Vigostik Teoriasssssss
Vigostik Teoriasssssss
Vigostik Teoriasssssss
O ser humano, na teoria interacionista, interage com o meio ambiente respondendo aos
estímulos externos, analisando, organizando e construindo seu conhecimento a partir do
“erro”, através de um processo contínuo de fazer e refazer (COLL, 1992, p. 164). Essas
construções dependem das relações que estabelecem com o ambiente numa dada situação.
Pode-se empregar o termo construtivismo como sinónimo de interacionismo, uma vez que
existe a “construção” do conhecimento basicamente considerada a verdadeira aprendizagem.
A construção deste trabalho está fundamentada em pesquisa bibliográfica das obras de Fosnot
(1998), Ferrari (2010a), Ferrari (2010b) e Coll (1992).
1. Teoria Interacionista de Jean Piaget
Exporemos aqui as principais contribuições sobre a teoria de Jean Piaget segundo as obras
pesquisadas para tecer o trabalho atual.
Os estudos sobre a Teoria Construtivista começaram com Piaget, que foi um biólogo com
preocupações eminentemente epistemológicas (Teoria do Conhecimento), numa perspectiva
interdisciplinar (FERRARI, 2010).
Nascido na Suíça, doutorou-se em ciências naturais com uma dissertação sobre moluscos,
porém, não eram apenas esses temas biológicos que chamavam a atenção de Piaget, a
principal questão que a biologia poderia ajudar a resolver seria a epistemológica, isto é, o
problema do conhecimento (COLL, 1992, p. 165).
Este foi o ponto bastante crucial das preocupações piagetianas. Explicar a forma pela qual o
homem atinge o conhecimento, o que o distingue fundamentalmente das outras espécies
vivas. Esta, no entanto, é uma questão tipicamente filosófica. Entre a energia, o rigor dos
métodos biológicos e a filosofia, Piaget foca uma lacuna que precisa ser preenchida. Com
isso a psicologia do desenvolvimento viria no futuro fazer este papel, como mediadora entre
os dois campos de estudo (FERRARI, 2010a; SANTOS, 2002).
Coll (1992) já vem frisando que: “Depois de seu doutorado em 1918, Piaget iniciou a busca
de um laboratório de psicologia que pudesse servir de campo para as investigações empíricas
que dessem suporte ao seu empreendimento”. (P. 168).
Piaget utilizou-se do método clínico, para suas observações, por ter semelhança com
os procedimentos usados em Psiquiatria e Psicoterapia: entrevistas, aplicações de
testes, e observação. Utilizando este método, ele chegou a formulações de uma teoria
de como se processa o desenvolvimento cognitivo – a Psicologia Genética (P. 168-
169).
A psicologia genética propiciou um aprofundamento sobre a compreensão do processo de
desenvolvimento humano na construção do conhecimento.
Segundo Piaget (apud COLL, 1992, p. 170), “o conhecimento não pode ser concebido como
algo predeterminado desde o nascimento (inatismo), nem como resultado do simples registo
de percepções e informações (empirismo) ”. Resulta das acções e interacções do sujeito com
o ambiente onde vive. “Todo o conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada
desde a infância, através de interacções do sujeito com os objectos que procura conhecer,
sejam eles do mundo físico ou cultural”. (SANTOS; BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002,
p. 104).
O construtivismo é mudança de visão, pois ele não considera o conhecimento só pelo prisma
do sujeito nem só pelo prisma do objecto, mas pela óptica da interacção sujeito-objecto
(COLL, 1992, p. 169-170). Assim, ensaia-se definir o construtivismo como uma teoria do
conhecimento que engloba numa só estrutura dois pólos, o sujeito histórico e o objecto
cultural, com interacção recíproca, ultrapassando dialeticamente e sem cessar as construções
já acabadas para satisfazer as lacunas ou carências (necessidades).
Vygotsky é um famoso psicólogo russo que, apesar de sua formação em Direito, pela
Universidade de Moscovo em 1918, destacou-se mais no campo da arte e da psicologia, cuja
tese de doutorado defendida em 1925 versava sobre Psicologia da Arte. O seu interesse pela
Psicologia levou-o a uma leitura crítica das teorias em voga como o Behaviorismo, a Gestalt,
a Psicanálise, além das ideias de Jean Piaget. As obras desses autores e escolas são citadas e
comentadas em seus diversos trabalhos.
