3 - Economia Dos Recursos Naturais E Do Meio Ambiente - Livro

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CRESCIMENTO ECONÔMICO, USO DOS RECURSOS

NATURAIS E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: UMA APLICAÇÃO


DO MODELO EKC NO BRASIL

LUIZ FERNANDO OHARA KAMOGAWA

Dissertação apresentada à Escola Superior


de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
Universidade de São Paulo, para obtenção
do título de Mestre em Ciências: Área de
concentração: Economia Aplicada.

PIRACICABA
Estado de São Paulo – Brasil
Dezembro de 2003
CRESCIMENTO ECONÔMICO, USO DOS RECURSOS
NATURAIS E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: UMA APLICAÇÃO
DO MODELO EKC NO BRASIL

LUIZ FERNANDO OHARA KAMOGAWA


Bacharel em Ciências Econômicas

Orientador: Prof. Dr. RICARDO SHIROTA

Dissertação apresentada à Escola Superior


de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
Universidade de São Paulo, para obtenção
do título de Mestre em Ciências: Área de
concentração: Economia Aplicada.

P I R A C I C A BA
Estado de São Paulo – Brasil
Dezembro - 2003
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - ESALQ/USP

Kamogawa, Luiz Fernando Ohara


Crescimento econômico, uso dos recursos naturais e degradação ambiental: Uma aplicação do
modelo EKC no Brasil / Luiz Fernando Ohara Kamogawa. - - Piracicaba, 2003.
121 p. : il.

Dissertação (mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2003.


Bibliografia.

1. Água (qualidade) 2. Consumo de energia elétrica 3. Crescimento Econômico 4. Degradação


ambiental 5. Desenvolvimento Econômico 6. Recursos naturais (uso) I. Título

CDD 333.72

“Permitida a cópia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte – O autor”
Aos meus Pais.
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Ricardo Shirota por ter sido mais que um orientador um
grande conselheiro e amigo em todos estes anos.

À Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) por


tudo que ela fez em minha vida, o conhecimento transmitido, e a oportunidade dada.
È uma honra poder ser “esalqueano” e tudo o que isso representa.

Aos professores Alexandre Lahóz Mendonça de Barros, Roberto de


Arruda Lima e Sílvia Helena Galvão de Miranda pelas importantes sugestões e
críticas feitas na parte final deste processo.

Aos demais professores do PG-Economia Aplicada.

À Maria Aparecida Maielli Travalini pela fundamental ajuda nos


momentos essenciais.

À Ligiana do Carmo Clemente pela sua substancial ajuda na


formatação do trabalho.

Aos meus pais pela educação, conhecimento e afeto concedidos em


toda a minha vida. Tenham certeza que grande mérito deste trabalho é de vocês.
v

À Karen pelo seu apoio e companhia.

À minha irmã Juliana por sua alegria e carinho transmitidos.

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior) pelo apoio financeiro dado para a conclusão deste estudo.

Aos amigos e quase irmãos, Alexandre Vargha do Amaral, Luiz


Antônio Rodriguez de Souza, Marcos Hamamura e Jum Tabata.

À todos os meus colegas do PPG-Economia Aplicada pelo


companheirismo e ajuda nestes últimos anos.
SUMÁRIO

Página

LISTA DE FIGURAS........................................................................................ viii

LISTA DE QUADROS....................................................................................... xi

LISTA DE TABELAS........................................................................................ xii

RESUMO............................................................................................................ xvi

SUMMARY........................................................................................................ xviii

RESUMEN.......................................................................................................... xx

1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 1

1.1 Crescimento econômico e degradação ambiental............................... 3

1.2 Objetivos............................................................................................. 5

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................... 7

2.1 Crescimento econômico...................................................................... 7

2.2 Recursos naturais e ambientais........................................................... 9

2.3 Degradação e depreciação do meio-ambiente..................................... 10

2.4 Indicadores de qualidade Ambiental................................................... 11

2.4.1 Água e a qualidade ambiental............................................................. 12

2.4.1.1 Água no Brasil.................................................................................... 14

2.4.1.2 Água doce no Brasil: aspectos legais.................................................. 17

2.4.1.3 Água doce no Estado de São Paulo: aspectos legais........................... 18

2.4.2 Energia e a qualidade ambiental......................................................... 19

2.4.2.1 O problema do consumo de energia.................................................... 21

2.4.2.2 Energia no Brasil................................................................................. 23

2.5 Modelo EKC (Environmental Kuznets Curve)................................... 26


vii

2.5.1 Alterações na produção....................................................................... 28

2.5.2 Alterações na estrutura de consumo individual.................................. 33

2.5.3 EKC e as relações de troca.................................................................. 34

2.5.4 Fontes de ineficiência e externas de viés da EKC............................... 37

2.5.4.1 Fontes de ineficiência.......................................................................... 38

2.5.4.2 Fontes externas de viés....................................................................... 42

2.6 Resultados e estudos empíricos........................................................... 45

2.6.1 Modelagem (modelo reduzido)........................................................... 45

2.6.2 Resultados dos estudos empíricos....................................................... 49

2.6.3 No Brasil............................................................................................. 53

3 MATERIAL E MÉTODOS (MODELO REDUZIDO)...................... 55

3.1 Qualidade da água............................................................................... 55

3.1 Fonte dos dados para o modelo de qualidade de água........................ 59

3.2 Consumo de energia............................................................................ 60

3.2.1 Fonte dos dados para o modelo de consumo de energia..................... 62

4 RESULTADOS ECONOMÉTRICOS................................................ 63

4.1 Qualidade da água............................................................................... 63

4.1.1 Oxigênio dissolvido (OD)................................................................... 63

4.1.2 Demanda biológica de oxigênio (DBO).............................................. 71

4.1.3 Quantidade de coliformes fecais......................................................... 74

4.1.4 Índice de qualidade de água (IQA/CETESB)..................................... 79

4.1.5 Projeções para as reservas de qualidade de água da UGRHI-06........ 83

4.2 Consumo de energia............................................................................ 85

4.2.1 Projeções para o consumo de energia................................................. 89

5 Conclusões.......................................................................................... 92

5.1 Qualidade da água............................................................................... 92

5.2 Consumo per capita de energia……………………………………... 94

REFERÊNICIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 98

APÊNDICES...................................................................................................... 106
LISTA DE FIGURAS

Página
1 População mundial: evolução da população mundial estimada
(1950-2000) e prevista (2000-2050).................................................... 3

2 Produção de energia por fonte de geração (%), 1970-


2001...................................................................................................... 24

3 Consumo total de energia (em milhões de tEP) no Brasil, 1970-


2001...................................................................................................... 25

6 Consumo per capita de energia no Brasil (em tEP/pessoa) 1970-


2001...................................................................................................... 25

7 Consumo de energia, por classe de consumo (em milhões de tEP),


1970-2001............................................................................................. 26

8 A EKC (Environmental Kuznets Curve).............................................. 27

9 Participação setorial no PIB (em %) e o índice do PIB per capita


(2002=100)........................................................................................... 30

10 Os efeitos da tecnologia ou “achatamento” da EKC............................ 31


ix

11 Efeitos do “achatamento” em uma relação cross-time para diversas


EKC´s................................................................................................... 32

12 EKC para diversas relações renda/meio-ambiente............................... 38

13 Ajuste ótimo dos bens não-rivais......................................................... 39

14 Plotagem de ajuste de linha para o modelo EKC de consumo de


energia total no Brasil.......................................................................... 53

15 Plotagem de ajuste de linha para intensidade energética em função


do PIB per capita.................................................................................. 54

16 Relação entre renda (em R$ de 1998) e o índice de qualidade de


água (IQA), na UGRHI-06................................................................... 55

17 Relação entre o índice de qualidade de água (CETESB) e renda per


capita (em R$ de 1998), na UGRHI-06................................................ 55

18 Relação entre a quantidade de oxigênio dissolvido (mg/l) e a renda


per capita (em R$ de 2000), na UGHRI-06, 1980-2000...................... 71

19 Relação entre a quantidade de coliformes fecais (NMP/100 ml) e a


renda per capita (R$ de 2000), na UGRHI-06, 1980-2000.................. 78

20 Relação entre a quantidade de coliformes fecais e a renda per


capita.................................................................................................... 79

21 Relação entre a renda per capita (em R$ de 2001) e o consumo per


capita de energia (tEP/pessoa) no Brasil, 1970-001............................. 88
x

22 Estimativa da evolução do consumo total de energia no Brasil (em


milhões de tEP) dado dois cenários de crescimento do PIB per capita
(1% e 2% anuais): 2001-2015.............................................................. 91

23 Curvas de distribuição de qualidade dos indicadores de qualidade de


água e seus respectivos pesos (wi) no valor final do IQA/CETESB
(Índice de Qualidade de Água)............................................................. 112

24 Mapa da divisão das unidades de gerenciamento de recursos


hídricos................................................................................................. 113

25 Mapa da UGRHI-06 (Unidade de Gerenciamento de Recursos


Hídricos 06), Alto Tietê....................................................................... 114

26 Mapa de distribuição dos sistemas de esgotos na região


metropolitana de São Paulo e suas respectivas ETE´s......................... 116

27 Evolução dos indicadores de preço das fontes de energia que


compões o indicador geral de preços de energia (em valores reais)
(1970=100): 1970-2001........................................................................ 119

28 Ponderação das diversas fontes energia que compõe o índice de


preço de energia................................................................................... 120

29 Indicador de preço de energia (1970=100), 1970-2001....................... 121


LISTA DE QUADROS

Página
1 Faixas de disponibilidade de água e respectivas probabilidades de
estresse hídrico..................................................................................... 16

2 Resultados de diversos estudos empíricos para a relação emissão de


CO e renda............................................................................................. 52

3 Resultados de diversos estudos empíricos para a relação emissão de


SO2 e renda............................................................................................. 52

4 Padrões selecionados de qualidade de água doce de acordo com sua


classificação estabelecida pela Resolução CONAMA no 20................. 108

5 Classificação dos corpos de água doce e respectivos usos destinados


de acordo com a Resolução Estadual CONAMA no 20......................... 110

6 Municípios pertencentes à UGRHI-06 (Unidade de Gerenciamento de


Recursos Hídricos-06)........................................................................ 115

7 Pontos de coleta de dados de qualidade de água utilizados na amostra


de dados.................................................................................................. 118
LISTA DE TABELAS

Página
1 Brasil: algumas informações básicas sobre as principais bacias
hidrográficas, em 1996.......................................................................... 15

2 População, densidade populacional, disponibilidade hídrica e


utilização dos recursos hídricos, para alguns estados brasileiros, em
1996....................................................................................................... 15

3 Tabela de conversão para unidades comuns de medida de energia e


força....................................................................................................... 19

4 Resultado econométrico da relação oxigênio dissolvido (em mg/l) e


PIB per capita (em R$ de 2000), de 1980-2000, na UGRHI-
06........................................................................................................... 66

5 Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW), o valor do


intervalo dL e dU, após sucessivas repetições do procedimento
orchrane-orcutt, e o valor da correlação entre os períodos t e t-1 (ρ),
para a relação PIB per capita e OD na UGRHI-
06........................................................................................................... 68

6 Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do


teste F tabelado...................................................................................... 69
xiii

7 Resultado econométrico final da relação oxigênio dissolvido e PIB


per capita (em R$ de 2000), de 1980-2000, na UGRHI-06................... 69

8 Resultado econométrico da relação demanda biológica de oxigênio


(DBO) (em mg/l) e PIB per capita (em R$ de 2000), de 1980-2000,
na UGRHI-06........................................................................................ 72

9 Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW), o valor do


intervalo dL e dU, após sucessivas repetições do procedimento
orchrane-orcutt, e o valor de correlação entre os períodos t e t-1 (ρ),
para a relação PIB per capita e DBO na UGRHI-06............................. 72

10 Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do


teste F tabelado...................................................................................... 73

11 Resultado econométrico final da relação demanda biológica de


oxigênio (mg/l) e PIB per capita (em R$ de 2000), de 1980-2000, na
UGRHI-06............................................................................................. 74

12 Resultado econométrico da relação quantidade de coliformes fecais


(NMP/100 ml) e PIB per capita (em R$ de 2000), de 1980-2000, na
UGRHI-06............................................................................................. 75

13 Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW), o valor do


intervalo dL e dU, após sucessivas repetições do procedimento
orchrane-orcutt, e o valor de correlação entre os períodos t e t-1 (ρ),
para a relação PIB per capita e a quantidade de coliformes fecais, na
UGRHI-06............................................................................................. 76
xiv

14 Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do


teste F tabelado...................................................................................... 76

15 Resultado econométrico final da relação quantidade de coliformes


fecais (NMP/100 ml) e PIB per capita (em R$ de 2000), de 1980-
2000, na UGRHI-06.............................................................................. 77

16 Resultado econométrico da relação índice de qualidade de água


(IQA) e PIB per capita (em R$ de 2000), de 1980-2000, na UGRHI-
06........................................................................................................... 80

17 Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW), o valor do


intervalo dL e dU após sucessivas repetições do procedimento
orchrane-orcutt, e o valor de correlação entre os períodos t e t-1 (ρ),
para a relação PIB per capita e o índice de qualidade de águas (IQA),
na UGRHI-06........................................................................................ 79

18 Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do


teste F tabelado...................................................................................... 80

19 Resultado econométrico final da relação índice de qualidade de água


(IQA) e PIB per capita (em R$ de 2000), de 1980-2000, na UGRHI-
06........................................................................................................... 81

20 Projeção da variação dos indicadores de qualidade de água (OD,


coliformes fecais e IQA) na UGHRI-06, dada uma variação anual de
1% do PIB per capita............................................................................. 82
xv

21 Projeção da variação dos indicadores de qualidade de água (OD e


coliformes fecais) na UGRHI-06, dada uma variação anual de 2% do
PIB renda per capita......................................................................... 84

22 Resultado econométrico da relação consumo per capita de energia


(103 tEP/pessoa) e PIB per capita (em R$ de 2001), 1970-
2001....................................................................................................... 84

23 Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW) e o valor do


intervalo dL e dU, para a relação PIB per capita e o consumo per
capita de energia.................................................................................... 85

24 Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do


teste F tabelado...................................................................................... 86

25 Resultado econométrico da relação consumo per capita de energia


(103 tEP/pessoa) e PIB per capita (em R$ de 2001), 1970-
2001....................................................................................................... 87
CRESCIMENTO ECONÔMICO, USO DOS RECURSOS NATURAIS E
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: UMA APLICAÇÃO DO MODELO EKC NO
BRASIL

Autor: LUIZ FERNANDO OHARA KAMOGAWA


Orientador: Prof. Dr. RICARDO SHIROTA

RESUMO

O ser humano, já nas primeiras civilizações, tem como objetivo


principal na vida prosperar e possuir uma quantidade cada vez maior de riqueza e de
bens. A cultura do acúmulo de riqueza e de um consumo cada vez maior de bens e
serviços faz parte então dos costumes de qualquer sociedade e economia no mundo.
O crescimento econômico é, desta forma, objetivo para qualquer economia ao redor
do mundo e logicamente do Brasil. Atualmente conceituado com um aumento da
produção, este crescimento econômico gera uma série de impactos negativos
(degradação) sobre os recursos naturais e ambientais. No longo prazo, estes impactos
negativos podem estar levando a uma deterioração irreversível das reservas destes
recursos, prejudicando desta forma o desempenho e a prosperidade das economias. O
estudo do nível de degradação dos recursos naturais e ambientais e sua relação com o
nível de crescimento econômico de uma nação é, desta forma, de grande importância
pelos aspectos apresentados. O objetivo do nosso trabalho é, desta forma, exatamente
este, estudar a relação entre o crescimento econômico (conceituado como um
xvii

aumento do nível de renda) e o nível de degradação dos recursos naturais e


ambientais, às luzes do modelo EKC (Environmental Kuznest Curve), aplicado ao
Brasil. Como a degradação dos recursos naturais e ambientais é multidimensional,
necessitando assim uma série de indicadores, e devido a disponibilidade de dados,
foram utilizados dois tipos de indicadores: de qualidade de água e de consumo de
energia.
ECONOMICAL GROWTH, THE UTILIZATION OF THE NATURAL
RESOURCES AND ENVIRONMENTAL QUALITY: AN APPROACH OF
THE EKC MODEL IN BRAZIL

Author: LUIZ FERNANDO OHARA KAMOGAWA


Adviser: Prof. RICARDO SHIROTA

SUMMARY

Since the beginning of the human society, men have a main objective
in life, getting wealthier and have as many goods as possible. The culture of wealthy
accumulation and the consuming of a bigger quantity of goods and services is part of
the characteristics of any society and economy around the world. This way,
economical growth is an essential requirement for any economy, including Brazil.
Defined as an improvement of the production, this economical growth also generates
some other negative impacts on environmental and natural resources. In the long-run
those impacts can be leading to an irreversible situation, bringing up some serious
influences on the economical balance and prosperity. For those reasons, the study of
the relationship between the economical growth and the degradation of the natural
and environmental resources is important for a society. Thinking on it, we have
developed a study that analyzes the relationship between economical growth (defined
as an increase of the real GDP) and the degradation of natural and environmental
resources, applying the concept of the EKC (Environmental Kuznets Curve) model in
xix

Brazil. Unfortunately, it’s needed as many indicators of pressure as possible (once


that the quality of natural and environmental resources is multidimensional), but, due
to that lack of data and to facilitate our study it has been applied the study to two
indicators: water quality and energy consume.
CRECIMIENTO ECONÓMICO, UTILIZACIÓN DE LOS RECURSOS
NATURALES Y LA DEGRADACIÓN AMBIENTAL: UNA APLICACIÓN DEL
MODELO EKC EN BRASIL

Autor: LUIZ FERNANDO OHARA KAMOGAWA


Orientador: Prof. Dr. RICARDO SHIROTA

RESUMEN

Desde del inicio de la sociedad humana los hombres tienen como objetivo
principal en sus vidas la obtención de riquezas y una mayor cuantidad de bienes de
consumo. La cultura de acumulación y consumo es parte de la cultura de las sociedades
y economías en todo el mundo. Así, el crecimiento económico es el objetivo de todas las
economías mundiales, incluyendo Brasil. Modernamente definido como un aumento en
la producción, este crecimiento económico puede generar una serie de impactos
negativos (degradación) para los recursos naturales y ambientales. A largo-plazo, estos
impactos pueden llevar a un colapso o perjudicar la prosperidad de la economía. El
estudio de la relación entre el crecimiento económico es así importante para la sociedad.
Con esa idea fue realizado este estudio que relaciona el crecimiento económico y la
degradación de los recursos naturales y ambientales utilizando el concepto de la EKC
(Environmental Kuznets Curve), aplicado en Brasil. Como la calidad de los recursos
naturales y ambientales eres multidimensional, y la cantidad de datos eres restricta, fue
aplicado el estudio para apenas dos indicadores: calidad de agua y consumo de energía.
1 INTRODUÇÃO

A prosperidade nos períodos iniciais da história da raça humana era


apenas baseada na sua capacidade de sobrevivência (encontrar alimentos e abrigo). No
entanto, lentamente, o ser humano passou a se destacar dos outros seres que também
viviam no meio. Isto, primordialmente, pela sua superioridade intelectual e a capacidade
de atuar em sociedade. O ser humano desenvolveu a habilidade de se comunicar,
passando a se organizar. Aprendeu a controlar os ecossistemas para atender as suas
necessidades, desenvolveu a agricultura, domesticou os animais, aprendeu a dominar as
ligas metálicas (ferro, cobre, bronze) e, conseqüentemente, as armas (Randall, 1987).

O que era apenas uma série de grupos e tribos isoladas, transformou-se


em uma sociedade que cresceu e progrediu. Surgiram as primeiras cidades e o comércio
floresceu. Com o desenvolvimento do comércio e a expansão das atividades produtivas
destas sociedades, houve a necessidade da busca de novas fronteiras. Assim, a escassez
de terra para a produção poderia ser suprida, além de se encontrar novas fontes de
recursos e produtos. Em conseqüência, houve a expansão marítima e o surgimento do
mercantilismo (Huberman, 1971; Randall, 1987).
2

Novas idéias e pensamentos foram surgindo. Assim, as bases do que


chamamos de crescimento econômico das sociedades se alteraram em função de grandes
revoluções comerciais1 e, principalmente, em função da revolução industrial.

O crescimento da renda, anteriormente baseada no acúmulo de riquezas


providas pelas ex-colônias, especialmente de metais preciosos, passou a se basear na
produção industrial e no comércio (Huberman, 1971; Randall, 1987).

Outras revoluções vieram, muitas monarquias caíram e a democracia


cresceu. No campo do desenvolvimento intelectual houve o surgimento de novas
tecnologias produtivas e o aprimoramento de outros conhecimentos (como a medicina, a
física e a matemática). O crescimento econômico continuou impulsionado por estas
novas descobertas e pela expansão do consumo. Em função de todo este cenário
positivo, houve uma considerável melhora na qualidade de vida das pessoas aliado a um
relativo aumento da expectativa de vida e no tamanho da população.

Nos períodos mais modernos, outras grandes revoluções surgiram e o


título de grande potência econômica foi transferido para diferentes mãos. As
telecomunicações se desenvolveram, houve a revolução verde da década de 702 e surgiu
a indústria da informática. Com a queda dos custos de produção e um contínuo aumento
de produtividade e criação de novos produtos, o crescimento das economias deu um
grande salto, resultando em ganhos de renda e de expectativa de vida da população. O
resultado foi a grande explosão populacional, já iniciada em períodos anteriores
(Lomborg, 2001) (Figura 1).

