TCC Fiorin - Liderança

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ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS

ACADEMIA REAL MILITAR (1811)

LAWRENCE FIORIN DOS SANTOS

TREINAMENTO FÍSICO MILITAR E A LIDERANÇA DOS COMANDANTES DE


FRAÇÕES:
A IMPORTÂNCIA DO TFM PARA O DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDOS
ATITUDINAIS

Resende
2017
LAWRENCE FIORIN DOS SANTOS

TREINAMENTO FÍSICO MILITAR E A LIDERANÇA DOS COMANDANTES DE


FRAÇÕES:
A IMPORTÂNCIA DO TFM PARA O DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDOS
ATITUDINAIS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Academia Militar das
Agulhas Negras como parte dos
requisitos para a Conclusão do Curso
de Bacharel em Ciências Militares, sob
a orientação do Cap Cav Renato Naste
Shirado.

Resende
2017
LAWRENCE FIORIN DOS SANTOS

TREINAMENTO FÍSICO MILITAR E A LIDERANÇA DOS COMANDANTES DE


FRAÇÕES:
A IMPORTÂNCIA DO TFM PARA O DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDOS
ATITUDINAIS

COMISSÃO AVALIADORA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Academia Militar das
Agulhas Negras como parte dos
requisitos para a Conclusão do Curso
de Bacharel em Ciências Militares, sob
a orientação do Cap Cav Renato Naste
Shirado.

____________________________
Renato Naste Shirado – Cap Cav
Orientador

__________________________
Avaliador

__________________________
Avaliador

Resende
2017
AGRADECIMENTOS

À minha família, base de tudo, na figura dos meus pais, Mauro e Janice e da minha
irmã, Laurieny, exemplos de carinho, amor e dedicação. Sempre me apoiaram em todos os
momentos da minha vida, educando e guiando pelo caminho que eu julgava certo trilhar.
À minha noiva, Mariana, companheira incondicional, que nos últimos anos foi
essencial em minha vida, compreendendo e me motivando em todas as decisões.
Ao Cap Cav Shirado, orientador desta monografia e oficial pelo qual tenho grande
respeito e admiração, por sua atenção, abnegação, paciência e conhecimento profissional.
E, por fim, aos meus companheiros do Curso de Cavalaria, irmãos que trilharam
comigo e tornaram mais fácil este longo caminho ao oficialato.
RESUMO

SANTOS, Lawrence Fiorin dos. Treinamento físico militar e a liderança dos comandantes
de frações: a importância do TFM para o desenvolvimento de conteúdos atitudinais. Resende:
AMAN, 2017. Monografia.

Esta monografia tem como tema: “Treinamento físico militar e a liderança dos comandantes
de frações: a importância do TFM para o desenvolvimento de conteúdos atitudinais”, e tem
por objetivo analisar se há influência do treinamento físico militar (TFM) no exercício da
liderança dos comandantes de frações por meio dos conteúdos atitudinais (CA), verificando a
semelhança dos conteúdos atitudinais desenvolvidos pelo TFM e aqueles a serem
evidenciados por um líder militar. Para isso, através da revisão da literatura, são abordados os
conceitos de liderança militar, TFM e CA e a relação entre eles baseado em manuais e autores
que realizaram estudos sobre o assunto. Após isso, por meio da estatística descritiva, em uma
amostra de cadetes da AMAN, é feita uma análise para identificar possíveis tendências de
correlação entre os militares destaques em exercícios de campanha, que tem por objetivo
desenvolver e evidenciar CA, principalmente a liderança, com suas notas nos testes de aptidão
física (TAF). Desta forma, conclui-se que os militares que se destacam neste tipo de atividade
militar possuem, em sua maioria, um bom desempenho físico, evidenciando assim, uma
tendência dos CA desenvolvidos pelo TFM serem semelhantes aos necessários a um líder, e a
consequente influência do TFM na liderança militar.

Palavras-chave: Conteúdos atitudinais. Treinamento Físico Militar. Liderança.


ABSTRACT

SANTOS, Lawrence Fiorin dos. Military physical training and leadership of fractions
commanders: the importance of MPT for the development of attitudinal contents. Resende:
AMAN, 2017. Monograph.

This paper has the theme: “Military physical training and leadership of fractions commanders:
the importance of MPT for the development of attitudinal contents”, and aims to analyze if
there is influence of the military physical training (MPT) in the exercise of the leadership of
the fractions commanders through the attitudinal contents (AC), verifying the similarity of the
attitudinal contents developed by MPT and those to be evidenced by a military leader. For
this, through the literature review, the concepts of military leadership, MPT and AC and the
relation between them based on manuals and authors who have studied the subject are
discussed. After this, through of descriptive statistic, in a sample of cadets of AMAN, an
analysis is made to identify possible correlation trends between the military highlights in
campaign exercises that aim to develop and evidence AC, especially the leadership, with their
grades in the tests of physical aptitude (TPA). In this way, it is concluded that the military the
excels in this type of military activity has, in the majority, a god physical performance, thus
evidencing a tendency of the AC developed by the MPT to be similar to those needed for a
leader, and the consequent influence of MPT on the military leadership.

Keywords: Attitudinal contents. Military Physical Training. Leadership.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DECEX Departamento de Educação e Cultura do Exército Brasileiro


AMAN Academia Militar das Agulhas Negras
TFM Treinamento Físico Militar
TAF Teste de Aptidão Física
CA Conteúdo Atitudinal
AAA Atributos da Área Afetiva
SEF Seção de Educação Física
PIM Programa de Instrução Militar
SIEsp Seção de Instrução Especial
OM Organização Militar
AC Avaliação de Controle
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 9

2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO............................................. 12
2.1 Revisão da literatura e antecedentes do problema.............................................. 12
2.1.1 Conteúdos Atitudinais............................................................................................ 12
2.1.2 Treinamento Físico Militar................................................................................... 14
2.1.3 Liderança Militar................................................................................................... 17
2.1.3.1 Os pilares da Liderança.......................................................................................... 19
2.1.4 Treinamento Físico Militar e Liderança Militar................................................. 20
2.2 Referencial metodológico e procedimentos.......................................................... 22

3 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS....................................................... 30


3.1 Resultados.............................................................................................................. 30
3.2 Análise dos dados.................................................................................................. 33

