Autodeterminacao para Aprender Nas Aulas de Violao A Distancia
Autodeterminacao para Aprender Nas Aulas de Violao A Distancia
Autodeterminacao para Aprender Nas Aulas de Violao A Distancia
INSTITUTO DE ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
TESE DE DOUTORADO
PORTO ALEGRE
2013
GIANN MENDES RIBEIRO
PORTO ALEGRE
2013
Aos meus pais, Francisco e Luzenir, meus eternos mecenas, e
à minha esposa Priscila, pelo apoio, carinho e paciência.
AGRADECIMENTOS
À Dra. Liane Hentschke, minha orientadora, por acreditar no meu objeto de pesquisa e pelas
confiança, paciência e orientação aberta ao novo.
Aos professores do PPGMUS da UFRGS, por minha formação como pesquisador e pelo
acesso aos fenômenos musicais.
Às professoras Dra. Ana Cristina Tourinho, Dra. Sueli Édi Rufini e Dra. Jusamara Sousa,
pelas disponibilidade e contribuição nesta fase de conclusão de tese.
Aos participantes deste estudo, pela disponibilidade de aprendermos juntos no mundo online.
À minha família pela preocupação, orientação e angústias partilhadas na minha escolha
profissional.
Ao Grupo FAPROM, pelas calorosas discussões que me levaram a enxergar melhor o
fenômeno estudado.
À Isolete Kichel, Secretária do Programa de Pós- Graduação em Música da UFRGS, pela
paciência, pelo carinho e pelo respeito sempre demonstrados.
Aos colegas André Kolodiuk, Tim Jones, Carla Santos, Anete Weichselbaum, Ana Francisca
Schneider, Barbara Ziel, Miguel Besnos, Matheus Leite, Jean Presser, Edson Figueiredo,
Francine Kemmer, Cristina Cereser, Daniele Kohlrausch, Leila Dias, Vânia Fialho, Carla
Lopardo, Adriana Bozzeto, Fernanda Oliveira, Silvia Ramos, Allan César, Márcia Puerari,
Nidia Kiefer, Débora Borges, Pamela Ramos, com cujas trajetórias profissionais pude
aprender muito. Também a Mário André, pela amizade e pelo apoio em várias fases da
pesquisa.
Ao amigo Rui de Britto (in memoriam), companheiro que sempre acreditou no meu sucesso
profissional.
Ao Departamento de Artes da UERN e à Diretoria Acadêmica do IFRN/Mossoró, que me
permitiram investigar outras possibilidades de aprendizagem musical.
Aos professores Lincolln Souza, Elder Pereira, José Miranda Junnior e Alexandre Náder,
pela colaboração durante a realização da pesquisa.
Ao meu fiel escudeiro Ruãnn Cézar, que monitorou cuidadosamente a infraestrutura para a
realização das videoconferências.
À UERN e ao IFRN, por acreditarem e investirem na minha formação profissional.
À CAPES, pelo apoio financeiro disponibilizado para a realização desta pesquisa.
RESUMO
This research approaches the motivation in learning music in virtual learning environments
under the sociocognitive theoretical perspective of motivation. The research aims, as general
objective, to investigate the students’ motivational processes in online interaction in guitar
classes through distance education in the Degree in Music at the State University of Rio
Grande of Norte (UERN), based on the Self-Determination Theory (RYAN; DECI, 2004;
RYAN; DECI, 2006). The specific objectives sought to analyze the perceptions satisfaction of
the needs for autonomy, competence and belonging of students in online interaction; to
identify the quality motivational of the students in those online interactions; to discuss the
environmental influences on the students’ motivation, to verify the manifestations of basic
psychological needs for synchronous and asynchronous interactions, and to highlight the tools
that helped the online interactions in a distance education process. The methodology used on
this study was the educational action-research (MORIN, 2004). The analyzed data were
collected through participant observation, semi structured interviews, footage of the
interactions made in videoconferencing and conversation records in synchronous and
asynchronous forums. The results show that the major motivation of the students was not
intrinsic. Instead, the motivation was considered complex, multifaceted and sensitive in
determined situations. The synchronous and asynchronous interactions, in the complex and
complementary way proposed in this study, could provision the basic psychological needs of
the students, as well as, enable a viable and effective alternative to the musical education of
these students.
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 12
2. CARACTERÍSTICAS E CONCEPÇÕES SOBRE EAD .................................................... 18
2.1. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, ONLINE: DESAFIOS
CONTEMPORÂNEOS .............................................................................................. 22
2.2. O PAPEL DA INTERAÇÃO E AS DIFERENTES ABORDAGENS
EDUCACIONAIS A DISTÂNCIA ............................................................................ 25
2.3. EDUCAÇÃO MUSICAL A DISTÂNCIA NO CENÁRIO
INTERNACIONAL.................................................................................................... 35
2.4. EDUCAÇÃO MUSICAL A DISTÂNCIA NO BRASIL.................................... 40
2.5. MOTIVAÇÃO PARA APRENDER NA EAD ONLINE ................................... 48
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO (TAD) ...... 51
3.1. A UNIVERSALIDADE DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO ............. 52
3.2. TEORIA DAS NECESSIDADES PSICOLÓGICAS BÁSICAS ....................... 54
3.2.1. Necessidade de Autonomia............................................................................... 55
3.2.2. Necessidade de Competência ........................................................................... 56
3.2.3. Necessidade de Pertencimento ......................................................................... 57
3.3. TEORIA DA AVALIAÇÃO COGNITIVA ........................................................ 58
3.4. TEORIA DA INTEGRAÇÃO ORGANÍSMICA............................................... 60
3.5. TEORIA DAS ORIENTAÇÕES DE CAUSALIDADE ..................................... 62
3.6. TEORIA DAS METAS MOTIVACIONAIS ..................................................... 64
3.7. PESQUISAS QUE AVALIARAM A MOTIVAÇÃO MUSICAL SOB A
PERSPECTIVA DA TAD .......................................................................................... 66
4. METODOLOGIA.................................................................................................................... 75
4.1. DEFINIÇÃO DO MÉTODO ............................................................................... 75
4.2. PLANEJAMENTO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO ............................. 80
4.2.1. Reestruturação da disciplina ............................................................................. 81
4.2.2. Elaboração do material didático ....................................................................... 82
4.3. INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS ................................................ 86
4.3.1. Critérios para seleção dos estudantes ............................................................... 86
4.3.2. Técnicas de coleta de dados .............................................................................. 87
4.3.2.1. Entrevistas diagnósticas ..................................................................................87
4.3.2.2. Entrevistas centralizadas na questão de pesquisa.......................................... 88
4.3.2.3. Observação participante..................................................................................88
4.3.2.4. Diálogos das interações assíncronas .. .............. .............................................88
4.3.3. Aulas na modalidade a distância....................................................................... 89
4.3.4. Infraestruturas física e tecnológica .................................................................. 91
4.4. ESTRUTURA DA COLETA, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ......... 92
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS.............................................................................. 97
5.1. CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDANTES ..................................................... 97
5.1.1 Síntese dos primeiros contatos com os participantes ....................................... 105
5.2. ASPECTOS INTRAINDIVIDUAIS E INFLUÊNCIAS
SOCIOAMBIENTAIS NA MOTIVAÇÃO EM AULAS DE VIOLÃO A
DISTÂNCIA ONLINE ............................................................................................. 105
5.3. PERCEPÇÕES DA AUTONOMIA NAS AULAS DE VIOLÃO A
DISTÂNCIA ............................................................................................................. 106
5.3.1. Lócus de causalidade percebido ..................................................................... 107
5.3.2. Volição percebida ........................................................................................... 109
5.3.3. Influências socioambientais na motivação em aulas de violão a distância
online ........................................................................................................................ 112
5.3.4. Síntese das percepções sobre a autonomia ..................................................... 119
5.4. COMPETÊNCIA PERCEBIDA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA .......... 120
5.4.1. Desafio originado nas tarefas.......................................................................... 120
5.4.2 Feedback positivo ............................................................................................ 125
5.4.3. Síntese da percepção de competência ............................................................. 136
5.5. PERTENCIMENTO PERCEBIDO NA MODALIDADE A DISTÂNCIA ..... 137
5.5.1. Vínculo social ................................................................................................. 144
5.5.2 Síntese da percepção de Pertencimento ........................................................... 150
6. AVALIAÇÃO ........................................................................................................................ 152
6.1. AVALIAÇÃO DOS DIÁLOGOS E FERRAMENTAS DE INTERAÇÃO ..... 152
6.2. AVALIAÇÃO DO ENCONTRO PRESENCIAL ............................................. 157
6.3. AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO ................................................... 158
6.4. AVALIAÇÃO DAS ENTREVISTAS............................................................... 159
6.5. AVALIAÇÃO DAS OBSERVAÇÕES NAS VIDEOCONFERÊNCIAS ........ 160
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 162
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 168
APÊNDICE A - Material didático.............................................................................................. 188
APÊNDICE B - Carta solicitando permissão à Direção da Faculdade de Letras e Artes para a
realização da pesquisa. ................................................................................................................ 230
APÊNDICE C - Carta solicitando permissão ao Coordenador do Departamento de Artes para
a realização da pesquisa. .............................................................................................................. 231
APÊNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido destinado aos alunos .............. 232
APÊNDICE E - Modelo da carta de Cessão de Direito ............................................................. 234
APÊNDICE F - Questões das entrevistas diagnósticas .............................................................. 235
APÊNDICE G - Questões das entrevistas centralizadas na questão de pesquisa. ..................... 236
APÊNDICE H - Programa do Recital de final das atividades ................................................... 237
12
1. INTRODUÇÃO
Esta tese de doutorado tem como foco a motivação para aprender em aulas de violão
a distância, online, no curso de Licenciatura em Música, modalidade presencial, da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Esta pesquisa utilizou, como
Ambiente Virtual de Aprendizagem Musical (AVAM), um site especificamente criado para
esse estudo, além de diversas ferramentas de comunicação síncronas e assíncronas, inclusive
redes sociais da internet. Nesse processo de aprendizagem a distância, online, estão imersos
professores, estagiário e alunos virtuais. Nesta pesquisa, procuro compreender os processos
motivacionais nas interações síncronas e assíncronas nas aulas de violão a distância, online.
Fundamentado no campo da psicologia sociocognitiva da motivação, sobretudo da perspectiva
de macroteoria da autodeterminação (RYAN; DECI, 2004; REEVE, 2006), da motivação
musical (RENWICK, 2008; LEGUTI, 2010; RENWICK; REEVE, 2012), da Educação a
Distância (MOORE; KEARSLEY; 2008; PETERS, 2006) e da Educação Online (SANTOS,
2003, 2010; LEMOS, 2008; SILVA, 2010), este estudo considera as interações online entre os
sujeitos, mediadas pelo ciberespaço e suas potencialidades interativas.
Entre os desafios enfrentados nos espaços em que atuo como professor de música,
destaco o uso das tecnologias digitais para a aprendizagem musical. Atuando como professor
de Artes/Música nas “Oficinas Violão” e nos cursos integrados do Instituto de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), percebi que os estudantes estavam
complementando sua formação musical apoiados com recursos digitais disponibilizados
gratuitamente na internet, desde o ano de 2004 (afinadores e metrônomo digitais, editores de
partitura, vídeos, etc.). Esses recursos digitais possibilitaram a esses estudantes outras
maneiras de aprendizagem musical que, de certa maneira, despertaram-me a curiosidade.
Em 2007, como docente universitário em um curso de licenciatura em Música, fui
iniciado na modalidade a distância por meio de um convite para participar, como colaborador,
de uma pesquisa-ação1 cujo objetivo era analisar os padrões de interação mais frequentes e
pertinentes observados durante um curso de violão mediado por computador. Minhas
primeiras inquietações nessa modalidade de ensino direcionavam-se às seguintes
problemáticas: que estratégias, nas aulas de violão, são possíveis de serem transpostas para a
modalidade a distância? Quais os desafios, vantagens e características particulares para
ensinar e aprender em um ambiente online? Aliado a essa iniciação, o meu ingresso no grupo
1
BRAGA, 2009 (Tese de doutorado em Educação Musical).
13
É esperado, assim, que este estudo possa fomentar discussões sobre outras maneiras de
aprendizado em música e contribua para a descoberta de novos caminhos para a concretização
de outras pesquisas em música, a distância, possibilitando, de maneira mais ampla, que a
sociedade tenha acesso a um conhecimento contextualizado com a realidade dessa modalidade
de ensino.
Dessa forma, considerando a temática apresentada, proponho para esta pesquisa as
seguintes questões norteadoras: Quais as percepções de estudantes de um curso de
Licenciatura em Música sobre a satisfação de suas necessidades psicológicas básicas de
autonomia, competência e pertencimento em aulas de violão a distância, online? Que
interações online em aulas de violão a distância podem promover a satisfação das
necessidades psicológicas básicas dos estudantes em uma licenciatura em Música? A partir
desses questionamentos, a presente pesquisa teve como objetivo geral investigar os processos
motivacionais dos estudantes nas interações online em aulas de violão a distância no curso de
Licenciatura em Música da UERN, sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminação. O lócus
deste estudo foi um curso presencial de Licenciatura em Música, especificamente a disciplina
de Prática Instrumental III em Violão. Participaram deste estudo, voluntariamente, cinco
estudantes matriculados nessa disciplina, residentes nas cidades de Mossoró e Grossos, ambas
no Rio Grande do Norte.
Esta pesquisa tem, como objetivos específicos, os seguintes: analisar as percepções
das necessidades de autonomia, competência e pertencimento dos estudantes nas interações
online; identificar os tipos de motivação dos estudantes para aprender violão nas interações
online; discutir as influências socioambientais sobre a motivação dos estudantes; verificar as
manifestações das necessidades psicológicas básicas nas interações síncronas e assíncronas; e
destacar as principais ferramentas de interações online que auxiliaram nos processos
motivacionais a distância.
É importante salientar que, mesmo tratando das características e concepções históricas
da EAD, esta pesquisa foca a subcategoria online da aprendizagem a distância (BATES,
2005) para investigar os processos motivacionais nas interações em aulas de violão em um
curso presencial de Licenciatura em Música. Na pesquisa, portanto, não pretendi utilizar
outros modelos educacionais a distância nem verificar a qualidade do ensino instrumental
(violão) nessa modalidade, ofertado pela UERN.
A metodologia empregada para alcançar os objetivos propostos e responder às
questões de pesquisa foi a pesquisa-ação educacional (MORIN, 2004). O modelo da
16
pedagogia aberta proposta por Morin (2004) entra em consonância com a abordagem
educacional “Estar Junto Virtual”, que prevê a participação engajada dos sujeitos na resolução
de um problema ou projeto (VALENTE, 2010, 2011).
As técnicas de coleta de dados utilizadas foram a observação participante e entrevistas
presenciais de caráter diagnóstico e online com foco nas questões da pesquisa. No entanto, a
natureza dos aspectos pretendidos também requereu a adoção de outros instrumentos de
registros de dados para complementar as informações, tais como: gravações em vídeos,
registros de diálogos nos fóruns de discussão online, dentre outros. Participaram deste estudo
cinco estudantes matriculados no primeiro semestre de 2011 e dois professores do curso de
Licenciatura em Música da UERN.
Esta tese de doutorado foi organizada em sete capítulos. Após o capítulo 1,
Introdução, apresento o capítulo 2, Características e Concepções sobre a EAD, no qual
destaco o papel da interação e as diferentes abordagens educacionais dessa modalidade de
ensino até os mais recentes desafios dos ambientes educacionais online. Ainda traço um
panorama nacional e internacional da EAD na área de música e da motivação para aprender
em ambientes de aprendizagem online. No âmbito dessa temática de estudo, citei
principalmente os trabalhos que tiveram como foco a didática da EAD, online, e a motivação
musical.
No capítulo 3, Fundamentação Teórica: Teoria da Autodeterminação (TAD)
apresento e contextualizo a TAD em contextos educativos, sobretudo os musicais. Os
processos motivacionais foram vistos principalmente a partir das perspectivas da motivação
em ambientes online na visão de Hartnett (2010) e da motivação musical presencial segundo
Renwick (2008) e Legutki (2010).
No capítulo 4, Metodologia, abordo o modelo da pesquisa-ação integral (MORIN,
2004). Apoiado nas concepções desse autor, relato os caminhos percorridos a fim de intervir
em uma realidade social com base na perspectiva implicante entre atores e autores e
utilizando uma pedagogia aberta (MORIN, 2004). Em seguida, explico a combinação das três
maiores fases (planejamento, implementação e avaliação), a partir das quais outros estágios
mais específicos da pesquisa se desenvolveram. Finalizo este capítulo, apresentando os
instrumentos e a estrutura de coleta, análise e discussão dos dados.
No capítulo 5, Análise e discussão dos dados, são expostos a caracterização dos
participantes, as percepções das necessidades psicológicas básicas de autonomia, competência
17
2
Autodireção e autodeterminação para Belloni (2006) são terminologias empregadas, sobretudo, nos estudos de
autoaprendizagem em EAD para adultos.
22
perspectiva, algumas pesquisas sinalizam que o papel do professor é fundamental para lidar
com as necessidades daqueles alunos que mais precisam de intervenções, as quais os ajudam a
ser mais autônomos (PALLOFF; PRATT, 2005; BELLONI, 2006; MOORE; KEARSLEY,
2008).
De acordo com Palloff e Pratt (2005), os alunos de sucesso acadêmico podem, na
verdade, ser aqueles que mais precisarão de ajuda no ambiente virtual. Esses autores
destacaram, em suas pesquisas, que os alunos mais dependentes, mesmo contribuindo com
discussões críticas e recebendo um feedback positivo dos colegas, acabaram demonstrando
um baixo senso de autoeficácia e preocupações com a aprendizagem. Esses estudantes
perceberam, com o auxílio dos colegas, que a necessidade de feedback estava relacionada às
suas angústias e busca pela aprovação. Desse modo, os pesquisadores acreditam que
professores de cursos a distância não devem esperar que todos os alunos virtuais tenham a
capacidade de agir independentemente, pois o aluno virtual precisa de todos os serviços que
são oferecidos ao aluno presencial. Os autores ainda advertem para se cuidar de outras
necessidades e questões relacionadas às características da EAD, principalmente a sensação de
isolamento e problemas potenciais de acesso aos recursos necessários.
De acordo com Peters (2006), a literatura da EAD aponta pouco espaço para o
desenvolvimento dos estudos autônomos nessa modalidade de ensino, e pouco se questiona
sobre as necessidades dos alunos que mais precisam de autonomia. Esse autor acredita que a
educação, em geral, deve transformar-se para dar condições à aprendizagem autônoma.
Pautado nisso, ele propõe, para a didática do ensino a distância, o diálogo com as concepções
de ensino e aprendizagem da Psicologia Humanista, segundo as quais os indivíduos são
considerados seres que desejam a autorrealização, podendo entender a si mesmos e modificar
sua autoconcepção para revelar um comportamento autodirigido.
Mesmo com o impacto que as TIC causaram na EAD, a autoaprendizagem continua
a ter um papel importante nas práticas convencionais dessa modalidade. Segundo Almeida
(2009), o estudo da autoaprendizagem é denominado heutagogia. Trata-se de um conceito que
amplia a concepção da educação de adultos, centrada na concepção do aprender fazendo.
Desse modo, incorpora-se a autodireção da aprendizagem com o foco nas experiências de
vida. Para alguns teóricos da EAD, o aluno nessa modalidade é considerado um indivíduo
autônomo, automotivado e, portanto, capaz de gerir seu próprio processo de aprendizagem,
mesmo sem a presença e o direcionamento de um professor (TRINDADE, 1992). Esse
conceito de Educação a Distância, voltado para um público adulto e autônomo, é denominado
24
apenas disponibilizar a informação não é suficiente para que haja o processo de construção do
conhecimento (VALENTE, 2010).
Segundo alguns pontos de vista educacionais, é impraticável pensar que tudo que uma
pessoa aprende tenha de ser construído de maneira individual, sem o auxílio do outro
(FREIRE, 1996; VALENTE, 2011). Em conformidade com essas ideias, Godoy (2007)
cunhou a expressão Educação Bancária a Distância (EBAD), pautado na metáfora de Paulo
Freire, para revelar as facilidades da prática da educação bancária em alguns modelos de
EAD, principalmente as que negam a dialogicidade, impossibilitando a interação polifônica e
problematizadora entre os sujeitos. Nesse sentido, a EBAD seria o modelo a distância baseado
na transmissão de informações do professor para o aluno. No entanto, outras maneiras
pedagógicas e modelos educacionais têm emergido nos últimos anos como tendências para a
atual geração da EAD. Destacam-se entre elas: a abordagem Broadcast, “estar junto virtual”,
virtualização da escola tradicional e o modelo de educação online3.
A abordagem Broadcast, apesar de usar um dos mais eficientes recursos de busca
mediado por computador, permitindo encontrar de maneira rápida a informação existente em
banco de dados, CD-Roms e mesmo na web, apenas permite que os estudantes realizem
escolhas entre opções oferecidas. Outra característica dessa abordagem é que não existe
interação entre professor e aluno e mesmo entre os alunos. Dessa forma, a ênfase desse
modelo educacional está pautada no material instrucional e nos recursos de entrega da
informação para os estudantes. Assim, os materiais são os únicos meios com os quais os
alunos se relacionam. Nesse modelo, os alunos só poderão construir conhecimento se eles
forem capazes de estabelecer uma interação com o material fornecido, no sentido de esse
material conseguir desafiá-los a se modificar. Para Landim (1997), esse modelo educacional
cria dificuldades em virtude das diversidades psicológicas, sociológicas, culturais e históricas
dos diferentes interagentes desses materiais. Dessa forma, nem sempre é possível atingir a
maioria dos estudantes envolvidos. Assim, uns podem construir o conhecimento a partir do
material disponibilizado, outros não.
Essa abordagem é considerada eficiente para disseminação da informação para um
grande número de pessoas simultaneamente. Um exemplo dessa abordagem, porém usando a
televisão, foi o Telecurso 2000. Para minimizar a falta de interação com o professor, as ações
educacionais eram complementadas em telepostos que desempenhavam as seguintes funções:
3
Educação online é uma expressão contemporânea utilizada para se diferenciar do modelo a distância via
suportes analógicos unidirecionais, como o impresso, o rádio e a televisão (SILVA; PESCE; ZUIN, 2010).
27
servir de pontos de reentrega da informação; ser local de avaliação presencial, exigido para
certificação; e servir como local onde os alunos pudessem receber auxílio no processo de
significação da informação recebida. Apesar de haver sido montada uma infraestrutura
sofisticada, com as mais variadas TIC, a abordagem Broadcast é considerada, do ponto de
vista didático, pobre, porque está, sobretudo, baseada em transmissão de informação. Valente
(2011) acredita que a adoção de soluções educacionais que se limitam à transmissão da
informação são válidas, porém ele não acredita que os modelos baseados apenas na
transmissão da informação possam preparar cidadãos capazes de sobreviver e aproveitar os
sofisticados recursos existentes na atual sociedade do conhecimento.
A abordagem pedagógica “estar junto virtual” é fruto do advento da internet, da
telepresença possibilitada pelo desenvolvimento das TIC de base da telemática4. Essas
tecnologias têm estreitado os espaços e tempos para os processos educativos e os laços sociais
mantidos a distância por meio da interação intensa e dispersa (HARASIM et al., 1995;
RECUERO, 2009; VALENTE, 2010, 2011). Essa abordagem permite a interação mais
próxima entre professores e alunos de maneira virtual. Porém, para que ela seja estabelecida, é
preciso que o estudante esteja engajado na resolução de um problema ou projeto. Assim,
quando surgem dificuldades ou dúvidas, o suporte do professor auxilia o processo educativo
na resolução dos problemas via rede. Nessa abordagem, os alunos que não conseguem
resolver seus problemas enviam suas questões para o professor. Este reflete sobre as questões
solicitadas e envia sua opinião e outros materiais em forma de textos e imagens com
atividades que possam auxiliar os alunos a resolverem seus problemas. Após receber o
feedback informativo do professor, o aluno tenta colocar a atividade em prática, podendo
gerar novas questões que poderão ser solucionadas com o suporte do professor (VALENTE,
2010, 2011).
Embora essa abordagem seja rica em promover o processo de construção social do
conhecimento virtualmente, é considerada limitada quando comparada com outras abordagens
em EAD. Segundo Valente (2010), a manutenção de um nível desejável de interações não
permite que o professor atenda a mais do que vinte alunos. Sua experiência tem atestado que
esse é um número razoável, o que também é confirmado por outros pesquisadores
(HARASIM et al., 1995). No entanto, alguns procedimentos podem ser adotados para
4
Ciência que trata da manipulação e utilização da informação por meio do uso combinado de computador e
meios de telecomunicação.
28
amenizar essa limitação. Essa abordagem também requer uma equipe para auxiliar o
professor e entender o que está acontecendo, monitorando atividades do professor e
auxiliando-o na elaboração do material didático, sob demanda, para ser postado para os
alunos. No Brasil, esse modelo educacional foi adotado em diversos cursos de formação
docente e professores multiplicadores do Programa Nacional de Tecnologia Educacional
(ProInfo) para atuarem nos Núcleos de Tecnologia Educacional (NET) ou adotarem a
informática em suas práticas pedagógicas (VALENTE; PRADO; ALMEIDA, 2005;
VALENTE; ALMEIDA, 2007). Para Valente (2011), essa abordagem gera mudanças
profundas no processo educacional que nem a educação presencial foi capaz de implementar.
Portanto, o professor, nessa abordagem, precisa estar implicado em um ciclo de ações para
efetivar a construção do conhecimento dos alunos.
transmite aos alunos. De modo semelhante, como acontece nas aulas presenciais, essa
abordagem utiliza mecanismo de interação entre professores e alunos, mediado pelas TIC.
