11 - o Insucesso de Ambrósio - Tormentos Da Obsessão
11 - o Insucesso de Ambrósio - Tormentos Da Obsessão
11 - o Insucesso de Ambrósio - Tormentos Da Obsessão
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4 interrogações, que tive oportunidade de apresentar ao gentil diretor no dia
5 imediato.
6 Impressionara-me profundamente com o facies do irmão Ambrósio, tendo em
7 vista os sinais das sevícias que lhe haviam sido aplicadas e que se
8 apresentavam na forma, dando-lhe um aspecto dantesco. Os traços humanos
9 haviam sofrido graves alterações e todo ele se apresentava esquálido,
10 destroçado, inspirando compaixão e produzindo choque emocional em quem
11 o fitasse.
12 Adormecido, ao ser transportado ressonava de maneira particular, em um
13 repouso assinalado pelo terror, natural reminiscência dos sofrimentos e
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1 pavores que experimentara durante o largo cativeiro naquela região de
2 furnas macabras.
3 Concomitantemente, exteriorizava odores pútridos que remanesciam da
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4 decomposição cadavérica, ainda impregnada no perispírito, que igualmente se
5 exteriorizava sob deformações responsáveis pela maneira como se encontrava
6 em espírito.
7 Andrajoso, quase despido, a cabeleira desgrenhada, como se houvesse
8 crescido desordenadamente, misturava-se à barba hirsuta, de aspecto imundo,
9 a envolver a cabeça, o rosto e parte do tórax.
10 Os seus gemidos eram gritos de indefinível dor, que antes provocavam
11 nos algozes que o martirizavam chalaça e mais azedume, e agora, um grande
12 respeito e compaixão em nós.
13 Naqueles dédalos de onde provinha, não luziam a misericórdia nem a
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1 esperança, e alguém menos habituado ao trabalho nas zonas espirituais
2 inferiores suporia tratar-se do inferno mitológico das religiões, ultrapassando,
3 porém, as figurações horrendas das imaginações terrestres...
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4 Quando o Dr. Ignácio nos convidou a visitá-lo, agora internado em nosso
5 Pavilhão, não sopitamos o interesse de aprender mais e, rogando-lhe licença,
6 apresentamos-lhe algumas das inquietações que me ardiam na mente.
7 Com a afabilidade que lhe é natural, o distinto esculápio não se fez
8 rogado, permitindo-nos fôssem-lhe propostas as questões.
9 — Por que a Caravana — iniciei — era presidida pela nobre benfeitora de
10 Portugal?
11 Sem qualquer enfado ou indisposição, respondeu-me: — Desde quando
12 desencarnara, deixando luminosas lições de caridade, que a celebrizaram na
13 Terra, e podendo desfrutar de justas alegrias em regiões ditosas, a fim de
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1 prosseguir no seu desenvolvimento espiritual, a extraordinária Senhora
2 optara por continuar amparando o povo que o matrimônio lhe havia
3 concedido para ser também sua família espiritual. Por consequência,
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4 dedicou-se
5 a socorrer igualmente os desencarnados retidos em lúgubres paisagens de
6 recuperação dolorosa, trabalhando para retirá-los dali, oferecendo-lhes as
7 oportunidades sacrossantas do amor e do perdão. Face às faculdades
8 mediúnicas incontestáveis que lhe exornaram a existência física,
9 especialmente a de ectoplasmia, que lhe permitira a realização de vários
10 fenômenos grandiosos e que foram tomados por milagres pela ignorância
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12 Original: p. 68
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1 vigente na época, poderia movimentar essas forças agora intrapsíquicas,
2 direcionando-as em favor dos Espíritos mais infelizes, aprisionados ao
3 remorso, à consciência culpada, que se tornaram vítimas fáceis de si
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4 mesmos e dos seus adversários inclementes quão odientos.
5 Fez uma breve pausa, e logo adiu:
6 — Com um vasto patrimônio de realizações espirituais, fez-se muito amada, e
7 quando se propôs a esse especial ministério de socorro, muitos valorosos
8 Espíritos se apresentaram para assessorá-la, contribuindo para a diminuição
9 dos angustiosos sofrimentos daqueles que estagiam nas esferas
10 desditosas e de difícil acesso. Não que a misericórdia divina deixe de possuir
11 recursos extraordinários de atendimento aos párias morais, que se
12 permitiram homiziar com outros semelhantes em conúbios nefastos. Graças,
13 porém, à sua elevação moral, granjeada no sacrifício e na abnegação, e à
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1 especialização que se permitiu através dos tempos nesse gênero de
2 atendimento, a sua irradiação vibratória produz um vigoroso campo de
3 defesa, que os petardos mentais e as agressões dos verdugos desencarnados
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4 da Humanidade não conseguem cindir.
