Pan Africanismo

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Cláudia Miguel João

Josseline Ambelikola

Nelito Tuiar

Conferencia Pan – Africanismo

(Booker T. Washington, William Edward Burghardt Dubois e Marcus Garvey)

Licenciatura em Ensino de Filosofia com Habilitações em Ética

Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2022
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Cláudia Miguel João

Josseline Ambelikola

Nelito Tuiar

Conferencia Pan – Africanismo

(Booker T. Washington, William Edward Burghardt Dubois e Marcus Garvey)

Trabalho de carácter científico a ser


entregue no Departamento de
Letras e Ciências Humanas,
recomendado pelo docente da
cadeira de Filosofia Africana 1,
2ºano.
MA. Ricardo Afonso Batalha

Universidade Rovuma

ExtensãoCabo Delgado

2022
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Índice
Introdução..........................................................................................................................4

1. Pan-Africanismo: origem..............................................................................................5

2. Edward Blyden – Pai do Pan-africanismo.....................................................................6

3. Booker T. Washington...................................................................................................7

4. Du Bois..........................................................................................................................8

5. Marcus Garvey............................................................................................................10

Conclusão........................................................................................................................13

Referências Bibliográficas...............................................................................................14
4

Introdução

O presente artigo analisa algumas perspectivas do conceito de pan-africanismo com o


intuito de ilustrar as movimentações dos escritores pan – africanos como modo de
reflectir brevemente o contexto de um debate pós-colonial, iniciado por eles. Seguindo
apreciações de estudiosos preocupados com os temas da negritude, da solidariedade
negra e da contestação à ordem colonial é possível mapear as manifestações de
pensadores através dos quais se compreende os conceitos de cultura e unidade,
elementos chave para essa análise. Apesar da diversidade dos espaços nacionais,
escritores afro-americanos e africanos foram responsáveis pelo surgimento da ideia e do
conceito de pan-africanismo, bem como pela luta por direito dos povos negros a
variadas esferas da vida política. Abordando análises importantes de pensadores como
Edward Blyden, Marcus Garvey e W.E.B. DuBois, Léopold Senghor e Kwame
Nkrumah há uma possibilidade de se delinear perspectivas teóricas pelas quais tais
pensadores se debruçaram para constituir as definições do pan-africano e do pós-
colonial, um debate ainda hoje importante para a historiografia actual.

Objectivo Geral

 Compreender o movimento Pan – Africano

Objectivos Específicos

 Explicar o surgimento do Pan – Africanismo


 Apresentar alguns dos principais defensores do Pan – Africanismo
 Analisar o principal marco do movimento Pan – Africanista

O trabalho é de carácter avaliativo além de servir material de consulta sobre a


conferência Pan - Africanismo. No que diz respeito a metodologia usada durante a
elaboração desde trabalho, foi necessária a consulta bibliográfica e fontes cibernéticas.

A estrutura do trabalho, obedece as normas de elaboração e publicação seguidas pela


Universidade Rovuma, Introdução, Desenvolvimento do conteúdo, Conclusão e a
respectiva Bibliografia.
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1. Pan-Africanismo: origem

Segundo (DRACENE, 1962, p.13). “Antes de dar início à narrativa do surgimento da


ideologia Pan-africana duas observações devem ser feitas. A primeira refere-se à
semântica. Embora a nomenclatura Pan-africanismo, à primeira vista, deixe implícita
uma relação estreita com o continente africano, cabe ressaltar que essa ideologia tem
origem nos países da América anglófona”.

A segunda é que a ideologia Pan-africana pode ser entendida ou abordada sob duas
perspectivas. Uma, como projecto de libertação – que será tratado nesse artigo – e a
outra, como projecto de integração. Dessa maneira, para o entendimento do Pan-
africanismo como ideologia de libertação, torna-se imprescindível a compreensão do
contexto no qual essa corrente teórica surgiu e como suas vertentes políticas foram
consolidadas.

