Modalidades Discursivas

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Modalização - Narrativa Jurídica

A modalização é um fenômeno discursivo em que um sujeito falante se coloca como


fonte de referências pessoais, temporais, espaciais, e, ao mesmo tempo, toma uma
atitude em relação ao que diz ou ao seu co-enunciador. Ela pode ser evidenciada nas
manifestações escritas e orais da linguagem, nos mais variados contextos.
Enfim, modalização é o sustentáculo da enunciação na medida em que ela permite
explicitar as posições do sujeito falante em relação a seu interlocutor, a ele mesmo e a
seu propósito (Charaudeau, 1990). É a marca que o sujeito deixa no seu discurso.
Exemplos de modalização

* Vai chover amanhã.


- Acho que vai chover amanhã.

* Ele tem 50 anos de profissão.


- Ele tem uns 50 anos de profissão.

* A experiência vai dar certo.


- A experiência tem de dar certo
As Expressões Modalizadoras:
a) são elementos linguísticos diretamente ligados ao evento de produção do enunciado;
b) funcionam como indicadores de intenções, sentimentos e atitudes do locutor com
relação a seu discurso;
c) revelam o grau de engajamento do falante em relação ao conteúdo proposicional
veiculado.

Tipos Básicos:
a) Modalidades Epistêmicas: referem-se ao eixo do saber (certeza/ probabilidade);
· Crer – eu acho, é possível
Provavelmente virei.
· Saber – eu sei, é certo
Virei sem falta.
b) Modalidades Deônticas: referem-se ao eixo da conduta (obrigatoriedade/
permissibilidade).
· Proibido: Não se deve fumar na sala de espera do consultório.
· Obrigatório: A vida tem que valer a pena.
Modalidades discursivas – descrição
O texto descrito tem as seguintes características:
1. Oferece a visualização de características sensoriais ou físicas.
2. Pode ser objetiva (apresentação daquilo que de fato é visto no objeto) ou
subjetivas (as impressões do observador a respeito do objeto visto)

“Foi a primeira calça literária, totalmente poética, do meu conhecimento. [...] Caracteres pretos
sobre fundo branco. Versos em todas as direções. de Bilac, de Cecília, de Bandeira, de Castro Alves.
(DRUMMOND, 2007, 155)

3. O autor utiliza muitos adjetivos, locuções adjetivas e orações adjetivas;


advérbios e expressões indicativas de lugar; formas verbais no presente e no
pretérito imperfeito.
4. A descrição apresenta a ênfase na qualificação ou particularização de um
elemento.

“Da verde mata de arvoredo espesso, sob um céu de mau presságio, surge a fera, ágil e faminta de raias
negras e amarelas – domina o quadro inteiro; junto com o seu imenso corpanzil os homens são pigmeus,
e as árvores, arbustos de jardim. Fuzilam os olhos do bichano, aqueles olhos de iluminação, única luz
presente, pois, tendo refletido , mestre Corró desistiu dos raios, por falsos e excessivos.

Texto motivador: A calça literária.

Uma vida bem vivida. C.W.Cope,1862. Galeria Christopher Wood, Londres.


1. Faça uma descrição objetiva da cena.
2. Crie uma narrativa sobre as personagens descritas.

Modalidades discursivas – narração


A narração geralmente é definida como uma “sequência de ações interligadas
que progridem para um fim”; em outras palavras, o texto é o relato de acontecimentos,
fictícios ou não, contados por um narrador, por meio da ação de seus personagens. A
crônica, o conto, o romance, a fábula, as epopeias são gêneros textuais em que
esta modalidade discursiva   é   usada.
São características da narração:
1. A ordem dos fatos é, em geral, cronológica (início, meio e fim  são apresentados em
sequência).
Algum   tempo hesitei  se  devia  abrir estas  memórias  pelo  princípio ou  pelo   fim, isto
é, se poria em primeiro  lugar  o meu  nascimento ou   a  minha  morte. Suposto o  uso 
vulgar seja começar  pelo  nascimento, duas considerações me  levaram a  adotar diferente
método: a  primeira é que eu  não sou  propriamente um autor  defunto, mas  um defunto 
autor, para  quem a campa   foi outro   berço; a segunda é  que o escrito ficaria assim 
mais   galante e mais    novo. (ASSIS, 1994, 17)
2.  Os elementos   básicos  são tempo, espaço, enredo,  narrador e personagens.