1
Pois segundo a divisão e especialização da mão-de-obra, cada economia devia se especializar na
produção do bem em que fossem mais eficientes e que elas transacionassem esses seus produtos, assim a
“Riqueza das Nações” estaria no comércio destas mercadorias (Smith, 1983).
2
Revolução onde houve uma grande expansão da produtividade da terra e conseqüentemente grande
queda no preço dos alimentos (Lomborg, 2001).
3

10
9
8
População 7
6
5
4
3
2
50

60

70

80

90

00

10

20

30

40

50
19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20
Ano

Figura 1 - População mundial: evolução da população mundial estimada (em bilhões de


pessoas) (1950-2000) e prevista (2000-2050).
Fonte: Organização das Nações Unidas (ONU) (2003)

1.1 Crescimento econômico e degradação ambiental

O crescimento econômico é objetivo para qualquer economia no mundo


(Banco Mundial, 1992). Este objetivo, historicamente, não foi um processo simples e de
fácil obtenção. Ele é resultado de uma série de fatores, interações e mudanças nas
estruturas produtivas, tecnológicas e sociais de uma economia (Kuznets, 1974).

Dentre estas mudanças, destaca-se o desenvolvimento da capacidade do


homem em dominar a natureza para seu benefício. Desde o momento em que ele
aprendeu a controlar o fogo e desenvolveu a agricultura, ele deixou de ser apenas um
membro do meio para ser um agente que tinha a capacidade de alterar a dinâmica do
meio-ambiente de forma consciente para maximizar o seu conforto (Randall, 1987).
4

Sob a forma dos recursos naturais e ambientais3, o homem passou a


utilizar o meio-ambiente como provedor de conforto. Assim, muito das dinâmicas
populacionais e da própria prosperidade econômica das diversas sociedades humanas,
foi influenciada pela disponibilidade destes recursos, tanto na forma qualitativa quanto
quantitativa (Huberman, 1971; Randall, 1987; Lomborg, 2001).

Todavia, na mesma forma que os recursos naturais e ambientais nos


fornecem conforto e promovem a manutenção e o florescimento das inúmeras
sociedades humanas, a ação humana gera uma série de externalidades e pressões
negativas que se traduzem em uma degradação ou depreciação do meio-ambiente4. Isto,
tanto na forma relativa individual (uma maior pressão é gerada por indivíduo) quanto
absoluta total (uma maior pressão é gerada devido ao aumento da população e mesma
função deste aumento individual).

O crescimento econômico, desta forma, é um desafio ao meio-ambiente,


uma vez que existem limitações quanto à capacidade do meio em suportar as pressões
exercidas pela ação humana (Radetzki, 1992).

O estudo da relação crescimento econômico e utilização dos recursos


naturais e degradação ambiental é essencial. Uma vez que surge um processo cíclico
onde a oferta de recursos naturais e a qualidade ambiental determinam o processo de
crescimento econômico, que por sua vez gera uma série de pressões negativas sobre o
meio-ambiente, que novamente influenciam o nível de crescimento econômico.

Desde de os primórdios do que hoje nós chamamos de economia, os


recursos naturais eram fatores preponderantes (ainda que indiretamente) nos modelos
propostos. David Ricardo (Ricardo, 1983) e Thomas Malthus (Malthus, 1983)
mostravam claramente em seus estudos que a importância da produtividade marginal da
3
Ver 2.2.
4
Ver 2.3.
5

terra influenciava o fornecimento de alimentos e conseqüentemente a prosperidade das


economias.

Mais recentemente o assunto foi discutido pelo Clube de Roma durante a


década de 70 (Radetzki, 1992). E na década de 90, especificamente em 1992 quando
houve a ECO-92, com a publicação do relatório do Banco Mundial.

Este relatório tinha exatamente o propósito de discutir como o


crescimento econômico estava influenciando a qualidade do meio-ambiente, bem como
este poderia influenciar este processo (Banco Mundial, 1992).

1.2 Objetivos

O crescimento econômico está diretamente envolvido com a utilização


dos recursos naturais e a qualidade ambiental. Ao mesmo tempo, este mesmo processo
de crescimento econômico afeta as reservas destes recursos, tanto de forma qualitativa
quanto quantitativa.

Entretanto, existem poucos estudos da relação entre o processo de


crescimento econômico e a degradação dos recursos ambientais e a utilização dos
recursos naturais para os países de menor renda e, principalmente, para o Brasil.
Geralmente, a maioria dos estudos já realizados foi dirigida para os países de maior
renda ou em análise cross-section ou em painel, englobando vários países.

Naturalmente as características físicas, culturais e econômicas do Brasil


são bem diferentes dos países de alta renda ou, até mesmo, dos outros países de renda
semelhante. Essas diferenças devem afetar as relações entre o crescimento econômico e
degradação ambiental.
6

O objetivo principal deste trabalho é analisar os efeitos que o crescimento


econômico causa na degradação ambiental no utilizando dois indicadores: de qualidade
de água (no Estado de São Paulo) e consumo per capita de energia (Brasil).

Como objetivos secundários, o estudo pretende traçar possíveis projeções


para a qualidade ambiental em um curto período de tempo.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Crescimento econômico

Historicamente, o conceito de riqueza e assim crescimento econômico de


uma nação variou muito. Nas primeiras sociedades humanas riqueza era a quantidade de
alimentos que cada um conseguia ingerir. Com a evolução do conhecimento dos homens
e a criação da agricultura, a riqueza era a produção agrícola das tribos. Na idade média,
riqueza era medida pela quantidade de terras que uma nação possuísse, uma vez que era
dela que se retirava a subsistência. Avançando ao mercantilismo, riqueza era a
quantidade de metais que uma determinada nação possuía (Huberman, 1971). Para
Adam Smith, a riqueza estava no comércio e na especialização da produção (Smith,
1983).

Nas sociedades atuais, crescimento econômico de uma nação é medido


por um aumento da produção (Kuznets, 1974). Entretanto, para a sua mensuração é
necessário inicialmente definir a unidade a ser estudada. Esta unidade pode ser um
indivíduo, uma família, um estado, um setor ou uma nação (Kuznets, 1974).

Por exemplo, ao escolher uma nação como unidade de medida o


pesquisador deve focar seus estudos em fatores que compõem a produção desta nação.
Assim, relatórios de produtividade da terra e de produção industrial podem ser um
indicador desta produção. Caso o estudo seja feito em termos relativos (individuais), o
valor da produção a ser estimado é o valor per capita (Kuznets, 1974).
8

Atualmente, o conceito mais utilizado e aceito de produção é o sistema


das contas nacionais. Desde a década de 40, a ONU (Organização das Nações Unidas) é
a responsável pela elaboração, criação e padronização das metodologias para a
estimação destas contas, conhecida como SNA (System of National Accounting). Sua
última grande alteração metodológica ocorreu em 1993.

Este sistema de contas nacionais não é nada mais que um sistema que
capta os valores de todos os fluxos contábeis das atividades econômicas (de produção,
de remuneração do capital e de bens e serviços) de um determinado país em um dado
período de tempo. As diferentes atividades econômicas são divididas em diferentes
balanços sob diferentes óticas no método das partilhas dobradas (débito e crédito). As
diferentes óticas são: a ótica da produção ou geração (chamado de produto), a ótica da
alocação (conhecida com a renda), a formação do capital bruto e as transações com o
exterior (ONU, 2003).

No Brasil, atualmente, a elaboração da metodologia e estimação das


contas nacionais é de responsabilidade do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Elaborados segundo as metodologias da ONU, o sistema recebeu a sua
última atualização em 1997 (IBGE, 2003).

Um dos valores que compõe um dos quadros deste sistema é o PIB


(Produto Interno Bruto). O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos,
utilizando fatores de produção localizados no país, a ser estimado em um dado período
de tempo (Dornbush & Fisher, 1991; Branson, 1972).

Seus valores também podem ser dispostos em valores nominais e reais.


Entende-se por valor nominal aquele estimado em termos da moeda corrente ao
momento de sua mensuração. Já o valor real é aquele estimado descontando os efeitos da
inflação dos preços utilizando um indicador de preços qualquer (Dornbush & Fisher,
1991; Branson, 1972).
9

Por convenção, a maneira atualmente mais utilizada para mensurar o


crescimento econômico no Brasil é estimação do incremento no valor do PIB. Isto, pela
simples razão que o valor do PIB é maior do que o PNB, pois a renda líquida enviada ao
exterior (RLEE) é positiva (o país mais envia renda ao exterior do que recebe). Caso
oposto ocorre nos países centrais (parte da Europa, América do Norte, Japão), onde a
renda recebida é maior do que a enviada, assim, o valor do PNB é maior do que o PIB.

De preferência, utilizam-se os valores em termos reais. Já que o interesse


é medir o aumento da produção, não o aumento do valor do PIB em função de uma
elevação nos preços.

2.2 Recursos naturais e ambientais

Por definição, um recurso é algo que é útil e possui valor na condição em


que ele se encontra na natureza (não passando por um processo de transformação).
Existem certas ocasiões em que apesar de atribuirmos valor a algo ele não é um recurso,
pois sua oferta é demasiadamente grande, assim, ele não possui valor. Os recursos são,
por conceito, escassos (não abundantes) (Randall, 1987). No meio-ambiente podem ser
encontrados dois tipos de recursos: os recursos naturais e ambientais.

Recursos ambientais são aqueles que possuem valor e são úteis na forma
que são encontrados na natureza, gerando utilidade para o homem sem passarem por um
processo de transformação5. Eles não são consumíveis, apenas utilizáveis (Randall,
1987).

Os recursos naturais são aqueles que possuem valor e são úteis na forma
que eles se encontram na natureza. Entretanto, é necessário que eles sejam utilizados

5
Ex.: uma praia privada, um parque nacional, a qualidade do meio-ambiente.
10

com outros fatores de produção6, para gerarem um bem ou serviço que traga utilidade
para as pessoas7 (Randall, 1987; Field, 1994).

Os recursos naturais e ambientais são multidimensionais. Eles variam em


qualidade e quantidade, ao longo do tempo e espaço (Randall, 1987; Field, 1994).

2.3 Degradação e depreciação do meio-ambiente

A degradação ou depreciação do meio-ambiente ocorre por duas


maneiras: uma devido à utilização dos seus recursos naturais, outra é função das
externalidades negativas, geradas pelos processos produtivos e do consumo (mais
conhecidas como poluição ou emissão de poluentes).

A utilização dos recursos naturais (apenas eles) em si, não é um problema


para a qualidade do meio-ambiente a priori. Entretanto, estes recursos são escassos (se
não fossem escassos não seriam recursos) e alguns tendem a exaustão8 (Randall, 1987).
Assim, a sobre-utilização ou consumo destes recursos tende a esgotar as suas reservas,
podendo chegar à completa extinção das reservas (exaustão); problema exclusivo dos
recursos naturais, uma vez que os recursos ambientais não são consumíveis.

Já as externalidades negativas são as várias situações onde o consumo ou


a produção de um indivíduo, ou empresa, gera uma depreciação, em qualidade e
quantidade, dos recursos ambientais ou das reservas de recursos naturais (Randall,
1987).

6
Como o capital, a tecnologia e o trabalho.
7
Ex.: ferro, chumbo, cobre.
8
Quando a quantidade total do recurso disponível for zero (Randall, 1987).
11

Alguns tipos de poluição dissipam rapidamente e suas conseqüências são


sentidas a curto-prazo. Assim, a partir do momento em que houver a suspensão das
emissões destes poluentes, rapidamente o meio se encarregará de absorvê-lo9 (ex:
dióxido de sulfeto e sólidos suspensos no ar). Essas degradações são conhecidas como
fluxo (Stokey, 1998) ou não-cumulativas (Field, 1994).

Existem outras que se acumulam ao longo do tempo, ou seja, as


conseqüências das emissões no presente só serão sentidas ao longo-prazo. Essas
degradações são conhecidas como do tipo estoque (Stokey, 1998) ou cumulativas (Field,
1994).

2.4 Indicadores de qualidade ambiental

A qualidade ambiental é multidimensional. Ela varia qualitativamente em


função do tempo e espaço. A qualidade ambiental não depende apenas de um indicador,
uma série de indicadores agem em conjunto resultando na qualidade do meio-ambiente.
Em função disso, a escolha dos indicadores representativos não é tarefa fácil. Cada
situação irá exigir um determinado indicador para mensurar o problema analisado.

Assim, as situações devem ser estudadas separadamente de acordo com o


recurso analisado e em qual situação ele está sendo utilizado. No presente estudo serão
analisados apenas os indicadores de água (qualidade) e de energia (consumo), que são o
foco do trabalho.

9
Dependendo da capacidade de absorção do meio.
12

2.4.1 Água e a qualidade ambiental

A água desempenha papel fundamental na manutenção da vida em nosso


planeta. Considerada solvente universal e reagente com componentes químicos mais
complexos, trata-se de um importante composto para diversos processos físicos,
químicos e biológicos (Amaral, 2000).

A forma mais desejada para consumo humano de água a ser utilizada é a


chamada “água doce”10. Ela desempenha diversas funções na higiene, alimentação,
transporte, lazer e em processos produtivos industriais, comerciais e agrícolas,
exercendo grande importância na evacuação de detritos humanos e industriais. Em cada
função, ela é requerida em quantidade e qualidade diferenciadas (Stepheson & Petersen,
1991).

A água é um elemento com grande valor tanto econômico como social. A


sua falta pode limitar o crescimento das atividades econômicas. Trata-se de um
importante fornecedor de bem estar (produção de alimentos, consumo humano,
sanidade, lazer e produtora de energia elétrica) (Stepheson & Petersen, 1991).

Devido ao seu impacto sobre o bem estar humano e o crescimento


econômico, o planejamento dos recursos hídricos constitui um importante determinante
do crescimento dos países de menor renda (Banco Mundial, 1992).

Entretanto, a falta de acesso à rede de água e esgotos e a ineficiência no


sistema de tratamento dos resíduos continuam a ser um fator gerador de diminuição da
qualidade de vida e ambiental no mundo, mesmo nos países de alta renda (Banco
Mundial, 1992). Os fatores que afetam a qualidade dos corpos de água podem ser
divididos em três grupos: problemas com acesso à rede de água e esgotos, contaminação

10
Águas com teores sólidos totais dissolvidos (std) inferiores a 1000mg/l (Rebouças, 1997).
13

por dejetos químicos e industriais e problemas relacionados ao aumento da carga


orgânica nos corpos de água.

A falta de acesso à rede de água e esgoto consiste em um problema,


essencialmente, pela contaminação e disseminação de doenças causadas por esta
ineficiência. Considera-se que muitas doenças podem ser praticamente erradicadas com
a instalação de um sistema de águas e esgotos mais eficiente, porém esta opção é
extremamente cara e de difícil instalação. Em alguns casos o problema é agravado pela
escassez de água para o abastecimento (Banco Mundial, 1992).

Do mesmo modo, difícil é a resolução do problema da contaminação da


água por resíduos químicos e industriais. Associados a regiões com grande presença de
atividades agrícolas, de mineração e industriais em geral, este tipo de contaminação não
pode ser resolvido pelos métodos tradicionais de purificação da água. Os seus efeitos
aparecem, principalmente, ao longo-prazo de forma direta, com o consumo humano da
água, ou indireta, na biota aquática (peixes, moluscos) que podem ser ingeridos pelas
pessoas (Banco Mundial, 1992).

O aumento da carga orgânica nos rios, a exceção da contaminação, não


chega a ser um problema direto para a saúde humana. Relacionados, geralmente, ao
lançamento de efluentes de origem agrícola, de dejetos humanos (esgotos), e lixiviação
do solo, um aumento da carga orgânica nos rios leva à sobre atividade da microbiota
aquática que passa a demandar uma maior quantidade de oxigênio. Isto leva a uma
redução da quantidade de oxigênio dissolvido na água, podendo levar à morte uma série
de outros organismos que vivem e necessitam do oxigênio deste meio (principalmente os
peixes) (Banco Mundial,1992).

Tendo em vista uma deterioração e uma maior dificuldade e custo de


purificação dos corpos superficiais de água, as sociedades passaram a recorrer aos
corpos subterrâneos de água. Todavia, do mesmo modo que os corpos superficiais
14

tornaram-se poluídos, os corpos subterrâneos também são afetados por este mal. Como a
sua principal fonte é originada da infiltração decorrente do uso inadequado de metais
pesados e químicos sintéticos, eles possuem um agravante: sua menor capacidade em
absorver os poluentes em relação aos corpos superficiais (Banco Mundial, 1992).

Entretanto, não apenas a depreciação dos corpos de água leva a uma


redução do acesso das pessoas a água. As pessoas não demandam água apenas em
qualidade, mas também em quantidade. Assim, uma maior demanda (tanto individual,
quanto total) leva a uma maior escassez de água, uma vez que a quantidade total de água
em nosso planeta é praticamente fixa; não é nem destruída e nem criada11 (Mather,
1984).

2.4.1.1 Água no Brasil

O Brasil é um país com abundância de água doce tanto em termos totais


estocados quanto em função ao fluxo de água. Estima-se que 13,8% do deflúvio total
mundial esteja em território brasileiro (correspondendo à cerca de 56% do total da
América Latina) (Rebouças, 1997). Sendo que a disponibilidade hídrica de água doce
estimada é de 36.575 m3 por pessoa (seis vezes maior que a média mundial, o quádruplo
de um norte-americano e 12 vezes a quantidade de um chinês) (Setti, 2001).

Como ocorre em outros países do mundo, a disponibilidade de água do


país não é uniforme (Tabelas 1 e 2). Do total do potencial hídrico do país, 73,2% se
localiza na bacia amazônica, apesar de apenas 4,3% da população brasileira viver nessa
região. Enquanto que a região da Bacia do Rio Paraná abriga 31,8% da população e
possui 6% da água disponível (Tabela 1) (Setti, 2001).

11
Apesar de serem criadas pequenas quantidades de água em erupções vulcânicas, mas ínfimas em relação
ao valor total disponível (Mather, 1984).
15

Tabela 1. Brasil: algumas informações básicas sobre as principais bacias hidrográficas,


em 1996.

Área População Disp. Hídrica


Bacia Hidrográfica Disp. per capita
2 m³/ano
10³ km % Habitantes % km³/ano %

Amazônica 3.900 45,8 6.687.893 4,3 4.206 73,2 628.940


Tocantis 757 8,9 3.503.365 2,2 372 6,5 106.220
Atlântico Norte/Nordeste 1.029 12,1 31.253.068 19,9 285 5,0 9.130

São Francisco 634 7,4 11.734.966 7,5 90 1,6 7.660


Atlântico Leste 545 6,4 35.880.413 22,8 137 2,4 3.820
Paraguai 368 4,3 1.820.569 1,2 41 0,7 22.340
Paraná 877 10,3 49.924.540 31,8 347 6,0 6.950
Atlântico Sudeste 224 2,6 12.427.377 7,9 136 2,4 10.910

Brasil 8.512 100 157.070.163 100 5.745 100 36.575


Fonte: Setti (2001)

Tabela 2. População, densidade populacional, disponibilidade hídrica e utilização dos


recursos hídricos, para alguns estados brasileiros, em 1996.

Disponibilidade per Utilização


Estado População Densidade capita (m³/ano) Volume % disponível
(m³/hab./ano)
(hab/km²)

Amazonas 2.839.279 1,50 775.581 80 0,01


Bahia 12.541.675 22,60 2.862 173 6,04
Ceará 6.809.290 46,42 2.276 259 11,38
Goiás 4.514.967 12,81 62.880 177 0,28
M. Gerais 16.672.613 28,34 11.630 262 2,25
Paraná 9.003.804 43,92 12.595 189 1,50
R. de Janeiro 13.406.308 305,35 2.208 224 10,15
R. G. do Sul 9.634.688 34,31 19.720 1015 5,15
São Paulo 34.119.110 137,38 2.694 373 13,85

Brasil 157.070.163 18,50 36.498 283 0,78


Fonte: Elaborado com dados de Rebouças (1997) e Setti (2001)
16

O Estado de São Paulo, o objeto do estudo, com uma disponibilidade de


2.694 m3 per capita, não possui abundância de água como algumas regiões do país
(Tabela 2). Entretanto, a sua oferta não chega a ser um problema de grandes proporções,
uma vez que apenas a partir de um volume inferior a 1.700 m3 per capita, a limitação de
água doce passa a ser mais intensa (Quadro 1) (Setti, 2001).

Volume disponível (m³) per capita/ano Situação

> 1.700 Só ocasionalmente tenderá a falta de água.

1.000-1.700 O estresse hídrico é periódico e regular.


A região está sob regime de crônica
escassez de água.

500-1.000 Nesses níveis, a limitação na


disponibilidade começa a afetar o
desenvolvimento econômico, o bem-estar e
a saúde.
<500 Considerada escassez absoluta.
Quadro 1 - Faixas de disponibilidade de água e respectivas probabilidades de estresse
hídrico.
Fonte: Setti (2001)

Em relação ao seu nível de utilização e o disponível per capita de água


doce, o estado está em situação semelhante à China (Rebouças, 1999), que segundo
classificação são regiões com baixos níveis de uso de água e com oferta considerada
suficientes (Margat, 1998; citado por Rebouças, 1999).
17

2.4.1.2 Água doce no Brasil: aspectos legais

A primeira tentativa de se estabelecer critérios para a utilização da água


ocorreu com o estabelecimento do “Código das Águas” de 1934. Esta norma seguiu uma
doutrina muito mais aplicada a critérios de finalidade de uso para água do que a sua
natureza jurídica (Pompeu, 1999).

O Código estabeleceu dois tipos de finalidades para o uso da água: para


uso público (sujeito a uma concessão administrativa) e para outras finalidades (sujeitas a
uma autorização administrativa).