4 CONCLUSÃO....................................................................................................... 35

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 37
9

1 INTRODUÇÃO

O tema “Treinamento Físico Militar e liderança dos comandantes de frações: a


importância do TFM para o desenvolvimento de conteúdos atitudinais” é bastante relevante
na atualidade, visto que o combate de amplo espectro vem exigindo dos chefes militares
características complexas. Para Soares (2016) comandantes com condutas e um
comprometimento exemplar, por exemplo, tornam-se autoridades respeitadas e admiradas,
capazes de lidar de maneira mais eficaz em quaisquer situações.
Além disso, há um grande aumento da prática de atividades físicas devido aos diversos
benefícios que possui para a saúde. Monteiro (1996) afirma que isso se deve em grande parte
ao relacionamento de exercícios regulares com a prevenção e tratamento de doenças que estão
sendo amplamente divulgados pelo crescente número de publicações. Araújo e Araújo (2000)
ainda destacam a necessidade do hábito de exercitar-se ser incorporado aos tratamentos
médicos, ao planejamento familiar e à cultura popular deixando de ser uma barreira para as
pessoas.
Para o meio militar, este estudo é relevante, uma vez que a liderança é bastante
valorizada e estimulada pelo Exército Brasileiro. Além disso, tal capacitação pode ser
alcançada através de exercícios físicos. Segundo o manual C 20-20 (2002), o TFM tem como
um dos objetivos cooperar com o desenvolvimento de conteúdos atitudinais necessários à
liderança. Moraes et al. (2008) ressaltam, também, que o desempenho profissional do militar
está diretamente relacionado com o condicionamento físico adquirido através do treinamento
físico regular.
A presente pesquisa visa tratar do tema liderança militar, fator essencial para um
comandante de fração conduzir seus homens, e como o treinamento físico pode influenciar no
desenvolvimento deste fator. Para isso, procura-se identificar os conteúdos atitudinais (CA)
adquiridos através do TFM e que favorecem os futuros comandantes militares no contínuo
aprimoramento das suas qualidades e nos processos de liderar seus subordinados.
Delimitou-se o foco da pesquisa em analisar a relação de uma amostra de cadetes da
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) que se destacaram em exercícios de terreno,
que buscam desenvolver diversos conteúdos atitudinais necessários à liderança, com seus
desempenhos nos testes de aptidão física (TAF) realizados por esta instituição.
Faz-se necessário a definição de alguns conceitos que serão fundamentais para o
desenvolvimento do assunto e para uma melhor compreensão do tema.
10

A liderança para Hunter (2006) é uma habilidade, ao qual o líder por força do seu
caráter influencia pessoas a trabalharem motivadas, além de garantir a confiança de seus
liderados. Semelhante a isto, no meio militar, Hecksher (2001) afirma que liderança militar é
a capacidade de influenciar seus subordinados, conquistando a credibilidade no grupo e
motivando seus liderados no cumprimento da missão.
Castro (1983) afirma que a arte de influenciar os indivíduos é de suma importância
para os comandantes em todos os escalões. Desta forma, percebe-se que a relação interpessoal
entre líderes e liderados é de fato muito complexa e para que tenha sucesso, exige do
comandante dedicação e empenho na tarefa de influenciar seus homens.
Este trabalho cita os conteúdos atitudinais (CA) que, se presente em um líder, lhe trará
credibilidade e consequentemente a confiança dos seus liderados. Tais CA compreendem,
segundo o manual IP 20-10 (1991), todos os aspectos relacionados com valores, atitudes,
interesses e emoções que determinam o comportamento humano. Estes CA, conforme manual
EB20-MC-10.350 (2015) podem ser desenvolvidos, estimulados e aperfeiçoados através do
TFM e irão atuar eficazmente no comportamento de quem o pratica.
O objetivo da pesquisa é analisar se há influência do TFM na liderança exercida pelos
comandantes de frações. Para isso, serão identificados os CA desenvolvidos pelo TFM e
aqueles necessários para o exercício da liderança, através da pesquisa documental e
bibliográfica. Após isto, será verificada a aplicabilidade dos conceitos, utilizando a estatística
descritiva para diagnosticar possíveis tendências ao relacionar os cadetes destaques em
exercícios de campanha da AMAN que desenvolvem CA, em especial a liderança e seus graus
nas Avaliações de Controle (AC) da disciplina de TFM.
As principais fontes de pesquisa foram os manuais e portarias do Exército Brasileiro
(Treinamento Físico Militar- EB20-MC-10.350; Liderança Militar- C20-10), o Caderno de
Instrução do Projeto Liderança da Academia Militar das Agulhas Negras, livros e artigos
publicados em revistas, além de sites de pesquisa.
A presente monografia está assim estruturada:
No primeiro capítulo, procurou-se ressaltar a importância do tema, delimitá-lo e
apresentar os objetivos gerais da pesquisa.
No segundo capítulo, são apresentadas as definições de conteúdos atitudinais,
detalhando principalmente aqueles relacionados à liderança. Em relação ao TFM, são
abordados seus objetivos, deixando clara a importância do treinamento físico para um líder.
Após isso, o capítulo traz a definição de liderança militar, com seus principais fatores e
pilares, qualidades e CA necessários a um líder. Por fim, é feita uma relação entre TFM e
11

liderança militar, mostrando a semelhança dos CA desenvolvidos pela atividade física e os


necessários a um líder militar, além de apresentar situações praticas de liderança.
No terceiro capítulo são apresentados os resultados e a análise descritiva dos dados,
levantados na Seção de Educação Física (SEF) da AMAN, relativos às notas da AC de TFM
dos cadetes destaques em exercícios de campanha que desenvolvem e buscam evidenciar a
liderança.
Por fim, no quarto capítulo, é feita a conclusão a cerca das hipóteses, verificando se há
possíveis tendências na influência do TFM na liderança dos comandantes de frações por meio
dos CA.
12

2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

O tema desta monografia insere-se na linha de pesquisa sobre preparo físico e


liderança, na área de estudo da Educação Física, conforme o Anexo “B” da Ordem de Ensino
nº 001- IPC/ Div Ens, de 10 de maio de 2016.

2.1 Revisão da literatura e antecedentes do problema

Buscando identificar o que de mais relevante tem sido produzido sobre os assuntos
Liderança militar, Treinamento Físico Militar e conteúdos atitudinais, foi realizada uma
pesquisa bibliográfica, onde foram consultadas contribuições científicas e obras sobre o
assunto, e também uma pesquisa documental baseada em normas e manuais que regulam
diversos procedimentos adotados pelo Exército Brasileiro. A partir disto foi formulada uma
hipótese a ser corroborada ou refutada de acordo com apresentação de conceitos que melhor
embasem a pesquisa e proporcione o melhor entendimento do assunto.

2.1.1 Conteúdos Atitudinais

O manual T21-250 (1997) divide o comportamento do militar em três áreas com


diferentes níveis de aprendizagem, sendo elas: a psicomotora, que engloba as habilidades
motoras; a área cognitiva, que compreende o conhecimento do militar, ambas tendo como
objetivo principal o desempenho individual; e a área afetiva, que são as atitudes, valores e
ideias evidenciadas em cada militar e seu interesse por tudo que esteja relacionado com o
amor à profissão e à carreira, formando o caráter militar.
Maciel (2002) refere-se à área afetiva como sendo aos sentimentos e emoções do
indivíduo e que se reflete, de modo geral, nas suas atitudes. Sendo assim, é imprescindível o
conhecimento e o desenvolvimento de conteúdos atitudinais (CA) que se tornem inerentes ao
militar em todas as ocasiões, determinando seu modo de agir.
O Departamento de Educação e Cultura do Exército Brasileiro (DECEx), através da
portaria nº 143, de 25 de novembro de 2014 elenca os conteúdos atitudinais (CA) a serem
evidenciados pelo militar. Cabe ressaltar que diversos autores ainda se referem aos valores,
atitudes e capacidades morais como atributos da área afetiva (AAA), justificando a utilização
de ambas as nomenclaturas neste trabalho. Segundo o Apêndice I do Anexo B da portaria
13

citada, os CA podem ser agrupados em categorias, sendo os principais relacionados à


