A Imprensa e o Vintismo No Maranhão
A Imprensa e o Vintismo No Maranhão
A Imprensa e o Vintismo No Maranhão
Resumo Abstract
O estabelecimento da imprensa no The establishment of the press in Maranhão
Maranhão (1821) inaugurou no processo (1821) inaugurated in the province’s political
político da província uma nova realidade process a new reality marked by the growing
assinalada pela crescente participação da participation of public opinion in the game of
opinião pública no jogo do poder. Dessa power. Thus, from November 1821 to 1826,
forma, de novembro de 1821 até 1826, a typography came under the control of the
tipografia ficou sob o controle do governo, government, which used it to disseminate and
que a usou para difundir e defender os defend the constitutional principles / vintistas
princípios constitucionais/vintistas e os atos and the acts of the provincial administration.
da administração provincial. O léxico político The political lexicon widens and becomes
alarga-se e complexifica-se. Contudo, é more complex. However, it is revealing the
reveladora a tarefa cívica e pedagógica iniciada civic and pedagogical task initiated by the
pelo jornal O Conciliador do Maranhão em newspaper the Conciliador do Maranhão
prol da necessidade de incutir melhor certos in favor of the need to instill better certain
conceitos políticos tidos por fundamentais para political concepts considered fundamental for
a sociedade maranhense. Assim na imprensa Maranhão society. Thus in the press felt the
sentiam-se os ecos da mudança política e estes echoes of political change and these seemed
pareciam assumir um papel pedagógico de to assume a pedagogical role of educating
educar a sociedade para o exercício do jogo society for the exercise of the political game
político do Estado e da Nação moderna. of the state and the modern nation.
Palavras-chave: Maranhão; Vintismo; Keywords: Maranhão; Vintismo; press;
imprensa; liberalismo; independência. liberalisme; independence.
1
Ana Cristina Araújo, “Revoltas e ideologias em conflito durante as invasões francesas”,
Revista de História das Ideias, n.º 7 (1985), p. 7-90.
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
15
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
ter significado «uma guerra de opiniões», não parece fiável a influência das
lutas napoleônicas na consolidação do ideário liberal em Portugal. A mesma
autora enfatiza que, ao contrário da Espanha, em Portugal não teria existido
em 1808 «um modelo ideologicamente magnético e mobilizador de um pro-
cesso revolucionário»2. Ou seja, tende a considerar-se, no terreno do movi-
mento das ideias, que existe uma «origem» do liberalismo que vem de trás3.
Ao pensarmos dessa forma, emerge outra perspetiva associada às conhecidas
e discutidas ideias de Jürgen Habermas4 sobre a emergência do espaço público
na Europa. O autor afirma que o século XVIII seria caracterizável pelo cresci-
mento do «espaço público», entendido como a esfera de circulação de ideias,
de práticas de sociabilidade e de consumos de bens culturais relativamente
autônomos em relação à corte e ao poder político das monarquias. Na mesma
linha, Jorge Borges de Macedo (1979)5 refere o peso da «opinião pública»
antes mesmo da época contemporânea. José Augusto dos Alves Santos, em
seu trabalho A Opinião Pública em Portugal (1780-1820)6, ao apoiar-se nas
correspondências da Intendência Geral de Polícia, rastreou e identificou uma
opinião pública crítica mesmo antes das invasões francesas. Por seu lado, Ana
Cristina Araújo, em seu trabalho sobre A Cultura das Luzes em Portugal7,
dá-nos uma contribuição fundamental para uma nova visão do tema, ao iden-
tificar o papel fundamental da imprensa na emergência das Luzes no espaço
público, e quando destaca a sua abrupta interrupção durante o pombalismo,
com a supressão da Gazeta de Lisboa e a criação da Real Mesa Censória.
Portanto, se a história de Portugal não pode ser entendida fora do contexto
europeu, igualmente não pode fora do contexto imperial. Assim, o mesmo se
deve dizer da história da independência do Brasil, que fica incompreensível se
for colocada à margem das suas ligações não só com a metrópole portuguesa,
mas também com o restante da Europa. Os próprios eventos se incumbiram de
reforçar tais conexões.
2
Op. cit., p. 72.
3
Cf. José Arriaga, História da Revolução Portuguesa de 1820. vol. 1,1886, p. 177; Vasco
Pulido Valente, “O povo em armas: a revolta nacional de 1808-1809”, Análise Social, vol. XV,
n.º 57 (1979).
4
Jürgen Habermas, L’Espace Public. Archéologie de la publicité comme dimension consti-
tutive de la société bourgeoise, Paris, Payot, 1978.
5
Jorge Borges de Macedo, História diplomática portuguesa. Constantes e linhas de força,
Lisboa, Instituto da Defesa Nacional, 1979.
6
José Augusto dos Santos Alves, A Opinião Pública em Portugal (1780-1820), Lisboa,
Univ. Autônoma de Lisboa, 2000.
7
Ana Cristina Araújo, A Cultura das Luzes em Portugal. Temas e problemas, Lisboa, Livros
Horizonte, 2003.