A Lei Federal no 9.433 introduziu algumas alterações no “Código das


Águas” de 1934 em 8 de janeiro de 1997. Pelo novo Código, em qualquer hipótese a
preferência para a derivação de água é para o abastecimento populacional. Também
ficou reconhecido que as águas públicas de uso comum são inalienáveis e que seu uso
seria derivado de um instrumento de outorga estabelecido por lei com uma duração de
35 anos, sendo passíveis de cobrança e suspensão caso não haja o cumprimento dos
termos outorgados.

A autoridade da instrumentação dos mecanismos de outorga é a União


para os corpos de água sob tutela da Federação. Os demais corpos ficam subordinados
aos Comitês Estaduais estabelecidos pelas leis dos Estados.

Além da outorga para o uso foi implementada a outorga para o


lançamento de efluentes (tratados ou não) que também é sujeita a cobrança. Os valores a
serem estabelecidos por lei são em função do volume lançado, as características físico-
química-biológicas e toxidade destes efluentes. Estes valores, no entanto, devem estar
em conformidade com os limites estabelecidos pela legislação ambiental, tanto no
âmbito federal quanto estadual.
18

Ficou estabelecido, também, que captações e lançamentos de pequenos


núcleos rurais considerados insignificantes não estão sujeitos à outorga.

2.4.1.3 Água doce no Estado de São Paulo: aspectos legais

O uso de todos os corpos de água doce sob domínio do Estado está


regulamentado segundo os critérios estabelecidos pela Lei Estadual no 7.633 de 30 de
dezembro de 1991.

Nela foi estabelecida que a administração, conservação e planos para a


recuperação dos corpos de água doce é função dos Comitês de Bacias (instituídos pela
mesma lei). Já a concessão e a cobrança (revista pelo projeto de Lei Estadual no 20 de
1998) de outorga de empreendimentos que demandem água doce foram estabelecidas
como função do DAEE (Departamento de Água e Esgotos).

A fiscalização e autuação de lançamento de efluentes e a concessão de


licenciamento para o estabelecimento de obras de saneamento seguem o estabelecido
pela Resolução Estadual no 19 de 1996 e as normas técnicas para a sua instalação é
regulamentada pela Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio-Ambiente) no 5
de 1988.

Ficou também estabelecido que a CETESB (Companhia de Tecnologia e


Saneamento Ambiental) é a responsável pela fiscalização e concessão de autorizações
para o lançamento de efluentes, e a Resolução CONAMA no 20 de 1986 (Apêndice 1)
como o padrão estabelecido de qualidade dos corpos de água doce.
19

2.4.2 Energia e a qualidade ambiental

A energia, por definição, é a capacidade de realizar trabalho sobre a


matéria ou modificar o estado da mesma. Quando esta energia se manifesta exercendo
uma força, é dito que ela realiza trabalho12 (Pryde, 1983; Mustoe, 1984).

Mensurada de diversas formas, a energia é geralmente medida por:


tonelada equivalente de petróleo (tEP); British Thermal Unit (BTU); quilo joule (KJ);
quilo caloria (Kcal) e o quilo Watt hora (Kwh). Ver a seguir uma tabela de conversão
para algumas formas de medida de energia e força (Tabela 3).

Tabela 3. Tabela de conversão para unidades comuns de medida de energia e força.


Unidade Conversão
Btu 0,252 Cal ou 2,93x10-4 Kwh
Caloria 4190 joules ou 3,97 Btu
tEP 105 Btu ou 29,33 Kwh
Fonte: Adaptado de Pryde (1983)

Existem duas principais formas de demanda de energia para o ser


humano: uma serve para atender suas demandas biológicas, a outra para atender a
demanda dos seus sistemas produtivos e econômicos.

Para atender suas demandas biológicas, a principal fonte original de


energia é aquela proveniente da irradiação de energia das reações termonucleares que
ocorrem no Sol.

12
Definido pela física como uma determinada força aplicada sobre uma determinada distância (Pryde,
1983).
20

Desta energia, aproximadamente um terço é refletida imediatamente para


o espaço e os dois terços restantes ou são absorvidos pelo planeta na forma de calor ou
são consumidos pelos organismos biológicos fotossintetizantes (Raven et al., 1996).

Como os sistemas trocam energia uns com outros, transformando esta


energia radiada pelo Sol em energia química, parte desta energia é ingerida por outros
organismos vivos e parte depositada na massa orgânica do planeta. Todos estes fluxos,
no entanto, devem respeitar as leis da termodinâmica13 (Raven et al., 1996).

Para os organismos vivos que não são fotossintetizantes, a fonte da vida


está na energia extraída da quebra das cadeias de carbono que foram criadas pelas
plantas ao transformarem a energia solar em energia química depositada na carga
orgânica do planeta, e que por sua vez é repassada a outros organismos vivos (Raven et
al., 1996).

Para atender as demandas dos sistemas produtivos e econômicos, podem-


se também utilizar estes mesmos fluxos de energia proveniente das transformações
químicas da energia solar. Tanto sobre forma direta (tração animal), como indireta com a
utilização do acúmulo desta energia sobre a forma dos combustíveis fósseis (petróleo,
carvão mineral).

Para atender essas outras demandas humanas, no entanto, existem outras


importantes fontes de energia além da originada do Sol: como a gravitacional e a nuclear
(Pryde, 1983).

Para efeitos de classificação, todas estas fontes de energia podem ser


classificadas como renováveis e não-renováveis. As fontes de energia não-renováveis
são as que, depois de esgotadas, suas reservas não podem ser novamente produzidas (ex:
13
De que a energia pode se transformar (1ª lei) e que a quantidade de energia em um sistema, se não
houver nem entrada nem saída, deve ser a mesma do estado inicial (2ª lei) (Raven et al., 1996).
21

combustíveis fósseis como o petróleo, o gás natural e o carvão mineral; e os


combustíveis nucleares tório, urânio e lítio). Já a energia renovável corresponde às que
são repostas pelas forças da natureza (ex: energia solar, eólica, energia hidrelétrica,
biomassa) (Pryde, 1983; Mustoe, 1984).

Segundo a ótica da classificação dos recursos naturais e ambientais as


fontes de energia podem ser classificadas como um recurso fluxo ou não-cumulativo
(ex: energia solar, hidráulica, eólica) ou recursos fundo ou cumulativo (ex: petróleo, gás
natural) (Randall, 1987; Field, 1994).

2.4.2.1 O problema do consumo de energia

Historicamente, principalmente após a Revolução Industrial, o


crescimento econômico esteve fortemente relacionado com a utilização dos
combustíveis fósseis. Esta energia não é aproveitável de forma direta, só é liberada após
um processo de combustão onde há a quebra das cadeias de carbono.

Neste processo, além da liberação de energia sob a forma de calor ocorre


a eliminação de uma série de gases tóxicos como o monóxido e dióxido de carbono,
dióxido de enxofre e outras partículas sólidas em suspensão (SPM – Suspended
Particular Matter). Essas emissões podem resultar em danos diretos na qualidade do
meio-ambiente e da vida humana. Por exemplo, estima-se que de 2-5% das mortes nas
áreas urbanas se devem a complicações devido a excessivos índices de SPM (Banco
Mundial, 1992; Pryor, 1981).

As emissões de dióxido de enxofre (SO2) também trazem uma séria


conseqüência para a saúde humana e o meio-ambiente. Combinado com a água da
chuva, elas produzem ácido sulfúrico (H2SO4), resultando na chamada chuva ácida. Esta
chuva ácida é responsável pela morte de vegetais e microorganismos, destruição e
22

corrosão de construções e a contaminação dos corpos d’água (Lomborg, 2001; Field,


1994).

O monóxido de carbono (CO) é outro gás, emitido extremamente, nocivo


à saúde humana. Ele pode se combinar com o sangue humano no lugar do oxigênio,
causando asfixia. Entretanto, danos reais à saúde são observados apenas em casos
extremos de sobre exposição a este gás (Lomborg, 2001).

O dióxido de carbono (CO2) não possui propriedades nocivas à saúde


humana. No entanto, ele possui propriedades físicas e químicas que o possibilitam
aprisionar calor na atmosfera. Em conjunto a outros gases que possuem as mesmas
propriedades, surge o chamado “efeito estufa14” (Lomborg, 2001; Field, 1994).

Esse “efeito estufa” é o aprisionamento de parte da radiação do Sol na


forma de calor. Este é um efeito natural e necessário à manutenção da vida no planeta.
Entretanto, ele só passou a ser prejudicial a partir do momento em que houve um
aumento excessivo na emissão de dióxido de carbono. Assim, uma maior quantidade de
CO2 estará suspenso no ar, levando a uma maior absorção de energia e conseqüente
aumento da temperatura média do planeta (Lomborg, 2001).

O problema das emissões é tão grave que, desde longa data, diferentes
países já vem procurando realizar ações mitigadoras para solucioná-lo. Em 1956 com o
seu Clean Air Act os britânicos já mostravam preocupação com o controle da emissão de
poluentes (Lomborg, 2001). E, posteriormente, os norte-americanos promulgaram a sua
Clean Air Act em 1963 (Field, 1994).

A redução do nível de emissão de poluentes pode ser feita também com o


uso de fontes de energia mais limpas. A energia eólica, a solar, a nuclear e a de biomassa
14
Estima-se que o dióxido de carbono é responsável por 60% da energia aprisionada no “efeito estufa”,
com tendências de aumentar no futuro (Lomborg, 2001).
23

são algumas alternativas em estudo. Entretanto, o seu atual alto custo de manutenção e
instalação, além dos altos riscos de manipulação (caso da energia nuclear), dificulta a
sua utilização em grande escala (Banco Mundial, 1992).

2.4.2.2 Energia no Brasil

O Brasil é um caso a parte no mundo. Pela característica de sua bacia


hidrográfica, há uma expressiva participação da energia hidroelétrica na matriz
energética. De exíguos 4% em 1970, esta fonte de energia passou a 10% da oferta total
de energia no país em 2001 (Figura 2).

A energia hidroelétrica, apesar de ser considerada limpa pelos baixos


resíduos associados em seu processo de geração, também causa algumas externalidades
negativas. A principal delas é a extensão de terra que é inundada pelo reservatório que
dará origem à usina; levando à perda de uma grande área produtiva, à morte de dezenas
de espécies florestais e a alteração do habitat de algumas espécies animais (Pryor, 1981).

Além da energia hidroelétrica, o País utiliza outras fontes de energia. A


principal delas é o petróleo e seus derivados. Sua participação na matriz energética, que
já chegou a 51% no período anterior à crise do petróleo de 1979, é ainda de longe a
principal fonte com 41% em 2001 (Figura 2).

Outra importante fonte é a lenha. Em 1970 ela chegou a ter maior


participação do que o petróleo na matriz energética do Brasil (com 46%). Entretanto,
com uma participação cada vez menor, em 2001 ela representava 10% do total (Figura
2).
24

As outras fontes15, ao longo do tempo, passaram a ter maior destaque,


passando de aproximados 4% em 1970, a valores em torno de 18% em 2001 (Figura 2).

50%

40%

30%

20%

10%

0%
70

72

74

76

78

80

82

84

86

88

90

92

94

96

98

00
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20
PETRÓLEO GÁS NATURAL ENERG. HIDRÁUL
LENHA OUTROS PRODUTO DA CANA

Figura 2 - Produção de energia por fonte de geração (%), 1970-2001.


Fonte: elaborado com dados de Brasil (2003)

O consumo energia, no período de 1970 a 2001, cresceu no país tanto em


termos total quanto per capita (Figuras 3 e 4). Esse crescimento foi função
essencialmente do aumento do consumo pelo setor industrial e de transporte, uma vez
que os demais setores permaneceram praticamente constantes (Figura 5).

15
GLP, carvão mineral, álcool, eólica, nuclear, outras fontes de biomassa.
25

170

Consumo total de energia


150

(milhões de tEP)
130

110

90

70

50
70

72

74

76

78

80

82

84

86

88

90

92

94

96

98

00
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20
Ano

Figura 3 - Consumo total de energia (em milhões de tEP) no Brasil, 1970-2001.


Fonte: elaborado com dados de Brasil (2003)

1,00
Consumo per capita de energia

0,95
0,90
0,85
0,80
(tEP)

0,75
0,70
0,65
0,60
70

72

74

76

78

80

82

84

86

88

90

92

94

96

98

00
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

Ano

Figura 4 - Consumo per capita de energia no Brasil (tEP/pessoa), 1970-2001.


Fonte: elaborado com dados de Brasil (2003)
26

60
50

Consumo de energia
(milhões de tEP)
40

30

20
10

0
70

72

74

76

78

80

82

84

86

88

90

92

94

96

98

00
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20
Ano
RESIDENCIAL COMERCIAL
PÚBLICO AGROPECUÁRIO
T RANSPORT ES - T OT AL INDUST RIAL - T OT AL

Figura 5 - Consumo total energia no Brasil, por classe de consumo (em milhões de tEP),
1970-2001.
Fonte: elaborado com dados de Brasil (2003)

2.5 Modelo EKC (Environmental Kuznets Curve16)

Os estudos da relação entre o crescimento econômico e degradação


ambiental são caracterizados pela presença de dois grupos distintos e opostos.

De um lado estão os conservacionistas que acreditam que o crescimento


econômico, sob qualquer circunstância, causa a destruição da qualidade e das reservas
do meio-ambiente. Para este grupo, a longo-prazo, o crescimento será insustentável e o
sistema entrará em colapso.

De outro lado, estão os pesquisadores com uma visão mais otimista que
acredita que o próprio sistema encontrará saídas alternativas e que o problema ambiental
será resolvido, a longo-prazo, pelos mecanismos de auto-ajuste da economia.

16
Ou curva ambiental de Kuznets.
27

No grupo dos pesquisadores otimistas, uma parte em especial, estuda o


modelo EKC (Environmental Kuznets Curve) ou Curva Ambiental de Kuznets (Selden
& Song, 1994). Este modelo que trata da relação entre o crescimento econômico e a
degradação ambiental foi inicialmente sugerida por estudos como Shafik &
Bandyophadyay (1992) e Grossman & Krueger (1993).

Segundo este conceito, a relação entre o crescimento econômico e a


degradação ambiental teria um formato de “U” invertido (Figura 6).
Indicador de Degradação
Ambiental

Indicador de Crescimento Econômico

Figura 6 - A EKC (Environmental Kuznets Curve).

Isto significa que, nos primórdios do crescimento econômico de uma


determinada economia, existiria uma relação positivamente correlacionada entre o
crescimento econômico e um determinado indicador de degradação ambiental. Assim,
maior renda seria traduzida em maior depreciação ambiental. Entretanto, esta relação é
marginalmente decrescente, ou seja, na medida que o crescimento econômico ocorre, a
inclinação desta relação irá diminuir até alcançar um turning-point17. Além deste ponto,
a relação entre o crescimento econômico e degradação ambiental passa a ser

17
Ou ponto de máximo.
28

negativamente correlacionada. Isto é, a partir de um determinado ponto do processo de


crescimento econômico, maior nível de renda é traduzido numa melhoria na qualidade
ambiental (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Banco Mundial, 1992; Grossman &
Krueger, 1993; Selden & Song, 1994).

Esta diminuição gradual dos níveis de degradação ou depreciação


ambiental ao longo do processo de crescimento econômico seria resultado de uma série
de fatores: mudanças na estrutura de preferência dos consumidores; surgimento de novas
tecnologias (“achatamento” da EKC); e, alterações nos processos produtivos e
econômicos, especificamente uma mudança na composição dos bens e serviço ofertados
(Shafik, 1994).

2.5.1 Alterações na produção

Cada nível de renda é associado a um determinado tipo de degradação


ambiental (Shafik, 1994). Assim, nos estágios iniciais do crescimento econômico
haveria um aumento natural na utilização dos recursos naturais (tais como a extração
mineral e vegetal, e utilização da terra para a agricultura). Os indicadores de degradação
ambiental (como os níveis de desmatamento, erosão e lixiviação da terra) tenderiam a
aumentar neste período.

Entretanto, em nível maior de renda haveria uma mudança nos processos


produtivos e econômicos; ocorre uma mudança na base produtiva do país, ela passa a se
industrializar.

Essa transformação não ocorre de graça, existe um custo de oportunidade


de abandonar as atividades tradicionais. A transição irá ocorrer a partir do momento em
que a renda gerada na indústria superar o custo de oportunidade da atividade anterior.
29

Desse modo, racionalmente, o indivíduo abandonará a agricultura e passará para


indústria pelos ganhos de renda que ela pode lhe proporcionar (Shafik, 1994).

Nesse estágio o tipo de degradação mais associada seria o aumento das


emissões associadas com atividades industriais (tais como CO2 e SO2). A demanda
energética costuma também crescer nesta fase.

Caso a economia continue seu processo de crescimento, ocorreria uma


terceira situação: aquela em que a economia passa a depender menos dos setores
produtivos (agricultura, extração e indústria) e passa a se capitalizar (acumular renda).
Assim, em níveis maiores de renda, na proporção que o crescimento econômico ocorre,
há um aumento da participação do setor de serviços na economia (venda de tecnologia,
royalties e serviços financeiros). Nesses setores, o nível de degradação ambiental é
extremamente baixo, não havendo um tipo associado para estas atividades (Shafik, 1994;
Matsuoka, 1997). Tal relação, no entanto, deve ser melhor explorada, uma vez que o
setor de serviços (como no caso do turismo) pode também ser intensivo na utilização de
recursos naturais (principalmente energia).

Esta transição para uma economia de serviços não é natural e simples. Do


mesmo modo que ocorre com a industrialização, existe uma motivação para ocorrer.
Essencialmente, ela resulta de dois fatores: um é devido aos maiores rendimentos que o
setor de serviços oferece; o outro é a pressão que a sociedade faz sobre as empresas e as
autoridades no intuito de reduzir os níveis de degradação ambiental (relação que será
melhor explorada a seguir).

Esta pressão da sociedade pode resultar em leis mais rígidas, aumentando


os custos de produção. Além disso, os consumidores rejeitam os bens e serviços
resultantes de atividades geradoras de degradação. O resultado destes fatores é um
menor custo de oportunidade de abandonar a atividade geradora de depreciação
30

ambiental. E, quanto menor for o custo de oportunidade do setor produtivo, maior será a
suscetibilidade dos agentes econômicos passarem ao setor de serviços.

Em termos gerais, pode-se dizer que um país ou região faz uma transição
de uma economia inicialmente agrícola e de extração, para uma industrial intensiva em
energia e finalmente para uma pós-industrial ou de serviços intensivas em tecnologia, ao
longo de seu crescimento econômico (Matsuoka, 1997; Borguesi, 1999).

No Brasil, este fenômeno pode ser verificado no gráfico a seguir (Figura


7). Além do crescimento do PIB per capita (principalmente a partir da década de 70,
conhecida como a época do “milagre” econômico), houve uma alteração na composição
econômica do país. No período, a participação da agricultura no PIB brasileiro diminuiu,
enquanto a indústria cresceu. Entretanto, já dava sinais claros de maior crescimento
relativo do setor de serviços.

100
90
80
% e Índice do PIB

70
60
50
40
30
20
10
0
1947 1957 1967 1977 1987 1997 2002
Ano

Agropecuária Indústria Serviços Índice do PIB per capita (2002=100)

Figura 7 - Participação setorial no PIB (em %) e o índice do PIB per capita (2002=100),
1947-2002.
Fonte: elaborado com dados do Anuário Estatístico do Brasil (1947-2002)
31

Além dessas mudanças, segundo a ótica da teoria da produção, o


surgimento de novas tecnologias seria outro importante fator para a ocorrência da EKC.
Além de terem efeitos positivos para o crescimento econômico, são mais eficientes e,
assim, emitem menos poluentes e demanda menos energia e recursos naturais, aliviando
de forma considerável a pressão sobre o meio-ambiente. Assim, uma trajetória inicial da
EKC é alterada com a inovação tecnológica, modificando o turning-point em um nível
mais baixo.

Países de menor renda poderiam aprender com os fatos ocorridos nos


países mais adiantados no processo de crescimento econômico evitando que os tipos de
poluição mais graves venham a acontecer (Munasingue, 1999). Ao longo do tempo, a
evolução tecnológica seria passada aos países de menor renda. O resultado disto é a
chamada tendência de “achatamento” da EKC (Matsuoka, 1997) (Figura 8).
Indicador de Degradação
Ambiental

Indicador de Crescimento
Econômico
Figura 8 - Os efeitos da tecnologia ou “achatamento” da EKC.
Fonte: adaptado de Matsuoka (1997)

Isto é, os estágios de crescimento econômicos de um país não são um


processo determinístico em que todos os países devem passar para alcançar um nível de
32

renda mais alto. Os estágios mudam de acordo com a criação de novas tecnologias ao
longo do tempo (Unruh & Moomaw, 1998).

O efeito da tecnologia, reduzindo a degradação ambiental é geralmente


positivo ao longo do tempo. Assim, a trajetória de uma relação entre renda e degradação
ambiental pode mudar ao longo do tempo (Figura 9) (Bruyn et al., 1998).
Indicador de Degradação
Ambiental

EKCt1

EKCt2
Longo-prazo
EKCt3

Yt1 Yt2 Yt3 Renda per capita

Figura 9 - Efeitos do “achatamento” em uma relação cross-time para diversas EKC´s.


Fonte: adaptado de Bruyn et al. (1998)

Essencialmente existiriam dois motivos para explicar a existência deste


fenômeno; uma explicação seria uma mudança na estrutura de demanda dos
consumidores (que passam a demandar uma maior qualidade ambiental) (John &
Pecchenino, 1994; Opshoor, 1998; Selden & Song, 1994), forçando a criação de novas
tecnologias menos poluentes para atender esta nova estrutura de demanda.