Foi graças a uma conferência proferida no “II Congresso de Psicologia” em Leningrado que
Vygotsky foi convidado a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscovo, revelando
interesses pelo estudo das funções mentais superiores, da cultura, da linguagem e dos
processos orgânicos cerebrais pesquisados por neurofisiologistas russos com quem conviveu,
especialmente Alexander Luria e Alexei Leontiev, sendo considerado hoje em dia como o
grande fundador da escola soviética de psicologia histórico-cultural (CABRERA.
VILLALOBOS, 2007; OLIVEIRA, 2012).
O contexto em que viveu Vygotsky ajuda a explicar o rumo que seu trabalho iria tomar. As
suas ideias foram desenvolvidas na União Soviética saída da Revolução Russa de 1917 e
reflectem o desejo de reescrever a psicologia, com base no materialismo marxista, e construir
uma teoria da educação adequada à nova realidade social emergida da revolução. “Su genio
estribó en sentar las bases de un nuevo sistema psicológico a partir de materiales tomados de
la filosofía y de las ciencias sociales de su época” (BEATRIZ; MAZZARELLA, 2001, p. 41).
Molon (1995 e 2003) e Bonin (1996) destacam como os interesses de Vygotsky pela
psicologia estão relacionados com aspectos culturais: “génese e desenvolvimento cultural do
ser humano, com ênfase nos estudos sobre a linguagem, considerada como instrumento do
pensamento humano”. A ênfase no estudo da linguagem também é dada por Marta Kohl
Oliveira (2006), considerada uma autoridade em estudos vygotskianos: “a linguagem é
instrumento do pensamento”. Shuare (1990) ressalta que o historicismo é a chave para
entender a teoria de Vygotsky. Souza e Andrada (2013) destacam que, embora a teoria de
Vygotsky esteja comumente associada aos temas da educação, os fundamentos da Psicologia
Histórico-Cultural ou da Teoria Sócio-Interacionista possibilitariam compreender o ser
humano de modo sistémico, articulando as dimensões psíquicas e sócio culturais.
Diante de tal quadro, ele propôs, então, uma nova psicologia que, baseada no método
e nos princípios do materialismo dialéctico, compreendesse o aspecto cognitivo a
partir da descrição e explicação das funções psicológicas superiores, as quais, na sua
visão, eram determinadas histórica e culturalmente. Ou seja, propõe uma teoria
marxista do funcionamento intelectual humano que inclui tanto a identificação dos
mecanismos cerebrais subjacentes à formação e desenvolvimento das funções
psicológicas, como a especificação do contexto social em que ocorreu tal
desenvolvimento. (p. 4).
O método dialéctico materialista desenvolvido pelo filósofo alemão Karl Marx analisa o
movimento dos contrários em que o resultado final, a síntese, se dá a partir de uma dinâmica
entre uma tese e uma antítese, aqui neste caso, o outro e o meio. Desta forma, na teoria de
Vygotsky, o homem é visto como alguém que transforma e é transformado pelas relações
sociais. O que ocorre é uma interacção (dialéctica) entre o ser humano e o meio social e
cultural onde está inserido, ou seja, o desenvolvimento humano é compreendido como o
produto de factores biológicos, e factores ambientais que agem sobre o organismo,
determinando seu comportamento.
Nesta óptica, Damiani e Neves (2006) frisa que:
O conceito de síntese pode ser encontrado largamente na sua obra. O autor define a síntese
não apenas como a soma ou a justaposição de dois ou mais elementos, e sim como a
emergência de um produto totalmente novo gerado a partir da interacção entre elementos
anteriores. Em certo sentido, Vygotsky está mais próximo do empirismo do que do inatismo.
Para o psicólogo, primeiro somos seres sociais e depois nos individualizamos. Mas o sujeito
não é um mero receptáculo passivo que absorve e contempla o real, mas um sujeito activo
que em sua relação com o mundo se reconstrói neste mundo.
Vygotsky e seus colaboradores acreditam que a estrutura dos estádios descrita por Piaget seja
correcta, porém diferem na concepção de sua dinâmica evolutiva. Enquanto Piaget defende
que a estruturação do organismo precede o desenvolvimento, para Vygotsky é o próprio
processo de aprender que gera e promove o desenvolvimento das estruturas mentais
superiores. Assim, podemos ver como a visão de Vygotsky dá importância à dimensão social,
interpessoal, na construção do sujeito psicológico.
