Aula 9 - Curvas de Transição - UFSC
Aula 9 - Curvas de Transição - UFSC
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CURVAS DE TRANSIÇÃO
R (m) 170 300 500 700 950 1.200 1.550 1.900 2.300 2.800
Fonte: Manual de projeto geométrico de rodovias rurais (DNER, 1999, p. 105).
36 Na prática, essa passagem é suavizada, nas rodovias, devido às dimensões usuais das faixas de trânsito, que propiciam folgas laterais
suficientes para a acomodação das trajetórias dos veículos ao largo das faixas, permitindo que os usuários efetuem manobras conversão mais suaves, não
de forma instantânea (o que ocorre em relação aos traçados ferroviários ?).
82
Como sua própria denominação sugere, uma curva de transição tem a função primária de
permitir a passagem gradativa de um traçado em tangente para um traçado em curva circular.
A formulação intuitiva de uma curva apropriada para tanto está representada no esquema
da figura 6.1, onde a curva de transição, com origem no ponto O e extremidade no ponto C, tem
comprimento total LC (mais adiante se verá como se pode determinar esse comprimento), estando
inserida entre a tangente e a curva circular.
Tangente
C
LC
ρ=
M
R
OM = L
OC = LC
ρ
L
ρ=∞
A curva de transição, com raio ρo = ∞ na origem, tem raio de curvatura (ρ) que diminui
gradativamente ao longo do seu comprimento (LC), até atingir, em sua extremidade, o valor ρc = R,
igual ao raio da curva circular.
Um critério imediato para estabelecer a equação dessa curva de transição consiste em se
imaginar uma geometria tal que a aceleração centrípeta37 atuante sobre um veículo que se desloque
sobre a curva com velocidade linear constante varie gradualmente, ao longo da curva, desde o valor
nulo, no início da curva, até atingir o valor máximo, na sua extremidade.
Num ponto M qualquer da curva, onde o raio de curvatura é ρ, compreendendo um arco de
comprimento L, a aceleração centrípeta (aM) que atua sobre um veículo se deslocando com a
velocidade tangencial v é dada por:
v2
aM =
ρ
A aceleração centrípeta máxima (aC) se verificará na extremidade de curva de transição (no
ponto C), onde o raio de curvatura é R, igual ao da curva circular que se segue, pode ser expressa por:
v2
aC =
R
Admitindo-se a variação linear da aceleração ao longo da curva de transição, ter-se-á:
aM L
=
aC L C
ou, substituindo as acelerações centrípetas pelas respectivas expressões vistas anteriormente:
v2
ρ L
2
=
v LC
R
37 À ação da aceleração centrípeta corresponde a reação representada pela aceleração centrífuga que, atuando sobre a massa do
veículo em movimento, resulta na força centrífuga.
83
A⋅ π
2
O A⋅ π
x
2
Na literatura referente a projetos geométricos, esta curva é também conhecida como espiral
de Van Leber, espiral de Cornu, espiral de Euler ou Radióide aos arcos; esta última denominação é
devida ao fato de se ter admitido variações lineares de parâmetros da concordância, ao longo da curva
de transição, proporcionalmente aos comprimentos dos arcos38.
38 As proporcionalidades poderiam ter sido estabelecidas em função dos raios vetores, no caso de definição de pontos da curva por
coordenadas polares, ou em função de abscissas tomadas paralelamente à tangente, no caso de definição da curva por coordenadas cartesianas,
gerando, respectivamente, as curvas conhecidas como Lemniscata de Bernoulli e Curva Elástica (qual a lógica aparente que ajuda a explicar a escolha da
Clotóide pelas normas do DNER, em detrimento das duas outras curvas citadas?)
84
Neste tipo de transição, que está ilustrado esquematicamente na figura 6.3, procura-se
inserir as duas espirais sem modificações no raio da curva circular nem na sua posição.
É fácil perceber visualmente, observando a disposição da figura 6.3, que isto só é possível
com a diminuição do trecho em curva circular, e com o afastamento das tangentes em relação à
posição da curva circular (esta constatação pode ser confirmada analiticamente).