Outro motivo seria uma simples e óbvia ocorrência na economia dos


recursos naturais e ambientais: uma situação de escassez de recursos que tráz reflexos
sobre os seus preços. Altos preços implicam em custos maiores, gerando um incentivo à
33

adoção de tecnologias mais eficientes. A adoção destas tecnologias ocorre, então,


quando os ganhos provenientes da economia com a diminuição no uso destes recursos
forem superiores ao custo da adoção desta nova tecnologia.

2.5.2 Alterações na estrutura de consumo individual

Existem evidências de que a demanda por qualidade ambiental se


comporta como um bem normal ou de luxo (Opshoor, 1998). Dessa forma, quanto maior
for a renda do indivíduo maior será a sua demanda por qualidade ambiental (John &
Pecchenino, 1994; Opshoor, 1998). Ou seja, a elasticidade renda da demanda por
qualidade ambiental é positiva (Selden & Song, 1994).

Essa maior demanda irá se traduzir em maior pressão sobre as


autoridades (podendo ser durante o processo das eleições, na escolha de representantes
com plataformas de atuação mais preocupadas com o ambiente; ou diretamente, na
forma de protestos) ou sobre as empresas (na forma de uma demanda por maior
responsabilidade ambiental).

A pressão exercida pela sociedade vai se tornar uma ação de fato, por sua
vez, quando os custos de abatimento da degradação ambiental forem inferiores aos
ganhos marginais de utilidade das pessoas em não mais conviverem num ambiente
degradado (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994; Gawande et al., 2001).

E como quanto maior for o nível de renda de uma sociedade maior será a
sua demanda por qualidade ambiental, novas tecnologias surgem e são adotadas ao
longo deste processo. Pode-se dizer que a partir de um certo nível de renda é possível
crescer economicamente degradando menos o meio-ambiente (a parte descendente da
EKC).
34

Assim, a melhoria ambiental fruto da alteração dos sistemas produtivos é


induzida por uma mudança no comportamento dos consumidores/indivíduos de maior
renda de se distanciarem da degradação ambiental (Gawande, 2000).

2.5.3 EKC e as relações de troca

Ceteris Paribus, a EKC seria o caminho natural que as economias


seguiriam. Todavia, todos pressupostos até agora só seriam válidos caso a economia
fosse fechada ou se não houvesse diferenciação entre elas (mesma renda, base
tecnológica e produtiva, e mesmas características geográficas e populacionais)18 (Stern
et al., 1996).

Entretanto, elas não são iguais. Elas possuem grandes diferenças que
fazem que cada uma possua características próprias que as tornam mais ou menos
competitivas na produção de um determinado tipo de produto ou bem. Isso, de certa
forma, é um incentivo ao comércio internacional19. Assim, diferentes países (com
diferentes níveis de renda, de nível tecnológico, de matriz produtiva) passarão a negociar
os seus produtos e serviços no mercado internacional.

Nestas relações de trocas, há uma quebra de diversos pressupostos até


agora colocados. O principal deles é que os produtos consumidos por uma determinada
economia podem ser produzidos em qualquer outro lugar.

Assim, a degradação ambiental relacionada com um maior consumo


(demanda) de produtos de origem industriais não irão necessariamente seguir uma EKC,

18
Assim cada região deveria ter sua própria EKC (Stern et al., 1996).
19
Pois segundo o modelo H.O. (Herckesher-Ohlin) os países tendem a produzir o bem/serviço intensivo
na utilização de seu fator de produção mais abundante (Findlay, 1995).
35

pois não mais irá existir o interesse das comunidades demandadoras em abater a
poluição (uma vez que elas não estão localizadas na fonte da degradação).

As comunidades locais (produtoras), que não mais queiram conviver com


essa degradação de origem industrial, irão traduzir os seus anseios sobre a forma de
pressão sobre as autoridades. As autoridades, por sua vez, passam a regulamentar
determinados setores que a sociedade considere que a renda obtida com eles não
compense a perda do nível de utilidade devido as externalidades negativas geradas por
eles (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994; Gawande et al., 2001).

Os setores regulamentados passam a ser menos competitivos em relação a


outros. Assim, o investidor simplesmente sai desta atividade ou move os seus
investimentos para uma localidade com menor regulamentação ambiental20 (Grossman
& Krueger, 1993).

Surge, assim, um novo paradigma para o comércio internacional (e


mesmo de composição da produção), a regulamentação ambiental passa a ser
determinante da vantagem comparativa e absoluta de cada país. Haverá uma
especialização na produção do bem ou serviço que é intensivo na utilização do bem mais
abundante e ao mesmo tempo, tiver menor regulamentação ambiental (Grossman &
Krueger, 1993).

Ao se incentivar o comércio internacional, observa-se então que algumas


regiões (as de maior nível de renda) usufruirão uma melhora na qualidade ambiental pela
re-alocação das indústrias para outras regiões sem afetar o consumo das pessoas,
entretanto, outras (as de menor renda), aceitarão estas indústrias pela renda que elas
trarão, havendo uma piora em sua qualidade ambiental.

20
Partindo do pressuposto que exista mobilidade dos fatores de produção, principalmente de capital.
36

Em termos globais, podemos dizer que a globalização tem tanto efeitos


positivos, quanto negativos para a qualidade ambiental (Jayadevappa & Chhatre, 2000).

Todavia, nesta transferência, além dos equipamentos, são levados juntos


a tecnologia de produção e como as novas tecnologias, como já mencionado, seriam
mais eficientes (gerando uma menor degradação ambiental), de certa forma os países de
menor renda se beneficiariam com o comércio internacional (além do ganho de renda)
com a absorção de novas tecnologias menos poluidoras.

Os países de maior renda, pela sua abundância de capital financeiro,


social e humano e ser altamente regulamentado na utilização de alguns recursos
ambientais e na emissão de alguns poluentes, possuem vantagens comparativas e
absolutas na produção de tecnologias e serviços bancários. Esses, por sua vez, vendem
estes serviços (tecnologia, capital) para os países em crescimento promoverem a sua
industrialização. Esses obtêm renda através da venda de produtos manufaturados para os
outros países, ou mesmo com o consumo local.

Isto, até que o seu nível de renda permita que ele se capitalize, aliado a
uma pressão da sociedade por qualidade ambiental, e a economia passe a des-
industrializar, virando uma economia pós-industrial, passando a uma condição de
criador e vendedor de serviços.
37

2.5.4 Fontes de ineficiência e externas de viés da EKC

Existem evidências de que a qualidade ambiental tenderia a uma melhora


a longo-prazo21. Sejam pelas mudanças estruturais na economia ou pela mudança do
comportamento do consumidor.

Entretanto, não é o que sempre ocorre. Existem alguns fatores como:


liberdade civil, definição dos direitos de propriedade e, principalmente, falhas de
mercado associado ao problema com a não-exclusividade e não-rivalidade dos bens que
interferem no equilíbrio das relações renda e degradação ambiental (Shafik &
Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994; Selden & Song, 1994).

Dessa forma, a EKC poderia ter outros formatos além do “U” invertido
(Bruyn et al., 1998). A figura 10a é uma relação positivamente correlacionada onde o
ganho da manutenção da atividade econômica geradora de degradação é muito maior
que a des-utilidade das pessoas em conviver com esta poluição. A 10b, uma relação
negativamente inclinada, mostra um tipo de degradação cuja atividade geradora só é
utilizada nos primórdios do crescimento econômico. A 10c seria a EKC tradicional e a
10d mostra uma relação chamada em “N”, que inicialmente mostra ser uma relação em
“U” invertido e, a partir de um determinado ponto, à relação entre renda e degradação
volta a ser positivamente correlacionada.

21
Como mostram alguns estudos empíricos (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994; Selden &
Song, 1994; Grossman & Krueger, 1995).
38

(a) (b) (c) (d)

Figura 10 - EKC para diversas relações renda/meio-ambiente.


Fonte: Bruyn et al. (1998)

Estritamente existem dois motivos para que a relação entre crescimento


econômico e degradação ambiental não tenda a uma relação negativa no longo-prazo.
Um, seria decorrente das ineficiências de mercado que impossibilitam a existência de
mecanismos de auto-ajuste da economia que faz com que, a longo-prazo, haja uma
melhora na qualidade do meio-ambiente, conhecidos naturalmente como ineficiências. O
outro motivo, chamado de viés, são aqueles independentes do mercado, são frutos de
fatores exógenos.

2.5.4.1 Fontes de ineficiência

Ineficiência é toda aquela situação aonde os mecanismos de ajuste


econômico não conseguem fazer com que a degradação ambiental seja abatida no longo-
prazo. Ou seja, há uma impossibilidade da internalização das externalidades negativas
nos preços. Fatores como excesso de liberdade civil, não-exclusividade no consumo e a
atenuação dos direitos de propriedade, entre outros são fontes de ineficiência que afetam
e muito o equilíbrio das relações renda e degradação ambiental que devem ser melhor
explorados.
39

a) Não-rivalidade e não-exclusividade no consumo e o excesso de liberdade civil

Não-rivalidade é aquela situação onde o consumo de um bem por


indivíduo não extingue a possibilidade de outro indivíduo extrair utilidade com o
consumo deste bem. Ou seja, todos são beneficiados com a sua oferta (ex: luz do Sol,
parque nacional, qualidade ambiental). É considerado um atributo físico do bem
(Randall, 1987).

Como todos são beneficiados com a sua oferta, sua demanda agregada
será a soma vertical das demandas individuais (ao contrário dos bens rivais que é a soma
horizontal) (Figura 11) (Randall, 1987).

P Demanda Agregada Curva de Custo


Marginal

Demandas
Individuais
P*Q* - imaginando o
equilíbrio em:
Demanda = Cmg
(Nicholson, 2002)

P*

Q* Q

Figura 11 - Ajuste ótimo dos bens não-rivais.


Fonte: Randall (1987)

A ineficiência da não-rivalidade de um recurso está exatamente na


estimação da sua demanda. Pois, para cada indivíduo, um determinado recurso natural
40

ou ambiental possui uma utilidade e, como geralmente indivíduos tendem a não revelar a
sua real demanda por este recurso, o preço atribuído a este bem tende a ser inferior ao
valor atribuído pela sociedade; o que leva à sua sobre-exploração (Randall, 1987).

Os recursos não-excludentes são aqueles cujo consumo não está restrito a


apenas um agente econômico (Randall, 1987). Uma situação onde há a impossibilidade
de tornar privado o benefício de um determinado bem ou recurso (ex: o pôr-do-sol, a
beleza de um parque nacional, a preservação das espécies).

É geralmente associado à atenuação dos direitos de propriedade,


existindo então uma impossibilidade de se impor preço sobre o bem, uma vez que não
oferece remuneração ou benefícios para o agente que estaria disposto a pagar por sua
produção ou conservação. Levando a uma taxa de exploração acima da média e a
impossibilidade de se utilizar o mecanismo de preços para racionar a sua escassez
(Randall, 1987).

Associadas a um excesso de liberdade civil, estas características dos bens


levará a um menor controle no comportamento e consumo dos agentes econômicos,
induzindo uma utilização não racional do bem ou recurso (Shafik & Bandyophadyay,
1992).

Como os recursos naturais e ambientais, em alguns casos, possuem as


características de um bem não-rival e não-excludente, podemos dizer que todos estes
pressupostos assumidos são validos para ele. Assim, a tendência natural dos agentes
seria de não preservar ou manter a qualidade destes recursos. Pois tal comportamento
não apenas beneficiaria a ele próprio, mas todas as pessoas que tivessem acesso a essa
melhoria. E o excesso de liberdade civil aliado a uma atenuação dos direitos de
propriedade só tenderia a piorar o problema.
41

Há evidências de que países mais democráticos tenderiam a ter


associações de interesse que impediriam o controle e regulamentação de certos setores,
impossibilitando a internalização destas externalidades no preço dos bens ou serviços
que geram externalidades em sua produção (Shafik & Bandyophadyay, 1992).

b) Localização e abrangência das externalidades.

Ainda falando da impossibilidade da internalização das externalidades


negativas, existe o problema associado à localização geográfica da fonte geradora desta
externalidade e a abrangência ou localização da população afetada por esta externalidade
(Jayadevappa & Chhatre, 2000).

Caso a externalidade seja unilateral, ou seja, quando a própria população


geradora é afetada pela externalidade, a tendência seria de que as comunidades locais
teriam uma maior predisposição a fazer pressão sobre as autoridades locais para
regulamentar tal atividade. Entretanto, existem situações que as externalidades não são
unilaterais. Chamados de multilaterais, são situações onde a externalidade afeta mais de
uma localidade além do país gerador, ou outras em que apenas outro país é afetado
(Mäler, 1993; Javadevappa & Chhatre, 2000).

Nos casos onde a externalidade gerada não afeta diretamente a população


geradora haveria uma grande dificuldade na negociação entre os setores geradores e os
afetados, isto porque não haveria benefício direto da população local em se abdicar do
consumo ou produção de um determinado bem ou produto em prol dos demais
(Jayadevappa & Chhatre, 2000).

Complexas também são as situações onde as externalidades além de


afetar a população local, afetam a população de outra economia. Ou seja, situações as
quais a jurisdição do país não coincide com a área afetada, resultando em uma situação
42

onde existem mais de uma autoridade para legislar sobre o problema (como o caso da
biodiversidade, do efeito estufa e do buraco na camada de ozônio). Estas situações são
fonte de ineficiência, pois podem levar a uma falta de coordenação entre as partes,
envolvendo uma série de diferentes interesses, culturas, níveis de renda e composição da
atividade produtiva e econômica (Mäler, 1993; Javadevappa & Chhatre, 2000).

Ambos os casos, necessitariam de tratados multilaterais para se chegar a


um consenso entre as partes. Todavia, as diferenças entre eles fazem com que as
diferentes regiões atribuam diferentes ponderações para a qualidade ambiental,
resultando em diferentes ganhos líquidos marginais para a redução da externalidade e
para a atribuição de valor para a qualidade do meio-ambiente (Mäler, 1993; Javadevappa
& Chhatre, 2000).

Intertemporalmente, esses problemas também ocorrem. Uma


externalidade negativa fruto do consumo ou produção de um bem ou serviço num dado
período presente pode não afetar diretamente a população em um dado período, ela pode
afetar as gerações futuras ou num horizonte de tempo muito longo. E como as premissas
em relação ao futuro são incertas e, intertemporalmente, as pessoas tendem a valorizar o
consumo presente, não há um mecanismo de internalização das externalidades negativas
nos preços num dado período presente. Apesar de haver uma certa dose de altruísmo dos
pais em relação aos seus filhos (Stokey, 1998).

2.5.4.2 Fontes externas de viés

a) A “Armadilha da Especialização”

A “Armadilha da Especialização” é uma crítica ao modelo que pressupõe


que todas as economias se desenvolvem inicialmente de uma economia agrícola ou
extrativa para uma industrial e finalmente para uma pós-industrial ou de serviços.
43

Isto claramente ocorreu nas economias “pioneiras” no processo de


crescimento econômico, entretanto, as economias de menor renda caem exatamente
nesta “armadilha” pois elas se especializarão na produção de bens agrícolas e extrativos
ou mesmo industriais por não poderem competir com os países de maior renda na
produção de bens e serviços mais elaborados (Murandian & Martinez-Alier, 2001).

E como estes produtos e serviços mais elaborados (que inclui o


tecnologia e o capital financeiro) produzidos pelos países de maior renda são
extremamente mais onerosos que os produtos e serviços produzidos pelos países de
menor renda, há uma tendência de que os países em processo de crescimento acumulem
um grande déficit da balança de pagamentos. O que forçaria ainda mais estes países a
explorar seus recursos naturais e a aceitar as indústrias geradoras de degradação
ambiental para poder financiar parte deste déficit, se especializando ainda mais em sua
produção (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Murandian & Martinez-Alier, 2001).

Ou, simplesmente, porque certas características do país fazem com que


ele seja extremamente competitivo na produção de um determinado bem que
impossibilite a sua transição para um outro estágio “natural” do processo de crescimento
econômico.

b) Densidade demográfica

A densidade demográfica influencia especialmente os níveis de poluição.


Entretanto, as formas de medir a degradação ambiental pela poluição podem ser
influenciadas de diferentes formas.

Se medida pela quantidade absoluta de poluentes, ou seja, pela sua


concentração no ar. A densidade populacional, naturalmente, tenderá a ter efeitos
44

negativos sobre a degradação ambiental. Assim, uma maior concentração de poluentes é


explicada por uma maior concentração de pessoas. Pois, de forma absoluta, a quantidade
aumenta e, como a área (em conseqüência o volume) não aumentam, a concentração irá
aumentar.

Já para outra forma de medida, a quantidade emitida de poluentes ou o


uso de recursos naturais, a densidade demográfica parece ter efeitos positivos para a
redução da quantidade de poluentes emitidos. Populações que vivem mais espaçadas são
mais difíceis de serem policiadas. Além de serem menos preocupadas quanto à
qualidade ambiental, uma vez que a concentração de poluentes são menores (Selden &
Song, 1994).

Outro efeito importante são as economias de escala. Populações mais


adensadas possuem menores gastos de emissões e uso de combustíveis associados ao
transporte, pelas distâncias serem menores e, dessa forma, há redução das perdas nos
sistemas (Selden & Song, 1994). Todavia, pode também haver perda de eficiência uma
vez que existe o problema dos congestionamentos nos grandes centros urbanos.

c) Legislações e políticas governamentais

Existem situações onde a ação de grupos de interesse sobressai aos


interesses gerais da população, ou mesmo casos onde acordos multilaterais22 são
assinados sem novamente refletir os anseios das pessoas do país. Nestas situações, as
legislações e políticas governamentais não são resultantes das aspirações da população.
Elas são resultados de fatores externos não explicados por uma mudança no
comportamento das pessoas devido ao crescimento de sua renda.

22
De controle de emissões, ou diminuição de valores absolutos de poluentes, taxas de utilização dos
recursos naturais.
45

As mudanças na trajetória dos índices de degradação ambiental não


seriam explicadas por uma alteração no nível de renda. Seriam resultado de novas
legislações e políticas externas ao modelo (Unruh & Moomaw, 1998).

Isto implica que esses eventos externos ao modelo é que estariam


explicando uma alteração nos níveis de degradação ambiental, estabelecendo uma nova
trajetória. Podemos chamar estas novas políticas de um fator de atração, ou, “attractor”
(Unruh & Moomaw, 1998).

d) Fontes naturais de viés

Um outro problema que afeta a relação renda e degradação ambiental não


é fruto de nenhuma interação consumo ou produção com as externalidades e o meio-
ambiente. É resultado de algo que o homem não pode controlar.

Chamados de fontes naturais de viés, elas são frutos de mudanças nos


processos naturais de nosso planeta (ex: as movimentações climáticas, o regime das
chuvas, eras glaciais). Por muitas vezes uma melhora ou piora da qualidade ambiental
não é fruto de qualquer mudança ou mesmo atuação do homem no meio. A mudança
seria resultante de uma variável externa, viesando os resultados finais de uma análise
entre renda e degradação ambiental (Grossman & Krueger, 1995).

2.6 Resultados e estudos empíricos

2.6.1 Modelagem (modelo reduzido)

Uma série de estudos foram e vêm sendo realizados nas relações entre
renda e degradação ambiental. Entre eles destacam-se alguns como Shafik &
46

Bandyophadyay (1992), Shafik (1994), Selden & Song (1994), Grossman & Krueger
(1993) e Grossman & Krueger (1995).

Conhecidos como modelos reduzidos, eles nada mais expressam que uma
relação causal entre renda e degradação ambiental utilizando algumas variáveis que
podem explicar esta relação. Idealmente, é sugerida a utilização de modelos de equações
simultâneas (Borguesi, 1999). Todavia, devido à disponibilidade de dados, a forma
reduzida é a melhor aproximação para a extração desta relação.

Shafik & Bandyophadyay (1992) e Shafik (1994) fizeram esta análise em


cross-section para dez indicadores (escassez de água doce, escassez de tratamento de
água, desmatamento total e anual, oxigênio dissolvido na água, coliformes fecais na
água, partículas sólidas no ar, dióxido de enxofre no ar, quantidade per capita de lixo
despejada e as emissões per capita de carbono) em 149 países, entre os anos de 1960-
1990.

Para o seu trabalho foi utilizado um modelo onde haviam três variáveis
determinadoras da qualidade ambiental; o vetor de características e políticas individuais
dos países i (Fi), renda do país i (Yi) em um período t, variável temporal (T) como uma
proxy para tecnologia de país i em um período t. Foram testadas as hipóteses de um
modelo linear em (4), quadrático em (5) e cúbico em (6):

Ei,t = α0 + α1 ln Yi,t + α2Ti,t + α3Fi + ei,t (4)


Ei,t = 0 + 1 ln Yi,t + 2 (ln Yi,t)2 + 3Ti,t + 4 Fi + ei,t (5)
Ei,t = 0 + 1 ln Yi,t + 2 (ln Yi,t)2 + 3 (ln Yi,t)3 + 4Ti,t + 5 Fi + ei,t (6)

Onde :

Ei,t = indicador ambiental para um país i em um período t.


47

Em Grossman & Krueger (1995) foi feita uma análise em painel para
diversos países do mundo com dados do Global Environmental Monitoring System
(GEMS). Analisando apenas as relações entre renda e degradação ambiental para água e
qualidade do ar.

