTSCHKE et al., 2009; HENTSCHKE, 2010).
Na pesquisa de Legutki (2010), a TAD foi utilizada para responder questões para
além da quantidade da motivação evidenciada em alunos que estavam matriculados em
programas de bandas escolares americanas. Provocado por uma variedade de pontos de vista
sobre a motivação em bandas escolares, Legutki decidiu investigar os perfis da motivação dos
alunos de bandas no ensino médio, determinado pelas suas percepções de satisfação das
necessidades psicológicas básicas, motivação intrínseca e autorregulação do comportamento
para aprendizagem musical. Para o autor, esses fatores têm se mostrado influentes na
persistência e no bem-estar psicológico em outras áreas da educação. Portanto, serviu como
base para sua pesquisa com bandas escolares (LEGUTKI, 2010).
Os dados da pesquisa foram coletados por meio de questionários e entrevistas, com a
finalidade de verificar se os principais fatores que determinaram as características dos
alunos estavam relacionados aos aspectos de seus perfis motivacionais, bem como para
entender melhor como esses fatores são percebidos pelos estudantes de bandas no ensino
médio. Esse estudo foi dividido em duas fases. Na primeira fase, foram utilizados
instrumentos destacados em pesquisas sobre a TAD, como a Escala de Necessidades
Psicológicas Básicas, o Inventário de Motivação Intrínseca (IMI), o Questionário de
Autorregulação para a Aprendizagem e o Questionário sobre o Clima de Aprendizagem.
Na segunda fase, as entrevistas foram realizadas com nove estudantes do ensino
médio, para proporcionar uma descrição sobre a motivação para tocar em bandas em relação
às experiências anteriores e às formas como eles pensam sobre elas. Os dados apresentaram
70

algumas diferenças nas pontuações dos índices altos e baixos de autonomia relativa descrita
para estar motivado na banda, bem como revelaram diferenças relativas ao modo como os
estudantes descreveram suas participações musicais dentro e fora das bandas na escola,
quando tocam na frente de seus colegas e como especularam sobre sua futura participação na
banda.
Os indivíduos com escores altos e baixos na autonomia relativa falaram sobre suas
experiências de maneiras bem diferentes uns dos outros, enfatizando as diferenças na forma
como a regulamentação pode funcionar de maneira autônoma ou controlada. Para tanto, foram
destacados os dados obtidos no depoimento de dois estudantes veteranos, com o mesmo
tempo de participação na mesma banda. Esses dados apontaram diferenças motivacionais,
sobretudo em relação aos aspectos de competição. Um dos estudantes falou mais sobre os
aspectos musicais e sociais das suas experiências. Embora o outro tenha valorizado mais os
aspectos sociais da competição, ele relembrou o auge de sua experiência como vencedor
(campeão) entre as bandas e quão importante era para ele saber que sua banda era melhor do
que outras e que ela pouco errava durante suas performances. Em contraste, o seu colega
sentiu que poderia haver se saído melhor nas perfomances, e nenhuma vez sequer comentou
em qual banda ele tocava e se foi ganhadora de qualquer prêmio. Além disso, ele não
concorda com alguns sentimentos dos indivíduos sobre o que é “fazer certo” em música. Em
vez disso, ele descreveu como a música estava cercada de prazer e realização.
Quando foram analisadas todas as diferenças situacionais entre esses dois estudantes,
o primeiro demonstrou maior motivação ao seu professor e aos colegas, apesar de os
resultados serem semelhantes nos índices de autonomia relativa. Foi percebido que o controle
e a competição apoiaram o ego do segundo estudante e, embora ele aparentasse estar muito
motivado, sua pontuação foi relativamente baixa para a autonomia e alta para a pressão. Para
o autor, as experiências do segundo estudante apoiaram o seu desejo de competir, enquanto o
primeiro estudante interpretou experiências semelhantes como controladoras, desconfortáveis
e desconcertantes. É necessário destacar que essas experiências foram discutidas em situações
de competição de bandas escolares. Para o pesquisador, embora alunos de banda possam ter
objetivos comuns, eles diferem na maneira como tratam seus objetivos. Os dados dessa
pesquisa revelaram perfis motivacionais bastante diversificados tantos nas entrevistas quanto
nos questionários. Assim, o estudo revelou que as bandas investigadas não puderam ser
caracterizadas como amostras homogêneas, apesar de os estudantes, de modo semelhante,
aparentarem estar motivados superficialmente.
71

Essa pesquisa trouxe várias ilustrações nas entrevistas que descreveram casos em que
as experiências atuais dos estudantes contrastavam com as suas participações anteriores em
bandas escolares. Para Legutki (2010), as lembranças de experiências passadas, trazidas pelos
estudantes, moldaram como eles reagiram no ambiente escolar presente. Dessa maneira,
estavam constantemente interpretando o que viam e ouviam, bem como julgando os motivos
que afetam a sua participação no presente. O autor considerou que as atitudes dos professores
(o que eles disseram e fizeram) tiveram uma influência considerável sobre como os alunos
responderam a uma variedade de situações. Segundo Legutki (2010), abordar a motivação de
maneira igual para todos os alunos pode não ser apropriado na aprendizagem musical em
bandas, pois tal abordagem não pode atender a todos os estudantes e, quando não se considera
a diversidades dos estudantes, os riscos de atritos se elevam, além de se constatarem
insatisfações e diminuição no engajamento. Nesse sentido, abordagens centradas no estudante
e que consideram uma variedade de estratégias para atender às necessidades individuais de
cada aluno apresentam-se mais apropriadas.
Sobre as estratégias nas aulas em grupo, para Legukti, é natural que algumas
atividades concentrem-se em pequenas partes da música, o que nem sempre proporcionará um
senso comunitário entre todos os participantes. Nesse sentido, é importante conhecer e
entender melhor os processos de aprendizagem nas comunidades de bandas, bem como
considerar os perfis distintos de motivação no conjunto, apoiar as necessidades psicológicas
dos alunos e evitar tratar os alunos como iguais. Para o autor, os professores de música que
entendem a diversidade motivacional em situações grupais são responsáveis pela forma como
essas diferenças interagem com ele e seus alunos e por abordagens mais centradas no aluno.
Assim, encontram-se numa situação privilegiada para construir uma comunidade de
aprendizes musicalmente ativos, envolvidos socialmente e intrinsecamente motivados. Esse
estudo destacou que estudantes foram considerados únicos, bem como mostrou a importância
do papel dos professores que buscam proporcionar experiências valiosas para todos os alunos.
Dessa maneira, a TAD ofereceu uma perspectiva casada entre o conceito de controle e o grau
de satisfação das necessidades psicológicas para explicar os tipos de mecanismos de apoio
que resultam em motivação intrínseca e regulação autônoma entre os estudantes de bandas
escolares (LEGUTKI, 2010).
A pesquisa de Figueiredo (2010) sobre os tipos de motivação de estudantes de violão
no campo da performance musical foi o primeiro estudo no área de música sob a perspectiva
da TAD realizada no Brasil. Ele analisou a motivação de 24 bacharelandos em violão de uma
72

Instituição de Ensino Superior na cidade de Curitiba. Como técnica de coleta de dados, foi
utilizado um questionário adaptado de um estudo desportivo (FERNANDES;
VASCONCELOS, 2005). Os resultados desse estudo revelaram que os estudantes de violão
investigados possuem um perfil motivacional autodeterminado e que as variáveis referentes à
motivação autônoma apresentaram as maiores médias do conjunto de variáveis, bem como um
índice de 70% de autonomia relativa. Esse alto índice de motivação demonstrou que os
problemas advindos da escolha da carreira de músico profissional não foram suficientes para
desmotivar os estudantes. Esse foi o segundo trabalho encontrado nesta revisão que abordou o
tema da motivação para o estudo de um instrumento musical específico (violão), sob a
perspectiva da Teoria da Autodeterminação. O índice de evasão no curso de violão em
questão apresentou-se baixo, contrariando estatísticas brasileiras para cursos superiores.
Figueiredo (2010) destacou a importância do suporte institucional e dos professores na
educação superior para a motivação autônoma, ou seja, a motivação intrínseca e também a
motivação extrínseca por regulação identificada e integrada. Ele chama a atenção para o uso
de recompensas contingentes por tarefa, performance e competição, que devem ser
trabalhadas de forma cautelosa, pois possuem um grande potencial para reduzir a motivação
autônoma. Estratégias que oferecem opções de escolha na definição do repertório, na técnica a
ser utilizada, bem como a realização de recitais servem como critérios para medir a motivação
intrínseca, porque a percepção de escolha, mesmo que restrita a opções dadas, pode colaborar
para um sentimento interno no lócus de causalidade, suprindo, assim, a necessidade de
autonomia. Para o autor, instituições educativas e professores que proporcionam um contexto
informativo facilitam a percepção interna no lócus de causalidade e a percepção de
competência, que aumenta a motivação intrínseca dos indivíduos. Ainda segundo o autor,
atividades musicais em grupo são boas alternativas para suprir a necessidade de vínculo
social, especialmente para o estudante de cursos de bacharelado em violão, que passa boa
parte do seu tempo dedicando-se ao repertório solo.
Sobre a motivação de professores de música baseada na TAD, destaco, nesta revisão,
a pesquisa de Cernev (2011) como o primeiro trabalho brasileiro que investigou a motivação
dos professores de música sob essa perspectiva teórica. Os dados dessa pesquisa foram
analisados por meio da estatística descritiva e inferencial. A pesquisa de Cernev (2011)
descreveu a relação entre os tipos da motivação (autônoma e controlada) e o ciclo de vida
profissional de 162 professores de música em escolas públicas e privadas da educação básica
na região sul do Brasil. Nesse estudo, os professores de música intrinsecamente motivados
73

foram considerados promotores de autonomia, enquanto os professores extrinsecamente


motivados foram considerados controladores. Essa pesquisa ainda desvelou que a motivação
autônoma dos professores foi superior no final da atuação docente quando comparada com a
dos professores em início da profissão. Como essa pesquisa foi realizada com o método de
survey interseccional, Cernev recomenda que futuras pesquisas em música realizem estudos
longitudinais para observar se esse resultado ocorre com o mesmo professor ao longo dos
anos. Essa pesquisa apontou que o nível de motivação autônoma percebida pelos professores
de instituições privadas é bastante semelhante aos de instituições públicas. Porém, em relação
à atuação docente dos professores que trabalham em instituições privadas, os resultados
mostrou um declínio gradual da motivação autônoma ao longo dos anos. Diferentemente dos
profissionais da rede privada, os resultados dessa pesquisa mostrou que os docentes das
escolas públicas tiveram, desde o início de suas carreiras, uma orientação motivacional
autônoma sem sofrer declínio e, no final, sofreram uma graduação positiva em direção à
motivação autônoma, contrapondo-se ao estudo de Huberman (1989, 1995), que sinalizou
uma diminuição do investimento pessoal na atividade profissional e o declínio da motivação
na fase final do ciclo profissional.
Segundo Renwick (2008), grande parte dos estudos na área de música baseados na
TAD realizaram descrições de prevalência de estilos motivacionais ou explicaram os níveis de
desempenho por meio de medidas de crenças de competência. Desse modo, o autor argumenta
que as pesquisas em motivação musical, muitas vezes, têm dependido apenas de medidas
unitárias ou teorias dicotômicas, que, muitas vezes, são perpetuadas pelos seus próprios
instrumentos de medição. Nas últimas décadas, o uso dos instrumentos de autorrelato é
considerado uma das maneiras de coletar dados para inferir a intensidade e a qualidade da
motivação. Esses instrumentos quase sempre conferiram destaque ao levantamento de
informações em pesquisas sobre motivação. No entanto, pesquisadores em psicologia
educacional destacam a necessidade de metodologias mais qualitativas para que os estudos
motivacionais avancem (BORUCHOVITCH, 2008; MACHADO, 2009). Essa constatação
impulsionou a escolha metodológica do presente trabalho, que tem como objetivo investigar
os processos motivacionais dos estudantes nas interações online em aulas de violão a distância
tanto por meio de entrevistas, diálogos em fóruns de discussão, quanto pela observação
participante. Vale salientar que não são muitos os estudos no Brasil que investigaram a
aprendizagem musical em ambientes virtuais e, até o presente momento, nenhuma pesquisa
acadêmica foi concluída sobre a motivação de estudantes universitários de música para
74

aprender na modalidade a distância. Portanto, acredita-se poder contribuir para o


conhecimento da área, no sentido de fornecer caminhos para futuras pesquisas.
75

4. METODOLOGIA

A metodologia empregada para alcançar os objetivos propostos e responder às


questões de pesquisa foi a pesquisa-ação integral. O modelo da pedagogia aberta proposta por
MORIN (2004) entra em consonância com a abordagem educacional “Estar Junto Virtual”,
utilizada na presente pesquisa e que prevê a participação engajada dos sujeitos na resolução
de um problema ou projeto (VALENTE, 2010, 2011). Na próxima seção, será discutido o
método em questão e sua adequação, sobretudo pela participação elucidada na presente
pesquisa.

4.1. DEFINIÇÃO DO MÉTODO

Para investigar os processos motivacionais dos estudantes nas interações online em


aulas de violão a distância online, foi necessária a criação e a execução de uma proposta
pedagógica para ser implementada e avaliada com estudantes de violão. Essa proposta previu
o envolvimento dos estudantes tanto na ação quanto no planejamento e na avaliação do
processo. O caráter exploratório, a participação ativa dos alunos, bem como a minha
implicação na situação investigada, como professor e pesquisador, apontaram ser a pesquisa-
ação o método mais apropriado para a realização da presente pesquisa.
Esse método nasceu nas ciências sociais, estando diretamente ligado aos princípios
da pesquisa participante (THIOLLENT, 2008). Entre as correntes teóricas existentes nessa
modalidade de pesquisa, foi escolhida a abordagem francófona, principalmente por estar
ancorada nos princípios de colaboração e de cooperação entre os participantes (MORIN,
2004). Para Thiollent (2008), a pesquisa-ação constitui uma modalidade investigativa que
tem como principais características a busca pela resolução de um problema coletivo e a
participação efetiva dos envolvidos na questão.

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica, que é concebida e


realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema
coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou
do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (2008, p.16)

Esse envolvimento do grupo, muitas vezes, tem sido relacionado a uma


impossibilidade de se realizarem pesquisas objetivas, pelo fato de o pesquisador, muitas
vezes, engajar-se, como docente, em um campo específico, sem utilizar os tradicionais
protocolos de laboratório. Ele atua de modo que os atores se comprometam cada vez mais,
76

construindo estratégias que emergem do campo, podendo estes até se tornarem autores da
mudança (MORIN, 2004).
Essas ideias são reforçadas por outros autores no que se refere ao viés democrático
que caracteriza a pesquisa-ação e à sua perspectiva comunitária no modo de pesquisar
(GÓMEZ; FLORES; JIMÉNEZ, 1996; BARBIER, 2007). Para tanto, o pesquisador deve
recorrer a métodos ou a técnicas particulares em cada fase ou operação do processo de
investigação (COHEN; MANION; MORINSON, 2007).
O modelo da pedagogia aberta proposta por Morin entrou em consonância com a
abordagem educacional “Estar Junto Virtual”, utilizada na presente pesquisa, que prevê a
participação engajada dos sujeitos na resolução de um problema ou projeto. O lócus deste
estudo foi um curso presencial de Licenciatura em Música, especificamente a disciplina de
Prática Instrumental III em Violão. Participaram deste estudo, voluntariamente, cinco
estudantes matriculados nessa disciplina, residentes nas cidades de Mossoró e Grossos, ambas
no Rio Grande do Norte, e dois professores da UERN, entre abril e julho de 2011.
As fases empreendidas nessa pesquisa foram: planejamento, implementação e
avaliação. No entanto, há outras fases no processo da pesquisa-ação que não podem ser
delimitadas de forma tão evidente, tais como coleta, análise e interpretação dos dados. Esse
processo pode ser configurado de modo cíclico24, pois, nem sempre, os estágios numa
pesquisa-ação são seguidos numa mesma ordem, podendo-se retornar a um estágio anterior
enquanto o trabalho progride (MORIN, 2004; GALL; GALL; BORG, 2003).
As aulas foram oportunizadas graças à criação de objetos de aprendizagem (material
impresso, DVD, e um site25), bem como a ferramentas assíncronas (fóruns de discussão26
online, rede de relacionamento virtual) e síncronas (videoconferências, chats de Messenger).
Para a obtenção dos dados, foram utilizados vários instrumentos de coleta, tais como
registro em vídeo27, observação participante, entrevista semiestruturada, que serão,
posteriormente, detalhadas nos procedimentos de coleta de dados. A observação foi uma
constante durante o curso, tendo como foco as interações síncronas e assíncronas. As
24
Nesta pesquisa, o processo cíclico combinará as fases maiores com estágios mais específicos, como a coleta de
dados, a análise de dados e a tomada de ações (táticas).
25
O site é composto, basicamente, por textos, partituras, imagens, arquivos de áudio e vídeos explicativos. A
função desse material é apresentar os tópicos das aulas, os exercícios e as músicas que foram trabalhadas
durante cada semana do curso.
26
A lista de discussão é uma ferramenta assíncrona amplamente utilizada em cursos a distância. Nesse curso, ela
permitiu que os alunos esclarecessem suas dúvidas e debatessem sobre qualquer assunto com o professor ou
entre eles mesmos, além de haver servido para se dirimirem as dúvidas sobre o curso ou mesmo em relação às
lições, até mesmo quanto aos aspectos mais práticos para dialogar a respeito de música.
27
Os registros em vídeo e os questionários antecederam as aulas em caráter diagnóstico, procurando identificar o
perfil dos alunos e outras questões inerentes à pesquisa.
77

entrevistas semiestruturadas aconteceram durante todo o processo. Tais dados foram


utilizados para levantar indícios do foco da pesquisa. Em pesquisa-ação, a análise dos dados é
que deve orientar as ações (GALL; GALL; BORG, 2003). Assim, a análise dos dados deverá
legitimar as ações inicialmente planejadas, ou então conduzir a mudanças contínuas durante o
processo. Os relatórios elaborados pelo pesquisador também integram a análise dos dados,
bem como os depoimentos dos atores em questão.
A busca pela construção coletiva do conhecimento foi um dos grandes desafios
enfrentados na presente pesquisa. Para Costa (2007), a pesquisa-ação visa, por meio de suas
estratégias, a uma busca pelo conhecimento inseparável das relações de poder estabelecidas
quando é instaurado esse processo investigativo. Essa autora questiona os supostos atributos
emancipatórios da pesquisa-ação, ao mesmo tempo em que se posiciona a favor de sua
característica participativa. Contudo, ela questiona a democracia instaurada nos processos
coletivos de produção de conhecimento. Baseada numa experiência com essa modalidade
investigativa, a pesquisadora problematiza o quanto é desigual, em termos de poder, a
discussão coletiva entre os participantes para se obter um caráter emancipatório e uma
construção coletiva do conhecimento.
Mesmo sendo desejada a participação em grupo numa pesquisa-ação, a investigadora
afirma que esta não assegura a produção dos discursos. Segundo Costa, “o conhecimento é
construído socialmente, mas não democraticamente” (COSTA, 2007, p. 99). Contudo, a
pesquisadora esclarece que a suposta ausência de garantias democráticas em pesquisas
participantes não invalida tais iniciativas. Porém, alerta para não se construir uma ilusão de
que edificar conhecimento em conjunto impede a desigualdade e instaura igualdade.
A complexidade que permeia a escolha metodológica desta pesquisa e do fenômeno
a ser investigado levou a busca por alternativas, tomadas de decisões e até a consciência para
conhecer os limites e as possibilidades do modelo metodológico na presente investigação.
Assim, a expectativa foi de que o campo pudesse definir suas características para uma
posterior análise, sobretudo nos possíveis modos de participação elucidados no modelo da
pesquisa-ação integral (PAI), que seria desenvolvida na presente pesquisa. Desse modo, foi
levado em consideração que o envolvimento dos atores poderia acontecer de três diferentes
modos, de acordo com esse método de pesquisa. Esse método e seus modos de participação
serão explicados mais detalhadamente nos próximos parágrafos.
Baseada na perspectiva implicante entre atores e autores, a PAI enfatiza a discussão
entre atores pesquisadores e estudantes implicados na busca de possíveis soluções e
78

transformações, mediante uma efetiva participação colaborativa que poderá até mesmo chegar
a uma cogestão (MORIN, 2004). Inscrita no modelo epistemológico socioconstrutivista, a
PAI valoriza a pesquisa de campo, sobretudo por abordagens qualitativas apoiadas em teorias
bem fundamentadas. Esse método é caracterizado por cinco fases ou conceitos
interdependentes, que precisam ser compreendidos pela sua natureza dinâmica e sistêmica.
A primeira fase desse método compreende o contrato, que necessita ser aberto e
formal, porém não estruturado, pois, quando estruturado, corre o risco de comprometer a
discussão e, quando fechado, impossibilita qualquer discussão e participação ativa do ator,
perdendo-se o sentido da pesquisa-ação integral (MORIN, 2004). Embora o pesquisador
necessite definir seu papel na pesquisa, o contrato aberto pretende enriquecer o diálogo e
prever possíveis mudanças no processo em função do contexto. Em uma pesquisa-ação
integral, os atores sociais, professores e outros profissionais envolvidos devem se tornar, cada
vez mais, pesquisadores (MORIN, 2004). Nesse sentido, o contrato aberto abre a
possibilidade à mudança em todas as fases da pesquisa.
A participação, na segunda fase, configura-se como essencial nesse método de
pesquisa e pode acontecer de três diferentes modos: 1) representativo, o menos
comprometedor, dado o papel pouco ativo do ator no enunciado do problema; 2) a cooperação
ou colaboração, que está em um grau superior pelo fato de todos tomarem parte na ação e nas
reflexões sobre as tarefas a serem cumpridas; 3) a cogestão, segundo a qual os membros
estariam envolvidos em todas as etapas da pesquisa. Para Morin (2004, p. 67), a “participação
exige engajamento pessoal, abertura à atividade humana, sem relação de dependência, onde o
diálogo prevalece nas relações de cooperação ou de colaboração”. Nesse contexto, a
participação vai além da observação participante característica nas pesquisas etnográficas,
pois a participação na PAI requer do pesquisador participante a implicação tanto nas questões
quanto no processo de possíveis soluções para o problema e ou de mudanças deste.
A terceira fase é o processo de mudança ou transformação, que, na PAI, entende-se
não apenas na ação, mas também no ato de refletir. Nesse modelo, o desenvolvimento é
realizado em espirais, carregados de revisões na ação e na reflexão. Nesse sentido, a palavra
mudança é entendida pela suposta possibilidade de uma transformação da realidade. Essa
mudança é também traduzida na ação e no discurso, incluindo os valores dos atores
participantes, ou seja, os atores são ativos no processo de definição do problema.
A quarta fase está relacionada ao discurso, que, na PAI, é traduzido em discurso
esclarecido, consciente e engajado. O sentido do discurso na PAI entra em consonância com
79

as ideias de Freire (1996) em reação à educação bancária que, em parte, descarta a


participação ativa dos homens na construção do mundo. Nesse sentido, o ator pode
protagonizar sua história, dialogar com seus pares, sendo capaz de atingir um nível crítico
para transformar uma realidade (MORIN, 2004). Para Morin (2004), não somente o diálogo
aumenta a reflexão, mas a ação, em si própria, estimula a reflexão e deve impregná-la. O
equilíbrio entre a ação e a reflexão é o ponto importante a ser considerado na PAI, pois esse
modelo inclui, entre suas características, o favorecimento da interdisciplinaridade na busca de
solucionar ou transformar problemas que dizem respeito à complexidade da realidade
(MORIN, 2004). Desse modo, é importante também valorizar o discurso espontâneo dos
participantes em detrimento do rigor complexo do discurso científico, pois um discurso
comum ao grupo e mesmo vivido pelos participantes tem mais chances de ser engajado. Esse
discurso deve ser marcado pela implicação dos participantes. Entretanto, esse envolvimento
não deve estar relacionado somente com as experiências cotidianas dos atores (MORIN,
2004).
A quinta fase, a ação, vincula-se, na PAI, a uma pesquisa e não a qualquer ação
cotidiana, pois essa ação deve ter uma relação direta com uma intenção de enriquecimento de
conhecimentos ou de possíveis soluções de problemas (MORIN, 2004). Essa ação não pode
ser totalmente planejada, pois, quando muito sistemática, acaba não enriquecendo o processo
contínuo, característico desse método. A ação é essencialmente coletiva, por ser caracterizada
por um discurso dialógico dos participantes, que exige um mínimo de colaboração. Na PAI, a
ação é cada vez mais integrada ao ato reflexivo e preocupado com os processos circundantes,
e os participantes são vistos como seres autônomos, protagonistas de sua própria evolução
(MORIN, 2004).
Morin (2004) chama atenção para que o modelo da PAI não seja seguido como uma
receita para se realizarem outras pesquisas-ação. Ele mesmo tem realizado constantes revisões
nesse método. Entre as mudanças ocorridas, nasceu a Pesquisa-Ação Integral e Sistêmica
(PAIS). Essa foi concebida a partir da revisão da modelagem sistêmica28 aliada ao modelo da
pesquisa-ação integral.
Esta revisão metodológica é caracterizada por mudanças estratégicas ou
planejamento em espirais sucessivas, instaurando-se um “vaivém” entre a reflexão e a ação
para modelar um fenômeno que visa a estratégias na solução ou na redefinição do problema.

28
Baseada no pensamento sistêmico da ciência contemporânea, na qual são adotados os sistemas abertos, “a
modelagem sistêmica é aquela ação intencional destinada a tornar mais inteligível um objeto ou um fenômeno
complexo” (MORIN, 2004, p. 90).
80

As palavras de ordem nessa metodologia são principalmente: negociação, participação,


vontade de mudança do discurso e da ação (MORIN, 2004).
Dentre os pontos comuns entre a pesquisa-ação integral e a modelagem sistêmica,
destaco: a visão do objeto social em evolução; a mudança reflexiva; a abordagem interativa
entre os autores; e a reflexão dialética. Enquanto a pesquisa-ação integral está mais vinculada
à ação, ou seja, à busca de efetuar uma mudança sob a perspectiva do cotidiano dos atores, a
modelagem sistêmica é mais voltada para a compreensão, aprofundando-se mais na
observação em busca de um entendimento para os fenômenos complexos. A PAIS, apesar de
o design ser em parte predeterminado, incorpora a forma da matriz do sistema geral, que é
aberta, assegurando uma maior flexibilidade na indução dos fenômenos e de suas
interrelações. Em suma, a PAIS considera o fenômeno de maneira mais ampla, mais
globalizante ou holística, em busca de sua compreensão complexa, esclarecendo ainda melhor
a finalidade da transformação proposta pela pesquisa-ação integral (MORIN, 2004).
Assim, acredito que as características desses modelos metodológicos corroboram
com as concepções teóricas da presente investigação, bem como das questões levantadas e
dos possíveis problemas que surgirão no decorrer do processo de ação e reflexão, que visa
investigar os processos motivacionais dos estudantes nas interações síncronas e assíncronas
em aulas de violão a distância sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminação em um
contexto universitário brasileiro.

4.2. PLANEJAMENTO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO

As fases empreendidas neste estudo foram: planejamento, implementação e


avaliação. Elas se referem a momentos claramente delimitados, ou seja: o antes, o durante e o
depois das aulas a distância. No entanto, há outras fases no processo da pesquisa-ação que não
podem ser delimitadas de forma tão evidente. Esse processo pode também ser configurado de
modo cíclico ou em uma constante espiral, pois nem sempre os estágios de uma pesquisa-ação
são seguidos numa mesma ordem, podendo-se retornar a um estágio anterior enquanto o
trabalho progride (MORIN, 2004; GALL; GALL; BORG, 2003). Nesse sentido, tentou-se
desenvolver um “processo cíclico”, que combinou as fases maiores com estágios mais
específicos, como a coleta e a análise de dados.
81

Figura 2 - Ciclos com as fases internas e externas do processo

4.2.1. Reestruturação da disciplina

A fase da transposição didática aconteceu como parte da reformulação da disciplina


de Prática instrumental em violão presencial, que envolveu a estrutura de ensino, a definição
dos conteúdos, os objetivos das aulas e a produção do material didático. Além disso, foi
realizada a transposição desses conteúdos e do material para o ambiente online, por meio de
um site e de outros recursos digitais complementares.
A organização foi adaptada a partir do conteúdo programático da disciplina,
estabelecido pelo Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Música da UERN, ficando
estruturada da seguinte forma:
a) Ementa: Desenvolvimento básico da execução instrumental, a partir das
concepções do ensino coletivo de instrumentos na modalidade a distância
82

b) Objetivo: Desenvolver o repertório histórico e popular brasileiro básico do violão,


como uma possibilidade de educação musical, partilhando experiências entre professor e
alunos e alunos entre si.
c) Carga horária: 30h
d) Metodologia: As aulas foram desenvolvidas na modalidade a distância. Durante o
curso, os alunos participaram de atividades de Composição, Literatura, Apreciação e
Execução do modelo C(L)A(S)P proposto por Swanwick (1988) e que considera essas
atividades indispensáveis para o desenvolvimento do conhecimento musical. Swanick
argumenta que o processo de aquisição do conhecimento musical se dá essencialmente por
meio da vivência musical prática complementada com conhecimentos técnicos e literários da
música (ibid., p. 1979). Desse modo, as aulas envolveram o repertório histórico do violão e
canções da música brasileira popular, com o intuito de proporcionar conhecimentos musicais
específicos, principalmente de execução instrumental (violão).
e) Avaliação: Os alunos foram avaliados a partir da participação nas atividades de
execução em diferentes momentos, inclusive em um recital didático como parte final das
atividades.

4.2.2. Elaboração do material didático

Quanto à fase de elaboração do material didático, antes de iniciá-la, para que este
tivesse sentido para os estudantes, foi importante conhecer a história de vida deles. Para isso,
foi preciso conhecer suas preferências musicais, suas experiências prévias, a motivação para
realizar algumas tarefas para a aprendizagem instrumental; a escolha pelo instrumento
musical no ensino superior; e a relação com as TIC para aprender música. Para Fernandez
(2009), o processo de produção de um material significativo precisa envolver o autor, o leitor
e o texto, não sendo possível dispensar a preocupação com a adaptação significativa do texto
para o contexto em questão.
Na preparação do material didático, procurou-se ampliar, no estudante, seu espírito
questionador, aprofundando sua visão crítica para desenvolver sua autonomia. Nesse estudo,
a educação musical buscou possibilitar a inserção crítica do estudante por meio da construção
coletiva do conhecimento. O modelo estrutural foi baseado em Oliveira (1991b), que
compreende que a estrutura de ensino pode ter forma aberta ou fechada. Quando não são
dados elementos para que os estudantes façam o fechamento ou a conclusão em termos de
aprendizado, a estrutura é considerada aberta. Quando são planejados todos os elementos que
83

dirigirão os alunos às conclusões predeterminadas, o modelo educacional é fechado


(OLIVEIRA, 1991b). Nessa concepção, as aulas e o material didático foram concebidos a
partir de uma estrutura aberta, passível de diferentes interpretações, respeitando as diferentes
vivências e tentando atribuir significados para os alunos.
Desse modo, foi adotada a estrutura aberta por estar em consonância com a
metodologia empregada, que visa à discussão e à participação ativa dos atores. Os únicos
recursos considerados fechados foram o tutorial no site e o DVD. Tomou-se também como
base a abordagem pedagógica centrada no aluno (FERNADEZ, 2009). Nesse sentido, partiu-
se dos conhecimentos dos alunos para elaborar o material didático.
Nas pesquisas e práticas em educação a distância, distintas situações, características e
concepções dessa modalidade de ensino podem ser encontradas. Sua evolução foi dividida por
Moore e Kearsley (2008) em, pelo menos, cinco gerações, que vão desde a instrução por
correspondência até o ensino e o aprendizado online nos dias atuais. Essa evolução,
atualmente, tem sido organizada por muitos autores, em etapas ou ondas, pelo fato de elas não
terem um caráter estanque. Mesmo com todas as transformações tecnológicas pelas quais a
EAD passou, o material impresso ainda se faz presente para a maioria dos programas dessa
modalidade nos dias atuais (PALHARES, 2009; FERNANDEZ, 2009).
No cenário musical contemporâneo, há várias possibilidades de se substituir a mídia.
É possível, hoje, dispensar a tradicional estante de partituras e o livro impresso para se estudar
com sofisticados tablet PCs para músicos29. Porém, entre os recursos utilizados na escolha do
material didático, foi utilizado material impresso, devido a possíveis dificuldades de acesso à
internet por parte de alguns alunos, principalmente daqueles que moram em cidades com
maior dificuldade de acesso a esse meio de comunicação. Outra questão considerada foi o
fato de nem todos os alunos possuírem um computador pessoal para organizar os seus
horários de estudos. Portanto, não seria possível somente usar o computador como ferramenta
para o estudo dos textos e partituras musicais.
Esse material foi elaborado para interagir com vídeos autorais e gravações
previamente autorizados, disponibilizados em uma mídia de DVD, e com outros recursos
disponibilizados em um site. Para aproximar esse material do foco da pesquisa, foram
sugeridas variadas formas de criar, tocar, interpretar e estudar o violão. Foi preciso refletir
sobre como o material didático poderia suscitar no aluno a percepção de haver escolhido suas
próprias ações, típicas de ambientes promotores de flexibilidade, que promovem a autonomia

29
Ver um modelo de tablet: http://www.youtube.com/watch?v=F_QxZJERPI8&feature=related
84

dos discentes. Para ajudar, de certa forma, a tornar o material impresso mais dinâmico, foram
introduzidas, além dos vídeos autorais, sugestões de áudios e vídeos por meio de alguns
termos fáceis de serem encontrados em sites de busca amplamente divulgados no formato de
vídeos30 na internet.
Essa etapa envolveu tomada de decisões acerca das ferramentas de interação
empregadas na implantação das aulas, levando-se em conta as limitações daquelas
principalmente em relação à natureza prática das atividades da execução musical. Como
resultado desse processo, o conteúdo das aulas foi formatado em material impresso, DVD e
também para publicação online, disponibilizado por meio de um site, que será descrito com
mais detalhes nos próximos parágrafos. As aulas tanto podem ser encontradas no apêndice A,
quanto no site: https://sites.google.com/sites/violoesdauernonline/.
As músicas trabalhadas nas lições, durante o estudo, foram escolhidas dentre as
opções apresentadas e até mesmo a partir de outras sugeridas pelos próprios estudantes.
Tentei selecionar músicas capazes de gerar desafios possíveis de serem realizados pelos
estudantes, pois, quando os indivíduos participam de uma tarefa cujo grau de dificuldade e
complexidade encontra-se precisamente no nível de suas habilidades atuais, eles
experimentam um forte interesse e o maior envolvimento possível com a necessidade de
competência (REEVE, 2006).

