Nova Concursos Professor de Educação Infantil Ao 5° Ano

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APOSTILA DE ACORDO COM EDITAL DE Nº 01/2020

ITAGUAÍ
PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAGUAÍ - RIO DE JANEIRO

PROFESSOR DE - 1 - EDUCAÇÃO
INFANTIL AO 5º ANO

CONTEÚDO
- Português
GRÁTIS
CONTEÚDO ONLINE
- Matemática
- Informática
Português
Conhecimentos Específicos - Acentuação Gráfica
e Ortografia

Matemática
- Números Naturais Inteiros
e Racionais
Interpretação de Texto
- Tipologia Textual
e Tipos de Discurso
Prefeitura Municipal de Itaguaí do Estado do Rio de Janeiro

ITAGUAÍ-RJ
Professor de -1 - Educação Infantil ao 5º Ano

FV021-N0
Todos os direitos autorais desta obra são protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/12/1998.
Proibida a reprodução, total ou parcialmente, sem autorização prévia expressa por escrito da editora e do autor. Se você
conhece algum caso de “pirataria” de nossos materiais, denuncie pelo [email protected].

OBRA

Prefeitura Municipal de Itaguaí do Estado do Rio de Janeiro

Professor de -1 - Educação Infantil ao 5º Ano

Edital Nº 01/2020

AUTORES
Português - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Matemática - Prof° Bruno Chieregatti e João de Sá Brasil
Informática - Prof° Ovidio Lopes da Cruz Netto
Conhecimentos Gerais - Profª Ana Maria B. Quiqueto e Bruna Pinotti

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Leandro FIlho
Roberth Kairo

DIAGRAMAÇÃO
Rodrigo Bernardes
Thais Regis

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

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[email protected]
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO
PORTUGUÊS
Leitura e compreensão de textos variados. Modos de organização do discurso: descritivo, narrativo,
argumentativo. Gêneros do discurso: definição, reconhecimento dos elementos básicos. Coesão e coerência:
mecanismos, efeitos de sentido no texto. Relação entre as partes do texto: causa, consequência, comparação,
conclusão, exemplificação, generalização, particularização........................................................................................................... 01
Conectivos: classificação, uso, efeitos de sentido............................................................................................................................... 18
Verbos: pessoa, número, tempo e modo. Vozes verbais.................................................................................................................. 19
Transitividade verbal e nominal.................................................................................................................................................................. 34
Estrutura, classificação e formação de palavras................................................................................................................................... 40
Metáfora, metonímia, hipérbole, eufemismo, antítese, ironia. Gradação, ênfase.................................................................. 42
Acentuação......................................................................................................................................................................................................... 46
Pontuação: regras, efeitos de sentido...................................................................................................................................................... 49
Recursos gráficos: regras, efeitos de sentido........................................................................................................................................ 51

MATEMÁTICA
Números e Operações: Operações com números reais. Múltiplos, divisores e números primos.................................... 01
Porcentagem...................................................................................................................................................................................................... 19
Médias.................................................................................................................................................................................................................. 22
Resoluções de equações, inequações e sistemas de 1° e 2° graus.............................................................................................. 26
Função Afim, Quadrática, Exponencial e Logarítmica....................................................................................................................... 32
Progressões Aritméticas e Geométricas.................................................................................................................................................. 38
Análise Combinatória..................................................................................................................................................................................... 42
Espaço e Forma: Plano Cartesiano............................................................................................................................................................ 45
Polígonos convexos: relações angulares e lineares. Semelhança de figuras planas. Relações métricas e
trigonométricas num triângulo retângulo. Relações trigonométricas num triângulo qualquer...................................... 51
Grandezas e Medidas: Problemas envolvendo sistemas de medidas......................................................................................... 75
Comprimento da circunferência. Cálculo de áreas das principais figuras planas. Áreas e volumes dos principais
sólidos geométricos. Tratamento da Informação: Construção e interpretação de tabelas e gráficos. Noções
básicas de Estatística...................................................................................................................................................................................... 81
Probabilidade.................................................................................................................................................................................................... 81

INFORMÁTICA

Conceitos, características das modalidades de processamento: online, off-line, batch, time sharing, real time....... 01
Arquitetura dos computadores: conceitos, características, funções e componentes de hardware, dispositivos de
entrada, saída e de entrada/saída de dados, mídias, memória, dispositivos de armazenamento................................... 01
Noções de Redes de Computadores......................................................................................................................................................... 08
Software: conceitos, características, software básico X software aplicativo.............................................................................. 10
Sistema Operacional Windows (7/8.1/10 BR): conceitos, características, atalhos de teclado, teclas de função,
ícones, uso dos recursos................................................................................................................................................................................ 10
SUMÁRIO
Microsoft Office 2013/2016/2019 BR (Word, Excel e Power Point): conceitos, características, atalhos de teclado,
teclas de função, ícones, uso dos recursos............................................................................................................................................. 18
Versão Google Docs. Web X Internet: conceitos, características, browsers Edge, Google Chrome e Firefox Mozilla,
correio eletrônico x e-mails, Webmail, atalhos de teclado, teclas de função, ícones, uso dos recursos........................ 42
Computação em Nuvem................................................................................................................................................................................ 53
Redes Sociais...................................................................................................................................................................................................... 54
Segurança de sistemas, de equipamentos, em redes e na internet. Vírus, Backup, Firewall.............................................. 54

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Educação no mundo atual........................................................................................................................................................................... 01


Relacionamento professor e aluno. Função e papel da escola. Problemas de aprendizagem......................................... 06
Fatores físicos, psíquicos e sociais............................................................................................................................................................. 15
Recreação: atividades recreativas. Aprendizagem: leitura e escrita............................................................................................. 22
Didática: métodos, técnicas, recursos e material didático............................................................................................................... 24
Processo ensino-aprendizagem: avaliação............................................................................................................................................ 36
Planejamento de aula e avaliação de aprendizagem........................................................................................................................ 36
Desenvolvimento da linguagem oral, escrita, audição e leitura, métodos, técnicas e habilidades. Instrumentos e
atividades pedagógicas................................................................................................................................................................................. 44
Métodos de alfabetização............................................................................................................................................................................ 95
Tendências pedagógicas. Papel do professor. Decroly, Maria Montessori, Freinet, Rousseau, Vygotsky, Piaget,
Paulo Freire e Herbart. Psicologia da Educação. Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento........................ 99
Didática Geral.................................................................................................................................................................................................... 112
Constituição Federal referente a Educação........................................................................................................................................... 112
Referências Curriculares Nacionais para Educação Infantil............................................................................................................. 115
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental;.................................................................................................. 136
Constituição Federal 1988: Título I (Dos Princípios Fundamentais) e Título VIII, Capítulo III (Da Educação).............. 164
Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (atualizada);..................................................................... 166
Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente................................................................................................................. 182
ÍNDICE

PORTUGUÊS

Leitura e compreensão de textos variados. Modos de organização do discurso: descritivo, narrativo, argumentativo.
Gêneros do discurso: definição, reconhecimento dos elementos básicos. Coesão e coerência: mecanismos, efeitos
de sentido no texto. Relação entre as partes do texto: causa, consequência, comparação, conclusão, exemplificação,
generalização, particularização............................................................................................................................................................................ 01
Conectivos: classificação, uso, efeitos de sentido......................................................................................................................................... 18
Verbos: pessoa, número, tempo e modo. Vozes verbais............................................................................................................................ 19
Transitividade verbal e nominal............................................................................................................................................................................ 34
Estrutura, classificação e formação de palavras............................................................................................................................................. 40
Metáfora, metonímia, hipérbole, eufemismo, antítese, ironia. Gradação, ênfase............................................................................ 42
Acentuação................................................................................................................................................................................................................... 46
Pontuação: regras, efeitos de sentido................................................................................................................................................................ 49
Recursos gráficos: regras, efeitos de sentido.................................................................................................................................................. 51
LEITURA E COMPREENSÃO DE TEXTOS VARIADOS. MODOS DE ORGANIZAÇÃO DO
DISCURSO: DESCRITIVO, NARRATIVO, ARGUMENTATIVO. GÊNEROS DO DISCURSO:
DEFINIÇÃO, RECONHECIMENTO DOS ELEMENTOS BÁSICOS. COESÃO E COERÊNCIA:
MECANISMOS, EFEITOS DE SENTIDO NO TEXTO. RELAÇÃO ENTRE AS PARTES DO TEXTO:
CAUSA, CONSEQUÊNCIA, COMPARAÇÃO, CONCLUSÃO, EXEMPLIFICAÇÃO, GENERALIZAÇÃO,
PARTICULARIZAÇÃO.

INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacionadas entre si, formando um todo significativo capaz de pro-
duzir interação comunicativa (capacidade de codificar e decodificar).
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. Em cada uma delas, há uma informação que se liga com a
anterior e/ou com a posterior, criando condições para a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interligação
dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu contexto
original e analisada separadamente, poderá ter um significado diferente daquele inicial.
Intertexto - comumente, os textos apresentam referências diretas ou indiretas a outros autores através de citações.
Esse tipo de recurso denomina-se intertexto.
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir
daí, localizam-se as ideias secundárias (ou fundamentações), as argumentações (ou explicações), que levam ao esclare-
cimento das questões apresentadas na prova.

Normalmente, em uma prova, o candidato deve:


• Identificar os elementos fundamentais de uma argumentação, de um processo, de uma época (neste caso, pro-
curam-se os verbos e os advérbios, os quais definem o tempo).
• Comparar as relações de semelhança ou de diferenças entre as situações do texto.
• Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com uma realidade.
• Resumir as ideias centrais e/ou secundárias.
• Parafrasear = reescrever o texto com outras palavras.

CONDIÇÕES BÁSICAS PARA INTERPRETAR

Fazem-se necessários: conhecimento histórico-literário (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), leitura e
prática; conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do texto) e semântico; capacidade de observação e de síntese;
capacidade de raciocínio.
INTERPRETAR/COMPREENDER

Interpretar significa:
Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
Através do texto, infere-se que...
É possível deduzir que...
O autor permite concluir que...
Qual é a intenção do autor ao afirmar que...

Compreender significa
Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
O texto diz que...
É sugerido pelo autor que...
De acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação...
O narrador afirma...

ERROS DE INTERPRETAÇÃO

• Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do contexto, acrescentando ideias que não estão no texto, quer
por conhecimento prévio do tema quer pela imaginação.
• Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se atenção apenas a um aspecto (esquecendo que um texto é um
conjunto de ideias), o que pode ser insuficiente para o entendimento do tema desenvolvido.
• Contradição = às vezes o texto apresenta ideias contrárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivoca-
PORTUGUÊS

das e, consequentemente, errar a questão.

Observação: Muitos pensam que existem a ótica do escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas em uma
prova de concurso, o que deve ser levado em consideração é o que o autor diz e nada mais.

1
COESÃO E COERÊNCIA conclusão).
• Volte ao texto quantas vezes precisar.
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que • Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre do autor.
si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de • Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor
um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um compreensão.
pronome oblíquo átono, há uma relação correta entre o • Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de
que se vai dizer e o que já foi dito. cada questão.
• O autor defende ideias e você deve percebê-las.
São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre • Observe as relações interparágrafos. Um parágra-
eles, está o mau uso do pronome relativo e do prono- fo geralmente mantém com outro uma relação de
me oblíquo átono. Este depende da regência do verbo; continuação, conclusão ou falsa oposição. Identifi-
aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer tam- que muito bem essas relações.
bém de que os pronomes relativos têm, cada um, valor • Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja,
semântico, por isso a necessidade de adequação ao an- a ideia mais importante.
tecedente. • Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou
Os pronomes relativos são muito importantes na in- “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de da resposta – o que vale não somente para Inter-
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que pretação de Texto, mas para todas as demais ques-
existe um pronome relativo adequado a cada circunstân- tões!
cia, a saber: • Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia prin-
que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden- cipal, leia com atenção a introdução e/ou a con-
te, mas depende das condições da frase. clusão.
qual (neutro) idem ao anterior. • Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
quem (pessoa) pronomes pessoais, pronomes demonstrativos,
cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois etc., chamados vocábulos relatores, porque reme-
o objeto possuído. tem a outros vocábulos do texto.
como (modo)
onde (lugar) SITES
quando (tempo) Disponível em: <http://www.tudosobreconcursos.
quanto (montante) com/materiais/portugues/como-interpretar-textos>
Disponível em: <http://portuguesemfoco.com/pf/
Exemplo: 09-dicas-para-melhorar-a-interpretacao-de-textos-em-
Falou tudo QUANTO queria (correto) -provas>
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria Disponível em: <http://www.portuguesnarede.
aparecer o demonstrativo O). com/2014/03/dicas-para-voce-interpretar-melhor-um.html>
Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/cursi-
Coerência Textual nho/questoes/questao-117-portugues.htm>
A Coerência é a relação lógica das ideias de um texto que
decorre da sua argumentação - resultado especialmente Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/
dos conhecimentos do transmissor da mensagem. coesao-e-coerencia/>
Um texto contraditório e redundante ou cujas ideias ini-
ciadas não são concluídas, é um texto incoerente. A in-
coerência compromete a clareza do discurso, a sua fluên- EXERCÍCIOS COMENTADOS
cia e a eficácia da leitura.
Assim a incoerência não é só uma questão de conheci-
mento, decorre também do uso de tempos verbais e da 1. (EBSERH – Analista Administrativo – Estatística –
emissão de ideias contrárias. AOCP-2015)

DICAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO DE O verão em que aprendi a boiar


TEXTOS Quando achamos que tudo já aconteceu, novas ca-
pacidades fazem de nós pessoas diferentes do que
• Leia todo o texto, procurando ter uma visão ge- éramos
ral do assunto. Se ele for longo, não desista! Há
muitos candidatos na disputa, portanto, quanto IVAN MARTINS
mais informação você absorver com a leitura, mais
chances terá de resolver as questões. Sei que a palavra da moda é precocidade, mas eu acre-
• Se encontrar palavras desconhecidas, não interrom- dito em conquistas tardias. Elas têm na minha vida um
PORTUGUÊS

pa a leitura. gosto especial.


• Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas Quando aprendi a guiar, aos 34 anos, tudo se transfor-
forem necessárias. mou. De repente, ganhei mobilidade e autonomia. A ci-
• Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma dade, minha cidade, mudou de tamanho e de fisionomia.

2
Descer a Avenida Rebouças num táxi, de madrugada, era apenas ao sabor das ondas, sem atenção ao equilíbrio, a
diferente – e pior – do que descer a mesma avenida com relação também naufraga. Há uma ciência sem cálculos
as mãos ao volante, ouvindo rock and roll no rádio. Pegar que tem de ser assimilada a cada novo amor, por cada
a estrada com os filhos pequenos revelou-se uma delícia um de nós. Ela fornece a combinação exata de atenção e
insuspeitada. relaxamento que permite boiar. Quer dizer, viver de for-
Talvez porque eu tenha começado tarde, guiar me pare- ma relaxada e consciente um grande amor.
ce, ainda hoje, uma experiência incomum. É um ato que, Na minha experiência, esse aprendizado não se fez rapida-
mesmo repetido de forma diária, nunca se banalizou in- mente. Demorou anos e ainda se faz. Talvez porque eu seja
teiramente. homem, talvez porque seja obtuso para as coisas do afeto.
Na véspera do Ano Novo, em Ubatuba, eu fiz outra des- Provavelmente, porque sofro das limitações emocionais que
muitos sofrem e que tornam as relações afetivas mais tensas
coberta temporã.
e trabalhosas do que deveriam ser.
Depois de décadas de tentativas inúteis e frustrantes,
Sabemos nadar, mas nos custa relaxar e ser felizes nas águas
num final de tarde ensolarado eu conquistei o dom da do amor e do sexo. Nos custa boiar.
flutuação. Nas águas cálidas e translúcidas da praia Bra- A boa notícia, que eu redescobri na praia, é que tudo se
va, sob o olhar risonho da minha mulher, finalmente con- aprende, mesmo as coisas simples que pareciam impossíveis.
segui boiar. Enquanto se está vivo e relação existe, há chance de me-
Não riam, por favor. Vocês que fazem isso desde os oito lhorar. Mesmo se ela acabou, é certo que haverá outra
anos, vocês que já enjoaram da ausência de peso e esfor- no futuro, no qual faremos melhor: com mais calma, com
ço, vocês que não mais se surpreendem com a sensação mais prazer, com mais intensidade e menos medo.
de balançar ao ritmo da água – sinto dizer, mas vocês se O verão, afinal, está apenas começando. Todos os dias se
esqueceram de como tudo isso é bom. pode tentar boiar.
Nadar é uma forma de sobrepujar a água e impor-se a http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-mar-
ela. Boiar é fazer parte dela – assim como do sol e das tins/noticia/2014/01/overao-em-que-aprendi-boiar.html
montanhas ao redor, dos sons que chegam filtrados ao
ouvido submerso, do vento que ergue a onda e lança De acordo com o texto, quando o autor afirma que “To-
água em nosso rosto. Boiar é ser feliz sem fazer força, e dos os dias se pode tentar boiar.”, ele refere-se ao fato de
isso, curiosamente, não é fácil.
Essa experiência me sugeriu algumas considerações so- a) haver sempre tempo para aprender, para tentar relaxar
bre a vida em geral. e ser feliz nas águas do amor, agindo com mais cal-
Uma delas, óbvia, é que a gente nunca para de aprender ma, com mais prazer, com mais intensidade e menos
ou de avançar. Intelectualmente e emocionalmente, de medo.
b) ser necessário agir com mais cautela nos relaciona-
um jeito prático ou subjetivo, estamos sempre incorpo-
mentos amorosos para que eles não se desfaçam.
rando novidades que nos transformam. Somos geneti-
c) haver sempre tempo para aprender a ser mais criterio-
camente elaborados para lidar com o novo, mas não só. so com seus relacionamentos, a fim de que eles sejam
Também somos profundamente modificados por ele. A vividos intensamente.
cada momento da vida, quando achamos que tudo já d) haver sempre tempo para aprender coisas novas, in-
aconteceu, novas capacidades irrompem e fazem de nós clusive agir com o raciocínio nas relações amorosas.
uma pessoa diferente do que éramos. Uma pessoa capaz e) ser necessário aprender nos relacionamentos, porém
de boiar é diferente daquelas que afundam como pedras. sempre estando alerta para aquilo de ruim que pode
Suspeito que isso tenha importância também para os re- acontecer.
lacionamentos.
Se a gente não congela ou enferruja – e tem gente que já Resposta: Letra A. Ao texto: (...) tudo se aprende,
está assim aos 30 anos – nosso repertório íntimo tende a mesmo as coisas simples que pareciam impossíveis. /
se ampliar, a cada ano que passa e a cada nova relação. Enquanto se está vivo e relação existe, há chance de
Penso em aprender a escutar e a falar, em olhar o outro, melhorar = sempre há tempo para boiar (aprender).
em tocar o corpo do outro com propriedade e deixar-se Em “a”: haver sempre tempo para aprender, para ten-
tocar sem susto. Penso em conter a nossa própria frustra- tar relaxar e ser feliz nas águas do amor, agindo com
ção e a nossa fúria, em permitir que o parceiro floresça, mais calma, com mais prazer, com mais intensidade e
em dar atenção aos detalhes dele. Penso, sobretudo, em menos medo = correta.
conquistar, aos poucos, a ansiedade e insegurança que Em “b”: ser necessário agir com mais cautela nos rela-
nos bloqueiam o caminho do prazer, não apenas no sen- cionamentos amorosos para que eles não se desfaçam
tido sexual. Penso em estar mais tranquilo na companhia = incorreta – o autor propõe viver intensamente.
Em “c”: haver sempre tempo para aprender a ser mais
do outro e de si mesmo, no mundo.
criterioso com seus relacionamentos, a fim de que eles
Assim como boiar, essas coisas são simples, mas preci-
sejam vividos intensamente = incorreta – ser menos
sam ser aprendidas. objetivo nos relacionamentos.
Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar Em “d”: haver sempre tempo para aprender coisas no-
na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você vas, inclusive agir com o raciocínio nas relações amo-
boia, de vez em quando, morto de medo, sente que pode
PORTUGUÊS

rosas = incorreta – ser mais emoção.


afundar. É uma experiência que exige, ao mesmo tem- Em “e”: ser necessário aprender nos relacionamentos,
po, relaxamento e atenção, e nem sempre essas coisas porém sempre estando alerta para aquilo de ruim que
se combinam. Se a gente se põe muito tenso e cerebral, pode acontecer = incorreta – estar sempre cuidando,
a relação perde a espontaneidade. Afunda. Mas, largada não pensando em algo ruim.

3
2. (BACEN – TÉCNICO – CONHECIMENTOS BÁSICOS – fosse também limitada. Com o tempo, os banqueiros se
ÁREA 1 e 2 – CESPE-2013) deram conta de que ninguém estava interessado em tro-
car dinheiro por ouro e criaram manobras, como a reserva
Uma crise bancária pode ser comparada a um vendaval. fracional, para emprestar muito mais dinheiro do que real-
Suas consequências sobre a economia das famílias e das mente tinham em ouro nos cofres. Nas crises, como em
empresas são imprevisíveis. Os agentes econômicos rela- 1929, todos queriam sacar dinheiro para pagar suas con-
cionam-se em suas operações de compra, venda e troca tas e os bancos quebravam por falta de fundos, deixando
de mercadorias e serviços de modo que cada fato econô- sem nada as pessoas que acreditavam ter suas economias
mico, seja ele de simples circulação, de transformação ou seguramente guardadas.
de consumo, corresponde à realização de ao menos uma Em 1971, o presidente dos EUA acabou com o padrão-
operação de natureza monetária junto a um intermediá- -ouro. Desde então, o dinheiro, na forma de cédulas e
rio financeiro, em regra, um banco comercial que recebe principalmente de valores em contas bancárias, já não
um depósito, paga um cheque, desconta um título ou tendo nenhuma riqueza material para representar, é cria-
antecipa a realização de um crédito futuro. A estabilida- do a partir de empréstimos. Quando alguém vai até o
de do sistema que intermedeia as operações monetárias, banco e recebe um empréstimo, o valor colocado em sua
portanto, é fundamental para a própria segurança e esta- conta é gerado naquele instante, criado a partir de uma
bilidade das relações entre os agentes econômicos. decisão administrativa, e assim entra na economia. Essa
A iminência de uma crise bancária é capaz de afetar e explicação permaneceu controversa e escondida por
contaminar todo o sistema econômico, fazendo que os muito tempo, mas hoje está clara em um relatório do
titulares de ativos financeiros fujam do sistema financeiro Bank of England de 2014.
e se refugiem, para preservar o valor do seu patrimônio, Praticamente todo o dinheiro que existe no mundo é
em ativos móveis ou imóveis e, em casos extremos, em criado assim, inventado em canetaços a partir da conces-
estoques crescentes de moeda estrangeira. Para se evitar são de empréstimos. O que torna tudo mais estranho e
esse tipo de distorção, é fundamental a manutenção da perverso é que, sobre esse empréstimo, é cobrada uma
credibilidade no sistema financeiro. A experiência bra-
dívida. Então, se eu peço dinheiro ao banco, ele inventa
sileira com o Plano Real é singular entre os países que
números em uma tabela com meu nome e pede que eu
adotaram políticas de estabilização monetária, uma vez
devolva uma quantidade maior do que essa. Para pagar
que a reversão das taxas inflacionárias não resultou na
a dívida, preciso ir até o dito “livre-mercado” e trabalhar,
fuga de capitais líquidos do sistema financeiro para os
lutar, talvez trapacear, para conseguir o dinheiro que o
ativos reais.
banco inventou na conta de outras pessoas. Esse é o di-
Pode-se afirmar que a estabilidade do Sistema Financei-
ro Nacional é a garantia de sucesso do Plano Real. Não nheiro que vai ser usado para pagar a dívida, já que a
existe moeda forte sem um sistema bancário igualmente única fonte de moeda é o empréstimo bancário. No fim,
forte. Não é por outra razão que a Lei n.º 4.595/1964, que os bancos acabam com todo o dinheiro que foi inventa-
criou o Banco Central do Brasil (BACEN), atribuiu-lhe si- do e ainda confiscam os bens da pessoa endividada cujo
multaneamente as funções de zelar pela estabilidade da dinheiro tomei.
moeda e pela liquidez e solvência do sistema financeiro. Assim, o sistema monetário atual funciona com uma
Atuação do Banco Central na sua função de zelar pela moeda que é ao mesmo tempo escassa e abundante. Es-
estabilidade do Sistema Financeiro Nacional. Internet: < cassa porque só banqueiros podem criá-la, e abundante
www.bcb.gov.br > (com adaptações). porque é gerada pela simples manipulação de bancos de
Conclui-se da leitura do texto que a comparação entre dados. O resultado é uma acumulação de riqueza e po-
“crise bancária” e “vendaval” embasa-se na impossibi- der sem precedentes: um mundo onde o patrimônio de
lidade de se preverem as consequências de ambos os 80 pessoas é maior do que o de 3,6 bilhões, e onde o 1%
fenômenos. mais rico tem mais do que os outros 99% juntos.
[...]
(  ) CERTO   (  ) ERRADO Disponível em https://fagulha.org/artigos/inventan-
do-dinheiro/
Resposta: Certo. Conclui-se da leitura do texto que Acessado em 20/03/2018
a comparação entre “crise bancária” e “vendaval” em-
basa-se na impossibilidade de se preverem as conse- De acordo com o autor do texto Lastro e o sistema bancá-
quências de ambos os fenômenos. rio, a reserva fracional foi criada com o objetivo de
Voltemos ao texto: Uma crise bancária pode ser com-
parada a um vendaval. Suas consequências sobre a eco- a) tornar ilimitada a produção de dinheiro.
nomia das famílias e das empresas são imprevisíveis. b) proteger os bens dos clientes de bancos.
c) impedir que os bancos fossem à falência.
3. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018) d) permitir o empréstimo de mais dinheiro
e) preservar as economias das pessoas.
Lastro e o Sistema Bancário
Resposta: Letra D. Ao texto: (...) Com o tempo, os
PORTUGUÊS

[...] banqueiros se deram conta de que ninguém estava


Até os anos 60, o papel-moeda e o dinheiro depositado interessado em trocar dinheiro por ouro e criaram ma-
nos bancos deviam estar ligados a uma quantidade de nobras, como a reserva fracional, para emprestar mui-
ouro num sistema chamado lastro-ouro. Como esse me- to mais dinheiro do que realmente tinham em ouro
tal é limitado, isso garantia que a produção de dinheiro nos cofres.

4
Em “a”, tornar ilimitada a produção de dinheiro = in- d) a presença do orelhão indica o atraso do local da charge;
correta e) as imagens dos tanques de guerra denunciam a pre-
Em “b”, proteger os bens dos clientes de bancos = in- sença do Exército.
correta
Em “c”, impedir que os bancos fossem à falência = Resposta: Letra D.
incorreta
Em “d”, permitir o empréstimo de mais dinheiro =
correta
Em “e”, preservar as economias das pessoas = incor-
reta

4. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018)


A leitura do texto permite a compreensão de que NÃO pode ser inferida da imagem e das frases a se-
guinte informação:
a) as dívidas dos clientes são o que sustenta os bancos. Em “a”, a classe social mais alta está envolvida nos cri-
b) todo o dinheiro que os bancos emprestam é imagi- mes cometidos no Rio = inferência correta
Em “b”, a tarefa da investigação criminal não está sen-
nário.
do bem-feita = inferência correta
c) quem pede um empréstimo deve a outros clientes.
Em “c”, a linguagem do personagem mostra intimida-
d) o pagamento de dívidas depende do “livre-mercado”. de com o interlocutor = inferência correta
e) os bancos confiscam os bens dos clientes endividados. Em “d”, a presença do orelhão indica o atraso do local
da charge = incorreta
Resposta: Letra A. Em “e”, as imagens dos tanques de guerra denunciam
Em “a”, as dívidas dos clientes são o que sustenta os a presença do Exército = inferência correta
bancos = correta
Em “b”, todo o dinheiro que os bancos emprestam é 6. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – NÍVEL SUPERIOR –
imaginário = nem todo CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE-2014)
Em “c”, quem pede um empréstimo deve a outros
clientes = deve ao banco, este paga/empresta a ou- As primeiras moedas, peças representando valores, ge-
tros clientes ralmente em metal, surgiram na Lídia (atual Turquia), no
Em “d”, o pagamento de dívidas depende do “livre- século VII a.C. As características que se desejava ressaltar
-mercado” = não só: (...) preciso ir até o dito “livre- eram transportadas para as peças por meio da panca-
-mercado” e trabalhar, lutar, talvez trapacear. da de um objeto pesado, em primitivos cunhos. Com o
Em “e”, os bancos confiscam os bens dos clientes endi- surgimento da cunhagem a martelo e o uso de metais
vidados = desde que não paguem a dívida nobres, como o ouro e a prata, os signos monetários pas-
saram a ser valorizados também pela nobreza dos metais
5. (BANESTES – ANALISTA ECONÔMICO FINANCEI- neles empregados.
RO GESTÃO CONTÁBIL – FGV-2018) Observe a charge Embora a evolução dos tempos tenha levado à substi-
tuição do ouro e da prata por metais menos raros ou
abaixo, publicada no momento da intervenção nas ati-
suas ligas, preservou-se, com o passar dos séculos, a as-
vidades de segurança do Rio de Janeiro, em março de
sociação dos atributos de beleza e expressão cultural ao
2018. valor monetário das moedas, que quase sempre, na atua-
lidade, apresentam figuras representativas da história, da
cultura, das riquezas e do poder das sociedades.
A necessidade de guardar as moedas em segurança le-
vou ao surgimento dos bancos. Os negociantes de ouro
e prata, por terem cofres e guardas a seu serviço, passa-
ram a aceitar a responsabilidade de cuidar do dinheiro de
seus clientes e a dar recibos escritos das quantias guar-
dadas. Esses recibos passaram, com o tempo, a servir
como meio de pagamento por seus possuidores, por ser
mais seguro portá-los do que portar dinheiro vivo. Assim
surgiram as primeiras cédulas de “papel moeda”, ou cé-
dulas de banco; concomitantemente ao surgimento das
cédulas, a guarda dos valores em espécie dava origem a
Há uma série de informações implícitas na charge; NÃO instituições bancárias.
pode, no entanto, ser inferida da imagem e das frases a Casa da Moeda do Brasil: 290 anos de História,
seguinte informação: 1694/1984.

a) a classe social mais alta está envolvida nos crimes co- Depreende-se do texto que duas características das
PORTUGUÊS

metidos no Rio; moedas se mantiveram ao longo do tempo: a veiculação


b) a tarefa da investigação criminal não está sendo bem-feita; de formas em sua superfície e a associação de seu valor
monetário a atributos como beleza.
c) a linguagem do personagem mostra intimidade com
o interlocutor; (  ) CERTO   (  ) ERRADO

5
Resposta: Errado. Depreende-se do texto que duas mais delirantes que sejam. Também aqui vale o que está
características das moedas se mantiveram ao longo do delimitado pelo estado democrático de direito, defendido
tempo: a veiculação de formas em sua superfície e a pelos diversos instrumentos institucionais de que conta o
associação de seu valor monetário a atributos como Estado – Polícia, Justiça, Ministério Público, Forças Arma-
beleza = errado (é o inverso). das etc.
Texto: (...) a associação dos atributos de beleza e ex- A greve atravessou vários sinais ao estrangular as vias de
pressão cultural ao valor monetário das moedas, que suprimento que mantêm o sistema produtivo funcionan-
quase sempre, na atualidade, apresentam figuras re- do, do qual depende a sobrevivência física da população.
presentativas da história, da cultura, das riquezas e do Isso não pode ser esquecido e serve de alerta para que as
poder das sociedades. autoridades desenvolvam planos de contingência.
O Globo, 31/05/2018.
7. (Câmara de Salvador-BA – Assistente Legislativo
Municipal – FGV-2018-adaptada) “Hoje, esse termo “É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos ca-
denota, além da agressão física, diversos tipos de impo- minhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo,
sição sobre a vida civil, como a repressão política, familiar da ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados
ou de gênero, ou a censura da fala e do pensamento de em se beneficiar do barateamento do combustível.” Se-
determinados indivíduos e, ainda, o desgaste causado gundo esse parágrafo do texto, o que “precisa acontecer”
pelas condições de trabalho e condições econômicas”. A é
manchete jornalística abaixo que NÃO se enquadra em
nenhum tipo de violência citado nesse segmento é: a) manter-se o direito de livre expressão do pensamento.
b) garantir-se o direito de reunião e de greve.
a) Presa por mensagem racista na internet; c) lastrear leis e regras na Constituição.
b) Vinte pessoas são vítimas da ditadura venezuelana; d) punirem-se os responsáveis por excessos.
c) Apanhou de policiais por destruir caixa eletrônico; e) concluírem-se as investigações sobre a greve.
d) Homossexuais são perseguidos e presos na Rússia;
e) Quatro funcionários ficaram livres do trabalho escravo. Resposta: Letra D. Em “a”: manter-se o direito de livre
expressão do pensamento. = incorreto
Resposta: Letra C. Em “a”: Presa por mensagem ra- Em “b”: garantir-se o direito de reunião e de greve. =
cista na internet = como a repressão política, familiar incorreto
ou de gênero Em “c”: lastrear leis e regras na Constituição. = incor-
Em “b”: Vinte pessoas são vítimas da ditadura vene- reto
zuelana = como a repressão política, familiar ou de gê- Em “d”: punirem-se os responsáveis por excessos.
nero Em “e”: concluírem-se as investigações sobre a greve.
Em “c”: Apanhou de policiais por destruir caixa eletrô- = incorreto
nico = não consta na Manchete acima Ao texto: (...) há sempre o risco de excessos, a serem
Em “d”: Homossexuais são perseguidos e presos na devidamente contidos e seus responsáveis, punidos,
Rússia = como a repressão política, familiar ou de gê- conforme estabelecido na legislação. / É o que precisa
nero acontecer... = precisa acontecer a punição dos exces-
Em “e”: Quatro funcionários ficaram livres do trabalho sos.
escravo = o desgaste causado pelas condições de tra-
balho 9. (PC-MA – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – CES-
PE-2018)
8. (MPE-AL – ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
ÁREA JURÍDICA – FGV-2018) Texto CG1A1AAA

Oportunismo à Direita e à Esquerda A paz não pode ser garantida apenas pelos acordos
políticos, econômicos ou militares. Cada um de nós, in-
Numa democracia, é livre a expressão, estão garantidos dependentemente de idade, sexo, estrato social, crença
o direito de reunião e de greve, entre outros, obedecidas religiosa etc. é chamado à criação de um mundo pacifica-
leis e regras, lastreadas na Constituição. Em um regime de do, um mundo sob a égide de uma cultura da paz.
liberdades, há sempre o risco de excessos, a serem devi- Mas, o que significa “cultura da paz”?
damente contidos e seus responsáveis, punidos, conforme Construir uma cultura da paz envolve dotar as crianças
estabelecido na legislação. e os adultos da compreensão de princípios como liber-
É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos cami- dade, justiça, democracia, direitos humanos, tolerância,
nhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo, da igualdade e solidariedade. Implica uma rejeição, indivi-
ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados em se dual e coletiva, da violência que tem sido percebida na
beneficiar do barateamento do combustível. sociedade, em seus mais variados contextos. A cultura da
Sempre há, também, o oportunismo político-ideológico paz tem de procurar soluções que advenham de dentro
PORTUGUÊS

para se aproveitar da crise. Inclusive, neste ano de eleição, da(s) sociedade(s), que não sejam impostas do exterior.
com o objetivo de obter apoio a candidatos. Não faltam, Cabe ressaltar que o conceito de paz pode ser abordado
também, os arautos do quanto pior, melhor, para desgas- em sentido negativo, quando se traduz em um estado
tar governantes e reforçar seus projetos de poder, por de não guerra, em ausência de conflito, em passividade

6
e permissividade, sem dinamismo próprio; em síntese, Ao texto: Um dos primeiros passos nesse sentido refe-
condenada a um vazio, a uma não existência palpável, re-se à gestão de conflitos. (...) Outro passo é tentar er-
difícil de se concretizar e de se precisar. Em sua concep- radicar a pobreza e reduzir as desigualdades = etapas
ção positiva, a paz não é o contrário da guerra, mas a para construção da paz.
prática da não violência para resolver conflitos, a prática
do diálogo na relação entre pessoas, a postura democrá- 10. (PC-SP - PAPILOSCOPISTA POLICIAL – VU-
tica frente à vida, que pressupõe a dinâmica da coope- NESP-2013) Leia o cartum de Jean Galvão
ração planejada e o movimento constante da instalação
de justiça.
Uma cultura de paz exige esforço para modificar o pen-
samento e a ação das pessoas para que se promova a
paz. Falar de violência e de como ela nos assola deixa
de ser, então, a temática principal. Não que ela vá ser
esquecida ou abafada; ela pertence ao nosso dia a dia e
temos consciência disso. Porém, o sentido do discurso, a
ideologia que o alimenta, precisa impregná-lo de pala-
vras e conceitos que anunciem os valores humanos que
decantam a paz, que lhe proclamam e promovem. A vio-
lência já é bastante denunciada, e quanto mais falamos
dela, mais lembramos de sua existência em nosso meio
social. É hora de começarmos a convocar a presença da
paz em nós, entre nós, entre nações, entre povos.
Um dos primeiros passos nesse sentido refere-se à ges-
tão de conflitos. Ou seja, prevenir os conflitos potencial-
mente violentos e reconstruir a paz e a confiança en- (https://www.facebook.com/jeangalvao.cartunista)
tre pessoas originárias de situação de guerra é um dos
exemplos mais comuns a serem considerados. Tal missão Considerando a relação entre a fala do personagem e a
estende-se às escolas, instituições públicas e outros lo- imagem visual, pode-se concluir que o que o leva a pular
cais de trabalho por todo o mundo, bem como aos par- a onda é a necessidade de
lamentos e centros de comunicação e associações.
a) demonstrar respeito às religiões.
Outro passo é tentar erradicar a pobreza e reduzir as de- b) realizar um ritual místico.
sigualdades, lutando para atingir um desenvolvimento c) divertir-se com os amigos.
sustentado e o respeito pelos direitos humanos, refor- d) preservar uma tradição familiar.
çando as instituições democráticas, promovendo a liber- e) esquivar-se da sujeira da água.
dade de expressão, preservando a diversidade cultural e
o ambiente. Resposta: Letra E. Em “a”: demonstrar respeito às re-
É, então, no entrelaçamento “paz — desenvolvimento — ligiões. = incorreto
direitos humanos — democracia” que podemos vislum- Em “b”: realizar um ritual místico. = incorreto
brar a educação para a paz. Em “c”: divertir-se com os amigos. = incorreto
Leila Dupret. Cultura de paz e ações sócio-educativas: Em “d”: preservar uma tradição familiar. = incorreto
desafios para a escola contemporânea. In: Psicol. Esc. Em “e”: esquivar-se da sujeira da água.
Educ. (Impr.) v. 6, n.º 1. Campinas, jun./2002 (com adap- O personagem pula a onda para que não seja atingido
tações). pelo lixo que se encontra no mar.

De acordo com o texto CG1A1AAA, os elementos “gestão 11. (PM-SP - SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR – VU-
de conflitos” e “erradicar a pobreza” devem ser concebi- NESP-2015) Leia a tira.
dos como

a) obstáculos para a construção da cultura da paz.


b) dispensáveis para a construção da cultura da paz.
c) irrelevantes na construção da cultura da paz.
d) etapas para a construção da cultura da paz.
e) consequências da construção da cultura da paz.

Resposta: Letra D. Em “a”: obstáculos para a constru-


ção da cultura da paz. = incorreto (Folha de S.Paulo, 02.10.2015. Adaptado)
Em “b”: dispensáveis para a construção da cultura da
paz. = incorreto Com sua fala, a personagem revela que
PORTUGUÊS

Em “c”: irrelevantes na construção da cultura da paz.


= incorreto a) a violência era comum no passado.
Em “d”: etapas para a construção da cultura da paz. b) as pessoas lutam contra a violência.
Em “e”: consequências da construção da cultura da paz. c) a violência está banalizada.
= incorreto d) o preço que pagou pela violência foi alto.

7
Resposta: Letra C. Em “a”: a violência era comum no 13. (TJ-AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUS-
passado. = incorreto TIÇA AVALIADOR – FGV-2018)
Em “b”: as pessoas lutam contra a violência. = incor-
reto Texto 1 – Além do celular e da carteira, cuidado com
Em “c”: a violência está banalizada. as figurinhas da Copa
Em “d”: o preço que pagou pela violência foi alto. = Gilberto Porcidônio – O Globo, 12/04/2018
incorreto
Infelizmente, a personagem revela que a violência está A febre do troca-troca de figurinhas pode estar atingindo
banalizada, nem há mais “punições” para os agressi- uma temperatura muito alta. Preocupados que os mais
vos. afoitos pelos cromos possam até roubá-los, muitos jor-
naleiros estão levando seus estoques para casa quando
12. (PM-SP - ASPIRANTE DA POLÍCIA MILITAR [INTE- termina o expediente. Pode parecer piada, mas há até
RIOR] – VUNESP-2017) Leia a charge. boatos sobre quadrilhas de roubo de figurinha espalha-
dos por mensagens de celular.

Sobre a estrutura do título dado ao texto 1, a afirmativa


adequada é:

a) as figurinhas da Copa passaram a ocupar o lugar do


celular e da carteira nos roubos urbanos;
b) as figurinhas da Copa se somaram ao celular e à cartei-
ra como alvo de desejo dos assaltantes;
c) o alerta dado no título se dirige aos jornaleiros que
vendem as figurinhas da Copa;
(Pancho. www.gazetadopovo.com.br) d) os ladrões passaram a roubar as figurinhas da Copa
É correto associar o humor da charge ao fato de que nas bancas de jornais;
e) as figurinhas da Copa se transformaram no alvo prin-
cipal dos ladrões.
a) os personagens têm uma autoestima elevada e são
otimistas, mesmo vivendo em uma situação de com-
Resposta: Letra B. Em “a”: as figurinhas da Copa
pleto confinamento.
passaram a ocupar o lugar do celular e da carteira nos
b) os dois personagens estão muito bem informados so-
roubos urbanos; = incorreto
bre a economia, o que não condiz com a imagem de Em “b”: as figurinhas da Copa se somaram ao celular e
criminosos. à carteira como alvo de desejo dos assaltantes;
c) o valor dos cosméticos afetará diretamente a vida dos Em “c”: o alerta dado no título se dirige aos jornaleiros
personagens, pois eles demonstram preocupação que vendem as figurinhas da Copa; = incorreto
com a aparência. Em “d”: os ladrões passaram a roubar as figurinhas da
d) o aumento dos preços de cosméticos não surpreende Copa nas bancas de jornais; = incorreto
os personagens, que estão acostumados a pagar caro Em “e”: as figurinhas da Copa se transformaram no
por eles nos presídios. alvo principal dos ladrões. = incorreto
e) os preços de cosméticos não deveriam ser relevantes O título do texto já nos dá a resposta: além do celular
para os personagens, dada a condição em que se en- e da carteira, ou seja, as figurinhas da Copa também
contram. passaram a ser alvo dos assaltantes.

Resposta: Letra E. Em “a”: os personagens têm uma 14. (TJ-AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUS-
autoestima elevada e são otimistas, mesmo vivendo TIÇA AVALIADOR – FGV-2018)
em uma situação de completo confinamento. = incor-
reto
Em “b”: os dois personagens estão muito bem infor-
mados sobre a economia, o que não condiz com a
imagem de criminosos. = incorreto
Em “c”: o valor dos cosméticos afetará diretamente a
vida dos personagens, pois eles demonstram preocu-
pação com a aparência. = incorreto
Em “d”: o aumento dos preços de cosméticos não sur-
preende os personagens, que estão acostumados a
pagar caro por eles nos presídios. = incorreto
PORTUGUÊS

Em “e”: os preços de cosméticos não deveriam ser


relevantes para os personagens, dada a condição em
que se encontram.
Pela condição em que as personagens se encontram, o
aumento no preço dos cosméticos não os afeta.

8
O humor da tira é conseguido através de uma quebra de A charge acima é uma homenagem a Stephen Hawking,
expectativa, que é: destacando o fato de o cientista:

a) o fato de um adulto colecionar figurinhas; a) ter alcançado o céu após sua morte;
b) as figurinhas serem de temas sociais e não esportivos; b) mostrar determinação no combate à doença;
c) a falta de muitas figurinhas no álbum; c) ser comparado a cientistas famosos;
d) a reclamação ser apresentada pelo pai e não pelo filho; d) ser reconhecido como uma mente brilhante;
e) uma criança ajudar a um adulto e não o contrário. e) localizar seus interesses nos estudos de Física.

Resposta: Letra B. Em “a”: o fato de um adulto cole- Resposta: Letra D. Em “a”: ter alcançado o céu após
sua morte; = incorreto
cionar figurinhas; = incorreto
Em “b”: mostrar determinação no combate à doença;
Em “b”: as figurinhas serem de temas sociais e não
= incorreto
esportivos; Em “c”: ser comparado a cientistas famosos; = incor-
Em “c”: a falta de muitas figurinhas no álbum; = incor- reto
reto Em “d”: ser reconhecido como uma mente brilhante;
Em “d”: a reclamação ser apresentada pelo pai e não Em “e”: localizar seus interesses nos estudos de Física.
pelo filho; = incorreto = incorreto
Em “e”: uma criança ajudar a um adulto e não o con- Usemos a fala de Einstein: “a mente brilhante que es-
trário. = incorreto távamos esperando”.
O humor está no fato de o álbum ser sobre um tema
incomum: assuntos sociais. 17. (TJ-PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – FUNÇÃO ADMI-
NISTRATIVA – IBFC-2017)
15. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018) Obser-
ve a charge abaixo. Texto II

A observação dos elementos não verbais do texto é res-


ponsável pelo entendimento do humor sugerido. Nesse
sentido, a evolução do homem e do computador, através
No caso da charge, a crítica feita à internet é: de tais elementos, deve ser entendida como:

a) a criação de uma dependência tecnológica excessiva; a) complementar.


b) a falta de exercícios físicos nas crianças; b) semelhante.
c) o risco de contatos perigosos; c) conflitante.
d) o abandono dos estudos regulares; d) antitética.
e) a falta de contato entre membros da família. e) idealizada.

16. (TJ-SC – ANALISTA ADMINISTRATIVO – FGV- Resposta: Letra D. As imagens mostram um con-
traste entre o desenvolvimento do computador e do
2018) Observe a charge a seguir:
homem; enquanto aquele vai se tornando mais “fino,
elegante”, este fica sedentário, engorda. A palavra
“antitética” significa “oposta, oposição”.

18. (TRF-2.ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA


ADMINISTRATIVA – CONSULPLAN-2017)
PORTUGUÊS

9
A produção da obra acima, Os Retirantes (1944), foi rea- A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao
lizada seis anos depois da publicação do romance Vidas mesmo tempo, como nos casos das charges, cartoons e
Secas. Nessa obra, ao abordar a miséria e a seca clara- anúncios publicitários.
mente vistas através da representação de uma família de Alguns exemplos:
retirantes, Cândido Portinari Cartão vermelho – denúncia de falta grave no futebol.
Placas de trânsito.
a) apresenta uma temática, assim como a descrição dos Imagem indicativa de “silêncio”.
personagens e do ambiente, de forma sutil e dinâmica. Semáforo com sinal amarelo advertindo “atenção”.
b) permite visualizar a degradação da figura humana e
o retrato da figura da morte afugentada pelos perso- SITE
nagens. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/reda-
c) apresenta elementos físicos presentes no cotidiano cao/linguagem.htm>
dos retirantes vítimas da seca e aspectos relacionados
à desigualdade social. A LINGUAGEM LITERÁRIA E A NÃO LITERÁRIA
d) utiliza a linguagem não verbal com o objetivo de cons-
truir uma imagem cuja ênfase mística se opõe aos fa- A linguagem literária é bem diferente da linguagem
tos da realidade observável. não literária. A linguagem literária é bela, emotiva, senti-
mental, trazendo as figuras de linguagem como a metá-
Resposta: Letra C. Em “a”: apresenta uma temática, fora, a metonímia, a inversão, etc. Apresenta o fantástico
assim como a descrição dos personagens e do am- que precisa ser descoberto através de uma leitura atenta.
biente, de forma sutil e dinâmica. A linguagem não literária é própria para a transmissão
Em “b”: permite visualizar a degradação da figura hu- do conhecimento, da informação, no âmbito das neces-
mana e o retrato da figura da morte afugentada pelos sidades da comunicação social. É a língua na sua função
personagens. pragmática, empregada pela ciência, pela técnica, pelo
Em “c”: apresenta elementos físicos presentes no co- jornalismo, pela conversação entre os falantes.
tidiano dos retirantes vítimas da seca e aspectos rela- Podemos estabelecer o seguinte confronto entre as
cionados à desigualdade social. duas formas:
Em “d”: utiliza a linguagem não verbal com o objetivo
de construir uma imagem cuja ênfase mística se opõe Linguagem Literária Linguagem não Literária
aos fatos da realidade observável. Intralinguística Extralinguística
A obra retrata, de forma nada sutil, os elementos físi- ambígua clara/exata
cos de uma família vítima da seca. conotação denotação
sugestão precisão
transfiguração da realidade realidade
LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL subjetiva objetiva
ordem inversa ordem direta
O que é linguagem? É o uso da língua como forma de
expressão e comunicação entre as pessoas. A linguagem INTERTEXTUALIDADE
não é somente um conjunto de palavras faladas ou es-
critas, mas também de gestos e imagens. Afinal, não nos Intertextualidade acontece quando há uma referên-
comunicamos apenas pela fala ou escrita, não é verdade? cia explícita ou implícita de um texto em outro. Também
Então, a linguagem pode ser verbalizada, e daí vem pode ocorrer com outras formas além do texto, música,
a analogia ao verbo. Você já tentou se pronunciar sem pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra fizer
utilizar o verbo? Se não, tente, e verá que é impossível se alusão à outra ocorre a intertextualidade.
ter algo fundamentado e coerente! Assim, a linguagem Apresenta-se explicitamente quando o autor informa
verbal é a que utiliza palavras quando se fala ou quando o objeto de sua citação. Num texto científico, por exem-
se escreve. plo, o autor do texto citado é indicado; já na forma im-
A linguagem pode ser não verbal, ao contrário da ver- plícita, a indicação é oculta. Por isso é importante para o
bal, não utiliza vocábulo, palavras para se comunicar. O leitor o conhecimento de mundo, um saber prévio, para
objetivo, neste caso, não é de expor verbalmente o que reconhecer e identificar quando há um diálogo entre os
se quer dizer ou o que se está pensando, mas se utilizar textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as
de outros meios comunicativos, como: placas, figuras, mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. Há
gestos, objetos, cores, ou seja, dos signos visuais. duas formas: a Paráfrase e a Paródia.
Vejamos: um texto narrativo, uma carta, o diálogo,
uma entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou tele- PARÁFRASE
visionado, um bilhete? = Linguagem verbal!
Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida de Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia
futebol, o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma dança, do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre
PORTUGUÊS

o aviso de “não fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a identi- para atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos
ficação de “feminino” e “masculino” através de figuras na do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi
porta do banheiro, as placas de trânsito? = Linguagem dito. Temos um exemplo citado por Affonso Romano
não verbal! Sant’Anna em seu livro “Paródia, paráfrase & Cia” (p. 23):

10
Texto Original Zumbi, foi dizimado em 1695, há uma inversão do sen-
tido do texto primitivo que foi substituído pela crítica à
Minha terra tem palmeiras escravidão existente no Brasil.
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam ESTUDO DE TEXTO(S)
Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”). Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor
que também é transmitida através de figuras, impreg-
Paráfrase nado de subjetivismo. Exemplo: um romance, um conto,
uma poesia... (Conotação, Figurado, Subjetivo, Pessoal).
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos Texto Não-Literário: preocupa-se em transmitir uma
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’. mensagem da forma mais clara e objetiva possível. Exem-
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’? plo: uma notícia de jornal, uma bula de medicamento.
Eu tão esquecido de minha terra... (Denotação, Claro, Objetivo, Informativo).
Ai terra que tem palmeiras O objetivo do texto é passar conhecimento para o lei-
Onde canta o sabiá! tor. Nesse tipo textual, não se faz a defesa de uma ideia.
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Exemplos de textos explicativos são os encontrados em
Bahia”). manuais de instruções.
Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é Informativo: Tem a função de informar o leitor a res-
muito utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia. peito de algo ou alguém, é o texto de uma notícia de
Aqui o poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o jornal, de revista, folhetos informativos, propagandas.
texto primitivo conservando suas ideias, não há mudança Uso da função referencial da linguagem, 3ª pessoa do
do sentido principal do texto, que é a saudade da terra singular.
natal. Descrição: Um texto em que se faz um retrato por es-
crito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto.
PARÓDIA A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o
adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa aborda-
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar gem mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou
outros textos, há uma ruptura com as ideologias impos- sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterio-
tas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos ridade. Significa “criar” com palavras a imagem do objeto
da língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque de inter- descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou
pretação, a voz do texto original é retomada para trans- da personagem a que o texto se refere.
formar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica Narração: Modalidade em que se conta um fato, fic-
de suas verdades incontestadas anteriormente. Com esse tício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
processo há uma indagação sobre os dogmas estabeleci- gar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos
dos e uma busca pela verdade real, concebida através do do mundo real. Há uma relação de anterioridade e pos-
raciocínio e da crítica. Os programas humorísticos fazem terioridade. O tempo verbal predominante é o passado.
uso contínuo dessa arte. Frequentemente os discursos Estamos cercados de narrações desde as que nos contam
de políticos são abordados de maneira cômica e contes- histórias infantis, como o “Chapeuzinho Vermelho” ou a
tadora, provocando risos e também reflexão a respeito “Bela Adormecida”, até as picantes piadas do cotidiano.
da demagogia praticada pela classe dominante. Com o Dissertação: Dissertar é o mesmo que desenvolver ou
mesmo texto utilizado anteriormente, teremos, agora, explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto
uma paródia. dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos,
juntamente com o texto de apresentação científica, o re-
Texto Original latório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em prin-
cípio, o texto dissertativo não está preocupado com a
Minha terra tem palmeiras persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento,
Onde canta o sabiá, sendo, portanto, um texto informativo.
As aves que aqui gorjeiam Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrá-
Não gorjeiam como lá. rio, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”). ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o
texto, além de explicar, também persuade o interlocutor
Paródia e modifica seu comportamento, temos um texto disser-
tativo-argumentativo.
Minha terra tem palmares Exemplos: texto de opinião, carta do leitor, carta de
onde gorjeia o mar solicitação, deliberação informal, discurso de defesa e
os passarinhos daqui acusação (advocacia), resenha crítica, artigos de opinião
não cantam como os de lá. ou assinados, editorial.
PORTUGUÊS

(Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”). Exposição: Apresenta informações sobre assuntos,
expõe ideias; explica, avalia, reflete. (analisa ideias). Es-
O nome Palmares, escrito com letra minúscula, subs- trutura básica; ideia principal; desenvolvimento; conclu-
titui a palavra palmeiras, há um contexto histórico, social são. Uso de linguagem clara. Exemplo: ensaios, artigos
e racial neste texto, Palmares é o quilombo liderado por científicos, exposições.

11
Injunção: Indica como realizar uma ação. É também Uma das mais famosas crônicas da história da litera-
utilizado para predizer acontecimentos e comportamen- tura luso-brasileira corresponde à definição de crônica
tos. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, como “narração histórica”. É a “Carta de Achamento do
na sua maioria, empregados no modo imperativo. Há Brasil”, de Pero Vaz de Caminha”, na qual são narrados
também o uso do futuro do presente. Exemplo: Receita ao rei português, D. Manuel, o descobrimento do Brasil
de um bolo e manuais. e como foram os primeiros dias que os marinheiros por-
Diálogo: é uma conversação estabelecida entre duas tugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da
crônica como gênero que comenta assuntos do dia a dia.
ou mais pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral,
Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado
como pausas e retomadas.
de Assis:
Entrevista: é uma conversação entre duas ou mais
pessoas (o entrevistador e o entrevistado), na qual per- 1. O nascimento da crônica
guntas são feitas pelo entrevistador para obter informa-
ção do entrevistado. Os repórteres entrevistam as suas “Há um meio certo de começar a crônica por uma tri-
fontes para obter declarações que validem as informa- vialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-
ções apuradas ou que relatem situações vividas por -se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um
personagens. Antes de ir para a rua, o repórter recebe touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Res-
uma pauta que contém informações que o ajudarão a vala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se
construir a matéria. Além das informações, a pauta su- algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre
gere o enfoque a ser trabalhado assim como as fontes a a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la
serem entrevistadas. Antes da entrevista o repórter cos- glace est rompue está começada a crônica. (...)
tuma reunir o máximo de informações disponíveis sobre Machado de Assis. Crônicas Escolhidas. São Paulo:
o assunto a ser abordado e sobre a pessoa que será en- Editora Ática, 1994.
trevistada. Munido deste material, ele formula perguntas
Publicada em jornal ou revista onde é publicada, des-
que levem o entrevistado a fornecer informações novas
tina-se à leitura diária ou semanal e trata de aconteci-
e relevantes. O repórter também deve ser perspicaz para mentos cotidianos. A crônica se diferencia no jornal por
perceber se o entrevistado mente ou manipula dados não buscar exatidão da informação. Diferente da notícia,
nas suas respostas, fato que costuma acontecer princi- que procura relatar os fatos que acontecem, a crônica os
palmente com as fontes oficiais do tema. Por exemplo, analisa, dá-lhes um colorido emocional, mostrando aos
quando o repórter vai entrevistar o presidente de uma olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ân-
instituição pública sobre um problema que está a afe- gulo, singular.
tar o fornecimento de serviços à população, ele tende a O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em prin-
evitar as perguntas e a querer reverter a resposta para o cípio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação
que considera positivo na instituição. É importante que o com esse leitor é que faz com que, dentre os assuntos
repórter seja insistente. O entrevistador deve conquistar tratados, o cronista dê maior atenção aos problemas do
a confiança do entrevistado, mas não tentar dominá-lo, modo de vida urbano, do mundo contemporâneo, dos
nem ser por ele dominado. Caso contrário, acabará indu- pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas gran-
zindo as respostas ou perdendo a objetividade. des cidades.
Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer
As entrevistas apresentam com frequência alguns
que a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura.
sinais de pontuação como o ponto de interrogação, o
De um recebe a observação atenta da realidade cotidiana
travessão, aspas, reticências, parêntese e as vezes col- e do outro, a construção da linguagem, o jogo verbal.
chetes, que servem para dar ao leitor maior informações Algumas crônicas são editadas em livro, para garantir sua
que ele supostamente desconhece. O título da entrevista durabilidade no tempo.
é um enunciado curto que chama a atenção do leitor e
resume a ideia básica da entrevista. Pode estar todo em O QUE É LINGUAGEM?
letra maiúscula e recebe maior destaque da página. Na
maioria dos casos, apenas as preposições ficam com a É o uso da língua como forma de expressão e comu-
letra minúscula. O subtítulo introduz o objetivo principal nicação entre as pessoas. Agora, a linguagem não é so-
da entrevista e não vem seguido de ponto final. É um mente um conjunto de palavras faladas ou escritas, mas
pequeno texto e vem em destaque também. A fotografia também de gestos e imagens. Afinal, não nos comunica-
do entrevistado aparece normalmente na primeira pá- mos apenas pela fala ou escrita, não é verdade?
gina da entrevista e pode estar acompanhada por uma Então, a linguagem pode ser verbalizada, e daí vem
frase dita por ele. As frases importantes ditas pelo entre- a analogia ao verbo. Você já tentou se pronunciar sem
utilizar o verbo? Se não, tente, e verá que é impossível
vistado e que aparecem em destaque nas outras páginas
se ter algo fundamentado e coerente! Assim, a lingua-
da entrevista são chamadas de “olho”.
gem verbal é que se utiliza de palavras quando se fala ou
Crônica: Assim como a fábula e o enigma, a crônica quando se escreve.
é um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra A linguagem pode ser não verbal, ao contrário da ver-
(Cronos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos
PORTUGUÊS

bal, não se utiliza do vocábulo, das palavras para se comu-


em ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade. nicar. O objetivo, neste caso, não é de expor verbalmente
Mas não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as o que se quer dizer ou o que se está pensando, mas se uti-
principais características da crônica, técnicas de sua reda- lizar de outros meios comunicativos, como: placas, figuras,
ção e terá exemplos. gestos, objetos, cores, ou seja, dos signos visuais.

12
Vejamos:  um texto narrativo, uma carta, o diálogo,
uma entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou te-
levisionado, um bilhete? Linguagem verbal!
Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida de
futebol, o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma dança,
o aviso de “não fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a iden-
tificação de “feminino” e “masculino” através de figuras
na porta do banheiro, as placas de trânsito? Linguagem
não verbal!
A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao
mesmo tempo, como nos casos das charges, cartoons e
anúncios publicitários.
Imagem indicativa de “silêncio”.
Observe alguns exemplos:

Cartão vermelho – denúncia de falta grave no futebol.  

Semáforo com sinal amarelo advertindo “atenção”. 

1. Linguagem como forma de Ação e Interação

A concepção da linguagem ainda é bastante debatida


entre os linguistas, que até hoje ainda não chegaram a
um consenso da sua concepção. Ela é sintetizada de três
maneiras diferentes, sendo que o modo que mais utiliza-
mos em nossos relacionamentos com outras pessoas é a
de ação e interação.
Neste modo, a linguagem funciona como uma “ati-
vidade” de ação/interação entre os envolvidos nesta co-
Charge do autor Tacho – exemplo de linguagem ver- municação. Os interlocutores expõem algo ao outro para
bal (óxente, polo Norte 2100) e não verbal (imagem: sol, que este seja induzido a interagir na conversa, que pode
cactos, pinguim). ser verbal, não verbal, mista e digital.
A atividade de comunicação é indispensável ao ser
humano e aos animais. Existem diversos meios de comu-
nicação:
→ Entre os animais: a dança das abelhas, os odores, as
produções vocais (como no caso das aves)
→ Entre os homens: a dança, a pintura, a mímica, os
gestos, os sinais de trânsito, os símbolos, a lingua-
gem dos surdos-mudos, a dos deficientes visuais, a
linguagem computacional, a linguagem matemáti-
ca, as línguas naturais etc.
  De um modo geral, dá-se o nome de linguagem a
todos os meios de comunicação: linguagem animal e lin-
Placas de trânsito – à frente “proibido andar de bici- guagem humana, em linguagem não verbal e linguagem
cleta”, atrás “quebra-molas”. verbal. O termo é, pois, empregado à aptidão humana de
associar os sons produzidos pelo aparelho fonador hu-
mano a um conteúdo significativo e utilizar o resultado
dessa associação para a interação verbal. Fala-se, pois,
em linguagem verbal.
É um termo muito amplo: as línguas naturais (portu-
PORTUGUÊS

guês, inglês, por exemplo) são manifestações desse algo


mais geral. Saussure, o linguista genebrino, concebia a
  linguagem em duas partes: a língua e a fala, e era a pri-
Símbolo que se coloca na porta para indicar “sanitário meira o seu objeto de estudo; embora, reconhecesse a
masculino”. interdependência entre elas.

13
Enquanto sistema de signos, a linguagem é um códi- 1.5. As funções da linguagem
go - um conjunto de signos sujeitos a regras de combi-
nação e utilizado na produção e na compreensão de uma Para entendermos com clareza as funções da lingua-
mensagem. gem, é bom primeiramente conhecermos as etapas da
comunicação.
O signo é compreendido por:  Ao contrário do que muitos pensam, a comunicação
- Significante, veículo do significado (parte perceptí- não acontece somente quando falamos, estabelecemos
vel, sensível); um diálogo ou redigimos um texto, ela se faz presente
- Significado, o que se entende quando se usa o signo em todos (ou quase todos) os momentos.
(parte inteligível). Comunicamo-nos com nossos colegas de trabalho,
com o livro que lemos, com a revista, com os documen-
Os linguistas compreendem que há no processo de tos que manuseamos, através de nossos gestos, ações,
comunicação seis elementos:  até mesmo através de um beijo de “boa-noite”.
- Emissor (remetente), envia a mensagem;  É o que diz Bordenave quando se refere à comuni-
- Receptor (destinatário), recebe a mensagem; cação: “A comunicação confunde-se com a própria vida.
- Mensagem - informação veiculada;  Temos tanta consciência de que comunicamos como de
- Código, sistema de signos utilizados para codificar que respiramos ou andamos. Somente percebemos a
a mensagem;  sua essencial importância quando, por acidente ou uma
- Contexto (referente), aquilo a que a mensagem se doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. (Bor-
refere; denave, 1986. p.17-9)”
- Contato (canal), veículo, meio físico utilizado para
transmitir a mensagem. No ato de comunicação, percebemos a existência de
alguns elementos, são eles:
1.1. Concepção de linguagem ▪ Emissor: é aquele que envia a mensagem (pode ser
uma única pessoa ou um grupo de pessoas).
De acordo com o prof. Luiz C. Travaglia, no seu li- ▪ Mensagem: é o conteúdo (assunto) das informações
vro  Gramática e Interação, admite-se para a linguagem que ora são transmitidas. 
admite três concepções: ▪ Receptor: é aquele a quem a mensagem é endere-
çada (um indivíduo ou um grupo), também conhe-
1.2. Linguagem como expressão do pensamento cido como destinatário.
▪ Canal de comunicação: é o meio pelo qual a mensa-
Se a linguagem é expressão do pensamento, quando gem é transmitida.
as pessoas não se expressam bem é porque não sabem ▪ Código: é o conjunto de signos e de regras de com-
elaborar o pensamento. Se o enunciador expressa o que binação desses signos utilizados para elaborar a
pensa, sua fala é resultado da sua maneira própria de mensagem: o emissor codifica aquilo que o recep-
organizar as suas ideias. O texto, dessa forma, nada tem tor irá decodificar.
a ver com o leitor ou com quem se fala, e sim, somente ▪ Contexto: é o objeto ou a situação a que a mensa-
com o enunciador. Nessa linha de pensamento encontra- gem se refere.
-se a gramática normativa ou tradicional.
1.3. Linguagem como instrumento de comunica- Partindo desses seis elementos, Roman Jakobson,
ção linguista russo, elaborou estudos acerca das funções da
linguagem, os quais são muito úteis para a análise e pro-
Neste conceito a língua é vista como um código, que dução de textos. As seis funções são:
deve ser dominado pelos falantes para que as comuni-
cações sejam efetivadas. A comunicação, pois, depende 1. Função referencial: referente é o objeto ou situa-
do grau de domínio que o falante tem da língua como ção de que a mensagem trata. A função referencial pri-
sistema. O falante utiliza-se dos conceitos estruturais que vilegia justamente o referente da mensagem, buscando
conhece para expressar o pensamento; o ouvinte deco- transmitir informações objetivas sobre ele. Essa função
difica os sinais codificados por ele e transforma-os em predomina nos textos de caráter científico e é privilegia-
nova mensagem. Essa linha de pensamento pertence ao do nos textos jornalísticos.
estruturalismo e também ao gerativismo. 2. Função emotiva: através dessa função, o emissor
imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal: emo-
1.4. Linguagem como forma ou processo de inte- ções, avaliações, opiniões. O leitor sente no texto a pre-
ração sença do emissor.
Exemplo: “[…] Mas quem sou eu para censurar os
Nesta concepção o falante realiza ações, age e intera- culpados? O pior é que preciso perdoá-los. É necessário
ge com o outro (com quem ele fala). Dessa forma, a lin- chegar a tal nada que indiferentemente se ame ou não se
guagem toma uma dimensão mais ampla e não uniforme, ame o criminoso que nos mata. Mas não estou seguro de
pois inserindo num contexto ideológico e sociocultural, mim mesmo: preciso amar aquele que me trucida e per-
PORTUGUÊS

ela não tem direção preestabelecida vai depender unica- guntar quem de vós me trucida. E minha vida, mais forte
mente da interação entre os dois sujeitos. Fazem parte do que eu, responde que quer porque quer vingança e
dessa corrente a Teoria do Discurso, Linguística Textual, responde que devo lutar como quem se afoga, mesmo
Semântica Argumentativa, Análise do Discurso, Análise que eu morra depois. Se assim for, que assim seja [...]”.
da Conversação. (Fragmento de A hora da estrela, de Clarice Lispector)

14
3.  Função conativa:  essa função procura organizar Linguagem utilizada para falar, explicar ou descrever
o texto de forma que se imponha sobre o receptor da o próprio código: esse é o principal objetivo da função
mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas mensa- metalinguística. Nas situações em que ela é empregada,
gens em que predomina essa função, busca-se envolver geralmente na poesia e na publicidade, a atenção está
o leitor com o conteúdo transmitido, levando-o a adotar voltada para o próprio código:
este ou aquele comportamento. Nos tipos de textos em 6. Função poética: quando a mensagem é elaborada
que a função conativa predomina, é possível perceber o de forma inovadora e imprevista, utilizando combina-
uso da 2ª pessoa como maneira de interpelar alguém, ções sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias,
além do emprego dos  verbos no  imperativo para con- temos a manifestação da função poética da linguagem.
vencer o interlocutor: Essa função é capaz de despertar no leitor prazer estético
e surpresa. É muito encontrada na Literatura, especial-
Exemplo: mente na poesia, a função poética apresenta um texto
no qual a função está centrada na própria mensagem,
rompendo com o modo tradicional com o vemos a lin-
guagem.

Exemplo:

4. Função fática: a palavra fática significa “ruído, ru-


mor”. Foi utilizada inicialmente para designar certas for-
mas usadas para chamar a atenção (ruídos como psiu,
ahn, ei). Essa função ocorre quando a mensagem se
orienta sobre o canal de comunicação ou contato, bus-
cando verificar e fortalecer sua eficiência. Tipo de mensa- Essas funções não são exploradas isoladamente; de
gem cujo objetivo é prolongar ou interromper uma con- modo geral, ocorre a superposição de várias delas. Há,
versa. Nela, o emissor utiliza procedimentos para manter no entanto, aquela que se sobressai, assim podemos
contato físico ou psicológico com o interlocutor: identificar a finalidade principal do texto.

Exemplo: VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS


“(...) Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem? A linguagem é a característica que nos difere dos
Tudo bem eu vou indo correndo demais seres, permitindo-nos a oportunidade de
Pegar meu lugar no futuro, e você? expressar sentimentos, revelar conhecimentos, expor
Tudo bem, eu vou indo em busca nossa opinião frente aos assuntos relacionados ao nosso
De um sono tranquilo, quem sabe … cotidiano e, sobretudo, promovendo nossa inserção ao
Quanto tempo... pois é... convívio social. Dentre os fatores que a ela se relacionam
Quanto tempo... destacam-se os níveis da fala, que são basicamente dois:
Me perdoe a pressa o nível de formalidade e o de informalidade.
É a alma dos nossos negócios O padrão formal está diretamente ligado à linguagem
Oh! Não tem de quê escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um
Eu também só ando a cem modo geral. Razão pela qual nunca escrevemos da
Quando é que você telefona? mesma maneira que falamos. Este fator foi determinante
Precisamos nos ver por aí (…)”. para a que a mesma pudesse exercer total soberania
(Trecho da música Sinal Fechado, de Paulinho da Vio- sobre as demais.
la). Quanto ao nível informal, por sua vez, representa
PORTUGUÊS

o estilo considerado “de menor prestígio”, e isto tem


5. Função metalinguística: quando a linguagem se gerado controvérsias entre os estudos da língua, uma vez
volta sobre si mesma, transformando-se em seu próprio que, para a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve
referente, ocorre a função metalinguística. de maneira errônea é considerada “inculta”, tornando-se
desta forma um estigma.

15
Compondo o quadro do padrão informal da TIPOLOGIA E GÊNERO TEXTUAL
linguagem, estão as chamadas variedades linguísticas,
as quais representam as variações de acordo com as A todo o momento nos deparamos com vários textos,
condições sociais, culturais, regionais e históricas em que sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença
é utilizada. Dentre elas destacam-se: do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo
A) Variações históricas: Dado o dinamismo que a que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes
língua apresenta, a mesma sofre transformações interlocutores são as peças principais em um diálogo ou
ao longo do tempo. Um exemplo bastante repre- em um texto escrito.
sentativo é a questão da ortografia, se levarmos É de fundamental importância sabermos classificar
em consideração a palavra farmácia, uma vez que os textos com os quais travamos convivência no nosso
a mesma era grafada com “ph”, contrapondo-se à dia a dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos
linguagem dos internautas, a qual se fundamenta textuais e gêneros textuais.
pela supressão dos vocábulos. Analisemos, pois, o Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
fragmento exposto: fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa
opinião sobre determinado assunto, descrevemos algum
Antigamente lugar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre
alguém que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles nessas situações corriqueiras que classificamos os nossos
e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam textos naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição
anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os e Dissertação.
janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-
alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses As tipologias textuais se caracterizam pelos
debaixo do balaio.” aspectos de ordem linguística
Carlos Drummond de Andrade
Os tipos textuais designam uma sequência definida
Comparando-o à modernidade, percebemos um pela natureza linguística de sua composição. São
vocabulário antiquado. observados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais,
relações logicas. Os tipos textuais são o narrativo,
B) Variações regionais: São os chamados dialetos, descritivo, argumentativo/dissertativo, injuntivo e
que são as marcas determinantes referentes a di- expositivo.
ferentes regiões. Como exemplo, citamos a palavra A) Textos narrativos – constituem-se de verbos de
mandioca que, em certos lugares, recebe outras ação demarcados no tempo do universo narrado,
nomenclaturas, tais como: macaxeira e aipim. Fi- como também de advérbios, como é o caso de
gurando também esta modalidade estão os sota- antes, agora, depois, entre outros: Ela entrava em
ques, ligados às características orais da linguagem. seu carro quando ele apareceu. Depois de muita
conversa, resolveram...
C) Variações sociais ou culturais: Estão diretamente B) Textos descritivos – como o próprio nome
ligadas aos grupos sociais de uma maneira geral e indica, descrevem características tanto físicas
também ao grau de instrução de uma determinada quanto psicológicas acerca de um determinado
pessoa. Como exemplo, citamos as gírias, os jar- indivíduo ou objeto. Os tempos verbais aparecem
gões e o linguajar caipira. demarcados no presente ou no pretérito
As gírias pertencem ao vocabulário específico de imperfeito: “Tinha os cabelos mais negros como a
certos grupos, como os surfistas, cantores de rap, asa da graúna...”
tatuadores, entre outros. Os jargões estão relacionados C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar
ao profissionalismo, caracterizando um linguajar técnico. um assunto ou uma determinada situação que
Representando a classe, podemos citar os médicos, se almeje desenvolvê-la, enfatizando acerca das
advogados, profissionais da área de informática, dentre razões de ela acontecer, como em: O cadastramento
outros. irá se prorrogar até o dia 02 de dezembro, portanto,
Vejamos um poema sobre o assunto:
não se esqueça de fazê-lo, sob pena de perder o
benefício.
Vício na fala
D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de
uma modalidade na qual as ações são prescritas
Para dizerem milho dizem mio
de forma sequencial, utilizando-se de verbos
Para melhor dizem mió
expressos no imperativo, infinitivo ou futuro do
Para pior pió
presente: Misture todos os ingrediente e bata no
Para telha dizem teia
liquidificador até criar uma massa homogênea.
Para telhado dizem teiado
E) Textos argumentativos (dissertativo) –
E vão fazendo telhados.
Demarcam-se pelo predomínio de operadores
PORTUGUÊS

Oswald de Andrade
argumentativos, revelados por uma carga
ideológica constituída de argumentos e contra-
SITE
argumentos que justificam a posição assumida
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
acerca de um determinado assunto: A mulher do
gramatica/variacoes-linguisticas.htm>

16
mundo contemporâneo luta cada vez mais para Fique ligado! Evite desperdícios.
conquistar seu espaço no mercado de trabalho, o que Energia elétrica.
significa que os gêneros estão em complementação, A natureza cobra o preço do desperdício.
não em disputa. Internet: <www.tjdft.jus.br> (com adaptações)

GÊNEROS TEXTUAIS Há no texto elementos característicos das tipologias ex-


positiva e injuntiva.
São os textos materializados que encontramos em
(  ) CERTO   (  ) ERRADO
nosso cotidiano; tais textos apresentam características
sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função, Resposta: Certo. Texto injuntivo – ou instrucional – é
composição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos: aquele que passa instruções ao leitor. O texto acima
receita culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema, apresenta tal característica.
editorial, piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum,
blog, etc. Leia o texto a seguir e responda à questão..
A escolha de um determinado gênero discursivo
depende, em grande parte, da situação de produção, Como nasce uma história
ou seja, a finalidade do texto a ser produzido, quem são (fragmento)
os locutores e os interlocutores, o meio disponível para
veicular o texto, etc. Quando cheguei ao edifício, tomei o elevador que serve
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a do primeiro ao décimo quarto andar. Era pelo menos o
esferas de circulação. Assim, na esfera jornalística, por que dizia a tabuleta no alto da porta.
exemplo, são comuns gêneros como notícias, reportagens, — Sétimo — pedi.
A porta se fechou e começamos a subir. Minha atenção
editoriais, entrevistas e outros; na esfera de divulgação
se fixou num aviso que dizia:
científica são comuns gêneros como verbete de dicionário É expressamente proibido os funcionários, no ato da subi-
ou de enciclopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, da, utilizarem os elevadores para descerem.
conferência. Desde o meu tempo de ginásio sei que se trata de pro-
blema complicado, este do infinito pessoal. Prevaleciam
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS então duas regras mestras que deveriam ser rigorosa-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto mente obedecidas. Uma afirmava que o sujeito, sendo
Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – o mesmo, impedia que o verbo se flexionasse. Da outra
São Paulo: Saraiva, 2010. infelizmente já não me lembrava.
Português – Literatura, Produção de Textos & Mas não foi o emprego pouco castiço do infinito pessoal
Gramática – volume único / Samira Yousseff Campedelli, que me intrigou no tal aviso: foi estar ele concebido de
Jésus Barbosa Souza. – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. maneira chocante aos delicados ouvidos de um escritor
que se preza.
SITE Qualquer um, não sendo irremediavelmente burro, en-
http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia- tenderia o que se pretende dizer neste aviso. Pois um ti-
jolo de burrice me baixou na compreensão, fazendo com
textual.htm
que eu ficasse revirando a frase na cabeça: descerem, no
ato da subida? Que quer dizer isto? E buscava uma forma
simples e correta de formular a proibição:
É proibido subir para depois descer.
É proibido subir no elevador com intenção de descer.
EXERCÍCIOS COMENTADOS É proibido ficar no elevador com intenção de descer, quan-
do ele estiver subindo.
Se quiser descer, não tome o elevador que esteja subindo.
1. (TJ-DFT – CONHECIMENTOS BÁSICOS – TÉCNICO Mais simples ainda:
JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – CESPE – Se quiser descer, só tome o elevador que estiver descendo.
2015) De tanta simplicidade, atingi a síntese perfeita do que
Nelson Rodrigues chamava de óbvio ululante, ou seja, a
Ouro em Fios enunciação de algo que não quer dizer absolutamente
nada: Se quiser descer, não suba.
A natureza é capaz de produzir materiais preciosos, Fernando Sabino. A volta por cima. Rio de Janeiro: Re-
como o ouro e o cobre - condutor de ENERGIA ELÉTRICA. cord,
O ouro já é escasso. A energia elétrica caminha para isso. 1995, p. 137-140. (Com adaptações.)
Enquanto cientistas e governos buscam novas fontes de
energia sustentáveis, faça sua parte aqui no TJDFT:
- Desligue as luzes nos ambientes onde é possível usar a 2. (INSS – TÉCNICO DO SEGURO SOCIAL – CESPE –
2008) O gênero textual apresentado permite o emprego
iluminação natural.
da linguagem coloquial, como ocorre, por exemplo, em
PORTUGUÊS

- Feche as janelas ao ligar o ar-condicionado. “Qualquer um, não sendo irremediavelmente burro” e “um
- Sempre desligue os aparelhos elétricos ao sair do am- tijolo de burrice”.
biente.
- Utilize o computador no modo espera. ( ) CERTO ( ) ERRADO

17
Resposta: Certo. O gênero é a crônica, conta fatos B) Adversativas: ligam duas orações ou palavras,
do dia a dia de maneira descontraída, o que permite a expressando ideia de contraste ou compensação.
utilização de uma linguagem mais próxima do leitor; São elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto,
no entanto, não obstante.
CONECTIVOS: CLASSIFICAÇÃO, USO, Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.
EFEITOS DE SENTIDO.
C) Alternativas: ligam orações ou palavras, expres-
sando ideia de alternância ou escolha, indicando
CONJUNÇÃO fatos que se realizam separadamente. São elas: ou,
ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, tal-
Além da preposição, há outra palavra também inva- vez... talvez.
riável que, na frase, é usada como elemento de ligação: Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou duas
palavras de mesma função em uma oração: D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
que expressa ideia de conclusão ou consequência.
O concurso será realizado nas cidades de Campinas e São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por
São Paulo. conseguinte, por isso, assim.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito. Marta estava bem preparada para o teste, portanto
não ficou nervosa.
1. Morfossintaxe da Conjunção Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão.
As conjunções, a exemplo das preposições, não exer- E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração
cem propriamente uma função sintática: são conectivos. que a explica, que justifica a ideia nela contida. São
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto.
2. Classificação da Conjunção Não demore, que o filme já vai começar.
Falei muito, pois não gosto do silêncio!
De acordo com o tipo de relação que estabelecem,
as conjunções podem ser classificadas em coordenati-
4. Conjunções Subordinativas
vas e subordinativas. No primeiro caso, os elementos
ligados pela conjunção podem ser isolados um do outro.
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma de-
Esse isolamento, no entanto, não acarreta perda da uni-
las dependente da outra. A oração dependente, intro-
dade de sentido que cada um dos elementos possui. Já
duzida pelas conjunções subordinativas, recebe o nome
no segundo caso, cada um dos elementos ligados pela
de oração subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha
conjunção depende da existência do outro. Veja:
começado quando ela chegou.
Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
O baile já tinha começado: oração principal
Podemos separá-las por ponto:
quando: conjunção subordinativa (adverbial tempo-
Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
ral)
ela chegou: oração subordinada
Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse-
quentemente, orações coordenadas) coordenativa –
As conjunções subordinativas subdividem-se em in-
“mas”. Já em:
tegrantes e adverbiais:
Espero que eu seja aprovada no concurso!
Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
Integrantes - Indicam que a oração subordinada por
a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração
elas introduzida completa ou integra o sentido da prin-
principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período te-
cipal. Introduzem orações que equivalem a substantivos,
mos uma oração subordinada substantiva objetiva direta
ou seja, as orações subordinadas substantivas. São elas:
(ela exerce a função de objeto direto do verbo da oração
que, se.
principal).
Quero que você volte. (Quero sua volta)
3. Conjunções Coordenativas
Adverbiais - Indicam que a oração subordinada exer-
São aquelas que ligam orações de sentido completo ce a função de adjunto adverbial da principal. De acordo
e independente ou termos da oração que têm a mesma com a circunstância que expressam, classificam-se em:
função gramatical. Subdividem-se em:
A) Causais: introduzem uma oração que é causa da
A) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando ocorrência da oração principal. São elas: porque,
que, como (= porque, no início da frase), pois que,
PORTUGUÊS

ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e


não), não só... mas também, não só... como também, visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde
bem como, não só... mas ainda. que, etc.
A sua pesquisa é clara e objetiva.
Não só dança, mas também canta. Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.

18
B) Concessivas: introduzem uma oração que expres- A briga começou assim que saímos da festa.
sa ideia contrária à da principal, sem, no entanto, H) Comparativas: introduzem uma oração que ex-
impedir sua realização. São elas: embora, ainda pressa ideia de comparação com referência à ora-
que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por ção principal. São elas: como, assim como, tal como,
mais que, posto que, conquanto, etc. como se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do
Embora fosse tarde, fomos visitá-lo. que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (com-
binado com menos ou mais), etc.
C) Condicionais: introduzem uma oração que indica O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.
a hipótese ou a condição para ocorrência da prin-
cipal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se, a
não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc. I) Consecutivas: introduzem uma oração que expres-
Se precisar de minha ajuda, telefone-me. sa a consequência da principal. São elas: de sorte
que, de modo que, sem que (= que não), de forma
que, de jeito que, que (tendo como antecedente na
#FicaDica oração principal uma palavra como tal, tão, cada,
tanto, tamanho), etc.
Você deve ter percebido que a conjunção Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do
condicional “se” também é conjunção inte- exame.
grante. A diferença é clara ao ler as orações
que são introduzidas por ela. Acima, ela nos
dá a ideia da condição para que recebamos FIQUE ATENTO!
um telefonema (se for preciso ajuda). Já na Muitas conjunções não têm classificação
oração: Não sei se farei o concurso. Não única, imutável, devendo, portanto, ser clas-
há ideia de condição alguma, há? Outra coi- sificadas de acordo com o sentido que apre-
sa: o verbo da oração principal (sei) pede sentam no contexto (destaque da Zê!).
complemento (objeto direto, já que “quem
não sabe, não sabe algo”). Portanto, a oração
em destaque exerce a função de objeto di- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
reto da oração principal, sendo classificada SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
como oração subordinada substantiva obje- Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
tiva direta. Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
D) Conformativas: introduzem uma oração que ex- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
prime a conformidade de um fato com outro. São ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
elas: conforme, como (= conforme), segundo, con-
soante, etc. SITE
O passeio ocorreu como havíamos planejado. http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
morf84.php
E) Finais: introduzem uma oração que expressa a fi-
nalidade ou o objetivo com que se realiza a oração VERBOS: PESSOA, NÚMERO, TEMPO E
principal. São elas: para que, a fim de que, que, por- MODO. VOZES VERBAIS.
que (= para que), que, etc.
Toque o sinal para que todos entrem no salão.
VERBO
F) Proporcionais: introduzem uma oração que ex-
pressa um fato relacionado proporcionalmente Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, número,
à ocorrência do expresso na principal. São elas: tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
à medida que, à proporção que, ao passo que e nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
as combinações quanto mais... (mais), quanto me- é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre
nos... (menos), quanto menos... (mais), quanto me- outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenôme-
nos... (menos), etc. no (choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).
O preço fica mais caro à medida que os produtos es-
casseiam. 1. Estrutura das Formas Verbais

Observação: Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar


São incorretas as locuções proporcionais à medida os seguintes elementos:
A) Radical: é a parte invariável, que expressa o signi-
em que, na medida que e na medida em que.
ficado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-
-ava; fal-am. (radical fal-)
G) Temporais: introduzem uma oração que acrescen-
B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que
PORTUGUÊS

ta uma circunstância de tempo ao fato expresso na


indica a conjugação a que pertence o verbo. Por
oração principal. São elas: quando, enquanto, antes exemplo: fala-r. São três as conjugações:
que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde 1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática
que, sempre que, assim que, agora que, mal (= as-
- E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
sim que), etc.

19
C) Desinência modo-temporal: é o elemento que B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alte-
designa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo: rações no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei,
falávamos (indica o pretérito imperfeito do indicativo) fizesse.
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo)
Observação:
D) Desinência número-pessoal: é o elemento que Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas
designa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/
número (singular ou plural): corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais altera-
ções não caracterizam irregularidade, porque o fonema
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam permanece inalterado.
(indica a 3.ª pessoa do plural.)
C) Defectivos: são aqueles que não apresentam con-
jugação completa. Os principais são adequar, pre-
FIQUE ATENTO! caver, computar, reaver, abolir, falir.
O verbo pôr, assim como seus derivados D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito
(compor, repor, depor), pertencem à 2.ª conju- e, normalmente, são usados na terceira pessoa do
gação, pois a forma arcaica do verbo pôr era singular. Os principais verbos impessoais são:
poer. A vogal “e”, apesar de haver desapareci-
do do infinitivo, revela-se em algumas formas 1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali-
do verbo: põe, pões, põem, etc. zar-se ou fazer (em orações temporais).
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia =
Existiam)
2. Formas Rizotônicas e Arrizotônicas Houve duas guerras mundiais. (Houve = Acontece-
ram)
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acen-
to tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, 2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico Faz invernos rigorosos na Europa.
não cai no radical, mas sim na terminação verbal (fora do Era primavera quando o conheci.
radical): opinei, aprenderão, amaríamos. Estava frio naquele dia.

3. Classificação dos Verbos 3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natu-


reza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, tro-
Classificam-se em: vejar, amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém,
A) Regulares: são aqueles que apresentam o radi- se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo
cal inalterado durante a conjugação e desinências “amanhecer” em sentido figurado. Qualquer verbo
idênticas às de todos os verbos regulares da mes- impessoal, empregado em sentido figurado, dei-
ma conjugação. Por exemplo: comparemos os ver- xa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá
bos “cantar” e “falar”, conjugados no presente do conjugação completa.
Modo Indicativo: Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
canto falo Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

cantas falas 4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando


canta falas tempo: Já passa das seis.
cantamos falamos 5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição
cantais falais “de”, indicando suficiência:
cantam falam Basta de tolices.
Chega de promessas.
#FicaDica
6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem,
Observe que, retirando os radicais, as desi- Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem
nências modo-temporal e número-pessoal referência a sujeito expresso anteriormente (por
mantiveram-se idênticas. Tente fazer com exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso,
outro verbo e perceberá que se repetirá o classificar o sujeito como hipotético, tornando-se,
fato (desde que o verbo seja da primeira tais verbos, pessoais.
PORTUGUÊS

conjugação e regular!). Faça com o verbo


“andar”, por exemplo. Substitua o radical 7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente
“cant” e coloque o “and” (radical do verbo de “ser possível”. Por exemplo:
andar). Viu? Fácil! Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

20
E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural.
São unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais
(cacarejar, cricrilar, miar, latir, piar).

Os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?

Principais verbos unipessoais:

 Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

 Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que,
além das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é
empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

FIQUE ATENTO!
Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/
PORTUGUÊS

dito, escrever/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois,
fui) e ir (fui, ia, vades).

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H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo prin-
cipal (aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é
expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
Vou espantar todos!
(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

4. Conjugação dos Verbos Auxiliares

4.1. SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

4.2. SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

4.3. SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

4.4. SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
PORTUGUÊS

sermos nós
serdes vós
serem eles

22
4.5. ESTAR - Modo Indicativo

Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.do Preté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

4.6. ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

4.7. ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem
4.8. HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

4.9. HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
PORTUGUÊS

hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos


hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

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4.10. HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres

haver

havermos
haverdes
Haverem

4.11. TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

4.12. TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
Tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já
implícita no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
 Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a refle-
xibilidade já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.

A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço
da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respec-
tivos pronomes):
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se arrependem.
 Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto re-
presentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele
mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os
pronomes mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota penteou-me.
PORTUGUÊS

Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função sintática.
Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à
do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:

24
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me 2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!
(objeto direto) – 1.ª pessoa do singular. Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequa-
da, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no
5. Modos Verbais momento da outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que
a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas futuro em andamento, exigindo, no caso, a construção
pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadei- “verificarei” ou “vou verificar”.
ro. Existem três modos:
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu C) Particípio: quando não é empregado na formação
estudo para o concurso. dos tempos compostos, o particípio indica, geral-
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilida- mente, o resultado de uma ação terminada, flexio-
de: Talvez eu estude amanhã. nando-se em gênero, número e grau. Por exemplo:
Terminados os exames, os candidatos saíram.
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estu-
de, colega!
Quando o particípio exprime somente estado, sem
6. Formas Nominais
nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a
função de adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda for- pela turma.
mas que podem exercer funções de nomes (substantivo,
adjetivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas
nominais. Observe:

A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de
modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de
substantivo. Por exemplo:
(Ziraldo)
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
8. Tempos Verbais
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presen- Tomando-se como referência o momento em que se
te (forma simples) ou no passado (forma composta). Por fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diver-
exemplo: sos tempos.
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro. A) Tempos do Modo Indicativo
Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste
A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às colégio.
três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido
não apresenta desinências, assumindo a mesma forma num momento anterior ao atual, mas que não foi
do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte ma- completamente terminado: Ele estudava as lições
neira: quando foi interrompido.
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu) Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós) momento anterior ao atual e que foi totalmente
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós) terminado: Ele estudou as lições ontem à noite.
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles) Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação. ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já
estudara as lições quando os amigos chegaram.
B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adje- (forma simples).
tivo ou advérbio. Por exemplo: Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve
ocorrer num tempo vindouro com relação ao mo-
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de
mento atual: Ele estudará as lições amanhã.
advérbio)
Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo) ocorrer posteriormente a um determinado fato
passado: Se ele pudesse, estudaria um pouco mais.
Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação
em curso; na forma composta (2), uma ação concluída: B) Tempos do Modo Subjuntivo
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro. Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no
momento atual: É conveniente que estudes para o
PORTUGUÊS

Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundis- exame.


mo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio: Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado,
1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que
futebol. ele vencesse o jogo.

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Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

TABELAS DAS CONJUGAÇÕES VERBAIS

1. Modo Indicativo

1.1. Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

1.2. Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

1.3. Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
PORTUGUÊS

cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS


cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

26
1.4. Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

1.5. Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

1.6. Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

1.7. Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
PORTUGUÊS

cantEIS vendAIS partAIS E A IS


cantEM vendAM partAM E A M

27
1.8. Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

1.9. Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

C) Modo Imperativo

1. Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

2. Imperativo Negativo
PORTUGUÊS

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

28
Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

 No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem,
pedido ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
 O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

3. Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

 O verbo parecer admite duas construções:


Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

 O verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.php

VOZES DO VERBO

Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três as
vozes verbais:

A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a ação expressa pelo verbo:
Ele fez o trabalho.
sujeito agente ação objeto (paciente)
PORTUGUÊS

B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a ação expressa pelo verbo:


O trabalho foi feito por ele.
sujeito paciente ação agente da passiva

29
C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo, 1.1 Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva
agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
O menino feriu-se. Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar
substancialmente o sentido da frase.
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
#FicaDica Sujeito da Ativa objeto Direto
Não confundir o emprego reflexivo do ver-
A apostila foi comprada pelo concurseiro.
bo com a noção de reciprocidade: (Voz Passiva)
Os lutadores feriram-se. (um ao outro) Sujeito da Passiva Agente da Passiva
Nós nos amamos. (um ama o outro) Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva;
o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo
ativo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo
1. Formação da Voz Passiva tempo.
Os mestres têm constantemente aconselhado os alu-
A voz passiva pode ser formada por dois processos: nos.
analítico e sintético. Os alunos têm sido constantemente aconselhados pe-
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte los mestres.
maneira:
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exem- Eu o acompanharei.
plo: Ele será acompanhado por mim.
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não
os alunos pintarão a escola) haverá complemento agente na passiva. Por exemplo:
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho) Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
Observações: acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou refle-
 O agente da passiva geralmente é acompanhado xiva, porque o sujeito não pode ser visto como agente,
da preposição por, mas pode ocorrer a construção paciente ou agente paciente.
com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cer-
cada de soldados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 Pode acontecer de o agente da passiva não estar SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
explícito na frase: A exposição será aberta amanhã. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
 A variação temporal é indicada pelo verbo auxi- Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
liar (SER), pois o particípio é invariável. Observe a reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
transformação das frases seguintes: Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo) ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per-
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz SITE
ativa) http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
morf54.php
Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica-
tivo)
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Ele fará o trabalho. (futuro do presente)
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) 1. (TST – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA
ADMINISTRATIVA – FCC – 2012) As vitórias no jogo
 Nas frases com locuções verbais, o verbo SER as- interior talvez não acrescentem novos troféus, mas elas
sume o mesmo tempo e modo do verbo principal trazem recompensas valiosas, [...] que contribuem de
da voz ativa. Observe a transformação da frase se- forma significativa para nosso sucesso posterior, tanto na
guinte: quadra como fora dela.
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) Mantêm-se adequados o emprego de tempos e modos
verbais e a correlação entre eles, ao se substituírem os
B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - elementos sublinhados na frase acima, na ordem dada,
ou pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, por:
seguido do pronome apassivador “se”. Por exemplo:
Abriram-se as inscrições para o concurso.
PORTUGUÊS

a) tivessem acrescentado − trariam − contribuírem


Destruiu-se o velho prédio da escola. b) acrescentassem − têm trazido − contribuírem
Observação: c) tinham acrescentado − trarão − contribuiriam
O agente não costuma vir expresso na voz passiva d) acrescentariam − trariam− contribuíram
sintética. e) tenham acrescentado − trouxeram − Contribuíram

30
Resposta: Letra E. Questão que envolve correlação Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma
verbal. Realizando as alterações solicitadas, segue verbal resultante será:
como ficariam (em destaque):
Em “a”: tivessem acrescentado – trariam − contribui- a) alcança-se.
riam b) foi alcançada.
Em “b”: acrescentassem – trariam − contribuiriam c) fora alcançada.
Em “c”: tinham acrescentado – trouxeram − contri- d) seria alcançada.
buíram e) era alcançada.
Em “d”: acrescentassem – trariam − contribuíram
Em “e”: tenham acrescentado – trouxeram − Contri- Resposta: Letra E. Temos um verbo na voz ativa, então
buíram = correta teremos dois na passiva (auxiliar + o verbo da oração
da ativa, no mesmo tempo verbal, forma particípio):
2. (TST – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA APOIO A musa nunca era alcançada por ela. O verbo “alcan-
ESPECIALIZADO – ESPECIALIDADE MEDICINA DO çava” está no pretérito imperfeito, por isso o auxiliar
TRABALHO – FCC – 2012) Está inadequado o emprego tem que estar também (é = presente, foi = pretérito
do elemento sublinhado na seguinte frase: perfeito, era = imperfeito, fora = mais que perfeito,
será = futuro do presente, seria = futuro do pretérito).
a) Sou ateu e peço que me deem tratamento similar ao
que dispenso aos homens religiosos. 5. (TST – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA APOIO
b) A intolerância religiosa baseia-se em preconceitos de ESPECIALIZADO – ESPECIALIDADE MEDICINA DO
que deveriam desviar-se todos os homens verdadeira- TRABALHO – FCC – 2012) Aos poucos, contudo, fui
mente virtuosos. chegando à constatação de que todo perfil de rede social
c) A tolerância é uma virtude na qual não podem prescin- é um retrato ideal de nós mesmos.
dir os que se dizem homens de fé. Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra al-
teração seja feita na frase, o elemento grifado pode ser
d) O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito de nada
substituído por:
fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los.
e) Respeito os homens de fé, a menos que deixem de
a) ademais.
fazer o mesmo com aqueles que não a têm.
b) conquanto.
c) porquanto.
Resposta: Letra C.Corrigindo o inadequado: d) entretanto.
Em “a”: Sou ateu e peço que me deem tratamento si- e) apesar.
milar ao que dispenso aos homens religiosos.
Em “b”: A intolerância religiosa baseia-se em precon- Resposta: Letra D. Contudo é uma conjunção adver-
ceitos de que deveriam desviar-se todos os homens sativa (expressa oposição). A substituição deve utilizar
verdadeiramente virtuosos. outra de mesma classificação, para que se mantenha a
Em “c”: A tolerância é uma virtude na qual (de que) ideia do período. A correta é entretanto.
não podem prescindir os que se dizem homens de fé.
Em “d”: O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito 6. (TST – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA
de nada fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los. ADMINISTRATIVA – FCC – 2012) O verbo indicado
Em “e”: Respeito os homens de fé, a menos que dei- entre parênteses deverá flexionar-se no singular para
xem de fazer o mesmo com aqueles que não a têm. preencher adequadamente a lacuna da frase:
3. (TST – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA APOIO a) A nenhuma de nossas escolhas...... (poder) deixar de
ESPECIALIZADO – ESPECIALIDADE MEDICINA DO corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
TRABALHO – FCC – 2012) b) Não se...... (poupar) os que governam de refletir sobre
Transpondo-se para a voz passiva a construção Os ateus o peso de suas mais graves decisões.
despertariam a ira de qualquer fanático, a forma ver- c) Aos governantes mais responsáveis não...... (ocorrer)
bal obtida será: tomar decisões sem medir suas consequências.
d) A toda decisão tomada precipitadamente...... (cos-
a) seria despertada. tumar) sobrevir consequências imprevistas e injustas.
b) teria sido despertada. e) Diante de uma escolha,...... (ganhar) prioridade, reco-
c) despertar-se-á. menda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor
d) fora despertada. humana.
e) teriam despertado.
Resposta: Letra C. Flexões em destaque e sublinhei os
Resposta: Letra A. Os ateus despertariam a ira de termos que estabelecem concordância:
qualquer fanático Em “a”: A nenhuma de nossas escolhas podem deixar
Fazendo a transposição para a voz passiva, temos: A de corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
ira de qualquer fanático seria despertada pelos ateus. Em “b”: Não se poupam os que governam de refletir
PORTUGUÊS

sobre o peso de suas mais graves decisões.


4. (TST – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA Em “c”: Aos governantes mais responsáveis não ocor-
ADMINISTRATIVA – ESPECIALIDADE SEGURANÇA re tomar decisões sem medir suas consequências. =
JUDICIÁRIA – FCC – 2012) Isso não ocorre aos governantes – uma oração exerce
...ela nunca alcançava a musa. a função de sujeito (subjetiva)

31
Em “d”: A toda decisão tomada precipitadamente cos- O termo sublinhado faz referência a
tumam sobrevir consequências imprevistas e injustas.
Em “e”: Diante de uma escolha, ganham prioridade, a) pessoas.
recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta b) acervo.
a dor humana. c) Academia.
d) tempo.
7. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – ANALISTA JUDICIÁRIO e) casa.
– ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC – 2016 ) ... para
Resposta: Letra B. Ao trecho: a guardiã desse tipo de
quem Manoel de Barros era comparável a São Francisco acervo, que (o qual) é muito difícil de ser guardado...
de Assis...
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da 10. (TRT 14.ª REGIÃO-RO E AC – TÉCNICO JUDICIÁ-
frase acima está em: RIO – FCC – 2016) O marechal organizou o acervo...
A forma verbal está corretamente transposta para a voz
a) Dizia-se um “vedor de cinema”... passiva em:
b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no es-
paço... a) estava organizando
c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e b) tinha organizado
Charles Baudelaire. c) organizando-se
d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Bar- d) foi organizado
ros na literatura... e) está organizado
e) ... para depois casá-las...
Resposta: Letra D. Temos: sujeito (o marechal), verbo
na ativa (organizou) e objeto (o acervo). Como há um
Resposta: Letra A. “Era” = verbo “ser” no pretérito im-
verbo na ativa, ao passarmos para a passiva teremos
perfeito do Indicativo. Procuremos nos itens: dois (o auxiliar no mesmo tempo que o verbo da ativa
Em “a”: Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo + o particípio do verbo da voz ativa = organizado). O
Em “b”: Porque não seria = futuro do pretérito do In- objeto exercerá a função de sujeito paciente, e o su-
dicativo jeito da ativa será o agente da passiva (ufa!). A frase
Em “c”: Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfei- ficará: O acervo foi organizado pelo marechal.
to do Indicativo
Em “d”: Quase meio século separa = presente do Indi- 11. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
cativo FCC – 2016) Precisamos de um treinador que nos ajude
Em “e”: para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar a comer...
elas) O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o
sublinhado acima está também sublinhado em:
8. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – ANALISTA JUDICIÁRIO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC – 2016) Aí conheci o a) [...] assim que conseguissem se virar sem as mães ou
escritor e historiador de sua gente, meu saudoso amigo as amas...
b) Não é por acaso que proliferaram os coaches.
Alcino Alves Costa. E foi dele que ouvi oralmente a
c) [...] país que transformou a infância numa bilionária in-
história de Zé de Julião. Considerando-se a norma- dústria de consumo...
padrão da língua, ao reescrever-se o trecho acima em d) E, mesmo que se esforcem muito [...]
um único período, o segmento destacado deverá ser e) Hoje há algo novo nesse cenário.
antecedido de vírgula e substituído por
Resposta: Letra D.
a) perante ao qual que nos ajude = presente do Subjuntivo
b) de cujo Em “a”: que conseguissem = pretérito do Subjuntivo
c) o qual Em “b”: que proliferaram = pretérito perfeito (e tam-
d) frente à quem bém mais-que-perfeito) do Indicativo
e) de quem Em “c”: que transformou = pretérito perfeito do Indi-
cativo
Resposta: Letra E. Voltemos ao trecho: ... meu saudoso Em “d”: que se esforcem = presente do Subjuntivo
amigo Alcino Alves Costa. E foi dele que ouvi oralmen- Em “e”: há algo novo nesse cenário = presente do In-
dicativo
te... = a única alternativa que substitui corretamente o
12. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
trecho destacado é “de quem ouvi oralmente”.
FCC – 2016) O modelo ainda dominante nas discussões
ecológicas privilegia, em escala, o Estado e o mundo...
9. (TRT 14.ª REGIÃO-RO E AC – TÉCNICO Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma
JUDICIÁRIO – FCC – 2016) “Isto pode despertar a verbal resultante será:
atenção de outras pessoas que tenham documentos em
casa e se disponham a trazer para a Academia, que é a a) é privilegiado.
PORTUGUÊS

guardiã desse tipo de acervo, que é muito difícil de ser b) sendo privilegiadas.
guardado em casa, pois o tempo destrói e aqui temos c) são privilegiados.
a melhor técnica de conservação de documentos”, disse d) foi privilegiado.
Cavalcanti. e) são privilegiadas.

32
Resposta: Letra C. Há um verbo na ativa, então tere- Um verbo flexionado no mesmo modo que o dos verbos
mos dois na passiva (auxiliar + o particípio de “privi- empregados nessas frases está em destaque em:
legia”) = O Estado e o mundo são privilegiados pelo
modelo ainda dominante. a) [...] o acesso rápido e a quantidade de textos fazem
com que o cérebro humano não considere útil gravar
13. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – TÉCNICO JUDICIÁRIO esses dados [...]
– FCC – 2016) Empregam-se todas as formas verbais de b) Na internet, basta um clique para vasculhar um sem-
acordo com a norma culta na seguinte frase: -número de informações.
c) [...] após discar e fazer a ligação, não precisamos mais
a) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento dele...
não poderia receber qualquer tipo de retificação. d) Pense rápido: qual o número de telefone da casa em
b) Os documentos com assinatura digital disporam de que morou quando era criança?
algoritmos de criptografia que os protegeram. e) É o que mostra também uma pesquisa recente condu-
c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam zida pela empresa de segurança digital Kaspersky [...]
contar com a proteção de uma assinatura digital.
d) Quem se propor a alterar um documento criptogra- Resposta: Letra D. Os verbos das frases citadas estão
fado deve saber que comprometerá sua integridade. no Modo Imperativo (expressam ordem). Vamos aos
e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem itens:
comprometer a integridade dos documentos. Em “a”: ... o acesso rápido e a quantidade de textos
fazem = presente do Indicativo
Resposta: Letra E. Em “a”: Para que se mantesse Em “b”: Na internet, basta um clique = presente do
(mantivesse) sua autenticidade, o documento não po- Indicativo
deria receber qualquer tipo de retificação. Em “c”: ... após discar e fazer a ligação, não precisamos
Em “b”: Os documentos com assinatura digital dispo- = presente do Indicativo
ram (dispuseram) de algoritmos de criptografia que os Em “d”: Pense rápido: = Imperativo
protegeram. Em “e”: É o que mostra também uma pesquisa = pre-
Em “c”: Arquivados eletronicamente, os documentos sente do Indicativo
poderam (puderam) contar com a proteção de uma
assinatura digital. 16. (PC-SP – ATENDENTE DE NECROTÉRIO
Em “d”: Quem se propor (propuser) a alterar um docu- POLICIAL – VUNESP – 2014) Assinale a alternativa em
mento criptografado deve saber que comprometerá que a palavra em destaque na frase pertence à classe
sua integridade. dos adjetivos (palavra que qualifica um substantivo).
Em “e”: Não é possível fazer as alterações que convie-
rem sem comprometer a integridade dos documentos a) Existe grande confusão entre os diversos tipos de eu-
= correta tanásia...
b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte...
14. (TRT 21.ª REGIÃO-RN – TÉCNICO JUDICIÁRIO – c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar
FCC – 2017) Sessenta anos de história marcam, assim, a a morte.
trajetória da utopia no país. d) Ela é proibida por lei no Brasil,...
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma e) E como seria a verdadeira boa morte?
verbal resultante será:
Resposta: Letra E. Em “a”: Existe grande confusão =
a) foram marcados. substantivo
b) foi marcado. Em “b”: o médico ou alguém causa ativamente a mor-
c) são marcados. te = pronome
d) foi marcada. Em “c”: prolonga o processo de morrer procurando
e) é marcada. distanciar a morte = substantivo
Em “d”: Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo
Em “e”: E como seria a verdadeira boa morte? = ad-
jetivo
Resposta: Letra E. Temos um verbo (no tempo pre- 17. (PC-SP – ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP
sente) na ativa, então teremos dois na passiva (auxi- – 2014) As formas verbais conjugadas no modo
liar [no tempo presente] + particípio de “marcam”) = imperativo, expressando ordem, instrução ou comando,
Assim, a trajetória da utopia do país é marcada pelos estão destacadas em
sessenta anos de história.
a) Mas há outros cujas marcas acabam ficando bem ní-
15. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO tidas na memória: são aqueles donos de qualidades
– SOLDADO PM 2.ª CLASSE – VUNESP – 2017) incomuns.
PORTUGUÊS

Considere as seguintes frases: b) Voltei uns cinquenta minutos depois, cauteloso, e


Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos. quase não acreditei no que ouvi.
Segundo, não memorize apenas por repetição. c) – Ei rapaz, deixe ligado o microfone, largue isso aí, vá
Terceiro, rabisque! pro estúdio e ponha a rádio no ar.

33
d) Bem, o fato é que eu era o técnico de som do horário, 20. (PC-SP – ATENDENTE DE NECROTÉRIO
precisava “passar” a transmissão lá para a câmara, e o POLICIAL – VUNESP – 2013) Nas frases – Não vou
locutor não chegava para os textos de abertura, pu- mais à escola!… – e – Hoje estão na moda os métodos
blicidade, chamadas. audiovisuais. – as palavras em destaque expressam,
e) ... estremecíamos quando ele nos chamava para qual- correta e respectivamente, circunstâncias de
quer coisa, fazendo-nos entrar na sua sala imensa, já
suando frio e atentos às suas finas e cortantes pala- a) dúvida e modo.
vras. b) dúvida e tempo.
c) modo e afirmação.
Resposta: Letra C. Aos itens: d) negação e lugar.
Em “a”: há = presente / acabam = presente / são = e) negação e tempo.
presente
Em “b”: Voltei = pretérito perfeito / acreditei = preté- Resposta: Letra E.
“não” – advérbio de negação / “hoje” – advérbio de
rito perfeito
tempo.
Em “c”: deixe / largue / vá / ponha = verbos no modo
imperativo afirmativo (ordens)
21. (PC-SP – ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP
Em “d”: era = pretérito imperfeito / precisava = preté- – 2013) ASSINALE A ALTERNATIVA QUE
rito imperfeito / chegava = pretérito imperfeito COMPLETA RESPECTIVAMENTE AS LACUNAS, EM
Em “e”: fazendo-nos = gerúndio / suando = gerúndio CONFORMIDADE COM A NORMA-PADRÃO DE
CONJUGAÇÃO VERBAL.
18. (PC-SP – AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP Há quem acredite que alcançará o sucesso profissional
– 2013) Em – O destino me prestava esse pequeno quando __________ um diploma de mestrado, mas há
favor: completava minha identificação com o resto da aqueles que _________ de opinião e procuram investir em
humanidade, que tem sempre para contar uma história cursos profissionalizantes.
de objeto achado; – o pronome em destaque retoma a
seguinte palavra/expressão: a) obtiver … divirgem
b) obter … divergem
a) o resto da humanidade. c) obtesse … devirgem
b) esse pequeno favor. d) obter … divirgem
c) minha identificação. e) obtiver … divergem
d) O destino.
e) completava. Resposta: Letra E. Há quem acredite que alcançará o
sucesso profissional quando obtiver um diploma de
Resposta: Letra A. Completava minha identificação mestrado, mas há aqueles que divergem de opinião e
com o resto da humanidade, que (a qual) tem sempre procuram investir em cursos profissionalizantes.
para contar uma história de objeto achado = pronome
relativo que retoma o resto da humanidade. 22. (PC-SP – AUXILIAR DE NECROPSIA – VUNESP
– 2014) Considerando que o adjetivo é uma palavra
19. (PC-SP – AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP – que modifica o substantivo, com ele concordando
2013) Considere o trecho a seguir. em gênero e número, assinale a alternativa em que a
É comum que objetos ____________ esquecidos em locais palavra destacada é um adjetivo.
públicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados
se as pessoas __________ a atenção voltada para seus per- a) ... um câncer de boca horroroso, ...
b) Ele tem dezesseis anos...
tences, conservando-os junto ao corpo.
c) Eu queria que ele morresse logo, ...
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva-
d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às fa-
mente, as lacunas do texto.
mílias.
e) E o inferno não atinge só os terminais.
a) sejam ... mantesse
b) sejam ... mantém Resposta: Letra A.
c) sejam ... mantivessem Em “a”: um câncer de boca horroroso = adjetivo
d) seja ... mantivessem
e) seja ... mantêm

Resposta: Letra C. Completemos as lacunas e depois TRANSITIVIDADE VERBAL E NOMINAL.


busquemos o item correspondente. A pegadinha aqui
é a conjugação do verbo “manter”, no presente do
PORTUGUÊS

Subjuntivo (mantiver): REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL


É comum que objetos sejam esquecidos em locais pú-
blicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se Dá-se o nome de regência à relação de subordina-
as pessoas mantivessem a atenção voltada para seus ção que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um
pertences, conservando-os junto ao corpo. nome (regência nominal) e seus complementos.

34
1. Regência Verbal = Termo Regente: VERBO B) Verbos Transitivos Diretos
Os verbos transitivos diretos são complementados
A regência verbal estuda a relação que se estabele- por objetos diretos. Isso significa que não exigem prepo-
ce entre os verbos e os termos que os complementam sição para o estabelecimento da relação de regência. Ao
(objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (ad- empregar esses verbos, lembre-se de que os pronomes
juntos adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma oblíquos o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses
regência, o que corresponde à diversidade de significa- pronomes podem assumir as formas lo, los, la, las (após
formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos,
dos que estes verbos podem adquirir dependendo do
nas (após formas verbais terminadas em sons nasais),
contexto em que forem empregados.
enquanto lhe e lhes são, quando complementos verbais,
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, objetos indiretos.
contentar.
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
agrado ou prazer”, satisfazer. donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, au-
“agradar a alguém”. xiliar, castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar,
defender, eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, pre-
O conhecimento do uso adequado das preposições judicar, prezar, proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver,
é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência visitar.
verbal (e também nominal). As preposições são capazes Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
de modificar completamente o sentido daquilo que está como o verbo amar:
sendo dito. Amo aquele rapaz. / Amo-o.
Cheguei ao metrô. Amo aquela moça. / Amo-a.
Cheguei no metrô. Amam aquele rapaz. / Amam-no.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no
segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. Observação:
Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos
A voluntária distribuía leite às crianças. para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos
A voluntária distribuía leite com as crianças. adnominais):
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi emprega- Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
do como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car-
(objeto indireto: às crianças); na segunda, como transiti- reira)
vo direto (objeto direto: crianças; com as crianças: adjun- Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu-
to adverbial). mor)
Para estudar a regência verbal, agruparemos os ver-
bos de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é C) Verbos Transitivos Indiretos
um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de dife- Os verbos transitivos indiretos são complementados
rentes formas em frases distintas. por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
gem uma preposição para o estabelecimento da relação
de regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de
A) Verbos Intransitivos
terceira pessoa que podem atuar como objetos indire-
Os verbos intransitivos não possuem complemento.
tos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se
É importante, no entanto, destacar alguns detalhes re- utilizam os pronomes o, os, a, as como complementos
lativos aos adjuntos adverbiais que costumam acompa- de verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos
nhá-los. que não representam pessoas, usam-se pronomes oblí-
quos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos
Chegar, Ir pronomes átonos lhe, lhes.
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos ad-
verbiais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
para indicar destino ou direção são: a, para. Consistir - Tem complemento introduzido pela pre-
posição “em”: A modernidade verdadeira consiste em di-
Fui ao teatro. reitos iguais para todos.
Adjunto Adverbial de Lugar Obedecer e Desobedecer - Possuem seus comple-
mentos introduzidos pela preposição “a”:
Ricardo foi para a Espanha. Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Eles desobedeceram às leis do trânsito.
Adjunto Adverbial de Lugar
Responder - Tem complemento introduzido pela
Comparecer
PORTUGUÊS

preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para in-


O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido dicar “a quem” ou “ao que” se responde.
por em ou a. Respondi ao meu patrão.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o Respondemos às perguntas.
último jogo. Respondeu-lhe à altura.

35
Observação: Pedi-lhe favores.
O verbo responder, apesar de transitivo indireto quan- Objeto Indireto Objeto Direto
do exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva
analítica: Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
O questionário foi respondido corretamente. Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoria- tantiva Objetiva Direta
mente.
A construção “pedir para”, muito comum na lingua-
Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus comple- gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na lín-
mentos introduzidos pela preposição “com”. gua culta. No entanto, é considerada correta quando a
Antipatizo com aquela apresentadora. palavra licença estiver subentendida.
Simpatizo com os que condenam os políticos que go- Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em
vernam para uma minoria privilegiada. casa.

D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos Observe que, nesse caso, a preposição “para” intro-
duz uma oração subordinada adverbial final reduzida de
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acom- infinitivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
panhados de um objeto direto e um indireto. Merecem
destaque, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São Preferir
verbos que apresentam objeto direto relacionado a coi- Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto
sas e objeto indireto relacionado a pessoas. indireto introduzido pela preposição “a”:
Agradeço aos ouvintes a audiência. Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
Objeto Indireto Objeto Direto Prefiro trem a ônibus.
Paguei o débito ao cobrador.
Observação:
Objeto Direto Objeto Indireto
Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem
termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil ve-
O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
zes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo
com particular cuidado:
prefixo existente no próprio verbo (pre).
Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. Mudança de Transitividade - Mudança de Signifi-
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. cado
Paguei minhas contas. / Paguei-as. Há verbos que, de acordo com a mudança de transi-
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes. tividade, apresentam mudança de significado. O conhe-
cimento das diferentes regências desses verbos é um re-
Informar curso linguístico muito importante, pois além de permitir
Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto a correta interpretação de passagens escritas, oferece
indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa. possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Den-
Informe os novos preços aos clientes. tre os principais, estão:
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os no-
vos preços) Agradar
Na utilização de pronomes como complementos, veja Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
as construções: nhos, acariciar, fazer as vontades de.
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos pre- Sempre agrada o filho quando.
ços. Aquele comerciante agrada os clientes.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou
sobre eles)

Agradar é transitivo indireto no sentido de causar


Observação: agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento
A mesma regência do verbo informar é usada para os introduzido pela preposição “a”.
seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir. O cantor não agradou aos presentes.
O cantor não lhes agradou.
Comparar
Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indire-
as preposições “a” ou “com” para introduzir o comple- to: O cantor desagradou à plateia.
mento indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com
o) de uma criança. Aspirar
PORTUGUÊS

Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, ins-


Pedir pirar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)
Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter
na forma de oração subordinada substantiva) e indireto como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (As-
de pessoa. pirávamos a ele)

36
Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são implicavam um firme propósito.
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. B) ter como consequência, trazer como consequência,
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
Aspiravam a ela)
Como transitivo direto e indireto, significa compro-
Assistir meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres- econômicas.
tar assistência a, auxiliar. No sentido de antipatizar, ter implicância, é transiti-
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. vo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. quem não trabalhasse arduamente.

Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen- Namorar


ciar, estar presente, caber, pertencer. Sempre tansitivo direto: Luísa namora Carlos há dois
Assistimos ao documentário. anos.
Não assisti às últimas sessões.
Essa lei assiste ao inquilino. Obedecer - Desobedecer
Sempre transitivo indireto:
No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
Todos obedeceram às regras.
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de
Ninguém desobedece às leis.
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa
conturbada cidade.
Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem
“lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas.
Chamar
Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, so-
licitar a atenção ou a presença de. Proceder
Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
má-la. cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto
Chamar no sentido de denominar, apelidar pode adverbial de modo.
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere pre- As afirmações da testemunha procediam, não havia
dicativo preposicionado ou não. como refutá-las.
A torcida chamou o jogador mercenário. Você procede muito mal.
A torcida chamou ao jogador mercenário.
A torcida chamou o jogador de mercenário. Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo-
A torcida chamou ao jogador de mercenário. sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introdu-
Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal: zido pela preposição “a”) é transitivo indireto.
Como você se chama? Eu me chamo Zenaide. O avião procede de Maceió.
Procedeu-se aos exames.
Custar O delegado procederá ao inquérito.
Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adver- Querer
bial: Frutas e verduras não deveriam custar muito. Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter
vontade de, cobiçar.
No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransiti- Querem melhor atendimento.
vo ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração Queremos um país melhor.
reduzida de infinitivo.
Muito custa viver tão longe da família.
Verbo Intransitivo Oração Subordinada Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição,
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.

Custou-me (a mim) crer nisso. Visar


Objeto Indireto Oração Subordinada Subs- Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi-
tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo.
A Gramática Normativa condena as construções que O gerente não quis visar o cheque.
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
pessoa: Custei para entender o problema.
PORTUGUÊS

No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como


= Forma correta: Custou-me entender o problema. objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Implicar
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-es-
Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
tar público.

37
Esquecer – Lembrar
Lembrar algo – esquecer algo
Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja, exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São, portanto,
transitivos indiretos:
Ele se esqueceu do caderno.
Eu me esqueci da chave.
Eles se esqueceram da prova.
Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alte-
ração de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos
tanto brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)

Simpatizar - Antipatizar
São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
Não simpatizei com os jurados.
Simpatizei com os alunos.

A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.

2 Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.

Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será com-
pletiva nominal (subordinada substantiva).

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
PORTUGUÊS

Afável com, para com Equivalente a Paralelo a


Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de

38
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; pa-
ralelamente a; relativa a; relativamente a.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍCIA FEDERAL – CESPE – 2014 – ADAPTADA)


O uso indevido de drogas constitui, na atualidade, séria e persistente ameaça à humanidade e à estabilidade das
estruturas e valores políticos, econômicos, sociais e culturais de todos os Estados e sociedades. Suas consequências
infligem considerável prejuízo às nações do mundo inteiro, e não são detidas por fronteiras: avançam por todos os
cantos da sociedade e por todos os espaços geográficos, afetando homens e mulheres de diferentes grupos étnicos,
independentemente de classe social e econômica ou mesmo de idade. Questão de relevância na discussão dos efeitos
adversos do uso indevido de drogas é a associação do tráfico de drogas ilícitas e dos crimes conexos — geralmente
de caráter transnacional — com a criminalidade e a violência. Esses fatores ameaçam a soberania nacional e afetam a
estrutura social e econômica interna, devendo o governo adotar uma postura firme de combate ao tráfico de drogas,
articulando-se internamente e com a sociedade, de forma a aperfeiçoar e otimizar seus mecanismos de prevenção e
repressão e garantir o envolvimento e a aprovação dos cidadãos.
Internet: <www.direitoshumanos.usp.br>.

Nas linhas 12 e 13, o emprego da preposição “com”, em “com a criminalidade e a violência”, deve-se à regência do
vocábulo “conexos”.

(  ) CERTO   (  ) ERRADO

Resposta: Errado. Ao texto: (...) Questão de relevância na discussão dos efeitos adversos do uso indevido de drogas é
PORTUGUÊS

a associação do tráfico de drogas ilícitas e dos crimes conexos — geralmente de caráter transnacional — com a crimi-
nalidade e a violência.
O termo está se referindo à associação – associação do tráfico de drogas e crimes conexos (1) com a criminalidade
(2) (associação daquilo [1] com isso [2])

39
C.2 Desinências verbais: em nossa língua, as desi-
ESTRUTURA, CLASSIFICAÇÃO E nências verbais pertencem a dois tipos distintos.
FORMAÇÃO DE PALAVRAS. Há desinências que indicam o modo e o tempo
(desinências modo-temporais) e outras que indi-
ESTRUTURA DAS PALAVRAS cam o número e a pessoa dos verbos (desinência
número-pessoais):
As palavras podem ser analisadas sob o ponto de vis-
ta de sua estrutura significativa. Para isso, nós as dividi- cant-á-va-mos:
mos em seus menores elementos (partes) possuidores de cant: radical / -á-: vogal temática / -va-: desinência
sentido. A palavra inexplicável, por exemplo, é constituí- modo-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do in-
da por três elementos significativos: dicativo) / -mos: desinência número-pessoal (caracteriza a
In = elemento indicador de negação primeira pessoa do plural)
Explic – elemento que contém o significado básico da
palavra
cant-á-sse-is:
Ável = elemento indicador de possibilidade
cant: radical / -á-: vogal temática / -sse-:desinência
Estes elementos formadores da palavra recebem o modo-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do
nome de morfemas. Através da união das informações subjuntivo) / -is: desinência número-pessoal (caracteriza
contidas nos três morfemas de inexplicável, pode-se en- a segunda pessoa do plural)
tender o significado pleno dessa palavra: “aquilo que não
tem possibilidade de ser explicado, que não é possível tor- D) Vogal temática
nar claro”. Entre o radical cant- e as desinências verbais, surge
sempre o morfema –a. Este morfema, que liga o
Morfemas = são as menores unidades significativas radical às desinências, é chamado de vogal temá-
que, reunidas, formam as palavras, dando-lhes sentido. tica. Sua função é ligar-se ao radical, constituindo
o chamado tema. É ao tema (radical + vogal temá-
1. Classificação dos morfemas tica) que se acrescentam as desinências. Tanto os
verbos como os nomes apresentam vogais temá-
A) Radical, lexema ou semantema – é o elemento ticas. No caso dos verbos, a vogal temática indica
portador de significado. É através do radical que as conjugações: -a (da 1.ª conjugação = cantar), -e
podemos formar outras palavras comuns a um (da 2.ª conjugação = escrever) e –i (3.ª conjugação
grupo de palavras da mesma família. Exemplo: = partir).
pequeno, pequenininho, pequenez. O conjunto de
palavras que se agrupam em torno de um mesmo D.1 Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o,
radical denomina-se família de palavras. quando átonas finais, como em mesa, artista, per-
da, escola, base, combate. Nestes casos, não pode-
B) Afixos – elementos que se juntam ao radical antes
ríamos pensar que essas terminações são desinên-
(os prefixos) ou depois (sufixos) dele. Exemplo:
beleza (sufixo), prever (prefixo), infiel (prefixo). cias indicadoras de gênero, pois mesa e escola, por
exemplo, não sofrem esse tipo de flexão. É a estas
C) Desinências - Quando se conjuga o verbo amar, vogais temáticas que se liga a desinência indica-
obtêm-se formas como amava, amavas, amava, dora de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes
amávamos, amáveis, amavam. Estas modificações terminados em vogais tônicas (sofá, café, cipó, ca-
ocorrem à medida que o verbo vai sendo flexio- qui, por exemplo) não apresentam vogal temática.
nado em número (singular e plural) e pessoa (pri- D.2 Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que
meira, segunda ou terceira). Também ocorrem se caracterizam três grupos de verbos a que se dá o
modificarmos o tempo e o modo do verbo (ama- nome de conjugações. Assim, os verbos cuja vogal
va, amara, amasse, por exemplo). Assim, podemos temática é -a pertencem à primeira conjugação;
concluir que existem morfemas que indicam as fle- aqueles cuja vogal temática é -e pertencem à se-
xões das palavras. Estes morfemas sempre surgem gunda conjugação e os que têm vogal temática -i
no fim das palavras variáveis e recebem o nome de pertencem à terceira conjugação.
desinências. Há desinências nominais e desinên-
cias verbais. E) Interfixos
São os elementos (vogais ou consoantes) que se in-
C.1 Desinências nominais: indicam o gênero e o tercalam entre o radical e o sufixo, para facilitar ou mes-
número dos nomes. Para a indicação de gênero, o mo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. Por
português costuma opor as desinências -o/-a: ga- exemplo:
roto/garota; menino/menina. Para a indicação de
Vogais: frutífero, gasômetro, carnívoro.
número, costuma-se utilizar o morfema –s, que in-
Consoantes: cafezal, sonolento, friorento.
dica o plural em oposição à ausência de morfema,
PORTUGUÊS

que indica o singular: garoto/garotos; garota/ga-


rotas; menino/meninos; menina/meninas. No caso 2. Formação das Palavras
dos nomes terminados em –r e –z, a desinência de
plural assume a forma -es: mar/mares; revólver/re- Há em Português palavras primitivas, palavras deriva-
vólveres; cruz/cruzes. das, palavras simples, palavras compostas.

40
A) Palavras primitivas: aquelas que, na língua por-
tuguesa, não provêm de outra palavra: pedra, flor. #FicaDica
B) Palavras derivadas: aquelas que, na língua por-
tuguesa, provêm de outra palavra: pedreiro, flori- A derivação regressiva “mexe” na estrutura
cultura. da palavra, geralmente transforma verbos
C) Palavras simples: aquelas que possuem um só ra- em substantivos: caça = deriva de caçar, sa-
dical: azeite, cavalo. que = deriva de sacar
D) Palavras compostas: aquelas que possuem mais A derivação imprópria não “mexe” com a
de um radical: couve-flor, planalto. palavra, apenas faz com que ela pertença a
As palavras compostas podem ou não ter seus ele- uma classe gramatical “imprópria” da qual
mentos ligados por hífen. ela realmente, ou melhor, costumeiramen-
te faz parte. A alteração acontece devido à
2.1. Processos de Formação de Palavras presença de outros termos, como artigos,
por exemplo:
Na Língua Portuguesa há muitos processos de for- O verde das matas! (o adjetivo “verde” pas-
mação de palavras. Entre eles, os mais comuns são a de- sou a funcionar como substantivo devido à
rivação, a composição, a onomatopeia, a abreviação e o presença do artigo “o”)
hibridismo.

2.2. Derivação por Acréscimo de Afixos 2.4. Composição

É o processo pelo qual se obtêm palavras novas (de- Haverá composição quando se juntarem dois ou mais
rivadas) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A radicais para formar uma nova palavra. Há dois tipos de
derivação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética. composição: justaposição e aglutinação.
A) Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida A) Justaposição: ocorre quando os elementos que
por acréscimo de prefixo. formam o composto são postos lado a lado, ou
In feliz / des leal seja, justapostos: para-raios, corre-corre, guarda-
Prefixo radical prefixo radical -roupa, segunda-feira, girassol.
B) Composição por aglutinação: ocorre quando os
B) Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida elementos que formam o composto aglutinam-se
por acréscimo de sufixo. e pelo menos um deles perde sua integridade so-
Feliz mente / leal dade nora: aguardente (água + ardente), planalto (plano
Radical sufixo radical sufixo + alto), pernalta (perna + alta), vinagre (vinho +
acre).
C) Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acrés-
cimo simultâneo de prefixo e sufixo. Por parassín- Onomatopeia – é a palavra que procura reproduzir
tese formam-se principalmente verbos. certos sons ou ruídos: reco-reco, tique-taque, fom-fom.
En trist ecer
Prefixo radical sufixo Abreviação – é a redução de palavras até o limite
permitido pela compreensão: moto (motocicleta), pneu
En tard ecer (pneumático), metrô (metropolitano), foto (fotografia).
prefixo radical sufixo
Há dois casos em que a palavra derivada é formada Abreviatura: é a redução na grafia de certas palavras,
sem que haja a presença de afixos. São eles: a derivação limitando-as quase sempre à letra inicial ou às letras ini-
regressiva e a derivação imprópria. ciais: p. ou pág. (para página), Sr. (para senhor).

2.3. Derivação Sigla: é um caso especial de abreviatura, na qual se


reduzem locuções substantivas próprias às suas letras
• Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por iniciais (são as siglas puras) ou sílabas iniciais (siglas im-
redução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo, puras), que se grafam de duas formas: IBGE, MEC (siglas
na formação de substantivos derivados de verbos. puras); DETRAN ou Detran, PETROBRAS ou Petrobras (si-
janta (substantivo) - deriva de jantar (verbo) / pesca glas impuras).
(substantivo) – deriva de pescar (verbo)
Hibridismo: é a palavra formada com elementos
• Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é oriundos de línguas diferentes: automóvel (auto: grego;
obtida pela mudança de categoria gramatical da móvel: latim); sociologia (socio: latim; logia: grego); sam-
palavra primitiva. Não ocorre, pois, alteração na bódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego).
forma, mas somente na classe gramatical.
PORTUGUÊS

Não entendi o porquê da briga. (o substantivo “por-


quê” deriva da conjunção porque)
Seu olhar me fascina! (olhar aqui é substantivo, deriva
do verbo olhar).

41
A figura de palavra consiste na substituição de uma
palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbóli-
EXERCÍCIOS COMENTADOS co, seja por uma relação muito próxima (contiguidade),
seja por uma associação, uma comparação, uma simila-
1. (RIOPREVIDÊNCIA – ESPECIALISTA EM PREVIDÊN- ridade. São construções que transformam o significado
CIA SOCIAL – SUPERIOR - CEPERJ/2014) A palavra “in- das palavras para tirar delas maior efeito ou para cons-
fraestrutura” é formada pelo seguinte processo: truir uma mensagem nova.
a) sufixação 1. Tipos de Figuras de Linguagem
b) prefixação
c) parassíntese
1.1. Figuras de Som
d) justaposição
e) aglutinação
Aliteração - Consiste na repetição de consoantes
Resposta: Letra B. Infra = prefixo + estrutura – temos como recurso para intensificação do ritmo ou como efei-
a junção de um prefixo com um radical, portanto: de- to sonoro significativo.
rivação prefixal (ou prefixação). Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa)
2. (SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL/MG – Quem com ferro fere com ferro será ferido.
AGENTE DE SEGURANÇA SOCIOEDUCATIVO – MÉDIO
- IBFC/2014) O vocábulo “entristecido” é um exemplo Assonância - Consiste na repetição ordenada de
de: sons vocálicos idênticos: “Sou um mulato nato no sentido
lato mulato democrático do litoral.”
a) palavra composta
b) palavra primitiva Onomatopeia - Ocorre quando se tentam reproduzir
c) palavra derivada na forma de palavras os sons da realidade: Os sinos fa-
d) neologismo ziam blem, blem, blem.
Paranomásia – é o uso de sons semelhantes em pa-
Resposta: Letra C. en + triste + ido (com consoante lavras próximas: “A fossa, a bossa, a nossa grande dor...”
de ligação “c”) = ao radical “triste” foram acrescidos o (Carlos Lyra)
prefixo “en” e o sufixo “ido”, ou seja, “entristecido” é 1.2. Figuras de Palavras ou de Pensamento
palavra derivada do processo de formação de palavras
chamado de: prefixação e sufixação. Para o exercício,
1.2.1. Metáfora
basta “derivada”!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão


SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. em virtude da circunstância de que o nosso espírito as
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- associa e percebe entre elas certas semelhanças. É o em-
char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform. prego da palavra fora de seu sentido normal.
– São Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.] Português: novas palavras: li- Observação:
teratura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000. Toda metáfora é uma espécie de comparação implíci-
ta, em que o elemento comparativo não aparece.
SITE Seus olhos são como luzes brilhantes.
Disponível em: http://www.brasilescola.com/gramati- O exemplo acima mostra uma comparação evidente,
ca/estrutura-e-formacao-de-palavras-i.htm através do emprego da palavra como.
Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes.
Neste exemplo não há mais uma comparação (note a
METÁFORA, METONÍMIA, HIPÉRBOLE, ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja,
EUFEMISMO, ANTÍTESE, IRONIA. qualidade do que é semelhante.
GRADAÇÃO, ÊNFASE. Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me.
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes.
Esta é a verdadeira metáfora.
FIGURA DE LINGUAGEM, PENSAMENTO E
CONSTRUÇÃO Outros exemplos:
“Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando
Pessoa)
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio
PORTUGUÊS

subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando


a fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).
Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar
algum.

42
Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na fra- Trata-se de uma expressão que designa um ser através
se acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão de alguma de suas características ou atributos, ou de um
que indica uma alma rústica e abandonada (e angustia- fato que o celebrizou. É a substituição de um nome por
damente inútil), há uma comparação subentendida: Mi- outro ou por uma expressão que facilmente o identifique:
nha alma é tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua
estrada de terra que leva a lugar algum. atraindo visitantes do mundo todo.
A Cidade-Luz (=Paris)
A Amazônia é o pulmão do mundo. O rei das selvas (=o leão)
Em sua mente povoa só inveja.
Observação:
1.2.2. Metonímia (ou sinédoque) Quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o
nome de antonomásia. Exemplos:
É a substituição de um nome por outro, em virtude de O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida prati-
existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição cando o bem.
pode acontecer dos seguintes modos: O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito
Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (= jovem.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (=
1.2.4. Sinestesia
As lâmpadas iluminam o mundo).
Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sen-
cruz. (= Não te afastes da religião). sações percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o
Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso cruzamento de sensações distintas.
Havana. (= Fumei um saboroso charuto). Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito =
Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Sócra- auditivo; áspero = tátil)
tes tomou veneno). No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconte-
Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu cimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual)
trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que pro- Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil)
duzo).
1.2.5. Antítese
Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (=
Bebeu todo o líquido que estava no cálice). Consiste no emprego de palavras que se opõem
Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfones quanto ao sentido. O contraste que se estabelece serve,
foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos en-
dos jogadores). volvidos que não se conseguiria com a exposição isolada
Parte pelo todo: Várias pernas passavam apressada- dos mesmos. Observe os exemplos:
mente. (= Várias pessoas passavam apressadamente). “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
Gênero pela espécie: Os mortais pensam e sofrem O corpo é grande e a alma é pequena.
nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse “Quando um muro separa, uma ponte une.”
mundo). Não há gosto sem desgosto.
Singular pelo plural: A mulher foi chamada para ir
às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram 1.2.6. Paradoxo ou oximoro
chamadas, não apenas uma mulher).
Marca pelo produto: Minha filha adora danone. (= É a associação de ideias, além de contrastantes, con-
Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone). traditórias. Seria a antítese ao extremo.
Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (= Al- Era dor, sim, mas uma dor deliciosa.
guns astronautas foram à Lua). Ouvimos as vozes do silêncio.
Símbolo pela coisa simbolizada: A balança penderá
para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado). 1.2.7. Eufemismo

1.2.3. Catacrese É o emprego de uma expressão mais suave, mais no-


bre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa
Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contí- áspera, desagradável ou chocante.
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Se-
nuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando,
nhor. (= morreu)
por falta de um termo específico para designar um con-
O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
ceito, toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a
Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
empregar algumas palavras fora de seu sentido original.
Faltar à verdade. (= mentir)
Exemplos: “asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do
rosto”, “pé da mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do aba-
PORTUGUÊS

1.2.8. Ironia
caxi”.
É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do
1.2.4. Perífrase ou Antonomásia que as palavras ou frases expressam, geralmente apre-
sentando intenção sarcástica. A ironia deve ser muito

43
bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal 1.3.3. Elipse
construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à
desejada pelo emissor. Consiste na omissão de um ou mais termos numa
Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota oração e que podem ser facilmente identificados, tanto
mínima. por elementos gramaticais presentes na própria oração,
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos quanto pelo contexto.
que estão por perto. A catedral da Sé. (a igreja catedral)
O governador foi sutil como um elefante. Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao es-
tádio)
1.2.9. Hipérbole
1.3.4. Zeugma
É a expressão intencionalmente exagerada com o in-
tuito de realçar uma ideia. Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
Faria isso milhões de vezes se fosse preciso. a omissão de um termo já mencionado anteriormente.
“Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac) Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
O concurseiro quase morre de tanto estudar! português)
Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só
1.2.10. Prosopopeia ou Personificação modernos. (só havia móveis)
Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)
É a atribuição de ações ou qualidades de seres ani-
mados a seres inanimados, ou características humanas a 1.3.5. Silepse
seres não humanos. Observe os exemplos:
As pedras andam vagarosamente. A silepse é a concordância que se faz com o termo
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um que não está expresso no texto, mas, sim, subentendido.
cego que guia. É uma concordância anormal, psicológica, porque se faz
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra. com um termo oculto, facilmente identificado. Há três ti-
Chora, violão. pos de silepse: de gênero, número e pessoa.

