SIMCAM11
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Expediente 2
XI SIMCAM - Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais Sumário
Apresentação / Presentation
Receber o XI SIMCAM é uma satisfação e uma enorme honra para a Escola de Música e
Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás. Satisfação em poder promover a troca de expe-
riências entre os pesquisadores, docentes e discentes, do Programa de Pós-graduação em Música
da UFG com pesquisadores de várias regiões do Brasil e do exterior numa intensa semana de ativi-
dades. Esta é a segunda vez que a UFG recebe o evento. Na primeira, em 2005, foi plantada a se-
mente da pesquisa em cognição musical, particularmente em performance, na região Centro Oeste.
Os efeitos deste feito podem ser conferidos, entre outros fatos, pelo lançamento do novo espaço do
LPCM - Laboratório de Performance e Cognição Musical da Escola de Música e Artes Cênicas da
UFG, que é parceiro da edição 2015 do SIMCAM.
Ao assumir mais uma vez a honrosa responsabilidade a mim conferida pela presidência da
ABCM de continuar os feitos marcantes dos simpósios que antecederam ao XI SIMCAM, a UFG
abre sua casa para os congressistas e convidados com a certeza de um encontro frutífero, pautado
na prática da concepção e da reflexão musical, explicitadas na programação artística e nos traba-
lhos aprovados pela comissão científica.
Assim, agradeço a grande equipe de colegas, alunos e técnicos, e também às entidades finan-
ciadoras, que tornaram possível a realização do XI SIMCAM.
Sonia Ray
Coordenadora do XI SIMCAM
Apresentação 3
XI SIMCAM - Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais Sumário
This year of 2015 the Association of Cognition and Musical Arts (ABCM)’s Board of Di-
rectors in collaboration with the organizing team of the University of Goiás (UFG) promotes the
Eleventh Edition of the Symposium of Cognition and Musical Arts, SIMCAM XI. It’s a great ho-
nour to welcome guests, researchers, professors, teachers, students and collaborators from diffe-
rent Brazilian and Foreign Institutions who come to the symposium in order to share studies and
academic knowledge and to promote the expansion and consolidation of the area of musical cog-
nition in Brazil.
We appreciate particularly the efforts of our General Coordinator of the conference, Profes-
sor Sonia Ray, who has worked tirelessly with the ABCM and for the second time hosts second
time receives the Symposium in her University. We also thank all the invited professors, profes-
sors/researchers, undergraduates and graduate students, finally, everyone who has contributed in
some way to the success of this 2015 event.
Greetings to everyone on behalf ABCM’s Board Directors!
Sumário / Summary
Expediente / Expedient................................................................................................................... 2
Apresentação / Presentation........................................................................................................... 3
Aos participantes do SIMCAM XI / To participants of the SIMCAM XI..................................... 4
Sumário / Summary......................................................................................................................... 5
Programação Geral / General Schedule........................................................................................ 9
Programação Artística / Artistic Programming........................................................................... 10
Palestras / Key notes......................................................................................................................11
Grupos de Estudos e Mesas Redondas / Study Groups and Round Tables.................................11
Programação das Comunicações de Pesquisa, Painéis e Pôsteres /
Papers, panels and posters Schedule............................................................................................. 12
Convidados / Guest....................................................................................................................... 16
Resumos das Conferências / Key-note abstracts......................................................................... 22
Resumos das Mesas / Round Tables Abstracts............................................................................. 24
Grupo de Estudos (GE) / Study Group (SG)............................................................................... 27
Resumos das Comunicações de Pesquisa / Papers Abstracts.................................................... 30
• Performances transformadoras............................................................................................ 56
Sandra Carvalho de Mattos, Caio Abreu Chiarini
Sumário 5
XI SIMCAM - Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais Sumário
Sumário 6
XI SIMCAM - Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais Sumário
• Comunicação não verbal na preparação para performance de grupos de flauta doce....... 288
Cristiane Carvalho e Sonia Ray
Sumário 7
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Pôsteres
• O Ensino de Música e o desenvolvimento psicomotor: considerando aspectos
importantes para a criança com síndrome de Down.......................................................... 420
Thatiane M. Correia Ramos Pires, Cristina Lúcia Coelho, Helena de Carla Castro
Sumário 8
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Programação Geral
General Schedule
Programação Geral 9
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Comissão Artística
Ter/Tue 26
19h30 Aurélio Nogueira de Sousa (trompete) e Jackes Douglas Nunes Ângelo (trombone)
Qua/Wed 27
Qui/Thu 28
Sex/Fri 29
Programação Artística 10
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Pôsteres - terça, 27
O ensino de música e o desenvolvimento psicomotor: considerando aspectos
importantes para a criança com síndrome de Down
Thatiane Ramos Pires, Cristina Lúcia Coelho, Helena Carla Castro
13h30 as Motivação para a Prática Coral
14h00 Letícia Krüger Lass
Elaboração e validação de um questionário sobre experiência de fluxo para
aplicação com crianças entre 8 e 12 em aulas de musicalização
Flávia de Andrade Campos, Rosane Cardoso de Araújo
Convidados / Guest
Convidados 16
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Claudia Zanini (UFG)
Doutora em Ciências da Saúde (2009) e Mestre em Música (2002) pela
Universidade Federal de Goiás. Possui graduação em Instrumento Piano pela
UFG - Universidade Federal de Goiás (1984) e em Administração de Empre-
sas pela Universidade Católica de Goiás (1985); Especialização em Musico-
terapia em Educação Especial (1995) e Especialização em Musicoterapia em
Saúde Mental (1999) pela EMAC/UFG - Escola de Música e Artes Cênicas
da Universidade Federal de Goiás. Especialista em Gerontologia titulada pela
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - SBGG. Coordenou o Pro-
grama de Pós-Graduação Stricto Sensu em Música da EMAC/UFG de 2010 a 2013. Tem atuado
como pesquisadora e professora do Curso de Musicoterapia da Escola de Música e Artes Cêni-
cas da UFG desde o primeiro ano de funcionamento da graduação, em 1999. Atuou como Coor-
denadora Acadêmica do Curso de Musicoterapia da UFG de 2001 a 2004 e como Coordenadora
de Estágios do Curso de Musicoterapia de 2002 a 2007. Foi também Coordenadora do Curso de
Musicoterapia de 2004 a 2007 e Coordenadora do Laboratório de Musicoterapia da EMAC/UFG
de 1999 até janeiro de 2007. Responsável pelo Depto de Gerontologia da Seção Goiás da SBGG
(2014-16). Faz parte do Conselho Científico da SGMT - Sociedade Goiana de Musicoterapia. Li-
dera o NEPAM, - Núcleo de Musicoterapia, grupo de pesquisa cadastrado no CNPQ. Participou da
Diretoria da ANPPOM - Associação Nacional de Pesquisa em Música (2009-2011). Coordenado-
ra da Comissão de Pesquisa e Ética da Federação Mundial de Musicoterapia (World Federation of
Music Therapy), no período 2014-17.
Diana Santiago (UFBA)
Diana Santiago é Professora Associada na Escola de Música da UFBA
e atual Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Música UFBA
(2012-2016). Doutora em Música (Execução Musical Piano) pela UFBA e
Mestre em Música (em Piano Performance and Literature e também Music
Education) pela Eastman School of Music (NY, EUA, como bolsista da CA-
PES), é recitalista e concertista. No primeiro semestre de 2015, foi agracia-
da com bolsa CAPES para estágio de pesquisa pós-doutoral no Royal Colle-
ge of Music, como Visiting Fellow no Centre for Performance Science. Deve
sua formação pianística, no Brasil, a Ryoko Katena Veiga, Arnaldo Estrella e
Paulo Gondim e, nos EUA, a James Avery. Dedica-se a atividades de pesquisa desde sua gradua-
ção (como bolsista do CNPq), tendo sido Representante da Região Norte-Nordeste no Conselho
Diretor da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (1990-1991), Tesourei-
ra da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (1991-1995), Segundo-Se-
cretário da Associação Brasileira de Educação Musical (1993-1995), Coordenadora do Programa
de Pós-Graduação em Música da UFBA (2004-2006) e Vice-Presidente da Associação Brasilei-
Convidados 17
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ra de Cognição e Artes Musicais (2006-2011). É, ainda, membro efetivo da European Society for
the Cognitive Sciences of Music desde sua criação e membro fundador da Associação Brasileira
de Performance Musical.Participa ou participou do Conselho Editorial dos seguintes periódicos:
ICTUS, OPUS, Per Musi (UFMG), Cognição e Artes Musicais, Revista do Conservatório de Mú-
sica (UFPel), Debates (UNIRIO). Criou e lidera desde 1995 o Núcleo de Pesquisa em Performan-
ce Musical e Psicologia da UFBA, sediado no Laboratório de Performance Musical e Psicologia
desde 2006. Tem experiência na área de Artes/Música, com ênfase em Execução Musical e Edu-
cação Musical, atuando principalmente nos seguintes temas: performance musical, psicologia da
música, piano, música e cognição, análise musical, currículo em música e desenvolvimento musi-
cal humano.
Convidados 18
XI SIMCAM - Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais Sumário
ident of the European Society for the Cognitive Sciences of Music (2003-2006); and President of
the Musicological Society of Australia (2010 and 2011). She was a member of the Research Evalu-
ation Committee of the Excellence in Research in Australia (ERA) for both the trial evaluation in
2009 and main assessment in 2012. Jane began her academic career as a postdoctoral research fel-
low at Keele University, Staffordshire, UK. She then became a lecturer at City University, London.
Between 1995-2007 she worked through the ranks from lecturer to full professor at the University
of Sheffield. While living in UK, she taught on a sessional basis in the departments of vocal and
academic studies at the Guildhall School of Music and Drama in London. She was then Callaway/
Tunley Chair of Music at The University of Western Australia (UWA), 2006-2013. She moved to
Melbourne in 2014.
Marcos Nogueira (UFRJ)
Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), tendo defendido tese intitulada “O ato da escuta e a semântica
do entendimento musical” (2004), Mestre em Música pela Universidade Fede-
ral do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e Bacharel em Música - Composição
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É Professor do Departa-
mento de Composição da Escola de Música da UFRJ e docente do Programa
de Pós-Graduação em Música da mesma instituição, na qual desenvolve proje-
to denominado “A poética da mente musical: Semântica cognitiva e processos
criativos”. Pesquisador atuante nas subáreas de Composição Musical, Cognição Musical e Teoria da
Música, a partir do que vem publicando trabalhos em torno do viés da pesquisa cognitiva em Música.
É editor de Percepta – Revista de Cognição Musical, periódico eletrônico da Associação Brasileira
de Cognição e Artes Musicais. Atua regularmente como compositor, regente e instrumentista, des-
de 1987, com participações em festivais e mostras variadas de música de concerto contemporânea.
Mauricio Dottori (UFPR)
Graduado em Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(1984), mestre em Artes pela Universidade de São Paulo (1991) e Doutor em
Musica (PhD) pela University of Wales, Cardiff (1997). Atualmente é Profes-
sor Associado da Universidade Federal do Paraná. É compositor de formação,
com intensa produção, simultaneamente pesquisando Processos Cognitivos
relacionados à criação musical. Publica também em Musicologia, havendo
pesquisado principalmente a música colonial brasileira, e a música sacra do
barroco napolitano, Davide Perez e Nicolò Jommelli.
Convidados 19
XI SIMCAM - Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais Sumário
Ricardo Freire (UnB)
Possui Licenciatura em Música pela Universidade de Brasília
(1992), Bacharelado em Música pela Universidade de Brasília (1991),
Master of Music - Michigan State University (1994) e Doctoral In Mu-
sical Arts - Michigan State University (2000). Atualmente é presidente
da Associação Brasileira de Clarinetistas e professor associado da Uni-
versidade de Brasília. Tem experiência na área de Música, com ênfase
em Performance Musical, atuando principalmente nos seguintes temas:
clarineta, performance musical, teoria musical e educação musical.
Convidados 20
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Sonia Ray (UFG)
Sonia Ray concluiu estágio de Pós-doutoramento pesquisando Per-
formance e Pedagogia do Contrabaixo na University of North Texas, EUA
(2008). Possui Graduação em Composição e Regência pelo Instituto de Ar-
tes da Unesp (SP, 1993), Mestrado (1996) e Doutorado (1998) em Perfor-
mance e Pedagogia do Contrabaixo, ambos na University of Iowa, EUA.
Apresenta-se regularmente em performances ao contrabaixo priorizando o
repertório contemporâneo para o instrumento. É artista convidada da Inter-
national Society of Bassists desde 1993. Atualmente é professora Associada
da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás em Goiânia, onde lecio-
na contrabaixo, música de câmara e metodologia de pesquisa. É professora Colaboradora no PPG
Música do IA-UNESP onde orienta pesquisas sobre performance em contrabaixo e música de câ-
mara. Desenvolve pesquisas na área de Música, com ênfase em Performance Musical, atuando
principalmente nos seguintes temas: contrabaixo contemporâneo, performance musical, cognição
musical, música de câmara e música brasileira. Foi Presidente da ANPPOM - Associação Nacio-
nal de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (Gestão 2007-2011). É sócia-fundadora da ABCM -
Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicaias, da ABRAPEM - Associação Brasileira de
Performance Musical e da ABC-Associação Brasielira de Contrabaixistas. É presidente do Con-
selho Editorial da Revista Música Hodie (Qualis A2). Fundou em 2002 o LPCM - Laboratório de
Performance e Cognição Musical da EMAC-UFG do qual é coordenadora.
Convidados 21
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Definida como o conjunto de processos que permitem a compreensão das emoções, inten-
ções e ações humanas em contextos sociais, a cognição social é essencial para a vida em socieda-
de. O desenvolvimento da cognição social é complexo e multifacetado, posto que envolve inúme-
ras questões e habilidades interrelacionadas, como a imitação e o aprendizado através das intera-
ções sociais em crianças, a capacidade de identificar e compreender as intenções alheias e de sa-
ber o que os outros estão pensando ou sentindo, e o desenvolvimento da moralidade, entre outras
(Ziv & Banaji, 2006). Nos últimos anos, muito se tem especulado sobre o papel das experiências
musicais na cognição social. Uma ideia recorrente nas pesquisas em educação musical e psicolo-
gia da música é a de que a música, além de ser uma forma de expressão universal e comunicativa
(Cross, 2014), é sobretudo uma atividade de ordem social (Turino, 2006). Isso se torna ainda mais
evidente pelo fato de que a música tem sido usada por sociedades distintas como trilha sonora para
atividades cotidianas, como forma de criar novas ideias e expressar emoções, e também para for-
talecer a afiliação a grupos e a coesão social. No entanto, há poucos relatos empíricos sobre o pa-
pel das experiências musicais – em contextos de aprendizagem formais e informais – na cognição
social em crianças. Trabalhos recentes sobre esses temas apresentam resultados contrastantes, não
permitindo generalizações. Nesta palestra, apresentarei dados obtidos por meio de trabalhos con-
cluídos e em andamento acerca das relações entre experiências musicais, sincronização rítmica,
empatia e teoria da mente com crianças de diversas partes do mundo. Implicações para estudos fu-
turos serão apresentadas ao final da palestra.
In this paper, the face of the music performer is explored as a site that reflects the performer’s
efforts to both generate and illustrate several aspects of musical expression. This expression has
been described by Juslin (2003) as comprising: the product of the generative rules that constitute
the music’s structure as well as stylistic deviation and resultant unexpectedness, motion principles,
random fluctuation, and the manifestation of emotion. While the face is typically regarded as the
conveyor of semantic content, particularly related to emotional communication, the current paper
explores the broader range of expressive elements and considers how musician and audience cre-
ate a meaningful shared experience by employing communicative facial gestures. To add histori-
cal range and individual differences to the discussion, performances by pianists from different ep-
ochs are considered. The performers under scrutiny include: Hungarian Franz Liszt (1811-1886),
of whom it was said that if he played behind a screen a great deal of the music’s poetry would be
lost; the Polish American Artur Rubenstein (1887-1982) and high popular contemporary Chinese
pianist, Lang Lang (1982-). Each pianist is considered performing Lizst’s famous Liebestraum
(Dream of love), Nocturne no. 3, based on a poem by Freiligrath, O lieb, so lang du lieben Kannst
(O love, as long as you can love).
Mauricio Dottori
A partir de 2005, as pesquisas sobre cognição musical realizadas no Brasil começaram a en-
fatizar atividades centradas no músico enquanto sujeito e produtor de um conhecimento, o conhe-
cimento sobre a performance musical. Nessas pesquisas, o construto metacognição tem se apre-
sentado muito produtivo, possibilitando que músicos investigassem a compreensão dos seus pró-
prios processos de construção do conhecimento musical. Como indica o seu prefixo meta, a me-
tacognição indica a possibilidade da reflexão sobre o próprio processo de conhecimento. Cross e
Paris (1988) consideram metacognição como o conhecimento necessário para monitorar e contro-
lar o próprio pensamento e a aprendizagem. Flavel (1979) descreve três processos metacogniti-
vos: 1) a consciência sobre o conhecimento, que relaciona a compreensão daquilo que o indivíduo
quer conhecer; 2) vínculo entre consciência e pensamento, que consiste na compreensão das tare-
fas cognitivas e dos processos necessários para se completar uma tarefa; 3) a tomada de consciên-
cia sobre as estratégias do pensamento que ocorrem quando o indivíduo compreende o processo de
aprendizagem. No caso da música, pode-se considerar que a metacognição consiste no desenvol-
vimento adquirido para controlar e monitorar a própria performance. A performance exige o con-
trole da arquitetura cognitiva envolvida nos diversos aspectos da execução instrumental e vocal.
O estudo dos processos metacognitivos oferece várias possibilidades de análise do conhecimento
gerado pelos próprios músicos. Assim, a organização dos processos conscientes de execução e in-
terpretação musical permitem uma ampliação e aprofundamento das pesquisas realizadas na área
de performance musical.
A exposição terá início com um momento de apresentação da teoria social cognitiva, formu-
lada por Albert Bandura, de forma a situar a perspectiva teórica para a assistência. Neste momento
introdutório será explanado de maneira resumida os elementos definidores da teoria e sua inserção
no cenário da psicologia contemporânea, sua lógica explicativa e seus principais constructos e pro-
cessos. Na sequencia será dado destaque ao papel da cognição na explicação teórica do comporta-
mento humano e, em seguida, explorados caminhos desenvolvidos pela investigação alicerçada na
teoria social cognitiva na área da música. Para finalizar a apresentação e fomentar o debate serão
problematizados aspectos relacionados à investigação TSC e Música e implicações desta relação
na exploração dos processos regulatórios no campo da música.
Minha participação na mesa terá como objetivo apresentar uma revisão de pesquisas em me-
mória e performance musical. A memória humana é responsável pela recordação dos elementos
que vivenciamos ou aprendemos. Refere-se, portanto, aos mecanismos dinâmicos que estão asso-
ciados à retenção e recuperação da informação sobre a experiência passada, integrando-se no gru-
po dos processos cognitivos, os quais abrangem todos os processos que transformam, reduzem,
estocam, elaboram, evocam e usam informações sensoriais. Há três operações comuns da memó-
ria: codificação, armazenamento e recuperação, cada uma das quais representa um estágio no tra-
tamento da memória. Na codificação, dados sensoriais são transformados numa forma de represen-
tação mental; no armazenamento, a informação codificada é conservada na memória; por fim, na
recuperação, a informação armazenada na memória pode ser extraída ou usada. A memorização é
parte integrante da vida profissional do músico, sendo mesmo obrigatória em determinadas situa-
ções. Isso gera grande interesse entre os profissionais da área para melhor compreender os meca-
nismos subjacentes à memorização. A partir do trabalho pioneiro de Roger Chaffin na área, rela-
tado em seu livro Practicing Perfection: memory and piano performance, serão apontadas funda-
mentações teóricas da pesquisa em memória musical e as principais metodologias utilizadas. Para
concluir, serão detalhados exemplos de pesquisas já realizadas.
Coordenação: Beatriz Raposo de Medeiros (USP) e Luis Luis Felipe Oliveira (UFMS)
Os conceitos e ideias mais disseminados e seguidos na área de estudos sobre cognição evo-
cam uma mente e uma representação mental de uma contraparte da ação ou de algo físico no mun-
do. Normalmente podemos entender tais conceitos no âmbito do cognitivismo e mesmo do repre-
sentacionalismo. Embora majoritária, a corrente cognitivista não é a única corrente para explicar a
cognição humana. Há pelo menos duas correntes nos dias atuais, o conexionismo e o dinamicismo,
que defendem outros princípios para explicar as capacidades humanas.
Neste GE, trataremos de compreender melhor quais as bases teóricas ou abordagens teóricas
de que nos valemos para explicar nosso conhecimento musical. Para isso, teremos como âncoras
algumas leituras importantes e complementares ente si (ver bibliografia).
As questões que nos interessam são as seguintes:
1. Quais são (algumas das) as teorias da cognição existentes?
2. Como elas (ou algumas delas) dão conta do que entendemos por música?
3. Como temos embasado nossos trabalhos de cognição com estas teorias?
4. Quais as questões que temos sobre nossos objetos de estudo? São elas contempladas pela
abordagem teórica que escolhemos?
A proposta deste GE é retomar abreviadamente o que já foi visto pelo grupo e alargar os
horizontes de estudos atuais que envolvam cognição musical. Reflexões dos participantes serão
bem-vindas, assim como acréscimo de sugestão à bibliografia. As questões acima nortearam os
tópicos a serem tratados ao longo dos três dias de GE. A expectativa é de que aclaremos as di-
ferenças entre as abordagens teóricas e que pensemos nossos questionamentos sobre a cognição
musical conscientes de qual seja sua afiliação teórica.
Bibliografia
Bechtel, W. and Abrahamsen, A. Phenomena and Mechanisms: Putting the Symbolic, Connectio-
nist, and Dynamical Systems Debate in Broader Perspective. In: R. Stainton (Ed.), Contemporary
debates in cognitive science. Oxford: Basil Blackwell. 2006.
Lerdahl, F. Genesis and architecture of the GTTM project. In: Music Perception Volume 26,
issue 3, p. 187-194, ISSN 0730-7829, electronic ISSN 1533-8312 © 2009.
Large, E R. A Dynamical Systems Approach to Musical Tonality. In: Huys and V.K. Jirsa (Eds.):
Nonlinear Dynamics in Human Behavior, SCI 328, pp. 193-211. 2010.
Patel, A. Music, language and the brain. Oxford University Press, 2008.
O GE, reunido pela primeira vez no SIMCAM9 (Belém/PA), propõe o debate acerca das
pesquisas cognitivas do sentido musical e do desenvolvimento de métodos descritivos da forma
musical, no contexto dos processos criativos em Música. O referencial teórico abordado é essen-
cialmente vinculado à semântica cognitiva e, em especial, circunscrito ao campo de conhecimento
tributário da corrente atuacionista (enactivist ) das ciências cognitivas, recebendo, sobretudo, con-
tribuições da psicologia, da linguística e da filosofia cognitivas, dentre outros domínios das ciên-
cias da mente e da neurociência contemporâneas.
Os conceitos que fundamentam as pesquisas relacionadas têm como referência central o con-
ceito de “mente incorporada”, tal como discutido no texto seminal de Varella, Thompson e Rosch,
e advêm das teorias cognitivas da categorização (Rosch), da memória (Edelman; Snyder), da aten-
ção (Pashler), da percepção (Bregman; Noë; Deutsch; Dowling) da metáfora conceitual (Johnson;
Johnson & Lakoff; Spitzer; Zbikowski, Brower), da expectativa (Bharucha; Huron; Abdallah &
Plumbley), gesto/movimento (Burrows; Gritten & King; Larson; Phillips-Silver) e sintaxe/repe-
tição (Huron; Narmour; Temperley; Margulis). Propõe-se como núcleo central de debate para as
sessões do SIMCAM 11 (Pirenópolis/GO) a contribuição dessa pesquisa cognitiva de base expe-
riencial com o “formalismo musical”, bem como o seu lugar no âmbito da teoria da música e da
composição, no século xxi.
Histórico: Em 2010, meu primeiro ano à frente do GE Criação Musical e Cognição, o gru-
po fez um levantamento da produção em Composição e Performance com referência a cognição
nos últimos 5 anos com base em publicações de periódicos afins, anais de congressos, teses e dis-
sertações defendidas e livros. Analisando os anais das 5 edições do SIMCAM foram localizados
29 textos sobre performance e 12 sobre composição. Nos periódicos Música Hodie, Permusi, Re-
vista da ABEM, Claves e Em Pauta (de 2005 a 2009) foram localizados 14 trabalhos sobre perfor-
mance e 17 sobre composição no contexto investigado. Nos anais dos Congressos da ANPPOM
(2005 a 2009) foram localizados 20 trabalhos sobre cognição e performance e 13 sobre cognição
e composição. A investigação nas dissertações e teses nos PPGs não foi concluída, pois as infor-
mações dos últimos 5 anos não estavam completas nos sites da maioria dos programas. Na reunião
de 2010 a discussão foi aprofundada e optou-se por definir descritores (palavras-chave) que auxi-
liassem pesquisadores da área a melhor identificarem suas produções. Em 2012, a proposta do GE
foi de discutirmos conceitos e aplicações da cognição musical no processo de criação musical. Em
sintonia com o tema do SIMCAM 8, dividimos a discussão em duas etapas: trajetória (fundamen-
tos da ciências cognitivas, suas vertentes e estado da arte dos estudos brasileiros) e perspectivas
(que caminhos as pesquisas apontam para um futuro próximo e a médio prazo). As bases para dis-
cussão foram publicações dos próprios anais dos SIMCAM (disponíveis no site da ABCM) bem
como textos selecionados. Como resultado, foi criado um grupo de discussão on-line que não teve
nenhum trabalho publicado. Contudo, as perspectivas levantadas nas discussões apontaram para a
necessidade de se discutir mais questões aplicativas a fim de instrumentalizar os pesquisadores re-
cém chegados à área e ampliar a visão dos já atuantes. Em 2013 a proposta foi identificar possíveis
BORÉM, Fausto; RAY, Sonia. Pesquisa em Performance Musical no Brasil no Século XXI: pro-
blemas, tendências e alternativas. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE PÓS-GRADUANDOS EM
MÚSICA, 2., Rio de Janeiro, 2012. Anais..., Rio de Janeiro: Unirio, 2012. p.121-168.
ILARI, Beatriz. Cognição Musical: origens, abordagens tradicionais, direções futuras. In: Mentes
em Música. Ilari, B. e Araujo, R.C. (Orgs). Curitiba: Deartes, 2009. Pgs. 158-178.
LEVITIN, D. (2007). This is your Brain in Music: the science of a humam obsession. Plume Book:
New York.
RAY, Sonia (2005). Os conceitos EPM, Potencial e Interferência inseridos numa proposta de ma-
peamento de Estudos sobre Performance Musical. In: Performance Musical e suas Interfaces.
Sonia Ray (Org). Goiânia: Vieira/Irokun.
RAY, Sonia (2015). Aspectos Psicológicos da Performance Musical e Possíveis Aplicações Didá-
ticas. SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 11., Pirenópolis,
2015. Anais do..., Goiânia: LPCM-EMAC-UFG.
Coordenadores: Clara Márcia Piazzetta (Unespar) e Claudia Regina de Oliveira Zanini (UFG)
Este Grupo de Estudos integra estudos de Música, Cognição, Saúde e Musicoterapia. Com
início no SIMCAM de 2010, traz em destaque para os trabalhos de 2015 elementos para discutir
sobre as pesquisas realizadas nesse campo. O foco dos trabalhos está no entendimento do uso da
Música na Saúde e seus diferentes campos de atuação: no trabalho com pessoas do espectro autis-
ta, paralisia cerebral, doenças neurodegenerativas, reabilitação pós lesão neurológica e música e
bem estar. Objetiva-se realizar uma revisão sistemática do tema nos itens citados acima e assim ter
um panorama desse complexo universo de pesquisas. A partir disso ter subsídios para os debates,
durante o evento, sob o olhar da Musicoterapia.
Papers Abstracts
Sumário
José Fornari
Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora, UNICAMP
[email protected]
Resumo: Tendo em vista que a construção do conhecimento musical não é realizado de fora pra
dentro, mas que depende das ações sensório-motoras, este estudo pretende mostrar que a
aprendizagem é uma modificação dos caminhos neurais e que tais redes são construídas a partir de
ações que envolvem atenção, percepção e memória. Este estudo teórico propõe-se a apresentar
informações sobre a psicomotricidade na aprendizagem musical. Levando-se em consideração que o
músico, desde que inicia seus estudos, estabelece consigo mesmo e o seu instrumento uma relação
dinâmica, onde sua motricidade é intensamente exigida e vivida, postula-se aqui que aprendizagem e
vivência necessitam trabalhar indissociadamente. Este estudo levanta questões sobre os fundamentos
da aprendizagem musical através da musicalização e da maneira como a psicomotricidade participa
deste contexto. Apresenta-se aqui o fazer musical como uma tarefa consciente, que exige a vivência e
o estímulo de diversos fatores psicomotores, orientando para uma educação musical mediante a qual o
sentido e o conhecimento da música se desenvolvem através da participação corporal com a principal
atuação do ritmo musical.
Palavras-chave: Aprendizagem musical, psicomotricidade, desenvolvimento cognitivo.
Psychomotor Learning in Music
Abstract: Considering that the construction of musical knowledge is not carried out from inside, but
that depends on sensory-motor actions, this study aims to show that learning is incurs in the
modification of neural pathways and that these networks are built from actions that involve attention,
perception and memory. This theoretical study aims to provide information about the psychomotor
learning in music. Taking into account that musicians, since the beginning of their studies, establish a
dynamic relationship with the musical instrument where motor skills are required and intensely lived,
it is postulated here that learning and experiencing need to work together. This theoretical study raises
questions about the fundamentals of musical learning through music education and the way that
psychomotricity participates in this context. Here music-making is seen as a conscious task that
requires experience and stimulation of several psychomotor aspects, guiding to a musical education by
which music knowledge and meaning are developed through the participation of the musician’s body
with the main action of the musical rhythm.
Key-words: Musical learning, motor skills, cognitive development.
Introdução
O Desenvolvimento Motor
Segundo Ajuriaguerra (1983), o desenvolvimento motor infantil passa por três etapas
de ajuste e aperfeiçoamento das possibilidades de ação e sequências de movimento: a
primeira se incumbe da organização da constituição motora e da função tônica de fundo; a
segunda trata dos reflexos que dão origem a uma motricidade voluntária, levando a uma
Atividades Cerebrais
Segundo Lúria, as funções cerebrais têm uma localização dinâmica, e não restrita e
estática à determinadas regiões do encéfalo. As capacidades cognitivas são analisadas e
distribuídas em zonas ou centros corticais diferentes nos seus aspectos anatômico e funcional,
estabelecem entre si um trabalho sincronizado e dinâmico. (Mattos, 2013, p. 91). Segundo
Metring, (2011, p. 87,93), estas são organizadas nas seguintes unidades:
Unidade 1: Chamada de cérebro desperto. É a unidade que regula as necessidades de
manter o tônus cortical para os estados de vigília, sono, fuga, atenção, sexualidade a fim de
controlar as ações adaptativas que o meio impõe ao organismo. Deve manter o organismo
Estruturas Psicomotoras
Segundo Louro (2012, p.88) para se ter uma boa maturação neurológica (um bom
Atividade Musical
Émile Jaques Dalcroze, importante pedagogo musical, teve atuação importante no
cenário da educação musical na primeira metade do século XX. Foi criador de um conjunto de
meios escolhidos com o fim de atingir um ou vários objetivos inscritos em um propósito,
mediantes ações organizadas e distribuídas no tempo (Bru, 2008, p.7). Este se constituiu num
método ativo de educação musical mediante o qual o sentido e o conhecimento da música se
desenvolvem através da participação corporal no ritmo musical. Dalcroze acreditava que
através do solfejo corporal seria possível uma maior compreensão da linguagem musical, de
nossa personalidade e a dos demais. Esta é também uma educação múltipla, aberta a todas as
experiências, que se inclina ao desenvolvimento da psicomotricidade e da criatividade.
(Rodrigues, 2014, p.28).
Dalcroze vem influenciando os educadores musicais a fundamentar propostas e ações
não só na área de música, mas também em dança e teatro. Parte-se da natureza motriz do
sentido rítmico da música e do conceito de que o conhecimento precisa ser afastado do seu
aspecto intelectual e instalar-se no corpo como experiência vivida. “[Dalcroze] postulava que
o corpo humano é uma orquestra na qual os diversos instrumentos musicais, são dirigidos
simultaneamente por dois regentes: a alma e o cérebro” (Rodrigues, 2014, p.6). Este
pedagogo rompeu com a dicotomia corpo-mente, estabelecendo relações entre ambos através
de uma educação musical baseada na audição e atuação do corpo. “Eu me pego sonhando com
uma educação musical na qual o corpo faria ele mesmo o papel de intermediário entre os sons
e nossos pensamentos, e se tornaria instrumento direto de nossos sentimentos” (Dalcroze,
citado por Dutoit, 1965, p. 317, como citado em Mateiro, 2001, p. 31).
O fazer musical é uma tarefa consciente que exige a vivência e o estímulo de diversos
fatores psicomotores, como: pulsação, ritmos, andamentos e formas variadas. Música e
psicomotricidade estão assim intimamente relacionados. É preciso devenvolver-se um arsenal
psicomotor para aprender música. Os princípios básicos da psicomotricidade estão implícitos
em cada item da aprendizagem musical (Louro, 2012, p.107). A compreensão rítmica requer
do aluno a capacidade de agrupar, associar, sequenciar e classificar, competências de ordem
neuro-funcional, relacionadas às estruturas psicomotoras de noção espacial e temporal,
esquema corporal e tônus. Para a adequada manutenção da pulsação musical, há de ter-se
desenvolvido as capacidades de sequenciamento (um pulso depois do outro), associação (do
pulso com movimento contínuo), coordenação motora (regularidade) além da organização
neuronal (Louro, 2012, p.108).
Discussão e Conclusões
O desenvolvimento cognitivo musical de um estudante de música é determinado pela
história concreta da experiência psicomotora que este edificou em um dado contexto
sociocultural. Sua aprendizagem, juntamente com o desenvolvimento psicomotor, dependem
muito das interações entre o biológico e o social (Fonseca, 2008, p.530). O ambiente onde o
músico está inserido pode influenciar o processo das experiências musicais, iniciando com a
ação que se transforma em sensação, e passando pela percepção musical, seguindo para a
imaginação, memória e simbolização, até atingir a conceitualização (Fonseca, 2008, p.531). A
realização e compreensão de uma melodia (sequência de notas musicais com altura e ritmos
definidos) requer, além dos itens relacionados na seção anterior, a noção de altura (grave,
embaixo e agudo em cima) funções vinculadas à espacial e à lateralização. (Louro, 2012, p.
108).
A leitura musical, como é de se esperar, exige aptidões cognitivas, tais como:
decodificação de símbolos gráficos, capacidade de agrupar, associar e reproduzir figuras
rítmicas e da transformação de leitura em ação motora. Outra função requisitada pelo ato de
tocar um instrumento é a habilidade de abstração que só ocorre a partir do mecanismo
cerebral de associação, comparação, classificação e decodificação. (Louro, 2012, p.109).
Toda e qualquer ação motora ou mental, dentro do ambiente musical, exige
participação de estruturas cognitivas para a compreensão e execução. Diversas funções
cognitivas, perceptivas e executivas, além do qualitativo aspecto emocional, são requisitadas
no fazer musical. Tais habilidades só se cristalizam a partir de uma maturação neurológica
adequada, dada por um bom desenvolvimento psicomotor (Louro, 2012, p.110).
A metodologia utilizada no aprendizado musical infantil apresentam propostas
baseadas em exercícios e jogos com o intuito de desenvolver aspectos psicomotores. Práticas
pedagógicas, como: andar, saltar, correr, pular; colaboram para o estímulo das estruturas
psicomotoras do tônus, equilíbrio, consciência temporal e espacial, enquanto que a exploração
de sons ambientais desenvolve diversos aspectos da audição do estudante. A percussão
corporal habilita o esquema corporal, a noção espacial e a lateralidade. Jogos de improvisação
estimulam a criatividade, a expressão e outros conceitos. As imitações corporais de
movimentos colaboram com a estimulação visual, coordenação motora e o esquema corporal.
Tocar instrumentos (de qualquer natureza) exige do aluno a participação do tônus,
Referências
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Campinas
Resumo: O presente trabalho apresenta reflexão teórica e resultados de pesquisa realizada com o
objetivo de entender de que maneira a capacidade de planejamento do dedilhado intervém na
manutenção do fluxo da leitura à primeira vista ao piano e em que medida o comportamento do
dedilhado pode revelar as estratégias de leitura adotadas durante esses eventos. Os sujeitos da
pesquisa (n=9) realizaram teste escrito seguido de duas execuções da obra em atividades de leitura
à primeira vista. A obra, especialmente composta para a pesquisa, foi apresentada em três versões
diferentes, e houve um intervalo de uma semana entre as tarefas. Os resultados apontam que o
comportamento do dedilhado se ancora em processos cognitivos complexos baseados em
conhecimento prévio, tipos de estratégias de leitura, capacidade de planejamento, flexibilidade de
padrões de comportamento motor incorporados e características do texto. Conclui que a realização
do dedilhado não se reduz a um simples condicionamento motor, a partir de regras. Para além
disso, ele revela estratégias e abre janelas para o estudo dos processos cognitivos envolvidos na
tarefa de executar um instrumento, no caso específico desse trabalho, o piano.
Palavras-chave: piano, dedilhado, leitura à primeira vista, estratégias de leitura.
A execução musical instrumental está sujeita ao modo como o corpo é obrigado a atuar,
mediante as configurações da estrutura física do instrumento. No caso dos instrumentos de
teclado, caso do piano, sem desconsiderar a participação das outras partes do corpo, uma
importante variável envolvida na execução pianística é o trabalho dos dedos.
Pedagogos e instrumentistas sempre discutiram critérios para o planejamento e para o
estabelecimento de sequências de dedos mais apropriadas em busca do dedilhado ideal. Tanto
quanto as regras de interpretação ou de composição, as regras de dedilhação também são, é
claro, associadas aos diferentes estilos musicais. Logo, o conceito de dedilhado possui
também uma história ligada às transformações dos instrumentos, da escrita, dos padrões e
valores estéticos e técnicos atribuídos não somente às obras mas também aos instrumentistas,
em cada época. De maneira geral, contudo, essa história ainda é bastante desconhecida.
“caminham” sobre uma topografia (teclado). Sob essa ótica, pode-se entender a partitura
como uma espécie de mapa de gestos.
As posições de deslocamento não são muitas, podendo ser assim sumarizadas:
1) sequência de dedos contíguos (execução de graus conjuntos no âmbito de uma
quinta);
2) afastamento de dedos (passagens que exigem um afastamento entre dois dedos
subsequentes para realizar um intervalo que foge à localização contígua entre eles);
3) aproximação de dedos (execução de teclas subsequentes com dedos não vizinhos);
4) substituição de dedos na mesma tecla;
5) passagem do polegar ou passagem de dedo sobre o polegar (deslocamento dos dedos
por rotação sobre o eixo do polegar);
6) deslocamento de região no teclado ou mudança de posição por saltos (sem a
utilização dos recursos anteriormente mencionados).
Se por um lado esse repertório de gestos reduzido representa uma economicidade para a
execução do instrumento, por outro, a necessidade de adaptação desses a inúmeros contextos
musicais, através de infinitas combinações, representa um problema a ser resolvido, porque,
na prática, suas possibilidades são algorítmicas.
Também para Parncutt & Troup (2002) a escolha do dedilhado depende de um
balanceamento entre várias restrições (físicas, anatômicas, motoras e cognitivas), dos aspectos
de interpretação, incluindo-se ainda o nível de experiência pianística. Esse complexo conjunto
implica numa escolha personalizada, individual. Muito dificilmente, portanto, pode-se
garantir que um determinado dedilhado é o único “correto”.
Para esses autores, a realização do dedilhado depende, consequentemente, do
acionamento equilibrado de aspectos contidos no conhecimento prévio do executante, ou seja,
resulta do acionamento de informações e de módulos motores contidos na memória de longo
prazo.
“O conhecimento (ou memória) que subjaz às escolhas de dedilhado pode ser descrito
como episódico ou semântico, ou como procedural ou declarativo” (Parncutt & Troup, 2002,
p. 298). Para eles, uma memória (ou conhecimento) de dedilhado será episódica se a escolha
ocorrer pela identificação de semelhanças com outras passagens conhecidas; e semântica, se
baseada em regras e princípios. Ambas podem ser procedural (saber como) ou declarativa
(saber o quê).
Da mesma forma, deve-se considerar o tipo de atividade musical que está sendo
realizada uma vez que a mesma exerce influência no processamento e na execução do
dedilhado. “O dedilhado ideal depende se a passagem da música é improvisada, lida à
primeira vista, executada a partir de partitura já estudada ou de memória” (Parncutt & Troup,
2002, p. 298).
A observação do comportamento do dedilhado de pianistas em eventos de leitura à
primeira vista é reveladora desses processos cognitivos, já que, nessa atividade, a
flexibilidade das estruturas mentais e motoras deve emergir em prol da manutenção do fluxo
da leitura. Na leitura à primeira vista, o dedilhado pode ser melhor definido como uma
“escolha em ação” (Sloboda et al., 1998). A continuidade tem precedência sobre a acurácia.
Por isso, “quando estamos lendo à primeira vista uma peça para piano, podemos igualmente
seguir as anotações de dedilhado do editor ou nos agarrar a qualquer dedo disponível” (Hersh,
2009, p. 26).
Nesse tipo de atividade, em especial, a execução depende das estratégias de leitura.
Numa leitura ascendente (nota-por-nota), é provável que o planejamento do dedilhado seja
prejudicado, uma vez que não há critérios de continuidade. A qualidade e a abrangência da
seleção de porções de leitura (chunks) determinam a eficácia do dedilhado e
consequentemente o sucesso da execução.
Nos breves momentos que antecedem a execução à primeira vista, um leitor experiente
buscará identificar áreas de atuação no teclado. Essas áreas são determinadas pelos limites de
notas mais agudas e notas mais graves a serem executadas e funcionam como marcos de
segmentação de trechos de execução (âmbito de execução). Delimitados esses trechos, os seus
âmbitos e sua localização espacial no teclado, resta observar os tipos de deslocamentos a
serem realizados, o que deve gerar um plano de transições que é essencial para o
planejamento do dedilhado.
Esse processamento só pode ocorrer se forem identificadas micro e macroestruturas do
discurso musical. Uma leitura nota-por-nota não propicia esse tipo de entendimento. Nesse
tipo de leitura, pode-se dizer que os dedos, sem direcionamento, tendem a “andar a esmo”
pelo teclado, o que torna o resultado menos fluente.
Metodologia da pesquisa
Os nove leitores voluntários, com experiências musicais diversas e variação entre dois e
dezoito anos de estudo de piano, realizaram leituras de três partituras diferentes da mesma
composição com um intervalo de uma semana entre cada teste. No primeiro teste, eles foram
solicitados a anotar o dedilhado numa partitura escrita em compasso 4/8, tal como fazem os
revisores, ou seja, assinalando somente o que considerassem relevante para a execução. Eles
também foram informados que poderiam rasurar suas anotações, desde que fosse possível ler
o que foi anteriormente anotado. O teste foi filmado.
No segundo teste, eles executaram à primeira vista a mesma obra, porém escrita em
compasso 2/4 com indicações de dedilhado realizadas por mim. E, por fim, executaram a
mesma obra, escrita em compasso 4/4, sem qualquer indicação de dedilhado.
A música, tonal, escrita em notação ortocrônica, foi composta especialmente para essa
pesquisa. Está construída na forma A-A-B-A’-B-A’. As seções têm extensões uniformes.
Todas são constituídas de apenas duas frases e, cada frase, por duas semifrases. Todavia, as
seções estão compostas de forma a apresentar fenômenos de dedilhado diversificados,
cuidadosamente planejados.
A seção A é mais estável, com menor informatividade, e exige menos deslocamentos da
mão do que a seção B.
As seções de execução foram filmadas por duas câmeras: uma posicionada para
registrar exclusivamente as mãos dos leitores e a outra para registrar, em close, os olhos.
Pelos limites aqui impostos, tratarei somente da análise e resultados da primeira seção
da música, apresentada a seguir na versão da última leitura (compasso 4/4).
Legenda: AF = afastamento de dedos; TD = troca de dedo na mesma nota; D = deslocamento da mão; PD = passagem de
dedo; PP = passagem de polegar; AP = aproximação de dedos.
Houve uma tendência geral dos leitores de substituir a nota Si da mão direita
(Compasso 1) pela nota pela Ré, com o segundo dedo, o que indica uma leitura global por
direção melódica na execução do trecho pela primeira vez. Essa tendência diminui nas
repetições.
No início do Compasso 2 (mão direita), muitos leitores substituíram a nota Fá pela nota
Mi, o que deixa a mão numa posição mais estável. No terceiro tempo, a opção do dedilhado
poderá antecipar (ou não) a preparação para o deslocamento do terceiro compasso. No teste
escrito, sete leitores indicaram a troca do dedo na nota Sol, o que não ocorreu em qualquer
das execuções.
Finalmente, a sequência descendente de cinco notas do compasso 3 (mão direita) parece
bem previsível. Entretanto, na execução, seis leitores optaram por fazer substituições de dedo
na mesma tecla (4-5 ou 3-4): escolha que, evidentemente, não ocorreu no teste escrito.
A mão esquerda inicia no âmbito de uma quinta no primeiro compasso, com desenho
melódico que sugere um acompanhamento em Baixo D’Alberti. Todos os leitores cometeram
desvios de leitura na mão esquerda no Compasso 2, substituindo inicialmente o Lá por Sol,
por inferirem que um padrão de comportamento seria mantido o que, de fato, não ocorre. Na
repetição do trecho, isso ocorre com menor frequência.
No Compasso 3, a repetição da nota Dó na mão esquerda oferece várias possibilidades
para o realinhamento da mão, propiciando inclusive a execução das notas graves com o
mesmo dedo, decisão tomada pela maioria dos leitores na execução, mas não no teste escrito.
A decisão de qual dedo irá iniciar a sequência descendente indica se houve uma leitura
antecipada ou não da mesma.
A mudança de posição da mão esquerda no quarto compasso ocorre com maior
naturalidade se houver aproximação de dedos na passagem do último Dó para o Si do quarto
compasso. A entrada nesse quarto compasso com o dedo 2 da mão esquerda (o mais próximo
e óbvio na sequência anterior) vai implicar na realização do compasso praticamente em non
legato, o que não é solicitado. A escolha do dedo indica também que a leitura foi localizada e
que não houve planejamento antecipado para a sequência, o que efetivamente ocorreu na
maioria das execuções.
Concluindo
Pesquisas que investigam a relação entre olhar e tarefas motoras cotidianas como andar,
dirigir ou fazer um sanduíche, por exemplo, já concluíram que o olhar faz antecipações em
relação a um alvo crítico na sequência de ações motoras requeridas pela tarefa e que a seleção
da informação visual, as fixações, participa do planejamento dos movimentos de olhos tanto
quanto das mãos (Mennie, Hayhoe et al., 2007).
Em relação à leitura à primeira vista, Saxon (2009) afirma que:
Bons leitores à primeira vista passam menos tempo olhando para o teclado, o que
indica que um importante componente cognitivo da leitura musical hábil é uma
capacidade mental de formar representações espaciais das posições das notas no
teclado e/ou uma capacidade de escolher posições ideais de dedos o que reduz a
necessidade de olhar para o teclado com a finalidade de encontrar a próxima nota
(Saxon, 2009, p. 23).
A análise dos desvios de leitura aqui apresentados comprova que a escolha do dedilhado
para a realização da leitura à primeira vista ao piano se ancora em processos cognitivos
complexos baseados em conhecimento prévio, tipos de estratégias de leitura, capacidade de
planejamento, flexibilidade de padrões de comportamento motor incorporados e
características do texto.
A realização do dedilhado não se reduz a um simples condicionamento motor, a partir
de regras. Para além disso, ele revela estratégias e abre janelas para o estudo dos processos
cognitivos envolvidos na tarefa de executar um instrumento.
Referências
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Experimental Psychology: Human Perception and Performance (v.24, n.1, pp.185-203).
Sonia Ray
PPG – UFG/IA-UNESP
[email protected]
Resumo: O presente artigo aborda meios de utilização de duas técnicas de ensaio comumente
utilizadas na preparação para performance em repertório com técnicas estendidas. A metodologia
adotada consiste em um levantamento bibliográfico baseado em uma pesquisa em andamento.
Inicialmente, foca-se a utilização da criação de pontos de apoio/fragmentação da obra como meios de
auxiliar o intérprete tanto na leitura quanto na memorização musical. A memorização na qual é
abordada mais amplamente na segunda parte do artigo com o foco na memoria cinestésica, já que no
repertório com técnicas estendidas o uso do corpo é fundamental na preparação para performance.
Conclui-se que a utilização de técnicas de ensaio para a preparação para performance musical vem
crescendo de maneira significativa. Assim, no repertório com técnicas estendidas, as técnicas de
ensaio estudadas se mostraram importantes para essa preparação específica. No entanto deve-se
destacar que as técnicas de ensaio devem ser preparadas de acordo com as facilidades e dificuldades
de cada intérprete, gerando ganhos para a sua performance musical.
Palavras-chave: técnicas de ensaio, técnica estendida, memorização, pontos de apoio.
Rehearsal techniques for repertoire with extended techniques: memorization and supporting
points
Abstract: The present article discusses ways to apply two different rehearsal techniques usually used
in performance preparation for repertoire with extended techniques. The chosen methodology consists
of a bibliographical study based on an ongoing research. Initially, creation and utilization of
supporting points/piece fragmentation will be focused on as means of helping the performer both in
reading and in musical memorization. In the second part of this work, memorization will be more
wildly approached focusing on kinesthetic memory, since the use of the body is crucial in
performance preparation for repertoire with extended techniques. It is possible to conclude that the use
of rehearsal techniques for musical performance preparation has been increasing significantly. Thus,
the studied rehearsal techniques have shown to be important for the specific preparation for repertoire
with extended techniques. However, it should be noted that the rehearsal techniques should be
prepared according to the each performer’s ease and difficulty, as means of benefiting their musical
performance.
Key-words: rehearsal techniques, extended technique, memorization, support points.
Introdução
As pesquisas em cognição musical, envolvendo práticas de estudos com a finalidade de
uma preparação para performance mais orgânica, vem crescendo nos últimos anos no Brasil.
Dentre as principais causas pode se notar o fortalecimento da Associação Brasileira de
Cognição Musical (ABCM), juntamente com os simpósios da mesma (SIMCAM) e também
do surgimento da ABRAPEM. Entretanto, as pesquisas realizadas fora do Brasil já contam
com maior numero de publicações já que estão sendo realizadas há algum tempo.
Os estudos sobre preparação para performance auxiliam o intérprete a utilizar técnicas
de ensaio que otimizam os estudos para cada tipo de repertório escolhido (Ray, 2005). No
presente artigo o foco gira em torno do repertório com técnicas estendidas, assim foram
determinadas duas técnicas de ensaio que influenciam diretamente na preparação desses
novos recursos técnicos, criação de pontos de apoio e a memorização.
Ao estudar o repertório com técnicas estendidas, uma das principais técnicas de ensaio
utilizadas é a criação de pontos de apoio. Os pontos de apoio podem funcionar como meios de
localização para o intérprete e também como uma fragmentação da obra, visando nesse caso,
a memorização. Quando falamos em memorização musical logo são relacionados os três
principais meios de memorização: visual, aural e cinestésica. No entanto, para o repertório
com técnicas estendidas o foco ficará em torno da memorização cinestésica e da memória
visual. A memória cinestésica auxilia principalmente os novos recursos que até então não
estão adaptados aos movimentos naturais do instrumentista enquanto a memória visual
fornece subsídios visuais ao próprio instrumentista para a memorização das técnicas
estendidas.
qualquer natureza. Sobre a estratégia de tocar a obra por inteiro, a mesma deve ser descartada
vez que, no repertório em questão, alguns problemas técnicos impossibilitam essa prática.
Na figura abaixo nota-se essa dificuldade mencionada anteriormente em relação à
leitura da obra. Nesse caso, é importante que os intérpretes, no caso dois violonistas, ensaiem
o trecho isoladamente. Assim, a precisão requerida pela obra entre os dois violões tende a ser
mais exata e ao mesmo tempo gera um ponto de apoio para o decorrer da peça, onde o
resultado sonoro, visual e cinestésico do trecho auxiliarão os intérpretes significativamente
em sua prática musical.
Figura 1 – Trecho percussivo em sequência na obra Seis Quase-Aforismos de Guilherme Bertissolo
Como na obra acima, Mello, Kaminski e Ray (2014), utilizaram a mesma técnica para o
estudo de uma peça para dois violões. No estudo mencionado, foi proposta a criação de quatro
“marcos estruturais” ou podemos caracterizar por quatro pontos de apoio ao longo da peça,
assim o estudo fragmentado da obra facilitou a preparação da mesma. Esses pontos de apoio
foram abordados em relação à comunicação gestual em um duo de violão, no entanto os
mesmos podem ser utilizados de acordo com a finalidade de cada intérprete, por exemplo,
como foi demonstrada na imagem acima, a finalidade era a precisão técnica entre os violões.
Nota-se, por conseguinte que essa estratégia mencionada também funciona como uma
estratégia de memorização. A memorização na qual é uma técnica de ensaio bastante discutida
em estudos de preparação para performance e que também será de grande importância para o
estudo com o repertório com técnicas estendidas.
