Observador Rural 89 Produà à o Bovina

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OBSERVADOR RURAL

Nº 89
MARÇO DE 2020

PRODUÇÃO BOVINA EM MOÇAMBIQUE:


DESAFIOS E PERSPECTIVAS - O CASO
DA PROVÍNCIA DE MAPUTO

Nelson Capaina

www.omrmz.org
O documento de trabalho (Working Paper) OBSERVADOR RURAL (OMR) é uma publicação do
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Os textos publicados no OBSERVADOR RURAL estão em forma de draft. Os autores agradecem


contribuições para aprofundamento e correcções, para a melhoria do documento

2
PRODUÇÃO BOVINA EM MOÇAMBIQUE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
– O CASO DA PROVÍNCIA DE MAPUTO

Nelson Capaina1
RESUMO

A criação de animais tem sido, a par da agricultura, uma das actividades com importante papel
sócio-económico para as famílias rurais africanas; tendo a dupla função de renda e alimentação.
O seu desenvolvimento passa por vários desafios ligados à elaboração e implementação de
políticas e outros instrumentos normativos.

Este estudo pretende contribuir para os debates sobre a tomada de decisões e acções
desenvolvidas no âmbito da melhoria dos meios de vida das populações rurais. O seu objectivo
é identificar, descrever e analisar a cadeia de produção do gado bovino na província de Maputo.
Tendo como principal unidade de análise o gado bovino, foi realizada uma recolha de dados
primários, a partir de entrevistas e observações de campo, complementada com pesquisa
documental.

O estudo conclui que a prática mais comum na criação de bovinos é a extensiva tradicional,
onde o efectivo pecuário cresce em pastagens naturais sem suplementação. Como que a
desafiar as políticas e pressupostos governamentais, a criação é baseada em raças nativas com
fortes capacidades de adaptação à condições extremas e sobrevivência a baixos níveis de
alimentação.

Palavras-chave: gado bovino, produção animal, pequeno produtor, província de Maputo.

1
. Doutor em desenvolvimento rural no Departamento de Economía, Sociología y Política Agraria, Universidad de
Córdoba (UCO).

3
1. INTRODUÇÃO

Moçambique é essencialmente um país agrário, onde a maioria da sua população se dedica à


agricultura e pecuária. Na agricultura desenvolvem-se dois tipos de culturas fundamentais: a de
produtos de consumo, tais como cereais, leguminosas, tubérculos e outras; e a produção de
culturas de rendimento, tais como o algodão, o tabaco, a castanha de caju, o chá, a cana de
açúcar, a soja, dentre outras. Na pecuária, desenvolve-se a criação do gado bovino, caprino,
suíno e diversas aves.

Para Wilson (1995), o grau de dependência do gado e o tipo particular de agricultura a ele
associado são os critérios principais de classificação os sistemas de produção animal. Assim, a
produção animal compreende as unidades cuja actividade: a) reside exclusiva ou principalmente
na produção animal e; b) produção agrícola e animal associadas (com rácio de especialização
inferior a 66% na parte animal ou agrícola).

A unidade de produção animal classifica-se de acordo com a sua actividade principal, podendo
ser: bovinicultura, suinicultura, avicultura, e outra produção animal, quando a criação a que se
refere não inclui animais considerados nas categorias anteriores, qualquer que seja o fim a que
se destina. A bovinicultura compreende a criação de gado bovino para obtenção da carne, a
produção de leite de vaca, a desnatação de leite quando feita na própria exploração e o duplo
propósito de produção de leite e carne.

Existem dois sistemas de produção pecuária: a pecuária intensiva e a extensiva. A primeira, é


aquela em que a criação de gado é feita num espaço reduzido e delimitado de forma a receber
melhores cuidados por parte dos criadores. Caracteriza-se por grandes investimentos de
capitais, com o objectivo de produzir para o mercado, o gado é criado em estábulo, emprego
de tecnologia moderna, alimentação adequada (ração), e selecção das espécies de maior valor
(Mayer, 2017).

Na pecuária extensiva, a criação bovina é realizada num espaço maior, e recebe insuficientes
cuidados por parte dos criadores. Caracteriza-se por baixos investimentos, produção de carne,
tendência de aumentar o rebanho (Lozano et al, 2013) e condicionado pelos pastos disponíveis,
dependentes do clima, solo e extensão da propriedade onde se realiza a actividade pecuária
(Mayer, 2017; Rico et al, 2013).

No geral, existem vários factores determinantes para a produção. 1) naturais: recursos hídricos
(água); pastos adequados e forragens; clima adequado, solos aráveis e boa topografia (relevo),
2) sócio-económicos: mão-de-obra, mercado para a comercialização, capital financeiro,
transportes e vias de acesso, 3) técnicos: selecção genética das espécies, disponibilidade de
pessoal veterinário, sistemas de assistência veterinária, qualidade e condições das instalações,
sistemas de abeberamento, existência de instituições de investigação, sistemas de conservação
e de transporte dos produtos (Donoso, 2013; Lozano et al, 2013; UGR-BC, 2009).

Actualmente, a oferta mundial de carne encontra-se afectada por dois factores transversais. O
que consiste na transição gradual dos centros de produção e exportação desde a Europa
Ocidental para outras regiões do mundo, particularmente América do Sul, Canadá e Austrália. O
segundo é o impacto que a indústria dos biocombustíveis teve sobre os preços dos insumos
alimentícios para a indústria ganadeira que engorda na base de cereais (UGR-BC, 2009).

4
A pecuária tem um importante papel na sócioeconomia das famílias africanas. Um estudo da
SWAC-OECD/ECOWAS (2008) referia que a criação de gado desempenha um papel fundamental
nas economias dos países da África Ocidental, fornecendo, por vezes, até 44% do PIB agrícola.
Adiantando que com 60 milhões de cabeças de gado bovino e 160 milhões de pequenos
ruminantes, o Sahel e a África Ocidental eram uma região excepcional para a criação de gado.

O estudo conclui também que, não obstante o desempenho do efectivo animal naquela região,
o potencial de produção era ainda sub-explorado verificando-se grandes volumes de
importações extra-africanas de alguns produtos de origem animal e seus derivados, levando à
perda de receitas por parte dos Estados da região e prejudicando o desenvolvimento das
cadeias produtivas locais (SWAC-OECD/ECOWAS, 2008).

Relativamente ao modo de produção, nos sistemas agro-pecuários africanos está-se a tornar


cada vez mais raro encontrar pequenos criadores de gado que não praticam algum tipo de
agricultura (O’Laughlin, 2009; UNOWAS, 2018), admitindo-se que a combinação da agricultura e
pecuária permite a reciclagem de nutrientes, aumentando a sustentabilidade dos sistemas e
preservando o meio ambiente (SWAC-OECD/ECOWAS, 2008).

Evidências a nível da região austral mostram desde sempre a preponderância da pecuária da


África do Sul (FAO, 2002; FAO, 1957). A produção bovina representa um papel fundamental na
economia local, e está assente em sistemas de exploração do tipo extensivo em que
predominam as raças autóctones (Afrikaner, Drakensberger, Bonsmara e Nguni) que se
encontram em alguns países da região, como Zimbabwe, Botswana, Namíbia e Moçambique.

Embora para outros autores como O’Laughlin (2009), ser produtor na África Austral significa ter
a capacidade para sobreviver e reconstruir, o que é possível para algumas grandes empresas e
para aqueles que têm as suas actividades bem diversificadas, mas difícil para os pequenos
agricultores e criadores de gado; onde parte significativa de famílias que possuiram
consideráveis manadas de gado, ou já não possuem nenhuma ou, no melhor dos casos, têm
uma ou duas cabeças apenas.

Em Moçambique, a Política Agrária e os demais instrumentos normativos ou orientadores


referem que a produção agrária é praticada por dois principais sectores de produção: o familiar
e o sector empresarial, sendo que, o sector familiar, que explora cerca de 90% da área cultivada,
representa o grande potencial produtor. Consideram que a produção pecuária, em particular a
de bovinos, constitui um potencial a desenvolver no país, justificando assim o esforço
governamental.

Alguns estudos concluem que são pequenos investidores, normalmente emigrantes do sul de
Moçambique que compram crias de gado bovino para a sua reprodução, venda e,
principalmente aluguer aos vizinhos; e esta criação não está associada ao uso de insumos
(O’Laughlin, 2009). Noutros estudos, o desenvolvimento do sector pode resultar do "fomento
familiar", onde um ou dois agregados familiares recebem um casal de ruminantes e a primeira
cria dos animais recebidos passa para outro agregado e, sucessivamente, até completar o ciclo.

Outros afiançam que apesar dos aparentes esforços governamentais, no sector familiar a criação
de gado não é orientada para o mercado. Os animais são mantidos como fonte de receita para
despesas de investimento e emergências, para o consumo doméstico durante ocasiões especiais
ou para responder à demanda nos períodos festivos (Hendrickx, Maute e Cunhete, 2015).

5
Portanto, o sucesso que se pretende evidenciar tem outras origens significativamente fora dos
trabalhos de extensão e outros serviços veterinários públicos.

1.1. Objectivos e hipóteses

O presente trabalho debruça-se sobre a problemática de desenvolvimento do sector pecuário


no país. O mesmo tem como objectivo geral: identificar, descrever e analisar a cadeia de
produção/criação do gado bovino na província de Maputo. Especificamente, o mesmo procura:
a) caracterizar o sistema de produção bovina, nomeadamente quanto ao tipo de produtores e o
propósito que o mesmo persegue; b) perceber como funciona o sistema produtivo e como os
diferentes produtores gerem os constrangimentos decorrentes do exercício desta actividade; e
c) perceber que estratégias são adoptadas pelos diferentes produtores para beneficiar de
eventual disponibilidade de serviços e recursos para seu desenvolvimento.

