Ancoragem

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Escola de Engenharia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil

Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção


de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas
Estáticas

Helder Mansur Chaves

Porto Alegre
2020
HELDER MANSUR CHAVES

MODELO REDUZIDO DE LINHA DE ANCORAGEM


OFFSHORE: CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE ENSAIO
PARA AVALIAR ATENUAÇÃO DE CARGAS ESTÁTICAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em


Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em
Engenharia.

Porto Alegre
2020
HELDER MANSUR CHAVES

MODELO REDUZIDO DE LINHA DE ANCORAGEM


OFFSHORE: CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE ENSAIO
PARA AVALIAR ATENUAÇÃO DE CARGAS ESTÁTICAS

Esta dissertação de mestrado foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM
ENGENHARIA, na área de Concentração Geotecnia, e aprovada em sua forma final pelo
professor orientador e pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.

Porto Alegre, 27 de Março de 2020

Prof. Fernando Schnaid Prof. Marcelo Maia Rocha


Ph.D. University of Oxford, Reino Unido DR. Techn. Universität Innsbruck, Austria
orientador coorientador

Prof. Nilo Cesar Consoli


Ph.D pela Concordia University, Canadá
Coordenador do PPGEC/UFRGS

BANCA EXAMINADORA

Prof. Nilo Cesar Consoli (UFRGS)


Ph.D pela Concordia University, Canadá

Prof. Cesar Alberto Ruver (UFRGS)


Dr. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil

Prof. Edgar Odebrecht (UDESC)


Dr. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Dedico este trabalho à minha família por todo apoio,
dedicação e incentivo, que me fez perseverar diante de
todas as dificuldades, principalmente nos momentos mais
difíceis dessa jornada. Vocês são os responsáveis por esse
vultoso estado de alegria em que me encontro, ao terminar
mais uma etapa da minha vida.
AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço à Deus, meu grande provedor, por me sustentar ao longo de toda minha
vida, me guardando de todo o mal, iluminando cada decisão tomada e me guiando segundo a
sua vontade, toda honra e glória a ti meu senhor!

Agradeço a minha família por toda a educação e valores, que me repassam até os dias de hoje,
fundamentais para a minha formação como ser humano. Pai e mãe, sei o valor de cada esforço
desprendido por vocês, assim como as privações que passaram para sustentar meus estudos.
Sem vocês esse momento não seria uma realidade. Amanda e Letícia, vocês são os amores da
minha vida, sinto saudades de vocês todos os dias, em breve estaremos juntos novamente,
agradeço de coração todo o apoio que vocês me deram ao longo desses anos.

Agradeço especialmente ao grande amor da minha vida e amada esposa Laís Rodrigues da
Costa Chaves, que sempre soube contornar com calma e responsabilidade as extremas situações
que enfrentamos durante nossa caminhada de vida, dando-me forças para continuar lutando
através dos estudos. Obrigado por nunca ter largado minhas mãos e pelo maior presente que já
recebi em vida, nossa filha Heloísa da Costa Chaves, à qual dedico essa vitória.

Agradeço aos meus orientadores Fernando Schnaid e Marcelo Maia Rocha por todo apoio,
conhecimento transmitido, confiança e disponibilidade em me orientar, mesmo diante de todas
as dificuldades.

Agradeço aos professores Gérson Miranda, Nilo Consoli, Karla Heineck, Lucas Festugato,
Cesar Ruver, Sérgio Marques e Edgar Odebrecht, pelo apoio, amizade, incentivo, motivação e
disponibilidade em ajudar a qualquer momento durante a realização do mestrado.

Agradeço aos amigos que sempre estiveram presentes durante essa caminhada, Samuel
Bandeira, Aziz Tebechrani, Gustavo Dias, Luciana Queiroz, Max Deluan, Augusto Borges,
Bruna Spricigo, e a todos integrantes da PPGEC, especialmente à família LEGG.

Agradeço à UFRGS pela oportunidade em cursar um mestrado de excelência. Ao GEM,


Integrante do LAMEF, que disponibilizou o equipamento para calibrar a instrumentação
utilizada na pesquisa. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), pela bolsa concedida, e à Petrobras, pelo financiamento deste trabalho, assim como
o fornecimento dos dados utilizados no caso típico.
A educação é a arma mais poderosa que você pode usar
para mudar o mundo.
Nelson Mandela
RESUMO

CHAVES, H. M. Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um


Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas. 2020. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
UFRGS, Porto Alegre.

Este trabalho visa desenvolver um sistema de ensaio reduzido (escala de comprimento 1:10),
com o objetivo de simular forças de tração aplicadas às linhas de ancoragem offshore. Através
do modelo de ensaio, será possível estudar as forças que realmente são transmitidas aos
elementos de fundação de sistemas de ancoragem offshore, que possibilitará o cálculo da
atenuação de carga que ocorre na catenária inversa, formada no trecho da linha embutida no
solo. O desenvolvimento da pesquisa foi baseado em um caso típico, fornecido pela empresa
Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), referente ao projeto de ancoragem de uma plataforma
FPSO (Floating, Production, Storage and Offloading), que utiliza como elemento de fundação
estacas torpedo, instaladas em solo marinho argiloso, ligadas à FPSO por linhas de ancoragem
em configuração taut leg. Para simular a linha de ancoragem embutida no solo, foi utilizada
uma corrente de elos, na qual será aplicada cargas de tração, por meio de uma talha manual
presa à um tripé de sondagem SPT. Para realizar o embutimento da corrente no solo, será
utilizado um conjunto de tubos metálicos de 37 mm e 16 mm de diâmetro externo e interno,
respectivamente, que são normalmente utilizados no equipamento de sondagem CPTu. Para
impedir grandes deslocamento do conjunto de tubos durante os ensaios e proporcionar a reação
necessária às forças aplicadas, realizou-se em um dos seguimentos de tubo o acoplamento de
duas aletas laterais, que tiveram suas dimensões determinadas através da modelagem numérica.
O sistema de ensaio foi instrumentado com uma célula de carga instalada entre o tubo
modificado e o segmento de corrente embutido no solo, e outra célula ligada na porção de
corrente acima do solo, quantificando, respetivamente, a solicitação de carga gerada no tubo
metálico e a carga externa aplicada. Logo, a atenuação de carga que ocorrer durante o ensaio,
será determinada através da diferença das duas leituras.

Palavras-chave: Atenuação de cargas; catenária invertida; modelo reduzido.


ABSTRACT

CHAVES, H. M. Reduced Model of Offshore Anchorage Line: Construction of a Test


System for Evaluating Attenuation of Loads Static. 2020. Master’s theses Civil
Engineering - Postgraduate program in Civil Engineering, UFRGS, Porto Alegre.

This work aims to develop a reduced test system (length scale 1:10), with the objective of
simulating tensile forces applied to the offshore anchoring lines. Through the test model, it will
be possible to study the forces that are actually transmitted to the foundation elements of
offshore anchoring systems, which will enable the calculation of the load attenuation that occurs
in the reverse catenary, formed in the stretch of the line embedded in the ground. The
development of the research was based on a typical case, provided by the company Petróleo
Brasileiro SA (Petrobras), related to the anchoring project of an FPSO platform (Floating,
Production, Storage and Offloading), which uses torpedo piles as the foundation element,
installed on clayey marine soil, connected to the FPSO by anchoring lines in taut leg
configuration. To simulate the anchoring line embedded in the ground, a chain of links was
used, in which traction loads will be applied, by means of a manual hoist attached to an SPT
sounding tripod. To bury the chain in the ground, will be used a set of metal tubes of 37 mm
and 16 mm of external and internal diameter, respectively, which are normally used in the
drilling CPTu equipment. To prevent large displacement of the set of tubes during the tests and
to provide the necessary reaction to the applied forces, two side fins were coupled in one of the
tube segments, which had their dimensions determined through numerical modeling. The test
system was instrumented with a load cell installed between the modified tube and the current
segment embedded in the ground, and another cell connected in the current portion above the
ground, quantifying, respectively, the load demand generated in the metal tube and the external
load applied. Therefore, the load attenuation that occurs during the test, will be determined by
the difference between the two readings.

Key-words: Attenuation of loads; reverse catenary; reduced model.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 11

1.1 ASPECTOS GERAIS ........................................................................... 11

1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................. 13

1.3 OBJETIVO GERAL ............................................................................. 14

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................... 14

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................. 15

2.1 SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO OFFSHORE .................................... 15

2.2 SISTEMA DE ANCORAGEM ............................................................. 18

2.3 PRINCIPAIS ELEMENTOS DAS LINHAS DE ANCORAGEM ....... 18

2.3.1 Amarras .............................................................................................. 18

2.3.2 Cabos de Aço ..................................................................................... 19

2.3.3 Cabos sintéticos .................................................................................. 20

2.3.4 Boias de Ancoragem .......................................................................... 21

2.4 CONFIGURAÇÕES DE LINHAS DE ANCORAGEM ...................... 21

2.4.1 Linha de Ancoragem em Catenária .................................................... 21

2.4.2 Linha de Ancoragem de Raio Curto (Taut Leg) ................................. 22

2.4.3 Linha de Ancoragem Vertical ............................................................ 23


24
2.5 SISTEMAS DE AMARRAÇÃO ..........................................................
2.5.1 Ancoragem em Ponto Único (SPM) ................................................. 24

2.5.2 Amarração com Quadro de Ancoragem (SM) ................................... 26

2.5.3 Posicionamento Dinâmico (DP) ......................................................... 27

2.6 FUNDAÇÕES PARA ANCORAGEM DE SISTEMAS


FLUTUANTES ....................................................................................... 28
2.6.1 Estaca Cravada por Sucção .............................................................. 28
2.6.2 Âncora Convencional ....................................................................... 28

2.6.3 Âncora Vertical (Vertically Loaded Anchor - VLA) ......................... 29

2.6.4 Estaca Torpedo ................................................................................... 30

2.7 DETERMINAÇÃO DA PROFUNDIDADE DE CRAVAÇÃO DA


ESTACA TORPEDO .............................................................................. 33

2.7.1 Taxa de deformação do solo (Se) ....................................................... 34

2.7.2 Forças Resistentes do solo .................................................................. 34

2.7.3 Força inercial de arrasto ..................................................................... 35

2.8 EQUILÍBRIO DA CATENÁRIA INVERSA (EMBUTIDA NO


SOLO) E ATENUAÇÃO DE CARGAS ................................................ 36
2.8.1 Reese (1973) ....................................................................................... 36

2.8.2 Gault e Cox (1974) ............................................................................. 37

2.8.3 Vivatrat et al (1982) ........................................................................... 37

2.8.4 Degenkamp e Dutta (1989) ................................................................ 38

2.8.5 Amaral e costa (2004) ........................................................................ 44

2.8.6 Wang et al (2010) ............................................................................... 45

2.8.7 Rocha (2014) ...................................................................................... 46

2.8.8 Sampa (2015) ..................................................................................... 50

3 ESTUDO DE CASO: CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO DE


ANCORAGEM DE UMA PLATAFORMA FPSO ............................ 52

3.1 CASO TÍPICO ...................................................................................... 52

3.1.1 Características Geotécnicas ................................................................ 52

3.1.2 Características Geométricas e Físicas do Sistema de Ancoragem ..... 56

3.1.3 Características das Cargas Aplicadas ao Sistema .............................. 58

4 ESTUDO DO FATOR DE ESCALA .................................................... 59

4.1 ANÁLISE DO EFEITO DE ESCALA ................................................. 59

4.1.1 Análise Dimensional .......................................................................... 59

4.2 ANÁLISE DIMENSIONAL APLICADA AO CASO TÍPICO ........... 64

4.2.1 Conversão de Escala Aplicada ao Solo .............................................. 66


4.2.2 Conversão de Escala Aplicada à Linha de Ancoragem ...................... 66

3.2.3 Conversão de Escala Aplicada ao Carregamento ............................... 66

5 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................. 67

5.1 CAMPO EXPERIMENTAL DE TUBARÃO ...................................... 67

5.2 DIMENSIONAMENTO DAS ALETAS .............................................. 73

6 EQUIPAMENTOS ................................................................................. 80

6.1 GUIA DE ANCORAGEM .................................................................... 80

6.2 LINHAS DE ANCORAGEM ............................................................... 82

6.3 CÉLULAS DE CARGA ........................................................................ 83

6.3.1 Instrumentação das Células de Carga ...............…….......................... 85

6.3.2 Calibração Das Células de Carga ....................................................... 87

6.4 SISTEMA PARA AQUISIÇÃO DE DADOS ...................................... 89

6.5 SISTEMA DE APLICAÇÃO DE CARGA .......................................... 90

7 ROTEIRO DE ENSAIO ........................................................................ 91

7.1 ETAPA PRELIMINAR ...................................................................... 91

7.2 MONTAGEM DO SISTEMA DE ENSAIO ........................................ 92

7.3 EXECUÇÃO DO ENSAIO ................................................................... 95

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 97

8.1 CONCLUSÕES ..................................................................................... 97

8.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................ 98

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 99

ANEXO A ................................................................................................... 103


LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Geometria das linhas de ancoragem: (a) lançamento da estaca torpedo; (b)
linha de ancoragem ligada à plataforma flutuante ...................................................... 11

Figura 2.1: plataformas semissubmersíveis (ASSIS, J. S. de, 2013) .............................. 16

Figura 2.2: Plataforma FPSO - P54 (PETROBRAS, 2007) ............................................ 16

Figura 2.3: SPAR convencional (SAMPA, N. C., 2015) ................................................ 17

Figura 2.4: SPAR treliçado (VILLELA, M. J. R., 2004) ................................................ 17

Figura 2.5: Plataforma de pernas atirantadas (DILLINGER, 2006 apud MELO, C. M.


de A. R., 2010) ........................................................................................................... 17

Figura 2.6: Representação dos tipos de amarras (LIMA, D. A., 2011) ........................ 19

Figura 2.7: Componentes de um cabo multi-strand (LIMA, D. A., 2011) .................... 20

Figura 2.8: Representação dos cabos de aço (API, 2005 apud ROCHA. C. C.M.,
2014) ........................................................................................................................... 20

Figura 2.9: Composição do cabo de poliéster (LIMA, A. L., 2006) ............................... 21

Figura 2.10: Linha de ancoragem em catenária (LARCERDA, T. A. G. de, 2005) ....... 22

Figura 2.11: Comparação entre ancoragem em catenária convencional e ancoragem


em taut leg .................................................................................................................. 23

Figura 2.12: Linhas de ancoragem vertical com tendões (KAWASAKI, P. Y., 2010) .. 24

Figura 2.13: sistema SPM com turret externo (ASSIS, J. S. de, 2013) .......................... 25

Figura 2.14: sistema CALM. (LIMA, D. A., 2011) ........................................................ 25

Figura 2.15: Sistema SALM com riser pré-tracionado e boia de flutuação (baseado
em: LIMA, D. A., 2011) ............................................................................................. 26
Figura 2.16: Amarração em quadro de ancoragem (LIMA, A. L., 2006) ....................... 27

Figura 2.17: Sistema de Posicionamento dinâmico. (KAWASAKI, P. Y., 2010) .......... 27

Figura 2.18: Estacas de sucção. (RANDOLPH et al, 2005) ........................................... 28

Figura 2.19: Âncora convencional. (KAWASAKI, P. Y., 2010) .................................... 29

Figura 2.20: Âncora vertical. (API RP 2 SK, 2005 apud KOCHEM, R. M., 2016) ....... 30

Figura 2.21: Estaca torpedo (SAMPA, N. C., 2015) ....................................................... 31


Figura 2.22: Estaca torpedo pronta para lançamento (ROCHA, M. M. et al 2016) ....... 31

Figura 2.23: Procedimento de instalação da estaca torpedo ........................................... 32

Figura 2.24: Forças que atuam na cravação de um elemento cilíndrico (ROCHA. C.


C. M., 2014) ............................................................................................................... 33

Figura 2.25: Equilíbrio de forças de um elemento da linha de ancoragem enterrada no


solo (VIVATRAT, V. et al., 1982) ............................................................................. 37

Figura 2.26: Diagrama de forças de um elemento da amarra enterrada no solo


(DEGENKAMP, G.; DUTTA, A.,1989) .................................................................... 39

Figura 2.27: Representação esquemática da configuração utilizada no teste


(DEGENKAMP, G.; DUTTA, A.,1989) .................................................................... 41

Figura 2.28: Ângulo de aplicação de carga - medido versus calculado


(DEGENKAMP, G.; DUTTA, A.,1989) .................................................................... 42

Figura 2.29: Tensão aplicada à estaca - medida versus calculada (DEGENKAMP, G.;
DUTTA, A.,1989) ...................................................................................................... 43

Figura 2.30: Carga na ancora versus carga no TDP para diferentes penetrações da
estaca (AMARAL, C. dos S.; COSTA, A. M. dos, 2004) .......................................... 45

Figura 2.31: Ângulo de aplicação de carga na ancora x no TDP para diferentes


penetrações (AMARAL, C. dos S.; COSTA, A. M. dos, 2004) ................................ 45

Figura 2.32: Estrutura metálica e tanque acrílico desenvolvidos para o ensaio


(ROCHA, C. C.M., 2014) .......................................................................................... 47

Figura 2.33: Esquema do sistema de ensaio (ROCHA. C. C.M., 2014) ......................... 48

Figura 2.34: Resultados dos ensaios de atenuação nas argilas A e B. (ROCHA. C.


C.M., 2014) ................................................................................................................ 49

Figura 2.35: Comparação da atenuação versus ângulo nominal nas diferentes


condições de ensaio (ROCHA. C. C.M., 2014) ......................................................... 50

Figura 2.36: Conjunto de equipamentos utilizados para a realização do ensaio de


carregamento dinâmico (SAMPA, N. C., 2015) ........................................................ 51

Figura 3.1: Curvas granulométricas do solo marinho do campo Guará (Dados


fornecidos pela Petrobras) .......................................................................................... 53

Figura 3.2: Curvas granulométricas do solo marinho do campo Lula (Dados


fornecidos pela Petrobras) .......................................................................................... 53

Figura 3.3: Curvas granulométricas do solo marinho do campo Lula NE (Dados


fornecidos pela Petrobras) .......................................................................................... 54
Figura 3.4: Variação do teor de umidade em função da profundidade, nos três campos
(Dados fornecidos pela Petrobras) ............................................................................. 54

Figura 3.5: Variação do peso específico em função da profundidade nos três campos
55
(Dados fornecidos pela Petrobras) ...................................................................................

