Os Doze Trabalhos de Hercules

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

Os doze trabalhos de Hércules

O estoicismo afirma que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos


divino. Eles acreditavam que Hércules não existiu, mas que era uma representação
simbólica da força interior humana que impelia cada ser a buscar sua verdadeira
natureza. Ou seja, ser fiel a si e a cumprir sua missão dada pelo Logos divino.
Hércules usava uma pele de Leão, o Leão da Neméia e uma maça como arma. O
Leão que representa a natureza da realeza e da nobreza de seus atos e a maça que é uma
arma que demanda grande esforço físico, mas que possui um golpe potente.

O Primeiro trabalho: Matar o Leão da Neméia

O desafio de Hércules foi vencer o Leão de


pele invulnerável. Ele é aconselhado por Atena
a não usar armas. Hércules vence estrangulando
este leão. O mito nos ensina que devemos
dominar os nossos instintos desequilibrados de
forma justa, mas com leveza e harmonia. A pele
do Leão simboliza que ele venceu seu EGO
selvagem e vestiu-se com seu EGO
harmonizado.

A luta de Hércules contra o Leão de Nemeia representa


a constante luta que temos para conter a fera que mora
dentro de nós, ao mesmo tempo que preservamos nosso
instinto vital e criativo. O leão está sempre associado à
realeza e, mesmo em sua forma destrutiva, é o rei dos
animais, egocêntrico e selvagem, o princípio infantil. Dessa
forma, sempre que derrotamos e vestimos a pele do leão, as
opiniões dos outros que antes nos intimidavam, já não tem
mais valor, pois estamos vestidos com uma poderosa
couraça, nossa própria identidade.
No entanto, por mais heróica que seja, a pele do leão sempre representa o
egocentrismo, a dificuldade de lidar com a frustração e com a raiva contida. Não
sabemos lidar com a frustração por não conseguirmos o que queremos, pela auto-
importância inflamada e o orgulho desmedido. Entretanto quando dominamos essa fera
que mora em nós, podemos utilizá-la de forma construtiva. As conquistas e vitórias
exigem que deixemos para trás as couraças, que carregam uma alma sem paixão.

O Segundo trabalho: Matar a Hidra de Lerna

Hércules deve matar um monstro de nove


cabeças. Cada cabeça da Hidra representa um
defeito que deve ser destruído. O Número 9 em
algumas tradições representa o primeiro degrau na
escada da iluminação.

Por exemplo, nove são o número de virtudes que o povo nórdico deveria possuir
para ter o direito de entrar em Valhalla (o paraíso dos deuses). Nesta tarefa, Hércules é
ajudado pelo seu sobrinho Iolaus. É ele quem pega uma tocha e queima as feridas das
cabeças que Hércules decepava para que eles não se regenerassem. Iolaus é o aspecto
que nos lembra que devemos compreender estes defeitos e eliminá-lo no mais profundo
de nossa mente.

Curiosidade: A Hidra foi criada por Hera para


destruir Hércules. Quando Hera percebeu que Hércules
venceria enviou um enorme caranguejo para matá-lo,
porém Hércules pisou em cima dele que se converteu na
constelação de Câncer.

A Hidra e suas nove cabeças. Ela tinha a incrível


capacidade de regenerar-se se tornando um ser quase
imortal.
Conta-se que a Hidra morava numa caverna
que representa o nosso interior ruim, nossas
paixões e defeitos, ambições e vícios, o que
existe de ruim dentro do nosso mundo interior.
Enquanto a Hidra, que representa esse monstro
interior, não for dominada, enquanto nossas
vaidades, futilidades e ostentações não forem
dominadas, as cabeças continuam crescendo
cada vez mais.

Hércules nos ensina que devemos enfrentar o lado bestial que vive em todos nós.

O Terceiro trabalho: Capturar a corça de Cerinia

A missão de Hércules era


capturar viva uma corça
extremamente veloz. Ele teve que
ter paciência e persegui-la por um
ano quando finalmente ela se
cansou. Ele a dominou segurando
pelos chifres. O chifres representam
a conexão com o que é de cima: o
Sagrado.

Os pés de bronze dela representavam a conexão com o material. Hércules nos


ensina que devemos ter paciência para domar nossos impulsos e substituí-los por
qualidades mais nobres.
O Arcano da Força no Tarot é uma representação desde grau iniciático. Este Arcano
representa a força de caráter sem qualquer esforço físico. A força justamente está em ter
paciência e resistência para domar aquele instinto animal.

Vemos que o Leão abre a boca, sozinho. A mulher olha distraída para frente, sem
fazer força, pois dominou seus instintos primitivos e os utiliza a seu favor.

Hércules dominando a corça pelos chifres.

