O Pé Esquerdo

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O Pé Esquerdo

I) INTRODUÇÃO:

 No Velho Testamento, em Êxodo, do versículo primeiro ao quadragésimo, há 22 citações


sobre os pés. Essas 22 citações guardam, certamente, relação com as 22 letras do alfabeto hebraico.

Em Maçonaria, a prática ritualística varia de rito para rito, mas sua representação é quase
sempre idêntica.

Segundo Nicola Aslan, em seu “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia”,


“A posição dos pés na marcha dos vários Graus é de grande importância, pois, por ele, um Maçom
experimentado pode descobrir os Graus de instrução maçônica de um visitante que se apresente em
uma Loja. Esta posição tem um simbolismo especial explicado nas recepções dos vários Graus.”

Na maioria dos rituais, rompimento da marcha se dá com o pé esquerdo. Assim o é no REAA e


no de YORK, por exemplo; já no RITO ADONHIRAMITA e no FRANCÊS (ou MODERNO), o
rompimento da marcha se dá com o pé direito.

Na Câmara de Reflexões, o desnudamento do pé esquerdo significa um despojo voluntário da


insensibilidade moral, que impede a prática da virtude; indica a faculdade do discernimento que
devemos usar em cada passo do nosso caminho, nos quais podemos tropeçar.

Na Maçonaria Simbólica, os três graus têm marchas diferentes. No REAA, a posição dos pés –
em esquadria – sempre respeita o ângulo de 90º, com o pé esquerdo à frente e o direito apontado
para a direita. E a circulação dentro dos templos sempre se dá da esquerda para a direita (*há
exceção da retrogradação em determinada viagem de determinado grau).

O pé esquerdo avança antes do direito para mostrar que o Aprendiz ainda tem as influências
emocionais e da imaginação (lado esquerdo do cérebro), preponderando sobre a razão e a
inteligência (lado direito).

Antes de continuar com o tema principal, é importante ressaltar uma grande dúvida: se os
rituais são enfáticos em afirmar que não se marcha (ou caminha-se)  com o “sinal de ordem”, por que
é exigido – em muitas Lojas – que o neófito marche com o “sinal de ordem”? (*aqui cabe ressaltar a
exceção, já conhecida – o Rito Adonhiramita – em que se caminha com o “sinal de ordem”).
Observem que o “sinal de ordem” é feito com os pés em esquadria, portanto parados.

Segundo Jules Boucher, em seu livro “A Simbólica Maçônica”, no grau de Companheiro do


REAA, o ideal seria que o rito mudasse o passo inicial para o pé esquerdo, ao contrário do que é feito
(com o direito), dando-lhe uma interpretação mais esotérica. Isto porque, por ter sua localização na
Coluna do Sul, faria mais sentido iniciar seu passo à esquerda, que indicaria ser ele passível de ser
atraído, ainda, pela tentação das emoções e dos sentimentos; mas, com o próximo passo à direita,
mostraria ter condições de retornar à linha da razão, apoiado pela inteligência.

Oswald Wirth, entretanto, diz não haver nenhum motivo – bom ou mau – em favor do início da
marcha ser com o pé esquerdo. Para ele, a marcha iniciando com o pé direito se justificaria pelo fato
de que a direita representa a atividade, a iniciativa, o raciocínio, enquanto que a passividade, a
obediência e o sentimento relacionam-se com a esquerda.

Plantageneta – outro escritor maçom – segue na mesma linha do pensamento de Wirth,


quando diz: “A marcha do pé esquerdo parece-nos inexplicável; não é concebível que na Maçonaria
possa existir, seja em que grau for de hierarquia, uma passividade cega ou um abandono absoluto às
reações afetivas, justificando o simbolismo da esquerda. Sabemos, pelo contrário, que a própria
fecundidade da iniciação repousa inteiramente sobre a intensidade do trabalho pessoal, consciente,
deliberado. Aliás, a marcha afirma-se inconciliável com esse início com o pé esquerdo e, a partir daí,
não vemos como se poderia justificar racionalmente semelhante prescrição.