À vantagem de se conseguir manter o raio da curva circular e ao menos parte do traçado
inicial do trecho em curva circular (em que situações isto pode ser vantajoso ?), contrapõe-se a
necessidade de se deslocar as tangentes para a acomodação das espirais.
O deslocamento das tangentes implica na necessidade de modificações nas duas
concordâncias adjacentes, causando óbvios transtornos.
O
)
(PT
p
R
R
(PC) I
p PI
PI'
A utilização deste tipo de concordância só se justifica quando não se pode evitar um ponto
obrigado situado sobre a curva circular original.
Evitando o deslocamento das tangentes para a inserção das espirais de transição, este tipo
de transição preconiza o afastamento da curva circular, em relação às tangentes, mediante a redução
do raio da curva circular em valor igual ao do afastamento necessário à acomodação dos ramos de
espiral, mantendo-se inalterada a posição do centro da curva circular original, tal como se ilustra no
esquema da figura 6.4.
85
A manutenção do posicionamento das tangentes é uma vantagem clara que este tipo de
transição apresenta em relação ao anterior. No entanto, a manutenção simultânea do centro da curva
circular demanda a redução do raio da curva original para viabilizar o seu afastamento em relação às
tangentes, conforme se pode constatar a partir da observação do esquema da figura 6.4.
R'
p
)
(PT
R
p I
PI
(PC)
A inserção das espirais de transição sem alterar a posição das tangentes pode também ser
feita sem que seja alterado o raio da curva circular.
Isto implica, naturalmente, na necessidade de deslocamento da curva circular para o lado
de dentro da concordância, para que se dê o afastamento necessário à a comodação dos ramos de
espiral, o que reduz também a extensão do trecho em curva circular, como se pode observar no
esquema da figura 6.5.
Sendo mantido o raio da curva circular, o afastamento da curva implica também no
deslocamento do centro da curva – o que não afeta a qualidade da concordância . O próprio
deslocamento da curva, a exemplo do que ocorre no tipo de transição anterior, é relativamente
pequeno e, exceto nas situações especiais já comentadas, não representa transtornos significativos na
prática.
A vantagem de possibilitar a manutenção do raio da curva circular no valor originalmente
desejado, sem alterar a posição das tangentes que se interceptam, torna este tipo de transição o
preferido para uso normal nos projetos das concordâncias. Os outros tipos têm utilização esporádica,
em casos especiais.
86
O'
')
(PT
p
R R
R
)
(PT
(PC')
p I
(PC)
PI
Com a inserção de dois ramos de espiral entre a curva circular e as tangentes adjacentes, a
concordância com curva de transição apresenta 4 pontos singulares a serem definidos (ao invés do PC
e do PT, no caso da concordância com curva circular simples), correspondentes aos pontos de contato
das tangentes com as espirais e destas com a curva circular.
Na figura 6.6 está representado o esquema de uma concordância com espiral de
transição, envolvendo o caso básico em que os dois ramos de espiral são iguais, resultando numa
concordância simétrica.
Observado o sentido de percurso (sentido de estaqueamento) assinalado nessa figura, os 4
pontos singulares referidos são designados39, pela ordem, por:
§ TS (sigla oriunda da denominação original, em inglês, Tangent – to – Spiral), que
corresponde ao início da concordância horizontal, no ponto de passagem da tangente
para a espiral;
§ SC (Spiral – to – Curve), no ponto de passagem da espiral para a curva circular, onde
o raio de curva é comum;
§ CS (Curve – to – Spiral), na passagem da curva circular para a espiral, onde o raio de
curva ainda é o mesmo;
§ ST (Spiral – to – Tangent), no final da concordância horizontal, na passagem da espiral
para a tangente.