4.2.3. Ferramentas de interação

No presente estudo, as aulas tiveram como base lições elaboradas em material


impresso, mídia de DVD e um site criado especificamente para ampliar as possibilidades de
acesso aos materiais anteriormente citados. Para lidar com os possíveis problemas de
interação e sensações de solidão ou de abandono entre professores e alunos e alunos entre si,
optou-se por diversos recursos síncronos (videoconferência, chats de Messenger) e
assíncronos (fórum via e-mail, rede social da internet).
A comunicação síncrona pode ser exemplificada pelos diversos sistemas de chat e
videoconferências, que, inclusive, foram adotados pelas mais recentes redes sociais da
internet, tornando-as uma ferramenta com características tanto síncronas quanto assíncronas.
A interação síncrona em chats é caracterizada por um tipo de comunicação no qual os

30
Esses vídeos são fáceis de ser copiados livremente, possibilitando aos estudantes estarem em contato com
uma grande variedade de gravações de intérpretes de violão na atualidade.
85

participantes trocam mensagens em tempo real, ou seja: o que é digitado é visto


simultaneamente por todos os participantes.
As videoconferências permitem que indivíduos se comuniquem por imagem e som
proporcionados por telas e microfones, dando a sensação de estarem todos os indivíduos em
um mesmo espaço físico. Assim, as videoconferências podem proporcionar situações de
comunicação que não exigem a presença física. Pesquisas revelam que, nas
videoconferências, as semelhanças da interação com uma situação presencial na EAD podem
provocar comportamentos contraditórios entre os interagentes. Por serem tão semelhantes,
primeiro há uma tendência de se menosprezarem as limitações e características particulares da
videoconferência e, por esta se mostrar muito diferente da interação presencial, ela necessita
de cuidados especiais, como, por exemplo, em relação à sensação de estar sendo filmado, de
manipular variáveis, etc (KENSKI, 2010).
Nos dias atuais, é crescente a popularização da comunicação que envolve imagem e
som, acompanhando a expansão do acesso à banda larga. Com a velocidade das conexões
cada vez mais ampliada, os softwares livres, como o Windows Live Messenger31 ou o Skype,
entre outros, há a possibilidade de encontros virtuais audiovisuais entre as pessoas, com
relativa qualidade e sem muitas complicações, inclusive para as aulas de música. Na
Educação Musical a distância, essas soluções de comunicação online têm sido utilizadas
principalmente para as aulas de prática instrumental (BRAGA, 2009; GOHN, 2011;
KANGASLUOMA, 2010) e para transmissão de palestras e eventos por webconferência.
Neste estudo, a comunicação assíncrona foi caracterizada pela participação de uma
lista de discussão, que é uma ferramenta assíncrona, bastante utilizada em cursos a distância, a
partir da qual eles puderam dirimir possíveis dúvidas referentes às lições ou ao próprio curso
por meio de trocas de e-mail em um grupo fechado, podendo se estender por períodos de
tempo mais prolongados que nos chats de discussão síncrona e com a flexibilidade do espaço
geográfico para o envio das mensagens. As redes sociais da internet foram ferramentas
assíncronas bastante utilizadas neste estudo. Apesar de ainda não se ter claramente uma
sistematização quanto a sua utilidade no campo educacional, essa ferramenta de comunicação
foi utilizada pela sua praticidade de envio de vídeos e, do mesmo modo, por estes serem
comentados numa mesma interface. Desde que as redes sociais ganharam a notoriedade em
diversos espaços da mídia, é crescente o número de professores interessados em novas
tecnologias na educação, inclusive as redes sociais da internet. No momento, ainda se discute

31
Também conhecido como “MSN”.
86

o que elas podem representar para o campo teórico e prático da educação a distância
(FRANCO, 2012). Apesar de esta pesquisa não ter como objetivo a análise do uso das redes
sociais da internet, é possível perceber sua utilidade para os processos da aprendizagem
instrumental (violão) no capítulo da análise e discussão dos dados da presente pesquisa.
Assim, diversos aspectos do planejamento, da transposição didática, bem como do
material didático e das ferramentas de interação estiveram susceptíveis de ajustes durante as
aulas. Uma lista de checagem foi utilizada para registrar a etapa de transposição, com
informações sobre as limitações encontradas, bem como as ferramentas utilizadas e as razões
para sua escolha e seu uso. Esses dados serão retomados no processo de avaliação da
metodologia, a fim de averiguar os limites e possibilidades das ferramentas empregadas na
promoção da satisfação das necessidades psicológicas básicas percebidas pelos estudantes.

4.3. INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS

Em virtude de o estudo estar focado na motivação dos alunos para aprender em


contextos online, foram utilizadas primordialmente as contribuições, experiências e
interpretações dos próprios participantes. Para tanto, os múltiplos dados foram recolhidos
mediante uma variedade de técnicas. Assim, os procedimentos de coleta de dados neste estudo
foram os seguintes: 1) seleção dos participantes; 2) realização de entrevistas de caráter
diagnóstico; 3) realização de entrevistas centralizadas na questão de pesquisa; 4) observações
participante das interações síncronas (videoconferências) e não participante realizada na
filmagem das aulas; 5) registro dos diálogos gerados nas interações assíncronas durante o
processo investigativo.

4.3.1. Critérios para seleção dos estudantes

A pesquisa foi desenvolvida com estudantes do Curso de Licenciatura em Música da


UERN, matriculados na disciplina de Prática Instrumental III (violão), uma vez que essa
prática contempla o instrumento foco deste estudo. O único critério de seleção desta pesquisa
foi o aluno aceitar participar voluntariamente e estar matriculado na Prática Instrumental III
(violão). Todos os alunos foram esclarecidos, em uma apresentação formal, de que as aulas
seriam ministradas a distância e de que se tratava de um trabalho32 de pesquisa acadêmica,
cujo objetivo era investigar os processos motivacionais nas interações online, por meio de

32
Todos os alunos receberam a versão até então elaborada desse projeto de pesquisa em andamento.
87

aulas de violão na modalidade a distância no contexto universitário, especificamente no curso


de licenciatura em música da UERN.
Assim, essa escolha se justificou por dois fatores: o primeiro foi que a ementa da
disciplina apresentada neste projeto adequou-se ao perfil do currículo do Curso de
Licenciatura em Música da UERN, uma vez que procura promover a diversidade musical por
meio dos repertórios erudito e popular. O segundo foi o anseio do professor da disciplina de
fomentar novas formas de ensinar e aprender música. Além do conhecimento instrumental
(violão), objetivou-se promover, com o aluno envolvido neste estudo, a reflexão acerca das
recentes tendências de ensino/aprendizagem e do uso das TIC em suas atividades como
educadores musicais.
A partir dos critérios de seleção estabelecidos, participaram deste estudo, a princípio,
sete estudantes, sendo seis do sexo masculino e um do sexo feminino. A distribuição por
faixa etária constituiu-se de: três participantes com menos de vinte anos, dois de vinte e cinco
anos e os outros dois com vinte e oito e trinta e três anos de idade. Apenas cinco desses
estudantes foram até o fim do período. Os outros dois desistiram duas semanas após a
implantação das aulas, por motivos particulares.
Apesar de não ter inicialmente alguma pretensão de comparar a modalidade a
distância com a presencial, no contexto em questão, os dados permitem, de certa maneira, que
isso possa ser feito, quando necessário, uma vez que as comparações entre as duas
modalidades foram descritas nos dados, assim como o conteúdo que foi abordado.
4.3.2. Técnicas de coleta de dados

4.3.2.1. Entrevistas diagnósticas

Definidos os participantes, foram realizadas, em agosto 2010, período em que as


atividades estavam sendo planejadas, entrevistas de caráter diagnóstico. O meu objetivo com
essas entrevistas, era obter dados que pudessem ser considerados na construção do material
didático sob o olhar discente, bem como me ajudar a conhecer a motivação dos estudantes
para aprender em determinadas tarefas (Ver apêndice F).
88

4.3.2.2. Entrevistas centralizadas na questão de pesquisa

Na análise das entrevistas sobre os processos que motivaram os participantes, além


da possibilidade de analisarmos o senso dos alunos quanto às suas percepções do suprimento
das necessidades psicológicas básicas de competência, pertencimento e autonomia nas
interações síncronas e assíncronas, emergiram, nessas entrevistas, dados que me permitem
identificar possibilidades e limitações das ferramentas síncronas e assíncronas, por parte
desses estudantes para a realização das atividades propostas.
Desse modo, foram realizadas entrevistas individuais com os estudantes, de caráter
semiestruturado, acerca de suas percepções sobre os processos que os motivaram,
principalmente o suprimento das necessidades psicológicas de competência, pertencimento e
autonomia. Os dados obtidos durante este estudo, mediante os diferentes procedimentos de
coleta apresentados, foram analisados com o propósito de identificar a motivação dos
estudantes nas interações online a partir da percepção das necessidades psicológicas básicas
dos estudantes em aulas de violão a distância.

4.3.2.3. Observação participante

A observação, nesta pesquisa, deu-se tanto no contato direto do pesquisador com o


fenômeno observado, para recolher as ações dos atores em seu contexto natural, quanto por
meio de gravações em vídeos das aulas para uma posterior análise de suas perspectivas e seus
pontos de vista. Para tanto, o pesquisador tornou-se um membro do grupo, vivendo o
vivenciado por todos. Esse tipo de relação pode causar dificuldades na manutenção da
objetividade do pesquisador, que precisa ser cauteloso com as influências que pode provocar
no grupo ou receber deste. Aqui, a objetividade está relacionada à integridade do pesquisador
e com a honestidade dos dados revelados (MARCONI; LAKATOS, 2006).
A observação empregada na pesquisa-ação, em contextos educativos, geralmente vai
além da praticada nos estudos etnográficos, porque, em educação, o pesquisador é um agente
de mudança. Ele se implica no processo da solução do problema em questão (MORIN, 2004).
Portanto, no presente estudo, foi empregada a observação para dar sentido à apreensão de
determinados aspectos do estudo em foco, principalmente daqueles dos quais os estudantes
não têm consciência, mas que influenciaram o comportamento destes. Para Bogdan e Biklen
(1994), o principal instrumento da observação participante é o diário de campo. Esse termo
89

também pode se referir coletivamente a todos os dados recolhidos em um estudo, incluindo as


anotações de campo, as transcrições de entrevistas, capturadas por meio da gravação, em
áudio e vídeo, das sessões da investigação. Inclusive, neste estudo, estão acrescidos os
diálogos realizados nos fóruns via e-mail e nas redes sociais da internet, utilizados durante a
investigação. Nesta pesquisa, o termo foi utilizado no seu sentido mais amplo.

4.3.2.4. Diálogos das interações assíncronas

O advento da internet colocou à disposição de seus usuários uma ampla gama de


recursos para a comunicação. Assim, surgiram novas possibilidades práticas discursivas
denominadas de discurso eletrônico (JONSSON, 2011). Neste estudo, das variadas
ferramentas de comunicação assíncrona, foram utilizados principalmente os fóruns de
discussão via e-mail e as redes sociais da internet. Para que esses diálogos fossem mais
inteligíveis, fiz adaptações para apresentá-los nas discussões dos dados. A comunicação nos
fóruns de discussão via e-mail tanto permitiu a comunicação entre os participantes de maneira
rápida quanto se estendeu por períodos de tempo bastante longos. Essa comunicação abriu um
contínuo de possibilidades estilísticas, que variou de mensagens curtas e informais, muito
próximas da conversação espontânea, até textos bastante elaborados, semelhantes aos da
escrita formal. Esses diálogos foram analisados, sobretudo, para se entender os sentimentos
dos estudantes em relação às manifestações das necessidades psicológicas básicas, que são o
foco desta pesquisa.

4.3.3. Aulas na modalidade a distância

A fim de obter informações que pudessem orientar o desenvolvimento da presente


pesquisa, foi planejado um curso com duração de doze semanas, no primeiro semestre de
2011, com sete estudantes matriculados na disciplina de Prática Instrumental III em Violão do
curso e da universidade já citados anteriormente. As aulas foram ministradas do dia 07 de
abril a 29 de junho 2011 e contaram com a participação de cinco estudantes convidados, que
permaneceram durante todo o estudo e que atenderam aos critérios estabelecidos na seleção.
Foi adotada, na ação, a abordagem colaborativa, segundo a qual a aprendizagem é
concebida como resultado da interação e da construção coletiva do conhecimento (COHEN;
MANION; MORINSON, 2007). Em consonância com essa questão, foi enfocado, em termos
de didática musical, o ensino coletivo, por sua característica colaborativa. As relações
90

proporcionadas entre o professor e os alunos, e entre os próprios alunos, a socialização, a


colaboração, a motivação, o ambiente lúdico provocados por essa abordagem de ensino são
aspectos relevantes apontados por educadores musicais para uma prática efetiva em grupo
(BRAGA, 2010; CRUVINEL, 2005; BIGET, 2005; TOURINHO, 2003).
Apesar da possibilidade da aprendizagem, de maneira autoinstrucional, com a
utilização do material didático dessa modalidade, este foi pensado apenas como um recurso
didático, mas não suficiente para promover uma experiência genuinamente colaborativa.
Decidi investir na relação entre as pessoas para que fosse criado um espaço fértil e
apropriado para o aprendizado. A concretização deste foi pensada inicialmente para acontecer
nos fóruns de discussão, bem como nos momentos das videoconferências.
As videoconferências foram planejadas para ocorrerem todas as semanas. Durante as
aulas, os alunos ainda participaram de uma lista de discussão ou fórum, inserida em um site,
especialmente criado para duplicar e complementar o material didático de maneira online. Os
fóruns de discussão são ferramentas bastante utilizadas em cursos a distância. Os alunos ainda
participaram de um grupo de afiliação em uma rede social33 integrada ao site do curso. As
redes sociais foram utilizadas, no presente estudo, como a expressão das redes sociais na
internet utilizadas pelos atores desta pesquisa. Para Recuero (2009), as redes sociais na
internet podem ser classificadas em dois tipos: as redes emergentes e as de afiliação ou de
associação. Em termos gerais, as redes emergentes são as redes mais descentralizadas. Esse
tipo de rede demanda muito investimento de interação e tempo entre as pessoas. Já as redes
de filiação são as compostas por um conjunto de atores mais instável e exige menos esforços
pelos atores para serem mantidas. São consideradas redes de dois modos, pois, além do
individuo, são levados em consideração os eventos (RECUERO, 2009). A relação
estabelecida nas redes de filiação é a de pertencimento, decorrente de qualquer tipo de
interação. É o caso, por exemplo, dos grupos criados no facebook, ou das listas de pessoas
que alguém segue no Twitter, dentre outros. Neste estudo, por meio desses canais de
comunicação e informação, os alunos puderam dirimir suas dúvidas referentes às lições, até
mesmo nos aspectos mais práticos, para dialogar a respeito de música.
Alguns aspectos foram considerados para o desenvolvimento deste estudo no
contexto em questão. Em primeiro lugar, antes de decidir o campo de atuação da presente
pesquisa, recebi um convite do professor em atuação da disciplina de Prática Instrumental em
Violão da UERN para auxiliá-lo na reestruturação e adaptação do programa da disciplina,
33
Os fóruns nas redes sociais foram utilizados para os participantes interagirem de maneira síncrona e
assíncrona.
91

prevendo outras maneiras de ensinar e aprender violão. Também foi levada em consideração a
falta de familiaridade dos estudantes com a modalidade de ensino a distância, uma vez que a
presente pesquisa implicava a inserção dessa modalidade no contexto de um curso de
graduação presencial. Nesse sentido, esperava-se a possibilidade de resistências e
estranhamentos por parte dos estudantes. Mesmo assim, foi considerada a possibilidade de
proporcionar uma experiência inicial com essa modalidade, buscando aproximar os alunos das
possibilidades da aprendizagem instrumental (violão) mediadas pelas TIC.

4.3.4. Infraestruturas física e tecnológica

Para a realização das videoconferências, foi planejada inicialmente a utilização do


laboratório de música do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte (IFRN), Câmpus Mossoró, uma vez que esse espaço atende à infraestrutura
tecnológica necessária para a ação proposta. Além de proporcionar as interações, a
videoconferência destinou-se também ao único encontro presencial planejado. O laboratório
de música do IFRN dispunha de espaço necessário para a realização do curso. Nesse espaço,
foi disponibilizada uma mesa com um computador desktop e um data-show, que foi utilizado
para projetar a imagem do professor em uma tela branca.
O IFRN possui seis violões, banquinhos de pé, apoios ergonômicos, estantes para
partitura e cadeiras adequadas para o estudo do violão. Essa instituição ainda disponibilizou
um estagiário para me auxiliar, o qual chegava ao ambiente, pelo menos, trinta minutos antes
do início de cada videoconferência. Isso porque cabia a ele a preparação do ambiente para a
realização da atividade, ou seja, ligar os equipamentos eletrônicos: data-show, computador,
câmera para transmitir a imagem dos alunos e filmadora para registrar a aula.
A figura abaixo representa uma ilustração da organização do espaço físico e dos
alunos na sala de videoconferência.
92

Figura 3 - Disposição dos alunos e dos equipamentos na sala de videoconferência

1-Data Show. 2- Laptop. 3-Filmadora. 4- Tela. 5- Câmeras para


transmitir a imagem dos alunos para o professor

No decorrer das aulas, foram utilizados, pelo menos, dois computadores. Um deles
foi do tipo desktop, usado para receber a imagem na sala de videoconferência. O outro foi um
laptop Toshiba Satélite U405, com memória de três gigabytes, utilizado no local de onde as
aulas foram transmitidas. A disponibilidade da banda larga no IFRN era de seis Mbps 34. Já
onde as aulas foram transmitidas, utilizei uma banda larga de cinco Mbps.
Para a transmissão entre o professor e alunos, foi utilizado o modelo Lifecam HD, da
Microsoft. A câmera disponível no IFRN para transmitir a imagem dos alunos foi a EVID30
NTSC da Sony, uma câmera profissional para videoconferência, com alta definição. As
videoconferências foram realizadas via Skype35.

4.4. ESTRUTURA DA COLETA, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

As principais técnicas utilizadas para a obtenção dos dados, neste estudo, foram a
entrevista semiestruturada e a observação participante. No entanto, a natureza dos aspectos
34
Mbps – Megabytes por segundo.
35
Skype é um software livre, que permite comunicação pela internet por meio de conexões audiovisuais.
93

pretendidos também requereu a adoção de diversos instrumentos de registros dos dados (nos
fóruns de discussão online, redes sociais e chats de Messengers) para complementar as
informações, conforme será explicado a seguir.
As entrevistas foram efetuadas tanto em caráter diagnóstico para a estruturação
organizacional das aulas, totalizando sete entrevistas, quanto para avaliar o foco no processo
deste estudo, resultando cinco entrevistas. Apesar de os relatos dos estudantes constituírem
uma das possíveis maneiras para inferir a presença, a intensidade e a qualidade da motivação,
pesquisadores têm problematizado muitas vezes a falta de correspondência entre o que os
indivíduos dizem que fazem e o que elas de fato fazem (BORUCHOWITCH, 2008; REEVE,
2006). Portanto, os dados também foram coletados por meio da observação. Essa técnica de
pesquisa é apresentada por alguns pesquisadores como uma das possíveis técnicas de coleta
de dados tanto na pesquisa-ação (THIOLENT, 2008; BARBIER, 2007; BOGDAN; BIKLEN,
1994) quanto nas pesquisas sobre motivação (BORUCHOWITCH, 2008; REEVE, 2006).
Os dados obtidos mediante os instrumentos descritos foram registrados e
classificados por ordem cronológica, com a finalidade de restabelecer todo o percurso
histórico do processo da aprendizagem neste estudo. Devido à complexidade do fenômeno, a
opção foi pela triangulação dos dados recolhidos por meio das diferentes técnicas utilizadas
no presente estudo. A triangulação dos dados refere-se à relação de dados oriundos de
diferentes fontes. Denzin (1989) propõe que, para triangular dados, é preciso que se estude o
fenômeno em tempos (explorando as diferenças temporais), espaços (locais, tomando a forma
de investigação comparativa) e com indivíduos diferentes. Nesse sentido, os dados recolhidos
em diferentes técnicas foram entrelaçados, prevendo a sequência temporal e espacial dos
dados entre os distintos participantes.
Com essa forma inicial de organização, foram selecionadas descrições das
manifestações das necessidades psicológicas básicas. Além disso, também foi levada em
consideração a influência exercida pelas ferramentas de interação online para a aprendizagem.
Assim, tentou-se compreender os processos motivacionais dos estudantes a partir da
percepção das necessidades psicológicas básicas nas interações online, bem como a influência
desses meios de interação na motivação dos estudantes. A macroteoria da Autodeterminação,
especificamente a Teoria das Necessidades Psicológicas Básicas, apresentada por Ryan e Deci
(2004) e Reeve (2006) constituíram o principal aporte teórico empregado para as análises dos
dados. Dessa forma, foram utilizadas as três dimensões da Teoria das Necessidades
Psicológicas Básicas como categorias para a análise das informações obtidas por meio das
94

entrevistas, observações e dos diálogos em fóruns de discussão e redes sociais da internet.


Essas dimensões são as seguintes:
a) Autonomia: interesse, vontade e preferência pelos processos de tomada de decisão
para participar ou não numa determinada ação. Principalmente, sentir-se origem das próprias
ações e não comando externo;
b) Competência: desejo que os alunos têm de colocar à prova suas capacidades e
habilidades;
c) Pertencimento: relações de afeto e de preocupação mútua entre os professores e
alunos e alunos entre si. Engajamento nas relações sociopessoais. A seguir, apresento um
quadro com uma síntese da estrutura da coleta, análise e identificação dos dados:
95

Quadro 2 - Estrutura de coleta, análise e identificação dos dados

Coleta de dados Detalhamento Objetivo/Justificativa Identificação


Entrevistas semiestruturadas - Conhecer as experiências
com todos os alunos prévias e as preferências Pseudônimo – CED, p. 10
matriculados na disciplina de musicais; (CED- Caderno de Entrevistas
Prática Instrumental em Violão - Coletar as preferências dos Diagnósticas; p - a página do caderno).
2011.1 alunos para realizar algumas na
aprendizagem instrumental Exemplo: (João, CED, p.02).
Entrevistas (Violão);
diagnósticas - Compreender as percepções
dos alunos de suas experiências
com as TIC.
-Investigar, em maior
Entrevistas semiestruturadas profundidade, as experiências Pseudônimo – CEC, p. 12
Entrevistas centralizadas na questão de com os alunos participantes da dos alunos e sua motivação (CEC- Caderno de Entrevistas
pesquisa pesquisa-ação para aprender no contexto de Centralizadas na questão de pesquisa; p - o
um ambiente online de número de página do caderno).
aprendizagem musical a
distância e os fatores sociais e Exemplo: (Pedro, CEC, p.02).
contextuais que puderam
influenciar na motivação.
Observação das interações síncronas Observação do comportamento - Observar e analisar o
nas videoconferências nas comportamento sobre as Descrição textual das notas de campo.
aulas via Skype. manifestações das necessidades
psicológicas básicas dos
estudantes ao longo dessas
interações.

Mensagens assíncronas
relevantes, por meio de debate Analisar os sentimentos dos (Pseudônimo, fórum e/ou rede social, data e
em fóruns de discussão via e- alunos em relação à horário).
Diálogos nas interações assíncronas mail e redes sociais da internet. manifestação das necessidades
Para que esses diálogos fossem psicológicas básicas foco deste
96

mais inteligíveis, fiz estudo. Exemplo: (Pedro, fórum em 16/04/2011, às


adaptações para apresentá-los 13h10min).
nas discussões dos dados.

Observação do encontro presencial Observação e análise do -Dirimir as dúvidas


comportamento em um único relacionadas às lições até então
encontro presencial. estudadas, sobretudo as mais Descrição textual das notas de campo.
difíceis de serem sanadas
virtualmente;
- Discutir novas ferramentas
para a interação online.
Dados agregados (triangulados) Os dados das diferentes fontes Sistematizar os dados das
foram triangulados, diversas fontes, fazendo uma
explorando-se as diferenças de linha do tempo de cada
temporais e espaciais e com estudante nas interações
indivíduos diferentes. síncronas e assíncronas, para
verificar como as necessidades
psicológicas básicas foram se
manifestando ao longo dessas
interações.
97

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

O principal objetivo desta pesquisa foi investigar os processos motivacionais dos


estudantes nas interações online em aulas de violão a distância sob a perspectiva da Teoria da
Autodeterminação. Para isso, foram consideradas, como categorias de análise, as necessidades
psicológicas de autonomia, competência e pertencimento. Os dados de diferentes fontes foram
triangulados, explorando-se as diferenças temporais e espaciais e com indivíduos diferentes,
em uma espécie de linha do tempo de cada estudante nas interações síncronas e assíncronas,
com o objetivo de verificar como as necessidades psicológicas básicas foram se manifestando
ao longo das interações online.
Neste capítulo, serão apresentados os resultados e as discussões dos dados obtidos no
presente estudo, com o emprego dos instrumentos de análise e coletas anteriormente descritos.
As questões de pesquisa a serem abordadas ao longo dessas discussões são: 1) Quais as
percepções de estudantes de uma licenciatura em música sobre as necessidades psícologicas
básicas de autonomia, competência e pertencimento em aulas de violão a distância online? 2)
Que interações online em aulas de violão a distância podem promover a satisfação das
necessidades psicológicas básicas dos estudantes em uma licenciatura em música?
Inicialmente, serão discutidos os dados sobre os primeiros contatos com os
estudantes, suas experiências prévias e características, sobretudo as que motivam a
participação para algumas atividades na prática instrumental (violão) no contexto
universitário. Em seguida, serão apresentadas as percepções dos estudantes sobre as
necessidades psicológicas básicas e a influência exercida pelo ambiente de aprendizagem
online na promoção da motivação dos estudantes.

5.1. CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDANTES

Trazer as experiências e características dos participantes foi algo importante para a


discussão dos dados, porque, entre as fases de planejamento e implementação das aulas, esses
diferentes momentos mostraram-se complementares para a discussão. Esse perfil foi traçado
considerando-se os seguintes aspectos: experiências prévias; preferências musicais; motivação
para realizar algumas tarefas para a aprendizagem instrumental (violão); escolha pelo
instrumento musical no ensino superior; e a relação com as TIC para aprender música.
98

Quando questionados sobre como aconteceu o primeiro contato com o violão, a


influência da família teve destaque nas entrevistas com os estudantes: observando pais e avós
tocarem violão ainda quando brincavam pelas calçadas; o contato intenso, em virtude de a
mãe ser cantora na noite; além de ver o instrumento ser tocado por irmãs e primos. Esses
foram os resultados mais recorrentes. Dois estudantes ainda apontaram a influência da Igreja
na sua iniciação musical por meio do violão.
Entre os estudantes que revelaram haver recebido influência direta de seus
familiares, Marcos36 disse que já tocava clarinete na Banda Municipal do município de
Grossos-RN, quando o seu avô lhe ofereceu a possibilidade de aprender a tocar violão: [...]
Meu avô me perguntou sobre a possibilidade de aprender tocar violão. Eu disse que poderia
ser bom. Então, ele conseguiu um violão emprestado com um vizinho e começou me
ensinando os acordes básicos (Marcos, CED, p. 11).37 Thiago relatou algumas memórias do
seu avô quando ainda era criança:

bem, meu Avô tocava violão. Então eu, desde menino, correndo pelas calçadas, eu o
via tocando de pernas passadas. Eu achava aquilo interessante. [...] O meu primeiro
instrumento foi o violão, por influência de meu avô, onde eu o observava e outros
cara (sic) na calçada de minha casa. Isso foi com uns 13 anos de idade (Thiago,
CED, p. 03).

A educação musical iniciada na família foi um dado comum a todos os participantes.


A aprendizagem informal pela observação direta e pela imitação for outro dado muito
identificado nos relatos desses estudantes. Mesmo tratando-se de jovens estudantes, vale
salientar que a institucionalização do ensino musical, na região em questão, é algo muito
recente, tendo pouco mais que duas décadas.
Todos os alunos já possuíam o instrumento quando foram entrevistados. A
aprendizagem antes de ingressar no curso superior ocorreu de várias formas. Alguns tiveram
alguma orientação com parentes, amigos e por meio de revistas38 de música. Outros deram
continuidade a estudos iniciados entre seis meses e um ano e meio antes da graduação, com
um professor de violão no Conservatório D’Alva Stella Nogueira Freire39 da UERN.

36
Marcos e os demais nomes citados para se referir aos estudantes são, na realidade, pseudônimos criados para
este estudo.
37
CED é uma abreviatura para Caderno de Entrevistas Diagnósticas, no qual está o depoimento dos
entrevistados. As questões que geraram as respostas estão no apêndice F.
38
Mais conhecidas como “revistinhas”, elas contêm letra e cifra de músicas populares. Foi um meio muito
utilizado para os iniciantes de violão, guitarra e teclado em todo no Brasil. Com o crescimento do uso da
internet, assistimos a uma substituição dessas revistas pelos sites de cifra, como por exemplo, o CifraClub.
39
O Conservatório D’Alva Stella Nogueira Freire da UERN, criado em 1988, através da Portaria nº 454/88 –
GR/FURRN e da Resolução nº 12/89 – CONSUNI, marcou o início do ensino formal em música na cidade de
99

Os gostos musicais entre esses estudantes foram muito semelhantes, prevalecendo os


estilos populares tais como rock, jazz e especialmente os brasileiros como: samba, choro,
bossa nova, frevo e baião. O universo e a vivência musicais, para a maior parte desses
estudantes, estão fortemente arraigados na tradição popular urbana, conforme pode ser
constatado na fala de Thiago:

[...] Como eu venho dessa linhagem cotidiana, eu gosto das músicas de mídia,
música popular brasileira como Samba, Bossa Nova. Eu gosto de ouvir Roberto
Carlos [...] Música erudita, eu vim conhecer mesmo aqui na universidade. Já tinha
visto vídeos na internet. Hoje estou estudando peças clássicas e acho bonitas
(Thiago, CED, p. 04).

A música erudita é pouco conhecida entre os entrevistados, porém todos apreciam e


demonstraram interesse em aprender a tocar esse repertório. Quando foi feito o
questionamento sobre a motivação para tocar lendo partitura ou tirando músicas de ouvido,
surgiu, nas entrevistas diagnósticas, um forte interesse em aprender a tocar lendo partitura.
Em geral, existe, entre esses estudantes, um entendimento de que, para tornar-se um músico
completo, eles precisam saber tocar das duas maneiras: Pegar música de ouvido me deixa
muito contente. Quando pego, sinto que realmente estou ficando com ouvido de musicista, e
quando pego pela partitura, me sinto alfabetizada musicalmente (Marta, CED, p. 14). O
depoimento dessa estudante foi um dado que se assemelhou aos dos demais participantes
desse estudo. Portanto, o trabalho com o ensino da escrita por partitura foi considerado tanto
pela exigência do programa da disciplina, quanto pelo interesse desses estudantes. Um dos
fatores significativos a favor do interesse pela leitura musical foi a imprecisão e as dúvidas
que ficavam nesses estudantes quanto à aprendizagem aural. O termo aural é usado, aqui,
como referência direta ao ato de apreender a “tocar de ouvido”, termo muito utilizado entre os
estudantes nesta pesquisa.
Entre as atividades, nas aulas de violão, que mais motivaram esses estudantes estão
as de desenvolver repertório, improvisar, arranjar e de técnica. A ordem em que foram
apresentadas essas atividades indicou a sua relevância relativa, isto é, a frequência com que
apareceram nos depoimentos dos estudantes. O estudo centrado no desenvolvimento de um
repertório foi a atividade que mais despertou interesse: Estudar repertório. Porque eu acho
que é imprescindível a um bom instrumentista ter um bom repertório, principalmente

Mossoró e na região oeste do estado do RN. Na década de 1990, recebeu o nome da maestrina D’Alva Stella
Nogueira Freire, pela sua contribuição musical, em décadas passadas, à cidade de Mossoró, onde viveu boa
parte de sua juventude.
100

bastante variado, explorando os diversos tipos de períodos (José, CED, p. 10). Para Marta,
atividades centradas em repertório promovem a participação ativa e dinâmica dos
participantes: Eu gosto de estudar repertório, gosto de ver todo mundo tocando junto e a
música fluindo, gosto quando estamos produzindo, colocando as coisas para andar (Marta,
CED, p. 14).
O interesse por mais de uma atividade foi evidenciado na fala de grande parte dos
estudantes. A improvisação foi a segunda atividade destacada, seguida da atividade de
arranjar: Sobre a improvisação, acho muito importante, mas não me sinto muito capacitada
ainda para isto. Por isso, esse ponto é uma coisa que quero me dedicar bastante (Marta,
CED, p. 14). Mesmo percebendo pouca ou nenhuma capacidade para algumas atividades
como a de improvisar, os estudantes sentiram-se desafiados e interessados para adquirir tais
habilidades:

Todas essas atividades me motivam. Mas o estudo da técnica e do repertório é que


me chamam muita atenção. Outra coisa que me motiva muito é o improviso. Apesar
de eu não improvisar, quando eu vejo os companheiros improvisando, eu me sinto
motivado a estudar mais (Marcos, CED, p. 12).

Acho que é a improvisação, por que é uma deficiência da maior parte dos músicos.
Muitos músicos possuem um grande repertório, mas não saiu disso, do que ele
preparou, ele não tem mais nada para mostrar [...] Certo que existe posturas que
são melhores para a execução e técnicas que facilitam o desempenho, mas não
podemos desconsiderar as formas particulares de tocar ou pegar num instrumento
[...] É muito bom para um aluno quando ele tem domínio do assunto, mas ele
precisa aprender coisas novas e se aprofundar em outras que ele já realizou. Hoje
essa é minha maior preocupação [...] Se ficar limitado a estudar o que eu já tenho
certo domínio, eu não vou ter motivação para me aprofundar e vou continuar com
as mesmas deficiências (Thiago, CED, p. 6).

Arranjo e improvisação. Eu acho muito interessante, na música, trabalharmos e


explorarmos as questões da criatividade, entendeu? Então eu sou aquele que,
quando pega uma partitura ou uma peça, de qualquer época, se eu ficar fazendo
somente aquela peça, eu não vou ficar motivado, não vou achar muito interessante.
Interessante é colocar alguma coisa ou então tirar e colocar mais alguma melodia,
ou harmonia, fazer um arranjo daquela peça, criar uma nova introdução, um novo
final. Eu me sinto motivado assim, hoje os meus estudos são direcionados para o
arranjo e improvisação (Jorge, CED, p. 9).

