Inception
Inception
Inception
Bom, sonhos, eles são reais quando estamos neles, certo? É só quando acordamos que a gente
percebe algo estranho, na verdade. – Inception
Synthetic Meditations: Cogito in the Matrix - Erik Davis ''Quando questionamos se estamos
sonhando, se esse mundo é real ou não, não é a resposta que importa, porque respondendo
de maneira simples: não há respostas certas. O que realmente importa é como essas questões
se dão em nossa mente e como essa incerteza ontológica nos afeta. Nesse sentido, essas
interrogações não são realmente questões, elas são ferramentas. Elas nos ajudam a abrir e
dissecar o que nós geralmente tomamos como certo em nossa percepção, nossas crenças e até
nosso senso de nós mesmos, nossa identidade. Como resultado, a realidade se torna menos
dada como objetiva e mais aceita como subjetiva. Se torna o que acreditamos que seja.
Mas mais interessante que a idéia de que podemos deliberadamente criar a nossa visão de
realidade é a idéia de que isso pode ocorrer de maneira inconsciente. Se nossa realidade é
ditada pela mente, isso significa que há forças construtivas além da nossa consciência presente
imediata, pois nossa mente também contém camadas do subconsciente e estados emocionais
que estão em atividade paralelamente com a nossa consciência imediata. E isso acaba
apresentando mais uma camada de vulnerabilidade, ou seja, nossa realidade e, por extensão,
nossa identidade é suscetível à perturbação e manipulação.
O conceito da Inserção serve unicamente para articular diretamente com o que nós todos
experimentamos indiretamente. Exige de nós que pensemos sobre nossa própria realidade
psicológica; como fomos influenciados (incepted)? Quais são as idéias parasitárias que causam
destruição em nossa psiquê? Quais foram os momentos que reviraram nossa vida de cabeça
para baixo? Quais convicções foram enraizadas em nosso subconciente? Quais são as reais
raízes das concepções que possuímos sobre nós mesmos? Aquelas crenças que temos como
certas, elas nasceram realmente dentro de nós mesmos? Quem impactou nossas vidas e
nossa identidade? Nos moldou no que somos hoje? Inception é muito mais sobre reconhecer
nós mesmos como seres (emocionais) complexos e sensíveis; sobre admitir que nossa
consciência é maior que nossa mente racional. Maior do que a ordem lógica agregada de
nossos pensamentos, crenças e memórias. Nós todos experienciamos o mundo
subjetivamente, e nos esforçamos para determinar o que é real. O que é real sobre o mundo e
as pessoas à nossa volta; o que é real sobre nós mesmos.
(L.C.) Uma grande tragédia é justamente este fato de que cada um percebe, vive e corrobora
sua própria realidade, levando inevitavelmente à uma tragédia de separação, onde a causa do
sofrimento pessoal e coletivo se torna essa incompreensão da realidade alheia e a frustração
de não realizar a premissa básica do ser humano, a de viver em unidade. Atualmente a
resposta interna gerada por esse dilema é imatura, levando a um efeito cada vez mais
separatista, onde cada um tenta enquadrar o outro em sua realidade para assim demostrar o
quanto ela está próxima de uma descrição verdadeira, uma teoria unificada da realidade
última. Esse impulso inseguro e infantil pode e deve ser substituído simplesmente por uma
outra polaridade desse desejo fundamental por unidade entre os seres, um impulso onde a
vontade origine uma ação incansável por genuinamente construir e desvendar essa realidade
coletiva aproximada, onde as noções de percepção se encontrem pelo menos
satisfatóriamente próxima e vetorialmente alinhadas. Isso exige uma certa honestidade
científica por parte de cada ser humano, um querer compreender a realidade da vida além das
próprias expectativas pessoais. Essa tarefa gigantescamente complexa em sua logística pode
unicamente ser atingida através do que, através das eras, foi denominado de
autoconhecimento. Cada um se conhecendo, colhendo dados e entendedo a si e seu entorno,
pode assim estar apto a compartilhar essas descobertas com outros buscadores e então,
verdadeiramente, o sentido de união e fraternidade irá ter atingido seu real significado e
poder, a busca coletiva pela Unidade através do instinto visceral de toda alma humanizada de
retornar à uma realidade maior.