Como  é que  sei   tudo o  que   vai se seguir e que ainda desconheço, já  que   nunca  o 
vivi? É que numa  rua  do Rio de  Janeiro peguei  ao  ar de  relance o sentimento de 
perdição   no  rosto de  uma  moça  nordestina. Sem falar que eu em  menino  me  criei no
Nordeste. […] A história  – determino  com  falso livre  arbítrio – vai  ter uns sete
personagens e eu sou  o mais  importante  deles, é  claro.  Eu, Rodrigo S.M. Relato antigo,
este,  pois  não quero ser  modernoso e  inventar modismos à guisa de  originalidade. 
(LISPECTOR, 1995,26-27)

3. Os tempos e modos  verbais  mais usados são: pretérito  imperfeito, pretérito perfeito,
pretérito  mais que perfeito e futuro do pretérito.

Modalidades discursivas – a argumentação


O que é uma argumentação? Qual a intenção do autor – falante ou escritor – ao
escolher tal modo de organização do discurso? A argumentação, assim como a
exposição, é uma das características do texto dissertativo.
Na dissertação, o autor expõe e defende seu ponto de visto por meio de argumentos. É
a modalidade presente nos debates, nas resenhas e textos acadêmicos em geral.
1. A estrutura do texto argumentativo é: ideia principal, argumentos e ratificação da
ideia principal.
2. Emprego de provas ou justificativas para reforçar ou rebater uma opinião ou   tese.

Há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos
de falar: é muito comum se considerarem as variedades linguísticas de menor prestígio
como inferiores ou erradas. O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às
falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de
educação para  respeito à diferença. Para isso, e também para poder ensinar Língua Portuguesa, a
escola precisa livrar-se de  alguns mitos: o de que  existe uma  única forma “certa” de   falar –  a
que parece com a  escrita –  e  o de que a escrita é  o  espelho da fala –  e, sendo assim, seria 
preciso “consertar” a    fala do aluno para evitar  que ele escreva errado. Essas  duas práticas 
produziram uma  prática de  mutilação cultural que, além de  desvalorizar a  forma de  falar do
aluno, tratando sua comunidade como se  fosse formada por  incapazes, denota desconhecimento
de que a escrita de  uma língua não  corresponde inteiramente a  nenhum de seus dialetos. 
(Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa)

3.  Ênfase na persuasão. O autor tem a intenção de convencer o  seu  interlocutor.

Modalidades discursivas – a exposição


A série de resumos sobre modos de organização do discurso começou no  dia  2
de agosto com  o  objetivo de fazer, no blog, um  breve registro de  minhas  aulas sobre
o   tema.  Hoje o tópico é a exposição.
1. A exposição consiste em uma sequência de informações sobre um assunto, de
modo impessoal.
2. O texto é, geralmente, estruturado a partir de uma ideia central, desenvolvimento e
uma conclusão.
3.  Utiliza linguagem clara e objetiva. Está relacionada à função referencial da
linguagem.
4. O autor deseja expor um conceito ou uma ideia, analisar um  fato ou   informar algo.
5.  É o modo de organização dos artigos científicos, os livros didáticos, as palestras, os
textos jornalísticos.

Figurinos franceses, crítica teatral, literatura, música, artes e muita ousadia. Estes foram os  
ingredientes utilizados por duas mulheres, em  meados do século XIX, para a criação de  um 
periódico semanal voltado para  o público feminino:  O Jornal das Senhoras.[….]Os  artigos
reivindicavam o  direito a  uma educação ampliada  que promovesse o aprimoramento cultural  
feminino  por meio da  literatura e das artes. Isto explica o subtítulo do jornal “Modas, literatura,
belas artes, teatros  e crítica”. (NOSSA HISTÓRIA, n. 19 , 2005, p.13)

Modalidades discursivas: a injunção

A organização de um texto é feita a partir de três modos básicos: o narrativo, o


descritivo e o dissertativo. Entendemos, no entanto, que nem todo texto corresponde a
estas modalidades; o que dizer, por exemplo, de uma bula de remédio? Ou um bilhete
da mãe pedindo ao filho para tirar a carne do congelador?