Apesar de considerar que as experiências prévias para algumas atividades criaram


condições para que os alunos se motivassem, os objetivos, interesses e desafios para adquirir
habilidades em atividades que eles não dominavam foram destacados como importantes
fontes para nutrir os recursos motivacionais desses estudantes. Improvisar e arranjar foram
consideradas atividades interessantes, também, por estarem interrelacionadas com os
processos criativos. No depoimento de Jorge, é possível perceber que suas orientações
101

motivacionais estão diretamente relacionadas às suas metas ou aspirações. Para a TAD, a


busca por um objetivo intrínseco pode gerar uma orientação interna apropriada para satisfazer
as necessidades psicológicas básicas (VANSTEENKISTE, NIEMIE E SOENENS, 2010).
Apesar de estudos contemporâneos investigarem a interrelação entre os processos criativos e a
motivação (FLEITH; ALENCAR, 2010), esta pesquisa não objetivou se aprofundar nesse
campo do conhecimento, pois a atividade de improvisação foi considerada apenas uma
atividade entre tantas outras a serem consideradas na presente investigação.
A atividade de técnica instrumental foi muito pouco apontada como um elemento
motivador entre as atividades nas aulas de violão. Entre alguns alunos, essas atividades foram
caracterizadas como desinteressantes, porém necessárias: Estudar algumas coisas de técnica
eu não gosto, acho chato, repetitivo. Por isso, creio que é a coisa que mais tenho que estudar
(Marta, CED, p. 14). Outras pesquisas apontaram, nas aulas de instrumentos, o estudo de
escalas e de outras atividades técnicas como as menos interessantes. Para tanto, esses estudos
consideram que as justificativas explicativas podem fornecer uma base racional satisfatória
para os alunos sentirem que realmente vale a pena se esforçar para cumprir tais atividades
(RENWICK, 2008; RENWICK; REEVE, 2012).
O fato de os estudantes terem escolhido o violão, no curso superior da UERN, deveu-
se principalmente à ausência, na instituição, do instrumento da preferência deles no momento
do ingresso, bem como a certo conhecimento prévio que a maioria tinha sobre esse
instrumento. As escolhas realizadas por três dos sete estudantes inicialmente matriculados40
deu-se pelo fato de o violão ser o instrumento que mais se aproximava dos instrumentos
realmente almejados: Eu optei pelo violão pela falta da prática em guitarra. Como o violão é
o instrumento mais próximo da guitarra, eu fiz essa opção (João, CED, p. 16). Para Thiago, o
conhecimento prévio no instrumento foi determinante para sua escolha:

Na realidade, eu escolhi o violão dentre os instrumentos ofertados na prática


instrumental por ter mais afinidade, contato e mais conhecimento. Então, dos
instrumentos oferecidos na prática instrumental, o violão era o único que eu já
tinha certo conhecimento (Thiago, CED, p. 4).

As falas desses entrevistados revelou a ausência de alguns instrumentos musicais no


contexto do curso superior da UERN. Pesquisas realizadas por Araújo (2008, 2009, 2012)
revelaram a preferência majoritária pelo violão e pela guitarra elétrica nos cursos de extensão

40
Inicialmente, foram matriculados sete alunos para cursar a disciplina de Prática Instrumental III, sendo que
apenas cinco deles participaram deste estudo. Os outros dois alunos acabaram desistindo do semestre em
todas as disciplinas propostas, por motivos particulares.
102

da UERN. Apesar de a guitarra elétrica, ao lado do violão, liderar as preferências, esse


instrumento não é oferecido pela instituição no ensino superior. No entanto, na prática
instrumental em violão no curso superior de música na UERN, um considerável número de
estudantes optou pelo violão, por esse instrumento se aproximar das características do
instrumento realmente almejado, como, por exemplo, a guitarra elétrica, dentre outros.
Outros três estudantes fizeram a opção pelo violão por haverem iniciado seus estudos
nesse instrumento ou por quererem aprofundar seus conhecimentos. Entre os cinco alunos que
frequentaram as aulas de violão a distância, somente Marcos e Pedro revelaram que o violão
era o instrumento realmente almejado no curso superior. Para Marcos, a escolha pelo violão
no ensino superior se deu por já ter iniciado os estudos no violão e querer me aprofundar
nesse instrumento (Marcos, CE, p. 11). Pedro revelou que sua escolha pelo violão no curso
superior se deu por mais de um motivo:

Um dos motivos é que o violão já faz parte da minha vida musical. Então, o violão
na prática instrumental no curso superior veio somar também essa continuidade e
mais voltado para o ensino do instrumento. Aqui a prática instrumental é mais
direcionada para o ensino (Pedro, CED, p. 18).

Os depoimentos de Marcos e Pedro diferenciam-se dos demais, pelo fato de esses


estudantes perceberem que sua escolha pelo violão foi baseada em seus interesses e objetivos.
O Lócus de Causalidade Percebido (LCP) desses estudantes e o interesse em estudar o violão
já eram internos desde o momento em que ingressaram na universidade. Diferentemente dos
demais estudantes, que não tiveram a oportunidade de escolher estudar o instrumento de seu
interesse, esses estudantes o fizeram por um LCP interno. Por fim, há um depoimento que
apontou o desconhecimento da prática almejada no ato da matrícula entre as práticas
instrumentais:

Quando eu ingressei no curso e fui efetuar a matrícula, eu ouvi apenas que seriam
ofertadas práticas instrumentais como violão, piano... Como eu já toco o violão, eu
acabei optando por ele. Eu não sabia que existia canto. Então, após alguns meses
passados, é que realmente descobri a existência da prática instrumental em canto.
Eu não me escrevi por falta de informação. Ainda hoje pouco se sabe sobre a
existência da prática de canto (Marta, CED, p. 13).

Mesmo destacando o desconhecimento da existência da prática musical de seu


interesse, a estudante, de certa maneira, acabou revelando sua opção por ter conhecimento
prévio no violão. Portanto, neste estudo, a maioria dos alunos, no momento em que ingressou
no curso superior, apresentou um LCP externo.
103

Apenas quando iniciei a análise desses dados é que realmente foi possível sentir o
quão complexo seria investigar os processos motivacionais desses estudantes, bem como
ministrar aulas a distância para um grupo um tanto heterogêneo. Cabe salientar o fato de que
boa parte desses estudantes preferia realmente estudar outros instrumentos. Pareceu-me, ao
mesmo tempo, arriscado e desafiador investigar a motivação de estudantes com as
características traçadas para estudarem na modalidade a distância. Como poderão esses
estudantes progredir, sentirem-se desafiados e interessados para estudar violão no contexto
universitário?
Para tanto, ainda busquei entender como esses jovens se relacionavam com as TIC,
sobretudo para aprender música. Descobri que todos possuíam um computador, mas apenas
alguns utilizavam as mídias digitais e as demais TIC para aprender música. Os softwares de
edição de partitura constituíram a ferramenta mais descrita entre os entrevistados. Apenas um
aluno disse utilizar o Youtube para auxiliar na sua aprendizagem; dois outros conheciam o
software Band in a Box41 e uma aluna utilizava o software Sonar para criar arranjos vocais.
Ao analisar esses dados, senti a necessidade de adicionar ao programa42 da disciplina
uma ênfase na aprendizagem flexível, sobretudo no que diz respeito às atividades de interesse
dos estudantes, respeitando-se as diferenças apresentadas nos depoimentos. Pesquisas têm
revelado que a promoção da autonomia é uma estratégia motivacional de qualidade superior,
quando comparada às promotoras de controle (BZUNECK; GUIMARÃES, 2010). Nesse
sentido, promover a motivação autônoma para uma gama de material musical com precisão e
respeito às diferenças individuais dos estudantes foi outro grande desafio para a realização
deste estudo no contexto universitário.
Apesar de a maior parte desses alunos haver iniciado suas trajetórias musicais
informalmente, sem a orientação sistemática de um professor, grande parte declarou que se
sente mais motivada estudando com a orientação de um profissional. Ou seja, preferiam
receber um feedback de um professor principalmente para as atividades de execução,
interpretação e organização dos estudos e repertório. Preferiam ser guiados sob um
planejamento de atividades aliadas a sistemáticas estratégias de aprendizagem. Esse
comportamento, associado ao sentimento de assumir um compromisso com o outro, foram os
aspectos relevantes apontados para os alunos sentirem-se motivados ao estudar com um

41
Software que gera acompanhamento musical.
42
A ementa oficial da disciplina busca o “desenvolvimento técnico básico da execução instrumental. Execução e
interpretação de obras”. Na prática, a formação do professor é que acaba direcionando que aspectos técnicos,
de execução, interpretação e repertório devem ser utilizados na disciplina.
104

professor. Apesar de serem os únicos a declararem sentir mais motivação estudando sozinhos
em alguns momentos, Marta e Marcos atribuíram certa importância ao professor nos seus
processos de aprendizagem:

Me sinto mais à vontade quando estudo em casa sozinha. Costumo dizer que não
consigo fazer nada sob pressão. Não que eu ache que na aula tem pressão, mas eu
tô falando assim, lá na aula temos que a acompanhar os exercícios, pegar as coisas
na hora, e eu não funciono muito bem assim... Quando chego em casa, olho melhor
as coisas, aí as músicas fluem melhor... Mas por outro lado, tenho que ter também a
orientação do professor, porque que quando o professor pega no pé, me motivo
mais em estudar e aprender as peças, já para não ter essas dificuldades em sala de
aula. Deu para entender? (Marta, CED, p. 14).

Mesmo preferindo, em alguns momentos, estudar sem a orientação de um professor,


Marcos disse que:

Para estudar uma peça, eu prefiro estudar sozinho, mas depois que eu passei por
ela, eu prefiro que tenha um professor para me orientar aonde eu posso melhorar.
Mas quando eu estou em sala de aula com dois ou mais alunos, eu me sinto um
pouco pressionado para estudar naquele momento (Marcos, CED, p. 12).

É perceptível, na fala desses dois estudantes, o sentimento de coação ao praticar


atividades musicais em grupo. Em certa medida, eles se revelaram pressionados desde o
primeiro contato, nas entrevistas diagnósticas, momento em que tocaram uns na frente dos
outros. Mesmo que as aulas de violão, no curso de licenciatura em música da UERN, já
fossem oferecidas na abordagem coletiva, antes de iniciar este estudo, considerei importante
primeiramente saber se os alunos concordavam em estudar no ambiente online em grupo.
Assim, estabeleci alguns procedimentos que serão apresentados posteriormente para tornar o
ambiente mais propício à aprendizagem em grupo.
A influência do modelo centrado no professor, em que a aprendizagem não é
associada à responsabilidade pessoal, foi outro fator bastante evidenciado nesses primeiros
dados da pesquisa. Ao contrário dessa atitude, a literatura contemporânea da EAD diz que
ambiente online requer alunos mais ativos e menos controlados pelos professores e que, para
que o processo de aprendizagem ocorra com sucesso, é preciso um redimensionamento no
modelo de ensinar/aprender (BELLONI, 2006; PETERS, 2004).
Os estudantes, na presente investigação, ainda declararam que nunca haviam
participado de aulas de música na modalidade a distância. Alguns relataram experiências com
vídeo-aulas ou realizando simulados apenas com a interação do computador. O uso de
tecnologias digitais e as de comunicação e informação para aprender música foi relativamente
pouco constatado entre esses estudantes. Os dados até então me apontavam que estava diante
105

de alguns alunos sem experiências prévias com a educação online, pelo menos em relação à
aprendizagem musical. Algumas pesquisas já sinalizaram a importância que tem o papel do
professor para lidar com situações de alunos como esses, ou seja, tipicamente não virtuais.
Pesquisas mais recente em EAD defendem que esses alunos podem vir a ser muito bem
sucedidos, apesar de precisarem de mais intervenções para torná-los mais autônomos. Essas
pesquisas ainda destacam a importância das práticas em EAD que favoreçam a adaptação dos
estudantes a essa modalidade de ensino (BELONI, 2006; PALLOFF; PRATT, 2005;
MOORE; KEARSLEY, 2008).

5.1.1. Síntese dos primeiros contatos com os participantes

A partir desse contato com o campo, foi perceptível que a maior bagagem, bem como
as preferências musicais desses estudantes, vinculavam-se ao universo da música popular,
sobretudo a brasileira. Contudo, havia também um interesse significativo pelo estudo da
música erudita. A característica heterogênea em relação aos conhecimentos prévios e à
experiência dos participantes já ficou bem evidenciada nesse primeiro contato. Nas aulas de
violão, as atividades que mais motivam, segundo esses estudantes, são as de desenvolver
repertório, improvisar, arranjar e de técnica. A escolha pelo violão, no curso superior, deveu-
se principalmente à ausência, na instituição, do instrumento da preferência dos estudantes no
momento do ingresso, bem como a certo conhecimento prévio que a maioria já possuía sobre
esse instrumento. Os dados dessa primeira análise também revelaram que os alunos preferiam
estudar sob a orientação de um professor e que eles não tinham experiências prévias com a
modalidade a distância para aprender um instrumento musical.

5.2. ASPECTOS INTRAINDIVIDUAIS E INFLUÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS NA


MOTIVAÇÃO EM AULAS DE VIOLÃO A DISTÂNCIA ONLINE

As teorias contemporâneas da motivação enfatizam a relação mutuamente


constitutiva do indivíduo e do ambiente da aprendizagem (HICKEY; GRANADE, 2004).
Paris e Turner (1994) caracterizam a motivação como uma consequência das avaliações
cognitivas que os indivíduos fazem em uma determinada situação. Desse modo, cada pessoa
pode interpretar os mesmos acontecimentos de forma diferente e contextualizada, porque as
pessoas fazem interpretações em situações únicas, em diferentes situações. Dessa forma, dada
106

a sua natureza constituída e contextualizada, a motivação é necessariamente instável (PARIS;


TURNER, 1994).
Para a TAD, o desenvolvimento das formas mais autodeterminadas da motivação é
um processo de internalização das regulações do comportamento, que acontece de maneira
intraindividual e espontânea, pois as pessoas têm a tendência natural de realizá-las. A Teoria
também afirma que o contexto social pode promover ou prejudicar o desenvolvimento
saudável e a autorregulação do comportamento. A fim de desvendar as múltiplas influências
sobre a motivação, que se apresentou de forma complexa no ambiente virtual de
aprendizagem, foi explorada a TAD na sua estrutura organizacional. A premissa fundamental
da TAD é de que as percepções de autonomia, competência e pertencimento contribuem para
as autodeterminadas formas de motivação (DECI; RYAN, 1985) e de que os contextos sociais
que envolvem e satisfazem as necessidades psicológicas básicas precisam oferecer
oportunidades de os indivíduos experimentarem liberdade e escolha (autodirecionamento),
desafios e feedbacks positivos, bem como interações frequentes em qualidade para as pessoas
sentirem-se interessadas por aquilo que fazem (REEVE, 2006).
Em cada uma das necessidades psicológicas básicas, os principais fatores
intraindividuais e sociocontextuais foram identificados e analisados com o objetivo de
entender os sentimentos dos estudantes sobre autonomia, competência e pertencimento para
aprender violão no ambiente online.
Nas discussões a seguir, serão apresentados fatores que promoveram ou prejudicaram
a percepção dos estudantes sobre sua autonomia. Eles incluem: desejo, interesse, prazer,
escolhas, liberdade, valorização da perspectiva discente sobre a escolha do repertório musical
e de estilos individuais para a aprendizagem; flexibilidade; possibilidade de não realizar as
tarefas; responsabilidade individual com a aprendizagem; cobranças intraindividuais para não
atrasar o andamento das aulas e não se sentirem atrasados em relação aos pares. A ordem em
que são apresentados os dados indica a frequência relativa em que aparecem nas discussões.

5.3. PERCEPÇÕES DA AUTONOMIA NAS AULAS DE VIOLÃO A DISTÂNCIA

Quando se é guiado pelos próprios interesses e preferências nas tomadas de decisões


para se participar ou não de uma atividade em particular, experimentam-se as características
do comportamento autônomo. Quando autônomas, as pessoas atribuem suas ações a um lócus
interno de causalidade percebido, sentem-se engajadas em determinadas atividades sem serem
107

pressionadas a desenvolvê-las e experimentam uma sensação de escolha sobre suas ações


(REEVE et al., 2008).

5.3.1. Lócus de Causalidade Percebido

Antes de iniciar as aulas, busquei compreender o motivo de os estudantes haverem


escolhido o violão entre os instrumentos ofertados no curso de música da UERN. Após o
término deste estudo, retomei a questão, indagando sobre a continuação da prática com esse
instrumento. Como já descrito anteriormente, inicialmente, as escolhas foram realizadas pela
maioria dos estudantes matriculados pelo fato de o violão ser o instrumento que mais se
aproximava daqueles realmente almejados, ou seja, inicialmente a maioria apresentou um
LCP externo. Ainda emergiram elementos justificativos nos dados para aferir a natureza da
motivação nas aulas de violão a distância online.
Embora a motivação intrínseca seja considerada um tipo importante de motivação,
esta nem sempre foi encontrada nos alunos no contexto educacional investigado. Neste
estudo, os alunos pareciam não ser intrinsecamente motivados. Porém, foi perceptível um
significativo processo da internalização das regulações do comportamento autônomo entre os
participantes que inicialmente apresentaram um LCP externo (controlado) para estudar violão,
assim como um crescimento ainda maior da internalização em direção à motivação autônoma,
entre os que já tinham apresentado o LCP interno:

[...] Antes do curso, eu estudava guitarra. Eu estudo guitarra, eu sou guitarrista,


mas eu hoje me vejo um cara híbrido. [...] Eu aprendi a gostar do violão, porque a
música popular brasileira é uma das riquezas que eu reconheço que temos. No
nosso país, a cultura do violão é como se fosse parte dela. Eu senti o desejo de
querer me aprofundar mais no violão, também tocar peças eruditas, que eu gosto
muito de música erudita. Então, veio a calhar estudar violão. Por isso, eu tive esse
desejo de estudar (João, CEC, p. 32) 43.

O depoimento acima, apesar de inicialmente reafirmar a percepção do estudante de


que sua escolha para estudar violão se deu a partir de uma fonte ambiental (LCP externo),
evidencia que a internalização do seu comportamento se deu por motivação extrínseca
integrada. Aprender a gostar do violão movido pelo reconhecimento e pela importância
atribuídos ao instrumento como representante da música brasileira popular, assim como sentir
desejo de querer se aprofundar no estudo específico do violão demonstra que o processo de

43
CEC é a abreviatura para caderno de entrevistas centralizadas nas questões da pesquisa. Esses
questionamentos estão no apêndice G.
108

internalização ocorreu para além da adoção de uma determinada importância ou valor.


Percebe-se, nesse sentido, uma transferência dos valores identificados para dentro do self
desse estudante, ou seja, seu comportamento foi regulado no decorrer do processo, em uma
relação adequada com o seu self (integração). Quanto mais os indivíduos integram ao seu self
maneiras internalizadas de pensar e de se comportar, mais suas ações extrinsecamente
motivadas tornam-se autodeterminadas (RYAN; DECI, 2008a). Pesquisas empíricas com o
foco na Teoria da integração organísmica (representada pelo continuum de tipos de
motivação) sustentam que quanto mais autodeterminada for a motivação extrínseca de uma
pessoa, melhores serão seu desempenho em determinada atividade e seu bem-estar
psicológico.
A participante que declarou, na entrevista diagnóstica, que havia se matriculado na
disciplina de Prática Instrumental em Violão por desinformação da existência da prática de
canto, após concluir as aulas, atribuiu valor e importância ao estudo do violão. Percebe-se que
ocorreu um processo do comportamento intencional nessa estudante por regulação
identificada:

[...] Meu interesse pelo violão foi para me acompanhar cantando, porque eu gosto
muito de cantar, é umas das coisas que eu mais gosto. Então me interessei pelo
violão porque o violão você pode se acompanhar cantando [...] Porque o que eu
quero mesmo fazer, cantar, não impede de tocar certo? Então acho que valeu muito
a pena mesmo (Marta, CEC, p. 47).

Na regulação identificada, há uma valorização pessoal e consciente das


consequências externas. Marta aceitou voluntariamente a utilidade de tocar violão pela
utilidade do instrumento (violão) para um cantor. A crença na importância de dedicar um
esforço à prática do violão por ser útil a uma possível carreira de cantora revelou que a
motivação para Marta estudar o violão foi extrínseca, mas livremente escolhida. Essa
regulação também representa uma das formas da motivação autodeterminada. Neste estudo,
foi possível perceber que os alunos com bom desempenho acadêmico podem, na verdade, ser
aqueles que internalizam a importância e o valor das atividades, ou seja, os motivados
extrinsecamente por regulação identificada.
Marcos e Pedro perceberam o LCP interno para estudar violão desde o ingresso no
curso superior de música da UERN. Em depoimento posterior às aulas de violão na
modalidade a distância, esses estudantes reafirmaram alguns fatores ambientais que os
moveram a estudar violão desde outros tempos, porém demonstraram um maior grau de
109

internalização dos processos regulatórios do comportamento quando comparados com as


razões iniciais que os levaram a optar pelo violão no curso superior:

Eu sempre quis tocar violão e comecei por incentivo de meu avô, na verdade. Eu
tocava clarineta numa banda municipal. Então, meu avô me perguntou por que eu
não tocava violão e aí eu resolvi tentar e acabei gostando. Mas eu comecei a gostar
mesmo quando eu entrei no conservatório de música, quando eu tinha aula com
Atmarama. Lá foi onde eu criei mais gosto pelo estudo do violão, principalmente o
violão erudito. Depois de lá, eu não quis mais parar de estudar violão (Marcos,
CEC, p. 25).

Foi o primeiro instrumento que eu tive contato na minha infância e também por
influências. A gente sempre vê violonistas e, assim, comecei a estudar o
instrumento, comecei a tocar por esse motivo, por verem as pessoas tocando e ter
aquela vontade de tocar, e com o passar do tempo fui me apaixonando pelo
instrumento (Pedro, CEC, p. 39).

Apesar de os depoimentos acima trazerem à tona influências externas na iniciação


musical por meio do violão, o gosto e a vontade de tocar aliados à paixão expressa pelo
estudo do instrumento já foram integrados ao self desses jovens. A motivação pela qual
Marcos e Pedro continuam estudando violão é regulada por comando interno, ou seja, eles
perceberam que a origem para a continuação dos seus estudos no instrumento foram guiadas
por seus interesses e satisfação natural. Embora a motivação intrínseca seja considerada um
tipo importante de motivação, essa nem sempre se aplica a todos em contextos educacionais.
A motivação que leva ao comportamento autodeterminado depende, para a TAD, do
grau em que as necessidades psicológicas são satisfeitas. Além das diferenças situacionais, os
indivíduos podem apresentar maior ou menor tendência para agir de maneira autodeterminada
ou mais controlada pelo ambiente (RYAN; DECI, 2000). As mais recentes pesquisas sobre a
TAD têm realçado que os tipos de motivação autodeterminada são encontrados na motivação
intrínseca e nas regulações identificada e integrada. Essas formas são igualmente
denominadas de motivação autônoma. As formas de motivação extrínseca, por regulação
externa e introjetada, formam a motivação controlada (BZUNECK; GUIMARÃES, 2010;
DECI; RYAN, 2008b).

5.3.2. Volição percebida

A vontade de engajar-se em atividades, sem ser pressionado por fatores externos


evidencia o sentimento de liberdade quando se experimenta o comportamento autônomo.
Essa sensação está diretamente ligada a quanto de liberdade versus o impedimento a pessoa
110

sente enquanto está realizando determinada tarefa que quer fazer (REEVE, 2006). A
característica desse comportamento é geralmente percebida em ambientes favorecedores de
flexibilidade. No presente estudo, mesmo o professor sendo o responsável pela programação
das aulas, alguns estudantes sentiram-se com liberdade para realizarem as atividades: A
modalidade a distância de certa forma nos deu essa liberdade, apesar de ter um cronograma
a seguir, ter sugestões do professor no caso de organizar os estudos. Eu creio que deu
liberdade sim (Thiago, CEC, p. 57).

Eu gostei da responsabilidade de fazer os meus horários, ter a liberdade de estudar


na hora que eu queria, sempre com responsabilidade, sempre tendo aquilo na mente
que eu tinha que estudar todos os dias, porque eu não tinha desculpas para não
estudar, eu tinha tudo em minhas mãos (Marta, CEC, p. 48).

Eu não senti nenhum tipo de cobrança rígida entre o professor, e o professor chegar
e exigir assim, ah você tem que? Ah, era uma coisa que o professor estava
interessado na aprendizagem da gente, e se a gente tivesse a preocupação
necessária com a aprendizagem, a gente é que procurava. Não teve nenhum tipo de
coisa forçada, alguma coisa rígida. Era bem normal, bem natural livre, livre, é...
livre (Pedro, CEC, p. 40).

Apesar de esses estudantes declararem a sensação de liberdade psicológica para


realizar algumas atividades alinhadas com seus interesses, necessidades pessoais e não pelo
sentimento de obrigação ou alguma forma de pressão, demonstraram, em outras situações, de
certa forma, sentimentos de ansiedade e/ou pressão: Não, eu acho que não, era tipo não ficar
atrás dos colegas, ficar no mesmo patamar, tipo eu tenho, quero pegar a lição para que eu
não possa ficar atrasando tudo, aquela coisa, não senti muita ansiedade (João, CEC, p. 34).

Em nenhum momento, eu me senti pressionada, foi bem livre, a única é..., não sei se
posso chamar de pressão, acho que não é pressão, mas vou botar esse nome. A
única pressão que tinha era que eu não queria chegar na aula não sabendo, certo?
Eu sempre queria treinar, como eu já falei desde o início, para não atrapalhar o
ritmo da aula. Então, eu tentava pegar tudo que era para ser feito naquela aula,
porque sempre você passava o material uma semana, duas semanas antes. Então, a
gente já sabia o que iria acontecer na aula. Eu sempre tentava pegar e estudar para
chegar aqui, já tipo, aquele sentimento de missão cumprida estou completa, vamos
fazer a aula (Marta, CEC, p. 48).

A cobrança pessoal foi um fator notório entre alguns dos participantes deste estudo.
Não querer atrasar o andamento das aulas, como também não querer ficar atrasado em
relação aos demais colegas, acabaram gerando, em determinadas situações, de certa forma,
um tipo de pressão interna capaz de prejudicar a motivação autônoma desses estudantes. Essa
pressão pode ser relacionada com a regulação extrínseca introjetada. Nessa regulação, já
ocorre um processo de internalização do comportamento intencional, que é mantida a certa
111

distância, não sendo integralmente aceita como própria, e sim por um sentimento de dever ou
de obrigação. Essa regulação é estudada na Teoria da Integração Organísmica. Apesar de
esses estudantes expressarem inicialmente um senso de liberdade na maior parte do tempo
durante as aulas, percebeu-se o sentimento de dever e de obrigação para não atrasar o
andamento das aulas.
As atividades práticas musicais, sobretudo as de performance instrumental, típicas
deste estudo, são em si propícias para os indivíduos sentirem-se ansiosos por causa da
exposição de terem de tocar em público. Apesar de a abordagem utilizada (coletiva)
minimizar, de certa forma, a cobrança individual, muitas vezes, foi necessária a intervenção
individual para que o processo de ensino/aprendizagem pudesse fluir no grupo. A ansiedade
foi percebida principalmente quando foi utilizado o modelo Master Class durante algumas
aulas, sobretudo as preparatórias para o recital de final de curso:

Eu sempre tive muita ansiedade, nervosismo, mas pelo fato de tocar em público, e
também como eu comecei com os meninos, eu também sentia aquela pressão, aquela
ansiedade para tocar na frente deles. Sempre que tinha aquela aula que você dizia
vamos um por um, eu quero ver, então eu sempre fica por penúltima e então eu
estava esperando minha vez. Ai, depois dele sou eu, e aquilo o coração apertado...,
mas eu acho que eu estou melhorando, pelo menos aqui com eles. Com o tempo,
acho que melhora, mas para o recital, eu já estou me preparando psicologicamente
(Marta, CEC, p. 49).

Para Hartnett (2010), a ansiedade e a preocupação, quando interpretadas como falta


de habilidade ou capacidade, podem prejudicar o senso de competência dos indivíduos. O
depoimento acima demonstra, de múltiplas formas, os aspectos peculiares da ansiedade dessa
estudante. Tocar em público e com indivíduos considerados mais experientes foram motivos
suficientes para a estudante sentir-se pressionada. Aliada a essas questões, o formato Master
Class, utilizado em algumas aulas, intensificou sua ansiedade. Na videoconferência realizada
no dia 14 de abril de 2011, em formato de Master Class, na execução da música Romance de
Amor, de origem desconhecida, logo nos primeiros compassos, a estudante Marta
interrompeu a execução da peça e expressou verbalmente que tinha esquecido a música e que
estava muito nervosa. Era perceptível sua ansiedade para tocar naquele momento.
Provavelmente, a ansiedade acabou minando sua memorização da música. Ela retomou a
execução da peça e foi relembrando as partes, porém com muita dificuldade. A estudante não
estava à vontade para tocar diante dos colegas. Ao finalizar a execução com muita
dificuldade, ela expressou, com uma forte respiração, certo alívio por ter chegado ao final da
música. Além disso, a estudante ficou um tanto constrangida após a execução da música. A
112

mudança de coloração de sua pele branca para um tom avermelhado na região peitoral reforça
a ideia de que a estudante estava realmente sob pressão no momento da execução musical.
Como o objetivo naquele momento da aula era apenas verificar se fora possível executar as
peças escolhidas para a lição, dei um feedback positivo para a estudante rapidamente, por ela
já ter anunciado anteriormente que não funcionava muito bem quando tocava em público.
Nesse sentido, relembrei-a de que, na entrevista diagnóstica, ela tinha tentado tocar a mesma
peça e não conseguira. Então, parabenizei-a pelo progresso em relação ao seu desempenho
anterior e pelo desafio vencido de tocar diante dos colegas.

5.3.3. Influências socioambientais na motivação em aulas de violão a distância online

Para a TAD, o desenvolvimento da motivação autônoma é um processo para além da


internalização das regulações do comportamento de maneira intraindividual e espontânea dos
indivíduos. Pesquisadores destacam que as influências socioambientais podem tanto
promover quanto contrariar os processos regulatórios autônomos do comportamento humano
(REEVE, 2006; RYAN; DECI, 2000a, 2000b). O depoimento a seguir apresenta o sentimento
que os recursos interativos síncronos e assíncronos provocaram para esse estudante:

Não senti não. É, era tipo assim, a gente por está sempre interagindo ali, tanto pela
internet, MSN, facebook, e-mail, nesses encontros via Skype, a gente quase que
automaticamente acordava assim: a gente têm que estudar, eu tenho que me
esforçar para essas aulas. Não, era tipo assim, assim influenciado, levado a
estudar, não por pressão, mas sim por está ali cercado, quase, eu não digo 24
horas, porque ninguém vai viver 24 horas no computador, mas a maior parte do
tempo sim, influenciado a estar estudando, estar tocando (Pedro, CEC, p. 41).

Apesar de, no depoimento, o educando revelar que não sentiu pressão externa
durante as aulas, as interações virtuais acabaram gerando um sentimento de dever ou
obrigação no processo da aprendizagem. Mesmo não sentindo que foi pressionado, o
estudante acaba revelando que foi muito influenciado por estar cercado pelos meios de
comunicação utilizados nas aulas. Vale salientar que as redes sociais da internet, bastante
utilizadas para o entretenimento das pessoas, foram transpostas, neste estudo, para fins
educativo-musicais. Nessas redes, pude perceber que a música comumente faz parte do
universo cultural desses jovens. As sugestões dos vídeos, digitações entre outras atividades
propostas para as aulas, nesse ambiente, acabaram se misturando com outras fontes de
informações musicais habitualmente utilizadas pelos estudantes. Inicialmente, a utilização
dessas redes tinha a finalidade de complementar os fóruns textuais com envio de arquivos em
113

vídeo de maneira mais dinâmica do que nos fóruns via e-mail. Porém, não demorei muito para
perceber que esses estudantes passavam boa parte do dia navegando por esses canais de
comunicação. Nesse sentido, os estudantes concebem a integração das redes sociais, bem
como as mídias digitais utilizadas nas aulas, como um fator de significativa influência no
reforço para realizar as atividades. A motivação para aprender no ambiente online foi
relacionada como a regulação introjetada, principalmente nas interações assíncronas, quando
o educando se sente cercado quase que em todos os horários durante o dia. Apesar de não ser
considerado um tipo de regulação autodeterminada, percebe-se que já ocorre uma
internalização, porém não aceita integralmente como própria, e sim por um sentimento de
dever ou obrigação. Portanto o LCP é considerado pouco externo.
Neste estudo, percebe-se, de certa maneira, que as interações no ambiente online
também foram significativas para promover a autonomia dos alunos. Quando questionados
sobre a valorização das características particulares de cada estudante, percebe-se a satisfação
pelo respeito conferido ao estilo individual do aprendizado. Para o estudante João: Não era
algo passado, imposto, nem para alguns, e nem para um, e sim para todos com a
peculiaridade de cada um (João, CEC, p.34). O sentimento de valorização no modo próprio
que cada indivíduo tinha para realizar suas tarefas acabou revelando estratégias de
aprendizagem online utilizadas pelos estudantes deste estudo. Foi percebido entre os
estudantes que eles não seguiram regras e nem caminhos pré-definidos, mas, sim, uma
combinação de elementos valorizados por experiências e crenças individuais. Mesmo
recebendo orientações de como estudar, foi percebido que prevaleceram, entre os estudantes,
caminhos próprios, traçados por eles mesmos.
Alguns estudantes confessaram que nunca tinham determinado hora, peças para
estudar e também nenhuma forma sistemática para isso. Eles simplesmente tocavam quando
tinham vontade, sem a preocupação de serem cobrados. Apesar de sentirem a necessidade de
sistematizar seus estudos para as aulas a distância, alguns alunos declararam que pouco
fizeram isso, que estudaram pouco em casa e, mesmo assim, sentiram que as aulas
oportunizaram o aprendizado no seu próprio ritmo. O depoimento abaixo resume, de certa
forma, a percepção da valorização das peculiaridades dos estudantes nas interações online:

Eu percebo que cada um nas atividades tinha sua forma de estudar e de aprender as
músicas, as lições. Alguns alunos, alguns colegas meus diziam que viam os vídeos e
depois viam a partitura ou então uns viam a partitura primeiro e depois o vídeo, e
depois ainda até tirava uma dúvida uns com os outros a respeito do que estava
escrito, o que era tocado. Então houve isso, houve essa liberdade, da gente estar
trocando informações de várias formas de aprender. A individualidade está aí, na
sua forma de aprender, na sua forma de buscar informação, antes do que usar
114

primeiro as regras. Acho que, nesse sentido, a gente tinha nossas particularidades,
as nossas formas de aprender, que foi respeitado pelo professor e não foi rejeitado,
deixado de lado como não se levasse nada, mas foi aproveitado aquela forma que a
gente usava para poder aprender (Pedro, CEC, p. 41-42).