Figura 3.6: Limites de Atterberg em função da profundidade nos três campos (Dados
fornecidos pela Petrobras) .......................................................................................... 55

Figura 3.7: Resistência não drenada ao longo da profundidade obtidas nos ensaios de
CPTu e DSS (Dados fornecidos pela Petrobras) ........................................................ 56

Figura 3.8: Esquema ilustrativo do caso típico analisado ............................................... 57

Figura 3.9: Espectro de carregas que atuam no fairlead e no TDP ................................. 58

Figura 5.1: Localização do município de tubarão (adaptado de HIGASHI. F. A. dos


R., 2006) ..................................................................................................................... 67

Figura 5.2: Sistemas deposicionais quaternários do delta do Rio Tubarão (adaptado de


GIANNINI. P. C. F., 2010) ........................................................................................ 69

Figura 5.3: Localização das regiões onde foram realizadas as campanhas de ensaio
para definição do local de ensaio desta pesquisa (imagens do Google Earth pro em
15/01/2020) ................................................................................................................ 70

Figura 5.4: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 04 (furo 01) .......... 71

Figura 5.5: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 04 (furo 02) .......... 71

Figura 5.6: Tubos de Shelby com amostras coletadas em campo ................................... 72

Figura 5.7: superfícies de escoamento: a) superfície de Tresca no plano - com lei de


fluxo associada; b) superfícies de Mohr-Coulomb e Tresca no espaço das tensões
principais (adaptado de Systèmes, D., 2016) ............................................................. 74

Figura 5.8: Malhas de elementos finitos: (a) malha aplicada aos tubos metálicos e às
aletas; (b) malha aplicada ao maciço de solo ............................................................. 76

Figura 5.9: Condições de contorno aplicadas ao modelo (deformação do maciço de


solo aumentada em 2.000 vezes) ................................................................................ 77

Figura 5.10: Deslocamentos paralelos ao eixo de aplicação da força ............................. 78

Figura 5.11: Esquema da guia de ancoragem modelada ................................................. 79

Figura 6.1: Projeto da guia de ancoragem ....................................................................... 80

Figura 6.2: Guia de ancoragem: (a) tubo metálico com as aletas; (b) detalhe do furo
oblongo; (c) detalhe do elo de ligação ........................................................................ 81
Figura 6.3: Sistema de cravação (SCHNAID, F.; ODEBRECHT, E., 2012) ................. 82

Figura 6.4: Geometria/diâmetro das correntes: (a) 13 mm; (b) 11 mm .......................... 82

Figura 6.5: Detalhamento da célula de carga (ROCHA, M. M., 2020) .......................... 83

Figura 6.6: ábaco de concentração de cargas (ROCHA, M. M., 2020) .......................... 84

Figura 6.7: Proteções adicionas às células de carga (ROCHA, M. M., 2020) ................ 85

Figura 6.8: Especificações técnicas da manilha utilizada ............................................... 85

Figura 6.9: Duas faces instrumentadas de cada célula de carga (ROCHA, M. M.;
2020) ........................................................................................................................... 86

Figura 6.10: Prensa utilizada na calibração da célula de carga ....................................... 87

Figura 6.11: Gráfico de calibração da CCI ..................................................................... 88

Figura 6.12: Gráfico de calibração da CCS .................................................................... 88

Figura 6.13: Sistema de aquisição de dados .................................................................... 89

Figura 6.14: Talha manual utilizada para aplicar carga .................................................. 90

Figura 6.15: Tripé de sondagem SPT .............................................................................. 90

Figura 6.16: Especificações técnicas do mosquetão utilizado ........................................ 90

Figura 7.1: escavação necessária para a realização do ensaio ........................................ 92

Figura 7.2: Disposição espacial dos equipamentos antes do ensaio ............................... 94

Figura 7.3: Tirfor com alavanca manual (2 toneladas) .................................................. 95

Figura 7.4: Disposição espacial dos equipamentos ao término da primeira etapa do


ensaio .......................................................................................................................... 96

Figura A.1: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 01 (furo 01), nível
de água = -0,5 m ......................................................................................................... 103

Figura A.2: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 02 (furo 01), nível
de água = -1,0 m 104

Figura A.3: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 02 (furo 02), nível
de água (n.a.) = -1,0 m ................................................................................................ 105

Figura A.4: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 03 (furo 01), nível
de água (n.a.) = -0,55 m .............................................................................................. 106

Figura A.5: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 03 (furo 02), nível
de água (n.a.) = -0,60 m .............................................................................................. 107
Figura A.6: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 04 (furo 01), nível
de água (n.a.) = -0,50 m .............................................................................................. 108

Figura A.7: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 04 (furo 02), nível
de água (n.a.) = -0,50 m .............................................................................................. 109
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1: Valores de atenuação de cargas em solo argiloso ........................................ 43

Tabela 3.1: Características da linha de ancoragem ......................................................... 57

Tabela 4.1: Grandezas fundamentais (SI) ....................................................................... 60

Tabela 4.2: Expoentes dimensionais de grandezas utilizadas em análise dinâmica


estrutural ..................................................................................................................... 61

Tabela 4.3: Grandezas de base e suas derivadas a partir da escala de comprimento


1:10 ............................................................................................................................. 65

Tabela 5.1: Caracterização em laboratório do solo de Tubarão ...................................... 72

Tabela 6.1: Característica Técnicas do acelerômetro ADXL 203 ................................... 86


LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ACISLA Atenuação de cargas pela interação solo-estrutura em linhas de ancoragem

𝐴𝑓 Área frontal da estaca

𝐴𝐿 Área lateral

AP Antes do presente

API The American Petroleum Institute - Instituto Americano de Petróleo

B Base maior da aleta

b Base menor da aleta

CALM Catenary Anchor Leg Mooring - Amarração com suporte de ancoragem em


catenária

CCI Célula de carga inferior

CCS Célula de carga superior

CPTu Piezocone Penetration Test - ensaio de penetração de cone

𝐶𝑒̇ Coeficiente empírico da taxa de deformação

𝐶0 Constante empírica da taxa de deformação

𝐶𝐷 Coeficiente de arrasto

𝐷𝑝 Profundidade de penetração da estaca

𝑑 Diâmetro da estaca

DIGIN Software de projetos deancoragens offshore desenvolvido pela DNV

DP Dynamic Position - Posição dinâmica

DSS Direct Simple Shear - ensaios de cisalhamento direto simples

DVN Det Norske Veritas - Empresa que atua no segmento marítimo, petróleo e gás
𝑑𝜀̅𝑝 Vetor incremental de deformações plásticas normais à superfície de
escoamento

𝑑𝜀𝑝 Deformações plásticas volumétricas


𝜈

𝑑𝑒 Densidade do solo submerso

𝑑𝑆 Unidade de comprimento

𝐷 Diâmetro nominal da linha ou de um elo da amarra

e Tempo

𝐸𝑊𝐵 Fator de conversão de diâmetro equivalente para força normal

𝐸𝑊𝑆 Fator de conversão de diâmetro equivalente para força tangencial

FPSO Floating, Production, Storage and Offloading - Unidade Flutuante de


Produção, Armazenamento e transbordo.

𝑓ℎ Componente horizontal da força máxima aplicada à correte

Fa Força aplicada à corrente

fairlead Ponto de conexão entre a linha de ancoragem e a plataforma flutuante

FD Força inercial de arrasto

FL Força de atrito latera

Fp Resistência de ponta

𝑓 Resistência tangencial por unidade de comprimento

g Aceleração da gravidade

G Módulo cisalhante

GEM Grupo de Ensaios Mecânicos

h Altura da aleta

Ir Índice de rigidez

k Fator de carregamento

K0 Coeficiente de empuxo em repouso do solo

kN Kilonewton

LAMEF Laboratório de Metalurgia Física


LEGG Laboratório de Ensaios Geotécnicos e Geoambientais

M’ Massa efetiva

MEF Método dos Elementos Finitos

MEMS Micro-Electromechanical System - Sistema Micro-Eletromecânico

𝑁𝑐 Fator de capacidade de carga

ORQ Oil Rig Quality - Qualidade de plataforma petrolífera

padeye Ponto de ligação entre a estaca e a linha de ancoragem

PROCAP Programa de capacitação tecnológica em águas profundas

PROJETIL Programa computacional para cálculo de profundidade de cravação da estaca

𝑝 Resistência normal do solo por unidade de comprimento

𝑞 Resistência normal por unidade de comprimento

ROV Remote Operated Vehicle - Veiculo operado remotamente

SALM Single Anchor Leg Mooring - Amarração com suporte de ancoragem única

Sc Estado de Santa Catarina

𝑆𝑒 Fator empírico da máxima taxa de deformação do solo em altas velocidades

SI Sistema Internacional de Grandezas

𝑆𝑡𝑖 Perda de resistência ao cisalhamento de argilas almogadas

𝑆𝑢 Resistência ao cisalhamento não drenada

SM Spread Mooring - Amarração em quadro de ancoragem

SPM Single Point Mooring - Amarração de ponto único

SPT standard penetration test - Teste de penetração padrão

𝑇 Força de tração

TDP Touch down point - ponto em que a linha de ancoragem toca o leito marinho

TLP Tension Leg Plataform - Plataformas de pernas atirantadas

𝑇𝑖 Força de tração na extremidade superior do segmento da amarra

𝑇𝑖+1 Força na extremidade inferior do segmento da amarra

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul


v Velocidade da estaca

VLA Vertical Load Anchor - Âncora Vertical

Ws Peso submerso da estaca

𝑤 Peso da corrente por unidade de comprimento

Z Profundidade

z Comprimento

ΔZ Variação da profundidade

𝛼 Fator de adesão do solo

𝜃 Ângulo formado entre a corrente e o eixo vertical

𝜃0 Ângulo na extremidade superior do segmento da amarra

𝜃𝑖 Ângulo inicial considerado na extremidade superior do segmento da amarra

𝜃𝑖+1 Ângulo final considerado na extremidade inferior do segmento da amarra

ρ Massa específica

𝜈 Coeficiente de Poisson

ϕ Ângulo de atrito interno

Ω Resistência elétrica

∆𝑠 Comprimento do segmento da corrente


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1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo, será discutido o foco central do trabalho, referente ao cálculo da atenuação de
carga que ocorre devido a interação entre o solo e o segmento de amarra embutido nele. Desta
forma, será descrito de forma breve os aspectos gerais deste estudo, a relevância e a justificativa
para sua realização. Além disso, serão definidos os objetivos geral e específicos que se deseja
alcançar.

1.1 ASPECTOS GERAIS

Na instalação de sistemas de ancoragem offshore que utilizam suas linhas de ancoragem


(amarras) na configuração taut leg e estacas torpedo como elementos de fundação, ocorre a
formação de uma catenária invertida dentro do solo. Durante o lançamento e a cravação do
torpedo, a linha de ancoragem permanece na posição vertical (figura 1.1-a), sendo
posteriormente tracionada para ser ligada à plataforma flutuante (figura 1.1-b), formando
ângulos que variam entre 40° e 45°, em relação ao eixo vertical. É exatamente durante esse
processo que ocorre a formação da catenária invertida, devido à resistência perpendicular que
o solo oferece ao movimento de corte da linha.

Figura 1.1: Geometria das linhas de ancoragem: (a) lançamento da


estaca torpedo; (b) linha de ancoragem ligada à plataforma flutuante.
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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Diversos pesquisadores têm estudado esse sistema de ancoragem, visando estimar a dissipação
de carga que ocorre no trecho da linha de ancoragem embutido no solo, devido ao mecanismo
de interação entre o solo e a amarra. Dessa forma, busca-se entender a distribuição de carga ao
longo da catenária embutida, assim como a configuração geométrica assumida por ela dentro
do solo, o que possibilitará determinar as variáveis e os parâmetros que regem essa interação.

O presente trabalho faz parte do projeto: atenuação de cargas pela interação solo-estrutura
em linhas de ancoragem (ACISLA), criado a partir de uma parceria entre a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a empresa Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras),
conduzido no intuito de se elaborar um sistema de ensaio reduzido na escala de comprimento
1:10, que permite determinar a atenuação de cargas que ocorre em linhas de ancoragem
embutidas no solo. Esse sistema, baseado nos dados de um projeto de ancoragem offshore
fornecido pela Petrobras, é composto por: correntes de elo, que simulam a amarra utilizada na
linha de ancoragem, embutida no solo; um conjunto de tubos mecânicos de 37 mm e 16 mm de
diâmetro externo e interno, respectivamente, utilizado para embutir a corrente ensaiada no solo;
e uma talha manual, que será utilizada na aplicação progressiva de cargas (tração) à corrente,
durante a realização do ensaio.

A aquisição de dados será feita através de uma célula de carga superior (CCS), ligada na porção
livre da corrente ensaiada, disposta acima da superfície, possibilitando o controle da carga
aplicada; e uma célula de carga inferior (CCI), instalada no ponto de ligação entre a corrente e
o tubo metálico, quantificando as forças que são transmitidas à extremidade inferior da corrente.
Logo, os resultados dos ensaios permitirão quantificar a atenuação de cargas que ocorreram no
trecho da amarra enterrada no solo, através da diferença entre a força aplicada na extremidade
superior da corrente, medida pela CCS, e a força que chega à extremidade inferior, medida pela
CCI.

Diante do exposto, este trabalho visa contribuir para o desenvolvimento de metodologias de


análise do desempenho geomecânico das linhas de ancoragem em depósitos argilosos,
submetidas a carregamentos estáticos, que buscam quantificar a atenuação de carga ocorrida na
interação solo-amarra. Colaborando com os estudos anteriores, de Rocha (2014) e Sampa
(2015), realizados através de ensaios de laboratório com o emprego de modelo reduzido na
escala 1:40, nos quais os autores encontraram atenuações máximas de 14 % e 18,3 %,
respectivamente.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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1.2 JUSTIFICATIVA

A grande necessidade de fontes energéticas no mundo, em escala doméstica e industrial, tornou


a exploração de petróleo, principal fonte utilizada, mais intensa em depósitos onshore e offshore
de águas rasas. Com a crescente diminuição desses tipos de reservas, a exploração avançou para
campos marítimos offshore de águas profundas e ultraprofundas, com lâminas de água próximas
aos 3.000 m de profundidade, tornando as estruturas utilizadas em águas rasas, como as
plataformas fixas e auto-eleváveis, limitadas tecnicamente e economicamente, pois são
recomendados para profundidades máximas de aproximadamente 500 m.

Frente a esse cenário, introduziu-se os sistemas flutuantes, que são estruturas ligadas, através
de linhas de ancoragem, à âncoras ou estacas inseridas no subleito marinho. Elas são utilizadas,
principalmente, para bombeamento, processamento e armazenamento de petróleo. As linhas de
ancoragem são compostas por amarras e/ou cabos de aço (ou sintéticos), que podem ser
organizados em diferentes arranjos geométricos, dependendo do tipo de fundação. As principais
configurações utilizadas são: a ancoragem em catenária, a vertical e a taut leg.

Envolvida no processo de avanço tecnológico, a Petrobras desenvolveu um elemento de


fundação, denominado estaca torpedo, que consiste em uma estaca cilíndrica tubular, de aço,
preenchida com material de alta densidade. A estaca apresenta em sua extremidade inferior uma
ponta cônica, que facilita a cravação da mesma por ação da gravidade, através da energia
cinética adquirida durante o lançamento, resultante do seu peso próprio. Com esse elemento de
fundação, geralmente utiliza-se linhas de ancoragem em configuração taut leg, que durante o
seu processo de instalação, formam uma catenária invertida dentro do solo, por conta das cargas
de tração que são aplicadas pela estrutura flutuante.

Esse sistema de ancoragem tem sido validado e aprimorado por meio da combinação de análises
teóricas e ensaios experimentais, que comprovam sua eficiência quanto a penetração da estaca
e capacidade de carga. Recentemente, tem-se estudado de maneira aprofundada a magnitude
das cargas, geradas pela plataforma flutuante, que realmente são transmitidas aos elementos de
fundação, pois sabe-se que devido a interação entre o solo marinho e parte da amarra embutida
nele, ocorre uma relevante dissipação de parte das cargas aplicadas às linhas de ancoragem. Se
essa atenuação for devidamente compreendida e quantificada, poderá ser incorporada nas
rotinas de cálculo dos projetos, que passarão a apresentar estimativas mais precisas, resultando

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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em projetos mais econômicos, devido à redução do tamanho das estacas e/ou da profundidade
de cravação.

Diante disso, esta dissertação representa um importante avanço no conhecimento da interação


solo-estrutura em linhas de ancoragem, através do desenvolvimento de um aparato experimental
para quantificar e avaliar a atenuação de carga que ocorre nesse processo, retornando um ganho
de experiência importante para a comunidade acadêmica e mercado petrolífero.

1.3 OBJETIVO GERAL

Este estudo tem por objetivo principal, confeccionar os componentes de um sistema de ensaio
em modelo reduzido 1:10, que permitirá avaliar e quantificar a atenuação das cargas que
solicitam os elementos de fundação das linhas de ancoragem em configuração taut leg, devido
a dissipação de forças que ocorre na interação solo-amarra.

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) realizar a análise dimensional para a definição do fator de escala.

b) realizar o dimensionamento de aletas laterais, através de modelagem numérica,


que serão acopladas ao tubo metálico.

c) validar a instrumentação desenvolvida especialmente para o ensaio.

d) desenvolver um roteiro voltado para a execução do ensaio em campo.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO OFFSHORE

A exploração offshore é realizada por plataformas marítimas que, geralmente, têm como função
a extração, processamento e armazenamento do petróleo. Elas estão divididas em dois grandes
grupos, as fixas e flutuantes, onde a escolha de cada tipo depende de aspectos técnicos,
principalmente da finalidade da unidade e da profundidade de lâmina d’água, aliados ao fator
econômico.

As plataformas fixas apresentam-se como uma solução tradicional para a exploração de petróleo
em águas rasas, com laminas d’água inferiores a 500 m de profundidade, elas englobam as
plataformas de aço (jaqueta), torres complacentes, plataformas de gravidade e plataformas auto-
elevatórias. Conforme a exploração avança para águas profundas e ultraprofundas seu emprego
torna-se inviável, pois nessas situações as estruturas sofrem solicitações extremas provocadas
pelas forças ambientais, logo seria imprescindível a utilização de estruturas de grandes
dimensões para resisti-las, o que elevaria o custo de projeto e as dificuldades técnicas para a
sua implantação.

Diante da necessidade de avanço tecnológico para atender esse cenário, foram desenvolvidas
as plataformas flutuantes, estruturas que mantêm o seu posicionamento através de elementos
de ancoragem, que se comportam como um sistema complacente permitindo a ocorrência de
deslocamentos horizontais e verticais resultantes das solicitações ambientais, garantindo dessa
forma estabilidade e segurança para as operações diárias da exploração de recursos energéticos
em águas profundas e ultraprofundas. Os tipos de plataformas mais utilizados são:

a) plataformas semissubmersíveis: é uma estrutura apoiada em flutuadores


submersos vazados, denominados de pontoons (figura 2.1). O sistema de linhas
de ancoragem responsável pelo posicionamento da unidade flutuante é
constituído de 12 a 16 âncoras, que se ligam à estrutura através de cabos e/ou
amarras, que podem apresentar configuração no tipo convencional (catenária
livre) ou taut leg;

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Figura 2.1: plataformas semissubmersíveis (ASSIS, J. S. de, 2013).

b) plataforma FPSO (Floating, Production, Storage and Offloading): são navios


(figura 2.2) que realizam o processamento, armazenamento e transbordo do
petróleo e/ou gás natural. O navio apresenta uma planta de processo para separar
e tratar a matéria extraída dos poços (SILVA, 2017);

Figura 2.2: Plataforma FPSO - P54 (PETROBRAS, 2007).

c) plataforma Spar: É composta de um casco de seção transversal cilíndrica que é


posicionado verticalmente na água e apresentam tanques de flutuação acoplados
na parte superior da estrutura. A plataforma é ancorada através do sistema tipo
catenária ou taut leg. As duas configurações mais utilizadas são a do SPAR
convencional (figura 2.3) e SPAR treliçado (figura 2.4);
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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 2.3: SPAR convencional. Figura 2.4: SPAR treliçado.