1.3. Figuras de Construção ou de Sintaxe Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino e fe-
minino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordân-
1.3.1. Apóstrofe cia se faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:

Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coi- A) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o
sa personificada, de acordo com o objetivo do discurso, calor intenso.
que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza- Neste caso, o adjetivo bonita não está concordando
-se pelo chamamento do receptor da mensagem, seja ele com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence
imaginário ou não. A introdução da apóstrofe interrompe ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo
a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim (a cidade de Porto Velho).
a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr
em evidência com tal invocação. Realiza-se por meio do B) Vossa Excelência está preocupado.
vocativo. Exemplos: O adjetivo preocupado concorda com o sexo da pes-
Moça, que fazes aí parada? soa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vos-
“Pai Nosso, que estais no céu” sa Excelência.
Deus, ó Deus! Onde estás?
Silepse de Número - Os números são singular e
1.3.2. Gradação (ou clímax) plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da
oração não concorda gramaticalmente com o sujeito da
Apresentação de ideias por meio de palavras, sinôni- oração, mas com a ideia que nele está contida. Exemplos:
mas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou descen- A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade
dente (anticlímax). Observe este exemplo: de Salvador.
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana Note que nos exemplos acima, os verbos andaram e
com seus olhos claros e brincalhões... gritavam não concordam gramaticalmente com os sujei-
O objetivo do narrador é mostrar a expressividade tos das orações (que se encontram no singular, procissão
e povo, respectivamente), mas com a ideia que neles está
dos olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se
contida. Procissão e povo dão a ideia de muita gente, por
refere ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e
isso que os verbos estão no plural.
seus olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso em
Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais:
ordem decrescente de intensidade. Outros exemplos:
PORTUGUÊS

eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles


“Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu
(as três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há
amor”. (Olavo Bilac)
um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não
“O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, co-
concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa
lheu-se.” (Padre Antônio Vieira)
que está inscrita no sujeito. Exemplos:

44
O que não compreendo é como os brasileiros persista- É a repetição de uma ou mais palavras no início de
mos em aceitar essa situação. várias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho. coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em cau-
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jar- sa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar
dins públicos.” (Machado de Assis) determinado elemento textual. Os termos anafóricos po-
dem muitas vezes ser substituídos por pronomes.
Observe que os verbos persistamos, temos e somos Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te co-
não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos nhecia.
(brasileiros, agricultores e cariocas, que estão na terceira “Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os ba.” (Padre Vieira)
brasileiros, os agricultores e os cariocas).
1.3.9. Anacoluto
1.3.6. Polissíndeto / Assíndeto
Consiste na mudança da construção sintática no meio
Para estudarmos as duas figuras de construção é ne- da frase, ficando alguns termos desligados do resto do
cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre período. É a quebra da estrutura normal da frase para a
período composto. No período composto por coordena- introdução de uma palavra ou expressão sem nenhuma
ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A ligação sintática com as demais.
oração coordenada ligada por uma conjunção (conecti- Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
vo) é sindética; a oração que não apresenta conectivo é Morrer, todo haveremos de morrer.
assindética. Recordado esse conceito, podemos definir as Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
duas figuras de construção:
A) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela re- A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo,
petição enfática dos conectivos. Observe o exem- deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
plo: O menino resmunga, e chora, e grita, e nin- interrupção da frase e esta expressão fica à parte, não
guém faz nada. exercendo nenhuma função sintática. O anacoluto tam-
B) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela au- bém é chamado de “frase quebrada”, pois corresponde
sência, pela omissão das conjunções coordenati- a uma interrupção na sequência lógica do pensamento.
vas, resultando no uso de orações coordenadas
assindéticas. Exemplos: Observação:
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família. O anacoluto deve ser usado com finalidade expressi-
“Vim, vi, venci.” (Júlio César) va em casos muito especiais. Em geral, evite-o.

1.3.7. Pleonasmo 1.3.10. Hipérbato / Inversão

Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da
mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o
realçar a ideia, torná-la mais expressiva. sujeito venha depois do predicado:
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo.
Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O
Nesta oração, os termos “o problema da violência” amor venceu ao ódio)
e “lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto. Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria:
Assim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o Eu cuido dos meus problemas)
pronome “lo” classificado como objeto direto pleonástico.
Outro exemplo:
Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas. #FicaDica
Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto
O nosso Hino Nacional é um exemplo de
hipérbato, já que, na ordem direta, terí-
amos: “As margens plácidas do Ipiranga
Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o
ouviram o brado retumbante de um povo
pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleo-
heroico”.
nástico.

Observação:
O pleonasmo só tem razão de ser quando confere
mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um pleonas-
mo vicioso:
Vi aquela cena com meus próprios olhos.
PORTUGUÊS

Vamos subir para cima.


Ele desceu pra baixo.

1.3.8. Anáfora

45
O texto cita que o dito popular “está tão quente que dá
para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de
EXERCÍCIOS COMENTADOS linguagem. O autor do texto refere-se a qual figura de
linguagem?
1. (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JA-
NEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BI- a) Eufemismo.
BLIOTECONOMIA SUPERIOR – FGV/2014 - adaptada) b) Hipérbole.
Ao dizer que os shoppings são “cidades”, faz-se o uso de c) Paradoxo.
um tipo de linguagem figurada denominada d) Metonímia.
e) Hipérbato.
a) metonímia.
b) eufemismo. Resposta: Letra B. A expressão é um exagero! Ela ser-
c) hipérbole. ve apenas para representar o calor excessivo que está
d) metáfora. fazendo. A figura que é utilizada “mil vezes” (!) para
e) catacrese. atingir tal objetivo é a hipérbole.

Resposta: Letra D. A metáfora consiste em retirar uma


palavra de seu contexto convencional (denotativo) e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
transportá-la para um novo campo de significação (co- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
notativa), por meio de uma comparação implícita, de uma Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
similaridade existente entre as duas. CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/ char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm) – São Paulo: Saraiva, 2010.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
2. (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINIS- Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
TRADOR DE RECURSOS HUMANOS – SUPERIOR - Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
CONPASS/2014) Identifique a figura de linguagem pre- São Paulo: Saraiva, 2002.
sente na tira seguinte:
SITES
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
coes/estil/estil8.php>
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
coes/estil/estil5.php>
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
coes/estil/estil2.php>

a) metonímia ACENTUAÇÃO.
b) prosopopeia
c) hipérbole
d) eufemismo ACENTUAÇÃO GRÁFICA
e) onomatopeia
Quanto à acentuação, observamos que algumas
Resposta: Letra D. “Eufemismo = é o emprego de palavras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia,
uma expressão mais suave, mais nobre ou menos ora se dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a
agressiva, para comunicar alguma coisa áspera, desa- outra. Por isso, vamos às regras!
gradável ou chocante”. No caso da tirinha, é utilizada
a expressão “deram suas vidas por nós” no lugar de 1. Regras básicas
“que morreram por nós”.
A acentuação tônica está relacionada à intensidade
3. (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE – SUPE- com que são pronunciadas as sílabas das palavras.
RIOR - COPEVE/UFAL/2014) Aquela que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto. como sílaba tônica. As demais, como são pronunciadas
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de com menos intensidade, são denominadas de átonas.
linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, De acordo com a tonicidade, as palavras são
horário do dia em que o calor é mais intenso, a tempera- classificadas como:
tura do asfalto, medida com um termômetro de contato, Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre
PORTUGUÊS

chegou a 65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o a última sílaba: café – coração – Belém – atum – caju –
local alcançasse aproximadamente 90ºC. papel
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso em: Paroxítonas – a sílaba tônica recai na penúltima
22 jan. 2014. sílaba: útil – tórax – táxi – leque – sapato – passível

46
Proparoxítonas - a sílaba tônica está na antepenúltima 2.2 Regras especiais
sílaba: lâmpada – câmara – tímpano – médico – ônibus
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos
Há vocábulos que possuem uma sílaba somente: são abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
os chamados monossílabos. Estes são acentuados quando de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
tônicos e terminados em “a”, “e” ou “o”: vá – fé – pó - ré. palavras paroxítonas.

2 Os acentos
FIQUE ATENTO!
A) acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a” Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos aber-
e “i”, “u” e “e” do grupo “em” - indica que estas tos estiverem em uma palavra oxítona (he-
letras representam as vogais tônicas de palavras rói) ou monossílaba (céu) ainda são acen-
como pá, caí, público. Sobre as letras “e” e “o” tuados: dói, escarcéu.
indica, além da tonicidade, timbre aberto: herói –
céu (ditongos abertos).
B) acento circunflexo – (^) Colocado sobre as letras
Antes Agora
“a”, “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre
fechado: tâmara – Atlântico – pêsames – supôs. assembléia assembleia
C) acento grave – (`) Indica a fusão da preposição “a” idéia ideia
com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
D) trema (¨) – De acordo com a nova regra, foi geléia geleia
totalmente abolido das palavras. Há uma exceção: jibóia jiboia
é utilizado em palavras derivadas de nomes
apóia (verbo apoiar) apoia
próprios estrangeiros: mülleriano (de Müller)
E) til – (~) Indica que as letras “a” e “o” representam paranóico paranoico
vogais nasais: oração – melão – órgão – ímã
2.3 Acento Diferencial
2.1 Regras fundamentais
Representam os acentos gráficos que, pelas regras
A) Palavras oxítonas: acentuam-se todas as oxítonas de acentuação, não se justificariam, mas são utilizados
terminadas em: “a”, “e”, “o”, “em”, seguidas ou não do para diferenciar classes gramaticais entre determinadas
plural(s): Pará – café(s) – cipó(s) – Belém. palavras e/ou tempos verbais. Por exemplo:
Esta regra também é aplicada aos seguintes casos: Pôr (verbo) X por (preposição) / pôde (pretérito
Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, perfeito do Indicativo do verbo “poder”) X pode (presente
seguidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há do Indicativo do mesmo verbo).
Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas:
seguidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada,
mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se,
B) Paroxítonas: acentuam-se as palavras paroxítonas para que saibamos se se trata de um verbo ou preposição.
terminadas em: Os demais casos de acento diferencial não são
i, is: táxi – lápis – júri mais utilizados: para (verbo), para (preposição), pelo
us, um, uns: vírus – álbuns – fórum (substantivo), pelo (preposição). Seus significados e
l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax – classes gramaticais são definidos pelo contexto.
fórceps Polícia para o trânsito para que se realize a operação
ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos planejada. = o primeiro “para” é verbo; o segundo,
ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou conjunção (com relação de finalidade).
não de “s”: água – pônei – mágoa – memória

#FicaDica
#FicaDica
Quando, na frase, der para substituir o “por”
Memorize a palavra LINURXÃO. Repare que por “colocar”, estaremos trabalhando com
esta palavra apresenta as terminações das um verbo, portanto: “pôr”; nos demais ca-
paroxítonas que são acentuadas: L, I N, U sos, “por” é preposição: Faço isso por você.
(aqui inclua UM = fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim / Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
ficará mais fácil a memorização!

C) Proparoxítona: a palavra é proparoxítona


2.4 Regra do Hiato
PORTUGUÊS

quando a sua antepenúltima sílaba é tônica


(mais forte). Quanto à regra de acentuação:
todas as proparoxítonas são acentuadas, Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos,
independentemente de sua terminação: árvore, segunda vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”,
paralelepípedo, cárcere. haverá acento: saída – faísca – baú – país – Luís

47
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
quando seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z: Ra- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
ul, Lu-iz, sa-ir, ju-iz Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto
estiverem seguidas do dígrafo nh: ra-i-nha, ven-to-i-nha. Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. –
São Paulo: Saraiva, 2010.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba SITE
http://www.brasilescola.com/gramatica/acentuacao.htm
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos,
formando hiato quando vierem depois de ditongo (nas
paroxítonas):
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Antes Agora
1. (POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍCIA
bocaiúva bocaiuva FEDERAL – CESPE – 2014) Os termos “série” e
feiúra feiura “história” acentuam-se em conformidade com a mesma
Sauípe Sauipe regra ortográfica.

(  ) CERTO   (  ) ERRADO
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
abolido:
Resposta: Certo. “Série” = acentua-se a paroxítona
terminada em ditongo / “história” - acentua-se a
Antes Agora paroxítona terminada em ditongo
crêem creem Ambas são acentuadas devido à regra da paroxítona
terminada em ditongo.
lêem leem
vôo voo Observação: nestes casos, admitem-se as
separações “sé-ri-e” e “his-tó-ri-as”, o que as tornaria
enjôo enjoo
proparoxítonas.

#FicaDica 2. (ANATEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE


– 2012) Nas palavras “análise” e “mínimos”, o emprego
Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os do acento gráfico tem justificativas gramaticais
verbos que, no plural, dobram o “e”, mas diferentes.
que não recebem mais acento como antes:
CRER, DAR, LER e VER. (  ) CERTO   (  ) ERRADO

Repare: Resposta: Errado. Análise = proparoxítona / mínimos


O menino crê em você. / Os meninos creem em você. = proparoxítona. Ambas são acentuadas pela mesma
Elza lê bem! / Todas leem bem! regra (antepenúltima sílaba é tônica, “mais forte”).
Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos que os
garotos deem o recado! 3. (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE
Rubens vê tudo! / Eles veem tudo! – 2012) Os vocábulos “indivíduo”, “diária” e “paciência”
Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / Eles vêm recebem acento gráfico com base na mesma regra de
à tarde! acentuação gráfica.
As formas verbais que possuíam o acento tônico na
raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de (  ) CERTO   (  ) ERRADO
“e” ou “i” não serão mais acentuadas:
Resposta: Certo. Indivíduo = paroxítona terminada
em ditongo; diária = paroxítona terminada em ditongo;
Antes Depois paciência = paroxítona terminada em ditongo. Os três
apazigúe (apaziguar) apazigue vocábulos são acentuados devido à mesma regra.
averigúe (averiguar) averigue
4. (IBAMA – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE
argúi (arguir) argui – 2012) As palavras “pó”, “só” e “céu” são acentuadas de
acordo com a mesma regra de acentuação gráfica.
Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira
pessoa do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles (  ) CERTO   (  ) ERRADO
PORTUGUÊS

vêm (verbo vir). A regra prevalece também para os verbos


conter, obter, reter, deter, abster: ele contém – eles contêm, Resposta: Errado. Pó = monossílaba terminada
ele obtém – eles obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém em “o”; só = monossílaba terminada em “o”; céu =
– eles convêm. monossílaba terminada em ditongo aberto “éu”.

48
5. (ANATEL – Técnico Administrativo – CESPE/2012)  Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do
Nas palavras “análise” e “mínimos”, o emprego do acento ponto, assim como após o nome do autor de uma
gráfico tem justificativas gramaticais diferentes. citação:
Haverá eleições em outubro
(  ) CERTO   (  ) ERRADO O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napo-
leão Mendes de Almeida) (ou: Almeida.)
Resposta: ERRADO  Os números que identificam o ano não utili-
Análise = proparoxítona / mínimos = proparoxítona. zam ponto nem devem ter espaço a separá-los,
Ambas são acentuadas pela mesma regra bem como os números de CEP: 1975, 2014, 2006,
(antepenúltima sílaba é tônica, “mais forte”). 17600-250.

6. (ANCINE – Técnico Administrativo – CESPE/2012) B) Ponto e Vírgula (;)


Os vocábulos “indivíduo”, “diária” e “paciência” recebem
acento gráfico com base na mesma regra de acentuação  Separa várias partes do discurso, que têm a mes-
gráfica. ma importância: “Os pobres dão pelo pão o traba-
lho; os ricos dão pelo pão a fazenda; os de espíritos
(  ) CERTO   (  ) ERRADO generosos dão pelo pão a vida; os de nenhum espí-
rito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
Resposta: CERTO  Separa partes de frases que já estão separadas por
Indivíduo = paroxítona terminada em ditongo; diária vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; ou-
= paroxítona terminada em ditongo; paciência = tros, montanhas, frio e cobertor.
paroxítona terminada em ditongo. Os três vocábulos  Separa itens de uma enumeração, exposição de
são acentuados devido à mesma regra. motivos, decreto de lei, etc.
Ir ao supermercado;
7. (IBAMA – Técnico Administrativo – CESPE/2012) Pegar as crianças na escola;
As palavras “pó”, “só” e “céu” são acentuadas de acordo Caminhada na praia;
com a mesma regra de acentuação gráfica. Reunião com amigos.
(  ) CERTO   (  ) ERRADO C) Dois pontos (:)
 Antes de uma citação = Vejamos como Afrânio
Resposta: ERRADO Coutinho trata este assunto:
Pó = monossílaba terminada em “o”; só = monossílaba  Antes de um aposto = Três coisas não me agra-
terminada em “o”; céu = monossílaba terminada em dam: chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite.
ditongo aberto “éu”.  Antes de uma explicação ou esclarecimento: Lá es-
tava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo
a rotina de sempre.
PONTUAÇÃO: REGRAS, EFEITOS DE  Em frases de estilo direto
SENTIDO. Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?
PONTUAÇÃO
D) Ponto de Exclamação (!)
 Usa-se para indicar entonação de surpresa, cóle-
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que
ra, susto, súplica, etc.: Sim! Claro que eu quero me
servem para compor a coesão e a coerência textual, além
casar com você!
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas.
 Depois de interjeições ou vocativos
Um texto escrito adquire diferentes significados quando
Ai! Que susto!
pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação
João! Há quanto tempo!
depende, em certos momentos, da intenção do autor do
discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamen-
E) Ponto de Interrogação (?)
te relacionados ao contexto e ao interlocutor.
 Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
1. Principais funções dos sinais de pontuação
vedo)
A) Ponto (.)
F) Reticências (...)
 Indica o término do discurso ou de parte dele, en-
 Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lá-
cerrando o período.
pis, canetas, cadernos...
 Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com-
 Indica interrupção violenta da frase: “- Não... quero
panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final
dizer... é verdad... Ah!”
PORTUGUÊS

de período, este não receberá outro ponto; neste


 Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este
caso, o ponto de abreviatura marca, também, o fim
mal... pega doutor?
de período. Exemplo: Estudei português, matemári-
 Indica que o sentido vai além do que foi dito: Dei-
ca, constitucional, etc. (e não “etc..”)
xa, depois, o coração falar...

49
G) Vírgula (,)  o asterisco (*) = usado para remeter o leitor a
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para subs-
Não se usa vírgula tituir um nome que não se quer mencionar.
Separando termos que, do ponto de vista sintático,
ligam-se diretamente entre si: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
1. Entre sujeito e predicado: reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Todos os alunos da sala foram advertidos. Paulo: Saraiva, 2010.
Sujeito predicado
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
2. Entre o verbo e seus objetos:
O trabalho custou sacrifício aos
realizadores. SITE
V.T.D.I. O.D. O.I. http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/
Usa-se a vírgula: http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-vir-
gula.htm
1. Para marcar intercalação:
A) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua
abundância, vem caindo de preço. EXERCÍCIO COMENTADO
B) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão
produzindo, todavia, altas quantidades de alimen-
tos. 1. (STJ – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O
C) das expressões explicativas ou corretivas: As indús- CARGO 1 – CESPE – 2018 – ADAPTADA)
trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto
é, não querem abrir mão dos lucros altos. Texto CB1A1CCC

2. Para marcar inversão: As audiências de segunda a sexta-feira muitas vezes re-


A) do adjunto adverbial (colocado no início da ora- velaram o lado mais sórdido da natureza humana. Eram
ção): Depois das sete horas, todo o comércio está de relatos de sofrimento, dor, angústia que se transporta-
portas fechadas. vam da cadeira das vítimas, testemunhas e réus para mi-
B) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos nha cadeira de juíza. A toga não me blindou daqueles re-
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
latos sofridos, aflitos. As angústias dos que se sentavam
C) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de
à minha frente, por diversas vezes, me escoltaram até
maio de 1982.
minha casa e passaram a ser companheiras de noites de
3. Para separar entre si elementos coordenados insônia. Não havia outra solução a não ser escrever. Era
(dispostos em enumeração): preciso colocar no papel e compartilhar a dor daquelas
Era um garoto de 15 anos, alto, magro. pessoas que, mesmo ao fim do processo e com a senten-
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e ani- ça prolatada, não me deixavam esquecê-las.
mais. Foram horas, dias, meses, anos de oitivas de mães, filhas,
4. Para marcar elipse (omissão) do verbo: Nós que- esposas, namoradas, companheiras, todas tendo em co-
remos comer pizza; e vocês, churrasco. mum a violência no corpo e na alma sofrida dentro de
casa. O lar, que deveria ser o lugar mais seguro para es-
5. Para isolar: sas mulheres, havia se transformado no pior dos mundos.
A) o aposto: São Paulo, considerada a metrópole bra- Quando finalmente chegavam ao Judiciário e se sen-
sileira, possui um trânsito caótico. tavam à minha frente, os relatos se transformavam em
B) o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. desabafos de uma vida inteira. Era preciso explicar, justi-
ficar e muitas vezes se culpar por terem sido agredidas.
Observações: A culpa por ter sido vítima, a culpa por ter permitido, a
Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres-
culpa por não ter sido boa o suficiente, a culpa por não
são latina et coetera, que significa “e outras coisas”, seria
ter conseguido manter a família. Sempre a culpa.
dispensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o
acordo ortográfico em vigor no Brasil exige que empre- Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma for-
guemos etc. predecido de vírgula: Falamos de política, ça externa como se somente nós, juízes, promotores e
futebol, lazer, etc. advogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo
As perguntas que denotam surpresa podem ter com- de violência, mas também lhes dar voz para reagir àquela
binados o ponto de interrogação e o de exclamação: violência invisível.
Você falou isso para ela?! Rejane Jungbluth Suxberger. Invisíveis Marias: histórias
Temos, ainda, sinais distintivos: além das quatro paredes. Brasília: Trampolim, 2018 (com
PORTUGUÊS

 a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa- adaptações).


ração de siglas (IOF/UPC); O trecho “juízes, promotores e advogados” explica o sen-
 os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas tido de “nós”.
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira op-
ção aos parênteses, principalmente na matemática; ( ) CERTO ( ) ERRADO

50
Resposta: Certo. Ao trecho: (...) Aquelas mulheres che- 3. (ANEEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE –
gavam à Justiça buscando uma força externa como se 2010) Vão surgindo novos sinais do crescente otimismo
somente nós, juízes, promotores e advogados, pudésse- da indústria com relação ao futuro próximo. Um deles
mos não apenas cessar aquele ciclo de violência (...). Os refere-se às exportações. “O comércio mundial já está
termos entre vírgulas servem para exemplificar quem voltando a se abrir para as empresas”, diz o gerente
são os “nós” citados pela autora (juízes, promotores, executivo de pesquisas da Confederação Nacional
advogados). da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, para explicar a
melhora das expectativas dos industriais com relação ao
2. (SERES-PE – AGENTE DE SEGURANÇA mercado externo.
PENITENCIÁRIA – CESPE – 2017 – ADAPTADA) Quanto ao mercado interno, as expectativas da indústria
não se modificaram. Mas isso não é um mau sinal, pois
Texto 1A1AAA elas já eram francamente otimistas. Há algum tempo, a
pesquisa da CNI, realizada mensalmente a partir de 2010,
Após o processo de redemocratização, com o fim da di- registra grande otimismo da indústria com relação à de-
tadura militar, em meados da década de 80 do século manda interna. Trata-se de um sentimento generalizado.
passado, era de se esperar que a democratização das Em todos os setores industriais, a expressiva maioria dos
instituições tivesse como resultado direto a consolidação entrevistados acredita no aumento das vendas internas.
da cidadania — compreendida de modo amplo, abran- O Estado de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adapta-
gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e ções).
sociais. Sobressaem, porém, problemas que configuram O nome próprio “Renato da Fonseca” está entre vírgulas
mais desafios para a cidadania brasileira, como a violên- por tratar-se de um vocativo.
cia urbana — que ameaça os direitos individuais — e o
desemprego — que ameaça os direitos sociais. (  ) CERTO   (  ) ERRADO
No Brasil, o crime aumentou significantemente a partir
de 1980, impacto do processo de modernização pelo Resposta: Errado. Recorramos ao texto (lembre-se de
qual o país passou. Isso sugere que o boom do consumo fazer a mesma coisa no dia do seu concurso!): (...) diz o
colocou em circulação bens de alto valor e, consequente- gerente executivo de pesquisas da Confederação Nacio-
mente, aumentou as oportunidades para o crime, inclusi- nal da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, para explicar
ve porque a maior mobilidade de pessoas torna o espaço a melhora das expectativas. O termo em destaque não
social mais anônimo, menos supervisionado. está exercendo a função de vocativo, já que não é uti-
Nesse contexto, justiça criminal passa a ser cada vez mais lizado para evocar, chamar o interlocutor do diálogo.
dissociada de justiça social e reconstrução da sociedade. Sua função é de aposto – explicar quem é o gerente
O objetivo em relação à criminalidade torna-se bem me- executivo da CNI.
nos ambicioso: o controle. A prisão ganha mais impor-
tância na modernidade tardia, porque satisfaz uma dupla 4. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – MÉDICO
necessidade dessa nova cultura: castigo e controle do DO TRABALHO – CESPE – 2014 – ADAPTADA)
risco. Essa postura às vezes proporciona controle, porém A correção gramatical do trecho “Entre as bebidas
não segurança, pois o Estado tem o poder limitado de alcoólicas, cervejas e vinhos são as mais comuns em
manter a ordem por meio da polícia, sendo necessário todo o mundo” seria prejudicada, caso se inserisse uma
dividir as tarefas de controle com organizações locais e vírgula logo após a palavra “vinhos”.
com a comunidade.
Jacqueline Carvalho da Silva. Manutenção da ordem pú- (  ) CERTO   (  ) ERRADO
blica e garantia dos direitos individuais: os desafios da
polícia em sociedades democráticas. In: Revista Brasilei- Resposta: Certo. Não se deve colocar vírgula entre
ra de Segurança Pública. São Paulo, ano 5, 8.ª ed., fev. – sujeito e predicado, a não ser que se trate de um apos-
mar./2011, p. 84-5 (com adaptações). to (1), predicativo do sujeito (2), ou algum termo que
requeira estar separado entre pontuações. Exemplo: O
No primeiro parágrafo do texto 1A1AAA, os dois-pontos Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa!
introduzem
Os meninos, ansiosos (2), chegaram!
a) uma enumeração das “categorias de direitos”.
b) resultados da “consolidação da cidadania”.
c) um contra-argumento para a ideia de cidadania como RECURSOS GRÁFICOS: REGRAS, EFEITOS
algo “amplo”. DE SENTIDO.
d) uma generalização do termo “direitos”.
e) objetivos do “processo de redemocratização”. Caro candidato, o tópico acima foi abordado ao
decorrer da matéria.
Resposta: Letra A. Recorramos ao texto (faça isso
PORTUGUÊS

SEMPRE durante seu concurso. O texto é a base para


encontrar as respostas para as questões!): (...) abran-
gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e
sociais. Os dois-pontos introduzem a enumeração dos
direitos; apresenta-os.

51
2. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
DIO - VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que a
HORA DE PRATICAR! nova redação dada ao seguinte trecho do primeiro pará-
grafo apresenta concordância de acordo com a norma-
(TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉDIO -padrão: Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos
- VUNESP – 2017 - ADAPTADA) Leia o texto, para res- executivos no setor de tecnologia já tinham feito.
ponder às questões de 1 a 7.
a) Muitos executivos já havia transferido suas equipes para o
Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos executi- chamado escritório aberto, como feito por Chris Nagele.
vos no setor de tecnologia já tinham feito – ele transferiu b) Mais de um executivo já tinham transferido suas equi-
sua equipe para um chamado escritório aberto, sem pa- pes para escritórios abertos, o que só aconteceu com
redes e divisórias. Chris Nagele fazem mais de quatro anos.
Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas ele c) O que muitos executivos fizeram, transferindo suas
queria que todos estivessem juntos, para se conectarem e equipes para escritórios abertos, também foi feito por
colaborarem mais facilmente. Mas em pouco tempo ficou Chris Nagele, faz cerca de quatro anos.
claro que Nagele tinha cometido um grande erro. Todos d) Devem fazer uns quatro anos que Chris Nagele trans-
estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove em- feriu sua equipe para escritórios abertos, tais como foi
pregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio chefe. transferido por muitos executivos.
Em abril de 2015, quase três anos após a mudança para e) Faz exatamente quatro anos que Chris Nagele fez o que
o escritório aberto, Nagele transferiu a empresa para um já tinham sido feitos por outros executivos do setor.
espaço de 900 m² onde hoje todos têm seu próprio es-
paço, com portas e tudo. 3. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório aber- DIO - VUNESP – 2017) É correto afirmar que a expressão
to – cerca de 70% dos escritórios nos Estados Unidos são – até então –, em destaque no início do segundo pará-
assim – e até onde se sabe poucos retornaram ao modelo grafo, expressa um limite, com referência
de espaços tradicionais com salas e portas.
Pesquisas, contudo, mostram que podemos perder até a) temporal ao momento em que se deu a transferência
15% da produtividade, desenvolver problemas graves de da equipe de Nagele para o escritório aberto.
concentração e até ter o dobro de chances de ficar doentes b) espacial aos escritórios fechados onde trabalhava a equi-
em espaços de trabalho abertos – fatores que estão contri- pe de Nagele antes da mudança para locais abertos.
buindo para uma reação contra esse tipo de organização. c) temporal ao dia em que Nagele decidiu seguir o exem-
Desde que se mudou para o formato tradicional, Nagele plo de outros executivos, e espacial ao tipo de escri-
já ouviu colegas do setor de tecnologia dizerem sentir tório que adotou.
falta do estilo de trabalho do escritório fechado. “Muita d) espacial ao caso de sucesso de outros executivos do
gente concorda – simplesmente não aguentam o escri- setor de tecnologia que aboliram paredes e divisórias.
tório aberto. Nunca se consegue terminar as coisas e é e) espacial ao novo tipo de ambiente de trabalho, e tem-
preciso levar mais trabalho para casa”, diz ele. poral às mudanças favoráveis à integração.
É improvável que o conceito de escritório aberto caia em
desuso, mas algumas firmas estão seguindo o exemplo 4. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
de Nagele e voltando aos espaços privados. DIO - VUNESP – 2017) É correto afirmar que a expressão
Há uma boa razão que explica por que todos adoram um – contudo –, destacada no quinto parágrafo, estabelece
espaço com quatro paredes e uma porta: foco. A verdade uma relação de sentido com o parágrafo
é que não conseguimos cumprir várias tarefas ao mesmo
tempo, e pequenas distrações podem desviar nosso foco a) anterior, confirmando com estatísticas o sucesso das em-
por até 20 minutos. presas que adotaram o modelo de escritórios abertos.
Retemos mais informações quando nos sentamos em um b) posterior, expondo argumentos favoráveis à adoção
local fixo, afirma Sally Augustin, psicóloga ambiental e do modelo de escritórios abertos.
design de interiores. c) anterior, atestando a eficiência do modelo aberto com
(Bryan Borzykowski, “Por que escritórios abertos podem base em resultados de pesquisas.
ser ruins para funcionários.” Disponível em:<www1. d) anterior, introduzindo informações que se contra-
folha.uol.com.br>. Acesso em: 04.04.2017. Adaptado) põem à visão positiva acerca dos escritórios abertos.
e) posterior, contestando com dados estatísticos o for-
1. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉDIO mato tradicional de escritório fechado.
- VUNESP – 2017) Segundo o texto, são aspectos desfa-
voráveis ao trabalho em espaços abertos compartilhados 5. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
DIO - VUNESP – 2017) Assinale a frase do texto em que
a) a impossibilidade de cumprir várias tarefas e a restri- se identifica expressão do ponto de vista do próprio au-
ção à criatividade. tor acerca do assunto de que trata.
b) a dificuldade de propor soluções tecnológicas e a
transferência de atividades para o lar. a) “Nunca se consegue terminar as coisas e é preciso levar
c) a dispersão e a menor capacidade de conservar conteúdos.
PORTUGUÊS

mais trabalho para casa”, diz ele. (6.º parágrafo).


d) a distração e a possibilidade de haver colaboração de b) Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório
colegas e chefes. aberto... (4.º parágrafo).
e) o isolamento na realização das tarefas e a vigilância c) Retemos mais informações quando nos sentamos em
constante dos chefes. um local fixo, afirma Sally Augustin... (último parágrafo).

52
d) Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas É correto afirmar que, do ponto de vista do autor, o pau-
ele queria que todos estivessem juntos... (2.º parágrafo). listano
e) É improvável que o conceito de escritório aberto caia
em desuso... (7.º parágrafo). a) busca em Ipanema o contato com a natureza exube-
rante que não consegue achar em sua cidade.
6. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- b) sabe como vencer a rudeza da paisagem de São Paulo,
DIO - VUNESP – 2017) Na frase – É improvável que o encontrando nesta espaços para o lazer.
conceito de escritório aberto caia em desuso... (7.º pará-
c) se vê impedido de realizar atividades esportivas, no
grafo) – a expressão em destaque tem o sentido de
mar de asfalto que é São Paulo.
a) sofra censura. d) tem feito críticas à cidade, porque ela não oferece ati-
b) torne-se obsoleto. vidades recreativas a seus habitantes.
c) mostre-se alterado. e) toma Ipanema como um símbolo daquilo que se pode
d) mereça sanção. alcançar, apesar de muito andar e andar.
e) seja substituído.
9. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
7. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- DIO - VUNESP – 2015)
DIO - VUNESP – 2017) O trecho destacado na passagem
– Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove Ser gentil é um ato de rebeldia. Você sai às ruas e insis-
empregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio te, briga, luta para se manter gentil. O motorista quase
chefe.– tem sentido de: te mata de susto buzinando e te xingando porque você
usou a faixa de pedestres quando o sinal estava fechado
a) até mesmo o próprio chefe. para ele. Você posta um pensamento gentil nas redes so-
b) apesar do próprio chefe. ciais apesar de ler dezenas de comentários xenofóbicos,
c) exceto o próprio chefe. homofóbicos, irônicos e maldosos sobre tudo e todos.
d) diante do próprio chefe. Inclusive você. Afinal, você é obviamente um idiota gentil.
e) portanto o próprio chefe. Há teorias evolucionistas que defendem que as socieda-
des com maior número de pessoas altruístas sobrevive-
8. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- ram por mais tempo por serem mais capazes de manter
DIO - VUNESP – 2017) a coesão. Pesquisadores da atualidade dizem, baseados
O problema de São Paulo, dizia o Vinicius, “é que você em estudos, que gestos de gentileza liberam substâncias
anda, anda, anda e nunca chega a Ipanema”. Se tomar- que proporcionam prazer e felicidade.
mos “Ipanema” ao pé da letra, a frase é absurda e cômi- Mas gentileza virou fraqueza. É preciso ser macho pacas
ca. Tomando “Ipanema” como um símbolo, no entanto, para ser gentil nos dias de hoje. Só consigo associar a
como um exemplo de alívio, promessa de alegria em aversão à gentileza à profunda necessidade de ser – ou
meio à vida dura da cidade, a frase passa a ser de um tris- parecer ser – invencível e bem-sucedido. Nossas fragili-
te realismo: o problema de São Paulo é que você anda, dades seriam uma vergonha social. Um empecilho à car-
anda, anda e nunca chega a alívio algum. O Ibirapuera, o reira, ao acúmulo de dinheiro.
parque do Estado, o Jardim da Luz são uns raros respiros Não ter tempo para gentilezas é bonito. É justificável
perdidos entre o mar de asfalto, a floresta de lajes bati-
diante da eterna ambivalência humana: queremos ser
das e os Corcovados de concreto armado.
bons, mas temos medo. Não dizer bom-dia significa que
O paulistano, contudo, não é de jogar a toalha – prefere
você é muito importante. Ou muito ocupado. Humilhar
estendê-la e se deitar em cima, caso lhe concedam dois
os que não concordam com suas ideias é coisa de gente
metros quadrados de chão. É o que vemos nas avenidas
abertas aos pedestres, nos fins de semana: basta liberarem forte. E que está do lado certo. Como se houvesse um
um pedacinho do cinza e surgem revoadas de patinado- lado errado. Porque, se nenhum de nós abrir a boca, nin-
res, maracatus, big bands, corredores evangélicos, góticos guém vai reparar que no nosso modelo de felicidade tem
satanistas, praticantes de ioga, dançarinos de tango, bar- alguém chorando ali no canto. Porque ser gentil abala
raquinhas de yakissoba e barris de cerveja artesanal. sua autonomia. Enfim, ser gentil está fora de moda. Estou
Tenho estado atento às agruras e oportunidades da ci- sempre fora de moda. Querendo falar de gentileza, ima-
dade porque, depois de cinco anos vivendo na Granja ginem vocês! Pura rebeldia. Sair por aí exibindo minhas
Viana, vim morar em Higienópolis. Lá em Cotia, no fim da vulnerabilidades e, em ato de pura desobediência civil,
tarde, eu corria em volta de um lago, desviando de patos esperar alguma cumplicidade. Deve ser a idade.
e assustando jacus. Agora, aos domingos, corro pela Pau- (Ana Paula Padrão, Gentileza virou fraqueza. Disponível
lista ou Minhocão e, durante a semana, venho testando em: <http://www.istoe.com.br>. Acesso em: 27 jan 2015.
diferentes percursos. Adaptado)
Corri em volta do parque Buenos Aires e do cemitério da
Consolação, ziguezagueei por Santa Cecília e pelas en- É correto inferir que, do ponto de vista da autora, a gen-
costas do Sumaré, até que, na última terça, sem querer, tileza
descobri um insuspeito parque noturno com bastante
gente, quase nenhum carro e propício a todo tipo de ati- a) é prerrogativa dos que querem ter sua importância re-
vidades: o estacionamento do estádio do Pacaembu. conhecida socialmente.
PORTUGUÊS

(Antonio Prata. “O paulistano não é de jogar a toa- b) é uma via de mão dupla, por isso não deve ser pratica-
lha. Prefere estendê-la e deitar em cima.” Disponível da se não houver reciprocidade.
em:<http://www1.folha.uol.com.br/colunas>. Acesso em: c) representa um hábito primitivo, que pouco afeta as
13.04.2017. Adaptado) relações interpessoais.

53
d) restringe-se ao gênero masculino, pois este represen- 15. (IBGE – ANALISTA CENSITÁRIO – AGRONOMIA –
ta os mais fortes. FGV-2017) “É preciso levar em conta questões econô-
e) é uma qualidade desvalorizada em nossa sociedade micas e sociais”; se juntássemos os adjetivos sublinha-
nos dias atuais. dos em forma de adjetivo composto, a forma correta, no
contexto, seria:
10. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
DIO - VUNESP – 2015) No final do último parágrafo, a a) econômicas-sociais;
autora caracteriza a gentileza como “ato de pura desobe-
b) econômico-social;
diência civil”; isso permite deduzir que
c) econômica-social;
a) assumir a prática da gentileza é rebelar-se contra códigos d) econômico-sociais;
de comportamento vigentes, mesmo que não declarados. e) econômicas-social.
b) é inviável, em qualquer época, opor-se às práticas e
aos protocolos sociais de relacionamento humano. 6. (PC-RS – ESCRIVÃO E INSPETOR DE POLÍCIA – FUN-
c) é possível ao sujeito aderir às ideias dos mais fortes, DATEC-2018 - ADAPTADA) Sobre os vocábulos expan-
sem medo de ver atingida sua individualidade, no sível, fácil, considerável, artificial, multiplicável e acessível,
contexto geral. afirma-se que:
d) há, nas sociedades modernas, a constatação de que
a vulnerabilidade de alguns está em ver a felicidade I. Todos são flexionados da mesma forma quando no plu-
como ato de rebeldia. ral.
e) obedecer às normas sociais gera prazer, ainda que isso sig- II. Apenas um assume forma diferente dos demais quan-
nifique seguir rituais de incivilidade e praticar a intolerância. do flexionado no plural.
III. Todos devem ser acentuados em sua forma plural.
11. (EBSERH – ANALISTA ADMINISTRATIVO – ESTA-
TÍSTICA – AOCP-2015) Assinale a alternativa correta em
relação à ortografia dos pares. Quais estão corretas?

a) Atenção – atenciozo. a) Apenas I.


b) Aprender – aprendizajem. b) Apenas II.
c) Simples – simplissidade. c) Apenas III.
d) Fúria – furiozo. d) Apenas I e II.
e) Sensação – sensacional. e) Apenas II e III.

12. (BADESC – TÉCNICO DE FOMENTO A – FGV-2010) 17. (ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO
As palavras jeitinho, pesquisa e intrínseco apresentam BRANCO-SP – TECNÓLOGO DE ADMINISTRAÇÃO PO-
diferentes graus de dificuldade ortográfica e estão corre- LICIAL MILITAR – VUNESP-2010)
tamente grafadas. Assinale a alternativa em que a grafia
da palavra sublinhada está igualmente correta. __________ moro fora do Brasil. Sou baiana e, cada vez que
volto a Salvador, fico chocada, constrangida e enojada
a) Talvez ele seje um caso de sucesso empresarial.
com essa prática _________ e, _________ não dizer, machista
b) A paralização da equipe técnica demorou bastante.
c) O funcionário reinvindicou suas horas extras. dos meus conterrâneos – não se veem mulheres fazendo
d) Deve-se expor com clareza a pretenção salarial. xixi na rua. Mas, antes de prender os___________, tente en-
e) O assessor de imprensa recebeu o jornalista. contrar um banheiro público em Salvador. Se encontrar,
tente entrar – normalmente estão trancados –, e tente
13. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL então não passar __________. Vamos copiar a Europa na
I – CESGRANRIO-2018) O grupo em que todas as pala- proibição, mas também na infraestrutura.
vras estão grafadas de acordo com a norma-padrão da (Seção “Leitor”, Veja, 14.07.2010. Adaptado)
língua portuguesa é:
Os espaços do texto devem ser preenchidos, correta e
a) admissão, infração, renovação respectivamente, com:
b) diversão, excessão, sucessão
c) extenção, eleição, informação a) A dez anos … sub-desenvolvida … por quê … cidadões
d) introdução, repreção, intenção … mau
e) transmissão, conceção, omissão
b) Há dez anos … subdesenvolvida … por que … cidadãos
… mal
14. (MPE-AL - TÉCNICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
FGV-2018) “A crise não trouxe apenas danos sociais e c) Fazem dez anos que … subdesenvolvida … porque …
econômicos”; se juntarmos os adjetivos sublinhados em cidadões … mau
um só vocábulo, a forma adequada será d) São dez anos que … sub desenvolvida … porquê …
cidadãos … mal
a) sociais-econômicos. e) Faz dez anos que … sub-desenvolvida … porque … ci-
PORTUGUÊS

b) social-econômicos. dadães … mau


c) sociais-econômico.
d) socioeconômicos.
e) socioseconômicos.

54
18. (PM-SP - TECNÓLOGO DE ADMINISTRAÇÃO PO- De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa,
LICIAL MILITAR – VUNESP-2014) Leia a tira de Hagar, as lacunas do texto devem ser preenchidas, respectiva-
por Chris Browne, e assinale a alternativa que completa, mente, com:
correta e respectivamente, as lacunas, em conformidade
com as regras de ortografia. a) tráfico … mal-tratos … flagrante
b) tráfego … maltratos … fragrante
c) tráfego … maus-trato … flagrante
d) tráfico … maus-tratos … flagrante
e) tráfico … mau-trato … fragrante

21. (CAMAR - CURSO DE ADAPTAÇÃO DE MÉDICOS


DA AERONÁUTICA PARA O ANO DE 2016) De acordo
com seu significado, o conjunto de características for-
mais e sua posição estrutural no interior da oração, as
(Folha de S.Paulo, 08.02.2014, http://zip.net/bdmBgf) palavras podem pertencer à mesma classe de palavras
ou não. Estabeleça a relação correta entre as colunas a
a) porque ... por que ... porque ... atraz seguir considerando tais aspectos (considere as palavras
b) por que ... por quê ... por que ... atraz em destaque).
c) por que ... por que ... porque ... atráz
(1) advérbio
d) porque ... porquê ... por que ... atrás
(2) pronome
e) por que ... por quê ... porque ... atrás (3) conjunção
(4) substantivo
19. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018)
( ) “Não há prisão pior [...]”
( ) “O lugar de estudo era isso.”
( ) “E o olho sem se mexer [...]”
( ) “Ora, se eles enxergavam coisas tão distantes, [...]”
( ) “Emília respondeu com uma pergunta que me espan-
tou.”

A sequência está correta em

a) 1 – 4 – 2 – 3 – 2
b) 2 – 1 – 3 – 3 – 4
c) 3 – 4 – 1 – 3 – 2
d) 4 – 2 – 4 – 1 – 3

22. (EBSERH – TÉCNICO EM FARMÁCIA- AOCP-2015)


Assinale a alternativa em que o termo destacado é um
pronome indefinido.
A frase do menino na charge – “naum eh verdade” – mos-
tra uma característica da linguagem escrita de internau- a) “Ele não exige fatos...”.
tas que é: b) “Era um ídolo para mim.”.
c) “Discordo dele.”.
a) a sintetização exagerada; d) “... espécie de carinho consigo mesmo.”.
b) o desrespeito total pela norma culta; e) “O bom humor está disponível a todos...”.
c) a criação de um vocabulário novo;
d) a tentativa de copiar a fala; 23. (EBSERH – TÉCNICO EM FARMÁCIA- AOCP-2015)
e) a grafia sem acentos ou sinais gráficos. Em “Mas o bom humor de ambos os tornava parecidos.”,
os termos destacados são, respectivamente,
20. (TJ-SP – ADVOGADO - VUNESP/2013)
A Polícia Militar prendeu, nesta semana, um homem de a) artigo e pronome.
37 anos, acusado de ____________ de drogas e ____________ b) artigo e preposição.
c) preposição e artigo.
à avó de 74 anos de idade. Ele foi preso em __________
d) pronome e artigo.
com uma pequena quantidade de drogas no bairro Ira- e) preposição e pronome.
puá II, em Floriano, após várias denúncias de vizinhos. De
acordo com o Comandante do 3.º BPM, o acusado era 24. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO
conhecido na região pela atuação no crime. – FGV-2017)
(www.cidadeverde.com/floriano. Acesso em 23.06.2013.
Adaptado) Texto 1 - “A democracia reclama um jornalismo vigo-
PORTUGUÊS

roso e independente. A agenda pública é determinada


pela imprensa tradicional. Não há um único assunto rele-
vante que não tenha nascido numa pauta do jornalismo
de qualidade. Alguns formadores de opinião utilizam as

55
redes sociais para reverberar, multiplicar e cumprem as- 29. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) A
sim relevante papel mobilizador. Mas o pontapé inicial é frase em que se deveria usar a forma EU em lugar de
sempre das empresas de conteúdo independentes”. MIM é:
(O Estado de São Paulo, 10/04/2017)
a) Um desejo de minha avó fez de mim um artista;
O texto 1, do Estado de São Paulo, mostra um conjunto b) Há muitas diferenças entre mim e a minha futura mulher;
de adjetivos sublinhados que poderiam ser substituídos c) Para mim, ver filmes antigos é a maior diversão;
por locuções; a substituição abaixo que está adequada é:
d) Entre mim viajar ou descansar, prefiro o descanso;
a) independente = com dependência; e) Separamo-nos, mas sempre de mim se lembra.
b) pública = de publicidade;
c) relevante = de relevância; 30. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LE-
d) sociais = de associados; GISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018-ADAPTADA) O
e) mobilizador = de motivação. segmento em que a substituição do termo sublinhado
por um pronome pessoal foi feita de forma adequada é:
25. (PC-SP - AUXILIAR DE NECROPSIA – VUNESP-2014)
Considerando que o adjetivo é uma palavra que modifica o a) “deixou de ser uma ferramenta de sobrevivência” / dei-
substantivo, com ele concordando em gênero e número, as- xou de ser-lhe;
sinale a alternativa em que a palavra destacada é um adjetivo. b) “podemos definir violência” / podemos defini-la;
c) “Hoje, esse termo denota, além de agressão física, di-
a) ... um câncer de boca horroroso, ... versos tipos de imposição” / denota-los;
b) Ele tem dezesseis anos... d) “Consideremos o surgimento das desigualdades” /
c) Eu queria que ele morresse logo, ... consideremos-lo;
d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às famílias.
e) “ao nos referirmos à violência” / ao nos referirmo-la.
e) E o inferno não atinge só os terminais.

26. (TRE-AC – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMI- 31. (MPU – Conhecimentos Básicos para os Cargos de
NISTRATIVA – AOCP-2015) Assinale a alternativa cujo 11 a 26 – CESPE-2013)
“que” em destaque funciona como pronome relativo. Recordar algo nunca ocorrido é comum e pode aconte-
cer com pessoas de qualquer idade. Muitos indivíduos
a) «É uma maneira de expressar a vontade que a gente sequer percebem que determinadas lembranças foram
tem. Acho que um voto pode fazer a diferença”. criadas, pois as cenas e até os sons evocados pelo cé-
b) “Ele diz que vota desde os 18...”. rebro surgem com a mesma nitidez e o mesmo grau de
c) “Acho que um voto pode fazer a diferença”. detalhamento das memórias reais.
d) “... e acreditam que um voto consciente agora pode De acordo com alguns neurocientistas, quando a pessoa
influenciar futuramente na vida de seus filhos e netos”. se recorda de uma sequência de eventos, o cérebro re-
e) “O idoso afirma que sempre incentivou sua família a votar”. constrói o passado juntando os “tijolos” de dados, mas
somente o ato de acessar as lembranças já modifica e
27. (TRF-1.ª Região – ANALISTA JUDICIÁRIO – INFOR- distorce a realidade.
MÁTICA – FCC- 2014-ADAPTADA) No período O livro
Um neurocientista de uma equipe que pesquisa esse as-
explica os espíritos chamados ‘xapiris’, que os ianomâmis
creem serem os únicos capazes de cuidar das pessoas e sunto afirma que se busca reforçar a ideia de que a me-
das coisas, a palavra grifada tem a função de pronome mória não pode ser considerada um papel carbono, ou
relativo, retomando um termo anterior. Do mesmo modo seja, de que ela não reproduz fielmente um acontecimen-
como ocorre em: to. “Nossa esperança é que, ao propor uma explicação
neural para o processo de geração das falsas memórias,
a) Os ianomâmis acreditam que os xamãs recebem dos haja aplicações práticas nas cortes de justiça, por exem-
espíritos chamados “xapiris” a capacidade de cura. plo”, diz o cientista. “Jurados e magistrados precisam de
b) Eu queria escrever para os não indígenas não acharem evidências de que, por mais real que aparente ser, um
que índio não sabe nada. fato recordado por uma testemunha pode não ser verda-
c) O branco está preocupado que não chove mais em deiro. A memória humana não é como uma memória de
alguns lugares. computador, não está certa o tempo todo.”
d) Gravou 15 fitas em que narrou também sua própria O neurocientista relatou que quase três quartos dos pri-
trajetória. meiros 250 americanos que tiveram suas condenações
e) Não sabia o que me atrapalhava o sono.
penais anuladas graças ao exame de DNA haviam sido
vítimas de falso testemunho ocular. Um psicólogo en-
28. (PETROBRAS – ENGENHEIRO(A) DE MEIO AM-
BIENTE JÚNIOR – CESGRANRIO-2018) De acordo com trevistado afirmou que, dependendo de como se conduz
as normas da linguagem padrão, a colocação pronominal uma acareação, ela pode confundir a pessoa interrogada.
está INCORRETA em: Correio Braziliense, 26/7/2013 (com adaptações).

a) Virgínia encontrava-se acamada há semanas. O trecho “a memória não pode ser considerada um papel
PORTUGUÊS

b) A ferida não se curava com os remédios. carbono” poderia ser corretamente reescrita da seguinte
c) A benzedeira usava uma peruca que não favorecia-a. forma: não pode-se considerá-la papel carbono.
d) Imediatamente lhe deram uma caneta-tinteiro vermelha.
e) Enquanto se rezavam Ave-Marias, a ferida era circundada. (  ) CERTO   (  ) ERRADO

56
32. (PC-MS – DELEGADO DE POLÍCIA – FAPEMS-2017) 35. (CONCURSO INTERNO DE SELEÇÃO PARA O CUR-
De acordo com os padrões da língua portuguesa, assina- SO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS - PM/2014) A fra-
le a alternativa correta. se – Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto.
– está corretamente reescrita quanto à flexão verbal, à
a) A frase: “Ela lhe ama” está correta visto que “amar” pontuação e à colocação pronominal em:
se classifica como verbo transitivo direto, pois quem a) Se remordia, o amigo, no seu canto, sem que nada visse.
ama, ama alguém. b) O amigo, sem que nada vesse, se remordia no seu canto.
b) Em: “Sou te fiel”, o pronome oblíquo átono desem- c) Remordia-se, no seu canto, o amigo, sem que nada visse.
penha função sintática de complemento nominal por d) Se remordia no seu canto o amigo, sem que nada vesse.
complementar o sentido de adjetivos, advérbios ou
substantivos abstratos, além de constituir emprego de
36. (PM-SP - SOLDADO DE 2.ª CLASSE – VUNESP-2017-
ênclise.
ADAPTADA) Assinale a alternativa em que o trecho está
c) No exemplo: “Demos a ele todas as oportunidades”, o
termo em destaque pode ser substituído por “Demo reescrito conforme a norma-padrão da língua portugue-
lhes” todas as oportunidades”, tendo em vista o em- sa, com a expressão destacada substituída pelo pronome
prego do pronome oblíquo como complemento do correspondente.
verbo.
d) Em: “Não me ..incomodo com esse tipo de barulho”, a) ... o prazer de contar aquelas histórias... → ... o prazer
te.mos.um clássico emprego de mesóclise. de contar-nas...
e) Na frase: “Alunos, aquietem-se! “, o termo destacado b) ... meio século sem escrever livros. → ... meio século
exemplifica o uso de próclise. sem escrevê-los.
c) ... puxo a mesinha... → ... puxo-lhe...
33. (PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA – VU- d) ... livro que reúne entrevistas e textos de Ernest He-
NESP-2014) mingway... → ... livro que reúne-as...
e) O médico que atendia pacientes... → O médico que
Compras de Natal lhe atendia...

A cidade deseja ser diferente, escapar às suas fatalidades. 37. (TRE-PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMI-
__________ de brilhos e cores; sinos que não tocam, balões NISTRATIVA – FCC-2017) A substituição do elemento
que não sobem, anjos e santos que não __________ , estre- sublinhado pelo pronome correspondente, com os ne-
las que jamais estiveram no céu. cessários ajustes no segmento, foi realizada de acordo
As lojas querem ser diferentes, fugir à realidade do ano com a norma padrão em:
inteiro: enfeitam-se com fitas e flores, neve de algodão
de vidro, fios de ouro e prata, cetins, luzes, todas as coi-
a) quem considera o amor abstrato = quem lhe consi-
sas que possam representar beleza e excelência.
Tudo isso para celebrar um Meninozinho envolto em po- dera abstrato
bres panos, deitado numas palhas, há cerca de dois mil b) consideram o amor algo ingênuo e pueril = conside-
anos, num abrigo de animais, em Belém. ram-lhe algo ingênuo e pueril
(Cecília Meireles, Quatro Vozes. Adaptado) c) parece que inviabiliza o amor = parece que inviabili-
za-lhe
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, d) o ressentimento é cego ao amor = o ressentimento
as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e res- lhe é cego
pectivamente, com: e) o amor não vê a hipocrisia = o amor não lhe vê

a) Se enche … movem-se 38. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LE-


b) Se enchem … se movem GISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018)
c) Enchem-se … se move
d) Enche-se … move-se Texto 1 – Guerra civil
e) Enche-se … se movem Renato Casagrande, O Globo, 23/11/2017

34. (PC-SP - AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP-2013) As- O 11.º Relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pú-
sinale a alternativa correta quanto à colocação prono- blica, mostrando o crescimento das mortes violentas no
minal, de acordo com a norma-padrão da língua portu- Brasil em 2016, mais uma vez assustou a todos. Foram
guesa. 61.619 pessoas que perderam a vida devido à violência.
Outro dado relevante é o crescimento da violência em
a) O passageiro ao lado jamais imaginou-se na situação
alguns estados do Sul e do Sudeste.
de ter de procurar a dona de uma bolsa perdida.
b) O homem se indignou quando propuseram-lhe que Na verdade, todos os anos a imprensa nacional destaca
abrisse a bolsa que encontrara. os inaceitáveis números da violência no país. Todos se
c) Nos sentimos impotentes quando não conseguimos assustam, o tempo passa, e pouca ação ocorre de fato.
Tem sido assim com o governo federal e boa parte das
PORTUGUÊS

restituir um objeto à pessoa que o perdeu.


d) Para que se evite perder objetos, recomenda-se que demais unidades da Federação. Agora, com a crise, o ar-
eles sejam sempre trazidos junto ao corpo. gumento é a incapacidade de investimento, mas, mesmo
e) Em tratando-se de objetos encontrados, há uma tendên- em períodos de economia mais forte, pouco se viu da im-
cia natural das pessoas em devolvê-los a seus donos. plementação de programas estruturantes com o objetivo

57
de enfrentar o crime. Contratação de policiais, aquisição A Constituição de 1988 faz referência expressa ao Mi-
de equipamentos, viaturas e novas tecnologias são medi- nistério Público no capítulo Das Funções Essenciais à
das essenciais, mas é preciso ir muito além. Definir metas Justiça. Define as funções institucionais, as garantias e as
e alcançá-las, utilizando um bom método de trabalho, vedações de seus membros. Isso deu evidência à institui-
deve ser parte de um programa bem articulado, que per- ção, tornando-a uma espécie de ouvidoria da sociedade
mita o acompanhamento das ações e que incentive o brasileira.
trabalho integrado entre as forças policiais do estado, da Internet: <www.mpu.mp.br> (com adaptações).
União e das guardas municipais.
No período “A sua história é marcada por processos que
O segmento do texto 1 em que a conjunção E tem valor culminaram”, o termo “que” introduz oração de natureza
adversativo (oposição) e NÃO aditivo (adição) é: restritiva.

a) “...crescimento da violência em alguns estados do Sul ( ) CERTO ( ) ERRADO


e do Sudeste”;
b) “Todos se assustam, o tempo passa, e pouca ação de- 42. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CAR-
corre de fato”; GO 33 – TÉCNICO ÁREA ADMINISTRATIVA - NÍVEL
c) “Tem sido assim com o governo federal e boa parte MÉDIO – CESPE-2013)
das demais unidades da Federação”; Uma legislação que tenha hoje 70 anos de vigência en-
d) “...viaturas e novas tecnologias”; trou em vigor muito antes do lançamento do primeiro
e) “Definir metas e alcançá-las...”. computador pessoal e do início da histórica revolução
imposta pela tecnologia digital. Isso não seria proble-
39. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – AR- ma se esse não fosse o caso da Consolidação das Leis
QUITETURA – FGV-2017) “... implica poder decifrar as do Trabalho (CLT), destinada a regular um dos universos
referências cristãs...”; a forma reduzida sublinhada fica mais impactados por esta revolução, o das relações tra-
convenientemente substituída por uma oração em forma balhistas.
desenvolvida na seguinte opção: Instituída por Getúlio Vargas para outro Brasil — ainda
agrário, com indústria e serviços incipientes —, a CLT tem
a) a possibilidade de decifrar as referências cristãs; sido defendida por sindicatos em nome da “preservação
b) a possibilidade de decifração das referências cristãs; dos direitos do trabalhador”.
c) que se pudessem decifrar as referências cristãs; Na vida real, longe das ideologias, a CLT, em função dos
d) que possamos decifrar as referências cristãs; custos que impõe ao empregador, é, na verdade, eficien-
e) a possibilidade de que decifrássemos as referências te instrumento de precarização do próprio trabalhador.
cristãs. O Globo, Editorial, 22/8/2013 (com adaptações).

40. (COMPESA-PE – ANALISTA DE GESTÃO – ADMI- A conjunção “se” tem valor condicional na oração em
NISTRADOR – FGV-2018) “... mas já conhecem a brutal que está inserida.
realidade dos desaventurados cuja sina é cruzar fronteiras
para sobreviver.” A forma reduzida de “para sobreviver” ( ) CERTO ( ) ERRADO
pode ser nominalizada de forma conveniente na seguin-
te alternativa: 43. (PC-RS – DELEGADO DE POLÍCIA – FUNDA-
TEC-2018 - ADAPTADA) Observe a frase: “com o gover-
a) para que sobrevivam. no criando leis e começando a punir quem agride o meio
b) a fim de que sobrevivessem. ambiente” e avalie as afirmações seguintes:
c) para sua sobrevida.
d) no intuito de sobreviverem. I. O sujeito das formas verbais criando e começando é
e) para sua sobrevivência. o mesmo.
II. O sujeito de punir é inexistente.
41. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CAR- III. O sujeito de agride é representado pelo pronome in-
GO 33 – TÉCNICO ÁREA ADMINISTRATIVA - NÍVEL definido, portanto, classifica-se como indeterminado.
MÉDIO – CESPE-2013)
O Ministério Público é fruto do desenvolvimento do es- Quais estão corretas?
tado brasileiro e da democracia. A sua história é marcada
por processos que culminaram na sua formalização insti- a) Apenas I.
tucional e na ampliação de sua área de atuação. b) Apenas II.
No período colonial, o Brasil foi orientado pelo direito c) Apenas III.
lusitano. Não havia o Ministério Público como instituição. d) Apenas I e II.
Mas as Ordenações Manuelinas de 1521 e as Ordena- e) Apenas II e III.
ções Filipinas de 1603 já faziam menção aos promotores
PORTUGUÊS

de justiça, atribuindo a eles o papel de fiscalizar a lei e


de promover a acusação criminal. Existiam os cargos de
procurador dos feitos da Coroa (defensor da Coroa) e de
procurador da Fazenda (defensor do fisco).

58
44. (PROCESSO SELETIVO INTERNO DA SECRETARIA Possuem os mesmos tipos de complemento os verbos
DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO-PE grifados em:
– SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR - FM-2010) A frase:
“Começa vacinação contra gripe A.”, só não está correta- a) ... nossa época produz milagres todos os dias. // ... o
mente analisada em: mito de que as humanidades humanizam.
b) Essa “cultura de massas” nasce com o predomínio... //
a) O sujeito é classificado como simples Um deles é o de Gilles Lipovetski...
b) O núcleo do sujeito é vacinação. c) A pós-modernidade destruiu o mito de que... // ... nos-
c) O verbo é classificado como intransitivo. sa época produz milagres todos os dias.
d) Vacinação é um substantivo abstrato. d) Essa cultura de massas nasce com o predomínio... // ...
e) O objeto direto é vacinação contra gripe A.
e nem sempre contribui para...
e) ... as ciências podem prosperar nas proximidades... //
45. (TRF-4.ª REGIÃO – TÉCNICO ADMINISTRATIVO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC-2014) A pós-modernidade destruiu o mito de que...

No campo da técnica e da ciência, nossa época produz mi- 46. (TRF-2.ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA
lagres todos os dias. Mas o progresso moderno tem amiú- ADMINISTRATIVA – CONSULPLAN-2017)
de um custo destrutivo, por exemplo, em danos irreparáveis
à natureza, e nem sempre contribui para reduzir a pobreza. Internet e as novas mídias: contribuições para a proteção
A pós-modernidade destruiu o mito de que as humani- do meio ambiente no ciberespaço
dades humanizam. Não é indubitável aquilo em que acre- A sociedade passou por profundas transformações em
ditam tantos filósofos otimistas, ou seja, que uma educa- que a realidade socioeconômica modificou-se com ra-
ção liberal, ao alcance de todos, garantiria um futuro de pidez junto ao desenvolvimento incessante das econo-
liberdade e igualdade de oportunidades nas democracias mias de massas. Os mecanismos de produção desenvol-
modernas. George Steiner, por exemplo, afirma que “bi- veram-se de tal forma a adequarem-se às necessidades
bliotecas, museus, universidades, centros de investigação e vontades humanas. Contudo, o homem não mediu as
por meio dos quais se transmitem as humanidades e as possíveis consequências que tal desenvolvimento pudes-
ciências podem prosperar nas proximidades dos campos se causar de modo a provocar o desequilíbrio ao meio
de concentração”. “O que o elevado humanismo fez de ambiente e a própria ameaça à vida humana.
bom para as massas oprimidas da comunidade? Que utili- Desse modo, a preocupação com o meio ambiente é
dade teve a cultura quando chegou a barbárie?” questionada, sendo centro de tomada de decisões, diante
Numerosos trabalhos procuraram definir as características da grave problemática que ameaça romper com o equilí-
da cultura no contexto da globalização e da extraordinária
brio ecológico do Planeta. E não apenas nos tradicionais
revolução tecnológica. Um deles é o de Gilles Lipovetski e
meios de comunicação, tais como jornais impressos, rá-
Jean Serroy, A cultura-mundo. Nele, defende-se a ideia de
uma cultura global − a cultura-mundo − que vem criando, dio, televisão, revistas, dentre outros, como também nos
pela primeira vez na história, denominadores culturais dos espaços virtuais de interatividade, por meio das novas
quais participam indivíduos dos cinco continentes, aproxi- mídias, as quais representam novos meios de comuni-
mando-os e igualando-os apesar das diferentes tradições cação, tem-se o debate sobre a problemática ambiental.
e línguas que lhes são próprias. O capitalismo foi reestruturado e a partir das transforma-
Essa “cultura de massas” nasce com o predomínio da ima- ções científicas e tecnológicas deu-se origem a um novo
gem e do som sobre a palavra, ou seja, com a tela. A in- estabelecimento social, em que por meio de redes e da
dústria cinematográfica, sobretudo a partir de Hollywood, cultura da virtualidade, configura-se a chamada socieda-
“globaliza” os filmes, levando-os a todos os países, a todas de informacional, na qual a comunicação e a informação
as camadas sociais. Esse processo se acelerou com a cria- constituem-se ferramentas essenciais da Era Digital.
ção das redes sociais e a universalização da internet. As novas mídias, por meio da utilização da Internet, estão
Tal cultura planetária teria, ainda, desenvolvido um indi- sendo consideradas como novos instrumentos de prote-
vidualismo extremo em todo o globo. Contudo, a publi- ção do meio ambiente, na medida em que proporcionam
cidade e as modas que lançam e impõem os produtos a expansão da informação ambiental, de práticas susten-
culturais em nossos tempos são um obstáculo a indiví- táveis, de reivindicações e ensejo de decisões em prol do
duos independentes. meio ambiente.
O que não está claro é se essa cultura-mundo é cultura No ciberespaço, devido à conectividade em tempo real, é
em sentido estrito, ou se nos referimos a coisas com- possível promover debates de inúmeras questões como a
pletamente diferentes quando falamos, por um lado, de construção da hidrelétrica de Belo Monte, o Novo Código
uma ópera de Wagner e, por outro, dos filmes de Hitch-
Florestal, Barra Grande, dentre outras, as quais ensejam
cock e de John Ford.
por tomada de decisões políticas, jurídicas e sociais. [...]
A meu ver, a diferença essencial entre a cultura do passa-
do e o entretenimento de hoje é que os produtos daque- Vislumbra-se que a Internet é um meio que aproxima pes-
la pretendiam transcender o tempo presente, continuar soas e distâncias, sendo utilizada por um número ilimitado
vivos nas gerações futuras, ao passo que os produtos de pessoas, a custo razoável e em tempo real. De fato, a
Internet proporciona benefícios, pois, além de promover a
PORTUGUÊS

deste são fabricados para serem consumidos no mo-


mento e desaparecer. Cultura é diversão, e o que não é circulação de informações, a curto espaço de tempo, mui-
divertido não é cultura. tos debates virtuais produzem manifestações sociais. Assim
(Adaptado de: VARGAS LLOSA, M. A civilização do espetá- sendo, tem-se a democratização das informações através
culo. Rio de Janeiro, Objetiva, 2013, formato ebook) dos espaços virtuais, como blogs, websites, redes sociais,

59
jornais virtuais, sites especializados, sites oficiais, dentre ou- d) As notícias falsas podem ser desmascaradas com o
tros, de modo a expandir conhecimentos, promover discus- uso do bom senso: mas esperar isso de todo mundo é
sões e, por vezes, influenciando nas tomadas de decisões quase impossível.
dos governantes e na proliferação de movimentos sociais. e) As revistas especializadas dão alguns conselhos: não
Desse modo, os cidadãos acabam participando e exercen- entre em sites desconhecidos e não compartilhe notí-
do a cidadania de forma democrática no ciberespaço. [...] cias sem fonte confiável.
Faz-se necessária a execução de ações concretas em prol
do meio ambiente, com adaptação e intermédio do novo 48. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
padrão de democracia participativa fomentado pelas no- I – CESGRANRIO-2018) A vírgula está empregada cor-
vas mídias, a fim de enfrentar a gestão dos riscos am- retamente em:
bientais, dentre outras questões socioambientais. Ainda,
são necessárias discussões aprofundadas sobre a com- a) A divulgação de histórias falsas pode ter consequên-
plexidade ambiental, agregando a interdisciplinaridade cias reais desastrosas: prejuízos, financeiros e cons-
para escolhas sustentáveis e na difusão do conhecimen- trangimentos às empresas.
to. E, embora haja inúmeros desafios a percorrer com a b) As novas tecnologias, criaram um abismo ao separar
utilização das tecnologias de comunicação e informação quem está conectado de quem não faz parte do mun-
(novas TIC’s), entende-se que a atuação das novas mídias do digital.
é de suma importância, pois possibilita a expansão da c) As pessoas tendem a aceitar apenas as declarações que
informação, a práxis ambiental, o debate e as aspirações confirmam aquilo que corresponde, às suas crenças.
dos cidadãos, contribuindo, dessa forma, para a proteção d) Os jornalistas devem verificar as fontes citadas, cruzar
do meio ambiente. dados e checar se as informações refletem a realidade.
(SILVA NUNES, Denise. Internet e as novas mídias: con- e) Os consumidores de notícias não agem como cientis-
tribuições para a proteção do meio ambiente no ciberes- tas porque não estão preocupados em conferir, pon-
paço. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 115, ago. tos de vista alternativos.
2013. Disponível em: http://ambito - juridico.com.br/
site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13051&re- 49. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES-
vista_caderno=17. Acesso em: jan. 2017. Adaptado.) GRANRIO-2018) A vírgula foi plenamente empregada
de acordo com as exigências da norma-padrão da língua
Analise os trechos a seguir. portuguesa em:

I. “[...] adequarem-se às necessidades e vontades huma- a) A conexão é feita por meio de uma plataforma especí-
nas.” (1º§) fica, e os conteúdos, podem ser acessados pelos dis-
II. “Contudo, o homem não mediu as possíveis consequên- positivos móveis dos passageiros.
cias [...]” (1º§) b) O mercado brasileiro de automóveis, ainda é muito
III. “Desse modo, a preocupação com o meio ambiente é grande, porém não é capaz de absorver uma presença
questionada, [...]” (2º§) maior de produtos vindos do exterior.
IV. “[...] por meio das novas mídias, as quais representam c) Depois de chegarem às telas dos computadores e ce-
novos meios de comunicação, [...]” (2º§) lulares, as notícias estarão disponíveis em voos inter-
nacionais.
Os verbos que, no contexto, exigem o mesmo tipo de d) Os últimos dados mostram que, muitas economias
complemento verbal, foram empregados em apenas apresentam crescimento e inflação baixa, fazendo
com que os juros cresçam pouco.
a) I e II. e) Pode ser que haja uma grande procura de carros im-
b) I, III e IV. portados, mas as montadoras vão fazer os cálculos e
c) II e IV. ver, se a importação vale a pena.
d) II, III e IV.
50. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010)
47. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL Para a maioria das pessoas, os assaltantes, assassinos e
I – CESGRANRIO-2018) O sinal de dois-pontos (:) está traficantes que possam ser encontrados em uma rua es-
empregado de acordo com a norma-padrão da língua cura da cidade são o cerne do problema criminal. Mas os
portuguesa em: danos que tais criminosos causam são minúsculos quan-
do comparados com os de criminosos respeitáveis, que
vestem colarinho branco e trabalham para as organiza-
a) A diferença entre notícias falsas e verdadeiras é maior ções mais poderosas. Estima-se que as perdas provoca-
no campo da política: é menor nas publicações rela- das por violações das leis antitrust — apenas um item de
cionadas às catástrofes naturais. uma longa lista dos principais crimes do colarinho bran-
b) A explicação para a difusão de notícias falsas é que co — sejam maiores que todas as perdas causadas pelos
os usuários compartilham informações com as quais crimes notificados à polícia em mais de uma década, e
PORTUGUÊS

concordam: pois não verificam as fontes antes. as relativas a danos e mortes provocadas por esse crime
c) As informações enganosas são mais difundidas do que apresentam índices ainda maiores. A ocultação, pela in-
as verdadeiras: de acordo com estudo recente feito dústria do asbesto (amianto), dos perigos representados
por um instituto de pesquisa. por seus produtos provavelmente custou tantas vidas

60
quanto as destruídas por todos os assassinatos ocorridos 53. (TRF-3.ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA
nos Estados Unidos da América durante uma década in- ADMINISTRATIVA – FCC-2016-ADAPTADA) Sem que
teira; e outros produtos perigosos, como o cigarro, tam- se altere o sentido da frase, todas as vírgulas podem ser
bém provocam, a cada ano, mais mortes do que essas. substituídas por travessão, EXCETO em:
James William Coleman. A elite do crime. 5.ª ed., São
Paulo: Manole, 2005, p. 1 (com adaptações). a) Não se trata de defender a tradição, família ou pro-
priedade...
Não haveria prejuízo para o sentido original do texto b) Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu
nem para a correção gramatical caso a expressão “a cada amigo, um homem...
ano” fosse deslocada, com as vírgulas que a isolam, para c) Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa...
imediatamente depois de “e”. d) ... como precipitada, entre nós, de que estaria morto...
e) Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes,
já traz...
( ) CERTO ( ) ERRADO
54. (TRF-1.ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – INFOR-
51. (PC-SP - AUXILIAR DE NECROPSIA – VU-
MÁTICA – FCC-2014-ADAPTADA)
NESP-2014) Assinale a alternativa cuja frase está correta
... a resposta a um problema que sempre atormentou ad-
quanto à pontuação. ministradores: o recrutamento e a retenção de talentos.
O segmento introduzido pelos dois-pontos apresenta
a) O médico, solidário e comovido, apertou minha mão e sentido
entendeu o pedido de minha mãe.
b) A diferença entre parada cardíaca e morte, não é ensi- a) restritivo.
nada, aos médicos nas faculdades. b) explicativo.
c) Prof. Alvariz, chefe da clínica sabia qual a diferença en- c) conclusivo.
tre, parada cardíaca e morte. d) comparativo.
d) O aborto de fetos anencéfalos motivo de muita revol- e) alternativo.
ta, foi bastante contestado.
e) Iniciei assim que o velhinho teve uma parada cardíaca, 55. (PROCESSO SELETIVO INTERNO DA SECRETARIA
os processos de reanimação. DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO-PE
- SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR - FM-2010 - ADAP-
52. (TRF-4.ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA TADA) “– Mas não é minha cabeça que eles querem de-
ADMINISTRATIVA – FCC-2014) Quanto à pontuação, a golar a cada jogo, François.” O uso da vírgula destacada
frase inteiramente correta é: neste trecho tem a função de:

a) Para Edward Said, a linguagem, é o terreno de onde a) Separar o aposto.


partem os humanistas uma vez que, é nela, que se b) Delimitar o sujeito.
estabelecem não apenas as relações de sentido, mas c) Delimitar uma nova oração.
também o desafio de o leitor divisar e compartilhar, as d) Separar o vocativo.
escolhas produzidas pelo escritor. e) Marcar uma pausa forte.
b) Para Edward Said, a linguagem é o terreno de onde
partem os humanistas uma vez que é nela, que se 56. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CAR-
GO 33 – NÍVEL MÉDIO – CESPE-2013)
estabelecem não apenas as relações de sentido, mas
O Ministério Público é fruto do desenvolvimento do es-
também o desafio, de o leitor divisar e compartilhar,
tado brasileiro e da democracia. A sua história é marcada
as escolhas produzidas pelo escritor.
por processos que culminaram na sua formalização insti-
c) Para Edward Said, a linguagem, é o terreno de onde
tucional e na ampliação de sua área de atuação.
partem os humanistas, uma vez que é nela que se es- No período colonial, o Brasil foi orientado pelo direito
tabelecem, não apenas as relações de sentido, mas lusitano. Não havia o Ministério Público como instituição.
também o desafio de o leitor divisar e compartilhar as Mas as Ordenações Manuelinas de 1521 e as Ordena-
escolhas produzidas pelo escritor. ções Filipinas de 1603 já faziam menção aos promotores
d) Para Edward Said a linguagem é o terreno, de onde de justiça, atribuindo a eles o papel de fiscalizar a lei e
partem os humanistas, uma vez que é nela que se de promover a acusação criminal. Existiam os cargos de
estabelecem não apenas as relações de sentido mas, procurador dos feitos da Coroa (defensor da Coroa) e de
também, o desafio de o leitor divisar, e compartilhar procurador da Fazenda (defensor do fisco).
as escolhas produzidas pelo escritor. A Constituição de 1988 faz referência expressa ao Mi-
e) Para Edward Said, a linguagem é o terreno de onde nistério Público no capítulo Das Funções Essenciais à
partem os humanistas, uma vez que é nela que se Justiça. Define as funções institucionais, as garantias e as
estabelecem não apenas as relações de sentido, mas vedações de seus membros. Isso deu evidência à institui-
PORTUGUÊS

também o desafio de o leitor divisar e compartilhar as ção, tornando-a uma espécie de ouvidoria da sociedade
escolhas produzidas pelo escritor. brasileira.
Internet: <www.mpu.mp.br> (com adaptações).

61
Em “No período colonial, o Brasil foi orientado”, a vírgula 60. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – ARQUI-
após “colonial” é utilizada para isolar aposto. TETURA – FGV-2017-ADAPTADA) Entre as palavras
abaixo, retiradas dos textos 1 e 2, aquela que só existe
(  ) CERTO   (  ) ERRADO com acento gráfico é:

a) história;
57. (CAMAR - CURSO DE ADAPTAÇÃO DE MÉDICOS
b) evidência;
DA AERONÁUTICA PARA O ANO DE 2016) “Os astrô- c) até;
nomos eram formidáveis. Eu, pobre de mim, não desven- d) país;
daria os segredos do céu. Preso à terra, sensibilizar-me-ia e) humanitárias.
com histórias tristes [...]”. Nas alternativas a seguir, os vo-
cábulos acentuados do trecho anterior foram colocados 61. (MPU – TÉCNICO – SEGURANÇA INSTITUCIONAL
em pares com palavras também acentuadas graficamen- E TRANSPORTE – CESPE-2015) A palavra “cível” recebe
te. Dentre os pares formados, indique o que apresenta acento gráfico em decorrência da mesma regra que de-
igual justificativa para tal evento. termina o emprego de acento em amável e útil.

(  ) CERTO   (  ) ERRADO
a) céu / avô
b) astrônomos / álibi 62. (PC-RS – DELEGADO DE POLÍCIA – FUNDA-
c) histórias / balaústre TEC-2018 - ADAPTADA) Sobre acentuação gráfica de
d) formidáveis / ínterim palavras, afirma-se que:
I. sustentável, climáticas e reciclá-los são acentuados
58. (MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERO- em virtude da mesma regra.
NÁUTICA ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁU- II. A regra que determina o acento gráfico em país e con-
TICA EXAME DE ADMISSÃO AO CFS-B 1-2/2014) Rela- tribuído é diferente da que justifica o acento gráfico em
cione as colunas quanto às regras de acentuação gráfica, resíduos e início.
III. O vocábulo viés é acentuado por ser um monossílabo
sabendo que haverá repetição de números. Em seguida, tônico terminado em e – acrescido de s.
assinale a alternativa com a sequência correta.
Quais estão corretas?
(1) Põe-se acento agudo no i e no u tônicos que formam
hiato com a vogal anterior. a) Apenas I.
(2) Acentua-se paroxítona terminada em i ou u seguidos b) Apenas II.
ou não de s. c) Apenas III.
(3) Todas as proparoxítonas devem ser acentuadas. d) Apenas I e II.
(4) Oxítona terminada em e ou o, seguidos ou não de s, e) Apenas II e III.
é acentuada.
63. (PC-RS – ESCRIVÃO E INSPETOR DE POLÍCIA –
FUNDATEC-2018 - ADAPTADA) Relacione a Coluna 1
( ) íris e a Coluna 2, associando os vocábulos às respectivas re-
( ) saída gras de acentuação gráfica.
( ) compraríamos
( ) vendê-lo Coluna 1
( ) bônus 1. Monossílabo tônico terminado em -o, -e, -a, seguidos
( ) viúvo ou não de s.
( ) bisavôs 2. Proparoxítona.
3. Oxítona terminada em -o, -e, -a, -em, seguidos ou não
de s.
a) 2 – 1 – 3 – 4 – 2 – 1 – 4 4. Regra do hiato.
b) 1 – 2 – 3 – 4 – 1 – 1 – 4
c) 4 – 1 – 1 – 2 – 2 – 3 – 2 Coluna 2
d) 2 – 2 – 3 – 4 – 2 – 1 – 3 ( ) Atrás.
( ) Último.
59. (TRANSPETRO – TÉCNICO AMBIENTAL JÚNIOR – ( ) Irá.
CESGRANRIO-2018) Em conformidade com o Acordo ( ) Três.
Ortográfico da Língua Portuguesa vigente, atendem às ( ) Também.
regras de acentuação todas as palavras em: ( ) Está.
( ) Conteúdo.
a) andróide, odisseia, residência A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de
b) arguição, refém, mausoléu cima para baixo, é:
c) desbloqueio, pêlo, escarcéu a) 1 – 2 – 3 – 4 – 1 – 2 – 2.
PORTUGUÊS

d) feiúra, enjoo, maniqueísmo b) 3 – 1 – 2 – 3 – 4 – 3 – 2.


e) sutil, assembléia, arremesso c) 1 – 2 – 2 – 1 – 1 – 4 – 1.
d) 3 – 3 – 1 – 1 – 4 – 3 – 4.
e) 3 – 2 – 3 – 1 – 3 – 3 – 4.

62
64. (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR-PI – CURSO DE d) Trata-se do acento agudo, empregado para indicar a
OFICIAIS – ENGENHEIRO CIVIL – NUCEPE-2014-A- supressão da preposição “a” com o artigo feminino “a”
DAPTADA) No trecho: “material altamente inflamável e que acompanha os substantivos “relação” e “escola”.
tóxico”, as palavras destacadas recebem acento gráfico. e) Trata-se do acento grave, empregado para indicar a
Também devem receber esse acento as palavras: junção da preposição “a” com o artigo feminino “a”
que acompanha os substantivos “relação” e “escola”.
a) tórax e rúbrica.
b) revólver e púdico.
69. (BADESC – ANALISTA DE SISTEMA – BANCO DE
c) alí e cadáver.
DADOS – FGV-2010) Na frase “é ingênuo creditar a pos-
d) cajú e cálice.
e) bíceps e fétido. tura brasileira apenas à ausência de educação adequa-
da” foi corretamente empregado o acento indicativo de
65. (TJ-MG – OFICIAL JUDICIÁRIO – COMISSÁRIO DA crase.
INFÂNCIA E DA JUVENTUDE – CONSULPLAN-2017) A Assinale a alternativa em que o acento indicativo de cra-
sequência de vocábulos: “Islâmico, vitória, até, público” se está corretamente empregado.
pode ser empregada para demonstrar exemplos de três
regras de acentuação gráfica diferentes. Indique a seguir a) O memorando refere-se à documentos enviados na
o grupo de palavras que apresenta palavras cuja acen- semana passada.
tuação tenha as mesmas justificativas das palavras do b) Dirijo-me à Vossa Senhoria para solicitar uma audiên-
grupo anteriormente apresentado (considere a mesma cia urgente.
ordem da sequência apresentada). c) Prefiro montar uma equipe de novatos à trabalhar com
pessoas já desestimuladas.
a) atípica, aparência, é, vítimas d) O antropólogo falará apenas àquele aluno cujo nome
b) típico, província, será, Nínive
consta na lista.
c) famílias, público, diários, várias
e) Quanto à meus funcionários, afirmo que têm horário
d) violência, próprios, já, violência
flexível e são responsáveis.
66. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018-ADAP-
TADA) Duas palavras que obedecem à mesma regra de 70. (BADESC – TÉCNICO DE FOMENTO A – FGV-2010)
acentuação gráfica são: De acordo com as regras gramaticais, no trecho “a exor-
bitante carga tributária a que estão submetidas as empre-
a) indébita / também; sas”, não se deve empregar acento indicativo de crase,
b) história / veículo; devendo ocorrer o mesmo na frase:
c) crônicas / atribuídos;
d) coíba / já; a) Entregue o currículo as assistentes do diretor.
e) calúnia / plágio. b) Recorra a esta empresa sempre que precisar.
c) Avise aquela colega que chegou sua correspondência.
67. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VU- d) Refira-se positivamente a proposta filosófica da com-
NESP/2013) Assinale a alternativa com as palavras acen- panhia.
tuadas segundo as regras de acentuação, respectivamen-
e) Transmita confiança aqueles que observam seu de-
te, de intercâmbio e antropológico.
sempenho.
a) Distúrbio e acórdão.
b) Máquina e jiló. 71. (BANCO DA AMAZÔNIA – TÉCNICO BANCÁRIO –
c) Alvará e Vândalo. CESGRANRIO-2018) De acordo com a norma-padrão da
d) Consciência e características. língua portuguesa, o sinal grave indicativo da crase deve
e) Órgão e órfãs. ser empregado na palavra destacada em:

68. (FUNDASUS-MG – ANALISTA EM SERVIÇO PÚBLI- a) A intenção da entrevista com o diretor estava relacio-
CO DE SAÚDE - ANALISTA DE SISTEMA – AOCP-2015) nada a programação que a empresa pretende desen-
Observe o excerto: “Entre os fatores ligados à relação do volver.
aluno com a instituição e com os colegas, gostar de ir à b) As ações destinadas a atrair um número maior de
escola (...)” e assinale a alternativa correta com relação clientes são importantes para garantir a saúde finan-
ao emprego do acento utilizado nos termos destacados. ceira das instituições.
a) Trata-se do acento grave, empregado para indicar a
c) As instituições financeiras deveriam oferecer condi-
supressão do advérbio “a” com o pronome feminino
ções mais favoráveis de empréstimo a quem está fora
“a” que acompanha os substantivos “relação” e “es-
cola”. do mercado formal de trabalho.
b) Trata-se do acento agudo, empregado para indicar a d) As pessoas interessadas em ampliar suas reservas fi-
nanceiras consideram que vale a pena investir na nova
PORTUGUÊS

nasalidade da vogal “a” que acompanha os substanti-


vos “relação” e “escola”. moeda virtual.
c) Trata-se do acento circunflexo, empregado para assi- e) Os participantes do seminário sobre mercado financei-
nalar a vogal aberta “a” que acompanha os substanti- ro foram convidados a comparar as importações e as
vos “relação” e “escola”. exportações em 2017.

63
72. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – 76. (PM-SP - SOLDADO DE 2.ª CLASSE – VUNESP-2017)
CESGRANRIO-2018) O emprego do acento indicativo Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva-
de crase está de acordo com a norma-padrão em: mente, as lacunas do texto a seguir.

a) O escritor de novelas não escolhe seus personagens Quase 30 anos depois de iniciar um trabalho de atendi-
à esmo. mento _____ presos da Casa de Detenção, em São Paulo,
b) A audiência de uma novela se constrói no dia à dia. o médico oncologista Drauzio Varella chega ao fim de
c) Uma boa história pode ser escrita imediatamente ou uma trilogia com o livro “Prisioneiras”. Depois de “Es-
à prazo. tação Carandiru” (1999), que mostra ________ entranhas
d) Devido à interferências do público, pode haver mu- daquela que foi ________maior prisão da América Latina,
danças na trama. e de “Carcereiros” (2012), sobre os funcionários que tra-
e) O novelista ficou aliviado quando entregou a sinopse balham no sistema prisional, Varella agora faz um retrato
à emissora. das detentas da Penitenciária Feminina da Capital, tam-
bém na capital paulista, onde cumprem pena mais de
73. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES- duas mil mulheres.
GRANRIO-2018) De acordo com a norma- -padrão (https://oglobo.globo.com. Adaptado)
da língua portuguesa, o acento grave indicativo da crase
deve ser empregado na palavra destacada em: a) à … às … a
b) a … as … a
a) Os novos lançamentos de smartphones apresentam, c) a … às … a
em geral, pequena variação de funções quando com- d) à … às … à
parados a versões anteriores. e) a … as … à
b) Estudantes do ensino médio fizeram uma pesquisa
junto a crianças do ensino fundamental para ver como 77. (TRF-4.ª REGIÃO – TÉCNICO ADMINISTRATIVO
elas se comportam no ambiente virtual.
– ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC-2014-ADAPTADA)
c) O acesso dos jovens a redes sociais tem causado enor-
Substituindo-se o elemento grifado pelo que se encontra
mes prejuízos ao seu desempenho escolar, conforme
entre parênteses, o sinal indicativo de crase deverá ser
o depoimento de professores.
acrescentado em:
d) Os consumidores compulsivos sujeitam-se a ficar ho-
ras na fila para serem os primeiros que comprarão os
novos lançamentos. a) ... que uma educação liberal, ao alcance de todos...
e) As pessoas precisam ficar atentas a fatura do cartão (dispor de todos)
de crédito para não serem surpreendidas com valores b) ... por meio dos quais se transmitem as humanidades...
muito altos. − (ciências humanas)
c) ... a todas as camadas sociais. − (qualquer classe social)
74. (PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA – VU- d) ... se nos referimos a coisas completamente diferen-
NESP-2014) tes... − (uma coisa completamente diferente)
A cada ano, ocorrem cerca de 40 mil mortes; segundo e) ... são um obstáculo a indivíduos independentes. (cria-
especialistas, quase metade delas está associada _____ ção de indivíduos independentes)
bebidas alcoólicas. Isso revela a necessidade de um com-
bate efetivo _____ embriaguez ao volante. 78. (BANCO DO BRASIL – ESCRITURÁRIO – CESGRAN-
As lacunas do trecho devem ser preenchidas, correta e RIO-2018) De acordo com as exigências da norma-pa-
respectivamente, com: drão da língua portuguesa, o verbo destacado está cor-
retamente empregado em:
a) às … a
b) as … à a) No mundo moderno, conferem-se às grandes metró-
c) à … à poles importante papel no desenvolvimento da eco-
d) às … à nomia e da geopolítica mundiais, por estarem no topo
e) à … a da hierarquia urbana.
b) Conforme o grau de influência e importância interna-
75. (PC-SP - AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP-2013) De cional, classificou-se as 50 maiores cidades em três
acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, o diferentes classes, a maior parte delas na Europa.
acento indicativo de crase está corretamente empregado c) Há quase duzentos anos, atribuem-se às cidades a
em: responsabilidade de motor propulsor do desenvolvi-
mento e a condição de lugar privilegiado para os ne-
a) A população, de um modo geral, está à espera de que, gócios e a cultura.
com o novo texto, a lei seca possa coibir os acidentes. d) Em centros com grandes aglomerações populacionais,
b) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repensa- realiza-se negócios nacionais e internacionais, além
rem a sua postura. de um atendimento bastante diversificado, como jor-
c) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à puni- nais, teatros, cinemas, entre outros.
PORTUGUÊS

ções muito mais severas. e) Em todos os estudos geopolíticos, considera-se as ci-


d) À ninguém é dado o direito de colocar em risco a vida dades globais como verdadeiros polos de influência
dos demais motoristas e de pedestres. internacional, devido à presença de sedes de grandes
e) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumprimento da empresas transnacionais e importantes centros de
nova lei para que ela possa funcionar. pesquisas.

64
79. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL O texto emprega duas vezes o verbo “haver”. Ambos es-
I – CESGRANRIO-2018) A palavra destacada atende às tão na 3.ª pessoa do singular, pois são impessoais. Esse
exigências de concordância da norma-padrão da língua papel gramatical está repetido corretamente em:
portuguesa em:
a) Ninguém disse que os portugueses havia de saírem
a) Atualmente, causa impacto nas eleições de vários paí- da cidade.
ses as notícias falsas. b) Se houvessem mais oportunidades, os imigrantes fi-
b) A recomendação de testar a veracidade das notícias cariam ricos.
precisam ser seguidas, para não prejudicar as pessoas. c) Haveriam de haver imigrantes de outras procedências
c) O propósito de conferir grandes volumes de dados re- na cidade.
sultaram na criação de serviços especializados. d) Os imigrantes vieram de Lisboa porque lá não haviam
d) Os boatos causam efeito mais forte do que as notícias empregos.
reais porque vem acompanhados de títulos chamati- e) Os portugueses gostariam de que houvesse mais ofer-
vos. tas de trabalho.
e) Os resultados de pesquisas recentes mostram que
67% das pessoas consultam os jornais diariamente.

80. (PETROBRAS – ENGENHEIRO(A) DE MEIO AM-


BIENTE JÚNIOR – CESGRANRIO-2018)

Texto I

Portugueses no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro é o grande centro da imigração portu-


guesa até meados dos anos cinquenta do século passa-
do, quando chega a ser a “terceira cidade portuguesa do
mundo”, possuindo 196 mil portugueses — um décimo
de sua população urbana. Ali, os portugueses dedicam-
-se ao comércio, sobretudo na área dos comestíveis,
como os cafés, as panificações, as leitarias, os talhos,
além de outros ramos, como os das papelarias e lojas
de vestuários. Fora do comércio, podem exercer as mais
variadas profissões, como atividades domésticas ou as de
barbeiros e alfaiates. Há, de igual forma, entre os mais
afortunados, aqueles ligados à indústria, voltados para
construção civil, o mobiliário, a ourivesaria e o fabrico de
bebidas.
A sua distribuição pela cidade, apesar da não formação
de guetos, denota uma tendência para a sua concentra-
ção em determinados bairros, escolhidos, muitas das ve-
zes, pela proximidade da zona de trabalho. No Centro da
cidade, próximo ao grande comércio, temos um grupo
significativo de patrícios e algumas associações de por-
te, como o Real Gabinete Português de Leitura e o Liceu
Literário Português. Nos bairros da Cidade Nova, Estácio
de Sá, Catumbi e Tijuca, outro ponto de concentração
da colônia, se localizam outras associações portuguesas,
como a Casa de Portugal e um grande número de casas
regionais. Há, ainda, pequenas concentrações nos bairros
periféricos da cidade, como Jacarepaguá, originalmente
formado por quintas de pequenos lavradores; nos subúr-
bios, como Méier e Engenho Novo; e nas zonas mais pri-
vilegiadas, como Botafogo e restante da zona sul carioca,
área nobre da cidade a partir da década de cinquenta,
preferida pelos mais abastados.
PORTUGUÊS

PAULO, Heloísa. Portugueses no Rio de Janeiro: salaza-


ristas e opositores em manifestação na cidade. In: ALVES,
Ida et alii. 450 Anos de Portugueses no Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro: Ofi cina Raquel, 2017, pp. 260-1. Adaptado.

65
43 A
GABARITO 44 E
45 C
1 C 46 C
2 C 47 E
3 A 48 D
4 D 49 C
5 E 50 Certo
6 B 51 A
7 A 52 E
8 B 53 A
9 E 54 B
10 A 55 D
11 E 56 Errado
12 E 57 B
13 A 58 A
14 D 59 B
15 D 60 E
16 B 61 Certo
17 B 62 B
18 E 63 E
19 E 64 E
20 D 65 B
21 A 66 E
22 E 67 D
23 A 68 E
24 C 69 D
25 A 70 B
26 A 71 A
27 D 72 E
28 C 73 E
29 D 74 D
30 B 75 A
31 Errado 76 B
32 B 77 E
33 E 78 C
34 D 79 E
35 C 80 E
36 B
37 D
38 B
39 D
40 E
PORTUGUÊS

41 Certo
42 Certo

66
ÍNDICE

MATEMÁTICA

Números e Operações: Operações com números reais. Múltiplos, divisores e números primos.................................... 01
Porcentagem...................................................................................................................................................................................................... 19
Médias.................................................................................................................................................................................................................. 22
Resoluções de equações, inequações e sistemas de 1° e 2° graus.............................................................................................. 26
Função Afim, Quadrática, Exponencial e Logarítmica....................................................................................................................... 32
Progressões Aritméticas e Geométricas.................................................................................................................................................. 38
Análise Combinatória..................................................................................................................................................................................... 42
Espaço e Forma: Plano Cartesiano............................................................................................................................................................ 45
Polígonos convexos: relações angulares e lineares. Semelhança de figuras planas. Relações métricas e
trigonométricas num triângulo retângulo. Relações trigonométricas num triângulo qualquer...................................... 51
Grandezas e Medidas: Problemas envolvendo sistemas de medidas......................................................................................... 75
Comprimento da circunferência. Cálculo de áreas das principais figuras planas. Áreas e volumes dos principais
sólidos geométricos. Tratamento da Informação: Construção e interpretação de tabelas e gráficos. Noções
básicas de Estatística...................................................................................................................................................................................... 81
Probabilidade.................................................................................................................................................................................................... 81
NÚMEROS E OPERAÇÕES: OPERAÇÕES COM FIQUE ATENTO!
NÚMEROS REAIS. MÚLTIPLOS, DIVISORES O único número natural que não possui an-
E NÚMEROS PRIMOS. tecessor é o 0 (zero) !

Números Naturais e suas operações fundamentais 1.1. Operações com Números Naturais

1. Definição de Números Naturais Agora que conhecemos os números naturais e temos


um sistema numérico, vamos iniciar o aprendizado das
Os números naturais como o próprio nome diz, são operações matemáticas que podemos fazer com eles.
os números que naturalmente aprendemos, quando es- Muito provavelmente, vocês devem ter ouvido falar das
tamos iniciando nossa alfabetização. Nesta fase da vida, quatro operações fundamentais da matemática: Adição,
não estamos preocupados com o sinal de um número, Subtração, Multiplicação e Divisão. Vamos iniciar nossos
mas sim em encontrar um sistema de contagem para estudos com elas:
quantificarmos as coisas. Assim, os números naturais são
sempre positivos e começando por zero e acrescentando Adição: A primeira operação fundamental da Aritmé-
sempre uma unidade, obtemos os seguintes elementos: tica tem por finalidade reunir em um só número, todas
as unidades de dois ou mais números. Antes de surgir
ℕ = 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, … . os algarismos indo-arábicos, as adições podiam ser rea-
lizadas por meio de tábuas de calcular, com o auxílio de
pedras ou por meio de ábacos. Esse método é o mais
Sabendo como se constrói os números naturais, po-
simples para se aprender o conceito de adição, veja a
demos agora definir algumas relações importantes entre
figura a seguir:
eles:

a) Todo número natural dado tem um sucessor (nú-


mero que está imediatamente à frente do número
dado na sequência numérica). Seja m um núme-
ro natural qualquer, temos que seu sucessor será
sempre definido como m+1. Para ficar claro, se-
guem alguns exemplos:
Ex: O sucessor de 0 é 1.
Ex: O sucessor de 1 é 2.
Observando a historinha, veja que as unidades (pe-
Ex: O sucessor de 19 é 20.
dras) foram reunidas após o passeio no quintal. Essa reu-
nião das pedras é definida como adição. Simbolicamen-
b) Se um número natural é sucessor de outro, então
te, a adição é representada pelo símbolo “+” e assim a
os dois números que estão imediatamente ao lado
do outro são considerados como consecutivos. Ve- historinha fica da seguinte forma:
jam os exemplos: 3 2 5
+ =
Ex: 1 e 2 são números consecutivos. 𝑇𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑃𝑒𝑔𝑢𝑒𝑖 𝑛𝑜 𝑞𝑢𝑖𝑛𝑡𝑎𝑙 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜
Ex: 5 e 6 são números consecutivos.
Ex: 50 e 51 são números consecutivos.
Como toda operação matemática, a adição possui al-
gumas propriedades, que serão apresentadas a seguir:
c) Vários números formam uma coleção de números
naturais consecutivos se o segundo for sucessor
a) Fechamento: A adição no conjunto dos números
do primeiro, o terceiro for sucessor do segundo, o
naturais é fechada, pois a soma de dois números
quarto for sucessor do terceiro e assim sucessiva-
mente. Observe os exemplos a seguir: naturais será sempre um número natural.
Ex: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 são consecutivos.
b) Associativa: A adição no conjunto dos núme-
Ex: 5, 6 e 7 são consecutivos.
ros naturais é associativa, pois na adição de três
Ex: 50, 51, 52 e 53 são consecutivos.
ou mais parcelas de números naturais quaisquer
d) Analogamente a definição de sucessor, podemos é possível associar as parcelas de quaisquer mo-
definir o número que vem imediatamente antes ao dos, ou seja, com três números naturais, somando
número analisado. Este número será definido como o primeiro com o segundo e ao resultado obtido
antecessor. Seja m um número natural qualquer, te- somarmos um terceiro, obteremos um resultado
mos que seu antecessor será sempre definido como que é igual à soma do primeiro com a soma do se-
MATEMÁTICA

m-1. Para ficar claro, seguem alguns exemplos: gundo e o terceiro. Apresentando isso sob a forma
Ex: O antecessor de 2 é 1. de números, sejam A,B e C, três números naturais,
Ex: O antecessor de 56 é 55. temos que:
Ex: O antecessor de 10 é 9. 𝐴 + 𝐵 + 𝐶 = 𝐴 + (𝐵 + 𝐶)

1
c) Elemento neutro: Esta propriedade caracteriza-se c) Elemento neutro: No caso do elemento neutro, a
pela existência de número que ao participar da propriedade irá funcionar se o zero for o termo a
operação de adição, não altera o resultado final. ser subtraído do número. Se a operação for inver-
Este número será o 0 (zero). Seja A, um número sa, o elemento neutro não vale para os números
natural qualquer, temos que: naturais:
d) Não comutativa: Vale a mesma explicação para a
𝐴+0 = 𝐴 subtração de números naturais não ser associativa.
Como a ordem de resolução importa, não pode-
d) Comutativa: No conjunto dos números naturais, mos trocar os números de posição
a adição é comutativa, pois a ordem das parcelas
não altera a soma, ou seja, somando a primeira Multiplicação: É a operação que tem por finalidade
parcela com a segunda parcela, teremos o mesmo adicionar o primeiro número denominado multiplicando
resultado que se somando a segunda parcela com ou parcela, tantas vezes quantas são as unidades do se-
a primeira parcela. Sejam dois números naturais A gundo número denominadas multiplicador. Veja o exem-
e B, temos que: plo:

𝐴+𝐵 =𝐵 +𝐴 Ex: Se eu economizar toda semana R$ 6,00, ao final de


5 semanas, quanto eu terei guardado?
Subtração: É a operação contrária da adição. Ao in-
vés de reunirmos as unidades de dois números naturais, Pensando primeiramente em soma, basta eu somar
vamos retirar uma quantidade de um número. Voltando todas as economias semanais:
novamente ao exemplo das pedras:
6 + 6 + 6 + 6 + 6 = 30

Quando um mesmo número é somado por ele mes-


mo repetidas vezes, definimos essa operação como mul-
tiplicação. O símbolo que indica a multiplicação é o “x” e
assim a operação fica da seguinte forma:

6+6+6+6+6 6𝑥5
= = 30
𝑆𝑜𝑚𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑝𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑚𝑢𝑙𝑡𝑖𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑝𝑒𝑡𝑖çõ𝑒𝑠
Observando a historinha, veja que as unidades (pedras)
que eu tinha foram separadas. Essa separação das pedras A multiplicação também possui propriedades, que
é definida como subtração. Simbolicamente, a subtração são apresentadas a seguir:
é representada pelo símbolo “-” e assim a historinha fica
da seguinte forma: a) Fechamento: A multiplicação é fechada no conjun-
to dos números naturais, pois realizando o produto
5

3
=
2 de dois ou mais números naturais, o resultado será
𝑇𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑜 𝑎𝑚𝑖𝑔𝑜 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 um número natural.

A subtração de números naturais também possui b) Associativa: Na multiplicação, podemos associar


suas propriedades, definidas a seguir: três ou mais fatores de modos diferentes, pois se
multiplicarmos o primeiro fator com o segundo e
a) Não fechada: A subtração de números naturais depois multiplicarmos por um terceiro número na-
não é fechada, pois há um caso onde a subtra- tural, teremos o mesmo resultado que multiplicar
ção de dois números naturais não resulta em um o terceiro pelo produto do primeiro pelo segundo.
número natural. Sejam dois números naturais A,B Sejam os números naturais m,n e p, temos que:
onde A < B, temos que: 𝑚 𝑥 𝑛 𝑥 𝑝 = 𝑚 𝑥 (𝑛 𝑥 𝑝)
A−B< 0
c) Elemento Neutro: No conjunto dos números na-
Como os números naturais são positivos, A-B não
turais também existe um elemento neutro para a
é um número natural, portanto a subtração não é
multiplicação mas ele não será o zero, pois se não
fechada.
repetirmos a multiplicação nenhuma vez, o resulta-
do será 0. Assim, o elemento neutro da multiplica-
b) Não Associativa: A subtração de números naturais
ção será o número 1. Qualquer que seja o número
também não é associativa, uma vez que a ordem de
natural n, tem-se que:
MATEMÁTICA

resolução é importante, devemos sempre subtrair o


maior do menor. Quando isto não ocorrer, o resulta- 𝑛𝑥1=𝑛
do não será um número natural.

2
d) Comutativa: Quando multiplicamos dois números
naturais quaisquer, a ordem dos fatores não altera o
produto, ou seja, multiplicando o primeiro elemen-
to pelo segundo elemento teremos o mesmo resul-
tado que multiplicando o segundo elemento pelo
primeiro elemento. Sejam os números naturais m e
n, temos que:
𝑚𝑥𝑛 = 𝑛𝑥𝑚
No caso em particular, conseguimos dividir as 8
e) Prioridade sobre a adição e subtração: Quando se pedras para 4 amigos, ficando cada um deles como 2
depararem com expressões onde temos diferentes unidades e não restando pedras. Quando a divisão não
operações matemática, temos que observar a or- possui resto, ela é definida como divisão exata. Caso con-
dem de resolução das mesmas. Observe o exemplo trário, se ocorrer resto na divisão, como por exemplo, se
a seguir: ao invés de 4 fossem 3 amigos:

Ex: 2 + 4 𝑥 3

Se resolvermos a soma primeiro e depois a multipli-


cação, chegamos em 18.
Se resolvermos a multiplicação primeiro e depois a
soma, chegamos em 14. Qual a resposta certa?

A multiplicação tem prioridade sobre a adição, por-


tanto deve ser resolvida primeiro e assim a resposta
correta é 14. Nessa divisão, cada amigo seguiu com suas duas pe-
dras, porém restaram duas que não puderam ser distri-
buídas, pois teríamos amigos com quantidades diferen-
FIQUE ATENTO! tes de pedras. Nesse caso, tivermos a divisão de 8 pedras
por 3 amigos, resultando em um quociente de 2 e um
Caso haja parênteses na soma, ela tem prio- resto também 2. Assim, definimos que essa divisão não
ridade sobre a multiplicação. Utilizando o é exata.
exemplo, temos que: . Nesse caso, realiza-se Devido a esse fato, a divisão de números naturais não
a soma primeiro, pois ela está dentro dos pa- é fechada, uma vez que nem todas as divisões são exa-
rênteses tas. Também não será associativa e nem comutativa, já
que a ordem de resolução importa. As únicas proprieda-
des válidas na divisão são o elemento neutro (que segue
f) Propriedade Distributiva: Uma outra forma de re- sendo 1, desde que ele seja o divisor) e a propriedade
solver o exemplo anterior quando se a soma está distributiva.
entre parênteses é com a propriedade distributiva.
Multiplicando um número natural pela soma de
dois números naturais, é o mesmo que multiplicar o FIQUE ATENTO!
fator, por cada uma das parcelas e a seguir adicionar
os resultados obtidos. Veja o exemplo: A divisão tem a mesma ordem de priorida-
de de resolução que a multiplicação, assim
2 + 4 x 3 = 2x3 + 4x3 = 6 + 12 = 18 ambas podem ser resolvidas na ordem que
aparecem.
Veja que a multiplicação foi distribuída para os dois
números do parênteses e o resultado foi o mesmo que do
item anterior.

Divisão: Dados dois números naturais, às vezes neces- EXERCÍCIO COMENTADO


sitamos saber quantas vezes o segundo está contido no
primeiro. O primeiro número é denominado dividendo e 1. (Pref. De Bom Retiro – SC) A Loja Berlanda está com
o outro número é o divisor. O resultado da divisão é cha- promoção de televisores. Então resolvi comprar um tele-
mado de quociente. Nem sempre teremos a quantidade visor por R$ 1.700,00. Dei R$ 500,00 de entrada e o res-
exata de vezes que o divisor caberá no dividendo, poden- tante vou pagar em 12 prestações de:
MATEMÁTICA

do sobrar algum valor. A esse valor, iremos dar o nome de


resto. Vamos novamente ao exemplo das pedras: a) R$ 170,00
b) R$ 1.200,00
c) R$ 200,00
d) R$ 100,00

3
Resposta: Letra D: Dado o preço inicial de R$ 1700,00, Números Opostos: Voltando a definição do inicio do
basta subtrair a entrada de R$ 500,00, assim: R$ capítulo, dois números inteiros são ditos opostos um do
1700,00-500,00 = R$ 1200,00. Dividindo esse resulta- outro quando apresentam soma zero; assim, os pontos
do em 12 prestações, chega-se a R$ 1200,00 : 12 = R$ que os representam distam igualmente da origem. Vejam
100,00 os exemplos:
Ex: O oposto do número 2 é -2, e o oposto de -2 é 2,
pois 2 + (-2) = (-2) + 2 = 0
Números Inteiros e suas operações fundamentais Ex: No geral, dizemos que o oposto, ou simétrico, de
a é – a, e vice-versa.
1.1 Definição de Números Inteiros Ex: O oposto de zero é o próprio zero.

Definimos o conjunto dos números inteiros como a 1.3 Operações com Números Inteiros
união do conjunto dos números naturais (N = {0, 1, 2, 3,
4,..., n,...}, com o conjunto dos opostos dos números na- Adição: Diferentemente da adição de números natu-
turais, que são definidos como números negativos. Este rais, a adição de números inteiros pode gerar um pouco
conjunto é denotado pela letra Z e é escrito da seguinte de confusão ao leito. Para melhor entendimento desta
forma: operação, associaremos aos números inteiros positivos o
conceito de “ganhar” e aos números inteiros negativos o
ℤ = {… , −4, −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, 4, … } conceito de “perder”. Vejam os exemplos:
Sabendo da definição dos números inteiros, agora é
possível indiciar alguns subconjuntos notáveis: Ex: (+3) + (+5) = ?

a) O conjunto dos números inteiros não nulos: São Obviamente, quem conhece a adição convencional,
todos os números inteiros, exceto o zero: sabe que este resultado será 8. Vamos ver agora pelo
conceito de “ganhar” e “perder”:
ℤ∗ = {… , −4, −3, −2, −1, 1, 2, 3, 4, … }
+3 = Ganhar 3
+5 = Ganhar 5
b) O conjunto dos números inteiros não negativos:
São todos os inteiros que não são negativos, ou
Logo: (Ganhar 3) + (Ganhar 5) = (Ganhar 8)
seja, os números naturais:
ℤ+ = 0, 1, 2, 3, 4, … = ℕ Ex: (−3) + (−5) = ?
c) O conjunto dos números inteiros positivos: São to- Agora é o caso em que temos dois números negati-
dos os inteiros não negativos, e neste caso, o zero vos, usando o conceito de “ganhar” ou “perder”:
não pertence ao subconjunto:
ℤ∗+ = 1, 2, 3, 4, … -3 = Perder 3
-5 = Perder 5
d) O conjunto dos números inteiros não positivos:
São todos os inteiros não positivos: Logo: (Perder 3) + (Perder 5) = (Perder 8)
ℤ_ = {… , −4, −3, −2, −1, 0, }
Neste caso, estamos somando duas perdas ou dois
e) O conjunto dos números inteiros negativos: São prejuízos, assim o resultado deverá ser uma perda maior.
todos os inteiros não positivos, e neste caso, o zero
não pertence ao subconjunto: E se tivermos um número positivo e um negativo? Va-
ℤ∗ _ = {… , −4, −3, −2, −1} mos ver os exemplos:
Ex: (+8) + (−5) = ?
1.2 Definições Importantes dos Números inteiros
Neste caso, temos um ganho de 8 e uma perda de 5,
Módulo: chama-se módulo de um número inteiro a que naturalmente sabemos que resultará em um ganho
distância ou afastamento desse número até o zero, na de 3:
reta numérica inteira. Representa-se o módulo pelo sím-
bolo | |. Vejam os exemplos: +8 = Ganhar 8
-5 = Perder 5
Ex: O módulo de 0 é 0 e indica-se |0| = 0
Ex: O módulo de +7 é 7 e indica-se |+7| = 7 Logo: (Ganhar 8) + (Perder 5) = (Ganhar 3)
Ex: O módulo de –9 é 9 e indica-se |–9| = 9
Se observarem essa operação, vocês irão perceber
a) O módulo de qualquer número inteiro, diferente de
MATEMÁTICA

que ela tem o mesmo resultado que 8 − 5 = 3. Basica-


zero, é sempre positivo. mente ambas são as mesmas operações, sem a presença
dos parênteses e a explicação de como se chegar a essa
simplificação será apresentado nos itens seguintes deste
capítulo.

4
Agora, e se a perda for maior que o ganho? Veja o Esse fato pode ser representado pela subtração: (+6)
exemplo: – (+3) = +3

Ex: −8 + +5 = ? 2- Na terça-feira, a temperatura de Monte Sião, du-


rante o dia, era de +6 graus. À Noite, a temperatura bai-
Usando a regra, temos que: xou de 3 graus. Qual a temperatura registrada na noite
de terça-feira?
-8 = Perder 8 Esse fato pode ser representado pela adição: (+6) +
+5 = Ganhar 5 (–3) = +3

Logo: (Perder 8) + (Ganhar 5) = (Perder 3) Se compararmos as duas igualdades, verificamos que


Após a definição de adição de números inteiros, va- (+6) – (+3) é o mesmo que (+5) + (–3).
mos apresentar algumas de suas propriedades: Temos:
(+6) – (+3) = (+6) + (–3) = +3
a) Fechamento: O conjunto Z é fechado para a adição, (+3) – (+6) = (+3) + (–6) = –3
isto é, a soma de dois números inteiros ainda é um número (–6) – (–3) = (–6) + (+3) = –3
inteiro.
Daí podemos afirmar: Subtrair dois números inteiros
b) Associativa: Para todos 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ ℤ : é o mesmo que adicionar o primeiro com o oposto do
𝑎 + (𝑏 + 𝑐) = (𝑎 + 𝑏) + 𝑐 segundo.

Ex: 2 + (3 + 7) = (2 + 3) + 7
EXERCÍCIO COMENTADO
Comutativa: Para todos a,b em Z:
a+b=b+a
1. Calcule:
3+7=7+3
a) (+12) + (–40) ;
Elemento Neutro: Existe 0 em Z, que adicionado a
b) (+12) – (–40)
cada z em Z, proporciona o próprio z, isto é:
c) (+5) + (–16) – (+9) – (–20)
z+0=z
d) (–3) – (–6) – (+4) + (–2) + (–15)
7+0=7

Elemento Oposto: Para todo z em Z, existe (-z) em Resposta: Aplicando as regras de soma e subtração
Z, tal que de inteiros, tem-se que:
z + (–z) = 0 a) (+12) + (–40) = 12 – 40 = -28
9 + (–9) = 0 b) (+12) – (–40) = 12 + 40 = 52
c) (+5) + (–16) – (+9) – (–20) = +5 -16 – 9 + 20 = 25 – 25
Subtração de Números Inteiros =0
d) (–3) – (–6) – (+4) + (–2) + (–15) = -3 + 6 – 4 – 2 – 15
A subtração é empregada quando: = 6 – 24 = -18
- Precisamos tirar uma quantidade de outra quanti-
dade;
- Temos duas quantidades e queremos saber quanto 1.4. Multiplicação de Números Inteiros
uma delas tem a mais que a outra;
- Temos duas quantidades e queremos saber quanto A multiplicação funciona como uma forma simplifica-
falta a uma delas para atingir a outra. da de uma adição quando os números são repetidos. Po-
deríamos analisar tal situação como o fato de estarmos
A subtração é a operação inversa da adição. ganhando repetidamente alguma quantidade, como por
exemplo, ganhar 1 objeto por 30 vezes consecutivas, sig-
Observe que: 9 – 5 = 4 4+5=9 nifica ganhar 30 objetos e esta repetição pode ser indi-
cada por um x, isto é: 1 + 1 + 1 ... + 1 + 1 = 30 x 1 = 30
diferença Se trocarmos o número 1 pelo número 2, obteremos:
subtraendo 2 + 2 + 2 + ... + 2 + 2 = 30 x 2 = 60
Se trocarmos o número 2 pelo número -2, obteremos:
minuendo (–2) + (–2) + ... + (–2) = 30 x (-2) = –60
Observamos que a multiplicação é um caso particular
Considere as seguintes situações: da adição onde os valores são repetidos.
MATEMÁTICA

Na multiplicação o produto dos números a e b, pode


1- Na segunda-feira, a temperatura de Monte Sião ser indicado por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum
passou de +3 graus para +6 graus. Qual foi a variação da sinal entre as letras.
temperatura? Para realizar a multiplicação de números inteiros, de-
vemos obedecer à seguinte regra de sinais:

5
(+1) x (+1) = (+1) - Quando o dividendo e o divisor têm o mesmo si-
(+1) x (-1) = (-1) nal, o quociente é um número inteiro positivo.
(-1) x (+1) = (-1) - Quando o dividendo e o divisor têm sinais diferen-
(-1) x (-1) = (+1) tes, o quociente é um número inteiro negativo.
- A divisão nem sempre pode ser realizada no con-
Com o uso das regras acima, podemos concluir que: junto Z. Por exemplo, (+7) : (–2) ou (–19) : (–5) são
divisões que não podem ser realizadas em Z, pois
Sinais dos números Resultado do produto o resultado não é um número inteiro.
- No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é
Iguais Positivo associativa e não tem a propriedade da existência
Diferentes Negativo do elemento neutro.
1- Não existe divisão por zero.
Propriedades da multiplicação de números intei- Exemplo: (–15) : 0 não tem significado, pois não
ros: O conjunto Z é fechado para a multiplicação, isto é, a existe um número inteiro cujo produto por zero
multiplicação de dois números inteiros ainda é um número seja igual a –15.
inteiro. 2- Zero dividido por qualquer número inteiro, dife-
rente de zero, é zero, pois o produto de qualquer
Associativa: Para todos a,b,c em Z: número inteiro por zero é igual a zero.
a x (b x c) = (a x b) x c Exemplos: a) 0 : (–10) = 0 /b) 0 : (+6) = 0 /c) 0 : (–1) =
2 x (3 x 7) = (2 x 3) x 7 0

Comutativa: Para todos a,b em Z: 1.6. Potenciação de Números Inteiros


axb=bxa
3x7=7x3 A potência an do número inteiro a, é definida como
um produto de n fatores iguais. O número a é denomina-
Elemento neutro: Existe 1 em Z, que multiplicado por do a base e o número n é o expoente.
todo z em Z, proporciona o próprio z, isto é: an = a x a x a x a x ... x a
zx1=z a é multiplicado por a n vezes
7x1=7
Exemplos:
Elemento inverso: Para todo inteiro z diferente de 33 = (3) x (3) x (3) = 27
zero, existe um inverso z–1=1/z em Z, tal que (-5)5 = (-5) x (-5) x (-5) x (-5) x (-5) = -3125
z x z–1 = z x (1/z) = 1 (-7)² = (-7) x (-7) = 49
9 x 9–1 = 9 x (1/9) = 1 (+9)² = (+9) x (+9) = 81

Distributiva: Para todos a,b,c em Z: - Toda potência de base positiva é um número in-
a x (b + c) = (a x b) + (a x c) teiro positivo.
3 x (4+5) = (3 x 4) + (3 x 5) Exemplo: (+3)2 = (+3) . (+3) = +9

1.5. Divisão de Números Inteiros - Toda potência de base negativa e expoente par é
um número inteiro positivo.
Exemplo: (– 8)2 = (–8) . (–8) = +64
Dividendo divisor dividendo:
Divisor = quociente 0 - Toda potência de base negativa e expoente ím-
par é um número inteiro negativo.
Quociente . divisor = dividendo Exemplo: (–5)3 = (–5) . (–5) . (–5) = –125

Sabemos que na divisão exata dos números naturais:


Propriedades da Potenciação:
40 : 5 = 8, pois 5 . 8 = 40
36 : 9 = 4, pois 9 . 4 = 36 Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-
-se a base e somam-se os expoentes. (–7)3 . (–7)6 = (–7)3+6
Vamos aplicar esses conhecimentos para estudar a di- = (–7)9
visão exata de números inteiros. Veja o cálculo:
Quocientes de Potências com bases iguais: Conser-
(–20) : (+5) = q  (+5) . q = (–20)  q = (–4) va-se a base e subtraem-se os expoentes. (+13)8 : (+13)6
Logo: (–20) : (+5) = +4 = (+13)8 – 6 = (+13)2
MATEMÁTICA

Considerando os exemplos dados, concluímos que, Potência de Potência: Conserva-se a base e multipli-
para efetuar a divisão exata de um número inteiro por cam-se os expoentes. [(+4)5]2 = (+4)5 . 2 = (+4)10
outro número inteiro, diferente de zero, dividimos o mó-
dulo do dividendo pelo módulo do divisor. Daí:

6
Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (+9)1 Multiplicidade e Divisibilidade
= +9 (–13)1 = –13
Um múltiplo de um número é o produto desse nú-
Potência de expoente zero e base diferente de mero por um número natural qualquer. Já um divisor
zero: É igual a 1. Exemplo: (+14)0 = 1 (–35)0 = 1 de um número é um número cujo resto da divisão do
número pelo divisor é zero.
Radiciação de Números Inteiros
Ex: Sabe-se que 30 ∶ 6 = 5, porque 5× 6 = 30.
A raiz n-ésima (de ordem n) de um número inteiro a
é a operação que resulta em outro número inteiro não Pode-se dizer então que:
negativo b que elevado à potência n fornece o número a.
O número n é o índice da raiz enquanto que o número a “30 é divisível por 6 porque existe um numero natural
é o radicando (que fica sob o sinal do radical). (5) que multiplicado por 6 dá como resultado 30.”
A raiz quadrada (de ordem 2) de um número inteiro Um numero natural a é divisível por um numero na-
a é a operação que resulta em outro número inteiro não tural b, não-nulo, se existir um número natural c, tal que
negativo que elevado ao quadrado coincide com o nú- c.b=a.
mero a.
Voltando ao exemplo 30 ∶ 6 = 5 , conclui-se que: 30
Observação: Não existe a raiz quadrada de um nú- é múltiplo de 6, e 6 é divisor de 30.
mero inteiro negativo no conjunto dos números inteiros.
Analisando outros exemplos:
Erro comum: Frequentemente lemos em materiais
didáticos e até mesmo ocorre em algumas aulas apare- a) 20 : 5 = 4 → 20 é múltiplo de 5 (4×5=20), e 5 é
cimento de: divisor de 20

9 = ±3 b) 12 : 2 = 6 → 12 é múltiplo de 2 (6×2=12), e 2 é
divisor de 12
mas isto está errado. O certo é:
1. Conjunto dos múltiplos de um número natural:
9 = +3
É obtido multiplicando-se o número natural em
questão pela sucessão dos números naturais: 0, 1, 2, 3,
Observamos que não existe um número inteiro não
4, 5, 6,...
negativo que multiplicado por ele mesmo resulte em um
número negativo. Ex: Conjunto dos múltiplos de 7. Para encontrar esse
conjunto basta multiplicar por 7 cada um dos números
A raiz cúbica (de ordem 3) de um número inteiro a da sucessão dos naturais:
é a operação que resulta em outro número inteiro que
elevado ao cubo seja igual ao número a. Aqui não res- 7x0=0
tringimos os nossos cálculos somente aos números não 7x1=7
negativos. 7 x 2 = 14
7 x 3 = 21
Exemplos 7 x 4 = 28
7 x 5 = 35
(a)
3
8 = 2, pois 2³ = 8.
O conjunto formado pelos resultados encontrados
(b)
3
−8 = –2, pois (–2)³ = -8. forma o conjunto dos múltiplos de 7: M(7) = {0, 7, 14,
21, 28,...}.
(c)
3
27 = 3, pois 3³ = 27.
Observações:
(d)
3
− 27 = –3, pois (–3)³ = -27.
- Todo número natural é múltiplo de si mesmo.
Observação: Ao obedecer à regra dos sinais para o - Todo número natural é múltiplo de 1.
produto de números inteiros, concluímos que: - Todo número natural, diferente de zero, tem infini-
(a) Se o índice da raiz for par, não existe raiz de núme- tos múltiplos.
ro inteiro negativo. - O zero é múltiplo de qualquer número natural.
- Os múltiplos do número 2 são chamados de nú-
(b) Se o índice da raiz for ímpar, é possível extrair a meros pares, e a fórmula geral desses números
MATEMÁTICA

raiz de qualquer número inteiro. é . Os demais são chamados de núme-


ros ímpares, e a fórmula geral desses números é
.

7
1.1. Critérios de divisibilidade: Divisibilidade por 6: Um número é divisível por 6
quando é divisível por 2 e por 3.
São regras práticas que nos possibilitam dizer se um
número é ou não divisível por outro, sem efetuarmos a Exs:
divisão. a) 430254 é divisível por 6, pois é divisível por 2 (ter-
mina em 4) e por 3 (4 + 3 + 0 + 2 + 5 + 4 = 18).
Divisibilidade por 2: Um número é divisível por 2 b) 80530 não é divisível por 6, pois não é divisível por
quando ele é par, ou seja, quando ele termina em 0, 2, 3 (8 + 0 + 5 + 3 + 0 = 16).
4, 6 ou 8. c) 531561 não é divisível por 6, pois não é divisível por
2 (termina em 1).
Exs:
a) 9656 é divisível por 2, pois termina em 6. Divisibilidade por 7: Para verificar a divisibilidade
b) 4321 não é divisível por 2, pois termina em 1. por 7, deve-se fazer o seguinte procedimento.

- Multiplicar o último algarismo por 2


Divisibilidade por 3: Um número é divisível por 3 - Subtrair o resultado do número inicial sem o últi-
quando a soma dos valores absolutos de seus algaris- mo algarismo
mos é divisível por 3. - Se o resultado for um múltiplo de 7, então o núme-
ro inicial é divisível por 7.
Exs:
a) 65385 é divisível por 3, pois 6 + 5 + 3 + 8 + 5 = 27, É importante ressaltar que, em caso de números com
e 27 é divisível por 3. vários algarismos, será necessário fazer o procedimento
mais de uma vez.
b) 15443 não é divisível por 3, pois 1+ 5 + 4 + 4 + 3 =
17, e 17 não é divisível por 3. Ex:
Analisando o número 1764
Divisibilidade por 4: Um número é divisível por 4 Procedimento:
quando termina em 00 ou quando o número formado
pelos dois últimos algarismos for divisível por 4. - Último algarismo: 4. Multiplica-se por 2: 4×2=8
- Subtrai-se o resultado do número inicial sem o últi-
Exs: mo algarismo: 176-8=168
a) 536400 é divisível por 4, pois termina em 00. - O resultado é múltiplo de 7? Para isso precisa verifi-
b) 653524 é divisível por 4, pois termina em 24, e 24 car se 168 é divisível por 7.
é divisível por 4.
c) 76315 não é divisível por 4, pois termina em 15, e Aplica-se o procedimento novamente, agora para o
15 não é divisível por 4. número 168.
- Último algarismo: 8. Multiplica-se por 2: 8×2=16
Divisibilidade por 5: Um número é divisível por 5 - Subtrai-se o resultado do número inicial sem o últi-
quando termina em 0 ou 5. mo algarismo: 16-16=0
- O resultado é múltiplo de 7? Sim, pois zero (0) é
múltiplo de qualquer número natural.
Exs:
a) 35040 é divisível por 5, pois termina em 0.
Portanto, conclui-se que 168 é múltiplo de 7. Se 168 é
b) 7235 é divisível por 5, pois termina em 5.
múltiplo de 7, então 1764 é divisível por 7.
c) 6324 não é divisível por 5, pois termina em 4.
Divisibilidade por 8: Um número é divisível por 8
quando termina em 000 ou quando o número formado
EXERCÍCIO COMENTADO pelos três últimos algarismos for divisível por 8.
Exs:
a) 57000 é divisível por 8, pois termina em 000.
1. Escreva os elementos dos conjuntos dos múltiplos de b) 67024 é divisível por 8, pois seus três últimos alga-
5 positivos menores que 30. rismos formam o número 24, que é divisível por 8.
c) 34125 não é divisível por 8, pois seus três últimos
Resposta: Seguindo a tabuada do 5, temos que: algarismos formam o número 125, que não é divi-
{5,10,15,20,25}. sível por 8.
MATEMÁTICA

8
Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12
quando é divisível por 3 e por 4.
EXERCÍCIO COMENTADO
Exs:
2. Escreva os elementos dos conjuntos dos múltiplos de a) 78324 é divisível por 12, pois é divisível por 3 ( 7 +
8 compreendidos entre 30 e 50. 8 + 3 + 2 + 4 = 24) e por 4 (termina em 24).
b) 652011 não é divisível por 12, pois não é divisível
Resposta: Seguindo a tabuada do 8, a partir do 30: por 4 (termina em 11).
{32,40,48}. c) 863104 não é divisível por 12, pois não é divisível
por 3 (8 + 6 + 3 +1 + 0 + 4 = 22).

Divisibilidade por 9: Um número é divisível por 9 Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15
quando a soma dos valores absolutos de seus algarismos quando é divisível por 3 e por 5.
formam um número divisível por 9.
Exs:
Exs: a) 650430 é divisível por 15, pois é divisível por 3 (6 +
a) 6253461 é divisível por 9, pois 6 + 2 + 5 + 3 + 4 + 6
5 + 0 + 4 + 3 + 0 =18) e por 5 (termina em 0).
+ 1 = 27 é divisível por 9.
b) 723042 não é divisível por 15, pois não é divisível
b) 325103 não é divisível por 9, pois 3 + 2 + 5 + 1 + 0
por 5 (termina em 2).
+ 3 = 14 não é divisível por
c) 673225 não é divisível por 15, pois não é divisível
Divisibilidade por 10: Um número é divisível por 10 por 3 (6 + 7 + 3 + 2 + 2 + 5 = 25).
quando termina em zero.

Exs: POTENCIAÇÃO
a) 563040 é divisível por 10, pois termina em zero.
b) 246321 não é divisível por 10, pois não termina em Define-se potenciação como o resultado da multi-
zero. plicação de fatores iguais, denominada base, sendo o
Divisibilidade por 11: Um número é divisível por número de fatores igual a outro número, denominado
11 quando a diferença entre a soma dos algarismos de expoente. Diz-se “b elevado a c”, cuja notação é:
posição ímpar e a soma dos algarismos de posição par 𝑏𝑐 = 𝑏 × 𝑏 × ⋯ × 𝑏
resulta em um número divisível por 11. 𝑐 𝑣𝑒𝑧𝑒𝑠

Exs:
a) 43813 é divisível por 11. Vejamos o porquê Por exemplo: 43=4×4×4=64, sendo a base igual a 4 e
o expoente igual a 3.
Os algarismos de posição ímpar são os algarismos Esta operação não passa de uma multiplicação com
nas posições 1, 3 e 5. Ou seja, 4,8 e 3. A soma desses fatores iguais, como por exemplo: 23 = 2 × 2 × 2 = 8 →
algarismos é 4 + 8 + 3 = 15 53 = 5 × 5 × 5 = 125

Os algarismos de posição par são os algarismos nas 1. Propriedades da Potenciação


posições 2 e 4. Ou seja, 3 e 1. A soma desses algarismos
é 3+1 = 4 Propriedade 1: potenciação com base 1
15 – 4 = 11→ A diferença divisível por 11. Logo 43813 Uma potência cuja base é igual a 1 e o expoente na-
é divisível por 11. tural é n, denotada por 1n, será sempre igual a 1. Em re-
sumo, 1n=1
b) 83415721 não é divisível por 11. Vejamos o porquê
Exemplos:
Os algarismos de posição ímpar são os algarismos a) 13 = 1×1×1 = 1
nas posições 1, 3, 5 e 7. Ou seja, 8, 4, 5 e 2. A soma desses b) 17 = 1×1×1×1×1×1×1 = 1
algarismos é
Os algarismos de posição ímpar são os algarismos Propriedade 2: potenciação com expoente nulo
nas posições 1, 3, 5 e 7. Ou seja, 8, 4, 5 e 2. A soma desses Se n é um número natural não nulo, então temos que nº=1.
algarismos é 8+4+5+2 = 19
Exemplos:
Os algarismos de posição par são os algarismos nas a) 5º = 1
b) 9º = 1
posições 2, 4 e 6. Ou seja, 3, 1 e 7. A soma desses algaris-
mos é 3+1+7 = 11
Propriedade 3: potenciação com expoente 1
MATEMÁTICA

Qualquer que seja a potência em que a base é o nú-


19 – 11 = 8→ A diferença não é divisível por 11. Logo mero natural n e o expoente é igual a 1, denotada por n1
83415721 não é divisível por 11. , é igual ao próprio n. Em resumo, n1=n

9
Exemplos: Exemplos:
a) 5¹ = 5 a) (2×3)3 = 23×33
b) 64¹ = 64 b) (3×4)2 = 32×42
c) (6×5)4= 64×54
Propriedade 4: potenciação de base 10
Toda potência 10n é o número formado pelo algaris-
mo 1 seguido de n zeros. #FicaDica
Em alguns casos podemos ter uma multipli-
Exemplos:
cação ou divisão potência que não está na
a) 103 = 1000
mesma base (como nas propriedades 5 e
b) 108 = 100.000.000
c) 104 = 1000 6), mas pode ser simplificada. Por exemplo,
43×25 =(22 )3×25= 26×25= 26+5=211 e 33:9 = 33
Propriedade 5: multiplicação de potências de mes- : 32 = 31.
ma base
Em uma multiplicação de duas potências de mesma
base, o resultado é obtido conservando-se a base e so-
mando-se os expoentes. EXERCÍCIO COMENTADO
Em resumo: xa × xb = x a+b
Exemplos: 1. (MPE-RS – 2017) A metade de é igual a:
a) 23×24 = 23+4 = 27
b) 34×36 = 34+6=310 a) 220
c) 152×154 = 152+4=156 b) 239
c) 240
Propriedade 6: divisão de potências de mesma d) 279
base e) 280
Em uma divisão de duas potências de mesma base, o
resultado é obtido conservando-se a base e subtraindo- Resposta: Letra D.
-se os expoentes. Para encontrar a metade de 440, basta dividirmos esse
Em resumo: xa : xb = xa-b 40
Exemplos: número por 2, isto é, 4 . Uma forma fácil de resolver
a) 25 : 23 = 25-3=22 2
b) 39 : 36 = 39-6=33 essa fração é escrever o numerador e denominador
c) 1512 : 154 = 1512-4 = 158 dessa fração na mesma base como mostrado a seguir:
440 22 40 280
FIQUE ATENTO! = = = 280−1 = 279
2 2 2 .
Dada uma potência xa , onde o número real a
é negativo, o resultado dessa potência é igual Note que para resolver esse exercício utilizamos as
1
ao inverso de x elevado a a, isto é, 𝑥 𝑎 = 𝑎 propriedades 6 e 7.
𝑥
se a<0.
1 1
Por exemplo, 2−3 = , 5−1 = 1 . Números Primos, MDC e MMC
23 5

O máximo divisor comum e o mínimo múltiplo co-


Propriedade 7: potência de potência mum são ferramentas extremamente importantes na
Quando uma potência está elevado a outro expoente, o matemática. Através deles, podemos resolver alguns
expoente resultante é obtido multiplicando-se os expoentes problemas simples, além de utilizar seus conceitos em
Em resumo: (xa )b=xa×b outros temas, como frações, simplicação de fatoriais, etc.
Porém, antes de iniciarmos a apresentar esta teoria, é
Exemplos: importante conhecermos primeiramente uma classe de
a) (25 )3 = 25×3=215 números muito importante: Os números primos.
b) (39 )2 = 39×2=318
c) (612 )4= 612×4=648 1. Números primos
Propriedade 8: potência de produto Um número natural é definido como primo se ele tem
Quando um produto está elevado a uma potência, o exatamente dois divisores: o número um e ele mesmo.
resultado é um produto com cada um dos fatores eleva-
MATEMÁTICA

Já nos inteiros, p ∈ ℤ é um primo se ele tem exatamente


do ao expoente quatro divisores: ±1 e ±𝑝 .
Em resumo: (x×y)a=xa×ya

10
A definição de divisor está relacionada com a de múl-
FIQUE ATENTO! tiplo.
Por definição,  0,  1  e  − 1  não são números
primos. Um número natural b é divisor do número natural a,
se a é múltiplo de b.

Existem infinitos números primos, como demonstra- Ex. 3 é divisor de 15, pois , logo 15 é múltiplo de 3 e
do por Euclides por volta de 300 a.C.. A propriedade de também é múltiplo de 5.
ser um primo é chamada “primalidade”, e a palavra “pri-
mo” também são utilizadas como substantivo ou adje-
tivo. Como “dois” é o único número primo par, o termo #FicaDica
“primo ímpar” refere-se a todo primo maior do que dois. Um número natural tem uma quantidade fi-
O conceito de número primo é muito importante nita de divisores. Por exemplo, o número 6
na teoria dos números. Um dos resultados da teoria dos poderá ter no máximo 6 divisores, pois tra-
números é o  Teorema Fundamental da Aritmética, que balhando no conjunto dos números naturais
afirma que qualquer número natural diferente de 1 pode não podemos dividir 6 por um número maior
ser escrito de forma única (desconsiderando a ordem) do que ele. Os divisores naturais de 6 são os
como um produto de números primos (chamados fato- números 1, 2, 3, 6, o que significa que o nú-
res primos): este processo se chama decomposição em mero 6 tem 4 divisores.
fatores primos (fatoração). É exatamente este conceito
que utilizaremos no MDC e MMC. Para caráter de me-
morização, seguem os 100 primeiros números primos MDC
positivos. Recomenda-se que memorizem ao menos os
10 primeiros para MDC e MMC: Agora que sabemos o que são números primos, múl-
tiplos e divisores, vamos ao MDC. O máximo divisor co-
2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53,  mum de dois ou mais números é o maior número que é
59, 61, 67, 71, 73, 79, 83, 89, 97, 101, 103, 107, 109, 113,  divisor comum de todos os números dados.
127, 131, 137, 139, 149, 151, 157, 163, 167, 173, 179, 181,
191, 193, 197, 199, 211, 223, 227, 229, 233, 239, 241, 251, Ex. Encontrar o MDC entre 18 e 24.
257, 263, 269, 271, 277, 281, 283, 293, 307, 311, 313, 317,
331, 337, 347, 349, 353, 359, 367, 373, 379, 383, 389, 397, Divisores naturais de 18: D(18) = {1,2,3,6,9,18}.
401, 409, 419, 421, 431, 433, 439, 443, 449, 457, 461, 463,
467, 479, 487, 491, 499, 503, 509, 521, 523, 541 Divisores naturais de 24: D(24) = {1,2,3,4,6,8,12,24}.