Para Valente (2011), grande parte das interações professor/aluno nessa abordagem
resume-se em o docente verificar se o discente consegue usar a informação fornecida,
exigindo deste uma aplicação dela em um domínio muito restrito, como um teste, uma prova
ou na resolução de um problema. Assim, o professor assume a função de elaborar e
disponibilizar o material didático, bem como as atividades a serem realizadas, e receber as
respostas dos alunos. Nesse sentido, o professor, ao receber as tarefas dos alunos, registra o
recebimento destas, corrige-as e fornece um feedback em forma de conceito ou nota. Esse
modelo educacional limita as interações para estimular o aluno a trabalhar em situações
criadas especificamente para que ele construa e atribua significado ao que está aprendendo
(VALENTE, 2011). Para Primo (2007), esse modelo educacional gera interações
denominadas de reativas, que serão detalhadas nos próximos parágrafos, as quais não são
suficientes para auxiliar os alunos em um processo de construção do conhecimento. Para
Valente (2001), é possível que essa abordagem possa gerar uma interação que leve à
construção do conhecimento. Portanto, o papel tradicional do professor precisa ser
redimensionado, passando a ser mais ativo, como acontece no “estar junto virtual”,
contribuindo para um processo que auxilie o aluno na construção do seu conhecimento. No
entanto, o número de alunos matriculados nas situações de implementações dessa abordagem
geralmente é grande, tornando muito limitada a interação professor/aluno (Valente, 2001).
Para alguns estudiosos da temática, as características do modelo de virtualização do
ensino tradicional apresentam mais desvantagens do que vantagens em relação ao ensino
tradicional presencial (VALENTE, 2011; SANTOS, 2010). Para esses autores, esse modelo
virtual fica a desejar, porque se perde a oportunidade do diálogo que ocorre na interação
presencial e não se utilizam as potencialidades reais das interações online. Para Valente
(2011), as únicas vantagens desse modelo educacional são a diminuição de custos e a
flexibilidade de o aluno gerenciar seus estudos em relação ao seu tempo. Porém, o autor
argumenta que essa abordagem em geral é apresentada de maneira equivocada, como um
modelo que prioriza a construção do conhecimento e a preparação de estudantes autônomos,
capazes de aprender continuamente. Esse modelo de EAD tem norteado grande parte dos
cursos ou ações a distância encontrados na internet. Essas ações acontecem com a mediação
de tecnologias computacionais integradas aos recursos digitais online utilizados pelos
ambientes de educação a distância (VALENTE, 2011; PENTA, 2008).
30
5
Cultura contemporânea estruturada pelas tecnologias digitais online (SANTOS, 2010).
6
O ciberespaço é considerado muito mais que um meio de comunicação ou mídia. Além de diversas mídias, esse
ambiente oferece uma pluralidade de interfaces de comunicação síncronas e assíncronas (SANTOS, 2010).
31
Apesar de a quinta geração ainda ser caracterizada, por muitos autores, pela
aprendizagem flexível inteligente, baseando-se em tecnologias da internet (MOORE;
KEARSLEY, 2008), é notório que, nos últimos anos, outras características foram
incorporadas às mais recentes etapas ou ondas na EAD. Para além da aprendizagem flexível
inteligente online, em que os computadores pessoais armazenavam programas e arquivos
específicos de cada usuário com os riscos de perder o aparelho ou mesmo de sofrer danos, nos
dias atuais, surgiram outras características, como a computação nas nuvens (Clouding
Computing), que permite o armazenamento de programas e aplicativos em servidores
distantes, guardando neles, também, documentos de todos os tipos (áudio, vídeo, textos...). A
mobilidade é outra característica, mediante a qual os indivíduos utilizam cada vez mais
aparelhos simples e leves (laptop, netbook, tablets ou telefone celular). As possibilidades
desses aparatos pequenos e portáteis têm proporcionado o aprendizado móvel (m-learning)
32
Para Santos (2003, 2010) e EID (2011), mesmo com as potencialidades interativas
proporcionadas pelo advento da internet e seus ambientes virtuais de aprendizagem online,
muitos projetos de cursos na modalidade a distância migraram seus modelos para a rede,
mantendo a mesma lógica comunicacional de mídia de massa e dos padrões tradicionais da
EAD que separam os sujeitos dos processos de cocriação do conteúdo e do próprio modelo
didático. Essas pesquisas revelaram que o uso da tecnologia nem sempre estava associada a
uma inovação pedagógica (EID, 2011; SANTOS, 2003, 2010). A pesquisa realizada por
Santos (2003) em oito cursos online constatou que os processos de ensino-aprendizagem nos
ambientes virtuais utilizados poderiam ter sido mais interativos em virtude das
potencialidades de suas interfaces de comunicação síncrona7 e assíncrona8. Contudo, os
modelos educacionais, na maior parte desses cursos, estavam centrados na pedagogia da
transmissão, na lógica da mídia de massa, na autoaprendizagem e no modelo de tutoria
reativa9. Segundo a autora, o “online” era só a tecnologia, a metodologia e as práticas
docentes ainda estavam, sobretudo, baseadas nas tradicionais concepções da EAD de massa.
Nesse modelo, os estudantes interagem com os materiais didáticos sem cocriar, juntamente
com seus colegas e professores, o conhecimento. Por conta do limite das mídias de massa, a
EAD tradicional privilegia didaticamente as concepções de autoaprendizagem em oposição à
aprendizagem colaborativa, interativa e hipertextual. As características dos processos
7
A comunicação síncrona é aquela que simula uma interação em tempo real. Desta maneira, os sujeitos
envolvidos estão online no mesmo momento temporal, como por exemplo, nos canais de chat ou nas
videoconferências.
8
Nas comunicações assíncronas, típicas nos fóruns online e e-mails, a expectativa de feedbacks não é imediata.
Porém, é possível utilizá-los de modo imediato, mas em geral, espera-se que, nesse modo de comunicação, as
pessoas levem algum tempo para interagirem por não estarem presentes online no momento temporal da
interação.
9
Modelo em que o aluno pouco participa das discussões do conteúdo e da estrutura do curso (MATTAR, 2009).
33
refletiram sobre elas. Baseada nas ideias de Lévy (1999), que não se concebe mais currículos
rígidos na pós-modernidade, essa tutora percebeu que as disciplinas de formação de
professores estavam prontas, lineares e estáticas para todos os alunos. Na sua percepção, a
maneira como foram pensadas essas disciplinas comprometeu o processo de construção
reflexiva do conhecimento.
Para discussão sobre possíveis práticas flexíveis nas disciplinas, Eid propõe a
concepção hipertextual, na qual atividades poderiam ser sugeridas pelos professores em
ferramentas do ambiente virtual. Nesse ambiente, o aluno deveria ser estimulado a participar
livremente das atividades, inclusive com flexibilização do tempo para realização destas e para
o fechamento dos assuntos estudados. Por sua vez, os tutores não precisariam seguir, a rigor,
um roteiro pré-estabelecido para o cumprimento das tarefas, possibilitando, assim, perceber as
características da turma e agir de acordo com as peculiaridades de cada aluno. Outro fator
apontado foi a possibilidade de os professores atualizarem os conteúdos quando achassem
necessário.
Para Eid (2011), a utilização ampla de vídeos, nesse modelo, pode ser pensada no
sentido de motivar alunos e professores a utilizarem links, imagens e áudios, objetivando
levantar e exemplificar discussões. Em consonância com as ideias da tutora da UAB/UNB,
Mattar (2009) reforça e amplia o papel da integração das mídias para as interações na EAD:
o grau das interações também varia em função das mídias utilizadas, como o texto,
áudio, vídeo, teleconferências entre outras. A combinação planejada dessas
diferentes formas de interação é um dos desafios da EAD. Todos esses tipos de
interação podem ocorrer síncrona e assincronamente, por meio de diversos gêneros
de comunicação. Interações síncronas envolvem um grau de espontaneidade que não
é fácil de encontrar nas interações assíncronas, as quais, entretanto, oferecem mais
flexibilidade para o aluno, já que podem ocorrer em qualquer lugar e horário (2009,
p. 118).
A Educação a Distância (EAD) é cada vez mais encarada, nos dias atuais, como um
elemento facilitador nos processos de educação musical. Essa modalidade de ensino tem
despertado um crescente interesse de cursos, projetos e pesquisadores ligados à área de
música. A criação da Open Universty, no Reino Unido, em 1969, causou repercussão no
ensino da EAD em âmbito internacional e, especificamente na área de música, essa
universidade já iniciou seus cursos a distância desde 1972. Entretanto, somente na década de
1990, a internet começou a ser amplamente utilizada, surgindo, em 2007, os primeiros cursos
totalmente online (THE OPEN UNIVERSITY, 2010). Outro caso de instituição já
consolidada na Inglaterra é o da Universidade de Reading, na qual surgiu o MTPP (Music
36
10
Relação dos cursos universitários de música a distância: http://www.hotcourses.com.br/study/training-
degrees/international/distance-online/music-courses/smode/3/cgory/f5-3/sin/ct/programs.htm.
37
11
Esse sistema utiliza um dispositivo chamado codec, que comprime essa distribuição em dados e envia por
circuitos de internet ou telegrafia sem fios para outros locais até milhares de quilômetros
(http://www2.sfasu.edu/distance/music).
12
Ver em: http://musicpath.acadiau.ca/
38
Dentre algumas instituições que oferecem esses cursos estão: a Monash University, University
of Newcastle, Charles Sturt University,University of New England 13).
Os programas australianos em Educação Musical a Distância além de trabalharem
com uma ampla gama de tecnologias (impressos, audiovisual, internet), avançam nos modelos
online totalmente a distância. Para Baker (2012), o impacto crescente da aprendizagem online
no ensino superior contribuiu para reforçar o discurso das investigações sobre pedagogias
online em educação musical em detrimento do domínio da educação musical presencial.
Algumas pesquisas investigam os limites e as possibilidades para tornar o aprendizado
musical efetivo e eficiente nos ambientes de aprendizagem a distância totalmente online
(BAKER; PITTAWAY, 2012). Desde o ano de 2010, Baker coordena uma pesquisa sobre
formação continuada em educação musical para professores generalistas de artes das séries
iniciais do ensino fundamental. Essa investigação explora as percepções das experiências da
aprendizagem online em educação musical dos estudantes para orientar as questões da
pesquisa. Os resultados parciais obtidos nos surveys e entrevistas semiestruturadas revelou
uma significativa importância das interações entre participantes. As interações online foram
significativamente percebidas como diferentes das interações no ambiente presencial. A
importância atribuída pelos alunos nas interações síncronas receberam destaques para a
aprendizagem musical online. No entanto, ambas as interações (síncronas e assíncronas)
foram significativas para a formação continuada dos professores em educação musical. Para
Baker (2012), o conjunto dos dados obtidos, aliado à contínua expansão de ambientes de
aprendizagem online para formação de professores de música, forneceu elementos para
justificar a continuidade do seu projeto de pesquisa. Ele argumentou que investigar os
caminhos que os alunos percorrem para aprender música no ambiente online é um passo
importante para o desenvolvimento das práticas pedagógicas do futuro, bem como para
informar outras abordagens práticas para a formação de professores de música (BAKER,
2012).
Apesar de os países escandinavos possuírem populações pequenas em relação a
outros países mencionados e com tradição em EAD, são caracterizados por populações
dispersas em uma grande área, fora das zonas urbanas. Assim, as pessoas estão isoladas por
causa da geografia e de um rigoroso inverno. A educação e os serviços sociais nesses países
recebem prioridade nas políticas nacionais. Como o nível da educação é muito elevado, as
pessoas desenvolvem aptidões desde cedo nas escolas e, portanto, são capazes de se adaptar
13
Ver em: http://www.hotcourses.com.br/study/training-degrees/international/distance-online/music-
courses/smode/3/cgory/f5-3/sin/ct/programs.htm.
39
com muita facilidade à EAD (MOORE; KEARSLEY, 2008). Especificamente sobre o ensino
de música, recentemente um projeto de pesquisa sobre o ensino a distância de violino e de
instrumentos de corda (Vir Music14) foi organizado por cinco instituições no norte da
Finlândia, Suécia e Noruega. Para Kangasluoma (2010), quando as lições são cuidadosamente
preparadas e o equipamento técnico é utilizado adequadamente, o ensino de violino a
distância não é problemático. Porém, para estudantes iniciantes em violino, o autor acredita
que é melhor que as aulas não sejam virtuais, pois a orientação presencial é necessária. No
entanto, depois de alguns anos de prática e tendo adquirido um bom conhecimento prático,
aulas a distância poderiam tornar-se a modalidade principal, com o professor agindo como um
orientador direcionando os alunos. Kangasluoma (2010) apontou, como desvantagem das
videoconferências, o predomínio da informação verbal transmitida, que não é, na sua visão,
suficientemente eficaz em produzir mudanças para melhorar o desempenho das técnicas de
posicionamento do arco e da qualidade do som.
As experiências com aulas virtuais de violino e outros instrumentos de cordas têm se
desenvolvido suficientemente nos últimos anos para serem aceitas por profissionais de alto nível.
Como exemplo, cito Pinchas Zukerman, um violinista internacionalmente conhecido e um dos
pioneiros no ensino virtual de violino. Os argumentos usados por Maarit Rajamäki (diretor
artístico da Academia de Särestö, Särestö Academy) para uma boa aceitação nas aulas virtuais
estão diretamente ligados à rapidez das atuais conexões da internet, que fazem a qualidade do som
nas videoconferências se aproximar tanto do real que a sensação é de estar no mesmo ambiente
(SÄRESTÖ, 2011). Entre as possibilidades dessa modalidade de ensino, o pesquisador
Rajamäki defende que a EAD, mesmo nas cidades mais urbanizadas, pode ser usada como
uma modalidade extra, juntamente com a educação básica (SÄRESTÖ, 2011). Os problemas
com a disponibilidade de salas de aula e dias letivos podem ser minimizados, pois o professor
pode, de sua casa, dar aulas a distância e mediar o ensino para muitas cidades ao mesmo
tempo (SÄRESTÖ, 2011). Para os pesquisadores da Särestö Academy, embora a Universidade
de Ciências Aplicadas de Oulu (Oulu University of Applied Sciences), a Escola de Música de
Piteå (School of Music in Piteå) e a Universidade de Tromsö (University of Tromsö) hajam
integrado a educação a distância a seus currículos, essa modalidade deve também ser
integrada ao ensino médio (SÄRESTÖ, 2011).
A pesquisa de Dammers (2009) estudou a viabilidade da EAD na aprendizagem de
um instrumento musical por meio de videoconferências. Dammers (2009), em caráter
14
http://vi-r-music-blog.blogspot.com.br/
40
exploratório, realizou um estudo de caso, baseado em nove lições de trompete ministradas por
um professor da Costa Oriental dos Estados Unidos a uma estudante da oitava série do Meio
Oeste do mesmo país. Esse estudo foi pensado para utilizar a tecnologia disponível. Para
tanto, a estudante, de pseudônimo Kate, utilizou um computador de sua família, conexão de
internet via cabo e uma webcam profissional provida pelo pesquisador. O professor, de
pseudônimo Jeremy, utilizou um notebook profissional e uma máquina fotográfica para
capturar as imagens das aulas. A videoconferência foi realizada no software Skype. O
pesquisador concluiu que o formato pareceu servir mais como um complemento das lições
presenciais naquele momento. Vale salientar que, no mesmo país, existem projetos bem mais
caros e inovadores como a Orquestra da Filadélfia (2008), na série de Concertos Globais, que
usam equipamentos de alta definição e internet de alta velocidade, em contraponto a esse
estudo de caso que era relativamente barato, mas imediatamente acessível (DAMMERS,
2009).
Por fim, desde a segunda metade da década de 2000, é evidente a criação de muitos
programas não formais, como, por exemplo, a Virtual School of Music15, nos quais o
estudante pode encontrar diversos especialistas oferecendo seus serviços online. Esse
programa virtual, entre outros, oferece diversas opções para o estudo de instrumentos
musicais nos dias atuais por meio de videoconferências e utilizando tecnologias acessíveis,
inclusive aqui no Brasil, contexto que será tratado na próxima seção.
15
http://www.virtualschoolofmusic.com
16
Esses programas podem ser acessados gratuitamente através do site youtube.com
41
17
Lei de Diretrizes e Bases-LDB, 9394, de 20 de dezembro de 1996.
42
abrangeu até o ano de 2005, haja vista o acesso ao banco de dados ao qual a autora recorreu
haver se dado em outubro daquele ano, implicando dizer que esses dados abrangem somente a
produção constatada até aquele momento. A pesquisa feita pela referida autora revelou que
apenas 24% desses trabalhos foram realizadas em Programas de Pós-Graduação em Música.
Duas dessas pesquisas desenvolveram práticas em EAD nos quatro primeiros anos do século
XXI, mas ambas não foram mediadas por computador. Souza (2002) investigou limites e
possibilidades da EAD na formação de professores em séries iniciais do ensino fundamental
em Mato Grosso, e Cajazeira (2004) realizou uma pesquisa cujo objeto de estudo foi um curso
a distância para músicos de uma banda filarmônica no interior da Bahia. Mesmo não
investigando as possibilidades de interação online, tais trabalhos são marcos significativos
para a educação musical a distância no país.
Os trabalhos que se detiveram no ensino de instrumento musical na primeira metade
da década passada são os de Lima (2002) e Gohn (2003). Lima (2002), apesar de ter realizado
seu trabalho na área de informática, fez uma interface significativa com o ensino musical,
desenvolvendo um sistema para o ensino de flauta doce a distância, denominado Webflauta.
Gohn (2003) desenvolveu sua dissertação de mestrado na Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (USP). Esse trabalho, intitulado Autoaprendizagem musical, teve
como objetivo estudar a utilização das tecnologias nos processos de autoaprendizagem dos
instrumentos musicais, especificamente dos percussivos.
Na pós-graduação brasileira, os trabalhos acadêmicos sobre a temática começaram a
ser intensificados somente na segunda metade da presente década, concomitantemente com o
período da criação dos cursos superiores anteriormente citados (HENDERSON, 2007;
BRAGA, 2009; GOHN, 2009; VIANA JÚNIOR, 2010; WESTERMAN, 2011; KRÜGER,
2010; BORNE, 2011; OLIVEIRA, 2012). Os trabalhos citados mostram os limites e as
possibilidades da EAD na aprendizagem musical, evidenciando um interesse crescente da área
sobre essa modalidade de ensino. Apenas os trabalhos de Gohn (2009), Braga (2009) e
Westerman (2011) trataram diretamente da aprendizagem instrumental.
Sobre os limites e as possibilidades da educação a distância online, na formação
continuada de professores de música, Henderson (2007) concluiu quão importante é o apoio
institucional na realização de um programa de formação continuada, cujas bases são a
concepção metodológica, a gestão eficiente do ambiente e a adequação do material didático
para tais programas. Krüger (2010) investigou a percepção de docentes que ministraram
cursos de formação continuada em educação musical, apoiados pela a EAD, numa instituição
43
de orquestra. Essa pesquisa revelou que as interações a distância podem ser estendidas,
também, a músicos e regentes, de modo a ampliar e valorizar suas práticas educativo-musicais
nas escolas.
Borne (2011) destacou-se como o primeiro trabalho realizado sobre a formação do
docente que atua nos cursos superiores de música a distância, bem como nos presenciais que
praticaram alguma disciplina nessa modalidade de ensino no Brasil. Sua pesquisa buscou
compreender o trabalho desenvolvido por professores universitários nos cursos superiores da
UFRGS e UNB, a partir das percepções desses profissionais sobre suas práticas. As reflexões
desse trabalho apoiaram-se no referencial sobre prática docente e, dentre os autores
considerados como marco teórico, destacou Tardif e Lessard (2008). Os resultados da
pesquisa revelaram que a formação que os participantes desse estudo tiveram para atuar na
modalidade a distância ocorreu, geralmente, após o início das atividades na EAD. A pesquisa
revelou também que o papel exercido pelo planejamento foi evidenciado no momento em que
a prática docente era ressignificada nas aulas, atividades e avaliações.
Na busca dos aspectos afetivos em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), as
pesquisas têm avançado para além da verificação dos objetivos em relação ao conteúdo. Tem-
se procurado levar em consideração os atributos afetivos que interferem, de maneira
significativa, nos processos mentais, tais como: memorização, raciocínio, atenção e
motivação. Para tanto, as mais recentes abordagens em AVA tendem a unir infraestrutura
tecnológica às relações afetivas, cognitivas e simbólicas, dentre outras, no processo educativo
mediado por esses ambientes (LONGHI; BEHAR; BERCHT, 2009). Essas pesquisas
demonstram que as práticas pedagógicas têm utilizado cada vez mais os recursos tecnológicos
nos processos de aprendizagem, determinando, dessa forma, um redimensionamento na ação
do ensinar.
Algumas pesquisas brasileiras estudaram o papel exercido pelos ambientes virtuais
de aprendizagem para o ensino musical a distância (OLIVEIRA, 2012; VIANA JÚNIOR,
2010). Viana Júnior (2010) pesquisou a viabilidade do ensino semipresencial nas aulas de
harmonia, por meio de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), no processo formativo
de estudantes universitários de um curso de licenciatura em música na modalidade presencial.
Esse estudo adotou o modelo C(L)A(S)P de Swanwick (1988) como marco teórico para o
planejamento das atividades, empregadas no ambiente virtual SÓCRATES18. Além de buscar
18
Ambiente colaborativo criado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), baseado na Web, possibilitando a
criação de projetos e comunidades de aprendizagem de modo a contribuir para a melhoria da formação e
prática pedagógica cotidiana dos professores e pesquisadores.
44
vários pontos de vista, considerado o mais complexo entre os padrões investigados e que se
mostrou extremamente relevante para o desenvolvimento da criatividade e do senso crítico
musical dos estudantes. O referido autor julgou que cursos realizados por videoconferências
no formato de sua pesquisa já são possíveis para a nossa realidade.
Gohn (2009) discutiu o ensino de percussão a distância na licenciatura em educação
musical a distância da UAB, em parceria com a UFSCar. Essa pesquisa contribuiu para se
avançar nas possibilidades que a EAD oferece para o ensino de instrumento musical
utilizando tecnologias digitais. O aludido autor concluiu que os procedimentos para o estudo
de percussão nos cursos de música podem ser trabalhados a distância.
Westerman (2011) foi o segundo trabalho, em nível de pós-graduação, que discorreu
sobre as práticas de EAD nos cursos de música a distância no país. Esse estudo discutiu os
fatores que influenciam a autonomia do aluno de violão. Nessa pesquisa, a autonomia foi
concebida a partir do conceito de metacognição, oriundo dos estudos de psicologia cognitiva.
Em sua pesquisa, esse autor concluiu que o fator que influenciou a autonomia dos discentes
foi a capacidade de reflexão sobre a própria produção dos alunos de violão. Saliento que, até o
presente momento, são poucas as pesquisas brasileiras que se dedicaram aos limites e às
possibilidades do ensino de instrumento, principalmente quando se trata de aulas com
modelos síncronos mediados por videoconferência.
Outras experiências em EAD, em música, vêm sendo comunicadas nos encontros e
periódicos da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) e da Associação de
Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM): (SANTOS 2006a, 2006b; NARITA,
2009; RIBEIRO, 2010; TOURINHO, 2009; ROSSIT; SANTHIAGO, 2009, 2010; BRAGA,
2010, 2011; CARVALHO, 2011; CORRÊA; ROSSIT; SANTHIAGO, 2011; FUCCI
AMATO, 2011; GOHN, 2011; EID, 2011; MARQUES, 2010, 2011; SCOTTI, 2011;
LACORTE, 2012; PEREIRA, 2012).
Especificamente sobre produção de materiais didáticos para aulas de violão a
distância, destaco os trabalhos de Tourinho (2009) e Marques (2010). Tourinho (2009)
comunicou como os materiais didáticos da disciplina de violão foram planejados e elaborados
no cenário de dois cursos de licenciatura em música na modalidade a distância no Brasil. Para
a autora, o modelo tradicional das aulas de instrumento musical ainda parece ser um tabu
enfrentado pela modalidade a distância. Para minimizar os possíveis problemas causados pela
falta de interação entre professores e alunos, o material didático usado nos cursos de música
da modalidade a distância da UFRGS e da UNB estavam sendo reelaborados para serem
46
19
http://caef.ufrgs.br/produtos/ebook_violao/release_0.6/index.php?caminho=Apresentação
48
As pesquisas que tratam das relações entre a psicologia educacional nos processos de
ensino e aprendizagem da EAD ainda constituem temáticas academicamente menorizadas no
Brasil e no exterior (CAMARGO, 2009; ANDRÉ, 2009). Especificamente sobre a motivação
em ambientes online, as pesquisas são pautadas em concepções da motivação como uma
característica relativamente estável, pessoal do aluno. Essa perspectiva tem contribuído para
a noção de que os alunos online são, em geral, intrinsecamente motivados. Para Moore
(1989), as características de independência, autodireção e motivação intrínseca têm sido muito
associadas aos alunos a distância (MOORE, 1989). Para Bates (2005), a aprendizagem online
pode proporcionar uma série de benefícios, para além da capacidade de superar as restrições
temporais e espaciais de ambientes educacionais. Liberdade de restrição pode ser também
considerada uma característica definidora da aprendizagem online, assim como o
desenvolvimento de relacionamento (ANDERSON, 2006).
Algumas pesquisas contemporâneas identificaram a motivação intrínseca como uma
característica importante para alunos online (CERCONE, 2008; STYER, 2007). Outros
estudos comparativos entre alunos da educação superior online e presencial concluíram que
alunos online são mais intrinsecamente motivados do que seus homólogos, tanto no nível da
graduação quanto no da pós-graduação (HUETT et al., 2008; SHROFF; VOGEL, 2009).
Porém, alguns pesquisadores argumentam que, em geral, é requerido que os alunos online
sejam mais intrinsecamente motivados, porque esses modelos educacionais normalmente
estão baseados em motivação intrínseca e nas características de curiosidade e autorregulação
20
A Rede de alcance mundial é um sistema de documentos em hipermídia interligados e executados na Internet.