liderança e ao TFM os conceituados abaixo:
a. Atitudes
1) As atitudes relacionadas a si mesmos
- Autoconfiança: agir com segurança e convicção nas próprias capacidades e
habilidades, em diferentes circunstâncias. Está relacionada à atitude de iniciativa.
2) Atitudes relacionadas à convivência social
- Camaradagem: agir, relacionando-se de modo solidário, cordial e desinteressado
com superiores, pares e subordinados, por meio da escuta empática e prestação de
serviços.
- Cooperação: contribuir espontaneamente para o trabalho de alguém e/ou de uma
equipe.
- Equilíbrio emocional: agir, controlando as próprias reações emocionais e
sentimentos, para se conduzir de modo apropriado, nas diferentes situações.
- Lealdade: agir, sendo fiel a pessoas e grupos, considerando as necessidades da
Instituição, de modo a inspirar confiança.
- Tolerância: respeitar as regras de convivência social; diferenças de gênero e de
cultura; ideias, comportamentos e atitudes diferentes dos seus.
- Sociabilidade: agir, relacionando-se com outros por meio de ideias e ações de
modo adequado, considerando os seus sentimentos e ideias, sem ferir
suscetibilidades.
3) Atitudes relacionadas à atividade profissional
- Decisão: optar pela alternativa mais adequada, em tempo útil e com convicção,
evitando a omissão, a inação ou a ação intempestiva.
- Iniciativa: agir de forma adequada e oportuna, em conformidade com as demandas
da missão, sem depender de ordem ou decisão superior.
- Organização: desenvolver atividades profissionais de forma sistemática e
metódica.
- Persistência: manter-se em ação continuadamente, a fim de executar uma tarefa,
vencendo as dificuldades encontradas.
- Responsabilidade: cumprir adequadamente as atribuições de seu cargo, função e
posto, assumindo e enfrentando as consequências de suas atitudes e decisões.
- Tato: agir, na relação com as pessoas, sem ferir suscetibilidades.
4) Atitudes em relação ao Exército
- Coragem física: agir, de forma firme e destemida, em situações de ameaça à
integridade física, no sentido do cumprimento da missão.
- Coragem moral: agir de forma firme e destemida, expondo-se perante a integridade
física, no sentido do cumprimento da missão.
- Rusticidade: adaptar-se a situações de restrição e/ou privação, mantendo a
eficiência.
5) Atitudes em relação ao conhecimento
- Criatividade: produzir novos dados, ideias e/ou realizando combinações originais,
na busca de uma solução eficiente e eficaz.
b. Capacidades Morais
1) Disciplina consciente: capacidade que permite ao discente agir em conformidade
com normas, leis e regulamentos que regem a Instituição, voluntariamente, sem
necessidades de coação externa.
c. Valores
1) Aprimoramento técnico-profissional:
Esse aprimoramento contempla as áreas cognitivas, psicomotora e afetiva e é
sedimentada com o exercício profissional de suas atribuições.
2) Disciplina (dever do militar)
A disciplina é a rigorosa obediência às leis, aos regulamentos, normas e disposições.
Pressupõe a correção de atitudes na vida pessoal e profissional. Exige a pronta
obediência às ordens dos superiores e o fiel cumprimento do dever. (BRASIL, 2014,
p. 25).

Os diversos CA são objeto de pesquisas do Exército Brasileiro, devido à necessidade


14

de serem incorporados ao militar, construindo um profissional que apresente os valores,


atitudes e capacidades morais almejadas pela força terrestre para uma liderança militar. O
manual C 20-10 (2011) aborda alguns desses valores e atitudes que devem ser incutidos no
líder militar, como honestidade, lealdade, integridade, patriotismo, civismo, idealismo,
espírito de corpo, disciplina, aprimoramento técnico-profissional, coragem, autoconfiança,
equilíbrio emocional, criatividade, decisão, persistência e tato.
Líderes militares do passado, como Duque de Caxias são claros exemplos de
liderança, o Caderno de Instrução do Projeto de Liderança da AMAN (2011) relata como as
tropas brasileiras estavam acuadas ao serem arrojadas pelo inimigo na Batalha de Itororó, não
respondendo aos toques de corneta que ordenavam o avançar. Entretanto, tal cenário se
transformou drasticamente, quando Caxias ereto em seu cavalo com espada desembainhada
toma a frente do batalhão avançando sobre o inimigo, contagiando a todos, que partem em
uma carga irresistível, dizimando as forças oponentes.
Conforme o Caderno de Instrução de Liderança (2011), ainda na passagem citada,
Caxias demonstrou ser um exemplo de liderança, sendo evidentes alguns conteúdos
atitudinais determinantes para o sucesso no confronto, tais como: o equilíbrio emocional,
raciocinando com clareza em um momento de crise; iniciativa, agindo rapidamente para
atingir seu objetivo; decisão, não hesitando ao escolher a melhor linha de ação; e
principalmente coragem, pois controlou o medo e executou uma linha de ação perigosa
expondo-se excessivamente.

2.1.2 Treinamento Físico Militar

Quando um indivíduo entra para as Forças Armadas, ele passa a realizar as atividades
previstas no Plano de Instrução Militar (PIM), entre elas o treinamento físico militar,
denominado TFM, que conforme o manual EB20-MC-10.350 (2015) é uma atividade de
preparação física obrigatória a todo militar apto para o serviço ativo.
A prática regular de exercícios físicos é responsável por diversos benefícios, entre
eles, Benetti (1997) cita a prevenção de doenças cardiovasculares, onde há a redução da
frequência cardíaca de repouso e de exercício submáximo e da pressão arterial de indivíduos
hipertensos, além de modificações no funcionamento de fatos psicológicos, ao qual é possível
verificar alterações positivas no bem-estar, na autoconfiança, na tensão, na fadiga, no sono e
na libido.
15

Moraes et al. (2008) abordam que outra qualidade desenvolvida durante o TFM é a
potência aeróbica, que permite o sistema aeróbico gerar a maior quantidade possível de
energia.
No meio militar o treinamento físico, não tem apenas a qualidade de vida como
finalidade, tem por objetivo também, de acordo com o manual EB20-MC-10.350 (2015):
a) Desenvolver, manter ou recuperar a aptidão física necessária para o desempenho
das funções militares.
b) Contribuir para a manutenção da saúde do militar.
c) Cooperar para o desenvolvimento de atributos da área afetiva.
d) Contribuir para o desenvolvimento do desporto no Exército Brasileiro. (BRASIL,
2015, p.1-1).

Percebe-se a importância do TFM para o desenvolvimento de conteúdos atitudinais e


consequente eficiência profissional do militar, visto que o manual EB20-MC-10.350 (2015)
elenca diversos CA como fruto da prática do treinamento físico militar, entre eles: o espírito
de corpo, autoconfiança, camaradagem, coragem, decisão, equilíbrio emocional, liderança,
resistência e tolerância.
Conforme o manual EB20-MC-10.350 (2015), o bom condicionamento físico leva
também o militar a ter melhor rendimento em combate, pois eleva sua motivação e a
autoconfiança, promove também uma melhor recuperação de lesões e resistência às doenças.
Existem diversos relatos de exércitos em atividades de campanha em que os militares que
melhor suportam o estresse do combate são os com melhor aptidão física. (BRASIL, 2015).
Além disso, o treinamento físico pode proporcionar um melhor rendimento intelectual
e concentração nas atividades diárias, inclusive em atividades burocráticas, culminando em
um melhor desempenho profissional. (BRASIL, 2015).
Percebe-se que o TFM é um excelente instrumento para desenvolver a capacidade
intelectual, física e preparar o militar tanto para o combate quanto para atividades diárias,
evidenciando diversos CA.
Além disto, o C 20-10 (2011) afirma que ter uma boa aptidão física fará do
comandante um exemplo, conseguindo a confiança e a liderança de seus subordinados. Para
isso, o manual EB20-MC-10.350 (2015) cita que o Exército Brasileiro prevê por volta de uma
hora e trinta minutos de atividades físicas por dia, cinco vezes na semana, a fim de prevenir
agravos crônicos, como a obesidade e o sedentarismo, e manter o preparo físico e a saúde dos
militares em boas condições.
16

Figura 1: Treinamento Físico Militar na AMAN

Fonte: SEF/ AMAN, 2017.