2. Múltiplos e Divisores Pode-se escrever, agora, os divisores comuns a 18 e


24: D(18)∩ D (24) = {1,2,3,6}.
Diz-se que um número natural a é múltiplo de outro
Observando os divisores comuns, podemos identifi-
natural b, se existe um número natural k tal que:
car o maior divisor comum dos números 18 e 24, ou seja:
MDC (18,24) = 6.
𝑎 = 𝑘. 𝑏
Outra técnica para o cálculo do MDC:
Ex. 15 é múltiplo de 5, pois 15=3 x 5
Decomposição em fatores primos: Para obter o
MDC de dois ou mais números por esse processo, proce-
Quando a=k.b, segue que a é múltiplo de b, mas tam-
de-se da seguinte maneira:
bém, a é múltiplo de k, como é o caso do número 35 que
é múltiplo de 5 e de 7, pois: 35 = 7 x 5.
Decompõe-se cada número dado em fatores primos.
Quando a = k.b, então a é múltiplo de b e se conhe-
O MDC é o produto dos fatores comuns obtidos, cada
cemos b e queremos obter todos os seus múltiplos, basta
um deles elevado ao seu menor expoente.
fazer k assumir todos os números naturais possíveis.
Exemplo: Achar o MDC entre 300 e 504.
Ex. Para obter os múltiplos de dois, isto é, os números
da forma a = k x 2, k seria substituído por todos os nú-
Fatorando os dois números:
meros naturais possíveis.

FIQUE ATENTO!
Um número b é sempre múltiplo dele mes-
MATEMÁTICA

mo. a = 1 x b ↔ a = b.

11
Temos que:

300 = 22.3 .52 EXERCÍCIO COMENTADO


504 = 23.32 .7
1. (FEPESE-2016) João trabalha 5 dias e folga 1, enquan-
O MDC será os fatores comuns com seus menores to Maria trabalha 3 dias e folga 1. Se João e Maria folgam
expoentes: no mesmo dia, então quantos dias, no mínimo, passarão
para que eles folguem no mesmo dia novamente?
mdc (300,504)= 22.3 = 4 .3=12
a) 8
MMC b) 10
c) 12
O mínimo múltiplo comum de dois ou mais números d) 15
é o menor número positivo que é múltiplo comum de e) 24
todos os números dados. Consideremos:
Resposta: Letra C. O período em que João trabalha
Ex. Encontrar o MMC entre 8 e 6 e folga corresponde a 6 dias enquanto o mesmo pe-
ríodo, para Maria, corresponde a 4 dias. Assim, o pro-
Múltiplos positivos de 6: M(6) = blema consiste em encontrar o mmc entre 6 e 4. Logo,
{6,12,18,24,30,36,42,48,54,...} eles folgarão no mesmo dia novamente após 12 dias
pois mmc(6,4)=12.
Múltiplos positivos de 8: M(8) =
{8,16,24,32,40,48,56,64,...}
Números Racionais: Frações, Números Decimais e
Podem-se escrever, agora, os múltiplos positivos co- suas Operações
muns: M(6)∩M(8) = {24,48,72,...}
1. Números Racionais
Observando os múltiplos comuns, pode-se identificar
o mínimo múltiplo comum dos números 6 e 8, ou seja:
Um número racional é o que pode ser escrito na for-
m
Outra técnica para o cálculo do MMC: ma n , onde m e n são números inteiros, sendo que n
deve ser diferente de zero. Frequentemente usamos m
Decomposição isolada em fatores primos: Para ob- para significar a divisão de m por n . n

ter o MMC de dois ou mais números por esse processo, Como podemos observar, números racionais podem
procedemos da seguinte maneira: ser obtidos através da razão entre dois números inteiros,
razão pela qual, o conjunto de todos os números racio-
- Decompomos cada número dado em fatores pri- nais é denotado por Q. Assim, é comum encontrarmos na
mos. literatura a notação:

{ }
- O MMC é o produto dos fatores comuns e não- m
-comuns, cada um deles elevado ao seu maior ex- Q= : m e n em Z,n diferente de zero
n
poente.
Ex. Achar o MMC entre 18 e 120. No conjunto Q destacamos os seguintes subconjun-
tos:

Fatorando os números: • 𝑄 = conjunto dos racionais não nulos;
• + = conjunto dos racionais não negativos;
𝑄
• 𝑄+∗
= conjunto dos racionais positivos;
• 𝑄− = conjunto dos racionais não positivos;
• 𝑄−∗ = conjunto dos racionais negativos.

Módulo ou valor absoluto: É a distância do ponto


que representa esse número ao ponto de abscissa zero.
3 3 3 3
Exemplo: Módulo de - 2 é 2 . Indica-se − =
2 2
Temos que: 3 3
Módulo de+ é . Indica-se 3 3
2 2 =
18 = 2 .32 2 2
120 = 23.3 .5 3 3
Números Opostos: Dizemos que− 2 e 2 são núme-
MATEMÁTICA

O MMC será os fatores comuns com seus maiores ex- ros racionais opostos ou simétricos e cada um deles é
poentes: o oposto do outro. As distâncias dos pontos− 3 e 3 ao
ponto zero da reta são iguais. 2 2

mmc (18,120) = 23.32.5 = 8 .9 .5 = 360

12
1.1. Soma (Adição) de Números Racionais 1.3.1. Propriedades da Multiplicação de Números
Racionais
Como todo número racional é uma fração ou pode
ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição O conjunto Q é fechado para a multiplicação, isto é,
a c
entre os números racionais e , , da mesma forma que o produto de dois números racionais resultaem um nú-
a soma de frações, através de:
b d mero racional.
- Associativa: Para todos a,b,c em Q: a ∙ ( b ∙ c ) = ( a
a c a�d+b�c ∙b)∙c
+ = - Comutativa: Para todos a,b em Q: a ∙ b = b ∙ a
b d b�d - Elemento neutro: Existe 1 em Q, que multiplicado por
1.1.1. Propriedades da Adição de Números Racio- todo q em Q, proporciona o próprio q, isto é: q ∙ 1 = q
b
nais
a
- Elemento inverso: Para todo q = b em Q, a di-
q−1 =

ferente de zero, existe em Q: q � q−1 = 1, ou seja,


O conjunto Q é fechado para a operação de adição, a b
×a =1
isto é, a soma de dois números racionais resulta em um b
número racional. - Distributiva: Para todos a,b,c em Q: a ∙ ( b + c ) = ( a
- Associativa: Para todos em : a + ( b + c ) = ( a + b ) + c ∙ b ) + ( a∙ c )
- Comutativa: Para todos em : a + b = b + a
- Elemento neutro: Existe em , que adicionado a 1.4. Divisão de Números Racionais
todo em , proporciona o próprio , isto é: q + 0 = q
- Elemento oposto: Para todo q em Q, existe -q em A divisão de dois números racionais p e q é a própria
Q, tal que q + (–q) = 0 operação de multiplicação do número p pelo inverso de
q, isto é: p ÷ q = p × q-1
1.2. Subtração de Números Racionais De maneira prática costuma-se dizer que em uma di-
visão de duas frações, conserva-se a primeira fração e
A subtração de dois números racionais e é a própria multiplica-se pelo inverso da segunda:
operação de adição do número com o oposto de q, isto
é: p – q = p + (–q) a c a d a�d
∶ = � =
b d b c b�c
1.3. Multiplicação (Produto) de Números Racionais
Observação: É possível encontrar divisão de frações
Como todo número racional é uma fração ou pode a
ser escrito na forma de umaa fração, definimos o produto
c.
da seguinte forma: b . O procedimento de cálculo é o
de dois números racionais b e d , da mesma forma que o
c
mesmo.
produto de frações, através de: d
1.5. Potenciação de Números Racionais
a c a�c 𝐧
� = A potência q do número racional é um produto
b d b� d de fatores iguais. O número é denominado a base e o
número é o expoente.
O produto dos números racionais a e b também pode n
ser indicado por a × b, a.b ou ainda ab sem nenhum sinal q = q � q � q � q � . . .� q, (q aparece n vezes)
entre as letras.
Para realizar a multiplicação de números racionais, Exs:
devemos obedecer à mesma regra de sinais que vale em
a)  2  =  2  .  2  .  2  =
3
toda a Matemática: 8
(+1)�(+1) = (+1) – Positivo � Positivo = Positivo 5 3 5 5 5
125

(+1)�(-1) = (-1) - Positivo � Negativo = Negativo b)  − 1  =  − 1  .  − 1  .  − 1  = 1


  −
(-1)�(+1) = (-1) - Negativo � Positivo = Negativo  2  2  2  2 8
(-1)� (-1) = (+1) – Negativo � Negativo = Positivo c) (– 5)² = (– 5) � ( – 5) = 25

d) (+5)² = (+5) � (+5) = 25


#FicaDica
O produto de dois números com o mesmo
sinal é positivo, mas o produto de dois 1.5.1. Propriedades da Potenciação aplicadas a nú-
números com sinais diferentes é negativo. meros racionais
MATEMÁTICA

Toda potência com expoente 0 é igual a 1.


0
 2
+  = 1
 5

13
- Toda potência com expoente 1 é igual à própria Ex:
base. 4 Representa o produto 2. 2 ou 22. Logo, 2 é a raiz
1
 9 9 quadrada de 4. Indica-se 4 = 2.
−  =−
 4 4 Ex:
2
- Toda potência com expoente negativo de um núme- 1 1 1 1
Representa o produto . ou   .
ro racional diferente de zero é igual a outra potência que 9 3 3 3
tem a base igual ao inverso da base anterior e o expoente 1 1
igual ao oposto do expoente anterior.
1 1
Logo, é a raiz quadrada de .Indica-se =
3 9 9 3
 3  5 25
−2 2

−  = −  = Ex:
 5  3 9 0,216 Representa o produto 0,6 � 0,6 � 0,6 ou (0,6)3 .
Logo, 0,6 é a raiz cúbica de 0,216. Indica-se 0,216 = 0,6 .
3
- Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo
sinal da base.
Assim, podemos construir o diagrama:
2
3
2 2 2 8
  =   .  .   =
3 3 3 3 27
- Toda potência com expoente par é um número po-
sitivo.
2
 1  1  1 1
−  = −  .− =
 5  5  5 25
- Produto de potências de mesma base. Para redu-
zir um produto de potências de mesma base a uma só
potência, conservamos a base e somamos os expoentes.
2 3 2+3 5 FIQUE ATENTO!
 2  2  2 2 2 2 2  2 2 Um número racional, quando elevado ao
  .   =  . . . .  =   = 
 5  5 5 55 5 5 5 5 quadrado, dá o número zero ou um número
racional positivo. Logo, os números racio-
- Quociente de potências de mesma base. Para redu- nais negativos não têm raiz quadrada em Q.
zir um quociente de potências de mesma base a uma só
potência, conservamos a base e subtraímos os expoentes. 100
O número − não tem raiz quadrada em Q, pois
910
3 3 3 3 3 tanto −
10 como + , quando elevados ao quadrado, dão
5 . . . .
2 5− 2 3 100 . 3 3
3 3 2 2 2 2 2 3 3
  :  = =  =  9
2 2 3 3 2 2 Um número racional positivo só tem raiz quadrada no
.
2 2 conjunto dos números racionais se ele for um quadrado
perfeito.
- Potência de Potência. Para reduzir uma potência de
potência a uma potência de um só expoente, conserva- O número 2 não tem raiz quadrada em Q, pois não
mos a base e multiplicamos os expoentes. 3
existe número racional que elevado ao quadrado dê 2 .
3

2. Frações

Frações são representações de partes iguais de um


todo. São expressas como um quociente de dois núme-
1.6. Radiciação de Números Racionais x
ros , sendo x o numerador e y o denominador da
y
Se um número representa um produto de dois ou fração, com y ≠ 0 .
MATEMÁTICA

mais fatores iguais, então cada fator é chamado raiz do


número. Vejamos alguns exemplos:

14
2.1. Frações Equivalentes
3 5 9 20
mmc (8,6) = 24 = = =
São frações que, embora diferentes, representam a 8 6 24 24
mesma parte do mesmo todo. Uma fração é equivalente
a outra quando pode ser obtida multiplicando o nume- 24 ∶ 8 � 3 = 9
rador e o denominador da primeira fração pelo mesmo
24 ∶ 6 � 5 = 20
número.

Ex: 3 e 6 . Devemos proceder, agora, como no primeiro caso,


5 10 simplificando o resultado, quando possível:
A segunda fração pode ser obtida multiplicando o
numerador e denominador de 3 por 2: 9 20 29
5
+ =
24 24 24
3�2 6
=
5 � 2 10
3 5 9 20 29
Portanto: + = + =
Assim, diz-se que
6
é uma fração equivalente a 3 8 6 24 24 24
10 5
2.2. Operações com Frações Deste modo, é importante lembrar que na adição e
na subtração de duas ou mais frações que têm os deno-
2.2.1. Adição e Subtração minadores diferentes, reduzimos inicialmente as frações
ao menor denominador comum, após o que procedemos
Frações com denominadores iguais: como no primeiro caso.

Ex: 2.3. Multiplicação


Jorge comeu 3 de um tablete de chocolate e Miguel
8 Ex:
5
desse mesmo tablete. Qual a fração do tablete de cho-
8 De uma caixa de frutas, 4 são bananas. Do total de
colate que Jorge e Miguel comeram juntos? 2 5
bananas, estão estragadas. Qual é a fração de frutas
3
A figura abaixo representa o tablete de chocolate. da caixa que estão estragadas?
Nela também estão representadas as frações do tablete
que Jorge e Miguel comeram:

Representa 4/5 do conteúdo da caixa

3 2 5
Observe que = =
8 8 8

Portanto, Jorge e Miguel comeram juntos 5


do table-
te de chocolate.
8

Representa 2/3 de 4/5 do conteúdo da caixa.


Na adição e subtração de duas ou mais frações que
têm denominadores iguais, conservamos o denominador Repare que o problema proposto consiste em calcular
comum e somamos ou subtraímos os numeradores. 2
Outro Exemplo: o valor de de 4 que, de acordo com a figura, equivale
3 5
a 8 do total de frutas. De acordo com a tabela acima, 2
15 3
3 5 7 3+5−7 1 2 4
+ − = = de 4 equivale a � . Assim sendo:
2 2 2 2 2 5 3 5

2.2.2. Frações com denominadores diferentes: 2 4


� =
8
3 5 15
Calcular o valor de 3 + 5 Inicialmente, devemos re- Ou seja:
8 6
duzir as frações ao mesmo denominador comum. Para 2 de
MATEMÁTICA

isso, encontramos o mínimo múltiplo comum (MMC) en-


4 2 4 2�4 8
= � 5 = 3�5 = 15
3 5 3
tre os dois (ou mais, se houver) denominadores e, em se-
guida, encontramos as frações equivalentes com o novo
denominador:

15
O produto de duas ou mais frações é uma fração cujo Ou seja, o namorado de Lúcia recebeu 4
do total de
numerador é o produto dos numeradores e cujo deno- chocolates contidos na caixa.
15
minador é o produto dos denominadores das frações
dadas. 4 8
Outro exemplo: : = . 2 =
41 5 5
3 5 3 8 6
2 4 7 2�4�7 56 Observação:
Outro exemplo: � � = =
3 5 9 3 � 5 � 9 135
Note a expressão: . Ela é equivalente à expressão
3 1
:
#FicaDica 2 5

Sempre que possível, antes de efetuar


a multiplicação, podemos simplificar as Portanto
frações entre si, dividindo os numeradores
e os denominadores por um fator comum.
Esse processo de simplificação recebe o 3. Números Decimais
nome de cancelamento.
De maneira direta, números decimais são números
que possuem vírgula. Alguns exemplos: 1,47; 2,1; 4,9587;
0,004; etc.

3.1. Operações com Números Decimais


2.4. Divisão
3.1.1. Adição e Subtração
Duas frações são inversas ou recíprocas quando o nu-
merador de uma é o denominador da outra e vice-versa. Vamos calcular o valor da seguinte soma:
Exemplo 5,32 + 12,5 + 0, 034
2 é a fração inversa de 3
3 2 Transformaremos, inicialmente, os números decimais
em frações decimais:
5 ou 5 é a fração inversa de 1
1 5

Considere a seguinte situação: 532 125 34 5320 12500


5,32 + 12,5 + 0,034 = 100 + 10
+ 1000 = 1000
+ 1000 +
Lúcia recebeu de seu pai os 4 dos chocolates con-
tidos em uma caixa. Do total de5chocolates recebidos, 532 125 34 5320 12500 34 17854
5,32namorado.
Lúcia deu a terça parte para o seu + 12,5 + 0,034 =
Que fração + + = + + = = 17,854
100 10 1000 1000 1000 1000 1000
dos chocolates contidos na caixa recebeu o namorado
de Lúcia? Portanto: 5,32 + 12,5 + 0, 034 = 17, 854
A solução do problema consiste em dividir o total de
chocolates que Lúcia recebeu de seu pai por 3, ou seja, Na prática, a adição e a subtração de números deci-
4
:3 mais são obtidas de acordo com a seguinte regra:
5
- Igualamos o número de casas decimais, acrescen-
Por outro lado, dividir algo por 3 significa calcular 1 tando zeros.
desse algo. 3
- Colocamos os números um abaixo do outro, deixan-
do vírgula embaixo de vírgula.
Portanto: : 3 = de 4
4 1
5 3 - Somamos ou subtraímos os números decimais
5
como se eles fossem números naturais.
1 4 1 4 4 1 - Na resposta colocamos a vírgula alinhada com a vír-
Como de 5= 3 � =
5 5

3
, resulta que gula dos números dados.
3
4 4 3 4 1
:3 = : = �
5 5 1 5 3

3 1
Observando que as frações e são frações inver-
1 3
sas, podemos afirmar que:
MATEMÁTICA

Para dividir uma fração por outra, multiplicamos a pri-


meira pelo inverso da segunda.
4 4 3 4 1 4
Portanto 5 : 3 = 5 ∶ 1 = 5 � 3 = 15

16
Exemplo Vamos, por exemplo, efetuar a seguinte divisão:
24 ∶ 0,5
2,35 + 14,3 + 0, 0075 + 5
Inicialmente, multiplicaremos o dividendo e o divisor
Disposição prática: da divisão dada por 10.
2,3500
14,3000 24 ∶ 0,5 = (24 � 10) ∶ (0,5 � 10) = 240 ∶ 5
+ 0,0075
A vantagem de tal procedimento foi a de transformar-
5,0000
mos em número natural o número decimal que aparecia
21,6575 na divisão. Com isso, a divisão entre números decimais
se transforma numa equivalente com números naturais.
3.1.2. Multiplicação
Portanto: 24 ∶ 0,5 = 240 ∶ 5 = 48
Vamos calcular o valor do seguinte produto:
2,58 � 3,4 .
Transformaremos, inicialmente, os números decimais #FicaDica
em frações decimais:
Na prática, a divisão entre números deci-
258 34 8772 mais é obtida de acordo com as seguintes
2,58 � 3,4 = � = = 8,772 regras:
100 10 1000 - Igualamos o número de casas decimais do
dividendo e do divisor.
Portanto 2,58 � 3,4 = 8,772 - Cortamos as vírgulas e efetuamos a divisão
como se os números fossem naturais.
#FicaDica
Na prática, a multiplicação de números Ex: 24 ∶ 0,5 = 240 ∶ 5 = 48
decimais é obtida de acordo com as
seguintes regras: Disposição prática:
- Multiplicamos os números decimais como
se eles fossem números naturais.
- No resultado, colocamos tantas casas
decimais quantas forem as do primeiro fator
somadas às do segundo fator. Nesse caso, o resto da divisão é igual à zero. Assim
sendo, a divisão é chamada de divisão exata e o quocien-
te é exato.
Exemplo:

Disposição prática: Ex: 9,775 ∶ 4,25

652,2  1 casa decimal Disposição prática:

X 2,03  2 casas decimais


19 566

1 304 4 Nesse caso, o resto da divisão é diferente de zero.


Assim sendo, a divisão é chamada de divisão aproximada
1 323,966  1 + 2 = 3 casas decimais e o quociente é aproximado.

1.3. Divisão Se quisermos continuar uma divisão aproximada, de-


vemos acrescentar zeros aos restos e prosseguir dividin-
do cada número obtido pelo divisor. Ao mesmo tempo
em que colocamos o primeiro zero no primeiro resto,
colocamos uma vírgula no quociente.
MATEMÁTICA

17
3.Representação Fracionária dos Números Deci-
mais

Trata-se do problema inverso: estando o número ra-


cional escrito na forma decimal, procuremos escrevê-lo
na forma de fração. Temos dois casos:

1º) Transformamos o número em uma fração cujo


Ex: 0,14 ∶ 28 numerador é o número decimal sem a vírgula e o deno-
minador é composto pelo numeral 1, seguido de tantos
zeros quantas forem as casas decimais do número deci-
mal dado:

Ex: 2 ∶ 16
9
0,9 =
10

57
5,7 =
10

2. Representação Decimal das Frações 76


p 0,76 =
Tomemos um número racional q tal que p não seja 100
múltiplo de q. Para escrevê-lo na forma decimal, basta
efetuar a divisão do numerador pelo denominador. 348
Nessa divisão podem ocorrer dois casos: 3,48 =
100
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula,
um número finito de algarismos. Decimais Exatos:
5 1
2
= 0,4
0,005 = =
5 1000 200
1
= 0,25
4 2º) Devemos achar a fração geratriz da dízima dada;
35 para tanto, vamos apresentar o procedimento através de
4
= 8,75 alguns exemplos:
153
= 3,06 Ex:
50 Seja a dízima 0,333...
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, Façamos e multipliquemos ambos os membros por
infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se pe- 10:
riodicamente. Decimais Periódicos ou Dízimas Periódicas: 10x = 0,333
1
= 0,333 … Subtraindo, membro a membro, a primeira igualdade
3
da segunda:
1 3
= 0,04545 … 10x – x = 3,333 … – 0,333. . . 9x = 3 x =
22 9
3
167 Assim, a geratriz de 0,333... é a fração .
= 2,53030 …
66 Ex: 9
Seja a dízima 5,1717...

FIQUE ATENTO! Façamos x = 5,1717. . . e 100x = 517,1717. . .


MATEMÁTICA

Se após as vírgulas os algarismos não são pe-


riódicos, então esse número decimal não está Subtraindo membro a membro, temos:
contido no conjunto dos números racionais. 99x = 512 x = 512⁄99

18
2. Em uma caixa de ferramentas, 4/5 são chaves de fen-
512
Assim, a geratriz de 5,1717... é a fração . da. Do total das chaves, 2/3 estão enferrujadas. Qual é
99 a fração de chaves da caixa de ferramentas que estão
Ex: enferrujadas?
Seja a dízima 1,23434...
Resposta: 8/15
Façamos O problema proposto consiste em calcular o valor de
2/3…de 4/5, que equivale a 8/15 do total das chaves.
x = 1,23434 … ;10x = 12,3434 …; 1000x = 1234,34
434 … ;10x = 12,3434 …; 1000x = 1234,34 …

Subtraindo membro a membro, temos: PORCENTAGEM.


1222
990x = 1234,34. . . – 12,34 … 990x = 1222 x =
A definição de 990
porcentagem passa pelo seu próprio
nome, pois é uma fração de denominador centesimal, ou
1222 seja, é uma fração de denominador 100. Representamos
4. . . – 12,34 … 990x = 1222 x =
990 porcentagem pelo% e lê-se: “por cento”.
50
Simplificando, obtemos x =
611
, a fração geratriz Deste modo, a fração ou qualquer uma equiva-
100
da dízima 1,23434... 495
lente a ela é uma porcentagem que podemos represen-

tar por 50%.


Analisando todos os exemplos, nota-se que a idéia A porcentagem nada mais é do que uma razão, que
consiste em deixar após a vírgula somente a parte pe- representa uma “parte” e um “todo” a qual referimos
riódica (que se repete) de cada igualdade para, após a como 100%. Assim, de uma maneira geral, temos que:
subtração membro a membro, ambas se cancelarem.
𝑝
𝐴= .𝑉
100
EXERCÍCIOS COMENTADOS Onde A, é a parte, p é o valor da porcentagem e V é o
todo (100%). Assim, os problemas básicos de porcenta-
1. (EBSERH – Médico – IBFC/2016) Mara leu 1/5 das gem se resumem a três tipos:
páginas de um livro numa semana. Na segunda semana,
leu mais 2/3 de páginas. Se ainda faltam ler 60 (sessenta) Cálculo da parte (Conheço p e V e quero achar A):
páginas do livro, então o total de páginas do livro é de:
Para calcularmos uma porcentagem de um valor V, bas-
a) 300 ta multiplicarmos a fração correspondente, ou seja, 𝑝
b) 360 100
c) 400 por V. Assim:
d) 450 𝑝
e) 480 P% de V =A= 100 .V

Resposta: Letra D. Ex. 23% de 240 = 23 .240 = 55,2


100
Mara leu 1 Ex. Em uma pesquisa de mercado, constatou-se que
= 15 = 15 do livro.
2 3+10 13
5
+3 67% de uma amostra assistem a certo programa de TV.
13 15−13 2 Se a população é de 56.000 habitantes, quantas pessoas
Logo, ainda falta 1 − = = para ser assistem ao tal programa?
15 15 15
lido. Essa fração que falta ser lida equivale a 60 pá- Aqui, queremos saber a “parte” da população que as-
siste ao programa de TV, como temos a porcentagem e
ginas o total, basta realizarmos a multiplicação:
2 1 67% de 56000=A=
67
56000=37520
Assim:  60 páginas. Portanto,  30
páginas.15 15 100
Resp. 37 520 pessoas.
Logo o livro todo (15/15) possui: 15∙30=450 páginas
Cálculo da porcentagem (conheço A e V e quero
MATEMÁTICA

achar p): Utilizaremos a mesma relação para achar o va-


lor de p e apenas precisamos rearranjar a mesma:
𝑝 𝐴
𝐴= . 𝑉 → 𝑝 = . 100
100 𝑉

19
Ex. Um time de basquete venceu 10 de seus 16 jogos.
p
Qual foi sua porcentagem de vitórias? VA = V + .V
Neste caso, o exercício quer saber qual a porcenta- 100
gem de vitórias que esse time obteve, assim: Fatorando:
p
𝐴 10 VA = ( 1 + ) .V
𝑝= . 100 = . 100 = 62,5% 100
𝑉 16
Em que (1 + p ) será definido como fator de au-
Resp: O time venceu 62,5% de seus jogos. 100
mento, que pode estar representado tanto na forma de
Ex. Em uma prova de concurso, o candidato acertou fração ou decimal.
48 de 80 questões. Se para ser aprovado é necessário
acertar 55% das questões, o candidato foi ou não foi Desconto Percentual: Consideremos um valor inicial
aprovado? V que deve sofrer um desconto de p% de seu valor. Cha-
Para sabermos se o candidato passou, é necessário memos de VD o valor após o desconto.
calcular sua porcentagem de acertos:
p
𝐴 48 VD = V – .V
𝑝 = . 100 = . 100 = 60% > 55% 100
𝑉 80
Fatorando:
Logo, o candidato foi aprovado.
p
VD = (1 – ) .V
Calculo do todo (conheço p e A e quero achar V): 100
No terceiro caso, temos interesse em achar o total (Nosso Em que (1 –
p
) será definido como fator de des-
100%) e para isso basta rearranjar a equação novamente: 100
conto, que pode estar representado tanto na forma de
𝑝 𝐴 𝐴
𝐴= . 𝑉 → 𝑝 = . 100 → 𝑉 = . 100 fração ou decimal.
100 𝑉 𝑝
Ex. Uma empresa admite um funcionário no mês de
Ex. Um atirador tem taxa de acerto de 75% de seus janeiro sabendo que, já em março, ele terá 40% de au-
tiros ao alvo. Se em um treinamento ele acertou 15 tiros, mento. Se a empresa deseja que o salário desse funcio-
quantos tiros ele deu no total? nário, a partir de março, seja R$ 3 500,00, com que salário
Neste caso, o problema gostaria de saber quanto vale deve admiti-lo?
o “todo”, assim: Neste caso, o problema deu o valor de e gostaria de
saber o valor de V, assim:
𝐴 15 p
𝑉= . 100 = . 100 = 0,2.100 = 20 𝑡𝑖𝑟𝑜𝑠 VA = ( 1 + ).V
𝑝 75 100
40
3500 = ( 1 + ).V
Forma Decimal: Outra forma de representação de 100
porcentagens é através de números decimais, pois to- 3500 =(1+0,4).V
dos eles pertencem à mesma classe de números, que são
os números racionais. Assim, para cada porcentagem, há 3500 =1,4.V
um numero decimal equivalente. Por exemplo, 35% na
forma decimal seriam representados por 0,35. A conver- V=
3500
=2500
são é muito simples: basta fazer a divisão por 100 que 1,4
está representada na forma de fração: Resp. R$ 2 500,00
75
75% = = 0,75 Ex. Uma loja entra em liquidação e pretende abaixar
100
em 20% o valor de seus produtos. Se o preço de um de-
Aumento e desconto percentual les é de R$ 250,00, qual será seu preço na liquidação?
Aqui, basta calcular o valor de VD :
Outra classe de problemas bem comuns sobre por-
centagem está relacionada ao aumento e a redução per- p
VD = (1 – ) .V
centual de um determinado valor. Usaremos as defini- 100
ções apresentadas anteriormente para mostrar a teoria VD = (1 –
20
) .250,00
envolvida 100
MATEMÁTICA

VD = (1 –0,2) .250,00
Aumento Percentual: Consideremos um valor inicial VD = (0,8) .250,00
V que deve sofrer um aumento de de seu valor. Chame- VD = 200,00
mos de VA o valor após o aumento. Assim: Resp. R$ 200,00

20
Sendo V1 o valor após o aumento, temos:
FIQUE ATENTO!
𝑝1
Em alguns problemas de porcentagem são V1 = V .(1+ )
necessários cálculos sucessivos de aumen- 100
tos ou descontos percentuais. Nesses casos
é necessário ter atenção ao problema, pois Sendo V2 o valor após o desconto, temos que:
erros costumeiros ocorrem quando se calcu-
la a porcentagens do valor inicial para obter 𝑝2
todos os valores finais com descontos ou V2 = V_1 .(1 – )
aumentos. Na verdade, esse cálculo só pode 100
ser feito quando o problema diz que TODOS
os descontos ou aumentos são dados a uma Como temos uma expressão para , basta substituir:
porcentagem do valor inicial. Mas em geral, 𝑝1 𝑝2
os cálculos são feitos como mostrado no tex- V2 = V .(1+ ) .(1 – )
to a seguir. 100 100

Ex. Um produto sofreu um aumento de 20% e depois


Aumentos e Descontos Sucessivos: Consideremos sofreu uma redução de 20%. Isso significa que ele voltará
um valor inicial V, e vamos considerar que ele irá sofrer ao seu valor original.
dois aumentos sucessivos de p1% e p2%. Sendo V1 o valor
após o primeiro aumento, temos: ( ) Certo ( ) Errado
𝑝1
V1 = V .(1 + ) Este problema clássico tem como finalidade concei-
100 tuar esta parte de aumento e redução percentual e evitar
Sendo V2 o valor após o segundo aumento, ou seja, o erro do leitor ao achar que aumentando p% e dimi-
após já ter aumentado uma vez, temos que: nuindo p%, volta-se ao valor original. Se usarmos o que
𝑝2 aprendemos, temos que:
V2 = V1 .(1 + ) 𝑝1 𝑝2
100 V2 = V . 1+ . 1–
100 100
Como temos também uma expressão para V1, basta 𝐴𝑢𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑟𝑒𝑑𝑢çã𝑜
substituir:
𝑝1 𝑝2 20 20
V2 = V .(1 + ) .(1 + ) V2 = V .(1+ ) .(1 – )
100 100 100 100
Assim, para cada aumento, temos um fator corres-
pondente e basta ir multiplicando os fatores para chegar V2 = V .(1+0,2) .(1 – 0,2 )
ao resultado final.
No caso de desconto, temos o mesmo caso, sendo V V2 = V .(1,2) .(0,8)
um valor inicial, vamos considerar que ele irá sofrer dois 96
descontos sucessivos de p1% e p2%. V2 = 0,96.V= V=96% de V
100
Sendo V1 o valor após o primeiro desconto, temos: Ou seja, o valor final corresponde a 96% de V e não
𝑝1 100%, assim, eles não são iguais, portanto deve-se assi-
V1 = V.(1 – ) nalar a opção ERRADO
100
Sendo V2 o valor após o segundo desconto, ou seja,
após já ter descontado uma vez, temos que:
EXERCÍCIO COMENTADO
𝑝2
V2 = V_1 .(1 – )
100 1. (UNESP) Suponhamos que, para uma dada eleição,
Como temos também uma expressão para , basta uma cidade tivesse 18.500 eleitores inscritos. Suponha-
substituir: mos ainda que, para essa eleição, no caso de se verificar
um índice de abstenções de 6% entre os homens e de 9%
𝑝1 𝑝2
V2 = V .(1 – ) .(1 – ) entre as mulheres, o número de votantes do sexo masculi-
100 100 no será exatamente igual ao número de votantes do sexo
feminino. Determine o número de eleitores de cada sexo.
Além disso, essa formulação também funciona para
MATEMÁTICA

aumentos e descontos em sequência, bastando apenas


a identificação dos seus fatores multiplicativos. Sendo V
um valor inicial, vamos considerar que ele irá sofrer um
aumento de p1% e, sucessivamente, um desconto de p2%.

21
Resposta: Denotamos o número de eleitores do sexo femininos de F e de votantes masculinos de M. Pelo enunciado
do exercícios, F+M = 18500. Além disso, o índice de abstenções entre os homens foi de 6% e de 9% entre as
mulheres, ou seja, 94% dos homens e 91% das mulheres compareceram a votação, onde 94%M = 91%F ou 0,94M
= 0,91F. Assim, para determinar o número de eleitores de cada sexo temos os seguinte sistema para resolver:

F + M = 18500

0,94M = 0,91F

0,91
Da segunda equação, temos que M =
0,94
F . Agora, substituindo M na primeira equação do sistema encontra-se F
=  9400 e por fim determina-se M = 9100.

MÉDIAS

Estatística

Definições Básicas

Estatística: ciência que tem como objetivo auxiliar na tomada de decisões por meio da obtenção, análise, organi-
zação e interpretação de dados.

População: conjunto de entidades (pessoas, objetos, cidades, países, classes de trabalhadores, etc.) que apresen-
tem no mínimo uma característica em comum. Exemplos: pessoas de uma determinada cidade, preços de um produto,
médicos de um hospital, estudantes que prestam determinado concurso, etc.

Amostra: É uma parte da população que será objeto do estudo. Como em muitos casos não é possível estudar a
população inteira, estuda-se uma amostra de tamanho significativo (há métodos para determinar isso) que retrate o com-
portamento da população. Exemplo: pesquisa de intenção de votos de uma eleição. Algumas pessoas são entrevistadas e
a pesquisa retrata a intenção de votos da população.
Variável: é o dado a ser analisado. Aqui, será chamado de e cada valor desse dado será chamado de . Essa variável
pode ser quantitativa (assume valores) ou qualitativa (assume características ou propriedades).

Medidas de tendência central

São medidas que auxiliam na análise e interpretação de dados para a tomada de decisões. As três medidas de ten-
dência central são:

Média aritmética simples:∑xi razão entre a soma de todos os valores de uma mostra e o número de elementos da
amostra. Expressa por x
� .=
Calculada por:
n
∑xi
x� =
n
Média aritmética ponderada: muito parecida com média aritmética simples, porém aqui cada variável tem um
peso diferente pi que é levado em conta no cálculo da média.
∑xi pi
x� =
∑pi

Mediana: valor que divide a amostra na metade. Em caso de número para de elementos, a mediana é a média entre
os elementos intermediários

Moda: valor que aparece mais vezes dentro de uma amostra.


Ex: Dada a amostra {1,3,1,2,5,7,8,7,6,5,4,1,3,2} calcule a média, a mediana e a moda.
MATEMÁTICA

Solução
Média:
1 + 3 + 1 + 2 + 5 + 7 + 8 + 7 + 6 + 5 + 4 + 1 + 3 + 2 55
x� = = = 3,92
14 14

22
Mediana:
Inicialmente coloca-se os valores em ordem crescente:
{1,1,1,2,2,3,3,4,5,5,6,7,7,8}

Como a amostra tem 14 valores (número par), os elementos intermediários são os 7º e 8º elementos. Nesse exem-
3+4 7
plo, são os números 3 e 4. Portanto, a mediana é a média entre eles: = 2 = 3,5
2
Moda:
O número que aparece mais vezes é o número 1 e, portanto, é a moda da amostra nesse exemplo.
Ex: Dada a amostra {2,4,8,10,15,6,9,11,7,4,15,15,11,6,10} calcule a média, a mediana e a moda.
Solução:
Média:
2 + 4 + 8 + 10 + 15 + 6 + 9 + 11 + 7 + 4 + 15 + 15 + 11 + 6 + 10 133
x� = = = 8,867
15 14
Mediana:
Inicialmente coloca-se os valores em ordem crescente
{2,4,4,6,6,7,8,9,10,10,11,11,15,15,15}
Como a amostra tem 15 valores (número par), o elemento intermediário é o 8º elemento. Logo, a mediana é igual a 9.

Moda:
O número que aparece mais vezes é o número 15 e, portanto, é a moda da amostra nesse exemplo.
Ex: A média de uma disciplina é calculada por meio da média ponderada de três provas. A primeira tem peso 3, a
segunda tem peso 4 e a terceira tem peso 5. Calcule a média de um aluno que obteve nota 8 na primeira prova, 5 na
segunda e 6 na terceira.

Solução:
Trata-se de um caso de média aritmética ponderada.
∑xi pi 3 ∙ 8 + 4 ∙ 5 + 5 ∙ 6 74
x� = = = = 6,167
∑pi 3+4+5 12

Tabelas e Gráficos

Tabelas
Tabelas podem ser utilizadas para expressar os mais diversos tipos de dados. O mais importante é saber interpretá-
-las e para isso é conveniente saber como uma tabela é estruturada. Toda tabela possui um título que indica sobre o
que se trata a tabela. Toda tabela é dividida em linhas e colunas onde, no começo de uma linha ou de uma coluna, está
indicado qual o tipo de dado que aquela linha/coluna exibe.
Ex:
Tabela 1 - Número de estudantes da Universidade ALFA divididos por curso

Curso Número de Estudantes


Administração 2000
Arquitetura 1450
Direito 2500
Economia 1800
Enfermagem 800
Engenharia 3500
Letras 750
Medicina 1500
Psicologia 1000
TOTAL 15300
MATEMÁTICA

Nesse caso, as colunas são: curso e número de estudantes e cada linha corresponde a um dos cursos da Universi-
dade com o respectivo número de alunos de cada curso.

23
Tabela 2 - Número de estudantes da Universidade ALFA divididos por curso e gênero

Curso Gênero Número de Estudantes


Homem 1200
Administração
Mulher 800
Homem 850
Arquitetura
Mulher 600
Homem 1600
Direito
Mulher 900
Homem 800
Economia
Mulher 1000
Homem 350
Enfermagem
Mulher 450
Homem 2500
Engenharia
Mulher 1000
Homem 200
Letras
Mulher 550
Homem 700
Medicina
Mulher 800
Homem 400
Psicologia
Mulher 600
TOTAL 15300

Nesse caso, as colunas são: curso, gênero e número de estudantes e cada linha corresponde a um dos cursos da
Universidade com o respectivo número de alunos de cada curso separados por gênero.

#FicaDica
Acima foram exibidas duas tabelas como exemplos. Há uma infinidade de tabelas cada uma com sua par-
ticularidade o que torna impossível exibir todos os tipos de tabelas aqui. Porém em todas será necessário
identificar linhas, colunas e o que cada valor exibido representa.

Gráficos

Para falar de gráficos em estatística é importante apresentar o conceito de frequência.

Frequência: Quantifica a repetição de valores de uma variável estatística.

Tipos de frequência

Absoluta: mede a quantidade de repetições.


Ex. Dos 30 alunos, seis tiraram nota 6,0. Essa nota possui frequência absoluta:

fi = 4
Relativa: Relaciona a quantidade de repetições com o total (expresso em porcentagem)
Ex. Dos 30 alunos, seis tiraram nota 6,0. Essa nota possui frequência relativa:
6
fr = ∙ 100 = 20%
30

Tipos de Gráficos
MATEMÁTICA

Gráficos de coluna: gráficos que têm como objetivo atribuir quantidades a certos tipos de grupos. Na horizontal
são apresentados os grupos (dados qualitativos) dos quais deseja-se apresentar dados enquanto na vertical são apre-
sentados os valores referentes a cada grupo (dados quantitativos ou frequências absolutas)

24
Ex: A Universidade ALFA recebe estudantes do mundo Gráficos em pizzas: gráficos nos quais são expressas
todo. A seguir há um gráfico que mostra a quantidade de relações entre grandezas em relação a um todo. Nesse
estudantes separados pelos seus continentes de origem: gráfico é possível visualizar a relação de proporcionalida-
de entre as grandezas. Recebe esse nome pois lembram
Estudantes da Universidade ALFA uma pizza pelo formato redondo com seus pedaços (fre-
quências relativas).
700

600 Ex: A Universidade ALFA recebe estudantes do mundo


500 todo. A seguir há um gráfico que mostra a distribuição de
400
estudantes de acordo com seus continentes de origem
300

200 Estudantes da Universidade ALFA


100 30

150
0
América do América do América Europa Ásia África Oceania 260 630
Norte Sul Central

Gráficos de barras: gráficos bastante similares aos


de colunas, porém, nesse tipo de gráfico, na horizontal 440

são apresentados os valores referentes a cada grupo (da-


dos quantitativos) enquanto na vertical são apresentados
520
150

os grupos (dados qualitativos)

Ex: A Universidade ALFA recebe estudantes do mundo América do Norte América do Sul América Central Europa Ásia África Oceania

todo. A seguir há um gráfico que mostra a quantidade de


Ex: Foi feito um levantamento do idioma falado pelos
estudantes separados pelos seus continentes de origem:
alunos de um curso da Universidade ALFA.

Estudantes da Universidade ALFA Frequências absolutas:

Oceania

África

Ásia

Europa

América Central

América do Sul

América do Norte

0 100 200 300 400 500 600 700

Gráficos de linhas: gráficos nos quais são exibidas


séries históricas de dados e mostram a evolução dessas
séries ao longo do tempo.

Ex: A Universidade ALFA tem 10 anos de existências Frequências relativas:


e seu reitor apresentou um gráfico mostrando o número
de alunos da Universidade ao longo desses 10 anos.

Estudantes da Universidade ALFA ao longo de 10 anos

2500

2000

1500
MATEMÁTICA

1000

500

0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

25
x = 6 ∙ 5
EXERCÍCIOS COMENTADOS x = 30

1. (SEGEP-MA - Técnico da Receita Estadual – Do mesmo modo, se a turma tem 25 meninas


FCC/2016) Três funcionários do Serviço de Atendimento (Me é a média aritmética de suas notas), o quociente
ao Cliente de uma loja foram avaliados pelos clientes que da soma das notas das meninas (y) e a quantidade de
atribuíram uma nota (1; 2; 3; 4; 5) para o atendimento meninas (25) deve ser igual a Me, isto é:
recebido. A tabela mostra as notas recebidas por esses (x + y)/(25+5) = 7
funcionários em um determinado dia. y = 25∙Me
Para calcular a média da turma, devemos somar as no-
tas dos meninos (30) às notas das meninas (y) e dividir
pela quantidade de alunos (25 + 5 = 30). O resultado
deverá ser 7. Sendo assim, temos:

x + y
= 7
25 + 5
Considerando a totalidade das 95 avaliações desse dia, 30 + 25 ∙ Me
é correto afirmar que a média das notas dista da moda = 7
30
dessas mesmas notas um valor absoluto, aproximada-
mente, igual a: 30 + 25 ∙ Me = 7 • 30

a) 0,33 30 + 25 ∙ Me = 210
b) 0,83
c) 0,65 25 ∙ Me = 210 – 30
d) 0,16
25 ∙ Me = 180
e) 0,21
Me = 7,2
Resposta: Letra C Trata-se de um caso de média arit-
mética ponderada. Considerando as 95 avaliações, o Portanto, a média aritmética das notas das meninas
peso de cada uma das notas é igual ao total de pes- é 7,2.
soas que atribuiu a nota. Analisando a tabela
8 pessoas atribuíram nota 1
18 pessoas atribuíram nota 2
RESOLUÇÕES DE EQUAÇÕES, INEQUAÇÕES
21 pessoas atribuíram nota 3
29 pessoas atribuíram nota 4 E SISTEMAS DE 1° E 2° GRAUS.
19 pessoas atribuíram nota 5
Assim, a média das 95 avaliações é calculada por:
EQUAÇÃO DO 2º GRAU
8 ∙ 1 + 18 ∙ 2 + 21 ∙ 3 + 29 ∙ 4 + 19 ∙ 5 318
x� =
8 + 18 + 21 + 29 + 19
=
95
= 3,34 Equações do segundo grau são equações nas quais
o maior expoente de X é igual a 2. Sua forma geral é
expressa por:
2. (UFC - 2016) A média aritmética das notas dos alunos
de uma turma formada por 25 meninas e 5 meninos é ax 2 + bx + c = 0
igual a 7. Se a média aritmética das notas dos meninos
é igual a 6, a média aritmética das notas das meninas é Onde a, b e c são números reais e a ≠ 0. Os números
igual a: a, b e c são chamados coeficientes da equação:
- a é sempre o coeficiente do termo em x².
a) 6,5 - b é sempre o coeficiente do termo em x.
b) 7,2 - c é sempre o coeficiente ou termo independente.
c) 7,4
d) 7,8 Equação completa e incompleta
e) 8,0
- Quando b ≠ e c ≠ , a equação do 2º grau se diz
completa.
Resposta: Letra B. Primeiramente, será identificada a
soma das notas dos meninos por  x  e a da nota das Exs:
meninas por y. Se a turma tem 5 meninos e a média
MATEMÁTICA

aritmética de suas notas é igual a 6, então a soma das 5x – 8x + 3 = 0 é uma equação completa (a = 5, b = – 8, c = 3).
2
y + 12y + 20 = 0 é uma equação completa (a = 1, b = 12, c = 20).
notas dos meninos  (x)  dividida pela quantidade de
meninos (5) deve ser igual a 6, isto é:
x Quando b=0 ou c=0 ou b=c=0, a equação do 2º grau
5
= 6 se diz incompleta.

26
Exs: Regra 1 – Identificar os números e
2
x – 81 = 0 é uma equação incompleta (a = 1, b = 0 e c = – 81). Regra 2 – Calcular o discriminante
2
10t + 2t = 0 é uma equação incompleta (a = 10, b = 2 e c = 0). Regra 3 – Caso o discriminante não seja negativo,
2
5y = 0 é uma equação incompleta (a = 5, b = 0 e c = 0). utilizar a Fórmula de Bháskara

Exemplo: Resolva a equação


Todas essas equações estão escritas na forma
Aplicando a regra 1, identifica-se: , e
ax 2 + bx + c = 0 , que é denominada forma Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante:
normal ou forma reduzida de uma equação do 2º grau
com uma incógnita. Como o discriminante não é negativo, aplica-se a re-
Há, porém, algumas equações do 2º grau que não gra 3, que consiste em utilizar a fórmula de Bháskara:
estão escritas na forma ax 2 + bx + c = 0 ; por meio
de transformações convenientes, em que aplicamos o Assim,
princípio aditivo para reduzi-las a essa forma.
Exemplo: Resolva a equação x − x − 6 = 0
2

Ex: Aplicando a regra 1, identifica-se: a=1, b=-1 e c=-6


Dada a equação: 2x 2 – 7x + 4 = 1 – x 2 , vamos es- Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante:
crevê-la na forma normal ou reduzida.
Δ = b2 − 4 � a � c = −1 2
− 4 � 1 � −6 = 1 + 24 = 25
2x 2 – 7x + 4 – 1 + x 2 = 0
2x 2 + x 2 – 7x + 4 – 1 = 0 Como o discriminante não é negativo, aplica-se a regra 3,
3x 2 – 7x + 3 = 0 que consiste em utilizar a fórmula de Bháskara:

Resolução de Equações do 2º Grau: Fórmula de


Bháskara

Para encontras as soluções de equações do segundo


grau, é necessário conhecer seu discriminante, represen-
tado pela letra grega Δ (delta). Assim, S= {-2, 3}
Δ= b2 −4�a�c
Exemplo: Resolva a equação x2-4x+4=0
Aplicando a regra 1, identifica-se: a=1, b=-4 e c=4
FIQUE ATENTO! Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante:
O discriminante fornece importantes informa- Δ = b2 − 4 � a � c = −4 2 − 4 � 1 � 4 = 16 − 16 = 0
ções de uma equação do 2ª grau:
Se Δ > 0 → A equação possui duas raízes reais e distintas Como o discriminante não é negativo, aplica-se a re-
Se Δ = 0 → A equação possui duas raízes reais e idênticas gra 3, que consiste em utilizar a fórmula de Bháskara:
Se Δ < 0 → A equação não possui raízes reais
−b ± Δ − −4 ± 0 4 ± 0 4
x= = = = =2
2a 2×1 2 2
A solução é dada pela Fórmula de Bháskara:
−b ± Δ , válida para os casos onde Δ > 0 ou Assim, S={2}
x=
.2a
Δ=0 Note que, como o discriminante é nulo, a equação
possui duas raízes reais e idênticas iguais a 2.
#FicaDica
Exemplo: Resolva a equação x 2 − 4x + 4 = 0
Para utilizar a Fórmula de Bháskara a equa- Aplicando a regra 1, identifica-se: a=1, b=2 e c=3
ção deve estar obrigatoriamente no formato Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante:
ax 2 + bx + c = 0 . Caso não esteja, é Δ = b2 − 4 � a � c = 2 2 − 4 � 1 � 3 = 4 − 12 = −8
necessário colocar a equação nesse formato
para, em seguida, aplicar a fórmula! Como o discriminante é negativo, a equação não pos-
sui raízes reais.
Assim, S= ∅ (solução vazia).
Quando b=0 diz-se que as raízes das equações são
MATEMÁTICA

simétricas.

As regras para solução de uma equação do 2º grau


são as seguintes:

27
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. Determine os valores de x que satisfazem: 


2
x − 2x − 5 = 0 FIQUE ATENTO!
A diferença das duas representações está se a
Resposta: inequação será apenas maior ou menor (“bo-
linha vazia” nas raízes, ou seja, elas não entra-
x ′ = 1 − 6 e x′′ = 1 + 6. rão no conjunto solução) ou maior ou igual ou
menor ou igual (“bolinha cheia” nas raízes, elas
2 entrarão no conjunto solução).
x − 2x − 5 = 0
Δ = −2 2 − 4 � −5 � 1 = 4 + 20 = 24
x=
− −2 ± 24 2±2 6
= 2 =1± 6 Exemplo:
2�1 Resolva a seguinte inequação: x2-3x+2<0
Assim, as raízes x′ e x′′ são: Resolução: As raízes dessa função de segundo grau
x′ = 1 − 6 e x′′ = 1 + 6 são 1 e 2 (Verifique!). Com isso, temos que Δ>0 e pela
expressão, temos que a>0. Colocando na reta real, temos
que
2. Determine os valores de x que satisfazem: 

x 2 − 2x + 5 = 0

Resposta:
x2 - 2x -5 = 0 Como desejamos valores menores que zero, as raízes
Δ=(-2)2-4∙(5)∙(1)=4-20=-16 não entram no conjunto solução (“Bolinha vazia”). As-
Então, como não existe solução real para o cálculo da sim, os valores possíveis que atendem a inequação são
raiz quadrada de 16,nenhum os valores entre 1 e 2. Pela representação dos colchetes,
valor de x satisfaz a equação. temos que: S = 1,2
Não existe solução em R.
Ou por outra representação: S = x ∈ ℝ 1 < 𝑥 < 2 }

INEQUAÇÕES DO 2˚ GRAU
b) a<0 e Δ>0: Observe neste tipo de gráfico que os
As inequações de segundo grau seguem exatamente valores de y menores que x1 e maiores que x2 pos-
o que foi visto nos diversos tipos de posição que a pa- suem y negativo e entre x1 e x2, y é positivo. Assim,
rábola pode ter no plano cartesiano. Basicamente uma uma representação na reta real indicará o seguinte:
inequação de segundo grau possui a seguinte forma:
ax2+bx+c >0
ax2+bx+c<0
ax2+bx+c ≥0
ax2+bx+c ≤0
ou
FORMAS DA INEQUAÇÃO DO 2º GRAU

Vamos analisar novamente os seis casos possíveis de


combinações de valores de “a” e Δ e verificar o que ocor-
re com o sinal de “y”:
a) a>0 e Δ>0: Observe neste tipo de gráfico que os va- A diferença das duas representações está se a ine-
lores de y menores que x1 e maiores que x_]2 pos- quação será apenas maior ou menor (“bolinha vazia” nas
suem y positivo e entre x_1 e x2, y é negativo. Assim, raízes, ou seja, elas não entrarão no conjunto solução) ou
uma representação na reta real indicará o seguinte: maior ou igual ou menor ou igual (“bolinha cheia” nas
raízes, elas entrarão no conjunto solução)

Exemplo:
MATEMÁTICA

Resolva a seguinte inequação: -x2+5x-4≤0


Resolução: Se você resolver a função do segundo
ou grau, encontrará como raízes, os números 1 e 4, ou seja,
Δ>0. Como a<0, temos a seguinte representação na reta
real:

28
Como desejamos valores menores ou iguais a zero, FIQUE ATENTO!
temos como solução, todos os valores abaixo de 1 e to- Em resumo, para resolver uma inequação,
dos os valores acima de 4. Assim, na representação por inicialmente calculamos os zeros da equação
colchetes: S = −∞, 1 ∪ 4, +∞ de segundo grau, ou seja, os pontos em que
o gráfico toca o eixo x. Em seguida, sabendo
Ou por outra representação: S = x ∈ ℝ x ≤ 1ou x ≥ 4} qual a concavidade da parábola e os zeros
da equação, o gráfico pode ser esboçado e a
c) a>0 e Δ=0: Nos casos onde Δ=0, há apenas um análise do sinal pode ser feita.
toque da parábola no eixo x. Assim, o sinal de “a”
determina se os valores da parábola serão positi-
vos ou negativos. No caso de “a” positivo, temos
toda a parábola positiva:
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(CESGRANRIO) O conjunto-solução da inequação 9 –


x² > 0 é:
ou a) – 3 > x > 3
b) – 3 < x < 3
c) x = 3
d) x < 3
e) x > 3
 
A única diferença é se a raiz entrará ou não no con-
Resposta: Letra B. Sabemos que a função f(x) = 9 – x²
junto solução.
é uma função quadrática, onde a=-1, b=0 e c=9.
Podemos concluir que o gráfico de f é uma parábola
a) a<0 e Δ=0: Nos casos onde Δ=0, há apenas um
com a concavidade para baixo, pois a<0.
toque da parábola no eixo x. Assim, o sinal de “a”
determina se os valores da parábola serão positi- Vamos agora descobrir as raízes da função f resolven-
vos ou negativos. No caso de “a” negativo, temos do a equação:
toda a parábola negativa: 9 – x² = 0
x² = 9
x = ± √9
x=±3

Daí, o conjunto solução da equação é S = {-3, 3}.


ou O gráfico de f com as informações obtidas é apresen-
tado a seguir.

A única diferença é se a raiz entrará ou não no con-


junto solução.

b) a>0 e Δ<0: Os dois últimos tipos serão os mais


simples. Como a parábola não toca no eixo x, ape-
nas o sinal de “a” determina todo o sinal da pa-
rábola, assim, para “a” positivo temos a parábola
toda positiva:
MATEMÁTICA

c) a<0 e Δ<0: Como a parábola não toca no eixo x,


apenas o sinal de “a” determina todo o sinal da pa-
rábola, assim, para “a” negativo temos a parábola Logo, como queremos os valores de x onde f(x) > 0, te-
toda negativa: mos que o conjunto solução é: S = {x ∈ R | − 3 < 𝑥 < 3 }

29
EQUAÇÃO DO 1º GRAU Aplicando a regra 5, simplifica-se as expressões em
ambos os membros. Simplificar significa “juntar” todos
Uma equação é uma igualdade na qual uma ou mais os termos com incógnitas em um único termo no 1º
variáveis, conhecidas por incógnitas, são desconhecidas. membro e fazer o mesmo com todos os temos que con-
Resolver uma equação significa encontrar o valor das in- tenham somente números no 2º membro:
cógnitas. Equações do primeiro grau são equações onde 3x = 12
há somente uma incógnita a ser encontrada e seu ex-
poente é igual a 1. A forma geral de uma equação do
primeiro grau é: Aplicando a regra 6, isola-se a incógnita no 1º mem-
bro. Para isso, divide-se ambos os lados da equação por
ax + b = 0 3, fazendo com que no 1º membro reste apenas :

Onde a e b são números reais. 3x 12 12


= →x= → x = 4 → S = {4�
3 3 3
O “lado esquerdo” da equação é denominado 1º
membro enquanto o “lado direito” é denominado 2º Exemplo: Resolva a equação
2x
+2 x−4 = x+1
membro. 3
Aplicando a regra 1, eliminam-se os parênteses. Para
isso, aplica-se a distributiva no termo com parênteses:
#FicaDica 2x
+ 2x − 8 = x + 1
Para resolver uma equação do primeiro grau, 3
costuma-se concentrar todos os termos que
contenham incógnitas no 1º membro e to- Aplicando a regra 2, igualam-se os denominadores
dos os termos que contenham somente nú- de todos os termos. Nessa equação, o denominador co-
meros no 2º membro. mum é “3”:
2x 6x 24 3x 3
+ − = +
3 3 3 3 3
FIQUE ATENTO!
Há diversas formas de equações do primeiro
grau e a seguir serão apresentados alguns Como há o mesmo denominador em todos os ter-
deles. Antes, há uma lista de “regras” para a mos, eles podem ser “cortados”:
solução de equações do primeiro grau: 2x + 6x − 24 = 3x + 3

Regra 1 – Eliminar os parênteses Aplicando a regra 3, transfere-se o termo “3x” para o


Regra 2 – Igualar os denominadores de todos os 1º membro:
termos caso haja frações 2x + 6x − 3x − 24 = 3
Regra 3 – Transferir todos os termos que conte-
nham incógnitas para o 1º membro
Aplicando a regra 4, transfere-se o termo “-24” para
Regra 4 – Transferir todos os termos que conte-
o 2º membro:
nham somente números para o 2º membro
Regra 5 – Simplificar as expressões em ambos os 2x + 6x − 3x = 24 + 3
membros Aplicando a regra 5, simplificam-se as expressões em
Regra 5 – Isolar a incógnita no 1º membro ambos os membros:
Exemplo: Resolva a equação 5x − 4 = 2x + 8 5x = 27

As regras 1 e 2 não se aplicam pois não há parênteses, Por fim, aplicando a regra 6, isola-se a incógnita no
nem frações. Aplicando a regra 3, transfere-se o termo 1º membro:
“2x” para o 1º membro. Para fazer isso, basta colocá-lo
27 27
no 1º membro com o sinal trocado: x= →S=
5 5
5x − 4 − 2x = 8
Aplicando a regra 4, transfere-se o termo “-4” para o
MATEMÁTICA

2º membro. Para fazer isso, basta colocá-lo no 1º mem-


bro com o sinal trocado:
5x − 2x = 8 + 4

30
FIQUE ATENTO!
EXERCÍCIOS COMENTADOS
O método de resolução das inequações de
primeiro grau é o mesmo do método de
1. Calcule: equações.

a) −3x – 5 = 25
PROPRIEDADES DA DESIGUALDADE
1
b) 2x −
2
=3 a) Propriedade Aditiva:

Resposta: Mesmo sentido

a) −3x – 5 = 25
⟹ −3x − 5 + 5 = 25 + 5 Exemplo: Se 8 > 3, então 8 + 2 > 3 + 2, isto é: 10 > 5
⟹ −3x = 30
Somamos +2 aos dois membros da desigualdade
−3x 30
⟹ = ⟹ x = −10
−3 −3
b) Propriedade Multiplicativa:
b) 1
2x – = 3
2 Mesmo sentido
1 1 1
⟹ 2x − + = 3 +
2 2 2
Exemplo: Se 8 > 3, então 8∙ 2 > 3 ∙ 2, isto é: 16 > 6.
7 2x 7
⟹ 2x = ⟹ =
2 2 4
7
⟹x= Multiplicamos os dois membros por 2
4

2. Encontre o valor de x que satisfaz a equação Mudou de sentido

3x + 24 = −5x
Exemplo: Se 8 > 3, então 8 ∙ (–2) < 3 ∙ (–2), isto é: –16
Resposta: < –6

3x + 24 = −5x
⟹ 3x + 5x + 24 = 0 − 5x + 5x Multiplicamos os dois membros por –2
⟹ 8x = −24
⟹ x = −3
FIQUE ATENTO!
Uma desigualdade não muda de sentido
INEQUAÇÃO DO 1˚ GRAU quando adicionamos ou subtraímos um
mesmo número aos seus dois membros, nem
Inequação é toda sentença aberta expressa por uma quando multiplicamos ou dividimos seus dois
desigualdade. Ao invés do sinal de igualdade ( = ) rela- membros por um mesmo número positivo ou
negativo.
cionando duas expressões matemáticas, teremos os si-
nais de maior ( > ), menor ( < ), maior ou igual ( ≥ ) ou
menor ou igual ( ≤ ). Abaixo seguem alguns exemplos: Conjunto Universo
x+1>0
2x-3≤5 Toda inequação (assim como toda equação) deve ser
-3x+7<2x+3 resolvida em um conjunto universo dado. O conjunto
x-2≤4x-1 universo () corresponde ao conjunto de todos os valores
possíveis para a varíavel (ou outra incógnita).
As inequações acima são do primeiro grau pois o ex-
MATEMÁTICA

poente da variável x é igual a 1. Vejamos, através do exemplo, a resolução de inequa-


ções do 1º grau.

a) x < 5, sendo U = ℕ

31
Os números naturais que tornam a desigualdade ver- Colocando na solução tradicional:
dadeira são: 0, 1, 2, 3 ou 4. Então V = {0, 1, 2, 3, 4}.
S = x∈ ℝ ⁄ x ≤ 4
b) x < 5, sendo U = ℤ
Já a solução em colchetes fica:
Todo número inteiro menor que 5 satisfaz a desigual-
dade. Logo, V = {..., –2, –1, 0, 1, 2, 3, 4}. S = −∞, 4
Ou seja, neste caso, o colchete é fechado no lado do
c) x < 5, sendo U = ℚ número 4 pois ele é o limite superior (todos os valores
da solução devem ser maiores ou iguais a ele) e neste
Todo número racional menor que 5 é solução da ine- caso, ele também é solução (devido a ser maior ou igual
quação dada. Como não é possível representar os infi- e não somente maior), já o limite inferior vai para menos
nitos números racionais menores que 5 nomeando seus infinito e permanece com colchete aberto.
elementos, nós o faremos por meio da propriedade que
caracteriza seus elementos. Assim:

V = {X ∈ Q|x<5 } EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. Quais os valores de x que tornam a inequação -2x +4


Resolução de inequações do 1º grau > 0 verdadeira?

Como mencionado, a resolução de inequações ocorre Resposta: -2x > -4


de forma similar à de equações. A diferença está na re- -2x > -4 ×(-1)
presentação do conjunto solução. Para mostrarmos essa 2x < 4
x< 2
diferença, vamos resolver os dois primeiros exemplos
apresentados sem U = ℝ
O número 2 não é a solução da inequação dada, mais
sim qualquer valor menor que 2.
x+1>0
2. Quais os valores de x que tornam a inequação -10x
Passando o +1 para o lado direito: x>-1 +15 > 0 verdadeira?
Ou seja, o conjunto solução desta inequação serão to- Resposta: -10x > -15
dos os valores de x pertencente ao domínio (neste caso, -10x > -15 ×(-1)
vamos utilizar todo o conjunto dos números reais) maio- 10x < 15
res que -1, assim a solução fica: S = x ∈ ℝ ⁄ x > −1 x<3/2

Uma outra maneira é a representação entre colchetes,


que fica da seguinte forma: S = −1, +∞
Vamos explicar essa representação. A representação FUNÇÃO AFIM, QUADRÁTICA,
dos colchetes para fora indica que o número de dentro EXPONENCIAL E LOGARÍTMICA
não pertence a solução e também representa quando há
a presença do infinito (seja “mais” ou “menos” infinito).
Assim, -1 não está na solução mas é o limite inferior da Função Afim
mesma.
Resolvendo agora o segundo exemplo, temos que: Conceito

Uma função f:R→R chama-se afim quando existe


2x − 3 ≤ 5 constantes a,b∈R tais que f(x)=ax+b para todo x∈R.
Note que os valores numéricos mudam conforme
2x ≤ 5 + 3 o valor de x é alterado, sendo assim obtemos diversos
pares ordenados, constituídos da seguinte maneira: (x,
f(x)). Veja que para cada coordenada x, iremos obter uma
2x ≤ 8 coordenada f(x). Isso auxilia na construção de gráficos
das funções.
8 Portanto, para que o estudo das funções afim seja
x≤ realizado com sucesso, compreenda bem a construção
MATEMÁTICA

2
de um gráfico e a manipulação algébrica das incógnitas
x≤4 e dos coeficientes.

32
Estudo dos Sinais Considerações
Concavidade
Definimos função como relação entre duas grande- A concavidade da parábola é para cima se a>0 e para
zas representadas por x e y. No caso de uma função do baixo se a<0
1º grau, sua lei de formação possui a seguinte caracte-
rística: y = ax + b ou f(x) = ax + b, onde os coeficientes a
e b pertencem aos reais e diferem de zero. Esse modelo
de função possui como representação gráfica a figura
de uma reta, portanto, as relações entre os valores do
domínio e da imagem crescem ou decrescem de acordo
com o valor do coeficiente a. Se o coeficiente possui si-
nal positivo, a função é crescente, e caso ele tenha sinal
negativo, a função é decrescente.

1º Caso:a>0 Relação do ∆= ! ! − 4!" !na função

Quando ∆> 0!, a parábola y=ax²+bx+c intercepta o


eixo x em dois pontos distintos, (x1,0) e (x2,0), onde x1 e x2
são raízes da equação ax²+bx+c=0

Quando ∆= 0!, a parábola y=ax²+bx+c é tangente


ao eixo x, no ponto – ! , 0 .!
2!
Repare que, quando tivermos o discriminante , as
Para valores de x, x>-b/a, a função é positiva, ou duas raízes da equação ax²+bx+c=0 são iguais a − ! ! .
seja, tem o mesmo sinal de a 2!
Para x< -b/a, a função é negativa, ou seja, tem sinal Raízes
contrário ao de a.

2ºCaso: a <0 −! ± !! − !"#


!=
!"

−! + !! − !"#
!! =
!"

−! − !! − !"#
!! =
!"
!
Se, a parábola y=ax²+bx+c não intercepta o eixo.

Vértices e Estudo do Sinal


Quando a > 0, a parábola tem concavidade voltada
Para valores de x, x>-b/a, a função é negativa, ou para cima e um ponto de mínimo V; quando a < 0, a pa-
seja, tem o mesmo sinal de a rábola tem concavidade voltada para baixo e um ponto
Para valores de x, x<-b/a, a função é positiva, ou de máximo V.
seja, tem sinal contrário de a.
Em qualquer caso, as coordenadas de V são 
Função Quadrática . Veja os gráficos:

Em geral, uma função quadrática ou polinomial do


segundo grau tem a seguinte forma:
f(x)=ax²+bx+c, onde a≠0
É essencial que apareça ax² para ser uma função qua-
MATEMÁTICA

drática e deve ser o maior termo.

33
2ª quando a < 0,

a<0

Exemplo

Vamos construir o gráfico da função y = x2 + x:


Primeiro atribuímos a x alguns valores, depois calcu-
lamos o valor correspondente de y e, em seguida, liga-
mos os pontos assim obtidos.

x Y
Imagem
O conjunto-imagem Im da função y = ax2 + bx + c,  a  -3 6
0, é o conjunto dos valores que y pode assumir. Há -2 2
duas possibilidades: -1 0
1ª - quando a > 0, -1/2 -1/4
0 0
1 2
2 6

a>0
MATEMÁTICA

34
Função Exponencial

A função exponencial, como o nome mostra, é uma função onde a variável independente é um expoente: f(x)=a^

FIQUE ATENTO!
Com “a” sendo um número real. Possui dois tipos básicos, quando a>1 (crescente) e 0<a<1 (decrescente).

As figuras a seguir apresentam seus respectivos gráficos:

É importante ressaltar que o gráfico da função exponencial (na forma que foi apresentado) não toca o eixo x, pois
a função f(x)=a^x com a>0 é sempre positiva.

Equações exponenciais

As equações exponenciais são funções exponenciais relacionadas a números ou expressões. O princípio fundamen-
tal para a resolução das mesmas é lembrar que dois expoentes serão iguais se as respectivas bases também forem
iguais, sigam os exemplos abaixo:

Exemplo: Resolva 3x=27


Resolução: Seguindo o princípio que bases iguais terão expoentes iguais, temos que lembrar que 27=33 , assim:
3x=33
x=3
S={3}

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (ENEM 2016) Admita que um tipo de eucalipto tenha expectativa de crescimento exponencial, nos primeiros anos
após seu plantio, modelado pela função , na qual y representa a altura da planta em metro, t é considerado em ano, e
a é uma constante maior que 1. O gráfico representa a função y. MATEMÁTICA

35
Admita ainda que y(0) fornece a altura da muda quando
plantada, e deseja-se cortar os eucaliptos quando as mu- #FicaDica
das crescerem 7,5 m após o plantio.
Quando um logaritmo aparecer escrito sem
O tempo entre a plantação e o corte, em ano, é igual a a base (log a) subentende-se que a sua base
é igual a .
a) 3.
b) 4. PROPRIEDADES DOS LOGARITMOS
c) 6.
d) log27. Em todas as propriedades abaixo, considera-se que
e) log215 as condições de existência estão atendidas.

Resposta: Letra b. a) Logaritmo do produto: o logaritmo de um produto


de dois números é igual à soma dos logaritmos
Se t=0: 
y(0)=a^0-1)=0,5. logb a � c = log b a + logb c
1a=12
Logo,a=2.
Então, a função é y(t)=2(t-1). b) Logaritmo do quociente: o logaritmo de um quo-
Como cresceu 7,5m, o eucalipto chegou a 8 m. Deste ciente de dois números é igual à diferença dos lo-
modo, faz-se: garitmos
y(t)=8=2(t-1)
2^3=2(t-1) a
Portanto, t = 4 anos. logb = logb a − logb c
c
Função Logarítmica c) Logaritmo da potência: o logaritmo de uma potên-
cia é igual ao produto do expoente dessa potência
DEFINIÇÃO DE LOGARITMO e do logaritmo:

A definição de logaritmo está diretamente ligada à logb ac = c � logb a


potenciação. Sejam dois números reais e positivos e tais
que a e b e que a>0 e b>0 e b≠1, o logaritmo de a na d) Logaritmo cuja base está elevada a uma potência:
base b é dado por: o logaritmo cuja base está elevada a uma potência
é igual ao produto do inverso do expoente da base
logb a = x ⇔ b x = a e do logaritmo:

onde a é o logaritmando, b é a base e x é o logaritmo. 1


As condições para a e b são as condições de existência
log b c a = log a
c b
de um logaritmo.
e) Mudança de base: para mudar a base de um loga-
Exemplo: ritmo na base para um logaritmo na base :
Calcule: log23
log28=x→2x=8→2x=23→x=3 logc a
Assim, log28=3 logb a =
logc b
CONSEQUÊNCIAS DA DEFINIÇÃO
Exemplo: log3(9.27)=log39 +log327=log332 +log333
A definição de logaritmo traz consequências diretas que =2∙log_33+3∙log33=2+3=5
podem (e devem) ser usadas sempre que possível na reso-
lução de exercícios que envolvem logaritmos. São elas: Exemplo:
a) logb1=0 (O logaritmo de 1 em qualquer base é
sempre zero) 1 3 3
log 4 8 = log 22 23 = log 23 = log 2 2 =
b) logbb=1 (Quando base e logaritmando são iguais o 2 2 2 2
logaritmo é unitário)
c) logba=log_bc→a=c (Se dois logaritmos de mesma FUNÇÃO LOGARÍTMICA
base são iguais então os logaritmandos são iguais)
d) blog_ba =a (Uma potência de base elevada a um As funções logarítmicas têm como base o operador
MATEMÁTICA

logaritmo de também na base resulta em ) matemático log: f(x)=loga x , com a>0,a≠1 e x>0

36
#FicaDica
Observe que há restrições importantes para os valores de (logaritmando) e (base) e será essas restrições
que poderá determinar o conjunto solução das equações logarítmicas.

O gráfico da função logarítmica terá dois formatos, baseado nos possíveis valores de a. Será crescente quando a>1
e decrescente quando 0<a<1:

EQUAÇÕES LOGARÍTMICAS

As equações logarítmicas adotarão um princípio semelhante as equações exponenciais. Para se achar o mesmo
logaritmando, dois logaritmos deverão ter a mesma base ou vice-versa. Ressalta-se apenas que as condições de exis-
tência de um logaritmo devem ser respeitadas. Veja o exemplo:

Ex:
Resolva log_2x-2=4
Primeiramente, será importante transformar o número 4 em um log. Como a base do log que contém x é dois, va-
mos transformar 4 em um log na base 2 da seguinte forma: log_216=4

Igualando isso a equação:


log_2x-2=log_216
x-2=16
x=18

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (ENEM 2016) Em 2011, um terremoto de magnitude 9,0 na escala Richter causou um devastador tsunami no Japão,
provocando um alerta na usina nuclear de Fukushima. Em 2013, outro terremoto, de magnitude 7,0 na mesma escala,
sacudiu Sichuan (sudoeste da China), deixando centenas de mortos e milhares de feridos. A magnitude de um terre-
moto na escala Richter pode ser calculada por 𝑀 = 2 log 𝐸 sendo E a energia, em kWh, liberada pelo terremoto e
3 𝐸0
E 0 uma constante real positiva. Considere que E1 e E2 representam as energias liberadas nos terremotos ocorridos no
Japão e na China, respectivamente.

Qual a relação entre E1 e E2?

a) E1 = E2 + 2
b) E1 = 102∙E2
c) E1 = 103∙E2
d) E1 = 10(9/7)∙E2
MATEMÁTICA

e) E = 9 � E
1 2
7

37
Resposta: Letra c. c) S={4,4,4,4,4…} : Além disso, podemos ter uma se-
quência de valores constantes, nesse caso, é como
E1 se estivéssemos somando 0 ao termos. Assim, se ,
9 = ⅔. log
E0 classificaremos com PA constante.
Temos que:
27 E1 1. Termo Geral
2
= log E0
Dado esta lógica de formação das progressões arit-
Além disso, méticas, pode-se definir o que chamamos de “expressão
do termo geral”. Trata-se de uma fórmula matemática
7 = ⅔. log E2
E que relaciona dois termos de uma PA com a razão r:
0
an = ap + n − p � r , com n ∈ ℕ∗
E2
21⁄2 = log
E0 Onde an e ap são termos quaisquer da PA. Essa ex-
pressão geral pode ser utilizada de 2 formas:
Subtraindo (1)de (2),tem-se: a) Sabemos um termo e a razão e queremos encon-
E1 E1 trar outro termo.
3 = log então, = 10³ Ex: O primeiro termo da PA igual a 7 e a razão é 3,
E2 E2
qual é o quinto termo?
Logo , a relação é: E1 = 10³.E2 Temos então a1 = 7 e r = 3 e queremos achar a5.
Substituindo na fórmula do termo geral, temos que p =
2. (FUNDEP 2014) O conjunto solução da equação log 1 e n = 5. Assim:
(4x+2)=log(3x+3) é: an = ap + n − p � r
a5 = a1 + 5 − 1 � r
a) S={1} a5 = 7 + 4 � 3
b) S={2} a5 = 19
c) S={3}
d) S={4}
Ou seja, o quinto termo desta PA é 19.
Resposta: Letra A. Como as bases são iguais, os loga-
ritmandos devem ser iguais. Portanto, pode-se escre- b) Sabemos dois termos quaisquer e queremos obter
ver: 4x+2=3x+3→4x-3x=3-2→x=1 a razão da PA.
Ex: O terceiro termo da PA é 2 e o sexto é -1, qual será
a razão da PA?
Temos então a3 = 2 e a6 = −1 e queremos achar r.
PROGRESSÕES ARITMÉTICAS E Substituindo na fórmula do termo geral, temos que p =
GEOMÉTRICAS. 3 e n = 6. Assim:

PROGRESSÃO ARITMÉTICA
an = ap + n − p � r
Definição a6 = a3 + 6 − 3 � r
As progressões aritméticas, conhecidas com “PA”, são
sequências de números, que seguem um determinado −1 = 2 + 3 � r
padrão. Este padrão caracteriza-se pelo termo seguinte 3r = −3
da sequência ser o termo anterior adicionado de um va- r = −1
lor fixo, que chamaremos de constante da PA, represen-
tado pela letra “r”.
Os exemplos a seguir ilustrarão a definição acima: Ou seja, a razão desta PA é -1.
a) S={1,2,3,4,5…} : Esta seqüência é caracterizada por
sempre somar o valor 1 no termo seguinte, ou seja, 2. Soma dos termos
trata-se de uma PA com razão . Se , classificaremos
com PA crescente. Outro ponto importante de uma progressão arit-
b) S={13,11,9,7,5…} : Também podemos ter sequên- mética é a soma dos termos. Considerando uma PA
cias onde ao invés de somar, estaremos subtraindo que queremos saber a soma dos 5 primeiros termos:
S={2,4,6,8,10…}. Como são poucos termos e sabemos to-
MATEMÁTICA

um valor fixo. Neste exemplo, o termo seguinte é o


termo anterior subtraído 2, assim, trata-se de uma dos eles, podemos simplesmente somá-los: 2+4+6+8+10
PA com razão . Se , classificaremos com PA decres- = 30. Agora, considere que você saiba apenas o primei-
cente. ro e o quinto termo, ou seja: a1 = 2 e a5 = 10 e .
Como você calcularia a soma dos 5 termos?

38
O jeito que você aprendeu até agora seria obter os Nota-se que sempre que dois termos são equidis-
outros termos e a razão a partir da expressão do termo tantes dos extremos, a soma dos seus índices é igual ao
geral, porém você teria que fazer muitas contas para che- valor de n + 1. Assim sendo, podemos generalizar que,
gar ao resultado, gastando tempo. Como a PA segue um se os termos e são equidistantes dos extremos, então:
padrão, foi possível deduzir uma expressão que dependa
apenas do primeiro termo e do último: p + k = n+1

a1 + an � n
Sn = FIQUE ATENTO!
2
Com as considerações anteriores, temos que
numa PA com termos, a soma de dois ter-
Assim, com , a1 = 2, a5 = 10 e n = 5 , podemos
mos equidistantes dos extremos é constante
calcular a soma: e igual a soma do primeiro termo com o úl-
timo termo.
2 + 10 � 5 12 � 5 60
Sn = = = = 30 a e ak termos equi-
2 2 2 Ex: Sejam, numa PA de termos, p
distantes dos extremos, teremos, então:
Ou seja, não precisamos saber nem a razão da PA
para acharmos a soma. ap = a1 + (p – 1) � r ⇒ ap = a1 + p � r – r
ak = a1 + (k – 1) � r ⇒ ak = a1 + k � r – r
3. Propriedades
As progressões aritméticas possuem algumas pro-
priedades interessantes que podem ser exploradas em Somando as expressões:
provas de concursos:
P1: Para três termos consecutivos de uma PA, o termo
ap + ak = a1 + p � r – r + a1 + k � r – r
médio é a média aritmética dos outros dois termos. Essa ap + ak = a1 + a1 + (p + k – 1 – 1) � r
propriedade é fácil de verificar com o exemplo: Vamos
considerar três termos consecutivos de uma PA sendo
Considerando que p + k = n + 1 , ficamos com:
an−1, an e an+1 .Podemos afirmar a partir da fórmula
do termo geral que: ap + ak = a1 + a1 + (n + 1 – 1) � r
an = an−1 + r ap + ak = a1 + a1 + (n – 1) � r
an = an+1 – r ap + ak = a1 + an
Somando as duas expressões:

2an = an−1 + r + an +1 − r
EXERCÍCIOS COMENTADOS
2an = an−1 + an + 1
1. Em relação à progressão aritmética (10, 17, 24, …), de-
O que leva a: termine:

a) o termo geral dessa PA;


an−1 + an + 1 b) o seu 15° termo;
an =
2
Resposta:
P2: Termos equidistantes dos Extremos. Numa se-
quência finita, dizemos que dois termos são equidistan- a) Para encontrar o termo geral da progressão aritmé-
tes dos extremos se a quantidade de termos que prece- tica, devemos, primeiramente, determinar a razão r:
derem o primeiro deles for igual à quantidade de termos r = a2 – a1
que sucederem ao outro termo. Assim, na sucessão: r = 17 – 10
r=7
(a1 , a2 , a3, a4 , . . . , ap , . . . , ak , . . . , an 3 , an 2 , an 1 , an ),
− − −
A razão é 7, e o primeiro termo da progressão (a1) é 10.
Temos: Através da fórmula do termo geral da PA, temos:
MATEMÁTICA

an = a1 + (n – 1). r


a2 e an 1 são termos equidistantes dos extremos; an = 10 + (n – 1). 7

a3 e an 2 são termos equidistantes dos extremos;
− Portanto, o termo geral da progressão é dado por an =
a4 e an 3 são termos equidistantes dos extremos. 10 + (n – 1). 7.

39
b)  Como já encontramos a fórmula do termo geral, d) S={1,-4,16,-64,256…}: Esta sequência mostra alter-
vamos utilizá-la para encontrar o 15° termo. Tendo em nância de sinal entre os termos. A razão neste caso
vista que n = 15, temos então: é q=-4 e quando isto ocorre, definimos como PG
an = 10 + (n – 1). 7 alternada. (caracterizada por q < 0 ).
a15 = 10 + (15 – 1). 7
a15 = 10 + 14 . 7 e) S={5,5,5,5,5,5,…}: Esta sequência possui termos
a15 = 10 + 98 constantes e é caracterizada por ter uma razão
a15 = 108 q=1. Neste caso, é definido o que chamamos de
PG constante.
O 15° termo da progressão é 108.

2. (CONED-2016) Em uma PA com 12 termos, a soma FIQUE ATENTO!


dos três primeiros é 12 e a soma dos dois últimos é 65. A
razão dessa PA é um número: Atenção as definições de PG decrescente e
PG alternada, muitos alunos se confundem e
a) Múltiplo de 5 dizem que PG decrescente ocorre quando ,
b) Primo em uma analogia a PA.
c) Com 3 divisores positivos
d) Igual a média geométrica entre 9 e 4
e) Igual a 4! 2. Termo Geral

Resposta: Letra B. Dado esta lógica de formação das progressões geo-


Aplicando a fórmula do termo geral nas duas conside- métricas, podemos também definir a “expressão do ter-
rações do enunciado, chega-se a razão igual a 3, que mo geral”. Trata-se de uma fórmula matemática que rela-
é um número primo ciona dois termos de uma PG com a razão q:

an = ap � qn−p , n ∈ ℕ∗ , q ∈ ℝ
PROGRESSÃO GEOMÉTRICA (PG)

1. Definição Onde an e ap são termos quaisquer da PG. Essa ex-


pressão geral pode ser utilizada de 2 formas:
As progressões geométricas, conhecidas com “PG”,
são sequências de números, como as PA, mas seu padrão a) Sabemos um termo e a razão e queremos encon-
está relacionado com a operação de multiplicação e di- trar outro termo. Exemplo: O primeiro termo da PG
visão. Ou seja, o termo seguinte de uma PG é composto igual a 5 e a razão é 2, qual é o quarto termo?
pelo termo anterior multiplicado por uma razão cons-
tante, que será chamada de “q”. Resolução: Temos então a1 = 5 e q = 2 e quere-
Os exemplos a seguir ilustrarão melhor essas definições: mos achar a4 . Substituindo na fórmula do termo geral,
a) S={2,4,8,16,32…}: Esta sequência é caracterizada temos que p = 1 e n = 4. Assim:
por sempre multiplicar o termo anterior por uma
razão constante, q = 2. Como os termos subse- an = ap � qn−p
qüentes são maiores, temos uma PG crescente (ca-
a4 = a1 � q4−1
racterizada por q > 0 )
a4 = 5 � 23
1 1 1
S = {9,3,1, , , … }: Esta sequência é ca- a4 = 5 � 8 = 40
b) 3 9 27
racterizada por sempre multiplicar o termo an-
Ou seja, o quarto termo desta PG é 40.
terior por uma razão constante , ou
1
q =
3 b) Sabemos dois termos quaisquer e queremos obter
a razão da PG. Exemplo: O segundo termo da PG é
seja, estar sendo dividida sempre por 3. Assim, 3 e o quarto é 1/3, qual será a razão da PG, saben-
como os termos subsequentes são menores, te- do que q < 0 ?
mos uma PG decrescente (caracterizada por
1
Resolução: Temos então a2 = 3 e a4 = e que-
a1 > 0 e 0 < q < 1 ). 3
remos achar q. Substituindo na fórmula do termo geral,
temos que p = 2 e n = 4. Assim:
MATEMÁTICA

c) S={-1,-2,-4,-8 ,-16,…}: Esta sequência é caracteri-


zada por sempre multiplicar o termo anterior por
uma constante q=-2. Assim, como os termos sub-
sequentes são menores, temos outro caso de PG
decrescente (caracterizada por a1 < 0 e q > 1 ).

40
4. Soma da PG infinita
an = ap � qn−p
Além da soma dos “n” primeiros termos, as progres-
a4 = a2 � q4−2
sões geométricas possuem uma particularidade. Para PG
1 com , ou seja, para PG decrescentes ou alternadas, pode-
= 3 � q2 mos definir a “soma da PG infinita”. Em outras palavras,
3 se tivermos uma PG com infinitos termos com q < 1
1 , podemos obter a somar todos eles e obter um valor
q2 = finito. A fórmula da PG infinita é apresentada a seguir:
9
a1
S∞ =
1−q

Como q < 0 , temos que a razão dessa PG é -1/3. #FicaDica


3. Soma finita dos termos A fórmula é bem simples e como na fórmula
da soma dos “n” primeiros termos, temos
Seguindo o mesmo princípio da PA, temos na PG a dependência apenas do primeiro termo e
somatória dos “n” primeiros termos também. Uma fór- da razão.
mula foi deduzida e está apresentada a seguir:

a1 � qn − 1 Exemplo: Calcule a soma infinita da seguinte PG:


Sn =
q−1
1 1 1 1 1
S = {1, , , , , ,…�
O ponto interessante desta fórmula é que ela depen- 2 4 8 16 32
de apenas da razão e do primeiro termo, sem a necessi-
dade de obter o termo . Caso você tenha qualquer outro
Resolução: Como se trata de uma PG decrescen-
termo e a razão q, você obtém primeiramente o primeiro
termo com a fórmula do termo geral e depois obtém a te com a1 = 1 e q =
1
2
, ela atende aos requisitos da
soma. O exemplo a seguir ilustra isso: soma infinita: Substituindo na fórmula:
Exemplo: Calcule a soma dos quatro primeiros temos
de uma PG, com q = 3 e a2 = 12
a1
Resolução: Para aplicar a fórmula da soma, é necessá- S∞ =
1−q
rio obter o primeiro termo da PG. Usando o termo geral
(com n=2 e p=1):
1
n−p S∞ =
an = ap � q 1
1−2
a2 = a1 � q2−1
12 = a1 � 31 1
a1 = 4 S∞ = =2
1
a qn − 1 2
Com o primeiro Stermo
n = obtido, podemos encontrar a
1
somatória (com n=4): q−1
Ou seja, a soma dos termos desta PG infinita vale 2.
a1 q4 − 1
S4 =
q−1
EXERCÍCIOS COMENTADOS
4 34 − 1 1. (FUNAI – CONHECIMENTOS GERAIS –
S4 =
3−1 ESAF/2016) O limite da série infinita S de razão 1/3,
1 1 é:
S = 9 + 3 + 1 + + + ⋯)
MATEMÁTICA

4 � 343 − 1 3 9
S4 = = 2 � 342 = 684
2
a) 13,444...
Assim, a soma dos primeiros quatro termos desta PG b) 13,5
é igual a 684. c) 13,666...

41
d) 13,6 Finalmente, multiplicamos os números:
e) 14

Resposta: Letra B. a1
Aplicando a fórmula da PG infinita S∞ = , che-
1−q
ga-se na resposta.
Assim, João tem 180 possibilidades diferentes de se
2. Determine o valor do sexto termo da seguinte pro- montar um prato.
gressão geométrica (1, 2, 4, 8, ...).
2.Fatorial
Resposta: a6 = 32
Nota-se que a razão da progressão geométrica é igual Antes de definirmos casos particulares de contagem,
a 2. Então, tem-se que: iremos definir uma operação matemática que será utili-
zada nas próximas seções, o fatorial. Define-se o sinal de
an = ap � qn−p fatorial pelo ponto de exclamação, ou seja “ ! “. Assim,
a6 = a1 � q6−1 quando encontrarmos 2! Significa que estaremos calcu-
lando o “fatorial de 2” ou “2 fatorial”. A definição de fato-
a6 = 1 � 25 = 32
rial está apresentada a seguir:

n! = n ∙ n − 1 ∙ n − 2 ∙ n − 3 … 3 ∙ 2 ∙ 1

ANÁLISE COMBINATÓRIA
Ou seja, o fatorial de um número é caracterizado pelo
produto deste número e seus antecessores, até se chegar
CONTAGEM E ANÁLISE COMBINATÓRIA no número 1. Vejam os exemplos abaixo:

1. Princípio fundamental da Contagem 3! = 3 ∙ 2 ∙ 1 = 6

O princípio fundamental da contagem permite quan- 5! = 5 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1 = 120


tificar situações ou casos de uma determinada situação
ou evento. Em outras palavras, é uma maneira sistemáti- Assim, basta ir multiplicando os números até se che-
ca de “contar” a quantidade de “coisas”. gar ao número 1. Observe que os fatoriais aumentam
A base deste princípio se dá pela separação de ca- muito rápido, veja quanto é 10!:
sos e quantificação dos mesmos. Após isso, uma mul-
tiplicação de todos estes números é feita para achar a 10! = 10 ∙ 9 ∙ 8 ∙ 7 ∙ 6 ∙ 5 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1 = 3628800
quantidade total de possibilidades. O exemplo a seguir
irá ilustrar isso. Já estamos na casa dos milhões! Para não trabalhar-
mos com valores tão altos, as operações com fatoriais
Exemplo: João foi almoçar em um restaurante no cen- são normalmente feitas por último, procurando fazer o
tro da cidade, ao chegar no local, percebeu que oferecem maior número de simplificações possíveis. Observe este
3 tipos de saladas, 2 tipos de carne, 6 bebidas diferentes exemplo:
e 5 sobremesas diferentes. De quantas maneiras distin-
10!
tas ele pode fazer um pedido, pegando apenas 1 tipo de Calcule 7!
cada alimento?
Resolução: O princípio da contagem depende forte- Resolução: Ao invés de calcular os valores de 7! e 10!
mente de uma organização do problema. A sugestão é separadamente e depois fazer a divisão, o que levaria
sempre organizar cada caso em traços e preenchendo a muito tempo, nós simplificamos os fatoriais primeiro.
quantidade de possibilidades. Como temos 4 casos dis- Pela definição de fatorial, temos o seguinte:
tintos (salada, carne, bebida e sobremesa), iremos fazer
4 traços: 10! 10 ∙ 9 ∙ 8 ∙ 7 ∙ 6 ∙ 5 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1
=
7! 7 ∙6 ∙ 5 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1

Observe que o denominador pode ser inteiramente


cancelado, pois 10! Possui todos os termos de 7!. Essa
Agora, preencheremos a quantidade de possibilida- é uma particularidade interessante e facilitará demais a
des de cada caso: simplificação. Se cancelarmos, restará apenas um produ-
to de 3 termos:
MATEMÁTICA

10! 10 ∙ 9 ∙ 8 ∙ 7 ∙ 6 ∙ 5 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1
= = 10 ∙ 9 ∙ 8 = 720
7! 7 ∙6 ∙ 5 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1

42
Essa operação é muito mais fácil que calcular os fato-
riais desde o começo! P5 = 5! = 120
Agora que sabemos o que é fatorial e como simplifi-
cá-lo, podemos passar para os casos particulares de con- Logo, podemos formar 120 anagramas com a pala-
tagem: Permutações, Combinações e Arranjos. vra BRUNO. Agora, vamos olhar a palavra MARIANA. Ela
possui 7 letras, logo teremos 7 posições:
3. Permutações

As permutações são definidas como situações onde


o número de elementos é igual ao número de posições
que podemos colocá-los. Considere o exemplo onde te-
mos 5 pessoas e 5 cadeiras alinhadas. Queremos saber
de quantas maneiras diferentes podemos posicionar es-
sas pessoas. Esquematizando o problema, chamando de Entretanto, temos a repetição da letra A. Veja o que acon-
P as pessoas e C as cadeiras: tece quando montarmos um anagrama qualquer da palavra:

Não conseguimos saber qual letra “A” foi utilizada nas


posições C1,C3 e C5. Se trocarmos as mesmas de posição
entre si, ficaremos com os mesmos anagramas, caracte-
rizando uma repetição. Assim, para saber a quantidade
Em problemas onde o número de elementos é igual de anagramas com repetição, corrigiremos a fórmula da
permutação da seguinte forma:
ao número de posições, teremos uma permutação. A fór-
mula da permutação, considerando que não há repetição n!
de elementos é a seguinte: Pna =
a!
Pn = n!
Ou seja, calcula-se a permutação de “n” elementos
com “a” repetições. Considerando que MARIANA tem 7
Ou seja, para permutar 5 elementos em 5 posições,
letras (n=7) e a letra “A” se repete 3 vezes, temos que:
basta eu calcular o fatorial de 5:
P5 = 5! = 120 7! 7 ∙6 ∙ 5 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1
P73 = = = 7 ∙ 6 ∙ 5 ∙ 4 = 840
3! 3∙2∙1
Logo, eu posso posicionar as pessoas de 120 manei- Assim, a palavra MARIANA tem 840 anagramas possíveis.
ras diferentes na fileira de cadeiras. Outro exemplo para deixar este conceito bem claro,
Observe que a fórmula da permutação é utilizada é quando temos dois elementos se repetindo. Por exem-
como não há repetição de elementos, mas e quando plo, calcule os anagramas da palavra TALITA:
ocorre repetição? Neste caso, a fórmula da permutação
terá uma complementação, para desconsiderar casos re-
petidos que serão contados 2 ou mais vezes se utilizar-
mos a fórmula diretamente.
O exemplo mais comum destes casos é o que chama-
mos de Anagrama. Os anagramas são permutações das
letras de uma palavra, formando novas palavras, sem a
necessidade de terem sentido ou não. Usando primeira-
mente um exemplo sem repetição, conte quantos ana- Observe que a letra “T” repete 2 vezes e a letra “A”
gramas podemos formar com o nome BRUNO. também repete duas vezes. Na fórmula da permutação
com repetição, faremos duas divisões:
Montando a esquematização:
n!
Pna,b =
a! b!

Ou seja, se houver 2 ou mais elementos se repetindo,


a correção é feita, dividindo pelas repetições de cada um.
Como ambos repetem duas vezes:
MATEMÁTICA

6! 6 ∙ 5 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1 6 ∙ 5 ∙ 4 ∙ 3 360
P62,2 = = = = = 180
Ou seja, temos que posicionar as letras nas 5 casas 2! 2! 2∙1 ∙ 2∙1 2∙1 2
correspondentes e neste caso, é um problema de permu-
tação sem repetição: Assim, a palavra TALITA tem 180 anagramas.

43
4. Combinações

As combinações e os arranjos, que serão apresentados a seguir, possuem uma característica diferente da permu-
tação. A diferença está no fato do número de posições ser MENOR que o número de elementos, ou seja, quando os
elementos forem agrupados, sobrarão alguns. Veja este exemplo: De quantas maneiras podemos formar uma comissão
de 3 membros, dentro os 7 funcionários de uma empresa?

Resolução: Este exemplo mostrará também como diferenciar combinação de arranjo. Logo de início, podemos ver
que não se trata de um problema de permutação, pois temos 3 posições para 7 elementos. Para diferenciar combinação
e arranjo, temos que verificar se a ordem de escolha dos elementos importa ou não. Neste caso, a ordem não importa,
pois estamos escolhendo 3 pessoas e não importa a ordem que escolhemos elas pois a comissão será a mesma. Ob-
serve a esquematização:

As pessoas foram chamadas pelas letras de A até G. Vamos supor que escolheremos as pessoas A,D e G mas em
ordens diferentes:

É importante notar que as comissões ADG e GAD não possuem diferenças, já que as casas C1,C2 e C3 não possuem
nenhuma particularidade descrita no enunciado. Assim, trata-se de um problema de combinação. A fórmula da combi-
nação depende do número de elementos “n” e o número de posições “p”:

n!
Cn,p =
p! (n − p)!

No exemplo, temos 7 elementos e 3 posições, assim:

n! 7! 7! 7∙6∙5∙4∙3∙2∙1 7∙6∙5
Cn,p = = = = = = 7 ∙ 5 = 35
p! (n − p)! 4! 7 − 4 ! 4! .3! 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1 3 ∙ 2 ∙ 1

Ou seja, podemos formar 35 comissões distintas.

5. Arranjos
MATEMÁTICA

Os arranjos seguem a mesma linha da combinação, onde o número de elementos deve ser maior que o número de
posições possíveis, mas com a diferença que a ordem de escolha dos elementos deve ser considerada. Vamos utilizar o
mesmo exemplo descrito na combinação, mas com algumas diferenças:
De quantas maneiras podemos formar uma comissão de 3 membros, composta por um presidente, um vice-presi-
dente e um secretário, dentro os 7 funcionários de uma empresa?

44
Observe que agora o enunciado classifica explicita- Resposta: Letra B.
mente as posições, e podemos montar o esquema da Deve-se contar todos os números anteriores a ele. Ini-
seguinte forma: ciando com 1_ _ _ _, temos 4! = 24 números; iniciando
com 2 _ _ _ _ temos outros 24 números, assim como
iniciando com 3_ _ _ _. Depois temos os números ini-
ciados com “71_ _ _” que são 6 (3!), assim como os
iniciados em “72_ _ _” e “73_ _ _”. Depois aparece o
iniciado com “781_ _” que são 2 números, assim como
o “782 _ _”. O próximo já será o 78312. Somando:
24+24+24+6+6+6+2+2=94. Logo, ele será o 95ª nú-
mero.

As posições agora foram classificadas de acordo com 2. Quantas senhas com 4 algarismos diferentes podemos
a posição que foi pedida no enunciado. Vamos observar escrever com os algarismos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8,e 9?
agora o que acontece quando selecionando novamente
as pessoas A,D e G: Resposta: Esse exercício pode ser feito tanto com a
fórmula, quanto usando a princípio fundamental da
contagem.
1ª maneira: usando o princípio fundamental da con-
tagem.
Como o exercício indica que não ocorrerá repetição
nos algarismos que irão compor a senha, então tere-
mos a seguinte situação:
• 9 opções para o algarismo das unidades;
• 8 opções para o algarismo das dezenas, visto que já
utilizamos 1 algarismo na unidade e não pode repetir;
• 7 opções para o algarismo das centenas, pois já utili-
zamos 1 algarismo na unidade e outro na dezena;
• 6 opções para o algarismo do milhar, pois temos que
tirar os que já usamos anteriormente.
Assim, o número de senhas será dado por:
Neste caso, as duas comissões são diferentes, pois em uma
a pessoa A é presidente e na outra ela é vice-presidente. Como 9 ∙ 8 ∙ 7 ∙ 6 = 3 024 senhas
a ordem importa, temos um problema de arranjo. A fórmula
de arranjo é mais simples que a fórmula de combinação: 2ª maneira: usando a fórmula
Para identificar qual fórmula usar, devemos perceber
n! que a ordem dos algarismos é importante. Por exem-
An,p =
(n − p)!
plo 1234 é diferente de 4321, assim iremos usar a fór-
mula de arranjo.
Então, temos 9 elementos para serem agrupados de 4
Tomando n=7 e p = 3 novamente: a 4. Desta maneira, o cálculo será:

n! 7! 7! 7 ∙ 6 ∙ 5 ∙ 4 ∙ 3 ∙ 2 ∙ 1
9! 9! 9 ∙ 8 ∙ 7 ∙ 6 ∙ 5!
An,p = = = = = 7 ∙ 6 ∙ 5 = 210 A9,4 = = = = 3024 senhas
(n − p)! 7 − 3 ! 4! 4∙3∙2∙1 9 − 4 ! 5! 5!

Ou seja, é possível formar 210 comissões neste caso.


Veja que o número é maior que o número da combina- ESPAÇO E FORMA: PLANO CARTESIANO.
ção. A razão é que comissões que antes eram repetidas
na combinação, deixaram de ser no arranjo.
SISTEMA CARTESIANO

EXERCÍCIOS COMENTADOS Coordenadas de um ponto

Sejam x e y dois eixos perpendiculares entre si e com


1. (IF-BA – Professor – AOCP/2016) Na sequência cres-
origem O comum, conforme a figura abaixo. Nessas con-
cente de todos os números obtidos, permutando-se os
dições, diz-se que x e y formam um sistema cartesiano
algarismos 1, 2, 3, 7, 8, a posição do número 78.312 é a :
retangular (ou ortogonal), e o plano por eles determi-
nado é chamado plano cartesiano.
MATEMÁTICA

a) 94ª
Eixo x (ou Ox): eixo das abscissas
b) 95ª
Eixo y (ou Ou): eixo das ordenadas
c) 96ª
O: origem do sistema
d) 97ª
e) 98ª

45
Nota
y Neste estudo, será utilizado somente o sistema carte-
siano retangular, que se chamará simplesmente siste-
ma cartesiano.

Observações
1 x 1) Os eixos x e y dividem o plano cartesiano em qua-
tro regiões ou quadrantes (Q), que são numeradas, como
0 1 na figura abaixo.

2º Q 1º Q
A cada ponto P do plano corresponderão dois núme-
ros: a (abscissa) e b (ordenada), associados às projeções x
ortogonais de P sobre o eixo x e sobre o eixo y, respec-
tivamente. 0
Assim, o ponto P tem coordenadas a e b e será indi-
cado analiticamente pelo par ordenado (a, b). 3º Q 4º Q

y
2) Neste curso, a reta suporte das bissetrizes do 1º e
P 3º quadrantes será chamada bissetriz dos quandrantes
b •
ímapares e indica-se por bi.a do 2º e 4º quadrantes será
chamado bissetriz dos quadrantes pares e indica-se por bp.

x y
• •
bp
0 a bi

x
0

Exemplo 1
Os pontos, no sistema cartesiano abaixo, têm suas
coordenadas escritas ao lado da figura.
A (3, 2) Propriedades
B (0, 2)
C (-3, 2) 1) Todo ponto P(a, b) do 1º quadrante tem abscissa
D (-3, 0) positiva (a > 0) e ordenada positiva (b > 0) e reci-
E (-3, -2) procamente.
F (0, -2) P(a, b) 1º Q a>0eb>0
G (3, -2)
H (3, 0) Assim P(3, 2) 1º Q
O (0, 0)
y

y
2 P
x
C B A
2 0 3

-3 -2 -1
1 1 2 3 x
2) Todo ponto P(a, b) do 2º quadrante tem abscissa

D 0 H
-1 negativa (a < 0) e ordenada positiva (B > 0) e reci-
-2 procamente.
E G
MATEMÁTICA

F P(a, b) 2º Q a<0eb>0

Assim P(-3, 2) 2º quadrante

46
y y
3 P
P 2
x
-3 0
x
3) Todo ponto P(a, b) do 3º quadrante tem abscissa 0
negativa (a < 0) e ordenada negativa (b < 0) e re-
ciprocamente.
P(a, b) 3º Q a<0eb<0 7) Todo ponto P(a, b) da bissetriz dos quadrantes ím-
pares tem abscissa e ordenada iguais (a = b) e re-
Assim P(-3, -2) 3º Q ciprocamente.
P(a, b) bi a=b
y
Assim P(-2, -2) bi

-3 x
0 y
P -2

4) Todo ponto P(a, b) do 4º quadrante tem abscissa


positiva (a > 0) e ordenada negativa (B < 0) e reci-
procamente.
P(a, b) 4º Q a>0eb<0 -2 0 x

Assim P(3, -2) 4º Q

y
P -2

8) Todo ponto P(a, b) da bissetriz dos quadrantes pa-


3 x res tem abscissa e ordenada opostas (a = -b) e re-
0 ciprocamente.
P(a, b) bp a = -b
-2
P
Assim P(-2, 2) bp
5) Todo eixo das abscissas tem ordenada nula e reci-
procamente.
y
P(a, b) Ox b=0

Assim P(3, 0) Ox
P
2
y
x
-2 0
P x
0 3

6) Todo ponto do eixo das ordenadas tem abscissa Exemplo 2


MATEMÁTICA

nula e reciprocamente. Obter a, sabendo-se que o ponto A(4, 3ª -6) está no


P(a, b) Oy a=0 eixo das abscissas.

Assim P(0, 3) Oy

47
Resolução Portanto, as coordenadas do ponto médio M do seg-
A Ox 3a – 6 = 0 ∴ a = 2 mento (ou ) são respectivamente as médias das
abscissas de A e B e das ordenadas de A e B.
Resposta: 2.
Exemplo 4
Exemplo 3 Obter o ponto médio M do segmento , sendo da-
Obter m, sabendo-se que o ponto M(2m – 1, m + 3) dos: A(-1, 3) e B(0, 1).
está na bissetriz dos quadrantes ímpares.
Resolução
Resolução

M bi 2m – 1 = m + 3 ∴ m = 4

Resposta: 4.
Ponto Médio
Considerem-se os pontoa A(xA, yA) e B(xB, yB). Sendo
M(xM, yM) o ponto médio de (ou ), tem-se: Resposta: .

e , ou seja,o ponto médio Baricentro


Seja o triângulo ABC de vértices A(xA, yA), B(xB, yB) e
é dado por: C(xC, yC). sendo G(xG, yG) o baricentro (ponto de encontro
das medianas) do triângulo ABC, tem-se:

ou seja, o ponto G é dado por

B’’ (yB)

M’’ (yM)
y

A’’ (yA) C

x
M
0 A’ (yA) M’ (yM) B’ (yB)
G

De fato:
A
Se M é o ponto médio de (ou ), pelo teorema
de Tales, para o eixo x pode-se escrever: B x

0 A’(xA) G’(xG) M’(xM)

De fato, considerando a mediana AM, o baricentro G


é tal que

Pelo Teorema de Tales, para o eixo x podemos escrever


Analogicamente, para o eixo y, tem-se
MATEMÁTICA

e, como , vem

48
2) A fórmula para o cálculo da distância continua váli-
da se o segmento é paralelo a um dos eixos, ou ainda
se os pontos A e B coincidem, caso em que d = 0.
ou seja,
Exemplo 6
Analogamente, para o eixo y, tem-se Calcular a distância entre os pontos A e B, nos seguin-
tes casos:

Portanto, as coordenadas do baricentro de um triân- a) A(1, 8) e B(4, 12)


gulo ABC são, respectivamente, as médias aritméticas
das abscissas de A, B e C e das ordenadas A, B e C. Resolução

Exemplo 5
Sendo A(1, -1), B(0, 2) e C(11, 5) os vértices de um
triângulo, obter o baricentro G desse triângulo. b) A(0, 2) e B(-1, -1)

Resolução Resolução

Logo, G(4, 2). Exemplo 7


Qual é o ponto da bissetriz dos quadrantes pares cuja
Distância Entre Dois Pontos distância ao ponto A(2, 2) é 4?

Considerem-se dois pontos distintos A(xA, yA) e B(xB, Resolução


yB), tais que o segmento não seja paralelo a algum Seja P o ponto procurado.
dos eixos coordenados. Como P pertence à bissetriz dos quadrantes pares
Traçando-se por A e B as retas paralelas aos eixos (bp), pode-se representá-lo por P(a, -a).
coordenados que se interceptam em C, tem-se o triân- Sendo 4 a distância entre A e P, tem-se
gulo ACB, retângulo em C.

y
Quadrando
(2 – a)2 + (2 + a )2 = 16
B

a=2
4 – 4a + a2 + 4 + 4a + a2 = 16 ∴ a2 = 4 ou
d a = -2
Assim se a = 2, tem-se o ponto (2, -2)
A se a = -2, tem-se o ponto (-2, 2)

C

x De fato, existem dois pontos P da bissetriz dos qua-


drantes pares (bp) cuja distância ao ponto A(2, 2) é 4. Ob-
0
serve-se a figura:

A distância entre os pontos A e B qie se indica por d y


é tal que bp
P 2 A

0 x
-2 2

Portanto:
-2
P
MATEMÁTICA

Observações
1) Como (xB - xA)2 = (xA - xB)2, a ordem escolhida para
a diferença das abscissas não altera o cálculo de d. O
mesmo ocorre com a diferença das ordenadas.

49
x
EXERCÍCIOS COMENTADOS A (0, 0) B (6, 0) y

1.Dar as coordenadas dos pontos A, B, C, D, E, F e G da


figura abaixo:

C (3, )
B
C
A
1
D x

5- A distância entre dois pontos (2, -1) e (-1, 3) é igual a:


F
G a) zero
E
b)
Resposta: A(5, 1); B(0, 3); C(-3, 2); D(-2, 0); E(-1, -4); F(0,
c)
-2); G(4, -3).
d) 5
e) n.d.a.
2- Seja o ponto A(3p – 1, p – 3) um ponto pertencente à
bissetriz dos quadrantes ímpares, então a ordenada do
Resposta: Letra D
ponto A é:
Resolução
a) 0
b) –1 Δx = 2 – (–1) = 3 e Δy = –1 –3 = –4
c) –2

d)
d=5
e) –4
Resposta: Letra E. 6. Sendo A(3,1), B(4, -4) e C(-2, 2) os vértices de um triân-
Como A pertence à bissetriz dos quadrantes ímapres gulo, então esse triângulo é:
xA = yA ⇒ 3p – 1 = p – 3 ⇒ p = 1.
a) retângulo e não isósceles.
Logo, o ponto A(-4, -4) tem ordenada igual a -4. b) retângulo e isósceles.
c) equilátero.
3- O ponto A(p – 2, 2p – 3) pertence ao eixo das orde- d) isósceles e não retângulo.
nadas. Obter o ponto B’ simétrico de B(3p – 1, p – 5) em e) escaleno.
relação ao eixo das abscissas.
Resposta: Letra D
Resposta: B’(5, 3).Se A pertence ao eixo das ordena-
das, temos que p – 2 = 0 ⇒ p = 2, logo, B(5, –3).
Como B’ é o simétrico de B em relação ao eixo das abs-
cissas, temos a mesma abscissa e a ordenada oposta,
logo, B’(5, 3) é o ponto procurado.

4- Um triângulo equilátero de lado 6 tem um vértice no


eixo das abscissas. Determine as coordenadas do 3º vér-
ee
tice, sabendo que ele está no 4º quadrante (faça a figura).

Resposta: C(3, ).Lembrando que a altura do


MATEMÁTICA

triângulo equilátero mede , temos: . Portanto, o Δ ABC é isósceles e não retângulo.

50
7- Achar o ponto T da bissetriz dos quadrantes ímpares
que enxerga o segmento de extremidades A(2, 1) e B(5, POLÍGONOS CONVEXOS: RELAÇÕES
2) sob ângulo reto. ANGULARES E LINEARES. SEMELHANÇA DE
FIGURAS PLANAS. RELAÇÕES MÉTRICAS
Resposta; T1(2, 2) e T2(3, 3). E TRIGONOMÉTRICAS NUM TRIÂNGULO
RETÂNGULO. RELAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS
Resolução
NUM TRIÂNGULO QUALQUER.
T∈ bissetriz dos quadrantes ímpares ⇒ T(x, x).
Se T enxerga sob ângulo reto, então o triângulo
ATB é retângulo em T.
INTRODUÇÃO A GEOMETRIA PLANA
T 1. Ponto, Reta e Plano
A definição dos entes primitivos ponto, reta e pla-
no é quase impossível, o que se sabe muito bem e aqui
B
será o mais importante é sua representação geométrica
e espacial.

A 1.1. Representação, (notação)


→ Pontos serão representados por letras latinas
maiúsculas; ex: A, B, C,…
→ Retas serão representados por letras latinas minús-
culas; ex: a, b, c,…
⇒ → Planos serão representados por letras gregas mi-
núsculas; ex: β,∞,α,...
Assim:
[(x - 2)2 + (x - 1)2] + [(x – 5)2 (x – 2)2] = [(2 – 5)2 + (1 – 2)2] 1.2. Representação gráfica
X2 – 4x + 4 + x2 – 2x + 1 + x2 – 10x + 25 + x2 – 4x + 4
=9+1
4x2 – 20x + 24 = 0
X2 – 5x + 6 = 0 ⇒ x = 2 ou x = 3.

8- O paralelogramo ABCD tem lados , , e .


Sendo A(0, 0), B(4, 2) e D(8, 0), determine as coordenadas
do ponto C.
Postulados primitivos da geometria, qualquer postu-
Resposta: C(12, 2). lado ou axioma é aceito sem que seja necessária a prova,
contanto que não exista a contraprova.
Resolução - Numa reta bem como fora dela há infinitos pontos
distintos.
B (4,2) C(a, b) - Dois pontos determinam uma única reta (uma e so-
mente uma reta).

A (0,0) D (8,0)

M é o ponto de encontro das diagonais, portanto - Pontos colineares pertencem à mesma reta.
ponto médio dos segmentos e . Dados B e D,
temos M(6, 1) e agora temos A e M, logo:


MATEMÁTICA

- Três pontos determinam um único plano.

51
Uma reta é perpendicular a um plano no espaço , se
ela intersecta o plano em um ponto P e todo segmento
de reta contido no plano que tem P como uma de suas
extremidades é perpendicular à reta.

- Se uma reta contém dois pontos de um plano, esta


reta está contida neste plano.

Uma reta r é paralela a um plano no espaço , se existe


uma reta s inteiramente contida no plano que é paralela à reta
dada.
Seja P um ponto localizado fora de um plano. A dis-
tância do ponto ao plano é a medida do segmento de
reta perpendicular ao plano em que uma extremidade é o
ponto P e a outra extremidade é o ponto que é a interse-
ção entre o plano e o segmento.
- Duas retas são concorrentes se tiverem apenas um Se o ponto P estiver no plano, a distância é nula.
ponto em comum.

Planos concorrentes no espaço são planos cuja inter-


seção é uma reta.
Observe que . Sendo que H está contido na reta r e
na reta s. Planos paralelos no espaço são planos que não tem
interseção.
Um plano é um subconjunto do espaço de tal modo Quando dois planos são concorrentes, dizemos que
que quaisquer dois pontos desse conjunto podem ser li- tais planos formam um diedro e o ângulo formado en-
gados por um segmento de reta inteiramente contida no tre estes dois planos é denominado ângulo diedral. Para
conjunto. obter este ângulo diedral, basta tomar o ângulo formado
Um plano no espaço pode ser determinado por qual- por quaisquer duas retas perpendiculares aos planos con-
quer uma das situações: correntes.
- Três pontos não colineares (não pertencentes à mes-
ma reta);
- Um ponto e uma reta que não contem o ponto;
- Um ponto e um segmento de reta que não contem
o ponto;
- Duas retas paralelas que não se sobrepõe;
- Dois segmentos de reta paralelos que não se sobrepõe;
- Duas retas concorrentes;
- Dois segmentos de reta concorrentes. Planos normais são aqueles cujo ângulo diedral é um
ângulo reto (90°).
Duas retas (segmentos de reta) no espaço podem ser:
paralelas, concorrentes ou reversas. Razão entre Segmentos de Reta
Duas retas são ditas reversas quando uma não tem
interseção com a outra e elas não são paralelas. Pode-se Segmento de reta é o conjunto de todos os pontos
pensar de uma reta r desenhada no chão de uma casa e de uma reta que estão limitados por dois pontos que são
uma reta s desenhada no teto dessa mesma casa. as extremidades do segmento, sendo um deles o ponto
inicial e o outro o ponto final. Denotamos um segmento
por duas letras como, por exemplo, AB, sendo A o início e
B o final do segmento.
MATEMÁTICA

Ex: AB é um segmento de reta que denotamos por AB.

52
Segmentos Proporcionais

Proporção é a igualdade entre duas razões equiva-


lentes. De forma semelhante aos que já estudamos com
números racionais, é possível estabelecer a proporcionali-
dade entre segmentos de reta, através das medidas desse
segmentos.
Vamos considerar primeiramente um caso particular
com quatro segmentos de reta com suas medidas apre-
sentadas na tabela a seguir:

m(AB) = 2cm m(PQ) =4 cm


m(CD) = 3cm m(RS) = 6cm
A razão entre os segmentos e e a razão entre os
Identificamos na sequência algumas proporções:
segmentos e , são dadas por frações equivalentes, isto
é: ; PQ/RS = 4/6 e como , segue a existência de uma pro- Ex: Consideremos a figura ao lado com um feixe de
porção entre esses quatro segmentos de reta. Isto nos retas paralelas, sendo as medidas dos segmentos indica-
conduz à definição de segmentos proporcionais. das em centímetros.
Diremos que quatro segmentos de reta, , , e , nesta
ordem, são proporcionais se: .
Os segmentos e são os segmentos extremos e os
segmentos e são os segmentos meios.
A proporcionalidade acima é garantida pelo fato que
existe uma proporção entre os números reais que repre-
sentam as medidas dos segmentos:

Feixe de Retas Paralelas

Um conjunto de três ou mais retas paralelas num pla-


no é chamado feixe de retas paralelas. A reta que inter-
cepta as retas do feixe é chamada de reta transversal. As
retas a, b, c e d que aparecem no desenho anexado, for-
mam um feixe de retas paralelas enquanto que as retas s Assim:
e t são retas transversais. B C⁄A B = E F⁄D E
A B⁄D E = B C⁄E F
D E⁄A B = E F⁄B C

#FicaDica
Uma proporção entre segmentos pode ser
formulada de várias maneiras. Se um dos
segmentos do feixe de paralelas for desco-
nhecido, a sua dimensão pode ser determi-
nada com o uso de razões proporcionais.

Ângulos

Ângulo: Do latim - angulu (canto, esquina), do grego


- gonas; reunião de duas semi-retas de mesma origem
Teorema de Tales: Um feixe de retas paralelas de- não colineares.
termina sobre duas transversais quaisquer, segmentos
proporcionais. A figura abaixo representa uma situação
onde aparece um feixe de três retas paralelas cortadas
por duas retas transversais.
MATEMÁTICA

53
Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do
que 90º.

Ângulo Raso:

Ângulo Central - É o ângulo cuja medida é 180º;


- É aquele, cujos lados são semi-retas opostas.
a) Da circunferência: é o ângulo cujo vértice é o cen-
tro da circunferência;
b) Do polígono: é o ângulo, cujo vértice é o centro do
polígono regular e cujos lados passam por vértices
consecutivos do polígono.

Ângulo Reto:

- É o ângulo cuja medida é 90º;


- É aquele cujos lados se apoiam em retas perpendi-
culares.

Ângulo Circunscrito: É o ângulo, cujo vértice não


pertence à circunferência e os lados são tangentes à ela.

Ângulos Complementares: Dois ângulos são com-


plementares se a soma das suas medidas é 900.

Ângulo Inscrito: É o ângulo cujo vértice pertence a


uma circunferência e seus lados são secantes a ela.

Ângulos Congruentes: São ângulos que possuem a


mesma medida.
MATEMÁTICA

Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do


que 90º.

54
Ângulos Opostos pelo Vértice: Dois ângulos são
opostos pelo vértice se os lados de um são as respectivas
semi-retas opostas aos lados do outro.

Ângulos Suplementares: Dois ângulos são ditos su-


plementares se a soma das suas medidas de dois ângulos
é 180º.

Assim a soma dos ângulos 4 e 5 é 180° e a soma dos


ângulos 3 e 6 também será 180°

Ângulos colaterais externos: O termo colateral sig-


nifica “mesmo lado” e sua propriedade é que a soma
destes ângulos será sempre 180°
Grau: (º): Do latim - gradu; dividindo a circunferência
em 360 partes iguais, cada arco unitário que corresponde
a 1/360 da circunferência denominamos de grau.

Ângulos formados por duas retas paralelas com


uma transversal

Lembre-se: Retas paralelas são retas que estão no


mesmo plano e não possuem ponto em comum.

Vamos observar a figura abaixo:

Assim a soma dos ângulos 2 e 7 é 180° e a soma dos


Todos esses ângulos possuem relações entre si, e elas ângulos 1 e 8 também será 180°
estão descritas a seguir:
Ângulos alternos internos: O termo alterno significa
Ângulos colaterais internos: O termo colateral sig- lados diferentes e sua propriedade é que eles sempre se-
nifica “mesmo lado” e sua propriedade é que a soma rão congruentes
destes ângulos será sempre 180°
MATEMÁTICA

55
Ângulos correspondentes: São ângulos que ocupam
uma mesma posição na reta transversal, um na região in-
terna e o outro na região externa.

Assim, o ângulo 1 é igual ao ângulo 5, o ângulo 2 é


Assim, o ângulo 4 é igual ao ângulo 6 e o ângulo 3 é igual ao ângulo 6, o ângulo 3 é igual ao ângulo 7 e o
igual ao ângulo 5 ângulo 4 é igual ao ângulo 8.

Ângulos alternos externos: O termo alterno signifi-


ca lados diferentes e sua propriedade é que eles sempre FIQUE ATENTO!
serão congruentes
Há cinco classificações distintas para os ân-
gulos formados por duas retas paralelas que
intersectam uma transversal. Então, procure
visualizar bem as imagens para associá-las a
cada classificação existente.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (CS-UFG-2016) Considere que a figura abaixo re-


presenta um relógio analógico cujos ponteiros das ho-
ras (menor) e dos minutos (maior) indicam 3 h e 40 min.
Nestas condições, a medida do menor ângulo, em graus,
formado pelos ponteiros deste relógio, é:

Assim, o ângulo 1 é igual ao ângulo 7 e o ângulo 2 é


igual ao ângulo 8 a) 120°
b) 126°
c) 135°
d) 150°
MATEMÁTICA

Resposta: Letra B.
Considerando que cada hora equivale a um ângulo de
30° (360/12 = 30) e que a cada 15 min o ponteiro da
hora percorre 7,5°. Assim, as 3h e 40 min indica um
ângulo de aproximadamente 126°.

56
2. Na imagem a seguir, as retas u, r e s são paralelas e cortadas por uma reta transversal. Determine o valor dos ângu-
los x e y.

Resposta: x = 50° e y = 130°


Facilmente observamos que os ângulos x e 50° são opostos pelo vértice, logo, x = 50°. Podemos constatar também
que y e 50° são suplementares, ou seja:

50° + y = 180°
y = 180° – 50°
y = 130°
Portanto,os ângulos procurados são y = 130° e x = 50°.

POLÍGONOS

Um polígono é uma figura geométrica plana limitada por uma linha poligonal fechada. A palavra “polígono” advém
do grego e quer dizer muitos (poly) e ângulos (gon).

Linhas poligonais e polígonos

Linha poligonal é uma sucessão de segmentos consecutivos e não-colineares, dois a dois. Classificam-se em:

Linha poligonal fechada simples:

Linha poligonal fechada não-simples:

Linha poligonal aberta simples:


MATEMÁTICA

Linha poligonal aberta não-simples:

57
FIQUE ATENTO!
Polígono é uma linha fechada simples. Um polígono divide o plano em que se encontra em duas
regiões (a interior e a exterior), sem pontos comuns.

Elementos de um polígono

Um polígono possui os seguintes elementos:

Lados: Cada um dos segmentos de reta que une vértices consecutivos: AB, BC, CD, DE, EA.

Vértices: Ponto de encontro de dois lados consecutivos: A, B, C, D, E

Diagonais: Segmentos que unem dois vértices não consecutivos: AC, AD, BD, BE, CE

Ângulos internos: Ângulos formados por dois lados consecutivos: a� , b� , c� , d


� , e� .

Ângulos externos: Ângulos formados por um lado e pelo prolongamento do lado a ele consecutivo: a�1 , b1 , c1, d1 , e1

Classificação dos polígonos quanto ao número de lados

Nome Número de lados Nome Número de lados


triângulo 3 quadrilátero 4
pentágono 5 hexágono 6
heptágono 7 octógono 8
eneágono 9 decágono 10
hendecágono 11 dodecágono 12
tridecágono 13 tetradecágono 14
pentadecágono 15 hexadecágono 16
heptadecágono 17 octodecágono 18
eneadecágono 19 icoságono 20

A classificação dos polígonos pode ser ilustrada pela seguinte árvore:


MATEMÁTICA

58
Um polígono é denominado simples se ele for des- A soma das medidas dos ângulos centrais de um po-
crito por uma fronteira simples e que não se cruza (daí lígono regular de n lados (Sc ) é igual a 360º.
divide o plano em uma região interna e externa), caso o
contrário é denominado complexo. A medida do ângulo central de um polígono regular
Um polígono simples é denominado convexo se não de n lados () é dada por:
tiver nenhum ângulo interno cuja medida é maior que
180°, caso o contrário é denominado côncavo. ac =
360°
Um polígono convexo é denominado circunscrito a n
uma circunferência ou polígono circunscrito se todos os
vértices pertencerem a uma mesma circunferência. Polígonos regulares
Um polígono inscritível é denominado regular se to-
dos os seus lados e todos os seus ângulos forem con- Os polígonos regulares são aqueles que possuem to-
gruentes. dos os lados congruentes e todos os ângulos congruen-
tes. Todas as propriedades anteriores são válidas para os
Alguns polígonos regulares: polígonos regulares, a diferença é que todos os valores
são distribuídos uniformemente, ou seja, todos os ân-
a) triângulo equilátero gulos terão o mesmo valor e todas as medidas terão o
b) quadrado mesmo valor.
c) pentágono regular
d) hexágono regular
#FicaDica
Propriedades dos polígonos
Polígonos regulares são formas de polígo-
nos mais estudadas e cobradas em questões
De cada vértice de um polígono de n lados, saem
de concursos.
dv = n – 3

O número de diagonais de um polígono é dado por:

d=
n n−3 EXERCÍCIOS COMENTADOS
2
Onde n é o número de lados do polígono. 1. (PREF. DE POÁ-SP – ENGENHEIRO DE SEGURAN-
ÇA DE TRABALHO – VUNESP/2015) A figura ilustra
A soma das medidas dos ângulos internos de um po- um octógono regular de lado cm.
lígono de n lados (Si) é dada por:

Si = n − 2 � 180°

A soma das medidas dos ângulos externos de um po-


lígono de n lados (Se) é igual a:

360°
Se =
n

Em um polígono convexo de n lados, o número de


triângulos formados por diagonais que saem de cada
vértice é dado por n - 2. Sendo a altura do trapézio ABCD igual a 1 cm, a área do
triângulo retângulo ADE vale, em cm²
A medida do ângulo interno de um polígono regular
de n lados (ai ) é dada por: a) 5
n − 2 � 180° b) 4
ai =
n c) 5
d) 2 + 1
A medida do ângulo externo de um polígono regular
de n lados (ae ) é dada por: e) 2
MATEMÁTICA

360°
ae =
n

59
Resposta: Letra D. A fórmula para calcular a soma dos ângulos internos
de um polígono é: S = (n – 2) · 180

*n é o número de lados do polígono. No caso desse


exercício:

S = (5 – 2) · 180
S = 3 · 180
COMENTÁRIO: S = 540

Dividindo a soma dos ângulos internos por 5, pois um


Como a altura do trapézio mede 1 cm, temos um trian- pentágono possui cinco ângulos internos, encontrare-
gulo isósceles de hipotenusa AB, assim, o segmento mos 108° como medida de cada ângulo interno.
AD = 2 + 2 . Assim, a área de ADE é: Observe na imagem anterior que a soma de três ângu-
los internos do pentágono com o ângulo θ tem como
2+2 2 2 2 2 resultado 360°.
A= = + =1+ 2
2 2 2
108 + 108 + 108 + θ = 360
2. (UNIFESP - 2003) Pentágonos regulares congruentes 324 + θ = 360
podem ser conectados lado a lado, formando uma estrela θ = 360 – 324
de cinco pontas, conforme destacado na figura a seguir θ = 36°

Quadriláteros, Circunferência e Círculo

Quadriláteros

São figuras que possuem quatro lados dentre os


quais temos os seguintes subgrupos:

Paralelogramo

Nessas condições, o ângulo θ mede:

a) 108°.
b) 72°.
c) 54°.
d) 36°.
e) 18°.

Resposta: Letra D.
Na ponta da estrela onde está destacado o ângulo θ,
temos o encontro de três ângulos internos de pen- Características:
tágonos regulares. Para descobrir a medida de cada
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja:
um desses ângulos, basta calcular a soma dos ângulos
internos do pentágono e dividir por 5. AB // DC e AD // BC .
Além de paralelos, os lados paralelos possuem a mes-
ma medida, ou seja: AB = DC e AD = BC
A altura é medida em relação a distância entre os seg-
mentos paralelos, ou seja: B : altura = h
A base é justamente a medida dos lados que se me-
diu a altura: AD: base = b
MATEMÁTICA

A área é calculada como o produto da base pela al-


tura: Área= b∙h
O perímetro é calculado como a soma das medidas
de todos os quatro lados: AB + BC + CD + DA

60
Retângulo No losango, definem-se diagonais como a distância
entre vértices opostos, assim:
BD: diagonal maior = D e AC: diagonal menor = d

A área é calculada a partir das diagonais e não dos


D�d
lados: Área = 2

O perímetro é calculado como a soma das medidas


de todos os quatro lados: AB + BC + CD + DA
Características:
Quadrado
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja:
AB // DC e AD // BC

Além de paralelos, os lados paralelos possuem a mes-


ma medida, ou seja: AB = DC e AD = BC

Diferentemente do paralelogramo, todos os ângulos


do retângulo medem 90°: A
�=B � = C� = D
� = 90°

No retângulo, um par de lados paralelos


será a base e o outro será a altura, no desenho:
AB: altura = h e AD: base = b Características:
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja:
A área é calculada como o produto da base pela al-
tura: Área= b∙h AB // DC e AD // BC
Possuem os quatro lados com medidas iguais:
O perímetro é calculado como a soma das medidas
de todos os quatro lados: AB = DC = AD = BC
Diferentemente do losango, todos os ângulos do
Perímetro = AB + BC + CD + DA = 2b + 2h
quadrado medem 90°: A
�=B
� = C� = D
� = 90°
Losango Seguindo a lógica do retângulo, temos o valor da base
e da altura iguais neste caso: BC: lado = L e AB: lado =
A área é calculada de maneira simples: Área = L2
O perímetro é calculado como a soma
das medidas de todos os quatro lados:
Perímetro = AB + BC + CD + DA = 4L

Trapézio

Características:
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja:
AB // DC e AD // BC
MATEMÁTICA

Possuem os quatro lados com medidas iguais:


AB = DC = AD = BC

61
Características: Setor Circular
Possuirá apenas um par de lados paralelos que serão
chamados de bases maior e menor: Um Setor Circular é uma região de um círculo com-
preendida entre dois segmentos de reta que se iniciam
AD// BC, AB: base maior = B e CD: base menor = b no centro e vão até a circunferência.
A altura será definida como a distância entre as bases:
B : altura = h
#FicaDica
A área é calculada em função das bases e da altura:
Em termos práticos, um setor circular é um
Área =
B+b
�h “pedaço” de um círculo.
2
O perímetro é calculado como a soma das medidas
de todos os quatro lados: AB + BC + CD + DA

Circunferência e Círculo

Uma circunferência é definida como o conjunto de


pontos cuja distância de um ponto, denominado de cen-
tro, O é igual a R, definido como raio.

Características:

O ângulo α é definido como ângulo central


απR2
Área do Setor Circular (para α em graus): A =
360

αR2
Área do Setor Circular (para α em radianos): A =
2
Já um círculo é definido como um conjunto de pontos Segmento Circular
cuja distância de O é menor ou igual a R.
Um Segmento Circular é uma região de um círculo
compreendida entre um segmento que liga os pontos de
cruzamento dos segmentos de reta com a circunferência,
ao qual definimos como corda AB e a circunferência.

Características:
A medida relevante da circunferência é o raio (R) que
é a distância de qualquer ponto da circunferência em re-
lação ao centro C. Características:
MATEMÁTICA

A área é calculada em função do raio: Área = πR2


O perímetro, também chamado de comprimento da A Área do Setor Circular (para α em radianos):
circunferência, é calculado em função do raio também: R2
Perímetro = 2πR A= α − sen α
2

62
3. Posições Relativas entre Retas e Circunferências

Dado uma circunferência de raio R e uma reta ‘r’ cuja EXERCÍCIOS COMENTADOS
distância ao centro da circunferência é ‘d’, temos as se-
guintes posições relativas: 1.(SEEDUC-RJ – Professor – CEPERJ/2015) O quadrado
MNPQ abaixo tem lado igual a 12cm. Considere que as
Reta Tangente: Reta e circunferência possuem ape- curvas MQ e QP representem semicircunferências de diâ-
metros respectivamente iguais aos segmentos MQ e QP.
nas um ponto em comum (dOP = R)

A área sombreada, em cm2, corresponde a:

a) 30
b) 36
c) 3 46π − 2
d) 6(36π − 1)
Reta Exterior: Reta e circunferência não possuem
pontos em comum (dOP > R) e) 2(6π − 1)

Resposta: Letra B.
Aplicando a fórmula do segmento circular, encontra-
-se a área de intersecção dos dois círculos. Subtraindo
esse valor da área do semicírculo, chega-se ao resul-
tado.

2. A figura abaixo é um losango. Determine o valor


de x e y, a medida da diagonal   AC , da diagonal   BD e
o perímetro do triângulo BMC.

Reta Secante: Reta e circunferência possuem dois


pontos em comum (dOP < R)

Resposta:
Aplicando as relações geométricas referentes ao lo-
sango, tem-se:

x = 15
y = 20
MATEMÁTICA

AC = 20 + 20 = 40
BD = 15 + 15 = 30
BMC = 15 + 20 + 25 = 60

63
TRIÂNGULOS E TEOREMA DE PITÁGORAS Ângulo Interno: É formado por dois lados do triângu-
lo. Todo triângulo possui três ângulos internos.
Definição
Ângulo Externo: É formado por um dos lados do triân-
Triângulo é um polígono de três lados. É o polígono gulo e pelo prolongamento do lado adjacente (ao lado).
que possui o menor número de lados. Talvez seja o polí-
gono mais importante que existe. Todo triângulo possui
alguns elementos e os principais são: vértices, lados, ân-
gulos, alturas, medianas e bissetrizes.
Apresentaremos agora alguns objetos com detalhes
sobre os mesmos.

Classificação dos triângulos quanto ao número de


lados

Triângulo Equilátero: Os três lados têm medidas


iguais. .
a) Vértices: A,B,C. m(AB) = m(BC) = m(CA)
b) Lados: AB,BC e AC.
c) Ângulos internos: a, b e c.

Altura: É um segmento de reta traçada a partir de


um vértice de forma a encontrar o lado oposto ao vértice
formando um ângulo reto. BH é uma altura do triângulo.

Triângulo Isósceles: Dois lados têm medidas iguais.


m(AB) = m(AC).

Mediana: É o segmento que une um vértice ao ponto


médio do lado oposto. BM é uma mediana.

Triângulo Escaleno: Todos os três lados têm medidas


diferentes.

Bissetriz: É a semi-reta que divide um ângulo em


duas partes iguais. O ângulo B está dividido ao meio e 2.1. Classificação dos triângulos quanto às medi-
neste caso Ê = Ô. das dos ângulos

Triângulo Acutângulo: Todos os ângulos internos


são agudos, isto é, as medidas dos ângulos são menores
do que 90º.
MATEMÁTICA

64
Triângulo Obtusângulo: Um ângulo interno é obtu- Ângulos Externos: Consideremos o triângulo ABC.
so, isto é, possui um ângulo com medida maior do que Como observamos no desenho, as letras minúsculas
90º. representam os ângulos internos e as respectivas letras
maiúsculas os ângulos externos.

Todo ângulo externo de um triângulo é igual à soma


Triângulo Retângulo: Possui um ângulo interno reto dos dois ângulos internos não adjacentes a esse ângulo
(90 graus). Atenção a esse tipo de triângulo pois ele é
externo. Assim: A = b + c, B = a + c, C = a + b
muito cobrado!
Ex: No triângulo desenhado, podemos achar
a medida do ângulo externo x, escrevendo:
x = 50º + 80º = 130°.

Medidas dos Ângulos de um Triângulo

Ângulos Internos: Consideremos o triângulo ABC. Po-


deremos identificar com as letras a, b e c as medidas dos
ângulos internos desse triângulo. Congruência de Triângulos

Duas figuras planas são congruentes quando têm a


#FicaDica
mesma forma e as mesmas dimensões, isto é, o mesmo
Em alguns locais escrevemos as letras maiús- tamanho. Para escrever que dois triângulos ABC e DEF
culas, acompanhadas de acento () para re-
presentar os ângulos. são congruentes, usaremos a notação: ABC ~ DEF
Para os triângulos das figuras abaixo, existe a congruên-
cia entre os lados, tal que: AB ~ RS, BC ~ ST, CA ~ T e
entre os ângulos:

Seguindo a regra dos polígonos, a soma dos ângu-


los internos de qualquer triângulo é sempre igual a 180
graus, isto é: a + b + c = 180°

Ex: Considerando
o triângulo abai-
xo, podemos achar o
valor de x, escrevendo: Se o triângulo ABC é congruente ao triângulo RST,
70º + 60º + x = 180º e dessa forma, obtemos �~R
escrevemos: A � , B� ~ S� , C� ~ �T
x = 180º − 70º − 60º = 50º
MATEMÁTICA

65
LAAo (Lado, Ângulo, Ângulo oposto): Conhecido
FIQUE ATENTO! um lado, um ângulo e um ângulo oposto ao lado. Dois
Dois triângulos são congruentes, se os triângulos são congruentes quando têm um lado, um ân-
seus elementos correspondentes são gulo, um ângulo adjacente e um ângulo oposto a esse
ordenadamente congruentes, isto é, os três lado respectivamente congruente.
lados e os três ângulos de cada triângulo
têm respectivamente as mesmas medidas.
Deste modo, para verificar se um triângulo
é congruente a outro, não é necessário
saber a medida de todos os seis elementos,
basta conhecerem três elementos, entre os
quais esteja presente pelo menos um lado.
Para facilitar o estudo, indicaremos os lados
correspondentes congruentes marcados
com símbolos gráficos iguais. Semelhança de Triângulos

Duas figuras são semelhantes quando têm a mesma


Casos de Congruência de Triângulos forma, mas não necessariamente o mesmo tamanho. Se
duas figuras R e S são semelhantes, denotamos: .
LLL (Lado, Lado, Lado): Os três lados são conheci-
dos. Dois triângulos são congruentes quando têm, res- Ex: As ampliações e as reduções fotográficas são figu-
pectivamente, os três lados congruentes. Observe que os ras semelhantes. Para os triângulos:
elementos congruentes têm a mesma marca.