(SAMPA, N. C., 2015). (VILLELA, M. J. R., 2004).

d) plataformas de pernas atirantadas (Tension Leg Plataform-TLP): É bastante


semelhante à plataforma semisubmersível, sendo ancorada principalmente
através de tirantes instalados no leito marinho (figura 2.5), ligados às plataformas
por meio de tubos de metal ou materiais compósitos. Apresentam alta rigidez no
eixo vertical do sistema, gerando movimentos com amplitudes reduzidas;

Figura 2.5: Plataforma de pernas atirantadas (DILLINGER, 2006 apud


MELO, C. M. de A. R., 2010).

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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2.2 SISTEMA DE ANCORAGEM

O sistema tem por finalidade a restrição dos movimentos da unidade flutuante, conforme os
limites de deslocamentos previstos em projeto, que são gerados por conta dos diversos
carregamentos ambientais que solicitam a estrutura. Ele funciona fornecendo forças de
restauração para manter em posição os sistemas flutuantes, garantindo a viabilidade e segurança
das atividades de exploração.

Basicamente os sistemas de ancoragem são compostos por um conjunto de linhas de ancoragem,


que ligam a estrutura flutuante a um determinado ponto no elemento de fundação, âncoras ou
estacas presentes no leito marinho, principal responsável pela transferência dos esforços
ambientais, sofridos pela plataforma, para o solo.

As linhas de ancoragem podem apresentar diversas configurações espaciais e ponto de


amarração, variando de acordo com o tipo de fundação, profundidade da lâmina d’água, tipo de
operação, custo de implantação e etc. Geralmente elas são compostas de amarras, cabos de aço
e/ou cabos de poliéster.

2.3 PRINCIPAIS ELEMENTOS DAS LINHAS DE ANCORAGEM

2.3.1 Amarras

As amarras são correntes de alta resistência, composta por elos fabricados com aço, e são o tipo
de elemento mais comumente empregado na ancoragem convencional. As dimensões de um elo
da corrente são múltiplas do seu diâmetro e podem ser do tipo com ou sem malhete (Figura
2.6), sendo o primeiro tipo mais utilizado na ancoragem de plataformas flutuantes (KOCHEM,
2016).

Geralmente as amarras são utilizadas em conjunto com outro componente, pois somente o
emprego delas não é viável, devido ao seu alto peso linear, o que afeta a flutuabilidade da
plataforma e a capacidade de restauração da linha (ROCHA, 2014). Elas são utilizadas nos
trechos iniciais e finais das linhas, por ser um material mais resistente ao desgaste e abrasão
decorrente do contato com o leito marino e dos guinchos presentes nas unidades flutuantes.
Outro benefício, é o fato da amarra ligada ao elemento de fundação não aplicar cargas verticais
nele, devido ao seu alto peso que faz com que ela fique apoiada no leito marinho.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Elas podem ser classificadas, conforme a resistência ao escoamento do aço utilizado na


fabricação, em R3 (grau 3), ORQ (Oil Rig Quality) e R4 (mais resistente). Para conectar duas
partes de correntes deve-se utilizar um componente metálico, e o mais empregado é o elo
Kenter, que apresenta resistência à ruptura igual ou superior a uma corrente com a mesma
dimensão, porém possui menor resistência à fadiga, sendo recomendado a utilização do menor
número possível deles na linha de ancoragem.

Figura 2.6: Representação dos tipos de amarras (LIMA, D. A., 2011).

2.3.2 Cabos de Aço

Os cabos de aço são constituídos por diversos fios enrolados, em forma helicoidal, em um
componente central. Esse conjunto é denominado de perna, e apresenta elevada rigidez axial e
flexibilidade. De maneira geral, eles são divididos em dois tipos, o single-strand, que possui
apenas uma perna, e os multi-strand, formados por diversas pernas em um único cabo (figura
2.7). Eles são especificados através de dois números, o primeiro representa a quantidade de
pernas torcidas e o segundo a quantidade de fios em cada perna.

As tranças metálicas que compõem os cabos de aço são mais suscetíveis à corrosão do que as
amarras, apresentando vida útil inferior, logo para maior durabilidade o aço empregado deve
passar por um tratamento de galvanização durante sua fabricação.

A figura 2.8 mostra os dois principais cabos utilizados para ancorar unidades flutuantes, o six-
strand e o spiral-strand. O primeiro tipo é amplamente empregado em unidades de perfuração,
por apresentar fácil manuseio. Já o segundo, por possuir alta resistência e durabilidade, é mais
comumente utilizado nas unidades de produção, porém ele apresenta maior custo se comparado
com o anterior.

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Figura 2.7: Componentes de um cabo multi-strand (LIMA, D. A.,


2011).

Figura 2.8: Representação dos cabos de aço (API, 2005 apud ROCHA.
C. C.M., 2014).

2.3.3 Cabos Sintéticos

O principal cabo sintético utilizado em linhas de ancoragem é o de poliéster (figura 2.9), que
possui a mesma carga de ruptura nominal, maior flexibilidade axial e menor peso submerso
quando comparados com os cabos de aço e amarras, o que viabiliza seu emprego em laminas
d’água ultraprofundas.

Os cabos de poliéster se apresentaram como uma solução viável em sistemas de ancoragem do


tipo taut leg, utilizados em conjunto com as amarras e os cabos de aço, tendo em vista que esse
tipo de ancoragem permite um grande alongamento da linha, papel desempenhado pelo cabo
poliéster, responsável pela absorção da energia gerada pelos movimentos dinâmicos que
solicitam a estrutura flutuante.
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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 2.9: Composição do cabo de poliéster (LIMA, A. L., 2006).

2.3.4 Boias de Ancoragem

As boias possuem um formato cilíndrico e são projetadas para resistir à pressão hidrostática,
seu emprego visa aliviar o peso da linha de ancoragem que é transferido para a estrutura
flutuante, diminuir o seu nível de tração, assim como o passeio de um dado comprimento de
linha. Elas podem ser de superfície ou submersas, ressalta-se que o primeiro tipo serve também
como indicador da localização das linhas de ancoragem, ea são fabricadas em aço, material
sintético ou uma combinação de ambos.

2.4 CONFIGURAÇÕES DE LINHAS DE ANCORAGEM

As linhas de ancoragem são classificadas conforme sua disposição geométrica no espaço, e


podem ser denominadas de ancoragem em catenária (convencional), ancoragem de raio curto
(taut leg) e ancoragem vertical. Cada configuração será detalhada nas seções seguintes.

2.4.1 Linha de Ancoragem em Catenária

Na ancoragem em catenária, também denominada convencional, as linhas são suspensas pelas


suas extremidades formando uma curva, devido à ação do seu peso próprio, ficando parte delas
apoiada sobre o leito marinho (figura 2.10). Essa configuração, é utilizada comumente em
plataformas semissubmersíveis e navios FPSO, ela apresenta como principal característica a
maior liberdade de deslocamento da estrutura flutuante, sem gerar grandes esforços nas
fundações, por conta do grande raio de ancoragem utilizado no sistema e ao atrito produzido

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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pelo trecho da linha apoiada no solo marinho, responsável por absorver grande parte das
solicitações geradas pelos esforços ambientais.

Sua principal desvantagem é o grande comprimento do raio de ancoragem necessário, cerca de


duas a três vezes o comprimento da lamina d’água, o que eleva o custo de implantação e gera
congestionamento com linhas de unidades próximas e equipamentos submarinos, interferindo
no posicionamento de cada elemento.

Figura 2.10: Linha de ancoragem em catenária (LARCERDA, T. A. G.


de, 2005).

2.4.2 Linha de Ancoragem de Raio Curto (Taut Leg)

A ancoragem taut leg é constituída por linhas inclinadas e tracionadas, formando ângulos de
aproximadamente 40° a 45°com a vertical, gerando um menor comprimento e projeção
horizontal das linhas de ancoragem em relação a ancoragem em catenária, para um mesmo
comprimento de lâmina d’água (Figura 2.11). Essa configuração proporciona uma maior rigidez
ao sistema, limitando o passeio da estrutura flutuante.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 2.11: Comparação entre ancoragem em catenária convencional


e ancoragem em taut leg.

As linhas são constituídas por cabos de aço ou amarras nas suas extremidades e cabo de
poliéster no seu trecho intermediário. Nelas são utilizadas âncoras resistentes a altas cargas
verticais, podendo ser as estacas de sucção, VLA (Vertical Load Anchor) ou estacas torpedos
(Rocha,2014).

As principais vantagens da adoção desse sistema é a diminuição de custos, pelo fato de requerer
menor comprimento da linha de ancoragem, assim como um menor raio de instalação,
possibilitando-a em áreas congestionadas.

2.4.3 Linha de Ancoragem Vertical

Neste tipo de ancoragem são utilizados tendões verticais, tracionados pela ação do empuxo
proveniente da parte submersa da unidade flutuante (figura 2.12), essa configuração é
empregada principalmente em plataformas de pernas atirantadas (TLP). Os tendões geram uma
alta rigidez no plano vertical e reduzida rigidez no plano horizontal, resultando em um
componente horizontal, de força de tração, que proporciona a restauração da posição da
plataforma, após o seu deslocamento.

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Figura 2.12: Linhas de ancoragem vertical com tendões. (KAWASAKI,


P. Y., 2010).

2.5 SISTEMAS DE AMARRAÇÃO

Os sistemas de amarração são utilizados para garantir a estabilidade das estruturas flutuantes, e
podem ser de diferentes tipos, os principais são a ancoragem em ponto único - SPM (Single
Point Mooring), amarração com quadro de ancoragem - SM (Spread Mooring) e o
posicionamento dinâmico - DP (Dynamic Position). Esses sistemas serão detalhados a seguir.

2.5.1 Ancoragem em Ponto Único (SPM)

Neste sistema, todas as linhas de ancoragem são conectadas em um único ponto da estrutura
flutuante. É mais utilizado em unidades em unidades FPSO, pois permitem que a embarcação
estacione em paralelo com o carregamento ambiental, minimizando as forças sobre o casco.
Existem diversos tipos de ancoragem em um único ponto, os três principais são:

a) ancoragem com turret: neste sistema todas as linhas de ancoragem e risers (tubos
responsáveis pela condução de fluidos entre o leito marinho e a plataforma) são
conectadas em uma estrutura denominada turret, que faz parte da estrutura
ancorada (figura 2.13), podendo ser interna ou externa.
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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 2.13: sistema SPM com turret externo (ASSIS, J. S. de, 2013).

b) sistema CALM (Catenary Anchor Leg Mooring): ele é composto por uma boia,
ancorada por linhas em catenária, onde o sistema flutuante liga-se à ela através
de um cabo sintético (figura 2.14). Esse sistema é mais afetado por
carregamentos ambientais, devido as diferentes respostas da boia e do navio.
Logo, quando os carregamentos alcançam certa magnitude, é necessário
desconectar o navio.

Figura 2.14: sistema CALM. (LIMA, D. A., 2011).

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c) sistema SALM (Single Anchor Leg Mooring): utiliza um sistema de risers rígidos
pré-tensionados verticalmente, que possuem ampla capacidade de flutuação
próxima à superfície ou apresentam uma boia flutuadora (figura 2.15). O sistema
é conectado à embarcação através de estruturas rígidas de acoplamento dotadas
de articulações (yoke).

Figura 2.15: Sistema SALM com riser pré-tracionado e boia de


flutuação (baseado em: LIMA, D. A., 2011).

2.5.2 Amarração com Quadro de Ancoragem (SM)

Neste sistema, as linhas de ancoragem são distribuídas em torno da estrutura flutuante, visando
resistir a carregamentos ambientais em quaisquer direções (figura 2.16). Ela é utilizada,
geralmente, em plataformas semissubmersíveis em operações de perfuração e produção,
podendo também ser empregada em unidades FPSO.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 2.16: Amarração em quadro de ancoragem (LIMA, A. L., 2006).

2.5.3 Posicionamento Dinâmico (DP)

Neste sistema, a unidade flutuante mantém sua localização com o auxílio de um conjunto de
propulsores, controlados através de sonares e GPS (figura 2.17). O sistema pode ser utilizado
de forma isolada ou em conjunto com outros tipos de ancoragem. Quando as unidades são
ancoradas próximas a outras, utiliza-se âncoras para assegurar a estabilidade da estrutura
flutuante em caso de falha nos sistemas propulsores.

Esse sistema é indicado principalmente para estruturas que tenham uma estadia curta no local
de ancoragem, sendo bastante utilizado em atividades de perfuração e intervenção em poços de
petróleo.

Figura 2.17: Sistema de Posicionamento dinâmico. (KAWASAKI, P.


Y., 2010).

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2.6 FUNDAÇÕES PARA ANCORAGEM DE SISTEMAS FLUTUANTES

2.6.1 Estaca Cravada por Sucção

Este tipo de estaca é um elemento cilíndrico oco de aço, aberto no fundo e fechado no topo
(figura 2.18), que é cravado primeiramente através do seu peso próprio e posteriormente com o
auxílio de uma bomba sucção acoplada na sua extremidade superior. A bomba aplica um
diferencial de pressão hidrostática no topo da estaca, através da drenagem da água presente no
seu interior, excedendo a resistência do solo e viabilizando a penetração da estaca. Para argilas
moles, a taxa de penetração pode ultrapassar 20 m por hora, entretanto, essa taxa é em média
de 10 m por hora. Essas estacas permitem aplicação de cargas em qualquer ângulo.

Figura 2.18: Estacas de sucção. (RANDOLPH et al, 2005).

2.6.2 Âncora Convencional

Ela é instalada por arrasto, através de uma embarcação responsável por lançá-la e puxá-la. Este
elemento de fundação é constituído por uma haste fixa ou articulada, que fornece o ângulo de
ataque com o qual irá penetrar no solo; uma garra, que mobiliza a capacidade de carga do solo,
quando a âncora é solicitada; um cepo, que mantém a estabilidade, restringindo a rotação após

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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sua instalação no solo marinho; e uma coroa, que interliga as outras peças, sendo responsável
pela rigidez do sistema. A figura 2.19 apresenta o esquema dos componentes descritos acima.

Esses tipos de âncoras não resistem a carregamentos verticais (uplift), por isso são utilizadas
em linhas de ancoragem em catenária, necessitando de um longo trecho de linha apoiado no
fundo do mar, para não ocorrer solicitações no eixo vertical.

Figura 2.19: Âncora convencional. (KAWASAKI, P. Y., 2010).

2.6.3 Âncora Vertical (Vertically Loaded Anchor - VLA)

É um elemento de fundação que suporta cargas atuantes no eixo vertical. Esse modelo é uma
variação das âncoras convencionais, que tiveram a haste rígida substituída por um conjunto de
cabos associados a um dispositivo que permite a mudança do ângulo de aplicação da carga,
sendo possível configurá-lo paralelo ao eixo vertical.

A instalação desse elemento é semelhante à da âncora convencional, feita pela técnica de


arrasto, com auxílio de uma embarcação. Nesse processo, a âncora é solicitada por um
carregamento inclinado, que atua nos eixos vertical e horizontal, porém ao se atingir o local
determinado para a instalação e a carga prevista em projeto, a direção da aplicação de carga é
alterada para a posição vertical (figura 2.20).

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Figura 2.20: Âncora vertical. (API RP 2 SK, 2005 apud KOCHEM, R.


M., 2016).

Kunitaki (2006), frisa que é interessante que a instalação seja realizada com a linha de
ancoragem definitiva, visando a permanência da ligação entre a âncora e a plataforma. No
entanto, para o sistema de linhas de ancoragem do tipo taut leg, que utiliza o cabo de poliéster,
essa operação não é possível, pois se ele for utilizado no arrasto irá absorver grande parte da
carga. Nesse caso, são usadas duas linhas de instalação, uma é conectada à embarcação que
realiza a instalação, e a outra fica de espera em outro barco, para posteriormente ser conectada
à estrutura flutuante.

2.6.4 Estaca Torpedo

O conceito de estaca torpedo foi desenvolvido pela Petrobras, em 1996, através do programa
de capacitação tecnológica em águas profundas (PROCAP 2000), que tinha o objetivo de
diminuir os custos de fabricação e instalação de fundações em águas profundas.

Ela é uma estaca cilíndrica de aço, preenchida com uma mistura de sucata de aço e concreto,
cuja dosagem é efetuada com o objetivo de se atingir a maior massa específica possível, e deixar
o centro de gravidade o mais próximo possível de sua ponta, que apresenta um formato cônico
(figura 2.21) (KUNITAKI, 2016). Seu comprimento é cerca de 10 vezes o seu diâmetro e
apresenta o comportamento de um corpo rígido.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 2.21: Estaca torpedo (SAMPA, N. C., 2015).

A estaca geralmente apresenta aletas em sua superfície lateral, no máximo quatro formando
entre si ângulos de 90°, que auxiliam em sua verticalidade durante o lançamento, geram maior
rigidez axial para o corpo e aumentam o contato estaca-solo, contribuindo com a capacidade de
carga da estaca. Medeiros (2002), descreve que no ponto de ligação entre a estaca e a linha de
ancoragem (padeye), existe um olhal que permite a carga aplicada solicitar a fundação em
qualquer direção (figura 2.22).

Figura 2.22: Estaca torpedo pronta para lançamento (ROCHA, M. M.


et al 2016).

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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A instalação da estaca é feita de maneira simples, em comparação com as âncoras, pois não
requer operações de arraste, podendo ser instalada em áreas congestionadas sem que ocorra a
interferência das linhas de ancoragem presentes na região. O aumento da lâmina d’água não
causa influência significativa no procedimento de instalação dessas estacas, pois elas não
necessitam de equipamentos submarinos especiais ou embarcações de grande porte para apoio,
possibilitando sua instalação em águas ultra-profundas.

O processo de instalação é feito com um rebocador, utilizado para transporte e lançamento da


estaca e uma embarcação dotada de um veículo submarino operado remotamente (Remote
Operated Vehicle - ROV), para o acompanhamento e monitoramento do processo. A estaca
torpedo é ligada à embarcação por uma linha de ancoragem, com comprimento suficiente para
alcançar a profundidade de cravação (figura 2.23). Depois que o rebocador chega ao local de
cravação a estaca é baixada até a profundidade de lançamento e solta em queda livre, atingindo
a velocidade de cravação prevista em projeto, e ao entrar em contato com o leito marinho ocorre
a penetração. A velocidade que a estaca atinge no momento do contato com o solo deve ser
suficiente para garantir a penetração prevista em projeto, porém deve ser em uma magnitude
que não cause danos à estrutura dela.

Figura 2.23: Procedimento de instalação da estaca torpedo.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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2.7 DETERMINAÇÃO DA PROFUNDIDADE DE CRAVAÇÃO DA ESTACA


TORPEDO

True (1976) desenvolveu um modelo analítico de penetração para âncoras em solos coesivos,
sob condições não drenadas, calibrado através de ensaios em modelos reduzidos realizados por
ele em 1974. A solução do modelo é idealizada no domínio do tempo, através da proposta de
uma equação diferencial baseada na segunda lei de Newton (equação 2.1). A figura 2.24
demonstra as forças envolvidas na cravação de um elemento cilíndrico.

