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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância


Trabalho de Campo

Tema: PROJECTO DE DESENVOVIMENTO LOCAL

Nome do Estudante: Ernesto Chico Binze


Código de Estudante:708200781

Curso: Licenciatura em Administração pública


Disciplina: Gestão Estratégicade projecto Finanças e Pública
Ano de frequência: 3º Ano

Docente: dr. Daniel Cofe

Gorongosa, Maio de 2022


1

Índice
1. Introdução........................................................................................................................2
2. Justificação da temática...................................................................................................3
3. PROBLEMÁTICA, QUESTÕES E PERGUNTA DE PARTIDA...................................................3
4. OBJETIVOS............................................................................................................................4
5. ENQUADRAMENTO TEÓRICO...............................................................................................4
5.1. O DESENVOLVIMENTO NA PROMOÇÃO SOCIAL................................................................4
6.1. CONCEITO..........................................................................................................................4
7. DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO....................................................................................5
8. DESENVOLVIMENTO LOCAL................................................................................................10
9. DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL........................................................................13
10. APRESENTAÇÃO DO “PROJETO PILOTO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO NA VILA
DE NHAMATANDA”................................................................................................................15
11. METODOLOGIA.................................................................................................................17
11.1. PROBLEMÁTICA.............................................................................................................17
11.2. DESENHO DA INVESTIGAÇÃO........................................................................................18
11.3. AMOSTRA......................................................................................................................19
11.4. TÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS................................................................................19
11.5. TRATAMENTO E ANÁLISE DOS RESULTADOS.................................................................20
11.6. ENTREVISTAS REALIZADAS AOS PARTICIPANTES NO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO
COMUNITÁRIO (ENTREVISTADOS E1, E2 E E3):......................................................................20
11.7. PAPEL DESEMPENHADO................................................................................................20
11.8. METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS.................................................................................21
11.9. OBJETIVOS DO PROJETO: MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE VIDA...................................22
12. IMPACTO DO PROJETO.....................................................................................................22
12.1. a nível económico..........................................................................................................22
12.2. A nível educativo...........................................................................................................23
12.3. Nível social, cultural e outros........................................................................................23
12.4. Objetivos do projeto: melhoria das condições de vida..................................................24
12.5. Impacto do projeto........................................................................................................24
12.5.1. A nível económico......................................................................................................24
12.5.2. nível educativo...........................................................................................................25
12.5.3. A nível social, cultural e outros...................................................................................26
13. Conclusões.......................................................................................................................28
14. Referências bibliográficas.................................................................................................29
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1. Introdução
O conceito de desenvolvimento local vem sendo criticado e renovado por muitos
autores ao longo dos anos. Um marco importante passa a ser, em 1990, o relatório
mundial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), este
relatório coloca que o índice de desenvolvimento humano (IDH), tende a relativizar o
PNB por habitante enquanto medida universal do desenvolvimento e tem forte
significado simbólico (MILANI, 2005).
O desenvolvimento deve ser entendido levando-se em conta os aspectos locais, aspectos
estes que têm significado em um território específico. O global passa a ter sua
importância associada ao local e vice e versa, já que um está em constante mudança por
conta das interferências do outro e, por conta disto, muitos autores utilizam o termo
“glocal”, a junção dos dois aspectos, para se referir ao desenvolvimento. Muitos autores
já tentaram desconstruir o termo desenvolvimento por considerar que este implica em
práticas associadas à colonização, à ocidentalização do mundo, à globalização
econômico-financeira e à uniformização planetária. Isto foi discutido em 2002, em um
colóquio internacional organizado na UNESCO, “apesar de não explicarem como
substituir o conceito e a prática do desenvolvimento, sobretudo nos contextos em que as
desigualdades e as carências são ainda muito flagrantes” (MILANI, 2005, p. 10).
Atualmente é quase unânime entender que o desenvolvimento local não está relacionado
unicamente com crescimento econômico, mas também com a melhoria da qualidade de
vida das pessoas e com a conservação do meio ambiente. Estes três fatores estão inter-
relacionados e são interdependentes. O aspecto econômico implica em aumento da
renda e riqueza, além de condições dignas de trabalho. A partir do momento em que
existe um trabalho digno e este trabalho gera riqueza, ele tende a contribuir para a
melhoria das oportunidades sociais. Do mesmo modo, a problemática ambiental não
pode ser dissociada da social. O desenvolvimento local pressupõe uma transformação
consciente da realidade local (MILANI, 2005). Isto implica em uma preocupação não
apenas com a geração presente, mas também com as gerações futuras e é neste aspecto
que o fator ambiental assume fundamental importância. O desgaste ambiental pode não
interferir diretamente a geração atual, mas pode comprometer sobremaneira as próximas
gerações (SACHS, 2001). Outro aspecto relacionado ao desenvolvimento local é que ele
implica em articulação entre diversos atores e esferas de poder, seja a sociedade civil, as
organizações não governamentais, as instituições privadas e políticas e o próprio
governo.
3

2. Justificação da temática
O presente foi elaborado no âmbito em Desenvolvimento Comunitário,na vila unicipal
de Nhamatanda no distrito de Nhamatanda. O estudo proposto tem como tema o projeto
de desenvolvimento comunitário implementado na vila de Nhamatanda.
Inicialmente foi criada uma pergunta de partida com base no tema a abordar no que
mais à frente terá uma resposta com base no estudo de caso realizado pelo estudante do
mesmo. Para o estudo de caso relativo a este tema foi criada a seguinte pergunta de
partida " Qual a percpeção dos Nhamatandense quanto ao impacto (económico, social,
educativo e cultural) do projeto de desenvolvimento comunitário implementado na vila
de Nhamatanda em 2020 - 2022?"
Assim no seguimento desta questão, será efetuada uma investigação qualitativa com
recurso ao inquérito por entrevista com o objetivo de recolher testemunhos da época e
outros atuais, de forma a alcançar uma perceção das opiniões e dos factos quanto ao
passado e presente da vila.
O interesse em realizar um estudo sobre o projeto de desenvolvimento comunitário na
vila de Nhamatnda em fatores de ordem pessoal – sou natural da vila e tenho particular
motivação pela problemática, decorrente da frequência da Licenciatura em
Administração Publica na Universidade Catolica de Mocambique.

3. PROBLEMÁTICA, QUESTÕES E PERGUNTA DE PARTIDA


O estudo que apresentamos, ao situar-se no âmbito do desenvolvimento comunitário,
pretende analisar até que ponto, e de que modo, um projeto de desenvolvimento pode
contribuir para a evolução da vila a diversos níveis, ajudando a (re)construir novas
formas de pensamento, trabalho, educação e convivência na vila de Nhamatanda.
Com este estudo, pretendemos compreender a perceção do projeto iniciado em forma
percecionam também o percurso do projeto até aos dias de hoje, tanto ao nível
económico, como educativo, social e cultural.
Abordamos também o percurso da vila não nos limitando à análise das ações de
formação por parte do projeto mas analisando também a perceção do projeto pela
comunidade. Analisar a(s) forma(s) como um projeto de desenvolvimento local pode
proporcionar claras mutações prende-se ao facto destes projetos consistirem num pleno
sucesso para a população que os envolve. Assim, segundo Silva (1992,72), “no processo
4

de reflexão, considerámos que o processo de Desenvolvimento Comunitário de


Nhamatanda.