Memorização
tipos de memória: memória visual e memória cinestésica. Enquanto a memória visual gera
suporte para o entendimento das técnicas estendidas apresentadas no decorrer da obra
musical, a memória cinestésica tende a tornar esses movimentos corporais naturais ao
instrumentista. “[...] a memória muscular tem grande importância para a realização da
performance. Essa memória não está ligada apenas aos movimentos técnicos do instrumento,
mas também a movimentos corporais que auxiliam a expressão musical. (Mello e Ray,
2014)”.
No repertório com técnicas estendidas é necessário um grande contato visual entre os
intérpretes devido a esses novos recursos técnicos utilizados. Nesse caso, a memória visual
consequentemente auxilia de maneira significativa esse trabalho. Os gestos corporais são
fundamentais para a realização das técnicas estendidas no sentido em que diversos
movimentos corporais realizados para a execução de tais técnicas não são idiomáticos ao
instrumentista. Assim, esses movimentos podem ser preparados e inseridos dentro da proposta
musical dos intérpretes. Ginsborg (2004) complementa demonstrando que as memórias
visuais, sobre o corpo e também sobre o instrumento, auxiliam de forma significativa na
execução da performance musical.
Além do estímulo das memórias visuais, a memória cinestésica também é muito
importante na preparação do repertório com técnicas estendidas. Traçando um paralelo com
outras atividades como o atletismo ou até mesmo a patinação artística, Williamon (2002) cita
a importância da memorização das sequências de movimentos, esses movimentos nos quais
são cruciais para o bom desempenho do atleta. Durante o estudo, Williamon demonstra que
cada sequência de movimentos deve ser memorizada a fim de auxiliar na execução e também
na perfeição dos movimentos corporais utilizados.
Na música em geral segue-se esse pensamento também, no entanto para o repertório
com técnicas estendidas essa preocupação deve ser levada em maior consideração já que os
movimentos por diversas vezes constituem de formas não naturais ao instrumentista. Na
figura abaixo aparece um exemplo de como algumas sequências de movimentos devem ser
memorizadas a fim de que a execução dos movimentos se torne mais natural.
Figura 2 – Trecho percussivo em sequencia retirado da obra Percussion Studi I de Arthur Kampela
Conclusão
Sempre que é tratado o tema sobre preparação para performance vem a tona quais as
principais técnicas de ensaio devem ser utilizadas para otimizar o ensaio. No entanto foi
demonstrado através de uma pesquisa em andamento que as técnicas de ensaio devem ser
“padronizadas” de acordo com as facilidades e dificuldades de cada intérprete e também em
relação ao repertório no qual será utilizado.
No repertório com técnicas estendidas vimos que devido à dificuldade das técnicas
abordadas na partitura, a leitura se torna um problema sério na preparação da obra e a leitura à
primeira vista acaba excluída do processo. Assim recorremos a dois processos para otimizar o
andamento do ensaio: criação de pontos de apoio/fragmentação da obra e a memorização. Em
relação aos pontos de apoio, a criação desses pontos e a fragmentação auxilia o intérprete no
estudo direcionado de cada frase e ao mesmo tempo na memorização. Em relação à
memorização, destaca-se a memoria visual e cinstésica. Foi demonstrado por autores da área
que a memorização funciona melhor quando relacionado os três tipo de memória, a
memorização aural e as outras duas já citadas. No entanto, para o ensaio com técnicas
estendidas foram utilizadas para a presente pesquisa apenas a visual e cinestésica com a
finalidade de memorizar essas novas técnicas e os movimentos necessários para a realização
das mesmas. Na proposta apresentada, o estímulo desses dois meios de memorização se
mostrou bastante eficaz para a preparação do repertório em questão.
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Performances transformadoras
Performances transformadoras
Sandra Carvalho de Mattos, Caio Abreu Chiarini
Resumo: A performance, vivida por músicos como uma ocasião de estresse, pode ser vivenciada
como um momento transformador, que altera a visão dos participantes em relação a si mesmos. A
performance pode ser experimentada como um tempo particular, feito de um ritmo sensorial. Uma
canção tem o poder de construir um escudo de proteção e definir o performance de outra forma até
então desconhecida. Na performance ocorre algo inusitado: os mundos são transformados. Ganha-
se voz. O lodo transmuda-se em poesia.
Palavras-chaves: performance, música, psicologia
Abstract: Performance is for many musicians a time of stress, but can be experienced as a
transformative moment that change the people views about themselves. The performance may be a
particular time, have a sensory rate. A song has the power to build a shield of protection and give
otherwise so far unknown. Performance occurs in something unusual: the world turns. People have
voice. The slime turned into poetry.
Keywords: performance, music, psychology
tensões e gestos dramáticos, a importância do contato visual, como lidar com os altos
níveis de tensão e estresse. (Sloboda, 2007)
No presente artigo será abordado a face da atuação musical como acontecimento
transformador, tema que percebo como lacuna no estudo da performance. A experiência
da tocar um instrumento em público pode ser totalmente diferente em ambientes fora
das salas de concerto. Para adolescentes em sistema carcerário pode se tornar algo
inusitado. É importante ampliarmos a visão para além da performance técnica das
grandes salas de concerto, e atentarmos para a importância das apresentações inseridas
no cotidiano das aulas, assim como os recitais para pais e pessoas envolvidas no círculo
dos estudantes de música.
A palavra performance tem duas conotações: a de presença física e a de
espetáculo, no sentido de algo a ser visto (Glusberg,2007). A exposição é a tônica das
discussões e cada músico sabe o quanto um concerto é ligado ao estresse. Herbert von
Karajan revela que ao reger pela primeira vez a ópera Tristão e Isolda, ficou de tal
forma exausto que precisou ser levado para casa de ambulância. (Karajan, 1992). Pablo
Casals, que atuava como solista em torno de duzentos e cinquenta concertos anuais,
comenta: “Eu sempre senti uma ansiedade terrível antes das performances” (Casals,
1970, p.105). Tanto grandes intérpretes quanto alunos iniciantes vivem a mesma
ansiedade, mas que pode ser vivida em diferentes formas como veremos a seguir no
relato sobre o projeto desenvolvido na Fundação Casa Itaquera.
O Projeto Guri tem um dos seus braços na Fundação Casa Itaquera, antiga
FEBEM, instituição de internação de jovens infratores. Fundação Casa é uma instituição
para contenção de jovens entre 12 e 18 anos que, em algum momento de suas vidas,
cometeram infração: roubo, latrocínio, fatalidades e principalmente tráfico de drogas.
Os jovens vivem um ambiente pouco habitado pela felicidade. O trato cotidiano é
grosseiro, penoso. O espaço onde habitam não é diferente e isso é percebido assim que
chegamos, mesmo visitantes ou pessoas que trabalham no local.
Todas as portas que dão acesso aos espaços são grades, portas robustas, e sempre
há um ou dois funcionários da segurança postados para abrir e fechar os cadeados. Todo
o ambiente possui pouca iluminação solar. Espaços habitados pela amargura; ali,
separados dos lugares entre parentes e amigos que os reconhecem e os acolhem,
caminho que atravessamos quanto estamos na escuridão. Pode ser o talismã, que
guardado dentro da memória, nos protege durante a travessia. Para que os ambientes de
crise sejam novamente habitáveis, eles necessitam “recuperar toda uma consistência
simbólica, imaginária, lendária, marcos e referências” (Petit,2009,p.96). Os dias corriam
e a música era compartilhada. O que fazíamos não acabava nos ensaios e aulas, e
sabíamos disso.
Quando finalmente chegou o dia da apresentação a emoção toma conta. Tocar ao
vivo é algo inusitado. As famílias estão presentes, e para todos, adolescentes e
familiares, aquele momento torna-se mágico. Se para algumas pessoas prevalece a
descrença, para outras há algo de realmente transformador naquele momento. A emoção
é algo que transborda em pequenos sinais que percebemos imediatamente. Emitimos
sinais constantemente em nossas expressões faciais. Micro movimentos que são
captados imediatamente pelas outras pessoas. Cada emoção apresenta sinais únicos e
ocorre tão rapidamente que nossa consciência não participa ou nota o que aciona a
emoção em nossa mente em um certo momento. Mas sentimos, sabemos o que está
acontecendo. (Ekman, 2011)
A apresentação aconteceu em um sábado, dia de visita familiar. A família para
esses adolescentes é algo de muito valor. É o envolvimento afetivo com quem às vezes
podem contar. Somente o fato de irem até lá é um gesto de afeto, de consideração e
respeito por eles. O afeto é de tal forma vital para nós, que privados dele perdemos o
equilíbrio. Então tocamos um pout pourri com 3 músicas trabalhadas durante o ciclo:
um baião, um reggae e um pagode. Performances são rituais, concebem algo novo
“representam novas aproximações para as atitudes humanas e para as reais
possibilidades de desenvolvimento do corpo e seu meio” (Gluberg,2007,p.123). Ali
ocorre o inusitado: os mundos eram ligados pela arte que transforma o lodo em poesia, a
dor em deslumbramento, o patinho feio virou cisne!
No momento da apresentação você sabe algo que os outros não sabem. Naquele
momento mágico, os meninos já não são os mesmos. Existe algo a mais, além do
anterior, outra imagem é colada à própria imagem. Das bocas saem canções, das mãos
despontam sons muito diferentes do que se imaginava. Mãos que fazem algo belo. Mais
que a agressão ou a dor, eles podem construir a beleza. “Alguém prestou atenção em
mim!” Um grito interno, mudo, pelo fato de naquele momento fazer parte de algo
maior que eles próprios. Não sabemos se eles farão isso pela vida inteira, mas existe
sempre a centelha que permanecerá, e que em algum momento podem retornar a algo
que possuem, ou seja, a habilidade de fazer. Há sempre os paraísos pessoais para onde
retornar.
E no momento final, aplausos! Talvez, pela primeira vez na vida tenham se
sentido importantes e únicos. São reconhecidos. Em sorrisos abertos, sabem que alguém
está lá, e que atônitos, o aplaudem. Instalou-se a possibilidade de controlar a
infelicidade. Enquanto o real nos desespera, o devaneio, a criação constitui um fator de
proteção. As emoções motivam todas as escolhas importantes em nossas vidas. Ela
triunfa sobre o impulso de fome, sobre o impulso sexual, triunfam sobre a vontade de
viver. (Ekman, 2011) A performance, longe de ser um momento de sofrimento e
cobranças pessoais à procura da perfeição, é o instante em que eles são dotados de voz e
de importância. O que segue ao silencio do final não é o berro, não é a culpa, mas a
alegria, a surpresa de capacidades até então não percebidas.
Após o evento a alegria transbordava no olhar dos alunos, no abraço dado por
cada um deles, no aperto de mão. Um momento claro de muita gratidão. Os familiares,
eufóricos, perguntavam sobre a nossa música, sobre o estilo que fazíamos. Outros
falaram que jamais pensariam que seus filhos tocariam algum instrumento. Quando os
pais, parentes e funcionários reagem com reconhecimento da capacidades dos garotos,
da habilidade em fazer algo que é considerado como diferente, como prestígio, como
algo positivo; essa imagem transforma também a visão dos garotos em relação a eles
mesmos, veem-se como portadores de capacidades de transformar a vida, possuem
habilidades até então não encontradas. A competência de algo que cria espanto,
admiração e valorização. “A conotação afetiva dos acontecimentos provém, em grande
medida, das reações emocionais do meio.” (Cyrulnik, 2012,p.123) Há uma reconstrução
coerente de si entre os seus – precioso fator de resiliência.
A estratégia resiliente inicia por caminhos indiretos, e um desses acessos pode
ser a obra de arte. Ela permite que a vítima passe da condição de culpa e humilhação,
para uma categoria de sujeito da obra de imaginação. A violência é deslocada na
produção pessoal e cumpre a função de transformação da realidade vivida. O alívio não
significa que as condições foram esquecidas, que a vivência é apagada, mas que, ao
contrário, remanejaram a ferida para fazer dela uma procura ativa de apoio afetivo e de
transformação. Para Edgar Morin “a vida é uma navegação num oceano de incerteza,
através de arquipélagos de certezas” (Cyrulnik,2012,p.52). Nossa aventura é
completamente desconhecida e não há forma de ser diferente. Cada um de nós vive sua
própria aventura e é para si mesmo a imagem que constrói.
O estudo da performance e seu papel transformador é de grande importância
para alertar às pessoas que trabalham com a música, que a performance além de ser o
momento em que se demonstra as conquistas técnicas exigidas ao músico, é também um
elemento transformador. “A resposta à angústia é a comunhão, a comunidade, o amor, a
participação, a poesia, o jogo...todos esses valores que constituem a própria tessitura da
vida” (Cyrulnik,2012,p.51/52). Quando a performance inicia, surge algo muito singular:
tudo para, estanca, silencia. A pessoa é ouvida, toma voz, se expõe, têm direito à
expressão.
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Resumo: Esse trabalho tem por objetivo discutir conceitos e contextos da musicalidade e da amusia.
A definição de amusia é a dificuldade parcial ou total de perceber os sons melódicos ou rítmicos
gerada por disfunção do processamento neuronal da música. E o conceito de musicalidade adotado
nesse trabalho é a capacidade de geração de sentido através do fazer musical expressivo. Entende-se
que a amusia não é condição antagônica da musicalidade, mas constata-se que ainda há muito por ser
descoberto nessa área. A presente discussão é um recorte de uma pesquisa que busca conhecer as
práticas musicais de músicos com amusia, por meio de usos e funções das tecnologias digitais. Os
resultados parciais esperados são a identificação de músicos com amusia e o mapeamento de recursos
utilizados no contexto das tecnologias digitais, dados que poderão contribuir para a compreensão e o
aperfeiçoamento de estratégias na esfera educativo-musical.
Palavras-chave: Musicalidade, Amusia, Tecnologias Digitais.
Abstract This work aims to discuss concepts and contexts of musicality and amusia, especially
among active musicians, professional or amateur. The definition of amusia is the partial or total
difficulty in seeing the melodic or rhythmic sounds generated by dysfunction of the neural
processing of music. And the definition adopted for musicality in this work is the ability to
generate meaning through expressive music making. It is understood that the amusia is not
antagonistic condition of musicality, but it appears that much remains to be discovered in this
area. This discussion is a part of a research that seeks to understand the musical practices of
musicians with amusia through uses and functions of digital technologies. Partial results expected
are the identification of musicians with amusia and resource mapping used in the context of
digital technologies, data that may contribute to the understanding and improvement strategies in
educational and musical sphere.
Key-words: Musicality, Amusia, Digital Technologies.
“Será que nascemos musicais ou nos tornamos musicais?” – essa indagação feita por
Tafuri (2008, p. 122) e por outros estudiosos do campo da música instigam a discussão
contemporânea sobre musicalidade. Para a autora, a inteligência musical relaciona-se a três
fatores principais: prática musical, sendo aqui mais adequado associar às convivências com a
música a partir das transmissões sociais, idade (no sentido de maturação biológica) e
exercício, que é uma atividade consciente ou espontânea, regular ou eventual, com o objeto
música.
(Cross, 2003; Levitin, 2006; Sloboda, 2008; Alossa & Castelli, 2009; Levitin e Tirovola,
2009; Huron, 2012). A tendência atual é o crescente interesse na linha evolutiva das origens
da música e as comparações de música e linguagem, segundo Levitin e Tirovola (2009).
A musicalidade é considerada uma característica humana, ou seja, todos nós
nascemos com os mecanismos necessários para desenvolvê-la (Blacking, 1973, 1995;
Maffioletti, 2001; Sloboda, 2008; Cross, 2011). Como explica Sloboda (2008, p. 25),
assim como a linguagem, as características musicais podem ser “[...] universais para todos
os seres humanos e específicas dos seres humanos”. Para ele, isso significa dizer que os
seres humanos possuem condição natural de adquirir competências nos âmbitos
linguísticos e musicais.
Sacks (2007) afirma que a música engaja o cérebro de forma tão significativa, a ponto
de modificá-lo, ampliando morfologicamente determinadas regiões de maneira visível:
Estudos com imagens do cérebro já comprovaram a ampliação de determinadas
regiões no cérebro de músicos. Vendo imagens de cérebros, não dá para dizer quem
é matemático ou escritor. Mas dá para dizer facilmente quem é músico quando essas
estruturas ampliadas aparecem. (SACKS, 2007).
Como explica Levitin (2010), uma atividade de pouco valor adaptativo não possui
grande chance de ser praticada durante um longo período na história da espécie ou ainda de
engajar parte do tempo e energia dos indivíduos de maneira relevante. Conforme afirma: “Os
registros arqueológicos mostram um histórico ininterrupto de criação musical onde quer que
houvessem seres humanos, em todas as eras” (Levitin, 2010, p. 299). Esse pensamento
corrobora o argumento que “[...] nós todos somos musicais, que todo o ser humano tem uma
garantia social e biológica de musicalidade [...]” (Hargreaves, 2004, p. 15).
Feita essa breve reflexão, é possível afirmar que o ser humano pode ser considerado
um ser musical, por nascer com mecanismos necessários para o desenvolvimento da sua
musicalidade, assim como para a linguagem. É o ambiente social, no entanto, que moldará a
sua musicalidade. Considerando, portanto, a musicalidade como uma característica
humana, como explicar que a amusia ocorra em 4% da população? (PERETZ et al., 2002).
de discriminar notas sucessivas, não conseguiu reconhecer melodias familiares, exibindo uma
indiferença geral para a música.
Como explicam Levitin e Tirovolas (2009), o termo amusia é geralmente aplicado a
indivíduos com um suposto déficit em um ou mais aspectos do processamento de música. A
amusia, quando suscitada por certas lesões no córtex auditivo, é classificada como adquirida,
enquanto a congênita pode manifestar-se ao longo da vida e é caracterizada por uma
dificuldade em perceber ou produzir música, mesmo que a inteligência, linguagem e a
audição estejam preservadas/normais (Peretz et al. 2002; Levitin & Tirovolas, 2009; Moreau,
Jolicoeur, Peretz, 2013).
A amusia consiste em uma disfunção ligada ao processamento musical, mais
especificamente aos aspectos da percepção do ritmo ou da melodia ou produção de música
e, mais raramente, em dificuldades manifestadas na leitura ou grafia musical. Pode ser
ocasionada por lesão ou possuir natureza congênita, e é nesse segundo tipo sobre o qual a
presente investigação focará a análise. Há indícios de que a amusia possua componentes
hereditários, especialmente no que concerne ao déficit da percepção da frequência
musical, conforme pesquisa de Peretz, Cummings e Dubé. (2007). Os pesquisadores
corroboram a ideia de que o ser humano nasce com o potencial para fazer música e falar
deduzindo, portanto, que tanto a capacidade do aparato neurológico para a música quanto
para a linguagem foi codificada pelo genoma (Peretz, Cummings e Dubé, 2007).
Tanto a amusia adquirida quanto a congênita pode ocorrer em grau leve e até
imperceptível para o sujeito, ou gerar um distúrbio altamente seletivo de percepção e
interpretação musical (Peretz et al., 2002).
No entanto, Sacks (2007) menciona casos de amusia em grau severo que, mesmo
nessas condições, não impediram seus portadores de praticar música, inclusive
profissionalmente. Segundo suas palavras:
Até mesmo pessoas com surdez grave podem ter musicalidade inata. Muitos surdos
adoram música e são acentuadamente responsivos ao ritmo, que sentem como
vibrações, e não como som.1 A aclamada percussionista Evelyn Glennie tem surdez
grave desde os doze anos de idade. (SACKS, 2007, p. 101)
Sentem como ritmo (durações diferentes, combinações entre curto-longo, por meio da vibração do ar), mas não
como notas melódicas (frequência em Hertz).
De acordo com Peretz (2003) a amusia surge como uma nova classe de dificuldades
de aprendizagem em domínio específico do campo do processamento neuronal da música.
Supõe-se que indivíduos portadores de amusia congênita nascem sem elementos essenciais
para o pleno desenvolvimento de um sistema para a música e isso parece resultar, em graus
diferentes e pelo menos em alguns casos, um problema mais elementar que faz com que o
indivíduo seja incapaz de ouvir variações relevantes de afinação.
Embora a amusia congênita se configure como um transtorno da aprendizagem
musical que surge precocemente e segue ao longo da vida, conforme Sloboda, Wise e Peretz
(2005 apud NUNES-SILVA, 2010), não há problema neurológico ou cognitivo associado.
Ou seja, ser portador de amusia não significa, em medida alguma, que haja qualquer tipo de
problema de entendimento e de raciocínio geral, como a compreensão das regras lógicas.
Esse é um importante argumento que será retomado na metodologia, como forma de cativar
músicos profissionais ou amadores para o presente estudo.
Embora Peretz et al. (2007) terem descoberto evidências inatas e hereditárias para
a disfunção de natureza congênita, as pesquisas sobre o impacto da música na plasticidade
neuronal indicam haver significativas mudanças positivas após a prática musical
orientada.
Considerações finais
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ZATORRE, R.J. The Food of Neuroscience? Practically Every Cognitive. Nature, London, v. 434, p. 312-315,
march 2005.
Introdução
dois a seis anos, desenvolvido por Parizzi et al (2013); (2) das principais características
apresentadas por crianças autistas (Crespin, 2007); (3) do desenvolvimento musical esperado
aos três anos, a partir dos assuntos normalmente priorizados em aulas de música para esta
faixa etária (Kenney, 2008; Parizzi et al, 2013). Assim, foi criado o Protocolo de Avaliação do
Desenvolvimento Musical de Crianças com TEA, o qual foi testado por um grupo de três
jurados, que confrontaram o comportamento musical das duas crianças nas aulas de música
iniciais e finais.
O resultado revelou importantes características do trabalho desenvolvido. Houve um
significativo desenvolvimento musical das crianças a partir do trabalho realizado, sendo este
confirmado pelo protocolo. Foi observado também que tal desenvolvimento musical
repercutiu no desenvolvimento geral das crianças.
Regulação temporal
Andamento
Timbre
Planos de altura
Movimento sonoro
Intensidade
Som/silencio
Vocalizações
Espontâneas
Induzidas
Gestos
Estereotipados
Espontâneos
Rítmicos
Imitação
Corporal
Instrumental
Interação
Professor
Pais
Colegas
Instrumentos
Figura 1 - Protocolo de avaliação do desenvolvimento musical de crianças com TEA
que a maior dificuldade dos indivíduos com TEA consiste na utilização da linguagem verbal
de uma forma socialmente compreensível. É comum a presença de gestos e movimentos
incompreensíveis aos demais. A auto expressão da criança portadora de TEA existe, porém de
uma forma singular (Gattino, 2009; Crespin, 2007). Nesta seção o objetivo foi avaliar se a
criança executa vocalizações espontâneas ou induzidas pelo professor durante as aulas.
Os maneirismos foram tratados na seção Gestos do Protocolo. Aqui a dificuldade
consiste na não adequação do individuo autista aos comportamentos socialmente aceitáveis. É
comum haver relutância a mudanças, apego a certas rotinas, fascinação por determinados
objetos, execução de movimentos estereotipados etc. (Gattino, 2009). Assim, na terceira seção
do protocolo, os gestos da criança foram identificados como estereotipados, espontâneos
(movimentação livre pela sala de aula) ou rítmicos (como palmas, balanceios do corpo, pés ou
braços a partir da audição de obras musicais ou do canto).
As relações sociais foram contempladas nas duas últimas seções do Protocolo -
Imitação e Interação - considerando que uma das maiores dificuldades da criança com
autismo consiste no estabelecimento de uma relação com o outro. O que se observa é que há
pouco contato visual com os interlocutores, rejeição por atividades em grupo, limitações na
expressão de sentimentos e falta de empatia social e/ou emocional (Gabbard et al, 2012).
Logo, nesta seção do protocolo, buscou-se verificar se a criança é capaz de imitar com corpo
e/ou instrumentos musicais seu professor e/ou seus colegas. Por fim, na quinta seção foi
avaliado o nível de interação da criança com o professor, com os pais, caso estejam presentes
na aula, com os colegas e com os instrumentos musicais.
Conclusão
educação musical tem trazido importante contribuição não apenas para o desenvolvimento
musical dessas crianças como também para seu desenvolvimento geral, o que tem sido
confirmado pelos profissionais da saúde que com elas atuam. Este fato reforça a relevância
deste protocolo e de outras iniciativas que possam trazer benefícios a crianças com autismo
bem como às suas famílias.
Referências
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Kenney, S. (2008). Birth to six: Music behaviors and how to nurture them. General Music
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Parizzi, M.B. et al. (2013). Música para a saúde do bebê. III Seminário Internacional sobre o
Bebê, Paris.
Resumo: Este trabalho apresenta um estudo bibliográfico das funções musicais e operações mentais
multimodais em pessoas com epilepsia e modelo de cognição musical. Os dados bibliográficos foram
coletados na PubMed, na Biblioteca Virtual em Saúde e Revista Brasileira de Musicoterapia com os
descritores: processos cognitivos, funções auditivas, epilepsia e musicoterapia. Este artigo tem por
objetivo apresentar as capacidades musicais de pessoas com epilepsia o e processamento musical
descrito por Koelsch (2005, 2011) até a Gestalt auditiva. Estabelecer uma discussão sobre o modelo
de cognição musical e as funções musicais mostrando a importância desses conhecimentos para o
trabalho musicoterápico na reabilitação neurológica. Os resultados demonstram que paciente com
epilepsia temporal do lado esquerdo têm perdas da capacidade de identificação de melodias e do lado
direito têm perdas na capacidade de identificação de emoções com a música. Esse estudo sobre o
processamento da audição em pessoas com epilepsia vem colaborar com a demanda de pesquisas na
área da musicoterapia como tratamento.
Palavras-chave: modelo de cognição, funções musicais, epilepsia, musicoterapia.
Cognition models can contribute to the music therapy in neurological rehabilitation work.
Abstract: This paper presents a bibliographic study of musical functions and multimodal mental
operations in people with epilepsy and model of music cognition. Bibliographic data were collected in
PubMed, the Virtual Health Library and Journal of Music Therapy with the descriptors: cognitive
processes, auditory function, epilepsy and music therapy. This article aims to present the musical
abilities of people with epilepsy and the music processing described by Koelsch (2005, 2011) to the
auditory Gestalt. Establish a discussion of the musical cognition model and musical functions showing
the importance of this knowledge to the music therapy work in neurological rehabilitation. The results
show that patients with left temporal epilepsy have losses of melodies identification ability and right
have losses in the ability to identify emotions with music. This study on auditory processing in people
with epilepsy collaborates in the grounds of the application of music therapy as a treatment.
Key-words: cognition model, musical functions, epilepsy, music therapy.
Introdução
direito (HD) e hemisfério esquerdo (HE), em que as crises epiléticas põem em evidência o
mecanismo de funcionamento das áreas cerebrais, possibilitando o estabelecimento de uma
relação entre determinadas alterações do comportamento e as funções psíquicas.
Desta forma, esses autores e suas pesquisas que trazem explicações sobre o mecanismo
de percepção auditiva têm contribuído com a área médica e com áreas da saúde que trabalham
na reabilitação neurológica como a musicoterapia. Nas primeiras publicações de Gaston (1964
e 1968) têm-se o registro da importância de estudos do cérebro. Para esse autor a estética da
música vinha ao encontro de explicações biológicas para o interesse do homem pela música.
Em meados de 1990, Michael Thaut sistematizou a proposta por ele denominada
Musicoterapia Neurológica, com uma premissa básica: ao empregar atividades musicais
acionam-se as áreas não musicais. Esse autor a define como: “aplicação terapêutica da música
para estimular mudanças nas áreas cognitivas, motoras e de linguagem após doença
neurológica”. (Moreira et al, 2012).
Na prática clínica da musicoterapia neurológica, existe a possibilidade de novos
resultados com a práxis da musicoterapia, pois pode ser considerada a capacidade de aprender
e reaprender de cada pessoa. Aprender pelas atividades musicais as competências não
propriamente musicais. Os programas de neuroreabilitação com a música usam de atividades
rítmicas, melódicas e de movimento com células rítmicas e ou melódicas algumas vezes
separadamente. Com bases na musicoterapia neurológica, confirmou-se a importância do
conhecimento de modelo de cognição musical para a construção e entendimento das
intervenções musicoterapêuticas com essa clientela.
O modelo apresentado nesse trabalho foi desenvolvido por Koelsch (2005, 2011) para
entendimento das relações entre a fala e o canto. Desta forma questionamos como pessoas
com epilepsia processam a experiência musical? Todas as etapas hierárquicas descritas por
Koelsch podem acontecer com esse público? Os objetivos aqui são: buscar na literatura os
estudos descritivos das capacidades musicais de pessoas com epilepsia, apresentar o modelo
cognitivo de Stefan Koelsch e investigar relações com os estudos realizados com portadores
de epilepsia desenvolvidos por Correia (1998), Maguire (2012) e Ppap et al.(2012).
Os estudos das funções musicais e a observação do processo de cognição musical de
pessoas com epilepsia de difícil controle pode colaborar com na reabilitação através de
atividades musicoterapêuticas com esses pacientes. Com isso, busca-se observar a experiência
com sons e musica das vias fisiológicas auditivas ao córtex auditivo, pois esse rápido
processo leva o paciente a reconhecer os sons, as músicas, a fazer relações com
acontecimentos vividos, com as expectativas e desejos.
Figura 01- Modelo de Cognição Musical Koelsch, 2011.
O modelo que ele desenvolveu apresenta itens partindo da percepção da fonte sonora
com identificação dos sons, ativação da memória sensorial auditiva; segue para a percepção
de diferenças sonoras quanto à intensidade e frequencia (notas musicais e contornos
melódicos); até a ativação do sistema sensoriomotor. Esse sistema leva em consideração
elementos da emoção e significação como partes necessárias para o fechamento da Gestalt
auditiva.
Essas etapas foram mapeadas através de testes realizados com pessoas com o
conhecimento musical e sem o conhecimento musical. Os testes realizados descritos no
modelo cognitivo são: ABR, audiometria do tronco encefálico; BA, área de
Brodmann; ERAN, início direito anterior negativo; FFR, resposta à frequência imediata; LPC,
último componente positivo; MLC, componente de latência média; MMN, Potenciais
Auditivos de Curta e Longa Latência; RATN, negatividade direita anterior-temporal; RCZ,
zona cingulado rostral; SMA, a área motora suplementar.
Com os estudos realizados por Koelsch (2005, 2011), foi possível compreender melhor
que no córtex auditivo as informações mais específicas sobre características acústicas I e II,
tais como altura, cromatismo, timbre, intensidade e rugosidade, são construídas com o efeito
do treinamento musical, mas os detalhes sobre, como e onde esses recursos são extraídos no
córtex auditivo, ainda não são bem compreendidos. O autor cita os estudos de Zatorre (1988)
e Whitfield (1980) que sugerem que o tronco cerebral ou a membrana basilar e o Cortex
Auditivo desempenham o papel mais importante para a transformação das características
acústicas em percepções auditivas, em relação com a transformação de informações sobre as
A autora demonstra (figura 02) o resultado dos processos apresentados em 50% ou mais
dos estudos. Os círculos coloridos correspondem a uma função particular na região e os
tamanhos demonstram uma escala de proporções da função implicada nos processos de
percepção da afinação, tempo, memória e emoção musical em pessoas com epilepsia.
Figura 02- Música e Epilepsia. As sigla correspondem:Amyg, amígdala; AStG, giro-ânterior-superior-temporal ;
bg, gânglios basais; cc, corpus caloso; fr, frontal; hc, hipocampo; HG, giro de Heschl; ic, colículos inferior; i,
inferior; ins, insula; l, lateral; m, medial; Thal, tálamo; PT, plano temporal; TG, giro temporais. verde
(reconhecimento –familiar, e nova aprendizagem), vermelho (emoção), Azul claro (intervalos), azul escuro
(curva melódica), roxo (estrutura tonal), amarelo (timbre), violeta claro (intervalo de tempo) e violeta escuro
(ritmo) (Maguire, 2012, p. 949,)
Metodologia
Um estudo bibliográfico com coleta de dados na PubMed, Biblioteca Virtual em
Saúde e Revista Brasileira de Musicoterapia com os descritores: processos cognitivos, sistema
auditivo, epilepsia e Musicoterapia.
Resultados
As publicações sobre música e ‘epilepsia do lobo temporal (ELT)’ são vastas. Algumas
das estruturas envolvidas nas funções musicais presentes no lobo esquerdo e outras no lobo
direito para não músicos, estão no lobo temporal. Para músicos essas funções envolvem
outras parte do cérebro. O entendimento das etapas do processo auditivo (estrutura e função
no processo), e, os estudos da lateralização musical são importantes na identificação dos
Referências:
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Filomena Anelli
University of Bologna
Simone Romagnoli
University of Bologna
Abstract: In this article, we introduce the MIROR Focus Group carried out in the framework of
the European project MIROR-Musical Interaction Relying On Reflexion, with university
students undergoing teacher education (nursery, kindergarten and primary school). The MIROR
Focus Group was carried out with the specific aim to investigate teachers’ conceptions regarding
the novel pedagogical paradigm of “reflexive interaction”. This paradigm explores the idea of
letting users manipulate virtual copies of themselves, through specifically developed software
called interactive reflexive musical systems. We aimed to extrapolate the social representations
held by the participants about reflexive interaction, children’s music education and educational
technologies, and develop more specific hypotheses concerning how the MIROR technologies
can be used in the context of music education for teachers and teacher education. First, we
present the aims of the MIROR focus group and then the method, the data analysis and some
results. We end the article by presenting the discussion and the conclusions.
Key-words: reflexive interaction pedagogy, MIROR platform, teachers’ social representations,
teachers’ education, music education for teachers.
Introduction
The MIROR Focus Group is part of the research design of the European project
MIROR-Musical Interaction Relying on Reflexion (ICT-FP7). The project deals with the
implementation of a novel device for children’s music and dance education, called the
MIROR Platform, based on the paradigm of “reflexive interaction” (Addessi, 2014; 2011;
Pachet, 2006). The MIROR Focus Group was carried out with the specific aim to investigate
Aims
The focus group is a qualitative methodology that is not intended to provide definitive
answers to questions (Acocella, 2008; Frisina, 2010; Greenbaum, 1998). This methodology
was considered useful at this stage of the MIROR project to collect a series of inputs in
order to extrapolate the educational conceptions and social representations (Moscovici,
1981; Addessi & Cardoso, 2011) held by a group of university students undergoing teacher
education, relating to the MIROR platform and reflexive interaction, to gather ideas and
develop more specific hypotheses that can be investigated in a more systematic way, for
example how the MIROR platform can be used in the context of music education for
teachers and teacher education.
Method
The participants
Nine university students from the undergraduate course for "Educator in Childhood
Services" and the master course for "Teacher in Kindergarten and Primary School" took part
in the focus group. All participants attended the Music Education course between November
2012 and February 2013, held by the moderator of the focus group. The participants were
chosen on the basis of their current university studies and future professional role (general
teacher in nursery, kindergarten and primary school) and not on the basis of type of person.
During the Music Education course the participants acquired some basic knowledge about
the MIROR project, reflexive interaction and technology in music education. The
participants were volunteers and were invited to attend the MIROR focus group at the end of
the Music Education course. The socio-biographic data were collected for each participant
by interview and questionnaire. The research team consisted of one moderator (research
leader and professor of the Music Education course) and two observers (post-doc MIROR
project research fellows).
Procedure
Nine meetings were held, from March to May 2013. Each meeting included: Welcome
(15’) + (Exordium, Stimulus and Discussion, Conclusion, Ending questions (90’) + informal
coffee-break/debriefing (30’). The meetings were led by the moderator, and an observer/
assistant took notes and proposed the final synthesis. At the end of each meeting all
participants defined a list of salient issues. The participants were informed about the aims of
the MIROR project and the focus group, their role and the role of the moderator and the
observer. They were invited to express their personal opinions about several topics related to
the MIROR research. During the meetings, several moderating techniques and stimuli were
used in order to stimulate and lead the conversation: reading papers, videos of children
interacting with the MIROR-Impro, one of the 3 applications of the MIROR platform
(Pachet, Roy, & Barbieri, 2011), practical work with the MIROR-Impro, sentence
completions, list compilation etc.. The meetings were audio and video recorded. Each
meeting was followed by an informal coffee-break/debriefing. The debriefing was made by
the moderator with the observer/assistant: the debriefings were audio recorded. The
meetings were carried out at the Department of Music, University of Bologna, in different
environments: open space, informatic laboratory, MIROR Studio. See Figure 1 for examples
of settings.
1a 1b
Figure 1. Setting of meetings 6 (1a) and 8 (1b).
Synthesis of the meetings
- MEETING 1: Welcome: presentation of the participants (including the moderator and the observers), their
roles, introduction to the MIROR Project, aims of the focus group. Administrative matters (consent form, etc.).
Stimulus: the moderator invited the participants to express their opinion about music education, children and
technology in compulsory school. Salient issues: technologies and learning processes in children; role of
teacher/adult in child-computer interaction and development of technologies; creativity and technology; music
technology and the MIROR Platform; technology and rehabilitation.
- MEETING 2: Exordium: synthesis of the previous meeting. Stimulus: Topics proposed to be discussed:
technology, music and education; Questions: What is your experience in technology and music? What do you
mean by the word “music”? Salient issues: technology and rehabilitation settings in the educational context;
difficulty of the teacher and parents related to using technology; risks associated with the use of technology;
the technology as a tool for sharing; greater predisposition to technology of today's children than in the past;
need to understand how to develop the technologies; the link between technology-creativity-music.
- MEETING 3: Exordium: synthesis of the previous meeting. Stimulus: Questions: what are the aims of the use
of technology in music education in compulsory school? What do the children do? Topic: teacher education in
new technology. Salient issues: aim of the use of technology in music in the primary school context; aims of
music education; education of teachers in the use of technology and use of technology for teacher education;
technologies and music development; technology-child-teacher relationship; age and related differences in the
use of technologies.
- MEETING 4: Exordium: synthesis of the previous meeting. Stimulus: discussion about 2 articles related to
the MIROR project: what are the aims of the MIROR project? What is reflexive interaction? How does
technology work within the reflexive environment? What is the educational potential of reflexive interaction?
Salient issues: reflexive interaction and how this paradigm is linked to the MIROR project; child-mother
reflexive interaction; reflexive interaction and mirror neurons; how reflexive technology can help the teacher to
change his/her way of teaching; educating to listen and understand, without setting aside the teacher’s tutoring.
- MEETING 5: Exordium: synthesis of the previous meeting; introduction to the experimental activities of the
MIROR project. Stimulus: Discussion about 2 articles related to the pedagogical activities with the MIROR
platform. Salient issues: how much the child's abilities are deepened through the interaction with IRMS;
considering the child-machine interaction in a more complex dynamic; flow and attention processes; how the
acquisition of competences develops in relation to reflexive technology; difference compared to traditional
tools; the role of technology in teacher education; limits of the IRMS; learning, pedagogical context and role of
the teacher.
- MEETING 6: Exordium: synthesis of the previous meeting, preparation and introduction to the MIROR-
Impro. Stimulus: practical work with the MIROR-Impro; alone and in pairs (see Figure 1a). Salient issues:
interaction with the system, styles of interaction of the participants; how the interaction with the system affect
the interaction among participants during the interaction in pairs; how the replies of the system help the pair to
co-regulate each other; several ways to elaborate musical ideas arising from the interaction with the system.
- MEETING 7: Exordium: synthesis of the previous meeting, preparation and introduction to the MIROR-
Impro. Stimulus: practical work with the MIROR-Impro; alone and in pairs. Salient issues: interaction with the
system, styles of interaction of the participants; how the interaction with the system affects the interaction
among the participants, during the interaction in pairs; how the replies of the system help the pair to co-
regulate each other, several ways to elaborate musical ideas arising from the interaction with the system.
- MEETING 8: Exordium: synthesis of the previous meeting. Stimulus: Observation of video of child
interacting with MIROR-Impro (see Figure 1b); list compilation: child’s gestures to produce sound, musical
ideas, child’s listening, child-machine dialogue. Salient issues: analysis of how the child interacts with the
MIROR-Impro; different feelings that the child conveys through the video; considerations on child-machine
interaction, musical experience, musical learning; gestures to produce sounds; musical ideas; listening; child-
machine interaction.
- MEETING 9: Exordium: synthesis of the previous meeting. Stimulus: Observation of videos of 7 and 2 y.o.
children interacting with MIROR-Impro; list compilations: pedagogical practices with MIROR-Impro; how
MIROR-Impro can be used for teacher education. Salient issues: analysis of dialogue between the child and the
MIROR-Impro; educational practices with the MIROR-Impro; proposals on how to use the MIROR-Impro in
teacher education.
Data analysis
For each focus group we collected the following data: video recordings, audio
recordings, syntheses of the discussed topics, notes, and list of key-ideas (by the observer),
completed lists (by the participants), questionnaires (participants), notes (by the moderator).
For each debriefing (moderator + observer): audio recordings. Firstly, the focus group
discussions were transcribed. The automated content analysis (qualitative and quantitative
analysis) by means of a specific software (T-Lab, version 8.1.3, Lancia, 2011) was made
with the aim to highlight the students’ conceptions and social representations of music
education, music education and technology, reflexive interaction, role of the teacher,
MIROR platform, reflexive learning strategies, teacher education.
Results
In this section we report some preliminary results of the automated content analysis.
More precisely, Concept mapping and Correspondence analysis were performed for each
meeting.
Correspondence analysis
In this section we report the correspondence analysis using the “meeting” as variable.
Correspondence analysis is a factorial statistical technique whose aim is to reduce the
dimensionality of the data space in order to find hidden latent structures, the factors. Once
the factors have been extracted it is possible to study the relation characterizing the elements
constituting the table. Figures 2a/b/c show the graphical representations of the distribution
of the values for each factor analysed.
2a 2b 2c
Figure 2. Graphical representation of the distribution of the values for factor 1 (2a), factor 2 (2b), and factor 3
(2c).
Figure 2a_Factor 1: meetings 1, 2, 3, 4, and 5 are shown at one extreme (top right)
and meetings 6, 7, 8, and 9 at the other (bottom left). As meetings 6, 7, 8, and 9 were
devoted to practical work with MIROR-Impro and the observation of videos of children
interacting with MIROR-Impro, it could be said that the use of MIROR-Impro and the
observation of child-Impro interaction was a determinant factor for the participants, which
effected a turning point in the vocabulary and conceptions discussed during the focus group.
Figure 2b_Factor 2: in the centre we find meeting 9, which represents the final
moment of summary of all the meetings. We can observe that meetings 1 and 8 are shown at
one extreme (top right), near to meetings 2 and 3, and meeting 4 at the other (bottom left),
near to meetings 5, 6, and 7. It could be said that the observation of a child interacting with
MIROR-Impro during meeting 8 raised several issues correlated with the issues of meetings
1, 2, and 3, that is to say technology and children's (music) education. Instead meetings 4, 5,
6, and 7 focused on the issue of the reflexive interaction paradigm, through the discussion of
articles (4 and 5) and practical work with the system (6 and 7).
Figure 2c_Factor 3: in this figure it is possible to see meetings 4, 5 (discussion of the
articles), and 8 (observation of child-MIROR interaction) at one extreme, and 6 and 7
(practical work with MIROR-Impro) at the other. It could be said that the participants
separate their personal experience with the MIROR-Impro from the experience of
observation of child-machine interaction. The observation of child-machine interaction is
correlated with the discussion about the papers (meetings 4 and 5). In the centre there are
meetings 1, 3 (general discussion), and 9 (pedagogical practice with MIROR, teacher
education with MIROR), which represent the final moment of summary of all meetings.
taken into account in planning teachers’ educational courses supported by the MIROR
applications.
The next steps will be to analyse the key-ideas of participants emerging during the
focus group related to the salient issues, the lists made by the participants about the child’s
gestures to produce sound, musical ideas, the child’s listening, child-machine dialogue, the
lists made by the participants about pedagogical practices with MIROR-Impro, in the
nursery, kindergarten and primary school. We will then analyse the List made by the
participants concerning the question: how the MIROR-Impro can be used for teacher
education, and what the teacher can learn by using the MIROR systems (musical and
professional competences, child-machine interaction, child musical development, child-
teacher interaction, child creativity, MIROR systems in the classroom). These findings will
be further discussed in order to prepare the MIROR Platform Teacher's Guide, to plan
teacher education courses with the MIROR Platform, and to develop more specific
hypotheses about reflexive pedagogy and music teachers’ education that can be investigated
by means of a controlled procedure.
Note on the Authors: The first Author was the principal investigator and research leader and wrote this article.
The second Author collaborated as observer and assistant researcher during the focus group and data analysis.
The third Author collaborated as assistant researcher and carried out the analysis with the T-Lab software.
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Guilherme Bertissolo
Programa de Pós-Graduação em Música/Universidade Federal da Bahia
[email protected]
Resumo: Nesse artigo enfocarei duas abordagens sobre a articulação entre música e movimento,
uma pelo viés da memória e outra na perspectiva da chamada neurociência da música, com vistas a
oferecer um entendimento sobre duas possíveis abordagens teóricas.
Palavras-chave: Movimento em música, Memória, Neurociência da Música.
Title: Music and motion: considerations about memory and neuroscience of music
Abstract: In this paper I shall focus some approaches to the articulation between music and
motion, first through the idea of memory and, on the other hand, under the notion of neuroscience
of music, in order to expose two diferent theoretical approaches.
Key-words: Motion in music, Memory, Neuroscience of music
tão básicos para a nossa ideia de como o mundo funciona que são usados não apenas
literalmente, mas também metaforicamente para representar muitos outros tipos de ideias,
mais abstratos”. A relação entre a metáfora e a conceituação, para o autor, têm explicação em
recentes descobertas na neurociência:
crucial para as etapas iniciais do desenvolvimento humano? Por que se argumenta que todos
os humanos virtualmente compartilham certas capacidades musicais? O que pode a música
fazer para o desenvolvimento do cérebro? (p. 294). A autora apresenta respostas e insights
para essas questões em quatro diferentes perspectivas.
Primeiramente, sob a égide das teorias evolucionistas e sob os pressupostos biológicos,
a autora tece comentários sobre a importância da sincronização de movimentos com a música
na experiência humana, desde a relação entre mãe e filho na primeira infância, até um estudo
experimental realizado na Jamaica que demostrou influência entre escolha de parceiros e
capacidades musicais e em dança em um grupo adultos (p. 295). A autora menciona a recente
proposição de que a música, nesse contexto, não é um produto direto da seleção natural, mas
algo relacionado à invenção, tendo sido desenvolvida pela motivação do desejo e não como
uma condição de sobrevivência (p. 296).
Uma segunda perspectiva diz respeito à percepção de pulso e sincronização de
movimentos. A autora apresenta um interessante paradoxo relacionado aos ritmos sincopados
que, ao inserirem pausas em tempos fortes e operarem deslocamentos nos acentos,
ironicamente acabam por representar uma forte sensação de sentimento de pulso. Há aqui uma
discussão sobre resultados de pesquisas empíricas que comprovaram o reconhecimento de
padrões de pulso e a capacidade de reconhecimento de métrica musical e impulsos sonoros
simples, onde a sincronização é um aspecto importante no entendimento. Nota-se um esforço
em entender as regiões do cérebro afetadas no reconhecimento de pulsos e na habilidade de
sincronização entre os movimentos corporais a esses estímulos. Um interessante estudo com
um casal de bailarinos de tango avaliou três componentes centrais na relação entre a música e
a dança e constatou diferentes zonas de ativação do cérebro ao interferir na interação entre
música e movimento em cada um deles: acompanhamento à música (entrainment to music),
onde foram testadas zonas de ativação do cérebro do casal ao realizar os passos com e sem o
estímulo musical apropriado; métrica musical (musical meter), onde os bailarinos
primeiramente dançaram com a música de tango adequada e posteriormente, com versões
editadas da mesma música, com acelerações e desacelerações aleatórias que tornaram a
métrica irregular e imprevisível; e, finalmente padrões espaciais do movimento dos pés
(spatial patterning of foot movement), onde são comparados as zonas de ativação ao dançar o
tango regularmente, com um segundo caso, em que se manteve a métrica musical e os
movimentos das pernas, mas com a instrução de não se realizar os deslocamentos no espaço.
Uma importante consideração ainda nessa perspectiva é a descoberta, segundo a autora uma
das mais importantes no domínio do processamento cerebral da informação do pulso musical,
é de que os sistemas de audição e sensório-motor são integrados na percepção e entendimento
musicais (p. 300).
Essa assertiva reforça de maneira contundente a ideia de que o entendimento, o
significado e a conceituação musicais são diretamente influenciados pelos domínios da
experiência corporal cotidiana, refletidas nos esquemas metafórico-musicais descritos por
Brower (2000) e assumidos como pressupostos por esse corpus teórico.
Na terceira perspectiva é veiculada pela égide do desenvolvimento infantil, a partir de
experiências de reconhecimento de padrões métricos e pulsos musicais em crianças. A autora
descreve algumas pesquisas empíricas nesse sentido. Destaquemos a realizada pela própria
autora, que testou o interesse de crianças de sete meses de idade submetidas a padrões
musicais (p. 304). Primeiramente, os bebês foram submetidos a um padrão musical ambíguo,
não acentuado, tocado durante dois minutos. Após isso, as crianças foram divididas em dois
grupos e submetidas a estímulos de movimento, sendo balançadas por adultos em dois e de
três tempos, de maneira a emular um sentimento de pulso. As crianças foram pois, submetidas
a duas versões de um padrão rítmico, uma binária e outra ternária, e testadas por um método
de medição de interesse. A única diferença entre os dois grupos foi o movimento aos quais
foram submetidos. O resultado foi, em variadas ocasiões e em diferentes contextos, uma
maior medida de interesse nos padrões rítmicos familiares, ou seja, aos quais eles haviam sido
previamente submetidos: crianças submetidas a movimentos em dois tempos demostraram
interesse maior nos padrões binários e as que foram movimentadas em três tempos, no padrão
ternário. Resultados semelhantes foram obtidos com adultos, submetidos a movimentos em
gangorras, de maneira a sugerir, segundo a autora, que “música não é apenas o que nos faz
mover, mas a maneira como nos movemos molda o que nós ouvimos” (p. 305). Ou seja, nossa
percepção musical é um processo multissensorial e estruturas de entendimento musical
surgem do movimento (p. 305).
Finalmente, a quarta perspectiva aborda a neuropsicologia, em especial em relação à
amusia (ou seja, sem música), uma anomalia congênita que atinge 4% população mundial,
onde um indivíduo é incapaz de reconhecer uma melodia ou padrões melódicos. Uma pessoa
portadora de amusia processa o sinal acústico da mesma forma de uma pessoa que não possui
a anomalia, entretanto, o cérebro não processa a informação da mesma forma (p. 307). Um
fato curioso é que a amusia não afeta a capacidade de percepção métrica, de modo que em
diversas culturas, onde o ritmo é tão ou mais importante do que o domínio das alturas, não é
possível afirmar que uma pessoa portadora de amusia seja destituída de entendimento
musical. Uma importante consideração mobilizada aqui é a de que a “pesquisas recentes em
neuropsicologia e neurociência estão mostrando evidências para sustentar a ideia de que
somos todos comumente musicais, mas que raros casos de distúrbios musicais existem” (p.
309).
A principal contribuição desse artigo no domínio dessa pesquisa é o reconhecimento e
legitimação da complexa e intricada interação dinâmica entre música e movimento para os
processos de significação musical e construção de estruturas de conhecimento, sob o ponto de
vista do desenvolvimento e zonas de ativação do cérebro. A descoberta de que sistemas de
audição e sensório-motores são integrados nas habilidades de reconhecimento de padrões
rítmicos e de sincronização, assim como as evidências de que conceituamos e entendemos
música a partir do movimento, demostram a pertinência da consideração da interação entre
música e movimento para a criação musical.
Em minha abordagem na pesquisa de doutorado (Bertissolo 2013a), formulei um
arcabouço conceitual oriundo da experiência para a relação entre música e movimento no
contexto da Capoeira Regional, onde não há a separação conceitual entre essas instâncias. Os
quatro conceitos-chave desse arcabouço são ciclicidade, incisividade, circularidade e
surpreendibilidade, e essas noções dialogam com a composição musical e trazem
contribuições para o entendimento da experiência musical a partir de uma pesquisa
experiencial, tanto em níveis teóricos, quanto aqueles que dizem respeito diretamente ao
compor, tais como ideias, materiais e processos.
Esse arcabouço conceitual também teve reverberação na pesquisa realizada em parceria
com os Grupos de Pesquisa Composição e Cultura, Genos e Gimba, na Universidade Federal
da Bahia (Sampaio et al 2014). Três respostas composicionais foram realizadas a partir dos
conceitos e de uma base de dados de flauta solo, em obras para flauta e eletrônica em tempo
real.
Atualmente, o projeto “Composição e cognição: ferramentas e contribuições para a
Referências
Lakoff, G., e Johnson, M. (1999). Philosophy in the Flesh: The Embodied Mind and Its
Challenge to Western Thought. New York: Basic Books.
Phillips-Silver, J. (2009). “On the meaning of movement in music, development and the
brain.” Contemporary Music Review 28 (3): 293–314 (June).
Snyder, B. (2000). Music and Memory: an introduction. Cambrigde/London: The MIT Press.
Abstract: The singer’s scenic performance presents challenges and opportunities for the
development of his musical performance. The scenic preparation offers resources for self-
assessment and monitoring of the interrelation between the gesture and communicability of ideas
and feelings. The concept of metacognition offers means for the expansion of the process of
construction of the performance that were used for the analysis of scenic preparation methods. to
expand the performance of the construction process that were used for the analysis of scenic
preparation methods. The proposal Emmons and Thomas (1998) was analyzed from concepts of
cognitive psychology and shown to be in accordance with the principles established in the
literature on metacognition.
Keywords: opera Singer, vocal and performing skills, elite performance.