Figura 2.24: Forças que atuam na cravação de um elemento cilíndrico


(baseado em ROCHA. C. C. M., 2014).

𝑑v 𝑑𝑍
𝑀′ . . = 𝑊𝑆 − 𝐹𝐷 − 𝐹𝑃 − 𝐹𝐿 (2.1)
𝑑𝑧 𝑑𝑡

Onde:
M’: Massa efetiva;
v: Velocidade da estaca;
Z: Profundidade;
e: Tempo;
Ws: Peso submerso da estaca;
FP : Resistência de ponta;
F𝐿 : Força de atrito lateral;
FD : Força inercial de arrasto.

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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2.7.1 Taxa de deformação do solo (Se)

Esta taxa traduz a deformação que o solo sofre ao longo do tempo durante a cravação, ela é
afetada pela velocidade de cravação da estaca e pela resistência ao cisalhamento não drenada
(𝑆𝑢 ). Ela é dada pela equação 2.2.

𝑆𝑒
𝑆𝑒̇ = 1 (2.2)
1+
𝐶 .v
√ 𝑒̇ + 𝐶0
𝑆𝑢 .𝑑

Onde:
𝑆𝑒 : Fator empírico da máxima taxa de deformação do solo em altas velocidades;
𝐶𝑒̇ : Coeficiente empírico da taxa de deformação;
𝐶0 : Constante empírica da taxa de deformação;
𝑑: Diâmetro da estaca.

2.7.2 Forças Resistentes do solo

As forças dinâmicas de resistência do solo consideradas no modelo de True (1976) são as forças
de ponta (FP) e lateral (FL). Através da inclusão da taxa de deformação do solo (𝑆𝑒̇ ) e de um
fator de redução da adesão lateral (δ), obtém-se as formulações de resistência estática. Logo,
resistência e ponta (FP) e lateral (FL) é dada pelas equações 2.3 e 2.4.

𝐹𝑃 = (𝑆𝑢 . 𝑁𝑐 . 𝐴𝑓 ) 𝑆𝑒̇ (2.3)

𝑆𝑢 . 𝐴𝐿 .𝛿
𝐹𝐿 = ( ) 𝑆𝑒̇ (2.4)
𝑆𝑡𝑖

Onde:
𝑁𝑐 : Fator de capacidade de carga;
𝐴𝑓 : Área frontal da estaca;
𝐴𝐿 : Área lateral;
𝑆𝑡𝑖 : Perda de resistência ao cisalhamento de argilas amolgadas.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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2.7.3 Força inercial de arrasto

Esta representa a força que acelera as partículas do solo durante a cravação até uma velocidade
suficiente para movê-las para fora do caminho da estaca, superando a resistência inercial das
partículas em repouso (BEZERRA, 2017). Ela é alculada através da equação 2.5:

1
𝐹𝐷 = v . |v| . 𝐴𝑓 . 𝐶𝐷 . 𝑑𝑒 (2.5)
2

Onde:
𝐶𝐷 : Coeficiente de arrasto (em função da velocidade de impacto da estaca);
𝑑𝑒 : Densidade do solo submerso;
d: Diâmetro da estaca.

Substituindo as equações 2.2 a 2.5 em 2.1, obtém-se equação 2.6. True (1976) apresenta a
solução para equação 2.6 através do desenvolvimento de um algoritmo incremental, baseado
no método das diferenças finitas.

2∆𝑧 1 𝐴𝐿 .𝛿 𝑆𝑒
v𝑖+1 = v𝑖−1 + (𝑊𝑆 ) − ( v𝑖2 . 𝐴𝑓 . 𝐶𝐷 . 𝑑𝑒 𝑖 ) − 𝑆𝑢𝑖 . (𝐴𝑓 . 𝑁𝐶 + ). 𝑆𝑒̇ = 1 (2.6)
v𝑖 .𝑀′ 2 𝑆𝑡𝑖 1+
𝐶𝑒̇ .v𝑖
√ + 𝐶0
[ ( 𝑆𝑢𝑖 . 𝑑 )]

A resolução da equação 2.6 é feita através de um processo iterativo, primeiramente considera-


se i=1, logo teremos vi = v1; vi-1 = v0 e vi+1 = v2, então adota-se um valor inicial igual para v1 e
v0 e um valor para a variação da profundidade (ΔZ). Com o resultado de v2, faz-se a média entre
ele e o valor de v0, adotado anteriormente, e recalcula-se v1. Com o novo valor de v1, e mantendo
o valor de v0 adotado inicialmente, repete-se o cálculo para encontrar o novo valor de v2. As
iterações são repetidas para diferentes valores de i, adotados em ordem crescente, sendo
finalizada quando a velocidade (vi+1 = v2) for menor que zero, ou seja, quando não há mais
deslocamentos. A profundidade de penetração é calculada, através da multiplicação do número
de incrementos pelo valor da profundidade analisada para o último incremento, dada pela
fórmula 2.7.

𝐷𝑝 = 𝑖(∆𝑍) (2.7)

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Vale ressaltar, que posteriormente foram desenvolvidos programas computacionais baseados


em modelos visco-elastoplásticos em conjunto com o modelo sugerido por True (1976), capazes
de analisar a penetrabilidade da estaca torpedo e simular a interação estaca-solo.

2.8 EQUILÍBRIO DA CATENÁRIA INVERSA (EMBUTIDA NO SOLO) E


ATENUAÇÃO DE CARGAS

Durante a cravação da estaca torpedo a linha de ancoragem permanece na posição vertical, após
a estaca atingir a profundidade final aplica-se à linha de ancoragem uma carga de pré-tração até
se atingir a inclinação e o nível de tensão desejado, durante essa aplicação o segmento enterrado
no solo assume uma posição de catenária invertida, devido à resistência perpendicular que o
solo oferece ao ser solicitado pela amarra. Nessa catenária ocorre a atenuação das cargas
aplicadas pela estrutura flutuante ao elemento de ancoragem, pois ocorre a dissipação de forças
no contato entre a linha embutida e o solo.

Sampa (2015), descreve que o mecanismo de falha da estaca torpedo depende da carga que
chega à ela e da direção da aplicação da carga, sendo assim, conhecendo-se a geometria que a
amarra assume dentro do leito marinho e a real carga que chega à estaca, pode-se projetar as
âncoras de maneira mais eficiente e econômica.

Diante disso, diversos pesquisadores têm desenvolvido trabalhos para caracterizar o mecanismo
de ocorrência dessa atenuação, empregando soluções analíticas e numéricas em conjunto com
testes realizados em diferentes escalas, visando estimar a distribuição de carga ao longo da
catenária, assim como a configuração geométrica assumida por ela dentro do solo. A seguir são
descritas as principais referências encontradas na literatura nacional e internacional.

2.8.1 Reese (1973)

Em 1973, Reese apresentou um procedimento de cálculo para previsão da configuração


geométrica da catenária enterrada, assim como a distribuição de carga que ocorre ao longo dela.
O processo consiste em dividir o solo em diversas zonas de forças, que se iniciam no leito
marinho e vão até o ponto de ligação entre a amarra e a estaca, para os cálculos ele assume as
seguintes hipóteses: em cada zona de solo a amarra forma um arco circular; em cada arco a
resistência não drenada do solo é constante; o solo ao redor da corrente atinge sua tensão limite;
e o ângulo entre a amarra e a superfície marinha é nulo. Ressalta-se que o autor não considera

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nos cálculos as forças tangenciais que solicitam a amarra nem as forças geradas devido ao peso
próprio da mesma.

2.8.2 Gault e Cox (1974)

Gault e Cox (1974), fizeram análises com base no trabalho de Reese (1973). Porém, levaram
em consideração o peso próprio da amarra e a resistência tangencial que atua no sistema, e
demonstraram que a carga estimada que chega à estaca é menor do que a encontrada para a
análise sem essas duas variáveis. Além disso, variaram o comprimento, o peso da amarra
enterrada e a resistência do solo (normal e tangencial), os autores concluíram que o parâmetro
com maior impacto na atenuação de carga é a resistência do solo, sendo a variação do peso da
amarra e o comprimento insignificante.

2.8.3 Vivatrat et al (1982)

Em 1982, Vivatrat et al propuseram uma solução analítica bidimensional capaz de avaliar a


configuração geométrica da catenária invertida e a variação de tensão atuante nela. Porém,
diferente dos pesquisadores citados anteriormente, eles não fizeram divisões no perfil do solo,
e sim na amarra enterrada, que foi dividida em diversos segmentos infinitesimais com o mesmo
comprimento. Isolando-se um elemento infinitesimal é possível realizar o equilíbrio de forças
tangencias e normais que estão atuando sobre ele (figura 2.25), obtendo-se equações
diferenciais ordinárias (equação 2.8 e 2.9). Através dessas equações é possível calcular a
distribuição de tensões atuantes na amarra (T) e sua configuração espacial (θ).

Figura 2.25: Equilíbrio de forças de um elemento da linha de ancoragem


enterrada no solo (VIVATRAT, V. et al., 1982).
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a) equação de equilíbrio na direção tangencial (∑ 𝐹𝑡 = 0);

𝑑𝑇
= −𝑓 − 𝑤 𝑠𝑒𝑛𝜃0 (2.8)
𝑑𝑆

b) equação de equilíbrio na direção normal (∑ 𝐹𝑛 = 0).

𝑑𝜃 𝑞−𝑤 𝑐𝑜𝑠𝜃0
= (2.9)
𝑑𝑆 𝑇

Onde:
𝑇: Força de tração (aplicada no trecho final do segmento da amarra);
𝑓: Resistência tangencial por unidade de comprimento;
𝑞: Resistência normal por unidade de comprimento;
𝑤: Peso da corrente por unidade de comprimento;
𝜃0 : Ângulo na extremidade superior do segmento da amarra;
𝑑𝑆: Unidade de comprimento.

O autor determina a resistência normal por unidade de comprimento (q) e resistência tangencial
por unidade de comprimento(t) conforme as fórmulas 2.10 e 2.11:

𝑞 = 𝑁𝑐 . 𝑆𝑢 . 2,6𝐷 (2.10)

𝑓 = 𝑆𝑢 . 10𝐷 (2.11)
Onde:
𝑁𝑐 : Fator de capacidade de carga (o autor recomenda valores entre 9 e 11);
𝑆𝑢 : Resistência ao cisalhamento não drenada;
𝐷: Diâmetro nominal da linha ou de um elo da amarra.

2.8.4 Degenkamp e Dutta (1989)

Degenkamp e Dutta (1989), também desenvolveram uma técnica de análise estática


bidimensional, através da integração incremental, os autores também fazem divisões
diretamente na amarra, considerando cada segmento como um elemento de barra curva sem

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rigidez á flexão. Para a obtenção das equações de equilíbrio, logo antes das condições de ruptura
do solo, os autores adotam as seguintes hipóteses básicas: (1) os elementos da corrente são
inexistentes; (2) devido o deslocamento da corrente o solo sofre uma solicitação não drenada;
(3) na vizinhança da corrente, o solo atinge o estado limite de tensão, desenvolvendo sua
resistência última; (4) a força de cisalhamento e o peso do solo sobre um elemento da corrente
são constantes. A figura 2.26 demonstra o equilíbrio de forças normais e tangenciais analisadas
pelos autores, e a seguir são apresentadas a equações diferencias obtidas (equação 2.12 e 2.14):

Figura 2.26: Diagrama de forças de um elemento da amarra enterrada


no solo (DEGENKAMP, G.; DUTTA, A.,1989).

a) equação de equilíbrio na direção tangencial (∑ 𝐹𝑡 = 0);

𝑑𝑇
= −(𝑡 𝑤 𝑠𝑒𝑛𝜃1 ) (2.12)
𝑑𝑆

Realizando-se a Integração incremental da equação, obtém-se a equação 2.13, que permite


estimar a tração que atua na extremidade inferior do elemento da amarra.

𝑇𝑖+1 = 𝑇𝑖 − ∆𝑠 (𝑓 + 𝑤 𝑠𝑒𝑛𝜃𝑖 ) (2.13)

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b) equação de equilíbrio na direção normal (∑ 𝐹𝑛 = 0):

𝑑𝜃 𝑝−𝑤 𝑐𝑜𝑠𝜃
= 𝑑𝑇 (2.14)
𝑑𝑆 𝑇+ ∆𝑠
𝑑𝑆

Realizando-se a Integração incremental da equação, obtém-se a equação 2.15, que permite


estimar o ângulo formado na extremidade inferior.

(𝑝−𝑤 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑖 ) ∆𝑠
𝜃𝑖+1 = 𝜃𝑖 + (2.15)
𝑇𝑖

Onde:
𝑇𝑖+1 : Força na extremidade inferior do segmento da amarra;
𝑇𝑖 : Força na extremidade superior do segmento da amarra;
∆𝑠: Comprimento do segmento da corrente;
𝑓: Resistência tangencial por unidade de comprimento;
𝑤: Peso da corrente por unidade de comprimento;
𝜃𝑖 : Ângulo inicial considerado na extremidade superior do segmento da amarra.
𝜃𝑖+1 : Ângulo final considerado na extremidade inferior do segmento da amarra;
𝑝: Resistência normal por unidade de comprimento.

As projeções horizontal e vertical de cada elemento podem ser determinadas a partir das
equações 2.16 e 2.17, demonstradas abaixo.

𝑐𝑜𝑠𝜃𝑖 + 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑖+1
𝑑𝑥 = 𝑑𝑠 . ( ) (2.16)
2

𝑠𝑒𝑛𝜃𝑖 + 𝑠𝑒𝑛𝜃𝑖+1
𝑑𝑦 = 𝑑𝑠 . ( ) (2.17)
2

O comprimento total da amarra enterrada no solo é estimado através do somatório dos


elementos discretizados.

Os autores determinam a resistência tangencial por unidade de comprimento (𝑓), considerando


que a resistência ao cisalhamento não drenado é totalmente solicitada, conforme a fórmula 2.18:

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𝑓 = 𝐸𝑊𝑆 . 𝐷 . 𝛼 . 𝑆𝑢 (2.18)

A resistência normal do solo por unidade de comprimento (𝑝) é estimada a partir da resistência
última do solo, conforme a equação 2.19:

𝑝 = 𝐸𝑊𝐵 . 𝐷 . 𝑁𝑐 . 𝑆𝑢 (2.19)
Onde:
𝐸𝑊𝐵: Fator de conversão de diâmetro equivalente para força normal;
𝑁𝑐 : Fator de capacidade de carga do solo;
𝐸𝑊𝑆: Fator de conversão de diâmetro equivalente para força tangencial;
𝐷: Diâmetro nominal da linha ou do elo da amarra;
𝛼: Fator de adesão do solo;
𝑆𝑢 : Resistência ao cisalhamento não drenada do solo.

Para validar suas equações, os autores realizaram uma série de ensaio em laboratório, com
correntes de diferentes diâmetros, determinado os parâmetros presentes na atenuação de carga
do trecho da amarra embutida no solo. A figura 2.27 mostra o modelo esquemático do
equipamento utilizado por eles.

Figura 2.27: Representação esquemática da configuração utilizada no


teste (DEGENKAMP, G.; DUTTA, A.,1989).

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A ponta inferior da amarra foi ligada a uma célula de carga presente na lateral do tanque, onde
as forças verticais e horizontais foram medidas. A amarra foi mantida na posição vertical e o
tanque foi preenchido por uma argila saturada, com peso específico de 18,8 kN/m3. A parte
superior da amarra foi conectada a um cilindro hidráulico, responsável pela aplicação da força
de tração no sistema, o qual aplicava uma tração a uma velocidade de 0,002m/s, garantindo a
condição não drenada.

No ensaio mediu-se o deslocamento, o comprimento de projeção (A) e a força aplicada na


amarra, assim como a força horizonta (FH) e a força vertical (FV) aplicadas na célula de carga
presente no tanque. Através das FH e FV foi possível calcular a força resultante no sistema (FR)
e o ângulo de aplicação de carga (PHI). As figuras 2.28 e 2.29 apresentam as comparações entre
os valores calculados, através das equações de equilíbrio propostas por eles, e os medidos nos
ensaios de laboratório, referentes à tensão transmitida à estaca e o ângulo de aplicação em
relação a horizontal.

Figura 2.28: Ângulo de aplicação de carga - medido versus calculado


(DEGENKAMP, G.; DUTTA, A.,1989).

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Figura 2.29: Tensão aplicada à estaca - medida versus calculada


(DEGENKAMP, G.; DUTTA, A.,1989).

A partir dos resultados presentes na pesquisa foi possível determinar os valores de atenuação
de carga, conforme demonstrado na tabela 2.1, com valores de EWB em torno de 2,5 e EWS
de 8,2, para solos argilosos. Ressalta-se que para um mesmo diâmetro de amarra e altura de
solo, quanto menor a força aplicada no sistema, maior é sua atenuação ao longo do trecho
enterrado, por conta da parte que independe da capacidade de carga do solo somada ao maior
ângulo de aplicação de carga formado com a horizontal.

Tabela 2.1: Valores de atenuação de cargas em solo argiloso


Profundidade Força Resultante Ângulo de
Diâmetro Nominal Força Aplicada
até o Topo da Transmitida à aplicação de Atenuação
da Amarra - PULLF
Estaca Estaca - FLM carga - PHI (%)
(m) (N)
(m) (N) (°)
465 305 35 34,41
0,135 1091 867 22,7 20,53
2758 2422 14 12,18
380 175 66,4 53,95
0,0064 0,27 541 305 50,3 43,62
942 648 38,1 31,21
1889 1447 51 23,40
1,008 3694 3081 35,8 16,59
7461 6632 25,2 11,11

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Tabela 2.1: Valores de atenuação de cargas em solo argiloso


Profundidade Força Resultante Ângulo de
Diâmetro Nominal Força Aplicada
até o Topo da Transmitida à aplicação de Atenuação
da Amarra - PULLF
Estaca Estaca - FLM carga - PHI (%)
(m) (N)
(m) (N) (°)
672 364 46,7 45,83
0,204 1335 974 29,2 27,04
3466 2897 17,4 16,42
708 404 68,2 42,94
0,0095 0,407 1161 773 49,7 33,42
2417 1911 33,1 20,94
1268 658 65,8 48,11
0,612 1841 1140 52,1 38,08
2932 2171 38,5 25,95
1490 878 47,8 41,07
0,336
10042 8890 15,7 11,47
1797 866 74,6 51,81
0,672 2628 1553 56,8 40,91
0,016
10961 9053 25,5 17,41
2989 1835 65,9 38,61
1,008 4567 3233 50,6 29,21
8564 6890 37 19,55

(Fonte: baseada em: DEGENKAMP, G.; DUTTA, A.,1989)

2.8.5 Amaral e costa (2004)

Os autores realizaram um trabalho de avaliação dos fatores de segurança das estacas torpedos
do navio AVARÉ situado no campo de coral no Paraná. Eles avaliaram a magnitude da carga
que chega à estaca e o ângulo de aplicação, formado em relação ao eixo horizontal. Para o
desenvolvimento do estudo foi utilizado o programa DIGIN, software de projetos criado pela
Det Norske Veritas - DNV, amplamente difundido na indústria petrolífera, pois através dele é
possível determinar a profundidade de penetração de uma estaca torpedo no solo marinho, a
configuração da catenária formada na água e/ou no solo e as cargas transmitidas para a estaca.

