Sermão Do Monte XI: O Grande Galardão (Mateus 5.12)

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Capítulo XI

O Grande Galardão
Alejandro G. Frank

Introdução
No capítulo anterior temos considerado uma das consequências que há para um crente por
viver as bem-aventuranças: a perseguição. O Senhor Jesus afirmou a seus discípulos que eles
iriam sofrer por causa de viverem a vontade de Deus. O mundo não se alegra quando há uma
pessoa que busca viver os padrões bíblicos. No mínimo eles acharão antiquado ou ridículo
viver uma vida assim. Mas também, em muitos casos, as perseguições são muito mais intensas
ainda, sendo que hoje mesmo, em muitos lugares do mundo há pessoas que estão morrendo
por proclamar o Evangelho do nosso Senhor Jesus. Mas o cristianismo tem demostrado ao
longo da história que as perseguições não o abalam. Os verdadeiros crentes se fortalecem no
meio das tribulações. É nessas situações que o trigo e o joio são separados e a Igreja do Senhor
resplandece. Mas o que é o que mantem os crentes perseverantes no meio dessas tribulações?
Como podemos estar firme na fé em meio de situações nas quais nossa vida está em perigo? A
resposta se encontra em este trecho final das bem-aventuranças:

“Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus” (Mateus 5.12a)

Esta afirmação encerra a grande promessa para todos os bem-aventurados. Na verdade, cada
uma das bem-aventuranças que temos considerado contém uma promessa diferente. Claro
que todas elas são dirigidas ao mesmo crente, à mesma pessoa. Assim como cada bem-
aventurança deve estar presente no caráter de um cristão, também cada promessa é para o
mesmo cristão. Todos receberemos cada uma das promessas que estão encerradas nas bem-
aventuranças, pois no céu somente estarão aqueles que buscam viver todas elas em suas vidas
através da graça de Deus e o poder do Espírito Santo. E este texto considerado acima encerra o
cerne da questão do por que vivermos assim. A resposta é: porque temos um galardão nos
céus. Há uma recompensa para aquele que persevera até o fim.

É interessante escutar pessoas que afirmam que o crente deveria viver a sua vida cristã sem
esperar nada em troca. Eles dizem que deveríamos viver como cristãos simplesmente por
amor e pronto. Contudo, embora eles queiram justificar isto como uma atitude altruísta e não
egocêntrica e interesseira acerca da vida cristã, esta não é a posição bíblica. Na Bíblia, a única
coisa que se nos é encorajado a buscarmos para nós mesmos com todo o coração é o galardão
dos céus. Todo desejo para nós mesmos nesta vida é reprendido, mas quando se trata de
olharmos para o que nos espera nos céus a Palavra nos encoraja a fazê-lo. Temos que desejar
estar ali, temos que desejar a presença do Senhor, temos que desejar viver para sempre na
eternidade do Senhor e gozarmos desse privilégio e do galardão que está preparado para os
que estiverem ali. Repito: este é o único desejo focalizado em nós mesmos que a Palavra nos
encoraja a busca-lo de todo coração. Quando o Senhor Jesus disse “buscai, antes de tudo, o
seu reino [o reino de Deus]” (Lucas 12.31a) ele estava encorajando os discípulos a isso. Quando
Paulo afirma “porque para mim o morrer é lucro” (Filipenses 1.21b) também se referia a isso.
Quando o autor aos Hebreus fala acerca dos heróis da fé, no capítulo 11, ele diz que eles
buscavam a sua pátria celestial e a esperavam, também se refere a isso. E o maior dos exemplo

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nos é dado em Hebreus 12.2 que fala acerca do Senhor Jesus, que também olhou para o
galardão: “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da
alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está
assentado à destra do trono de Deus”. Vemos que todos os verdadeiros servos de Deus e até o
próprio Senhor Jesus olharam para a promessa do galardão que lhes esperava nos céus. Isto
não é ser interesseiro, mas é entender que, de fato, é o único real, verdadeiro, eterno, que
podemos ter nas nossas vidas. Esta é a semente de eternidade que temos plantada em nossos
corações, a qual cresce e nos faz desejar mais do galardão que nos espera. E à medida que ela
cresce em nós, a convicção da nossa eternidade, a certeza da salvação em Cristo, a esperança
no porvir e a disposição de irmos até a morte com Cristo, inclusive no martírio, crescem cada
vez mais. É por isso que os santos mártires deram sua vida, eles viam o galardão.