49
para envolver o aluno (MARTENS; GULIKERS; BASTIAENS, 2004). Para alguns pontos de
vista, os recursos tecnológicos são vistos em si como um elemento de natureza motivadora,
porque fornecem uma série de qualidades reconhecidas para promover a motivação intrínseca,
tais como: desafio, curiosidade e novidade (LEPPER; MALONE, 1987). No entanto, algumas
pesquisas revelaram que o fator novidade tende a se desgastar rapidamente quando os
indivíduos se acostumam com as tecnologias, podendo diminuir a motivação intrínseca
(KELLER; SUZUKI, 2004). A frustração com problemas de ordem técnica também foi
apontada como outra razão que pode reduzir a motivação intrínseca (HARTENETT, 2010).
As vantagens que a aprendizagem online oferece, sob uma variedade de fatores,
foram identificadas como cruciais para o sucesso de cursos online, e a motivação é destacada
como um fator importante a ser considerado (BEKELE, 2010). A motivação deficiente dos
alunos, juntamente com a inclusão da população de estudantes cada vez mais diversificada,
têm sido identificadas como fatores decisivos que contribuem para as altas taxas de evasão
nos cursos online (MUILENBURG; BERGE, 2005). As perspectivas apresentadas têm levado
alguns pesquisadores a questionarem as suposições que veem os alunos online como
independentes, autodirigidos e intrinsecamente motivados (PALOFF; PRATT, 2005).
Embora a motivação intrínseca seja considerada um importante trunfo para a
aprendizagem online, as pesquisas que sustentam essa visão ainda são consideradas limitadas
em número e escopo (ARTINO, 2008; HUETT et al., 2008). Algumas se concentram na
abordagem do ambiente de aprendizagem relacionada aos fatores considerados necesssários
para oferecer a motivação ideal para o aluno (CHANLIN, 2009; KELLER; SUZUKI, 2004;
ZAHARIAS; POYLYMENAKOU, 2009). Outras consideram a motivação uma característica
pessoal relativamente estável do aluno (BURES; ABRAMI; AMUNDSEN, 2000;
WASCHULL, 2005; WIGHTING et al., 2008; YUKSELTURK; BULUT, 2007). No entanto,
poucas investigações em ambientes online reconheceram uma visão sociocognitiva
contemporânea da motivação, principalmente as que enfatizam a relação situada e
mutuamente constitutiva do aluno e do ambiente de aprendizagem (HARTENETT, 2010).
Os estudos que adotaram especificamente a Teoria da Autodeterminação (TAD) em
ambientes online nos oito primeiros anos desse milênio foram poucos, apesar de já apontarem
uma tendência crescente (MARTENS et al., 2004; ROVAI et al., 2007; SHROFF et al., 2007;
SHROFF et al., 2008; XIE et al., 2006). No entanto, uma limitação notável nesses estudos
ocorreu pela tendência de se concentrarem apenas na motivação intrínseca. Dessa maneira,
esses estudos acabaram explorando, de maneira parcial, o potencial da TAD para a
50
A TAD argumenta que os seres humanos apresentam uma orientação geral para o
crescimento e o envolvimento pessoal para satisfazer necessidades psicológicas inatas em
direção à autorregulação, com base numa variedade representativa de pesquisas empíricas em
diversos domínios do conhecimento. Porém, a teoria reconhece que as pessoas podem
apresentar orientações passivas, alienadas ou descontentes. Desse modo, ao invés de apenas
enfatizar as causas da motivação intrínseca, a TAD tem se concentrado também nos fatores
ambiental e intrapessoal que podem minar a tendência natural de os indivíduos crescerem em
direção à autorregulção (RYAN; DECI, 2000a). Para a TAD, as diferenças entre as
orientações motivacionais resultam da interação entre a natureza inerentemente ativa das
pessoas e os ambientes sociais que apoiam ou impedem a propensão inata dos indivíduos ao
desenvolvimento saudável e à autorregulação (DECI; RYAN, 2008a; 2008b).
Cada vez mais pesquisadores têm utilizado métodos empíricos e raciocínio indutivo
em diversas culturas para sustentar a argumentação central da TAD: a de que todos os seres
humanos têm necessidades psicológicas de competência, autonomia e pertencimento (DECI;
RYAN, 2008a, 2008b). Porém, a universalidade dessa teoria não é uma afirmativa unânime
no campo geral da psicologia, pois ela contrasta com a visão da perspectiva relativista da
psicologia cultural, que defende que as necessidades psicológicas são aprendidas nas culturas
e limitadas em aplicabilidade quando em culturas diferentes. Essa perspectiva entende que a
autonomia é um ideal ocidental que se concentra no individualismo e que, em culturas
orientais, a autonomia não é uma necessidade tão importante, porque elas estão baseadas,
sobretudo nos ideias de coletividade (KITAYAMA, 2002; MARKUS; KITAYAMA, 2003).
Para Deci e Ryan (2008a), os psicólogos relativistas culturais muitas vezes têm
interpretado autonomia como sinônimo de independência. Ao invés disso, a TAD afirma que
autonomia não é a mesma coisa que independência. Para a TAD, autonomia é uma
necessidade que os indivíduos têm de perceber que o comportamento intencional teve origem
e regulação pessoal, bem como de agirem volitivamente, com um senso de escolha, enquanto
que a independência são os meios necessários para o indivíduo agir sozinho e não depender
dos outros. Para a TAD, as pessoas em geral podem agir de forma independente por vários
motivos, tais como por quererem ser vistas como competentes, ou por não quererem estar
vinculadas à relação de dependência com outras pessoas. Essas possibilidades de atuar de
53
forma como as necessidades tendem a ser percebidas independe da cultura (DECI; RYAN,
2008a).
Em suma, a TAD assume que a motivação de uma pessoa, o comportamento e a
experiência em uma determinada situação tanto se justificam em função do contexto social
imediato quanto dos recursos intrapessoais que se desenvolveram em seus comportamentos
em função das interações com contextos sociais. O contínuo desenvolvimento baseado em
consistentes estudos empíricos, situa, nos dias atuais, a TAD como uma macroteoria
contemporânea da motivação, composta por cinco miniteorias interrelacionadas e
complementares entre si: 1) Necessidades Psicológicas Básicas (Basic Psychological Needs);
2) Avaliação Cognitiva (Cognitive Avaluation); 3) Integração Organísmica (Organismic
Integration); 4) Orientações Causais (Causality Orientations); 5) Metas Motivacionais (Goal
Contents). As próximas seções fornecem uma breve descrição dessas teorias, que abordam
desde o impacto dos ambientes sociais sobre a motivação intrínseca até questões de
personalidade, autorregulação do comportamento humano, necessidades psicológicas básicas,
metas motivacionais e as relações da cultura com a motivação.
socioambientais podem afetar os recursos motivacionais internos dos indivíduos, tanto para
melhorar quanto para minar a motivação (REEVE, 2006; DECI; RYAN, 1985).
A Teoria das Necessidades Psicológicas Básicas parte do pressuposto de que todos
os indivíduos são movidos por necessidades psicológicas de autonomia (autonomy)
competência (competence) e pertencimento (relatedness). Para a TAD, tais necessidades
refletem diretamente no relacionamento afetivo e saudável do indivíduo com o meio
ambiente, constituindo basicamente os fatores psicológicos que originam a motivação (DECI;
RYAN, 2000; RYAN; DECI, 2004).
percebido de competência. Assim, quando essas fontes de informação são interpretadas como
uma atividade bem realizada, os indivíduos experimentam um Feedback positivo capaz de
satisfazer sua necessidade psicológica de competência.
Nesse sentido, não é qualquer interação que nos faz sentir pertencendo a outro
indivíduo ou a um determinado grupo social. Para satisfazer a necessidade de pertencimento,
é preciso estabelecer vínculos com outras pessoas, sendo a interação condição primeira que
envolve essa necessidade, mas por meio de afeto e de apreciação dos outros. O envolvimento
relacional capaz de satisfazer essa necessidade estabelece uma relação autêntica entre o self 21
de um indivíduo e outra pessoa (ou entre o self e um grupo de indivíduos) de maneira afetuosa
e emocionalmente significativa. As interações que não envolvem afeto, aproximação,
aceitação e valorização não satisfazem a necessidade de pertencimento. Nesse sentido, a
vinculação que satisfaz a necessidade de pertencimento está diretamente associada à
qualidade e não à quantidade de relações interpessoais. O contexto social também é
importante para satisfazer a necessidade de pertencimento, pois ele fornece subsídios
necessários para apoiar a internalização do self (REEVE, 2006).
As necessidades psicológicas básicas têm sido investigadas, sobretudo, nas
interações face a face entre os indivíduos, em que os laços de amizades têm sido muitas vezes
21
Self é um autoconceito que energiza e direciona o comportamento dos indivíduos (REEVE, 2006).
58
A Avaliação Cognitiva foi o ponto de partida para o surgimento da TAD. Foi criada
por Deci, Ryan e Conell nos anos de 1980, quando o conceito de motivação intrínseca
começou a tomar forma com o desenvolvimento cognitivo da psicologia motivacional
emergente na década de 1970. Esses pesquisadores buscavam entender os impactos de
eventos externos (recompensas) sobre as atividades interessantes e prazerosas para as pessoas
(BORUCHOVITCH, 2008). É importante esclarecer os significados de prazer e interesse para
a Avaliação Cognitiva. O prazer é, antes de tudo, o engajamento com a atividade, e o interesse
refere-se à atração por ela (VANSTTENKISTE et al., 2010). Como resultado, o
desenvolvimento de dezenas de estudos nos anos 1970 e 1980 demonstraram um
enfraquecimento da motivação intrínseca ocasionado por eventos externos controladores, tais
como recompensas, ameaças, punição, prazos e concorrência (DECI; RYAN, 1985). A partir
desses achados, Deci e Ryan defendiam que as pessoas possuem, por natureza, uma
propensão inata em direção à motivação intrínseca, mas os eventos externos afetam a
motivação intrínseca quando influenciam o Lócus de Causalidade interno Percebido (LCP).
Os eventos promotores de LCP externo enfraquecem a motivação intrínseca e aumentam a
motivação extrínseca. Os eventos promotores de LCP interno fazem com que individuo
perceba que seu comportamento emana de si mesmo (interno), ao invés do controle e da
coerção. Assim, a motivação intrínseca aumenta, ao passo que a motivação extrínseca
59
diminuiu (DECI; RYAN, 1985). Contudo, a teoria da avaliação cognitiva sustenta a ideia de
que os eventos externos possuem tanto um aspecto controlador quanto um aspecto
informativo (DECY; RYAN, 1985). Para essa teoria, os indivíduos têm necessidades
psicológicas de autonomia e de competência, e o aspecto controlador de um evento externo
prejudica a necessidade de autonomia, enquanto o aspecto informativo afeta a necessidade de
competência. O feedback é um exemplo que pode informar um indivíduo sobre sua
competência em determinada tarefa. Portanto, os eventos externos podem ter tanto um aspecto
controlador quanto um aspecto informacional. Para a Avaliação Cognitiva, os eventos
externos que fornecem o feedback informativo satisfazem a necessidade de competência,
enquanto os eventos relativamente controladores enfraquecem a motivação intrínseca por
meio do efeito que exercem sobre a necessidade de autonomia dos indivíduos. Nesse sentido,
é relevante entender o propósito dos eventos externos, que pode ser o de controlar ou o de
informar a competência dos indivíduos. Os eventos externos que promovem o LCP interno
também promovem a motivação intrínseca, porque satisfazem a necessidade de autonomia,
enquanto os eventos externos promotores de LCP externo reforçam as orientações extrínsecas,
porque eles desconsideram a autonomia. Assim, os eventos externos que aumentam a
competência percebida dos indivíduos promovem a motivação autônoma, enquanto os eventos
que diminuem enfraquecem essa motivação (REEVE, 2006).
Em suma, a Teoria da Avaliação Cognitiva oferece a compreensão e o significado
dos impactos que um evento extrínseco exerce sobre o comportamento humano, bem como
sua influência sobre as necessidades de competência e autonomia dos indivíduos. Ela
apresenta os fatores em contextos sociais que produzem inconstâncias na motivação
intrínseca, bem como discute os eventos e as estruturas que direcionam a motivação intrínseca
por causa da satisfação da necessidade psicológica de competência. Ainda esclarece que
sentimento de competência é dependente do senso de autonomia para promover motivação
intrínseca nos indivíduos, pois a percepção do LCP interno se faz necessária, porque ele tende
a promover um alto grau de motivação intrínseca (REEVE, 2006). Para a Teoria da
Avaliação Cognitiva, o contexto educacional pode facilitar ou dificultar a motivação
intrínseca, apoiando ou contrariando as necessidades de autonomia e de competência
(REEVE, 2006). Vale salientar que a motivação intrínseca ocorre em atividades que contêm
interesse intrínseco para os indivíduos.
O principio central da Teoria da Avaliação Cognitiva é o de que as atividades
intrinsecamente motivadas serão prejudicadas por ameaças à satisfação das necessidades de
60
para a TAD, o processo de integração seja visto como uma propensão natural, a internalização
e a integração serão mais ou menos eficazes, dependendo do grau em que os organismos
experimentam, no ambiente, satisfação das necessidades psicológicas básicas.
Enquanto a Teoria de Avaliação cognitiva aborda principalmente os efeitos do
contexto social específico sobre motivação, a Teoria da Integração Organísmica se preocupa
mais com a diferenciação de motivação extrínseca de acordo com contextos, internalização,
integração e influências sociais mínimas sobre a internalização da motivação extrínseca.
Portanto, para além da variação quanto à intensidade, a Teoria da Integração Organísmica
salienta a utilidade de distinguir diferentes tipos ou qualidades de motivação. Dessa forma, as
diversas razões que podem explicar o comportamento motivado dos indivíduos são
correspondentes a tipos de motivação suscetíveis de serem ordenadas segundo um continuum,
que reflete o nível de autodeterminação subjacente ao comportamento. O continuum de
autodeterminação aborda desde os comportamentos com ausência de regulação, os regulados
por motivação extrínseca, até os totalmente regulados intrinsecamente. A figura 1 apresenta as
categorias de motivação intrínseca e extrínseca, os estilos de regulação relacionados com o
lócus de causalidade percebido e alguns processos regulatórios relacionados.
Esta seção tem como objetivo apresentar resultados de pesquisas que usaram a
perspectiva da TAD nos contextos educativos musicais. Saliento que os estudos que serão
apresentados foram desenvolvidos em contextos presencias, porque, até o momento da
publicação deste estudo, não foram localizados resultados de pesquisa em música sobre a
motivação musical em ambientes online sob a perspectiva da TAD.
Os primeiros resultados de pesquisa no campo musical apontados nesta revisão dão
conta de que a década de 1990 foi cenário de uma série de estudos sobre a motivação musical
com músicos jovens. Essas pesquisas revelaram que o nível de autonomia percebida na
aprendizagem entre estudantes de bandas escolares foi relacionado, com maior frequência,
com as formas mais extrínsecas de motivação nas performances competitivas (ROHER, 1993)
e na relação de participantes de escolas públicas versus privada (MIYAMOTO, 1997). Esses
estudos ainda revelaram que as meninas eram mais intrinsecamente motivadas que os
meninos (MIYAMOTO, 1997; ROHER, 1993). Até os anos finais de 1990, as pesquisas em
motivação musical eram escassas e insuficientes para revelar os efeitos diferenciais da
motivação extrínseca em relação à intrínseca, principalmente quando a questão era voltada
67
22
“You should be able to play all the correct notes the first time through” (McALLISTER, 1996).
23
“I would like you to try and keep a steady even pulse. But go slow. Try and keep a steady tempo”
(McALLISTER 1996).
68
importância intrínseca e por prazer pessoal. Renwick (2008) argumentou que, em função da
escassez de pesquisas em música focadas na TAD, ele também buscou suporte em trabalhos
de música que exploraram alternativas teóricas para o campo da motivação musical, como as
crenças de competência (VISPOEL, 1995a, 1995b) e autoeficácia (MCCORMICK;
MCPHERSON, 2003; MCPHERSON; MCCORMICK, 2006), a expectativa e o valor
(MCPHERSON; MCCORMICK, 2000; NIELSEN, 2004), as orientações de metas
(SANDENE, 1998; O’NEILL, 1996; SMITH, 2005), a atribuição de casualidade
(MCPHERSON, 1989; MCPHERSON; MCCORMICK, 2000; VISPOEL; AUSTIN, 1993) e
o fluxo (O’NEILL, 1999a; CUSTODERO, 2002, 2005).
Embora o crescimento do campo da motivação musical tenha iniciado desde a
segunda metade dos anos 1990, pesquisadores revelaram que ainda não são tão expressivos os
números de trabalhos de educação musical no âmbito da motivação (AUSTIN; RENWICK;
MCPHERSON, 2006; HENTSCHKE et al., 2009; HENTSCHKE, 2010).
Na pesquisa de Legutki (2010), a TAD foi utilizada para responder questões para
além da quantidade da motivação evidenciada em alunos que estavam matriculados em
programas de bandas escolares americanas. Provocado por uma variedade de pontos de vista
sobre a motivação em bandas escolares, Legutki decidiu investigar os perfis da motivação dos
alunos de bandas no ensino médio, determinado pelas suas percepções de satisfação das
necessidades psicológicas básicas, motivação intrínseca e autorregulação do comportamento
para aprendizagem musical. Para o autor, esses fatores têm se mostrado influentes na
persistência e no bem-estar psicológico em outras áreas da educação. Portanto, serviu como
base para sua pesquisa com bandas escolares (LEGUTKI, 2010).
Os dados da pesquisa foram coletados por meio de questionários e entrevistas, com a
finalidade de verificar se os principais fatores que determinaram as características dos
alunos estavam relacionados aos aspectos de seus perfis motivacionais, bem como para
entender melhor como esses fatores são percebidos pelos estudantes de bandas no ensino
médio. Esse estudo foi dividido em duas fases. Na primeira fase, foram utilizados
instrumentos destacados em pesquisas sobre a TAD, como a Escala de Necessidades
Psicológicas Básicas, o Inventário de Motivação Intrínseca (IMI), o Questionário de
Autorregulação para a Aprendizagem e o Questionário sobre o Clima de Aprendizagem.
Na segunda fase, as entrevistas foram realizadas com nove estudantes do ensino
médio, para proporcionar uma descrição sobre a motivação para tocar em bandas em relação
às experiências anteriores e às formas como eles pensam sobre elas. Os dados apresentaram
70
algumas diferenças nas pontuações dos índices altos e baixos de autonomia relativa descrita
para estar motivado na banda, bem como revelaram diferenças relativas ao modo como os
estudantes descreveram suas participações musicais dentro e fora das bandas na escola,
quando tocam na frente de seus colegas e como especularam sobre sua futura participação na
banda.
Os indivíduos com escores altos e baixos na autonomia relativa falaram sobre suas
experiências de maneiras bem diferentes uns dos outros, enfatizando as diferenças na forma
como a regulamentação pode funcionar de maneira autônoma ou controlada. Para tanto, foram
destacados os dados obtidos no depoimento de dois estudantes veteranos, com o mesmo
tempo de participação na mesma banda. Esses dados apontaram diferenças motivacionais,
sobretudo em relação aos aspectos de competição. Um dos estudantes falou mais sobre os
aspectos musicais e sociais das suas experiências. Embora o outro tenha valorizado mais os
aspectos sociais da competição, ele relembrou o auge de sua experiência como vencedor
(campeão) entre as bandas e quão importante era para ele saber que sua banda era melhor do
que outras e que ela pouco errava durante suas performances. Em contraste, o seu colega
sentiu que poderia haver se saído melhor nas perfomances, e nenhuma vez sequer comentou
em qual banda ele tocava e se foi ganhadora de qualquer prêmio. Além disso, ele não
concorda com alguns sentimentos dos indivíduos sobre o que é “fazer certo” em música. Em
vez disso, ele descreveu como a música estava cercada de prazer e realização.
Quando foram analisadas todas as diferenças situacionais entre esses dois estudantes,
o primeiro demonstrou maior motivação ao seu professor e aos colegas, apesar de os
resultados serem semelhantes nos índices de autonomia relativa. Foi percebido que o controle
e a competição apoiaram o ego do segundo estudante e, embora ele aparentasse estar muito
motivado, sua pontuação foi relativamente baixa para a autonomia e alta para a pressão. Para
o autor, as experiências do segundo estudante apoiaram o seu desejo de competir, enquanto o
primeiro estudante interpretou experiências semelhantes como controladoras, desconfortáveis
e desconcertantes. É necessário destacar que essas experiências foram discutidas em situações
de competição de bandas escolares. Para o pesquisador, embora alunos de banda possam ter
objetivos comuns, eles diferem na maneira como tratam seus objetivos. Os dados dessa
pesquisa revelaram perfis motivacionais bastante diversificados tantos nas entrevistas quanto
nos questionários. Assim, o estudo revelou que as bandas investigadas não puderam ser
caracterizadas como amostras homogêneas, apesar de os estudantes, de modo semelhante,
aparentarem estar motivados superficialmente.
71
Essa pesquisa trouxe várias ilustrações nas entrevistas que descreveram casos em que
as experiências atuais dos estudantes contrastavam com as suas participações anteriores em
bandas escolares. Para Legutki (2010), as lembranças de experiências passadas, trazidas pelos
estudantes, moldaram como eles reagiram no ambiente escolar presente. Dessa maneira,
estavam constantemente interpretando o que viam e ouviam, bem como julgando os motivos
que afetam a sua participação no presente. O autor considerou que as atitudes dos professores
(o que eles disseram e fizeram) tiveram uma influência considerável sobre como os alunos
responderam a uma variedade de situações. Segundo Legutki (2010), abordar a motivação de
maneira igual para todos os alunos pode não ser apropriado na aprendizagem musical em
bandas, pois tal abordagem não pode atender a todos os estudantes e, quando não se considera
a diversidades dos estudantes, os riscos de atritos se elevam, além de se constatarem
insatisfações e diminuição no engajamento. Nesse sentido, abordagens centradas no estudante
e que consideram uma variedade de estratégias para atender às necessidades individuais de
cada aluno apresentam-se mais apropriadas.
Sobre as estratégias nas aulas em grupo, para Legukti, é natural que algumas
atividades concentrem-se em pequenas partes da música, o que nem sempre proporcionará um
senso comunitário entre todos os participantes. Nesse sentido, é importante conhecer e
entender melhor os processos de aprendizagem nas comunidades de bandas, bem como
considerar os perfis distintos de motivação no conjunto, apoiar as necessidades psicológicas
dos alunos e evitar tratar os alunos como iguais. Para o autor, os professores de música que
entendem a diversidade motivacional em situações grupais são responsáveis pela forma como
essas diferenças interagem com ele e seus alunos e por abordagens mais centradas no aluno.
Assim, encontram-se numa situação privilegiada para construir uma comunidade de
aprendizes musicalmente ativos, envolvidos socialmente e intrinsecamente motivados. Esse
estudo destacou que estudantes foram considerados únicos, bem como mostrou a importância
do papel dos professores que buscam proporcionar experiências valiosas para todos os alunos.
Dessa maneira, a TAD ofereceu uma perspectiva casada entre o conceito de controle e o grau
de satisfação das necessidades psicológicas para explicar os tipos de mecanismos de apoio
que resultam em motivação intrínseca e regulação autônoma entre os estudantes de bandas
escolares (LEGUTKI, 2010).
A pesquisa de Figueiredo (2010) sobre os tipos de motivação de estudantes de violão
no campo da performance musical foi o primeiro estudo no área de música sob a perspectiva
da TAD realizada no Brasil. Ele analisou a motivação de 24 bacharelandos em violão de uma
72
Instituição de Ensino Superior na cidade de Curitiba. Como técnica de coleta de dados, foi
utilizado um questionário adaptado de um estudo desportivo (FERNANDES;
VASCONCELOS, 2005). Os resultados desse estudo revelaram que os estudantes de violão
investigados possuem um perfil motivacional autodeterminado e que as variáveis referentes à
motivação autônoma apresentaram as maiores médias do conjunto de variáveis, bem como um
índice de 70% de autonomia relativa. Esse alto índice de motivação demonstrou que os
problemas advindos da escolha da carreira de músico profissional não foram suficientes para
desmotivar os estudantes. Esse foi o segundo trabalho encontrado nesta revisão que abordou o
tema da motivação para o estudo de um instrumento musical específico (violão), sob a
perspectiva da Teoria da Autodeterminação. O índice de evasão no curso de violão em
questão apresentou-se baixo, contrariando estatísticas brasileiras para cursos superiores.
Figueiredo (2010) destacou a importância do suporte institucional e dos professores na
educação superior para a motivação autônoma, ou seja, a motivação intrínseca e também a
motivação extrínseca por regulação identificada e integrada. Ele chama a atenção para o uso
de recompensas contingentes por tarefa, performance e competição, que devem ser
trabalhadas de forma cautelosa, pois possuem um grande potencial para reduzir a motivação
autônoma. Estratégias que oferecem opções de escolha na definição do repertório, na técnica a
ser utilizada, bem como a realização de recitais servem como critérios para medir a motivação
intrínseca, porque a percepção de escolha, mesmo que restrita a opções dadas, pode colaborar
para um sentimento interno no lócus de causalidade, suprindo, assim, a necessidade de
autonomia. Para o autor, instituições educativas e professores que proporcionam um contexto
informativo facilitam a percepção interna no lócus de causalidade e a percepção de
competência, que aumenta a motivação intrínseca dos indivíduos. Ainda segundo o autor,
atividades musicais em grupo são boas alternativas para suprir a necessidade de vínculo
social, especialmente para o estudante de cursos de bacharelado em violão, que passa boa
parte do seu tempo dedicando-se ao repertório solo.
Sobre a motivação de professores de música baseada na TAD, destaco, nesta revisão,
a pesquisa de Cernev (2011) como o primeiro trabalho brasileiro que investigou a motivação
dos professores de música sob essa perspectiva teórica. Os dados dessa pesquisa foram
analisados por meio da estatística descritiva e inferencial. A pesquisa de Cernev (2011)
descreveu a relação entre os tipos da motivação (autônoma e controlada) e o ciclo de vida
profissional de 162 professores de música em escolas públicas e privadas da educação básica
na região sul do Brasil. Nesse estudo, os professores de música intrinsecamente motivados
73
4. METODOLOGIA
construindo estratégias que emergem do campo, podendo estes até se tornarem autores da
mudança (MORIN, 2004).
