Eletrotécnica 4
Eletrotécnica 4
Eletrotécnica 4
Introdução
Em 1827, o físico alemão, Georg Ohm, desenvolveu trabalhos envolvendo
materiais condutores e seu comportamento elétrico, encontrando a
relação, válida para materiais ôhmicos, entre a corrente elétrica, tensão
e resistência. Ela, por sua vez, diz que a corrente elétrica que percorre
um condutor é inversamente proporcional à resistência deste material e
diretamente proporcional à diferença de potencial aplicada.
A taxa de transferência de energia em um determinado tempo, de-
nominada potência elétrica, também pode ser calculada por meio das
grandezas elétricas de tensão, corrente e resistência.
Quando conhecemos a potência de um equipamento e a tensão de
alimentação, como é o caso dos eletroeletrônicos domésticos, podemos
calcular a quantidade de energia consumida por eles.
A partir das relações de potência e de corrente elétrica, comumente chama-
das de Primeira Lei de Ohm, é possível determinar a potência dissipada por um
resistor em forma de energia térmica, processo que se denomina efeito Joule.
Neste capítulo, você vai compreender os conceitos de resistência e re-
sistividade e será capaz de calcular esses valores para materiais condutores;
entenderá, também, os conceitos de potência elétrica e energia elétrica,
verá o efeito Joule presente nos condutores submetidos à passagem de
corrente e, por fim, você aprenderá a calcular o consumo de energia elétrica
em equipamentos elétricos.
2 Leis de Ohm, potência e energia
Como pode ser observada pela equação, a unidade de resistência é Volt por
Ampère no sistema internacional. Para homenagear o cientista que estudou e
realizou diversas descobertas na área, criou-se uma unidade especial para a
resistência elétrica, o Ohm (Ω). Dessa maneira, temos que:
V
1 ohm = 1 volt por ampère = 1 Ω = 1
A
→
A densidade J de corrente em um condutor depende do campo elétrico
→
E e das propriedades do material. Essa dependência, em geral, é muito com-
plexa. Porém, para certos materiais, especialmente para os metais, em uma
→ →
dada temperatura, J é quase diretamente proporcional a E , e a razão entre os
módulos E e J permanece constante. Essa relação, chamada de Lei de Ohm,
foi descoberta em 1826, pelo físico alemão, Georg Simon Ohm (1787-1854). A
palavra “lei” deveria, na verdade, estar entre aspas, porque a Lei de Ohm, assim
como a Lei dos Gases Ideais e a Lei de Hooke, fornece um modelo idealizado
que descreve muito bem o comportamento de alguns materiais, porém não
fornece uma descrição geral para todos eles (YOUNG; FREEDMAN, 2012).
A Lei de Ohm é a afirmação de que a corrente que atravessa um disposi-
tivo é sempre diretamente proporcional à diferença de potencial aplicada ao
dispositivo, porém isso ocorre em apenas alguns materiais e a certas condições
controladas, como a temperatura.
Dessa maneira, um dispositivo obedece à Lei de Ohm se a resistência dele não
depende do valor absoluto, nem da polaridade da diferença de potencial aplicada.
Para os componentes que obedecem à Lei de Ohm, damos o nome de
dispositivos ôhmicos ou lineares. Por sua vez, os que não obedecem são
denominados de dispositivos não lineares ou não ôhmicos.
Georg Ohm verificou que, em certos materiais condutores, a relação entre
a diferença de potencial aplicado e a corrente que percorria o elemento eram
sempre iguais (Tabela 1).
1 5 200
2 10 200
3 15 200
10 50 200
11 55 200
12 60 200
13 65 200
Leis de Ohm, potência e energia 5
Com esse experimento, podemos verificar a equação que, por muitas vezes,
é denominada Primeira Lei de Ohm, que é:
U=R•i
tgα = R
Material Resistividade ρ (Ω ∙ m)
Prata 1,62 × 10 -8
Cobre 1,69 × 10 -8
Ouro 2,35 × 10 -8
Alumínio 2,75 × 10 -8
Manganin 4,82 × 10 -8
Tungstênio 5,25 × 10 -8
Ferro 9,68 × 10 -8
Platina 10,6 × 10 -8
O silício puro tem uma resistividade tão alta que se comporta quase como
um isolante e, portanto, não tem muita utilidade em circuitos eletrônicos.
Todavia, ao receber impurezas, essa resistividade pode ser reduzida — o
processo de adicionar impurezas ao material chama-se dopagem.
Em condutores, existem alguns elétrons fracamente presos aos átomos
da rede cristalina. Com pouca energia, é possível libertá-los e criar corrente
elétrica. Essa energia geralmente é proveniente de energia térmica ou de um
campo elétrico aplicado ao corpo.
Nos isolantes, os elétrons estão fortemente ligados aos átomos da rede
cristalina, sendo necessária muita energia para libertá-los e colocá-los em
movimento. A energia térmica não é suficiente para que isso ocorra, e seria
necessário um campo elétrico muito intenso para tornar esse material condutor.