E nós? Quanto nós olhamos e desejamos o galardão? Entendemos algo acerca dele, acerca do
que nos espera na eternidade? Estamos dispostos a morrer por essa recompensa? Não
poderemos dizer que sim se não entendemos algo acerca disso. Precisamos meditar no seu
significado e nos aprofundar um pouco no que nos espera nos céus. Portanto, quero lhes fazer
um convite para olharmos por uma pequena janelinha dos céus, para ver o que há lá nos
esperando que vale tanto a pena assim. A seguir vamos a considerar algumas questões a
respeito.

O grande galardão – seu significado nas bem-aventuranças


O que é esse galardão que nos espera? Esta é uma pergunta bastante profunda, pois, sendo
sinceros, ninguém tem um entendimento pleno do que isso signifique. Além disso, embora
chamemos de “o” galardão, na verdade o galardão é um conjunto de recompensas que nos
esperam e não apenas uma única coisa. Na Bíblia há várias promessas diferentes acerca do que
nos espera nos céus. Isto podemos ver, por exemplo, nas próprias bem-aventuranças que
temos considerado até agora. Os bem-aventurados terão o galardão, no qual podemos incluir
a posse do reino dos céus, o consolo, a herança da terra, a fartura, a misericórdia alcançada, o
fato de vermos a Deus e sermos chamados filhos de Deus. Todas estas promessas são juntas,
mas vamos a considerar uma a uma a seguir.

A- A promessa do reino dos céus


O Senhor destacou a mesma promessa na primeira e na última das bem-aventuranças (Mateus
5.3 e 5.10) para ressaltar que este é o maior das recompensas que um crente pode receber.
Esta promessa é que aos bem-aventurados lhes pertence o reino dos céus. Esta é a maior das
promessas das bem-aventuranças porque dela decorrem todas as demais promessas. É no
reino dos céus que encontramos essas outras promessas e não em algum reino desta terra.
Não há reino da terra que possa nos oferecer o que nos oferece o reino dos céus. Somente ali
temos consolo, fartura, misericórdia, etc. Por isso, desejar o reino dos céus é desejar todas as
promessas.

Para o crente, o grande galardão é estar nesse novo céu. Ele não se aferra a esta terra pois
sabe que ela deixará de existir. Mas ai daqueles que vivem para esta terra, que vivem como se
eles permanecerão para sempre aqui! Ai daqueles que esquecem que tanto eles morrerão e
estarão diante do trono do Senhor como também que todo isto material que hoje vivemos
será destruído (2 Pedro 3.11-13). O crente espera o reino destinado para ele desde a fundação

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do mundo. Esse reino nos será apresentado para que tomarmos posse dele, sendo co-
herdeiros do reino junto com Cristo. Como diz em Apocalipse 21.1-2: “Vi novo céu e nova terra,
pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade
santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada
para o seu esposo”.

Porém, um problema atual é a falta de entendimento que as pessoas têm acerca deste
significado. Todas as pessoas, quando são perguntadas, dizem que querem, sim, ir para o céu
quando morrerem. Mas a pergunta que eu lhes faria é: será mesmo que elas querem se
encontrar com o Deus da Bíblia que habita lá no céu? Eles ignoram que nesta bem-
aventurança o reino do céu e o reino de Deus são sinónimos1. Portanto, se é o reino de Deus,
Ele estará ali. Todos querem ir para o céu, mas quão poucos são os que desejam estar na
presença de Deus, no seu reino, para toda a eternidade vivendo junto ao Senhor.
Considerando o texto de Apocalipse citado acima, vejamos agora o verso 3 (Ap.21.3): “Então,
ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus
habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles”. Deus abitará no
meio de nós, nós gozaremos na alegria do Senhor, ele será o centro de tudo. O louvaremos e o
glorificaremos para todo sempre. Então, como uma pessoa que hoje não quer louvar e
glorificar a Deus na sua vida pode querer estar em um lugar onde somente se fará isso em
qualquer coisa que seja feita? O que fazemos hoje já está sendo um treinamento para aquilo
que faremos durante toda a eternidade e disfrutar de Deus será a melhor das recompensas
que um crente poderia de receber na sua vida.