Os estudantes, nesta pesquisa, buscaram aprimorar-se na leitura da escrita musical


por partitura no violão. Mesmo sendo bons leitores da escrita tradicional por partitura em
outros instrumentos, Thiago, Marta e João tinham pouca ou nenhuma familiaridade com a
escrita de partitura para o violão. Todos conheciam bem a escrita de cifras e apenas Pedro e
Marcos conheciam bem o repertório histórico e a escrita por partitura nesse instrumento.
Pedro relatou que alguns colegas de curso preferiram não ver os vídeos com os exemplos
musicais até conseguirem ler primeiro a partitura. O grande desafio para esses alunos era não
usar a ferramenta que eles tinham muito desenvolvida, ou seja, tirar as músicas de ouvido. Por
outro lado, percebi que os alunos que já tinham uma maior experiência em leitura musical não
tinham treinamento auditivo bem desenvolvido. Aconteceu de uma peça ter sido impressa
com notas e digitações erradas e, dessa forma, houve mudanças significativas na música. Os
alunos que tinham mais prática de tirar música de ouvido logo perceberam o erro na partitura,
enquanto os alunos que tinham uma maior experiência na leitura de partitura não perceberam
os erros das notas, mesmo assistindo aos vídeos como referência. Os alunos que buscavam
equilibrar mais as duas ferramentas (ouvir/ler) tiveram menos dificuldade nesse aspecto da
aprendizagem.
O interesse, a preferência e a liberdade nos processos de tomada de decisão foram de
suma importância para a autonomia ou autodeterminação desses alunos. Em seus
depoimentos, os alunos expressaram a importância do papel do professor em flexibilizar
horários, datas-limite para o envio ou realização das atividades propostas e, inclusive, a
possibilidade de não fazer as atividades sugeridas. A flexibilidade também foi percebida nas
escolhas dos repertórios valorizadas pelos alunos, nas diferentes possibilidades individuais
para realização das tarefas, bem como na estrutura aberta do material didático utilizado
durante as aulas. Na entrevista abaixo, esses estudantes contemplam, em parte, as sensações
dos participantes:

Houve, houve sim, tanto na escolha do que eu queria estudar, nesse sentido o
repertório, quanto à escolha de horários, de dias para estudar as atividades, houve
essa liberdade, de poder estar escolhendo [...] No estudo dos ligados, o colega da
gente Marcos tocou uma música que os ligados até mais difícil do que a gente
estava estudando, e o professor considerou aquilo como beleza. Não fez essa música
de oito compassos, mas fez uma que queria atingir o objetivo da aula, que era fazer
os ligados e foi atingindo com outro repertório sugerido pelo aluno. Então, essa
liberdade acontecia. As lições tinham bastante, nos estudos das músicas, sempre
115

tinham duas opções, três opções de músicas para você escolher. No estudo dos
ritmos, tinha sugestões de algumas músicas. Só que, no meu caso, eu fiz outra. Eu
toquei Garota de Ipanema e outras, houve essa liberdade, porque na verdade o que
mais importava ali era o ritmo. A liberdade acontecia normalmente (Pedro, CEC, p.
42-43).

[...] Lá no site, estava tudo para você. Você podia pegar e estudar da forma que
você dava as orientações. Mas dependia da gente, de como a gente iria estudar.
Você deu liberdade para a gente escolher as digitações que quisesse apesar de você
colocar, eu acredito sim, que a gente teve liberdade para estudar as atividades.
Como eu já falei, você deu liberdade para fazer os exercícios, ou se preferisse fazer
outro que a gente achasse melhor. Até na aula passada, você deu essa liberdade,
porque, como eu poderia dizer? Era uma sugestão sua, mas a gente procura outras
coisas também (Marcos, CEC, p. 26).

Mesmo percebendo certa sistematização e instruções no material didático, os


estudantes sentiram abertura para escolher tanto outros repertórios quanto outras tarefas.
Dentre algumas dessas escolhas percebidas, foram destacadas suas próprias digitações,
mesmo quando as peças estavam previamente digitadas pelo professor, bem como outros
repertórios, apesar de o material impresso sugerir um repertório.
A percepção de escolha constatada entre opções possíveis já foram utilizadas em
outros estudos como critérios para medir a motivação intrínseca (RYAN; DECI, 2000a;
FIGUEIREDO, 2010). O exemplo da lição sobre os ligados, destacado no depoimento acima,
foi um fato marcado nos depoimentos de todos os participantes deste estudo. Realmente, o
estudante Marcos não conseguiu tocar o estudo de ligados programados para a terceira lição
(ver apêndice A). No primeiro e único encontro presencial, não questionei se ele teria
estudado a lição integral, mas, sim, se ele gostaria de tocar qualquer outra música do seu
interesse. Marcos afirmou que sim e, naquele momento, surpreendeu a todos com uma
execução que envolvia ligados (Valsa de Dionísio Aguado), que exigiu muito mais
conhecimento de ligados do que o simples estudo nº 15 de Isaias Sávio, sugerido na lição. O
objetivo da lição em questão era de realizar os ligados ascendentes e descendentes. Acredito
que o que ocorreu, de certa maneira, foi a flexibilidade na tarefa diante de uma situação em
que o aluno não conseguiu executar o estudo sugerido para aquela lição. Minha intenção foi a
de livrar o aluno da possível pressão a que ele estava sendo exposto diante dos colegas. De
fato, eu não esperava que ele fosse tocar outro estudo de ligado. A partir desse fato, sugeri ao
estudante que ele não era obrigado a estudar o simples estudo proposto na lição. Marcos
resolveu substituir o estudo de ligados da referida lição e optou por me enviar a outra peça
realizada no momento da aula presencial, como ele mesmo revelou nesse depoimento:
116

Por que você deu essa liberdade para a gente fazer os exercícios, ou se preferisse
fazer outro, outro que a gente achasse melhor. Um exemplo foi o que aconteceu no
IFRN. Eu não estava conseguindo fazer o estudo de ligados, você sugeriu eu tocar
outra música, e eu toquei a valsa que tem ligados, e você me deu a liberdade para
eu gravar ela e enviar para você que seria a mesma coisa (Marcos, CEC, p. 27).

Apesar de a mudança do repertório ter sido uma sugestão do professor, Marcos


considerou a possibilidade de substituir o repertório da lição por outro como uma liberdade
percebida. A valsa escolhida pelo estudante acabou sendo apresentada no recital de
encerramento das atividades. Nesse sentido, o que pode ter levado esse estudante a ter
percebido a ação como uma escolha livre, foi proporcionado, na realidade, pela flexibilidade
de realizar ou não a tarefa, que, na ocasião, foi modificada com base nos seus próprios
interesses. Nessas situações, a literatura tem revelado que não é somente a escolha o aspecto
decisivo para o envolvimento nas atividades, além da percepção de sentir-se origem da ação,
o lócus de causalidade interno também move os indivíduos (BZUNECK; GUIMARÃES,
2010).
O ambiente promotor de autonomia incentiva os indivíduos a buscar suas próprias
metas, direcionar seus próprios comportamentos, escolher maneiras próprias de resolver seus
problemas e, principalmente, ir ao encontro dos seus próprios interesses. Nos próximos
depoimentos, estão presentes algumas descrições da influência que o ambiente online exerceu
para promover a autonomia desses estudantes:

Eu mesmo fiz meus horários para estudar, e eu achei bacana isso, ter a
responsabilidade, porque quando a gente vai pra uma escola, a gente espera muito
o professor passar, o professor ensinar... (Marta, CEC, p. 47)

Eu acho que é uma modalidade muito interessante. Além de inovadora, é muita


prática e objetiva. Eu acho que sim, porque você tem como se organizar melhor em
relação a sua vida, pessoal, particular. Eu já tinha uma experiência assim de
cursos, mas não dessa forma, a distância, mais interativa, e sim através de
simulados em computadores, e elas simulam um ambiente ou como se você estivesse
num ambiente real do curso ou na sua vida mesmo, e só o contato da pessoa com o
computador (Thiago, CEC, p. 56).

A característica flexível, principalmente quando se fala nos ajustes de tempo, tão


necessários no mundo contemporâneo, tem sido apontada como uma das vantagens do
ambiente virtual, assim como o excesso de informação tem sido considerado como uma
desvantagem para esse ambiente. Nos dias atuais, é possível encontrar, na internet, uma
significativa diversidade de recursos educacionais abertos, que incluem freewares, periódicos
online, entre outros. No entanto, para promover a autonomia, segundo a TAD, o ambiente não
pode ser indiferente ou proponente de um fazer permissivo qualquer. Neste estudo, os
117

estudantes trabalharam em prol de um ambiente favorável ao suprimento da autonomia


coletiva. Isso pode ser notado quando os alunos dedicaram tempo para identificar e apoiar os
interesses, as necessidades e os esforços dos colegas durante as aulas:

Era dada uma autonomia... como é que se diz? Uma autonomia em equipe. A gente
sempre se comunicava, aquilo que eu falei, aquela afinidade, aquela harmonia que
ficou entre nós, então a gente sempre consultava os outros. Olhem o que vocês
acham? Eu pensei em tal arranjo, a gente ficava discutindo, e assim com o
professor e sempre... E aí cara, massa, então junte minha ideia com a sua. E essa
autonomia não ficava uma coisa, não só minha característica, mas com as dos
demais alunos, ficou algo bem mais interessante (João, CEC, p. 33).

Novamente, o envolvimento e a qualidade nas relações interpessoais (pertencimento)


foram determinantes para apoiar o senso de autonomia para esse estudo. Outros estudos
também revelam a importância dessa combinação (BZUNECK; GUIMARÃES, 2010). Para a
TAD, é importante que haja a integração entre as três necessidades psicológicas básicas,
porque o fortalecimento de cada uma dessas necessidades ocorre a partir da associação com as
demais (DECI; RYAN, 2000). Na entrevista acima, foi possível notar, entre os estudantes,
uma relação calorosa, uma escuta atenta entre esses indivíduos, a troca de informações e a
percepção de terem trabalhado em um modo próprio, mesmo em um contexto coletivo. A
autonomia coletiva percebida favoreceu a possibilidade da construção colaborativa do
conhecimento na prática musical a distância, pois, quando eram trabalhadas peças para serem
tocadas em grupo, as decisões musicais aconteciam nas interações online e no momento das
videoconferências. Quando não foi possível estabelecer a conexão da internet no momento
das videoconferências, prevaleceram as decisões dos estudantes para o andamento das
atividades, que posteriormente eram postadas numa rede social da internet para serem
analisadas por todos os participantes da pesquisa.
Na pesquisa de Hartnett (2010) sobre a motivação em ambiente de ensino e
aprendizagem online, foi revelado que o fato de os indivíduos perceberem que suas
contribuições tiveram pouca ou nenhuma influência nas ações gerais do grupo causou um
sentimento de controle limitado sobre o processo e o resultado. Nesse sentido, as limitações
nos processos de decisões em grupo para realização de determinadas tarefas online nesse
estudo foram associadas com as formas menos autodeterminadas da motivação. Na presente
pesquisa, foi observado que, tanto nas interações assíncronas quanto nas síncronas, os alunos
expressavam necessidades de escolher suas próprias estratégias de estudo para executar o
repertório sugerido nas lições e outros de suas preferências, bem como suas próprias
digitações e interpretações e tarefas para executar as músicas: Vou tocar Bourré em Mi menor
118

de J.S Bach e talvez Como Eu Quero de Kid Abelha, arranjo para violão (Pedro, fórum,
23/06/2011). Bom, gostaria de fazer a melodia normal, sem oitavar e no divisi, estou fazendo
a voz de cima (Marta, fórum, 15/06/2011).
A literatura tem apontado que, quando os ambientes, as relações e os contextos
socioculturais são bem sucedidos em suprir a necessidade de autonomia, esses ambientes são
conhecidos como apoiadores ou promotores de autonomia, enquanto que os ambientes, as
relações e os contextos que, ao contrário, ignoram, frustram a satisfação da necessidade que
os indivíduos têm de autonomia e até interferem nela, esses elementos são considerados
controladores (RYAN; DECI, 2004). Neste estudo, as atividades que mais foram relacionadas
com as escolhas percebidas são as de: criar arranjos para as músicas; decidir suas próprias
digitações, repertório e interpretações. Embora houvesse sugestões de repertório, digitação e
arranjos planejados, eles perceberam abertura para expressarem decisões próprias para essas
atividades, ou até mesmo a possibilidade de sugerir outras de seus próprios interesses como
mostram os depoimentos a seguir: Eu acho que a liberdade existia na forma da interpretação
da música, porque a gente já tinha as lições, sabíamos o que era para estudar, mas também
sabíamos que se quiséssemos sugerir outra coisa, com certeza você abriria o espaço (Marta,
CEC, p. 48). Nas performances dessa estudante, ela sempre manifestava o desejo de modificar
as interpretações das músicas. Pedro sempre argumentava, nas videoconferências, antes de
tocar, que as interpretações da dinâmica musical tinham sido planejadas diferentemente da
escrita sugerida. Thiago e João manifestavam, com frequência, a necessidade de modificar as
digitações nas linhas melódicas. Mesmo considerando adequadas as digitações sugeridas pelo
professor, esses estudantes explicitavam a necessidade de usar uma digitação que melhor se
adaptasse às suas peculiaridades. A flexibilidade nas tomadas de decisão para realizar as
atividades e até a possibilidade de sugerir outras foram fatores importantes apontados por
esses estudantes para apoiar a percepção de escolha:

Principalmente em repertório. No recital que realizamos como resultado do curso,


tem até composições nossas. Fez parte de uma das lições dos módulos que a gente
estava estudando, eu acho que sim, como composições nossas fez parte do curso e
também sugestões. Assim, a gente sugeriu outras músicas, montamos um repertório,
eu acho que sim (Thiago, CEC, p. 57).

O espaço promovido pelo professor para diálogo nas tomadas de decisões foi
apontado como importante estímulo à autonomia desses alunos. Estudos baseados na TAD
demonstram que os professores que apoiam a autonomia dos estudantes em oposição ao estilo
controlador favorecem as formas mais autodeterminadas de motivação entre os alunos. Esses
119

tipos de motivação associam-se à persistência contínua, a um melhor desempenho escolar e a


uma menor propensão às desistências (BZUNECK; GUIMARÃES, 2010; PELLETIER;
PATRY, 2011).

5.3.4. Síntese das percepções sobre a autonomia

A análise dos dados da necessidade de autonomia apontou a ocorrência de múltiplos


fatores para os estudantes fortalecerem a motivação autônoma para aprender violão na
modalidade a distância, online. Embora a motivação intrínseca seja considerada um tipo
importante de motivação, nem sempre se aplica a todos nos contextos educacionais. Neste
estudo, foi possível perceber que os alunos com maior desempenho acadêmico podem, na
verdade, ser aqueles que internalizaram a importância e o valor das atividades, ou seja, os
motivados extrinsecamente por regulação autodeterminada (identificada e integrada). Neste
estudo, os alunos não foram considerados principalmente intrinsecamente motivados. Em vez
disso, foi percebido um processo complexo e multifacetado (estudantes orientados por
múltiplos tipos de motivação) da internalização do comportamento e sensível às condições
situacionais. Dentre os fatores intraindividuais que mais prejudicaram a percepção de
autonomia, estão: as cobranças intraindividuais para não atrasar o andamento das aulas, como
também para ficar atrasados em relação aos pares. Em geral, o ambiente, o contexto
sociocultural e o relacionamento afetivo nas interações online promoveram a satisfação da
necessidade de autonomia entre os estudantes. Portanto, entre as influências socioambientais
que mais foram relacionadas contrárias à satisfação dessa necessidade psicológica estão: a
influência exercida pelo modelo educacional adotado nesta pesquisa, que, às vezes, foi
relacionada a sentimentos de obrigação e reforço gerados pela dispersão das diversas
ferramentas de interação online no processo da aprendizagem; o formato Master Class
adotado em determinadas situações nas aulas, levando os alunos à exposição pública capaz de
pressioná-los e causar mal-estar psicológico.
Os alunos que perceberam seu lócus de causalidade interno e, portanto, mais
autônomo, tenderam também a apresentar um maior nível de autorregulação do
comportamento. Entre os alunos que iniciaram as atividades com o LCP externo ocorreu, em
geral, o processo de integração da importância e do valor das atividades com seu self, ou seja,
estavam principalmente motivados extrinsecamente por regulação integrada.
120

5.4. COMPETÊNCIA PERCEBIDA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA

A necessidade de competência, para a TAD, reflete o desejo que as pessoas têm de


colocar à prova suas capacidades e de buscar desafios. Neste estudo, alguns fatores se
destacaram como facilitadores para percepção de competência dos estudantes. São eles:
atividades adequadas ao nível dos alunos; orientação e feedback contínuo entre os
participantes; utilidade dos recursos online; eficácia das atividades em grupo; comparação
das habilidades prévias com as atuais; utilidade da opinião dos outros indivíduos. Entre os
fatores que prejudicaram a percepção de competência, destacam-se baixa crença de
autoeficácia; pouca dedicação para realizar as tarefas; exposição e pouca experiência anterior
para realizar as tarefas em público e a baixa habilidade em algumas tarefas. Na discussão que
se segue, a ordem na qual eles são apresentados não necessariamente indica a sua
importância.

5.4.1. Desafio originado nas tarefas

Do ponto de vista ambiental, a necessidade de competência fornece uma fonte de


motivação capaz de gerar esforços para se dominarem os desafios em nível ótimo. Esses
desafios são os adequados do ponto de vista do desenvolvimento particular de um indivíduo,
ou seja, eles nem podem ser demasiadamente além de nossas capacidades, nem também
demasiadamente facilitados, pois, quando participamos de uma tarefa cujo grau de dificuldade
e complexidade encontra-se precisamente no nível de nossas habilidades atuais,
experimentamos maiores interesse e envolvimento com a nossa necessidade de competência
(REEVE, 2006).
Em algumas tarefas, o senso de competência é inerente ao próprio desempenho da
tarefa em si. De modo geral, as pessoas desejam desafios que não tenham um nível de
dificuldade desprezível, por ser tão baixo, ou desanimador, por ser tão elevado. Neste estudo,
a maior parte dos alunos sentiu que as tarefas durante as aulas foram moderadas, pois, em
geral, elas nem foram consideradas fáceis nem muito difíceis. Porém, a maneira como as
atividades foram trabalhadas e os esforços foram empreendidos para a aprendizagem
determinaram a complexidade para a realização dessas tarefas, segundo atestam o depoimento
desses alunos:

Eu classifico como moderada. Porque entre todos assim, eu tenho uma maior
experiência com o violão, tocava o instrumento, algumas músicas já tinha escutado.
121

A forma que era abordada a música já era diferente. A gente procurava aperfeiçoar
com algumas coisas que a gente tinha dificuldade. Por isso que eu classifico como
moderadas (Pedro, CEC, p. 35).

Bom, eu classificaria moderada, certo? Porque algumas coisas eu já tinha visto e


fui me qualificando naquilo que eu já sabia, e já conhecia, e outras coisas, eu fui
buscar, fui atrás, como uma composição que eu nunca tinha feito, certo? (Marta,
CEC, p. 43).

Acho que moderadas, e também depende muito do nível de cada um, assim, quando
é instrumentista. Podia ser que algum tivesse alguma dificuldade em alguma coisa
ou mais facilidade, mas eu não considero que uma lição foi difícil ou outra que foi
fácil. Eu considero moderadas, e se tratando de alunos da graduação, da prática
instrumental, eu considero moderadas mesmo (Thiago, CEC, p. 51).

Apesar de os estudantes assumirem certo conhecimento nas tarefas propostas, eles


buscaram aperfeiçoá-lo, bem como sanar suas limitações. Mesmo considerando determinados
conhecimentos prévios sobre as atividades, Pedro e Marta sentiram-se desafiados pelo fato de
a abordagem das aulas colocá-los um passo além do nível de desenvolvimento em que se
encontravam anteriormente. A estrutura aberta e a metodologia adotada neste estudo, de certa
forma, contribuíram para lidar com as necessidades de competência desses estudantes. Apesar
de considerar as atividades moderadas, Thiago levou em consideração os diferentes níveis de
habilidade peculiares referentes à realização das tarefas. Apenas o estudante João percebeu
que as tarefas ficaram entre fácil e moderada. Mesmo declarando uma diferente percepção
dos demais participantes, as fronteiras dessa nova percepção assemelharam-se às demais:

[...] As peças e técnicas não eram tão difíceis para nós como alunos, mas também
não era tão fáceis. Fico algo entre fácil para moderado, está entendendo? Ficava
algo estimulante que a gente conseguia solucionar a questão, mas também não
ficava algo tão fácil, que a gente fazia com tanta facilidade assim. Então foi bem
proveitoso, estimulava a gente obter uma resolução (João, CEC, p. 28-29).

O nível da habilidade, quando comparado com o nível das tarefas, não ameaçou a
sensação de competência desse estudante. A ausência tanto de excesso de desafios quanto de
excesso de habilidades foi percebida. Mesmo considerando as tarefas em um nível
moderadamente baixo, os desafios foram, ao mesmo tempo, provocadores e tangíveis para
uma possível realização. Com o propósito de investigar as características e condições
complexas dos desafios, estudos revelaram que, quando o nível do desafio se equipara ao da
habilidade, e tanto o desafio quanto a habilidade são elevados ou pelo menos moderadamente
elevados, surgem a concentração, o envolvimento e a satisfação, também denominada de
estado de fluir (Flow) (CSIKSZENTMIHALYI, 1990, 1993, 1997). Portanto, essa perspectiva
122

é constituída de formas mais complexas de desafios do que o equilíbrio entre o desafio e a


habilidade, abordado nesta investigação.
Observando a execução de algumas atividades nas videoconferências, foram
percebidas outras manifestações da competência versus incompetência nas tarefas em si, além
das descritas nas entrevistas. Alguns desses estudantes demonstravam a satisfação para
realizar determinadas tarefas, expressando sorrisos e/ou expressões verbais sobre a satisfação
com suas performances. Outras vezes era demonstrada a insatisfação com a realização das
tarefas com gestos negativos, como por exemplo, balançar a cabeça para os lados, entre
outros. Apesar de essas manifestações terem emergido neste estudo, os relatos dos estudantes
durante as diferentes etapas que o constituíram foram mais significativos para expressar os
sentimentos sobre suas competências. Depoimentos de natureza assíncrona também
informaram como os desafios foram proporcionados nas tarefas em si:

Essa música foi de fácil execução, duas vozes apenas, mas o trabalho que deu nos
ensaios foi de tocar no andamento correto. No meu caso, não tenho o costume de
tocar com metrônomo e alguns integrantes do grupo também. Quando começamos a
utilizá-lo, sentimos dificuldades em acompanhá-lo (Pedro, rede social, 10/07/2011).

Essa peça, por ser nova em nosso repertório, me deixou um pouco inseguro. Ela
trabalhou o quesito de estar em harmonia com os demais colegas, já que tinha
muitas partes intercaladas, foi um grande desafio executá-la (João, rede social,
12/07/2011).

Pedro considerou fácil a execução da música, porém, quanto a tocá-la em grupo,


pareceu-lhe um desafio acima de suas habilidades, assim como dos demais colegas do grupo.
Para Reeve (2006), ser desafiado acima de nossas capacidades é algo que ameaça a sensação
de competência. No entanto, se o excesso do desafio se apresentar de maneira moderada, a
manifestação é de preocupação. Contudo, se o excesso do desafio se apresentar muito
acentuado, surge a ansiedade. Para Reeve (2006), extremos produzem problemas emocionais
e experiências abaixo de um nível ótimo. De fato, houve pouco interesse na música Pedra
Verde em relação às demais músicas sugeridas. Mesmo não sendo percebida pelos alunos com
um alto grau de dificuldade, ela causou uma preocupação por exigir as habilidades de tocar
em grupo e com auxílio de um metrônomo, duas habilidades pouco experimentadas por esses
estudantes até então. Para Reeve (2006), o pior perfil de experiência se verifica quando
reunidos um baixo desafio e uma baixa habilidade, porque, assim, as pessoas não se envolvem
muito com as tarefas.
O desafio nas partes intercaladas, descrito por João, na verdade, é uma técnica de
composição (contraponto) em que duas ou mais linhas melódicas são tecidas
123

simultaneamente. A complexidade para a execução do arranjo dessa música44 atraiu o


interesse do grupo, porém foi percebido que era preciso mais estudo em grupo para equilibrar
as habilidades deste com o desafio da execução naquele momento, como reforça a ideia de
Pedro: A polirritmia desse arranjo dificultou o nosso entendimento sobre o andamento. Como
não tínhamos ensaiado anteriormente, de forma necessária para a execução da peça, o grupo
acabou errando (Pedro, rede social, 10/07/2011).
A literatura aponta que, em geral, as pessoas desejam desafios em níveis ótimos.
Porém, elas também podem apresentar orientações motivacionais complexas e, às vezes,
apreciarem tanto um excesso quanto níveis bastante baixos de desafio. Receber um feedback
da tarefa que confirme que o nível de habilidade encontra-se para além do desafio gerado nas
atividades em geral agrada as pessoas. Da mesma forma, o sucesso fácil também pode gerar
certo nível de prazer, especialmente quando os indivíduos se encontram nos primeiros
estágios de uma determinada tarefa. Já os tipos de satisfação baseados no alívio podem até
ajudar a manter afastada a ansiedade, mas pouco satisfarão a necessidade de competência.
Portanto, é o sucesso diante de um desafio em nível ótimo que garantirá o envolvimento e os
nutrientes necessários para satisfazer a necessidade de competência (REEVE, 2006).
Vale salientar que, apesar de os estudantes perceberem as atividades em geral como
equilibradas, algumas excederam suas capacidades atuais de realização, como ressaltou
Pedro: Nesta peça, meu trabalho foi basicamente o de acompanhamento, e algumas linhas de
baixo, que exigiu bastante o trabalho do polegar. O professor sugeriu a dedeira, mas não
consegui utilizá-la, pois exigia técnica (Pedro, rede social, 23/06/2011). Percebi que esse
estudante não tinha experiência prévia com o uso da dedeira. Como ele mesmo disse, o
acompanhamento estava adequado para suas habilidades, porém o desafio maior estava na
“baixaria”. As baixarias são melodias independentes que geralmente são executadas na região
grave do instrumento. No caso do violão, essa “baixaria” é executada pelo polegar da mão
direita, mediante um recurso técnico violonístico denominado apoio. Como ele era o único
responsável pelas linhas melódicas do baixo, era necessária uma grande projeção sonora, além
do desgaste natural da sua unha do polegar. Nesse sentido, o uso da dedeira teria uma dupla
função: melhorar a projeção sonora e poupar o desgaste de unha do polegar do estudante.
Porém, a dedeira exige uma técnica particular que estava além das habilidades atuais de
Pedro.

44
Bicho de sete cabeças, composição de Zé Ramalho e arranjo de Weber dos Anjos.
124

A dedicação, o comprometimento e o investimento de tempo para os estudos


individuais foram outras variáveis consideradas para alguns estudantes perceberem como os
desafios gerados nas tarefas em si foram prejudicados:

Eu acredito que foram fáceis as tarefas, eu achei muito bom. O único problema foi a
maneira como foram passadas as tarefas, mas o problema foi em mim mesmo, pois
eu não me dediquei muito, assim a estudar em casa. Eu não dediquei muito tempo,
sabe? Assim, para estudar em casa, estudar as peças, sozinho em casa, mas eu
gostei sim, não era complicado e difícil não, só faltou mais da minha parte, me
dedicar mais em casa. Em todas as atividades, em geral, eu acredito que foram
moderadas. Têm umas peças fáceis e outras que eu considero mais complicadas
para meu nível, ou pode ser tornar fácil dependendo dos meus estudos e da
dedicação que eu der, ao tempo que eu tirar para estudar aquela peça (Marcos,
CEC, p. 22).

No depoimento acima, o entrevistado declara, inicialmente, que os desafios


provocados pelas atividades foram fáceis, apesar de ele não haver se identificado muito com o
modelo planejado para realizar as tarefas das aulas. O estudante confessou que pouco
estudava sozinho, porém, quando ele percebeu que estávamos tratando das atividades em
geral, mudou sua percepção com relação aos desafios do repertório. A partir de então, as
atividades já não eram tão fáceis em relação às tarefas em geral e, sim, moderadas. Ele
reafirmou que algumas tarefas eram fáceis para seu nível e outras mais difíceis. Mesmo assim,
reconheceu que, se tivesse havido mais dedicação da sua parte, as atividades poderiam ter
sido mais bem realizadas. Para Marcos, sua habilidade poderia ser alterada e, para manipulá-
la, ele disse que poderia aumentá-la com mais treinamento ou dedicação aos estudos em casa.
Assim, algumas atividades poderiam ter sido mais bem resolvidas. O que Marcos descreveu
são, na verdade, estratégias que os indivíduos podem adotar para aumentar ou diminuir a
dificuldade da tarefa ou da habilidade pessoal. Em geral, as pessoas desejam que sua
participação em uma determinada tarefa concilie a satisfação com sua necessidade de
competência (REEVE, 2006).
A modalidade a distância requer, de certa forma, uma maior responsabilidade dos
alunos na condução das atividades educacionais para que possa acontecer o processo da
aprendizagem (MOORE; KEARSLEY, 2008). Portanto, quando questionado se eram
reconhecidas as individualidades dos alunos para realizar as atividades, Marcos disse:

Na verdade, elas serviram mais como uma disciplina, porque eu nunca tinha parado
para estudar, eu sempre pegava o instrumento e tocava qualquer coisa, mas eu
nunca tinha determinado um tempo específico para estudar o violão. Essas aulas
serviram mais como uma disciplina para mim. Porque depois dessas aulas, eu
passei a dedicar algum tempo, nem que seja pouco, mas eu parava para estudar
alguma coisa (Marcos, CEC, p. 27).
125

O estranhamento com a modalidade de ensino a distância, sobretudo com uma maior


responsabilidade para sua aprendizagem, pode ter, de certa forma, prejudicado esse estudante
quanto a um maior envolvimento nas tarefas das aulas. Além da pouca experiência com a
aprendizagem a distância, ele informou que manteve uma interação pouco frequente com os
demais participantes: Todos os dias, eu visito o fórum, eu só não postei nada ainda (Marcos,
chat de Messenger, 08/05/2011). Esse depoimento surgiu após um mês de as atividades de
sala de aula terem iniciado, quando se questionava a eficácia do fórum via e-mail. Apesar de
Marcos admitir não estar participando das discussões, ele verificava o que estava sendo
debatido nos fóruns. Para Sutton (2001), esse tipo de interação silenciosa é denominado de
vicária, porque o interagente apenas observa as discussões e os debates. O estranhamento em
relação às características da aprendizagem a distância e a baixa participação nas interações
online podem haver comprometido, nesse estudante, a necessidade de pertencimento e um
maior envolvimento nas atividades. Para a TAD, é importante que haja a integração entre as
três necessidades psicológicas básicas, porque o fortalecimento de cada uma dessas
necessidades ocorre a partir da associação com as demais (DECI; RYAN, 2000).
Os dados até então evidenciam que, quando as atividades não são planejadas
demasiadamente além das capacidades dos alunos, nem também demasiadamente facilitadas,
estes se sentem motivados para vencer os desafios. A partir dos dados que envolveram a
complexidade das tarefas, foi possível estabelecer uma relação entre o envolvimento musical
do aluno e a satisfação percebida de competência desses estudantes. Porém, é preciso
esclarecer que as análises, nesta investigação, estarão sujeitas ao sentimento de
autodeterminação e não exclusivamente aos resultados performáticos em si.

5.4.2 Feedback positivo

Promover a competência facilita a motivação autônoma, porque os eventos externos


podem transmitir informações sobre a competência ou o nível de habilidade das pessoas se
eles são percebidos de maneira informativa (DECI et al., 1991). Quando as informações estão
vinculadas ao progresso realmente alcançado, pode-se, então, aumentar a percepção de
competência e, portanto, apoiar as formas autodeterminadas de motivação. Um exemplo disso
é o feedback positivo, condição necessária para apoiar o senso de competência dos indivíduos.
Para Reeve e colaboradores (2004), o feedback positivo foi relacionado com o aumento da
competência. O feedback negativo ou insuficiente, por outro lado, foi encontrado para reduzir
a competência percebida, resultando em amotivação e sentimentos de impotência. No
126

entanto, o feedback positivo pode ser fornecido para além do sucesso na realização de uma
tarefa em si, pois há outras maneiras de inferir a competência versus a incompetência, tais
como: comparações que uma pessoa faz de seu desempenho atual com o desempenho de
outras pessoas (comparação social); comparações que uma pessoa faz de seu desempenho
atual em relação aos seus próprios desempenhos anteriores (na pessoa em si); ou na opinião
de outros indivíduos (REEVE, 2006).
Em algumas tarefas, o feedback de competência está diretamente ligado ao próprio
desempenho da tarefa, como, por exemplo, quando alguém é bem sucedido ao tocar ou não
uma música: Acredito que, no geral, essa peça ficou boa, apesar de alguns deslizes cometidos
que não foram tão visíveis. Mas poderia ter me dedicado mais, ter colocado mais expressão e
dinâmica, explorado melhor a questão do timbre (Marcos, rede social, 13/07/2011). Neste
estudo, o feedback da tarefa em si apontou o quanto os estudantes progrediram ou não em
uma determinada tarefa.

O fato interessante da minha performance nessa peça, é que eu como guitarrista


tinha uma dificuldade enorme em executar com os dedos, e devido a essa peça, eu
consegui uma fluência melhor nos meus dedos da mão direita, já que só usava
palheta nessa mão. Isso mudou minha forma de tocar. Hoje, às vezes me vejo
guardando a palheta entre os dedos, para que eu possa executar com eles (João,
fórum, 15/05/2011).

Estou com muita dificuldade na segunda voz da peça Pedra Verde.


Como muda bastante do grave para o agudo, não sei qual a digitação mais
indicada. Não sei se uso apenas o polegar ou se uso somente o indicador e médio,
ou ainda se fico trocando dependendo de onde as notas estão localizadas (indicador
e médio nas três primeiras cordas e polegar nas três últimas). Neste último caso,
acho muito complicado, já que este tipo de mudança na peça é constante (Marta,
fórum, 26/04/2011).

Na autoavaliação de João, nota-se que, antes de receber o feedback da tarefa em si,


ele justificou sua dificuldade de tocar com os dedos, devido a sua experiência de tocar
guitarra elétrica com palheta. Percebe-se que a avaliação realizada pelos estudantes é menos
dicotômica que um resultado do tipo certo ou errado. Portanto, quando exercemos nossas
habilidades e ou outras tarefas, são também os desempenhos dos nossos pares, nossos
próprios desempenhos anteriores e as avaliações feitas por outras pessoas e não somente a
tarefa em si que fornecem as informações necessárias para inferirmos o senso de competência.

Comparando-se o desempenho atual dos alunos em relação ao dos seus pares,


perceberam-se algumas distinções em relação a outras pesquisas que apontaram que, quando
os indivíduos se saem melhor que seus pares, é um sinal de competência; consequentemente,
127

se não se saírem melhor, é sinal de incompetência (REEVE; DECI, 1996; REEVE; OLSON;
COLE, 1985). Esses estudos abordam a necessidade de competência como um componente
motivacional de primeira ordem e revelaram que a concorrência entre os participantes
aumentou a percepção da motivação intrínseca e que, inversamente, a percepção de
incompetência a reduziu. Vale salientar que esses estudos foram realizados em situações de
performance e competição. Os contextos que envolvem concursos e enfatizam atividades
performáticas são mais propícios para os estudantes estabeleceram a relação comparativa de
competência versus incompetência (REEVE; DECI, 1996). No entanto, quando questionei os
estudantes como eles se saíram em relação aos seus colegas, emergiu principalmente a
responsabilidade pessoal para o sucesso dos estudos, não havendo julgamento de se sair
melhor ou pior nas tarefas entre os pares e, sim, um entendimento de crescimento peculiar
inserido em uma aprendizagem em grupo, respeitando o crescimento devido às diferenças
individuais: Eu creio que me desenvolvi um bocado assim, meus colegas se desenvolveram
muito, teve uma grande evolução, mas eu me desenvolvi também (João, CE, p. 29).

Eu acredito que me saí bem. Não classificando assim, aqui é o melhor, aqui é o
mais ou menos. Eu não classificaria assim, eu acho que o desenvolvimento foi em
grupo. Cada um tinha um nível de experiência no instrumento, e quando foi
passando as aulas, a gente foi crescendo gradativamente, cada aluno no seu nível
(Pedro, CEC, p. 36).

