Direito Comercial I
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- Apontamentos –
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PARTE I – INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I - PARA UMA IDENTIFICAÇÃO PRELIMINAR DO DIREITO
COMERCIAL
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3. Evolução histórica.
3.1. Génese e Direito Romano.
O aparecimento do comércio terá, provavelmente, decorrido da própria
hominização. Enquanto atividade autónoma e organizada desde a Antiguidade mais
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recuada, acompanhando o uso da escrita em cuja origem terá, por certo, tido papel
decisivo.
Logo que surgiu, o Comércio teve regras: nenhuma atividade humana que
implique relacionamentos estáveis pode viver sem elas. Encontramos normas comerciais
na Mesopotâmia, no antigo Egipto, na Fenícia e na Palestina e na Grécia.
Particularmente na Grécia, haveria mesmo um corpo separado de regras
comerciais: um tanto à semelhança do moderno Direito Comercial e ao contrário do que
sucedia em Roma. Tais regras visavam o tráfego marítimo e terrestre e dispunham de
tribunais especializados para a sua aplicação.
A existência de um Direito comercial em Roma dá azo a alguma controvérsia.
Roma teve, na origem, relações comerciais complexas que se estabeleceram entre a
Etrúria e a Magna Grécia. A existência, desde o início, de regras legitimadores foi
inevitável. E esse facto mais se terá intensificado com a expansão romana. Sabemos que,
sob o Império, foi estabelecida uma rede de estradas, entre todas as províncias, que apenas
seria alcançada, de novo, no século XIX. O tráfego marítimo no Mediterrâneo era intenso,
trazendo a Roma todo o tipo de produtos. Nada disto é pensável sem códigos de conduta
desenvolvidos e sem instâncias capazes de dirimir convenientemente os inevitáveis
litígios. Surpreendentemente, tais códigos de conduta comercial não se documentam.
Existe, na comercialística, uma tradição radicada, segundo a qual o Direito
Comercial teria sido estranho ao Direito Romano: apenas viria à luz nos burgos
medievais.
O professor MENEZES CORDEIRO entende que esta tese não é de perfilhar. Para
além dos institutos especializados claramente comerciais, deve-se ter em boa conta que o
Direito Romano, mormente após a criação dos bonae fidei iudiciae, nos finais do século
II a.C., justamente em obediência às necessidades do Comércio, dotou-se de contratos
consensuais, flexíveis, equilibrados e acessíveis a civese a peregrini, isto é: a cidadãos
romanos e estrangeiros. A essa luz, podemos afirmar que todo o Direito Romano,
designadamente no campo faz obrigações e dos contratos, era Direito Comercial.
Formou-se uma oposição ao velho ius civile, consubstanciado nas legis actiones e
inadaptável ao comércio, pela sua rigidez e pelo seu formalismo.
Suscita dúvidas a afirmação, patente em diversos autores, de que o espirito do
Direito Romano, de base igualitária, não se coadunaria com corpos de regras
diferenciadas, para certas categorias de cidadãos. Numa sociedade esclavagista, tal
afirmação parece pouco rigorosa.
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dicionário foi também preparado por FERREIRA BORGES, todavia, apenas foi
publicado depois da publicação do Código.
O Código Comercial de 1833 foi censurado por conter múltiplas regras civis e por
se preocupar com definições de compêndio. Há resposta: faltava um Código Civil e uma
ciência jurídico-mercantil; deste modo quedava, ao legislador, suprir ambas as falhas.
O Código Comercial de 1833 teve, ainda, um importante papel no futuro do
Direito Comercial português: habituou, desde cedo, os juristas portugueses a trabalharem,
em separado, com os Direito civil e comercial. Antecedendo o próprio Código de Seabra,
o Código Ferreira Borges deu, aos comercialistas portugueses, uma base teórica, prática
e cultural para um labor especializado.
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tipo subjetivista, que marcou a comercialista subsequente, deixando rastos até aos nossos
dias.
CAPÍTULO II - O DC NA ATUALIDADE
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CCom). Num sistema aberto, qualquer pessoa o poderá fazer. Não é possível fixar
fronteiras. Além disso, estaríamos a entrar numa tautologia, visto que o comerciante é o
que pratica o comércio, sendo que comércio continua por definir. Fica-nos então a
formalização do conceito: comerciante é aquele que, como tal, se encontre inscrito no
registo comercial.
Chegaríamos, por esta via, a um verdadeiro estatuto profissional de tipo
corporativo, o que parece inaceitável.
Surgiu então a ideia de usar o modo por que se apresente certa atividade humana
lucrativa. A ideia é simples: o que carateriza o ato comercial não é o ser praticado por um
comerciante, mas sim o facto de ser pensado e modelado como ato de massa, i.e., como
parte de um procedimento destinado a ser repetidamente levado a cabo. Haverá aqui uma
parcela de verdade, mas não obtemos um conceito operacional: temos atos de massa não-
comerciais e atos comerciais pensados para operar isoladamente.
Resta-nos então progredir com base na forma da preparação desta atividade
humana: ao to comercial provém de uma organização de meio destinada a facultá-lo, o
que é dizer: de uma empresa.
A ideia de empresa tem uma aplicação difusa que dificulta a sua dogmatização.
Desde cedo se verificou que dificilmente o Direito comercial seria o “Direito da
empresa”: esta não é sujeito de Direto, tão-pouco esgotando o objeto do comércio. A
empresa operaria apenas como um referencial: o comerciante seria todo aquele que
dispusesse de uma empresa, i.e., o empresário.
Embora descritivamente útil, a empresa não dá fronteiras seguras para a
comercialidade.
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3. A fragmentação do DC.
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Visto o atual Código Comercial ter sido publicado após o Código de Seabra, este
não se versou sobre toda a matéria comercial, mas apenas sobre a que merecia mais
aprofundamento face ao que o direito civil lhe garantiu.
Assim, o Direito Comercial não é um tecido contínuo, os institutos nele regulados
são-no ao sabor dos acasos histórico-culturais, das intervenções legislativas ou até de
problemas que, em determinada época, tenham justificado especiais medidas.
Deste modo, para o REGENTE, existem determinadas atividades que perderam
alguma coloração em termos de Direito Comercial, mas continuam no quadro do Direito
Comercial.
Mais alguns regimes comerciais podem se encontrar em outros diplomas que não
o CComercial, veja-se como por exemplo o CCivil em que está previsto o arrendamento
para fins não comerciais.
O Direito Comercial tem cinco vértices:
- O ato comercial e os deveres do comerciante;
- As sociedades comerciais;
- Os títulos de crédito;
- O comércio marítimo;
- A falência.
Cientificamente, o Direito comercial apresenta-se como uma disciplina lassa, à
qual apenas uma tradição histórico-cultural dá o mínimo de estável unidade. Sobra tão
pouca matéria que se torna difícil proceder a uma codificação comercial.
Mais ainda, o Direito comercial progride e trabalha usando conceitos e
construções civis. O risco do comercialismo é, muitas vezes, o de trabalhar com
instrumentação arcaica: a própria imagem de, lado a lado, vigorar um Código Comercial
de 1888 e um CC de 1966, separados por décadas de evolução.
Em regra, o Direito comercial traduz a necessidade de examinar e explicar
mecanismos específicos: não a de preparar conceitos, indagar valorações ou construir
novos esquemas explicativos. A defesa do nível dos escritos comerciais deve, pois, estar
sempre presente.
4. Princípios materiais.
Será possível a elaboração de princípios comerciais materiais? Vejamos quatro
grupos de princípios:
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- Internacionalidade;
- Simplicidade e rapidez;
- Clareza jurídica, publicidade e tutela da confiança;
- Onerosidade.
Quanto à internacionalidade já vimos que o saldo é magro.
A simplicidade e a rapidez manifestam-se em regras tradicionais do comércio,
como: liberdade de escrituração, salvo quanto ao livro de atas (art.30.º), a liberdade de
língua (art.96.º), a liberdade de forma do mandato geral (art.249.º), etc.
A clareza jurídica, a publicidade e a tutela da confiança aflorariam em diversos
institutos, com relevo: o valor probatório dos livros dos corretores (art.98.º), a aplicação
da lei comercial aos atos apenas unilateralmente comerciais (art.99.º), a regra da
solidariedade nas obrigações comerciais (art.100.º), a solidariedade do fiador (art.101.º),
o registo comercial, o regime especial do art.1301.º CC, …
A onerosidade é uma regra básica e lógica do comércio, trata-se de um Direito
profissional subordinado à obtenção de lucros.
Contudo: estes vetores não são estranhos ao Direito Civil, designadamente quando
patrimonial; por outro lado, o próprio Direito comercial não os concretiza uniformemente:
eles vão surgindo ao sabor de institutos históricos e culturalmente condicionados.
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5.3. Internacionalização
Para além da integração europeia, outros fatores jogam no sentido da
internacionalização do Direito comercial.
Em primeiro lugar, cumpre mencionar os esforços de ir estabelecendo uma
organização planetária efetiva.
No campo comercial, para além da CNUDCI e dos UNIDROIT, deve mencionar-
se o papel do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) que visa, no fundamental,
liberalizar o comércio mundial. Para tanto, há que:
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Privado nasceu em 1926 como órgão auxiliar da Sociedade das Nações. Esta foi
reconstruída em 1940, com base num estatuto orgânico.
A UNIDROIT visa a elaboração de regras uniformes no campo do Direito
Privado. Alguns dos seus trabalhos vieram a ser adotados por conferências diplomáticas,
surgindo convenções internacionais. Além disso, a UNIDROIT tem preparado outros
importantes textos, com relevo para os Princípios relativos aos Contratos de Comércio
Internacional, de 1994 e para os Princípios de processo civil transnacional, de 2004.
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noção de MENEZES CORDEIRO. Não é possível dar um critério universal para tais atos:
caso a caso tem de se discutir se o ato em jogo ainda se pode submeter a regras comerciais.
Quanto à última parte do art.2.º “se o contrário do próprio ato não resultar”, o
comerciante que pratique atos que não sejam de natureza exclusivamente civil terá o
encargo de deles fazer constar que não se inserem no seu manejo comercial; de outro
modo, terão natureza comercial.
Desta parte da norma, alguns autores entendem que estamos perante uma
presunção legal no sentido de que os atos dos comerciantes se devem presumir
comerciais.
COUTINHO DE ABREU defende que a norma é imperativa, na medida em que
pelo facto de determinado sujeito ser comerciante não se poderá, concluir desde logo, que
os atos por ele praticados sejam comerciais.
Como é evidente: à medida que toda a atividade comercial venha a ser levada a
cabo por sociedades comerciais, este final do artigo perde o seu alcance prático.
4. Os atos mistos
Os atos mistos são aqueles que, em relação a uma das partes são comerciais, mas
não o são em relação à outra (isto, claro, no caso dos atos bilaterais, i.e., contratos).
O Direito comercial permite cindir um contrato em dois atos, de modo a que opere
como comercial apenas para uma das partes.
Há, neste caso, que discernir, por via do art.99.º: As regras que, pela sua natureza,
forem aplicáveis apenas à parte comerciante, funcionam só em relação a esta, e quanto à
outra opera o Direito comum.
Não sendo possível distinguir, a lei comercial aplica-se a ambas as partes.
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Ou de tal regime lhes competir por terem sido levados a cabo por comerciantes,
no exercício do comércio (atos subjetivamente comerciais).
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No entanto, para ser classificado como comercial, os objetos a que se destina têm de estar sujeitos a atos
objetivamente comerciais. Por exemplo, no caso 3 das aulas práticas, o depósito não era ato de comércio
acessório, porque o sujeito em causa (depositante) não era um comerciante, nem tao pouco era o ato
comercial. Logo, para o depósito ser comercial, tem que existir um ato de comércio em sentido objetivo
que empreste a comercialidade ao ato acessório.
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com um ato de comércio fundamental, quer com a exploração de uma empresa mercantil
ou com o comércio em geral.
O que pensar desta doutrina?
Para PINTO COELHO, o critério da acessoriedade apenas foi acolhido pelo
legislador, com efeitos reduzidos, limitando-se a deduzir dela a comercialidade dos atos
dos comerciantes e ainda a de certos atos objetivos específicos (que são considerados
comerciais pela relação que têm com certos atos de comércio objetivos).
Para FERRER CORREIA, a teoria do acessório generaliza indevidamente e,
porque a lei considera em muitos casos como comerciais certos atos jurídicos em virtude
da sua relação com atos de comércio objetivos, afirma que todos os atos conexos com a
atividade mercantil serão atos comerciais, mesmo que praticados por não comerciantes.
Como exemplo, temos a fiança mercantil (art.101.º), o mandato comercial (art.231.º), o
empréstimo (art.394.º), o penhor (art.397.º), o depósito (art.403.º).
Para COUTINHO DE ABREU é certo que a lei comercial prevê vários atos
mercantis por serem acessórios de outros atos de comércio.
Porém, dada a diversificada índole daqueles atos, não parece legítimo afirmar um
“princípio geral” segundo o qual todo e qualquer ato de um não comerciante seria
mercantil quando conexionado com atos objetivos de comércio (não havendo lugar para
a analogia iuris).
Mas, é legítimo qualificar de comerciais certos atos de não comerciantes por
serem análogos a atos acessórios de comércio previstos na lei (analogia legis).
Para MENEZES CORDEIRO, a doutrina dominante reconduz esta teoria a uma
fórmula de analogia.
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9. Os usos comerciais.
Os usos estão na base do Direito mercantil. Mas porquê os usos e não o costume?
Enquanto o uso é supletivo, o costume traduz regras de tipo imperativo. Só adere ao uso
quem pode dele retirar algo que lhe interesse. Por outro lado, quem não adere ao costume
tem sanções. Compreende-se, pois, o uso do uso como base do Direito mercantil.
Sensível à problemática utilização de usos, difíceis de conhecer e de impor, o
Código comercial não os incluiu entre os seus esquemas de integração, previstos no
art.3.º.
Perante o silêncio do CComercial quanto aos usos, cabe recorrer ao Código Civil.
Este nada dispõe, em geral, quanto ao costume. Mas quanto aos usos, contém um
subsistema regulador, cfr. art.3.º.
Ao elaborar o seu anteprojeto, MANUEL DE ANDRADE acolheu as ideias de
que os usos só valeriam quando a lei para eles remetesse e de que eles cedem perante as
normas corporativas. Quanto à boa-fé: esse autor reconhece que se inspirou no Direito
alemão (a fórmula original do anteprojeto acolhia a expressão “boa-fé” e não “princípios
da boa fé”, isto porque a boa fé já é, por si, um princípio).
ENNECCERUS/NIPPERDEY, relativamente aos usos e práticas do comércio,
ocupam-se do tema. Segundo esses autores, os usos, quando concordes com a boa-fé,
seriam aplicáveis nas hipóteses seguintes: interpretação dos negócios jurídicos; sempre
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que as partes para eles remetam; no âmbito do §242 BGB; e quando a lei especificamente
para eles apele.
MANUEL DE ANDRADE restringiu no anteprojeto a relevância dos usos à
quarta situação. Mas acrescentou: nos lugares próprios deve considerar-se a relevância
dos usos no tocante à interpretação dos contratos, à execução de quaisquer prestações
devidas, e ainda que as partes podem remeter para eles, de modo expresso ou tácito,
quando estipulem sobre matérias não subtraídas à sua disponibilidade.
O legislador não considerou esta recomendação e o CC não se refere aos usos em
matéria de interpretação ou integração dos negócios, nem no tocante à execução das
obrigações.
O CC restringiu em extremo o papel dos usos e delimitou as hipóteses da sua
relevância. Isto pela desconfiança inerente aos usos.
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CAPÍTULO V - O COMERCIANTE
1. Quem é comerciante.
É certo que toda a pessoa civilmente capaz de se obrigar pode praticar atos de
comércio (art.7.º); porém, nem todo o que pratica atos de comércio é comerciante, cfr.
art.13.º.
A profissão do comércio é proibida a determinadas entidades referidas no art.14.º.
A consideração de alguém como comerciante tem relevância para a determinação
dos atos de comércio subjetivos. Além disso, torna os visados incursos em obrigações
especiais, cfr. art.18.º, estes são obrigados:
- A adotar uma firma;
- A ter escrituração mercantil;
- A fazer inscrever no registo comercial os atos a ele sujeitos;
- A dar balanço, e a prestar contas.
Estas “obrigações” apresentam-se muitas vezes como encargos. A sua
inobservância pode não ter sanções diretas: apenas os impede de beneficiar plenamente
do estatuto mercantil.
A qualidade de comerciante confere também privilégios. Estes prendem-se
sobretudo com o regime dos chamados atos de comércio unilaterais ou dos atos
unilateralmente comerciais.
Embora a Revolução Francesa tenha lutado por uma noção de ato comercial
objetiva, no Direito Português manteve-se a posição histórica dos atos comerciais
subjetivos. Trata-se de uma prerrogativa dos comerciantes: a de “comercializarem” o atos
em que tocam. O problema põe-se nas relações entre um comerciante e um não
comerciante. Que direito aplicar?
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Como exemplo de atos preparatórios temos o arrendamento do local ou a contratação de empregados.
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2.2. Capacidade
Para ser comerciante, é preciso ter capacidade para praticar atos de comércio
(art.13.º/1). Mas capacidade de gozo ou de exercício? A doutrina diverge.
A maioria dos autores entende que se trata de capacidade de exercício (CUNHA
GONÇALVES, LOBO XAVIER, COUTINHO DE ABREU).
Uma posição minoritária, liderada por FERRER CORREIA e PEREIRA DE
ALMEIDA, entendia bastar a de gozo.
O CComercial distingue entre a capacidade para praticar atos de comércio (art.7.º)
e os requisitos para se ser comerciante (art.13.º/1). Apenas o primeiro tem a ver com a
capacidade comercial em si.
O art.7.º remete para as regras sobre capacidade de gozo e exercício das pessoas
singulares e coletivas, fixadas pela lei geral. No essencial, são as seguintes:
- As pessoas singulares têm capacidade de gozo pleno (art.67.º CC);
- As pessoas coletivas têm capacidade de gozo necessária ou conveniente
à prossecução dos seus fins (art.160.º/1 CC e 6.º/1 CSC).
Quanto às pessoas singulares, os menores não têm, em princípio, capacidade de
exercício (art.123.º CC): a incapacidade daí derivante é suprida pelo poder paternal e,
subsidiariamente, pela tutela (art.124.º).
Quanto às pessoas coletivas, estas são representadas pelos titulares dos
competentes órgãos: art.163.º/1 CC e 192.º/1, 252.º/1, 408.º, 431.º/2, 474.º e 478.º CSC.
Tudo isto é aplicável, pelo art.7.º CComercial, à prática de atos comerciais.
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A lei não exige que o objeto social se reporte exclusiva ou, sequer,
predominantemente, à prática de atos comerciais. Estes poderão estar previstos apenas
como parte do objeto social ou, até, como algo acessório.
As sociedades comerciais adquirem a personalidade no momento do registo
definitivo do ato constitutivo (art.5.º CSC). Tornam-se comerciantes neste momento.
Pode, então, haver comerciantes que nunca tenham praticado um ato de comércio: a sua
comercialidade tem o sentido de uma aptidão de princípio para os praticar.