39 Há projetistas que preferem identificar estes pontos singulares do eixo pelas siglas TE, EC, CE e ET, formadas pelas letras iniciais das
designações em português da Tangente, da Espiral e da (curva) Circular; outros acrescentam ao primeiro ponto singular as letras E ou D, indicando tratar-
se de concordância à esquerda ou à direita, respectivamente, podendo resultar no uso das designações T SE, TSD, TEE ou TED.
87
c
S
ST
C
L
θ
R
Sc
S
T
CS
DC
Sentido do LC
Estaqueamento
SC
I
TS PI
TS
sR
s
s=0
O M C
L
LC
EXEMPLO 6.1 : Imagine-se que tenha sido projetada, para o PI1 dos alinhamentos representados na
figura 4.3, uma nova concordância horizontal, nas seguintes condições:
§ projeto de rodovia nova em região de relevo ondulado;
§ projeto na Classe II do DNER;
§ concordância com curva de transição (vide tabela 6.1);
§ raio de curva circular R1 = 214,88m;
§ comprimento da curva de transição LC1 = 50,00m.
89
CS1 = 7 + 13,59 m
SC1 = 5 + 12,79 m
ST1 = 10 + 3,59 m
TS1 = 3 + 2,79 m
0,80 m 0,80 m
0,00 m 0,00 m
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
3,59m
17,21m 23,59m
37,21m 43,59m
Qualquer que seja o sentido da curva, observa-se que, devido ao abaulamento, a faixa do
lado interno da curva já está inclinada no sentido correto da superelevação, antes mesmo do início da
curva de transição.
A faixa do lado externo da curva, no entanto, tem inclinação no sentido contrário ao da
superelevação, devendo então tal inclinação contrária ser gradualmente reduzida ainda na tangente, de
forma a que a inclinação resulte nula ao se atingir o início da curva de transição.
Assim, para o caso da faixa externa, além do desenvolvimento da superelevação (eR) a ser
feito ao longo do comprimento da curva de transição (LC), há também outro desenvolvimento – o do
abaulamento ab – a ser feito na aproximação da curva, ainda na tangente, ao longo de um comprimento
(LT) que é denominado de comprimento de transição em tangente, em contraposição à denominação
do comprimento de transição em curva (LC).
eR
Seção transversal faixa interna
a eixo + ab e=0
ab b
faixa externa - ab
LF LF LT LC
EXEMPLO 6.2 : Considerando a mesma concordância horizontal do exemplo 6.1, pode-se elaborar um
diagrama correspondente ao desenvolvimento da superelevação ao longo da concordância, tal como o
representado na figura 6.10 (incentiva-se o leitor a reproduzir o diagrama, para melhor entendimento).
SC1 = 5 + 12,79 m
CS1 = 7 + 13,59 m
ST1 = 10 + 3,59 m
TS1 = 3 + 2,79 m
10 + 16,58 m
3 + 15,78 m
9 + 10,60 m
2 + 9,80 m
7,700% 7,700%
17,21m 23,59m
37,21m 43,59m
não sejam submetidos a esforços laterais significativos devidos a inclinações adversas das faixas, nas
aproximações dos trechos em curva.
Os comprimentos de transição, ou seja, as extensões ao longo das quais se pode proceder
ao desenvolvimento da superlargura e da superelevação, são os mesmos aplicáveis para o caso de se
contar com curvas de transição (ver item 6.6 a seguir). Mudam apenas os critérios para o
posicionamento dessas extensões em relação às curvas circulares.
A prática internacional tem demonstrado que um bom critério é assegurar que cerca de 60%
a 70% da transição seja efetuada na tangente, sendo a extensão restante completada na curva circular.
Em outras palavras, o critério recomendado para o desenvolvimento da superelevação e da
superlargura, numa concordância com curva circular simples, é fazê-lo ao longo de um comprimento de
transição (LC), disposto de forma a que cerca de 2/3 desse comprimento de localize na tangente e o
restante na curva circular, utilizando o PC (e o PT) para o posicionamento desse comprimento de
transição, conforme ilustrado na figura 6.11.