B- A promessa do consolo
Seguindo com o texto de Apocalipse 21, no verso 4 diz: “E lhes enxugará dos olhos toda
lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram”. É isto o que o Senhor Jesus também afirmou nas bem-
aventuranças. Lá nos céus já não existirá nenhum tipo de dor ou sofrimento. E isto é porque
nosso próprio Deus nos enxugará as lágrimas. Não precisaremos ser mais bem-aventurados
por choramos, pois isso acabará. Não precisaremos chorar mais por nossos pecados, pois
estaremos purificados (Efésios 5.27). Não precisaremos chorar mais por causa dos pecados da
humanidade, pois os ímpios já estarão julgados e completamente esquecidos e o justos
brilharão. Também não precisaremos chorar pelas injustiças, pois não haverá mais injustiça
nenhuma. As primeiras coisas passaram. Tudo será alegria na presença do Senhor. Estaremos
lá onde nossa alma sempre desejou estar, e na paz mais profunda que um ser possa imaginar,
no descanso e gozo mais profundo que possamos imaginar. Esse será também um grande
galardão para nossas vidas.

C- A promessa da herança
Também, como o Senhor disse nas bem-aventuranças, seremos herdeiros da terra. Lá
reinaremos junto com Cristo na nova terra. Considere os seguintes textos: “Ora, se somos

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Em Lucas por exemplo, as concordâncias com Mateus são denominadas como Reino de Deus. Mateus
estava se dirigindo aos judeus, que tinham o costume de evitar falar diretamente de Deus para não
violar o terceiro mandamento (Dt.20.7). Para uma explicação mais detalhada sobre os sinônimos de
reino do céu e reino de Deus veja “O Evangelho Segundo Jesus” de John MacArthur, Editora Fiel, p.32-
33.

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filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Romanos 8.17)
e “se perseveramos, também com ele reinaremos” (2 Timóteo 2.12a). Não haverá mais
escravos, servos, nem submissos a autoridade nenhuma, todos seremos como Adão antes da
queda: senhores da Terra. Lá haverá liberdade absoluta, pois todos os que estarão lá o único
que desejarão fazer é trazer a glória para o Cordeiro que os salvou, como diz em Apocalipse
21.23-24: A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória
de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão mediante a sua luz, e os
reis da terra lhe trazem a sua glória”. Não haverá necessidade de vigilância, pois o mal não
estará ali, todos os que estarão ali são os de coração puro. Os que habitarem lá somente
viverão para glorificar a Deus e o Senhor os fará reis e príncipes sobre a terra.

D- A promessa da fartura de justiça


Também lá estaremos completamente fartos da justiça de Deus, pois já estaremos livres do
pecado e, portanto, viveremos em plenitude da justiça. Além disso, quando estejamos lá todas
as obras de injustiça da humanidade já terão sido julgadas. Tudo já haverá sido manifesto e
julgado por Deus. O Senhor já terá aplicado a sua vingança sobre as injustiças dos seus santos
mártires (Apocalipse 6.10-11) e sobre todos os sofrimentos que seus servos tenham passado
pelas injustiças dos homens (Romanos 12.19). Quando estejamos lá, todos já terão
comparecido diante do grande trono branco de Deus para darem conta das suas obras nesta
terra e as obras ocultas, as maldades e injustiças que as pessoas tenham feito e as
esconderam, serão trazidas diante de Deus como um rolo escrito de suas vidas. A Palavra nos
diz simbolicamente que Deus escreve “num livro” as obras dos homens (Apocalipse 20.22-25):

Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra
e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos,
postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida,
foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava
escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os
mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a
morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o
lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para
dentro do lago de fogo.

Oh, que estejamos todos certos de estarmos inscritos no livro da Vida! Nele somente estão
aqueles que foram regenerados em Cristo! Que se submeteram a seu Senhorio e que o servem
fielmente. Lá não estará ninguém que tenha uma obra de injustiça escondida, pois somente
estarão os justos fartos na justiça de Deus.

E- A promessa da misericórdia
Outra promessa que está no próprio texto de acima e que o Senhor também destaca nas bem-
aventuranças é que lá estarão os que alcançaram misericórdia. “E, se alguém não foi achado
inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo”. Estarmos inscritos no
Livro da Vida é por misericórdia de Deus. Hoje já usufruímos da misericórdia de Deus, mas
naquele dia ela se fará completamente visível e clara para toda a humanidade, pois alguns Ele
dirá: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo” (Mateus 25.34b), mas a outros dirá: “Apartai-vos de mim, malditos, para
o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41b). Naquele dia nada será

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mais precioso do que sermos aprovados por Deus, isso nos bastará. Diante de tão terrível juízo
à humanidade, quem poderia presumir pretender mais do que apenas ser aprovado e ser
chamado por Deus para gozar do seu reino? A sua misericórdia será uma parte do grande
galardão também.