Neste trabalho, além da time–trend foram adicionadas outras variáveis


como: localização da cidade onde foram coletados os dados (uma cidade central ou não,
se posicionada na costa, a menos de 100 milhas de um deserto)23, características da
utilização do seu terreno (comércio, indústria, residências), e a densidade populacional.
E, como a renda de um determinado ano é extremamente correlacionada com os anos
posterior e anterior, foi adicionada uma variável extra, que é uma média destes três anos.
Chegando ao seguinte modelo funcional em (7):

2 3
Yit = Git β 1+Git2 β 2 + Git3 β 3 + Git β 4 + Git β 5 + Git β 6 + X it β 7 + ε it (7)

Onde:

Yit é o indicador ambiental para o país i no ano t;


Git é a renda (medida em termos per capita do PNB em US$) para o país i
no ano t;
G it é a média da renda (medidas em termos per capita do PNB em US$)
dos anos t–1, t e t+1 para o país i;
βx são os parâmetros a estimar; e,
Xit é o vetor das outras variáveis.

Em outro trabalho Grossman & Krueger (1993) analisa os impactos que o


NAFTA (North American Free Trade Agreement) poderia trazer para a qualidade

23
Características que trazem impactos na dispersão dos poluentes (Grossman & Krueger, 1995).
48

ambiental. Os autores utilizaram o modelo citado anteriormente, adicionado de duas


variáveis: o grau de abertura econômica do país (medidos pela razão da soma das
exportações e importações do país sobre o PNB) e se ele está ou não sob a tutela de um
governo comunista. Entretanto, só foram estimados indicadores de qualidade do ar.

Selden & Song (1994) estimaram um modelo muito semelhante aos


mencionados acima. É feita uma análise em painel para diferentes países do mundo
utilizando os mesmos dados do GEMS, já mencionados. Como variável principal, além
da renda, foi utilizada a densidade demográfica. E, ao contrário dos outros modelos,
atribuem as características do país e o efeito do ano como parte do erro total (modelo de
médias móveis). Estes erros foram medidos como variáveis dummy. O modelo adotado
foi o seguinte em (8) e (9):

mit = Yitβ1 + Yit2β2 +Yit3β3 +ditβ4 + εit (8)


εit = ci + vi + uit (9)

Onde:

mit é o indicador ambiental para o país i no ano t;


Yit é a renda (medida em termos per capita do PNB em US$) para o país i
no ano t;
βx são os parâmetros a estimar;
dit é a densidade demográfica do país i no ano t;
εit é o erro aleatório do país i no ano t;
ci é a dummy para as características do país;
vi é a dummy para os efeitos de cada ano; e,
uit é o erro final.
49

2.6.2 Resultados dos estudos empíricos

Para o caso da escassez da água e do acesso ao sistema público de


saneamento o melhor ajuste encontrado foi uma relação linear negativamente inclinada.
Ou seja, maior a renda maior será o acesso à rede de água e esgotos e maior será a
qualidade ambiental. Sendo que a tecnologia mostrou-se eficiente na redução dos
indicadores. Resumindo, houve o deslocamento da EKC (Shafik & Bandyophadyay,
1992; Shafik, 1994).

Para os indicadores de desmatamento, tanto em termos per capita como


total, o melhor ajuste foi o quadrático, sendo assim a EKC tradicional. Com um turning-
point de US$ 1.380,33 per capita. Neste caso, a tecnologia não se mostrou eficiente no
abatimento da poluição (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994).

O caso da qualidade da água (oxigênio dissolvido e coliformes fecais),


entretanto, mostrou-se preocupante. Para a quantidade de oxigênio dissolvido, o melhor
ajuste ocorreu com o modelo linear negativamente correlacionado. Isto significa que a
quantidade de OD tende a diminuir com o crescimento da renda, traduzindo em pior
qualidade ambiental (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994; Grossman &
Krueger, 1995).

Já o caso da quantidade de coliformes fecais na água o melhor ajuste foi o


“N”. Isto significa que inicialmente a relação seguia uma tendência em “U” invertido,
todavia, a partir de certo nível de renda24 houve a necessidade de uma nova inversão na
relação renda e degradação ambiental para a manutenção do crescimento.

Neste caso, entretanto, a tecnologia não apenas não foi fator de redução
das emissões como foi um fator de expansão desta, ou seja, as novas tecnologias
24
Aproximadamente US$ 10.000,00 (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994; Grossman &
Krueger, 1995).
50

adotadas são intensivas na emissão de esgotos (resultando em maiores níveis de


coliformes) (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994; Grossman & Krueger,
1995).

Para a qualidade de partículas suspensas no ar o melhor ajuste encontrado


foi o quadrático em “U” invertido (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994;
Selden & Song, 1994). O turning-point estimado foi de US$ 2.980,00, sendo que a
tecnologia mostrou-se bem efetiva na redução da poluição. A redução foi de
aproximados 140 g/m3 de partículas suspensas no ponto de máximo em 1972 para
aproximados 100 g/m3 em 1986 (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994). A
densidade populacional também parece ter sido positiva para a redução das emissões
(Selden & Song, 1994).

Já para o caso das emissões de carbono, ao contrário dos demais


indicadores de qualidade do ar, o ajuste estatisticamente mais significativo, ocorreu com
um modelo linear crescente, ou seja, maiores níveis de renda maiores serão as emissões
de carbono e menor será a qualidade do ar. Isto se deve ao fato de que as emissões de
carbono, diferente do caso das partículas suspensas no ar e de SO2, afetam o ambiente
globalmente. Ou seja, a emissão feita pelo agente econômico afeta o ambiente todo e
não apenas localmente. Entretanto, aqui a tecnologia tende a ser eficiente na redução dos
níveis de degradação, houve deslocamento da EKC (Shafik & Bandyophadyay, 1992;
Shafik, 1994; Grossman & Krueger, 1995).

Para a quantidade de dióxido de enxofre no ar o melhor ajuste estimado


foi a relação “N”. Seu primeiro turning–point foi estimado em US$ 4.053,00 em um
nível de 25 ( g/cm3) e seu segundo turning–point ocorre a aproximados US$ 14.000,00
(Grossman & Krueger, 1995).

A localização costeira da cidade foi estimada como favorável à redução


de dióxido de enxofre no ar, a localização no deserto por sua vez parece não ter efeito, já
51

as cidades centrais mostraram ter maior concentração deste poluente. Logicamente


regiões industriais têm uma maior carga no ar, enquanto as residenciais uma menor
carga. A densidade populacional também parece contribuir para uma maior concentração
deste poluente no ar. A time–trend segundo a estimativa existe, ou seja, há presença de
“achatamento” (Grossman & Krueger, 1995).

Outros estudos, no entanto encontram evidências de um “U” invertido


tanto para emissão de carbono (Selden & Song, 1994) e de dióxido de enxofre (Shafik &
Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994; Selden & Song, 1994). Neste caso, tanto a time-
trend (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik, 1994; Selden & Song, 1994) quanto à
densidade populacional parecem ter efeitos positivos para a melhoria da qualidade
ambiental (Selden & Song, 1994).

Quanto aos impactos de uma suposta abertura econômica para a


qualidade do ar, evidências mostraram o que estava previsto. Houve uma transferência
da poluição dos países de maior renda para os países de menor renda. Ou seja, os países
de maior renda se beneficiaram com a abertura econômica. Quanto à variável
governamental, segundo as estimativas, regimes comunistas parecem ter maior
concentração deste poluente em relação a regimes mais abertos (Grossman & Krueger,
1993).

Veja a seguir, um resumo com um comparativo para alguns resultados


dos estudos empíricos realizados para a emissão de carbono (Quadro 2) e emissão de
enxofre (Quadro 3).
52

Autor Melhor Turning- Time-trendb Densidade Grau de


a b
Ajuste point Populacional Aberturab
Shafik & Bandyophadyay Positivo
(1992); Shafik (1994) Linear - Negativo - -
Grossman & Krueger Positivo
(1993) Linear - Negativo Positivo Negativo
Grossman & Krueger Positivo
(1995) Linear - Negativo Positivo -
Selden & Song (1994) “U”
invertido 2.319 Negativo Negativo -
Quadro 2 - Resultados de diversos estudos empíricos para a relação emissão de CO e
renda.
a
em US$ de 1985
b
Se estes coeficientes forem negativos, maiores os seus valores, menores serão as
emissões. Se for positivo, maiores serão as emissões.

Autor Melhor Turning- Time- Densidade Grau de


a b b
Ajuste point trend Populacional Aberturab
Shafik & Bandyophadyay “U”
(1992); Shafik (1994) invertido 4.000 Negativo - -
Grossman & Krueger Positivo
(1993) Linear - Negativo Positivo Negativo
Grossman & Krueger Positivo
(1995) Linear - Negativo Positivo -
Selden & Song (1994) “U”
invertido -11.025 Negativo Negativo -
Quadro 3 - Resultados de diversos estudos empíricos para a relação emissão de SO2 e
renda.
a
em US$ PPP (Purchasing Power Parity) (Shafik & Bandyophadyay, 1992; Shafik,
1994) e US$ de 1985 (Selden & Song, 1994).
b
Se estes coeficientes forem negativos, maiores os seus valores, menores serão as
emissões. Se for positivo, maiores serão as emissões.
53

2.6.3 No Brasil

Poucos são os estudos da EKC aplicados a regiões e países específicos,


inclusive para o Brasil. Entretanto, existem alguns trabalhos: Diniz (2000), Fachini
(2001), Kamogawa (2001) e Kamogawa & Shirota (2003) que aplicam o modelo EKC
para o Brasil. O primeiro para a emissão de carbono, o segundo em função do consumo
enérgico e o terceiro e quarto para indicadores de qualidade de água.

Para o caso da qualidade do ar, segundo estimativas, existe uma relação


positiva entre renda e emissão de carbono. Neste caso, o crescimento econômico é
traduzido em maior emissão de carbono, ou seja, há piora na qualidade ambiental ao
longo do processo de crescimento econômico (Diniz, 2000).

O consumo de energia elétrica total mostrou uma relação linear


positivamente correlacionada com a renda (Figura 12). Para o caso da intensidade
energética (a razão entre consumo de energia e a renda) o melhor ajuste foi o “N”.
Assim, inicialmente, a tendência seria a EKC, mas a partir de um certo nível de renda
(R$ 2.900,00) a relação se inverte (Figura 13) (Fachini, 2001).
Consumo de Energia per capita

1,6
1,4
1,2 Y
(10^3 tEP)

1 Y previsto
0,8
0,6
0,4
0,2
0 1000 2000 3000 4000
PIB per capita (R$ de 2000)

Figura 12 - Plotagem de ajuste de linha para o modelo de consumo de energia total per
capita (em 103 tEP) no Brasil, 1970-2001.
Fonte: Fachini (2001)
54

0,44

Intensidade Energética
0,42

0,4

0,38
Y
0,36 Y previsto

0,34

0,32
0 1000 2000 3000 4000
PIB per capita (em R$ de 2000)

Figura 13 - Plotagem de ajuste de linha para intensidade energética (103 tEP/PIB) em


função do PIB per capita (em R$ de 2000).
Fonte: Fachini (2001)

Assim, haveria piora da qualidade ambiental em níveis maiores de renda


para o caso do consumo de energia. Todavia, é importante denotar que o país ainda está
muito longe do consumo de energia dos outros países (essencialmente Estados Unidos),
de modo que mesmo estando em relação positiva com a renda o consumo estará muito
aquém dos outros países (Fachini, 2001).

Para o caso da água, segundo Kamogawa (2001) o melhor ajuste para o


IQA (índice de qualidade de água) foi o polinomial cúbico. Assim, inicialmente com o
crescimento da renda a qualidade de água sobe, mas passa a cair em determinado
momento (R$ 8.500,00) passando a subir em um terceiro momento (R$ 9.400,00)
(Figura 14).
55

58

56

54

IQA
52

Y
50
Y previsto
48

46
7800 8300 8800 9300 9800 10300

PIB per capita (em R$ de 1998)

Figura 14 - Relação entre renda (em R$ de 1998) e o índice de qualidade de água (IQA),
na Bacia do Alto Tietê.
Fonte: Kamogawa (2001)

Entretanto, em um modelo mais elaborado utilizando uma variável dummy


temporal Kamogawa & Shirota (2003) encontraram uma relação quadrática em “U”
invertido para a relação entre renda e degradação ambiental. Dessa forma, a degradação
ambiental inicialmente sobe com o aumento da renda. Todavia, após um turning-point
estimado em R$ 9.220,00 (em R$ de 1998) quanto maior for o nível de renda, maior será
a degradação ambiental e menor a qualidade da água (Figura 15).

50
1980
40
1998
30
IQA

20

10

0
2500 7500 12500 17500 22500
Renda (R$ de 1998)

Figura 15 – Relação entre o índice de qualidade de água (IQA/CETESB) e PIB per


capita (em R$ de 1998), na bacia do Alto Tietê.
Fonte: Kamogawa & Shirota (2003)
3 MATERIAL E MÉTODOS (MODELO REDUZIDO)

Para verificar se a relação entre renda e degradação ambiental segue uma


trajetória EKC em “U” invertido, foi utilizada a técnica econométrica dos mínimos
quadrados ordinários (MQO) (Greene, 2001; Johnston, 1963).

Com base na literatura, adotaram-se três tipos de formas funcionais:


linear, quadrática e cúbica em uma análise temporal. O objetivo foi buscar o melhor
ajuste, verificando se a forma é ou não uma EKC tradicional25 (modelo quadrático e
côncavo).

Devido à natureza dos indicadores selecionados para o estudo, serão


adotados diferentes modelos e variáveis explanatórias.

A seguir, será demonstrada uma análise detalhada para cada indicador de


qualidade ambiental do estudo em questão (qualidade das reservas de água doce e
consumo de energia).

3.1 Qualidade da água

Para o caso da qualidade da água, serão utilizados quatro diferentes


indicadores: a quantidade de oxigênio dissolvida (OD) (em mg/l), a demanda biológica

25
Ver Figura 10 pg. 38.
57

de oxigênio (DBO – 5,20)26 (em mg/l), a quantidade de coliformes fecais (em NMP/100
ml)27 e o índice de qualidade de águas (IQA/CETESB) (Apêndice 2).

A análise foi limitada ao Estado de São Paulo devido à disponibilidade


dos dados. Especificamente, os dados utilizados correspondem à região metropolitana da
cidade de São Paulo. Pela classificação da CETESB (Companhia de Tecnologia e
Saneamento Ambiental) essa região corresponde a UGRHI-06 (Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos 06) (Apêndice 3) que por sua vez corresponde à
bacia do Alto Tietê.

A escolha de tal bacia foi feita em função essencialmente de uma maior


disponibilidade histórica de pontos de coleta de dados. Além disso, sua população
(correspondente a 48% da população total do Estado de São Paulo em 2003) (CETESB,
2003) e sua produção econômica serem a mais representativa de todas as bacias no
Estado.

Os indicadores absolutos de qualidade de água estão sujeitos à influência


de variáveis externas como a capacidade de absorção do ambiente (alterada por fatores
externos como a temperatura e o regime pluvial) e mesmo uma maior concentração
populacional (uma vez que, quanto maior a quantidade de pessoas, maior tende a ser a
concentração de poluentes).

Devido às restrições e características dos dados, de forma a contemplar


todas as variáveis que afetam a relação renda e degradação ambiental sugeridos pela
literatura, foram utilizados como variáveis explanatórias: o PIB per capita (Y) para
explicar a relação entre crescimento econômico e degradação ambiental; a variável
temporal (T) para tentar extrair os efeitos da evolução tecnológica ao longo do tempo
(“achatamento” da EKC); duas variáveis dummy (d1 e d2) para o período posterior ao

26
Demanda biológica de oxigênio em 5 dias a 20º C.
27
Número máximo provável em 100 ml de água.
58

ano de construção das estações de tratamento de esgoto (ETE) de Barueri (em 1988) e
para as ETE´s do Novo Mundo, de São Miguel e do ABC (em 1998) (Apêndice 4) para
captar os efeitos externos de uma ação externa ao modelo (“attractor”); e finalmente a
população residente (Pop) para subtrair os efeitos do crescimento populacional na
qualidade da água.

Três diferentes ajustes para a EKC serão testados: o linear em (10), o


quadrático em (11) e o cúbico em (12). Os modelos propostos são os seguintes:

IAt = α1 + α2 (Yt) + α3T + d1+ d2 + α4Popt + t (10)


IAt = β1 + β2(Yt) + β3(Yt)2 + β4T + d1+ d2 + β5Popt + t (11)
2 3
IAt = 1+ 2 (Yt) + 3(Yt) + 4(Yt) + 5T + d1+ d2 + 6Popt + t (12)

Onde:

IAt é o Valor do Indicador de Qualidade da Água no período de tempo t;


α,β e são os parâmetros a serem estimados;
Yt é o PIB per capita no período de tempo t;
T é a variável temporal, uma proxy para tecnologia (para captar o
“achatamento” da EKC);
d1 é a variável dummy para a ETE de Barueri;
d2 é a variável dummy para as ETE´s do Novo Mundo, São Miguel e
ABC;
Popt é a população residente no período de tempo t; e,
t é o erro aleatório.
59

3.1.1 Fonte dos dados do modelo para qualidade de água

− Qualidade da água

Os dados de qualidade da água foram coletados na CETESB em seu


Relatório de Qualidade das Águas Interiores, no período de 1980 a 2000. Isto, dentro da
chamada UGRHI-06 (Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos – 06),
correspondente à Bacia do Alto Tietê (região metropolitana de São Paulo) (Apêndice 3).

Foram considerados sete pontos de coletas (Apêndice 5) localizadas nas


regiões de maior concentração populacional e industrial. Os pontos não incluídos nesta
amostra, ou não faziam parte da amostra em um período anterior, ou estão localizados
em regiões de proteção de mananciais (onde a princípio não é uma região afetada por
lançamento de efluentes).

E desse valor foi obtida uma média anual para cada ponto e finalmente
uma média anual para a bacia, sendo este o valor final que foi considerado.

− PIB per capita

O valor do PIB per capita foi coletado junto a Fundação SEADE


(Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) no Anuário Estatístico do Estado de
São Paulo. A região correspondente é o Estado de São Paulo (pela ausência de uma base
de dados para os 34 municípios pertencentes a UGRHI-06), no período de 1980 a 2000.
O valor é o preço de mercado em valores em Reais de 2000. Sendo o IGP-DI/FGV o
índice deflator considerado.
60

− População Residente

A população utilizada é correspondente a residente nos 34 municípios


pertencentes a UGRHI-06 (Apêndice 3). Estes valores vão do período de 1980 a 2000, e
foram obtidos também na Fundação SEADE no Anuário Estatístico do Estado de São
Paulo.

3.2 Consumo de energia

O consumo de energia foi medido em termos da quantidade anual per


capita de tonelada equivalente de petróleo (tEP) para o Brasil de 1970 a 2001.

Inspirado na literatura foram adotadas algumas variáveis explanatórias


que podem influenciar o consumo de energia no Brasil. A primeira variável a ser
inserida foi à renda medida em termos per capita do PIB a custo de fatores (Y), uma vez
que o objetivo principal do presente trabalho é verificar os efeitos do crescimento
econômico na qualidade ambiental.

Para medir os efeitos da tecnologia sobre o consumo de energia ao longo


do tempo (“achatamento”) foi introduzida a intensidade energética (INT) como variável
explanatória. Medido como uma razão do consumo de energia (ENE) sobre o valor do
PIB, a intensidade energética, representada em (13), expressa qual a eficiência da
economia na utilização da energia para gerar uma unidade de renda. Assim, a redução
nesse valor representa ganhos de eficiência na utilização da energia, um aumento é
traduzido como uma perda de eficiência no uso da energia.

ENE
INT = (13)
PIB
61

Como a energia não é um recurso abundante e o seu consumo é rival e


excludente pode-se dizer que é possível utilizar o mecanismo de preços para regular a
sua escassez. Estudos empíricos comprovam que o consumo de energia é elástico ao
preço de suas fontes (Agras & Chapman, 1999). Foi introduzida a variável preço (P)
(medidos por um indicador) (Apêndice 6), para extrair os seus efeitos para o consumo de
energia.

Foi introduzida a variável densidade populacional (d) por considerar-se


que o adensamento populacional produz efeitos tanto positivos quanto negativos no que
se refere ao consumo de energia28.

O grau de abertura econômica foi também sugerido como uma variável


explanatória. Entretanto, tal indicador é apenas aplicável a situações específicas, como
no caso do México (Grossman & Krueger, 1993). No Brasil, tal indicador não é
recomendável, uma vez que a nossa abertura econômica pouco variou ao longo do
período do estudo (variância de 0,001 da abertura medida pela razão da soma das
exportações e importações sobre o PIB), além de o país ser relativamente fechado ao
comércio internacional29.

Definidas as variáveis explanatórias, três diferentes ajustes para a EKC


foram sugeridos: o linear em (14), o quadrático em (15) e o cúbico em (16):

ENEt = α1 + α2 (Yt) + α3 INTt + α4 Pt + α5 dt + t (14)


ENEt = β1 + β2(Yt) + β3(Yt)2 + β4INTt + β5Pt + β6dt + t (15)
2 3
ENEt = 1+ 2 (Yt) + 3(Yt) + 4(Yt) + 5INTt + 6 Pt + 7 dt + t (16)

28
Ver 2.5.4.
29
21% de abertura medidos pela razão da soma das exportações e importações sobre o PIB em 2001.
62

Onde:

ENEt é o consumo de energia no período de tempo t;


α,β e são os parâmetros a serem estimados;
Yt é o PIB per capita no período de tempo t;
INTt é a intensidade energética no período de tempo t, uma proxy para
tecnologia (“achatamento” da EKC);
Pt é o indicador de preço da energia no período de tempo t;
dt é a densidade populacional no período de tempo t; e,
t é o erro aleatório.

3.2.1 Fonte dos dados para o modelo de consumo de energia

− Consumo de energia (ENE)

Os indicadores de qualidade ambiental serão utilizados em termos anuais


per capita em tonelada equivalente de petróleo (tEP). Os dados de demanda energética e
de intensidade energética foram coletados junto ao Ministério de Minas e Energia
(MME).