Com os resultados, os autores concluíram que as cargas transmitidas ao topo da estaca


dependem linearmente das cargas aplicadas no ponto em que a linha de ancoragem toca o leito
marinho (Touch down point - TDP), independente da profundidade de cravação, conforme
figura 2.30. Porém, o ângulo que a catenária inversa forma com o eixo horizontal depende
fortemente da carga aplicada no leito marinho e da profundidade de cravação, conforme figura
2.31.
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Figura 2.30: Carga na ancora versus carga no TDP para diferentes


penetrações da estaca (AMARAL, C. dos S.; COSTA, A. M. dos, 2004).

Figura 2.31: Ângulo de aplicação de carga na ancora x no TDP para


diferentes penetrações (AMARAL, C. dos S.; COSTA, A. M. dos,
2004).

2.8.6 Wang et al (2010)

Wang et al (2010), estudaram o sistema de interação entre o solo e a amarra, através de um


modelo quase-estático considerando as três dimensões da geometria do problema, visando uma
previsão mais precisa do comportamento da amarra embutida no solo. O trabalho foi realizado
em três etapas de estudo, primeiramente foi estudado o perfil de distribuição de tensão e a
configuração da amarra dentro de um solo argiloso, devido a aplicação de uma carga de pré-

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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tração. Posteriormente, avaliaram a amarra com grandes cargas aplicadas, e por último
analisaram a catenária invertida, em serviço, submetida a diferentes níveis de pré-tração.

Os autores observaram que, quanto maior o nível de tração na amarra, considerando o mesmo
ângulo de incidência em relação ao leito marinho, maior é o seu deslocamento horizontal,
tornando o ângulo de incidência na estaca menor. O mesmo aconteceu quando a carga foi
mantida constante e o ângulo de incidência no leito marinho foi reduzido. Logo, quanto maior
for o nível de carga e/ou menor for seu ângulo de incidência em relação ao leito, maior será o
deslocamento horizontal da amarra dentro do solo. Eles concluíram também que a carga e o
ângulo de incidência atuante sobre a estaca, são menores quando a carga de pré-tração é
aplicada com um ângulo menor em relação ao leito do mar.

2.8.7 Rocha (2014)

Rocha (2014), projetou e construiu um sistema para a realização de ensaios de carregamento


estático (tração axial) em linhas de ancoragem embutidas em solo argiloso, com o objetivo de
estudar a configuração geométrica da linha e a atenuação das cargas que são transmitidas para
a estaca torpedo. O sistema é demonstrado na figura 2.32.

Os estudos foram baseados em um caso típico, fornecido pela Petrobras, de um sistema de


ancoragem de uma plataforma FPSO, que utiliza a configuração da linha de ancoragem em taut
leg, e estacas torpedo como elemento de fundação. O exemplo foi reproduzido em laboratório
na escala 1:40, respeitando-se os princípios de escala e similaridade, a partir da construção de
um tanque de acrílico, no qual foi acoplada uma célula de carga no fundo. Para simular a amarra
do caso real, foi utilizada uma corrente de aço, que foi ligada à célula de carga do tanque.

As forças aplicadas à corrente, foram medidas com o auxílio de uma célula de carga, instalada
na extremidade superior dela. Já com as leituras da célula de carga acoplada ao tanque, foi
possível medir as forças verticais e horizontais transmitidas ao ponto que representou a ligação
entre a amarra e elemento de fundação, assim como calcular o ângulo de incidência da força.
Através da diferença dos valores medidos nas células de carga, a autora obteve o valor da
atenuação de cargas, que ocorreu durante o ensaio. A figura 2.32 demonstra a estrutura de
ensaio desenvolvida.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 2.32: Estrutura metálica e tanque acrílico desenvolvidos para o


ensaio (ROCHA, C. C.M., 2014).

O solo argiloso utilizado para o preenchimento do tanque foi obtido de forma artificial, de
maneira a reproduzir as propriedades físicas das argilas marinhas típicas da costa brasileira.
Para obtê-la foi feita uma mistura de caulim (85% de massa seca), bentonita (15% de massa
seca) e água, com teores de umidade de 100% (argila A) e 120% (argila B). Ressalta-se, que a
argila A apresentou um valor de su maior em comparação com a argila B, para uma mesma
profundidade. Em relação à altura de solo acima da célula de carga, foram utilizados na argila
B três níveis diferentes, 72 cm, 48cm e 24cm, porém a amostra A foi ensaiada apenas na altura
de 72 cm. Para cada nível, foram realizados quatro ensaios, exceto para a amostra A, que foram
realizados apenas três, totalizando 15 ensaios.

O ensaio foi realizado empregando-se carregamento e descarregamento para diferentes ângulos


de incidência formados entre a corrente e o eixo vertical, iniciando em 0° com acréscimos de
5° em 5° até o ângulo máximo de 55°, conforme figura 2.33. As cargas foram aplicadas através
de incrementos de pesos de 1kgf (9,81 N) até atingir 14 kgf (137,34 N), representado 9.000 kN
na conversão de escala. Esse valor foi além da carga máxima estimada para o caso típico (7.100
kN), pois desejava-se determinar a influência de carregamentos superiores sobre a atenuação.
Na pesquisa, também foi utilizado o programa DIGIN, com o objetivo de proceder análises
comparativas entre os resultados obtidos em laboratório e os gerados a partir do programa.

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Figura 2.33: Esquema do sistema de ensaio (ROCHA, C. C.M., 2014).

Com os resultado obtidos, a autora conclui que: os deslocamentos horizontais das amarras
embutidas no solo foram menores para os resultados experimentais em comparação com os
obtidos pelo software; a atenuação de carga prevista pelo programa (0,7% - 2,2%) foi menor
em comparação com os obtidos no experimento (6% - 14%), que é compatível com a literatura
(vale ressaltar que essa comparação considera apenas a argila B, pois essa refletia as
características de resistência da argila marinha do caso típico); a amostra de argila A, com 72
cm de altura, teve uma tendência de estabilização da atenuação em 24%. Já para as amostras da
argila B, as atenuações se estabilizaram em torno de 14%, 6% e 0%, para as alturas de solo
respectivas de 72cm, 48cm e 24cm. A figura 2.34 exemplifica os resultados de atenuação
obtidos pela autora.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 2.34: Resultados dos ensaios de atenuação nas argilas A e B.


(ROCHA, C. C.M., 2014).

Além disso, o estudo demonstrou que a atenuação de carga que ocorre na interação entre o solo
e a amarra é diretamente proporcional à altura do solo e à resistência ao cisalhamento não
drenada do solo. Porém, ela é inversamente proporcional à magnitude da força aplicada na linha
e ao ângulo de aplicação da carga na linha, conforme figura 2.35.

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Figura 2.35: Comparação da atenuação versus ângulo nominal nas


diferentes condições de ensaio (ROCHA, C. C.M., 2014).

2.8.8 Sampa (2015)

Sampa (2015), realizou a continuação do trabalho desenvolvido por Rocha (2014), procedendo
uma análise voltada para a atenuação de cargas estáticas e dinâmicas no trecho da linha de
ancoragem embutida no solo. A pesquisa também foi baseada no caso típico, fornecido pela
Petrobras, referente ao sistema de ancoragem de uma plataforma FPSO, com fator de redução
de escala (1:40). Para realizar os ensaios de carregamento estático, o autor utilizou o aparato
desenvolvido por Rocha (2014), porém para os ensaios de carregamentos dinâmicos, o
equipamento passou por adaptações, as quais possibilitaram a aplicação de vibrações
condizentes com as faixas de aceleração e frequência desejadas. A figura 2.36 demonstra o
esquema de ensaio utilizado nos ensaios de carregamento dinâmico.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 2.36: Conjunto de equipamentos utilizados para a realização do


ensaio de carregamento dinâmico (SAMPA, N. C., 2015).

O autor realizou ensaios em solos argilosos, obtidos a partir de misturas no laboratório de


caulim (85% em massa seca), bentonita (15% em massa seca) e água, que apresentou teores de
umidade em torno de 120%. Na realização dos ensaios de carregamentos estáticos e dinâmicos,
com variação do ângulo de referência de 0º a 55º, foram utilizadas duas células de cargas para
medir as forças aplicadas na extremidade superior e inferior da corrente que representou a
amarra. Como resultado, observou-se uma atenuação estática variando de 12,9 a 18,3%, em
função da variação de profundidade de embutimento da linha de ancoragem, do ângulo de
aplicação de carga, da resistência não drenada da argila e do nível de força de pré-tração
aplicada. Já para os ensaios de carregamento dinâmico, verificou-se que os valores de atenuação
de cargas dinâmicas ficaram na faixa de 24 a 26%, valores levemente influenciados pela
variação da força de pré-tração e frequência de vibração, devido à parcela viscosa da argila.

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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3 ESTUDO DE CASO: CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO DE


ANCORAGEM DE UMA PLATAFORMA FPSO

Neste capítulo, serão apresentados os dados utilizados como base para esta pesquisa. O caso
típico consiste em um projeto de ancoragem de uma estrutura flutuante, que será parcialmente
reproduzido em escala de comprimento 1:10.

3.1 CASO TÍPICO

Os dados utilizados nessa pesquisa foram fornecidos pela Petrobras, e são referentes ao projeto
de ancoragem de uma plataforma FPSO, que utiliza linhas de ancoragem em configuração taut
leg, e estacas torpedo como elementos de fundação. A partir deles, foi possível obter os critérios
de similaridade entre as escalas do projeto e do modelo reduzido (escala de comprimento 1:10),
utilizados para calcular os níveis equivalentes de cargas que atuam no sistema de ancoragem,
configurar a geometria espacial e projetar os equipamentos utilizados nos ensaios
experimentais.

A seguir são demonstrados os dados referentes às características geotécnicas do solo marinho,


as características geométricas e físicas do sistema de ancoragem, assim como as cargas
aplicadas a ele.

3.1.1 Características Geotécnicas

Os parâmetros geotécnicos apresentados neste item, são referentes a ensaios de campo e


laboratório, realizados a partir de três campos de prospecção de petróleo explorados pela
Petrobras: Lula, Lula NE e Sapinhoá (denominado de Guará até 2012). O campo de Lula, está
localizado na porção central da bacia de Santos, a cerca de 230 km da costa do município do
Rio de Janeiro, e apresenta lâmina d’água de aproximadamente 2.200 m de profundidade (ANP,
2018). O campo de Lula NE situa-se a nordeste do campo Lula, a cerca de 300 km da costa,
com lâmina d’água de aproximadamente 2.120 m (SAMPA, 2015). O Campo de Sapinhoá
localiza-se também na porção central da Bacia de Santos, a cerca de 360 km da costa do estado
de São Paulo e 290 km da cidade do Rio de Janeiro, com lâmina d'água de 2.140 m (ANP,
2017).

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Os solos dessas regiões foram classificados, através de uma série de ensaios, como uma argila
siltosa com pequenos fragmentos de conchas, normalmente adensado. As figuras 3.1, 3.2 e 3.3
apresentam os resultados de ensaios granulométricos, de amostras coletadas em diferentes
localidades e profundidades.

Curva Granulométrica - Campo GUARÁ


Porcentagem passante (%)

100
90
80
70
60
50
40
30 SC-900, 0.20 m
20 SC-900, 2.20 m
SC-900, 5.20 m
10 SC-900, 8.20 m
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Tamanho dos Grãos (mm)

Figura 3.1: Curvas granulométricas do solo marinho do campo Guará


(Dados fornecidos pela Petrobras).

Curva granulométrica - Campo de LULA


100
Porcentagem passante (%)

80

60

40 JPC-883, 3.73 m JPC-883, 5.71 m

JPC-884, 2.92 m JPC-884, 3.73 m


20 JPC-884, 5.66 m JPC-885, 0.08 m

JPC-886, 3.73 m
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Tamanho dos grão (mm)

Figura 3.2: Curvas granulométricas do solo marinho do campo Lula


(Dados fornecidos pela Petrobras).

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Curva granulométrica - LULA NE


100

Porcentagem passante (%)


90
80
70
60
50
40
30 SC-901, 0.70 m SC-902, 11.30m
20 SC-903, 0.20m SC-904, 1.10m
10 SC-904, 7.10m SC-904, 12.40m
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Tamanho dos grãos (mm)

Figura 3.3: Curvas granulométricas do solo marinho do campo Lula NE


(Dados fornecidos pela Petrobras).

Abaixo é apresentada a variação do teor de umidade ao longo dos primeiros 25m de


profundidade (figura 3.4), assim como a variação dos valores do peso específico (figura 3.5),
referente aos três campos.

Figura 3.4: Variação do teor de umidade em função da profundidade


nos três campos (Dados fornecidos pela Petrobras).

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Figura 3.5: Variação do peso específico em função da profundidade nos


três campos (Dados fornecidos pela Petrobras).

A figura 3.6 apresenta os limites de Atterberg para diferentes profundidades em cada um dos
campos.

Figura 3.6: Limites de Atterberg em função da profundidade nos três


campos (Dados fornecidos pela Petrobras).

Para a obtenção da resistência ao cisalhamento não drenada ao longo da profundidade, foram


realizados ensaios de cisalhamento direto simples (Direct Simple Shear - DSS) e ensaios de
piezocone (Piezocone Penetration Test - CPTu). A figura 3.7 demonstra os resultados obtidos.

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Figura 3.7: Resistência não drenada ao longo da profundidade, obtidas


nos ensaios de CPTu e DSS (Dados fornecidos pela Petrobras).

Conforme os resultados demonstrados, a resistência ao cisalhamento não drenada, em função


da profundidade, para os três campos, pode ser representada pela equação 3.1:

𝑆𝑢 (𝑘𝑃𝑎) = 1,4 . 𝑧 (3.1)

Onde:
z: Profundidade do solo em metros.

3.1.2 Características Geométricas e Físicas do Sistema de Ancoragem

O sistema de ancoragem em análise, foi utilizado em uma plataforma FPSO ancorada na bacia
de Santos, em uma região com lâmina d’água de aproximadamente 2.135m. O sistema é
composto por 24 linhas em configuração taut leg, ancoradas no solo marinho através de estacas
torpedo. Para simplificar a análise, considerou-se o mesmo comprimento e características
físicas para as 24 linhas de ancoragem, o que possibilitou a utilização de apenas uma linha no
modelo reduzido.

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A linha de ancoragem é composta por três trechos distintos, que vão do ponto de ligação na
plataforma flutuante ao ponto de conexão na estaca torpedo, conforme figura 3.8. O primeiro
trecho, a partir da FPSO, é uma amarra de 550 m de comprimento e 0,120 m de diâmetro; o
segundo trecho, intermediário, é um cabo de poliéster de 2.636 m de comprimento e 0,206 m
de diâmetro; o terceiro e último trecho é uma amarra de 140 m de comprimento e 0,120 m de
diâmetro, totalizando 3.326 m de comprimento da linha de ancoragem. As propriedades físicas
e geométricas estão resumidas na tabela 3.1.

Figura 3.8: Esquema ilustrativo do caso típico analisado.

Tabela 3.1: Características a linha de ancoragem


Diâmetro Nominal Comprimento Peso Seco Peso Submerso
Trecho Material
(mm) (m) (kg/m) (kg/m)
1 R4 Studless Chain 120 550 288,1 250,65
2 Cabo Poliéster 206 2636,46 27,91 7,34
3 R4 Studless Chain 120 140 288,1 250,65

(Fonte: elaborada pelo autor)

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Os elementos de fundação do sistema são estacas torpedo T-120, que apresentam como
características: 120 toneladas de peso, 1,219 m de diâmetro e 20,583 m de comprimento. Para
a obtenção da profundidade de cravação da estaca, a Petrobras utilizou o programa
computacional PROJETIL, que é baseado no modelo analítico proposto por True (1976),
descrito no item 2.7. A distância calculada entre o leito marinho e o topo da estaca foi de 28,8m.

3.1.3 Características das Cargas Aplicadas ao Sistema

As cargas usuais que atuam na conexão entre a linha de ancoragem e a plataforma flutuante
(fairlead) variam entre 4.000 e 7.000 kN, gerando cargas no TDP (ponto em que a linha de
ancoragem toca o leito marinho) que variam de 2.600 a 6.000 kN, em torno da média
aproximada de 4.000 kN, conforme mostrado na figura 3.9. Observa-se ainda, que as cargas
que atuam no fairlead e no TDP, apresentam uma defasagem média de 1.000 kN.

Figura 3.9: Espectro de carregas que atuam no fairlead e no TDP do


caso típico (Dados fornecidos pela Petrobras).

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4 ESTUDO DO FATOR DE ESCALA

Neste capítulo, será demonstrado de forma sucinta, o estudo que embasa a redução de escala de
modelos físicos, que segue os princípios preconizados na teoria da semelhança. A partir da
teoria, será procedida a análise física correspondente à redução de escala do caso típico,
especificando-se as grandezas físicas que terão suas escalas alteradas e as que serão fixadas,
durante a construção do modelo.

4.1 ANÁLISE DO EFEITO DE ESCALA

O modelo reduzido é a representação simplificada de um caso típico, ou de um fragmento dele,


utilizado para facilitar a compreensão e a visualização dos fenômenos intervenientes,
embasando amplos estudos de fenômenos físicos, por conta da facilidade de mudança nas
condições de ensaio e parâmetros de entrada. Ele permite medições indiretas da magnitude dos
fenômenos físicos em escala real, desde que a semelhança física seja respeitada, através de uma
criteriosa análise dos parâmetros que envolvem o sistema (CARNEIRO, 1993).

A redução da escala de um caso real é regida pela teoria da semelhança, composta por um
conjunto de leis, que devem ser consideradas para tornar viável a representação simplificada da
realidade. O modelo deve respeitar as condições básicas de similaridade física, atendendo as
condições de semelhanças geométrica, cinemática e dinâmica. Na similaridade geométrica, o
modelo e o caso típico devem possuir o mesmo formato, e serem relacionados por um fator de
escala constante. Na cinemática, as relações de espaço-tempo devem ser empregadas seguindo
uma mesma escala. A similaridade dinâmica, requer que as forças que agem em pontos
homólogos mantenham relações constantes, para que as resultantes apresentem direção e
sentido iguais.

4.1.1 Análise Dimensional

A análise dimensional é um recurso utilizado para simplificar um problema real através da


redução do número de variáveis que fazem parte de um fenômeno físico, o qual será retratado
em escala reduzida. A análise é baseada no teorema de Vaschy-Bucknghan, que considera toda
relação homogênea com n parâmetros dimensionais, possível de ser substituída por outra
contendo um número menor de parâmetros adimensionais, resultantes dos produtos de
potências dos n parâmetros originais. Logo, através do tratamento de variáveis é possível
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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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reduzir o número total de parâmetros de n para n-r, onde r é o número de unidades


fundamentais. Esse tratamento de variáveis torna a análise dimensional adequada à
interpretação de resultados experimentais e à elaboração de modelos paramétricos
(CARNEIRO, 1993).