F- A promessa de ver a Deus


Além disso, o mundo verá a Deus na sua ira, mas nós o veremos de uma maneira diferente.
Nós o disfrutaremos e nos deleitaremos nEle. O conheceremos de uma maneira nunca antes
revelada. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano
o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios 2.9). Paulo diz neste texto
que o Espírito é quem nos revela, mas há ainda coisas que somente veremos lá, grandes
mistérios de toda a história da humanidade que somente entenderemos lá. Mas o maior de
todos os mistérios que nos será revelado é o próprio Deus. Ele mesmo se revelará a nós de
uma maneira que nunca antes alguém viu. Hoje o vemos pela fé, mas naquele dia estará
diante de nós. Vejam o que nos diz João em 1 João 3.2b: “Sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”. Ainda não
vemos a Deus na plenitude, Paulo compara isto a vermos como através de um vidro
translúcido, mas um dia o veremos face a face: “Porque, agora, vemos como em espelho,
obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como
também sou conhecido” (1.Coríntios 13.12). Os atributos de Deus se farão mais claros e
manifestos ainda para nós, o seu amor será experimentado de uma maneira mais profunda
ainda, a felicidade que temos nEle será completa, sem dúvidas nem medo. Todo o que distorce
a realidade verdadeira passará e vermos a realidade tal como ela de fato é, e veremos a Deus
tal como Ele é. Ora isto não significa que veremos a sua face literalmente. Tem alguns teólogos
que acreditam que isso é impossível para o homem limitado por considerarem textos como o
de 1.Timóteo 6.16: “o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem
homem algum jamais viu, nem é capaz de ver”. Mas a questão aqui que importa é que
gozaremos de Deus e o veremos em nossas vidas de uma maneira como nunca antes o temos
experimentado. Além disso, o Senhor Jesus, a imagem visível do Deus invisível estará conosco.
Ele sim será visto claramente por todas as nações e isto será também um grande galardão para
nós!

G- A promessa de sermos chamados de filhos


Finalmente seremos chamados de filhos de Deus. Claro que já hoje somos chamados de filhos,
mas isto é olhando para a eternidade. Naquele dia tomaremos a posse formal e assumiremos
frente a todas as nações do mundo esse título. Naquele dia gozaremos de todos os privilégios
por sermos filhos do Criador do universo. Estaremos naquela festa que foi preparada na
parábola do filho pródigo, o qual foi recebido nos braços do seu pai. O nosso Pai estará nos
esperando e nos receberá para estar conosco em eterna comunhão. Oh que bênção que nos
espera com nosso galardão!

O grande galardão – o significado como glorificação


Outra perspectiva diferente sobre o galardão também nos é relatado em algumas das cartas
do apóstolo Paulo. O apóstolo Paulo relata simplesmente outro prisma do mesmo assunto. Na
verdade ele coloca um complemento a isto. Paulo fala da glorificação dos filhos de Deus como
sinónimo a receber o grande galardão de Deus. Considere dois seguintes textos nos quais ele

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fala a respeito: O primeiro texto está em Romanos 8.18: “Porque para mim tenho por certo que
os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em
nós (Romanos 8.18)”. O segundo texto está em 2.Coríntios 4.17-18: “Porque a nossa leve e
momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação,
não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem
são temporais, e as que se não vêem são eternas”. Em ambos os textos Paulo compara os
sofrimentos presentes com a glória do porvir. Ele afirma que os sofrimentos presentes
produzem um “eterno peso de glória”. Compare isto com as palavras do Senhor Jesus na
última das bem-aventuranças estudadas, no capítulo anterior, e verá que Paulo está falando
do mesmo que falou o Senhor, isto é, se alegrar nas tribulações pela glória ou galardão que
nos espera. Este texto afirma que essa glória será eterna e acima de toda comparação (ou em
outras traduções diz: mui excelente). Isto quer dizer que nunca deixará de ser e não haverá
nada melhor do que ela. Outra tradução diz: “uma glória eterna, maior e abundante”.
Portanto, qualquer coisa que anelemos mais do que essa glória é errado, pois ela é o
excelente, é o melhor que poderíamos pretender para a nossa vida, algo que nunca perecerá,
pois será dada para nós pelo Senhor.

Mas o que é essa glória que nos espera? O que ela significa? C.S.Lewis2 explica que o conceito
de glória remete a duas ideias: o primeiro é associado com fama e o segundo é associado com
brilho, com luminosidade.