As sociedades que tenham por objeto, exclusivamente, a prática de atos não-
comerciais são sociedades civis. Elas podem seguir o esquema dos art.980.º e seguintes
do CC: são as sob forma civil ou sociedades civis puras. E podem, nos termos do art.1.º/4
CSC, adotar um dos tipos legais de sociedades comerciais: são as sociedades civis sob
forma comercial. Embora civis, elas regem-se pela lei das sociedades comerciais
(art.1.º/4/in fine CSC). São-lhes ainda aplicáveis diversas regras comerciais, com relevo
para o disposto quanto ao registo comercial (art.3.º CRC). Só não são operacionais para
dar azo a atos subjetivamente comerciais (art.13.º e 2.º/2.ªparte).
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não podem ser comerciantes, todavia, poderão praticar determinados atos de comércio
objetivos: venda de livros, por exemplo.
4. Situações controvertidas.
4.1. A Categoria Pessoas Semelhantes a Comerciantes
As exposições de Direito Comercial comportam uma rubrica relativa de
qualificação controversa: o mandatário comercial, os gerentes, auxiliares ou caixeiros, os
comissários, o mediador, os correctores, o agente comercial, os sócios de
responsabilidade ilimitada, os farmacêuticos e os artífices.
Perante as realidades práticas de Direito Comercial, não é possível proceder a
qualificações rigorosas das figuras em jogo. Elas pressuporiam sempre uma análise prévia
do regime aplicável, regime esse que depende, em geral, da autonomia privada dos
envolvidos. Acresce ainda que o Direito Comercial não é um todo coerente e sistemático.
Chega-se, assim, à ideia de pessoa semelhante a comerciante: uma entidade que
não sendo comerciante em si, suscita, não obstante, a aplicação das diversas regras de
Direito Comercial.
Três critérios enformam as pessoas semelhantes a comerciantes, para além do
facto de, naturalmente, não se poderem considerar de imediato comerciantes, por via das
categorias do art.13.º;
- São autónomas, no sentido de não se encontrarem ao serviço de outra
entidade, por via de um contrato de trabalho;
- Praticam, em série, atos jurídicos com fins lucrativos;
- Dispõem de uma organização mínima, ainda que rudimentar, figurativa
de uma empresa.
Quanto às regras comerciais aplicáveis: não é viável uma definição a priori.
Torna-se sempre necessário ponderar cada figura, cada situação e cada norma.
A margem para grandes labores é estreita. Os atos objetivamente comerciais não
dependem de discussão; os subjetivamente comerciais são escassos; finalmente, os
deveres aplicáveis (sujeição a registo, contas e requisitos particulares) dependem, hoje,
da estreita legislação especial: escapam às qualificações genéricas do velho Direito
Comercial.
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5. Estatuto do comerciante.
O comerciante deve respeitar as obrigações do art.18.º:
- A adotar uma firma;
- A ter escrituração mercantil;
- A fazer inscrever no registo comercial os atos a ele sujeitos;
- A dar balanço, e a prestar contas.
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- Princípio da estabilidade;
- Princípio da novidade e exclusividade;
- Princípio da unidade.
COUTINHO DE ABREU fala, ainda, no princípio da licitude, mas para o
REGENTE não há necessidade para o autonomizar
A multiplicidade de princípios enformadores da firma não deve obnubilar os
vetores substanciais subjacentes. No fundamental, a firma visa exprimir, com eficácia, a
identidade do comerciante de cujo giro se trate. Além disso, e pelas preocupações
crescentes que as sociedades pós-industrais têm vindo a manifestar nesse domínio, a firma
vem acompanhada de regras destinadas à tutela dos consumidores.
O Direito português parece prosseguir ainda funções policiais e de fiscalização de
ordem geral, o que vem demonstrado no art.2.º.
Além disso o RNPC abrange informações relativas aos próprios comerciantes
individuais (art.4.º/1/g).
Nestas condições, devemos admitir mais este fator de ordem teleológica: o
objetivo geral de facultar a fiscalização do Estado. Não obstante, deve ser preservada a
tradição comercialística, própria do sistema em que nos encontramos e particularmente
útil para salvaguardar a dignidade das pessoas e a liberdade de iniciativa: a firma pertence
ao Direito privado e opera de acordo com os seus princípios.
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erga omnes. Além disso, ela assume, por definição, reflexos sociais, quiçá mesmo
pedagógicos. Há, pois, que respeitar os valores histórico-culturais, particularmente os
ligados à Nação cujo Direito esteja em jogo.
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A lei permite também que, ao núcleo da firma, seja somada a indicação “sucessor
de” ou “herdeiro de” e a firma do “estabelecimento” que tenha adquirido (art.38.º/2).
Desta feita, pela negativa, o art.38.º/3 permite que o comerciante faça anteceder o
seu nome por expressões ou siglas correspondentes a títulos académicos, profissionais ou
nobiliárquicos a que tenha direito. Em qualquer dos casos, a lei impõe que se trate de
títulos legítimos. A “legitimidade” deve ser provada pelos requerentes (art.49.º/1 RNPC)
devendo os competentes elementos serem-lhe oficiosamente solicitados, quando não o
tenham feito (art.49.º/2 RNPC).
Numa disposição paralela, manda o art.33.º/4 que a incorporação, na firma, de
sinais distintivos registados dependa de prova do seu uso legítimo.
O art.38.º/4 RNPC vem dispor sobre o âmbito de tutela da firma dos comerciantes
em nome individual. Trata-se de uma rubrica a examinar a propósito do princípio da
verdade e da exclusividade.
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E. O princípio da novidade
O princípio da novidade vem no art.33.º/1 RNPC:
“As firmas e denominações devem ser distintas e não suscetíveis de
confusão ou erro com as registadas ou licenciadas no mesmo âmbito de
exclusividade, mesmo quando a lei permita a inclusão de elementos utilizados por
outras já registadas, ou com designações de instituições notoriamente
conhecidas.”
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F. O princípio da unidade
Segundo o princípio da unidade, o comerciante só poderia girar sob uma única
firma. O art.38.º/1 RNPC reporta-se aos comerciantes individuais, mas a doutrina
estendeu também às sociedades.
Aparentemente, nem sequer se tem em conta o facto de o comerciante poder deter
mais de um estabelecimento ou, mesmo, duas ou mais empresas totalmente distintas.
Trata-se de regras desfasadas, com a agravante de já anteriormente Ferrer Correia
ter exposto as bases para a superação de tal entendimento.
Efetivamente, interesses comerciais perfeitamente razoáveis podem levar a que
estabelecimentos tenham designações próprias e distintas. Esses mesmos interesse
comunicam-se às firmas dos titulares respetivos.
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A. Aspetos processuais
No Direito Português, o direito à firma depende do seu registo definitivo no RNPC
(art.35.º/1 RNPC).
Antes disso, sobretudo nas pessoas coletivas, é preciso obter um certificado de
admissibilidade da firma ou da denominação e, portanto: um documento emitido pelo
RNPC, donde resulte que determinada firma, pretendida por um interessado, se encontra
disponível e surge conforme com os princípios aplicáveis (art.45.º RNPC).
Todos os interessados em ter firma devem requerer a inscrição, em virtude do
princípio da obrigatoriedade. Se não o fizerem, o art.12.º/1 RNPC permite que ela seja
feita oficiosamente.
O pedido de certificado de admissibilidade deve ser requerido através das formas
previstas no art.46.º/1 RNPC.
A reserva constitui mera presunção de não confundivilidade da firma solicitada
(art.48.º/2 RPC). Esta reserva é importante porque marca a ordem de prioridade do pedido
da firma em jogo (art.50.º/1 RNPC).
O art.50.º-A RNPC prevê a aprovação automática de firmas e denominações
(aliás: firmas), quando se trate da constituição de sociedades por quotas, unipessoais por
quotas ou anónimas e elas corresponda, ao nome dos sócios, pessoas singulares.
Concedido o certificado de admissibilidade, este tem os seguintes efeitos:
- Define a posição do beneficiário em relação a interessados ulteriores;
- Permite a celebração de ulteriores atos públicos que dele dependam,
como a constituição de pessoas coletivas e estabelecimentos de responsabilidade
limitada;
- Limita a ampliação do objeto social a atividades contidas no objeto
declarado no certificado de admissibilidade;
- Condiciona o registo comercial ou a inscrição no FCPC.
Feita a inscrição da firma, o RNPC atribui ao interessado um número de
identificação (art.13.º/1).
As entidades inscritas podem solicitar a emissão de um cartão de identificação
(art.16.º e 17.º RNPC). Dele constam o NIPC, o nome, firma ou denominação, o domicílio
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O próprio não pode dispor livremente dela e é oponível erga omnes, dispondo de tutela
alargada.
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A. Princípio da instância
Segundo o princípio da instância, o registo comercial efetua-se a pedido dos
interessados. Apenas há registos oficiosos nos casos previstos pela lei (art.28.º do CRC).
O registo pode ser pedido pelos próprios, pelos representantes legais ou pelas
pessoas que nele tenham interesse (art.29.º do CRC). Temos ainda como novidade da
reforma de 2006, a promoção de registo pelas sociedades (art.29.º - A do CRC). E o
registo pode ainda ser solicitado por “mandatário com procuração bastante” por quem
tenha poderes para intervir no respetivo título e por advogado ou solicitador cujos poderes
de representação se presumem (art.30.º/1 do CRC).
Nas hipóteses de reclamação ou de recurso hierárquico ou contencioso, a lei é
mais exigente com o título de representação (art.30.º/3 do CRC).
B. Princípio da obrigatoriedade
Segundo o princípio da obrigatoriedade, os interessados estariam adstritos a
requerer a inscrição dos factos sujeitos a registo comercial. Trata-se de um princípio que
comporta duas vertentes:
- A obrigatoriedade direta;
- A obrigatoriedade indireta.
A inscrição é diretamente obrigatória nos casos referidos no art.15.º/1 e 2 do CRC.
Estes números remetem para diversas alíneas dos art.3.º e 8.º. que indicam os factos
sujeitos a registo. Os notários devem remeter às conservatórias competentes, todos os
meses, a relação dos documentos que titulem factos sujeitos a registo obrigatório (art.16.º
do CRC). O incumprimento do dever de requerer a inscrição é punido com as coimas
elencadas no art.17.º do CRC.
A inscrição torna-se, além disso, indiretamente obrigatória para todos os factos
sujeitos a registo: eles só produzem efeitos perante terceiros depois da data da respetiva
inscrição (art.14.º/1 do CRC) ou depois da data da publicação, quando estejam sujeitos a
registo e a publicação obrigatória (art.14.º/2 do CRC).
Quanto às ações sujeitas a registo: o essencial delas não tem seguimento, após os
articulados, enquanto não for feita prova de ter sido requerida a competente inscrição
(art.15.º/4). No que tange a procedimentos cautelares: a decisão não é proferida enquanto
aquela prova não for feita.
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Logo, ela não tem um aspeto meramente informativo. O primeiro efeito resultante
o registo comercial é presuntivo nos termos do art.11.º. Este preceito comporta
consequências práticas de relevo: em qualquer circunstância, o interessado que apresente
certidão de determinado facto inscrito fica exonerado de demonstrar a sua ocorrência e
os seus contornos; inversamente: o contrainteressado terá de fazer prova em contrário,
impugnando o registo.
Quanto à presunção do art.11.º, esta pode ser ilidida nos termos do art.350.º/2 do
CC.
Pode ainda acontecer que quanto às mesmas quotas ou partes sociais, surjam
inscrições ou pedidos incompatíveis, sendo que prevalece o primeiro nos termos do
art.12.º CRC.
A. Efeito constitutivo
No Direito Comercial funciona, de princípio, a regra da imediata eficácia dos
diversos atos jurídicos. Os contratos devem, só por si, ser pontualmente cumpridos
(art.406.º/1 CC), enquanto os próprios efeitos reais se desencadeiam por mero efeito do
contrato (art.408.º/1 CC).
No entanto, o registo assume um efeito constitutivo no domínio das sociedades
comerciais. Estas só adquirem personalidade mediante registo (art.5.º CSC), também os
efeitos da fusão ou da cisão de sociedade só ocorrem aquando da sua inscrição (art.112.º
e 120.º do CSC), outro tanto sucedendo com a extinção (art.162.º/2 CSC).
Perante os princípios gerais do Direito português não parece possível alargar por
analogia as situações de registo constitutivo. No entanto, o art.13.º/2 deixa margem para
isso.
B. Publicidade negativa
Os atos sujeitos a registo comercial só produzem efeitos plenos depois de
registados. Podemos distinguir:
- O ato sujeito a registo e não registado não produz todos os seus efeitos:
é a publicidade negativa, uma vez que da não-publicitação resulta uma diminuição dos
efeitos;
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C. Publicidade positiva
O registo comercial assume um efeito indutor de eficácia, com publicidade
positiva, sempre que um terceiro se possa prevalecer de um facto indevido ou
incorretamente registado.
Dada a transposição da matéria do registo predial para o comercial, a lei
portuguesa veio a tratar esta matéria a partir da nulidade do registo (art.22.º CRC). Os
registos nulos só podem ser retificados nos casos previstos na lei e isso se não estiver
registada a ação de declaração de nulidade. Além disso, a nulidade do registo somente é
invocável, despois de declarada por decisão judicial transitada.
Perante outros vícios que não originem a nulidade, o registo é considerado
simplesmente inexato (art.23.º), o que dará lugar à retificação (art.81.º CRC).
Nos termos do art.22.º/4 CRC, temos:
- Um registo nulo, i.e., um registo que, por se ter envolvido nalgum dos
vícios do art.22.º CRC, não corresponde à realidade substantiva;
- Um terceiro que, com base nele, adquire direitos;
- A título oneroso;
- De boa-fé;
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CAPÍTULO VI - A EMPRESA
1. Aspetos Gerais
A expressão empresa apresenta uma utilização avassaladora, em diversos sectores
normativos. A moderna legislação comercial, económica, fiscal, do trabalho e processual
recorre a ela, de modo continuo.
Tentando ordenar este uso caudaloso, pode-se adiantar que, quer perante
numerosas leis, quer em faze da linguagem corrente, a expressão empresa traduz,
conforme o contexto:
- Um sujeito que atue e que, nessa qualidade, é suscetível de direitos e de
obrigações; pense-se, por exemplo, nos direitos ou deveres das empresas, na
politica das empresas ou nas preferências das empresas;
- Um complexo de bens e direitos capazes de suportar a atuação de
interessados; assim a compra de uma empresa;
- Uma atividade: levar a cabo uma empresa.
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3.2. Concretização
O professor MENEZES CORDEIRO fixa a empresa como um conceito-quadro:
disponível para o legislador e para a prática jurídica, sempre que caiba referir realidades
produtivas sem pormenores técnicos. Pode-se ir mais longe e abordar, na base de um
ponto da situação, as grandes linhas da sua concretização. Temos:
- A empresa-sujeito, que equivale ao conjunto de destinatários de normas
comerciais: pessoas singulares, pessoas coletivas e pessoas rudimentares;
- A empresa-objeto, que se reporta ao estabelecimento dotado de direção
humana;
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4. O art.230.º do CCom.
Se o art.230.º tomar por comerciantes as pessoas que nele se perfilem, todos os
atos por eles praticados, que não caiam na exclusão da 2.ª parte do art.2.º, seriam
comerciais.
A doutrina subjetiva que vê na “empresa” do art.230.º, um empresário é, em
especial, sugestionada pela referência legal a “…singulares ou coletivas”. Porém, em
1888, a expressão pessoa coletiva não era conhecida na doutrina portuguesa, apenas
surgiu em 1907. O art.230.º apenas se reportava a atuações levadas a cabo por uma única
pessoa ou por várias pessoas.
No entanto, para a interpretação objetivista, a palavra empresa tinha o sentido de
“atividade”, “tarefa” ou “empreendimento”, não o de organização de meios, tipo
“sujeito”. Portanto, em 1888, o art.230.º visava classificar como comerciais determinadas
atividades ou conjuntos de atos, a desenvolver por uma pessoa só ou por várias. Saber se
o autor dessa atividade é ou não comerciante será assunto do art.13.º.
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7. O estabelecimento.
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7.1. Introdução.
A empresa surge como um conceito-quadro de grande extensão e particular
versatilidade. Torna-se, por isso, pouco adequada para transmitir regimes jurídicos
concretos.
Compreende-se, assim, que o Direito português tenha elaborado, a seu lado, um
outro conceito particularmente apto para traduzir o objeto unitário de determinados
negócios: o de estabelecimento.
No Código Comercial, o estabelecimento surge em duas aceções:
- Como armazém ou loja: art.95.º/2 e 263.º/§ parágrafo único;
- Como conjunto de coisas materiais ou corpóreas: art.415º.
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- Um fator funcional;
- Um fator jurídico.
O fator funcional apela ao realismo exigido pela própria vida do comércio. Sob
pena de nos perdermos em inúteis abstrações, devemos, pela observação, verificar como
se organiza efetivamente um estabelecimento e como ele funciona. Procurar reduzi-lo a
coisas corpóreas, por muito que isso depois facilite o seu regime, é escamotear a
realidade: o estabelecimento existe e é autonomizado pelo comércio e pelo Direito
precisamente por organizar as coisas corpóreas, em conjunto com as incorpóreas, num
todo coerente para conseguir angariar clientela e, daí, lucro.
A dimensão jurídica explica-nos que, em homenagem a essa realidade que ele
traduz, o Direito concede, ao conjunto dos elementos referidos, um regime especial,
inaplicável in solo.
Do regime específico do estabelecimento, destacamos:
- O direito ao arrendamento, quando se inclua no estabelecimento, pode
ser transmitido, em conjunto com este, independentemente de autorização do
senhorio – art.1112.º CC;
- A transmissão de firma só é possível em conjunto com o estabelecimento
a que ela se achar ligada – art.44.º RNPC;
- O trespasse do estabelecimento fazia presumir a transmissão do pedido
de registo ou de propriedade da marca – art.211.º/1 CPI de 1995; no art.297.º do
CPI vigente desaparece a presunção mas mantém-se o regime. O artigo dispõe o
seguinte:
“Na transmissão do registo do nome ou da insígnia devem
observar-se as formalidades legais exigidas para a transmissão do
estabelecimento de que são acessórios.”
- A transmissão do estabelecimento implica a transferência da posição
jurídica de empregador para o novo adquirente, relativamente aos contratos de
trabalho dos trabalhadores a ele afetos – art.285.º/1 CT;
- No caso de expropriação por utilidade pública que envolva um
estabelecimento.
O sistema parece claro. O estabelecimento, para além de direitos reais relativos a
coisas corpóreas, envolve posições contratuais, como o direito ao arrendamento, ou o
contrato de trabalho e posições incorpóreas, como o direito à firma e a marca ou o pedido
do seu registo. Além disso, o aviamento e a clientela são valorados para efeitos de
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expropriação por utilidade pública, prova de que existem e são tidos em conta pelo
Direito.
É certo que alguns destes elementos só se transmitem plenamente com o
consentimento do terceiro cedido: trata-se do regime que emerge dos art.424.º/1 e
595.ºCC. Essa necessidade não prejudica a especificidade. Tão-pouco ela põe em crise os
aspetos funcionais ou o tipo social que representa a transmissão, em bloco, de todos os
elementos integrantes do estabelecimento.
Finalmente: o aviamento e a clientela valem, insofismavelmente, para efeitos
indemnizatórios. Logo existem e são valorados pelo Direito.
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8.2. O trespasse.
O Professor COUTINHO DE ABREU define o trespasse como a transmissão da
propriedade de um estabelecimento por negócio entre vivos.
O ponto mais significativo do regime do estabelecimento é a possibilidade da sua
negociação unitária.