Neste sentido, tendo em conta a natureza específica deste enfoque a vila de


Nhamatanda. Já é exemplo de desenvolvimento local de grande porte. Este sucesso
traduz-se no facto de Nhamatanda. se ter tornado numa vila em franco evolução e capaz
de movimentar a indústria, a educação e as comunidades proporcionando uma melhoria
da economia. Foi através desta ênfase económica que a vila se tornou num exemplo
vivo de que um projeto de desenvolvimento local bem sucedido pode trazer a uma
população parada no tempo e com um fraco desenvolvimento comunitário a
possibilidade de crescer significativamente.
Deste modo, a pergunta de partida passa por dar a conhecer e analisar a perceção dos
Nhamatandenses. quanto ao impacto (económico, social, educativo e cultural) do projeto
de desenvolvimento comunitário implementado em Nhamatanda no período 2020 -
2022?

4. OBJETIVOS
● Perante as questões orientadoras acima apresentadas será pertinente responder aos
seguintes objetivos do trabalho:
● Descrever os pontos fulcrais do projecto piloto de desenvolvimento comunitário na
vila de Nhamatanda.
● Identificar os benefícios obtidos com a implementação do projeto na vila;
● Compreender a importância do projeto a nível educativo, social e cultural para a
população da vila;
● Refletir sobre as perceções dos participantes do projeto no que remete para a
estruturação social e económica da vila;

5. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
5.1. O DESENVOLVIMENTO NA PROMOÇÃO SOCIAL
6.1. CONCEITO
Presentemente o conceito de desenvolvimento é abordado como um processo social
total e como um conceito multidimensional que, indo além da mera satisfação das
necessidades básicas, abrange áreas como o ambiente e o património, a saúde, a
segurança, a liberdade ou a participação política. Neste processo, o enfoque do conceito
de desenvolvimento deixou progressivamente de ser a satisfação das necessidades das
populações para passar a ser a realização das suas capacidades, exigindo o reforço e a
5

valorização das suas competências. O desenvolvimento passa assim a ser designado de


empowerment (poder e liberdade de ação, pensamento e decisão) (Amaro, 2001: 201).
Este conceito de desenvolvimento tem como fim o próprio indivíduo e como objetivo o
seu bem-estar económico, social e cultural, o aumento do acesso a bens e serviços, a sua
liberdade de escolha, a vivência democrática e a possibilidade de participar em decisões
que implicam o seu destino e o sistema em que se insere.

Desenvolvimento consiste na evolução dos elementos da sociedade e na maneira como


esta se relaciona perante as mutações e evoluções. Para Franco (2002) todo o
desenvolvimento é considerado desenvolvimento social, visto não haver
desenvolvimento sem o decorrer de alterações significativas na vida da sociedade. O
desenvolvimento deve ser entendido e considerando segundo alguns aspetos locais,
aspetos esses que têm um significado no seu território específico que permitem que esse
mesmo desenvolvimento aconteça.
Um desenvolvimento entendido como “(...) integral e endógeno; é integral, visto que é
capaz de unir entre si os progressos económicos, sociais, culturais, morais reforçando-os
na sua relação mútua. Endógeno, no sentido em que há passagem de si mesmo a um
nível superior, em relações de soma positiva com os outros (...)” (Lenoir, 1989, p.50).
Nesta perspetiva de desenvolvimento, o crescimento económico é importante mas não é

7. DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO
Gusfield (1975) faz uma diferenciação entre duas definições do termo comunidade. Em
primeiro lugar, pode significar contorno territorial, ou seja, a comunidade pode ser
entendida como uma cidade ou uma região. Para que cada cidadão se insira numa
qualquer sociedade/comunidade é necessário que adquira uma consciência de
propriedade sobre esse espaço geográfico. Em segundo lugar, existe um caráter
relacional, que constitui a chamada rede social. Uma das principais explicações para o
desenvolvimento comunitário é a identificação da necessidade do espaço geográfico
interligado à rede social inerente a todas as comunidades e regiões.
Para Weber (1972) as mais íntimas relações dentro de uma comunidade são marcadas
por diferenças entre as pessoas que dela fazem parte. Embora as comunidades sejam
heterogéneas, o sentimento que as caracteriza provoca-lhes uma identidade social
comum, uma relação de pertença na comunidade em que se insere.
Este processo de construção e/ou descoberta da identidade comum a um grupo está
associado à necessidade de ser (re)conhecido pelos outros.
6

O conceito de “Desenvolvimento Comunitário” abarca um conjunto de experiências,


opiniões e construções que tornam complexa a criação de uma definição clara e concisa
dos seus princípios e ações.

O desenvolvimento comunitário parte da identificação de problemas e necessidades por


parte das populações que atuam na implementação de tarefas e de procedimentos, tendo
em vista a realização dos seus objetivos e conseguindo dessa forma melhorar as suas
condições de vida. É um processo evolutivo, integral e complexo. Esta visão de
desenvolvimento comunitário tem também como base a existência de uma articulação
entre o Estado, o mercado e o sector terciário, e reconhece a importância da
solidariedade em cada um destes eixos. Como refere García Roca, “só as relações
sinérgicas estão em condições de afiançar uma coordenação adequada..., significa
incrementar a coordenação entre os diferentes intervenientes e entre as distintas
dimensões da necessidade, com a participação de todos os agentes envolvidos” (García
Roca, 1995, p.52). Torna-se fundamental o empenho da comunidade na definição dos
objetivos comuns a serem atingidos, visto tratar-se de um projeto coletivo. Existem
aspetos-chave no processo de desenvolvimento. Este deve centrar-se na procura da
imparcialidade, da preservação ambiental e da racionalização da economia. Na base do
desenvolvimento comunitário estão três ideias fundamentais: o diagnóstico das
necessidades deve realizar-se com a participação das populações; a resposta a essas
necessidades deve começar pela mobilização das capacidades da própria comunidade;
os problemas e as soluções devem ser abordados de forma integrada, articulando vários
conhecimentos disciplinares e sectores de intervenção (Amaro, 2004). Não se trata de
dar a possibilidade às comunidades de participar na projeção, no planeamento e na
realização de ações ou de colaborar com os poderes governamentais. Estas ações devem
facilitar o processo de transformação da comunidade, para que sejam construídos
melhores cenários e previsões para o futuro e haja uma gestão social coerente com o que
se pretende atingir.
Torna-se importante ter em conta as características de cada região e/ou localidade, ou
seja, os contextos, tanto mais que nos confrontamos habitualmente com uma
discriminação negativa entre o que consideramos o Centro e a Periferia. Para Rist
(1996) e Milani (2005) não há possibilidade de se poder antecipar o futuro sem se ter
em conta a realidade local existente; todo o trabalho resultante do esforço coletivo
permitirá a essa realidade local evoluir e desenvolver-se.
7

Holdcroft definiu, em 1978, o desenvolvimento comunitário como sendo um “processo,


método, programa, instituição, e/ou movimento que: a) envolve toda a base da
comunidade na solução dos seus próprios problemas, b) promove o ensino e insiste no
uso de processos democráticos para a (re)solução de problemas comuns à comunidade,
e estimula e facilita a transferência de tecnologias para que a comunidade possa
solucionar, de forma efetiva, os seus problemas comuns. Unir esforços para resolver, de
forma democrática e científica, os problemas comuns da comunidade foi visto como
sendo um dos elementos essenciais ao desenvolvimento comunitário” (Holdcroft, 1978,
p.10).