A- O peso de glória e a fama


A primeira ideia, associada à fama, pode nos remeter a uma ideia mundana de
reconhecimento, de estar acima das outras pessoas, o que não faz parte do caráter cristão.
Mas a ideia de fama e reconhecimento não está longe das Escrituras, mas de uma maneira
bem diferente ao que se anuncia hoje na mídia acerca deste conceito. A ideia de fama dos
cristãos mais antigos não era o da fama conferida pelos homens, mas a fama com Deus,
sermos reconhecidos, aprovados, valorizados, exaltados e estimados da parte de Deus. Tem a
ver com recebermos elogios da parte de Deus. Por exemplo, o Senhor Jesus descreve alguns
tipos de elogios que receberemos, como por exemplo: “muito bem, servo bom e fiel” ou
“venham benditos do meu pai”, ou também nos trata de “escolhidos do Senhor”, todos esses
são reconhecimentos, é o Senhor que carinhosamente está nos reconhecendo. E isso nós dará
prazer, satisfação, será parte do nosso galardão. Como diria Lewis: “[é como o] momento [de]
satisfação de ter agradado àqueles a quem eu corretamente amava e temia. [É] o que pode
ocorrer quando a alma redimida, além de toda a esperança e praticamente além da convicção,
descobre por fim que agradou a Deus, aquele para cujo beneplácito ela foi criada”. Paul
Washer disse alguma vez que todos nós deveríamos nos comportar diante do Senhor como
uma criança diante do seu pai, que em tudo o que ela faz sempre quer que seu pai as veja e se
alegre. Seria como fazer alguma coisa e dizer: “olha papai que bem que eu faço isto”. Vejam as
crianças, elas sempre estão buscando aprovação diante dos seus pais, e sempre estão na
expectativa que seus pais se alegrem com o que elas estão fazendo. É assim que deveríamos
buscar o Senhor, deveríamos agir de tal forma em nossas vidas que possamos achar um sorriso
de aprovação e alegria de parte dEle, de maneira que nosso Pai diga de nós como disse do
nosso Senhor Jesus Cristo: “este é o Meu Filho amado, o qual eu tenho prazer”.

2
C.S. Lewis: “O peso de Glória”. São Paulo: Editora Vida, 2008.

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No dia do juízo final, os eleitos do Senhor serão reconhecidos diante de toda a humanidade. O
Senhor terá prazer em chamá-los para herdar a vida eterna e, portanto, serão glorificados
diante de toda a terra. O mais importante nesse dia será que o Senhor nos reconheça e nos
olhe com um olhar de aprovação e aceitação. Só precisamos pensar o contrário para
entendermos a alegria que isto deveria nos produzir. Imaginem alguém chegando diante do
Senhor e o Senhor olhando com um olhar de ira, de desprezo e preparado para aplicar Seu
justo juízo e nos dizendo: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a
iniquidade” (Mateus 7.22-23). Como diz em Hebreus 10.31: “Horrível coisa é cair nas mãos do
Deus vivo”. Portanto, ter a certeza que Ele vai nos olhar com aprovação e reconhecimento é
uma grande alegria para nós, um grande galardão para nossas vidas!

B- O peso de glória e o brilho da pureza


Por outro lado, C.S. Lewis afirma que pensar em glória nos remete também a pensar no
conceito de brilho, de luminosidade. Sempre que a glória de Deus se manifestou, os homens
não podiam olhar para o Senhor pela luminosidade presente, a presença de Deus e sua glória
faziam com que as pessoas não pudessem olhar. Vejam por exemplo quando a glória de Cristo
foi manifesta a Paulo no caminho a Damasco, o brilho foi tão forte que o deixou cego (At.9.1-
9). Em muitas passagens da Bíblia, o brilho da glória de Deus, também tem a ver com a beleza
e a santidade de Deus. Por exemplo, quando Moisés viu a glória de Deus, seu rosto
resplandeceu tanto que o povo não conseguia olhar para sua face (Ex.34.29). Ele viu a glória do
Senhor e, portanto, ele também foi iluminado e resplandecia. Seu rosto tinha mudado por ter
olhado para o Senhor e visto a sua santidade. Algo assim também acontecerá conosco.

Nós veremos ao Senhor e brilharemos de glória. Nesse dia seremos apresentados diante do
Senhor, vendo-o face-a-face. Mas não seremos apresentados diante da sua santidade como
pecadores e impuros. Naquele dia estaremos brilhando em justiça. Seremos aperfeiçoados
completamente de maneira de sermos apresentados perfeitos e santos, totalmente
purificados de nossos pecados. Isto é explicado em Efésios 5.25-27:

“Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se
entregou por ela, Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,
Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa
semelhante, mas santa e irrepreensível.”