16 Maria Bertolina Costa
Em 1808, Portugal transfere sua capital política para o Brasil, fato abso-
lutamente singular na história europeia e por via do qual promoveu a recons-
trução dos espaços políticos da monarquia. No Reino ficaram a Regência e
depois as Juntas de Governos que, nas suas diversas modalidades e compo-
sição, mantiveram as funções de gestão corrente dos assuntos do Reino até
18208. No Brasil, para agilizar o processo governativo, foi necessário criar
novos órgãos que apontavam para a inversão do estatuto colonial, como os tri-
bunais superiores, a Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens;
a administração judiciária foi complementada com a elevação do tribunal do
Rio de Janeiro, a Relação, à Casa de Suplicação, em maio de 1808. Esse tri-
bunal da justiça deliberava os pleitos em última instância, exercendo suas fun-
ções, no primeiro ano, sobre o Pará e o Maranhão, sobre a Relação da Bahia,
que foi mantida, e, fora do território brasileiro, sobre as ilhas dos Açores e da
Madeira. Mais tarde, foram criadas mais duas novas Relações: a do Maranhão
em 1812, e a de Pernambuco em 18219. Além desses órgãos foi criada a Real
Junta do Comércio e Agricultura, Fábricas e Navegação do Estado do Brasil e
Domínios Ultramarinos que absorveu as funções da Mesa de Inspeção do Rio
de Janeiro. Foram instituídos o Conselho Militar e o Conselho de Justiça; a
Intendência Geral da Polícia, que além de policiar a cidade, contra «os pertur-
badores da ordem civil», também iniciou a urbanização do Rio de Janeiro10;
a Chancelaria-Mor do Estado do Brasil, semelhante à de Lisboa, a Impres-
são Régia e o estabelecimento do Registro de Mercês. A América portuguesa,
esteve desprovida de tipografia até 180811, e de instituições de ensino superior
até 1827, enquanto a elite intelectual brasileira se movimentava na esfera do
pensamento e da cultura de Portugal, especialmente em Coimbra; entretanto
as classes marginalizadas, imersas na cultura oral, continuavam sem conhe-
cer a escrita. Nesse quadro, as questões políticas e públicas interessavam a
poucos, até por causa das distâncias físicas entre Lisboa, centro de decisão
político-administrativo, e as cidades litorâneas brasileiras. Todos estes órgãos
representavam, até certo ponto, uma duplicação da estrutura política e institu-
cional da monarquia.
8
Ana Leal de Faria; Maria Adelina Amorim (coords.), O Reino sem Corte: a vida em Portugal
com a Corte no Brasil,1807-1821, Lisboa, Tribuna da História, 2011.
9
Luís Norton, A corte de Portugal no Brasil, São Paulo, Companhia Editora Nacional;
Brasília, INL, 1979.
10
Luiz Carlos Villalta, O Brasil e a crise do antigo regime português (1788-1822), Rio de
Janeiro, FGV Editora, 2017.
11
Isabel Lustosa, O nascimento da imprensa brasileira, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2003.
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
17
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
Para além desses espaços institucionais, a própria colônia teve seu estatuto
constitucional reforçado, com a elevação a Reino Unido, em 181512. O centro
político do império iria se localizar no interior do domínio, promovendo ine-
vitáveis transformações em ambos os polos da relação do império. Apesar dos
limites com que operavam os estrategas políticos do período joanino, limi-
tando o alcance das reformas estruturais por eles pretendidas, é inegável que o
sentido da fiscalidade se alterava, ganhando impulso interno. Porém, os efei-
tos negativos dos novos e generalizados tributos provocariam profundo des-
contentamento nas populações sujeitas a impostos como a «décima urbana», a
«meia sisa», o «selo de papéis», «legados e heranças», entre outros. No Norte,
estes descontentamentos se fizeram sentir de forma mais intensa, onde a pre-
sença do rei não podia, como no Rio de Janeiro, compensar a pressão fiscal
com maiores e mais rentáveis oportunidades de ganho. Um dos mais notórios
foi a Revolução Pernambucana de 181713, e mais tarde a Confederação do
Equador (1824), de cunho federalista, onde se defenderam o poder local e a
autonomia das províncias14.
Para além desses efeitos, a presença da corte no Rio de Janeiro, no âmbito
da política serviu também para exacerbar os conflitos no interior do aparelho
do Estado, pois tanto os novos cargos criados na corte, como os contratos
régios passaram a ser objeto de profunda disputa entre os filhos da terra, cujos
espaços se vinham ampliando desde meados do século XVIII, e os «estrangei-
ros» que, tendo chegado com a corte, procuravam fazer valer os privilégios
dos nascidos no reino. O Rio de Janeiro tinha ares e postura semelhantes a
Lisboa e despertou ressentimento nas outras províncias. O problema é que,
enquanto o Sul e o Sudeste experimentaram os benefícios do desenvolvimento
econômico estimulado pela capital, aos habitantes do Norte restaram os altos
impostos que não revertiam em seu benefício, restando-lhes portanto custear
a nobreza e a burocracia do governo central.