As proporções de disposição não são exatas, sendo recomendável efetuar pequenos
ajustes no posicionamento do comprimento de transição LC de forma a evitar comprimentos
fracionários, fazendo, quando possível, que o início e o término da transição coincidam com estacas
inteiras ou múltiplas de 10,00m.
Fixados o comprimento de transição e o seu posicionamento no eixo de projeto, o
desenvolvimento da superelevação e da superlargura é feito de forma idêntica ao já visto
anteriormente, para o caso de concordâncias com curvas de transição.
R
sR
eR
s 0=0
e 0=0 LC
C
PC
. LC
(PT) (1/3)
.
O (2/3) L C
EXEMPLO 6.3 : A concordância horizontal com curva circular simples descrita no exemplo 4.8 foi
calculada com raio R1 = 214,88m, tendo os pontos singulares da concordância resultado nas estacas:
PC1 = 4 + 7,88m e PT1 = 8 + 18,68m (o leitor verificou os cálculos?).
Tomando-se esta concordância apenas para fins de ilustração40 do critério de
desenvolvimento da superlargura e da superelevação nas concordâncias com curvas circulares simples
(sem curva de transição), imagine-se que seja utilizado o comprimento de transição LC = 50,00m.
40 Num projeto real, para velocidade diretriz superior a 30 km/h, esta concordância teria que ser efetuada obrigatoriamente com curva de
transição (vide tabela 6.1).
93
De acordo com o critério descrito, na concordância com curva circular simples, este
comprimento de transição deverá ser disposto em torno do PC1 e do PT1 da seguinte forma:
§ (2/3) . 50,00 = 33,33 m na tangente;
§ (1/3) . 50,00 = 16,67 m na curva circular.
Se fosse adotado esse rateio exato, os comprimentos de transição (ao longo dos quais se
faria o desenvolvimento da superlargura e da superelevação) resultariam dispostos na forma indicada
esquematicamente na figura 6.12.
PT 1 = 8 + 18,68 m
PC 1 = 4 + 7,88 m
2 + 14,55 m
5 + 4,55 m
8 + 2,01 m
10 + 12,01 m
33,33m 16,67m 16,67m 33,33m
50,00m 50,00m
Caso se optasse por efetuar pequenos ajustes nas proporções, de forma a que o início e o
término do comprimento de transição coincidissem com estacas inteiras (ou múltiplas de 10,00m), em
ambas as extremidades da concordância, os comprimentos de transição resultariam dispostos de
acordo com o esquema indicado na figura 6.13.
8 + 0,00 m
10 + 10,00 m
5 + 4,55 m
50,00m 50,00m
Esta última disposição, em que pese a vantagem de coincidência dos pontos de início e de
fim da transição com estacas inteiras ou múltiplas de 10,00m, apresentaria a desvantagem de resultar
em transição assimétrica, em termos de disposição dos elementos em planta e em seção transversal.
Aplicável somente para curvas com raios grandes, superiores a 800 m, este critério
estabelece um comprimento mínimo de transição dado por:
1
L mín = ⋅ R [6.7]
9
onde:
Lmín : comprimento mínimo de transição para R > 800m (m);
R : raio da curva circular (m).
95
Também denominado por critério da taxa máxima de variação da aceleração centrífuga pelo
DNER, este critério procura determinar o menor comprimento admissível para a transição, de modo a
não sujeitar os usuários a sensações de desconforto e insegurança devidas à rapidez da passagem da
condição de tangente para a de curva circular.
O grau de desconforto dos usuários é indicado empiricamente pela taxa de variação da
aceleração centrífuga41 , ou solavanco transversal, grandeza que expressa o quanto varia a aceleração
transversal por unidade de tempo ao longo da transição.
Ao atingir a curva circular de raio R, um veículo estará sobre uma pista inclinada
transversalmente com a superelevação eR.
No capítulo anterior já foi visto o critério de balanceamento entre as forças laterais devidas à
superelevação e ao atrito lateral, estabelecido de forma a que a soma dessas forças equilibre o efeito
da força centrífuga, conforme expresso matematicamente na fórmula [5.1].