A injunção está presente em nosso cotidiano por meio de textos muito comuns como 


os manuais de instrução, as receitas de bolo, as campanhas  eleitorais e publicitárias, as 
regras de  jogos. Suas principais características são:

1. O autor da mensagem dirige-se ao leitor ou ouvinte por meio de comandos,


geralmente utilizando verbos no   imperativo. No   texto injuntivo, predomina a
função apelativa da linguagem.
2. Em muitos casos, a mensagem é composta de duas partes: a enumeração
dos elementos e a explicação  sobre  o  modo de  realizar  a  tarefa.
3. Linguagem clara, didática, de modo a promover a execução perfeita da tarefa.
Para fazer um poema dadaísta

Tristan Tzara

Pegue um jornal
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as
num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que
incompreendido do público.

A narrativa jurídica simples e a narrativa jurídica valorada


A narrativa simples e valorada são sequências linguísticas de que todo
profissional do Direito tem conhecimento, uma vez que representam estruturas básicas
na composição das peças processuais. Grosso modo, elas se diferenciam pela ausência
ou presença do ponto de vista do enunciador do texto.
Uma vez que todo texto é produzido por um sujeito, constituído por diferentes
crenças e valores, é natural que, em seus discursos, seu ponto de vista esteja
manifestado na superfície da língua. Nesse sentido, a linguística da enunciação – assim
como outras teorias linguísticas que têm o discurso como seu objeto de análise –
defende que a expressão linguística sempre envolve um certo enquadramento do olhar,
um ponto de vista sobre aquilo que se enuncia, mesmo quando as marcas linguísticas
que evidenciam a subjetividade não estão presentes no texto.
Tais marcas linguísticas que evidenciam a subjetividade são normalmente
associadas à presença de palavras ou expressões dêiticas ou elementos modalizadores.
Por dêixis, entende-se a identificação, na superfície do texto, de elementos pertencentes
ao contexto espaciotemporal, criados e mantidos pela enunciação. Comumente,
dividem-se em três domínios, conforme focalizem as pessoas da enunciação – o par
eu/tu –, o momento – o “agora” ou expressões temporais ancoradas a partir do “agora”
(ontem, amanhã etc.) – e o espaço – o “aqui” ou expressões locativas ancoradas a partir
do “aqui” (lá, acolá etc.). Como ilustração, observemos dois exemplos:

(1) Todo metal é condutor de calor.


(2) Eu preciso falar com você, aqui e agora.

No exemplo (1), temos uma frase cujas palavras não representam elementos
dêiticos, isto é, não fazem referência ao contexto de produção do discurso, de modo que
seu sentido seja válido por quaisquer pessoas que a enunciem. Nesse aspecto, tal frase
apresenta a função referencial da língua (JAKOBSON, 1974), pois trata de um dado
objetivo, não associado à perspectiva do sujeito ou ao momento e ao lugar da
enunciação.
Em contrapartida, no exemplo (2), a frase só tem validade quando associada ao
contexto em que foi produzida. Se essa sentença fosse proferida por um locutor
chamado “Márcio”, dirigindo-se a um interlocutor cujo nome é “Robson”, às 16h, em
sua casa, as palavras “eu”, “você”, “aqui” e “agora” assumiriam tais sentidos. Sob esse
ponto de vista, esses mesmos referentes não seriam acionados caso essa frase fosse
proferida por outra pessoa, em outras circunstâncias. Por isso, Benveniste (1988)
defende que as expressões dêiticas são signos vazios, uma vez que sua referência só
pode ser atribuída a partir do contexto de produção do enunciado (isto é, a partir da
enunciação).
Em se tratando dos aspectos da objetividade e da imparcialidade, sabemos que a
narrativa simples tem como uma de suas características a ausência de estruturas dêiticas.
Vale ressaltar, contudo, que expressões do tipo eu-tu-aqui-agora nem sempre assim se
configuram, pois podem remeter apenas referentes presentes na superfície do texto, e
não no contexto sociodiscursivo, como nos casos em que se faz uso do discurso direto,
em que as expressões do tipo eu-tu-aqui-agora têm como referência elementos
circunscritos no texto. Veja um exemplo de narrativa jurídica em que o produtor do
texto recorre ao relato de uma delegada. Nesse caso, o uso da primeira pessoa –
expressa pela desinência número-pessoal do verbo – refere-se, na verdade, a uma
terceira pessoa, e não ao enunciador do texto.