A pergunta de partida é: quais são os factores determinantes para o desenvolvimento das


unidades bovinícolas na província de Maputo?

As hipóteses de partida são: (a) o acesso aos serviços de apoio ao produtor é o principal factor
para o desenvolvimento da produção bovina e, (b) a criação bovina na Província de Maputo é
incentivada pela busca de maior peso por animal para obtenção de carne e não pelas exigências
de mercado, nomeadamente a qualidade.

1.2. Metodologia
O objecto de estudo incide sobre a província de Maputo, tendo-se seleccionado três distritos:
Magude, Matutuíne e Moamba. A amostra foi acidental, procurando diversificar os indivíduos
em termos de dimensão das explorações, propósito da produção e períodos de aplicação das
entrevistas.

A pesquisa baseia-se num conjunto de metodologias qualitativas e quantitativas, assentes na


análise de estatísticas, na realização de entrevistas individuais e de grupos focais. Através dos
dados quantitativos pretende-se fornecer informação sobre o estágio da produção bovina. Por
sua vez, os dados qualitativos permitem uma compreensão das dinâmicas existentes nas
relações cotidianas entre partes envolvidas (diferentes produtores e administração estatal e
outros).

A condução do estudo observou cinco etapas. A primeira, foi de revisão da literatura geral sobre
aspectos ligados à produção bovina, e à estatísticas de produção, políticas e outros
instrumentos normativos em Moçambique. A segunda, foi de recolha de dados a nível central e
provincial. Assim, entre Maio e Agosto de 2019, ocorreu a concepção do projecto, definição de
objectivos, resultados esperados, a metodologia e os indicadores de análise.

A terceira, foi de trabalho de campo, nos distritos de Magude, Moamba e Matutuine 2, com
entrevistas aos técnicos públicos e de outras organizações que operam no subsector pecuário,
informantes-chave nas comunidades, incluindo criadores de gado. Na quarta etapa foram

2
. O motivo para a escolha destes distritos foi o facto de nos documentos ofícais serem referenciados como sendo
produtores de destaque e aparecerem como prioritários para as intervenções iniciais relativamente ao fomento de
bovinos de corte.

6
analisados os resultados e, por fim, a quinta etapa, procedeu-se à sistematização da informação
em forma de relatório.

O trabalho de campo decorreu entre Setembro e Novembro de 2019. Foram realizadas 63


entrevistas, das quais 3 colectivas (grupos que variavam de 5 a 8 pessoas) e 60 individuais,
totalizando 80 pessoas: 38 mulheres e 42 homens. As entrevistas foram em português, e
facilitadas por tradutores membros das comunidades e/ou extensionistas.

O relatório tem cinco partes. A secção 1 apresenta a introdução, onde consta a problemática, as
hipóteses e a metodologia do trabalho. A segunda secção faz uma breve leitura sobre as
políticas públicas para o desenvolvimento do subsector pecuário. Na terceira secção faz-se uma
breve caracterização da amostra, nomeadamente dos entrevistados e dos distritos visitados.
Com base em dados empíricos, a quarta secção apresenta os resultados práticos que, à margem
das políticas, vão se observando no terreno; para tal foram analisados alguns indicadores como
espécie de gado e efectivos, serviços de extensão, insfra-esturas de apoio, vacinação, pastos,
financiamento e comercialização. Na quinta secção apresentam-se as considerações finais.

2. ÂMBITO DAS POLÍTICAS

Para o crescimento da criação bovina, o governo propõe, como estratégia, o fomento pecuário,
em particular do gado bovino, através de acções como (MADER, 2004): a) comparticipação na
reabilitação ou construção dos postos de fomento pecuário e estações zootécnicas públicas; b)
mobilização de recursos financeiros para aquisição de reprodutores de raças melhoradas; c)
ampliação do programa de fomento e do repovoamento pecuário, criando condições para o
relançamento pecuário em zonas com potencial; d) criação e desenvolvimento de serviços de
assistência aos animais com prioridade para as zonas de maior densidade animal; e) garantia do
controlo e monitoria sanitária das principais doenças; f) adopção de medidas visando o controlo
da comercialização de animais vivos e do abate de animais, especialmente fêmeas, ainda aptos
para a reprodução; g) promoção da reabilitação de infra-estruturas, como tanques carracicidas,
corredores de tratamento e pontos de abeberamento; e h) desenvolvimento de áreas com
aptidão para pastagens naturais e artificiais.

O documento, que até então citamos, considera o tanque carracicida como o ponto principal no
sistema de extensão pecuária, em conjugação com outras redes de extensão agrária existentes
no país. Para o desenvolvimento das acções acima mencionadas, considera também que é
importante e essencial a participação e envolvimento das comunidades locais, dos produtores
familiares e do sector privado, em associações ou de forma individual. E, dependendo dos casos,
o processo deveria ocorrer em função das capacidades e experiências de cada actor.

Os sucessivos documentos de orientação governativa, nomeadamente os PQG reforçam a


necessidade de observar essas e outras acções estratégicas, bem como o envolvimento dos
diferentes actores não-públicos (GovM, 2015; GovM, 2010; GovM, 2005). E o Ministério da
Agricultura (MA, 2013) afirma que, entre 1994 a 2010, o efectivo de gado bovino no país cresceu
de 239.000 para 1.277.000 cabeças como resultado do repovoamento pecuário, da recuperação
de infra-estruturas de maneio e do melhoramento da assistência sanitária.

A estratégia para o desenvolvimento do subsector pecuário (2010-2015) é, segundo se lê,


baseada em um paradigma e uma visão, que centram o desenvolvimento pecuário nos

7
criadores, nas suas aspirações e prioridades no novo papel que o sector público, o sector
privado, a sociedade civil e as comunidades têm de desempenhar (MA, 2009). A visão de médio
e longo prazos para a produção pecuária do Ministério é ter um subsector pecuário no qual o
Estado desempenha as suas funções-chaves efectiva e eficientemente, na base de equilíbrio
entre a procura e a oferta de serviços públicos mandatários, permitindo a todos os seus actores
maximizar a contribuição da pecuária para a diversificação dos meios de vida da população rural
e para o desenvolvimento de agronegócios, conduzindo à redução da pobreza e ao crescimento
económico nacional (MA, 2013).

Os dois principais sectores de produção (familiar e privado) de ruminantes em Moçambique


praticam o sistema de produção extensivo, com níveis de produtividade baixos, não obstante as
diferenças que se observam. O sector familiar com mais de 85% do gado bovino cria raça local,
bem adaptada às adversidades ecológicas, não tem atitude comercial, não compra insumos
veterinários, o maneio alimentar é baseado em pastagens naturais e colectivas, a condição
corporal dos animais varia com a época do ano, o maneio sanitário é totalmente dependente e
limitado ao que os serviços públicos oferecem e tem, consequentemente, baixa produtividade.
O comercial, pouco expressivo em termos de efectivos, porém ligeiramente mais produtivo,
compra insumos, tenta suplementar o gado na época seca para evitar perdas de peso e mortes,
realiza a pastagem natural em áreas delimitadas por DUAT, emprega alguma mão-de-obra
remunerada e possui animais cruzados com raças de melhor crescimento (MASA, 2015a).

Em 2015, estimava-se que o efectivo bovino era de 1.914.498 cabeças, das quais cerca de 90%
(1.682.017 cabeças) eram criadas nas pequenas e médias explorações, sendo a criação das
grandes explorações de 232.481 cabeças (MASA, 2015b). Não obstante estes aparentes
crescimentos de efectivos, têm sido apresentados alguns constrangimentos ao desenvolvimento
do subsector (GovM, 2011b; MA, 2013; MA, 2009), nomeadamente: i) fraca e limitada
disponibilidade de infra-estruturas de maneio produtivo e sanitário; ii) difícil acesso ao crédito;
iii) fraco papel da investigação na resolução dos problemas; iv) fraco serviço de extensão
pecuária e sua cobertura; v) fraca rede de comercialização de animais e produtos afins nas zonas
rurais; vi) baixa produtividade dos efectivos existentes (peso por carcaça) devido à qualidade
genética dos reprodutores e práticas de maneio inadequadas; e vii) fraca rede de assistência
veterinária ao sector familiar.

O Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Subsector Pecuário (MA, 2013:36) avança que,
dadas as oportunidades oferecidas pela crescente procura de carne para consumo, o potencial
existente em recursos naturais (vastas áreas de pastagem e reduzida incidência da mosca Tsé-
Tsé, particularmente no Sul do país), o objectivo principal é aumentar a produção e a
produtividade pecuária através do aumento dos efectivos de bovinos, suínos, pequenos
ruminantes, entre outras espécies, e o incentivo à comercialização pecuária.

E estabelece três objectivos específicos para alcançar o objectivo global (MA, ibidem): 1) criar
um ambiente favorável ao desenvolvimento da pecuária familiar e comercial de uma forma
integrada e sustentável, através da remoção dos principais problemas que afectam os pequenos
criadores nos vários segmentos da cadeia de produção, comercialização e processamento
industrial dos produtos pecuários; 2) remover as barreiras que inibem o desenvolvimento da
pecuária empresarial para permitir o aumento da capacidade de produção, da produtividade e
da competitividade dos produtos pecuários no mercado nacional e internacional; e 3)
desenvolver o sistema de vigilância, prevenção e controlo de doenças animais em defesa do
desenvolvimento da produção pecuária nacional e da saúde pública.

8
Para o desenvolvimento do subsector pecuário são identificados três níveis de intervenientes e
responsabilidades3: a) cabe ao Sector, elaborar políticas e criar condições – recursos financeiros,
técnicos, materiais e humanos – necessárias à sua implementação; b) ao governo local,
disponibilizar recursos e mobilizar as comunidades locais para melhor execução das actividades
no terreno; e c) às comunidades, assegurar a manutenção das infra-estruturas sanitárias, levar os
animais à vacinação e banhos e participar na vigilância epidemiológica passiva.

