Aula 9 - Curvas de Transição - UFSC

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CURVAS DE TRANSIÇÃO

6.1 A GEOMETRIA E A DINÂMICA DE MOVIMENTO

As concordâncias horizontais com curvas circulares simples, quando corretamente


projetadas, resultam em traçado fluente e contínuo do eixo, sem descontinuidades do ponto de vista
geométrico.
Para os usuários das rodovias, no entanto, essas condições de fluência e de continuidade
de traçado resultam prejudicadas nas concordâncias horizontais com curvas circulares simples, devido
ao surgimento de forças laterais que atuam sobre os veículos nas curvas, e devido à própria dificuldade
natural de dirigir (especialmente os veículos de maior porte) em curvas.
Esses fatores, como já visto no capítulo anterior, têm seus efeitos adversos minimizados
com a introdução de superelevações e de superlarguras adequadas nas concordâncias horizontais.
Surge, no entanto, uma nova questão a ser resolvida: como proceder para introduzir a
superelevação e a superlargura na pista quando se passa da condição de trecho em tangente para a
condição de trecho em curva circular ?
Na concordância com curva circular simples, a passagem da condição de tangente para a
de curva circular ocorre de forma instantânea36, tanto no PC como no PT, mas é óbvio que não se pode
passar abruptamente de uma pista normal em tangente para uma pista superelevada e com
superlargura na curva.
Para evitar essa espécie de choque dinâmico propiciado pela passagem instantânea de
traçado em tangente (com raio infinito e força centrífuga nula) para traçado em curva circular (com raio
limitado e força centrífuga constante), são introduzidas curvas especiais , entre a tangente e a curva
circular, denominadas curvas de transição, projetadas de forma a permitir uma passagem suave entre a
condição de trecho em tangente e a de trecho em curva circular.
As normas do DNER somente dispensam o uso de curvas de transição nas concordâncias
horizontais com curvas circulares de raios superiores aos valores indicados na tabela 6.1, para as
diferentes velocidades diretrizes ali apontadas.

TABELA 6.1 – RAIOS DE CURVA QUE DISPENSAM CURVAS DE TRANSIÇÃO


V (km/h) 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

R (m) 170 300 500 700 950 1.200 1.550 1.900 2.300 2.800
Fonte: Manual de projeto geométrico de rodovias rurais (DNER, 1999, p. 105).

36 Na prática, essa passagem é suavizada, nas rodovias, devido às dimensões usuais das faixas de trânsito, que propiciam folgas laterais
suficientes para a acomodação das trajetórias dos veículos ao largo das faixas, permitindo que os usuários efetuem manobras conversão mais suaves, não
de forma instantânea (o que ocorre em relação aos traçados ferroviários ?).
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6.2 A CLOTÓIDE OU ESPIRAL DE TRANSIÇÃO

Como sua própria denominação sugere, uma curva de transição tem a função primária de
permitir a passagem gradativa de um traçado em tangente para um traçado em curva circular.
A formulação intuitiva de uma curva apropriada para tanto está representada no esquema
da figura 6.1, onde a curva de transição, com origem no ponto O e extremidade no ponto C, tem
comprimento total LC (mais adiante se verá como se pode determinar esse comprimento), estando
inserida entre a tangente e a curva circular.

FIGURA 6.1 – CURVA DE TRANSIÇÃO

Tangente
C
LC

ρ=
M

R
OM = L
OC = LC
ρ
L

ρ=∞

A curva de transição, com raio ρo = ∞ na origem, tem raio de curvatura (ρ) que diminui
gradativamente ao longo do seu comprimento (LC), até atingir, em sua extremidade, o valor ρc = R,
igual ao raio da curva circular.
Um critério imediato para estabelecer a equação dessa curva de transição consiste em se
imaginar uma geometria tal que a aceleração centrípeta37 atuante sobre um veículo que se desloque
sobre a curva com velocidade linear constante varie gradualmente, ao longo da curva, desde o valor
nulo, no início da curva, até atingir o valor máximo, na sua extremidade.
Num ponto M qualquer da curva, onde o raio de curvatura é ρ, compreendendo um arco de
comprimento L, a aceleração centrípeta (aM) que atua sobre um veículo se deslocando com a
velocidade tangencial v é dada por:
v2
aM =
ρ
A aceleração centrípeta máxima (aC) se verificará na extremidade de curva de transição (no
ponto C), onde o raio de curvatura é R, igual ao da curva circular que se segue, pode ser expressa por:
v2
aC =
R
Admitindo-se a variação linear da aceleração ao longo da curva de transição, ter-se-á:
aM L
=
aC L C
ou, substituindo as acelerações centrípetas pelas respectivas expressões vistas anteriormente:
v2
ρ L
2
=
v LC
R

37 À ação da aceleração centrípeta corresponde a reação representada pela aceleração centrífuga que, atuando sobre a massa do
veículo em movimento, resulta na força centrífuga.
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que resulta, simplificando:


ρ ⋅L = R ⋅LC [6.1]
Numa concordância horizontal, os valores do raio R e do comprimento total LC da curva de
transição são previamente fixados e, portanto, constantes.
Representando a constante que resulta do produto (R . LC) pela grandeza positiva A2, a
equação acima pode ser escrita na forma conhecida como equação espontânea da espiral de
transição, dada por:
ρ . L = A2 [6.2]
onde:
ρ : raio de curvatura num ponto qualquer da curva de transição (m);
L : comprimento da curva de transição, da origem até o ponto considerado (m);
A2 : constante positiva (m 2).
A equação [6.2] é a expressão analítica da Clotóide, que tem a forma geométrica de uma
espiral, tal como representada na figura 6.2.

FIGURA 6.2 – FORMA GEOMÉTRICA DA CLOTÓIDE OU ESPIRAL DE TRANSIÇÃO


y

A⋅ π
2

O A⋅ π
x
2

Na literatura referente a projetos geométricos, esta curva é também conhecida como espiral
de Van Leber, espiral de Cornu, espiral de Euler ou Radióide aos arcos; esta última denominação é
devida ao fato de se ter admitido variações lineares de parâmetros da concordância, ao longo da curva
de transição, proporcionalmente aos comprimentos dos arcos38.

6.3 TIPOS DE TRANSIÇÃO

A introdução de espirais de transição nas concordâncias horizontais pode ser efetuada de


três maneiras, gerando os diferentes tipos de transição conhecidos, que são:
§ a transição a raio e centro conservados;

38 As proporcionalidades poderiam ter sido estabelecidas em função dos raios vetores, no caso de definição de pontos da curva por
coordenadas polares, ou em função de abscissas tomadas paralelamente à tangente, no caso de definição da curva por coordenadas cartesianas,
gerando, respectivamente, as curvas conhecidas como Lemniscata de Bernoulli e Curva Elástica (qual a lógica aparente que ajuda a explicar a escolha da
Clotóide pelas normas do DNER, em detrimento das duas outras curvas citadas?)
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§ a transição a raio conservado; e


§ a transição a centro conservado.
Em todos os casos, pode-se imaginar, para fins de raciocínio, uma concordância
inicialmente feita com uma curva circular simples, de raio R, concordância esta que é aperfeiçoada
mediante a inserção de espirais de transição entre as tangentes e a curva circular.
A inserção das espirais somente poderá ser feita mediante o afastamento da curva circular
em relação às tangentes que se interceptam no PI, o que demanda alguns ajustamentos na geometria
da concordância inicial, modificando necessariamente algumas das suas condições.

6.3.1 Transição a raio e centro conservados

Neste tipo de transição, que está ilustrado esquematicamente na figura 6.3, procura-se
inserir as duas espirais sem modificações no raio da curva circular nem na sua posição.
É fácil perceber visualmente, observando a disposição da figura 6.3, que isto só é possível
com a diminuição do trecho em curva circular, e com o afastamento das tangentes em relação à
posição da curva circular (esta constatação pode ser confirmada analiticamente).
À vantagem de se conseguir manter o raio da curva circular e ao menos parte do traçado
inicial do trecho em curva circular (em que situações isto pode ser vantajoso ?), contrapõe-se a
necessidade de se deslocar as tangentes para a acomodação das espirais.
O deslocamento das tangentes implica na necessidade de modificações nas duas
concordâncias adjacentes, causando óbvios transtornos.

FIGURA 6.3 – TRANSIÇÃO A RAIO E CENTRO CONSERVADOS

O
)
(PT
p

R
R

(PC) I
p PI
PI'

A utilização deste tipo de concordância só se justifica quando não se pode evitar um ponto
obrigado situado sobre a curva circular original.

