Resumo A Arqueologia Do Saber

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROFESSORA: MARIA DOS REMÉDIOS BRITO
DISCIPLINA: FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Érick Klaus Leão Furtado


Fernanda Cristine do Monte Santos
Fernanda Souza da Silva
Julie Gabriele Melo da Silva
Lorena Rodrigues Soares
Márcia Xwarye
Marinice Nogueira Mendes

RESUMO DO TEXTO “UMA ARQUEOLOGIA DO SABER”, DO


LIVRO “FOUCAULT, A CIÊNCIA E O SABER”, DE ROBERTO
MACHADO

MAIO DE 2022
BELÉM-PA
A análise do terceiro capítulo do livro “Foucault, a ciência e o saber" de
Roberto Machado: “uma arqueologia do saber", evidencia os principais aspectos do
método arqueológico proposto por Foucault em obras como As palavras e as coisas
e A arqueologia do saber. O autor, Roberto Machado, relaciona essencialmente essas
duas obras utilizando o viés metodológico de arqueologia que se encontra de forma
mais definida em A arqueologia do Saber para melhor explicitar questões antes
abordadas em As palavras e as coisas.

A Arqueologia do Saber é a concepção do método arqueológico já


apresentado por Foucault em estudos anteriores, dentre os quais se destaca As
Palavras e as Coisas. Nesse sentido, a característica promovida pela análise, refere-
se ao conceito de episteme relacionada à ideia de positividade do saber que antecede
a ordenação de um discurso intitulado por um regime de verdade.

Partindo da noção de saber, Foucault aborda um novo contexto para o sentido


de positividade. O que antes conhecido como característica do discurso científico e
objeto de estudo da Epistemologia, em As palavras e as coisas, diz respeito a um
nível específico da análise de um saber, onde o saber só pode ser observado de
acordo com seus próprios fundamentos, sem o caráter de progresso contínuo
apresentado pela historicidade da ciência, assim criticado pelo filósofo por estabelecer
análises que privilegiam temas ou teorias, a legitimação de regimes de verdade.

Desse modo, Episteme é a ordem específica do saber, a disposição de um


campo que o saber assume em determinada época, e que lhe designa positividade.
Essa ordem de saber pode ser compreendida com a compreensão de dois aspectos:
sua globalidade; garante que em determinado momento e cultura só existe uma
episteme que define as condições de possibilidades do surgimento de um conjunto de
saberes. A arqueologia, com isso, define simultaneidades dos saberes e estabelece a
homogeneidade que permite definir uma configuração geral do saber de uma
determinada época, sua emergência e sua transformação.

Em outro aspecto, a episteme apresenta sua característica complementar: a


profundidade. Em oposição às ciências ou à história das ideias, a arqueologia é a
análise dos saberes a partir do a priori histórico, no qual se caracteriza
fundamentalmente, e que vai além da superfície de um saber. Assim, o a priori
histórico, denota-se o que em determinada época recorta na experiência um campo
do saber possível e define as condições em que se pode enunciar sobre as coisas um
discurso reconhecido como verdadeiro.

A partir disso, Foucault elabora uma crítica a história das ideias ou das
ciências por constantemente procurarem contradições entre diferentes teorias em
uma mesma época, em dada episteme. Tais oposições entre os saberes se
caracterizam como superficiais, ao que a arqueologia se encarrega, em seu caráter
metodológico, em descobrir o a priori histórico e, por assim, estabelecer no nível da
profundidade uma coerência fundamental entre esses saberes.

Ressalta-se que a arqueologia não visa determinar relações de cientificidade


entre os saberes ao que escapa da perspectiva epistemológica. Entretanto, a história
arqueológica como epistêmica, não pretende invalidar a possibilidade e a legitimidade
de uma análise epistemológica, aceita seu nível específico de análise como uma
consequência de seu próprio caráter metodológico.

Para além disto, o método apresentado no estudo se preocupa, em sua


especialidade e complexidade, em analisar todo um campo que fornece base para
que um conjunto de saberes possa ser fundamentado, a partir do a priori histórico.
Desse modo, a arqueologia promove sua normatividade com a ordenação dos
saberes de uma época a partir do próprio saber considerado em sua generalidade,
profundidade e contemporaneidade, a partir da episteme.

Dessa forma, a análise das ciências humanas não é uma descrição isolada
e sim o produto da inter-relação de saberes sobre o homem, por isso Foucault tenta
esclarecer a partir ciências empíricas, que as ciências humanas só podem ser
compreendidas a partir da relação que possuem com a temática da vida, trabalho e
linguagem, visto que essas coisas estão a todo tempo sendo modificadas por seres
humanos. Então, segundo ele, o nascimento das ciências humanas só ocorre após a
modernidade, pois os saberes giravam em torno do homem, como ele mostra na
análise das ciências empíricas, no entanto não se tinha essa noção. É só a partir do
momento que o homem descobre que é finito, que altera diversos processos que ele
vai se colocar como objeto do saber.
Assim sendo, o autor começa exemplificando, a partir das ciências empíricas,
mais especificamente a história natural, como o homem naquela época analisava os
animais e as plantas, por meio somente da visão e do tato e de uma perspectiva
superficial dos objetos que era visto apenas como representação, tendo em vista que
o uso de signos era apenas uma forma de estruturação das palavras e das coisas e
não do seu aspecto profundo, visualizado através do nascimento da biologia que
marca o estudo das funcionalidades e o nascimento da vida humana.