Em 24 de agosto de 1820, é em nome da Constituição, da Nação, do Rei
e da Religião Católica que o pronunciamento militar da cidade do Porto abre
caminho à chamada Revolução Vintista e, consequentemente, à derrocada do
12
Ana Cristina Araújo, “O ´Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves`: 1815-1822”, Revista
de História das Ideias, Coimbra, vol. 14 (1992), p. 233-261.
13
Para discutir o tema ver o texto de Denis Bernardes, “Pernambuco e o Império (1822-1824):
Sem Constituição Soberana não há união” in Eduardo França Paiva (org.), Brasil-Portugal:
sociedades, culturas e formas de governar no mundo português (Séculos XVI-XVIII), São Paulo,
AnnaBlume, 2006, p. 228.
14
Evaldo Cabral de Mello, A outra independência: o federalismo pernambucano de 1817 a
1824, 2ª edição, São Paulo, Editora 34, 2014.
18 Maria Bertolina Costa
Antigo Regime português 15. Num plano mais geral, a regeneração política
deveria estender-se a todas as regiões do Império, principalmente ao Brasil,
com o compromisso de «banir o despotismo», considerado responsável por
todos os males da sociedade16. A finalidade de reunir representantes da nação
portuguesa para a criação de um novo pacto político, assente numa nova
Constituição, presidiu também à convocação de representantes ultramarinos
para as Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa,
que tiveram a sua sessão inaugural em 26 de janeiro de 182117.
A adesão das províncias do Norte do Brasil, da Bahia, de Pernambuco, do
Pará, e mais tarde do Maranhão ao Vintismo refletiu-se, portanto, na composi-
ção do Soberano Congresso em Lisboa. A sintonia e os desfasamentos criados
pela liberalização política no Maranhão têm sido objeto de alguns estudos
15
Para saber mais sobre o Vintismo ver: Isabel Nobre Vargues, A Aprendizagem da Cidada-
nia em Portugal 1820-1823, Coimbra, Edições Minerva, 1997; Zília Osório de Castro, Cultura
e Política. Manuel Borges Carneiro e o Vintismo, Lisboa, Instituto Nacional de Investigação
Científica, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, 1989; Benedicta
Maria Duque Vieira, A Formação da Sociedade Liberal, (1815-1851), Centro de Estudos de
História Contemporânea Portuguesa, ISCTE, Lisboa, 2005; História de Portugal (direção: José
Mattoso), Vol. V. O Liberalismo (1807- 1890), Lisboa, Editorial Estampa, 1993; Víctor de Sá
Pereira, Instauração do Liberalismo em Portugal, Lisboa, Livros Horizonte, 1985; J. B. S. L.
Almeida Garrett, Escritos do Vintismo (1820-1823), Lisboa, Estampa, 1985; J. B. S. L. Almeida
Garrett, Doutrinação da Sociedade Liberal (1824-1827), Lisboa, Estampa, 1991; Nuno Gonçalves
Monteiro, Elites e Poder entre o Antigo Regime e o Liberalismo, Lisboa, ICS, 2003; M. Cândida
Proença, “As cartas de adesão ao movimento liberal (1820-1823)” in F. M; Domingues Costa;
Nuno Gonçalves Gonçalves (org.), Do Antigo Regime ao Liberalismo, 1750-1850, Lisboa, Vega,
1989, p. 131-14; Jaime Raposo Costa, A Teoria da Liberdade. Período de 1820 a 1823, Coimbra,
1976; A. P. Ribeiro dos Santos, A Imagem do Poder no Constitucionalismo Português, Lisboa,
ISCSP, 1990; Benedita Duque Vieira, O Problema Político Português no Tempo das Primeiras
Cortes Liberais, Lisboa, Sá da Costa, 1992; Ana Cristina Araújo, “Linguagem e Leituras do
Contrato Social nos alvores da Revolução Liberal em Portugal”, Revista de História da Sociedade
e da Cultura, Centro de História da Sociedade e da Cultura-CHSC- Universidade de Coimbra,
2013; M. de Lourdes Lima dos Santos, “Sobre os intelectuais portugueses no século XIX (do
Vintismo à Regeneração)”, Revista Análise Social, vol. XV, 57 (1979), Instituto de Ciências
Sociais da Universidade de Lisboa, p. 69-115; Luís Reis Torgal, “A Contra-Revolução durante o
período Vintista. Notas para uma investigação”, Revista Análise Social vol. XVI, 61-62 (1980),
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, p. 279-292; A. Duarte Almeida, Liberais
e Miguelistas. Reinado de D. João VI, Regência de D. Isabel Maria, D. Miguel I, regência de D.
Pedro 1817-1834, Colecção Portugal Histórico, Lisboa, Livraria João Romano Torres & Cia, 1971.
16
Valentim Alexandre, “O nacionalismo vintista e a questão brasileira: esboço de análise
política” in Miriam H. Pereira, O Liberalismo na Península Ibérica na Primeira Metade do
Século XIX, 1.º Vol., Lisboa, Ed. Sá da Costa,1981.
17
Galeria dos Deputados das Cortes Geraes Extraordinarias e Constituintes da Nação Portu-
gueza: instauradas em 26 de janeiro de 1821. Epocha I. Lisboa: na Typographia Rollandiana,1822.