6.3.2 Transição a centro conservado

Evitando o deslocamento das tangentes para a inserção das espirais de transição, este tipo
de transição preconiza o afastamento da curva circular, em relação às tangentes, mediante a redução
do raio da curva circular em valor igual ao do afastamento necessário à acomodação dos ramos de
espiral, mantendo-se inalterada a posição do centro da curva circular original, tal como se ilustra no
esquema da figura 6.4.
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A manutenção do posicionamento das tangentes é uma vantagem clara que este tipo de
transição apresenta em relação ao anterior. No entanto, a manutenção simultânea do centro da curva
circular demanda a redução do raio da curva original para viabilizar o seu afastamento em relação às
tangentes, conforme se pode constatar a partir da observação do esquema da figura 6.4.

FIGURA 6.4 – TRANSIÇÃO A CENTRO CONSERVADO

R'

p
)
(PT
R

p I

PI
(PC)

A necessidade de redução do raio da curva circular e o conseqüente deslocamento do


traçado em curva original para o lado de dentro da concordância são as principais desvantagens
decorrentes do uso deste tipo de transição. A mais significativa é a redução do raio de curva, pois
geralmente a escolha do raio original é feita com algum propósito relevante (por exemplo, a escolha de
um raio fracionário tal que resulte em deflexões inteiras). O deslocamento do traçado em curva é
relativamente pequeno e não representa, em geral, transtornos significativos, exceto quando há pontos
obrigados a serem atingidos pelo traçado.
O fato de se manter o centro da curva circular na posição original não representa vantagem
relevante, já que o centro não é utilizado para quaisquer fins práticos de locação ou de controle do eixo.

6.3.3 Transição a raio conservado

A inserção das espirais de transição sem alterar a posição das tangentes pode também ser
feita sem que seja alterado o raio da curva circular.
Isto implica, naturalmente, na necessidade de deslocamento da curva circular para o lado
de dentro da concordância, para que se dê o afastamento necessário à a comodação dos ramos de
espiral, o que reduz também a extensão do trecho em curva circular, como se pode observar no
esquema da figura 6.5.
Sendo mantido o raio da curva circular, o afastamento da curva implica também no
deslocamento do centro da curva – o que não afeta a qualidade da concordância . O próprio
deslocamento da curva, a exemplo do que ocorre no tipo de transição anterior, é relativamente
pequeno e, exceto nas situações especiais já comentadas, não representa transtornos significativos na
prática.
A vantagem de possibilitar a manutenção do raio da curva circular no valor originalmente
desejado, sem alterar a posição das tangentes que se interceptam, torna este tipo de transição o
preferido para uso normal nos projetos das concordâncias. Os outros tipos têm utilização esporádica,
em casos especiais.
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FIGURA 6.5 – TRANSIÇÃO A RAIO CONSERVADO

O'

')
(PT
p
R R
R

)
(PT
(PC')
p I

(PC)
PI

As fórmulas e procedimentos de cálculo para o projeto da transição a raio conservado, que


serão vistos detalhadamente mais adiante, são facilmente adaptáveis para o projeto dos outros tipos de
transição.

6.4 ESQUEMA DA TRANSIÇÃO COM A ESPIRAL

Com a inserção de dois ramos de espiral entre a curva circular e as tangentes adjacentes, a
concordância com curva de transição apresenta 4 pontos singulares a serem definidos (ao invés do PC
e do PT, no caso da concordância com curva circular simples), correspondentes aos pontos de contato
das tangentes com as espirais e destas com a curva circular.
Na figura 6.6 está representado o esquema de uma concordância com espiral de
transição, envolvendo o caso básico em que os dois ramos de espiral são iguais, resultando numa
concordância simétrica.
Observado o sentido de percurso (sentido de estaqueamento) assinalado nessa figura, os 4
pontos singulares referidos são designados39, pela ordem, por:
§ TS (sigla oriunda da denominação original, em inglês, Tangent – to – Spiral), que
corresponde ao início da concordância horizontal, no ponto de passagem da tangente
para a espiral;
§ SC (Spiral – to – Curve), no ponto de passagem da espiral para a curva circular, onde
o raio de curva é comum;
§ CS (Curve – to – Spiral), na passagem da curva circular para a espiral, onde o raio de
curva ainda é o mesmo;
§ ST (Spiral – to – Tangent), no final da concordância horizontal, na passagem da espiral
para a tangente.

39 Há projetistas que preferem identificar estes pontos singulares do eixo pelas siglas TE, EC, CE e ET, formadas pelas letras iniciais das
designações em português da Tangente, da Espiral e da (curva) Circular; outros acrescentam ao primeiro ponto singular as letras E ou D, indicando tratar-
se de concordância à esquerda ou à direita, respectivamente, podendo resultar no uso das designações T SE, TSD, TEE ou TED.
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FIGURA 6.6 – ESQUEMA DA CONCORDÂNCIA COM ESPIRAL DE TRANSIÇÃO

c
S

ST
C
L
θ

R
Sc

S
T
CS
DC

Sentido do LC
Estaqueamento
SC
I

TS PI
TS

Além desses pontos singulares, outros parâmetros relevantes, cuja caracterização é


necessária para se definir geometricamente a concordância com espiral de transição, são os seguintes,
todos indicados na figura 6.6:
PI : ponto de interseção (das tangentes);
I : ângulo de deflexão;
O : centro da curva circular;
R : raio da curva circular (m);
TS : tangente externa ou exterior (m);
LC : comprimento da espiral (m);
DC : comprimento da (ou desenvolvimento em) curva circular (m);
SC : ângulo central correspondente a um ramo da espiral;
θ : ângulo central correspondente à curva circular.
As fórmulas para o cálculo das concordâncias com espirais de transição serão vistas mais
adiante (no item 6.7), após a definição de alguns procedimentos preliminares necessários à definição
dos tamanhos de espiral a utilizar nas concordâncias.

6.5 DESENVOLVIMENTO DA SUPERLARGURA E DA SUPERELEVAÇÃO

Definida a curva de transição, a superelevação e a superlargura podem ser distribuídas


linearmente ao longo do comprimento dessa curva, caso o seu comprimento seja suficiente para tanto.
A definição do comprimento da curva de transição será tratada no item 6.6 a seguir. Admita-
se, por ora, para fins de entendimento dos processos de cálculo para a distribuição da superlargura e
da superelevação, que tenha sido definido o comprimento adequado ao longo do qual a distribuição
será efetuada, e que seja esse o comprimento LC tomado para a curva de transição.
88

6.5.1 Desenvolvimento com curva de transição

Sendo LC o comprimento da curva de transição, a superelevação e a superlargura serão


desenvolvidas linearmente ao longo desse comprimento, passando dos valores nulos que
correspondem às necessidades da con dição de tangente aos valores plenos a serem aplicados para a
condição de curva circular.

6.5.1.1 Desenvolvimento da superlargura

O desenvolvimento da superlargura é a mais simples, bastando fazê-la passar do valor de


superlargura zero, no início da curva de transição, ao valor de superlargura sR que será adotado na
curva circular, na extremidade da curva de transição, de forma linear, conforme esquematizado no
diagrama da figura 6.7.

FIGURA 6.7 – DESENVOLVIMENTO DA SUPERLARGURA

sR
s
s=0
O M C
L
LC

O valor da superlargura (s) em um ponto M qualquer, que dista de um arco de comprimento


L da origem da curva de transição, poderá ser determinado por simples proporção, pois:
s L
=
sR LC
resultando:
L
s = sR ⋅ [6.3]
LC
onde:
s : superlargura num ponto qualquer da curva de transição (m);
sR : superlargura na curva circular (m);
L : distância do ponto ao início da curva de transição (m);
LC : comprimento da curva de transição.

EXEMPLO 6.1 : Imagine-se que tenha sido projetada, para o PI1 dos alinhamentos representados na
figura 4.3, uma nova concordância horizontal, nas seguintes condições:
§ projeto de rodovia nova em região de relevo ondulado;
§ projeto na Classe II do DNER;
§ concordância com curva de transição (vide tabela 6.1);
§ raio de curva circular R1 = 214,88m;
§ comprimento da curva de transição LC1 = 50,00m.
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Admitindo-se que se tenha determinado o seguinte posicionamento dos pontos singulares


da concordância: TS1= 3 + 2,79m, SC1= 5 + 12,79m, CS1= 7 + 13,59m e ST1= 10 + 3,59m, pode-se
determinar o valor da superlargura a adotar em qualquer ponto do eixo, ao longo da concordância.
Do exemplo 5.2 infere-se que a superlargura a adotar para a curva circular utilizada na
concordância é sR = 0,80m.
A partir dessas condicionantes, pode-se desenhar o esquema do desenvolvimento da
superlargura ao longo da concordância, tal como representado na figura 6.8.