Não há dúvida alguma de que essa alteração dos ensinamentos tradicionais propaga um erro
flagrante: a ‘marcha escocesa’ prescreve a partida com o pé esquerdo, lado da afetividade passiva e
sentimental”.

O Irmão, advogado, jornalista e escritor Maurício Cardoso, lançou recentemente, pela Editora
“A Trolha Ltda”, o livro intitulado “Sua Majestade: O PÉ ESQUERDO”, que é quase um tratado
cabalístico e espiritualístico – em sua visão, também, maçônica sobre o tema -, do qual extraímos –
além de outros tópicos avulsos - o seguinte: “Sem nenhuma conotação de tola índole supersticiosa
explico que, ao contrário do mito que preconiza trazer azar, romper a marcha com o pé esquerdo,
com Deus no coração, trata-se de ritual diário e salutar”.

Afirma ainda que: “... o pé esquerdo está do lado esquerdo, do lado do coração, do
agradecimento a Deus pela vida, e ele é o ponto inicial da cerimônia ritualística. Ele é o escudo, a
majestade – representada por Aarão, irmão de Moisés. Só Aarão podia acender as velas da Menorá
no Templo; só o pé esquerdo pode iniciar a caminhada daquele que confia em Deus e nos seus
sonhos. O pé esquerdo é sinceridade, o direito é a segurança. Pois o pé direito vem atrás do pé
esquerdo”.

II) Algumas Curiosidades:

 O cavaleiro monta o cavalo colocando o pé esquerdo, em primeiro lugar, no “pé” do estribo;


 Nas esculturas e gravuras egípcias os sacerdotes avançavam sempre com o pé esquerdo à
frente;
 Nas FFAA, o primeiro passo é dado com o pé esquerdo. O batalhão rompe a caminhada
colocando o pé esquerdo à frente;
 No Budismo, o pé esquerdo é figura de destaque. Tanto assim que o Pé de Buda, famosa
figura budista, se vê representado pelo pé esquerdo;
 Na dança, o parceiro movimenta para frente o pé esquerdo, em total sincronia, obrigando a
parceira a recuar o pé direito;
 Em reforço para o início com o pé esquerdo, é que o Rei David deixava sempre a sua harpa
pendurada ao lado de sua cama. Conta a tradição que o vento do Norte tangia a harpa
produzindo sons e o Rei David se levantava para fazer seus Salmos. Isso sempre acontecia à
meia-noite.

III) Conclusão:

Inicialmente, deveríamos desmistificar possíveis conclusões supersticiosas, uma vez que,


embora se dedique ao estudo esotérico ou mesmo espiritualista, não deve um maçom ser
supersticioso.

Nesta linha de raciocínio, é aceitável crer que o lado direito do Homem é o positivo, enquanto
que o esquerdo é o negativo. Mas não devemos ver essas qualificações de positivo e negativo como
bom ou ruim, mas sim, como polaridades que se completam, pois uma sem a outra não se realiza. O
lado esquerdo é a matéria e o lado direito, o espírito.

Outrossim (é nossa opinião pessoal),  acreditamos que ambas as correntes que


“credenciaram” ora o pé esquerdo, ora o pé direito como preponderantes no rompimento da marcha
têm bons motivos para o fazê-lo, mas que, de acordo com a maioria das opiniões, constata-se a
preponderância na utilização do pé esquerdo na senda maçônica.

Conhecer toda essas e, no entanto, só faz enriquecer nosso intelecto e ajuda-nos a decidir
quais idéias melhor “simbolizam” o assunto em tela.

IV) Bibliografia: 

Aslan, Nicola – “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia”, “E.


“A Trolha Ltda.”, Londrina, 2000;

1. Boucher, Jules – “A Simbólica Maçônica”, Ed. Pensamento, São Paulo, 1979;

2. Cardoso, Maurício – “Sua Majestade:  O PE´ESQUERDO”, Ed. “A Trolha Ltda, Londrina, 2008;

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