CARNEIRO (1993), descreve que uma variável física expressa numericamente grandezas
divididas em primárias e derivadas. Segundo o autor, as grandezas primárias são medidas de
grandezas fundamentais, independentes das unidades escolhidas, como o tempo, comprimento
e massa. Já as grandezas derivadas são aquelas formadas por combinações de grandezas
primárias, como a velocidade, força, volume e etc. A tabela 4.1 demonstra as grandezas
fundamentais, definidas no Sistema Internacional de Unidades (SI).

Tabela 4.1: Grandezas fundamentais (SI)

Grandeza Fundamental Símbolo nas Fórmulas


Unidades (SI)
(SI) Dimensionais

Comprimento Metro (m) L


Massa Quilograma (kg) m
Tempo Segundo (s) T
Corrente elétrica Ampére (A) I
Quantidade de Substância Mol (mol) mol, N
Intensidade luminosa Candela (cd) Iv
Temperatura termodinâmica Kelvin (K) θ

(Fonte: elaborada pelo autor)

Supondo-se um sistema físico qualquer, que apresenta como parâmetros básicos A, B e C, Pode-
se determinar uma relação entre os três a partir de uma análise das unidades de medidas dessas
três grandezas, através da matriz dimensional mostrada abaixo:

[A] = L(a)M(b)T(c) (4.1)

[B] = L(a)M(b)T(c) (4.2)

[C] = L(a)M(b)T(c) (4.3)

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Onde os colchetes representam as unidades de medida do parâmetro estudado, escritas em


função de três unidades fundamentais: comprimento L (metros), massa M (quilograma), e
tempo T (segundos), escolhidas por representarem a maior parte dos princípios utilizados na
dinâmica estrutural. Ressalta-se, que as grandezas subordinadas às unidades fundamentais, são
denominadas de grandezas fundamentais (L, M e T), e as demais são denominadas de unidades
e grandezas derivadas. O expoente de cada unidade fundamental é denominado dimensão ou
expoente de dimensão, determinado de acordo com as grandezas fundamentais. Abaixo é
demonstrado um exemplo aplicado ao parâmetro de frequência (f):

[f] = m0kg0s−1 = 1/s = Hz (4.4)

Dessa forma, conhecendo-se os parâmetros que constituem o processo físico estudado, é


possível formar a matriz dimensional, utilizada para se efetuar a mudança de escala do modelo,
onde os elementos que a constituem são os expoentes dos parâmetros derivados das grandezas
fundamentais. A tabela 4.2 apresenta os expoentes dimensionais de algumas grandezas que
fazem parte da dinâmica estrutural.

Tabela 4.2: Expoentes dimensionais de grandezas utilizadas em análise


dinâmica estrutural.
Grandezas
Grandezas Derivadas Unidades Símbolos Fundamentais
L M T
Comprimento Metro (m) L 1 0 0
Massa Quilograma (kg) m 0 1 0
Tempo Segundo (s) T 0 0 1
Força Newton (N) F 1 1 -2
Momento Newton Metro (Nm) M 2 1 -2
Frequência Hertz (Hz) f 0 0 -1
Módulo de Elasticidade Pascal (Pa) E -1 1 -2
Tensão (pressão, coesão, etc.) Pascal (Pa) s -1 1 -2
Massa por Unidade de Comprimento Quilograma/Metro (Kg/m) - -1 1 0

(Fonte: elaborada pelo autor)

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De acordo com Rocha (2013), para o cálculo da nova escala física que pretende-se utilizar,
deve-se realizar primeiramente a mudança de base do sistema físico estudado, procedida através
da substituição das grandezas de base L, M e T, por novas grandezas de base compostas por A,
B e C. Dessa forma, as escalas das novas grandezas de base podem ser escritas em função das
grandezas fundamentais, conforme a matriz dimensional demonstrada abaixo:

[A] = 𝐿𝑎𝐿 𝑀𝑎𝑀 𝑇 𝑎𝑇 (4.5)

[B] = 𝐿𝑏𝐿 𝑀𝑏𝑀 𝑇𝑏𝑇 (4.6)

[C] = 𝐿𝑐𝐿 𝑀𝑐𝑀 𝑇 𝑐𝑇 (4.7)

Onde, os expoentes dimensionais constituem a matriz dimensional da nova base:

𝑎𝐿 𝑎𝑀 𝑎𝑇
𝐷 = [ 𝑏𝐿 𝑏𝑀 𝑏𝑇 ] (4.8)
𝑐𝐿 𝑐𝑀 𝑐𝑇

Ressalta-se, que para a substituição de grandezas ser válida, a nova base deve ter o mesmo
número de grandezas que a base fundamental, as dimensões entre os novos parâmetros devem
ser independentes e o determinante da matriz diferente de zero.

Tomando-se agora o logaritmo de todos os termos, tem-se:

log 𝐴 = (𝐿𝑎𝐿 𝑀𝑎𝑀 𝑇 𝑎𝑇 ) = 𝑎𝐿 𝑙𝑜𝑔𝐿 + 𝑎𝑀 𝑙𝑜𝑔𝑀 + 𝑎 𝑇 𝑙𝑜𝑔𝑇 (4.9)

log 𝐵 = (𝐿𝑏𝐿 𝑀𝑏𝑀 𝑇𝑏𝑇 ) = 𝑏𝐿 𝑙𝑜𝑔𝐿 + 𝑏𝑀 𝑙𝑜𝑔𝑀 + 𝑏𝑇 𝑙𝑜𝑔𝑇 (4.10)

log 𝐶 = (𝐿𝑐𝐿 𝑀𝑐𝑀 𝑇 𝑐𝑇 ) = 𝑐𝐿 𝑙𝑜𝑔𝐿 + 𝑐𝑀 𝑙𝑜𝑔𝑀 + 𝑐𝑇 𝑙𝑜𝑔𝑇 (4.11)

Ao se reescrever a equação na forma matricial, temos:

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𝑎𝐿 𝑎𝑀 𝑎 𝑇 log 𝐿 log 𝐴
[𝑏𝐿 𝑏𝑀 𝑏𝑇 ] [log 𝑀] = [log 𝐵 ] (4.12)
𝑐𝐿 𝑐𝑀 𝑐𝑇 log 𝑇 log 𝐶

Invertendo a equação:

log 𝐿 𝑎𝐿 𝑎𝑀 𝑎 𝑇 −1 log 𝐴
[log 𝑀] = [𝑏𝐿 𝑏𝑀 𝑏𝑇 ] [log 𝐵 ] (4.13)
log 𝑇 𝑐𝐿 𝑐𝑀 𝑐𝑇 log 𝐶

Onde:

𝑎𝐿 𝑎𝑀 𝑎 𝑇 −1 𝑎𝐴 𝑏𝐴 𝑐𝐴
[𝑏𝐿 𝑏𝑀 𝑏𝑇 ] = [𝑏𝐴 𝑏𝐵 𝑐𝐵 ] (4.14)
𝑐𝐿 𝑐𝑀 𝑐𝑇 𝑐𝐴 𝑐𝐵 𝑐𝐶

Substituindo-se a equação 4.14 na equação 4.13, e retornando-se à forma polinomial, tem-se:

log 𝐿 = 𝑙𝑜𝑔𝐴𝑎𝐴 + 𝑙𝑜𝑔𝐵 𝑎𝐵 + 𝑙𝑜𝑔𝐶 𝑎𝐶 = (𝐴𝑎𝐴 𝐵 𝑎𝐵 𝐶 𝑎𝐶 ) (4.15)

log 𝑀 = 𝑙𝑜𝑔𝐴𝑏𝐴 + 𝑙𝑜𝑔𝐵 𝑏𝐵 + 𝑙𝑜𝑔𝐶𝑏𝐶 = (𝐴𝑏𝐴 𝐵 𝑏𝐵 𝐶𝑏𝐶 ) (4.16)

log 𝑇 = 𝑙𝑜𝑔𝐴𝑐𝐴 + 𝑙𝑜𝑔𝐵 𝑐𝐵 + 𝑙𝑜𝑔𝐶 𝑐𝐶 = (𝐴𝑐𝐴 𝐵 𝑐𝐵 𝐶 𝑐𝐶 ) (4.17)

Retornando-se às grandezas fundamentais calculadas a partir das novas grandezas de base


obtemos:

𝐿 = 𝐴𝑎𝐴 𝐵 𝑎𝐵 𝐶 𝑎𝐶 (4.18)

𝑀 = 𝐴 𝑏𝐴 𝐵 𝑏𝐵 𝐶 𝑏𝐶 (4.19)

𝑇 = 𝐴 𝑐𝐴 𝐵 𝑐𝐵 𝐶 𝑐𝐶 (4.20)

Com o resultado, é possível calcular qualquer escala de grandeza derivada em relação às escalas
das novas grandezas de base. De forma genérica, dada uma grandeza X cuja unidade tenha
expoentes dimensionais ,  e  em relação às grandezas fundamentais (equação 4.21):

[𝑋] = 𝐿𝛼 𝑀𝛽 𝑇 𝛾 (4.21)

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Podemos substituir os termos L, M e T, pelas equações 4.18, 4.19, 4.20, obtendo-se:

[𝑋] = (𝐴𝑎𝐴 𝐵 𝑎𝐵 𝐶 𝑎𝐶 )𝛼 (𝐴𝑏𝐴 𝐵 𝑏𝐵 𝐶𝑏𝐶 )𝛽 (𝐴𝑐𝐴 𝐵 𝑐𝐵 𝐶 𝑐𝐶 )𝛾 (4.22)

Ao se fatorar as bases da equação 4.22, chega-se na equação 4.23

[𝑋] = 𝐴(𝛼𝑎𝐴 +𝛽𝑏𝐶 +𝛾𝑐𝐴) 𝐵 (𝛼𝑎𝐴+𝛽𝑏𝐶 +𝛾𝑐𝐴) 𝐶 (𝛼𝑎𝐴+𝛽𝑏𝐶 +𝛾𝑐𝐴) (4.23)

Essa equação representa uma fórmula geral para se calcular a escala de qualquer grandeza
derivada, através da matriz dimensional inversa do novo conjunto de grandezas de base
escolhidas (Rocha, 2013).

4.2 ANÁLISE DIMENSIONAL APLICADA AO CASO TÍPICO

Rocha et al (2013), apresentam em seu estudo considerações sobre leis de semelhança em


modelos reduzidos, aplicadas aos fenômenos geotécnicos. Segundo os autores, tais modelos
devem obedecer hipóteses claras em relação as leis de semelhanças empregadas para
representar o fenômeno que ocorre em escala real. Assim, cada parâmetro deve ter uma regra
de correspondência, resultando em uma correlação direta com o fenômeno físico estudado. Na
prática, tenta-se ajustar ao máximo o modelo reduzido ao caso típico estudado, porém é muito
difícil uma condição de semelhança completa entre eles, tendo em vista principalmente, o fato
de algumas grandezas físicas não serem ajustadas corretamente quando se trabalha em
determinadas escalas.

Os autores descrevem que é essencial definir quais são as grandezas físicas possíveis de serem
controladas e quais são relevantes ou não ao fenômeno estudado, para que seja escolhida a lei
de semelhança mais adequada ao estudo. As grandezas fundamentais, ou de base, apresentadas
no sistema internacional de unidades, mais relevantes aos fenômenos mecânicos da geotecnia
são: comprimento; massa e tempo.

Tratando-se de fenômenos geotécnicos, sabe-se que os mecanismos que envolvem a ruptura do


solo dependem primordialmente da tensão vertical efetiva (equação 4.24). Então, baseando-se
na Teoria de Análise Dimensional (CARNEIRO, 1993), pode-se definir um sistema de
grandezas de base constituído por três parâmetros: o comprimento (z), de escala livre; a massa
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específica (ρ) de escala fixa; e a aceleração da gravidade (g) também de escala fixa. Todas as
outras grandezas envolvidas no fenômeno podem ser derivadas delas.

𝜎′𝑣0 = 𝜌. 𝑔. 𝑧 (4.24)

Rocha et al (2013) justificam a escolha desse conjunto de grandezas pelos seguintes fatos: pode-
se realizar o ensaio sem a necessidade do emprego de uma centrífuga, devido a aceleração da
gravidade se manter inalterada; e com a massa específica inalterada, em muitos casos, é possível
utilizar no modelo reduzido o próprio material do caso típico (solo, estruturas metálicas,
materiais cimentados, etc).

A elaboração do modelo reduzido apresentado nessa dissertação, foi baseada nos parâmetros
obtidos a partir da planilha de cálculo de escalas, elaborada por Rocha et al (2013). A tabela
4.3 apresenta o resultado da análise, feita através da planilha, para a escala de comprimento
1:10, utilizada nessa pesquisa.

Tabela 4.3: Grandezas de base e suas derivadas a partir da escala de


comprimento 1:10.
Grandezas de Base Símbolo Unidade L M T Escala Inversa
Comprimento L m 1 0 0 10
Massa específica r kg/m
3 -3 1 0 1
Aceleração (da gravidade) g m/s
2 1 0 -2 1

Grandezas Derivadas Símbolo Unidade L M T Escala Inversa


Comprimento L m 1 0 0 10
Massa M kg 0 1 0 1000
Tempo T s 0 0 1 3,16
Aceleração (da gravidade) g m/s
2 1 0 -2 1
Força F N 1 1 -2 1000
Momento M Nm 2 1 -2 10000
Tensão (pressão, módulos, coesão, etc.) s Pa -1 1 -2 10
Massa específica r kg/m
3 -3 1 0 1
Massa por Unidade de Comprimento - Kg/m -1 1 0 100

(Fonte: Adaptado de ROCHA et al, 2013)

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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4.2.1 Conversão de Escala Aplicada ao Solo

Em solos argilosos a resistência ao cisalhamento não drenado (Su) é representada por uma
unidade de tensão. Logo, com o sistema de escalas proposto, o valor de Su segue a mesma escala
de conversão do comprimento (1:10). Dessa forma, o solo onde será feito o ensaio experimental,
deverá apresentar resistência proporcional à conversão de escala utilizada, com características
geotécnicas similares as das argilas encontradas na bacia de Santos.

No caso típico, a distância entre o leito marinho e o padeye é de 28,8 m, e a resistência ao


cisalhamento não drenada nessa profundidade, de acordo com a equação 3.1, é de 40,32 kPa.
Aplicando-se a conversão de escala (1:10), obtém-se uma distância entre a superfície do terreno
e ponto de aplicação de carga, de aproximadamente 2,9 m, com resistência ao cisalhamento não
drenada em torno de 4 kPa. Porém, o ponto de aplicação de carga será adotado na profundidade
de 3 m durante o ensaio, visando facilitar as medições em campo.

4.2.2 Conversão de Escala Aplicada à Linha de Ancoragem

A amarra utilizada no trecho 03 do caso típico, é a R4 Studless com 120 mm de diâmetro e peso
linear de aproximadamente 288 kg/m. Aplicando-se a conversão de escala do comprimento
(1:10) e da massa por unidade de comprimento (1:100), o diâmetro da amarra utilizada no
modelo reduzido deve corresponder a 12 mm, com peso linear de 2,88kg/m. Os trechos 01 e 02
não foram analisados, pois o objetivo do ensaio é estudar a atenuação que ocorre no trecho da
linha de ancoragem embutida no solo.

4.2.3 Conversão de Escala Aplicada ao Carregamento

Para desenvolver os equipamentos de ensaio, considerou-se o valor de 7.100 kN como carga


máxima que atua na linha de ancoragem, de acordo com o espectro de cargas mostrado na figura
3.9. Aplicando-se o fator de escala 1:1.000, essa carga corresponde a 7,1 kN no modelo
reduzido. Vale ressaltar, que foi considerado o ângulo máximo de 45° para a aplicação dessa
força, valor limite alcançado em sistemas de ancoragem taut leg.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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5 MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo, será apresentada a modelagem numérica realizada para se determinar a


configuração espacial e as dimensões do par de aletas laterais, que serão acopladas ao tubo
metálico, utilizado para inserir a corrente ensaiada no solo até a profundidade determinada. As
aletas serão utilizadas para garantir a reação necessária à força aplicada na corrente, sem que
ocorra deslocamentos excessivos do conjunto de tubos metálicos.

Para se obter comportamentos similares aos que ocorrerão durante os ensaios em campo, optou-
se por utilizar na modelagem numérica, as características e parâmetros geotécnicos do campo
experimental onde serão realizados os futuros ensaios do projeto ACISLA. Logo, neste capítulo
também será apresentado o campo experimental julgado adequado à representar as argilas
marinhas.

5.1 CAMPO EXPERIMENTAL DE TUBARÃO

O campo experimental analisado está localizado no município de tubarão, mais precisamente


no delta do Rio Tubarão, entre os municípios de Tubarão, Laguna e Jaguaruna, ao sul do estado
de Santa Catarina (A figura 5.1). O local é uma região de depressão, onde se depositam argilas,
siltes e sedimentos orgânicos, transportados pelo rio, até às margens da bacia inundada.

Figura 5.1: Localização do município de tubarão (adaptado de


HIGASHI. F. A. dos R., 2006).
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Ângulo et al (2006), descrevem que os depósitos sedimentares presentes ao longo da costa


brasileira são, principalmente, resultado da variação do nível do mar ocorrida durante os últimos
1 milhão de anos, no período quaternário. O autor também estima que o sistema lagunar do
delta do Tubarão foi formado pela elevação do nível relativo do mar, que na região atingiu seu
máximo a mais de 5.000 anos AP (antes do presente). Estudos realizados por Giannini (1993)
e Nascimento (2010), demonstram que os primeiros 20 metros da camada superior do depósito
foram formados no período Holoceno, posterior a glaciação mais recente, apresentando
predominantemente solos normalmente adensados.

Odebrecht e Schnaid (2018), remontam como ocorreu a evolução da baia ao longo da costa nos
últimos 8.000 anos. Segundo os autores, os depósitos sedimentares do Holoceno, presentes no
delta do rio Tubarão, começaram com a deposição de lentes transgressivas de sedimentos,
correspondentes a superfície de inundação marinha inicial, que se formou durante uma elevação
do nível relativo do mar a uma taxa superior a de entrada de sedimentos (figura 5.2a). A
aproximadamente 5.500 e 4.000 AP ocorreu no local uma redução do nível do mar, que gerou
a formação de uma barreira, levando ao balanceamento entre o nível do mar e a entrada de
sedimentos (figura 5.2b), a presença dessa barreira foi acompanhada por uma redução suave do
nível do mar, assim ela começou a restringir a circulação hidrodinâmica dentro da baía,
transformando-a em uma laguna (figura 5.2c). O estágio final, que vem ocorrendo nos últimos
1700 anos, foi marcado pela expansão da barreira, com sua chegada dela no delta, e o avanço
das dunas eólicas nas margens externas da laguna (figura 5.2d). Todas essas condições
ambientais resultaram em solos moles que variam entre normalmente adensados a levemente
pré-adensados, com elevado teor de umidade, elevada quantidade de matéria orgânica, alta
compressibilidade e baixa resistência ao cisalhamento. Os autores também apresentam o valor
de índice de rigidez (Ir) do solo de Tubarão estimado em 100, através dos valores de módulo
cisalhante (G) obtidos em ensaios triaxiais.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 5.2: Sistemas deposicionais quaternários do delta do Rio


Tubarão (adaptado de GIANNINI. P. C. F., 2010).