5 “Silêncio, oração mental e amor são os equipamentos exigíveis para que se
6 possa tomar parte na sua Caravana, ao lado de muito bem elaborada
7 disciplina interior, feita de confiança em Deus e respeito às Suas Leis, a fim
8 de que a perturbação e o receio não abram brechas tornando vulnerável o
9 conjunto.
10 “Para evitar reações desnecessárias dos habitantes e controladores desses
11 lôbregos sítios, ela diminui a potência da energia que pode exteriorizar,
12 irradiando apenas a claridade suficiente para iluminar a área visitada,
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1 mantendo os objetivos traçados, sem deixar-se atrair por simulações e
2 armadilhas dos hábeis artesãos do mal e da crueldade. Com certeza existem
3 numerosas Caravanas equivalentes, no entanto, compromissos espirituais
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4 existentes entre ela e o nobre Eurípedes atraem-na periodicamente à nossa
5 Comunidade hospitalar, a fim de oferecer a sua valiosa e sábia ajuda.”
6 — E por que a fila indiana, para conduzir-se no paul tormentoso?
7 — inquiri, interessado.
8 - Por precaução — redarguiu, calmamente. — O campo de energia por ela
9 aberto, ao marchar à frente do grupo, cria defesas em favor daqueles que
10 seguem na retaguarda. Ademais, o terreno pantanoso encontra-se
11 empesteado de vibriões mentais e de detritos psíquicos que poderiam reter
12 os caminhantes descuidados, quais armadilhas distendidas por todos os lados
13 para impedir a fuga dos prisioneiros espirituais.
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1 “Da mesma forma que na Terra a astúcia perversa se utiliza de engrenagens
2 sórdidas para reter e malsinar suas vítimas, considerando-se ser o nosso o
3 mundo causal, convém não esqueçamos que aqui a mente dispõe para o bem
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4 como para o mal, de muitos arsenais de força, de que se utiliza conforme o
5 estágio de evolução em que se encontra.”
6 Porque o clima da conversação fosse agradável, prossegui, indagando:
7 — O nosso irmão Ambrósio constitui-se merecedor de um socorro especial,
8 tendo-se em vista haver sido ele o motivo central da incursão vitoriosa?
9 Desenhando um suave sorriso na face, em razão da pergunta algo ingênua, o
10 amigo educado retrucou:
11 — Não há privilégios nas Leis divinas, caro Miranda, conforme sabemos.
12 Nem pessoas ou Espíritos existem que sejam especiais... O nosso irmão
13 Original p. 69
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1 Ambrósio, que hoje se encontra conosco, partiu da Espiritualidade na direção
2 do planeta terrestre cantando hosanas de esperanças e retorna destroçado,
3 aprisionado no calabouço que abriu para si mesmo através da invigilância,
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4 em razão de haver falido nos propósitos que se comprometeu tornar
5 realidade.
6 “Há quase setenta anos mergulhou no corpo físico sob a carinhosa assistência
7 de Benfeitores que o inspiraram e se prontificaram a ajudá-lo por mais de
8 meio século em atividades espirituais significativas. Enriquecido com
9 mediunidade ostensiva, preparou-se para cooperar com a divulgação da
10 Doutrina Espírita, devendo entregar-se ao ministério com abnegação e
11 humildade. Em razão dos seus esforços direcionados para o Bem não seriam
12 regateados valores que o auxiliassem na desincumbência da tarefa.
13 “Recuperado de graves delitos cometidos no campo do sacerdócio católico, no
14 passado, no qual se comprometera terrivelmente, o exercício da
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1 mediunidade iluminada pela Codificação Espírita ser-lhe-ia a estrada de
2 Damasco para o verdadeiro encontro com Jesus. Embora a terapia valiosa de
3 que fora objeto, não conseguiu superar inteiramente o homem velho e os
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4 vícios
5 derivados do egoísmo e da presunção, voltando a enrodilhar-se em cipoais
6 mais vigorosos, agora sem escusas, em razão do conhecimento que possuía
7 sobre a vida espiritual...”