O cantor lírico, para realizar performances musicais de alto nível, necessita de uma
preparação que abranja o aspecto físico, emocional e mental e que estes, integrados,
contemplem os aspectos musicais e cênicos da performance. Quando tais aspectos não estão
integrados, a performance poderá ficar distante do desejado e consagrado como de alto nível.
Assim, diferentes autores que desenvolveram técnicas de atuação cênica para cantores líricos
sugerem exercícios que vão ao encontro de teorias e conceitos de cognição e metacognição
musical. Neste sentido, ao propor comparar as propostas de Emmons e Thomas (1998) com
teorias da cognição e metacognição, visa-se abrir possibilidades e dispor sugestões para um
autocondicionamento capaz de transpor barreiras durante a atuação do cantor lírico.
A simulação de situações reais é o objetivo principal de várias propostas pedagógicas e
artísticas tais como Hicks (2011), Emmons e Thomas (1998), Clark (2002) e Ostwald (2005).
A estruturação de exercícios vocais e cênicos buscam permitir uma racionalização da
performance. Nesse sentido, há diferentes métodos de ações que simulam situações reais
ocorridas no palco. Assim, quando uma situação simulada durante a fase da pré-performance
ocorre, o cantor já possui um repertório de soluções e uma capacidade de resolver os
problemas.
Metacognição e Música
A cognição de acodo com a psicologia cognitiva, relaciona-se é ao conhecimento
adquirido pela experiência ou aprendizagem . No caso da metacognição, corresponde a uma
reflexão sobre as experiências cognitivas. Conforme exemplifica Livington (1997), é um
“pensar sobre o pensamento”. As estratégias cognitivas, por sua vez, são usadas para garantir
que o objetivo foi alcançado e geralmente precedem ou seguem uma atividade cognitiva
(LIVINGTON, 1997).
A metacognição possui diferentes formas de definição, mas que abarcam significados
semelhantes. Assim, para McLeod (1997), Shneider e Lockl (2002) é definida como um
controle executivo que envolve o monitoramento e a auto-regulação. Para Cross e Paris
(1998) como o conhecimento necessário para monitorar, controlar o próprio pensamento e o
aprendizado. Já Hennessey (1999) a define como a consciência do próprio pensamento, ou
seja, a consciência necessária para entender o conteúdo e regular os processos cognitivos em
relação ao aprendizado.
Na performance musical, a metacognição representa o desenvolvimento de atividades
estrategicamente elaboradas para a superação de dificuldades específicas. Assim, para Alves
e Freire (2013), a autoregulação pode ser considerada como um processo cognitivo
desenvolvido por meio de práticas estratégicas que visam a aquisição e refinamento de
habilidade intrínsecas do performer como automonitorameno e autoavaliação. Esses processos
objetivam controlar os resultados da performance musical e assim permitir que o músico
atinja nível de excelencia instrumental.
Na preparação do cantor lírico ocorre uma relação que engloba o estudo tanto dos
aspectos musicais quanto dos aspectos cênicos. Desta relação deriva a performance do cantor
e nela está contida os elementos musicais (como as características da peça, estilo, partitura) e
os elementos extra-musicais (constituído pela parte cênica, os gestos, a movimentação em
cena).
A respeito da preparação cênica do cantor lírico, Guse (2011), discursa que os cantores
atuais precisam pensar e re-pensar suas atuações reformulando-as e visando o alcance da
naturalidade dos gestos e expressões, a verdade cênica. Ressalta que há uma dificuldade do
cantor lírico em trazer veracidade para as cenas e para tanto, “[...] o cantor lírico deve se
preparar para ser um cantor-ator” (GUSE, 2011).
Clark (2002) afirma ser importante o alcance de um sinergismo corporal do cantor de
ópera. Para alcançar este sinergismo, três áreas de estudo são igualmente importantes que são
a voz (técnica vocal), a dramatização (métodos de análise de caráter e emoções) e o
movimento (que inclui o entendimento das funções dos músculos e a dança). Para tanto,
defende a execução de uma série de exercícios de alongamento e flexibilidade corporal, antes
do trabalho vocal. Tais exercícios visam à diminuição de tensões durante a atuação, como
também o treinamento do artista, pois nas palavras dele, “a ênfase está no processo, não no
produto” (CLARK, 2002, p 11).
A este respeito, o autor argumenta que:
Da mesma forma, Ostwald (2005), argumenta que para se tornar um cantor com
verdade cênica é preciso seguir a dez premissas que irão permitir que as características do
personagem venham a se fundir com as interpretações vocais. Essas premissas se relacionam
com o desenvolvimento das capacidades de atuação que envolve o conhecimento profundo do
personagem e do conhecimento sobre o que ele denomina de “reservatório comum de
sentimentos” que consiste no conhecimento por parte do performer dos sentimentos humanos
comuns e a maneira como expressá-los da forma mais natural possível. Ainda para este autor,
é preciso acreditar que a personagem é uma pessoa real e por isso, a música cantada expressa
o sentimento dela. Portanto, é preciso olhar para a música como um guia para as ações da
personagem, como principal fonte de diálogo interno dela.
Seguindo o mesmo pensamento, Hicks (2011), defende a utilização de exercícios de
imaginação como ferramenta para o desenvolvimento de habilidades que irão tornar os
personagens, tanto de atores como de cantores, mais críveis. É por meio da imaginação que
um cantor que estiver se preparando para alguma ária de ópera poderá se tornar mais
intimamente envolvido nos eventos que circundam a personagem. Essa veracidade do
personagem, amplamente definida e recorrente, se justifica pelo fato de que se um
personagem não tem vida interior o público não terá nada para ver e nem para se relacionar.
Conforme suas palavras: “se um personagem não chora ou coloca a cabeça entre as mãos,
como é que o público irá saber de seu estado emocional interior? A vida interior está como
tema central de todos os métodos de atuação” (Hicks, 2011, p. 65).
A respeito da veracidade cênica, Ostwald (2005) relata que se é crível quando “[...] você
parece estar na pele de seu personagem – quando suas palavras e música parecem respostas
espontâneas para o que o personagem está passando”. Para que isso aconteça, a autora
defende a necessidade do entendimento de tudo aquilo que se canta e de tudo que é cantado
em resposta e que haja conexões entre os pensamentos, sentimentos, respiração, corpo, tal
qual na vida real, como se o ato de cantar fosse uma manifestação dos sentimentos do próprio
personagem. É o subjetivo unindo-se ao racional.
Contribuindo para os argumentos anteriores, Emmons;Thomas (1998) buscam maneiras
para o alcance da performance de elite. Assim, elaboraram uma pesquisa que resultou em uma
obra voltada para este fim. Para as autoras cantar envolve tanto pensamento lógico, analítico,
quanto a criatividade, projeção de linguagem não verbal e corporal. Nesse sentido, uma
importante habilidade deve ser adquirida para melhorar a performance e que é a utilização da
função cerebral correta durante uma performance. Tais funções que se referem são as funções
do hemisfério esquerdo e as do hemisfério direito e que durante uma performance é possível
utilizar uma das duas ou as duas. Utilizar apenas as funções do hemisfério esquerdo pode
tornar uma performance muito competente porém ausente de expressão.
Da mesma forma, utilizar apenas as funções do lado direito, como sensibilidade,
imagens e intuição podem deixar uma performance carente de precisão (quanto a notas e
frases, por exemplo) e é importante que se aprenda a fazer o bom uso delas. Para essas
autoras, performances consistentes e competentes resultam de uma combinação de atitude
mental, habilidades concretas, desempenho e excelentes habilidades técnicas, combinação
essa que é essencial para uma carreira de sucesso.
Com essa finalidade, defendem um planejamento para o alcance da performance ideal
que consiste em estratégias de ação separadas em três etapas: pré-performance, a
performance, propriamente dita e pós – performance. Justificam esse modo de planejamento
pelo fato de que todas as ações durante as performances são tanto psicológicas como físicas e
por isso, são lideradas por padrões de pensamentos e imagens mentais e a separação em partes
permite projetar em detalhes a própria a performance (EMMONS; THOMAS ,1998).
Dessa forma, para o alcance da verdade cênica os autores propõem treinamentos que
condicionam e preparam o cantor lírico para diversas situações. Oferecem suporte para
superar diversos fatores que impedem o alcance da verdade cênica e da performance de elite.
Esta superação se torna possível, pois o cantor, ao executar estes exercícios está se auto-
conhecendo e pré-vivenciando situações simuladas que podem vir a se tornar reais. Esses
treinamentos citados por eles vão ao encontro dos preceitos da metacognição que será mais
aprofundado na seção seguinte.
1Strategic Teaching and Reading Project Guidebook. NCREL, rev.ed., 1995. Disponível em: <http://
www.ncrel.org/sdrs/areas/issues/students/learning/lrlmetn.htm>
Na última etapa, que corresponde à avaliação é preciso levantar questões sobre o plano
de ação, como foi a qualidade de sua execução. Também é nesta etapa que se questiona sobre
o que poderia ter sido feito de outro modo e como ficou o entendimento após a realização das
tarefas.
Emmons e Thomas (1998) defendem que para transcender as barreiras e alcançar uma
performance de alto nível, o cantor deve se planejar em etapas, denominadas por elas de pré-
performance, a performace em si e pós-performance. Para tanto, sugerem planos mentais e
rotinas que abarcam três fases da performance. Esses exercícios foram traduzidos e serão
expostos a seguir de forma resumida. Sua exposição busca clarificar como que a concepção
desses exercícios se inter-relaciona com as teorias da metacognição. Sendo assim, nas etapas
citadas estão contidas as atividades ou atitudes da seguinte maneira:
Pré-performance: a) Exercícios de aquecimento mental que inclui o reforço do
sentimento de auto-confiança, de estar preparado adequadamente para executar bem e com
segurança, além de concentração nas próprias qualidades e em pontos fortes pessoais;
concentração e confiança na peça que se está prestes a cantar; b) direcionamento da energia
mental com o intuito de estabelecer o nível de excitação correto que permitirá melhor
concentração e melhor desempenho; c) Como forma de controle da ansiedade, exercícios de
respiração executados de forma lenta também estão incluídos nesta fase; d)Atrelados a estes
exercícios mentais, também exercícios vocais e aquecimento físico também estão incluídos
nesta fase.
Performance: nesta fase o cantor precisa estar concentrado em tudo aquilo que planejou.
Se a preparação foi completa, detalhada, terá uma atuação bem sucedida e evitará
acontecimentos inesperados. Além disso, ao ter consciência da boa preparação, a segurança
mental será melhor e mais facilmente manterá o foco.
Pós-performance: As autoras sugerem que esta etapa deve ser realizada quando o
cantor estiver emocionalmente mais calmo e é o momento em que deve escrever uma auto-
avaliação sobre os sentimentos e ações desencadeados durante a performance e as habilidades
mentais utilizadas.
Neste ponto é possível perceber a inter-relação entre os estágios de metacognição do
NCREL e a proposta de Emmons e Thomas (1998). Percebemos a utilização do
monitoramento e da autoregulação, como meio para controlar o pensamento e o aprendizado
Reflexões
Ao interpelar os argumentos e informações entre os métodos de atuação e as teorias da
metacognição, busca-se suscitar reflexões sobre o planejamento e consciência do processo de
performance. Sendo o planejamento amplamente defendido como meio essencial para o
alcance de um nível de performance considerado “de alto nível”, acredita-se que as teorias da
metacognição contribuem para o processo de aprendizagem. Dessa maneira, um repensar
sobre a própria performance à luz das propostas metacognitivas pode significar o alcance de
novos níveis de performance e, assim, este artigo contempla contribuir para novos olhares,
novas reflexões sobre a maneira pela qual cantores líricos se preparam para suas atuações
cênicas.
Percebe-se que a sistematização e planejamento são recorrentes nos métodos citados e
nas propostas da metacognição. Sendo assim, tais meios podem servir de base para a
superação de dificuldades de cantores líricos perante a atuação cênica. Sendo assim, tais
meios podem servir de base para a superação de dificuldades de cantores líricos perante a
atuação cênica. A sistematização e o planejamento fazem parte de um processo de auto-
conhecimento e a busca pela conquista da vida interior do artista. Uma possibilidade, um dos
caminhos para o encontro com a verdade cênica do cantor lírico.
REFERÊNCIAS
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Cambridge University Press.
Strategic Teaching and Reading Project Guidebook. NCREL, rev.ed., 1995. Extraído de
http://www.ncrel.org/sdrs/areas/issues/students/learning/lrlmetn.htm
Resumo: O presente artigo tem por objetivo abordar a análise de conteúdo como
ferramenta metodológica para trabalhar com dados escritos advindos de entrevistas com
músicos performers. O contexto da pesquisa principal busca compreender os processos
metacognitivos envolvidos nas práticas de músicos de alto nível, a partir da identificação
das variadas interfaces que integram a construção da performance musical. O método
aplicado para a construção deste artigo foi uma revisão bibliográfica sobre análise de
conteúdo e metacognição voltada para a pesquisa em música, e também um pequeno
levantamento sobre pesquisas na área de performance musical que tem utilizado a analise
de conteúdo como ferramenta metodológica.
Palavras-chave: Performance musical, Metacognição, Análise de conteúdo.
Introdução
Elementos, parâmetros e interfaces envolvidas na performance musical tem sido
amplamente estudadas ao longo dos séculos XX e XI passando por diferentes fontes de
coletas de dados e abordagens metodológicas. Fontes de dados tradicionais à pesquisa
em performance musical compreendem partituras, gravações em áudio e vídeo e
também aparatos tecnológicos para identificação e medição de parâmetros que possam
representar os recursos utilizados pelo intérprete.
Mais recentemente, a exemplo de estudos na área da psicologia da música que
trata de aspectos cognitivos e metacognitivos envolvidos na prática do performer, a
atenção começa a ser voltada para o discurso reflexivo deste sobre a sua prática na
medida em que os próprios performers deixam de ser apenas o objeto de estudo e
Análise de conteúdo
Para Moraes (1999) a análise de conteúdo se caracteriza como uma metodologia
de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos
e textos. Esta análise promove a reinterpretação das mensagens atingindo uma
compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum, sendo
conduzida principalmente por descrições sistemáticas. (1999, p.8) “Do ponto de vista
operacional, a análise de conteúdo inicia pela leitura das falas, realizada por meio das
transcrições de entrevistas, depoimentos e documentos.” (Gerhardt e Silveira, 2009, p.
84)
A análise de conteúdo, segundo Bardin (1977), é um conjunto de instrumentos
metodológicos. O fator comum destas técnicas múltiplas que compõem a análise de
conteúdo é uma hermenêutica controlada, baseada na dedução (inferência), onde se
apresentam desde o cálculo de freqüências que fornece dados cifrados até a extração de
estruturas traduzíveis em modelos (1977, p. 9). De forma mais sintética Gerhardt e
Silveira (2009) consideram a análise de conteúdo como uma técnica de pesquisa, e
como tal, possui determinadas características metodológicas: objetividade,
sistematização e inferência, ou como denomina Bauer (2002) “Ela é uma técnica para
produzir inferências de um texto focal para seu contexto social de maneira
objetivada.” (2002, p. 191)
Conclusão
Referências
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deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychological Review nº
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Gaskell, George. (editores) Pesquisa qualitativa com texto: imagem e som: um manual
prático. Tradução de Pedrinho A. Guareschi.- Petrópolis, RJ. Ed. Vozes. p.64-89.
Moraes, Roque. (1999) Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n.
37. p. 7-32.
Sloboda, John A., Jane. W. Davidson, Michael. J. A. Howe, e Derek Moore. (1996). The
role of practice in the development of expert musical performance. British Journal of
Psychology nº 8 (72):87–30.
Caoqui Sanches
Universidade Estadual de Maringá
[email protected]
Maurício Perez
Universidade de São Paulo
[email protected]
Resumo: Este artigo faz uma aproximação entre os conceitos de esquemas imagéticos e de
metáforas conceituais, como presente nos textos de Nogueira (2003), Brower (2002), Lakoff e
Johnson (1980), com as formulações teóricas do compositor Denis Smalley, formulações estas
representadas pelos conceitos de espectromorfologia e campos indicativos. Assim, identificamos
que os autores em questão consideram o movimento metáfora essencial para o entendimento da
nossa experiência, tanto no mundo quanto na música. Com isso, buscamos propor que o
relacionamento entre as ideias destes autores podem fundamentar uma abordagem incorporada da
experiência musical de forma plural, tanto na composição, quanto na performance e também no
entendimento dos eventos sonoros pelos ouvintes em contextos musicais. Sugerimos que esta
abordagem é sobretudo importante para práticas que utilizam meios eletroacústicos e performance
em tempo real como elemento composicional, como no live electronics que utilizam interfaces
físicas de controle para produção musical.
Palavras-chave: metáforas conceituais, esquemas imagéticos, motions, campos indicativos, live
electronics.
É evidente que na escuta o objeto que o ouvinte reproduz para si mesmo, o objeto
imaginado – uma produção do receptor como ato criativo – não é mais o mesmo
objeto. E ao converter o objeto sonoro, de seu estado “material” para a imagem
mental, o ouvinte se transforma junto com o objeto. (Nogueira, 2003, p. 3).
essa ideia que buscaremos demonstrar como a metáfora está presente na percepção humana,
criando e utilizando um sistema de conceitos, dando sentido e significado às ações do homem.
Com isso, Lakoff e Johnson (1980) falam sobre a metáfora conceitual, que, além de participar
da formação e definição de nosso campo conceitual, está inerente à nossa natureza e se dá na
maneira em que vivemos no mundo. Neste âmbito, há também a metáfora orientacional que se
constrói através dos conceitos: acima, abaixo, dentro, fora, centro, periferia, etc. A metáfora
orientacional tem suas bases na mobilidade do mundo físico e também na experiência
cultural.
Lakoff e Johnson (1980) apontam para a nossa experiência emocional, que é tão
fundamentalmente básica quanto nossa experiência espacial, porém seus termos são bem
menos nitidamente delineados do que os que fazemos com o nosso corpo. Contudo, nossa
estrutura conceitual de espaço não é separada da nossa estrutura conceitual emotiva, por isso
podemos dizer que estar feliz é estar para cima. A metáfora orientacional nos permite
conceituar emoções com termos mais bem definidos e também relacioná-los com outros,
assim, podemos apontar que se utilizam de conceitos para falar de metáforas, por exemplo
conceituar a experiência amorosa ou então a experiência musical.
Vamos utilizar Brower (2002) para ampliarmos a compreensão de como a metáfora
conceitual está presente na base de toda relação que fazemos e de todo movimento que
percebemos. Para isso, ela aponta duas ideias de Margoli (como citado em Brower, 2002):
uma foi identificar que os padrões do pensamento se correspondem aos padrões da
experiência e a outra é que nosso pensamento consiste em estabelecer padrões da própria
experiência corporal para os padrões de outros domínios. Segundo a autora, esses padrões se
iniciam com as nossas primeiras atenções para o mundo. Ela aponta ainda que quando
pegamos um brinquedo, por exemplo, em nossos primeiros gestos, nós aprendemos a
desempenhar, sobretudo, fenômenos como os de causa e efeito, de movimento, força, energia
e equilíbrio, uma vez que eles desempenham um papel em nossas ações dirigidas a objetivos e
intensões próprias. Esta aprendizagem básica é, portanto capturada na forma desses padrões
que Johnson (como citado em Brower, 2002) chama de esquemas imagéticos. Segundo ele,
nós utilizamos os esquemas imagéticos para dar sentido às nossas experiências nos domínios
mais abstratos.
Os esquemas de imagens corporais, especialmente quando envolvem força e movimento
referentes aos gestos, são adjacentes ao que podemos entender de música. Brower (2002) diz
que a música assume seu significado por um mapeamento de padrões musicais já ouvidos e
dirigidos a três diferentes tipos de padrões registrados e reconhecidos por nossa memória:
padrões intra-opus, que são os padrões encontrados na própria obra musical; esquemas
musicais, que são padrões abstraídos da convenção musical, que foi formada pelo costume e
com o tempo; e os esquemas imagéticos, que são padrões abstraídos da experiência corporal,
este último corresponde ao mapeamento metafórico.
Brower (2002) mostra que esses esquemas também estão entre os mais presentes na
experiência e refletem as características sobre o espaço, o tempo, a força e o movimento. Ela
conclui que todas essas características são consequências de estruturas que dão origem às
mais extensas inferências e a interpretações metafóricas mais elaboradas. Por exemplo, nossa
experiência com o esquema de conteúdo/recipiente (dentro e fora) é particularmente visceral e
a sua contração ou expansão nos dá a origem da tensão e do relaxamento. Este esquema pode
combinar com o esquema centro periférico que pode nos ensinar o sentido de hierarquia, nos
mostrando camadas de fora para dentro, seguindo a nossa tendência de conceber uma
estrutura originária do centro. O esquema de ciclos pode organizar nossa experiência com o
tempo e as mudanças que, pelas quais, formulamos as suas medidas. Sobre os esquemas
centro-periférico, verticalidade e equilíbrio combinados, podemos dizer que eles refletem a
ação da força da gravidade sobre o corpo, nos obrigando a manter-nos em pé, numa posição
de equilíbrio sobre a superfície da terra. A força da gravidade voltada para baixo nos leva a
considerar o solo como o ponto de origem e da posição de máxima estabilidade.
Ainda na perspectiva de Brower (2002), se referindo à teoria de Johnson (como citado
em Brower, 2002) o esquema de intencionalidade/objetivo (path–source–goal) organiza nossa
experiência na realização de um gesto e na percepção de qualquer outro movimento. Esse
esquema, abordando sobre o movimento e a intencionalidade, é tomado por nós como a
principal ligação para os escritos de Smalley, porém, não podemos desconsiderar os outros
esquemas, pois todos se fazem presentes no contexto da percepção de um movimento.
Segundo Brower (2002), os componentes desse esquema são: o ponto de origem; o objetivo;
o caminho que leva o gesto da origem para o seu objetivo final; a trajetória do movimento ou
o percurso do gesto e a força que impulsiona o movimento. Brower (2002) mostra que esse
esquema possui certas combinações em sua realização que pode nos levar a entender como
Desta maneira, Smalley entende que há nove campos indicativos, são eles: gesto, fala,
comportamento, energia, movimento, objeto/substância, ambiente, visão e espaço. Os três
primeiros são considerados como arquetípicos, e forneceram os modelos sonoros para música.
Por sua vez, o termo indicativo demonstra ainda que as manifestações sonoras e musicais
encontram correspondência e estão ligadas às experiências do mundo não-sonoro. Assim, os
campos não são autônomos e estão interconectados entre si, dentro e fora da música. No
entanto, em determinados momentos por certas estruturas sonoras, alguns campos podem ser
mais evocados em detrimento de outros e um deles ocupa o lugar central com qual os demais
se relacionam, neste caso, o termo rede indicativa demostra melhor este tipo de interação.
Destacaremos aqui os campos gesto, energia e movimento para demonstrarmos como as
espectromorfologias podem ser significadas musicalmente. O campo-gesto se relaciona com
as relações de tensão e relaxamento do corpo, diz respeito a experiência proprioaceptiva. Na
música, o gesto instrumental é o modelo sonoro por excelência. A aplicação física de energia
sobre uma determinada fonte gera uma um perfil dinâmico no tempo, uma
espectromorfologia, que possui uma relação direta com a ação visual e energética do gesto
físico. Esta relação é compreendida pelo ouvinte pelo caminho inverso da causalidade gestual
(espectromorfologia–fonte–causa). Além disso, o gesto não se relaciona somente com a
prática instrumental, mas com toda ação física e psicológica da nossa experiência no mundo.
Por conseguinte, o campo-energia é entendido como liberação de tensão e o campo-
movimento define-se pela nossa relação com a experiência temporal. Na música, energia e
movimento são campos decorrentes da atividade gestual e conformam aquilo que Smalley
denominou como o conteúdo espectral e morfológico dos sons. Energia e movimento estão
presentes tanto em contextos musicais quanto em contextos não-musicais e não-sonoros.
Consequentemente, energia e movimento não se relacionam somente com campo gesto, mas
são comuns a todos os outros campos indicativos.
Desta maneira, podemos notar que há uma rede indicativa complexa entre os campos
indicativos apontados por Smalley, e que têm como centro o campo-gesto. Os campos se
relacionam entre si pelas trajetórias energia-movimento presente em todos os campos. O
seguinte trecho exemplifica como as espectromorfologias são significadas por meio de
relações com a experiência não-sonora, com gestos não-sonoros:
Todos nós temos uma experiência diária da atividade gestual e somos conscientes
das consequências da trajetória energia-movimento. A atividade gestual não é
somente compreendida com tocar ou usar um objeto, mas também se refere às
relações humanas: é um gesto que brande um machado e é um gesto que expressa
carinho íntimo. O campo-energia pode variar entre extremos de força e suavidade, e
Assim, Smalley propõem que a relação entre o mundo sonoro e não sonoro é evidente
nos sons pelo conteúdo cinético das espectromorfologias, ou seja, pelo que ele denominou
como motions. Segundo o autor, “uma vez que o movimento é integrado à experiência
temporal, todos os tipos de movimentos não-musicais podem ter correspondentes
musicais” (Smalley, 1996, p. 528, trad. nossa). Em contextos musicais, a exploração máxima
da potencialidade entre os campos indicativos pode ser construído e experienciado no nível de
substituição gestual remoto, no qual predominam as transformações das trajetórias energia-
movimento.
Neste ponto, nossa associação entre a teoria de Smalley com as propostas das metáforas
conceituais e esquemas imagéticos é evidente. O movimento, em sua propriedade de
deslocamento energético no espaço temporal, é uma metáfora conceitual originada por nossos
domínios da experiência no mundo. Por sua vez, a compreensão desses domínios acontece por
meio dos esquemas imagéticos. Assim, quando Smalley usa o movimento para demonstrar
como os sons promovem conteúdo musical, podemos entender que perceber os movimentos
musicais (motions) é utilizar a metáfora conceitual para relacionar a experiência musical com
a experiência vivida. Isto é possível pois, a ligação entre música e a experiência fora dela, por
meio dos movimentos, é subsidiada pelos campos e redes indicativas, que por sua vez,
possuem como elemento essencial o gesto. Com isso, podemos apontar que as relações entre
os conceitos de metáforas conceituais e esquemas imagéticos com a teoria dos movimentos de
Smalley podem favorecer uma poética musical voltada para o desenvolvimento temporal dos
sons. Isto é ainda mais relevante quando lidamos com práticas de criação musical que
utilizam interfaces físicas de controle, tanto para a composição quanto para a performance
musical. Podemos identificar estas práticas na pesquisa com Instrumentos Musicais Digitais
(IMDs), termo este proposto por Miranda e Wanderley (2006).
Referências
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Marcos Nogueira
EM-UFRJ
[email protected]
1. Pressupostos teóricos
O artigo trata de resultados parciais de investigação teórico-metodológica acerca dos
modos de aplicação de uma teoria que denomino semântica do entendimento musical (2004),
na construção de um modelo descritivo da forma musical. As noções básicas que fundamen-
tam a pesquisa, como “categorização”, “metáfora conceitual”, “incorporação da mente”, “ma-
peamento entre domínios” (cross-domain mapping) foram inicialmente desenvolvidas em tra-
balhos precursores de Eleanor Rosch (1978), James J. Gibson (1979), Michael Reddy (1979),
George Lakoff (1979), George Lakoff e Mark Johnson (1980), Carolyn Mervis e E. Rosch
(1981), Gilles Fauconnier (1985), Mark Johnson (1987), Howard Margolis (1987), Gerald
Edelman (1989, 1992), Albert Bregman (1990), Francisco Varela, Evan Thompson e Eleanor
Rosch (1991), e Antonio Damasio (1994), dentre outras contribuições significativas. Contudo,
até que esse arcabouço teórico tenha alcançado a projeção que alcançou nos últimos 15 anos
no campo musicológico, tais noções só foram definitivamente introduzidas no contexto teóri-
co musical por Lawrence Zbikowski, em artigos seminais como Theories of categorization
and theories of music (1995), Conceptual models and cross-domains mapping: new perspec-
tives on theories of music and hierarchy (1997), Musical coherency, motive, and categorizati-
on (1999) e Conceptualizing music: Cognitive structure, theory, and analysis (2002), assim
como pelo importante trabalho de Candace Brower em Pathway, Blockage and Containment
in Density 21.5 (1997-1998) e, sobretudo, em A cognitive theory of musical meaning (2000),
e, definitivamente, por Mark Johnson em Embodied Musical Meaning (1998) e em coautoria
com Steve Larson em Something in the way she moves: Metaphors of Musical Motion (2003)
— para citar alguns dos trabalhos mais relevantes no esforço de construção de um dos mais
influentes referenciais teóricos da cognição musical incorporada.
O interesse que a emergente ciência cognitiva incorporada despertou no campo da teoria
da música teve início com a questão sobre como o processo de categorização, um dos meios
primordiais pelo qual construímos nosso entendimento do mundo, determinaria nosso enten-
dimento da experiência da música. Desde as primeiras publicações de Eleanor Rosch, reco-
nhece-se que o processo de categorização no nível de formação dos conceitos resulta de um
complexo processamento que se dá essencialmente de modo involuntário e inconsciente. São
essas estruturas mentais básicas que constituirão os modelos conceituais que memorizaremos
e com os quais construiremos nosso entendimento conceitual de nossas experiências. As cate-
gorias em nível de formação de conceitos constituem a estrutura básica de nossos modelos
conceituais, ou seja, a base do processamento cognitivo que gera estruturas mentais relativa-
mente estáveis que regularão nossas inferências. Esses modelos resultam de relações entre
conceitos fundamentais que compõem um dado domínio de conhecimento, e são memoriza-
dos como unidades de sentido que, em momentos posteriores, são reativadas por novos estí-
mulos do meio, mesmo que em circunstâncias e em domínios de experiência muito diversos.
Para esclarecer o contexto de emergência do projeto enacionista em cognição musical,
consideremos o exemplo do modelo conceitual de equilíbrio. Esse modelo envolve, em sua
base experiencial original, conceitos relacionados a objetos em um espaço físico, dispostos de
tal modo que as relações entre si dependem de entendimentos que geraram conceitos como os
de eixo vertical e de simetria. Em nosso processamento cognitivo é comum que aspectos de
dizer sobre música, quando estamos raciocinando por meio deste mapeamento. Enfim, tais
correspondências entre essencialidades, emergentes nos atos de categorização do real por si-
milaridade, possibilitam-nos pensar a música e atribuir-lhe sentido, usando o mesmo processo
que usamos para pensar e estruturar nosso conhecimento sobre outros domínios mais concre-
tos como paisagens.
Na metáfora a música é uma paisagem o ouvinte assume o papel de observador que
toma um caminho que definirá sua experiência de dada obra musical que ouve. O mapeamen-
to conceitual nesse caso pode incluir, dentre outras, as seguintes correspondências: o ouvinte é
um observador; a obra musical é um caminho a ser percorrido; o evento musical atual é a lo-
calização atual do observador; o trecho musical já ouvido é o caminho já percorrido; os seg-
mentos da forma musical são os trechos do caminho que o observador percorre; a variação do
andamento da obra musical ou a variação de intensidade da ocorrência de eventos musicais na
obra experimentada é a velocidade com que o observador se move na paisagem. Este conjunto
resumido de correspondências conceituais permite-nos entender expressões que usamos para
descrever a música que acabamos de conceituar: “estamos chegando no segundo tema”;
“quando alcançarmos a cadência do compasso 39, descobriremos como a tensão é
dissolvida”; “em que lugar estamos da parte B?”; “o motivo principal só vai aparecer mais
adiante”; ou “no final desse trecho as flautas vão entrar” — a própria técnica notacional da
música tradicionalmente se desenvolveu como uma representação metafórica de um caminho
ou de caminhos imaginários através de um espaço musical fenomênico.
Assim sendo, podemos dizer que as correspondências ontológicas que constituem a me-
táfora a música é uma paisagem mapeiam a ontologia de paisagem na ontologia de música. É
nesse sentido que podemos entender que é o mapeamento ontológico entre domínios de co-
nhecimento — no exemplo acima discutido, do domínio-fonte paisagem para o domínio-alvo
“música” — que constitui essas metáforas. Metáforas não são constituídas por meras palavras
ou conceitos, é neste sentido que não podem ser entendidas como mera questão linguística. A
metáfora é uma questão de pensamento e memória. Assim, existem várias estratégias para en-
tendermos música, conceituar nosso entendimento de música e descrever a música que esta-
mos experimentando; no exemplo acima discutido enfatizo o campo metafórico constituído
pelo mapeamento a música é uma paisagem, que muitas vezes se destaca em dada descrição
de um trecho musical. Mas é essencial enfatizar que geralmente, em nossa experiência cotidi-
ana com a música (como com qualquer outro domínio de conhecimento), um mapeamento é
inferido concomitantemente com outros possíveis mapeamentos. E ao destacarmos certo ma-
peamento para conceituar nossa experiência de um trecho musical — escolha esta em geral
não consciente e deliberada —, estamos tanto na condição de ouvinte que por razões idiossin-
cráticas impõe a esta experiência particular um modo de escuta específico, que prioriza o ma-
peamento destacado, quanto na condição de ouvinte que opera com seus mapeamentos poten-
ciais regulado pela música que está ouvindo. Enfim, o mapeamento ou os mapeamentos em-
pregados pelo ouvinte para conceituar sua experiência musical nos revelam como a música
está sendo conceituada, seja como paisagem ou outro domínio de conhecimento. E não é difí-
cil atentar para o fato de que cada mapeamento determina um modo de entendimento musical,
com suas particularidades, suas ênfases e suas limitações.
2. O problema
As questões que suscitam a presente investigação são: Por que expressões linguísticas
empregadas para conceituar paisagens e outros domínios conceituais também são usadas para
conceituar música? Por que padrões de inferência empregados especificamente para pensar-
mos sobre paisagens e alguns outros domínios são também usados para pensarmos música?
Que tipos de indução (constraint) regulam a natureza dos mapeamentos metafóricos que en-
volvem o domínio musical? Quando adotamos mapeamentos para entendermos e estruturar-
mos nosso conhecimento de música, estamos ora priorizando nossa percepção de aspectos
formais ora de aspectos texturais da música. Que mapeamentos são geralmente ativados
quando um ouvinte de música instrumental de concerto deseja estruturar seu entendimento da
forma musical? No ato de criação do texto (representação notacional) ou da construção da
performance de uma obra musical dessa natureza ouvintes-compositores e ouvintes-intérpre-
tes fazem uso de mapeamentos distintos daqueles inferidos pelos demais ouvintes?
A abstratividade característica do evento musical é assente; o que, todavia, permanece
teoricamente e, de certo modo, também empiricamente ainda pouco exploradas são as aplica-
ções dos resultados da pesquisa cognitiva de base enacionista — que já reúne, em três déca-
das, uma produção de conhecimento significativa — à teoria da forma musical.
1 Tradução livre de: image schemata are not rich, concrete images or mental pictures, either. They are structures
that organize our mental representations at a level more general and abstract than that at which we form
particular mental images.
de projeções metafóricas, da esfera das interações do corpo com a fisicidade do meio para o
chamado processo intelectual — assim projetar um esquema de um domínio em outro domí-
nio conceitual vem a ser um aprofundamento teórico da abordagem de mapeamentos entre
domínios.
A produção de conhecimento acerca da forma musical no campo da pesquisa cognitiva
de base enacionista tem sido alvo de inúmeros pesquisadores, como, para citar algumas abor-
dagens contrastantes, Neuhaus (2013) — que investiga as habilidades dos ouvintes para infe-
rir agrupamentos de eventos musicais e relacioná-los —, Zbikowski (2011) — que argumenta
que a função básica da música é oferecer análogos sonoros dos processos dinâmicos centrais
da experiência humana —, ou Martínez e Anta (2009) — que investigam as interseções inter-
pretativas do mapeamento visual-musical, visando, em especial, a avaliação do assente reco-
nhecimento de carência de direcionalidade formal da música atonal. A estratégia básica que
adoto na presente pesquisa, por sua vez, é investigar as estruturas internas dos esquemas de
imagem em que se baseiam as projeções metafóricas mais usuais do processo de conceituação
da música, para entender a predominância de tais mapeamentos. A primeira hipótese que co-
loco, fundamentada em estudos anteriores (Nogueira, 2003, 2004, 2009a, 2009b, 2010, 2014),
é que o conceito que permeia toda a experiência do sentido musical é o de movimento, algo
que usuários de música reconhecem fácil, imediata e espontaneamente em seu engajamento
com a música. Não parece simples explicar como a música se move, o que se move nos sons
da música ou como ela nos move, contudo está evidenciado que a estrutura lógica de certas
metáforas regula nosso entendimento de movimento musical, induzindo nossas inferências de
movimento no ato da escuta de uma obra musical — assim como em nosso engajamento em
qualquer “cena auditiva” (Bregman, 1999).
A segunda hipótese que suscita o desenvolvimento da presente investigação diz respeito
ao atributo de movimento que dispara as projeções metafóricas na inferência de movimento
musical: a mudança de estado do fluxo sonoro da música, um processo conceituado a partir
de uma sequência simples ou complexa de estados distintos do meio sonoro-musical. O pro-
blema que precisa ser aqui enfatizado é que como em qualquer experiência, mas, sobretudo,
em domínios subjetivos, há uma permanente concomitância de inferências, seja com maior ou
menor intensidade. Como o fluxo sonoro na música “tonal” ocidental constitui-se, normal-
mente, de certa complexidade resultante da concorrência de eventos “em camadas” (subflu-
xos), em certos casos um desses componentes texturais pode fluir com maior autonomia e dis-
sociação em relação aos demais. É, porém, também comum no repertório da música de con-
certo contemporânea não ocorrerem tais contrastes, resultado de atitudes estéticas e projetos
estilísticos específicos (Nogueira, 2010). Neste último caso, tal condição pode, em maior ou
menor grau, resultar, por exemplo, em ausência de recorrências texturais significativas e apre-
ensíveis, dificultando ou confundindo sobremodo a ativação de processos cognitivos tais
como: de agrupação por meio de projeções de esquemas como os de contenção, atração, fu-
são e bloqueio; de direção por meio de projeções de esquemas como os de caminho, bloqueio,
ligação e graduação; ou de completamento (por meio de projeções dos esquemas de equilí-
brio, centralidade, bloqueio e ciclo). Todos constituem inferências projetivas basilares —
como outras tantas mais e menos associadas a estas — para a formação do sentido nos vários
níveis da organização formal.
Adoto aqui o pressuposto que tudo o que compositores, intérpretes e quaisquer ouvintes
fazem ao executar imaginativamente a música que experimentam é hierarquizar habilmente
suas múltiplas inferências concomitantes. E dessa condição surge a terceira hipótese aqui in-
vestigada: eventos sucessivos que estabelecem mudanças reiteradas e coerentes entre si, num
período temporal que a psicologia cognitiva vem tratando como memória de curto-prazo
(Edelman, 1992; Pashler, 1999; Snyder, 2000), tendem a se constituir, no ato de estruturação
da música, como agrupamentos figurativos “em linha”. São precisamente tais agrupamentos
que monopolizam a atenção do ouvinte comum e regem sua apreensão da forma musical. O
desafio aqui é apontar quais aspectos do elemento identificado como condutor da forma estão
regulando a inferência de suspensão (desequilíbrio ou incompletude) ou de conclusão (equilí-
brio ou completude) formal de dado trecho musical; ou como tais aspectos propiciam essas
inferências. Isto parece ser um compromisso inadiável da agenda da teoria da música e, mais
particularmente, do projeto de uma semântica cognitiva para a música, comprometida com o
“como” construímos o sentido musical.
Referências
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Resumo: Sendo bastante pesquisada na literatura internacional, principalmente no campo dos es-
portes e da reabilitação motora, a Prática Mental (PM) emerge como uma variável de impacto po-
sitivo ao desempenho musical. Este artigo busca fazer uma revisão de literatura dos conceitos de
PM e investigar as possibilidades de aplicação na área de cognição musical no Brasil. Serão apre-
sentados alguns modelos teóricos que dão suporte à PM, as pesquisas de PM em Música, as meto-
dologias empregadas e o direcionamento dos resultados. Apesar dessas metodologias apresentarem
variação entre os estudos, a maioria desses resultados aponta que a PM é menos efetiva que a Prá-
tica Física (PF), porém mais efetiva que a ausência de Prática. Os resultados também apontam que
a combinação entre a PM e a PF podem ter resultados iguais ou quase iguais aos da PF isolada,
podendo então ser útil aos músicos como ferramenta auxiliar de estudo.
Palavras-chave: Prática Mental, Prática Mental em Música, Imagética, Estratégias de Estudo.
Abstract: Having been extensive researched in international literature, especially in the field of
sports and motor rehabilitation, Mental Practice (MP) emerges as a positive impact variable to the
musical performance. This article aims to study the field of MP and apply the concepts and defini-
tions to the music cognition area in Brazil. We introduce some theoretical models that support the
(MP), the (MP) research in Music, the methodologies used and the direction of the results. Despite
these methodologies present variation between studies, most of these results shows that the (MP)
is less effective than the Physical Practice (PP), but more effective than the absence of Practice.
The results also show that the combination of MP and PP may have results equal to or nearly equal
to the (PP) isolated and may then be useful to musicians as an auxiliary tool of study.
Keywords: Mental Practice, Mental Practice in Music, Imagery, Study Strategies.
Introdução
de início, a ideia de um ensaio mental pode parecer abstrata, mas na verdade ela
possui muitas aplicações práticas, ela não se trata de mais um rótulo para o estudo
analítico, mas sim uma maneira sistemática de ‘ver’ e ‘sentir os movimentos físicos
associados a uma habilidade na ausência da performance física (Ross, 1985, p. 222).
Estudos clássicos na área de Psicologia da Música, realizados por Carl Seashore (1938)
indicam a importância da imagética dos processos motores (motor imagery). Seashore abor-
dou inicialmente a questão da imaginação mental dentro dos contextos das habilidades artísti-
cas e da composição musical. No entanto, o próprio Seashore indica a necessidade de imagé-
ticas suplementares, dentre elas a imagética motora. Na imagética motora é possível agir e
sentir as ações, o sujeito torna-se o ator e um ativo observador da ação, sendo que a imagem
motora, como a experiência da ação torna-se o material bruto para a construção da emoção
musical (Seashore, 1938).
Este artigo visa discutir os conceitos de Prática Mental e investigar sua aplicação dentro
da área de cognição musical. A revisão de literatura e análise de conceitos possibilitam a am-
pliação da discussão da questão de processamento cognitivo na performance musical. Desta
forma, os modelos teóricos que explicam a PM e suas metodologias de pesquisa na música
podem auxiliar nas pesquisas na área de performance musical e cognição no Brasil.
Alguns modelos teóricos abordam este processo apenas do ponto de vista da Prática
Física (PF), ou seja, com o acúmulo das informações sensoriais provenientes da retroalimen-
tação (feedback) sensorial externa gerada pela ação motora, os padrões motores são acumula-
dos e gradualmente aperfeiçoados para a execução das tarefas. Entretanto, atualmente pesqui-
sas apontam que é possível que este processo aconteça na ausência da retroalimentação senso-
rial externa, como por exemplo, através da PM (Sherwood & Lee, 2003).
Os estudos de Rizzolatti (1994) sobre neurônios espelho apresentaram uma forte evi-
dência da representação mental a partir da observação de ações motoras. Neste caso, foi iden-
tificado que o cérebro de macacos apresentava uma ativação motora durante a observação de
um movimento realizado por humanos, mesmo na ausência da movimentação motora do ma-
caco. Estas observações levaram a uma série de hipóteses sobre a construção do movimento
do ponto de vista cognitivo. A PM utiliza alguns dos mesmos argumentos, sendo que a PM
sugere que a imaginação de uma ação motora possa estimular os aspectos cogntivos da reali-
zação da ação motora pretendida.
Para praticar mentalmente uma pessoa precisa imaginar-se executando uma ação repro-
duzindo na mente as diversas sensações referentes aos sentidos do corpo humano – visuais,
auditivas, táteis, cinestésicas (motoras), olfativas e gustativas, diversificadamente combinadas
ou de forma isolada, de acordo com a tarefa. Por exemplo, um pianista, ao praticar mental-
mente, pode simplesmente ouvir internamente a música que irá tocar, combinar essa audição
interna com a sensação cinestésica dos movimentos e/ou visualizar-se tocando. O conjunto
destas representações (sensações) internas referente aos sentidos, na ausência do respectivo
estímulo original, serão consideradas neste artigo como imagética. Uma pessoa, portanto
pode evocar em sua mente uma imagética auditiva (escutar internamente um som), visual
(visualizar algo), motora (sentir-se executando um movimento) e assim por diante em todos
os sentidos, de maneira isolada ou combinada. Segundo Abernethy et all, a imagética consiste
numa “habilidade que envolve a utilização de todos os sentidos para criar ou recriar uma ex-
periência na mente” (2013, p. 306). Esta experiência trata-se de uma “experiência quase per-
ceptiva; ela lembra uma experiência perceptiva, mas ocorre na ausência do estímulo externo
apropriado” (Thomas, 2008). Desta forma, ao realizar a simulação mental de uma ação, o su-
jeito evoca em sua mente esse processo cognitivo dinâmico que relaciona e mescla diferentes
representações mentais oriundas de várias modalidades sensoriais (XXX).
Existem algumas teorias que dão suporte à PM, dentre elas se destacam a Teoria Psico-
neuromuscular e a Teoria do Aprendizado Simbólico. A Teoria Psiconeuromuscular, afirma
que ao imaginarmo-nos executando uma ação, nosso cérebro envia sinais elétricos aos múscu-
los da mesma forma de quando a executamos realmente. Então, ao imaginar uma ação motora
ou executá-la, vias neurais semelhantes são utilizadas. Segundo a teoria, é através deste me-
canismo que é possível haver aprendizado durante a prática mental. A Teoria do Aprendizado
Simbólico postula que a imagética ajuda o cérebro a fazer um planejamento do movimento,
sem enviar mensagens elétricas aos músculos utilizados na execução da ação. Isto significa
que pode-se observar e analisar os movimentos mentalmente com o objetivo de aprendê-los e
aperfeiçoá-los (Abernethy et all, 2013).
Assim como nos esportes, a prática mental possibilita várias aplicações ao campo da
música, já que esta também exige uma alta demanda de aspectos motores e cognitivos. Como
os músicos lidam diariamente com o desafio de aprender e aperfeiçoar habilidades musicais, é
sempre importante desenvolver estratégias de prática conscientes e efetivas para um melhor
aproveitamento musical.
Quanto a avaliação da execução musical dos participantes, a maioria dos estudos usa os
parâmetros de Ross (1985) que, na intenção de evitar os aspectos subjetivos, foca somente os
itens referentes às alturas, ritmos e articulações. Já Lim e Lippman (1986) e Theiler e
Limppman (1995), adicionaram a estes o parâmetro dinâmica/expressão musical. Bernardi et
all (2012) adicionaram a este último o parâmetro desempenho global.
Outras variáveis incluem a familiaridade dos participantes com a PM em seu dia a dia
(Bernardi et all, 2012; Bernardi et all, 2013), a vivacidade de sua imagética mental (Coffman,
1990; Lim & Lippman, 1986; Highben & Palmer, 2003; Bernardi et all, 2012) e suas habili-
dades aurais (Highben & Palmer, 2003). Por exemplo, Higben e Palmer (2003) verificaram
que os sujeitos com mais habilidades aurais foram menos afetados pela ausência da retroali-
mentação auditiva. Os autores sugerem que as formas auditivas da prática mental ajudam os
músicos a aprender música não familiar através da criação e uso da imagética auditiva durante
a prática.
Resultados desses estudos apontam que a PM é menos efetiva que a PF, porém mais
efetiva que a ausência de prática (Ross, 1985; Lim & Lippman, 1986; Coffman, 1990; High-
ben & Palmer, 2003; Bernardi et all, 2012; Bernardi et all, 2013). Outros apontam que a PM
tem praticamente a mesma eficácia que a PF (Theiler e Lippman, 1995; Mchugh-Grifa, 2011).
Rubin-Rabson (1941) encontrou que a PM foi superior à PF na memorização de peças ao pia-
no. Pesquisadores observaram que a combinação entre a prática mental e a física, ou seja, a
prática combinada (PC), pode ter a mesma eficácia que a PF isolada (Coffman, 1990; Theiler
e Lippman, 1995; Mchugh-Grifa, 2011; Bernardi et all, 2012). Cahn (2008) ao adicionar a
variável nível de dificuldade em sua investigação, constatou que a PM e a PC (33% PF e 66%
PM) foram superiores nas tarefas fáceis em comparação às difíceis e que a PF e a PC (66% PF
e 33% PM) foram superiores nas tarefas difíceis. Concluiu então que a relação de desempe-
nho entre a PF e a PM está relacionada com o nível de dificuldade da tarefa.
Os resultados deste estudo de Bernardi et all (2012) mostraram que a PF foi superior à
PM, porém combinando uma intensa PM (30 minutos) com uma pequena seção de PF (10
minutos) levaram a resultados quase indistinguíveis dos obtidos por 30 minutos seguidos de
PF. Os autores sugerem então que esta combinação de PF e PM pode ser útil aos músicos
para: a) otimizar o tempo disponível para praticar; b) ter uma compreensão profunda e fortes
representações mentais das peças que estão praticando e; c) evitar uma prática física exagera-
da para prevenir distúrbios relacionados ao excesso de prática física, tudo isso, sem uma perda
significante em termos de desempenho (2012, p. 284).
Conclusões
A maioria dos estudos aponta que a prática mental é menos eficaz que a prática física,
porém superior a ausência de prática. A prática combinada, no entanto pode ter eficácia seme-
lhante a prática física. Contudo, podemos observar que ainda existem muitas variações nas
metodologias empregadas nesses estudos de prática mental em música, sendo assim, é preciso
que existam mais investigações que usem metodologias bem equivalentes como por exemplo,
os mesmos grupos de prática, os mesmos parâmetros de avaliação, os mesmos níveis de difi-
culdade e as mesmas estratégias de prática mental a serem usadas pelos participantes para se
chegar a afirmações mais embasadas. Apesar disso, a prática mental aponta como uma ferra-
menta auxiliar de grande utilidade para os músicos, podendo ser valiosa em situações em que
o músico não tem acesso ao instrumento, poupar o excesso de esforço físico e servir como um
ótimo recurso de reflexão sobre as decisões interpretativas da obra musical.
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Resumo: As reflexões propostas por Ludwig Wittgenstein acerca da linguagem e sua significação
revelam-se importantes referências para o estudo da significação musical. O deslocamento da
significação do objeto para o sistema de signos abre um importante caminho para a compreensão
da dimensão significativa da música, que está relacionado a recentes pesquisas da semiótica
musical, em especial da teoria dos tópicos musicais proposta inicialmente por Leonard Ratner.
Esta teoria observa relações intertextuais entre gêneros e estilos que inferem a significação através
da correlação com estilos artísticos, manifestações culturais e atividades humanas características.
A afirmação feita por Wittgenstein em seu Livro Azul “o que dá a vida a um signo é seu uso”
torna-se uma chave de leitura dos tópicos enquanto sistema de signos musicais e promove um
avanço consistente na compreensão da música enquanto discurso. Este trabalho examina ideias-
chave do filósofo austríaco em sua possível aplicação para a pesquisa em significação musical.
Palavras-chave: significação musical, filosofia da linguagem, tópicos musicais.
1. A significação na música
A pergunta “qual é o significado de uma música?” é tão pertinente quanto o
questionamento proposto por Wittgenstein em seu Livro Azul “qual é o significado de uma
palavra?” (Wittgenstein, 1958, p. 1). Se o senso comum simplifica a resposta para a segunda
pergunta dizendo que o significado das palavras está explicado nos verbetes dos dicionários,
este mesmo senso comum pode precipitar-se no julgamento de que a música instrumental não
tenha qualquer significado, pois não há dicionário que sumarize melodias, progressões
harmônicas ou quaisquer outros elementos musicais explicando seu significado. Wittgenstein
se opõe à simplificação da primeira resposta e o seu questionamento, aplicado ao material
musical, provocará também um esclarecimento acerca da significação musical.
Wittgenstein observa que a explicação do sentido de uma palavra pode ser dividida em
uma definição verbal e uma definição ostensiva. A definição verbal conduzirá a resposta
sempre de uma expressão verbal a outra, de forma que não há progressos na determinação do
sentido. Já a definição ostensiva conduz a um melhor esclarecimento do sentido, relacionando
predicados e propriedades relativas ao objeto de significação (Wittgenstein, 1958, p. 1). Esta
observação sobre a significação das palavras é perfeitamente aplicável à linguagem musical.
Todos os elementos formativos de uma música, tais como melodia, harmonia, ritmo etc.
constituem primordialmente relações intrínsecas da própria linguagem musical – os
encadeamentos harmônicos tonais seguem padrões previstos nas leis básicas da tonalidade;
melodia e ritmo são construídos a partir de associações de motivos que se desenvolvem em
relações de derivação, de possibilidades combinatórias e variações do próprio motivo musical.
Mas é exatamente a relação intertextual que permitirá à música transmitir sensações
imagéticas capazes de evocar diferentes estados de espírito, associados a situações, ambientes
ou objetos do mundo material, através de uma correlação de atributos. Este processo mental
de associação de atributos é igualmente correlato ao processo de compreensão de sentenças
verbais. De qualquer forma é este processo associativo que concede o efetivo sentido a um
signo linguístico, de forma que o mesmo se aplica ao signo musical. Utilizando o exemplo do
Livro Azul: apontando-se para um lápis vermelho, interpreta-se: “isto é um lápis”; “isto é
cilíndrico”; “isto é de madeira” etc. Quando se escuta o ressoar de um toque de trompetes
associa-se este som com marchas militares, que são associadas a cerimônias solenes,
autoridades, momentos festivos, de exaltação, ambientes de esplendor etc. Com toda a
propriedade verifica-se a tradição da execução de marchas nupciais precedidas de fanfarras de
trompetes nas cerimônias de casamento. Estas tradições, desenvolvidas a partir de associações
históricas paralelas, acabam por constituir um feedback ao seu significado sonoro – a pompa
da cerimônia de casamento serve como associação imagética para a sonoridade da fanfarra
militar. Ou seja: a recorrência do signo confirma o seu significado, consolidando sua relação
através de uma rede de associações – “o que dá vida ao signo é o seu uso” (ibidem, p. 5).