Sala Ferreira Lima, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Cota: FL 2, 6, 8, 8.
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
19
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
18
Luís Antônio Vieira da Silva, História da independência da província do Maranhão (1822-
1828), 2ª ed., Rio de Janeiro, Companhia Editora Americana (Coleção São Luís, vol 4), 1972.
19
Francisco Adolfo de Varnhagen, História Geral do Brasil, Rio de Janeiro/São Paulo,
Laemmert, 1907; Sérgio Burque de Holanda, História Geral da civilização brasileira, São Paulo,
Difusão Europeia do Livro, Tomo II, vol I, 1960; Renato Lopes Leite, Republicanos e Libertários.
Pensadores Radicais no Rio de Janeiro (1822), Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999; Caio
Prado Júnior, Evolução política do Brasil: Colônia e Império, 15ª edição, São Paulo, Brasiliense,
1986; Oliveira Vianna, O ocaso do Império, 3ª edição, Rio de Janeiro, Academia Brasileira de
Letras, 2006; Manuel de Oliveira Lima, Formação histórica da nacionalidade brasileira, 3ª
edição, São Paulo, Publifolha/Rio de Janeiro, Topbooks, 2000; Evaldo Cabral de Mello, A outra
Independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824, São Paulo, Editora 34, 2004.
20 Maria Bertolina Costa
20
Galeria dos Deputados das Cortes Geraes Extraordinarias e Constituintes da Nação Portu-
gueza: instauradas em 26 de janeiro de 1821. Epocha I. Lisboa: na Typographia Rollandiana,1822.
Sala Ferreira Lima, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Cota: FL 2,6,8,8.
21
Isabel Nobre Vargues; Maria Manuela Tavares Ribeiro, “Estruturas políticas: parlamento,
eleições, partidos políticos e maçonarias” in José Mattoso (dir.); Luís Reis Torgal e João Lourenço
Roque (coord.), História de Portugal. Quinto Volume: O Liberalismo (1807 a 1890), Lisboa,
Editorial Estampa, 1993, p. 183-213.
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
21
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
22
Zília Osório de Castro (dir.), Dicionário do Vintismo e do primeiro Cartismo: 1821-1823
e 1826-1828, Prefácio. vol I, Lisboa, Assembleia da República; Porto, Afrontamento, 2002.
23
Fernando Catroga, “´Quimeras de um façanhoso império`: o patriotismo constitucional e
a independência do Brasil” in Jacqueline/Azevedo Herman; Francisca L. Nogueira; Fernando
Catroga (organizadores). Memória, escrita da história e cultura política no mundo luso-brasileiro,
Rio de Janeiro, Editora FGV, 2011, p. 327-387.
24
Vitor Sá, “Factores de crise do liberalismo em Portugal” in O Liberalismo na Península
Ibérica na primeira metade do século XIX, comunicações ao colóquio, Volume 1, Lisboa, Sá de
Costa Editora, 1981, p. 27-30; J. S. da Silva Dias, “A revolução liberal portuguesa: amálgama
e não substituição de classes” in O Liberalismo na Península Ibérica na primeira metade do
século XIX, comunicações ao colóquio, Volume 1, Lisboa, Sá de Costa Editora, 1981, p. 21-25;
Nuno Gonçalo Monteiro Elites e Poder entre o Antigo Regime e o Liberalismo, Lisboa, Imprensa
de Ciências Sociais, 2007.
25
Joel Serrão; A. H. de Oliveira Marques (dir.) e Maria Beatriz Nizza da Silva (coord.),
Nova História da Expansão Portuguesa. O Império Luso-Brasileiro 1750-1822, vol. 8, Lisboa,
Editorial Estampa, 1986.
22 Maria Bertolina Costa
lhe era desfavorável. Por esse motivo, denunciara o Tratado de 1810, que
atingiu a indústria fabril e artesanal, preparando-se para reagir numa conjun-
tura política mais favorável. Entretanto, com o fim do bloqueio continental,
tornou-se incômodo aceitar o Brasil como o centro do sistema.
Os deputados eleitos por todo território continental e ultramarino às Cor-
tes Representativas e Constituintes da Nação Portuguesa não constituíam um
todo homogêneo, havendo entre eles divergências ideológicas e profundos
contrastes de enraizamento territorial. Em situação limite, as Cortes impuse-
ram, sob a capa de adesão a idênticos princípios liberais moderados, a rejeição
do processo de independência do Brasil. Como traço comum, reconheciam-se
os deputados do reino pela fidelidade, pragmática ou persuadida, à dinastia
de Bragança e a D. João VI, bem como à religião católica26 e pela aceitação
do juramento da Constituição27. Para dar coesão ao sistema representativo, as
Bases da Constituição, inspiradas no texto constitucional de Cádis de 1812,
consagraram direitos liberdades e garantias para os cidadãos portugueses, a
separação de poderes, judicial, legislativo e executivo, o unicameralismo par-
lamentar e o veto suspensivo do monarca28.
A solução inicial parecia estar no retorno de D. João VI, como também na
criação de uma estrutura política a exemplo das Juntas do Governo Provisó-
rio29 que substituísse a antiga subordinada ao Rio de Janeiro.