É possível que a abordagem colaborativa adotada nas aulas haja influenciado a


percepção do desenvolvimento em grupo, bem como a aceitação das peculiaridades
individuais. Nesse sentido, quando os alunos foram colocados como modelos, capazes de
auxiliar os colegas e de compartilharem com o professor a responsabilidade pela
aprendizagem do grupo, sentiram-se mais motivados e incorporaram o espírito de equipe. A
experiência de observar outras pessoas executando as tarefas pode se tornar relevante
principalmente em contextos em que os indivíduos não estão convictos de suas próprias
capacidades ou quando tiveram poucas experiências anteriores com as atividades. Portanto, a
aprendizagem vicária pode influenciar significativamente os aprendizes observadores quando
estes enxergam semelhanças em alguns atributos e acreditam que o desempenho do modelo é
diagnóstico de sua própria capacidade (PAJARES; OLAZ, 2008).
A característica heterogênea, no ensino coletivo, muitas vezes, é encarada como uma
limitação e até uma provável impossibilidade para o sucesso da aprendizagem de um
instrumento musical nessa abordagem de ensino (CRUVINEL, 2005). Neste estudo, mesmo
percebendo-se competentes, alguns alunos apresentaram-se extremamente inseguros devido à
128

heterogeneidade da turma, principalmente em relação a seus conhecimentos prévios quando


comparados aos dos colegas. Mesmo diante dessa realidade, esses estudantes dizem ter se
saído bem nas aulas. Para Marta, dentre todos os estudantes, ela era a que possuía menos
conhecimento para estudar o violão. Eis o depoimento que me levou a esse entendimento:

Os meninos são mais avançados, mais evoluídos. Mas eu não acho que fiquei muito
para trás não. Eu corri atrás daquilo que achava que podia ficar para trás. Então,
pra não ficar para trás, pra não quebrar o ritmo das aulas e chegar aqui e ficarem
me ensinando, então eu estudava todos os dias. Eu nunca deixava para pegar as
tarefas na hora da aula, porque já que eu sei que os meninos já sabiam disso, eu
não queria ficar para trás e nem diminuir o ritmo das aulas, para as pessoas não
voltarem por minha causa. Eu sempre me preocupei com isso, para aula não ficar
abaixo por minha causa. Então, eu achei que eu não fiquei muito atrás não, achei
pelo menos o que foi passado, eu acho que acompanhei (Marta, CEC, p. 43).

Essa estudante percebeu que os colegas eram mais adiantados que ela e, para superar
esse possível obstáculo, ela dedicou-se bastante, principalmente na superação das limitações
reconhecidas por ela mesma. Dessa forma, a estudante buscou mecanismos para se motivar,
mesmo que movida por sentimentos de dever ou obrigação (regulação introjetada) como
também, de certa maneira, por um senso de competição com seus colegas. Percebe-se que os
custos da competição acabaram reforçando o senso de competência dessa estudante. Para
Renwick (2008), um aspecto relevante para o desenvolvimento de crenças de competências
nos alunos é ajudá-los a definir metas de aprendizagem que são capazes de alcançar de forma
suficiente. As ideias que as pessoas têm sobre suas capacidades influencia a realização de suas
tarefas, metas, planejamento, esforço e persistência para alcançar objetivos pretendidos. Nesse
sentido, o papel que dá o sentido de competição é considerado secundário para a
autodeterminação (DECI; RYAN, 1985). A percepção de competência é um fator
motivacional importante, mas está sujeito ao sentimento de autodeterminação, porque, mesmo
quando uma pessoa é capaz de realizar uma tarefa, mas tem que trabalhar sob pressão,
ameaças ou promessas, o desejo de realização é muito reduzido (REEVE, 2006).
Semelhantemente à estudante Marta, Marcos revelou que se encontrava em um nível
de conhecimento inferior, principalmente quando as aulas eram relacionadas ao repertório
popular e à improvisação. Mesmo assim, o estudante se sentiu competente quando comparou
seu desempenho geral aos seus colegas de curso, como mostra seu depoimento abaixo:

Eu acredito que eles estão um pouco acima de mim, certo? Na verdade, mesmo
antes da gente fazer esse curso, eles eram de um nível na minha frente, porque,
assim, não em questão de música erudita assim, porque se eu pegar uma peça e
estudar mesmo, eu consigo dominar a questão, mas agora com essa parte que
estamos estudando agora no final, que é a questão da música popular, e essa
questão de improviso, eu não tenho facilidade para improviso e na hora pegar a
129

harmonia, eu preciso de mais tempo para fazer isso. A minha maior dificuldade está
sendo nessa parte do curso, que são essas peças populares que estou com uma
dificuldade maior. E também se você me observou, também tenho um pouco de
dificuldade quando estamos tocando em grupo, de eu conseguir entrar no tempo. Eu
me saí bem sim. Agora se eu tivesse me dedicado mais, eu teria me saído melhor
(Marcos, CEC, p. 22).

A falta de dedicação aos estudos foi uma das causas apontadas por Marcos para este
perceber um sucesso menor do que o esperado, o que de certa maneira prejudicou seu senso
de competência. Mesmo assim, quando comparada com o desempenho dos seus colegas, a
competência foi percebida pelo fato de que se tratava apenas das tarefas das músicas
populares. É preciso considerar o fato de que esse estudante, dentre os demais, era um dos que
menos tinha tempo para o estudo do violão. Na entrevista diagnóstica realizada antes de
iniciar as aulas, o estudante revelou que tinha estudado violão erudito durante três semestres
antes de ingressar na graduação. Ainda nos informou que sua primeira experiência musical se
dera nas bandas de música, tocando clarinete. Nesse sentido, as dificuldades demonstradas em
relação ao estudo da música popular e ao fato de algumas músicas serem tocadas em grupo,
podem ser atribuídos à pouca experiência comum entre os estudantes que só tiveram a
experiência com o ensino tutorial, focando o repertório histórico. O modelo tutorial,
principalmente o que é baseado em avaliações para preparar alunos para situações de exames
e competições, pode levar a um foco muito estreito para aprender música de notação clássica,
com pouca ênfase na improvisação, bem como para tocar de ouvido e ainda no estudo de
estilos musicais populares e não ocidentais e no trabalho em equipe musical (MCPHERSON,
1998).
Algumas pesquisas brasileiras na subárea de educação musical já têm demonstrado a
possibilidade do trabalho colaborativo baseado nas aulas de instrumento, inclusive nas aulas
de instrumento mediadas pelo computador (BRAGA, 2009; NARITA, 2009; GOHN, 2011;
VIANA JÚNIOR, 2010; TOURINHO, 2003). Narita (2009) concluiu que a abordagem
colaborativa explorada em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) entre os alunos de
uma disciplina do curso de música na modalidade a distância da UAB/UnB indicou existirem
relações entre o nível de engajamento e a motivação com a atividade (NARITA, 2009). Para
Tourinho (2003), uma aula coletiva requer um professor competente para organizar situações
de aprendizagem, de modo a propiciar que todos participem das atividades realmente em
conjunto. A abordagem colaborativa é uma característica fundamental nas aulas de
instrumento em grupo, nas quais todos aprendem com todos e referências anteriores são
valorizadas para integrar os interesses dos alunos.
130

De modo semelhante ao que ocorre neste estudo, a pesquisa de Braga (2009) revelou
que promoção do trabalho colaborativo diminui, muitas vezes, a necessidade de os
professores interferirem no processo da aprendizagem dos estudantes, principalmente nas
videoconferências. Porém, esse estudo esclareceu que, para os alunos aprenderem a trabalhar
colaborativamente, é preciso estimulá-los constantemente, e o exemplo do professor nesse
processo é de suma importância, pois esse modelo deve ser fomentado a partir do exemplo
deste, incluindo nas atividades os alunos que apresentam alguma dificuldade.
Embora o contexto da presente investigação não priorize a performance nem ela haja
sido realizada em situação de competição, quase sempre as atividades de prática instrumental
geram uma certa rivalidade entre os estudantes. No entanto, apenas o estudante Thiago
avaliou seus desempenhos como melhores ou piores na relação competência/incompetência
quando comparado aos dos seus pares:

Bem, eu acho que meu desempenho no curso foi bom. Tendo em vista o que eu tinha
falado no início, que o violão erudito, e essa forma de tocar o violão é tanto nova
para mim. Mas em relação aos outros colegas no decorrer do curso, deu pra
perceber que algumas lições, algumas peças, algumas coisas deu pra tocar
tranquilo, e até bem tranquilo em relação aos outros (Thiago, CEC, p. 51).

Nos depoimentos das entrevistas, esse foi o único relato que pôde ser relacionado
diretamente à comparação aos outros no que se refere à competência percebida. Apesar de as
atividades de performance musical proporcionarem um ambiente de competição entre os
estudantes, nesta pesquisa, os participantes se detiveram sobretudo no senso de competência
em vez de o fazerem na competição em si. No entanto, momentos de conflitos surgiram,
principalmente quando o grupo precisou tomar decisões musicais nos arranjos para o recital
de encerramento das atividades. Os últimos ensaios provocaram, de certa maneira, uma
competição entre alguns participantes sobre as decisões a serem tomadas em relação aos
arranjos e às interpretações das músicas populares a serem executadas em grupo.
Para Durkin (1995), a importância da influência recíproca na vida social envolve a
harmonia entre as pessoas. Entretanto, divergência e conflito podem também levar à mudança
no desenvolvimento, e essa segunda forma de reciprocidade não deve ser negligenciada.
Neste estudo, foi levada em conta a vivência desses dois momentos, da harmonia e do
conflito, pois foi por meio desse processo dialógico e favorável à reflexão que o aprendizado
pôde se tornar mais efetivo:

Achei muito proveitoso o que os colegas falaram. Parabéns para nós. Resta
melhorar, com certeza, principalmente da minha parte, e acho interessante entre
nós colegas haver mais harmonia, porque está ficando um clima meio tenso. Então,
131

gostaria de propor uma linguagem mais calma, passar o que o grupo precisa.
Realmente teve discordância e ideias confusas entre nós, mas o que acho importante
é que aprendemos com nossos erros e vamos melhorar (João, fórum, 10/07/2011).

Avaliando os momentos de divergências nas aulas, o estudante João, apesar do


conflito de opiniões, considerou esses momentos importantes para o crescimento do grupo.
No depoimento, emerge uma visão tolerante ao erro, ou seja, em relação ao seu desempenho e
ao dos demais participantes. Ele acreditou que o grupo também aprendeu com os erros. Para
Deci e colaboradores (1981), os ambientes que apoiam a autonomia e são tolerantes ao
fracasso ajudam as pessoas a se sentirem mais competentes do que em ambientes
controladores e que não toleram o fracasso.
Para Swanwick (2003), o ensino musical em grupos abre espaço para que os alunos
explorem a música e se apropriem dela de maneira autônoma.

Existe alguma razão especial para que bons grupos musicais trabalhem sempre de
forma coletiva? Os alunos, em pequenos grupos, trarão suas próprias interpretações
e tomarão suas próprias decisões musicais em muitos níveis. Eles começarão a se
“apropriar” da música por eles mesmos. (2003, p. 67)

As características acima descritas não devem ser equivocadamente confundidas com


o estilo laissez-faire (deixe como está), que remete a um estilo interpessoal distante e
permissivo. Portanto, para que as atividades em grupo constituam um espaço de
experimentação, descobertas, interesse, devem ser flexibilizadas situações em que os alunos
interajam e procurem uma forma de expressão mais adequada a um determinado estilo de
aprendizagem e, ao mesmo tempo, às suas habilidades musicais atuais. Vale salientar a
importância da formação do professor, que se apresenta como peça fundamental em trabalhos
dessa natureza, porque a atitude dialógica com e entre os estudantes deve partir dele
(TOURINHO, 2006).
Na presente investigação, a abordagem colaborativa foi considerada um espaço
fecundo para as possibilidades de interação e de aprendizagem, porque, no espaço virtual,
essa abordagem tem demonstrado ser extremamente rica no sentido de favorecer a construção
do conhecimento em grupo (SANTOS, 2010; SILVA, 2010; LÉVY, 1999). Se, por um lado, o
trabalho autoinstrucional apresentado na literatura da EAD tradicional tem seu peso no
estabelecimento da autonomia pessoal do estudante (BELLONI, 2006), por outro lado, a
aprendizagem colaborativa pode ser decisiva ainda para que alguém se torne autônomo.
Para além da comparação social, a competência foi fortalecida neste estudo, quando
os estudantes foram levados a comparar-se consigo mesmos, ou seja, as suas habilidades
132

prévias comparadas às atuais. Em geral, os dados desta pesquisa revelaram que o senso de
competência versus incompetência não foi muito percebido em relação a fazer melhor ou pior
do que seus pares, mas em se sentirem tão competentes quanto os demais. Contudo, em
relação aos próprios desempenhos anteriores, todos os entrevistados afirmaram ter progredido
no instrumento (violão) com as aulas a distância. Esse crescimento foi apontado pelos
estudantes, principalmente em razão da utilidade dos recursos online, do crescimento técnico
instrumental e da ampliação do repertório diversificado (popular e erudito) adquirido.
A diversidade de recursos de comunicação e informação agregada no curso,
sobretudo as redes sociais, foi percebida pelos alunos como um elemento facilitador para o
crescimento da aprendizagem em relação aos desempenhos anteriores, como demonstra o
depoimento abaixo:

Olha assim, por incrível que pareça, eu progredi mais no instrumento a distância do
que presencial, não sei se foram as aulas que você deu, ou se foi assim o professor,
não sei. Mas a progressão foi maior, porque a gente tanto aprendia aqui nas
videoconferências, quanto na questão de outras formas, a gente assistia vídeos na
internet, tinha também as lições lá no site, estava uma interação, sabe? E assim,
enquanto eu estava nas redes sociais, MSN, ou estava no Orkut, estava no
computador, quando estava ligado, sempre aparecia um e-mail da oficina de violão
que levava eu a buscar o conhecimento, a buscar ali, a fazer o exercício. Era, tipo
assim, um, é como se você tivesse o professor direto ali com você: Pedro, você tem
que estudar aqui, você têm que estudar essa hora. Quando os e-mails apareciam,
até mesmo quando o professor estava online, já despertava para estudar o
instrumento. Dava para assistir os vídeos e tal. Isso acontecia assim naturalmente,
não era uma coisa assim forçada sabe, foi bem natural (Pedro, CEC, p. 36).

A comparação realizada por Pedro entre as modalidades presencial e a distância não


era, na verdade, o foco desta pesquisa. No entanto, quando Pedro avaliou seus desempenhos
anteriores em relação aos obtidos durante as aulas a distância, esse fator se tornou inevitável.
Todavia, levando em consideração as duas modalidades de ensino, o próprio estudante
apontou algumas possíveis variáveis para seu melhor desempenho atual em relação aos
desempenhos anteriores. O modelo de aulas planejadas pelo professor ou a própria qualidade
docente foi percebida como fator a ser considerado. Porém, para além da qualidade docente, o
depoimento de Pedro também destacou a integração das mídias digitais como um recurso que
aproximou os estudantes em benefício da aprendizagem musical a distância. A abordagem
“Estar Junto Virtual” foi percebida por Pedro como um apoio didático capaz de afastá-lo do
sentimento de isolamento ou abandono, como ele mesmo disse: estava uma interação sabe?
(Pedro, CE, p.36). Porém, a mesma diversidade de recursos digitais que facilitou o
aprendizado musical desse estudante, de certa forma, afetou a sua liberdade psicológica. Em
certa medida, os e-mails e a presença virtual do professor no ambiente online acabaram
133

exercendo uma influência para a realização das tarefas. Nessa situação, Pedro estava
motivado por regulação introjetada. E o sentimento do dever ou obrigação de participar das
discussões online aliado à presença virtual do professor, em certa medida, afetou o interesse
intrínseco para o estudante buscar realizar suas atividades. Para alguns pontos de vista, a
tecnologia digital é considerada de natureza motivadora, porque fornece uma série de
qualidades que são reconhecidas como importantes na promoção da motivação intrínseca:
desafio, curiosidade, novidade e fantasia. No entanto, pesquisas já têm demonstrado que o
fator novidade tende a se desgastar quando os usuários se acostumam com essa tecnologia,
podendo até diminuir a motivação intrínseca (KELLER; SUZUKI, 2004).
Apesar do bom funcionamento dos fóruns de discussão, os participantes deste estudo
sentiram a necessidade de agregar os sites de rede sociais e outras ferramentas online que lhes
permitissem, de forma mais dinâmica, trocar o envio de áudios e vídeos das músicas. Para
este estudo, inicialmente, foi solicitado aos alunos o envio de vídeos das peças estudadas para
o 4shared45. Porém, os participantes sentiram a necessidade de agregar os sites de rede sociais
pela praticidade de gravar e enviar os vídeos para uma posterior discussão coletiva ou até
mesmo uma conversação imediata (síncrona). Nesse estudo, o Windows Live Messenger
também foi bastante utilizado quando os alunos necessitavam do feedback imediato. A
frustração com problemas técnicos foi considerada um fator que afetou a motivação dos
alunos, principalmente quando a conexão com a internet comprometeu algumas
videoconferências.
Em relação ao desenvolvimento técnico no instrumento (violão), os depoimentos
revelaram que houve um crescimento considerável em relação aos conhecimentos obtidos nas
experiências presenciais anteriores às aulas a distância: melhorei a postura, pegar no
instrumento, é a questão do formato da unha, e tratando-se do curso em geral, deu para dar
melhorada, faltou eu treinar mais, me aprimorar mais [...] (Tiago, CEC, p. 51). É preciso
considerar que a maioria desses alunos ingressou no curso superior de música com uma
bagagem maior em instrumentos diferentes do escolhido no ato do ingresso. Portanto,
algumas atividades básicas, principalmente as de técnica instrumental, foram consideradas
significativas para eles:

Sim, com certeza, aprendi bastante. Eu já falei, uma vez, que não conhecia, eu vim
de outro instrumento e achava que o violão tocava somente aquela maneira, alguns
acordes, dedilhados e tal. Mas com essas aulas, eu achei muito interessante, porque
eu aprendi a extrair o verdadeiro som do instrumento, do violão. A sua técnica e

45
Ferramenta de armazenamento e compartilhamento de arquivos online (http://www.4shared.com/).
134

tudo. Foi bem prazeroso e proveitoso para mim, achei muito interessante, assim me
ajudou no desenvolvimento do instrumento (João, CEC, p. 28).

O desenvolvimento musical foi notório entre os próprios alunos, como demonstrou o


depoimento de João. A comparação com seus conhecimentos e desempenhos anteriores
fortaleceram suas crenças de competência a partir da associação com o desempenho obtido no
violão a partir das aulas a distância, ou seja, a percepção de competência desse estudante foi
fortalecida quando ele comparou suas habilidades técnicas prévias no violão com as atuais.
Até mesmo quanto às limitações em determinados estilos musicais populares, Marcos
comparou suas habilidades prévias com as adquiridas durante as aulas a distância. Ele
reconheceu que algumas limitações rítmicas foram diminuindo em relação aos seus
desempenhos anteriores, a partir da vivência com o repertório popular:

Depois desse curso, eu também passei a estudar mais, assim peça popular, eu
melhorei mais na questão rítmica, que eu tenho muita dificuldade. Eu fiquei
estudando outras músicas assim, não as que você pediu, mas porque questão do
ritmo do baião, eu não sabia tocar baião, eu não sabia e agora eu já sei como é o
ritmo. Bossa Nova, eu melhorei mais, já estou dominando mais. Eu ainda tenho
certa dificuldade porque eu nunca tinha parado para estudar essas coisas, aí eu
melhorei mais (Marcos, CEC, p. 22).

No depoimento de Marcos, percebe-se que a promoção da autonomia fortaleceu a sua


competência. A liberdade que ele teve para trabalhar com outras músicas além das sugeridas
nas aulas ajudou-o a sanar suas limitações rítmicas e a complementar sua formação em
relação ao repertório popular. Nesse sentido, a promoção da autonomia foi fundamental para
esse estudante ter a liberdade de fazer escolhas musicais que estavam ao alcance de suas
capacidades atuais e de realizá-las em um nível satisfatório. É possível notar o estranhamento
com o repertório popular, até mesmo o característico da sua região (baião). De certa maneira,
seu depoimento revelou que ele tem pouco ou quase nenhum conhecimento prévio com o
repertório popular. De certa forma, essa ausência retrata sua formação inicial, que privilegiou
o repertório histórico do violão durante três semestres antes de iniciar a graduação.
Por fim, em relação ao Feedback de outros indivíduos ligados direta e indiretamente
ao processo investigativo, foi sugerido que, após assistir aos vídeos postados em uma
determinada rede social da internet, todos fizessem uma crítica às tarefas postadas nas redes
sociais. Foi estabelecido que a crítica não era uma maneira de atacar ou qualquer tipo de
comentário desfavorável, como também não era para ser um elogio apenas para agradar ao
colega. A crítica proposta visava efetuar um exame, tendo em vista a necessidade de conduzir
a uma apreciação coletiva das músicas estudadas durante as lições. Assim, eles perceberam as
135

críticas como importantes, mesmo quando foram consideradas, de certa maneira, corretivas.
Quando foi relatada a ocorrência dessas críticas corretivas, elas foram encaradas como
construtivas no sentido de amadurecer e corrigir o que era necessário para fortalecer a
aprendizagem:

Muitas vezes, eu não percebia meu erro e os meus colegas, com a crítica
construtiva, apontavam assim como o meu professor, você, o que estava faltando, o
que precisava melhorar. Foi bastante estimulante pra mim também, eu acredito que
é bastante estimulante, eu acho bem interessante criticar algo que realmente estou
pecando nessa parte aqui, e que posso melhorar, enfim (João, CEC, p. 29).

[...] Às vezes, uma simples ajeitada na mão, uma simples mudança de região que
você executando aqui a melodia, ajuda a você de uma forma que se você fosse
procurar sozinho, lendo o livro, você não iria perceber, e um olhar de fora, de outra
pessoa que possa lhe dizer: ah, eu acredito que você está errado nessa parte aqui,
eu acredito que você está acertando nessa aqui, fica até melhor, porque você já fica
mais estimulado quando uma pessoa elogia você ou então quando a crítica era a
respeito a algo que você está errando, onde você está com problemas. Você quase
que totalmente procura buscar consertar aquele erro que você está cometendo
(Pedro, CEC, p. 36).

Os feedbacks corretivos tiveram uma função didática complementar para o processo


de aprendizagem, conforme esses entrevistados. Para eles, o estudo individual com o material
impresso não seria tão eficiente sem os feedbacks dos colegas. Tanto o elogio quanto a
observação, sem o julgamento desfavorável, foram capazes de estimular e tornar o processo
de aprendizagem mais interessante, consequentemente, nutrindo suas necessidades de
competência.
Apesar de a presente investigação ter como foco principal investigar os processos
motivacionais dos estudantes nas interações online em aulas de violão a distância, outras
interações emergiram nas entrevistas. Não menos importante, aborda-se a opinião de outros
indivíduos que indiretamente participaram desse processo investigativo:

Até que eu já tinha comentado com você e com João, que eu estava estudando e o
meu pai me elogiou, que é muito difícil. Então, outras pessoas também, quando eu
toquei as peças clássicas. Porque eu chamei meus amigos e disse que iria tocar
para eles, porque eu tinha um recital para me apresentar, e eu não sabia a música
que eu iria tocar. Então, eu toquei duas peças para eles, o pessoal da calçada e
tudo. Eles gostaram muito, e eles mesmo disseram que eu evoluí no violão (Marta,
CEC, p. 43-44).

O comentário do pai de Marta pode ser considerado um feedback positivo, seguido


de elogio. Segundo a TAD, o feedback positivo é um evento informativo que
pode promover a satisfação da necessidade de competência. Ressalta-se que,
o feedback positivo, oferecido por outra pessoa, de forma inesperada, após a realização de
136

uma atividade, ainda seguido de elogio, tem uma força motivacional importante. A baixa
frequência do elogio torna a situação afetivamente importante, evidenciando o alcance de um
objetivo, da melhoria do desempenho ou da aquisição de uma habilidade. Ainda destaco que
dados sobre a influência da família neste estudo começaram a emergir desde o primeiro
contato com os estudantes, quando foram questionados sobre os primeiros contatos com o
violão. O feedback positivo gerado pelos amigos de Marta também teve certa importância
para a estudante, pois seus vizinhos ou “colegas da calçada”, como ela mesmo descreveu,
vinham acompanhando sua formação musical desde outros tempos, inclusive no período desta
investigação, para ajudá-la a decidir o repertório para a etapa final das aulas a distância,
online.

5.4.3. Síntese da percepção de competência

Neste estudo, houve diversificadas fontes de feedbacks para ajudar os alunos a


obterem informações necessárias para fortalecer o senso de competência. Eles perceberam
que suas tarefas estavam sendo bem realizadas, a partir de múltiplos fatores. Quando
comparados os conhecimentos prévios com os atuais, percebi que houve progresso, porque
também existiam outras possibilidades interativas a serviço da aprendizagem, por haverem
acumulado outros conhecimentos, bem como reforçado os conhecimentos prévios. As
interações a distância, online, apresentaram inovações educacionais e tecnológicas em
benefício da experiência na aprendizagem, buscando minimizar, de certa forma, os possíveis
problemas de comunicação em um curso de violão a distância. Com o presente estudo,
identificaram-se diversificadas ferramentas tecnológicas para ampliar as possibilidades
interativas entre os participantes.
Em relação aos desafios originados na tarefa em si, os estudantes perceberam, em
geral, que as atividades foram moderadas, pois as atividades foram consideradas desafiadoras
e adequadas ao nível dos alunos. Alguns destes reconheceram que, com uma maior dedicação,
eles poderiam manipular o nível dos desafios. Dessa forma, a dedicação, juntamente com as
habilidades alinhadas aos desafios propostos nas tarefas fizeram com que os alunos
percebessem, de imediato, as tarefas como moderadas. Quando comparados os
conhecimentos prévios com os atuais, percebeu-se que houve progresso, porque existiam
outras possibilidades interativas a serviço da aprendizagem, que permitiram aos alunos
acumular outros conhecimentos, bem como reforçar os conhecimentos prévios. Na
137

comparação social, percebeu-se principalmente o crescimento pessoal de acordo com o nível


individual de cada integrante do grupo. O sentimento de tocar melhor ou pior em relação aos
colegas não foi muito realçado.
A opinião dos outros indivíduos estimulou o aprimoramento das tarefas,
principalmente quando os estudantes não percebiam suas próprias limitações. Essas opiniões
foram úteis e capazes de gerar reflexões, bem como contribuíram para dirimir dúvidas
relativas às lições. O elogio dos colegas como os de outras pessoas (família e amigos)
apoiaram o sentimento de competência dos participantes desta pesquisa. Os principais fatores
que minaram a percepção de competência desses alunos foram: juízos de baixa crença nas
autoeficácia; pouca dedicação para realizar as tarefas; exposição e falta de experiência
anterior para realizar as tarefas em público e percepção de que algumas tarefas foram
excessivamente desafiadoras. Portanto, considero que as interações síncronas e assíncronas
propostas neste estudo puderam, em parte, satisfazer a necessidade psicológica básica de
competência dos estudantes, bem como possibilitar uma alternativa viável e efetiva para a
formação musical desses estudantes de violão.

5.5. PERTENCIMENTO PERCEBIDO NA MODALIDADE A DISTÂNCIA

Para a TAD, as relações que satisfazem a necessidade de pertencimento precisam


envolver afeto e apoio emocional entre os indivíduos, ou seja, não é qualquer relação que
garantirá o suprimento dessa necessidade. A interação é a condição primeira para que ocorra a
satisfação da necessidade de pertencimento entre os indivíduos. Portanto, é nas interações que
envolvem relações de preocupação mútua, afeto e apoio emocional que os indivíduos
experimentam o senso de vínculo social ou pertencimento (REEVE, 2006). Nesse sentido,
independentemente da modalidade de ensino, é a qualidade das interações que garantirá a
satisfação dessa necessidade. Apesar de grande parte da literatura em motivação estar pautada
nas interações face a face, é crescente o número de estudos que vêm investigando a
complexidade motivacional que ocorre nos ambientes virtuais de aprendizagem.
A interação social, neste estudo, aconteceu principalmente no âmbito virtual, por
meio de atividades síncronas e assíncronas. Em relação ao aproveitamento dessas interações
para a aprendizagem na modalidade a distância, os alunos foram unânimes em afirmar que foi
possível interagir de certa forma nessa modalidade de ensino. Para os entrevistados, essas
interações foram possíveis quanto à colaboração entre o professor e os alunos e entre os
próprios alunos, nos momentos das videoconferências, nos encontros informais entre eles e,
138

sobretudo, nas redes sociais agregadas para estreitar o canal de comunicação entre os
participantes. Os depoimentos a seguir explicitam bem como as interações online foram
percebidas nas maneiras síncronas e assíncronas utilizadas neste estudo:

Eu achei muito interessante a atenção, as redes sociais que usávamos para


interagir, mandava o vídeo, tirar as dúvidas e aí você respondia com um vídeo ou
então até nos fóruns online também. Acho que foi bastante, muito mais atencioso
que nas aulas presencias, eu achei [...] Apesar de nos encontramos uma vez por
semana nas videoconferências, existia um contato cotidianamente pelas redes
sociais, pelos e-mails, pelo fórum que tem no site, pelo facebook. Isso foi de suma
importância para mim (João, CEC, p. 36).

De repente, vi Marta lá no MSN e ela fazia um comentário do que estava estudando,


e a gente se ajudava naquele momento. Então, acho que, nesses momentos, eram os
momentos que a gente interagia mais e acabava um dando uma atenção daquela
necessidade que a gente estava tentando suprir (Pedro, CEC, p. 37).

Diferentemente das interações presenciais dos modelos de aulas de instrumento, que


ocorrem muitas vezes uma vez por semana e por um determinado período de tempo, os
participantes desta pesquisa perceberam que o contato cotidiano entre o professor e os colegas
durante o estudo foram mais eficientes para suprir suas necessidades relacionais. Os fóruns de
discussão nas redes sociais da internet conquistaram os maiores destaques nos depoimentos
dos estudantes. Com o uso cotidiano dessas redes, eles perceberam uma maior aproximação
do grupo, até quando comparadas com as aulas presenciais. A diversidade de recursos de
comunicação e informação agregados pelas redes sociais estão cada vez mais atraindo os
indivíduos e causando modificações nas relações comunicativas na internet. Uma dessas
modificações diz respeito ao abandono do uso do e-mail, principalmente pelos mais jovens.
Na pesquisa de Braga (2009), foi revelada entre os adolescentes investigados uma resistência
muito acentuada ao uso de fóruns via e-mail nas aulas de violão a distância. No entanto,
quando o pesquisador recorreu à rede social Orkut, foi percebida uma significativa adesão dos
jovens para se relacionarem dessa outra forma.
Nesta pesquisa, apesar de os participantes terem usado, com uma boa frequência, os
e-mails, nos fóruns de discussão, houve uma forte adesão às redes sociais, porque, além de
essas redes proporcionarem uma discussão semelhante às dos fóruns via e-mail, elas
permitem, de maneira prática, o envio de arquivos de vídeos necessários, pelo caráter prático
do estudo instrumental:

Tratando do que não gostei, acredito ser os e-mails, por vezes preguiçoso de se
abrir. Acho necessário a leitura de informes e avaliações por meio desse
mecanismo, mas não gosto de tirar dúvidas por meio dele, é muito difícil de se
expressar, sem contar que leva tempo para articular melhor as ideias que por vezes
139

tornam-se incompreensíveis se não conseguir transmitir essas ideias por texto. Vejo
o facebook como uma ferramenta que consegue sozinha suprir as dificuldades
encontradas na minha leitura e expressão de dúvidas por e-mail. Vejo a necessidade
de mandar um vídeo com a dúvida ou tirá-la na videoconferência e sugiro também
que todos adotem ao facebook como meio de avaliar e dar informes também, pois
quando mandamos mensagens por ele, automaticamente ele avisa em todas as suas
caixas de e-mail. Dessa forma, estamos fazendo fórum também (Pedro, fórum,
07/06/2011).

Percebe-se que, quando as interações assíncronas poderiam reunir a expressão verbal


com recursos audiovisuais, elas eram consideradas mais significativas para o aprendizado
prático do instrumento. Vale salientar que, no presente estudo, as diversificadas ferramentas
(síncronas e assíncronas) foram utilizadas para ampliar as possibilidades interativas entre os
participantes, porém algumas maneiras assíncronas de comunicação não foram bem avaliadas,
como ressalta Marta: Acho que todos entram mais nas redes sociais que no e-mail. Pelo
menos, é isso que dá para entender. Porque às vezes os e-mails demoram em ser respondido
(sic). Eu tiro por mim, todos os dias, eu entro no Orkut (chat de Mensseger, 08/05/2011).
De fato, as redes sociais da internet, nos últimos anos, acabaram incorporando em
suas interfaces diversificadas maneiras comunicativas no ciberespaço. Quando é enviada uma
mensagem pela rede social facebook, imediatamente essa rede envia um e-mail para as caixas
de entrada dos usuários, como disse Pedro. Nos dias atuais, a rede social da internet mais
utilizada nesse estudo (o facebook) adicionou na sua estrutura o recurso síncrono de
videoconferência. Outra rede social mais recente (Google Plus ou Google+) utiliza um novo
aplicativo no serviço Hangouts46, que gera transcrições em tempo real no bate-papo dos
usuários. O Hangouts Captions ainda permite que pessoas com problemas de audição possam
participar dos chats em vídeo. Porém, a transcrição não é feita automaticamente. Os usuários
da rede com problema de audição só poderão visualizar o painel de transcrição lateral no
Hangouts se alguém estiver fazendo o trabalho de digitação. Além de proporcionar a
videoconferência de maneira particular, é possível transmiti-la para qualquer pessoa assistir
ao vivo via Youtube e deixá-la gravado lá para outros verem a qualquer momento.
Especificamente quando questionados sobre como aconteciam as interações a
distância com o professor, percebe-se que o estudante, além de descrever como ocorriam as
interações, mais uma vez acabou comparando-as com suas experiências anteriores na
modalidade presencial:

46
Hangouts são lugares usados para facilitar grupos de bate-papo de vídeo.
140

Embora você estivesse longe como professor, eu acho que o contato e a interação
superaram até o contato presencial de sala de aula. Pelo fato do grupo ser um
pouco compacto e pelo fato de você estar nos olhando, já conversando. Então, a
atenção em outras experiências de ensino, essa foi uma das mais proveitosas que eu
tive, porque era como se fosse a atenção dobrada, tinha como se fosse o professor
na sala de aula e o professor de reforço em casa, nos e-mails. Enfim, achei
interessante (João, CEC, p. 30).