Essas ideias são reforçadas por outros autores no que se refere ao viés democrático
que caracteriza a pesquisa-ação e à sua perspectiva comunitária no modo de pesquisar
(GÓMEZ; FLORES; JIMÉNEZ, 1996; BARBIER, 2007). Para tanto, o pesquisador deve
recorrer a métodos ou a técnicas particulares em cada fase ou operação do processo de
investigação (COHEN; MANION; MORINSON, 2007).
O modelo da pedagogia aberta proposta por Morin entrou em consonância com a
abordagem educacional “Estar Junto Virtual”, utilizada na presente pesquisa, que prevê a
participação engajada dos sujeitos na resolução de um problema ou projeto. O lócus deste
estudo foi um curso presencial de Licenciatura em Música, especificamente a disciplina de
Prática Instrumental III em Violão. Participaram deste estudo, voluntariamente, cinco
estudantes matriculados nessa disciplina, residentes nas cidades de Mossoró e Grossos, ambas
no Rio Grande do Norte, e dois professores da UERN, entre abril e julho de 2011.
As fases empreendidas nessa pesquisa foram: planejamento, implementação e
avaliação. No entanto, há outras fases no processo da pesquisa-ação que não podem ser
delimitadas de forma tão evidente, tais como coleta, análise e interpretação dos dados. Esse
processo pode ser configurado de modo cíclico24, pois, nem sempre, os estágios numa
pesquisa-ação são seguidos numa mesma ordem, podendo-se retornar a um estágio anterior
enquanto o trabalho progride (MORIN, 2004; GALL; GALL; BORG, 2003).
As aulas foram oportunizadas graças à criação de objetos de aprendizagem (material
impresso, DVD, e um site25), bem como a ferramentas assíncronas (fóruns de discussão26
online, rede de relacionamento virtual) e síncronas (videoconferências, chats de Messenger).
Para a obtenção dos dados, foram utilizados vários instrumentos de coleta, tais como
registro em vídeo27, observação participante, entrevista semiestruturada, que serão,
posteriormente, detalhadas nos procedimentos de coleta de dados. A observação foi uma
constante durante o curso, tendo como foco as interações síncronas e assíncronas. As
24
Nesta pesquisa, o processo cíclico combinará as fases maiores com estágios mais específicos, como a coleta de
dados, a análise de dados e a tomada de ações (táticas).
25
O site é composto, basicamente, por textos, partituras, imagens, arquivos de áudio e vídeos explicativos. A
função desse material é apresentar os tópicos das aulas, os exercícios e as músicas que foram trabalhadas
durante cada semana do curso.
26
A lista de discussão é uma ferramenta assíncrona amplamente utilizada em cursos a distância. Nesse curso, ela
permitiu que os alunos esclarecessem suas dúvidas e debatessem sobre qualquer assunto com o professor ou
entre eles mesmos, além de haver servido para se dirimirem as dúvidas sobre o curso ou mesmo em relação às
lições, até mesmo quanto aos aspectos mais práticos para dialogar a respeito de música.
27
Os registros em vídeo e os questionários antecederam as aulas em caráter diagnóstico, procurando identificar o
perfil dos alunos e outras questões inerentes à pesquisa.
77
transformações, mediante uma efetiva participação colaborativa que poderá até mesmo chegar
a uma cogestão (MORIN, 2004). Inscrita no modelo epistemológico socioconstrutivista, a
PAI valoriza a pesquisa de campo, sobretudo por abordagens qualitativas apoiadas em teorias
bem fundamentadas. Esse método é caracterizado por cinco fases ou conceitos
interdependentes, que precisam ser compreendidos pela sua natureza dinâmica e sistêmica.
A primeira fase desse método compreende o contrato, que necessita ser aberto e
formal, porém não estruturado, pois, quando estruturado, corre o risco de comprometer a
discussão e, quando fechado, impossibilita qualquer discussão e participação ativa do ator,
perdendo-se o sentido da pesquisa-ação integral (MORIN, 2004). Embora o pesquisador
necessite definir seu papel na pesquisa, o contrato aberto pretende enriquecer o diálogo e
prever possíveis mudanças no processo em função do contexto. Em uma pesquisa-ação
integral, os atores sociais, professores e outros profissionais envolvidos devem se tornar, cada
vez mais, pesquisadores (MORIN, 2004). Nesse sentido, o contrato aberto abre a
possibilidade à mudança em todas as fases da pesquisa.
A participação, na segunda fase, configura-se como essencial nesse método de
pesquisa e pode acontecer de três diferentes modos: 1) representativo, o menos
comprometedor, dado o papel pouco ativo do ator no enunciado do problema; 2) a cooperação
ou colaboração, que está em um grau superior pelo fato de todos tomarem parte na ação e nas
reflexões sobre as tarefas a serem cumpridas; 3) a cogestão, segundo a qual os membros
estariam envolvidos em todas as etapas da pesquisa. Para Morin (2004, p. 67), a “participação
exige engajamento pessoal, abertura à atividade humana, sem relação de dependência, onde o
diálogo prevalece nas relações de cooperação ou de colaboração”. Nesse contexto, a
participação vai além da observação participante característica nas pesquisas etnográficas,
pois a participação na PAI requer do pesquisador participante a implicação tanto nas questões
quanto no processo de possíveis soluções para o problema e ou de mudanças deste.
A terceira fase é o processo de mudança ou transformação, que, na PAI, entende-se
não apenas na ação, mas também no ato de refletir. Nesse modelo, o desenvolvimento é
realizado em espirais, carregados de revisões na ação e na reflexão. Nesse sentido, a palavra
mudança é entendida pela suposta possibilidade de uma transformação da realidade. Essa
mudança é também traduzida na ação e no discurso, incluindo os valores dos atores
participantes, ou seja, os atores são ativos no processo de definição do problema.
A quarta fase está relacionada ao discurso, que, na PAI, é traduzido em discurso
esclarecido, consciente e engajado. O sentido do discurso na PAI entra em consonância com
79
28
Baseada no pensamento sistêmico da ciência contemporânea, na qual são adotados os sistemas abertos, “a
modelagem sistêmica é aquela ação intencional destinada a tornar mais inteligível um objeto ou um fenômeno
complexo” (MORIN, 2004, p. 90).
80
Quanto à fase de elaboração do material didático, antes de iniciá-la, para que este
tivesse sentido para os estudantes, foi importante conhecer a história de vida deles. Para isso,
foi preciso conhecer suas preferências musicais, suas experiências prévias, a motivação para
realizar algumas tarefas para a aprendizagem instrumental; a escolha pelo instrumento
musical no ensino superior; e a relação com as TIC para aprender música. Para Fernandez
(2009), o processo de produção de um material significativo precisa envolver o autor, o leitor
e o texto, não sendo possível dispensar a preocupação com a adaptação significativa do texto
para o contexto em questão.
Na preparação do material didático, procurou-se ampliar, no estudante, seu espírito
questionador, aprofundando sua visão crítica para desenvolver sua autonomia. Nesse estudo,
a educação musical buscou possibilitar a inserção crítica do estudante por meio da construção
coletiva do conhecimento. O modelo estrutural foi baseado em Oliveira (1991b), que
compreende que a estrutura de ensino pode ter forma aberta ou fechada. Quando não são
dados elementos para que os estudantes façam o fechamento ou a conclusão em termos de
aprendizado, a estrutura é considerada aberta. Quando são planejados todos os elementos que
83
29
Ver um modelo de tablet: http://www.youtube.com/watch?v=F_QxZJERPI8&feature=related
84
dos discentes. Para ajudar, de certa forma, a tornar o material impresso mais dinâmico, foram
introduzidas, além dos vídeos autorais, sugestões de áudios e vídeos por meio de alguns
termos fáceis de serem encontrados em sites de busca amplamente divulgados no formato de
vídeos30 na internet.
Essa etapa envolveu tomada de decisões acerca das ferramentas de interação
empregadas na implantação das aulas, levando-se em conta as limitações daquelas
principalmente em relação à natureza prática das atividades da execução musical. Como
resultado desse processo, o conteúdo das aulas foi formatado em material impresso, DVD e
também para publicação online, disponibilizado por meio de um site, que será descrito com
mais detalhes nos próximos parágrafos. As aulas tanto podem ser encontradas no apêndice A,
quanto no site: https://sites.google.com/sites/violoesdauernonline/.
As músicas trabalhadas nas lições, durante o estudo, foram escolhidas dentre as
opções apresentadas e até mesmo a partir de outras sugeridas pelos próprios estudantes.
Tentei selecionar músicas capazes de gerar desafios possíveis de serem realizados pelos
estudantes, pois, quando os indivíduos participam de uma tarefa cujo grau de dificuldade e
complexidade encontra-se precisamente no nível de suas habilidades atuais, eles
experimentam um forte interesse e o maior envolvimento possível com a necessidade de
competência (REEVE, 2006).
30
Esses vídeos são fáceis de ser copiados livremente, possibilitando aos estudantes estarem em contato com
uma grande variedade de gravações de intérpretes de violão na atualidade.
85
31
Também conhecido como “MSN”.
86
o que elas podem representar para o campo teórico e prático da educação a distância
(FRANCO, 2012). Apesar de esta pesquisa não ter como objetivo a análise do uso das redes
sociais da internet, é possível perceber sua utilidade para os processos da aprendizagem
instrumental (violão) no capítulo da análise e discussão dos dados da presente pesquisa.
Assim, diversos aspectos do planejamento, da transposição didática, bem como do
material didático e das ferramentas de interação estiveram susceptíveis de ajustes durante as
aulas. Uma lista de checagem foi utilizada para registrar a etapa de transposição, com
informações sobre as limitações encontradas, bem como as ferramentas utilizadas e as razões
para sua escolha e seu uso. Esses dados serão retomados no processo de avaliação da
metodologia, a fim de averiguar os limites e possibilidades das ferramentas empregadas na
promoção da satisfação das necessidades psicológicas básicas percebidas pelos estudantes.
32
Todos os alunos receberam a versão até então elaborada desse projeto de pesquisa em andamento.
87
prevendo outras maneiras de ensinar e aprender violão. Também foi levada em consideração a
falta de familiaridade dos estudantes com a modalidade de ensino a distância, uma vez que a
presente pesquisa implicava a inserção dessa modalidade no contexto de um curso de
graduação presencial. Nesse sentido, esperava-se a possibilidade de resistências e
estranhamentos por parte dos estudantes. Mesmo assim, foi considerada a possibilidade de
proporcionar uma experiência inicial com essa modalidade, buscando aproximar os alunos das
possibilidades da aprendizagem instrumental (violão) mediadas pelas TIC.
No decorrer das aulas, foram utilizados, pelo menos, dois computadores. Um deles
foi do tipo desktop, usado para receber a imagem na sala de videoconferência. O outro foi um
laptop Toshiba Satélite U405, com memória de três gigabytes, utilizado no local de onde as
aulas foram transmitidas. A disponibilidade da banda larga no IFRN era de seis Mbps 34. Já
onde as aulas foram transmitidas, utilizei uma banda larga de cinco Mbps.
Para a transmissão entre o professor e alunos, foi utilizado o modelo Lifecam HD, da
Microsoft. A câmera disponível no IFRN para transmitir a imagem dos alunos foi a EVID30
NTSC da Sony, uma câmera profissional para videoconferência, com alta definição. As
videoconferências foram realizadas via Skype35.
As principais técnicas utilizadas para a obtenção dos dados, neste estudo, foram a
entrevista semiestruturada e a observação participante. No entanto, a natureza dos aspectos
34
Mbps – Megabytes por segundo.
35
Skype é um software livre, que permite comunicação pela internet por meio de conexões audiovisuais.
93
pretendidos também requereu a adoção de diversos instrumentos de registros dos dados (nos
fóruns de discussão online, redes sociais e chats de Messengers) para complementar as
informações, conforme será explicado a seguir.
As entrevistas foram efetuadas tanto em caráter diagnóstico para a estruturação
organizacional das aulas, totalizando sete entrevistas, quanto para avaliar o foco no processo
deste estudo, resultando cinco entrevistas. Apesar de os relatos dos estudantes constituírem
uma das possíveis maneiras para inferir a presença, a intensidade e a qualidade da motivação,
pesquisadores têm problematizado muitas vezes a falta de correspondência entre o que os
indivíduos dizem que fazem e o que elas de fato fazem (BORUCHOWITCH, 2008; REEVE,
2006). Portanto, os dados também foram coletados por meio da observação. Essa técnica de
pesquisa é apresentada por alguns pesquisadores como uma das possíveis técnicas de coleta
de dados tanto na pesquisa-ação (THIOLENT, 2008; BARBIER, 2007; BOGDAN; BIKLEN,
1994) quanto nas pesquisas sobre motivação (BORUCHOWITCH, 2008; REEVE, 2006).
Os dados obtidos mediante os instrumentos descritos foram registrados e
classificados por ordem cronológica, com a finalidade de restabelecer todo o percurso
histórico do processo da aprendizagem neste estudo. Devido à complexidade do fenômeno, a
opção foi pela triangulação dos dados recolhidos por meio das diferentes técnicas utilizadas
no presente estudo. A triangulação dos dados refere-se à relação de dados oriundos de
diferentes fontes. Denzin (1989) propõe que, para triangular dados, é preciso que se estude o
fenômeno em tempos (explorando as diferenças temporais), espaços (locais, tomando a forma
de investigação comparativa) e com indivíduos diferentes. Nesse sentido, os dados recolhidos
em diferentes técnicas foram entrelaçados, prevendo a sequência temporal e espacial dos
dados entre os distintos participantes.
Com essa forma inicial de organização, foram selecionadas descrições das
manifestações das necessidades psicológicas básicas. Além disso, também foi levada em
consideração a influência exercida pelas ferramentas de interação online para a aprendizagem.
Assim, tentou-se compreender os processos motivacionais dos estudantes a partir da
percepção das necessidades psicológicas básicas nas interações online, bem como a influência
desses meios de interação na motivação dos estudantes. A macroteoria da Autodeterminação,
especificamente a Teoria das Necessidades Psicológicas Básicas, apresentada por Ryan e Deci
(2004) e Reeve (2006) constituíram o principal aporte teórico empregado para as análises dos
dados. Dessa forma, foram utilizadas as três dimensões da Teoria das Necessidades
Psicológicas Básicas como categorias para a análise das informações obtidas por meio das
94
Mensagens assíncronas
relevantes, por meio de debate Analisar os sentimentos dos (Pseudônimo, fórum e/ou rede social, data e
em fóruns de discussão via e- alunos em relação à horário).
Diálogos nas interações assíncronas mail e redes sociais da internet. manifestação das necessidades
Para que esses diálogos fossem psicológicas básicas foco deste
96
bem, meu Avô tocava violão. Então eu, desde menino, correndo pelas calçadas, eu o
via tocando de pernas passadas. Eu achava aquilo interessante. [...] O meu primeiro
instrumento foi o violão, por influência de meu avô, onde eu o observava e outros
cara (sic) na calçada de minha casa. Isso foi com uns 13 anos de idade (Thiago,
CED, p. 03).
36
Marcos e os demais nomes citados para se referir aos estudantes são, na realidade, pseudônimos criados para
este estudo.
37
CED é uma abreviatura para Caderno de Entrevistas Diagnósticas, no qual está o depoimento dos
entrevistados. As questões que geraram as respostas estão no apêndice F.
38
Mais conhecidas como “revistinhas”, elas contêm letra e cifra de músicas populares. Foi um meio muito
utilizado para os iniciantes de violão, guitarra e teclado em todo no Brasil. Com o crescimento do uso da
internet, assistimos a uma substituição dessas revistas pelos sites de cifra, como por exemplo, o CifraClub.
39
O Conservatório D’Alva Stella Nogueira Freire da UERN, criado em 1988, através da Portaria nº 454/88 –
GR/FURRN e da Resolução nº 12/89 – CONSUNI, marcou o início do ensino formal em música na cidade de
99
[...] Como eu venho dessa linhagem cotidiana, eu gosto das músicas de mídia,
música popular brasileira como Samba, Bossa Nova. Eu gosto de ouvir Roberto
Carlos [...] Música erudita, eu vim conhecer mesmo aqui na universidade. Já tinha
visto vídeos na internet. Hoje estou estudando peças clássicas e acho bonitas
(Thiago, CED, p. 04).
Mossoró e na região oeste do estado do RN. Na década de 1990, recebeu o nome da maestrina D’Alva Stella
Nogueira Freire, pela sua contribuição musical, em décadas passadas, à cidade de Mossoró, onde viveu boa
parte de sua juventude.
100
bastante variado, explorando os diversos tipos de períodos (José, CED, p. 10). Para Marta,
atividades centradas em repertório promovem a participação ativa e dinâmica dos
participantes: Eu gosto de estudar repertório, gosto de ver todo mundo tocando junto e a
música fluindo, gosto quando estamos produzindo, colocando as coisas para andar (Marta,
CED, p. 14).
O interesse por mais de uma atividade foi evidenciado na fala de grande parte dos
estudantes. A improvisação foi a segunda atividade destacada, seguida da atividade de
arranjar: Sobre a improvisação, acho muito importante, mas não me sinto muito capacitada
ainda para isto. Por isso, esse ponto é uma coisa que quero me dedicar bastante (Marta,
CED, p. 14). Mesmo percebendo pouca ou nenhuma capacidade para algumas atividades
como a de improvisar, os estudantes sentiram-se desafiados e interessados para adquirir tais
habilidades:
Acho que é a improvisação, por que é uma deficiência da maior parte dos músicos.
Muitos músicos possuem um grande repertório, mas não saiu disso, do que ele
preparou, ele não tem mais nada para mostrar [...] Certo que existe posturas que
são melhores para a execução e técnicas que facilitam o desempenho, mas não
podemos desconsiderar as formas particulares de tocar ou pegar num instrumento
[...] É muito bom para um aluno quando ele tem domínio do assunto, mas ele
precisa aprender coisas novas e se aprofundar em outras que ele já realizou. Hoje
essa é minha maior preocupação [...] Se ficar limitado a estudar o que eu já tenho
certo domínio, eu não vou ter motivação para me aprofundar e vou continuar com
as mesmas deficiências (Thiago, CED, p. 6).
40
Inicialmente, foram matriculados sete alunos para cursar a disciplina de Prática Instrumental III, sendo que
apenas cinco deles participaram deste estudo. Os outros dois alunos acabaram desistindo do semestre em
todas as disciplinas propostas, por motivos particulares.
102
Um dos motivos é que o violão já faz parte da minha vida musical. Então, o violão
na prática instrumental no curso superior veio somar também essa continuidade e
mais voltado para o ensino do instrumento. Aqui a prática instrumental é mais
direcionada para o ensino (Pedro, CED, p. 18).
Quando eu ingressei no curso e fui efetuar a matrícula, eu ouvi apenas que seriam
ofertadas práticas instrumentais como violão, piano... Como eu já toco o violão, eu
acabei optando por ele. Eu não sabia que existia canto. Então, após alguns meses
passados, é que realmente descobri a existência da prática instrumental em canto.
Eu não me escrevi por falta de informação. Ainda hoje pouco se sabe sobre a
existência da prática de canto (Marta, CED, p. 13).
Apenas quando iniciei a análise desses dados é que realmente foi possível sentir o
quão complexo seria investigar os processos motivacionais desses estudantes, bem como
ministrar aulas a distância para um grupo um tanto heterogêneo. Cabe salientar o fato de que
boa parte desses estudantes preferia realmente estudar outros instrumentos. Pareceu-me, ao
mesmo tempo, arriscado e desafiador investigar a motivação de estudantes com as
características traçadas para estudarem na modalidade a distância. Como poderão esses
estudantes progredir, sentirem-se desafiados e interessados para estudar violão no contexto
universitário?
Para tanto, ainda busquei entender como esses jovens se relacionavam com as TIC,
sobretudo para aprender música. Descobri que todos possuíam um computador, mas apenas
alguns utilizavam as mídias digitais e as demais TIC para aprender música. Os softwares de
edição de partitura constituíram a ferramenta mais descrita entre os entrevistados. Apenas um
aluno disse utilizar o Youtube para auxiliar na sua aprendizagem; dois outros conheciam o
software Band in a Box41 e uma aluna utilizava o software Sonar para criar arranjos vocais.
Ao analisar esses dados, senti a necessidade de adicionar ao programa42 da disciplina
uma ênfase na aprendizagem flexível, sobretudo no que diz respeito às atividades de interesse
dos estudantes, respeitando-se as diferenças apresentadas nos depoimentos. Pesquisas têm
revelado que a promoção da autonomia é uma estratégia motivacional de qualidade superior,
quando comparada às promotoras de controle (BZUNECK; GUIMARÃES, 2010). Nesse
sentido, promover a motivação autônoma para uma gama de material musical com precisão e
respeito às diferenças individuais dos estudantes foi outro grande desafio para a realização
deste estudo no contexto universitário.
Apesar de a maior parte desses alunos haver iniciado suas trajetórias musicais
informalmente, sem a orientação sistemática de um professor, grande parte declarou que se
sente mais motivada estudando com a orientação de um profissional. Ou seja, preferiam
receber um feedback de um professor principalmente para as atividades de execução,
interpretação e organização dos estudos e repertório. Preferiam ser guiados sob um
planejamento de atividades aliadas a sistemáticas estratégias de aprendizagem. Esse
comportamento, associado ao sentimento de assumir um compromisso com o outro, foram os
aspectos relevantes apontados para os alunos sentirem-se motivados ao estudar com um
41
Software que gera acompanhamento musical.
42
A ementa oficial da disciplina busca o “desenvolvimento técnico básico da execução instrumental. Execução e
interpretação de obras”. Na prática, a formação do professor é que acaba direcionando que aspectos técnicos,
de execução, interpretação e repertório devem ser utilizados na disciplina.
104
professor. Apesar de serem os únicos a declararem sentir mais motivação estudando sozinhos
em alguns momentos, Marta e Marcos atribuíram certa importância ao professor nos seus
processos de aprendizagem:
Me sinto mais à vontade quando estudo em casa sozinha. Costumo dizer que não
consigo fazer nada sob pressão. Não que eu ache que na aula tem pressão, mas eu
tô falando assim, lá na aula temos que a acompanhar os exercícios, pegar as coisas
na hora, e eu não funciono muito bem assim... Quando chego em casa, olho melhor
as coisas, aí as músicas fluem melhor... Mas por outro lado, tenho que ter também a
orientação do professor, porque que quando o professor pega no pé, me motivo
mais em estudar e aprender as peças, já para não ter essas dificuldades em sala de
aula. Deu para entender? (Marta, CED, p. 14).
Para estudar uma peça, eu prefiro estudar sozinho, mas depois que eu passei por
ela, eu prefiro que tenha um professor para me orientar aonde eu posso melhorar.
Mas quando eu estou em sala de aula com dois ou mais alunos, eu me sinto um
pouco pressionado para estudar naquele momento (Marcos, CED, p. 12).
de alguns alunos sem experiências prévias com a educação online, pelo menos em relação à
aprendizagem musical. Algumas pesquisas já sinalizaram a importância que tem o papel do
professor para lidar com situações de alunos como esses, ou seja, tipicamente não virtuais.
Pesquisas mais recente em EAD defendem que esses alunos podem vir a ser muito bem
sucedidos, apesar de precisarem de mais intervenções para torná-los mais autônomos. Essas
pesquisas ainda destacam a importância das práticas em EAD que favoreçam a adaptação dos
estudantes a essa modalidade de ensino (BELONI, 2006; PALLOFF; PRATT, 2005;
MOORE; KEARSLEY, 2008).
A partir desse contato com o campo, foi perceptível que a maior bagagem, bem como
as preferências musicais desses estudantes, vinculavam-se ao universo da música popular,
sobretudo a brasileira. Contudo, havia também um interesse significativo pelo estudo da
música erudita. A característica heterogênea em relação aos conhecimentos prévios e à
experiência dos participantes já ficou bem evidenciada nesse primeiro contato. Nas aulas de
violão, as atividades que mais motivam, segundo esses estudantes, são as de desenvolver
repertório, improvisar, arranjar e de técnica. A escolha pelo violão, no curso superior, deveu-
se principalmente à ausência, na instituição, do instrumento da preferência dos estudantes no
momento do ingresso, bem como a certo conhecimento prévio que a maioria já possuía sobre
esse instrumento. Os dados dessa primeira análise também revelaram que os alunos preferiam
estudar sob a orientação de um professor e que eles não tinham experiências prévias com a
modalidade a distância para aprender um instrumento musical.
43
CEC é a abreviatura para caderno de entrevistas centralizadas nas questões da pesquisa. Esses
questionamentos estão no apêndice G.
108
[...] Meu interesse pelo violão foi para me acompanhar cantando, porque eu gosto
muito de cantar, é umas das coisas que eu mais gosto. Então me interessei pelo
violão porque o violão você pode se acompanhar cantando [...] Porque o que eu
quero mesmo fazer, cantar, não impede de tocar certo? Então acho que valeu muito
a pena mesmo (Marta, CEC, p. 47).
Eu sempre quis tocar violão e comecei por incentivo de meu avô, na verdade. Eu
tocava clarineta numa banda municipal. Então, meu avô me perguntou por que eu
não tocava violão e aí eu resolvi tentar e acabei gostando. Mas eu comecei a gostar
mesmo quando eu entrei no conservatório de música, quando eu tinha aula com
Atmarama. Lá foi onde eu criei mais gosto pelo estudo do violão, principalmente o
violão erudito. Depois de lá, eu não quis mais parar de estudar violão (Marcos,
CEC, p. 25).