É interessante observar que a significação musical perpassa pela contemplação de
estados de espírito relacionados com figurações imagéticas, identificadas com os “objetos de
pensamento” de Wittgenstein. Ou seja, não se deve perguntar “o que a música representa?”,
mas sim “o que a música mostra?”. Esta reflexão, proposta por Paulo C. Chagas (2013) em
seus estudos acerca do pensamento de Wittgenstein e a música, evidencia a importância dos
questionamentos presentes no Livro Azul para a Semiótica Musical. Quando Wittgenstein
afasta a significação de um objeto e a coloca no sistema de signos, ele propõe uma concepção
mais ampla de significado. Isto pode ser compreendido tomando-se o exemplo do mesmo
lápis vermelho – podemos compreendê-lo em suas propriedades físicas, porém dificilmente o
faremos conscientemente. O mais provável é que, ao visualizar o lápis, sejamos afetados por
determinados estados de espírito intrinsecamente ligados a figurações imagéticas, ainda que
de forma sutil, proveniente de nossas experiências pessoais: para algumas pessoas um lápis
colorido pode causar alguma nostalgia de seu tempo de escola; para outros pode causar
alguma moção criativa, advinda do contexto de alguma atividade própria como o desenho
técnico ou artístico; a visão do lápis pode ainda causar algum desconforto a alguém que se
sinta particularmente inapto para sua utilização. Mesmo que seja considerada somente a
satisfação de se encontrar um lápis quando se está precisando dele, a apreensão do significado
de um objeto se dá pela interação deste com o sujeito. Da mesma forma é a operação de
significado na música: “objetos”, “situações” ou “lugares” podem ser intuídos a partir das
impressões que os signos musicais apresentam a partir de suas associações.
2. Música e os afetos
A música do século XVIII tinha como premissa a conexão entre música e os afetos
(Videira, 2006, p. 57). Desde a antiguidade este pensamento sempre esteve presente no
pensamento musical, e tornou-se cada vez mais importante durante a Idade Média. O
pensamento filosófico musical acompanhou os estudos retóricos, o que indica que desde os
primórdios da música escrita esta sempre foi concebida como uma linguagem e sua
composição compreendida como um discurso. Um dos teóricos mais importantes deste
pensamento foi Johann Mattheson (1681-1764) e sua obra principal foi o tratado Der
vollkommene Capellmeister (1739), no qual o autor estabelece que a conexão entre música e
afeto é baseada na similaridade entre o movimento musical e o movimento do espírito, em um
aspecto mimético. Do ponto de vista retórico, portanto, o campo de ação da música era o
pathos discursivo, onde a música teria uma propriedade persuasiva sobre o ouvinte. Esta visão
denotava um sentido de racionalização das propriedades musicais que não foi amplamente
aceita pelos músicos da época, e aos poucos foi sendo abandonada no século XIX com o
surgimento do pensamento romântico, que deslocou a atenção dos afetos discursivos para a
expressão sentimental do músico, tanto do compositor como do executante. O espírito do
e posteriormente por Galeno de Pérgamo (c. 129-217 d.C.), que associavam os quatro
temperamentos (ou tendências disposicionais da personalidade) aos fluidos corporais: o
sanguíneo ao sangue; o fleumático à linfa ou fleuma; o colérico à bílis e o melancólico à
astrabílis ou bílis negra (Eysenck, 1967, p. 45). Essa Doutrina dos Temperamentos foi muito
importante na medicina e na retórica até o século XVIII. A partir do desenvolvimento da
psicologia do comportamento e outros avanços na medicina, a compreensão dos
temperamentos na tipologia da personalidade perdeu parte de sua relevância na prática
clínica. Porém, se a imprecisão da determinação tipológica mostra-se limitada para fins
terapêuticos, muito pode interessar na investigação filosófica da significação musical.
Segundo H. J. Eysenck (1967, p. 45) compreende-se atualmente que todos os indivíduos
apresentam, em maior ou menor grau, características associadas aos quatro temperamentos;
observa-se também que, de modo geral, um deles é predominante, tendo-se ainda outros
elementos com predominância secundária; por fim, conclui-se que há variação de incidência
dos temperamentos nos indivíduos motivada por fatores externos, porém a propensão a esta
variação continua sendo determinada pelo temperamento preponderante neste indivíduo em
particular. Esta questão interessa à investigação musicológica quando se observa que os
temperamentos não possuem sentimentos específicos, mas simplesmente moções ou
disposições de caráter. Dessa forma, é possível reconhecer na expressão musical os
temperamentos análogos às compleições humanas. Uma música apresenta também um
temperamento predominante; o discurso musical apresenta alterações de temperamento, tal
como o comportamento humano. Esta sequência não é arbitrária, pois os elementos internos
da sintaxe musical conferem unidade para a sucessão de acontecimentos dentro da música,
como se ela mesma fosse um ser animado. Esta parece ser a “música por si mesma” a qual
Wittgenstein se refere. O ouvinte não se identifica factualmente com o que ouve, e também
não se sente “afetado” pela música – ele se identifica com a música como quem olha para um
espelho que reflete sua imagem de forma parcial, que reflete imagens do passado, como em
um sonho, que mistura lembranças de sensações experimentadas e figurações imaginárias.
Esta área indeterminada da significação musical pode ser denominada como o campo
metafórico da linguagem musical, que permitirá ao ouvinte não ser “impactado” pela música,
mas sim que ele se reconheça a si mesmo, a partir de suas próprias memórias associativas,
formando um contra-ethos do ouvinte em relação ao ethos da obra musical. Pode-se
considerar que esta visão constitui uma interpretação da proposição 6.421 do Tractatus:
“Ética e estética são uma coisa só” (Wittgenstein, 1994, p. 277). Porém, os temperamentos
não constituem isoladamente aquilo que a musicologia dos dias atuais compreende por
significação musical. Eles estão presentes e atuam ativamente sobre esta significação, mas
esta só se evidencia efetivamente através dos tópicos musicais.
3. Tópicos musicais
Quando se fala que a música mostra “imagens”, esta associação mostra-se bastante
coerente com o conceito de tópico musical. Em sua origem clássica, o tópico representava o
lugar comum: imagens recorrentes de significado convencional, e sua evocação, tão presente
na poesia e no drama, resulta na criação dos “cenários sonoros” onde a música se desenvolve.
A introdução do conceito de tópicos de expressão musical foi feita por Leonard Ratner
no livro Classic Music: Expression, Form and Style (1980), onde os tópicos são definidos
como “sujeitos do discurso musical”, no contexto do período do classicismo. Os tópicos
primários são classificados em tipos (também chamados de gêneros) e estilos. Os tipos
compreendem as danças e marchas, que apresentam uma relação bilateral de mimetismo da
música e do movimento humano a ela associado. Já os estilos incluem as expressões militares,
de caça, ou estilos de música turca, entre outras expressões associadas a atividades humanas
ou regionalidades específicas. Na música barroca, os tipos constituíam o caráter de peças
completas, como minuetos ou gavotas; já na música do período clássico tipos e estilos
passaram a constituir expressões sequenciais dentro de uma mesma obra musical, que passava
a apresentar diferentes expressões em diferentes seções internas da música, adquirindo então
uma dimensão estrutural na composição. Esta compreensão dos tipos e estilos como
elementos composicionais combinatórios dentro de uma música conduziu à conclusão de que
todos estes elementos musicais constituem tópicos, alguns derivados da música popular ou
funcional, e outros resultantes do cruzamento intertextual entre outros estilos artísticos ou
manifestações culturais. Danuta Mirka (2014, p. 2) reitera a definição de tópico enquanto
“estilos e gêneros musicais tirados de seu contexto original para ser usado em outro”. Este
trânsito de estilos e gêneros resulta na criação de elos culturais significativos sobre os quais a
música desenvolve sua expressão. As danças, por exemplo, representam muito mais do que o
seu movimento – uma dança relaciona-se com o espaço onde é praticada e com as pessoas que
a praticam. O minueto, dança típica das cortes europeias do século XVII, evoca um
determinado ambiente (o cenário: o palácio da corte), um vestuário específico da nobreza (que
revela a dimensão social da música com a identificação da classe social a que pertence esta
expressão – o alto estilo) e um estado de espírito – a festa, a celebração, a disposição para
intercâmbio de afetos. Já as contradanças, consideradas representações do baixo estilo,
constituíam manifestações populares, menos refinadas e de ímpeto carnal; são associadas ao
espaço das tabernas, onde o deleite festivo seria alcançado pelo desenfreado consumo de
bebidas alcoólicas e por folguedos de calão. A partir destes dois exemplos evidencia-se a
enorme quantidade de informações significantes que estão associadas a expressões musicais.
Ambientes, lugares, situações e estados de espírito tornam-se elementos de significação
apreendidos pela música. A pastoral, a chamada de caça e a expressão Sturm und Drang
constituem tópicos que combinam elementos miméticos com a natureza e outros elementos
sonoros recortados de seus contextos, como o sino de vaca (cowbell), a trompa de caça e a
musette (gaita de foles pastoral).
Grande parte dos tópicos musicais foi consolidada a partir de seu emprego na ópera
italiana e no drama musical wagneriano. A expressão musical reforçava o sentido indicado no
texto dramático e na cena, enquanto a expressão da cena reforça sua associação com a
expressão musical correspondente, em um ciclo de significações em que dificilmente se
poderia identificar qual seria o seu primórdio. A chegada do cinema sonoro amplificou essa
cadeia de associações, utilizando expressões consagradas pela ópera e consolidando
associações expressivas em escala mundial, de forma que atualmente torna-se difícil limitar as
associações a determinados contextos culturais. Chegou-se ao ponto em que o público, ainda
que não entenda a língua que é falada em um filme, decodificará a música como um signo de
compreensão global. Cenas épicas estão invariavelmente ligadas a sonoridades corais; cenas
de suspense ou terror estão sempre associadas a dissonâncias em tessituras extremas. Na
prática, consolidou-se um léxico musical ainda não dicionarizado, tão amplo e dinâmico
quanto a linguagem verbal. A recorrência dos signos nas diferentes manifestações culturais
cria vínculos cada vez mais nítidos. A combinação dos tópicos cria infinitas possibilidades de
expressão; a variação de parâmetros musicais permite a mudança de temperamento dentro de
um mesmo tópico, com o consequente deslocamento de seu significado. O tópico pastoral,
originalmente associado ao temperamento fleumático, ao ser combinado com um tópico
ombra (sombra), desloca o temperamento para uma área limítrofe entre o melancólico e o
fleumático; a marcha militar, comumente associada ao temperamento sanguíneo, pode
adquirir uma expressão colérica quando o ritmo e a harmonia são alterados para sonoridades
exageradamente dissonantes e marcadas, transformando uma expressão marcada por
grandiosidade e majestade em um cenário de tensão e temor.
Por fim, concluímos que os tópicos são ideias musicais ou figurações que por sua
recorrência adquirem uma dimensão significativa dinâmica. Se o que dá vida ao signo é o seu
uso, a recorrência dos tópicos musicais concede uma dimensão significativa indissociável da
expressão musical. E a compreensão do signo musical transcende o conceito histórico de
significado, seguindo pelo caminho proposto por Wittgenstein (1958, p. 5): “sua significância
encontra-se no seu sistema de signos”, que neste caso consiste no sistema particular dos sons,
que é próprio da música, mas não se limita a ela: dialoga com o teatro, com o cinema, com a
música sacra e cerimonial, com as manifestações populares, e juntamente com as outras artes
mimetiza a realidade material, criando uma compreensão multirreferenciada e dialógica.
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estudo introdutório de Luiz Henrique Lopes dos Santos. 2ª ed. São Paulo: EDUSP.
Ney Fialkow
Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grando do Sul
[email protected]
Resumo: O presente estudo teve como objetivo investigar a comunicação de emoções básicas
(alegria, tristeza, calma, medo/hesitação e raiva) através da execução de fragmentos de Ponteios de
Camargo Guarnieri para piano, com indicações explícitas desses estados emocionais. Os estímulos
foram selecionados com base na relação estrutural/expressão musical e emoção sistematizada na
literatura. Trechos dos Ponteios 2, 26, 32, 36 e 38 foram escolhidos, respectivamente, para comunicar
raiva, calma, alegria, tristeza e medo (receio). A amostra envolveu estudantes de curso de teoria e
percepção musical em nível de extensão (N = 59), pertencentes a quatro níveis distintos. O método
empregado foi autorelato por escolha forçada. Os dados foram coletados em questionários fechados ao
longo de três sessões, contendo as alternativas das emoções básicas percebidas, grau de intensidade de
comunicação, assim como parâmetros estruturais e de expressão musical. Os resultados indicaram que
os participantes puderam identificar as emoções básicas durante as coletas. A alegria e raiva foram
mais facilmente reconhecidas (respectivamente 90% e 60%). O medo foi menos comunicado: 24% de
incidências. Houve ainda dispersão e confusão entre calma, tristeza e medo. Os parâmetros referentes
à melodia e andamento foram aqueles que apresentaram maior incidência dentre os participantes. Não
houve nenhuma tendência clara entre nível cursado e grau de comunicação de emoções.
Palavras-chave: percepções de emoções, emoções básicas, execução musical.
Perception of basic emotions by students from the university extension program in the
performance of Camargo Guarnieri´s Ponteios
Abstract: This research aimed at investigating the communication of basic emotions (joy, sadness,
calm, fear/hesitation and ager) through piano Ponteio´s excerpts from Camargo Guarnieri, which bear
explicit indications of these emotional states. The selection of stimuli was based on the relationship
between structural/musical expression and emotion, systematized in the literature. As stimuli, excerpts
from Ponteios 2, 26, 32, 36 and 38 were chosen to communicate anger, calm, joy, sadness and fear,
respectively. The sample involved students from the university extension program on theory and ear
training (N=59). The employed method was self-reported by forced-choice. Data were collected in
closed questionnaires over three sessions, containing the alternatives of the perceived basic emotions,
degree of intensity of communication, as well as structural and musical expression parameters. The
results indicated that the students were capable to identify basic emotions during data collection. Joy
and anger were easily recognized (90% and 60% of incidence, respectively). Fear was less
communicated: 24% of incidence. There was also confusion and dispersion between the perception of
sadness and fear. Melody and tempo were the most assigned parameters for the communication of the
emotions. No clear trend could be observed between academic level within the extension courses and
the communication of emotions.
Key-words: perception of emotions, basic emotions, musical performance.
Introdução
expressividade (vide, por exemplo, Fabian, Timmers, Schubert, 2014; De Poli et al, 2015).
Uma dos aspectos que vem sendo investigado refere-se à comunicação de emoções básicas:
número limitado de emoções inatas e universais, denominadas primárias ou fundamentais,
que são biologicamente essenciais (Juslin, 2013), definidas funcionalmente em termos de: (i)
funções distintas que contribuem para sobrevivência do indivíduo; (ii) sentimentos
singulares; (iii) surgimento precoce no desenvolvimento infantil; (iv) padrões distintos de
mudanças fisiológicas; (v) expressão facial e vocal distintas; (vii) inferência em outros
primatas; (vii) presente em todas as culturas (princípio universal).
Na literatura pianística brasileira, Camargo Guarnieri é um dos compositores que
escreveu o caráter de suas peças com vistas à expressão emocional. O próprio Camargo
Guarnieri (1981) escreveu: “a minha mensagem musical é emocional, não é conceitual” (p.
9). Em seus Ponteios, há um conjunto rico de emoções a serem comunicadas na execução
musical. Camargo Guarnieri explicita em seus Ponteios caráteres específicos, dentre os
quais, aqueles correspondentes às emoções básicas. Considerando a menção explícita de
emoções na obra de Camargo Guarnieri e levando em conta os aspectos levantados por
Juslin (2001) e Juslin e Timmers (2010) sobre os aspectos expressivos potencialmente
associados à comunicação de emoções básicas, surgiram-nos alguns questionamentos: (i) Os
aspectos estruturais e de expressão sistematizados na literatura, e associados à comunicação
de emoções básicas, são pertinentes às emoções (básicas) indicadas explicitamente nos
Ponteios de Camargo Guarnieri? (ii) Essas emoções básicas são igualmente comunicáveis?
(iii) Existem emoções básicas mais facilmente reconhecidas pelo público ouvinte no
contexto dos Ponteios estudados? (iv) De que maneira pode-se associar aspectos estruturais
e expressivos elencados na literatura (Juslin, 2001) com a comunicação das emoções básicas
pretendidas na comunicação emocional dos Ponteios de Camargo Guarnieri? Dessa forma, a
presente comunicação discute o grau de comunicação das emoções básicas (alegria, tristeza,
calma, medo e raiva) em performances ao vivo de trechos de Ponteios de Camargo
Guarnieri.
Método
Resultados e Discussões
�
Figura 1. Percepção de emoções básicas por estudantes de extensão. N = 59. Três sessões de coleta.
(iii) Ponteio 32 (Com Alegria) – A emoção Alegre foi aquela que obteve maior consenso em
termos de comunicação (cerca de 90%). Segundo Kallinen (2005), alegria (e tristeza) são
estados emocionais comumente expressos na música ocidental. Ainda, essas duas
emoções são facilmente comunicadas musicalmente e consistentemente em termos de
modo e andamento. Ocidentais aprendem desde cedo a associar música rápida e modo
maior à alegria;
(iv) Ponteio 36 (Tristemente) – A emoção triste foi percebida apenas pela metade da amostra.
Essa população marcou também cerca de 40% para a sensação de calma. Ou seja, houve
nitidamente uma dispersão de percepção da emoção entre o triste e calmo.
(v) Ponteio 38 (Hesitante) – Na analise dos resultados pode-se aferir que não houve
comunicação da emoção pretendida. Embora observe-se a tendência de percepção de
emoção triste (cerca de 40 %), houve uma dispersão na percepção de emoções, havendo
incidências também para o calmo e até mesmo um pouco mais de 25% percebido para o
hesitante, que foi a emoção pretendida a ser comunicada. Cabe aqui salientar talvez a
potencial dificuldade de perceber essa emoção (Juslin, 2013) que pode ser considerada de
valência positiva e negativa. Resultados similares foram relatados na literatura com
relação à percepção de “surpresa” (Mohn et al. 2010), por apresentar essa potencial
ambivalência entre positivo e negativo.
A confusão entre tristeza e calma, aqui observada, já foi reportada na literatura,
conforme mencionado anteriormente (D`Inca, Mion, 2006). No entanto, ao nosso
conhecimento, confusão de percepção de emoção hesitante/medo não foi mencionada na
literatura. No caso do Ponteio 38 (Hesitante), a dispersão em termos de percepção pode ser
devido ao fato de que o trecho selecionado apresenta características semelhantes àquelas
observadas nos Ponteios 26 e 36 (calmo e triste, respectivamente). Além de o
acompanhamento dos Ponteios 36 e 38 serem similares, os aspectos semelhantes envolvem
ainda a melodia melancólica e o andamento lento. O andamento é um dos parâmetros
musicais mais salientado para percepção de emoções pelos ouvintes na literatura
(Gabrielsson, Lindström, 2001; Juslin, 2001). Devido a esse fato, cogita-se que esse
parâmetro musical (andamento) foi um fator determinante para a dispersão dos ouvintes
acerca dessas três emoções.
Para avaliar o significado estatístico desses resultados, o teste chi quadrado foi
realizado empregando o valor nominal de incidências, comparando as emoções
reconhecidas com aquelas confundidas. Esse procedimento revelou que tristeza foi
significativamente classificada como calmo (χ2 = 58,5, p < 0,05), e que hesitante foi
significativamente classificada como tristeza (χ2 = 44,9, p < 0,05). Em outras palavras, a
atribuição da população investigada, tanto em relação ao reconhecimento como à
confusão de emoções, foi intencional e não aleatória (ao acaso).
Na tentativa de elucidar que aspectos estruturais estavam sendo considerados na
decisão pela emoção percebida, os participantes foram solicitados a identificar, para cada
estímulo, que aspectos estruturais da obra pareciam estar guiando tal decisão. As seguintes
Considerações Finais
Para os estudantes de extensão, a emoção mais comunicada foi alegria, seguida de raiva,
de calma, tristeza e medo. No estímulo referente à calma (Ponteio 26), houve confusão na
comunicação das emoções de tristeza e calma. Em relação ao Ponteio 38 (Hesitante), que
nesse trabalho foi considerado como potencial para a expressão de medo no sentido de receio,
a percentagem de incidência foi baixa (cerca de 25%), em parte confundida com os estados
emocionais triste e calmo.
De maneira geral, os aspectos estruturais e de expressão sistematizados por Juslin
(2001) e Juslin e Timmers (2010), foram pertinentes para a comunicação das emoções básicas
apontadas nos Ponteios de Camargo Guarnieri. Cabe aqui salientar que essa sistematização foi
realizada com base em trechos extraídos do repertório da tradição clássica ocidental. Portanto,
observa-se aqui que em grandes linhas tais aspectos estruturais e expressivos descritos na
literatura foram satisfatórios no caso das obras brasileiras aqui estudadas.
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Ramos, D., Da Silva, E. (2014). Percepção de emoções em música brasileira a partir da
perspectiva do Expanded Lens Model: um estudo preliminar. Anais do X Simpósio de
H.K.M. agradece a bolsa concedida pela CAPES. R.A.T.S. agradece ao CNPq pelo
financiamento da pesquisa (Projeto 472652/2012-5).
Adeline Stervinou
Universidade Federal do Ceará - Campus de Sobral
[email protected]
Resumo: Este artigo apresenta uma pesquisa em andamento que se propõe a aplicar no Brasil um ex-
perimento realizado na França durante a pesquisa de doutorado intitulada A percepção estrutural e
temporal de trechos musicais contemporâneos pelos adolescentes músicos e não músicos, visando
observar os efeitos das diferentes estruturas musicais da corrente musical minimalista sobre a percep-
ção temporal de adolescentes músicos e não-músicos, e comparar os resultados entre os dois países.
As principais etapas da tese serão brevemente descritas a fim de justificar os seguintes procedimentos:
a escolha da temática sobre o tempo, sobre os trechos musicais, definir os procedimentos composici-
onais utilizados suscetíveis a alterar a percepção da duração pelos participantes, apresentar o experi-
mento elaborado e comentar os resultados obtidos na França. A partir disso, serão discutidas as expec-
tativas acerca dos resultados a serem obtidos no Brasil. Os resultados observados nos jovens franceses
demonstram que somente certos procedimentos utilizados pelos compositores minimalistas têm um
efeito sobre a percepção das estruturas musicais e sobre a estimativa de sua duração, e que tanto os
jovens músicos quanto aos não-músicos possuem a mesma percepção da duração dos trechos musi-
cais. Será que a diversidade cultural influenciaria nos resultados desse experimento? Este projeto de
pesquisa reaplicará o experimento acima descrito no Brasil.
Palavras chave: percepção auditiva; música contemporânea; experimento; França e Brasil
Abstract: This paper presents a research in process which proposes the application of a experiment in
Brazil, first realized at France during the doctorate research intitulated The structural and temporal
perception of musical contemporaries excerpts for musicians and non musicians teenagers, which the
aim was to observe the effects of different musical structures of the minimalist movement on musici-
ans and non musicians teenagers temporal perception, and to compare the results between the two
countries. The main stages of the these will be briefly described to justify the following procedure: the
choice about the temporal thematic, the about choice the musical excerpts, to define the compositional
procedures used that can alter the teenagers perception of duration, present the experiment developed
and comment the results obtained in France. From this, the expectation of the results that will be ob-
tained in Brazil will be discussed. The results observed with the French teenagers showed that only a
few procedures used by the minimalist composers had an effect on the musical structures perception
and on the duration estimation. Moreover, the results showed that the young musicians, as well as the
non musicians, have the same perception of the musical excerpts duration. Could the cultural diversity
influence the results of this experiment? This research project will apply in Brazil the experiment des-
cribed above.
Keywords: hearing perception; contemporary music; experiment; France and Brazil
1. Introdução
Este artigo propõe uma discussão sobre os mecanismos auditivos utilizados durante a
percepção temporal de trechos musicais contemporâneos, da corrente musical minimalista, a
partir da apresentação dos resultados de uma experimentação realizada durante o trabalho de
tese (Stervinou, 2011) na França com adolescentes músicos e não músicos.
A percepção musical é um domínio amplo oferecendo muitas possibilidades de investi-
gação exploradas em musicologia (Contrechamps, 1989), em psicologia da música (Fraisse,
1974), em psicologia cognitiva (Sloboda, 1985) e em psicologia acústica (MC Adam e De-
liège, 1988). Vários estudos que englobam a música e a percepção mostram as diversas possi-
bilidades de introduzir a música em um contexto experimental. Na maioria dos estudos expe-
rimentais orientados na percepção musical de objetos musicais, (Tillmann e Bigand, 1996) é
recorrente a utilização de um único parâmetro sonoro a fim de mesurar algumas propriedades
e influencias na percepção: a altura (Deutsch e Feroe, 1981), a duração (Pashler, 2001), a in-
tensidade (Handel, 1974) ou o timbre (Castellengo e Dubois, 2005). Escolher um elemento do
som permite de definir o efeito dele durante a percepção e focalizar a atenção dos partici-
pantes sobre um parâmetro sonoro específico.
Em nossa pesquisa escolhemos observar as habilidades perceptivas de participantes mú-
sicos e não músicos durante a escuta de stimuli1 extraídos do repertório musical contemporâ-
neo, mais especificamente da corrente minimalista pelo fato de apresentar propriedades tem-
porais particulares, reveladas com o uso do processo de repetição cíclica. As mesmas células
sonoras são repetidas para obter uma evolução musical progressiva no tempo, princípio fun-
damental dessas composições musicais.
2. Objetivos
O objetivo principal dessa pesquisa consiste em verificar se o contexto social e cultural
influencia a percepção temporal de adolescentes músicos e não músicos. Para isso, utilizar-se-
á do mesmo protocolo utilizado na França (Stervinou, 2011), reaplicando a pesquisa em dife-
rentes contextos culturais e comparando os resultados. Para isso, a pesquisa será realizada em
diferentes países, começando pelo Brasil, onde o conteúdo “Música” se tornou obrigatório
recentemente nas escolas (Lei 11.769/2008). Mesmo com a proclamação dessa lei, na maioria
das regiões brasileiras existe uma falta latente de educadores musicais formados para atuar
nas escolas, ocorrendo assim, um ensino musical ainda ineficaz dentro dessas instituições.
Ressaltamos que, diferentemente do contexto brasileiro, a França possui a educação musical
nas escolas desde o século XIX. Considerando esses fatos, podemos pensar que a percepção
musical dos adolescentes brasileiros não-músicos será bem diferente dos adolescentes france-
ses.
Alguns estudos reforçam essas considerações e mais particularmente as recentes pesqui-
sas realizadas pelos professores Susan O’Neill e Gary McPherson que compararam a motiva-
ção dos alunos para estudar música em oito países incluindo o Brasil (McPherson e O’Neill,
2010). Nessa investigação os autores procuraram medir os vários componentes que influenci-
am o processo de percepção e motivação em função da cultura dos participantes observados.
Perceberam que, para todas as populações observadas, os estudantes se mostram mais moti-
vados nos estudos das disciplinas escolares quando estudam um instrumento musical sugerin-
do que o ensino da música incentiva o desenvolvimento escolar dos jovens.
3. As obras escolhidas
A expressão “música contemporânea” é principalmente associada à música do século
XX caracterizando-se pela extrapolação dos limites dos códigos musicais existentes a fim de
experimentar novos processos de organização dos parâmetros sonoros, obtendo obras musi-
cais construídas a partir de uma própria linguagem musical. Os compositores da corrente mi-
nimalista, corrente desenvolvida pelos norte-americanos dos anos 1960, elaboraram uma lin-
guagem organizada em diferentes processos de escrita evoluindo no tempo a partir da repeti-
ção de células sonoras. A superposição dos elementos musicais cria uma matéria sonora em
perpétuo movimento progressivamente enriquecida de novos elementos durante a obra. O
princípio geral dessa corrente é repetir uma mesma célula e, a cada repetição, acrescentar-lhe
um novo elemento musical. O interesse em trabalhar com a corrente minimalista se justifica
essencialmente pelas propriedades temporais induzidas pela repetição e a maneira de explorá-
la em função da escrita utilizada. O movimento minimalista se caracteriza pela divisão em
diferentes processos de escrita, cada um possuindo elementos específicos (GIRARD, 2010).
Esses processos podem ser apresentados da seguinte maneira:
- A escrita aditiva é composta de várias células rítmicas ou melódicas organizadas à
partir de uma lógica matemática precisa. Para cada nova frase uma célula suplementar é
adicionada, como mostra a obra Mon père Mon père de Philip Glass2 composto por quatro
frases onde cada execução mantém o tema inicial, porém, acrescido de novas frases
construídas a partir das frases executadas anteriormente. O tempo musical parece estabili-
zar-se entre as repetições dos elementos melódicos e a adoção de novos elementos.
3
4
5
Uma vez que o corpus de obras minimalistas foi selecionado, realizou-se uma análise
musical detalhada dos trechos sonoros, orientada no intuito de adaptar o conteúdo musical à
experimentação (Deutsch, 1999). A análise dos trechos foi concentrada nas estruturas compo-
sicionais induzidas pelo processo de escrita de cada música, tendo como objetivo determinar
os elementos susceptíveis em ter um efeito de progressão temporal na percepção da música.
Esta análise destinou-se a justificar a escolha dos trechos para definir os procedimentos com-
posicionais que poderiam alterar, ou não, a percepção dos participantes em relação ao tempo.
A partir dos diferentes elementos específicos destacados por esta análise musical, um
experimento foi realizado a fim de medir os efeitos dessa corrente musical na percepção tem-
poral dos participantes músicos e não músicos, a saber, categorização livre (Dubois, 1997).
4. Experimento realizado na França
Categorização livre
A fim de avaliar a percepção das estruturas musicais, foi demandado aos participantes
que efetuassem um teste de categorização livre. Esse teste consistiu em classificar dezesseis
stimuli sonoros a partir dos seus próprios critérios de escolha. Os quarenta e quatro partici-
pantes (vinte e dois músicos e vinte e dois não músicos tendo entre treze e dezessete anos de
idade) deveriam comentar e explicar oralmente as suas categorias, permitindo assim observar
quais elementos ou quais parâmetros musicais influenciaram os grupos sonoros organizados
por eles. O princípio de categorização permite classificar os stimuli em grupos de trechos si-
milares ou não, em função dos critérios dos adolescentes. Este método provém da psicologia
cognitiva, mais particularmente dos estudos efetuados por Rosch (1978) e Dubois (1993), e
permite valorizar os critérios intrínsecos pertinentes à construção das categorias perceptivas7.
A hipótese inicial relativa a esse experimento era que os músicos organizariam as ca-
tegorias sonoras em função das estruturas musicais de cada trecho enquanto que os não músi-
cos as organizariam principalmente guiados pelos seus sentidos pessoais e as suas experiênci-
as auditivas anteriores. Por isso, essa pesquisa supôs que os músicos tentariam identificar a
8
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Mc Adams, S., e Deliège, I. (1988). La musique et les sciences cognitives. Liège: Pierre Ma-
draga.
Danilo Ramos
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Amanda Nicolau
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Camila Figueiredo
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Eduardo Mello
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Jorge Pires
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Juslei Silva
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Mariana Abad
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Resumo: O objetivo do presente estudo foi comparar as representações mentais da percepção
harmônica entre grupos de cegos e normovisuais. Entende-se por cegos os indivíduos com
cegueira congênita ou aqueles que tenham perdido a visão antes dos cinco anos de idade e
normovisuais os indivíduos que não apresentam significativa alteração da capacidade funcional da
visão. Participaram do estudo 14 cegos e 15 normovisuais não músicos de ambos os sexos com
idades entre 14 e 52 anos. Os participantes foram submetidos a um experimento de escuta em que
responderam se cada trecho musical apreciado estava no modo maior ou menor. Ao grupo controle
não foi dada nenhuma instrução para a realização do teste, enquanto que o grupo experimental
recebeu uma estratégia cognitiva que relacionava o modo à emoção (modo maior, alegria e modo
menor, tristeza). Todos os participantes escutaram 16 trechos musicais com aproximadamente 20
segundos de duração, apresentados aleatoriamente em três versões: somente melodia (M), melodia
e harmonia (MH) e somente harmonia (H), configurando-se 48 trechos musicais. O design
experimental utilizado foi 3 condições dos trechos musicais (M, MH e H) x 2 estratégias
cognitivas (controle versus experimental) x 2 grupos (cegos e normovisuais). O teste estatístico
ANOVA indicou um aumento no índice de respostas corretas na tarefa requisitada no grupo dos
normovisuais a partir da estratégia cognitiva fornecida. Neste sentido, os resultados sugerem que a
relação entre emoção e modo ocorre de forma diferente entre indivíduos cegos e normovisuais.
Palavras-chave: percepção harmônica; cegos; emoções musicais.
Musical mode association with emotions helps the acquisition of harmonic perception in
congenitally blind and sighted
Abstract: The aim of this study was to compare the mental representations of harmonic
perception between blind and sighted individuals. We defined blind as individuals with congenital
blindness or those who have lost sight before the age of five and sighted individuals who have no
significant change in functional capacity of vision. 14 blind and 15 sighted individuals from both
sexes and aged between 14 and 52 years old (all nonmusicians) participated of this experiment.
Participants were submitted to a listening experiment in which they should respond if each piece
of music appreciated was in major or minor mode. The control group did not receive any
instructions to the test, while the experimental group received a cognitive strategy that related the
mode to emotion (major mode to happiness and minor mode to sadness). All participants listened
to 16 musical excerpts with approximately 20 seconds of duration, presented randomly among
participants in three versions: only melody (M), melody and harmony (MH) and only harmony
(H). Each excerpt was transported to a minor mode, totalizing 48 excerpts. The experimental
design used was 3 x musical excerpt conditions (M, MH and H) x 2 cognitive strategies (control
versus experimental) x 2 groups (blind and sighted). The ANOVA indicated an increase of correct
answers in the task required the group of sighted from the provided cognitive strategies. In this
sense, results suggest that the relation between emotion and mode occurs differently between
sighted and blind individuals.
Keywords: harmonic perception; blind; musical emotions.
Introdução
Os termos representação mental ou representação interna têm sido empregados pelos
pesquisadores em psicologia cognitiva da música para descrever os processos psicológicos
utilizados pelos músicos em suas performances e em seu aprendizado musical. As
representações mentais podem ser definidas como reconstruções internas do mundo exterior,
que podem estar relacionadas ao processamento dos parâmetros de estrutura musical, das
emoções, das propriedades sinestésicas, entre outros (Lehmann, Sloboda & Woody, 2007).
Segundo Parncutt e McPherson (2002), estas imagens mentais do som deveriam ser
aprendidas pelo músico antes do treino motor, da leitura ou da escrita musical, configurando-
se como uma antecipação mental sonora daquilo que deverá ser executado.
A representação mental de estruturas harmônicas também têm sido objeto de estudos em
cognição musical. Hevner (1935) investigou a relação da qualidade afetiva dos modos maior e
menor em música. Os resultados da pesquisa desta autora indicam o modo maior relacionado
à alegria e o modo menor à tristeza. Por meio de suas investigações, Dalla Bella, Peretz,
Rousseau e Gosselin (2001) comprovaram que adultos e crianças a partir dos seis anos de
idade são capazes de utilizar o modo (associado ao andamento musical) para distinguir o que
é alegre e triste em música. Com relação a pessoas cegas, estudos sugerem que elas formam
imagens mentais em música, sendo o interesse dos pesquisadores dessa população
comumente direcionado à duas áreas: neurociência (Gaab, Schulze, Ozdemir & Schlaug,
2006) e educação (Bonilha, 2010). Já a pesquisa sobre emoção em cegos, por sua vez, parece
estar mais relacionada à capacidade de produção de expressões faciais por pessoas cegas
(Roch-Levecq, 2006) e de reconhecimento de emoções expressadas pela voz (Dyck, Farrugia,
Schochet & Holmes-Brown, 2004).
Metodologia
Participantes: 14 cegos congênitos e 15 normovisuais de ambos os sexos, com idades entre
14 e 52 anos (média = 25 anos), sem conhecimento de harmonia musical prévio e sem
problemas de audição relatados. O experimento com os participantes cegos congênitos foi
realizado no Instituto de Cegos do Paraná e com os normovisuais em locais diversos. Em
ambas as situações, o experimento foi feito em salas silenciosas, que não continham nenhum
estímulo sonoro que atrapalhasse a sua realização.
Análise de dados: o teste ANOVA foi empregado para comparar a porcentagem de acertos
das respostas dos participantes, a partir do design experimental 3 condições dos trechos
musicais (M, H e MH) x 2 estratégias mentais (controle versus experimental) x 2 grupos
(cegos versus normovisuais). O post-hoc Newman Keuls fez uma análise pareada entre os
grupos. Foram consideradas diferenças estatísticas significativas quando os valores de p
encontrados fossem menores do que 0,05.
Resultados
A Figura 1 apresenta a média das respostas dos participantes (cegos e normovisuais) em
função das estratégias de representação mental recebidas.
Figura 1: valores em porcentagem dos acertos dos participantes em função dos grupos ao
qual pertenciam (cegos ou normovisuais) e da estratégia de representação mental
empregadas (controle ou experimental).
Figura 2 – Valores em porcentagem dos acertos dos participantes em função
da condição dos trechos apresentados e das estratégias de representação
mental empregadas.
Discussão
O presente estudo teve como objetivo compreender as estratégias de representações
mentais da percepção harmônica empregadas por pessoas cegas e normovisuais, a partir da
aplicação de um experimento que relacionava trechos musicais apresentados nos modos maior
e menor às emoções alegria e tristeza, respectivamente. Os resultados mostraram que a
estratégia de ensino da associação do modo musical com as emoções musicais aumentou a
taxa de acerto dos participantes normovisuais.
Com relação aos dados obtidos nos questionários complementares, os participantes
normovisuais do grupo experimental apresentaram relatos da utilização da estratégia sugerida
para a identificação do modo não somente com as emoções, mas também a partir da
associação com alturas (sendo o som agudo associado ao modo maior e o som grave
associado ao modo menor). Esta associação também ocorreu nos participantes normovisuais
do grupo controle (que não recebiam estas estratégias). Este dado sugere que a associação das
emoções musicais com o modo, a altura e outros parâmetros de estrutura musical parece ser
um processo psicológico comum durante a escuta musical, conforme apontam Dalla Bella et
al (2001), Ramos, Bueno e Bigand (2011), Juslin (2013) entre outros.
No que concerne às condições de trechos musicais apresentadas aos participantes
(somente melodia, somente harmonia e melodias harmonizadas), os dados deste estudo
corroboram, em parte, os dados obtidos por Websteir e Weir (2005). Estes autores relatam em
seu estudo que a percepção das emoções musicais é facilitada quando as melodias
apresentadas aos ouvintes são harmonizadas em relação a melodias não harmonizadas. No
presente estudo, apesar de a versão H (somente harmonia) ter obtido índices de acerto similar
à versão melodia e harmonia (MH) para ambos os grupos, estes foram maiores do que os da
versão somente melodia (M), principalmente para o grupo de participantes normovisuais na
condição experimental, indicando que a presença de um contexto musical harmônico
influenciou significativamente a melhora no desempenho da tarefa. Estes resultados levantam
a hipótese de que a presença de trechos musicais com componentes harmônicos parece ser
mais adequada de que os meramente melódicos em estudos sobre respostas emocionais à
música.
A respeito da comparação que originou o objetivo do presente estudo (percepção
harmônica entre cegos e normovisuais por meio de associações emocionais), os dados obtidos
ilustram que há, de fato, uma diferença significativa na representação mental do modo
musical entre pessoas cegas e normovisuais. Desta forma, acredita-se que a hipótese central
da presente pesquisa foi confirmada.
Sobre normovisuais, a pesquisa de Juslin (2013) sugere a existência de três camadas
distintas de percepção musical para a expressão das emoções musicais. Segundo o autor, cada
camada corresponderia a um tipo específico de codificação do significado emocional. A
camada núcleo seria constituída por emoções básicas (alegria, tristeza, raiva, medo e
serenidade) que são do tipo icônicas. Estas emoções dependem menos do contexto social, ou
de interpretações individuais, para sua comunicação. Enquanto em camadas adicionais de
expressão, emoções mais complexas dependem de códigos intrínsecos e/ou associativos para
seu processamento. Visto que o presente estudo lida com duas das emoções básicas e os
indivíduos investigados pertencerem a uma cultura ocidental, a camada de percepção musical
empregada pareceu ser meramente do tipo icônica. Neste sentido, as camadas adicionais que
permitem aos ouvintes perceber emoções musicais mais complexas parecem não terem sido
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Roch-Leveqc, A. C. (2006). Production of basic emotions by children with congenital
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Developmental Psychology, 24 (3), 507-528.
Webster, G. D., & Weir, C. G. (2005). Emotional responses to music: interactive effects of
mode, texture, and tempo. Motivation and Emotion, 29 (1), 19-39.
Introdução
Mensurar as emoções musicais tem sido um trabalho bastante árduo por parte dos
pesquisadores em cognição musical. Esta dificuldade pode ser atribuída por conta da
existência de variáveis distintas relacionadas às tarefas de escuta musical que parecem
influenciar diretamente nos resultados das pesquisas. Tais variáveis podem estar relacionadas
a aspectos culturais e metodológicos (Juslin & Sloboda, 2001). Muitas são as metodologias
empregadas em estudos da área (Berlyne, 1974; Ramos, Bueno & Bigand, 2011; Ramos,
Beraldo & Tatsch, 2014) e os resultados destes estudos geram consistência na comparação dos
dados para algumas emoções e inconsistência para outras.
Embora haja muitas maneiras de se definir emoções, um consenso estabelecido pela
literatura científica diz que as emoções podem se referir a reações breves ou intensas dos
indivíduos, que variam de acordo com o ambiente relacionado. Por esta abordagem, o
conceito de emoção consiste em um número determinado de componentes: avaliação
cognitiva, sentimento subjetivo, arousal psicológico, expressão emocional, tendência de ação
e regulação da própria emoção (Juslin & Laukka, 2004).
Atualmente, sabe-se não haver na literatura um único paradigma teórico dominante em
pesquisas sobre as emoções musicais. A partir desta perspectiva, Ramos (2008) aponta três
principais tipos de medidas de mensuração que costumam ser usados em pesquisas da área:
(a) medidas comportamentais, por meio da observação de comportamentos humanos durante
uma tarefa de escuta musical; (b) medidas psicofisiológicas, por meio de respostas
emocionais durante a escuta musical (envolvendo medidas galvânicas na pele,
eletroencefalograma, entre outras técnicas); e (c) medidas cognitivas, por meio de relatos
verbais fornecidos pelos indivíduos durante ou após a escuta musical.
Alguns modelos científicos têm contribuído para a explicação dos processos
psicológicos relacionados a respostas emocionais nas mais variadas tarefas, inclusive aquelas
relacionadas à escuta musical. É o caso do modelo circumplexo de Russel (1980), que
considera duas dimensões determinantes para a classificação das emoções: o arousal e a
valência afetiva.
O arousal pode ser definido como o estado de excitação fisiológica (bater os pés, sentir
um arrepio ou acompanhar um ritmo com a cabeça, por exemplo), podendo ser alto ou baixo.
Já a valência afetiva é definida como o grau de prazer (valor hedônico) envolvido na atividade
a ser mensurada, podendo ser positiva ou negativa. Geralmente ao utilizar o modelo
circumplexo, o pesquisador opta pela definição de uma emoção alvo, ou seja, uma emoção
representada em um dos quadrantes do modelo que esteja diretamente mais relacionada aos
trechos musicais apreciados do que a outras emoções presentes em outros quadrantes.
Apesar de o modelo circumplexo de Russel (1980) não ter sido criado especificamente
Metodologia
Experimento I (Emoções Percebidas)
Participantes: 16 indivíduos de ambos os sexos, com idades entre 15 e 56 anos
(média=26,5) e sem estudo formal de algum instrumento musical. Os participantes foram
recrutados por meio de uma carta-convite enviada previamente pelo pesquisador. Por meio de
um agendamento, eles compareceram à sala do Departamento de Artes da UFPR, onde foi
realizado o experimento.
Equipamentos: notebook Acteon Digital (504Mb de RAM, Windows XP) e fones de
ouvido Philips SHP1900 para escuta e apresentação dos trechos musicais; softwares e-Prime e
Statistica (versão 8.0) para registro das respostas dos participantes e para a análise de dados,
respectivamente. Para as respostas emocionais fornecidas por meio das descrições livres foi
utilizado um formulário específico. Todos os participantes responderam a um questionário
complementar para obtenção de dados pessoais, dados relacionados aos hábitos de escuta e
dados sobre impressões a respeito do experimento. Os dados foram coletados em sala
silenciosa, com paredes brancas e lisas.
Material musical: 12 trechos musicais de obras do repertório erudito ocidental,
utilizados no estudo de Ramos (2008). As emoções investigadas foram alegria, raiva,
tranquilidade e tristeza e foram tratadas como emoções-alvo durante o experimento. Três
trechos musicais foram apresentador por emoção.
Procedimento: dois testes foram realizados, respectivamente. O primeiro envolveu
descrições livres, em que os participantes preencheram um formulário para coleta de respostas
emocionais para emoções percebidas durante os momentos de escuta dos trechos musicais
apresentados. Em um segundo momento foi realizado um teste com o uso das escalas de
diferencial semântico (alcance 0-10), em que 0 significava ausência da emoção a ser avaliada
e 10 significava grande presença da emoção avaliada. Ao final da audição de cada trecho
musical, quatro categorias eram apresentadas (alegria, raiva, tranquilidade e tristeza) e
somente após o preenchimento de todas as escalas, o próximo trecho musical era executado.
O método das descrições livres foi apresentado sempre em um primeiro momento, uma vez
que a visualização anterior de quaisquer escalas poderia fornecer léxicos emocionais para os
participantes. O experimento completo, envolvendo as duas metodologias de mensuração,
teve duração média de 30 minutos.
Análise de dados: a análise dos dados provenientes das escalas de diferencial semântico
foi feita com o emprego do teste ANOVA para cada trecho musical, comparando respostas
emocionais dentro da emoção-alvo (por exemplo, respostas emocionais para a emoção alegria
em um trecho musical que buscava comunicar alegria) com as respostas emocionais relativas
a outras emoções (por exemplo, respostas emocionais para as emoções tristeza, tranquilidade
e raiva em um trecho musical que buscava comunicar alegria). Em seguida foi utilizado o
Resultados
As tabelas 1 e 2 a seguir ilustram a porcentagem de respostas emocionais dos
participantes para os trechos musicais considerando as emoções-alvo (ou seja, quando os
participantes associavam a emoção de um trecho musical selecionado para aquela emoção
com o seu léxico emocional correspondente), considerando as duas metodologias de
mensuração empregadas:
Tabela 1. Porcentagem de respostas emocionais dos participantes por meio de escalas de diferencial
semântico (0-10), de acordo com os trechos musicais selecionados para serem associados a suas emoções-
alvo.
Nota: os dados foram analisados comparando as respostas obtidas a emoções pertencentes aos quadrantes do
modelo circumplexo de Russel (1980). Quadrantes com porcentagens e siglas indicam que os trechos musicais
previamente selecionados não foram associados a suas emoções-alvo. A sigla da emoção mais votada para estes
trechos foi colocada ao lado das porcentagens.
Tabela 2. Porcentagem de respostas emocionais dos participantes por meio de descrições livres, de
acordo com os trechos musicais selecionados para serem associados a suas emoções-alvo.
Nota: neste caso, os dados foram analisados a partir do cruzamento das respostas obtidas pelos ouvintes com os
adjetivos contidos na GEMS (Zentner, Grandjean, & Scherer, 2008). Quadrantes com porcentagens e siglas
indicam que os trechos musicais previamente selecionados não foram associados a suas emoções-alvo. A sigla da
emoção mais votada para estes trechos foi colocada ao lado das porcentagens. A palavra outros indica que a
associação destes trechos foi feita de forma esparsa, não tendo sido feita a alguma emoção específica.
Discussão
De modo geral pôde-se observar que as respostas obtidas por meio das escalas de
diferencial semântico foram convergentes entre as modalidades de respostas emocionais
percebidas e sentidas. Já os dados obtidos por meio de descrições livres foram menos
convergentes entre as categorias de respostas percebidas e sentidas. Estes resultados foram
confirmados pelo teste ANOVA, sempre apresentando diferenças estatísticas significativas
entre as comparações realizadas. Imagina-se que isto possa dizer respeito à própria natureza
da metodologia empregada, uma vez que a descrição livre permite uma variedade de nuances
de respostas muito mais abrangente do que as escalas de diferencial semântico.
Com relação à emoção alvo alegria, os trechos musicais associados a esta emoção foram
distinguidos com clareza pelos ouvintes. Em ambas as modalidades de respostas emocionais
(percebidas e sentidas) não houve interferência do método de coleta de dados nos resultados,
pois estes foram convergentes tanto nas escalas de diferencial semântico quanto nas
descrições livres. A própria natureza do método de coleta por meio de descrições livres e a
adequação destas respostas à GEMS possibilita que as respostas aos trechos musicais cuja
emoção alvo é a alegria não estejam restritas apenas ao adjetivo alegre, mas admitam outras
ramificações emocionais adjacentes relacionadas à vitalidade e ativação (Zentner, Grandjean
& Scherer, 2008).
Em ambas as modalidades de respostas (percebidas e sentidas), a comunicação
emocional da raiva apresentou heterogeneidade de resultados em função da metodologia de
mensuração empregada. Zentner, Grandjean e Scherer (2008) apontam a raiva, assim como
como a vergonha, a inveja e o medo como sendo emoções vivenciadas no quotidiano que
raramente são contempladas em respostas emocionais à música. Este enunciado converge com
a hipótese de Juslin e Laukka (2004) de que as emoções comunicadas e induzidas pela música
estão relacionadas principalmente aos motivos pelos quais as pessoas ouvem música, como se
sentir bem, obter prazer pessoal ou regular suas emoções, entre outros.
Para respostas emocionais relacionadas à tranquilidade, ambos os métodos empregados
apresentaram resultados convergentes na modalidade de respostas sentidas, embora o método
de descrições livres tenha trazido resultados mais homogêneos entre os participantes para os
trechos musicais associados a esta emoção. No curso das respostas emocionais percebidas, os
trechos musicais escolhidos para a emoção-alvo tranquilidade foram confundidos com trechos
selecionados para serem associados a tristeza, especialmente quando os participantes fizeram
uso da escala de diferencial semântico como metodologia de mensuração.
Com relação à emoção tristeza, os resultados obtidos por meio de escalas de diferencial
semântico se apresentaram como sendo homogêneos entre as modalidades de respostas
percebidas e sentidas. Mesmo assim, os dados obtidos no presente estudo confirmam que dois
dos quatro trechos musicais cujas emoções alvo eram a tristeza foram confundidos com
trechos que comunicam tranquilidade. Estes resultados podem ser explicados na medida em
que o baixo arousal de ambas as emoções pode ter confundido os participantes, uma vez que
se analisadas de acordo com o modelo circumplexo de Russel (1980), tranquilidade e tristeza
Referências bibliográficas
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of aesthetics appreciation. Washington, D.C.: Hampshire.
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respostas emocionais à música no contexto brasileiro. Anais do X Simpósio de Cognição e
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Ramos, D., Bueno, J. L. O., & Bigand, E. (2011). Manipulating Greek musical modes and
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Medical and Biological Research,44(2), 165-172.
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Zentner, M., Grandjean, D., & Scherer, K. (2008) Emotions Evoked by the Sound of Music:
Characterization, Classification, and Measurement. American Psychological Association.
Emotion, 8(4), 494–521.
Danilo Ramos
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
Introdução
Segundo Ramos e dos Santos (2010), a curiosidade sobre questões envolvendo emoções
musicais existe há muito tempo, tendo como principal exemplo os gregos antigos, que já
associavam características específicas da música com algumas emoções. Os autores citam
O termo comunicação emocional se caracteriza por uma situação em que o músico tem
como objetivo a comunicação de determinada emoção e esta emoção é entendida pelo ouvinte
(Juslin e Persson, 2002). Neste sentido, Juslin e Laukka (2004) desenvolveram um modelo
científico empregado para o estudo da comunicação emocional chamado Brunswikian Lens
Model. Segundo este modelo, esta comunicação acontece de forma acurada a partir do uso de
pistas acústicas empregadas pelo intérprete durante a performance seguida da compreensão
desta emoção pelo ouvinte.
Para Kenny e Gellrich (2002), a improvisação musical envolve uma multiplicidade de
significados musicais (de acordo com a função sociocultural que este tipo de fazer musical
representa), muito embora haja uma definição comum para todas as situações: trata-se de
decisões criativas tomadas pelo intérprete com as restrições temporais da própria
performance. Segundo os autores, os processos psicológicos relacionados à improvisação são
desenvolvidos em tempo real e por isso necessitam de mecanismos que, segundo uma
perspectiva psicológica, podem ser classificados como desenvolvidos internamente
(conhecimento base adquirido previamente pelo músico) ou externamente (formas e estruturas
estéticas fornecidas culturalmente que auxiliam o improvisador na transmissão de suas ideias
de acordo com o estilo de música trabalhado, construindo, assim, uma conexão entre sua
execução musical e a percepção do ouvinte).