LAL (Lado, Ângulo, Lado): Dados dois lados e um Os três ângulos são respectivamente congruentes,
ângulo. Dois triângulos são congruentes quando têm isto é: A~R, B~S, C~T
dois lados congruentes e os ângulos formados por eles
também são congruentes. Casos de Semelhança de Triângulos

Dois ângulos congruentes: Se dois triângulos tem


dois ângulos correspondentes congruentes, então os
triângulos são semelhantes.

ALA (Ângulo, Lado, Ângulo): Dados dois ângulos e


um lado. Dois triângulos são congruentes quando têm
um lado e dois ângulos adjacentes a esse lado, respecti-
vamente, congruentes.

Se A~D e C~F então: ABC =


� DEF

Dois lados proporcionais: Se dois triângulos tem


dois lados correspondentes proporcionais e os ângulos
formados por esses lados também são congruentes, en-
tão os triângulos são semelhantes.
MATEMÁTICA

66
Como m(AB) ⁄ m(EF) = m(BC) ⁄ m(F ) = 2 ,

então ABC =
� EF
Ex: Na figura abaixo, observamos que um triângulo pode ser “rodado” sobre o outro para gerar dois triângulos
semelhantes e o valor de x será igual a 8.

Três lados proporcionais: Se dois triângulos têm os três lados correspondentes proporcionais, então os triângulos
são semelhantes.

Teorema de Pitágoras

Dizem que Pitágoras, filósofo e matemático grego que viveu na cidade de Samos no século VI a. C., teve a intuição
do seu famoso teorema observando um mosaico como o da ilustração a seguir.

MATEMÁTICA

67
Observando o quadro, podemos estabelecer a seguinte tabela:

Triângulo ABC Triângulo A`B`C` Triângulo A``B``C``


Área do quadrado construído sobre a hipotenusa 4 8 16
Área do quadrado construído sobre um cateto 2 4 8
Área do quadrado construído sobre o outro cateto 2 4 9

Como 4 = 2 + 2 � 8 = 4 + 4 � 16 = 8 + 8 , Pitágoras observou que a área do quadrado construído sobre


a hipotenusa é igual à soma das áreas dos quadrados construídos sobre os catetos.

A descoberta feita por Pitágoras estava restrita a um triângulo particular: o triângulo retângulo isósceles. Estudos
realizados posteriormente permitiram provar que a relação métrica descoberta por Pitágoras era válida para todos os
triângulos retângulos. Os lados do triângulo retângulo são identificados a partir a figura a seguir:

Onde os catetos são os segmentos que formam o ângulo de 90° e a hipotenusa é o lado oposto a esse ângulo. Cha-
mando de “a” e “b” as medidas dos catetos e “c” a medida da hipotenusa, define-se um dos teoremas mais conhecidos
da matemática, o Teorema de Pitágoras:
c 2 = a2 + b2

Onde a soma das medidas dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

Teorema de Pitágoras no quadrado

Aplicando o teorema de Pitágoras, podemos estabelecer uma relação importante entre a medida d da diagonal e a
medida l do lado de um quadrado.

d= medida da diagonal
l= medida do lado

Aplicando o teorema de Pitágoras no triângulo retângulo ABC, temos:

d² = l² + l²
MATEMÁTICA

d = √2l²
d=l 2

68
Teorema de Pitágoras no triângulo equilátero

Aplicando o teorema de Pitágoras, podemos estabe- EXERCÍCIOS COMENTADOS


lecer uma relação importante entre a medida h da altura
e a medida l do lado de um triângulo equilátero. 1.(TJ-SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – VU-
NESP/2017) A figura seguinte, cujas dimensões estão
indicadas em metros, mostra as regiões   R e R , e ,
1 2
ambas com formato de triângulos retângulos, situadas
em uma praça e destinadas a atividades de recreação in-
fantil para faixas etárias distintas.

l= medida do lado
h= medida da altura

No triângulo equilátero, a altura e a mediana coin- Se a área de R eé R


54 ,m², então o perímetro
R1de
e R 2 , é, em
cidem. Logo, é ponto médio do lado BC. No triângulo metros, igual a:
1 2

retângulo AHC, é ângulo reto. De acordo com o teorema


de Pitágoras, podemos escrever: a) 54
b) 48
c) 36
d) 40
e) 42

Resposta: Letra B.
Esse problema se resolve tanto por semelhança de
triângulos, quanto pela área de . Em ambos os casos,
encontraremos x = 12 m. Após isso, pelo teorema de
Pitágoras, achamos a hipotenusa do triângulo
R1 e R 2 , , que
será 20 m. Assim, o perímetro será 12+16+20 = 48 m.
3l2
h² = 2. (PM SP 2014 – VUNESP).  Duas estacas de madei-
4
ra, perpendiculares ao solo e de alturas diferentes, estão
distantes uma da outra, 1,5 m. Será colocada entre elas
l 3 uma outra estaca de 1,7 m de comprimento, que ficará
h= apoiada nos pontos A e B, conforme mostra a figura.
2 MATEMÁTICA

69
A diferença entre a altura da maior estaca e a altura da
menor estaca, nessa ordem, em cm, é: �
a2 = b2 + c 2 − 2 � b � c � cos A
a) 95. 2 2 2
b = a + c − 2 � a � c � cos B �
b) 75.
c) 85. c = a + b − 2 � a � b � cos C�
2 2 2

d) 80.
e) 90.
FIQUE ATENTO!
Resposta: Letra D. Há três formas distintas de utilizar a Lei dos
Note que x é exatamente a diferença que queremos, e Cossenos. Quando for utilizá-la, tenha cui-
podemos calculá-lo através do Teorema de Pitágoras: dado ao expressar os termos conhecidos e
a incógnita em uma das três equações pro-
1,72 = 1,52 + x 2 postas. Note que o termo à esquerda do si-
2,89 = 2,25 + x 2 nal de igual é o lado oposto ao ângulo que
x 2 = 2,89 – 2,25 deve aparecer na equação.
x² = 0,64x = 0,8 m ou 80 cm

LEI DOS SENOS E LEI DOS COSSENOS EXERCÍCIOS COMENTADOS


Lei dos Senos
1. Calcule a medida de x:
A Lei dos senos relaciona os senos dos ângulos de
um triângulo qualquer (não precisa necessariamente ser
retângulo) com os seus respectivos lados opostos. Além
disso, há uma relação direta com o raio da circunferência
circunscrita neste triângulo:

Resposta: Aplicando a lei dos senos, lembrando que


temos que aplicar ao ângulo oposto ao lado que ire-
mos usar. Assim, o lado de medida 100 possui o ângu-
lo A
� como oposto, e ele mede 30°, dado as medidas
dos outros ângulos, assim:
x 100
=
sen 45° sen 30°
a b c
= = = 2R x 100
� sen B
sen A � sen C� =
2/2 1/2
Lei dos Cossenos
x = 100 2
A lei dos cossenos é considerada uma generalização do
teorema de Pitágoras, onde para qualquer triângulo, conse-
guimos relacionar seus lados com a subtração de um termo 2.Calcule a medida de x:
que possui o ângulo oposto do lado de referência.
MATEMÁTICA

70
Resposta: Aplicando a lei dos senos, lembrando que ela se relaciona com a circunferência circunscrita ao triângulo:

x
= 2R
sen 60°

x
=2 3
3/2

x=3

GEOMETRIA ESPACIAL

1. Poliedros

Poliedros são sólidos compostos por faces, arestas e vértices. As faces de um poliedro são polígonos. Quando as
faces do poliedro são polígonos regulares e todas as faces possuem o mesmo número de arestas, temos um poliedro
regular. Há 5 tipos de poliedros regulares, a saber:

Tetraedro: poliedro de quatro faces


Hexaedro: poliedro de seis faces (cubo)
Octaedro: poliedro de oito faces
Dodecaedro: poliedro de doze faces
Icosaedro: poliedro de vinte faces

Já poliedros não regulares são sólidos cujas faces ou são polígonos não regulares ou não possuem o mesmo nú-
mero de arestas. Os exemplos mais usuais são pirâmides (com exceção do tetraedro) e prismas (com exceção do cubo).

Relação de Euler: relação entre o número de arestas (A), faces (F) e vértices (V) de um poliedro convexo. É dada por:

V− A+F = 2

2. Prismas

Prisma é um sólido geométrico delimitado por faces planas, no qual as bases se situam em planos paralelos. Quanto
à inclinação das arestas laterais, os prismas podem ser retos ou oblíquos.

2.1. Prisma reto

As arestas laterais têm o mesmo comprimento.


As arestas laterais são perpendiculares ao plano da base.
As faces laterais são retangulares.

2.2. Prisma oblíquo

As arestas laterais têm o mesmo comprimento.


As arestas laterais são oblíquas (formam um ângulo diferente de um ângulo reto) ao plano da base.
MATEMÁTICA

As faces laterais não são retangulares.

71
Bases: regiões poligonais congruentes

Altura: distância entre as bases

Arestas laterais paralelas: mesmas


medidas

Faces laterais: paralelogramos

Prisma reto Aspectos comuns Prisma oblíquo

Prismas regulares: prismas que possuem como base, polígonos regulares (todos os lados iguais).

Sendo AB , a área da base, ou seja, a área do polígono correspondente e AL , a área lateral, caracterizada pela

soma das áreas dos retângulos formados entre as duas bases, temos que:

Área total: AT = AL + 2 � AB

Volume: V = AB . h , onde h é a altura, caracterizada pela distância entre as duas bases

3. Cilindros

São sólidos parecidos com prismas, que apresentam bases circulares e também podem ser retos ou oblíquos.

Sendo R o raio da base, a altura do cilindro, temos que:

Área da base: AB = πR2

Área lateral: AL = 2πRh

Área total: AT = AL + 2AB


MATEMÁTICA

Volume: V = AB � h

72
4. Pirâmides 6. Esfera

As pirâmides possuem somente uma base e as faces A esfera é o conjunto de pontos nos quais a distância
laterais são triângulos. A distância do vértice de encontro em relação a um centro é menor ou igual ao raio da esfera
dos triângulos com a base é o que determina a altura da R. A esfera é popularmente conhecida como “bola” pois seu
pirâmide (h). formato é o mesmo de uma bola de futebol, por exemplo.

2
Área da Superfície Esférica: A = 4πR

4πR3
Sendo a área da base, determinada pelo polígono Volume: V =
3
que forma a base, a área lateral, determinada pela soma
das áreas dos triângulos laterais, temos que:

Área total: AT = AL + AB #FicaDica


Na área total dos prismas e cilindros,
A � h multiplicamos a área da base por 2 pois
Volume: V = B temos duas bases formando o sólido. Já
3
no caso das pirâmides e dos cones isto não
ocorre, pois há apenas uma base em ambos.
5. Cones

Os cones são sólidos possuem uma única base (cír-


culo). A distância do vértice à circunferência (contorno
da base) é chamada de geratriz (g) e a distância entre o EXERCÍCIOS COMENTADOS
vértice e o centro do círculo é a altura do cone (h).
1. (TJ-SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO –
VUNESP/2017) As figuras seguintes mostram os blocos
de madeira A, B e C, sendo A e B de formato cúbico e
C com formato de paralelepípedo reto retângulo, cujos
respectivos volumes, em cm³, são representados por VA,
VB e VC.

Geratriz: g 2 = R2 + h2

Área da Base: AB = πR2

Área Lateral: AL = πgR


Se VA + VB = 1/2 VC , então a medida da altura do bloco C,
Área Total: AT = AL + AB indicada por h na figura, é, em centímetros, igual a:
MATEMÁTICA

AB � h
Volume: V = a) 15,5
3
b) 11
c) 12,5
d) 14
e) 16

73
Resposta : Letra C. a) 2 cm
b) 2,5 cm
VA = 53 = 125 cm³ c) 4,25 cm
d) 5 cm
VB = 103 = 1000 cm³
V
Logo: C = VA + VB = 125 + 1000 Resposta: Letra D.
2
VC Sendo a P.A. (V1 , V2 , V3, V4 , V5), (, o enunciado fornece:
→ = 1125 → VC = 2250 cm³ Do termo geral da P.A., sabe-se que
2
2250 V5 = V1 + 5 − 1 � r = V1 + 4r
Portanto, VC = 18 � 10 � h = 2250 → h = = 12,5 cm
onde r é a razão da P.A.
180

2. (PEDAGOGO – IF/2016) Uma lata de óleo de soja de Assim, V1 + 4r − V1 = 32 → 4r = 32 → r = 8


1 litro, com formato cilíndrico, possui 8 cm de diâmetro Como
interno. Assim, a sua altura é de aproximadamente: (Con-
sidere π = 3,14 ) V4 = V1 + 3r
→ V1 + 3 � 8 = 86,5
a) 20 cm → V1 + 24 = 86,5
b) 25 cm → V1 = 62,5 cm
c) 201 cm Como
d) 200 cm
e) 24 cm 4 3
V= πR
3
Resposta: Letra A. 4
→ � 3 � R3 = 62,5
3
1L = 1dm3 = 1000 cm³ 62,5
→ R3 =
4
Volume da lata(cilindro): → R3 = 15,625
VC = πR2h → 3,14 � 42 � h = 1000 → h ≅ 20 cm → R = 2,5 cm

Como o exercício pediu o diâmetro, D = 2.2,5 = 5 cm


Obs: Como o diâmetro é igual a 8cm o raio é igual a
4cm.

3. (PREF. ITAPEMA-SC – TÉCNICO CONTÁBIL – MS ESCALAS


CONCURSOS/2016) O volume de um cone circular reto,
cuja altura é 39 cm, é 30% maior do que o volume de um Em linhas gerais, escala é a relação matemática en-
cilindro circular reto. Sabendo que o raio da base do cone tre a distância medida em um mapa (ou desenho, planta,
é o triplo do raio da base do cilindro, a altura do cilindro é: etc.) e a dimensão real do objeto (local) representado por
esse mapa (ou desenho, planta, etc.). Quando se observa
a) 9 cm um mapa e lê-se que ele foi feito em escala 1:500 cm,
b) 30 cm significa que 1 cm medido no mapa equivale a 500 cm
c) 60 cm na realidade.
d) 90 cm
Tipos de Escala
Resposta: Letra D. Considerando a forma de apresentação, há dois tipos
de escala, a saber:
Volume do cone: VC
Gráfica: a escala gráfica é aquela na qual a distância
Volume do cilindro: Vcil a ser medida no mapa e sua equivalência são apresenta-
das por unidade. Geralmente estão na parte inferior do
Do enunciado: VC = 1,3. Vcil (30% maior). mapa, como no exemplo abaixo:

4. (CÂMARA DE ARACRUZ-ES – AGENTE ADMINIS-


TRATIVO E LEGISLATIVO – IDECAN/2016) João pos-
sui cinco esferas as quais, quando colocadas em certa
ordem, seus volumes formam uma progressão aritméti-
ca. Sabendo que a diferença do volume da maior esfera
MATEMÁTICA

para a menor é 32 cm³ e que o volume da segunda maior


esfera é 86,5 cm³, então o diâmetro da menor esfera é:
(Considere: π = 3) Fonte: brasilescola.uol.com.br/geografia/escalas.htm

74
Medindo com uma régua a distância entre 0 e 50 me- Determine, em quilômetros, a distância entre as cidades
tros, por exemplo, significa que a medida dessa distância do Rio de Janeiro e Vitória, e de Belo Horizonte a Vitória.
no mapa equivale a 50 metros na realidade.
Numérica: a escala numérica é apresentada como Resposta: 385 km e 346,5 km. Começando pela dis-
uma relação e estabelece diretamente qual é a relação tância entre Rio de Janeiro e Vitória.
entre distâncias no mapa e real, sem a necessidade de Pela definição de escala:
medições com régua como na escala gráfica. Um exem-
𝑑 1 5
plo de escala numérica: 1:50.000 𝐸= → = → 𝐷 = 5 ∙ 7.700.000 = 38.500.00 𝑐𝑚
Isso significa que 1 cm no mapa equivale a 50.000 cm
𝐷 7.700.000 𝐷
na realidade. Logo, a distância em quilômetros é igual a: 385 km
Considerando o tamanho da representação de deter- Entre Belo Horizonte e Vitória.
minado mapa ou desenho, a escala pode ser classificada Pela definição de escala:
de três formas:
Natural: a escala natural é aquela na qual o tamanho 𝐸=
𝑑

1 4
= → 𝐷 = 4,5 ∙ 7.700.000 = 34.650.00 𝑐𝑚
do desenho coincide com o tamanho do objeto real. 𝐷 7.700.000 𝐷
Reduzida: a escala reduzida é aquela na qual o de- Logo, a distância em quilômetros é igual a: 346,5 km
senho é menor do que a realidade. É a escala na qual a
maioria dos mapas é feita. 2. (NOVA CONCURSOS - 2018) Em uma cidade duas
Ampliada: a escala ampliada é aquela na qual o de- atrações turísticas distam 4 km. Sabe-se que no mapa
senho é maior do que a realidade. Figuras obtidas com dessa cidade, esses pontos estão distantes 20 cm um do
auxílio de microscópios, por exemplo, estão em escala outro. Qual é a escala do mapa?
ampliada.
Resposta: 1:20000 Antes de utilizar a definição de es-
Cálculo de Escala cala é importante que ambas as distâncias estejam na
A escala (E) pode ser expressa como: mesma medida. Assim, é necessário passar 4 km para
𝑑 cm: 4 km=400000 cm.
𝐸=
𝐷 Pela definição de escala:
onde d é a distância medida no desenho (mapa) e D é 𝑑 20 1
a distância real do objeto (local que o mapa representa). 𝐸=
𝐷
→𝐸= =
400000 20000
→ 𝐸 = 1: 20000
Assim é possível calcular quaisquer distâncias medidas
no desenho.
3. (NOVA CONCURSOS - 2018) Qual será a distância
entre dois pontos em um mapa sabendo que a escala do
FIQUE ATENTO! mapa é de 1:200 000 e a distância real entre eles é de 8
km?
Não se esqueça de trabalhar sempre com as
mesmas unidades de medida! Resposta: 4 cm. Antes de utilizar a definição de escala
é importante que ambas as distâncias estejam na mes-
ma medida. Assim, é necessário passar 8 km para cm:
8 km=800000 cm.
EXERCÍCIOS COMENTADOS Pela definição de escala:
𝑑 1 𝑑 1 𝑑
1. (NOVA CONCURSOS - 2018) Considere o mapa a seguir: 𝐸= → = → = → 𝑑 = 4𝑐𝑚
𝐷 200000 800000 2 8

GRANDEZAS E MEDIDAS: PROBLEMAS


ENVOLVENDO SISTEMAS DE MEDIDAS.

Sistema de Unidades de Medidas

O sistema de medidas e unidades existe para quanti-


ficar dimensões. Como a variação das mesmas pode ser
gigantesca, existem conversões entre unidades para me-
lhor leitura.
MATEMÁTICA

Fonte: GIRARDI, G. ROSA, J.V. 1998 (Adaptação)

75
Medidas de Comprimento

A unidade principal (utilizada no sistema internacional de medidas) de comprimento é o metro. Para medir dimen-
sões muito maiores ou muito menores que essa referência, surgiram seis unidades adicionais:

km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)

A conversão de unidades de comprimento segue potências de 10. Para saber o quanto se deve multiplicar (ou di-
vidir), utiliza-se a regra do 10 c , onde c é o número de casas que se andou na tabela acima. Adicionalmente, se você
andou para a direita, o número deverá ser multiplicado, se andou para a esquerda, será dividido. As figuras a seguir
exemplificam as conversões:

Ex: Conversão de 2,3 metros para centímetros

km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você
vai converter.

2o passo: Conte a
quantidade de casas
que você anda de uma
unidade para a outra. De
metro para centímetro
foram 2 casas.
km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)

Ex: Conversão de 125 000 mm para decâmetro:

km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)
1º passo: Inicia-se
da unidade que
você vai converter.

2º passo: Conte a quan-


tidade de casas que você
anda de uma unidade para
a outra. De milímetro para
decâmetro são 4 casas.
MATEMÁTICA

km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)

76
km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)

Medidas de Área (Superfície)

As medidas de área seguem as mesmas referências que as medidas de comprimento. A unidade principal é o metro
quadrado e as outras seis unidades são apresentadas a seguir:

km² hm² dam² m² dm² cm² mm²


(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)

A conversão de unidades segue com potências de 10. A diferença agora é que ao invés da regra de 10c , utiliza-
-se a regra de 102c , ou seja, o número de casas que se andou deve ser multiplicado por 2. A definição se multiplica
ou divide segue a mesma regra: Andou para a direita, multiplica, andou para a esquerda, divide. Sigam os exemplos:

Ex: Conversão de 2 km² para m²

km² hm² dam² m² dm² cm² mm²


(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você
vai converter.

2º passo: Conte a
quantidade de casas que
você andou. Neste caso,
de km2 para m2, andou-
se 3 casas.
km² hm² dam² m² dm² cm² mm²
(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)


MATEMÁTICA

77
Ex: Conversão de 20 mm² para cm²

km² hm² dam² m² dm² cm² mm²


(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você vai
converter.

2o passo: Conte a quantidade


de casas que você andou.
Neste caso, de mm2 para
cm2, andou-se 1 casa.
km² hm² dam² m² dm² cm² mm²
(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)

Medidas de Volume (Capacidade)

As medidas de volume seguem as mesmas referências que as medidas de comprimento. A unidade principal é o
metro cúbico e as outras seis unidades são apresentadas a seguir:

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)

c
A conversão de unidades segue com potências de 10. A diferença agora é que ao invés da regra de 10 , utiliza-se
a regra de 103c , ou seja, o número de casas que se andou deve ser multiplicado por 3. A definição se multiplica ou
divide segue a mesma regra: Andou para a direita, multiplica, andou para a esquerda, divide. Sigam os exemplos:

Ex: Conversão de 3,7 m³ para cm³

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você vai
converter.
MATEMÁTICA

78
km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³
(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)

2o passo: Conte a
quantidade de
casas que você andou.
Neste caso, de m3
para cm3, forma2 casas.

Ex: Conversão de 50000 dm³ para m³

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)
1o passo:
Inicia-se
da unidade
que você vai
converter.

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)

2o passo: Conte a
quantidade de ca-
sas que você an-
dou. Neste caso, de
m3 para dm3, an-
dou-se 1 casa.

kL hL dal³ l³ dl³ cl³ ml³


(quilolitro) (hectolitro) (decalitro) (litro) (decilitro) (centilitro) (mililitro)

Para essa tabela, o roteiro para converter unidades de medidas é o mesmo utilizado para as medidas anteriores. A
diferença é que para cada unidade à direita multiplica-se por 10 e para cada unidade à esquerda divide-se por 10 (igual
para unidades de comprimento).

Medidas de Massa
MATEMÁTICA

As medidas de massa segue a base 10, como as medidas de comprimento. A unidade principal é o grama (g) e suas
seis unidades complementares estão apresentadas a seguir:

79
kg hg dag g dg cg mg
(kilograma) (hectograma) (decagrama) (grama) (decígrama) (centígrama) (milígrama)

Os passos para conversão de unidades segue o mesmo das medidas de comprimento. Utiliza-se a regra do 10c ,
multiplicando se caminha para a direita e divide quando caminha para a esquerda.

FIQUE ATENTO!
Outras unidades importantes:
• Massa: A tonelada, sendo que 1 tonelada vale 1000 kg.
• Volume : O litro (l) que vale 1 decímetro cúbico (dm³) e o mililitro, que vale 1 cm³.
• Área: O hectare (ha) que vale 1 hectômetro quadrado (ou 10000 m²) e o alqueire, (varia de região para
região e normalmente a conversão desejada é dada na prova).

Medidas de Tempo

Desse grupo, o sistema hora – minuto – segundo, que mede intervalos de tempo, é o mais conhecido.
2h = 2 ∙ 60min = 120 min = 120 ∙ 60s = 7 200s

Para passar de uma unidade para a menor seguinte, multiplica-se por 60.
0,3h não indica 30 minutos nem 3 minutos; como 1 décimo de hora corresponde a 6 minutos, conclui-se que 0,3h
= 18min.

Para medir ângulos, também temos um sistema não decimal. Nesse caso, a unidade básica é o grau. Na astronomia,
na cartografia e na navegação são necessárias medidas inferiores a 1º. Temos, então:
1 grau equivale a 60 minutos (1º = 60’)
1 minuto equivale a 60 segundos (1’ = 60”)

Os minutos e os segundos dos ângulos não são, é claro, os mesmos do sistema hora – minuto – segundo. Há uma
coincidência de nomes, mas até os símbolos que os indicam são diferentes:
1h32min24s é um intervalo de tempo ou um instante do dia.
1º 32’ 24” é a medida de um ângulo.

#FicaDica
Por motivos óbvios, cálculos no sistema hora – minuto – segundo são similares a cálculos no sistema grau
– minuto – segundo, embora esses sistemas correspondam a grandezas distintas.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. Raquel saiu de casa às 13h 45min, caminhando até o curso de inglês que fica a 15 minutos de sua casa, e chegou na
hora da aula cuja duração é de uma hora e meia. A que horas terminará a aula de inglês?

a) 14h
b) 14h 30min
c) 15h 15min
d) 15h 30min
e) 15h 45min

Resposta: Letra D. Basta somarmos todos os valores mencionados no enunciado do teste, ou seja:
13h 45min + 15 min + 1h 30 min = 15h 30min
Logo, a questão correta é a letra D.
MATEMÁTICA

2. 348 mm3 equivalem a quantos decilitros?

Resposta: “0, 00348 dl”.


Como 1 cm3 equivale a 1 ml, é melhor dividirmos 348 mm3 por mil, para obtermos o seu equivalente em centímetros
cúbicos: 0,348 cm3.

80
Logo 348 mm3 equivalem a 0, 348 ml, já que cm3 e ml se
equivalem. COMPRIMENTO DA CIRCUNFERÊNCIA.
Neste ponto já convertemos de uma unidade de me- CÁLCULO DE ÁREAS DAS PRINCIPAIS
dida de volume, para uma unidade de medida de ca- FIGURAS PLANAS. ÁREAS E VOLUMES
pacidade. DOS PRINCIPAIS SÓLIDOS GEOMÉTRICOS.
Falta-nos passarmos de mililitros para decilitros, quan- TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO:
do então passaremos dois níveis à esquerda. Dividire-
CONSTRUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE
mos então por 10 duas vezes:
0,348ml:10:100,00348dl
TABELAS E GRÁFICOS. NOÇÕES BÁSICAS
Logo, 348 mm³ equivalem a 0, 00348 dl. DE ESTATÍSTICA.

3. Passe 50 dm2 para hectômetros quadrados.


Prezado candidato, os tópicos acima foram abor-
Resposta: 0, 00005 hm². dados ao decorrer da matéria.
Para passarmos de decímetros quadrados para hectô-
metros quadrados, passaremos três níveis à esquerda.
Dividiremos então por 100 três vezes: PROBABILIDADE.
50dm2:100:100:100 ⟹ 0,00005hm2
Isto equivale a passar a vírgula seis casas para a es-
querda.
Portanto, 50 dm² é igual a 0, 00005 hm². PROBABILIDADE

4. Passe 5.200 gramas para quilogramas. 1. Ponto Amostral, Espaço Amostral e Evento

Resposta: 5,2 kg. Em uma tentativa com um número limitado de re-


Para passarmos 5.200 gramas para quilogramas, deve- sultados, todos com chances iguais, devemos considerar
mos dividir (porque na tabela grama está à direita de três definições fundamentais:
quilograma) 5.200 por 10 três vezes, pois para passar- Ponto Amostral: Corresponde a qualquer um dos re-
mos de gramas para quilogramas saltamos três níveis sultados possíveis.
à esquerda. Espaço Amostral: Corresponde ao conjunto dos re-
sultados possíveis; será representado por S e o número
Primeiro passamos de grama para decagrama, depois
de elementos do espaço amostra por n(S).
de decagrama para hectograma e finalmente de hec-
Evento: Corresponde a qualquer subconjunto do es-
tograma para quilograma:
paço amostral; será representado por A e o número de
5200g:10:10:10 ⟹ 5,2Kg
elementos do evento por n(A).
Isto equivale a passar a vírgula três casas para a es-
querda.
Os conjuntos S e Ø também são subconjuntos de S,
Portanto, 5.200 g são iguais a 5,2 kg.
portanto são eventos.
5. Converta 2,5 metros em centímetros.
Ø = evento impossível.
S = evento certo.
Resposta: 250 cm.
Para convertermos 2,5 metros em centímetros, deve- 2. Conceito de Probabilidade
mos multiplicar (porque na tabela  metro  está à es-
querda de centímetro) 2,5 por 10 duas vezes, pois para As probabilidades têm a função de mostrar a chance
passarmos de metros para centímetros saltamos dois de ocorrência de um evento. A probabilidade de ocorrer
níveis à direita. um determinado evento A, que é simbolizada por P(A),
Primeiro passamos de metros para decímetros e de- de um espaço amostral S≠ Ø , é dada pelo quociente en-
pois de decímetros para centímetros: tre o número de elementos A e o número de elemento S.
2,5m∙10∙10 ⟹ 250cm Representando:
Isto equivale a passar a vírgula duas casas para a di-
n(A)
reita. P A =
Logo, 2,5 m é igual a 250 cm. N(S)

Ex: Ao lançar um dado de seis lados, numerados de 1


a 6, e observar o lado virado para cima, temos:
a) um espaço amostral, que seria o conjunto S
{1,2,3,4,5,6}..
b) um evento número par, que seria o conjunto A1 =
MATEMÁTICA

{2,4,6} C S.
c) o número de elementos do evento número par é
n(A1) = 3.

81
d) a probabilidade do evento número par é 1/2, pois 6. Eventos Mutuamente Exclusivos
n(A1 ) 3 1
P A = = =
N(S) 6 2

3.Propriedades de um Espaço Amostral Finito e


Não Vazio

a) Em um evento impossível a probabilidade é igual a


zero. Em um evento certo S a probabilidade é igual
a 1. Simbolicamente: P( Ø ) = 0 e P(S)= 1
b) Se A for um evento qualquer de S, neste caso: 0 ≤ Considerando que A ∩ B, nesse caso A e B serão de-
P(A) ≤ 1. nominados mutuamente exclusivos. Observe que A ∩ B
c) Se A for o complemento de A em S, neste caso P(A) = 0, portanto: P(A ∪ B) = P(A) + P(B). Quando os eventos
= 1 - P(A) A1 , A2 , A3 , … , An de S forem, de dois em dois, sempre mu-
tuamente exclusivos, nesse caso temos, analogicamente:
4. Demonstração das Propriedades
P(A1 ∪ A2 ∪ A3 ∪ … ∪ An ) = P(A1 ) + P(A2 ) + P(A3 ) + . . . + P(An )
Considerando S como um espaço finito e não vazio,
temos:
7. Eventos Exaustivos

Quando os eventos A , A , A , … , A de S forem,


de dois em dois, mutuamente exclusivos, estes serão de-
1 2 3 n

nominados exaustivos se:


A1 ∪ A2 ∪ A3 ∪ … ∪ An = S

�=S
A∪A

A∩�
A=∅

5.União de Eventos

Considere A e B como dois eventos de um espaço


amostral S, finito e não vazio, temos:

n(A∪B)=n(A)+n(B)-n(A∩B)↔

n(A ∪ B) n(A) n(B) n(A ∩ B)


↔ = + −
n(S) n(S) n(S) n(S)
MATEMÁTICA

Logo: P(A ∪ B) = P(A) + P(B) - P(A ∩ B)

82
6. (Pref. Teresina – PI) Roberto trabalha 6 horas por dia
de expediente em um escritório. Para conseguir um dia
HORA DE PRATICAR! extra de folga, ele fez um acordo com seu chefe de que
trabalharia 20 minutos a mais por dia de expediente pelo
1.(SAAE de Aimorés – MG) Em uma festa de aniversário, número de dias necessários para compensar as horas de
cada pessoa ingere em média 5 copos de 250 ml de refri- um dia do seu trabalho. O número de dias de expediente
gerante. Suponha que em uma determinada festa, havia que Roberto teve que trabalhar a mais para conseguir
20 pessoas presentes. Quantos refrigerantes de 2 litros o seu dia de folga foi igual a Parte superior do formulário
organizador da festa deveria comprar para alimentar as
20 pessoas?  a) 16
b) 15
a) 12 c) 18
b) 13 d) 13
c) 15 e) 12
d) 25
7.(ITAIPU BINACIONAL) O valor da expressão:
2. Analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa 1 + 1 + 1 + 1𝑥7 + 1 + 1𝑥0 + 1 − 1 é
CORRETA:
I) 3 𝑥 4 ∶ 2 = 6 a) 0
II) 3 + 4 𝑥 2 = 14 b) 11
III) O resto da divisão de 18 por 5 é 3 c) 12
d) 29
a) I somente e) 32
b) I e II somente
c) I e III somente 8. Qual a diferença prevista entre as temperaturas no
d) I, II e III Piauí e no Rio Grande do Sul, num determinado dia, se-
gundo as informações? Tempo no Brasil: Instável a enso-
3. (Pref. de Timon – MA) O problema de divisão 648 : 2 larado no Sul. Mínima prevista -3º no Rio Grande do Sul.
é equivalente à: Máxima prevista 37° no Piauí.

a) 600: 2 𝑥 40: 2 𝑥 8: 2 a) 34
b) 6: 2 + 4: 2 + 8: 2 b) 36
c) 600: 2 − 40: 2 − 8: 2 c) 38
d) 600: 2 + 40: 2 + 8: 2 d) 40
e) 6: 2𝑥4: 2𝑥8: 2 e) 42

4. (Pref. de São José do Cerrito – SC) Qual o valor da 9. Qual é o produto de três números inteiros consecuti-
expressão: 34 + 14.4⁄2 − 4 ? vos em que o maior deles é –10?

a) 58 a) -1320
b) -31 b) -1440
c) 92 c) +1320
d) -96 d) +1440
e) nda
5. (IF-ES) Um caminhão tem uma capacidade máxima de
700 kg de carga. Saulo precisa transportar 35 sacos de ci- 10. Três números inteiros são consecutivos e o menor
mento de 50 kg cada um. Utilizando-se desse caminhão, deles é +99. Determine o produto desses três números.
o número mínimo de viagens que serão necessárias para
realizar o transporte de toda a carga é de: a) 999.000
b) 999.111
a) 4 c) 999.900
b) 5 d) 999.999
c) 2 e) 1.000.000
d) 6
e) 3
MATEMÁTICA

83
11. Adicionando –846 a um número inteiro e multiplican- 16. (IF-SE – TÉCNICO DE TECNOLOGIA DA INFOR-
do a soma por –3, obtém-se +324. Que número é esse? MAÇÃO - FDC-2014) João, nascido entre 1980 e 1994,
irá completar, em 2014, x anos de vida. Sabe-se que x
a) 726 é divisível pelo produto dos seus algarismos. Em 2020,
b) 738 João completará a seguinte idade:
c) 744
d) 752 a) 32
e) 770 b) 30
c) 28
12. Numa adição com duas parcelas, se somarmos 8 à d) 26
primeira parcela, e subtrairmos 5 da segunda parcela, o
que ocorrerá com o total? 17. (PREF. ITATINGA-PE – ASSISTENTE ADMINIS-
TRATIVO – IDHTEC/2016) O número 102 + 101 + 100 é
a) -2 a representação de que número?
b) -1
c) +1 a) 100
d) +2 b) 101
e) +3 c) 010
d) 111
13. (Prefeitura de Chapecó – Engenheiro de Trânsito e) 110
– IOBV/2016) A alternativa cujo valor não é divisor de
18.414 é: 18. (TRF-SP – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2014) O
resultado da expressão numérica 53 : 51 × 54 : 5 × 55 : 5 :
a) 27 56 - 5 é igual a :
b) 31
c) 37 a) 120.
d) 22
1
b)
5
14. Verifique se os números abaixo são divisíveis por 4.
c) 55.
a) 23418 d) 25.
b) 65000 e) 620.
c) 38036
d) 24004 19. (FEI-SP) O valor da expressão B = 5 . 108 . 4 . 10-3 é:
e) 58617
a) 206
15. (ALGÁS – ASSISTENTE DE PROCESSOS ORGANI- b) 2 . 106
ZACIONAIS – COPEVE/2014) c) 2 . 109
d) 20 . 10-4
Critério de divisibilidade por 11
20. (PREF. GUARULHOS-SP –ASSISTENTE DE GES-
Esse critério é semelhante ao critério de divisibilidade por TÃO ESCOLAR – VUNESP/2016) Para iniciar uma visita
9. Um número é divisível por 11 quando a soma alter- monitorada a um museu, 96 alunos do 8º ano e 84 alunos
nada dos seus algarismos é divisível por 11. Por soma do 9º ano de certa escola foram divididos em grupos,
alternada queremos dizer que somamos e subtraímos todos com o mesmo número de alunos, sendo esse nú-
algarismos alternadamente (539  5 - 3 + 9 = 11). mero o maior possível, de modo que cada grupo tivesse
Disponível em:<http://educacao.globo.com>  . Acesso somente alunos de um único ano e que não restasse ne-
em: 07 maio 2014.   nhum aluno fora de um grupo. Nessas condições, é cor-
reto afirmar que o número total de grupos formados foi
Se A e B são algarismos do sistema decimal de numera-
ção e o número 109AB é múltiplo de 11, então a) 8
b) 12
a) B = A c) 13
b) A+B=1 d) 15
c) B-A=1 e) 18
d) A-B=10
e) A+B=-10
MATEMÁTICA

84
21. (PREF. ITATINGA-PE – ASSISTENTE ADMINIS- 2.5 (PREF. TERRA DE AREIA-RS – AGENTE ADMI-
TRATIVO – IDHTEC/2016) Um ciclista consegue fazer NISTRATIVO – OBJETIVA/2016) Três funcionários
um percurso em 12 min, enquanto outro faz o mesmo (Fernando, Gabriel e Henrique) de determinada empresa
percurso 15 min. Considerando que o percurso é circular deverão dividir o valor de R$ 950,00 entre eles, de forma
e que os ciclistas partem ao mesmo tempo do mesmo diretamente proporcional aos dias trabalhos em certo
local, após quanto tempo eles se encontrarão? mês. Sabendo-se que Fernando trabalhou 10 dias, Ga-
briel, 12, e Henrique, 16, analisar os itens abaixo: 
a) 15 min I - Fernando deverá receber R$ 260,00.
b) 30 min II - Gabriel deverá receber R$ 300,00.
c) 1 hora III - Henrique deverá receber R$ 410,00.
d) 1,5 horas Está(ão) CORRETO(S):
e) 2 horas
a) II
22. (PREF. SANTA TERIZINHA DO PROGRESSO-SC b) I e II
– PROFESSOR DE MATEMÁTICA – CURSIVA/2018) c) I e III
Acerca dos números primos, analise. d) II e III
I- O número 11 é um número primo; e) Todos os itens
II- O número 71 não é um número primo;
III- Os números 20 e 21 são primos entre si. 26. (TRT- 15ª REGIÃO SP– ANALISTA JUDICIÁRIO –
FCC/2018) André, Bruno, Carla e Daniela eram sócios em
Dos itens acima: um negócio, sendo a participação de cada um, respecti-
vamente, 10%, 20%, 20% e 50%. Bruno faleceu e, por não
a) Apenas o item I está correto. ter herdeiros naturais, estipulara, em testamento, que sua
b) Apenas os itens I e II estão corretos. parte no negócio deveria ser distribuída entre seus só-
c) Apenas os itens I e III estão corretos. cios, de modo que as razões entre as participações dos
d) Todos os itens estão corretos. três permanecessem inalteradas. Assim, após a partilha, a
nova participação de André no negócio deve ser igual a:
23. (SAMAE DE CAXIAS DO SUL –RS – OPERADOR
DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO a) 20%.
– OBJETIVA/2017) Marcar C para as afirmativas Certas, b) 8%
E para as Erradas e, após, assinalar a alternativa que apre- c) 12,5%
senta a sequência CORRETA: d) 15%
(---) Pertencem ao conjunto dos números naturais ímpa- e) 10,5%
res os números ímpares negativos e os positivos.
(---) O número 72 é divisível por 2, 3, 4, 6, 8 e 9 27. (PREF. GUARULHOS-SP – AUXILIAR ADMINIS-
(---) A decomposição do número 256 em fatores primos TRATIVO – VUNESP/2018) Um terreno retangular tem
é 27 35 m de largura e 1750 m2 de área. A razão entre a largu-
(---) Considerando-se os números 84 e 96, é correto afir- ra e o comprimento desse terreno é 
mar que o máximo divisor comum é igual a 12.
a) 0,8.
a) E - E - C - C. b) 0,7.
b) E - C - C - E. c) 0,6.
c) C - E - E - E. d) 0,5.
d) E - C - E - C. e) 0,4.
e) C - E - C - C.
Leia o texto, para responder a Questão a seguir:
24. (PREF. GUARULHOS-SP – AGENTE ESCOLAR
– VUNESP/2016) No ano de 2014, três em cada cinco Uma loja vende peças de MDF (mistura de fibras de ma-
estudantes, na faixa etária dos 18 aos 24 anos, estavam deira prensada) retangulares para artesãos. A unidade
cursando o ensino superior, segundo dados do Instituto padrão mede 22 cm de comprimento por 15 cm de lar-
Brasileiro de Geografia e Estatística. Supondo-se que na- gura e custa R$ 24,00.
quele ano 2,4 milhões de estudantes, naquela faixa etária,
não estivesse cursando aquele nível de ensino, o número
dos que cursariam o ensino superior, em milhões, seria:

a) 3,0
b) 3,2
MATEMÁTICA

c) 3,4
d) 3,6 Fonte: http://voltarelliprudente.com.br/ o-que-e-m-
e) 4,0 df-cru/

85
O catálogo desta loja disponibiliza peças com outras me- 30. Certo concreto é obtido misturando-se uma parte de
didas cortadas a partir da unidade padrão. Observe que cimento, dois de areis e quatro de pedra. Qual será (em
ele está com informações incompletas em relação a área m³) a quantidade de areia a ser empregada, se o volume
e preço das peças. a ser concretado é 378 m³?

a) 108m3
b) 100m3
c) 80m3
e) 60m3

31. A herança de R$ 30.000,00 deve ser repartida entre


Antonio, Bento e Carlos. Cada um deve receber em partes
diretamente proporcionais a 3, 5 e 6, respectivamente, e
inversamente proporcionais às idades de cada um. Sa-
bendo-se que Antonio tem 12 anos, Bento tem 15 anos
e Carlos 24 anos, qual será a parte recebida por Bento?

a) R$ 12.000,00.
b) R$ 14.000,00.
b) R$ 8.000,00.
c) R$ 24.000,00.

32. (SAAE Aimorés- MG – Ajudante – MÁXIMA/2016)


Misturam-se 30 litros de álcool com 20 litros de gasolina.
A porcentagem de gasolina na mistura é igual a: 

a) 40%
b) 20%
c) 30%
d) 10%

33. (PREF. PIRAÚBA-MG – OFICIAL DE SERVIÇO PÚ-


BLICO – MS CONCURSOS/2017) Certo estabelecimen-
to de ensino possui em seu quadro de estudantes alunos
de várias idades. A quantidade de alunos matriculados
neste estabelecimento é de 1300. Sabendo que deste to-
tal 20% são alunos maiores de idade, podemos concluir
que a quantidade de alunos menores de idade que estão
matriculados é:

a) 160
b) 1040
28. (UTPR 2018) O preço de cada peça é definido pro- c) 1100
porcionalmente à área de cada uma em relação à unida- d) 1300
de padrão. Por exemplo, a área da peça B é metade da
área da unidade padrão, desse modo o preço da peça B 34. (PREF. JACUNDÁ-PA – AUXILIAR ADMINISTRA-
é metade do preço da unidade padrão, ou seja, R$ 12,00. TIVO – INAZ/2016) Das 300 dúzias de bananas que seu
Assim, as peças A, C e D custam respectivamente:  José foi vender na feira, no 1° dia, ele vendeu 50% ao
preço de R$ 3,00 cada dúzia; no 2° dia ele vendeu 30%
a) R$ 12,00; R$ 12,00; R$ 4,00 da quantidade que sobrou ao preço de R$ 2,00; e no 3°
b) R$ 12,00; R$ 6,00; R$ 6,00 dia ele vendeu 20% do que restou da venda dos dias
c) R$ 6,00; R$ 4,00; R$ 4,00 anteriores ao preço de R$ 1,00. Quanto seu José apurou
d) R$ 12,00; R$ 4,00; R$ 6,00 com as vendas das bananas nos três dias?
e) R$ 12,00; R$ 6,00; R$ 4,00
a) R$ 700,00
29. Dividindo-se 660 em partes inversamente proporcio- b) R$ 540,00
nais aos números 1/2, 1/3 e 1/6 obtém-se que números? c) R$ 111,00
MATEMÁTICA

d) R$ 450,00
a) 30, 10, 5. e) R$ 561,00
b) 30, 20, 10.
c) 40, 30, 20.
d) 20, 10, 5

86
35. (COLÉGIO PEDRO II – PROFESSOR – 2016) Com 40. (EBSERH – ADVOGADO – IBFC/2016) Joana gas-
a criação de leis trabalhistas, houve muitos avanços em tou 60% de 50% de 80% do valor que possuía. Portanto,
relação aos direitos dos trabalhadores. Entretanto, ainda a porcentagem que representa o que restou para Joana
há muitas barreiras. Atualmente, a renda das mulheres do valor que possuía é:
corresponde, aproximadamente, a três quartos da renda
dos homens. Considerando os dados apresentados, qual a) 76%
a diferença aproximada, em termos percentuais, entre a b) 24%
renda do homem e a da mulher? c) 32%
d) 68%
a) 75% e) 82%
b) 60%
c) 34% 41. (TRT 11ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO –
d) 25% FCC/2015) Em 2015 as vendas de uma empresa foram
60% superiores as de 2014. Em 2016 as vendas foram
36. (EBSERH – TÉCNICO EM ENFERMAGEM – 40% inferiores as de 2015. A expectativa para 2017 é de
IBFC/2017) Paulo gastou 40% de 3/5 de seu salário e que as vendas sejam 10% inferiores as de 2014. Se for
ainda lhe restou R$ 570,00. Nessas condições o salário confirmada essa expectativa, de 2016 para 2017 as ven-
de Paulo é igual a: das da empresa vão.

a) R$ 2375,00 a) diminuir em 6,25%


b) R$ 750,00 b) aumentar em 4%
c) R$ 1240,00 c) diminuir em 4%
d) R$ 1050,00 d) diminuir em 4,75%
e) R$ 875,00 e) diminuir em 5,5%

37. (PREF. TANGUÁ-RJ – TÉCNICO E ENFERMAGEM 42. (SAMAE CAXIAS DO SUL –RS –AJUSTADOR DE
– MS CONCURSOS/2017) Raoni comprou um fogão HIDRÔMETROS – OBJETIVA/2017) Em certa turma de
com 25% de desconto, pagando por ele R$ 330,00. Qual matemática do Ensino Fundamental, o professor dividiu
era o preço do fogão sem o desconto? igualmente os 34 alunos em dois grupos (A e B) para
que participassem de certa competição de matemática
a) R$ 355,00 envolvendo frações. Para cada resposta correta dada
b) R$ 412,50 pelo grupo, este ganhava 10 pontos e, para cada respos-
c) R$ 440,00 ta incorreta, o grupo transferia 5 dos seus pontos para a
d) R$ 460,00 equipe adversária. Considerando-se que os grupos A e B
iniciaram a competição com 20 pontos cada, e as ques-
38. (EBSERH – ADVOGADO – IBFC/2016) Ao comprar tões foram as seguintes, assinalar a alternativa CORRETA:
um produto, José obteve um desconto de 12% (doze
por cento) por ter pagado à vista e pagou o valor de R$
105,60 (cento e cinco reais e sessenta centavos). Nessas
condições, o valor do produto, sem desconto, é igual a:

a) R$ 118,27
b) R$ 125,00
c) R$ 120,00
d) R$ 130,00
e) R$ 115,00

39. (PREF. ITAPEMA-SC – AGENTE MUNICIPAL DE


TRÂNSITO – MS CONCURSOS/2016) Segundo da-
dos do IBGE, a população de Itapema (SC) em 2010 era
de, aproximadamente, 45.800 habitantes. Já atualmente,
essa população é de, aproximadamente, 59.000 habitan-
tes. O aumento percentual dessa população no período
de 2010 a 2016 foi de:

a) 22,4%
b) 28,8%
MATEMÁTICA

c) 71,2%
d) 77,6%
a)  grupo B ficou com 25 pontos a mais do que o grupo A.
b) grupo A ficou com 10 pontos a mais do que o grupo B.
c) grupo B ganhou ao todo 30 pontos e perdeu 5.

87
d) grupo A ganhou ao todo 20 pontos e perdeu 10. 47. (EMAP – CARGOS DE NÍVEL MËDIO – CES-
e) Os dois grupos terminaram a competição com a mes- PE/2018) Os operadores dos guindastes do Porto de
ma pontuação, 30 pontos cada. Itaqui são todos igualmente eficientes. Em um único dia,
seis desses operadores, cada um deles trabalhando du-
43. (UFGO) Uma fração equivalente a 3/4 cujo denomi- rante 8 horas, carregam 12 navios.
nador é um múltiplo dos números 3 e 4 é: Com referência a esses operadores, julgue o item seguin-
te.
a) 6/8
b) 9/12 Para carregar 18 navios em um único dia, seis desses
c) 15/24 operadores deverão trabalhar durante mais de 13 horas.
d) 12/16
( ) CERTO ( ) ERRADO

44. (COLÉGIO PEDRO II – PROFESSOR – 2018) O nú- 48. (PREF. SUZANO-SP – GUARDA CIVIL MUNICI-
mero decimal que representa a quantidade de crianças e PAL – VUNESP/2018) Para imprimir um lote de panfle-
jovens envolvidos em atividades não agrícolas no Brasil, tos, uma gráfica utiliza apenas uma máquina, trabalhan-
segundo o PNAD 2015, é:  do 5 horas por dia durante 3 dias. O número de horas
diárias que essa máquina teria que trabalhar para impri-
a) 68/10 mir esse mesmo lote em 2 dias seria 
b) 0,68
c) 6,8 a) 8,0.
d) 68/100 b) 7,5.
c) 7,0.
45. Em seu testamento, uma mulher decide dividir seu d) 6,5.
patrimônio entre seus quatro filhos. Tal divisão foi feita e) 6,0.
da seguinte forma:
49. (VUNESP – CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO CAR-
• João receberá 1/5; LOS – AGENTE DE COPA – 2013) Com uma lata de leite
• Camila receberá 15%; condensado, é possível se fazer 30 brigadeiros. Sabendo
• Ana receberá R$ 16.000,00; que o preço de cada lata é de 4 reais, e para uma come-
• Carlos receberá 25%. moração serão necessários 450 brigadeiros, o total gasto,
em reais, para fazer esses brigadeiros, será de
A fração que representa a parte do patrimônio recebida
por Ana é: a) 45
b) 53
a) 2/4. c) 60
b) 3/5. d) 70.
c) 2/5.
d) 1/4. 50. (VUNESP – CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO CAR-
e) 3/4. LOS – RECEPCIONISTA – 2013) Num posto de gaso-
lina, foi pedido ao frentista que enchesse o tanque de
46. Bela é uma leitora voraz. Ela comprou uma cópia combustível. Foram colocados 20,6 litros de gasolina, pe-
do best seller «A Beleza da Matemática». No primeiro dia, los quais custou R$ 44,29. Se fossem colocados 38 litros
Bela leu 1/5 das páginas mais 12 páginas, e no segundo de gasolina, o valor a ser pago seria de
dia, ela leu 1/4 das páginas restantes mais 15 páginas.
No terceiro dia, ela leu 1/3 das páginas restantes mais 18 a) R$ 37,41.
páginas. Então, Bela percebeu que restavam apenas 62 b) R$ 79,80.
páginas para ler, o que ela fez no dia seguinte. Então, o c) R$ 81,70.
livro lido por Bela possuía o seguinte número de páginas: d) R$ 85,30.
e) R$ 88,50.
a) 120.
b) 180. 51. (VUNESP - CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO CAR-
c) 240. LOS – RECEPCIONISTA – 2013) Lendo 30 páginas por
d) 300. dia de um livro, gastarei 6 dias para ler esse livro. Se eu
ler 20 páginas por dia desse mesmo livro, gastarei

a) 9 dias.
MATEMÁTICA

b) 8 dias.
c) 6 dias.
d) 5 dias.
e) 4 dias.

88
52. (VUNESP – PROCON – AUXILIAR DE MANUTEN- 56. (SES-PR – TÉCNICO DE ENFERMAGEM –
ÇÃO – 2013) Um supermercado fez a seguinte oferta UFPR/2009) Uma indústria metalúrgica consegue pro-
“3/4 de quilograma de carne moída por apenas R$ 4,50 duzir 24.000 peças de determinado tipo em 4 dias, tra-
‘’. Uma pessoa aproveitou a oferta e comprou 3 quilogra- balhando com seis máquinas idênticas, que funcionam 8
mas de carne moída. Essa pessoa pagou pelos 3 quilo- horas por dia em ritmo idêntico de produção. Quantos
gramas de carne dias serão necessários  para que essa indústria consiga
produzir 18.000 peças, trabalhando apenas com 4 dessas
R$ 18,00. máquinas, no mesmo ritmo de produção, todas elas fun-
R$ 18,50. cionando 12 horas por dia?
R$ 19,00.
R$ 19,50. a) 3.
R$ 20,00. b) 4.
c) 5.
53. (VUNESP – TJM – SP – AGENTE DE SEGURAN- d) 6.
ÇA JUDICIÁRIA – 2013) Se certa máquina trabalhar e) 8.
seis horas por dia, de forma constante e sem parar, ela
produzira n peças em seis dias. Para produzir quantidade 57. (CISMARPA – AUXILIAR ADMINISTRATIVO –
igual das mesmas peças em quatro dias, essa máquina IPEFAE/2015)  Em um restaurante, 4 cozinheiros fazem
deverá trabalhar diariamente, nas mesmas condições, um 120 pratos em 5 dias. Para atender uma demanda maior
número de horas igual a de pessoas, o gerente desse estabelecimento contratou
mais 2 cozinheiros. Quantos pratos serão feitos em 8 dias
a) 12. de funcionamento do restaurante? 
b) 10.
c) 9. a) 288
d) 8.
b) 294
c) 296
54. (VUNESP – AUXILIAR AGROPECUÁRIO – 2014)
d) 302
O refeitório de uma fábrica prepara suco para servir no
almoço. Com 5 litros de suco é possível encher comple-
58. (CRO-SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO –
tamente 20 copos de 250 ml. Em um certo dia, foram
VUNESP/2015) Cinco máquinas, todas de igual eficiên-
servidas 90 refeições e acompanhando cada uma delas,
cia, funcionando 8 horas por dia, produzem 600 peças
1 copo com 250 ml de suco. O número, mínimo, de litros
por dia. O número de peças que serão produzidas por 12
de suco necessário para o almoço, desse dia, foi
dessas máquinas, funcionando 10 horas por dia, durante
a) 21,5. 5 dias, será igual a
b) 22.
c) 22,5. a) 1800.
d) 23. b) 3600.
e) 23,5. c) 5400.
d) 7200.
55. (PREF. TERESINA-PI – PROFESSOR – NUCE- e) 9000.
PE/2016) Sabendo que o comprimento do muro Parque
Zoobotânico é de aproximadamente 1,7 km e sua altura 59. (PREF. PORTO ALEGRE-RS – FMP CONCUR-
é de 1,7 m, um artista plástico pintou uma área corres- SOS/2012) A construção de uma casa é realizada em 10
pondente a 34 m² do muro em 8 horas trabalhadas em dias por 30 operários trabalhando 8 horas por dia. O nú-
um único dia. Trabalhando no mesmo ritmo e nas mes- mero de operários necessários para construir uma casa
mas condições, para pintar este muro, o pintor levará em 8 dias trabalhando 6 horas por dia é

a) 83 dias. a) 18.
b) 84 dias. b) 24.
c) 85 dias. c) 32.
d) 86 dias. d) 38.
e) 87 dias. e) 50.
MATEMÁTICA

89
60.(VUNESP – PMESP – CURSO DE FORMAÇÃO DE
OFICIAIS – 2014) A tabela, com dados relativos à cidade
de São Paulo, compara o número de veículos de frota, o GABARITO
número de radares e o valor total, em reais, arrecada-
do com multas de trânsito, relativos aos anos de 2004 e 1 B
2013:
2 C

Ano Frota Radares Arrecadação 3 D


4 A
2004 5,8 milhões 260 328 milhões
5 E
2013 7,5 milhões 601 850 milhões
6 C
Se o número de radares e o valor da arrecadação ti- 7 B
vessem crescido de forma diretamente proporcional ao
8 D
crescimento da frota de veículos no período considera-
do, então em 2013 a quantidade de radares e o valor 9 A
aproximado da arrecadação, em milhões de reais (des- 10 C
considerando-se correções monetárias), seriam, respec-
tivamente, 11 B
12 E
a) 336 e 424. 13 C
b) 336 e 426.
c) 334 e 428. 14 B
d) 334 e 430. 15 C
e) 330 e 432. 16 B
17 D
18 A
19 B
20 D
21 C
22 C
23 D
24 D
25 A
26 C
27 B
28 E
29 A
30 B
31 A
32 A
33 B
34 E
35 D
36 B
37 C
38 C
39 B
MATEMÁTICA

40 A
41 A
42 C

90
43 B ANOTAÇÕES
44 C
45 B
46 C ________________________________________________

47 Errado _________________________________________________
48 B _________________________________________________
49 C
_________________________________________________
50 C
51 A _________________________________________________
52 A _________________________________________________
53 C
_________________________________________________
54 C
_________________________________________________
55 C
56 A _________________________________________________
57 A _________________________________________________
58 E
_________________________________________________
59 E
60 A _________________________________________________

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MATEMÁTICA

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91
ANOTAÇÕES

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MATEMÁTICA

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92
ÍNDICE

INFORMÁTICA

Conceitos, características das modalidades de processamento: online, off-line, batch, time sharing, real time....... 01
Arquitetura dos computadores: conceitos, características, funções e componentes de hardware, dispositivos de
entrada, saída e de entrada/saída de dados, mídias, memória, dispositivos de armazenamento................................... 01
Noções de Redes de Computadores......................................................................................................................................................... 08
Software: conceitos, características, software básico X software aplicativo.............................................................................. 10
Sistema Operacional Windows (7/8.1/10 BR): conceitos, características, atalhos de teclado, teclas de função,
ícones, uso dos recursos................................................................................................................................................................................ 10
Microsoft Office 2013/2016/2019 BR (Word, Excel e Power Point): conceitos, características, atalhos de teclado,
teclas de função, ícones, uso dos recursos............................................................................................................................................. 18
Versão Google Docs. Web X Internet: conceitos, características, browsers Edge, Google Chrome e Firefox Mozilla,
correio eletrônico x e-mails, Webmail, atalhos de teclado, teclas de função, ícones, uso dos recursos........................ 42
Computação em Nuvem................................................................................................................................................................................ 53
Redes Sociais...................................................................................................................................................................................................... 54
Segurança de sistemas, de equipamentos, em redes e na internet. Vírus, Backup, Firewall.............................................. 54
no momento em que são registradas, gerando um novo
CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS DAS processamento subsequente. Ex.: Piloto automático, sis-
MODALIDADES DE PROCESSAMENTO: tema de Reserva de Passagens Aéreas ou sistema de GPS
ONLINE, OFF-LINE, BATCH, TIME SHARING, É muito parecido com o processamento On-line, só
REAL TIME. que após as informações serem processadas que acon-
tece no mesmo momento em que são registradas, ela
acaba gerando um novo processamento.
Conceitos e modalidades de processamento  
  Time sharing ou tempo compartilhado ou proces-
Processamento de dados  é uma série de atividades samento multiusuário
executadas ordenadamente, que resultará em uma es-
pécie de arranjo de informações, onde inicialmente são Permite a muitos usuários utilizar um mesmo compu-
coletadas informações, ou dados, que passam por uma tador, dando a impressão de que está dedicado exclusi-
organização onde no final será o objetivo que o usuário vamente a cada um deles (cada usuário recebe o controle
ou sistema. pretende utilizar da CPU durante um determinado tempo – milissegun-
  dos). Basicamente, time sharing consiste em alternar en-
Batch ou processamento em lote: tre diferentes processos de forma que o usuário tenha a
As tarefas são agrupadas fisicamente e processadas percepção que todos os processos estão sendo executa-
sequencialmente uma após a outra. Iniciado o processa- dos simultaneamente, permitindo a interação com múlti-
mento este é executado até o término da última tarefa, plos processos em execução. Esta percepção é dada pela
sem que o usuário tenha acesso a ele. velocidade em que as trocas de tempos de execução em
No nosso dia-a-dia muitos processamentos são rea- UPC ocorrem, sendo tão frequentes que se tornam não
lizados em Batch e não nos damos conta disso como, perceptíveis do ponto de vista do usuário.
por exemplo: Leituras de consumo de água, luz, cartões
de crédito e débito para o comerciante. Explicando: Na Fonte: Conceitos e modalidades de processamen-
leitura de consumo de água por exemplo, a distribuidora to (batch x offline x online x real time x time sharing)
de água não fica sabendo qual foi o seu consumo auto- Disponível em: https://centraldefavoritos.com.
maticamente após a leitura, e sim somente após a che- br/2018/05/07/conceitos-e-modalidades-de-pro-
gada do funcionário na sede da empresa onde todos os cessamento-batch-x-offline-x-online-x-real-time-
dados serão processados. -x-time-sharing/ Acesso em 12 de fevereiro de 2020
 
Processamento off-line:
No sistema OFF-LINE os dados de entrada não são Prezado candidato, complete seus estudos em
enviados diretamente ao servidor, mas são armazenados para este tópico em “Noções de Redes de Compu-
em algum meio intermediário (discos magnéticos, fitas tadores”.
magnéticas, etc…) para posterior processamento. Os dis-
positivos off-line são utilizados para preparação de uma
ARQUITETURA DOS COMPUTADORES:
fita, disco ou cartão, para posterior transmissão. Poste-
riormente esses dados são transmitidos ao servidor utili- CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS, FUNÇÕES
zando-se de um equipamento on-line (leitora de cartão, E COMPONENTES DE HARDWARE,
fita ou disco). No sistema off-line não há comunicação DISPOSITIVOS DE ENTRADA, SAÍDA
direta entre o terminal e o servidor. E DE ENTRADA/SAÍDA DE DADOS,
  MÍDIAS, MEMÓRIA, DISPOSITIVOS DE
Online ou processamento em linha: ARMAZENAMENTO.
Não há a necessidade de agrupar as tarefas para pos-
terior processamento. Existe a interação operador máqui-
na. Processamento On-line: É o processamento atualiza-
do, as informações são processadas no mesmo momento Conceitos e fundamentos básicos de informática
em que são registradas. Como no processamento em
Batch, o processamento On-line é mais frequente do que A Informática é um meio para diversos fins, com isso
você imagina. Como por exemplo: Créditos de celulares, acaba atuando em todas as áreas do conhecimento. A
operações financeiras, operações com cartões de crédi- sua utilização passou a ser um diferencial para pessoas e
to e débito para o usuário. Podemos citar um exemplo empresas, visto que, o controle da informação passou a
bem comum para descrever esse tipo de processamento, ser algo fundamental para se obter maior flexibilidade no
o cartão de debito, o valor é descontado de sua conta no mercado de trabalho. Logo, o profissional, que melhor
mesmo momento em que você realiza a compra. integrar sua área de atuação com a informática, atingi-
rá, com mais rapidez, os seus objetivos e, consequente-
INFORMÁTICA

Real time ou processamento em tempo real mente, o seu sucesso, por isso em quase todos editais de
concursos públicos temos Informática.
Neste sistema, o dado é processado no momento em
que é informado (tempo de resposta definido). É o pro-
cessamento imediato, as informações são processadas

1
• O usuário pode executar o software, para qualquer
#FicaDica uso.
• Existe a liberdade de estudar o funcionamento do
Informática pode ser considerada como sig- programa e de adaptá-lo às suas necessidades.
nificando “informação automática”, ou seja, a • É permitido redistribuir cópias.
utilização de métodos e técnicas no tratamen- • O usuário tem a liberdade de melhorar o programa
to automático da informação. Para tal, é preci-
e de tornar as modificações públicas de modo que
so uma ferramenta adequada: O computador.
a comunidade inteira beneficie da melhoria.
A palavra informática originou-se da jun-
ção de duas outras palavras: informação e
automática. Esse princípio básico descreve Entre os principais sistemas operacionais pode-se
o propósito essencial da informática: tra- destacar o Windows (Microsoft), em suas diferentes ver-
balhar informações para atender as neces- sões, o Macintosh (Apple) e o Linux (software livre criado
sidades dos usuários de maneira rápida e pelo finlandês Linus Torvalds), que apresenta entre suas
eficiente, ou seja, de forma automática e versões o Ubuntu, o Linux Educacional, entre outras.
muitas vezes instantânea. É o principal software do computador, pois possibilita
que todos os demais programas operem.

O que é um computador?
#FicaDica
O computador é uma máquina que processa dados, Android é um Sistema Operacional desen-
orientado por um conjunto de instruções e destinado a volvido pelo Google para funcionar em
produzir resultados completos, com um mínimo de inter- dispositivos móveis, como Smartphones e
venção humana. Entre vários benefícios, podemos citar: Tablets. Sua distribuição é livre, e qualquer
: grande velocidade no processamento e disponibili- pessoa pode ter acesso ao seu código-
zação de informações; -fonte e desenvolver aplicativos (apps) para
: precisão no fornecimento das informações; funcionar neste Sistema Operacional.
: propicia a redução de custos em várias atividades iOS, é o sistema operacional utilizado pelos
: próprio para execução de tarefas repetitivas; aparelhos fabricados pela Apple, como o
iPhone e o iPad.
Como ele funciona?
Em informática, e mais especialmente em computado-
res, a organização básica de um sistema será na forma de: Identificação e manipulação de arquivos

Pastas – são estruturas digitais criadas para organizar


arquivos, ícones ou outras pastas.
Arquivos – são registros digitais criados e salvos atra-
Figura 1: Etapas de um processamento de dados. vés de programas aplicativos. Por exemplo, quando abri-
mos a Microsoft Word, digitamos uma carta e a salvamos
Vamos observar agora, alguns pontos fundamentais para no computador, estamos criando um arquivo.
o entendimento de informática em concursos públicos.
Hardware, são os componentes físicos do computa- Ícones – são imagens representativas associadas a progra-
dor, ou seja, tudo que for tangível, ele é composto pelos mas, arquivos, pastas ou atalhos. As duas figuras mostradas
periféricos, que podem ser de entrada, saída, entrada- nos itens anteriores são ícones. O primeiro representa uma
-saída ou apenas saída, além da CPU (Unidade Central de pasta e o segundo, um arquivo criado no programa Excel.
Processamento) Atalhos – são ícones que indicam um caminho mais
Software, são os programas que permitem o funcio- curto para abrir um programa ou até mesmo um arquivo.
namento e utilização da máquina (hardware), é a parte Clicando com o botão direito do mouse sobre um es-
lógica do computador, e pode ser dividido em Sistemas paço vazio da área de trabalho, temos as seguintes op-
Operacionais, Aplicativos, Utilitários ou Linguagens de ções, de organização:
Programação.
O primeiro software necessário para o funcionamen-
to de um computador é o Sistema Operacional (Sistema
Operacional). Os diferentes programas que você utiliza
em um computador (como o Word, Excel, PowerPoint
etc) são os aplicativos. Já os utilitários são os programas
que auxiliam na manutenção do computador, o antivírus
é o principal exemplo, e para finalizar temos as Lingua-
INFORMÁTICA

gens de Programação que são programas que fazem ou-


tros programas, como o JAVA por exemplo.
Importante mencionar que os softwares podem ser
livres ou pagos, no caso do livre, ele possui as seguintes
características:

2
mento ocorre, mas do lado esquerdo, não é possível vi-
sualizar a opção “Criar atalho”, como é possível observar
nas figuras a seguir:

Figura 3: Organizar ícones

-Nome: Organiza os ícones por ordem alfabética de


nomes, permanecendo inalterados os ícones pa-
drão da área de trabalho. Figura 4: Windows Explorer – botão direito
-Tamanho: Organiza os ícones pelo seu tamanho em
bytes, permanecendo inalterados os ícones padrão A figura a cima mostra as opções exibidas no menu sus-
da área de trabalho. penso quando clicamos na pasta DOWNLOADS com o botão
-Tipo: Organiza os ícones em grupos de tipos, por direito do mouse, do lado esquerdo do Windows Explorer.
exemplo, todas as pastas ficarão ordenadas em No Windows Explorer podemos realizar facilmente
sequência, depois todos os arquivos, e assim por opções de gerenciamento como copiar, recortar, colar e
diante, permanecendo inalterados os ícones pa- mover, pastas e arquivos.
drão da área de trabalho.
-Modificado em: Organiza os ícones pela data da últi- -Copiar e Colar: consiste em criar uma cópia idêntica
ma alteração, permanecendo inalterados os ícones da pasta, arquivo ou atalho selecionado. Para essa tarefa,
padrão da área de trabalho. podemos adotar os seguintes procedimentos:
-Organizar automaticamente: Não permite que os íco- 1º) Selecione o item desejado;
nes sejam colocados em qualquer lugar na área de 2º) Clique com o botão direito do mouse e depois
trabalho. Quando arrastados pelo usuário, ao soltar o com o esquerdo em “copiar”. Se preferir, pode usar
botão esquerdo, o ícone voltará ao seu lugar padrão. as teclas de atalho CTRL+C. Esses passos criarão
-Alinhar à grade: estabelece uma grade invisível para uma cópia do arquivo ou pasta na memória RAM
alinhamento dos ícones. do computador, mas a cópia ainda não estará em
-Mostrar ícones da área de trabalho: Oculta ou mostra nenhum lugar visível do sistema operacional.
os ícones colocados na área de trabalho, inclusive 3º) Clique com o botão direito do mouse no local
os ícones padrão, como Lixeira, Meu Computador e onde deseja deixar a cópia e depois, com o esquer-
Meus Documentos. do, clique em “colar”. Também podem ser usadas
-Bloquear itens da Web na área de trabalho: Bloquea as teclas CTRL + V, para efetivar o processo de co-
recursos da Internet ou baixados em temas da web lagem.
e usados na área de trabalho.
-Executar assistente para limpeza da área de trabalho: Dessa forma, teremos o mesmo arquivo ou pasta em
Inicia um assistente para eliminar da área de trabalho mais de um lugar no computador.
ícones que não estão sendo utilizados.
-Recortar e Colar: Esse procedimento retira um arqui-
Para acessar o Windows Explorer, basta clicar no bo- vo ou pasta de um determinado lugar e o coloca em ou-
tão Windows, Todos os Programas, Acessórios, Windows tro. É como se recortássemos uma figura de uma revista
Explorer, ou usar a tecla do Windows+E. O Windows Ex- e a colássemos em um caderno. O que recortarmos ficará
plorer é um ambiente do Windows onde podemos rea- apenas em um lugar do computador.
lizar o gerenciamento de arquivos e pastas. Nele, temos Os passos necessários para recortar e colar, são:
duas divisões principais: o lado esquerdo, que exibe as 1º) Selecione o item desejado;
pastas e diretórios em esquema de hierarquia e o lado 2º) Clique com o botão direito do mouse e depois
direito que exibe o conteúdo das pastas e diretórios se- com o esquerdo em “recortar”. Se preferir, pode
INFORMÁTICA

lecionados do lado esquerdo. usar as teclas de atalho CTRL+X. Esses passos cria-
Quando clicamos, por exemplo, sobre uma pasta com rão uma cópia do arquivo ou pasta na memória
RAM do computador, mas a cópia ainda não estará
o botão direito do mouse, é exibido um menu suspenso
em nenhum lugar visível do sistema operacional.
com diversas opções de ações que podem ser realizadas.
Em ambos os lados (esquerdo e direito) esse procedi-

3
3º) Clique com o botão direito do mouse no local Conceitos básicos de Hardware (Placa mãe, me-
onde deseja deixar a cópia e depois, com o esquer- mórias, processadores (CPU) e disco de armazena-
do, clique em “colar”. Também podem ser usadas mento HDs, CDs e DVDs)
as teclas CTRL + V, para efetivar o processo de co-
lagem. Os gabinetes são dotados de fontes de alimentação
de energia elétrica, botão de ligar e desligar, botão de re-
Lixeira: Contém os arquivos e pastas excluídos pelo set, baias para encaixe de drives de DVD, CD, HD, saídas
usuário. Para excluirmos arquivos, atalhos e pastas, po- de ventilação e painel traseiro com recortes para encaixe
demos clicar com o botão direito do mouse sobre eles e de placas como placa mãe, placa de som, vídeo, rede,
depois usar a opção “Excluir”. Outra forma é clicar uma cada vez mais com saídas USBs e outras.
vez sobre o objeto desejado e depois pressionar o botão No fundo do gabinete existe uma placa de metal
delete, no teclado. Esses dois procedimentos enviarão onde será fixada a placa mãe. Pelos furos nessa placa é
para lixeira o que foi excluído, sendo possível a restaura- possível verificar se será possível ou não fixar determi-
ção, caso haja necessidade. Para restaurar, por exemplo, nada placa mãe em um gabinete, pois eles têm que ser
um arquivo enviado para a lixeira, podemos, após abri-la, proporcionais aos furos encontrados na placa mãe para
restaurar o que desejarmos. parafusá-la ou encaixá-la no gabinete.

#FicaDica
Placa-mãe, é a placa principal, formada por
um conjunto de circuitos integrados (“chip
set“) que reconhece e gerencia o funciona-
mento dos demais componentes do com-
putador.

Figura 5: Restauração de arquivos Se o processador pode ser considerado o “cérebro”


enviados para a lixeira do computador, a placa-mãe (do inglês  motherboard)
representa a espinha dorsal, interligando os demais peri-
féricos ao processador.
#FicaDica O disco rígido, do inglês  hard disk, também conhe-
cido como HD, serve como unidade de armazenamento
A restauração de objetos enviados para a
permanente, guardando dados e programas.
lixeira pode ser feita com um clique com o
Ele armazena os dados em discos magnéticos que
botão direito do mouse sobre o item dese-
mantêm a gravação por vários anos, se necessário.
jado e depois, outro clique com o esquerdo
Esses discos giram a uma alta velocidade e tem seus da-
em “Restaurar”. Isso devolverá, automatica-
dos gravados ou acessados por um braço móvel composto
mente o arquivo para seu local de origem.
por um conjunto de cabeças de leitura capazes de gravar
Outra forma de restaurar é usar a opção
ou acessar os dados em qualquer posição nos discos.
“Restaurar este item”, após selecionar o
Dessa forma, os computadores digitais (que traba-
objeto.
lham com valores discretos) são totalmente binários.
Toda informação introduzida em um computador é con-
vertida para a forma binária, através do emprego de um
Alguns arquivos e pastas, por terem um tamanho código qualquer de armazenamento, como veremos
muito grande, são excluídos sem irem antes para a Li- mais adiante.
xeira. Sempre que algo for ser excluído, aparecerá uma A menor unidade de informação armazenável em um
mensagem, ou perguntando se realmente deseja enviar computador é o algarismo binário ou dígito binário, conhe-
aquele item para a Lixeira, ou avisando que o que foi se- cido como bit (contração das palavras inglesas binarydigit).
lecionado será permanentemente excluído. Outra forma O bit pode ter, então, somente dois valores: 0 e 1.
de excluir documentos ou pastas sem que eles fiquem Evidentemente, com possibilidades tão limitadas, o
armazenados na Lixeira é usar as teclas de atalho Shif- bit pouco pode representar isoladamente; por essa ra-
t+Delete. zão, as informações manipuladas por um computador
No Linux a forma mais tradicional para se manipular são codificadas em grupos ordena- dos de bits, de modo
arquivos é com o comando chmod que altera as permis- a terem um significado útil.
sões de arquivos ou diretórios. É um comando para ma- O menor grupo ordenado de bits representando uma
nipulação de arquivos e diretórios que muda as permis- informação útil e inteligível para o ser humano é o byte
INFORMÁTICA

sões para acesso àqueles, por exemplo, um diretório que (leia-se “baite”).
poderia ser de escrita e leitura, pode passar a ser apenas Como os principais códigos de representação de
leitura, impedindo que seu conteúdo seja alterado. caracteres utilizam grupos de oito bits por caracter, os
conceitos de byte e caracter tornam-se semelhantes e as
palavras, quase sinônimas.

4
É costume, no mercado, construírem memórias cujo Ele não precisar recarregar energia para manter os
acesso, armazenamento e recuperação de informações dados armazenados. Isso o torna seguro e estável, ao
são efetuados byte a byte. Por essa razão, em anúncios contrário dos antigos disquetes. É utilizado através de
de computadores, menciona-se que ele possui “512 uma porta USB (Universal Serial Bus).
mega bytes de memória”; por exemplo, na realidade, em Cartões de memória, são baseados na tecnologia flash,
face desse costume, quase sempre o termo byte é omiti- semelhante ao que ocorre com a memória RAM do computa-
do por já subentender esse valor. dor, existe uma grande variedade de formato desses cartões.
Para entender melhor essas unidades de memórias, São muito utilizados principalmente em câmeras
veja a imagem abaixo: fotográficas e telefones celulares. Podem ser utilizados
também em microcomputadores.
BIOS é o Basic Input/Output System, ou Sistema Básico
de Entrada e Saída, trata-se de um mecanismo responsá-
vel por algumas atividades consideradas corriqueiras em
um computador, mas que são de suma importância para
o correto funcionamento de uma máquina.

#FicaDica
BIOS é o Basic Input/Output System, ou Sis-
Figura 6: Unidade de medida de memórias
tema Básico de Entrada e Saída, trata-se de
um mecanismo responsável por algumas
Em resumo, a cada degrau que você desce na Figura 3
atividades consideradas corriqueiras em
é só você dividir por 1024 e a cada degrau que você sobe
um computador, mas que são de suma im-
basta multiplicar por 1024. Vejamos dois exemplos abaixo:
portância para o correto funcionamento de
uma máquina.
Transformar 16422282522
Transformar 4 gigabytes kilobytes em terabytes:
em kilobytes: 16422282522 / 1024 =
4 * 1024 = 4096 megaby- 16037385,28 megabytes Só depois de todo esse processo de identificação é
tes 16037385,28 / 1024 = que a BIOS passa o controle para o sistema operacional e
4096 * 1024 = 4194304 15661,51 gigabytes o boot acontece de verdade.
kilobytes. 15661,51 / 1024 = 15,29 te- Diferentemente da memória RAM, as memórias ROM
rabytes. (Read Only Memory – Memória Somente de Leitura) não
são voláteis, mantendo os dados gravados após o desli-
USB é abreviação de “Universal Serial Bus”. É a porta gamento do computador.
de entrada mais usada atualmente. As primeiras ROM não permitiam a regravação de seu
Além de ser usado para a conexão de todo o tipo conteúdo. Atualmente, existem variações que possibili-
de dispositivos, ele fornece uma pequena quantidade de tam a regravação dos dados por meio de equipamentos
energia. Por isso permite que os conectores USB sejam especiais. Essas memórias são utilizadas para o armaze-
usados por carregadores, luzes, ventiladores e outros namento do BIOS.
equipamentos. O processador que é uma peça de computador que
A fonte de energia do computador ou, em inglês é contém instruções para realizar tarefas lógicas e mate-
responsável por converter a voltagem da energia elétrica, máticas. O processador é encaixado na placa mãe atra-
que chega pelas tomadas, em voltagens menores, capazes vés do socket, ele que processa todas as informações do
de ser suportadas pelos componentes do computador. computador, sua velocidade é medida em Hertz e os fa-
bricantes mais famosos são Intel e AMD.
Monitor de vídeo O processador do computador (ou CPU – Unidade
Normalmente um dispositivo que apresenta informa- Central de Processamento) é uma das partes principais
ções na tela de LCD, como um televisor atual. do hardware do computador e é responsável pelos cál-
Outros monitores são sensíveis ao toque (chamados culos, execução de tarefas e processamento de dados.
de touchscreen), onde podemos escolher opções tocan- Contém um conjunto de restritos de células de me-
do em botões virtuais, apresentados na tela. mória chamados registradores que podem ser lidos e
escritos muito mais rapidamente que em outros dispo-
Impressora sitivos de memória. Os registra- dores são unidades de
Muito popular e conhecida por produzir informações memória que representam o meio mais caro e rápido de
impressas em papel. armazenamento de dados. Por isso são usados em pe-
Atualmente existem equipamentos chamados im- quenas quantidades nos processadores.
INFORMÁTICA

pressoras multifuncionais, que comportam impressora, Em relação a sua arquitetura, se destacam os modelos
scanner e fotocopiadoras num só equipamento. RISC (Reduced Instruction Set Computer) e CISC (Com-
Pen drive é a mídia portátil mais utilizada pelos usuá- plex Instruction Set Computer). Segundo Carter [s.d.]:
rios de computadores atualmente.

5
... RISC são arquiteturas de carga-armazenamento, en- aceleração gráfica 3D, resolução, quantidade de cores e,
quanto que a maior parte das arquiteturas CISC permite como não poderíamos esquecer, qual o padrão de encai-
que outras operações também façam referência à memória. xe na placa mãe que ela deverá usar (atualmente seguem
Possuem um clock interno de sincronização que defi- opções de PCI ou AGP). Vamos ver esses itens um a um:
ne a velo- cidade com que o processamento ocorre. Essa Placas de som são hardwares específicos para traba-
velocidade é medida em Hertz. Segundo Amigo (2008): lhar e projetar a sons, seja em caixas de som, fones de
Em um computador, a velocidade do clock se refere ouvido ou microfone. Essas placas podem ser onboard,
ao número de pulsos por segundo gerados por um osci- ou seja, com chipset embutido na placa mãe, ou of-
lador (dispositivo eletrônico que gera sinais), que deter- fboard, conectadas em slots presentes na placa mãe. São
mina o tempo necessário para o processador executar dispositivos de entrada e saída de dados, pois tanto per-
uma instrução. Assim para avaliar a performance de um mitem a inclusão de dados (com a entrada da voz pelo
processador, medimos a quantidade de pulsos gerados microfone, por exemplo) como a saída de som (através
em 1 segundo e, para tanto, utilizamos uma unidade de das caixas de som, por exemplo).
medida de frequência, o Hertz. Placas de rede são hardwares específicos para inte-
grar um computador a uma rede, de forma que ele possa
enviar e receber informações. Essas placas podem ser on-
board, ou seja, com chipset embutido na placa mãe, ou
offboard, conectadas em slots presentes na placa mãe.

#FicaDica
Alguns dados importantes a serem obser-
vados em uma placa de rede são: a arquite-
tura de rede que atende os tipos de cabos
de rede suportados e a taxa de transmissão.

Periféricos de Computadores
Figura 7: Esquema Processador
Para entender o suficiente sobre periféricos para con-
Na placa mãe são conectados outros tipos de placas, curso público é importante entender que os periféricos
com seus circuitos que recebem e transmite dados para são os componentes (hardwares) que estão sempre liga-
desempenhar tarefas como emissão de áudio, conexão à dos ao centro dos computadores.
Internet e a outros computadores e, como não poderia Os periféricos são classificados como:
faltar, possibilitar a saída de imagens no monitor. Dispositivo de Entrada: É responsável em transmitir a
Essas placas, muitas vezes, podem ter todo seu hard- informação ao computador. Exemplos: mouse, scanner,
ware reduzido a chips, conectados diretamente na placa microfone, teclado, Web Cam, Trackball, Identificador
mãe, utilizando todos os outros recursos necessários, que Biométrico, Touchpad e outros.
não estão implementa- dos nesses chips, da própria mo- Dispositivos de Saída: É responsável em receber a in-
therboard. Geralmente esse fato implica na redução da formação do computador. Exemplos: Monitor, Impresso-
velocidade, mas hoje essa redução é pouco considerada, ras, Caixa de Som, Ploter, Projector de Vídeo e outros.
uma vez que é aceitável para a maioria dos usuários. Dispositivo de Entrada e Saída:  É responsável em
No entanto, quando se pretende ter maior potência transmitir e receber informação ao computador. Exem-
de som, melhor qualidade e até aceleração gráfica de plos: Drive de Disquete, HD, CD-R/RW, DVD, Blu-ray, mo-
imagens e uma rede mais veloz, a opção escolhida são as dem, Pen-Drive, Placa de Rede, Monitor Táctil, Dispositivo
placas off board. Vamos conhecer mais sobre esse termo de Som e outros.
e sobre as placas de vídeo, som e rede:
Placas de vídeo são hardwares específicos para traba-
lhar e projetar a imagem exibida no monitor. Essas placas
#FicaDica
podem ser onboard, ou seja, com chipset embutido na Periféricos sempre podem ser classificados
placa mãe, ou off board, conectadas em slots presentes em três tipos: entrada, saída e entrada e
na placa mãe. São considerados dispositivos de saída de saída.
dados, pois mostram ao usuário, na forma de imagens,
o resultado do processamento de vários outros dados.
Você já deve ter visto placas de vídeo com especifica-
ções 1x, 2x, 8x e assim por diante. Quanto maior o núme-
INFORMÁTICA

ro, maior será a quantidade de dados que passarão por


segundo por essa placa, o que oferece imagens de vídeo,
por exemplo, com velocidade cada vez mais próxima da
realidade. Além dessa velocidade, existem outros itens im-
portantes de serem observados em uma placa de vídeo:

6
Resposta: Letra A. Devemos conectar a impressora ao
computador por meio de um cabo USB 2.0 ou um cabo
EXERCÍCIOS COMENTADOS conversor de porta paralela serial para USB 2.0. Deduzi-
mos que esta impressora seja de um dos padrões mais
1. (TRE-BA – CONHECIMENTOS GERAIS – NÍVEL MÉ- comuns de conexão de impressoras: USB, mais recente,
DIO – CESPE – 2017) Tendo como referência a imagem ou paralela serial, não especificada nas configurações
precedente, que ilustra uma tela do Windows Explorer, as- do Notebook, além de ser pouco comum em configu-
sinale a opção correspondente ao local apropriado para o rações padrão de notebooks. Em sendo USB 2.0 não ira
usuário criar atalhos ou armazenar livremente arquivos de influenciar no funcionamento da impressora.
uso corrente ou a que deseje ter acesso mais facilmente.
3. (SEDF - PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA - IN-
FORMÁTICA - CESPE /2017) Acerca dos sistemas de en-
trada, saída e armazenamento em arquiteturas de com-
putadores, julgue o item que se segue.
CD-ROM, pendrive e impressora são exemplos de dispo-
sitivos de entrada e saída do tipo bloco.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Os dispositivos de entrada e saída


podem ser divididos em um modo genérico como dis-
positivos de bloco e caractere.
a) Um dispositivo de bloco armazena as informações em
blocos de tamanho fixo, cada qual com seu endere-
b) ço. Cada bloco pode ser lido ou escrito de maneira
independente uns dos outros. Um dispositivo de blo-
c) co pode estar com um ponteiro em qualquer lugar e
pode ser posicionado para outro cilindro.
d) Dito isso, poderíamos responder à questão apenas
analisando os dispositivos citados:
e) CD-ROM – Só entrada (somente leitura).
PENDRIVE – Dispositivo de ENTRA/SAÍDA.
Resposta: Letra B. A Área de trabalho ou Desktop é a IMPRESSORA – Dispositivo de SAÍDA.
primeira área que nos é exibida ao iniciarmos ou efe-
tuarmos logon no Windows. Através de sua interface, 4. (SEDF – PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA – IN-
podemos criar ou acessar atalhos, iniciar programas, FORMÁTICA – CESPE – 2017) Acerca dos sistemas de
salvar arquivos, etc. entrada, saída e armazenamento em arquiteturas de
computadores, julgue o item que se segue.
2. ((PREFEITURA DE SÃO LUÍS-MA – TÉCNICO MUNI- Quando um sistema usa um canal de acesso direto à
CIPAL – NÍVEL MÉDIO/NÍVEL VII-A – TRANSCRITOR E memória (DMA), a CPU inicia a transferência, mas não a
ADAPTADOR DE SISTEMA BRAILLE – CESPE – 2017) executa.
Uma escola recebeu uma impressora braille nova. No
momento de sua instalação, verificou-se que a esco- ( ) CERTO ( ) ERRADO
la dispunha de apenas um notebook com as seguintes
conexões: duas entradas USB 2.0, entrada USB 3.0, uma
Resposta: Certo, O canal de acesso direto à memória
entrada HDMI, entrada VGA, uma entrada para cartão de
(DMA - Direct Memory Access) é usado para realizar
memória. Para que a impressora funcione corretamente
a transferência dos dados, mas sem a execução dos
com esse notebook, é necessário:
dados pelo processador (CPU), que se encarrega ape-
nas de iniciar ela. O DMA visa melhorar a performance
a) conectar a impressora ao computador por meio de um
geral do micro, permitindo que os periféricos transmi-
cabo USB 2.0 ou um cabo conversor de porta paralela
tam dados diretamente para a memória, poupando o
serial para USB 2.0.
b) instalar um hardware conversor de impressão em tinta processador de mais esta tarefa.
em impressão em braille, conectado ao notebook via
cartão de memória. 5. (SEDF – PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA – IN-
c) conectar a impressora pela entrada VGA, liberando-se FORMÁTICA – CESPE – 2017) Acerca dos sistemas de
as entradas USB para outros dispositivos entrada, saída e armazenamento em arquiteturas de
d) usar um cabo HDMI Full HD com blindagem, tendo em computadores, julgue o item que se segue.
INFORMÁTICA

vista uma melhor qualidade na passagem de dados e Os dispositivos de entrada e saída do tipo caractere uti-
a maior durabilidade do cabo. lizam operações bufferizadas a fim de otimizar o desem-
e) um cabo de impressora que converta a entrada USB penho da transferência de dados.
2.0 para MiniUSB, pois a impressora braille tem uma
conexão analógica. ( ) CERTO ( ) ERRADO

7
Resposta: Errado. O dispositivo de caractere não
utiliza estrutura de blocos nem posicionamento. No NOÇÕES DE REDES DE COMPUTADORES.
dispositivo de caractere ele recebe um fluxo de carac-
teres, além de não ser endereçável. Sua comunicação
é feita através do envio e recebimento de um fluxo Redes de computadores
de caracteres. As operações não são bufferizadas, por-
que são enviadas em sequência, em fluxo. Um buffer Redes de Computadores refere-se à interligação por
é uma pequena área de memória ultra rápida usada meio de um sistema de comunicação baseado em trans-
para melhorar a velocidade de acesso a um determi- missões e protocolos de vários computadores com o ob-
nado dispositivo. É encontrado em HDs, gravadores jetivo de trocar informações, entre outros recursos. Essa
de CD, modems. ligação é chamada de estações de trabalho (nós, pontos
ou dispositivos de rede).
6. (TRE-PE – CONHECIMENTOS GERAIS – INFORMÁ- Atualmente, existe uma interligação entre computado-
TICA – CESPE – 2017) Com relação à figura precedente, res espalhados pelo mundo que permite a comunicação
que mostra parte de uma janela do Windows Explorer, entre os indivíduos, quer seja quando eles navegam pela
assinale a opção correta. internet ou assiste televisão. Diariamente, é necessário utili-
zar recursos como impressoras para imprimir documentos,
reuniões através de videoconferência, trocar e-mails, aces-
sar às redes sociais ou se entreter por meio de jogos, etc.
Hoje, não é preciso estar em casa para enviar e-mails,
basta ter um tablet ou smartphone com acesso à internet
nos dispositivos móveis.
Apesar de tantas vantagens, o crescimento das redes
de computadores também tem seu lado negativo. A cada
dia surgem problemas que prejudicam as relações en-
tre os indivíduos, como pirataria, espionagem, phishing
- roubos de identidade, assuntos polêmicos como racis-
mo, sexo, pornografia, sendo destacados com mais exal-
tação, entre outros problemas.
Há muito tempo, o ser humano sentiu a necessida-
de de compartilhar conhecimento e estabelecer relações
com pessoas a distância. Na década de 1960, durante
a Guerra Fria, as redes de computadores surgiram com
objetivos militares: interconectar os centros de comando
dos EUA para com objetivo de proteger e enviar dados.

Alguns tipos de Redes de Computadores


a) A pasta , por padrão, armazena os ar-
quivos que o usuário deseje guardar temporariamente Antigamente, os computadores eram conectados
antes de enviá-los para uma unidade externa. em distâncias curtas, sendo conhecidas como redes lo-
cais. Mas, com a evolução das redes de computadores,
b) A opção permite aumentar a área de armaze-
foi necessário aumentar a distância da troca de infor-
namento disponível no computador.
mações entre as pessoas. As redes podem ser classifi-
c) No menu , a opção permite a criação cadas de acordo com sua arquitetura (Arcnet, Ethernet,
de uma nova pasta de arquivos dentro da unidade ou DSL, Token ring, etc.), a extensão geográfica (LAN, PAN,
da pasta que tiver sido selecionada. MAN, WLAN, etc.), a topologia (anel, barramento, estrela,
ponto-a-ponto, etc.) e o meio de transmissão (redes por
d) A área é destinada ao compartilhamento de cabo de fibra óptica, trançado, via rádio, etc.).
arquivos da máquina com outros usuários. Veja alguns tipos de redes:
Redes Pessoais (Personal Area Networks – PAN) – se
e) É possível excluir a clicando-se
comunicam a 1 metro de distância. Ex.: Redes Bluetooth;
com o botão direito na opção .
Redes Locais (Local Area Networks – LAN) – redes em
Resposta: Certo.
que a distância varia de 10m a 1km. Pode ser uma sala,
Ao selecionarmos a opção No menu
um prédio ou um campus de universidade;
, é possível criar uma nova pasta no local selecionado.
Redes Metropolitanas (Metropolitan Area Network –
MAN) – quando a distância dos equipamentos conec-
INFORMÁTICA

tados à uma rede atinge áreas metropolitanas, cerca de


10km. Ex.: TV à cabo;
Redes a Longas Distâncias (Wide Area Network –
WAN) – rede que faz a cobertura de uma grande área
geográfica, geralmente, um país, cerca de 100 km;

8
Redes Interligadas (Interconexão de WANs) – são re-
des espalhadas pelo mundo podendo ser interconecta- #FicaDica
das a outras redes, capazes de atingirem distâncias bem
Após montar o cabeamento de rede é neces-
maiores, como um continente ou o planeta. Ex.: Internet;
sário realizar um teste através dos testadores
Rede sem Fio ou Internet sem Fio (Wireless Local Area
de cabos, adquirido em lojas especializadas.
Network – WLAN) – rede capaz de conectar dispositivos
Apesar de testar o funcionamento, ele não
eletrônicos próximos, sem a utilização de cabeamento.
detecta se existem ligações incorretas. É pre-
Além dessa, existe também a WMAN, uma rede sem fio
ciso que um técnico veja se os fios dos cabos
para área metropolitana e WWAN, rede sem fio para
estão na posição certa.
grandes distâncias.

Topologia de Redes
Sistema de Cabeamento Estruturado
Astopologias das redes de computadores são as es- Para que essa conexão não prejudique o ambiente de
truturas físicas dos cabos, computadores e componen- trabalho, em uma grande empresa, são necessárias várias
tes. Existem as topologias físicas, que são mapas que conexões e muitos cabos, sendo necessário o cabeamen-
mostram a localização de cada componente da rede que to estruturado.
serão tratadas a seguir. e as lógicas, representada pelo Por meio dele, um técnico irá poupar trabalho e tem-
modo que os dados trafegam na rede: po, tanto para fazer a instalação, quanto para a remoção
Topologia Ponto-a-ponto – quando as máquinas es- da rede. Ele é feito através das tomadas RJ-45 que pos-
tão interconectadas por pares através de um roteamento sibilitam que vários conectores possam ser inseridos em
de dados; um único local, sem a necessidade de serem conectados
Topologia de Estrela – modelo em que existe um pon- diretamente no hub.
to central (concentrador) para a conexão, geralmente um Além disso, o sistema de cabeamento estruturado
hub ou switch; possui um painel de conexões, o Patch Panel, onde os
Topologia de Anel – modelo atualmente utilizado em cabos das tomadas RJ-45 são conectados, sendo um
automação industrial e na década de 1980 pelas redes concentrador de tomadas, favorecendo a manutenção
Token Ring da IBM. Nesse caso, todos os computadores das redes. Eles são adaptados e construídos para serem
são entreligados formando um anel e os dados são pro- inseridos em um rack.
pagados de computador a computador até a máquina Todo esse planejamento deve fazer parte do projeto
de origem; do cabeamento de rede, em que a conexão da rede é
Topologia de Barramento – modelo utilizado nas pri- pensada de forma a realizar a sua expansão.
meiras conexões feitas pelas redes Ethernet. Refere- se Repetidores: Dispositivo capaz de expandir o cabea-
a computadores conectados em formato linear, cujo ca- mento de rede. Ele poderá transformar os sinais recebi-
beamento é feito sequencialmente; dos e enviá-los para outros pontos da rede. Apesar de
Redes de Difusão (Broadcast) – quando as máquinas serem transmissores de informações para outros pontos,
estão interligadas por um mesmo canal através de paco- eles também diminuem o desempenho da rede, poden-
tes endereçados (unicast, broadcast e multicast). do haver colisões entre os dados à medida que são ane-
xas outras máquinas. Esse equipamento, normalmente,
Cabos encontra-se dentro do hub.
Os cabos ou cabeamentos fazem parte da estrutura Hubs: Dispositivos capazes de receber e concentrar
física utilizada para conectar computadores em rede, es- todos os dados da rede e compartilhá-los entre as outras
tando relacionados a largura de banda, a taxa de trans- estações (máquinas). Nesse momento nenhuma outra
missão, padrões internacionais, etc. Há vantagens e des- máquina consegue enviar um determinado sinal até que
vantagens para a conexão feita por meio de cabeamento. os dados sejam distribuídos completamente. Eles são uti-
Os mais utilizados são: lizados em redes domésticas e podem ter 8, 16, 24 e 32
Cabos de Par Trançado – cabos caracterizados por sua portas, variando de acordo com o fabricante. Existem os
velocidade, pode ser feito sob medida, comprados em Hubs Passivos, Ativos, Inteligentes e Empilháveis.
lojas de informática ou produzidos pelo usuário; Bridges: É um repetidor inteligente que funciona
Cabos Coaxiais – cabos que permitem uma distância
como uma ponte. Ele lê e analisa os dados da rede, além
maior na transmissão de dados, apesar de serem flexíveis,
de relacionar diferentes arquiteturas.
são caros e frágeis. Eles necessitam de barramento ISA,
Switches: Tipo de aparelho semelhante a um hub,
suporte não encontrado em computadores mais novos;
mas que funciona como uma ponte: ele envia os dados
Cabos de Fibra Óptica – cabos complexos, caros e de
apenas para a máquina que o solicitou. Ele possui muitas
difícil instalação. São velozes e imunes a interferências
portas de entrada e melhor performance, podendo ser
eletromagnéticas.
utilizado para redes maiores.
INFORMÁTICA

Roteadores: Dispositivo utilizado para conectar redes


e arquiteturas diferentes e de grande porte. Ele funciona
como um tipo de ponte na camada de rede do modelo
OSI (Open Systens Interconnection - protocolo de inter-

9
conexão de sistemas abertos para conectar máquinas de Um marco que é importante frisar é o surgimento do
diferentes fabricantes), identificando e determinando um WWW que foi a possibilidade da criação da interface grá-
IP para cada computador que se conecta com a rede. fica deixando a internet ainda mais interessante e vanta-
Sua principal atribuição é ordenar o tráfego de da- josa, pois até então, só era possível a existência de textos.
dos na rede e selecionar o melhor caminho. Existem os Para garantir a comunicação entre o remetente e o
roteadores estáticos, capaz de encontrar o menor cami- destinatário o americano Vinton Gray Cerf, conhecido
nho para tráfego de dados, mesmo se a rede estiver con- como o pai da internet criou os protocolos TCP/IP, que
gestionada; e os roteadores dinâmicos que encontram são protocolos de comunicação. O TCP – TRANSMIS-
caminhos mais rápidos e menos congestionados para o SION CONTROL PROTOCOL (Protocolo de Controle de
tráfego. Transmissão) e o IP – INTERNET PROTOCOL (Protocolo
Modem: Dispositivo responsável por transformar a de Internet) são conjuntos de regras que tornam possível
onda analógica que será transmitida por meio da linha tanto a conexão entre os computadores, quanto ao en-
telefônica, transformando-a em sinal digital original. tendimento da informação trocada entre eles.
Servidor: Sistema que oferece serviço para as redes A internet funciona o tempo todo enviando e rece-
de computadores, como por exemplo, envio de arquivos bendo informações, por isso o periférico que permite a
ou e-mail. Os computadores que acessam determinado conexão com a internet chama MODEM, porque que ele
servidor são conhecidos como clientes. MOdula e DEModula sinais, e essas informações só po-
Placa de Rede: Dispositivo que garante a comunica- dem ser trocadas graças aos protocolos TCP/IP.
ção entre os computadores da rede. Cada arquitetura de
rede depende de um tipo de placa específica. As mais
utilizadas são as do tipo Ethernet e Token Ring (rede em
anel). SOFTWARE: CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS,
SOFTWARE BÁSICO X SOFTWARE
Conceitos de tecnologias relacionadas à Internet e APLICATIVO.
Intranet, busca e pesquisa na Web, mecanismos de
busca na Web. Prezado candidato, este material já foi aborda-
do anteriormente.
O objetivo inicial da Internet era atender necessida-
des militares, facilitando a comunicação. A agência nor-
te-americana ARPA – ADVANCED RESEARCH AND PRO-
JECTS AGENCY e o Departamento de Defesa americano, SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS
na década de 60, criaram um projeto que pudesse conec- (7/8.1/10 BR): CONCEITOS,
tar os computadores de departamentos de pesquisas e CARACTERÍSTICAS, ATALHOS DE TECLADO,
bases militares, para que, caso um desses pontos sofres- TECLAS DE FUNÇÃO, ÍCONES, USO DOS
se algum tipo de ataque, as informações e comunicação RECURSOS.
não seriam totalmente perdidas, pois estariam salvas em
outros pontos estratégicos.
O projeto inicial, chamado ARPANET, usava uma co-
Windows
nexão a longa distância e possibilitava que as mensagens
fossem fragmentadas e endereçadas ao seu computador
de destino. O percurso entre o emissor e o receptor da O Windows assim como tudo que envolve a informá-
informação poderia ser realizado por várias rotas, assim, tica passa por uma atualização constante, os concursos
caso algum ponto no trajeto fosse destruído, os dados públicos em seus editais acabam variando em suas ver-
poderiam seguir por outro caminho garantindo a entre- sões, por isso vamos abordar de uma maneira geral tanto
ga da informação, é importante mencionar que a maior as versões do Windows quanto do Linux.
distância entre um ponto e outro, era de 450 quilôme- O Windows é um Sistema Operacional, ou seja, é um
tros. No começo dos anos 80, essa tecnologia rompeu as software, um programa de computador desenvolvido por
barreiras de distância, passando a interligar e favorecer programadores através de códigos de programação. Os
a troca de informações de computadores de universi- Sistemas Operacionais, assim como os demais softwares,
dades dos EUA e de outros países, criando assim uma são considerados como a parte lógica do computador,
rede (NET) internacional (INTER), consequentemente seu uma parte não palpável, desenvolvida para ser utilizada
nome passa a ser, INTERNET. apenas quando o computador está em funcionamento. O
A evolução não parava, além de atingir fronteiras Sistema Operacional (SO) é um programa especial, pois é
continentais, os computadores pessoais evoluíam em o primeiro a ser instalado na máquina.
forte escala alcançando forte potencial comercial, a Inter- Quando montamos um computador e o ligamos pela
net deixou de conectar apenas computadores de univer- primeira vez, em sua tela serão mostradas apenas algu-
sidades, passou a conectar empresas e, enfim, usuários mas rotinas presentes nos chipsets da máquina. Para uti-
domésticos. Na década de 90, o Ministério das Comu- lizarmos todos os recursos do computador, com toda a
INFORMÁTICA

nicações e o Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil qualidade das placas de som, vídeo, rede, acessarmos a
trouxeram a Internet para os centros acadêmicos e co- Internet e usufruirmos de toda a potencialidade do hard-
merciais. Essa tecnologia rapidamente foi tomando conta ware, temos que instalar o SO.
de todos os setores sociais até atingir a amplitude de sua
difusão nos tempos atuais.

10
Após sua instalação é possível configurar as placas - Reinicie o computador.
para que alcancem seu melhor desempenho e instalar - Pressione qualquer tecla, quando solicitado a fazer
os demais programas, como os softwares aplicativos e isso, e siga as instruções exibidas.
utilitários. - Na página de Instalação Windows, insira seu idio-
O SO gerencia o uso do hardware pelo software e ge- ma ou outras preferências e clique em avançar.
rencia os demais programas. - Se a página de Instalação Windows não aparecer
A diferença entre os Sistemas Operacionais de 32 bits e o programa não solicitar que você pressione al-
e 64 bits está na forma em que o processador do com- guma tecla, talvez seja necessário alterar algumas
putador trabalha as informações. O Sistema Operacional configurações do sistema. Para obter mais infor-
de 32 bits tem que ser instalado em um computador que mações sobre como fazer isso, consulte. Inicie o
tenha o processador de 32 bits, assim como o de 64 bits seu computador usando um disco de instalação do
tem que ser instalado em um computador de 64 bits. Windows 7 ou um pen drive USB.
Os Sistemas Operacionais de 64 bits do Windows, - Na página Leia os termos de licença, se você acei-
segundo o site oficial da Microsoft, podem utilizar mais tar os termos de licença, clique em aceito os ter-
memória que as versões de 32 bits do Windows. “Isso mos de licença e em avançar.
ajuda a reduzir o tempo despendi- do na permuta de - Na página que tipo de instalação você deseja? cli-
processos para dentro e para fora da memória, pelo ar- que em Personalizada.
mazenamento de um número maior desses processos na - Na página onde deseja instalar Windows? clique
memória de acesso aleatório (RAM) em vez de fazê-lo em opções da unidade (avançada).
no disco rígido. Por outro lado, isso pode aumentar o - Clique na partição que você quiser alterar, clique na
desempenho geral do programa”. opção de formatação desejada e siga as instruções.
- Quando a formatação terminar, clique em avançar.
Windows 7 - Siga as instruções para concluir a instalação do
Windows 7, inclusive a nomenclatura do compu-
Para saber se o Windows é de 32 ou 64 bits, basta: tador e a configuração de uma conta do usuário
1. Clicar no botão Iniciar , clicar com o botão direito inicial.
em computador e clique em Propriedades.
2. Em sistema, é possível exibir o tipo de sistema. Conceitos de organização e de gerenciamento de
“Para instalar uma versão de 64 bits do Windows 7, informações; arquivos, pastas e programas
você precisará de um processador capaz de executar uma
versão de 64 bits do Windows. Os benefícios de um siste- Pastas – são estruturas digitais criadas para organizar
ma operacional de 64 bits ficam mais claros quando você arquivos, ícones ou outras pastas.
tem uma grande quantidade de RAM (memória de acesso Arquivos – são registros digitais criados e salvos por
aleatório) no computador, normalmente 4 GB ou mais. meio de programas aplicativos. Por exemplo, quando
Nesses casos, como um sistema operacional de 64 bits abrimos o Microsoft Word, digitamos uma carta e a sal-
pode processar grandes quantidades de memória com vamos no computador, estamos criando um arquivo.
mais eficácia do que um de 32 bits, o sistema de 64 bits Ícones – são imagens representativas associadas a
poderá responder melhor ao executar vários programas ao
programas, arquivos, pastas ou atalhos.
mesmo tempo e alternar entre eles com frequência”.
Atalhos – são ícones que indicam um caminho mais
Uma maneira prática de usar o Windows 7 (Win 7) é
curto para abrir um programa ou até mesmo um arquivo.
reinstalá-lo sobre um SO já utilizado na máquina. Nesse
caso, é possível instalar:
Criação de pastas (diretórios)
- Sobre o Windows XP;
- Uma versão Win 7 32 bits, sobre Windows Vista
(Win Vista), também 32 bits;
- Win 7 de 64 bits, sobre Win Vista, 32 bits;
- Win 7 de 32 bits, sobre Win Vista, 64 bits;
- Win 7 de 64 bits, sobre Win Vista, 64 bits;
- Win 7 em um computador e formatar o HD duran-
te a instalação;
- Win 7 em um computador sem SO;

Antes de iniciar a instalação, devemos verificar qual


tipo de instalação será feita, encontrar e ter em mãos a
chave do produto, que é um código que será solicitado
durante a instalação.
Vamos adotar a opção de instalação com formatação
de disco rígido, segundo o site oficial da Microsoft Cor-
INFORMÁTICA

poration:
- Ligue o seu computador, de forma que o Windows
seja inicializado normalmente, insira do disco de
instalação do Windows 7 ou a unidade flash USB e Figura 64: Criação de pastas
desligue o seu computador.

11
Em especial, na área de trabalho, encontramos a barra
#FicaDica de tarefas, que traz uma série de particularidades, como:
Clicando com o botão direito do mouse
em um espaço vazio da área de trabalho
Figura 68: Barra de tarefas
ou outro apropriado, podemos encontrar a
opção pasta.
1) Botão Iniciar: é por ele que entramos em contato
Clicando nesta opção com o botão esquerdo
com todos os outros programas instalados, programas
do mouse, temos então uma forma prática
que fazem parte do sistema operacional e ambientes de
de criar uma pasta.
configuração e trabalho. Com um clique nesse botão,
abrimos uma lista, chamada Menu Iniciar, que contém
opções que nos permitem ver os programas mais aces-
sados, todos os outros programas instalados e os recur-
sos do próprio Windows. Ele funciona como uma via de
acesso para todas as opções disponíveis no computador.
Por meio do botão Iniciar, também podemos:
- desligar o computador, procedimento que encerra
o Sistema Operacional corretamente, e desliga efe-
Figura 65: Criamos aqui uma pasta chamada “Traba- tivamente a máquina;
lho”. - colocar o computador em modo de espera, que
reduz o consumo de energia enquanto a máquina
estiver ociosa, ou seja, sem uso. Muito usado nos
casos em que vamos nos ausentar por um breve
período de tempo da frente do computador;
- reiniciar o computador, que desliga e liga automa-
ticamente o sistema. Usado após a instalação de
alguns programas que precisam da reinicialização
do sistema para efetivarem sua instalação, durante
congelamento de telas ou travamentos da máquina.
- realizar o logoff, acessando o mesmo sistema com
nome e senha de outro usuário, tendo assim um
ambiente com características diferentes para cada
usuário do mesmo computador.

Figura 66: Tela da pasta criada

Clicamos duas vezes na pasta “Trabalho” para abrí-la


e agora criaremos mais duas pastas dentro dela:
Para criarmos as outras duas pastas, basta repetir o
procedimento: botão direito, Novo, Pasta.

Área de trabalho:

Figura 67: Área de Trabalho


Figura 69: Menu Iniciar – Windows 7
A figura acima mostra a primeira tela que vemos
INFORMÁTICA

quando o Windows 7 é iniciado. A ela damos o nome Na figura acima temos o menu Iniciar, acessado com
um clique no botão Iniciar.
de área de trabalho, pois a ideia original é que ela sir-
2) Ícones de inicialização rápida: São ícones coloca-
va como uma prancheta, onde abriremos nossos livros e
dos como atalhos na barra de tarefas para serem
documentos para dar início ou continuidade ao trabalho.
acessados com facilidade.

12
3) Barra de idiomas: Mostra qual a configuração de A restauração de objetos enviados para a lixeira pode
idioma que está sendo usada pelo teclado. ser feita com um clique com o botão direito do mouse
4) Ícones de inicialização/execução: Esses ícones são sobre o item desejado e depois, outro clique com o es-
configurados para entrar em ação quando o com- querdo em “Restaurar”. Isso devolverá, automaticamente
putador é iniciado. Muitos deles ficam em exe- o arquivo para seu local de origem.
cução o tempo todo no sistema, como é o caso
de ícones de programas antivírus que monitoram
constantemente o sistema para verificar se não há #FicaDica
invasões ou vírus tentando ser executados.
5) Propriedades de data e hora: Além de mostrar o Outra forma de restaurar é usar a opção
relógio constantemente na sua tela, clicando duas “Restaurar este item”, após selecionar o
vezes, com o botão esquerdo do mouse nesse íco- objeto.
ne, acessamos as Propriedades de data e hora.
Alguns arquivos e pastas, por terem um tamanho mui-
to grande, são excluídos sem irem antes para a Lixeira.
Sempre que algo for ser excluído, aparecerá uma mensa-
gem, ou perguntando se realmente deseja enviar aquele
item para a Lixeira, ou avisando que o que foi selecionado
será permanentemente excluído. Outra forma de excluir
documentos ou pastas sem que eles fiquem armazenados
na Lixeira é usar as teclas de atalho Shift+Delete.
A barra de tarefas pode ser posicionada nos quatro
cantos da tela para proporcionar melhor visualização de
outras janelas abertas. Para isso, basta pressionar o botão
esquerdo do mouse em um espaço vazio dessa barra e
com ele pressionado, arrastar a barra até o local desejado
(canto direito, superior, esquerdo ou inferior da tela).
Para alterar o local da Barra de Tarefas na tela, temos
Figura 70: Propriedades de data e hora que verificar se a opção “Bloquear a barra de tarefas” não
está marcada.
Nessa janela, é possível configurarmos a data e a hora,
determinarmos qual é o fuso horário da nossa região e
especificar se o relógio do computador está sincronizado
automaticamente com um servidor de horário na Inter-
net. Este relógio é atualizado pela bateria da placa mãe,
que vimos na figura 26. Quando ele começa a mostrar
um horário diferente do que realmente deveria mostrar,
na maioria das vezes, indica que a bateria da placa mãe
deve precisar ser trocada. Esse horário também é sincro-
nizado com o mesmo horário do SETUP.
Lixeira: Contém os arquivos e pastas excluídos pelo
usuário. Para excluirmos arquivos, atalhos e pastas, po-
demos clicar com o botão direito do mouse sobre eles e
depois usar a opção “Excluir”. Outra forma é clicar uma
vez sobre o objeto desejado e depois pressionar o botão
delete, no teclado. Esses dois procedimentos enviarão
para lixeira o que foi excluído, sendo possível a restaura-
ção, caso haja necessidade. Para restaurar, por exemplo,
um arquivo enviado para a lixeira, podemos, após abri-la,
restaurar o que desejarmos. Figura 72: Bloqueio da Barra de Tarefas

Propriedades da barra de tarefas e do menu iniciar:


Por meio do clique com o botão direito do mouse na bar-
ra de tarefas e do esquerdo em “Propriedades”, podemos
acessar a janela “Propriedades da barra de tarefas e do
menu iniciar”.
INFORMÁTICA

Figura 71: Restauração de arquivos enviados para a


lixeira

13
Painel de controle
O Painel de Controle é o local onde podemos alte-
rar configurações do Windows, como aparência, idioma,
configurações de mouse e teclado, entre outras. Com ele
é possível personalizar o computador às necessidades do
usuário.
Para acessar o Painel de Controle, basta clicar no Bo-
tão Iniciar e depois em Painel de Controle. Nele encon-
tramos as seguintes opções:
- Sistema e Segurança: “Exibe e altera o status do
sistema e da segurança”, permite a realização de
backups e restauração das configurações do sis-
tema e de arquivos. Possui ferramentas que per-
mitem a atualização do Sistema Operacional, que
exibem a quantidade de memória RAM instalada
no computador e a velocidade do processador.
Oferece ainda, possibilidades de configuração de
Firewall para tornar o computador mais protegido.
Figura 73: Propriedades da barra de tarefas e do - Rede e Internet: mostra o status da rede e possibili-
menu iniciar ta configurações de rede e Internet. É possível tam-
bém definir preferências para compartilhamento
Na guia “Barra de Tarefas”, temos, entre outros: de arquivos e computadores.
- Bloquear a barra de tarefas – que impede que ela - Hardware e Sons: é possível adicionar ou remover
seja posicionada em outros cantos da tela que não seja o hardwares como impressoras, por exemplo. Tam-
inferior, ou seja, impede que seja arrastada com o botão bém permite alterar sons do sistema, reproduzir
esquerdo do mouse pressionado. CDs automaticamente, configurar modo de eco-
- Ocultar automaticamente a barra de tarefas – ocul- nomia de energia e atualizar drives de dispositivos
ta (esconde) a barra de tarefas para proporcionar maior instalados.
aproveitamento da área da tela pelos programas abertos, - Programas: através desta opção, podemos reali-
e a exibe quando o mouse é posicionado no canto infe- zar a desinstalação de programas ou recursos do
rior do monitor. Windows.
- Contas de Usuários e Segurança Familiar: aqui al-
teramos senhas, criamos contas de usuários, deter-
minamos configurações de acesso.
- Aparência: permite a configuração da aparência da
área de trabalho, plano de fundo, proteção de tela,
menu iniciar e barra de tarefas.
- Relógio, Idioma e Região: usamos esta opção para
alterar data, hora, fuso horário, idioma, formatação
de números e moedas.
- Facilidade de Acesso: permite adaptarmos o com-
putador às necessidades visuais, auditivas e moto-
ras do usuário.
Figura 74: Guia Menu Iniciar e Personalizar Menu
Iniciar Computador

Pela figura acima podemos notar que é possível a


aparência e comportamento de links e menus do menu #FicaDica
Iniciar.
Através do “Computador” podemos consul-
tar e acessar unidades de disco e outros dis-
positivos conectados ao nosso computador.

Para acessá-lo, basta clicar no Botão Iniciar e em


Computador. A janela a seguir será aberta:
INFORMÁTICA

Figura 21: Barra de Ferramentas

14
Charms Bar
O objetivo do Windows 8 é ter uma tela mais limpa
e esse recurso possibilita “esconder” algumas configura-
ções e aplicações. É uma barra localizada na lateral que
pode ser acessada colocando o mouse no canto direito e
inferior da tela ou clicando no atalho Tecla do Windows +
C. Essa função substitui a barra de ferramentas presente
no sistema e configurada de acordo com a página em
que você está.
Com a Charm Bar ativada, digite Personalizar na bus-
ca em configurações. Depois escolha a opção tela inicial
e em seguida escolha a cor da tela. O usuário também
pode selecionar desenhos durante a personalização do
papel de parede.

Figura 76: Computador Redimensionar as tiles


Na tela esses mosaicos ficam uns maiores que os ou-
Observe que é possível visualizarmos as unidades de tros, mas isso pode ser alterado clicando com o botão di-
disco, sua capacidade de armazenamento livre e usada. reito na divisão entre eles e optando pela opção menor.
Vemos também informações como o nome do computa- Você pode deixar maior os aplicativos que você quiser
dor, a quantidade de memória e o processador instalado destacar no computador.
na máquina.
Grupos de Aplicativos
Windows 8 Pode-se criar divisões e grupos para unir programas
parecidos. Isso pode ser feito várias vezes e os grupos
É o sistema operacional da Microsoft que substituiu o podem ser renomeados.
Windows 7 em tablets, computadores, notebooks, celu-
lares, etc. Ele trouxe diversas mudanças, principalmente Visualizar as pastas
no layout, que acabou surpreendendo milhares de usuá- A interface do programas no computador podem ser
rios acostumados com o antigo visual desse sistema. vistos de maneira horizontal com painéis dispostos lado
A tela inicial completamente alterada foi a mudança a lado. Para passar de um painel para outro é necessário
que mais impactou os usuários. Nela encontra-se todas usar a barra de rolagem que fica no rodapé.
as aplicações do computador que ficavam no Menu Ini-
ciar e também é possível visualizar previsão do tempo, Compartilhar e Receber
cotação da bolsa, etc. O usuário tem que organizar as Comando utilizado para compartilhar conteúdo, en-
pequenas miniaturas que aparecem em sua tela inicial viar uma foto, etc. Tecle Windows + C, clique na opção
para ter acesso aos programas que mais utiliza. Compartilhar e depois escolha qual meio vai usar. Há
Caso você fique perdido no novo sistema ou dentro também a opção Dispositivo que é usada para receber
de uma pasta, clique com o botão direito e irá aparecer e enviar conteúdos de aparelhos conectados ao compu-
um painel no rodapé da tela. Caso você esteja utilizando tador.
uma das pastas e não encontre algum comando, clique
com o botão direito do mouse para que esse painel apa- Alternar Tarefas
reça. Com o atalho Alt + Tab, é possível mudar entre os
A organização de tela do Windows 8 funciona como programas abertos no desktop e os aplicativos novos do
o antigo Menu Iniciar e consiste em um mosaico com SO. Com o atalho Windows + Tab é possível abrir uma
imagens animadas. Cada mosaico representa um aplica- lista na lateral esquerda que mostra os aplicativos mo-
tivo que está instalado no computador. Os atalhos dessa dernos.
área de trabalho, que representam aplicativos de versões
anteriores, ficam com o nome na parte de cima e um pe- Telas Lado a Lado
queno ícone na parte inferior. Novos mosaicos possuem Esse sistema operacional não trabalha com o concei-
tamanhos diferentes, cores diferentes e são atualizados to de janelas, mas o usuário pode usar dois programas
automaticamente. ao mesmo tempo. É indicado para quem precisa acom-
A tela pode ser customizada conforme a conveniência panhar o Facebook e o Twitter, pois ocupa ¼ da tela do
do usuário. Alguns utilitários não aparecem nessa tela, computador.
mas podem ser encontrados clicando com o botão direi-
to do mouse em um espaço vazio da tela. Se deseja que Visualizar Imagens
um desses aplicativos apareça na sua tela inicial, clique O sistema operacional agora faz com que cada vez
INFORMÁTICA

com o botão direito sobre o ícone e vá para a opção Fixar que você clica em uma figura, um programa específico
na Tela Inicial. abre e isso pode deixar seu sistema lento. Para alterar
isso é preciso ir em Programas – Programas Default – Se-
lecionar Windows Photo Viewer e marcar a caixa Set this
Program as Default.

15
Imagem e Senha Windows 10 Education
O usuário pode utilizar uma imagem como senha ao Baseada na versão Enterprise, é destinada a atender
invés de escolher uma senha digitada. Para fazer isso, as necessidades do meio educacional. Também tem seu
acesse a Charm Bar, selecione a opção Settings e logo método de distribuição baseado através da versão aca-
em seguida clique em More PC settings. Acesse a opção dêmica de licenciamento de volume.
Usuários e depois clique na opção “Criar uma senha com
imagem”. Em seguida, o computador pedirá para você Windows 10 Mobile
colocar sua senha e redirecionará para uma tela com um Embora o Windows 10 tente vender seu nome fanta-
pequeno texto e dando a opção para escolher uma foto. sia como um sistema operacional único, os smartphones
Escolha uma imagem no seu computador e verifique se a com o Windows 10 possuem uma versão específica do
imagem está correta clicando em “Use this Picture”. Você sistema operacional compatível com tais dispositivos.
terá que desenhar três formas em touch ou com o mou-
se: uma linha reta, um círculo e um ponto. Depois, finalize Windows 10 Mobile Enterprise
o processo e sua senha estará pronta. Na próxima vez, Projetado para smartphones e tablets do setor cor-
repita os movimentos para acessar seu computador. porativo. Também estará disponível através do Licencia-
mento por Volume, oferecendo as mesmas vantagens do
Internet Explorer no Windows 8 Windows 10 Mobile com funcionalidades direcionadas
Se você clicar no quadrinho Internet Explorer da pá- para o mercado corporativo.
gina inicial, você terá acesso ao software sem a barra de
ferramentas e menus. Windows 10 IoT Core
IoT vem da expressão “Internet das Coisas” (Internet
Windows 10 of Things). A Microsoft anunciou que haverá edições do
O Windows 10 é uma atualização do Windows 8 que Windows 10 baseadas no Enterprise e Mobile Enterprise
veio para tentar manter o monopólio da Microsoft no destinados a dispositivos como caixas eletrônicos, ter-
mundo dos Sistemas Operacionais, uma das suas mis- minais de autoatendimento, máquinas de atendimento
sões é ficar com um visual mais de smart e touch. para o varejo e robôs industriais. Essa versão IoT Core
será destinada para dispositivos pequenos e de baixo
custo.
Para as versões mais populares (10 e 10 Pro), a Micro-
soft indica como requisitos básicos dos computadores:
• Processador de 1 Ghz ou superior;
• 1 GB de RAM (para 32bits); 2GB de RAM (para
64bits);
• Até 20GB de espaço disponível em disco rígido;
• Placa de vídeo com resolução de tela de 800×600
ou maior.

EXERCÍCIOS COMENTADOS
Figura 77: Tela do Windows 10
1. (Engenheiro Civil, VUNESP 2018) Na Área de Tra-
O Windows 10 é disponibilizado nas seguintes ver- balho do MS-Windows 7, em sua configuração padrão,
sões (com destaque para as duas primeiras): o usuário pode desfazer o envio de um arquivo para a
Lixeira, que acaba de ser realizado, utilizando o atalho
Windows 10 de teclado
É a versão de “entrada” do Windows 10, que possui a
maioria dos recursos do sistema. É voltada para Desktops a) Ctrl+V
e Laptops, incluindo o tablete Microsoft Surface 3. b) Ctrl+C
c) Ctrl+X
Windows 10 Pro d) Ctrl+A
Além dos recursos da versão de entrada, fornece pro- d) Ctrl+Z
teção de dados avançada e criptografada com o BitLoc-
ker, permite a hospedagem de uma Conexão de Área de Resposta: Letra E.
Trabalho Remota em um computador, trabalhar com má- a) Ctrl+V: colar algo que esteja na área de transferência
quinas virtuais, e permite o ingresso em um domínio para b) Ctrl+C: copiar algo que foi selecionado
realizar conexões a uma rede corporativa. c) Ctrl+X: recortar algo que foi selecionado
d) Ctrl+A: selecionar tudo
INFORMÁTICA

Windows 10 Enterprise e) Ctrl+Z: desfazer uma ação


Baseada na versão 10 Pro, é disponibilizada por meio
do Licenciamento por Volume, voltado a empresas.

16
2. (Técnico Judiciário, VUNESP 2017) Usando o Micro- Assinale a alternativa que contém o número correspon-
soft Windows 7, em sua configuração padrão, um usuário dente ao ícone de um atalho de uma pasta que não está
abriu o conteúdo de uma pasta no aplicativo Windows vazia.
Explorer no modo de exibição Detalhes. Essa pasta con-
tém muitos arquivos e nenhuma subpasta, e o usuário a) 1
deseja rapidamente localizar, no topo da lista de arqui- b) 2
vos, o arquivo modificado mais recentemente. Para isso, c) 3
basta ordenar a lista de arquivos, em ordem decrescente, d) 4
por e) 5

a) Data de modificação. Resposta: Letra A.


b) Nome. 1 - Ícone de atalho para pasta que não está vazia
c) Tipo. 2 - Ícone de uma pasta que não está vazia, contém
d) Tamanho. vários arquivos
e) Ordem. 3 - ícone de uma pasta vazia
4 - Ícone de uma pasta que não está vazia, contém
Resposta: Letra A. um arquivo
Na configuração original as únicas opções que apare- 5 - Ícone de atalho para pasta que está vazia
cem são: Nome, Data de modificação, Tipo e Tamanho.
Já é possível descartar a alternativa “E”.
Se um usuário deseja ordenar os arquivos de uma de- 5. (AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE – 2014) No
terminada pasta mostrando primeiro (topo) os arqui- Windows, não há possibilidade de o usuário interagir
vos mais recentes, é necessário utilizar a opção “Data com o sistema operacional por meio de uma tela de
de Modificação” computador sensível ao toque.

3. (Soldado PM de 2ª Classe, VUNESP 2017) Com rela- (  ) CERTO   (  ) ERRADO


ção ao Microsoft Windows 7, em sua configuração origi-
nal, assinale a alternativa que indica funções que podem Resposta: Errado. As versões mais recentes do Win-
ser realizadas usando apenas recursos do aplicativo Win- dows existe este recurso. Para usá-lo há a necessidade
dows Explorer. de que a tela seja sensível ao toque.

a) Navegar na internet. 6. (AGENTE – CESPE – 2014) Comparativamente a


b) Apagar e renomear arquivos e pastas. computadores com outros sistemas operacionais, com-
c) Ver o conteúdo da Área de Transferência. putadores com o sistema Linux apresentam a vantagem
d) Ligar e desligar o computador. de não perderem dados caso as máquinas sejam desliga-
e) Editar textos simples, sem recursos de formatação. das por meio de interrupção do fornecimento de energia
elétrica.
Resposta: Letra B.
Dentre as diversas funções de administração de arqui- (  ) CERTO   (  ) ERRADO
vos e pastas do Windows Explorer é possível “Apagar
e renomear arquivos e pastas”; Para “Navegar na in- Resposta: Errado. Nenhum sistema operacional pos-
ternet” é necessário um software web-browser; Por sui a vantagem de não perder dados caso a máquina
padrão não é possível ver a “Área de Transferência” seja desligada por meio de interrupção do forneci-
do Windows 7; Para Ligar o computador é necessária mento de energia elétrica.
uma ação física, e para desligar é necessário utilizar o
botão iniciar; Para “Editar textos simples sem recursos 7. (AGENTE – CESPE – 2014) As rotinas de inicialização
de formatação” é necessário o Bloco de Notas. GRUB e LILO, utilizadas em diversas distribuições Linux,
podem ser acessadas por uma interface de linha de co-
4. (Escriturário, VUNESP 2018) Observe os ícones a se- mando.
guir, extraídos do Windows Explorer do MS-Windows 7,
na configuração de exibição de Ícones Médios. Os ícones (  ) CERTO   (  ) ERRADO
foram marcados de 1 a 5 e não foram modificados desde
a sua criação. Resposta: Certo. É possível acessar as rotinas de ini-
cialização GRUB e LILO para realizar a sua configura-
ção, assim como é possível alterar as opções de inicia-
lização do Windows (em Win+Pause, Configurações
Avançadas do Sistema, Propriedades do Sistema, Ini-
INFORMÁTICA

cialização e Recuperação).

17
MICROSOFT OFFICE 2013/2016/2019 BR (WORD, EXCEL E POWER POINT): CONCEITOS,
CARACTERÍSTICAS, ATALHOS DE TECLADO, TECLAS DE FUNÇÃO, ÍCONES, USO DOS
RECURSOS.

Word 2010, 2013 e detalhes gerais

Tela do Microsoft Word 2010

As guias foram criadas para serem orientadas por tarefas, já os grupos dentro de cada guia criam subtarefas para as
tarefas, e os botões de comando em cada grupo possui um comando.
As extensões são fundamentais, desde a versão 2007 passou a ser DOCX, mas vamos analisar outras extensões que
podem ser abordadas em questões de concursos na Figura 7.

Extensões de Arquivos ligados ao Word


INFORMÁTICA

#FicaDica
As guias envolvem grupos e botões de comando, e são organizadas por tarefa. Os Grupos dentro de cada
guia quebram uma tarefa em subtarefas. Os Botões de comando em cada grupo possuem um comando
ou exibem um menu de comandos.

18
Existem guias que vão aparecer apenas quando um determinado objeto aparecer para ser formatado. No exemplo da
imagem, foi selecionada uma figura que pode ser editada com as opções que estiverem nessa guia.

Indicadores de caixa de diálogo

Indicadores de caixa de diálogo – aparecem em alguns grupos para oferecer a abertura rápida da caixa de diálogo
do grupo, contendo mais opções de formatação.
As réguas orientam na criação de tabulações e no ajuste de parágrafos, por exemplo.
Determinam o recuo da primeira linha, o recuo de deslocamento, recuo à esquerda e permitem tabulações esquer-
da, direita, centralizada, decimal e barra.
Para ajustar o recuo da primeira linha, após posicionar o cursor do mouse no parágrafo desejado, basta pressionar
o botão esquerdo do mouse sobre o “Recuo da primeira linha” e arrastá-lo pela régua.
Para ajustar o recuo à direita do documento, basta selecionar o parágrafo ou posicionar o cursor após a linha dese-
jada, pressionar o botão esquerdo do mouse no “Recuo à direita” e arrastá-lo na régua.
Para ajustar o recuo, deslocando o parágrafo da esquerda para a direita, basta selecioná-lo e mover, na régua, como
explicado anteriormente, o “Recuo deslocado”.
Podemos também usar o recurso “Recuo à esquerda”, que move para a esquerda, tanto a primeira linha quanto o
restante do parágrafo selecionado.
Com a régua, podemos criar tabulações, ou seja, determinar onde o cursor do mouse vai parar quando pressionar-
mos a tecla Tab.

Réguas
4. Grupo edição

Permite localizar palavras em um documento, substituir palavras localizadas por outras ou aplicar formatações e
selecionar textos e objetos no documento.
Para localizar uma palavra no texto, basta clicar no ícone Localizar , digitar a palavra na linha do localizar e clicar no
botão Localizar Próxima.
A cada clique será localizada a próxima palavra digitada no texto. Temos também como realçar a palavra que dese-
jamos localizar para facilitar a visualizar da palavra localizada.
Na janela também temos o botão “Mais”. Neste botão, temos, entre outras, as opções:
- Diferenciar maiúscula e minúscula: procura a palavra digitada na forma que foi digitada, ou seja, se foi digitada em mi-
núscula, será localizada apenas a palavra minúscula e, se foi digitada em maiúscula, será localizada apenas e palavra
maiúscula.
- Localizar palavras inteiras: localiza apenas a palavra exatamente como foi digitada. Por exemplo, se tentarmos
localizar a palavra casa e no texto tiver a palavra casaco, a parte “casa” da palavra casaco será localizada, se essa
opção não estiver marcada. Marcando essa opção, apenas a palavra casa, completa, será localizada.
- Usar caracteres curinga: com esta opção marcada, usamos caracteres especiais. Por exemplo, é possível usar o ca-
ractere curinga asterisco (*) para procurar uma sequência de caracteres (por exemplo, “t*o” localiza “tristonho” e
“término”).

Veja a lista de caracteres que são considerados curinga, retirada do site do Microsoft Office:

Para localizar digite exemplo


INFORMÁTICA

Qualquer caractere único ? s?o localiza salvo e sonho.


Qualquer sequência de caracteres * t*o localiza tristonho e término.

19
<(org) localiza
O início de uma palavra < organizar e organização,
mas não localiza desorganizado.
(do)> localiza medo e cedo, mas
O final de uma palavra >
não localiza domínio.
Um dos caracteres especificados [] v[ie]r localiza vir e ver
[r-t]ã localiza rã e sã.
Qualquer caractere único neste intervalo [-] Os intervalos devem estar em
ordem crescente.
Qualquer caractere único, exceto os caracteres F[!a-m]rro localiza forro, mas não
[!x-z]
no intervalo entre colchetes localiza ferro.
Exatamente n ocorrências do caractere ou ca{2}tinga localiza caatinga, mas
{n}
expressão anterior não catinga.
Pelo menos n ocorrências do caractere ou ca{1,}tinga localiza catinga e
{n,}
expressão anterior caatinga.
De n a m ocorrências do 10{1,3} localiza 10,
{n,m}
caractere ou expressão anterior 100 e 1000.
Uma ou mais ocorrências do caractere ou ca@tinga localiza
@
expressão anterior catinga e caatinga.

O grupo tabela é muito utilizado em editores de texto, como por exemplo a definição de estilos da tabela.

Estilos de Tabela

Fornece estilos predefinidos de tabela, com formatações de cores de células, linhas, colunas, bordas, fontes e de-
mais itens presentes na mesma. Além de escolher um estilo predefinido, podemos alterar a formatação do sombrea-
mento e das bordas da tabela.
Com essa opção, podemos alterar o estilo da borda, a sua espessura, desenhar uma tabela ou apagar partes de
uma tabela criada e alterar a cor da caneta e ainda, clicando no “Escolher entre várias opções de borda”, para exibir a
seguinte tela:

Bordas e sombreamento

Na janela Bordas e sombreamento, no campo “Definição”, escolhemos como será a borda da nossa tabela:
INFORMÁTICA

- Nenhuma: retira a borda;


- Caixa: contorna a tabela com uma borda tipo caixa;
- Todas: aplica bordas externas e internas na tabela iguais, conforme a seleção que fizermos nos demais campos de opção;
- Grade: aplica a borda escolhida nas demais opções da janela (como estilo, por exemplo) ao redor da tabela e as
bordas internas permanecem iguais.

20
- Estilo: permite escolher um estilo para as bordas Grupo texto:
da tabela, uma cor e uma largura.
- Visualização: através desse recurso, podemos defi-
nir bordas diferentes para uma mesma tabela. Por
exemplo, podemos escolher um estilo e, em visu-
alização, clicar na borda superior; escolher outro
estilo e clicar na borda inferior; e assim colocar em
cada borda um tipo diferente de estilo, com cores
e espessuras diferentes, se assim desejarmos.

A guia “Borda da Página”, desta janela, nos traz re- Grupo Texto
cursos semelhantes aos que vimos na Guia Bordas. A di-
ferença é que se trata de criar bordas na página de um 1 – Caixa de texto: insere caixas de texto pré-forma-
documento e não em uma tabela. tadas. As caixas de texto são espaços próprios para
Outra opção diferente nesta guia, é o item Arte. Com inserção de textos que podem ser direcionados exa-
ele, podemos decorar nossa página com uma borda que tamente onde precisamos. Por exemplo, na figura
envolve vários tipos de desenhos. “Grupo Texto”, os números ao redor da figura, do 1
Alguns desses desenhos podem ser formatados até o 7, foram adicionados através de caixas de texto.
com cores de linhas diferentes, outros, porém não per- 2 – Partes rápidas: insere trechos de conteúdos reutilizá-
mitem outras formatações a não ser o ajuste da largura. veis, incluindo campos, propriedades de documentos
Podemos aplicar as formatações de bordas da página como autor ou quaisquer fragmentos de texto pré-
no documento todo ou apenas nas sessões que desejar- -formado.
mos, tendo assim um mesmo documento com bordas 3 – Linha de assinatura: insere uma linha que serve
em uma página, sem bordas em outras ou até mesmo como base para a assinatura de um documento.
bordas de página diferentes em um mesmo documento. 4 – Data e hora: insere a data e a hora atuais no documento.
5 – Insere objeto: insere um objeto incorporado.
5. Grupo Ilustrações: 6 – Capitular: insere uma letra maiúscula grande no iní-
cio de cada parágrafo. É uma opção de formatação
decorativa, muito usada principalmente, em livros e
revistas. Para inserir a letra capitular, basta clicar no
parágrafo desejado e depois na opção “Letra Capitu-
lar”. Veja o exemplo:

Neste parágrafo foi inserida a letra capitular

7. Guia revisão

Grupo Ilustrações 7.1. Grupo revisão de texto

1 – Inserir imagem do arquivo: permite inserir no teto


uma imagem que esteja salva no computador ou
em outra mídia, como pendrive ou CD.
2 – Clip-art: insere no arquivo imagens e figuras
que se encontram na galeria de imagens do Word.
3 – Formas: insere formas básicas como setas, cubos,
elipses e outras.
4 – SmartArt: insere elementos gráficos para co-
municar informações visualmente.
5 – Gráfico: insere gráficos para ilustrar e comparar dados.