Em 2015 é lançado o Programa de Intensificação da Produção Pecuária (PIPEC), para o período


2015-2019, que apresenta os mesmos constrangimentos anteriormente mencionados. O PIPEC
tem como objectivo geral melhorar a produtividade da produção pecuária e aumentar a oferta e
a qualidade dos produtos de origem animal para mercado de forma acelerada e sustentável nas
zonas e nos segmentos dos sectores produtivos de maior potencial. E no documento afirma-se
que o PIPEC é complementar aos restantes programas de aumento da produção pecuária.

Especificamente, o mesmo pretende (MASA, 2015a) a) introduzir medidas de maneio sanitário,


reprodutivo e alimentar nas explorações de bovinos de corte e de leite e de caprinos; b)
fomentar a expansão da exploração de frangos e ovos; e c) adoptar medidas que facilitem
acções de investimentos concertados para eliminar os constrangimentos da cadeia de valor dos
produtos animais. E, em 2017, o efectivo bovino era estimado em 1.951.337 cabeças 4.

Entretanto, embora o país tenha condições naturais favoráveis para o fomento da pecuária e,
consequentemente, para a inversão da condição de país importador de carne para exportador,
vários estudos, incluindo os instrumentos institucionais5, têm afirmado que, em grande medida,
Moçambique não tem conseguido, através dos diferentes instrumentos de orientação, que se
seguem um ao outro, corrigir as falhas detectadas nos instrumentos antecedentes 6.

3. BREVE CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

3.1. Perfil sócio-económico dos entrevistados

Do total dos homens entrevistados, 79% afirmaram ser donos do gado por iniciativa própria,
14% são proprietários por outras razões como a assistência social, e 7% são trabalhadores
encarregados pelo gado. Quanto ao total das mulheres entrevistadas, 46% são responsáveis
pelo gado devido à ausência prolongada dos maridos, na sua maioria trabalhadores emigrantes;
25% são proprietárias por iniciativa própria e outras 19% são proprietárias por outras razões,
como herança e programas de mitigação da pobreza nomeadamente os de assistência social.

Relativamente à escolaridade (gráfico 1), do total dos 80 indivíduos entrevistados, de 39% não
tem nenhuma formação, 22 tem o ensino secundário completo, 20 tem o ensino primário. A
quarta posição é dos que frequentaram o ensino profissional, seguindo-se, numa margem
ínfima, os do ensino pré-universitário, ambos com 8%.

3
. As responsabilidades aqui apresentadas não são as únicas e algumas delas são partilhadas, pelo menos, por dois
níveis de intervenientes. Contudo, são as essenciais para o entendimento da presente pesquisa.
4
. Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA). COMERCIALIZAÇÃO DE CARNES EM MOÇAMBIQUE
(RUMINANTES E FRANGOS). Documento apresentado na CONFERÊNCIA DE AGRO-NEGÓCIOS. Maputo, 11 de Outubro
de 2018.
5
. Entre vários, por exemplo, MA (2009); MASA (2015a).
6
. Para o sector agrário no geral, ver Mosca, 2015; Woodhouse, 2012; Woodhouse, 2010.

9
Gráfico 1. Nível de escolaridade da amostra

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

Por outro lado, parece existir uma forte relação entre o nível de escolaridade do indivíduo e o
acesso aos serviços de extensão (gráfico 2), sejam eles públicos (público-privado) ou ofertados
pelas organizações da sociedade civil (ONGs). De facto, entre 60 a 70% dos que não
frequentaram a escola e os que frequentaram até ao ensino primário não tiveram acesso a esses
serviços. Enquanto no grupo dos que têm o ensino secundário, pré-universitário e o técnico-
profissional, a média é de cerca de 50% respectivamente.

Gráfico 2. Relação entre o nível de escolaridade e o acesso aos serviços de extensão (em %)

63 70
51 50 49 51 52 48
38 30

Sim Não

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

Também existe uma relação entre o sexo, o nível de escolaridade e o acesso aos serviços de
extensão (gráfico 3). Do total da amostra feminina, 21 (55%) não frequentaram a escola, das
quais 72% não tinham acesso aos serviços de extensão. Das 11 mulheres que tinham o ensino
primário, apenas 31% tiveram acesso a esses serviços.

10
Gráfico 3. Acesso aos serviços de extensão segundo o sexo e o nível de escolaridade (em %)

72 69 55 51 52
30 31 45 49 48
52 54 51 46 52
48 46 49 54 50

Homem Sim Homem Não Mulher Sim Mulher Não

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

As respostas nos restantes grupos não apresentam diferenças consideráveis no acesso ou não
aos serviços de extensão, relativamente ao sexo feminino. Este facto observa-se para todos os
grupos, relativamente à amostra do sexo masculino. De referir que, para os que não
frequentaram a escola e os que frequentaram até o ensino primário, em ambos os sexos, o
acesso aos serviços de extensão foi através das associações, sendo esta uma das motivações
para os indivíduos se associarem. Outras razões apresentadas foram o acesso ao crédito e aos
subsídios7.

No geral, os serviços de extensão e a assistência a que os pequenos produtores têm acesso,


consistem apenas em algumas noções de treinamento dos animais para uso na tracção animal 8.
Não há evidências de ter ocorrido assistência sobre aspectos essenciais para o maneio
melhorado do gado, nomeadamente, produção animal, maneio alimentar, a suplementação
alimentar, e outros.

3.2. Breve caracterização dos distritos

Nos três distritos a agricultura e a criação de gado são as principais actividades de subsistência
das famílias, onde as culturas predominantes são os cereais e as hortícolas, com recurso à
tracção animal e em parcelas com menos de 2 ha; o que significa que a terra é usada para a
agricultura e criação de gado, na maioria dos casos concorrendo para a sua utilização comum,
não permitindo uma delimitação exacta das unidades.

Ao nível da província de Maputo, estes distritos são considerados como estando entre os
primeiros na produção de gado (MA, 2009; MASA, 2015a)9. E num leque de vários

7
. Embora quase todos os entrevistados fossem agro-pecuáios, juntando a criação de gado com a agricultura, neste
trabalho procuramos apenas os factores ligados ao gado.
8
. Entrevista com criador familiar, Catuane aos 18.10.19. Entrevista com criador familiar, Facazissa aos 07.11.19. Entrevista
com criador familiar, Chichuco aos 08.11.19.
9
. Ver também MAE (2014a; 2014b; 2014c).

11
produtos/serviços, a criação de gado bovino foi seleccionada como um dos três vectores de
desenvolvimento para Matutuíne (MAE, 2014b) e Moamba (MAE, 2014c).

Como na maioria do território nacional, nestes distritos a actividade pecuária é realizada pelos
sectores empresarial e familiar de pequena escala 10. Alguns dos produtores, principalmente os
de pequena escala, estão organizados em associações agro-pecuárias que se dedicam, não
somente, à criação de gado, mas, também, ao cultivo de culturas de subsistência e de
rendimento.

No Plano Quinquenal do Governo 2015-19, foi desenhado e aprovado o Programa de


Intensificação da Produção Pecuária (PIPEC) para o mesmo período (2015-19). E os três distritos
aparecem como prioritários para as intervenções iniciais relativamente ao fomento de bovinos
de corte (MASA, 2015a). Nele, a intensificação da produção é definida como a aplicação de
medidas de maneio integrado, na melhoria dos sistemas de produção, para maximizar o
rendimento das espécies pecuárias através dos maneios sanitário, alimentar e reprodutivo .

O governo entende nele, que a intensificação da produção pecuária será um dos caminhos para
aumentar a produção e é complementar a outros programas de aumento da produção, como os
casos dos programas de fomento pecuário, controlo de doenças e expansão da produção de
produtos animais.

Para alguns entrevistados, o desempenho do executivo foi satisfatório 11 neste quinquénio, com
o governo a apoiar os pequenos produtores familiares na assistência sanitária, construção,
reabilitação e manutenção de corredores de banho, de tanques carracicidas 12 e no fomento de
cabeças de gado bovino13, entre outras iniciativas.

4. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

4.1. Tipo de gado e tamanho do rebanho

No PIPEC (MASA, 2015a) e outros documentos governamentais (MAE, 2014a; MAE, 2014b; MAE,
2014c), a aposta sempre passou pelo fomento do gado de corte, onde deveriam ser abrangidos
os pequenos produtores familiares. Ora, mais da metade da amostra (62%) disse possuir até 50
cabeças de gado bovino, com destaque para os que possuem entre 10 a 25 cabeças (28%) e os
que têm até 10 cabeças (20%). E apenas 2% dos entrevistados possuia gado de corte.

10
. Neste trabalho será usado, como equivalente, pequeno produtor familiar.
11
. Entrevista com técnico do SDAE, Matutuine aos 18.10.19.
12
. Entrevista com membro do governo, Moamba aos. 13.09.19.
13
. Entrevista com membro do governo, Magude aos 08.11.19.

12
Gráfico 4. Tamanho da manada dos entrevistados

28
20
14
10 11 10 9

Até 10 10 a 25 25 a 50 Até 100 Até 150 Até 500 Mais de


cabeças cabeças cabeças cabeças cabeças cabeças 500
cabeças

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

A posse de um certo efectivo de cabeças está directamente dependente não só da capacidade


financeira do indivíduo14, mas também com as funções de reserva para períodos críticos 15 e de
trabalhos na agricultura e transporte16, sendo que o abate para o consumo está associado aos
períodos festivos, em que o esforço de comercialização aumenta para responder à maior
procura de carne, e às cerimónias familiares. O acesso aos serviços de extensão e a assistência
veterinária também foi apontado como um dos factores para a dimensão da manada.