Outro fato notório nos depoimentos dos estudantes foram as ocorrentes percepções de
pouca sensação de distância entre eles e o professor. Mesmo estando fisicamente distantes do
professor, os alunos sentiram que as interações online poderiam tanto apoiar a aprendizagem
quanto suas necessidades de relacionamento, e até serem mais eficientes quando comparadas
com suas experiências anteriores na modalidade presencial. No entanto, é preciso destacar
uma variável muito importante apresentada pelo estudante para não se sentir isolado ou
abandonado. Esse fator diz respeito à quantidade de estudantes envolvidos nas atividades.
João complementou que, nos fóruns: Se fosse um grupo maior, talvez tivesse algumas
limitações, mas com uma quantidade de cinco ou seis alunos, as aulas ficaram bem
confortáveis (João, fórum 16/04/2011).
No campo da educação musical, não existe unanimidade acerca do número ideal de
alunos para aulas de instrumento em grupo. Porém, nos modelos online que preveem uma
interação intensa, as condições necessárias para o professor vivenciar e auxiliar os alunos a
resolverem seus problemas são limitadas, se comparadas com outras abordagens. Alguns
pesquisadores defendem que, para esses modelos manterem um nível da interação desejável, o
professor não pode atender a mais que 20 alunos. No entanto, algumas medidas podem ser
adotadas para melhorar essa limitação. Para tanto, é preciso uma equipe que auxilie o
professor a ficar inteirado de tudo que está acontecendo, bem como a monitorar as atividades
dos alunos e ainda auxiliar o professor a desenvolver materiais, sob demanda, para ser
enviado aos alunos (VALENTE, 2010; HARASIM et al., 1995).
O advento da internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. Para este estudo,
algumas foram fundamentais. Porém, a mais significativa foi a possibilidade de expressão e
sociabilização através das TIC. Nesse sentido, buscou-se explorar as potencialidades dessas
tecnologias como um recurso facilitador no processo de mudanças na educação musical a
distância. Percebe-se, no depoimento de João, a influência que o modelo educacional online
(Estar Junto Virtual) adotado exerceu. O sentimento de companheirismo diário mediado pelas
TIC foi capaz de estabelecer o vínculo necessário para o estudante não se sentir isolado.
Alguns pesquisadores em EAD defendem que os alunos virtuais precisam de todos os serviços
que, em geral, são oferecidos ao aluno presencial e ainda advertem que também é preciso
141

tomar cuidados com outras necessidades, como as questões relacionadas à falta de interação, à
sensação de isolamento e aos problemas potencias de acesso aos recursos necessários nos
modelos online (PALLOFF; PRATT, 2005).
Na presente investigação, a diversidade de recursos de comunicação de que o
professor e os alunos puderam dispor tiveram o propósito de tornar as interações mais ricas e
efetivas entre os participantes. Nesse sentido, a colaboração nas redes sociais e nos fóruns de
discussão entre professor e alunos e alunos entre si receberam destaque como ferramentas
assíncronas importantes para apoiar os alunos nas suas necessidades de pertencimento. Para
João, ficou claro que, mesmo não tendo a oportunidade de exercer uma interação face a face,
foi possível criar uma relação significativa entre ele e o professor. A palavra “atenção
dobrada” revelou, de certa forma, a causa da superação em outras experiências de
ensino/aprendizado.
Ao tratar de algumas inovações trazidas pela cultura escolar da EAD, Kenski (2010)
aponta o potencial de alguns recursos tecnológicos de interação e comunicação para o modelo
online.

Os mais novos recursos de interação, as redes sociais, as possibilidades de uso de


bases de dados ampliados, a ampliação da velocidade do acesso, as inúmeras
condições para realização de multiálogos (conversas com todos), a convergência de
mídias e suas inúmeras possibilidades de construção coletiva mostram a diversidade
de projetos educacionais diferenciados e dinâmicos possíveis de serem
desenvolvidos online, a distância. (2010, p. 61)

Nos dias atuais, os recursos descritos acima não são mais uma exclusividade da EAD,
online. É crescente o número de pesquisas que demonstram que as práticas pedagógicas têm
utilizado cada vez mais os recursos tecnológicos nos processos de aprendizagem,
determinando, dessa forma, um redimensionamento na ação do ensinar (BEHAR et al., 2009;
KENSKI, 2008). No entanto, para Longhi e colaboradores (2009), o processo educativo não
existe sem a interação entre pessoas. Neste estudo, apesar de se considerar, de certa forma,
que aconteceu o aprendizado autoinstrucional, gerado pelas diversas mídias proporcionadas
durante as aulas (sites, blogs, DVD, material impresso), essas ferramentas foram entendidas
como um recurso didático muito importante, mas não suficiente por si só para promover uma
experiência genuinamente colaborativa. Foi, de fato, na relação entre os estudantes que se
criaram espaços férteis e apropriados para o aprendizado.
As pesquisas que exploraram os ambientes e situações presenciais sob a perspectiva
sociocognitiva demonstram que, quando é possível exercer interações face a face com os
outros, geralmente, as pessoas se esforçam para criar relações (REEVE, 2006). Porém, para
142

que essas relações se configurem em laços de amizade, de apoio emocional e de preocupação


mútua, é preciso mais que o sentimento de proximidade entre as pessoas e o fato de passarem
um determinado tempo juntas. No entanto, os estudos que investigam as interações em
ambiente online, sobretudo a sua qualidade relacionada aos tipos de motivação presentes
nesses ambientes, são poucos. Apesar de as pesquisas que tratam da motivação em ambientes
virtuais ainda constituírem temática academicamente menorizada, é crescente o número de
pesquisas que têm destacado como o avanço das TIC vem transformando, de maneira
exponencial, as relações comunicativas entre os indivíduos nos últimos anos (RECUERO,
2009).
Neste estudo, optou-se por uma descentralização nos recursos de comunicação online
em vez de elencar apenas uma única plataforma educacional virtual, como, por exemplo, o
Moodle ou a plataforma ROODA. Sobre o uso do Moodle para atividades musicais, a
pesquisa de Oliveira (2012, p. 250) revelou que alguns alunos se sentiram “limitados e
recuados” por se sentirem avaliados em tempo integral nas mensagens comunicadas online.
Nesse sentido, em diversos momentos, os alunos recorriam individualmente ao chat do
Windows Live Messenger ou de outras redes sociais na internet para fugir do controle nos
fóruns da plataforma utilizada e para evitar o sentimento de isolamento. Percebendo-se que
grande parte das ferramentas de comunicação era predominantemente escrita e que a
aprendizagem a distância na área de Exatas necessitava de meios de interação e comunicação
com simbologia própria, foi desenvolvida, em 2005, a Rede Cooperativa de Aprendizagem
(ROODA) no Núcleo de Tecnologia Educacional (NUTED) da UFRGS. Esse AVA já foi
concebido com diversos meios de comunicação e interação online, como os chat de bate-papo,
e-mail, fóruns de discussão e mensagens instantâneas (BEHAR; NOTARE, 2009). No
entanto, somente nos últimos anos é que os recursos audiovisuais foram incorporados a esse
ambiente virtual.
Neste estudo, apesar de existir um fórum de discussão em um ambiente virtual
específico de aprendizagem violonística, foram integradas a esse ambiente outras mídias
sociais possíveis de comunicação online entre os participantes da pesquisa. Assim, muitos
recorreram às redes sociais ou ao chat do Windows Live Messenger para dialogar de maneira
individual ou coletiva. Apesar de as plataformas Moodle e ROODA, nos dias atuais, haverem
integrado as mídias sociais e outros recursos propícios para a aprendizagem musical nos
últimos anos e de esses recursos serem adotados nos cursos de música a distância no país,
acredito que são necessárias mais pesquisas sobre as potencialidades desses ambientes virtuais
143

para a aprendizagem musical, sobretudo das atividades mais práticas, como as do ensino de
um instrumento musical. Na presente pesquisa, os dados revelaram que somente os diálogos
verbais ou o envio de vídeos não seriam suficientes para sanar a complexidade da
aprendizagem instrumental. Para os participantes, quando era possível reunir em uma mesma
ferramenta a mensagem verbal com o recurso audiovisual, o entendimento das discussões era
mais significativo.
Quando se compara a evolução das mudanças comunicativas online com o número
de pesquisas sobre o impacto dessas transformações para os processos educativos, percebe-se
que ainda é pequeno o número de estudos sobre a temática (FRANCO, 2012). E ainda é
comum, nos dias atuais, encontrar resistências e preconceitos quanto às possibilidades da
aprendizagem online. Além disso, ainda se está aprendendo a gerenciar processos complexos
de Educação Online (EO), principalmente quando se trata do aprendizado de um instrumento
musical na área de música, por constituir uma atividade extremamente prática e, quando se
refere à aprendizagem mediada pelo computador na infância (ARMSTRONG; CASEMENT,
2001).
A pesquisa de Oliveira (2012) sobre as sociabilidades pedagógico-musicais
constituídas em ambientes virtuais de aprendizagem musical revelou, sob o ponto de vista dos
participantes, quatro fatores interligados com preconceito da sociedade acerca dessa
modalidade para o ensino de música: 1) Noção de que o curso de música a distância é mais
fácil que os cursos na modalidade presencial; 2) Desconhecimento da modalidade a distância
e suas possibilidades educativo-musicais por parte dos professores de música que atuam na
modalidade presencial e da sociedade em geral; 3) Não credibilidade nos processos de ensino
e aprendizagem musical a distância; 4) Impossibilidade de aprender música pela internet.
Mesmo com todas essas adversidades, a popularização da internet tem motivado
discussões sobre outras maneiras de ensinar e aprender música (DAMMERS, 2009), inclusive
as presenciais, que utilizam cada vez mais metodologias semipresenciais, flexibilizando a
necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos (VALENTE; MORAN;
ARANTES, 2011). Portanto, com o acesso à internet, é possível integrar os momentos
presencias da sala de aula com outros momentos a distância, de maneira virtual, extraclasse,
permitindo que os estudantes ampliem o processo de aprendizagem.
Nesta pesquisa, mesmo sendo as atividades planejadas virtualmente, a internet
possibilitou certa flexibilização e evolução das aulas por videoconferências. No entanto, foi
observado, nas duas primeiras semanas de aula, que os alunos estavam interagindo pouco nas
144

ferramentas de comunicação síncronas e assíncronas, bem como que as videoconferências


estavam sendo entendidas como uma substituição das aulas presenciais. Nesse sentido,
pautando-se em reflexões do próprio grupo, percebeu-se que as redes sociais estavam sendo
pouco potencializadas para o aprendizado musical a distância. A partir do uso mais intenso de
tais meios, criaram-se espaços para o compartilhamento, a construção de ideias e a
informação entre os participantes. Assim, os alunos iniciaram as interações mútuas, o que
implicou compromisso social e cognitivo para promover a aprendizagem ativa entre esses
estudantes. Nesses momentos, eles participaram opinando, respondendo aos colegas e
compartilhando ideias. Dali em diante, eles estavam socialmente online, contexto no qual eles
puderam perceber significativo apoio para suas necessidades de pertencimento.

5.5.1. Vínculo social

Nesse segmento, trato das percepções com maiores destaques para a noção de
pertencimento. Neste estudo, elas foram associadas ao sentimento de amizade e carinho entre
alguns membros do grupo e às percepções de apoio e contribuição do grupo para realizar as
atividades. Os estudantes perceberam que as interações a distância foram capazes de
estabelecer vínculos sociais de apoio e preocupação entre eles, até mesmo quando a
ferramenta utilizada era assíncrona. Esse meio também foi utilizado para minimizar a
distância entre os participantes, como é mencionado nos depoimentos a seguir:

Como eu falei na questão dos fóruns, estava sempre o professor postando uma
coisa, textos ou uma referência ou um vídeo e alguma coisa, e até os próprios
colegas também. No caso, acho que Pedro também participou muito bem dos
fóruns, relatando algumas experiências de estudos dele [...] Então, eu acho que sim,
os colegas estavam postando também, não somente o professor, como também os
colegas de curso postando algumas experiências, apoiando um ao outro. Essa troca
de experiências, particular de cada um para o grupo, através do fórum (Thiago,
CEC, p. 55).

[...] Agora isso acontecia mais com Marta do que com Thiago e Marcos, porque eles
mal entravam no MSN, até mesmo pela distância também, por não morarem
próximos e tal. Acredito que essa dedicação de tempo, apoio emocional, ela
ocorreu, só que de forma pontual, em algumas pessoas, sobre algumas pessoas e
não do grupo todo (Pedro, CEC, p. 38).

Percebe-se que, além da possibilidade interativa no ambiente virtual, foi possível


estabelecer relações que apoiaram o engajamento e a preocupação mútua entre os
participantes do estudo. Porém, além do destaque para a participação de Pedro nos fóruns, o
depoimento deste revelou que algumas interações online não aconteciam com todos. Neste
145

estudo, alguns alunos exibiram um comportamento excelente de comunicação no ambiente


virtual, enquanto outros, em alguns momentos, permaneceram apenas como observadores.
Mesmo os estudantes que deixaram claro que não dedicaram muito tempo para comunicar
apoio a seus colegas acreditam que receberam muito apoio emocional durante as aulas,
principalmente nas videoconferências. O depoimento de Pedro reforça a análise de que alunos
que usaram com maior frequência os recursos online acabaram tendo um maior sentimento de
pertencimento no grupo durante as aulas. Pedro ressaltou que as interações não aconteceram
com muita intensidade entre todo o grupo, porque, segundo ele, pouco encontrava alguns
colegas online cotidianamente, bem como pelo fato de eles morarem mais afastados.
Os dados até então já tinham revelado que Marcos, até as quatro primeiras semanas
das aulas, não havia participado ativamente das discussões nos fóruns e, em outro
depoimento, ele revelou que recebeu mais apoio emocional do que proporcionou a seus
colegas. Pedro também considerou a distância das localidades em que seus colegas moravam.
Na realidade, Marcos e Thiago moravam em um município vizinho ao dos demais
participantes. Em alguns depoimentos, esses estudantes salientaram que o desgaste das idas e
vindas, ocasionado principalmente pela escassez dos horários do transporte universitário,
somado com outras atividades profissionais, prejudicaram seus horários de estudo. Mesmo
com as dificuldades percebidas, em geral, esses estudantes tiveram uma boa frequência nas
interações online, porém menor que a dos demais participantes.
Percebe-se até então que o vínculo afetivo, nas interações online, foi identificado
pelos alunos em vários momentos e situações, tais como: nas redes sociais, fóruns e nos
encontros informais que aconteciam na internet. No entanto, não menos importante, alguns
padrões de interação foram destacados quando eles se reuniram para realizar as
videoconferências com o professor. O depoimento a seguir mostra que o estudante confessou
que, em uma determinada videoconferência, sentiu-se pressionado a ponto de querer desistir
da tarefa, por não estar conseguindo acompanhar a turma naquele momento. Porém o senso de
solidariedade de seus colegas ajudou-o a realizar a atividade. Eis o depoimento:

[...] A questão de apoio emocional quem me deu muito foi Thiago. Hoje aconteceu
isso aqui. Eu não estava conseguindo pegar essa peça, aí eu fiquei meio aborrecido
sabe? Deu vontade de desistir, só que Marta veio aqui e me ajudou e cifrou e
colocou direitinho. Daí eu consegui pegar a peça todinha “Ai que saudade d’ocê”
[...] Eu fiquei me sentido sobre pressão e não estava mais conseguindo raciocinar.
Resolvi desistir, mas aí Marta chegou e me deu uma ajuda e eu consegui. Então,
isso aí é um apoio emocional que ela me deu. Porque eu fiquei sobre pressão
mesmo, eu não ia conseguir não (Marcos, CEC, p. 25).
146

O depoimento de Marcos revelou o quanto foi importante para ele o senso de


solidariedade de sua colega Marta. Sentir-se apoiado fez com que esse estudante persistisse na
tarefa, mesmo com a pressão imposta naquele momento. Essa atitude revelou uma relação
social capaz de satisfazer a necessidade de pertencimento. Para a TAD, nem todas as maneiras
de se relacionar são suficientes para estabelecer vínculos sociais capazes de satisfazer a
necessidade de pertencimento (REEVE, 2006). No entanto, a promoção dessa necessidade
facilita a motivação, principalmente em contextos que apoiam a necessidade de autonomia
dos indivíduos. Para promover o pertencimento, os contextos sociais precisam criar um clima
baseado em confiança, carinho, respeito e em um senso de comunidade, de preocupação
mútua com os outros (DECI et al., 1991).
Algumas pesquisas em EAD, inclusive na área de Educação Musical, investigaram
os padrões mais frequentes em aulas em grupo nessa modalidade de ensino. Na pesquisa de
Braga (2009), o senso de solidariedade foi o padrão mais frequente nas interações síncronas
(videoconferências), enquanto o padrão mais complexo, o da síntese de vários pontos de vista,
foi o menos frequente. Apesar de esse padrão não ter sido frequente, o pesquisador ressalta
que ele mostrou-se relevante para o senso críticos musical dos estudantes. Outro aspecto que
mereceu ser destacado é que o padrão de facilidade de expressão envolveu o trabalho em
grupo. Porém, não promoveu um trabalho colaborativo, uma vez que este só ocorreu quando
foi percebido o senso de solidariedade (BRAGA, 2009).
De fato, incluir todos os alunos efetivamente em uma aula em grupo é um constante
desafio para qualquer professor que trabalha com o ensino coletivo de instrumento,
principalmente com alunos de nível intermediário, típicos deste estudo, que normalmente se
encontram em estágios de aprendizagem diferentes. Quando alguns alunos estavam com
maior dificuldade que outros, era preciso incluir, estimular, intervir, dobrar a atenção para que
eles pudessem acompanhar o ritmo dos demais. O senso de solidariedade evidenciado com
frequência durante as aulas foi um elemento motivador muito importante para os alunos se
sentirem apoiados durante este estudo, como demonstram os exemplos apresentados nos
depoimentos a seguir:

Um exemplo, uma música que a gente está tocando, alguém não está conseguindo
tocar, pegar, a gente sempre diz: vamos parar, vamos tentar ajudar para todos
tocarmos juntos, certo? Porque o que eu acho mais importante é caminharmos e
todo mundo ir igual, certo? Nunca gostei se estou num grupo e uma pessoa sabe
mais do que os outros, sai na frente e não sabe esperar, porque se é um grupo,
ninguém pode sobressair, tem que tocar em grupo. Então, não gostei de tocar
quando uma pessoa não pegou os acordes. Uma pessoa que não está conseguindo o
solo, sempre pensei: vamos parar e esperar todo mundo pegar, aí todo mundo toca
147

juntos. Porque o grupo, eu acho que é para passar isso. Peças individuais, todo
mundo faz como quer, faz sua interpretação, mas o fato de tocar em grupo, eu
sempre prezei isso, a ajuda. Tanto eu fui ajudada muito pelos meus colegas, como
eu acho que ajudei a eles no que eu pude e no que eu sabia (Marta, CEC, p. 46).

Olhe, eu acredito que sim, porque isso era demonstrado na questão da preocupação
da postura, quando um colega chegava para mim e dizia: olhe, essa postura aí não
está legal, não seria melhor você ficar mais assim? Esse tipo de preocupação
acontecia com a gente. Então, eu acredito que isso demonstra afetividade, essa
interação entre a gente, acho que isso demonstra (Pedro, CEC, p. 39).

Para mim, a maior vantagem de se estudar em grupo é poder contar também com a
ajuda e as experiências dos colegas. Várias pessoas juntas procurando atingir um
mesmo objetivo, além de proporcionar interação, também é bastante estimulante.
Apesar das minhas limitações, que é o nervosismo de estar/tocar em público, que
todo mundo já sabe e que eu estou tentando superar, realmente tenho gostado das
aulas (Marta, fórum, 10/07/2011).

Aqui os entrevistados revelaram uma preocupação com o outro, capaz de reintegrar


os estudantes ao grupo, bem como de sentir-se parte dele. O aspecto colaborativo
proporcionado, quando se estuda em grupo, acaba sendo um espaço fecundo para um maior
envolvimento social, interativo, motivador e cooperativo entre os alunos (TOURINHO, 2003;
CRUVINEL, 2005). A busca pela construção social do conhecimento foi destacada, sobretudo
no modelo das interações mútuas frequentemente relatadas. Essas interações foram
reconhecidas nesta pesquisa, principalmente, na colaboração dos participantes reunidos em
torno de contínuas questões que emergiram durante todo o processo investigativo. Portanto,
acredito que a abordagem do ensino em grupo foi fundamental para promover a colaboração,
o pertencimento e o senso de inclusão dos estudantes durante as atividades presenciais e a
distância. Os dados a seguir reforçam como aconteceram a colaboração, a preocupação mútua
e o senso de inclusão entre os alunos:

[...] Geralmente quando estamos em sala de aula e algum colega está com
dificuldade, e se um colega chegar até a gente, a gente se preocupa se ele está
dando de conta e tal, das lições, enfim como um todo. Aqui a gente era um grupo de
informação. Então, assim, se três estavam bem e os outros dois estavam faltando, a
gente parava e tinha a preocupação de que todos ficassem num patamar só (João,
CEC, p. 21).

[...] Teve momentos que o grupo tinha um aluno, por exemplo, Marcos estava com
dificuldades em alguma parte da música, ou então em alguma questão, a gente se
respeitava, esperava o tempo de cada um [...] João, que estava às vezes do lado
dele, ajudava, eu estava do lado de Marta às vezes ajudava e assim por diante.
Thiago também, que estava ao meu lado, também me ajudava: olhe, Pedro, sua mão
está desse jeito, o apoio ergonômico como é que eu posso usar aqui, dessa forma?
Colocava direitinho: olhe, eu uso dessa forma e tal. Já ajudava. Foi assim, a gente
se deu bem nesse tipo (Pedro, CEC, p. 38-39).
148

Os depoimentos acima demonstram que a preocupação mútua também pode ser


trabalhada colaborativamente. A inclusão não precisa partir apenas do professor, como foi
descrito quando os alunos sentiam a necessidade de incluir os colegas que estavam com
alguma dificuldade, ou mesmo quando não estavam conseguindo realizar as tarefas em grupo.
Porém, algumas pesquisas destacam que o trabalho colaborativo deve ser promovido,
estimulado, para que os alunos possam também aprender a trabalhar dessa forma (BRAGA,
2009; TOURINHO, 2003). O envolvimento interpessoal, neste estudo, foi identificado em
diversas maneiras de se relacionar com o outro, inclusive nas relações de comunhão. Para
Reeve (2006), as relações de comunhão são aquelas que envolvem a preocupação com o bem-
estar do outro, tipicamente notórias nas relações de amizade, amor e parentesco. Nessas
relações, os indivíduos são vigilantes para as necessidades do outro, independentemente de
qualquer recompensa ou reciprocidade futura (REEVE, 2006). A relação de comunhão foi
principalmente percebida quando os estudantes compararam essa forma intensa de
envolvimento com o vínculo paterno, em virtude do monitoramento, da preocupação com o
outro e das atitudes assistencialistas entre os participantes:

[...] Na verdade, Thiago sempre me deu força. Sempre parecia com meu pai, sabe?
Olhe está estudando? Não sei o que? Olha, é tal dia? Vamos marcar uma hora?
Vamos fazer isso? Você vá estudar! (Marcos, CEC, p. 21).

[...] Sempre que necessitava de alguma coisa, tava ali para ajudar. Muitas vezes, as
cordas da gente estavam velhas e o professor ajudava a gente, apoiava para colocar
algumas cordas. O colega às vezes precisa ir para tal canto, ia lá um e levava para
o local. Aconteceu dessa forma. Está precisando de ajuda para ir às aulas? A gente
ajudava e sempre se dava um jeito (Pedro, CEC, p. 39).

Apesar de, nesse depoimento, o estudante Marcos haver referenciado apenas Thiago
nas relações de comunhão, é notório, em outros depoimentos, que existiu uma relação de
comunhão entre os demais estudantes, inclusive de outros para com o estudante Marcos, como
ele sempre demonstrou nos seus depoimentos. O assistencialismo expresso no depoimento de
Pedro, na realidade, é uma característica da cultura local do contexto em questão. Dessa
forma, é preciso levar em conta que os contextos sociais e os culturais influenciam as pessoas
em seus modos de se relacionar com o outro.
Os momentos de conflitos sociais durante este estudo foram pouco percebidos nos
depoimentos dos estudantes. Porém, observando essas ocasiões, acredito que eles, de certa
maneira, prejudicaram o relacionamento saudável entre os estudantes. Esses momentos foram
observados principalmente na etapa final do curso, momento em que estava sendo preparado
149

o recital do final do semestre. Esses encontros foram carregados de stress entre os alunos,
principalmente quando era preciso decidir que músicas seriam executadas em grupo.
Entre os poucos depoimentos sobre as tensões ocorridas antes e durante o recital que
finalizou as atividades, destacam-se alguns debates realizados nos fóruns do grupo após o
enceramento do recital: E inevitável perceber que o entrosamento do grupo estava debilitado
desde o último encontro e isso, com certeza, atrapalhou o nosso desempenho enquanto grupo
na apresentação. (Pedro, fórum, 10/07/2011). Marta respondeu assim: É justamente isso que
o grupo está precisando: compromisso uns com os outros, responsabilidade, solidariedade
uns com os outros, união e compreensão [...] (Marta, fórum, 11/07/2011). João disse que: [...]
acho interessante entre nós colegas haver mais harmonia porque está ficando um clima meio
tenso. Então, gostaria de propor uma linguagem mais calma, passar o que o grupo precisa
[...] (João, fórum, 13/07/2011). Para esses estudantes, foi percebido que desentendimentos
ocorridos principalmente nos últimos encontros prejudicaram a performance do repertório em
grupo no recital. Assim, diante de tal situação, esses indivíduos foram capazes de perceber
que a falta de compreensão, solidariedade, paz e comunhão prejudicaram suas necessidades
de pertencimento, necessidade que se mostrou necessária para o rendimento do grupo em
outras atividades durante esse processo investigativo.
Com relação ao ambiente virtual lócus dessa investigação, percebe-se que, mesmo
sendo grande parte das atividades realizadas a distância, os alunos demonstraram que se
sentiram apoiados e vinculados ao grupo nessa modalidade de ensino. Quando questionados
sobre ter recebido apoio no ambiente online, alguns responderam: Com certeza, não
estávamos juntos todos os dias presencialmente, corporalmente, mas estávamos sempre ali,
viajando juntos no mundo online. Então, isso foi de suma importância. Para mim, foi muito
importante (João, CEC, p. 32), e outro respondeu: Sim, com certeza. Senti aquela coisa de
grupo, aquele coisa que você não está só, senti bastante (Marta, CEC, p. 46). Percebe-se que
o sentimento até então apresentado por esses estudantes demonstra que, mesmo não estando
sempre diante de uma interação face a face, os alunos sentiram-se apoiados e pertencendo ao
um grupo nas interações a distância, online.
Para Recuero (2009) uma diferença importante gerada pela internet foi o advento dos
laços sociais mantidos a distância. O desenvolvimento das TIC proporcionou, neste estudo,
uma certa flexibilidade na manutenção dos vínculos sociais dos participantes, uma vez que
permitiu que eles fossem possíveis em diversos canais. Para Recuero (2009), como
consequência, esses novos ambientes interativos promovem certa desterritorialização, gerada
150

pelas diversas ferramentas de comunicação tais como: o Skype, os messengers, e-mails e


chats. Além dos aspectos relacionados às modificações comunicativas surgidas com os
ambientes virtuais, vale salientar que a abordagem coletiva, o modelo educacional online
(Estar Junto Virtual), caracterizada por relações interdependentes para construção social do
conhecimento, e as estratégias utilizadas pelo professor constituíram uma valiosa ferramenta
para sustentar esses processos, principalmente conforme os elementos motivadores
provocados pelos participantes no processo educacional.

5.5.2 Síntese da percepção de Pertencimento

Neste estudo, a interação ocorreu nas diversas ferramentas de interação online (redes
sociais, chats de Messengers, videoconferências). As interações online foram percebidas
como uma maneira mais efetiva de interação quando comparadas com as presenciais.
Comparando suas experiências nas interações presenciais adotadas nas aulas de instrumento,
que ocorreram em grande parte uma vez por semana e por um determinado período de tempo,
os participantes da pesquisa perceberam que o contato cotidiano entre o professor e os colegas
durante esta investigação foi mais eficiente para suprir suas necessidades de interação. Os
fóruns de discussão nas redes sociais da internet ganharam os maiores destaques nos
depoimentos dos estudantes. A análise dos dados revelou que, quando as interações
assíncronas podiam reunir a expressão verbal aos recursos audiovisuais, elas eram
consideradas mais significativas para o aprendizado prático do instrumento. Na presente
investigação, a diversidade de recursos de comunicação que o professor e os alunos tiveram à
disposição visava tornar as interações mais ricas e efetivas entre os participantes. Nesse
sentido, a colaboração das redes sociais e dos fóruns de discussão entre professor e alunos e
alunos entre si receberam destaque como ferramentas assíncronas importantes para apoiar os
alunos nas suas necessidades de pertencimento. Assim, as interações síncronas e assíncronas,
de forma complexa e complementar, foram capazes de auxiliar em geral as necessidades de
vínculo social entre os participantes.
Aspectos colaborativos e cooperativos foram percebidos nas interações online. Os
colaborativos foram principalmente percebidos nos momentos das videoconferências, nos
quais todos estavam envolvidos para resolver os mesmos problemas em grupo. Os
cooperativos foram percebidos, sobretudo, nas interações síncronas informais, que aconteciam
nos chats de Mensegers, quando os estudantes se encontravam online e se ajudavam nas suas
151

dificuldades. O pertencimento foi mais percebido quando foi externada a preocupação mútua
nos fóruns, nas redes sociais e nos momentos das videoconferências. Essas interações foram
relacionadas com o sentimento de pertencer a um grupo. Entre os principais fatores que
prejudicaram a necessidade de pertencimento dos estudantes nas interações online, estão: a
interação limitada com alguns pares, uso do e-mail para tirar dúvidas relacionadas às
atividades práticas e os desentendimentos ocorridos em algumas atividades. Em geral, os
participantes que manifestaram formas mais autodeterminadas de motivação ressaltaram a
necessidade de estarem conectados aos pares e se reuniam com mais frequência para
estudarem no ambiente virtual. Os estudantes que apresentaram formas menos
autodeterminadas de motivação perceberam-se pouco eficazes na prática musical em grupo,
prejudicando tanto o seu vínculo social quanto suas necessidades de autonomia.
Para este estudo, as estratégias motivacionais, aliadas às práticas didáticas online,
foram os grandes desafios lançados para o processo da aprendizagem autodeterminada. O
processo coletivo da construção do conhecimento foi significativo para a percepção de
pertencimento, somado ao contexto cultural e à utilização das ferramentas digitais online para
manter os participantes vinculados mesmo quando eles estavam separados a uma grande
distância durante o estudo.
No próximo capítulo, serão avaliados a metodologia empregada, o uso de algumas
técnicas de coleta, recursos e materiais didáticos empregados no presente estudo.
152

6. AVALIAÇÃO

Planejamento, ação e avaliação são processos constantes numa pesquisa-ação. A


avaliação pode acontecer em diferentes momentos para situar o problema em questão e
possíveis retroações deste (BARBIER, 2007). Avaliação geralmente é feita em uma etapa
posterior à da realização do curso. Mesmo tendo sido planejada uma avaliação para o
momento posterior ao da realização deste estudo, ela já teve início no decorrer da ação,
promovendo reflexões que permitiram a retroação sobre os problemas identificados. Mesmo
assim, a avaliação também foi considerada em uma etapa posterior à da implantação da ação,
principalmente para que pudesse ser avaliada cada etapa (SCHÖN, 2000).
A reflexão e a avaliação foram constantes e levaram à manutenção ou à modificação
das ações. Cada fase da pesquisa exigiu a reflexão e a avaliação antes e depois da ação. Nesse
sentido, ajudaram a tecer considerações sobre a satisfação das necessidades psicológicas e a
flexibilidade da pedagogia de ensino. Com a metodologia utilizada, também foi possível
reestudar o método em função das informações recebidas e dos acontecimentos imprevisíveis,
inclusive no âmbito da estrutura de ensino e dos diversos recursos tecnológicos empregados
durante o estudo.
Com essa análise, pretendeu-se, mesmo durante a ação, refletir sobre novas
ferramentas de interação que pudessem auxiliar nas questões desta pesquisa. O processo de
análise reflexiva primeiramente se baseou nas discussões realizadas em um fórum de
discussão entre os participantes e na intuição do pesquisador para avaliar os caminhos do
fenômeno estudado. Em seguida, essas análises aconteceram em diferentes etapas emergentes
explicadas a seguir.