− Renda (Y)

O valor utilizado será o PIB real a preço de mercado em termos per


capita. Os dados foram coletados no Anuário Estatístico do Brasil (1947-2001) e no
Instituto Nacional de Pesquisa e Economia Avançada (IPEA) (2003). O índice de
deflacionamento utilizado foi o Índice Geral de Preços de Disponibilidade Interna (IGP-
DI) estimado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) (IPEA, 2003).
63

− Intensidade energética (INT)

Como a intensidade energética é calculada a partir da razão entre o


consumo de energia sobre o valor do PIB, a fonte de dados utilizada é a mesma das
variáveis explanatórias consumo de energia e renda.

− Indicador de preço de energia (P)

Na ausência de um indicador de preço de energia, foi adotada uma média


ponderada dos indicadores de preços para os três principais componentes da matriz
energética brasileira no período (derivados de petróleo, energia elétrica e a lenha)
(Apêndice 6).

Os indicadores IPA-OG-FGV (Indicador de Preços por Atacado – Oferta


Global) para combustíveis e madeira e os preços de energia elétrica em R$/Mwh foram
coletados no IPEADATA e parte na ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)30.

− Densidade demográfica (d)

A densidade demográfica foi obtida através da divisão da população


brasileira sobre a área ocupada por seu território. Ambos os dados foram obtidos no
Anuário Estatístico do Brasil (1947-2001).

30
Para o caso do preço da energia elétrica para os anos de 2000 e 2001.
4 RESULTADOS ECONOMÉTRICOS

4.1 Qualidade da água

4.1.1 Oxigênio dissolvido (OD)

Foi testada e detectada a presença de multicolinearidade31 das variáveis


explanatórias utilizando-se o teste do número condicional (γ) (Belsley et al., 1980)
representado em (17).

1/ 2
λ
γ = max (17 )
λ min

Onde:

γ é o número condicional;
λmax é a maior raiz característica; e,
λmin é a menor raiz característica.

31
Existência de correlação entre as variáveis exógenas e a quebra do pressuposto de full-rank da matriz
X`X (Greene, 2001).
65

O teste indicou um valor de 60,82; valor considerado alto, dado que


valores superiores a 30 indicam potenciais problemas de multicolinearidade (Belsley et
al., 1980).

Como solução foram identificadas as variáveis que estavam dando


origem ao problema de multicolineariedade pela demonstração da matriz de correlação
das variáveis explanatórias em função da distribuição espectral da sua variância
proporcional da maior para menor raiz característica (Belsley et al., 1980).

Como valores superiores a 0,5 em uma determinada linha da matriz de


covariância indicam dependência linear de uma determinada variável explanatória com o
número condicional (Belsley et al., 1980), três variáveis foram identificadas como
potenciais geradoras de multicolineariedade: a população (Pop) (0,9989), a renda (Y)
(0,9911) e a variável temporal (T) (0,6359).

A literatura sugere então duas alternativas para resolver este problema: a


retirada de uma das variáveis ou a substituição destas (Greene, 2001; Belsley et al.,
1980). A substituição é um processo um tanto complexo pela falta de alternativas que
substituam estas variáveis e que, ao mesmo tempo, não gerem novamente problemas de
multicolineariedade. Desta maneira, foi decidido pela retirada de uma variável.

Naturalmente, não se pode retirar a variável renda de nossa função, uma


vez que ela é objeto essencial em nossa análise. Como os indicadores de qualidade de
água utilizados no estudo podem estar sendo explicados por uma maior concentração
populacional, uma vez que os indicadores utilizados são valores absolutos de qualidade
de água, optou-se pela manutenção da variável populacional em detrimento da variável
temporal (T).
66

Dessa forma, abriu-se mão da possibilidade do aferimento da presença do


“achatamento” para o caso da qualidade da água em troca de um melhor ajuste da
função.

Novamente testada a presença de multicolineariedade, no entanto,


segundo o teste do número condicional, ainda havia a sua presença uma vez que o valor
do teste foi de 32,99. Superior ao valor sugerido por Belsley et al. (1980), o valor,
entretanto, é bem abaixo do valor estimado anteriormente. Para efeitos de simplificação
de análise foi aceito então estes valores, uma vez que para este caso os sintomas de
multicolineariedade32 não foram encontrados para a análise feita por MQO (Mínimos
Quadrados Ordinários).

Estimados estes parâmetros por MQO, optou-se como melhor ajuste


econométrico o modelo linear crescente segundo os seguintes critérios: 1) significância
do modelo (teste F), 2) significância dos parâmetros individualmente (teste t) e 3) o
coeficiente de determinação do modelo (R2) (Tabela 4).

Tabela 4. Resultado econométrico da relação oxigênio dissolvido, PIB per capita (em R$
de 2000) e demais variáveis explanatórias, de 1980-2000, na UGRHI-06a.
Interc. Y (Y)2 (Y)3 d1 d2 Pop F R2
2,440 2,247E-5 -1,618E-7 1,84 0,315
(1,61) (0,30) (-2,07)
1,913 1,125E-4 -3,728E-9 0,238 0,251 -1,629E-7 1,38 0,315
(0,12) (0,04) (-0,03) (1,08) (1,21) (-1,89)
-149,44 0,037 3,050E-6 8,301E-11 0,262 0,229 -1,674E-7 1,13 0,327
(-0,49) (0,50) (-0,50) (0,50) (1,13) (1,05) (-1,89)
a
O resultado do teste t está entre parênteses.

32
Valores dos teste t baixos e altos índices para o teste F e R2 (Greene, 2001).
67

Em função deste melhor ajuste foram testadas as presenças dos


problemas de série de dados que podem fazer com que um estimador de parâmetros não
seja o melhor estimador linear não viesado.

Para testar a presença de autocorrelação33 foi aplicado o teste de Durbin-


Watson (DW) (Greene, 2001). E como era de se esperar em uma série temporal
(Morettin & Toloi, 1985), foi detectada autocorrelação dos erros e, para a correção do
problema, foi utilizado o procedimento de Orchrane-Orcutt (Greene, 2001).

Entretanto, o problema só foi parcialmente contornado após sucessivas


repetições do procedimento de Orchrane-Orcutt. Repetiu-se o procedimento por dez
vezes até que o valor da correlação entre t e t-1 fosse muito próximo de zero, retirando
de forma parcial o problema da autocorrelação (Tabela 5).

33
Autocorrelação – Violação do pressuposto que não existe covariância dos erros cov (et, es)≠0 para t≠s
(Greene, 2001).
68

Tabela 5. Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW), o valor do intervalo


dL e dU, após sucessivas repetições do procedimento orchrane-orcutt, e o
valor de correlação entre os períodos t e t-1 (ρ), para a relação PIB per capita
e OD na UGRHI-06.
Procedimento DW dL* dU* ρ
1 2,490 0,927 1,812 -0,158
2 2,382 0,927 1,812 -0,193
3 2,264 0,927 1,812 -0,133
4 2,177 0,829 1,964 -0,090
5 2,118 0,829 1,964 -0,061
6 2,077 0,829 1,964 -0,041
7 2,050 0,829 1,964 -0,027
8 2,031 0,829 1,964 -0,018
9 2,019 0,829 1,964 -0,012
10 2,011 0,829 1,964 -0,008
* a mudança de dL e dU ocorre por que houve uma mudança na tendência da série.

Foi também testada a presença de heterocedasticidade34 utilizando o teste


de Goldfeld-Quandt (GF) (Greene, 2001). Segundo a estimativa do teste de GF, não há
presença de heterocedasticia para a renda e o tamanho da população (Pop) (Tabela 6).

34
A quebra do pressuposto de que a variância dos dados é constante ao longo da distribuição da série de
valores das variáveis explanatórias (Greene, 2001).
69

Tabela 6. Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do teste F


tabelado.
Variável Explanatória GF F (95%)
Renda 0,43 239,00
Pop 0,71 5,63

Após a realização de todos os testes e feitos todos os ajustes necessários,


chegou-se a um ajuste final. Segundo os critérios estatísticos considerados, o melhor
ajuste da relação entre renda per capita e a quantidade de oxigênio dissolvido foi o “U”
invertido (Tabela 7).

Tabela 7. Resultado econométrico final da relação oxigênio dissolvido, PIB per capita
(em R$ de 2000) e demais variáveis explanatórias, de 1980-2000, na UGRHI-
06a.
Interc. Y (Y)2 (Y)3 d1 d2 Pop F R2
0,694 1,385E-4 0,177 0,148 -1,308E-7 3,03 0,431
(1,21) (2,99)*** (1,42) (1,12) (-2,81)** **
1,037 0,001 -1,972E-8 0,450 0,413 2,853E-7 5,77 0,658
(2,20)** (4,13)*** (-3,15)*** (3,39)*** (3,05)*** (-4,63)*** ***
1,694 -0,001 2,463E-7 -1,115E-11 0,527 0,422 -3,250E-7 4,91 0,678
(2,00)* (-0,63) (0,87) (-0,94) (3,37)*** (3,10)*** (-4,34)*** ***
a
O resultado do teste t está entre parênteses.
* significativo a 10%
** significativo a 5%
*** significativo a 1%
Turning-point: R$ 12.928,19 – OD: 0,768 mg/l (1980) – 0,142 mg/l (2000)

Entretanto, para este caso, tal ajuste significa o oposto do caso da emissão
de poluentes. Como a quantidade de oxigênio dissolvido na água é um atributo positivo
para a qualidade da água, dizemos que quanto maior for a quantidade de oxigênio
70

melhor será a qualidade da água. Assim, uma tendência de “U” invertido para o caso da
quantidade de oxigênio dissolvido significa que nos processos iniciais do crescimento
econômico quanto maior for o nível de renda, maior será a qualidade ambiental; e a
partir de um turning-point (de R$ 12.928,19), quanto maior for o nível de renda, pior
será a qualidade ambiental (Figura 16).

Um resultado semelhante ao encontrado por outros trabalhos na


literatura35, aonde níveis mais altos de renda são traduzidos em uma redução da
quantidade de oxigênio na água.

Os efeitos das variáveis dummy (d1 e d2), por sua vez, foram positivos
para a qualidade ambiental (Tabela 7). Demonstrando que nos períodos posteriores à
construção das ETE´s houve uma melhora na qualidade ambiental ao haver um aumento
da quantidade de oxigênio dissolvido na água. Em termos quantitativos podemos dizer,
que em média, períodos posteriores à construção da ETE de Barueri (1988), 0,450 mg/l
de oxigênio dissolvido a mais poderiam ser encontrados na água e, em períodos
posteriores à construção das ETE´s do complexo ABC, Novo Mundo e São Miguel
(1998), 0,413 mg/l de OD a mais dos períodos anteriores (acrescidos de d1) poderiam ser
encontrados na bacia do Alto Tietê (Tabela 7).

O tamanho da população (Pop), como não poderia deixar de ser, indicou


ter sido negativo para qualidade ambiental. Segundo o resultado da regressão, cada
pessoa residente na UGRHI-06 contribui com uma redução de 2,85E-7 mg/l de OD
(Tabela 7).

Graficamente, a relação entre as variáveis pode ser apresentada utilizando


as dimensões renda e quantidade de oxigênio, agregando os efeitos da outras variáveis

35
Shafik & Bandyophadyay (1992); Shafik (1994); Grossman & Krueger (1995)
71

explanatórias em uma variável temporal. Assim, a Figura 16 apresenta o efeito da renda


sobre a quantidade de oxigênio dissolvido para dois períodos, 1980 e 2000.

1,0

0,8

0,6
OD (mg/l)

0,4

0,2

0,0
10.000 11.000 12.000 13.000 14.000 15.000
PIB per capita (em R$ de 2000)

1980 2000 Encontrado

Figura 16 - Relação entre a quantidade de oxigênio dissolvido (mg/l) e a renda per capita
(em R$ de 2000), na UGRHI-06, 1980-2000.

4.1.2 Demanda biológica de oxigênio (DBO)

Como as variáveis explanatórias são as mesmas do modelo utilizado para


estimar a relação entre renda e quantidade de oxigênio dissolvido, a série de dados
explanatórias possui multicolineariedade. Assim, a mesma variável explanatória foi
retirada da função para solucionarmos este problema.

Estimados os parâmetros por MQO verificou-se como melhor ajuste o


modelo quadrático em “U” invertido em função dos critérios estatísticos selecionados
(Tabela 8).
72

Tabela 8. Resultado econométrico da relação demanda biológica de oxigênio (DBO) (em


mg/l), PIB per capita (em R$ de 2000) e demais variáveis explanatórias, de
1980-2000, na UGRHI-06a.
Interc. Y (Y)2 (Y)3 d1 d2 Pop F R2
29,273 0,004 7,437 -2,840 -1,820E-6 1,09 0,214
(0,51) (1,48) (0,96) (-0,38) (-0,62)
-590,697 0,110 -4,380E-6 9,669 -2,281 -3,030E-6 1,13 0,274
(-1,06) (1,16) (-1,11) (1,22) (-0,30) (-0,98)
-4974,10 1,189 -9,272E-5 2,404E-9 10,354 -2,922 -3,160E-6 0,92 0,282
(-0,45) (0,44) (-0,42) (0,40) (1,24) (-0,37) (-0,98)
a
O resultado do teste t está entre parênteses.

Em função deste ajuste, foi testada a presença dos outros tipos de


problemas com série de dados que podem fazer com que os parâmetros estimados não
sejam os melhores estimadores lineares não viesados.

Foi utilizado o teste de Durbin-Watson (DW) (Greene, 2001) para testar


autocorrelação. Testada, foi detectada a presença, dessa forma, utilizou-se do
procedimento de Orchrane-Orcutt por três vezes até corrigir satisfatoriamente o
problema de auto-correlação da série de dados (Tabela 9).

Tabela 9. Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW), o valor do intervalo


dL e dU, após sucessivas repetições do procedimento orchrane-orcutt, e o
valor da correlação entre os períodos t e t-1 (ρ), para a relação PIB per capita
e DBO na UGRHI-06.
Procedimento DW dL dU ρ
1 2,193 0,927 1,812 -0,190
2 1,865 0,927 1,812 0,050
3 1,930 0,927 1,812 0,009
73

Também foi testada a presença de heterocedasticia dos dados, utilizando


o teste de Goldfeld-Quandt (GF). E como no caso anterior, a da quantidade de oxigênio
dissolvido, não foi detectada a presença de heterocedasticia para a variável explanatória
renda e o tamanho da população (Pop) (Tabela 10). Rejeitou-se então a hipótese da
presença de heterocedasticidade.

Tabela 10. Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do teste F


tabelado.
Variável Explanatória GF F (95%)
Renda 1,10 4,21
pop 2,13 4,39

Depois de verificados e ajustados todos os problemas dos dados,


finalmente chegamos a um ajuste final. Que segundo os critérios já apresentados, o
melhor ajuste encontrado foi o linear positivamente inclinado (Tabela 11).

Todavia, para este caso, não foi encontrado um ajuste do ponto de vista
da análise estatística satisfatório, mesmo no melhor ajuste. De forma que apenas não
rejeitamos a hipótese nula para a variável explanatória renda (em um nível de
significância de 5%), tanto quanto para as outras variáveis. E, em conjunto, estas
mesmas variáveis não explicam também a variável dependente DBO, dado que não
rejeitamos a hipótese nula da função (teste F) (Tabela 11).

Assim, não se pode considerar que o modelo possui um ajuste estatístico


satisfatório. Desconsiderando-se o ajuste da função para o caso da demanda biológica de
oxigênio. Resultado não muito diferente da literatura36, que para o caso da qualidade da

36
Shafik (1994) e Grossman & Krueger (1995).
74

água medida pela DBO não houve um ajuste satisfatório pelos critérios da análise
estatística (teste F, teste t e R2).

Tabela 11. Resultado econométrico final da relação demanda biológica de oxigênio


(mg/l), PIB per capita (em R$ de 2000), e demais variáveis explanatórias,
de 1980-2000, na UGRHI-06a.
Interc. Y (Y)2 (Y)3 d1 d2 Pop F R2
-13,432 0,006 4,334 -5,444 -2,864E-7 1,51 0,274
(-0,27) (2,10)* (0,64) (-0,89) (-0,14)
-59,236 0,018 -5,062E-7 7,687 -2,243 -2,200E-6 1,39 0,317
(-0,87) (1,43) (-0,98) (1,04) (-0,32) (-0,77)
-13,457 -0,024 5,700E-6 -2,494E-10 8,818 -2,398 -2,670E-6 1,13 0,326
(-0,11) (-0,24) (0,39) (-0,43) (1,10) (-0,33) (-0,85)
a
O resultado do teste t está entre parênteses.
* significativo a 10%
** significativo a 5%
*** significativo a 1%
Turning-point: inexistente

4.1.3 Quantidade de coliformes fecais

Os mesmos procedimentos para a retirada do problema de


multicolineariedade foram adotados para o caso da quantidade de coliformes fecais.
Assim, estimada a regressão por MQO, optou-se pelo modelo linear negativamente
inclinado como o melhor ajuste econométrico, segundo os critérios estatísticos já
apresentados37 (Tabela 12).

37
1) teste F, 2) teste t, 3) R2.
75

Tabela 12. Resultado econométrico da relação quantidade de coliformes fecais


(NMP/100 ml), PIB per capita (em R$ de 2000), e demais variáveis
explanatórias, de 1980-2000, na UGRHI-06a.
Interc. Y (Y)2 (Y)3 d1 d2 Pop F R2
2,845E7 -3.213,16 -4,783E5 -8,555E6 1,279 1,61 0,287
(0,69) (-1,58) (-0,08) (-1,56) (0,55)
3,616E8 -60.078 2,355 -1,678E6 -8,855E6 1,930 1,39 0,317
(0,87) (-0,85) (0,81) (-0,28) (-1,59) (0,84)
2,791E8 -39.757 0,692 4,527E-5 -1,664E6 -8,867E6 1,928 1,08 0,317
(0,03) (-0,02) (0,00) (0,01) (-0,27) (-1,51) (0,80)
a
O resultado do teste t está entre parênteses.

Em função deste melhor ajuste foi testada a presença de autocorrelação e


heterocedasticia dos dados. Passo iniciado pelo teste de Durbin-Watson (DW), para a
presença de autocorrelação.

Segundo o seu resultado, o teste de DW identificou autocorrelação. E


como nos caso anteriores, não só para uma aplicação do teste. Foram feitas várias
aplicações do procedimento de Orchrane-Orcutt até que a correlação dos períodos
tendesse a um valor extremamente baixo (Tabela 13).

E utilizando-se do teste de Goldfeld-Quandt não foi detectada a presença


de heterocedasticia para as variáveis explanatórias da função (Tabela 14).
76

Tabela 13. Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW), o valor do intervalo


dL e dU, após sucessivas repetições do procedimento orchrane-orcutt e o
valor da correlação entre os períodos t e t-1 (ρ), para a relação PIB per capita
e a quantidade de coliformes fecais, na UGRHI-06.
Procedimento DW dL dU ρ
1 2,830 0,927 1,812 -0,430
2 2,326 0,927 1,812 -0,172
3 2,095 0,927 1,812 -0,056
4 2,024 0,927 1,812 -0,021
5 1,998 0,927 1,812 -0,008

Tabela 14. Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do teste F


tabelado.
Variável Explanatória GF F (95%)
Renda 4,46 4,74
Pop 2,15 4,82

Corrigidos os problemas das séries de dados, chegou-se a um novo ajuste


ótimo da função. Que segundo os critérios estatísticos já apresentados, o modelo linear
decrescente foi escolhido como o melhor ajuste para a relação quantidade de coliformes
fecais e renda (Tabela 15).
77

Tabela 15. Resultado econométrico final da relação quantidade de coliformes fecais


(NMP/100 ml), PIB per capita (em R$ de 2000), e demais variáveis
explanatórias, de 1980-2000, na UGRHI-06a.
Interc. Y (Y)2 (Y)3 d1 d2 Pop F R2
1,588E7 -3.533,43 -3,955E6 -1,197E7 3,004 7,43 0,650
(1,43) (-3,68)*** (-1,61) (-4,59)*** (4,13)*** ***
1,484E7 -1.230,87 -0,119 -2,386E6 -1,055E7 2,266 5,83 0,661
(1,30) (-0,34) (-0,67) (-0,70) (-3,10)*** (1,71) ***
1,085E6 41.982 -7,468 3,084E-4 -4,533E6 -1,082E7 3,206 5,13 0,687
(0,06) (1,06) (-1,12) (1,10) (-1,16) (-3,19)*** (2,04)*
a
O resultado do teste t está entre parênteses.
* significativo a 10%
** significativo a 5%
*** significativo a 1%
Turning-point: inexistente

Dessa forma, quanto maior for o nível de renda, menor tende a ser a
degradação ambiental. Podendo indicar que possivelmente o turning-point para a
quantidade de coliformes fecais já foi alcançado, ou a tendência seja realmente
negativamente inclinada.

O efeito da dummy (d2) foi positivo para a melhoria da qualidade


ambiental, significando que em períodos posteriores à construção das ETE´s (Novo
Mundo, ABC e São Miguel) houve uma redução da quantidade de coliformes na água
(Tabela 15). Em termos quantitativos, podemos dizer que haveria menos 11.971.193,00
(NMP/100ml) em períodos posteriores à construção destas ETE`s.

O tamanho da população (Pop) indicou ter efeitos negativos para a


qualidade de água da UGRHI-06 (Tabela 15). Segundo os seus resultados, 3,004
(NMP/100ml) a mais de coliformes serão adicionados à água a cada nova pessoa
residente na bacia do Alto Tietê.
78

Graficamente, a relação entre renda e quantidade de coliformes fecais


possui uma tendência decrescente. O efeito agregado temporal para a qualidade
ambiental é positivo, uma vez que a quantidade de coliformes fecais diminui de um
período para outro (demonstrada em dois períodos: 1980 e 2000) (Figura 17).