FIGURA 6.8 – DESENVOLVIMENTO DA SUPERLARGURA COM CURVA DE TRANSIÇÃO

CS1 = 7 + 13,59 m
SC1 = 5 + 12,79 m

ST1 = 10 + 3,59 m
TS1 = 3 + 2,79 m

0,80 m 0,80 m

0,00 m 0,00 m
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
3,59m
17,21m 23,59m
37,21m 43,59m

50,00m 40,80m 50,00m


LC DC LC

Os valores de superlargura ao longo da concordância (considerando, para maior


simplicidade, apenas as estacas inteiras) podem ser calculados de acordo com a fórmula [6.9],
resultando:
s4+ 0,00m = (17,21 / 50,00) . 0,80 = 0,28m;
s5+0,00m = (37,21 / 50,00) . 0,80 = 0,60m;
s6+0,00m = (na curva circular) = 0,80m;
s7+0,00m = (na curva circular) = 0,80m;
s8+0,00m = (43,59 / 50,00) . 0,80 = 0,70m;
s9+0,00m = (23,59 / 50,00) . 0,80 = 0,38m;
s10+0,00m = (3,59 / 50,00) . 0,80 = 0,06m.

6.5.1.2 Desenvolvimento da superelevação

O critério para o desenvolvimento da superelevação é basicamente o mesmo que o adotado


para o desenvolvimento da superlargura, consistindo em fazê-la passar linearmente do valor de
superelevação zero, no início da curva de transição, ao valor da superelevação plena eR a ser adotada
na curva circular, na extremidade da curva de transição.
Mas, neste caso, há um fator adicional a ser considerado, que é a questão da existência do
abaulamento da pista, adotado nos trechos em tangente.
Imagine-se, para fins de raciocínio, o caso de rodovia em pista simples com duas faixas de
trânsito, uma para cada lado do eixo, e abaulamento ab, com crista coincidente com o eixo, sendo as
faixas inclinadas transversalmente para fora da pista, conforme representado na figura 6.9.
90

Qualquer que seja o sentido da curva, observa-se que, devido ao abaulamento, a faixa do
lado interno da curva já está inclinada no sentido correto da superelevação, antes mesmo do início da
curva de transição.
A faixa do lado externo da curva, no entanto, tem inclinação no sentido contrário ao da
superelevação, devendo então tal inclinação contrária ser gradualmente reduzida ainda na tangente, de
forma a que a inclinação resulte nula ao se atingir o início da curva de transição.
Assim, para o caso da faixa externa, além do desenvolvimento da superelevação (eR) a ser
feito ao longo do comprimento da curva de transição (LC), há também outro desenvolvimento – o do
abaulamento ab – a ser feito na aproximação da curva, ainda na tangente, ao longo de um comprimento
(LT) que é denominado de comprimento de transição em tangente, em contraposição à denominação
do comprimento de transição em curva (LC).

FIGURA 6.9 – DESENVOLVIMENTO DA SUPERELEVAÇÃO

eR
Seção transversal faixa interna

a eixo + ab e=0
ab b
faixa externa - ab

LF LF LT LC

O desenvolvimento da inclinação contrária da faixa externa, do valor ab até zero, é feito de


forma linear, ao longo do comprimento de transição em tangente, com o mesmo ritmo de variação do
desenvolvimento da superelevação ao longo da transição em curva.
Esse critério está representado esquematicamente do diagrama da figura 6.8, onde as
inclinações transversais negativas representam as correspondentes à faixa externa, nos trechos em
tangente, devidas ao abaulamento.
O comprimento de transição em tangente pode ser calculado por simples proporção,
observando-se o diagrama da figura 6.9, de onde se infere que:
LT | ab |
=
LC eR
ou:
| ab |
LT = LC ⋅ [6.4]
eR
onde:
LT : comprimento de transição em tangente (m);
LC : comprimento de transição em curva (m);
ab : abaulamento (%);
eR : superelevação na curva circular (%).
O cálculo da superelevação (ou das inclinações a adotar para as faixas interna e externa)
em qualquer ponto da tangente ou da curva de transição poderá ser feito imediatamente, por simples
proporção, a partir do diagrama da figura 6.9.
91

EXEMPLO 6.2 : Considerando a mesma concordância horizontal do exemplo 6.1, pode-se elaborar um
diagrama correspondente ao desenvolvimento da superelevação ao longo da concordância, tal como o
representado na figura 6.10 (incentiva-se o leitor a reproduzir o diagrama, para melhor entendimento).

FIGURA 6.10 – DESENVOLVIMENTO DA SUPERELEVAÇÃO COM CURVA DE TRANSIÇÃO

SC1 = 5 + 12,79 m

CS1 = 7 + 13,59 m

ST1 = 10 + 3,59 m
TS1 = 3 + 2,79 m

10 + 16,58 m
3 + 15,78 m

9 + 10,60 m
2 + 9,80 m

7,700% 7,700%

Faixa interna 2,000% 2,000% Faixa interna


(direita) (direita)
0,000% 0,000%
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Faixa externa Faixa externa
-2,000% -2,000%
(esquerda) 2,79m 3,59m (esquerda)

17,21m 23,59m
37,21m 43,59m

12,99m 50,00m 40,80m 50,00m 12,99m


LT LC DC LC LT

As inclinações transversais da pista nas estacas inteiras ao longo da concordância (assim


como em quaisquer outros pontos do eixo) podem ser determinadas calculando-se as proporções:
e3+ 0,00m = (2,79 / 12,99) . (- 2,000) = - 0,430 % (faixa esquerda);
e3+0,00m = 2,000 % (faixa direita, por leitura direta);
e4+0,00m = (17,21 / 50,00) . 7,700 = 2,650 % (ambas as faixas);
e5+0,00m = (37,21 / 50,00) . 7,700 = 5,730 % (ambas as faixas);
e6+0,00m = 7,700 % (ambas as faixas, curva circular);
e7+0,00m = 7,700 % (ambas as faixas, curva circular);
e8+0,00m = (43,59 / 50,00) . 7,700 = 6,713 % (ambas as faixas);
e9+0,00m = (23,59 / 50,00) . 7,700 = 3,633 % (ambas as faixas);
e10+0,00m = (3,59 / 50,00) . 7,700 = 0,553 % (faixa esquerda);
e10+0,00m = 2,000 % (faixa direita, por leitura direta).

6.5.2 Desenvolvimento sem curva de transição

O princípio de se efetuar a distribuição da superlargura e da superelevação ao longo das


curvas de transição baseia-se na idéia de aproveitar a mesma extensão para a variação gradativa das
condições típicas de tangente para as de curva circular.
Há casos, no entanto, em que se deseja manter uma concordância com curva circular
simples no projeto do eixo de uma rodovia, dispensando o uso de curvas de transição.
Isso não impede que os veículos continuem a descrever trajetórias naturais de transição
nas aproximações (e nos afastamentos) das curvas, pois as larguras normais das faixas de trânsito
permitem que os motoristas acomodem os posicionamentos dos veículos desde as tangentes, ao se
aproximarem das curvas, tendendo a tangenciar os bordos internos das faixas de percurso nas curvas.
Nas concordâncias com curvas circulares simples procura-se efetuar o desenvolvimento da
superlargura e da superelevação de forma a compatibilizar a variação dessas características das
seções transversais com as trajetórias naturais de transição dos veículos, e de forma a que os usuários
92

não sejam submetidos a esforços laterais significativos devidos a inclinações adversas das faixas, nas
aproximações dos trechos em curva.
Os comprimentos de transição, ou seja, as extensões ao longo das quais se pode proceder
ao desenvolvimento da superlargura e da superelevação, são os mesmos aplicáveis para o caso de se
contar com curvas de transição (ver item 6.6 a seguir). Mudam apenas os critérios para o
posicionamento dessas extensões em relação às curvas circulares.
A prática internacional tem demonstrado que um bom critério é assegurar que cerca de 60%
a 70% da transição seja efetuada na tangente, sendo a extensão restante completada na curva circular.
Em outras palavras, o critério recomendado para o desenvolvimento da superelevação e da
superlargura, numa concordância com curva circular simples, é fazê-lo ao longo de um comprimento de
transição (LC), disposto de forma a que cerca de 2/3 desse comprimento de localize na tangente e o
restante na curva circular, utilizando o PC (e o PT) para o posicionamento desse comprimento de
transição, conforme ilustrado na figura 6.11.
As proporções de disposição não são exatas, sendo recomendável efetuar pequenos
ajustes no posicionamento do comprimento de transição LC de forma a evitar comprimentos
fracionários, fazendo, quando possível, que o início e o término da transição coincidam com estacas
inteiras ou múltiplas de 10,00m.
Fixados o comprimento de transição e o seu posicionamento no eixo de projeto, o
desenvolvimento da superelevação e da superlargura é feito de forma idêntica ao já visto
anteriormente, para o caso de concordâncias com curvas de transição.