Foi o primeiro instrumento que eu tive contato na minha infância e também por
influências. A gente sempre vê violonistas e, assim, comecei a estudar o
instrumento, comecei a tocar por esse motivo, por verem as pessoas tocando e ter
aquela vontade de tocar, e com o passar do tempo fui me apaixonando pelo
instrumento (Pedro, CEC, p. 39).
sente enquanto está realizando determinada tarefa que quer fazer (REEVE, 2006). A
característica desse comportamento é geralmente percebida em ambientes favorecedores de
flexibilidade. No presente estudo, mesmo o professor sendo o responsável pela programação
das aulas, alguns estudantes sentiram-se com liberdade para realizarem as atividades: A
modalidade a distância de certa forma nos deu essa liberdade, apesar de ter um cronograma
a seguir, ter sugestões do professor no caso de organizar os estudos. Eu creio que deu
liberdade sim (Thiago, CEC, p. 57).
Eu não senti nenhum tipo de cobrança rígida entre o professor, e o professor chegar
e exigir assim, ah você tem que? Ah, era uma coisa que o professor estava
interessado na aprendizagem da gente, e se a gente tivesse a preocupação
necessária com a aprendizagem, a gente é que procurava. Não teve nenhum tipo de
coisa forçada, alguma coisa rígida. Era bem normal, bem natural livre, livre, é...
livre (Pedro, CEC, p. 40).
Em nenhum momento, eu me senti pressionada, foi bem livre, a única é..., não sei se
posso chamar de pressão, acho que não é pressão, mas vou botar esse nome. A
única pressão que tinha era que eu não queria chegar na aula não sabendo, certo?
Eu sempre queria treinar, como eu já falei desde o início, para não atrapalhar o
ritmo da aula. Então, eu tentava pegar tudo que era para ser feito naquela aula,
porque sempre você passava o material uma semana, duas semanas antes. Então, a
gente já sabia o que iria acontecer na aula. Eu sempre tentava pegar e estudar para
chegar aqui, já tipo, aquele sentimento de missão cumprida estou completa, vamos
fazer a aula (Marta, CEC, p. 48).
A cobrança pessoal foi um fator notório entre alguns dos participantes deste estudo.
Não querer atrasar o andamento das aulas, como também não querer ficar atrasado em
relação aos demais colegas, acabaram gerando, em determinadas situações, de certa forma,
um tipo de pressão interna capaz de prejudicar a motivação autônoma desses estudantes. Essa
pressão pode ser relacionada com a regulação extrínseca introjetada. Nessa regulação, já
ocorre um processo de internalização do comportamento intencional, que é mantida a certa
111
distância, não sendo integralmente aceita como própria, e sim por um sentimento de dever ou
de obrigação. Essa regulação é estudada na Teoria da Integração Organísmica. Apesar de
esses estudantes expressarem inicialmente um senso de liberdade na maior parte do tempo
durante as aulas, percebeu-se o sentimento de dever e de obrigação para não atrasar o
andamento das aulas.
As atividades práticas musicais, sobretudo as de performance instrumental, típicas
deste estudo, são em si propícias para os indivíduos sentirem-se ansiosos por causa da
exposição de terem de tocar em público. Apesar de a abordagem utilizada (coletiva)
minimizar, de certa forma, a cobrança individual, muitas vezes, foi necessária a intervenção
individual para que o processo de ensino/aprendizagem pudesse fluir no grupo. A ansiedade
foi percebida principalmente quando foi utilizado o modelo Master Class durante algumas
aulas, sobretudo as preparatórias para o recital de final de curso:
Eu sempre tive muita ansiedade, nervosismo, mas pelo fato de tocar em público, e
também como eu comecei com os meninos, eu também sentia aquela pressão, aquela
ansiedade para tocar na frente deles. Sempre que tinha aquela aula que você dizia
vamos um por um, eu quero ver, então eu sempre fica por penúltima e então eu
estava esperando minha vez. Ai, depois dele sou eu, e aquilo o coração apertado...,
mas eu acho que eu estou melhorando, pelo menos aqui com eles. Com o tempo,
acho que melhora, mas para o recital, eu já estou me preparando psicologicamente
(Marta, CEC, p. 49).
mudança de coloração de sua pele branca para um tom avermelhado na região peitoral reforça
a ideia de que a estudante estava realmente sob pressão no momento da execução musical.
Como o objetivo naquele momento da aula era apenas verificar se fora possível executar as
peças escolhidas para a lição, dei um feedback positivo para a estudante rapidamente, por ela
já ter anunciado anteriormente que não funcionava muito bem quando tocava em público.
Nesse sentido, relembrei-a de que, na entrevista diagnóstica, ela tinha tentado tocar a mesma
peça e não conseguira. Então, parabenizei-a pelo progresso em relação ao seu desempenho
anterior e pelo desafio vencido de tocar diante dos colegas.
Não senti não. É, era tipo assim, a gente por está sempre interagindo ali, tanto pela
internet, MSN, facebook, e-mail, nesses encontros via Skype, a gente quase que
automaticamente acordava assim: a gente têm que estudar, eu tenho que me
esforçar para essas aulas. Não, era tipo assim, assim influenciado, levado a
estudar, não por pressão, mas sim por está ali cercado, quase, eu não digo 24
horas, porque ninguém vai viver 24 horas no computador, mas a maior parte do
tempo sim, influenciado a estar estudando, estar tocando (Pedro, CEC, p. 41).
Apesar de, no depoimento, o educando revelar que não sentiu pressão externa
durante as aulas, as interações virtuais acabaram gerando um sentimento de dever ou
obrigação no processo da aprendizagem. Mesmo não sentindo que foi pressionado, o
estudante acaba revelando que foi muito influenciado por estar cercado pelos meios de
comunicação utilizados nas aulas. Vale salientar que as redes sociais da internet, bastante
utilizadas para o entretenimento das pessoas, foram transpostas, neste estudo, para fins
educativo-musicais. Nessas redes, pude perceber que a música comumente faz parte do
universo cultural desses jovens. As sugestões dos vídeos, digitações entre outras atividades
propostas para as aulas, nesse ambiente, acabaram se misturando com outras fontes de
informações musicais habitualmente utilizadas pelos estudantes. Inicialmente, a utilização
dessas redes tinha a finalidade de complementar os fóruns textuais com envio de arquivos em
113
vídeo de maneira mais dinâmica do que nos fóruns via e-mail. Porém, não demorei muito para
perceber que esses estudantes passavam boa parte do dia navegando por esses canais de
comunicação. Nesse sentido, os estudantes concebem a integração das redes sociais, bem
como as mídias digitais utilizadas nas aulas, como um fator de significativa influência no
reforço para realizar as atividades. A motivação para aprender no ambiente online foi
relacionada como a regulação introjetada, principalmente nas interações assíncronas, quando
o educando se sente cercado quase que em todos os horários durante o dia. Apesar de não ser
considerado um tipo de regulação autodeterminada, percebe-se que já ocorre uma
internalização, porém não aceita integralmente como própria, e sim por um sentimento de
dever ou obrigação. Portanto o LCP é considerado pouco externo.
Neste estudo, percebe-se, de certa maneira, que as interações no ambiente online
também foram significativas para promover a autonomia dos alunos. Quando questionados
sobre a valorização das características particulares de cada estudante, percebe-se a satisfação
pelo respeito conferido ao estilo individual do aprendizado. Para o estudante João: Não era
algo passado, imposto, nem para alguns, e nem para um, e sim para todos com a
peculiaridade de cada um (João, CEC, p.34). O sentimento de valorização no modo próprio
que cada indivíduo tinha para realizar suas tarefas acabou revelando estratégias de
aprendizagem online utilizadas pelos estudantes deste estudo. Foi percebido entre os
estudantes que eles não seguiram regras e nem caminhos pré-definidos, mas, sim, uma
combinação de elementos valorizados por experiências e crenças individuais. Mesmo
recebendo orientações de como estudar, foi percebido que prevaleceram, entre os estudantes,
caminhos próprios, traçados por eles mesmos.
Alguns estudantes confessaram que nunca tinham determinado hora, peças para
estudar e também nenhuma forma sistemática para isso. Eles simplesmente tocavam quando
tinham vontade, sem a preocupação de serem cobrados. Apesar de sentirem a necessidade de
sistematizar seus estudos para as aulas a distância, alguns alunos declararam que pouco
fizeram isso, que estudaram pouco em casa e, mesmo assim, sentiram que as aulas
oportunizaram o aprendizado no seu próprio ritmo. O depoimento abaixo resume, de certa
forma, a percepção da valorização das peculiaridades dos estudantes nas interações online:
Eu percebo que cada um nas atividades tinha sua forma de estudar e de aprender as
músicas, as lições. Alguns alunos, alguns colegas meus diziam que viam os vídeos e
depois viam a partitura ou então uns viam a partitura primeiro e depois o vídeo, e
depois ainda até tirava uma dúvida uns com os outros a respeito do que estava
escrito, o que era tocado. Então houve isso, houve essa liberdade, da gente estar
trocando informações de várias formas de aprender. A individualidade está aí, na
sua forma de aprender, na sua forma de buscar informação, antes do que usar
114
primeiro as regras. Acho que, nesse sentido, a gente tinha nossas particularidades,
as nossas formas de aprender, que foi respeitado pelo professor e não foi rejeitado,
deixado de lado como não se levasse nada, mas foi aproveitado aquela forma que a
gente usava para poder aprender (Pedro, CEC, p. 41-42).
Houve, houve sim, tanto na escolha do que eu queria estudar, nesse sentido o
repertório, quanto à escolha de horários, de dias para estudar as atividades, houve
essa liberdade, de poder estar escolhendo [...] No estudo dos ligados, o colega da
gente Marcos tocou uma música que os ligados até mais difícil do que a gente
estava estudando, e o professor considerou aquilo como beleza. Não fez essa música
de oito compassos, mas fez uma que queria atingir o objetivo da aula, que era fazer
os ligados e foi atingindo com outro repertório sugerido pelo aluno. Então, essa
liberdade acontecia. As lições tinham bastante, nos estudos das músicas, sempre
115
tinham duas opções, três opções de músicas para você escolher. No estudo dos
ritmos, tinha sugestões de algumas músicas. Só que, no meu caso, eu fiz outra. Eu
toquei Garota de Ipanema e outras, houve essa liberdade, porque na verdade o que
mais importava ali era o ritmo. A liberdade acontecia normalmente (Pedro, CEC, p.
42-43).
[...] Lá no site, estava tudo para você. Você podia pegar e estudar da forma que
você dava as orientações. Mas dependia da gente, de como a gente iria estudar.
Você deu liberdade para a gente escolher as digitações que quisesse apesar de você
colocar, eu acredito sim, que a gente teve liberdade para estudar as atividades.
Como eu já falei, você deu liberdade para fazer os exercícios, ou se preferisse fazer
outro que a gente achasse melhor. Até na aula passada, você deu essa liberdade,
porque, como eu poderia dizer? Era uma sugestão sua, mas a gente procura outras
coisas também (Marcos, CEC, p. 26).
Por que você deu essa liberdade para a gente fazer os exercícios, ou se preferisse
fazer outro, outro que a gente achasse melhor. Um exemplo foi o que aconteceu no
IFRN. Eu não estava conseguindo fazer o estudo de ligados, você sugeriu eu tocar
outra música, e eu toquei a valsa que tem ligados, e você me deu a liberdade para
eu gravar ela e enviar para você que seria a mesma coisa (Marcos, CEC, p. 27).
Eu mesmo fiz meus horários para estudar, e eu achei bacana isso, ter a
responsabilidade, porque quando a gente vai pra uma escola, a gente espera muito
o professor passar, o professor ensinar... (Marta, CEC, p. 47)
Era dada uma autonomia... como é que se diz? Uma autonomia em equipe. A gente
sempre se comunicava, aquilo que eu falei, aquela afinidade, aquela harmonia que
ficou entre nós, então a gente sempre consultava os outros. Olhem o que vocês
acham? Eu pensei em tal arranjo, a gente ficava discutindo, e assim com o
professor e sempre... E aí cara, massa, então junte minha ideia com a sua. E essa
autonomia não ficava uma coisa, não só minha característica, mas com as dos
demais alunos, ficou algo bem mais interessante (João, CEC, p. 33).
de J.S Bach e talvez Como Eu Quero de Kid Abelha, arranjo para violão (Pedro, fórum,
23/06/2011). Bom, gostaria de fazer a melodia normal, sem oitavar e no divisi, estou fazendo
a voz de cima (Marta, fórum, 15/06/2011).
A literatura tem apontado que, quando os ambientes, as relações e os contextos
socioculturais são bem sucedidos em suprir a necessidade de autonomia, esses ambientes são
conhecidos como apoiadores ou promotores de autonomia, enquanto que os ambientes, as
relações e os contextos que, ao contrário, ignoram, frustram a satisfação da necessidade que
os indivíduos têm de autonomia e até interferem nela, esses elementos são considerados
controladores (RYAN; DECI, 2004). Neste estudo, as atividades que mais foram relacionadas
com as escolhas percebidas são as de: criar arranjos para as músicas; decidir suas próprias
digitações, repertório e interpretações. Embora houvesse sugestões de repertório, digitação e
arranjos planejados, eles perceberam abertura para expressarem decisões próprias para essas
atividades, ou até mesmo a possibilidade de sugerir outras de seus próprios interesses como
mostram os depoimentos a seguir: Eu acho que a liberdade existia na forma da interpretação
da música, porque a gente já tinha as lições, sabíamos o que era para estudar, mas também
sabíamos que se quiséssemos sugerir outra coisa, com certeza você abriria o espaço (Marta,
CEC, p. 48). Nas performances dessa estudante, ela sempre manifestava o desejo de modificar
as interpretações das músicas. Pedro sempre argumentava, nas videoconferências, antes de
tocar, que as interpretações da dinâmica musical tinham sido planejadas diferentemente da
escrita sugerida. Thiago e João manifestavam, com frequência, a necessidade de modificar as
digitações nas linhas melódicas. Mesmo considerando adequadas as digitações sugeridas pelo
professor, esses estudantes explicitavam a necessidade de usar uma digitação que melhor se
adaptasse às suas peculiaridades. A flexibilidade nas tomadas de decisão para realizar as
atividades e até a possibilidade de sugerir outras foram fatores importantes apontados por
esses estudantes para apoiar a percepção de escolha:
O espaço promovido pelo professor para diálogo nas tomadas de decisões foi
apontado como importante estímulo à autonomia desses alunos. Estudos baseados na TAD
demonstram que os professores que apoiam a autonomia dos estudantes em oposição ao estilo
controlador favorecem as formas mais autodeterminadas de motivação entre os alunos. Esses
119
Eu classifico como moderada. Porque entre todos assim, eu tenho uma maior
experiência com o violão, tocava o instrumento, algumas músicas já tinha escutado.
121
A forma que era abordada a música já era diferente. A gente procurava aperfeiçoar
com algumas coisas que a gente tinha dificuldade. Por isso que eu classifico como
moderadas (Pedro, CEC, p. 35).
Acho que moderadas, e também depende muito do nível de cada um, assim, quando
é instrumentista. Podia ser que algum tivesse alguma dificuldade em alguma coisa
ou mais facilidade, mas eu não considero que uma lição foi difícil ou outra que foi
fácil. Eu considero moderadas, e se tratando de alunos da graduação, da prática
instrumental, eu considero moderadas mesmo (Thiago, CEC, p. 51).
[...] As peças e técnicas não eram tão difíceis para nós como alunos, mas também
não era tão fáceis. Fico algo entre fácil para moderado, está entendendo? Ficava
algo estimulante que a gente conseguia solucionar a questão, mas também não
ficava algo tão fácil, que a gente fazia com tanta facilidade assim. Então foi bem
proveitoso, estimulava a gente obter uma resolução (João, CEC, p. 28-29).
O nível da habilidade, quando comparado com o nível das tarefas, não ameaçou a
sensação de competência desse estudante. A ausência tanto de excesso de desafios quanto de
excesso de habilidades foi percebida. Mesmo considerando as tarefas em um nível
moderadamente baixo, os desafios foram, ao mesmo tempo, provocadores e tangíveis para
uma possível realização. Com o propósito de investigar as características e condições
complexas dos desafios, estudos revelaram que, quando o nível do desafio se equipara ao da
habilidade, e tanto o desafio quanto a habilidade são elevados ou pelo menos moderadamente
elevados, surgem a concentração, o envolvimento e a satisfação, também denominada de
estado de fluir (Flow) (CSIKSZENTMIHALYI, 1990, 1993, 1997). Portanto, essa perspectiva
122
Essa música foi de fácil execução, duas vozes apenas, mas o trabalho que deu nos
ensaios foi de tocar no andamento correto. No meu caso, não tenho o costume de
tocar com metrônomo e alguns integrantes do grupo também. Quando começamos a
utilizá-lo, sentimos dificuldades em acompanhá-lo (Pedro, rede social, 10/07/2011).
Essa peça, por ser nova em nosso repertório, me deixou um pouco inseguro. Ela
trabalhou o quesito de estar em harmonia com os demais colegas, já que tinha
muitas partes intercaladas, foi um grande desafio executá-la (João, rede social,
12/07/2011).
44
Bicho de sete cabeças, composição de Zé Ramalho e arranjo de Weber dos Anjos.
124
Eu acredito que foram fáceis as tarefas, eu achei muito bom. O único problema foi a
maneira como foram passadas as tarefas, mas o problema foi em mim mesmo, pois
eu não me dediquei muito, assim a estudar em casa. Eu não dediquei muito tempo,
sabe? Assim, para estudar em casa, estudar as peças, sozinho em casa, mas eu
gostei sim, não era complicado e difícil não, só faltou mais da minha parte, me
dedicar mais em casa. Em todas as atividades, em geral, eu acredito que foram
moderadas. Têm umas peças fáceis e outras que eu considero mais complicadas
para meu nível, ou pode ser tornar fácil dependendo dos meus estudos e da
dedicação que eu der, ao tempo que eu tirar para estudar aquela peça (Marcos,
CEC, p. 22).
Na verdade, elas serviram mais como uma disciplina, porque eu nunca tinha parado
para estudar, eu sempre pegava o instrumento e tocava qualquer coisa, mas eu
nunca tinha determinado um tempo específico para estudar o violão. Essas aulas
serviram mais como uma disciplina para mim. Porque depois dessas aulas, eu
passei a dedicar algum tempo, nem que seja pouco, mas eu parava para estudar
alguma coisa (Marcos, CEC, p. 27).
125
entanto, o feedback positivo pode ser fornecido para além do sucesso na realização de uma
tarefa em si, pois há outras maneiras de inferir a competência versus a incompetência, tais
como: comparações que uma pessoa faz de seu desempenho atual com o desempenho de
outras pessoas (comparação social); comparações que uma pessoa faz de seu desempenho
atual em relação aos seus próprios desempenhos anteriores (na pessoa em si); ou na opinião
de outros indivíduos (REEVE, 2006).
Em algumas tarefas, o feedback de competência está diretamente ligado ao próprio
desempenho da tarefa, como, por exemplo, quando alguém é bem sucedido ao tocar ou não
uma música: Acredito que, no geral, essa peça ficou boa, apesar de alguns deslizes cometidos
que não foram tão visíveis. Mas poderia ter me dedicado mais, ter colocado mais expressão e
dinâmica, explorado melhor a questão do timbre (Marcos, rede social, 13/07/2011). Neste
estudo, o feedback da tarefa em si apontou o quanto os estudantes progrediram ou não em
uma determinada tarefa.
se não se saírem melhor, é sinal de incompetência (REEVE; DECI, 1996; REEVE; OLSON;
COLE, 1985). Esses estudos abordam a necessidade de competência como um componente
motivacional de primeira ordem e revelaram que a concorrência entre os participantes
aumentou a percepção da motivação intrínseca e que, inversamente, a percepção de
incompetência a reduziu. Vale salientar que esses estudos foram realizados em situações de
performance e competição. Os contextos que envolvem concursos e enfatizam atividades
performáticas são mais propícios para os estudantes estabeleceram a relação comparativa de
competência versus incompetência (REEVE; DECI, 1996). No entanto, quando questionei os
estudantes como eles se saíram em relação aos seus colegas, emergiu principalmente a
responsabilidade pessoal para o sucesso dos estudos, não havendo julgamento de se sair
melhor ou pior nas tarefas entre os pares e, sim, um entendimento de crescimento peculiar
inserido em uma aprendizagem em grupo, respeitando o crescimento devido às diferenças
individuais: Eu creio que me desenvolvi um bocado assim, meus colegas se desenvolveram
muito, teve uma grande evolução, mas eu me desenvolvi também (João, CE, p. 29).
Eu acredito que me saí bem. Não classificando assim, aqui é o melhor, aqui é o
mais ou menos. Eu não classificaria assim, eu acho que o desenvolvimento foi em
grupo. Cada um tinha um nível de experiência no instrumento, e quando foi
passando as aulas, a gente foi crescendo gradativamente, cada aluno no seu nível
(Pedro, CEC, p. 36).
Os meninos são mais avançados, mais evoluídos. Mas eu não acho que fiquei muito
para trás não. Eu corri atrás daquilo que achava que podia ficar para trás. Então,
pra não ficar para trás, pra não quebrar o ritmo das aulas e chegar aqui e ficarem
me ensinando, então eu estudava todos os dias. Eu nunca deixava para pegar as
tarefas na hora da aula, porque já que eu sei que os meninos já sabiam disso, eu
não queria ficar para trás e nem diminuir o ritmo das aulas, para as pessoas não
voltarem por minha causa. Eu sempre me preocupei com isso, para aula não ficar
abaixo por minha causa. Então, eu achei que eu não fiquei muito atrás não, achei
pelo menos o que foi passado, eu acho que acompanhei (Marta, CEC, p. 43).
Essa estudante percebeu que os colegas eram mais adiantados que ela e, para superar
esse possível obstáculo, ela dedicou-se bastante, principalmente na superação das limitações
reconhecidas por ela mesma. Dessa forma, a estudante buscou mecanismos para se motivar,
mesmo que movida por sentimentos de dever ou obrigação (regulação introjetada) como
também, de certa maneira, por um senso de competição com seus colegas. Percebe-se que os
custos da competição acabaram reforçando o senso de competência dessa estudante. Para
Renwick (2008), um aspecto relevante para o desenvolvimento de crenças de competências
nos alunos é ajudá-los a definir metas de aprendizagem que são capazes de alcançar de forma
suficiente. As ideias que as pessoas têm sobre suas capacidades influencia a realização de suas
tarefas, metas, planejamento, esforço e persistência para alcançar objetivos pretendidos. Nesse
sentido, o papel que dá o sentido de competição é considerado secundário para a
autodeterminação (DECI; RYAN, 1985). A percepção de competência é um fator
motivacional importante, mas está sujeito ao sentimento de autodeterminação, porque, mesmo
quando uma pessoa é capaz de realizar uma tarefa, mas tem que trabalhar sob pressão,
ameaças ou promessas, o desejo de realização é muito reduzido (REEVE, 2006).
Semelhantemente à estudante Marta, Marcos revelou que se encontrava em um nível
de conhecimento inferior, principalmente quando as aulas eram relacionadas ao repertório
popular e à improvisação. Mesmo assim, o estudante se sentiu competente quando comparou
seu desempenho geral aos seus colegas de curso, como mostra seu depoimento abaixo:
Eu acredito que eles estão um pouco acima de mim, certo? Na verdade, mesmo
antes da gente fazer esse curso, eles eram de um nível na minha frente, porque,
assim, não em questão de música erudita assim, porque se eu pegar uma peça e
estudar mesmo, eu consigo dominar a questão, mas agora com essa parte que
estamos estudando agora no final, que é a questão da música popular, e essa
questão de improviso, eu não tenho facilidade para improviso e na hora pegar a
129
harmonia, eu preciso de mais tempo para fazer isso. A minha maior dificuldade está
sendo nessa parte do curso, que são essas peças populares que estou com uma
dificuldade maior. E também se você me observou, também tenho um pouco de
dificuldade quando estamos tocando em grupo, de eu conseguir entrar no tempo. Eu
me saí bem sim. Agora se eu tivesse me dedicado mais, eu teria me saído melhor
(Marcos, CEC, p. 22).
A falta de dedicação aos estudos foi uma das causas apontadas por Marcos para este
perceber um sucesso menor do que o esperado, o que de certa maneira prejudicou seu senso
de competência. Mesmo assim, quando comparada com o desempenho dos seus colegas, a
competência foi percebida pelo fato de que se tratava apenas das tarefas das músicas
populares. É preciso considerar o fato de que esse estudante, dentre os demais, era um dos que
menos tinha tempo para o estudo do violão. Na entrevista diagnóstica realizada antes de
iniciar as aulas, o estudante revelou que tinha estudado violão erudito durante três semestres
antes de ingressar na graduação. Ainda nos informou que sua primeira experiência musical se
dera nas bandas de música, tocando clarinete. Nesse sentido, as dificuldades demonstradas em
relação ao estudo da música popular e ao fato de algumas músicas serem tocadas em grupo,
podem ser atribuídos à pouca experiência comum entre os estudantes que só tiveram a
experiência com o ensino tutorial, focando o repertório histórico. O modelo tutorial,
principalmente o que é baseado em avaliações para preparar alunos para situações de exames
e competições, pode levar a um foco muito estreito para aprender música de notação clássica,
com pouca ênfase na improvisação, bem como para tocar de ouvido e ainda no estudo de
estilos musicais populares e não ocidentais e no trabalho em equipe musical (MCPHERSON,
1998).
Algumas pesquisas brasileiras na subárea de educação musical já têm demonstrado a
possibilidade do trabalho colaborativo baseado nas aulas de instrumento, inclusive nas aulas
de instrumento mediadas pelo computador (BRAGA, 2009; NARITA, 2009; GOHN, 2011;
VIANA JÚNIOR, 2010; TOURINHO, 2003). Narita (2009) concluiu que a abordagem
colaborativa explorada em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) entre os alunos de
uma disciplina do curso de música na modalidade a distância da UAB/UnB indicou existirem
relações entre o nível de engajamento e a motivação com a atividade (NARITA, 2009). Para
Tourinho (2003), uma aula coletiva requer um professor competente para organizar situações
de aprendizagem, de modo a propiciar que todos participem das atividades realmente em
conjunto. A abordagem colaborativa é uma característica fundamental nas aulas de
instrumento em grupo, nas quais todos aprendem com todos e referências anteriores são
valorizadas para integrar os interesses dos alunos.