Do total dos respondentes, 92% afirmou possuir apenas gado de raça local (raças autóctones) e
8% tem gado de raça local e gado de raça cruzada, incluindo gado de corte. Contudo, apenas os
indivíduos do sector privado afirmaram possuir gado de corte. Os pequenos criadores familiares
procuram criar raças nativas, com capacidade de sobrevivência a baixos níveis de alimentação,
principalmente durante a estação seca ou para períodos de seca prolongada como actualmente.

A raça melhorada de gado de corte parece ser um problema para o produtor familiar. Para
assegurar o bom desempenho da manada, sobrevivência, bem-estar animal e a qualidade da
carne e outros derivados produzidos como o couro, o produtor de gado de corte deve adoptar
medidas preventivas e curativas de controlo sanitário que, geralmente, requerem capacidades
técnica e financeira. E o pequeno produtor não possuí tais capacidades.

O fomento pecuário não tem falhado apenas na introdução de raças melhoradas de gado de
corte junto das famílias camponesas, mas também em relação a outro tipo de gado. Nos
últimos 5 anos nestes distritos quase não surgiram novos criadores de gado bovino locais, como
resultado dos programas governamentais de fomento 17. As poucas famílias, que surgiram a criar
gado bovino, fizeram-no por iniciativa e capital próprio18, nomeadamente famílias com algum
parente assalariado nas cidades, como Maputo, ou na África do Sul19.

14
. Entrevista com criador familiar, Mulelemane aos 06.11.19.
15
. Entrevista com criador familiar, Sabié aos 09.09.19.
16
. Entrevista a um agente do sector privado, Magude aos 07.11.19.
17
. Entrevista a um funcionário de uma empresa de agronegócio, Catuane aos 18.10.2019. Entrevista a um agente do
sector privado, Magude aos 07.11.19.
18
. Entrevista com um líder comunitário, Mulelemane aos 06.11.19.
19
. Entrevista com criador familiar, Mulelemane aos 06.11.19.

13
E essas aquisições foram feitas junto de outras famílias de criadores estabelecidos localmente 20,
fortificando a prevalência das raças autóctones. Ocorreu no passado o tradicional fomento
pecuário, que beneficiou poucas famílias; onde as aquisições foram feitas localmente e/ou nos
distritos vizinhos e em gado de raça local21. Cada família comparticipava cuidando dos animais
recebidos até à sua procriação, ficando com as crias e entregando os animais recebidos a outra
família22.

4.2. Terra para pastagem

O Governo considera que o país possui um território com diferentes condições agro-ecológicas,
recursos alimentares e recursos genéticos animais muito favoráveis para a actividade pecuária,
onde as extensas e férteis áreas de pastagem natural e a existência de um mercado com grande
necessidade de produtos pecuários são oportunidades de desenvolvimento do subsector
pecuário (MASA, 2015a).

A produtividade do gado depende de quatro factores fundamentais: i) características físicas e


nutricionais dos solos (textura, estrutura, densidade real, profundidade, pH, percentagem de
matéria orgânica e nutrientes); ii) clima (precipitação, humidade relativa e temperatura); iii)
maneio pecuário (carga animal, tipo e intensidade da actividade de pasto) e iv) alimentação
(tipo e quantidades por unidade animal) (Ayanz, 2001; Haydock & Shaw, 1975).

A produtividade da pastagem é a quantidade (peso) de matéria seca produzida por um hectare


que pode ser consumida pelo gado no período de um ano. Trata-se da produção de gramíneas,
mas a produção de biomassa verde de certas espécies de arbustos também contribui para tal,
particularmente na estação seca (Ayanz, 2001; Haydock & Shaw, 1975; INIA, 2017)..

Onde a capacidade de carga dos pastos, e seu potencial produtivo, é determinada pela
produção de biomassa que se obtem durante cada um dos períodos (chuvoso e seco) do ano. E
as variáveis climáticas (precipitação e temperaturas) e os factores de maneio animal (carga e
intensidade da actividade de pasto) determinam a produção da biomassa (Wribght et al, 2000).

Sobre os factores ligados com a produtividade dos solos nas áreas de pastagem do gado, os
entrevistados mencionaram cinco aspectos fundamentais (gráfico 4), nomeadamente: solos
afectados pela salinidade (70%), as áreas em uso são inaptas (50%), seca prolongada (48%),
insuficiência no sistema de irrigação (67%) e terrenos secos sem água (84%). A estes aspectos
está associada a questão de espaços insuficientes para pastar todo o gado.

20
. Entrevista com criador familiar, Catuane aos 18.10.19.
21
. Entrevista com um técnico do SDAE, Moamba aos 12.09.19.
22
. Entrevista com um líder comunitário, Mulelemane aos 06.11.19.

14
Gráfico 4. Factores ligados à produtividade dos solos para a pastagem

84
70 67

50 48

Solos afectados Área Seca Insuficiências Terrenos secos


pela salinidade inadaptável prolongada no sistema de e sem água
irrigação

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

A época do ano, a flora e o tipo de maneio determinam o comportamento dos indicadores de


crescimento, a estrutura das pastagens e a qualidade do material encontrado. Assim, quatro
factores condicionam a produtividade das pastagens, nomeadamente: i) duração do período de
crescimento das plantas que é determinada pela disponibilidade da água; ii) fertilidade do solo;
iii) densidade da cobertura de árvores e de arbustos; e, iv) composição da flora.

Na zona em estudo, o crescimento da erva para pastagem verifica-se no período entre os meses
de Novembro e Março, mais por humidade acumulada no solo como resultado de algumas
chuvas; nos outros 7 a 8 meses observa-se o período seco. O desenvolvimento vegetativo das
gramíneas é, de forma geral, fraco e de baixa produtividade devido à baixa pluviosidade, o que
torna estas zonas muito vulneráveis à sobrecarga animal e à degradação.

O aspecto anterior poderia ser minimizado com o tipo de pasto que ocorre, se de cerco ou
aberto. O sistema de cercados para a pastagem, suplemento de ração, apenas se observa nos
grandes produtores do sector privado. A produção dos pequenos produtores familiares é
aberta, depende de pastagens naturais e abeberamento em fontes naturais de água, como rios,
lagoas, baixas e charcos. Os pequenos criadores aproveitam colectivamente estes espaços 23.

Nestes locais, principalmente rios, riachos e lagoas, a qualidade do pasto é moderadamente


óptima, mas a sua qualidade vai diminuindo à medida que se afasta de zonas com água e se
aproxima mais para o interior, onde a pluviosidade diminui. Por outro lado, pela fraca
precipitação que se observa nos últimos anos, a quantidade de água tem influenciado os pastos
nos referidos espaços.

Outra área aproveitada para o pasto tem sido o restolho após a colheita do milho 24. Este faz
parte da alimentação do gado em épocas de escassez de fpasto 25. Não obstante, ele não
constitui um alimento de grande valor nutricional, podendo ser usado para manter o peso do

23
. Com o apoio de uma ONG, está em curso no distrito de Magude, um processo de identificação e posterior
legalização (obtenção de DUAT comunitário) de áreas destinadas ao pasto de gado.
24
. Entrevista com criador familiar, Mulelemane aos 07.11.19. Entrevista com criador familiar, Sabié aos 09.09.19.
25
. Entrevista com criador familiar, Catuane aos 17.10.19. Entrevista com criador familiar, Pfunguine, aos 07.11.19.

15
animal por períodos curtos, principalmente para animais adultos na fase pós desmame. Nesta
perspectiva, o restolho das leguminosas constitui a melhor alternativa (INIA, 2017).

Devido à prolongada seca, a quantidade de restolho tem sido insuficiente para a quantidade de
gado, onde os pastos são frequentemente de qualidade pobre, com baixa energia e conteúdo
proteico26. Por outro lado, a estiagem contribuiu para a redução das áreas de pastagem e,
segundo alguns entrevistados, os animais são deixados nas zonas de pasto em terrenos não
vedados, contrariando assim os dispositivos legais27.

O deixar o gado pernoitar na zona de pasto tem outra explicação. Segundo os entrevistados, é
prejudicial pôr o gado a caminhar longas distâncias à procura de pasto para depois levar de
volta ao curral no mesmo dia28. Por outro lado, durante a noite, principalmente no fim da
madrugada, o gado alimenta-se com pasto fresco devido ao orvalho29.

Como maneio das pastagens, os criadores fazem queimadas para remoção do material
inapropriado de forma a proporcionar nova germinação em períodos de escassez de
alimentos30, controlar a vegetação lenhosa e eliminar parasitas como as carraças 31. Contudo,
parece que este sistema reduz a capacidade de carga da área de pasto, na medida em que a
mesma é usada logo após iniciar a germinação.

Esta utilização imediata não dá tempo a que as plantam se desenvolvam. Ademais, o pousio da
terra, consociação e rotação de culturas são prácticas agronómicas que, quando observadas,
favorecem o maneio alimental e a suplementação do animal e consequente aumento da
produtividade. E isso quase não acontece32.

Na zona estudada o sistema de criação extensivo e a sazonalidade, agravada pela escassez das
chuvas, não favorecem as pastagens durante todo o ano, fazendo com que o gado perca peso
na época seca e ganhe no período das chuvas. Mas, na maior parte do ano, o gado percorre
longas distâncias entre a zona de pasto e as fontes de água. Isto afecta rendimento produtivo e
o peso33.

Tendo em conta as diferentes utilidades e formas de uso da terra que a zona rural moçambicana
alberga, no caso em estudo não foi encontrado um Plano que mostre as diversas unidades de
maneio agro-ecológico e a capacidade de carga para diferentes tipos de pastagem, não se
podendo afirmar se a capacidade de carga animal já foi atingida e, se não, quando irá acontecer.