A força lateral devida à superelevação anula apenas parte da força centrífuga, e a diferença
remanescente atua sobre o veículo.
Assim, os passageiros (e as cargas), que estão incorporados à massa do veículo em
movimento, experimentam apenas os efeitos devidos à diferença de forças supracitada.
Essa diferença de forças, projetada num plano paralelo ao da pista superelevada, equivale
ao módulo da força de atrito, conforme se pode deduzir a partir da fórmula [5.1], ou seja:
P ⋅ v2
f ⋅ P ⋅ cos( α ) = ⋅ cos( α ) − P ⋅ sen( α ) = (Fa )
g⋅R
Lembrando que essas forças atuam de fato horizontalmente, o módulo da força transversal
horizontal (FT) que é efetivamente sentida pelos passageiros (e pelas cargas) pode ser obtido
dividindo-se as parcelas da equação acima por cos(α), obtendo-se:
P ⋅ v2
FT = f ⋅ P = − P ⋅ tg( α )
g⋅ R
A aceleração transversal (aT) correspondente a esa força transversal é obtida dividindo-se a
força transversal pela massa (m) do veículo, ou seja:
F
aT = T
m
Sendo a massa do veículo equivalente ao seu peso dividido pela aceleração normal da
gravidade, e representando tg(α) pela notação de superelevação (eR), pode-se elaborar as expressões
anteriores para se chegar a:
2
FT P⋅ v g
aT = = − P ⋅ tg( α ) ⋅
P g⋅R P
g
ou, simplificando:
v2
aT = − g ⋅ eR
R
O solavanco transversal, ou taxa de variação da aceleração transversal (C) é, por definição,
dado pela divisão do valor da variação da aceleração transversal, experimentada ao se passar da
condição de tangente à de curva circular, pelo tempo (t) em que se verifica essa variação, ou seja:
41 Esta denominação é um tanto imprópria, pois sugere que a aceleração transversal (“sentida” pelos usuários e pelas cargas) seria
devida apenas à força centrífuga quando na verdade é devida à diferença entre a força centrífuga e a devida à superelevação; é mais apropriada a
denominação “taxa de variação da aceleração transversal”.
96
aT
C =
t
Como o tempo (t) que o veículo leva para percorrer o comprimento (mínimo) de transição, à
velocidade v, pode ser calculado por:
L
t = mín
v
pode-se obter, por substituição nas expressões anteriores:
aT v2 v
C= = − g ⋅ e R ⋅
L mín R
L mín
v
ou, explicitando-se a equação para o comprimento mínimo de transição:
v3 g⋅ eR ⋅ v
L mín = −
C ⋅R C
Convertendo-se a equação acima para expressar a velocidade em km/h e introduzindo-se o
valor correspondente à aceleração normal da gravidade (g=9,8 m/s2), chega -se finalmente a:
V3 eR ⋅ V
L mín = − [6.8]
46,656 ⋅ C ⋅ R 0,367 ⋅ C
onde:
Lmín : comprimento mínimo de transição (m);
V : velocidade diretriz (km/h);
R : raio da curva circular (m);
eR : superelevação da curva circular (m/m);
C : taxa (máxima admissível) de variação da aceleração transversal (m/s3).
O valor máximo admissível para a taxa de variação da aceleração transversal (C), para
atendimento a condições adequadas de conforto e de segurança, é estabelecido empiricamente pelo
DNER, sendo dado pela fórmula (DNER, 1999, p. 106):
C = 1,5 – 0,009 . V [6.9]
onde:
C : taxa máxima admissível de variação da aceleração transversal (m/s3);
V : velocidade diretriz (km/h).
eR
L mín = Fm ⋅ L F ⋅ [6.10]
rmáx
onde:
Lmín : comprimento mínimo de transição (m);
Fm : fator multiplicador em função da largura de rotação da pista (tabela 6.2);
LF : largura da faixa de trânsito (m);
eR : superelevação na curva circular (m/m);
rmáx : rampa de superelevação máxima admissível (tab. 6.1).
eR
∆h
áx
rm
s
bá
L
iro
eg
od
eix
e=0
LF
Este critério considera que será utilizada a Clotóide como curva de transição.