FIGURA 6.11 – DESENVOLVIMENTO DA SUPERLARGURA E DA SUPERELEVAÇÃO


SEM CURVA DE TRANSIÇÃO

R
sR
eR
s 0=0
e 0=0 LC
C
PC
. LC
(PT) (1/3)
.
O (2/3) L C

EXEMPLO 6.3 : A concordância horizontal com curva circular simples descrita no exemplo 4.8 foi
calculada com raio R1 = 214,88m, tendo os pontos singulares da concordância resultado nas estacas:
PC1 = 4 + 7,88m e PT1 = 8 + 18,68m (o leitor verificou os cálculos?).
Tomando-se esta concordância apenas para fins de ilustração40 do critério de
desenvolvimento da superlargura e da superelevação nas concordâncias com curvas circulares simples
(sem curva de transição), imagine-se que seja utilizado o comprimento de transição LC = 50,00m.

40 Num projeto real, para velocidade diretriz superior a 30 km/h, esta concordância teria que ser efetuada obrigatoriamente com curva de
transição (vide tabela 6.1).
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De acordo com o critério descrito, na concordância com curva circular simples, este
comprimento de transição deverá ser disposto em torno do PC1 e do PT1 da seguinte forma:
§ (2/3) . 50,00 = 33,33 m na tangente;
§ (1/3) . 50,00 = 16,67 m na curva circular.
Se fosse adotado esse rateio exato, os comprimentos de transição (ao longo dos quais se
faria o desenvolvimento da superlargura e da superelevação) resultariam dispostos na forma indicada
esquematicamente na figura 6.12.

FIGURA 6.12 – TRANSIÇÃO EM CURVA CIRCULAR : LC DISPOSTO EM ESTACAS FRACIONÁRIAS

PT 1 = 8 + 18,68 m
PC 1 = 4 + 7,88 m
2 + 14,55 m

5 + 4,55 m

8 + 2,01 m

10 + 12,01 m
33,33m 16,67m 16,67m 33,33m

50,00m 50,00m

Caso se optasse por efetuar pequenos ajustes nas proporções, de forma a que o início e o
término do comprimento de transição coincidissem com estacas inteiras (ou múltiplas de 10,00m), em
ambas as extremidades da concordância, os comprimentos de transição resultariam dispostos de
acordo com o esquema indicado na figura 6.13.

FIGURA 6.13 – TRANSIÇÃO EM CURVA CIRCULAR: LC DISPOSTO EM ESTACAS INTEIRAS


PT 1 = 8 + 18,68 m
PC 1 = 4 + 7,88 m
2 + 10,00 m

8 + 0,00 m

10 + 10,00 m
5 + 4,55 m

37,88m 12,12m 18,68m 31,32m

50,00m 50,00m

Esta última disposição, em que pese a vantagem de coincidência dos pontos de início e de
fim da transição com estacas inteiras ou múltiplas de 10,00m, apresentaria a desvantagem de resultar
em transição assimétrica, em termos de disposição dos elementos em planta e em seção transversal.

6.6 COMPRIMENTO DE TRANSIÇÃO

O comprimento de transição é a distância ao longo da qual se procede à distribuição da


superelevação (e, por conveniência, também à da superlargura), passando -a da condição de tangente,
onde tem valor nulo, à condição de curva circular, onde assume o valor definido para o raio da curva.
Quando se projeta uma concordância horizontal com curva de transição (geralmente uma
espiral), utiliza-se logicamente, como já visto, o comprimento dessa espiral para se efetuar a
distribuição da superelevação e da superlargura, motivo pelo qual se confunde, usualmente, a
designação de comprimento de transição com a de comprimento da curva de transição (LC).
94

A determinação do comprimento de transição é feita, para cada concordância, observando-


se limites estabelecidos em normas ou recomendações.
O DNER estabelece critérios objetivos para fixar os comprimentos mínimos e máximos
admissíveis para os comprimentos de transição, recomendando que sejam também observados alguns
critérios complementares na determinação dos comprimentos de transição – e, conseqüentemente, dos
comprimentos das curvas de transição – a serem utilizados nas concordâncias horizontais.

6.6.1 Comprimento mínimo de transição

Os comprimentos de transição devem propiciar condições para que a passagem da


condição de tangente para a de curva circular (e vice-versa) ocorra de forma suave e gradativa.
Comprimentos demasiadamente pequenos praticamente não ensejariam a transição desejada, pois a
passagem ocorreria de forma abrupta.
Os limites mínimos para os comprimentos de transição são estabelecidos em função de
aspectos relacionados com o conforto e a segurança dos usuários, com a estética (aparência da
rodovia) e com fatores de ordem prática, sobre os quais se fundamentam os critérios do DNER.

6.6.1.1 Critério do comprimento mínimo absoluto

Para fins práticos, o menor comprimento de transição admissível é de 30 m ou o


equivalente à distância percorrida por um veículo, na velocidade diretriz, no tempo de 2 segundos,
prevalecendo o maior.
Comprimentos de transição inferiores não teriam resultados práticos desejáveis, podendo
introduzir distorções visíveis nos bordos da pista, comprometendo esteticamente a rodovia.
Representando por v a velocidade diretriz em m/s, o comprimento mínimo, equivalente à
distância percorrida no tempo t = 2 s, será:
Lmín = t . v = 2 . v
ou, expressando a velocidade em km/h:
V
L mín = 2 ⋅
3,6
Lmín = 0,56 . V [6.5]
onde:
Lmín : comprimento mínimo de transição (m);
V : velocidade diretriz (km/h,
Lembrando que:
Lmín ≥ 30 m [6.6]

6.6.1.2 Critério da fluência ótica

Aplicável somente para curvas com raios grandes, superiores a 800 m, este critério
estabelece um comprimento mínimo de transição dado por:
1
L mín = ⋅ R [6.7]
9
onde:
Lmín : comprimento mínimo de transição para R > 800m (m);
R : raio da curva circular (m).
95

6.6.1.3 Critério do conforto

Também denominado por critério da taxa máxima de variação da aceleração centrífuga pelo
DNER, este critério procura determinar o menor comprimento admissível para a transição, de modo a
não sujeitar os usuários a sensações de desconforto e insegurança devidas à rapidez da passagem da
condição de tangente para a de curva circular.
O grau de desconforto dos usuários é indicado empiricamente pela taxa de variação da
aceleração centrífuga41 , ou solavanco transversal, grandeza que expressa o quanto varia a aceleração
transversal por unidade de tempo ao longo da transição.
Ao atingir a curva circular de raio R, um veículo estará sobre uma pista inclinada
transversalmente com a superelevação eR.
No capítulo anterior já foi visto o critério de balanceamento entre as forças laterais devidas à
superelevação e ao atrito lateral, estabelecido de forma a que a soma dessas forças equilibre o efeito
da força centrífuga, conforme expresso matematicamente na fórmula [5.1].
A força lateral devida à superelevação anula apenas parte da força centrífuga, e a diferença
remanescente atua sobre o veículo.
Assim, os passageiros (e as cargas), que estão incorporados à massa do veículo em
movimento, experimentam apenas os efeitos devidos à diferença de forças supracitada.
Essa diferença de forças, projetada num plano paralelo ao da pista superelevada, equivale
ao módulo da força de atrito, conforme se pode deduzir a partir da fórmula [5.1], ou seja:
P ⋅ v2
f ⋅ P ⋅ cos( α ) = ⋅ cos( α ) − P ⋅ sen( α ) = (Fa )
g⋅R
Lembrando que essas forças atuam de fato horizontalmente, o módulo da força transversal
horizontal (FT) que é efetivamente sentida pelos passageiros (e pelas cargas) pode ser obtido
dividindo-se as parcelas da equação acima por cos(α), obtendo-se:
P ⋅ v2
FT = f ⋅ P = − P ⋅ tg( α )
g⋅ R
A aceleração transversal (aT) correspondente a esa força transversal é obtida dividindo-se a
força transversal pela massa (m) do veículo, ou seja:
F
aT = T
m
Sendo a massa do veículo equivalente ao seu peso dividido pela aceleração normal da
gravidade, e representando tg(α) pela notação de superelevação (eR), pode-se elaborar as expressões
anteriores para se chegar a:
2
FT P⋅ v  g
aT = =  − P ⋅ tg( α )  ⋅
P g⋅R  P
g 
ou, simplificando:
v2
aT = − g ⋅ eR
R
O solavanco transversal, ou taxa de variação da aceleração transversal (C) é, por definição,
dado pela divisão do valor da variação da aceleração transversal, experimentada ao se passar da
condição de tangente à de curva circular, pelo tempo (t) em que se verifica essa variação, ou seja:

41 Esta denominação é um tanto imprópria, pois sugere que a aceleração transversal (“sentida” pelos usuários e pelas cargas) seria
devida apenas à força centrífuga quando na verdade é devida à diferença entre a força centrífuga e a devida à superelevação; é mais apropriada a
denominação “taxa de variação da aceleração transversal”.
96

aT
C =
t
Como o tempo (t) que o veículo leva para percorrer o comprimento (mínimo) de transição, à
velocidade v, pode ser calculado por:
L
t = mín
v
pode-se obter, por substituição nas expressões anteriores:
aT  v2  v
C= = − g ⋅ e R  ⋅
L mín  R
  L mín
v
ou, explicitando-se a equação para o comprimento mínimo de transição:
v3 g⋅ eR ⋅ v
L mín = −
C ⋅R C
Convertendo-se a equação acima para expressar a velocidade em km/h e introduzindo-se o
valor correspondente à aceleração normal da gravidade (g=9,8 m/s2), chega -se finalmente a:
V3 eR ⋅ V
L mín = − [6.8]
46,656 ⋅ C ⋅ R 0,367 ⋅ C
onde:
Lmín : comprimento mínimo de transição (m);
V : velocidade diretriz (km/h);
R : raio da curva circular (m);
eR : superelevação da curva circular (m/m);
C : taxa (máxima admissível) de variação da aceleração transversal (m/s3).
O valor máximo admissível para a taxa de variação da aceleração transversal (C), para
atendimento a condições adequadas de conforto e de segurança, é estabelecido empiricamente pelo
DNER, sendo dado pela fórmula (DNER, 1999, p. 106):
C = 1,5 – 0,009 . V [6.9]
onde:
C : taxa máxima admissível de variação da aceleração transversal (m/s3);
V : velocidade diretriz (km/h).

6.6.1.4 Critério da máxima rampa de superelevação

Este critério se baseia no controle da elevação dos bordos da pista de rolamento em


relação ao eixo de rotação da pista, que ocorre quando se efetua a distribuição da superelevação,
visando assegurar valores razoáveis, do ponto de vista de conforto e de segurança, para a velocidade
de giro (transversal) dos veículos, ao percorrer os trechos em transição.
São fixados, em função disso, valores limites para a rampa de superelevação, que é a
diferença de inclinação longitudinal entre o perfil do eixo da pista e o perfil do bordo da pista mais
afetado pela superelevação.
O DNER estabelece valores máximos admissíveis para as rampas de superelevação,
considerando o caso básico de pista simples, com duas faixas de trânsito e desenvolvimento da
superelevação mediante giro da seção transversal em torno do eixo.
97

Os valores estabelecidos para o caso básico referem-se, portanto, às elevações do bordo


da pista em relação ao eixo de rotação da seção transversal, devido ao giro de uma largura referente a
uma faixa de trânsito, e estão relacionados, para diferentes velocidades diretrizes, na tabela 6.2.

TABELA 6.2 – RAMPAS DE SUPERELEVAÇÃO ADMISSÍVEIS : CASO BÁSICO


V (km/h) 40 50 60 70 80 90 ≥100

rmáx 1 : 137 1 : 154 1 : 169 1 : 185 1 : 200 1 : 213 1 : 233


Fonte dos dados primários: DNER (1999, p.107)

Nos casos de desenvolvimento da superelevação que envolvam o giro simultâneo de mais


de uma faixa em torno de um eixo de rotação coincidente com um dos bordos da pista, as elevações do
outro bordo da pista, em relação ao eixo de rotação se darão em ritmo mais acentuado, diretamente
proporcional ao número de faixas que giram em conjunto.
Se fossem mantidos, nesses casos, os mesmos limites para as rampas de superelevação
que correspondem ao caso básico envolvendo apenas uma faixa de giro, os comprimentos mínimos de
transição ficariam proporcionalmente maiores, podendo resultar em comprimentos de transição muito
grandes, eventualmente impraticáveis. Por isso, os valores máximos admissíveis de rampa de
superelevação são majorados para os casos em que o giro da seção transversal envolva mais de uma
faixa, quando do desenvolvimento da superelevação.
Essa majoração corresponde à aplicação de um fa tor multiplicador sobre os valores de
rampas de superelevação admissíveis correspondentes ao caso básico (de giro de uma faixa); isso
equivale à aplicação de um fator multiplicador sobre o comprimento mínimo de transição
correspondente ao caso básico.
Na tabela 6.3 estão relacionados os fatores multiplicadores acima considerados, para
aplicação aos casos envolvendo mais de uma faixa de giro.

TABELA 6.3 – FATORES MULTIPLICADORES PARA Lmín


LARGURA DE ROTAÇÃO FATOR MULTIPLICADOR
DA PISTA (Fm)
Caso básico: giro de 1 faixa 1,0
Giro conjunto de 2 faixas 1,5
Giro conjunto de 3 faixas 2,0
Giro conjunto de 4 faixas 2,5
Fonte dos dados básicos: Manual de projeto geométrico de rodovias rurais (DNER, 1999, p. 108).

Fixada a rampa de superelevação máxima (rmáx ) aplicável, calcula-se o comprimento de


transição mínimo que corresponde a essa rampa, conhecendo-se a superelevação (eR), o número de
faixas de giro no desenvolvimento da superelevação, e a largura normal de faixa (LF).
A partir do esquema ilustrado na figura 6.14, pode-se deduzir a fórmula de cálculo do
comprimento mínimo de transição, observando-se que:
∆h = Lbás . rmáx = LF . eR
resultando, para o caso básico de giro de 1 faixa:
e
L bás = L F ⋅ R
rmáx
e, portanto, para o caso geral:
98

eR
L mín = Fm ⋅ L F ⋅ [6.10]
rmáx
onde:
Lmín : comprimento mínimo de transição (m);
Fm : fator multiplicador em função da largura de rotação da pista (tabela 6.2);
LF : largura da faixa de trânsito (m);
eR : superelevação na curva circular (m/m);
rmáx : rampa de superelevação máxima admissível (tab. 6.1).

FIGURA 6.14 – RAMPA DE SUPERELEVAÇÃO

eR
∆h

áx
rm

s

L
iro
eg
od
eix

e=0

LF

6.6.2 Comprimento máximo de transição

Assim como há limites para o menor comprimento admissível de transição, há também


limites superiores que balizam a definição dos comprimentos de transição no projeto das concordâncias
horizontais.

6.6.2.1 Critério do máximo ângulo central da Clotóide

Este critério considera que será utilizada a Clotóide como curva de transição.
Para evitar comprimentos muito grandes da Clotóide em relação ao raio de curvatura em
sua extremidade (o que resultaria, aliás, em deflexões relativamente grandes da espiral), o DNER limita
o comprimento da Clotóide ao valor do raio da curva circular utilizada na concordância, ou seja:
Lmáx = R [6.11]
onde:
Lmáx : comprimento máximo de transição (m);
R : raio da curva circular (m).

6.6.2.2 Critério do tempo de percurso

Por este critério, o DNER estipula que o comprimento de transição seja limitado à distância
percorrida por um veículo, durante um tempo t = 8 segundos, na velocidade diretriz.
99

Sendo v a velocidade do veículo (em m/s), o comprimento máximo de transição


correspondente ao tempo t (em s) será:
Lmáx = v . t
expressando a velocidade em km/h e considerando o tempo de 8 s, o comprimento resultará:
V
L máx = ⋅8
3,6
ou:
Lmáx = 2,2 . V [6.12]
onde:
Lmáx : comprimento máximo de transição (m);
V : velocidade diretriz (km/h).