Cada atividade do TFM tem por finalidade desenvolver um conjunto de CA que


passam a atuar de forma eficaz sobre o comportamento do indivíduo, delineando sua
personalidade. O desporto, por exemplo, segundo Domingues (2008) desenvolve qualidades
morais relacionadas com os CA como camaradagem, disciplina, espírito de luta, estabilidade
emocional, lealdade, sociabilidade, espírito de corpo e liderança. Além disso, Saavedra (2007)
afirma que por meio da prática desportiva adquire-se um comportamento moral e ético, visto
que se aprende a cooperar e competir de forma saudável.
Para Williams (2006) a melhor maneira de formar líderes é através do esporte, pois
desenvolve no indivíduo princípios e lições para uma vida de sucesso, como conquistar uma
ética de trabalho sólida, saber lidar com situações de pressão, autodisciplina, dedicação,
comprometimento e ter hábitos saudáveis, como boa alimentação e exercitar-se
frequentemente.
Além do aprimoramento individual, a atividade física muitas vezes proporciona
ganhos para um grupo. Domingues (2008) conclui que o desporto é uma atividade a ser
realizada de forma atraente, de modo a contribuir para o desenvolvimento de CA que irão,
dentro do aspecto psicossocial, proporcionar uma postura mais confiante diante de estressores
em geral. Além disso, no aspecto competitivo, o desporto liga o militar a coletividade e a
disputa, levando a obtenção de ganhos expressivos na área afetiva, tornando-o mais confiante.
17

De um modo geral, o TFM desenvolvido de forma coletiva, cria a necessidade da


figura de um líder que oriente e motive o grupo para determinado objetivo, como o gol no
futebol. Pode-se relacionar a coletividade com uma tropa e o líder com um comandante
militar, tendo como objetivo o cumprimento da missão.
Sendo assim, pode-se dizer que o TFM é uma atividade vital a ser desenvolvida nas
unidades do Exército Brasileiro, tanto pelo o desenvolvimento de CA e benefícios para saúde,
quanto por uma boa aptidão física, que será necessária em combate e acima de tudo
influenciará positivamente os subordinados.

2.1.3 Liderança Militar

Robbins (2005) afirma que “liderança é a capacidade de influenciar um grupo para


alcançar metas”. Para Singer (1977), a “liderança é entendida como uma relação de interação
entre a personalidade do indivíduo e a situação, uma vez que toda situação requer talentos
especiais para enfrentá-la e resolver os problemas que surgem dela”.
Segundo o Caderno de Instrução do Projeto de Liderança da AMAN (2011), no tempo
da Missão Militar Francesa (Século XX), dentro do Exército Brasileiro não se falava em
líderes, mas em chefes. Tais militares eram aqueles que atuavam junto a seus comandados
para motivá-los e conduzi-los ao cumprimento da missão, aplicando poucas medidas
coercitivas. Mais tarde surgiu o termo “líder”, que passou a gerar uma dúvida que existe ainda
nos dias atuais. Para alguns, chefiar significava exercer o comando previsto àquele militar
através de regulamento, enquanto que liderar envolvia o empenho em motivar o subordinado
a atuar conforme interesse próprio.
Percebe-se a complexidade do assunto, que há tempos confunde conceitos relativos à
liderança. Primeiramente, cabe ressaltar a diferença entre os termos “liderar”, “administrar” e
“chefiar”. Para Koontz, H & O’donnell (1979) liderar é o processo de influenciar um
indivíduo ou um grupo de pessoas em determinadas situações, sempre procurando atingir
metas e objetivos. Segundo o Caderno de Instrução do Projeto de Liderança da AMAN (2011)
administrar abarca a gestão financeira, de material e pessoal, e chefiar significa exercer a
autoridade legal ocupando o cargo que lhe foi delegado, onde os subordinados irão obedecer
às ordens devido à hierarquia existente. De um ponto de vista militar, o manual IP 20-10
(1991) destaca que a chefia militar refere-se à autoridade legal, a administração à gestão de
coisas e pessoas, e a liderança é à condução de seres humanos.
18

Alguns conceitos são de fundamental importância para melhor entendimento do


assunto liderança, são eles segundo o IP 20-10 (1991):
Área Afetiva – Um dos domínios do comportamento humano que compreende todos
os aspectos relacionados com valores, atitudes, interesses e emoções.
Atitudes – São predisposições aprendidas de fundo emocional, para pensar, sentir,
perceber e agir consistentemente de maneira favorável ou desfavorável, em relação a
pessoas, conceitos ou fatos.
Caráter- Soma total dos traços de personalidade que dão consistência ao
comportamento e tem por base as crenças e valores, sendo o fator preponderante nas
decisões e no modo de agir de qualquer pessoa.
Crenças – São suposições ou convicções julgadas verdadeiras a respeito de pessoas,
conceitos ou fatos.
Ética militar – É o conjunto de regras ou padrões que leva o profissional militar a
agir de acordo com o sentimento do dever, dignidade militar e decoro da classe.
Interesses – São atitudes favoráveis em relação a objetos e a ideia.
Motivação - É a força interna que emerge, regula e sustenta todas as ações humanas.
E o impulso interior que leva as pessoas a realizarem coisas.
Normas – São padrões, regras e diretrizes usadas para dirigir o comportamento dos
membros de um determinado grupo.
Valores- Representam o grau de importância atribuído, subjetivamente, às pessoas,
aos conceitos ou aos fatos. (BRASIL, 1991, p.4).

Segundo o manual C 20-10 (2011), liderança militar é a influência exercida de um


líder sobre seus liderados na medida em que são criados vínculos afetivos entre eles, desse
modo, os objetivos de uma organização militar são mais facilmente alcançados.
A liderança é necessária em todos os tipos de organizações, o Exército Brasileiro é
uma delas. Um líder deve saber conduzir seu grupo e para isso, precisa constantemente
aprimorar seus conhecimentos e habilidades em prol de um objetivo, transparecendo
confiança para seus liderados. De acordo com livro A Arte da Guerra de Sun Tzu (2006), o
que fará o soldado avançar ou recuar em batalha será a benevolência de seu líder militar, pois
se o subordinado perceber que seu comandante o cuida como filho, ele o amará como um pai.
Entretanto um líder não surge do nada, segundo o Caderno de Instrução do Projeto de
Liderança da AMAN (2011) para liderar é preciso ter credibilidade, conhecida como a chave
da liderança, e esta é obtida através da confiança dos seus subordinados. Para conquistá-la, o
mesmo Caderno de Instrução cita que três qualidades são essenciais: competência
(conhecimento e experiências), caráter e senso moral. As condutas e atitudes de um militar
que haja pautado nessas qualidades garantirá o respeito de seus liderados, proporcionando o
surgimento de um vínculo entre eles, ou seja, a manutenção dos padrões éticos e morais são
fundamentais para o líder se tornar uma referência e um bom exemplo para o resto do grupo.
Vieira (2002) afirma que nenhum aspecto da liderança, seja instrução intensiva ou forma de
disciplina, supera a influência exercida pelo exemplo pessoal do líder.
19