26
. Entrevista com um funcionário de uma empresa de agronegócio, Catuane aos 18.10.2019. Entrevista com técnico de
SDAE, Magude aos 08.11.19.
27
. O Regulamento de Sanidade Animal determina que o gado deve ser recolhido em currais, a menos que as áreas de
pastagem sejam vedadas (art. 43.), proibindo assim a sua permanência sem que esteja sob vigilância, em terrenos não
vedados (art. 43). Ver GovM (2009).
28
. Entrevista com criador familiar, Sabié aos 09.09.19. Entrevista com criador familiar, Catuane aos 18.10.19. Entrevista
com grupo de pequenos criadores, Pfunguine, aos 07.11.19.
29
. Entrevista com criador familiar, Mulelemane aos 06.11.19.
30
. Entrevista com criador familiar, Mulelemane aos 07.11.19.
31
. Entrevista com criador familiar, Catuane aos 17.10.19.
32
. Entrevista com um funcionário de uma empresa de agronegócio, Catuane aos 18.10.2019. Entrevista com um agente
do sector privado, Magude aos 07.11.19. Entrevista com criador familiar, Facazissa aos 07.11.19. Entrevista com criador
familiar, Chichuco aos 08.11.19.
33
. Entrevista com um técnico do SDAE, Moamba aos 12.09.19.

16
4.3. Financiamento

O financiamento para desenvolver as suas actividades, desde a aquisição, criação e manutenção


da manada tem sido um grande desafio para os pequenos produtores familiares. Não tendo
capital próprio, o produtor deveria contar com financiamento em forma de crédito ou
empréstimo bonificado. E o governo tem afirmado a necessidade de conceder pequenas linhas
de crédito aos produtores para aquisição de gado adicional e instalar casas agrárias para
fornecer regularmente insumos e outros suplementos para o gado (MA, 2009; MASA, 2015a).

Os dados de campo mostram uma realidade bastante preocupante. Parte significativa dos
entrevistados, mais de 50%, não teve contacto com alguma instituição de crédito – pública,
sociedade civil e/ou entidade financeira privada. Relativamente ao género, há uma clara
diferenciação em todos os aspectos (gráfico 5). Do total das mulheres da amostra, 68% não foi
contactada, contra 55% dos homens. Dos criadores contactados, apenas 18% das mulheres
recebeu financiamento; enquanto 61% dos homens recebeu. Entre todos que receberam
financiamento, destacam-se os homens (90%).

Gráfico 5. Acesso as linhas de financiamento segundo sexo

90
82
68
61
55

39

18
10

Não contactado Contactado, não Contactado, Recebeu


recebeu recebeu

Homem Mulher

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

Do total das pessoas contactadas pelas instituições financiadoras, 86% foi através da associação
de produtores e, destas, 78% eram mulheres. Isto faz subentender que o contacto com as
mulheres foi feito mais dentro da associação. Contudo, os homens tiveram mais acesso as
entidades credoras de forma individual.

Um outro ponto foi o grau de execução no compromisso da instituição credora junto dos
beneficiários do empréstimo. Do total da amostra que teve acesso ao empréstimo, mais da
metade, recebeu entre metade e menos de metade do montante solicitado (gráfico 6).

17
Gráfico 6. Quanto recebeu do empréstimo, segundo sexo

46 44

32 29
25 24

Totalidade Metade Abaixo da metade

Homem Mulher

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

Os argumentos apresentados foram que, em muitos casos, o crédito não era suficiente para
cobrir todos os beneficiários34, ou porque os projectos apresentados não justificavam a
totalidade do valor solicitado35. Por outro lado, das pessoas que foram contactadas e não
receberam o empréstimo solicitado, a promessa foi sempre de serem os prioritários na fase
seguinte, geralmente aprazada para um a dois anos, algo que nunca aconteceu 36 ou pouco
aconteceu37.

Segundo os entrevistados, as linhas de crédito existentes são a curto prazo e os investimentos


são feitos principalmente onde a circulação de capital é rápida e existe potencial para retorno
do empréstimo38. Esta situação resulta num interesse reduzido por parte dos credores em
investir nas actividades menos rentáveis a curto prazo, como a pecuária 39. Tendo em conta que
um animal para abaye deve estar no intervalo de 18 a 36 meses de idade40, em condições de
crescimento desejáveis. No entanto, como já afirmado, os pequenos produtores abatem os
animais idade, precisamente porque buscam o maior peso no animal.

A maioria dos criadores familiares pertence à categoria considerada informal. Ainda que muitos
deles estejam registados e tenham contacto permanente com os SDAEs e outras instituições
formais, nomeadamente ONGs, não têm um registo legal de propriedade ou de exercício de
actividade agro-pecuária. Outros têm dificuldades em conseguir créditos bancários devido a
dificuldades de apresentar as garantias exigidas pelas entidades credoras41.

34
. Entrevista com membro do governo, Moamba aos 11.09.19.
35
. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos 07.11.19.
36
. Entrevista com criador familiar, Mulelemane aos 07.11.19.
37
. Entrevista com criador familiar, Sabié aos 09.09.19. Entrevista com criador familiar, Catuane aos 18.10.19.
38
. Entrevista com um funcionário de uma empresa de agronegócio, Catuane aos 18.10.2019. Entrevista com um agente
do sector privado, Magude aos 07.11.19.
39
. Entrevista com criador familiar, Facazissa aos 07.11.19. Entrevista com criador familiar, Catuane aos 07.10.19.
40
. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos 08.11.19.
41
. Entrevista com membro da associação agro-pecuária, Catuane aos 17.10.19.

18
Sobre investimentos, 40% dos entrevistados afirmou ter feito por conta própria, enquanto outra
parte (60%) não realizou investimentos. Sobre os aspectos que inibiram os investimentos, foram
citados os seguintes: a insuficiência financeira (65%), o roubo do gado (78%), a fraca
comercialização do gado (56%) e, a seca e redução da capacidade de pasto natural (49%).

Nos investimentos, foram cinco as prioridades apresentadas: aquisição de novas cabeças de


gado (69%); suplementos, vacinas e equipamentos (35%), actividades agrícolas (57%) e outras
actividades (45%). Por género (gráfico 7), as mulheres investiram mais nas actividades agrícolas
(33%) e outras actividades não agrícolas (19%), enquanto os homens investiram mais na
aquisição de novas cabeças de gado (30%). Quantidade significativa dos suplementos foi
adquirida fora dos locais de produção, principalmente nas cidades de Maputo e da Matola.

Gráfico 7. investimentos realizados, segundo sexo

33
30
27
25 25
23
19
18

Novas cabeças Suplementos Activ. Agrícolas Outras actividades

Homem Mulher

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

4.4. Infra-estruturas de apoio

O governo (GovM, 2011b; MA, 2013; MA, 2009) entende que o melhoramento das infra-
estruturas e da rede de transportes e comunicação, juntamente com a melhoria das infra-
estruturas de irrigação, para produção animal, de comercialização e de processamento, constitui
um desafio importante para o aumento da produção agrária. Afirmando sempre a priorização
de investimento nessas infra-estruturas.

O processo de combate à carraça e outras parasitoses, altera segundo as épocas do ano e


depende do sistema a aplicar. A aplicação do pour on deve ser feita num intervalo de 15 dias,
no Verão, e 21 dias no Inverno. Para o sistema de imersão (tanques carracicidas e corredores de
banho) e de pulverização, deve ser no intervalo de uma semana, no Verão, e 15 dias no Inverno.

Os três distritos possuem uma infra-estrutura de apoio à produção animal, constituída por
tanques carracicidas, represas para o abeberamento, corredores para tratamento de animais,
entre outras. Contudo, mais de 50% dos tanques encontra-se inoperacionais (quadro 1).

19
Quadro 1. Tanques carracicidas existentes
Tanques Carracicidas Magude Matutuíne Moamba Província
Operacionais 3 4 6 33
Inoperacionais 16 17 18 77
Total 19 21 24 110
% dos inoperacionais 84.21 80.95 75.00 70.00
Fonte: Dados estatísticos dos relatórios e periódicos do DPP, dos governos distritais e das
entrevistas.

O quadro 1 mostra que os três distritos apresentam, em separado, percentagens de


inoperacionalidade dos tanques carracicidas superiores à inoperacionalidade da Província de
Maputo, que é de 70%. Como vimos anteriormente, os grandes desafios do Governo, a todos os
níveis, para este subsector passam pela construção e/ou reabilitação destas infra-estruturas, o
que ainda não aconteceu.

Relativamente ao uso dos tanques, para os pequenos produtores, quase metade dos
entrevistados, 48%, afirmou que nunca teve acesso, e outro 41% afirmou que poucas vezes usou
estes estes tanques. Quando desagregados por sexo, a maioria das mulheres (57%) nunca teve
acesso e apenas uns 9% afirmou ter sempre acesso aos tanques (gráfico 8).

Gráfico 8. Nível de acesso dos pequenos produtores aos tanques carracicidas

57

43
39 40

17
9

Sempre Poucas vezes Nunca

Homem Mulher

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

Alguns tanques operacionais pertencem às comunidades e, geralmente, estão concentrados


num único posto administrativo 42, outros são do sector privado e, geralmente, situam-se em
zonas com potencial para a criação de gado, mas não são acessíveis ao pequeno produtor
familiar43.
Um investidor estrangeiro tentou usar um espaço onde, no passado, tinha sido uma
propriedade agro-pecuária, mas com insfra-estruturas destruídas. A sua intenção era reabilitar

42
. Entrevista com um criador familiar, Catuane aos 17.10.19. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos 06.11.19.
Entrevista com grupo de pequenos criadores, Pfunguine, aos 07.11.19.
43
. Entrevista com criador familiar, Catuane aos 18.10.19. Entrevista com criador familiar, Mulelemane aos 06.11.19.

20
nomeadamente o tanque ali existente, o que poderia beneficiar os pequenos criadores locais.
Porém, o mesmo enfrentou dificuldades na obtenção da devida autorização junto dos
respectivos serviços competentes44.

