Laura Santos - Peróla Negra

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LAURA SANTOS – PÉROLA NEGRA

Para quem não me conhece sou Laura Santos, meu nome de batismo era Laura
Brasil Gonçalves dos Santos, sou filha de Manoel Gonçalves dos Santos e Antônia Higino
da Costa, meu pai exercia a função de engraxate na Rua XV de Novembro e da Sra
Antônia Higino da Costa, que trabalhava como lavadeira.
Nasci em Curitiba, no dia 30 de novembro de 1919 e morei boa parte de minha
infância e inicio da mocidade no bairro Hugo Lange. Sou a segunda filha de uma prole de
seis. Meu irmão mais velho se chamava Celestino Guedes Acanforado filho somente de
minha mãe Dona Antônia, que era viúva quando casou-se com meu pai Seu Manoel, eu
tive uma irmã chamada de Laureana Gonçalves dos Santos, funcionária pública e
conhecida como a “Baiana” da Mocidade Azul nos anos 80/90 no carnaval de Curitiba,
outra chamada Lucy Benedicta Gonçalves dos Santos funcionaria pública do Hospital das
Clínicas e professora, meu irmão mais novo Lourival Gonçalves dos Santos conhecido
como “Chan” era Sub Ten do Exército e a mais nova Lenira Maria dos Reis, essa também
gostava de estudar, formada no magistério e primeira Dentista Negra formada pela UFPR,
nos anos 70.
Ao iniciar meus estudos me apaixonei pela leitura, por este motivo tinha autorização
para sentar-se à mesa  junto “aos pais e as pessoas mais velhas” para discorrer sobre
assuntos da intelectualidade.
1932 - Minha trajetória como poeta iniciou quando eu tinha 13 anos de idade (1932),
quando escrevi meu primeiro soneto “Aspiração”, tinha grande admiração pela escola
parnasianista e por esse motivo adorava a poesia de Bilac, era a Arte pela Arte, a perfeição
da forma e da linguagem culta.
1937 - Fui premiada aos dezoito anos quando venceu um concurso literário promovido pela
Base Aérea no qual escrevi em prosa, um trabalho intitulado  “A História da Evolução da
Aviação”.
1940 - Cursei a Escola Normal Julia da Costa, ampliando meus estudos com um curso
técnico de química.
1944 - Quando meu pai faleceu eu tinha por volta dos 25 anos de idade, me vi responsável
por meus irmãos, pois minha mãe havia falecido seis meses antes de papai,
aproximadamente. Meu pai morreu de insuficiência renal e mamãe era hipertensa.
Na década de 50, atuei como Professora inicialmente no Grupo Escolar José
Wanderlei Dias e no final desse década de 50, comecei a trabalhar no Grupo Escolar Dom
Pedro II, situado na Rua Bispo Dom José, no Bairro Batel, ministrando aulas de
Matemática, Língua Portuguesa e Educação Sanitária.
Sempre tive uma personalidade solidária e altruísta; tinha o desejo de me alistar na
Cruz Vermelha, por isso ingressei num curso de enfermagem demonstrando o desejo de
auxiliar doentes e feridos da II Guerra Mundial. No entanto, esse objetivo não se
concretizou por questões familiares.
1953 – Finalizei meus três projetos de livros: 1º Sangue tropical (Prêmio Academia José
de Alencar), 2º Poemas da noite e 3º Desejo.
Posteriormente, ingressei na Saúde Pública, onde me formei na primeira turma de
Sanitarista e prestei serviços na área da saúde orientando a comunidade sobre questões
de higiene, imunização (vacinação) e puericultura, onde atuei como Educadora Sanitária.
Em meio a todas essas atividades, nunca deixei de atuar como escritora e poeta,
escrevendo por longo período nos jornais Gazeta do Povo e Diário da Tarde. Me diziam
que eu estava a frente de meu tempo e por este motivo arquei com ônus de minha
assumida atitude, embora eu fosse bastante reservada e até mesmo tímida, sempre
sensível, observadora e comprometida com os menos favorecidos, por esta forma dediquei
minhas funções para que pudessem de alguma forma estar relacionadas às questões
sociais e educacionais.
Através da minha poesia conseguia expressar os assuntos que na minha época
eram tabus, sem ser vulgar, com um toque de refinamento; lembrem-se a arte pela arte,
valorização da estética e busca da perfeição.
Fui sócia fundadora e assídua da Academia José de Alencar, onde ocupei a cadeira
patrocinada pela poetisa e escritora não menos ilustre Julia da Costa.
Tive como uma amiga a poeta, minha contemporânea Helena Kolody, a qual
primeiro resgatou minha obra para cair no esquecimento, em 1959, numa antologia
conhecida como “Um século de poesia”, organizada pelo Centro Paranaense Feminino de
Cultura. Em 1985, Pompilia Lopes dos Santos organizou uma nova antologia, chamada de
Sesquicentenário da poesia paranaense, que trazia alguns poemas de Laura. Cinco anos
depois, a Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (Seec) publica Poemas, reunião dos 3
livros da autora.
Aos 62 anos, minha trajetória neste mundo findou-se, em plena primavera curitibana,
ao voltar para casa do trabalho do Grupo Escolar Dom Pedro II; em 21 de outubro de 1981;
o músculo principal do poeta , o coração, parou. Esgotou todas as forças pois amei muito e
de forma tão intensa até o fim, mas imortalizei-me através de meus poemas.
Deixei uma importante herança genética: meus queridos irmãos e minha filha Lúcia
Beatriz dos Santos da Silva e já estão no mesmo plano que eu, meus queridos netos Ailton
da Silva Junior, Carlos Rodrigo da Silva, Flávio Augusto da Silva e neta Kelly Rangel  e meu
querido genro Ailton da Silva, e muitas sobrinhas e sobrinhos queridos.
Em minha vida seja nas letras e ou na forma de vida que tentei imprimir, representei
sempre da melhor maneira o pensamento da mulher negra, curitibana, sonhadora
apaixonada, lutadora, sofrida....uma mulher em toda sua essência.

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