6. Grupo Links: Grupo revisão de texto

Inserir hyperlink: cria um link para uma página da Web, 1 – Pesquisar: abre o painel de tarefas viabilizando
uma imagem, um e – mail. Indicador: cria um indicador pesquisas em materiais de referência como jornais,
para atribuir um nome a um ponto do texto. Esse indica- enciclopédias e serviços de tradução.
dor pode se tornar um link dentro do próprio documento. 2 – Dica de tela de tradução: pausando o cursor sobre
algumas palavras é possível realizar sua tradução
INFORMÁTICA

Referência cruzada: referência tabelas. para outro idioma.


Grupo cabeçalho e rodapé: 3 – Definir idioma: define o idioma usado para realizar
Insere cabeçal a correção de ortografia e gramática.
hos, rodapés e números de páginas. 4 – Contar palavras: possibilita contar as palavras, os
caracteres, parágrafos e linhas de um documento.

21
5 – Dicionário de sinônimos: oferece a opção de alte-
rar a palavra selecionada por outra de significado #FicaDica
igual ou semelhante.
6 – Traduzir: faz a tradução do texto selecionado para Por exemplo, a palavra informática. Se
outro idioma. clicarmos com o botão direito do mouse
7 – Ortografia e gramática: faz a correção ortográfica sobre ela, um menu suspenso nos será
e gramatical do documento. Assim que clicamos mostrado, nos dando a opção de escolher
na opção “Ortografia e gramática”, a seguinte tela a palavra informática. Clicando sobre ela, a
será aberta palavra do texto será substituída e o texto
ficará correto.

8. Grupo comentário:

Novo comentário: adiciona um pequeno texto que serve


como comentário do texto selecionado, onde é possível
realizar exclusão e navegação entre os comentários.

9. Grupo controle:

Grupo controle

1 – Controlar alterações: controla todas as alterações


feitas no documento como formatações, inclusões,
exclusões e alterações.
2 – Balões: permite escolher a forma de visualizar as
Verificar ortografia e gramática alterações feitas no documento com balões no
próprio documento ou na margem.
A verificação ortográfica e gramatical do Word, 3 – Exibir para revisão: permite escolher a forma de
já busca trechos do texto ou palavras que não se exibir as alterações aplicadas no documento.
enquadrem no perfil de seus dicionários ou regras 4 – Mostrar marcações: permite escolher o tipo de
gramaticais e ortográficas. Na parte de cima da janela marcação a ser exibido ou ocultado no documen-
“Verificar ortografia e gramática”, aparecerá o trecho to.
do texto ou palavra considerada inadequada. Em baixo, 5 – Painel de revisão: mostra as revisões em uma tela
aparecerão as sugestões. Caso esteja correto e a sugestão separada.
do Word não se aplique, podemos clicar em “Ignorar
uma vez”; caso a regra apresentada esteja incorreta ou
não se aplique ao trecho do texto selecionado, podemos
clicar em “Ignorar regra”; caso a sugestão do Word seja
adequada, clicamos em “Alterar” e podemos continuar a
verificação de ortografia e gramática clicando no botão
“Próxima sentença”.
Se tivermos uma palavra sublinhada em vermelho,
indicando que o Word a considera incorreta, podemos
apenas clicar com o botão direito do mouse sobre ela e
verificar se uma das sugestões propostas se enquadra.
Grupo alterações
INFORMÁTICA

1 – Rejeitar: rejeita a alteração atual e passa para a


próxima alteração proposta.
2 – Anterior: navega até a revisão anterior para que
seja aceita ou rejeitada.

22
3 – Próximo: navega até a próxima revisão para que
possa ser rejeitada ou aceita. #FicaDica
4 – Aceitar: aceita a alteração atual e continua a nave-
gação para aceitação ou rejeição. Perguntas de intervalos de impressão são
constantes em questões de concurso!
Para imprimir nosso documento, basta clicar no bo-
tão do Office e posicionar o mouse sobre o ícone “Im-
primir”. Este procedimento nos dará as seguintes opções: Word 2013
- Imprimir – onde podemos selecionar uma impresso-
ra, o número de cópias e outras opções de confi- Vejamos abaixo alguns novos itens implementados
guração antes de imprimir. na plataforma Word 2013:
- Impressão Rápida – envia o documento diretamente Modo de leitura: o usuário que utiliza o software para
para a impressora configurada como padrão e não a leitura de documentos perceberá rapidamente a dife-
abre opções de configuração. rença, pois seu novo Modo de Leitura conta com um mé-
- Visualização da Impressão – promove a exibição do todo que abre o arquivo automaticamente no formato
documento na forma como ficará impresso, para de tela cheia, ocultando as barras de ferramentas, edição
que possamos realizar alterações, caso necessário. e formatação. Além de utilizar a setas do teclado (ou o
toque do dedo nas telas sensíveis ao toque) para a troca
e rolagem da página durante a leitura, basta o usuário
dar um duplo clique sobre uma imagem, tabela ou gráfi-
co e o mesmo será ampliado, facilitando sua visualização.
Como se não bastasse, clicando com o botão direito do
mouse sobre uma palavra desconhecida, é possível ver
sua definição através do dicionário integrado do Word.
Documentos em PDF: agora é possível editar um docu-
mento PDF no Word, sem necessitar recorrer ao Adobe Acro-
bat. Em seu novo formato, o Word é capaz de converter o
arquivo em uma extensão padrão e, depois de editado, sal-
vá-lo novamente no formato original. Esta façanha, contudo,
passou a ser de extensa utilização, pois o uso de arquivos PDF
está sendo cada vez mais corriqueiro no ambiente virtual.
Interação de maneira simplificada: o Word trata nor-
malmente a colaboração de outras pessoas na criação de
um documento, ou seja, os comentários realizados neste,
como se cada um fosse um novo tópico. Com o Word
2013 é possível responder diretamente o comentário de
outra pessoa clicando no ícone de uma folha, presente
no campo de leitura do mesmo. Esta interação de usuá-
rios, realizada através dos comentários, aparece em for-
ma de pequenos balões à margem documento.
Compartilhamento Online: compartilhar seus documen-
tos com diversos usuários e até mesmo enviá-lo por e-mail
tornou-se um grande diferencial da nova plataforma Office
Imprimir 2013. O responsável por esta apresentação online é o Office
Presentation Service, porém, para isso, você precisa estar lo-
As opções que temos antes de imprimir um arqui- gado em uma Conta Microsoft para acessá-lo. Ao terminar
vo estão exibidas na imagem acima. Podemos escolher o arquivo, basta clicar em Arquivo / Compartilhar / Apre-
a impressora, caso haja mais de uma instalada no com- sentar Online / Apresentar Online e o mesmo será enviado
putador ou na rede, configurar as propriedades da im- para a nuvem e, com isso, você irá receber um link onde
pressora, podendo estipular se a impressão será em alta poderá compartilhá-lo também por e-mail, permitindo aos
qualidade, econômica, tom de cinza, preto e branca, en- demais usuários baixá-lo em formato PDF.
tre outras opções. Ocultar títulos em um documento: apontado como
Escolhemos também o intervalo de páginas, ou seja, uma dificuldade por grande parte dos usuários, a rola-
se desejamos imprimir todo o documento, apenas a pá- gem e edição de determinadas partes de um arquivo
gina atual (página em que está o ponto de inserção), ou muito extenso, com vários títulos, acabou de se tornar
um intervalo de páginas. Podemos determinar o número uma tarefa mais fácil e menos desconfortável. O Word
de cópias e a forma como as páginas sairão na impres- 2013 permite ocultar as seções e/ou títulos do docu-
são. Por exemplo, se forem duas cópias, determinamos mento, bastando os mesmos estarem formatados no es-
INFORMÁTICA

se sairão primeiro todas as páginas de número 1, depois tilo  Títulos  (pré-definidos pelo Office). Ao posicionar o
as de número 2, assim por diante, ou se desejamos que mouse sobre o título, é exibida uma espécie de triângulo
a segunda cópia só saia depois que todas as páginas da a sua esquerda, onde, ao ser clicado, o conteúdo refe-
primeira forem impressas. rente a ele será ocultado, bastando repetir a ação para o
mesmo reaparecer.

23
Enfim, além destas novidades apresentadas existem outras tantas, como um layout totalmente modificado, focado
para a utilização do software em tablets e aparelhos com telas sensíveis ao toque. Esta nova plataforma, também, abre
um amplo leque para a adição de vídeos online e imagens ao documento. Contudo, como forma de assegurar toda
esta relação online de compartilhamento e boas novidades, a Microsoft adotou novos mecanismos de segurança para
seus aplicativos, retornando mais tranquilidade para seus usuários.
O grande trunfo do Office 2013 é sua integração com a nuvem. Do armazenamento de arquivos a redes sociais, os softwares
dessa versão são todos conectados. O ponto de encontro deles é o SkyDrive, o HD na internet da Microsoft. 
A tela de apresentação dos principais programas é ligada ao serviço, oferecendo opções de login, upload e down-
load de arquivos. Isso permite que um arquivo do Word, por exemplo, seja acessado em vários dispositivos com seu
conteúdo sincronizado. Até a página em que o documento foi fechado pode ser registrada. 
Da mesma maneira, é possível realizar trabalhos em conjunto entre vários usuários. Quem não tem o Office instala-
do pode fazer edições na versão online do sistema. Esses e outros contatos podem ser reunidos no Outlook.
As redes sociais também estão disponíveis nos outros programas. É possível fazer buscas de imagens no Bing ou
baixar fotografias do Flickr, por exemplo. Outro serviço de conectividade é o SharePoint, que indica arquivos a serem
acessados e contatos a seguir baseado na atividade do usuário no Office.
O Office 365 é um novo jeito de usar os tão conhecidos softwares do pacote Office da Microsoft. Em vez de comprar
programas como Word, Excel ou PowerPoint, você agora pode fazer uma assinatura e desfrutar desses aplicativos e de
muitos outros no seu computador ou smartphone.
A assinatura ainda traz diversas outras vantagens, como 1 TB de armazenamento na nuvem com o OneDrive, mi-
nutos Skype para fazer ligações para telefones fixos e acesso ao suporte técnico especialista da Microsoft. Tudo isso
pagando uma taxa mensal, o que você já faz para serviços essenciais para o seu dia a dia, como Netflix e Spotify. Porém,
aqui estamos falando da suíte de escritório indispensável para qualquer computador.
Veja abaixo as versões do Office 365

Versões Office 365

Excel 2010, 2013 e detalhes gerais


INFORMÁTICA

Tela Principal do Excel 2013

24
Barra de Títulos:

A linha superior da tela é a barra de títulos, que mostra o nome da pasta de trabalho na janela. Ao iniciar o programa
aparece Pasta 1 porque você ainda não atribuiu um nome ao seu arquivo.

Faixa de Opções:

Desde a versão 2007 do Office, os menus e barras de ferramentas foram substituídos pela Faixa de Opções. Os co-
mandos são organizados em uma única caixa, reunidos em guias. Cada guia está relacionada a um tipo de atividade e,
para melhorar a organização, algumas são exibidas somente quando necessário.

Faixa de Opções

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido:

A Barra de Ferramentas de Acesso Rápido fica posicionada no topo da tela e pode ser configurada com os botões
de sua preferência, tornando o trabalho mais ágil.

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido

Adicionando e Removendo Componentes:

Para ocultar ou exibir um botão de comando na barra de ferramentas de acesso rápido podemos clicar com o botão
direito no componente que desejamos adicionar, em qualquer guia. Será exibida uma janela com a opção de Adicionar
à Barra de Ferramentas de Acesso Rápido. Temos ainda outra opção de adicionar ou remover componentes nesta bar-
ra, clicando na seta lateral. Na janela apresentada temos várias opções para personalizar a barra, além da opção Mais
Comandos..., onde temos acesso a todos os comandos do Excel.

Adicionando componentes à Barra de Ferramentas de Acesso Rápido

Para remoção do componente, selecione-o, clique com o botão direito do mouse e escolha Remover da Barra de
INFORMÁTICA

Ferramentas de Acesso Rápido.

25
Barra de Status:

Localizada na parte inferior da tela, a barra de status exibe mensagens, fornece estatísticas e o status de algumas
teclas. Nela encontramos o recurso de Zoom e os botões de “Modos de Exibição”.

Barra de Status

Clicando com o botão direito sobre a barra de status, será exibida a caixa Personalizar barra de status. Nela pode-
mos ativar ou desativar vários componentes de visualização.

Personalizar Barra de Status

Barras de Rolagem: Nos lados direito e inferior da região de texto estão as barras de rolagem. Clique nas setas para
cima ou para baixo para mover a tela verticalmente, ou para a direita e para a esquerda para mover a tela horizontal-
mente, e assim poder visualizar toda a sua planilha.

Planilha de Cálculo: A área quadriculada representa uma planilha de cálculos, na qual você fará a inserção de dados
e fórmulas para colher os resultados desejados.
Uma planilha é formada por linhas, colunas e células. As linhas são numeradas (1, 2, 3, etc.) e as colunas nomeadas
com letras (A, B, C, etc.).
INFORMÁTICA

Planilha de Cálculo

26
Cabeçalho de Coluna: Cada coluna tem um cabeça-
lho, que contém a letra que a identifica. Ao clicar na letra,
toda a coluna é selecionada.

Cabeçalho de linha

#FicaDica
Célula: As células, são as combinações en-
tre linha e colunas. Por exemplo, na coluna
A, linha 1, temos a célula A1. Na Caixa de
Nome, aparecerá a célula onde se encontra
Seleção de Coluna o cursor.
Ao dar um clique com o botão direito do mouse so-
bre o cabeçalho de uma coluna, aparecerá o menu pop-
-up, onde as opções deste menu são as seguintes: Sendo assim, as células são representadas como mos-
-Formatação rápida: a caixa de formatação rápida tra a tabela:
permite escolher a formatação de fonte e formato
de dados, bem como mesclagem das células (será
abordado mais detalhadamente adiante).
-Recortar: copia toda a coluna para a área de trans-
ferência, para que possa ser colada em outro local
determinado e, após colada, essa coluna é excluída
do local de origem.
-Copiar: copia toda a coluna para a área de transfe-
rência, para que possa ser colada em outro local
determinado. Representação das Células
-Opções de Colagem: mostra as diversas opções de
itens que estão na área de transferência e que te- Caixa de Nome: Você pode visualizar a célula na qual
nham sido recortadas ou copiadas. o cursor está posicionado através da Caixa de Nome, ou,
-Colar especial: permite definir formatos específicos na ao contrário, pode clicar com o mouse nesta caixa e digi-
colagem de dados, sobretudo copiados de outros apli- tar o endereço da célula em que deseja posicionar o cur-
cativos. sor. Após dar um “Enter”, o cursor será automaticamente
-Inserir: insere uma coluna em branco, exatamente posicionado na célula desejada.
antes da coluna selecionada.
-Excluir: exclui toda a coluna selecionada, inclusive os Guias de Planilhas: Em versões anteriores do Excel,
dados nela contidos e sua formatação. ao abrir uma nova pasta de trabalho no Excel, três pla-
-Limpar conteúdo: apenas limpa os dados de toda a nilhas já eram criadas: Plan1, Plan2 e Plan3. Nesta ver-
coluna, mantendo a formatação das células. são, somente uma planilha é criada, e você poderá criar
-Formatar células: permite escolher entre diversas op- outras, se necessitar. Para criar nova planilha dentro da
ções para fazer a formatação das células (tal proce- pasta de trabalho, clique no sinal + ( ). Para
dimento será visto detalhadamente adiante). alternar entre as planilhas, basta clicar sobre a guia, na
-Largura da coluna: permite definir o tamanho da co- planilha que deseja trabalhar.
luna selecionada. Você verá, no decorrer desta lição, como podemos
-Ocultar: oculta a coluna selecionada. Muitas vezes cruzar dados entre planilhas e até mesmo entre pastas
uma coluna é utilizada para fazer determinados de trabalho diferentes, utilizando as guias de planilhas.
cálculos, necessários para a totalização geral, mas Ao posicionar o mouse sobre qualquer uma das pla-
desnecessários na visualização. Neste caso, utiliza- nilhas existentes e clicar com o botão direito aparecerá
-se esse recurso. um menu pop up.
INFORMÁTICA

-Re-exibir: reexibe colunas ocultas.

Cabeçalho de Linha: Cada linha tem também um ca-


beçalho, que contém o número que a identifica. Clicando
no cabeçalho de uma linha, esta ficará selecionada.

27
Caixa Selecionar Tudo

Barra de Fórmulas: Na barra de fórmulas são digita-


das as fórmulas que efetuarão os cálculos.
A principal função do Excel é facilitar os cálculos com
o uso de suas fórmulas. A partir de agora, estudaremos
várias de suas fórmulas. Para iniciar, vamos ter em mente
que, para qualquer fórmula que será inserida em uma
Menu Planilhas célula, temos que ter sinal de “=” no seu início. Esse sinal,
oferece uma entrada no Excel que o faz diferenciar textos
As funções deste menu são as seguintes: ou números comuns de uma fórmula.
-Inserir: insere uma nova planilha exatamente antes
da planilha selecionada. Somar: Se tivermos uma sequência de dados numéri-
-Excluir: exclui a planilha selecionada e os dados que cos e quisermos realizar a sua soma, temos as seguintes
ela contém. formas de fazê-lo:
-Renomear: renomeia a planilha selecionada.
-Mover ou copiar: você pode mover a planilha para
outra posição, ou mesmo criar uma cópia da plani-
lha com todos os dados nela contidos.
-Proteger Planilha: para impedir que, por acidente ou
deliberadamente, um usuário altere, mova ou exclua
dados importantes de planilhas ou pastas de traba-
lho, você pode proteger determinados elementos Soma simples
da planilha (planilha: o principal documento usado
no Excel para armazenar e trabalhar com dados, Usamos, nesse exemplo, a fórmula =B2+B3+B4.
também chamado planilha eletrônica. Uma plani- Após o sinal de “=” (igual), clicar em uma das células,
lha consiste em células organizadas em colunas e digitar o sinal de “+” (mais) e continuar essa sequência
linhas; ela é sempre armazenada em uma pasta de até o último valor.
trabalho.) ou da pasta de trabalho, com ou sem se- Após a sequência de células a serem somadas, clicar
nha (senha: uma forma de restringir o acesso a uma no ícone soma, ou usar as teclas de atalho Alt+=.
pasta de trabalho, planilha ou parte de uma plani- A última forma que veremos é a função soma digitada.
lha. As senhas do Excel podem ter até 255 letras, Vale ressaltar que, para toda função, um início é fundamental:
números, espaços e símbolos. É necessário digitar = nome da função
as letras maiúsculas e minúsculas corretamente ao
definir e digitar senhas.). É possível remover a pro-
teção da planilha, quando necessário.
-Exibir código: pode-se criar códigos de programação
em VBA (Visual Basic for Aplications) e vincular às
guias de planilhas (trata-se de tópico de programa- 1 - Sinal de igual.
ção avançada, que não é o objetivo desta lição, por- 2 – Nome da função.
tanto, não será abordado). 3 – Abrir parênteses.
-Cor da guia: muda a cor das guias de planilhas.
-Ocultar/Re-exibir: oculta/reexibe uma planilha. Após essa sequência, o Excel mostrará um pequeno
-Selecionar todas as planilhas: cria uma seleção em lembrete sobre a função que iremos usar, e nele é possí-
todas as planilhas para que possam ser configura- vel clicar e obter ajuda, também. Usaremos, no exemplo
das e impressas juntamente. a seguir, a função = soma(B2:B4).
Lembre-se, basta colocar a célula que contém o pri-
Selecionar Tudo: Clicando-se na caixa Selecionar meiro valor, em seguida os dois pontos (:) e por último a
INFORMÁTICA

tudo, todas as células da planilha ativa serão selecionadas. célula que contém o último valor.

Subtrair: A subtração será feita sempre entre dois va-


lores, por isso não precisamos de uma função específica.

28
Tendo dois valores em células diferentes, podemos Inteiro: Com essa função podemos obter o valor in-
apenas clicar na primeira, digitar o sinal de “-” (menos) teiro de uma fração. A função a ser digitada é =int(A2).
e depois clicar na segunda célula. Usamos na figura a Lembramos que A2 é a célula escolhida e varia de acordo
seguir a fórmula = B2-B3. com a célula a ser selecionada na planilha trabalhada.

Multiplicar: Para realizarmos a multiplicação, proce- Arredondar para cima: Com essa função, é possível
demos de forma semelhante à subtração. Clicamos no arredondar um número com casas decimais para o nú-
primeiro número, digitamos o sinal de multiplicação que, mero mais distante de zero.
para o Excel é o “*” asterisco, e depois, clicamos no último Sua sintaxe é: = ARREDONDAR.PARA.CIMA(núm;núm_
valor. No próximo exemplo, usaremos a fórmula =B2*B3. dígitos)
Outra forma de realizar a multiplicação é através da Onde:
seguinte função: Núm: é qualquer número real que se deseja arredondar.
=mult(B2;c2) multiplica o valor da célula B2 pelo va- Núm_dígitos: é o número de dígitos para o qual se
lor da célula C2. deseja arredondar núm.

Dividir: Para realizarmos a divisão, procedemos de


forma semelhante à subtração e multiplicação. Clicamos
no primeiro número, digitamos o sinal de divisão que,
para o Excel é a “/” barra, e depois, clicamos no último
valor. No próximo exemplo, usaremos a fórmula =B3/B2.
Início da função arredondar para cima
Máximo: Mostra o maior valor em um intervalo de
células selecionadas. Na figura a seguir, iremos calcular Veja na figura, que quando digitamos a parte inicial
a maior idade digitada no intervalo de células de A2 até da função, o Excel nos mostra que temos que selecio-
nar o num, ou seja, a célula que desejamos arredondar
A5. A função digitada será = máximo(A2:A5).
e, depois do “;” (ponto e vírgula), digitar a quantidade de
Onde: “= máximo” – é o início da função; (A2:A5) –
dígitos para a qual queremos arredondar.
refere-se ao endereço dos valores onde você deseja ver
Na próxima figura, para efeito de entendimento, dei-
qual é o maior valor. No caso a resposta seria 10.
xaremos as funções aparentes, e os resultados dispostos
na coluna C:
Mínimo: Mostra o menor valor existente em um in-
tervalo de células selecionadas.
A função Arredondar.para.Baixo segue exatamente o
Na figura a seguir, calcularemos o menor salário digi- mesmo conceito.
tado no intervalo de A2 até A5. A função digitada será = Resto: Com essa função podemos obter o resto de
mínimo (A2:A5). uma divisão. Sua sintaxe é a seguinte:
Onde: “= mínimo” – é o início da função; (A2:A5) – = mod (núm;divisor)
refere-se ao endereço dos valores onde você deseja ver Onde:
qual é o maior valor. No caso a resposta seria R$ 622,00. Núm: é o número para o qual desejamos encontrar
o resto.
Média: A função da média soma os valores de uma divisor: é o número pelo qual desejamos dividir o
sequência selecionada e divide pela quantidade de valo- número.
res dessa sequência.
Na figura a seguir, foi calculada a média das alturas
de quatro pessoas, usando a função = média (A2:A4)
Foi digitado “= média )”, depois, foram selecionados
os valores das células de A2 até A5. Quando a tecla Enter
for pressionada, o resultado será automaticamente colo- Exemplo de digitação da função MOD
cado na célula A6.
Todas as funções, quando um de seus itens for altera- Os valores do exemplo a cima serão, respectivamen-
do, recalculam o valor final. te: 1,5 e 1.
Valor Absoluto: Com essa função podemos obter o
Data: Esta fórmula insere a data automática em uma valor absoluto de um número. O valor absoluto, é o nú-
planilha. mero sem o sinal. A sintaxe da função é a seguinte:
=abs(núm)
Onde: aBs(núm)
Núm: é o número real cujo valor absoluto você deseja
obter.
INFORMÁTICA

Exemplo função hoje

Na célula C1 está sendo mostrado o resultado da fun-


ção =hoje(), que aparece na barra de fórmulas. Exemplo função abs

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Dias 360: Retorna o número de dias entre duas datas com base em um ano de 360 dias (doze meses de 30 dias).
Sua sintaxe é:
= DIAS360(data_inicial;data_final)
Onde:
data_inicial = a data de início de contagem.
Data_final = a data a qual quer se chegar.

No exemplo a seguir, vamos ver quantos dias faltam para chegar até a data de 14/06/2018, tendo como data inicial o dia
05/03/2018. A função utilizada será =dias360(A2;B2)

Exemplo função dias360

Vamos usar a Figura abaixo para explicar as próximas funções (Se, SomaSe, Cont.Se)

Exemplo (Se, SomaSe, Cont.se)

Função SE: O SE é uma função condicional, ou seja, verifica SE uma condição é verdadeira ou falsa.
A sintaxe dessa função é a seguinte:
=SE(teste_lógico;“valor_se_verdadeiro”;“valor_se_falso”)
=: Significa a chamada para uma fórmula/função
SE: função SE
teste_lógico: a pergunta a qual se deseja ter resposta
“valor_se_verdadeiro”: se a resposta da pergunta for verdadeira, define o resultado “valor_se_falso” se a resposta da
pergunta for falsa, define o resultado.
Usando a planilha acima como exemplo, na coluna ‘E’ queremos colocar uma mensagem se o funcionário recebe um
salário igual ou acima do valor mínimo R$ 724,00 ou abaixo do valor mínimo determinado em R$ 724,00.
Assim, temos a condição:
SE VALOR DE C3 FOR MAIOR OU IGUAL a 724, então ESCREVA “ACIMA”, senão ESCREVA “ABAIXO” MOSTRA O
RESULTADO NA CÉLULA E3
Traduzindo a condição em variáveis teremos:
Resultado: será mostrado na célula C3, portanto é onde devemos digitar a fórmula
Teste lógico: C3>=724
Valor_se_verdadeiro: “Acima”
Valor_se_falso: “Abaixo”
Assim, com o cursor na célula E3, digitamos:
=SE(C3>=724;”Acima”;”Abaixo”)
INFORMÁTICA

Para cada uma das linhas, podemos copiar e colar as fórmulas, e o Excel, inteligentemente, acertará as linhas e co-
lunas nas células. Nossas fórmulas ficarão assim:
E4 ↑ =SE(C4>=724;”Acima”;”Abaixo”)
E5 ↑ =SE(C5>=724;”Acima”;”Abaixo”)

30
E6 ↑ =SE(C6>=724;”Acima”;”Abaixo”)
E7 ↑ =SE(C7>=724;”Acima”;”Abaixo”)
E8 ↑ =SE(C8>=724;”Acima”;”Abaixo”)
E9 ↑ =SE(C9>=724;”Acima”;”Abaixo”)
E10 ↑ =SE(C10>=724;”Acima”;”Abaixo”)

Função SomaSE: A SomaSE é uma função de soma condicionada, ou seja, SOMA os valores, SE determinada con-
dição for verdadeira. A sintaxe desta função é a seguinte:
=SomaSe(intervalo;“critérios”;intervalo_soma)
=Significa a chamada para uma fórmula/função
SomaSe: função SOMASE
intervalo: Intervalo de células onde será feita a análise dos dados
“critérios”: critérios (sempre entre aspas) a serem avaliados a fim de chegar à condição verdadeira
intervalo_soma: Intervalo de células onde será verificada a condição para soma dos valores
Exemplo: usando a planilha acima, queremos somar os salários de todos os funcionários HOMENS e mostrar o resul-
tado na célula D16. E também queremos somar os salários das funcionárias mulheres e mostrar o resultado na célula D17.
Para isso precisamos criar a seguinte condição:
HOMENS:
SE SEXO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR MASCULINO, ENTÃO
SOMA O VALOR DO SALÁRIO MOSTRADO NO INTERVALO D3 ATÉ D10
MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D16

Traduzindo a condição em variáveis teremos:


Resultado: será mostrado na célula D16, portanto é onde devemos digitar a fórmula
Intervalo para análise: C3:C10
Critério: “MASCULINO”
Intervalo para soma: D3:D10
Assim, com o cursor na célula D16, digitamos:
=SOMASE(D3:D10;”masculino”;C3:C10)
MULHERES:
SE SEXO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR FEMININO, ENTÃO
SOMA O VALOR DO SALÁRIO MOSTRADO NO INTERVALO D3 ATÉ D10
MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D17
Traduzindo a condição em variáveis teremos:
Resultado: será mostrado na célula D17, portanto é onde devemos digitar a fórmula
Intervalo para análise: C3:C10
Critério: “FEMININO”
Intervalo para soma: D3:D10
Assim, com o cursor na célula D17, digitamos:
=SomaSE(D3:D10;”feminino”;C3:C10)

Função CONT.SE: O CONT.SE é uma função de contagem condicionada, ou seja, CONTA a quantidade de registros,
SE determinada condição for verdadeira. A sintaxe desta função é a seguinte:
=CONT.SE(intervalo;“critérios”)
= : significa a chamada para uma fórmula/função
CONT.SE: chamada para a função CONT.SE
intervalo: intervalo de células onde será feita a análise dos dados
“critérios”: critérios a serem avaliados nas células do “intervalo”
Usando a planilha acima como exemplo, queremos saber quantas pessoas ganham R$ 1.200,00 ou mais, e mostrar
o resultado na célula D14, e quantas ganham abaixo de R$1.200,00 e mostrar o resultado na célula D15. Para isso pre-
cisamos criar a seguinte condição:

R$ 1.200,00 ou MAIS:
SE SALÁRIO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR MAIOR OU IGUAL A 1.200,00, ENTÃO
CONTA REGISTROS NO INTERVALO C3 ATÉ C10
MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D14
INFORMÁTICA

Traduzindo a condição em variáveis teremos:


Resultado: será mostrado na célula D14, portanto é onde devemos digitar a fórmula
Intervalo para análise: C3:C10
Critério: >=1200
Assim, com o cursor na célula D14, digitamos:

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=CONT.SE(C3:C10;”>=1200”)
MENOS DE R$ 1.200,00:
SE SALÁRIO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR MENOR QUE 1200, ENTÃO
CONTA REGISTROS NO INTERVALO C3 ATÉ C10
MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D15

Traduzindo a condição em variáveis teremos:


Resultado: será mostrado na célula D15, portanto é onde devemos digitar a fórmula
Intervalo para análise: C3:C10
Critério: <1200
Assim, com o cursor na célula D15, digitamos:
=CONT.SE(C3:C10;”<1200”)

Observações: fique atento com o > (maior) e < (menor), >= (maior ou igual) e <=(menor ou igual). Se tivéssemos
determinado a contagem de valores >1200 (maior que 1200) e <1200 (menor que 1200), o valor =1200 (igual a 1200)
não entraria na contagem.

Formatação de Células: Ao observar a planilha abaixo, fica claro que não é uma planilha bem formatada, vamos
deixar ela de uma maneira mais agradável.

Planilha sem Formatação

Vamos utilizar os 3(três) passos apontados na Figura abaixo:

Formatando a planilha

O primeiro passo é mesclar e centralizar o título, para isso utilizamos o botão Mesclar e Centralizar, entre outras
opções de alinhamento, como centralizar, direção do texto, entre outras.
INFORMÁTICA

32
Formatando a planilha (Passo 1)

Em seguida, vamos colocar uma borda no texto digitado, vamos escolher a opção “Todas as bordas”, podemos
mudar o título para negrito, mudar a cor do fundo e/ou de uma fonte, basta selecionar a(s) célula(s) e escolher as for-
matações.

Formatando a planilha (Passo 2)

Para finalizar essa etapa vamos formatar a coluna C para moeda, que é o caso desse exemplo, porém pode ser rea-
lizado vários outros tipos de formatação, como, porcentagem, data, hora, científico, basta clicar no dropbox onde está
escrito geral e escolher.

Formatando a planilha (Passo 3)

O resultado final nos traz uma planilha muito mais agradável e de fácil entendimento:

Figura 47: Planilha Formatada

Ordenando os dados: Você pode digitar os dados em qualquer ordem, pois o Excel possui uma ferramenta muito
útil para ordenar os dados.
Ao clicar neste botão, você tem as opções para classificar de A a Z (ordem crescente), de Z a A (ordem decrescente)
ou classificação personalizada.
Para ordenar seus dados, basta clicar em uma célula da coluna que deseja ordenar, e selecionar a classificação cres-
cente ou decrescente. Mas cuidado! Se você selecionar uma coluna inteira, nas versões mais antigas do Excel, você irá
classificar os dados dessa coluna, mas vai manter os dados das outras colunas onde estão. Ou seja, seus dados ficarão
alterados. Nas versões mais novas, ele fará a pergunta, se deseja expandir a seleção e dessa forma, fazer a classificação
dos dados junto com a coluna de origem, ou se deseja manter a seleção e classificar somente a coluna selecionada.

Filtrando os dados: Ainda no botão temos a opção FILTRO. Ao selecionar esse botão, cada uma das colunas da
nossa planilha irá abrir uma seta para fazer a seleção dos dados que desejamos visualizar. Assim, podemos filtrar e
visualizar somente os dados do mês de Janeiro ou então somente os gastos com contas de consumo, por exemplo.

Grupo ferramentas de dados:


INFORMÁTICA

- Texto para colunas: separa o conteúdo de uma célula do Excel em colunas separadas.
- Remover duplicatas: exclui linhas duplicadas de uma planilha - Validação de dados: permite especificar valores
inválidos para uma planilha. Por exemplo, podemos especificar que a planilha não aceitará receber valores me-
nores que 10.

33
- Consolidar: combina valores de vários intervalos em um novo intervalo.
- Teste de hipóteses: testa diversos valores para a fórmula na planilha.

Gráficos: Outra forma interessante de analisar os dados é utilizando gráficos. O Excel monta os gráficos rapida-
mente e é muito fácil. Na Guia Inserir da Faixa de Opções, temos diversas opções de gráficos que podem ser utilizados.

Figura 48: Gráficos

Utilizando a planilha da Concessionária Grupo Nova, teremos o seguinte gráfico escolhido.

Gráfico de Colunas – 3D
Redimensione o gráfico clicando com o mouse nas bordas para aumentar de tamanho. Reposicione o gráfico na
página, clicando nas linhas e arrastando até o local desejado.

#FicaDica
Importante mencionar que o conceito do Excel 365 é o mesmo apontado no Word, ou seja, fazem parte
do Office 365, que podem ser comprados conforme figura 39.

PowerPoint 2010, 2013 e detalhes gerais

Na tela inicial do PowerPoint, são listadas as últimas apresentações editadas (à esquerda), opção para criar nova
apresentação em branco e ainda, são sugeridos modelos para criação de novas apresentações (ao centro).
Ao selecionar a opção de Apresentação em Branco você será direcionado para a tela principal, composta pelos
elementos básicos apontados na figura abaixo, e descritos nos tópicos a seguir.
INFORMÁTICA

34
Tela Principal do PowerPoint 2013

Barra de Títulos: A linha superior da tela é a barra de títulos, que mostra o nome da apresentação na janela. Ao
iniciar o programa aparece Apresentação 1 porque você ainda não atribuiu um nome ao seu arquivo.

Faixa de Opções: Desde a versão 2007 do Office, os menus e barras de ferramentas foram substituídos pela Faixa de
Opções. Os comandos são organizados em uma única caixa, reunidos em guias. Cada guia está relacionada a um tipo
de atividade e, para melhorar a organização, algumas são exibidas somente quando necessário.

Faixa de Opções

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido: A Barra de Ferramentas de Acesso Rápido fica posicionada no topo da
tela e pode ser configurada com os botões de sua preferência, tornando o trabalho mais ágil.

Adicionando e Removendo Componentes: Para ocultar ou exibir um botão de comando na barra de ferramentas
de acesso rápido podemos clicar com o botão direito no componente que desejamos adicionar, em qualquer guia. Será
exibida uma janela com a opção de Adicionar à Barra de Ferramentas de Acesso Rápido.
INFORMÁTICA

Adicionando itens à Barra de Ferramentas de Acesso Rápido

35
Temos ainda outra opção de adicionar ou remover componentes nesta barra, clicando na seta lateral. É aberto o
menu Personalizar Barra de Ferramentas de Acesso Rápido, que apresenta várias opções para personalizar a barra, além
da opção Mais Comandos..., onde temos acesso a todos os comandos do PowerPoint.
Para remoção do componente, no mesmo menu selecione-o. Se preferir, clique com o botão direito do mouse sobre
o ícone que deseja remover e escolha Remover da Barra de Ferramentas de Acesso Rápido.
Barra de Status: Localizada na parte inferior da tela, a barra de status permite incluir anotações e comentários na
sua apresentação, mensagens, fornece estatísticas e o status de algumas teclas. Nela encontramos o recurso de Zoom
e os botões de ‘Modos de Exibição’.

Barra de Status

Clicando com o botão direito sobre a barra de status, será exibida a caixa Personalizar barra de status. Nela pode-
mos ativar ou desativar vários componentes de visualização.
Durante uma apresentação, os slides do PowerPoint vão sendo projetados no monitor do computador, lembrando
os antigos slides fotográficos.
O apresentador pode inserir anotações, observações importantes, que deverão ser abordadas durante a apresentação.
Estas anotações serão visualizadas somente pelo apresentador quando, durante a apresentação, for selecionado o Modo
de Exibição do Apresentador (basta clicar com o botão direito do mouse e selecionar esta opção durante a apresentação).

Modelos e Temas Online: Algumas vezes parece impossível iniciar uma apresentação. Você nem mesmo sabe
como começar. Nestas situações pode-se usar os modelos prontos, que fornecem sugestões para que você possa
iniciar a criação de sua apresentação. A versão PowerPoint 2013 traz vários modelos disponíveis online divididos por
temas (é necessário estar conectado à internet).

Modelos e temas online

Para utilizar um modelo pronto, selecione um tema. Em nosso exemplo, vamos selecionar ‘Negócios’. Aparecerão
vários modelos prontos que podem ser utilizados para a criação de sua apresentação, conforme mostra a figura abaixo.
INFORMÁTICA

Apresentações Modelo ‘Negócios’

36
Procure conhecer os modelos, clicando sobre eles. Utilize as barras de rolagem para rolar a tela, visualizar as possi-
bilidades, e possivelmente escolher um modelo, dentre as inúmeras possibilidades fornecidas, para criar apresentações
profissionais com muita agilidade.
Ao escolher um modelo, clique no botão ‘Criar’ e aguarde o download do arquivo. Será criado um novo arquivo em seu
computador, que você poderá salvar onde quiser. A partir daí, basta customizar os dados e utilizá-lo como SUA APRESENTAÇÃO.
Tanto o layout como o padrão de formatação de fontes, poderão ser alterados em qualquer momento, para atender
às suas necessidades.

Apresentação de Slides:

Antes de começarmos a trabalhar em um novo slide, ou nova apresentação, vamos entender um pouco melhor como
funciona uma apresentação. Escolha um modelo pronto qualquer, faça o download, e inicie a apresentação, assim:
Na barra ‘Modos de exibição de slides’, localizada na barra de status, clique no botão ‘Modo de Apresentação de Slides’.
Dê cliques com o mouse para seguir ao próximo slide. Ao clicar na apresentação, são exibidos botões de navegação,
que permitem que você siga para o próximo slide ou volte ao anterior, conforme mostrado abaixo. Além dos botões de
navegação você também conta com outras ferramentas durante sua apresentação.

Botões de Navegação e Outras Ferramentas

Exibição de Slides: Vamos agora começar a personalizar nossa apresentação, tendo como base o modelo criado. Se
ainda estiver com uma apresentação aberta, termine a apresentação, retornando à estrutura. Clique, na faixa de opções,
no menu ‘EXIBIÇÃO’.

Alternando entre os Modos de Exibição

Modo Normal: No modo de exibição ‘Normal’, você trabalha em um slide de cada vez e pode organizar a estrutura
de todos os slides da apresentação.

Modo de Exibição ‘Normal’.

#FicaDica
Para mover de um slide para outro clique sobre o slide (do lado esquerdo) que deseja visualizar na tela,
ou utilize as teclas ‘PageUp’ e ‘PageDown’.

Modo de Exibição de Estrutura de Tópicos: Este modo de visualização é interessante principalmente durante a
construção do texto da apresentação. Você pode ir digitando o texto do lado esquerdo e o PowerPoint monta os slides
pra você.
INFORMÁTICA

Classificação de Slides: Este modo permite ver seus slides em miniatura, para auxiliar na organização e estrutura-
ção de sua apresentação. No modo de classificação de slides, você pode reordenar slides, adicionar transições e efeitos
de animação e definir intervalos de tempo para apresentações eletrônicas de slides.

37
Classificação de Slides

Para alterar a sequência de exibição de slides, clique no slide e arraste até a posição desejada. Você também pode
ocultar um slide dando um clique com o botão direito do mouse sobre ele e selecionando ‘Ocultar Slide’.

Alterando o Design:
O design de um slide é a apresentação visual do mesmo, ou seja, as cores nele utilizadas, tipos de fontes, etc. O
PowerPoint disponibiliza vários temas prontos para aplicar ao design de sua apresentação.
Para inserir um Tema de design pronto nos slides acesse a guia ‘Design’ na Faixa de Opções. Clique na seta lateral
para visualizar todos os temas existentes.
Clique no tema desejado, para aplicar ao slide selecionado. O tema será aplicado em todos os slides.
Variantes -> Cores e Variantes -> Fontes: ainda na guia ‘Design’ podemos aplicar variações dos temas, alterando
cores e fontes, criando novos temas de cores. Clique na seta da caixa ‘Variantes’ para abrir as opções. Passe o mouse
sobre cada tema para visualizar o efeito na apresentação. Após encontrar a variação desejada, dê um clique com o
mouse para aplicá-la à apresentação.

Variantes de Temas de Design

Variantes -> Efeitos: os efeitos de tema especificam como os efeitos são aplicados a gráficos SmartArt, formas e
imagens. Clique na seta do botão ‘Efeitos’ para acessar a galeria de Efeitos. Aplicando o efeito alteramos rapidamente
a aparência dos objetos.
Layout de Texto:

O primeiro slide criado em nossa apresentação é um ‘Slide de título’. Nele não deve ser inserido o conteúdo da
palestra ou reunião, mas apenas o título e um subtítulo pois trata-se do slide inicial.
Clique no quadro onde está indicado ‘Clique aqui para adicionar um título’, e escreva o título de sua apresentação. A
apresentação que criaremos será sobre ‘Grupo Nova”.
No quadro onde está indicado ‘Clique aqui para adicionar um subtítulo’ coloque seu nome ou o nome da empresa
em que trabalha, ou mesmo um subtítulo ligado ao tema da apresentação.
INFORMÁTICA

Formate o texto da forma como desejar, selecionando o tipo da fonte, tamanho, alinhamento, etc., clicando sobre a
‘Caixa de Texto’ para fazer as formatações.
Clique no botão novo slide da guia ‘PÁGINA INICIAL’. Será criado um novo slide com layout diferente do anterior. Isso
acontece porque o programa entende que o próximo slide não é mais de título, e sim de conteúdo, e assim sucessiva-
mente para a criação da sua apresentação.

38
Layouts de Conteúdo:

Utilizando os layouts de conteúdo é possível inserir figura ou cliparts, tabelas, gráficos, diagramas ou clipe de mídia
(que podem ser animações, imagens, sons, etc.).
A utilização destes recursos é muito simples, bastando clicar, no próprio slide, sobre o recurso que deseja utilizar.
Salve a apresentação atual como ‘Ensino a Distância’ e, sem fechá-la, abra uma nova apresentação. Vamos ver a
utilização dos recursos de Conteúdo.
Na guia ‘Início’ da Faixa de Opções, clique na seta lateral da caixa Layout. Será exibida uma janela com várias opções.
Selecione o layout ‘Título e conteúdo’.
Aparecerá a caixa de conteúdo no slide como mostrado na figura a seguir. A caixa de conteúdos ao centro do slide
possui diversas opções de tipo de conteúdo que se pode utilizar.
As demais ferramentas da ‘Caixa de Conteúdo’ são:
• Escolher Elemento Gráfico SmartArt
• Inserir Imagem
• Inserir Imagens Online
• Inserir Vídeo

Explore as opções, utilize os recursos oferecidos para enriquecer seus conhecimentos e, em consequência, criar
apresentações muito mais interessantes. O funcionamento de cada item é semelhante aos já abordados.

Agora é com você!


Exercite: crie diversos slides de conteúdo, procurando utilizar todas as opções oferecidas para cada tipo de conteú-
do. Desta forma, você estará aprendendo ainda mais utilizar os recursos do PowerPoint e do Office.

Animação dos Slides: A animação dos slides é um dos últimos passos da criação de uma apresentação. Essa é
uma etapa importante, pois, apesar dos inúmeros recursos oferecidos pelo programa, não é aconselhável exagerar na
utilização dos mesmos, pois além de tornar a apresentação cansativa, tira a atenção das pessoas que estão assistindo,
ao invés de dar foco ao conteúdo da apresentação, passam a dar foco para as animações.

Transições: A transição dos slides nada mais é que a mudança entre um slide e outro. Você pode escolher entre
diversas transições prontas, através da faixa de opções ‘TRANSIÇÕES’. Selecione o primeiro slide da nossa apresentação
e clique nesta opção.
Escolha uma das transições prontas e veja o que acontece. Explore os diversos tipos de transições, apenas clicando
sobre elas e assistindo os efeitos que elas produzem. Isso pode ser bastante divertido, mas dependendo do intuito da
apresentação, o exagero pode tornar sua apresentação pouco profissional.
Ainda em ‘TRANSIÇÕES’ escolha como será feito o avanço do slide, se após um tempo pré-definido ou ‘Ao Clicar
com o Mouse’, dentro da faixa ‘INTERVALO’. Você também pode aplicar som durante a transição.

Animações: As animações podem ser definidas para cada caixa de texto dos slides. Ou seja, durante sua apresen-
tação você pode optar em ir abrindo o texto conforme trabalha os assuntos.
Neste exemplo, selecionaremos o Slide 3 de nossa apresentação para enriquecer as explicações. Clique um uma das
caixas de texto do slide, e na opção ‘ANIMAÇÕES’ abra o ‘PAINEL DE ANIMAÇÃO’.

Animações

Escolheremos a opção ‘Flutuar para Dentro’, mas você pode explorar as diversas opções e escolher a que mais te
agradar. Clique na opção escolhida. No Painel de Animação, abra todas as animações clicando na seta para baixo.
INFORMÁTICA

Abrindo a lista do Painel de Animações

39
Cada parágrafo de texto pode ser configurado, bas-
tando que você clique no parágrafo desejado e faça a
opção de animação desejada. O parágrafo pode aparecer EXERCÍCIOS COMENTADOS
somente quando você clicar com o mouse, ou juntamen-
te com o anterior. Pode mantê-lo aberto na tela enquan- 1. (Escrivão – de Polícia – CESPE 2013) Título, assunto, pala-
to outros estão fechados, etc. vras-chave e comentários de um documento são metadados
Em nosso exemplo, vamos animar da seguinte forma: típicos presentes em um documento produzido por proces-
os textos da caixa de texto do lado esquerdo vão apare- sadores de texto como o BrOffice e o Microsoft Office.
cer juntos após clicar. Os textos da caixa do lado direito
permanecem fechados. Ao clicar novamente, os dois pa- ( ) CERTO ( ) ERRADO
rágrafos aparecerão ao mesmo tempo na tela.
Passo a passo: Resposta: Certo. Quando um determinado documento
Com a caixa de texto do lado esquerdo selecionada, de texto produzido tanto pelo BrOffice quanto pelo Mi-
clique em ‘Iniciar ao clicar’ no 1º parágrafo, mostrado no crosoft Office ele fica armazenado em forma de arquivo
Painel de Animações; em uma memória especificada no momento da grava-
selecione o 2º parágrafo e selecione ‘Iniciar com anterior’; ção deste. Ao clicar como botão direito do mouse no
selecione a caixa de texto do lado direito e aplique arquivo de texto armazenado e clicar em propriedades
uma animação; é possível por meio da guia Detalhes perceber os meta-
no Painel de Animações clique em ‘Iniciar ao clicar’ no dados “Título, assunto, palavras-chave e comentários”.
1º parágrafo da caixa de texto
selecione o 2º parágrafo da caixa de texto e selecione 2. (Perito Criminal – CESPE – 2013) Considere que um
‘Iniciar com anterior’. usuário disponha de um computador apenas com Linux
e BrOffice instalados. Nessa situação, para que esse com-
Impress putador realize a leitura de um arquivo em formato de
planilha do Microsoft Office Excel, armazenado em um
É o editor de apresentações do LibreOffice e o seu pendrive formatado com a opção NTFS, será necessária
formato de arquivo padrão é o .odp (Open Document a conversão batch do arquivo, antes de sua leitura com
Presentations). o aplicativo instalado, dispensando-se a montagem do
- O usuário pode iniciar uma apresentação no Im- sistema de arquivos presente no pendrive.
press de duas formas:
• do primeiro slide (F5) - Menu Apresentação de Sli- ( ) CERTO ( ) ERRADO
des -> Iniciar do primeiro slide.
• do slide atual (Shift + F5) - Menu Apresentação Resposta: Errado. Um pendrive formatado com o sis-
de Slides -> Iniciar do slide atual. tema de arquivos NTFS será lido normalmente pelo
Linux, sem necessidade de conversão de qualquer na-
- Menu do Impress: tureza. E o fato do suposto arquivo estar em formato
Arquivo - contém comandos que se aplicam ao do- Excel (xls ou xlsx) é indiferente também, já que o BrOf-
cumento inteiro como Abrir, Salvar e Exportar como PDF; fice é capaz de abrir ambos os formatos.
Editar - contém comandos para editar o conteúdo
documento como, por exemplo, Desfazer, Localizar e 3. (Papiloscopista – CESPE – 2012) O BrOffice 3, que
Substituir, Cortar, Copiar e Colar; reúne, entre outros softwares livres de escritório, o editor
Exibir - contém comandos para controlar a exibição de texto Writer, a planilha eletrônica Calc e o editor de
de um documento tais como Zoom, Apresentação de Sli- apresentação Impress, é compatível com as plataformas
des, Estrutura de tópicos e Navegador; computacionais Microsoft Windows, Linux e MacOS-X
Inserir - contém comandos para inserção de novos
slides e elementos no documento como figuras, tabelas ( ) CERTO ( ) ERRADO
e hiperlinks;
Formatar - contém comandos para formatar o layout Resposta: Certo. O BrOffice 3 faz parte de um con-
e o conteúdo dos slides, tais como Modelos de slides, junto de aplicativos para escritório livre multiplatafor-
Layout de slide, Estilos e Formatação, Parágrafo e Carac- ma chamado OpenOffice.org. Distribuída para Micro-
tere; soft Windows, Unix, Solaris, Linux e Mac OS X, mantida
Ferramentas - contém ferramentas como Ortografia, pela Apache Software Foundation.
Compactar apresentação e Player de mídia;
Apresentação de Slides - contém comandos para 4. (Agente – CESPE – 2014) No Word 2013, a partir de
controlar a apresentação de slides e adicionar efeitos em opção disponível no menu Inserir, é possível inserir em
objetos e na transição de slides. um documento uma imagem localizada no próprio com-
putador ou em outros computadores a que o usuário es-
INFORMÁTICA

teja conectado, seja em rede local, seja na Web.

( ) CERTO ( ) ERRADO

40
Resposta: CERTO. A opção Inserir, Ilustrações, Ima- 7. (Delegado de Polícia – CESPE – 2004) Considere o
gem possibilita a inserção de imagens no documento, seguinte procedimento: selecionar o trecho “Funai, (...)
sejam elas armazenadas no computador, na rede ou Federal”; clicar a opção Estilo no menu ; na janela
na Internet (no 2013 é possível na opção Imagens on- decorrente dessa ação, marcar o campo todas em mai-
-line, no 2010 não). úsculas; clicar OK. Esse procedimento fará que todas as
letras do referido trecho fiquem com a fonte maiúscula.
5. (Agente – CESPE – 2014) Para criar um documento
no Word 2013 e enviá-lo para outras pessoas, o usuário ( ) CERTO ( ) ERRADO
deve clicar o menu Inserir e, na lista disponibilizada, sele-
cionar a opção Iniciar Mala Direta. Resposta: Errado. O procedimento correto é: selecio-
nar o trecho “Funai, (...) Federal”; clicar a opção FONTE
( ) CERTO ( ) ERRADO no menu FORMATAR na janela decorrente dessa ação,
marcar o campo Todas em maiúsculas; clicar OK.
Resposta: Errado. A mala direta é usada para criar
correspondências em massa que podem ser persona- 8. (Delegado de Polícia – CESPE – 2004) As informa-
lizadas para cada destinatário. É possível adicionar ele- ções contidas na figura mostrada permitem concluir que
mentos individuais a qualquer parte de uma etiqueta, o documento em edição contém duas páginas e, caso se
carta, envelope, ou e-mail, desde a saudação até o disponha de uma impressora devidamente instalada e se
conteúdo do documento, inclusive imagens. O Word deseje imprimir apenas a primeira página do documen-
preenche automaticamente os campos com as infor- to, é suficiente realizar as seguintes ações: clicar a opção
mações do destinatário e gera todos os documentos Imprimir no menu ; na janela aberta em decorrên-
individuais. Contudo, não envia um arquivo a outros cia dessa ação, assinalar, no campo apropriado, que se
usuários como diz a questão. deseja imprimir a página atual; clicar OK.

( ) CERTO ( ) ERRADO
6. (Agente – CESPE – 2014) No Word 2013, ao se sele-
cionar uma palavra, clicar sobre ela com o botão direito
Resposta: Certo.. A opção para imprimir documentos
do mouse e, na lista disponibilizada, selecionar a opção
assim como para efetuar as devidas configurações da
definir, será mostrado, desde que estejam satisfeitas to-
impressão podem ser feitas através do Menu Arquivo
das as configurações exigidas, um dicionário contendo
/ Imprimir ou utilizando-se do atalho CTRL+P.
significados da palavra selecionada.
9. (Delegado de Polícia – CESPE – 2004) Para encontrar
( ) CERTO ( ) ERRADO todas as ocorrências do termo “Ibama” no documento
em edição, é suficiente realizar o seguinte procedimento:
Resposta: Certo. A inclusão do dicionário no botão aplicar um clique duplo sobre o referido termo; clicar su-
direito na versão Word 2013 é novidade, mas já é an- cessivamente o botão .
tiga no Word pelo comando Shift + F7(dicionário de
sinônimos). ( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. O botão mostrado na questão não


deve ser utilizado para encontrar ocorrências de um
determinado termo no documento que se está editan-
do, tal recurso pode ser conseguido através do botão
Localizar ou do atalho CTRL+L.

Considerando a figura acima, que ilustra uma janela do


INFORMÁTICA

Word 2000 contendo parte de um texto extraído e adap-


tado do sítio http://www.funai.gov.br, julgue os itens A figura acima mostra uma janela do Excel 2002 com uma
subsequentes. planilha em processo de edição. Com relação a essa figu-
ra e ao Excel 2002, e considerando que apenas a célula
C2 está formatada como negrito, julgue o item abaixo.

41
10. (Delegado de Polícia – CESPE – 2004) É possível Etapa 1: Criar um documento
aplicar negrito às células B2, B3 e B4 por meio da seguin- Para criar um novo documento:
te sequência de ações, realizada com o mouse: clicar a Abra a tela inicial do Documentos em docs.google.
célula C2; clicar ; posicionar o ponteiro sobre o centro com.
da célula B2; pressionar e manter pressionado o botão No canto superior esquerdo, em “Iniciar um novo
esquerdo; posicionar o ponteiro no centro da célula B4; documento”, clique em Novo Adicionar. O novo docu-
liberar o botão esquerdo. mento será criado e aberto.
Em um computador cujo sistema operacional é o Win- Também é possível criar novos documentos neste
dows XP, ao se clicar, com o botão direito do mouse, URL: docs.google.com/create.
o ícone , contido na área de trabalho e referente a
determinado arquivo, foi exibido o menu mostrado na Etapa 2: Editar e formatar
figura ao lado. A respeito dessa figura e do Windows XP, Você pode adicionar e editar o texto, os parágrafos, o
julgue os itens a seguir. espaçamento e muito mais em um documento.

Etapa 3: Compartilhar e colaborar com outras


pessoas
Você pode compartilhar arquivos e pastas com as
pessoas e determinar se elas podem ver, editar ou co-
mentar esses itens.

O objetivo inicial da Internet era atender necessida-


des militares, facilitando a comunicação. A agência nor-
te-americana ARPA – ADVANCED RESEARCH AND PRO-
JECTS AGENCY e o Departamento de Defesa americano,
na década de 60, criaram um projeto que pudesse conec-
( ) CERTO ( ) ERRADO tar os computadores de departamentos de pesquisas e
bases militares, para que, caso um desses pontos sofres-
Resposta: Certo. . Com o botão “Pincel” é possível co- se algum tipo de ataque, as informações e comunicação
piar toda a formatação de uma célula para outra célu- não seriam totalmente perdidas, pois estariam salvas em
la, e o procedimento correto foi descrito na questão. outros pontos estratégicos.
O projeto inicial, chamado ARPANET, usava uma co-
nexão a longa distância e possibilitava que as mensagens
fossem fragmentadas e endereçadas ao seu computador
VERSÃO GOOGLE DOCS. WEB X INTERNET: de destino. O percurso entre o emissor e o receptor da
CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS, informação poderia ser realizado por várias rotas, assim,
BROWSERS EDGE, GOOGLE CHROME E caso algum ponto no trajeto fosse destruído, os dados
FIREFOX MOZILLA, CORREIO ELETRÔNICO poderiam seguir por outro caminho garantindo a entre-
X E-MAILS, WEBMAIL, ATALHOS DE ga da informação, é importante mencionar que a maior
TECLADO, TECLAS DE FUNÇÃO, ÍCONES, distância entre um ponto e outro, era de 450 quilôme-
USO DOS RECURSOS. tros. No começo dos anos 80, essa tecnologia rompeu as
barreiras de distância, passando a interligar e favorecer
a troca de informações de computadores de universi-
Textos no Google Docs dades dos EUA e de outros países, criando assim uma
rede (NET) internacional (INTER), consequentemente seu
Um dos destaques da ferramenta de edição de textos nome passa a ser, INTERNET.
do Google Docs é que enquanto você edita ou escreve A evolução não parava, além de atingir fronteiras
no Google Docs você não precisa salvar o trabalho, pois continentais, os computadores pessoais evoluíam em
tudo o que é produzido nele, é salvo automaticamente. forte escala alcançando forte potencial comercial, a Inter-
Ou seja, caso seu celular descarregue, não é preciso se net deixou de conectar apenas computadores de univer-
preocupar, pois o conteúdo é guardado à medida que sidades, passou a conectar empresas e, enfim, usuários
está sendo produzido. domésticos. Na década de 90, o Ministério das Comu-
O Google garante ainda que esse é o fim da preocu- nicações e o Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil
pação com os formatos dos arquivos, uma vez que todo trouxeram a Internet para os centros acadêmicos e co-
o material produzido dentro do Docs é totalmente com- merciais. Essa tecnologia rapidamente foi tomando conta
patível com outros programas de edição como o Micro- de todos os setores sociais até atingir a amplitude de sua
soft Word ou Excel, por exemplo. difusão nos tempos atuais.
INFORMÁTICA

Por se tratar de uma ferramenta do Google, a em- Um marco que é importante frisar é o surgimento do
presa também disponibiliza um espaço para o buscador WWW que foi a possibilidade da criação da interface grá-
que permite que você “explore e deixe-se inspirar pelas fica deixando a internet ainda mais interessante e vanta-
imagens, citações e textos das pesquisas no Google sem josa, pois até então, só era possível a existência de textos.
sair do aplicativo para Android”, explica o desenvolvedor.

42
Para garantir a comunicação entre o remetente e o E também, do país de origem:
destinatário o americano Vinton Gray Cerf, conhecido .it – Itália
como o pai da internet criou os protocolos TCP/IP, que .pt – Portugal
são protocolos de comunicação. O TCP – TRANSMIS- .ar – Argentina
SION CONTROL PROTOCOL (Protocolo de Controle de .cl – Chile
Transmissão) e o IP – INTERNET PROTOCOL (Protocolo .gr – Grécia
de Internet) são conjuntos de regras que tornam possível
tanto a conexão entre os computadores, quanto ao en- Quando vemos apenas a terminação .com, sabemos
tendimento da informação trocada entre eles. que se trata de um site hospedado em um servidor dos
A internet funciona o tempo todo enviando e rece- Estados Unidos.
bendo informações, por isso o periférico que permite a - HTTPS (Hypertext transfer protocol secure): Seme-
conexão com a internet chama MODEM, porque que ele lhante ao HTTP, porém permite que os dados sejam
MOdula e DEModula sinais, e essas informações só po- transmitidos através de uma conexão criptografa-
dem ser trocadas graças aos protocolos TCP/IP. da e que se verifique a autenticidade do servidor e
do cliente através de certificados digitais.
Protocolos Web - FTP (File Transfer Protocol): Protocolo de transferên-
cia de arquivo, é o protocolo utilizado para poder
Já que estamos falando em protocolos, citaremos ou- subir os arquivos para um servidor de internet,
tros que são largamente usados na Internet: seus programas mais conhecidos são, o Cute FTP,
- HTTP (Hypertext Transfer Protocol): Protocolo de FileZilla e LeechFTP, ao criar um site, o profissio-
transferência de Hipertexto, desde 1999 é utilizado para nal utiliza um desses programas FTP ou similares
trocar informações na Internet. Quando digitamos um e executa a transferência dos arquivos criados, o
site, automaticamente é colocado à frente dele o http:// manuseio é semelhante à utilização de gerencia-
Exemplo: http://www.novaconcursos.com.br dores de arquivo, como o Windows Explorer, por
Onde: exemplo.
http:// → Faz a solicitação de um arquivo de hipermí- - POP (Post Office Protocol): Protocolo de Posto dos
dia para a Internet, ou seja, um arquivo que pode conter Correios permite, como o seu nome o indica, recu-
texto, som, imagem, filmes e links. perar o seu correio num servidor distante (o servi-
- URL (Uniform Resource Locator): Localizador Padrão dor POP). É necessário para as pessoas não ligadas
de recursos, serve para endereçar um recurso na web, permanentemente à Internet, para poderem con-
é como se fosse um apelido, uma maneira mais fácil de sultar os mails recebidos offline. Existem duas ver-
acessar um determinado site. sões principais deste protocolo, o POP2 e o POP3,
Exemplo: http://www.novaconcursos.com.br, onde: aos quais são atribuídas respectivamente as portas
109 e 110, funcionando com o auxílio de coman-
Faz a solicitação de um arquivo de dos textuais radicalmente diferentes, na troca de
http://
hiper mídia para a Internet. e-mails ele é o protocolo de entrada.
Estipula que esse recurso está na - IMAP (Internet Message Access Protocol): É um pro-
rede mundial de computadores tocolo alternativo ao protocolo POP3, que ofere-
www ce muitas mais possibilidades, como, gerir vários
(veremos mais sobre www em um
próximo tópico). acessos simultâneos e várias caixas de correio,
além de poder criar mais critérios de triagem.
É o endereço de domínio. Um - SMTP (Simple Mail Transfer Protocol): É o protocolo
endereço de domínio representará padrão para envio de e-mails através da Internet.
novaconcursos
sua empresa ou seu espaço na Faz a validação de destinatários de mensagens. Ele
Internet. que verifica se o endereço de e-mail do destinatá-
Indica que o servidor onde esse site rio está corretamente digitado, se é um endereço
está existente, se a caixa de mensagens do destinatário
.com está cheia ou se recebeu sua mensagem, na troca
hospedado é de finalidades
comerciais. de e-mails ele é o protocolo de saída.
- UDP (User Datagram Protocol): Protocolo que atua
.br Indica queo servidor está no Brasil. na camada de transporte dos protocolos (TCP/IP).
Permite que a aplicação escreva um datagrama en-
Encontramos, ainda, variações na URL de um site, capsulado num pacote IP e transportado ao des-
que demonstram a finalidade e organização que o criou, tino. É muito comum lermos que se trata de um
como:
protocolo não confiável, isso porque ele não é im-
.gov - Organização governamental
plementado com regras que garantam tratamento
.edu - Organização educacional
de erros ou entrega.
.org - Organização
INFORMÁTICA

.ind - Organização Industrial


.net - Organização telecomunicações
.mil - Organização militar
.pro - Organização de profissões
.eng – Organização de engenheiros

43
Provedor - Negócios e Utilitários.
- Apresentações.
O provedor é uma empresa prestadora de serviços
que oferece acesso à Internet. Para acessar a Internet, é ne- INTRANET
cessário conectar-se com um computador que já esteja na
Internet (no caso, o provedor) e esse computador deve per- A Intranet ou Internet Corporativa é a implantação de
mitir que seus usuários também tenham acesso a Internet. uma Internet restrita apenas a utilização interna de uma
No Brasil, a maioria dos provedores está conectada empresa. As intranets ou Webs corporativas, são redes
à Embratel, que por sua vez, está conectada com outros de comunicação internas baseadas na tecnologia usada
computadores fora do Brasil. Esta conexão chama-se link, na Internet. Como um jornal editado internamente, e que
que é a conexão física que interliga o provedor de aces- pode ser acessado apenas pelos funcionários da empre-
so com a Embratel. Neste caso, a Embratel é conhecida sa.
como backbone, ou seja, é a “espinha dorsal” da Internet A intranet cumpre o papel de conectar entre si filiais
no Brasil. Pode-se imaginar o backbone como se fosse e departamentos, mesclando (com segurança) as suas
uma avenida de três pistas e os links como se fossem as informações particulares dentro da estrutura de comuni-
ruas que estão interligadas nesta avenida. Tanto o link cações da empresa.
como o backbone possui uma velocidade de transmis- O grande sucesso da Internet, é particularmente da
são, ou seja, com qual velocidade ele transmite os dados. World Wide Web (WWW) que influenciou muita coisa na
Esta velocidade é dada em bps (bits por segundo). evolução da informática nos últimos anos.
Deve ser feito um contrato com o provedor de acesso, Em primeiro lugar, o uso do hipertexto (documentos
que fornecerá um nome de usuário, uma senha de aces- interligados através de vínculos, ou links) e a enorme fa-
so e um endereço eletrônico na Internet. cilidade de se criar, interligar e disponibilizar documentos
multimídia (texto, gráficos, animações, etc.), democrati-
Home Page zaram o acesso à informação através de redes de com-
putadores. Em segundo lugar, criou-se uma gigantesca
Pela definição técnica temos que uma Home Page é base de usuários, já familiarizados com conhecimentos
um arquivo ASCII (no formato HTML) acessado de com- básicos de informática e de navegação na Internet. Fi-
putadores rodando um Navegador (Browser), que per- nalmente, surgiram muitas ferramentas de software de
mite o acesso às informações em um ambiente gráfico custo zero ou pequeno, que permitem a qualquer orga-
e multimídia. Todo em hipertexto, facilitando a busca de nização ou empresa, sem muito esforço, “entrar na rede”
informações dentro das Home Pages. e começar a acessar e colocar informação. O resultado
inevitável foi a impressionante explosão na informação
disponível na Internet, que segundo consta, está dobran-
#FicaDica do de tamanho a cada mês.
Assim, não demorou muito a surgir um novo concei-
O endereço de Home Pages tem o seguinte to, que tem interessado um número cada vez maior de
formato: empresas, hospitais, faculdades e outras organizações
http://www.endereço.com/página.html interessadas em integrar informações e usuários: a intra-
Por exemplo, a página principal do meu pro- net. Seu advento e disseminação promete operar uma
jeto de mestrado: revolução tão profunda para a vida organizacional quan-
http://www.youtube.com/canaldoovidio to o aparecimento das primeiras redes locais de compu-
tadores, no final da década de 80.

Plug-ins O que é Intranet?

Os plug-ins são programas que expandem a capaci- O termo “intranet” começou a ser usado em meados
dade do Browser em recursos específicos - permitindo, de 1995 por fornecedores de produtos de rede para se
por exemplo, que você toque arquivos de som ou veja referirem ao uso dentro das empresas privadas de tecno-
filmes em vídeo dentro de uma Home Page. As empresas logias projetadas para a comunicação por computador
de software vêm desenvolvendo plug-ins a uma veloci- entre empresas. Em outras palavras, uma intranet consis-
dade impressionante. Maiores informações e endereços te em uma rede privativa de computadores que se baseia
sobre plug-ins são encontradas na página: nos padrões de comunicação de dados da Internet pú-
http://www.yahoo.com/Computers_and_Internet/ blica, baseadas na tecnologia usada na Internet (páginas
Software/ Internet/World_Wide_Web/Browsers/Plug_Ins/ HTML, e-mail, FTP, etc.) que vêm, atualmente fazendo
Indices/ muito sucesso. Entre as razões para este sucesso, estão
Atualmente existem vários tipos de plug-ins. Abaixo o custo de implantação relativamente baixo e a facilida-
temos uma relação de alguns deles: de de uso propiciada pelos programas de navegação na
INFORMÁTICA

- 3D e Animação (Arquivos VRML, MPEG, QuickTime, Web, os browsers.


etc.).
- Áudio/Vídeo (Arquivos WAV, MID, AVI, etc.).
- Visualizadores de Imagens (Arquivos JPG, GIF, BMP,
PCX, etc.).

44
Objetivo de construir uma Intranet tadores que acessam a rede (também chamados
de clientes, daí surgiu à expressão que caracteriza
Organizações constroem uma intranet porque ela é a arquitetura da intranet: cliente-servidor).
uma ferramenta ágil e competitiva. Poderosa o suficien- - A vantagem da intranet é que esses programas
te para economizar tempo, diminuir as desvantagens da são ativados através da WWW, permitindo grande
distância e alavancar sobre o seu maior patrimônio de flexibilidade. Determinadas linguagens, como Java,
capital com conhecimentos das operações e produtos da assumiram grande importância no desenvolvimen-
empresa. to de softwares aplicativos que obedeçam aos três
conceitos anteriores.
Aplicações da Intranet
Mecanismos de Buscas
Já é ponto pacífico que apoiarmos a estrutura de co-
municações corporativas em uma intranet dá para sim- Pesquisar por algo no Google e não ter como retorno
plificar o trabalho, pois estamos virtualmente todos na exatamente o que você queria pode trazer algumas ho-
mesma sala. De qualquer modo, é cedo para se afirmar ras de trabalho a mais, não é mesmo? Por mais que os
onde a intranet vai ser mais efetiva para unir (no sentido algoritmos de busca sejam sempre revisados e busquem
operacional) os diversos profissionais de uma empresa. de certa forma “adivinhar” o que se passa em sua cabeça,
Mas em algumas áreas já se vislumbram benefícios, por lançar mão de alguns artifícios para que sua busca seja
exemplo: otimizada poupará seu tempo e fará com que você tenha
- Marketing e Vendas - Informações sobre produ- acesso a resultados mais relevantes.
tos, listas de preços, promoções, planejamento de Os mecanismos de buscas contam com operadores
eventos; para filtro de conteúdo. A maior parte desse filtros, no
- Desenvolvimento de Produtos - OT (Orientação de entanto, pode não interessar a você, caso não seja um
Trabalho), planejamentos, listas de responsabilida- praticante de SEO. Contudo, alguns são realmente úteis
des de membros das equipes, situações de proje- e estão listados abaixo. Realize uma busca simples e de-
pois aplique os filtros para poder ver o quanto os resul-
tos;
tados podem ser mais especializados em relação ao que
- Apoio ao Funcionário - Perguntas e respostas, siste-
você procura.
mas de melhoria contínua (Sistema de Sugestões),
manuais de qualidade;
-palavra_chave
- Recursos Humanos - Treinamentos, cursos, apos-
tilas, políticas da companhia, organograma, opor- Retorna uma busca excluindo aquelas em que a pa-
tunidades de trabalho, programas de desenvolvi- lavra chave aparece. Por exemplo, se eu fizer uma busca
mento pessoal, benefícios. por computação, provavelmente encontrarei na relação
dos resultados informaçõe sobre “Ciência da computa-
Para acessar as informações disponíveis na Web cor- ção“. Contudo, se eu fizer uma busca por computação
porativa, o funcionário praticamente não precisa ser trei- -ciência, os resultados que tem a palavra chave ciência
nado. Afinal, o esforço de operação desses programas se serão omitidos.
resume quase somente em clicar nos links que remetem
às novas páginas. No entanto, a simplicidade de uma in- +palavra_chave
tranet termina aí. Projetar e implantar uma rede desse
tipo é uma tarefa complexa e exige a presença de pro- Retorna uma busca fazendo uma inclusão forçada de
fissionais especializados. Essa dificuldade aumenta com uma palavra chave nos resultados. De maneira análoga
o tamanho da intranet, sua diversidade de funções e a ao exemplo anterior, se eu fizer uma busca do tipo com-
quantidade de informações nela armazenadas. putação, terei como retorno uma gama mista de resul-
tados. Caso eu queira filtrar somente os casos em que
A intranet é baseada em quatro conceitos: ciências aparece, e também no estado de SP, realizo uma
busca do tipo computação + ciência SP.
- Conectividade - A base de conexão dos computadores
ligados por meio de uma rede, e que podem transferir “frase_chave”
qualquer tipo de informação digital entre si;
- Heterogeneidade - Diferentes tipos de computa- Retorna uma busca em que existam as ocorrências
dores e sistemas operacionais podem ser conecta- dos termos que estão entre aspas, na ordem e grafia
exatas ao que foi inserido. Assim, se você realizar uma
dos de forma transparente;
busca do tipo “como faser” – sim, com a escrita incorreta
- Navegação - É possível passar de um documento
da palavra FAZER, verá resultados em que a frase idêntica
a outro por meio de referências ou vínculos de
foi empregada.
hipertexto, que facilitam o acesso não linear aos
INFORMÁTICA

documentos; palavras_chave_01 OR palavra_chave_02


- Execução Distribuída - Determinadas tarefas de
acesso ou manipulação na intranet só podem ocor- Mostra resultado para pelo menos uma das palavras
rer graças à execução de programas aplicativos, chave citadas. Faça uma busca por facebook OR msn, por
que podem estar no servidor, ou nos microcompu- exemplo, e terá como resultado de sua busca, páginas

45
relevantes sobre pelo menos um dos dois temas - nes- O Picasa está com uma versão cheia de inovações que
se caso, como as duas palavras chaves são populares, os faz dele um aplicativo completo para visualização de fo-
dois resultados são apresentados em posição de desta- tos e imagens. Além disso, ele possui diversas ferramen-
que. tas úteis para editar, organizar e gerenciar arquivos de
imagem do computador.
filetype:tipo As ferramentas de edição possuem os métodos mais
avançados para automatizar o processo de correção de
Retorna as buscas em que o resultado tem o tipo de imagens. No caso de olhos vermelhos, por exemplo, o
extensão especificada. Por exemplo, em uma busca fi- programa consegue identificar e corrigir todos os olhos
letype:pdf jquery serão exibidos os conteúdos da palavra vermelhos da foto automaticamente sem precisar sele-
chave jquery que tiverem como extensão .pdf. Os tipos de cionar um por um. Além disso, é possível cortar, endirei-
extensão podem ser: PDF, HTML ou HTM, XLS, PPT, DOC. tar, adicionar textos, inserir efeitos, e muito mais.
Um dos grandes destaques do Picasa é sua poderosa
palavra_chave_01 * palavra_chave_02 biblioteca de imagens. Ele possui um sistema inteligen-
te de armazenamento capaz de filtrar imagens que con-
Retorna uma “busca combinada”, ou seja, sendo o * tenham apenas rostos. Assim você consegue visualizar
um indicador de “qualquer conteúdo”, retorna resultados apenas as fotos que contém pessoas.
em que os termos inicial e final aparecem, independente Depois de tudo organizado em seu computador, você
do que “esteja entre eles”. Realize uma busca do tipo fa- pode escolher diversas opções para salvar e/ou compar-
cebook * msn e veja o resultado na prática. tilhar suas fotos e imagens com amigos e parentes. Isso
pode ser feito gravando um CD/DVD ou enviando via
Áudio e Vídeo Web. O programa possui integração com o PicasaWeb, o
qual possibilita enviar um álbum inteiro pela internet em
A popularização da banda larga e dos serviços de poucos segundos.
e-mail com grande capacidade de armazenamento está O IrfanView é um visualizador de imagem muito leve
aumentando a circulação de vídeos na Internet. O pro- e com uma interface gráfica simples porém otimizada e
blema é que a profusão de formatos de arquivos pode fácil de utilizar, mesmo para quem não tem familiaridade
tornar a experiência decepcionante. com este tipo de programa. Ele também dispõe de al-
A maioria deles depende de um único programa para guns recursos simples de editor. Com ele é possível fazer
rodar. Por exemplo, se a extensão é MOV, você vai neces- operações como copiar e deletar imagens até o efeito de
sitar do QuickTime, da Apple. Outros, além de um player remoção de olhos vermelhos em fotos. O programa oferece
de vídeo, necessitam do “codec” apropriado. Acrônimo alternativas para aplicar efeitos como texturas e alteração de
de “COder/DECoder”, codec é uma espécie de comple-
cores em sua imagem por meio de apenas um clique.
mento que descomprime - e comprime - o arquivo. É o
Além disso sempre é possível a visualização de ima-
caso do MPEG, que roda no Windows Media Player, des-
gens pelo próprio gerenciador do Windows.
de que o codec esteja atualizado - em geral, a instalação
é automática.
Transferência de arquivos pela internet
Com os três players de multimídia mais populares -
Windows Media Player, Real Player e Quicktime -, você
FTP (File Transfer Protocol – Protocolo de Transferên-
dificilmente encontrará problemas para rodar vídeos,
tanto offline como por streaming (neste caso, o down- cia de Arquivos) é uma das mais antigas formas de inte-
load e a exibição do vídeo são simultâneos, como na TV ração na Internet. Com ele, você pode enviar e receber
Terra). arquivos para, ou de computadores que se caracterizam
Atualmente, devido à evolução da internet com os como servidores remotos. Voltaremos aqui ao conceito
mais variados tipos de páginas pessoais e redes sociais, de arquivo texto (ASCII – código 7 bits) e arquivos não
há uma grande demanda por programas para trabalhar texto (Binários – código 8 bits). Há uma diferença interes-
com imagens. E, como sempre é esperado, em resposta a sante entre enviar uma mensagem de correio eletrônico
isso, também há no mercado uma ampla gama de ferra- e realizar transferência de um arquivo. A mensagem é
mentas existentes que fazem algum tipo de tratamento sempre transferida como uma informação textual, en-
ou conversão de imagens. quanto a transferência de um arquivo pode ser caracteri-
Porém, muitos destes programas não são o que se zada como textual (ASCII) ou não-textual (binário).
pode chamar de simples e intuitivos, causando confusão Um servidor FTP é um computador que roda um pro-
em seu uso ou na manipulação dos recursos existentes. grama que chamamos de servidor de FTP e, portanto, é
Caso o que você precise seja apenas um programa para capaz de se comunicar com outro computador na Rede
visualizar imagens e aplicar tratamentos e efeitos simples que o esteja acessando através de um cliente FTP.
ou montar apresentações de slides, é sempre bom dar FTP anônimo versus FTP com autenticação existem
uma conferida em alguns aplicativos mais leves e com re- dois tipos de conexão FTP, a primeira, e mais utilizada,
cursos mais enxutos como os visualizadores de imagens. é a conexão anônima, na qual não é preciso possuir um
INFORMÁTICA

Abaixo, segue uma seleção de visualizadores, muitos username ou password (senha) no servidor de FTP, bas-
deles trazendo os recursos mais simples, comuns e fáceis tando apenas identificar-se como anonymous (anônimo).
de se utilizar dos editores, para você que não precisa de Neste caso, o que acontece é que, em geral, a árvore de
tantos recursos, mas ainda assim gosta de dar um trata- diretório que se enxerga é uma sub-árvore da árvore do
mento especial para as suas mais variadas imagens. sistema. Isto é muito importante, porque garante um

46
nível de segurança adequado, evitando que estranhos Já nos anos 2000, surge o Fotolog, uma plataforma
tenham acesso a todas as informações da empresa. que, desta vez, tinha como foco a publicação de foto-
Quando se estabelece uma conexão de “FTP anônimo”, grafias.
o que acontece em geral é que a conexão é posicionada Em 2002 surge o que é considerada a primeira verda-
no diretório raiz da árvore de diretórios. Dentre os mais deira rede social, o Friendster.
comuns estão: pub, etc, outgoing e incoming. O segundo No ano seguinte, é lançado o LinkedIn, a maior rede
tipo de conexão envolve uma autenticação, e portanto, é social de caráter profissional do mundo.
indispensável que o usuário possua um username e uma E em 2004, junto com a maior de todas as redes, o
password que sejam reconhecidas pelo sistema, quer di- Facebook, surgem o Orkut e o Flickr.
zer, ter uma conta nesse servidor. Neste caso, ao esta- Há vários tipos de redes sociais. A grande diferença
belecer uma conexão, o posicionamento é no diretório entre elas é o seu objetivo, os quais podem ser:
criado para a conta do usuário – diretório home, e dali • Estabelecimento de contatos pessoais (relações de
ele poderá percorrer toda a árvore do sistema, mas só amizade ou namoro).
escrever e ler arquivos nos quais ele possua. • Networking: partilha e busca de conhecimentos
Assim como muitas aplicações largamente utilizadas profissionais e procura emprego ou preenchimen-
hoje em dia, o FTP também teve a sua origem no sistema to de vagas.
operacional UNIX, que foi o grande percursor e respon- • Partilha e busca de imagens e vídeos.
sável pelo sucesso e desenvolvimento da Internet. • Partilha e busca de informações sobre temas varia-
dos.
Algumas dicas • Divulgação para compra e venda de produtos e ser-
viços.
1. Muitos sites que aceitam FTP anônimo limitam o • Jogos, entre outros.
número de conexões simultâneas para evitar uma
sobrecarga na máquina. Uma outra limitação pos- Há dezenas de redes sociais. Dentre as mais conheci-
sível é a faixa de horário de acesso, que muitas das, destacamos:
vezes é considerada nobre em horário comercial, • Facebook: interação e expansão de contatos.
e portanto, o FTP anônimo é temporariamente de- • Youtube: partilha de vídeos.
sativado. • Whatsapp: envio de mensagens instantâneas e cha-
2. Uma saída para a situação acima é procurar “sites madas de voz.
espelhos” que tenham o mesmo conteúdo do site • Instagram: partilha de fotos e vídeos.
sendo acessado. • Twitter: partilha de pequenas publicações, as quais
3. Antes de realizar a transferência de qualquer arqui- são conhecidas como “tweets”.
vo verifique se você está usando o modo correto,
• Pinterest: partilha de ideias de temas variados.
isto é, no caso de arquivos-texto, o modo é ASCII, e
• Skype: telechamada.
no caso de arquivos binários (.exe, .com, .zip, .wav,
• LinkedIn: interação e expansão de contatos profissionais.
etc.), o modo é binário. Esta prevenção pode evitar
• Badoo: relacionamentos amorosos.
perda de tempo.
• Snapchat: envio de mensagens instantâneas.
4. Uma coisa interessante pode ser o uso de um servi-
• Messenger: envio de mensagens instantâneas.
dor de FTP em seu computador. Isto pode permitir
• Flickr: partilha de imagens.
que um amigo seu consiga acessar o seu compu-
tador como um servidor remoto de FTP, bastando • Google+: partilha de conteúdos.
que ele tenha acesso ao número IP, que lhe é atri- • Tumblr: partilha de pequenas publicações, seme-
buído dinamicamente. lhante ao Twitter.

Grupos de Discussão e Redes Sociais Vantagens e Desvantagens

São espaços de convivências virtuais em que grupos Existem várias vantagens em fazer parte de redes
de pessoas ou empresas se relacionam por meio do en- sociais e é principalmente por isso que elas tiveram um
vio de mensagens, do compartilhamento de conteúdo, crescimento tão significativo ao longo dos anos.
entre outras ações. Isso porque as redes sociais podem aproximar as pes-
As redes sociais tiveram grande avanço devido a evo- soas. Afinal, elas são uma maneira fácil de manter as re-
lução da internet, cujo boom aconteceu no início do mi- lações e o contato com quem está distante, propiciando,
lênio. Vejamos como esse percurso aconteceu: assim, a possibilidade de interagir em tempo real.
As redes também facilitam a relação com quem está
Em 1994 foi lançado o GeoCities, a primeira comuni- mais perto. Em decorrência da rotina corrida do dia a dia,
dade que se assemelha a uma rede social. O GeoCities nem sempre há tempo para que as pessoas se encon-
que, no entanto, não existe mais, orientava as pessoas trem fisicamente.
para que elas próprias criassem suas páginas na internet. Além disso, as redes sociais oferecem uma forma rá-
INFORMÁTICA

Em 1995 surge o The Globe, que dava aos internautas pida e eficaz de comunicar algo para um grande número
a oportunidade de interagir com um grupo de pessoas. de pessoas ao mesmo tempo.
No mesmo ano, também surge uma plataforma que Podemos citar como exemplo o fato de poder avisar
permite a interação com antigos colegas da escola, o um acontecimento, a preparação de uma manifestação
Classmates. ou a mobilização de um grupo para um protesto.

47
No entanto, em decorrência de alguns perigos, as re-
des sociais apresentam as suas desvantagens. Uma delas EXERCÍCIOS COMENTADOS
é a falta de privacidade.
Por esse motivo, o uso das redes sociais tem sido
1. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) Se uma
cada vez mais discutido, inclusive pela polícia, que alerta impressora estiver compartilhada em uma intranet por
para algumas precauções. meio de um endereço IP, então, para se imprimir um ar-
quivo nessa impressora, é necessário, por uma questão
de padronização dessa tecnologia de impressão, indicar
#FicaDica
no navegador web a seguinte url:
Por ser algo muito atual, tem caído muitas , em
questões de redes sociais nos concursos que deve estar acessível via rede e
atualmente.
deve ser do tipo PDF.
VPN
( ) CERTO ( ) ERRADO
É o acrônimo de (Virtual Private Network), que signifi-
ca Rede Particular Virtual, que define-se como a conexão Resposta: Errado. Pelo comando da questão, esta afir-
de dois computadores utilizando uma rede pública (In- ma que somente arquivos no formato PDF, poderiam
ternet), imagine uma empresa que quer ligar suas filiais, ser impressos, o que torna o item errado, o comando
esse é um caso clássico, ou também pensando na mo- para impressão não verifica o formato do arquivo, tão
dalidade de trabalho homeoffice, onde o funcionário da somente o local onde está o arquivo a ser impresso.
casa dele pode acessar todos seus arquivos e softwares
específicos da empresa. 2. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) Se, em
A palavra tunelamento é algo normal ao se trabalhar uma intranet, for disponibilizado um portal de informa-
com VPNs, é como se criasse um túnel para que os dados ções acessível por meio de um navegador, será possível
possam ser enviados sem que outros usuários tenham acessar esse portal fazendo-se uso dos protocolos HTTP
acesso. ou HTTPS, ou de ambos, dependendo de como esteja
Para criar uma rede VPN não é preciso mais do que configurado o servidor do portal.
dois (ou mais) computadores conectados à Internet e um
programa de VPN instalado em cada máquina. O proces-
so para o envio dos dados é o seguinte:
• Os dados são criptografados e encapsulados.
• Algumas informações extras, como o número de
IP da máquina remetente, são adicionadas aos da-
dos que serão enviados para que o computador
receptor possa identificar quem mandou o pacote
de dados.
• O pacote contendo todos os dados é enviado atra-
vés do “túnel” criado até o computador de destino.
• A máquina receptora irá identificar o computador
remetente através das informações anexadas ao
pacote de dados.
• Os dados são recebidos e desencapsulados.
• Finalmente os dados são descriptografados e ar-
mazenados no computador de destino.

#FicaDica
Com base na figura acima, que ilustra as configurações
Com o aumento do HomeOffice cada vez da rede local do navegador Internet Explorer (IE), versão
mais cresce o uso de VPNs. 9, julgue os próximos itens.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. HTTP (Hyper Text Transfer Protocol)


é um protocolo, ou seja, uma determinada regra que
permite ao seu computador trocar informações com
INFORMÁTICA

um servidor que abriga um site. Isso significa que, uma


vez conectados sob esse protocolo, as máquinas po-
dem receber e enviar qualquer conteúdo textual – os
códigos que resultam na página acessada pelo nave-
gador.

48
O problema com o HTTP é que, em redes Wi-Fi ou Resposta: Certo. Em clientes de correios eletrônicos o
outras conexões propícias a phishing (fraude eletrô- padrão é utilizar o Protocolo POP ou POP3 que tem a
nica) e hackers, pessoas mal-intencionadas podem função de baixar as mensagens do servidor de e-mail
atravessar o caminho e interceptar os dados transmiti- para o computador que o programa foi configurado.
dos com relativa facilidade. Portanto, uma conexão em Quando o POP é substituído pelo IMAP, essas men-
HTTP é insegura. sagens são baixadas para o computador do usuário
Nesse ponto entra o HTTPS (Hyper Text Transfer Pro- só que apenas uma cópia delas, deixando no servidor
tocol Secure), que insere uma camada de proteção na as mensagens originais; quando o acesso é feito por
transmissão de dados entre seu computador e o ser- outro computador essas mensagens que estão no ser-
vidor. Em sites com endereço HTTPS, a comunicação vidor são baixadas para este outro computador, dei-
é criptografada, aumentando significativamente a se- xando sempre a original no servidor.
gurança dos dados. É como se cliente e servidor con-
versassem uma língua que só as duas entendessem, 6. (PAPILOSCOPISTA – CESPE – 2012) Twitter, Orkut,
dificultando a interceptação das informações. Google+ e Facebook são exemplos de redes sociais que
Para saber se está navegando em um site com crip- utilizam o recurso scraps para propiciar o compartilha-
tografia, basta verificar a barra de endereços, na qual mento de arquivos entre seus usuários
será possível identificar as letras HTTPS e, geralmente,
um símbolo de cadeado que denota segurança. Além ( ) CERTO ( ) ERRADO
disso, o usuário deverá ver uma bandeira com o nome Resposta: Errado. Scrap é um recado e sua função
do site, já que a conexão segura também identifica pá- principal é enviar mensagens e não o compartilha-
ginas na Internet por meio de seu certificado. mento de arquivos. Ainda que algumas redes permi-
tam o compartilhamento de fotos e gifs animados, o
3. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) Se o ser-
objetivo não é o compartilhamento de arquivos e nem
vidor proxy responder na porta 80 e a conexão passar
todas as redes citadas na questão permitem.
por um firewall de rede, então o firewall deverá permitir
conexões de saída da estação do usuário com a porta 80
7. (AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE – 2014) Nas
de destino no endereço do proxy.
versões recentes do Mozilla Firefox, há um recurso que
mantém o histórico de atualizações instaladas, no qual
( ) CERTO ( ) ERRADO
são mostrados detalhes como a data da instalação e o
Resposta: Certo. E muitas redes LAN o servidor pro- usuário que executou a operação.
xy e o firewall estão no mesmo servidor físico/virtual,
porém isso não é uma regra, ou seja, os dois serviços ( ) CERTO ( ) ERRADO
podem aparecer eventualmente em servidores físicos/
virtuais separados. Para que uma estação de usuário Reposta: Errado. Esse recurso existe nas últimas ver-
(que utiliza proxy na porta 80) possa “sair” da rede sões do Firefox, contudo o histórico não contém o
LAN para o mundo exterior “WAN” é necessário que usuário que executou a operação. Este recurso está
o firewall permita conexões de saída na mesma porta disponível no menu Firefox – Opções – Avançado –
em que o proxy está respondendo, ou seja, a porta 80. Atualizações – Histórico de atualizações.

4. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) A opção de 8. (AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE – 2014) No


usar um servidor proxy para a rede local faz que o IE solicite Internet Explorer 10, por meio da opção Sites Sugeridos,
autenticação em toda conexão de Internet que for realizada. o usuário pode registrar os sítios que considera mais im-
portantes e recomendá-los aos seus amigos.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
Resposta: Errado. Somente é solicitado a autentica-
ção se o servidor assim estiver configurado, do con- Resposta: Errado. O recurso Sites Sugeridos é um ser-
trário nenhuma senha é solicitada, além de que foi de- viço online que o Internet Explorer usa para recomen-
finido para a rede Interna e não para acesso à Internet. dar sítios de que o usuário possa gostar, com base nos
sítios visitados com frequência. Para acessá-lo, basta
5. (PERITO CRIMINAL – CESPE – 2013) Considere que clicar o menu Ferramentas-Arquivo- Sites Sugeridos.
um usuário necessite utilizar diferentes dispositivos com-
putacionais, permanentemente conectados à Internet, que Considere que um delegado de polícia federal, em uma
utilizem diferentes clientes de e-mail, como o Outlook sessão de uso do Internet Explorer 6 (IE6), obteve a janela
Express e Mozilla Thunderbird. Nessa situação, o usuário ilustrada acima, que mostra uma página web do sítio do
deverá optar pelo uso do protocolo IMAP (Internet messa- DPF, cujo endereço eletrônico está indicado no campo
ge access protocol), em detrimento do POP3 (post office . A partir dessas informações, julgue os itens de
INFORMÁTICA

protocol), pois isso permitirá a ele manter o conjunto de 09 a 12.


e-mails no servidor remoto ou, alternativamente, fazer o
download das mensagens para o computador em uso.

( ) CERTO ( ) ERRADO

49
9. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) O con- 12. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) Por
teúdo da página acessada pelo delegado, por conter da- meio do botão , o delegado poderá obter, desde que
dos importantes à ação do DPF, é constantemente atua- disponíveis, informações a respeito das páginas previa-
lizado por seu webmaster. Após o acesso mencionado mente acessadas na sessão de uso do IE6 descrita e de
acima, o delegado desejou verificar se houve alteração outras sessões de uso desse aplicativo, em seu computa-
desse conteúdo. dor. Outro recurso disponibilizado ao se clicar nesse bo-
Nessa situação, ao clicar no botão , o delegado terá tão permite ao delegado realizar pesquisa de conteúdo
condições de verificar se houve ou não a alteração men- nas páginas contidas no diretório histórico do IE6.
cionada, independentemente da configuração do IE6,
mas desde que haja recursos técnicos e que o IE6 esteja ( ) CERTO ( ) ERRADO
em modo online.
Resposta: Certo. É possível através do botão descrito,
( ) CERTO ( ) ERRADO o botão de histórico, que se encontre informações das
páginas acessadas anteriormente, e também permite
Resposta: Certo. O botão atualizar (F5) efetua uma que se pesquise a respeito de conteúdos nas páginas
nova consulta ao servidor WEB, recarregando deste contidas no diretório do IE6.
modo o arquivo novamente, se houver alterações, es-
tas serão exibidas, caso contrário o arquivo será reexi-
bido sem alterações. Noções básicas de ferramentas e aplicativos de nave-
gação e correio eletrônico

10. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) O ar- Um browser ou navegador é um aplicativo que opera
mazenamento de informações em arquivos denomina- através da internet, interpretando arquivos e sites web
dos cookies pode constituir uma vulnerabilidade de um desenvolvidos com frequência em código HTML que
sistema de segurança instalado em um computador. Para contém informação e conteúdo em hipertexto de todas
reduzir essa vulnerabilidade, o IE6 disponibiliza recursos as partes do mundo.
para impedir que cookies sejam armazenados no com- Navegadores: Navegadores de internet ou browsers
putador. Caso o delegado deseje configurar tratamentos são programas de computador especializados em vi-
referentes a cookies, ele encontrará recursos a partir do sualizar e dar acesso às informações disponibilizadas na
uso do menu . web, até pouco tempo atrás tínhamos apenas o Internet
Explorer e o Netscape, hoje temos uma série de navega-
( ) CERTO ( ) ERRADO dores no mercado, iremos fazer uma breve descrição de
cada um deles, e depois faremos toda a exemplificação
Resposta: Certo. No navegador Internet Explorer 11, a utilizando o Internet Explorer por ser o mais utilizado em
seguinte sequência de ação pode ser usada para fazer todo o mundo, porém o conceito e usabilidade dos ou-
o bloqueio de cookies: Clicar no botão Ferramentas, tros navegadores seguem os mesmos princípios lógicos.
depois em Opções da Internet, ativar guia Privacidade Chrome: O Chrome é o navegador do Google e con-
e, em Configurações, mover o controle deslizante até sequentemente um dos melhores navegadores existen-
em cima para bloquear todos os cookies e, em segui- tes. Outra vantagem devido ser o navegador da Google
da, clicar em OK. é o mais utilizado no meio, tem uma interface simples
muito fácil de utilizar.
11. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) Caso o
acesso à Internet descrito tenha sido realizado mediante
um provedor de Internet acessível por meio de uma co-
nexão a uma rede LAN, à qual estava conectado o com-
putador do delegado, é correto concluir que as informa-
ções obtidas pelo delegado transitaram na LAN de modo
criptografado. Figura 1: Símbolo do Google Chrome

( ) CERTO ( ) ERRADO
#FicaDica
Resposta: Errado. Pela barra de endereço se verifica Ultimamente tem caído perguntas
que o protocolo utilizado é o HTTP; dessa forma se relacionadas a guia anônima que não deixa
conclui que não há uma criptografia, se fosse o proto- rastro (senhas, auto completar, entre outros),
colo HTTPS, poderia se aferir que haveria algum tipo e é acessado com o atalho CTRL+SHIFT+N
de criptografia do tipo SSL.
INFORMÁTICA

Mozila Firefox: O Mozila Firefox é outro excelente


navegador ele é gratuito e fácil de utilizar apesar de não
ter uma interface tão amigável, porém é um dos navega-
dores mais rápidas e com maior segurança contra hac-
kers.

50
#FicaDica
Glossário interessante que abordam internet
e correio eletrônico
Anti-spam: Ferramenta utilizada para filtro de
mensagens indesejadas.
Figura 2: Símbolo do Mozilla Firefox Browser: Programa utilizado para navegar
na Web, também chamado de navegador.
Opera: Usabilidade muito agradável, possui grande Exemplo: Mozilla Firefox.
desempenho, porém especialistas em segurança o con- Cliente de e-mail: Software destinado a
sidera o navegador com menos segurança. gerenciar contas de correio eletrônico,
possibilitando a composição, envio,
recebimento, leitura e arquivamento
de mensagens. A seguir, uma lista de
gerenciadores de e-mail (em negrito os mais
conhecidos e utilizados atualmente):
Microsoft Office Outlook, Microsoft Outlook
Figura 3: Símbolo do Opera Express, Mozilla Thunderbird, Eudora,
Pegasus Mail, Apple Mail (Apple), Kmail
Safari: O Safari é o navegador da Apple, é um ótimo (Linux) e Windows Mail.
navegador considerado pelos especialistas e possui uma
interface bem bonita, apesar de ser um navegador da
Apple existem versões para Windows. Outros pontos importantes de conceitos que podem
ser abordado no seu concurso são:
MIME (Multipurpose Internet Mail Extensions – Exten-
sões multiuso do correio da Internet): Provê mecanismos
para o envio de outros tipo sde informações por e-mail,
como imagens, sons, filmes, entre outros.
MTA (Mail Transfer Agent – Agente de Transferência
de Correio): Termo utilizado para designar os servidores
de Correio Eletrônico.
Figura 4: Símbolo do Safari
MUA (Mail User Agent – Agente Usuário de Correio):
Programas clientes de e-mail, como o Mozilla Thunder-
Internet Explorer: O Internet Explorer ou IE é o na-
bird, Microsoft Outlook Express etc.
vegador padrão do Windows. Como o próprio nome diz,
POP3 (Post Office Protocol Version 3 - Protocolo de
é um programa preparado para explorar a Internet dan-
Agência de Correio “Versão 3”): Protocolo padrão para
do acesso a suas informações. Representado pelo sím-
receber e-mails. Através do POP, um usuário transfere
bolo do “e” azul, é possível acessá-lo apenas com um para o computador as mensagens armazenada sem sua
duplo clique em seu símbolo. caixa postal no servidor.
SMTP (Simple Mail Transfer Protocol - Protocolo de
Transferência Simples de Correio): É um protocolo de en-
vio de e-mail apenas. Com ele, não é possível que um
usuário descarregue suas mensagens de umservidor.
Esse protocolo utiliza a porta 25 do protocolo TCP.
Spam: Mensagens de correio eletrônico não autori-
zadas ou não solicitadas pelo destinatário, geralmente
Figura 5: Símbolo do Internet Explorer de conotação publicitária ou obscena, enviadas em larga
escala para uma lista de e-mails, fóruns ou grupos de
discussão.

Um pouco de história

A internet é uma rede de computadores que liga os


computadores a redor de todo o mundo, mas quando ela
começou não era assim, tinham apenas 4 computadores
e a maior distância entre um e outro era de 450 KM. No
fim da década de 60, o Departamento de Defesa norte-a-
INFORMÁTICA

mericano resolveu criar um sistema interligado para tro-


car informações sobre pesquisas e armamentos que não
pudesse chegar nas mãos dos soviéticos. Sendo assim,
foi criado o projeto Arpanet pela Agência para Projeto de
Pesquisa Avançados do Departamento de Defesa dos EUA.

51
Ao ganhar proporções mundiais, esse tipo de cone-
xão recebeu o nome de internet e até a década de 80 #FicaDica
ficou apenas entre os meios acadêmicos. No Brasil ela Um e-mail hoje é um dos principais meios de
chegou apenas na década de 90. É na internet que é exe- comunicação, por exemplo:
cutada a  World Wide Web (www), sistema que contém [email protected]
milhares de informações (gráficos, vídeos, textos, sons, Onde, canaldoovidio é o usuário o arroba
etc) que também ficou conhecido como rede mundial. quer dizer na, o gmail é o servidor e o .com
Tim Berners-Lee na década de 80 começou a criar um é a tipagem.
projeto que pode ser considerado o princípio da World
Wide Web. No início da década de 90 ele já havia elabo-
rado uma nova proposta para o que ficaria conhecido Para editarmos e lermos nossas mensagens eletrô-
como WWW. Tim falava sobre o uso de hipertexto e a nicas em um único computador, sem necessariamente
partir disso surgiu o “http” (em português significa pro- estarmos conectados à Internet no momento da criação
tocolo de transferência de hipertexto). Vinton Cerf tam- ou leitura do e-mail, podemos usar um programa de cor-
bém é um personagem importante e inclusive é conheci- reio eletrônico. Existem vários deles. Alguns gratuitos,
do por muitos como o pai da internet. como o Mozilla Thunderbird, outros proprietários como
o Outlook Express. Os dois programas, assim como vá-
rios outros que servem à mesma finalidade, têm recursos
similares. Apresentaremos os recursos dos programas de
#FicaDica
correio eletrônico através do Outlook Express que tam-
URL: Tudo que é disponível na Web tem seu bém estão presentes no Mozilla Thunderbird.
próprio endereço, chamado URL, ele facilita Um conhecimento básico que pode tornar o dia a dia
a navegação e possui características especí- com o Outlook muito mais simples é sobre os atalhos
ficas como a falta de  acentuação gráfica  e de teclado para a realização de diversas funções dentro
palavras maiúsculas. Uma url possui o http do Outlook. Para você começar os seus estudos, anote
(protocolo), www (World Wide Web), o nome alguns atalhos simples. Para criar um novo e-mail, basta
da empresa que representa o site, .com (ex: apertar Ctrl + Shift + M e para excluir uma determinada
se for um site governamental o final será mensagem aposte no atalho Ctrl + D. Levando tudo isso
.gov) e a sigla do país de origem daquele site em consideração inclua os atalhos de teclado na sua ro-
(no Brasil é usado o BR). tina de estudos e vá preparado para o concurso com os
principais na cabeça.
Uma das funcionalidades mais úteis do Outlook para
profissionais que compartilham uma mesma área é o
Correios Eletrônicos
compartilhamento de calendário entre membros de uma
mesma equipe.
Os correios eletrônicos se dividem em duas formas: Por isso mesmo é importante que você tenha o co-
os agentes de usuários e os agentes de transferência de nhecimento da técnica na hora de fazer uma prova de
mensagens. Os agentes usuários são exemplificados pelo concurso que exige os conhecimentos básicos de infor-
Mozilla Thunderbird e pelo Outlook. Já os agentes de mática, pois por ser uma função bastante utilizada tem
transferência realizam um processo de envio dos agentes maiores chances de aparecer em uma ou mais questões.
usuários e servidores de e-mail. O calendário é uma ferramenta bastante interessante
Os agentes de transferência usam três protoco- do Outlook que permite que o usuário organize de for-
los:  SMTP (Simple Transfer Protocol), POP (Post Office ma completa a sua rotina, conseguindo encaixar tarefas,
Protocol) e IMAP (Internet Message Protocol). O SMTP compromissos e reuniões de maneira organizada por dia,
é usado para transferir mensagens eletrônicas entre os de forma a ter um maior controle das atividades que de-
computadores. O POP é muito usado para verificar men- vem ser realizadas durante o seu dia a dia.
sagens de servidores de e-mail quando ele se conecta ao Dessa forma, uma funcionalidade do Outlook permite
servidor suas mensagens são levadas do servidor para o que você compartilhe em detalhes o seu calendário ou
computador local. Pode ser usado por quem usa conexão parte dele com quem você desejar, de forma a permitir
discada. que outra pessoa também tenha acesso a sua rotina, o
que pode ser uma ótima pedida para profissionais den-
Já o IMAP também é um protocolo padrão que per- tro de uma mesma equipe, principalmente quando um
mite acesso a mensagens nos servidores de e-mail. Ele determinado membro entra de férias.
possibilita a leitura de arquivos dos e-mails, mas não per- Para conseguir utilizar essa função basta que você en-
mite que eles sejam baixados. O IMAP é ideal para quem tre em Calendário na aba indicada como Página Inicial.
acessa o e-mail de vários locais diferentes. Feito isso, basta que você clique em Enviar Calendário
por E-mail, que vai fazer com que uma janela seja aberta
no seu Outlook.
INFORMÁTICA

Nessa janela é que você vai poder escolher todas as


informações que vão ser compartilhadas com quem você
deseja, de forma que o Outlook vai formular um calen-
dário de forma simples e detalhada de fácil visualização
para quem você deseja enviar uma mensagem.

52
Nos dias de hoje, praticamente todo mundo que tra- Corpo da mensagem: logo abaixo da linha assunto, é
balha dentro de uma empresa tem uma assinatura pró- equivalente à folha onde será digitada a mensagem.
pria para deixar os comunicados enviados por e-mail A mensagem, após digitada, pode passar pelas for-
com uma aparência mais profissional. matações existentes na barra de formatação do Outlook:
Dessa forma, é considerado um conhecimento básico Mozilla Thunderbird é um cliente de email e notícias
saber como criar assinaturas no Outlook, de forma que open-source e gratuito criado pela Mozilla Foundation
este conteúdo pode ser cobrado em alguma questão (mesma criadora do Mozilla Firefox).
dentro de um concurso público. Webmail é o nome dado a um cliente de e-mail que
Por isso mesmo vale a pena inserir o tema dentro de não necessita de instalação no computador do usuário, já
seus estudos do conteúdo básico de informática para a que funciona como uma página de internet, bastando o
sua preparação para concurso. Ao contrário do que mui- usuário acessar a página do seu provedor de e-mail com
ta gente pensa, a verdade é que todo o processo de criar seu login e senha. Desta forma, o usuário ganha mobili-
uma assinatura é bastante simples, de forma que perder dade já que não necessita estar na máquina em que um
pontos por conta dessa questão em específico é perder cliente de e-mail está instalado para acessar seu e-mail.
pontos à toa.
Para conseguir criar uma assinatura no Outlook basta
que você entre no menu Arquivo e busque pelo botão
de Opções. Lá você vai encontrar o botão para E-mail #FicaDica
e logo em seguida o botão de Assinaturas, que é onde Segmentos do Outlook Express
você deve clicar. Feito isso, você vai conseguir adicio- Painel de Pastas: permite que o usuário salve
nar as suas assinaturas de maneira rápida e prática sem
seus e-mails em pastas específicas e dá a
maiores problemas.
possibilidade de criar novas pastas;
No Outlook Express podemos preparar uma mensa-
Painel das Mensagens:  onde se concentra
gem através do ícone Criar e-mail, demonstrado na figura
a lista de mensagens de determinada pasta
acima, ao clicar nessa imagem aparecerá a tela a seguir:
e quando se clica em um dos e-mails o
conteúdo é disponibilizado no painel de
conteúdo.
Painel de Conteúdo:  esse painel é onde
irá aparecer o conteúdo das mensagens
enviadas.
Painel de Contatos: nesse local se concentram
as pessoas que foram cadastradas em sua
lista de endereço.

COMPUTAÇÃO EM NUVEM.

Figura 6: Tela de Envio de E-mail Computação na nuvem (cloud computing)

Ao utilizar e acessar arquivos e executar tarefas pela


#FicaDica internet, o usuário está utilizando o conceito de compu-
tação em nuvens, não há a necessidade de instalar apli-
Para: deve ser digitado o endereço eletrônico cativos no seu computador para tudo, pois pode acessar
ou o contato registrado no Outlook diferentes serviços online para fazer o que precisa, já que
do destinatário da mensagem. Campo os dados não se encontram em um computador específi-
obrigatório. co, mas sim em uma rede, um grande exemplo disso é o
Cc: deve ser digitado o endereço eletrônico Google com o Google Docs, Planilhas, e até mesmo porta
ou o contato registrado no Outlook do aquivos como o Google Drive, ou de outras empresas
destinatário que servirá para ter ciência como o One Drive.
desse e-mail. Uma vez devidamente conectado ao serviço online, é
Cco: Igual ao Cc, porém os destinatários possível desfrutar suas ferramentas e salvar todo o tra-
ficam ocultos. balho que for feito para acessá-lo depois de qualquer
lugar — é justamente por isso que o seu computador
estará nas nuvens, pois você poderá acessar os aplicati-
Assunto: campo onde será inserida uma breve des- vos a partir de qualquer computador que tenha acesso
INFORMÁTICA

crição, podendo reservar-se a uma palavra ou uma frase à internet.


sobre o conteúdo da mensagem. É um campo opcional,
mas aconselhável, visto que a falta de seu preenchimento
pode levar o destinatário a não dar a devida importância
à mensagem ou até mesmo desconsiderá-la.

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ça de certa informação pode ser influenciada por fatores
#FicaDica comportamentais e de uso de quem se utiliza dela, pelo
Basta pensar que, a partir de uma conexão ambiente ou infraestrutura que a cerca ou por pessoas
com a internet, você pode acessar um servi- mal-intencionadas que têm o objetivo de furtar, destruir
dor capaz de executar o aplicativo desejado, ou modificar tal informação.
que pode ser desde um processador de tex- A tríade CIA (Confidentiality, Integrity and Availabi-
tos até mesmo um jogo ou um pesado editor lity) — Confidencialidade, Integridade e Disponibilidade
de vídeos. Enquanto os servidores executam — representa as principais características que, atualmen-
um programa ou acessam uma determinada te, orientam a análise, o planejamento e a implementa-
informação, o seu computador precisa ape- ção da segurança para um certo grupo de informações
nas do monitor e dos periféricos para que que se almeja proteger. Outros fatores importantes são
você interaja. a irrevogabilidade e a autenticidade. Com a evolução do
comércio eletrônico e da sociedade da informação, a pri-
vacidade é também uma grande preocupação.
Portanto as características básicas, de acordo com os
REDES SOCIAIS. padrões internacionais (ISO/IEC 17799:2005) são as se-
guintes:
- Confidencialidade – especificidade que limita o
Prezado candidato, este material já foi aborda- acesso a informação somente às entidades autên-
do anteriormente. ticas, ou seja, àquelas autorizadas pelo proprietário
da informação.
- Integridade – especificidade que assegura que a
informação manipulada mantenha todas as carac-
SEGURANÇA DE SISTEMAS, DE
terísticas autênticas estabelecidas pelo proprietá-
EQUIPAMENTOS, EM REDES E NA rio da informação, incluindo controle de mudanças
INTERNET. VÍRUS, BACKUP, FIREWALL. e garantia do seu ciclo de vida (nascimento, manu-
tenção e destruição).
- Disponibilidade – especificidade que assegura que
SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO: PROCEDIMENTOS
a informação esteja sempre disponível para o uso
DE SEGURANÇA
legítimo, ou seja, por aqueles usuários que têm au-
torização pelo proprietário da informação.
A Segurança da Informação refere-se às proteções
- Autenticidade – especificidade que assegura que a
existentes em relação às informações de uma determi-
nada empresa, instituição governamental ou pessoa. Ou informação é proveniente da fonte anunciada e que
seja, aplica-se tanto às informações corporativas quanto não foi alvo de mutações ao longo de um processo.
às pessoais. - Irretratabilidade ou não repúdio – especificidade
Entende-se por informação todo e qualquer conteú- que assegura a incapacidade de negar a autoria
do ou dado que tenha valor para alguma corporação ou em relação a uma transação feita anteriormente.
pessoa. Ela pode estar guardada para uso restrito ou ex-
posta ao público para consulta ou aquisição. Mecanismos de segurança

O suporte para as orientações de segurança pode ser


#FicaDica encontrado em:
Antes de proteger, devemos saber: Controles físicos: são barreiras que limitam o contato
- O que proteger; ou acesso direto a informação ou a infraestrutura (que
- De quem proteger; assegura a existência da informação) que a suporta.
- Pontos frágeis; Controles lógicos: são bloqueios que impedem ou
- Normas a serem seguidas. limitam o acesso à informação, que está em ambien-
te controlado, geralmente eletrônico, e que, de outro
modo, ficaria exibida a alteração não autorizada por ele-
A Segurança da Informação se refere à proteção mento mal-intencionado.
existente sobre as informações de uma determinada Existem mecanismos de segurança que sustentam os
empresa ou pessoa, isto é, aplica-se tanto às informa- controles lógicos:
ções corporativas quanto aos pessoais. Entende-se por
informação todo conteúdo ou dado que tenha valor para - Mecanismos de cifração ou encriptação: Permitem
alguma organização ou pessoa. Ela pode estar guardada a modificação da informação de forma a torná-la
para uso restrito ou exibida ao público para consulta ou ininteligível a terceiros. Utiliza-se para isso, algo-
INFORMÁTICA

aquisição. ritmos determinados e uma chave secreta para, a


Podem ser estabelecidas métricas (com o uso ou não partir de um conjunto de dados não criptografa-
de ferramentas) para definir o nível de segurança que há dos, produzir uma sequência de dados criptogra-
e, com isto, estabelecer as bases para análise de melho- fados. A operação contrária é a decifração.
rias ou pioras de situações reais de segurança. A seguran-

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- Assinatura digital: Um conjunto de dados cripto- Os termos ‘chave de 64 bits’ e ‘chave de 128 bits’
grafados, agregados a um documento do qual são são usados para expressar o tamanho da chave, ou seja,
função, garantindo a integridade e autenticidade quanto mais bits forem utilizados, mais segura será essa
do documento associado, mas não ao resguardo criptografia.
das informações. Um exemplo disso é se um algoritmo usa uma chave
- Mecanismos de garantia da integridade da infor- de 8 bits, apenas 256 chaves poderão ser usadas para
mação: Usando funções de “Hashing” ou de checa- decodificar essa informação, pois 2 elevado a 8 é igual a
gem, é garantida a integridade através de compa- 256. Assim, um terceiro pode tentar gerar 256 tentativas
ração do resultado do teste local com o divulgado de combinações e decodificar a mensagem, que mes-
pelo autor. mo sendo uma tarefa difícil, não é impossível. Portanto,
- Mecanismos de controle de acesso: Palavras-chave, quanto maior o número de bits, maior segurança terá a
sistemas biométricos, firewalls, cartões inteligentes. criptografia.
- Mecanismos de certificação: Atesta a validade de Existem dois tipos de chaves criptográficas, as chaves
um documento. simétricas e as chaves assimétricas
- Integridade: Medida em que um serviço/informa-
ção é autêntico, ou seja, está protegido contra a Chave Simétrica é um tipo de chave simples, que é
entrada por intrusos. usada para a codificação e decodificação. Entre os algo-
- Honeypot: É uma ferramenta que tem a função ritmos que usam essa chave, estão:
proposital de simular falhas de segurança de um - DES (Data Encryption Standard): Faz uso de chaves
de 56 bits, que corresponde à aproximadamente
sistema e obter informações sobre o invasor en-
72 quatrilhões de combinações. Mesmo sendo um
ganando-o, e fazendo-o pensar que esteja de fato
número extremamente elevado, em 1997, quebra-
explorando uma fraqueza daquele sistema. É uma
ram esse algoritmo através do método de ‘tentati-
espécie de armadilha para invasores. O HoneyPot
va e erro’, em um desafio na internet.
não oferece forma alguma de proteção.
- RC (Ron’s Code ou RivestCipher): É um algoritmo
- Protocolos seguros: Uso de protocolos que garan-
muito utilizado em e-mails e usa chaves de 8 a 1024
tem um grau de segurança e usam alguns dos me-
bits. Além disso, ele tem várias versões que diferen-
canismos citados. ciam uma das outras pelo tamanho das chaves.
- EAS (Advanced Encryption Standard): Atualmente é
Mecanismos de encriptação um dos melhores e mais populares algoritmos de
criptografia. É possível definir o tamanho da chave
#FicaDica como sendo de 128 bits, 192 bits ou 256 bits.
- IDEA (International Data Encryption Algorithm): É
A criptografia vem, originalmente, da fusão um algoritmo que usa chaves de 128 bits, parecido
entre duas palavras gregas: com o DES. Seu ponto forte é a fácil execução de
• CRIPTO = ocultar, esconder. software.
• GRAFIA= escrever
As chaves simétricas não são absolutamente seguras
quando referem-se às informações extremamente valio-
Criptografia é a ciência de escrever em cifra ou em sas, principalmente pelo emissor e o receptor precisa-
códigos. Ou seja, é um conjunto de técnicas que tornam rem ter o conhecimento da mesma chave. Dessa forma,
uma mensagem ininteligível, e permite apenas que o a transmissão pode não ser segura e o conteúdo pode
destinatário que saiba a chave de encriptação possa de- chegar a terceiros.
criptar e ler a mensagem com clareza. Chave Assimétrica utiliza duas chaves: a privada e a
Permitem a transformação reversível da informação pública. Elas se sintetizam da seguinte forma: a chave
de forma a torná-la ininteligível a terceiros. Utiliza-se pública para codificar e a chave privada para decodificar,
para isso, algoritmos determinados e uma chave secreta considerando-se que a chave privada é secreta. Entre os
para, a partir de um conjunto de dados não encriptados, algoritmos utilizados, estão:
produzir uma continuação de dados encriptados. A ope- - RSA (Rivest, Shmirand Adleman): É um dos algo-
ração inversa é a desencriptação. ritmos de chave assimétrica mais usados, em que
Existem dois tipos de chave: a chave pública e a chave dois números primos (aqueles que só podem ser
privada. divididos por 1 e por eles mesmos) são multipli-
A chave pública é usada para codificar as informa- cados para obter um terceiro valor. Assim, é preci-
ções, e a chave privada é usada para decodificar. so fazer fatoração, que significa descobrir os dois
primeiros números a partir do terceiro, sendo um
Dessa forma, na pública, todos têm acesso, mas para cálculo difícil. Assim, se números grandes forem
‘abrir’ os dados da informação, que aparentemente não utilizados, será praticamente impossível descobrir
tem sentido, é preciso da chave privada, que apenas o o código. A chave privada do RSA são os números
INFORMÁTICA

emissor e receptor original possui. que são multiplicados e a chave pública é o valor
Hoje, a criptografia pode ser considerada um método que será obtido.
100% seguro, pois, quem a utiliza para enviar e-mails e - El Gamal: Utiliza-se do ‘logaritmo discreto’, que é
proteger seus arquivos, estará protegido contra fraudes um problema matemático que o torna mais segu-
e tentativas de invasão. ro. É muito usado em assinaturas digitais.

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Noções de Vírus Filtragem de pacotes (packetfiltering): As primeiras
soluções de firewall surgiram na década de 1980 basean-
Firewall é uma solução de segurança fundamentada do-se em filtragem de pacotes de dados (packetfiltering),
em hardware ou software (mais comum) que, a partir de uma metodologia mais simples e, por isso, mais limitada,
um conjunto de regras ou instruções, analisa o tráfego embora ofereça um nível de segurança significativo.
de rede para determinar quais operações de transmissão Para compreender, é importante saber que cada pa-
ou recepção de dados podem ser realizadas. “Parede de cote possui um cabeçalho com diversas informações a
fogo”, a tradução literal do nome, já deixa claro que o seu respeito, como endereço IP de origem, endereço IP
firewall se enquadra em uma espécie de barreira de defe- do destino, tipo de serviço, tamanho, entre outros. O Fi-
sa. A sua missão, consiste basicamente em bloquear trá- rewall então analisa estas informações de acordo com as
fego de dados indesejados e liberar acessos desejados. regras estabelecidas para liberar ou não o pacote (seja
Para melhor compreensão, imagine um firewall como para sair ou para entrar na máquina/rede), podendo tam-
sendo a portaria de um condomínio: para entrar, é neces- bém executar alguma tarefa relacionada, como registrar
sário obedecer a determinadas regras, como se identifi- o acesso (ou tentativa de) em um arquivo de log.
car, ser esperado por um morador e não portar qualquer O firewall de aplicação, também conhecido como
objeto que possa trazer riscos à segurança; para sair, não proxy de serviços (proxy services) ou apenas proxy é uma
se pode levar nada que pertença aos condôminos sem a solução de segurança que atua como intermediário entre
devida autorização. um computador ou uma rede interna e outra rede, exter-
Neste sentido, um firewall pode impedir uma série de na normalmente, a internet. Geralmente instalados em
ações maliciosas: um malware que utiliza determinada servidores potentes por precisarem lidar com um grande
porta para se instalar em um computador sem o usuário número de solicitações, firewalls deste tipo são opções
saber, um programa que envia dados sigilosos para a in- interessantes de segurança porque não permitem a co-
ternet, uma tentativa de acesso à rede a partir de compu- municação direta entre origem e destino.
tadores externos não autorizados, entre outros. A imagem a seguir ajuda na compreensão do concei-
Você já sabe que um firewall atua como uma espécie to. Perceba que em vez de a rede interna se comunicar
de barreira que verifica quais dados podem passar ou diretamente com a internet, há um equipamento entre
não. Esta tarefa só pode ser feita mediante o estabele- ambos que cria duas conexões: entre a rede e o proxy; e
cimento de políticas, isto é, de regras estabelecidas pelo entre o proxy e a internet. Observe:
usuário.
Em um modo mais restritivo, um firewall pode ser
configurado para bloquear todo e qualquer tráfego no
computador ou na rede. O problema é que esta condi-
ção isola este computador ou esta rede, então pode-se
criar uma regra para que, por exemplo, todo aplicativo
aguarde autorização do usuário ou administrador para
ter seu acesso liberado. Esta autorização poderá inclusive
ser permanente: uma vez dada, os acessos seguintes se-
rão automaticamente permitidos.
Em um modo mais versátil, um firewall pode ser con-
figurado para permitir automaticamente o tráfego de de-
terminados tipos de dados, como requisições HTTP (veja Figura 91: Proxy
mais sobre esse protocolo no ítem 7), e bloquear outras,
como conexões a serviços de e-mail. Perceba que todo o fluxo de dados necessita passar
Perceba, como estes exemplos, tem políticas de um pelo proxy. Desta forma, é possível, por exemplo, esta-
firewall que são baseadas, inicialmente, em dois princí- belecer regras que impeçam o acesso de determinados
pios: todo tráfego é bloqueado, exceto o que está expli- endereços externos, assim como que proíbam a comu-
citamente autorizado; todo tráfego é permitido, exceto o nicação entre computadores internos e determinados
que está explicitamente bloqueado. serviços remotos.
Firewalls mais avançados podem ir além, direcionan- Este controle amplo também possibilita o uso do pro-
do determinado tipo de tráfego para sistemas de segu- xy para tarefas complementares: o equipamento pode
rança internos mais específicos ou oferecendo um refor- registrar o tráfego de dados em um arquivo de log; con-
ço extraem procedimentos de autenticação de usuários, teúdo muito utilizado pode ser guardado em uma espé-
por exemplo. cie de cache (uma página Web muito acessada fica guar-
O trabalho de um firewall pode ser realizado de várias dada temporariamente no proxy, fazendo com que não
formas. O que define uma metodologia ou outra são fa- seja necessário requisitá-la no endereço original a todo
tores como critérios do desenvolvedor, necessidades es- instante, por exemplo); determinados recursos podem
INFORMÁTICA

pecíficas do que será protegido, características do siste- ser liberados apenas mediante autenticação do usuário;
ma operacional que o mantém, estrutura da rede e assim entre outros.
por diante. É por isso que podemos encontrar mais de A implementação de um proxy não é tarefa fácil, haja
um tipo de firewall. A seguir, os mais conhecidos. visto a enorme quantidade de serviços e protocolos exis-
tentes na internet, fazendo com que, dependendo das

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circunstâncias, este tipo de firewall não consiga ou exija - Firewalls precisam ser “vigiados”. Malwares ou ata-
muito trabalho de configuração para bloquear ou autori- cantes experientes podem tentar descobrir ou ex-
zar determinados acessos. plorar brechas de segurança em soluções do tipo;
Proxy transparente: No que diz respeito a limitações, - Um firewall não pode interceptar uma conexão
é conveniente mencionar uma solução chamada de pro- que não passa por ele. Se, por exemplo, um usuá-
xy transparente. O proxy “tradicional”, não raramente, rio acessar a internet em seu computador a partir
exige que determinadas configurações sejam feitas nas de uma conexão 3G (justamente para burlar as res-
ferramentas que utilizam a rede (por exemplo, um na- trições da rede, talvez), o firewall não conseguirá
vegador de internet) para que a comunicação aconteça interferir.
sem erros. O problema é, dependendo da aplicação, este
trabalho de ajuste pode ser inviável ou custoso. Sistema antivírus

O proxy transparente surge como uma alternativa Qualquer usuário já foi, ou ainda é vítima dos vírus,
para estes casos porque as máquinas que fazem parte spywares, trojans, entre muitos outros. Quem que nunca
da rede não precisam saber de sua existência, dispensan- precisou formatar seu computador?
do qualquer configuração específica. Todo acesso é feito Os vírus representam um dos maiores problemas
normalmente do cliente para a rede externa e vice-ver- para usuários de computador. Para poder resolver esses
sa, mas o proxy transparente consegue interceptá-lo e problemas, as principais desenvolvedoras de softwares
responder adequadamente, como se a comunicação, de criaram o principal utilitário para o computador, os an-
fato, fosse direta. tivírus, que são programas com o propósito de detectar
É válido ressaltar que o proxy transparente também e eliminar vírus e outros programas prejudiciais antes ou
tem lá suas desvantagens, por exemplo: um proxy «nor- depois de ingressar no sistema.
mal» é capaz de barrar uma atividade maliciosa, como Os vírus, worms, Trojans, spyware são tipos de pro-
um malware enviando dados de uma máquina para a gramas de software que são implementados sem o con-
sentimento (e inclusive conhecimento) do usuário ou
internet; o proxy transparente, por sua vez, pode não
proprietário de um computador e que cumprem diver-
bloquear este tráfego. Não é difícil entender: para con-
sas funções nocivas para o sistema. Entre elas, o roubo e
seguir se comunicar externamente, o malware teria que
perda de dados, alteração de funcionamento, interrup-
ser configurado para usar o proxy «normal» e isso geral-
ção do sistema e propagação para outros computadores.
mente não acontece; no proxy transparente não há esta
Os antivírus são aplicações de software projetadas
limitação, portanto, o acesso aconteceria normalmente.
como medida de proteção e segurança para resguardar
os dados e o funcionamento de sistemas informáticos
Limitações dos firewalls caseiros e empresariais de outras aplicações conhecidas
comumente como vírus ou malware que tem a função de
alterar, perturbar ou destruir o correto desempenho dos
#FicaDica computadores.
Firewalls têm lá suas limitações, sendo que Um programa de proteção de vírus tem um funcio-
estas variam conforme o tipo de solução e namento comum que com frequência compara o código
a arquitetura utilizada. De fato, firewalls são de cada arquivo que revisa com uma base de dados de
recursos de segurança bastante importantes, códigos de vírus já conhecidos e, desta maneira, pode
mas não são perfeitos em todos os sentidos. determinar se trata de um elemento prejudicial para o
sistema. Também pode reconhecer um comportamento
ou padrão de conduta típica de um vírus. Os antivírus
Seguem abaixo algumas dessas limitações: podem registrar tanto os arquivos encontrados dentro
- Um firewall pode oferecer a segurança desejada, do sistema como aqueles que procuram ingressar ou in-
mas comprometer o desempenho da rede (ou teragir com o mesmo.
mesmo de um computador). Esta situação pode Como novos vírus são criados de maneira quase
gerar mais gastos para uma ampliação de infraes- constante, sempre é preciso manter atualizado o pro-
trutura capaz de superar o problema; grama antivírus de maneira de que possa reconhecer as
- A verificação de políticas tem que ser revista pe- novas versões maliciosas. Assim, o antivírus pode perma-
riodicamente para não prejudicar o funcionamento necer em execução durante todo tempo que o sistema
de novos serviços; informático permaneça ligado, ou registrar um arquivo
- Novos serviços ou protocolos podem não ser devi- ou série de arquivos cada vez que o usuário exija. Nor-
damente tratados por proxies já implementados; malmente, o antivírus também pode verificar e-mails e
- Um firewall pode não ser capaz de impedir uma sites de entrada e saída visitados.
atividade maliciosa que se origina e se destina à Um antivírus pode ser complementado por outros
rede interna; aplicativos de segurança, como firewalls ou anti-spywa-
- Um firewall pode não ser capaz de identificar uma res que cumprem funções auxiliares para evitar a entrada
INFORMÁTICA

atividade maliciosa que acontece por descuido do de vírus.


usuário - quando este acessa um site falso de um Então, antivírus são os programas criados para man-
banco ao clicar em um link de uma mensagem de ter seu computador seguro, protegendo-o de programas
e-mail, por exemplo; maliciosos, com o intuito de estragar, deletar ou roubar
dados de seu computador.