26
Zília Osório de Castro (Dir.), Dicionário do Vintismo e do primeiro Cartismo: 1821-1823
e 1826-1828, Prefácio vol I, Lisboa, Assembleia da República; Porto, Afrontamento, 2002.
27
Fernando Catroga, “´Quimeras de um façanhoso império`: o patriotismo constitucional e
a independência do Brasil” in Jacqueline/Azevedo Herman; Francisca L. Nogueira; Fernando
Catroga (organizadores), Memória, escrita da história e cultura política no mundo luso-brasileiro,
Rio de Janeiro, Editora FGV, 2011, p. 327-387.
28
Vitor Sá, “Factores de crise do liberalismo em Portugal” in O Liberalismo na Península
Ibérica na primeira metade do século XIX, comunicações ao colóquio, Volume 1, Lisboa, Sá de
Costa Editora, 1981, p. 27-30; J. S. da Silva Dias, “A revolução liberal portuguesa: amálgama e
não substituição de classes” in O Liberalismo na Península Ibérica na primeira metade do século
XIX, comunicações ao colóquio, Volume 1, Lisboa, Sá de Costa Editora, 1981, p. 21-25; Nuno
Gonçalo Monteiro, Elites e Poder entre o Antigo Regime e o Liberalismo, Lisboa, Imprensa de
Ciências Sociais, 2007.
29
Também chamadas de Juntas do Governo Provisório, criadas a partir 1821, para substituir
os capitães e governadores das capitanias, tendo como competência toda a autoridade e jurisdição
no âmbito civil, econômico, administrativo e de polícia. A criação das Juntas constituiu, por-
tanto, uma verdadeira ruptura com a prática vigente, devido ao caráter eletivo de escolha de seus
membros e à possibilidade de representação de interesses locais por via constitucional. Também
serviu como tentativa de controlar a atuação independente do príncipe regente D. Pedro (Andréa
Slemian, “Delegados do chefe da nação: a função dos presidentes de província na formação do
Império do Brasil, 1823-1834”, Almanack brasiliense, n.º 6 (2007), São Paulo, p. 20-38).
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
23
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
30
O governador pertencia a uma família de militares que lutou contra os franceses na
Península Ibérica e, posteriormente, participou das campanhas no Rio da Prata. Governou o
Maranhão de 1819 a 1822. Era genro do Conde de Amarante, à época governador da província de
Trás-os-Montes; seu cunhado, também Conde de Amarante, foi um dos líderes da Vilafrancada,
reviravolta que possibilitou nova ascensão na carreira de Pinto da Fonseca que, ao regressar
a Portugal, acumulou títulos e cargos (Marcelo Cheche Galves, “Comemorações vintistas no
Maranhão (1821-1823)”, Revista Outros Tempos. Volume 8, número 12 (dezembro de 2011),
Dossiê História Atlântica e da Diáspora Africana, Universidade Estadual do Maranhão).
31
Arquivo Histórico Ultramarino/Conselho Ultramarino-009, Cx. 166, Doc. 12094. 1821,
Abril, 30. São Luís do Maranhão. Carta do governador e capitão-general do Maranhão, Ber-
nardo da Silveira Pinto da Fonseca, para o rei D. João VI, expondo as razões que motivaram
a mudança política verificada na capitania e analisando os seus deveres como homem público
e como cidadão.
32
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BN), Seção de Manuscritos, 5, 4, 15. Ao ministro
Thomaz António de Villanova Portugal, com pedido para que encaminhasse ao rei, enviou os
Acontecimentos políticos ocorridos na capital do Maranhão no dia seis de abril (1821); Insti-
tuto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), lata 58, pasta 35. Exposição do Governador do
24 Maria Bertolina Costa
36
André Roberto de Arruda Machado, A quebra da mola real das sociedades. A crise polí-
tica do Antigo Regime Português na província do Grão-Pará (1821-1825). Tese (Doutorado
em História) Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2006, p. 93-95.
37
Assembleia da República. Catálogos Gerais: Diario das Cortes Geraes Extraordinarias
da Nação Portugueza. Sessão de 4 de julho, 1821. p. 1436/1437, (http://debates.parlamento.pt/
catalogo/mc/c1821/01/01/01/118/1821-07-04/1436, consultado em 2016.12.05). Os princípios
gerais estabelecidos pela lei eram: a abolição da censura prévia («licenças» da Real Mesa Censória
e do Ordinário), punição dos abusos de liberdade de imprensa e criação de um tribunal especial
de proteção da liberdade de imprensa.
38
Para saber mais, ver: Isabel Lustosa, O nascimento da imprensa brasileira, Rio de Janeiro,
Jorge Zahar, 2003; Tânia Regina Luca, “Fontes Impressas: História dos, nos e por meio dos
periódicos” in Carla Bassanezi Pinsky (org.), Fontes Históricas, São Paulo, Contexto, 2005.
26 Maria Bertolina Costa
39
Isabel Lustosa, Insultos Impressos. A Guerra dos Jornalistas na Independência (1821-
-1823), São Paulo, Companhia das Letras, 2000, p. 26-27.