Desta forma será apresentada a Igreja, nós, diante de Cristo. É como o ouro, que quanto mais
puro ele é, mais ele brilha. Seremos perfeitamente puros, pela purificação que o Senhor já
começou hoje em nós, e isso nos fará brilhar de glória. Este é também um grande galardão
para nós!

C- O peso de glória e o brilho do corpo ressurreto


Em terceiro lugar, a associação entre brilho e glória nos remete a mais um aspecto da
glorificação dos filhos de Deus que podemos encontrar nas Escrituras. Esse significado
encontra-se no próprio contexto do texto de 2 Coríntios 4.17-18 que temos analisado. Nesse
contexto, Paulo está falando dos sofrimentos e da deterioração do seu corpo, ou a sua casa
terrestre, como ele a chama na continuação do texto, no cap.5.1. Paulo afirma aqui que não
importa que estejamos nos deteriorando, pois seremos revestidos por um novo corpo, um

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corpo glorificado, e isto tem a ver com o terceiro conceito associado a gloria. Nosso novo
corpo brilhará de glória. Vejam em Filipenses 3.20-21:

“Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus
Cristo, Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso,
segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas.”

Este é outro dos grandes galardões do crente. Considere as pessoas do mundo. Um dos
grandes pesos que o mundo tem é a preocupação pelo corpo. Uns estão constantemente
preocupados porque envelhecem e estão cada vez mais perto da morte. Outros, envolvidos na
futilidade correm atrás de métodos para rejuvenescer, para aparentar menos idade e para
mostrar uma falsa jovialidade. Mas o cristão espera seu o galardão nos céus. Ele espera a
glorificação do seu corpo que será transformado e revestido de imortalidade. Oh que grande
alegria é sabermos que seremos que seremos homens novos, fortes, perfeitos, sadios, esse é
um grande galardão que nos espera, um peso de glória acima de toda comparação!

Considerações finais
Por fim, é necessário também sabermos que haverá diferentes recompensas. “Quem recebe
um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta; quem recebe um justo, no
caráter de justo, receberá o galardão de justo” (Mateus 10.41). Não sabemos bem a ordem de
méritos que haverá, mas o que podemos ter certeza é que o galardão que receberá cada um
será perfeito e nos satisfará completamente. Lá não haverá inveja por outro ter recebido
prémio maior, pois não haverá mais desejos da carne, pecados desse tipo. Não sabemos como
será essa hierarquia, mas sabemos que gozaremos de todas as promessas que vimos acima.
Estaremos em glória, na glória de Cristo, usufruindo do seu reino, o qual também será o nosso
reino.

Resta agora nos perguntarmos: estamos nos preparando para esse reino? Estamos esperando
essas promessas? Há em nós esse desejo por receber as promessas de Deus? Quanto
meditamos a respeito delas em nossas vidas? Estamos nos preparando realmente a cada dia
como se nesta noite o Senhor voltasse a buscar aos seus ou somos tolos como aquelas cinco
donzelas da parábola de Jesus, as quais não prepararam suas lâmpadas com óleo para quando
viesse o noivo a busca-las no meio da madrugada? Será que não somos como aquele servo
infiel que achou que o seu Senhor demoraria demais e, portanto, não cuidou das posses do
seu Senhor ou talvez somos como aquele que enterrou seu denário e não produziu nada no
tempo que seu Senhor não estava? Que o Senhor nos poupe de sermos assim e que ele nos
leve a refletir constantemente acerca da vida celestial, de tal maneira que estejamos a cada
dia nos preparando para sermos dignos de entrar no reino dos céus! Considere como termina
a Bíblia, o último trecho de toda a Escritura diz o seguinte:

“Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo
continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. E eis que venho sem
demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas
obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Bem-
aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes
assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas. Fora ficam os cães, os
feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a

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mentira. Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a
Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã. O Espírito e a noiva dizem: Vem!
Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a
água da vida. Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se
alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste
livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a
sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro.
Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém!
Vem, Senhor Jesus!” (Apocalipse 22.11-20)

Meu desejo e a minha oração ao Senhor é para que todos nós continuemos a nos
santificarmos e que possamos dizer como disse, no final, o apóstolo João às palavras de Jesus
escritas neste texto de acima: “Amém! Vem, Senhor Jesus!”.

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