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Ao pesquisar sobre antivírus para baixar, sempre es- Tipos de Vírus
colha os mais famosos, ou conhecidos, pois hackers es-
tão usando este mercado para enganar pessoas com fal- Cavalo-de-Tróia: A denominação “Cavalo de Tróia”
sos softwares, assim, você instala um “antivírus” e deixa (Trojan Horse) foi atribuída aos programas que permi-
seu computador vulnerável aos ataques. tem a invasão de um computador alheio com espanto-
sa facilidade. Nesse caso, o termo é análogo ao famoso
E esses falsos softwares estão por toda parte, cuidado artefato militar fabricado pelos gregos espartanos. Um
ao baixar programas de segurança em sites desconheci- “amigo” virtual presenteia o outro com um “presente de
dos, e divulgue, para que ninguém seja vítima por falta grego”, que seria um aplicativo qualquer. Quando o leigo
de informação. o executa, o programa atua de forma diferente do que
Os vírus que se anexam a arquivos infectam também era esperado.
todos os arquivos que estão sendo ou e serão execu- Ao contrário do que é erroneamente informado na
tados. Alguns às vezes recontaminam o mesmo arquivo mídia, que classifica o Cavalo de Tróia como um vírus, ele
tantas vezes e ele fica tão grande que passa a ocupar um não se reproduz e não tem nenhuma comparação com
espaço considerável (que é sempre muito precioso) em vírus de computador, sendo que seu objetivo é total-
seu disco. Outros, mais inteligentes, se escondem entre mente diverso. Deve-se levar em consideração, também,
os espaços do programa original, para não dar a menor que a maioria dos antivírus faz a sua detecção e os classi-
pista de sua existência. ficam como tal. A expressão “Trojan” deve ser usada, ex-
Cada vírus possui um critério para começar o ataque clusivamente, como definição para programas que cap-
propriamente dito, onde os arquivos começam a ser apa- turam dados sem o conhecimento do usuário. O Cavalo
gados, o micro começa a travar, documentos que não de Tróia é um programa que se aloca como um arquivo
são salvos e várias outras tragédias. Alguns apenas mos- no computador da vítima. Ele tem o intuito de roubar
tram mensagens chatas, outros mais elaborados fazem informações como passwords, logins e quaisquer dados,
estragos muito grandes. sigilosos ou não, mantidos no micro da vítima. Quando
Existe uma variedade enorme de softwares antivírus
a máquina contaminada por um Trojan conectar-se à In-
no mercado. Independente de qual você usa, mantenha-
ternet, poderá ter todas as informações contidas no HD
-o sempre atualizado. Isso porque surgem vírus novos
visualizadas e capturadas por um intruso qualquer. Estas
todos os dias e seu antivírus precisa saber da existência
visitas são feitas imperceptivelmente. Só quem já esteve
deles para proteger seu sistema operacional.
dentro de um computador alheio sabe as possibilidades
A maioria dos softwares antivírus possuem serviços
oferecidas.
de atualização automática. Abaixo há uma lista com os
Worms (vermes) podem ser interpretados como um
antivírus mais conhecidos:
tipo de vírus mais inteligente que os demais. A princi-
Norton AntiVirus - Symantec - www.symantec.com.br
- Possui versão de teste. pal diferença entre eles está na forma de propagação:
McAfee - McAfee - http://www.mcafee.com.br - Pos- os worms podem se propagar rapidamente para outros
sui versão de teste. computadores, seja pela Internet, seja por meio de uma
AVG - Grisoft - www.grisoft.com - Possui versão paga rede local. Geralmente, a contaminação ocorre de ma-
e outra gratuita para uso não comercial (com menos fun- neira discreta e o usuário só nota o problema quando o
cionalidades). computador apresenta alguma anormalidade. O que faz
Panda Antivírus - Panda Software - www.pandasoft- destes vírus inteligentes é a gama de possibilidades de
ware.com.br - Possui versão de teste. propagação. O worm pode capturar endereços de e-mail
É importante frisar que a maioria destes desenvolve- em arquivos do usuário, usar serviços de SMTP (sistema
dores possuem ferramentas gratuitas destinadas a re- de envio de e-mails) próprios ou qualquer outro meio
mover vírus específicos. Geralmente, tais softwares são que permita a contaminação de computadores (normal-
criados para combater vírus perigosos ou com alto grau mente milhares) em pouco tempo.
de propagação. Spywares, keyloggers e hijackers: Apesar de não
serem necessariamente vírus, estes três nomes também
representam perigo. Spywares são programas que ficam
«espionando» as atividades dos internautas ou capturam
informações sobre eles. Para contaminar um computa-
dor, os spywares podem vir embutidos em softwares
desconhecidos ou serem baixados automaticamente
quando o internauta visita sites de conteúdo duvidoso.
Os keyloggers são pequenos aplicativos que podem
vir embutidos em vírus, spywares ou softwares suspeitos,
destinados a capturar tudo o que é digitado no teclado.
O objetivo principal, nestes casos, é capturar senhas.
INFORMÁTICA

Figura 92: Principais antivírus do mercado atual Hijackers são programas ou scripts que «sequestram»
navegadores de Internet, principalmente o Internet Ex-
plorer. Quando isso ocorre, o hijacker altera a página ini-
cial do browser e impede o usuário de mudá-la, exibe
propagandas em pop-ups ou janelas novas, instala bar-

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ras de ferramentas no navegador e podem impedir aces- to da interconectividade, a informação está agora expos-
so a determinados sites (como sites de software antivírus, ta a um crescente número e a uma grande variedade de
por exemplo). ameaças e vulnerabilidades.
Os spywares e os keyloggers podem ser identifica- Segundo a ABNT NBR ISO/IEC 17799:2005 (2005, p.ix),
dos por programas anti-spywares. Porém, algumas des- “segurança da informação é a proteção da informação de
tas pragas são tão perigosas que alguns antivírus podem vários tipos de ameaças para garantir a continuidade do
ser preparados para identificá-las, como se fossem vírus. negócio, minimizar o risco ao negócio, maximizar o re-
No caso de hijackers, muitas vezes é necessário usar uma torno sobre os investimentos e as oportunidades de ne-
ferramenta desenvolvida especialmente para combater gócio, para isso é muito importante a confidencialidade,
aquela praga. Isso porque os hijackers podem se infiltrar integridade e a disponibilidade, onde:
no sistema operacional de uma forma que nem antivírus A confidencialidade é a garantia de que a informa-
nem anti-spywares conseguem “pegar”. ção é acessível somente por pessoas autorizadas a terem
Hoaxes: São boatos espalhados por mensagens de acesso (NBR ISO/IEC 27002:2005). Caso a informação
correio eletrônico, que servem para assustar o usuário de seja acessada por uma pessoa não autorizada, intencio-
computador. Uma mensagem no e-mail alerta para um nalmente ou não, ocorre a quebra da confidencialidade.
novo vírus totalmente destrutivo que está circulando na A quebra desse sigilo pode acarretar danos inestimáveis
rede e que infectará o micro do destinatário enquanto a para a empresa ou até mesmo para uma pessoa física.
mensagem estiver sendo lida ou quando o usuário clicar Um exemplo simples seria o furto do número e da senha
em determinada tecla ou link. Quem cria a mensagem do cartão de crédito, ou até mesmo, dados da conta ban-
hoax normalmente costuma dizer que a informação par- cária de uma pessoa.
tiu de uma empresa confiável, como IBM e Microsoft, e A integridade é a garantia da exatidão e completeza
que tal vírus poderá danificar a máquina do usuário. Des- da informação e dos métodos de processamento (NBR
considere a mensagem. ISO/IEC 27002:2005) quando a informação é alterada,
falsificada ou furtada, ocorre à quebra da integridade. A
Política de segurança da Informação integridade é garantida quando se mantém a informação
no seu formato original.
Hoje as informações são bens ativos da empresa, A disponibilidade é a garantia de que os usuários
imagine uma Universidade perdendo todos os dados autorizados obtenham acesso à informação e aos ati-
dos seus alunos, ou até mesmo o tornar públicos, com vos correspondentes sempre que necessário (NBR ISO/
isso pode-se dizer que a informação se tornou o ativo IEC 27002:2005). Quando a informação está indisponível
mais valioso das organizações, podendo ser alvo de uma
para o acesso, ou seja, quando os servidores estão inope-
série de ameaças com a finalidade de explorar as vulne-
rantes por conta de ataques e invasões, considera-se um
rabilidades e causar prejuízos consideráveis. A informa-
incidente de segurança da informação por quebra de
ção é encarada, atualmente, como um dos recursos mais
disponibilidade. Mesmo as interrupções involuntárias de
importantes de uma organização, contribuindo decisiva-
mente para a uma maior ou menor competitividade, por sistemas, ou seja, não intencionais, configuram quebra
isso é necessária a implementação de políticas de segu- de disponibilidade.
rança da informação que busquem reduzir as chances de
fraudes ou perda de informações. PROCEDIMENTOS DE BACKUP
A Política de Segurança da Informação é um docu-
mento que contém um conjunto de normas, métodos e O Backup ajuda a proteger os dados de exclusão
procedimentos, que obrigatoriamente precisam ser co- acidentais, ou até mesmo de falhas, por exemplo se os
municados a todos os funcionários, bem como analisado dados originais do disco rígido forem apagados ou subs-
e revisado criticamente, em intervalos regulares ou quan- tituídos acidentalmente ou se ficarem inacessíveis devido
do mudanças se fizerem necessárias. a um defeito do disco rígido, você poderá restaurar facil-
Para se elaborar uma Política de Segurança da Infor- mente os dados usando a cópia arquivada.
mação, deve se levar em consideração a NBR ISO/IEC
27001:2005, que é uma norma de códigos de práticas Tipos de Backup
para a gestão de segurança da informação, na qual po- Fazer um backup é simples. Basta copiar os arqui-
dem ser encontradas as melhores práticas para iniciar, vos que você usa para outro lugar e pronto, está feito o
implementar, manter e melhorar a gestão de segurança backup. Mas e se eu alterar um arquivo? E se eu excluir
da informação em uma organização. acidentalmente um arquivo? E se o arquivo atual corrom-
Importante mencionar que conforme a ISO/IEC peu? Bem, é aí que a coisa começa a ficar mais legal. É
27002:2005(2005), a informação é um conjunto de dados nessa hora que entram as estratégias de backup.
que representa um ponto de vista, um dado processado é Se você perguntar a alguém que não é familiarizado
o que gera uma informação. Um dado não tem valor an- com backups, a maioria pensará que um backup é so-
tes de ser processado, a partir do seu processamento, ele mente uma cópia idêntica de todos os dados do com-
passa a ser considerado uma informação, que pode gerar
INFORMÁTICA

putador. Em outras palavras, se um backup foi criado na


conhecimento, logo, a informação é o conhecimento pro-
noite de terça-feira, e nada mudou no computador du-
duzido como resultado do processamento de dados.
rante o dia todo na quarta-feira, o backup criado na noite
De fato, com o aumento da concorrência de mercado,
de quarta seria idêntico àquele criado na terça. Apesar
tornou-se vital melhorar a capacidade de decisão em to-
de ser possível configurar backups desta maneira, é mais
dos os níveis. Como resultado deste significante aumen-

59
provável que você não o faça. Para entender mais sobre que foram alterados enquanto são criados hardlinks para
este assunto, devemos primeiro entender os tipos dife- os arquivos que não foram alterados desde o último
rentes de backup que podem ser criados. Estes são: backup. Esta é a técnica utilizada pela Time Machine da
• Backups completos; Apple e por ferramentas como o rsync.
• Backups incrementais;
• Backups diferenciais; Mídias
• Backups delta; A fita foi o primeiro meio de armazenamento de da-
dos removível amplamente utilizado. Tem os benefícios
O backup completo é simplesmente fazer a cópia de de custo baixo e uma capacidade razoavelmente boa de
todos os arquivos para o diretório de destino (ou para os armazenamento. Entretanto, a fita tem algumas desvan-
dispositivos de backup correspondentes), independente tagens. Ela está sujeita ao desgaste e o acesso aos dados
de versões anteriores ou de alterações nos arquivos des- na fita é sequencial por natureza. Estes fatores significam
de o último backup. Este tipo de backup é o tradicional que é necessário manter o registro do uso das fitas (apo-
e a primeira ideia que vêm à mente das pessoas quan- sentá-las ao atingirem o fim de suas vidas úteis) e tam-
do pensam em backup: guardar TODAS as informações. bém que a procura por um arquivo específico nas fitas
Outra característica do backup completo é que ele é o pode ser uma tarefa longa.
ponto de início dos outros métodos citados abaixo. To- Ultimamente, os drives de disco nunca seriam usados
dos usam este backup para assinalar as alterações que como um meio de backup. No entanto, os preços de ar-
deverão ser salvas em cada um dos métodos. mazenamento caíram a um ponto que, em alguns casos,
Este tipo consiste no backup de todos os arquivos usar drives de disco para armazenamento de backup faz
para a mídia de backup. Conforme mencionado anterior- sentido. A razão principal para usar drives de disco como
mente, se os dados sendo copiados nunca mudam, cada um meio de backup é a velocidade. Não há um meio de
backup completo será igual aos outros. Esta similaridade armazenamento em massa mais rápido. A velocidade
ocorre devido ao fato que um backup completo não ve- pode ser um fator crítico quando a janela de backup do
rifica se o arquivo foi alterado desde o último backup; seu centro de dados é curta e a quantidade de dados a
copia tudo indiscriminadamente para a mídia de backup, serem copiados é grande.
tendo modificações ou não. Esta é a razão pela qual os O armazenamento deve ser sempre levado em con-
backups completos não são feitos o tempo todo. Todos sideração, onde o administrador desses backups deve se
os arquivos seriam gravados na mídia de backup. Isto sig- preocupar em encontrar um equilíbrio que atenda ade-
nifica que uma grande parte da mídia de backup é usada quadamente às necessidades de todos, e também asse-
mesmo que nada tenha sido alterado. Fazer backup de gurar que os backups estejam disponíveis para a pior das
100 gigabytes de dados todas as noites quando talvez situações.
10 gigabytes de dados foram alterados não é uma boa Após todas as técnicas de backups estarem efetivadas
prática; por este motivo os backups incrementais foram deve-se garantir os testes para que com o passar do tem-
criados. po não fiquem ilegíveis.
Já os backups incrementais primeiro verificam se o
horário de alteração de um arquivo é mais recente que o Recomendações para proteger seus backups
horário de seu último backup, por exemplo, já atuei em Fazer backups é uma excelente prática de seguran-
uma Instituição, onde todos os backups eram programa- ça básica. Agora lhe damos conselhos simples para que
dos para a quarta-feira. você esteja a salvo no dia em que precisar deles:
A vantagem principal em usar backups incrementais 1. Tenha seus backups fora do PC, em outro escritório,
é que rodam mais rápido que os backups completos. A e, se for possível, em algum recipiente à prova de
principal desvantagem dos backups incrementais é que incêndios, como os cofres onde você guarda seus
para restaurar um determinado arquivo, pode ser neces- documentos e valores importantes.
sário procurar em um ou mais backups incrementais até 2. Faça mais de uma cópia da sua informação e as
encontrar o arquivo. Para restaurar um sistema de ar- mantenha em lugares separados.
quivo completo, é necessário restaurar o último backup 3. Estabeleça uma idade máxima para seus backups,
completo e todos os backups incrementais subsequen- é melhor comprimir os arquivos que já sejam mui-
tes. Numa tentativa de diminuir a necessidade de procu- to antigos (quase todos os programas de backup
rar em todos os backups incrementais, foi implementada contam com essa opção), assim você não desper-
uma tática ligeiramente diferente. Esta é conhecida como diça espaço útil.
backup diferencial. 4. Proteja seus backups com uma senha, de maneira
Os backups diferenciais, também só copiam arquivos que sua informação fique criptografada o suficien-
alterados desde o último backup, mas existe uma dife- te para que ninguém mais possa acessá-la. Se sua
rença, eles mapeiam as alterações em relação ao último informação é importante para seus entes queridos,
backup completo, importante mencionar que essa téc- implemente alguma forma para que eles possam
nica ocasiona o aumento progressivo do tamanho do saber a senha se você não estiver presente.
INFORMÁTICA

arquivo.
Os backups delta sempre armazenam a diferença en-
tre as versões correntes e anteriores dos arquivos, co-
meçando a partir de um backup completo e, a partir daí,
a cada novo backup são copiados somente os arquivos

60
5. (CRM-PI 2016 - Quadrix – Médico Fiscal) Em um
computador com o sistema operacional Windows insta-
HORA DE PRATICAR! lado, um funcionário deseja enviar 50 arquivos, que jun-
tos totalizam 2 MB de tamanho, anexos em um e-mail.
1. (LIQUIGÁS 2012 - CESGRANRIO - ASSISTENTE Para facilitar o envio, resolveu compactar esse conjunto
ADMINISTRATIVO) Um computador é um equipamen- de arquivos em um único arquivo utilizando um softwa-
to capaz de processar com rapidez e segurança grande re compactador. Só não poderá ser utilizado nessa tarefa
quantidade de informações. o software: 
Assim, além dos componentes de hardware, os compu-
tadores necessitam de um conjunto de softwares deno- a) 7-Zip.
minado: b) WinZip.
c) CuteFTP.
a) arquivo de dados. d) jZip.
b) blocos de disco. e) WinRAR.
c) navegador de internet.
d) processador de dados. 6. (MPE-CE 2013 - FCC - Analista Ministerial - Direito)
e) sistemaoperacional. Sobre manipulação de arquivos no Windows 7 em portu-
guês, é correto afirmar que,
2. (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO –
ADMINISTRATIVA) As características básicas da segu- a) para mostrar tipos diferentes de informações sobre
rança da informação — confidencialidade, integridade e cada arquivo de uma janela, basta clicar no botão
disponibilidade — não são atributos exclusivos dos siste- Classificar na barra de ferramentas da janela e esco-
mas computacionais. lher o modo de exibição desejado.
b) quando você exclui um arquivo do disco rígido, ele
( ) CERTO ( ) ERRADO é apagado permanentemente e não pode ser poste-
riormente recuperado caso tenha sido excluído por
3. (TRE/CE 2012 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO – JURÍ- engano.
DICA) São ações para manter o computador protegido, c) para excluir um arquivo de um pen drive, basta clicar
EXCETO: com o botão direito do mouse sobre ele e selecionar a
opção Enviar para a lixeira.
a) Evitar o uso de versões de sistemas operacionais ultra- d) se um arquivo for arrastado entre duas pastas que
passadas, como Windows 95 ou 98. estão no mesmo disco rígido, ele será compartilhado
b) Excluir spams recebidos e não comprar nada anuncia- entre todos os usuários que possuem acesso a essas
do através desses spams. pastas.
c) Não utilizar firewall. e) se um arquivo for arrastado de uma pasta do disco
d) Evitar utilizar perfil de administrador, preferindo sem- rígido para uma mídia removível, como um pen drive,
pre utilizar um perfil mais restrito. ele será copiado.
e) Não clicar em links não solicitados, pois links estranhos
muitas vezes são vírus. 7. (SUDECO 2013 - FUNCAB - Contador) No sistema
operacional Linux,o comando que NÃO está relacionado
4.(Copergás 2016 - FCC – Técnico Operacional Segu- a manipulação de arquivos é:
rança do Trabalho) A ferramenta Outlook :
a) kill
a) é um serviço de e-mail gratuito para gerenciar todos b) cat
os e-mails, calendários e contatos de um usuário. c) rm
b) 2016 é a versão mais recente, sendo compatível com o d) cp
Windows 10, o Windows 8.1 e o Windows 7. e) ftp
c) permite que todas as pessoas possam ver o calendá-
rio de um usuário, mas somente aquelas com e-mail 8. (IBGE 2016 - FGV - Analista - Análise de Sistemas
Outlook.com podem agendar reuniões e responder a - Desenvolvimento de Aplicações - Web Mobile) Um
convites. desenvolvedor Android deseja inserir a funcionalidade
d) funciona apenas em dispositivos com Windows, não de backup em uma aplicação móvel para, de tempos
funcionando no iPad, no iPhone, em tablets e em tele- em tempos, armazenar dados automaticamente. A
fones com Android. classe da API de Backup (versão 6.0 ou superior) a ser
e) versão 2015 oferece acesso gratuito às ferramentas do utilizada é a:
pacote de webmail Office 356 da Microsoft.]
a) BkpAgent;
INFORMÁTICA

b) BkpHelper;
c) BackupManager;
d) BackupOutputData;
e) BackupDataStream.

61
9. (Prefeitura de Cristiano Otoni 2016 - INAZ do Pará d) Mesa Digitalizadora, Monitor, Microfone e Projetor.
- Psicólogo) Realizar cópia de segurança é uma forma e) Câmera, Microfone, Modem e Scanner.
de prevenir perda de informações. Qual é o Backup que
só efetua a cópia dos últimos arquivos que foram criados 15. (CNJ 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PRO-
pelo usuário ou sistema? GRAMAÇÃO DE SISTEMAS) Acerca dos ambientes Li-
nux e Windows, julgue os itens seguintes.2No sistema
a) Backup incremental operacional Windows 8, há a possibilidade de integrar-se
b) Backup diferencial à denominada nuvem de computadores que fazem parte
c) Backup completo da Internet.
d) Backup Normal
e) Backup diário ( ) CERTO ( ) ERRADO

10. (CRO-PR 2016 - Quadrix - Auxiliar de Departa- 16. (FHEMIG 2013 - FCC - TÉCNICO EM INFORMÁ-
mento) Como é chamado o backup em que o sistema TICA) Alguns programas do computador de Ana estão
não é interrompido para sua realização? muito lentos e ela receia que haja um problema com o
hardware ou com a memória principal. Muitos de seus
a) Backup Incremental. programas falham subitamente e o carregamento de ar-
b) Cold backup. quivos grandes de imagens e vídeos está muito demo-
c) Hot backup. rado. Além disso, aparece, com frequência, mensagens
d) Backup diferencial. indicando conflitos em drivers de dispositivos. Como ela
e) Backup normal utiliza o Windows 7, resolveu executar algumas funções
de diagnóstico, que poderão auxiliar a detectar as causas
11. (DEMAE/GO 2016 - UFG - Agente Administrativo) para os problemas e sugerir as soluções adequadas.
Um funcionário precisa conectar um projetor multimídia Para realizar a verificação da memória e, em seguida do
a um computador. Qual é o padrão de conexão que ele hardware, Ana utilizou, respectivamente, as ferramentas:
deve usar?
a) Diagnóstico de memória do Windows e Monitor de
a) RJ11 desempenho.
b) RGB b) Monitor de recursos de memória e Diagnóstico de
c) HDMI conflitos do Windows.
d) PS2 c) Monitor de memória do Windows e Diagnóstico de
e) RJ45 desempenho de hardware.
d) Mapeamento de Memória do Windows e Mapeamen-
12. (SABESP 2014 - FCC - Analista de Gestão - Ad- to de hardware do Windows.
ministração) Correspondem, respectivamente, aos ele- e) Diagnóstico de memória e desempenho e Diagnóstico
mentos placa de som, editor de texto, modem, editor de de hardware do Windows.
planilha e navegador de internet:
17. (TRT 1ª 2013 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO - EXE-
a) software, software, hardware, software e hardware. CUÇÃO DE MANDADOS) Beatriz trabalha em um escritó-
b) hardware, software, software, software e hardware. rio de advocacia e utiliza um computador com o Windows
c) hardware, software, hardware, hardware e software. 7 Professional em português. Certo dia notou que o com-
d) software, hardware, hardware, software e software. putador em que trabalha parou de se comunicar com a
e) hardware, software, hardware, software e software. internet e com outros computadores ligados na rede local.
Após consultar um técnico, por telefone, foi informada que
13. (DEMAE/GO 2016 - UFG - Agente Administrativo) sua placa de rede poderia estar com problemas e foi orien-
Um computador à venda em um sítio de comércio ele- tada a checar o funcionamento do adaptador de rede. Para
trônico possui 3.2 GHz, 8 GB, 2 TB e 6 portas USB. Essa isso, Beatriz entrou no Painel de Controle, clicou na opção
configuração indica que: Hardware e Sons e, no grupo Dispositivos e Impressoras,
selecionou a opção:
a) a velocidade do processador é 3.2 GHz.
b) a capacidade do disco rígido é 8 GB. a) Central de redes e compartilhamento.
c) a capacidade da memória RAM é 2 TB. b) Verificar status do computador.
d) a resolução do monitor de vídeo é composta de 6 por- c) Redes e conectividade.
tas USB. d) Gerenciador de dispositivos.
e) Exibir o status e as tarefas de rede.
14. (IF-PA 2016 - FUNRIO - Técnico de Tecnologia da
Informação) São dispositivos ou periféricos de entrada 18. (FHEMIG 2013 - FCC - TÉCNICO EM INFORMÁTI-
INFORMÁTICA

de um computador: CA) No console do sistema operacional Linux, alguns


comandos permitem executar operações com arquivos
a) Câmera, Microfone, Projetor e Scanner. e diretórios do disco.
b) Câmera, Mesa Digitalizadora, Microfone e Scanner. Os comandos utilizados para criar, acessar e remover um
c) Microfone, Modem, Projetor e Scanner. diretório vazio são, respectivamente,

62
a) pwd, mv e rm. etiquetas para colar nos envelopes em que as correspon-
b) md, ls e rm. dências seriam colocadas. Os recursos do Microsoft Offi-
c) mkdir, cd e rmdir. ce 2010 que permitem atender às necessidades de João
d) cdir, lsdir e erase. são os recursos
e) md, cd e rd.
a) para criação de mala direta e etiquetas disponíveis na
19. (TRT 10ª 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - guia Correspondências do Microsoft Word 2010.
ADMINISTRATIVA) Acerca dos conceitos de sistema b) de automatização de impressão de correspondências
operacional (ambientes Linux e Windows) e de redes de disponíveis na guia Mala Direta do Microsoft Power-
computadores, julgue os itens.3Por ser um sistema ope- Point 2010.
racional aberto, o Linux, comparativamente aos demais c) de banco de dados disponíveis na guia Correspondên-
sistemas operacionais, proporciona maior facilidade de cias do Microsoft Word 2010.
armazenamento de dados em nuvem. d) de mala direta e etiquetas disponíveis na guia Inserir
do Microsoft Word 2010.
( ) CERTO ( ) ERRADO e) de banco de dados e etiquetas disponíveis na guia
Correspondências do Microsoft Excel 2010.
20. (TJ/RR 2012 - CESPE - AGENTE DE PROTEÇÃO)
Acerca de organização e gerenciamento de informações, 23. (TCE/SP 2012 - FCC - AUXILIAR DE FISCALIZAÇÃO
arquivos, pastas e programas, de segurança da informa- FINANCEIRA II) No editor de textos Writer do pacote BR
ção e de armazenamento de dados na nuvem, julgue os Office, é possível modificar e criar estilos para utilização
itens subsequentes.1Um arquivo é organizado logica- no texto. Dentre as opções de Recuo e Espaçamento para
mente em uma sequência de registros, que são mapea- um determinado estilo, é INCORRETO afirmar que é pos-
dos em blocos de discos. Embora esses blocos tenham sível alterar um valor para
um tamanho fixo determinado pelas propriedades físicas
do disco e pelo sistema operacional, o tamanho do re- a) recuo da primeira linha.
gistro pode variar. b) recuo antes do texto.
c) recuo antes do parágrafo.
( ) CERTO ( ) ERRADO d) espaçamento acima do parágrafo.
e) espaçamento abaixo do parágrafo.
21. (SERGIPE GÁS S/A 2013 - FCC - ASSISTENTE TÉC-
NICO ADMINISTRATIVO - RH) Paulo utiliza em seu tra- 24. (CNJ 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PRO-
GRAMAÇÃO DE SISTEMAS) A respeito do Excel, para
balho o editor de texto Microsoft Word 2010 (em portu-
ordenar, por data, os registros inseridos na planilha, é
guês) para produzir os documentos da empresa. Certo
suficiente selecionar a coluna data de entrada, clicar no
dia Paulo digitou um documento contendo 7 páginas de
menu Dados e, na lista disponibilizada, clicar ordenar
texto, porém, precisou imprimir apenas as páginas 1, 3, 5,
data.
6 e 7. Para imprimir apenas essas páginas, Paulo clicou no
Menu Arquivo, na opção Imprimir e, na divisão Configu-
( ) CERTO ( ) ERRADO
rações, selecionou a opção Imprimir Intervalo Personali-
zado. Em seguida, no campo Páginas, digitou
25. (TRT 1ª 2013 - FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA
ADMINISTRATIVA) A planilha abaixo foi criada utilizan-
a) 1,3,5-7 e clicou no botão Imprimir. do-se o Microsoft Excel 2010 (em português).
b) 1;3-5;7 e clicou na opção enviar para a Impressora.
c) 1−3,5-7 e clicou no botão Imprimir.
d) 1+3,5;7 e clicou na opção enviar para a Impressora.
e) 1,3,5;7 e clicou no botão Imprimir.

22. (TRT 1ª 2013 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO - EXE-


CUÇÃO DE MANDADOS) João trabalha no departamen-
to financeiro de uma grande empresa de vendas no vare-
jo e, em certa ocasião, teve a necessidade de enviar a 768
clientes inadimplentes uma carta com um texto padrão,
na qual deveria mudar apenas o nome do destinatário e
a data em que deveria comparecer à empresa para nego- A linha 2 mostra uma dívida de R$ 1.000,00 (célula B2)
ciar suas dívidas. Por se tratar de um número expressivo com um Credor A (célula A2) que deve ser paga em 2
de clientes, João pesquisou recursos no Microsoft Office meses (célula D2) com uma taxa de juros de 8% ao mês
2010, em português, para que pudesse cadastrar apenas (célula C2) pelo regime de juros simples. A fórmula cor-
INFORMÁTICA

os dados dos clientes e as datas em que deveriam com- reta que deve ser digitada na célula E2 para calcular o
parecer à empresa e automatizar o processo de impres- montante que será pago é
são, sem ter que mudar os dados manualmente. Após
imprimir todas as correspondências, João desejava ainda a) =(B2+B2)*C2*D2.
imprimir, também de forma automática, um conjunto de b) =B2+B2*C2/D2.

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c) =B2*C2*D2. 28. (SERGIPE GÁS S/A 2013 - FCC - ADMINISTRADOR)
d) =B2*(1+(C2*D2)). Em um slide em branco de uma apresentação criada uti-
e) =D2*(1+(B2*C2)). lizando-se o Microsoft PowerPoint 2010 (em português),
uma das maneiras de acessar alguns dos comandos mais
26. (MINISTÉRIO DA FAZENDA 2012 - ESAF - ASSIS- importantes é clicando-se com o botão direito do mouse
TENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO) O BrOffice é uma sobre a área vazia do slide. Dentre as opções presentes
suíte para escritório gratuita e de código aberto. Um dos nesse menu, estão as que permitem
aplicativos da suíte é o Calc, que é um programa de pla-
nilha eletrônica e assemelha-se ao Excel da Microsoft. O a) copiar o slide e salvar o slide.
Calc é destinado à criação de planilhas e tabelas, permi- b) salvar a apresentação e inserir um novo slide.
tindo ao usuário a inserção de equações matemáticas e c) salvar a apresentação e abrir uma apresentação já exis-
auxiliando na elaboração de gráficos de acordo com os tente.
dados presentes na planilha. O Calc utiliza como padrão d) apresentar o slide em tela cheia e animar objetos pre-
o formato: sentes no slide.
e) mudar o layout do slide e a formatação do plano de
a) XLS. fundo do slide.
b) ODF.
c) XLSX. 29. (TRT 11ª 2012 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO - JU-
d) PDF. DICIÁRIA) Em um slide mestre do BrOffice.org Apresen-
e) DOC. tação (Impress), NÃO se trata de um espaço reservado
que se possa configurar a partir da janela Elementos
27. (TRT 1ª 2013 - FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA mestres:
ADMINISTRATIVA) Após ministrar uma palestra sobre
Segurança no Trabalho, Iracema comunicou aos funcio- a) Número da página.
nários presentes que disponibilizaria os slides referentes b) Texto do título.
à palestra na intranet da empresa para que todos pudes- c) Data/hora.
sem ter acesso. Quando acessou a intranet e tentou fazer d) Rodapé.
o upload do arquivo de slides criado no Microsoft Po- e) Cabeçalho.
werPoint 2010 (em português), recebeu a mensagem do
sistema dizendo que o formato do arquivo era inválido 30. (SERGIPE GÁS S/A 2013 - FCC - ASSISTENTE TÉC-
e que deveria converter/salvar o arquivo para o formato NICO ADMINISTRATIVO - RH) No Microsoft Internet
PDF e tentar realizar o procedimento novamente. Para Explorer 9 é possível acessar a lista de sites visitados nos
realizar a tarefa sugerida pelo sistema, Iracema últimos dias e até semanas, exceto aqueles visitados em
modo de navegação privada. Para abrir a opção que per-
a) clicou no botão Iniciar do Windows, selecionou a op- mite ter acesso a essa lista, com o navegador aberto, cli-
ção Todos os programas, selecionou a opção Micro- ca-se na ferramenta cujo desenho é
soft Office 2010 e abriu o software Microsoft Office
Converter Professional 2010. Em seguida, clicou na a) uma roda dentada, posicionada no canto superior di-
guia Arquivo e na opção Converter. Na caixa de diá- reito da janela.
logo que se abriu, selecionou o arquivo de slides e b) uma casa, posicionada no canto superior direito da
clicou no botão Converter. janela.
b) abriu o arquivo utilizando o Microsoft PowerPoint c) uma estrela, posicionada no canto superior direito da
2010, clicou na guia Ferramentas e, em seguida, clicou janela.
na opção Converter. Na caixa de diálogo que se abriu, d) um cadeado, posicionado no canto inferior direito da
clicou na caixa de combinação que permite definir o janela.
tipo do arquivo e selecionou a opção PDF. Em seguida, e) um globo, posicionado à esquerda da barra de ende-
clicou no botão Converter. reços.
c) abriu a pasta onde o arquivo estava salvo, utilizando os
recursos do Microsoft Windows 7, clicou com o botão 31. (CNJ 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PRO-
direito do mouse sobre o nome do arquivo e selecio- GRAMAÇÃO DE SISTEMAS) A respeito de redes de
nou a opção Salvar como PDF. computadores, julgue os itens subsequentes. Lista de
d) abriu o arquivo utilizando o Microsoft PowerPoint discussão é uma ferramenta de comunicação limitada a
2010, clicou na guia Arquivo e, em seguida, clicou na uma intranet, ao passo que grupo de discussão é uma
opção Salvar Como. Na caixa de diálogo que se abriu, ferramenta gerenciável pela Internet que permite a um
clicou na caixa de combinação que permite definir o grupo de pessoas a troca de mensagens via email entre
tipo do arquivo e selecionou a opção PDF. Em seguida, todos os membros do grupo.
clicou no botão Salvar.
INFORMÁTICA

e) baixou da internet um software especializado em fazer ( ) CERTO ( ) ERRADO


a conversão de arquivos do tipo PPTX para PDF, pois
verificou que o PowerPoint 2010 não possui opção
para fazer tal conversão.

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32. (CEITEC 2012 - FUNRIO - ADMINISTRAÇÃO/CIÊN- 36. (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO -
CIAS CONTÁBEIS/DIREITO/PREGOEIRO PÚBLICO) Na TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO) Com relação à certifi-
internet o protocolo_________ permite a transferência de cação digital, julgue os itens que se seguem.O certificado
mensagens eletrônicas dos servidores de _________para digital revogado deve constar da lista de certificados re-
caixa postais nos computadores dos usuários. As lacunas vogados, publicada na página de Internet da autoridade
se completam adequadamente com as seguintes expres- certificadora que o emitiu.
sões:
( ) CERTO ( ) ERRADO
a) Ftp/ Ftp.
b) Pop3 / Correio Eletrônico. 37. (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO -
c) Ping / Web. ADMINISTRATIVA) Acerca de segurança da informação,
d) navegador / Proxy. julgue os itens a seguir. O vírus de computador é assim
e) Gif / de arquivos denominado em virtude de diversas analogias poderem
ser feitas entre esse tipo de vírus e os vírus orgânicos.
33. (CASA DA MOEDA 2012 - CESGRANRIO - AS-
SISTENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO - APOIO AD- ( ) CERTO ( ) ERRADO
MINISTRATIVO) Em uma rede local, cujas estações de
trabalho usam o sistema operacional Windows XP e en- 38. (MPE/PE 2012 - FCC - TÉCNICO MINISTERIAL -
dereços IP fixos em suas configurações de conexão, um ADMINISTRATIVO) Existem vários tipos de vírus de
novo host foi instalado e, embora esteja normalmente computadores, dentre eles um dos mais comuns são ví-
conectado à rede, não consegue acesso à internet distri- rus de macros, que:
buída nessa rede.
Considerando que todas as outras estações da rede es- a) são programas binários executáveis que são baixados
tão acessando a internet sem dificuldades, um dos moti- de sites infectados na Internet.
vos que pode estar ocasionando esse problema no novo b) podem infectar qualquer programa executável do
host é computador, permitindo que eles possam apagar ar-
quivos e outras ações nocivas.
a) a codificação incorreta do endereço de FTP para o do- c) são programas interpretados embutidos em docu-
mínio registrado na internet. mentos do MS Office que podem infectar outros do-
b) a falta de registro da assinatura digital do host nas cumentos, apagar arquivos e outras ações nocivas.
opções da internet. d) são propagados apenas pela Internet, normalmente
c) um erro no Gateway padrão, informado nas proprieda- em sites com software pirata.
des do Protocolo TCP/IP desse host. e) podem ser evitados pelo uso exclusivo de software le-
d) um erro no cadastramento da conta ou da senha do gal, em um computador com acesso apenas a sites da
próprio host. Internet com boa reputação.
e) um defeito na porta do switch onde a placa de rede
desse host está conectada. 39. (SABESP 2012 - FCC - ANALISTA DE GESTÃO I -
SISTEMAS) Sobre vírus, considere:
34. (CASA DA MOEDA 2012 - CESGRANRIO - ASSIS-
TENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO - APOIO ADMI- I. Para que um computador seja infectado por um vírus
NISTRATIVO) Para conectar sua estação de trabalho a é preciso que um programa previamente infectado seja
uma rede local de computadores controlada por um ser- executado.
vidor de domínios, o usuário dessa rede deve informar II. Existem vírus que procuram permanecer ocultos, in-
uma senha e um[a] fectando arquivos do disco e executando uma série de
atividades sem o conhecimento do usuário.
a) endereço de FTP válido para esse domínio. III. Um vírus propagado por e-mail (e-mail borne vírus)
b) endereço MAC de rede registrado na máquina cliente. sempre é capaz de se propagar automaticamente, sem a
c) porta válida para a intranet desse domínio. ação do usuário.
d) conta cadastrada e autorizada nesse domínio. IV. Os vírus não embutem cópias de si mesmo em outros
e) certificação de navegação segura registrada na intra- programas ou arquivos e não necessitam serem explici-
net. tamente executados para se propagarem.

Está correto o que se afirma em


35. (CÂMARA DOS DEPUTADOS 2012 - CESPE - ANA-
LISTA LEGISLATIVO - TÉCNICA LEGISLATIVA) Com a) II, apenas.
relação a redes de computadores, julgue os próximos b) I e II, apenas.
itens.5Uma rede local (LAN — local area network) é ca- c) II e III, apenas.
INFORMÁTICA

racterizada por abranger uma área geográfica, em teoria, d) I, II e III, apenas.


ilimitada. O alcance físico dessa rede permite que os da- e) I, II, III e IV.
dos trafeguem com taxas acima de 100 Mbps.

( ) CERTO ( ) ERRADO

65
40. (MPE/PE 2012 - FCC - ANALISTA MINISTERIAL -
INFORMÁTICA) Sobre Cavalo de Tróia, é correto afirmar:
GABARITO
a) Consiste em um conjunto de arquivos .bat que não
necessitam ser explicitamente executados. 1 E
b) Contém um vírus, por isso, não é possível distinguir as
ações realizadas como consequência da execução do 2 CERTO
Cavalo de Tróia propriamente dito, daquelas relacio- 3 C
nadas ao comportamento de um vírus. 4 B
c) Não é necessário que o Cavalo de Tróia seja executado
5 C
para que ele se instale em um computador. Cavalos de
Tróia vem anexados a arquivos executáveis enviados 6 E
por e-mail. 7 A
d) Não instala programas no computador, pois seu único 8 C
objetivo não é obter o controle sobre o computador,
mas sim replicar arquivos de propaganda por e-mail. 9 A
e) Distingue-se de um vírus ou de um worm por não 10 C
infectar outros arquivos, nem propagar cópias de si 11 C
mesmo automaticamente.
12 E
13 A
14 C
15 CERTO
16 A
17 D
18 C
19 ERRADO
20 CERTO
21 A
22 A
23 C
24 ERRADO
25 D
26 B
27 D
28 E
29 B
30 C
31 ERRADO
32 B
33 C
34 D
35 ERRADO
36 CERTO
37 CERTO
38 C
39 B
40 E
INFORMÁTICA

66
ÍNDICE

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Educação no mundo atual........................................................................................................................................................................... 01


Relacionamento professor e aluno. Função e papel da escola. Problemas de aprendizagem......................................... 06
Fatores físicos, psíquicos e sociais............................................................................................................................................................. 15
Recreação: atividades recreativas. Aprendizagem: leitura e escrita............................................................................................. 22
Didática: métodos, técnicas, recursos e material didático............................................................................................................... 24
Processo ensino-aprendizagem: avaliação............................................................................................................................................ 36
Planejamento de aula e avaliação de aprendizagem........................................................................................................................ 36
Desenvolvimento da linguagem oral, escrita, audição e leitura, métodos, técnicas e habilidades. Instrumentos e
atividades pedagógicas................................................................................................................................................................................. 44
Métodos de alfabetização............................................................................................................................................................................ 95
Tendências pedagógicas. Papel do professor. Decroly, Maria Montessori, Freinet, Rousseau, Vygotsky, Piaget,
Paulo Freire e Herbart. Psicologia da Educação. Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento........................ 99
Didática Geral.................................................................................................................................................................................................... 112
Constituição Federal referente a Educação........................................................................................................................................... 112
Referências Curriculares Nacionais para Educação Infantil............................................................................................................. 115
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental;.................................................................................................. 136
Constituição Federal 1988: Título I (Dos Princípios Fundamentais) e Título VIII, Capítulo III (Da Educação).............. 164
Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (atualizada);..................................................................... 166
Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente................................................................................................................. 182
e geram novas formas de adaptação, de movimento, de
EDUCAÇÃO NO MUNDO ATUAL poder e de sobrevivência. Em tempos como esses, “o in-
divíduo ousa individualizar-se”. De outro lado, esse ousa-
do indivíduo precisa desesperadamente “de um conjunto
Sociedade contemporânea de leis próprias, precisa de habilidades e astúcias, neces-
sárias à autopreservação, à autoimposição, à autoafirma-
Bauman (2001) apresenta a sociedade caracterizan- ção, à autolibertação.”
do-a como modernidade líquida. Utiliza esta metáfora Retornando às características subjacentes à moder-
para explanar o advento de uma sociedade mais leve nidade líquida de Bauman, o tempo é um fator que as-
em detrimento da chamada modernidade sólida. Atual- sinala esta modernidade, marcada fortemente por fatos
mente o que se vivencia difere de tempos passados, que instantâneos.
ganham novas formas. Portanto, a modernidade sólida
possui características contrárias aos novos tempos. [...] os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e
Para Bauman, vive-se hoje, uma modernidade líquida estão constantemente prontos e propensos a mudá-la; as-
que é marcada pela instantaneidade e pela liquidez. O sim, para eles, o que conta é o tempo, mais do que o es-
conceito de liquidez utilizado pelo teórico destaca uma paço que lhes toca ocupar; espaço que, afinal, preenchem
sociedade que não mantém sua forma, não é estável, apenas “por um momento”.
mas é marcada por transformações, desestabilidades,
construções e desconstruções, imprevisibilidade, não se As pessoas que comandam o mundo são aquelas
atendo a um só formato, ao contrário de solidez que se que agem com maior rapidez, que mais se aproximam
refere à metáfora das marcas da modernidade, adjetiva- do momentâneo. A instantaneidade auxilia a dominação,
do por aspectos de durabilidade, de controle, de estabi- no sentido de que o indivíduo que domina é aquele que
lidade. tem capacidade para adaptar-se a novas formas de vida,
A esse respeito, Almeida et. al. afirmam: Se o sociólo- novos lugares, que consegue decidir rapidamente e agir
go empregou a metáfora da solidez como marca caracte- aceleradamente. Nesse sentido, sobre a instantaneidade
rística da modernidade nas primeiras décadas do século associada à flexibilidade,
XX (destruir a tradição e colocar outra, potencialmente Bauman enfatiza: “neste mundo, tudo pode acontecer
superior e mais sólida, em seu lugar), na transição para e tudo pode ser feito, mas nada pode ser feito uma vez
o século XXI ele destacará o novo aspecto da condição por todas – e o que quer que aconteça chega sem se
moderna, desta vez baseado na metáfora da liquidez. Por anunciar e vai-se embora sem aviso”.
isso a modernidade líquida passou a ser a denominação Para o autor, compreende-se que a modernidade lí-
preferencial de Bauman para referir-se ao contemporâ- quida demarca uma grande transformação nos âmbitos
neo. É essa oposição entre solidez e liquidez que permite social, político, econômico, ambiental, sempre no sentido
a ele explicar a distinção entre o nosso modo de vida de esquecer o passado, ou seja, aquilo que significava
moderno e aquele vivido por nossos antepassados. importante nas ações dos indivíduos e agora acaba per-
Entretanto, diante dos conceitos sólido e líquido, dendo seu efeito. As possibilidades de criar novas formas
apresentados por Bauman (2001), é importante consi- de vida são aceitas e o mundo movimenta-se conforme
derar aquilo que Berman (1986), enfatiza como conceito as demandas imediatas. É o mundo do imediatismo, das
de solidez. Ao contrário de Bauman, assinala que o sóli- coisas descartáveis. A diferença da modernidade sólida
do também pode sofrer alterações. O conceito de sóli- para a modernidade líquida é a duração da ação. Na mo-
do tratado por Berman (1986) difere da definição criada dernidade líquida, a ação é imediata, em curto prazo.
por Bauman (2001) na medida em que, para o primei- Ainda, tomando-se em consideração os novos forma-
ro, as bases sólidas, os valores fundados na sociedade tos e relações estabelecidas pelas novas tecnologias, sur-
moderna são permanentes e imutáveis, já na pós-mo- gem novas relações oferecidas pela internet. Esse recurso
dernidade, difundiram-se, sofreram alterações marcadas oferece meios de conexão com o mundo todo, levando
pelos novos pressupostos da vida moderna. Para Bau- os indivíduos a estarem constantemente em movimen-
man, somente a metáfora da liquidez se compara a esse to, mesmo permanecendo no lugar onde se encontra.
processo de transformação. Percebe-se, entretanto, que, A internet também favorece novas formas de relações
referindo-se às características gerais da modernidade, os entre as pessoas, sendo que, a comunicação ocorre por
autores compartilham as mesmas definições, apresen- intermédio de meios eletrônicos, a qualquer tempo, des-
tando o mesmo painel sobre os tempos modernos. cartando outras formas de contato. A mídia, assim como
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O sentido da modernidade apresentada por Berman a internet, possibilita também repassar informações em
(1986) é o mesmo em comparação ao que apresenta um curto espaço de tempo em uma grande velocidade,
Bauman (2001), na medida em ambos ressaltam que esta permitindo a sensação de mobilidade. “O espaço deixou
modernidade é passível de transformações, de mudan- de ser um obstáculo – basta uma fração de segundo para
ças, de desintegração de ambientes, de construção de conquistá-lo”. Com esse aspecto de instantaneidade,
novas formas de vida. Destacam-se, nesse movimento, Berman destaca que é preciso adaptar-se às novas trans-
algumas características, como: crescente explosão demo- formações, considerando-as como novos processos que
gráfica, grandes descobertas nas ciências, crescimento necessitam ser imbuídos na vida pessoal e social:
acelerado da tecnologia e dos sistemas de comunicação Homens e mulheres modernos precisam aprender a
de massa e expansão do mercado capitalista mundial. Es- aspirar à mudança: não apenas estar aptos a mudanças
ses fatores, por sua vez, influenciam a vida das pessoas em sua vida pessoal e social, mas ir efetivamente em bus-

1
ca das mudanças, procurá-las de maneira ativa, levan- Os conceitos de emancipação e individualidade ga-
do-as adiante. Precisam aprender a não lamentar com nham um peso maior nesta sociedade, sendo que o co-
muita nostalgia as “relações fixas, imobilizadas” de um letivo e a comunidade passam a ser conceitos abstratos,
passado real ou de fantasia, mas a se deliciar na mobi- aquilo que vem depois das escolhas individuais. A solida-
lidade, a se empenhar na renovação, a olhar sempre na riedade é um valor que não possui mais fundamento. O
direção de futuros desenvolvimentos em suas condições indivíduo é capaz de decidir sobre as ações e fins.
de vida e em suas relações com outros seres humanos.
Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer,
Referindo-se aos modos de trabalho, o ser humano esticar essa capacidade ao máximo e escolher os fins a
busca o progresso, sendo visualizado como um caminho que essa capacidade poderia melhor servir – isto é, com
sem fim, que deve ser alcançado constantemente, atra- a máxima satisfação concebível.
vés do esforço do homem. Para o alcance do progresso, Nesse sentido, nada está pronto e acabado. As opor-
novos valores passam a permear as relações de trabalho: tunidades são infinitas ao indivíduo e sua liberdade de
a competição e a individualização que concorrem, simul- escolha favorece um estado de ansiedade e incertezas.
taneamente, para o alcance deste progresso. Todos esses O sentimento de felicidade está, em muitos casos, li-
processos mudam o modo de vida humana, sendo que gado a situações de consumo. “O consumo é um investi-
cada indivíduo é responsável por encontrar meios para o mento em tudo que serve para o ‘valor social’ e a autoes-
alcance de melhores condições de vida. De acordo, Bau- tima do indivíduo”. Neste sentido, o consumismo passa a
man destaca: ser algo de desejo imediato. Consome-se mais e, geral-
[...] são homens e mulheres individuais que às suas mente, para satisfazer desejos instantâneos e individuais.
próprias custas deverão usar, individualmente, seu próprio A sociedade do consumo privilegia não só aquisição de
juízo, recursos e indústria para elevar-se a uma condição bens e produtos, mas a busca incessante de novas recei-
mais satisfatória e deixar para trás qualquer aspecto de tas para uma vida melhor; novos exemplos, novas habi-
sua condição presente de que se ressintam. lidades, novas competências em detrimento daquilo que
ainda o indivíduo não é, para aparentar uma imagem,
O trabalho, na modernidade sólida, era considerado mostrar aos outros aquilo que não é, para agradá-los ou
uma virtude, sendo fundamental para a vida nos tem- como um modo de atrair atenção. O consumo não é mais
caracterizado como a satisfação das necessidades, mas
pos modernos para alcançar status. Capital e trabalho
serve para satisfazer os desejos insaciáveis. As necessi-
eram interdependentes. Os trabalhadores dependiam
dades são sólidas, inflexíveis, já o desejo é marcado pela
do emprego para sobreviver e o capital dependia dos
fluidez, são flexíveis, mutáveis e podem ser substituídos.
trabalhadores para seu crescimento. Com o trabalho, o
Desse modo, estar na sociedade de consumidores
trabalhador comandava seu próprio destino. Como o
requer estar adaptado aos novos padrões do mercado.
modelo fordista, o trabalhador iniciava sua carreira em
Consumir é estar de acordo com aquilo que o mercado
uma empresa e lá permanecia, ficando “preso” em seu
impõe como símbolo de comodidade, de autoafirmação,
lugar, impedindo a sua mobilidade. Porém, na contem- de conforto, de emancipação dos indivíduos.
poraneidade, o trabalho não é mais um projeto de vida, Bauman acrescenta a esses aspectos outros fatores
uma base sólida, mas um significado de satisfação, assim que auxiliam a compreender a configuração da nova so-
como, não significa estabilidade, como nos tempos pas- ciedade. Ressalta que a comunidade como defensora do
sados. “Neste mundo, estabilidade significa tão somente direito à vida decente transformou este projeto em pro-
entropia, morte lenta, uma vez que nosso sentido de pro- mover o mercado como garantia de autoenriquecimen-
gresso e crescimento é o único meio que dispomos para to, gerando maiores sofrimentos entre aqueles que não
saber, com certeza, que estamos vivos”. podem consumir como o mercado demanda. Ele com-
Da Era Industrial passa-se à Era do Acesso, sendo que, pleta essa ideia, enfatizando que, na sociedade pós-mo-
nesta, máquinas inteligentes, na forma de programas de derna nenhum emprego é garantido, nenhuma posição
computador, da robótica, da biotecnologia, substituíram é segura. Além disso, ressalta:
rapidamente a mão-de-obra humana na agricultura, nas
manufaturas e nos setores de serviços. Segundo a lógica Em sua versão presente, os direitos humanos não tra-
reinante do mundo globalizado, comandado pelas linhas zem consigo a aquisição do direito a um emprego, por
mestras da tecnologia, uma multidão de seres humanos mais que bem desempenhado, ou – de um modo mais
encontra-se sem razão para viver neste mundo. A ideolo- geral – o direito ao cuidado e à consideração por causa
gia de sustentação da economia do mercado é excluden- de méritos passados. Meio de vida, posição social, reco-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

te e busca eliminar quem não entra e consegue seguir nhecimento da utilidade e merecimento da autoestima
seus parâmetros. Deve-se executar o ofício de separar e podem todos desvanecer-se simultaneamente da noite
eliminar o refugo, o descartável. Tudo se estrutura a par- para o dia e sem se perceber.
tir do privilégio e do padrão de vida e consumo. Bauman (1998) enfatiza que as relações entre as pes-
Assim, mudar de emprego tornou-se algo comum, soas também se dão de forma diferente, dependendo da
reafirmando o conceito de transitoriedade e flexibilidade situação econômica das mesmas, do usufruto de bens e
que marcam a denominada modernidade líquida. “A vida da posição de conforto que possuem. Noutras palavras,
de trabalho está saturada de incertezas”. As incertezas dependendo da posição que se ocupa, as pessoas são
são marcadas pelo descontrole e desconhecimento das consideradas como “estranhos”, pois não ocupam a mes-
situações. Não há, neste tempo, segurança em relação ma posição social e servem apenas para oferecer serviços
ao trabalho, no sentido de permanecer nele a vida toda. e bens para o consumo, conforme afirma

2
Para alguns moradores da cidade moderna, segu- mente, configurou-se em relação a si próprio, levando o
ros em suas casas à prova de ladrões em bairros bem indivíduo a compreender-se como único responsável por
arborizados, em escritórios fortificados no mundo dos seus atos e deveres, excluindo a responsabilidade pelos
negócios fortemente policiado, e nos carros cobertos de interesses, necessidades e desejos do outro.
engenhocas de segurança para levá-los das casas para os Entretanto, observa-se que, neste período atual, há
escritórios e de volta, o “estranho” é tão agradável quan- certa ambiguidade em torno da vida responsável, pois
to a praia da rebentação [...]. Os estranhos dirigem res- surgem reflexões, organizações e movimentos em favor
taurantes, prometendo experiências insólitas e excitantes da vida, do respeito à natureza, à sustentabilidade. En-
para as papilas gustativas, vendem objetos de aspecto quanto se afirma que o indivíduo preocupa-se com si
esquisito e misterioso, [...], oferecem serviços que outras mesmo, ao mesmo tempo, surgem preocupações acerca
pessoas não se rebaixariam ou se dignariam a oferecer, do outro e do mundo. Percebe-se que há uma evolução
acenam com guloseimas de sensatez, revigorantemente para a possibilidade de construção de uma vida respon-
diversas da rotina e da chateação. sável.
O panorama apresentado até aqui, certamente, não
O poder de consumo avalia a posição social dos indi- contempla todos os aspectos referentes à sociedade
víduos. Aquelas pessoas que não possuem certa posição contemporânea, mas apresenta definições importantes
de conforto na sociedade e que não detêm um mínimo que levam a analisar e refletir sobre a configuração sub-
de condições de escolha de consumo, acabam muitas ve- jacente aos tempos atuais e que podem instigar a ques-
zes demonstrando revolta, estranheza para muitos e vio- tão referente à tarefa da escola frente a tais aspectos pre-
lência, assim, como ao que se assiste nos novos tempos. sentes na sociedade atual.
Uma vez que as únicas senhas para defender a li- Desse modo, é urgente compreender sua missão
berdade de escolha, moeda corrente na sociedade do como instituição educativa que, assim como outras ins-
consumidor, estão escassas em seu estoque ou lhes são tâncias, desempenha um papel importante na formação
inteiramente negadas, elas precisam recorrer aos únicos dos sujeitos.
recursos que possuem em quantidade suficientemente
grande para impressionar. Elas defendem o território A tarefa da escola
sitiado através de “rituais, vestindo-se estranhamente,
inventando atitudes bizarras, quebrando normas, que- Compreender a missão da escola perante as novas
brando garrafas, janelas, cabeças, e lançando retóricos configurações da sociedade, torna-se essencial para ava-
desafios à lei”. Reagem de maneira selvagem, furiosa, liar a sua tarefa, diante das transformações sociais e cul-
alucinada e aturdida [...]. turais e de suas implicações no processo educativo atual.
Além disso, cresceram as taxas de desemprego e um Desse modo, diante dos processos sociais que se
grande número de excluídos socialmente, pois os em- desencadeiam na atualidade, surgem algumas questões
pregos tomaram novas configurações, não sendo pos- que se referem ao processo educativo escolar: qual é o
sível projetar uma vida em longo prazo, com projetos e papel da escola? A escola está preparada para formar
planejamentos. sujeitos oriundos da sociedade descrita por Bauman? A
De acordo com estas características, Bauman (1998) educação escolar dá conta de compreender esses pro-
destaca que aqueles que não possuem emprego não são cessos de transformação?
considerados como “desempregados”, mas sim como Essas questões remetem à reflexão sobre a verdadei-
consumidores falhos, pois não desempenham a função ra missão da escola frente aos processos de mudança e
ativa de consumir e, portanto, não são aptos de usufruir ao contexto atual que, de maneira geral, recebe as in-
dos bens e serviços que o mercado pode oferecer, sendo fluências das mudanças, passando a adquirir novos pres-
definidos como os “pobres” da sociedade atual. Ele enfa- supostos, novos objetivos, novas concepções. Diante
tiza a esse respeito. dos temas que perfazem a realidade, a educação é vista
como um meio indispensável na constituição da socieda-
Antes de mais nada, os pobres de hoje (ou seja, as de e passa a ocupar um papel fundamental.
pessoas que são “problemas” para as outras)
são “não-consumidores”, e não “desempregados”. São Nestes tempos de mutações profundas e de incerteza
definidos em primeiro lugar por serem consumidores fa- acentuada, deve-se investir muito na educação, facilitan-
lhos, já que o mais crucial dos deveres sociais que eles do assim o emprego, despertando as mentes e as cons-
não desempenham é o de ser comprador ativo e efetivo ciências diante dos novos desafios, facilitando o acesso
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dos bens e serviços que o mercado oferece. Nos livros à cultura e reduzindo a exclusão. A educação é o melhor
de contabilidade de uma sociedade de consumo, os po- investimento social.
bres entram na coluna dos débitos, e nem por exagero Sabe-se que, entre outros fatores, pontos, movi-
da imaginação poderiam ser registrados na coluna dos mentos e tendências, o cientificismo positivista impôs a
ativos, sejam estes presentes ou futuros. fragmentação do conhecimento, sustentando a ordem
econômica e social da modernidade. Atualmente, não se
Nesse panorama da sociedade de consumidores e pode mais conceber que esta fragmentação dê conta de
busca pela satisfação pessoal, alguns valores e princípios formar e desenvolver o homem na nova ordem social vi-
passaram a tomar outras configurações. O valor da res- gente. Como se vê, muitas transformações têm surgido
ponsabilidade, por exemplo, que, em outros tempos, re- ao longo dos tempos: as novas tecnologias, as comuni-
sidia no dever ético e na preocupação pelo outro, atual- cações, a preocupação com o meio ambiente, a produ-

3
ção econômica cada vez mais crescente e diversificada competitividade, habilidades básicas para o mundo do
com novos produtos no mercado, demandando novos trabalho. Em síntese, o conhecimento se transforma em
cursos de capacitação e aperfeiçoamento, entre tantas informação que logo será substituída, por considerar que
outras mudanças as quais a escola deve acompanhar e rapidamente estará ultrapassado.
produzir reflexões acerca destes novos elementos. A escola então, transmissora deste conhecimento,
Além disso, a escola, mergulhada neste contexto, passa agora a não ser a detentora do saber, pois as no-
não pode ficar alheia às transformações sociais e cultu- vas tecnologias oferecem as informações em um rápido
rais advindas da sociedade. Mas, pelo contrário, a escola espaço de tempo, no qual todos têm acesso ao “conheci-
pertence ao meio social e, por isso, sofre as influências mento”. Os professores perdem a autoridade sobre o do-
do meio. “A escola é uma comunidade. Como parte da mínio exclusivo dos saberes. A nova dinâmica do merca-
sociedade, ela está normalmente estruturada de forma do passa a ter autoridade, decidindo sobre as formações
a reproduzir a estrutura social.” Nesse sentido, Bauman de opiniões, verificação de valores, definindo o que é
destaca que, muitas transformações estão permeando bom ou mal, belo ou feio, verdadeiro ou falso. Os alunos
a sociedade contemporânea e essas acabam por invadir passam a dar atenção àqueles que oferecem várias pos-
todos os contextos, inclusive a escola. O processo educa- sibilidades de experiência, prazer e proveito (geralmente
tivo escolar, de acordo com as novas estruturas, procura a mídia – televisão, internet), os seduzindo para a arte de
desenvolver um currículo que considera as mudanças e saber viver. O professor, desse modo, não é mais aque-
atenda aos novos conceitos, novos pressupostos e novas le conselheiro que orientava os alunos a seguirem, de
demandas. modo seguro, sua vida, através de seus estudos e sabe-
Relacionando os conceitos apresentados, pode-se di- res. Nesse sentido, a não mais inquestionável autoridade
zer que a escola, na sociedade sólida, referenciando Bau- do professor em orientar a lógica da aprendizagem com-
man, era aquela que educava para toda a vida. A escola pete, [...], com as sedutoras e muito mais atraentes mensa-
era um espaço que tinha como propósito estabelecer a gens das celebridades, sejam jogadores de futebol, artistas,
ordem. A formação dos indivíduos era responsabilidade frequentadores de reality shows ou políticos oportunistas.

de toda a sociedade, dos governantes e do Estado, com
Diante de todos esses desafios, Almeida (2009) en-
vistas a formá-los para um comportamento correto e
fatiza que, ao mesmo tempo em que Bauman apresenta
moralmente aceitável. Desse modo, somente os profes-
tais aspectos, o próprio autor também oportuniza uma
sores eram capazes de fornecer esta formação para uma
solução para a escola poder enfrentá-los, destacando o
integração social, destacando uma vida correta e mo-
poder da escola de facilitar a socialização entre os indiví-
ral, disciplinada e eficiente. Além disso, o conhecimento
duos e de promover uma sensibilização acerca do mun-
era um produto duradouro e a qualidade da escola era
do atual e conscientizar para a busca de novas formas
medida pela transmissão deste conhecimento de valor de relações em suprimento das relações individualistas.
adaptado ao mundo sólido. As pessoas se ajustavam ao Almeida afirma:
mundo pela educação, entendendo que este mundo era
imutável e consideravelmente manipulável. O professor [...] além de promover a socialização, ou seja, preparar
detinha o poder de transmitir o conhecimento ao aluno, as pessoas para o mundo cambiável em que vivemos, a in-
compreendendo este conhecimento como justo e con- dividualização pressuposta nos mecanismos educacionais,
fiável. ao mesmo tempo em que evita decretar o que é certo ou
verdadeiro e provocar sua manifestação, consiste no exer-
Para Pourtois e Desmet, a escola contemporânea cício de “agitar” os estudantes e incitar-lhes a dúvida sobre
continua a repetir os princípios defendidos pela escola a imagem que têm de si e da sociedade em que estão inse-
moderna, na qual enfatizava o modelo de que o aluno ridos e, nesse movimento, desafiar o consenso prevalecen-
deveria aprender as regras da vida em sociedade e o te. Os professores seriam, assim, intelectuais que ajudam
pensamento racional, sendo disciplinado por meio de re- a assegurar que a consciência moral de cada geração seja
compensas ou castigos, sendo que a personalidade indi- diferente da geração anterior.
vidual deve ser ocultada atrás da moral do dever. Para es-
ses autores, a pedagogia moderna ainda está fortemente A escola, articulada como uma instituição, em harmo-
enraizada nas práticas escolares. nia com a preparação de indivíduos adequados a habi-
Na passagem da modernidade sólida para a líquida, tar um mundo ordenado, não se configura nos tempos
de acordo com a visão de sociedade de Bauman, a escola atuais. Configura-se hoje como um espaço destinado a
assume outras características, sendo que a ordem social, dar oportunidades iguais a todos, inclusive às minorias
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sólida e imutável não é mais aceita na chamada moder- e aos excluídos, sendo um ambiente no qual se recebe
nidade líquida. O mundo é diferente daquele em que a uma pluralidade de culturas e valores de uma mesma so-
escola estava preparada para formar os alunos. “Em tais ciedade, respeitando diferenças e enfatizando os princí-
circunstâncias, preparar para toda a vida, essa invariável pios de solidariedade.
e perene tarefa da educação na modernidade sólida, vai Nesse enredo, Gadotti enfatiza que esta época de
adquirir um novo significado diante das atuais circuns- rápidas transformações acaba por demandar uma nova
tâncias sociais.” O conhecimento não será mais consi- configuração da educação na busca de um melhor de-
derado como um produto conservado, pronto e acaba- sempenho do sistema escolar:
do para toda a vida, assumindo, muito mais um caráter Neste começo de um novo milênio, a educação apre-
inconcluso, podendo ser substituível. O conhecimento senta-se numa dupla encruzilhada: de um lado, o de-
passa a ter o objetivo de oferecer eficiência, criatividade, sempenho do sistema escolar não tem dado conta da

4
universalização da educação básica de qualidade; de escolar. Dentre os temas transversais salientam-se a Ética
outro, as novas matrizes teóricas não apresentam ainda e a Pluralidade Cultural. De acordo com o enredo apre-
a consistência global necessária para indicar caminhos sentado, entende-se que a educação escolar deve preo-
realmente seguros numa época de profundas e rápidas cupar-se com as condutas humanas e não só com o de-
transformações. senvolvimento de habilidades e competências técnicas,
Para esse propósito, é necessário que a escola fortale- mas referenciar valores que valorizem a relação com o
ça seu projeto educativo, relacionando-o com o contexto outro, já que ética e valores estão imbuídos no currículo
social e suas características, sendo este um princípio da escolar e nas relações entre os indivíduos.
educação contemporânea, no mesmo modo que esta Segundo Gómez (2001), a função educativa da escola
educação possa sempre superar os limites impostos pelo deve cumprir não só o processo de socialização, mas ofe-
mercado, buscando a transformação social. recer às futuras gerações a possibilidade de questionar a
Seja qual for a perspectiva que a educação contem- validade dos conteúdos, de elaborar alternativas e tomar
porânea tomar, uma educação voltada para o futuro será decisões autônomas acerca das transformações sociais
sempre uma educação contestadora, superadora dos li- e culturais. O conjunto de conhecimentos adquiridos na
mites impostos pelo Estado e pelo mercado, portanto, escola só será válido se oferecer ao indivíduo um modo
uma educação muito mais voltada para a transformação consciente de pensamento e ação. Afirma o autor que: A
social. formação de cidadãos autônomos, conscientes, informa-
dos e solidários requer uma escola onde possa-se recriar a
Nesse sentido, a educação, na era contemporânea, cultura, não uma academia para aprendizagens mecâni-
deve apropriar-se das informações e refletir sobre elas. cas ou aquisições irrelevantes, mas uma escola viva e com-
O contexto deve ser de um agir comunicacional, ou seja, prometida com a análise e a reconstrução das contingên-
comunicação intersubjetiva em que os outros constituem cias sociais, onde os estudantes e os docentes aprendem os
uma forma de mediação entre saberes existentes e os aspectos mais diversos da experiência humana.
saberes de base do sujeito. O ato educativo deve ter sen-
tido no contexto social atual e deixar transparecer seus Nesse sentido, salienta-se que a existência da esco-
objetivos. la perante a todas as transformações culturais e sociais,
Além disso, com as novas configurações da socieda- deve assumir uma postura, não só de transmissão de
de, a escola passou a aceitar todas as visões de mun- conteúdos sem significados, de aprendizagens mecâni-
do que chegam até ela, sem desconsiderar os direitos cas, sem sentido, somente para atender às influências
de propriedade das mais diversas comunidades. Na do mercado competitivo, mas assumir a condição de um
modernidade, a construção da ordem era estabelecida espaço no qual valorize as experiências trazidas pelas
pelos intelectuais, ou seja, professores e teóricos educa- culturas e assim, construir uma interlocução entre elas,
cionais detinham a função de “legislar acerca do modo permeadas pela reflexão, pela socialização e pela relação
correto de separar a verdade da inverdade das culturas de valores indispensáveis à formação do homem.
[...].” Atualmente, a escola enfrenta o desafio de aceitar
a multiplicidade de culturas e verdades que perpassam Fonte
os saberes escolares, pois a verdade do conhecimento PAIM, V. C.; NODARI, P. C. A Missão da Escola no Con-
torna-se questionável nesse novo contexto. texto Social atual.
Almeida (2009), parafraseando Bauman, destaca esta
nova configuração da escola em detrimento de um espa-
ço multicultural que aposta na pluralidade de culturas, no
intuito de compreendê-las, fortalecê-las e relacioná-las EXERCÍCIO COMENTADO
com outras culturas, assinalando-as como parte de um
diálogo que enriquece os saberes educativos: 1. (Pref. Bombinhas/SC - Coordenador Pedagógico –
Diante dos inúmeros “textos” que escrevem o mundo, a Superior - FEPESE/2016)
arte da conversação civilizada é algo que o espaço da esco- Assinale a alternativa que indica corretamente o autor
la necessita de maneira urgente. Dialogar com as distintas que, ao abordar a questão do planejamento, defende
tradições que chegam até ela, sem combatê-las; procurar o pressuposto de que “todo planejamento educacional,
entendê-las, sem aniquilá-las ou descartá-las como mu- para qualquer sociedade, tem de responder às marcas e
tantes; fortalecer sua própria perspectiva (a do professor, aos valores dessa sociedade. Só assim, é que pode fun-
por exemplo) com o livre recurso à experiências alheias (a cionar o processo educativo, ora como força estabiliza-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dos alunos e suas culturas, por que não?). Levando isso em dora, ora como fator de mudança. Às vezes, preservando
conta, extraímos da posição de Bauman o seguinte impe- determinadas formas de cultura. Outras, interferindo no
rativo para a educação escolarizada na sociedade líquida: processo histórico instrumental”.
conversar ou perecer!
a) Piaget
De acordo com essa nova forma curricular, os Parâ- b) Skinner
metros Curriculares Nacionais (1997), de acordo com a c) Paulo Freire
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Fede- d) Durkheim
ral n. 9.394/96) destacam a valorização dos temas trans- e) Torndaik
versais, os quais possuem a intenção de responder aos
novos pressupostos e novas configurações da educação

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Resposta: Letra C. Trata-se da educação centrada na pessoa, já que nes-
Em “c”: Certo: - É o autor citado como mostra a seguir: sa abordagem o ensino será centrado no aluno. A educa-
Todo planejamento educacional, para qualquer socie- ção tem como finalidade primeira a criação de condições
dade, tem que responder às marcas e aos valores des- que facilitam a aprendizagem de forma que seja possí-
sa sociedade. Só assim é que pode funcionar o proces- vel seu desenvolvimento tanto intelectual como emo-
so educativo, ora como força, estabilizadora, ora como cional seria a criação de condições nas quais os alunos
fator de mudança. Ás vezes, preservando determina- pudessem tornar-se pessoas de iniciativas, de responsa-
das formas de cultura. Outras, interferindo no proces- bilidade, autodeterminação que soubessem aplicar-se a
so histórico, instrumentalmente. De qualquer modo aprendizagem no que lhe servirão de solução para seus
para ser autêntico, é necessário ao processo educativo problemas servindo-se da própria existência. Nesse pro-
que se ponha em relação de organicidade com a con- cesso os motivos de aprender deverão ser do próprio
textura da sociedade a que se aplica (FREIRE, 2002, p. aluno. Autodescoberta e autodeterminação são caracte-
10). FREIRE, Paulo. Educação e atualidade Brasileira. São rísticas desse processo.
Paulo: Cortez, Instituto Paulo Freire, 2002
Cada professor desenvolverá seu próprio repertório
de uma forma única, decorrente da base percentual de
RELACIONAMENTO PROFESSOR E ALUNO. seu comportamento. O processo de ensino irá depender
FUNÇÃO E PAPEL DA ESCOLA. PROBLEMAS do caráter individual do professor, como ele se relaciona
DE APRENDIZAGEM. com o caráter pessoal do aluno. Assume a função de fa-
cilitador da aprendizagem e nesse clima entrará em con-
tato com problemas vitais que tenham repercussão na
A relação professor-aluno é vertical, sendo que (o existência do estudante.
professor) detém o poder decisório quanto a metodolo- Isso implica que o professor deva aceitar o aluno tal
gia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula etc. como é e compreender os sentimentos que ele possui. O
O professor detém os meios coletivos de expressão. A aluno deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes
maior parte dos exercícios de controle e dos de exames a aprendizagem que tem significado para eles. As quali-
se orienta para a reiteração dos dados e informações an- dades do professor podem ser sintetizadas em autenti-
teriormente fornecidos pelos manuais. cidade compreensão empática, aceitação e confiança no
A metodologia se baseia na aula expositiva e nas de- aluno.
monstrações do professor a classe, tomada quase como Não se enfatiza técnica ou método para facilitar a
auditório. O professor já traz o conteúdo pronto e o alu- aprendizagem. Cada educador eficiente deve elaborar a
no se limita exclusivamente a escutá-lo.
sua forma de facilitar a aprendizagem no que se refere ao
que ocorre em sala de aula é a ênfase atribuída a relação
Abordagem comportamentalista
pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento
das pessoas que possibilite liberdade para aprender.
O conhecimento é uma “descoberta” e é nova para
o indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já
Abordagem Cognitivista
se encontrava presente na realidade exterior. Os com-
portamentalistas consideram a experiência ou a experi-
mentação planejada como a base do conhecimento, o A organização do conhecimento, processamento de
conhecimento é o resultado direto da experiência. informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
Aos alunos caberia o controle do processo de apren- comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.
dizagem, um controle científico da educação, o profes- O conhecimento é considerado como uma cons-
sor teria a responsabilidade de planejar e desenvolver trução contínua. A passagem de um estado de desen-
o sistema de ensinoaprendizagem, de forma tal que o volvimento para o seguinte é sempre caracterizada por
desempenho do aluno seja maximizado, considerando- formação de novas estruturas que não existiam anterior-
-se igualmente fatores tais como economia de tempo, mente no indivíduo.
esforços e custos. O processo educacional, consoante a teoria de de-
Nessa abordagem, se incluem tanto a aplicação da senvolvimento e conhecimento, tem um papel importan-
tecnologia educacional e estratégias de ensino, quanto te, ao provocar situações que sejam desequilibradoras
estratégias de reforço no relacionamento professor-aluno. para o aluno, desequilíbrios esses adequados ao nível
de desenvolvimento em que a criança vive intensamente
(intelectual e afetivamente) cada etapa de seu desenvol-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Abordagem Humanista
vimento.
Nesta abordagem é dada a ênfase no papel do sujei- Segundo Piaget, a escola deveria começar ensinando
to como principal elaborador do conhecimento humano. a criança a observar. A verdadeira causa dos fracassos
Da ênfase ao crescimento que dela se resulta, centrado da educação formal, diz, decorre essencialmente do fato
no desenvolvimento da personalidade do indivíduo na de se principiar pela linguagem (acompanhada de dese-
sua capacidade de atuar como uma pessoa integrada. O nhos, de ações fictícias, narradas etc.) ao invés do fazer
professor em si não transmite o conteúdo, dá assistência pela ação real e material.
sendo facilitador da aprendizagem. O conteúdo advém Nesta abordagem, o ensino procura desenvolver a in-
das próprias experiências do aluno o professor não ensi- teligência priorizando as atividades do sujeito, conside-
na: apenas cria condições para que os alunos aprendam. rando-o inserido numa situação social. Caberá ao profes-

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sor criar situações, propiciando condições onde possam ficiente domínio da matéria e dos métodos de ensino,
se estabelecer reciprocidade intelectual e cooperação ao desânimo por causa da desvalorização profissional etc.),
mesmo tempo moral e racional. quando a professora entra na sua classe, ela tem cons-
Uma das implicações fundamentais para o ensino é ciência de sua responsabilidade em proporcionar aos
a de que a inteligência se constrói a partir da troca do alunos um bom ensino. Apesar disso, saberá ela fazer um
organismo como o meio, por meio das ações do indi- bom ensino, de modo que os alunos aprendam melhor?
víduo. A ação do indivíduo, pois, é centro do processo Há diversos tipos de professores no ensino funda-
e o fator social ou educativo constitui uma condição de mental. Os mais tradicionais contentam-se em transmi-
desenvolvimento. tir a matéria que está no livro didático. Suas aulas são
sempre iguais, o método de ensino é quase o mesmo
Abordagem Sociocultural para todas as matérias, independentemente da idade e
das características individuais e sociais dos alunos. Pode
Podemos situar Paulo Freire com sua obra, enfati- até ser que esse método de passar a matéria, dar exercí-
zando aspectos sócio-político-cultural, havendo uma cios e depois cobrar o conteúdo numa prova, dê alguns
grande preocupação com a cultura popular, sendo que bons resultados. O mais comum, no entanto, é o aluno
tal preocupação vem desde a II Guerra Mundial com um memorizar o que o professor fala, decorar o livro didá-
aumento crescente até nossos dias. Toda ação educativa, tico e mecanizar fórmulas, definições etc. Esse tipo de
para que seja válida, deve, necessariamente, ser precedi- aprendizagem (vamos chamá-la de mecânica, repetitiva)
da tanto de uma reflexão sobre o homem como de uma não é duradoura. Na verdade, aluno com uma aprendi-
análise do meio de vida desse homem concreto, a quem zagem de qualidade é aquele que desenvolve raciocínio
se quer ajudar para que se eduque. próprio, que sabe lidar com os conceitos e faz relações
Logo, a escola deve ser um local onde seja possível o entre um conceito e outro, que sabe aplicar o conheci-
crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no pro- mento em situações novas ou diferentes, seja na sala de
cesso de conscientização o que indica uma escola dife- aula seja fora da escola, que sabe explicar uma idéia com
rente de que se tem atualmente, coma seus currículos suas próprias palavras. Há professores tradicionais que
e prioridades. A situação de ensino-aprendizagem deve- sabem ensinar os alunos a aprender assim, mas a maioria
rá procurar a superação da relação opressor-oprimido. deles não se dá conta de que a aprendizagem duradoura
A estrutura de pensar do oprimido está condicionada é aquela pela qual os alunos aprendem a lidar de forma
pela contradição vivida na situação concreta, existencial independente com os conhecimentos.
em que o oprimido se forma. Nesta situação, a relação
professor-aluno é horizontal, sendo que o professor se Os professores que se julgam mais atualizados (va-
empenhará numa prática transformadora que procurará mos chamá-los de progressistas) variam bastante os mé-
desmitificar e questionar, junto com o aluno. todos de ensino. Preocupam-se mais com as diferenças
individuais e sociais dos alunos, costumam fazer trabalho
Referências em grupo ou estudo dirigido, tentam usar mais diálogo
BECKER, Fernando. Educação e construção do conhe- no relacionamento com as crianças, são mais amorosos.
cimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. Essa forma de trabalho didático é, sem dúvida, bem mais
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: acertado do que a tradicional. Entretanto, quase sempre
Vozes, 1982. acabam tendo um entendimento de aprendizagem pare-
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, cido com o tradicional. Na hora de cobrar os resultados
1994. do processo de ensino, pedem a memorização, a repeti-
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abor- ção de fórmulas e definições. Mesmo utilizando técnicas
dagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. ativas e respeitando mais o aluno, fica a atividade pela
atividade. Ou seja, muitos professores não sabem como
O TRABALHO DE PROFESSOR E SUA RELAÇÃO ajudar o aluno a, através de uma atividade, elaborar de
COM O ALUNO forma consciente e independente o conhecimento. Em
outras palavras, as atividades que organiza para os alu-
Os alunos mais velhos comentam entre si: “Gosto des- nos não os levam a uma atividade mental, não levam os
sa professora porque ela tem didática”. Os mais novos alunos a adquirirem métodos de pensamento, habilida-
costumam dizer que com aquela professora eles gostam des e capacidades mentais para poderem lidar de forma
de aprender. Provavelmente, o que os alunos querem di- independente e criativa com os conhecimentos que vão
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

zer é que essas professoras têm um modo acertado de assimilando.


dar aula, que ensinam bem, que com eles, de fato, apren- Na perspectiva socioconstrutivista, o objetivo do en-
dem. Então, o que é ter didática? A didática pode ajudar sino é o desenvolvimento das capacidades intelectuais e
os alunos a melhorarem seu aproveitamento escolar? O da subjetividade dos alunos através da assimilação cons-
que uma professora precisa conhecer de didática, para ciente e ativa dos conteúdos. O professor, na sala de aula,
que possa melhorar o seu trabalho docente? utiliza-se dos conteúdos da matéria para ajudar os alu-
Acredito que a maioria do professorado tem como nos a desenvolverem competências e habilidades de ob-
principal objetivo do seu trabalho conseguir que seus servar a realidade, perceber as propriedades e caracterís-
alunos aprendam da melhor forma possível. Por mais ticas do objeto de estudo, estabelecer relações entre um
limitações que uma professora possa ter (falta de tempo conhecimento e outro, adquirir métodos de raciocínio,
para preparar aulas, falta de material de consulta, insu- capacidade de pensar por si próprios, fazer comparações

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entre fatos e acontecimentos, formar conceitos para lidar Com a inclusão da Educação Infantil na BNCC, mais
com eles no dia-a-dia de modo que sejam instrumentos um importante passo é dado nesse processo histórico de
mentais para aplicá-los em situações da vida prática. sua integração ao conjunto da Educação Básica.

Por que o termo socioconstrutivista? É sócio porque A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO DA EDU-
compreende a situação de ensino e aprendizagem como CAÇÃO BÁSICA
uma atividade conjunta, compartilhada, do professor e
dos alunos, como uma relação social entre professor e Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação
alunos frente ao saber escolar. Quer dizer: o aluno cons- Infantil é o início e o fundamento do processo educacio-
trói, elabora, seus conhecimentos, seus métodos de estu- nal. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na
do, sua afetividade, com a ajuda do professor. O profes- maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos
sor é aqui um parceiro mais experiente na conquista do seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a
conhecimento, interagindo com a experiência do aluno. uma situação de socialização estruturada.
O papel do ensino - e, portanto, do professor - é mediar Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Edu-
a relação de conhecimento que o aluno trava com os ob- cação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar,
jetos de conhecimento e consigo mesmo, para a cons- entendendo o cuidado como algo indissociável do pro-
trução de sua aprendizagem. O papel do ensino é possi- cesso educativo. Nesse contexto, as creches e pré-esco-
bilitar que o aluno desenvolva suas próprias capacidades las, ao acolher as vivências e os conhecimentos construí-
para que ele mesmo realize as tarefas de aprendizagem dos pelas crianças no ambiente da família e no contexto
e chegue a um resultado. de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas
Em resumo, atitude socioconstrutivista significa en- pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de
tender que a aprendizagem é resultado da relação ativa experiências, conhecimentos e habilidades dessas crian-
sujeito-objeto, sendo que a ação do sujeito sobre o obje- ças, diversificando e consolidando novas aprendizagens,
to é socialmente mediada. Implica, portanto, o papel do atuando de maneira complementar à educação familiar –
professor enquanto portador de conhecimentos elabo- especialmente quando se trata da educação dos bebês e
rados socialmente, e interações sociais entre os alunos. A das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens
sala de aula é o lugar compartilhamento e troca de sig- muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar),
nificados entre o professor e os alunos e entre os alunos. como a socialização, a autonomia e a comunicação.
É o local da interlocução, de levantamento de questões, Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens
dúvidas, de desenvolver a capacidade da argumentação, e o desenvolvimento das crianças, a prática do diálogo
do confronto de ideias. É o lugar onde, com a ajuda in- e o compartilhamento de responsabilidades entre a ins-
dispensável do professor, o aluno aprende autonomia de tituição de Educação Infantil e a família são essenciais.
pensamento. Este é o ponto mais importante de uma ati- Além disso, a instituição precisa conhecer e trabalhar
tude socioconstrutivista. com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/diver-
sidade cultural das famílias e da comunidade.
Fonte: LIBÂNEO, José Carlos. Didática: Velhos e novos As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação In-
temas, 2002. fantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009)27, em seu
Artigo 4º, definem a criança como sujeito histórico e de
A expressão educação “pré-escolar”, utilizada no Brasil direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas
até a década de 1980, expressava o entendimento de que
que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva,
a Educação Infantil era uma etapa anterior, independente
brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, expe-
e preparatória para a escolarização, que só teria seu come-
rimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a na-
ço no Ensino Fundamental. Situava-se, portanto, fora da
tureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009).
educação formal.
Ainda de acordo com as DCNEI, em seu Artigo 9º, os
Com a Constituição Federal de 1988, o atendimento
eixos estruturantes das práticas pedagógicas dessa eta-
em creche e pré-escola às crianças de zero a 6 anos de
pa da Educação Básica são as interações e a brincadei-
idade torna-se dever do Estado. Posteriormente, com a
promulgação da LDB, em 1996, a Educação Infantil passa ra, experiências nas quais as crianças podem construir e
a ser parte integrante da Educação Básica, situando-se apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e
no mesmo patamar que o Ensino Fundamental e o Ensi- interações com seus pares e com os adultos, o que pos-
no Médio. E a partir da modificação introduzida na LDB sibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização.
em 2006, que antecipou o acesso ao Ensino Fundamental A interação durante o brincar caracteriza o cotidia-
no da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para os 6 anos de idade, a Educação Infantil passa a aten-


der a faixa etária de zero a 5 anos. e potenciais para o desenvolvimento integral das crian-
Entretanto, embora reconhecida como direito de to- ças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as
das as crianças e dever do Estado, a Educação Infantil crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por
passa a ser obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustra-
apenas com a Emenda Constitucional nº 59/200926, que ções, a resolução de conflitos e a regulação das emoções.
determina a obrigatoriedade da Educação Básica dos 4 Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas
aos 17 anos. Essa extensão da obrigatoriedade é incluída pedagógicas e as competências gerais da Educação Bá-
na LDB em 2013, consagrando plenamente a obrigatorie- sica propostas pela BNCC, seis direitos de aprendizagem
dade de matrícula de todas as crianças de 4 e 5 anos em e desenvolvimento asseguram, na Educação Infantil, as
instituições de Educação Infantil. condições para que as crianças aprendam em situações

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nas quais possam desempenhar um papel ativo em am- brincadeiras, nas experimentações com materiais variados,
bientes que as convidem a vivenciar desafios e a senti- na aproximação com a literatura e no encontro com as
rem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam cons- pessoas.
truir significados sobre si, os outros e o mundo social e Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, or-
natural. ganizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das prá-
ticas e interações, garantindo a pluralidade de situações
DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVI- que promovam o desenvolvimento pleno das crianças.
MENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas
quanto as aprendizagens das crianças, realizando a ob-
• Conviver com outras crianças e adultos, em peque- servação da trajetória de cada criança e de todo o grupo
nos e grandes grupos, utilizando diferentes lingua- – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendiza-
gens, ampliando o conhecimento de si e do outro, gens. Por meio de diversos registros, feitos em diferentes
o respeito em relação à cultura e às diferenças en- momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças
tre as pessoas. (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e tex-
• Brincar cotidianamente de diversas formas, em dife- tos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante
rentes espaços e tempos, com diferentes parceiros o período observado, sem intenção de seleção, promo-
(crianças e adultos), ampliando e diversificando seu ção ou classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”,
acesso a produções culturais, seus conhecimentos, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Tra-
sua imaginação, sua criatividade, suas experiências ta-se de reunir elementos para reorganizar tempos, espa-
emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cog- ços e situações que garantam os direitos de aprendizagem
nitivas, sociais e relacionais. de todas as crianças.
• Participar ativamente, com adultos e outras crian-
ças, tanto do planejamento da gestão da escola OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS
e das atividades propostas pelo educador quanto
Considerando que, na Educação Infantil, as aprendiza-
da realização das atividades da vida cotidiana, tais
gens e o desenvolvimento das crianças têm como eixos
como a escolha das brincadeiras, dos materiais e
estruturantes as interações e a brincadeira, assegurando-
dos ambientes, desenvolvendo diferentes lingua-
-lhes os direitos de conviver, brincar, participar, explorar,
gens e elaborando conhecimentos, decidindo e se
expressar-se e conhecer-se, a organização curricular da
posicionando.
Educação Infantil na BNCC está estruturada em cinco cam-
• Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas,
pos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os
cores, palavras, emoções, transformações, relacio-
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Os cam-
namentos, histórias, objetos, elementos da nature- pos de experiências constituem um arranjo curricular que
za, na escola e fora dela, ampliando seus saberes acolhe as situações e as experiências concretas da vida co-
sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as tidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos
artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural.
• Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, A definição e a denominação dos campos de experiên-
suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, cias também se baseiam no que dispõem as DCNEI em
hipóteses, descobertas, opiniões, questionamen- relação aos saberes e conhecimentos fundamentais a ser
tos, por meio de diferentes linguagens. propiciados às crianças e associados às suas experiências.
• Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, so- Considerando esses saberes e conhecimentos, os campos
cial e cultural, constituindo uma imagem positiva de experiências em que se organiza a BNCC são: O eu, o
de si e de seus grupos de pertencimento, nas di- outro e o nós – É na interação com os pares e com adultos
versas experiências de cuidados, interações, brin- que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir,
cadeiras e linguagens vivenciadas na instituição sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros mo-
escolar e em seu contexto familiar e comunitário. dos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista.
Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na
Essa concepção de criança como ser que observa, família, na instituição escolar, na coletividade), constroem
questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros,
assimila valores e que constrói conhecimentos e se apro- diferenciando-se e, simultaneamente, identificando- se
pria do conhecimento sistematizado por meio da ação e como seres individuais e sociais. Ao mesmo tempo que
nas interações com o mundo físico e social não deve resul- participam de relações sociais e de cuidados pessoais, as
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tar no confinamento dessas aprendizagens a um processo crianças constroem sua autonomia e senso de autocuida-
de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, do, de reciprocidade e de interdependência com o meio.
impõe a necessidade de imprimir intencionalidade educa- Por sua vez, na Educação Infantil, é preciso criar opor-
tiva às práticas pedagógicas na Educação Infantil, tanto na tunidades para que as crianças entrem em contato com
creche quanto na pré-escola. outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida,
Essa intencionalidade consiste na organização e pro- diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais
posição, pelo educador, de experiências que permitam às e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas
crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e com- experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a
preender as relações com a natureza, com a cultura e com si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar
a produção científica, que se traduzem nas práticas de cui- os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem
dados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas como seres humanos.

9
Corpo, gestos e movimentos – Com o corpo (por meio recursos de expressão e de compreensão, apropriando-se
dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou inten- da língua materna – que se torna, pouco a pouco, seu veí-
cionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde culo privilegiado de interação.
cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu Na Educação Infantil, é importante promover experiên-
entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e cias nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencia-
produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o lizando sua participação na cultura oral, pois é na escuta
universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, de histórias, na participação em conversas, nas descrições,
conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e
linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brinca- nas implicações com as múltiplas linguagens que a criança
deiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam se constitui ativamente como sujeito singular e pertencen-
no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As te a um grupo social.
crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com re-
de seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identifi- lação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a leitura de
cam suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo, textos, ao observar os muitos textos que circulam no con-
ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o texto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo
que pode ser um risco à sua integridade física. sua concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes
Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha cen- usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portado-
tralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas res. Na Educação Infantil, a imersão na cultura escrita deve
pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a eman- partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que
cipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a deixam transparecer. As experiências com a literatura infan-
instituição escolar precisa promover oportunidades ricas til, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as
para que as crianças possam, sempre animadas pelo espí- crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela
rito lúdico e na interação com seus pares, explorar e viven- leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhe-
ciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, cimento de mundo.
sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados mo-
Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas,
dos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como
poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros,
sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, cami-
com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre
nhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, esca-
ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escri-
lar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.).
ta e as formas corretas de manipulação de livros. Nesse
Traços, sons, cores e formas – Conviver com diferentes
convívio com textos escritos, as crianças vão construindo
manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e uni-
hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em
versais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às
rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo le-
crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar
diversas formas de expressão e linguagens, como as ar- tras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já
tes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), indicativas da compreensão da escrita como sistema de
a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. representação da língua. Espaços, tempos, quantidades,
Com base nessas experiências, elas se expressam por vá- relações e transformações – As crianças vivem inseridas
rias linguagens, criando suas próprias produções artísticas em espaços e tempos de diferentes dimensões, em um
ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) mundo constituído de fenômenos naturais e sociocultu-
com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, rais.
canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos Desde muito pequenas, elas procuram se situar em di-
materiais e de recursos tecnológicos. versos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e
Essas experiências contribuem para que, desde muito noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também
pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e críti- curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os
co, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realida- fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as trans-
de que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa pro- formações da natureza, os diferentes tipos de materiais
mover a participação das crianças em tempos e espaços e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo
para a produção, manifestação e apreciação artística, de sociocultural (as relações de parentesco e sociais entre as
modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da pessoas que conhece; como vivem e em que trabalham
criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitin- essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a di-
do que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, versidade entre elas etc.).
Além disso, nessas experiências e em muitas outras,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar


repertórios e interpretar suas experiências e vivências ar- as crianças também se deparam, frequentemente, com
tísticas. conhecimentos matemáticos (contagem, ordenação, re-
Escuta, fala, pensamento e imaginação – Desde o nas- lações entre quantidades, dimensões, medidas, compara-
cimento, as crianças participam de situações comunicati- ção de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias,
vas cotidianas com as pessoas com as quais interagem. As reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e
primeiras formas de interação do bebê são os movimen- reconhecimento de numerais cardinais e ordinais etc.) que
tos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o igualmente aguçam a curiosidade.
choro e outros recursos vocais, que ganham sentido com Portanto, a Educação Infantil precisa promover expe-
a interpretação do outro. Progressivamente, as crianças riências nas quais as crianças possam fazer observações,
vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e demais manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, le-

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vantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a
instituição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e
sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano.

OS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

Na Educação Infantil, as aprendizagens essenciais compreendem tanto comportamentos, habilidades e conhecimen-


tos quanto vivências que promovem aprendizagem e desenvolvimento nos diversos campos de experiências, sempre to-
mando as interações e a brincadeira como eixos estruturantes. Essas aprendizagens, portanto, constituem-se como objeti-
vos de aprendizagem e desenvolvimento. Reconhecendo as especificidades dos diferentes grupos etários que constituem
a etapa da Educação Infantil, os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento estão sequencialmente organizados em
três grupos por faixa etária, que correspondem, aproximadamente, às possibilidades de aprendizagem e às características
do desenvolvimento das crianças, conforme indicado na figura a seguir.
Todavia, esses grupos não podem ser considerados de forma rígida, já que há diferenças de ritmo na aprendizagem e
no desenvolvimento das crianças que precisam ser consideradas na prática pedagógica.

CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “O EU, O OUTRO E O NÓS”

CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS” CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS”

CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO”

CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES”


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

A transição entre essas duas etapas da Educação Básica requer muita atenção, para que haja equilíbrio entre as
mudanças introduzidas, garantindo integração e continuidade dos processos de aprendizagens das crianças, respeitan-
do suas singularidades e as diferentes relações que elas estabelecem com os conhecimentos, assim como a natureza
das mediações de cada etapa. Torna-se necessário estabelecer estratégias de acolhimento e adaptação tanto para as
crianças quanto para os docentes, de modo que a nova etapa se construa com base no que a criança sabe e é capaz de
fazer, em uma perspectiva de continuidade de seu percurso educativo.
Para isso, as informações contidas em relatórios, portfólios ou outros registros que evidenciem os processos viven-
ciados pelas crianças ao longo de sua trajetória na Educação Infantil podem contribuir para a compreensão da história
de vida escolar de cada aluno do Ensino Fundamental. Conversas ou visitas e troca de materiais entre os professores
das escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental – Anos Iniciais também são importantes para facilitar a inser-
ção das crianças nessa nova etapa da vida escolar. Além disso, para que as crianças superem com sucesso os desafios
da transição, é indispensável um equilíbrio entre as mudanças introduzidas, a continuidade das aprendizagens e o
acolhimento afetivo, de modo que a nova etapa se construa com base no que os educandos sabem e são capazes de
fazer, evitando a fragmentação e a descontinuidade do trabalho pedagógico.
Nessa direção, considerando os direitos e os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, apresenta-se a síntese
das aprendizagens esperadas em cada campo de experiências. Essa síntese deve ser compreendida como elemento
balizador e indicativo de objetivos a ser explorados em todo o segmento da Educação Infantil, e que serão ampliados
e aprofundados no Ensino Fundamental, e não como condição ou pré-requisito para o acesso ao Ensino Fundamental.

PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM

Nascemos com uma tendência nata para a aprendizagem, iniciamos nosso processo de aprendizagem bem cedo,
aprendemos mamar, falar, pensar e muitas outras coisas. Por volta de três anos já somos seres curiosos, capazes de
construir as primeiras hipóteses.
A aprendizagem é a construção do conhecimento são processos naturais e espontâneos na nossa espécie e se cer-
tamente não estão ocorrendo, é porque existe uma razão, pois uma lei da natureza está sendo contrariada.
A aprendizagem escolar deve ser natural, espontânea e até mesmo prazerosa.
Os problemas de aprendizagem referem-se a duas situações: a criança normal e a criança com desvio do quadro
normal.
Segundo J. Paz podemos considerar o problema de aprendizagem como um sintoma, não aprender não é um
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

quadro permanente, mas uma constelação de comportamentos, dos quais podemos destacar como sinal de descom-
pensação.
Dificuldade de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de desordens, manifes-
tadas por dificuldades na aquisição e no uso da audição, da fala, da leitura, da escrita, do raciocínio ou das habilidades
matemáticas. Segundo Terezinha Nunes (2000), problemas de controle de comportamento, percepção e interação
social podem coexistir.
“é importante não se confundir dificuldade de aprendizagem com fracasso escolar, que embora tenham semelhan-
ças na forma de se manifestarem, pertencem a categorias diferentes”.

Existem inúmeros fatores que podem desencadear um problema ou distúrbio de aprendizagem:


- Fatores orgânicos: saúde física deficiente, falta de integridade neurológica, alimentação inadequada.

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- Fatores psicológicos: inibição, ansiedade, angústia. As dificuldades de aprendizagem não-verbais são as
- Fatores ambientais: educação familiar, grau de esti- que a criança apresenta para autoperceber-se, perceber
mulação, influência dos meios. seu mundo e relacionar-se com outras pessoas, embora
tenham inteligência normal ou superior à média e não
“muitas crianças são identificadas quando não reali- apresentam nenhum transtorno emocional (Johnson C.
zam o que se espera de uma programação de ensino. Myklebust,1987). Nowicki C Duki (1996),cunharam o ter-
Seja porque ficam presas a mecanismos que tentam re- mo dissemia para se referirem a este tipo de dificuldade,
produzir sem êxito, seja porque faltam-lhes mecanismos citando:
para se expressarem.” “dissemia: dificuldade para utilizar e entender sinais e
Correll e Schwarz relacionam as formas de dificulda- sinalização não-verbais.”
des que podem ocorrer no processo de aprendizagem, Se há um problema na aprendizagem escolar deve-se
de acordo com vários aspectos: Dificuldades de aprendi- identificar a causa, combatê-la e tratá-la com intervenção
zagem condicionadas pela escola: especializada.
- as condicionadas pelo professor; Existe hoje uma área do conhecimento que se dedica
- as condicionadas pela relação professor-aluno; exclusivamente ao estudo dos distúrbios da aprendiza-
- as condicionadas pela relação entre os alunos; gem e com os diversos elementos envolvidos nesse pro-
- as condicionadas pelos métodos didáticos. cesso.
Essa área é conhecida como psicopedagogia e bus-
Dificuldades de aprendizagem condicionadas pela si- ca na psicologia, na psicanalise, na psicolingüística, na
tuação familiar. Distúrbios de aprendizagem condiciona- pedagogia, na neurologia e outros os conhecimentos
dos por características da personalidade da criança. necessários para a compreensão do processo de apren-
Dificuldades de aprendizagem condicionadas por di- dizagem.
ficuldades de educação. Ao educador cabe detectar as dificuldades que apa-
As dificuldades de aprendizagem mais reconhecida, recem na sala de aula e investigar as causas de forma
ampla, que abranja os aspectos orgânicos, neurológicos,
dizem respeito ao desempenho escolar e são represen-
mentais, psicológicos, adicionados às problemáticas que
tadas pelas dificuldades de indivíduos com inteligência
a criança vive. Isso facilita o encaminhamento a um dos
normal ou acima da média, apresentam em reter ou ex-
especialistas citados acima, que têm condições de orien-
pressar informações recebidas. São divididas em verbais
tar este professor a lidar com o aluno.
e não-verbais.
Na educação brasileira, a proposta é dar a oportuni-
As dificuldades de aprendizagem verbais são relacio-
dade de aprender tanto quanto sua capacidade permitir,
nadas à dificuldade para adquirir processos simbólicos
no entanto, os alunos que apresentam distúrbios ou pro-
de leitura, escrita e matemática. Em relação à leitura en- blemas de aprendizagem não conseguem acompanhar
contramos a dislexia e a hiperlexia. o currículo, e porque fracassam, são classificados como
A dislexia deve ser entendida como um transtorno es- retardados mentais ou como alunos fracos e multirrepe-
pecifico em processar as informações procedentes da lin- tentes. São crianças que precisam de um atendimento
guagem escrita, embora a inteligência do individuo seja especializado e o sistema brasileiro de educação não tem
normal e o potencial de aprendizagem esteja adequado lugar para essas crianças.
a sua idade cronológica. Segundo Nicásio Garcia (1997). As escolas deveriam ter um setor de orientação edu-
“a dislexia é definida devido à presença de um déficit cacional, psicológica e pedagógica para atender os alu-
no desenvolvimento do raciocínio do reconhecimento e nos com dificuldades provocadas pela própria escola ou
compreensão dos textos escritos.” professores.
A dislexia pode ser dividida em dislexia da lingua- Os professores deveriam ser orientados na adequa-
gem interior, onde a função de significação não é atingi- ção do programa, na elaboração de métodos a serem
da (“criança repetidora de palavras”), e dislexia auditiva, aplicados e na forma de atender as crianças com proble-
onde o que é afetado é a auditoração dos grafemas, os mas de aprendizagem.
processos cognitivo que relaciona os grafemas às formas “a educação especial ainda é uma utopia na realidade
de dislexia visual, onde a dificuldade é a discriminação brasileira. Somente as classes sociais mais privilegiadas
das letras: tamanhos, formas, ângulos, etc. conseguem educar crianças com dificuldades de apren-
Mas há controvérsias sobre suas causas, conforme dizagem.”
Peter Bryant: Na escola pública, o professor deve contar com seus
“as causas da dislexia ainda são controvertidas, mas já próprios conhecimentos, e ao perceber qualquer distúr-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

existem algumas direções claras para o atendimento das bio, solicitar ajuda da família para que juntos possam aju-
crianças com dificuldade de aprendizagem.” dar a criança a superar suas dificuldades.
Já a hiperlexia diz respeito às crianças que apresen- Em relação à integração desses alunos podemos dizer
tam uma habilidade precoce para reconhecer palavras que existem muitos preconceitos em torno desta ques-
escritas embora não compreendam seu significado. Se- tão que impedem a compreensão de pais e professores,
gundo Baurouski (1995) e Kupperman (1995). quanto os benefícios que a integração escolar de defi-
“para melhor compreensão das características da cientes pode oferecer aos alunos em geral.
criança hiperléxica, é a habilidade precoce de leitura”. A crença é de que o ensino decrescerá em qualidade
Existem ainda, a dificuldade de aprendizagem escrita, e que tanto os alunos normais com os deficientes se-
disgrafia e disortografia e a discalculia (matemática). rão prejudicados com essa inovação escolar. A intenção
é substituir gradativamente um ensino especializado em

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alguns alunos “ensino especial”, por um ensino especia- a necessidade de explicar ao leitor alguns aspectos mais
lizado “no aluno”, em outras palavras, possibilitar a in- gerais de suas ideias, remetendo-o posteriormente aos
tegração de alunos com déficit intelectuais em salas de textos originais. Ao lado de Freud, o trabalho de Piaget
aula de o ensino regular. representa hoje o que de mais importante se produziu
Temos que ter condições favoráveis à integração es- no século XX no campo da Psicologia do desenvolvimen-
colar de pessoas com DGD no ensino regular, desde a to infantil, embora, a rigor, Piaget não possa ser qualifi-
concepção dos objetivos curriculares, à avaliação de de- cado como psicólogo do desenvolvimento.
sempenho dos alunos.
Precisamos capacitar professores para solicitar o
desenvolvimento dos alunos deficientes e normais em FIQUE ATENTO!
todos os seus aspectos, o professor precisa atuar peda-
gogicamente num modo que beneficie todos os alunos. Neste texto dar-se-á ênfase especial à des-
A adesão dos pais à causa. Os conhecimentos e as mo- crição e caracterização dos estágios no de-
dificações introduzidas na escola tem que ser no meio, senvolvimento intelectual, uma vez que a sua
considerando as dimensões locais da atividade cogniti- identificação no comportamento da criança
va individual, (aprendizagem empírica – conhecimentos pode orientar o educador no planejamento e
pragmáticos e particularizados). oferecimento de estímulos ambientais a esse
Precisam oferecer aos professores condições de com- desenvolvimento.
preenderem a construção da inteligência, as situações
particulares de aprendizagem.
Tem-se que exigir valorização do “saber fazer”. É ne- Um primeiro aspecto geral que merece ser explicita-
cessário se ter um compromisso com o desenvolvimento
do refere-se à concepção de conhecimento proposta por
global de todos alunos, sejam normais e portadores de
Piaget. Um dos pontos fundamentais desta concepção
déficits intelectuais.
diz respeite ao sentido atribuído por Piaget à palavra
Temos que abrir novos caminhos para educação es-
“conhecer”: organizar, estruturar e explicar o mundo em
colar, estimulando a capacidade criativa dos alunos, pois
que vivemos — incluindo o meio físico, as ideias, os va-
são importantes para novos conhecimentos.
lores, as relações humanas, a cultura de um modo mais
Os professores têm que estarem mais atentos ao fun-
amplo — a partir do vivido ou experienciado. Se, para
cionamento psicológico dos alunos e ao desenvolvimen-
to intelectual. Piaget, o conhecimento se produz a partir da ação do
Precisa-se modernizar os instrumentos didáticos pe- sujeito sobre o meio em que vive, só se constitui com a
dagógicos. É preciso quebrar a reprodução a repetição, estruturação da experiência que lhe permite atribuir sig-
sensibilizar a comunidade escolar para uma integração, nificação. A significação é o resultado da possibilidade
pois os profissionais temem os desafios da integração. de assimilação. Conhecer significa, pois, inserir o objeto
Tem que fazer um redimensionamento e redefinição da num sistema de relações, a partir de ações executadas
clientela das instituições especializadas no sentido de se sobre esse objeto.
dedicarem exclusivamente aos deficientes severos e não
escolarizáveis. Segundo Clarice Nunes (1996) A pergunta fundamental, que Piaget formulou pela
“a integração deveria substituir gradativamente um primeira vez aos 15 anos de idade (em 1911), orientou
ensino especial especializado em alguns alunos”, por um suas pesquisas ao longo de toda a sua vida: como o ser
ensino especializado no geral, em outras palavras, possi- vivo con segue adaptar-se ao meio ambiente? A partir
bilitar a integração de alunos com déficit intelectuais em dessa pergunta liga, rapidamente, o problema da adapta-
salas de aula do ensino regular.” ção biológica ao problema do conhecimento, chegando
Em qualquer um doa problemas acima citados é ne- a duas de suas ideia centrais. A primeira é que a adapta-
cessário que haja uma profunda integração entre a es- ção biológica de todo organismo vivo, assim como toda
cola, professores e pais para que não se generalize as conquista intelectual, se faz através da assimilação de um
dificuldades em prender que os alunos possuem e para dado exterior, no sentido de transformação. O conheci-
que se tenha a orientação e cuidado para cada caso. mento não é uma cópia, mas uma integração em uma
estrutura mental preexistente que, ao mesmo tempo,
Visite: https://pedagogiaaopedaletra.com/dificulda- vai ser mais ou menos modificada por esta integração.
des-de-aprendizagem-2/ A segunda ideia central é que os fatores normativos do
pensamento correspondem às relações, às necessidades
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de equilíbrio que se observam no plano biológico.


FATORES FÍSICOS, PSÍQUICOS E SOCIAIS. Para Piaget o conhecimento é fruto das trocas entre o
organismo e o meio. Essas trocas são responsáveis pela
construção da própria capacidade de conhecer. Produ-
Conceitos básicos do desenvolvimento zem estruturas mentais que, sendo orgânicas não estão,
entretanto, programadas no genoma, mas aparecem
Apresentar a teoria de Piaget num texto introdutó- como resultado das solicitações do meio ao organismo.
rio é tarefa especialmente difícil. A complexidade desta A alteração organismo-meio ocorre através do que
abordagem teórica, diretamente relacionada à riqueza Piaget chama processo de adaptação, com seus dois as-
da produção piagetiana e à natureza do temário abor- pectos complementares: a assimilação e a acomodação.
dado pelas pesquisas e reflexões desse autor, apontam O conceito de adaptação surge, inicialmente, na obra de

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Piaget com o sentido que lhe é dado na Biologia clássica, 2º) um estádio corresponde a uma estrutura de con-
lembrando um fluxo irreversível; vai se explicitando em junto que se caracteriza por suas leis de totalidade
momentos posteriores de sua obra, quando adquire o e não pela justaposição de propriedades estranhas
sentido de equilíbrio progressivo (equilíbrio majorante); umas às outras;
finalmente, adquire o sentido de um processo dialético 3º) um estádio compreende, ao mesmo tempo, um ní-
através do qual o indivíduo desenvolve as suas funções vel de preparação e um nível de acabamento;
mentais, ao qual denomina “abstração reflexiva”. Esta 4º) é preciso distinguir, em uma sequência de estádios,
adaptação do ser humano ao meio ambiente se realiza o processo de formação ou génese e as formas de
através da ação, elemento central da teoria piagetiana, equilíbrio final.
indicando o centro do processo que transforma a relação
com o objeto em conhecimento. Com estes critérios Piaget distinguiu quatro grandes
Ao tentar se adaptar ao meio ambiente o indivíduo períodos no desenvolvimento das estruturas cognitivas,
utiliza dois processos fundamentais que compõem o intimamente relacionados ao desenvolvimento da afeti-
sistema cognitivo a nível de seu funcionamento: a as- vidade e da socialização da criança: estádio da inteligên-
similação ou a incorporação de um elemento exterior cia sensório-motora (até, aproximadamente, os 2 anos);
(objeto, acontecimento etc), num esquema sensório- estádio da inteligência simbólica ou pré-operatória (2
-motor ou conceituai do sujeito e a acomodação, quer a 7-8 anos); estádio da inteligência operatória concreta
dizer, a necessidade em que a assimilação se encontra (7-8 a 11-12 anos); e estádio da inteligência formal (a
de considerar as particularidades próprias dos elementos partir, aproximadamente, dos 12 anos).
a assimilar. No sistema cognitivo do sujeito esses pro- O desenvolvimento por estádios sucessivos realiza
cessos estão normalmente em equilíbrio. A perturbação em cada um desses estádios um “patamar de equilíbrio”
desse equilíbrio gera um conflito ou uma lacuna dian- constituindo-se em “degraus” em direção ao equilíbrio
te do objeto ou evento, o que dispara mecanismos de final: assim que o equilíbrio é atingido num ponto a es-
equilibração. A partir de tais perturbações produzem-se trutura é integra da em novo equilíbrio em formação. Os
construções compensatórias que buscam novo equilí- diversos estádios ou etapas surgem, portanto, como con-
brio, melhor do que o anterior. Nas sucessivas desequi- sequência das sucessivas equilibrações de um processo
librações e reequilibrações o conhecimento exógeno é que se desenvolve no decorrer do desenvolvimento. Se-
complementado pelas construções endógenas, que são guem o itinerário equivalente a um “creodo” (sequência
incorporadas ao sistema cognitivo do sujeito. Nesse pro- necessária de desenvolvimento) e su põem uma duração
cesso, que Piaget denomina processo de equilibração, se adequada para a construção das competências cogniti-
constroem as estruturas cognitivas que o sujeito empre- vas que os caracterizam, sendo que cada estádio resulta
ga na compreensão dos objetos, fatos e acontecimentos, necessariamente do anterior e prepara a integração do
levando ao progresso na construção do conhecimento. seguinte. O “creodo” é, então, o caminho a ser percor-
rido na construção da inteligência humana, que vai do
Os Estádios no Desenvolvimento Cognitivo período sensório-motor (0-2 anos) aos Períodos simbó-
lico ou pré-operatório (2-7 anos), lógico-concreto (7-12
A capacidade de organizar e estruturar a experiência anos) e formal (12 anos em diante). É preciso esclarecer
vivida vem da própria atividade das estruturas mentais que os estádios indicam as possibilidades do ser humano
que funcionam seriando, ordenando, classificando, esta- (sujeito epistêmico), não dizendo respeito aos indivíduos
belecendo relações. Há um isomorfismo entre a forma (sujeitos psicológicos) em si mesmos. A concretização ou
pela qual a criança organiza a sua experiência e a lógica realização dessas possibilidades dependerá do meio no
de classes e relações. Os diferentes níveis de expressão qual a criança se desenvolve, uma vez que a capacidade
dessa lógica são o resultado do funcionamento das es- de conhecer é resultado das trocas do organismo com
truturas mentais em diferentes momentos de sua cons- o meio. Da mesma forma, essa capacidade de conhecer
trução. Tal funcionamento, explicitado na atividade das depende, também, da organização afetiva, uma vez que
estruturas dinâmicas, produz, no nível estrutural, o que a afetividade e a cognição estão sempre presentes em
Piaget denomina os “estádios” de desenvolvimento cog- toda a adaptação humana.
nitivo. Os estádios expressam as etapas pelas quais se dá
a construção do mundo pela criança. O estádio da inteligência sensório-motora (0 a 2
Para que se possa falar em estádio nos termos pro- anos)
postos por Piaget, é necessário, em primeiro lugar, que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a ordem das aquisições seja constante. Trata-se de uma O período sensório-motor é de fundamental impor-
ordem sucessiva e não apenas cronológica, que depende tância para o desenvolvimento cognitivo. Suas realiza-
da experiência do sujeito e não apenas de sua matura- ções formam a base de todos os processos cognitivos do
ção ou do meio social. Além desse critério, Piaget propõe indivíduo. Os esquemas sensório-motores são as primei-
outras exigências básicas para caracterizar estádios no ras formas de pensamento e expressão; são padrões de
desenvolvimento cognitivo: comportamento que podem ser aplicados a diferentes
1º) todo estágio tem de ser integrador, ou seja, as es- objetos em diferentes contextos. A evolução cognitiva da
truturas elaboradas em determinada etapa devem criança nesse período pode ser descrita em seis subes-
tornar-se parte integrante das estruturas das etapas tádios nos quais estabelecem-se as bases para a cons-
seguintes; trução das principais categorias do conhecimento que

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possibilitam ao ser humano organizar a sua experiência etc. — ainda não são coordenados entre si, portanto,
na construção do mundo: objeto, espaço, causalidade e são heterogéneos. A criança parece considerar o mundo
tempo. como um conjunto de quadros que aparecem e desapa-
recem. O tempo é simples duração sentida no decorrer
Subestádio I: o exercício dos Reflexos (até 1 mês) da ação própria.
Neste subestádio das primeiras adaptações adquiri-
Os primeiros esquemas do recém-nascido são esque- das as condutas observadas ainda não são inteligentes
mas reflexos: ações espontâneas que surgem automati- no seu ver dadeiro sentido. Elas fazem a transição entre o
camente em presença de certos estímulos. Nas primeiras orgânico e o intelectual, preparando a inteligência.
vezes que se manifestam os esquemas reflexos apresen-
tam uma organização quase idêntica. A estimulação de III: as adaptações sensório-motoras intencionais e as
qualquer ponto de zona bucal do bebé, por exemplo, Reações circulares secundárias (4 meses e meio a 8-9 me-
desencadeia imediatamente o esquema reflexo de suc- ses)
ção; uma estimulação da palma da mão provoca, auto- A terceira etapa desse período caracteriza-se pelo
maticamente, a reação reflexa de preensão. Os esquemas surgi mento das reações circulares secundárias voltadas
reflexos caracterizam a atividade cognitiva da criança no para os objetos. Pode-se defini-las como movimentos
seu primeiro mês de vida. centralizados sobre um resultado produzido no am-
biente exterior, com o único propósito de manter esse
II: as primeiras adaptações adquiridas e a Reação cir- resultado. Após ter aplicado as reações circulares sobre
cular primária (1 mês a 4 meses e meio) o corpo próprio, a criança vai, pouco a pouco, utilizan-
No transcorrer dos intercâmbios da criança com o do esse procedimento sobre os objetos exteriores. Vai,
meio ambiente logo os esquemas reflexos vão mostrar então, elaborando o que Piaget chama de reações cir-
certos desajustes, exigindo transformações. O que pro- culares secundárias, que marcam a passagem entre a
voca tais desajustes são as resistências encontradas na atividade reflexa e a atividade propriamente inteligente.
assimilação dos objetos ao conjunto de ações. Estes de- Pela primeira vez aparece um elemento de previsão de
sajustes vão ser compensados por uma acomodação do acontecimentos. A reação circular só começa quando um
esquema. Correspondem a uma perda momentânea de efeito casual, provocado pela ação da criança, é perce-
equilíbrio dos esquemas-reflexos. Os reajustes que pos- bido como resultado desta ação. Por isso, se até então
sibilitam o êxito consistem na obtenção momentânea de tudo era para ser visto, escutado, tateado, agora tudo é
um novo equilíbrio. para ser sacudido, balançado, esfregado etc, conforme as
É através desse jogo de assimilação e acomodação, diversas diferenciações dos esquemas manuais e visuais.
de desequilíbrios e reequilíbrios, que os esquemas re- Os esquemas secundários são o primeiro esboço do
flexos passam por um processo de diferenciação possi- que serão as classes ou os conceitos da inteligência refle-
bilitando a construção de novos esquemas adaptados a tida do jovem adulto. Apreender um objeto como sendo
novas classes de situações e objetos que vão caracterizar para sacudir, esfregar etc, é o equivalente funcional da
o início do segundo subestádio. Estes novos esquemas já operação de classificação do pensamento conceptual.
não são apenas esquemas reflexos, uma vez que resul- Paralelamente a esta construção, constitui-se a conser-
tam de uma construção. São os esquemas de ação: novas vação do objeto permanente. Nesse período as crianças
organizações de ações que se conservam através das si- têm as primeiras antecipações de movimentos relaciona-
tuações e objetos aos quais se aplicam. Simultaneamente dos à trajetória de um objeto e já conseguem distingui-
a esse processo de diferenciação dos esquemas reflexos -lo quando semioculto. Mas o objeto existe apenas em
iniciais há, também, um processo de co ordenação dos ligação com a ação própria. O mundo é, portanto, um
esquemas disponíveis que dá origem, igual mente, a mundo de quadros cuja permanência é mais longa, mun-
novos esquemas. A coordenação entre os esquemas de do que a criança procura fazer durar mais longa mente,
olhar e pegar é um exemplo de um novo esquema desse mas que se desvanece como antes.
tipo que será seguido por muitos outros de complexida- No terreno espacial a criança mostra-se capaz de per-
de crescente nas etapas seguintes: apanhar o que vê e ceber, de modo prático, um conjunto de relações cen-
levar à boca, apanhar o que vê para esfregar na grade do tralizadas em si própria (grupos subjetivos). A visão e a
berço e explorar o ruído que isso provoca etc. preensão já estão coordenadas. Começa a formar-se a
No decurso do segundo mês surgem duas novas noção de sucessão e há o início de consciência de “antes”
condutas típicas do início desse período: a protusão da e o “depois” embora, para a criança dessa fase, o tempo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

língua e a sucção do polegar, que caracterizam a reação das coisas seja apenas a aplicação a estas do tempo pró-
circular primária na qual o resultado interessante desco- prio: o “antes” e o “depois” são relativos à sua própria
berto por acaso é conservado por repetição. A reação ação. Há, também, alguma apreciação da causalidade,
circular primária refere-se a procedimentos aplicados ao em ligação com as ações imediatas da criança, na procu-
próprio corpo da criança. ra das causas de acontecimentos e percepções inespera-
Esta é a fase em que as ações ou operações de des- dos. A causalidade é experimentada como resultado da
locamento da criança são realizadas mediante “grupos própria ação.
práticos”, através da coordenação motora, sem dar ori-
gem ainda à representação mental. A ação é que cria o IV: a coordenação dos esquemas secundários e sua
espaço, a criança não tem consciência dele. Os espaços aplicação Às situações novas (8-9 Meses A 11-12 Meses)
criados pela ação — oral, visual, tátil, postural, auditivo

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A principal novidade do quarto subestádio é a bus- jeto, para atraí-lo em sua direção); e a conduta do bastão
ca, pela criança, de um fim não imediatamente atingí- (utilização de um bastão como instrumento intermediá-
vel através da coordenação de esquemas secundários. A rio para alcançar um objeto distante, fora do campo de
coordenação de esquemas observa-se no fato da criança preensão da criança).
se propor a atingir um objetivo não diretamente acessí- Quanto à construção do objeto, há busca de objetos
vel pondo em ação, nessa intenção, esquemas até então ocultos atrás de um anteparo, apesar da procura sempre
relativos a outras situações. Há uma dissociação entre os recair no primeiro anteparo usado para esconder o obje-
meios e os fins e uma coordenação intencional dos es- to. Mas a criança considera os deslocamentos sucessivos
quemas. Já é possível, também, a imitação de respostas do objeto, passando a buscá-lo na posição resultante
que a criança não vê em si mesma. do último deslocamento. Há, portanto, a descoberta da
A subordinação dos meios aos fins já é observada na atuação sobre os objetos por meio de intermediários e
atividade lúdica da criança. Quanto à construção do ob- se inicia o reconheci mento de que os objetos podem
jeto, há a busca de objetos ocultos atrás de anteparos, causar fenômenos independentemente de sua ação, bem
apesar da procura sempre recair sobre o primeiro ante- como o domínio sobre objetos que foram ocultos sob
paro usado para esconder o objeto. A criança é capaz, anteparos.
por exemplo, de esconder um objeto sob um anteparo e A criança leva em conta relações espaciais, conse-
depois retirá-lo novamente; mas, se o objeto escondido guindo fazer grupos espaciais objetivos; ela agora está
for deslocado para outra posição, ela ainda o procura- interessada não mais apenas em sua ação, mas, sobre-
rá na primeira posição. Há portanto, a busca do objeto tudo, no objeto. Adquire a noção de deslocamento dos
desaparecido, porém, sem con siderar a sucessão dos objetos em relação uns aos outros por contato direto.
deslocamentos visíveis. A permanência do objeto ainda é Mas, apesar de perceber as relações espaciais entre as
subjetiva, isto é, ligada à própria ação da criança. coisas, ainda não consegue representa-las na ausência
Ao lidar com as relações espaciais a criança se encon- do contato direto: ela só considera os deslocamentos
tra numa situação intermediária aos grupos subjetivos e realizados dentro do seu campo perceptivo. Começa a
objetivos examinando a constância dos objetos. O mes- ter percepção de certa sucessão no tempo e memória
mo ocorre em relação à causalidade: a criança aplica os mais prolongada de uma sequência de deslocamentos.
meios conhecidos às situações novas e começa a atribuir O tempo agora engloba sujeito e objeto, constituindo-se
aos objetos e às pessoas uma atividade própria, o que o elo contínuo e sistemático que une os acontecimentos
indica a transição entre a causalidade mágico-fenome- do mundo exterior uns aos outros. A causalidade é ob-
nista (que caracteriza o subperíodo anterior) e a causali- jetiva sobre os objetos e as pessoas e situada no quadro
dade objetiva. Ela deixa de considerar suas ações como espaço-temporal.
única fonte de causalidade e considera o corpo de outra
pessoa como um centro autónomo de atividade causal VI: a invenção dos meios novos por combinação men-
apreciando o arranjo espacial necessário para a ação tal e a Representação (1 Ano E Meio A 2 Anos)
bem-sucedida. O tempo também começa a se aplicar aos Neste subestádio ocorre a transição entre a inteligên-
aconteci mentos independentes do sujeito e a constituir cia sensório-motora e a inteligência representativa, que
séries objetivas. Este é, portanto, um subestádio de tran- começa em torno dos dois anos, com o aparecimento da
sição, no qual a eficiência da ação da criança ainda está função simbólica. A novidade, em relação ao subperíodo
marcada pelas características da ação própria. anterior é que as invenções já não se efetuam de modo
prático, mas passam ao nível mental. A criança começa a
V: a Reação circular terciária e a descoberta dos meios ser capaz de representar o mundo exterior mentalmen-
novos por experimentação ativa (11-12 Meses A 18 Meses) te em imagens, memórias e símbolos, que é capaz de
Na quinta etapa a atividade imitativa apresenta a imi- combinar sem o auxílio de outras ações físicas. Na ativi-
tação deliberada e a atividade lúdica apresenta a reação dade lúdica ela é capaz de “fingir”, “fazer de conta”, fazer
circular terciária, na qual a criança explora objetos desco- “como se”: é o “símbolo motivado”. Invenção e represen-
nhecidos por todos os meios que conhece: pegar, levan- tação seguem juntas, anunciando a passagem a um nível
tar, soltar, sacudir e repetições destes esquemas. superior. A invenção aparece como uma acomodação
Este é o subestádio da elaboração do objeto e se ca- mental brusca do conjunto de esquemas à situação nova,
racteriza pela experimentação e pela busca da novidade. diferenciando os esquemas de acordo com a situação.
O efeito novo não é apenas reprodução, mas é modifi- O objeto agora já está definitivamente constituído: há
cado a fim de observar a sua natureza: são as chamadas a representação dos deslocamentos invisíveis de objetos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

“experiências para ver”. A reação circular aparece como ocultos, que procura a partir da ideia de sua permanên-
um esforço para captar as novidades em si mesmas. A cia. Igualmente, procura causas que não percebeu: sendo
descoberta dos meios novos por experimentação ativa capaz de representar os objetos ausentes, pode recons-
explicita-se em condutas que indicam as formas mais tituir causas em presença de seus efeitos, sem percepção
elevadas de atividade intelectual da criança, antes do dessas causas. Assim, ela pode prever os efeitos futuros
aparecimento da inteligência sistemática. São exemplos do objeto percebido, que é capaz de representar. As re-
característicos desta atividade: a conduta dos suportes lações do antes e do depois se constituem a partir da
(a criança descobre a possibilidade de atrair para si um evocação dos objetos ou das situações ausentes: a crian-
objeto afastado puxando a seu encontro o suporte sobre ça é capaz de situá-las num tempo representativo que
o qual está colocado); a conduta do barbante (a criança engloba a si mesma e ao mundo. A representação mental
puxa para si um barbante ao qual está amarrado um ob- estende o tempo a acontecimentos lembrados.

18
Em resumo, nestes dois primeiros anos de vida a pelo pensamento da criança neste estádio. Seu raciocínio
criança se desenvolve no sentido de uma descentração procede por analogias, por transdução, uma vez que lhe
progressiva. No início está num estado de confusão total, falta a generalidade de um verdadeiro raciocínio lógico.
possuindo apenas seus reflexos hereditários. É a partir O advento da capacidade de representação vai possi-
de sua tomada de contato com o mundo exterior que bilitar o desenvolvimento da função simbólica, principal
ela vai desenvolver condutas de adaptação: seus refle- aquisição deste período, que assume as suas diferentes
xos transformam-se em hábitos, depois, pouco a pouco, formas — a linguagem, a imitação diferida, a imagem
os processos de acomodação e assimilação levam-na a mental, o desenho, o jogo simbólico — compreendidas
estabelecer com o mundo relações de objetividade e, ao como diferentes meios de expressão daquela função.
mesmo tempo, a construir sua própria subjetividade. Os Para Piaget a passagem da inteligência sensório-mo-
três primeiros subestádios são de elaboração: a criança tora para a inteligência representativa se realiza pela imi-
assimila o real a si própria. No terceiro já se percebe uma tação. Imitar, no sentido estrito, significa reproduzir um
transição, na qual ocorre a dissociação para, no quarto modelo. Já presente no estádio sensório-motor, a imita-
subestádio, vermos a criança oscilar entre a descentrali- ção só vai se interiorizar no sexto subestádio, quando a
zação objetiva que termina com o sexto subestádio, pela criança pode praticar o “faz-de-conta”, agir “como se”,
representação. No estádio sensório-motor o instrumento por imitação deferida ou imitação interiorizada. Interio-
principal de apoio e de constituição de si mesma e do rizando-se a imitação, as imagens elaboram-se e tor-
mundo é a percepção, pela qual a criança estabelece re- nam-se substitutos dos objetos dados à percepção. O
lações diretamente com o mundo exterior. A partir des- significante é, então, dissociado do significado, tornando
te estádio essas relações com o mundo serão mediadas possível a elaboração do pensamento representativo.
pela função simbólica, no plano das representações. A inteligência tem acesso, então, ao nível da represen-
tação, pela interiorização da imitação (que, por sua vez, é
Até o final do segundo ano de vida, uma observação favorecida pela instalação da função simbólica). A criança
cuidadosa do comportamento da criança revela a exis- tem acesso, dessa forma, à linguagem e ao pensamento.
tência de um grande número de esquemas de ação dife- Ela pode elaborar, igualmente, imagens que lhe permitem,
renciados. Esses esquemas vão se combinando entre si e de certa forma, transportar o mundo para a sua cabeça.
se coordenando, traduzindo o aparecimento das primei- Entre 2 e 5 anos, aproximadamente, a criança adquire
ras estruturas intelectuais equilibradas, que permitem à a linguagem e forma, de alguma maneira, um sistema de
criança a estruturação espaço-temporal e causal da ação imagens. Entretanto, a palavra não tem ainda, para ela, o
valor de um conceito; ela evoca uma realidade particular
prática. A criança construiu um universo estável onde os
ou seu correspondente imagístico. Tendo que reconstruir
movimentos do próprio corpo e dos objetos exteriores
o mundo no plano representativo, ela o reconstrói a par-
estão organizados em um todo presidido por leis (leis
tir de si mesma. O egocentrismo intelectual está no auge
dos “grupos de deslocamento”). O aparecimento da fun-
no decurso dessa etapa. A dominação do pensamento
ção simbólica, por volta do final do segundo ano tem,
por imagens encerra a criança em si mesma.
entre outras consequências, a de possibilitar que os es-
quemas de ação, característicos da inteligência sensório-
O pensamento imagístico egocêntrico, característico
-motora, possam transformar-se em esquemas represen- des ta fase, pode ser observado no jogo simbólico, no
tativos, ou seja, esquemas de ação interiorizados. Esses qual a criança transforma o real ao sabor das necessida-
esquemas interiorizados desempenham a mesma função des e dos desejos do momento. O real é transformado
que os esquemas de ação do período sensório motor: pelo pensamento simbólico, na medida em que o jogo se
atribuir significação à realidade. desenvolve, ao sabor das exigências do desejo expresso
no e pelo jogo. É por isso que Piaget considera o jogo
O estádio pré-operatório ou simbólico (2 a 6-7 anos) simbólico como o egocentrismo no estado puro.
Um pensamento assim dominado pelo simbolismo
O período pré-operatório realiza a transição entre a essencialmente particular, pessoal e, por isso, incomuni-
inteligência propriamente sensório-motora e a inteligên- cável, não é um pensamento socializado. Ele não repousa
cia representativa. Essa passagem não ocorre através de em conceitos, mas no que Piaget chama pré-conceitos,
mutação brusca, mas de transformações lentas e suces- que são particulares, no sentido em que evocam realida-
sivas. Ao atingir o pensamento representativo a criança des particulares, tendo seu correlato imagístico ou sim-
precisa re construir o objeto, o tempo, o espaço, as ca- bólico próprio à experiência, de cada criança.
tegorias lógicas de classes e relações nesse novo plano Entre os 5 e 7 anos, período geralmente chamado de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da representação. Tal reconstrução estende-se dos dois “intuitivo”, ocorre uma evolução que leva a criança, pou-
aos doze anos, abrangendo os estádios pré-operatório e co a pouco, à maior generalidade. Seu pensamento ago-
operatório concreto. ra repousa sobre configurações representativas de con-
A primeira etapa dessa reconstrução, que Piaget de- junto mais amplas, mas ainda está dominado por elas.
nomina período pré-operatório, é dominada pela repre- A intuição é uma espécie de ação realizada em pensa-
sentação simbólica. A criança não pensa, no sentido es- mento e vista mental mente: transvasar, encaixar, seriar,
trito desse termo, mas ela vê mentalmente o que evoca. deslocar etc. ainda são esquemas de ação aos quais a
O mundo para ela não se organiza em categorias lógi- representação assimila o real. Mas a, intuição é, também,
cas gerais, mas distribui-se em elementos particulares, por outro lado, um pensamento imagístico, versando so-
individuais, em relação com sua experiência pessoal. O bre configurações de conjunto e não mais sobre simples
egocentrismo intelectual é a principal forma assumida coleções sincréticas, como no período anterior.

19
O pensamento da criança entre dois e sete anos é ras lógico-matemáticas da lógica e da matemática, que
dominado pela representação imagística de caráter sim- prolongam, em nível superior, a lógica natural do lógico
bólico. A criança trata as imagens como verdadeiros e do matemático.
substitutos do objeto e pensa efetuando relações entre
imagens. A criança é capaz de, em vez de agir em atos Os Fatores do desenvolvimento e o processo de
sobre os objetos, agir mentalmente sobre seu substituto equilibração
ou imagem, que ela no meia. Proveniente da interiori-
zação da imitação, a representação simbólica possui o Para compreender melhor a resposta de Piaget ao
caráter estático da imitação, motivo pelo qual versa, es- problema do desenvolvimento do pensamento racional
sencialmente, sobre as configurações, por oposição às é preciso explicitar os fatores considerados por ele como
transformações. Com a instalação das estruturas opera- responsáveis por tal desenvolvimento. Podem-se identi-
tórias do período seguinte, a imagem vai ser subordina- ficar quatro fatores gerais do desenvolvimento das fun-
da às operações. Na passagem da ação sensório-motora ções cognitivas, cuja responsabilidade nesse processo é,
para a representação, pela imitação, é possível apreender entretanto, variável.
melhor as ligações entre as operações e a ação, tornan- O primeiro fator a considerar é a maturação nervo-
do mais compreensível a origem de certos distúrbios dos sa. A maturação abre possibilidades, aparecendo como
processos figurativos: espaço, tempo, esquema corporal condição necessária para o desenvolvimento de certas
etc. condutas. Entretanto, não é sua condição suficiente. Não
se sabe, sequer, das condições específicas de maturação
O estádio operatório concreto (7 a 11-12 anos) que tornam possível a constituição das estruturas ope-
ratórias da inteligência. Além disso, se é certo que o cé-
Por volta dos sete anos a atividade cognitiva da crian- rebro contém conexões hereditárias, ele contém sempre
ça torna-se operatória, com a aquisição da reversibilidade um número crescente de conexões, a maioria das quais
lógica. A reversibilidade aparece como uma propriedade adquirida pelo exercício e reforça da pelo funcionamen-
das ações da criança, suscetíveis de se exercerem em to. Portanto, a maturação é um fator necessário na géne-
pensa mento ou interiormente. O domínio da reversibi- se, mas não se sabe exatamente qual o seu papel além da
lidade no plano da representação — a capacidade de se abertura de possibilidades.
representar uma ação e a ação inversa ou recíproca que a Um segundo fator é o do exercício e da experiência
anula — ajuda na construção de novos invariantes cogni- adquirida na ação sobre os objetos e acontecimentos. A
tivos, desta vez de natureza representativa: conservação experiência comporta dois polos diferentes: a experiên-
de comprimento, de distâncias, de quantidades discretas cia física (que consiste em agir sobre os objetos para abs-
e contínuas, de quantidades físicas (peso, substância, vo- trair suas propriedades) e a experiência lógico matemá-
lume etc). O equilíbrio das trocas cognitivas entre a crian- tica (agir sobre os objetos para conhecer o resultado da
ça e a realidade, característico das estruturas operatórias, coordenação das ações). O exercício implica a presença
é muito mais rico e variado, mais estável, mais sólido e de objetos sobre os quais a ação é exercida, mas não im-
mais aberto quanto ao seu alcance do que o equilíbrio plica necessariamente que todo conhecimento seja ex-
traído destes objetos. O exercício tem um efeito positivo
próprio às estruturas da inteligência sensório-motora.
na consolidação, quer dos reflexos quer das operações
intelectuais, que podem ser aplica das a objetos; ele rela-
O estádio das operações Formais (11 a 15-16 anos)
ciona-se mais com as estruturas de pendentes da ativida-
de do sujeito do que com um aumento do conhecimento
Tanto as operações como as estruturas que se cons-
do ambiente externo.
troem até aproximadamente os onze anos, são de na-
tureza concreta; permanecem ligadas indissoluvelmente
Quanto à experiência propriamente dita, no sentido
à ação da criança sobre os objetos. Entre os 11 e os 15-
de aquisição de conhecimento novo através da manipu-
16 anos, aproximada mente, as operações se desligam lação dos objetos, é preciso considerar os dois aspec-
progressivamente do plano da manipulação concreta. tos indicados des ta experiência — a experiência física
Como resultado da experiência lógico matemática, o e a experiência lógico--matemática — que expressam
adolescente consegue agrupar representações de repre- a complexidade desse fator. Ela envolve, pois, sempre
sentações em estruturas equilibradas (ocorrendo, por- dois polos: aquisições derivadas dos objetos e atividades
tanto, uma nova mudança na natureza dos esquemas) e construtivas do sujeito. Mesmo a experiência física nunca
tem acesso a um raciocínio hipotético-dedutivo. Agora,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

é pura; ela implica sempre um quadro lógico-matemáti-


poderá chegar a conclusões a partir de hipóteses, sem co que a organiza. A experiência física é uma estrutura-
ter necessidade de observação e manipulação reais. Esta ção ativa e assimiladora a quadros lógico-matemáticos.
possibilidade de operar com operações caracteriza o Portanto, nesse sentido, a elaboração das estruturas lógi-
período das operações formais, com o aparecimento de co-matemáticas precede o conhecimento físico.
novas estruturas intelectuais e, consequentemente, de O terceiro fator é o das interações e das transmissões
novos invariantes cognitivos. A mudança de estrutura, a sociais. A linguagem é, inegavelmente, um fator de de-
possibilidade de encontrar formas novas e originais de senvolvimento, embora não seja sua fonte. Para poder
organizar os esquemas não termina nesse período, mas assimilar a linguagem e, especificamente, as estruturas
continua se pro cessando em nível superior. As estruturas lógicas que ela veicula, são necessários instrumentos de
operatórias formais são o ponto de partida das estrutu- assimilação adequados, que lhe são anteriores na géne-

20
se. A socialização começa pelas condutas, mas a socia- O papel da interação no desenvolvimento da
lização do pensamento só se torna possível quando as criança e na construção do conhecimento
estruturas de reversibilidade estão adquiridas. Assim, a
reciprocidade nas trocas só aparece em torno dos oito Para Piaget, a interação apresenta-se como o principal
anos. Um terceiro aspecto das interações e transmissões elemento estimulador do desenvolvimento intelectual. A
sociais é constituído pela educação, cuja ação versa so- concepção construtivista do conhecimento, postulada
bre inúmeros fatores e assume varia das formas. No que por Piaget, tem como ponto central o fato de que o ato
se refere às transmissões escolares (aprendizagem), elas de conhecimento consiste em apropriação progressiva
só são possíveis e eficazes se se apoiarem sobre estrutu- do objeto pelo sujeito; de tal maneira que a assimilação
ras já presentes e se contribuírem, tanto para reforçá-las do objeto às estruturas do sujeito é indissociável da aco-
pelo exercício, quanto para favorecer o seu desenvolvi- modação destas últimas às características próprias do
mento. De todo modo, para assimilar é preciso ter desen- objeto. O caráter construtivo do conhecimento se refere
volvido estruturas de assimilação. tanto ao sujeito que conhece quanto ao objeto conhe-
Aos três fatores indicados, que explicitam três con- cido; ambos aparecem como resulta do de um processo
dições do desenvolvimento representados pela herança, permanente de construção. O construtivismo subjacente
o meio e o funcionamento, é preciso, entretanto, acres- à teoria piagetiana supõe a adoção de uma perspectiva
centar uma terceira característica essencial dos sistemas ao mesmo tempo relativista — o conheci mento é sem-
vivos, que é a autorregulação, chamada por Piaget de pre relativo a um momento determinado do processo de
fator de equilibração. É a autorregulação que explica a construção — e interacionista — o conhecimento surge
evolução e define o estado mesmo do vital. da interação contínua entre o sujeito e o objeto ou, mais
precisamente, da interação entre os esquemas de assimi-
Embora não se possam identificar os órgãos men- lação do sujeito e as propriedades do objeto.
tais com os órgãos físicos, é possível estabelecer uma Essa concepção tem como principal consequência a
correspondência entre os fatores responsáveis pelo de- afirmação de que o ser humano — criança, adulto ou
senvolvimento morfogenético e aqueles que entram no adolescente — constrói seu próprio conhecimento atra-
desenvolvimento psicológico. Assim, à noção de herança vés da ação. A natureza da atividade necessária a essa
ou estrutura pré-construída corresponde a de matura- construção vai de pender, evidentemente, da natureza
ção orgânica que em bora não dependa apenas de pro- do conhecimento que se pretende seja construído. A in-
gramação hereditária desempenha, em relação ao com- teração com objetos vai facilitar o desenvolvimento do
portamento, o mesmo papel de fator preliminar que os conhecimento — tanto físico como lógico-matemático
gens em relação à epigênese. Ao fator funcionamento — que diz respeito aos objetos, suas propriedades e as
corresponde o de atividade e ao meio físico se acrescen- relações que se estabelecem entre eles. Entretanto, o co-
tam as transmissões sociais e culturais. Estes três fatores, nhecimento de natureza social e afetiva só pode se de-
entretanto, só podem operar de forma coordenada, e senvolver a partir da interação com pessoas. Este aspecto
é essa a função do quarto fator — a autorregulação ou
do desenvolvimento da criança é tratado por Piaget es-
equilibração — que também é fundamental no caso do
pecialmente num texto de 1932, O Julgamento Moral na
desenvolvimento psicológico.
Criança, que serviu de ponto de partida para muitas pes-
A equilibração é, pois, o processo pelo qual se for-
quisas e trabalhos teóricos sobre o assunto. Nesse texto,
mam as estruturas cognitivas e constitui, em última aná-
Piaget mostra como a interação que se estabelece entre
lise, a ex pressão da lei funcional que afirma a atuação
as crianças vai tornar possível o desenvolvimento de re-
das estruturas. É esse fator interno do desenvolvimento,
lações cooperativas no plano social, correspondendo às
espécie de dinâmica, de processo que conduz, por de-
sequilíbrios e reconstruções, a estados de estruturações relações de coordenação de perspectivas do pensamen-
superiores o fator determinante do progresso no desen- to operatório no plano do desenvolvimento intelectual.
volvimento cognitivo. Isso significa que, além de possibilitar o desenvolvimento
Se a perspectiva de Piaget sobre o desenvolvimen- afetivo e social, as interações entre as crianças consti-
to mental é a do conhecimento, e como só pode haver tuem um fator fundamental para o seu desenvolvimento
conhecimento por parte do indivíduo que conhece, é cognitivo.
preciso partir da perspectiva do sujeito e tentar identi-
ficar que estruturas ele põe em ação para constituir o Fonte
saber. Inicialmente vemos um ser estruturado por seus CAVICCHIA, D. de C. O desenvolvimento da criança
componentes hereditários, que se adapta assimilando-se nos primeiros anos de vida. Disponível em:
http://www.acervodigital.unesp.br/bits-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e acomodando-se e, fazendo isso, vai modificando suas


estruturas de assimilação para melhor assimilar, num cír- tream/123456789/224/1/01d11t01.pdf
culo sem-fim, cujo movimento vai alargando o processo
numa espécie de espiral. Este processo ex pressa o que
Piaget indicou, ao afirmar que não há génese sem estru-
tura nem estrutura sem génese. Se a inteligência, como
instrumento de adaptação, é pensada em termos de
equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, o resul-
tado disso é o conhecimento, meio que possui a mente
humana para se adaptar. Assim, se o sujeito constitui o
objeto, ele se constitui ao se reconstituir de volta.