6.1. AVALIAÇÃO DOS DIÁLOGOS E FERRAMENTAS DE INTERAÇÃO

Inicialmente, as videoconferências e os fóruns de discussão seriam os meios de


comunicação que dariam conta das demandas interativas nas aulas a distância. Mesmo assim,
foi criado um site, que viabilizou uma versão online do material impresso e do DVD do curso,
bem como, no decorrer das atividades, serviu para ampliar as possibilidades com outros
recursos disponibilizados na internet gratuitamente (vídeos do Youtube, sites, blogs,
afinadores e metrônomos online entre outros).
No decorrer das aulas, utilizei ainda um MacBook Pro, porque essa máquina possui
um processador com melhor desempenho que os computadores utilizados. A banda larga
153

disponibilizada inicialmente no IFRN era de seis Mbps47. Porém, fomos48 surpreendidos, no


início das aulas, com a danificação da rede lógica da instituição, no mês de abril de 2011, o
que comprometeu significativamente o áudio nas videoconferências. Já onde as aulas foram
transmitidas, a banda larga disponível era de cinco Mbps.
Nas videoconferências, utilizei uma WebCam HD na transmissão do professor para
a turma. Já a câmera utilizada no IFRN foi a EVID30 NTSC da Sony, uma câmera
profissional para videoconferência com alta definição. A WebCam HD mostrou-se eficiente
na qualidade do som, mas, por outro lado, apresentou limitações quanto ao número de pessoas
que permitiu visualizar. Apesar dessa limitação, ela mostrou-se eficiente por ser utilizada
apenas para transmitir as imagens do professor, o que exigiu apenas a visualização deste e do
violão. Já a câmera da Sony, que filmava todos os alunos ao mesmo tempo, possibilitou captar
imagens da sala em quase toda a sua amplitude. Além do mais, o seu recurso de zoom
aproximava os detalhes de que o professor precisava para observar melhor no transcorrer da
aula. A operação da filmadora para a gravação das aulas, inclusive do recurso do zoom, foi
realizada, por controle remoto, pelo estagiário do curso.
As videoconferências por meio do freeware Skype ofereceu uma boa resposta de
áudio e vídeo. Nos dias atuais, essa ferramenta apresenta a visualização simultânea de dois ou
mais ambientes. Além de ver quem estava do outro lado da conferência, o Skype permitiu
também visualizar como minha própria imagem estava sendo transmitida.
As interações online ocorreram de maneiras síncronas e assíncronas. A comunicação
síncrona, por meio das videoconferências, buscou priorizar principalmente os aspectos
técnicos inerentes à natureza prática da disciplina. Ainda realizamos a comunicação por meio
de chats coletivos e individuais. Essas atividades aconteceram principalmente quando não foi
possível realizar a videoconferência programada durante a semana, devido a problemas
técnicos citados anteriormente.
Nesse sentido, buscou-se realizar discussões em grupo/e ou individual a fim de sanar
dúvidas relacionadas às atividades práticas. Antes da realização coletiva dos chats síncronos,
foi enviado e-mail para os fóruns de discussão, contendo orientações, data e programação
dessas atividades. As disponibilidades, individualmente, eram informadas de maneira
49
assíncrona por e-mail ou síncronas, via chat de Messenger . Os conteúdos dos chats foram

47
Mbps – Megabytes por segundo.
48
Nessa etapa avaliativa, utilizo por vezes a primeira pessoa do plural para indicar as decisões que foram
tomadas em conjunto.
49
Esses encontros aconteceram principalmente no Windows Live Messenger, por esse chat possibilitar o envio
de vídeos capturados pela webcam, facilitando as dúvidas dos estudantes.
154

armazenados na íntegra em um arquivo de texto. Esse arquivo foi posteriormente analisado,


buscando priorizar os aspectos relacionados às manifestações das necessidades psicológicas
básicas, à aprendizagem dos conteúdos e à influência das ferramentas de interação nos
processo motivacionais.
O fórum de discussão caracterizou as atividades assíncronas neste estudo. Por meio
desse canal, foi possível promover discussões acerca do material didático, das dúvidas nas
lições, do curso, da metodologia empregada, bem como estabelecer um fórum com críticas/
sugestões da execução entre os participantes. Também foram propostas atividades pelos
próprios alunos, tais como: elaboração de arranjos em grupo e apreciação de vídeos livres
disponíveis na internet.
Todas as atividades no fórum foram guardadas para análise, na qual se buscou
observar as manifestações das necessidades psicológicas básicas, o nível de participação dos
estudantes, suas percepções sobre o curso e sobre as ferramentas de interação online, bem
como sobre a discussão acerca dos conteúdos musicais estudados em cada lição. Esse foi um
importante meio utilizado para os professores e os alunos refletirem e avaliarem os diversos
aspectos para a manutenção e a modificação das tomadas de decisões neste estudo,
principalmente os sentimentos dos alunos para o suprimento das necessidades psicológicas
básicas foco desse estudo. Dessa maneira, foi estabelecido um contrato aberto, que
possibilitou a participação ativa de todos os estudantes.
Entre as discussões levantadas para a reflexão nesse canal, estão: o plano de curso; a
possibilidade de adaptação da abordagem coletiva na modalidade a distância no contexto
universitário; o papel desempenhado pelo material didático; as possíveis soluções das lições; a
execução gravada em vídeo para posterior avaliação crítica, dentre outras.
Para proceder a essa análise-reflexiva em conjunto, dialogávamos principalmente no
fórum de grupo fechado do google grupos, denominado “Oficina de violão a distância.” Foi
também utilizado o chat Windows Live Messenger para algumas reflexões em conjunto. Uma
vantagem importante dessa forma de reflexão é que todas as considerações, seja nas
ferramentas síncronas (Windows Live Messenger), seja nas assíncronas (fóruns), puderam ser
armazenadas, servindo, assim, a uma dupla maneira de reflexão, quer durante a ação, quer
após ela.
Esse exercício foi também importante porque serviu tanto para a reflexão sobre a
ação dos docentes, quanto para reflexão-avaliação dos sentimentos dos próprios estudantes
em relação ao foco deste estudo. Esses diálogos foram fundamentais para se criar um espaço
155

de reflexão e construção colaborativas do conhecimento. Nessa pesquisa, a participação se


configurou como colaborativa, pois todos os participantes se envolveram tanto na ação quanto
nas reflexões para a manutenção das tarefas a serem cumpridas.
Para que esses diálogos fossem mais inteligíveis, fiz adaptações para apresentá-los
tanto aqui quanto nas discussões dos dados posteriormente. Com base nesses diálogos, em
diferentes momentos e espaços, foi produzida uma síntese de tudo o que havia sido fruto de
nossa reflexão.
Apesar do bom funcionamento dos fóruns de discussão realizados em um grupo
fechado no googlegroups, sentimos a necessidade de usar uma rede social da internet, por
meio da qual pudéssemos, de maneira mais dinâmica, trocar o envio de áudios e vídeos das
músicas, sobretudo em virtude dos problemas técnicos ocorridos com a rede lógica do IFRN,
o que dificultou, em algumas videoconferências, a qualidade do áudio.
Para a pesquisa, o grande desafio tecnológico nas videoconferências foi a qualidade
do áudio. Nesse momento, decidimos integrar uma rede social da internet ao site do curso
para envio de arquivos de vídeos. Nesse sentido, optamos por usar a rede social facebook,
pelo fato de ela oferecer os recursos de que precisávamos naquele momento. Também foi
percebido que os participantes desta pesquisa já estavam se relacionando por essa rede, até
mesmo para obter informações acerca do curso.
Inicialmente, foram utilizados recursos digitais dos próprios estudantes (câmeras de
celulares, MP3 player, câmeras digitais). Então, percebendo que a qualidade dos áudios
desses recursos não era suficiente para as análises, decidi então disponibilizar algumas
WebCams, com boa definição de vídeo HD e boa qualidade de captação sonora, bem como
uma Handycam (3CCD) de alta definição para que os estudantes pudessem enviar os vídeos
em arquivos com extensão FLV50 para o grupo51 do facebook denominado “Oficina de
Violão a Distância”
Nossa dificuldade, nas primeiras videoconferências, ficou muito bem evidenciada
nas considerações deste estudante: Acho que aula por videoconferência exige uma conexão
muito boa e equipamentos de ponta. Já o material (impresso e DVD) com o suporte via MSN
e facebook dá para orientar bem aos alunos (Thiago, fórum, 02/06/2011). Após o
restabelecimento com a mudança do local das aulas, pudemos notar uma melhora significativa
na conexão. Todavia, mesmo com essa mudança, o depoimento do estudante abaixo mostrou

50
Abreviação de Flash Vídeo. Esse formato é muito utilizado nos vídeos do Youtube.
51
Esse grupo era fechado, a fim de que somente os membros podiam interagir e visualizar os vídeos.
156

que as redes sociais, dentre todas as formas de comunicação, foram as que mais despertaram
sua atenção:

A respeito das formas de comunicação (FÓRUM, FACEBOOK, MSN e


videoconferência), gosto bastante de todas as formas, mas estou percebendo a
maior utilidade da Rede social FACEBOOK. Ela consegue reunir um bate-papo
estilo MSN, uma discussão estilo fórum e ainda viabilizar um vídeo-mensagem
similar às videoconferências, diferenciando apenas da realidade temporal, pois as
conferências são em tempo real. Mas com a opção de envio de vídeo no
FACEBOOK, posso tirar as dúvidas que não tirei nas videoconferências e ainda
demonstrar ao professor meu rendimento e etc. Creio que apenas a
videoconferência não seria suficiente, da mesma forma em que ela não pode ser
abolida, por enquanto, de uma modalidade de ensino a distância, pois é ela que
aproxima de certa forma o professor do aluno e consegue diminuir a lacuna
temporal da não presença corporal, olho no olho, necessária a qualquer processo
de ensino e aprendizagem. Por essa ótica, é imprescindível, de acordo com as
minhas experiências vividas durante o curso, que a rede social FACEBOOK, unida
às videoconferências, são meios imprescindíveis para a comunicação e a relação
professor e aluno, sendo as que mais gosto e as que mais me agradam (Pedro,
fórum, 07/06/2001).

Percebe-se, no depoimento desse estudante, que a rede social facebook poderia


substituir os fóruns via e-mail, pois, além de possibilitar a mensagem textual, essa rede
permitiu, com mais praticidade, a troca de arquivos de vídeo. O estudante ainda fez uma
consideração significativa sobre a utilização das videoconferências. Para ele, a
videoconferência sozinha não garantiria uma boa comunicação. Acredito que a danificação da
rede lógica induziu o depoimento desse estudante, porque essa discussão no fórum aconteceu
devido ao transtorno causado pelos problemas técnicos operacionais. Assim, foi preciso
buscar, em conjunto, uma solução para o transtorno. Para isso, mesmo com alunos
universitários, para os quais, inicialmente, pensei que apenas a comunicação via e-mail seria
suficiente, as redes sociais da internet se mostraram atraentes. É importante considerar que,
neste estudo, as redes sociais, em relação a outros contextos, tiveram destaque, devido ao
caráter prático do estudo instrumental.
Notou-se que os participantes da presente pesquisa foram fundamentais tanto nos
processos, na ação, quanto na reflexão para a definição dos problemas em questão. A
participação ativa dos estudantes, o diálogo com seus pares e a valorização dos discursos
comuns desses atores garantiram um maior engajamento nesta pesquisa. Apesar de a ação
estar próxima da realidade de grande parte dos jovens na atualidade, esta pesquisa contribuiu
para um maior conhecimento de outras maneiras de aprender e solucionar os problemas
enfrentados nesse modelo de pesquisa.
157

6.2. AVALIAÇÃO DO ENCONTRO PRESENCIAL

A atividade presencial constou de um encontro, com duração de duas horas,


correspondendo a 6,6 % da carga horária total da disciplina. Esse encontro deu-se na metade
do número das aulas ministradas, com os seguintes objetivos: tentar dirimir as dúvidas
relacionadas às lições até então estudadas, sobretudo as mais difíceis de serem sanadas
virtualmente; refletir sobre a metodologia utilizada nas aulas; discutir e implementar novas
ferramentas para a interação online. Todas as demais atividades aconteceram online, por
meio de recursos síncronos (videoconferências, chats) e assíncronos, como os fóruns de
discussão e redes sociais da internet. Os dados desse encontro, como das demais atividades
síncronas, foram registrados em um diário de campo, complementado com gravações em
vídeo, para posterior análise.
Esse encontro foi importante, principalmente, para confrontar alguns aspectos que só
foram possíveis de ser aferidos presencialmente. A sonoridade digital extraída do violão é um
desses aspectos. Apesar de os arquivos de vídeos enviados terem sido satisfatórios para as
análises, a reprodução acústica do som só foi possível, nesta pesquisa, no encontro presencial.
Desse modo, estabelecer encontros presenciais mesmo para a modalidade a distância no
ensino de instrumento musical, no formato desta pesquisa, ainda se faz necessário. É preciso
esclarecer que o design deste estudo foi pensado para funcionar com a tecnologia disponível
nas instituições envolvidas. No entanto, em relação à possibilidade da reprodução acústica do
som, outros projetos, como, por exemplo, o projeto MusicPath, desenvolvido no Canadá
desde 2003, abriu o caminho para as pesquisas no ensino de piano, satisfazendo esse requisito
tão importante para os estudos do piano nessa modalidade de ensino. A partir dessa iniciativa,
outras instituições no mundo vêm aderindo e aprimorando essa tecnologia nos seus cursos de
música a distância.
Outros aspectos considerados nesse encontro foram os ligados à técnica e à postura
instrumental. Algumas situações, quando se ensina um instrumento como o violão, é preciso
vivenciar junto com o aluno, tocando-o para que ele possa realizar o que não estava sendo
possível, servindo de modelo. Nesse sentido, o encontro presencial foi importante para
verificar e dirimir algumas dúvidas cuja solução online não havia sido possível, como, por
exemplo, a colocação do dedo polegar da mão esquerda no braço do violão. Por fim, não
menos importante do que os demais aspectos, algumas estratégias nesse encontro foram de
suma importância para a percepção de autonomia no presente estudo. Essa percepção foi
experimentada quando o aluno Marcos tentava executar um estudo de ligados e ficou muito
158

tenso. Então, o professor o interrompeu e o pediu que ele executasse qualquer música de sua
preferência. No mesmo instante, Marcos surpreendeu a turma com uma música de ligados
bem mais complexa que a exigida na lição. Assim, foi percebido que o professor estava
interessado realmente na aprendizagem dos ligados e não na exigência do cumprimento da
tarefa. Apesar de os alunos terem ficado mais tensos com minha presença física, foi possível
estabelecer um ambiente propício à aprendizagem durante esse único encontro presencial.

6.3. AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO

Mesmo com todas as transformações tecnológicas pela quais a EAD passou, o


material impresso ainda se faz presente na maioria dos programas dessa modalidade nos dias
atuais (PALHARES, 2009; FERNANDEZ, 2009). Atualmente, é possível dispensar a
tradicional estante de partituras e o livro impresso para estudar com tablet PC’s para
músicos52. Porém, dentre os recursos utilizados na escolha do material didático, optei também
pelo material impresso, em função das dificuldades de acesso à internet por parte de alguns
estudantes que não moram na mesma cidade onde eles estudam e onde estão sendo realizadas
as videoconferências. Outro problema considerado foi o fato de nem todos os estudantes
possuírem um computador pessoal para organizar os seus horários de estudos, não sendo
possível, portanto, somente usar o computador como ferramenta para o estudo dos textos e
partituras musicais. Para alguns dos participantes do curso, o material impresso e o DVD
foram recursos bastante aproveitados, como indicam os depoimentos a seguir:

Acho bastante interessante um vídeo seguido duma apostila (ou vice-versa). Tá


sendo muito proveitoso para mim (Marcos, fórum 23/05/2011).

Acho muito proveitoso sempre ter um vídeo da peça estudada. Assim podemos ter
uma noção geral da música e observar várias interpretações (Marta, fórum
19/05/2011).

Se tratando do material didático percebo a importância do kit (DVD, Apostila) [...]


Consegui, através dos materiais, organizar meus conhecimentos prévios sobre o
instrumento e com certeza me ajuda a pensar como devo sistematizar as minhas
aulas de violão (Pedro, fórum 20/05/2011).

Gostei muito do material impresso, o site, o suporte via MSN e Facebook... Mas o
DVD está muito bom, muito bom mesmo! (Thiago, 21/05/2011).

52
Modelo de tablet: http://www.youtube.com/watch?v=F_QxZJERPI8&feature=related
159

Para esses estudantes, o material impresso e a mídia em DVD não foram


subutilizados pela disponibilidade desses materiais no site. O site acabou exercendo outras
importantes funções para as aulas a distância, conforme pode ser percebido em um
comentário de um estudante, durante o fórum de discussão sobre os materiais didáticos:

Comentando o site, ele me dá mais mobilidade, pois certa vez estava no meu
emprego e não tinha a apostila por perto, mas consegui acessar a apostila pelo
celular, além de termos como um norte os exemplos de vídeos dos grandes mestres
contemporâneos do violão (Pedro, CEC, p. 20).

Segundo o comentário acima, o site também foi bastante útil, considerando-se suas
possibilidades móveis de utilização. Dessa forma, pudemos apontar para outra possibilidade
de aprendizagem, a aprendizagem móvel, aprendizagem em movimento, mais conhecida
como mobile learning ou m-learning. Essa possibilidade está sendo investigada com o uso de
telefones celulares, mp3, dentre outros dispositivos portáteis, como um elemento de
modificação nos processos de aprendizagem em diversas partes do mundo (RAMOS, 2011;
ITO; OKABE, 2010). Nesse sentido, apropriei-me também dessa ferramenta para postar
mensagens instrutivas, informativas, dentre outras, em relação às atividades.

6.4. AVALIAÇÃO DAS ENTREVISTAS

Foram avaliadas, nessa etapa, as entrevistas diagnósticas, que antecederam o início


das aulas, e as centralizadas na questão de pesquisa, que ocorreram durante e após os
enceramentos das atividades. Nas primeiras, foi percebido que o curso de Licenciatura em
Música da UERN não ofereceu muitas possibilidades aos alunos deste estudo para a escolha
em relação às práticas instrumentais. A turma de Prática Instrumental em violão foi composta,
na sua maioria, por alunos que não tiveram a oportunidade de escolher o instrumento
realmente almejado para sua formação. Mesmo não tendo a intenção de verificar o Lócus de
Causalidade (LCP) percebido na primeira entrevista, esse dado foi revelado quando foi
questionada a escolha da prática de violão no ensino superior. Desse modo, as questões, nas
entrevistas diagnósticas, interrelacionaram-se com as entrevistas centralizadas na questão da
pesquisa. As demais questões que nortearam a elaboração do material didático nessas
primeiras entrevistas tiveram um papel fundamental na valorização do conhecimento prévio
dos participantes.
Percebi, na relação de perguntas e respostas, sutilezas que, de certa forma,
implicaram para o entendimento tanto do pesquisador quanto dos estudantes pesquisados.
160

Dentre elas, destaca-se o fato de as questões surgirem em diferentes momentos da


investigação. Segundo Strauss e Corbi (2008), quando as investigações estão na fase inicial,
os pesquisadores muitas vezes estão preocupados em localizar o foco central da pesquisa.
As questões centralizadas na questão de pesquisa foram fundamentais para o
conhecimento das percepções dos participantes sobre a satisfação de suas necessidades
psicológicas básicas. Foi percebido que a ordem das questões centrais aplicadas neste estudo,
da forma como elas foram agrupadas, geraram repetições nas respostas seguintes. É possível
que essas repetições tenham ocorrido em virtude das características subjetivas de cada
necessidade implícita nas questões. Contudo, a possibilidade da estrutura aberta das
entrevistas semiestruturadas possibilitou esclarecer as sutilezas implícitas na subjetividade das
questões, a fim de esclarecer e capturar os sentimentos dos estudantes acerca de suas
necessidades psicológicas básicas.

6.5. AVALIAÇÃO DAS OBSERVAÇÕES NAS VIDEOCONFERÊNCIAS

Depois de organizar os dados dos diálogos, ferramentas de interação e das


entrevistas, foi realizada uma espécie de linha do tempo para cada estudante acerca dos
momentos das aulas por videoconferência, com o objetivo de verificar como as necessidades
psicológicas básicas foram se manifestando ao longo da interação. Essas observações foram
primeiramente registradas em um diário de campo após cada videoconferência realizada, bem
como em momentos posteriores, devido às gravações em vídeo de todos esses encontros.
Esses dados foram triangulados com os demais dados recolhidos, explorando-se as diferenças
temporais e espaciais.
Com esse modelo de análise, foi possível constatar algumas expressões
comportamentais cuja percepção não era possível a partir das outras fontes de coleta de dados
deste estudo. Também se percebeu que nem sempre o que os estudantes falaram sobre seus
sentimentos equivalia ao que suas expressões comportamentais sugeriam. Por exemplo,
alguns estudantes relataram que não se sentiam pressionados nas aulas; porém, foi observado
que sempre ficavam ansiosos quando a atividade sugeria que eles tocassem individualmente
para seus pares. Essa ansiedade, algumas vezes, foi realçada pelas expressões faciais,
coloração da pele alterada e comportamento agressivo. Os conflitos existentes entre os
estudantes só puderam ser registrados e analisados por meio da observação das
videoconferências. Apesar de alguns relatos terem sido influenciados por momentos de
discordância entre os participantes, eles eram sempre ditos de forma indireta, assim, causando
161

dificuldades interpretativas. Assim, as manifestações das necessidades psicológicas básicas


foram explicitadas nas observações das videoconferências de maneira oral, em que os
estudantes sempre verbalizavam suas preferências interpretativas, entre outros aspectos
peculiares, comportamental e fisiológica. Essas maneiras de manifestação foram de suma
importância para o cruzamento com as informações das entrevistas e dos diálogos registrados
nas ferramentas de interação online para compreender as necessidades psicológicas desses
estudantes.
162

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As tecnologias de informação e comunicação (TIC) estão sendo, cada vez mais,


utilizadas no século XXI, causando, dessa forma, transformações na sociedade. No estágio do
desenvolvimento tecnológico em que foi desenvolvido este estudo, existe uma crescente troca
de informações por meio de dispositivos digitais. Todas essas ferramentas fazem parte da vida
de uma significativa parcela da população, seja de incluídos no acesso às TIC, seja de
excluídos desse acesso. A exclusão digital ainda se configura como um desafio da exclusão
social mais ampla. Especificamente para a área de música, o advento da internet ampliou as
possibilidades de acesso e fruição, além de produção musical de maneira diversificada, por
meio de rádios online, dos softwares de compartilhamento de arquivos e dos sites para a
difusão de áudio e vídeo, dentre outros. O ambiente online também ampliou as possibilidades
práticas da aprendizagem musical, pois é crescente a criação de programas educacionais em
que professores organizam cursos de música com as mais variadas ferramentas tecnológicas53
disponíveis.
Nesses tempos, repletos de inovações tecnológicas, é que foi idealizada a presente
investigação, visando aproximar as possibilidades interativas das TIC dos desafios
metodológicos em um contexto acadêmico de aprendizagem musical. Com o presente estudo,
foram ampliadas as discussões da aprendizagem musical online, especificamente sobre os
processos motivacionais, sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminação na formação de
estudantes universitários em música. Este estudo buscou responder às seguintes questões:
Quais as percepções dos estudantes de uma licenciatura em Música sobre as necessidades
psicológicas básicas de autonomia, competência e pertencimento em aulas de violão a
distância, online? Que interações online em aulas de violão a distância podem promover a
satisfação de necessidades psicológicas básicas de estudantes em uma licenciatura em
Música?
Para responder a essas questões, a metodologia empregada foi a pesquisa-ação
educacional (MORIN, 2004), complementada por abordagens contemporâneas da modalidade
a distância, online. As principais técnicas de coleta de dados utilizadas foram a observação
participante e a entrevista semiestruturada. No entanto, a natureza dos aspectos pretendidos
neste estudo também requereu a adoção de diversos instrumentos de registros dos dados
(fóruns de discussão online, redes sociais da internet e chats de Messengers) para
53
Softwares como o Skype e MSN, assim como blogs, podcasts, fórum e lista de discussões a fim de disseminar
conteúdos musicais diversos.
163

complementar as informações. Desse modo, neste trabalho, busquei investigar os processos


motivacionais dos estudantes nas interações online em aulas de violão a distância em um
curso de licenciatura em Música, sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminação. Como
objetivos específicos, neste estudo, foram analisadas as percepções das necessidades de
autonomia, competência e pertencimento dos estudantes em interações online; identificados
os tipos de motivação de estudantes para aprender violão em interações online; discutidas
influências socioambientais sobre a motivação dos estudantes; verificadas manifestações de
necessidades psicológicas básicas em interações síncronas e assíncronas e destacadas as
ferramentas de interações online que auxiliaram no processo educacional a distância.
A análise dos dados, durante esta investigação, apontou para a ocorrência de múltiplos
fatores nos processos motivacionais para aprender violão na modalidade a distância, online.
Os resultados apontaram que a principal motivação dos estudantes não era a intrínseca. A
motivação para aprender violão a distância foi considerada complexa (em alguns casos, certos
fatores ambientais promoveram a motivação para aprender e, em outros, prejudicaram),
multifacetada (estudantes orientados por múltiplos tipos de motivação) e sensível a
determinadas situações. Os estudantes estavam motivados, sobretudo, extrinsecamente, por
regulação identificada e integrada (motivação autônoma).
De modo geral, as interações online propostas neste estudo puderam satisfazer às
necessidades de competência dos estudantes. Porém, em certa medida, a competência dos
estudantes foi prejudicada por alguns fatores, tais como: exposição e falta de experiência
prévia para realizar tarefas em público e a percepção de que algumas tarefas foram
excessivamente desafiadoras. O processo coletivo da construção do conhecimento foi
significativo para a percepção de pertencimento, somado ao contexto cultural e à utilização
das ferramentas de interação online para manter os participantes vinculados durante a
pesquisa.
Com o presente estudo, foram identificadas diversas ferramentas de comunicação
síncrona e assíncrona para ampliar as possibilidades interativas entre os participantes. As
interações síncronas isoladas não foram consideradas suficientes para promover a satisfação
das necessidades psicológicas básicas dos participantes. Porém, foi considerada
imprescindível, porque, de certa forma, aproximou todos os participantes e conseguiu
diminuir a necessidade do contato presencial. De modo geral, as interações assíncronas foram
consideradas significativas. Quando estas associavam as expressões verbais aos recursos
audiovisuais, foram consideradas mais significativas para o aprendizado do violão. Assim,
164

defendo que as interações síncronas e assíncronas, da forma complexa e complementar


proposta neste estudo, puderam promover a satisfação das necessidades psicológicas básicas
dos estudantes.
Saliento que as plataformas usualmente utilizadas nos cursos a distância não o foram
neste estudo, porque não foram pensadas para atender às especificidades da aprendizagem de
um instrumento musical a distância. No entanto, acredito que, em algumas atividades
musicais menos práticas, elas poderiam ser bastante eficazes. Outro fator revelado nesta
pesquisa é que as redes sociais da internet proporcionaram uma boa interação social virtual
dos participantes. Apesar de não analisar a qualidade dessas redes, foi possível constatar as
possibilidades de sua utilização como rede social capaz de gerar o sentimento de
pertencimento nas relações para aprendizagem, algo que poucos ambientes virtuais têm
explorado. Em vez disso, grande parte dos ambientes virtuais de aprendizagem não promove
comunidades virtuais de colaboração (livres e criadas pelos interagentes). Nesse sentido, essas
redes sociais não foram utilizadas neste estudo para ditar como as relações sociais dos
participantes se transformariam e sim para entender as mudanças influenciadas pelas
tecnologias já utilizadas por aqueles. Como as redes sociais estão cada vez mais integrando o
pleno uso das TIC, seria importante que pesquisadores na área de Educação Musical
pudessem estudar e entender o que elas podem representar para os campos teórico e prático,
em contextos educativos musicais, inclusive nos aspectos legais de suas aplicações em
instituições formais de ensino. Portanto, os resultados deste estudo indicam a necessidade de
se problematizar mais os ambientes virtuais destinados especificamente ao aprendizado
musical, sobretudo às atividades mais práticas típicas desta pesquisa, porque o ensino a
distância de instrumentos musicais não acontece apenas com a leitura de textos.
Grande parte dos estudos brasileiros sobre as possibilidades de recursos tecnológicos
para a Educação Musical, na primeira metade do presente século, esteve voltada para o
desenvolvimento de softwares e ferramentas de interação. Somente nos últimos anos,
surgiram as primeiras pesquisas no Brasil sobre as pedagogias musicais online e o ensino
formal de instrumentos musicais a distância, online. Concordo com esses trabalhos, que
confirmaram possibilidades do ensino e da aprendizagem musical mediada por computador e
que enxergaram, no modelo educacional online, benefícios para o sistema educacional em
cidades do interior ou mesmo para as zonas urbanas das grandes cidades, que deixam de
contar com professores por causa de dificuldades de transporte ou de tempo para se deslocar a
grandes distâncias regularmente. Também concordo com os estudos que acreditam na
165

possibilidade do aprendizado colaborativo entre turmas e professores de diferentes espaços


educacionais, por meio de ferramentas de comunicação síncronas e assíncronas, em que já
funcionem cursos presenciais e que disponham de estrutura tecnológica suficiente.
Em contextos de aprendizagem presencial, alguns trabalhos já confirmam que
investigar o potencial da TAD de maneira holística foi importante, porque eles descobriram
que os altos níveis de motivação autodeterminada (como a regulação identificada e integrada)
podem agir positivamente contra os efeitos mais nocivos das restrições externas. No entanto,
os aspectos motivacionais no ensino e na aprendizagem online constituem um assunto pouco
problematizado na literatura da área de Educação Musical a distância. Mesmo com o
crescente número de trabalhos que, nos últimos anos, abordam os limites e as possibilidades
do aprendizado musical mediado pelos ambientes virtuais de aprendizagem, não foi
encontrado, na revisão de literatura feita para esta tese, nenhum trabalho acadêmico que
abordasse a motivação musical em ambientes virtuais sob a perspectiva da Teoria da
Autodeterminação, bem como que definisse os limites e as potencialidades das redes sociais
da internet para ensinar e aprender música nesses ambientes. Portanto, este estudo traz, para a
área da Educação Musical a Distância, uma perspectiva teórica contemporânea da motivação
para o campo musical antes só comprovada na modalidade presencial, bem como das
possibilidades da interação mediada pelas TIC, também pouco explorada no campo da
Educação Musical presencial e a Distância.
Diferentemente das perspectivas educacionais que mostram os alunos virtuais como
intrinsecamente motivados (CERCONE, 2008; STYER, 2007), esta pesquisa mostrou que as
motivações dos alunos para aprender violão a distância foram consideradas sobretudo
extrínsecas identificada e integrada (motivação autônoma ou autodeterminada). Portanto, os
dados coletados e analisados nesta tese contribuem para uma compreensão dos processos
motivacionais em aulas de violão a distância para os ambientes de ensino e aprendizagem
online em cursos superiores de licenciatura em Música. Assim, para que as discussões possam
avançar, futuros trabalhos poderiam investigar a relação entre o desenvolvimento musical dos
estudantes e a satisfação percebida de necessidades psicológicas básicas em ambientes
virtuais de aprendizagem musical.
Apesar de não ter sido o foco deste estudo, foi observada a ocorrência efetiva da
aprendizagem musical, tanto a partir do desempenho dos estudantes, avaliados pelos
professores por meio de critérios de desenvolvimento musical proposto por Swanwick (1988),
quanto pela análise dos processos motivacionais nas interações ocorridas. E mesmo com as
166

limitações tecnológicas impostas neste estudo, foi possível manter uma boa interação entre os
participantes, principalmente por meio da integração de ferramentas digitais durante as aulas.
Nessas interações, foram identificadas, com frequência, discussões centradas nos temas
abordados em cada aula da disciplina, contribuindo para o aproveitamento do conhecimento
musical estudado.
Considero importante discutir a criação de ambientes virtuais específicos para a
aprendizagem musical, mais estruturados com outros mais personalizados e participativos
(blogs com redes sociais integradas, recursos audiovisuais compartilhados), em uma
sociedade cada vez mais conectada em redes, na qual aumentam as possibilidades do
aprendizado com as tecnologias digitais, livres e móveis. Os ambientes com estrutura fechada
poderiam trazer a sequência e o registro de cada etapa da aprendizagem. Já as estruturas
abertas contemplariam a colaboração e as peculiaridades de cada indivíduo. Neste estudo, a
combinação dessas estruturas de maneira integrada permitiu a necessária organização dos
processos educativos musicais com a flexibilização da adaptação de cada estudante durante
esta pesquisa. Dessa maneira, trouxe essas ideias para discussão do aprendizado do violão na
modalidade a distância. Assim, considerei que as diversificadas formas de interação a
distância propostas neste estudo puderam satisfazer as necessidades psicológicas básicas de
competência, pertencimento e autonomia dos estudantes, bem como possibilitar uma
alternativa viável e efetiva para a formação musical desses estudantes.
Desse modo, acredito que esta pesquisa possa fomentar discussões sobre as
possibilidades de uma integração bem maior entre o presencial e o virtual nos cursos
presencias das universidades. Acredito que seja importante rediscutir o limite de 20% vigente
na Lei de Diretrizes e Bases (LDB, 9394, de 20 de dezembro de 1996) no ensino superior
brasileiro. Os cursos nas universidades brasileiras poderiam flexibilizar seus currículos até
chegarem a uma maior carga horária para as aulas a distância em relação às presenciais.
Assim, cada instituição definiria qual seria o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual,
de acordo com a formação dos seus docentes e com a infraestrutura disponibilizada, dentre
outras especificidades do conhecimento. Essas inovações educacionais poderiam manter
estudantes por menos tempo em salas de aula convencionais, permitindo assim maior
rotatividade destes nos mesmos espaços físicos.
Desse modo, os espaços físicos nas universidades e/ou em outras instituições
educacionais poderiam ser otimizados. Acredito que essas ideias podem ser ampliadas para
além dos cursos superiores em que vigora a legislação que define as diretrizes nacionais. Os
167

cursos livres, técnicos e de educação básica poderiam ser mais beneficiados com as inovações
educacionais possibilitadas pela educação a distância online, apesar das reações adversas que
a consideram como reprodutora dos velhos padrões de “ensino a distância” com aparência de
inovação digital. Diferentemente das perspectivas que entendem a EAD exclusivamente para
superar déficits educacionais ou profissionais de grandes grupos de indivíduos, as concepções
em grupos menores reunidos em “sala de aula virtual” mediada por um docente precisam ser
mais problematizadas. O modelo Estar junto virtual (VALENTE, 2010, 2011), também
denominado de learning network (HARASIM et al., 1995), que prevê uma interação intensa é
limitado se comparado com as abordagens que privilegiam a educação de massas. É consenso,
entre esses pesquisadores, que, para esses modelos manterem um alto nível educacional e uma
interação desejável, o professor não pode atender a mais de 20 alunos. No entanto, algumas
ações podem ser adotadas para contornar essa limitação. Para tanto, é necessária uma equipe
para auxiliar o professor, monitorar as atividades dos alunos e desenvolver material didático
sob demanda, para ser enviada aos alunos. Mesmo prevendo tais mecanismos, essa
abordagem implica mudanças profundas no processo educacional. Contundo, esse modelo
explora, de maneira mais eficiente, as potencialidades da internet e se aprensenta como um
recurso que pode promover mudanças na educação.
Da mesma forma como, na educação presencial, a motivação e o atendimento
individualizado dos estudantes são necessários, na educação a distância online não é diferente.
Portanto, essas questões relacionadas aos processos motivacionais em ambientes de ensino e
aprendizagem online e aos estilos peculiares dos estudantes precisam ser consideradas nas
ações educacionais online.
Destaco, por fim, que a minha expectativa e o meu compromisso são de que a
experiência com a presente pesquisa seja continuada por meio de ações e projetos na
instituição que participou desta pesquisa-ação. Espero que o presente trabalho contribua para
reflexões e iniciativas de educadores musicais, no sentido de favorecer a ideia de que a
qualidade educacional independe da modalidade de ensino e que desfavoreça os discursos
extremistas que vão desde o temor do uso das TIC na educação até os que a enxergam como a
única salvação para a educação. Portanto, recomendo que outros pesquisadores invistam no
aprofundamento de investigações que venham a contribuir para as discussões da motivação no
campo da educação musical a distância, online.
168

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188

Apêndice A - Material didático


189

OFICINA DE VIOLÃO A
DISTÂNCIA
MÓDULO 1
190

APRESENTAÇÃO

Caro estudante,

Este é o material impresso do Curso de Violão a Distância. Antes de iniciarmos as


aulas, é importante termos em mente que o conteúdo presente em cada uma de nossas lições
deverá ser trabalhado no decorrer de uma semana, sendo que, no nosso caso, os estudos
começarão sempre às sextas-feiras. Lembre-se de que o tempo mínimo recomendado para o
estudo de cada lição é de uma hora. Mas, caso precise, você pode e deve rever tópicos que
julgar necessários ou mesmo revisar uma lição várias vezes no decorrer da semana.
Esteja atento! Fazem parte do material os vídeos presentes no DVD em anexo e o site
https://sites.google.com/site/violoesdauernonline/. Através deles, você poderá visualizar e
ouvir a execução dos exercícios propostos ao longo do material impresso, bem como perceber
nuances técnicas, performáticas, interpretativas.
Desejamos que esse curso contribua decisivamente para o seu desenvolvimento
musical. Bom curso para todos nós!
191

LIÇÃO 1
Posturas para Sentar

_________________________
Assista ao vídeo 1 desta lição!

Apresentaremos, a seguir, fotos e recomendações das principais


posturas que lhe ajudarão a entender melhor como se deve sentar

para tocar o violão. É importante ter a consciência de que cada pessoa

possui uma constituição física peculiar. Portanto, os resultados

da postura poderão ser diferentes. Use uma cadeira sem

encostos para os braços para um bom acomodamento do

instrumento. Sente-se na metade posterior (na metade da

frente) de uma cadeira de altura que permita que a curvatura

dos joelhos forme um ângulo de 90° (veja que as pernas Foto 1: Visão lateral.

formam um “L” invertido). Sentar-se na metade posterior da cadeira dá mais liberdade às


pernas e permite que você mantenha a coluna ereta, o que é fundamental para evitar
problemas físicos. Observe a foto 1.