Luiz Carlos Vicentini (2015) em sua tese de pós-graduação referente à liderança no


BOPE de Santa Catarina afirma também que a liderança se dá pelo exemplo e que os
integrantes do Batalhão têm isto como um “mantra”, alegando que um líder exemplar tem
influência sobre seus liderados de forma natural, sem imposição.
Nota-se que a liderança de um indivíduo é estabelecida aos poucos, baseada, segundo
o manual C 20-10 (2011), em quatro fatores primordiais: a situação, o líder, os liderados e a
comunicação (interação). Ou seja, as relações interpessoais, com bom senso, competência
profissional e um comandante que apresente traços de liderança, fomentam uma boa interação
entre líder e liderado. Segundo Vieira (2002, p.37) entre tais traços “revelam-se mais
influentes os seguintes: a apresentação (aparência), a coragem, a capacidade de decisão, a
confiança (segurança), a capacidade de resistência, o entusiasmo, a iniciativa, a integridade, o
discernimento, o espírito de justiça, a competência, a lealdade, o tacto e a generosidade.”.
Desta forma, atuando como condutor de homens, em um ambiente de respeito e
confiança, o líder será capaz de orientar o comportamento e atitudes de seus subordinados na
obtenção de resultados pretendidos.
Além disso, segundo o General Edward M. Flanagan Jr. “O mais importante preceito
da liderança é que se pode aprender a como ser líder” (VIERA, 2002, p. 8), ou seja, liderar é
um processo a ser aprendido e executado cotidianamente, onde se deve saber interagir, decidir
e se comunicar com o grupo para persuadir os subordinados.

2.1.3.1 Os Pilares Da Liderança

O líder deve buscar constantemente melhorar suas qualidades e deve possuir o


conhecimento das suas capacidades e limitações para garantir o respeito, confiança e
consequente credibilidade de seus homens. Para isso, segundo o manual C 20-10 (2011) o
líder deve saber, ser e fazer, além de interagir com o grupo e com a situação, fatores que
garantem a credibilidade do líder militar.
Desta forma basicamente três pilares estabelecem a liderança militar: a proficiência
profissional (saber); o senso moral e traços de personalidade (ser); e atitudes adequadas
(fazer), conforme a figura abaixo:
20

Figura 2 – Pilares da liderança

Fonte: Manual de Liderança Militar C20-10,2011.

O primeiro pilar “saber”, diz respeito a proficiência profissional, que consiste no


conhecimento evidenciado pelo militar em relação a sua profissão, bem como em relação aos
seus subordinados, de modo a estabelecer uma comunicação eficaz para estar à frente dos
trabalhos realizados.(BRASIL, 2011).
O segundo pilar é o “ser”, e diz respeito ao senso moral, diferenciando o militar que
ultiliza o cargo que lhe foi delegado para exercer uma influência positiva, daquele que se
utiliza apenas em prol de vantagens pessoais (BRASIL, 2011).
O terceiro pilar, “fazer”, são as atitudes adequadas evidenciadas no dia-a-dia de um
líder e como ele irá agir em situações de normalidade ou de crise, empregando as
competências e valores de sua personalidade. (BRASIL, 2011).
Desta forma, as condutas seguidas irão diferenciar uma ação meramente de comando
de uma efetiva liderança de fração.

2.1.4 Treinamento Físico Militar e Liderança

É evidente que o TFM é responsável pelo desenvolvimento de uma série de CA. Um


comandante de fração que realize dois tempos de instrução ou 90 minutos de treinamento
físico, com uma frequência ideal de cinco sessões semanais, desenvolve junto a sua tropa uma
série de CA como: espírito de corpo, autoconfiança, coragem, decisão, equilíbrio emocional e
resistência. (BRASIL, 2015).
Desta mesma forma, segundo Ferreira (2004), um comandante de fração deve
apresentar uma série de CA para alcançar a liderança militar, são eles: resistência,
cooperação, decisão, equilíbrio emocional, iniciativa, organização, responsabilidade, zelo,
rusticidade e coragem. Tais conteúdos são conceituados baseados no manual C 20-10 (2011),
onde o líder deve evidenciar: resistência, suportando a fadiga física ou as adversidades
21

psicológicas (resistência mental); cooperação, partindo do princípio de que o resultado dos


esforços de um grupo são maiores do que o resultado da soma dos esforços das pessoas
individualmente; decisão, pois o líder deve decidir com rapidez de raciocínio, sendo que os
danos causados pela sua decisão podem ser maiores do que por sua omissão; equilíbrio
emocional, para avaliar com calma uma situação e decidir com acerto e oportunidade sem
interferência de emoções; iniciativa, para agir quando necessário sem a determinação de
superiores, buscando sempre alcançar as metas estabelecidas; organização, planejando de
forma ordenada as missões, facilitando o cumprimento das mesmas; responsabilidade,
assumindo as consequências por suas atitudes e levando o líder a perseguir seus objetivos;
zelo, demonstrando cuidando com material e pessoal; rusticidade, para cumprir missões que
exijam maior vigor físico; e coragem, para controlar seus medos (coragem física) e defender
seus valores (coragem moral), de modo a serem admirados e imitados por seus liderados.
Nota-se então, a semelhança dos conteúdos atitudinais desenvolvidos em atividades
físicas com aqueles a serem apresentados pelo comandante para desempenhar suas funções,
de forma a ser visto como um líder por seus subordinados.
Há diversas atividades do TFM a serem exploradas pelo comandante de fração para
que ele possa influenciar seus subordinados e ser visto como um líder. Então, é de suma
importância para o oficial ser detentor de todas as habilidades necessárias para atividade,
ganhando credibilidade e sendo visto como um exemplo de excepcional militar perante a
tropa.

2.2 Referencial Metodológico e Procedimentos

Visando confirmar o exposto pela literatura, foi formulado o seguinte problema de


pesquisa: os conteúdos atitudinais desenvolvidos pelo treinamento físico militar influenciam
na liderança militar dos comandantes de fração?
Parte-se da hipótese de que o comandante necessita de diversas características que
compõe a sua personalidade para desempenhar suas funções com liderança, entre elas estão os
valores, atitudes e capacidades morais, que caracterizam os conteúdos atitudinais. Também,
entende-se que a prática do TFM desenvolve diversos CA necessários a liderança. Sendo
assim, há influência do TFM no exercício da liderança dos comandantes de fração.
22