3,E+07
3,E+07
Coliformes Fecais
(NMP/100 ml)

2,E+07
2,E+07
1,E+07
5,E+06
0,E+00
10000 11000 12000 13000 14000 15000
PIB per capita (em R$ de 2000)
1980 2000 Encontrado

Figura 17 - Relação entre a quantidade de coliformes fecais (NMP/100 ml) e a renda per
capita (R$ de 2000), na UGRHI-06, 1980-2000.

Entretanto, apesar do resultado ser positivo para qualidade da água,


futuramente pode estar indicando oposto38. Segundo estudos empíricos, a relação entre
renda per capita e a quantidade de coliformes fecais segue uma trajetória em “N”
(Shafik, 1994). Assim, o que pode estar ocorrendo é que o intervalo de dados utilizados
no estudo apenas analisou a parte descendente da relação renda e coliformes fecais.
Provavelmente em um período seguinte, depois de alcançado um turning-point, a relação
renda e degradação podem voltar a crescer (Figura 18).

38
Apesar de outros resultados empíricos comprovarem que a relação renda e quantidade de coliformes é
um “U” invertido (Grossman & Krueger, 1995).
79

- previsto por Shafik (1994) -- encontrado

Figura 18 - Relação entre a quantidade de coliformes fecais e a renda per capita.

4.1.4 Índice de qualidade de água (IQA/CETESB)

Como feito nos modelos anteriores, por problemas de


multicolineariedade, foi retirada a variável temporal (T) da função objetivo. Retirada a
variável, foi estimada a regressão pelo procedimento dos MQO, permitindo a definição
do melhor ajuste para a função. E segundo os critérios estatísticos considerados (teste F,
teste t e R2), o melhor ajuste para a função seria o modelo linear positivamente inclinado
(Tabela 16).

Para este caso, ao contrário dos demais indicadores apresentados, e


apesar dos procedimentos adotados, é evidenciada a presença de multicolineariedade.
Tal fato é comprovado pelos altos valores dos testes F e do R2 e um baixo valor dos
testes t.

Todavia, foi optado pela manutenção do modelo e do ajuste (mesmo com


a presença de multicolineariedade) para a manutenção dos objetivos do trabalho.
80

Tabela 16. Resultado econométrico da relação índice de qualidade de água (IQA), PIB
per capita (em R$ de 2000), e demais variáveis explanatórias, de 1980~2000,
na UGRHI-06a.
Interc. Y (Y)2 (Y)3 Pop d1 d2 F R2
23,289 0,001 -7,996E-7 -1,694 1,379 7,82 0,662
(2,08) (1,41) (-1,39) (-1,11) (0,93)
23,232 0,001 -5,297E-10 -8,025E-7 -1,709 1,383 5,87 0,662
(1,94) (0,79) (-0,02) (-1,30) (-0,97) (0,90)
25,978 0,001 -6,616E-8 3,366E-12 -7,646E-7 -1,795 1,321 4,62 0,664
(1,76) (0,73) (-0,33) (0,34) (-1,19) (-0,98) (0,82)
a
O resultado do teste t está entre parênteses.

Em função deste melhor ajuste, foi testada a presença dos problemas


naturais das séries de dados que fazem com que os estimadores dos parâmetros não
sejam o melhor estimador linear não viesado.

Segundo o teste de Durbin-Watson (DW) foi detectada a autocorrelação.


E somente após exaustivas repetições do procedimento de orchrane-orcutt é que a
autocorrelação pôde ser parcialmente retirada ao reduzir a correlação dos períodos t e t-1
a um valor próximo de zero (Tabela 17).

Foi também testada a presença de heterocedasticia utilizando o teste de


Goldfeld-Quandt (GF). E segundo o teste realizado, não foi identificada heterocedasticia
para as variáveis explanatórias da função (Tabela 18).
81

Tabela 17. Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW), o valor do intervalo


dL e dU após sucessivas repetições do procedimento orchrane-orcutt, valor
da correlação entre os períodos t e t-1 (ρ), para a relação PIB per capita e o
Índice de qualidade de águas (IQA), na UGRHI-06.
Procedimento DW dL dU ρ
1 2,036 0,927 1,812 -0,035
2 2,084 0,927 1,812 -0,052
3 2,113 0,927 1,812 -0,068
4 2,018 0,927 1,812 -0,036
5 1,931 0,927 1,812 0,002

Tabela 18. Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do teste F


tabelado.
Variável Explanatória GF F (95%)
Renda 1,33 4,21
PTF 2,72 3,87

Após todos os procedimentos de ajuste da série de dados, foi estimado o


ajuste final da função pelo procedimento dos MQO. Ajuste ao qual segundo os critérios
selecionados da análise estatística, foi o linear positivamente inclinado (Tabela 19),
significando que maior o nível de renda, maior tenderia a ser a qualidade ambiental.

Entretanto, para esta situação, o seu resultado não foi, sob o ponto de
vista da análise estatística, satisfatoriamente capaz de explicar a relação IQA e renda na
UGRHI-06. Apesar de todas as variáveis estarem simultaneamente explicando a IQA,
individualmente estas variáveis não são significativas para explicar as variáveis
dependentes (a 5% de nível de significância) (Tabela 19).
82

De forma que podemos rejeitar que a população explica IQA, mesmo em


um nível de significância de 10%. Sendo que as únicas variáveis em que não podemos
rejeitar a hipótese nula, isso em um nível de significância de 10%, são a renda e a
dummy para a construção da ETE de Barueri (d1) (Tabela 19).

Tabela 19. Resultado econométrico final da relação índice de qualidade de água (IQA) e
PIB per capita (em R$ de 2000), de 1980~2000, na UGRHI-06a.
Interc. Y (Y)2 (Y)3 Pop d1 d2 F R2
18,291 0,001 -2,992E-7 -2,517 0,619 7,15 0,641
(2,00)* (1,56) (-0,80) (-2,08)* (0,51) ***
18,231 0,001 -1,182E-8 -4,128E-7 -2,747 0,798 5,46 0,645
(1,94)* (1,28) (-0,42) (-0,88) (-2,02)* (0,61) ***
19,724 0,001 1,524E-7 -8,69E-12 -7,639E-7 -1,699 1,434 4,76 0,671
(2,08)* (0,75) (0,95) (-1,04) (-1,33) (-1,01) (1,00) ***
a
O resultado do teste t está entre parênteses.
* significativo a 10%
** significativo a 5%
*** significativo a 1%
Turning-point: inexistente

Esse resultado não satisfatório pode parcialmente ser explicado pela


natureza de estimação do IQA (Apêndice 2). Por ser um indicador que contabiliza os
efeitos de uma série de indicadores de qualidade de água, pelo simples fato de que os
diferentes indicadores podem estar sofrendo diferentes respostas à variação da renda
(uns piorando, outros melhorando, ou não sofrendo nenhuma reação à renda), o
resultado têm um efeito final agregado não satisfatório para explicar a relação qualidade
ambiental e renda.

O que pode estar ocorrendo também é a presença de multicolineariedade


das variáveis explanatórias, dado um alto nível de significância do modelo (teste F), com
83

um alto valor do coeficiente de determinação (R2), associados a um baixo nível de


significância dos parâmetros estimados (medidos pelos testes t). Fato discutido
anteriormente (Tabela 19).

4.1.5 Projeções para a qualidade das reservas de água doce na UGRHI-06

Dado o ajuste final estimado, foi feita uma projeção de curto-prazo (15
anos) para a qualidade da água na UGRHI-06. Para tal projeção, algumas pressuposições
foram introduzidas para facilitar as análises.

A primeira delas foi à escolha de dois cenários econômicos: um


conservador (com previsão de crescimento da renda per capita em 1% a.a. em termos
reais), e outro mais otimista (crescimento de 2% a.a.).

Outra pressuposição assumida foi relativa à evolução da população que se


altera ao longo do período. Para tal, utilizou-se a estimativa do crescimento da
população brasileira feita pelo IBGE (IBGE, 2003).

Devido às características do modelo, as demais variáveis permaneceram


constantes. Ou seja, as variáveis dummies d1 e d2 foram assumidas como significativas, e
assim, mantidas.
As projeções foram feitas apenas considerando dois indicadores de
qualidade (OD e coliformes fecais), uma vez que o ajuste para os outros dois indicadores
considerados no estudo não se mostraram satisfatórios39.

39
Ver 4.1.1.; 4.1.2.; 4.1.3 e 4.1.4.
84

− Resultados

Dadas estas restrições, as projeções feitas para a qualidade da água na


UGRHI-06 foram de piora segundo os indicadores considerados. Para o caso da
quantidade de oxigênio dissolvido (OD), tanto para uma projeção de crescimento da
renda per capita conservadora, quanto para uma mais otimista, não houve sinais de
melhora da qualidade ambiental (Tabelas 20 e 21).

No caso da quantidade de coliformes fecais, para um cenário mais


conservador de crescimento econômico a tendência da qualidade ambiental é de piora, e
para um cenário mais otimista há uma perspectiva de melhora na qualidade ambiental
(Tabelas 20 e 21).

Tabela 20. Projeção da variação dos indicadores de qualidade de água (OD e coliformes
fecais) na UGHI-06, dada uma variação anual de 1% do PIB per capita.
Indicador Atual 5 anos 10 anos 15 anos
OD (mg/l) 0,1103 0 0 0
Coliformes Fecais 11.940.904 13.330.036 14.465.405 15.105.572
(NMP/100 ml)

Tabela 21. Projeção da variação dos indicadores de qualidade de água (OD e coliformes
fecais) na UGRHI-06, dada uma variação anual de 2% do PIB per capita.
Indicador Atual 5 anos 10 anos 15 anos
OD (mg/l) 0,1103 0 0 0
Coliformes Fecais 11.940.904 11.141.923 9.749.821 7.482.148
(NMP/100 ml)
85

4.2 Consumo de energia

Foi testada a presença de multicolineariedade das variáveis explanatórias


para o caso do consumo de energia utilizando o teste do número condicional. Segundo o
seu resultado, não foi identificada multicolineariedade para as variáveis explanatórias,
uma vez que o teste resultou em um valor de 20,46, que é um valor abaixo do número de
Belsley et al. (1980), desconsiderando-se, assim, potenciais problemas de
multicolineariedade.

Estimados os parâmetros por MQO, optou-se como melhor ajuste,


segundo os critérios estatísticos selecionados40, o modelo linear crescente (Tabela 22).

Em função deste melhor ajuste, foram testadas a presença de outros


problemas com séries de dados que fazem com que o estimador de parâmetros da função
objetivo não seja o melhor estimador de parâmetros não viesado.

Tabela 22. Resultado econométrico da relação consumo per capita de energia (103
tEP/pessoa), PIB per capita (em R$ de 2001), e demais variáveis
explanatórias, de 1970-2001a.
Int. Y (Y)2 (Y)3 D INT P F R2
3,49E-4 9,09E-8 4,37E-6 -32,32 -6,19E-7 118,74 0,948
(5,33) (5,76) (0,94) (-0,10)
7,63E-4 -5,97E-8 1,40E-11 5,36E-6 -412,12 -5,45E-7 104,51 0,954
(3,28) (-0,72) (1,85) (1,20) (-1,08) (-3,35)
-0,001 1,26E-6 -2,46E-10 1,68E-14 4,67E-6 -155,62 -3,82E-7 111,10 0,965
(-1,75) (2,59) (-2,59) (2,74) (1,18) (-0,44) (2,44)
a
O resultado do teste t está entre parênteses.

40
1) teste F; 2) teste t e 3) R2.
86

Para testar a presença de autocorrelação, foi utilizado o teste de Durbin-


Watson (DW). Segundo suas estimativas, não foi detectada a presença de
autocorrelação. O resultado do teste foi inferior a dL tabelado possibilitando assim
rejeitar a hipótese da presença de autocorrelação (Tabela 23).

Tabela 23. Resultados do teste estatístico de Durbin-Watson (DW) e o valor do intervalo


dL e dU, para a relação PIB per capita e o consumo per capita de energia.
DW dL dU
0,519 0,979 1,510

Foi também testada a presença de heterocedasticia como o teste de


Goldfeld-Quandt. Segundo sua estimativa, foi detectada a presença de heterocedasticia
para a variável explanatória renda (Tabela 24).

Tabela 24. Resultados do teste estatístico de Goldfeld-Quandt (GF) e o valor do teste F


tabelado.
Variável Explanatória GF F (95%)
Renda 7,91 3,18
D 0,90 5,89
INT 0,90 5,89
P 0,90 5,89

Para a heterocedasticia ser retirada, re-estimaram-se os parâmetros pelo


procedimento dos mínimos quadrados generalizados, chegando a uma estimativa final
para a relação renda e consumo per capita de energia (Tabela 25).
87

Poderia também ser argumentado possíveis problemas de endogenia na


função. Entretanto, testes de causalidade realizados demonstraram que as variáveis
explanatórias utilizadas são apenas levemente endógenas, ou fortemente exógenas.

Após, testadas e corrigidas todas as hipóteses de erros e problemas na


série de dados. Foi selecionado, segundo os critérios estatísticos anteriormente descritos,
como o melhor ajuste para a relação consumo per capita de energia e renda per capita, o
modelo cúbico crescente (entretanto, sem um turning-point, mas com dois pontos de
inflexão). Assim, quanto maior for o nível de renda, maior será o consumo de energia
per capita (Tabela 25).

Tabela 25. Resultado econométrico da relação consumo per capita de energia (103
tEP/pessoa), PIB per capita (em R$ de 2001), e demais variáveis
explanatórias, de 1970-2001a.
Int. Y (Y)2 (Y)3 d INT P F R2
-4,93E-5 1,57E-7 -7,46E-6 1470,33 -4,31E-7 1591,57 0,996
(-2,26)** (12,26)*** (-1,35) (10,13)*** (-2,44)** ***
-5,85E-6 2,06E-7 -1,12E-11 4,84E-6 394,78 -5,58E-7 3581,28 0,999
(-0,40) (19,85)*** (-6,92)*** (1,29) (2,22)** (-5,22)*** ****
-2,47E-5 3,43E-7 -5,82E-11 4,42E-15 2,78E-6 30,86 -5,10E-7 4806,44 0,999
(-2,00)* (9,82)*** (-4,96)*** (4,03)*** (0,93) (0,19) (-5,98)*** ***
a
O resultado do teste t está entre parênteses.
* significativo a 10%
** significativo a 5%
*** significativo a 1%
turning-point: inexistente

Este resultado é condizente com a literatura, uma vez que resultados


empíricos da EKC para o caso do consumo de energia feitas para os Estados Unidos
88

estimam um turning-point a um nível muito alto de renda per capita (43.767,00 em US$
de 1997) (Richmond & Kaufmann, 2003).

Tanto a densidade populacional (d) quanto a intensidade energética (INT)


parecem não explicar o consumo de energia. Assim, não há nem perda nem ganhos de
escala em função do adensamento populacional. Também, não há alteração no consumo
de energia em função de uma mudança na eficiência da utilização da energia no Brasil
(Tabela 25).

Outro resultado interessante obtido foi a comprovação de que a demanda


por energia no Brasil varia função do seu preço. Segundo o resultado da regressão, a
demanda de energia per capita cai aproximadamente 5X10-4 tEP a cada aumento em uma
unidade do indicador de preço de energia.

Graficamente, a relação renda e consumo de energia é uma relação


crescente. Agregando os efeitos das outras variáveis explanatórias em um único efeito
temporal, verifica-se que ao longo do tempo há uma discreta redução da demanda per
capita de energia entre os anos de 1970 e 2001 (Figura 19).

5
Consumo per capita de

4
energia (em tEP)

3
2

1
0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000
PIB per capita (em R$ de 2001)

1970 2001 Encontrado

Figura 19 - Relação entre a renda per capita (em R$ de 2001) e o consumo per capita de
energia (tEP/pessoa) no Brasil, 1970-2001.
89

4.2.1 Projeções para o consumo de energia

Foi feita uma projeção para o consumo de energia per capita e total da
economia brasileira para o curto-prazo (15 anos). Para tal, foram assumidos alguns
pressupostos.

O primeiro deles foi projetar dois diferentes cenários econômicos, um


conservador tomando por base um crescimento da renda per capita em valores reais
estimado em 1% ao ano, e outro mais otimista com uma estimativa de crescimento de
2% ao ano.

Outro pressuposto assumido foi que a variação da população ocorre em


um ritmo tomando por base as projeções feitas pelo IBGE. E o último pressuposto
assumido foi de que as demais variáveis explanatórias (preço, intensidade energética)
foram mantidas constantes.

− Resultados

Dada estas restrições, como era de se esperar em função do ajuste final da


função obtido, a projeção de consumo da energia no Brasil foi de crescimento no
consumo, tanto absoluto quanto per capita, para ambos os cenários de crescimento da
renda per capita propostos.

Segundo estimativas, mantidas todas as pressuposições impostas, em um


cenário conservador de crescimento da renda per capita (1%), haverá um aumento médio
de 1,46% anual no consumo per capita de energia, enquanto o total é de 2,58%. Isto
equivale, em termos totais, a um crescimento de 47% no período de 15 anos (Figura 20).
90

Em termos quantitativos, este aumento corresponde a 81.319.625 tEP


anuais ou 2.385.104,59 Gwh (Giga Watt horas) anuais, equivalentes a produção anual de
energia de 26,5 usinas de Itaipu41 ou de 93% da oferta total de energia provida pelo
petróleo no Brasil em 200142.

Para o cenário mais otimista de crescimento da renda per capita (2% ao


ano), a projeção de crescimento do consumo de energia é ainda maior. Segundo as
estimativas, mantidas todas as pressuposições impostas, a expectativa é de um
crescimento médio no consumo per capita de 3,50% ao ano, enquanto que em termos
absolutos, a projeção é de um crescimento de 4,52% anuais. Em quinze anos isto
corresponderá a um crescimento de 94% em termos totais (Figura 19).

Quantitativamente, isto corresponderá a 170.165.050 tEP anuais ou


4.990940,92 Gwh anuais. Equivalente a produção de energia de 55,45 usinas de Itaipu39
ou de 1,94 vezes da energia provinda do petróleo no Brasil em 200140.

41
A produção estimada é de 90.000,00 Gwh anuais (Itaipu, 2003).
42
Em 2001 a oferta total de energia provida pelo petróleo foi de 87.833.376 tEP (Brasil, 2003).
91

330

Consumo Total de Energia


310

(em milhões detEP)


290
270
250
230
210
190
170
01
02

03

04

05
06

07

08

09
10

11

12

13
14

15
20

20

20
20

20

20

20
20

20

20

20
20

20

20

20
Ano
2% de crescimento do PIB per capita 1% de crescimento do PIB per capita

Figura 20 – Estimativa da evolução do consumo total de energia no Brasil (em milhões


de tEP) dado dois cenários de crescimento do PIB per capita (1% e 2%
anuais): 2001-2015.
5 CONCLUSÕES

5.1 Qualidade da água

Os resultados, econometricamente, mostraram que o principal fator


abatedor da degradação ambiental nas águas da bacia do Alto Tietê foi uma ação externa
representada pelas variáveis dummies d1 e d2 correspondentes aos períodos posteriores à
construção das estações de tratamento de esgotos (ETE`s).

À exceção do caso da quantidade de coliformes fecais na água, onde a


relação entre renda e degradação ambiental já está na fase descendente, a renda não
parece (pelo menos no intervalo dos dados utilizado no estudo) abater a degradação
ambiental.

Este resultado pode, em parte, ser explicado pela simples razão de que os
indicadores utilizados no estudo não possuem relação direta com o nível de atividade
industrial. Estes indicadores possuem uma maior relação com a quantidade de carga
orgânica lançada nos rios (esgotos), ou seja, ela é função da concentração populacional.

Dessa forma, a resposta da renda ao nível de degradação ambiental é


função da sensibilidade do consumidor em considerar que determinado indicador de
qualidade de água é ou não positivo para ele, e não em resposta ao nível de produção.
93

O formato da relação entre a quantidade de OD e renda per capita (em


“U” invertido), pode ser interpretada como uma predisposição inicial das pessoas em
exigir uma maior cobrança por um sistema de tratamento de esgotos mais eficiente.

Entretanto, após um turning-point, os benefícios de uma instalação de um


sistema mais eficiente é considerado por demais oneroso pelos agentes econômicos, ou
seja, os benefícios da instalação de um sistema de esgotos não mais compensam os
gastos com a sua instalação. Desta forma, maior o nível de renda a partir deste ponto,
pior tende a ser a qualidade da água medida por este indicador.

Um resultado óbvio obtido, em função dos argumentos estabelecidos, foi


de que o aumento populacional indicou ser negativo para a qualidade ambiental. Assim,
maior a população, a tendência é haver uma piora na qualidade da água.

Ao fazer a projeção da qualidade da água em um horizonte de 15 anos, a


perspectiva quanto à sua qualidade na região metropolitana da cidade de São Paulo
(medidos pelos indicadores analisados no estudo) não é das mais positivas. Ficou claro
que tanto para uma previsão pessimista quanto otimista do crescimento da renda43, a
esperança para uma hipotética melhora da qualidade da água só pode vir a ocorrer em
dois casos.

Um deles é quando houver uma mudança na legislação e regulamentação


e a instalação de leis melhor definidas quanto à propriedade dos corpos de água. Isto
permitiria que os agentes econômicos passassem a exigir uma maior fiscalização e
controle da qualidade da água por parte da instância responsável por este corpo de água
(a da União ou dos Estados) ou das empresas responsáveis pelo tratamento do esgoto
lançado na bacia do Alto Tietê (neste caso a SABESP).