O processo de desenvolvimento comunitário iniciou-se em aldeias e/ou localidades com


grande possibilidade de evolução mas onde se verificava a falta de um fio condutor
dessa evolução nos níveis social, económico e cultural. Ao mesmo tempo, criou-se a
tomada de consciência de que a partir de ações de desenvolvimento social, todos os
outros campos de atuação para o desenvolvimento estariam também a caminhar
positivamente. “O Desenvolvimento Comunitário começa por ser esta opção básica de
acentuar a positividade do desenvolvimento – não o reduzindo ao levantamento de
carências – e de concebê-lo como processo social, em vez de simples engenharia de
planeamento territorial. (…) A estratégia de tipo comunitário encara as pessoas como
recursos, como os principais recursos do seu próprio desenvolvimento, e aposta
decisivamente na sua capacitação: a majoração dos poderes para agir, isto é, das
atitudes, competências e capacidades para intervir socialmente, parece ser-lhe, ao
mesmo tempo, o objetivo nuclear e a melhor âncora da dinâmica local de
desenvolvimento.” (Silva, 2006, p.104).

Segundo Ander-Egg (1980), citado em Carmo (2007), um grupo de pessoas de uma


determinada área geográfica em que os seus elementos estão relacionados de uma ou
outra forma, através das suas funções, objetivos ou outros fatores, com interesses
comuns, constituem uma unidade social, e estabelece-se uma intensa relação entre as
mesmas.

O objetivo geral é a aceleração do processo de desenvolvimento económico, social e


cultural de uma região. Globalmente, deverá fomentar a reintegração das zonas não
evoluídas contribuindo para a diminuição das disparidades regionais. Na obtenção
8

destes objetivos, no processo de desenvolvimento comunitário, deve-se procurar a


colaboração dos serviços existentes nas localidades, promovendo a sua eficiência

O desenvolvimento social e a complexidade dos problemas da sociedade continuam a


colocar o debate na importância da comunidade como realidade social, na solidariedade
e interajuda entre os cidadãos, na valorização das vivências pessoais (Souza, 1996).
O desenvolvimento da comunidade parte da conscientização das necessidades da
população, com a ajuda dos técnicos do desenvolvimento comunitário, do envolvimento
no processo (daí ser tão importante a adesão das pessoas, da mobilização do esforço e
dos recursos locais, tanto materiais como humanos), exigindo a cooperação eficaz entre
as populações.
Segundo Sinaceur (1981), citado em Perrox (1987, p.16) “a qualificação de
desenvolvimento tem, pela sua natureza, a preciosa vantagem de determinar,
diretamente, em que consiste, com urgência, o aperfeiçoamento real da humanidade
(...)”. Perrox (1987) adianta que o

Para quê o desenvolvimento?” (...) Não estará em causa o próprio modelo de sociedade
que, tendo como fulcro o crescimento económico, toma os homens simples
«marionettes» de produção e de consumo dependentes de poderes cada vez mais
autocráticos e distantes? Mas a crise em vez de descalabro poderá ser o alarme
necessário para a invenção progressiva duma outra qualidade de vida em que a
convivência seja aprofundada, o que nos une seja mais sublinhado que o que nos separa,
em que a criatividade tenha mais importância que uma ortodoxia qualquer (...).”
(Imperatori, 2010 p. 121).
O acesso à informação é inevitavelmente um fio condutor para o desenvolvimento
económico e social de comunidades. O uso da metodologia de análise de redes sociais
vem-se difundindo rapidamente, nos últimos anos, trazendo contributos significativos
para a compreensão do papel social no desenvolvimento. “A construção de redes sociais
e a consequente aquisição de capital social estão condicionadas por fatores culturais,
políticos e sociais. (...) A combinação da metodologia de análise de redes com uma base
teórica sólida amplia os espaços de pesquisa, em um espectro que vai das pesquisas
sobre o acesso às informações básicas sobre saúde pública em comunidades urbanas ao
comércio internacional, passando pela análise do desenvolvimento regional, através do
estudo dos arranjos produtivos locais.” (Marteleto, 2010, p.62).
9

O desenvolvimento é produzido pelas pessoas e não uma criação de crescimento


económico, social e cultural das mesmas, assim sendo, é da responsabilidade de cada
pessoa apoiar o crescimento a todos os níveis, colocando de parte a ideologia de que
esse mesmo desenvolvimento é um simples produtor de evolução e criação económica,
social e cultural. É resultado das relações humanas, das escolhas que as pessoas podem
fazer para alcançar uma melhor qualidade de vida e para melhor viver em sociedade.
Para que se identifique desenvolvimento é necessário que cada cidadão se assuma como
ator e responsável pelos processos de evolução para que, adequando o pensamento de
cada sujeito social, aconteça o desenvolvimento local.
Segundo Imperatori (2010), o desenvolvimento comunitário fortalece a sociedade civil
na sua plenitude, ou seja, concebe aos sujeitos a possibilidade de se tornarem autênticos
protagonistas do seu desenvolvimento, facto que atravessa diferentes fases ou níveis.
Estas fases são, em primeiro lugar, a consciencialização das suas carências e
necessidades, em segundo lugar, a motivação para procurar as respostas para a sua
resolução, em terceiro lugar, a criação de movimentos associativos para levar a cabo as
mudanças e as transformações e em quarto lugar, a revelação e comparação dos
resultados e/ou consequências para uma divisão adequada da socialização e do poder.
Assim sendo, o desenvolvimento económico, social e humano só é consistente quando
existe uma preocupação, não só com satisfação das necessidades, mas também com a
implementação de um processo de participação que pressupõe o assumir de medidas e
ações que envolvem nas populações uma prática relacional e de convivência entre a
comunidade..

Em 1956, a ONU definiu da seguinte forma o desenvolvimento de comunidade: “(…)


processo através do qual os esforços do próprio povo se unem aos das autoridades
governamentais, com o fim de melhorar as condições económicas, sociais e culturais
das comunidades, de integrar essas comunidades na vida nacional e de capacitá-las a
contribuir plenamente para o progresso do país.” (Ammann, 1992 p.32).

Para obtermos uma política de desenvolvimento comunitário estruturada devemos ter


em conta o objetivo concreto a atingir com o desenvolvimento comunitário, o tipo de
programa a adotar, a entidade responsável pela execução da política de desenvolvimento
comunitário, o recrutamento e formação de agentes de desenvolvimento comunitário a
vários níveis, o financiamento e, por último, a investigação e avaliação dos projetos.
10

Apenas com todos estes passos será possível a adoção de uma política de
desenvolvimento comunitário fiel e benéfica para uma comunidade ou região.

Principalmente, nos casos de comunidades mais conservadoras, deparamo-nos com


problemas na recetividade da própria comunidade, o que cria uma enorme barreira à
implementação de uma ação comunitária eficiente. Contudo, a (fraca) recetividade tem
vindo a alterar-se, graças nomeadamente ao trabalho desenvolvido pelos técnicos de
desenvolvimento comunitário, que têm vindo a trabalhar na inserção das pessoas no seu
processo de desenvolvimento da comunidade, mesmo em localidades em que a inovação
é complexa e difícil. O desenvolvimento comunitário procura criar nas populações um
espírito de recetividade e cooperação que são fundamentais para o sucesso de uma ação
de desenvolvimento comunitário.