40
O Conciliador do Maranhão. Maranhão: Typ. Nacional, 1821-1823. De cunho conservador,
servia a política do governador Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca. O jornal foi pioneiro nas
atividades jornalísticas da província Maranhense. Estava ao serviço dos portugueses, já que fora
uma voz veemente contra a independência política do Brasil, de modo que como órgão oficial
não podia ir contra o governo que o sustentava. Conciliador do Maranhão teve início como
folha manuscrita, divulgada regularmente por sete meses, mas em abril de 1821 passou a ser
impresso e prosseguiu em atividade até julho de 1823, aquando da adesão da província à causa
da Independência. Sua publicação impressa começou a 15 abril 1821 e encerrou em 12 junho
1823. A partir do n.º 77, passou a chamar-se O Conciliador do Maranhão. Sua periodicidade
era bissemanal. (Fundação Cultural do Maranhão. Biblioteca Pública Benedito Leite. Jornais
Maranhenses, Anno: 1821. São Luís: Sioge, 1981).
41
José Antônio da Cruz Ferreira Tezo (padre Tezinho) era um dos redatores do jornal, no bom
estilo dos clérigos que atuavam no Brasil no início do século XIX. O padre se envolveu em atividades
diversas, acumulou atribuições religiosas, jornalísticas e mercantis; foi proprietário de um botequim,
de uma casa de bilhar e uma botica. Seguramente, as atividades do padre Tezinho iam além do altar,
do prelo, e do balcão. No início de 1823, foi eleito deputado para Cortes pelo Maranhão. Esteve à
frente do jornal O Conciliador do Maranhão, por mais de dois anos. Período surpreendente para
os parâmetros da imprensa brasileira (Cesar Augusto Marques, 1888, p. 167-220).
42
O jornalista era homem de confiança de Pinto da Fonseca, exercia também funções no
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
27
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
governo, na direção da Tipografia, além de ser responsável pelas peças encenadas no Teatro
União. Tendo sido expulso do Maranhão em 15 de setembro de 1823, por decisão da Câmara
Geral (Arquivo Nacional Fundo Diversos, Caixa 741ª).
43
Diario das Cortes Geraes Extraordinarias da Nação Portugueza. Sessão de 7 de julho,1821.
p. 1437 (http://debates.parlamento.pt/catalogo/mc/c1821/01/01/01/118/1821-07-04/1437, con-
sultado 2016.12.05).
44
Sebastião Barros Jorge, A Linguagem dos Pasquins, São Luís, Maranhão, Lithograf, 1998.
45
Manoel Odorico Mendes nasceu a 24 de janeiro de 1799 em São Luís e morreu a 17 de
agosto de 1864 em Londres. Foi considerado exposto na casa de Manoel Mendes Farias, irmão
do seu pai que o criou até aos 16 anos de idade. Concluídos os estudos preparatórios em São
Luís, foi enviado para estudar na Universidade de Coimbra e cursar Medicina. Matricula-se no
primeiro ano na Faculdade de Matemática como voluntário, no ano letivo de 1816/1817, e residiu
nesse ano na Rua dos Estudos, n.º 346. No segundo ano matricula-se novamente na Faculdade
de Matemática como voluntário, agora em nova residência, na Rua do Borralho, n.º 35. No ano
letivo de 1818/1819 matricula-se na Faculdade de Filosofia, onde cursou as cadeiras de Filosofia
no segundo ano, e Botânica e Química (Chymica) no terceiro ano, agora com residência na Rua
da Mathematica, n.º 50. Odorico foi colega de turma de mais dois maranhenses, Antônio Belfort
Pereira de Burgos e Vital Raymundo da Costa Pinheiro.
46
João Antônio Garcia de Abranches, redator do jornal Censor (1825) estreou a sua carreira
de publicista em 1822, com o folheto Espelho crítico-político. Em contextos políticos distintos,
o folheto e o posterior jornal expressaram a preocupação do autor com as condições para o
exercício da lavoura e do comércio no Maranhão. Registe-se ainda a frequência com que nego-
ciantes, como o comendador Antônio José Meirelles, se vincularam às atividades do Conciliador,
patrocinando subscrições, financiando suplementos ou tecendo considerações sobre a situação
política provincial
28 Maria Bertolina Costa
47
O Conciliador do Maranhão. Maranhão: Typ. Nacional, 1821-1823. Fundação Cultural
do Maranhão. Biblioteca Pública Benedito Leite. Jornais Maranhenses. São Luis, anno 1821,
N.º 01, p. 1.
48
Quartel no Campo de Ourique, na área central de São Luís, onde hoje está situado o Liceu
Maranhense e a Praça Deodoro.
49
O Conciliador do Maranhão. Maranhão: Typ. Nacional, 1821-1823. Fundação Cultural
do Maranhão. Biblioteca Pública Benedito Leite. Jornais Maranhenses. São Luís, anno 1821,
N.º 01, p. 1.
50
Arquivo Histórico Ultramarino-Conselho Ultramarino-009, Cx. 167, Doc. 12168. 1821,
outubro, 24. Maranhão. Representação dos moradores do Maranhão ao Rei D. João VI, infor-
mando sobre o estado do Maranhão e solicitando que o governador, o juiz de fora, entre muitos
outros, fossem substituídos.