43
À exceção da quantidade de coliformes fecais para uma projeção otimista de crescimento da renda per
capita.
94

E o outro caso ocorre quando houver um fator externo, como a ampliação


da capacidade das ETE´s44, que como comprovado nos resultados é significativo para a
melhoria da qualidade da água na UGRHI-06.

Assim, dadas as restrições impostas, tanto nos resultados dos ajustes


encontrados, quanto para as projeções de qualidade da água, o principal abatedor da
degradação ambiental são os fatores externos, que neste caso foi a construção das ETE´s.

Quanto à potencialidade da renda como abatedor de degradação


ambiental, podemos dizer que ela fica restrita à capacidade dos agentes econômicos em
identificar as dimensões qualitativas medidas por estes indicadores como positivas para
o seu bem estar.

Uma vez que, como já explanado, as emissões de poluentes associados


aos indicadores de qualidade de água utilizados no estudo não possuem relação direta
com o nível de produção industrial e sim com o tamanho da população, é natural que
estes indicadores não tenham um ajuste satisfatório em função da renda, pois elas são
mais relacionadas com o tamanho da população.

Fica como sugestão para trabalhos futuros a utilização de outros


indicadores de qualidade de água mais relacionados com a atividade industrial ou
produtiva para medir a relação entre renda e degradação ambiental.

5.2 Consumo per capita de energia

No intervalo de dados analisado, a renda per capita não é um fator


abatedor do consumo de energia per capita no Brasil. Ou seja, não há perspectivas de

44
Atualmente atendendo 36% da população total (Apêndice 4).
95

que a relação entre renda e consumo de energia possua um formato geométrico do “U”
invertido. Como foi indicado nos resultados, quanto maior o nível de renda per capita,
maior tende a ser o consumo de energia per capita no Brasil. E, tanto a densidade
populacional quanto a intensidade energética, demonstraram não serem significativos
para explicar o consumo de energia.

O único fator que, além de significativo, indicou abater o consumo de


energia é o seu preço. Como demonstrado nos resultados, é detectada uma mudança na
demanda por energia em função de uma alteração em seus preços. Resultado também já
encontrado na literatura (Agras & Chapman, 1999).

As projeções realizadas, tanto em termos per capita quanto em termos


reais, a perspectiva quanto ao consumo de energia é de crescimento, independente dos
cenários propostos (1% ou 2%) de crescimento da renda per capita.

Dessa forma, ou os agentes econômicos do país aprendem a utilizar


tecnologias de produção menos intensivas em energia, ou a produção energética do país
terá que ser capaz de suportar este aumento no consumo de energia para manter o
crescimento do PIB, dado que não há evidências de que a renda abata o consumo de
energia em um horizonte de curto-prazo.

Reforçam-se a estas evidências, os fatos que países como o Japão e o


Estados Unidos consomem respectivamente 3,4 e 6,7 vezes mais energia em termos per
capita do que o Brasil, com um nível de renda de sete (caso do americano) a dez vezes
(caso do japonês) maiores do que o brasileiro (Energy Information Association, 2003); e
um hipotético turning-point estimado na literatura só ocorre a níveis muito altos de
renda per capita (Richmond & Kaufmann, 2003).

A mudança de comportamento dos agentes produtivos em função de


utilizar tecnologias menos intensivas em energia não parece ser uma solução factível
96

uma vez que um maior nível de produção do nosso país ainda é dependente de um maior
consumo de energia dada a nossa estrutura de produção (indústria, e a agricultura que
depende de uma maior quantidade de insumos industrializados, mecanização e
transporte).

Vendo o problema pelo lado do consumidor, um menor consumo de


energia também não parece ser uma solução possível, uma vez que o consumidor visa
sempre a maximização de sua utilidade assim, ele visa sempre um maior conforto. E tal
conforto é relacionado com um maior nível de consumo de energia (em função de um
maior nível de consumo de produtos industrializados, alimentos, eletrodomésticos,
automóveis, condicionadores de ar).

Uma solução plausível que obviamente poderia ser tomada é o aumento


dos preços da energia. Entretanto esta solução não parece ser ótima uma vez que, ao
haver um aumento no preço da energia podem ocorrer dois efeitos: 1) pode haver um
aumento nos custos de produção, que pode ser traduzido em um menor nível de
produção e conseqüentemente em um menor nível de renda; e 2) pode haver um
aumento no custo de vida e, conseqüentemente, uma redução na renda real.

Como dito então, a solução ótima a ser seguida, segundo os argumentos


apresentados, é realmente suprir esta demanda de energia de alguma forma. Assim,
ações governamentais (políticas públicas) para a manutenção da oferta de energia (tais
como busca de novas bacias petrolíferas, construção de novas usinas hidro e termo
elétricas, e busca por fontes alternativas) são necessárias.

Todavia, é preciso saber que os custos de instalação de um sistema


enérgico são marginalmente crescentes devido aos maiores custos de extração, e mesmo
perda de eficiência uma vez que as fontes tendem a ficar cada vez mais distante dos
centros consumidores de energia.
97

Mesmo outros custos indiretos, essencialmente a degradação, são cada


vez maiores em função da ampliação deste sistema energético. Pois, uma quantidade
maior de áreas será represada para a construção de usinas hidroelétricas. E uma maior
quantidade de combustíveis fósseis e de biomassa (álcool, lenha) serão queimados,
resultando em uma maior emissão de poluentes.

É necessário então, saber até que ponto a economia brasileira irá suportar
estes custos tanto diretos quanto indiretos de forma a manter este crescimento.
Provavelmente, chegará um determinado momento que, tanto os agentes produtivos
quanto os consumidores, terão de utilizar esta energia de forma mais eficiente para
manter o crescimento da renda. Obviamente não é necessário falar que tal ponto ocorre
no turning-point ou, quando a relação entre renda per capita passar a ter um formato de
“U” invertido. Entretanto, tal fato só ocorrerá em um horizonte muito longo de tempo.

Dentro deste cenário, uma possível saída seria uma mudança na matriz
energética do País com a adoção de tecnologias mais limpas e que utilizem uma menor
quantidade de recursos naturais e ambientais (como a utilização de bio-combustíveis de
origem vegetal, a energia solar e a eólica).

Entretanto, tais fontes de energia são mais onerosas do que o atual


sistema utilizado (baseado na utilização de combustíveis fósseis). Além, da sua oferta
ser extremamente restrita em função da sua capacidade total possível em relação ao
consumo total de energia no país.
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APÊNDICES
107

APÊNDICE 1 - Resolução CONAMA no 20.

Como o estabelecimento de padrões de qualidade de água é considerado


essencial na manutenção da qualidade dos corpos de água, foi criado em 1986 a
Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio-Ambiente) no 20, que determina
padrões de qualidade tanto para água doce quanto para as águas salinas e salobras.

Esta classificação leva em conta, essencialmente, padrões de qualidade


para uso humano. Assim, não necessariamente um corpo de água que esteja em
conformidade com os padrões estabelecidos estará em equilíbrio biótico (Quadro 4).
Elas foram feitas em níveis de acordo com a utilização a elas destinadas (Quadros 5),
com especial atenção aos corpos de água destinadas ao abastecimento humano.
108

Classificação Padrões de Qualidade


a) coliformes fecais: para o uso de abastecimento sem prévia desinfecção os coliformes totais deverão estar
Especial ausentes em qualquer amostra;
b) estar em conformidade com os padrões da classe I.
a) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
b) óleos e graxas: virtualmente ausentes;
c) substâncias que comuniquem gosto ou dor: virtualmente ausentes;
d) corantes artificiais: virtualmente ausentes;
e) substâncias que formem depósitos objetáveis: virtualmente ausentes;
f) coliformes fecais: irrigação de hortaliças ou plantas frutíferas (ausente)
demais usos 200 (NMP/100 mililitros)
g) DBO (5,20): até 3 mg/I;
h) OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/l;
i) turbidez: até 40 unidades nefelométrica de turbidez (UNT);
j) cor: nível de cor natural do corpo de água em mgPt/l
l) pH: 6,0 a 9,0;
m) substâncias potencialmente prejudiciais (teores máximos):
Benzeno: 0,01 mg/l
Classe I Cádmio: 0,001 mg/l Cd
Cianetos: 0,01 mg/l CN
Chumbo: 0,03 mg/l Pb
Cloretos: 250 mg/l Cl
Cobre: 0,02 mg/l Cu
Indice de Fenóis: 0,001 mg/l C6 H5OH
Fluoretos: 1,4 mg/l F
Fosfatos totais: 0,025 mg/l P
Mercúrio: 0,0002 mg/l Hg
Sólidos dissolvidos totais 500 mg/l
Sulfatos: 250 mg/l SO4
Zinco: 0,18 mg/l Zn
DDT: 0,002 ug/l
Para as águas de Classe 2, são estabelecidos os mesmos limites ou condições da Classe 1, à exceção dos
seguintes:
a) não será permitida a presença de corantes artificiais que não sejam removíveis por processo de coagulação,
sedimentação e filtrações convencionais;
Classe II b) coliformes fecais: até 1.000 (NMP/100ml);
c) cor: até 75 mg Pt/l;
d) turbidez: até 100 UNT;
e) DBO 5 dias a 20ºC até 5 mg/l;
f) OD em qualquer amostra não inferior a 5 mg/l

Quadro 4 - Padrões selecionados de qualidade de água doce de acordo com sua


classificação estabelecida pela Resolução CONAMA no 20.
109

Classificação Padrões de Qualidade


a) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais virtualmente ausentes;
b) óleos e graxas; virtualmente ausentes;
c) substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;
d) não será permitida a presença de corantes artificiais que não sejam removíveis por processo de coagulação,
sedimentação e filtração convencionais;
e) substâncias que formem depósitos objetáveis: virtualmente ausentes;
f) coliformes fecais: até 4.000 (NMP/100 ml);
g) DBO (5,20): até 10mg/l;
h) OD, em qualquer amostra, não inferior a 4mg/l;
i) turbidez: até 100 UNT;
j) cor: até 75mg Pt/l;
l) pH: 6,0 a 9,0
m) substâncias potencialmente prejudiciais(teores máximos):
Classe III Benzeno: 0,01 mg/l
Cádimo: 0,01 mg/l Cd
Cianetos: 0,2 mg/l CN
Chumbo: 0,05 mg/l Pb
Cloretos: 250 mg/l Cl
Cobre: 0,5 mg/l Cu
Índice de Fenóis: 0,3 mg/l C6 H5 OH
Fluoretos: 1,4 mg/l F
Fosfato total: 0,025 mg/l P
Mercúrio: 0,002 mg/l Hg
Sólidos dissolvidos totais: 500 mg/l
Sulfatos: 250 mg/l SO4
Zinco: 5,0 mg/l Zn
DDT: 1,0 ug/l
a) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
b) odor e aspecto: não objetáveis;
c) óleos e graxas: toleram-se iridicências;
d) substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento de canais de navegação:
Classe IV virtualmente ausentes;
e) índice de fenóis até 1,0 mg/l;
f) OD superior a 2,0 mg/l O2 em qualquer amostra;
g) pH: 6 a 9.

Quadro 4 - Padrões selecionados de qualidade de água doce de acordo com sua


classificação estabelecida pela Resolução CONAMA no 20.
Fonte: Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (SABESP) (2003); Companhia
de Tecnologia e Saneamento Ambiental (CETESB) (2003)
110

Classificação Uso destinado


a) ao abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfecção.
Classe Especial
b) a preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.
a) ao abastecimento doméstico após tratamento simplificado;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho).
Classe I
d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que
sejam ingeridas cruas sem remoção de películas.
e) à criação natural e/ou intensiva (aqüicultura) de espécie destinadas à alimentação humana.
a) ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
Classe II c) à recreação de contato primário (esqui aquático, natação e mergulho);
d) à irrigação de hortaliças e plantas frutíferas;
e) à criação natural e/ou intensiva (aqüicultura) de espécie destinadas á alimentação humana.
a) ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional;
Classe III b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
c) à dessedentação de animais.
a) à navegação
Classe IV b) à harmonia paisagística;
c) aos usos menos exigentes.

Quadro 5 - Classificação dos corpos de água doce e respectivos usos destinados de


acordo com a Resolução CONAMA no 20.
Fonte: SABESP (2003); CETESB (2003)
111

APÊNDICE 2 - IQA/CETESB (Índice de qualidade de águas).

Para facilitar a interpretação dos parâmetros de qualidade de água


utilizados no presente estudo, foi desenvolvido e adaptado pela CETESB um indicador
inspirado em um trabalho de 1970 do National Sanitation Foundation dos Estados
Unidos.

Este indicador é o IQA (Índice de Qualidade de Águas), um indicador


desenvolvido e calculado pela CETESB desde de o final da década de 70.

O IQA é calculado com base em 9 indicadores de qualidade de água


(coliformes fecais, pH, DBO, nitrogênio total, fósforo total, temperatura, turbidez,
resíduo total e OD) e é calculado pelo produtório ponderado destes indicadores (os
valores atribuídos a cada indicador é função de uma distribuição que tem como critério
seu estado ou condição) (Figura 21), conforme as equações (18) e (19) abaixo.

n
IQA = ∏ qiwi (18)
i =1

n
wi = 1 (19)
i =1

Onde:

IQA é o índice de qualidade de água, variando de 0-100;


qi é a qualidade do parâmetro i que é função de sua distribuição de
qualidade (Figura 21);
wi é o peso correspondente do indicador de qualidade i (Figura 21).
112

Figura 21 - Curvas de distribuição de qualidade dos indicadores de qualidade de água e


seus respectivos pesos (wi) no valor final do IQA/CETESB (Índice de
Qualidade de Água).
Fonte: CETESB (2003)
113

APÊNDICE 3 - UGRHI-06 (Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos-06).

O Estado de São Paulo é dividido em 22 Unidades de Gerenciamento de


Recursos Hídricos (UGRHI) (Figura 22). E a qualidade das reservas de água doce é
monitorada por uma rede de estações de análise de dados espalhadas ao longo destas
UGRHI´s. Inaugurada em 1978 com 47 pontos de análise, em 2001 esta rede de
monitoramento já contava com 149 pontos de coleta de dados.
Legenda:

01 - Mantiqueira
02 - Paraíba do Sul
03 - Litoral Norte
04 - Pardo
05 - Piracicaba, Capivari e Jundiaí
06 - Alto Tietê
07 - Baixada Santista
08 - Sapucaí/Grande
09 - Mogi-Guaçu
10 - Sorocaba/Médio Tietê
11 - Ribeira de Iguape/Litoral Sul
12 - Baixo Pardo/Grande
13 - Tietê/Jacaré
14 - Alto Paranapanema
15 - Turvo/Grande
16 - Tietê/Batalha
17 - Médio Paranapanema
18 - São José dos Dourado
19 - Baixo Tietê
20 - Aguapeí
21 - Peixe
22 - Pontal do Paranapanema

Figura 22 - Mapa da divisão das unidades de gerenciamento de recursos hídricos.


Fonte: CETESB (2003)

Entre estas UGRHI´s destaca-se a Unidade de Gerenciamento de


Recursos Hídricos 06 (UGRHI-06), que corresponde à parte superior do Rio Tietê, desde
a sua cabeceira até a Barragem do Reservatório de Pirapora (Figura 23). Ela possui uma
extensão de 134 Km2, sendo composta por 34 municípios, incluindo o município mais
populoso do Estado (Município de São Paulo) (Quadro 6). A população total da UGRHI
era de 17,6 milhões de pessoas em 2001 (48% da população do Estado de São Paulo)
(CETESB, 2003).
114

Figura 23 - Mapa da UGRHI-06 (Unidade de gerenciamento de recursos hídricos 06), Alto Tietê.
Fonte: CETESB (2003)
115

Arujá Embu Itaquaquecetuba Ribeirão Pires Suzano


Barueri Embu-Guaçu Jandira Rio Grande da Taboão da
Serra Serra
Biritiba-Mirim Ferraz de Mariporã Salesópolis
Vasconcelos
Caieras Francisco Mauá Santana de
Morato Parnaíba
Cajamar Franco da Moji das Santo André
Rocha Cruzes
Carapicuíba Guarulhos Osasco São Bernardo
do Campo
Cotia Itapecerica da Pirapora do São Caetano do
Serra Bom Jesus Sul
Diadema Itapevi Poá São Paulo
Quadro 6 - Municípios pertencentes à UGRHI-06 (Unidade de Gerenciamento de
Recursos Hídricos-06).
Fonte: CETESB (2003)
116

APÊNDICE 4 - Sistema de Tratamento de Esgotos na UGRHI-06.

Na UGRHI-06 a responsabilidade pelo tratamento de esgotos é da


SABESP (Companhia de Saneamento e Abastecimento de Águas de São Paulo).Esta
UGRHI é dividida em cinco diferentes sistemas (em ordem de relevância em função da
população atendida: Barueri – 52%, ABC – 16%, Novo Mundo – 14%, São Miguel –
8%, e Suzano – 8%) (Figura 24).

Figura 24 - Mapa de distribuição dos sistemas de esgotos na região metropolitana de São


Paulo e suas respectivas ETE´s.
Fonte: SABESP (2003)

O esgoto gerado dentro dos correspondentes sistemas é coletado e


posteriormente tratado nas ETE´s (Estações de Tratamento de Esgoto) correspondentes à
localização do seu sistema.
117

Atualmente com uma capacidade de atender 6,5 milhões de habitantes


(36% do total), o sistema é capaz de remover 168.000 kg de DBO por dia
(correspondentes de 90 a 95% de toda a carga orgânica) gerando aproximadamente 229
toneladas de lodo. Além de remover os dejetos originados do esgoto ele também é capaz
de gerar e aproveitar alguns sub-produtos45 resultantes do processo de tratamento do
esgoto (SABESP, 2003).

45
Como o fertilizante proveniente dos resíduos biossólidos e a água de re-uso são alguns dos exemplos dos
resíduos aproveitados e comercializados pelo sistema (SABESP, 2003).
118

APÊNDICE 5 - Pontos de coleta de dados de qualidade de água utilizados na


amostra.

Estação Classea Localização


TAMT04500 4 Rio Tamanduateí
TAMT04900 4 Rio Tamanduateí
TIET04150 4 Rio Tietê
TIET04200 4 Rio Tietê
TIES04900 4 Reservatório Edgar Souza
TIPI04900 4 Reservatório de Pirapora
PINH04100 4 Rio Pinheiros
Quadro 7 - Pontos de coleta de dados de qualidade de água utilizados na amostra de
dados.
Fonte: CETESB (2003)
a
Segundo a classificação da Resolução CONAMA no 20.
119

APÊNDICE 6 - Indicador de preço de energia.

Como o atual estudo analisa o consumo total de energia incluindo todas


as fontes de energia, é necessária a utilização de uma variável proxy para o preço de
todas estas fontes de energia. Porém, novamente chegamos a outro entrave, a
inexistência no país de uma proxy para o preço da energia no país.

Para contornarmos este problema, o presente estudo sugere a criação de


um indicador de preços para a energia no país.

Este indicador não é nada mais que uma média ponderada dos
indicadores de preços das três principais fontes de energia no país em todo o período do
estudo, os derivados de petróleo, a hidroeletricidade e a lenha (Figura 25). Juntos em
uma média para as décadas de 70, 80 e 90, estas fontes, correspondem a 76% de toda a
matriz energética do país (Brasil, 2003).

310
Indicadores de preço de energia

285
260
235
210
185
160
135
110
85
60
35
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000

Ano
Indice Eletricidade Indice Petroleo Indice Lenha

Figura 25 - Evolução dos indicadores de preço das fontes de energia que compões o
indicador geral de preços de energia (em valores reais) (1970=100): 1970-
2001.
120

Logicamente o ideal seria a utilização de todas as fontes que compõe a


matriz energética. Entretanto, devido à disponibilidade das séries de preços para as
outras fontes, apenas estas três foram consideradas.

A equação considerada foi a seguinte em (22):

P = Φpet Ppet + Φhid P hid + Φlen P len (22)

Onde:

P é o indicador de preços (1970=100);


Φi é a ponderação para cada i fonte de energia; e,
Pi é o indicador de preços para cada i fonte de energia (1970=100).

Esta ponderação é feita através da participação percentual de cada fonte


nesta matriz hipotética criada com estas três fontes de energia (Figura 26).

0,70
0,60
Ponderação (%)

0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
1968 1973 1978 1983 1988 1993 1998 2003
Ano

Lenha Petroleo Eletricidade

Figura 26 – Ponderação das diversas fontes energia que compõe o índice de preço de
energia.
121

Quanto ao indicador de preços utilizados é o valor real deflacionado pelo


IGP-DI de três diferentes indicadores, uma vez que seus valores estão dispostos em
valores nominais. O IPA-OG (Indicador de preços por atacado – Oferta Global)
combustíveis e lubrificantes no caso dos derivados de petróleo, os preços das tarifas de
energia (por Kwh) para o preço da hidroeletricidade e; o IPA-OG madeira para o caso da
lenha.

Todos estes valores foram convertidos para a mesma base (1970=100),


sendo também esta a base inicial do indicador de preços para energia.

E ao fazer uma análise temporal do indicador, em todo o período, o maior


pico de preço da energia ocorreu no ano de 1982 (correspondente ao período posterior a
segunda crise do petróleo). Mantendo uma trajetória declinante deste de então até o ano
1998. Período onde ele passa novamente a crescer (Figura 27).

240
Indicador de preço de

220
200
energia

180
160
140
120
100
70
72

74

76

78
80

82
84

86

88
90

92
94

96

98

00
19

19
19

19
19

19

19

19

19
19
19

19

19
19

19
20

Ano

Figura 27 - Indicador de Preço de Energia (1970=100), 1970-2001.

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