8. DESENVOLVIMENTO LOCAL
O desenvolvimento local é um processo endógeno desenvolvido em pequenas unidades
territoriais (regiões, cidades, vilas, etc.) para promover o dinamismo económico e a
melhoria da qualidade de vida da população. Para que possa ser um processo consistente
e sustentável, o desenvolvimento deve promover oportunidades sociais e a viabilidade e
competitividade da economia local, aumentando as formas de riqueza, ao mesmo tempo
que defende a conservação dos recursos naturais.
O desenvolvimento local está relacionado com o afirmar de uma identidade territorial,
ou seja, as ações e/ou projetos realizam-se em localidades que se distinguem entre si.
Este desenvolvimento é resultado do esforço de identificar, reconhecer e valorizar os
benefícios locais, aproveitando e desenvolvendo as potencialidades de determinado
espaço. Resulta de escolhas que aumentam as possibilidades de alcançar um futuro
evolutivo e dinâmico, deste modo, é sempre relevante o planeamento e a gestão dos
espaços. O envolvimento e o compromisso dos cidadãos para a construção do seu
futuro, enquanto cidadãos locais, dependem a participação nos projetos e atividades que
possam de algum modo contribuir para a realização do plano de desenvolvimento
existente em cada local. Isto significa que o sucesso das ações/projetos está dependente
da atitude empreendedora da população local.
O conceito de desenvolvimento local começou a tornar-se relevante após o
reconhecimento do grande fenómeno da globalização, entendida como um processo de
ampliação, inclusão e troca entre os mercados. A globalização é resultado dos avanços
no que respeita ao desenvolvimento científico, tecnológico e da informação, que
11

proporcionou mudanças de caráter económico, social e cultural. É a partir daqui que o


desenvolvimento local ganha ênfase e se torna num fenómeno social importante. É uma
consequência da capacidade dos atores e da sociedade locais se organizarem e se
movimentarem, com base nas suas potencialidades e na sua matriz cultural, para
definirem e explorarem as suas origens e especificidades, promovendo a
competitividade.

Atualmente, o desenvolvimento local está relacionado com a melhoria da qualidade de


vida dos cidadãos e com a conservação do meio ambiente, tema cada vez mais relevante
quando abordamos o desenvolvimento local. Desenvolvimento local poderia
corresponder à satisfação de um conjunto de requisitos de bem-estar e qualidade de
vida. Essa ação de promoção da qualidade de vida consegue aproximar-nos do que
consideramos ser o desenvolvimento local mas não podemos abandonar outras
dimensões, tais como, a especificidade histórica do local e a cidadania, que, por sua vez,
não é suscetível de ser medida. Isto serve apenas para afastar a tendência para medir o
desenvolvimento ou a cidadania: a noção de desenvolvimento local como âncora na
cidadania levará à elaboração de argumentos sobre o desenvolvimento local como
paradigma alternativo à fraca cidadania e cooperação dentro de uma sociedade para um
bem comum.
As questões de sucesso do desenvolvimento local estão grande parte das vezes
associadas a iniciativas inovadoras e modernas para aplicar na localidade, unindo as
potencialidades locais às condições oferecidas pelo contexto em que se insere.

Segundo ArtoHaveri, “as comunidades procuram utilizar as suas características


específicas e suas qualidades superiores e especializam-se nos campos em que têm uma
vantagem comparativa com relação às outras regiões” (Haveri, 1996 p. 53).

Podemos também afirmar que o conceito de desenvolvimento local traduz a


possibilidade das populações poderem expressar uma ideia para o futuro, sendo esta
uma comunidade aberta à mudança e à evolução, concretizando ações que possam
ajudar à (re)construção desse futuro desejado. Os seus objetivos mais evidentes seriam
promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas, bem como aumentar os seus
níveis de autoconfiança e organização.

À medida que o tempo passa, o desenvolvimento local é cada vez mais visto como um
conjunto de práticas, ações, procedimentos e metodologias, sendo muitas vezes
12

apresentado como um processo simples, com alguns passos a seguir para atingir
determinadas finalidades. De referir, no entanto, que criar desenvolvimento é muito
mais do que seguir passos ou receitas: cada comunidade tem as suas especificidades,
cada uma delas tem a sua forma de união e criação de trabalho e esforços para um
desenvolvimento e evolução comuns. Esta perspetiva redutora do desenvolvimento local
que se cinge a uma prática e consequente receita vai fazendo esquecer que o
desenvolvimento local representa, antes de mais, uma opção política, principalmente
devido aos financiamentos e apoios estatais.
Em termos metodológicos, as ações de desenvolvimento local ocorrem geralmente em
pequenos territórios, principalmente aldeias e vilas, sendo estas os locais mais
beneficiados aquando da implementação de projetos de desenvolvimento comunitário,
territórios quase sempre menos desenvolvidos e com mais necessidades de apoio que as
cidades. A metodologia a adotar deve ter em conta a comunidade em que se insere,
partindo de uma avaliação do local e da sua população.
Outro aspeto relacionado com o desenvolvimento local que importa salientar refere-se
ao facto de este implicar a articulação entre diversos atores, sejam eles elementos da
sociedade civil, organizações não-governamentais, instituições privadas e políticas e o
próprio governo. Cada um dos atores deve contribuir com a sua função na promoção do
desenvolvimento local (Buarque, 1999).
Assim, o desenvolvimento local pressupõe uma transformação consciente e coerente da
realidade local em que ocorre (Milani, 2005). Especificando, em articulação com a
sociedade, as esferas de poder, as organizações não-governamentais, as instituições
privadas e políticas e o governo devem contribuir, em conciliação com a sociedade, para
o desenvolvimento local.
Por fim, devemos ter em consideração o desenvolvimento local e a descentralização que
são processos diferentes, embora quase sempre interligados e complementares um do
outro: a descentralização deve ser um apoio de grande importância para o
desenvolvimento local, visto que quando existe a descentralização de serviços, projetos,
infraestruturas ou outros, estes tornam-se inevitavelmente um elo de ligação entre o
desenvolvimento e a população e esta ligação surge com o auxílio dessa mesma
descentralização. No entanto, a descentralização pode contribuir significativamente para
o desenvolvimento local, como consequência de iniciativas das populações locais, de
forma a levar a todos projetos e ações, mesmo estando fora das grandes camadas
populacionais.
13

De referir também que o desenvolvimento local, por si só, não resolve o problema do
desemprego crescente, embora possa de facto contribuir para a criação e conservação de
alguns empregos. De igual modo, o desenvolvimento local, por si só, não consegue
limitar ou estagnar o envelhecimento das populações e a migração dos jovens. Com
efeito, estes processos são consequências de todo um descontrole político e social em
que estamos envolvidos presentemente. Ainda assim, acreditamos que o
desenvolvimento local é um ponto fulcral para um crescimento e melhoria da qualidade
de vida das populações a vários níveis.

9. DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL


Sustentabilidade é um termo usado para definir ações e atividades que tendem a
completar as necessidades dos seres humanos. Ou seja, a sustentabilidade está
diretamente relacionada com a economia e com a indústria, que deve ser implementada
sem causar malefícios ao meio ambiente. A adoção de ações e atividades de
sustentabilidade compensam, a longo prazo, uma comunidade com condições favoráveis
a um desenvolvimento rico em qualidade de vida e bem-estar.
O conceito de Desenvolvimento Local Sustentável surgiu como um novo paradigma de
desenvolvimento que começou a amadurecer a partir da década de 70 do século XX. A
partir desta década aponta-se para uma revisão do modelo económico vigente,
defendendo a descentralização e o estímulo à participação dos atores sociais na
definição dos caminhos económicos e socias do território ao qual pertencem. Considera
que deve haver a mobilização de recursos presentes em cada região, dando ênfase ao
esforço da população e à capacidade de com os recursos disponíveis se conseguirão
melhores resultados. Este conceito leva a uma mudança gradual das mentalidades, à
descentralização do poder e à gestão de projetos tendo como objetivos a união e o
interesse das pessoas. A noção de desenvolvimento sustentável está ligada ao
aproveitamento sustentável dos recursos e serviços existentes numa determinada
comunidade, de forma a contribuir para uma melhoria da qualidade de vida. Assim, esta
questão da sustentabilidade está relacionada com os conceitos de qualidade de vida e
bem-estar, com as gerações do futuro e com as questões ambientais (Camargo, 2003).
Um projeto de desenvolvimento local sustentável é uma forma de mudança sustentável,
tendo em vista um crescimento e melhoramento local, proporcionando a instalação de
processos de reestruturação económica, educacional, social e cultural. Tem por base
14

formas organizacionais bastante diferentes das políticas de desenvolvimento


tradicionais.
Contudo, são inúmeros os fatores que condicionam um futuro sustentável: o excesso de
produção, o aumento da poluição e o consumo descontrolado. Atualmente, é comum a
utilização excessiva dos recursos naturais, humanos, financeiros e de infraestruturas,
assumindo-se regularmente a perspetiva de curto prazo de obtenção de lucro como única
e possível forma de uma sociedade progredir.