Antes da formação do movimento Pan-africano como movimento político, o


Panafricanismo nasceu da oposição aos tráficos escravistas nas Américas, Ásia e
Europa, onde foram materializados os experimentos psicológicos e sociais que fizeram
surgir protestos e revoltas de cunho internacional, reivindicando a libertação dos
africanos escravizados, bem como, a liberdade e a igualdade das populações africanas
no estrangeiro (HARRIS, 2010, p.861).

No seu início, o Pan-africanismo era apenas uma reduzida manifestação de


solidariedade, restrita às populações de ascendência africana das Antilhas Britânicas e
dos Estados Unidos. Logo, é importante ressaltar que até a primeira reunião Pan-
Africana a denominação “Pan-Africanismo” não havia sido inserida no vocabulário de
contestação racial, ficando a reunião identificada como Conferência dos povos de cor,
idealizada por Henry Silvester Williams em 1890.

O pan-africanismo foi associado durante muito tempo ao ideal de raça tal como
defendido por Appiah (1998, p. 43), mas também ocupou um lugar imprescindível na
análise dos autores das últimas décadas, ainda em períodos de colonização. O legado
colonial não pode ser deixado de lado nessa abordagem, sobretudo, porque em grande
parte foi devido às perspectivas pós-coloniais que houve o interesse pelo retorno às
trajetórias dos pensadores negros. O pós-colonial entra justamente na crítica literária
capaz de recuperar as falas dos pensadores negros tidos, durante muito tempo, nas
margens dos discursos ocidentais (APPIAH, 1998, p.105).

[...] estas tentativas de libertação processadas na África e na diáspora culminaram, entre


1900 e 1935, no movimento pan-africanista; os anos 1920, particularmente, conheceram
6

uma intensa actividade, especialmente, graças aos esforços de Marcus Garvey e W. E.


B. Du Bois, no Estados Unidos da América do Norte, e àqueles dos estudantes
africanos, na França e na Grã-Bretanha. (HARRIS, 2010, p. 850).

O espaço transnacional do pan-africanismo foi fundamental para que houvesse a


circulação dos ideais de unidade e de liberdade para os Estados africanos. Com isso, vê-
se o quanto a circulação dos estudantes africanos nas respectivas metrópoles foi
fundamental para a percepção do papel de subalternidade deles. Era inevitável essa
troca entre a metrópole e os habitantes das colónias, visto que a colonização também
teve seu aspecto envolvente para os colonizadores, encantados com o exotismo ou
mesmo desencantados com a retórica colonial, “O número de estudantes africanos
inscritos nas universidades europeias e americanas cresce de modo intenso, entre 1935 e
1960, e muitos dentre eles não mais retornam ao seu país de origem” (HARRIS, 2010,
p. 851).

Mas qual contribuição os africanos dos diferentes países da diáspora teriam trazido ao
pan-africanismo, desde os anos 1930? A década de 1930 foi importante por conta do
conflito da Etiópia com a Itália, com o qual ficava evidente o descompromisso da
Sociedade das Nações com o colonialismo.

2. Edward Blyden – Pai do Pan-africanismo

Edward Wilmot Blyden foi um pastor e defensor do ideal de personalidade africana,


ideal que ele atrelava a uma noção de solidariedade racial de todos os povos negros.
Influenciou o conceito de negritude que surgiria anos mais tarde e foi um dos primeiros
escritores a defender uma unidade africana ocidental. Desse modo,

Blyden foi um pensador múltiplo, pois ao mesmo tempo lançou o ideal pan-africanista,
tanto por conta de seu recorte no âmbito da negritude (debate do ser - negro) quanto do
afro - centrismo, reanimando o debate sobre a redignificação ao conceito de raça do
século XIX (MUDIMBE, 2013, p. 129)

Blyden nasceu nas Antilhas em 1837 e, após vivenciar o racismo na sociedade norte-
americana, idealizou a África como um espaço que reuniria os negros espalhados ao
redor do mundo. A Libéria era esse lugar idealizado por Blyden e apesar da admiração
pelo capitalismo e dos avanços tecnológicos da virada do século XIX, ele não incluiu os
Estados Unidos no seu projeto pan-africano (CARRILHO, 1975, p. 67).