Por outro lado, o estado precário das vias de acesso, dificulta a actividade pecuária para quem
não tem recursos para chegar aos tanques operacionais existentes em certas zonas 45.
Alternativamente, as famílias têm recorrido aos poços existentes, incluindo o uso de bombas
para tratar os animais no que se refere ao banho e abeberamento.

Para aplicação de acaricidas, a maioria dos pequenos produtores, utiliza os pulverizadores


manuais e o método de pour on que consiste na aplicação de acaricida no dorso do animal.
Contudo, o composto nunca está disponível em tempo útil nas comunidades 46, sendo que os
criadores devem sempre solicitar aos SDAEs respectivos47.

Por outro lado, são as comunidades que constroem corredores de banho usando material local,
que são usados somente para utilizar o pour on e o pulverizador manual. Mas a sua utilização
nem sempre obedece aos critérios e a calendarização recomendados; por exemplo, os criadores
apenas banham o animal quando se apercebem que a carga de carraças é grande 48. Para alguns
entrevistados esta poderá ter sido a causa da eclosão da teleriose e sua propagação 49.

No geral, as manadas percorrem longas distâncias à procura de água 50. E a escassez de água
tem sido um problema comum e crónico nos últimos tempos. A estiagem que se faz sentir no
Sul do país não facilita o processo de reabilitação de alguns pontos de água que permitiriam
abastecer com este líquido as infra-estruturas de apoio à produção51.

Como consequência da estiagem, alguns criadores, principalmente os que vivem nas cidades de
Maputo e da Matola, com gado em Moamba e Matutuíne têm estado a deslocar o gado entre
os dois distritos52, incluído Boane (Matsequenha), procurando sempre zonas banhadas por rios
e/ou riachos e com pasto razoável53. Esta prática, se, por um lado, pretende minimizar as
preocupações que os criadores têm com o crescimento do seu gado, por outro lado, mostra as
dificuldades que os serviços veterinários têm no controlo do movimento dos animais, incluindo
da vigilância de doenças existentes e potenciais.

44
. Entrevista com um funcionário de uma empresa de agronegócio, Catuane aos 18.10.2019.
45
. Entrevista com criador familiar, Sabié aos 10.08.19. Entrevista com criador familiar, Mulelemane aos 06.11.19.
46
. Entrevista com um criador familiar, Catuane aos 18.10.19. Entrevista com criador familiar, Facazissa aos 07.11.19.
Entrevista com criador familiar, Chichuco aos 08.11.19.
47
. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos 06.11.19.
48
. Entrevista com um criador familiar, Catuane aos 17.10.19. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos 06.11.19.
Entrevista com grupo de pequenos criadores, Pfunguine, aos 07.11.19.
49
. Entrevista com um técnico do SDAE, Moamba aos 12.09.19. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos
06.11.19. A teleriose, oficialmente reportada nos distritos de Magude e Moamba, é provocada por uma praga de
carraças e a sua propagação é mais rápida com a movimentação de animais sem a observância de medidas de controlo
de doenças.
50
. Entrevista com criador familiar, Matola aos 14.09.19. Entrevista com criador familiar, Mulelemane aos 07.11.19.
51
. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos 06.11.19.
52
. Entrevista com um técnico do SDAE, Moamba aos 12.09.19.
53
. Entrevista com criadora familiar, Matola 11.11.19. Ela afirmou ter movimentado cerca de 60 cabeças de gado de
Matsequenha (Boane) para Moamba, numa caminhada que durou quatro dias.

21
4.5. Assistência sanitaria

As vacinas são essenciais para o criador manter o seu efectivo saudável e em crescimento e
desenvolvimento. A vacinação é obrigatória para a certificação do estado sanitário dos animais,
garantindo que estes não constituem veículo de qualquer agente susceptível de infectar outros
animais ou humanos, sendo obrigatória a observância do calendário de vacinações (GovM,
2009).

No caso em estudo, o uso de vacinas e medicamentos, bem como específicos procedimentos de


conservação, faz com que o protagonismo seja observado apenas em alguns produtores
privados – na sua maioria estrangeiros, nomeadamente sul-africanos – que utilizam algum
equipamento e métodos modernos na cadeia de produção.

O alto grau de paralisação das infra-estruturas, a descapitalização principalmente dos pequenos


produtores, a seca, as queimadas e as altas taxas de mortalidade animal, constituem os
principais desafios ao desenvolvimento deste subsector. Uma causa associada aos desafios
anteriores tem sido a insuficiência da implementação do programa de vacinação, por falta dos
fármacos, ou pela não observância rigorosa da calendarização para o efeito.

Existem doenças de vacinação obrigatória nos bovinos, como carbúnculo hemático, carbúnculo
sintomático, febre aftosa, brucelose e dermatose nodular. Para combatê-las eficazmente, as
vacinas devem ser realizadas sempre no mesmo período do ano (quadro 2), de modo a garantir
uma protecção coniínuada dos efectivos (MA, 2009; GovM, 2009).

Quadro 2. Calendário de vacinação de gado bovino, segundo as doenças


Doenças Animais a vacinar Período recomendado
Brucelose Vitelas de 4 a 8 meses Março-Abril/Agosto-Setembro
Carbúnculo hemático Todos bovinos maiores de 4 meses Abril-Julho
Carbúnculo sintomático Todos bovinos menores de 3 meses Abril-Julho
Dermatose nodular Todos bovinos maiores de 4 meses Abril-Julho
Febre aftosa Todos bovinos maiores de 4 meses Fevereiro-Abril/Set.-Novembro
Fonte: Dados estatísticos dos relatórios e periódicos dos DPP e das entrevistas.

Esta nunca foi a prática observada na província de Maputo. Sobre o processo de vacinação, um
membro de uma associação de agricultores familiares em Matutuíne afirmou o seguinte:

"Ha anos que temos estado a solicitar aos serviços distritais das actividades económicas, lá em
Bela Vista, para vacinar o nosso gado; mas isso nunca acontece na altura que pretendemos. Por
vezes, os técnicos aparecem meses depois e as vacinas nunca chegam para todos; outras vezes,
nunca aparecem...quando é assim, quem pode, procura através de seus próprios meios." 54

Segundo alguns entrevistados, por várias razões que ultrapassam as autoridades do Distrito,
nunca foi fácil cumprir o calendário das vacinações 55. Os distritos recebem esses serviços das
instâncias superiores (DPASA), e dos parceiros de cooperação, que nunca estão disponíveis em
tempo útil e nem sempre satisfazem toda a demanda 56. Nos últimos 3 ou 4 anos, a campanha

54
. Entrevista a um membro da associação agro-pecuária, Catuane aos 17.10.19.
55
. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos 06.11.19.
56
. Entrevista com um técnico do SDAE, Moamba aos 12.09.19.

22
de vacinações foi pela negativa no combate de quase todas as doenças identificadas no quadro
acima, por causa da insuficiência de recursos financeiros para a aquisição de vacinas 57, para
além da fraca presença nas actividades de campo.

Relativamente ao acesso a estes serviços, a maioria dos entrevistados que teve acesso, terá
vacinado mais de metade do seu efectivo bovino (gráfico 9). As mulheres parecem constutuir a
maioria com o gado vacinado, contudo isto depende do número de cabeças que possuíam na
época da vacinação que, foi geralmente, inferior ao efectivo em posse dos criadores homens.

Gráfico 9. Gado vacinado relativamente ao efectivo possuído.

45
40
36

20 18
17 15
9

Totalidade Mais da metade Metade Menos da


metade

Homem Mulher

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

4.6. Comercialização

Nos diversos instrumentos de apoio à governação sempre aparece patente a ideia de


necessidade de promover a criação de feiras rurais e a comercialização agrária, tendo como
algumas das acções prioritárias, melhorar o poder de negociação dos produtores rurais e
reforçar as redes viáveis e eficazes de comercialização da sua produção (GovM, 2011a; 2011b;
MPD, 2007).

Sendo a actividade de extensão de importância vital para a assistência aos produtores e


consequente desenvolvimento da pecuária, é papel do governo estabelecer infra-estruturas de
apoio à produção e comercialização pecuária com destaque para as de assistência sanitária,
abeberamento e comercialização, e assegurar o seu correcto uso e manutenção (MA, 2009). E é
equacionado que o aumento do acesso dos produtores rurais ao mercado seja feito através de
infra-estruturas e serviços para uma maior comercialização (MA, 2013).

O desenvolvimento de serviços e infra-estruturas adequadas para apoiar o produtor pretende


melhorar a qualidade dos animais e produtos pecuários colocados no mercado, uma vez que os
criadores procurarão alcançar maiores rendimentos. Ora, no caso em estudo, encontramos duas
linhas relativamente à intervenção do produtor na cadeia de comercialização do gado:

O sector privado que, geralmente, coloca os seus animais directamente nos matadouros, talhos,
e supermercados, incluindo outras entidades; E os pequenos criadores, que levam o gado para

57
. Entrevista com um técnico na DPASA de Maputo, Matola aos 12.11.19.

23
as feiras, onde os compradores compram e levam-no para os matadouros para abate ou
revenda, havendo casos, em que o comprador contacta directamente o criador no curral para a
compra.

Nos últimos 12 meses, a comercialização de gado aconteceu mais para os proprietários homens
(69%), dos quais 16% tiveram a oportunidade de vender junto de matadouro e/ou talho. As
mulheres (94%) foram as que mais venderam o seu gado nas feiras de comercialização que
acontecem no distrito (gráfico 10).