Em princípio, perante um conjunto de situações jurídicas distintas, funciona a
regra da especialidade: cada uma delas, para ser transmitida vai exigir um negócio
jurídico autónomo.
Estando em causa um acervo de bens e direitos, a lei e a prática consagradas
admitem que a transferência se faça unitariamente. Trata-se de um aspeto que abrange
não apenas as coisas corpóreas articuladas, suscetíveis de negociação conjunta através
das normas próprias das universalidades de facto – art.206.º CC – mas, também, todas as
realidades envolvidas, incluindo o passivo.
Repare-se: não deixa de haver transmissão unitária pelo facto de, para a perfeita
transferência de alguns dos elementos envolvidos, se exigir o consentimento de terceiros.
É o que vimos suceder com o passivo, com os contratos de prestações recíprocas e é o
que sucede com a própria firma.
Assim, quanto à questão da transmissão dos passivos, há 3 grandes teorias:
- COUTINHO DE ABREU - posição negativa – se o passivo não tiver
expressamente previsto quanto à sua transmissão, este não se transmite. Isto devido ao
art.424.º e 595.º do CC. Mesmo para a transmissão do passivo, o consentimento do credor
e o acordo entre as partes é essencial
- OLIVEIRA ASCENSÃO – faz uma distinção entre as posições jurídicas
exploracionais e não exploracionais. Nas exploracionais faz-se apelo à distinção entre
elementos essenciais e não essenciais. As dividas dos exploracionais são transmitidas com
o trespasse do estabelecimento
- MENEZES CORDEIRO – coloca questões específicas que parecem
estar fora do alcance do âmbito máximo, fazendo referência às relações internas e
externas. Logo, sendo uma teoria mais abrange, o passivo é um elemento do
estabelecimento e, como tal, acompanha-o quando é trespassado.
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No entanto, distingue:
- As relações internas – relações entre trespassante e trespassário –
Aqui o trespassário fica vinculado perante os credores do trespassante ao pagamento de
todas as dívidas, logo as dívidas estariam incluídas no trespasse. Se por alguma razão, o
credor for ter com o trespassante, e este pagar, há direito de regresso do trespassante sobre
o trespassário.
- As relações externas, temos 3 níveis:
- 1.º - a conclusão óbvia é que só se o credor consentir é que
há lugar à transmissão da dívida do anterior para o novo devedor (cfr. art.495.º)
- 2.º - solidariedade entre devedores – o credor pode,
concretamente, consentir na assunção de dívida, mas nos termos do art.595.º/2, o
consentimento do credor não exonera o anterior devedor a não ser que a exoneração seja
expressa.
- 3.º - tenho que ter elementos suficientes no caso que nos
levam a afirmar que o credor, ao dirigir-se ao trespassário, está a exonerar o trespassante.
No entanto, o art.595.º/2 refere que tal comportamento deve ser expresso
A posição do COUTINHO DE ABREU prende-se com a questão do
estabelecimento, na sua definição, englobar o passivo. Mais, o regime global do
estabelecimento comercial e a sua lógica é que tudo se transmite com a cessão. Com a
boa-fé verificamos a realidade dos deveres de diligência específicos.
O regime da transmissão das dívidas é o que decorre do EIRL (art.11.º/1 do EIRL).
O trespasse do estabelecimento que tudo englobe continua a fazer-se por um único
negócio, com todas as facilidades que isso envolve.
É certo que, perante a relativa indefinição legal e dada a exigência das tais
autorizações, o trespasse clássico tem vindo a perder terreno, a favor de esquemas
societários. O comerciante que pretenda fundar um estabelecimento constituirá uma
sociedade comercial mais ou menos (des) capitalizada, que irá encabeçar o acervo de bens
a inserir no estabelecimento. Querendo alienar a sua posição, transferirá as suas posições
sociais – quotas ou ações – para o adquirente. Formalmente, não há qualquer modificação
a nível do sujeito.
Este fenómeno apenas documenta uma certa perda de importância relativa que o
velho Direito Comercial vem a acusar, a favor dos ramos comerciais mais novos, como o
Direito das sociedades. Não obstante, e designadamente ao nível do pequeno comércio, a
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resolução, mas há uma inversão do ónus da prova (ao senhorio cabe alegar uma das
realidades previstas, ao arrendatário cabe demonstrar que o incumprimento não é
suficientemente grave).
Para o REGENTE, é necessário que o incumprimento seja grave e as
consequências do mesmo o tornem inexigível à outra parte a manutenção do
arrendamento.
Assim, a cessão é ineficaz (art.424.º ex vi art.1059.º/2), podendo resolver o
contrato salvo se tiver reconhecido o beneficiário da cedência, direta ou indiretamente,
enquanto tal (1083.º/2/e).
Já para COUTINHO DE ABREU, a ultrapassagem do citado prazo de 15 dias não
é suficiente para justificar a resolução.
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9. O EIRL
O exercício do comércio implica riscos. No caso do estabelecimento comercial,
recordamos que ele se encontra na titularidade de um interessado; este responde com todo
o seu património pelas dívidas ocasionadas através de exploração comercial.
Constitui um desafio clássico do Direito Comercial o apurar esquemas que, sem
colocarem em risco a segurança do comércio e a fidedignidade das transações, permitam
limitar a responsabilidade individual dos operadores.
Essa preocupação foi, em grande parte, alcançada pela via das sociedades
comerciais de responsabilidade limitada. O problema surgia quando se tratasse de um
comerciante em nome individual, que não desejasse associar-se.
Como primeira tentativa limitadora, a lei portuguesa veio permitir a figura do
estabelecimento individual de responsabilidade limita ou EIRL, que foi criado à imagem
e semelhança das sociedades comerciais.
Este está regulado no DL n.º 248/86.
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Assim: na insuficiência do regime dos estabelecimentos comerciais, posso usar as normas do EIRL em
tudo o que não seja para si específico. Como por exemplo, posso usar o art.21.º do EIRL para defender a
existência do próprio penhor do estabelecimento comercial e para justificar que este não exige um
desapossamento dos bens.
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- Capital mínimo
Este não é uma sociedade comercial, porque o seu registo não lhe confere o
surgimento de uma personalidade. Ou seja, o EIRL não tem personalidade jurídica ao
contrário das sociedades comerciais.
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São documentos eletrónicos aqueles cujo suporte não seja físico, mas
“eletrónico”: no sentido mais amplo, abarcando soluções eletromagnéticas e óticas. O
regime normal é-lhes aplicável, com adaptações. De todo o modo, o formalismo jurídico
tem levado os legisladores a intervir.
Quanto à assinatura digital, trata-se de um esquema que permite a uma entidade
dotada de uma “chave”, reconhecer e autenticar uma sequência digital proveniente do
autor de uma missiva eletrónica, de modo a autenticá-la.
Em Portugal, surgiu um diploma relativo a esta matéria: o DL n.º 290-D/99, de 2
de Agosto. Este diploma ressente-se da rapidez com que foi aprovado e da falta de debate
sobre o competente projeto. A regulamentação nele prevista acabaria, afinal, por demorar
cinco anos a surgir.
Este foi muito alterado pelo DL n.º 62/2003, de 3 de Abril, que o republicou em
anexo. Novas alterações foram surgindo, até ao DL n.º 88/2009, de 9 de Abril. A
regulamentação em falta acabaria por ser adotada pelo DR n.º 25/2004, de 15 de Julho. O
registo das entidades certificadoras obedecia aos termos ficados pela Portaria n.º
1350/2004, de 25 de Outubro, substituída pela Portaria n.º 597/2009, de 4 de Junho.
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O regime jurídico da concorrência está previsto na Lei n.º 19/2012, que é aplicável
a todas as atividades económicas exercidas, com carácter permanente ou ocasional, nos
sectores público, privado e cooperativo (art.2.º/1).
A referida lei é aplicável à promoção e defesa da concorrência, nomeadamente às
práticas restritivas e às operações de concentração de empresas que ocorram em território
nacional ou que neste tenham ou possam ter efeitos (art.2.º/2).
No art.5.º é prevista a Autoridade da Concorrência que garante o respeito pelas
regras de promoção e defesa da concorrência através de poderes sancionatórios, de
supervisão e de regulamentação.
Nos termos do art.9.º são proibidos os acordos, as práticas concertas e decisões de
associação entre empresas que tenham por objetivo restringir a concorrência.
No art.11.º está previsto o abuso da posição dominante, sendo que outra situação
é o abuso de dependência económica (art.12.º), uma vez que é suscetível de afetar o
funcionamento do mercado
No art.36.º prevê-se a concentração de empresas, que se verifica quando há uma
mudança duradoura de controlo sobre a tolidade ou parte de uma ou mais empresas (ver
caso: Facebook/Whatsapp merger)
No art.65.º é referido que os auxílios públicos, concedidos pelo Estado, não devem
restringir a concorrência.
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12.5. Marcas.
As marcas são signos (ou sinais) suscetíveis de representação gráfica destinados
sobretudo a distinguir certos produtos de outros produtos idênticos ou afins.
Tendo em conta a natureza das atividades a que se ligam, fala-se de marcas de
indústria (assinalam produtos da indústria transformadora e extrativa), de comércio
(assinalam bens comercializados por grossistas e retalhistas), de agricultura (assinalam
os produtos de agricultura em sentido amplo), de serviços (assinalam atividades do setor
terciário).
Atendendo aos elementos componentes, pode falar-se de marcas nominativas
(constituídas por nomes ou palavras), figurativas (formadas por figuras ou desenhos),
marcas constituídas por letras, números, ou cores, marcas mistas (juntam elementos
nominantivos e figurativos), auditivas (constituídas por sons), tridimensionais.
As marcas podem, ainda, pertencer a empresários (sujeitos de empresas em
sentido objetivo) como a não empresários.
Para além das marcas individuais, temos ainda as marcas coletivas.
Segundo a doutrina dominante a marca tinha uma função de indicação de origem
ou proveniência dos produtos. Todavia, muitos autores puseram tal em causa, dado que a
marca é, muitas vezes, um sinal anónimo, sem qualquer menção ao titular ou à empresa.
São vários os princípios informadores da constituição das marcas:
- Capacidade distintiva;
- Verdade;
- Licitude;
- Novidade e especialidade;
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12.6. Recompensas.
As recompensas são prémios e títulos de distinção oficiais ou oficialmente
reconhecidos (condecorações, medalhas, diplomas) concedidos a empresários por mor da
bondade dos respetivos estabelecimentos e/ou produtos.
As recompensas dos empresários são sua propriedade (art.273.º). E deve entender-
se que a propriedade lhe é reconhecida independentemente do registo das mesmas, pois
não é constitutivo, serve antes para publicitar a titularidade e garantir a veracidade e
autenticidade.
O registo de recompensa é anulável quando se prove que a mesma não foi
concedida ao sujeito mencionado no registo ou quando o título da recompensa for anulado
(art.280.º); caduca quando a concessão da recompensa for revogada ou cancelada
(art.281.º/1) e o titular pode a ele renunciar nos termos do art.38.º.
12.7. Logótipo.
O logótipo é signo suscetível de representação gráfico e serve, primordialmente,
para distinguir sujeitos que prestem serviços ou produzam bens destinados ao mercado
(art.304.º - A e B CPI).
O sujeito titular de logótipo não tem de ser empresário, não tem de ter empresa ao
estabelecimento. No entanto, quando o tenha é natural que use o logótipo para
individualizar.
Assim, é um sinal, normalmente, bifuncional: distingue sujeitos e
estabelecimentos.
Um mesmo sujeito, que só pode ter uma firma ou denominação, pode ter vários
logótipos (art.304.º - C/2).
O logótipo pode ser constituído por um sinal ou conjunto de sinais suscetíveis de
representação gráfica, mas também por elementos normativos ou figurativos. São
possíveis:
- Logótipos nominativos – compostos por nomes ou palavras;
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A transmissão da firma e do logótipo são realidades muito semelhantes.
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sê-lo em português: art.133.º/1 CPC, quanto aos atos judiciais e 42.º/1 CNot, quanto aos
atos notariais.
Quanto aos atos civis particulares, não se conhece nenhum preceito que obrigue o
uso do português. Dois estrangeiros que contratem em Portugal usarão a sua língua; um
estrangeiro e um português recorrerão à língua em que ambos se entendam; dois
portugueses poderão querer aproveitar um texto já elaborado em língua estrangeira,
nenhuma razão havendo, em última instância, para os discriminar em relação aos
estrangeiros.
A liberdade de língua é a regra, no Direito Privado, exceto nos atos públicos onde,
salvo o que se disse quanto ao registo comercial, se deve usar o português.
O art.96.º não tem alcance especial: reafirma uma regra hoje comum. Nas palavras
do professor MENEZES CORDEIRO, vale como profissão de fé no universalismo do
Direito Comercial.
O uso de língua estrangeira é permitido nos contratos comerciais. Impõem-se,
todavia, algumas delimitações e restrições.
Nos contratos comerciais internacionais, os usos tendem a impor a língua inglesa.
Nada impede, contudo, que as partes recorram a qualquer outra língua, que ambas
dominem.
Nos contratos comerciais concluídos em Portugal, com recurso a cláusulas
contratuais gerais, a língua portuguesa impõe-se.
Com efeito, segundo o art.7.º/3 da Lei n.º 24/96, de 31 de julho (Lei de Defesa dos
Consumidores) a informação ao consumidor é prestada em língua portuguesa. Por seu
turno, o Decreto-Lei n.º 238/86, de 19 de agosto, determina que as informações sobre a
natureza, características e garantias de bens ou serviços oferecidos ao público no mercado
nacional sejam prestadas em língua portuguesa.
O Decreto-Lei n.º 62/88, de 27 de fevereiro, obriga ao uso da língua portuguesa
no tocante às informações ou instruções respeitantes a características, instalação, serviço
ou utilização, montagem, manutenção, armazenagem, transporte, bem como as garantias
que devem acompanhar ou habitualmente acompanhem ou sejam aplicadas sobre
máquinas, aparelhos, utensílios e ferramentas.
O art.9.º do Decreto-Lei n.º 24/2014, de 14 de fevereiro, relativo a ato de comércio
fora de estabelecimento comercial vincula ao uso do português, enquanto o art.26.º do
Decreto-Lei n.º 10/2015, de 16 de Janeiro, referente ao acesso ao comércio, impõe a
prestação de informações em língua portuguesa.
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De todos estes preceitos, com relevo especial para o art.3.º do Decreto-Lei n.º
238/86 retiramos a regra de que, perante os consumidores finais deve ser usada a língua
portuguesa. A regra é aplicável a bens e serviços, o que é dizer: comércio, no seu todo.
Dadas as finalidades da lei, noa é possível recorrer a qualquer outra língua latina, mesmo
próxima: muitas vezes, palavras estrangeiras aparentemente semelhantes às nossas,
escondem diferenças de sentido que podem induzir em erro o consumidor.
Os preceitos que impõem o uso do português têm a ver com a tutela do
consumidor: não com a validade dos atos. Assim, a violação do Decreto-Lei n.º 238/86
não é sancionada com a nulidade dos contratos prevaricadores, mas a título de
contraordenação. Havendo danos, ela pode dar azo a deveres de indemnizar por violação
de normas de proteção, nos termos do art.483.º/1 CC. Inferir uma nulidade por via do
art.294.º CC pode redundar num dano maior para o consumidor, que se pretende proteger.
O uso de língua estrangeira nos contratos comerciais, celebrados em território
nacional, põe em crise o cumprimento dos deveres de informação que possam surgir a
favor do consumidor.
Tratando-se de cláusulas contratuais gerais, o uso da língua estrangeira pode ainda
implicar, nos termos do art.8.º da LCCG, a sua não-inclusão nos contratos singulares,
com o subsequente recurso às regras supletivas que pretendam afastar. Nos restantes
casos, seja com apelo à regra geral do uso do português para a tutela do consumidor, seja
por via da boa fé, o recurso a uma língua estrangeira, por parte do comerciante, faz correr,
contra este, o risco linguístico de quaisquer mal-entendidos.
Não se trata de uma defesa nacionalista da língua portuguesa mas, antes, da
proteção do comércio intra muros, o tal pequeno comércio a que hoje se aplica, em
especial, o Direito Comercial tradicional. A situação dos pequenos operadores ficaria
mais precarizada quando, no próprio território nacional, irrompesse o jargon dos negócios
em língua inglesa ou qualquer outro menos normalizado.
2. As comunicações à distância.
O art.97.º do Código Comercial fixava o valor da correspondência telegráfica. Em
síntese, era o seguinte:
- Os telegramas cujos originais houvessem sido assinados pelo expedidor
ou mandados expedir por quem figure como expedidor valem como documentos
particulares;
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A taxa é publicada pela Direção Geral do Tesouro e Finanças semestralmente. Neste momento a taxa é
de 8% para as transações abrangidas pelo DL n.º 62/2013.
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As letras, livranças e cheques são tratadas pelas leis uniformes respetivas, e têm a
sua própria autonomia enquanto disciplina jurídica, no Direito dos títulos de crédito.
As operações de bolsa incluem-se no Direito dos valores mobiliários.
As operações de banco dão azo aos contratos bancários: podem, comodamente,
englobar a conta-corrente, o empréstimo, o penhor e o depósito.
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A. Consensualidade e Normalização
A liberdade de forma dos atos jurídicos, genericamente prevista no art.219.º CC,
é ainda um corolário do princípio da autonomia privada. Assim, as partes podem obrigar-
se livremente, pela via que bem escolherem, salvo regra em contrário.
De um modo geral, podemos considerar que, no Direito Comercial, as exigências
formais são menores. Por isso, encontramos derrogações na forma exigida para certos
atos: normas comerciais especificas prescrevem, para certos atos, um formalismo menos
exigente do que o requerido no Direito Civil. Por vezes, áreas específicas do Direito
Comercial, como o Direito Bancário, fixam desagravamentos ainda maiores.
Esta ideia funciona perante outras atuações que devam acompanhar as declarações
de vontade, com relevo para a entrega da coisa, nos contratos reais quoad constitutionem.
Assim, o penhor civil exige o desapossamento do devedor – art.669.º/1CC; o penhor
mercantil contenta-se com a entrega simbólica da coisa – art.398.º C. Comercial; o penhor
bancário dispensa qualquer entrega.
A propósito de cada ato dotado de consagração legislativa, haverá que indagar a
solução vertida na lei.
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B. Delimitação Negativa
A autonomia das partes que domina o Direito Comercial encontra, na sua frente,
diversos vetores injuntivos que provocam a sua delimitação negativa.
Os requisitos gerais do negócio jurídico são aplicáveis aos contratos comerciais.
Assim, estes devem respeitar o art.280.º CC sendo, em especial:
- Possíveis, quer física quer juridicamente;
- Determináveis, ainda quando indeterminados, no momento da sua
conclusão;
- Lícitos;
- Conformes com os bons costumes e a ordem pública.
O exercício do comércio tem a sua deontologia. Poder-se-ia tolerar que o
ocasional caia na barganha e procure, num negócio, faturar vantagens extraordinárias.
Mas a um profissional isso não é permitido. Margens de lucro exorbitantes jogam, a prazo,
contra o mercado e contra os seus operadores. Um comerciante não pode enganar o seu
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A. Efeitos
A1. Validade
Nas uniões verticais, pode suceder que os contratos posteriores vejam a sua
validade dependente da dos anteriores. E isso por uma de três vias:
- Da legitimidade - Uma coligação de contratos pode estruturar-se de tal
modo que a legitimidade para a celebração de um segundo contrato dependa da
idoneidade de um primeiro. Por exemplo, a invalidade da agência determina, ipso
iure, a ilegitimidade da subagência.