Esta pesquisa se propõe a investigar a acurácia da comunicação de algumas emoções
entre intérprete e ouvinte em duas situações: na execução de temas originais (com código
acústico pré-estabelecido pelos compositores e transcritos por meio de partituras originais) e
na execução de temas improvisados (com código acústico que será gerado pelo performer no
ato da execução musical). Para tal, serão empregados temas instrumentais pertencentes ao
repertório popular brasileiro que se enquadram dentro de cinco dos nove subfatores que
compõe a GEMS. Com o desenvolvimento desta pesquisa, procura-se um maior entendimento
sobre a comunicação das emoções musicais e da forma como esta comunicação pode ser
aprendida e pensada, na busca por soluções para uma prática musical mais expressiva, em
situações que envolvam aspectos interpretativos.
Participantes: três guitarristas com idades entre 25 e 28 anos (média = 27 anos). Todos
concluíram ensino superior em música e possuem mais de 10 anos de experiência em guitarra.
som Midas Venice F32 e um iMac6 utilizando o software Pro Tools 10. O critério para a
escolha das músicas se deu a partir do estudo de Persson (1993) em que os resultados
mostraram que, entre outros critérios, os participantes nomearam músicas (previamente sem
títulos) com base em estados de humor referentes a associações de significados emocionais
(Melancholy, por exemplo). Assim, optou-se, na presente pesquisa, pela escolha de trechos
musicais em cujos títulos aparecem indicações em relação com emoções musicais presentes
na GEMS (Zentner, Grandjean & Scherer, 2008).
Participantes: 30 não músicos brasileiros residentes na cidade de Curitiba, com idade entre 15
e 50 anos (média de idade = 25,03 anos).
Figura 2. Grupos de fatores emocionais empregados na lista de adjetivos utilizada no presente estudo.
Resultados
Figura 4. Índices de p encontrados na aplicação do teste estatístico t-Student, levando em conta a distribuição
dos subfatores emocionais da GEMS em três fatores: sublimidade, vitalidade e descontentamento. Os valores
significativos de p encontram-se com um asterisco. Níveis marginais de p encontram-se com dois asteriscos.
Discussão
Este trabalho teve como objetivo investigar a acurácia da comunicação emocional entre
guitarrista e ouvinte em performances musicais de canções pertencentes ao repertório da
música popular urbana brasileira em duas condições: interpretação instrumental das melodias
destas canções e improvisos sobre suas bases harmônicas.
Ao considerar respostas emocionais sentidas, tanto para os temas quanto para os
improvisos, os resultados do presente estudo indicaram o subfator 5 (paz) como tendo sido o
mais votado pelos ouvintes. Este fato pode ter ocorrido devido a semelhança das pistas
acústicas contidas no material musical escolhido, caracterizada pelo andamento médio, modos
predominantemente maiores, acentuação predominantemente sincopada, mesma formação
instrumental (violão, baixo, bateria e guitarra como solista), etc. Os resultados mostraram que
estas características em comum entre os trechos musicais investigados no presente estudo
podem ter influenciado os resultados obtidos de maneira mais determinante do que o caráter
emocional dos títulos das obras.
De maneira geral, os mesmos resultados foram encontrados para as emoções percebidas,
com exceção dos resultados encontrados para os subfatores alvo 1 (felicidade) e 3 (amor).
Para as respostas percebidas para o subfator 1 (felicidade), a maioria das respostas foram
dadas aos subfatores 1 (felicidade) e 7 (alegria), reforçando a ideia de Ramos, Beraldo e
Tatsch (2014), que relaciona estes dois subfatores com o quadrante de alegria no modelo
circumplexo de Russel. O fato da GEMS separar estas duas emoções em dois subfatores
diferentes pode ter resultado em uma dificuldade de escolha dos participantes, uma vez que
estas emoções em língua portuguesa possuem um significado semântico muito mais próximo
do que na língua francesa (idioma do país no qual a GEMS foi desenvolvida).
As frequências de votos para as respostas percebidas para o subfator alvo 3 (amor)
Referências
Isabel C. Martínez
Laboratorio para el Estudio de la Experiencia Musical (LEEM)
Facultad de Bellas Artes. UNLP
[email protected]
Mónica Valles
Laboratorio para el Estudio de la Experiencia Musical (LEEM)
Facultad de Bellas Artes. UNLP
[email protected]
Resumen: La cognición musical corporeizada postula que los patrones sonoros de la música pueden
ser comprendidos mediante la emulación de la energía sonora, la cual se manifiesta a través de
acciones motrices. Estas acciones motrices vinculadas a la energía física del entorno, van
conformando una base de memoria sonoro-kinética que da lugar a una ontología orientada por la
acción. Puede así suponerse que la promoción de acciones relacionadas con la ejecución instrumental
en las prácticas audioperceptivas de transcripción melódica, enriquecería la ontología sobre la que
descansan dichas prácticas. La incorporación de la kinesis de la ejecución funcionaría como una
mnemotecnia de soporte. Con el objeto de poner a prueba este supuesto se diseñó un experimento que
introdujo la ejecución aérea como parte del proceso de transcripción melódica. Los resultados se
analizan en cuanto a i) las modalidades corporales evidenciadas por los participantes del estudio
durante la realización de la mimesis instrumental y ii) las posibles relaciones entre las diferentes
producciones de cada participante (movimiento corporal, canto y transcripción) contempladas en el
estudio.
Palabras clave: Cognición musical corporeizada – Mimesis instrumental – Transcripción melódica
Instrumental Mimesis in Melodic Transcription Tasks
Abstract: Embodied music cognition posits that sound patterns in music can be understood by
emulating the sound energy by means of bodily motor actions. These motor actions are linked to the
environmental physical energy, and help shape a sound- kinetic memory, leading to an action-oriented
ontology. It is assumed that the promotion of actions related to instrumental performance during
melodic transcription tasks, enrich the ontology over which those practices are based. Introducing the
kinesis of instrumental performance in aural perception, body movement action would operate as a
mnemonic support. In order to test this assumption, an experiment that introduced the air playing as
part of the melodic transcription process was run. Results are analyzed in terms of: i) embodied
modalities, evidenced by participants during performance of instrumental mimesis; and ii) possible
relationships between the different productions of each participant (body movement, singing and
melodic transcription) embraced by the study.
Key-words: Embodied music cognition - Instrumental mimesis -Melodic transcription.
De este modo, las acciones motrices vinculadas a la energía física del entorno, van
conformando una base o repertorio de memoria sonoro-kinética que funciona como un
modelo anticipatorio y da lugar a una ontología orientada por la acción (Leman, 2012).
En línea con estas ideas, la hipótesis mimética desarrollada por Arnie Cox (2001; 2011)
sostiene que entendemos los sonidos musicales por comparación con los sonidos que hacemos
nosotros mismos y que este proceso de comparación implica una imitación tácita
(participación mimética) que utiliza una experiencia de producción sonora incorporada con
anterioridad. El papel de la participación mimética en la experiencia musical es un caso
particular de la forma en que generalmente trabaja la mente corporeizada. Cuando
escuchamos un sonido, lo comprendemos de tres maneras: (1) a través de la imitación del
movimiento de brazos y dedos requerido para su producción; (2) a través de la imitación
subvocal de los sonidos; y (3) a través de una imitación amodal del esfuerzo dinámico
presente en el sonido. Existe otro modo de participación mimética, menos automática y más
intencional, que es la comprensión de los sonidos de un instrumento (o de la voz) en términos
de otro instrumento (Cox, 2006).
Como se postula en diversos trabajos, es frecuente que al escuchar música, las personas
‘reaccionen’ corporalmente, acompañando la música con movimientos espontáneos. Estos
‘movimientos inducidos por la música´ (Thompson 2012) pueden estar asociados tanto a la
organización temporal de la música como a las intenciones expresivas implícitas en ella. Para
Thompson, dentro de esta categoría de movimientos espontáneos inducidos por la música se
encuentran los bocetos motores miméticos (Godøy, Haga, y Jensenius, 2006) que se enmarcan
en el contexto de una práctica musical surgida en los últimos años conocida como ejecución
aérea. En dicha práctica, se recrea una interpretación instrumental grabada, realizando ‘en el
aire’ los movimientos corporales que una determinada obra musical sugiere.
La ejecución aérea puede asociarse con la idea de ‘Imitación de actividad motora
productora de sonido musical’ propuesta por López Cano (2005) para quien las acciones
motoras involucradas en dicha imitación colaboran en el proceso de apropiación musical, por
el cual “la música permitirá al sujeto construir significados que, si bien ya circulan
socialmente, no se volverán pertinentes para él hasta que los incorpore a un ámbito propio a
través de su propia experiencia personal (…)” (López Cano, op. cit., s/p)
Durante una ejecución aérea es posible observar diversos tipos de gestos corporales
entre los que se cuentan gestos de ‘rastreo’ de sonido tales como el seguimiento de los
contornos melódicos, patrones rítmicos y/o texturales, evoluciones dinámicas, que podrían
entenderse como un reflejo de la evolución sonora total de la música y dan lugar a la idea de
boceto motor mimético. Estos bocetos, generan “imágenes significativas de objetos musicales
bastante aproximadas y (…) significativas” (Godøy, Haga, y Jensenius, op. cit., p. 258)
Así, es posible suponer que, la promoción de acciones relacionadas con la ejecución
instrumental (como podría ser el caso de la ejecución aérea), en las prácticas audioperceptivas
de transcripción, enriquecería la ontología sobre la que descansan dichas prácticas, al
incorporar la kinesis de la ejecución, la cual funcionaría como una mnemotecnia de soporte.
Con el objeto de poner a prueba este supuesto, se diseñó un experimento que introdujo
la ‘ejecución aérea’, como parte del proceso de transcripción melódica (Valles y Martínez,
2013). Un estudio previo (Valles y Martínez, 2014) permitió observar que la mímica
desplegada por los oyentes reflejó tres modos diferentes de manifestación de la cognición
corporeizada. Así mismo, se advirtió que la mímica se manifestó en dos dimensiones: por un
lado, como ejecución en el aire, esto es, una ejecución en tiempo real en simultáneo con la
música y por otro, como un proceso de extensión de la mente más que como resultado de una
performance de índole musical.
En este trabajo se analizan las características de la mímesis instrumental o ‘ejecución
aérea’ de tres guitarristas en una tarea de transcripción melódica.
Objetivos
Este trabajo se propone i) analizar las características del movimiento corporal de tres
guitarristas, evidenciado durante la mímica instrumental correspondiente a la ejecución de la
melodía de un fragmento musical; y ii) indagar las posibles relaciones entre las diferentes
producciones de cada participante (movimiento corporal, canto y transcripción) contempladas
en el estudio.
Metodología
Se analizó el desempeño de 3 guitarristas que fueron seleccionados de una muestra
mayor de estudiantes de música de primer año de las carreras de grado universitario. Se
utilizó un fragmento de Danzón Nº 2 de Arturo Márquez en versión de la Orquesta Sinfónica
Simón Bolívar dirigida por Gustavo Dudamel. La tarea consistió en i) escuchar 3 veces una
sección de una obra musical para analizar características estructurales de inicio (forma,
estructura métrica, textura, etc.); ii) escuchar 3 veces un fragmento de dicha sección para su
memorización, aplicando la estrategia correspondiente a la condición; iii) proveer una versión
cantada de lo que se recordara; iv) transcribirlo y v) proveer una segunda versión cantada del
fragmento. La actividad de los participantes fue registrada en video y audio. Se obtuvieron
registros escritos (partitura) de cada participante. Se transcribieron las ejecuciones cantadas.
La obtención de datos relativos a las características de la mímica instrumental estuvo a
cargo de dos evaluadores que observaron de manera independiente los registros filmados de
los participantes, elaboraron un reporte escrito consignado aquellas características que les
resultaron relevantes y las clasificaron según categorías previas. Para la clasificación los
evaluadores utilizaron, de manera orientativa, algunas de las categorías propuestas por Godoy,
Haga y Jensenius en su trabajo sobre ‘ejecución aérea’ (op. cit.) entre ellas: i) correspondencia
general de la actividad (densidad de los gestos en relación con la densidad de los ataques en la
música): ii) correspondencia gruesa entre espacio-altura/espacio-diapasón (también llamado
mástil)1 (ubicaciones relativas de las manos, de izquierda a derecha a nivel de frase/sección;
iii) correspondencia en detalle entre espacio-altura/espacio-diapasón (ubicaciones relativas de
los dedos a nivel nota-por-nota); iv) correspondencia gruesa de ataque (sincronía con el
acento métrico) y v) correspondencia en detalle de los ataques (sincronía de los movimientos
en el nivel de nota-a-nota).
Se realizaron análisis posteriores que tomaron en cuenta los aspectos de las modalidades
corporales y las dimensiones de la mímica (como ejecución en tiempo real - como proceso de
mente extendida) delimitadas en un estudio anteriormente mencionado (Valles y Martínez,
2013) en cada sección formal del fragmento (a-b-a’) y se estimaron las correspondencias
entre movimiento corporal, canto y transcripción.
Resultados
Participante 1
La mímesis instrumental tiene lugar durante las pausas entre audiciones. Los
movimientos se dan en ambas manos en una posición fija dentro de la que se producen
movimientos de dedos. En la primera pausa se registran movimientos constantes como
tratando de organizar los motivos del tema. En la mano izquierda, se observan movimientos
sutiles de dedos que indican cambios de altura y mímica de los ataques. En la segunda pausa,
hay movimiento de dedos cambiando de cuerda. El movimiento acompaña el diseño nota a
nota de la sección formal a. En la tercera pausa, el movimiento se concentra en la resolución
de algún diseño melódico en particular.
En cuanto a la aplicación de las categorías de análisis, se observa una escasa
correspondencia en la actividad general y una correspondencia aproximada en lo referente a
altura y ataques ´en detalle´ en la sección a y a alturas y ataques ´en grueso´ en b y a’.
La mimesis evidencia una modalidad corporal ‘acotada’ que estaría funcionando casi
exclusivamente como proceso de extensión de la mente. Así, más que una ejecución mimética
como ‘movimiento espontáneo con la música’, el participante parece poner en juego un tipo
de mimesis orientado a la resolución del problema que se le plantea.
Respecto al resto de las producciones (canto y transcripción) el canto recupera la
totalidad de la sección a con pequeñas modificaciones rítmicas, la característica de ‘saltos’
melódicos de b (sin precisión en los intervalos) y la de repetición de a’. En la transcripción
reproduce con bastante exactitud las secciones a, y b y omite el comienzo de a’ aunque logra
recuperar el final. El mejor desempeño obtenido en la transcripción (como réplica del
modelo) apoya la idea de una mímica orientada a la resolución de la tarea solicitada.
Participante 2
La mímica se observa tanto durante las audiciones como durante las pausas. A lo largo
de las audiciones realiza movimiento de mano izquierda centrado en los cambios de dirección
agudo-grave. Los movimientos se corresponden con el diseño de la melodía pero con
desfasaje sincrónico. Hacia la última audición, los movimientos de la mano izquierda se
ajustan con mayor precisión al movimiento de las alturas y a los ataques. La gestualidad de la
mano izquierda (no así la de la derecha) organiza claramente las secciones formales. La
mímica evidencia una configuración paulatina de la imagen que se fue haciendo más precisa
a lo largo de las escuchas, pasando de una correspondencia de alturas y ataques ‘en grueso’ en
el inicio, a una ‘en detalle’ hacia el final. Durante las pausas, los movimientos indican la
búsqueda de la altura nota a nota, denotando una correspondencia ‘en detalle’. La mano
izquierda evidencia la ejecución del motivo inicial y ya en la primera pausa el movimiento
general da cuenta de una configuración bastante aproximada de la unidad formal a.
Referencias
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Cox, A. (2011) Embodying Music: Principles of the Mimetic Hypothesis. En MTO A Journal
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1. Introdução
Antes de tratar das funções narrativas que a música exerce em produtos audiovisuais,
torna-se necessário definir o conceito de “narrativa”, tendo em vista sua centralidade no
presente trabalho. O teórico e crítico literário francês Gerard Genette, em seu Discurso da
narrativa (1995), salienta que o termo “narrativa” vem sendo empregado correntemente sem
qualquer preocupação com sua ambiguidade. O autor observa que narrativa, em um primeiro
sentido, trata do enunciado narrativo, “o discurso oral ou escrito que assume a relação de um
acontecimento ou de uma série de acontecimentos” (p. 23). O termo, em um segundo sentido,
menos difundido, de acordo com o autor, trata da “sucessão de acontecimentos, reais ou
fictícios, que constituem o objeto desse discurso, e as suas diversas relações de encadeamento,
de oposição, de repetição, etc.” (p. 24). É, assim, um conjunto de ações e situações
compreendidas nelas mesmas e intermediadas pelo narrador. O terceiro e último sentido de
“narrativa”, apontado por Genette, que, segundo ele, é aparentemente o mais antigo, trata a
narração como uma ação em si. Para ilustrar este sentido, o autor, baseando-se nos cantos IX e
XII da Odisseia, exemplifica que contar suas aventuras é uma ação, tanto quanto massacrar os
pretendentes de sua mulher. Assim sendo, entendemos com o exemplo que o ato de narrar
caracteriza uma ação, tanto quanto qualquer outra presente em uma narrativa.
Inúmeros profissionais e pesquisadores dedicados ao estudo do efeito e da narratividade
musical no produto audiovisual têm buscado classificar os propósitos do uso da música nessa
produção. Para tal, o presente trabalho objetiva expor e comparar dois dos principais trabalhos
que tratam das funções narrativas da música em produtos audiovisuais.
O compositor Johnny Wingstedt, em seu Narrative functions of film music in a
relational perspective (2004), a professora do departamento de psicologia da Universidade de
Prince Edward Island, Annabel J. Cohen, em seu artigo The functions of music in multimedia:
a cognitive approach (1998) e Karen Collins, autora de diversos livros e artigos sobre música
para videogames, em seu Functions of game audio, texto adaptado de seu artigo An
introduction to the participatory and non-linear aspects of video games audio (2007), formam
a base teórica para a discussão aqui desenvolvida sobre as funções narrativas da música em
jogos eletrônicos.
A primeira classe apresentada por Wingstedt, classe emotiva, compreende duas funções
estabelecidas por Cohen, sendo estas a função de induzir humor ou sentimento e a função de
comunicar significado. Não há distinção significativa entre as intenções expostas pelos
autores na função aqui discutida, sendo a única diferença a distinção feita por Cohen entre
induzir humor e comunicar significado. Tal distinção é sem dúvida necessária, mas sua
divisão em duas funções diferentes é desnecessária quando levamos em consideração que,
diferente da classe informativa apresentada por Wingstedt, a função de comunicação de
significado de Cohen se mantém no campo das emoções, tendo a recepção do ouvinte como
principal diferença da função de induzir humor ou sentimento.
A classe informativa proposta por Wingstedt consiste de três categorias, sendo elas
“comunicar significado”, “comunicar valores” e “estabelecer reconhecimento”. As duas
primeiras categorias abordadas na classe informativa são similares à função de comunicar
significado de Cohen. A terceira categoria da classe informativa de Wingstedt, estabelecer
reconhecimento, é denominada por Cohen de função de auxilio à memória. Não existem
distinções significativas entre as funções expostas pelos autores.
A classe descritiva de Wingstedt possui duas categorias, sendo elas “descrever cenário”
e “descrever atividade física”. A primeira categoria abordada por Wingstedt não coincide
diretamente com nenhuma função apresentada por Cohen. A categoria “descrever atividade
física” é similar à função de direção de atenção de Cohen. As funções expostas não possuem
nenhuma discordância com o que foi descrito na classe descritiva, sendo a classificação de
Wingstedt mais profunda e abrangente do que a única função coincidente de Cohen.
Em sua taxonomia, Wingstedt discute que a classe guia é composta por duas categorias,
a indicativa e a de mascaramento. A categoria indicativa de Wingstedt é semelhante à função
de estímulo e atenção focal de Cohen. A categoria de mascaramento de Wingstedt é
equivalente à função de mascaramento de Cohen. A categoria indicativa de Wingstedt vai
além da função de estímulo e atenção focal de Cohen, abordando características presentes
também na função de direção de atenção. O autor observa a capacidade da música de, através
da combinação com estímulos visuais, manter o foco do telespectador, ideia presente na
função de estímulo e atenção focal, mas Wingstedt também aborda a capacidade da música
de, através da sincronização entre eventos musicais e ações, ou características específicas,
poder operar separando o primeiro plano de um plano de fundo, ideia presente na função de
direção de atenção de Cohen. A categoria de mascaramento de Wingstedt inclui a capacidade
da música de tirar o foco de elementos fracos em uma narrativa, ideia ausente no trabalho de
Cohen.
A classe temporal, segundo Wingstedt, possui duas categorias, sendo elas criar
continuidade e definir estrutura e forma. A primeira categoria apresenta três funções: construir
continuidade de curta duração (transição de cena para cena), construir continuidade maior
(ligações entre sequências) e construir continuidade geral (gerar ligação do início ao fim da
narrativa). A categoria criar continuidade de Wingstedt apresenta ideias semelhantes à função
de fornecer continuidade de Cohen. A segunda categoria apresentada por Wingstedt, definir
estrutura e forma, possui alguns pontos de similaridade com a função de comunicar
significado de Cohen. A categoria de Wingstedt possui uma classificação mais abrangente,
pois além de apontar a capacidade da música de afetar a percepção do tempo e velocidade
percebida em uma narrativa, ideia ausente na classificação de Cohen, Wingstedt enfatiza a
capacidade de a música de criar expectativas ou pressentimentos do que está por vir, ideia
presente na função de comunicar significado de Cohen.
A última classe apresentada por Wingstedt é a classe retórica. Esta classe por ele
proposta não possui similaridade com as funções apresentadas por Cohen, sendo a função de
direção de atenção a mais próxima da intenção apresentada. A classe citada aborda tanto a
capacidade da música de trabalhar como um elemento onomatopeico, quanto à possibilidade
de, em discordância com a imagem, gerar uma nova interpretação para a narrativa, onde,
A função de estética musical de Cohen não possui similaridade com nenhuma classe ou
categoria apresentada por Wingstedt. A função abordada por Cohen gera alguns problemas,
pois não é simples definir o que torna uma música “boa”. A própria autora não entra em
detalhes sobre a questão.
3. Conclusões
Referências
Cognição Musical e
Desenvolvimento da Mente Humana
XI SIMCAM - Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais Sumário
Resumo: Neste artigo é apresentado um recorte de uma pesquisa realizada sobre El Sistema a partir
da perspectiva da Teoria Social Cognitiva (TSC) de Albert Bandura. Nesta pesquisa, buscou-se
relacionar os procedimentos metodológicos utilizados para o ensino da música em El Sistema às
características básicas do funcionamento humano descritas na TSC. São apresentados os resultados
referentes ao processo de autorregulação acadêmica, que diz respeito à capacidade de autoensino. O
método utilizado foi o estudo de caso e, como instrumentos de coletas de dados, a análise de
documentos e entrevistas semiestruturadas, realizadas com alunos, professores e coordenadores
pedagógicos de El Sistema. Os dados revelaram que os procedimentos metodológicos utilizados pelos
professores propiciam o desenvolvimento da autorregulação acadêmica dos alunos, podendo ser este
um dos fatores contribuintes com os resultados artísticos e educacionais que El Sistema tem alcançado
ao longo dos seus 40 anos de atividades.
Palavras-chave:autorregulação, procedimentos metodológicos, El Sistema.
Abstract: This paper presents a cutout of a research conducted about El Sistema from the perspective
of Social Cognitive Theory (SCT) of Albert Bandura. In this study, sought to relate the
methodological procedures used for the teaching of music in El Sistema and the basic characteristics
of human functioning described in STC. The results for the academic self-regulation process, which
relates to the ability of self-learning are presented. The method used was the case study and as
instruments of data collection, document analysis and semi-structured interviews with students,
teachers and coordinators of El Sistema. The data revealed that the methodological procedures used
by teachers favor the development of academic self-regulation of the students, this may be one of the
contributing factors to the artistic and educational outcomes that El Sistema has achieved during its 40
years of activities.
Keywords: self-regulation, methodological procedures, El Sistema.
Introdução
O Sistema Nacional de Coros y Orquestas Infantiles e Juveniles de Venezuela,
mundialmente conhecido como El Sistema, foi criado, em 1975, por José Antonio Abreu com
o objetivo de oportunizar aos jovens músicos venezuelanos o aperfeiçoamento musical
através da prática musical coletiva e de gerar um campo de trabalho para esses profissionais
que, na época, era muito limitado na Venezuela. Ao longo de seus 40 anos ininterruptos de
atividades, El Sistema tem se destacado no cenário internacional devido aos resultados
artísticos e educacionais que vem obtendo. Esses resultados são atribuídos ao modelo de
ensino desenvolvido pelo programa. Considerado por muitos como um modelo de ensino
inovador, o mesmo é utilizado como referência em mais de 50 países que já possuem um
sistema de coros e orquestras inspirados no modelo venezuelano (Sánchez, 2007; Creech et
al., 2013; Silberman, 2013).
Nesta pesquisa, El Sistema foi investigado do ponto de vista motivacional, tendo como
base teórica a Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura. O objetivo desta pesquisa foi
relacionar os procedimentos metodológicos utilizados para o ensino da música em El Sistema
com as características básicas do funcionamento humano, descritas na TSC. A hipótese que
surgiu, a partir da pesquisa, a respeito dos procedimentos metodológicos utilizados em El
Sistema e da concepção de Bandura para o funcionamento humano, é que estes garantem alto
nível de motivação, favorecendo o aumento das crenças de autoeficácia,e propiciem o
desenvolvimento da autorregulação acadêmica de seus alunos, podendo ser,esse aspecto
motivacional, um dos fatores contribuintes para que o projeto alcance o êxito que vem
obtendo.
Autorregulação
A autorregulação é uma das quatro capacidades básicas que, segundo Bandura (1986;
1997; 2001), caracterizam o homem como um ser agente. Ela é vista como um mecanismo
interno consciente e voluntário de controle, através do qual o indivíduo monitora, avalia e
controla o próprio comportamento, sentimento e pensamento em direção aos seus objetivos
pessoais. Tendo em vista que a autorregulação “[...] compõe-se por ações,sentimentos e
pensamentos para alcançar metas, caracteriza-se por um processo motivacional ao incluir
iniciativa pessoal e persistência, especialmente quando se enfrentam obstáculos” (Polydoro e
Azzi, 2008, p.151).
Metodologia
A metodologia utilizada,na presente pesquisa, foi o estudo de caso. Os dados foram
coletados através de análises de documentos e de entrevistas semiestruturadas (as questões
foram elaboradas com base na TSC). Para a realização das entrevistas, foram selecionados
alunos, professores e coordenadores pedagógicos de El Sistema. O critério utilizado para a
seleção dos participantes diz respeito à atividade que eles desenvolvem no programa. Foram
entrevistados 4 coordenadores pedagógicos (responsáveis por estruturar as diretrizes
educacionais desenvolvidas no programa), 4 professores (um representante de cada fase de
ensino de El Sistema, sendo que esses professores também são responsáveis por elaborar
diretrizes para a fase em que atuam) e 5 alunos (alunos que tiveram toda sua formação
musical em El Sistema).
As entrevistas foram realizadas em duas ocasiões. Em um primeiro momento,
aproveitamos a apresentação realizada pela Orquestra Sinfônica Simon Bolívar, em São
Paulo, – Brasil, nos dias 6 e 7 de junho de 2014, para realizar a primeira parte das entrevistas.
O restante das entrevistas foram realizadas pela internet.Utilizamos como recurso o programa
de distribuição gratuita Skype. Os entrevistados utilizaram como recurso a sala de
videoconferências do Centro Nacional de Acción Social por la música (Cnaspm) da
Venezuela, localizado na cidade de Caracas. As entrevistas foram gravadas em áudio e vídeo,
posteriormente transcritas no idioma original – espanhol e, em seguida, traduzidas para o
português.
Resultados e discussão
Para dar conta dos objetivos desta pesquisa, os professores e coordenadores
responderam a uma série de perguntas pré-estabelecidas com base no processo de
autorregulação, com o objetivo de aferir a respeito de características que pudessem ou não
evidenciar o processo autorregulatório. Após, os alunos foram questionados com o intuito de
verificar a percepção deles sobre os procedimentos que os professores dizem utilizar.
Os dados desta pesquisa demonstram que as três fases do processo de autorregulação
estão presentes nos procedimentos metodológicos utilizados pelos professores de El Sistema.
Com base no relato dos professores, foi possível verificar que os mesmos possuem uma forte
autorregulação, o que culmina em aulas que apresentam características regulatórias. O relato
Considerações Finais
Com base nos resultados aqui apresentados, foi possível considerar que a hipótese
norteadora desta pesquisa é valida, ou seja, que os procedimentos metodológicos utilizados
pelos professores em El Sistema garantem alto nível motivacional e propiciam o
desenvolvimento da autorregulação acadêmica de seus alunos. Embora não seja possível
generalizar, a análise da macroestrutura dos procedimentos metodológicos, desenvolvidos por
El Sistema, indica que o processo de autorregulação está presente nestes e pode ser um dos
fatores contribuintes com os resultados artísticos e educacionais que El Sistema tem obtido.
Acreditamos que, com a realização desta pesquisa, foi possível esboçar, em linhas
gerais, essa ampla e complexa estrutura de procedimentos metodológicos. Dessa forma, não
pretendemos encerrar aqui a discussão, nem apresentar dados conclusivos. Para nós, esta é a
primeira de muitas etapas a serem cumpridas para que possamos compreender, com maior
profundidade, todos os aspectos que envolvem estes procedimentos.
Referências
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1 Considerado como o constructo central da TSC, a autoeficácia é definida por Bandura (1997) como “as crenças
que o indivíduo tem acerca da sua capacidade para organizar e executar cursos de ações, requeridos para
alcançar determinados tipos de desempenhos” (p.2), as crenças de autoeficácia influenciam o modo como as
pessoas pensam, sentem, se motivam e agem. Para informações adicionais ver: em inglês – Bandura (1997); em
português – Azzi, &Polydoro (2006), Pajares & Olaz (2008); no contexto musical – Araújo (2010).
2Observação da mesma atividade sendo desenvolvida por outra (s) pessoa (s). Para mais informações a respeito
ver Bandura (1997), Azzi, &Polydoro (2006), Pajares &Olaz (2008); no contexto musical – Araújo (2010),
Krüger e Araújo (2013).
Convergências
As relações interdisciplinares entre a comunidade MIR e a Musicologia, mais
especificamente as áreas de percepção e cognição musicais (categorizadas como subárea da
Psicologia da Música dentro da disciplina Musicologia Sistemática) foram demonstradas por
Neubarth, Bergeron, & Conklin (2011). Por meio da mineração e análise de citações numa
amostra de 416 trabalhos oriundos do principal canal de comunicação da pesquisa MIR, este
estudo conseguiu minerar 184 documentos (artigos completos e comunicações/sessões orais)
que citam assuntos de interesse da pesquisa musicológica que foram agrupadas nas categorias
História, criticismo e filosofia; Teoria e análises; Etnomusicologia e Musicologia Sistemática.
com o foco em um sistema MIR específico; c) análises de dados gerados pelos usuários (user
generated data); d) uma revisão resumida dos estudos acima (a, b e c).
A partir de 198 estudos de usuários relacionados à música, Lee & Cunningham (2013)
encontraram a divulgação desses estudos em periódicos da área de Psicologia e Música.
Nestes canais de publicação uma rede de co-autoria do Reino Unido são estudiosos da
Psicologia Social da Música: Adrian C. North e David J. Hargreaves, proeminentes estudiosos
da vertente da Psicologia Social da Música. Esses pesquisadores empreendem investigações
empíricas sobre necessidades, comportamentos, percepções e opiniões de humanos por meio
de surveys, entrevistas, grupos focais e métodos etnográficos. Das 15 referências mais
utilizadas nos estudos de usuários por pesquisadores MIR, as obras “The importance of music
to adolescentes” (de North, Hargreaves e O’Neil, 2000), “Absolute memory for musical
pitch: evidence from the production of learned melodies” (de Levitin, 1994), “Functions of
music in everyday life: na exploratory study using the experience sampling method” (de
Sloboda, O’Neil e Ivaldi, 2001) e “Uses of music in everyday life” (de North, Hargreaves e
Hargreaves, 2004) ocuparam o 4º, o 6º, o 8º e o 9º lugares repectivamente.
Percebe-se que as convergências entre a Cognição Musical e a Ciência da Informação
podem ser encontradas no grande número de citações da primeira nos trabalhos sobre MIR
com foco na recuperação de informação e no desenvolvimento de sistemas que recuperam
essa informação. Tais convergências tendem à prevalência do paradigma da década de 1980
que recaiu na Psicologia da Música: a ênfase da psicologia cognitiva e do desenvolvimento
social (North & Hargreaves com citado em Ilari, 2010).
Considerações finais
áreas além da sua, o que reflete um pouco o jeito cartesiano de produzir pesquisas onde cada
um só fala dentro da sua área de formação. As relações significantes encontradas entre a
comunidade MIR e a Cognição e Percepção Musical dão a ideia de que é possível um diálogo
mais próximo entre seus pesquisadores. O trabalho deixa em aberto uma série de pesquisas
futuras que podem ajudar a mapear mais claramente o nível de influência entre as áreas.
Significa dizer que existe de fato uma intersecção (não claramente mapeada) entre essas duas
áreas e que seria bom detalhar um pouco mais essas influências.
Referências
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Recuperar a informação musical é tema de interesse de uma comunidade de pesquisadores que cresce a
cada ano. Primeiras discussões começaram em 1990 e fez surgir uma nova área denominada Music Information
Retrieval/Music Digital Libraries (MIR/MDL) e ganharam força com a criação da International Society on
Music Information Retrieval (ISMIR) em 2000.
Projeto para distribuição de músicas com um servidor central que funciona como uma espécie de
catálogo de músicas com seus respectivos endereços. Disponível em www.napster.com.
As “ciências naturais da música” compreendem as disciplinas que empregam o estudo de métodos
experimentais envolvendo a percepção e cognição musicais (Aucouturier & Bigand, 2013).
Diana Santiago
Universidade Federal da Bahia
[email protected]
Introdução
A memória autobiográfica pode ser acessada por meio de diversos estímulos, como
música, imagens, fotos ou faces, questionários padronizados ou discurso oral livre (Oliveira,
Scheuer, & Scivoletto, 2007). Segundo Schulkind, Hennis, & Rubin (1999), os idosos
preferem e tem mais respostas emocionais à música popular de sua juventude, quando
comparada com a música popular de épocas anteriores de sua vida. A razão desta preferência
não se deve ao fato de as músicas ainda continuarem populares hoje em dia.
Os referidos autores ainda comentam que os idosos geralmente acreditam que suas
memórias não são tão boas quanto antes. Assim, a emoção relatada do idoso pode ser refletida
por sua felicidade de ser capaz de lembrar alguma coisa de um passado distante. Em outras
palavras, não é claro se a emoção evoca a memória ou se a memória evoca a emoção. Ainda
segundo os autores, entre os idosos, a probabilidade de recuperação de informações sobre
uma peça musical foi positivamente correlacionada com o grau em que a canção induziu uma
resposta emocional no momento.
Panorama teórico
Ao falar sobre música e memória autobiográfica, Janata, Tomic, & Rakowski (2007)
afirmam que trechos de música popular servem como forte estímulo para estudar a estrutura
das memórias autobiográficas. Devido ao caráter social e à ubiquidade cultural, é esperado
que determinadas músicas se relacionem com episódios específicos de nossas vidas.
Memórias autobiográficas e emoções associadas com elas podem ser evocadas ao ouvirmos
essas músicas, mesmo depois de um longo período sem escutá-las. No entanto, familiaridade
com a música não significa, necessariamente, que uma memória autobiográfica possa ser
gerada. As três emoções mais experienciadas foram alegria, jovialidade e nostalgia.
El Haj, Fasotti, & Allain (2012) perceberam que a evocação da memória autobiográfica
pela música contém todas as características de memórias autobiográficas involuntárias, que
são memórias conscientes de eventos pessoais que vêm à mente espontaneamente. Apesar de
surgirem na consciência sem qualquer tentativa de recuperá-las, acredita-se que essas
memórias podem ser induzidas em resposta a um estímulo do ambiente.
Os autores comentam que a memória autobiográfica involuntária é mais específica do
que a memória autobiográfica voluntária, a qual está relacionada a eventos mais gerais. Além
disso, a memória autobiográfica involuntária também tem sido acompanhada de mais reações
emocionais e impacto no humor do que a memória autobiográfica voluntária.
As pesquisas relatadas indicam que a memória autobiográfica é acessada através da
música popular significativa na vida do indivíduo. Nossa pesquisa terá como sujeitos idosos
com idade entre 60 e 70 anos. O repertório autobiográfico para idosos nessa faixa etária será
constituído de músicas que fizeram parte da adolescência e início da juventude dos
participantes. A identidade sonora de um indivíduo ou grupo de pessoas é marcada pelas
músicas que foram significativas em suas histórias de vida. Para Tatit (2004), a canção
popular constitui a identidade sonora do país.
Objetivos da pesquisa
Os objetivos de nossa pesquisa de doutorado em Música intitulada “Memórias
autobiográficas e estados emocionais evocados por atividades e conteúdos musicais: um
estudo com idosos” são:
1) Investigar o efeito da participação em atividades musicais orientadas de composição,
apreciação e performance sobre o conteúdo de memórias autobiográficas em idosos
com idade entre 60 e 70 anos, sem déficit cognitivo sugestivo de demência.
2) Comparar os conteúdos de memória autobiográfica evocados por entrevista
semiestruturada e por entrevista estruturada.
3) Comparar conteúdos de memórias autobiográficas de idosos sobre a sua juventude,
memórias essas evocadas depois da exposição a atividades musicais e a música de
fundo.
4) Investigar relações entre os conteúdos de memórias evocados por conteúdos
musicais e por duas diferentes técnicas de entrevista e os estados emocionais dos
idosos.
Delineamento da pesquisa
Para responder ao primeiro (1) e principal objetivo da pesquisa foi planejado um
estudo experimental com dois grupos, delineamento de linha de base múltipla e coleta de
dados em sessões individuais. A atribuição dos participantes ao Grupo 1 (G1) e ao Grupo 2
(G2) será feita por sorteio.
As variáveis dependentes serão elementos do conteúdo e da qualidade emocional de
memórias autobiográficas evocadas livremente ou com pistas, depois da exposição a
atividades musicais orientadas ou a atividades neutras, tendo como apoio cinco canções
populares apontadas por cada idoso como preferidas e capazes de evocar lembranças
autobiográficas de seus tempos de juventude. Serão considerados como covariáveis os estados
emocionais avaliados juntamente com os conteúdos de memórias autobiográficas da
juventude. Nos dois grupos, uma escala de rastreio de depressão, a Escala de Depressão
Geriátrica (EDG) será aplicada no pré-teste e no pós-teste 2. A Escala de Afetos Positivos e
Negativos (EAPN) será aplicada no pós-teste 1.
O formato das entrevistas, livres x com pistas, constituirá as variáveis independentes. O
pré-teste, os testes com atividades musicais e com atividades em papel (atividade neutra) e o
pós-teste 1 envolverão entrevistas semiestruturadas em torno de duas questões abertas sobre
as memórias de juventude evocadas por uma canção apresentada. O pós-teste 2 envolverá
entrevista estruturada, com maior número de questões estruturadas, com a função de orientar
a evocação das memórias autobiográficas da juventude na presença de uma canção da mesma
época. O pré-teste 1 será realizado antes das atividades musicais e neutras e os pós-testes 1 e
2, depois delas. Medidas de estados emocionais serão aplicadas por ocasião do pré-teste 1 e
dos pós-testes 1 e 2.
As cinco canções que serão aplicadas durante o experimento serão previamente
escolhidas por cada idoso, de um elenco de 30 trechos de canções populares brasileiras dos
anos 1960. A primeira apontada como preferida será utilizada no pré-teste 1. A ordem de
apresentação das outras, nas quatro fases em que se desdobrará o procedimento, será decidida
por sorteio.
Durante as atividades musicais orientadas os idosos serão convidados a apreciar,
executar e compor, ao som de uma das canções escolhidas. A atividade neutra foi definida
como uma atividade em papel (dobradura, recorte e colagem). Durante sua realização os
idosos serão expostos à música de fundo, cujo conteúdo será a de uma de suas escolhas. A
ordem de realização das atividades musicais e neutras será controlada de forma que o G1 fará
primeiro as atividades musicais envolvendo uma das canções e depois as atividades em papel,
tendo como música de fundo uma outra canção. O G2 iniciará pelas atividades neutras, com
música de fundo, e depois passará para as atividades musicais orientadas incidindo sobre
outra canção.
Considerações finais
Após a análise das entrevistas autobiográficas, seguindo as orientações de Levine et al
(2002), as quais contém, pela pontuação de cada detalhe, um aspecto quantitativo através da
segmentação e categorização além de um aspecto qualitativo, serão realizadas comparações
dentro dos grupos e entre os grupos.
As comparações entre os grupos 1 e 2 serão realizadas segundo a lógica das
comparações intra grupos e intergrupos. Primeiro analisar-se-á se há similaridade na
qualidade e na quantidade de emissões dos idosos de cada um dos grupos no pré-teste, testes e
pós-testes; depois, se os grupos diferiram quanto às emissões autobiográficas do pré-teste,
testes e pós-testes. Os dados da EDG e da EAPN serão tratados conforme o mesmo
raciocínio.
Esperamos encontrar relações entre o aumento do conteúdo das memórias
autobiográficas e estados emocionais, com a utilização de um repertório familiar e
autobiográfico entre idosos de 60 a 70 anos, nas atividades musicais de composição,
apreciação e performance.
Desta forma, compreenderemos que, com indivíduos de uma faixa etária específica
como de idosos entre 60 e 70 anos de idade, as atividades dentro de uma proposta de ensino e
aprendizagem musical devem ir além dos conteúdos musicais, buscando objetivos
extramusicais que beneficiem seus participantes, dos quais destacamos a memória
autobiográfica.
As atividades musicais, juntamente com a evocação autobiográfica, desenvolverão
uma maior identidade entre idosos, bem como um sentimento nostálgico, no qual o idoso
sentirá um maior direcionamento na vida e otimismo, melhorando assim a qualidade de vida
dos idosos.
Referências
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Tensions in the dialogue of traditional academic and popular musical knowledge in the
elaboration of training programs for schools of traditional music in Colombia
Abstract: The management of musical literacy has generated tensions in music educators from
schools of traditional music (STM) of the Colombian North Pacific Axis. This is associated with the
fact that several instrumental practices proposed by schools are carried out with music that have been
learned by oral tradition in the region. At the same time, institutional documents that support the
processes of training use theoretical concepts and musical notation to refer to levels of music
structures. The purpose of this text is to expose issues that have generated tension in the STM training
processes in relation to the use of musical literacy. It seeks solutions contextualized in the region
needs to develop programs of musical training. It is collected and analyzed information from
institutional documents and interviewing teachers and researchers in the region. Teachers refers to the
difficulty to implement musical reading for the lack of their own reading skills; however they are very
skilled with the music of the region, by means of other modes of knowledge related to orality. They
also refer to the need of knowing to read music in order to improve their musical and professional
status that this represents for musicians in the region and the country. It is suggested that when
incorporating contents of music reading in STM, at the same time it will be considered contributions
and limitations that have ways such as orality and literacy in learning music.
Key words: learning music, music literacy, music orality, dialogue of musical knowledge.
Este escrito deriva de un estudio desarrollado por Salazar (2014), conducente a aportar
pautas para la formulación de programas de formación en Escuelas de Música Tradicional
(EMT) en el Eje Pacífico Norte de Colombia. Estas pautas debían ajustarse a los objetivos de
educación establecidos por el Ministerio de Educación Nacional (MEN), los lineamientos de
la política de Estado Plan Nacional de Música para la Convivencia (PNMC), las prácticas
musicales del contexto y las necesidades de formación de la región referida.1
En el estudio afloraron varias tensiones en relación con las propuestas y las prácticas
educativas y musicales en la región, entre las que se encuentra el requerimiento de saber leer
en partitura, tanto para profesores como para estudiantes de las Escuelas. Este requerimiento
llama la atención considerando que se trata de un contexto regional en el cual gran parte de la
actividad con músicas tradicionales se fundamenta en aprendizajes y prácticas de tradición
oral, que incluyen el baile, el canto, la escenificación y la ejecución instrumental en entornos
grupales, familiares, rituales sacros y festividades de diversa índole (Arango, 2014; Valencia
2009).
El propósito de este escrito es exponer aspectos que han generado tensiones en los
procesos de formación en las Escuelas de Música Tradicional en el Eje Pacífico Norte (EMT),
dirigiendo la atención, en este caso, al uso de la lectoescritura musical.2 Con esto se busca
contribuir a que dichas tensiones se problematicen al momento de hacer propuestas de
programas de formación musical que propenden por un anclaje en las prácticas y las
necesidades de la región.
Para la recolección de información se llevó a cabo la consulta de documentos
institucionales sobre lineamientos de la educación en general, la educación informal
(Ministerio de Educación, 1994), la formación en músicas tradicionales (Ministerio de
Cultura, 2003a, 2013) y los informes de Seminarios de Socialización y Formación de Músicas
Tradicionales desarrollados en el Chocó entre los años 2004 y 2009. Se realizaron entrevistas
a 9 de 10 maestros del Proyecto Música y Vida, y a asesores e investigadores de la Asociación
de Investigadores Culturales del Chocó (ASINCH).3 Se aplicaron, en menor medida,
cuestionarios a otros maestros de escuelas de música de la región. El material recolectado se
analizó y sistematizó cualitativamente.
Preguntas respecto de las ventajas y desventajas del uso de la lectoescritura musical en
etapas iniciales de formación, han sido objeto de atención y son pertinentes de hacerse para
los procesos formativos de las EMT. McPherson y Gabrielsson (2002) presentan algunas
consideraciones que merecen ser tenidas en cuenta, a partir de estudios sobre la enseñanza y
el aprendizaje de la lectura musical a temprana edad. Al respecto, los autores mencionan que
enfatizar en destrezas con la notación musical demasiado temprano, puede conducir a una
disminución de la sensibilidad hacia patrones unificados que los niños espontáneamente
observan cuando escuchan la música. A lo anterior agregan que las destrezas con la notación
musical no deberían ser enseñadas de manera aislada de la percepción. Por otra parte, los
autores señalan que enfatizar en la notación, con pocas oportunidades de interpretar música de
oído, o aprendiéndola de memoria, e igualmente con pocas oportunidades de desarrollar la
fluidez lectora, restringe la musicalidad en su generalidad y los tipos de destrezas que se
necesitan para tener buenos desempeños a largo plazo. Los autores sugieren un enfoque más
integrado, en donde la interpretación musical de oído sirva de preparación a la alfabetización
en etapas tempranas de participación musical y en donde la interpretación con y sin notación
se estimule durante los niveles subsecuentes de desarrollo.
Valencia (en entrevistas realizada en el 2011) hace referencia a la manera como debe
insertarse la lectoescritura en las prácticas musicales en el contexto de las EMT en el Chocó.
Menciona que la intención pedagógica en las Escuelas se basa en una construcción sonora
que el niño ya tiene a través del canto por inmersión en el contexto, construcción que
posteriormente se daría desde el instrumento de percusión, ejecutándolo dentro del formato de
chirimía.4 Posteriormente se llegaría a la representación gráfica mediante la notación de
tradición occidental, si así se requiere. La construcción sonora tanto desde el instrumento
como desde la notación supone el acompañamiento del profesor en la escuela.
Para ampliar lo anteriormente dicho, respecto de la inmersión perceptual en las músicas
del contexto, y la construcción y apropiación del mundo sonoro desde la primera infancia en
los afrochocoanos, Arango (2014) expone varios escenarios de aprendizaje musical
sustentados en las prácticas sociales ancestrales, en donde los aprendizajes mediados por la
oralidad son básicos y altamente valorados.
De acuerdo con Arango (2014), en las diversas prácticas sociales de los afrochocoanos
en el Pacífico Norte, la música tiene un lugar privilegiado para estar, sentir, protegerse y
comunicarse con el otro, en contextos grupales, desde la etapa de gestación hasta la muerte,
en esferas de lo terrenal y lo sobrenatural. En esta región el arraigo y la práctica de tradiciones
ancestrales de los afrodescendientes relacionadas con el cuidado y el fortalecimiento de los
bebés desde su gestación y en la infancia, han contribuido a que haya una inmersión
perceptual intensa de carácter multimodal desde temprana edad, que conlleva la construcción
de mundos sonoros asociados al movimiento corporal y dancístico, y a la dimensión afectiva
y valorativa de los cuerpos sociales. El participar musicalmente en vínculo con el baile y
hacerlo de manera competente desde temprana edad, según los cánones estéticos de la región,
que sirvan de mediaciones con lo teórico musical, por ejemplo, hacer uso de categorías más
naturales, que hagan referencia a las emociones, durante la experiencia con la música.
Para finalizar, como se expresó, las prácticas tradicionales del Chocó se enmarcan en
tradiciones ancestrales de las comunidades afrochocoanas, en su cosmovisión que sustenta los
modos de aprender, concebir y de hacer música. En estos modos de hacer musical, la oralidad,
la integración de la música y el baile, la participación musical cotidiana en etapas de la vida y
contextos diversos -la gestación, el nacimiento, la muerte, el mundo sobrenatural, las
festividades sacras y profanas-, y la práctica musical esencialmente colectiva, son aspectos
que están en la base de la construcción de cuerpos sonoros por inmersión en el medio, desde
que se está en el vientre materno. Puede decirse entonces que son cuerpos que por su fuerte
inmersión con la música desde bebés fluirían en otros modos de participación musical en las
escuelas, que impliquen el aprendizaje y la ejecución instrumental orientados por maestros,
inicialmente sin mediación de la partitura, y posteriormente, y según sus intereses, con
mediación de ésta.
Referencias
Arango, A.M. (2008) Espacios de educación musical en Quibdó (Chocó-Colombia). En
Revista Colombiana de Antropología Volumen 44 (1), enero-junio 2008, pp. 157-189.
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_________.(2013) Plan Nacional de Música para la Convivencia. http://www.sinic.gov.co/
SINIC/Publicaciones/Archivos/1251-2-1-20-200835121814.pdf, consultado el 24 de
febrero de 2013.
4 La chirimía es un formato instrumental característico de la región norte del Pacífico colombiano. Está
conformada por una tambora, unos platillos, un redoblante, un bormbardino (fliscorno) y un clarinete. A veces,
este formato se amplía con un saxofón y un trombón.
Resumo: O Contraponto é uma disciplina recorrente nos cursos superiores de música e existem
inúmeros fatores que conferem sua importância na formação musical dos estudantes, no entanto,
nem sempre os alunos entendem a relevância dessa disciplina para sua formação acadêmica e se
sentem motivados para aprender seus conteúdos. Nesse sentido, o objetivo geral para esta pesquisa
foi investigar a motivação de alunos graduandos em música para aprendizagem do Contraponto,
com base em suas crenças de autoeficácia. A fundamentação teórica teve como base a Teoria Social
Cognitiva postulada por Albert Bandura, cujo elemento central são as crenças de autoeficácia, isto
é, julgamentos que os indivíduos fazem sobre suas capacidades e que determinam o seu nível de
motivação. A metodologia da pesquisa foi o estudo de levantamento – survey, conduzido com 35
graduandos de música. Os resultados indicaram a relação direta entre as crenças de autoeficácia dos
estudantes e as fontes de aquisição das mesmas: experiências vicárias, persuasão verbal,
experiências de êxito e estados psicofisiológicos. Com este estudo pretende-se fomentar a reflexão
sobre formação acadêmica nos cursos de graduação em música no Brasil, com base nos estudos de
motivação.
Palavras-chave: survey, contraponto modal, crenças de autoeficácia.
1. Introdução
O termo ‘Contraponto’ do latim contrapunctus (derivado de punctum contra punctum,
ou seja, nota contra nota) surgiu nos tratados do século XIV (Cury, 2007) e pode ser definido
como uma técnica composicional que parte do princípio da sobreposição de duas ou mais
linhas melódicas independentes que se inter-relacionam numa textura polifônica. Atualmente
o Contraponto pode ser considerado uma disciplina recorrente nos cursos superiores de
música e normalmente é dividida em três etapas: Contraponto Modal, tonal e pós-tonal ou
atonal. Nosso objeto de estudo é o Contraponto Modal.
nos estudos desenvolvidos por Carvalho (1995) e Cury (2007). No entanto, a área carece de
estudos que relacionem o ensino do Contraponto e os aspectos motivacionais que influenciem
o rendimento dos alunos nesta disciplina. Assim sendo, pretende-se com este estudo incitar
novas investigações em música que auxiliem professores, pesquisadores e músicos em geral
na compreensão dos processos cognitivos e motivacionais do aluno.
2. Referencial teórico
O conceito de crença de autoeficácia foi desenvolvido em 1977 e está relacionado com
a Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura, sendo o constructo central desta proposta
(Cavalcanti, 2009). De acordo com Bandura (1986 e1997), os julgamentos de autoeficácia do
indivíduo determinam o seu nível de motivação, ou seja, pessoas que possuem essas crenças
consideram suas próprias potencialidades e, por consequência motivam-se de maneira mais
eficaz. Essas crenças figuram entre os fatores que compõem os mecanismos psicológicos de
motivação do aluno e, segundo Schunk (1991) dizem respeito a percepção pessoal em relação
a própria inteligência, as habilidades, os conhecimentos e os recursos que se dispõe para
realização de determinada tarefa.