130
De modo semelhante ao que ocorre neste estudo, a pesquisa de Braga (2009) revelou
que promoção do trabalho colaborativo diminui, muitas vezes, a necessidade de os
professores interferirem no processo da aprendizagem dos estudantes, principalmente nas
videoconferências. Porém, esse estudo esclareceu que, para os alunos aprenderem a trabalhar
colaborativamente, é preciso estimulá-los constantemente, e o exemplo do professor nesse
processo é de suma importância, pois esse modelo deve ser fomentado a partir do exemplo
deste, incluindo nas atividades os alunos que apresentam alguma dificuldade.
Embora o contexto da presente investigação não priorize a performance nem ela haja
sido realizada em situação de competição, quase sempre as atividades de prática instrumental
geram uma certa rivalidade entre os estudantes. No entanto, apenas o estudante Thiago
avaliou seus desempenhos como melhores ou piores na relação competência/incompetência
quando comparado aos dos seus pares:
Bem, eu acho que meu desempenho no curso foi bom. Tendo em vista o que eu tinha
falado no início, que o violão erudito, e essa forma de tocar o violão é tanto nova
para mim. Mas em relação aos outros colegas no decorrer do curso, deu pra
perceber que algumas lições, algumas peças, algumas coisas deu pra tocar
tranquilo, e até bem tranquilo em relação aos outros (Thiago, CEC, p. 51).
Nos depoimentos das entrevistas, esse foi o único relato que pôde ser relacionado
diretamente à comparação aos outros no que se refere à competência percebida. Apesar de as
atividades de performance musical proporcionarem um ambiente de competição entre os
estudantes, nesta pesquisa, os participantes se detiveram sobretudo no senso de competência
em vez de o fazerem na competição em si. No entanto, momentos de conflitos surgiram,
principalmente quando o grupo precisou tomar decisões musicais nos arranjos para o recital
de encerramento das atividades. Os últimos ensaios provocaram, de certa maneira, uma
competição entre alguns participantes sobre as decisões a serem tomadas em relação aos
arranjos e às interpretações das músicas populares a serem executadas em grupo.
Para Durkin (1995), a importância da influência recíproca na vida social envolve a
harmonia entre as pessoas. Entretanto, divergência e conflito podem também levar à mudança
no desenvolvimento, e essa segunda forma de reciprocidade não deve ser negligenciada.
Neste estudo, foi levada em conta a vivência desses dois momentos, da harmonia e do
conflito, pois foi por meio desse processo dialógico e favorável à reflexão que o aprendizado
pôde se tornar mais efetivo:
Achei muito proveitoso o que os colegas falaram. Parabéns para nós. Resta
melhorar, com certeza, principalmente da minha parte, e acho interessante entre
nós colegas haver mais harmonia, porque está ficando um clima meio tenso. Então,
131
gostaria de propor uma linguagem mais calma, passar o que o grupo precisa.
Realmente teve discordância e ideias confusas entre nós, mas o que acho importante
é que aprendemos com nossos erros e vamos melhorar (João, fórum, 10/07/2011).
Existe alguma razão especial para que bons grupos musicais trabalhem sempre de
forma coletiva? Os alunos, em pequenos grupos, trarão suas próprias interpretações
e tomarão suas próprias decisões musicais em muitos níveis. Eles começarão a se
“apropriar” da música por eles mesmos. (2003, p. 67)
prévias comparadas às atuais. Em geral, os dados desta pesquisa revelaram que o senso de
competência versus incompetência não foi muito percebido em relação a fazer melhor ou pior
do que seus pares, mas em se sentirem tão competentes quanto os demais. Contudo, em
relação aos próprios desempenhos anteriores, todos os entrevistados afirmaram ter progredido
no instrumento (violão) com as aulas a distância. Esse crescimento foi apontado pelos
estudantes, principalmente em razão da utilidade dos recursos online, do crescimento técnico
instrumental e da ampliação do repertório diversificado (popular e erudito) adquirido.
A diversidade de recursos de comunicação e informação agregada no curso,
sobretudo as redes sociais, foi percebida pelos alunos como um elemento facilitador para o
crescimento da aprendizagem em relação aos desempenhos anteriores, como demonstra o
depoimento abaixo:
Olha assim, por incrível que pareça, eu progredi mais no instrumento a distância do
que presencial, não sei se foram as aulas que você deu, ou se foi assim o professor,
não sei. Mas a progressão foi maior, porque a gente tanto aprendia aqui nas
videoconferências, quanto na questão de outras formas, a gente assistia vídeos na
internet, tinha também as lições lá no site, estava uma interação, sabe? E assim,
enquanto eu estava nas redes sociais, MSN, ou estava no Orkut, estava no
computador, quando estava ligado, sempre aparecia um e-mail da oficina de violão
que levava eu a buscar o conhecimento, a buscar ali, a fazer o exercício. Era, tipo
assim, um, é como se você tivesse o professor direto ali com você: Pedro, você tem
que estudar aqui, você têm que estudar essa hora. Quando os e-mails apareciam,
até mesmo quando o professor estava online, já despertava para estudar o
instrumento. Dava para assistir os vídeos e tal. Isso acontecia assim naturalmente,
não era uma coisa assim forçada sabe, foi bem natural (Pedro, CEC, p. 36).
exercendo uma influência para a realização das tarefas. Nessa situação, Pedro estava
motivado por regulação introjetada. E o sentimento do dever ou obrigação de participar das
discussões online aliado à presença virtual do professor, em certa medida, afetou o interesse
intrínseco para o estudante buscar realizar suas atividades. Para alguns pontos de vista, a
tecnologia digital é considerada de natureza motivadora, porque fornece uma série de
qualidades que são reconhecidas como importantes na promoção da motivação intrínseca:
desafio, curiosidade, novidade e fantasia. No entanto, pesquisas já têm demonstrado que o
fator novidade tende a se desgastar quando os usuários se acostumam com essa tecnologia,
podendo até diminuir a motivação intrínseca (KELLER; SUZUKI, 2004).
Apesar do bom funcionamento dos fóruns de discussão, os participantes deste estudo
sentiram a necessidade de agregar os sites de rede sociais e outras ferramentas online que lhes
permitissem, de forma mais dinâmica, trocar o envio de áudios e vídeos das músicas. Para
este estudo, inicialmente, foi solicitado aos alunos o envio de vídeos das peças estudadas para
o 4shared45. Porém, os participantes sentiram a necessidade de agregar os sites de rede sociais
pela praticidade de gravar e enviar os vídeos para uma posterior discussão coletiva ou até
mesmo uma conversação imediata (síncrona). Nesse estudo, o Windows Live Messenger
também foi bastante utilizado quando os alunos necessitavam do feedback imediato. A
frustração com problemas técnicos foi considerada um fator que afetou a motivação dos
alunos, principalmente quando a conexão com a internet comprometeu algumas
videoconferências.
Em relação ao desenvolvimento técnico no instrumento (violão), os depoimentos
revelaram que houve um crescimento considerável em relação aos conhecimentos obtidos nas
experiências presenciais anteriores às aulas a distância: melhorei a postura, pegar no
instrumento, é a questão do formato da unha, e tratando-se do curso em geral, deu para dar
melhorada, faltou eu treinar mais, me aprimorar mais [...] (Tiago, CEC, p. 51). É preciso
considerar que a maioria desses alunos ingressou no curso superior de música com uma
bagagem maior em instrumentos diferentes do escolhido no ato do ingresso. Portanto,
algumas atividades básicas, principalmente as de técnica instrumental, foram consideradas
significativas para eles:
Sim, com certeza, aprendi bastante. Eu já falei, uma vez, que não conhecia, eu vim
de outro instrumento e achava que o violão tocava somente aquela maneira, alguns
acordes, dedilhados e tal. Mas com essas aulas, eu achei muito interessante, porque
eu aprendi a extrair o verdadeiro som do instrumento, do violão. A sua técnica e
45
Ferramenta de armazenamento e compartilhamento de arquivos online (http://www.4shared.com/).
134
tudo. Foi bem prazeroso e proveitoso para mim, achei muito interessante, assim me
ajudou no desenvolvimento do instrumento (João, CEC, p. 28).
Depois desse curso, eu também passei a estudar mais, assim peça popular, eu
melhorei mais na questão rítmica, que eu tenho muita dificuldade. Eu fiquei
estudando outras músicas assim, não as que você pediu, mas porque questão do
ritmo do baião, eu não sabia tocar baião, eu não sabia e agora eu já sei como é o
ritmo. Bossa Nova, eu melhorei mais, já estou dominando mais. Eu ainda tenho
certa dificuldade porque eu nunca tinha parado para estudar essas coisas, aí eu
melhorei mais (Marcos, CEC, p. 22).
críticas como importantes, mesmo quando foram consideradas, de certa maneira, corretivas.
Quando foi relatada a ocorrência dessas críticas corretivas, elas foram encaradas como
construtivas no sentido de amadurecer e corrigir o que era necessário para fortalecer a
aprendizagem:
Muitas vezes, eu não percebia meu erro e os meus colegas, com a crítica
construtiva, apontavam assim como o meu professor, você, o que estava faltando, o
que precisava melhorar. Foi bastante estimulante pra mim também, eu acredito que
é bastante estimulante, eu acho bem interessante criticar algo que realmente estou
pecando nessa parte aqui, e que posso melhorar, enfim (João, CEC, p. 29).
[...] Às vezes, uma simples ajeitada na mão, uma simples mudança de região que
você executando aqui a melodia, ajuda a você de uma forma que se você fosse
procurar sozinho, lendo o livro, você não iria perceber, e um olhar de fora, de outra
pessoa que possa lhe dizer: ah, eu acredito que você está errado nessa parte aqui,
eu acredito que você está acertando nessa aqui, fica até melhor, porque você já fica
mais estimulado quando uma pessoa elogia você ou então quando a crítica era a
respeito a algo que você está errando, onde você está com problemas. Você quase
que totalmente procura buscar consertar aquele erro que você está cometendo
(Pedro, CEC, p. 36).
Até que eu já tinha comentado com você e com João, que eu estava estudando e o
meu pai me elogiou, que é muito difícil. Então, outras pessoas também, quando eu
toquei as peças clássicas. Porque eu chamei meus amigos e disse que iria tocar
para eles, porque eu tinha um recital para me apresentar, e eu não sabia a música
que eu iria tocar. Então, eu toquei duas peças para eles, o pessoal da calçada e
tudo. Eles gostaram muito, e eles mesmo disseram que eu evoluí no violão (Marta,
CEC, p. 43-44).
uma atividade, ainda seguido de elogio, tem uma força motivacional importante. A baixa
frequência do elogio torna a situação afetivamente importante, evidenciando o alcance de um
objetivo, da melhoria do desempenho ou da aquisição de uma habilidade. Ainda destaco que
dados sobre a influência da família neste estudo começaram a emergir desde o primeiro
contato com os estudantes, quando foram questionados sobre os primeiros contatos com o
violão. O feedback positivo gerado pelos amigos de Marta também teve certa importância
para a estudante, pois seus vizinhos ou “colegas da calçada”, como ela mesmo descreveu,
vinham acompanhando sua formação musical desde outros tempos, inclusive no período desta
investigação, para ajudá-la a decidir o repertório para a etapa final das aulas a distância,
online.
sobretudo, nas redes sociais agregadas para estreitar o canal de comunicação entre os
participantes. Os depoimentos a seguir explicitam bem como as interações online foram
percebidas nas maneiras síncronas e assíncronas utilizadas neste estudo:
Tratando do que não gostei, acredito ser os e-mails, por vezes preguiçoso de se
abrir. Acho necessário a leitura de informes e avaliações por meio desse
mecanismo, mas não gosto de tirar dúvidas por meio dele, é muito difícil de se
expressar, sem contar que leva tempo para articular melhor as ideias que por vezes
139
tornam-se incompreensíveis se não conseguir transmitir essas ideias por texto. Vejo
o facebook como uma ferramenta que consegue sozinha suprir as dificuldades
encontradas na minha leitura e expressão de dúvidas por e-mail. Vejo a necessidade
de mandar um vídeo com a dúvida ou tirá-la na videoconferência e sugiro também
que todos adotem ao facebook como meio de avaliar e dar informes também, pois
quando mandamos mensagens por ele, automaticamente ele avisa em todas as suas
caixas de e-mail. Dessa forma, estamos fazendo fórum também (Pedro, fórum,
07/06/2011).
46
Hangouts são lugares usados para facilitar grupos de bate-papo de vídeo.
140
Embora você estivesse longe como professor, eu acho que o contato e a interação
superaram até o contato presencial de sala de aula. Pelo fato do grupo ser um
pouco compacto e pelo fato de você estar nos olhando, já conversando. Então, a
atenção em outras experiências de ensino, essa foi uma das mais proveitosas que eu
tive, porque era como se fosse a atenção dobrada, tinha como se fosse o professor
na sala de aula e o professor de reforço em casa, nos e-mails. Enfim, achei
interessante (João, CEC, p. 30).
Outro fato notório nos depoimentos dos estudantes foram as ocorrentes percepções de
pouca sensação de distância entre eles e o professor. Mesmo estando fisicamente distantes do
professor, os alunos sentiram que as interações online poderiam tanto apoiar a aprendizagem
quanto suas necessidades de relacionamento, e até serem mais eficientes quando comparadas
com suas experiências anteriores na modalidade presencial. No entanto, é preciso destacar
uma variável muito importante apresentada pelo estudante para não se sentir isolado ou
abandonado. Esse fator diz respeito à quantidade de estudantes envolvidos nas atividades.
João complementou que, nos fóruns: Se fosse um grupo maior, talvez tivesse algumas
limitações, mas com uma quantidade de cinco ou seis alunos, as aulas ficaram bem
confortáveis (João, fórum 16/04/2011).
No campo da educação musical, não existe unanimidade acerca do número ideal de
alunos para aulas de instrumento em grupo. Porém, nos modelos online que preveem uma
interação intensa, as condições necessárias para o professor vivenciar e auxiliar os alunos a
resolverem seus problemas são limitadas, se comparadas com outras abordagens. Alguns
pesquisadores defendem que, para esses modelos manterem um nível da interação desejável, o
professor não pode atender a mais que 20 alunos. No entanto, algumas medidas podem ser
adotadas para melhorar essa limitação. Para tanto, é preciso uma equipe que auxilie o
professor a ficar inteirado de tudo que está acontecendo, bem como a monitorar as atividades
dos alunos e ainda auxiliar o professor a desenvolver materiais, sob demanda, para ser
enviado aos alunos (VALENTE, 2010; HARASIM et al., 1995).
O advento da internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. Para este estudo,
algumas foram fundamentais. Porém, a mais significativa foi a possibilidade de expressão e
sociabilização através das TIC. Nesse sentido, buscou-se explorar as potencialidades dessas
tecnologias como um recurso facilitador no processo de mudanças na educação musical a
distância. Percebe-se, no depoimento de João, a influência que o modelo educacional online
(Estar Junto Virtual) adotado exerceu. O sentimento de companheirismo diário mediado pelas
TIC foi capaz de estabelecer o vínculo necessário para o estudante não se sentir isolado.
Alguns pesquisadores em EAD defendem que os alunos virtuais precisam de todos os serviços
que, em geral, são oferecidos ao aluno presencial e ainda advertem que também é preciso
141
tomar cuidados com outras necessidades, como as questões relacionadas à falta de interação, à
sensação de isolamento e aos problemas potencias de acesso aos recursos necessários nos
modelos online (PALLOFF; PRATT, 2005).
Na presente investigação, a diversidade de recursos de comunicação de que o
professor e os alunos puderam dispor tiveram o propósito de tornar as interações mais ricas e
efetivas entre os participantes. Nesse sentido, a colaboração nas redes sociais e nos fóruns de
discussão entre professor e alunos e alunos entre si receberam destaque como ferramentas
assíncronas importantes para apoiar os alunos nas suas necessidades de pertencimento. Para
João, ficou claro que, mesmo não tendo a oportunidade de exercer uma interação face a face,
foi possível criar uma relação significativa entre ele e o professor. A palavra “atenção
dobrada” revelou, de certa forma, a causa da superação em outras experiências de
ensino/aprendizado.
Ao tratar de algumas inovações trazidas pela cultura escolar da EAD, Kenski (2010)
aponta o potencial de alguns recursos tecnológicos de interação e comunicação para o modelo
online.
Nos dias atuais, os recursos descritos acima não são mais uma exclusividade da EAD,
online. É crescente o número de pesquisas que demonstram que as práticas pedagógicas têm
utilizado cada vez mais os recursos tecnológicos nos processos de aprendizagem,
determinando, dessa forma, um redimensionamento na ação do ensinar (BEHAR et al., 2009;
KENSKI, 2008). No entanto, para Longhi e colaboradores (2009), o processo educativo não
existe sem a interação entre pessoas. Neste estudo, apesar de se considerar, de certa forma,
que aconteceu o aprendizado autoinstrucional, gerado pelas diversas mídias proporcionadas
durante as aulas (sites, blogs, DVD, material impresso), essas ferramentas foram entendidas
como um recurso didático muito importante, mas não suficiente por si só para promover uma
experiência genuinamente colaborativa. Foi, de fato, na relação entre os estudantes que se
criaram espaços férteis e apropriados para o aprendizado.
As pesquisas que exploraram os ambientes e situações presenciais sob a perspectiva
sociocognitiva demonstram que, quando é possível exercer interações face a face com os
outros, geralmente, as pessoas se esforçam para criar relações (REEVE, 2006). Porém, para
142
para a aprendizagem musical, sobretudo das atividades mais práticas, como as do ensino de
um instrumento musical. Na presente pesquisa, os dados revelaram que somente os diálogos
verbais ou o envio de vídeos não seriam suficientes para sanar a complexidade da
aprendizagem instrumental. Para os participantes, quando era possível reunir em uma mesma
ferramenta a mensagem verbal com o recurso audiovisual, o entendimento das discussões era
mais significativo.
Quando se compara a evolução das mudanças comunicativas online com o número
de pesquisas sobre o impacto dessas transformações para os processos educativos, percebe-se
que ainda é pequeno o número de estudos sobre a temática (FRANCO, 2012). E ainda é
comum, nos dias atuais, encontrar resistências e preconceitos quanto às possibilidades da
aprendizagem online. Além disso, ainda se está aprendendo a gerenciar processos complexos
de Educação Online (EO), principalmente quando se trata do aprendizado de um instrumento
musical na área de música, por constituir uma atividade extremamente prática e, quando se
refere à aprendizagem mediada pelo computador na infância (ARMSTRONG; CASEMENT,
2001).
A pesquisa de Oliveira (2012) sobre as sociabilidades pedagógico-musicais
constituídas em ambientes virtuais de aprendizagem musical revelou, sob o ponto de vista dos
participantes, quatro fatores interligados com preconceito da sociedade acerca dessa
modalidade para o ensino de música: 1) Noção de que o curso de música a distância é mais
fácil que os cursos na modalidade presencial; 2) Desconhecimento da modalidade a distância
e suas possibilidades educativo-musicais por parte dos professores de música que atuam na
modalidade presencial e da sociedade em geral; 3) Não credibilidade nos processos de ensino
e aprendizagem musical a distância; 4) Impossibilidade de aprender música pela internet.
Mesmo com todas essas adversidades, a popularização da internet tem motivado
discussões sobre outras maneiras de ensinar e aprender música (DAMMERS, 2009), inclusive
as presenciais, que utilizam cada vez mais metodologias semipresenciais, flexibilizando a
necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos (VALENTE; MORAN;
ARANTES, 2011). Portanto, com o acesso à internet, é possível integrar os momentos
presencias da sala de aula com outros momentos a distância, de maneira virtual, extraclasse,
permitindo que os estudantes ampliem o processo de aprendizagem.
Nesta pesquisa, mesmo sendo as atividades planejadas virtualmente, a internet
possibilitou certa flexibilização e evolução das aulas por videoconferências. No entanto, foi
observado, nas duas primeiras semanas de aula, que os alunos estavam interagindo pouco nas
144
Nesse segmento, trato das percepções com maiores destaques para a noção de
pertencimento. Neste estudo, elas foram associadas ao sentimento de amizade e carinho entre
alguns membros do grupo e às percepções de apoio e contribuição do grupo para realizar as
atividades. Os estudantes perceberam que as interações a distância foram capazes de
estabelecer vínculos sociais de apoio e preocupação entre eles, até mesmo quando a
ferramenta utilizada era assíncrona. Esse meio também foi utilizado para minimizar a
distância entre os participantes, como é mencionado nos depoimentos a seguir:
Como eu falei na questão dos fóruns, estava sempre o professor postando uma
coisa, textos ou uma referência ou um vídeo e alguma coisa, e até os próprios
colegas também. No caso, acho que Pedro também participou muito bem dos
fóruns, relatando algumas experiências de estudos dele [...] Então, eu acho que sim,
os colegas estavam postando também, não somente o professor, como também os
colegas de curso postando algumas experiências, apoiando um ao outro. Essa troca
de experiências, particular de cada um para o grupo, através do fórum (Thiago,
CEC, p. 55).
[...] Agora isso acontecia mais com Marta do que com Thiago e Marcos, porque eles
mal entravam no MSN, até mesmo pela distância também, por não morarem
próximos e tal. Acredito que essa dedicação de tempo, apoio emocional, ela
ocorreu, só que de forma pontual, em algumas pessoas, sobre algumas pessoas e
não do grupo todo (Pedro, CEC, p. 38).
[...] A questão de apoio emocional quem me deu muito foi Thiago. Hoje aconteceu
isso aqui. Eu não estava conseguindo pegar essa peça, aí eu fiquei meio aborrecido
sabe? Deu vontade de desistir, só que Marta veio aqui e me ajudou e cifrou e
colocou direitinho. Daí eu consegui pegar a peça todinha “Ai que saudade d’ocê”
[...] Eu fiquei me sentido sobre pressão e não estava mais conseguindo raciocinar.
Resolvi desistir, mas aí Marta chegou e me deu uma ajuda e eu consegui. Então,
isso aí é um apoio emocional que ela me deu. Porque eu fiquei sobre pressão
mesmo, eu não ia conseguir não (Marcos, CEC, p. 25).
146
Um exemplo, uma música que a gente está tocando, alguém não está conseguindo
tocar, pegar, a gente sempre diz: vamos parar, vamos tentar ajudar para todos
tocarmos juntos, certo? Porque o que eu acho mais importante é caminharmos e
todo mundo ir igual, certo? Nunca gostei se estou num grupo e uma pessoa sabe
mais do que os outros, sai na frente e não sabe esperar, porque se é um grupo,
ninguém pode sobressair, tem que tocar em grupo. Então, não gostei de tocar
quando uma pessoa não pegou os acordes. Uma pessoa que não está conseguindo o
solo, sempre pensei: vamos parar e esperar todo mundo pegar, aí todo mundo toca
147
juntos. Porque o grupo, eu acho que é para passar isso. Peças individuais, todo
mundo faz como quer, faz sua interpretação, mas o fato de tocar em grupo, eu
sempre prezei isso, a ajuda. Tanto eu fui ajudada muito pelos meus colegas, como
eu acho que ajudei a eles no que eu pude e no que eu sabia (Marta, CEC, p. 46).
Olhe, eu acredito que sim, porque isso era demonstrado na questão da preocupação
da postura, quando um colega chegava para mim e dizia: olhe, essa postura aí não
está legal, não seria melhor você ficar mais assim? Esse tipo de preocupação
acontecia com a gente. Então, eu acredito que isso demonstra afetividade, essa
interação entre a gente, acho que isso demonstra (Pedro, CEC, p. 39).
Para mim, a maior vantagem de se estudar em grupo é poder contar também com a
ajuda e as experiências dos colegas. Várias pessoas juntas procurando atingir um
mesmo objetivo, além de proporcionar interação, também é bastante estimulante.
Apesar das minhas limitações, que é o nervosismo de estar/tocar em público, que
todo mundo já sabe e que eu estou tentando superar, realmente tenho gostado das
aulas (Marta, fórum, 10/07/2011).
[...] Geralmente quando estamos em sala de aula e algum colega está com
dificuldade, e se um colega chegar até a gente, a gente se preocupa se ele está
dando de conta e tal, das lições, enfim como um todo. Aqui a gente era um grupo de
informação. Então, assim, se três estavam bem e os outros dois estavam faltando, a
gente parava e tinha a preocupação de que todos ficassem num patamar só (João,
CEC, p. 21).
[...] Teve momentos que o grupo tinha um aluno, por exemplo, Marcos estava com
dificuldades em alguma parte da música, ou então em alguma questão, a gente se
respeitava, esperava o tempo de cada um [...] João, que estava às vezes do lado
dele, ajudava, eu estava do lado de Marta às vezes ajudava e assim por diante.
Thiago também, que estava ao meu lado, também me ajudava: olhe, Pedro, sua mão
está desse jeito, o apoio ergonômico como é que eu posso usar aqui, dessa forma?
Colocava direitinho: olhe, eu uso dessa forma e tal. Já ajudava. Foi assim, a gente
se deu bem nesse tipo (Pedro, CEC, p. 38-39).
148
[...] Na verdade, Thiago sempre me deu força. Sempre parecia com meu pai, sabe?
Olhe está estudando? Não sei o que? Olha, é tal dia? Vamos marcar uma hora?
Vamos fazer isso? Você vá estudar! (Marcos, CEC, p. 21).
[...] Sempre que necessitava de alguma coisa, tava ali para ajudar. Muitas vezes, as
cordas da gente estavam velhas e o professor ajudava a gente, apoiava para colocar
algumas cordas. O colega às vezes precisa ir para tal canto, ia lá um e levava para
o local. Aconteceu dessa forma. Está precisando de ajuda para ir às aulas? A gente
ajudava e sempre se dava um jeito (Pedro, CEC, p. 39).