Hércules captura a Corça de Cerínia que representa sua libertação interior. Sua
estupenda vitória, após um ano de tenaz perseguição, apossando-se da corça de cornos
de ouro e pés de bronze. Esta conquista configura a busca da sabedoria, tão difícil de se
conseguir.
O simbolismo dos pés de bronze há de ser interpretado a partir do próprio metal.
Enquanto sagrado, o bronze isola o animal do mundo profano, mas, enquanto pesado, o
escraviza à terra (Malkut - Matéria).

O Quarto Trabalho: Capturar o Javali de Erimanto

Hércules deve capturar o gigantesco javali que


vivia na região de Erimanto. Ele levou dois anos para
conseguir deter o animal que invadia as casas e destruía
tudo. Este mito nos ensina que devemos conhecer
nossos limites, vencer nossos padrões de egoísmo que
destrói tudo que é dos outros e a controlar os impulsos
agressivos.

Domar o Javali de Erimanto representa reconhecer os limites e domínio dos


impulsos. Este mito está ligado ao aprendizado da vida em sociedade. O javali é um
monstro sem fronteiras, que não respeita limites. Cada um de nós tem dentro de si essa
fera, que é preciso dominar, aprendendo a reconhecer nosso espaço e o das outras
pessoas. É um teste para vencer o egoísmo e equilibrar os impulsos.

O Quinto trabalho: Limpar as estrebarias de Aúgias

Hércules deveria limpar um estábulo com 3.000 bois e que não era limpo há 30
anos em um único dia. Hércules modificou o curso de dois rios para conseguir cumprir
tarefas. A simbologia nos mostra que para iluminação devemos trabalhar nossas
emoções. A raiva, a mágoa e a angústia são a sujeira enquanto o rio representa as
emoções puras e que vem para limpar o que não serve mais. O iniciado não pode
guardar dentro de si um estábulo imundo com emoções ruins.

Hércules ao limpar os estábulos de Áugias nos ensina também os três atos de um


iniciado.

1 – O Serviço impessoal. O serviço não mais centrado em nós mesmos. Não


estamos mais interessados em nós mesmos e sim na nossa consciência, que sendo
universal nada há a fazer, senão assimilar os problemas dos nossos semelhantes e ajudá-
los. Para o verdadeiro iniciado, isso não representa esforço.

2 – O trabalho grupal que é permanecer


sozinho espiritualmente na manipulação dos
assuntos pessoais, esquecendo completamente de
si mesmo no bem-estar do particular segmento da
humanidade ao qual está associado.

3 - O auto-sacrifício que significa tornar o


ego sagrado. Isto lida com o ego do grupo e o
ego do individuo; esse é o trabalho do iniciado.
O Sexto trabalho: Expulsar as aves do lago Estínfalo

Hércules precisa matar estas aves


que comem carne humana, tinham
penas de bronze e as atiravam como
adagas. Essas aves eram tão numerosas
que cobriam o sol. Hércules usa um
Címbalo (instrumento musical
composto por dois pratos de bronze)
para atordoá-las e as abate com seu arco
do alto de dois montes. As aves
representam nossa falta de clareza, elas tampam o nosso “sol” que representa a nossa
iluminação e nossa verdade. As aves são as nossas dúvidas, os nossos medos que nos
devora por dentro. O Címbalo representa a voz de nossa essência que atordoa estes
aspectos covardes e nos dá uma luz sob os aspectos verdadeiros. Ao subir nos montes
para atirar, Hércules nos mostra que devemos nos elevar perante as situações de medo e
com o arco alcançar o que está além do nosso alcance.

Curiosidade: A bolsa em que Hércules guarda seu arco tem dois naipes de paus
que correspondem ao elemento fogo, muito associado à purificação e iluminação.

Hércules mata as aves usando o seu arco de cima de dois montes. o mito representa
a elevação espiritual necessária para superar nossas dúvidas e medos para que possamos
ver a verdadeira vontade: "o sol".
Os ruídos dos pássaros representam o excesso de comunicação, o falar demais. O
mito nos ensina também o controle completo do pensamento e da palavra. Falar
somente o necessário, com bom senso e conveniência. Isso só é possível se o iniciado
pensar antes de falar e guiar seu pensamento para o que é justo e correto.

O Sétimo trabalho: Capturar o Touro de Creta

Hércules tem a difícil tarefa de domar o touro de Creta, um animal furioso, e que a
ele era oferecido jovens em sacrifício. O touro é um animal ligado à Terra com as
quatro patas ligadas a este elemento. O touro furioso representa os nossos aspectos
instintivos ligados aos luxos, ao sexo descontrolado. Ao domá-lo, Hércules governa os
seus instintos, mas não os mata, aprende a domá-los e usá-los a seu proveito. Eram os
jovens que eram sacrificados, pois é exatamente na juventude que estes instintos estão
com maior descontrole.