8 Fazendo uma reflexão mais cuidadosa, concluiu:
9 O corpo é ainda uma armadura muito pesada para o Espírito que sente o
10 bloqueio dos compromissos e desvaira nos arrazoados da insensatez, mesmo
11 quando advertido e orientado com segurança.
12 “Nosso amigo e irmão Ambrósio renasceu em cálido ninho doméstico, onde o
13 amor vicejava, a fim de dispor de forças para enfrentar e superar as
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1 agressões dos adversários desencarnados, que o vigiavam desde a infância.
2 Como não esquecemos, nesse período, os médiuns ostensivos experimentam
3 grandes aflições propiciadas pelos seus inimigos de ontem que tentam
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4 perturbar lhes a marcha, impedindo por antecipação a realização dos
5 programas para os quais renasceram.
6 “Por isso mesmo, o carinho dos pais, as orientações espirituais,
7 particularmente as espíritas, constituem o valioso recurso para criar
8 resistências morais nos futuros trabalhadores da Causa do Bem, que se
9 poderão dedicar sem receio aos compromissos iluminativos. Foi o que
10 aconteceu com o nosso candidato à reabilitação. Se foi acicatado e
11 perseguido por diversos companheiros inamistosos que o afligiam, não lhe
12 faltaram o devotamento dos pais, especialmente da mãezinha que também
13 era portadora de percepção mediúnica, ajudando-o no exercício da oração e
14 dos bons costumes, a fim de que se imunizasse contra as heranças infelizes
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1 que se lhe encontravam vivas no íntimo, mas também como tesouro de
2 sustentação para as lutas do futuro.”
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3 Caminhávamos lentamente pelo corredor, na direção da enfermaria em que se
4 encontrava o recém-chegado. Segurando-me o braço, afetuosamente, e
5 mudando de tom de voz, o nobre médico aduziu:
6 — A mediunidade é compromisso de alta significação que ainda não
7 encontrou a necessária compreensão entre as criaturas encarnadas no mundo
8 físico. Por um atavismo perverso que teima em permanecer dominante, é
9 quase sempre tida como favor divino para eleitos, força sobrenatural,
10 mecanismo prodigioso e equivalentes, que tornam o medianeiro um ser
11 especial, quando não combatido tenazmente, tornando-se lhe uma armadilha
12 Original: p. 70
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1 cruel que o leva à presunção e ao despautério. Mesmo que procure viver com
2 simplicidade e demonstre que é somente instrumento do mundo espiritual,
3 que a ocorrência do fenômeno independe da sua vontade, as criaturas
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4 viciadas nas superstições e interessadas nas questões imediatistas o
5 envolvem em bajulação, em excesso de cortesias, em destaques
6 embaraçosos que quase sempre terminam por perturbar-lhe a marcha... As
7 heranças do pensamento mágico, com que acompanham as manifestações
8 mediúnicas, fazem que se transfiram para a criatura os méritos que
9 pertencem à Vida, empurrando-a para tropeços e compromissos negativos,
10 sem forças para resistir aos assédios de todo porte que a circunscrevem em
11 área muito apertada e conflitiva.
12 “Por outro lado, vigem a intolerância sistemática e a perseguição gratuita à
13 faculdade mediúnica, por uns considerada como de natureza demoníaca, por
14 outros como transtorno patológico ou sagacidade de malabaristas
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1 interessados em enganar ou fruir resultados monetários para o próprio bem.
2 Embora injustas, apoiam-se em algumas ocorrências infelizes que assinalam
3 personalidades frágeis ou enfermiças, cuja conduta sempre oferece margem
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4 para essas inditosas afirmações, totalmente destituídas de significado ou de
5 lógica.
6 “O nosso Ambrósio conseguiu atravessar a infância relativamente bem,
7 suportando o cerco da hostilidade dos inimigos da Verdade, amparado pelos
8 genitores vigilantes. Durante a adolescência, quando os fenômenos se
9 fizeram mais ostensivos, foi levado a uma célula do Espiritismo cristão,
10 recebendo apoio e orientação segura para a desincumbência dos
11 compromissos que ficaram firmados na retaguarda. A adolescência, com os
12 seus tumultos orgânicos, produziu-lhe alguns distúrbios que foram
13 superados com boa orientação, e quando chegou a idade da razão,
14 dedicando-se ao trabalho mediúnico atraiu a atenção das pessoas
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1 desacostumadas com as autênticas manifestações espíritas, que começaram a
2 cercá-lo de privilégios, exaltando-lhe a personalidade e impregnando-o com
3 as infelizes influências, qual se tratasse de um semideus com missão
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4 especial na Terra.