Daí que na opinião de Azevedo, Magalhães e Pereira (2010, p.51) “as metas de
sustentabilidade definidas à escala global, regional ou mesmo local são encaradas com
uma dose apreciável de ceticismo, uma vez que em grande parte dos casos os meios
necessários para que a mudança preconizada ocorra não são disponibilizados”. No
entanto, segundo estes autores, “assiste-se, simultaneamente, à construção de uma nova
consciência, consubstanciada em novas atitudes e comportamentos que indicam, no
cidadão em geral, a esperança, paciência e pro-atividade para que o caminho se faça
continuando”.

Para Franco (2001), apenas é sustentável o que podemos articular em rede, ou seja, com
interdependência, com diversidade e com flexibilidade. É urgente uma profunda
mudança do pensamento para que cada um adquira e/ou desenvolva a capacidade de
reconhecer a responsabilidade que tem na aplicação das estratégias para o
desenvolvimento do território local, no seu nível de sustentabilidade e na capacidade de
progresso da comunidade a que pertence.
A solução para garantir um desenvolvimento sustentável é “encarar a defesa da vida na
Terra como razão de ser da própria vida (...) e assegurar a viabilidade de cada um dos
sistemas que compõe o ecossistema humano” (Azevedo, Magalhães e Pereira, 2010, p.
45). De acordo com Gómez, Freitas e Callejas (2007), a Organização das Nações
Unidas descreve o desenvolvimento sustentável de uma forma clara e concisa: “o
desenvolvimento sustentável está nas mãos da humanidade – que satisfaça as
necessidades da presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações
satisfazerem as suas” (Gómez, Freitas e Callejas, 2007, p.87).
Assim sendo, viver de forma sustentável, significará certamente uma grande mudança
nas atitudes dos seres humanos. Como refere o relatório “Cuidar do planeta terra”
(1991) elaborado com o apoio das Nações Unidas, é necessário aceitar as consequências
15

de fazer parte de uma comunidade e tornar ampla a consciência dos efeitos nas decisões
acerca de outras sociedades e futuras gerações.

10. APRESENTAÇÃO DO “PROJETO PILOTO DE


DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO NA VILA DE NHAMATANDA”
A vila de Nhamatanda, sede d, é constituída por uma área de cerca de 30km quadrados e
fica situada no Distrito de Nhamatada. A sua área está composta por mais três dezenas
de lugares, alguns dos quais evidenciando características próprias, não só geográficas,
mas também populacionais. Até todo este espaço físico era semeado de uma enorme
vegetação densa, intercalada entre a matas dos Candeeiros. Posteriormente foram
surgindo, de forma organizada, algumas povoações, sabendo-se hoje que foi implantada
na vila a primeira paróquia catolica. Verificou-se a origem de um grande surto de
desenvolvimento que se mantém até aos dias de hoje: a indústria Moz Green.
Esta é uma vila rural, onde ainda hoje muitas pessoas vivem da agricultura. A vila de
Nhamatanda é considerada uma vila de forte crescimento, com indústria, comércio,
postos de saúde, escolas e espaços culturais próprios. Contudo o modo, a luta pela
evolução e melhoramento das condições dos seus habitantes prevalece.

Todo este crescimento e desenvolvimento da vila deve-se em grande parte ao grupo


SUSTENTA que conduziu na vila um projeto piloto de desenvolvimento comunitário.
O envolvimento populacional nos vários sectores, proporcionou a oportunidade de
utilizar recursos existentes como forma de evolução tanto na indústria como em termos
de cidadania.
Observando a realidade económica e cultural daquele século, tanto no que respeita à
escolarização, como infraestruturas, agricultura, etc. acredita-se que o projeto
vivenciado na vila de Nhamatada, quer pelas metodologias e estratégias promovidas,
quer pelo envolvimento e participação de grande parte da população gerou um
movimento de mudança e inovação.

O Desenvolvimento Comunitário (DC) aparece, na altura, como o método adequado


para resolver os problemas do desenvolvimento no País e mais particularmente na vila:
partindo da situação concreta das comunidades locais e empenhando as populações para
participarem no seu próprio desenvolvimento, assim se foi despertando a iniciativa da
população e o aproveitamento dos recursos locais.
16

Não pondo em questão o modelo de desenvolvimento, mas sobretudo a repartição dos


seus benefícios e a participação da população no mesmo desenvolvimento, o
Desenvolvimento Comunitário (DC) aparece na vila de Nhamatanda, na altura, como o
método adequado para resolver os problemas do desenvolvimento económico e social.
Este teve como finalidade o despertar das iniciativas e possibilitar o aproveitamento dos
recursos potenciais.
De facto, a equipa teve um trabalho de destaque. A vila, na altura, tinha transportes
muito fracos, saneamento básico inexistente, agricultura pobre, indústria totalmente
artesanal e principalmente problemas elevados ao nível da saúde e da educação. Apesar
da análise negativa, a equipa encontrou uma população rica em união e com um enorme
grau de abertura ao desenvolvimento.

Para este projeto estiveram envolvidas diversas entidades, todas elas com diferenciados
papéis, mas também todas elas com elevada importância para o sucesso do mesmo.
Assim, as entidades envolvidas foram as seguintes: Ministério da Agricultura –
Sustenta, FDC, Foi criada uma estruturação metodológica para a concretização do
projeto separada em seis momentos: Preparação, criação de um estudo detalhado das
condições económicas e sociais da freguesia; Informação e dinamização das ações a
desenvolver, isto através de contatos com a administração local e em seguida através de
reuniões com as populações para informá-las claramente acerca do trabalho a
desenvolver e das metas a atingir; Organização local, ou seja, a criação de grupos locais
responsáveis por cada setor (infraestruturas, agricultura, indústria e saúde); Apoio a
projetos que correspondiam às necessidades e aspirações da população; Elaboração,
juntamente com a população, de um plano de desenvolvimento e a Colocação de
estagiários de serviço social na zona, assegurando a dinamização e organização da
população. A intervenção teve uma duração definida de três anos passando, a partir
dessa altura, a população a assegurar a continuidade do processo e de todo o seu
progresso.
Consequentemente foram obtidos resultados, dos quais destacamos alguns deles.
Verificamos que os resultados dos três anos de implementação do projeto estão
divididos em dois aspetos fundamentais: as realizações a nível material, ou seja,
infraestruturas conseguidas e evolução das mentalidades da população da Benedita.
Quanto à primeira, podemos destacar a agricultura e a pecuária (plantação de pomares,
construção de explorações de animais e a criação da cooperativa agrícola); na indústria
17

destacamos a fundição de pequenas associacoes. A educação foi de facto a grande


preocupação de toda a intervenção do grupo FDC, daí a conquista do Externato
CooperativoRelativamente ao segundo aspeto passou, desde então, a verificar-se uma
grande curiosidade intelectual sobre os diversos assuntos a nível político, económico e
social, as pessoas mudaram a sua forma de se relacionar, de estar, de vestir, a estética
tornou-se importante para as suas relações e emprego. Cada um passou a dar mais de si
à comunidade e criaram iniciativas de apoio a toda e qualquer atividade ou necessidade
da vila.
A vila de Nhamatanda enfrenta assim o caminho para um crescente desenvolvimento
agora a cargo da população. Este projeto implementado não teve um término. Depois da
saída dos técnicos ficou a cargo da população e dos grupos lideres criados para a
continuação desse mesmo desenvolvimento. Existe sempre algo para melhorar, para
criar, para inovar. O grupo entregou as técnicas e mostrou como fazer, após isso cabe à
comunidade da vila dar continuidade. de Nhamatanda, a escola que toda a população
desejava.