Gráfico 10. Comercialização de gado e local de venda

94
84
69
61

39
31
16
6

Vendeu Não vendeu Vendeu para Vendeu para


matadouro/talho comerciantes

Homem Mulher

Fonte: produção própria a partir dos dados das entrevistas

A venda de animais nas feiras tem sido rápida e muitas vezes com uma organização insuficiente,
devido à falta de infra-estruturas adequadas para guardar o gado durante a comercialização. As
regras das feiras de gado referem que o animal deve estar, pelo menos, um dia antes no local
para permitir o banho e a lavagem estomacal de forma a se obter o peso real na hora de
venda58, e dois dos equipamentos obrigatórios são o corredor de banho e a balança para
pesagem do animal ainda vivo.

Porque não existem estas condições, a feira é organizada num único local para todo o distrito 59.
Os criadores interessados percorrem longas distâncias desde os locais de criação até aos pontos
de venda. E porque não têm meios para transportar o gado e mantê-lo em boas condições na
feira, a comercialização é rápida, para não correr o risco de o animal perder peso baixar o preço.

Nas feiras locais não existem infra-estruturas de conservação e processamento. Por outro lado, a
participação de um produtor nestas feiras e/ou mercados de venda de gado está, por lei
condicionada ao cumprimento da vacinação e outros programas sanitários (GovM, 2009);
contudo, nem todo gado aqui transaccionado é vacinado 60, contrariando assim os dispositivos
legais e perigando a saúde pública com potenciais riscos de contaminação entre animais.

58
. Entrevista com criador familiar, Pfunguine aos 07.11.19
59
. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos 06.11.19.
60
. Entrevista com um membro da associação agro-pecuária, Catuane aos 17.10.19. Entrevista com um líder comunitário,
Mulelemane aos 07.11.19.

24
Devido aos factores acima mencionados, e porque as vias de acesso ligando os centros de
produção e o mercado encontram-se em condições precárias, presume-se que sejam
substancialmente altas as quantidades de animais comercializados em circuitos informais e a
preços desfavoráveis ao produtor61.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação animal representa uma importante componente na diversificação dos meios de vida
das famílias nas zonas rurais, constituindo, em simultâneo, fonte de rendimento e reserva para
tempos críticos. Para este estudo, isto faria mais sentido se houvesse meios e capacidade de o
produtor gerar rendimento. Com efeito, apesar do pequeno produtor revelar grande vontade de
gerar riqueza, esta está fortemente relacionada com a efectividade das políticas traçadas.

Este estudo teve como hipóteses iniciais que (a) o acesso aos serviços de apoio ao produtor é o
principal factor para o desenvolvimento da produção bovina e, (b) a criação bovina na Província
de Maputo é incentivada pela busca de maior peso por animal para obtenção de carne e não
pelas exigências de mercado, nomeadamente a qualidade.

Para a primeira hipótese foram encontrados dois tipos de limitantes que condicionam o
desenvolvimento deste subsector, nomeadamente as técnicas e as de políticas e institucionais.
As ligações entre os serviços a nível central e provincial, com os serviços de extensão na base
são bastante limitadas, incluindo a provisão de serviços ao produtor.

A hierarquização das tarefas, onde tudo depende do nível de cima, não tem beneficiado os
pequenos produtores; a insuficiência de meios de apoio e financeiros não permite prover em
tempo real e de forma cabal as vacinas. O investimento para os pequenos produtores, que tem
sido outra bandeira nos discursos oficiais, foi observado de forma deficitária.

Quanto à segunda hipótese, os resultados da pesquisa mostram que, não obstante a busca de
dinheiro por parte do pequeno produtor, na criação do gado, a qualidade do animal foi
remetida para segundo plano. O produtor pretende manter o animal por mais tempo possível
para um provável aumento de peso e então obter boa receita na sua comercialização.

Contudo, o peso dificilmente atinge o nível desejado. E vários factores, todos associados, foram
encontrados nesta pesquisa: fraco investimento, seca e escassez de água, fraco desenvolvimento
do pasto natural, queimadas descontroladas, infra-estruturas de apoio quase inexistentes,
deficientes serviços de extensão, e fraca provisão de insumos e outros suplementos.

Assim, como recomendações, apresentam-se os seguintes pontos: Melhorar os serviços de


extensão rural, através de treinamento e capacitação – técnico-financeira – dos técnicos e/ou
extensionistas públicos ao serviço dos distritos; Melhorar as infra-estruturas de apoio, feiras
rurais e vias de comunicação; Facilitar o acesso a insumos e provisão de serviços de extensão e
assistência sanitária animal; Adoptar tecnologias e prácticas de maneio que aumentem a
produtividade do sistema agro-pecuário nos actuais padrões de uso da terra; Considerar
algumas áreas como reserva exclusiva para pastagem do gado dos pequenos produtores,

61
. Entrevista com um técnico do SDAE, Moamba aos 12.09.19. Entrevista com um técnico do SDAE, Magude aos
06.11.19.

25
concorrendo para a redução da pressão em áreas mais frágeis ou vulneráveis; e Criar e/ou
reforçar as instituições comunitárias de gestão dos recursos naturais de uso comum.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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28
LISTA DOS TÍTULOS PUBLICADOS DA SÉRIE OBSERVADOR RURAL
Nº Título Autor(es) Ano
Avaliação dos impactos dos investimentos nas plantações florestais da Portucel-Moçambique na província da Almeida Sitoe e
88 Março de 2020
Zambézia Sá Nogueira Lisboa
Terra e crises climáticas: percepções de populações deslocadas
87 Uacitissa Mandamule Fevereiro de 2020
pelo ciclone IDAI no distrito de Nhamatanda
“senhor, passar para onde?”
86 Uacitissa Mandamule Fevereiro de 2020
Estrutura fundiária e mapeamento de conflitos de terra no distrito de Nhamatanda
Rabia Aiuba e Jonas Milagre
85 Evolução dos preços dos bens essenciais de consumo em 2019 Fevereiro de 2020
Mbiza
Refiloe Joala, Máriam Abbas,
Repensar a segurança alimentar e nutricional: Alterações no sistema agro-alimentar e o direito à Lázaro dos Santos, Natacha
84 Janeiro de 2020
alimentação em Moçambique Bruna, Carlos Serra,
e Natacha Ribeiro
Pobreza no meio rural:
83 Aleia Rachide Agy Janeiro de 2020
Situação de famílias monoparentais chefiadas por mulheres
Ascensão e queda do PROSAVANA: Da cooperação triangular à cooperação bilateral contra-
82 resistência / The rise and fall of PROSAVANA: From triangular cooperation to bilateral Sayaka Funada-Classen Dezembro de 2020

cooperation in counter-resistance
Investimento público na agricultura: O caso dos centros de prestação de serviços agrários; Yasser Arafat Dadá, Yara Nova
81 Novembro de 2019
complexo de silos da bolsa de mercadorias de Moçambique e dos regadios e Cerina Mussá

80 Agricultura: Assim, não é possível reduzir a pobreza em Moçambique João Mosca e Yara Nova Outubro de 2019

Corredores de desenvolvimento: Reestruturação produtiva ou continuidade histórica. O caso do


79 Rabia Aiuba Setembro de 2019
corredor da Beira, Moçambique

Condições socioeconómicas das mulheres associadas na província de Nampula: Estudos de


78 Aleia Rachide Agy Agosto de 2019
caso nos distritos de Malema, Ribaué e Monapo

Pobreza e desigualdades em zonas de penetração de grandes projectos: Estudo de caso em


77 Jerry Maquenzi Agosto de 2019
Namanhumbir - Cabo Delgado

76 Pobreza, desigualdades e conflitos no norte de Cabo Delgado Jerry Maquenzi e João Feijó Julho de 2019

75 A maldição dos recursos naturais: Mineração artesanal e conflitualidade em Namanhumbir Jerry Maquenzi e João Feijó Junho de 2019

Agricultura em números: Análise do orçamento do estado, investimento, crédito e balança Yara Nova, Yasser Arafat
74 Maio de 2019
comercial Dadá e Cerina Mussá
Titulação e subaproveitamento da terra em Moçambique:
73 Nelson Capaina Abril de 2019
Algumas causas e implicações
Uacitissa Mandamule e Tomás
72 Os mercados de terras rurais no corredor da Beira: tipos, dinâmicas e conflitos. Março de 2019
Manhicane
71 Evolução dos preços dos bens alimentares 2018 Yara Nova Fevereiro de 2019
A economia política do Corredor da Beira: Consolidação de um enclave ao serviço do
70 Thomas Selemane Janeiro de 2019
Hinterland

69 Indicadores de Moçambique, da África subsaariana e do mundo Rabia Aiuba e Yara Nova Dezembro de 2018

Médios produtores comerciais no Corredor da Beira: Dimensão do fenómeno e caracterização João Feijó e Yasser Arafat
68 Novembro de 2018
social Dadá
Yasser Arafat Dadá e Yara
67 Pólos de crescimento e os efeitos sobre a pequena produção: O caso de nacala-porto Outubro de 2018
Nova

66 Os Sistemas Agro-Alimentares no Mundo e em Moçambique Rabia Aiuba Setembro de 2018

Agro-negócio e campesinato. Continuidade e descontinuidade de Longa Duração.