5 “Terminados os estudos e passando a exercer a função que elegera como
6 recurso para uma vida honrada, graças à exteriorização do ectoplasma
7 produzia manifestações seguras, que fascinavam os companheiros honestos
8 e deslumbravam os incautos. As mensagens que retratavam os seus autores
9 com riqueza de detalhes tornaram-se motivo de interesse e de atração para
10 os corações saudosos, que se reconfortavam, e o campo de serviço ampliou-
11 se lhe, fascinante e rico de oportunidades. Logo se criou uma pequena corte
12 de assessores ociosos e de pessoas desinteressadas do Espiritismo, mas
13 desejosas de projeção e de oportunismo, atraindo-o, lentamente, para o
14 abismo no qual se precipitou.”
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1 Demonstrando compaixão e entendimento na face e na voz, o dedicado amigo
2 prosseguiu:
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3 - Embora inspirado e bem direcionado pelos seus Mentores espirituais,
4 começou a negligenciar as advertências, supondo-se infalível e possuidor de
5 recursos que não lhe pertenciam, tornando-se verdadeiro infante adulado, e
6 exibindo os distúrbios do passado que começaram a ressumar do
7 inconsciente profundo. Logo se fez exótico, tomando atitudes estranhas e
8 sintonizando com Entidades vulgares que lhe exploravam a vaidade
9 exacerbada, empurrando-o para o anedotário chulo nas palestras doutrinárias
10 que se permitia proferir, perdendo o equilíbrio total e a compostura a pouco
11 e pouco. Os conflitos sexuais, que estavam sob controle, também
12 começaram a assomar nesse >> p. 71
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1 comenos, e tornou-se propagandista do exercício livre das paixões da libido,
2 em tons de modernidade, como se liberdade e licenças morais fossem a
3 mesma coisa.
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4 “Inspirado e açulado por Entidades vulgares dos comportamentos do sexo
5 ultrajado, vampirizadoras das energias humanas, foi empurrado para atitudes
6 públicas e particulares reprocháveis, gerando vexame nas pessoas
7 sinceramente vinculadas à Doutrina Espírita e embaraçando aquelas outras
8 menos informadas face às propostas expendidas, todas estranhas aos
9 cânones espiritistas.
10 “Não demorou muito e começou a sentir a mudança radical que passou a
11 operar-se em torno da faculdade mediúnica. Os Espíritos nobres, rechaçados
12 pela sua vacuidade e presunção, foram afastados por ele mesmo, e outros, de
13 elevação suspeita, pseudossábios e perversos, começaram a influenciá-lo,
14 especialmente uma legião de artistas plásticos do fim do século passado e
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1 começo deste, que mantinham as paixões que os consumiram, nele
2 encontrando campo psíquico para o prosseguimento das alucinações a que se
3 entregaram. Os efeitos físicos foram cessando, e sob a tutela das insinuações
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4 perturbadoras, começou a preencher por conta própria os espaços
5 mediúnicos com astúcia e manobras espúrias, sem entender a lição
6 silenciosa que lhe era ministrada pelos Guias espirituais, chamando-lhe a
7 atenção, aos retos deveres, à honestidade, ao afastamento das companhias
8 malsãs de ambos os planos da vida.
9 “A perda e a suspensão da mediunidade são efeitos naturais das Leis
10 soberanas, que fazem parte do ministério a que se entregam todos aqueles
11 que pretendem servir ao Bem, em razão da não propriedade desses
12 recursos, mas apenas da possibilidade de sua utilização para fins
13 edificantes e libertadores. São uma verdadeira providência superior
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1 para advertir os incautos e trazê-los de volta ao caminho do dever, o que
2 nem sempre, porém, sucede.
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3 “Fascinado pela chamada vida social, recalque natural de dificuldades vividas
4 na infância, passou a desfilar como ser excepcional, que provocava
5 exclamação e inveja nos círculos frívolos dos meios em que comparecia
6 festivamente. Distanciando-se dos enfermos e sofredores, fez-se rude no
7 trato com as demais pessoas, subestimando-as, soberbo nas expressões
8 comportamentais, verdadeiro astro da mediunidade de ocasião, e em tudo
9 quanto realizava em nome da Caridade, disfarçava embutidos os sentimentos
10 de autopromoção e exibicionismo, longe, portanto, do amor ao Bem e do
11 culto irrestrito do dever.