Maria do Carmo foi presa em flagrante e levada à


Cadeia Feminina de Ribeirão Bonito, deixando
com o marido seus seis filhos, com idades entre 3 e
13 anos. Segundo o delegado Maurício Dotta, da
Delegacia de Investigações Gerais (DIG), de São
Carlos, a mãe da criança violentada disse que
matou o adolescente porque ele a teria provocado,
afirmando que, por ser menor, não ficaria preso.
“ESTOU tão surpresa quanto os senhores
(jornalistas). Nunca IMAGINEI que ela fosse
praticar esse ato”, declarou a delegada Elelze
Martins.

No tocante aos elementos modalizadores, eles constituem as marcas linguísticas


que evidenciam a valoração, isto é, “explicitam as posições do sujeito falante em
relação a seu interlocutor, a si mesmo e a seu propósito” (CHARAUDEAU, 1992, p.
572). Segundo Kebrat-Orecchioni (2005), a modalização manifesta o grau de adesão
(forte ou fraca, incerteza, rejeição) do sujeito da enunciação aos conteúdos enunciados.
Dentre esses elementos, destacam-se as seguintes categorias: a) adjetivos e advérbios
axiológicos (valorativos); b) verbos e advérbios que expressam modalidade epistêmica,
deôntica ou alética.
Em a, estão inseridos elementos que indicam um determinado ponto de vista.
Dizer, por exemplo, que “determinado sofá é confortável” é expressar uma opinião
sobre o referente – o sofá –, na medida em que essa qualidade poderia ser refutada por
um outro sujeito. No mesmo sentido, o termo “felizmente”, em “felizmente, ela chegou
a tempo”, expressa um sentimento do falante frente ao fato enunciado.
Em b, constam enunciados que dizem respeito à crença do falante diante do fato
expresso (modalidade epistêmica); que indicam um dever/obrigação ou permissão
expressa pelo falante em relação ao próprio enunciado (modalidade deôntica); que
apontam uma necessidade sob o ponto de vista do enunciador (modalidade alética).
Abaixo, seguem alguns exemplos como ilustração:

(3) Modalidade epistêmica: A empresa Blindex trouxe suas razões à fols. 375/385,
aduzindo que a responsabilidade pelo ocorrido TALVEZ tenha sido dos pais do menor,
bem evidenciada a culpa in vigilando e que a circunstância de haver duas crianças no
banheiro à hora do acidente pode revelar a falta de responsabilidade da empresa
apelante. (FETZNER et al., 2015, p. 156) epistêmica);

(4) Modalidade deôntica: DEVE a empresa-Ré, portanto, ressarcir o cliente pelas


despesas indevidas em virtude da inadequada prestação de serviços (FETZNER et al.,
2015, p. 161);

(5) Modalidade alética: Dessa maneira, estando os Réus no exercício da servidão de


passagem ainda não regularmente extinta, não DEVE sua conduta ser qualificada de
ilícita (FETZNER et al., 2015, p.184).

Por conseguinte, a partir das categorias linguísticas tratadas neste tópico,


observamos que as sequências discursivas que denominamos narrativa simples e
narrativa valorada se caracterizam pela ausência de dêiticos e modalizações (narrativa
simples) ou pela presença desses elementos (narrativa valorada). Como ilustração
dessas categorias no texto jurídico, vejamos dois trechos de narrativas extraídas de
peças processuais que evidenciam tais aspectos. Na narrativa valorada, destacamos a
dêixis e a modalização como estratégia didática.
Referências:

ASSIS, Machado. Memórias  póstumas  de  Brás  Cubas. São Paulo:  Ática, 1994  p.
17 (Série Bom Livro)
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 23.ed. São Paulo: Francisco Alves, 1995,
p.26-27

Referências:
AMADO, Jorge. Tenda dos milagres. São Paulo: Record, 2001. p.77
DRUMMOND, Carlos Drummond de Andrade. A calça literária. De notícias e não
notícias faz-se a crônica. São Paulo: Record, 2007, p.154-156

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