Segundo Bandura (1986), são quatro as fontes que originam as crenças de autoeficácia e
essas atuam de forma independente ou agregada (Vieira & Coimbra, 2006). As experiências
de êxito indicam que alcançar o sucesso contínuo na realização de tarefas é um fator que eleva
as crenças pessoais do indivíduo, proporcionando a certeza de que poderá realizar novas
tarefas. As experiências vicárias indicam que observar outras pessoas obtendo êxito diante de
determinados desafios sugere que o indivíduo também poderá superar suas dificuldades, o que
o motiva a realizar determinada tarefa. Já a persuasão verbal é uma mensagem a qual
indivíduo recebe indicando que possui competência para realizar a tarefa em questão. É
importante que essa venha de uma fonte que assegure confiabilidade e credibilidade
(profissionais da área, amigos ou familiares); Por fim os estados psicofisiológicos são estados
emocionais vivenciados indicando oscilações psíquicas (ansiedade, satisfação, etc) que podem
motivar ou desmotivar o indivíduo diante da atividade. Segundo Cavalcanti (2009), esses
quatro aspectos podem ser considerados recursos para auxiliar os professores na tarefa de
tornar os alunos mais autoeficazes.
3. Metodologia e resultados
A metodologia utilizada nesta investigação foi um estudo de levantamento (ou survey).
Participaram da pesquisa 36 estudantes de graduação em música (N=36) que cursavam a
disciplina de Contraponto modal em duas IES1públicas de cidade de Curitiba-PR. O
instrumento de coleta de dados foi um questionário testado inicialmente em um estudo piloto
para a análise da confiabilidade e coerência interna das questões. O questionário foi divido em
duas partes: a primeira foi orientada para caracterização dos participantes e a segunda parte
conteve uma escala Likert com base nas quatro categorias que originam as crenças de
autoeficácia. Os participantes deveriam assinalar suas opiniões dentre 5 pontos onde 1 (um)
significava nenhuma correspondência e 5 (cinco) muita correspondência. Para a análise da
escala as respostas foram somadas da seguinte maneira: os itens 1 e 2 equivaliam a não
concordância total ou parcial, o item 3 correspondia ao meio termo (nem bom, nem ruim) e os
itens 4 e 5 equivaliam a concordância parcial ou total. Esse procedimento foi necessário para
aplicação do Teste Qui-quadrado.
No que diz respeito à relevância do CP2 modal na formação do músico, 86% dos
voluntários responderam que a disciplina é relevante, enquanto 6% disseram acreditar não ser
necessária; 8% dos participantes não souberam opinar (ver Gráfico1). Quando questionados
acerca da importância do CP modal no ensino na composição, novamente 86% responderam
afirmativamente, enquanto 8% dos alunos disseram não considerar relevante; 6% não
souberam opinar (ver Gráfico 2).
De acordo com os dados coletados, pode-se concluir que 56% dos alunos afirmaram
sentir-se competentes ou relativamente competentes para aprender e realizar exercícios após
se comparar com colegas de classe na disciplina de CP modal. Já a respeito das experiências
vicárias a partir da observação do professor em sala de aula, os dados indicaram uma
diminuição nas crenças de autoeficácia, pois 47% dos alunos afirmaram sentir-se motivados
ou relativamente motivados.
B) Experiências de Êxito: As questões relacionadas a essa categoria tiveram como foco a
verificação da influência das experiências de êxito no julgamento do aluno sobre seu
desempenho, incluindo as situações que compreendem novos desafios (como a
aprendizagem de novos conteúdos). Os resultados estão nas tabelas 3 e 4:
De acordo com os dados apresentados (Tabela3), nota-se que menos da metade dos
alunos, contabilizando 47% do total, consideravam-se bons/razoáveis alunos, com base em
seu desempenho geral. Os alunos que não se consideraram nem bons, nem ruins (optando por
3 em uma escala de 1 a 5) contabilizaram 25% do total de entrevistados e, os que se
consideraram alunos ruins ou relativamente ruins somaram 28% da população analisada.
Analisando os dados da tabela 4, que se relacionam com o êxito diante de novos
desafios, pode-se observar que uma pequena parcela dos alunos, compreendendo 16% da
comunidade entrevistada, afirmaram sentir-se pouco ou não motivados diante da realização de
exercícios que envolvessem novos conteúdos na disciplina de CP Modal. Por outro lado, 56%
dos alunos disseram se motivar diante do êxito na realização de exercícios que envolvem
novos conteúdos.
C) Persuasão Verbal: As questões relacionadas a essa categoria tiveram como objetivo a
verificação da influência da persuasão verbal dos professores e dos colegas de classe nas
crenças de autoeficácia e consequentemente nos níveis de motivação dos participantes
desta pesquisa (ver tabelas 5 e 6):
A respeito da persuasão verbal exercida pelos professores (ver Tabela 5), uma parcela
significativa dos participantes, representado 53% do total, se mostraram completamente ou
parcialmente influenciados pelos comentários e críticas feitas pelo professor no momento da
realização dos exercícios de CP Modal, enquanto 19% disseram não se influenciar (total ou
parcialmente). A partir dos dados da tabela 6, observa-se que 53% do total de alunos
participantes desta pesquisa disseram ser influenciados totalmente ou parcialmente pelos
comentários e críticas feitas pelos colegas de classe em relação aos exercícios na disciplina de
CP Modal.
D) Estados Psicofisiológicos: O foco dessas questões foi a verificação da influência do estado
emocional e fisiológico dos alunos nas situações de exposição em sala de aula e, em
ocasiões de avaliação acadêmica. Os resultados estão nas tabelas 7 e 8:
Tomando os dados apresentados acima, (Tabela 7) observa-se que 39% dos participantes
se posicionaram de maneira positiva no que diz respeito ao constrangimento/medo/
vulnerabilidade total ou parcial diante da exposição em sala de aula, enquanto 44% dos alunos
4. Considerações finais
A partir das respostas do questionário foi possível verificar a valorização da disciplina
de Contraponto Modal pela maior parte dos alunos, tanto para a formação de músicos em
geral, quanto para o estudo da composição. No que diz respeito às questões sobre as
experiências vicárias, a maioria dos alunos afirmaram sentir-se competentes e com motivação
para realizar exercícios de CP a partir da observação do desempenho dos colegas. Já na
observação do professor, os níveis de autoeficácia diminuíram. Em relação às experiências de
êxito observou-se que a maioria dos participantes se motivava com os bons resultados
obtidos, o que favorece o fortalecimento das crenças de autoeficácia (Bandura 1982).
Os resultados obtidos nas questões sobre os processos de persuasão verbal revelaram
que a maioria dos alunos se sentiam influenciados por comentários, críticas e sugestões dos
professores e colegas de classe acerca do seu desempenho na disciplina. Já em relação a
influência dos estados psicofisiológicos, vale ressaltar que houve um equilíbrio no número de
alunos, os quais disseram sofrer com oscilações emocionais e fisiológicas e os que
consideraram esses fatores pouco influentes, tanto no dia a dia escolar, quanto em situações
de avaliação acadêmica.
Esses resultados reforçam, portanto, que a Teoria Social Cognitiva e seu constructo
central (as crenças de autoeficácia), podem auxiliar os professores a compreender processos
motivacionais que fortalecem as crenças pessoais dos alunos e, neste sentido, dar suporte para
aqueles que duvidam de suas capacidades.
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Bandura, A. (1986). Social Foundantions of Thought & Action – A Social Cognitive Theory.
Englewood Cliffs: Prentice Hall.
2 CP – Contraponto.
Sonia Ray
EMAC-UFG e PPGMus-IA-Unesp
Laboratório de Performance e Cognição Musical-EMAC-UFG
[email protected]
Resumo: Este texto apresenta uma breve revisão do conceito de EPM – Elementos da Performance
Musical com ênfase no aspecto psicológico e discute possibilidades de aplicações didáticas do
mesmo no ensino da performance musical, além de apresentar os conceitos de didática e ensino. O
objetivo geral é oferecer uma reflexão sobre as possibilidades de inclusão de noções do aspecto
psicológico no ensino da performance por profissionais da área de música (instrumentistas, cantores
e regentes) a fim de oferecer uma contribuição para a otimização deste ensino. O texto é fruto de
reflexão sobre literatura recente publicada sobre o tema.
Palavras-chave: aspectos psicológicos, didática da performance musical, EPMs
Introdução
Este texto apresenta uma breve revisão do conceito de EPM – Elementos da
Performance Musical com ênfase no aspecto psicológico e discute possibilidades de
aplicações didáticas no ensino da performance musical. Através de uma breve reflexão
sobre a literatura recente, discute-se os conceitos elementos da performance musical –
EPM e didática como base para explorar de recursos didáticos que incluam o aspecto
psicológico da performance musical.
Considerações Finais
Este texto apresentou uma breve revisão do conceito de EPM – Elementos da
Performance Musical com ênfase no aspecto psicológico bem como os conceito de didática
como base para a discussão sobre o processo de ensino de performance. Desta forma pode-
se apresentar possibilidades de inserção de noções de psicologia da performance como um
dos vários recursos didáticos que o docente pode considerar no planejamento de disciplinas
que envolvam prática da performance (instrumento, canto e regência). A brevidade do
presente texto não permite que o assunto seja detalhado em cada especialidade de
performance, e nem este foi o objetivo. Contudo, há clara necessidade de expansão da
presente discussão em publicações futuras destinadas a veículos que permitam tal
aprofundamento como periódicos ou capítulos de livros. Contudo, este texto ofereceu um
reflexão sobre as possibilidades de inclusão de noções do aspecto psicológico no ensino da
performance por profissionais da área de música.
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problemas, tendências e alternativas. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE PÓS-
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Rodrigo Dueti
PPGMus-UFG
Laboratório de Performance e Cognição Musical-EMAC-UFG
[email protected]
Sonia Ray
EMAC-UFG e PPGMus-IA-Unesp
Laboratório de Performance e Cognição Musical-EMAC-UFG
[email protected]
A terapia cognitiva se destacou neste âmbito pois foi a primeira a se ocupar não
somente com os transtornos de ansiedade, onde as anteriores obtiveram sucesso e adesão
por parte dos pacientes, a mesma foi utilizada com louvor também nos transtornos
depressivos, transtornos de alimentação entre outros. Dentro deste modelo os sintomas
poderiam ser padrões de automatização do pensamento que distorceriam o processamento
das informações sobre o indivíduo em questão, sobre os pares e sobre o futuro.
Objetivamente buscava identificar os padrões, desafia-los e substitui-los por alternativas
mais construtivas, tal orientação propicia ao paciente a compreensão da relação entre
pensamentos e sentimentos e também como os padrões de pensamento automático podem
ser mantenedores do modelo indesejado de emoção e ação, baseado em um sistema de
crenças mediadoras limitantes do processo de reprocessamento.
Dentro da terapia estratégica o problema é a função da construção formada pelo
paciente acerca de seus problemas, e segundo esta abordagem poderia ser dissolvido com a
reformulação cuidadosa, por parte do terapeuta, que permitiria a aquisição de novas formas
de ação e criação de tarefas direcionadas a desconfrmação das crenças negativas pré-
existentes, o objetivo desta modalidade terapêutica, não é o de encontrar ou apontar
soluções para o paciente e sim gerar situações onde o mesmo se comporte de maneira
diferente e imprevisível, neste sentido a terapia estratégica pauta-se em remover as
barreiras para a mudança, não no processo da mudança propriamente disto e almejado por
outras modalidades.
Em linhas gerais as psicoterapias breves atingem seus resultados através da junção
de diversas formas de implementação de mudanças comportamentais encontradas em todas
as modalidades psicoterápicas e limitando-se a aplicação de métodos de curto prazo a
pacientes que podem se beneficiar de forma amplificada das interações sociais. (Halles et.
al. 2012).
que considera a maioria das patologias como experiências anteriores da vida do indivíduo e
coloca o mesmo em um padrão continuado de afetos, comportamentos, cognições e
consequentes estruturas de identidade, a estrutura patológica é inerente a informação
estática e processada de forma incompleta, registrada no momento do evento perturbador, a
influência perene destas experiências anteriores, em parte significativa, aos estímulos
atuais que eliciam crenças e afetos negativos cristalizados nestas memórias, o que faz com
que o cliente atue de maneira coerente como nos eventos anteriores traumatogênicos.
Entretanto a memória que pode ser referente ao evento traumatogênico ocorrido e aos
comportamentos necessários para a resposta naquela situação específica, o paciente
continua de forma deliberada repetindo o que foi aprendido outrora, e falta uma
assimilação adequada do conteúdo. (Shapiro, 2007).
O modelo PAI (Processamento Acelerado da Informação), é baseado no conceito de
redes neuronais e sinaliza uma mudança paradigmática da teoria psicológica em direção as
neurociências, tem como hipótese o sistema de processamento da informação embasado
fisiologicamente que assimila novas experiências em rede neuronais de memória já
estabelecidas, tais redes são consideradas a base da percepção, atitudes e do
comportamento. As percepções das situações vivenciadas atualmente são vinculadas a
redes de memória associadas de forma autômata, assim o processamento de informação
como a vinculação de redes neuronais relacionadas com a experiência as quais estão
inclusos pensamentos, crenças, imagens emoções e sensações. Para além, tais pensamentos
e convicções que formam a base da constituição das crenças negativas e positivas são os
constructos do tratamento deste tipo de terapia breve, são resultados preditivos do
processamento de informação, no entanto quando crenças negativas são distorcidas e/ou
imprecisas, elas evidenciam o processo de informação preditivo defeituoso, faz-se
importante lembrar que a previsão, operativa em níveis inconscientes e reflexivos, mediam
a maioria dos níveis de funcionamento do cérebro, e é um produto evolutivo predominante
em todo o processamento de informação. Como as demais espécies animais, este
comportamento preditivo é importante para calcar as previsões sobre o ambiente, sobre o
meio social e sobre nós mesmos. (Bergmann,2014).
Shapiro (2007) destaca que quando este comportamento preditivo e as previsões
advindas dele está prejudicado pelas vivencias anteriores, (eventos traumatogênicos) tais
Shapiro, 2007, acrescenta que, o número de sessões dedicadas a cada fase, e as fases
incluídas em cada sessão dependem da necessidade terapêutica de cada indivíduo.
Considerações Finais
Ante ao exposto conclui-se que os músicos performers, podem se beneficiar da
técnica de reprocessamento de imagens traumatogênicas de atendimento psicoterapêutico,
pois a mesma auxilia no desbloqueio de eventos onde a traumatogenia demonstra estar
presente na forma de sintomas relacionados com a ansiedade, pensamentos de ruina,
ridicularização, sentimentos de incompetência entre outros tantos velhos conhecidos dos
profissionais que se tornam performers musicais. Por ser focal, e breve, os benefícios do
autocuidado promovidos pela psicoterapia supracitada podem ser notados nas sessões
iniciais fomentando a adesão ao processo terapêutico. Um estudo piloto foi iniciado em
2015 no Laboratório de Performance e Cognição Musical (LPCM-UFG), onde o autor tem
Referências
Bergmann, Uri. (2014). A neurobiologia do Processamento de Informação e seus
Transtornos: Implicações para terapia EMDR e outras psicoterapias. Brasília.
TraumaClinic Edições.
Hales, Robert et. al. (2012). Tratado de Psiquiatria Clinica, Porto Alegre. Artmed.
Cristiane Carvalho
PPGMus-UFG
Laboratório de Performance e Cognição Musical-EMAC-UFG
[email protected]
Sonia Ray
EMAC-UFG e PPGMus-IA-Unesp
Laboratório de Performance e Cognição Musical-EMAC-UFG
[email protected]
Resumo: O texto apresenta uma discussão sobre o conceito de comunicação não verbal e sua
aplicabilidade na preparação para a performance de grupos de flauta doce. O objetivo deste artigo é
discutir a preparação deste tipo de performance observando elementos da comunicação não verbal.
A pesquisa foi realizada através de revisão de literatura sobre comunicação na música de câmara e
grupos de flauta doce. Sugere-se que a comunicação não verbal auxilia a interpretação e a
compreensão estrutural das obras.
Palavras-chave: Preparação para a performance; Comunicação não verbal; Grupos de Flautas doce
1. Introdução
Os estudos sobre a comunicação em grupos de música de câmara na preparação para a
performance, evidenciam a importância das formas não verbais de comunicação.
(Williamon, 2006, Goodman, 2002 e Palmer, 2013). Entretanto, na prática camerística em
grupos de flauta doce as pesquisas carecem de maior aprofundamento nos aspectos
idiomáticos e performáticos do instrumento, particularmente em sua execução em grupo.
As pesquisas atuais em flauta doce no Brasil possuem enfoque em grupos com fins
educacionais, sem objetivar a preparação para a performance profissional. A despeito do
crescimento da profissionalização da flauta doce pelas universidades, constata-se que são
raras as pesquisas relativas ao uso e papel da flauta doce na área acadêmica (Cuervo,
2009). Neste sentido, o presente trabalho apresenta uma breve revisão de literatura sobre
comunicação visual e aural em grupos musicais e contextualização histórica dos grupos de
sete flautistas doce no funeral da rainha Elizabeth I, em 1603, incluindo cinco membros da
família Venetian Bassano. O mesmo tamanho de flauta doce é mencionado como o
integrante de um consort em um inventário na corte de Madrid em 1559 como quatro
flautas doce, uma muito grande, e as outras cada diminuindo de tamanho. O consort
presumivelmente teria consistido de great bass, baixo estendida, basset e tenores.
Segundo Bernard Thomas, (1991 como citado em Rowland-Jones, 1995, p.34), o
som relativamente puro do grupo de flautas foi conveniente ao tipo de música abstrata cujo
efeito depende de um forte senso intervalar. Para o autor, a música sacra pré reforma
luterana possui a polifonia mais requintadamente trabalhada, onde o texto não prevalece
sobre a música e onde os grupos e flauta doce são especialmente bem empregados.
Nos grupos de flautas doce a comunicação não verbal é inerente à própria orgânica
da produção sonora em instrumentos de sopro, impedindo a verbalização enquanto no
momento. Entretanto, o estudo da comunicação em grupos de música de camara sugere
que, mesmo nos momentos de pausa durante a obra, a comunicação não verbal auxilia o
grupo a uma maior unidade sonora e compreensão de ideias expressivas.
A preparação para a performance em grupos de flautas doce pode ser auxiliada pela
comunicação não verbal. A obra de Holborne (1545 – 1602), the funerals, é apresentada
como ilustração às possíveis formas de comunicação não verbal. A polifonia inerente ao
período conduz os interpretes e estabelecerem “marcos”. Segundo Mello e Kaminsky
(2014), os “marcos” seriam pontos de apoio, com a finalidade de orientar os
instrumentistas. Os “marcos” podem ter diversas funções: estruturais; expressivos;
aspectos técnicos ou mecânicos.
Na figura 1, podemos notar no primeiro compasso, o cruzamento de vozes que se
unem ritmicamente no último tempo. A movimentação melódica até o último tempo do
compasso sugere aos performers uma flexibilidade para alteração rítmica e ornamentação,
mantendo o último tempo como um “marco”, sugerindo que a atenção seja voltada ao
aspecto tanto expressivo quanto mecânico. No último tempo do segundo compasso a
dissonância influencia a escolha de articulação, conscientização da afinação, local para a
respiração e alguma flexibilidade no pulso. O resultado sonoro esperado é de uma falsa
cadência.
�
Fig.1 – Compassos 1, 2 e 3 da peça The Funerals de Anthony Holborne
Fonte: Elaborado pela autora
4. Considerações Finais
A performance em grupos de música de câmara exige dos interpretes a integração de
diversas formas de comunicação. A discussão aqui realizada levou em consideração gestos
físicos e gestos de concepção musical influenciando respostas sonoras do grupo. Foi
possível também detectar que “dicas visuais” (Kawase, 2012) e “marcos” (Kaminsky,
Mello e Ray, 2014) podem ser utilizados como apoio no momento da preparação para a
performance de grupos de flauta doce. Neste sentido, os estudos sobre comunicação não
verbal (Goodman, 2002; Willimon e Davidson, 2002; e Kaminsky, Mello e Ray, 2014) se
mostram consistentes e importantes para a preparação para a performance de grupos de
flauta doce.
Referências
Barros, Daniele Cruz. (2010). A Flauta Doce no Século XX: o exemplo do Brasil. Recife:
Ed. Universitária da YFPE.
Chaffin, R. e Logan, T. (2006). Practicing perfection: How concert soloists prepare for
performance. Advances in Cognitive Psychology, 2(2), 113-130.
Lasock, D. (2012, winter). What We Have Learned about the History of the Recorder in the
Last 50 Years. American Recorder, pp. 18-29.
Palmer, C. (2013). Music Performance: Movement and Coordination ( 3 ed, pp. 405 -422).
In D. Deutsch (Ed.) The Psychology of Music. San Diego: University of California.
Vilson Zattera
Music Department – IA – UNICAMP
[email protected]
José Fornari
NICS – UNICAMP
[email protected]
Abstract: With the advancement of computing technology, graphical representations of language and
music were naturally incorporated to the digital media. Even though in modern personal computer
there is an audio output, it is undeniable that the most relevant data output is visual (shown on the
computer screen). In these circumstances, the visually impaired user has a major disadvantage to
operate computers and retrieve its information in the same level of the sighted ones. As for music
made with computers, blind musicians may face the challenge of being forced to handle graphical
symbols, via aiding softwares, as the only possible way of operating these tools. However, these same
musicians may present aural advantages, as compared to the sighted ones, to the perception of certain
acoustics aspects, such as timbre recognition and sound localization. This theoretical work presents 4
themes of further development that will promote accessibility and explore the aural enhanced
capabilities of blind musicians by means of computational resources. They are: 1) Stenographic
musical notation, 2) Global reader; 3) Haptic-controlled soundscape synthesis; 4) Adaptive-
synesthetic generative music model. Themes 1 and 2 are predominantly related to the accessibility,
while themes 3 and 4 explore the aural advantages of the blind musicians. These themes are here
introduced, described and discussed.
Keywords: Accessibility, Enhanced Hearing, Computer Music
1. Background
Music is frequently defined as the art of organized sounds. As such, music is an
immaterial form of art strongly dependent of time. In music, invisible entities known as sound
objects, are structured by the composer in a time line, thus conveying in it meaning and
aesthetic relevance. However, as music became increasingly more complex, a notation system
was required to register and store musical compositions. Humans are the most visually
orientated and dependent of all mammals (Szaflarski, 2015). Although our sight is not the
most accurate – when compared to other animals, such as birds – human cognition heavily
depends on visual structures to conceive subjective and objective reality into cognitive maps
(Portugali, 1996). Even considering that a musical structure is in fact invisible, intangible and
innocuous, its traditional symbolic notation is primordially graphic. As an example, the early
music notation system, in the records, the cuneiform tablet created at Nippur, developed in
about 2000 BC, is considered to be the first graphic representation of music, which was used
to register music composed in harmonies of thirds, in a diatonic scale (Kilmer, 1986). The two
most important sonic communication systems developed by humankind – language and music
– are normally represented and structured by graphic symbols (respectively, text and musical
notation).
With the advent of computing technology, these graphical representations of language
and music were naturally passed to the digital media. Computers are programmed in
“programming languages”, that are based on the structures of natural (human) language, and
organized in texts, with semantic and syntactic rules and meaning. In the contemporary
personal computer, although there is an audio output, it seems undeniable that the most
relevant data output is visual, delivered through the computer monitor. The input of data from
the user is normally given by the traditional gestural interfaces (i.e. mouse and keyboard),
who, in a way, also depend on the sense vision to be properly operated.
In this scenario, visually impaired user have a major disadvantage to access computer
data information in the traditional manner. In terms of music made by computers, blind
musicians may face the challenge of being forced to handle with graphical symbols, via
aiding softwares (i.e. text-to-speech applications), as the only possible way of having access
to the analysis, transformation and synthesis of sounds and music. These same musicians, as
people deprived from vision, may as well present aural advantages, as compared to sighted
musicians, to certain acoustic aspects, such as the perception of timbre subtle variations and
enhanced sound source spatial localization. The amount of data that one human retina
transmits to the brain is near the rate of 10 million bits per second, which is comparable to an
Ethernet computer connection (Kreeger, 2006). Without vision, the area of the brain supposed
to process visual data (the brain cortex) is rewired to process information from other senses,
such as touch, olfaction and hearing. This phenomenon is called Cross-modal Neuroplasticity
(Lotfi, 2010). This has been studied on visually impaired individuals that present enhanced
hearing. For instance, “in a previous study, Franco Lepore and colleagues showed that people
who lost their sight at an early age could localize sound, particularly from monaural cues,
better than those who could see” (Gougoux, 2005). This theoretical work aims to present four
themes of further development that will promote accessibility and explore the aural excellence
of blind musicians by means of computational resources. It is intended here to introduce the 4
themes that are planned to be further developed in the postdoctoral research of the first author.
The perceptual, cognitive and aesthetic implications of these computational models of
analysis, processing and synthesis, of symbolic and acoustic data, will be further analyzed and
used in contemporary music compositions and performances. The next section presents these
themes of development.
This project will explore four main themes: 1) Stenographic Musical Notational (the
creation of a symbolic system of musical patterns for quick registration of formal music
notational), 2) Global Reader (automatic recognition of text and musical symbols displayed in
the computer screen and speech by means of optical character recognition and real-time voice
synthesis models). 3) Haptic-Controlled Soundscapes Synthesis (gestural data retrieval for the
intuitive parametrization of synthesis models of artificial soundscapes generation); 4)
Adaptive-synesthetic generative music model (evolutionary computation models applied for
meta-composition of music).
The themes 1 and 2 are predominantly related to the issue of accessibility, as they aim to
promote easy and feasible access to the visually impaired musician. The themes 3 and 4
primarily explore the interactivity issue of blind musicians as they intend to explore their
aural excellence, specially in terms of their enhanced hearing abilities, such as the fine spatial
sound location, as described in (Gougoux, 2005). Once that there is still no formal study (as
far as we know) about the enhanced timbre recognition ability among blind people, as well as
the existence of an enhanced sense of pitch, loudness and time delay; the theme 4 of this
project plans to also study this subject, searching for these evidences and eventually exploring
these abilities to guide an evolutionary system of automatic music generation. These four
themes are here introduced and described below, as intrinsic parts of the theoretical work here
presented. Further development and the implementation of such models will follow in the
forthcoming practical development of this project.
2.1 Stenographic Musical Notational
There are several softwares developed to provide access to symbolic musical data.
Some examples are: ABC notation (http://abc.sourceforge.net), Guido Musical Notation
(http://science.jkilian.de/salieri/GUIDO/index.html) and Lilypond (www.lilypond.org). They
are based on customized languages that aim to facilitate the creation and edition of musical
notation. A more recent example is VexTab (http://www.vexflow.com/vextab/), that enables to
process musical notation online (in a web-browser). This and other computational tools aim to
ease the access and lower the required time for the preparation of musical scores. However
the vast majority of these solutions are not tackled to the visually impaired musician. The
major obstacles are the typical data input interfaces (i.e. keyboard, mouse) and data output
interface (the computer monitor and so their graphical user interfaces). Besides that, there is
also the learning curve for each software as they tend to not follow the same philosophy of
programming and user access.
This research theme aims to minimize this problem, accelerating the process of creating
musical scores by using a shorthand language that is intuitive and also capable of textually
representing some recurring musical patterns, thereby reducing the amount of symbolic
information to be inserted by the user to represent a musical score. This project plans to
collect and catalog repeating musical patterns that will be associated with fundamental
symbols that are easy to be referred and fast to be notated. One of the main objectives of this
development is to create a computer model able to collect symbolic data in text format and
convert them straight to a format known as MusicXML (http://www.musicxml.com).
According to its website “MusicXML was designed from the ground up for sharing sheet
music files between applications, and for storing sheet music files for use in the future”. This
theme plans to use MusicXML in order to guarantee the portability of these files so they can
be used in conjunction with the software category. Moreover, the choice of a system in text
mode will directly benefit portability, accessibility and digital inclusion, favoring its use by
not only the blind musician but also people with other disabilities or impairments to properly
handle a computer mouse and keyboard, such as the physically disable, the very young or the
elders.
blob of characters forming words. It will be done by the simple movement of the mouse
pointer on the screen. When moving the pointer on the computer screen over a word and
hitting any character, the Global Reader will automatically identify the other characters
nearby that constitute a word. By the use of an OCR (Optical Character Recognition)
algorithm, this word will be automatically identified and read out aloud, by means a Speech
Synthesizer. Thus, by handling the Global Reader, the blind user will also create of a
cognitive map of the graphic layout of the computer screen and the spatial location of each
graphical object with characters (menus, commands, controls, text fields, etc.) of the
Operating System and the GUIs of any software tool. In particular, this work deals with the
study of a computer vision strategy of automatic character identification, word grouping and
sequential text-to-speech conversion, all performed in a dynamic random access fashion.
Thus, the Global Reader will allow the visually impaired to have access and operate any
graphical interface of generic computer tools such as the ones used for sound processing and
music editing.
aspects that lead the listener on a sonic perception that is special and unique. Sound Symbols
are sounds that evoke cognitive and affective responses, based on the socio-cultural and
personal context of each listener.
As such, a soundscape is also a product of the listener aural ability to identify its
acoustics regularities. Assuming that the mind understands, acknowledges and communicates
with external reality through a dynamic process of constant mental modeling, this process can
be divided in 3 levels: 1) Sensorial, where the brain receives external information through the
bodily senses (hearing, vision, touch, olfaction; the senses of equilibrium, heat, acceleration,
pressure, hunger, thirst, pain, etc). In music the study of acoustical sensations is handled by
psychoacoustics. 2) Cognitive, where the reasoning models are generated, stored and
compared with the accumulated information in memory. This is the level where the acquired
information is identified, processed and appraised. 3) Affection, that deals with the emotions
evoked. Emotions seem to occur as an evolutionary strategy to urge the individual to take an
action (the word emotion comes from the Latin word emovere, that means “to move”), thus
inducing this individual to ratify or reject a predefined cognitive model created from sensed
stimuli. This theme aims to study strategies and computational models that will enable the
visually impaired musician to exercise their enhanced aural abilities to build soundscapes, by
means of haptic controllers. These musicians will map, explore and control the spatial
location of sound sources, as well as other intrinsic subtle sounds aspects (pitch, loudness,
timbre, tempo, reverb, etc.) in order to artistically interact and create a complex acoustic
systems of sound objects required to compose truly artificial soundscapes.
Adaptive algorithms have the ability of changing their inner structure according to their
input data in order to optimize (evolve) its output. In music, adaptive sound synthesis models
consider the process more relevant than a final result. The dynamic path of evolution of an
adaptive sound synthesis is here aesthetically more meaningful than any specific reached end.
Opposing to a consequentialism approach, where “the ends justify the means”, for adaptive
models it might be said that “the means justify the ends”.
Such models are sometimes compared with the theory of evolution, as proposed by
Charles Darwin. These evolutionary computer model simulates the processes of reproduction
and selection of individuals (solutions) dwelling into an artificial population. Normally such
evolutionary
Cogniçãomodels
e Artesare used in(pp.
Musicais the 309-315).
automatic Campinas:
and semi-supervised
Abcogmus.resolution of complex and
open
Schubert,
problems
E. (2003).
(Fornari,
Update2005).
of the Hevner
An evolutionary
adjective checklist.
sound synthesis method
Perceptual is based
and Motor Skills,on
v.
principles
96, p. 1117-1122.
of Evolutionary Computation to generate sounds, as initially proposed by
(Manzolli,
Timmers, R.2001).
(2007).
This
Vocal
theme
expression
will use in
therecorded
methodology
performances
of evolutionary
of Schubert
sound
songs.
synthesis, as
Musicae
described above,
Scientiae, vol.not
11,to237-268.
generate new audio segments, but symbolic segments (represented by
music notation or MIDI protocol). In this project the control of such evolutionary process will
be
H.K.M.
handled
agradece
by blinda musicians,
bolsa concedida
so they can
pelaexercise
CAPES. their
R.A.T.S.
enhanced
agradece
aural abilities
ao CNPq to control
pelo
the
financiamento
parameters da
of pesquisa
an evolutionary
(Projetomodel
472652/2012-5).
of music generation. This will result in the process of
Musical Meta-Composition, where these symbolic segments will evolve as individuals in a
population set and gather together into a complex musical structure resulting into a final
musical score, which its designer will be its Meta-Composer; which is here considered as the
composer of a music composition process.
3. Conclusions
This theoretical study focused on music cognition pathways that technology can
promote to enable musical accessibility for the visually impaired, as well as to explore their
psychoacoustic excellence. The intention here is to study methods and tools, as well as to
analyze the perceptual, cognitive and aesthetic implications of computational models of
analysis, processing and synthesis of symbolic and acoustic data, which can be used by the
blind musician in contemporary music composition and performance. As described above,
this work conveyed four themes of further development. This research intends, above and
beyond, to provide the right of use of computer resources by the blind musicians.
The implementation of the insertion of such individuals, in academic and professional
fields, will help to narrow the gap of accessibility to informational technology resources, thus
promoting its social equality.
4.References
SZAFLARSKI, Diane M. How We See:The First Steps of Human Vision. http://
www.accessexcellence.org/AE/AEC/CC/vision_background.php (accessed in February 2015)
KREEGER, Karen. Penn Researchers Calculate How Much the Eye Tells the Brain. Penn Medicine
News. July 2006. http://www.uphs.upenn.edu/news/news_releases/jul06/retinput_print.htm.
KILMER, A. D. & M. Civil (1986). Musical Instruction Relating to Hymnody, Journal of Cuneiform
A potencialidade
Resumo: a
H.K.M. agradece bolsa concedidado modelo
peladeCAPES.
desenvolvimento musical
R.A.T.S. de Serafine
agradece ao foi investigada
CNPq pelo
como fundamentação teórica para elaboração de ferramentas de avaliação e no ensino de conteúdos
de estrutura musical em oficina de teoria e percepção musical na UFRGS. Esse modelo considera
financiamento da pesquisa (Projeto 472652/2012-5).
que certas operações cognitivas presentes em adultos são provavelmente decorrentes de processos
de enculturação, em relação à percepção, cognição e abstração musical, em termos de processos
temporais e não temporais. A amostra foi constituída de 108 participantes e submetida a uma série
de sete tarefas de percepção musical contemplando processos temporais (sucessão) e não-temporais
(fechamento, transformação e abstração). O maior percentual foi atingido em Abstração (94 %),
seguidos de Transformação de registro (80%) e de andamento (80%). De acordo com os dados dos
testes, noções de fechamento (melódico e harmônico), transformações de registro, de andamento e
de estruturas melódico-rítmicas são formas de cognição musical presentes na população
investigada. Em termos de desenvolvimento, a utilização desses processos como guia na elaboração
de atividades de manipulação de conceitos de estrutura musical demonstrou a potencialidade do
modelo como ferramenta de avaliação do desenvolvimento musical dos estudantes.
Palavras-chave: percepção, desenvolvimento musical, extensão universitária.
Introdução
como performance
Cognição e Artesinstrumental,
Musicais (pp.representação
309-315). Campinas:
gráficaAbcogmus.
da musica, percepção musical e
composição
Schubert, E. (Hargreaves,
(2003). Update
1996),
of theouHevner
ainda oadjective
desenvolvimento
checklist. de habilidades,
Perceptual andcompreensões
Motor Skills, v.e
atitudes
96, p.(McPherson,
1117-1122. 2006). Abordagens integrando compreensão musical, atividades
musicais
Timmers,eR.
contexto
(2007).social
Vocalforam
expression
tambémin recentemente
recorded performances
considerados
of Schubert
(Lamont,songs.
2009).Musicae
No augevol.
Scientiae, do11,cognitivismo
237-268. (anos de 1980), uma série de teorias e modelos de
desenvolvimento foi proposta sob a perspectiva da cognição intimamente relacionada a
formas
H.K.M.deagradece
perceber,apensar
bolsa e concedida
conhecer. Apela
teoriaCAPES.
de desenvolvimento
R.A.T.S. agradece
musical ao
de Swanwick
CNPq peloe
Tillmann
financiamento
(1986)
da pesquisa
descreve (Projeto
esse fenômeno,
472652/2012-5).
em termos psicológicos, em quatro níveis: (i)
maestria; (ii) imitação; (iii) jogo imaginativo e (iv) metacognição; e em termos musicais, em
quatro dimensões cumulativas de pensamento musical: (i) material; (ii) expressão; (iii) forma
e (iv) valor. A teoria de aprendizagem musical de Gordon utiliza três fundamentos
psicológicos: (i) aculturação (respostas randômica); (ii) imitação (egocentricidade) e (iii)
assimilação (tentativa de coordenação). As abordagens de Davidson e Scripp (1989) focam-se
na gênese do desenvolvimento da notação musical na criança como indício de seu
desenvolvimento artístico. Bamberg (1991) relaciona desenvolvimento musical com
resolução de problemas, contextualizadas, em atividades musicais. Finalmente, o modelo
musical de Serafine (1988) explica o fenômeno de desenvolvimento musical em termos de
processamento temporal e não-temporal.
Os modelos de desenvolvimento musical podem servir tanto como ferramentas de
ensino, como para o delineamento de currículos, conforme apontam os trabalhos de Barbosa
& França (2009) e de Santos & Del Ben (2009). Recentemente, empregamos o modelo de
Serafine como fundamentos para construção de ferramentas de avaliação de compreensão
musical no teste de seleção para ingresso em curso de extensão universitária de música
(Santos, 2013).
Serafine (1988) constatou que certas operações cognitivas presentes em adultos já se
encontram desenvolvidas na idade de 10-11 anos, provavelmente decorrentes de processos de
enculturação. Tais operações estão relacionadas à percepção, cognição e abstração musical,
em termos de processos temporais e não temporais. A Figura 1 esquematiza as dimensões e
operações mentais presentes em cada um desses processos.
H.K.M. agradece a bolsa concedida pela CAPES. R.A.T.S. agradece ao CNPq pelo
financiamento da pesquisa (Projeto 472652/2012-5).
Método
Tabela 1: Dimensão investigada, estímulo empregado nas atividades contidas no teste de nivelamento da
H.K.M. de
oficina teoria e percepção
a bolsamusical no cursopela
de extensão da UFRGS. 1
agradece concedida CAPES. R.A.T.S. agradece ao CNPq pelo
financiamento da pesquisa (Projeto
Categoria 472652/2012-5).
Estímulo Meta Opções de escolha
Sucessão Villa-Lobos: Zangou-se o Identificar partes A-A
cravo com a rosa (seções musicais) A-B
(Cirandinhas) A-B-A
A-B-C
A-B-C-D
Fechamento Schubert: Momento Identificar Comp. 1-13
melódico Musical Op. 94 no. 3 pontuação Comp. 1-10
Comp. 1-9
Fechamento Seqüencia de acordes Identificar Deceptiva
harmônico pontuação Conclusiva
Engano
Transformação Luiz Gonzaga: Asa Relacionar altura Piano
(timbre) Branca relativa (grave- Acordeão
agudo) Orquestra de blocos
de madeira2
Transformação Mozart: Allegro da Sonata Relacionar 60 bpm
(andamento) KV 331 (comp. 1-8) andamento relativo 90 bpm
120 bpm
Transformação Mozart: Tema de origem Identificar Variação VI, KV 352
(melódico-rítmica) popular, KV 265 variação da Variação II, KV 265
melodia Variação VI, KV 354
Abstração Melodia Cai, cai balão Reconhecer Marcha soldado
(comp. 1-8), versão Big melodia Cai, cai balão
Band3 Capelinha de melão
Fonte: presente pesquisa. 1: as atividades e opções foram realizadas em ordem aleatória 2: alturas definidas; 3:
Banda Mantiqueira, extraída do CD Músicas daqui ritmos do mundo, Selo/Editora: MCD.
respostas. Os edados
Cognição Artesforam tabulados
Musicais (pp. 309-315).
e analisados
Campinas:
estatisticamente
Abcogmus.(descritiva e inferencial)
usando
Schubert,
o software
E. (2003).
SPSS.
Update of the Hevner adjective checklist. Perceptual and Motor Skills, v.
96, p. 1117-1122.
Timmers, R.e (2007).
Resultados Vocal expression in recorded performances of Schubert songs. Musicae
Discussões
Na etapavol.
Scientiae, de nivelamento,
11, 237-268. na aplicação do teste contendo o conteúdo descrito na Tabela
1, 22 % dos sujeitos (idade média de 28,5 ± 12,4 anos) atingiram 100 % de acertos. Os demais
sujeitos
H.K.M. atingiram
agradece diferentes
a bolsa níveis
concedida
de acertos,
pela CAPES.
dependendo
R.A.T.S.
do processo
agradece
investigado
ao CNPq no teste
pelo
de
financiamento
percepção. A
daFigura
pesquisa
2 apresenta
(Projeto 472652/2012-5).
os resultados obtidos, em termos dos processos temporais
e não temporais implícitos, nos testes de percepção.
Figura 2. Incidências de acertos nas questões do teste de nivelamento de OTP (UFRGS) fundamentado
nos processos temporais e não-temporais de Serafine (1988). N = 84.
observou níveis
Cognição em torno
e Artes de (pp.
Musicais 95%309-315).
para tarefas
Campinas:
similares
Abcogmus.
com população de adultos. No
segundo
Schubert, nível
E. (2003).
de transformação,
Update of the Hevner
denominado
adjective
porchecklist.
SerafinePerceptual
(1988) deand Motor Skills, v.o
ornamentação,
processo
96, p. envolve
1117-1122.
a interação dos eventos musicais através de alterações que ocorrem em
formas
Timmers,
como
R. (2007).
tema eVocal
variações,
expression
por exemplo.
in recorded
Nessa
performances
pesquisa, essa
of Schubert
tarefa atingiu
songs. oMusicae
menor
índice (51 %)vol.
Scientiae, de 11,
acertos
237-268.
para transformação melódico-rítmica. Uma das causas de maior
dificuldade pode estar associada à necessidade de memória e habilidade de comparação.
H.K.M.
De agradece
acordo com
a abolsa
Figura
concedida
2, o item pela
de sucessão
CAPES.atingiu
R.A.T.S.
73 %.
agradece
Essa dimensão
ao CNPqrequer
peloa
habilidade
financiamento
de perceber
da pesquisa
a propagação
(Projeto 472652/2012-5).
da música no tempo, onde uma unidade é sucedida por
outra, de maneira coesa. O potencial de pensamento cognitivo nesta situação consiste em
varrer o esboço mais amplo de uma ou mais frases e dividi-las de acordo com pistas (cues)
convencionais, tais como a sensação de conclusão de eventos (cadência) e o entendimento
sobre conexão de idéias musicais por processos de elaboração como a repetição, a imitação, a
seqüência e a variação, por exemplo. Segundo Serafine (1988), o desenvolvimento dessas
habilidades parece ser independente da familiaridade com as regras que governam a
construção idiomática de obras na tradição clássica ocidental, sendo, portanto uma noção
incorporada de coerência sobre a organização dos eventos musicais.
De acordo com a Figura 2, níveis semelhantes foram atingidos com relação às tarefas de
fechamento, tanto melódicos como harmônico (ambos 74 %). Em atividades semelhantes,
Serafine (1988) atingiu níveis próximos de 100 % para adultos. Uma das razões disso diz
respeito à prática composicional presente no fechamento da grande maioria das peças, escritas
de uma forma idiomática tonal com cadências dominante-tônica.
O modelo de Serafine foi utilizado como fundamento para a introdução e manipulação
de conceitos sobre estruturas musicais, tais como, organização das partes (macroforma,
organização das frases (microforma), textura, caráter, assim como princípios composicionais
(melodia, harmonia e contraponto). Nesse modelo, Serafine sugere apresentar os elementos
estruturais da microorganização (motivos, por exemplo) antes da escuta musical. Para essa
autora, esse aspecto faz com que o ouvinte consiga abstrair as similaridades, recorrências,
assim como diferenças e alterações estruturais no decorrer da escuta e apreciação musical. A
própria autora define percepção musical como um processo de construção pessoal. Na
presente amostra, percebeu-se que os próprios estudantes, após os primeiros exemplos
fornecidos da microestrutura em danças de Suites Orquestrais de Bach, foram capazes de
demonstrar
Cogniçãointeresse pela busca
e Artes Musicais (pp.da309-315).
identificação
Campinas:
e definição
Abcogmus.
de quais materiais musicais
estariam
Schubert, gerando
E. (2003).a Update
obra. AofFigura
the Hevner
3 apresenta
adjectiveochecklist.
dendrograma resultante
Perceptual das categorias
and Motor Skills, v.
elencadas
96, p. 1117-1122.
a partir da apreciação musical de Badinerie da Suite Orquestral em Si m de Bach
por
Timmers,
estudantes
R. (2007).
dos níveis
Vocal2 eexpression
3 do cursoinderecorded
extensãoperformances
da UFRGS. of Schubert songs. Musicae
De acordo
Scientiae, vol.
com11,a237-268.
Figura 3 (a), os estudantes do nível 2 demonstraram a compreensão de
linhas melódicas (microestrutura) e a escuta simbólica (metáforas) guia a percepção/
apreciação
H.K.M. agradece
musical. aPara
bolsa
os estudantes
concedidadopela
nívelCAPES.
3 (FiguraR.A.T.S.
3b), o entendimento
agradece aodá-se
CNPqem nível
pelo
de
financiamento
macro- e microforma.
da pesquisa (Projeto
Resultados
472652/2012-5).
semelhantes foram observados em outros processos.
Esses resultados sugerem a potencialidade de utilização das dimensões e operações mentais
previstas no modelo de Serafine para avaliação do nível de desenvolvimento em atividades
musicais.
Figura 3. Dendrograma das categorias extraídas do exercício de apreciação musical. (a) Nível 2 (N = 18); (b)
Nível 3. (N = 15).
Considerações finais.
Charronnat (2006) observaram a escolha da tarefa ou mesmo do estimulo pode, muitas vezes,
influenciar os resultados, em especial, quando os sujeitos envolvidos não tiveram instrução
musical prévia. A elaboração de uma série de atividades construídas sobre os princípios
cognitivos de Serafine (1988) pode fornecer fundamentos para o desenvolvimento de
ferramentas de avaliação de níveis diferenciados de compreensão musical implícita tal como
se evidenciou no presente estudo.
Agradecimentos
Referências
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McPherson, G. E. (2006). The child as musician: a handbook of musical development.
Oxford: Oxford University press.
José Fornari
Interdisciplinary Nucleus for Sound Communication (NICS)
University of Campinas (UNICAMP)
[email protected]
Abstract: Its common that musicians consider faster to handwrite music notation rather than doing
the same task through the use of a computer music editing tools (e.g. Finale, Sibelius, Musescore).
The major reasons for this seems to be: 1) the fact that main input computer interface (i.e. keyboard)
was developed for textual symbols and so it limits the speed of musical symbols insertion even with
the aid of a mouse. 2) the lack of an unified method of musical data insertion and/or edition for all
music editing tools and specially a method that explores recurring musical patterns. This work
presents the basis for a new method of music notation data entry that explores the identification and
retrieval of perceptually recurring musical patterns, that can be represented by stenographic textual
symbols. This way the musician can quickly notate a music score by the identification and attribution
of stenographic patterns. This work aims to establish the basis for a unified stenographic pattern
model for speed music notation that will be faster to write and cognitively easier to learn than
handwritten musical notation.
Key-words: Musical Patterns, Stenography, Music Notation
1. Introduction
(keyboard and mouse) slow down the entry of music notation data, when compared with the
traditional handwriting method.
According to Igoa (2010) “Music and language are closely linked from its roots. They
are ways of communication, expression, apprehension and existence. Music is a vehicle to
know the world, and human beings have always sung their languages throughout times.
Without any doubt, experiencing music and language allows us to connect to our surrounding,
evoke emotions and even find a reflection of what we are or what we are living in what we
listen to”. Although it still debatable whether or not music can activate neural pathways
related to language, Koelsch (2004) compared the processing of semantic meaning in
language and music, indicating that both can retrieve the meaning of a word, and that music
can, as language, determine physiological indices of semantic processing. However, whereas
writing language (text) requires a somewhat small and well delimited alphabet (at least for
writing western languages), writing music requires the use of a larger and more complex set
of symbols that are unable to fit in a regular computer keyboard (as it is for text) in spite of
using the mouse to enhance the possibilities, it is still a hardship for the user to correctly
retrieve and handle such amount of music notation symbols in a computer.
Natural language (and its textual notation) inspired the development of machine (as the
computer) programming languages. Programming and textual language share several features
in common, such as organization of semantic meaning and syntactic structure. According to
Sanford (2014) one of the first programming languages occurred before the computing era. It
is regard to the punch holes on a player piano scroll. Although not designed to human-
machine interaction (as the computer programming languages), it can in fact be seen as a
limited domain-specific programming language.
Computer software tools imposed a new paradigm to the process of symbolic music
data input, and each one of major companies that produces music editing softwares (such as:
Finale, Sibelius, Encore) has its own solution and so there is a lack of a unified system for
music notation among those softwares and their versions, imposing a steep learning curve,
even on how to create a simple musical lead sheet. It seems that the only feature they have in
common is the use of a GUI (graphical user interface). Some alternative groups, generally
those related to free softwares, venture to another approaches of musical data inputing.
Instead of dealing with adapting input interfaces to write music, they paved the way to
represent music by using textual language. Some initiatives in this field are: MuTex,
MusicTex, MusixTex, Lilypond, ABC notation, GUIDO music notation, VexTab, etc.
If music and language share some common background, as pointed above, by Igoa
(2010) and Koelsch (2004), it might be useful to develop a method of music notation in a
similar manner as languages are represented by textual structures.
Here it is presented the first attempt to implement this concept, by creating a simple
musical textual language and a computer model able to analyze (parse) it.
For that, a context-free grammar (with just a few production rules) was used to convert
textual segments (words) into musical patterns. Thus, the role of this parser is to convert this
textual language into a file format that other softwares tools can import (Viz. MusicXML
format) and afterwards converting it to audio or printed scores (PDF style or image).
The aim of this work is to create a novel computer model for speed music notation that
may not only be faster, but also more intuitive for the user, as it explores the cognitive
correspondence between language and music. Some of the foreseen advantages of a textual
method of music writing are covered in section 4, as the most important one seems to be the
possibility of using stenographic strategies to accelerate music data entry by a shorthand
model that represents recurrent musical patterns by unique symbols. This is a task that, as far
as we know, no other software tool uses or take into account.
2. Stenographic Patterns
Similar to the phonetic stenography, that represent phoneme patterns (sounds) with
symbols, the core of the work here presented is to identify recurring musical patterns and
represent them using plain text symbols (ASC-II characters), so it can be represented as a
textual writing language, which seems to be the easiest way to input data through the
computer keyboard. Considering that a reasonable number of musical patterns are retrieved
and easily accessed by intuitive and fast-to-type symbols, this system will probably be the
first computer model of stenographic music notation; a reliable and faster musical data input
method using, as gestural interface, only a regular computer keyboard.
3. Musical Patterns
The use of a pattern language as a tool to solve design problems was initially proposed
by Alexander (1977), in his seminal book "A Pattern Language". According to Alexander
(which was an architect), each pattern detected by our cognition expresses a recurring
problem of its environment and therefore points out the possible arrangements that may solve
the presented problem. His studies went beyond the scope of architecture to be adapted to
many areas of knowledge, including computer science, as in (Duell, 1997). In music, this
pattern language can also be applied and we present bellow a practical example of it.
There are three major types of patterns in music: harmonics, melodics and rhythmics.
The main goal is to detect those patterns and associate them with easy to remember
stenographic textual names. Let's consider some possibilities based on Figure 1.
In terms of Harmonic Patterns, it is noticeable that the key of this excerpt is C minor
(Cm) and the chord progression can be marked as: Im | IVm | V7 | Im | V7. Representing this
progression by numbers (1, 4, 5, 1, 5) a possible stenographic representation for this harmonic
pattern is: Cm-14515. In terms of Melodic Patterns, as an example, the fifth measure has the
first six notes of a C natural minor scale, that could be represented by the pattern: Cm-1~6
where the symbol “~” represents the sequential melodic progression from the first (C) to the
sixth (A) note of the C minor scale. In terms of Rhythmic Patterns, it is known that this song
style is a “choro” or “chorinho”, a traditional Brazilian style that is more than often notated
with the time signature 2/4. In this genre, cells are usually grouped (beamed) at the length of
quarter notes. However, the usual minimum duration in this genre is a sixteenth note. Using
ligatures between sixteenth notes, there would be only eight patterns, as shown in Figure 2.
Those patterns can be named by one-digit numbers, and for the sake of simplicity we
add another useful cell (a triplet) so the first four numbers represent directly the amount of
notes per cell, the other number represent the moving of the simple and the double tie
(ligature), as it is shown in Figure 3.
Using these stenographic names for rhythmical patterns, all cells in Figure 1 would be
simply represented with the sequence: 841184118481.
4. Computer modeling
The envisioned criteria for the implementation of the proposed method are: 1) Short
learning curve: the method has to be as intuitive as possible and in tune to music traditional
terminology; 2) Initial focus on Brazilian music and culture: the method begins by facing
Portuguese language and popular music, with special attention to three genres: bossa-nova,
samba and chorinho; 3) Being a tool for faster music notation; 4) Compatibility: simple data
sharing with other softwares through MusicXML interchange standard (Bray, 2000); 5)
Portability and 6) Accessibility.
The first challenge to design such computer model was to create a basic formal
programming language to represent a simple music score and, only subsequently, as an
extension of this language, to seek out musical recurrent pattern and represent them textually.
At the current initial stage of this computer model, the chosen simple score form was the
“lead sheet”, formed by a melodic line and chords from its harmony. When a computer model
solution involves the ability of interpreting text, it might be useful to take advantage of Noam
Chomsky's formulations about language structures, where “the fundamental aim in the
linguistic analysis of a language L is to separate the grammatical sequences which are the
sentences of L from the ungrammatical sequences which are not sentences of L” (Chomsky,
1972, p. 13). According to this approach it is necessary, as a starting point, to define a
grammar, considered here as a set of rules capable of identify if the structure of a text
sequence is grammatical or not, whereas “the notion 'grammatical' cannot be identified with
'meaningful' or 'significant' in any semantic sense” (Chomsky, 1972, p. 15), to be grammatical
in this sense is to be liable of being produced following those rules, which for this reason are
sometimes called “production rules”.