65 João Mosca Agosto de 2018
O Caso de Moçambique.

64 Determinantes da Indústria Têxtil e de vestuário em Moçambique (1960-2014) Cerina Mussá e Yasser Dadá Julho de 2018

63 Participação das mulheres em projectos de investimento agrário no Distrito de Monapo Aleia Rachide Agy Junho de 2018

62 Chokwé: efeitos locais de políticas Instáveis, erráticas e contraditórias Márriam Abbas Maio de 2018

61 Pobreza, diferenciação social e (des) alianças políticas no meio rural João Feijó Abril de 2018

60 Evolução dos Preços de Bens alimentares e Serviços 2017 Yara Nova Março de 2018

29
Nº Título Autor(es) Ano
Estruturas de Mercado e sua influência na formação dos preços dos produtos agrícolas ao longo
59 Yara Pedro Nova Fevereiro de 2018
das suas cadeias de valor
Avaliação dos impactos dos investimentos das plantações florestais da Portucel-
Almeida Sitoe e Sá
58 Moçambique nas tecnologias agrícolas das populações locais nos distritos de Ile e Novembro de 2017
Nogueira Lisboa
Namarrói, Província da Zambézia
Desenvolvimento Rural em Moçambique: Discursos e Realidades – Um estudo de caso do
57 Nelson Capaina Outubro de 2017
distrito de Pebane, Província da Zambézia
A Economia política do corredor de Nacala: Consolidação do padrão de economia extrovertida
56 Thomas Selemane Setembro de 2017
em Moçambique

55 Segurança Alimentar Auto-suficiecia alimentar: Mito ou verdade? Máriam Abbas Agosto de 2017

54 A inflação e a produção agrícola em Moçambique Soraya Fenita e Máriam Abbas Julho de 2017

53 Plantações florestais e a instrumentalização do estado em Moçambique Natacha Bruna Junho de 2017

52 Sofala: Desenvolvimento e Desigualdades Territoriais Yara Pedro Nova Junho de 2017


Estratégia de produção camponesa em Moçambique: estudo de caso no sul do Save -
51 Yasser Arafat Dadá Maio de 2017
Chókwe, Guijá e KaMavota

Género e relações de poder na região sul de Moçambique – uma análise sobre a localidade de
50 Aleia Rachide Agy Abril de 2017
Mucotuene na província de Gaza
Criando capacidades para o desenvolvimento: o género no
49 Nelson Capaina Março de 2017
acesso aos recursos produtivos no meio rural em Moçambique
Perfil socio-económico dos pequenos agricultores do sul de Moçambique: realidades de Chókwe,
48 Momade Ibraimo Março de 2017
Guijá e KaMavota

47 Agricultura, diversificação e Transformação estrutural da economia João Mosca Fevereiro de 2017

46 Processos e debates relacionados com DUATs. Estudos de caso em Nampula e Zambézia. Uacitissa Mandamule Novembro de 2016

Tete e Cateme: entre a implosão do el dorado e a contínua degradação das condições de vida
45 Thomas Selemane Outubro de 2016
dos reassentados

44 Investimentos, assimetrias e movimentos de protesto na província de Tete João Feijó Setembro de 2016

Motivações migratórias rural-urbanas e perspectivas de regresso ao campo – uma análise do João Feijó e Aleia Rachide Agy
43 Agosto de 2016
desenvolvimento rural em moçambique a partir de Maputo e Momade Ibraimo
João Mosca e Máriam
42 Políticas públicas e desigualdades socias e territoriais em Moçambique Julho de 2016
Abbas
41 Metodologia de estudo dos impactos dos megaprojectos João Mosca e Natacha Bruna Junho de 2016

40 Cadeias de valor e ambiente de negócios na agricultura em Moçambique Mota Lopes Maio de 2016

39 Zambézia: Rica e Empobrecida João Mosca e Yara Nova Abril de 2016

António Júnior, Momade


38 Exploração artesanal de ouro em Manica Março de 2016
Ibraimo e João Mosca

37 Tipologia dos conflitos sobre ocupação da terra em Moçambique Uacitissa Mandamule Fevereiro de 2016

João Mosca e Máriam


36 Políticas públicas e agricultura Janeiro de 2016
Abbas
Pardais da china, jatrofa e tractores de Moçambique: remédios que não prestam para o
35 Luis Artur Dezembro de 2015
desenvolvimento rural

34 A política monetária e a agricultura em Moçambique Máriam Abbas Novembro de 2015

33 A influência do estado de saúde da população na produção agrícola em Moçambique Luís Artur e Arsénio Jorge Outubro de 2015

32 Discursos à volta do regime de propriedade da terra em Moçambique Uacitissa Mandamule Setembro de 2015

31 Prosavana: discursos, práticas e realidades João Mosca e Natacha Bruna Agosto de 2015

Do modo de vida camponês à pluriactividade impacto do assalariamento urbano na


30 João Feijó e Aleia Rachide Julho de 2015
economia familiar rural

30
Nº Título Autor(es) Ano

29 Educação e produção agrícola em Moçambique: o caso do milho Natacha Bruna Junho de 2015

Legislação sobre os recursos naturais em Moçambique: convergências e conflitos na relação


28 Eduardo Chiziane Maio de 2015
com a terra
António Júnior, Yasser Arafat
27 Relações Transfronteiriças de Moçambique Abril de 2015
Dadá e João Mosca

26 Macroeconomia e a produção agrícola em Moçambique Máriam Abbas Abril de 2015

Entre discurso e prática: dinâmicas locais no acesso aos fundos de desenvolvimento distrital em
25 Nelson Capaina Março de 2015
Memba
24 Agricultura familiar em Moçambique: Ideologias e Políticas João Mosca Fevereiro de 2015
Kayola da Barca Vieira Yasser
23 Transportes públicos rodoviários na cidade de Maputo: entre os TPM e os My Love Arafat Dadá e Margarida Dezembro de 2014
Martins
22 Lei de Terras: Entre a Lei e as Práticas na defesa de Direitos sobre a terra Eduardo Chiziane Novembro de 2014
António Júnior, Yasser Arafat
21 Associações de pequenos produtores do sul de Moçambique: constrangimentos e desafios Outubro de 2014
Dadá e João Mosca
João Mosca, Yasser Arafat
20 Influência das taxas de câmbio na agricultura Dadá e Kátia Amreén Setembro de 2014
Pereira
19 Competitividade do Algodão Em Moçambique Natacha Bruna Agosto de 2014
Carlos Manuel Serra,
O Impacto da Exploração Florestal no Desenvolvimento das Comunidades Locais nas Áreas
18 António Cuna, Assane Julho de 2014
de Exploração dos Recursos Faunísticos na Província de Nampula
Amade e Félix Goia
17 Competitividade do subsector do caju em Moçambique Máriam Abbas Junho de 2014

16 Mercantilização do gado bovino no distrito de Chicualacuala António Manuel Júnior Maio de 2014

Luís Artur, Ussene Buleza,


15 Os efeitos do HIV e SIDA no sector agrário e no bem-estar nas províncias de Tete e Niassa Mateus Marassiro, Garcia Abril de 2015
Júnior
João Mosca e Yasser Arafat
14 Investimento no sector agrário Março de 2014
Dadá
João Mosca, Kátia Amreén
13 Subsídios à Agricultura Fevereiro de 2014
Pereira e Yasser Arafat Dadá
Anatomia Pós-Fukushima dos Estudos sobre o ProSAVANA: Focalizando no “Os mitos por
12 Sayaka Funada-Classen Dezembro de 2013
trás do ProSavana” de Natalia Fingermann
João Mosca, Natacha Bruna,
11 Crédito Agrário Katia Amreén Pereira e Yasser Novembro de 2013
Arafat Dadá
Shallow roots of local development or branching out for new opportunities: how local
Emelie Blomgren e Jessica
10 communities in Mozambique may benefit from investments in land and forestry Outubro de 2013
Lindkvist
exploitation
Américo Izaltino Casamo,
9 Orçamento do estado para a agricultura Setembro de 2013
João Mosca e Yasser Arafat

Agricultural Intensification in Mozambique. Opportunities and Obstacles—Lessons from


8 Peter E. Coughlin, Nicia Givá Julho de 2013
Ten Villages

7 Agro-Negócio em Nampula: casos e expectativas do ProSAVANA Dipac Jaiantilal Junho de 2013


Elizabeth Alice Clements e
6 Estrangeirização da terra, agronegócio e campesinato no Brasil e em Moçambique Bernardo Mançano Maio de 2013
Fernandes
João Mosca e Yasser Arafat
5 Contributo para o estudo dos determinantes da produção agrícola Abril de 2013
Dadá
João Mosca, Vitor Matavel e
4 Algumas dinâmicas estruturais do sector agrário. Março de 2013
Yasser Arafat Dadá
3 Preços e mercados de produtos agrícolas alimentares. João Mosca e Máriam Abbas Janeiro de 2013
João Mosca e Natacha
2 Balança Comercial Agrícola: Para uma estratégia de substituição de importações? Novembro de 2012
Bruna
1 Porque é que a produção alimentar não é prioritária? João Mosca Setembro de 2012

31
Como publicar:

• Os autores deverão endereçar as propostas de textos para publicação em formato digital


para o e-mail do OMR ([email protected]) que responderá com um e-mail de aviso de
recepção da proposta.
• Não existe por parte do Observatório do Meio Rural qualquer responsabilidade em
publicar os trabalhos recebidos.
• Após o envio, os autores proponentes receberão informação por e-mail, num prazo de
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cm em todas as margens da página (cima, baixo lado e esquerdo e direito).
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32
O OMR é uma Associação da sociedade
civil que tem por objectivo geral contribuir
para o desenvolvimento agrário e rural
numa perspectiva integrada e
interdisciplinar, através de investigação,
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outras temáticas agrárias e de
desenvolvimento rural.

O OMR centra as suas acções na prossecução dos seguintes objectivos específicos:

• Promover e realizar estudos e pesquisas sobre políticas e outras temáticas relativas ao

desenvolvimento rural;

• Divulgar resultados de pesquisas e reflexões;

• Dar a conhecer à sociedade os resultados dos debates, seja através de comunicados de

imprensa como pela publicação de textos;

• Constituir uma base de dados bibliográfica actualizada, em forma digitalizada;

• Estabelecer relações com instituições nacionais e internacionais de pesquisa para

intercâmbio de informação e parcerias em trabalhos específicos de investigação sobre

temáticas agrárias e de desenvolvimento rural em Moçambique;

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estudantes em pesquisas de acordo com os temas de análise e discussão agendados;

• Criar condições para a edição dos textos apresentados para análise e debate do OMR.

Patrocinadores:

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Maputo – Moçambique

www.omrmz.org

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