Levando em consideração essa possibilidade, tem-se que objetivo do trabalho é


analisar se há influência do TFM no exercício da liderança dos comandantes de fração por
meio dos conteúdos atitudinais.
Visou-se explicar os conceitos relativos aos conteúdos atitudinais a serem
identificados em todos os militares, especificando posteriormente aqueles desenvolvidos pelo
treinamento físico militar e os necessários para o exercício da liderança dos comandantes de
fração.
Com o propósito de operacionalizar a pesquisa, adotamos os procedimentos
metodológicos descritos a seguir.
Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental a fim de rever a
literatura que fornecesse base teórica para prosseguir na pesquisa. Desse levantamento,
destacam-se as informações contidas nos manuais doutrinários e portarias do Exército
Brasileiro, além de artigos de autores conceituados, revistas, sites e livros sobre o assunto.
A primeira constatação foi de que até o momento um número razoável de títulos sobre
os assuntos treinamento físico militar e liderança foram editados. Quanto à qualidade das
fontes encontradas, pode-se dizer que os manuais, portarias e legislações de autoria do
Exército Brasileiro são confiáveis, devido à credibilidade da Força no cenário atual.
Entretanto, diversos artigos e monografias se baseiam em obras antigas e realizam pesquisas
com métodos que possuem algumas limitações.
A fim de analisar o objetivo em questão, foi realizada uma pesquisa descritiva, que
segundo Souza Neto (2007, p.110) trata-se da “descrição das características de determinada
população ou fenômeno, bem como o estabelecimento de relações entre variáveis e fatos”. Foi
utilizado como cenário a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), visto que é o
estabelecimento de Ensino responsável pelo Curso de Formação e Graduação de Oficiais de
Carreira da Linha de Ensino Militar Bélico do Exército Brasileiro, futuros comandantes de
frações, além de ser um local de constante exercício de TFM e de atividades que visam
desenvolver conteúdos atitudinais, principalmente a liderança militar.
Entre essas atividades estão os exercícios de terreno conduzidos pela Seção de
Instrução Especial (SIEsp) que, conforme a Revista de Formação Turma Sesquicentenário da
Batalha de Tuiuti (2016), tem como missão realizar Estágios de Instrução Especial para os
cadetes da AMAN, com intuito de simular uma situação semelhante ao combate real,
impondo extremas dificuldades físicas e pressão psicológica com o objetivo de desenvolver
competências referentes aos conhecimentos, habilidades e, principalmente, atitudes. A mesma
revista descreve os quatro estágios referentes aos quatro anos de formação acadêmica, onde os
23

cadetes do 1º ano realizam o Estágio Básico do Combatente de Montanha, conhecendo e


executando trabalhos em ambiente operacional de montanha, como escalada de rotas e
evacuação de feridos; os cadetes do 2º ano realizam o Estágio de Vida na Selva e Técnicas
Especiais, com instruções típicas do ambiente de selva, como obtenção de água e fogo e
construção de abrigos; os cadetes do 3º ano realizam o Estágio de Patrulha de Longo Alcance
com Características Especiais, com a execução de patrulhas de combate em um quadro de
guerra regular que culminam com a evasão do território inimigo; e por fim, os cadetes do 4º
ano executam o Estágio de Operações Contra Força Irregular, com planejamento e realização
de operações de amplo espectro, tais como patrulhamento urbano e ocupação de ponto forte.

Figura 3: Estágio Básico do Combatente de Montanha

Fonte: Site da DefesaNet, 2014.1

1
Disponível em < http://www.defesanet.com.br/doutrina/noticia/15860/Academia-Militar-das-Agulhas-Negras-
conduziu-o-Estagio-Basico-do-Combatente-de-Montanha/> Acesso em: 21 jun. 2017.
24

Figura 4: Estágio de Vida na Selva e Técnicas Especiais

Fonte: Site do Cunha Eventos, 2016.2

Figura 5: Estágio de Patrulha de Longo Alcance com Características Especiais

Fonte: Site da Defesa Aérea e Naval, 2016.3

2
Disponível em: <https://www.cunhaeventos.com/selva-2ano>. Acesso em: 21 jun. 2017.
3
Disponível em: <http://www.defesaaereanaval.com.br/tag/aman?print=print-page>. Acesso em: 21 jun. 2017.
25

Figura 6: Estágio de Operações Contra Força Irregular

Fonte: Blog de Paula Mariane, 2017.4

Outra atividade realizada na AMAN é o Exercício de Desenvolvimento de Liderança


(EDL) conduzido por cada curso durante o 3º ano da formação. Este exercício de terreno tem
por finalidade analisar o desenvolvimento de conteúdos atitudinais como autoconfiança,
cooperação, criatividade, decisão, entusiasmo profissional e iniciativa, considerados, pelo
Centro de Estudos de Pessoal (CEP), essenciais para o exercício da liderança. (C 20-10/3,
2006).
Cabe fazer um ressalto em relação ao TFM realizado na AMAN, que segundo o
Apêndice 1 das Normas Internas de Avaliação de Aprendizagem (NIAA) da AMAN (2014),
tem por finalidade desenvolver as atitudes necessárias ao futuro comandante de fração, além
de prepará-lo fisicamente e emocionalmente para lidar com situações de semelhante esforço.
No referido Apêndice também consta que os cadetes devem realizar durante seus
quatro anos de formação as Avaliações de Controle (AC)- TAF duas vezes ao ano, que são
divididos em três disciplinas: TFM 1, com testes utilitários; TFM 2, com testes
neuromusculares; e o TFM 3, com testes cardiopulmonares. Abaixo estão a constituição e
modo de realização das provas. Cabe ressaltar, que recentemente houve atualizações de
algumas provas, entretanto a amostra observada do ano 2016 ainda realizou conforme o
antigo Apêndice.

4
Disponível em: <http://paulamariane.com.br/blog/>. Acesso em: 21 jun. 2016.
26

Quadro 1 – Provas de TFM da AMAN

ANO 1ª Avaliação de Controle 2ª Avaliação de Controle Grupo


1ª AC TFM 1 – 50m de 1º 2ª AC TFM 1 – 1º
Utilitário
Natação DIA 100m de Natação DIA
1ª AC TFM 2 – 2ª AC TFM 2 –
1º Neuromuscular
Abdominal supra 2º Flexão na barra fixa 2º
1ª AC TFM 3 – 3000m DIA 2ª AC TFM 3 – DIA
Cardiopulmonar
Corrida 3000m Corrida
1ª AC TFM 1 – 150m 1º 2ª AC TFM 1 – 1º
Utilitário
de Natação DIA 200m de Natação DIA
1ª AC TFM 2 – Subida 2ª AC TFM 2 –
2º Neuromuscular
na corda 2º Flexão de braço 2º
1ª AC TFM 3 – Corrida DIA 2ª AC TFM 3 – DIA
Cardiopulmonar
400m Corrida 4000m
1ª AC TFM 1 – Salto da
1º 1º
Plataforma + Natação 2ª AC TFM 1 – PPM Utilitário
DIA DIA
Utilitária 50m
3º 1ª AC TFM 2 – 2ª AC TFM 2 –
Neuromuscular
Abdominal supra 2º Flexão na barra fixa 2º
1ª AC TFM 3 – Corrida DIA 2ª AC TFM 3 – DIA
Cardiopulmonar
rústica fardado 4000 m Corrida 5000m
1ª AC TFM 1 – Salto da
Plataforma + Nado 1º 2ª AC TFM 1 – PPM 1º
Utilitário
Submerso Fardado 7m + DIA + Flexão na Barra DIA
Natação Fardado 50m
4º 1ª AC TFM 2 – Subida 2ª AC TFM 2 –
na Corda (Calça e Abdominal supra + Neuromuscular
2º 2º
Coturno) Flexão de braço
DIA DIA
1ª AC TFM 3 – Corrida 2ª PF TFM 3 –
Cardiopulmonar
rústica fardado 5000 m Corrida 3200 (TAF)
Fonte: Apêndice 1 às NIAA da AMAN (2014, p .4)
27

Figura 7: Pista de Natação Utilitária (PNU), exemplo de TFM 1

Fonte: Site da AMAN,2017.5

Figura 8: Subida na corda, exemplo de TFM 2 (neuromuscular)

Fonte: SEF/ AMAN, 2017.