11. METODOLOGIA
11.1. PROBLEMÁTICA
O estudo que apresentamos, ao situar-se no âmbito do desenvolvimento comunitário,
como referimos na introdução deste relatório, pretende analisar até que ponto, e de que
modo, um projeto de desenvolvimento numa comunidade pode contribuir para o seu
sucesso e evolução a diversos níveis, ajudando a construir e (re)construir novas formas
de pensamento, trabalho, educação e convivência na vila de Benedita.

Foi nosso objetivo analisar as perceções sobre um projeto de desenvolvimento local de


sucesso para a população onde se realizou.

Segundo Manuela Silva (1992), “no processo de reflexão, considerámos que o processo
de Desenvolvimento Comunitário da vila foi o vai bem sucedido dos que ocorreram ao
longo e Graças a este sucesso Nhamatanda tornou-se uma vila em constante evolução e
capaz de movimentar a indústria, a educação e as comunidades proporcionando à vila
uma crescente e acentuada movimentação económica. É através desta enfase económica
que a vila se tornou num exemplo vivo do que um projeto de desenvolvimento local,
bem sucedido, pode trazer a uma população fechada e com graves atrasos no seu
desenvolvimento.
18

O tipo de população existente na Benedita em 1960 seria capaz de se unir pelo


desenvolvimento da vila?
●O projeto de desenvolvimento comunitário implementado terá promovido a evolução,
o empreendedorismo e a força para melhorar?
●Que importância teve o projeto para a população da vila?

Considerámos os seguintes objetivos de investigação:


● Descrever os pontos fulcrais do projeto piloto de desenvolvimento comunitário na vila
de Benedita;
●Identificar os benefícios obtidos com a implementação do projeto na vila;
●Compreender a importância do projeto a nível educativo, social e cultural para a
população da vila;
● Refletir sobre as perceções dos participantes do projeto no que remete para a
estruturação social e económica da vila;

11.2. DESENHO DA INVESTIGAÇÃO


Optámos por um estudo exploratório de carácter descritivo, na medida em que o que se
pretende é descrever uma realidade para a tornar inteligível, mais concretamente “numa
lógica exploratória, como meio de descoberta e de construção de um esquema teórico de
inteligibilidade” (Albarelloet al, 1977:117). A chamada investigação descritiva, como o
próprio nome indica, tem por objetivo descrever um determinado fenómeno (Bisquerra,
1989; Fox 1987). Compreende a descrição, registo, análise e interpretação das
condições existentes no momento” (Best, 1981:31). A recolha de dados para uma
investigação deve ser efetuada de acordo com a pergunta de partida selecionada. Assim,
perante esta é selecionado o método de investigação, o Estudo de Caso.
Para Ponte, EC “É uma investigação que se assume como particularística, isto é, que
se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou
especial, pelo menos em certos aspetos, procurando descobrir a que há nela de mais
essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um
certo fenómeno de interesse.” (Ponte, 2006:2).
O estudo de caso abarca objetivos e características que fazem do nosso estudo o
desígnio de “estudo de caso”. Para que seja enquadrado como tal, o estudo de caso deve,
para Yin (1994) ter o objetivo de explorar, descrever ou explicar um facto, evento ou
acontecimento.
19

11.3. AMOSTRA
Para a nossa investigação foi efetuada uma seleção de pessoas situadas em dois polos na
linha do tempo na história da vila. Para isto, foram selecionadas três pessoas nascidas
antes da década de sessenta, que de alguma forma estiveram ligadas ao projeto de
desenvolvimento comunitário da vila de Nhamatanda e outras três que presentemente
colaboram na comemoração e destaque deste projeto passado.
A escolha dos entrevistados foi efetuada com o parecer do orientador, com o apoio de
outras pessoas que nos auxiliaram na recolha de informação.
O primeiro grupo são pessoas maiores de setenta e cinco anos, maioritariamente
naturais da vila, e na altura jovens ambiciosos e com grande interesse pelo
desenvolvimento local e pela educação na vila. O segundo grupo são pessoas entre os
cinquenta e os setenta anos, também naturais da vila. Fazem parte de um extenso grupo
de pessoas que se organizaram para dar enfase ao projeto, comemorá-lo e recordá-lo,
despertando na população o espírito de união e entreajuda.

11.4. TÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS


Para o nosso estudo, optámos pelo inquérito por entrevista a fim de obtermos a opinião
de pessoas que de algum modo estiveram ou estão ligadas ao desenvolvimento
comunitário da vila de Nhamatanda.
O Inquérito por entrevista permite o aprofundamento da perceção do sentido que as
pessoas atribuem às suas ações, de certo modo obriga a uma explicação e um claro
alongamento daquilo que se está a afirmar, explicitando e clarificando pontos fulcrais da
resposta de modo a que o raciocínio não se perca. Além disso, torna-se flexível porque o
contacto direto permite explicitação e esmiuçamento das perguntas e das respostas.
O inquérito por entrevista é um método bastante importante e eficiente principalmente
devido à questão da interação. “A entrevista é um método de recolha de informações
que consiste em conversas orais, individuais ou de grupos, com várias pessoas
selecionadas cuidadosamente, cujo grau de pertinência, validade e fiabilidade é
analisado na perspetiva dos objetivos da recolha de informações (Ketele, 1999: 18).
Freitas (1997, p.31) clarifica que “entrevistar alguém não deve, no entanto, consistir
num mero jogo de perguntas e respostas”. É relevante dar a devida liberdade de
expressão aos entrevistados para que seja possível proporcionarem-nos toda as
informações sobre o assunto em questão.
20

Para a realização do nosso estudo surgiram alguns entraves, pois em primeiro lugar,
partes dos testemunhos vivos do projeto têm já idades avançadas daí uma grande
dificuldade em marcar encontro com os mesmos. Em segundo lugar, alguns dos
entrevistados residem a longos quilómetros, então houve necessidade de adaptação da
vida pessoal e profissional de entrevistador e entrevistados para que a entrevista fosse
possível.
11.5. TRATAMENTO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para a análise dos resultados foi efetuada uma transcrição literal e pormenorizada das
respostas dadas pelos entrevistados. Assim, o conteúdo das entrevistas foi o objeto de
análise, de forma a testarmos as hipóteses colocadas em estudo.
Para a interpretação mais clara das entrevistas realizámos um quadro no qual
esquematizámos todos os pontos de análise pertinentes, ao qual chamámos de matriz de
análise de conteúdo.
A matriz de análise de conteúdos diz respeito a duas diferentes entrevistas (A e B) e
ambas apresentam a categoria “Projeto de Desenvolvimento Comunitário” e “Impacto
do projeto”, diferem apenas na última categoria “Impacto do projeto” (A) e
“Potencialidades” (B) que se ramificam em algumas subcategorias diferentes nas
entrevistas A e B.
Segundo Carmo e Malheiro (2008) a seleção das categorias deverá ser exaustiva,
exclusiva, no sentido que, o conteúdo deve classificar e definir claramente, a
codificação das diferentes categorias, selecionadas pelo investigador e por fim, as
categorias devem ser sucintas e, pertinentes com os objetivos estipulados, para melhor
compreensão do estudo.