Para evitar comprimentos muito grandes da Clotóide em relação ao raio de curvatura em
sua extremidade (o que resultaria, aliás, em deflexões relativamente grandes da espiral), o DNER limita
o comprimento da Clotóide ao valor do raio da curva circular utilizada na concordância, ou seja:
Lmáx = R [6.11]
onde:
Lmáx : comprimento máximo de transição (m);
R : raio da curva circular (m).
Por este critério, o DNER estipula que o comprimento de transição seja limitado à distância
percorrida por um veículo, durante um tempo t = 8 segundos, na velocidade diretriz.
99
O valor a ser definido para o comprimento de transição, observados os limites tratados nos
itens anteriores, deverá ser preferencialmente arredondado para múltiplo de 10,00 m, para fins de
facilidade de cálculo (ao menos nos cálculos manuais) e de posterior locação das curvas de transição
no campo.
Em algumas circunstâncias, onde se requeira a coincidência das extremidades de espirais
de duas concordâncias sucessivas, ou onde não seja possível o emprego de valores arredondados,
poder-se-á utilizar valores fracionários.
Para que os trechos em curva resultem em condições julgadas satisfatórias sob o ponto de
vista da aparência geral e da condução ótica, o DNER recomenda que as concordâncias horizontais
com curvas de transição sejam projetadas de forma a que os comprimentos das curvas circulares
resultem iguais ou superiores à distância percorrida no tempo de 2 segundos, na velocidade diretriz
(DNER, 1999, p. 112).
Sendo v a velocidade diretriz (em m/s), o comprimento correspondente à distância
percorrida no tempo t = 2 s será calculado por:
DC = v . t = v . 2
Ou, expressando a velocidade em km/h:
V
D Cmín = ⋅2
3,6
resultando, então:
DCmín = 0,56 . V [6.13]
100
onde:
DCmín : comprimento (desenvolvimento) mínimo da curva circular (m);
V : velocidade diretriz (km/h).
Visando à obtenção de uma aparência geral satisfatória, o DNER recomenda que as curvas
sucessivas, tanto no caso de curvas reversas como no caso de curvas de mesmo sentido42, sejam
projetadas de forma a que os comprimentos de transição obedeçam à seguinte relação:
R1 ⋅ L 1
≤ 2,5 [6.14]
R2 ⋅L 2
sendo:
R1 . L1 ≥ R2 . L2
onde:
R1 , R2 : raios da curvas circulares sucessivas (m);
L1 , L2 : comprimentos de transição para as respectivas curvas (m).
Quando o projeto de uma concordância é feito com o uso de curva composta, envolvendo
duas curvas circulares de raios diferentes, o comprimento de transição da superelevação entre essas
curvas é determinado considerando os mesmos critérios aplicáveis para curvas isoladas (incluindo o
comprimento mínimo absoluto), observando as seguintes peculiaridades:
§ na consideração do critério da máxima rampa de superelevação admissível (fórmula
[6.10]), considera-se para a superelevação eR o valor correspondente à diferença entre
as superelevações adotadas para as curvas envolvidas;
§ na consideração do critério do conforto (fórmula [6.8]), considera-se para a
superelevação eR o mesmo valor da diferença acima, e para o raio R o valor do raio
equivalente dado por:
1 1 1
= −
R eq R 1 R 2
onde:
Req : raio de curva equivalente (m);
R1 : raio da curva de menor raio (m);
R2 : raio da curva de maior raio (m).
EXEMPLO 6.4 : Caso o projeto de eixo imaginado no exemplo 4.1 fosse desenvolvido em região de
relevo ondulado, na Classe II do DNER (para projetos de rodovias novas), utilizando, para as
concordâncias horizontais no PI1 e no PI2, os raios de curva tabelados R1 = 214,88 m e R2 = 245,57 m,
respectivamente, ambas as concordâncias seriam efetuadas com curvas de transição (vide tabela 6.1).