21
cial, melhora de valores éticos e morais, desbloqueando
sua timidez, além de descobrir suas habilidades através
EXERCÍCIO COMENTADO da ludicidade, aumentando com isso sua capacidade
mental de raciocínio. O brincar implica uma dimensão
1. (Prefeitura Municipal de Sarzedo/MG- Educador evolutiva. Crianças de diferentes idades, com característi-
Infantil de Creche- Reis & Reis/2018) “As crianças en- cas específicas tem formas diferentes de brincar”3.
contram-se em uma fase de vida em que dependem in- Constatou-se na sociedade uma mudança no estilo
tensamente do adulto para sua sobrevivência” (MACHA- de vida cultural das crianças dentro de seu cotidiano e
DO, 2001). Precisam, portanto, ser cuidadas e educadas, como consequência vem diminuindo as práticas de ativi-
o que implica em, EXCETO: dades físicas e lúdicas que ocorriam com mais frequência
antigamente, e como resultado vem diminuindo todos os
a) ser auxiliadas nas atividades que não puderem realizar benefícios que esses movimento proporcionavam.
sozinhas; Esta pesquisa de origem bibliográfica tem como ob-
b) ser atendidas em suas necessidades básicas físicas e jetivo apresentar o que a recreação pode contribuir para
psicológicas; o desenvolvimento da criança através do lúdico já que é
c) não ser preciso oferecer apoio para as crianças em uma medida pouco utilizada como recurso pedagógico.
suas iniciativas espontâneas; Embora haja pouco estudo comprovado em relação
d) ter atenção especial por parte do adulto em momen- à ligação entre a recreação, o desenvolvimento infantil e
tos peculiares de sua vida. seu comportamento, isto tem sido bastante observado
por investigadores de diversos tipos de comportamento
Resposta: Letra C. Sempre é preciso apoiar e incenti- dos humanos, com foco nas crianças. Pesquisas recentes
var as iniciativas espontâneas da criança pois são elas demonstram interesses na relação entre as atividades lú-
que devem servir de base para o desenvolvimento das dicas e o aspecto de desenvolvimento cognitivo, afetivo,
demais atividades, ao se trabalhar em educação infan- motor e social.
til deve-se sempre considerar os interesses das crian- A ludicidade como ferramenta pedagógica é extre-
ças e também sua realidade imediata para que assim mamente valiosa, uma vez que traz inúmeros benefícios
o desenvolvimento seja significativo. para o desenvolvimento da criança, por estimular a crian-
ça a crescer na linha de socialização, aumentando sua
criatividade, expressão corporal, a auto-afirmarão e par-
ticipação no processo de aprendizagem. Afirma que em
RECREAÇÃO: ATIVIDADES RECREATIVAS. se tratando de contribuir com a educação do indivíduo,
APRENDIZAGEM: LEITURA E ESCRITA a recreação tem uma função compensadora pois lhe dá
uma satisfação pessoal, possibilitando o reencontro com
os movimentos, com alegria, à descontração necessária
A educação traz com ela muitos desafios a serem tra- à vida, na qual não temos mais tempo pra pensar, pra rir
balhados. Quando se pensa em educação imagina o ser ou sonhar, então, vamos nos recrear, divertir, recobrar o
em sua totalidade, gestos e preferências. ânimo com a recreação4.
Os educadores almejam alunos que queiram mais Durante o curso de licenciatura em Educação Física
aprendizagem, porém isso não acontece, já que o que en- das várias disciplinas cursadas, houve grande identifica-
contramos são alunos desestimulados para executar algu- ção com a Recreação, vindo daí a motivação para a abor-
mas atividades escolares inclusive nas aulas de educação dagem do tema.
física. Após leituras diversificadas a respeito da ludicidade,
Nas escolas percebe-se a preocupação em ensinar várias reflexões e questionamentos afloraram entre eles.
todo o conteúdo proposto, imaginando assim que quan- A Recreação contribui para o desenvolvimento infantil?
to mais conhecimento transmitir ao aluno, mais ele irá se Baseando nesta questão que norteou o estudo, elaborou
desenvolver, mas sabe se que isso não é verdade, já que se o objetivo geral que foi verificar se a ludicidade bene-
os alunos só assimilam as coisas quando fazem sentidos ficia o desenvolvimento infantil.
a eles.
As crianças por serem naturalmente lúdicas, ao prati- Metodologia
car atividades recreativas explorando a si mesma e o am-
biente ao seu redor, expande suas emoções organizando A produção desse trabalho acadêmico, foi realiza-
assim a relação ao seu redor.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da com o método de pesquisa bibliográfica. Trata se de


As atividades físicas das moderadas as mais agitadas um levantamento de toda uma bibliografia já publica-
são comuns no cotidiano das crianças e na educação físi- das em forma de livros, revistas, publicações avulsas em
ca escolar. Essas atividades podem ser decisivas no pro- imprensa escrita [documentos eletrônicos]. Isso porque
cesso de formação do desenvolvimento e aprendizagem a pesquisa bibliográfica tem por objetivo conhecer as
infantil. O desenvolvimento da criança acontece através diferentes contribuições científicas disponíveis sobre de-
do lúdico1. Ela precisa do brincar para crescer, precisa do terminado tema5. Este tipo de pesquisa, levanta conhe-
jogo como equilibração para o mundo2. cimentos disponíveis na área, possibilitando que o pes-
Os gestos lúdicos encontrados nas atividades recrea- quisador conheça as teorias produzidas, analisando- as
tivas permitem à criança a capacidade de se adaptar a e avaliando sua contribuição para compreender ou ex-
novos desafios, aumentando sua integração física e so- plicar o seu problema objeto de investigação6. As fontes

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para pesquisas foram nove artigos científicos, seis mono- nas tarefas e desenvolve muitas habilidades como equi-
grafias, sites e quatro livros que como referencial teórico líbrio, propriocepção, confiança, lealdade, força, atenção,
trouxeram grandes contribuições como de Cavallari, Frei- agilidade em tomar decisões e principalmente adquirir
re, Martinez, Mello, Nogueira, Piaget, Vygotsky, Zacarias bons hábitos na convivência social que é de grande im-
entre outros autores que enfatizavam a importância da portância na fase infantil, já que ao criar as atividades é im-
recreação para desenvolvimento infantil. Os termos mais portante estar atento ao objetivo, respeitando cada etapa e
significativos foram ludicidade, interação, aprendizagem interferindo quando necessário e ressaltando que as crian-
e desenvolvimento motor. Este estudo é parte integrante ças façam observações e explorações para melhor desco-
do trabalho de conclusão do curso de Educação Física da berta privilegiando com isso a aprendizagem. São justa-
Universidade Castelo Branco. mente as regras que fazem com que a criança se comporte
de forma mais avançada do habitual para sua idade11.
Resultados e discussões
Sendo assim a recreação tem grande influência não
Os autores mais relevantes sobre o tema tiveram só na infância, mas em todas as fases da vida, sendo es-
suas definições expostas no quadro abaixo a respeito sencial que haja esse momento de lazer. As atividades
da atividade recreativa no desenvolvimento infantil, po- devem ser espontâneas trazendo prazer em executá-las,
rém o foco abordado por todos foi a ludicidade que tem pois a mesma traz grande benefício na aprendizagem.
como objetivo o divertimento, alegria e lazer trazendo Para a criança, brincar é viver. A própria história da hu-
com ela a aprendizagem. Contudo, que foi observado na manidade nos mostra que as crianças sempre brincaram,
definição de recreação na visão de alguns autores, outras brincam hoje e certamente continuarão brincando12.
atribuições específicas como desenvolvimento cognitivo,
afetivo, motor e social dentre outros foram citadas. São muitos aspectos a serem desenvolvidos através
A recreação é importante não só na infância, mas em da recreação, sendo considerado como principais a inte-
todas as fases da vida. Essas atividades devem ser espon- gração do indivíduo no meio social, conhecimento mútuo
tâneas, prazerosa. De tudo que foi pesquisado percebe e participação em grupo independente da afinidade, fa-
se a influência da atividade recreativa no aprendizado zendo com que o sujeito desenvolva maior relação inter-
infantil já que é um momento voltado para o lazer, sa- pessoal, deixando o ser mais desinibido fazendo com de
tisfação, alegria fazendo com que as crianças adquiram descubram e desenvolvam sua comunicação, habilidade
conhecimentos de forma lúdica. lúdica, adaptação emocional e extravase sua energia con-
A respeito do tema proposto, pode se verificar opi- tida aumentando com isso sua capacidade intelectual.
niões posta de forma diferente, que por fim acabam no
mesmo sentido, como a respeito da recreação que vem Ao falar da recreação como fator educacional, em
do latim recreare  e significa “criar novamente” no sen- relação às instituições escolares de um modo geral veri-
tido positivo, ascendente e dinâmico 7. É um momento fica se que lúdico não é tão valorizado, ou seja, quer di-
onde o indivíduo sacia seus anseios voltados para o lazer. zer que na concepção dela, esta atividade é considerada
Como complemento desse conceito, pode dizer que a como algo improdutiva, que não traz lucro e não produz
recreação contempla um conjunto de atividades de ca- nenhum valor. Porém novas concepções vem se forman-
ráter lúdico e recreativo, que se destinam a promover o do para transformar a criança num ser globalmente de-
entretenimento e o divertimento 8. senvolvido, ou seja, um ser mental afetivo e social.
A recreação vai além da ludicidade, extravaso, satis-
fação e prazer de fazer alguma atividade motivadora. Re- Há uma grande diferença entre uma aula e um mo-
crear é educar, pois a recreação permite criar e satisfazer mento de recreação durante a aula, pois na aula estará
o espírito estético do ser humano, ricos em possibilidades sempre o objetivo cultural e formativo, enquanto a re-
culturais, permite escapar do desagradável, utilizando creação, tem como apenas o fato de recrear. Neste caso,
excesso de energia ou diminuindo tensão emocional 9. o espírito é muito mais lúdico, realizando atividades sim-
A recreação também contribui na formação motora ples em busca do prazer e diversão13.
e possibilita expressar sentimentos além de desenvolver
também o lado cognitivo. Como forma de enriquecimento para o desenvol-
Recreação significa satisfação e alegria naquilo que vimento da criança no momento da recreação, através
faz. Retrata uma atividade que é livre e espontânea e na desta atividade ocorre a evolução. Por saber que o brin-
qual o interesse se mantém por si só, sem nenhuma coa- car é a principal atividade da criança, quando ela não
ção interna ou externa de forma obrigatória ou opresso- está dedicada a uma atividade que seja muito necessá-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ra, afora e prazer10. rio como se alimentar, dormir e outros. Todas as crianças
brincam se não estão cansadas, doentes ou impedidas14.
Por tanto através da recreação pode-se haver diver-
timento e aprendizagem podendo essa prática também Alguns autores afirmam que o brincar tem um papel
ser utilizada dentro da sala de aula. importante, inclusive sinalizando quando a criança tem
algum tipo de problema motor, cognitivo dentre outros.
A recreação trás inúmeros benefícios, fazendo com Assim, o lúdico transforma-se em uma das formas mais
que todos participem com grande satisfação de ativida- importante do comportamento humano, desde o nasci-
des, sem melindre e com muita criatividade independen- mento até a morte. É absolutamente essencial a sobrevi-
te dos recursos disponíveis, além de permitir que haja vência e a estruturação o processo do desenvolvimento
aprendizagem com as pessoas que estejam envolvidas humano15.

23
O fato de brincar tem grande valor na infância, já que isso estimula criando possibilidade para o meio social e atra-
vés dessa ludicidade a criança associa a ilusão e sua imaginação com a realidade. As brincadeiras ocorridas na escola
têm que estar sempre buscando alcançar um objetivo, seja para a alfabetização, seja para o repasse de boas maneiras,
ou com quaisquer fins educativos. Isto porque, a brincadeira, em seu todo, é um período de aprendizagem significativa
para a criança, independente de onde ocorra16.

Referindo se aos autores mencionados, as opiniões foram consideradas semelhantes em relação a Recreação, desde
o conceito, até suas diversas possibilidades de desenvolvimentos comportamentais, integrações sociais, dentre outros,
mostrando que a aprendizagem e a atividade recreativa podem seguir o mesmo caminho, beneficiando o desenvolvi-
mento infantil.

Considerações finais
O estudo constatou que a Recreação bem como nas aulas de Educação Física, são muito importantes para um bom
desenvolvimento cognitivo, motor, social, afetivo da crianças,além de ser uma maneira de trabalhar a interação, fazen-
do com que não haja espaço para a exclusão dos menos habilidosos ou que tenham com algum tipo de deficiência, já
que todos podem participar, bastando haver boa vontade do professor e dos alunos, pois tanto adulto quanto a criança
precisa desse momento de prazer, e isso é facilmente encontrado na Recreação que além de aprender, desenvolvendo
outras capacidades, nos divertimos esquecendo nossos problemas, diminuindo stress e tensão do cotidiano. Os jogos
e brincadeiras se tornam um facilitador para que tudo aconteça de forma natural e melhor ainda de forma «lúdica”. É
necessário ter um objetivo a ser trabalhado, para que assim elas se desenvolvam e mostrem seu potencial, não apenas
no «brincar» e sim educando, com essas ferramentas úteis e significativas na vida das crianças fazendo com que o lú-
dico de modo construtiva abre a portas para a melhores amplitudes do conhecimento.

SITE
http://www.efdeportes.com/efd175/recreacao-e-o-desenvolvimento-infantil.htm)

DIDÁTICA: MÉTODOS, TÉCNICAS, RECURSOS E MATERIAL DIDÁTICO


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Conceituando Didática

A palavra didática vem do grego (techné didaktiké), que se pode traduzir como arte ou técnica de ensinar. A didática é a
parte da pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino, destinados a colocar em prática as diretrizes da teoria
pedagógica. A didática estuda os diferentes processos de ensino e aprendizagem. O educador Jan Amos Komenský, mais
conhecido por Comenius, é reconhecido como o pai da didática moderna, e um dos maiores educadores do século XVII.
A palavra “didática” se encontra inserida a uma expressão grega que se traduz por técnica de ensinar. É interessante
conhecer que desde uma perspectiva etimológica a palavra “didática” na sua língua de origem, destacava a realização
lenta de um acionar através do tempo, própria do processo de instruir. O vocábulo didático aparece quando os adultos

24
começam a intervir na atividade de aprendizagem das Após os jesuítas não ocorreram no país grandes mo-
crianças e jovens através da direção deliberada e plane- vimentos pedagógicos, a nova organização instituída por
jada do ensino – aprendizagem. Pombal representou pedagogicamente, um retrocesso
no sistema educativo, pois professores leigos começa-
O termo “didático” aparece somente quando há a ram a ser admitidos para ministrar “aulas-régias”, intro-
intervenção intencional e planejada no processo de en- duzidas pela reforma pombalina.
sino-aprendizagem, deixando de ser assim um ato es- Para Veiga dada a predominância da influência da pe-
pontâneo. dagogia nova na legislação educacional e nos cursos de
A escola se torna assim, um local onde o processo de formação para o magistério, o professor absorveu seu
ensino passa a ser sistematizado, estruturando o ensino ideário.
de acordo com a idade e capacidade de cada criança. O Segundo Libâneo (1994) “um entendimento crítico da
responsável pela “teorização” da didática será Comênio: realidade através do estudo das matérias escolares...”, e
A formação da teoria da didática para investigar as assim os alunos podem expressar de forma elaborada os
ligações entre ensino aprendizagem e suas leis ocorre no conhecimentos que correspondem aos interesses prio-
século XVII, quando João Amós Comênio (1592-1670), ritários da sociedade e inserir-se ativamente nas lutas
um pastor protestante, escreve a primeira obra clássica sociais, ou seja, defender seus ideais de acordo com sua
sobre didática, a Didática Magna (LIBÂNEO, 1994). realidade.
Foi o primeiro educador a formular a ideia da difu- Comênio acreditava poder definir um método capaz
são dos conhecimentos educativos a todos, criou regras de ensinar tudo a todos, ou como ele cita em sua obra “a
e princípios de ensino, desenvolvendo um estudo sobre a arte de ensinar tudo a todos” e esclarece:
didática. Suas ideias eram calcadas na visão ética religiosa, A proa e a popa de nossa Didática será investigar e
mesmo assim eram inovadoras para a época e se contrapu- descobrir o método segundo o qual os professores ensi-
nham ás ideias conservadoras da nobreza e do clero, que nem menos e os estudantes aprendam mais: nas escolas
exerciam uma grande influência naquele período. Algu- haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inú-
mas das principais características da didática de Comênio, til, e, ao contrário, haja mais recolhimentos, mais atrati-
segundo Libâneo (1994) eram de que a educação era um vo e mais sólido progresso; na Cristandade, haja menos
elo que conduzia a felicidade eterna com Deus, portanto, a trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais
educação é um direito natural de todos, a didática deveria ordem, mais paz, mais tranquilidade.
estudar características e métodos de ensino que respeitem De certo modo podemos dizer que a Didática é uma
o desenvolvimento natural do homem, a idade, as percep- ciência cujo objetivo fundamental é ocupar-se das estra-
ções, observações; deveria também ensinar uma coisa de tégias de ensino, das questões práticas relativas à meto-
cada vez, respeitando a compreensão da criança, partindo
dologia e das estratégias de aprendizagem.
do conhecido para o desconhecido.
Ao longo do estudo sobre o processo de ensino na
As ideias de Comênio, infelizmente não obtiveram
escola podemos observar a relação entre o ensino e a
repercussão imediata naquela época (século XVII), o mo-
aprendizagem através da atividade do professor em re-
delo de educação que prevalecia era o ensino intelectua-
lação a do aluno. Desta forma a didática se manifesta no
lista, verbalista e dogmático, os ensinamentos do professor
contexto de se organizar o ensino; de maneira que se
(centro do ensino) eram baseados na repetição mecânica
tracem os objetivos, estipulando os métodos a serem se-
e memorização dos conteúdos, o aluno não deveria parti-
cipar do processo, o ensino separava a vida da realidade. guidos e planejando as ações conjuntas dentro da escola.
Com o passar dos anos e o desenvolvimento da so- Dentro dessa perspectiva percebemos que “a ativida-
ciedade, da ciência e dos meios de produção, o clero e de de ensinar é vista, comumente, como transmissão de
a nobreza foram perdendo aos poucos seus “poderes”, matéria aos alunos, realização de exercícios repetitivos,
enquanto crescia o da burguesia. Essas transformações memorização de definições e fórmulas”. Essa caracteriza-
fizeram crescer a necessidade de um ensino ligado ás ção de ensino é vista em muitas escolas em que o pro-
exigências do mundo atual, que contemplasse o livre de- fessor é o elemento ativo que fala, interpreta e transmite
senvolvimento das capacidades e dos interesses indivi- o conteúdo; levando ao aluno à tarefa de reproduzir me-
duais de cada um. canicamente o que absorveu; o que na visão de Libâneo
Jean Jacques Rousseau (1712–1778) foi um pensador é chamado de “ensino tradicional”.
que percebeu essas novas necessidades e propôs uma Concordamos com o autor quando diz que o pro-
nova concepção de ensino, baseada nos interesses e ne- fessor não proporcionar através desse método o desen-
cessidades imediatas da criança, sendo esse o centro de volvimento individual de conhecimento; com isso é ob-
servável que o livro didático é feito para ser vencido, o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

suas ideias.
Enquanto Comênio, ao seguir as “pegadas da nature- trabalho do professor fica restrito às paredes de sala de
za”, pensava em “domar as paixões das crianças”, Rous- aula, a realidade; assim como o nível e condições que o
seau parte da ideia da bondade natural do homem, cor- aluno é submetido para chegar até o conhecimento não
rompido pela sociedade. são levados em conta.
Veiga diz que “[...] dessa forma não se poderia pen- Nesse contexto a Didática é de extrema importância
sar em uma prática pedagógica, e muito menos em uma para um bom funcionamento e desenvolvimento do tra-
perspectiva transformadora na educação”. A metodolo- balho na escola de forma que ela organiza e planeja as
gia de ensino (didática) era entendida somente como atividades do professor em relação aos alunos visando
um conjunto de regras e normas prescritivas que visam a alcançar seus objetivos, desenvolvimento de habilidades;
orientação do ensino e do estudo. como também hábitos e o conhecimento intelectual.

25
A didática como fator de qualidade no processo Castro, afirma a importância da didática dizendo:
de ensino e aprendizagem Pois é certo que a didática tem uma determinada
contribuição ao campo educacional, que nenhuma ou-
O processo de ensino deve ter como ponto de partida tra disciplina poderá cumprir. E nem a teoria social ou a
o nível de conhecimento, as experiências que proporcio- econômica, nem a cibernética ou a tecnologia do ensino,
nam uma transmissão progressiva das capacidades cog- nem a psicologia aplicada à educação atingem o seu nú-
nitivas como intelectuais; o que liga o ensino à aprendi- cleo central: o Ensino.
zagem. Nesse contexto a história da Didática e a prática A didática é uma disciplina que complementa todas
escolar presente tende a separar os conteúdos de ensino as outras, sendo interdisciplinar, pois será a “a essência”
do desenvolvimento de capacidades e habilidades; con- para que o professor procure a melhor forma de desen-
figuradas também como aspecto material e formal do volver seu método de ensino. Podemos perceber que é
ensino. Desta forma percebemos que o ensino une dois clara a importância da didática na formação docente, no
aspectos pelo fato de que a assimilação de conteúdos entanto, notamos que no desenvolver histórico desta
requer desenvolvimento de capacidades e habilidades profissão, a didática não obteve (e ainda não têm) esta
cognoscitivas. mesma relevância, e quando ministrada só alteava sua
É importante ressaltar que o processo de ensino faz distorção e visão técnica, acentuando a distância entre
a interação entre dois momentos fundamentais: a trans- teoria e prática.
missão e assimilação ativa tanto de conhecimentos quan- A didática é uma disciplina fundamental na formação
to de habilidades. Com isso cabe ao professor a tarefa de do educador, pois, prepararão o futuro professor a estar
ensinar de modo que se tenha organização didática dos capacitado a trabalhar na sala de aula, uma vez que ele
conteúdos que venha a promover condições assimiláveis dominará os conteúdos científicos e práticos, e principal-
de aprendizagem; de forma que ele controle e avalie as mente já estará diante da realidade de sala de aula para
atividades. Nesse sentido, Planejamento de ensino é o poder perceber se o que aprende é realmente válido ou
processo de decisão sobre atuação concreta dos pro- não, e poder questionar e cobrar seus aprendizados em
fessores, no cotidiano de seu trabalho pedagógico, en- sala de aula.
volvendo as ações e situações, em constantes interações
entre professor e alunos e entre os próprios alunos. Prática educativa, Pedagogia e Didática
O professor, portanto, planeja, controla, facilita e
orienta o processo de ensino; de maneira que estimula o O autor começa o tema situando a didática no con-
desenvolvimento de atividades próprias dos alunos para junto dos conhecimentos pedagógicos, demonstrando a
a aprendizagem. fundamental importância do ato de ensinar na formação
Essa interação de acordo com o autor é que promove humana para vivermos em sociedade. Neste capítulo, o
a situação de ensino aprendizagem; ela é denominada autor aborda a prática educativa em sociedade, a dife-
de “aprendizagem organizada” por ter uma finalidade rença entre a educação, instrução e ensino; a educação,
especifica onde as atividades são organizadas intencio- o escolar, pedagogia e didática, e a didática e sua impor-
nalmente, com planejamento e de forma sistemática. Po- tância na formação dos professores.
rém há por outro lado a “aprendizagem casual” definida
como uma forma espontânea que surge naturalmente Prática educativa e sociedade
da interação entre pessoas com o meio; isto é ressaltado
pelo fato de que a observação, experiência e aconteci- Os professores são parte integrante do processo
mentos do cotidiano proporcionam também aprendiza- educativo, sendo importantes para a formação das ge-
gem e que isto deve ser observado pelo professor de
rações e para os padrões de sociedade que buscamos.
forma que se possa utilizar didaticamente.
Neste subtítulo, o autor situa a educação como fenôme-
A aprendizagem escolar também está vinculada com
no social universal determinando o caráter existencial e
a motivação dos alunos tanto para atender necessidades
essencial da mesma. Estuda também os tipos de educa-
orgânicas ou sócias; quanto para atender exigências da
ção, a não intencional, refere-se a influências do contex-
escola, da família e até mesmo dos colegas. Essa aprendi-
to social e do meio ambiente sobre os indivíduos. Já a
zagem resulta da reflexão proporcionada pela percepção
intencional refere-se àquelas que têm objetivos e inten-
prático-sensorial e pelas ações mentais que caracterizam
o pensamento, estes vão sendo formados de acordo com ções definidos. A educação pode ser também, formal ou
a organização lógica e psicológica das matérias de ensi- não-formal, dependendo sempre dos objetivos. A edu-
no, sendo que nos remete a ideia de que o desenvolvi- cação não-formal é aquela realizada fora dos sistemas
educacionais convencionais, e a educação formal é a que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mento escolar é progressivo, ou seja, a aprendizagem é


um processo contínuo de desenvolvimento. acontece nas escolas, agências de instrução e educação
Segundo Libâneo: A didática, assim, oferece uma ou outras.
contribuição indispensável à formação dos professores, Libâneo também relata o papel social da educação
sintetizando no seu conteúdo a contribuição de conhe- e como seus conteúdos objetivos são determinados pe-
cimentos de outras disciplinas que convergem para o las sociedades, política e ideologia predominantes. Fala
esclarecimento dos fatores condicionantes do processo desta relação importante da educação com os processos
de instrução e ensino, intimamente vinculado com a edu- formadores da sociedade “desde o início da historia da
cação e, ao mesmo tempo, provendo os conhecimentos humanidade, os indivíduos e grupos travavam relações
específicos necessários para o exercício das tarefas do- recíprocas diante da necessidade de trabalharem con-
centes. juntamente para garantir sua sobrevivência” (Libâneo,

26
1994, p.19).O autor considera estas influencias como fa- Didática e Democratização do Ensino
tores fundamentais das desigualdades entre os homens,
sendo um traço fundamental desta sociedade. Coloca as Neste capítulo, continua a discussão colocada no ca-
ideologias como valores apresentados pela minoria do- pítulo anterior, sobre a democratização do ensino e a
minante, politizando a prática educativa e demonstrando importância de oferecer este de qualidade e a toda so-
o seu envolvimento com o social. ciedade. Inicia com a colocação que a participação ativa
Ele afirma que escola é o campo específico de atua- na vida social é o objetivo da escola pública, o ensino
ção política do professor, politizando ainda mais o am- é colocado como ações indispensáveis para ocorrer à
biente escolar. instrução. Levanta e responde algumas perguntas envol-
vendo a escolarização, qualidade do ensino do povo e o
Educação, instrução e ensino fracasso escolar, fala também da Ética como compromis-
so profissional e social.
Neste subtítulo, o autor define as três palavras chaves,
suas diferenças e sentidos diversos. A educação que é A Escolarização e as lutas democráticas
apresentada com um conceito amplo, que podemos sin-
tetizar como uma modalidade de influências e inter-rela- Realmente a escolarização é o processo principal para
ções que convergem para a formação da personalidade oferecer a um povo sua real possibilidade de ser livre e
social e o caráter, sendo assim uma instituição social. buscar nesta mesma medida participar das lutas demo-
Já a instrução está relacionada à formação e ao de- cráticas, o autor endente democracia como um conjunto
senvolvimento das capacidades cognoscitivas, mediante de conquistas de condições sociais, políticas e culturais,
o domínio de certos conhecimentos. O ensino por sua pela maioria da população para participar da condução
vez é conceituado aqui como as ações, meios, condições de decisões políticas e sociais. Libâneo, (1994, 35) cita
para que aconteça a instrução. Guiomar Namo de Mello: “A escolarização básica consti-
Observa-se que a instrução esta subordinada à edu- tui instrumento indispensável à construção da sociedade
cação. Estas relações criam uma relação intrincada destes democrática”, fala também dos índices de escolarização
três conceitos que são responsáveis pelo educar. Destaca no Brasil, mostrando a evasão escolar e a repetência
que podemos instruir sem educar ou vice-versa, pois a como graves problemas advindos da falta de uma po-
real educação depende de transformarmos estas infor- lítica pública, de igualdade nas oportunidades em edu-
mações em conhecimento, tendo nos objetivos educa- cação, deixando como resultado um enorme número de
tivos uma forma de alcançarmos esta educação. Coloca analfabetos na faixa de 5 a 14 anos. A transformação da
que a educação escolar pode ser chamada também de escola depende da transformação da sociedade, afirma
ensino. Libâneo, e continua dizendo que a escola é o meio in-
Educação escolar, Pedagogia e Didática substituível de contribuição para as lutas democráticas.

A educação escolar é um sistema de instrução e en- O Fracasso escolar precisa ser derrotado
sino de objetivos intencionais, sistematizados e com alto
grau de organização, dando a importância da mesma Nessa parte, o autor fala mais detalhadamente des-
para uma democratização maior dos conhecimentos. O te grave problema do nosso sistema escolar, detalha
autor coloca que as práticas educativas é que verdadeira- gráficos que apontam para um quadro onde a escola
mente podem determinar as ações da escola e seu com- não consegue reter o aluno no sistema escolar. Aponta
prometimento social com a transformação. Afirma que muitos motivos para isto, mas considera, como principal,
a pedagogia investiga estas finalidades da educação na a falta de preparo da organização escolar, metodológica
sociedade e a sua inserção na mesma, diz que a Didática e didática de procedimentos adequados ao trabalho com
é o principal ramo de estudo da pedagogia para poder as crianças pobres. Isto acontece devido aos planejamen-
estudar melhor os modos e condições de realizarmos o tos serem feitos prevendo uma criança imaginada e não a
ensino e instrução. Ainda coloca a importância da socio- criança concreta, aquela que esta inserida em um contex-
logia da educação, psicologia da educação nestes pro- to único. Somente o ingresso na escola pode oferecer um
cessos de relação aluno-professor. ponto de partida no processo de ensino aprendizagem.
Levanta, também, neste capítulo, outros fatores como
A Didática e a formação profissional do professor dificuldades emocionais, falta de acompanhamento dos
pais, imaturidade, entre outros. Cita aqui David Ausubel
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Determina, o autor, que as duas dimensões da for- que afirma que o fator isolado mais importante que in-
mação profissional do professor para o trabalho didá- fluencia a aprendizagem é aquilo que o aluno já conhece,
tico em sala de aula. A primeira destas dimensões é a complementa dizendo que o professor deve descobri-lo
teórico-científica formada de conhecimentos de filosofia, e basear-se nisto em seus ensinamentos.
sociologia, história da educação e pedagogia.
A segunda é a técnico–prática, que representa o tra- As tarefas da escola pública democrática
balho docente incluindo a didática, metodologias, pes-
quisa e outras facetas práticas do trabalho do professor. Todos sabemos da importância do ensino de primeiro
Neste subtítulo, Libâneo define a didática como a me- grau para formação do indivíduo, da formação de suas
diação entre as dimensões teórico-científica e a prática capacidades, habilidades e atitudes, além do seu preparo
docente. para as exigências sociais que este indivíduo necessita,

27
dando a ele esta capacidade de poder estudar e apren- de conhecimentos e habilidades. Destaca a importância
der o resto da vida. O autor lista as tarefas principais das da natureza do trabalho docente como a mediação da
escolas públicas, entre elas, destacam-se: relação cognoscitiva entre o aluno e as mateiras de en-
Proporciono escola gratuita pelos primeiros oito anos sino. Libâneo ainda coloca que ensinar e aprender são
de escolarização; duas facetas do mesmo processo, que se realiza em tor-
Assegurar a transmissão e assimilação dos conheci- no das matérias de ensino sob a direção do professor.
mentos e habilidades;
Assegurar o desenvolvimento do pensamento crítico Os componentes do processo didático
e independente;
Oferecer um processo democrático de gestão esco- O ensino, por mais simples que pareça, envolve uma
lar com a participação de todos os elementos envolvidos atividade complexa, sendo influenciado por condições
com a vida escolar. internas e externas. Conhecer estas condições é fator
fundamental para o trabalho docente. A situação didáti-
O compromisso social e ético dos professores ca em sala de aula esta sujeita também a determinantes
econômico-sociais e sócio–culturais, afetando assim a
O primeiro compromisso da atividade profissional ação didática diretamente.
de ser professor (o trabalho docente) é certamente de Assim sendo, o processo didático está centrado na
preparar os alunos para se tornarem cidadãos ativos e relação entre ensino e aprendizagem.
participantes na família, no trabalho e na vida cultural
e política. O trabalho docente visa também a mediação Podemos daí determinar os elementos constitutivos
entre a sociedade e os alunos. Libâneo afirma que, como da Didática:
toda a profissão, o magistério é um ato político porque 1. Conteúdos da matérias;
se realiza no contexto das relações sociais. 2. Ação de ensinar;

Didática: Teoria da Instrução e do Ensino Ação de aprender.

Neste capítulo, o autor aborda, em especial, os vín- Desenvolvimento histórico da Didática e tendências
culos da didática com os fundamentos educacionais, ex- pedagógicas
plicita seu objetivo de estudar e relacionar os principais O autor afirma que a didática e sua história estão liga-
temas da didática indispensáveis para o exercício profis- das ao aparecimento do ensino.
sional. Desde a Antigüidade clássica ou no período medieval
A didática como atividade pedagógica escolar já temos registro de formas de ação pedagógicas em es-
Sabedores que a pedagogia investiga a natureza das colas e mosteiros. Entretanto, a didática aparece em obra
finalidades da educação como processo social, a didática em meados do século XVII, com João Amos Comenio,
coloca-se para assegurar o fazer pedagógico na esco- ao escrever a primeira obra sobre a didática “A didática
la, na sua dimensão político, social e técnica, afirmando Magna”, estabelecendo na obra alguns princípios com:
daí o caráter essencialmente pedagógico desta discipli- A finalidade da educação é conduzir a felicidade eter-
na. Define assim a didática como mediação escolar entre na com Deus.
objetivos e conteúdos do ensino. Define, o autor, mais O homem deve ser educado de acordo com o seu
alguns termos fundamentais nesta estruturação escolar, desenvolvimento natural, isto é de acordo com suas ca-
a instrução como processo e o resultado da assimilação racterísticas de idade e capacidade.
sólida de conhecimentos; o currículo como expressão dos A assimilação dos conhecimentos não se da de forma
conteúdos de instrução; e a metodologia como conjunto imediata.
dos procedimentos de investigação quanto a fundamen- O ensino deve seguir o curso da natureza infantil; por
tos e validade das diferentes ciências, sendo as técnicas isto as coisas devem ser ensinadas uma de cada vez.
recursos ou meios de ensino seus complementos. Já mais adiante, Jean Jacques Rousseau (1712-1778)
propôs uma nova concepção de ensino, baseado nas ne-
Sintetizando, os temas fundamentais da didática cessidades e interesses imediatos da criança. Porém, este
são: autor não colocou suas idéias em prática, cabendo mais
adiante a outro pesquisador faze-lo, Henrique Pestalozzi
1. Os objetivos sócio-pedagógicos; (1746-1827), que trabalhava com a educação de crianças
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

2. Os conteúdos escolares; pobres. Estes três teóricos influenciaram muito Johann


3. Os princípios didáticos; Friedrich Herbart (1776-1841), que tornou a verdadeira
4. Os métodos de ensino aprendizagem; inspiração para pedagogia conservadora, determinando
As formas organizadas do ensino; que o fim da educação é a moralidade atingida através
Aplicação de técnicas e recursos; da instrução de ensino. Estes autores e outros tantos for-
Controle e avaliação da aprendizagem. mam as bases para o que chamamos modernamente de
Objetivo de estudo: o processo de ensino Pedagogia Tradicional e Pedagogia Renovada.
Sem dúvida, o objetivo do estudo da didática é o pro-
cesso de ensino. Podemos definir, conforme o autor, o
processo de ensino como uma seqüência de atividades
do professor e dos alunos tendo em vista a assimilação

28
Tendências pedagógicas no Brasil e a Didática Oferecer métodos que valorizem o trabalho intelec-
tual independente
Nos últimos anos, no Brasil, vêm sendo realizados Ter uma linha de conduta de relacionamento com os
muitos estudos sobre a história da didática no nosso alunos
país e suas lutas, classificando as tendências pedagógi- Estimular o interesse pelo estudo
cas em duas grandes correntes: as de cunho liberal e as Para a avaliação os procedimentos são outros por
de cunho progressivista. Estas duas correntes têm gran- parte do professor:
des diferenças entre si. A tradicional vê a didática como Verificação continua dos objetivos alcançados e do
uma disciplina normativa, com regras e procedimentos rendimento nas atividades
padrões, centrando a atividade de ensinar no professor Dominar os meios de avaliação diagnóstica
e usando a palavra (transmissão oral) como principal re- Conhecer os tipos de provas e de avaliação qualitativa
curso pedagógico. Já a didática de cunho progressivista Estes requisitos são necessários para o professor
é entendida como direção da aprendizagem, o aluno é o poder exercer sua função docente frente aos alunos e
sujeito deste processo e o professor deve oferecer condi- institutos em que trabalha. Por isto, o professor, no ato
ções propícias para estimular o interesse dos alunos por profissional, deve exercitar o pensamento para descobrir
esta razão os adeptos desta tendência dizem que o pro- constantemente as relações sociais reais que envolvem
fessor não ensina; antes, ajuda o aluno a prender. sua disciplina e a sua inserção nesta sociedade globaliza-
Também temos aqui colocado pelo autor as ten- da, desconfiando do normal e olhando sempre por traz
dências principais desta evolução e suas principais pu- das aparências, seja do livro didático ou mesmo de ações
blicações na época. Vimos também que as tendências pré-estabelecidas.
progressivas só tomaram força nos anos 80, com as de-
nominadas “teorias críticas da educação”. O autor lista O Processo de Ensino na Escola
também as várias divisões destas duas tendências e ex-
plica suas diferenças vitais. O magistério se caracteriza nas atividades de ensino
das matérias escolares criando uma relação recíproca
entre a atividade do professor (ensino) e a atividade de
A Didática e as tarefas do professor
estudo dos alunos (aprendizagem). Criar esta unidade
entre o ensino-aprendizagem é o papel fundamental dos
O modo de fazer docente determina a linha e a qua-
processos de ensino na escola, pois as relações entre alu-
lidade do ensino, traça-se aqui, pelo autor, os principais
nos, professores e matérias são dinâmicas.
objetivos da atuação docente:
Assegurar ao aluno domínio duradouro e seguro dos
As características do processo de ensino
conhecimentos.
Criar condições para o desenvolvimento de capacida- Inicia-se analisando as características do ensino tra-
des e habilidades visando a autonomia na aprendizagem dicional e suas principais limitações pedagógicas: o pro-
e independência de pensamento dos alunos. fessor só passa a matéria e o aluno recebe e reproduz
Orientar as tarefas do ensino para a formação da per- mecanicamente o que absorve; é dada uma excessiva
sonalidade. importância a matéria do livro sem dar a ele um caráter
Estes três itens se integram entre si, pois a aprendiza- vivo; o ensino é somente transmitido com dificuldades
gem é um processo. Depois, o autor levanta os principais para detectar o ritmo de cada aluno no aprender; o tra-
pontos do planejamento escolar: balho docente está restrito às paredes da sala de aula.
Compressão da relação entre educação escolar e ob- O autor propõe que entendamos o processo de en-
jetivo sócio-políticos. sino como visando alcançar resultados tendo com ponto
Domínio do conteúdo e sua relação com a vida prá- de partida o nível de conhecimentos dos alunos e deter-
tica. minando algumas características como: o ensino é um
Capacidade de dividir a matéria em módulos ou uni- processo, por isto obedece a uma direção, este processo
dades. visa alcançar determinados resultados como domínio de
Conhecer as características sócio-culturais e indivi- conhecimentos, hábitos, habilidades, atitudes, convic-
duais dos alunos. ções e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas,
Domínio de métodos de ensino. dando ao ensino este caráter bilateral, combinando as
Conhecimento dos programas oficias. atividades do professor com as do aluno.
Manter-se bem informado sobre livros e artigos liga-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dos a sua disciplina e fatos relevantes. Processos didáticos básicos: ensino e aprendizagem
Já a direção do ensino e aprendizagem requer outros
procedimentos do professor: O livro mostra novamente a importância de garantir
Conhecimento das funções didáticas a unidade didática entre ensino e aprendizagem e pro-
Compatibilizar princípios gerais com conteúdos e põe que analisemos cada parte deste processo separa-
métodos da disciplina damente.
Domínio dos métodos e de recursos tauxiares A aprendizagem esta presente em qualquer atividade
Habilidade de expressar idéias com clareza humana em que possamos aprender algo. A aprendiza-
Tornar os conteúdos reais gem pode ocorrer de duas formas: casual, quando for
Saber formular perguntas e problemas espontânea ou organizada quando for aprender um co-
Conhecimento das habilidades reais dos alunos nhecimento específico.

29
Com isto defini-se a aprendizagem escolar como um A estruturação do trabalho docente
processo de assimilação de determinados conhecimen-
tos e modos de ação física e mental. Isto significa que O autor reflete sobre este entendimento errôneo de
podemos aprender conhecimentos sistematizados, hábi- que o trabalho docente na escola é o de “passar” a ma-
tos, atitudes e valores. Neste sentido, temos o processo téria de acordo, geralmente, com o livro didático. E mos-
de assimilação ativa que oferece uma percepção, com- tra que a estrutura da aula deve ter um trabalho ativo e
preensão, reflexão e aplicação que se desenvolve com os conjunto entre professor e aluno, ligado estreitamente
meios intelectuais, motivacionais e atitudes do próprio com a metodologia específica das matérias, porém, não
aluno, sob a direção e orientação do professor. Podemos se identifica com leia. A cinco momentos da metodologia
ainda dizer que existem dois níveis de aprendizagem hu- de ensino na sala de aula:
mana: o reflexo e o cognitivo. Isto determina uma inter- Orientação inicial dos objetivos de ensino aprendiza-
ligação nos momentos da assimilação ativa, implicando gem;
nas atividades mental e práticas. Transmissão /assimilação da matéria nova;
O livro coloca a aprendizagem escolar como uma ati- Consolidação e aprimoramento dos conhecimentos,
vidade planejada, intencional e dirigida, não sendo em habilidades e hábitos;
hipótese alguma casual ou espontânea. Com isto, pode Aplicação de conhecimentos, habilidades e hábitos;
pensar que o conhecimento se baseia em dados da rea- Verificação e avaliação dos conhecimentos e habili-
lidade. dades.
De início, é importante definir o ensino e o autor co- O caráter educativo do processo de ensino e o ensino
loca-o como o meio fundamental do processo intelec- crítico
tual dos alunos, ou seja, o ensino é a combinação entre Este caráter educativo do processo de ensino está in-
a condução do processo de ensino pelo professor e a timamente ligado com o ensino crítico, dando a ele uma
assimilação ativa do aluno. O ensino tem três funções in- característica mais ampla, determinada social e pedago-
separáveis: gicamente. Este ensino é critico por estar engajamento
Organizar os conteúdos para transmissão, oferecen- social, político e pedagogicamente, determinando uma
do ao aluno relação subjetiva com os mesmos. postura frente às relações sociais vigentes e à prática so-
cial real.
Ajuda os alunos nas suas possibilidade de aprender.
O Processo de Ensino e o Estudo Ativo
Dirigir e controlar atividade do professor para os ob-
jetivos da aprendizagem. Neste capítulo, entende-se melhor a relação entre o
Mostra-se também a unidade necessária entre ensino processo de ensino (falado no capítulo anterior) e o es-
e a aprendizagem, afinal o processo de ensino deve es- tudo ativo, este definido aqui como uma atividade cujo
tabelecer apenas exigências e expectativas que os alunos fim direto e específico é favorecer a aprendizagem ati-
possam cumprir para poder realmente envolvê-los neste va. Nesta medida, o capítulo discutirá também como o
processo e mobilizar as suas energias. professor pode dirigir, estimular e orientar as condições
internas e externas do ensino.
Estrutura, componentes e dinâmica do processo
de ensino O estudo ativo e o ensino

A estrutura e componentes explica o processo didá- É necessário ter presente que os conteúdos represen-
tico como a ação recíproca entre três componentes; os tam o elemento em torno do qual se realiza a atividade
conteúdos, o ensino e a aprendizagem. Já o processo de de estudo. O estudo ativo é por conseqUência uma pos-
ensino realizado no trabalho docente é um sistema arti- tura do aluno e do professor frente ao conteúdo, pois as
culado, formado pelos objetivos, conteúdos, métodos e atividades deste estudo ativo se baseiam nas atividades
condições, sendo, como sempre, o professor o responsá- do aluno de observação e compreensão de fatos ligados
vel por esta condução. Neste quadro, o autor diz que o a matéria, da atenção na explicação do professor, favore-
processo de ensino consiste ao mesmo tempo na condu- cendo o desenvolvimento das capacidades cogniscitivas
ção do estudo e na auto-atividade do aluno, e levanta a do aluno. Não existe ensino ativo sem o trabalho docen-
contradição deste fato. Deixa clara a dificuldade de exe- te.
cução da tarefa docente e afirma que a Didática contribui
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

justamente para tentar resolver esta contradição entre A atividade de estudo e o desenvolvimento inte-
ensino e aprendizagem, em outras palavras, esta con- lectual
tradição acontece entre o saber sistematizado e o nível
de conhecimento esperado. Existem algumas condições Neste subtítulo, o autor declara algo muito importan-
para que a contradição se transforme em forca motriz: te e já dito em outros momentos humanos “O objetivo
1. Dar ao aluno consciência das dificuldades que apa- da escola e do professor é formar pessoas inteligentes...”
recem no confronto com um conhecimento novo Neste aspecto, o professor deve se satisfazer se o alu-
que não conhecem. no compreende a matéria e tem possibilidade de pensar
2. O volume de atividades, conhecimento e exercícios de forma independente e criativa sobre ela. Levanta difi-
devem considerar o preparo prévio do aluno. culdades do trabalho docente para estimular aos alunos,
3. Estas condições devem constar do planejamento. principalmente porque o professor usa um estilo con-

30
vencional de aula, igual para todas as matérias, com falta tais para determinação de propósitos definidos e explí-
de entusiasmo e sem adequação com o mundo prático citos quanto às qualidades humanas que precisam ser
e real do aluno. adquiridas. Os objetivos têm pelo menos três referências
Porém, estas dificuldades podem ser superadas com fundamentais para a sua formulação.
um domínio maior do conteúdo por parte do professor, Os valores e ideias ditos na legislação educacional.
eleger mais do que um livro de referência, estar atuali- Os conteúdos básicos das ciências, produzidos na
zado com as notícias, conhecer melhor as características história da humanidade.
dos seus alunos, dominar técnicas, didáticas e metodo-
logias. Com isto, cada tarefa didática será uma tarefa de As necessidades e expectativas da maioria da so-
pensamento para o aluno. ciedade.

Algumas formas de estudo ativo Ë importante destacar que estas três referências não
devem ser tomadas separadamente, pois devem se apre-
O estudo ativo envolve inúmeros procedimentos para sentar juntos no ambiente escolar. Devemos ter claro
despertar no aluno hábitos, habilidades de caráter per- que o trabalho docente é uma atividade que envolve op-
manente. Para isto temos várias tarefas e exercícios espe- ções sobre nosso conceito de sociedade, pois isto vai de-
cíficos para este fim, listados aqui como pelo autor: terminar a relação com os alunos. Isto prova que sempre
Exercícios de reprodução - testes rápidos para verifi- conscientemente ou não, temos ou traçamos objetivos.
car assimilação e domínio de habilidades.
Tarefa de preparação para o estudo - Diálogo estabe- Objetivos gerais e objetivos específicos
lecido entre o professor/aluno, aluno/aluno e observa e
revisão de matérias anteriores. Os objetivos são o marco inicial do processo peda-
Tarefas de fases de assimilação de matérias - Ativida- gógico e social, segundo Libâneo. Os objetivos gerais
des que favoreçam o confronto entre os conhecimentos explicam-se a partir de três níveis de abrangência. O pri-
sistematizados e a realidade dos alunos. meiro nível é o sistema escolar que determina as fina-
Tarefas na fase de consolidação e aplicação – com- lidades educativas de acordo com a sociedade em que
põem-se de exercícios e revisão de fixação. está inserido; o segundo é determinado pela escola que
Fatores que influenciam no estudo ativo estabelece as diretrizes e princípios do trabalho escolar;
Há vários fatores que influenciam no ato de estudar o terceiro nível é o professor que concretiza tudo isto em
e aprender, entre estes fatores destacam-se alguns que ações práticas na sala de aula.
influenciam de sobremaneira no estudo ativo. Alguns objetivos educacionais podem auxiliar os pro-
1. O incentivo ao estudo - conjunto de estímulos que fessores a determinar seus objetivos específicos e con-
estimulam no aluno sua motivação para aprender. teúdos de ensino. Entre estes objetivos educacionais
2. As condições de aprendizagem – para oferecermos destacam-se:
condições mínimas de aprendizagem, temos que a) colocar a educação no conjunto de lutas pela de-
conhecer muito bem as condições sócio-culturais mocratização da sociedade;
dos alunos. b) oferecer a todos as crianças, sem nenhum tipo de
3. A influência do professor e do ambiente escolar - discriminação cultural, racial ou política, uma pre-
certamente o professor e o meio exercem uma in- paração cultural e científica a partir do ensino das
fluencia muito forte no aluno. materiais;
c) assegurar a estas crianças o desenvolvimento máxi-
O autor reitera aqui também a necessidade de uma mo de suas potencialidades;
sólida assimilação de conhecimentos para ocorrer uma d) formar nos alunos a capacidade crítica e criativa
verdadeira aprendizagem. em relação a matérias e sua aplicação;
e) formar convicções para a vida futura;
Os Objetivos e Conteúdos de Ensino f) institucionalizar os processos de participação en-
volvendo todas as partes formadoras da realidade
Neste capítulo, o autor aborda a relação entre s com- escolar.
ponentes do processo de ensino, determina a unidade
entre objetivos-conteúdos e destes com os métodos. Os conteúdos de Ensino
Os objetivos determinam de antemão os resultados
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

esperados do processo entre o professor e aluno, deter- Desde o início do livro, o autor vem reiterando a idéia
minam também a gama de habilidades e hábitos a serem que as escolas têm, como tarefa fundamental, a demo-
adquiridos. Já os conteúdos formam a base da instrução. cratização dos conhecimentos, garantindo uma base
O método por sua vez é a forma com que estes objetivos cultural para jovens e crianças. Sob este aspecto, muitos
e conteúdos serão ministrados na prática ao aluno. professores fazem a ideia que os conteúdos são o co-
nhecimento corresponde a cada matéria, ou mesmo, que
A importância dos objetivos educacionais são a matéria do livro didático.O autor fala que esta visão
não é complemente errada, pois há sempre três elemen-
A prática educacional baseia-se nos objetivos por tos no ensino: matéria, professor e o aluno. Neste aspec-
meio de uma ação intencional e sistemática para oferecer to, devemos estudar o ensino dos conteúdos como uma
aprendizagem. Desta forma os objetivos são fundamen- ação recíproca entre a matéria, o ensino e o estudo dos

31
alunos. Por isto é muito importante que os conteúdos Caráter científico.
tenham em si momentos de vivências práticas para dar Caráter sistemático.
significado aos mesmos. Relevância social.
Definindo os conteúdos, eles são o conjunto de co- Acessibilidade e solidez.
nhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e
atitudes, organizados pedagógica e didaticamente, bus- Os Métodos de Ensino
cando a assimilação ativa e aplicação prática na vida dos
alunos. Como já se viu anteriormente, os métodos são deter-
Agora uma questão importante, apresentada no livro, minados pela relação objetivo-conteúdo, sendo os meios
é a de quem deve escolher os conteúdos de ensino? Cer- para alcançar objetivos gerais e específicos de ensino.
tamente, deve-se considerar que cabe ao professor, em Tem-se, assim, que as características dos métodos de en-
última instancia, esta tarefa. Nesta tarefa o professor en- sino: estão orientados para os objetivos, implicam numa
frenta pelo menos dois questionamentos fundamentais: sucessão planejada de ações, requerem a utilização de
Que conteúdos e que métodos? meios.
Para responder a primeira pergunta, o autor diz que
há três fontes para o professor selecionar os seus con- Conceito de métodos de ensino
teúdos do plano de ensino, a primeira é a programação
oficial para cada disciplina; a segunda, conteúdos básicos Um conceito simples de método é ser o caminho para
das ciências transformados em matérias de estudo; a ter- atingir um objetivo. São métodos adequados para reali-
ceira, exigências teóricas práticas colocadas na vida dos zar os objetivos. É importante entender que cada ramo
alunos e sua inserção social. do conhecimento desenvolve seus próprios métodos,
Porém, a escolha do conteúdo vai além destas três observa-se então métodos matemáticos, sociológicos,
exigências, para entendermos, tem-se que observá-las pedagógicos, entre outros. Já ao professor em sala de
em outros sentidos. Um destes sentidos é a participação aula cabe estimular e dirigir o processo de ensino utili-
na prática social; outro sentido fundamental é a prática zando um conjunto de ações, passos e procedimentos
da vida cotidiano dos alunos, da família, do trabalho, do que chamamos também de método. Agora não se pode
meio cultural, fornecendo fatos a serem conectados ao pensar em método como apenas um conjunto de proce-
estudo das matérias. O terceiro destes sentidos refere-se dimentos, este é apenas um detalhe do método. Portan-
à própria condição de rendimento escolar dos alunos. to, o método corresponde à seqüência de atividades do
Nesta visão, há uma dimensão crítico-social dos con- professor e do aluno.
teúdos, e esta se manifesta no tratamento científico dado
ao conteúdo, no seu caráter histórico, na intenção de vín- A relação objetivo-conteúdo-método
culo dos conteúdos com a realidade da vida dos alunos.
Em síntese, esta dimensão crítica-social dos conteúdos Um entendimento global sobre esta relação é que
nada mais é do que uma metodologia de estudo e inter- os métodos não têm vida sem os objetivos e conteúdos,
pretação dos objetivos do ensino. dessa forma a assimilação dos conteúdos depende dos
Na atual sociedade, apesar do que foi visto anterior- métodos de ensino e aprendizagem. Com isto, a maior
mente, tem-se conteúdos diferentes para diversas es- característica deste processo é a interdependência, onde
feras e classes sociais, estas diferenças ratificam os pri- o conteúdo determina o método por ser a base informa-
vilégios existentes na divisão de classes já estabelecida tiva dos objetivos, porém, o método também pode ser
pelo sistema capitalista. Neste sentido, os livros didáticos conteúdo quando for objeto da assimilação.
oferecidos no ensino das disciplinas, além de sistemati- O que realmente importa é que esta relação de uni-
zar e difundir conhecimentos, servem também para en- dade entre objetivo-conteúdo–método constitua a base
cobrir estas diferenças, ou mesmo, escamotear fatos da do processo didático.
realidade para evitar contradições com sua orientação
sócio-cultural–política. Com isto, o professor deve sem- Os princípios básicos do ensino
pre analisar os textos e livros que vai usar com os alunos,
no sentido de oferecer um ensino igualitário que possa Estes princípios são os aspectos gerais do processo
olhar criticamente estas máscaras da sociedade. de ensino que fundamentam teoricamente a orientação
Conhecer o conteúdo da matéria e ter uma sensibi- do trabalho docente. Estes princípios também e funda-
lidade crítica pode facilitar esta tarefa por parte do pro- mentalmente indicam e orientam a atividade do profes-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

fessor. sor rumo aos objetivos gerais e específicos. Estes princí-


pios básicos de ensino são:
Critérios de seleção Ter caráter científico e sistemático - O professor deve
buscar a explicação científica do conteúdo; orientar o es-
Aqui, o autor propõe uma forma mais didática de re- tudo independente, utilizando métodos científicos; cer-
solver esta difícil tarefa de selecionar os conteúdos a se- tificar-se da consolidação da matéria anterior antes de
rem ministrados em sala de aula. Abaixo, coloca-se esta introduzir as matérias novas; organizar a seqüência entre
forma ordenada de elaborar os conteúdos de ensino: conceitos e habilidades; ter unidade entre objetivos-con-
Correspondência entre os objetivos gerais e os con- teúdos-métodos; organizar a aula integrando seu con-
teúdos. teúdo com as demais matérias; favorecer a formação,
atitudes e convicções.

32
Ser compreensível e possível de ser assimilado - Na Método de elaboração conjunta – é um método de
prática, para se entender estes conceitos, deve-se: dosar interação entre o professor e o aluno visando obter no-
o grau de dificuldade no processo de ensino; fazer um vos conhecimentos.
diagnóstico periódico; analisar a correspondência entre Método de trabalho de grupo - consiste em distribuir
o nível de conhecimento e a capacidade dos alunos; pro- tarefas iguais ou não a grupos de estudantes, o autor
porcionar o aprimoramento e a atualização constante do cita de três a cinco pessoas. Têm-se também formas es-
professor. pecíficas de trabalhos de grupos comuns: debate, Philips
Assegurar a relação conhecimento-prática – Para ofe- 66, tempestade mental, grupo de verbalização, grupo de
recermos isto aos alunos deve-se: estabelecer vínculos observação (GV-GO), seminário.
entre os conteúdos e experiências e problemas da vida Atividades especiais – são aquelas que complemen-
prática; pedir para os alunos sempre fundamentarem tam os métodos de ensino.
aquilo que realizam na prática; mostrar a relação dos co-
nhecimentos com o de outras gerações. Meios de ensino
Assentar-se na unidade ensino-aprendizagem - ou
seja, na prática: esclarecer os alunos sobre os objetivos São todos os meios e recursos materiais utilizados
das aulas, a importância dos conhecimentos para a se- pelo professor ou alunos para organizar e conduzir o en-
qüência do estudo; provocar a explicitação da contra- sino e a aprendizagem. Os equipamentos usados em sala
dição entre idéias e experiências; oferecer condições de aula (do quadro-negro até o computador) são meios
didáticas para o aluno aprender independentemente; de ensino gerais possíveis de serem usados em todas
estimular o aluno a defender seus pontos de vista e con- as matérias. É importante que os professores saibam e
viver com o diferente; propor tarefas que exercitem o dominem estes equipamentos para poderem usá-los em
pensamento e soluções criativas; criar situações didáti- sala de aula com eficácia.
cas que ofereçam aplicar conteúdos em situações novas;
aplicar os métodos de soluções de problemas. A Aula como Forma de Organização do Ensino

Garantir a solidez dos conhecimentos A aula é a forma predominante de organização do


processo de ensino. Neste capítulo, o professor Libâneo
Levantar vínculos para o trabalho coletivo-particulari- explica o conjunto de meios e condições necessárias para
dades individuais, deve-se adotar as seguintes medidas realizarmos um conjunto de aulas, estruturando sua rela-
para isto acontecer: explicar com clareza os objetivos; ção entre tipos de aulas e métodos de ensino.
desenvolver um ritmo de trabalho que seja possível da
turma acompanhar; prevenir a influência de particulari- Características gerais da aula
dades desfavoráveis ao trabalho do professor; respeitar
e saber diferenciar cada aluno e seus ritmos específicos. Abaixo, o autor determina algumas exigências a se-
rem seguidas nas aulas:
Classificação dos métodos de ensino Ampliação do nível cultural e científico dos alunos.
Seleção e organização das atividades para prover um
Sabe-se que existem vários tipos de classificação de ensino criativo e independente.
métodos, seguindo determinados autores, no nosso es- Empenho na formação dos métodos e hábitos de es-
tudo, o autor define os métodos de ensino como estando tudo.
intimamente ligados com os métodos de aprendizagem, Formação de hábitos, atitudes e convicções ligadas à
sob este ponto de vista o eixo do processo é a relação vida prática dos alunos.
cognoscitiva entre o aluno e professor. Pode-se diferen- Valorização da sala de aula como meio educativo.
ciar estes métodos segundo suas direções, podendo ser Formação do espírito de coletividade, solidariedade e
externo e interno. A partir disto, o autor lista todos os ajuda mútua sem esquecer o individual.
métodos mais conhecidos de atividade em sala de aula Estruturação didática da aula
por parte do professor. A estruturação da aula deve ser indicada por eta-
Método de exposição pelo professor - Este método é pas, planejadas e organizadas para favorecer o ensino e
o mais usado na escola, onde o aluno assume uma posi- aprendizagem. Portanto, é importante no planejamento
ção passiva perante a matéria explanada. Ele pode ser de da aula que este processo seja criativo e flexível por parte
vários tipos de exposição: verbal, demonstração, ilustra- do professor. Estes passos ou etapas didáticas da aula
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ção, exemplificação. são os seguintes:


Método de trabalho independente – consiste em ta- Preparação e introdução da matéria - visa criar as
refas dirigidas e orientadas pelo professor para os alunos condições de estudo, motivacionais e de atenção.
resolverem de maneira independente e criativa. Este mé- Tratamento didático da matéria nova - se os passos
todo tem, na atitude mental do aluno, seu ponto forte. do ensino não são mais que funções didáticas, este trata-
Tem também a possibilidade de apresentar fases com a mento já esta sendo feito. Tem-se que entender que a as-
tarefa preparatória, tarefa de assimilação de conteúdos, similação da matéria nova é um processo de interligação
tarefa de elaborarão pessoal. Uma das formas mais co- entre percepção ativa, compreensão e reflexão, sendo o
nhecidas de trabalho independente é o estudo dirigido processo de transmissão-assimilação a base metodológi-
individual ou em duplas. ca para o tratamento didático da matéria nova.

33
Consolidação e aprimoramento dos conhecimentos e te, com isto, os professores não conseguem efetivamen-
habilidades - este é um importante momento de ensino te usar os procedimentos de avaliar. Com estas ações,
e muitas vezes menosprezado ou diminuído na escola. quando a avaliação se resume a provas, professores com
A consolidação pode acontecer em qualquer etapa do critérios onde décimos às vezes reprovam alunos, há a
processo didático, podendo ser reprodutiva, de genera- exclusão do professor do seu papel docente, que é de
lização e criativa. fornecer os meios pedagógico-didáticos para os alunos
A aplicação – esta fase é a culminância do processo aprenderem sem intimidação.
de ensino. Seu objetivo é estabelecer vínculos entre os
conhecimentos e a vida. Características da avaliação escolar
Controle e avaliação dos resultados escolares – esta Agora, o autor sintetiza as principais características da
função percorre todas as etapas de ensino, cumprindo avaliação escolar.
três funções: a pedagógica, diagnóstica e de controle. A Reflete a unidade objetivos-conteúdos-métodos.
integração destas funções dá à avaliação um caráter mais Possibilita a revisão do plano de ensino.
geral e não isolado. Ajuda a desenvolver capacidades e habilidades.
Volta-se para a atividade dos alunos.
Tipos de aulas e métodos de ensino Ser objetiva.
Ajuda na autopercepcao do professor.
Neste estudo, o autor coloca que, na concepção de Reflete valores e expectativas do professor em rela-
ensino, as tarefas docentes visam a organização e assimi- ção aos alunos.
lação ativa. Isto significa que as aulas podem ser prepara- Esta frase marca este subtítulo “A avaliação é um ato
das em correspondência com os passos do processo de pedagógico”. (Libâneo, 1994, p.203).
ensino. Neste sentido, pode-se ter aulas de preparação Instrumentos de verificação do rendimento escolar
e introdução, início de uma unidade, aula de tratamento Uma das funções da avaliação é com certeza a de de-
sistematizado da matéria nova, consolidação, verificação terminar em que nível de qualidade está sendo atendido
os objetivos; para este fim, são necessários instrumen-
da aprendizagem. Conforme o tipo de aula escolhe-se o
tos e procedimentos. Alguns destes procedimentos ou
método de ensino.
instrumentos já são conhecidos, mas, neste subtítulo, o
autor revisa e cita muitos deles ou os mais usados para
A tarefa de casa
verificar o rendimento escolar:
Prova escrita dissertativa.
Esta tarefa é um importante complemento das ativi-
Prova escrita de questões objetivas.
dades didáticas de sala de aula. O autor considera que
Questões certo-errado (C ou E).
esta tarefa cumpre também uma função social integran- Questões de lacunas (para completar).
do a família às atividades escolares, integrando os pais Questões de correspondência.
aos professores. Estas tarefas não devem ser apenas Questões de múltipla escolha.
exercícios, devem ser também preparatórias ou de apro- Questões do tipo “teste de respostas curtas” ou de
fundamento da matéria. evocação simples.
Questões de interpretação de texto.
A Avaliação Escolar Questões de ordenação.
Questões de identificação.
A avaliação escolar é abordada em minúcias neste ca- Procedimentos auxiliares de avaliação
pitulo pelo autor. A avaliação é em última análise uma
reflexão do nível qualitativo do trabalho escolar do pro- A Observação;
fessor e do aluno. Sabe-se também que ela é complexa
e não envolve apenas testes e provas para determinar A Entrevista;
uma nota. Ficha sintética de dados dos alunos.
Uma definição de avaliação escolar Atribuição de notas ou conceitos
Segundo o professor Cipriano C. Luckesi, a avaliação As notas demonstram de forma abreviada os resul-
é uma análise quantitativa dos dados relevantes do pro- tados do processo de avaliação. Esta avaliação tem tam-
cesso de ensino aprendizagem que auxilia o professor na bém uma função de controle, expressando o resultado
tomada de decisões. Os dados relevantes aqui se referem em notas e conceitos. O autor fala também da impor-
às ações didáticas. Com isto, nos diversos momentos de tância de se valorizar todas as formas de avaliação, ou
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ensino a avaliação tem como tarefa: a verificação, a qua- instrumentos, e não apenas a prova no fim do bimestre
lificação e a apreciação qualitativa. Ela também cumpre como grande nota absoluta, que não valoriza o processo.
pelo menos três funções no processo de ensino: a função Propõe uma escala de pontos ensinando como utilizar
pedagógica didática, a função de diagnóstico e a função médias aritméticas para pesos diferentes, por fim, mostra
de controle. como se deve aproximar notas decimais.

Avaliação na prática escolar O Planejamento Escolar

Lamentavelmente a avaliação na escola vem sido re- O autor começa este capítulo dizendo que o planeja-
sumida a dar e tirar ponto, sendo apenas uma função de mento, ensino e a avaliação são atividades que devem su-
controle, dando a ela um caráter quantitativo. Certamen- por conhecimento do processo de ensino e aprendizagem.

34
O planejamento escolar propõe uma tarefa ao profes- O plano de aula
sor de previsão e revisão do processo de ensino comple-
tamente. Há três modalidades de planejamento: o plano O plano de aula é certamente um detalhamento do
da escola, o plano de ensino e o plano de aulas. plano de ensino, é uma especificação do mesmo. O de-
talhamento da aula é fundamental para obtermos uma
Importância do planejamento escolar qualidade no ensino, sendo assim o plano de aula torna-
-se indispensável. Em primeiro lugar, deve-se considerar
O planejamento do trabalho docente é um processo que a aula é um período de tempo variável, sendo assim,
de racionalização, organização e coordenação da ação as unidades devem ser distribuídas sabendo-se que às
do professor, tendo as seguintes funções: explicar prin- vezes é preciso bem mais do que uma aula para finali-
cípios, diretrizes e procedimentos do trabalho; expres- zar uma unidade ou fase de ensino. Nesta preparação, o
sar os vínculos entre o posicionamento filosófico, polí- professor deve reler os objetivos gerais das matérias e a
tico, pedagógico e profissional das ações do professor; seqüência dos conteúdos; desdobrar as unidades a se-
assegurar a racionalização, organização e coordenação rem desenvolvidas; redigir objetivos específicos por cada
do trabalho; prever objetivos, conteúdos e métodos; as- tópico; desenvolver a metodologia por assunto; avaliar
segurar a unidade e a coerência do trabalho docente; sempre a própria aula.
atualizar constantemente o conteúdo do plano; facilitar a
preparação das aulas. Relações Professor-Aluno na Sala de Aula
Tem-se que entender o plano como um guia de
orientação devendo este possuir uma ordem sequencial,
Um fator fundamental do trabalho docente tra-
objetividade e coerência entre os objetivos gerais e espe-
ta da relação entre o aluno e o professor, da forma de
cíficos, sendo também flexível.
se comunicar, se relacionar afetivamente, as dinâmicas
e observações são fundamentais para a organização e
Requisitos para o planejamento
motivação do trabalho docente. O autor chama isto de
“situação didática” para alcançarmos com sucesso os ob-
Os principais requisitos para o planejamento são os
objetivos e tarefas da escola democrática; as exigências jetivos do processo de ensino.
dos planos e programas oficiais; as condições prévias dos
alunos para a aprendizagem; e as condições do processo Aspectos cognoscitivos da interação
de transmissão e assimilação ativa dos conteúdos.
O autor define como cognoscitivo o processo ou mo-
O plano da escola vimentos que transcorre no ato de ensinar e no ato de
aprender. Sob este ponto de vista, o trabalho do profes-
O plano de escola é um plano pedagógico e adminis- sor é um constante vai e vem entre as tarefas cognosciti-
trativo que serve como guia de orientação para o plane- vas e o nível dos alunos. Para se ter um bom resultado de
jamento e trabalho docente. O autor descreve os passos interação nos aspectos cognoscitivo deve-se: manejar os
para a realização de um plano da escola, as principais recursos de linguagem; conhecer o nível dos alunos; ter
premissas e perguntas que devemos formular para sua um bom plano de aula; objetivos claros; e claro, é indis-
elaboração são: posicionamento da educação escolar na pensável o uso correto da língua Portuguesa.
sociedade; bases teórico-metodológicas da organização
didática e administrativa; características econômicas, so- Aspectos socioemocionais
cial, política e cultural do contexto em que a escola está
inserida; características socioculturais dos alunos; diretri- Estes aspectos são os vínculos afetivos entre o profes-
zes gerais sobre sistema de matérias, critério de seleção sor e os alunos. É preciso aprender a combinar a severi-
de objetivos e conteúdos; diretrizes metodológicas, sis- dade e o respeito. Deve-se entender que neste processo
temáticas de avaliação; diretrizes de organização e ad- pedagógico a autoridade e a autonomia devem convi-
ministração. ver juntas, a autoridade do professor e a autonomia do
aluno, não de forma contraditória comum pode parecer
O plano de ensino mais de forma complementar.

O autor afirma o plano de ensino como o roteiro de-


talhado das unidades didáticas. Podemos chamar tam-
bém de plano de curso ou plano e unidades didáticas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Este plano de ensino é formado das seguintes com-


ponentes:
Justificativa das disciplinas;
Delimitação dos conteúdos;
Os objetivos gerais;
Os objetivos específicos;
Desenvolvimento metodológico;
Conteúdos;
Tempo provável;
Desenvolvimento metodológico.

35
http://www.editorarealize.com.br/revistas/fi-
ped/trabalhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscri-
EXERCÍCIO COMENTADO to_1527_6e4e9ed0364cf72866c1c7293edfca21.pdf

1. (COLÉGIO PEDRO II – TÉCNICO EM ASSUNTOS


EDUCACIONAIS – COLÉGIO PEDRO II – 2017) O pla- PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM:
nejamento é um processo de racionalização, organização AVALIAÇÃO.
e coordenação da ação docente, articulando a atividade
escolar e a problemática do contexto social. A escola, os
professores e alunos são integrantes da dinâmica das re- Prezado candidato, o tópico acima será abordado
lações sociais; tudo o que acontece no meio escolar está ao decorrer do conteúdo.
atravessado por influências econômicas, políticas e cultu-
rais que caracterizam a sociedade de classe. Isso significa
que os elementos do planejamento escolar – objetivos- PLANEJAMENTO DE AULA E AVALIAÇÃO DE
-conteúdos-métodos – estão recheados de implicações APRENDIZAGEM.
sociais, têm um significado genuinamente político. [...]”
(LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
Coleção Magistério 2° grau. Série Formação do Profes- Planejamento e Proposta Pedagógica.
sor).
Planejar para construir o ensino
A partir da concepção apresentada pelo autor, podemos Em uma sala de aula, durante a fala do professor, um
afirmar que o planejamento escolar precisa aluno formula uma pergunta. O professor ouve atenta-
mente e se vê diante de um dilema: O que fazer? Respon-
a) privilegiar o saber popular em detrimento do conheci- der a pergunta objetivamente e continuar a exposição?
mento acadêmico para facilitar a assimilação dos con- Anotar a questão no quadro e dizer que responderá ao
teúdos por parte dos estudantes das classes sociais terminar o que está expondo? Anotar a pergunta e pedir
menos favorecidas a toda classe que pense na resposta? Solicitar ao aluno
b) levar em consideração o conjunto dos fatores so- que anote a pergunta e a repita ao final da exposição?
ciais que determina a maior ou menor capacidade de Qual a conduta mais correta?
aprendizagem pelos estudantes. Escolher uma resposta adequada depende de vários
c) adequar-se às demandas advindas do mercado, pro- fatores que devem ser considerados pelo professor. En-
porcionando um ensino que capacite os estudantes tre eles, se a pergunta contribui para o desenvolvimento
para o trabalho. da atividade de ensino e aprendizagem naquele momen-
d) considerar as variáveis sociais, econômicas e culturais to, ou ainda se existe pertinência em relação ao conteú-
que podem influenciar no clima geral e na dinâmica do em jogo na atividade.
da escola. A pergunta pode evidenciar um nível de compreen-
são conceitual mais elaborado de um aluno se compara-
Resposta: Letra D. Realmente a escolarização é o do à maioria da classe. Respondê-la naquele momento
processo principal para oferecer a um povo sua real transformaria a aula em uma conversa entre o professor
possibilidade de ser livre e buscar nesta mesma me- e aquele aluno, que dificilmente seria acompanhada pe-
dida participar das lutas democráticas, o autor enten- los demais. Pode também revelar uma criança ou jovem
de democracia como um conjunto de conquistas de com dificuldade de compreender o conceito em ques-
condições sociais, políticas e culturais, pela maioria da tão, o que sugere algum tipo de atenção mais individua-
população para participar da condução de decisões lizada. É possível concluir ainda que a questão seria uma
políticas e sociais. O autor descreve os passos para a ótima atividade de aprendizagem em um momento pos-
realização de um plano da escola, as principais pre- terior, quando certos aspectos do conteúdo já estiverem
missas e perguntas que devemos formular para sua esclarecidos.
elaboração são: posicionamento da educação escolar
na sociedade; bases teórico-metodológicas da organi- Planejar: coerência para as ações educativas
zação didática e administrativa; características econô- O professor tem um papel fundamental de coordenar
micas, social, política e cultural do contexto em que a o processo de ensino e aprendizagem da sua classe. “É
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

escola está inserida; características socioculturais dos preciso organizar todas as suas ações em torno da edu-
alunos; diretrizes gerais sobre sistema de matérias, cri- cação de seus alunos. Ou seja, promover o crescimento
tério de seleção de objetivos e conteúdos; diretrizes de todos eles em relação à compreensão do mundo e à
metodológicas, sistemáticas de avaliação; diretrizes de participação na sociedade”. Para isso, ele precisa ter claro
organização e administração. quais são as intenções educativas que presidem esta ou
aquela atividade proposta. Na verdade, ele precisa saber
que atitudes, habilidades, conceitos, espera que seus alu-
Referência: nos desenvolvam ao final de um período letivo.
AMANDA, ALESSANDRA. A Didática como Fator de Certamente isso significa fazer opções quanto aos
Qualidade no Processo de Ensino Aprendizagem. Texto conteúdos, às atividades, ao modo como elas serão de-
disponível em: senvolvidas, distribuir o tempo adequadamente, assim

36
como fazer escolhas a respeito da avaliação pretendida. Flexibilidade
Se essas intenções estiverem claras, as respostas a esta
ou àquela pergunta ou a diferentes situações do coti- Vale lembrar que nenhum Planejamento deve ser
diano de uma sala de aula serão mais coerentes com os uma camisa-de-força para o professor. Existem situações
objetivos e propósitos definidos. da vida dos alunos, da escola, do município, do país e
O Planejamento do Ensino tem como principal função do mundo que não podem ser desprezadas no cotidiano
garantir a coerência entre as atividades que o professor escolar e, por vezes, elas têm tamanha importância que
faz com seus alunos e as aprendizagens que pretende justificam por si adequações no Planejamento do Ensino.
proporcionar a eles. No processo de desenvolvimento do ensino e da
aprendizagem, novos conteúdos e objetivos podem en-
Planejamento de Ensino trar em jogo; outros, escolhidos na elaboração do plano,
Em muitos casos, quando o professor atua junto à sua podem ser retirados ou adiados. É aconselhável que o
classe sem ter refletido sobre a atividade que está em professor reflita sobre suas decisões durante e após as
desenvolvimento, sem ter registrado de alguma forma atividades, registrando suas ideias, que serão uma das
suas intenções educativas, a atividade pode se revelar fontes de informação para melhor avaliar as aprendiza-
contraditória com os objetivos educativos que levaram o gens dos alunos e decidir sobre que caminhos tomar.
professor a selecioná-la. Além disso, as pessoas aprendem o mesmo conteúdo
Esse tipo de contradição é muito mais comum do que de formas diferentes; portanto, o Planejamento do En-
parece. No ensino da leitura, por exemplo, é frequente sino é um orientador da prática pedagógica e não um
o professor exigir de um aluno uma leitura em voz alta “ditador de ritmo”, no qual todos os alunos devem seguir
de um texto que o próprio aluno lerá pela primeira vez. uniformemente. Ao longo do ano letivo e a partir das
Logo após essa leitura, o professor pede que ele comen- avaliações, algumas atividades podem se mostrar inade-
te o que leu, ou faça um resumo. Faz perguntas sobre as quadas, e será necessário redirecionar e diversificá-las,
informações contidas no texto e pede-lhe que relacione rever os conteúdos, fazer ajustes.
ideias com outras anteriormente tratadas em classe. Ge-
ralmente, os professores que propõem essa atividade a Registro
seus alunos dizem que ela tem o objetivo de desenvol-
ver a capacidade de ler e interpretar um texto. Mas esses “Registrar ajuda a avaliação”.
professores se esquecem de que, para ler em voz alta, Vale destacar que a forma de organizar o Planejamen-
principalmente um texto que está sendo lido pela primei- to do Ensino aqui apresentado é uma escolha. O impor-
ra vez, a atenção do leitor volta-se para a emissão da voz, tante é o professor ter alguma forma de registro de suas
a entonação, os cuidados com a pontuação. intenções, procurando agir pedagogicamente de forma
Ou seja, o leitor, nessas ocasiões, preocupa-se em ga- coerente com os objetivos específicos e gerais traçados
rantir a audição de sua leitura, não a compreensão lógica no Projeto de Escola e em seu Planejamento do Ensino.
e conceitual do que está lendo. Já uma leitura voltada à A forma como cada professor registra seu Planejamento
compreensão de um texto deve ser silenciosa, visando não deve ser fixa, para que cada profissional possa fazê-
o entendimento dos raciocínios e, por isso, com idas e -lo da forma como se sente melhor. Mas, se um educa-
vindas constantes. Se um parágrafo apresenta uma ideia dor deseja ser um profissional reflexivo, que pensa criti-
mais difícil, pode-se lê-lo várias vezes. Se uma palavra camente sobre sua prática pedagógica e se desenvolve
tem significado desconhecido, usa-se o dicionário. A lei- profissionalmente com esse processo, ele precisa regis-
tura em voz alta é contraditória com uma leitura voltada trar seu Planejamento do Ensino.
ao estudo, à confecção de um resumo do texto. A ati- Redigir o projeto não é uma simples formalidade ad-
vidade proposta pelo professor fica comprometida por ministrativa. É a tradução do processo coletivo de sua
essa contradição. elaboração [...]. Deve resultar em um documento simples,
completo, claro, preciso, que constituirá um recurso im-
Quem faz o planejamento portante para seu acompanhamento e avaliação.

“O planejamento é um trabalho individual e de Componentes do planejamento do ensino


equipe”.
A elaboração do Planejamento do Ensino é uma tare- O Planejamento do Ensino, chamado também de pla-
fa que cada professor deve realizar tendo em vista o con- nejamento da ação pedagógica ou planejamento didáti-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

junto de alunos de uma determinada classe, sendo, por co, deve explicitar:
isso, intransferível. O ideal é desenvolver esse Planeja- - as intenções educativas – por meio dos conteúdos
mento em cooperação com os demais professores, com e dos objetivos educativos, ou das expectativas de
a ajuda da coordenação pedagógica e mesmo da direção aprendizagem;
da escola, mas cada professor deve ser o autor de seu - como esse ensino será orientado pelo professor – as
Planejamento do Ensino. Quantas vezes nós, professores, atividades de ensino e aprendizagem que o pro-
ouvimos um aluno perguntar: - Professor, por que a gen- fessor seleciona para coordenar em sala de aula,
te precisa saber isso? Quantas vezes, no tempo em que com o propósito de cumprir suas intenções educa-
éramos alunos, fizemos essa mesma pergunta a nossos tivas, o tempo necessário para desenvolvê-las;
professores, sem nunca obter uma resposta satisfatória? - como será a avaliação desse processo.

37
Conteúdos e objetivos intolerância com qualquer tipo de discriminação étnica,
de gênero ou classe social são dois exemplos desses con-
Conteúdo é uma forma cultural, um tipo de conheci- teúdos.
mento que a escola seleciona para ensinar a seus alunos.
Informações, conceitos, métodos, técnicas, procedimen- Objetivos
tos, valores, atitudes e normas são tipos diferentes de Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino,
conteúdos. Informações, por exemplo, podem ser apren- também chamados objetivos didáticos ou específicos, ou
didas em uma atividade, já o algoritmo da multiplicação ainda de expectativas de aprendizagem, definem o que
de números inteiros, que é um procedimento, não. Esse os professores desejam que seus alunos aprendam so-
é um tipo de conteúdo cuja aprendizagem envolve gran- bre os conteúdos selecionados. A forma tradicional de
des intervalos de tempo e que necessita de atividades redigir um objetivo é utilizar a frase “ao final do conjunto
planejadas ao longo de meses, pelo menos. de atividades, cada aluno deverá ser capaz de...”. Não há
Valores são conteúdos aprendidos nas relações hu- problema em definir dessa forma os objetivos no Pla-
manas, ocorram elas no espaço escolar ou não. Muitas nejamento do Ensino, desde que os alunos não sejam
vezes, aprender um valor pode significar também mudar obrigados a atingi-los todos ao mesmo tempo. É possí-
de valor, o que torna o ensino e a aprendizagem de va- vel definir esses objetivos descrevendo as expectativas
lores, e de atitudes também, um processo complexo, que de aprendizagem da forma que for mais fácil de com-
não se resolve apenas com a preparação de atividades preendê-las.
localizadas. Em uma escola onde o respeito mútuo e o Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino
combate a qualquer tipo de preconceito de gênero, de são importantes porque muitos conteúdos, os conceitos
etnia ou de classe social estejam ausentes no dia-a-dia, científicos entre eles, são aprendidos em processos que
não há como ensinar valores e atitudes por meio de ati- se complementam ao longo da escolaridade. Por exem-
vidades ou “sérias conversas” sobre esses temas. plo, se um aluno das séries iniciais do Ensino Fundamen-
Os conteúdos do Planejamento do Ensino são aque- tal afirmar que célula é uma “coisa” muito pequena que
les que guiaram a escolha das atividades na elaboração forma o corpo dos seres vivos, pode-se considerar que
do plano e são os conteúdos em relação aos quais o pro- seu conhecimento sobre o conceito de célula está em
fessor tentará observar, e avaliar, como se desenvolvem bom andamento. Mas, se esse for um aluno de 1a série
as aprendizagens, pois isso não seria possível fazer com do Ensino Médio, então, ele está precisando aprender
relação a “todos” os conteúdos presentes na atividade. mais sobre esse conceito.
Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino
Conteúdo do planejamento X Conteúdo das ativi- definem o grau de aprendizagem a que se quer che-
dades gar com o trabalho pedagógico. São faróis, guias para
os professores, mas não devem se tornar “trilhos fixos”,
em sequências que se repetem independentemente da
Em uma atividade de ensino e aprendizagem, os alu-
aprendizagem de cada aluno.
nos trabalham com vários tipos de conteúdos ao mesmo
tempo. Pensando sobre um conceito de Matemática, os
Organização das atividades
alunos podem estar mais ou menos mobilizados para
essa ação, e a mobilização necessária pode ser fruto de
Organizar as atividades:
um valor anteriormente aprendido: são alunos que gos-
A principal função do conjunto articulado de ativi-
tam do desafio de aprender, e que identificam na ativi-
dades de ensino e aprendizagem que devem compor
dade problemas interessantes que aguçam seu pensa- o Planejamento do Ensino é provocar nos alunos uma
mento lógico. atividade mental construtiva em torno de conteúdo(s)
Para resolver uma questão de História ou de Geo- previamente selecionado(s), no Projeto de Escola, no Pla-
grafia, o aluno precisa mobilizar seus conhecimentos de nejamento do Ensino ou durante sua realização.
leitura, lembrar dados e relações que ele já aprendeu e Ao escolher uma atividade de ensino e aprendizagem
que lhe permitam compreender a questão feita e pen- para desenvolver com seus alunos, o professor precisa
sar em possíveis respostas, ou em possíveis fontes para considerar principalmente a coerência entre suas inten-
obter informações ou esclarecer conceitos. Por fim, terá ções – explicitadas pelos conteúdos e objetivos – e as
que mobilizar seus conhecimentos de escrita para redigir ações que vai propor a eles. Precisa também pensar em
a resposta. como aquela atividade irá se articular com a(s) anterior
Durante uma atividade, alunos interagem com outros
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(es) e com a(s) seguinte(s). Uma atividade que está ini-


alunos e com o educador, e nessas relações inúmeros ciando o trabalho sobre um ou mais conteúdos é muito
valores e atitudes entram em jogo. Quando o professor, diferente de uma atividade na qual os alunos estão dis-
ao iniciar um debate, relembra as regras de participação cutindo um problema real, visto no jornal, por exemplo,
com sua classe, está trabalhando conteúdos atitudinais baseados em seus estudos anteriores sobre conceitos
ainda que o debate seja sobre reprodução celular. que estão em jogo no problema.
É preciso lembrar, ainda, que existem conteúdos, ge- As atividades devem ser de acordo com aquilo que
ralmente, valores ou atitudes, que são eleitos no Projeto se quer ensinar, seja a curto, médio ou longo prazo. A
de Escola, e que devem ser trabalhados em todas as ati- diversidade é uma de suas características principais: as-
vidades de sala de aula, bem como em todas as relações sistir a um filme, a uma peça teatral ou a um programa de
pessoais ocorridas no espaço escolar. Respeito mútuo e TV; realizar produções em equipe; participar de debates

38
e praticar argumentação e contra argumentação; fazer aprendizagem quanto a escolha adequada dos proce-
leituras compartilhadas (em voz alta); práticas de labo- dimentos a serem utilizados para o tratamento desses
ratório; observações em matas, campos, mangues, áreas mesmos conteúdos.
urbanas e agrícolas; observações do céu; acompanha- Com relação às demais afirmações, a segunda aborda
mento de processos de médio e longo prazo em Biologia as provas objetivas, importantes instrumentos de ava-
e Astronomia. Idas a museus, bibliotecas públicas, expo- liação quando consideradas num contexto de utiliza-
sições de arte. Pesquisa em livros e revistas, com ou sem ção de outros instrumentos avaliativos também, todos
uso de informática e Internet. Assistir a uma exposição relacionados de acordo com critérios elencados para a
por parte do professor. verificação da aprendizagem dos alunos e do desem-
Novamente, deve-se insistir no fato de que a sequên- penho do professor, mas que não se constituem como
cia de atividades que compõe o Planejamento do Ensino tarefas didáticas essenciais como o planejamento, a
deve levar em conta as experiências dos próprios alunos execução e a própria avaliação do ensino, sendo esta
no decorrer de cada atividade escolhida. Existem planos última entendida neste presente momento como pro-
que se realizam quase integralmente, os que se reali- cesso mais amplo do que apenas a escolha dos instru-
zam em grande parte, ou aqueles que, simplesmente, mentos avaliativos a serem usados.
precisam ser refeitos tendo como critério a avaliação da Por último, com relação à quarta afirmação, conside-
aprendizagem dos alunos. ra-se que o livro didático, embora quando adequado
possa se constituir em importante recurso didático a
ser utilizado em sala de aula, não poderá conter toda
a gama de conteúdos a ser abordada numa determi-
EXERCÍCIO COMENTADO nada situação pedagógica, em função da necessidade
de se utilizar outros recursos como meios auxiliares
1. O fazer docente pressupõe a realização de um conjun- para a aprendizagem, inclusive considerando que tais
to de operações didáticas coordenadas entre si. recursos possam ser de outras naturezas que não ma-
São o planejamento, a direção do ensino e da aprendi- teriais como o livro, quais sejam, tecnológicas e huma-
zagem e a avaliação, cada uma delas desdobrada em ta- nas, por exemplo.
refas ou funções didáticas, mas que convergem para a
realização do ensino propriamente dito. O QUE É MESMO O ATO DE AVALIAR A APRENDI-
Considerando que, para desenvolver cada operação di- ZAGEM?
dática inerente ao ato de planejar, executar e avaliar, o Cipriano Carlos Luckesi
professor precisa dominar certos conhecimentos didáti- A avaliação da aprendizagem escolar se faz presen-
cos, avalie quais afirmações abaixo se referem a conheci- te na vida de todos nós que, de alguma forma, estamos
mentos e domínios esperados do professor. comprometidos com atos e práticas educativas. Pais,
educadores, educandos, gestores das atividades educati-
I. Conhecimento dos conteúdos da disciplina que lecio- vas públicas e particulares, administradores da educação,
na, bem como capacidade de abordá-los de modo con- todos, estamos comprometidos com esse fenômeno que
textualizado. cada vez mais ocupa espaço em nossas preocupações
II. Domínio das técnicas de elaboração de provas objeti- educativas.
vas, por se configurarem instrumentos quantitativos pre- O que desejamos é uma melhor qualidade de vida.
cisos e fidedignos. No caso deste texto, compreendo e exponho a avaliação
III. Domínio de diferentes métodos e procedimentos de da aprendizagem como um recurso pedagógico útil e
ensino e capacidade de escolhê-los conforme a natureza necessário para auxiliar cada educador e cada educando
dos temas a serem tratados e as características dos es- na busca e na construção de si mesmo e do seu melhor
tudantes. modo de ser na vida.
IV. Domínio do conteúdo do livro didático adotado, que
deve conter todos os conteúdos a serem trabalhados du- #FicaDica
rante o ano letivo.
A avaliação da aprendizagem não é e não
É correto apenas o que se afirma em pode continuar sendo a tirana da prática
educativa, que ameaça e submete a todos.
a) I e II.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

b) I e III.
c) II e III. Chega de confundir avaliação da aprendizagem com
d) II e IV. exames. A avaliação da aprendizagem, por ser avaliação,
e) III e IV. é amorosa, inclusiva, dinâmica e construtiva, diversa dos exa-
mes, que não são amorosos, são excludentes, não são cons-
Resposta: Letra B. trutivos, mas classificatórios. A avaliação inclui, traz para den-
As afirmações I e III são consideradas corretas, pois, tro; os exames selecionam, excluem, marginalizam.
segundo pressupostos pedagógicos básicos, conhe- No que se segue, apresento aos leitores alguns en-
cer e contextualizar os conteúdos da disciplina a ser tendimentos básicos para compreender e praticar a ava-
lecionada são tarefas didáticas tão importantes para liação da aprendizagem como avaliação e não, equivoca-
o sucesso do ensino e a consequente efetivação da damente, como exames.

39
Antes de mais nada, uma disposição psicológica ne- Em primeiro lugar, vem o processo de diagnosticar,
cessária ao avaliador que constitui-se de uma constatação e de uma qualifi-
O ato de avaliar, devido a estar a serviço da obtenção cação do objeto da avaliação. Antes de mais nada, por-
do melhor resultado possível, antes de mais nada, impli- tanto, é preciso constatar o estado de alguma coisa (um
ca a disposição de acolher. Isso significa a possibilidade objeto, um espaço, um projeto, uma ação, a aprendiza-
de tomar uma situação da forma como se apresenta, seja gem, uma pessoa...), tendo por base suas propriedades
ela satisfatória ou insatisfatória agradável ou desagra- específicas. Por exemplo, constato a existência de uma
dável, bonita ou feia. Ela é assim, nada mais. Acolhê-la cadeira e seu estado, a partir de suas propriedades ‘físi-
como está é o ponto de partida para se fazer qualquer cas’ (suas características): ela é de madeira, com quatro
coisa que possa ser feita com ela. Avaliar um educando pernas, tem o assento estofado, de cor verde... A cons-
implica, antes de mais nada, acolhê-lo no seu ser e no tatação sustenta a configuração do ‘objeto’, tendo por
seu modo de ser, como está, para, a partir daí, decidir o base suas propriedades, como estão no momento. O ato
que fazer. de avaliar, como todo e qualquer ato de conhecer, ini-
cia-se pela constatação, que nos dá a garantia de que o
A disposição de acolher está no sujeito do avaliador, e objeto é como é. Não há possibilidade de avaliação sem
não no objeto da avaliação. O avaliador é o adulto da rela- a constatação.
ção de avaliação, por isso ele deve possuir a disposição de A constatação oferece a ‘base material’ para a segun-
acolher. Ele é o detentor dessa disposição. E, sem ela, não da parte do ato de diagnosticar, que é qualificar, ou seja,
há avaliação. Não é possível avaliar um objeto, uma pessoa atribuir uma qualidade, positiva ou negativa, ao objeto
ou uma ação, caso ela seja recusada ou excluída, desde o que está sendo avaliado. No exemplo acima, qualifico
início, ou mesmo julgada previamente. Que mais se pode a cadeira como satisfatória ou insatisfatória, tendo por
fazer com um objeto, ação ou pessoa que foram recusa- base as suas propriedades atuais. Só a partir da consta-
dos, desde o primeiro momento? Nada, com certeza! tação, é que qualificamos o objeto de avaliação. A partir
Imaginemos um médico que não tenha a disposição dos dados constatados é que atribuímos-lhe uma quali-
para acolher o seu cliente, no estado em que está; um dade.
empresário que não tenha a disposição para acolher a
sua empresa na situação em que está; um pai ou uma Entretanto, essa qualificação não se dá no vazio. Ela
mãe que não tenha a disposição para acolher um filho é estabelecida a partir de um determinado padrão, de
ou uma filha em alguma situação embaraçosa em que se um determinado critério de qualidade que temos, ou que
encontra. Ou imaginemos cada um de nós, sem dispo- estabelecemos, para este objeto. No caso da cadeira, ela
sição para nos acolhermos a nós mesmos no estado em está sendo qualificada de satisfatória ou insatisfatória em
que estamos. As doenças, muitas vezes, não podem mais função do quê? Ela, no caso, será satisfatória ou insatis-
sofrer qualquer intervenção curativa adequada devido ao fatória em função da finalidade à qual vai servir. Ou seja,
fato de que a pessoa, por vergonha, por medo social ou o objeto da avaliação está envolvido em uma tessitura
por qualquer outra razão, não pode acolher o seu pró- cultural (teórica), compreensiva, que o envolve. Manten-
prio estado pessoal, protelando o momento de procurar do o exemplo acima, a depender das circunstâncias onde
ajuda, chegando ao extremo de ‘já não ter muito mais o esteja a cadeira, com suas propriedades específicas, ela
que fazer!’. será qualificada de positiva ou de negativa. Assim sendo,
A disposição para acolher é, pois, o ponto de partida uma mesma cadeira poderá ser qualificada como satisfa-
para qualquer prática de avaliação. É um estado psicoló- tória para um determinado ambiente, mas insatisfatória
gico oposto ao estado de exclusão, que tem na sua base para um outro ambiente, possuindo as mesmas proprie-
o julgamento prévio. O julgamento prévio está sempre dades específicas. Desde que diagnosticado um objeto
na defesa ou no ataque, nunca no acolhimento. A dispo- de avaliação, ou seja, configurado e qualificado, há algo,
sição para julgar previamente não serve a uma prática de obrigatoriamente, a ser feito, uma tomada de decisão so-
avaliação, porque exclui. bre ele. O ato de qualificar, por si, implica uma tomada
Para ter essa disposição para acolher, importa estar de posição – positiva ou negativa –, que, por sua vez,
atento a ela. Não nascemos naturalmente com ela, mas conduz a uma tomada de decisão. Caso um objeto seja
sim a construímos, a desenvolvemos, estando atentos ao qualificado como satisfatório, o que fazer com ele? Caso
modo como recebemos as coisas. Se antes de ouvirmos seja qualificado como insatisfatório, o que fazer com ele?
ou vermos alguma coisa já estamos julgando, positiva O ato de avaliar não é um ato neutro que se encerra na
ou negativamente, com certeza, não somos capazes de constatação. Ele é um ato dinâmico, que implica na de-
acolher. A avaliação só nos propiciará condições para a cisão de ‘o que fazer’ Sem este ato de decidir, o ato de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

obtenção de uma melhor qualidade de vida se estiver avaliar não se completa. Ele não se realiza. Chegar ao
assentada sobre a disposição para acolher, pois é a partir diagnóstico é uma parte do ato de avaliar. A situação de
daí que podemos construir qualquer coisa que seja. ‘diagnosticar sem tomar uma decisão’ assemelha-se à si-
tuação do náufrago que, após o naufrágio, nada com to-
Por uma compreensão do ato de avaliar das as suas forças para salvar-se e, chegando às margens,
morre, antes de usufruir do seu esforço. Diagnóstico sem
Assentado no ponto de partida acima estabelecido, tomada de decisão é um curso de ação avaliativa que
o ato de avaliar implica dois processos articulados e in- não se completou.
dissociáveis: diagnosticar e decidir. Não é possível uma Como a qualificação, a tomada de decisão também
decisão sem um diagnóstico, e um diagnóstico, sem uma não se faz num vazio teórico. Toma-se decisão em função
decisão é um processo abortado. de um objetivo que se tem a alcançar. Um médico toma

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decisões a respeito da saúde de seu cliente em função Isso não quer dizer aceitar como certo tudo que vem
de melhorar sua qualidade de vida; um empresário toma do educando. Acolher, neste caso, significa a possibilida-
decisões a respeito de sua empresa em função de me- de de abrir espaço para a relação, que, por si mesma, terá
lhorar seu desempenho; um cozinheiro toma decisões a confrontos, que poderão ser de aceitação, de negocia-
respeito do alimento que prepara em função de dar-lhe ção, de redirecionamento. Por isso, a recusa consequen-
o melhor sabor possível, e assim por diante. temente impede as possibilidades de qualquer relação
Em síntese, avaliar é um ato pelo qual, através de uma dialógica, ou seja, as possibilidades da prática educativa.
disposição acolhedora, qualificamos alguma coisa (um O ato de acolher é um ato amoroso, que traz ‘para den-
objeto, ação ou pessoa), tendo em vista, de alguma for- tro’, para depois (e só depois) verificar as possibilidades
ma, tomar uma decisão sobre ela. do que fazer.
Quando atuamos junto a pessoas, a qualificação e a Assentados no acolhimento do nosso educando, po-
decisão necessitam ser dialogadas. O ato de avaliar não demos praticar todos os atos educativos, inclusive a ava-
é um ato impositivo, mas sim um ato dialógico, amoroso liação. E, para avaliar, o primeiro ato básico é o de diag-
e construtivo. Desse modo, a avaliação é uma auxiliar de nosticar, que implica, como seu primeiro passo, coletar
uma vida melhor, mais rica e mais plena, em qualquer de dados relevantes, que configurem o estado de aprendi-
seus setores, desde que constata, qualifica e orienta pos- zagem do educando ou dos educandos. Para tanto, ne-
sibilidades novas e, certamente, mais adequadas, porque cessitamos instrumentos. Aqui, temos três pontos bási-
assentadas nos dados do presente. cos a levar em consideração:
1) dados relevantes;
Avaliação da aprendizagem escolar 2) instrumentos;
3) utilização dos instrumentos.
Vamos transpor esse conceito da avaliação para a
compreensão da avaliação da aprendizagem escolar. To- Cada um desses pontos merece atenção.
mando as elucidações conceituais anteriores, vamos apli-
car, passo a passo, cada um dos elementos à avaliação da Os dados coletados para a prática da avaliação da
aprendizagem escolar. aprendizagem não podem ser quaisquer. Deverão ser
Iniciemos pela disposição de acolher. Para se proces- coletados os dados essenciais para avaliar aquilo que
sar a avaliação da aprendizagem, o educador necessita estamos pretendendo avaliar. São os dados que carac-
dispor-se a acolher o que está acontecendo. Certamente terizam especificamente o objeto em pauta de avalia-
o educador poderá ter alguma expectativa em relação a ção. Ou seja, a avaliação não pode assentar-se sobre
possíveis resultados de sua atividade, mas necessita estar dados secundários do ensino-aprendizagem, mas, sim,
disponível para acolher seja lá o que for que estiver acon- sobre os que efetivamente configuram a conduta ensi-
tecendo. Isso não quer dizer que ‘o que está acontecen- nada e aprendida pelo educando. Caso esteja avaliando
do’ seja o melhor estado da situação avaliada. Importa aprendizagens específicas de matemática, dados sobre
estar disponível para acolhê-la do jeito em que se encon- essa aprendizagem devem ser coletados e não outros; e,
tra, pois só a partir daí é que se pode fazer alguma coisa. assim, de qualquer outra área do conhecimento. Dados
Mais: no caso da aprendizagem, como estamos tra- essenciais são aqueles que estão definidos nos planeja-
balhando com uma pessoa – o educando –, importa aco- mentos de ensino, a partir de uma teoria pedagógica, e
lhê-lo como ser humano, na sua totalidade e não só na que foram traduzidos em práticas educativas nas aulas.
aprendizagem específica que estejamos avaliando, tais Isso implica que o planejamento de ensino necessita
como língua portuguesa, matemática, geografia.... ser produzido de forma consciente e qualitativamente
Acolher o educando, eis o ponto básico para proce- satisfatória, tanto do ponto de vista científico como do
der atividades de avaliação, assim como para proceder ponto de vista políticopedagógicos.
toda e qualquer prática educativa. Sem acolhimento, te- Por outro lado, os instrumentos de avaliação da
mos a recusa. E a recusa significa a impossibilidade de aprendizagem, também, não podem ser quaisquer ins-
estabelecer um vínculo de trabalho educativo com quem trumentos, mas sim os adequados para coletar os dados
está sendo recusado. que estamos necessitando para configurar o estado de
A recusa pode se manifestar de muitos modos, desde aprendizagem do nosso educando. Isso implica que os
os mais explícitos até os mais sutis. A recusa explícita se instrumentos:
dá quando deixamos claro que estamos recusando al- a) sejam adequados ao tipo de conduta e de habilida-
guém. Porém, existem modos sutis de recusar, tal como de que estamos avaliando (informação, compreen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

no exemplo seguinte. Só para nós, em nosso interior, são, análise, síntese, aplicação...);
sem dizer nada para ninguém, julgamos que um aluno b) sejam adequados aos conteúdos essenciais plane-
X ‘é do tipo que dá trabalho e que não vai mudar’. Esse jados e, de fato, realizados no processo de ensino
juízo, por mais silencioso que seja em nosso ser, está lá (o instrumento necessita cobrir todos os conteú-
colocando esse educando de fora. E, por mais que pareça dos que são considerados essenciais numa deter-
que não, estará interferindo em nossa relação com ele. minada unidade de ensino-aprendizagem;
Ele sempre estará fora do nosso círculo de relações. Aco- c) adequados na linguagem, na clareza e na preci-
lhê-lo significa estar aberto para recebê-lo como é. E só são da comunicação (importa que o educando
vendo a situação como é podemos compreendê-la para, compreenda exatamente o que se está pedindo
dialogicamente, ajudá-lo. dele); adequados ao processo de aprendizagem
do educando (um instrumento não deve dificultar

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a aprendizagem do educando, mas, ao contrário, Isto feito, importa saber se este estado é satisfatório
servir-lhe de reforço do que já aprendeu. Respon- ou não. Daí, então, a necessidade que temos de qualificar
der as questões significativas significa aprofundar a aprendizagem, manifestada através dos dados coleta-
as aprendizagens já realizadas.). dos. Para isso, necessitamos utilizar-nos de um padrão
de qualificação. O padrão, ao qual vamos comparar o es-
Um instrumento de coleta de dados pode ser desas- tado de aprendizagem do educando, é estabelecido no
troso, do ponto de vista da avaliação da aprendizagem, planejamento de ensino, que, por sua vez, está susten-
como em qualquer avaliação, na medida em que não co- tado em uma teoria do ensino. Assim, importa, para a
lete, com qualidade, os dados necessários ao processo prática da qualificação dos dados de aprendizagem dos
de avaliação em curso. Um instrumento inadequado ou educandos, tanto a teoria pedagógica que a sustenta,
defeituoso pode distorcer completamente a realidade e, como o planejamento de ensino que fizemos.
por isso, oferecer base inadequada para a qualificação A teoria pedagógica dá o norte da prática educativa e
do objeto da avaliação e, consequentemente, conduzir a o planejamento do ensino faz a mediação entre a teoria
uma decisão também distorcida. pedagógica e a prática de ensino na aula. Sem eles, a
Será que nossos instrumentos de avaliação da apren- prática da avaliação escolar não tem sustentação.
dizagem, utilizados no cotidiano da escola, são suficien- Deste modo, caso utilizemos uma teoria pedagógica
temente adequados para caracterizar nossos educan- que considera que a retenção da informação basta para
dos? Será que eles coletam os dados que devem ser o desenvolvimento do educando, os dados serão quali-
coletados? Será que eles não distorcem a realidade da ficados diante desse entendimento. Porém, caso a teoria
conduta de nossos educandos, nos conduzindo a juízos pedagógica utilizada tenha em conta que, para o desen-
distorcidos? volvimento do educando, importa a formação de suas
Quaisquer que sejam os instrumentos – prova, tes- habilidades de compreender, analisar, sintetizar, aplicar...,
te, redação, monografia, dramatização, exposição oral, os dados coletados serão qualificados, positiva ou nega-
arguição, etc. – necessitam manifestar qualidade satisfa- tivamente, diante dessa exigência teórica.
tória como instrumento para ser utilizado na avaliação
Assim, para qualificar a aprendizagem de nossos
da aprendizagem escolar, sob pena de estarmos quali-
educandos, importa, de um lado, ter clara a teoria que
ficando inadequadamente nossos educandos e, conse-
utilizamos como suporte de nossa prática pedagógica,
quentemente, praticando injustiças. Muitas vezes, nossos
e, de outro, o planejamento de ensino, que estabelece-
educandos são competentes em suas habilidades, mas
mos como guia para nossa prática de ensinar no decorrer
nossos instrumentos de coleta de dados são inadequa-
das unidades de ensino do ano letivo. Sem uma clara e
dos e, por isso, os julgamos, incorretamente, como in-
consistente teoria pedagógica e sem um satisfatório pla-
competentes. Na verdade, o defeito está em nossos
nejamento de ensino, com sua consequente execução,
instrumentos, e não no seu desempenho. Bons instru-
mentos de avaliação da aprendizagem são condições de os atos avaliativos serão praticados aleatoriamente, de
uma prática satisfatória de avaliação na escola. forma mais arbitrária do que o são em sua própria cons-
tituição. Serão praticados sem vínculos com a realidade
Ainda uma palavra sobre o uso dos instrumentos. educativa dos educandos.
Realizados os passos anteriores, chegamos ao diag-
Como nós nos utilizamos dos instrumentos de ava- nóstico. Ele é a expressão qualificada da situação, pessoa
liação, no caso da avaliação da aprendizagem? Eles são ou ação que estamos avaliando.
utilizados, verdadeiramente, como recursos de coleta de Temos, pois, uma situação qualificada, um diagnós-
dados sobre a aprendizagem de nossos educandos, ou tico. O que fazer com ela? O ato avaliativo, só se com-
são utilizados como recursos de controle disciplinar, de pletará, como dissemos nos preliminares deste estudo,
ameaça e submissão de nossos educandos aos nossos com a tomada de decisão do que fazer com a situação
desejos? Podemos utilizar um instrumento de avaliação diagnosticada.
junto aos nossos educandos, simplesmente, como um Caso a situação de aprendizagem diagnosticada seja
recurso de coletar dados sobre suas condutas aprendi- satisfatória, que vamos fazer com ela? Caso seja insatis-
das ou podemos utilizar esse mesmo instrumento como fatória, que vamos fazer com ela? A situação diagnostica-
recurso de disciplinamento externo e aversivo, através da da, seja ela positiva ou negativa, e o ato de avaliar, para
ameaça da reprovação, da geração do estado de medo, se completar, necessita da tomada de decisão A decisão
da submissão, e outros. Afinal, aplicamos os instrumen- do que fazer se impõe no ato de avaliar, pois, em si mes-
mo, ele contém essa possibilidade e essa necessidade. A
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tos com disposição de acolhimento ou de recusa dos


nossos educandos? Ao aplicarmos os instrumentos de avaliação não se encerra com a qualificação do estado
avaliação, criamos um clima leve entre nossos educan- em que está o educando ou os educandos ela obriga a
dos ou pesaroso e ameaçador? Aplicar instrumentos de decisão, não é neutra. A avaliação só se completa com
avaliação exige muitos cuidados para que não distorçam a possibilidade de indicar caminhos mais adequados e
a realidade, desde que nossos educandos são seres hu- mais satisfatórios para uma ação, que está em curso. O
manos e, nessa condição, estão submetidos às múltiplas ato de avaliar implica a busca do melhor e mais satisfató-
variáveis intervenientes em nossas experiências de vida. rio estado daquilo que está sendo avaliado.
Coletados os dados através dos instrumentos, como A avaliação da aprendizagem, deste modo, nos pos-
nós os utilizamos? Os dados coletados devem retratar o sibilita levar à frente uma ação que foi planejada dentro
estado de aprendizagem em que o educando se encontra. de um arcabouço teórico, assim como político. Não será

42
qualquer resultado que satisfará, mas sim um resultado IV. Conservadora, centrada em momentos pontuais para
compatível com a teoria e com a prática pedagógica que discussão e classificação de desempenho individual e
estejamos utilizando. comportamentos.
Em síntese, avaliar a aprendizagem escolar implica es-
tar disponível para acolher nossos educandos no estado É correto apenas o que se afirma em
em que estejam, para, a partir daí, poder auxiliá-los em
sua trajetória de vida. Para tanto, necessitamos de cuida- a) II.
dos com a teoria que orienta nossas práticas educativas, b) IV.
assim como de cuidados específicos com os atos de ava- c) I e III.
liar que, por si, implicam em diagnosticar e renegociar d) I e IV.
permanentemente o melhor caminho para o desenvolvi- e) II e III.
mento, o melhor caminho para a vida. Por conseguinte,
a avaliação da aprendizagem escolar não implica apro- Resposta: Letra C. A referida questão aborda a Ava-
vação ou reprovação do educando, mas sim orientação liação da Aprendizagem escolar em uma visão de-
permanente para o seu desenvolvimento, tendo em vista mocrática, uma vez que possibilita a participação de
tornar-se o que o seu SER pede. todos os alunos, não só no que se refere aos conteú-
dos desenvolvidos como também a autoavaliação e a
Concluindo avaliação da professora, o que justifica a alternativa I
como uma das corretas.
A qualidade de vida deve estar sempre posta à nossa Também se trata de uma avaliação mediadora, que,
frente. Ela é o objetivo. Não vale a pena o uso de tantos conforme Hoffmann “se desenvolve em benefício do
atalhos e tantos recursos, caso a vida não seja alimenta- educando, [...] das oportunidades que lhes oferece-
da tendo em vista o seu florescimento livre, espontâneo mos através de diferentes desafios” (1994), justifican-
e criativo. A prática da avaliação da aprendizagem, para do assim a alternativa III, o que explica o item C como
manifestar-se como tal, deve apontar para a busca do resposta correta.
melhor de todos os educandos, por isso é diagnóstica, e A alternativa II, pela própria palavra arbitrária, a exclui
não voltada para a seleção de uns poucos, como se com- como possibilidade de concepção de avaliação, uma
portam os exames. Por si, a avaliação, como dissemos, é vez que tratamos a avaliação como contrária à arbi-
inclusiva e, por isso mesmo, democrática e amorosa. Por trariedade, avaliação como desencadeadora de uma
ela, por onde quer que se passe, não há exclusão, mas ação de conhecimento.
sim diagnóstico e construção. Não há submissão, mas Quanto à alternativa IV, também é eliminada pela utili-
sim liberdade. Não há medo, mas sim espontaneidade e zação da palavra “conservadora”, bem como pelo con-
busca. Não há chegada definitiva, mas sim travessia per- ceito de avaliação, ainda dentro de uma abordagem
manente, em busca do melhor. Sempre! tradicional de avaliação e de concepção de conheci-
mento.
Fonte: Disponível Pátio On-line
Pátio. Porto alegre: ARTMED. Ano 3, n. 12 fev./abr. 2. (ENADE – Pedagogia) A avaliação da aprendizagem
2006. ganhou um espaço tão amplo nos processos de ensino
que nossa prática educativa escolar passou a ser direcio-
nada por uma “pedagogia do exame”.

EXERCÍCIOS COMENTADOS POR QUÊ?

1. (ENADE – Pedagogia) Entre os instrumentos utili- No processo de avaliação do ensino e da aprendizagem


zados no processo ensino-aprendizagem, a professora da maioria das escolas brasileiras, predomina a utilização
Cida, ao final de cada ciclo avaliativo, realiza uma “roda da avaliação diagnóstica em detrimento da classificató-
de conversa” com seus alunos para discutir as aprendi- ria.
zagens construídas, levando em consideração o desem-
penho individual, a participação e interesse nas aulas, as A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
relações interpessoais vivenciadas e as atitudes conquis-
tadas. Os alunos avaliam seu próprio desempenho, ava- a) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a se-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

liam o professor, e esse, por sua vez, avalia a turma. gunda é uma justificativa correta da primeira.
b) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas
Essa prática de avaliação está associada a quais concep- a segunda não é uma justificativa correta da primeira.
ções? c) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a
segunda, uma proposição falsa.
I. Democrática, embasada na autoavaliação e no saber- d) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segun-
-fazer dos alunos. da, uma proposição verdadeira.
II. Arbitrária, centrada no exercício de poder e na imposi- e) Tanto a primeira quanto a segunda asserções são pro-
ção de ideias da professora sobre o grupo. posições falsas.
III. Mediadora, centrada na troca de ideias, pontos de vis-
ta e reflexão sobre o percurso da aprendizagem.

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Resposta: Letra C. As questões de asserção e razão As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar re-
são formadas por duas afirmações, sendo a segunda sultam das interações sociais e da relação dos homens
a razão ou a justificativa para a primeira. Também po- com o meio; são movimentos cujos significados têm sido
dem ser duas afirmativas que se complementam ou construídos em função das diferentes necessidades, in-
não ou também duas proposições falsas ou uma pro- teresses e possibilidades corporais humanas presentes
posição verdadeira e outra falsa (VIANNA, 1982). nas diferentes culturas em diversas épocas da história.
A questão apresenta duas proposições: a primeira é Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos
verdadeira, pois só examinamos os alunos com os ob- dos homens, constituindo-se assim numa cultura corpo-
jetivos de aprovação ou reprovação, ou seja, o ato de ral. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem
examinar está voltado para o passado, na medida em foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as prá-
que “[...] se deseja saber do educando somente o que ticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos,
ele já aprendeu; o que ele não aprendeu não traz ne- posturas e expressões corporais com intencionalidade.
nhum interesse” (LUCKESI, 2012). Essa é a concepção Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimen-
da maioria dos professores e o que vem sendo utiliza- tos, as crianças também se apropriam do repertório da
do nas escolas, ou seja, uma avaliação classificatória. cultura corporal na qual estão inseridas. Nesse sentido,
A segunda proposição é falsa, pois a maioria das esco- as instituições de educação infantil devem favorecer um
las ainda vem utilizando o modelo classificatório. Além ambiente físico e social onde as crianças se sintam pro-
de falsa a proposição contradiz a primeira. Portanto, tegidas e acolhidas, e ao mesmo tempo seguras para se
a alternativa correta é a C, pois afirma que a primeira arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador
asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda, for esse ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação
uma proposição falsa. de conhecimentos acerca de si mesmas, dos outros e do
As demais alternativas são erradas porque: meio em que vivem.
a) somente a primeira asserção é verdadeira e a se- O trabalho com movimento contempla a multiplicida-
gunda não justifica a primeira. de de funções e manifestações do ato motor, propician-
b) somente a primeira asserção é verdadeira e, embo- do um amplo desenvolvimento de aspectos específicos
ra afirme que a segunda não justifique a primeira, não da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão
diz que ela é falsa. acerca das posturas corporais implicadas nas atividades
d) trata-se do inverso, a primeira é verdadeira e a se- cotidianas, bem como atividades voltadas para a amplia-
gunda é falsa. ção da cultura corporal de cada criança.
e) a primeira é verdadeira e a segunda é falsa. (Autora:
Sônia Maria de Souza Bonelli)
Presença do movimento na educação infantil:
ideias e práticas correntes
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL, A diversidade de práticas pedagógicas que caracte-
ESCRITA, AUDIÇÃO E LEITURA, MÉTODOS, rizam o universo da educação infantil reflete diferentes
TÉCNICAS E HABILIDADES. INSTRUMENTOS concepções quanto ao sentido e funções atribuídas ao
E ATIVIDADES PEDAGÓGICAS. movimento no cotidiano das creches, pré-escolas e ins-
tituições afins.
É muito comum que, visando garantir uma atmosfe-
ra de ordem e de harmonia, algumas práticas educativas
FIQUE ATENTO! procurem simplesmente suprimir o movimento, impondo
O movimento é uma importante dimensão às crianças de diferentes idades rígidas restrições postu-
do desenvolvimento e da cultura humana. As rais. Isso se traduz, por exemplo, na imposição de longos
crianças se movimentam desde que nascem momentos de espera — em fila ou sentada — em que a
adquirindo cada vez maior controle sobre seu criança deve ficar quieta, sem se mover; ou na realização
próprio corpo e se apropriando cada vez mais de atividades mais sistematizadas, como de desenho, es-
das possibilidades de interação com o mundo. crita ou leitura, em que qualquer deslocamento, gesto
Engatinham, caminham, manuseiam objetos, ou mudança de posição pode ser visto como desordem
correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, ou indisciplina. Até junto aos bebês essa prática pode se
com objetos ou brinquedos, experimentando fazer presente, quando, por exemplo, são mantidos no
sempre novas maneiras de utilizar seu corpo berço ou em espaços cujas limitações os impedem de
e seu movimento. Ao movimentarem-se, as expressar-se ou explorar seus recursos motores.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

crianças expressam sentimentos, emoções e Além do objetivo disciplinar apontado, a permanente


pensamentos, ampliando as possibilidades exigência de contenção motora pode estar baseada na
do uso significativo de gestos e posturas ideia de que o movimento impede a concentração e a
corporais. atenção da criança, ou seja, que as manifestações mo-
toras atrapalham a aprendizagem. Todavia, a julgar pelo
O movimento humano, portanto, é mais do que sim- papel que os gestos e as posturas desempenham junto
ples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em à percepção e à representação, conclui-se que, ao con-
uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o trário, é a impossibilidade de mover-se ou de gesticular
meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobili- que pode dificultar o pensamento e a manutenção da
zando as pessoas por meio de seu teor expressivo. atenção.

44
Em linhas gerais, as consequências dessa rigidez po- O bebê que se mexe descontroladamente ou que faz
dem apontar tanto para o desenvolvimento de uma ati- caretas provocadas por desconfortos terá na mãe e nos
tude de passividade nas crianças como para a instalação adultos responsáveis por seu cuidado e educação par-
de um clima de hostilidade, em que o professor tenta, a ceiros fundamentais para a descoberta dos significados
todo custo, conter e controlar as manifestações motoras desses movimentos. Aos poucos, esses adultos saberão
infantis. No caso em que as crianças, apesar das restri- que determinado torcer de corpo significa que o bebê
ções, mantêm o vigor de sua gestualidade, podem ser está, por exemplo, com cólica, ou que determinado cho-
frequentes situações em que elas percam completamen- ro pode ser de fome. Assim, a primeira função do ato
te o controle sobre o corpo, devido ao cansaço provoca- motor está ligada à expressão, permitindo que desejos,
do pelo esforço de contenção que lhes é exigido. estados íntimos e necessidades se manifestem.
Outras práticas, apesar de também visarem ao si- Mas é importante lembrar que a função expressiva
lêncio e à contenção de que dependeriam a ordem e não é exclusiva do bebê. Ela continua presente mesmo
a disciplina, lançam mão de outros recursos didáticos, com o desenvolvimento das possibilidades instrumentais
propondo, por exemplo, sequências de exercícios ou de do ato motor. É frequente, por exemplo, a brincadeira de
deslocamentos em que a criança deve mexer seu corpo, luta entre crianças de cinco ou seis anos, situação em que
mas desde que em estrita conformidade a determinadas se pode constatar o papel expressivo dos movimentos, já
orientações. Ou ainda reservando curtos intervalos em que essa brincadeira envolve intensa troca afetiva.
que a criança é solicitada a se mexer, para dispender sua A externalização de sentimentos, emoções e estados
energia física. Essas práticas, ao permitirem certa mobi- íntimos poderão encontrar na expressividade do corpo
lidade às crianças, podem até ser eficazes do ponto de um recurso privilegiado. Mesmo entre adultos isso apare-
vista da manutenção da “ordem”, mas limitam as possi- ce frequentemente em conversas, em que a expressão fa-
bilidades de expressão da criança e tolhem suas iniciati- cial pode deixar transparecer sentimentos como descon-
vas próprias, ao enquadrar os gestos e deslocamentos a fiança, medo ou ansiedade, indicando muitas vezes algo
modelos predeterminados ou a momentos específicos. oposto ao que se está falando. Outro exemplo é como os
No berçário, um exemplo típico dessas práticas são gestos podem ser utilizados intensamente para pontuar a
as sessões de estimulação individual de bebês, que com fala, por meio de movimentos das mãos e do corpo.
frequência são precedidas por longos períodos de con- Cada cultura possui seu jeito próprio de preservar es-
finamento ao berço. Nessas atividades, o professor ma- ses recursos expressivos do movimento, havendo varia-
nipula o corpo do bebê, esticando e encolhendo seus ções na importância dada às expressões faciais, aos ges-
membros, fazendo-os descer ou subir de colchonetes tos e às posturas corporais, bem como nos significados
ou almofadas, ou fazendo-os sentar durante um tempo atribuídos a eles.
determinado. A forma mecânica pela qual são feitas as É muito grande a influência que a cultura tem sobre
manipulações, além de desperdiçarem o rico potencial o desenvolvimento da motricidade infantil, não só pelos
de troca afetiva que trazem esses momentos de intera- diferentes significados que cada grupo atribui a gestos e
ção corporal, deixam a criança numa atitude de passivi- expressões faciais, como também pelos diferentes movi-
dade, desvalorizando as descobertas e os desafios que mentos aprendidos no manuseio de objetos específicos
ela poderia encontrar de forma mais natural, em outras presentes na atividade cotidiana, como pás, lápis, bolas
situações. de gude, corda, estilingue etc.
O movimento para a criança pequena significa muito Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas espor-
mais do que mexer partes do corpo ou deslocar-se no es- tivas revelam, por seu lado, a cultura corporal de cada
paço. A criança se expressa e se comunica por meio dos grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas
gestos e das mímicas faciais e interage utilizando forte- nas quais o movimento é aprendido e significado.
mente o apoio do corpo. A dimensão corporal integra-se Dado o alcance que a questão motora assume na ati-
ao conjunto da atividade da criança. O ato motor faz-se vidade da criança, é muito importante que, ao lado das
presente em suas funções expressiva, instrumental ou de situações planejadas especialmente para trabalhar o mo-
sustentação às posturas e aos gestos. Quanto menor a vimento em suas várias dimensões, a instituição reflita so-
criança, mais ela precisa de adultos que interpretem o bre o espaço dado ao movimento em todos os momentos
significado de seus movimentos e expressões, auxilian- da rotina diária, incorporando os diferentes significados
do-a na satisfação de suas necessidades. À medida que a que lhe são atribuídos pelos familiares e pela comunidade.
criança cresce, o desenvolvimento de novas capacidades Nesse sentido, é importante que o trabalho incor-
possibilita que ela atue de maneira cada vez mais inde- pore a expressividade e a mobilidade próprias às crian-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pendente sobre o mundo à sua volta, ganhando maior ças. Assim, um grupo disciplinado não é aquele em que
autonomia em relação aos adultos. todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo
Pode-se dizer que no início do desenvolvimento pre- em que os vários elementos se encontram envolvidos e
domina a dimensão subjetiva da motricidade, que en- mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamen-
contra sua eficácia e sentido principalmente na interação tos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse en-
com o meio social, junto às pessoas com quem a criança volvimento não podem ser entendidos como dispersão
interage diretamente. É somente aos poucos que se de- ou desordem, e sim como uma manifestação natural das
senvolve a dimensão objetiva do movimento, que corres- crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo das
ponde às competências instrumentais para agir sobre o manifestações da motricidade infantil poderá ajudar o
espaço e meio físico. professor a organizar melhor a sua prática, levando em
conta as necessidades das crianças.

45
A criança e o movimento ainda, preparadas. Por outro lado, ao proteger o bebê
dessa forma, se estava impedindo sua movimentação.
O primeiro ano de vida Não tendo como interagir com o mundo físico e tendo
Nessa fase, predomina a dimensão subjetiva do mo- menos possibilidades de interagir com o mundo social,
vimento, pois são as emoções o canal privilegiado de era mais difícil expressar-se e desenvolver as habilidades
interação do bebê com o adulto e mesmo com outras necessárias para uma relação mais independente com o
crianças. O diálogo afetivo que se estabelece com o adul- ambiente.
to, caracterizado pelo toque corporal, pelas modulações
da voz, por expressões cada vez mais cheias de sentido, Crianças de um a três anos
constitui-se em espaço privilegiado de aprendizagem. A Logo que aprende a andar, a criança parece tão en-
criança imita o parceiro e cria suas próprias reações: ba- cantada com sua nova capacidade que se diverte em lo-
lança o corpo, bate palmas, vira ou levanta a cabeça etc. comover-se de um lado para outro, sem uma finalidade
Ao lado dessas capacidades expressivas, o bebê rea- específica. O exercício dessa capacidade, somado ao pro-
liza importantes conquistas no plano da sustentação do gressivo amadurecimento do sistema nervoso, propicia o
próprio corpo, representadas em ações como virar-se, aperfeiçoamento do andar, que se torna cada vez mais
rolar, sentar-se etc. Essas conquistas antecedem e prepa- seguro e estável, desdobrando-se nos atos de correr, pu-
ram o aprendizado da locomoção, o que amplia muito a lar e suas variantes.
possibilidade de ação independente. É bom lembrar que, A grande independência que andar propicia na ex-
antes de aprender a andar, as crianças podem desenvol- ploração do espaço é acompanhada também por uma
ver formas alternativas de locomoção, como arrastar-se maior disponibilidade das mãos: a criança dessa idade é
ou engatinhar. aquela que não pára, mexe em tudo, explora, pesquisa.
Ao observar um bebê, pode-se constatar que é gran- Ao mesmo tempo em que explora, aprende gradual-
de o tempo que ele dedica à explorações do próprio mente a adequar seus gestos e movimentos às suas in-
corpo — fica olhando as mãos paradas ou mexendo-as tenções e às demandas da realidade. Gestos como o de
diante dos olhos, pega os pés e diverte-se em mantê- segurar uma colher para comer ou uma xícara para beber
-los sob o controle das mãos — como que descobrindo e o de pegar um lápis para marcar um papel, embora ain-
aquilo que faz parte do seu corpo e o que vem do mun- da não muito seguros, são exemplos dos progressos no
do exterior. Pode-se também notar o interesse com que plano da gestualidade instrumental. O fato de manipular
investiga os efeitos dos próprios gestos sobre os objetos objetos que tenham um uso cultural bem definido não
do mundo exterior, por exemplo, puxando várias vezes significa que a manipulação se restrinja a esse uso, já que
a corda de um brinquedo que emite um som, ou ten- o caráter expressivo do movimento ainda predomina. As-
tando alcançar com as mãos o móbile pendurado sobre sim, se a criança dessa idade pode pegar uma xícara para
o berço, ou seja, repetindo seus atos buscando testar o beber água, pode também pegá-la simplesmente para
resultado que produzem. brincar, explorando as várias possibilidades de seu gesto.
Essas ações exploratórias permitem que o bebê des- Outro aspecto da dimensão expressiva do ato motor
cubra os limites e a unidade do próprio corpo, conquistas é o desenvolvimento dos gestos simbólicos, tanto aque-
importantes no plano da consciência corporal. As ações les ligados ao faz-de-conta quanto os que possuem uma
em que procura descobrir o efeito de seus gestos sobre função indicativa, como apontar, dar tchau etc. No faz-
os objetos propiciam a coordenação sensório motora, -de-conta pode-se observar situações em que as crianças
a partir de quando seus atos se tornam instrumentos revivem uma cena recorrendo somente aos seus gestos,
para atingir fins situados no mundo exterior. Do ponto por exemplo, quando, colocando os braços na posição
de vista das relações com o objeto, a grande conquista de ninar, os balançam, fazendo de conta que estão em-
do primeiro ano de vida é o gesto de preensão, o qual balando uma boneca. Nesse tipo de situação, a imitação
se constitui em recurso com múltiplas possibilidades de desempenha um importante papel.
aplicação. No plano da consciência corporal, nessa idade a
Aquisições como a preensão e a locomoção repre- criança começa a reconhecer a imagem de seu corpo, o
sentam importantes conquistas no plano da motricidade que ocorre principalmente por meio das interações so-
objetiva. Consolidando-se como instrumentos de ação ciais que estabelece e das brincadeiras que faz diante do
sobre o mundo, aprimoram-se conforme as oportuni- espelho. Nessas situações, ela aprende a reconhecer as
dades que se oferecem à criança de explorar o espaço, características físicas que integram a sua pessoa, o que é
manipular objetos, realizar atividades diversificadas e de- fundamental para a construção de sua identidade.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

safiadoras.
É curioso lembrar que a aceitação da importância da Crianças de quatro a seis anos
corporeidade para o bebê é relativamente recente, pois Nessa faixa etária constata-se uma ampliação do re-
até bem pouco tempo prescrevia-se que ele fosse con- pertório de gestos instrumentais, os quais contam com
servado numa espécie de estado de “crisálida” durante progressiva precisão. Atos que exigem coordenação de
vários meses, envolvido em cueiros e faixas que o con- vários segmentos motores e o ajuste a objetos específi-
finavam a uma única posição, tolhendo completamente cos, como recortar, colar, encaixar pequenas peças etc.,
seus movimentos espontâneos. Certamente esse hábito sofisticam-se. Ao lado disso, permanece a tendência lúdi-
traduzia um cuidado, uma preocupação com a possibili- ca da motricidade, sendo muito comum que as crianças,
dade de o bebê se machucar ao fazer movimentos para durante a realização de uma atividade, desviem a direção
os quais sua ossatura e musculatura não estivessem, de seu gesto; é o caso, por exemplo, da criança que está

46
recortando e que de repente põe-se a brincar com a te- - explorar e utilizar os movimentos de preensão, en-
soura, transformando-a num avião, numa espada etc. caixe, lançamento etc., para o uso de objetos di-
Gradativamente, o movimento começa a submeter-se versos.
ao controle voluntário, o que se reflete na capacidade de
planejar e antecipar ações — ou seja, de pensar antes de Crianças de quatro a seis anos
agir — e no desenvolvimento crescente de recursos de Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a fai-
contenção motora. A possibilidade de planejar seu pró- xa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados
prio movimento mostra-se presente, por exemplo, nas e ampliados, garantindo-se, ainda, oportunidades para
conversas entre crianças em que uma narra para a outra que as crianças sejam capazes de:
o que e como fará para realizar determinada ação: “Eu • ampliar as possibilidades expressivas do próprio
vou lá, vou pular assim e vou pegar tal coisa...”. movimento, utilizando gestos diversos e o ritmo
Os recursos de contenção motora, por sua vez, se tra- corporal nas suas brincadeiras, danças, jogos e de-
duzem no aumento do tempo que a criança consegue mais situações de interação;
manter-se numa mesma posição. Vale destacar o enor- • explorar diferentes qualidades e dinâmicas do movi-
me esforço que tal aprendizado exige da criança, já que, mento, como força, velocidade, resistência e flexi-
quando o corpo está parado, ocorre intensa atividade bilidade, conhecendo gradativamente os limites e
muscular para mantê-lo na mesma postura. Do ponto de as potencialidades de seu corpo;
vista da atividade muscular, os recursos de expressivida- • controlar gradualmente o próprio movimento, aper-
de correspondem a variações do tônus (grau de tensão feiçoando seus recursos de deslocamento e ajus-
do músculo), que respondem também pelo equilíbrio e tando suas habilidades motoras para utilização em
sustentação das posturas corporais. jogos, brincadeiras, danças e demais situações;
O maior controle sobre a própria ação resulta em di- • utilizar os movimentos de preensão, encaixe, lan-
minuição da impulsividade motora que predominava nos çamento etc., para ampliar suas possibilidades de
bebês. manuseio dos diferentes materiais e objetos;
É grande o volume de jogos e brincadeiras encon- • apropriar-se progressivamente da imagem global
tradas nas diversas culturas que envolvem complexas de seu corpo, conhecendo e identificando seus
sequências motoras para serem reproduzidas, propician- segmentos e elementos e desenvolvendo cada vez
do conquistas no plano da coordenação e precisão do mais uma atitude de interesse e cuidado com o
movimento. próprio corpo.
As práticas culturais predominantes e as possibili-
dades de exploração oferecidas pelo meio no qual a Conteúdos
criança vive permitem que ela desenvolva capacidades e
construa repertórios próprios. Por exemplo, uma criança A organização dos conteúdos para o trabalho com
criada num bairro em que o futebol é uma prática co- movimento deverá respeitar as diferentes capacidades
mum poderá interessar-se pelo esporte e aprender a jo- das crianças em cada faixa etária, bem como as diversas
gar desde cedo. Uma criança que vive à beira de um rio culturas corporais presentes nas muitas regiões do país.
utilizado, por exemplo, como forma de lazer pela comu- Os conteúdos deverão priorizar o desenvolvimen-
nidade provavelmente aprenderá a nadar sem que seja to das capacidades expressivas e instrumentais do mo-
preciso entrar numa escola de natação, como pode ser o vimento, possibilitando a apropriação corporal pelas
caso de uma criança de ambiente urbano. Habilidades de crianças de forma que possam agir com cada vez mais
subir em árvores, escalar alturas, pular distâncias, certa- intencionalidade. Devem ser organizado num processo
mente serão mais fáceis para crianças criadas em locais contínuo e integrado que envolve múltiplas experiências
próximos à natureza, ou que tenham acesso a parques corporais, possíveis de serem realizadas pela criança so-
ou praças. zinha ou em situações de interação. Os diferentes espa-
As brincadeiras que compõem o repertório infantil e ços e materiais, os diversos repertórios de cultura corpo-
que variam conforme a cultura regional apresentam-se ral expressos em brincadeiras, jogos, danças, atividades
como oportunidades privilegiadas para desenvolver habi- esportivas e outras práticas sociais são algumas das con-
lidades no plano motor, como empinar pipas, jogar boli- dições necessárias para que esse processo ocorra.
nhas de gude, atirar com estilingue, pular amarelinha etc. Os conteúdos estão organizados em dois blocos. O
primeiro refere-se às possibilidades expressivas do movi-
Objetivos mento e o segundo ao seu caráter instrumental.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Crianças de zero a três anos Expressividade


A prática educativa deve se organizar de forma a que
as crianças desenvolvam as seguintes capacidades: A dimensão subjetiva do movimento deve ser con-
- familiarizar-se com a imagem do próprio corpo; templada e acolhida em todas as situações do dia-a-dia
- explorar as possibilidades de gestos e ritmos corpo- na instituição de educação infantil, possibilitando que as
rais para expressar-se nas brincadeiras e nas de- crianças utilizem gestos, posturas e ritmos para se ex-
mais situações de interação; pressar e se comunicar. Além disso, é possível criar, in-
- deslocar-se com destreza progressiva no espaço ao tencionalmente, oportunidades para que as crianças se
andar, correr, pular etc., desenvolvendo atitude de apropriem dos significados expressivos do movimento.
confiança nas próprias capacidades motoras;

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A dimensão expressiva do movimento engloba tan- bolo de lama etc. Outra sugestão é o uso de tecidos de
to as expressões e comunicação de ideias, sensações e diferentes texturas e pesos, ou materiais de temperaturas
sentimentos pessoais como as manifestações corporais diferentes, em brincadeiras prazerosas como esconder
que estão relacionadas com a cultura. A dança é uma das sob um pano grosso; fazer cabanas; túneis e labirintos
manifestações da cultura corporal dos diferentes gru- construídos com filó etc.
pos sociais que está intimamente associada ao desen- As mímicas faciais e gestos possuem um papel im-
volvimento das capacidades expressivas das crianças. A portante na expressão de sentimentos e em sua comuni-
aprendizagem da dança pelas crianças, porém, não pode cação. É importante que a criança dessa faixa etária co-
estar determinada pela marcação e definição de coreo- nheça suas próprias capacidades expressivas e aprenda
grafias pelos adultos. progressivamente a identificar as expressões dos outros,
ampliando sua comunicação. Brincar de fazer caretas ou
Crianças de zero a três anos de imitar bichos propicia a descoberta das possibilida-
• Reconhecimento progressivo de segmentos e ele- des expressiva de si própria e dos outros. Participar de
mentos do próprio corpo por meio da exploração, brincadeiras de roda ou de danças circulares, como “A
das brincadeiras, do uso do espelho e da interação Galinha do Vizinho” ou “Ciranda, Cirandinha”, favorecem
com os outros. o desenvolvimento da noção de ritmo individual e cole-
• Expressão de sensações e ritmos corporais por meio tivo, introduzindo as crianças em movimentos inerentes
de gestos, posturas e da linguagem oral. à dança.
Brincadeiras tradicionais como “A Linda Rosa Juvenil”,
Orientações didáticas na qual a cada verso corresponde um gesto, proporcio-
nam também a oportunidade de descobrir e explorar
Atividades como o banho e a massagem são oportu- movimentos ajustados a um ritmo, conservando forte-
nidades privilegiadas de explorar o próprio corpo, assim mente a possibilidade de expressar emoções.
como de experimentar diferentes sensações, inclusive O professor precisa cuidar de sua expressão e pos-
junto com outras crianças. turas corporais ao se relacionar com as crianças. Não
Brincadeiras que envolvam o canto e o movimento, deve esquecer que seu corpo é um veículo expressivo,
simultaneamente, possibilitam a percepção rítmica, a valorizando e adequando os próprios gestos, mímicas
identificação de segmentos do corpo e o contato físico. A e movimentos na comunicação com as crianças, como
cultura popular infantil é uma riquíssima fonte na qual se quando as acolhe no seu colo, oferece alimentos ou as
podem buscar cantigas e brincadeiras de cunho afetivo toca na hora do banho. O professor, também, é modelo
nas quais o contato corporal é o seu principal conteúdo, para as crianças, fornecendo-lhes repertório de gestos e
como no seguinte exemplo: “& Conheço um jacaré &que posturas quando, por exemplo, conta histórias pontuan-
gosta de comer. & Esconda a sua perna, & senão o ja- do ideias com gestos expressivos ou usa recursos vocais
caré come sua perna e o seu dedão do pé &” .Os jogos para enfatizar sua dramaticidade. Conhecer jogos e brin-
e brincadeiras que envolvem as modulações de voz, as cadeiras e refletir sobre os tipos de movimentos que en-
melodias e a percepção rítmica — tão características das volvem é condição importante para ajudar as crianças a
canções de ninar, associadas ao ato de embalar, e aos desenvolverem uma motricidade harmoniosa.
brincos, brincadeiras ritmadas que combinam gestos e
música — podem fazer parte de sequências de ativida- Crianças de quatro a seis anos
des. Essas brincadeiras, ao propiciar o contato corporal • Utilização expressiva intencional do movimento nas
da criança com o adulto, auxiliam o desenvolvimento de situações cotidianas e em suas brincadeiras.
suas capacidades expressivas. Um exemplo é a variante • Percepção de estruturas rítmicas para expressar-se
brasileira de um brinco de origem portuguesa no qual o corporalmente por meio da dança, brincadeiras e
adulto segura a criança em pé ou sentada em seu colo e de outros movimentos.
imita o movimento do serrador enquanto canta: “& Ser- • Valorização e ampliação das possibilidades estéticas
ra, serra, serrador, & Serra o papo do vovô. & Serra um, do movimento pelo conhecimento e utilização de
serra dois, & serra três, serra quatro, &serra cinco, serra diferentes modalidades de dança.
seis, &serra sete, serra oito, & serra nove, serra dez! &”. • Percepção das sensações, limites, potencialidades,
É importante que nos berçários e em cada sala haja sinais vitais e integridade do próprio corpo.
um espelho grande o suficiente para permitir que várias
crianças possam se ver refletidas ao mesmo tempo, ofe- Orientações didáticas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

recendo a elas a possibilidade de vivenciar e compartilhar


descobertas fundamentais. O espelho deve estar situado O espelho continua a se fazer necessário para a cons-
de forma a permitir a visão do corpo inteiro, ao lado do trução e afirmação da imagem corporal em brincadeiras
qual poderão ser colocados colchonetes, tapetes, almo- nas quais meninos e meninas poderão se fantasiar, assu-
fadas, brinquedos variados etc. Alguns materiais, em mir papéis, se olharem. Nesse sentido, um conjunto de
contato com o corpo da criança, podem proporcionar maquiagem, fantasias diversas, roupas velhas de adultos,
experiências significativas no que diz respeito à sensibi- sapatos, bijuterias e acessórios são ótimos materiais para
lidade corporal. As características físicas de fluidez, tex- o faz-de-conta nessa faixa etária. Com eles, e diante do
tura, temperatura e plasticidade da terra, da areia e da espelho, a criança consegue perceber que sua imagem
água propiciam atividades sensíveis interessantes, como muda, sem que modifique a sua pessoa.
o banho de esguicho, construir castelos com areia, fazer

48
Pode-se propor alguns jogos e brincadeiras envol- As instituições devem assegurar e valorizar, em seu
vendo a interação, a imitação e o reconhecimento do cotidiano, jogos motores e brincadeiras que contemplem
corpo, como “Siga o Mestre” e “Seu Lobo”. a progressiva coordenação dos movimentos e o equilí-
O professor pode propor atividades em que as crian- brio das crianças. Os jogos motores de regras trazem
ças, de forma mais sistemática, observem partes do pró- também a oportunidade de aprendizagens sociais, pois
prio corpo ou de seus amigos, usando-as como modelo, ao jogar, as crianças aprendem a competir, a colaborar
como, por exemplo, para moldar, pintar ou desenhar. umas com as outras, a combinar e a respeitar regras.
Essa possibilidade pode ser aprofundada, se forem pes-
quisadas também obras de arte em que partes do corpo Crianças de zero a três anos
foram retratadas ou esculpidas. • Exploração de diferentes posturas corporais, como
É importante lembrar que nesse tipo de trabalho não sentar-se em diferentes inclinações, deitar-se em
há necessidade de se estabelecer uma hierarquia prévia diferentes posições, ficar ereto apoiado na planta
entre as partes do corpo que serão trabalhadas. Pensar dos pés com e sem ajuda etc.
que para a criança é mais fácil começar a perceber o pró- • Ampliação progressiva da destreza para deslocar-se
prio corpo pela cabeça, depois pelo tronco e por fim pe- no espaço por meio da possibilidade constante de
los membros, por exemplo, pode não corresponder à sua arrastar-se, engatinhar, rolar, andar, correr, saltar
experiência real. Nesse sentido, o professor precisa estar etc.
bastante atento aos conhecimentos prévios das crianças • Aperfeiçoamento dos gestos relacionados com a
acerca de si mesmas e de sua corporeidade, para ade- preensão, o encaixe, o traçado no desenho, o lan-
quar seus projetos e a melhor maneira de trabalhá-los çamento etc., por meio da experimentação e uti-
com o grupo de crianças. lização de suas habilidades manuais em diversas
O reconhecimento dos sinais vitais e de suas altera- situações cotidianas.
ções, como a respiração, os batimentos cardíacos, assim
como as sensações de prazer, podem ser trabalhados Orientações didáticas
com as crianças. Perceber esses sinais, refletir e conversar
sobre o que acontece quando as crianças correm, rolam Quanto menor a criança, maior é a responsabilidade
ou são massageadas pode garantir a ampliação do co- do adulto de lhe proporcionar experiências posturais e
nhecimento sobre seu corpo e expressão do movimento motoras variadas. Para isso ele deve modificar as posi-
de forma mais harmoniosa. ções das crianças quando sentadas ou deitadas; observar
Representar experiências observadas e vividas por os bebês para descobrir em que posições ficam mais ou
meio do movimento pode se transformar numa atividade menos confortáveis; tocar, acalentar e massagear fre-
bastante divertida e significativa para as crianças. Derre- quentemente os bebês para que eles possam perceber
ter como um sorvete, flutuar como um floco de algodão, partes do corpo que não alcançam sozinhos.
balançar como as folhas de uma árvore, correr como um O professor pode organizar o ambiente com mate-
rio, voar como uma gaivota, cair como um raio etc., são riais que propiciem a descoberta e exploração do movi-
exercícios de imaginação e criatividade que reiteram a mento. Materiais que rolem pelo chão, como cilindros e
importância do movimento para expressar e comunicar bolas de diversos tamanhos, sugerem às crianças que se
ideias e emoções. arrastem, engatinhem ou caminhem atrás deles ou ainda
No Brasil existem inúmeras danças, folguedos, brin- que rolem sobre eles. As bolas podem ser chutadas, lan-
cadeiras de roda e cirandas que, além do caráter de çadas, quicadas etc. Túneis de pano sugerem às crianças
socialização que representam, trazem para a criança a que se abaixem e utilizem a força dos músculos dos bra-
possibilidade de realização de movimentos de diferentes ços e das pernas para percorrer seu interior. Móbiles e
qualidades expressivas e rítmicas. A roda otimiza a per- outros penduricalhos sugerem que as crianças exercitem
cepção de um ritmo comum e a noção de conjunto. Há a posição ereta, nas tentativas de erguer-se para tocá-
muitas brincadeiras de roda , como o coco de roda ala- -los. Almofadas organizadas num ambiente com livros
goano, o bumba-meu-boi maranhense, a catira paulista, ou gibis e brinquedos convidam as crianças a sentarem
o maracatu e o frevo pernambucanos, a chula rio-gran- ou deitarem, concentradas nas suas atividades.
dense, as cirandas, as quadrilhas, entre tantas outras. O O professor pode organizar atividades que exijam o
fato de todas essas manifestações expressivas serem rea- aperfeiçoamento das capacidades motoras das crianças,
lizadas em grupo acrescentam ao movimento um senti- ou que lhes tragam novos desafios, considerando seus
do socializador e estético. progressos.
Um bom exemplo são as organizações de circuitos no
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Equilíbrio e coordenação espaço externo ou interno de modo a sugerir às crianças


desafios corporais variados. Podem-se criar, com pneus,
As ações que compõem as brincadeiras envolvem as- bancos, tábuas de madeira etc., túneis, pontes, caminhos,
pectos ligados à coordenação do movimento e ao equi- rampas e labirintos nos quais as crianças podem saltar
líbrio. Por exemplo, para saltar um obstáculo, as crianças para dentro, equilibrar-se, andar, escorregar etc.
precisam coordenar habilidades motoras como veloci- Algumas brincadeiras tradicionais podem contribuir
dade, flexibilidade e força, calculando a maneira mais para a qualidade das experiências motoras e posturais
adequada de conseguir seu objetivo. Para empinar uma das crianças, como, por exemplo, a brincadeira de está-
pipa, precisam coordenar a força e a flexibilidade dos tua cuja regra principal é a de que as crianças fiquem
movimentos do braço com a percepção espacial e, se for paradas como estátua a um sinal, promovendo a manu-
preciso correr, a velocidade etc. tenção do tônus muscular durante algum tempo.