12 “Desnecessário dizer que passou da obsessão simples para a fascinação,
13 quando não lhe faltaram corresponsáveis, e, por fim, tombou, aturdido, na
14 subjugação, que o fez mais agressivo, quando não totalmente vulgar.”
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1 Estávamos chegando à pequena e especial enfermaria na qual se alojava o
2 enfermo, quando o dedicado diretor concluiu:
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3 — Nesse estado de alienação espiritual e moral, tornou-se a estrela das festas
4 da futilidade, aplaudido pelos incautos, seus semelhantes, e mentalmente foi
5 acometido pelos acicates dos inimigos desencarnados que o exploravam e o
6 induziam à perda do contato com os Benfeitores da Vida Maior. Numa noite
7 de horror, após a exibição em uma das promoções que realizava com
8 frequência para lisonjear o próprio ego, foi acometido de uma isquemia
9 cerebral inesperada, e não obstante atendido com urgência, padeceu um
10 bom par de meses em tratamento hospitalar, sucumbindo sob o assédio dos
11 > p.72
12 inimigos que o arrastaram para a repugnante região de onde foi agora retirado.
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1 “A mediunidade é ponte de serviço, pela qual chegaram à Terra as
2 informações do mundo espiritual, ensejando a Allan Kardec a construção da
3 incomparável Obra que legou à humanidade como patrimônio indestrutível
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4 para os tempos do futuro. No entanto não é imprescindível para a
5 preservação da Doutrina, que a dispensa, sendo o seu exercício, sem a
6 prudência e orientação do Espiritismo, sempre um risco de imprevisíveis
7 consequências para o seu Original: p. 71
8 usuário, assim como para todos aqueles que compartilham das experiências
9 sem controle.”
10 Silenciando, convidou-nos a entrar.
11 Deparei-me com uma cena inesperada. O enfermo encontrava-se sob forte
12 indução hipnótica ainda em sono provocado. O aspecto horrendo
13 permanecia como na véspera. Assistido por enfermeiros dedicados, gritava
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1 com regular frequência, como se continuasse sob açoites e lapidações que
2 experimentara.
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3 Os odores fétidos, embora diminuídos, em razão do ambiente assepsiado,
4 continuavam, causando algum mal-estar.
5 - Nosso amigo encontra-se em sono profundo que lhe foi aplicado —
6 esclareceu Dr. Ignácio — porque, ao despertar, face ao longo período em
7 que esteve prisioneiro, poderia sair correndo em desespero, pensando fugir
8 da rocha a que se encontrava atado. O nosso labor inicial é fluidoterapêutíco,
9 a fim de desvesti-lo das couraças vibratórias em que se encontra envolvido,
10 até podermos chegar mais tarde ao seu psiquismo anestesiado pelas energias
11 dos algozes que o entorpeceram desde os dias quando transitava no corpo
12 físico.
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1 “Oremos com unção, a fim de que nossa mente possa envolvê-lo em vibrações
2 de harmonia, dissipando as camadas de energia deletéria que o subjugam,
3 mantendo as imagens cruéis que o dilaceram mentalmente.”
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4 Sem mais detalhes, o amigo silenciou e mergulhou em profunda oração, sendo
5 acompanhado por mim e pelos demais auxiliares presentes. Lentamente uma
6 suave claridade em tons alaranjados desceu sobre o enfermo e um suave
7 Original: p. 72
8 perfume invadiu o ambiente contrastando com as emanações enfermiças que
9 foram ultrapassadas. Após alguns minutos de oração silenciosa, que se
10 transformaram em bálsamo para o internado, fomos convidados a sair,
11 deixando-o entregue a enfermagem competente.
12 No lado externo, Dr. Ignácio informou-nos que, à noite, seria realizada uma
13 reunião especial de tratamento, contando com a presença da Senhora Maria
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1 Modesto Cravo e do venerando Eurípedes Barsanulfo, para a qual me
2 convidava.
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3 Acompanhamo-lo até a porta do gabinete onde nos despedimos, ali
4 encontrando Alberto, que se dispôs a continuar conosco. > Original: p. 73.