5
Disponível em: <http://www.aman.eb.mil.br/noticias/comando-da-aman/termina-a-66a-olimpiada-academica-
na-aman/@@nitf_custom_galleria?ajax_include_head=1&ajax_load=1>. Acesso em: 21 jun. 2016.
28

Figura 9: Corrida rústica fardado, exemplo de TFM 3

Fonte: SEF/ AMAN, 2017

Desta forma, a abordagem utilizada foi a quantitativa, pois o estudo está dirigido à
análise direta de dados, demonstração e generalização em razão da representatividade
numérica. Foi adotado como instrumento de coleta de dados o levantamento, devido a
necessidade de analisar, quantitativamente, as características de uma população. Foi levantado
uma amostra de 54 cadetes da AMAN, sendo eles, 32 destaques dos quatro estágios da SIEsp
(oito por estágio) do ano de 2016 e, no mesmo ano, os 22 cadetes destaques do 3º ano do
EDL e seus respectivos resultados nas Avaliações de Controle (AC) de TFM do corrente ano.
Entretanto a análise será realizada em uma amostra de 50 cadetes, visto que quatro cadetes
são destaques de ambos os exercícios.
Outra análise realizada foi com os destaques do EDL do 3º ano (22 cadetes) e da
SIEsp do 3º ano (8 cadetes) do ano de 2016, sendo quatro destaques em ambos exercícios,
totalizando uma amostra de 26 cadetes, onde suas notas do TAF foram correlacionadas no
âmbito da turma, composta de 405 cadetes (com exceção dos militares destaques).
O objetivo foi levantar os cadetes que se destacaram em cada exercício e que
evidenciaram assim os conteúdos atitudinais propostos pelas atividades (ambas relacionadas
com o desenvolvimento da liderança), e verificar se existem possíveis tendências de relação
com o desempenho obtido nas provas de TFM.
No tratamento dos dados coletados trabalhou-se com a análise estatística descritiva.
Cabe ressaltar que este tipo de estatística procura somente descrever e interpretar certa
amostra, sem, entretanto, poder generalizar as conclusões destes dados. (SILVESTRE, 2007).
29

Dessa forma, o trabalho apresenta tendências retiradas a partir da observação de dados


avaliados através de métodos gráficos (apresentação gráfica e tabular).
Além disso, na análise dos dados, os resultados foram confrontados com as teorias
abordadas na revisão da literatura.
30

3 RESULTADO E ANÁLISE DE DADOS

Neste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa descritiva realizada com


cadetes da AMAN. Será verificada a correlação entre os cadetes destaques na SIEsp e no EDL
com suas respectivas notas de TAF, para mensurar os dados até então expostos, procurando
evidenciar a influência do TFM no exercício da liderança.

3.1 Resultados

Na busca por uma resposta ao problema que norteou a pesquisa, chegou-se aos
resultados que se seguem. Para isso foram confeccionadas as seguintes tabelas e gráficos:

Tabela 1: Notas de TAF dos cadetes destaques do EDL e dos quatro estágios da SIEsp no ano
de 2016.
(Continua)
NR DA AMOSTRA TFM I TFM II TFM III MÉDIA
1 8,3 10 8,3 8,9
2 8 10 9,8 9,3
3 9,3 10 9,8 9,7
4 7 9,5 8 8,2
5 9,8 10 9,5 9,8
6 9,5 8,5 9,5 9,2
7 10 10 9,5 9,8
8 9,8 8,8 9,5 9,4
9 9 9,8 10 9,6
10 10 10 10 10
11 8,5 8,8 7 8,1
12 8,5 9,5 8,3 8,8
13 7,3 9,5 6 7,6
14 8,3 10 10 9,4
15 6,8 8 7,8 7,5
16 7,3 9,8 7,3 8,1
17 6 6 5,5 5,8
18 7,3 8,8 8,8 8,3
19 8 8,8 6,8 7,9
20 9,5 9,5 6,8 8,6
21 7,8 10 6,8 8,2
31

Tabela 1: Notas de TAF dos cadetes destaques do EDL e dos quatro estágios da SIEsp no ano
de 2016.
(Conclusão)
NR DA AMOSTRA TFM I TFM II TFM III MÉDIA
22 8,5 9 5,3 7,6
23 9,3 9,3 9,5 9,4
24 6,3 7,8 8,5 7,5
25 7,3 9,5 10 8,9
26 8,5 9 6 7,8
27 8,8 7,5 10 8,8
28 7,3 10 10 9,1
29 7,3 6,3 10 7,9
30 7,8 10 10 9,3
31 9,5 10 9,3 9,6
32 6 10 8 8
33 7,8 10 10 9,7
34 9 10 8,5 9,2
35 10 10 9,5 9,8
36 6,3 10 9 8,4
37 6,8 7,8 7 7,2
38 10 10 8,5 9,5
39 7,8 9,5 9,8 9,0
40 7,5 9,5 8 8,3
41 8 10 10 9,3
42 10 10 10 10
43 6 4 6,8 5,6
44 8,8 7,8 9,8 8,8
45 8,8 9,8 9,5 9,4
46 7,1 9,8 8,5 8,5
47 9,2 10 10 9,7
48 8,5 9,8 9,5 9,3
49 10 10 10 10
50 8,1 9,3 8,5 8,6

Fonte: o autor.

A tabela acima se refere à primeira análise, que mostra as notas de TAF de 50 cadetes,
entre eles, destaques do EDL e dos quatro estágios Seção de Instrução Especial no ano de
2016, além da média aritmética entre as provas. Conforme o Art. 175 da NIAA da AMAN
(2014) é possível mensurar o rendimento escolar do cadete a partir das suas notas, conforme
tabela abaixo.
32

Tabela 2: Relação entre menção e nota


MENÇÕES NOTAS
Insuficiente I De 0,0 a 4,9
Regular R De 5,0 a 5,9
Bom B De 6,0 a 7,9
Muito Bom MB De 8,0 a 9,4
Excelente E De 9,5 a 10,0
Fonte: NIAA da AMAN.

Gráfico 1: Proporção da menção do TAF dos cadetes destaques dos quatro estágios da SIEsp e EDL

Menção de TAF dos cadetes destaques

Excelente
Muito Bom
Bom
Regular
Insuficiente

Fonte: o autor

Segundo a amostra, 12 cadetes (24%) possuem menção Excelente, 28 cadetes (56%)


menção Muito Bom, 08 cadetes (16%) menção Bom, 02 cadetes (4%) menção Regular e
nenhum cadete com menção Insuficiente.
33

Gráfico 2: Relação das menções do TAF da turma (menos os destaques) de cadetes de 2016 com os destaques na
SIEsp e no EDL do mesmo ano

Menção do TAF : turma x destaques do 3º ano


de 2016
60
50
40
30
20
10
0
Excelente
Muito Bom
Bom
Regular
Insuficiente

Menção da Turma Menção dos destaques

Fonte: o autor

Nesta segunda análise, o gráfico apresenta as menções do TAF da turma de 2016


(menos cadetes destaques), totalizando 405 cadetes, onde: 30 cadetes (7,4%) possuem menção
Excelente; 157 cadetes (38,8%) menção Muito Bom; 207 cadetes (51,1%) menção Bom; 10
cadetes (2,5%) menção Regular; e um cadete (0,2%) menção Insuficiente. Além disso, faz
uma comparação com as menções de TAF dos destaques da SIEsp e EDL da mesma turma no
mesmo ano, totalizando 26 cadetes, onde: 6 cadetes (23,2%) possuem menção Excelente; 14
cadetes (53,8%) menção Muito Bom; 5 cadetes (19,2%) menção Bom; um cadete (3,8%)
menção Regular; e nenhum menção Insuficiente.