Apesar de, nesse depoimento, o estudante Marcos haver referenciado apenas Thiago
nas relações de comunhão, é notório, em outros depoimentos, que existiu uma relação de
comunhão entre os demais estudantes, inclusive de outros para com o estudante Marcos, como
ele sempre demonstrou nos seus depoimentos. O assistencialismo expresso no depoimento de
Pedro, na realidade, é uma característica da cultura local do contexto em questão. Dessa
forma, é preciso levar em conta que os contextos sociais e os culturais influenciam as pessoas
em seus modos de se relacionar com o outro.
Os momentos de conflitos sociais durante este estudo foram pouco percebidos nos
depoimentos dos estudantes. Porém, observando essas ocasiões, acredito que eles, de certa
maneira, prejudicaram o relacionamento saudável entre os estudantes. Esses momentos foram
observados principalmente na etapa final do curso, momento em que estava sendo preparado
149
o recital do final do semestre. Esses encontros foram carregados de stress entre os alunos,
principalmente quando era preciso decidir que músicas seriam executadas em grupo.
Entre os poucos depoimentos sobre as tensões ocorridas antes e durante o recital que
finalizou as atividades, destacam-se alguns debates realizados nos fóruns do grupo após o
enceramento do recital: E inevitável perceber que o entrosamento do grupo estava debilitado
desde o último encontro e isso, com certeza, atrapalhou o nosso desempenho enquanto grupo
na apresentação. (Pedro, fórum, 10/07/2011). Marta respondeu assim: É justamente isso que
o grupo está precisando: compromisso uns com os outros, responsabilidade, solidariedade
uns com os outros, união e compreensão [...] (Marta, fórum, 11/07/2011). João disse que: [...]
acho interessante entre nós colegas haver mais harmonia porque está ficando um clima meio
tenso. Então, gostaria de propor uma linguagem mais calma, passar o que o grupo precisa
[...] (João, fórum, 13/07/2011). Para esses estudantes, foi percebido que desentendimentos
ocorridos principalmente nos últimos encontros prejudicaram a performance do repertório em
grupo no recital. Assim, diante de tal situação, esses indivíduos foram capazes de perceber
que a falta de compreensão, solidariedade, paz e comunhão prejudicaram suas necessidades
de pertencimento, necessidade que se mostrou necessária para o rendimento do grupo em
outras atividades durante esse processo investigativo.
Com relação ao ambiente virtual lócus dessa investigação, percebe-se que, mesmo
sendo grande parte das atividades realizadas a distância, os alunos demonstraram que se
sentiram apoiados e vinculados ao grupo nessa modalidade de ensino. Quando questionados
sobre ter recebido apoio no ambiente online, alguns responderam: Com certeza, não
estávamos juntos todos os dias presencialmente, corporalmente, mas estávamos sempre ali,
viajando juntos no mundo online. Então, isso foi de suma importância. Para mim, foi muito
importante (João, CEC, p. 32), e outro respondeu: Sim, com certeza. Senti aquela coisa de
grupo, aquele coisa que você não está só, senti bastante (Marta, CEC, p. 46). Percebe-se que
o sentimento até então apresentado por esses estudantes demonstra que, mesmo não estando
sempre diante de uma interação face a face, os alunos sentiram-se apoiados e pertencendo ao
um grupo nas interações a distância, online.
Para Recuero (2009) uma diferença importante gerada pela internet foi o advento dos
laços sociais mantidos a distância. O desenvolvimento das TIC proporcionou, neste estudo,
uma certa flexibilidade na manutenção dos vínculos sociais dos participantes, uma vez que
permitiu que eles fossem possíveis em diversos canais. Para Recuero (2009), como
consequência, esses novos ambientes interativos promovem certa desterritorialização, gerada
150
Neste estudo, a interação ocorreu nas diversas ferramentas de interação online (redes
sociais, chats de Messengers, videoconferências). As interações online foram percebidas
como uma maneira mais efetiva de interação quando comparadas com as presenciais.
Comparando suas experiências nas interações presenciais adotadas nas aulas de instrumento,
que ocorreram em grande parte uma vez por semana e por um determinado período de tempo,
os participantes da pesquisa perceberam que o contato cotidiano entre o professor e os colegas
durante esta investigação foi mais eficiente para suprir suas necessidades de interação. Os
fóruns de discussão nas redes sociais da internet ganharam os maiores destaques nos
depoimentos dos estudantes. A análise dos dados revelou que, quando as interações
assíncronas podiam reunir a expressão verbal aos recursos audiovisuais, elas eram
consideradas mais significativas para o aprendizado prático do instrumento. Na presente
investigação, a diversidade de recursos de comunicação que o professor e os alunos tiveram à
disposição visava tornar as interações mais ricas e efetivas entre os participantes. Nesse
sentido, a colaboração das redes sociais e dos fóruns de discussão entre professor e alunos e
alunos entre si receberam destaque como ferramentas assíncronas importantes para apoiar os
alunos nas suas necessidades de pertencimento. Assim, as interações síncronas e assíncronas,
de forma complexa e complementar, foram capazes de auxiliar em geral as necessidades de
vínculo social entre os participantes.
Aspectos colaborativos e cooperativos foram percebidos nas interações online. Os
colaborativos foram principalmente percebidos nos momentos das videoconferências, nos
quais todos estavam envolvidos para resolver os mesmos problemas em grupo. Os
cooperativos foram percebidos, sobretudo, nas interações síncronas informais, que aconteciam
nos chats de Mensegers, quando os estudantes se encontravam online e se ajudavam nas suas
151
dificuldades. O pertencimento foi mais percebido quando foi externada a preocupação mútua
nos fóruns, nas redes sociais e nos momentos das videoconferências. Essas interações foram
relacionadas com o sentimento de pertencer a um grupo. Entre os principais fatores que
prejudicaram a necessidade de pertencimento dos estudantes nas interações online, estão: a
interação limitada com alguns pares, uso do e-mail para tirar dúvidas relacionadas às
atividades práticas e os desentendimentos ocorridos em algumas atividades. Em geral, os
participantes que manifestaram formas mais autodeterminadas de motivação ressaltaram a
necessidade de estarem conectados aos pares e se reuniam com mais frequência para
estudarem no ambiente virtual. Os estudantes que apresentaram formas menos
autodeterminadas de motivação perceberam-se pouco eficazes na prática musical em grupo,
prejudicando tanto o seu vínculo social quanto suas necessidades de autonomia.
Para este estudo, as estratégias motivacionais, aliadas às práticas didáticas online,
foram os grandes desafios lançados para o processo da aprendizagem autodeterminada. O
processo coletivo da construção do conhecimento foi significativo para a percepção de
pertencimento, somado ao contexto cultural e à utilização das ferramentas digitais online para
manter os participantes vinculados mesmo quando eles estavam separados a uma grande
distância durante o estudo.
No próximo capítulo, serão avaliados a metodologia empregada, o uso de algumas
técnicas de coleta, recursos e materiais didáticos empregados no presente estudo.
152
6. AVALIAÇÃO
47
Mbps – Megabytes por segundo.
48
Nessa etapa avaliativa, utilizo por vezes a primeira pessoa do plural para indicar as decisões que foram
tomadas em conjunto.
49
Esses encontros aconteceram principalmente no Windows Live Messenger, por esse chat possibilitar o envio
de vídeos capturados pela webcam, facilitando as dúvidas dos estudantes.
154
50
Abreviação de Flash Vídeo. Esse formato é muito utilizado nos vídeos do Youtube.
51
Esse grupo era fechado, a fim de que somente os membros podiam interagir e visualizar os vídeos.
156
que as redes sociais, dentre todas as formas de comunicação, foram as que mais despertaram
sua atenção:
tenso. Então, o professor o interrompeu e o pediu que ele executasse qualquer música de sua
preferência. No mesmo instante, Marcos surpreendeu a turma com uma música de ligados
bem mais complexa que a exigida na lição. Assim, foi percebido que o professor estava
interessado realmente na aprendizagem dos ligados e não na exigência do cumprimento da
tarefa. Apesar de os alunos terem ficado mais tensos com minha presença física, foi possível
estabelecer um ambiente propício à aprendizagem durante esse único encontro presencial.
Acho muito proveitoso sempre ter um vídeo da peça estudada. Assim podemos ter
uma noção geral da música e observar várias interpretações (Marta, fórum
19/05/2011).
Gostei muito do material impresso, o site, o suporte via MSN e Facebook... Mas o
DVD está muito bom, muito bom mesmo! (Thiago, 21/05/2011).
52
Modelo de tablet: http://www.youtube.com/watch?v=F_QxZJERPI8&feature=related
159
Comentando o site, ele me dá mais mobilidade, pois certa vez estava no meu
emprego e não tinha a apostila por perto, mas consegui acessar a apostila pelo
celular, além de termos como um norte os exemplos de vídeos dos grandes mestres
contemporâneos do violão (Pedro, CEC, p. 20).
Segundo o comentário acima, o site também foi bastante útil, considerando-se suas
possibilidades móveis de utilização. Dessa forma, pudemos apontar para outra possibilidade
de aprendizagem, a aprendizagem móvel, aprendizagem em movimento, mais conhecida
como mobile learning ou m-learning. Essa possibilidade está sendo investigada com o uso de
telefones celulares, mp3, dentre outros dispositivos portáteis, como um elemento de
modificação nos processos de aprendizagem em diversas partes do mundo (RAMOS, 2011;
ITO; OKABE, 2010). Nesse sentido, apropriei-me também dessa ferramenta para postar
mensagens instrutivas, informativas, dentre outras, em relação às atividades.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
limitações tecnológicas impostas neste estudo, foi possível manter uma boa interação entre os
participantes, principalmente por meio da integração de ferramentas digitais durante as aulas.
Nessas interações, foram identificadas, com frequência, discussões centradas nos temas
abordados em cada aula da disciplina, contribuindo para o aproveitamento do conhecimento
musical estudado.
Considero importante discutir a criação de ambientes virtuais específicos para a
aprendizagem musical, mais estruturados com outros mais personalizados e participativos
(blogs com redes sociais integradas, recursos audiovisuais compartilhados), em uma
sociedade cada vez mais conectada em redes, na qual aumentam as possibilidades do
aprendizado com as tecnologias digitais, livres e móveis. Os ambientes com estrutura fechada
poderiam trazer a sequência e o registro de cada etapa da aprendizagem. Já as estruturas
abertas contemplariam a colaboração e as peculiaridades de cada indivíduo. Neste estudo, a
combinação dessas estruturas de maneira integrada permitiu a necessária organização dos
processos educativos musicais com a flexibilização da adaptação de cada estudante durante
esta pesquisa. Dessa maneira, trouxe essas ideias para discussão do aprendizado do violão na
modalidade a distância. Assim, considerei que as diversificadas formas de interação a
distância propostas neste estudo puderam satisfazer as necessidades psicológicas básicas de
competência, pertencimento e autonomia dos estudantes, bem como possibilitar uma
alternativa viável e efetiva para a formação musical desses estudantes.
Desse modo, acredito que esta pesquisa possa fomentar discussões sobre as
possibilidades de uma integração bem maior entre o presencial e o virtual nos cursos
presencias das universidades. Acredito que seja importante rediscutir o limite de 20% vigente
na Lei de Diretrizes e Bases (LDB, 9394, de 20 de dezembro de 1996) no ensino superior
brasileiro. Os cursos nas universidades brasileiras poderiam flexibilizar seus currículos até
chegarem a uma maior carga horária para as aulas a distância em relação às presenciais.
Assim, cada instituição definiria qual seria o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual,
de acordo com a formação dos seus docentes e com a infraestrutura disponibilizada, dentre
outras especificidades do conhecimento. Essas inovações educacionais poderiam manter
estudantes por menos tempo em salas de aula convencionais, permitindo assim maior
rotatividade destes nos mesmos espaços físicos.
Desse modo, os espaços físicos nas universidades e/ou em outras instituições
educacionais poderiam ser otimizados. Acredito que essas ideias podem ser ampliadas para
além dos cursos superiores em que vigora a legislação que define as diretrizes nacionais. Os
167
cursos livres, técnicos e de educação básica poderiam ser mais beneficiados com as inovações
educacionais possibilitadas pela educação a distância online, apesar das reações adversas que
a consideram como reprodutora dos velhos padrões de “ensino a distância” com aparência de
inovação digital. Diferentemente das perspectivas que entendem a EAD exclusivamente para
superar déficits educacionais ou profissionais de grandes grupos de indivíduos, as concepções
em grupos menores reunidos em “sala de aula virtual” mediada por um docente precisam ser
mais problematizadas. O modelo Estar junto virtual (VALENTE, 2010, 2011), também
denominado de learning network (HARASIM et al., 1995), que prevê uma interação intensa é
limitado se comparado com as abordagens que privilegiam a educação de massas. É consenso,
entre esses pesquisadores, que, para esses modelos manterem um alto nível educacional e uma
interação desejável, o professor não pode atender a mais de 20 alunos. No entanto, algumas
ações podem ser adotadas para contornar essa limitação. Para tanto, é necessária uma equipe
para auxiliar o professor, monitorar as atividades dos alunos e desenvolver material didático
sob demanda, para ser enviada aos alunos. Mesmo prevendo tais mecanismos, essa
abordagem implica mudanças profundas no processo educacional. Contundo, esse modelo
explora, de maneira mais eficiente, as potencialidades da internet e se aprensenta como um
recurso que pode promover mudanças na educação.
Da mesma forma como, na educação presencial, a motivação e o atendimento
individualizado dos estudantes são necessários, na educação a distância online não é diferente.
Portanto, essas questões relacionadas aos processos motivacionais em ambientes de ensino e
aprendizagem online e aos estilos peculiares dos estudantes precisam ser consideradas nas
ações educacionais online.
Destaco, por fim, que a minha expectativa e o meu compromisso são de que a
experiência com a presente pesquisa seja continuada por meio de ações e projetos na
instituição que participou desta pesquisa-ação. Espero que o presente trabalho contribua para
reflexões e iniciativas de educadores musicais, no sentido de favorecer a ideia de que a
qualidade educacional independe da modalidade de ensino e que desfavoreça os discursos
extremistas que vão desde o temor do uso das TIC na educação até os que a enxergam como a
única salvação para a educação. Portanto, recomendo que outros pesquisadores invistam no
aprofundamento de investigações que venham a contribuir para as discussões da motivação no
campo da educação musical a distância, online.
168
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M.E.B. de. As teorias principais da andragogia e heutagogia. In: LITTO, F.M.;
FORMIGA, M. (orgs.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education,
2009, p. 105-111.
ANDRÉ, C.F. Aspectos bibliométricos da EAD. In: LITTO, F.M.; FORMIGA, M. (orgs.).
Educação a distância: o estado da arte. Vol. 2. 2.ed. São Paulo: Pearson Education, 2012, p.
435-444.
ARAÚJO, I.R. O ingressante no estudo formal de música: perfil e expectativas. In: VII
Encontro Regional Nordeste da Associação Brasileira de Educação Musical, 2008, João
Pessoa, Paraíba, Anais. João Pessoa: ABEM, 2008, p. 195-204.
ASSUMPÇÃO, C.M. O púlblico infantil e juvenil e a EAD. In: LITTO, F.M.; FORMIGA, M.
(orgs.). Educação a distância: o estado da arte. Vol. 2. 2.ed. São Paulo: Pearson Education,
2012, p. 156-162.
169
AUSTIN, J.; RENWICK, J.; McPHERSON, G.E. Developing motivation. In: McPHERSON,
G.E. (ed.). The child as musician: a handbook of musical development. Oxford: Oxford
University Press, 2006, p. 213-238.
AZEVEDO, M.A. Psicologia humana e EAD. In: LITTO, F.M.; FORMIGA, M. (orgs.).
Educação a distância: o estado da arte. Vol. 2. 2.ed. São Paulo: Pearson Education, 2012, p.
46-60.
BAKER, W.J. Fully online learning in a pre-service teacher music education unit in Australia:
Student perspectives. In: SIMS, W. (ed.). Proceedings of the International Society for Music
Education 30th World Conference on Music Education, Thessaloniki, Greece, 15-20 July,
2012, p. 45-51.
BANNAN, N.; GOHN, D. Career development for music teachers through international
distance-learning media. Em Pauta, Revista do Programa de Pós-Graduação em Música da
UFRGS, v. 15, n. 24, p. 141-153, 2004.
BATES, A.W. Technology, e-learning and distance education. 2.ed. New York: Routledge
Falmer, 2005.
BEHAR, P.A. Modelos pedagógicos em educação a distância. In: BEHAR, P.A. et al. (orgs.).
Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto Alegre: Artmed, 2009, p. 15-32.
BEHAR, P.A.; NOTARE, M.R. A comunicação matemática on-line por meio do ROODA
exata. In: BEHAR, P.A. et al. (orgs.). Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto
Alegre: Artmed, 2009, p. 179-203.
BELLONI, M.L. Educação a distância. 4.ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.
BERKLEY COLLEGE OF MUSIC. Study online in music. Links para os cursos do programa
de música a distância. Disponível em: <http://www.berklee.edu/>. Acesso em: 10 out. 2010.
BOOTH, W. For the love of it: amateuring and its rivals. Chicago: University of Chicago
Press, 1999.
170
BRAGA, S.M. Ensino e formação musical a distância: breve levantamento das pesquisas
realizadas. In: XX Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em
Música, 2010, Florianópolis, Santa Catarina. Anais... Florianópolis: ANPPOM, 2010. p. 537-
542.
BROPHY, J. Motivating students to learn. 3.ed. New York, NY: Routledge, 2010.
BURES, E.M.; ABRAMI, P.C.; AMUNDSEN, C.C. Student motivation to learn via computer
conferencing. Research in Higher Education, v. 41, n. 5, p. 593-621, 2000.
CAMARGO, A.P.L. Aprendizagem por meio de bibliotecas digitais e virtuais. In: LITTO,
F.M.; FORMIGA, M. (orgs.). Educação a distância: o estado da arte. Vol. 2. 2.ed. São Paulo:
Pearson Education, 2012, p. 347-351.
CERCONE, K. Characteristics of adult learners with implications for online learning design.
AACE Journal, v. 16, n. 2, p. 137-159, 2008.
CHEN, K.C.; JANG, S.J. Motivation in online learning: testing a model of self-determination
theory. Computers in Human Behavior, v. 26, p. 741-752, 2010.
CHEN, K.C.; JANG, S.J.; BRANCH, R.M. Autonomy, affiliation, and ability: relative
salience of factors that influence online learner motivation and learning outcomes. Knowledge
Management & E-Learning: An International Journal, v. 2, n. 1, p. 30-57, 2010.
CHIRKOV, V. I.; RYAN, R. M. Parent and teacher autonomy-support in Russian and U.S.
adolescents: Common effects on well-being and academic motivation. Journal of Cross
Cultural Psychology, 32, 2001.
CHIRKOV, V.I.; RYAN, R.M.; WILLNESS, C. Cultural context and psychological needs in
Canada and Brazil: testing a self-determination approach to internalization of cultural
practices, identity and well-being. Journal of Cross-Cultural Psychology, v. 36, n. 4, p. 425-
443, 2005.
COSTA, M.V. (org.). Caminhos investigativos II: outros modos de pensar e fazer pesquisa em
educação. 2.ed. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2007.
CRUVINEL, F.M. Educação musical e transformação social: uma experiência com ensino
coletivo de cordas. Goiânia: ICBC, 2005.
CRUZ, D.M. Aprendizagem por videoconferência. In: LITTO, F.M.; FORMIGA, M. (orgs.).
Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education, 2009, p. 282-288.
CSIKSZENTMIHALYI, M. The evolving self: a psychology for the third millennium. New
York: Harper Collins, 1993.
CUSTODERO, L.A. Seeking challenge, finding skill: flow experience and music education.
Arts Education Policy Review, v. 103, n. 3, p. 3-9, 2002.
DECI, E. L.; RYAN, R. M.; GAGNE´, M., LEONE, D. R., USUNOV, J.; KORNAZHEVA,
B. P. Need satisfaction, motivation, and well-being in the work organizations of a former
eastern bloc country. Personality and Social Psychology Bulletin, 27, 2001, p. 930-942.
DECI, E.L. et al. An instrument to assess adults’ orientations toward control versus autonomy
with children: reflections on intrinsic motivation and perceived competence. Journal of
Educational Psychology, v. 73, p. 642-650, 1981.
DECI, E.L. et al. Motivation and education: the self-determination perspective. Educational
Psychologist, v. 26, n. 3/4, p. 325-346, 1991.
DECI, E.L.; RYAN, R.M. Facilitating optimal motivation and psychological well-being
across life’s domains. Canadian Psychology, v. 49, n. 1, p. 4-23, 2008a.
DECI, E.L.; RYAN, R.M. Intrinsic motivation and self-determination in human behavior.
New York: Plennum Press, 1985.
DECI, E.L.; RYAN, R.M. Large-scale school reform as viewed from the self-determination
theory perspective. Theory and Research in Education, v. 7, n. 2, p. 244-252, 2009.
DECI, E.L.; RYAN, R.M. The “what” and “why” of goal pursuits: human needs and the self-
determination of behavior. Psychological Inquiry, v. 11, n. 4, p. 227-268, 2000.
DENZIN, N. K. The research act. Englewood Cliffs, N. J.; Prentice Hall, 1989.
DITTMAR, H. The costs of consumer culture and the “cage within”: the impact of the
material “good life” and “body perfect” ideals on individuals’ identity and well-being.
Psychological Inquiry, v. 18, p. 23-31, 2007.
DURKIN, K. Developmental social psychology: from infancy to old age. Malden, MA:
Blackwell, 1995.
FERNANDEZ, C.T. Os métodos de preparação de material impresso para EAD. In: LITTO,
F.M.; FORMIGA, M. (orgs.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson
Education, 2009, p. 395-402.
FRANCO, I.C.M. Redes sociais e EAD. In: LITTO, F.M.; FORMIGA, M. (orgs.). Educação
a distância: o estado da arte. Vol. 2. 2.ed. São Paulo: Pearson Education, 2012, p. 103-114.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
FUCCI AMATO, R. de C. Ensaio coral a distância (ECAD) ou tele-ensaio: uma nova forma
de organização de trabalho e uma nova ferramenta pedagógica no coral. In: XXI Congresso da
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, 2011, Uberlândia, Minas
Gerais. Anais... Uberlândia: ANPPOM, 2011, p. 519-525.
GALL, M.; GALL, J.; BORG, W. Educational research: an introduction. 7.ed. New York:
Allyn and Bacon, 2003.
174
GOHN, D.M. EAD e o estudo da música. In: LITTO, F.M.; FORMIGA, M. (orgs.). Educação
a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education, 2009, p. 282-288.
GOHN, D.M. Educação musical a distância: abordagens e experiências. São Paulo: Cortez,
2011.
GOHN, D.M. Ensino de percussão a distância. In: XIX Congresso da Associação Nacional de
Pesquisa e Pós-Graduação em Música, 2009, Curitiba, Paraná. Anais... Curitiba: ANPPOM,
2009.
GOHN, D.M. Introdução aos recursos tecnológicos musicais. In: XXI Congresso da
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, 2011, Uberlândia, Minas
Gerais. Anais... Uberlândia: ANPPOM, 2011, p. 346-351.
GUIMARÃES, L.S.R. O aluno e a sala de aula virtual. In: LITTO, F.M.; FORMIGA, M.
(orgs.). Educação a distância: o estado da arte. Vol. 2. 2.ed. São Paulo: Pearson Education,
2012, p. 126-133.
HANCE, B. Experience the energy. Cleveland Institute of Music, set. 2004. Disponível em:
<http://www.cim.edu/index.php>. Acesso em: 17 abr. 2009.
HARASIM, L. et al. Learning networks: a fied guide to teaching and learning online.
Cambridge: MIT Press, 1995.
HARRISON, L.E. Who prospers? How cultural values shape economic and political success.
NewYork: Basic Books, 1992.
175
HENTSCH E, L. et al. Students’ motivation to study music: the Brazilian context. Research
Studies in Music Education, v. 32, n. 2, p. 139-154, 2010.
HUETT, J.B. et al. Improving the motivation and retention of online students through the use
of ARCS-based emails. American Journal of Distance Education, v. 22, n. 3, p. 159-176,
2008.
ITO, M.; OKABE, D. Technosocial situations: emergent strturings of mobile e-mail use. In:
ITO, M.; OKABE, D (eds.) Personal, portable intimate: mobile phones in Japanese life.
Cambridge: MIT Press, 2003. Disponível em
http://www.itofisher.com/PEOPLE/mito/mobileemail.pdf. Acesso em jul.2010.
JONES, A.; ISSROFF, K. Learning technologies: affective and social issues. In: CONOLE,
G.; OLIVER, M. (eds.). Contemporary perspectives in e-learning research: themes, methods
and impact on practice. London: Routledge, 2007, p. 190-202.
176
JONSSON, E. Eletronic Discourse: on Speech and writing on the internet. 1997. Disponível
em: http://www.ludd.luth.se/~jonsson/D-essay/ElectronicDiscourse.html. Acesso em: 20 set.
2011.
KASSER, T.; RYAN, R. M. Further examining the american dream: differential correlates of
intrinsic and extrinsic goals. Personality and Social Psychology Bulletin, 22, 1996, p. 80-87.
KASSER, T.; RYAN, R.M. A dark side of the american dream: correlates of financial success
as a central life aspiration. Journal of Personality and Social Psychology, v. 65, p. 410-422,
1993.
KEMBER, D. Open learning for adults: a model of student progress. Englewood Cliffs, NJ:
Educational Technology Publications, 1995.
KEMBER, D. Reconsidering open and distance learning in the developing word: meeting
student’s learning needs. London and New York: Routledge, 2007.
KENSKI, V.M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. 4.ed. Campinas, SP:
Papirus, 2008.
KIM, Y.; KASSER, T.; LEE, H. Self-concept, aspirations, and well-being in South Korea and
the United States. Journal of Social Psychology, v. 143, p. 277-290, 2003.