- Do vício na formação da vontade - Verifica-se que, em certos casos, um
dos contratos é celebrado na convicção da existência válida do outro; uma falha a
nível deste último abre brechas no primeiro, por vicio na formação da vontade.
Tal é o caso radical do contrato-promessa/contrato definitivo: as partes que
celebrem uma compra e venda em execução de um contrato-promessa que se
venha a revelar nulo, podem proceder à competente anulação: ele foi celebrado no
pressuposto da existência do dever de contratar, no que pode ser considerado um
erro sobre o objeto.
- Da ilicitude - Traduz ocorrências nas quais um primeiro contrato
inviabilize a celebração de certos negócios. Pense-se num pacto de não-
concorrência: salvo um distrate, as partes envolvidas não podem celebrar negócios
de determinado teor. Caso ocorram, eles serão ilícitos com todas as consequências
que isso possa acarretar.
B. Conteúdo
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As coligações revelam, depois, no conteúdo. E isso por algum dos três caminhos
seguintes:
- Por remissão – Esta existe quando um contrato, de modo implícito ou
explicito, apele para outro, no tocante às regras que estabeleça.
- Por condicionamento - Existe nos casos em que um contrato não possa,
na sua regulamentação, ir além de certos limites prescritos em contrato anterior
ou, muito simplesmente, deva seguir vias por ele pré-determinadas.
- Por potenciação - Existe sempre que os contratos unidos sejam
necessários para a obtenção de objetivos comuns, os quais ficarão perdidos na
falha de algum deles.
C. Interpretação
As uniões têm um papel na interpretação.
Perante contratos unidos, em cadeia ou em cascata, a interpretação das declarações
em jogo deve ter o conjunto em conta. Um declaratário normal pode ser levado a dar, as
declarações negociais que porventura receba, sentidos diferentes consoante os contratos
antecedentes que, com elas, se apresentem conectados. Elas refletem, ainda, na cessão
dos contratos envolvidos: dependendo do caso concreto, pode a impunibilidade de um
dos contratos coligados, inviabilizar o conjunto, assim como a resolução ou a denúncia
de alguns deles podem fazer cair todas elas.
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As partes, quando iniciam negociações, não estão totalmente livres, não lhes é
possível praticar atitudes arbitrárias. Nas negociações preliminares, as partes devem
respeitar os valores fundamentais da ordem jurídica, pautando-se pela boa fé. O Código
Civil deixa claro esta solução no art.227.º.
Como figura assente num conceito indeterminado: o da boa fé, a responsabilidade
pré-negocial carece de um processo concretizador, a operar perante cada problema real.
O conhecimento e a ponderação das decisões jurisprudenciais que a consubstanciam têm,
pois, o maior interesse teórico e prático.
Uma sistematização operada com base na jurisprudência mais rica no domínio da
culpa in contrahendo permite afirmar que ela ocorre quando, na fase preparatória dum
contrato, as partes não acatem certos deveres de atuação que sobre elas impendem. E tais
deveres analisam-se em três grupos:
- Deveres de Proteção: nos preliminares contratuais, as partes devem
abster-se de atitudes que provoquem danos nos hemisférios pessoais ou
patrimoniais uma das outras; quando não, há responsabilidade;
- Deveres de Informação: num processo destinado à procura de consenso
contratual, as partes devem, mutuamente, prestar-se todos os esclarecimentos e
informações necessários à celebração de um contrato idóneo; ficam, em especial,
abarcados todos os elementos com relevo direto e indireto para o conhecimento
da temática relevante para o contrato, sendo vedada quer a omissão do
estabelecimento, quer a prestação de esclarecimentos falsos, incompletos ou
inexatos; as doutrina e jurisprudência da atualidade conferem uma intensidade
particular aos deveres de esclarecimento, a cargo de uma parte forte e a favor da
fraca;
- Deveres de Lealdade: a necessidade de respeitar, na sua teologia, o
sentido das negociações preparatórias não se esgota num nível informativo;
podem surgir deveres de comportamento material, com o mesmo sentido de evitar,
nos preliminares, atuações que se desviem da busca honesta dum eventual
consenso negocial; tais deveres englobam-se na ideia de lealdade; subcaso típico
e clássico de deslealdade in contrahendo reside na rutura injustificada das
negociações. Mas outras situações surgem, com relevo para aprática, nos
preliminares ou lateralmente, de atos de concorrência desleal.
Em termos gerais, o instituto da culpa in contrahendo, ancorado no princípio da
boa-fé, recorda que a autonomia privada é conferida às pessoas dentro de certos limites e
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B. Jurisprudência Comercial
A jurisprudência comercial portuguesa tem consagrado, dada a sua dimensão, a
culpa in contrahendo. E fê-lo, com especial acuidade, no domínio dos deveres de lealdade
pré-negociais, e no do dever duma completa e exata informação. Curiosa e
sugestivamente, as decisões emblemáticas sobre a culpa in contrahendo giram em torno
de questões comerciais.
O sentido geral da jurisprudência é bastante claro; deve, no entanto, ser precisado.
Em princípio, não há, nas negociações preliminares, um dever de celebrar o contrato
visualizado. Mas há, por certo, um dever de negociar honestamente.
Isso implica, desde logo:
- Que a parte não tenha a intenção de levar por diante as negociações o
deva, de imediato, comunicar à contraparte, de modo a não provocar, nela,
esperanças vãs, que induzam danos;
- Que a parte que detenha, nas negociações, informações vitais para a outra
parte as deva, também de imediato, comunicar à contraparte, de modo a evitar
contratos distorcidos e, posteriormente, danos; se não o quiser fazer, basta-lhe não
contratar.
Como se vê, mesmo as hipóteses de deslealdade, particularmente claras na rutura
injustificada das negociações, há sempre, ainda que mediatamente, um dever de
informação subjacente, que não foi cumprido.
C. Sentido e Consequências
A violação do art.227.º/1 CC, dá lugar a consequências que importam referir.
A pessoa que cometa tal violação está a pôr em causa deveres específicos de
conduta, de base legal. Assim, na opinião do professor MENEZES CORDEIRO, a
responsabilidade é obrigacional e não, apenas, aquiliana: foram violadas obrigações
legais e não, somente, o dever genérico de respeito, implícito no art.483.º/1 CC.
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relevância jurídica. A contratação mitigada daria azo a direitos e deveres diferentes dos
do contrato clássico mas, de todo o modo, com natureza jurídica.
No universo da contratação mitigada, pode-se encontrar, como exemplos
sedimentados pela prática, as seguintes figuras:
- As Cartas de Intenção (letters of intent): trata-se de declarações que
consignam uma vontade já sedimentada, mas que postulam, ainda, a prossecução
de determinadas negociações;
- Os Acordos de Base (heads of agreement, principles of agreement ou
Grundvereinbarungen): são acordos que surgem em negociações complexas, para
consignar o consenso no essencial, uma vez obtido; as negociações prosseguirão
depois, a nível teórico, para aplainar os aspetos secundários;
- Os Protocolos Complementares: surgem como convénios acessórios que
vêm regulamentar ou completar contratos nucleares.
Sendo sérias, as diversas figuras produzem, sempre, efeitos jurídicos. Assim e de
acordo com uma ideia meramente exemplificativa:
- As cartas de intenção sedimentam os aspetos nela consignados,
obrigando as partes envolvidas a prosseguir as negociações a partir do que, nelas,
esteja consignado;
- Os acordos de base envolvem o dever de respeitar o que neles se exprima,
mandando prosseguir as negociações de acordo com as linhas neles expressas;
- Os protocolos complementares resultam dos convénios nucleares,
devendo ser processados de modo a não provocar a sua frustração.
A contratação mitigada não se trata de uma contratação mais fraca, antes, duma
contratação diferente. Os deveres que resultem das várias fórmulas, acima referidas
poderão ser simples deveres de procedimento, de esforço ou de negociação. Mas eles
existem e devem ser cumpridos. A negociação, no seu todo, funciona como um valor
comercialmente relevante, que deve ser reconhecido e protegido pelo ordenamento.
A grande dúvida coloca-se perante as consequências do incumprimento. Quando
uma parte se recuse a prosseguir as negociações, quid iuris? Pode o Tribunal substituir o
faltoso ou deve este ser condenado em mera indemnização?
Na opinião do professor MENEZES CORDEIRO, tudo depende da
determinabilidade do contrato definitivo:
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B. Cláusula de hardship
A cláusula hardship tem o seu campo natural de aplicação no âmbito dos contratos
de longa duração. Ela permite à parte lesada pedir a renegociação do contrato quando a
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com base na gravidade das culpas de ambas as partes e nas consequências que delas
resultam, se a indemnização deve ser totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída.
Não obstante, as partes nos contratos internacionais convencionam com
frequência esta cláusula, colocando-se resguardo da insegurança gerada pela ausência de
regulamentação, diversidade de regimes, etc.
A regra surge em muitos documentos, incluindo convenções; assim no art.77.º da
Convenção de Viena: a parte que invoca a violação do contrato deve tornar as medidas
razoáveis, face às circunstâncias, para limitar a perda, ai compreendido o lucro cessante,
resultante da violação contratual. Se não o fizer, a parte faltosa pode pedir uma redução
da indemnização por perdas e danos, no momento da perda que deveria ter sido evitada.
Destaque-se ainda o artigo 7.4.8 dos Principios Unidroit:
“1. O devedor não responde pelo prejuízo que poderia ter sido atenuado pelo
credor tomando providências razoáveis.
2. O credor tem direito a ser reembolsado das despesas razoáveis em que incorra
para atenuar o prejuízo.”
De acordo com esta cláusula, a parte lesada no contrato, face ao incumprimento
da outra parte, deve adotar a conduta razoável indicada para minimizar os prejuízos, quer
a nível de danos emergentes quer de lucros cessantes. A questão difícil estará na
determinação do que seja conduta razoável: estamos perante uma cláusula geral que deve
ser ajuizada caso a caso, em concreto.
D. Cláusula de Revisão
As cláusulas de revisão são, normalmente, divididas em duas modalidades:
cláusulas de revisão automática e cláusulas de revisão concorrente.
Nas cláusulas de revisão automática as partes preveem a revisão do conteúdo do
contrato, máxime das prestações a cargo das partes ou de uma delas, de forma automática,
ocorrendo uma modificação objetiva de referencias externas ao contrato, como seja a
inflação, em função da taxa apurada ou publicitada nos termos previstos no contrato.
Um exemplo característico é o das cláusulas de indexação, que determinam a taxa
de juro por referência a um índice.
Nas cláusulas de revisão concorrente é prevista a revisão do contrato em vigor
entre as partes quando uma delas tenha recebido de terceiro ou oferecido a terceiro uma
proposta concorrente. O campo principal da aplicação destas cláusulas é o dos contratos
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F. Cláusulas compromissórias
São reconhecidas as vantagens da arbitragem, quando confrontada com a
resolução judicial de litígios:
- Celeridade;
- Especialização;
- Confidencialidade;
- Maior garantia de imparcialidade ou de neutralidade (face aos tribunais
estaduais, em certos países);
- Facilidade de exequibilidade.
Através de cláusulas compromissórias, as partes acordam o recurso a arbitragem
em caso de conflito. É certo que as arbitragens têm a desvantagem de serem caras;
contudo, time is money. Escreve a propósito, LIMA PINHEIRO: a arbitragem
transnacional é o modo normal de resolução de litígios no comércio internacional, sendo
o recurso aos tribunais estaduais, neste domínio, marginal.
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pode opor-se à transmissão da posição contratual provando que o cessionário não oferece
garantias bastantes à execução do contrato.
- De acordo com o art.95.º/5 da LCS, a transmissão da empresa ou do
estabelecimento determina a transferência para o adquirente dos seguros associados a
essa unidade económica, nos termos previstos nos números 2 e 3 do mesmo artigo. Trata-
se de um regime de transmissão ope legis, que tem uma explicação comercial, associada
à agilização da circulação da empresa ou do estabelecimento.
- O art.285.º/1 CT estabelece, como efeito da transmissão da titularidade da
empresa ou estabelecimento, a qualquer título, a transmissão para o adquirente da posição
de empregador nos contratos de trabalho dos respetivos trabalhadores, aplicando-se
idêntico regime no caso de transmissão de parte da empresa ou estabelecimento que
constitua uma unidade económica. Estamos face a uma situação de transmissão ope legis,
cuja explicação não tem a mesma lógica e a mesma ratio daquela que identificamos no
regime do art.1112.º/1/a CC: não estando aqui arredadas razões de índole jurídico-
comercial, avultam as de proteção dos trabalhadores e dos respetivos postos de trabalho.
- O art.100.º/1 CDA não se afasta da regra geral do art.434.ºCC: o editor não pode,
sem consentimento do autor, transferir para terceiros, a título gratuito ou oneroso, direitos
seus emergentes do contrato de edição; contudo, o mesmo art.100.º/1 exceciona as
situações em que a transferência resulte de trespasse do estabelecimento do editor. Do
mesmo modo, o art.145.º do mesmo código consagra em sede de contrato de produção
fonográfica, o princípio, conforme ao regime geral do art.424.º CC, de insusceptibilidade
de transferência para terceiros dos direitos emergentes do contrato de autorização sem
consentimento dos autores, mas logo exceciona o caso de trespasse do estabelecimento.
As situações expostas não permitem, porém, dispensar em pleno, no campo dos
contratos comerciais, o regime geral do art.424.º CC, que continua a ter aplicação: não
permitem ir além do critério proposto por OLIVEIRA ASCENSÃO, não dispensando,
assim, o consentimento da contraparte quando a situação contratual não seja de natureza
exploracional, na empresa ou estabelecimento em causa.
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2. O mandato comercial.
No Código Veiga Beirão, a representação comercial aparece a propósito do
mandato. Falta-nos a figura da Prokura ou procuração comercial, patente no HGB. A essa
luz, compreende-se que seja regulada no seu local de tradição. Podemos pois considerar
que, no Direito comercial, a representação se mantém no âmbito de influência
napoleónica enquanto, no civil, há muito evoluiu para o estilo germânico. Além disso, há
que lidar com práticas comerciais diferenciadoras e com o estilo próprio da disciplina.
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A. A tutela de terceiros
No Direito mercantil português, não encontramos preceitos diretamente
destinados à tutela de terceiros. Apenas cabe anotar o art.242-º, segundo o qual o
mandatário deve exibir o título que lhe confira os poderes: não pode opor a terceiros
quaisquer “…instruções que houvesse recebido em separado do mandante…”, salvo
provando que os terceiros em causa delas tinham conhecimento.
Todavia, os terceiros são protegidos através do registo comercial.
Com efeito, nos termos do art.10.º/a CRC, o mandato escrito, suas alterações e
extinção estão sujeitos a inscrição comercial. A aparência daí resultante é tutelada, em
termos negativos e positivos, por via dos art.14.º/1 e 22.º/4, de acordo com a análise acima
realizada.
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B. A tutela de terceiros
A procuração não pode ser tratada como uma exclusiva relação entre representante
e representado. A modificação ou a cessação súbitas de uma procuração podem contundir
com a confiança de terceiros que, crentes na manutenção dos poderes de representação
ainda existentes, tivessem mantido uma atividade jurídica com o representante.
Procurando contemplar os interesses e a confiança desses terceiros, mas sem
descurar a posição do representado, o art.266.º CC, estabeleceu as seguintes regras:
- Havendo modificações ou revogação da procuração, devem elas ser
levadas ao conhecimento de terceiros por meios idóneos; esta regra deve ser
entendida como um encargo em sentido técnico, pois da inobservância apenas
deriva uma inoponibilidade das modificações ou da revogação (n.º1);
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Em qualquer dos casos, teria de exigir a boa-fé do terceiro protegido: a tutela não
opera quando ele conhecesse ou devesse conhecer a falta da procuração.
E no Direito português?
Fora de qualquer previsão específica, a confiança só é protegida, no Direito
português, através da boa-fé e do abuso do Direito. Assim, não admitimos nem a
“procuração tolerada” nem a “procuração aparente”. Todavia, o terceiro que seja
colocado numa situação de acreditar, justificadamente, na existência de uma procuração,
poderá ter proteção: sempre que, do conjunto da situação, resulte que a invocação, pelo
“representado”, da falta de procuração constitua abuso do direito, seja na modalidade do
venire contra factum proprium, seja na da surrectio.
Em qualquer dos casos, exigir-se-á cautela a parcimónia na concessão de tal tutela.
De notar que o Direito Português, no caso especial do contrato de agencia (art.23.º DL n.º
178/86, de 3 de Julho) admite a figura da representação aparente. Resulta do teor deste
preceito um esquema bastante semelhante ao que resultaria da concretização da cláusula
geral de boa-fé.
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3. Contrato de mediação.
3.1. Evolução histórica
3.1.1. Direito antigo e o Código Ferreira Borges (1833)
Na tradição jurídica portuguesa, a atual figura do mediador era incluída, sem
distinções, na de corretor. E a este dedicou a Lei, tradicionalmente, a maior atenção.
O Código Comercial Ferreira Borges incluía a matéria dos corretores na secção II
do título II do Livro I, Parte I, precisamente intitulada Dos Corretores: art.102.º-140.º. O
art.102.º apresentava o corretor nestes termos: o officio de corretor é viril e publico. O
corretor, e ninguém mais, pode intervir e certificar legalmente os tractos e negociações
mercantis.
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supervisão, pelo Decreto-Lei n.º 1/2015 de 6 de janeiro e pela Lei n.º 147/2015 de 9 de
setembro.
A mediação dos seguros é versada no Direito dos Seguros.
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sua transparência, a rápida e eficiente formação dos preços, a fluidez e o sigilo das
transações.
Isto posto, fixou-se um regime simples, assente nos pontos seguintes:
- Exigência de forma de sociedade anónima ou por quotas;
- Exigência de exclusividade e de exercício por conta de outrem;
- Incompatibilidade;
- Registo no Banco de Portugal.
A aprovação, pelo Decreto-Lei n.º 289/92 do Regime Geral das Instituições de
Crédito e Sociedades Financeiras, permitindo a aprovação de um novo regime: mais
simplificado. Tal foi o papel do Decreto-Lei n.º 110/94.
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pode, no entanto, ser invocada pela entidade mediadora; a sua invocação pelo interessado,
para não pagar a comissão pode, todavia, constituir abuso do direito. Logo, também o não
poderá ser nem por qualquer interessado, nem ex-officio: apenas pelo cliente do mediador.
Estamos, pois, perante uma nulidade atípica.
Além disso, tendo sido obtido êxito com a mediação, mesmo havendo nulidade
formal do contrato, como não é possível restituir os serviços prestados, a comissão sempre
seria devida. Há um claro favor negotii, por parte da nossa jurisprudência, o qual é,
inclusive, prosseguido também através de regras de Direito Transitório.
Nos casos de mediação sujeitos a maiores densidades regulativas, haverá que
atentar bem nos competentes regimes. Pense-se nos casos da mediação mobiliária e na
dos seguros.
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3.5.3. A Retribuição
A mediação, particularmente quando comercial, é onerosa. Cabe às partes, no
contrato, prever com toda a precisão:
- Qual a retribuição devida;
- Em que circunstâncias ela deve ser paga;
- Em que momento terá lugar a sua satisfação.