51
Diario das Cortes Geraes Extraordinarias da Nação Portugueza. Sessão de 20 de novem-
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
29
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
53
Diario das Cortes Geraes Extraordinarias da Nação Portugueza. Sessão de 20 de dezem-
bro,1821. p. 3477 (http://debates.parlamento.pt/catalogo/mc/c1821/01/01/01/255/1821-12-20,
consultado em 2017.01.20).
54
Geraldo Mártires Coelho, Anarquistas, demagogos e dissidentes; a imprensa liberal no
Pará de 1822, Belém, Cejup, 1993.
55
Diário de Governo, n.º 29, 15 de novembro, 1822. Lisboa: Imprensa Nacional.
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
31
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
56
Geraldo Mártires Coelho, O Vintismo no Grão-Pará: relações entre imprensa e poder
(1820-1823), Lisboa, Tese (Doutoramento) apresentada na F.C.S.H. da U.N.L, 1986; Geraldo
Mártires Coelho, Anarquistas, demagogos e dissidentes; a imprensa liberal no Pará de 1822,
Belém, Cejup,1993.
32 Maria Bertolina Costa
57
Diário das Cortes Geraes Extraordinarias da Nação Portugueza. Sessão de 18 de
dezembro, 1822. p. 191 (http://debates.parlamento.pt/catalogo/mc/cd/01/01/01/019/1822-12-
18/191?q=piauhy%2B, consultado em 2016.12.05).
58
O advogado foi empossado a 7 de agosto de 1823, na presidência da Junta Governativa e
Provisória Constitucional de São Luís, em eleição de 25 de dezembro de 1823.
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
33
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
59
O Conciliador do Maranhão. Maranhão: Typ. Nacional, 1821-1823. Fundação Cultural
do Maranhão. Biblioteca Pública Benedito Leite. Jornais Maranhenses. São Luis, anno 1821,
N.º 01, pp. 6-7.
60
Independência, Pasquins. Documentos enviados a Junta do Governo da Província do
Maranhão contendo Pasquins a favor da Independência. São Luís, Maranhão, 1822-1823.
Biblioteca Pública Benedito Leite- BPBL. Man- 276, M-4AA, G-2, E-11. 9 fls. manuscritas.
34 Maria Bertolina Costa
61
O Conciliador do Maranhão. Maranhão: Typ. Nacional, 1821-1823. Fundação Cultural
do Maranhão. Biblioteca Pública Benedito Leite. Jornais Maranhenses. São Luis, anno 1821,
N.º 01, p. 6-7.
62
O Conciliador do Maranhão. Maranhão: Typ. Nacional, 1821-1823. Fundação Cultural
do Maranhão. Biblioteca Pública Benedito Leite. Jornais Maranhenses. São Luis, anno 1821,
N.º 03, p. 19.
63
Formou-se em Cânones em 1802 pela Universidade de Coimbra.
64
Era natural de São Luís do Maranhão, foi exposto na casa do pároco da freguesia de Nossa
Senhora da Vitória, o reverendo Bernardo Beckman, que o batizou, o criou e o educou. Depois,
foi reconhecido como filho do tenente-general Gonçalo Pereira Caldas, encarregado da província
do Minho. Em 1783, foi habilitado pelo bispo do Maranhão D. Fr. José do Menino Jesus, por
dispensa, às ordens e dignidade eclesiásticas. Em 1807, foi nomeado cônego. Por decreto de 11
de março de 1809, foi condecorado com o hábito da Ordem de Cristo e a professar na Catedral
de São Luís (Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Decretos Honoríficos, cx.787,pc.2, doc.18;
Graças e Mercês. cód. 15, v. 1,fl.164 e 169).
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
35
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
65
Natural de Tomar, Portugal, era neto do desembargador de agravos da Casa de Suplicação,
José de Morais Machado, e filho do desembargador honorário e cavaleiro da Ordem de Cristo
Carlos de Brito Magalhães e Cunha e de Joaquina Josefa Vieira. Era advogado formado pela
Universidade de Coimbra. Em dezembro de 1793, solicitou habilitação para exercer as funções
da magistratura, o que lhe foi concedido em fevereiro do ano seguinte. Era casado com Maria
Gertrudes Belfort Carneiro (Zília Osório de Castro (Dir.), Dicionário do Vintismo e do primeiro
Cartismo: 1821-1823 e 1826-1828, Vol I. Lisboa, Assembleia da República; Porto, Afrontamento,
2002, p. 581-582).
66
Natural de São Luís do Maranhão era filho do cirurgião-mor Leonel Fernandes Vieira e
de Francisca Maria Belfort. Bacharel e doutor em Leis pela Universidade de Coimbra. Foi juiz
de fora de Lagos, no Algarve, até 1812. Através de decreto de 13 de maio de 1812, foi nomeado
ouvidor da comarca do Piauí.
67
Conciliador do Maranhão. Maranhão: Typ. Nacional, 1821-1823. Fundação Cultural do
Maranhão. Biblioteca Pública Benedito Leite. Jornais Maranhenses. São Luis, anno 1821, N.º
03, p. 21.