KRÜGER, S.E. et al. Educação musical apoiada pelas novas tecnologias de informação e
comunicação (TICs): pesquisas, práticas e formação de docentes. Revista da ABEM, Porto
Alegre, v. 14, p. 75-89, 2006.
LA GUARDIA, J.G. Developing who I am: a self-determination theory approach to the
establishment of healthy identities. Educational Psychologist, v. 44, p. 78-89, 2009.
177
LEPPER, M.R.; HENDERLONG, C.J.; IYENGAR, S.S. Intrinsic and extrinsic motivational
orientations in the classroom: age differences and academic correlates. Journal of Educational
Psychology, v. 97, n. 2, p. 184-196, 2005.
LIMA, J.M. Educação musical a distância através da flauta doce. In: Encontro Anual da
Associação Brasileira de Educação Musical, 11, Natal, Rio Grande do Norte. Anais... Natal:
ABEM, out. 2002. 1 CD-ROM.
LITTO, F.M. Aprendizagem a distância. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,
2010.
LONGHI, M.T.; BEHAR, P.A.; BERCHT M. A busca pela dimensão afetiva em ambientes
virtuais de aprendizagem. In: BEHAR, P.A. et al. (org.). Modelos pedagógicos em educação a
distância. Porto Alegre: Artmed, 2009, p. 204-231.
MAIA, M.C.; MEIRELES, F.S. Estudo sobre educação a distância e o ensino superior no
Brasil. In: X Congresso Internacional de Educação a Distância, 2004, Salvador, Bahia.
Salvador: ABED, 2004. Disponível em <http://
www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/137-TC-D2.HTM>. Acesso em: 19 maio 2012.
MIYAMOTO, . Japanese high school students’ motivation in band as it relates to the gender
of the band director and the student. Dissertation Abstracts International, v. 58, p. 2127A,
1997. [UMI Nº 9738933]
MOORE, M.G.; KEARSLEY, G. Educação a distância: uma visão integrada. São Paulo:
Cengage Learning, 2008.
MUILENBURG, L.Y.; BERGE, Z.L. Student barriers to online learning: a factor analytic
study. Distance Education, v. 26, n. 1, p. 29-48, 2005.
MURPHY, E. Report of the fourth formative evaluation: music grid. Memorial University of
Newfoundland St. John’s, dez. 2003. Disponível em:
<http://www.piano.uottawa.ca/home_en.htm >. Acesso em: 22 junho de 2010.
NARITA, F.M. Colaboração virtual: uma prática musical real na modalidade a distância. In:
XVIII Encontro Anual da Associação Brasileira de Educação Musical, 2009, Londrina,
Paraná. Anais... Londrina: ABEM, 2009, p. 404-413.
NIELSEN, S.G. Strategies and self-efficacy beliefs in instrumental and vocal individual
practice: a study of students in higher music education. Psychology of Music, v. 32, p. 418-
431, 2004.
NOVO TELECURSO. Blog Novo Telecurso: música – ensino médio. Desenvolvido por
Fundação Roberto Marinho, FIESP, SESI, SENAI, IRS. Disponível em:
<http://tinyurl.com/37o7ruf>. Acesso em: 10 out. 2010.
NUNES, I.B. A história da EAD no mundo. In: LITTO, F.M.; FORMIGA, M. (orgs.).
Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education, 2009, p. 2-8.
O’NEILL, S.A. Factors influencing children’s motivation and achievement during the first
year of instrumental music tuition. England, 1996. 271f. Doctoral Thesis (unpublished) –
University of Keele.
O’NEILL, S.A. Flow theory and the development of musical performance skills. Bulletin of
the Council for Research in Music Education, v. 141, p. 129-134, 1999a.
OKADA, A.; BARROS, D.M. Estilos de aprendizagem na educação aberta online. In: MILL,
D.; PIMENTEL, N. (orgs.). Educação a distância: desafios contemporâneos. São Carlos:
EdUFSCar, 2010, p. 157-184.
OLIVEIRA, F.A. Pedagogia musical online: um estudo de caso no ensino superior de música
a distância. Porto Alegre, 2012. 323f. Tese (Doutorado em Música) – Programa de Pós-
Graduação em Música, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
ORTO, C. Video conferencing for music performance education at the Manhattan School.
Campus Technology. Disponível em: <http://www.campus-
technology.com/article.asp?id=8744>. Acesso em: 02 maio 2009.
PAJARES, F.; OLAZ, F. Teoria social cognitiva e auto-eficácia: uma visão geral. In:
BANDURA, A.; AZZI, R.G.; POLYDORO, S. (orgs.). Teoria social cognitiva: conceitos
básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 97-114.
PALLOFF, R.M.; PRATT, K. O aluno virtual: um guia para trabalhar com estudantes on-line.
Porto Alegre: Artmed, 2005.
PARIS, S. G.; TURNER, J. C. Situated motivation. In: PINTRICH. P. R.; BROWN. D. R.;
WEINSTEIN. C. E. (Eds.). Student motivation, cognition, and learning: Essays in honor of
McKEACHIE W. J. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum, 1994, p. 213-237.
PENTA. Site sobre ambientes integrados de suporte à EAD. 2004. Disponível em:
<penta.ufrgs.br/edu/ambintegradead.htm>. Acesso em: 12 set. 2009.
PEREIRA, F.L. Modos de transmissão musical e educação musical a distância. In: XXI
Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, 2012, João
Pessoa, Paraíba. Anais... João Pessoa: ANPPOM, 2012, p. 1221-1227.
PEREIRA, J.M.S.; PINTO, A.C. Avaliação de material didático em educação a distância sob
o olhar discente. In: MILL, D.; PIMENTEL, N. (orgs.). Educação a distância: desafios
contemporâneos. São Carlos: EdUFSCar, 2010, p. 105-118.
RAMOS, S.N. Dispositivos de MP3 na escuta musical: um estudo sobre audição portátil de
jovens. In: XIV Encontro Regional Sul da Associação Brasileira de Educação Musical, 2011,
Maringá, Paraná. Anais... Maringá: ABEM, 2011, p. 160-169.
RANGEL, A.P; NUNES, H.S. (org.). Acolhimento de uma ideia surpreendente. In: NUNES,
H.S. (org.). EAD na formação de professores de música: fundamentos e prospecções.
Tubarão: Copiart, 2012, p.75-81.
REEVE, J. Self-determination theory applied to educational settings. In.: DECI, E.L.; RYAN,
R.M. Handbook of self-determination research. Rochester: University of Rochester Press,
2004, p. 183-203.
REEVE, J.; DECI, E.L.; RYAN, R.M. Self-determination theory: a dialectical framework for
understanding sociocultural influences on student motivation. In: McINERNEY, D.M.; VAN
ETTEN, S. (eds.). Big theories revisited. Greenwich: Information Age Publishing, 2004, p.
31-58.
182
REEVE, J.; OLSON, B.C.; COLE, S.G. Motivation and performance: two consequences of
winning and losing in competition. Motivation and Emotion, Springer Netherlands, v. 9, n. 3,
p. 291-298, 1985.
RIBEIRO, G.M. Motivação para aprender nas aulas coletivas de violão a distância. In: XIX
Encontro da Associação Brasileira de Educação Musical, 2010, Goiânia, Goiás. Anais...
Goiânia: ABEM, 2010, p. 445-454.
RIBEIRO, G.M.; BRAGA, P.D.A. Aprendizagem por videoconferência nas aulas coletivas de
instrumento. In: XIX Encontro da Associação Brasileira de Educação Musical, 2010, Goiânia,
Goiás. Anais... Goiânia: ABEM, 2010, p. 445-454.
ROHER, T.P. A study of students from competitive and noncompetitive Florida high school
bands using an adaptation of the Academic Motivation Scale and the Sport Competition
Anxiety Test. Dissertation Abstracts International, 54, p. 857A, 1993. [UMI Nº 9320341]
RYAN, R.M. Control and information in the intrapersonal sphere: an extension of cognitive
evaluation theory. Journal of Personality and Social Psychology, v. 43, p. 450-461, 1982.
RYAN, R.M. et al. The American dream in Russia: extrinsic aspirations and well-being in
two cultures. Personality and Social Psychology Bulletin, v. 25, p. 1509-1524, 1999.
RYAN, R.M.; CONNELL, J.P. Perceived locus of causality and internalization: examining
reasons for acting in two domains. Journal of Personality and Social Psychology, v. 57, p.
749-761, 1989.
183
RYAN, R.M.; DECI, E.L. Intrinsic and extrinsic motivations: classic definitions and new
directions. Contemporary Educational Psychology, v. 25, n. 1, p. 54-67, 2000a.
RYAN, R.M.; DECI, E.L. Self-determination and the problem of human autonomy: does
psychology need choice, self-determination, and will? Journal of Personality, v. 74, n. 6, p.
1557-1585, 2006.
RYAN, R.M.; DECI, E.L. Self-determination theory and the facilitation of intrinsic
motivation, social development, and well-being. American Psychologist, v. 55, n. 1, p. 68-78,
2000b.
RYAN, R.M.; MIMS, V.; KOESTNER, R. Relation of reward contingency and interpersonal
context to intrinsic motivation: a review and test using cognitive evaluation theory. Journal of
Personality and Social Psychology, v. 45, p. 736-750, 1983.
SANTOS, E. Ambientes virtuais de aprendizagem: por autorias livre, plurais e gratuitas. In:
Revista FAEBA, v.12, no. 18. 2003.
SANTOS, H.J.R. dos. Musitec: elaboração de um tutorial multimídia. In: XV Encontro Anual
da Associação Brasileira de Educação Musical, 2006, João Pessoa, Paraíba. Anais... João
Pessoa: ABEM, 2006(b), p. 507-512.
SÄRESTÖ ACADEMY. 2011. Virtual classes: high level music education when distances
don’t matter. Disponível em: <http://virmusicfinalreport.blogspot.com.br/p/virtual-classes>.
Acesso em: 28 fev. 2012.
SHELDON, .M. et al. What’s satisfying about satisfying events? Comparing ten candidate
psychological needs. Journal of Personality and Social Psychology, v. 80, p. 325-339, 2001.
SHROFF, R.H.; VOGEL, D.; COOMBES, J.; LEE, F. (2007). Student e-learning intrinsic
motivation: a qualitative analysis. Communications of the Association for Information
Systems, v. 19, p. 241-260, 2007.
SHROFF, R.H.; VOGEL, D.R. Assessing the factors deemed to support individual student
intrinsic motivation in technology supported online and face-to-face discussions. Journal of
Information Technology Education, v. 8, p. 59-85, 2009.
SMITH, B.P. Goal orientation, implicit theory of ability, and collegiate instrumental music
practice. Psychology of Music, v. 33, p. 36-57, 2005.
SOO, K.; BONK, C.J. Interaction: what does it mean in online distance education?
Monografia apresentada na ED/MEDIA/ED – TELECOM 98 WORLD Conference on
Educational Multimedia and Hypermedia & World Conference on Educational
Telecomunications. Friburgo, Alemanha, 1998. Disponível em:
<http://.itdl.org/journal/jan_04/article02.htm>. Acesso em: 23 fev. 2012.
SOUZA, C.V.C. de. Programa de educação musical a distância para professores das séries
iniciais do ensino fundamental: um estudo de caso. Salvador, 2002. 314f. Tese (Doutorado em
Música) – Programa de Pós- Graduação em Música, Universidade Federal da Bahia.
STYER, A.J. A grounded meta-analysis of adult learner motivation in online learning from
the perspective of the learner. Cappela University, Minneapolis, USA, 2007 Doctoral thesis.
Available from ProQuest Dissertations and Theses database (UMI Nº 3249903)
(AAT3249903).
185
TARCIA, R.M.L; CABRAL, A.L.T. O novo papel do professor na EAD. In: LITTO, F.M.;
FORMIGA, M. (orgs.). Educação a distância: o estado da arte. Vol. 2. 2.ed. São Paulo:
Pearson Education, 2012, p. 148-154.
THE OPEN UNIVERSITY. Coordenação de Ian Roddis. Relação de cursos oferecidos pela
universidade na área de Música. Disponível em:
<http://www3.open.ac.uk/courses/classifications/humanities__arts__languages__history-
music.shtm>. Acesso em: 05 ago. 2010.
VALENTE, J.A.; MORAN, J.M.; ARANTES, V.A. Entre pontos e contrapontos. In:
ARANTES, V.A. (org.). Educação a distância. São Paulo: Summs, 2011, p. 111-134.
186
VALENTE, J.A.; PRADO, M.E.B.; ALMEIDA, M.E.B. (orgs.). Educação a distância via
internet. 2.ed. São Paulo: Avercamp, 2005.
VANSTEENKISTE, M.; LENS, W.; DECI, E.L. Intrinsic versus extrinsic goal contents in
self-determination theory: Another look at the quality of academic motivation. Educational
Psychologist, v. 41, p. 19-31, 2006b.
VANSTEENKISTE, M.; NIEMIE, C. P.; SOENENS. B. The development of the five mini-
theories of self-determination theory: an historical overview, emerging trends, and future
directions. The Decade Ahead: Theoretical Perspectives on Motivation and Achievement
Advances in Motivation and Achievement, v. 16A, p. 105-165, 2010.
VISPOEL, W.P.; AUSTIN, J.R. Constructive response to failure in music: the role of
attribution feedback and classroom goal structures. British Journal of Educational
Psychology, v. 63, p. 110-129, 1993.
VISPOEL, W.P.; AUSTIN, J.R. Integrating self-perceptions of music skill into contemporary
models of self-concept. The Quarterly Journal of Music Teaching and Learning, 5(4), 42–57,
1995a.
WIGHTING, M.J.; LIU, J.; ROVAI, A.P. Distinguishing sense of community andmotivation
characteristics between online and traditional college students. Quarterly Review of Distance
Education, v. 9, n. 3, p. 285-295, 2008.
XIE, K.; DEBACKER, T.K.; FERGUSON, C. Extending the traditional classroom through
online discussion: The role of student motivation. Journal of Educational Computing
Research, v. 34, n. 1, p. 67-89, 2006.
OFICINA DE VIOLÃO A
DISTÂNCIA
MÓDULO 1
190
APRESENTAÇÃO
Caro estudante,
LIÇÃO 1
Posturas para Sentar
_________________________
Assista ao vídeo 1 desta lição!
dos joelhos forme um ângulo de 90° (veja que as pernas Foto 1: Visão lateral.
no banquinho.
Atente para possíveis dores nas costas, pois nessa postura, tendemos
apoio ergonômico.
Mão Direita
Polegar (p),
Indicador (i),
Médio (m)
Anelar (a).
Sugestão de Bibliografia:
Foto 13
Foto 14 Foto 15
Sugestão de Bibliografia:
Os formatos das fotos 7 e 8 permitirão um maior contato de toda a unha com a corda,
causando menos resistência. O seu tipo de unha vai determinar qual dessas duas formas é
melhor para você. No entanto, ambos permitem um maior aproveitamento de toda a unha. Os
formatos das fotos 9 e 10 não recomendamos, porque a unha passa por cima das cordas com
muita resistência, impedindo usar toda a superfície da unha. Esses formatos liberam o toque
próximo ao meio da unha.
Pratique os exercícios abaixo, de acordo com as orientações do vídeo 2 desta lição. Esses
exercícios abaixo o ajudarão a desenvolver maior independência dos dedos da mão direita.
Sabendo que o "i" toca na terceira corda, o "m" na segunda e o "a" na primeira, fica fácil de
ler o exercício a seguir. Depois de conseguir fazer o dedilhado com segurança, você pode
variar as cordas em que o polegar toca. Por exemplo, tocar o "p" uma vez na 4ª corda, uma
vez na 5ª corda e uma vez na 6ª corda.
Sugestão de Bibliografia:
Mão Esquerda
A posição básica, tanto para a mão direita quanto para a esquerda, é em formato de
uma concha, ou seja, com a mão em estado de relaxamento. Um princípio importante para a
mão esquerda é o de aplicar o mínimo de força às cordas, somente o suficiente para pressionar
as cordas.
Indicador (1),
Médio (2),
Anelar (3),
Mínimo (4).
_________________________
O polegar da mão esquerda deve ser colocado sempre atrás do braço do violão.
Assim, ele desempenhará a função de “opositor” dos outros dedos, que tocam na parte da
frente do braço do violão. Antes de colocarmos a mão esquerda no braço do instrumento, é
importante que a observemos numa posição natural, como se existisse entre os dedos polegar
e indicador um braço imaginário. Observe que os dedos polegar e indicador agem de forma
coordenada, sendo fundamental a sua ação conjunta para a realização de possíveis saltos no
decorrer do braço do instrumento. A posição do polegar pode variar, mas naturalmente ele
deve encostar a lateral interna.
2) A pressão ou força sobre as cordas deve ser apenas o suficiente para conseguir
prendê-las
A grande maioria das pessoas usa mais força que o necessário para tocar as notas
presa nas cordas com a mão esquerda. Para evitar isso, você deve estudar, de preferência, com
um banquinho para apoiar o pé esquerdo, ou procurar outro modo de manter o braço do violão
inclinado para cima, aproximando-o do seu corpo. Nessa posição, você poderá aproveitar o
peso do seu braço esquerdo para pressionar as cordas. Em resumo, ao invés de aplicar força
nas cordas por meio da pressão exercida pelos dedos, você pode fazer com que o peso do seu
braço participe do trabalho de “prender” as cordas. Esse princípio lhe trará grandes benefícios,
inclusive de prevenção contra problemas físicos, a médio e longo prazo.
200
_________________________
Assista ao vídeo 3 desta lição!
_________________________
Assista ao vídeo 4 desta lição!
Sugestão de Bibliografia:
Existe uma discussão de quem realmente foi Antonio Rovira. Para muitos, esse nome
não passa de um pseudônimo. Talvez Antonio Rovira foi o primeiro editor de Romance de
Amor, mas não se sabe ao certo. Essa obra também tem sido atribuída a outros compositores
do período romântico. Durante o seu estudo, procure atentar para os elementos tais como:
pulsação simultânea entre o polegar e o anelar; onde você deverá tocar com maior
intensidade; os dedos indicador e médio deverão ser tocados com menor intensidade.
Utilize os termos abaixo em sites de busca para assistir a outras possibilidades
interpretativas da peça Romance de Amor.
_________________________
Assista ao vídeo 6 desta lição!
LIÇÃO 2
Sugestão de Bibliografia:
PINTO, Henrique. Iniciação ao Violão. Vol 2. Ricordi. São Paulo, 1999.
210
211
212
213
Daniel Escudeiro é natural de São Paulo (1975). Ainda criança, mudou-se para
Fortaleza, cidade que adotou definitivamente como sua e onde se encontram muitas das suas
raízes musicais e pessoais. Durante sua trajetória musical, o instrumento sempre esteve aliado
à composição, indicando os dois caminhos mais adotados para sua expressão pessoal e
artística.
Composta em Natal/RN, em março de 2002, “Pedra Verde” foi inicialmente
concebida como uma continuação de uma série de peças pequenas para dois violões que nos
remetem às pedras preciosas de cor exuberante e misteriosa que nos fazem refletir sobre sua
beleza, seja ela mais escura ou mais clara. O universo modal está presente, assim como o
“ambiente medieval” pode ser acolhido, devido às diversas passagens com quartas e quintas,
reveladas pelo tema, e dissonâncias usadas livremente.
214
Lição 3
_________________________
Assista ao vídeo 1 desta lição!
_________________________
Assista ao vídeo 2 desta lição!
Sugestão de Bibliografia:
SÁVIO, Isaias. Escola Moderna do Violão, Vol. 1. São Paulo, Ricordi, 1985.
215
_________________________
Assista ao vídeo 3 desta lição!
Sugestão de repertório: Faz Parte do meu Show (Cazuza); Corcovado (Tom Jobim).
Utilize os termos abaixo em sites de busca para assistir à interpretação dessas Bossas:
Cazuza- Faz Parte do Meu Show (Globo de Ouro 1988)
Corcovado by Joao Gilberto
Sugestões de Bibliografia:
Lição 4
Composição de melodia
_________________________
Assista ao vídeo 1 desta lição!
Nesta lição, iremos exercitar o processo de compor. Propomos que você tente criar
uma pequena melodia acompanhada, ou mais de uma, se assim quiser. Na realidade, como em
qualquer atividade musical, só aprenderemos a compor se praticarmos constantemente. O que
pretendemos nesta lição é apenas estimulá-lo a começar a experimentar algumas
possibilidades.
Ritmo de Baião
No primeiro tempo do ritmo do baião, tocamos por duas vezes com o polegar, sendo
que o segundo toque se prolonga até o início do próximo tempo, seguido pelo toque
simultâneo dos dedos indicador, médio e anelar. Para melhor fixarmos essa batida, é
importante, de início, tocar lentamente, como demonstrado no vídeo 2 desta lição, para que,
depois de assimilada, possamos tocá-la com segurança, num andamento mais rápido. Veja,
nas figuras abaixo, duas formas de representar o ritmo do Baião.
217
_________________________
Assista ao vídeo 2 desta lição!
Sugestão de repertório: Ai que saudade d’ocê (Vital Farias); Baião (Luiz Gonzaga e
Humberto Texeira)
Sugestões de Bibliografia:
Sugerimos o estudo de uma das duas peças para grupo de violões abaixo:
_________________________
Assista ao vídeo 3 desta lição!
218
219
220
221
222
223
224
225
226
227
228
229
230
Prezado Diretor,
Fui informado de que a pesquisa “Motivação para aprender nas aulas de violão a
distância no contexto universitário presencial”, desenvolvida como trabalho de doutorado pelo
Programa de Pós-Graduação em Música da UFRGS, tem como objetivo investigar os
processos motivacionais nas aulas de violão a distância num contexto universitário presencial.
Fui informado também de que a coleta de dados envolve a filmagem das aulas de
violão na modalidade a distância, entrevistas semiestruturadas a serem realizadas online via
Skype, e em fóruns de discussão da internet. As filmagens terão fim científico e acadêmico.
Fui esclarecido também de que a participação neste estudo não oferece danos ou prejuízos à
pessoa participante do projeto em questão.
Os pesquisadores responsáveis pela pesquisa são a Professora Dra. Liane Hentschke,
professora do Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e o doutorando Giann Mendes Ribeiro, aluno do referido Programa. É
estabelecido o compromisso por parte dos pesquisadores de aclarar quaisquer dúvidas e
demais informações que sejam necessárias no momento da realização do estudo ou
posteriormente, por meio do telefone (51) 3308-4390 do PPGMUS da UFRGS.
Após ter sido devidamente informado/a dos aspectos relacionados à pesquisa e ter
elucidado todas as minhas dúvidas, eu _____________________________________,
portador de Identidade n.°_________, declaro para os devidos fins que concedo os direitos de
minha participação por meio das atividades desenvolvidas e depoimentos apresentados para a
pesquisa realizada na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), desenvolvida
pelo doutorando Giann Mendes Ribeiro, com a orientação da Profa. Dra. Liane Hentschke,
para que sejam utilizados integralmente ou em parte, sem condições restritivas de prazos e
citações, a partir desta data. Da mesma forma, dou permissão e o uso das referências a
terceiros, ficando o controle das informações a cargo desses pesquisadores do Programa de
Pós Graduação em Música da UFRGS.
Renunciando voluntariamente aos meus direitos autorais e os de meus descendentes,
dou consentimento à presente declaração,
233
Mossoró,....../....../ de 2010
_______________________ _________________________
Ass. do participante da pesquisa Ass. do Pesquisador
234
5) Por que você optou pela Prática Instrumental em violão no curso superior?
7) Como você se sente mais motivado ao praticar instrumento: lendo partitura ou tirando
músicas de ouvido? Por quê?
10) Que atividades, nas aulas de violão, mais motivam sua participação: atividades
técnicas instrumentais, estudar repertório, arranjo ou improvisação? Por quê?
236
1) Como você classificaria as tarefas nas aulas? Eram fáceis? Moderadas? Difíceis? Por
quê?
3) Você acha que progrediu no instrumento (violão) com as aulas a distância? Por quê?
4) O que você achou das críticas / sugestões dos seus colegas e professor sobre o seu
desempenho?
5) Foi possível interagir com o grupo nas aulas a distância? Como aconteciam essas
interações?
7) Você compartilhou recursos pessoais, como tempo, atenção e apoio emocional com
seus colegas? Como?
9) Você sentiu que o grupo se preocupava com a sua aprendizagem e seu bem-estar?
Como isso ocorria?
12) Você sentiu liberdade de direcionar seus estudos nas aulas a distancia? Como?
Subquestão: Era dada certa autonomia em relação a exercícios, repertório?
13) Para a realização das atividades, houve liberdade para suas escolhas e preferências?
Como isso acorreu?
14) Você se sentiu pressionado para realizar as atividades nas aulas a distância? Explique?
Subquestão: Sentia alta ansiedade para realizar atividades?
Magnaldo Aráujo (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe Alann Jimme, Gilliard Soares, Maganaldo Aráujo, Míssola Arezza, Ruãnn César
do Prof. Junnior Miranda)
Daniel Escudeiro
Anônimo- atrib. Antonio Rovira (1975) Pedra Verde
(?) Romance de Amor
Alann Jimme, Gilliard Soares, Maganaldo Aráujo, Míssola Arezza, Ruãnn César
Ruãnn César (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe do
Prof. Junnior Miranda) Zé Ramalho
(1949) Bicho de Sete Cabeças
Dionísio Aguado
(1784-1849) Valsa Alann Jimme, Gilliard Soares, Maganaldo Aráujo, Míssola Arezza, Ruãnn César
Gilliard Soares (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe Alann Jimme
do Prof. Junnior Miranda) (1985) Estudo Baião
Allan Jimme (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe do
Jose Ferrer Prof. Junnior Miranda)
(1835-1916) Vals
Allan Jimme (aluno do 4º semestre curso de Licenciatura em Música, da classe do
Prof. Junnior Miranda) Magnaldo Araújo
(1992) Aperreio Inspirado
Alann Jimme, Gilliard Soares, Maganaldo Aráujo, Míssola Arezza, Ruãnn Cés
121