3.2 Análise de dados

Cabe ressaltar que o levantamento de dados foi realizado em um grupo que está
diretamente relacionado com o tema proposto por este trabalho, cadetes da AMAN, visto que
são militares que executam o TFM diariamente e que em breve estarão à frente de suas
frações, devendo exercer a liderança perante seus subordinados. Logo, a análise está
embasada em dados de um público que desenvolve diariamente os conteúdos atitudinais
necessários a um líder, dando credibilidade às tendências a serem apresentadas.
Ao analisar o Gráfico 1 em relação às menções dos cadetes destaques no EDL e nos
34

quatro estágios da SIEsp no ano de 2016 pode-se evidenciar principalmente que: 24% dos
cadetes possuem a menção Excelente, ou seja, uma parte considerável da amostra possui o
melhor desempenho possível no TAF, que exige dedicação e empenho acima da média; além
disso, a maior parte da amostra (56%) possui a menção Muito Bom, um desempenho difícil
de se alcançar. Percebe-se então que, a maioria da amostra (80%) possui um desempenho
elevado no TAF. Dessa forma, é possível notar uma tendência, com uma correlação positiva,
onde os militares que se destacam no EDL e na SIEsp, por demonstrar conteúdos atitudinais
exigidos por esses exercícios, principalmente a liderança, em sua maioria possuem um alto
grau no TAF, atividade que desenvolve diversos conteúdos atitudinais exigidos para um líder,
conforme citado na revisão da literatura.
No Gráfico 2, foi realizada uma comparação das menções do TAF dos cadetes
destaques no EDL e na SIEsp com a população da sua turma de formação (menos os
destaques) do 3º ano de 2016. Feita a análise de 26 destaques em uma população de 405
cadetes, destaca-se principalmente que: a menção Excelente foi atingida por 23,2% dos
cadetes destaques, enquanto que na turma apenas por 7,4%; além disso, a maior parte das
menções dos destaques enquadra-se em Muito Bom (53,8%), enquanto que na turma,
enquadra-se em Bom (51,1%); por fim 77% dos cadetes destaques possuem menções
Excelente e Muito Bom, contra apenas, 46,2% do restante da turma. Dessa forma, conclui-se
que os cadetes destaques possuem no geral melhor desempenho no TAF que os não
destaques, onde uma pequena parcela da turma atingiu o desempenho máximo e a maior parte
enquadra-se no desempenho Bom, enquanto que , uma grande parte dos destaques atingiram a
menção Excelente e na sua maioria obtiveram menção Muito Bom.
Dessa forma, a partir do desempenho do TAF dos militares destaques em comparação
com o desempenho do restante da turma, verifica-se uma tendência dos militares que se
destacam possuírem melhores notas no TAF. Assim, percebe-se uma correlação entre o TFM,
atividade que desenvolve conteúdos atitudinais, como a liderança, e os exercícios que
desenvolvem e visam observar a liderança do militar. Onde os militares com melhores notas
no TAF, tendem a se destacar nesses exercícios. Portanto, prova-se uma tendência do TFM
influenciar no exercício da liderança do comandante de fração.
35

4 CONCLUSÃO

A pesquisa teve como objetivo evidenciar se há influência do treinamento físico


militar no exercício da liderança pelos comandantes de frações por meio dos conteúdos
atitudinais.
Em um primeiro momento, através de uma pesquisa bibliográfica e documental, foram
evidenciados os CA desenvolvidos na prática do TFM, conforme o Manual EB20-MC-10.350
e autores como Domingues, verificando-se uma semelhança com os CA necessários à um
líder militar, segundo Centro de Estudos de Pessoal (CEP) , o Manual C 20-10 e autores como
Ferreira, quais sejam espírito de corpo, autoconfiança, coragem, decisão, equilíbrio
emocional, resistência, lealdade, entre outros demonstrado no presente trabalho. Dessa forma,
conclui-se que de maneira geral o treinamento físico agrega valores a seus praticantes,
colaborando para o exercício da liderança.
Em um segundo momento, através da pesquisa descritiva realizada com cadetes,
observou-se pela estatística descritiva que os militares que se destacam nas atividades de
terreno como SIEsp e EDL possuem de forma geral alto grau de desempenho no TAF,
sobressaindo-se perante os militares não destaques. Este resultado prova uma tendência:
militares com melhor desempenho em atividades físicas desenvolvem melhor os CA
necessários para liderança, prova disso, é o destaque alcançado em atividades de campanha
que buscam desenvolver e evidenciar CA de um líder militar.
Diante dos resultados obtidos, é notório que o TFM é uma excelente ferramenta para o
desenvolvimento de CA necessários a um líder. Assim, destaca-se o êxito dos processos
utilizados pelo Exército Brasileiro, que ao determinar o treinamento físico militar como
atividade obrigatória nas Organizações Militares, fomenta a busca pelo crescimento
profissional dos militares, em especial ao comandante de fração no que tange a liderança.
Dessa forma, é possível corroborar a hipótese do trabalho, visto que um militar
necessita apresentar diversas características, entre elas valores, atitudes e capacidades morais
que sintetizam os conteúdos atitudinais, para exercer uma boa liderança. Tais CA são
desenvolvidos pelo TFM, influenciando assim na liderança do comandante de fração,
conforme evidenciado nos capítulos anteriores.
Os objetivos do presente estudo foram, de maneira geral, alcançados, podendo servir
de fonte de consulta para trabalhos futuros referentes ao assunto. Entretanto, é interessante o
desenvolvimento de estudos adicionais buscando-se melhor compreensão da temática tratada.
36

Além disso, é consoante citar a possibilidade de utilização do Projeto de Avaliação e


Acompanhamento de Área Atitudinal (P4A) da AMAN, instrumento que tem por finalidade
mensurar os Componentes Atitudinais definidos pelo Departamento de Ensino e Pesquisa
(DEP) do Exército Brasileiro, para criação de um possível fator de liderança, visto que
Baptista (2013) cita que o P4A “pode ser um instrumento de grande valia para uma avaliação
sistemática e objetiva dos componentes atitudinais nos cadetes”.
Conclui-se então que o TFM como desenvolvedor de conteúdos atitudinais inerentes
ao líder militar jamais deve ser dissociado da temática liderança, sendo um facilitador e um
meio saudável do comandante de fração conquistar a confiança e credibilidade do
subordinado orientando-os ao cumprimento da missão. Desta forma, contribui de
sobremaneira para o bom funcionamento da instituição Exército Brasileiro e seus
componentes.
37

REFERÊNCIAS

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Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti. São Paulo: Forma Print, 2016.

ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS. Seção de Doutrina e Liderança.


Caderno de Instrução do Projeto Liderança. Resende: Acadêmica, 2011.

ARAÚJO, D. S. M.; ARAÚJO, C. G. S. Aptidão física, saúde e qualidade de vida relacionada


à saúde em adultos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 6, n. 5, p. 194-203, 2000.

BAPTISTA, Igor Carlos. O Projeto de Avaliação e Acompanhamento de Área Atitudinal


como indicador na formação do Oficial combatente do Exército Brasileiro. Anuário da
Academia Militar das Agulhas Negras, n. 3, 2013.

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