Se por um lado o conceito de subjectividade é tratado muitas vezes em Psicologia como algo
interno ao sujeito, o sócio interacionismo de Vygotsky destaca a dialéctica entre o sujeito e o
meio como o principal responsável pela sua formação. Este debate, em torno dos aspectos
sociais inerentes ao desenvolvimento da subjectividade, recebeu diferentes aportes teóricos
nos debates soviéticos Luria e Leontiev (1991), Leontiev (2004), e também fora da união
soviética, com o psicólogo marxista francês Wallon (1975) e outros teóricos como Zinhenko
(1998).
Além disso, Vygotsky toma como ponto de partida as funções psicológicas dos indivíduos, as
quais classificou em elementares e superiores. A partir das estruturas orgânicas elementares
do processo de maturação é que se formam novas e complexas funções mentais que inclui
também o elemento sociocultural. As funções psicológicas superiores são de origem social,
mas só são possíveis porque existe uma base biológica, cerebral, que permite tais actividades.
Dito de outro modo, as funções psicológicas superiores não tem origem no cérebro, mas não
existem sem ele. “Vygotsky considera que o modo de funcionamento do cérebro é moldado
ao longo da história da espécie (base filogenética) e do desenvolvimento individual (base
ontogénica), como produto da interacção com o meio físico e social (base sociogénica)”
(LUCCI, 2006, p. 8).
Linguagem e Aprendizagem
González (2010) ressalta que outra contribuição vygotskiana de relevo foi a relação que
estabelece entre Pensamento e Linguagem, desenvolvida no seu livro de mesmo título, ao
frisar que:
Em Pensamento e Linguagem, Vygotsky expõe com profundidade sua visão sobre a
relação entre cognição e linguagem e a importância do seu pensamento se revela do
fato de que em praticamente todos os manuais de história da Psicologia a figura de
Vygotsky ocupa um papel de destaque. (p.12).
A relação entre cognição e linguagem tem sido estudada por vários autores, como Souza e
Andrade (2013) que procuram abordar esta relação a partir da ideia de que a fala é expressão
do psiquismo e contribui para o seu desenvolvimento. Quando uma criança se comunica com
o meio vai construindo as condições para que a fala organize a função do pensamento e é por
volta dos dois anos que há um grande salto no desenvolvimento do sujeito quando, a partir do
desenvolvimento da fala, a criança pode explorar a relação entre signo e significado.
O signo é aquilo que permite a transferência de conhecimento do plano social para o plano
individual. Antes da escrita, a mediação das relações entre as pessoas ocorre através do signo
que são internalizados ajudando no desenvolvimento de processos mentais.
Vygotsky enfatizou que os signos constituem o nexo entre o plano social e o plano psíquico e
os seres humanos geram uma ampla variedade de instrumentos simbólicos como a obra de
arte, sistemas simbólicos algébricos, compreensão e produção de textos, diagramas e mapas,
entre outros. Utilizando uma analogia com um instrumento ou ferramenta como o martelo
poderíamos dizer que, da mesma que o martelo é um meio para obter controlo sobre objectos
físicos e transformá-los, assim funciona a linguagem por meio dos signos.
Para definir o conhecimento real, Vygotsky sugere que se avalie o que o sujeito é capaz de
fazer sozinho, e potencial aquilo que ele consegue fazer com ajuda de outro sujeito. Segundo
Vygotsky, em qualquer ponto do desenvolvimento existem certos problemas que uma criança
está prestes a ser capaz de resolver. Ela precisa apenas de alguma estrutura como pistas e
lembretes, ajuda para recordar detalhes ou passos, incentivo para continuar tentando etc. Por
outro lado, alguns problemas estão além da capacidade da criança mesmo que cada passo seja
explicado claramente. Pode acontecer inclusive, de que os melhores “professores” sejam os
outros alunos que acabaram de compreender um determinado problema, no sentido de que
estes “professores” podem estar operando na Zona de Desenvolvimento Proximal do aprendiz
Assim determina-se a Zona de Desenvolvimento Proximal e o nível de riqueza e diversidade
das interacções determinará o potencial atingido. Quanto mais ricas as interacções, maior e
mais sofisticado será o desenvolvimento.