Although writing music requires extensive and detailed use of symbols and drawings,
the textual representation of the elements of a lead sheet were easily represented using a very
small Backus-Naur Form (BNF) grammar. This one was introduced for the first time by John
Backus and Peter Naur, as a formal notation to describe the syntax of a given language, based
on a finite set of production rules. Once determined a BNF context-free grammar it is simple
the task of converting text into processable data, this data in our case are the representation of
musical symbols (such as: notes pitches and durations, rests, clef, time and key signature, bar
lines, direction marks, etc.), in short, all elements to create a musical score in a lead sheet
form. The basis of this computer model here introduced was made with techniques described
in Vanini (2010) to build compilers (computer models that translate the code written in a
programming language to binary code), but here the programming language was replaced
with textual representation of a musical score and the generated binary code was both the
sound and the image of the textually represented musical score. All images of this current
paper were generated with this model, directly from a text only notation. The future
development of this software is to make use of stenographic patterns, but at this moment both
recurrent musical patterns and their textual representation are still under studies and tests of
adequacy to the stipulated guidelines of the start of this section.
5. Discussion
One of the most relevant benefits achieved with the preliminary model here presented is
in terms of accessibility. Youngsters and elderly adults were able to input musical data easier
than with other softwares or even handwritting music notation. This also eliminates the
mandatory use of a computer mouse implied by graphical interfaces, both age group present
some difficulties with the use of a mouse exactly as related by Donker and Reitsma (2007)
with children and by Wagner et al (2010) with older adults. This experience also points out
that people with visual or muscular impairments could also benefit from this music notation
method, which is also a way to foster digital inclusion.
In terms of music perception (both for solfège and ear training) some meaningful results
were also achieved. Once that the nine rhythmical patterns (as shown in Figure 3) has seemed
to be enough to cover the vast majority of rhythmic cells present in Brazilian music, the study
of these patterns significantly improved the students' skills in transcribing and reading music,
thus simplifying the learning process of some difficult Brazilian structures, notedly
syncopations, on melodic lines and guitar strums. The textual representing system also made
it easier the generation of writing and listening exercises, guitar and piano scales and
arpeggios studies, sight-reading lessons, singing techniques, all with easy customizations to
fit each lesson level and supported by computerized processes to randomly making new
materials promptly available and further automatic corrections of homework assignments and
musical exercises.
6. Conclusion
This work presented a computer model for writing music using a textual representation
of the score. This seems to be a meaningful solution to overcome some limitations that are
imposed by the use of a computer keyboard to input musical data, specially considering the
use of a shorthand notation in order to facilitate the cognitive task of identifying and
retrieving musical patterns to create new scores. The approach of representing music with text
only, despite that it seems, at a first glance, a somehow difficult inversion of paradigm in
music writing, can bring some substantial benefits on a wide range of music related activities,
including but not limited to: 1) Stenographic musical registering of live improvisations and
performances, such as the one described in (Fornari, 2011); 2) An annotation tool for
Musicology and Ethnomusicology in the retrieval and analysis of music structures and
recurring patterns, according to music styles and/or regional culture; 3) Easier music notation
for children, elderly people and visually or muscular impaired musicians; 4) An all-in-one
system to generate academic and educational documents in the future integration of this
textual computer aiding system of music notation as a plug-in to text editors softwares,
exempting the use of a set of softwares to: write music, convert it into an image, edit this
image for further inclusion in a text document, which is a significantly time consuming task,
often worsened because of the inevitable corrections that are always required to be done in a
score; 5) Music perception studies, whether from the teacher's perspective, to easily create
written and playable exercises for ear training, or still from the students' perspective to modify
the way of reading or listening to musical patterns, meaning that if it is possible to write
music using recurring patterns, so it is also possible to understand those patterns as a well
defined and delimited musical structure. Although the challenges to implement a complete
stenographic textual model are great, it seems to be worth the efforts by taking into account
the great benefits that can be reached with the development of a collection of recurrent
stenographic patterns for speed music notation, a feature that, until this present moment, as far
as we know, no other music notation computer model has developed or explored.
7. References
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On Programming Languages - What You Need To Know. Emereo Publishing, 25 de mar
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Wagner, N., Hassanein, K., & Head, M. (2010). Computer use by older adults: A multi-
disciplinary review. Computers in human behavior, 26(5), 870-882.
Eliane Leão
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Guitar and Musical Cognition: reflections on the teaching of reading fragmented scores
Abstract: The objective of this paper is to discuss learning and musical cognitive processes, based
on the concepts of acculturation and training aimed at building a methodology of teaching music
notation attractive and effective way for beginning students in group lessons guitar. The
bibliography provides methodological support for this work and provides reflections and some
methodological suggestions that may lead to better learning tool. The work is justified by the
relevance and music education today in mainstream schools in the state of Goiás, in which there is
observed increase in the number of collective teaching projects guitar. In the first part of the text
presents a reflection on the musical cognition and learning; followed by a brief discussion of
acculturation and the importance of training to the process of musical learning. Finally, we
introduce a methodology for teaching musical score in a fragmented way for guitarists. From the
theoretical reflections and empirical proposal, it is considered that the music musical training on
methodology that shred the contents to be taught , tend to overcome the acculturation.
Key words: acculturation and training, score reading, group lessons guitar.
Introdução
O objetivo deste trabalho é refletir sobre os processos cognitivos da música, a partir dos
conceitos de enculturação e treino a fim de construir uma proposta metodológica de ensino da
pauta musical que seja atrativa e eficaz para alunos iniciantes em aulas coletivas de violão.
Essa proposta integra uma pesquisa de mestrado em música em andamento na Escola de
Música e Artes Cênicas da UFG, que busca estudar o desenvolvimento da aprendizagem
musical, a partir de um proposta metodológica que contemple concomitantemente, a leitura de
partitura e a leitura de cifra, por meio de aulas coletivas de violão.
professor de música, com saberes que o auxiliarão nos planejamentos das aulas e na
elaboração dos conteúdos a serem ministrados.
Para a autora "[...] nem todos os sujeitos alcançam, ao mesmo tempo, o mesmo nível de
desenvolvimento". (Ibid., p. 83). Isso não quer dizer que exista pessoas inaptas ao
aprendizado musical, mas sim, que todos os indivíduos são aptos a terem um
desenvolvimento cognitivo musical que se diferencia de sujeito para sujeito.
Ao estudar o desenvolvimento da habilidade musical, Sloboda (2008, p. 257) mostra
que ela "[...] é adquirida através da interação com um meio musical." E que o
desenvolvimento dessa habilidade acontece em dois momentos. O primeiro é chamado de
enculturação, que seria a aquisição espontânea, com início no nascimento e predomínio até
por volta dos dez anos de idade; e o outro, chamado de treino, que "[...] concentra-se no
desenvolvimento posterior de habilidades musicais especializadas, que acontecem tipicamente
em um ambiente educacional autoconsciente." (Ibid., p. 259).
Para o violonista Henrique Pinto (2005), um sistema de ensino deve ser fundamentado
em um método, onde as peças escolhidas tenham uma sequência lógica, pois "gradativamente
irão sedimentar uma estrutura para uma ascensão organizada" (PINTO, 2005, p. 3-4).
Com o objetivo de pensar uma estratégia para o ensino de partitura para alunos (as)
iniciantes de violão, a partir da análise do desenvolvimento cognitivo, apresentar-se-á em
seguida um breve estudo dos conceitos de enculturação e treino.
Enculturação e Treino
Existem capacidades primitivas, que os indivíduos possuem desde o nascimento ou
imediatamente após ele. Também, há experiências durante o desenvolvimento das crianças
que são proporcionadas pela cultura compartilhada com elas. Além disso, ocorre o choque do
sistema cognitivo, que sofre uma mudança acelerada ao aprender muitas habilidades
alicerçadas na cultura. Todos esses elementos ajustam-se em realizações semelhantes para a
maior parte das crianças de uma mesma cultura e em idades parecidas. Assim, Sloboda (2008)
caracteriza a enculturação como capacidades adquiridas sem que haja instruções explícitas e
sem esforço autoconsciente.
O entendimento e a compreensão mais profundamente desses processos pode favorecer
um melhor entendimento do papel da música na experiência humana. Assim o professor
[...] tem mais chances de tirar proveito de uma compreensão maior dos processos
psicológicos subjacentes a uma determinada habilidade do que de uma receita
qualquer obtida através de um treinamento específico. Essa compreensão maior
permitirá que o professor faça uso de seus próprios métodos, adequando-os às
situações e aos alunos com quem trabalha e modificando-os com base em princípios.
(Ibid., p. 261).
Já o treinamento musical favorece o desenvolvimento do conhecimento bem como a
aquisição de habilidades específicas tendo por base a enculturação. Essa fase de treino, pode
superar de modo indefinido à enculturação, avançando pela idade adulta em campos de
atuação como a execução de habilidades musicais. (Sloboda, 2008).
A psicologia educacional pode contribuir com o desenvolvimento e treinamento musical
ao buscar identificar, compreender e avaliar as mudanças que acontecem durante os diferentes
tipos de treinamento. Segundo o autor, existem outros mecanismos que se tornam essenciais
para a aprendizagem. Seriam eles, a motivação, a repetição e o retorno (feedback).
No processo de aquisição de habilidades, existe uma proposta de subdivisão em três
estágios: o estágio cognitivo, o estágio associativo e o estágio autônomo. Sobre isso Anderson
(como citado em SLOBODA, 2008) explica a divisão desses estágios
[...] estágio cognitivo envolve uma codificação inicial da habilidade em uma forma
suficiente para permitir que o aprendiz gere o comportamento desejado, pelo menos
num nível de aproximação grosseira. Nesse estágio, é comum observar mediações
verbais, em que o aprendiz repete as informações necessárias à execução da
habilidade. O estágio associativo é aquele em que a habilidade passa a ser executada
de maneira suave. Os erros na compreensão inicial da habilidade são sucessivamente
detectados e eliminados. Concomitantemente, desaparece a mediação verbal. No...
estágio autônomo há uma melhoria gradativa e continuada na performance de uma
habilidade. Frequentemente, nesse estágio, as melhorias continuam indefinidamente
(Ibid. 2008, p.286)
Figura 1 - Pauta de 1 linha correspondente à 5ª linha da pauta com clave de sol. Notas (Mi, Fá e Sol)
Figura 2 - Braço do violão - 1ª corda. Notas (Mi, Fá e Sol).
A partir da segunda aula insere-se mais uma linha da pauta, concomitantemente com a
segunda corda do violão. Nessa etapa, o aluno já inicia a leitura e execução da primeira
melodia no violão. (vide Figuras 3 e 4 abaixo).
Figura 3 - Pauta de 2 linha correspondente à 4ª e a 5ª linhas da pauta. Notas (Dó, Ré, Mi, Fá e Sol)
Figura 4 - Trecho da música Asa Branca, coma Pauta de 2 Linhas. Notas (Dó, Ré Mi, Fá e Sol).
Figura 5 - Pauta de 3 linha correspondenteà 3ª 4ª e a 5ª linhas da pauta. Notas (Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá e Sol)
Figura 6 - Trecho da música Love me Tender coma Pauta de 3 Linhas. Notas (Lá, Si, Dó#, Ré Mi, Fá# e
Sol).
Ao inserir a 4ª linha na pauta, chega-se a 3ª corda solta do violão (nota Sol). Inseri-se
neste momento o conceito de: (casa 1 e casa 2), utilizados como sinal de repetição que ocorre
na música: Parabéns pra você. (vide Figuras 7 e 8 abaixo).
Figura 7 - Pauta de 4 linha correspondente à 2ª 3ª 4ª e 5ª linhas da pauta. Notas (Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá e Sol)
Figura 8 - Música: Parabéns Pra Você coma Pauta de 4 Linhas. Notas (Sol, Lá, Si Dó, Ré Mi, Fá e Sol).
Por fim, completas-se a 5ª linha da pauta, ao mesmo tempo que passa a utilizar a 4ª
corda do violão, executando as notas Mi e Fá. Inseri-se neste momento o conceito de: (Ponto
de Aumento), sinal que ocorre na música: Luar do Sertão. (vide Figuras 9, 10 e 11 abaixo).
Figura 9 - Pauta ou Pentagrama completo. Notas (Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá e Sol)
Figura 10 - Braço do violão - 1ª, 2ª, 3ª e 4ª cordas. Notas (Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré Mi, Fá e Sol).
Figura 11 - Trecho da Música: Luar do Sertão utilizada como 1ª música utilizando a Pauta
completa. Notas (Mi, Fá, Sol, Lá, Si Dó, Ré Mi, Fá e Sol).
Considerações Finais
A partir do pensamento que todos possam aprender a ler e tocar música, e que todos os
indivíduos deveriam usufruir dos benefícios proporcionados por uma educação musical,
acredita-se que, um teste de aptidão musical seria desnecessário para selecionar alunos nessa
proposta de ensino. Além disso, a partir das reflexões teóricas e da proposta empírica
apresentada, considera-se que o treinamento musical pautado em uma metodologia que
fragmente os conteúdos a serem ensinados, tendem a superar à enculturação.
Na proposta apresentada, os alunos desde o início já estariam tocando e fazendo música,
mesmo sem possuir um profundo conhecimento dos conceitos teóricos musicais, pois esse
conhecimento vai sendo desenvolvido ao mesmo tempo com o desenvolvimento técnico do
violão. Com os alunos tocando e lendo música desde as primeiras aulas, acredita-se que o
receio de tocar violão por partitura desaparecerá, e consequentemente espera-se que ocorra
um aumento da motivação e dedicação em todo processo de ensino aprendizagem.
Referências
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Sloboda, J. A. (2008). A mente musical: a psicologia cognitiva da música. Tradução: Beatriz
Ilari e Rodolfo Ilari. Londrina: Eduel.
eles fazem parte de nosso mundo e a procura de compreende-los, nos ajuda a nos
compreender. Nas histórias e detalhes que eles contam, encontramos a nós mesmos em
nossa busca por felicidade, prazer, sobrevivência, reconhecimento.
O Cenpec atua dentro das unidades da Fundação CASA, instituição
socioeducativa, onde jovens entre 12 e 21 anos incompletos cumprem período de
detenção por atos infracionais. A Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao
Adolescente (FUNDAÇÃO CASA/SP), era conhecida anteriormente como Fundação
Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM).
No ano de 2014 o Cenpec publicou livro analítico do trabalho proposto e
desenvolvido. Um dos capítulos, escrito sob a forma de Discurso do Sujeito Coletivo,
resgata duas grandes vertentes de narrativas dos jovens que vivem na instituição: as
autonarrativas, ou seja, como os jovens se percebem enquanto coletividade; e as
héteronarrativas, de como pensam ser vistos pelas pessoas que estão fora da
carceragem, tanto pessoas da família quanto o grupo de pertencimento.
O ponto proposto no texto a seguir é captar as observações que nos apontam
sobre a importância e necessidade da atividade artística como forma de narrativa de si.
O formato proposto é de Discurso do Sujeito Coletivo, que consiste em escrita de forma
descontinuada de cada relato. Afastados dos nossos olhos, isolados e sem voz, sinto
uma brecha na pesquisa atual sobre a importância da documentação e acompanhamento
dos trabalhos realizados com meninos encerrados em instituições, principalmente
investigações relacionadas ao estudo musical e à construção de autonarrativas. Sinto a
necessidade de dar-lhes voz, de torná-los presentes nas narrativas pessoais ligadas ao
processo musical. Por meio da prática musical os meninos podem tomar caminhos
resilientes.
No presente trabalho utilizarei as entrevistas com os meninos e adolescentes, os
conceitos de historiobiografia como um processo terapêutico educativo que tem por
objetivo a redescoberta do sentido da vida recorrendo à compreensão da história
pessoal, desenvolvidos por Critelli; os apontamentos da Pettit de como crianças,
adolescentes e adultos em momentos de sofrimento, podem descobrir na atividade
artística a reconstrução de si mesmos; as contribuições do neurologista e músico
ao outro que nos escuta, que nos vê, inauguramos uma maneira diferente de nos dizer. O
meu contar nasce no momento em que me conto para alguém.
Mas o desenvolvimento de um talento1 não é algo simples e ordinário. Requer
empenho, esforço e aptidão. Algo como a habilidade de um artesão que cotidianamente
faz algo à procura da perfeição. É esse elemento de destreza que proporciona à pessoa
um senso íntimo de respeito. Diferente da procura da dianteira em uma corrida, é sentir-
se bem interiormente. Sentir-se capaz.
Arte e cultura o nome já diz tudo, arte: você fazer e os outros gostar,
Coisas boas, você aprende a fazer objetos com a mão, criar coisas do seu
jeito, que é você que vai produzir. Tem produção de tambor, berimbau,
outros instrumentos. É uma coisa que você faz e todo mundo admira, é
você fazer sua própria arte. (Lefreve,2014,p.56)
Quando conseguimos tocar, fazer soar o instrumento à nossa frente da forma
como esperamos, nos traz uma satisfação muito intensa. Richard Sennett é sociólogo e
historiador. Filho de imigrantes russos, cresceu num bairro pobre de Chicago e começou
a estudar violoncelo bem cedo, sendo posteriormente aluno da prestigiosa Julliard
School em Nova York. Lamentavelmente uma lesão na mão esquerda determinou o fim
de sua carreira como cellista. Ele narra que em sua infância, quando morava em um
bairro pobre, estudava violoncelo freneticamente, e que
este acontecimento ( conseguir um vibrato no cello ) teve dois lados: o
respeito que se ganha dos outros por fazer bem alguma coisa, e o ato de
explorar como fazer alguma coisa. Há satisfação nisto – foi construindo
um som livre e apurado que experimentei um profundo prazer em e por si
1Utilizo a palavra talento em seu contexto amplo. Muitas vezes pensamos em talento como algo
extraordinário. Lembramos as biografias dos grandes prodígios musicais (KENESON, 2002). Ao nos
aprofundarmos no assunto, vemos que a jornada de cada um é algo que vai muito além dos nossos
conceitos cotidianos: se determinadas crianças possuem talento musical ou não. Há uma ampla
bibliografia que trata o assunto. Para citar somente alguns: SLOBODA, 2010; SUZUKI, 1999;
BEECHIN, 2010; MYLES.2010; LEHMANN,2007; HALLAN, 2011.
até fora daqui, como uma profissão. (...)É criatividade, pra você usar sua
imaginação, (...) para você desenvolver seu eu. (...)E daqui para a frente
eu vou ter algum futuro, vou fazer alguma coisa da vida. (Lefreve,
2014,p.55-61)
Com a prática da arte nascem novas maneiras de enxergar o mundo, uma saída,
um respiro, um saltar para fora de uma história e mergulhar em outra. Mudar o sentido
do caminho. O cerne da construção ou reconstrução de si mesmo. É dar novamente
animação aos pensamentos, aos desejos, aos sonhos, suas vidas; e para ir mais longe
(Petit,2009). Podemos recontar a história de nós mesmos. Para isso é necessário romper
com uma história de si, como nos alerta Chimamanda.
Chimamanda é escritora. Ela cresceu num campus universitário na Nigéria. Seu
pai era professor universitário e sua mãe trabalhava em uma empresa. Ela começou a ler
desde muito cedo, cresceu numa típica família de classe média e aos 19 anos foi estudar
em uma universidade nos Estados Unidos da América. Sua colega de quarto ficou
perplexa porque ela falava inglês fluentemente, e foi desconcertante para ela saber que a
língua oficial da Nigéria é o inglês. Quando a colega perguntou sobre os cantos tribais
da África, ela disse que sua canção preferida era de uma cantora estadunidense em
moda no momento; e apesar de tudo, sua colega insistia em ensiná-la como utilizar o
fogão. Chimamanda percebeu, como afirma em seu relato, que sua colega conhecia
somente uma história da África: um povo sofrido e esfomeado. É impressionante como
somos vulneráveis em face a um estória.
Quando falamos de meninos encarcerados falamos de uma face dos meninos e
adolescentes. É impossível falar de uma história sem falar da força que ela possui. A
força não está exatamente em contar uma história de alguém, mas tomar essa história
como definitiva. Uma única história cria estereótipo, e o problema não é que não seja
verdadeiro, mas que é incompleto. O estereótipo conta somente uma história. Uma
história tem si a possibilidade e tornar algo em maléfico, mas histórias também podem
ser usadas para fortalecer e humanizar. Histórias podem quebrar a dignidade de uma
pessoa, mas também podem reparar a dignidade partida.
Enclausurados em uma só história ficamos inertes, impotentes. Congelados sob
uma só imagem procuramos meios de costurar os fatos em um fio que faça sentido, que
Referências
BEECHIN, Angela Myles. (2010) Beyond Talent: Creatiing sucessful Career in music.
New York: Owford University Press.
CHIMAMANDA, The danger of a single story. http://www.ted.com/talks/
chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story/transcript?language=en
Marcos Botelho
UFG
[email protected]
Resumo: O presente artigo busca relacionar a noção de hábito demonstrado na fenomenologia e na
educação praxial à rotina de exercícios e estudos dos alunos de instrumentos. Foi nosso objetivo
fazermos considerações, por meio da literatura especifica, para a construção de uma rotina e
preparação dos músicos em que técnica e música, corpo e mente estão entrelaçados. Entendemos que
devemos buscar um melhor entrelaçamento entre corpo e mente, música e técnica.
Palavras-chave: performance musical, pedagogia da performance, rotina
Habit and practice in the routine studies of student instruments
Abstract: This article seeks to relate the habit of concept demonstrated in phenomenology and praxial
education exercise routine and studies student instruments. It was our aim do considerations, by the
specific literature for the construction of a routine and preparation technique in which musicians and
music mind and body are intertwined. We believe that we should seek a better entanglement between
body and mind , music and art.
Key-words: musical performance, pedagogy of performance, routine
Entendemos que pensar música como profissão demanda pensar mais do que aspectos
puramente estéticos, mas aspectos técnicos. A execução de uma música é algo físico, que
depende da atuação do nosso corpo para sua realização. A grande maioria dos métodos e
tratados para o ensino do instrumento entendem a técnica como um procedimento somente
mecânico. Entendemos que é preciso recuperar o sentido do corpo.
O presente artigo busca relacionar a noção de hábito demonstrado na fenomenologia e
na educação praxial à rotina de exercícios e estudos dos alunos de instrumentos. Foi nosso
objetivo fazermos considerações, por meio da literatura especifica, para construção de uma
rotina e preparação dos músicos em que técnica e música, corpo e mente estão entrelaçados.
Mente e corpo são entrelaçados porque todos os movimentos do corpo vivo são
intenções psíquicas, da mesma forma que todos as intenções psíquicas tem origens em um
esboço de disposições fisiológicas. Elliot (1995) ainda acrescenta que a consciência do corpo
é parte do sistema nervoso central, é um processo biológico, o corpo esta na mente, é uma
criação da nossa mente.
Nossa consciência do corpo é experimental e relacional, o conhecimento corporal
refere-se a conhecimentos aperfeiçoados no e através do corpo, tendo uma conexão direta
com as sensações e conhecimentos corporais, assim como habilidades e ações. Corpo e mente
funcionam em uma interação complexa, aliada a experiência como um todo. Em resumo,
conhecimento corporal significa qualquer transformação na experiência corpo-mente.
A noção da fenomenologia de hábito compreende que nosso corpo não esta no espaço
nem esta no tempo, e sim ele habita o espaço e o tempo, ele tem espaço e o tempo
intencionalmente ligados. “A aquisição do hábito é sim a apreensão motora de uma
significação motora” (Merlau-Ponty, 1999, p 198).
Portanto, o hábito não é adquirido somente por meras repetições, ele deve ser envolvido
em um ambiente musical. É uma habilidade que é interiorizada sim com o tempo e repetições.
Uma habilidade técnica desprovida de sua musicalidade de nada serve para a construção de
um músico de alta performance.
Hábito
Entendemos que o pensamento analítico deva ser um meio para a construção de
habilidades para realização da performance musical no palco. Tomemos como exemplo o ato
de dirigir um carro, não estamos consciente dos movimentos mecânicos (movimentos dos pés
nos pedais, girar do volante etc), a não ser de forma intencional. Ao dirigirmos é como se o
carro tornar-se um complemento do nosso corpo. Para nos entregarmos totalmente a uma
performance, temos que ter a mesma sensação em relação ao nosso corpo. Heller (2006)
corrobora nossas afirmações anteriores complementando que a motricidade plena não se da
pelos comandos de nosso intelecto, mas pela existência de um esquema corporal consciente.
Acrescenta:
Fala-se na técnica ‘do’ músico. A técnica que pertence ao músico. Através do
‘domínio’ técnico, o músico domina seu instrumento. Domina-o através de ações
corporais. Portanto, para dominar seu instrumento, o músico precisa primeiro
dominar seus movimentos, ou seja, seu corpo. (…) A técnica como procedimento ou
desempenho corporal ainda é uma organização representada do movimento (Heller,
2006 p90-91).
tempo usado como ‘habilidade, perícia’, se (re)abre ao seu sentido artístico: não à ‘arte de
fazer’, mas ao fazer-se artisticamente”.(Heller, 2006, p.110)
Holme & Holmes (2012) sugerem que aspectos da performance podem não ser
necessariamente claros para um observador, nem quantitativamente mensurável, a menos que
este desafio metodológico inerente seja reconhecido e abordado, suposições podem ser feitas
sobre o mundo interior do artista que, estando arraigados na experiência e as expectativas do
observador, têm pouco fundamento na realidade.
Frederiksen (1996) relatando a filosofia de Arnold Jacob fala em reflexo condicionado
que é adquirido através da repetição, em que deve-se programar o cérebro como um
computador. Todavia as informações, diferentemente dos computadores, não são registradas
de imediato, somente por meio das repetições, o que segundo o autor podemos chamar em
música de prática. Ainda afirma que depois de adquirido um hábito pela repetição este não
pode ser “desaprendido”, mas somente substituído por um novo hábito.
McGill (2007) ressalta que a simples repetição não é suficiente, tal atividade deve ser
envolvida em uma prática e preparação musical, acrescenta que em tal atividade deva ser
levando em conta o acréscimo de dificuldade paulatinamente. “Discarding the false mental
barrier between technique and musicianship will enable your music making to always speak
with coherent, unified meaning.” (McGill, 2007, p 267).
Portanto, o hábito não é adquirido somente por mera repetição, ele deve ser envolvido
em um ambiente musical. É uma habilidade que é interiorizada sim com o tempo e repetições,
mas uma habilidade técnica desprovida de sua musicalidade de nada serve para a construção
de um músico de alta performance.
A construção do hábito
Kampe e Ericsson (2005) definem como prática deliberada uma atividade altamente
estruturada como objetivo explícito de melhorar alguns aspectos da performance, sendo estas
tarefas cuidadosamente monitoradas com objetivos específicos. Então toda a concentração é
baseada na suposição de que toda atenção e esforços são mantidos apenas por um período
limitado. Toda a atenção do indivíduo é obrigada a identificar áreas que necessitam de
melhorias. Tal prática é mais eficiente com séries continuadas, em que a quantidade de carga e
intensidade são gradualmente aumentadas e intensificadas. Ercisson et al.(1993) afirmam que:
In contrast to play, deliberate practice is a highly structured activity, the explicit goal
of which is to improve performance. Specific tasks are invented to overcome
weaknesses, and performance is carefully monitored to provide cues for ways to
improve it further. We claim that deliberate practice requires effort and is not
inherently enjoyable. Individuals are motivated to practice because practice
improves performance. In addition, engaging in deliberate practice generates no
immediate monetary rewards and generates costs associated with access to teachers
and training environments. Thus, an understanding of the long-term consequences of
deliberate practice is important.(ERICSSON et al., 1993, p368)
Conclusão
O ensino de um instrumento para alta performance é um processo longo e muito
demorado. Neste processo desenvolve-se uma série de habilidades tanto motrizes como
estéticas. A música é uma atividade humana e performática, ela só existe enquanto esta sendo
executada, portanto seu ensino deve, impreterivelmente, passar pela prática.
Musical performance is the construction and articulation of musical meaning, in
which the cerebral, bodily, social and historical attributes of a performer all
converge, and if we choose to regard this convergence as an expression of the
performance's mind then we must remember that the mind is neither driving the
body nor confined within the head. (Clark, 2002, p 69)
O ensino do instrumento deve ser muito bem balanceado entre aspectos motrizes e
estéticos. O músico deve ter um grande domínio do seu corpo, a ponto do instrumento ser sua
extensão. Além disto, o domínio da expressividade e da estética é construído partir da
vivência, da prática.
Referências
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Resumo: Este trabalho apresenta uma reflexão sobre os processos criativos e motivacionais da
composição musical em aulas ministradas em turmas. Para esta reflexão, utilizamos como base
teórica a Criatividade na visão de Mihail Czikszentmihalyi (1996) e a Teoria Social Cognitiva de
Albert Bandura (1986). A junção dessas duas teorias permite que tenhamos uma visão bastante
ampla da complexidade que envolve os processos criativos e motivacionais da composição
musical, fazendo com que possamos visualizar esses processos através de três pontos principais
que são os fatores pessoais, ambientais e comportamentais que agem entre si em um processo de
influências recíprocas e bidirecionais. O resultado das influências, advindas desses três fatores,
pode interferir significativamente nos processos criativos e motivacionais que se desenvolvem em
aulas de composição musical ministradas em turmas. Como resultados parciais desta pesquisa,
apresentamos um gráfico que sintetiza as múltiplas influências que podem ocorrer nos processos
criativos e motivacionais, tendo como base os dois referenciais utilizadas neste trabalho.
Palavras-chave: Composição Musical, Aulas em Turmas, Criatividade, Motivação.
Introdução
O presente estudo tem por objetivo propor uma reflexão sobre os processos criativos e
motivacionais da composição musical tendo como bases teóricas a Criatividade na visão
de Mihail Czikszentmihalyi (1996) e a Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura (1986).
Esta proposta teve origem em estudos realizados no contexto do grupo de pesquisa
PROFCEM/UFPR1, no qual são estudadas essas duas teorias, e em indagações dos autores a
Criatividade
Segundo Csikszentmihalyi (1996, p.27), a criatividade se desenvolve através da
interação de três fatores principais, o domínio, o campo e o indivíduo criativo. Segundo esse
autor, a falta de um desses três fatores pode limitar significativamente o desenvolvimento da
criatividade.
O domínio é um conjunto de regras e procedimentos simbólicos que são
intencionalmente construídos pelos humanos. De acordo com Csikszentmihalyi (1996, p.37)
os domínios são a melhor evidência da criatividade.
O autor ressalta não ser possível que uma pessoa modifique um domínio ao qual ela não
foi exposta. Segundo Jakob Rabinow2, “se você nascesse em uma ilha deserta e nunca
houvesse escutado música ocidental, você poderia até assobiar como os pássaros, mas jamais
poderia compor algo como a Quinta Sinfonia de Beethoven”. Ou seja, para realizar uma
composição de música ocidental se faz necessário conhecer esse domínio, seus elementos,
instrumentos, regras, sistemas de notação, você precisa fazer parte e conhecer, em
profundidade, esse mundo simbólico que é o domínio da música ocidental. Do contrário, não
poderá propor uma inovação válida a esse domínio, algo que possa transformá-lo ou que lhe
acrescentar novidades.
Como podemos observar, é necessário que exista um domínio simbólico para que uma
pessoa possa realizar uma inovação. No entanto, também é necessário que um campo de
experts valide essa inovação para que ela seja reconhecida pela sociedade.
Não nos basta inventar algo novo, jogá-lo em um domínio qualquer e imaginar que
vivemos felizes para sempre, é preciso que este algo novo seja aceito. E é no campo
que estão todas aquelas pessoas que podem fazer com que uma inovação seja aceita
em seu domínio. Ou que fracasse (Zugman, 2008, p.43).
Uma pessoa que pretenda realizar uma contribuição criativa não pode apenas
trabalhar dentro de um sistema criativo [domínio + campo], mas pode reproduzir
este sistema dentro de sua mente. Em outras palavras, a pessoa pode aprender as
regras e o conteúdo de um domínio, tanto quanto aprender os critérios de seleção e
as preferências do campo. [...] Artistas concordam que um pintor não pode dar uma
contribuição criativa sem olhar, olhar e olhar mais uma vez, a arte do passado, e sem
conhecer o que outros artistas consideram como arte boa ou má. ( Csikszentmihalyi,
1996, p.47).
podemos decidir realizar uma composição, ou seja, nossa intenção é compor uma obra. Após
decidir qual a atividade que vamos realizar, precisamos da segunda característica da agência
humana que é a antecipação, para elaborar o plano de ação que deveremos seguir, visando
realizar a composição. Por exemplo, que instrumentos musicais serão utilizados? Será tonal
ou atonal? A qual estilo pertencerá? A partir do momento em que começamos a compor é que
passamos para a fase de autorregulação, na qual avaliamos se os procedimentos que estamos
utilizando estão ou não contribuindo para alcançarmos os objetivos esperados. É a fase na
qual testamos diferentes possibilidades e escolhemos qual delas servirá melhor ao nosso
propósito. Após completarmos a composição, podemos utilizar a última característica básica
da agência humana, que é a autorreflexão, na qual avaliaremos se nossa composição alcançou
ou não os objetivos estéticos que esperávamos.
Na definição de Bandura (1997, p.2), as crenças de autoeficácia são os julgamentos que
as pessoas fazem acerca de suas capacidades para organizar e executar cursos de ação,
necessários para produzir certos desempenhos. As crenças atuam como mediadoras dos
processos cognitivos, afetivos, seletivos e motivacionais, auxiliando no processo de regulação
do comportamento humano.
Segundo Pajares e Olaz (2008), as crenças de autoeficácia são formadas através de
quatro fontes principais, que são: experiências pessoais de êxito, experiências vicárias,
verbalizações persuasivas e estados somáticos e emocionais.
Experiências pessoais de êxito (ou experiências de domínio4) são formadas “à medida
que as pessoas realizam tarefas e atividades. Elas interpretam os resultados de seus atos, usam
as interpretações para desenvolver crenças sobre sua capacidade [...]” (Pajares & Olaz, 2008,
p.104). As experiências vicárias são vivenciadas quando as pessoas aprendem a realizar
atividades, enquanto observam outros indivíduos executando tarefas. De acordo com Pajares
e Olaz (2008), o processo de modelação é especialmente importante na construção do senso
de autoeficácia. As verbalizações persuasivas ocorrem quando, de alguma forma, é
comunicado aos indivíduos que eles têm competência para desenvolver as atividades às quais
se propõem. As reações afetivas (ou estados somáticos e emocionais) são causadas por fatores
como ansiedade, o estresse, a excitação e os estados de humor. Elas também proporcionam
informações sobre as crenças de autoeficácia. As pessoas podem avaliar seu próprio grau de
confiança por seu estado fisiológico enquanto pensam em uma determinada ação.
Gráfico 1: Processos Criativos e Motivacionais das Aulas de Composição Musical em Turmas
Considerações Finais
Através deste trabalho, apresentamos uma série de relações que traçamos entre
elementos advindos das teorias de Csikszentmihalyi (1996) e Bandura (1986) com dados que
coletamos para um trabalho realizado anteriormente (xxx), que apontam para a forte
influência que os fatores ambientais exercem sobre os processos criativos e motivacionais de
alunos/compositores, que participam de aulas ministradas em turmas. A síntese destas
reflexões pode ser observada através do gráfico 1, que demonstra as ligações existentes entre
elementos do referencial utilizado e das aulas de composição em turmas, evidenciando como
esses diferentes elementos podem influenciar os processos criativos e motivacionais da
composição musical.
Após a montagem desta base teórica, o próximo passo metodológico, a ser realizado
para esta pesquisa, é a aplicação de entrevistas semiestruturadas com professores e alunos de
composição, que participam de aulas em grupo, visando encontrar maiores detalhes sobre os
processos aqui apresentados, com o intuito de encontrar novas alternativas de influências
criativas e motivacionais sobre o processo composicional que não foram abordadas até aqui.
Referências
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Jakob Rabinow é um inventor ucraniano radicado nos EUA que obteve mais de 230 patentes. Ele foi
entrevistado por Csikszentmihalyi (1996, p.48) para a realização das pesquisas sobre criatividade.
Na visão de Csikszentmihalyi (2014, p.27-46), assim como a criatividade, o talento também depende de uma
interação entre fatores individuais, culturais e sociais. Dependendo principalmente da combinação de
características e predisposições cognitivo/biológicas específicas do indivíduo, com as regras e características
sócio/culturais vigentes nos períodos espaço/temporais em que este desenvolveu ou desenvolve suas atividades.
4As experiências pessoais de êxito da teoria de Bandura são também conhecidas como experiências de domínio,
porém, para este trabalho, escolhemos utilizar o termo experiências de êxito, com o objetivo de não gerar
confusões com o termo “domínio” utilizado por Csikszentmihalyi (1996) como um dos três fatores necessários
para o desenvolvimento da criatividade.
Joaquín B. Pérez
LEEM (Laboratorio para el Estudio de la Experiencia Musical)
Facultad de Bellas Artes. Universidad Nacional de La Plata
[email protected]
Isabel C. Martínez
LEEM (Laboratorio para el Estudio de la Experiencia Musical)
Facultad de Bellas Artes. Universidad Nacional de La Plata
[email protected]
Fundamentación
La improvisación musical en el jazz -sea ésta el resultado de la práctica musical
individual o grupal- compromete una intensa actividad rítmico-temporal durante la
performance. La Etnomusicología se ha centrado en el estudio de los aspectos
intersubjetivos de esta práctica, que resultan salientes en la interacción entre los músicos que
improvisan. Por ejemplo, los trabajos de Monson (1996) y Berliner (1994) abordan los
procesos de interacción entre los diferentes músicos al interior de un grupo de jazz. Ambos
autores señalan un modo especial de interacción y ajuste en el nivel micro-temporal del
1 NOTA: el intervalo inter beat o en ingles inter beat interval (IBI), es una categoría utilizada en acústica para
definir el tiempo entre los onset. de los sonidos que se corresponden con el beat.
S5: Es el único caso en el que se produce un ajuste casi automático. Si bien se miden
variaciones considerables del IBI antes del OC, luego del mismo el sujeto se adapta
rápidamente sin interrumpir la ejecución.
S1 y S4: Los sujetos interrumpen su acción, evalúan y luego de un periodo donde se
asume que S1 y S4 focalizan su atención en la base, se ajustan. En el caso de S4 la variación
del IBI es mucho mayor, incluso cuando se considera que la performance está casi ajustada.
(Ver fig.1)
Figura 1. Medición del IBI en S1 y S4, la línea de puntos roja indica el OC (120-171bpm)
S2, S3, S6 y S7: Los sujetos tienen una demora en el ajuste de entre 10 y 12 beats
después del cambio de tempo. En S2 y S6, si bien las variaciones del IBI previas al OC son
considerables, después del OC hay una tendencia a ajustar con el beat de la base (ver Fig. 2).
Figura 2. Medición del IBI en S2 y S6, la línea de puntos roja indica el OC (120-171bpm)
Figura 3. Medición del IBI en S8 y S9, la línea de puntos roja indica el OC (120-171bpm)
Puede observarse además cómo en los casos de S2, S6 y S8 que venían produciendo
variaciones del IBI anteriores al OC, la tendencia fue a continuar manteniendo el tempo
anterior (120bpm). En cambio, en los improvisadores que venían realizando pocas variaciones
antes del cambio se observó en general una interrupción de la acción, la evaluación y el ajuste
posterior. Este fue el caso de los S1, S3 y S4.
El análisis de la performance desde la perspectiva del entrainment muestra cómo
algunos improvisadores siguieron tocando en 120bpm luego del OC, incluso a lo largo de 10
beats (aproximadamente durante 4 seg). Esto no significa que no se adaptaran al cambio. En
esta ejecución interactúan dos osciladores: (i) un oscilador humano (improvisador) a 120bpm
aprox. con un oscilador mecánico (la base) a 171bpm. Aunque esto sucede y el tempo del
improvisador se mantiene a 120bpm aprox. los osciladores se ajustan de alguna manera.
Clayton (2007; 2012) ha descripto como en muchos casos ciertos ritmos ajustan no solo al
unísono sino también en una relación jerárquica (2:1, 4:2:1, 6:3:1) o polirrítmica (3:2, 4:3).
Los resultados para S2 y S6 muestran que se produce este tipo de proporciones en el
entrainment a partir del OC.
S2: En este caso se observó un ajuste en la proporción 2:3, con un IBI promedio de
0,527, valor correspondiente a un tresillo de negra en un tempo de 114bpm. Es decir, en una
proporción 2:3 con 171bpm. Podría entenderse también que 1 de cada 3 beats
correspondientes a la ejecución del S2, ajusta exactamente durante 2 ciclos con 1 de cada 2
beats de la base. Es decir, en una proporción 2:3. Luego hay un pequeño desajuste, (marcado
en la figura con una flecha roja) y posteriormente un nuevo ciclo ajustado. (Ver fig. 4).
S6 : Se observa una situación de ajuste en una proporción 2:3 en los primeros
compases después del cambio.
Figura 4. Tabla de medición del los IBI y captura de pantalla del Nuendo 4 para el S2, donde se observa la
proporción 2:3. Las flechas verdes significan ajuste, las rojas desajuste.
Conclusiones
Los análisis realizados constituyen una pequeña muestra del modo en que se
manifiesta temporalmente la interacción del improvisador con una base. Las características
identificadas ilustran algunas de las múltiples formas en las que los mecanismos de
percepción-acción intervienen configurando la improvisación en la mente y el cuerpo del
ejecutante. La reconfiguración de la acción por parte del improvisador, compromete la
intervención de procesos de reacción, evaluación y ajuste a partir de los cambios o
modificaciones que ocurren en ciertas restricciones que fueron definidas a priori (limitantes
temporales, formales, estilísticos, motívicos, etc.).
Dentro de este proceso sería posible distinguir entre algunos momentos en los que el
improvisador está más atento a su propia performance, donde la concertación se daría en
automático, y aquellos otros donde el músico está más atento a la percepción de lo que sucede
en la base. En relación a esto, en el transcurso de la ejecución el improvisador realiza
silencios no solo por una necesidad del discurso musical que está elaborando en tiempo real,
sino también por una necesidad de percibir atentamente qué ocurre en la base.
En relación al momento de reacción, puede señalarse que esta es instantánea y desde
ese momento en adelante el improvisador está en evaluación. Aunque se plantea el problema
del foco atencional del músico al momento del OC, luego de la reacción inicial el
improvisador quiere entrar en groove y hacer esto, consciente o inconcientemente es, en
términos de entrainment, parte de la evaluación.
Resumo: O presente trabalho trata-se de um recorte de pesquisa de mestrado que busca investigar
o papel da improvisação na aprendizagem da clarineta em que foram investigados os processos de
improvisação a partir de como os estudantes observam e avaliam o seu próprio processo de
aprendizagem. Esse estudo teve como objetivo delinear, por meio da pesquisa bibliográfica,
parâmetros teóricos que embasam o pressuposto de que a improvisação pode promover a
autonomia do estudante perante sua aprendizagem instrumental. Os resultados mostraram que a
improvisação na aprendizagem instrumental promove uma autonomia do estudante frente à sua
aprendizagem, pois ao atribuir significado aos conteúdos adquiridos, sendo capazes de reorganizá-
los e reaplicá-los, os alunos criar um discurso musical próprio.
Palavras-chave: improvisação, aprendizagem instrumental, educação musical.
Improvisation in instrumental music learning: the student as subject of their own learning
process
Abstract: This paper was based in a master's research that investigates the role of improvisation in
learning the clarinet with young children. We investigated the improvisational process based on
how students observe and evaluate their own learning process. This study aimed to outline,
through literature, theoretical parameters that support the idea that improvisation can promote
student autonomy during early instrumental learning. The results showed that improvisation in
instrumental learning can promote autonomy for the student. Improvisation can assign meaning to
the acquired content, being able to rearrange musical content and reapply it in new musical
situations. Through improvisation students create their own musical discourse.
Key-words: improvisation, music instrumental learning, music education.
[…] é acima de tudo, para quem aprende, uma posse de sabedoria: através dela se
justificam ou mesmo identificam, no quadro plural dos domínios com que
curricularmente é definida a experiência musical, os seus mais diferentes tipos de
expressão ou competências, onde se inclui a improvisação.Um estado quase de
apropriação pelo sujeito da música, na medida em que o liberta, pela inteligibilidade
do pensamento, da dependência física relativamente ao próprio fenômeno sonoro.
(Caspurro, 1999, p. 13).
Cabe observar que as descrições de improvisação dos autores citados apontam para a
música tonal, pois esta possui estruturas melódicas e harmônicas reconhecíveis e, portanto,
pode ser comparada à conversa ou à habilidade de recontar estórias. No entanto, Gordon
(2003) atenta que a politonalidade ou a atonalidade são passíveis de serem significadas por
meio de comparação com modelos opostos.
Não obstante, Thomson (2008) traz uma reflexão bastante importante para esse
trabalho ao desenvolver um modelo pedagógico baseado na fluidez gerada pela improvisação
livre. Além do rompimento com os idiomas e uma maior liberdade de expressão, o autor
considera que o processo que conduz as relações entre os músicos estão articulados e são
negociados principalmente por meio do som, de maneira que a prática musical autoritária que
circunscreve essa fluidez é raramente conciliada na improvisação livre de um grupo bem
sucedido. A fixidez entre os papéis de professor e aluno, presente em outras práticas musicais,
é diluída e esta autoridade circula com fluência dentro do grupo. Essas atividades também
podem proporcionar um ambiente em que improvisadores inexperientes podem começar sua
própria aprendizagem com o exemplo e colaboração de outros músicos mais experientes
(Thomson, 2008).
Conclusão
Com base nos autores estudados, foi possível perceber que a improvisação pode
estimular os processos criativos do estudante por meio de pensamento convergente e
associativo, originário de uma sólida base de conhecimentos e do contexto cultural onde ele
está inserido.
Constatou-se, também, que a improvisação pode posicionar o estudante na condição
de sujeito de sua própria aprendizagem, uma vez que essa prática é vista como um processo
interno e individual, focado no aluno, e o conhecimento é construído por meio de interações
seguindo as proposições da abordagem cognitivista. Assim como autores da psicologia
emerge como fonte genuína de experiências musicais para criação de práticas que
contemplem o diálogo e a reflexão.
Diante do exposto, foi possível perceber a necessidade de compreender a
improvisação em um sentido mais amplo, abrangendo vários tipos de comportamentos
musicais, tais como uma canção de brincar improvisada por uma criança, a participação em
rituais coletivos ou a execução musical interpretada conscientemente para um público,
conforme sugere Sloboda (2008). Dessa forma, pôde-se concluir que a improvisação na
aprendizagem instrumental promove uma autonomia do estudante frente à sua aprendizagem,
pois ao atribuir significado aos conteúdos adquiridos, sendo capazes de reorganizá-los e
reaplicá-los, os alunos criar um discurso musical próprio. Acredita-se, portanto, que esta
pesquisa possibilite conhecimentos fecundos para a área da aprendizagem instrumental e
novos estudos devem ser prosseguidos.
Referências
Alencar, E. M. S. de, Souza, M. E. G. (2006). O curso de Pedagogia e condições para o
desenvolvimento da criatividade. Psicologia Escolar e Educacional, 10(1), Maringá, v. 10, p.
21-30.
Gordon, E. (2003). A music learning theory for newborn and young children. Chicago: Gia
Publications.
Nettil, S. (Ed.). (2001). Et al Improvisation. The New Grove dictionary of musical instruments
(Vol. 3). Macmillan Press.
Sloboda, (2008) J. A Mente Musical: a Psicologia Cognitiva da Música. Tradução Beatriz Ilari
e Rodolfo Ilari. Londrina: Eduel.
Derek Bailey (1993) buscou definir a Livre Improvisação a partir das qualidades de
um procedimento criativo identitário de práticas de improvisação que remetem à culturas,
geografias e épocas distintas. Estabelecendo uma comparação entre as improvisações do
oriente, o jazz, o flamenco, e outras, Bailey determina duas categorias de improvisação
partindo de um pressuposto que permite agrupar um conjunto de elementos de referência.
Bailey define a improvisação idiomática como aquela em que se observa um delineamento
dados pelas regras de estilo, que evocam elementos construídos culturalmente; e com isso a
sua configuração indentitária se dá por uma “gramática” específica. Por outro lado, o conceito
de improvisação não-idiomática se refere àquelas improvisações que não se submetem às
regras prévias de um estilo e por isto não estabelecem este tipo de identidade, e não
acomodam tais regras de estilo.
A Livre Improvisação, entendida como prática autônoma de criação musical,
desautoriza os conhecimentos e técnicas altamente especializadas determinados pelas regras
de estilo. Com base nestes preceitos que é possível aproximar a prática da Livre Improvisação
ao conceito de música não-idiomática. Da mesma forma, o conceito de “não-idiomatismo” se
aplica com ressalvas, no contexto de propostas composicionais que fazem uso da Livre
Improvisação, na qual o improvisador está submetido à direcionamentos, prescrições ou
sugestões que não se encontram no material sonoro gerado em tempo presente pelo próprio
improvisador, ou demais improvisadores. Diante deste quadro conceitual, parece que a Livre
Improvisação, não sendo conduzida pelas regra de estilo, se configura como uma prática
dirigida pelo recurso de “espontaneidade” do improvisador. No entanto, existem
procedimentos que não necessariamente se caracterizam com regras de estilo, mas que
conduzem o processo criativo na Livre Improvisação. Pelo menos nos últimos anos, é
reconhecida a emergência do tema no campo acadêmico e se pôde observar a produção tanto
de reflexão teórica, quanto da criação de procedimentos práticos que esclarecem o processo
criativo do livre-improvisador.
Na improvisação idiomática o conhecimento sobre as regras de estilo possui um
papel duplo: delimitam e coordenam o material sonoro, determinando o processo criativo; e
fornecem motivação, gerando o estopim criativo e a manutenção do fluxo sonoro e a
continuidade de criação musical. Para isso, a improvisação idiomática precisa partir, remeter e
evocar suas próprias regras de estilo, transformando-se assim, em uma espécie de
metaimprovisação:
A imagem sonora para Copland (1953) se trata não exatamente do jogo criativo a partir do imagético, mas o
termo tem um sentido de representar a memória e previsão de como algo deve soar com determinada qualidade e
característica.
2 Mihaly Csikszentmihalyi é professor de psicologia na Claremont Graduate University, autor de livros sobre
criatividade.
livre-improvisadores, pelo fato de que, em muitos casos estes improvisadores são experiente
músicos idiomáticos, a apresentação de um desafio ou uma ideia de “jogo” musical pode
parecer um tanto simplista e uma forma pouco elaborada para gerar engajamento. O livre-
improvisador está muito preocupado e vigilante em como e porque quem suas escolhas são
gerenciadas. Sabemos que o livre-improvisador está muitas vezes interessado em não seguir
regras de estilo, comandos, ou regras à priori, dessa forma, optamos por uma estratégia mais
sutil na qual, ao invés de criar uma sugestão condicionante, pudéssemos gerar apenas uma
insinuação, uma direção sem caminho, a fim de buscar promover soluções inusitadas e
engajamento.
Neste sentido, através de um plano de improvisação por conceitos, buscamos o
potencial de inserir densidade imaterial, a fim de possibilitar diversas mediações. Para realizar
este plano com base em conceitos, fizemos uso de determinadas palavras a fim de
funcionarem como estopim de fluxo criativo em experiências práticas. O uso da palavra vai
além da alegoria do conceito em seu estado representacional. Utilizamos assim a
possibilidade da rede de significações que constitui a trama do conceito, que transporta o
significado da palavra para as experiências pessoais. Esta palavra que não se insere no
contexto rígido dado por um discurso, funciona como nó em uma rede definida pelas
conexões criadas pela biografia do improvisador. A palavra sem discurso flui pela
imaterialidade conceitual da experiência do indivíduo e engaja seu desejo criativo, sua escuta
e as transformações sonoras.
propostas apresentadas, esperamos que esta teoria possa contribuir para estudos
multidisciplinares no desenvolvimentos de procedimentos de composição musical,
desenvolvimento de programas interativos, finalidades pedagógicas, entre outros.
Lista de Referências
Amabile, T. M. (1996), Creativity in Context. Colorado: West View Press.
Bailey, D. (1993). Improvisation: Is Nature and Practice in Music. New York: Da Capo Press.
Copland, A. (1953). Music and Imagination. Cambridge: Harvard University Press.
Costa, R. L. M. (2003). O Músico Enquanto Meio e os Territórios da Livre Improvisação.
Tese de doutorado não publicada, PUC-SP, São Paulo.
Csikszentmihalyi, M. (1997). Finding Flow: The Psicology of Engagemente with everyday
life. New York: HarperCollins Publishers, 1997.
Lubart, T. (2008). Psicologia da Criatividade. Tradução: Márcia Conceição Machado Moraes. Porto
Alegre: Artmed.
Sternberg, R. J. (2000). Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed.
Resumo: Este artigo é parte da tese de doutorado do autor, e versa sobre o processo de montagem
de um curso de violão em ambientes virtuais. Partindo de uma estratégia metodológica que coloca
o aluno no centro das discussões foi necessário entender: qual é o perfil do aluno?; quais os
objetivos do aprendizado;? quais as estratégias metodológicas e de conteúdo usados para atingir os
objetivos?; e como avaliar esse aprendizado? Partindo do perfil do aluno, foi fundamental
encontrar dentro da web uma forma de estruturar e transmitir as informações relativas aos
processos de ensino-aprendizagem. O material foi confeccionado a partir de uma reflexão das
questões de ensino-aprendizagem pois, para atender as diferentes necessidades de aprendizado, é
importante oferecer uma mescla de mídias de acordo com Moore e Kearsley (2007). Para a
estruturação das aulas foi definido o ambiente MOODLE, e o Facebook e o Youtube, como
ferramentas de apoio. Procurou-se com isso facilitar o aprendizado e diminuir as dificuldades
técnicas dos alunos e incentivá-lo à prática deliberada (Ericsson, et. al., 1993).