Blyden propôs a África, e isto pela primeira vez, como referência imediata para o
homem negro. Não mais um povo sem história, mas uma ‘civilização africana
organizada à volta de um sistema corrente de situações e de costumes, animada de
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valores morais e espirituais. O africano não era portanto inferior ao europeu, era
simplesmente diferente, tinha uma personalidade própria’. (CARRILHO, 1975, p. 68)

Segundo Amselle, a personalidade de Blyden tinha três dimensões: um homem de


religião, um filósofo-linguísta e um raciologista. Edward Wilmot Blyden teve uma
atitude mimética em relação às teorias raciais do século XIX e acreditava que era
preciso “regenerar a África” (AMSELLE, 2001 p. 86). Essa reflexão pode ter sido
herdada de parte do pensamento missionário europeu cuja maior preocupação era
“civilizar a África”, levando todo um aporte cultural europeu responsável por essa
regeneração.

A originalidade do pan-africanismo de Blyden era iniciar uma identificação de


pertencimento do negro que, antes de estar enraizado em seu território, dava-se conta de
um espaço originário comum. Com isso, percebe-se uma noção de povo negro
espalhado pelo mundo que poderia ser ao mesmo tempo “nativo” ou “cidadão”. Essa
espécie de mitologia criada por Blyden agrega essa noção de africanidade tão inovadora
para o início do século XX e o continente africano é o ponto de chegada e ao mesmo
tempo lugar “natural do povo negro”, separado pela escravização e pela diáspora
(MBEMBE, 2001, p. 185).

3. Booker T. Washington

Da mesma forma que Dubois, Booker T. Washington (1856-1915), foi contemporâneo


de Henry Silvester Williams, compondo o conjunto dos percussores do pan-africanismo.
Nascido escravo no estado da Virgínia, Booker Tagliaferro Washington (cujo primeiro
nome, era o do seu senhor), posteriormente, viria a se tornar educador e um dos
expoentes da visão pan-africanista. Tendo iniciado seus estudos em uma época tardia no
Hampton Institute, lá recebeu o diploma de professor.

Como Educador Booker T, Washington foi responsável pela fundação do Tuskegee


Institute. Este instituto - que acumulava funções muito maiores que a de uma escola,
transformou-se em um importante centro comunitário disponibilizando cursos para
pastores, professores, fazendeiros, empresários entre outras funções e actividades
(Lopes, 2004, p. 682)

Na visão de T.Washington, a oferta de cursos e actividades - considerando o contexto de


inserção capitalista o qual os antigos escravos estavam submetidos - seria uma das
estratégias para a união, o aprimoramento e a melhoria da comunidade afro-americana.
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Comparado à longa produção académica de Dubois, Booker T Washington, produziu


poucas obras, mas não menos importantes do que os escritos de Dubois. The future of
the american negro (1899) - mesmo ano da publicação de o negro de Filadélfia: um
estudo racial, de Dubois -, Up from slavery (1901) e Tuskegee and its people (1905),
são exemplos de alguns dos escritos que contribuíram para a consolidação do ideal de
unidade pan-africana (Lopes, 2004, p. 682).

A preocupação com a inserção do negro na sociedade capitalista, pós-escravista


americana e suas acções embaçadas no tripé: “propriedade material, respeitabilidade
social e instrução industrial” apontava a economia como caminho central da
organização da comunidade afro-americana dentro da estratégia Pan-africana de
T.Washington, podendo creditar a este a construção do pan-africanismo económico, ou
seja, na visão de Booker T, a utilização da economia como justificativa de
enfrentamento do contexto capitalista era a tática mais apropriada para a organização do
projecto de unidade pan-africana. Por outro lado, a estratégia advogada por
T.Washington foi alvo de contestações por parte de diversas organizações do
movimento negro afro-americano, precisamente, da NAACP de Dubois que considerava
a filosofia Tuskegee subserviente e inerte.