A retribuição efetiva, muitas vezes, através de uma comissão sobre o preço do
negócio definitivo: donde o dizer, correntemente, apenas comissão.
Aquando da retribuição e do seu pagamento, há que contar com os deveres fiscais
envolvidos: retenção na fonte e IVA.
Na falta de estipulação das partes ou na sua insuficiência, há toda uma ponderação
jurisprudencial que permite precisar as proposições seguintes:
- A retribuição só é devida com a conclusão do contrato definitivo: não
bastam esforços nesse sentido, ainda que o mediador tenha o direito de ser
indemnizado;
- A atividade do mediador deve ser causa adequada ao fecho do contrato
definitivo; ou então: este deve alcançar-se como efeito de intervenção do
mediador;
- A remuneração é devida mesmo que o contrato definitivo não venha a ser
cumprido;
- Na hipótese de só não se ter concluído o negócio definitivo por causa
imputável ao comitente;
- A subsequente declaração de nulidade do contrato, por causa não
imputável à mediadora, não afeta o direito desta à retribuição;
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3.5.4. A Cessação
O contrato de mediação cessa pelas razões que, nele, as partes tenham querido
inserir. Quando nada digam, teremos de recorrer às regras gerais. Assim:
- Quando pactuado para um concreto negócio, ele cessa caso esse negócio
se obtenha ou, ainda, na hipótese de ele se tornar definitivamente impossível;
- Independentemente disso, o contrato termina pelo incumprimento
definitivo de qualquer das partes.
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4. A distribuição e o Direito.
Qualquer economia moderna assenta numa divisão de funções e tarefas. Assim.
Os circuitos económicos de distribuição dos bens, desde o produtor até ao consumidor
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final, são dobrados por esquemas jurídicos destinados a legitimá-los, fixando os direitos
e os deveres das partes envolvidas.
De facto, os códigos comerciais não têm autonomizado e regulado os contratados
de distribuição, até porque muitos deles correspondem a figuras relativamente recentes,
de inspiração norte-americana. Deste modo abrem-se lacunas, as quais são colmatas:
- Por recurso à analogia – isto a partir de formas [contratuais] efetivamente
existentes, normalmente dedicadas ao contrato paradigmático da agência; ou
- Com base em cláusulas contratuais gerais – estas devidamente sindicadas (i.e.,
fiscalizadas, inspecionadas) pela prática.
A comercialização dos bens e a sua distribuição na sociedade, pode ser feita de
forma direta ou indireta. Neste sentido:
- A distribuição direta – aqui, o bem passa diretamente do produtor ao consumidor,
ainda que, por vezes, através de representantes, de comissários ou de mediadores;
- A distribuição indireta – nesta, o bem atravessa várias fases, passando do
produtor ao agente económico grossista6 ao retalhista7 e do retalhista ao consumidor final.
Já por seu turno, a distribuição indireta pode ser integrada ou não-integrada. Neste
sentido:
- Distribuição indireta integrada – nesta existe uma coordenação entre a produção
e a comercialização, de tal modo que o distribuidor é integrado em circuitos próprios do
produtor, sujeitando-se, por vezes, às suas diretrizes;
- Distribuição indireta não-integrada – nesta não há a referida coordenação; os
distribuidores atuam sem concertação com os produtores.
Particularmente relevantes são, neste domínio e entre nós, as regras da
concorrência, inseridas na Lei n.º 18/2003 de 11 de junho (já revogada pela Lei n.º
19/2012 de 8 de maio, a qual veio a aprovar o novo Regime Jurídico da Concorrência,
Lei 19/2012 que também já alterada pela Lei n.º 23/2018 de 5 de junho), regras essas que
vedam os acordos e práticas concertadas tendentes a interferir nos mercados:
Artigo 9.º (da Lei n.º 19/2012 de 8 de maio)
Acordos, práticas concertadas e decisões de associações de empresas
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Grossista – ou ainda armazenista, é aquele comerciante que vende, compra ou fornece por grosso. O
vendedor ou distribuidor grossista, regra geral, não entra em contacto direto com o consumidor final. A sua
função mais habitual dentro da cadeia de distribuição é ser o intermediário entre o produtor ou fabricante e
o vendedor retalhista.
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Retalhista - é aquele comerciante que têm um contacto mais estreito com o público, em especial com os
pequenos consumidores privados.
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A. Os contratos de distribuição.
Dos diversos esquemas de distribuição acima referidos, interessa reter a
distribuição indireta integrada. Este tipo de distribuição pressupõe, em regra, a celebração
dos adequados instrumentos contratuais entre os interessados, designadamente, entre o
produtor e os distribuidores.
A doutrina especializada aponta 4 tipos de situações jurídicas possíveis:
- A agência;
- A concessão;
- A franquia;
- A livre organização de cadeias.
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À semelhança do que ocorre com o mandato, a agência pode ser celebrada com
ou sem representação (art.2.º/1 do DL n.º 178/86 de 3 junho). Mas havendo representação,
presume-se que o agente está autorizado a cobrar créditos do principal (art.3.º/2 do DL
n.º 178/86 de 3 junho).
Já na agência sem representação, das duas uma:
- Ou o agente contrata em nome próprio devendo, depois, retransmitir para
o principal a posição adquirida;
- Ou o contrato é celebrado, pelo cuidado do agente, diretamente entre o
principal e o terceiro.
A agência pode ser celebrada com vista à celebração de contratos num círculo
predeterminado: seja a uma circunscrição geográfica (v.g., o distrito de Lisboa), seja a uma
delimitação pessoal (v.g., um agente para juristas), seja, finalmente, a uma combinação de
ambos. Essa delimitação pode ser associada a uma cláusula de exclusivo (art.4.º do DL
178/86) e, neste contexto, o principal não deve, no círculo que caiba ao agente, contratar
qualquer outro agente quando este possa exercer atividades em concorrência com o
primeiro.
Num paralelo com o disposto no mandato (art.1165.º do CC) o agente pode
recorrer a auxiliares e substitutos, contratando subagentes (art.5.º do DL 178/86), seja
diretamente seja a fortiori.
O disposto sobre a agência aplica-se à subagência, com as necessárias adaptações.
Fica todavia claro que, em relação ao principal, não pode o subagente receber poderes
que o próprio agente não detivesse.
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Tem o agente ainda direito a uma comissão pelos contratos que haja promovido
e, ainda, pelos contratos concluídos com clientes por si angariados, desde que concluídos
tais contratos antes do termo do contrato (cfr. art.16.º do DL 178/86).
O direito à comissão mereceu ao legislador uma particular atenção, no que diz
respeito à sua concretização. Neste sentido e segundo o art.18.º do DL 178/86:
- O agente adquire o direito à comissão quando ocorra uma de duas
circunstâncias: ou o principal cumpra ou deva ter cumprido o contrato, ou o
terceiro o haja cumprido;
- Tendo o principal executado a sua obrigação e tendo o terceiro cumprido
o contrato ou devesse fazê-lo, o agente adquire o direito à comissão mesmo que
haja cláusula em contrário;
- A comissão deve ser paga até ao último dia do mês seguinte ao trimestre
em que o direito tiver sido adquirido;
- Havendo convenção del credere, pode o agente exigir as comissões
devidas, uma vez celebrado o contrato: isto é evidente, dado que ele [agente]
garante o seu cumprimento pelo terceiro.
O agente tem ainda direito a ser avisado de qualquer diminuição da atividade
principal, isto seja perante aquilo que foi convencionado, seja perante o que seria de
esperar (cfr. art.14.º do DL 178/86).
Já em compensação e salvo cláusula em contrário, o agente não tem direito ao
reembolso de despesas pelo exercício normal da sua atividade (cfr. art.20.º do DL
178/86). No fundo, trata-se de um tributo por ele prestado face à autonomia de que
desfruta.
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contratual; outras são injuntivas. Entre estas últimas contam-se as relativas à cessação do
contrato e, particularmente, as que fixam pré-avisos e a indemnização de clientela.
O contrato de franquia é ainda dominado por uma certa relação de confiança, que
ambas as partes devem preservar.
Como o contrato de franquia é, muitas vezes, celebrado com recurso a cláusulas
contratuais gerais, a LCCG é um instrumento jurídico privilegiado para facultar ao
Tribunal o controlo das cláusulas injustas.
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7.5. Os incoterms
No comércio internacional, particularmente no setor dos transportes, foi-se
tornando habitual a utilização de cláusulas típicas, estas expressas pelas siglas respetivas
em inglês.
Pense-se, por exemplo, nas cláusulas FOB (free on board) ou CIF (cost, insurance
and freight).
Para evitar os inconvenientes daí resultantes, a Câmara de Comércio Internacional
(CCI) de Paris procurou interpretar as cláusulas em uso, consolidando-as. Assim surgiram
os incoterms: de international commercial terms.
Os incoterms repartem-se por 4 grupos, de acordo com o seu sentido geral. Assim:
- Grupo E (de “ex”, partidas): obrigação mínima para o exportador - a
mercadoria é entregue no local de produção ou “fábrica”;
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Entre nós, houve Doutrina que já se respondeu negativamente – esta é a posição de LIMA PINHEIRO, in
Direito Comercial Internacional.
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A avaliação dos danos faz-se por convenção, ou nos termos gerais de Direito –
cfr. art.384.º CCom.
O destinatário pode, a expensas suas, fazer verificar o estado dos objetos
transportados – cfr. art.385.º CCom.
A presunção de culpa do transportador opera no tocante às diversas formas do
Direito internacional dos transportes. A este respeito a Convenção de Genebra de 19 de
maio de 1956 (CMR) prevê presunções de culpa, sendo certo que ela se aplica a todos os
danos contratuais. Segundo o art.17.º/1 da CMR, o transportador é responsável pela perda
total ou parcial da coisa, desde o carregamento até à entrega. Fica incluído o furto da coisa
o qual, em certas condições, não é imprevisível.
Mas o transportador pode ainda provocar danos extracontratuais. A jurisprudência
já entendeu, nessa eventualidade, que se desemboca na responsabilidade aquiliana, com
a consequente aplicação do prazo curto de prescrição previsto no art.498.º CC.
O transportado entrega-se, para todos os efeitos, nas mãos do transportador. Para
além do que resulte do contrato, há deveres de segurança assentes na boa-fé e que
decorrem do art.762.º/2 CC. Quando tais deveres se mostrem violados, a responsabilidade
do transportador é obrigacional, ocorrendo a presunção de culpa do art.798.º e seguintes
CC.
Para além disso, há que observar as convenções internacionais aplicáveis.
O transportador responde perante o destinatário, incluindo por atos de agentes e
auxiliares. Mais, a baldeação (i.e., o transbordo) e a descarga são também risco dele.
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7.14. A natureza
Nos moldes civilísticos, o contrato de transporte é uma prestação de serviço.
Todavia, não é o serviço em si que interessa ao contratante: releva, para este, apenas o
resultado; isto é, ao contratante o que releva é a colocação da pessoa ou do bem, íntegros,
no local de destino. Por isso, o transporte funciona como modalidade de empreitada.
Podemos ainda acrescentar que, por relevar o resultado final, o contrato de transporte
acaba por assumir um conteúdo lato: abrange todas as operações necessárias para que o
seu sentido útil possa se atingido.
Um especial problema é posto pela figura do destinatário, o qual pode assumir
posições ativas, incluindo direitos. Mas como e que isto é possível, uma vez que o
contrato é celebrado entre o interessado e o transportador? A este respeito, existem 2
teorias básicas:
1.ª - A teoria do contrato trilateral – Segundo o qual, o contrato de
transporte é um negócio negócio a três: o expedidor, o transportador e o
destinatário. Este último daria o seu acordo num momento ulterior.
2ª - A teoria do contrato a favor de terceiro - perfilhada pela
generalidade da doutrina alemã, descobre no transporte um contrato a favor do
destinatário, ao qual este pode aderir nos termos gerais do Código Civil.
De facto, a estrutura básica “a favor de terceiro” (cfr. art.443.º e seguintes CC)
mantém-se. As especificidades são naturais: embora a favor de terceiro, o contrato de
transporte constitui uma indubitável figura especializada, em traços legais específicos.
Em suma: o contrato de transporte é uma prestação de serviço tipo empreitada, em
regra a favor de terceiro e dotado de um regime mercantil especializado.
8. O empréstimo. Tópicos.
Designa-se por empréstimo mercantil, o contrato pelo qual uma das partes entrega
ou se obriga a entregar à outra dinheiro ou coisa fungível destinada a qualquer atividade
comercial, ficando a ultima obrigada à respetiva restituição.
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Quanto ao penhor bancário, está previsto no DL n.º 29833, que permite o penhor
bancário sem se recorrer ao desapossamento simbólico, ou seja, na pureza dos conceitos,
basta um contrato entre as partes (comerciante e banqueiro) para que o penhor se efetive.
Designa-se por penhor mercantil o contrato pelo qual uma das partes confere à
outra, em garantia de um crédito comercial desta última e com preferência sobre os
demais credores comuns, o direito a ser paga pelo valor de determinada coisa ou direito
de que a primeira é titular.
A figura encontra-se genericamente prevista e regulada no Título XII do Livro
OO do CCom (art.397.º a 402.º), muito embora sejam igualmente de ter em conta, quer a
relevância subsidiária das normas gerais do CCivil (art.666.º e seguintes), quer sobretudo
a existência de numerosos subtipos específicos de penhor mercantil.
Estão neste caso, apenas para falar dos mais relevantes, o penhor de empresa, o
penhor de estabelecimento individual de responsabilidade limitada, o penhor de valores
mobiliários, o penhor em garantia de créditos bancários, o penhor de partes sociais, o
penhor cambiário, ou o penhor financeiro.
O regime do penhor mercantil, previsto no CCom, é caracterizado por diversos
traços próprios – de todos insuficientes, diga-se aliás, para fazer jus às necessidades
especificas do tráfico comercial e empresarial hodierno.
Por um lado, quanto à sua própria existência, o penhor apenas se diz mercantil,
quando a divida principal ou garantida proceda de uma atividade comercial (art.397.º
CCom): de novo, tal como noutros contratos previstos no CCom (empréstimo, depósito,
etc.), decisivo é a estirpe ou genealogoia comercial da atividade subjacente ao contrato
(in casu, de débito garantido), não sendo relevante, em princípio, a qualidade das partes
contratantes (v.g., um penhor para caucionar dívida civil de comerciante não possuirá
natureza comercial, já sendo comercial um penhor concluído entre particulares para
garantir divida emergente de ato comercial esporádico ou ocasional praticado por
qualquer deles).
Por outro lado, quanto ao penhor mercantil de coisa, a lei comercial consagrou
expressamente a relevância da entrega simbólica (art.398.º CCom): o negócio considera-
se validamente constituído independentemente da entrega material da coisa empenhada
ao credor pignoratício (que assim permanece em poder do devedor como fiel depositário),
bastando a transmissão ou traditio das competentes declarações ou documentos
comprovativos de titularidade (v.g., a entrega ou endosso de titulo de crédito
representativo de mercadorias).
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Por outro lado ainda, quanto ao penhor de direitos, a regra geral do art.681.º/1 CC
(segunda qual a respetiva constituição está sujeita à forma e publicidade requeridas para
a transmissão dos direitos empenhados) deve ser devidamente integrada pelas pertinentes
disposições especiais da lei comercial: no penhor de títulos de crédito, o art.19.º LULL;
no penhor de ações e obrigações, o art.23.º/3 CDC, os art.81.º/1 e 103 CVM, e o art.3.º/1/f
CRCom), e assim sucessivamente.
Por outro lado também, relativamente à sua eficácia e regime probatório, o penhor
entre comerciantes produz efeitos em relação a terceiros mediante a sua mera redução a
escrito: ao passo que a lei civil faz depender sempre a eficácia pignoratícia da entrega da
coisa empenhada ao documento que confira a sua exclusiva disponibilidade
(art.669.º/1CC), a lei comercial bastou-se, em matéria de eficácia erga omnes, com a mera
exibição de documento escrito ainda quando este não confira a exclusiva disponibilidade
da coisa empenhada, v.g., correspondência comercial, livros de escrituração mercantil
(art.400.º CCom).
Finalmente, entre os direitos do credor pignoratício, avulta o da venda do penhor:
vencida a dívida garantida, o credor poderá promover a venda judicial ou extrajudicial da
coisa empenhada, a qual poderá efetuar-se por intermédio de corretor, notificado o
devedor (art.401.º CCom).
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Para além destas noções gerais, as regras do CC devem estar sempre presentes,
em qualquer compra e venda comercial.
Assim, perante dois regimes para a compra e venda (o regime civil e o regime
comercial), compreende-se a preocupação que o legislador pôs na exata delimitação do
tipo contratual. Neste sentido, o art.463.º do CComercial começou por fixar o que
considera compras e vendas comerciais. São elas, segundo os seus 5 números:
- A compra de móveis para revenda ou para aluguer;
- A compra, para revenda, de fundos públicos ou de quaisquer títulos de
crédito;
- A venda de móveis, de fundos públicos ou de títulos de crédito, quando
tivessem sido adquiridos com o intuito de revenda;
- As compras, para revenda, de imóveis de imóveis e a revenda dos imóveis
adquiridos com esse intuito;
- As compras e vendas de partes ou de ações de sociedades comerciais.
O Direito Comercial separa a compra e venda, distinguindo nela as duas
operações:
- A compra em si – pela qual o sujeito adquire o direito, pagando o preço;
- A venda – pela qual se arrecada um preço, abrindo mão do direito.
Trata-se da técnica possibilitada pela existência dos chamados “atos mercantis
unilaterais”- i.e., aqueles atos que o são [mercantis] apenas com referência a uma das
partes.
Infere-se dos 4 primeiros números do art.463.º do CComercial que a pedra de
toque da comercialidade da compra ou venda, reside na sua inserção num processo de
aquisição para revenda. Ou, se se preferir:
- A “compra e venda comercial” visa o lucro, enquanto a “compra e venda
civil” procura, simplesmente, a aquisição do bem.
Embora objetivamente comercial, a compra e venda mercantil é, assim, detetada
pelo facto de ser praticada por um comerciante no exercício da sua profissão. Esta
asserção é confirmada pela primeira exclusão levada a cabo pelo art.464.º do CComercial.
Já mais objetivamente comercial é a hipótese do art.463.º/5 do CComercial.
Finalmente, na determinação do tipo comercial da compra e venda, veio ainda a
pesar determinada tradição jurídico-cultural quando, para certas disciplinas privadas, se
dá este perfil; excluindo, para tanto, da consideração de atos comerciais, os atos
constantes dos números art.464.º. Tratam-se no caso, das exclusões relativas:
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11.1. Modalidades
A lei comercial fixa determinadas modalidades de compra e venda, mais em uso
no comércio, para as quais fixa regras supletivas. Nada impede que os contratos
puramente civis recorram a tais regras, ou que contratos comerciais as afastem. Estamos
numa área essencialmente dominada pela autonomia privada. Neste sentido:
- A primeira modalidade é a do contrato para pessoa a nomear. Aqui, o art.465.º
do CComercal declara possível esta ocorrência sem, para ela, prescrever qualquer regime.
Já o CC veio a regular esta pessoa (no denominado “contrato para pessoa a
nomear”) nos seus art.452.º a 456.º: tratam-se de regras subsidiariamente aplicáveis no
campo comercial, as quais estão bem adaptadas à atual realidade.
No que diz respeito à venda sobre amostra, segundo o art.469.º do CComercial,
tal venda considera-se sempre feita debaixo da condição de a coisa ser conforme à
amostra ou à qualidade convencionada. Este regime é justo e razoável.