Para a escolha do campo experimental adequado a representar as argilas marinhas do caso


típico, foram realizados ensaios in situ e laboratório, visando analisar o perfil estratigráfico do
solo, assim como suas características físicas e geotécnicas. Ao todo foram executadas quatro
campanhas de sondagens, em três regiões diferentes do campo experimental (figura 5.3).

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Figura 5.3: Localização das regiões onde foram realizadas as


campanhas de ensaio para definição do local de ensaio desta pesquisa
(imagens do Google Earth pro em 15/01/2020).

Após a análise dos resultados dos ensaios, concluiu-se que a região 02 apresenta um perfil de
solo argiloso com características similares à referência fornecidas pela Petrobras. As regiões 01
e 03 foram descartadas por conta dos seus perfis de resistência ao cisalhamento não drenada ao
longo da profundidade, apresentarem valores maiores que os de referência da Petrobras. Os
resultados completos das sondagens 01, 02, 03 e 04, encontram-se no anexo A.

A realização dos futuros ensaios de atenuação de cargas estáticas em linhas de ancoragem, será
procedida no local da sondagem 04 (coordenadas geográficas: 28°33'10.7"S 49°00'04.6"W).
Nesse local, os resultados dos ensaios de CPTu e palheta (figuras 5.4 e 5.5), demonstraram que
entre 2 m e 9 m os valores de OCR se mantêm próximos de 1; ocorre o aumento de qt; e há
geração do excesso de poropressão durante a cravação do piezocone. Comportamentos que
indicam a presença de depósitos predominantemente argilosos e/ou argilo-siltosos,
normalmente adensados, condizente com o solo do caso típico. Porém, Ressalta-se que para a
tomada de decisão, também se levou em consideração as condições de acesso ao local e a
logística de execução dos ensaios.

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Figura 5.4: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 04


(furo 01).

Figura 5.5: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 04


(furo 02).

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Os ensaios em laboratório foram feitos a partir de amostras indeformadas coletadas no local da


sondagem 04, entre as profundidades de 2 m e 2,60 m, com o auxílio de mostradores Shelby
(figura 5.6). A tabela 4.1 contém os resultados obtidos.

Figura 5.6: Tubos de Shelby com amostras coletadas em campo.

Tabela 5.1: Caracterização em laboratório do solo de Tubarão.

Propriedades do solo Unidade Valor

Peso Específico Natural (γn) kN/m


3
11,9 a 16
Peso Específico Aparente Seco (γd) kN/m3 4,3
Peso Específico Real dos Grão (γs) kN/m3 28,2
Umidade Natural (ω) % 177,6
Índice de Vazios (e) - 5,56
Grau de Saturação (S) % 91,9
Resistência ao Cisalhamento Não Drenada (Su) kN/m2 4,7

(Fonte: elaborada pelo autor)

Com base nas características geomorfológicas, resultados dos ensaios de campo e


caracterização do solo em laboratório, julgou-se o campo experimental de Tubarão adequado à

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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realização da futura campanha de ensaios em modelo reduzido do projeto ACISLA, tendo em


vista seus parâmetros e características descritos acima, que seguem a mesma tendência de
comportamento e ordem de grandeza dos valores medidos no caso típico, demonstrando um
solo similar ao encontrado na bacia de Santos. Vale ressaltar ainda, que o nível de água no
terreno encontrava-se a 0,5 m de profundidade, tornando-o capaz de representar as condições
submersas do solo marinho.

5.2 DIMENSIONAMENTO DAS ALETAS

O embutimento da corrente que irá simular a linha de ancoragem no interior do solo, será feito
com o auxílio de tubos metálicos, os mesmos utilizados no equipamento piezocone penetration
test (CPTu). Cada tubo apresenta 37 mm de diâmetro externo e 16mm de diâmetro interno, com
o comprimento de 1 m, com roscas de ligação em suas extremidades. Para garantir a reação
necessária à força aplicada na corrente durante o ensaio, e manter o alinhamento do conjunto,
decidiu-se acoplar duas aletas laterais no seguimento de tubo em que a corrente será ligada.
Para se determinar a área da face das aletas, assim como suas dimensões e espessura, utilizou-
se o Método dos Elementos Finitos (MEF) tridimensional. Através do processo de tentativas e
erros, buscou-se encontrar a melhor configuração possível a ser executada, que retornasse o
menor deslocamento do primeiro segmento de tubo, no qual as aletas foram acopladas,
denominado de guia de ancoragem.

O MEF consiste, basicamente, em dividir um meio contínuo em um conjunto de elementos,


conectados por um número finito de pontos nodais, sendo possível prever seu comportamento
de tensão-deformação através de cálculos iterativos. Inicialmente, optou-se por esse método por
ele possibilitar uma representação mais fidedigna possível da complexa interação entre o
equipamento e o solo. Logo, o modelo de ensaio foi implementado tridimensionalmente no
programa computacional Abaqus/CAE 2017.

Na modelagem, considerou-se o comportamento físico do solo através do modelo constitutivo


elástico perfeitamente plástico, com critério de ruptura proposto por Tresca, que considera
apenas o parâmetro de tensão cisalhante que atua no meio, independente das tensões principais,
ocorrendo a plastificação (ou falha) quando a tensão atinge um valor crítico. O software
utilizado não apresenta a escolha direta desse critério, porém sabe-se que o critério de Mohr-
Coulomb, disponível no programa, apresenta um caso particular de análise, que ao se igualar o

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ângulo de atrito interno (ϕ) a zero, ele passa a coincidir com o critério de Tresca, resultando em
um vetor incremental de deformações plásticas 𝑑𝜀̅𝑝 , normal à superfície de escoamento e ao
eixo das deformações plásticas volumétricas, indicando que estas são nulas 𝑑𝜀𝑝 = 0 (figura 5.7).
𝜈

Figura 5.7: superfícies de escoamento: (a) superfície de Tresca no plano


- com lei de fluxo associada; (b) superfícies de Mohr-Coulomb e Tresca
no espaço das tensões principais (adaptado de Systèmes, D., 2016).

O solo foi admitido como um material isotrópico solicitado por um carregamento rápido,
caracterizando uma condição de carregamento totalmente não drenada. Esse tipo de solicitação
é representado por um coeficiente de Poisson (𝜈) não-drenado igual a 0,5, contudo, esse valor
gera problemas numéricos graves nos cálculos, pois todos os termos da matriz constitutiva do
elemento tenderiam ao infinito. Para evitar este tipo de problema, adotou-se o valor igual a 0,49,
usualmente indicado na literatura (POTTS et al., 1999 apud COSTA, R. G. B., 2008).

Os parâmetros geotécnicos utilizados na análise elástica foram: o módulo de elasticidade (E),


estimado em 1.200 kPa, através da equação 5.1, utilizando-se o módulo cisalhante do solo (G),
determinado pela equação 5.2 que utiliza o índice de rigidez (IR), apresentado no item 4.2; o
coeficiente de Poisson (𝜈) adotado como 0,49; e peso específico de 14 kN/m3, média dos valores
demonstrados na tabela 5.2; o coeficiente de empuxo em repouso do solo (K0), adotado igual a
1,0, pois o solo deve apresentar um comportamento incompressível ou quase-incompressível,
hipótese válida para análises não-drenadas de solos argilosos.

𝐸 = 𝐺. 2 (1 + 𝜈) (5.1)

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𝐺 = 𝐼𝑟 . 𝑆𝑢 (5.2)

Já para a análise plástica foi utilizada uma resistência ao cisalhamento não drenada (Su) variável
com a profundidade, definida pela fórmula 3.1, que estima uma resistência de aproximadamente
4,2 kPa em 3 m, profundidade adotada para o ponto de aplicação de carga. Para variar a
resistência do solo ao longo da profundidade, foi necessário fazer divisões a cada 20 cm ao
longo da profundidade, nas quais se aplicou a resistência Su calculada na cota central de cada
camada.

As propriedades mecânicas utilizadas para a simulação das aletas, são referentes a uma chapa
comercial com 4,7 mm de espessura, fabricada em aço 1020. Esse material apresenta peso
específico de 77 kN/m3, módulo de elasticidade de 200 GPa, coeficiente de Poisson igual a 0,3
e limite de escoamento em 420 MPa. Tendo em vista que esse é o mesmo aço que compõem os
tubos metálicos, essas propriedades também foram aplicadas a eles.

O modelo numérico foi construído a partir de elementos sólidos isoparamétricos, aplicados aos
tubos metálicos, à guia de ancoragem e à massa de solo. Na interface de contato entre o solo e
o equipamento, foram empregados elementos de contato do tipo superfície-superfície,
considerando-se uma rugosidade de contato nula, definido por um par de elementos associados:
elementos “mestres” (alvo), que usualmente são posicionados sobre a superfície mais rígida; e
elementos “escravos” (contato), que são posicionados tipicamente sobre a superfície mais
flexível.

O maciço de solo argiloso foi modelado com malhas de elementos tetraédricos sólidos, de 4
nós (C3D4) e interpolação linear. Para aproximar a simulação a um maciço “infinito” de solo,
envolvendo o equipamento, adotou-se uma forma cilíndrica de base circular, com 9 m de
diâmetro e profundidade, sendo essa última composta por 3 m iniciais, até o ponto de aplicação
de carga, mais o valor adicional de 6 m, evitando-se, dessa forma, que ocorresse efeitos de
borda.

Os tubos metálicos e as aletas também foram modelados com malhas de elementos tetraédricos
sólidos, de 4 nós (C3D4) e interpolação linear. A análise do comportamento estrutural deles
manteve-se dentro do intervalo elástico.

Em relação ao nível de refinamento da malha de elementos finitos aplicada ao solo, optou-se


por utilizar nas regiões mais solicitadas (entorno dos tubos e da guia de ancoragem), elementos

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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com dimensões de 10 cm. Já nas demais regiões, foi feita uma malha com dimensões variando
de 15 cm a 70 cm, onde a malha de maior dimensão corresponde aos elementos de borda, que
não são solicitados.

Na construção da malha de elementos finitos dos tubos metálicos, foram utilizados elementos
com dimensões de 10 cm. No topo e na base do conjunto de tubos foram considerados 8 nós
aplicados na circunferência interna e 8 nós plicados à externa.

Para as aletas adotou-se o formato trapezoidal, visando facilitar a cravação e a extração do


equipamento no solo. Elas foram modeladas a partir de elementos com dimensões de 10 cm. A
figura 5.8 demonstra o refinamento das malhas aplicadas ao solo, aos tubos metálicos e aletas.

(a) (b)

Figura 5.8: Malhas de elementos finitos: (a) malha aplicada aos tubos
metálicos e às aletas; (b) malha aplicada ao maciço de solo.

A carga máxima que será utilizada no ensaio é de 7,1 kN, aplicada de forma progressiva na
corrente, causando variações no ângulo formado entre ela e o eixo vertical, iniciando em 0°, até
atingir um ângulo máximo de 45°. Porém, para a concepção do projeto adotou-se um fator de
segurança igual a 2, considerando-se assim, uma força aplicada à corrente (Fa) de 14,2 kN.

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Para a modelagem das aletas, é necessário considerar a maior componente horizontal dessa
força (𝑓ℎ ), alcançada no ângulo (𝜃) de 45°, o máximo permitido no ensaio. Logo, esse
componente é calculado pela equação 5.3, que retorna um valor aproximado de 10 kN.

𝑓ℎ = cos 𝜃 . 𝐹𝑎 (5.3)

Nas condições de contorno aplicadas ao modelo, foi estabelecido que os nós sobre a superfície
lateral do maciço de solo podiam transladar apenas ao longo do eixo vertical, sendo restringido
seu movimento no eixo horizontal. Na face inferior do maciço e na parte superior dos tubos
metálicos, foram aplicados engastes, restringindo os deslocamentos em todos os eixos no plano
cartesiano. A figura 5.9 demonstra as condições de contorno aplicadas ao modelo, ressalta-se
que U e UR representam o deslocamento e a rotação, respectivamente.

Figura 5.9: Condições de contorno aplicadas ao modelo (deformação


do maciço de solo aumentada em 2.000 vezes).

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Para o momento anterior ao início da aplicação da carga horizontal concentrada, adotou-se a


seguinte hipótese: o solo apresentava apenas tensões geradas pelo peso próprio do maciço, e os
tubos e a guia de ancoragem já estavam cravados previamente. Logo, não se considerou
nenhuma perturbação no campo de tensões devido à presença do equipamento.

A análise foi efetuada em duas etapas: na primeira, denominada geostática, foi gerado o
carregamento resultante do peso próprio dos elementos da modelagem, considerando-se uma
aceleração da gravidade de 9,81 m/s2, o que gerou um estado de tensões equilibrado com o
estado de tensão inicial, predefinido no programa, ocorrendo deformações praticamente nulas.
Na segunda etapa ocorreu a aplicação da força horizontal concentrada na guia, a carga foi
aplicada em um único momento, considerando um carregamento rápido e não drenado. Durante
essa etapa, independente do comprimento dos tubos cravados no solo, a profundidade do ponto
de aplicação de carga foi mantida sempre em 3 m.

Diversas configurações de aletas foram testadas no programa, variando-se as dimensões,


quantidade, espessura, assim como locais para fixação do ponto de aplicação de carga. A
configuração julgada a mais adequada, por gerar um menor deslocamento (figura 5.10), foi a
configuração com base maior (B) de 90 cm, base menor (b) de 70 cm, altura (h) de 20 cm e
ponto de aplicação de carga 10 cm acima do ponto central entre as aletas (figura 5.11).

Figura 5.10: Deslocamentos paralelos ao eixo de aplicação da força.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 5.11: Esquema da guia de ancoragem modelada.

Vale ressaltar, que durante os procedimentos, o valor de B foi limitado em 90 cm, por conta das
características físicas do tubo metálico utilizado, que apresenta peças de 1 m de comprimento,
com roscas de ligação em suas extremidades. Dessa forma, optou-se por deixar uma folga de 5
cm em cada ponta, para não ocorrer a danificação das roscas durante o processo de ligação do
tubo com as aletas, feita por meio de solda.

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6 EQUIPAMENTOS

Neste item, serão apresentados os componentes do sistema de ensaio, que incluem a guia de
ancoragem; o equipamento que irá embuti-la no solo; as correntes que serão ensaiadas; as
células de carga, projetadas e calibradas especialmente para o modelo reduzido; e o sistema que
será utilizada para aplicar carga.

6.1 GUIA DE ANCORAGEM

Como explanado no item 4.2, o embutimento no solo da corrente ensaiada será realizado com
o auxílio de tubos metálicos, sendo um deles denominado de guia de ancoragem, dotado de
modificações que visam possibilitar a realização do ensaio (figura 6.1). Essas modificações,
consistem na fixação de duas aletas laterais, diretamente no tubo, ortogonais a direção do
carregamento (figura 6.2-a), de modo a impedir grandes deslocamento e proporcionar reação
às forças aplicadas durante os ensaios; um furo oblongo, paralelo à direção de carregamento,
utilizado para passar o cabeamento da instrumentação das células de carga pelo interior das
hastes (figura 6.2-b); e o acoplamento de “meio elo” de corrente (figura 6.2-c), utilizado para
fazer a ligação entre a guia de ancoragem e a corrente.

Figura 6.1: Projeto da guia de ancoragem.


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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 6.2: Guia de ancoragem: (a) tubo metálico com as aletas; (b)
detalhe do furo oblongo; (c) detalhe do elo de ligação.

Ressalta-se, que os tubos metálicos utilizados no sistema de ensaio proposto, são os mesmos
utilizados no equipamento de CPTu (Cone Penetration Test), uma ferramenta de ensaio
internacionalmente reconhecida, utilizada para caracterizar perfis estratigráficos de solos, com
o objetivo principal de se obter as suas propriedades mecânicas ao longo da profundidade. Ela
é composta por quatro elementos principais: o penetrômetro com ponteira cônica; o sistema de
transmissão dos dados; tubos metálicos; e o equipamento de cravação. Para os ensaios, decidiu-
se utilizar apenas os dois últimos elementos citados, ou seja, o mesmo sistema de cravação do
CPTu, irá inserir e retirar do solo a guia de ancoragem e o conjunto de tubos metálicos.

O equipamento de cravação é constituído por uma estrutura de reação, onde está presente um
sistema aplicação de carga, geralmente hidráulico, acionado por bomba alimentada por um
motor à combustão ou elétrico. Além disso, ele possui uma válvula reguladora de vazão, que
permite o controle da velocidade de cravação durante o ensaio (SCHNAID, 2012).

Lunne et al (1997) ressaltam que a reação aos esforços de cravação é obtida pelo peso próprio
do equipamento e/ou pela fixação ao solo de hélices de ancoragem. A figura 6.3 apresenta um
exemplo de sistema de cravação.

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Figura 6.3: Sistema de cravação (SCHNAID, F.; ODEBRECHT, E.,


2012).

6.2 LINHAS DE ANCORAGEM

Como discutido no item 4.2.2, para a corrente representar a amarra do caso típico, ela deve ter
elos com diâmetro de 12 mm e peso linear de 2,88 kg/m, porém as correntes de aço 1050
galvanizadas a fogo, utilizadas nessa pesquisa, não são fabricadas com essas características
específicas. Logo, decidiu-se utilizar dois diâmetros diferentes, para que seja possível fazer uma
comparação entre os resultados, identificando-se a possível correlação entre a atenuação de
carga e o diâmetro da amarra. Dessa forma, as correntes utilizadas foram as de 11 mm e 13 mm
de diâmetro, com 2,5 kg/m e 3,12 kg/m, respectivamente (figura 6.4).

Figura 6.4: Geometria/diâmetro das correntes: (a) 13 mm; (b) 11 mm.


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6.3 CÉLULAS DE CARGA

A medição das cargas de tração aplicadas ao sistema de ensaio, serão realizadas através de duas
células de carga uniaxiais, projetadas por Rocha (2020). A primeira, denominada de célula de
carga inferior (CCI), será ligada entre a corrente e a guia de ancoragem, quantificando a
solicitação de carga gerada na profundidade de 3 m cravados no solo. A segunda, designada de
célula de carga superior (CCS), será instalada no trecho de corrente localizado na superfície do
terreno, é irá quantificar a carga aplicada à corrente. Além disso, as duas células de carga
contarão com um dispositivo para medir o ângulo formado entre elas e o eixo vertical.

Para o dimensionamento das células de carga foi considerado um fator de segurança igual a 2,
logo, utilizando a carga axial máxima aplicada ao sistema de ensaio igual a 7,1 kN (segundo o
item 4.2.3), a carga máxima admissível para o projeto das células de carga é 14,2 kN. Dessa
forma, ao se considerar uma célula de carga com a geometria básica demonstrada na figura 6.5,
estimou-se que a tensão máxima solicitante que atuará na peça é de aproximadamente 183 MPa,
valor aceitável para qualquer classe de aço inoxidável. Logo, as células de carga foram usinadas
em aço inox.

O modelo da célula de carga apresenta uma parte central de 4,5 mm de espessura, dimensionada
para que a tensão solicitante ocorra dentro de um determinado intervalo de magnitude, tornando
a célula sensível às cargas propostas para os ensaios.

Figura 6.5: Detalhamento da célula de carga (ROCHA, M. M., 2020).