Por outro lado, os membros da organização de T.Washington, ironizavam as ações da


NAACP como uma forma de actuação que objectivava a manutenção e a preservação da
reduzida elite negra traduzindo as duas últimas letras da sigla NAACP, que significa
Associação para o Avanço das Pessoas de Cor, para Associação para o Avanço de
Certas Pessoas como forma de atingir Dubois, sendo o CP, respectivamente “Certain
People”.

4. Du Bois

Contemporâneo de Henry Silvester Williams, William Edward Burghardt Dubois


(1868- 1963), considerado um dos pais do pan-africanismo, deu contribuição
incomensurável para evolução e consolidação da ideia de unidade pan-africana. DuBois
nasceu em Great Barrington, Massachusetts, e no recente contexto segregacionista do
início do século XX, foi o primeiro afro-americano a receber um título de doutor.
Estudou na Universidade Fisk, uma das poucas instituições negras de ensino superior da
época, e concluiu seu Doutorado em sociologia pela Universidade de Havard em 1896,
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realizando, posteriormente, especializações em História e Ciências Sociais na


Universidade de Heidleberg, Alemanha (FINCH, 2009, p.49).

Sua prolixa vida académica tem início com a publicação de: Supression of the african
slave trade (a supressão do comércio escravista africano nos Estados Unidos), obra onde
Dubois traça um panorama do comércio de escravos nos Estados Unidos. Dubois
também foi responsável pelo primeiro estudo de sociologia realizado por afro-
americano com a publicação de sua obra: o negro de Filadélfia: um estudo racial,
publicada pela primeira vez em 1899 e depois republicada em 1967, quatro anos após a
sua morte.

Seu principal livro: almas da gente negra, publicado em 1903 e depois em 1999 foi
considerado um divisor de águas no posicionamento político de Dubois ao romper com
seu antigo aliado Booker Tylor Washington que na interpretação de Dubois advogava
uma posição de acomodação frente ao segregacionista direccionado a comunidade afro-
americana (FINCH, 2009, p. 49).

Fundador do movimento Niágara, organização que antecedeu a criação da Associação


Nacional para o avanço das pessoas de cor (NAACP), Dubois foi responsável pela
fundação da Liga Urbana Nacional e até 1934, editor da revista Crisis da NAACP. Com
o passar do tempo, sua radicalização política obrigou-o a afastar-se da liderança da
NAACP.

A conjuntura política pós - abolição exerceu influência marcante na definição da


concepção Pan-africana de Dubois. Antes de ter fim a Guerra de Secessão,
precisamente, no dia 31 de Janeiro de 1965, os senadores estado-unidenses votaram a
13º emenda responsável por “abolir” a escravidão nos Estados Unidos. Em seguida,
entre 1866 e 1870 foram aprovadas a 14º e a 15º emendas que impuseram para os afro-
americanos os mesmos direitos que os outros cidadãos dos Estados Unidos
(DECRAENE, 1962, p.14).

Embora, juridicamente e independente de suas epidermes os cidadãos americanos


fossem iguais perante a lei, na prática o abismo social, no contexto mencionado,
tornara-se intransponível. Sem acesso à educação, os antigos escravos – considerados
ignorantes – pela elite branca segregacionista foram “impedidos” por todos os meios e
artifícios legais de se manterem próximos da vida política.

A “cláusula do avô”, que mantinha longe das eleições os negros analfabetos, foi um
exemplo ilustre dos obstáculos confrontados pelos antigos escravos. Nesse sentido, por
ser Dubois o primeiro acadêmico afro-americano, via a conscientização racial -
adquirida a partir da educação - como o principal meio de acessibilidade social e
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organização da comunidade afro-americana acerca de seu passado. Assim, credita-se a


Dubois, além da consolidação do pan-africanismo, a abertura da primeira vertente pan-
africana: o pan-africanismo educacional (DECRANE, 1962, p. 14)

5. Marcus Garvey

A noção de pan-africanismo surgiu nesse momento inicial em que o negro norte-


americano questionava seu papel na sociedade norte-americana. Graças às primeiras
reflexões nesse sentido, os negros norte-americanos enfrentavam o início de uma luta
por conquista de direitos, luta que ocorreria por todo o século XX e na qual W. E. B
DuBois, por exemplo, foi um dos activistas políticos que mais buscava inserir o negro
no “sonho americano”, pois em suas produções ele trabalhava para que os afro-
americanos deixassem de ser cidadãos de segunda classe, tendo a perspectiva de maior
participação na sociedade americana.