6.6.3 Critérios complementares

Além de situar o comprimento da transição entre os limites mínimos e máximos


especificados anteriormente, as normas do DNER fazem ainda recomendações adicionais, de ordem
prática, a serem observadas para a fixação dos comprimentos de transição a utillizar nas
concordâncias horizontais, conforme se descreve a seguir.

6.6.3.1 Critério de arredondamento

O valor a ser definido para o comprimento de transição, observados os limites tratados nos
itens anteriores, deverá ser preferencialmente arredondado para múltiplo de 10,00 m, para fins de
facilidade de cálculo (ao menos nos cálculos manuais) e de posterior locação das curvas de transição
no campo.
Em algumas circunstâncias, onde se requeira a coincidência das extremidades de espirais
de duas concordâncias sucessivas, ou onde não seja possível o emprego de valores arredondados,
poder-se-á utilizar valores fracionários.

6.6.3.2 Critério da extensão mínima com superelevação total

Para que os trechos em curva resultem em condições julgadas satisfatórias sob o ponto de
vista da aparência geral e da condução ótica, o DNER recomenda que as concordâncias horizontais
com curvas de transição sejam projetadas de forma a que os comprimentos das curvas circulares
resultem iguais ou superiores à distância percorrida no tempo de 2 segundos, na velocidade diretriz
(DNER, 1999, p. 112).
Sendo v a velocidade diretriz (em m/s), o comprimento correspondente à distância
percorrida no tempo t = 2 s será calculado por:
DC = v . t = v . 2
Ou, expressando a velocidade em km/h:
V
D Cmín = ⋅2
3,6
resultando, então:
DCmín = 0,56 . V [6.13]
100

onde:
DCmín : comprimento (desenvolvimento) mínimo da curva circular (m);
V : velocidade diretriz (km/h).

6.6.3.3 Critério de aparência geral

Visando à obtenção de uma aparência geral satisfatória, o DNER recomenda que as curvas
sucessivas, tanto no caso de curvas reversas como no caso de curvas de mesmo sentido42, sejam
projetadas de forma a que os comprimentos de transição obedeçam à seguinte relação:
R1 ⋅ L 1
≤ 2,5 [6.14]
R2 ⋅L 2
sendo:
R1 . L1 ≥ R2 . L2
onde:
R1 , R2 : raios da curvas circulares sucessivas (m);
L1 , L2 : comprimentos de transição para as respectivas curvas (m).

6.6.3.4 Critérios para concordâncias com curvas compostas

Quando o projeto de uma concordância é feito com o uso de curva composta, envolvendo
duas curvas circulares de raios diferentes, o comprimento de transição da superelevação entre essas
curvas é determinado considerando os mesmos critérios aplicáveis para curvas isoladas (incluindo o
comprimento mínimo absoluto), observando as seguintes peculiaridades:
§ na consideração do critério da máxima rampa de superelevação admissível (fórmula
[6.10]), considera-se para a superelevação eR o valor correspondente à diferença entre
as superelevações adotadas para as curvas envolvidas;
§ na consideração do critério do conforto (fórmula [6.8]), considera-se para a
superelevação eR o mesmo valor da diferença acima, e para o raio R o valor do raio
equivalente dado por:
1 1 1
= −
R eq R 1 R 2
onde:
Req : raio de curva equivalente (m);
R1 : raio da curva de menor raio (m);
R2 : raio da curva de maior raio (m).

EXEMPLO 6.4 : Caso o projeto de eixo imaginado no exemplo 4.1 fosse desenvolvido em região de
relevo ondulado, na Classe II do DNER (para projetos de rodovias novas), utilizando, para as
concordâncias horizontais no PI1 e no PI2, os raios de curva tabelados R1 = 214,88 m e R2 = 245,57 m,
respectivamente, ambas as concordâncias seriam efetuadas com curvas de transição (vide tabela 6.1).
Os comprimentos das curvas de transição deveriam obedecer aos seguintes limites, de
acordo com os critérios vistos:

42 Principalmente no caso de curvas próximas o bastante para que o desenvolvimento das superelevações entre as curvas adjacentes
resultem em interferências mútuas – (i) no caso de curvas sucessivas de sentidos contrários, quando não houver distância suficiente para se chegar à
situação de tangente intermediária com abaulamento normal, e (ii) no caso de curvas sucessivas de mesmo sentido, quando a extensão da tangente
intermediária com abaulamento normal for inferior à distância percorrida por um veícu lo, na velocidade diretriz, no tempo de 2 segundos.
101

a) limites mínimos (Lmín):


a.1) critério do comprimento mínimo absoluto:
Lmín = 0,56 . V (fórmula [6.5]);
como V = 70 km/h (vide tabela 2.3), resulta:
Lmín = 0,56 . 70 = 39,20 m;
sujeito ao mínimo admissível
Lmín = 30,00 m;
a.2) critério da fluência ótica: não é aplicável a este exemplo, pois R1,2 < 800 m;
a.3) critério do conforto: a taxa máxima admissível de variação da aceleração
transversal (fórmula [6.9]), seria:
C = 1,5 – 0,009 . V = 1,5 – 0,009 . 70 = 0,87 m/s3;
a superelevação eR a ser considerada para a curva circular de raio R1 = 214,88 m
nas condições de projeto admitidas, seria de 7,700 % (vide determinação desse
valor no exemplo 5.1); para a curva circular de raio R2 = 245,57 m, a superelevação
a considerar seria de 7,200 % (esse valor pode ser obtido diretamente na tabela 5.5
ou calculado com auxílio da fórmula [5.4]; o leitor é convidado a fazer esse cálculo);
os comprimentos mínimos de transição para os dois raios considerados seriam, de
acordo com a fórmula [6.8]:
70 3 0,077 ⋅ 70
L min( 1) = − = 22,44 m;
46,656 ⋅ 0,87 ⋅ 214,88 0,367 ⋅ 0,87
70 3 0,072 ⋅ 70
L min( 2 ) = − = 18,63m;
46,656 ⋅ 0,87 ⋅ 245,57 0,367 ⋅ 0,87
a.4) critério da máxima rampa de superelevação: considerando o caso básico, ter-se-ia:
Fm = 1,0 (tabela 6.3);
rmáx = 1:185 (tabela 6.2);
LF = 3,50 m (tabela 2.3);
resultando, portanto, de acordo com a fórmula [6.10], para os raios considerados:
0,077
L min( 1) = 1,0 ⋅ 3,50 ⋅ = 49,86m ;
1 / 185
0,072
L min( 2 ) = 1,0 ⋅ 3,50 ⋅ = 46,62m ;
1 / 185
b) limites máximos (Lmáx ):
b.1) critério do máximo ângulo central da Clotóide (fórmula [6.11]):
Lmáx(1) = R1 = 214,88 m;
Lmáx(2) = R2 = 245,57 m;
b.2) critério do tempo de percurso (fórmula [6.12]):
Lmáx = 2,2 . V = 2,2 . 70 = 154,00 m;
assim, observados esses limites, e o critério complementar de adotar para LC valores múltiplos de
10,00 m, os comprimentos de transição, para ambos os raios considerados, deveriam ficar limitados a:
50,00 m ≤ LC ≤ 150,00 m.
102

6.7 CÁLCULO DA TRANSIÇÃO COM A ESPIRAL

Dadas duas tangentes que se interceptam num PI, com certo ângulo de deflexão (I), e uma
curva circular com dado raio R, a concordância horizontal com curva de transição, envolvendo a
inserção de dois ramos de espiral, tal como representado na figura 6.6, fica definida geometricamente a
partir da fixação do comprimento LC da curva de transição (espiral) a ser utilizada.
As fórmulas para os cálculos analíticos pertinentes são deduzidas a seguir, usando o roteiro
e notação da American Railway Engineering Association (in CARVALHO, 1966).