O Código Civil prevê idêntica situação no seu art.925.º.
Os art.470.º e 471.º do CComercial reportam-se a vendas que não estejam à vista
nem possam designar-se por um padrão, submetendo-as ao que o Código Civil chama
“Segunda qualidade de venda a contento” (cfr. art.924.º do CC).
O art.471.º do CComercial dá um prazo de 8 dias para a consolidação das vendas
por amostra ou a contento.
Mas havendo dolo do vendedor este preceito não se aplica: assim, mesmo na
compra e venda comercia haverá que recorrer (subsidiariamente) aos art.913.º e seguintes
do CC. Esta é uma solução duvidosa e que careceria de uma investigação mais profundo,
no entendimento de MENEZES CORDEIRO.
Quanto às coisas não vendidas a ermo ou por parte incerta, mas por conta, peso e
medida - cfr. art.472.º do CComercial - seguem o regime das obrigações genéricas, regime
este previsto dos art.532.º a 542.º do CC.
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Ou seja, a concentração das coisas faz operar uma delimitação do risco por conta
do vendedor; já a entrega faz operar a inversão do risco (isto é, o risco corre por conta do
comprador, cfr. art.472.º/2/§2).
Já o art.467.º do CComercial permite a compra e venda de bens futuros, incluindo
os bens alheios.
Esta matéria está regulada no art.893.º do CC. De um modo mais explícito, o
CComercial parte de um prisma de validade do negócio e, ainda, determina
expressamente o dever do vendedor de adquirir a coisa - cfr. art.467.º/§único -.
Relacionada com esta norma do CComercial, a lei comum consegue o mesmo objetivo
através da obrigação da convalidação do negócio, cfr. previsto no art.897.º CC.
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O vendedor não pode recusar a entrega da fatura, com o recibo do preço – cfr.
art.476.º CCom. Trata-se de uma manifestação do direito à quitação9 (previsto no art.787.º
CC). Esta é uma matéria hoje reforçada por exigências fiscais.
Podemos ainda considerar como particularidade da compra e venda mercantil, o
regime especial da tutela da confiança, este previsto no art.1301.º CC.
Segundo este regime, quem reivindicar a terceiro, coisa por ele comprada de boa-
fé a comerciante, no exercício do comércio, é obrigado a restituir o preço que o adquirente
tiver dado por ela. Todavia, goza do direito de regresso contra aquele que, culposamente,
deu causa ao prejuízo.
9
Quitação – a quitação é considerada a prova do pagamento, consistindo na entrega de um documento em
que o credor, ou seu representante, reconhece ter recebido o pagamento, exonerando assim o devedor da
sua obrigação.
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16.3. Consórcio.
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A sua consagração legal teve essencialmente em vista instituir uma nova forma
jurídico-organizativa especifica para as relações de colaboração entre empresas, a que os
modelos clássicos da sociedade e da associação se mostravam incapazes de corresponder:
com efeito, podem existir situações em que o conjunto de empresários individuais ou
coletivos pretendam juntar esforços com vista a aumentar a rentabilidade individual das
suas próprias empresas, sem que, todavia, o façam com o fim primacialmente lucrativo
(exclusivo da sociedade) nem, inversamente, com fim meramente interessado de onde o
lucro esteja totalmente arredado.
Por fim, sublinhe-se que o contrato de ACE dá origem a uma forma jurídica de
organização empresarial, embora de matriz cooperativa e não concentracionista: trata-se,
como a sua própria designação logo inculca, de um agrupamento de empresários, o qual,
podendo ou não dar origem a uma nova empresa em si mesma, de modo algum implica
ou produz a união de empresas constituintes.
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2. Tipologias de títulos.
Os títulos de crédito podem ser agrupados em diferentes categorias:
- Títulos privados e públicos (critério da natureza do eminente);
- Títulos creditícios, reais ou corporativos (critério da natureza do
direito cartular);
- Títulos nominativos, à ordem ou ao portador (critério do modo de
circulação);
- Títulos abstratos e causais (critério do nexo com o negócio
subjacente);
- Títulos em massa e individuais (critério do modo de emissão).
Os títulos são simultaneamente documentos de legitimação (destinados a habilitar
o seu portador ao exercício do direito cartular) e de circulação (destinados a permitir a
fácil, celére e autónoma transmissão desse direito). De fora ficam os títulos impróprios,
que são meros documentos de legitimação que, não se destinando à circulação, carecem
de alguma das características habituais dos títulos de crédito (a incorporação e a
autonomia). Podem ser meros comprovativos de legitimação, tendo por função legitimar
o seu portador a exercer um determinado direito nele contido, mas não a fazer circular ou
transmitir tal direito.
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Os títulos ao portador são aqueles que não identificam o seu titular, circulando por
mera tradição ou entrega real (o seu titular é o portador): é o caso das ações ao portador
não depositadas (art.101.º/! CVM) e das notas de banco.
O regime da circulação é imperativamente fixado pela lei para cada tipo de título,
sem prejuízo de um mesmo título poder ter mais do que um critério legal de circulação
cuja escolha dependa da vontade de emitente e titular (ex.: cheques, art.5.º do LUC).
No entanto, o regime da circulação não é imutável, existindo título que, emitidos
segundo uma regra de circulação, são objeto de uma conversão no decurso da sua
existência (ex.: conversão das ações em obrigações, art.53.º CVM).
Mais, o regime pode sofrer entorses, designadamente nos casos de circulação
imprópria, que ocorrem quando o título circula de acordo com as regras comuns da
transmissão, como sucede na sucessão mortis causa; e também nos casos de circulação
irregular que se verifica quando o título entrou em circulação à margem da vontade do
seu titular ou de qualquer transmissão válida (ex.: furto).
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Cabe descobrir onde esta nova etapa conduzirá. Para alguma doutrina, o conceito
de título de crédito é dotado de elasticidade suficiente para albergar o fenómeno da
desmaterialização, o qual representa uma oportunidade para a reconstrução dogmática.
Outra crê que levará a uma crise dos títulos de crédito, o que levará à perda do seu
protagonismo em favor de novos instrumentos juscomerciais de circulação de riqueza,
como os instrumentos financeiros e os valores mobiliários.
4.1. Documento.
O título de crédito é, desde logo, um documento (art.368.º CC). Todavia, atenta a
particularíssima relação que intercede entre o documento e o direito documentado, ele
não é um documento qualquer; trata-se de um documento probatório, constitutivo e
dispositivo no sentido que, mais do que simplesmente servir para provar um direito, ele é
um documento necessário para a constituição, exercício e transferência do direito
documentado.
Por um lado, ao contrário dos simples documentos declarativos, o título de crédito
desempenha uma função constitutiva do próprio direito: ou seja, o documento constitui
em regra um pressuposto necessário do nascimento ou constituição do direito
documentado.
Por outro lado, ao contrário dos documentos constitutivos normais, o título de
crédito desempenha ainda uma função dispositiva do direito documento: ou seja, a
titularidade da posse do documento é imprescindível para que este direito possa ser
exercido e, por conseguinte, transferido.
Questão complexa é saber se podem ser representados em documentos
eletrónicos. A noção clássica de título de crédito encontrou-se, sempre, associada a
documentos em suporte fisco ou de papel. Todavia, com a emergência do fenómeno da
desmaterialização destes títulos, alguma doutrina tem sustentado um alargamento da
noção clássica a documentos eletrónicos.
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4.3. Incorporação.
O título de crédito, pressupondo um documento e um direito documentado,
caracteriza-se pela existência de uma especialíssima relações entre ambos, que a doutrina
designa como “incorporação”: o direito encontra-se compenetrado ou fundido no próprio
documento de tal modo que é a posse do documento que decide a titularidade do direito
(falando-se também de um direito cartular).
Esta característica está no cerne da sua função própria como instrumentos
alternativos de circulação de riqueza. Se o objetivo é tornar mais simples, rápida e segura
a circulação dos direitos no tráfico-comercial, evitando os entraves do regime comum da
cessão de créditos, então ficciona-se a incorporação ou reificação desses direitos num
documento: o título de crédito passa a constituir coisa móvel que é apta a circular célere
e seguramente de mão em mão.
Tal incorporação tem consequências na disciplina dos títulos de crédito.
Em primeiro lugar, a posse do documento passa a ser condição necessária e
suficiente para o exercício do direito cartular: não só habilita ou legitima o respetivo
portador a exercer o direito incorporado, como o verdadeiro titular do direito está
impedido de o exercer enquanto não o tiver na posse (art.34.º e 38.º LULL e 28.º LUC).
Depois, a posse do documento é também condição necessária e suficiente para o
cumprimento da correspetiva obrigação cartular: o devedor desonera-se validamente
desta obrigação mediante o respetivo cumprimento perante o portador legítimo do título,
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não tendo de indagar sobre a sua verdadeira ou material titularidade (art.40.º/3 da LULL
e art.35.º LUC).
Finalmente, a ligação entre documentos e direitos e obrigações cartulares é uma
ligação genética, perene e infungível: para além de um título de crédito estar inteiramente
dependente do facto de as declarações negociais dos sujeitos cartulares sejam
formalizadas num documento escrito, este permanece necessário para o exercício,
transmissão e cumprimento dos direitos e deveres cartulares durante a vida do título,
sendo inadmissível a substituição do documento original por qualquer outro documento
ainda que absolutamente idêntico (ficam ressalvadas as hipóteses de reforma, cópia ou
pluralidade de exemplares, art.1062.º CPC, 51.º LULL e 49.º LUC).
Este traço de incorporação explica que o direito contido ou representado no
documento passa a seguir o direito sobre o próprio documento. A posse do documento
cartular é uma posse qualificada, que obedece ao regime especial exigido na lei para as
diferentes categorias de títulos de crédito: para que o possuidor fique habilitado a exercer
o crédito cartular e o respetivo devedor se libere da correspondente obrigação, poderá
bastar a mera detenção ou entrega material do documento (títulos ao portador), ser exigido
a existência de uma regular sucessão de endossos no documento (títulos à ordem), ou
requerer a aposição do pertencente no título e registo da transmissão junto ao emitente
(títulos nominativos).
4.4. Literalidade
O direito cartular diz-se literal no sentido em que são os dizeres ou o teor literal
do documento que definem e delimitam o respetivo conteúdo.
A literalidade dos títulos de crédito comporta duas consequências:
Pela positiva: o conteúdo, extensão e modalidades do direito cartular são
aqueles que decorrem das declarações objetivas constantes do título: um cheque deverá
conter um conjunto de indicações (art.1.º LUC), sendo que na falta de alguma delas o
documento não produz efeito como cheque (art.2.º/1 LUC).
Pela negativa: na irrelevância dos elementos, exceções e convenções
extracarticulares: uma vez emitidos regularmente, os títulos de crédito valem nos precisos
termos deles constantes, não sendo licito ao portador exigir ao devedor algo que não
conste do título.
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4.5. Autonomia.
O portador legítimo do título é simultaneamente, titular de um direito cartular
autónomo (relativamente aos negócios subjacentes) e de um direito autónomo sobre o
próprio título (relativamente aos portadores anteriores).
Sobre a autonomia do direito cautelar, tal significa que o direito do portador do
título é um direito autónomo em face do ou dos negócios fundamentais que lhe estiveram
na origem.
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sobre a quantia cambiária, art.5.º LULL), as cláusulas para cobrança (que criam o endosso
por procuração, art.18.º LULL) e as cláusulas de domiciliação (art.4.º LULL).
A. Menções obrigatórias
A primeira menção obrigatória deste título de crédito consiste na inserção da
palavra “letra” no texto cartular (art.1.º/1 da LULL). Trata-se de uma designação
imperativo por razões de certeza jurídica: a inserção deve ser feita no texto do próprio
documento escrito (e não isoladamente, noutra parte deste ou em folha anexa), não se
admitindo variantes nacionais ou, quando o título não esteja em língua portuguesa,
estrangeiras.
Em segundo lugar, a letra deve conter um “mandato puro e simples de pagar uma
quantia determinada” (art.1.º/2 da LULL). Por um lado, significa dizer que a letra deve
enunciar uma ordem de pagamento incondicionada e incondicionável, não podendo o
sacador sujeitar essa ordem a condição sob pena da sua nulidade (art.2.º LULL).
Por outro lado, tal ordem de pagamento deve ter por objeto uma quantia
pecuniária: estão excluídas as letras de mercadorias (pagáveis em bens) ou quaisquer
outras que não tenham por objeto uma soma em dinheiro.
Finalmente, a quantia pecuniária deve ser determinada, i.e., deve consistir num
montante exato expresso em moeda com curso legal no pais ou no estrangeiro (41.º
LULL). Estão, assim, excluídas as cláusulas penais, que fixando uma obrigação
pecuniária eventual (dependente do incumprimento do aceitante), sempre tornariam
incerta a quantia cambiária total.
Em terceiro lugar deve conter o nome do sacado (art.1.º/3 LULL). Consiste no
nome civil, firma ou denominação da pessoa singular ou coletiva. A letra tanto pode
identificar o sacado através da firma ou denominação do ente coletivo como através do
nome ou firma pessoal de um seu gerente, administrador ou outro representante orgânico,
mas tem que ser sempre feita menção expressa à qualidade representativa em que estes
intervém.
Por outro lado, nada impede que uma letra mencione uma pluralidade de sacados
(salvo limite do art.2.º/3 da LULL) ou que aquela seja sacada sobre o próprio sacador.
Em quarto lugar, deve mencionar a época de pagamento (art.1.º/4), sendo que
modalidades de pagamento vêm taxativamente previstas no art.33.º LULL, ou seja, a
época tem de se reconduzir a uma das quatro formas típicas previstas na lei, sendo nulas
as letras que prevejam modalidades atípicas.
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Designa-se por letra em branco, documento que não contendo todas as menções
obrigatórias essenciais referidas no art1.º LULL, possua já a assinatura de, pelo menos,
um dos signatários cambiários, acompanhado de um acordo expresso ou tácito de
preenchimento futuro das menções em falta.
É frequente, na prática comercial, que uma letra de câmbio seja sacada ou mesmo
aceite mesmo antes de se encontrar totalmente preenchida. Esta figura está acolhida,
implicitamente, no art.10.º da LULL, estando dependente de 3 requisitos.
Por um lado, é necessário que estejamos perante um modelo normalizado de letra
ou, pelo menos, diante de documento onde já consta a palavra “letra” suscetível de
traduzir a intenção de assumir uma obrigação cambiária, ainda quando faltem alguns dos
demais elementos.
Uma simples folha de papel em branco assinada por alguém não poderá dar origem
a uma letra, mediante o futuro preenchimento dessas menções.
Por outro lado, é ainda necessário que o documento contenha a assinatura de, pelo
menos, um dos obrigados cambiários, sendo por este voluntariamente emitido: um
documento que não haja sido subscrito por ninguém não pode dar origem a vinculações
jurídico-cambiárias.
Finalmente, é ainda necessário que o subscritor cambiário haja firmado com o
sujeito a quem a letra foi entregue um acordo destinado a fixar os termos do
preenchimento futuro das menções em falta. Este acordo pode ser tácito ou expresso, mas
tem que existir; na sua falta ou invalidade, estamos perante uma letra incompleta, que
será tida como nula nos termos do art.2.º LULL.
Naturalmente, a letra em branco, sendo válido, apenas produzirá os seus efeitos
como letra com o seu preenchimento integral, ou seja, quando nela constem todos os
requisitos legais essenciais constantes do art.1.º
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11.1. O saque
O saque é o negócio cambiário originário, graças ao qual a letra nasce. Trata-se
de uma declaração unilateral e abstrata, feita pelo emitente do título (sacador), que tem
por conteúdo expresso uma ordem de pagamento dirigida ao sacado para que este pague
uma quantia pecuniária determinada ao tomador ou à ordem deste e, ainda,
implicitamente uma promessa de pagamento dirigida ao tomados e aos portadores
sucessivos de que o sacado aceitará e pagará a letra que, caso tal não aconteça, o próprio
sacador a pagará.
A obrigação do sacador é, assim, uma obrigação de garantia pela aceitação e pelo
pagamento da letra: dada a promessa implícita no saque, o sacador responderá, em
princípio, pelo aceite e pelo pagamento da letra por parte do sacado (art.9.º/1 LULL).
Todavia, a imperatividade desta garantia é parcial. O sacador pode exonerar-se da
sua garantia de aceite da letra (art.9.º/2 da LULL), mediante a aposição nesta da cláusula
“letra não aceitável” ou equivalente. O sacador desresponsabiliza-se por qualquer
eventual recusa de aceite por parte do sacado, impedindo assim o portador de, munido do
competente processo, o acionar prematuramente em via de regresso (art.43.º/1 LULL).
No entanto, tal já não acontece quanto à sua garantia de pagamento da letra: o sacador
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será sempre responsável perante o portador de tal pagamento, sendo que qualquer cláusula
exoneratória é tida como não escrita (art.9.º/2 LULL).
Por via de regra, o saque é uma ordem de pagamento dado por uma pessoa
(sacador) dirigida a outrem (sacado) em favor de um terceiro (tomador). Esta estrutura
triangular pode assumir variantes, dado lugar a modalidades especiais de saque.
É o caso do saque à ordem do próprio sacador (art.3.º/1 LULL). Trata-se
indubitavelmente da modalidade atualmente mais difundida na prática, em que o sacador
e tomador coincidem. É ainda o caso de saque sobre o próprio sacador (art.3.º/2 LULL),
que aproxima a letra da livrança, pois surge associada aos pagamentos realizados entre
sucursais e outras divisões sem personalidade jurídica de uma mesma empresa.
Temos também o saque por ordem e conta de um terceiro (art.3.º/3 LULL),
utilizada pelo empresários que assim pretendem evitar a má imagem associada a quem
coloca em circulação numerosas letras, a sua particularidade reside no facto de a letra ser
emitida por conta de alguém que não figura no título como sacador.
Finalmente, é ainda o caso do saque plural, que embora a LULL não o preveja
expressamente, a doutrina e a jurisprudência vêm admitindo que uma letra possa ser
sacada por uma pluralidade de sacadores caso em que estes se tornam coobrigados
cambiários solidários, podendo assim qualquer um deles ser acionado em via de regresso
pela totalidade da quantia cambiária.
Sendo a letra de câmbio um título de crédito, a sua transmissão faz-se mediante o
endosso (art.483.º CC e 11.º/1 LULL). No entanto, este regime pode ser alterado no caso
das letras não à ordem: sempre que uma letra seja sacada com a aposição de uma cláusula
não à ordem ou outra equivalente, que proíbe o seu endosso, só é transmissível pela forma
e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos (art.11.º/2).
Ao contrário do endosso, a transmissão da letra não à ordem configura um negócio
jurídico bilateral cuja eficácia depende ainda da sua notificação ao devedor (art.583.º CC),
mais a letra não endossável investe o cedente numa mera responsabilidade pela existência
e exigibilidade do crédito (art.583.º).
11.2. Aceite
O “aceite” é o negócio jurídico-cambiário, de natureza unilateral e abstrata, pelo
qual o sacado “aceita” a ordem de pagamento a qual lhe foi dirigida pelo sacador e se
“obriga” a pagar a letra no respetivo vencimento ao tomador ou à ordem deste.