Entre 1919 e 1926, alguns nativos pan-africanos se organizaram em um movimento


conhecido como “Movimento Garvey” ou “Garveyismo”. Os negros norte-americanos
não tinham condições para votar, muito menos para entrar nos quadros universitários de
Harvard ou Yale, portanto, ao norte e no sul dos Estados Unidos emergiam homens de
negócios, profissionais, artistas, escritores, músicos, alguns se saindo
surpreendentemente bem, e crescia o círculo da inteligência negra do início do século
XX (JAMES, 2012, p. 91).

O seu livro “As almas da gente negra” (1902) indicava erudição e uma dose de
provocação em relação ao sistema de exclusão promovido pela política americana.
Devemos lembrar também que esses primeiros anos reservavam aos negros um lugar de
cidadãos de segunda categoria. Os empregos eram geralmente de serventes, mordomos,
arrumadeiras, motoristas, etc. A influência de Garvey no pensamento de DuBois ainda
não foi totalmente explorada, mas defende-se que, desde o começo do século XX, o
ideal de “diáspora negra” tenha sido esboçado pelo primeiro e defendido mais
enfaticamente pelo segundo autor (NDIAYE, 2008, p. 362-3).

Para compreender melhor a actuação de Garvey na génese do pan-africanismo é


possível recuperar alguns elementos biográficos de sua actuação enquanto militante da
causa negra.

Entre os anos de 1914 e 1918, centenas de afro-americanos migraram do norte para o


sul dos Estados Unidos em busca de melhores empregos e de uma maior aceitação
sociocultural. Somente durante a Primeira Guerra os soldados negros compreenderam
realmente o nível do preconceito pelo qual passavam na América (JAMES, 2012, p. 90).
11

Foi justamente em agosto de 1914 que Marcus Garvey, um negro jamaicano, um


trabalhador de uma gráfica e Amy Ashwood, sua amiga, fundaram a UNIA (Universal
Negro Improvement Association) em Kingston – Jamaica. Eles eram os únicos
integrantes, e ela o colocou como presidente e ele a indicou como secretária. Eles
levaram adiante a propaganda na Jamaica, assim, Garvey foi para os Estados Unidos – a
meca de todos os negros das Índias Ocidentais, pelo menos antes da grande crise
(JAMES, 2012, p. 91).

O movimento popular encabeçado por Garvey assume no primeiro pós-guerra uma


extraordinária dimensão colectiva. Conseguiria atrair milhares e milhares de negros, de
Harlem e de todo o país, explicando-lhes que nos Estado Unidos jamais obteriam a
igualdade completa: a terra prometida era uma vez mais a África-mãe, para onde era
preciso partir em conjunto. (CARRILHO, 1975, p. 71-2)

Marcus e Amy casaram-se e a senhora Garvey foi para Nova Iorque para encontrá-lo em
1918, quando a UNIA chegava então a 17 membros. Em 1919, a UNIA já contava com
5000 membros ligados a sua organização. Quando ele foi preso por caluniar o assistente
do distrito de Attoney, em Nova Iorque, quase todos os negros da América se
mobilizaram pela sua soltura. A “revolução” estava no ar e os afro-americanos estavam
prontos para ela. Em 1920, a UNIA já era proporcionalmente o mais poderoso
movimento de massas na América. Nesse ano, ela já contava com 5 milhões de
membros. Graças a isso, o tamanho da penetração dos ideais de Garvey entre
representantes negros do mundo todo foi aumentando (JAMES, 2012, p. 91-2).

Pode-se definir Garvey ainda como um dos primeiros pensadores a abordar o


pensamento anticolonial, pois a sua noção de retorno ao continente buscava um projeto
de modernização e emancipação com o qual se rompia a perspectiva hierárquica da
colonização. Através de suas ideias podem ter surgido os primeiros rasgos da diáspora
africana, essa preocupação em se reencontrar as raízes e suas especificidades culturais e
raciais ligadas a um ideal de africanidade (SANCHES, 2012, p. 15).