6.7.1 Ângulo central da espiral

Tomando a perpendicular à tangente na origem da espiral (onde o raio é infinito) como


origem para a contagem de arcos e de ângulos centrais da espiral, pode-se definir, tal como
representado na figura 6.15, no entorno de um ponto M qualquer da espiral, onde o raio de curvatura é
ρ, compreendendo um arco de comprimento L e um ângulo central S, um arco elementar dL, ao qual
corresponde uma porção elementar dS do ângulo central, tal que:
dL
dS =
ρ
FIGURA 6.15 – ÂNGULOS E ARCOS DA ESPIRAL

ρ ρ=R
ρ=∞
SC dS SC
LC
S dL L = TS - M
M LC = TS - SC
L

TS
Lembrando que, na espiral (fórmula [6.2]):
ρ . L = R . LC = A2
pode-se desenvolver:
R ⋅ LC
ρ =
L
obtendo-se, por substituição:
L
dS = ⋅ dL
R ⋅ LC
Integrando esta expressão ao longo do arco, entre a origem da espiral e o ponto M, tem-se:
L L L
L 1 1  L2 
S = ∫ R ⋅ L ⋅ dL = R ⋅ L ∫ L ⋅ dL = R ⋅ L ⋅ 
0 C C 0 C  2 0
ou:
L2
S =
2 ⋅ R ⋅ LC [6.15]
103

e, no ponto osculador – na extremidade da espiral – onde L = LC e S = SC, tem-se então:


L
SC = C [6.16]
2⋅ R
onde:
SC : ângulo central da espiral (radianos);
LC : comprimento da espiral (m);
R : raio da curva circular (m).

6.7.2 Ângulo central da curva circular

Observando-se o esquema da concordância com curva de transição, reproduzido de forma


simplificada na figura 6.16, conclui-se que o ângulo central total da concordância é numericamente
igual ao ângulo de deflexão, pois as retas que limitam esses ângulos são perpendiculares entre si.

FIGURA 6.16 – ÂNGULOS CENTRAIS DA CONCORDÂNCIA

O
=
I
al
ntr
lo Ce
gu

ST
Ân
C
S

θ
SC
CS
I
SC
TS
Tem-se então que:
I = 2 . SC + θ
ou:
θ = I – 2 . SC [6.17]
onde:
θ : ângulo central da curva circular;
I : deflexão no PI;
SC : ângulo central da espiral.

6.7.3 Desenvolvimento em curva circular

Conhecido o ângulo central da curva circular e o seu raio de curvatura, pode-se determinar
o valor do comprimento do trecho em curva circular, também denominado por desenvolvimento em
curva circular, por meio da fórmula:
DC = θ . R [6.18]
onde:
DC : desenvolvimento em curva circular (m);
θ : ângulo central da curva circular (em radianos);
R : raio da curva circular (m).
104

6.7.4 Coordenadas cartesianas da espiral

A espiral de transição, como ilustrado na figura 6.2, pode ser referida a um sistema de eixos
cartesianos, com origem coincidente com a origem da espiral (onde o raio de curva é infinito), e eixo
das ordenadas coincidente com a direção da tangente à espiral nesse ponto.
As posições dos pontos da espiral de transição, numa concordância, podem ser então
caracterizados por coordenadas cartesianas (x e y), sendo as ordenadas medidas ao logo da tangente,
a partir do TS (ou do ST), e as abcissas medidas perpendicularmente à tangente, como se indica na
figura 6.17.
Tomando um ponto qualquer da espiral, com coordenadas x e y, e imaginando um arco
elementar de comprimento dL no entorno desse ponto, tal como representado na figura 6.17, pode-se
definir, a partir do triângulo elementar destacado no círculo, as seguintes relações trigonométricas:
dy = dL . cos(S)
dx = dL. sen(S)

FIGURA 6.17 – COORDENADAS CARTESIANAS DA ESPIRAL

y
xc SC dx
dy

dL
yc x
ρ=

dL S
R

y L
ρ S
Sc

ρ=∞

TS x

Lembrando que S pode ser expresso em função de L (fórmula [6.15]), pode-se obter as
expressões para as coordenadas x e y por meio das integrais definidas:
L
 L2 
x = ∫ sen  ⋅ dL

0  2⋅ R⋅LC 
L
 L2 
y = ∫ cos  ⋅ dL

0  2⋅R ⋅LC 

calculando as integrais e desenvolvendo as expressões resultantes em série, tem-se:


L3 L7 L11 L15
x= − + − + ⋅ ⋅⋅
6 ⋅ R ⋅ L C 336 ⋅ R 3 ⋅ L3C 42.240 ⋅ R 5 ⋅ L5C 9.676 .800 ⋅ R 7 ⋅ L7C
L5 L9 L13
y = L− + − + ⋅⋅ ⋅
40 ⋅ R 2 ⋅ L2C 3 .456 ⋅ R 4 ⋅ L4C 599.040 ⋅ R 6 ⋅ L6C
105

Estas expressões podem ser simplificadas, lembrando a relação expressa pela fórmula
[6.15], reduzindo-se-as para:

L ⋅ S  S2 S4 S6 
x= ⋅  1 − + − + ... [6.19]
3  14 440 25.200 

 S2 S4 S6 
y = L ⋅  1 − + − + ... [6.20]
 10 216 9 .360 

As coordenadas cartesianas do ponto osculador, na extremidade da espiral (SC ou CS),


representadas pela notação yC e xC, podem ser então calculadas por meio das fórmulas acima, pois
nesse ponto S = SC e L = LC.
Resultam daí as fórmulas seguintes, já se desconsiderando as parcelas menos
significativas:
L ⋅ S  S2 S 4 
x C = C C ⋅  1 − C + C − ... [6.21]
3  14 440 
 S 2C S 4C 
yC = L C ⋅  1 − + − ... [6.22]
 10 216 
onde:
yC : ordenada da extremidade da espiral (m);
xC : abcissa da extremidade da espiral (m);
LC : comprimento da espiral (m);
SC : ângulo central da espiral (radianos).

6.7.5 Parâmetros do recuo da curva circular

Na concordância com curva de transição, como já visto, a introdução dos ramos de espiral é
viabilizada geometricamente mediante o afastamento da curva circular em relação às tangentes.

FIGURA 6.18 – PARÂMETROS DA TRANSIÇÃO A RAIO CONSERVADO

O'

O
ST
S
c

θ
Sc

Sc

I /2

CS
F
SC Y t
(PC') E
G xc H
TS p I
(PC)
A q B C D
d PI
yc
TS
106

Na figura 6.18 está representada esquematicamente uma concordância inicial imaginária


com curva circular simples que foi convertida em concordância com transição, mediante o recuo da
curva circular e a inserção de dois ramos de espiral.
Tudo se passa como se o PC da concordância original (imaginária) com curva circular
simples (ponto C na figura 6.18) fosse recuado para a posição PC’ ( ponto G na figura 6.18).
Em relação ao mesmo sistema de eixos cartesianos que referencia as coordenadas (x,y) da
espiral de transição, pode-se definir as coordenadas (p,q) do PC recuado (PC’).
Assim, a abcissa p mede o afastamento da curva circular em relação à tangente.
Como a concordância é simétrica, no caso, o mesmo ocorre com o PT, que é recuado para
a posição PT’, afastando-se da tangente de um valor medido pela abcissa p.
A coordenada q corresponde à ordenada do ponto recuado (PC’ ou PT’), medida sobre a
tangente, a partir da origem da espiral (TS ou ST).
Ao afastamento (p) da curva circular, em relação às tangentes, corresponde um recuo da
curva circular, em relação à sua posição inicial imaginária, designado pela letra t.
Da figura 6.18 pode-se inferir diretamente as seguintes relações geométricas simples:
§ abcissa (p) do PC recuado ou do PT recuado:
p = BG = BF − FG = BF − (O' G − O' F) = BF − [O ' G − O ' E ⋅ cos( S C )]
ou:
p = xC − R ⋅ [1 − cos( S C )] [6.23]
onde:
p : afastamento da curva circular, ou abcissa do PC’ ou do PT’ (m);
xC : abcissa da extremidade da espiral (m);
R : raio da curva circular (m);
SC : ângulo central da espiral (radianos);
§ ordenada (q) do PC recuado ou do PT recuado:
q = AB = AD − BD = AD − FE = AD − O ' E ⋅ sen(S C )
ou:
q = y C − R ⋅ sen(S C ) [6.24]
onde:
q : ordenada do PC’ ou do PT’ (m);
yC : ordenada da extremidade da espiral (m);
R : raio da curva circular (m);
SC : ângulo central da espiral (radianos);
§ recuo (t) da curva circular:
GB
t = HY = CG =
cos ( Ι 2 )
ou:
p
t= [6.25]
cos( Ι 2 )
onde:
p : afastamento da curva circular, ou abcissa do PC’ ou do PT’ (m);
I : deflexão no PI.
107

6.7.6 Tangente exterior

Da observação da figura 6.18, pode-se deduzir a fórmula para o cálculo da tangente exterior
(TS), por meio das seguintes relações geométricas imediatas:
Ι
TS = (TS)(PI) = A (PI) = AB + B(PI) = AB + O ' B ⋅ tg 
 2
Ι 
TS = AB + (O' G + GB) ⋅ tg 
2
ou, finalmente:
 Ι
TS = q + (p + R) ⋅ tg  [6.26]
 2
onde:
TS : tangente exterior (m);
q : ordenada do PC’ou do PT’ (m);
p : abcissa do PC’ ou do PT’ (m);
R : raio da curva circular (m);
I : deflexão no PI.