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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No lado esquerdo da célula, foi entalhado um canal com profundidade de 6 mm, utilizado para
acomodar o cabo de 6 vias que alimenta a instrumentação, além de um furo de 4 mm ao lado
do canal, utilizado para conectar os fios elétricos aos componentes da instrumentação, presentes
nos dois lados da célula de carga.

Os entalhes circulares nas laterais da peça, foram calculados de acordo com o ábaco de
concentração de cargas de tração em barras de aço (figura 6.6), e foram incorporados à peça
para que a concentração máxima de tensões ocorra na região central da peça, onde foram
colados os extensômetros.

Figura 6.6: ábaco de concentração de cargas (ROCHA, M. M., 2020).

Após a instalação da instrumentação, foram adicionados itens de proteção na célula de carga


(figura 6.7), visando protege-la da umidade do solo, tendo em vista as características do campo
experimental, que apresenta o nível do lençol freático próximo a superfície do terreno. Logo,
para protegê-la fisicamente, uma chapa de alumínio foi adicionada sobre a instrumentação, e o
espaço entre os componentes eletrônicos e a chapa, assim como o canal com o cabo de 6 vias,
foi totalmente preenchido com resina epóxi.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura 6.7: Proteções adicionas às células de carga (ROCHA, M. M.,


2020).

Todas as ligações das células serão feitas através de manilhas de aço galvanizado (figura 6.8),
que apresentam resistência superior à força máxima determinada para os ensaios e geometria
adequada aos dois modelos de corrente descritos no item anterior.

Figura 6.8: Especificações técnicas da manilha utilizada.

6.3.1 Instrumentação das Células de Carga

O projeto desenvolvido por Rocha (2020), utiliza extensômetros do tipo duplo ortogonal,
colados em ambas as faces. Os extensômetros são apropriados para a utilização em aço inox, e
apresentam como características, resistência elétrica (Ω) de 350 ohms, fator de carregamento
(k) igual a 2,1 e módulo de Poisson (ν) igual a 0,3. Destaca-se, que por se tratar de um
extensômetro específico para aço inox e apresentar configuração de ponte de Wheatstone
completa, a variação da temperatura gera uma influência insignificante sobre as leituras. Cada
célula de carga também foi instrumentada com um acelerômetro biaxial de alta precisão,
modelo ADXL 203, fabricado pela Analog Devices, cujas características técnicas, fornecidas
pelo fabricante, encontram-se na tabela 6.1.
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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Tabela 6.1: Característica Técnicas do acelerômetro ADXL 203.

Características Técnicas Unidade Valor Observação

Tensão de alimentação V 5 -
Consumo μA 700 -
Temperatura de Funcionamento °C (-40 a +125) -
Faixa de Atuação m/s2 ±1,7 . g (g = 9,81)

Para frequências menores


Resolução mg 1 (0,06°)
que 60Hz

(Fonte: Adaptado de ANALOG DEVICES, 2004)

O acelerômetro é fabricado com a tecnologia denominada MEMS (Micro-Electromechanical


System), e tem as dimensões de 5 mm x 5 mm e menos de 2 mm de espessura, o que permitiu
sua fácil acomodação na célula de carga. Esse dispositivo, desempenha a função de
inclinômetro, utilizado na obtenção do ângulo formado entre a célula de carga e um eixo de
referência, através da leitura do valor médio da aceleração. A figura 6.9 apresenta a
instrumentação das células de carga.

Figura 6.9: Duas faces instrumentadas de cada célula de carga


(ROCHA, M. M.; 2020).

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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6.3.2 Calibração Das Células de Carga

Após a confecção das células de carga, foi realizada a calibração das mesmas, juntamente com
as manilhas de ligação. A calibração foi feita com o auxílio de uma prensa da marca Material
Testing Systems, modelo 810 (figura 6.10), disponibilizada pelo Grupo de Ensaios Mecânicos
(GEM), que integra o Laboratório de Metalurgia Física (LAMEF) pertencente à UFRGS. Com
o equipamento aplicou-se forças de tração à célula, com posterior descarregamento. Para se ter
uma margem de segurança além da carga máxima determinada para a realização dos ensaios
em campo (7,1 kN), optou-se por realizar a calibração até a carga máxima de 10 kN.

Figura 6.10: Prensa utilizada na calibração da célula de carga.

O procedimento foi dividido em dois ciclos de carga e descarga, cada um com duas etapas. A
primeira etapa de cada ciclo, foi executada com incrementos de carga de 1kN até se atingir 10
kN, e para cada incremento fez-se a leitura dos sinais elétricos correspondentes, diretamente no
sistema de aquisição de dados. Na segunda etapa, foi realizado o descarregamento da célula de
carga a cada 1 kN, até a força aplicada se igualar a zero, tomando-se nota das respectivas leituras
dos sinais elétricos gerados. Dessa forma, foi possível obter 42 pontos no gráfico de calibração
de cada célula de carga (figuras 6.11 e 6.12), estimando-se uma constante de calibração de
0,00226 para CCI e 0,00223 para a CCS.

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Gráfico da Calibração 01
10

6
Força (kN)

4
y = 0,00226x + 0,05563
2 R² = 0,99885

0
0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500 5.000
Tensão (volt)

Ciclo 1 (carga) Ciclo 1 (descarga)


Ciclo 2 (carga) Ciclo 2 (descarga)
Linear (Linha de Tendência)

Figura 6.11: Gráfico de calibração da CCI.

Gráfico da Calibração 02
10

6
Força (kN)

4
y = 0,00223x - 0,06359
2 R² = 0,99948

0
0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500 5.000
Tensão (volt)

Ciclo 1 (carga) Ciclo 1 (descarga)


Ciclo 2 (carga) Ciclo 2 (descarga)
Linear (Linha de Tendência)

Figura 6.12: Gráfico de calibração da CCS.

Em relação à obtenção do ângulo formado entre a célula e o eixo de referência, serão utilizadas
as informações técnicas e teóricas, presentes na ficha técnica do acelerômetro, fornecida pelo
fabricante. Na ficha, está especificado que ao se orientar o acelerômetro de modo que os eixos
X e Y fiquem paralelos à superfície da terra, ele se comportará como um sensor de inclinação,
composto por um eixo de rotação e um eixo de inclinação, nos quais serão geradas alterações
de ângulos, caso o acelerômetro sofra uma mudança de posição. Logo, com os sinais de saída
do acelerômetro, gerados pela mudança de posição no espaço, convertidos em acelerações (Ax

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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e Ay) que variam entre +1g e -1g, é possível calcular os ângulos de inclinação (ρ) e rotação (Φ)
das células de carga, em graus, aplicando-se as equações 6.1 e 6.2, demonstradas a seguir.

𝐴
ρ = 𝑎𝑟𝑐𝑠𝑒𝑛𝑜 . (1 𝑥𝑔) (6.1)

𝐴𝑦
Φ = 𝑎𝑟𝑐𝑠𝑒𝑛𝑜 . (1 𝑔) (6.2)

6.4 SISTEMA PARA AQUISIÇÃO DE DADOS

As células de carga foram conectadas a um sistema de condicionamento de sinais, baseado em


uma placa Arduino Due R3 com microprocessador tipo ARM 32 bits, 84 MHz (figura 6.13).
As funções do sistema são: alimentar os sensores; amplificar os sinais; converter os sinais
analógico/digital; e gravar de forma contínua os dados adquiridos durante a realização do
ensaio, diretamente no microcomputador ou em um cartão de memória do tipo micro-SD. Além
disso, ele é dotado de um display digital, que permite visualizar instantaneamente as amplitudes
dos sinais, facilitando o acompanhamento do ensaio em campo. Todo o circuito que integra o
sistema é alimentado por duas pilhas alcalinas de 2,4 V.

Os sinais oriundos das células de carga são condicionados e amplificados através de circuitos
INA 118, que gera um ganho de amplificação de 500 vezes, necessário para se fazer a
distribuição da força máxima aplicada ao sistema em 3V. Já a conversão analógico/digital é
feita por placas modelo ADS1115 de 16 bits, com taxa de aquisição efetiva da ordem de 100Hz.

Figura 6.13: Sistema de aquisição de dados.


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6.5 SISTEMA DE APLICAÇÃO DE CARGA

Para aplicar força à amarra ensaiada, será utilizada uma talha manual com capacidade de carga
de 2 toneladas e três metros de corrente (figura 6.14), que deverá ser acoplada a um tripé de
sondagem SPT (figura 6.15), utilizado para apoiar e manter a estabilidade da talha durante o
procedimento de ensaio. A ligação entre o gancho da corrente fixada na talha e a corrente
ensaiada foi feita através de dois mosquetões ovais de aço (figura 6.16).

Figura 6.14: Talha manual Figura 6.15: Tripé de sondagem


utilizada para aplicar carga. SPT.

Figura 6.16: Especificações técnicas do mosquetão utilizado.

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7 ROTEIRO DE ENSAIO

Neste capítulo, serão descritos os procedimentos necessários para a realização do ensaio em


campo, mostrando-se de maneira detalhada as configurações espaciais que devem ser atendidas.
Vale destacar, que só foi possível desenvolver o roteiro, por conta da caracterização prévia do
campo experimental escolhido para a realização da futura campanha de ensaios.

7.1 ETAPA PRELIMINAR

Primeiramente, será feita a limpeza da superfície do terreno, para a retirada de detritos, em


seguida deve-se realizar uma escavação com largura mínima de 50 cm e 1 m de profundidade,
para que a guia de ancoragem seja inserida nessa cavidade, permitindo sua ligação aos demais
tubos metálicos, instalados previamente no equipamento de cravação, pois a largura das aletas
impossibilita a ligação da guia diretamente ao sistema de cravação. Logo, a guia de ancoragem
será cravada a 4 m de profundidade em relação a cota do terreno, mantendo-se o embutimento
do ponto de aplicação de carga em 3 m, respeitando-se as dimensões calculadas para o ensaio.

Com as intervenções descritas acima, faz-se necessário abrir uma trincheira horizontal no solo,
paralelo ao sentido de aplicação da carga, até o deslocamento horizontal máximo alcançado
pela corrente durante o ensaio, para que possa ser respeitada a altura da camada de solo acima
do “meio” elo de corrente, tendo em vista que essa é a altura da camada que resistirá ao
movimento de corte da corrente. A figura 7.1 demonstra a escavação que deverá ser realizada
em campo.

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Figura 7.1: Escavação necessária para a realização do ensaio.

7.2 MONTAGEM DO SISTEMA DE ENSAIO

Antes da guia de ancoragem ser posicionada na cavidade escavada no solo, deve-se ligar à ela
a CCI, cujo o cabeamento utilizado para alimentar e transmitir os dados gerados por ela, será
inserido nos tubos metálicos e na guia de ancoragem, através do furo central presente neles. Na
outra extremidade da CCI deverá ser ligada a corrente que simula a amarra do caso típico.
Depois da CCI instalada e verificada, a guia será posicionada na escavação, e então será
acoplada aos tubos metálicos posicionados no sistema de cravação, através das roscas de ligação
presentes nas duas peças.

Já a CCS deverá ser acoplada à porção da corrente que ficará fora do solo, ligada às
extremidades de um segmento de corrente, localizado exatamente a 5,6 m após a CCI,
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assumindo o lugar desse segmento durante o ensaio. Em seguida, os cabos das duas células
deverão ser ligados ao sistema de aquisição de dados. Todas as ligações das células de carga
serão feitas através das manilhas demonstradas na figura 6.8.

Para aplicar carga à corrente, será utilizada uma talha manual acoplada a um tripé de sondagem
SPT. Para tanto, foi feita uma análise para determinar a configuração ideal em que a talha e o
tripé de sondagem deverão ser instalados, para que se garanta a estabilidade do sistema e a
reação necessária à força aplicada através da talha, que deverá permanecer estática durante todo
o ensaio.

Através da análise, concluiu-se que as barras de sustentação do tripé deverão ser afastadas de
modo que as duas mais próximas ao equipamento de cravação, formem um ângulo de
aproximadamente 25,8° em relação ao eixo horizontal, mantendo-se a talha a 2m de altura, em
relação à cota do terreno. Destaca-se ainda, que foi considerada a utilização de pranchões para
calçar a base de cada barra, visando evitar o afundamento das mesmas, durante a aplicação de
carga.

Após o processo de montagem, a guia de ancoragem será cravada no solo argiloso até o “meio
elo” de corrente atingir a profundidade de 4 m, em relação à cota do terreno, garantindo-se os
3 m de embutimento da corrente. Durante toda a cravação a corrente deverá ser mantida na
posição vertical, formando o ângulo de 0° em relação a esse eixo. A ligação entre a corrente e
o gancho da talha manual será feita através de dois mosquetões, especificados na figura 6.16.
A figura 7.2 demonstra o esquema de ensaio, e seus detalhes, antes de sua execução.

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Figura 7.2: Disposição espacial dos equipamentos antes do ensaio.


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7.3 EXECUÇÃO DO ENSAIO

O ensaio deverá ser executado em duas etapas, na primeira, a talha deverá ser operada
manualmente de modo progressivo, aplicando-se carga de tração à corrente, ocorrendo assim,
a alteração da angulação da corrente embutida no solo em relação ao eixo vertical, até atingir o
ângulo de 45°, máximo permitido no ensaio (figura 7.4). Na segunda etapa, a carga deve ser
aliviada de forma progressiva, até se atingir 0 kN.

Durante o procedimento da aplicação de carga, os sinais gerados nos extensômetros e


inclinômetros, mostrados simultaneamente no display do sistema de aquisição, serão gravados
no computador ou cartão de memória.

Ao término do ensaio, a corrente será sacada do solo, de maneira cuidadosa, com o auxílio de
um tirfor de alavanca manual com capacidade de 2 toneladas (figura 7.3). Destaca-se, que para
ensaiar cada modelo de corrente o roteiro de ensaio deverá ser reiniciado em um novo
perímetro, respeitando-se uma distância mínima, para que não ocorra interferência do solo
amolgado anteriormente.

Figura 7.3: Tirfor Com alavanca manual (2 toneladas).

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Figura 7.4: Disposição espacial dos equipamentos ao término da primeira etapa do ensaio.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo, são apresentadas conclusões e observações, baseadas nos objetivos que
delimitam esse trabalho, além de sugestões para trabalhos futuros, pertinentes ao tema abordado
na dissertação.

8.1 CONCLUSÕES

Através da análise de escala desenvolvida para o caso típico, foi possível determinar um método
de ensaio utilizado como base para se projetar e confeccionar peças exclusivas que compõem o
sistema, como a guia de ancoragem e as células de carga. Ressalta-se, que o método de ensaio
foi concebido visando-se utilizar a maior quantidade possível de equipamentos disponíveis no
mercado de engenharia, como a talha manual e o tripé de sondagem SPT, dispensando-se um
treinamento especial para a sua operação.

Com o estudo de escala e a caracterização do campo experimental, realizados nesse trabalho,


procedeu-se uma análise numérica, determinando-se as dimensões e a configuração adequadas
para a guia de ancoragem, de modo que ela proporcione reação a carga aplicada à corrente,
apresentando um deslocamento desprezível. Os resultados obtidos, demonstraram que o ponto
de ligação entre a corrente e o tubo metálico terá um deslocamento máximo de 8,53 mm,
considerado aceitável para o bom funcionamento do ensaio, tendo em vista que ele apresenta
um deslocamento menor que um centímetro. Dessa forma, foi possível confeccionar uma guia
de ancoragem, cujo o deslocamento não irá interferir nas medições realizadas durante os
ensaios.

Posteriormente, realizou-se a validação do funcionamento adequado da instrumentação


utilizada no equipamento, que consiste em duas células de carga, equipadas com inclinômetros,
e um sistema de aquisição de dados. Através da calibração do sistema, observou-se que as
células de carga apresentam um funcionamento dentro do intervalo de carga que será utilizado
no ensaio de campo e além disso, demonstraram um excelente padrão em sua fabricação,
observado nos seus valores das constantes de calibração que são praticamente iguais, CCI -
0,00226 e CCS - 0,00223. O sistema de aquisição, testado junto com as células de carga,
também funcionou da maneira esperada, sendo possível, através dele, extrair e gravar os dados

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provenientes da instrumentação das células de carga. Logo, a instrumentação mostrou-se


compatível e adequada ao sistema de ensaio projetado nesse trabalho.

Após a definição e validação de todos os componentes do sistema de ensaio, foi possível


elaborar um roteiro detalhado da execução do ensaio em campo, que inclui as etapas de
preparação do terreno e a montagem dos equipamentos, abordando o posicionamento ideal de
cada peça. Ao se executar todo o procedimento de ensaio, será possível obter a atenuação de
carga que ocorre no trecho de corrente embutida no solo, a partir da diferença das forças
medidas na CCS e CCI, assim como a correlação dessa atenuação com o diâmetro da amarra,
tendo em vista que serão utilizados dois diâmetros de correntes diferentes. Além disso, o
tratamento das leituras geradas pelos inclinômetros, permitirão a reconstituição progressiva da
geometria espacial da catenária, formada no interior do solo argiloso, durante a aplicação de
carga.

Tendo em vista que essa dissertação consiste na etapa inicial do projeto: atenuação de cargas
pela interação solo-estrutura em linhas de ancoragem, julgou-se que foi alcançado o objetivo
proposto inicialmente, que consiste na elaboração de um sistema de ensaio que permita medir
a atenuação de cargas aplicadas em linhas de ancoragem, que ocorre no trecho embutido no
solo.

8.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

a) Executar ensaios no campo experimental proposto, definindo-se os parâmetros


que regem o comportamento da atenuação de carga, devido a interação solo-
amarra, determinando-se o grau de influência dos diferentes diâmetros da
corrente.

b) Realizar ensaios variando-se a profundidade de cravação, visando analisar a


influência do comprimento de amarra embutido.

c) Desenvolver um aparato que possibilite o total controle dos Ângulos formados


entre a corrente e o eixo vertical durante a aplicação de carga, procedendo-se
ciclos de carga e descarga em Ângulos pré-estabelecidos.

d) Modificar o sistema de ensaio proposto, de modo a possibilitar a aplicação de


cargas dinâmicas à corrente ensaiada, visando determinar a atenuação de cargas
dinâmicas.
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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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ANEXO A – Resultado da campanha de ensaios in situ para caracterização


do campo experimental de Tubarão - SC

Figura A.1: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 01


(furo 01), nível de água = -0,5 m.

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Figura A.2: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 02


(furo 01), nível de água = -1,0 m.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura A.3: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 02


(furo 02), nível de água (n.a.) = -1,0 m.

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Modelo Reduzido de Linha de Ancoragem Offshore: Construção de um Sistema de Ensaio para Avaliar Atenuação de Cargas Estáticas
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Figura A.4: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 03


(furo 01), nível de água (n.a.) = -0,55 m.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura A.5: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 03


(furo 02), nível de água (n.a.) = -0,60 m.

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Figura A.6: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 04


(furo 01), nível de água (n.a.) = -0,50 m.

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Helder Mansur Chaves ([email protected]) Dissertação de Mestrado. PPGEC/UFRGS. 2020.
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Figura A.7: Resultado dos ensaios de CPTu e palheta da sondagem 04


(furo 02), nível de água (n.a.) = -0,50 m.

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