Mesmo com as contradições de seu pensamento, Garvey incentivou um movimento que


ficou conhecido como o “Back to Africa”. Essa foi uma maneira idealizada para dar ao
descendente de africano a possibilidade de retomar a sua dignidade, inclusive
reconectando-o com suas raízes geográficas. Essa foi uma das maiores contribuições de
Garvey, pois o “retorno ao continente” não era um discurso vazio, fortalecendo a
necessidade de revisitar as heranças africanas de modo significativo.

Os negros tinham que pegar a África de volta para eles mesmos. Eles deveriam viver
felizes por lá, como os europeus do continente e os americanos na América. Contudo
12

seu projecto tinha problemas. Como “devolver” o continente de maneira concreta aos
afro-americanos? Em tese, esperava-se dele que adoptasse posturas anti-imperialistas e
Garvey poderia ter feito isso, mas ele atacava temas como o linchamento dos negros nos
Estados Unidos, formulava demandas dos militantes, pedia direitos iguais para os
negros, liberdades democráticas e todo tipo de demanda voltada aos afro-americanos.
Paradoxalmente, seu programa era o “Back to Africa”.

Segundo JAMES (2007, p. 49-50) “Empenhado em devolver a dignidade subtraída dos


negros, Garvey defendeu o slogan de volta ao continente centrando nas autoridades
americanas o seu diálogo, pois ele precisava ainda de incentivos financeiros para
realizar o financiamento das suas viagens para a Libéria”.

Alguns feitos concretos de Garvey eram: a organização das tropas negras (marchavam
uniformizados nas paradas organizadas pela UNIA), a construção do Liberty Hall: um
local voltado para os congressos e demonstrações públicas e a criação da Black Star
Line: uma linha de navios temática que fez na realidade uma ou duas viagens. Essa
linha buscava levar os afro-americanos directo para o continente africano
materializando o projecto de volta ao continente (JAMES, 2012, p. 93).
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Conclusão

O objectivo desse artigo foi fazer uma retrospectiva na trajectória da ideologia de


unidade da pan-africana destacando seus principais pensadores, demonstrando a
existência de diversas vertentes políticas no interior da ideia de pan-africanismo e como
cada pensador concebeu, ao seu tempo, a “melhor” estratégia de como aglutinar as
populações da diáspora para a consolidação da unidade da pan-africana. Após
acompanharmos a trajetória dessa ideologia, percebe-se seu amadurecimento político,
assim como, sua transformação em “ideologia central” do processo de descolonização
do continente africano. Nota-se que a ideologia do pan-africanismo foi entendida por
alguns dirigentes africanos, mais como uma ideologia de libertação do que como um
projecto de libertação.
14

Referências Bibliográficas

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Paris: Flammarion, 2001.

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Janeiro: Contraponto, 1998.

CARRILHO, Maria. Sociologia da negritude. Lisboa: Edições 70, 1975.

DECRAENE, Philippe. O Pan-Africanismo. São Paulo: Difusão europeia do livro,


1962.

FINCH, Charles S; NACIMENTO, Elisa Larkin, I.N. de (Org). Afrocentricidade: uma


abordagem epistemológica inovadora. Vol.4. São Paulo: Selo negro, 2009.

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LOPES, Ney. A enciclopédia da diáspora africana. São Paulo: Selo negro, 2004.

MBEMBE, Achille. “As formas Africanas de Auto-Inscrição”. Estudos Afro-Asiáticos,


Ano 23, n. 1, 2001,

MUDIMBE, Yves V. A invenção da África: gnose, filosofia e a ordem do


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NDIAYE, Pap. La condition noire: essai sur une minorité française. Paris: Calmann-
Lévy, 2008.

SANCHES, Manuela (Org.) Malhas que os impérios tecem: textos anticoloniais


contextos pós-coloniais. Lisboa: Edições 70, 2012.

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