O trabalho de capturar o Touro de Creta procura-se vencer o desejo que tem por
alimento a fraqueza daqueles que se perdem, na tentativa de capturar o Touro ou o
corpo que são comandados pelo ego.

O mito representa as pessoas que no passado ficaram ligadas ao desejo e que não
trabalharam a forma (aperfeiçoamento moral), mas sim a sedução, que não
materializaram e se apropriaram das vontades daqueles igualmente dominados pelo ego
e pelo desejo. Ao trazer este desejo à consciência e dominá-lo é ter o poder de vencer os
vícios e as forças negativas.

O Oitavo trabalho: Capturar as éguas de Diomedes

Hércules tem mais uma vez em sua


frente animais que comem carne humana.
Eram quatro éguas que geravam uma prole
de cavalos agressivos e usados para guerra.
Depois de muito trabalho, Hércules as
capturou e deixou aos cuidados de seu
amigo Abdero. Mas ele, por ser fraco foi
morto pelas éguas e comido por elas. Hércules é tomado por um grande remorso e as
recaptura. Agora ele as leva para um local onde elas serão adestradas com carinho e
amor.

Este mito nos mostra que devemos estar aptos a domar nossa RAIVA e ÓDIO
transmutando-a em AMOR.

Ao não fazer isso inicialmente, Hércules perdeu o seu amigo. Trata-se de um


aspecto próximo e amargo, porém nos ensina que devemos cuidar nós mesmos de
nossas dificuldades e não transferir nossas responsabilidades para outros.

Ao perceber isso, Hércules leva as éguas para serem adestradas com amor e
carinho. Esta é a arte de amar, que transmuta o ódio em amor e dá um propósito a ele.

Curiosidade: Aqui vemos o princípio hermético da polaridade.


O Nono trabalho: Obter o cinturão de Hipólita

Hércules precisa obter o cinturão da rainha das


amazonas. Mas ele precisa fazer isso conquistando
o coração da rainha-guerreira e não pela violência.
A rainha sabia da sagrada missão do herói. Hércules
não acreditando em sua essência, em sua verdade,
acaba entrando em combate com ela que estava
disposta em ceder o cinturão. Ele não a ouve e
acaba ferindo-a mortalmente. Ao perceber que ela ia
morrer e ouvir as palavras dela sobre fé, sacrifício e
amor, se arrepende.

Este mito demonstra a importância de sermos verdadeiros com o que nos é


essencial, sermos autênticos e confiarmos em nossa missão sagrada perante o Divino.

Em ambos os casos em que Hércules falhou, tanto com as éguas de Diomedes, tanto
com Hipólita vemos a dificuldade do Herói em se harmonizar com aspectos femininos,
seu gênero complementar.

O cinto é o símbolo da união e do amor, e ele mata quem lhe quisera entregar por
amor a Deus. Aqui o herói é abatido pela depressão e pena que sente de si mesmo.

Hércules compreende neste mito que tudo o que


se faz, se reflete no universo eternamente, e que para
que o ser pare de sofrer, deve compreender que a dor é
uma forma de redenção e aprendizagem que nos
conduz ao crescimento. Que a aceitação da
imperfeição do mundo é um caminho para atingir a
perfeição.

Enquanto nos martirizarmos com a culpa do mal


feito, não assumimos a responsabilidade dos erros,
mas quando aceitamos esta responsabilidade,
transformamos esta dor em atitude, fazemos o bem e
libertamo-nos das amarras do sofrimento. É neste momento e com esta tomada de
consciência que passamos do trabalho ao serviço à humanidade.

O Décimo trabalho: Buscar os bois de Gerião

Hércules empreendeu uma grande viagem para


derrotar o Rei Gerião e se apoderar de seus bois
vermelhos. Hércules enfrentou neste percurso o
gigante Anteu que era invencível, pois cada vez que
ele tocava a terra ele recobrava as suas forças. Para
derrotá-lo Hércules ergueu-o no ar. Esta é uma lição
de desapego sobre como derrotar a cobiça e o
materialismo. Gerião e os bois simbolizavam quem
se apega a suas posses. A verdadeira riqueza que é
eterna está dentro de nós. Ao derrotar Gerião e
Anteu, Hércules demonstra que um dos passos da iluminação é a transcendência da
animalidade e da matéria. Mas como ele se apodera dos bois, ele também nos ensina
que o que é material não é ruim, pelo contrário, é bom, mas tem que ser encarado como
algo passageiro e que serve a um propósito e
não o inverso.

Hércules ao capturar os bois de Gerião e


vencer Anteu transcende a
materialidade/animalidade.