Pé esquerdo apoiado no banquinho

A postura em que se apoia o pé esquerdo sobre um banquinho é a

mais usada pelos violonistas eruditos ou clássicos. O uso do

banquinho possibilita ajustar o violão ao seu corpo, bem

como alcançar com maior facilidade as notas a partir

da décima segunda casa do violão. Nessa postura, o

tronco deve estar ligeiramente inclinado para frente e

o tampo do fundo do instrumento encostado em seu

peito. Confira na foto 2.

Foto 2: Pé esquerdo apoiado no banquinho.


192

Pé direito apoiado no banquinho

O pé direito sobre o banquinho também pode ser uma

possibilidade de postura. Mas alertamos que, nessa

postura, a tendência é que o ombro esquerdo fique tenso e

um pouco levantado. Para evitar essa tensão, o banquinho

deve ser ajustado para ficar na menor altura possível (geralmente

os banquinhos são de altura regulável). Lembre-se: seja qual for

a posição escolhida, o fundamental é que os ombros estejam sempre

à mesma altura. Veja, na foto 3, a posição com o pé direito apoiado

no banquinho.

Foto 3: Pé direito apoiado no banquinho.

Perna direita apoiada sobre a esquerda

Uma das possibilidades de postura sem o uso do banquinho

pode ser realizada com o apoio do violão na perna direita

cruzada sobre a perna esquerda. É uma posição muito

comum entre músicos populares, como os sambistas,

jazzistas, chorões e violonistas flamencos. Algumas pessoas

não aguentam tocar por muito tempo nessa posição. A circulação

sanguínea fica limitada nessa posição, ocasionando cãibras.

Atente para possíveis dores nas costas, pois nessa postura, tendemos

a tocar curvados sobre o instrumento.

Foto 4: A perna direita sobre a esquerda.


193

O uso de suporte ou "Apoio ergonômico" é uma boa alternativa

para minimizar as tensões anteriormente citadas. Ele deixa o

violão na posição indicada com o uso do banquinho

(inclinado com o braço para cima) e você fica sentado

com os dois pés apoiados no chão. Uma vantagem de

utilizá-lo diz respeito à postura natural possibilitada ao

sentar, ou seja, os dois pés ficam no chão. Dessa forma,

podemos estudar por mais tempo sem sentir qualquer

incômodo. Veja, na foto 5, como fica a posição do

apoio ergonômico.

Foto 5: “Apoio Ergonômico ou suporte”

Outras orientações importantes:

 Experimentar as várias posições e, sempre que sentir cansaço, trocar de posição.


 Para canhotos que toquem invertendo a posição do violão, as orientações gerais são as
mesmas, bastando mudar o lado das posições das pernas. Por exemplo: Para o
canhoto, a posição de sentar apoiando o pé esquerdo no banquinho é equivalente à
posição de sentar apoiando o pé direito no banquinho, para o destro (assista ao vídeo
do último termo da lista abaixo).
 Sugerimos que utilizem os termos abaixo em sites de busca na internet no intuito de
apreciarem as várias possibilidades de posturas na execução do violão.

BACH, Lute Suite No.4 (Part1).flv


Marcus Tardelli
Paco de Lucia - Guitarra Cordoba Festival- 2007
Apoio Ergonômico para Violão-Apresentação
Quaternaglia - Sonata Cravo e Canela
194

Mão Direita

Os dedos da mão direita que utilizamos

geralmente para tocar são:

 Polegar (p),
 Indicador (i),
 Médio (m)
 Anelar (a).

Foto 6: Dedos da mão direita

Obs: O dedo mínimo, apesar de ser


bastante utilizado entre violonistas
flamencos, de modo geral é pouco
explorado pelos violonistas. Confira na
foto 6.

Sugestão de Bibliografia:

PINTO, Henrique. Curso Progressivo de Violão. São Paulo, Ricordi.


SHEARER, Aaron. Learning the classic guitar part one.USA, Mel Bay 1990.
195

Tamanhos, polimento e formatos das unhas da mão direita

A mão direita é responsável pela produção do som no violão. O cuidado


com as unhas pode fazer a diferença na qualidade sonora desejada.
Sugerimos que mantenha as unhas num padrão e num tamanho
apropriados ao seu formato de unha. Use uma “serrinha’ para modelar o
Foto 11
formato de sua unha. Depois use uma lixa de papel nº 600 para retirar as
rebarbas e, logo em seguida, dê um polimento com outra lixa de papel
de nº 1.200.

Entre as várias possibilidades de se obter um bom formato das unhas,


recomendamos que posicione cada dedo horizontalmente e, em seguida,
coloque o dedo num ângulo direto numa “serrinha” de unha. Se a unha e
Foto 12
a extremidade distal do dedo tocarem a serrinha ao mesmo tempo, a unha está
está
num bom tamanho (foto11). Mas se for preciso incliná-la para baixo (foto 12)
ou para cima (foto 13), para que a extremidade distal e a unha a toquem
simultaneamente, a unha está longa (foto 14) ou curta demais (foto 15).

Foto 13

Foto 14 Foto 15

Sugestão de Bibliografia:

ASSIS, Josmar e CRISTINA, Tourinho. Técnica progressiva para iniciantes. Salvador,


2003.
196

Os formatos das fotos 7 e 8 permitirão um maior contato de toda a unha com a corda,
causando menos resistência. O seu tipo de unha vai determinar qual dessas duas formas é
melhor para você. No entanto, ambos permitem um maior aproveitamento de toda a unha. Os
formatos das fotos 9 e 10 não recomendamos, porque a unha passa por cima das cordas com
muita resistência, impedindo usar toda a superfície da unha. Esses formatos liberam o toque
próximo ao meio da unha.

Foto 7 Foto 8 Foto 9 Foto 10

Representação das cordas soltas

Procure estudar também lendo as notas no pentagrama. Os números dentro dos


círculos indicam a corda em que a nota se encontra.
197

Exercícios com cordas soltas


_________________________
Assista ao vídeo 2 desta lição!

Pratique os exercícios abaixo, de acordo com as orientações do vídeo 2 desta lição. Esses
exercícios abaixo o ajudarão a desenvolver maior independência dos dedos da mão direita.
Sabendo que o "i" toca na terceira corda, o "m" na segunda e o "a" na primeira, fica fácil de
ler o exercício a seguir. Depois de conseguir fazer o dedilhado com segurança, você pode
variar as cordas em que o polegar toca. Por exemplo, tocar o "p" uma vez na 4ª corda, uma
vez na 5ª corda e uma vez na 6ª corda.

Sugestão de Bibliografia:

TOURINHO, Cristina; BARRETO, Robson. Oficina de violão. Salvador: Quarteto, 2003.


SHEARER, Aaron. Learning the classic guitar part two.USA, Mel Bay, 1990.
198

Mão Esquerda

A posição básica, tanto para a mão direita quanto para a esquerda, é em formato de
uma concha, ou seja, com a mão em estado de relaxamento. Um princípio importante para a
mão esquerda é o de aplicar o mínimo de força às cordas, somente o suficiente para pressionar
as cordas.

Os dedos da mão esquerda que utilizamos


para tocar (foto 7):

 Indicador (1),

 Médio (2),

 Anelar (3),

 Mínimo (4).

Foto 7: Dedos da mão esquerda

A mão esquerda é, geralmente, aquela em que os iniciantes no violão concentram a


maior parte de sua atenção. No entanto, precisamos desenvolver a consciência, desde agora,
de que não tocamos apenas com dedos e mãos, mas com todo o corpo. Isso significa que
devemos estar sempre atentos à nossa postura e procurar perceber os possíveis pontos de
tensão em nosso corpo. Tendo isso em mente, devemos nos lembrar de dois princípios básicos
para a mão esquerda:
199

1) Função do polegar da mão esquerda

_________________________

Assista ao vídeo 3 desta lição!

O polegar da mão esquerda deve ser colocado sempre atrás do braço do violão.
Assim, ele desempenhará a função de “opositor” dos outros dedos, que tocam na parte da
frente do braço do violão. Antes de colocarmos a mão esquerda no braço do instrumento, é
importante que a observemos numa posição natural, como se existisse entre os dedos polegar
e indicador um braço imaginário. Observe que os dedos polegar e indicador agem de forma
coordenada, sendo fundamental a sua ação conjunta para a realização de possíveis saltos no
decorrer do braço do instrumento. A posição do polegar pode variar, mas naturalmente ele
deve encostar a lateral interna.

2) A pressão ou força sobre as cordas deve ser apenas o suficiente para conseguir
prendê-las

A grande maioria das pessoas usa mais força que o necessário para tocar as notas
presa nas cordas com a mão esquerda. Para evitar isso, você deve estudar, de preferência, com
um banquinho para apoiar o pé esquerdo, ou procurar outro modo de manter o braço do violão
inclinado para cima, aproximando-o do seu corpo. Nessa posição, você poderá aproveitar o
peso do seu braço esquerdo para pressionar as cordas. Em resumo, ao invés de aplicar força
nas cordas por meio da pressão exercida pelos dedos, você pode fazer com que o peso do seu
braço participe do trabalho de “prender” as cordas. Esse princípio lhe trará grandes benefícios,
inclusive de prevenção contra problemas físicos, a médio e longo prazo.
200

Exercícios para a mão esquerda

_________________________
Assista ao vídeo 3 desta lição!

Assista ao vídeo 3 desta lição e pratique o exercício conforme as orientações.


Os exercícios deste vídeo lhe ajudarão a conseguir uma boa postura para tocar acordes e
escalas com mais facilidade. Você deve praticar o exercício não somente na 6ª corda, como
mostrado no vídeo 3 desta lição, mas também na 5ª e na 4ª corda, ascendente e
descendentemente. Utilize os termos abaixo em sites de busca para assistir a algumas
performances de artistas consagrados a fim de estudar as posturas de ambas as mãos no
violão.

DE FALLA, Beatles, Barrios


Asturias - Isaac Albeniz
Ana Vidovic Guitar Artistry in Concert - Classical Guitar Performance DVD
Raphael Rabello - Lamentos do Morro
201

Pulsação simultânea entre polegar e anelar

_________________________
Assista ao vídeo 4 desta lição!

No exercício abaixo, propomos o estudo da pulsação simultânea entre polegar e


anelar, destacando a nota da melodia. Os dedos indicador e médio deverão tocar com menor
intensidade.

Sugestão de Bibliografia:

TENNANT, Scott. Pumping Nylon. Van Nuys, CA, Alfred, 1995.


SHEARER, Aaron. Learning the classic guitar part three.USA, Mel Bay, 1990.
202

Sugerimos o estudo de uma das peças abaixo:

ROMANCE DE AMOR (Antonio Rovira)


_________________________
Assista ao vídeo 5 desta lição!

Existe uma discussão de quem realmente foi Antonio Rovira. Para muitos, esse nome
não passa de um pseudônimo. Talvez Antonio Rovira foi o primeiro editor de Romance de
Amor, mas não se sabe ao certo. Essa obra também tem sido atribuída a outros compositores
do período romântico. Durante o seu estudo, procure atentar para os elementos tais como:
pulsação simultânea entre o polegar e o anelar; onde você deverá tocar com maior
intensidade; os dedos indicador e médio deverão ser tocados com menor intensidade.
Utilize os termos abaixo em sites de busca para assistir a outras possibilidades
interpretativas da peça Romance de Amor.

Romance de Amor Performed by Xue-fei Yang


Gomez' Romance.
Vicente Gomez - Romance de Amor, Романс Гомеса, Классическая гитара
http://www.violao.org/index.php?showtopic=9086&mode=threaded&pid=122996
203
204

ANDANTE EM LÁ MENOR (Matteo Carcassi)

_________________________
Assista ao vídeo 6 desta lição!

Matteo Carcassi nasceu em Florença, na Itália, em 1792, e morreu em Paris, em


1853. Foi o compositor para violão no período clássico que deixou sua marca nos mais
importantes métodos didáticos de sua época (Método op.59; 25 Estudos melódicos e
progressivos op.60).
Para o estudo do Andante em Lá menor, ressaltamos que o baixo seja bem marcado,
e os dedos indicador, médio e indicador sejam tocados com menor intensidade do que o dedo
polegar. Atente para os acidentes ocorrentes na peça, assim como para as sugestões de
dinâmica como, por exemplo, o rallentando no oitavo compasso.
Utilize o termo abaixo em sites de busca para assistir a outra possibilidade
interpretativa do Andante em lá menor.

Andante religioso-Matteo Carcassi-Thiago Medeiros


205
206

LIÇÃO 2

Coordenação, independência e abertura dos dedos


_________________________
Assista ao vídeo 1 desta lição!

Uma boa execução musical depende, em grande parte, da ação conjunta e


coordenada entre os dedos da mão esquerda e direita. No vídeo 1 desta lição, propomos três
exercícios de coordenação, independência e abertura dos dedos que serão aplicados em três
fórmulas de mão esquerda: 1, 2, 1, 3 e 1, 4. O sentido musical desse mecanismo consiste em
deixar cada nota soar sem que haja algum momento de silêncio entre a nota que é tocada
ascendentemente e sua descendente. Esse exercício inicia-se na nona casa da segunda corda,
descendo para sétima, quinta, terceira e primeira posição do violão. Assista, no vídeo 1 desta
lição, as fórmulas 1, 2, 1, 3 e 1, 4.

Trecho do Estudo em Mi menor, de Francisco Tárrega


_________________________
Assista ao vídeo 2 desta lição!

Em algumas obras musicais, é possível observarmos com clareza a utilização dos


princípios mencionados nos exercícios do vídeo 1. No trecho do Estudo em Mi menor, de
Francisco Tarrega, é possível perceber que as notas da melodia devem soar no seu tempo real.

Nesse momento sugerimos o estudo d uma das peças abaixo


_________________________
207

ESTUDO EM MI MENOR (Francisco Tarrega)


_________________________
Assista ao vídeo 3 desta lição!

Francisco Tarrega (1854-1909) foi um dos mais importantes compositores para


violão do período romântico. Deixou uma vasta obra concertística e didática para o violão.
Tarrega criou a postura do pé esquerdo apoiado no banquinho e uma das possíveis posturas da
mão direita utilizada até os dias atuais. No Estudo em Mi menor, faz-se necessário chamar a
atenção para que as notas da melodia soem no seu tempo real. Nesse sentido, é preciso que
estudemos primeiramente os saltos que aparecem no decorrer da peça. Esse estudo
aparentemente parece ser uma peça muito fácil. No entanto, para tocá-la corretamente, é
preciso estudá-la com bastante atenção aos princípios mencionados. Tente imprimir uma
dinâmica diferenciada nas partes que se repetem, explore ao máximo os timbres próximos ao
cavalete do violão e na boca do instrumento. O violão é um dos instrumentos com as maiores
possibilidades timbrísticas. Você sabia?
Utilize os termos abaixo nos sites de busca para assistir a outras possibilidades
interpretativas do Estudo em Mi Menor.

Etude in e minor- Francisco Tarrega

Tarrega Etude E minor


208
209

VALS (Jose Ferrer)


_________________________
Assista ao vídeo 4 desta lição!

José Ferrer Esteve de Fujadas (1835- 1916), espanhol nascido em Torroella de


Montgrí. Ferrer, como muitos de vocês, recebeu influência musical no ambiente familiar. Ele
estudou violão com seu pai, um violonista e colecionador de partituras, antes de continuar
seus estudos com o violonista José Broca. Na sua peça Vals, é preciso muita atenção para que
não interrompamos a melodia durante o transcorrer da peça. Atente para o destaque na
intensidade na melodia dos compassos 5, 6 e 7. Faça uma rápida respiração após o segundo
tempo do compasso 8 para retomar o tema principal. Cuidado nos acidentes ocorrentes
durante a peça. Sugerimos ainda algumas dinâmicas no decorrer da segunda parte da peça
(compassos 17 a 32). Sintam-se à vontade para sugerir uma outra possibilidade de
interpretação. Utilize os termos abaixo nos sites de busca para assistir a outras possibilidades
interpretativas da Peça Vals.

Jose Ferrer-Vals Espanol~Daniel Mazur, Classical Guitar

Vals Espanol by Jose Ferrer, classical guitar

Sugestão de Bibliografia:
PINTO, Henrique. Iniciação ao Violão. Vol 2. Ricordi. São Paulo, 1999.
210
211
212
213

Daniel Escudeiro é natural de São Paulo (1975). Ainda criança, mudou-se para
Fortaleza, cidade que adotou definitivamente como sua e onde se encontram muitas das suas
raízes musicais e pessoais. Durante sua trajetória musical, o instrumento sempre esteve aliado
à composição, indicando os dois caminhos mais adotados para sua expressão pessoal e
artística.
Composta em Natal/RN, em março de 2002, “Pedra Verde” foi inicialmente
concebida como uma continuação de uma série de peças pequenas para dois violões que nos
remetem às pedras preciosas de cor exuberante e misteriosa que nos fazem refletir sobre sua
beleza, seja ela mais escura ou mais clara. O universo modal está presente, assim como o
“ambiente medieval” pode ser acolhido, devido às diversas passagens com quartas e quintas,
reveladas pelo tema, e dissonâncias usadas livremente.
214

Lição 3

Ligados ascendentes e descendentes

_________________________
Assista ao vídeo 1 desta lição!

Nesta lição, trataremos dos ligados ascendentes e descendestes. O ligado ascendente


é sempre realizado para uma nota mais aguda. Para realizar bem o ligado ascendente, a maior
pressão deverá ser exercida pelo dedo correspondente à nota ligada. No ligado descendente, o
dedo que exerce a maior pressão é o que está sem movimentação. O dedo que tocará a nota
mais aguda deverá fazê-lo com o máximo de leveza, atentando inclusive para uma precisão
rítmica. Assista ao vídeo 1 desta lição.
No Estudo n° 15, de Isaias Sávio, podemos colocar em prática os ligados ascendentes
e descendentes.

_________________________
Assista ao vídeo 2 desta lição!

Estudo n° 15 Isaías Sávio

Sugestão de Bibliografia:

SÁVIO, Isaias. Escola Moderna do Violão, Vol. 1. São Paulo, Ricordi, 1985.
215

Ritmo da Bossa Nova


Nesta lição, estudaremos uma das possibilidades do ritmo da Bossa Nova. Para
melhor fixarmos essa batida, é importante, de início, tocar lentamente, para que, depois de
assimilada, possamos executá-la com segurança num andamento mais rápido. Considere que,
no primeiro tempo, tocaremos com os dedos polegar, indicador, médio e anelar, seguidos dos
dedos indicador, médio e anelar, simultaneamente. No segundo tempo, iniciamos com o
polegar seguido dos dedos indicador, médio e anelar, tocados de forma simultânea. O terceiro
e o quarto tempo são uma repetição dos dois primeiros tempos. Veja, nas figuras abaixo, duas
formas de representar esse ritmo da Bossa Nova.

_________________________
Assista ao vídeo 3 desta lição!

Sugestão de repertório: Faz Parte do meu Show (Cazuza); Corcovado (Tom Jobim).

Utilize os termos abaixo em sites de busca para assistir à interpretação dessas Bossas:
Cazuza- Faz Parte do Meu Show (Globo de Ouro 1988)
Corcovado by Joao Gilberto

Sugestões de Bibliografia:

CANDRO, Renato. Ritmos para violão. São Paulo, 2004.


Discografia, partituras e músicas em MP3 confiram no site: www. renatocandro.com

PEREIRA, Marco. Ritmos Brasileiros. Rio de Janeiro. Garboligts Livros, 2007.


Discografia, partituras e músicas em MP3 confiram no site: www.marcopereira.com.br/
216

Lição 4

Composição de melodia
_________________________
Assista ao vídeo 1 desta lição!

Nesta lição, iremos exercitar o processo de compor. Propomos que você tente criar
uma pequena melodia acompanhada, ou mais de uma, se assim quiser. Na realidade, como em
qualquer atividade musical, só aprenderemos a compor se praticarmos constantemente. O que
pretendemos nesta lição é apenas estimulá-lo a começar a experimentar algumas
possibilidades.

Para compor sua melodia, sugerimos alguns procedimentos:

a) No processo de criação, é importante atentarmos para elementos tais como: repetição,


contraste, silêncio e variação rítmica.
b) Use como matéria-prima inicialmente uma escala maior.
c) Toque as notas da escala em ritmos e sequências variados, procurando usar mais
graus conjuntos (notas vizinhas) e notas não muito afastadas. Saltos grandes são mais
difíceis de usar. Quanto ao ritmo, utilize o compasso a seu gosto, mas sugerimos
compassos simples como: (2/4); (4/4); (3/4) e as figuras de nota que vocês já
conhecem melhor (mínimas, semínimas e colcheias).
d) Pense e escreva frases musicais sempre do mesmo tamanho (é natural que você precise
escrever várias vezes). Agora, sugerimos que você construa uma melodia de mais ou
menos oito compassos.

Ritmo de Baião

No primeiro tempo do ritmo do baião, tocamos por duas vezes com o polegar, sendo
que o segundo toque se prolonga até o início do próximo tempo, seguido pelo toque
simultâneo dos dedos indicador, médio e anelar. Para melhor fixarmos essa batida, é
importante, de início, tocar lentamente, como demonstrado no vídeo 2 desta lição, para que,
depois de assimilada, possamos tocá-la com segurança, num andamento mais rápido. Veja,
nas figuras abaixo, duas formas de representar o ritmo do Baião.
217

_________________________
Assista ao vídeo 2 desta lição!

Sugestão de repertório: Ai que saudade d’ocê (Vital Farias); Baião (Luiz Gonzaga e
Humberto Texeira)

Sugestões de Bibliografia:

CANDRO, Renato. Ritmos para violão. São Paulo, 2004.


Discografia, partituras e músicas em MP3 confiram no site: www. renatocandro.com

PEREIRA, Marco. Ritmos Brasileiros. Rio de Janeiro. Garboligts Livros, 2007.


Discografia, partituras e músicas em MP3 confiram no site: www.marcopereira.com.br/

Sugerimos o estudo de uma das duas peças para grupo de violões abaixo:

_________________________
Assista ao vídeo 3 desta lição!
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230

Apêndice B - Carta solicitando permissão à Direção da Faculdade de Letras e


Artes para a realização da pesquisa.

Carta ao Diretor da Faculdade de Letras e Artes da UERN

Mossoró, 22 de julho de 2010.

Prezado Diretor,

Como acadêmico do Doutorado em Música pela Universidade Federal do Rio Grande


do Sul, tendo como orientadora a Profª. Dra. Liane Hentschke, venho solicitar a autorização
de Vossa Senhoria para aplicar um estudo piloto como parte da implementação de uma
pesquisa-ação que aborda os processos motivacionais autodeterminados na aprendizagem
instrumental em um curso de violão a distância. Para isso, necessito de um grupo de alunos
para participar de sete encontros por meio de videoconferências, a serem realizados na sala de
videoconferência do IFRN/Campus Mossoró. Os dados e as demais atividades individuais
e/ou coletivas desenvolvidas nesse estudo piloto serão protegidos por sigilo ético, não sendo
mencionados os nomes dos participantes e da instituição, em nenhuma apresentação oral ou
trabalho escrito que venha a ser publicado, a não ser que o/a autor/a do depoimento e a
instituição manifestem expressamente seu desejo de ser identificado/a. A participação neste
estudo não oferece danos ou prejuízos às pessoas participantes do estudo em questão.
Aproveitamos para esclarecer que o estudo não questionará a qualidade da instituição
e que os alunos não são obrigados a participar. A pesquisa pretende contribuir para um maior
entendimento sobre novas tendências de aprendizado, assim como ajudar a desmistificar
crenças, como a de que só alguns indivíduos podem aprender no ensino a distância. Gostaria
de contar com a valiosa ajuda de Vossa Senhoria para a realização deste trabalho. Caso deseje
mais informações ou confirmação da idoneidade desta pesquisa, pode dirigir-se à Profª. Dra.
Liane Hentschke, do PPGMUS da UFRGS.
Desde já agradeço sua cooperação,

Giann Mendes Ribeiro


Professor Assistente IV- UERN
231

Apêndice C - Carta solicitando permissão ao Coordenador do


Departamento de Artes para a realização da pesquisa.

Carta ao Chefe do Departamento de Artes da UERN

Mossoró, 22 de julho de 2010.

Prezado Chefe do Departamento,

Como acadêmico do Doutorado em Música pela Universidade Federal do Rio Grande


do Sul, tendo como orientadora a Profª. Dra. Liane Hentschke, venho solicitar sua autorização
para conduzir uma pesquisa-ação que aborda os processos motivacionais autodeterminados na
aprendizagem instrumental em um curso de violão a distância. Para isso, necessito de um
grupo de alunos para participar de pelos menos 12 encontros por meio de videoconferências e
outras ferramentas de interação online. As interações síncronas serão realizadas na sala de
videoconferência do IFRN/Campus Mossoró. Os dados e as demais atividades individuais
e/ou coletivas desenvolvidas nesse estudo serão protegidos por sigilo ético, não sendo
mencionados os nomes dos participantes e da instituição, em nenhuma apresentação oral ou
trabalho escrito que venha a ser publicado, a não ser que o/a autor/a do depoimento e a
instituição manifestem expressamente seu desejo de ser identificado/a. A participação neste
estudo não oferece danos ou prejuízos às pessoas participante do estudo em questão.
Aproveitamos para esclarecer que o estudo não questionará a qualidade da instituição
e que os alunos não são obrigados a participar. A pesquisa pretende contribuir para um maior
entendimento sobre novas tendências de aprendizado, assim como ajudar a desmistificar
crenças, como a de que só alguns indivíduos podem aprender no ensino a distância. Gostaria
de contar com a valiosa ajuda de Vossa Senhoria para a realização deste trabalho. Caso deseje
mais informações ou confirmação da idoneidade desta pesquisa, pode dirigir-se à Profª. Dra.
Liane Hentschke, do PPGMUS da UFRGS.
Desde já agradeço sua cooperação,

Giann Mendes Ribeiro


Professor Assistente IV-UERN
232

Apêndice D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido destinados aos


alunos

Termo de consentimento livre e esclarecido

Fui informado de que a pesquisa “Motivação para aprender nas aulas de violão a
distância no contexto universitário presencial”, desenvolvida como trabalho de doutorado pelo
Programa de Pós-Graduação em Música da UFRGS, tem como objetivo investigar os
processos motivacionais nas aulas de violão a distância num contexto universitário presencial.
Fui informado também de que a coleta de dados envolve a filmagem das aulas de
violão na modalidade a distância, entrevistas semiestruturadas a serem realizadas online via
Skype, e em fóruns de discussão da internet. As filmagens terão fim científico e acadêmico.
Fui esclarecido também de que a participação neste estudo não oferece danos ou prejuízos à
pessoa participante do projeto em questão.
Os pesquisadores responsáveis pela pesquisa são a Professora Dra. Liane Hentschke,
professora do Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e o doutorando Giann Mendes Ribeiro, aluno do referido Programa. É
estabelecido o compromisso por parte dos pesquisadores de aclarar quaisquer dúvidas e
demais informações que sejam necessárias no momento da realização do estudo ou
posteriormente, por meio do telefone (51) 3308-4390 do PPGMUS da UFRGS.
Após ter sido devidamente informado/a dos aspectos relacionados à pesquisa e ter
elucidado todas as minhas dúvidas, eu _____________________________________,
portador de Identidade n.°_________, declaro para os devidos fins que concedo os direitos de
minha participação por meio das atividades desenvolvidas e depoimentos apresentados para a
pesquisa realizada na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), desenvolvida
pelo doutorando Giann Mendes Ribeiro, com a orientação da Profa. Dra. Liane Hentschke,
para que sejam utilizados integralmente ou em parte, sem condições restritivas de prazos e
citações, a partir desta data. Da mesma forma, dou permissão e o uso das referências a
terceiros, ficando o controle das informações a cargo desses pesquisadores do Programa de
Pós Graduação em Música da UFRGS.
Renunciando voluntariamente aos meus direitos autorais e os de meus descendentes,
dou consentimento à presente declaração,
233

Mossoró,....../....../ de 2010

_______________________ _________________________
Ass. do participante da pesquisa Ass. do Pesquisador
234

Apêndice E - Modelo da carta de Cessão de direito

Eu, _________________________________________, portador de Identidade


n.º_____________, declaro, para os devidos fins, que cedo os diretos das entrevistas e das
gravações e discussões nos fóruns online e redes sociais, no período de julho de 2010 a
outubro de 2011, revisadas por mim, para Giann Mendes Ribeiro, Identidade 1.3222.598
SSP/RN, podendo este utilizá-las integralmente ou em parte, sem restrições de prazos e
citações, desde a presente data. Dessa forma, autorizo o uso das citações e imagens.
Abdicando igualmente dos direitos dos meus descendentes sobre a autoria dos ditos
dados, subscrevo o presente documento.
235

Apêndice F - Questões das entrevistas diagnósticas

1) Quando aconteceu seu primeiro contato com o violão?

2) Você possui um violão?

3) Já estudou com um professor de violão antes de iniciar a graduação?

4) Que grupos musicais, estilos ou artistas você gosta de escutar?

5) Por que você optou pela Prática Instrumental em violão no curso superior?

6) Você utiliza tecnologia digital para aprender música?

7) Como você se sente mais motivado ao praticar instrumento: lendo partitura ou tirando
músicas de ouvido? Por quê?

8) Você fica mais motivado, ao estudar o instrumento, com ou sem a orientação de um


professor? Por quê?

9) Qual o repertório que mais lhe motiva a tocar? Por quê?

10) Que atividades, nas aulas de violão, mais motivam sua participação: atividades
técnicas instrumentais, estudar repertório, arranjo ou improvisação? Por quê?
236

Apêndice G - Questões das entrevistas centralizadas na questão de


pesquisa.

1) Como você classificaria as tarefas nas aulas? Eram fáceis? Moderadas? Difíceis? Por
quê?

2) Como você se saiu no curso em relação aos seus colegas?

3) Você acha que progrediu no instrumento (violão) com as aulas a distância? Por quê?

4) O que você achou das críticas / sugestões dos seus colegas e professor sobre o seu
desempenho?

5) Foi possível interagir com o grupo nas aulas a distância? Como aconteciam essas
interações?

6) Como ocorreu a interação entre você e o professor durante as aulas a distância?

7) Você compartilhou recursos pessoais, como tempo, atenção e apoio emocional com
seus colegas? Como?

8) Aconteceu envolvimento interpessoal de cooperação/colaboração e preocupação


mútua durante o curso? Como?

9) Você sentiu que o grupo se preocupava com a sua aprendizagem e seu bem-estar?
Como isso ocorria?

10) Você se sentiu apoiado durante o curso de violão a distância? Como?

11) Por que você estuda violão?

12) Você sentiu liberdade de direcionar seus estudos nas aulas a distancia? Como?
Subquestão: Era dada certa autonomia em relação a exercícios, repertório?

13) Para a realização das atividades, houve liberdade para suas escolhas e preferências?
Como isso acorreu?

14) Você se sentiu pressionado para realizar as atividades nas aulas a distância? Explique?
Subquestão: Sentia alta ansiedade para realizar atividades?

15) Eram reconhecidas as individualidades dos alunos para realizar as atividades?


237

Apêndice H - Programa do Recital de Final das atividades


238

Diretor Geral do IFRN (DG/MO)


Clóvis Costa

Diretoria Acadêmica (DIAC/MO)


Jailton Barbosa dos Santos

Coordenação da Série “Encontro com Artista”


Leopoldo Galtieri

Estagiário da Oficina de Violão a Distância


Ruãnn César

Coordenação do Recital “Oficina de violão a distância” ENCONTRO COM O ARTISTA 2011


Prof. Ms: Giann Ribeiro
Profa. Dra. Liane Hentschke
Prof. Esp. Junnior Miranda OFICINA DE VIOLÃO A
Oficina de violão a distância? DISTÂNCIA
Este Recital é fruto do resultado do processo de dez intensas semanas de Apresentando alunos da classe do Prof. Junnior Miranda
aulas de violão ministradas na modalidade a distância. Esta pesquisa, em
andamento, tem como objetivo investigar, sob a perspectiva da Teoria da
Autodeterminação, a motivação na prática instrumental em aulas de Sexta-Feira, 08/07/2011
violão a distância. Foram utilizadas diversas mídias integradas para a
realização desse projeto piloto (redes sociais, fóruns síncronos e
10h00min
assíncronos, videoconferências). Partindo do pressuposto de que todos os Auditório do IFRN/Mossoró
indivíduos são capazes de se desenvolver musicalmente, esta pesquisa
visa à democratização do ensino musical por meio das estratégias e
ferramentas da educação a distância, com o propósito de compreender a
motivação sob as perspectivas sociocognitivas da motivação na prática
instrumental (violão) a distância.
239

Míssola Arezza (aluna do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe


do Prof. Junnior Miranda)
Série Encontro com o Artista no IFRN
Gilliard Soares
(1986) Acalanto

Programa Gilliard Soares (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe


do Prof. Junnior Miranda)
Francisco Tarrega
(1854-1909) Estudo em Mi menor

Míssola Arezza (aluna do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe


do Prof. Junnior Miranda)
Peças em grupo
Johan Sebastian Bach Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco
(1685 -1750) Bourée ( Suíte em Mi menor para Alaúde) (1863-1946)/ (1883-1947) Luar do Sertão

Magnaldo Aráujo (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe Alann Jimme, Gilliard Soares, Maganaldo Aráujo, Míssola Arezza, Ruãnn César
do Prof. Junnior Miranda)
Daniel Escudeiro
Anônimo- atrib. Antonio Rovira (1975) Pedra Verde
(?) Romance de Amor
Alann Jimme, Gilliard Soares, Maganaldo Aráujo, Míssola Arezza, Ruãnn César
Ruãnn César (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe do
Prof. Junnior Miranda) Zé Ramalho
(1949) Bicho de Sete Cabeças
Dionísio Aguado
(1784-1849) Valsa Alann Jimme, Gilliard Soares, Maganaldo Aráujo, Míssola Arezza, Ruãnn César

Gilliard Soares (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe Alann Jimme
do Prof. Junnior Miranda) (1985) Estudo Baião
Allan Jimme (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe do
Jose Ferrer Prof. Junnior Miranda)
(1835-1916) Vals
Allan Jimme (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe do
Prof. Junnior Miranda) Magnaldo Araújo
(1992) Aperreio Inspirado

Composições dos alunos


Magnaldo Aráujo (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe
do Prof. Junnior Miranda)

Ruãnn César Vital Farias


(1990) Madrugando (1943) Ai que saudade d’ocê
Ruãnn César (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe do
Prof. Junnior Miranda) Alann Jimme, Gilliard Soares, Maganaldo Aráujo, Míssola Arezza, Ruãnn César

Míssola Arezza Sivuca


(1990) Mi, sol, lá (1930-2006) Feira de Magai

Alann Jimme, Gilliard Soares, Maganaldo Aráujo, Míssola Arezza, Ruãnn Cés
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