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cambiários (sacador ou endossantes) ou ter origem na própria lei (como sucede no caso
das letras a certo termo de vista). A falta ou intempestividade da apresentação ao aceite
por parte do portador origina para este a perda de todos os seus direitos de ação contra os
obrigados cambiários em via de regresso;
- A outra consiste no chamado “aceite proibido” – aqui o portador não pode
apresentar a letra ao aceite. São as chamadas letras “não aceitáveis”, previstas no 22.º/2,
da LULL, as quais são caracterizadas pelo sacador ter vedado a sua apresentação ao aceite
do sacado (mediante a cláusula de “aceite proibido” ou equivalente). Assim, caso o
portador da letra, em contravenção desta proibição cambiária, apresente a letra ao aceite
do sacado, a recusa deste será juridicamente inócua (i.e., será inofensiva), não o
investindo em qualquer direito de ação contra o sacador e os demais obrigados cambiários
em via de regresso.
Já a “declaração de aceite” consiste numa declaração cambiária escrita (mediante
a expressão “aceite” ou outra equivalente) e assinada pelo sacado em qualquer parte da
letra (25.º/1 LULL); isto sem prejuízo dos chamados “aceite em branco” (que consiste na
simples assinatura na parte anterior da letra) e do “aceite riscado” (que consiste na
anulação da declaração antes da restituição da letra, 29.º da LULL). Exceto se se tratar de
letra a termo de vista ou apresentável em data fixa convencionada (cfr. art.25.º/2, da
LULL).
A este respeito refira-se que o sacado tanto poderá ser uma pessoa singular como
uma pessoa coletiva. No último caso, afigura-se que a assinatura do respetivo
representante legal ou orgânico, ainda quando não acompanhada da expressa menção a
essa qualidade, deverá valer como aceite válido desde que tal qualidade possa ser
deduzida de factos concludentes nos termos do art.217.º CC, designadamente quando seja
completa e inequívoca a identificação da pessoa coletiva representada.
Por outro lado, o aceite de ser “puro e simples” (26.º/1 LULL). Tal como no caso
do saque (1.º/2, da LULL), o aceite condicionado ou modificado (mediante qualquer
alteração ao teor da letra, v.g., o lugar de pagamento, o lugar de vencimento, etc.) é
proibido, embora não seja nulo (já que o aceitante fica vinculado nos termos do seu aceite
modificado (26.º/2/in fine, da LULL). Isto significa que, caso o sacado aceite a letra mas
lhe altere a data de vencimento, ou o lugar do pagamento, ou outro dado cambiário, nestas
situações o portador da letra poderá, à sua escolha, reclamar daquele o pagamento nos
termos da letra modificada, ou então poderá lavrar protesto por falta de aceite a fim de
acionar os obrigados em via de regresso.
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O sacado que aceitou não tem qualquer direito de posse ou propriedade sobre a
letra aceite (24.º/2, da LULL), sem prejuízo do direito de solicitar uma nova apresentação
da mesma e de exigir a entrega da letra e respetivo documento de quitação no momento
do seu pagamento (art.39.º/1, da LULL).
No modelo legal clássico, a letra de câmbio constitui um instrumento de
pagamento destinado a circular pelas mãos de múltiplos portadores, obedecendo a uma
característica triangulação de negócios jurídicos cronologicamente sucessivos (o saque,
o aceite e o endosso). Todavia, a letra de câmbio deixou de funcionar como um meio de
pagamento, para passar a representar hoje, quase exclusivamente, uma instrumento de
garantia e de crédito. Esta mutação funcional levou a uma erosão da tradicional ortodoxia
triangulação: a esmagadora maioria das letras de câmbio são hoje títulos sacados à ordem
do próprio sacador (e não de terceiro) e não se destinam a circular (raramente saem das
mãos do sacador, exceto nas hipóteses de desconto bancário). Por conseguinte,
atualmente o aceite é anterior ou contemporâneo ao próprio saque (e não posterior, como
no modelo legal), já que antes dele [saque] as letras carecem de relevância ou interesse
para o sacador-tomador.
Materialmente, o aceite tende a ser a primeira declaração cambiária inscrita no
título, ou, quando muito, é contemporânea do saque.
11.3. Endosso
O “endosso” é o negócio cambiário que faz circular o título. À semelhança das
demais declarações (o saque, o aceite, o aval), estamos diante de uma declaração jurídica,
de carácter abstrato e unilateral, pela qual o tomador ou qualquer outro portador posterior
(endossante) transmite a letra e todos os direitos dela emergentes a um terceiro (endossado
ou endossário).
Como já se referiu, a letra é um título de crédito à ordem, destinado a circular por
endosso (como alguém já lhe chamou, ela é “um viajante nato”). Assim, o tomador de
uma letra (ou qualquer portador posterior desta) não é obrigado a aguardar pela data do
respetivo vencimento para se fazer pagar. Neste sentido, pode antes da data do
vencimento, alternadamente, endossar a mesma letra a um terceiro. Ao fazê-lo o
endossante está a dar uma nova ordem de pagamento ao sacado em favor do endossado,
ao mesmo tempo que se responsabiliza pela aceitação e cumprimento daquela letra.
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Ou seja, no fundo o endosso funciona como uma espécie de “novo saque”, com
a particularidade de o seu conteúdo já estar previamente definido e de possuir um
beneficiário diferente, que agora não é o tomador mas sim o endossado.
O endosso está sujeito a requisitos (ou pressupostos) objetivos e subjetivos.
Assim, e no que diz respeito aos:
- Pressupostos objetivos - nestes, o endosso exprime-se através de uma mera
assinatura do endossante aposta no verso do título, usualmente no sentido transversal ou
numa folha anexa (isto no caso de os vários endossos já não caberem no verso da letra),
podendo, ou não, tal endosso ser acompanhado de uma declaração expressa através da
expressão “pague-se a F. ou à sua ordem” ou equivalente, expressão esta colocada
juntamente com a assinatura em qualquer parte do título. Em principio, esta declaração
cambiária indicará o nome do beneficiário do endosso, mas não é forçoso que assim seja,
uma vez pode acontecer ou ocorrer o denominado “endosso em branco” no qual o
endossante se limita a apor a sua assinatura no verso do título ou numa folha anexa
omitindo o nome do endossado, ou então pode endossar a letra ao portador (13.º/2 e 12.º/2
LULL);
- Pressupostos subjetivos - nestes o endosso pode ser realizado pelo tomador da
letra, por qualquer portador legitimado por uma série ininterrupta de endossos, ainda que
o último seja em branco, ou ainda por qualquer cessionário ou sucessor “mortis causa”
de um destes. E pode ser realizado a favor (legitimidade passiva) de qualquer terceiro
estranho à cadeia cambiária, do sacado, e até de um dos obrigados cambiários (sacador,
endossantes, avalistas). Neste último caso, em que a letra, graças a uma cadeia de
sucessivos endossos retorna às mãos de um anterior portador e endossante estaremos
diante do chamado “reendosso” (é o que acontece quando uma letra é sucessivamente
endossada nos seguintes moldes: A-B, B-C, C-D, D-E, E-C. Aqui, as obrigações de
garantia do reendossado C para com D e E e as obrigações de D e E para com C, como
que se compensam reciprocamente, indo C recuperar a sua posição primitiva cambiária
antes do endosso feito a D e, assim, C apenas pode acionar em via de regresso os
obrigados que o antecederam nessa posição (B e A).
Por outro lado, o endosso produz 3 tipos de efeitos:
- Ele transmite os direitos cambiários - o endosso tem por efeito transmitir
a propriedade do título e de todos os respetivos direitos emergentes para o
endossado, incluindo o de apresentar a letra a aceite, cobrá-la na data de
vencimento ou endossa-la de novo (efeito de transmissão). Todavia, assinale-se
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11.4. Aval
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As letras à vista são letras que se vencem pela data da respetiva apresentação (34.º
LULL).
As letras a certo termo de vista são letras que se vencem decorrido o prazo nelas
previsto, contado a partir da data do respetivo aceite ou protesto por falta de aceite (35.º
LULL).
As letras a certo termo de data são letras que se vencem decorrido o prazo nelas
previsto contado a partir da data da sua emissão.
As letras pagáveis em data fixa são letras que, tal como o nome indica, se vencem
no dia por elas estipulado.
Estas modalidades são taxativas, mas há que ter em conta o vencimento
antecipado ou prematuro da letra (43.º).
12.2. Pagamento
O pagamento representa o ato pelo qual é cumprida a ordem cambiária dada pelo
emitente do título.
Tem como requisitos:
- O dever de apresentação a pagamento por parte do portador da
letra, que é feita ao sacado, mas também pode ser feita a outras entidades como um
interveniente (55.º/1 LULL).
- Quanto ao prazo:
- As letras à vista devem ser apresentadas a pagamento no prazo
de um ano a contar da data da sua emissão, salvo prazo maior ou menor
aposto pelo sacador ou endossantes (34.º LULL);
- As demais modalidades devem ser apresentadas a pagamento no
dia do seu vencimento ou nos 2 dias úteis seguintes (38.º LULL).
- Deve ser apresentada no lugar de pagamento (1.º/5 LULL), que
corresponde ao endereço concreto indicado na letra, ao lugar designado ao lado do nome
do sacado (na falta de designação expressa: art.2.º/3 LULL), num outro domicílio do
sacado (27.º/2 LULL) ou no domicílio de terceiro (4.º LULL).
O incumprimento do dever de apresentação de pagamento acarreta a perda do
direito de regresso do portador, que ficará impedido de acionar todos os obrigados
cambiários à exceção do aceitante (53.º/1 LULL), também qualquer obrigado passa ter o
direito a solicitar a consignação em depósito da quantia cambiária (42.º LULL).
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O pagamento será realizado, em princípio, pelo aceitante e se este não o fizer pelo
interveniente (59.º e 61.º LULL) e, em via de regresso, pelo sacador, endossante ou
avalista (43.º/1 LULL).
O pagamento pode ser total, em que o devedor que pagou pode e deve exigir que
lhe seja entregue a letra juntamente com o respetivo documento de quitação (39.º/1 e 787.º
e 788.º CC) ou meramente parcial (39.º/2 LULL), em que o sacado pode exigir, para além
da quitação, que se faça menção expressa na letra do pagamento realizado (39.º/3 LULL).
Pode ser feito na data de vencimento ou antes data, mas sempre com o
consentimento do portador (a quem não pode ser imposto o pagamento prematuro,
quando a letra vença juros, 40.º/1 LULL) e por conta e risco do sacado (que poderá ser
obrigado de novo a letra caso se venha a demonstrar que o portador não era o verdadeiro
titular do direito cambiário, 40.º/2 LULL).
Finalmente, o pagamento tem um efeito liberatório para o sacado, exonerando-o
da respetiva obrigação cambiária (40.º/3 LULL), mas este está subordinado a
determinados pressupostos: o devedor tem de verificar a legitimidade formal do portador
apurada mediante uma sucessão regular de endossos extrinsecamente válidos (16.º e
40.º/3 in fine) e que haja efetuado o pagamento na data do vencimento cambiário (40.º/2
LULL). E também determinados limites, quando o devedor haja efetuado o pagamento
ao portador com fraude ou falta grave (40.º/3).
Tem ainda como efeito, o direito do sacado a exigir que o título lhe seja entregue
(39.º/1 LULL), o direito de regresso de qualquer outro signatário que haja pago a letra
sobre os respetivos garantes (49.º LULL).
12.3. Protesto
O protesto está regulado no 44.º a 46.º LULL e no 119.º a 130.º do CN. Este
consiste num ato formal, efetuado perante um notário, destinado a certificar a falta do
aceito ou do pagamento da letra por parte do sacado (função de segurança jurídica), bem
como a dar conhecimento desta aos demais subscritores cambiários (função informativa)
e a salvaguardar os direitos do portador da letra (função conservatória).
Existem 2 tipos de protesto:
- O protesto por falta de aceite, que constitui a certificação formal da recusa
(total ou parcial) do aceite da letra pelo saco. Este é efetuado contra o sacador e deve ser
realizado no prazo de aceitação (21.º e 44.º/2 LULL; 121.º e 122.º CN);
270
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12.4. Intervenção
Está regulada no 55.º a 63.º da LULL e consiste numa viscissitude juscambiária
relativa àquelas letras que são aceites ou pagas por um terceiro (interveniente) no lugar
dos obrigados cambiários (honrados ou interventores).
A sua função é evitar o exercício prematuro do direito de regresso por parte do
portador da letra, em consequência da falta de aceite ou de pagamento da mesma.
A intervenção pode verificar-se quanto:
- Ao aceite da letra, caso em que o interveniente surge no papel de obrigado
cambiário em via do principal (56.º a 58.º LULL);
- Ao pagamento da letra, caso em que aquele se assume como um
verdadeiro solvens cambiário (59.º a 63.º LULL).
A intervenção, quanto à sua natureza, pode ser:
- Provocada – resultante de cláusula especial contida na letra que indica
uma determinada pessoa para em caso de necessidade aceitar ou pagar (55.º/1 LULL);
- Espontânea – independentemente de qualquer indicação ou incumbência
especial feita na lei (55.º/2 LULL).
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12.6. Prescrição.
Está prevista no art.70.º e seguintes da LULL, sendo que a LULL estabelece 3
prazos diferentes:
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O regime e os efeitos jurídicos das ações cambiárias são múltiplos, mas o seu
aspeto principal é a solidariedade passiva de todos os obrigados cambiários (art.47.º
LULL): o portador pode acionar em juízo, à sua escolha, todos, alguns ou apenas alguns
dos obrigados.
Na ação proposta contra o devedor ou os seus herdeiros, o portador pode pedir o
pagamento da quantia cambiária acrescida de juros moratórios legais e das despesas
incorridas (art.48.º LULL).
Na sequência da ação cambiária movida pelo portador, o obrigado cambiário de
regresso que tenha pago a letra aparece também investido num conjunto semelhante de
direitos contra os respetivos garantes (art.47.º/2 e 49.º LULL), além de outras
prerrogativas especiais (direito à entrega da letra e eliminação de endossos, art.50.º
LULL).
De ação em ação, a letra irá percorrer um caminho inverso ao que percorreu na
sua circulação, tendo como o derradeiro responsável e executada o aceitante (se a letra
foi aceite) ou o sacado (em caso oposto).
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1.3.1. Autonomia
O Direito da insolvência apresenta-se como uma disciplina dogmática própria,
ainda que ligada ao comércio, que de resto o transcende.
Isto porque, o Direito da insolvência implica técnicas próprias e princípios
autónomos, razões suficientes para o levar a incluir, ainda que em moldes simplificados,
numa disciplina geral de Direito comercial.
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devedor seu escravo, vendê-lo fora da cidade (trans Tiberim) ou matá-lo, partes secanto
(esquartejando-o); havendo vários credores as partes deviam ser proporcionais à dívida;
mas se alguém cortasse mais do que o devido, a lei não previa punição.
- Ainda no âmbito do Direito romano, já a Lex Poetelia Papiria de nexis, de 326
a. C., reagiu a graves questões sociais ao tempo suscitadas, vindo proibir e evitar a morte
e a escravatura do devedor.
Apesar dos avanços, ao tempo, do Direito romano, nele não se encontra um
processo judicial típico que vise a repartição de um património sobreendividado pelos
credores, de acordo com os seus direitos preexistentes e, sobretudo, quando o património
em jogo pertença a um comerciante.
Assim, apenas a profissionalização do comércio nos conduziu à ideia de que a
“quebra” era sempre uma eventualidade comercial de encarar, cabendo enquadrá-la com
um novo regime inteligente, capaz de minorar os danos para os credores, para o comércio
em geral e para o próprio falido. Nesta continuidade, refira-se que a “falência” surgiu
como um instituto tipicamente comercial e, na sua origem e evolução, veio a aproximar-
se do Direito comum.
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abusos, ele não está marcado pela nota infamante que, desde a Idade Média, atinge a
falência latina.
Francamente diverso é o sistema anglo-saxónico do bankruptcy, baseado na
equity, sendo certo que este um sistema que pretende, antes de mais, recuperar o devedor
infeliz. Não é um sistema infame e acaba por ser benéfico para os credores, uma vez que
permite, em termos latos, a manutenção das faculdades produtivas do património
concursal10.
10
Património concursal – e é “concursal” ao património de um devedor podem “concorrer” vários
credores.
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3. As insolvências internacionais
3.1. Aspetos gerais e fontes.
O processo de insolvência pode ter dimensões que ultrapassem as fronteiras dos
Estados. Assim sucede, designadamente, sempre que:
- A entidade insolvente tenha bens em mais do que um Estado;
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- Os contratos que a envolvam, e que devam ser levados à sede falimentar, tenham
conexões com o Direito de vários países;
- Os credores do insolvente pertençam a distintos espaços jurídicos;
- Surjam, como competentes, tribunais de países diferentes;
- Os bens do insolvente devam ser executados em locais subordinados a mais de
uma ordem jurídica.
A primeira solução para a internacionalidade de processos insolvenciais repousa
nas clássicas normas de Direito internacional privado. Assim, cada Estado prescreve a
competência internacional dos seus tribunais. E o tribunal competente aplica o sistema de
normas do seu próprio Estado. É esse sistema quem indicará, nas diversas situações, qual
a lei aplicável.
Mas a simples imagem de vários tribunais deverem decidir sobre uma mesma
situação falimentar, ou sobre situações falimentares conexionadas, deixa adivinhar os
óbices de tal repartição. É que a igualdade entre credores pode ficar em causa.
A neste tocante, existe uma outra hipótese: a das convenções internacionais sobre
a insolvência, ou a existência de instrumentos supranacionais a tanto destinados. Assim:
- As convenções internacionais foram para tanto tentadas. O quadro foi: sem êxito.
- Já no quadro europeu: permitiu-se progredir.
Se a insolvência internacional é toda a que tenha conexões relevantes com mais
de uma ordem jurídica, são fontes disponíveis para dirimir as insolvências deste tipo:
- No plano interno: os art.275.º a 300.º do Código de Insolvências e Recuperação
de Empresas (CIRE) – no caso o Título XV “Normas de conflitos”;
- No plano europeu: o Regulamento 1346/2000, de 29 de maio e, ainda, o
Regulamento 2015/848, de 20 de maio.
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- Se rege pela lei do Estado onde o processo tenha sido instaurado (cfr. art.276.º
do CIRE);
- Nas relações laborais os efeitos da insolvência regem-se, exclusivamente, pela
lei aplicável ao contrato de trabalho (cfr. art.277.º do CIRE);
- Os efeitos sobre os direitos do devedor relativos a imóveis e a bens móveis
sujeitos a registo (i.e., navios e aeronaves), regem-se pela lei do país do registo (cfr.
art.278.º a 281.º do CIRE);
- Quando estão em jogo efeitos sobre valores mobiliários, sistemas de pagamento
e mercados financeiros, valem as normas do Código de Valores Mobiliários (CVM), no
caso os art.4.º e 281.º (cfr. art.282.º do CIRE);
- Já nas operações de venda com base em acordos de recompra, opera (i.e., aplica-
se) a lei aplicável a esses contratos (art.2834.º do CIRE).
Refira-se ainda que a insolvência declarada em processo estrangeiro é reconhecida
em Portugal, salvo nos casos de incompetência ou de contrariedade aos princípios
fundamentais da ordem jurídica portuguesa (cfr. art.288.º do CIRE).
Já quando o devedor não tenha em Portugal nem a sede ou domicílio, nem o centro
dos principais interesses, o processo de insolvência só abrange os bens situados em
território português (cfr. art.294.º/1 do CIRE).