11.6. ENTREVISTAS REALIZADAS AOS PARTICIPANTES NO PROJETO DE


DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO (ENTREVISTADOS E1, E2 E E3):
11.7. PAPEL DESEMPENHADO
Segundo os entrevistados participantes no projeto, a equipa de intervenção não realizou
um trabalho pré definido, uma vez que não chegou à vila com o intuito de modificar
pensamentos nem costumes, mas ajudar a que as pessoas alargassem os horizontes de
forma a seguirem uma linha evolutiva sustentável e crescessem a vários níveis. Todas as
reuniões, encontros e conferências realizadas pelo grupo que constituía a Equipa de
Experimentação em Educação e Desenvolvimento Comunitário tinham como principal
objetivo identificar as necessidades e desejos das pessoas da vila de Nhamatanda e
posteriormente a equipa ajudava a comunidade a construir e a seguir uma linha
condutora até à satisfação dessas necessidades. O grupo criou também um clima de
21

confiança no seio da própria comunidade, tal como manifesta o entrevistado - “O que


fizeram foi, principalmente, unir o pessoal (...)”.

Segundo os entrevistados, para os Nhamatandenses, o projeto foi o seu despertar


enquanto comunidade, tendo evidenciado a forma de exprimirem necessidades e
concretizarem objetivos. O projeto permitiu criar um elo de união entre as pessoas, o
que as levou a pensar e a agir coletivamente. Os atores do desenvolvimento na vila
foram os próprios cidadãos Nhamatandenses.
O desempenho dos papéis acima mencionados enquadra-se na linha conceptual do
desenvolvimento comunitário: cabe à comunidade a identificação das suas necessidades,
a definição das prioridades e dos procedimentos para as satisfazer (Silva 1989). Para
Perrox (1987), o processo de desenvolvimento comunitário deixa de ser um processo
entre grupos e técnicos especializados para passar a ser entre pessoas que passam a ser
consideradas, em simultâneo, agentes da ação e sujeitos objeto dessa ação, ou seja, os
sujeitos são atores do projeto e são os visados por esse projeto.

Milani (2005) considera que o desenvolvimento local pressupõe uma transformação


consciente e coerente da realidade local em que ocorre. É de realçar a capacidade que
cada localidade deve ter para a transformação a que está sujeita, daí o mesmo projeto
poder ser um sucesso num determinado local e um fracasso num outro. Tudo está
dependente da aceitação e do tipo de população existente.

11.8. METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS


Segundo o grupo EEEDC, foram encontrados objetivos comuns que correspondiam às
necessidades da população. Também as atividades realizadas foram pensadas e
implementadas coletivamente. Para além disso, as metodologias implementadas para
este projeto de desenvolvimento comunitário foram determinantes no sucesso
conquistado. O grupo liderado por Manuela Silva teve um papel dinamizador, mas não
se substituiu à população.
Segundo o entrevistado, existe ainda hoje a consciência de que se deve ao projeto de o
sucesso a nível económico, educacional e cultural que a vila vivenciou nos anos
seguintes. O aumento da oferta de emprego foi um reflexo do desenvolvimento
económico da vila e da melhor qualidade de vida da população. O desenvolvimento
abarca uma mudança e/ou uma evolução sendo sempre este um processo dinâmico e
inacabado, com a participação de todos (Carmo, 2007). Perrox (1987) acredita que um
processo de desenvolvimento comunitário deixa de ser um processo entre grupos e entre
22

técnicos para passar a ser um processo entre as pessoas que passam a ser consideradas,
em simultâneo, os sujeitos e agentes da ação.

11.9. OBJETIVOS DO PROJETO: MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE VIDA


Segunda a opinião do entrevistado, nos anos 60 do século passado, a vila de
Nhamatanda vivia uma época bastante complexa: para além da estagnação social,
também a economia e a educação atravessavam uma fase de paralisação. As pessoas
viviam essencialmente da agricultura, organizadas em pequenas oficinas, muitas delas
com trabalhadores individuais. Apenas os jovens de famílias com possibilidades
económicas podiam seguir os estudos de nível secundário, uma vez que tal implicava
deslocação para fora da localidade. Os nhamatandenses viviam numa economia de
subsistência, em que se comprava o essencial, sem possibilidade de investimento.

12. IMPACTO DO PROJETO


12.1. a nível económico
Segundo os entrevistados, o projeto traz para a vila benefícios a nível económico, que
possivelmente não aconteceriam a curto prazo e sem a sua ajuda. Referiram, a nível
económico, a modernização e reorganização de uma empresa da criação de uma
cooperativa agrícola. O facto de terem unido as pequenas oficinas criando uma fábrica,
melhorando a sua competitividade e aumentando a produção num menor espaço de
tempo, foi também um objetivo conquistado. Como adiantou o entrevistado , “começou-
se a formar fábricas de malas e cintos a partir também da união de sócios, juntavam-se
três ou quatro sócios e assim se progrediu.”. Também o entrevistado se refere à
modernização do setor da cutelaria, referindo que “(...) apoiou-se a modernização e
reorganização de uma empresa de cutelaria.”

Criaram-se mais empregos, o que trouxe melhor qualidade de vida e a possibilidade de


novos investimentos. O entrevistado lembra a formação de trabalhadores na área do
calçado, a partir da qual aqueles aprenderam a planificar o processo de produção, a
trabalhar com equipamentos, a avaliar a qualidade dos processos tecnológicos. Passou-
se a investir na formação dos recursos humanos. Realizaram-se conferências, cursos de
aprendizagens domésticas e de valorização alimentar, adaptados à população da vila.
Tal como constataram os entrevistados, na vila, apesar dos diversos problemas inerentes
a uma vila de do litoral centro do país, o facto de a sua população ser unida e lutadora
fez com que deixasse a estagnação e se implementasse o dinamismo necessário ao
desenvolvimento daquela localidade. As populações vizinhas passaram a ver a vila
23

como uma localidade com um potencial económico bastante elevado e promissor dentro
do concelho.

12.2. A nível educativo


Outra iniciativa desenvolvida do âmbito da ação do projeto foi a construção da escola
secundária. A comunidade da Benedita angariou fundos para iniciar a escola secundária,
de modo a dar resposta à aspiração dos beneditenses. Várias pessoas disponibilizaram
dinheiro e bens para dar início às obras de construção do Externato Cooperativo, que
contou com o apoio das entidades públicas, do grupo FDC e da população em geral.
Para os entrevistados, a escola veio abrir as portas aos jovens da vila, veio criar postos
de trabalho e trouxe a valorização da vila junto das localidades vizinhas. Muitos jovens
completaram o ensino secundário na vila e alargou-se o número de pessoas que
conseguiram realizar o ensino secundário. Este movimento teve como reflexo o
aumento do número de nhamatandenses que prosseguiram estudos no ensino superior.
O Externato permitiu também a formação de pessoas para o setor terciário.
Segundo confessou o entrevistado E3, “(...)muitos jovens gostariam de estudar mas os
pais tinham imensa dificuldade em pagar as mensalidades ao Externato.”