Os comprimentos das curvas de transição deveriam obedecer aos seguintes limites, de
acordo com os critérios vistos:
42 Principalmente no caso de curvas próximas o bastante para que o desenvolvimento das superelevações entre as curvas adjacentes
resultem em interferências mútuas – (i) no caso de curvas sucessivas de sentidos contrários, quando não houver distância suficiente para se chegar à
situação de tangente intermediária com abaulamento normal, e (ii) no caso de curvas sucessivas de mesmo sentido, quando a extensão da tangente
intermediária com abaulamento normal for inferior à distância percorrida por um veícu lo, na velocidade diretriz, no tempo de 2 segundos.
101
Dadas duas tangentes que se interceptam num PI, com certo ângulo de deflexão (I), e uma
curva circular com dado raio R, a concordância horizontal com curva de transição, envolvendo a
inserção de dois ramos de espiral, tal como representado na figura 6.6, fica definida geometricamente a
partir da fixação do comprimento LC da curva de transição (espiral) a ser utilizada.
As fórmulas para os cálculos analíticos pertinentes são deduzidas a seguir, usando o roteiro
e notação da American Railway Engineering Association (in CARVALHO, 1966).
ρ ρ=R
ρ=∞
SC dS SC
LC
S dL L = TS - M
M LC = TS - SC
L
TS
Lembrando que, na espiral (fórmula [6.2]):
ρ . L = R . LC = A2
pode-se desenvolver:
R ⋅ LC
ρ =
L
obtendo-se, por substituição:
L
dS = ⋅ dL
R ⋅ LC
Integrando esta expressão ao longo do arco, entre a origem da espiral e o ponto M, tem-se:
L L L
L 1 1 L2
S = ∫ R ⋅ L ⋅ dL = R ⋅ L ∫ L ⋅ dL = R ⋅ L ⋅
0 C C 0 C 2 0
ou:
L2
S =
2 ⋅ R ⋅ LC [6.15]
103
O
=
I
al
ntr
lo Ce
gu
ST
Ân
C
S
θ
SC
CS
I
SC
TS
Tem-se então que:
I = 2 . SC + θ
ou:
θ = I – 2 . SC [6.17]
onde:
θ : ângulo central da curva circular;
I : deflexão no PI;
SC : ângulo central da espiral.
Conhecido o ângulo central da curva circular e o seu raio de curvatura, pode-se determinar
o valor do comprimento do trecho em curva circular, também denominado por desenvolvimento em
curva circular, por meio da fórmula:
DC = θ . R [6.18]
onde:
DC : desenvolvimento em curva circular (m);
θ : ângulo central da curva circular (em radianos);
R : raio da curva circular (m).
104
A espiral de transição, como ilustrado na figura 6.2, pode ser referida a um sistema de eixos
cartesianos, com origem coincidente com a origem da espiral (onde o raio de curva é infinito), e eixo
das ordenadas coincidente com a direção da tangente à espiral nesse ponto.
As posições dos pontos da espiral de transição, numa concordância, podem ser então
caracterizados por coordenadas cartesianas (x e y), sendo as ordenadas medidas ao logo da tangente,
a partir do TS (ou do ST), e as abcissas medidas perpendicularmente à tangente, como se indica na
figura 6.17.
Tomando um ponto qualquer da espiral, com coordenadas x e y, e imaginando um arco
elementar de comprimento dL no entorno desse ponto, tal como representado na figura 6.17, pode-se
definir, a partir do triângulo elementar destacado no círculo, as seguintes relações trigonométricas:
dy = dL . cos(S)
dx = dL. sen(S)
y
xc SC dx
dy
dL
yc x
ρ=
dL S
R
y L
ρ S
Sc
ρ=∞
TS x
Lembrando que S pode ser expresso em função de L (fórmula [6.15]), pode-se obter as
expressões para as coordenadas x e y por meio das integrais definidas:
L
L2
x = ∫ sen ⋅ dL
0 2⋅ R⋅LC
L
L2
y = ∫ cos ⋅ dL
0 2⋅R ⋅LC
Estas expressões podem ser simplificadas, lembrando a relação expressa pela fórmula
[6.15], reduzindo-se-as para:
L ⋅ S S2 S4 S6
x= ⋅ 1 − + − + ... [6.19]
3 14 440 25.200
S2 S4 S6
y = L ⋅ 1 − + − + ... [6.20]
10 216 9 .360
Na concordância com curva de transição, como já visto, a introdução dos ramos de espiral é
viabilizada geometricamente mediante o afastamento da curva circular em relação às tangentes.