Palavra-chave: ensino de violão, ensino a distância, mídias para o ensino musical.
Introdução
A disseminação e a popularização dos computadores e da internet, em escala mundial,
estão remodelando a nossa sociedade em um ritmo acelerado, conforme Castells (1999). Essa
revolução tecnológica fez com que os processos de ensino-aprendizagem também sofressem
uma grande transformação. Como consequência, professores, universidades e gestores se
viram obrigados a aderir e inserir nos seus processos de ensino essas novas tecnologias.
Nesse novo cenário, o principal questionamento dos educadores é o de como utilizar
essa nova tecnologia de maneira a atender as expectativas do aluno, sem deixar que a
qualidade do ensino seja prejudicada.
Para entender essas mudanças, é preciso refletir sobre os três agentes principais
envolvidos na relação ensino-aprendizado: aluno, professor e conteúdo. O aluno ampliou suas
fontes e a informalidade do aprendizado ganhou corpo. Ele tem a sua disposição de forma
rápida, uma infinidade de materiais. Essa avalanche de conteúdo e a voracidade por consumir
todas essas informações fazem com que muitos professores sintam uma fragilidade e um
descompasso com a realidade do momento. A figura do professor nesse novo cenário deve ir
vai além da transmissão da informação, ele precisa atender a necessidade do aluno e ser capaz
de incorporar essa tecnologia à sua atividade docente.
Contudo, a tecnologia sozinha talvez não seja capaz de suprir a figura do professor, pois
mesmo com toda essa informação, não há a garantia de que o aprendizado aconteça, porque a
maioria dos alunos pode não conseguir filtrar esses conteúdos e nem mesmo organizar de
forma didática e plausível de ser aprendida.
Na música, como em todas as áreas de conhecimento, essas transformações também
foram sentidas e, essas novas tecnologias, aos poucos, foram introduzidas no ensino da
música.
Neste momento, traremos uma reflexão sobre o processo de construção de um curso de
violão à distância (questão trabalhada na tese de doutorado do autor) abordando dois aspectos:
o primeiro seria por um viés tecnológico, pensando o planejamento, montagem e confecção
dos materiais para um curso de violão; e o segundo abordando a prática deliberada1 (Ericsson
et.al. 1993), “através da elaboração de um planejamento estratégico do estudo, com metas e
objetivos definidos” (Alves e Freire, 2012, p. 253).
O curso foi moldado para o ambiente Modular Object-Oriented Dynamic Learning
Environment (MOODLE). A proposta para este projeto seguiu as diretrizes metodológicas
desenvolvidas pela equipe de educação a distância do Centro de Educação à Distância da
Unicamp no livro “A Modelagem de Unidades de Aprendizagem Usando Recursos de
Ambientes Virtuais” que foi organizado por Fonseca (2007).
O aluno
A proposta para esse projeto foi baseada na vivência docente do autor no ensino de
violão na modalidade presencial. Essa vivência fez com que fosse criado um curso nos
mesmos moldes na modalidade virtual. Mas pela complexidade dos elementos foi necessário
delimitar todos os agentes envolvidos nesse processo e refletir sobre cada uma das etapas.
junção das duas mãos, e tocando a música. Estes vídeos foram criados como pequenos objetos
de aprendizagem2 que podiam ser usados em várias etapas dos cursos e em vários contextos.
Desta forma, o aluno teve a sua disposição mais de uma forma de aprender utilizando
aquela que mais o agrada, ou mais se aproxima das suas características de aprendizado. A
importância dessa variedade de mídias também é colocada por Moore e Kearsley (2007):
O processo de avaliação não teve como função apenas quantificar o aprendizado através
de notas. A função principal foi dar um retorno a cada etapa do aprendizado, direcionando o
aluno a executar as atividades de maneira correta. Para isso, o aluno postou a cada semana,
um vídeo com as músicas estudadas. Desta forma o professor pode avaliar o aprendizado,
interferir e encaminhar o aluno a executar de forma correta. Os pontos avaliados foram:
postura do corpo em relação ao violão, a posição da mão direita e esquerda, a afinação do
instrumento, o ritmo, a coordenação entre mão direita e esquerda e se a atividade foi
executada de acordo com a instrução. Não foram dadas notas pela execução, mas sim pela
realização da atividade. De modo que todos os alunos que entregaram na data estipulada, e
executaram de forma correta tiveram a mesma nota, o objetivo dessa avaliação não foi
comparar os resultados, mas sim o processo.
O ambiente
O ambiente, em cursos à distância, é essencial para a efetivação do aprendizado, pois
além da organização do conteúdo e das aulas, ele pode promover a interação entre seus
membros, como vemos em Moraes (2002, p.203): “Em qualquer situação de aprendizagem, a
interação entre os participantes é de extrema importância. É por meio das interações que se
torna possível a troca de experiências, o estabelecimento de parcerias e a cooperação”.
2Um Objeto de Aprendizado é qualquer recurso, suplementar ao processo de aprendizado, que pode ser
reusado para apoiar a aprendizagem, termo geralmente aplicado a materiais educacionais projetados e
construídos em pequenos conjuntos visando a potencializar o processo de aprendizado onde o recurso pode ser
utilizado” (TAROUCO, et.al. 2003, p.2).
O conteúdo
Pensando na forma como o aluno aprende confeccionamos o material em mais de um
formato, pois para atender as diferentes necessidades de aprendizado foi importante oferecer
uma mescla de mídias, de acordo com Moore e Kearsley (2007). Para o nosso curso foi
oferecido um material: impresso; em vídeo; e em áudio.
Dentre todas as mídias, o vídeo é aquela que mais se aproxima da realidade da aula
presencial. Permite um aprendizado pela observação e é uma ferramenta que minimiza a
presença física do professor, pois permite a visualização dos movimentos das mãos,
posicionamento do corpo em relação ao violão, além da visualização prática dos ritmos,
acordes e das músicas. Para atingir uma qualidade satisfatória todos os vídeos foram gravados
e editados pela equipe da Radio e TV da Unicamp, pois Moore e Kearsley (2007) advertem
sobre a qualidade desses materiais.
3Utilizamos aqui, a mão direita como a mão posicionada sobre a boca do violão e a mão esquerda como a mão
posicionada sobre o braço do violão.
ficava na parte central da folha. No lado esquerdo havia o desenho dos acordes com os dedos
da mão esquerda que deveria ser utilizados. Logo abaixo aos acordes era desenhado o ritmo
da mão direita e havia também uma pequena legenda indicando a quantidade de ritmos que
cada uma dos acordes deveria tocar no decorrer da música. O material impresso foi
disponibilizado no ambiente em formato de imagem e o aluno poderia ler no ambiente ou
mesmo imprimir para estudar posteriormente.
Considerações finais
Para se ter sucesso nessa nova modalidade de ensino de música, não basta apenas
digitalizar o conteúdo e a metodologia das aulas presenciais e inserir em um AVAs. É preciso
um novo olhar sobre o processo de ensino-aprendizagem nesse novo ambiente.
É importante conhecer o perfil social, psicológico, econômico e tecnológico desse
aluno. Entender as suas expectativas e, a partir disso encontrar ferramentas e conteúdos
apropriados para se conseguir a mesma excelência no ambiente virtual, que por séculos
tivemos no ambiente presencial.
Referências
Bloom, B. S., Engelhart, Max D., Furst, E. J.; e outros. (1974). Taxionomia de objetivos
educacionais; domínio cognitivo. Trad. Flávia M. Sant’Anna. Porto Alegre. Ed. Globo.
Castells, M. (1999). A sociedade em rede. v.1, 2ºed., Trad. Roneide V. Majer. Ed. Paz e Terra.
São Paulo.
Moore, M. G., Kearsley, G. (2007). Educação a distância: uma visão integrada. Traduzido
por Roberto Galman. São Paulo: Thomson Learning.
Santiago, P. (2006). A integração da prática deliberada e da prática informal. Per Musi, Belo
Horizonte, nº13, p.52-62
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Introdução
Significação musical tem sido um tema central para as disciplinas Estética e Filosofia
da Música – se é que estas podem ser consideradas em separado. Estes campos de reflexão,
por sua vez, normalmente buscam o auxílio de outras áreas do conhecimento, como física
acústica, psicologia, antropologia, sociologia e, desde cerca de 60 anos, das ciências da
cognição. Trabalhos pioneiros como os de Leonard Meyer e daqueles que viriam a formar o
campo da musicologia cognitiva, como Hugh C. Longuet-Higgins e Otto Laske, abriram a
possibilidade para o diálogo estreito e fundamentado entre estética e cognição musical
(estética compreendida em sua acepção mais ampla, envolvendo, assim, tudo o que se refere à
recepção da obra musical).
É possível observar que diversos estudos a respeito da compreensão e expressão
musical constituem-se, na verdade, como investigações sobre significação em música. Peter
Kivy, por exemplo, em The Corded Shell (1980) afirma que seu objetivo nesse livro é propor
uma teoria para a expressão musical. Não obstante, ao longo do texto, trabalha com questões
ligadas ao perfil de passagens musicais e dos mecanismos que possibilitam a percepção e a
compreensão desses perfis, defendendo a teoria cognitivista para fundamentar suas ilações.
Porém, as considerações sobre a compreensão musical são direcionadas com intuito de extrair
o significado das músicas por ele analisadas (se sugerem tristeza ou alegria, por exemplo), o
que implica, portanto, tratar do processo de significação. Stephen Davies (1994), por sua vez,
parece abordar o assunto “compreensão musical” ao comentar que podemos, por vezes, ficar
perplexos frente a pessoas que não possuem o menor entendimento musical. Todavia, ao
longo de seu livro lida sobretudo com questões do tipo: “o que a música significa?” e “como
ela significa?”. Essas são algumas das situações que ilustram como muitas vezes o tópico
“significação” aparece envolto, contemplado, ou mesmo ocupando posição central, em
discussões aparentemente direcionadas a outros conteúdos.
A questão da significação em música tem sido considerada por duas vertentes que,
adotando a nomenclatura sugerida por Meyer (1956), podem ser denominadas como
significados incorporado e designativo. Outros autores propõem distintas terminologias para
estes tipos de significação. Lucy Green (2012), seguindo Meyer, usa os termos intrínseco e
delineado. Quando abordada em relação à posição dos elementos responsáveis por viabilizar a
significação, isto é, as estruturas internas ou externas à música, os pares opositores nas
referidas vertentes do significado podem ser: estrutural e conotativo, ou sintático e semântico.
Essas denominações acabam por evidenciar as estratégias investigativas por meio dos quais o
problema da significação em música tem sido acercado, a saber, a partir do sujeito
(psicológico, subjetivo) ou a partir das estruturas formais da música (analítica, da lógica
formal). Não obstante, permeando esta discussão, que parece refletir o embate entre as
posições formalista versus referencialista, há também toda a tradição da antropologia cultural
que afirma a precedência da cultura na construção do significado musical. Essa situação
poderia ser resumida na questão: a construção da significação em música ocorre em função
das estruturas sonoras postas em jogo no discurso musical ou é resultado de negociações
intersubjetivas nos diversos contextos culturais onde os indivíduos formaram seu
aprendizado?
Em termos favoráveis à compreensão do significado musical como constructo cultural,
o sociólogo Peter J. Martin aponta que “os significados da música não são inerentes nem
reconhecidos intuitivamente, mas emergem e tornam-se estabelecidos (ou transformados, ou
esquecidos) em consequência das atividades de grupos de pessoas nos contextos culturais
particulares. O modo como ‘criamos sentido’ na música não é inato, mas depende da nossa
aquisição de senso comum, das ideias admitidas sobre como ela deve soar” (Martin, 1995, p.
57). A musicologia sistemática, por sua vez, legou toda a tradição metodológica por meio da
qual se pode entender que a percepção de determinadas emoções é facultada pelas
propriedades objetivas das estruturas musicais. Nesse sentido, perceber determinada
passagem musical como triste, alegre ou misteriosa, se dá somente porque ritmos, frases,
harmonias, texturas, andamento e tonalidade, entre outras, viabilizam o estabelecimento
dessas percepções. Justamente por conta dessa propriedade estrutural, uma passagem de
caráter heroico não será confundida como possuindo um caráter fúnebre. A primeira parte do
segundo movimento da sétima sinfonia de Beethoven poderá até ser entendida como
representando melancolia, perda de um amor, ou desolação, mas não será descrita como
expressiva de contentamento ou festividade. Todavia, há uma notável mudança de caráter na
segunda parte desse movimento, cujos sentimentos poderão ser percebidos como esperança ou
renovação, porém, é pouquíssimo provável que estes sejam interpretados como tenebroso ou
ameaçador.
No âmbito da psicologia cognitiva, duas escolas divergentes constituíram-se de modo a
intentar explicar o funcionamento da mente na construção do significado. O computacionismo
buscou essa compreensão postulando que o cérebro funcionaria como espécie de máquina,
constituída de um conjunto estabelecido de procedimentos para processar os estímulos
captados pelos sentidos. O culturalismo, por seu turno, afirma que a mente é constituída
culturalmente. Desse modo, estabeleceu-se um antagonismo histórico entre duas correntes
teóricas cuja principal diferença encontra-se na precedência que atribuem aos aspectos inatos
ou àqueles provenientes do aprendizado. Meyer referiu-se a essa questão nestes termos: “para
explicar porquê os seres humanos, em alguns contextos histórico-culturais reais, pensam,
respondem e escolhem como proceder, é necessário distinguir quais facetas do
comportamento humano são aprendidas e variáveis daquelas que são inatas e
universais” (Meyer, 1998, p.5).
No campo mais específico da música, duas teorias também têm sido, geralmente,
evocadas para explicar o processo de percepção e construção do significado, são elas a teoria
da excitação e a teoria cognitivista. A teoria da excitação (arousal theory), também
denominada de emotivismo, sugere que a percepção de determinado sentimento durante a
audição musical se dá pelo fato da música excitar esses sentimentos no ouvinte. Ou seja, a
música já possui como característica aquele sentimento que estimula no fruidor. O
cognitivismo, por sua vez, lida com semelhanças e com recordações. Segundo essa teoria, a
música será percebida como possuidora de determinado sentimento (triste, alegre, sombrio,
etc.) se ela assemelhar-se, possuir o perfil ou relembrar situações que apresentem
similaridades com esses sentimentos. As imagens da Figura 1 exemplificam de modo direto
essa teoria. Pode-se facilmente identificar que a casa está sorrindo, enquanto a bandeira do
Brasil, na charge do cartunista Izânio, está chorando. Obviamente, objetos inanimados não
podem sorrir, chorar ou sentir, mas nos desenhos eles possuem traços característicos que nos
fazem recordar e associar os objetos a esses sentimentos. Isso se dá pelo hábito que temos em
antropomorfizar objetos, utensílios, animais e vegetais. Talvez por conta dessa característica
identifiquemos como música os sons do galo e dos pássaros, e percebamos tristeza nos ramos
do salgueiro.
Figura 1: imagens de objetos inanimados representando sentimentos (fonte: http://
izaniocharges.blogspot.com.br/)
ocorreu? As mesmas questões valem para a divergência apresentada no início pelas posições
estruturalista e subjetivista. São as estruturas sonoras que promovem a percepção de
determinados significados ou é o sujeito que projeta seus próprios significados, frutos de
aprendizado cultural, na obra musical?
Essas teorias diferenciam-se, portanto, por explicarem o processo de significação como
sendo constituído culturalmente ou estruturalmente (intrínseco à sintaxe e às estruturas
sonoras da obra). Nicholas Cook (2001, p.177) usa a interessante metáfora de Cila e Caríbdis,
extraída da mitologia grega e perpetuada por Homero na Odisseia, para ilustrar essa situação
de embate existente no estudo da significação em música. Cila e Caríbdis eram monstros que
viviam nos extremos de um canal oceânico, de modo que os navegadores ao tentarem evitar
um destes, acabavam por ser devorados pelo outro. A figura de linguagem utilizada por Cook:
“entre Cila e Caríbdis”, significa, assim, "estar entre dois perigos" e não importa a escolha
feita para tentar superá-los, pois sempre implicará em danos. No entanto, Cook nota que “não
há, em princípio, qualquer razão pela qual o significado musical não possa ser ao mesmo
tempo culturalmente construído e condicionado por estruturas formais (idem, p.176). Outros
autores compartilham dessa posição, entendendo como inseparáveis essas esferas cognitivas,
pois características inatas são projetadas na cultura, que por sua vez, na medida em que se
desenvolvem, influenciam o pensamento individual. Jerome Bruner, por exemplo, afirma que
o fenômeno complexo que tão irrefletidamente chamamos de “cultura” parece
impor restrições sobre como a mente funciona e até mesmo sobre os tipos de
problemas que somos capazes de resolver. Mesmo um processo psicológico tão
primário quanto a generalização (...) é regulado por interpretações do
significado culturalmente apoiadas, e não pelo acionamento de um sistema
nervoso individual. (apud Correia, 2003, p.508).
O Significado Simbólico
Um símbolo é essencialmente um constructo convencional. Lang esclarece que “o
significado simbólico resulta de um processo cognitivo por meio do qual um objeto adquire
uma conotação além de seu uso instrumental” (apud Nasar, 1989, p.238). A foice e o martelo
possuem um significado direto quando ligados a sua aplicação prática, ou seja, como
ferramentas de trabalho manual e, portanto, particulares. Justamente, por esta ligação ao uso
pessoal, foram adotadas como símbolos do comunismo, em oposição ao capitalismo
industrializado, onde fábricas e corporações tomam o lugar do trabalhador. Desse modo, foice
e martelo adquirem o símbolo dessa dicotomia entre as sociedades constituídas pela
individualidade do homem, com seus objetos e ferramentas pessoais, e as sociedades
capitalistas, na qual o trabalhador é subsumido, ou mesmo tende a desaparecer, no contexto
industrial da produção (e consumo) em massa. Outro significado simbólico que pode ser
inferido desses mesmos objetos é a união entre as esferas rurais (foice) e urbana (martelo)
estabelecendo um elo emblemático entre o operário das cidades e os camponeses. A mesma
foice é também o objeto associado à morte. Na mitologia grega, de acordo com a Teogonia de
Hesíodo, a morte é personificada por Thanatos, filho de Nyx (noite) e de Erebos (escuridão).
Thanatos é também irmão gêmeo de Hypnos (sono). Diversas culturas referem-se à existência
da figura do ceifador como o anjo da morte, o que fez com que a foice fosse o objeto
associado à morte. Nesses exemplos, tem-se o mesmo objeto, a foice, que possui um uso
carregando o fardo do ano” (idem, p.239). O tambor sagrado usado nesta festa, denominado
T’ENT’EN, é exclusivo e possui um caráter divino, permanece guardado o ano todo, e
somente alguns têm acesso a ele, não sendo permitido fotografá-lo. Para Vogt, o fato deste
instrumento somente ser utilizado na Festa de San Sebastian, que ocorre depois do solstício de
inverno, seguido imediatamente pela cerimônia do primeiro dia do ano, sugere que o “tambor
incorpora, acima de tudo, o símbolo da chegada do Ano Novo. Consequentemente, poderia
ser aventado que os sons percussivos do T’ENT’EN estão claramente conectados com a
transição mais importante do ano em Zinacantan, como ocorre na cerimônia de San Sebastian,
que ajuda a persuadir o Sol a sair do sul e regressar ao norte” (Vogt, 1997, p.239).
O que há na organologia do tambor que permite essas associações simbólicas? Uma
aproximação poderia ser tentada pela similaridade indicial que o som do tambor apresenta
com o som do trovão. Todavia, no caso em questão, o tambor T’ENT’EN é um instrumento
pequeno, cujo som está muito distante (ou nada parecido) do som do trovão.
Há no Brasil a tradição associada ao catolicismo da celebração do Divino Espírito
Santo. Os Festejos do Divino no Maranhão têm muita notoriedade e atraem um grande
número de turistas. Neste estado, o culto é também realizado em terreiros de Candomblé,
Tambor de Mina e Umbanda, evidenciando a marca do sincretismo religioso brasileiro. As
comemorações do Divino são organizadas por pessoas chamadas de festeiros, que podem ser
pais de santo ou pessoas (re)conhecidas da comunidade e escolhidas por seus próprios
membros. As Caixeiras do Divino são convidadas pelos festeiros para conduzirem o culto
nessa festividade. A celebração é complexa e envolve uma série de etapas e ritos (sacros e
profanos), como levantamento do mastro, constituição do império, cerimônia de Passamento
das Posses, o ósculo na Pomba do Divino, Missa, entre outros. O culto ao Divino Espírito
Santo é realizado em outros estados do Brasil e também em outros países. Todavia, o aspecto
mais característico e diferencial dessa festa no Maranhão se apresenta no fato de que a
celebração é conduzida pelas Caixeiras do Divinoii, isto é, mulheres que cantam e tocam os
tambores (de fabricação artesanal) chamados de Caixas, e que por exercerem essa função
adquiriram o estatuto de Sacerdotizas.
É interessante identificar o que essas caixeiras pensam a respeito de seu papel nessa
celebração para se entender o porquê de certos significados atribuídos por elas e por membros
da comunidade a essa tradição. Os grupos de Caixeiras costumam se definir pelo conjunto que
toca em uma festa, não sendo necessário, portanto, que possuam alguma relação de parentesco
ou amizade pretérita – por vezes, caixeiras viajam entre cidades para tocar nas festas. Porém,
o encontro durante as celebrações estabelece novas relações sociais, construindo intimidade,
companheirismo, amizade, criação de irmandades e, possivelmente, convites para atuarem em
outras festas. Não obstante, o grupo de Caixeiras é estruturado segundo algumas hierarquias,
uma dessas são as figuras da Caixeira Régia e da Caixeira-Mór, mulheres mais experientes
que conhecem profundamente não somente os toques e cantigas, mas também toda a exegese
da celebração e por isso são encarregadas da preservação e transmissão oral desse
conhecimento para as demais Caixeiras.
O tambor da Caixeira Régia é de certa forma exclusivo, ela não o empresta e somente
ela pode tocá-lo. Em Casas de Culto, as caixas passam por um ritual de preparação (benção)
antes de serem tocadas nas festas, todavia, esses rituais são restritos aos membros da Casa.
Costumeiramente, as Caixeiras estabelecem uma relação de identidade com o seu
instrumento. A pesquisadora Marise Barbosa relata ter presenciado uma cena que descreve o
estatuto atribuído por uma caixeira ao seu instrumento e, por conseguinte, ao modo como
entende sua função na celebração. Ao chegar a uma festa acompanhando a Caixeira Régia da
Casa, notaram que a porta principal do local estava fechada, pois estavam ainda preparando a
Tribuna e os Tronos para o festejo. A Caixeira, então, bateu à porta demandando: “abram esta
porta! Minha Caixa não entra pela porta dos fundos!”.
Diversos testemunhos de Caixeiras atestam a ancestralidade africana atribuída a essa
tradição. Observem-se, por exemplo, os depoimentos a seguir (Barbosa, 2006):
Repara que quando a gente canta Alvorada dentro daquele salão, aquilo faz um
silêncio! Aquilo é daquelas pretadas velhas, antigas, escravas! Isso é do tempo da
escravatura! E nesse tempo, era elas era quem mandava nessa festa. Era elas e os
home! Aqueles preto escravo, tudo era quem sabia tocar, era quem tirava esses
cântico, esses toque, eles era quem fazia. Por uma dessa, é que hoje em S. Luís não
tem um toque igual o nosso e nem o nosso é igual ao deles!
Olha, eu conheci bem umas 20 Caixeiras velhas, aquelas pretonas velhas, antigas
tocando Caixa! As roupas eram bem por aqui assim...(aponta para a metade da perna,
indicando que eram roupas compridas), aquelas saionas (amplia as mãos ao redor dos
quadris para mostrar amplidão)! Isto delas aqui, (aponta o próprio pescoço) era cheio
daquelas vorta, aqueles colarzão! As blusa era só aqueles rendão!
Margarida, ela constrói a imagem de mulheres vestindo blusas com golas em rendas longas,
muitos colares e saias amplas e compridas, remetendo à imagem da preta mina, isto é,
mulheres negras vindas da Costa da Mina, região do Golfo do Benim no continente Africano.
Desse modo, atesta-se o pertencimento a essa linhagem afro, conferindo dignidade à sua
presença, pois Mina traduz uma descendência histórica presente no Maranhão. Essa é uma
compreensão derivada do fato de que uma grande quantidade de africanos e africanas
escravizados e levados para o Maranhão pertenciam a povos que viviam próximos ao litoral e
foram embarcados no porto de São Jorge da Mina, ou ainda que vivessem longe dali, foram
levados de seus territórios até os portos da Costa da Mina.
Não obstante esse tipo de testemunhos e entendimentos, uma análise da música
realizada pelas Caixeiras não irá mostrar características estruturais que permitam atestar essa
raiz africana. Exceto pelo fato de se tratar de uma música percussiva, acompanhada por
tambores, não se notam elementos típicos da música africana (Cf: Miller & Shahriari, 2006)
como polirritmias ou de padrões rítmicos de referência – também chamados de time line
pattern por Kubik (1981) ou mesmo clave. Paralelamente, os textos dos cantos seguem
métricas e quadratura convencionais de estrofes constituídas de 4 frases. O que permite,
portanto, às Caixeiras, e aos outros membros do contexto sociocultural que compartilham,
compreender sua tradição no âmbito dos legados africanos são negociações, acordos e
convenções, que por sua vez encarregam-se de engendrar os significados simbólicos atrelados
a essa prática. O significado simbólico gera, assim, um mecanismo de retroalimentação, ao
estabelecer um corpus de “entendimentos” que afetará o significado a ser construído sobre
essa tradição, perpetuada na oralidade popular e, posteriormente, reintegrada a esse corpus.
Referências
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research/Symbolic_MeaningLE&B_1989.pdf
iA transmissão genética de aspectos culturais já foi, inclusive, observada em grupos de macacos-prego (Cebus
apella libidinosus). Cf: Antonio Christian de Moura www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=6947
ii
Para uma descrição etnográfica detalhada sobre as festividades do Divino, bem como o papel das Caixeiras do
Divino no Maranhão ver: Barbosa, Marise (2006).
Otávio Santos
Unicamp
[email protected]
Resumo: Ao longo dos séculos a prática da escuta vem se transformando de acordo com fatores
sociais, culturais e tecnológicos peculiares a cada grupo social. Especialmente a partir do início do
século XX, com o advento das mídias de reprodução sonora e a consequente mediação
tecnológica, os modos de se escutar atingiram um novo patamar, reverberando em novas
consequências sobre o indivíduo e a sociedade. A emergência e popularização das mídias portáteis
presentes no século XXI - aqui representadas pelos smartphones, tablets e iPods - não só
categorizam uma inédita forma de apreciação musical, mas proporcionam também a experiência
da individualização a partir da utilização dos fones de ouvido. Assim, a interação com o ambiente
externo torna-se passível de ser alterada em diferentes graus que variam da simples experiência do
lazer a condições patológicas de isolamento. Este fenômeno traz à tona reflexões acerca da
possibilidade do distanciamento social e solidão serem decorrentes da massiva utilização dos
aparatos móveis de escuta, convergindo para possíveis ressignificações cognitivas e
comportamentais características do ouvinte contemporâneo.
Palavras-chave: escuta, tecnologia, cognição, individualização, isolamento
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3 Bedroom culture, no original. Em artigo intitulado Bedroom culture and the privatization of
media use Moira Bovill e Sonia Livingston descrevem de forma detalhada a individualização de
crianças e jovens a partir da “cultura do quarto”, apresentando dados empíricos que revelam o
apreço desses indivíduos pelos próprios quartos e os aparatos midiáticos que ali usufruem
4 Termo utilizado por Marc Augé na obra Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da
supermodernidade, de 1994. Refere-se a um espaço “que não pode se definir nem como identitário, nem
como reacional, nem como histórico” (p. 73). Ou seja, lugares de transitoriedade, como aeroportos, hotéis
e mercados, onde o definitivo não encontra espaço.
5 Termo utilizado por Marc Augé na obra Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da
supermodernidade, de 1994. Refere-se a um espaço “que não pode se definir nem como
identitário, nem como reacional, nem como histórico” (p. 73). Ou seja, lugares de transitoriedade,
como aeroportos, hotéis e mercados, onde o definitivo não encontra espaço.
Pôsteres
XI SIMCAM - Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais Sumário
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar estudos referentes ao ensino de música para
crianças com síndrome de Down, onde a música é usada com o intuito de desenvolver o aspecto
psicomotor através de atividades lúdicas. Foi realizada uma revisão de literatura utilizando-se
publicações ocorridas nos últimos dez anos acerca do tema definido. Após a seleção do material
iniciou-se a leitura das obras e constatou-se na análise dos resultados que, apesar das pesquisas
recentes na área de educação musical para a pessoa com deficiência, existe ainda uma grande lacuna
na literatura referente ao ensino de música para a criança com síndrome de Down e que trate
especificamente sobre o aspecto psicomotor. Os trabalhos incluídos nesta revisão de literatura
estabeleceram relações com as variáveis de música, psicomotricidade e síndrome de Down. A
literatura sobre o tema indica que a música é uma alternativa para desenvolver os aspectos
psicomotores de qualquer criança, mas pode ser mais explorada quando envolve as crianças com a
síndrome de Down, tendo em vista que as atividades musicais realizadas nas aulas de música
possibilitam com que o corpo se movimente, propiciando à criança momentos de prazer. Considera-se
que este artigo pode contribuir para o trabalho com crianças com síndrome de Down, abrindo espaços
para a ampliação e aprofundamento deste assunto.
Palavras-chave: síndrome de Down, criança, música, desenvolvimento psicomotor.
The music education and psychomotor development: considering important aspects for the child
with Down syndrome
Abstract: This paper aims to analyze studies related to music education for children with Down
syndrome, where music is used to develop the psychomotor aspect through playful activities. This
review used papers published in the last ten years. After selecting the material, we found in the
analysis of the results that despite the recent research in music education area for the disabled person,
there is still a large gap in the literature relating to music education for children with Down syndrome
that specifically addresses the psychomotor aspect. The work included in this literature review
established relationships with the music variables, psychomotor and Down syndrome. The literature
on the subject indicates that music is an alternative to develop the psychomotor aspects of any child,
but can be further explored when it involves children with Down syndrome, given that the musical
activities in music classes with possible the body to move, allow the child moments of pleasure. It is
considered that this product can contribute to the work with children with Down syndrome, thereby
advancing the expansion and deepening of this subject.
Key-words: Down syndrome, child, music, psychomotor development.
Introdução
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei - 9394, 1996) foi
alterada com aprovação da Lei 11.769 de 18 de agosto de 2008 que regulamenta o ensino de
música nas escolas regulares de ensino. No § 6º do Art. 26 da LDB é definido que a música
deverá ser conteúdo obrigatório nos diversos níveis da educação básica, subentendendo-se
Desse modo, para aproveitar este potencial, é necessário estimular a criança com
síndrome de Down o mais cedo possível, possibilitando seu máximo desenvolvimento
cognitivo, sempre levando em consideração suas limitações e habilidades.
Segundo Pimentel (2012, p. 31), as crianças com síndrome de Down são singulares,
diferentes umas das outras, mesmo com alterações fenotípicas similares. Elas se diferem nos
aspectos gerais do desenvolvimento como a linguagem, motricidade, socialização e
habilidades da vida diária. Contudo, as características comuns incluem o crescimento físico
mais lento, maior tendência a aumento de peso, atraso no desenvolvimento motor e atraso no
desenvolvimento cognitivo.
Esse trabalho tem por objetivo analisar estudos referentes ao ensino de música para
crianças com síndrome de Down, onde a música é utilizada com intuito de desenvolver o
aspecto psicomotor que tenham sido relatadas nos últimos dez anos.
Materiais e métodos
Neste estudo, a revisão de literatura sobre as publicações ocorridas nos últimos dez anos
acerca do tema definido foi construída através da pesquisa de artigos e análise por meio de:
sites de busca - Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br), bibliotecas virtuais -
ScientificElectronic Library Online (http://www.scielo.org ) e Anais de Congressos e
Encontros da Associação Brasileira de Educação Musical (http://
abemeducacaomusical.com.br), além de pesquisa em livros impressos. O primeiro acesso foi
realizado em 15 de setembro de 2014 com a utilização das seguintes palavras-chave: ensino
de música, síndrome de Down, educação musical, psicomotricidade e desenvolvimento
psicomotor.
A relevância do estudo e a correlação com a utilização da música com intuito de
desenvolver aspectos psicomotores foram considerados como objetos de estudos para a
presente revisão e critérios de inclusão. Foram analisados ainda trabalhos que não abordavam
especificamente o ensino de música para crianças com deficiência, pois se percebeu que não
existe exatamente uma metodologia em trabalhos publicados para essas crianças e sim,
adaptações. Verificou-se uma grande abrangência nos estudos referentes à utilização da
música em vários contextos, assim foram excluídos trabalhos que utilizavam a música em
outras funções, como por exemplo, a musicoterapia, que também pode trabalhar esses
aspectos psicomotores. A seleção se deveu ao fato de que a musicoterapia tem objetivos
terapêuticos e diferentes da educação musical que visa a aprendizagem musical.
Resultados
Tabela 1 – Trabalhos selecionados para a análise de literatura.
Discussão
Para a discussão dos resultados obtidos e artigos selecionados, optou-se por destacar os
principais discursos que englobam o tema proposto devido ao número restrito de material
selecionado com base nos critérios definidos. Sendo o presente trabalho de abordagem do
ensino de música para crianças com síndrome de Down que visa o desenvolvimento do
aspecto psicomotor, foi adotada para um maior entendimento a definição de psicomotricidade,
pois “a música aliada à psicomotricidade torna-se ferramenta importante no desenvolvimento
corporal, consolidando um caminho para o desempenho global saudável” (Ferreira & Rubio,
2012, p. 6).
De acordo com Ferreira e Rubio (2012, p. 2), a “psicomotricidade, utilizada como
técnica na educação e reeducação dos movimentos, proporciona na criança a recuperação de
movimentos que por algum motivo foi impedida ou reprimida quando ainda menor”.
Destacam ainda que o “movimento corporal possibilita para a criança o conhecimento de si
mesma e promove processos de descoberta de mundo e de socialização”. (Ferreira & Rubio,
2012, p. 1)
Segundo Cotrim e Ramos (2011, p. 9)
a Psicomotricidade como terapia de reeducação irá contribuir de maneira
significativa para o desenvolvimento do potencial da criança com síndrome de
Down, porque proporcionará experiências de movimentos que requer uma
estimulação mais intensa e ampla, devido os mesmos apresentarem um atraso no
desenvolvimento da maturação e habilidades de motricidade fina e grossa por causa
das consequências da própria síndrome.
A autora acrescenta que as atividades propostas na sala de aula que utilizam o corpo
com movimentos podem desenvolver o tônus muscular, a coordenação motora e colaborar
com a conscientização corporal da criança com deficiência. Ela destaca que atividades
comuns através de exercícios e jogos musicais que são utilizadas no trabalho de educação
musical infantil têm como proposta desenvolver aspectos psicomotores. Na tabela abaixo são
colocadas algumas atividades realizadas no ensino musical (Tabela 2).
Como se pôde observar, são diversas as possibilidades de utilização da música na sala
de aula. Resende e colaboradores (2010) dizem que há uma grande quantidade de músicas
com temas ou que trabalham os elementos psicomotores como, por exemplo, as canções
folclóricas brasileiras.
O que se observa no trabalho com crianças com síndrome de Down é que esta responde
aos estímulos sonoros e musicais, sendo necessário que sejam trabalhados os aspectos
psicomotores primeiramente, para que possa haver desenvolvimento musical. Desse modo, é
importante que ela participe das atividades propostas nas aulas, sempre considerando suas
possibilidades.
Tabela 2 – Atividades realizadas na educação musical infantil que têm como proposta desenvolver
aspectos psicomotores. (Louro, 2006, p. 59-60)
O trabalho com crianças com síndrome de Down significa uma valiosa oportunidade de
inclusão a partir da valorização do ser que está em desenvolvimento. No entanto, é importante
a intervenção o mais cedo possível para que elas possam desenvolver seus esquemas
corporais, melhorando seus movimentos motores. Além do desenvolvimento físico, elas
também podem se desenvolver psicologicamente.
Como se constatou nos resultados apresentados, os trabalhos incluídos nesta revisão de
literatura estabeleceram relações com as variáveis de música, psicomotricidade e síndrome de
Down. A literatura sobre o tema indica que a música é uma alternativa para desenvolver os
aspectos psicomotores de qualquer criança, mas pode ser mais explorada quando envolve as
crianças com a síndrome de Down, tendo em vista que as atividades musicais realizadas nas
aulas de música possibilitam com que o corpo se movimente, propiciando à criança
momentos de intenso prazer.
Por fim, considera-se que este artigo pode contribuir para o trabalho com crianças com
síndrome de Down, abrindo espaços para a ampliação e aprofundamento deste assunto,
ressaltando que as questões educacionais, ainda que associadas a fins terapêuticos, não devem
ser esquecidas ou relegadas ao segundo plano, sob pena de se perder oportunidades de
crescimento e desenvolvimento não só psicomotor, mas também pessoal, social, educacional
destes indivíduos.
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2009/Anahi.pdf.
A prática Coral é uma ferramenta muito útil para o desenvolvimento musical e por isso
ela está presente em diversos projetos sociais de música e também dentro de escolas. A
participação dentro de um Coral proporciona à criança e/ou adolescente experiências musicais
que favorecerão muito o desenvolvimento em qualquer outro instrumento, oferece ao
indivíduo que pertence a esse grupo, vivências que ampliam seu conhecimento e percepção
musical. Segundo Schimiti (2003, p.18) “essa prática poderá ser definidora da avaliação que a
criança fará sobre a experiência musical”.
Como sugere Martinez (2000), em seu livro “Regência Coral”, o ensaio de um coral
deve ser composto por quatro momentos: relaxamento, técnica vocal, aquecimento e o ensaio
do repertório, propriamente dito. Thelma Chan (2010) em seu livro “Pra ganhar beijo:
almanaque de canções infantis”, também sugere os 4 momentos de ensaio: o aquecimento
corporal (relaxamento), exercícios de respiração (técnica vocal), aquecimento de voz e o
momento da canção (repertório).
A escolha do repertório é uma das funções do regente e parte importante para colaborar
para a motivação do grupo. O repertório deve ser escolhido visando integrar diversos
aspectos: ser tecnicamente viável para o determinado grupo e também trazer desafios que
incentivem o desenvolvimento musical, Ana Yara Campos (SESC São Paulo, 1997, p.33)
afirma que deve se ter “bom senso ao escolher um repertório adequado ao nível do grupo, mas
que apresente sempre novos desafios para permitir seu crescimento gradativo”; trazer
novidades, que podem ser em relação ao vocabulário, estilo ou idioma cantado.
Na prática Coral: como atingir melhores resultados musicais? Como motivar a todos,
para que dêem o melhor de si para esse grupo? Como manter a atenção e concentração para os
exercícios e atividades?
São essas questões que deram origem ao trabalho “Motivação para a Prática Coral”, um
estudo de caso que teve como objetivo identificar os fatores motivacionais dentro de um
grupo coral, ou seja, saber quais os elementos que favorecem a motivação para a participação
no grupo, questionando: o que leva as crianças a quererem ingressar no Coral? Quais são as
atividades que os integrantes mais gostam de realizar dentro do grupo? O que leva os
coralistas a desistirem de participar? Quais são os motivos do egresso?
O objeto de pesquisa desse estudo é o grupo Papo Coral, da Paidéia Escola de Música,
que tem como regente a educadora musical Cristiane Alexandre. Os resultados dessa pesquisa
trazem dados concretos sobre os diferenciados fatores motivacionais do Papo Coral.
Motivação
A motivação deve ser algo permanente, deve fazer parte do ambiente, logo os regentes,
a fim de motivar seus coralistas, devem constantemente criar ambientes motivacionais. Os
integrantes do grupo precisam se sentir valorizados, se sentir parte do todo e sentir que sua
participação é importante e contribuí com o grupo. Segundo Fucci Amato “a motivação é um
processo contínuo no qual fatores de diversas naturezas atuam no indivíduo, que é motivado a
partir da concretização de seus desejos” (FUCCI AMATO, 2007, p.77).
Para embasar e reforçar essas ideias, colocaremos aqui cinto teorias sobre motivação,
que os pesquisadores O’Neill e McPherson (2002) abordaram e relacionaram com a prática e
vivência musical de crianças e adolescentes no capítulo que escreveram denominado
“Motivação”.
Metodologia
A metodologia que foi aplicada no desenvolvimento dessa pesquisa é o estudo de caso,
que consiste na análise de um objeto, nesse caso o Papo Coral Infantojuvenil (GIL, 2002, p.
54). Para a coleta de dados, foram desenvolvidos dois questionários: um para ser aplicado aos
integrantes do grupo e outro para ser aplicado aos ex-integrantes do Papo Coral.
O Papo Coral foi fundado no ano 2002 na Paidéia Escola de Música, pela atual regente
Cristiane Alexandre em parceria com Marcelo Burigo, atualmente residente na Itália, onde
trabalha como arranjador, educador musical e direção de orquestra de sopros e percussão.
Nas observações da rotina de ensaios do Papo Coral, foi percebido que o grupo segue o
padrão defendido pela bibliografia (o momento do relaxamento, técnica vocal/aquecimento e
ensaio de repertório) e interpreta um repertório variado, mas adequado tecnicamente ao grupo,
com peças a duas ou a três vozes. Quando executando músicas em outros idiomas, se
preocupam em saber a tradução da letra, assim como caprichar na pronuncia da língua
estrangeira.
O Papo Coral também realiza atividades extra-ensaios, dentre elas: o “acantapapo”
trata-se de um acampamento, para todos os integrantes do Papo Coral, na própria Paidéia
Escola de Música. A programação inclui diversos momentos, entre eles: ensaio do coro,
Figura 1- Resultado da questão: Motivo do ingresso no grupo
Figura 2- Resultado da questão: Qual atividade que você mais gosta?
Figura 3 - Resultado da questão: Quais são as atividades realizadas durante o ensaio que você mais
gosta?
Figura 5 - Resultado da questão: Como você se relaciona com os colegas cantores?
Figura 6 - Resultado da questão: Sobre as músicas?
Ex-coralistas
Os questionários foram enviados a 30 ex-coralistas, mas apenas 14 devolveram o
questionário devidamente respondido. Dentre esses 10 pessoas com idade entre 18 e 23 anos e
4 pessoas com idade entre 13 e 17 anos.
Figura 7 - Resultado da questão: Porque você decidiu parar de participar?
Conclusão
A proposta dessa pesquisa foi identificar e relatar os fatores motivacionais do grupo
Papo Coral, esclarecer os motivos que levam os integrantes a ingressarem e manterem a
atividade de prática coral, ou egressarem.
Os motivos que levam crianças e adolescentes a ingressarem em um grupo Coral são
diversos, mas a partir da pesquisa, estudo de caso realizada com os coralistas do Papo Coral,
pudemos concluir que mais de 75% dos integrantes “sempre gostaram de cantar”, sendo esse
o principal motivo que os leva a ingressar na atividade de canto coral. As crenças que as
crianças e adolescentes têm antes de ingressar no grupo estão relacionadas à Teoria de Valores
de Expectativa, descrita por O’Neill e McPherson (2002) e a coleta de dados revela que a
decisão de ingressar é dos próprios integrantes, e não foi, por exemplo, imposta pelos seus
pais, o que indica que haverá maior motivação para o desenvolvimento da tarefa.
Os outros fatores questionados também se revelaram favoráveis à motivação dentro do
Papo Coral, pois a maioria dos coralistas diz ter muitos amigos, se relacionar muito bem com
a regente e gostar do que canta e aprende. Quando questionados em relação à atividade de
preferência dentre as quais o grupo realiza, a maioria não se contentou em assinalar apenas
uma alternativa, tendo escolhido várias dentre as opções do questionário, demonstrando que a
maioria aprecia todas as atividades do Papo Coral.
A satisfação perante as atividades que o grupo desenvolve e repertório executado,
demostra que existe a permanência no fluxo, defendida pela teoria de Csikszentmihalyi. Os
coralistas participam das atividades com prazer e caminham desenvolvendo habilidades. Essa
teoria explica que quando o indivíduo permanece no fluxo, ele está tão engajado que perde a
noção de tempo ao realizar a tarefa.
A partir do questionário aplicado aos ex-coralistas, pudemos identificar os fatores
determinantes para o egresso do grupo. Com base no estudo de caso realizado, identificamos
que os fatores que levam os coralistas a desistirem da atividade com o grupo Papo Coral, são
principalmente: falta de tempo e/ou desinteresse. Identificamos através dos relatos ou de
pequenos comentários colocados no questionário que a falta de tempo acontece pela entrada
na faculdade, ou simplesmente pela escolha por dar preferência à outra atividade. O
desinteresse, que apareceu como segundo principal fator de egresso, não teve comentários
complementares dos participantes.
Todos os ex-coralistas que participaram da pesquisa relataram que tinham amigos no
grupo e nenhum deles falou que não gostava das músicas que cantava, pelo contrário, a
maioria afirma que gostava das músicas, logo esses fatores não representam o motivo de
egresso da atividade.
Referências
Chan, T. (2010). Pra ganhar beijo: almanaque de canções infantis (1ª ed.). Rio de Janeiro:
Irmãos Vitale.
Fucci Amato, R. (2007). O canto coral como prática sócio-cultural e educativo-musical. (pp.
75-96). Revista Opus. Goiânia, v.13, n.1, jun.
Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas.
Martinez, E. (2000). Regência coral: princípios básicos / Emanuel Martinez; colaboradores
Denise Sartori, Pedro Goria, Rosemari Brack. Curitiba: Colégio Dom Bosco.
O’Neill, S. A.; McPherson, G. E. (2002). Motivation. In: PARNCUTT, R.; MCPHERSON, G.
E. The science and psychology of music performance: creative strategies for music teaching
and learning. (pp. 31-46). New York: Oxford University Press.
Schimiti, L. M. (2003). Regendo um Coro Infantil, reflexões, diretrizes e atividades. (pp.
15-18). Revista Canto Coral. Ano II, n.1.
SESC São Paulo (1997). Canto, canção, cantoria: como montar um coral infantil. São Paulo:
SESC.
Preparation and validation of a questionnaire on flow experience for application with children
between 8 and 12 in music classes
Abstract: The focus for this text is to present the construction phase and validation of the data
collection instrument (questionnaire) of a study in progress study, that aims to investigate the
motivation of children in music classes, verifying the presence of the elements that lead flow
experience. The ‘flow state’ is an experience defined by Csikszentmihalyi (1999) in which the
individual finds satisfaction and involvement in an activity, maintaining a strong concentration and
equilibrium between your skills and the challenges confronting. The methodology for this research is
a ‘survey’ conducted with a population of children aged 08-12 years enrolled in a dance school
Curitiba (PR/BRAZIL). A pilot study was conducted with five children who tested the questionnaire
that will be used in the next stage. The instrument was developed based on the model questionnaire
used by Araújo and Andrade (2013) in a previous study, with categories defined a priori, based on the
theoretical framework: motivation, concentration, feelings of competence/confidence, clear goals,
emotion/happiness. The results showed consistency on issues; the playfulness of the instrument; and
the feasibility of applying the questionnaire with children. Were also observed the motivational aspect
of the questionnaire and the ease with which children responded and agreed to participate.
Keywords: motivation, flow theory, musicalization
1. Introdução
Esta pesquisa tem como tema a motivação de crianças com idade entre 08 e 12 anos
para aulas de musicalização. Penna (2010, p. 49) define a musicalização como “um processo
educacional orientado que, visando promover uma participação mais ampla na cultura
socialmente produzida, efetua o desenvolvimento dos esquemas de percepção, expressão e
3. Metodologia
A metodologia desta pesquisa é o estudo de levantamento (survey), que, de acordo com
Gil (1999) e Babbie (2001) é um delineamento de pesquisa exploratório que utiliza a
interrogação direta para coletar dados sobre comportamento de determinado grupo. O
instrumento de coleta de dados é um questionário e os participantes da pesquisa são crianças
de 08 a 12 anos de uma escola de Dança da cidade de Curitiba – PR, devidamente
matriculadas no curso de musicalização.
Para elaboração do questionário, usou-se como base o questionário elaborado por
Araújo e Andrade (2013) em pesquisa anterior, cujo enfoque era a prática musical de
adolescentes. O questionário original foi construído em duas partes: a primeira para coletar
dados gerais dos participantes e a segunda parte organizada em forma de escala (tipo Likert).
Na pesquisa de Araújo e Andrade, o questionário foi aplicado para 47 participantes
adolescentes, sendo n=12 participantes do estudo piloto e n=35 participantes da coleta
definitiva. O estudo piloto serviu para verificar a coerência interna e confiabilidade das
questões. A análise final do instrumento de coleta de dados foi orientada por meio de um Teste
de Significância Univariado.
As categorias do fluxo definidas a priori neste estudo seguiram o modelo utilizado no
estudo de Araújo e Andrade (2013). As autoras consideraram duas (questões) para cada
categoria de análise: Motivação; Concentração/ perda da noção de tempo; Sentimento de
competência/ autoconfiança; Metas e estratégias; e Emoção. Neste estudo, foi considerada
para cada categoria somente uma questão. As categorias foram assim definidas: Motivação;
Concentração; Sentimento de competência; Metas; Emoção/alegria.
A primeira parte do questionário foi utilizada para obtenção de dados gerais das
participantes: idade, tempo de estudo musical, ano que se encontra na escola de dança. Já a
segunda parte foi construída com uma escala de cinco pontos, organizada conforme figura
abaixo:
FIGURA 1: ESCALA PARA CRIANÇAS DE 8 A 12 ANOS (FONTE: AS AUTORAS)
Idade Q1 Q2 Q3 Q4 Q5
C1 9 anos Sempre Quase sempre De vez em Quase sempre Sempre
quando
Idade Q1 Q2 Q3 Q4 Q5
C1 8 anos Quase sempre Quase sempre Sempre Quase sempre Sempre
5. Considerações finais
Com base no teste piloto foi possível verificar o resultado da adaptação do questionário
de Araújo e Andrade (2013) para aplicação com crianças e, portanto, validar o instrumento de
coleta de dados desta pesquisa, observando a coerência interna e a confiabilidade das questões
para cada categoria definida a priori: motivação, concentração, sentimento de competência/
autoconfiança, metas claras, emoção/alegria. Além disso, o teste apresentou características
lúdicas adequadas para aplicação com a faixa etária pretendida, uma vez que é um
instrumento que motiva a participação. Com esses resultados foi possível afirmar a eficácia do
instrumento de coleta de dados para a próxima etapa da pesquisa, que prevê a coleta de dados
com um número maior de crianças.
Por fim, pode-se destacar que, de acordo com o referencial teórico utilizado nesta
pesquisa sobre a teoria do fluxo, o questionário poderá indicar a presença, em maior ou menor
grau, dos elementos que podem conduzir as crianças à experiência de fluxo. Tal instrumento,
portanto, não indicará se as crianças estão vivenciando a experiência do fluxo, mas dará
indicações da presença dos elementos que podem conduzir a este estado. Esses indicadores,
portanto, são pistas importantes para pais e professores, pois são fatores de motivação
essenciais para uma aprendizagem musical prazerosa e significativa.
Referências
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musical. Cognição & Artes Musicais, v.2, n.1 (pp.62-72). Curitiba: DeArtes UFPR.
Araújo, R. C., Pickler, L. (2008). Um estudo sobre a motivação e o estado do fluxo na
execução musical. Anais do IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais. (pp. 154-159).
São Paulo: USP/FFLCH.
Araújo, R. (2010). Motivação e ensino de música In: ILARI, B; ARAÚJO, R. (Orgs.). Mentes
em música (pp. 111-127). Curitiba: Editora UFPR.
Araújo, R. C. (2013). Crenças de autoeficácia e teoria do fluxo na prática, ensino e
aprendizagem musical. Percepta Revista de Cognição Musical v.1 (pp.55-66). Curitiba.
Araújo, R. C., Andrade, M. A. (2013). Um estudo sobre motivação para a prática musical de
adolescentes com base na teoria do fluxo. Anais do XIII Congresso da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música. Natal. Extraído de http://
www.anppom.com.br/congressos/index.php/ANPPOM2013/Escritos2013/paper/view/
2497.
Babbie, E. (2001). Métodos de Pesquisas de Survey. Trad. Guilherme Cezarino. Belo
Horizonte: Editora UFMG.
Bzuneck, J. A. (2009). A Motivação do Aluno: Aspectos Introdutórios. In: Evely, B; Bzuneck,
J. A. (Orgs.). A motivação do aluno. Contribuições da Psicologia Contemporânea. (pp.
9–36). Petrópolis: Vozes.
Custodero, L. A. (2006). Buscando desafios, encontrando habilidades: a experiência de fluxo
e a educação musical. In: Ilari, B. (Ed.). Em busca da mente musical (pp. 381-399).
Curitiba: Editora da UFPR.
Csikszentmihalyi, M. (1999). A descoberta do fluxo. Psicologia do envolvimento com a vida
cotidiana. Rio de Janeiro: Rocco.
Csikszentmihalyi, M. (1992) A psicologia da felicidade. São Paulo: Saraiva.
Gil, A. C. (1999) Métodos e técnicas de Pesquisa Social. 5.ed. São Paulo: Atlas.
Penna, M. (2010). Música (s) e seu ensino. 2.ed. Porto Alegre: Sulina.