Por fim, o reconhecimento de um processo principal de insolvência estrangeira
não obsta à instauração, em Portugal, de um processo particular de insolvência, no caso
denominado processo secundário de insolvência (cfr. art.296.º do CIRE).
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11
Interesse da comunidade – neste interesse pode-se colocar, por exemplo, os empregados da empresa
falida ou em fase de falência, ou ainda, todos os terceiros que comercializam com a empresa.
12
Interesse do Estado – a qualquer Estado, numa sociedade desenvolvida, interessa existir no seu seio
empresas sólidas, pois elas são um garante de estabilidade social e uma fonte de receitas públicas.
13
Rateio – significa a distribuição de uma quantidade, ou quantia, entre várias pessoas; ou também,
significa dividir proporcionalmente uma quantia entre vários (em regra credores).
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5. O código da insolvência.
5.1. A Lei n.º 39/2003 de 22 de agosto
A aprovação do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE),
aprovado pelo DL n.º 53/2004 de 22 de agosto, o mesmo foi precedido de uma autorização
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legislativa da AR, pela Lei n.º 39/2003 de 22 de agosto, uma vez que o mesmo CIRE pode
implicar a extinção de alguns direitos privados; i.e., aborda matéria que toca em direitos
fundamentais e, ainda, com a igualdade.
De facto, a ideia de devedores insolvente é expressamente definida no art.2.º/1 da
referida Lei n.º 39/2003, devendo ser entendida como aqueles que:
- (…) se encontrem impossibilitados de cumprir as suas obrigações vencidas.
E o n.º 2 deste mesmo art.2.º alarga aquela noção às pessoas coletivas, às
associações e às sociedades sem personalidade jurídica.
Na verdade, a matéria da Lei n.º 39/2003 contende com o estado e a capacidade
das pessoas, porque:
- A declaração de insolvência priva imediatamente o insolvente, por si ou pelos
seus administradores, dos poderes de administração e de disposição da massa insolvente,
os quais passam a competir/pertencer ao administrador da insolvência (cfr. art.2.º/4 da
Lei n.º 39/2003);
- Se o processo de insolvência pode prever um incidente da qualificação da
insolvência como fortuita ou como culposa, no caso de ser insolvência culposa juiz
determinará a inibição do insolvente, ou dos seus administradores, para o exercício do
comércio ou para cargos de administração até 10 anos insolvência (cfr. art.2.º/7 da Lei n.º
39/2003), ou mesmo pode determinar a respetiva inabilitação (cfr. art.2.º/8 da Lei n.º
39/2003).
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6. As coordenadas da insolvência.
6.1. Enumeração
O CIRE surgiu como um código estruturalmente novo. Se procurarmos enumerar
as suas grandes linhas inovatórias, nele encontramos:
- A primazia da satisfação dos credores;
- A ampliação da autonomia privada dos credores;
- A simplificação do processo de insolvência.
De facto, pede-se um processo de insolvência que seja eficaz, que respeite a
verdade material, mas que conduza a um fim rápido. Quanto mais depressa for possível
entregar a falência aos credores, mais cedo ficará o Estado exonerado de uma
responsabilidade que não lhe incumbe.
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recuperação, assinado por todos os credores, ou adotado por maioria, com a homologação
do Tribunal (art.17.º-F do CIRE).
Particularmente relevante no PER é o efeito “paralisador” (standstill) do
procedimento: este permite, ou concede, ao devedor, um prazo de graça que ele poderá
usar reorganizar a empresa e para negociar, com os credores, as saídas mais aprazíveis.
Não obstante, tudo depende, em última instância, de um juízo da banca.
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Descuido grosseiro e desculpável – ou seja por ter atuado negligentemente.
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Negligência grosseira – esta negligência corresponde às situações em que o agente não prevê o resultado
danoso da sua atuação, por imprevidência ou descuido, em bora este resultado fosse previsível se ele
(agente) o houvesse ponderado e houvesse sido cauteloso.
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2.º - O devedor é responsável por danos que cause aos credores, com a
apresentação indevida.
No 1.º caso, o requerente deve agir com o cuidado requerido ao bonus pater
familias, nos termos do art.487.º/2 do CC.
No 2.º caso, o devedor deve cumprir o dever de apresentação previsto no art.18.º/1
do CIRE, sendo a insolvência imediatamente declarada (art.28.º do CIRE). Perante isso e
na dúvida, o bonus pater famílias que se apresente à insolvência não pode ser sancionado
ainda que se venha a descobrir que, afinal, essa sua iniciativa veio a prejudicar os próprios
credores. Mas sê-lo-á se tiver agido com dolo.
Em suma, para MENEZES CORDEIRO, a exigência de dolo constante do art.22.º
do CIRE, pela própria lógica sintática do preceito, dobrada pelas exigências de coerência,
de acerto e de lógica do sistema, apenas se aplica à indevida apresentação do devedor,
para efeitos de imputação dos danos causados aos credores.
De outra forma, em vez do final “…mas apenas em caso de dolo”, claramente
ligado “… aos credores…”, dir-se-ia:
A dedução de pedido infundado de declaração de insolvência, ou a indevida
apresentação por parte do devedor, geram responsabilidade pelos prejuízos dolosamente
causados.
Quanto ao pedido infundado: ele é ilícito e responsabiliza, por dolo ou mera culpa
nos termos do art.483.º/1 do CC.
É evidente que a interpretação do art.22.º do CIRE atrás exposta sendo – como é
– uma exigência da leitura coerente do texto daquela norma vai, sobretudo, ao encontro
das diretrizes jurídico-científicas por nós estudada.
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CAPÍTULO X - O CRÉDITO
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1.1. Modalidades
O DL 344/78, de 17 de novembro, classifica as operações de crédito em:
- Curto-prazo (quando o prazo de vencimento não exceda um ano);
- Médio-prazo (quando o prazo de vencimento é entre um ano e cinco
anos);
- Longo-prazo (quando o prazo de vencimento exceda cinco anos).
Para qualificar os contratos de crédito como de curto, médio ou longo prazo, as
instituições de crédito devem seguir um critério material: o da natureza das operações
reais que visem financiar (art.2.º/2).
O art.3.º/1 determina a contagem dos prazos. De resto, o diploma exige que nas
operações de concessão de crédito seja fixado o respetivo vencimento (art.3.º/3).
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controlo efeito da gestão do projeto por parte dos financiadores e, inclusive, a previsão
de step in, verificados determinados requisitos.
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efetiva); TAEG (Taxa anual de encargos efetiva global); TAER (taxa anual efetiva
revista).
Em rigor, a taxa de juro propriamente dita é a taxa nominal seja ela fixa ou
variável. As designações a que correspondem as abreviaturas TAE, TAEG e TAER mais
não são do que composições que, a partir da taxa nominal, consideram outros elementos
com objetivo de dar a conhecer ao interessado o custo real do crédito.
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4.2. O estorno
O estorno materializa-se numa inscrição na conta em sentido inverso a uma
anterior inscrição, tida por irregular.
O problema do estorno não está tanto na questão da sua admissibilidade, na
medida em que se trate de retificar um erro de lançamento, mas no balizamento,
designadamente temporal, em que o mesmo pode ser realizado, mormente quando não
exista um claro regime nas cláusulas contratuais gerais.
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O princípio é o de que qualquer pessoa pode ser titular de uma conta, inclusive os
incapazes de exercício, suprida a incapacidade.
Uma situação resolvida pela reforma do CC, realizada em 1977, foi a do acesso à
titularidade de contas por parte do cônjuge-mulher. A redação inicial do art.1680.º/1 CC
circunscrevia a titularidade e movimentação de conta por parte da mulher no quadro do
exercício do governo doméstico ou como administradora de parte ou da totalidade dos
bens do casal. É a seguinte a atual redação do artigo: “Qualquer que seja o regime de
bens, pode cada um dos cônjuges fazer depósitos bancários em seu nome exclusivo e
movimentá-los livremente”.
A titularidade de uma conta não pressupõe, em absoluto, a personalidade jurídica
do seu titular: é comum a titularidade de contas por parte de pessoas jurídicas
rudimentares.
De resto, o Aviso do BdP 11/2005 refere no art.9.º/4 com menção a contas
tituladas por estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada ou por “centros
de interesses coletivos sem personalidade jurídica”.
Frequente é também a abertura de contas em nome de pessoas coletivas ainda em
processo de formação.
A priori, é titular da conta aquele que, materialmente, a abre acertando com o
banco os respetivos termos, os quais seguem, na maioria, ipsis verbis, as condições pré-
fixadas em cláusulas contratuais gerais.
Há, no entanto, situações que escapam a este “modelo”, como aquelas em que o
sujeito que abre a conta age em nome de outrem, por representação legal ou voluntária.
Outras situações ictu oculi possíveis são aquelas em que há uma real
desconformidade entre quem abre a conta e quem figura enquanto titular, em virtude de
ser uma conta aberta a favor de outrem.
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perante uma ordem do contitular fiduciário que saia fora do giro normal da conta, o banco
tem o dever de consultar o “contitular principal”.
As situações de movimentação abusiva da conta solidária que têm chegado aos
tribunais portugueses respeitam às relações internas entre os diversos titulares que não às
relações do conjunto dos titulares ou de cada um deles com o banco.
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contrato de abertura de conta – o acesso aos serviços mínimos bancários definidos nos
termos do art.1.º/2/a, a saber:
(i) serviços relativos à constituição, manutenção, gestão e titularidade de
conta de depósito à ordem;
(ii) titularidade de cartão de débito;
(iii) acesso à movimentação da conta através de caixas automáticas,
serviço de homebanking e balcões da instituição de crédito;
(iv) acesso às operações que se consubstanciem em depósitos,
levantamentos, pagamentos de bens e serviços, débitos diretos e transferências
interbancárias nacionais;
(v) disponibilização de extratos trimestrais, em papel solicitado,
discriminativos dos movimentos da conta nesse período ou disponibilização da
caderneta para o mesmo efeito.
A especificidade desta conta justifica o regime de resolução do contrato de conta
previsto no art.4.º/7: a instituição de crédito pode resolver o contrato caso o titular possua,
durante a vigência do contrato, uma outra conta bancária, podendo ainda exigir do titular,
se for caso disso, o pagamento dos custos, taxas, encargos ou despesas, nas condições
normalmente praticadas pelo banco para os serviços que tenham sido disponibilizados,
estando, contudo, esta última faculdade dependente de um pré-aviso por parte do banco.
Igualmente compreensível a previsão do cancelamento da conta, através de
denúncia, nos termos do art.5.º: as instituições de crédito podem denunciar o contrato de
abertura de conta decorrido pelo menos um ano após a sua abertura se, nos seis meses
anteriores à denúncia, a conta apresentar um saldo médio anual inferior a 5% da
remuneração mínima garantida e não tiverem sido realizadas quaisquer operações
bancárias nesse mesmo período de tempo.
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Realce-se, porém, que a prestação a cargo do banco não reveste sempre a mesma
natureza: ela será uma prestação de dare, no caso, mais comum, de o creditado te rum
poder potestativo de utilização de dinheiro; mas já será de facere se a utilização de crédito
se materializar em assinatura do banco. Em rigor, só nos casos em que a prestação do
banco é de dare, é que a abertura de crédito é pura, no sentido de que independe da
celebração de futuros negócios máxime com terceiros. Nos demais, em que o banco,
através de assinaturas, se vinculará perante terceiros, o incumprimento do dever de
celebrar tais contratos seguirá o regime do contrato-promessa, sendo o credor do
cumprimento o creditado.
A circunstância de a posição do creditado, no que respeita à utilização do crédito,
ser pessoal e potestativa impede que essa posição jurídica ativa seja objeto de penhora
por credores terceiros.
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aí um mútuo, com autonomia bastante para que o banco descontador possa exigir o
pagamento das quantias pela via do empréstimo, em alternativa à cambiária.
Não obstante, essa identificação de um mútuo não pode, para JANUÁRIO, ser
hiperbolizada, já que o adiantamento de capital está intimamente associado a um efeito
que o banco tomou e que é suposto, salvo cláusula em contrário fazer valer face aos
obrigados cambiários.
O contrato é assim legalmente atípico, mas socialmente típico.
O desconto é, por vezes, apontado como um contrato real quoad constitutionem.
Para JANUÁRIO, a natureza real, a existir, seria, antes, explicada pela entrega do efeito
a descontar, que não pela entrega de dinheiro. Temos, porém, por mais avisada e
compatível com a autonomia e a gilidade da operação de desconto a sua natureza
consensual e não real quoad constitutionem.
Quanto à forma, tudo aponta no sentido da consensualidade, não obstante a praxis
bancaria ser no sentido da redução a escrito nos restantes contratos de crédito.
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de compra, o locador possa, designadamente, celebrar nova locação financeira que tenha
esse contrato por objeto. Da articulação entre a LCC e a LLF, resulta, por sua vez, a
diferença entre leasing à empresa e ao consumidor, o qual incide sobre bens móveis de
consumo duradouro.
Outras distinções:
- Leasing normal versus sale-lease-back-leasing: neste, o proprietário de
um bem vende-o a uma instituição de crédito que, na volta (back), o dá em locação
financeira ao vendedor;
- Locação financeira material ou imaterial: consoante o bem seja corpóreo
ou incorpóreo;
- Short-leasing e long-leasing: no primeiro a duração é determinada, no
segundo funciona uma lógica de resolving-credit;
- Net-leasing ou gros-leasing.
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do art.17.º LLF que permite a resolução do contrato por qualquer das partes, nos termos
gerais de direito.
O art.11.º/3 vem impor uma reconsideração das conclusões, uma vez que permite
ao locador opor-se à transmissão da posição contratual, provando não oferecer o
cessionário garantias bastantes à execução do contrato.
O regime do art.11.º/3 deve ser centrado na eficácia da transmissão da posição do
locatário face ao locador: comunicado o trespasse, o locador poderá, num prazo razoável,
manifestar a sua oposição à transmissão, na medida em que faça prova de que o
cessionário não oferece as garantias necessárias. Seria mais ágil a solução de não permitir
ao locador a oposição à transmissão qua tale, mas atribuir à oposição o efeito de manter
o trespasse vinculado ao contrato, como garante, provando o locador não oferecer as
garantias.
O art.11.º/1 LLF permite a sua transmissão por morte, a título de sucessão legal
ou testamentária, quando o sucessor prossiga a atividade profissional do falecido. Isto
também relativamente a bens de equipamento.
De qualquer modo, à transmissão mortis causa poderá opor-se o locador
(art.11.º/3) provando não oferecer o transmissário garantias bastantes.
A transmissão ocorre automaticamente ou é necessária uma declaração de vontade
do sucessor no sentido de que prossegue a atividade profissional do falecido? A
transmissão não é automática, já que, à data da morte, não está verificado o requisito do
prosseguimento da atividade profissional do falecido.
O art.11.º/4 LLF mantém, conquanto por dizeres enviesados, o regime do art.14.º
da lei anterior; literalmente, o art.14.º não mais diz do que a evidencia: havendo
transmissão da posição contratual do locador, o contrato de locação financeira subsiste
para todos os efeitos. Nesta formulação faltou dizer quando é que há transmissão da
posição contratual do locador, i.e., que a transmissão da posição contratual do locador
acontece com a alienação do bem locado. É assim que deve ser interpretado o art.11.º/4.
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6. As garantias do crédito.
6.1. Garantias pessoais e garantias reais.
Dentre as garantias especiais, a classificação distingue as garantias reais e as
pessoais. A garantia pessoal consubstancia-se na vinculação de um sujeito com o seu
património em ordem a garantir a satisfação de um crédito. As garantias reais são as que,
tendo por objeto um bem determinado, ainda que incorpóreo, são oponíveis a terceiros,
consubstanciando exceções ao princípio par conditio creditorum. São esquemas que
funcionam em modo real.
Falar em garantia pessoal é diferente de falar em garantia intuituo personae.
Vejamos o caso típico da fiança: o ser pessoal não é seguramente ser intuitos personae.
Mas sendo-o importará saber em que dimensão ou em que direção. Se o intuitos personae
for em relação ao devedor, isso pouco mais significara que o óbvio: que o fiador afiança
aquele devedor e não outro.
Mas a acentuação do intiuitos personae não se coloca tipicamente aí, mas na
relação com o credor. A consequência será então clara: se houver cessão de crédito
garantido fidejussória não acompanha o crédito.
Mas o intuitos personae pode ter um outro sentido, mais ligado à própria pessoa
do fiador.
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Ora, como é sabido, a morte do fiador determina, como regra ou em princípio, que
as obrigações fidejussórias se transmitem aos seus herdeiros: são obrigações de caráter
patrimonial e não pessoa.
Como modalidades de garantia pessoal, para além da fiança, o aval cambiário, a
solidariedade passiva, garantia autónoma, assunção cumulativa, seguro de créditos,
seguro-caução, carta de conforto e mandato de crédito.
Quanto à fiança civil: apresenta-se como a garantia pessoal típica (art 627.º a 655.º
CC). No art.627.º/1, refere-se que “o fiador garante a satisfação do direito de crédito,
ficando pessoalmente obrigado perante o credor”. A situação do fiador é a de garante da
obrigação com o seu património pessoal, tendo sido discutido na doutrina se esta situação
envolve constituição de uma obrigação própria do fiador. Para MENEZES LEITÃO, a
resposta deve ser afirmativa, porque o fiador tem um dever de prestar perante o credor.
Daí que se o fiador efetuar a prestação, tal seja considerado como um caso de prestação
por um terceiro que garantiu a obrigação, ainda que sujeita por esse mesmo motivo à sub-
rogação legal (art.644.º).
A fiança é, por isso, uma garantia pessoal das obrigações, através da qual um
terceiro assegura a realização de uma obrigação do devedor, responsabilizando-se
pessoalmente com o seu património por esse cumprimento perante o credor.
Normalmente, a fiança abrange todo o património do fiador, embora possa por limitação
convencional ser restringida a alguns dos seus bens (art.602.º). Normalmente, a fiança
restringe-se a alguma ou algumas dívidas do devedor, embora possa abranger todas as
suas dívidas presentes e, eventualmente, futuras, desde que determináveis.
O negócio que dá origem à fiança tem caráter necessariamente bilateral. Não é
razoável que alguém fique irrevogavelmente vinculado à prestação de uma garantia com
base num negócio unilateral. A fiança resulta sempre de um contrato entre o fiador e o
credor, ou de um contrato entre o fiador e o devedor que, nesse caso, revestirá a natureza
de um contrato a favor de terceiro. Poderá eventualmente também resultar de um contrato
plurilateral entre as três partes.
O art.628.º/1 estabelece que a forma da declaração de prestação de fiança é a da
forma exigida para a obrigação principal, ainda que se exija declaração expressa do fiador.
Ao fazer depender a forma da fiança apenas da forma exigida para a obrigação
principal, resulta que a lei não exige genericamente que a fiança seja prestada por escrito,
podendo esta revestir a forma consensual sempre que a obrigação principal não esteja
sujeita a qualquer forma.
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uma fiança, podendo o fiador fazer valer, face ao beneficiário, os meios de defesa que,
não fora a cláusula ao primeiro pedido, teria podido invocar.
Na contraposição entre os costs e os benefits da fiança ao primeiro pedido, face
aos da garantia bancaria autónoma automática, destaca-se o facto de o fiador ao primeiro
pedido ter uma posição mais confortável do que aquela que tem o garante na garantia
autónoma on first demand, já que, uma vez realizado o pagamento, pode discutir com o
beneficiário, na medida em que tenha meios de defesa “comunicados” por via de
acessoriedade.
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