O'
O
ST
S
c
θ
Sc
Sc
I /2
CS
F
SC Y t
(PC') E
G xc H
TS p I
(PC)
A q B C D
d PI
yc
TS
106
Da observação da figura 6.18, pode-se deduzir a fórmula para o cálculo da tangente exterior
(TS), por meio das seguintes relações geométricas imediatas:
Ι
TS = (TS)(PI) = A (PI) = AB + B(PI) = AB + O ' B ⋅ tg
2
Ι
TS = AB + (O' G + GB) ⋅ tg
2
ou, finalmente:
Ι
TS = q + (p + R) ⋅ tg [6.26]
2
onde:
TS : tangente exterior (m);
q : ordenada do PC’ou do PT’ (m);
p : abcissa do PC’ ou do PT’ (m);
R : raio da curva circular (m);
I : deflexão no PI.
EXEMPLO 6.5 : Projetando-se o eixo de uma rodovia nova, em região de relevo ondulado, na Classe II
do DNER, a partir dos alinhamentos representados na figura 4.3, e utilizando-se os raios de curva R1 =
214,88 m e R2 = 245,57 m, ambas as concordâncias horizontais deverão ser feitas com curvas de
transição (vide tabela 6.1).
Os comprimentos de transição, para ambas as concordâncias, poderão ser definidos no
intervalo 50,00 m ≤ LC ≤ 150,00 m, conforme visto no exemplo 6.4.
Escolhendo-se, para os dois casos, o menor valor, isto é, LC1 = 50,00 m e LC2 = 50,00 m, as
concordâncias com espirais de transição poderão ser analiticamente calculadas, de acordo com a
seguinte seqüência:
§ ângulos centrais das espirais (fórmula [6.16]):
50,00 0
S C1 = = 0,116.344 rd = 6 39'58"
2 ⋅ 214,88
50,00 0
S C2 = = 0,101.804rd = 5 49'59"
2 ⋅ 245,57
§ ângulos centrais das curvas circulares (fórmula [6.17]):
θ1 = 24012’40” – 2 . (6039’58”) = 10052’44”
θ2 = 32049’50” – 2 . (5049’59”) = 21009’52”
§ desenvolvimentos em curvas circulares (fórmula [6.18]):
DC1 = (10052’44”) . (π/1800) . 214,88 = 40,80 m
DC2 = (21009’52”) . (π/1800) . 245,57 = 90,71 m
§ coordenadas xC e yC (fórmulas [6.21] e [6.22]):
9.681.400
N ST
2
=2
CS 2
PF= 23 + 18,81m
1+
=1
E
5,1
SC 2 =
8+
T S2 = 1 1
5m
15
,15
14 +
20
+ 14,44
4,44
m
m
9.681.200
PI1
10 5 PI 2
ST = 1 0
CS 1 =
5
1
SC 1
7+1
+ 3,5
=5
TS 1
+1
3,59
=3
9m
2,7
+2
0=PP
9m
,79
Vértice I R LC θ DC xC yC p q TS
(m) (m) (m) (m) (m) (m) (m) (m)
PI1 240 12’40” 214,88 50,00 10 052’45” 40,80 1,94 49,93 0,49 24,99 71,18
PI2 320 49’50” 245,57 50,00 21 009’53” 90,71 1,70 49,95 0,43 24,99 97,46
9.681.000
831.000 831.200 831.400