Seguindo assim essa lógica, da fase clássica, o autor postula que a análise
das riquezas era fundamentada no comércio e na troca de mercadorias, o trabalho
era visto como um signo e portanto composto de representação, muito no âmbito mais
simples, devido às relações serem menos complexas naquele momento. Enquanto
que na idade moderna, o trabalho ganhou uma outra roupagem carregado de
complexidade e divisões do trabalho, o labor virou produto e instituído de valor.

Dessa forma, essas transformações da economia com a história, seguida da


acumulação em série e a mudança do homem como objeto de estudo resultou numa
série de questões para o surgimento das ciências humanas, agora o homem se
entende como finito por natureza e principalmente como parte essencial e necessário
para constituição do trabalho, ele agora é o objeto empírico estudado e por
conseguinte, aquele que pode mudar sua própria realidade

É importante ressaltar, que nos saberes clássicos, o conhecimento era


direcionado para a representação e para classificação dos constituintes e que tais
campos do conhecimento tinham uma base filosófica embasada pelo filósofo René
Descartes, o qual possui como principal objetivo o descobrimento do conhecimento a
partir de uma verdade. Entretanto, para Foucault o que era mais de relevância em ser
observado eram as regras que foram colocadas com o objetivo do alcance dessa
verdade segura, ou seja, para René Descartes validar uma máxima era necessário
dividir as partes para sim compreender o todo, logo, possuía um caráter reducionista
tal qual os empiristas. Outro fator importante era a questão da ordem das palavras,
para que assim pudessem ser postulados os níveis mais simples até os mais
complexos das questões, tudo isso com base na noção de representação das palavras
e das coisas. Conhecimento que foi fortemente influenciado pelas ciências empíricas,
algo que na época, não era compreendida como ciência.
Além disso, no que tange ao pensamento filosófico, Foucault defende que a
filosofia clássica é uma filosofia de análise: ela é um conhecimento analítico, se
passando no nível da representação, e faz uma teoria do conhecimento como análise.
O que diferencia essa filosofia de outros saberes é a amplitude. A história natural, por
exemplo, analisa um tipo particular de representação, enquanto que a filosofia objetiva
uma representação geral. Para exemplificar isso, o autor fala da ideologia de Destutt
de Tracy, a última das filosofias clássicas, que tinha como objetivo uma análise geral
de todas as formas de representação, tornando-se, em certo sentido, o saber de todos
os saberes. Segundo Foucault, a crítica kantiana contemporânea da ideologia coloca
em questão o espaço da representação em seu próprio fundamento. Isso marca, no
final do século XVIII, a retirada do saber e do pensamento do espaço da
representação. Assim, saindo do campo da representação, os seres vivos, as palavras
e as riquezas tornam-se sínteses objetivas da vida, da linguagem e do trabalho. Essa
crítica à representação dá lugar a uma filosofia transcendental em que o sujeito
aparece como condição de possibilidade do saber empírico.

Entretanto, esse não é o caminho que será privilegiado pelo pensamento


filosófico moderno, que busca conhecer o modo de ser do homem. A filosofia moderna
é uma analítica da finitude, isso porque sua principal característica é a repetição, isto
é, a identidade e a diferença entre o empírico e o transcendental. Assim, essa filosofia
da finitude, analítica e marcada pela repetição, é chamada de “Pensamento do
Mesmo”, pois o homem, finito, e sendo objeto das ciências e sujeito de conhecimento,
pensa o finito a partir de si mesmo. Nesse contexto, em que o homem passa a ser
objeto de estudo pela economia, biologia e filologia, ele é entendido enquanto um ser
que modifica o contexto no qual está inserido. Conforme o pensamento foucaultiano,
esse homem se duplica em empírico e transcendental, fato que caracteriza o a priori
histórico das ciências humanas. Nessa perspectiva, o objeto de estudo dessas
ciências é justamente esse espaço entre o nível transcendental e o empírico, o espaço
da representação do homem em relação aos aspectos da vida na qual está inserida
sua existência enquanto um corpo.

Logo, compreende-se que as ciências humanas como a psicologia, a


sociologia e o estudo da literatura e dos mitos, são construídas a partir das
transferências de categorias de outros saberes, posto que estão nesse local de
intermédio. Esse cruzamento de saberes é definido pelos pares conceituais: função e
norma, conflito e regra, significação e sistema. O destaque de um desses modelos
em relação aos outros, definirá arqueologicamente uma ciência humana, enquanto os
demais pares tornam-se vias de interpretação secundária da área do conhecimento
em questão.

Mediante o exposto, nota-se que, as ciências humanas, por terem os mesmos


fundamentos, reduplicam-se em si, isto é, há o intercâmbio de saberes entre elas e
por isso, é possível adotar categorias de um campo de conhecimento para interpretar
outros. Portanto, Foucault enfatiza a análise arqueológica do saber no sentido de
buscar as redes que definem as condições de possibilidade de um saber,
distanciando-se, assim, da linearidade e simples oposição entre esses como formas
de estabelecer a historicidade do conhecimento.

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