EXEMPLO 6.5 : Projetando-se o eixo de uma rodovia nova, em região de relevo ondulado, na Classe II
do DNER, a partir dos alinhamentos representados na figura 4.3, e utilizando-se os raios de curva R1 =
214,88 m e R2 = 245,57 m, ambas as concordâncias horizontais deverão ser feitas com curvas de
transição (vide tabela 6.1).
Os comprimentos de transição, para ambas as concordâncias, poderão ser definidos no
intervalo 50,00 m ≤ LC ≤ 150,00 m, conforme visto no exemplo 6.4.
Escolhendo-se, para os dois casos, o menor valor, isto é, LC1 = 50,00 m e LC2 = 50,00 m, as
concordâncias com espirais de transição poderão ser analiticamente calculadas, de acordo com a
seguinte seqüência:
§ ângulos centrais das espirais (fórmula [6.16]):
50,00 0
S C1 = = 0,116.344 rd = 6 39'58"
2 ⋅ 214,88
50,00 0
S C2 = = 0,101.804rd = 5 49'59"
2 ⋅ 245,57
§ ângulos centrais das curvas circulares (fórmula [6.17]):
θ1 = 24012’40” – 2 . (6039’58”) = 10052’44”
θ2 = 32049’50” – 2 . (5049’59”) = 21009’52”
§ desenvolvimentos em curvas circulares (fórmula [6.18]):
DC1 = (10052’44”) . (π/1800) . 214,88 = 40,80 m
DC2 = (21009’52”) . (π/1800) . 245,57 = 90,71 m
§ coordenadas xC e yC (fórmulas [6.21] e [6.22]):

50,00 ⋅ 0,116 .344  0,116.344 2 0,116.344 4 


x C1 = ⋅  1 − + − ... = 1,94 m;
3  14 440 
 0,116.344 2 0,116.344 4 
y C1 = 50,00 ⋅  1 − + − ... = 49,93m;
 10 216 
108

50,00 ⋅ 0,101.804  0,101 .804 2 0,101 .804 4 


x C2 = ⋅  1 − + − ... = 1,70m;
3  14 440 
2 4
0,101.804
 0,101.804 
y C1 = 50,00 ⋅  1 − + − ... = 49,95m;
 10 216 
§ parâmetros p e q (fórmulas [6.23] e [6.24]):
p1 = 1,94 – 214,88 . [1 – cos(6039’58”)] = 0,49 m;
q1 = 49,93 – 214,88 . sen(6039’58”) = 24,99 m;
p2 = 1,70 – 245,57 . [1 – cos(5049’59”)] = 0,43 m;
q2 = 49,95 – 245,57 . sen(5049’59”) = 24,99 m;
§ tangentes exteriores (fórmula [6.26]):
 24 012'40" 
TS1 = 24,99 + (0,49 + 214,88 ) ⋅ tg  = 71,18m;
 2 
 32 0 49'50" 
TS2 = 24 ,99 + (0,43 + 245,57) ⋅ tg  = 97,46m;
 2 
§ estaqueamento dos pontos singulares:
TS 1 = 0 = PP − PI1 − TS1 = 133,97m − 71,18m = 62,79m ≡ 3 + 2,79m;
SC1 = TS1 + LC1 = 3 + 2,79 m + 50,00 m ≡ 5 + 12,79 m;
CS1 = SC1 + DC1 = 5 + 12,79 m + 40,80 m ≡ 7 + 13,59 m;
ST1 = CS1 + LC1 = 7 + 13,59 m + 50,00 m ≡ 10 + 3,59 m;
TS 2 = ST1 + (PI1 − PI 2 − TS1 − TS 2 ) =
10 + 3,59m + (199,49m − 71,18m − 97,46m) ≡ 11 + 14,44m;
SC2 = TS2 + LC2 = 11 + 14,44 m + 50,00 m ≡ 14 + 4,44 m;
CS2 = SC2 + DC2 = 14 + 4,44 m + 90,71 m ≡ 18 + 15,15 m;
ST2 = CS2 + LC2 = 18 + 15,15 m + 50,00 m ≡ 21 + 5,15 m;
PF = ST2 + (PI2 − PF − TS2 ) = 21 + 5,15m + (151,12m − 97,46m) ≡ 23 + 18,81m.
Compare os resultados encontrados com os valores referidos no exemplo 6.1.
Observe que o desenvolvimento em curva circular da 1a concordância (D C1 = 40,80 m)
resultou maior que a distância percorrida, à velocidade diretriz, durante o tempo de 2 s, ou seja (vide
fórmula [6.13]:
DC1 > Dcmín = 0,56 . 70 = 39,20 m
(seria possível utilizar, na concordância horizontal do PI1, uma curva de transição com comprimento
LC1 = 60,00 m? Por que?).
Uma vez calculadas analiticamente as concordâncias com espirais de transição, a
representação gráfica do eixo projetado em escala pode ser feito de forma simples, observando-se os
seguintes passos para o desenho de cada concordância horizontal:
§ assinalam-se, com auxílio de um escalímetro, as posições do TS e do ST ao longo das
tangentes, medindo-se o comprimento da tangente exterior a partir do PI; baixam-se,
por esses pontos, segmentos de reta perpendiculares às tangentes, para
referenciamento das estacas correspondentes a esses pontos singulares;
§ marcam-se as posições do SC e do CS por meio das coordenadas xC e yC;
109

§ determina-se, com auxílio de um compasso, a posição do centro (O) da curva circular,


marcado pela interseção de arcos traçados com centro no SC e no CS, e raio (R) igual
ao da curva circular;
§ com centro em O, e abertura do compasso igual ao raio R, traça-se o arco de curva
circular entre o SC e o CS; baixam-se, por esses pontos, segmentos de reta
perpendiculares ao eixo (na direção do centro O), para fins de referenciamento desses
pontos singulares;
§ com auxílio de régua de curvas (ou “curva francesa”), traçam-se as espirais entre TS e
SC e entre CS e ST, tendo como referências os pontos correspondentes às origens e
às extremidades das curvas, e as direções das tangentes às curvas nesses pontos.
Na figura 6.19 está representado graficamente o eixo projetado conforme o exemplo 6.5,
calculado com as curvas de transição escolhidas, desenhado de acordo com as convenções básicas
recomendadas pelo Manual de serviços de consultoria para estudos e projetos rodoviários (DNER,
1978, v.2).

FIGURA 6.19 – DESENHO DO EIXO PROJETADO COM CURVAS DE TRANSIÇÃO

9.681.400

N ST
2
=2
CS 2

PF= 23 + 18,81m
1+
=1

E
5,1
SC 2 =

8+
T S2 = 1 1

5m
15
,15
14 +

20
+ 14,44

4,44
m
m

9.681.200
PI1
10 5 PI 2
ST = 1 0
CS 1 =

5
1
SC 1

7+1

+ 3,5
=5
TS 1

+1

3,59
=3

9m
2,7
+2

0=PP
9m
,79

TABELA DE PARÂMETROS DAS CONCORDÂNCIAS


m

Vértice I R LC θ DC xC yC p q TS
(m) (m) (m) (m) (m) (m) (m) (m)
PI1 240 12’40” 214,88 50,00 10 052’45” 40,80 1,94 49,93 0,49 24,99 71,18
PI2 320 49’50” 245,57 50,00 21 009’53” 90,71 1,70 49,95 0,43 24,99 97,46

9.681.000
831.000 831.200 831.400

O desenho do eixo projetado resulta um tanto impreciso devido ao processo de


aproximação gráfica e às escalas convencionalmente utilizadas, mas isto não afeta o projeto da rodovia
propriamente dito, pois essa forma de representação gráfica das concordâncias, incluindo as espirais
de transição, visa apenas a permitir a visualização do eixo projetado numa planta plani-altimétrica, em
escala conveniente.

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