Quando Hércules chega à cidade


Sagrada ouve:

“A jóia da imortalidade pertence-te. Por este Trabalho tu superaste o humano e te


revestiste do divino. De volta ao lar viestes, para não mais partires. No firmamento
estrelado o teu nome será inscrito, um símbolo para os batalhadores filhos dos homens,
de seu imortal destino. Os trabalhos humanos estão encerrados, tua tarefa Cósmica
começa”, aprende finalmente que necessitava de ter coragem e fé para ver tudo o que
viu, e que estes valores são o seu legado para os seus irmãos.

Décimo primeiro trabalho: Buscar os pomos de ouro do jardim das Hespérides

Em seu penúltimo trabalho o


herói teve que superar diversos
desafios para obter os frutos de ouro
de uma arvore (arvore da vida) que
era protegida por um dragão imortal
(cruzamento do abismo de Daath para
Binah). A arvore simboliza os
conhecimentos e forças que foram
iluminadas de nosso inconsciente para nossa consciência, por isso são douradas como
ouro, o metal alquímico mais nobre. O dragão representa os aspectos que precisam ser
dominados para se chegar ao prêmio, são os quatro elementos: ar, fogo, água e terra, ou
ainda os quatro aspectos: espiritual, mental, emocional e material. É o mesmo símbolo
do príncipe que vence o dragão para libertar a princesa da torre escura.
Ao cumprir esta tarefa Hércules ouve a seguinte frase: “O Caminho que traz a nós
é sempre marcado pelo serviço. Atos de amor são sinalizações do Caminho.”

Hércules ao vencer o dragão e coletar os frutos de ouro representa a luta no plano


físico para obter a sabedoria espiritual. O plano físico é o lugar onde se obtém a
experiência e onde as causas, que foram iniciadas no mundo do esforço mental, têm que
se manifestar e alcançar objetividade. É também o lugar onde o mecanismo de contato
se desenvolve, onde, pouco a pouco, os cinco sentidos abrem ao ser humano, novos
campos de percepção e lhe oferecem novas esferas de conquistas e realização. É o lugar,
portanto, onde conhecimento é obtido, e onde esse conhecimento tem que ser
transmutado em sabedoria.

Conhecimento é a busca do sentido, enquanto que sabedoria é o onisciente e


sintético conhecimento da alma. Contudo, sem compreensão na aplicação do
conhecimento, nós perecemos; pois compreensão é a aplicação do conhecimento sob a
luz da sabedoria aos problemas da vida e à conquista da meta.

Neste trabalho, Hércules defronta-se com a tremenda tarefa de aproximar os dois


pólos do seu ser e de coordenar, ou unificar, alma e corpo, de modo que a dualidade de
lugar à unidade e os pares de oposto se mesclem.
O décimo segundo trabalho: Capturar o Cão Cérbero

Em seu último teste, Hércules deve ir ao mundo dos mortos, o Hades, e vencer
Cérbero, o cão de três cabeças. No processo, Hércules também dele libertar Prometheu,
aquele que trouxe o fogo do conhecimento para a humanidade.

Hércules subjuga Cérbero pegando-o pelo


pescoço e só soltando quando o Cão concorda
em acompanhar Hércules no submundo. Ao
entrar no submundo, Hércules conversa com
Hades e consegue libertar Prometheu.

Este mito nos ensina que mesmo com a


morte do corpo existem outras moradas.
Ensina ainda, que o véu que separa a vida da morte pode ser subjugado por nossa
vontade e que dentro de nós mesmos, de nosso inconsciente, no nosso Hades estão os
conhecimentos de iluminação que procuramos ou o nosso "Prometheu".

"Agora como alma consciente é responsável pela sua própria sabedoria..."

Este é o fim dos trabalhos de Hércules.

Conclusão

Cabe somente a nós vencer os nossos doze trabalhos no intuito de sermos pessoas
melhores. Porém, não somos perfeitos, é justamente reconhecendo nossa própria
fragilidade moral que devemos entender que existem outras pessoas ainda mais
desprotegidas contra as más influencias, por despreparo ou falta de consciência.

Para nós cabe-nos o desafio de vencer nosso ego selvagem e os impulsos humanos.

Cabe-nos ainda clareza para entender que este desafio só pode ser aceito por quem
o quer e não ser imposto ao outro, pois este caminho só se trilha sozinho e se quiser
(vontade interior).
Por outro lado, nos cabe compreender que as pessoas desprotegidas e sendo fáceis
de serem conduzidas pelo ego e vícios existem e muitas vezes estão mais perto do que
se imagina. Cabe a clarividência para enxergar o real motivo dos atos e se proteger
contra atos desmedidos daqueles que são escravos de si mesmo e deixam-se levar pela
vida que se mostra a sua frente.

A medida que se conhece a luz, se conhece as trevas.

Você também pode gostar