36 Maria Bertolina Costa
68
Isabel Nobre Vargues, A Aprendizagem da Cidadania em Portugal:1820-1823, Coimbra,
Minerva, 1997, p. 115-116.
69
Biblioteca Pública Benedito Leite. Edital, 8 de abril de 1823. Manuscrito: 274, M-AA,
G-2, E-11. São Luís, Maranhão. Arquivo Ribeiro do Amaral.
70
Arquivo Histórico Ultramarino-Conselho Ultramarino-MA, 009, Cx. 109, Doc. 8579.
Concessão de licença ao alferes do Regimento de Linha José Félix Pereira de Burgos para ir
estudar na Universidade de Coimbra. Este formou-se em Matemática em Coimbra e voltou ao
A imprensa e o Vintismo no Maranhão, Brasil (1820-1823):
37
«por hum Jornal Conhecem os Povos os Governos…»
3. O Maranhão pós-independência
No pós-Independência, a imprensa já estava assegurada, pela Constituição
de 1824, a partir do princípio da liberdade de expressão pública. A legalidade
institucional precocemente atingida dentro de um modelo com enorme poten-
cial de inquietude e abalo das instituições políticas. Neste período, esta célere
notoriedade e reconhecimento só podem ser percebidos no espaço mais amplo
do avanço político da esfera pública brasileira, cuja maior particularidade era
a sua relativa confusão com a política pública do Estado. A imprensa atingiu
um nível de importante reconhecimento devido à sua nobilitação como fer-
ramenta indispensável da prática política, atuando contra o Estado e a favor
dele, pois movia-se entre os diversos grupos, fações, partidos e manifestações,
dentro do espaço da discursividade política nacional e local. Se a expressão
pública era um procedimento necessário à projeção de ideias e interesses, os
jornais atuavam, portanto, como veículos da defesa e conservação do vigor do
jogo político. A imprensa carregava consigo a diversidade deste jogo, porque
atuou nas diferentes posições das fações.
O Maranhão aderiu oficialmente à independência72 e elegeu uma Câmara
Geral e a Junta Provisória do Itapecuru, integrada pelo irmão de José Félix
Pereira Belfort de Burgos, Raimundo Belfort Pereira de Burgos, seu apa-
rentado Antônio Joaquim Lamagnére Galvão e pelo padre Antônio Pinto do
Maranhão em 1807, assumiu o cargo no regimento de linha do Itapecuru, com ajuda do cunhado
de sua mãe, Ayres Carneiro Homem Souto Maior; subiu ao posto de sargento-mor.
71
Jornal Gazeta Extraordinária do Governo da Província do Maranhão, 1823, edição N.º
01, p. 03, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, PR_SOR_00251_001_718122 (http://memo-
ria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=704326&pasta=ano%20182&pesq=, consultado 10 e
20.12.2016).
72
A edição n.º 31 de 1825 do Jornal Argos da Lei traz também informações sobre o Juramento
de adesão do Maranhão à Independência do Brasil.
38 Maria Bertolina Costa
Antônia da Silva Mota, As famílias principais: redes de poder no Maranhão colonial, São
73
77
De família de origem escocesa que se estabeleceu no antigo Estado do Grão-Pará e
Maranhão.
78
Padre Domingos Cadáville Veloso, conhecido como padre Cascavel. Fugido da província
em 1824, após um sermão considerado ofensivo para a administração provincial, escreveu diversos
panfletos contra a administração de Miguel Bruce. Foi o autor das primeiras denúncias contra
Bruce, utilizadas como argumento para a sua deposição. No Rio de Janeiro, escreveu diversos
panfletos sobre o Maranhão, dentre os quais Bruciana, época horrível no Maranhão (1825) faz
um quadro minucioso da situação política da província.
79
Domingos Cadáville Velloso, Bruciana, época horrível no Maranhão, Rio de Janeiro,
Tipografia Nacional, 1825, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
80
Gladys Sabina Ribeiro, A liberdade em construção. Identidade nacional e conflitos anti-
lusitanos no Primeiro Reinado, Rio de Janeiro, FAPERJ/Relume Dumará, 2002.
81
Lord Cochrane, Bando. No impresso Cochrane concede amnistia geral aos delitos políticos
e manda os culpados ou chefes para Justiça da capital do Império. Maranhão, 5 de fevereiro
de 1825. Biblioteca Pública Benedito Leite-BPBL. Man- 298. M-AA.G-2.E-13. 1 fl. Impressa.
40 Maria Bertolina Costa
82
Documento suspendendo a autoridade do Presidente da Província Miguel Ignacio dos
Santos Freire e Bruce e nomeando Manoel Telles da Silva Lobo para o cargo de Vice-presidente.
Maranhão, 25 de dezembro de 1824. Biblioteca Pública Benedito Leite-BPBL. Man- 297.
M-AA.G-E. E-13. 1 fl. impressa.
83
Biblioteca Pública Benedito Leite. Edital, 8 de abril de 1823. Manuscrito: 274, M-AA,
G-2, E-11. São Luís, Maranhão. Arquivo Ribeiro do Amaral.