12.3. Nível social, cultural e outros


Realizaram-se também encontros com as mulheres da vila em torno do âmbito da
formação familiar e cívica, tendo como objetivo a melhoria da gestão doméstica. As
pessoas passaram a valorizar-se nas suas vidas e tarefas a nível individual e
comunitário. Esta metodologia exerce a função de tomada de consciência em relação à
mudança pessoal e estrutural das famílias. Na realidade os nhamatandenses
consciencializaram-se que as suas ações de animação implicaram o melhoramento da
vida da população. Estas ações fizeram “despontar novas lideranças locais e também
melhorou a autoestima coletiva, visto que as pessoas perceberam que eram capazes de
lutar e cumprir os objetivos a que se propunham. Partiu-se então para um trabalho de
valorização pessoal encaminhando os cidadãos para uma vida familiar e profissional
adequada às evoluções conseguidas, através de melhores empregos, melhor educação,
melhores condições de saúde e consequentemente uma melhor qualidade de vida em
geral. Conforme refere, “(...) Acho que foi a união das pessoas! Para partirmos para um
trabalho de valorização pessoal e profissional”.
24

12.4. Objetivos do projeto: melhoria das condições de vida


Imperatori (2010, p.121) descreve da seguinte forma (...) na altura com
aproximadamente 6 mil habitantes dispersos por várias localidades, comunicações
rodoviárias muito deficientes, saneamento básico inexistente, agricultura pobre,
indústria diversificada mas artesanal, problemas de saúde e de educação e com uma
população com um certo grau de abertura ao desenvolvimento”. O principal objetivo do
projeto de desenvolvimento comunitário seria a união entre as pessoas para a
rentabilização de espaços e recursos. Assim, na opinião do entrevistado este terá
constituído, de facto, um passo enorme para o desenvolvimento da vila. A população
necessitava apenas de uma rampa de lançamento e a partir daí tudo foi mais fácil. Para
B2 “A equipa do processo de desenvolvimento comunitário da vila conseguiu cativar as
pessoas para que refletissem sobre os seus próprios problemas e que pensassem nas
soluções para esses problemas e depois aplicaram-nas na criação de condições para a
resolução desses mesmos problemas.” Segundo o entrevistado , um dos objetivos do
grupo seria consciencializar as pessoas de que podiam melhorar e que existiam
condições para tal, depois, o objetivo seguinte seria unir o máximo de população
possível para trabalhar no desenvolvimento da vila. Este entrevistado defende a
concretização dos objetivos como um processo de animação. Na opinião de B3, o
projeto teve um como principal objetivo uma seleção de benefícios e capacidades da
população da vila, “(...) ele catalisou potencialidades.”.

12.5. Impacto do projeto


12.5.1. A nível económico
Segundo B1, a Benedita em 1962 era uma vila com poucas acessibilidades, sem
eletricidade, com muitas pessoas analfabetas, praticando uma economia de subsistência.
Tendo em conta este cenário, ”estamos perante uma vila que vive quase independente
do seu concelho (Alcobaça). No espaço de cinquenta anos, esta vila teve progressos
estonteantes ao nível da educação que em 1962 apenas dava acesso até à quarta classe,
na indústria, que existiam apenas pequenas oficinas domésticas e de baixa produção, na
cultura, que com o aumento da literacia da população surgiram as conferências, festas e
o tempo de lazer” (B1). Na opinião do entrevistado B1, a vila de Nhamatanda tinha um
enorme potencial e capacidade de melhorar. Então o projeto teve um impacto bastante
positivo na comunidade, na medida em que tornou a população mais empreendedora e
mais inovadora. “Na indústria, as empresas passaram de “ pequenas fabriquetas
25

domésticas “para grandes sociedades fabris, o que levou mais gente à vila,
principalmente comerciantes, e surgiram oportunidades de emprego, aumentando o
poder económico da população. Também as questões agrícolas tiveram relevância. Foi
criada uma cooperativa agrícola, que tornou o trabalho agrícola mais organizado e
rentável para todos”(B1).

De facto é unânime que graças a todo o processo a vila é hoje uma potência económica
a nível distrital. De todos os esforços conseguidos pela população nos anos de
crescimento mais acentuado (1960 a 1964) foram fruto: as grandes indústrias de
cutelaria que presentemente têm destaque a nível nacional e internacional e a indústria
do calçado, que desde início formou fábricas com sócios e que cresceram tornando-se
também, presentemente, uma reconhecida área industrial da freguesia. A aceitação de
propostas e opiniões do grupo por parte da população tornou-se o trilhar do caminho
para o sucesso que todas aquelas empresas conseguiram até hoje. Estas áreas de
trabalho, no geral, são agora o orgulho da população e quem faz da vila.

12.5.2. nível educativo


Em 1956, a O.N.U. definiu da seguinte forma o desenvolvimento de comunidade: “um
processo através do qual os esforços do próprio povo se unem aos das autoridades
governamentais, com o fim de melhorar as condições económicas, socias e culturais das
comunidades, de integrar essas comunidades na vida nacional e de capacitá-las a
contribuir plenamente para o progresso do país (...)” (Ammann, 1992, p. 32).
Para além do crescimento económico, também se verificaram alterações ao nível
educativo. A união de esforços, dinheiros e recursos levou à criação do Externato
Cooperativo da Benedita, o que permitiu que muitos dos jovens tivessem conseguido
prosseguir estudos.
desse desenvolvimento, ou pelo menos foi aquele que perdurou no tempo e que ainda
hoje tem dado e serve a população da zona.”
Associações, instituições e outros grupos culturais, sociais e educativos existentes na
vila utilizam e abarcam esta escola em todo e qualquer projeto criado e executado na
vila. Até a igreja, da qual o Externato, em parte, integra opta por realizar palestras e
outras atividades e eventos católicos nas suas infraestruturas.
26

12.5.3. A nível social, cultural e outros


Na visão do entrevistado (B2), a comunidade “tomou em mãos” o seu próprio
desenvolvimento, sentiu a necessidade de melhorar, tendo em vista desenvolvimento da
vila. A partir do conhecimento das suas características e possibilidades, melhorou a
capacidade de
27

empreendedorismo da vila e as atividades desportivas e culturais tornaram-se mais


frequentes, aumentando também por esta via as relações na população.
Segundo Haveri (1996, p.53), “as comunidades procuram utilizar as características
específicas e as suas qualidades superiores e especializam-se nos campos em que têm
uma vantagem comparativa com relação às outras regiões”. O projeto constituiu uma
forma de criar relações, de sociabilização e de aprendizagem social
28

13. Conclusões
Quando se começou a falar sobre o conceito de desenvolvimento, ele era muito
vinculado apenas a uma lógica econômica e desenvolvimentista. Posteriormente,
odiscurso do desenvolvimento foi ampliando as concepções para lógicas sociais e
políticas. A grande importância que a discussão acerca do desenvolvimento local
alcançou justifica o fato de que, sem a participação da comunidade, é muito difícil tal
processo ocorrer. Já que para isso é preciso haver o desenvolvimento e a participação
dos indivíduos, de modo que potencializem suas habilidades, conhecimentos a fim de
gerir melhor os recursos disponíveis na comunidade para o bem-estar dos mesmos. O
Estado não é o único responsável pelas políticas de desenvolvimento, pois a
comunidade também está sendo responsabilizada, coparticipante através de eixos de
capital social, construção de parcerias pública, privada e comunitária. A partir da
construção deste artigo foi constatado que o desenvolvimento local não está relacionado
apenas ao crescimento econômico, mas a outros determinantes, tais como: envolvimento
da comunidade nos processos decisórios, articulação entre diversos atores e esferas de
poder, dentre outros. Portanto, o papel dos indivíduos na concretização das ações,
tornando-se protagonista local a partir da cooperação, na resolução das demandas, é de
fundamental importância para o processo de desenvolvimento local e para a melhoria da
sua qualidade de vida.
29

14. Referências bibliográficas


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