Para os semicondutores, alguns dos elétrons conseguem desprender-se dos
átomos da rede cristalina com menos energia que nos isolantes. Ainda para
melhorar a condutibilidade desses materiais, são realizadas dopagens com
impurezas que possam ceder elétrons ou criar buracos que funcionam como
portadores de carga positiva. Dessa maneira, conseguimos características
muito interessantes para esses componentes semicondutores.
Em 1911, o físico holandês Kamerlingh Onnes descobriu que a resistivi-
dade do mercúrio desaparece totalmente quando o metal é resfriado abaixo
de 4 K. Esse fenômeno, conhecido como supercondutividade, é de grande
interesse tecnológico, porque significa que as cargas podem circular em um
supercondutor sem perder energia na forma de calor. Correntes criadas em
anéis supercondutores, por exemplo, persistiram durante vários anos sem
perdas; é preciso uma fonte de energia para produzir a corrente inicial, mas,
depois disso, mesmo que a fonte seja removida, a corrente continua a circular
indefinidamente (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2012).
As aplicações tecnológicas para materiais supercondutores eram muito
restritas antes de 1986 devido ao alto custo para atingir baixas temperaturas.
Em 1986, porém, foram descobertos materiais cerâmicos que atingiam a
supercondutividade com temperaturas mais altas que as anteriores, mas ainda
menores que a temperatura ambiente.
A supercondutividade pode ser explicada segundo a hipótese de que, em
um supercondutor, os elétrons responsáveis pela corrente movem-se em pares.
Um dos elétrons do par distorce a estrutura cristalina do material, criando,
nas proximidades, uma concentração temporária de cargas positivas; o outro
elétron do par é atraído por essas cargas. Por meio dessa teoria, a coordenação
de movimentos dos pares de elétrons impede que se choquem com os átomos
da rede cristalina, eliminando, assim, a resistência elétrica. Essa teoria é capaz
10 Leis de Ohm, potência e energia
V ab = (V a – V b)
Leis de Ohm, potência e energia 11
dU = dQ • V ab
dU dQ
= • V ab
dt dt
P = i • V ab
por exemplo, à sua própria agitação térmica. Com a passagem dos elétrons
livres, ocorrem inúmeras colisões entre os elétrons e os átomos do material
condutor. A cada colisão, há uma transferência de energia dos elétrons para a
rede, aumentando ainda mais a oscilação da rede e da energia de vibração dos
átomos. Esse aumento contínuo da energia de vibração dos átomos manifesta-
-se como um aumento da temperatura do condutor, ou seja, seu aquecimento
(VÁLIO et al., 2016).
A partir da equação que define a resistência, podemos encontrar a potência
dissipada por um resistor, ou condutor ôhmico, ou, ainda, a taxa de transferência
de energia para o resistor, ou, por fim, a mensuração do Efeito Joule. Considere:
V
V=R•i e i=
R
( )V
V
P = i • (R • i) e P = R •
Por fim:
V2
P = i2 • R e P =
R
Q = m ∙ c ∙ ∆T
onde m é a massa de água (para a água, 1kg =1L), c é o calor específico da água, e
vale 4200 J/kg ∙ ºC , e ∆T é a variação de temperatura.
Então, para o exemplo, temos:
Assim, podemos, então, relacionar a potência dissipada pela resistência, que, por
Efeito Joule, se dissipa na forma de calor, sendo que, por definição, a potência é dada
pela variação e energia, pela variação do tempo. Assim temos:
∆E
P=
∆t
Sendo assim, a água desse aquecedor elétrico eleva a sua temperatura em 50ºC
em 3,5 minutos.
14 Leis de Ohm, potência e energia
U = P • ∆t
A Tabela 3 apresenta alguns aparelhos de uma residência com suas respectivas potências
e o tempo de utilização diário deles.
Ar-condicionado 8 1000
Geladeira 24 50
b) Calcule a energia elétrica consumida em um mês (30 dias), em kWh, com todos os
aparelhos funcionando conforme a tabela.
16 Leis de Ohm, potência e energia
P( W)
U= ∙ ∆t ∙ 30
1.000
30
U ar-condicionado = 1.000 ∙ 8 ∙ = 240 kWh [energia em kWh no mês]
1.000
30
U chuveiro = 5800 ∙ 0,5 ∙ = 87 kWh [energia em kWh no mês]
1.000
30
U geladeira = 50 ∙ 24 ∙ = 36 kWh [energia em kWh no mês]
1.000
30
U secador = 1.400 ∙ 0,2 ∙ = 8,4 kWh [energia em kWh no mês]
1.000
Leituras recomendadas
BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo.
Porto Alegre: AMGH, 2012.
FERRARO, N. G.; SOARES, P. A. T.; FOGO, R. Física básica. 3. ed. São Paulo: Atual, 2009.
YAMAMOTO, K.; FUKE, L. F. Física para o ensino médio 3: eletricidade e física moderna. 4.
ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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