49
Crianças de quatro a seis anos As diferentes atividades que ocorrem nas instituições
• Participação em brincadeiras e jogos que envol- requerem das crianças posturas corporais distintas. Cabe
vam correr, subir, descer, escorregar, pendurar-se, ao professor organizar o ambiente de tal forma a garan-
movimentar-se, dançar etc., para ampliar gradual- tir a postura mais adequada para cada atividade, não as
mente o conhecimento e controle sobre o corpo e restringindo a modelos estereotipados.
o movimento.
• Utilização dos recursos de deslocamento e das ha- Orientações gerais para o professor
bilidades de força, velocidade, resistência e flexibi-
lidade nos jogos e brincadeiras dos quais participa. É muito importante que o professor perceba os diver-
• Valorização de suas conquistas corporais. sos significados que pode ter a atividade motora para as
• Manipulação de materiais, objetos e brinquedos di- crianças. Isso poderá contribuir para que ele possa aju-
versos para aperfeiçoamento de suas habilidades dá-las a ter uma percepção adequada de seus recursos
manuais. corporais, de suas possibilidades e limitações sempre em
transformação, dando-lhes condições de se expressarem
Orientações didáticas com liberdade e de aperfeiçoarem suas competências
motoras.
É importante possibilitar diferentes movimentos que O professor deve refletir sobre as solicitações corpo-
aparecem em atividades como lutar, dançar, subir e des- rais das crianças e sua atitude diante das manifestações
cer de árvores ou obstáculos, jogar bola, rodar bambo- da motricidade infantil, compreendendo seu caráter lú-
lê etc. Essas experiências devem ser oferecidas sempre, dico e expressivo. Além de refletir acerca das possibili-
com o cuidado de evitar enquadrar as crianças em mo- dades posturais e motoras oferecidas no conjunto das
delos de comportamento estereotipados, associados ao atividades, é interessante planejar situações de trabalho
gênero masculino e feminino, como, por exemplo, não voltadas para aspectos mais específicos do desenvolvi-
deixar que as meninas joguem futebol ou que os meni- mento corporal e motor. Nessa perspectiva, o professor
nos rodem bambolê. deverá avaliar constantemente o tempo de contenção
A brincadeira de pular corda, tão popular no Brasil, motora ou de manutenção de uma mesma postura de
propõe às crianças uma pesquisa corporal intensa, tanto maneira a adequar as atividades às possibilidades das
em relação às diferentes qualidades de movimento que crianças de diferentes idades.
sugere (rápidos ou lentos; pesados ou leves) como tam- Outro ponto de reflexão diz respeito à lateralidade,
bém em relação à percepção espaço-temporal, já que, ou seja, à predominância para o uso de um lado do cor-
para “entrar” na corda, as crianças devem sentir o ritmo po. Durante o processo de definição da lateralidade, as
de suas batidas no chão para perceber o momento certo. crianças podem usar, indiscriminadamente, ambos os la-
A corda pode também ser utilizada em outras brincadei- dos do corpo. Espontaneamente a criança irá manifestar
ras desafiadoras. Ao ser amarrada no galho de uma árvo- a preferência pelo uso de uma das mãos, definindo-se
re, possibilita à criança pendurar-se e balançar-se; ao ser como destra ou canhota.
esticada em diferentes alturas, permite que as crianças se Assim, cabe ao professor acolher suas preferências,
arrastem, agachem etc. sem impor-lhes, por exemplo, o uso da mão direita.
Os primeiros jogos de regras são valiosos para o de- A organização do ambiente, dos materiais e do tempo
senvolvimento de capacidades corporais de equilíbrio e visa a auxiliar que as manifestações motoras das crianças
coordenação, mas trazem também a oportunidade, para estejam integradas nas diversas atividades da rotina.
as crianças, das primeiras situações competitivas, em que Para isso, os espaços externos e internos devem ser
suas habilidades poderão ser valorizadas de acordo com amplos o suficiente para acolher as manifestações da
os objetivos do jogo. É muito importante que o professor motricidade infantil. Os objetos, brinquedos e materiais
esteja atento aos conflitos que possam surgir nessas si- devem auxiliar as atividades expressivas e instrumentais
tuações, ajudando as crianças a desenvolver uma atitude do movimento.
de competição de forma saudável. Nesta faixa etária, o
professor é quem ajudará as crianças a combinar e cum- Organização do tempo
prir regras, desenvolvendo atitudes de respeito e coo-
peração tão necessárias, mais tarde, no desenvolvimento Os conteúdos relacionados ao movimento deverão
das habilidades desportivas. ser trabalhados inseridos na rotina. As atividades que
São muitos os jogos existentes nas diferentes regiões buscam valorizar o movimento nas suas dimensões ex-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do Brasil que podem ser utilizados para esse fim; cabe ao pressivas, instrumentais e culturais podem ser realizadas
professor levantar junto a crianças, familiares e comuni- diariamente de maneira planejada ou não.
dade aqueles mais significativos. As brincadeiras e jogos Também podem ser realizados projetos que integrem
envolvem a descoberta e a exploração de capacidades vários conhecimentos ligados ao movimento. A apresen-
físicas e a expressão de emoções, afetos e sentimentos. tação de uma dança tradicional, por exemplo, pode- se
Além de alegria e prazer, algumas vezes a exposição de constituir em um interessante projeto para as crianças
seu corpo e de seus movimentos podem gerar vergonha, maiores, quando necessitam:
medo ou raiva. Isso também precisa ser considerado pelo
professor para que ele possa ajudar as crianças a lidar de
forma positiva com limites e possibilidades do próprio
corpo.

50
penho e suas conquistas devem ser valorizados em fun-
ção de seus progressos e do próprio esforço, evitando
colocá-las em situações de comparação.

Música

Introdução

A música é a linguagem que se traduz em formas


sonoras capazes de expressar e comunicar sensações,
sentimentos e pensamentos, por meio da organização
Da mesma forma, podem ser desenvolvidos projetos
e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio.
envolvendo jogos e brincadeiras de roda, circuitos mo-
A música está presente em todas as culturas, nas mais
tores etc.
diversas situações: festas e comemorações, rituais reli-
giosos, manifestações cívicas, políticas etc. Faz parte da
Observação, registro e avaliação formativa
educação desde há muito tempo, sendo que, já na Grécia
antiga, era considerada como fundamental para a for-
Para que se tenham condições reais de avaliar se uma
mação dos futuros cidadãos, ao lado da matemática e
criança está ou não desenvolvendo uma motricidade
da filosofia.
saudável, faz-se necessário refletir sobre o ambiente da
A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, es-
instituição e o trabalho ali desenvolvido: ele é suficiente-
téticos e cognitivos, assim como a promoção de intera-
mente desafiador? Será que as crianças não ficam muito ção e comunicação social, conferem caráter significativo
tempo sentadas, sem oportunidades de exercitar outras à linguagem musical. É uma das formas importantes de
posturas? As atividades oferecidas propiciam situações expressão humana, o que por si só justifica sua presença
de interação? A avaliação do movimento deve ser contí- no contexto da educação, de um modo geral, e na edu-
nua, levando em consideração os processos vivenciados cação infantil, particularmente.
pelas crianças, resultado de um trabalho intencional do
professor. Deverá constituir-se em instrumento para a Presença da música na educação infantil:
reorganização de objetivos, conteúdos, procedimentos,
atividades e como forma de acompanhar e conhecer Ideias e práticas correntes
cada criança e grupo. A música no contexto da educação infantil vem, ao
A observação cuidadosa sobre cada criança e sobre longo de sua história, atendendo a vários objetivos, al-
o grupo fornece elementos que podem auxiliar na cons- guns dos quais alheios às questões próprias dessa lin-
trução de uma prática que considere o corpo e o movi- guagem. Tem sido, em muitos casos, suporte para aten-
mento das crianças. der a vários propósitos, como a formação de hábitos,
Devem ser documentados os aspectos referentes a atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lan-
expressividade do movimento e sua dimensão instru- che, escovar os dentes, respeitar o farol etc.; a realização
mental. É recomendável que o professor atualize, siste- de comemorações relativas ao calendário de eventos do
maticamente, suas observações, documentando mudan- ano letivo simbolizados no dia da árvore, dia do soldado,
ças e conquistas. dia das mães etc.; a memorização de conteúdos relati-
São consideradas como experiências prioritárias para vos a números, letras do alfabeto, cores etc., traduzidos
a aprendizagem do movimento realizada pelas crianças em canções. Essas canções costumam ser acompanhadas
de zero a três anos: uso de gestos e ritmos corporais di- por gestos corporais, imitados pelas crianças de forma
versos para expressar-se; deslocamentos no espaço sem mecânica e estereotipada.
ajuda. Para que isso ocorra é necessário que sejam ofe- Outra prática corrente tem sido o uso das bandinhas
recidas condições para que as crianças explorem suas ca- rítmicas para o desenvolvimento motor, da audição, e do
pacidades expressivas, aceitando com confiança desafios domínio rítmico. Essas bandinhas utilizam instrumentos
corporais. — pandeirinhos, tamborzinhos, pauzinhos etc. — mui-
A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que tas vezes confeccionados com material inadequado e
tenham tido muitas oportunidades, na instituição de consequentemente com qualidade sonora deficiente.
educação infantil, de vivenciar experiências envolvendo Isso reforça o aspecto mecânico e a imitação, deixando
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

o movimento, pode-se esperar que as crianças o reco- pouco ou nenhum espaço às atividades de criação ou às
nheçam e o utilizem como linguagem expressiva e par- questões ligadas a percepção e conhecimento das possi-
ticipem de jogos e brincadeiras envolvendo habilidades bilidades e qualidades expressivas dos sons.
motoras diversas. Ainda que esses procedimentos venham sendo re-
É importante informar sempre as crianças acerca de pensados, muitas instituições encontram dificuldades
suas competências. Desde pequenas, a valorização de para integrar a linguagem musical ao contexto educa-
seu esforço e comentários a respeito de como estão cional.
construindo e se apropriando desse conhecimento são Constata-se uma defasagem entre o trabalho reali-
atitudes que as encorajam e situam com relação à pró- zado na área de Música e nas demais áreas do conhe-
pria aprendizagem. É sempre bom lembrar que seu em- cimento, evidenciada pela realização de atividades de
reprodução e imitação em detrimento de atividades vol-

51
tadas à criação e à elaboração musical. Nesses contextos,
a música é tratada como se fosse um produto pronto,
que se aprende a reproduzir, e não uma linguagem cujo
conhecimento se constrói.
A música está presente em diversas situações da vida
humana. Existe música para adormecer, música para
dançar, para chorar os mortos, para conclamar o povo
a lutar, o que remonta à sua função ritualística. Presente
na vida diária de alguns povos, ainda hoje é tocada e
dançada por todos, seguindo costumes que respeitam
as festividades e os momentos próprios a cada manifes-
tação musical. Nesses contextos, as crianças entram em
contato com a cultura musical desde muito cedo e assim Deve ser considerado o aspecto da integração do
começam a aprender suas tradições musicais. trabalho musical às outras áreas, já que, por um lado, a
Mesmo que as formas de organização social e o papel música mantém contato estreito e direto com as demais
da música nas sociedades modernas tenham se trans- linguagens expressivas (movimento, expressão cênica,
formado, algo de seu caráter ritual é preservado, assim artes visuais etc.), e, por outro, torna possível a realização
como certa tradição do fazer e ensinar por imitação e de projetos integrados. É preciso cuidar, no entanto, para
“por ouvido”, em que se misturam intuição conheci- que não se deixe de lado o exercício das questões espe-
mento prático e transmissão oral. Essas questões devem cificamente musicais.
ser consideradas ao se pensar na aprendizagem, pois o O trabalho com música deve considerar, portanto,
contato intuitivo e espontâneo com a expressão musical que ela é um meio de expressão e forma de conhecimen-
desde os primeiros anos de vida é importante ponto de to acessível aos bebês e crianças, inclusive aquelas que
partida para o processo de musicalização. Ouvir música, apresentem necessidades especiais. A linguagem musical
aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinque- é excelente meio para o desenvolvimento da expressão,
dos rítmicos, jogos de mãos, etc., são atividades que des- do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além
pertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade de poderoso meio de integração social.
musical, além de atenderem a necessidades de expres-
são que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva.
Aprender música significa integrar experiências que en-
volvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhan-
do-as para níveis cada vez mais elaborados.
Pesquisadores e estudiosos vêm traçando paralelos
entre o desenvolvimento infantil e o exercício da expres-
são musical, resultando em propostas que respeitam o
modo de perceber, sentir e pensar, em cada fase, e con-
tribuindo para que a construção do conhecimento dessa
linguagem ocorra de modo significativo. O trabalho com
Música proposto por este documento fundamenta-se
nesses estudos, de modo a garantir à criança a possi-
bilidade de vivenciar e refletir sobre questões musicais,
num exercício sensível e expressivo que também ofere-
ce condições para o desenvolvimento de habilidades, de
formulação de hipóteses e de elaboração de conceitos. A criança e a música
Compreende-se a música como linguagem e forma
de conhecimento. Presente no cotidiano de modo inten- O ambiente sonoro, assim como a presença da músi-
so, no rádio, na TV, em gravações, jingles etc., por meio ca em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem
de brincadeiras e manifestações espontâneas ou pela com que os bebês e crianças iniciem seu processo de
intervenção do professor ou familiares, além de outras musicalização de forma intuitiva. Adultos cantam melo-
situações de convívio social, a linguagem musical tem dias curtas, cantigas de ninar, fazem brincadeiras canta-
estrutura e características próprias, devendo ser consi- das, com rimas, parlendas etc., reconhecendo o fascínio
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

derada como: que tais jogos exercem. Encantados com o que ouvem,
os bebês tentam imitar e responder, criando momentos
significativos no desenvolvimento afetivo e cognitivo,
responsáveis pela criação de vínculos tanto com os adul-
tos quanto com a música. Nas interações que se estabe-
lecem, eles constroem um repertório que lhes permite
iniciar uma forma de comunicação por meio dos sons.
O balbucio e o ato de cantarolar dos bebês têm sido
objetos de pesquisas que apresentam dados importantes
sobre a complexidade das linhas melódicas cantaroladas
até os dois anos de idade, aproximadamente. Procuram

52
imitar o que ouvem e também inventam linhas melódicas e significados simbólicos aos objetos sonoros ou ins-
ou ruídos, explorando possibilidades vocais, da mesma trumentos musicais e à sua produção musical. O brincar
forma como interagem com os objetos e brinquedos so- permeia a relação que se estabelece com os materiais:
noros disponíveis, estabelecendo, desde então, um jogo mais do que sons, podem representar personagens,
caracterizado pelo exercício sensorial e motor com esses como animais, carros, máquinas, super-heróis etc.
materiais. A partir dos três anos, aproximadamente, os jogos
A escuta de diferentes sons (produzidos por brinque- com movimento são fonte de prazer, alegria e possibi-
dos sonoros ou oriundos do próprio ambiente domésti- lidade efetiva para o desenvolvimento motor e rítmico,
co) também é fonte de observação e descobertas, provo- sintonizados com a música, uma vez que o modo de
cando respostas. A audição de obras musicais enseja as expressão característico dessa faixa etária integra gesto,
mais diversas reações: os bebês podem manter-se aten- som e movimento.
tos, tranquilos ou agitados. Aos poucos ocorre um maior domínio com relação à
Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês ampliam entoação melódica. Ainda que sem um controle preciso
os modos de expressão musical pelas conquistas vocais e da afinação, mas já com retenção de desenhos melódicos
corporais. Podem articular e entoar um maior número de e de momentos significativos das canções, como refrão,
sons, inclusive os da língua materna, reproduzindo letras onomatopeias, o “to-to” de “Atirei o pau no gato” etc.
simples, refrãos, onomatopeias etc., explorando gestos A criança memoriza um repertório maior de canções e
sonoros, como bater palmas, pernas, pés, especialmente conta, consequentemente, com um “arquivo” de infor-
depois de conquistada a marcha, a capacidade de correr, mações referentes a desenhos melódicos e rítmicos que
pular e movimentar-se acompanhando uma música. utiliza com frequência nas canções que inventa. Ela é
No que diz respeito à relação com os materiais sono- uma boa improvisadora, “cantando histórias”, misturan-
ros é importante notar que, nessa fase, as crianças confe- do ideias ou trechos dos materiais conhecidos, recriando,
rem importância e equivalência a toda e qualquer fonte adaptando etc. É comum que, brincando sozinha, invente
sonora e assim explorar as teclas de um piano é tal e qual longas canções.
percutir uma caixa ou um cestinho, por exemplo. Inte- Aos poucos, começa a cantar com maior precisão de
ressam-se pelos modos de ação e produção dos sons, entoação e a reproduzir ritmos simples orientados por
sendo que sacudir e bater são seus primeiros modos de um pulso regular. Os batimentos rítmicos corporais (pal-
ação. Estão sempre atentas às características dos sons mas, batidas nas pernas, pés etc.) são observados e re-
ouvidos ou produzidos, se gerados por um instrumento produzidos com cuidado, e, evidentemente, a maior ou
musical, pela voz ou qualquer objeto, descobrindo possi- menor complexidade das estruturas rítmicas dependerá
bilidades sonoras com todo material acessível. do nível de desenvolvimento de cada criança ou grupo.
Assim, o que caracteriza a produção musical das Além de cantar, a criança tem interesse, também, em
crianças nesse estágio é a exploração do som e suas qua- tocar pequenas linhas melódicas nos instrumentos musi-
lidades — que são altura, duração, intensidade e timbre cais, buscando entender sua construção. Torna-se muito
— e não a criação de temas ou melodias definidos pre- importante poder reproduzir ou compor uma melodia,
cisamente, ou seja, diante de um teclado, por exemplo, mesmo que usando apenas dois sons diferentes e per-
importa explorar livremente os registros grave ou agudo cebe o fato de que para cantar ou tocar uma melodia é
(altura), tocando forte ou fraco (intensidade), produzindo preciso respeitar uma ordem, à semelhança do que ocor-
sons curtos ou longos (duração), imitando gestos moto- re com a escrita de palavras. A audição pode detalhar
res que observou e que reconhece como responsáveis mais, e o interesse por muitos e variados estilos tende a
pela produção do som, sem a preocupação de localizar se ampliar. Se a produção musical veiculada pela mídia
as notas musicais (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si) ou reprodu- lhe interessa, também se mostra receptiva a diferentes
zir exatamente qualquer melodia conhecida. E ainda que gêneros e estilos musicais, quando tem a possibilidade
possam, em alguns casos, manter um pulso (medida de conhecê-los.
referencial de duração constante), a vivência do ritmo
também não se subordina à pulsação e ao compasso (a Objetivos
organização do pulso em tempos fortes e fracos) e assim
vivenciam o ritmo livre. Diferenças individuais e grupais Crianças de zero a três anos
acontecem, fazendo com que, aos três anos, por exem- O trabalho com Música deve se organizar de forma a
plo, integrantes de comunidades musicais ou crianças que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades:
cujos pais toquem instrumentos possam apresentar um
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

desenvolvimento e controle rítmico diferente das outras


crianças, demonstrando que o contato sistemático com
a música amplia o conhecimento e as possibilidades de
realizações musicais.
A expressão musical das crianças nessa fase é caracte-
rizada pela ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo e pela
exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros. As Crianças de quatro a seis anos
crianças integram a música às demais brincadeiras e jo- Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a fai-
gos: cantam enquanto brincam, acompanham com sons xa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados
os movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam e ampliados, garantindo-se, ainda, oportunidades para
situações sonoras diversas, conferindo “personalidade” que as crianças sejam capazes de:

53
Crianças de zero a três anos

Conteúdos

A organização dos conteúdos para o trabalho na área Orientações didáticas


de Música nas instituições de educação infantil deverá,
acima de tudo, respeitar o nível de percepção e desen- No primeiro ano de vida, a prática musical poderá
volvimento (musical e global) das crianças em cada fase, ocorrer por meio de atividades lúdicas. O professor es-
bem como as diferenças socioculturais entre os grupos tará contribuindo para o desenvolvimento da percepção
de crianças das muitas regiões do país. e atenção dos bebês quando canta para eles; produzem
Os conteúdos deverão priorizar a possibilidade de sons vocais diversos por meio da imitação de vozes de
desenvolver a comunicação e expressão por meio dessa animais, ruídos etc., ou sons corporais, como palmas, ba-
linguagem. Serão trabalhados como conceitos em cons- tidas nas pernas, pés etc.; embala-os e dança com eles.
trução, organizados num processo contínuo e integrado As canções de ninar tradicionais, os brinquedos cantados
que deve abranger: e rítmicos, as rodas e cirandas, os jogos com movimen-
tos, as brincadeiras com palmas e gestos sonoros cor-
porais, assim como outras produções do acervo cultural
infantil, podem estar presentes e devem se constituir em
conteúdos de trabalho. Isso pode favorecer a interação e
resposta dos bebês, seja por meio da imitação e criação
vocal, do gesto corporal, ou da exploração sensório mo-
tora de materiais sonoros, como objetos do cotidiano,
brinquedos sonoros, instrumentos musicais de percussão
como chocalhos, guizos, blocos, sinos, tambores etc.
É muito importante brincar, dançar e cantar com as
crianças, levando em conta suas necessidades de conta-
Os conteúdos estarão organizados em dois blocos: to corporal e vínculos afetivos. Deve-se cuidar para que
“O fazer musical” e “Apreciação musical”, que abarcarão, os jogos e brinquedos não estimulem a imitação gestual
também, questões referentes à reflexão. mecânica e estereotipada que, muitas vezes, se apresen-
ta como modelo às crianças.
O fazer musical O canto desempenha um papel de grande importân-
cia na educação musical infantil, pois integra melodia,
O fazer musical é uma forma de comunicação e ex- ritmo e — frequentemente — harmonia, sendo excelente
pressão que acontece por meio da improvisação, da meio para o desenvolvimento da audição. Quando can-
composição e da interpretação. Improvisar é criar instan- tam, as crianças imitam o que ouvem e assim desenvol-
taneamente, orientando-se por alguns critérios pré-defi- vem condições necessárias à elaboração do repertório
nidos, mas com grande margem a realizações aleatórias, de informações que posteriormente lhes permitirá criar
não determinadas. Compor é criar a partir de estruturas e se comunicar por intermédio dessa linguagem. É im-
fixas e determinadas e interpretar é executar uma com- portante apresentar às crianças canções do cancioneiro
posição contando com a participação expressiva do in- popular infantil, da música popular brasileira, entre ou-
térprete. tras que possam ser cantadas sem esforço vocal, cui-
Nessa faixa etária, a improvisação constitui-se numa dando, também, para que os textos sejam adequados à
das formas de atividade criativa. Os jogos de improvi- sua compreensão. Letras muito complexas, que exigem
sação são ações intencionais que possibilitam o exercí- muita atenção das crianças para a interpretação, acabam
cio criativo de situações musicais e o desenvolvimento por comprometer a realização musical. O mesmo acon-
da comunicação por meio dessa linguagem. As crianças tece quando se associa o cantar ao excesso de gestos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de quatro a seis anos já podem compor pequenas can- marcados pelo professor, que fazem com que as crianças
ções. Com os instrumentos musicais ainda é difícil criar parem de cantar para realizá-los, contrariando sua ten-
estruturas definidas, e as criações musicais das crianças dência natural de integrar a expressão musical e corporal.
geralmente situam-se entre a improvisação e a composi- São importantes as situações nas quais se ofereçam
ção, ou seja, a criança cria uma estrutura que, no entanto, instrumentos musicais e objetos sonoros para que as
sofre variações e alterações a cada nova interpretação. A crianças possam explorá-los, imitar gestos motores que
imitação é a base do trabalho de interpretação. Imitando observam, percebendo as possibilidades sonoras resul-
sons vocais, corporais, ou produzidos por instrumentos tantes.
musicais, as crianças preparam-se para interpretar quan-
do, então, imitam expressivamente.

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Crianças de quatro a seis anos Em princípio, todos os instrumentos musicais podem
ser utilizados no trabalho com a criança pequena, procu-
Nesta fase ampliam-se as possibilidades de trabalho rando valorizar aqueles presentes nas diferentes regiões,
que já vinham sendo desenvolvidas com as crianças de assim como aqueles construídos pelas crianças. Podem
zero a três anos. Os conteúdos podem ser tratados em ser trabalhadas algumas noções técnicas como meio de
contextos que incluem a reflexão sobre aspectos referen- obter qualidade sonora, o que deve ser explorado no
tes aos elementos da linguagem musical. contato com qualquer fonte produtora de sons. Assim,
tocar um tambor de diferentes maneiras, por exemplo,
variando força; modos de ação como tocar com dife-
rentes baquetas, com as mãos, pontas dos dedos etc.,
e, especialmente, experimentando e ouvindo seus re-
sultados é um caminho importante para o desenvolvi-
mento da técnica aliada à percepção da qualidade dos
sons produzidos. Deve-se promover o crescimento e a
transformação do trabalho a partir do que as crianças
podem realizar com os instrumentos. Numa atividade de
imitação, por exemplo, ao perceber que o grupo ou uma
criança não responde com precisão a um ritmo realizado
pelo professor, este deve guiar-se pela observação das
crianças em vez de repetir e insistir exaustivamente sua
proposta inicial.
O gesto e o movimento corporal estão intimamente
Orientações didáticas ligados e conectados ao trabalho musical. A realização
musical implica tanto em gesto como em movimento,
O fazer musical requer atitudes de concentração e porque o som é, também, gesto e movimento vibratório,
envolvimento com as atividades propostas, posturas que e o corpo traduz em movimento os diferentes sons que
devem estar presentes durante todo o processo educati- percebe. Os movimentos de flexão, balanceio, torção, es-
vo, em suas diferentes fases. Entender que fazer música tiramento etc., e os de locomoção como andar, saltar,
implica organizar e relacionar expressivamente sons e correr, saltitar, galopar etc., estabelecem relações diretas
silêncios de acordo com princípios de ordem é questão com os diferentes gestos sonoros.
fundamental a ser trabalhada desde o início. Nesse sen- As crianças podem improvisar a partir de um roteiro
tido, deve-se distinguir entre barulho, que é uma inter- extramusical ou de uma história: nos jogos de improvi-
ferência desorganizada que incomoda, e música, que é sação temáticos desenvolvidos a partir de ideias extra-
uma interferência intencional que organiza som e silên- musicais, cada timbre (característica que diferencia um
cio e que comunica. A presença do silêncio como ele- som do outro), por exemplo, pode ser uma personagem;
podem ser criadas situações para explorar diferentes
mento complementar ao som é essencial à organização
qualidades sonoras quando as crianças tocam com muita
musical. O silêncio valoriza o som, cria expectativa e é,
suavidade para não acordar alguém que dorme, produ-
também, música. Deve ser experimentado em diferentes
zem impulsos sonoros curtos sugerindo pingos de chuva,
situações e contextos.
realizam um ritmo de galope para sonorizar o trotar dos
Importa que todos os conteúdos sejam trabalhados
cavalos etc. Podem vivenciar contrastes entre alturas ou
em situações expressivas e significativas para as crianças,
intensidades do som, ritmos, som e silêncio etc., a partir
tendo-se o cuidado fundamental de não tomá-los como
de propostas especificamente musicais.
fins em si mesmos. Um trabalho com diferentes alturas, Os jogos de improvisação podem, também, ser rea-
por exemplo, só se justifica se realizado num contexto lizados com materiais variados, como os instrumentos
musical que pode ser uma proposta de improvisação que confeccionados pelas crianças, os materiais disponí-
valorize o contraste entre sons graves ou agudos ou de veis que produzem sons, os sons do corpo, a voz etc.
interpretação de canções que enfatizem o movimento O professor poderá aproveitar situações de interesse do
sonoro, entre outras possibilidades. Ouvir e classificar os grupo, transformando-as em improvisações musicais.
sons quanto à altura, valendo-se das vozes dos animais, Poderá, por exemplo, explorar os timbres de elementos
dos objetos e máquinas, dos instrumentos musicais, ligados a um projeto sobre o fundo do mar (a água do
comparando, estabelecendo relações e, principalmente, mar em seus diferentes momentos, os diversos peixes,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

lidando com essas informações em contextos de realiza- as baleias, os tubarões, as tartarugas etc.), lidando com
ções musicais pode acrescentar, enriquecer e transformar a questão da organização do material sonoro no tempo
a experiência musical das crianças. A simples discrimina- e no espaço e permitindo que as crianças se aproximem
ção auditiva de sons graves ou agudos, curtos ou longos, do conceito da forma (a estrutura que resulta do modo
fracos ou fortes, em situações descontextualizadas do de organizar os materiais sonoros).
ponto de vista musical, pouco acrescenta à experiência Deverão ser propostos, também, jogos de improvisa-
das crianças. Exercícios com instruções, como, por exem- ção que estimulem a memória auditiva e musical, assim
plo, transformar-se em passarinhos ao ouvir sons agudos como a percepção da direção do som no espaço.
e em elefante em resposta aos sons graves ilustram o uso O professor pode estimular a criação de pequenas
inadequado e sem sentido de conteúdos musicais. canções, em geral estruturadas, tendo por base a expe-
riência musical que as crianças vêm acumulando. Traba-

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lhar com rimas, por exemplo, é interessante e envolvente. balho com a apreciação musical deverá apresentar obras
As crianças podem criar pequenas canções fazendo ri- que despertem o desejo de ouvir e interagir, pois para
mas com seus próprios nomes e dos colegas, com nomes essas crianças ouvir é, também, movimentar-se, já que as
de frutas, cores etc. crianças percebem e expressam-se globalmente.
Assuntos e acontecimentos vivenciados no dia-a-dia
também podem ser temas para novas canções. O profes- Crianças de quatro a seis anos
sor deve observar o que e como cantam as crianças, ten-
tando aproximar-se, ao máximo, de sua intenção musical.
Muitas vezes, as linhas melódicas criadas contam com
apenas dois ou três sons diferentes, em sintonia com a
percepção, experiência e modo de expressar infantis.
Uma outra atividade interessante é a sonorização de
histórias. Para fazê-lo, as crianças precisam organizar de
forma expressiva o material sonoro, trabalhando a per-
cepção auditiva, a discriminação e a classificação de sons
(altura, duração, intensidade e timbre). Os livros de histó-
ria só com imagens são muito interessantes e adequados
para esse fim. Neste caso, após a fase de definição dos Orientações didáticas
materiais, a interpretação do trabalho poderá guiar-se
pelas imagens do livro, que funcionará como uma parti- Nessa faixa etária, o trabalho com a audição pode-
tura musical. Os contos de fadas, a produção literária in- rá ser mais detalhado, acompanhando a ampliação da
fantil, assim como as criações do grupo são ótimos mate- capacidade de atenção e concentração das crianças. A
riais para o desenvolvimento dessa atividade que poderá apreciação musical poderá propiciar o enriquecimento
utilizar-se de sons vocais, corporais, produzidos por ob- e ampliação do conhecimento de diversos aspectos re-
jetos do ambiente, brinquedos sonoros e instrumentos ferentes à produção musical: os instrumentos utilizados;
musicais. O professor e as crianças, juntos, poderão de- tipo de profissionais que atuam e o conjunto que for-
finir quais personagens ou situações deverão ser sonori- mam (orquestra, banda etc.); gêneros musicais; estilos
zados e como, realizando um exercício prazeroso. Como etc. O contato com uma obra musical pode ser comple-
representar sonoramente um bater de portas, o trotar de mentado com algumas informações relativas ao contexto
cavalos, a água correndo no riacho, o canto dos sapos e, histórico de sua criação, a época, seu compositor, intér-
enfim, a diversidade de sons presentes na realidade e no pretes etc.
imaginário das crianças é atividade que envolve e des- Há que se tomar cuidado para não limitar o contato
perta a atenção, a percepção e a discriminação auditiva. das crianças com o repertório dito “infantil” que é, muitas
vezes, estereotipado e, não raro, o mais inadequado. As
Apreciação musical canções infantis veiculadas pela mídia, produzidas pela
indústria cultural, pouco enriquecem o conhecimento
A apreciação musical refere-se a audição e interação das crianças. Com arranjos padronizados, geralmen-
com músicas diversas. te executados por instrumentos eletrônicos, limitam o
acesso a um universo musical mais rico e abrangente que
Crianças de zero e três anos pode incluir uma variedade de gêneros, estilos e ritmos
regionais, nacionais e internacionais.
É importante oferecer, também, a oportunidade de
ouvir música sem texto, não limitando o contato musical
da criança com a canção que, apesar de muito importan-
te, não se constitui em única possibilidade. Por integrar
poesia e música, a canção remete, sempre, ao conteúdo
Orientações didáticas da letra, enquanto o contato com a música instrumental
ou vocal sem um texto definido abre a possibilidade de
A escuta musical deve estar integrada de manei- trabalhar com outras maneiras. As crianças podem per-
ra intencional às atividades cotidianas dos bebês e das ceber sentir e ouvir, deixando-se guiar pela sensibilida-
crianças pequenas. É aconselhável a organização de um de, pela imaginação e pela sensação que a música lhes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pequeno repertório que, durante algum tempo, deverá sugere e comunica. Poderão ser apresentadas partes de
ser apresentado para que estabeleçam relações com o composições ou peças breves, danças, repertório da mú-
que escutam. Tal repertório pode contar com obras da sica chamada descritiva, assim como aquelas que foram
música erudita, da música popular, do cancioneiro infan- criadas visando a apreciação musical infantil.
til, da música regional etc. A música, porém, não deve A produção musical de cada região do país é muito
funcionar como pano de fundo permanente para o de- rica, de modo que se pode encontrar vasto material para
senvolvimento de outras atividades, impedindo que o o desenvolvimento do trabalho com as crianças. Nos
silêncio seja valorizado. A escuta de emissoras de rádio grandes centros urbanos, a música tradicional popular
comerciais com programas de variedades ou músicas do vem perdendo sua força e cabe aos professores resga-
interesse do adulto durante o período em que se troca tar e aproximar as crianças dos valores musicais de sua
a fralda ou se alimenta o bebê é desaconselhada. O tra- cultura.

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As músicas de outros países também devem ser apre- Organização do tempo
sentadas e a linguagem musical deve ser tratada e en-
tendida em sua totalidade: como linguagem presente em Cantar e ouvir músicas podem ocorrer com frequên-
todas as culturas, que traz consigo a marca de cada cria- cia e de forma permanente nas instituições. As atividades
dor, cada povo, cada época. O contato das crianças com que buscam valorizar a linguagem musical e que desta-
produções musicais diversas deve, também, prepará-las cam sua autonomia, valor expressivo e cultural (jogos de
para compreender a linguagem musical como forma de improvisação, interpretação e composição) podem ser
expressão individual e coletiva e como maneira de inter- realizadas duas ou três vezes por semana, em períodos
pretar o mundo. curtos de até vinte ou trinta minutos, para as crianças
maiores.
Orientações gerais para o professor Podem ser, também, realizados projetos que inte-
grem vários conhecimentos ligados à produção musical.
Para as crianças nesta faixa etária, os conteúdos re- A construção de instrumentos, por exemplo, pode se
lacionados ao fazer musical deverão ser trabalhados em constituir em um projeto por meio do qual as crianças
situações lúdicas, fazendo parte do contexto global das poderão:
atividades.
Quando as crianças se encontram em um ambiente
afetivo no qual o professor está atento a suas necessi-
dades, falando, cantando e brincando com e para elas,
adquirem a capacidade de atenção, tornando-se capazes
de ouvir os sons do entorno. Podem aprender com faci-
lidade as músicas mesmo que sua reprodução não seja
fiel.
Integrar a música à educação infantil implica que o
professor deva assumir uma postura de disponibilida-
de em relação a essa linguagem. Considerando-se que
a maioria dos professores de educação infantil não tem
uma formação específica em música, sugere-se que cada
profissional faça um contínuo trabalho pessoal consigo
Da mesma forma, podem ser desenvolvidos projetos
mesmo no sentido de:
envolvendo jogos e brincadeiras de roda, gêneros musi-
cais etc.

Oficina

A atividade de construção de instrumentos é de gran-


de importância e por isso poderá justificar a organização
de um momento específico na rotina, comumente deno-
minado de oficina. Além de contribuir para o entendi-
mento de questões elementares referentes à produção
do som e suas qualidades, estimula a pesquisa, a imagi-
nação e a capacidade criativa.
Para viabilizar o projeto de construção de instrumen-
A escuta é uma das ações fundamentais para a cons- tos com as crianças, o material a ser utilizado pode ser
trução do conhecimento referente à música. O professor organizado de forma a facilitar uma produção criativa e
deve procurar ouvir o que dizem e cantam as crianças, a interessante.
“paisagem sonora” de seu meio ambiente e a diversidade Para isso é importante selecionar e colocar à disposi-
musical existente: o que é transmitido por rádio e TV, as ção das crianças: sucatas e materiais recicláveis que de-
músicas de propaganda, as trilhas sonoras dos filmes, a vem estar bem cuidados, limpos e guardados de modo
música do folclore, a música erudita, a música popular, a prático e funcional; latas de todos os tipos; caixas de
música de outros povos e culturas. papelão firmes de diferentes tamanhos; tubos de pape-
As marcas e lembranças da infância, os jogos, brin- lão e de conduíte; retalhos de madeira; caixas de frutas;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

quedos e canções significativas da vida do professor, embalagens etc. Também, é preciso ter grãos, pedrinhas,
assim como o repertório musical das famílias, vizinhos sementes, elásticos, bexigas, plásticos, retalhos de panos,
e amigos das crianças, podem integrar o trabalho com fita crepe e/ou adesiva, cola etc., além de tintas e outros
música. materiais destinados ao acabamento e decoração dos
É importante desenvolver nas crianças atitudes de materiais criados.
respeito e cuidado com os materiais musicais, de valori- A experiência de construir materiais sonoros é muito
zação da voz humana e do corpo como materiais expres- rica. Acima de tudo é preciso que em cada região do país
sivos. Como o exemplo do professor é muito importante, este trabalho aproveite os recursos naturais, os materiais
é desejável que ele fale e cante com os cuidados necessá- encontrados com mais facilidade e a experiência dos ar-
rios à boa emissão do som, evitando gritar e colaborando tesãos locais, que poderão colaborar positivamente para
para desenvolver nas crianças atitudes semelhantes. o desenvolvimento do trabalho com as crianças.

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Tão importante quanto confeccionar os próprios ins- dia, espanhola e francesa: “A moda da carranquinha”,
trumentos e objetos sonoros é poder fazer música com “Você gosta de mim”, “Fui no Itororó”, “A linda rosa juve-
eles, postura essencial a ser adotada nesse processo. nil”, “A canoa virou”, ou “Terezinha de Jesus”.
Os jogos sonoro-musicais possibilitam a vivência de
Jogos e brincadeiras questões relacionadas ao som (e suas características), ao
silêncio e à música.
A música, na educação infantil mantém forte ligação Brincar de estátuas é um exemplo de jogo em que,
com o brincar. Em algumas línguas, como no inglês (to por meio do contraste entre som e silêncio, se desen-
play) e no francês (jouer), por exemplo, usa-se o mesmo volve a expressão corporal, a concentração, a disciplina
verbo para indicar tanto as ações de brincar quanto as de e a atenção. A tradicional brincadeira das cadeiras é um
tocar música. Em todas as culturas as crianças brincam outro exemplo de jogo que pode ser realizado com as
com a música. Jogos e brinquedos musicais são trans- crianças.
mitidos por tradição oral, persistindo nas sociedades ur- Jogos de escuta dos sons do ambiente, de brinque-
banas nas quais a força da cultura de massas é muito dos, de objetos ou instrumentos musicais; jogos de imi-
intensa, pois são fonte de vivências e desenvolvimento tação de sons vocais, gestos e sons corporais; jogos de
expressivo musical. Envolvendo o gesto, o movimento, o adivinhação nos quais é necessário reconhecer um tre-
canto, a dança e o faz-de-conta, esses jogos e brincadei- cho de canção, de música conhecida, de timbres de ins-
ras são expressão da infância. Brincar de roda, ciranda, trumentos etc.; jogos de direção sonora para percepção
pular corda, amarelinha etc. são maneiras de estabelecer da direção de uma fonte sonora; e jogos de memória, de
contato consigo próprio e com o outro, de se sentir único improvisação etc. são algumas sugestões que garantem
e, ao mesmo tempo, parte de um grupo, e de trabalhar às crianças os benefícios e alegrias que a atividade lúdi-
com as estruturas e formas musicais que se apresentam ca proporciona e que, ao mesmo tempo, desenvolvem
em cada canção e em cada brinquedo. habilidades, atitudes e conceitos referentes à linguagem
Os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil in- musical.
cluem os acalantos (cantigas de ninar); as parlendas (os
brincos, as mnemônicas e as parlendas propriamente di- Organização do espaço
tas); as rondas (canções de roda); as adivinhas; os contos;
os romances etc. Os acalantos e os chamados brincos são O espaço no qual ocorrerão as atividades de música
as formas de brincar musical característicos da primeira deve ser dotado de mobiliário que possa ser disposto e
fase da vida da criança. Os acalantos são entoados pelos reorganizado em função das atividades a serem desen-
adultos para tranquilizar e adormecer bebês e crianças volvidas.
pequenas; os brincos são as brincadeiras rítmico-musi- Em geral, as atividades de música requerem um es-
cais com que os adultos entretêm e animam as crianças, paço amplo, uma vez que estão intrinsecamente ligadas
como “Serra, serra, serrador, serra o papo do vovô”, e ao movimento. Para a atividade de construção de ins-
suas muitas variantes encontradas pelo país afora, que é trumentos, no entanto, será interessante contar com um
espaço com mesas e cadeiras onde as crianças possam
cantarolado enquanto se imita o movimento do serrador.
sentar-se e trabalhar com calma.
“Palminhas de guiné, pra quando papai vier...”, “Dedo
O espaço também deve ser preparado de modo a es-
mindinho, seu vizinho, maior de todos...”, “Upa, upa,
timular o interesse e a participação das crianças, contan-
cavalinho...” são exemplos de brincos que, espontanea-
do com alguns estímulos sonoros.
mente, os adultos realizam junto aos bebês e crianças.
As parlendas propriamente ditas e as mnemônicas
As fontes sonoras
são rimas sem música. As parlendas servem como fór-
mula de escolha numa brincadeira, como trava-línguas
O trabalho com a música deve reunir toda e qualquer
etc., como os seguintes exemplos: “Rei, capitão, soldado, fonte sonora: brinquedos, objetos do cotidiano e instru-
ladrão, moço bonito do meu coração...”; “Lá em cima do mentos musicais de boa qualidade. É preciso lembrar
piano tem um copo de veneno, quem bebeu morreu, o que a voz é o primeiro instrumento e o corpo humano é
azar foi seu...”. Os travalínguas são parlendas caracteriza- fonte de produção sonora.
das por sua pronunciação difícil: “Num ninho de mafa- É importante que o professor possa estar atento a
gafos/ Seis mafagafinhos há/ Quem os desmafagafizar/ maior ou menor adequação dos diversos instrumentos
Bom desmafagafizador será...”, ou ainda, “Nem a aranha à faixa etária de zero a seis anos. Pode-se confeccionar
arranha o jarro, nem o jarro arranha a aranha...”.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

diversos materiais sonoros com as crianças, bem como


As mnemônicas referem-se a conteúdos específicos, introduzir brinquedos sonoros populares, instrumentos
destinados a fixar ou ensinar algo como número ou no- étnicos etc. O trabalho musical a ser desenvolvido nas
mes: “Um, dois, feijão com arroz/ Três, quatro, feijão no instituições de educação infantil pode ampliar meios e
prato/ Cinco, seis, feijão inglês/ Sete, oito, comer biscoi- recursos pela inclusão de materiais simples aproveitados
to/ Nove, dez, comer pastéis...”, ou “Una, duna, tena, ca- do dia-a-dia ou presentes na cultura da criança.
tena/ Bico de pena, solá, soladá/ Gurupi, gurupá/ Conte Os brinquedos sonoros e os instrumentos de efeito
bem que são dez...”. sonoro são materiais bastante adequados ao trabalho
As rondas ou brincadeiras de roda integram poesia, com bebês e crianças pequenas. Com relação aos brin-
música e dança. No Brasil, receberam influências de vá- quedos, devem-se valorizar os populares, como a ma-
rias culturas, especialmente a lusitana, africana, amerín- traca, o “rói-rói” ou “berra-boi” do Nordeste; os piões

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sonoros as sirenes e apitos etc., além dos tradicionais tamborins etc., estão muito presentes na música brasilei-
chocalhos de bebês, alguns dos quais portadores de tim- ra. É possível construir com as crianças tambores de vá-
bres bastante especiais. rios tamanhos que utilizam, além da pele animal, acetato,
Pios de pássaros, sinos de diferentes tamanhos, fo- náilon, bexigas, papéis, tecidos etc.
lhas de acetato, brinquedos que imitam sons de animais, Os aerofones são instrumentos nos quais o som é
entre outros, são materiais interessantes que podem ser produzido por via aérea, ou seja, são os instrumentos de
aproveitados na realização das atividades musicais. Os sopro. São utilizados com menor intensidade durante o
pios de pássaros, por exemplo, além de servirem à so- trabalho com essa faixa etária por apresentarem maio-
norização de histórias, podem estimular a discriminação res exigências técnicas. Os pios de pássaros, flautas de
auditiva, o mesmo acontecendo com os diferentes sinos. êmbolo, além de alguns instrumentos simples confeccio-
Um tipo de sino, chamado de “chocalho”, no Nordeste, e nados pelas crianças, no entanto, podem ser utilizados,
de “cencerro”, no Sul do país, e que costuma ser pendu- constituindo-se em um modo de introdução a esse gru-
rado no pescoço de animais com a função de sinalizar a po de instrumentos musicais.
direção, pode, por exemplo, ser utilizado no processo de Os cordofones, ou instrumentos de cordas, em seus
musicalização das crianças em improvisações ou peque- diversos grupos, são apresentados e trabalhados por
nos arranjos e também em exercícios de discriminação, meio de construções simples, como, por exemplo, esti-
classificação e seriação de sons. Com os mesmos obje- cando elásticos sobre caixas ou latas. De forma elemen-
tivos podem ser usados conjuntos de tampas plásticas, tar, eles preparam as crianças para um contato posterior
potes, caixinhas etc. com os instrumentos de corda. Ao experimentar tocar
Os pequenos idiofones, por suas características, são instrumentos como violão, cavaquinho, violino etc., as
os instrumentos mais adequados para o início das ativi- crianças poderão explorar o aspecto motor, experimen-
dades musicais com crianças. Sendo o próprio corpo do tando diferentes gestos e observando os sons resultan-
instrumento o responsável pela produção do som, são tes.
materiais que respondem imediatamente ao gesto. É aconselhável que se possa contar com um aparelho
de som para ouvir música e, também, para gravar e re-
Assim, sacudir um chocalho, ganzá ou guizo, raspar
produzir a produção musical das crianças.
um reco-reco, percutir um par de clavas, um triângulo
ou coco, badalar um sino, são gestos motores possíveis
de serem realizados desde pequenos. Nessa fase é im-
portante misturar instrumentos de madeira, metal ou
outros materiais a fim de explorar as diferenças tímbricas
entre eles, assim como pesquisar diferentes modos de
ação num mesmo instrumento, tais como instrumentos
indígenas etc.
Podem ser construídos idiofones a partir do apro-
veitamento de materiais simples, como copos plásticos,
garrafas de PVC, pedaços de madeira ou metal etc. Os
idiofones citados são instrumentos de percussão com
altura indeterminada, o que significa que não são afina-
dos segundo uma escala ou modo. Não produzem tons
(som com afinação definida), mas ruídos. Os xilofones e
metalofones são idiofones afinados precisamente. Placas O registro musical
de madeira (xilofone) ou de metal (metalofone) dispos-
tos sobre uma caixa de ressonância — o ambiente res- O registro musical, que transpõe para outra dimensão
ponsável pela amplificação do som — são instrumentos um evento ou grupo de eventos sonoros, pode começar
musicais didáticos, inspirados nos xilofones africanos e a ser trabalhado nas instituições de educação infantil uti-
adaptados para uso no processo de educação musical. lizando-se de outras formas de notação que não sejam a
Os xilos e metalofones podem ser utilizados por meio escrita musical convencional.
de gestos motores responsáveis pela produção de di- Ao ouvir um impulso sonoro curto, a criança que rea-
ferentes sons: um som de cada vez, sons simultâneos, liza um movimento corporal está transpondo o som per-
em movimentos do grave para o agudo e vice-versa etc. cebido para outra linguagem. Diferentes tipos de sons
Quando maiores, no geral, as crianças se interessam em (curtos, longos, em movimento, repetidos, muito fortes,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

poder reproduzir pequenas linhas melódicas e os xilos e muito suaves, graves, agudos etc.) podem ser traduzidos
metalofones passam a ser trabalhados e percebidos de corporalmente.
outra maneira. Esses gestos sonoros poderão ser transformados,
Os tambores, que integram a categoria de membra- também, em desenho. Representar o som por meio do
nofones — aqueles instrumentos em que o som é pro- desenho é trazer para o gesto gráfico aquilo que a per-
duzido por uma pele, ou membrana, esticada e amplifi- cepção auditiva identificou, constituindo-se em primeiro
cada por uma caixa —, podem ser utilizados no trabalho modo de registro. Pode-se propor, para crianças a partir
musical. São instrumentos muito primitivos, dotados de de quatro anos, que relacionem som e registro gráfico,
função sagrada e ritual para muitos povos e continuam criando códigos que podem ser lidos e decodificados
exercendo grande fascínio e atração para as crianças. pelo grupo: sons curtos ou longos, graves ou agudos,
Os vários tipos, como bongôs, surdos, caixas, pandeiros, fortes ou suaves etc.

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Nessa faixa etária, a criança não deve ser treinada Uma maneira interessante de propiciar a auto avalia-
para a leitura e escrita musical na instituição de educação ção das crianças nessa faixa etária é o uso da gravação de
infantil. O mais importante é que ela possa ouvir, cantar suas produções. Ouvindo, as crianças podem perceber
e tocar muito, criando formas de notação musicais com a detalhes: se cantaram gritando ou não; se o volume dos
orientação dos professores. instrumentos ou objetos sonoros estava adequado; se a
história sonorizada ficou interessante; se os sons utiliza-
Observação, registro e avaliação formativa dos aproximaram-se do real etc.

A avaliação na área de música deve ser contínua, le- Sugestões de obras musicais e discografia
vando em consideração os processos vivenciados pelas
crianças, resultado de um trabalho intencional do pro- • A ARCA DE NOÉ. Toquinho e Vinicius de Morais.
fessor. Deverá constituir-se em instrumento para a reor- Vols. 1 e 2. Polygram, 1980.
ganização de objetivos, conteúdos, procedimentos, ati- • ACALANTOS BRASILEIROS. Discos Marcus Pereira,
vidades, e como forma de acompanhar e conhecer cada 1978.
criança e grupo. • ACERVO FUNARTE, MÚSICA BRASILEIRA. Coleção
Deve basear-se na observação cuidadosa do profes- relançada em CD pelo
sor. O registro de suas observações sobre cada criança e Instituto Itaú Cultural, SP, 1997 e 1998.
sobre o grupo será um valioso instrumento de avaliação. • AÇÃO DOS BACURAUS CANTANTES. João Bá, Devil
O professor poderá documentar os aspectos referentes Discos, SP, 1997.
ao desenvolvimento vocal (se cantam e como); ao desen- • ADIVINHA O QUE É? MPB-4, Ariola, 1981.
volvimento rítmico e motor; à capacidade de imitação, • ANJOS DA TERRA. Dércio Marques, Devil Discos, SP.
de criação e de memorização musical. É recomendável • AS MAIS BELAS CANTIGAS DE RODA. M. Viana/Nave
que o professor atualize, sistematicamente, suas obser- dos Sonhos.
vações, documentando mudanças e conquistas. Deve-se • BANDEIRA DE SÃO JOÃO. Antonio José Madureira,
levar em conta que, por um lado, há uma diversidade de Selo Eldorado, 1987.
respostas possíveis a serem apresentadas pelas crianças, • BAILE DO MENINO DEUS. Antonio José Madureira,
e, por outro, essas respostas estão frequentemente sujei- Estúdio Eldorado.
tas a alterações, tendo em vista não só a forma como as • BORORO VIVE. UFMT. Cantos dos índios Bororo.
crianças pensam e sentem, mas a natureza do conheci- • BRINCADEIRAS DE RODA, ESTÓRIAS E CANÇÕES DE
mento musical. NINAR. Solange
Nesse sentido, a avaliação tem um caráter instrumen- Maria, Antonio Nóbrega, Selo Eldorado, 1983.
tal para o adulto e incide sobre os progressos apresenta- • BRINCANDO DE RODA. Solange Maria e Coral Infan-
dos pelas crianças. til, Selo Eldorado, 1997.
São consideradas como experiências prioritárias para Canções.
a aprendizagem musical realizada pelas crianças de zero • CANÇÕES DE BRINCAR. Coleção Palavra Cantada,
a três anos: a atenção para ouvir, responder ou imitar; a Velas, 1996.
capacidade de expressar-se musicalmente por meio da • CANÇÕES DE NINAR. Coleção Palavra Cantada, Sa-
voz, do corpo e com os diversos materiais sonoros. lamandra/Camerati.
Para que o envolvimento com as atividades, o pra- • CANTO DO POVO DAQUI. Teca-Oficina de Música,
zer e a alegria em expressar-se musicalmente ocorram e SP, 1996.
para ter curiosidade sobre os elementos que envolvem • CARRANCAS. João Bá, Eldorado, SP. Canções.
essa linguagem é preciso que as crianças participem de • CASA DE BRINQUEDOS. Toquinho, Polygram, 1995.
situações nas quais sejam utilizadas a exploração e pro- Canções.
dução de sons vocais e com diferentes materiais, e a ob- • CASTELO RA-TIM-BUM. TV Cultura/SESI, Velas, 1995.
servação do ambiente sonoro. • COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO NORTE. Discos
Uma vez que tenham tido muitas oportunidades, na Marcus Pereira.
instituição de educação infantil, de vivenciar experiências • COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO NORDESTE. Discos
envolvendo a música, pode-se esperar que as crianças Marcus Pereira.
entre quatro e seis anos a reconheçam e utilizem-na • COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO CENTRO-OESTE.
como linguagem expressiva, conscientes de seu valor Discos Marcus
como meio de comunicação e expressão. Por meio da Pereira.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

voz, do corpo, de instrumentos musicais e objetos sono- • COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO SUDESTE. Discos
ros deverão interpretar, improvisar e compor, interessa- Marcus Pereira.
das, também, pela escuta de diferentes gêneros e estilos • COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO SUL. Discos Mar-
musicais e pela confecção de materiais sonoros. cus Pereira.
A conquista de habilidades musicais no uso da voz, • CORALITO. Thelma Chan, SP. Canções.
do corpo e dos instrumentos deve ser observada, acom- • CIRANDAS E CIRANDINHAS, H. VILLA- LOBOS.
panhada e estimulada, tendo-se claro que não devem Roberto Szidon, piano, Kuarup, RJ, 1979.
constituir-se em fins em si mesmas e que pouco valem se • CLÁSSICOS DIVERTIDOS. Globo/Polydor.
não estiverem integradas a um contexto em que o valor • DOIS A DOIS. Grupo Rodapião, Belo Horizonte,
da música como forma de comunicação e representação MG, 1997.
do mundo se faça presente. • ESTRELINHAS. Carlos Savalla, RJ.

60
• ETENHIRITIPÁ. Cantos da Tradição Xavante, O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o
Quilombo Música, 1994. contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança
• FOR CHILDREN. Béla Bartók. Piano solo, vols. 1 são atributos da criação artística. A integração entre os
e 2, Zoltán Kocsis, piano, Paulus. aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cogni-
• IHU. TODOS OS SONS. Marlui Miranda, Pau Brasil, tivos, assim como a promoção de interação e comunica-
1995. Cantos indígenas. ção social, conferem caráter significativo às Artes Visuais.
• IMAGINATIONS. Pour l’expression corporelle. Vols. As Artes Visuais estão presentes no cotidiano da vida
1a infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e nos
6. Andrée Huet, Auvidis Distribution. muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gra-
• LULLABIES AND CHILDREN’S SONGS. Unesco Col- vetos, pedras, carvão), ao pintar os objetos e até mesmo
lection. seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das Artes
• MADEIRA QUE CUPIM NÃO RÓI. Antonio Nóbrega, Visuais para expressar experiências sensíveis.
Brincante, SP, 1997. Tal como a música, as Artes Visuais são linguagens
• MA MÈRE L’OYE. Maurice Ravel. e, portanto, uma das formas importantes de expressão
• MEU PÉ, MEU QUERIDO PÉ. Helio Ziskindi, Velas, e comunicação humanas, o que, por si só, justifica sua
1997. presença no contexto da educação, de um modo geral, e
• MONJOLEAR. Dércio e Doroty Marques, MG. na educação infantil, particularmente.
• MÚSICA NA ESCOLA. Material didático, SEE-MG.
• MÚSICA PARA BEBÊS. Movieplay Brasil, 1994. Presença das artes visuais na educação infantil:
• NA PANCADA DO GANZÁ. Antonio Nóbrega, Brin- ideias e práticas correntes
cante, SP, 1996.
• O APRENDIZ DE FEITICEIRO. Paul Dukas. A presença das Artes Visuais na educação infantil, ao
• O CARNAVAL DOS ANIMAIS. C. Saint-Saëns. longo da história, tem demonstrado um descompasso
• O GRANDE CIRCO MÍSTICO. Edu Lobo e Chico Bu- entre os caminhos apontados pela produção teórica e
arque, Som Livre. a prática pedagógica existente. Em muitas propostas as
• O MENINO POETA. Antonio Madureira, Estúdio El- práticas de Artes Visuais são entendidas apenas como
dorado. meros passatempos em que atividades de desenhar, co-
• OS SALTIMBANCOS. Adaptação de Chico Buarque, lar, pintar e modelar com argila ou massinha são desti-
Philips. tuídas de significados.
• QUERO PASSEAR. Grupo Rumo/Velas. Outra prática corrente considera que o trabalho deve
• RÁ-TIM-BUM. TV Cultura/Fiesp/Sesi, Eldorado. ter uma conotação decorativa, servindo para ilustrar te-
• RODA GIGANTE. Canções de Gustavo Kurlat, Escola mas de datas comemorativas, enfeitar as paredes com
Viva, SP. motivos considerados infantis, elaborar convites, carta-
• RUIDOS Y RUIDITOS. Vols.1, 2, 3 e 4. Judith Akos- zes e pequenos presentes para os pais etc.
chky, Tarka, Buenos Aires. Nessa situação, é comum que os adultos façam gran-
• SEGREDOS VEGETAIS. Dércio Marques, Belo Hori- de parte do trabalho, uma vez que não consideram que
zonte, MG. a criança tem competência para elaborar um produto
• SUÍTE QUEBRA-NOZES. Tchaikovsky. adequado.
• THE CHILDREN’S ALBUM. Tchaikovsky. As Artes Visuais têm sido, também, bastante uti-
• VILLA-LOBOS ÀS CRIANÇAS. Jerzy Milewski, Canta- lizadas como reforço para a aprendizagem dos mais
bile Projetos de Arte, variados conteúdos. São comuns as práticas de colorir
RJ. imagens feitas pelos adultos em folhas mimeografadas,
• VILLA-LOBOS DAS CRIANÇAS. Espetáculo musical como exercícios de coordenação motora para fixação e
de cantigas infantis, memorização de letras e números.
Estúdio Eldorado, 1987. As pesquisas desenvolvidas a partir do início do sé-
• VILLA-LOBOS PARA CRIANÇAS. Seleção do Guia culo em vários campos das ciências humanas trouxeram
Prático de Heitor Villa- dados importantes sobre o desenvolvimento da criança,
Lobos, Acervo Funarte, Música Brasileira, Instituto Itaú sobre o seu processo criador e sobre as artes das várias
Cultural, SP, 1996. culturas. Na confluência da antropologia, da filosofia, da
psicologia, da psicanálise, da crítica de arte, da psicope-
Artes Visuais dagogia e das tendências estéticas da modernidade, sur-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

giram autores que formularam os princípios inovadores


Introdução para o ensino das artes, da música, do teatro e da dan-
ça. Tais princípios reconheciam a arte da criança como
As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem manifestação espontânea e auto expressiva: valorizavam
sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e reali- a livre expressão e a sensibilização para o experimento
dade por meio da organização de linhas, formas, pontos, artístico como orientações que visavam ao desenvolvi-
tanto bidimensional como tridimensional, além de volu- mento do potencial criador, ou seja, as propostas eram
me, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultu- centradas nas questões do desenvolvimento da criança.
ra, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, Tais orientações trouxeram inegável contribuição
entalhes etc. para que se valorizasse a produção criadora infantil, mas
o princípio revolucionário que advogava a todos a neces-

61
sidade e a capacidade da expressão artística aos poucos daí constroem significações sobre como se faz, o que é,
se transformou em “um deixar fazer” sem nenhum tipo para que serve e sobre outros conhecimentos a respeito
de intervenção, no qual a aprendizagem das crianças da arte.
pôde evoluir muito pouco. Nesse sentido, as Artes Visuais devem ser concebidas
O questionamento da livre expressão e da idéia de como uma linguagem que tem estrutura e características
que a aprendizagem artística era uma conseqüência au- próprias, cuja aprendizagem, no âmbito prático e reflexi-
tomática dos processos de desenvolvimento resultaram vo, se dá por meio da articulação dos seguintes aspectos:
em um movimento, em vários países, pela mudança nos
rumos do ensino de arte. Surge a constatação de que o
desenvolvimento artístico é resultado de formas comple-
xas de aprendizagem e, portanto, não ocorre automati-
camente à medida que a criança cresce.

O desenvolvimento da imaginação criadora, da ex-


pressão, da sensibilidade e das capacidades estéticas das
crianças poderão ocorrer no fazer artístico, assim como
no contato com a produção de arte presente nos mu-
seus, igrejas, livros, reproduções, revistas, gibis, vídeos,
CD-ROM, ateliês25 de artistas e artesãos regionais, feiras
de objetos, espaços urbanos etc. O desenvolvimento da
capacidade artística e criativa deve estar apoiado, tam-
bém, na prática reflexiva das crianças ao aprender, que
articula a ação, a percepção, a sensibilidade, a cognição
e a imaginação.

A criança e as artes visuais

O trabalho com as Artes Visuais na educação infantil


requer profunda atenção no que se refere ao respeito das
A arte da criança, desde cedo, sofre influência da cul- peculiaridades e esquemas de conhecimento próprios a
tura, seja por meio de materiais e suportes com que faz cada faixa etária e nível de desenvolvimento. Isso signi-
seus trabalhos, seja pelas imagens e atos de produção fica que o pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a
artística que observa na TV, em revistas, em gibis, rótulos, percepção, a intuição e a cognição da criança devem ser
estampas, obras de arte, trabalhos artísticos de outras trabalhados de forma integrada, visando a favorecer o
crianças etc. desenvolvimento das capacidades criativas das crianças.
Embora seja possível identificar espontaneidade e au- No processo de aprendizagem em Artes Visuais a
tonomia na exploração e no fazer artístico das crianças, criança traça um percurso de criação e construção indivi-
seus trabalhos revelam: o local e a época histórica em dual que envolve escolhas, experiências pessoais, apren-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que vivem; suas oportunidades de aprendizagem; suas dizagens, relação com a natureza, motivação interna e/
ideias ou representações sobre o trabalho artístico que ou externa. O percurso individual da criança pode ser sig-
realiza e sobre a produção de arte à qual têm acesso, nificativamente enriquecido pela ação educativa inten-
assim como seu potencial para refletir sobre ela. cional; porém, a criação artística é um ato exclusivo da
As crianças têm suas próprias impressões, ideias e in- criança. É no fazer artístico e no contato com os objetos
terpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico. de arte que parte significativa do conhecimento em Artes
Tais construções são elaboradas a partir de suas expe- Visuais acontece. No decorrer desse processo, o prazer
riências ao longo da vida, que envolvem a relação com a e o domínio do gesto e da visualidade evoluem para o
produção de arte, com o mundo dos objetos e com seu prazer e o domínio do próprio fazer artístico, da simboli-
próprio fazer. As crianças exploram, sentem, agem, refle- zação e da leitura de imagens.
tem e elaboram sentidos de suas experiências. A partir

62
O ponto de partida para o desenvolvimento estético
e artístico é o ato simbólico que permite reconhecer que
os objetos persistem, independentes de sua presença fí-
sica e imediata. Operar no mundo dos símbolos é per-
ceber e interpretar elementos que se referem a alguma
coisa que está fora dos próprios objetos. Os símbolos
reapresentam o mundo a partir das relações que a crian-
ça estabelece consigo mesma, com as outras pessoas,
com a imaginação e com a cultura.
Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é ca-
paz de, ocasionalmente, manter ritmos regulares e pro-
duzir seus primeiros traços gráficos, considerados muito
mais como movimentos do que como representações. É
a conhecida fase dos rabiscos, das garatujas. A repeti-
da exploração e experimentação do movimento amplia
o conhecimento de si próprio, do mundo e das ações
gráficas. Muito antes de saber representar graficamen- Na medida em que crescem, as crianças experimen-
te o mundo visual, a criança já o reconhece e identifica tam agrupamentos, repetições e combinações de ele-
nele qualidades e funções. Mais tarde, quando controla mentos gráficos, inicialmente soltos e com uma grande
o gesto e passa a coordená-lo com o olhar, começa a gama de possibilidades e significações, e, mais tarde, cir-
registrar formas gráficas e embora todas as modalidades cunscritos a organizações mais precisas.
artísticas devam ser contempladas pelo professor, a fim Apresentam cada vez mais a possibilidade de exprimir
de diversificar a ação das crianças na experimentação de impressões e julgamentos sobre seus próprios trabalhos.
materiais, do espaço e do próprio corpo, destaca-se o Enquanto desenham ou criam objetos também brin-
desenvolvimento do desenho por sua importância no fa- cam de “faz-de-conta” e verbalizam narrativas que ex-
zer artístico delas e na construção das demais linguagens primem suas capacidades imaginativas, ampliando sua
visuais (pintura, modelagem, construção tridimensional, forma de sentir e pensar sobre o mundo no qual estão
colagens). O desenvolvimento progressivo do desenho inseridas.
implica mudanças significativas que, no início, dizem res- Na evolução da garatuja para o desenho de formas
peito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de
construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os elaborar imagens no fazer artístico. Começando com
primeiros símbolos. símbolos muito simples, ela passa a articulá-los no es-
Imagens de sol, figuras humanas, animais, vegeta- paço bidimensional do papel, na areia, na parede ou em
ção e carros, entre outros, são frequentes nos desenhos qualquer outra superfície. Passa também a constatar a
das crianças, reportando mais a assimilações dentro da regularidade nos desenhos presentes no meio ambiente
linguagem do desenho do que a objetos naturais. Essa e nos trabalhos aos quais ela tem acesso, incorporando
passagem é possível graças às interações da criança com esse conhecimento em suas próprias produções.
o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas. No início, a criança trabalha sobre a hipótese de que
Na garatuja, a criança tem como hipótese que o de- o desenho serve para imprimir tudo o que ela sabe so-
senho é simplesmente uma ação sobre uma superfície, e bre o mundo e esse saber estará relacionado a algumas
ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa fontes, como a análise da experiência junto a objetos
ação produziu. naturais (ação física e interiorizada); o trabalho realizado
A percepção de que os gestos, gradativamente, pro- sobre seus próprios desenhos e os desenhos de outras
duzem marcas e representações mais organizadas per- crianças e adultos; a observação de diferentes objetos
mite à criança o reconhecimento dos seus registros. simbólicos do universo circundante; as imagens que cria.
No decorrer do tempo, as garatujas, que refletiam No decorrer da simbolização, a criança incorpora pro-
sobretudo o prolongamento de movimentos rítmicos de gressivamente regularidades ou códigos de representa-
ir e vir, transformam-se em formas definidas que apre- ção das imagens do entorno, passando a considerar a
sentam maior ordenação, e podem estar se referindo a hipótese de que o desenho serve para imprimir o que
objetos naturais, objetos imaginários ou mesmo a outros se vê.
desenhos. É assim que, por meio do desenho, a criança cria e re-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cria individualmente formas expressivas, integrando per-


cepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem
então ser apropriadas pelas leituras simbólicas de outras
crianças e adultos.
A imitação, largamente utilizada no desenho pelas
crianças e por muitos combatida, desenvolve uma função
importante no processo de aprendizagem. Imitar decorre
antes de uma experiência pessoal, cuja intenção é a apro-
priação de conteúdos, de formas e de figuras por meio
da representação.

63
As atividades em artes plásticas que envolvem os O fazer artístico
mais diferentes tipos de materiais indicam às crianças
as possibilidades de transformação, de reutilização e de Crianças de zero a três anos
construção de novos elementos, formas, texturas etc. A
relação que a criança pequena estabelece com os dife-
rentes materiais se dão, no início, por meio da exploração
sensorial e da sua utilização em diversas brincadeiras.
Representações bidimensionais e construção de objetos
tridimensionais nascem do contato com novos materiais,
no fluir da imaginação e no contato com as obras de arte.
Para construir, a criança utiliza-se das características
associativas dos objetos, seus usos simbólicos, e das pos-
sibilidades reais dos materiais, a fim de, gradativamente,
relacioná-los e transformá-los em função de diferentes
argumentos.

OBJETIVOS

Crianças de zero a três anos


A instituição deve organizar sua prática em torno da Orientações didáticas
aprendizagem em arte, garantindo oportunidades para
que as crianças sejam capazes de: Considera-se aqui a utilização de instrumentos, ma-
teriais e suportes diversos, como lápis, pincéis, tintas, pa-
péis, cola etc., para o fazer artístico a partir do momento
em que as crianças já tenham condições motoras para
seu manuseio.
As crianças podem manusear diferentes materiais,
perceber marcas, gestos e texturas, explorar o espaço fí-
sico e construir objetos variados. Essas atividades devem
ser bem dimensionadas e delimitadas no tempo, pois o
interesse das crianças desta faixa etária é de curta dura-
ção, e o prazer da atividade advém exatamente da ação
exploratória. Nesse sentido, a confecção de tintas e mas-
Crianças de quatro a seis anos sas com as crianças é uma excelente oportunidade para
Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a fai- que elas possam descobrir propriedades e possibilidades
xa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados de registro, além de observar transformações. Vários ti-
e ampliados, garantindo-se, ainda, oportunidades para pos de tintas podem ser criados pelas crianças, utilizan-
que as crianças sejam capazes de: do elementos da natureza, como folhas, sementes, flores,
terras de diferentes cores e texturas que, misturadas com
água ou outro meio e peneiradas, criam efeitos instigan-
tes quando usadas nas pinturas. Há também diversas re-
ceitas de massas caseiras com corantes comestíveis que
são excelentes para modelagem. Outra possibilidade é
pesquisar junto com as crianças a existência de locais
próximos à instituição de onde se podem extrair tipos de
barro propícios a modelagens.
O trabalho com estruturas tridimensionais também
pode ser desenvolvido por meio da colagem, montagem
e justaposição de sucatas previamente selecionadas, lim-
Conteúdos pas e organizadas, provenientes de embalagens diversas,
elementos da natureza, tecidos etc. É preciso observar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os conteúdos estão organizados em dois blocos. O cuidadosamente que as sucatas selecionadas sejam ade-
primeiro bloco se refere ao fazer artístico e o segundo quadas ao trabalho que se quer desenvolver. Assim, para
trata da apreciação em Artes Visuais. um jogo de construção, por exemplo, é preciso oferecer
A organização por blocos visa a oferecer visibilidade sucatas que possam ser empilhadas, encaixadas, justa-
às especificidades da aprendizagem em artes, embora as postas etc. Da mesma forma, para trabalhos de colagem,
crianças vivenciem esses conteúdos de maneira integra- as sucatas devem oferecer uma superfície que aceite a
da. cola e que permitam a composição com diferentes su-
portes e materiais. É importante considerar, ainda, o per-
curso individual de cada criança, evitando-se a constru-
ção de modelos padronizados.

64
Quando se tratar de atividades de desenho ou pin- Crianças de quatro a seis anos
tura, é aconselhável que o professor esteja atento para
oferecer suportes variados e de diferentes tamanhos
para serem utilizados individualmente ou em pequenos
grupos, como panos, papéis ou madeiras, que permitam
a liberdade do gesto solto, do movimento amplo e que
favoreçam um trabalho de exploração da dimensão es-
pacial, tão necessária às crianças desta faixa etária.
As marcas gráficas realizadas em diferentes superfí-
cies, inclusive no próprio corpo, permitem a percepção
das variadas possibilidades de impressão. A articula-
ção entre as sensações corporais e as marcas gráficas,
bem como o registro gráfico que surgir daí, fornecerá às
crianças um maior conhecimento de si mesmas e poderá
contribuir para as atividades de representação da própria
imagem, dos sentimentos e de suas experiências corpo-
rais. Essas atividades podem se dar sobre a areia seca ou
molhada, na terra, sobre diferentes tipos e tamanhos de
papel etc. Pode-se, por exemplo, utilizar tinta para im-
primir marcas em um papel comprido sobre o qual as
crianças caminham e vão percebendo, aos poucos, que
as inscrições, que no início eram bem visíveis, vão ficando
cada vez mais fracas até desaparecerem.
Sugere-se que sejam apresentadas atividades varia-
das que trabalhem uma mesma informação de diversas Orientações didáticas
formas. Pode-se, por exemplo, eleger um instrumento,
como o pincel, para crianças que já manejem esse ins- Para que as crianças possam criar suas produções, é
trumento, e usá-lo sobre diferentes superfícies (papel preciso que o professor ofereça oportunidades diversas
liso, rugado, lixa, argila etc.) ou um mesmo meio, como para que elas se familiarizem com alguns procedimen-
a tinta, por exemplo, em diversas situações (soprada em tos ligados aos materiais utilizados, aos diversos tipos de
canudo, com esponjas, com carimbos etc.). É preciso tra- suporte e para que possam refletir sobre os resultados
balhar com as crianças os cuidados necessários com o obtidos.
próprio corpo e com o corpo dos outros, principalmente É aconselhável, portanto, que o trabalho seja organi-
com os olhos, boca, nariz e pele, quando elas manuseiam zado de forma a oferecer às crianças a possibilidade de
diferentes materiais, instrumentos e objetos. contato, uso e exploração de materiais, como caixas, la-
A seleção dos materiais deve ser subordinada à se- tinhas, diferentes papéis, papelões, copos plásticos, em-
gurança que oferecem. Devem-se evitar materiais tóxi- balagens de produtos, pedaços de pano etc. É indicada a
cos, cortantes ou aqueles que apresentam possibilidade inclusão de materiais típicos das diferentes regiões brasi-
de machucar ou provocar algum dano para a saúde das leiras, pois além de serem mais acessíveis, possibilitam a
crianças. exploração de referenciais regionais.
Os diversos materiais para produções artísticas de- Para que a criança possa desenhar, é importante que
vem ser organizados de maneira a que as crianças te- ela possa fazê-lo livremente sem intervenção direta, ex-
nham fácil acesso a eles. Isso contribui para que elas plorando os diversos materiais, como lápis preto, lápis
possam cuidar dos materiais de uso individual e coletivo, de cor, lápis de cera, canetas, carvão, giz, penas, gravetos
desenvolvendo noções relacionadas à sua conservação. etc., e utilizando suportes de diferentes tamanhos e tex-
turas, como papéis, cartolinas, lixas, chão, areia, terra etc.
Há várias intervenções possíveis de serem realizadas
e que contribuem para o desenvolvimento do desenho
da criança. Uma delas é, partindo das produções já fei-
tas pelas crianças, sugerir-lhes, por exemplo, que copiem
seus próprios desenhos em escala maior ou menor. Esse
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tipo de atividade possibilita que a criança reflita sobre


seu próprio desenho e organize de maneira diferente os
pontos, as linhas e os traçados no espaço do papel. Outra
possibilidade é utilizar papéis que já contenham algum
tipo de intervenção, como, por exemplo, um risco, um
recorte, uma colagem de parte de uma figura etc., para
que a criança desenhe a partir disso.
É interessante propor às crianças que façam desenhos
a partir da observação das mais diversas situações, cenas,
pessoas e objetos. O professor pode pedir que observem
e desenhem a partir do que viram. Por exemplo, as crian-

65
ças podem perceber as formas arredondadas dos calca- professor pode atuar como um provocador da aprecia-
nhares, distinguir os diferentes tamanhos dos dedos, das ção e leitura da imagem. Nesses casos o professor deve
unhas, observar a sola do pé e a parte superior dele, bem acolher e socializar as falas das crianças.
como as características que diferenciam os pés de cada
um. Crianças de quatro a seis anos
As histórias, as imagens significativas ou os fatos do
cotidiano podem ampliar a possibilidade de as crianças
escolherem temas para trabalhar expressivamente. Tais
intervenções educativas devem ser feitas com o objeti-
vo de ampliar o repertório e a linguagem pessoal das
crianças e enriquecer seus trabalhos. Os temas e as in-
tervenções podem ser um recurso interessante desde
que sejam observados seus objetivos e função no desen-
volvimento do percurso de criação pessoal da criança. É
preciso, no entanto, ter atenção quanto a programação
de atividades para as crianças para se favorecer também
aquelas originárias das suas próprias ideias ou geradas
pelo contato com os mais diversos materiais.
O professor, conhecendo bem o grupo, pode apre-
sentar sugestões e auxiliar as crianças a desenvolverem
as propostas pelas quais optaram, indicando materiais
mais adequados a cada uma.
As criações tridimensionais devem ser feitas em eta- Orientações didáticas
pas, pois exigem diversas ações, como colagem, pintura,
montagem etc. Fazer maquetes de cidades ou brinque- Ao trabalhar com a leitura de imagens, é importante
dos são exemplos de atividades que podem ser realiza- elaborar perguntas que instiguem a observação, a desco-
das e que envolvem a composição de volumes, propor- berta e o interesse das crianças, como: “O que você mais
cionalidades, equilíbrios etc. gostou?”, “Como o artista conseguiu estas cores?”, “Que
instrumentos e meios ele usou?”, “O que você acha que
Guardar, organizar a sala e documentar as produções
foi mais difícil para ele fazer?”. Este é um bom momen-
são ações que podem ajudar cada criança na percepção
to para descobrir que temas são mais significativos para
de seu processo evolutivo e do desenrolar das etapas de
elas. O professor poderá criar espaços para a construção
trabalho.
de uma observação mais apurada, instigando a descrição
Essa é uma tarefa que o professor poderá realizar
daquilo que está sendo observado.
junto ao grupo. A exposição dos trabalhos realizados é
É aconselhável que o professor interfira nessas obser-
uma forma de propiciar a leitura dos objetos feitos pelas
vações, aguçando as descobertas, fomentando as verba-
crianças e a valorização de suas produções.
lizações e até ajudando as crianças na apreensão signifi-
cativa do conteúdo geral da imagem, deixando sempre
Apreciação em Artes Visuais que as crianças sejam as autoras das interpretações. É
interessante fornecer dados sobre a vida do autor, suas
Crianças de zero a três anos obras e outras características. As informações vão sendo
simplificadas ou aprofundadas conforme a curiosidade
e as possibilidades do grupo. Algumas crianças desta-
carão cores e outras, dependendo da sensibilidade, po-
derão arriscar comentários sobre a similaridade gráfica
Orientações didáticas entre o trabalho do artista e de suas próprias produções.
Evidentemente, é necessário que o professor escolha um
No que diz respeito às leituras das imagens, deve- determinado contexto para que certa imagem possa ser
-se eleger materiais que contemplem a maior diversida- apresentada, permitindo, inclusive, que os trabalhos em
de possível e que sejam significativos para as crianças. Artes Visuais aconteçam também em atividades interdis-
É aconselhável que, por meio da apreciação, as crianças ciplinares, que são muito pertinentes nas relações de en-
reconheçam e estabeleçam relações com o seu universo,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sino e aprendizagem.
podendo conter pessoas, animais, objetos específicos às As crianças têm prazer em reconhecer certas figu-
culturas regionais, cenas familiares, cores, formas, linhas ras, identificando-as às personagens de uma história já
etc. Entretanto, imagens abstratas ou renascentistas, por conhecida, de um desenho e, até mesmo, de alguns fil-
exemplo, também podem ser mostradas para as crian- mes vistos na televisão. Então, a partir da visualização de
ças. Nesses casos, há que se observar o sentido narrativo certas imagens, o professor poderá trabalhar com essas
que elas atribuem a essas imagens e considerá-lo como personagens por meio de jogos simbólicos, fazendo pe-
parte do processo de construção da leitura de imagens. quenas dramatizações dentro do próprio espaço que a
É aconselhável que as crianças realizem uma observação sala oferece, aproveitando os objetos presentes.
livre das imagens e que possam tecer os comentários As crianças podem observar imagens figurativas fixas
que quiserem de tal forma que todo o grupo participe. O ou em movimento e produções abstratas. Se for dada a

66
oportunidade para o trabalho com objetos e imagens da periência de contato e diálogo com as outras crianças,
produção artística (regional, nacional ou internacional), desenvolvendo o respeito, a tolerância à diversidade de
se for possibilitado o contato com artistas, as visitas às interpretações ou atribuição de sentido às imagens, a
exposições etc., o professor estará criando possibilida- admiração e dando uma contribuição às produções rea-
de para que as crianças desenvolvam relações entre as lizadas, por intermédio de uma prática de solidariedade
representações visuais e suas vivências pessoais ou gru- e inclusão. É nessa interação ativa que acontecem simul-
pais, enriquecendo seu conhecimento do mundo, das taneamente a observação, a apreciação, a verbalização e
linguagens das artes e instrumentalizando-as como lei- a ressignificação das produções. Nessas situações, nova-
toras e produtoras de trabalhos artísticos. mente, a imaginação, a ação, a sensibilidade, a percep-
Outra questão ainda merece destaque: o que fazer ção, o pensamento e a cognição são reativados.
com as produções das crianças? As respostas são múlti-
plas. Elas podem virar um brinquedo que será utilizado
tão logo a atividade termine; podem ser documentadas
e arquivadas para que as crianças adquiram aos poucos
a percepção do seu processo criativo como um todo e
possam atinar para o montante de trabalho produzido;
podem ser enviadas para suas casas para servirem de en-
feites nas paredes etc. Mas, antes disso, as produções de-
vem ser expostas, durante um certo período, nas depen-
dências das instituições de educação infantil, tanto nos
corredores quanto nas paredes das salas, o que favorece
a sua valorização pelas crianças. Produção, comunicação,
exposição, valorização e reconhecimento formam um
conjunto que alimenta a criança no seu desenvolvimento
artístico. A participação em exposições organizadas es-
pecialmente para dar destaque à produção infantil cola-
bora com a autoestima das crianças e de seus familiares. Orientações gerais para o professor

Os conteúdos da aprendizagem em artes poderão


ser organizados de modo a permitir que, por um lado, a
criança utilize aquilo que já conhece e tem familiaridade,
e, por outro lado, que possa estabelecer novas relações,
alargando seu saber sobre os assuntos abordados.
Convém ainda lembrar que a necessidade e o interes-
se também são criados e suscitados na própria situação
de aprendizagem. Tendo clareza do seu projeto de traba-
lho, o professor poderá imprimir maior qualidade à sua
ação educativa ao garantir que:

É essencial que se incluam atividades que se con-


centrem basicamente na leitura das imagens produzidas
pelas próprias crianças (desenhos, colagens, recortes,
objetos tridimensionais, pinturas etc.). Permitir que elas
falem sobre suas criações e escutem as observações dos
colegas sobre seus trabalhos é um aspecto fundamental
do trabalho em artes. É assim que elas poderão reformu-
lar suas ideias, construindo novos conhecimentos a partir
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

das observações feitas, bem como desenvolver o contato


social com os outros.
Nesta etapa é possível fortalecer o reconhecimento
da singularidade de cada indivíduo na criação, mostran-
do que não existe um jeito certo ou errado de se produzir
um trabalho de arte, mas sim um jeito individualizado,
singular. Comentar os resultados dos trabalhos possibi-
lita a descoberta do percurso na criação e a percepção
das soluções encontradas no processo de construção.
Nas leituras grupais, as crianças elaboram não somente
os conteúdos comentados, mas estabelecem uma ex-

67
Organização do tempo

A organização do tempo em Artes Visuais deve res-


peitar as possibilidades das crianças relativas ao ritmo e
interesse pelo trabalho, ao tempo de concentração, bem
como ao prazer na realização das atividades. É aconse-
lhável que o professor esteja atento para redimensionar
as atividades propostas, seja em relação ao tempo, ou à Tanto quanto as atividades livres, as sequências de
própria atividade. Cada criança, pelo seu ritmo, demons- atividades também levam a apreciar, a refletir, e a buscar
tra a necessidade de prolongar o tempo de trabalho ou significados nas imagens da arte.
de reduzi-lo, quando for o caso.
No que diz respeito à organização do tempo pode-se Projetos
apontar três possibilidades de organização: as atividades
permanentes, as sequências de atividades e os projetos. Os projetos são formas de trabalho que envolve di-
ferentes conteúdos e que se organizam em torno de um
Atividades permanentes produto final cuja escolha e elaboração são comparti-
lhadas com as crianças. Muitas vezes eles não terminam
São situações didáticas que acontecem com regulari- com esse produto final, mas geram novas aprendizagens
dade diária ou semanal, na rotina das crianças. Os ateliês e novos projetos.
ou os ambientes de trabalho nos quais são oferecidas A construção de um cenário para brincar ou de uma
diversas atividades simultâneas, como desenhar, pintar, maquete, a ornamentação de um bolo de aniversário ou
modelar e fazer construções e colagens, para que as de uma mesa de festa, a elaboração de um painel, de
crianças escolham o que querem fazer, é um exemplo uma exposição, ou a ilustração de um livro são exemplos
de atividade permanente. Esses ateliês permitem o de- de projetos de artes. Os projetos em artes são permea-
senvolvimento do percurso individual de cada criança, na dos de negociação e de pesquisas entre professores e
medida em que elas podem fazer suas escolhas, regu- crianças. Se de um lado o professor planeja as etapas e
lar por si mesmas o tempo dedicado a cada produção pode antecipar o produto final, por sua vez, as crianças
e experimentar diversas possibilidades. É aconselhável interferem no planejamento, alterando o processo a par-
também que se garanta um tempo na rotina para que as tir das soluções que encontram nas suas produções.
crianças possam desenhar diariamente sem a interven- Os projetos podem ter como ponto de partida um
ção direta do professor. tema, um problema sugerido pelo grupo ou decorrente
da vida da comunidade, uma notícia de televisão ou de
Sequências de atividades jornal, um interesse particular das crianças etc. Uma das
condições para sua escolha é que ele mobilize o interesse
A sequência de atividades se constitui em uma série do grupo como um todo. As crianças, em primeiro lugar,
planejada e orientada de tarefas, com objetivo de pro- mas também os professores devem sentir-se atraídos
mover uma aprendizagem específica e definida. São se- pela questão.
quências que podem fornecer desafios com diferentes É aconselhável que o professor observe atentamen-
graus de complexidade, auxiliando as crianças a resol- te e avalie continuamente o processo, tendo em vista a
verem problemas a partir de diferentes proposições. Por reestruturação do trabalho a cada etapa do projeto.
exemplo, se o objetivo é fazer com que elas avancem
em relação à representação da figura humana por meio Organização do espaço
do desenho, pode-se planejar várias etapas de trabalho
complementares, ajudando-as numa elaboração pro- A organização da sala, a quantidade e a qualidade
gressiva e cada vez mais rica de seus conhecimentos e dos materiais presentes e sua disposição no espaço são
habilidades, como: determinantes para o fazer artístico.
É aconselhável que os locais de trabalho, de uma
maneira geral, acomodem confortavelmente as crianças,
dando o máximo de autonomia para o acesso e uso dos
materiais. Espaços apertados inibem a expressão artís-
tica, enquanto os espaços suficientemente amplos fa-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vorecem a liberdade de expressão. Nesse sentido, vale


lembrar que os locais devem favorecer o andar, o correr
e o brincar das crianças. Devem, também, ser concebidos
e equipados de tal forma que sejam interessantes para
as crianças, ativando o desejo de produzir e o prazer de
estar ali. Precisam, igualmente, permitir o rearranjo do
mobiliário de acordo com as propostas. Faz parte do pro-
cesso criativo certa desordem no local de trabalho causa-
da, por exemplo, pela variedade de materiais utilizados.
A arrumação do espaço ao término das atividades deve
envolver a participação das crianças.

68
O espaço deve possibilitar também a exposição dos são de uso corrente, como lápis preto, lápis de cor, pin-
trabalhos e sua permanência nesse local pelo tempo que céis, lápis de cera, carvão, giz, brochas, rolos de pintar,
for desejável. espátulas, papéis de diferentes tamanhos, cores e textu-
Muitas vezes as atividades nas instituições acontecem ras, caixas, papelão, tintas, argila, massas diversas, bar-
num mesmo espaço. O professor pode, então, organizar bantes, cola, tecidos, linhas, lãs, fita crepe, tesouras etc.
o ambiente de forma a criar cantos específicos para cada Outros materiais podem diversificar os procedimentos
atividade: cantos de brinquedos, de Artes Visuais, de lei- em Artes Visuais, como canudos, esferas, conta-gotas,
tura de livros etc. No canto de artes, podem ser acomo- colheres, cotonetes, carretilhas, fôrmas diversas, papel-
dadas caixas que abrigam os materiais, o chão pode ser -carbono, estêncil, carimbos, escovas, pentes, palitos, su-
coberto de jornal para evitar manchas, a secagem das catas, elementos da natureza etc.
produções pode ser feita pregando os trabalhos em va- Com relação às sucatas é importante que se faça uma
rais ou em paredes, tudo pode ser organizado de forma seleção, garantindo que não ofereçam perigo à saúde
transitória, mas que possibilite a realização de uma ativi- da criança, que estejam em boas condições e que se-
dade em Artes Visuais. jam adequadas ao uso. Cada região brasileira possui uma
É possível organizar ateliês, que são espaços específi- grande variedade de materiais próprios, tanto naturais
cos e próprios para a realização de diferentes atividades quanto artesanais e industrializados. O professor pode e
em Artes Visuais. Nesses ateliês, os materiais devem ficar deve aproveitá-los desde que sejam respeitados os cui-
constantemente acessíveis às crianças, em prateleiras, es- dados descritos.
tantes, caixas etc., de forma a permitir a livre escolha. É Materiais e instrumentos, como mimeógrafos, vídeos,
necessário também que haja lugar para a secagem dos projetores de slides, retroprojetores, mesas de luz, com-
trabalhos, sejam eles pinturas ou objetos tridimensionais. putadores, fotografias, xerox, filmadoras, CD-ROM etc.,
A presença de torneiras e pias é fundamental para a lava- possibilitam o uso da tecnologia atual na produção artís-
gem de pincéis, brochas e outros tipos de materiais, as- tica, o que enriquece a quantidade de recursos de que o
sim como as mãos, rostos etc. Quanto ao armazenamen- professor pode lançar mão.
to das produções realizadas, pastas e arquivos também
podem fazer parte desses locais que devem, inclusive, Observação, registro e avaliação formativa
abrigar exposições permanentes das produções.
A avaliação deve buscar entender o processo de cada
criança, a significação que cada trabalho comporta, afas-
tando julgamentos, como feio ou bonito, certo ou er-
rado, que utilizados dessa maneira em nada auxiliam o
processo educativo.
A observação do grupo, além de constante, deve fazer
parte de uma atitude sistemática do professor dentro do
seu espaço de trabalho. O registro dessas observações e
das percepções que surgem ao longo do processo, tan-
to em relação ao grupo quanto ao percurso individual
de cada criança, fornece alguns parâmetros valiosos que
podem orientar o professor na escolha dos conteúdos a
serem trabalhados. Podem também, ajudá-lo a avaliar a
adequação desses conteúdos, colaborando para um pla-
nejamento mais afinado com as necessidades do grupo
de crianças.
Quando se aborda a questão da avaliação em Artes
Visuais, surge inevitavelmente a discussão sobre a possi-
bilidade de realizá-la, posto que as produções em artes
são sempre expressões singulares do sujeito produtor e,
sendo assim, não seriam passíveis de julgamento.
Em Artes Visuais a avaliação deve ser sempre proces-
sual e ter um caráter de análise e reflexão sobre as pro-
duções das crianças. Isso significa que a avaliação para a
criança deve explicitar suas conquistas e as etapas do seu
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

processo criativo; para o professor, deve fornecer infor-


mações sobre a adequação de sua prática para que possa
repensá-los e estruturá-los sempre com mais segurança.
São consideradas como experiências prioritárias em
Artes Visuais realizada para as crianças de zero a três
anos: a exploração de diferentes materiais e a possibi-
Os recursos materiais lidade de expressar-se por meio deles. Para isso é ne-
cessário que as crianças tenham tido oportunidade de
Os materiais são a base da produção artística. É im- desenhar, pintar, modelar, brincar com materiais de
portante garantir às crianças acesso a uma grande diver- construção em diversas situações, utilizando os mais di-
sidade de instrumentos, meios e suportes. Alguns deles ferentes materiais.

69
A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que te- municação e expressão e de acesso ao mundo letrado
nham tido muitas oportunidades, na instituição de edu- pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao de-
cação infantil, de vivenciar experiências envolvendo as senvolvimento gradativo das capacidades associadas às
Artes Visuais, pode-se esperar que as crianças utilizem o quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar,
desenho, a pintura, a modelagem e outras formas de ex- ler e escrever.
pressão plástica para representar, expressar-se e comu-
nicar-se. Para tanto, é necessário que as crianças tenham Presença da linguagem oral e escrita na educação
vivenciado diversas atividades, envolvendo o desenho, a infantil: ideias e práticas correntes
pintura, a modelagem etc., explorando as mais diversas
técnicas e materiais. A linguagem oral está presente no cotidiano e na prá-
tica das instituições de educação infantil à medida que
todos que dela participam: crianças e adultos, falam, se
comunicam entre si, expressando sentimentos e ideias.
As diversas instituições concebem a linguagem e a ma-
neira como as crianças aprendem de modos bastante
diferentes. Em algumas práticas se considera o aprendi-
zado da linguagem oral como um processo natural, que
ocorre em função da maturação biológica; prescinde-se
nesse caso de ações educativas planejadas com a inten-
ção de favorecer essa aprendizagem.
Em outras práticas, ao contrário, acredita-se que
a intervenção direta do adulto é necessária e determi-
nante para a aprendizagem da criança. Desta concepção
resultam orientações para ensinar às crianças pequenas
listas de palavras, cuja aprendizagem se dá de forma
cumulativa e cuja complexidade cresce gradativamente.
Acredita-se também que para haver boas condições para
essa aprendizagem é necessário criar situações em que
o silêncio e a homogeneidade imperem. Eliminam-se as
falas simultâneas, acompanhadas de farta movimentação
e de gestos, tão comuns ao jeito próprio das crianças se
comunicarem.
Nessa perspectiva a linguagem é considerada apenas
como um conjunto de palavras para nomeação de obje-
tos, pessoas e ações.
Em muitas situações, também, o adulto costuma imi-
tar a maneira de falar das crianças, acreditando que as-
sim se estabelece uma maior aproximação com elas, uti-
lizando o que se supõe seja a mesma “língua”, havendo
Linguagem oral e escrita um uso excessivo de diminutivos e/ou uma tentativa de
infantilizar o mundo real para as crianças.
Introdução O trabalho com a linguagem oral, nas instituições de
educação infantil, tem se restringido a algumas ativida-
A aprendizagem da linguagem oral e escrita é um dos des, entre elas as rodas de conversa. Apesar de serem
elementos importantes para as crianças ampliarem suas organizadas com a intenção de desenvolver a conversa,
possibilidades de inserção e de participação nas diversas se caracterizam, em geral, por um monólogo com o pro-
práticas sociais. fessor, no qual as crianças são chamadas a responder em
O trabalho com a linguagem se constitui em um dos coro a uma única pergunta dirigida a todos, ou cada um
eixos básicos na educação infantil, dada sua importân- por sua vez, em uma ação totalmente centrada no adulto.
cia para a formação do sujeito, para a interação com as Em relação ao aprendizado da linguagem escrita,
outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na concepções semelhantes àquelas relativas ao trabalho
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

construção de muitos conhecimentos e no desenvolvi- com a linguagem oral vigoram na educação infantil.
mento do pensamento. A ideia de prontidão para a alfabetização está pre-
Aprender uma língua não é somente aprender as pa- sente em várias práticas. Por um lado, há uma crença de
lavras, mas também os seus significados culturais, e, com que o desenvolvimento de determinadas habilidades
eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio so- motoras e intelectuais, necessárias para aprender a ler
ciocultural entendem, interpretam e representam a rea- e escrever, é resultado da maturação biológica, havendo
lidade. nesse caso pouca influência externa. Por meio de testes
A educação infantil, ao promover experiências sig- considera-se possível detectar o momento para ter iní-
nificativas de aprendizagem da língua, por meio de um cio a alfabetização. Por outro lado, há os que advogam a
trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em existência de pré-requisitos relativos à memória auditiva,
um dos espaços de ampliação das capacidades de co- ao ritmo, à discriminação visual etc., que devem ser de-

70
senvolvidos para possibilitar a aprendizagem da leitura e Pesquisas na área da linguagem tendem a reconhe-
da escrita pelas crianças. Assim, os exercícios mimeogra- cer que o processo de letramento está associado tanto
fados de coordenação perceptivo-motora, como passar à construção do discurso oral como do discurso escrito.
o lápis sobre linhas pontilhadas, ligar elementos gráficos Principalmente nos meios urbanos, a grande parte das
(levar o passarinho ao ninho, fazer os pingos da chuva crianças, desde pequenas, está em contato com a lingua-
etc.), tornam-se atividades características das instituições gem escrita por meio de seus diferentes portadores de
de educação infantil. texto, como livros, jornais, embalagens, cartazes, placas
Em outra perspectiva, a aprendizagem da leitura e da de ônibus etc., iniciando-se no conhecimento desses ma-
escrita se inicia na educação infantil por meio de um tra- teriais gráficos antes mesmo de ingressarem na institui-
balho com base na cópia de vogais e consoantes, ensina- ção educativa, não esperando a permissão dos adultos
das uma de cada vez, tendo como objetivo que as crian- para começarem a pensar sobre a escrita e seus usos.
ças relacionem sons e escritas por associação, repetição Elas começam a aprender a partir de informações pro-
e memorização de sílabas. A prática em geral realiza-se venientes de diversos tipos de intercâmbios sociais e a
de forma supostamente progressiva: primeiro as vogais, partir das próprias ações, por exemplo, quando presen-
depois as consoantes; em seguida as sílabas, até chegar ciam diferentes atos de leitura e escrita por parte de seus
às palavras. Outra face desse trabalho de segmentação familiares, como ler jornais, fazer uma lista de compras,
e sequenciação é a ideia de partir de um todo, de uma anotar um recado telefônico, seguir uma receita culinária,
frase, por exemplo, decompô-la em partes até chegar às buscar informações em um catálogo, escrever uma carta
sílabas. Acrescenta-se a essa concepção a crença de que para um parente distante, ler um livro de histórias etc.
a escrita das letras pode estar associada, também, à vi- A partir desse intenso contato, as crianças começam
vência corporal e motora que possibilita a interiorização a elaborar hipóteses sobre a escrita. Dependendo da im-
dos movimentos necessários para reproduzi-las. portância que tem a escrita no meio em que as crianças
Nas atividades de ensino de letras, uma das sequên- vivem e da frequência e qualidade das suas interações
cias, por exemplo, pode ser: primeiro uma atividade com com esse objeto de conhecimento, suas hipóteses a res-
o corpo (andar sobre linhas, fazer o contorno das letras peito de como se escreve ou se lê podem evoluir mais
na areia ou na lixa etc.), seguida de uma atividade oral de lentamente ou mais rapidamente. Isso permite com-
identificação de letras, cópia e, posteriormente, a permis- preender por que crianças que vêm de famílias nas quais
são para escrevê-la sem copiar. Essa concepção conside- os atos de ler e escrever tem uma presença marcante
ra a aprendizagem da linguagem escrita, exclusivamen- apresentam mais desenvoltura para lidar com as ques-
te, como a aquisição de um sistema de codificação que tões da linguagem escrita do que aquelas provenientes
transforma unidades sonoras em unidades gráficas. As de famílias em que essa prática não é intensa. Esse fato
atividades são organizadas em sequências com o intuito aponta para a importância do contato com a escrita nas
de facilitar essa aprendizagem às crianças, baseadas em instituições de educação infantil.
definições do que é fácil ou difícil, do ponto de vista do Para aprender a ler e a escrever, a criança preci-
professor. sa construir um conhecimento de natureza conceitual:
Pesquisas realizadas, nas últimas décadas, baseadas precisa compreender não só o que a escrita representa,
na análise de produções das crianças e das práticas cor- mas também de que forma ela representa graficamente
rentes, têm apontado novas direções no que se refere a linguagem. Isso significa que a alfabetização não é o
ao ensino e à aprendizagem da linguagem oral e escrita, desenvolvimento de capacidades relacionadas à percep-
considerando a perspectiva da criança que aprende. Ao ção, memorização e treino de um conjunto de habilida-
se considerar as crianças ativas na construção de conhe- des sensório-motoras. É, antes, um processo no qual as
cimentos e não receptoras passivas de informações há crianças precisam resolver problemas de natureza lógica
uma transformação substancial na forma de compreen- até chegarem a compreender de que forma a escrita al-
der como elas aprendem a falar, a ler e a escrever. fabética em português representa a linguagem, e assim
A linguagem oral possibilita comunicar ideias, pen- poderem escrever e ler por si mesmas.
samentos e intenções de diversas naturezas, influenciar Nessa perspectiva, a aprendizagem da linguagem es-
o outro e estabelecer relações interpessoais. Seu apren- crita é concebida como:
dizado acontece dentro de um contexto. As palavras só
têm sentido em enunciados e textos que significam e são
significados por situações. A linguagem não é apenas
vocabulário, lista de palavras ou sentenças. É por meio
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do diálogo que a comunicação acontece. São os sujeitos


em interações singulares que atribuem sentidos únicos
às falas. A linguagem não é homogênea: há variedades
de falas, diferenças nos graus de formalidade e nas con-
venções do que se pode e deve falar em determinadas
situações comunicativas. Quanto mais as crianças pu-
derem falar em situações diferentes, como contar o que
lhes aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado,
explicar um jogo ou pedir uma informação, mais poderão Quais são as implicações para a prática pedagógica e
desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira quais as principais transformações provocadas por essa
significativa. nova compreensão do processo de aprendizagem da

71
escrita pela criança? A constatação de que as crianças Aprender a falar, portanto, não consiste apenas em
constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do memorizar sons e palavras. A aprendizagem da fala pelas
que se supunha e de que elaboram hipóteses originais crianças não se dá de forma desarticulada com a reflexão,
na tentativa de compreendê-la amplia as possibilidades o pensamento, a explicitação de seus atos, sentimentos,
de a instituição de educação infantil enriquecer e dar sensações e desejos.
continuidade a esse processo. Essa concepção supera a A partir de um ano de idade, aproximadamente, as
ideia de que é necessário, em determinada idade, insti- crianças podem selecionar os sons que lhe são dirigidos,
tuir classes de alfabetização para ensinar a ler e escrever. tentam descobrir sobre os sentidos das enunciações e
Aprender a ler e a escrever fazem parte de um longo pro- procuram utilizá-los. Muitos dos fenômenos relaciona-
cesso ligado à participação em práticas sociais de leitura dos com o discurso e a fala, como os sons expressivos,
e escrita. alterações de volume e ritmo, ou o funcionamento dia-
lógico das conversas nas situações de comunicação, são
A criança e a linguagem utilizados pelas crianças mesmo antes que saibam falar.
Isso significa que muito antes de se expressarem pela lin-
Desenvolvimento da linguagem oral guagem oral as crianças podem se fazer compreender e
compreender os outros, pois a competência linguística
Muito cedo, os bebês emitem sons articulados que abrange tanto a capacidade das crianças para compreen-
lhes dão prazer e que revelam seu esforço para comu- derem a linguagem quanto sua capacidade para se faze-
nicar-se com os outros. Os adultos ou crianças mais ve- rem entender. As crianças vão testando essa compreen-
lhas interpretam essa linguagem peculiar, dando sentido são, modificando-a e estabelecendo novas associações
à comunicação dos bebês. A construção da linguagem na busca de seu significado. Passam a fazer experiências
oral implica, portanto, na verbalização e na negociação não só com os sons e as palavras, mas também com os
de sentidos estabelecidos entre pessoas que buscam co- discursos referentes a diferentes situações comunicati-
municar-se. Ao falar com os bebês, os adultos, principal- vas. Por exemplo, nas brincadeiras de faz-de-conta de fa-
mente, tendem a utilizar uma linguagem simples, breve e lar ao telefone tentam imitar as expressões e entonações
repetitiva, que facilita o desenvolvimento da linguagem que elas escutam dos adultos. Podem, gradativamente,
e da comunicação. Outras vezes, quando falam com os separar e reunir, em suas brincadeiras, fragmentos es-
bebês ou perto deles, adultos e crianças os expõem à lin- truturais das frases, apoiando-se em músicas, rimas, par-
guagem oral em toda sua complexidade, como quando, lendas e jogos verbais existentes ou inventados. Brincam,
por exemplo, na situação de troca de fraldas, o adulto também, com os significados das palavras, inventando
fala: “Você está molhado? Eu vou te limpar, trocar a fralda nomes para si próprias ou para os outros, em situações
e você vai ficar sequinho e gostoso!”. de faz-de-conta. Nos diálogos com adultos e com outras
Nesses processos, as crianças se apropriam, gradati- crianças, nas situações cotidianas e no faz-de-conta, as
vamente, das características da linguagem oral, utilizan- crianças imitam expressões que ouvem, experimentando
do-as em suas vocalizações e tentativas de comunicação. possibilidades de manutenção dos diálogos, negociando
As brincadeiras e interações que se estabelecem entre sentidos para serem ouvidas, compreendidas e obterem
os bebês e os adultos incorporam as vocalizações rítmi- respostas.
cas, revelando o papel comunicativo, expressivo e social A construção da linguagem oral não é linear e ocorre
que a fala desempenha desde cedo. Um bebê de quatro em um processo de aproximações sucessivas com a fala
meses que emite certa variedade de sons quando está do outro, seja ela do pai, da mãe, do professor, dos ami-
sozinho, por exemplo, poderá, repeti-los nas interações gos ou aquelas ouvidas na televisão, no rádio etc.
com os adultos ou com outras crianças, como forma de Nas inúmeras interações com a linguagem oral, as
estabelecer uma comunicação. crianças vão tentando descobrir as regularidades que
Além da linguagem falada, a comunicação aconte- a constitui, usando todos os recursos de que dispõem:
ce por meio de gestos, de sinais e da linguagem cor- histórias que conhecem, vocabulário familiar etc. Assim,
poral, que dão significado e apoiam a linguagem oral acabam criando formas verbais, expressões e palavras,
na tentativa de apropriar-se das convenções da lingua-
dos bebês. A criança aprende a verbalizar por meio da
gem. É o caso, por exemplo, da criação de tempos ver-
apropriação da fala do outro. Esse processo refere-se à
bais de uma menina de cinco anos que, escondida atrás
repetição, pela criança, de fragmentos da fala do adulto
da porta, diz à professora: “Adivinha se eu ‘tô’ sentada,
ou de outras crianças, utilizados para resolver problemas
agachada ou empezada?”, ou então no exemplo de uma
em função de diferentes necessidades e contextos nos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

criança que, ao emitir determinados sons na brincadeira,


quais se encontre. Por exemplo, um bebê de sete meses
é perguntada por outra: “Você está chorando?”, ao que a
pode engatinhar em direção a uma tomada e, ao che-
criança responde: “Não, estou graçando!”.
gar perto dela, ainda que demonstre vontade de tocá-la,
As crianças têm ritmos próprios e a conquista de suas
pode apontar para ela e menear a cabeça expressando capacidades linguísticas se dá em tempos diferenciados,
assim, à sua maneira, a fala do adulto. Progressivamente, sendo que a condição de falar com fluência, de produzir
passa a incorporar a palavra “não” associada a essa ação, frases completas e inteiras provém da participação em
que pode significar um conjunto de ideias como: não se atos de linguagem.
pode mexer na tomada; mamãe ou a professora não me Quando a criança fala com mais precisão o que de-
deixam fazer isso; mexer aí é perigoso etc. seja, o que gosta e o que não gosta, o que quer e o que
não quer fazer e a fala passa a ocupar um lugar privi-

72
legiado como instrumento de comunicação, pode haver A observação e a análise das produções escritas das
um predomínio desta sobre os outros recursos comuni- crianças revelam que elas tomam consciência, gradati-
cativos. Além de produzirem construções mais comple- vamente, das características formais dessa linguagem.
xas, as crianças são mais capazes de explicitações verbais Constata-se, que, desde muito pequenas, as crianças
e de explicar-se pela fala. O desenvolvimento da fala e podem usar o lápis e o papel para imprimir marcas, imi-
da capacidade simbólica ampliam significativamente os tando a escrita dos mais velhos, assim como utilizam-se
recursos intelectuais, porém as falas infantis são, ainda, de livros, revistas, jornais, gibis, rótulos etc. para “ler” o
produto de uma perspectiva muito particular, de um que está escrito. Não é raro observar-se crianças muito
modo próprio de ver o mundo. pequenas, que têm contato com material escrito, folhear
A ampliação de suas capacidades de comunicação um livro e emitir sons e fazer gestos como se estivessem
oral ocorre gradativamente, por meio de um processo lendo.
de idas e vindas que envolvem tanto a participação das As crianças elaboram uma série de ideias e hipóteses
crianças nas conversas cotidianas, em situações de escu- provisórias antes de compreender o sistema escrito em
ta e canto de músicas, em brincadeiras etc., como a parti- toda sua complexidade.
cipação em situações mais formais de uso da linguagem, Sabe-se, também, que as hipóteses elaboradas pelas
como aquelas que envolvem a leitura de textos diversos. crianças em seu processo de construção de conhecimen-
to não são idênticas em uma mesma faixa etária, porque
dependem do grau de letramento de seu ambiente so-
cial, ou seja, da importância que tem a escrita no meio
em que vivem e das práticas sociais de leitura e escrita
que podem presenciar e participar.
No processo de construção dessa aprendizagem as
crianças cometem “erros”. Os erros, nessa perspectiva,
não são vistos como faltas ou equívocos, eles são es-
perados, pois se referem a um momento evolutivo no
processo de aprendizagem das crianças. Eles têm um
importante papel no processo de ensino, porque infor-
mam o adulto sobre o modo próprio de as crianças pen-
sarem naquele momento. E escrever, mesmo com esses
“erros”, permite às crianças avançarem, uma vez que só
escrevendo é possível enfrentar certas contradições. Por
exemplo, se algumas crianças pensam que não é possível
escrever com menos de três letras, e pensam, ao mesmo
tempo, que para escrever “gato” é necessário duas letras,
estabelecendo uma equivalência com as duas sílabas da
palavra gato, precisam resolver essa contradição criando
uma forma de grafar que acomode a contradição en-
Desenvolvimento da linguagem escrita quanto ainda não é possível ultrapassá-la.
Desse modo, as crianças aprendem a produzir textos
Nas sociedades letradas, as crianças, desde os pri- antes mesmo de saber grafá-los de maneira convencio-
meiros meses, estão em permanente contato com a lin- nal, como quando uma criança utiliza o professor como
guagem escrita. É por meio desse contato diversificado escriba ditando-lhe sua história. A situação inversa tam-
em seu ambiente social que as crianças descobrem o as- bém é possível, quando as crianças aprendem a grafar
pecto funcional da comunicação escrita, desenvolvendo um texto sem tê-lo produzido, como quando escrevem
interesse e curiosidade por essa linguagem. Diante do um texto ditado por outro ou um que sabem de cor. Isso
ambiente de letramento em que vivem, as crianças po- significa que, ainda que as crianças não possuam a ha-
dem fazer, a partir de dois ou três anos de idade, uma bilidade para escrever e ler de maneira autônoma, po-
série de perguntas, como “O que está escrito aqui?”, ou dem fazer uso da ajuda de parceiros mais experientes —
“O que isto quer dizer?”, indicando sua reflexão sobre a crianças ou adultos — para aprenderem a ler e a escrever
função e o significado da escrita, ao perceberem que ela em situações significativas.
representa algo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Sabe-se que para aprender a escrever a criança terá


de lidar com dois processos de aprendizagem paralelos:
o da natureza do sistema de escrita da língua – o que
a escrita representa e como – e o das características da
linguagem que se usa para escrever. A aprendizagem da
linguagem escrita está intrinsicamente associada ao con-
tato com textos diversos, para que as crianças possam
construir sua capacidade de ler, e às práticas de escrita,
para que possam desenvolver a capacidade de escrever
autonomamente.

73
Conteúdos

O domínio da linguagem surge do seu uso em múl-


tiplas circunstâncias, nas quais as crianças podem perce-
ber a função social que ela exerce e assim desenvolver
diferentes capacidades.
Por muito tempo prevaleceu, nos meios educacionais,
a ideia de que o professor teria de planejar, diariamente,
novas atividades, não sendo necessário estabelecer uma
relação e continuidade entre elas. No entanto, a apren-
dizagem pressupõe uma combinação entre atividades
inéditas e outras que se repetem. Dessa forma, a organi-
zação dos conteúdos de Linguagem Oral e Escrita deve
se subordinar a critérios que possibilitem, ao mesmo
tempo, a continuidade em relação às propostas didáticas
e ao trabalho desenvolvido nas diferentes faixas etárias,
e a diversidade de situações didáticas em um nível cres-
cente de desafios.
A oralidade, a leitura e a escrita devem ser trabalhadas
de forma integrada e complementar, potencializando-se
os diferentes aspectos que cada uma dessas linguagens
solicita das crianças. Neste documento, os conteúdos
são apresentados em um único bloco para as crianças
Objetivos de zero a três anos, considerando-se a especificidade da
faixa etária. Para as crianças de quatro a seis anos, os
conteúdos são apresentados em três blocos: “Falar e es-
Crianças de zero a três anos
cutar”, “Práticas de leitura” e “Práticas de escrita”.
As instituições e profissionais de educação infantil
deverão organizar sua prática de forma a promover as
Crianças de zero a três anos
seguintes capacidades nas crianças:

Crianças de quatro a seis anos


Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa
etária de zero a três anos deverão ser aprofundados e
ampliados, promovendo-se, ainda, as seguintes capaci-
dades nas crianças: Orientações didáticas

A aprendizagem da fala se dá de forma privilegiada


por meio das interações que a criança estabelece desde
que nasce. As diversas situações cotidianas nas quais os
adultos falam com a criança ou perto dela configuram
uma situação rica que permite à criança conhecer e apro-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

priar-se do universo discursivo e dos diversos contextos


nos quais a linguagem oral é produzida. As conversas
com o bebê nos momentos de banho, de alimentação,
de troca de fraldas são exemplos dessas situações. Nes-
ses momentos, o significado que o adulto atribui ao seu
esforço de comunicação fornece elementos para que ele
possa, aos poucos, perceber a função comunicativa da
fala e desenvolver sua capacidade de falar.
É importante que o professor converse com bebês
e crianças, ajudando-os a se expressarem, apresentan-
do-lhes diversas formas de comunicar o que desejam,

74
sentem, necessitam etc. Nessas interações, é importante Criança: Deu umas... era vermelho... que coçava.
que o adulto utilize a sua fala de forma clara, sem infan- Professor: Você teve catapora, que dá umas bolinhas
tilizações e sem imitar o jeito de a criança falar. que se coçar viram feridas, né? Alguém já ouviu falar
A ampliação da capacidade das crianças de utilizar dessa doença? Cabe ao professor, atento e interessa-
a fala de forma cada vez mais competente em diferen- do, auxiliar na construção conjunta das falas das crian-
tes contextos se dá na medida em que elas vivenciam ças para torná-las mais completas e complexas. Ouvir
experiências diversificadas e ricas envolvendo os diver- atentamente o que a criança diz para ter certeza de que
sos usos possíveis da linguagem oral. Portanto, eleger a entendeu o que ela falou, podendo checar com ela, por
linguagem oral como conteúdo exige o planejamento meio de perguntas ou repetições, se entendeu mesmo
da ação pedagógica de forma a criar situações de fala, o que ela quis dizer, ajudará a continuidade da conver-
escuta e compreensão da linguagem. sa. Para as crianças muito pequenas uma palavra, como
Além da conversa constante, o canto, a música e a “água”, pode ser significada pelo adulto, dependendo
escuta de histórias também propiciam o desenvolvimen- da situação, como: “Ah! Você quer água?”, ou “Você der-
to da oralidade. A leitura pelo professor de textos escri- rubou água no chão”. Os professores podem funcionar
tos, em voz alta, em situações que permitem a atenção e como apoio ao desenvolvimento verbal das crianças,
a escuta das crianças, seja na sala, no parque debaixo de sempre buscando trabalhar com a interlocução e a co-
uma árvore, antes de dormir, numa atividade específica municação efetiva entre os participantes da conversa.
para tal fim etc., fornece às crianças um repertório rico O professor tem, também, o importante papel de
em oralidade e em sua relação com a escrita. “evocador” de lembranças. Objetos e figuras podem ser
O ato de leitura é um ato cultural e social. Quando o desencadeadores das lembranças das crianças e seu uso
professor faz uma seleção prévia da história que irá con- pode ajudar a enriquecer a narrativa delas.
tar para as crianças, independentemente da idade delas,
dando atenção para a inteligibilidade e riqueza do texto, Crianças de quatro a seis anos
para a nitidez e beleza das ilustrações, ele permite às
crianças construírem um sentimento de curiosidade pelo Falar e escutar
livro (ou revista, gibi etc.) e pela escrita. A importância
dos livros e demais portadores de textos é incorporada
pelas crianças, também, quando o professor organiza o
ambiente de tal forma que haja um local especial para
livros, gibis, revistas etc. que seja aconchegante e no
qual as crianças possam manipulá-los e “lê-los” seja em
momentos organizados ou espontaneamente. Deixar as
crianças levarem um livro para casa, para ser lido junto
com seus familiares, é um fato que deve ser considera-
do. As crianças, desde muito pequenas, podem construir
uma relação prazerosa com a leitura. Compartilhar essas
descobertas com seus familiares é um fator positivo nas
aprendizagens das crianças, dando um sentido mais am-
plo para a leitura.
Considerando-se que o contato com o maior número
possível de situações comunicativas e expressivas resul-
ta no desenvolvimento das capacidades linguísticas das
crianças, uma das tarefas da educação infantil é ampliar,
integrar e ser continente da fala das crianças em con-
textos comunicativos para que ela se torne competente
como falante. Isso significa que o professor deve ampliar
as condições da criança de manter-se no próprio texto
falado. Para tanto, deve escutar a fala da criança, deixan- Orientações didáticas
do-se envolver por ela, ressignificando-a e resgatando-a
sempre que necessário. O trabalho com a linguagem oral deve se orientar
Em uma roda de conversa, por exemplo, a professora pelos seguintes pressupostos:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pediu que uma criança relatasse o motivo de suas faltas,


explicitada pelo seguinte diálogo:
Criança: Porque sim.
Professor: Porque sim não é resposta. (Ri.)
Criança: Eu “tava” doente.
Professor: Você faltou então porque estava doente? E
que doença você teve? Você sabe?
(Criança faz que não com a cabeça.)
Professor: Não? Você não consegue falar pra gente
como era sua doença?

75
comunicativas, como a fluência para falar, perguntar, ex-
por suas ideias, dúvidas e descobertas, ampliar seu vo-
cabulário e aprender a valorizar o grupo como instância
de troca e aprendizagem. A participação na roda permite
que as crianças aprendam a olhar e a ouvir os amigos,
trocando experiências. Pode-se, na roda, contar fatos às
crianças, descrever ações e promover uma aproximação
com aspectos mais formais da linguagem por meio de
situações como ler e contar histórias, cantar ou entoar
canções, declamar poesias, dizer parlendas, textos de
brincadeiras infantis etc.
A ampliação do universo discursivo das crianças tam-
bém se dá por meio do conhecimento da variedade de
textos e de manifestações culturais que expressam mo-
dos e formas próprias de ver o mundo, de viver e pen-
sar. Músicas, poemas, histórias, bem como diferentes
O trabalho com as crianças exige do professor uma situações comunicativas, constituem-se num rico mate-
escuta e atenção real às suas falas, aos seus movimentos, rial para isso. Além de propiciar a ampliação do universo
gestos e demais ações expressivas. A fala das crianças cultural, o contato com a diversidade permite conhecer e
traduz seus modos próprios e particulares de pensar e aprender a respeitar o diferente.
não pode ser confundida com um falar aleatório. Ao con- Algumas crianças, porém, por diversas razões, não
trário, cabe ao professor ajudar as crianças a explicita- chegam a desenvolver habilidades comunicativas por
rem, para si e para os demais, as relações e associações meio da fala, como, por exemplo, crianças com deficiên-
contidas em suas falas, valorizando a intenção comunica- cia auditiva, algumas portadoras de paralisia cerebral,
tiva para dar continuidade aos diálogos. autistas etc. Nesses casos, a inclusão das crianças nas ati-
A criação de um clima de confiança, respeito e afeto vidades regulares favorece o desenvolvimento de várias
em que as crianças experimentam o prazer e a neces- capacidades, como a sociabilidade, a comunicação, entre
sidade de se comunicar apoiadas na parceria do adul- outras. Convém salientar que existem certos procedi-
to, é fundamental. Nessa perspectiva, o professor deve mentos que favorecem a aquisição de sistemas alternati-
permitir e compreender que o frequente burburinho que vos de linguagem, como a que é feita por meio de sinais,
impera entre as crianças, mais do que sinal de confusão, por exemplo, mas que requerem um conhecimento es-
é sinal de que estão se comunicando. Esse burburinho pecializado. Cabe ao professor da educação infantil uma
cotidiano é revelador de que dialogam, perguntam e res- ação no cotidiano visando a integrar todas as crianças no
pondem sobre assuntos relativos às atividades que estão grupo. As crianças com problemas auditivos criam recur-
desenvolvendo — um desenho, a leitura de um livro etc. sos variados para se fazerem entender. O professor deve
— ou apenas de que têm intenção de se comunicar. também buscar diferentes possibilidades para entender
Ao organizar situações de participação nas quais as e falar com elas, valorizando várias formas de expressão.
crianças possam buscar materiais, pedir informações ou Além da inclusão em creches e pré-escolas regulares, as
fazer solicitações a outros professores ou crianças, elabo- crianças portadoras de necessidades especiais deverão
rar avisos, pedidos ou recados a outras classes ou setores ter paralelamente um atendimento especializado.
da instituição etc., o professor possibilita às crianças o A narrativa pode e deve ser a porta de entrada de
uso contextualizado dos pedidos, perguntas, expressões toda criança para os mundos criados pela literatura. A
de cortesia e formas de iniciar conversação. Deve-se cui- criança aprende a narrar por meio de jogos de contar e
dar que todos tenham oportunidades de participação. de histórias. Como jogos de contar entendem-se as si-
É importante planejar situações de comunicação que tuações em parceria com o adulto, os jogos de pergun-
exijam diferentes graus de formalidade, como conversas, tar e responder, em que o adulto, inicialmente, assume
exposições orais, entrevistas e não só a reprodução de a condução dos relatos sobre acontecimentos, fatos e
contextos comunicativos informais. experiências da vida pessoal da criança. Estimulando as
Uma das formas de ampliar o universo discursivo das perguntas e respostas, o professor propicia o estabele-
crianças é propiciar que conversem bastante, em situa- cimento da alternância dos sujeitos falantes, ajudando
ções organizadas para tal fim, como na roda de conversa as crianças a detalharem suas narrativas. As histórias, di-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ou em brincadeiras de faz-de-conta. Podem-se organizar ferentemente dos relatos, são textos previamente cons-
rodas de conversa nas quais alguns assuntos sejam dis- truídos, estão completos. As histórias estão associadas a
cutidos intencionalmente, como um projeto de constru- convenções, como “Era uma vez”, frase de abertura for-
ção de um cenário para brincar, um passeio, a ilustração mal, “e foram felizes para sempre”, fecho formal. Distin-
de um livro etc. Pode-se, também, conversar sobre as- guem-se dos relatos por se configurarem como ficção e
suntos diversos, como a discussão sobre um filme visto não como fato, como realidade; relacionam-se, portanto,
na TV, sobre a leitura de um livro, um acontecimento re- com o construído e não com o real.
cente com uma das crianças etc. Uma atividade bastante interessante para se fazer
A roda de conversa é o momento privilegiado de diá- com as crianças é a elaboração de entrevistas. A entrevis-
logo e intercâmbio de ideias. Por meio desse exercício ta, além de possibilitar que se ressalte a transmissão oral
cotidiano as crianças podem ampliar suas capacidades como uma fonte de informações, propicia às crianças

76
pensarem no assunto que desejam conhecer, nas pes- Quando o professor realiza com frequência leituras
soas que podem ter as informações de que necessitam de um mesmo gênero está propiciando às crianças opor-
e nas perguntas que deverão fazer. Para tanto, deve-se tunidades para que conheçam as características próprias
partir dos conhecimentos prévios das crianças sobre en- de cada gênero, isto é, identificar se o texto lido é, por
trevistas para preparar um roteiro de perguntas. É preci- exemplo, uma história, um anúncio etc.
so, também, pensar sobre a melhor forma de registrar a São inúmeras as estratégias das quais o professor
fala dos entrevistados. Pode-se incluir essa atividade em pode lançar mão para enriquecer as atividades de leitu-
projetos que envolvam, por exemplo, o levantamento de ra, como comentar previamente o assunto do qual trata
informações junto aos pais sobre a história do nome de o texto; fazer com que as crianças levantem hipóteses
cada um, sobre as histórias da comunidade etc. sobre o tema a partir do título; oferecer informações que
Outra atividade a ser realizada refere-se às apresen- situem a leitura; criar um certo suspense, quando for o
tações orais ao vivo, de textos memorizados, nas quais as caso; lembrar de outros textos conhecidos a partir do
crianças reproduzem os mais diferentes gêneros, como texto lido; favorecer a conversa entre as crianças para
histórias, poesias, parlendas etc., em situações que en- que possam compartilhar o efeito que a leitura produziu,
volvem público (seu grupo, outras crianças da instituição, trocar opiniões e comentários etc.
os pais etc.), como sarau de poesias, recital de parlendas. O professor, além de ler para as crianças, pode or-
Outra possibilidade é a preparação de fitas de áudio ou ganizar as seguintes situações de leitura para que elas
vídeo para a gravação de poesias, músicas, histórias etc. próprias leiam:

Práticas de leitura

Orientações didáticas

Práticas de leitura para as crianças têm um grande va-


Nesses casos, os textos mais adequados são as emba-
lor em si mesmas, não sendo sempre necessárias atividades
subsequentes, como o desenho dos personagens, a respos- lagens comerciais, os folhetos de propaganda, as histó-
ta de perguntas sobre a leitura, dramatização das histórias rias em quadrinhos e demais portadores que possibilitam
etc. Tais atividades só devem se realizar quando fizerem às crianças deduzir o sentido a partir do conteúdo, da
sentido e como parte de um projeto mais amplo. Caso con- imagem ou foto, do conhecimento da marca ou do lo-
trário, pode-se oferecer uma ideia distorcida do que é ler. gotipo.
A criança que ainda não sabe ler convencionalmente Os textos de histórias já conhecidos possibilitam ati-
pode fazê-lo por meio da escuta da leitura do professor, vidades de buscar “onde está escrito tal coisa”. As crian-
ainda que não possa decifrar todas e cada uma das pala- ças, levando em conta algumas pistas contidas no texto
vras. Ouvir um texto já é uma forma de leitura. escrito, podem localizar uma palavra ou um trecho que
É de grande importância o acesso, por meio da leitu- até o momento não sabem como se escreve convencio-
ra pelo professor, a diversos tipos de materiais escritos, nalmente. Podem procurar no livro a fala de alguma per-
uma vez que isso possibilita às crianças o contato com sonagem. Para isso, devem recordar a história para situar
o momento no qual a personagem fala e consultar o tex-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

práticas culturais mediadas pela escrita.


Comunicar práticas de leitura permite colocar as to, procurando indícios que permitam localizar a palavra
crianças no papel de “leitoras”, que podem relacionar a ou trecho procurado.
linguagem com os textos, os gêneros e os portadores so- A leitura de histórias é um momento em que a criança
bre os quais eles se apresentam: livros, bilhetes, revistas, pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o uni-
cartas, jornais etc. verso de valores, costumes e comportamentos de outras
As poesias, parlendas, trava-línguas, os jogos de pa- culturas situadas em outros tempos e lugares que não
lavras, memorizados e repetidos, possibilitam às crianças o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a
atentarem não só aos conteúdos, mas também à forma, sua forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao
aos aspectos sonoros da linguagem, como ritmo e rimas, qual pertence. As instituições de educação infantil po-
além das questões culturais e afetivas envolvidas. dem resgatar o repertório de histórias que as crianças

77
ouvem em casa e nos ambientes que frequentam, uma São elas:
vez que essas histórias se constituem em rica fonte de
informação sobre as diversas formas culturais de lidar
com as emoções e com as questões éticas, contribuindo
na construção da subjetividade e da sensibilidade das
crianças.
Ter acesso à boa literatura é dispor de uma infor-
mação cultural que alimenta a imaginação e desperta o
prazer pela leitura. A intenção de fazer com que as crian-
ças, desde cedo, apreciem o momento de sentar para
ouvir histórias exige que o professor, como leitor, preo-
cupe-se em lê-la com interesse, criando um ambiente
agradável e convidativo à escuta atenta, mobilizando a
expectativa das crianças, permitindo que elas olhem o
texto e as ilustrações enquanto a história é lida.
Quem convive com crianças sabe o quanto elas gos-
tam de escutar a mesma história várias vezes, pelo pra-
zer de reconhecê-la, de apreendê-la em seus detalhes,
de cobrar a mesma sequência e de antecipar as emoções
que teve da primeira vez. Isso evidencia que a criança
que escuta muitas histórias pode construir um saber so- Uma prática constante de leitura deve considerar a
bre a linguagem escrita. Sabe que na escrita as coisas qualidade literária dos textos. A oferta de textos suposta-
permanecem, que se pode voltar a elas e encontrá-las mente mais fáceis e curtos, para crianças pequenas, pode
tal qual estavam da primeira vez. resultar em um empobrecimento de possibilidades de
Muitas vezes a leitura do professor tem a participa- acesso à boa literatura.
ção das crianças, principalmente naqueles elementos Ler não é decifrar palavras. A leitura é um processo
da história que se repetem (estribilhos, discursos dire- em que o leitor realiza um trabalho ativo de constru-
tos, alguns episódios etc.) e que por isso são facilmente ção do significado do texto, apoiando-se em diferentes
estratégias, como seu conhecimento sobre o assunto,
memorizados por elas, que aguardam com expectativa
sobre o autor e de tudo o que sabe sobre a linguagem
a hora de adiantar-se à leitura do professor, dizendo
escrita e o gênero em questão. O professor não precisa
determinadas partes da história. Diferenciam também a
omitir, simplificar ou substituir por um sinônimo familiar
leitura de uma história do relato oral. No primeiro caso,
as palavras que considera difíceis, pois, se o fizer, correrá
a criança espera que o leitor leia literalmente o que o
o risco de empobrecer o texto. A leitura de histórias é
texto diz.
uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários.
Recontar histórias é outra atividade que pode ser
Um bom texto deve admitir várias interpretações, supe-
desenvolvida pelas crianças. Elas podem contar histórias
rando-se, assim, o mito de que ler é somente extrair in-
conhecidas com a ajuda do professor, reconstruindo o formação da escrita.
texto original à sua maneira. Para isso podem apoiar-se
nas ilustrações e na versão lida. Nessas condições, cabe Práticas de escrita
ao professor promover situações para que as crianças
compreendam as relações entre o que se fala, o texto
escrito e a imagem. O professor lê a história, as crian-
ças escutam, observam as gravuras e, frequentemente,
depois de algumas leituras, já conseguem recontar a
história, utilizando algumas expressões e palavras ou-
vidas na voz do professor. Nesse sentido, é importante
ler as histórias tal qual estão escritas, imprimindo ritmo
à narrativa e dando à criança a ideia de que ler significa
atribuir significado ao texto e compreendê-lo.
Para favorecer as práticas de leitura, algumas condi-
ções são consideradas essenciais.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Orientações didáticas

Na instituição de educação infantil, as crianças po-


dem aprender a escrever produzindo oralmente textos
com destino escrito. Nessas situações o professor é o es-
criba. A criança também aprende a escrever, fazendo-o
da forma como sabe, escrevendo de próprio punho. Em
ambos os casos, é necessário ter acesso à diversidade

78
de textos escritos, testemunhar a utilização que se faz ção dos textos produzidos, realizada coletivamente com
da escrita em diferentes circunstâncias, considerando as o apoio do professor, faz com que a criança aprenda a
condições nas quais é produzida: para que, para quem, conceber a escrita como processo, começando a coorde-
onde e como. nar os papéis de produtor e leitor a partir da intervenção
do professor ou da parceria com outra criança durante o
processo de produção.
As crianças e o professor podem tentar melhorar o
texto, acrescentando, retirando, deslocando ou transfor-
mando alguns trechos com o objetivo de torná-lo mais
legível para o leitor, mais claro ou agradável de ler.
No caso das crianças maiores, o ditado entre pares
favorece muito a aprendizagem, pois elas se ajudam
mutuamente. Quando uma criança dita e outra escreve,
aquela que dita atua como revisora para a que escreve,
O trabalho com produção de textos deve se cons- por meio de diversas ações, como ler o que já foi escrito
tituir em uma prática continuada, na qual se reproduz para não correr o risco de escrever duas vezes a mesma
contextos cotidianos em que escrever tem sentido. Deve- palavra, diferenciar o que “já está escrito” do que “ainda
-se buscar a maior similaridade possível com as práticas não está escrito” quando a outra se perde, observar a
de uso social, como escrever para não esquecer alguma conexão entre os enunciados, ajudar a pensar em quais
informação, escrever para enviar uma mensagem a um letras colocar e pesquisar, em caso de dúvida, buscando
destinatário ausente, escrever para que a mensagem palavras ou parte de palavras conhecidas em outro con-
atinja um grande número de pessoas, escrever para iden- texto etc.
tificar um objeto ou uma produção etc. Saber escrever o próprio nome é um valioso conhe-
O tratamento que se dá à escrita na instituição de cimento que fornece às crianças um repertório básico de
educação infantil pode ter como base a oralidade para letras que lhes servirá de fonte de informação para pro-
ensinar a linguagem que se usa para escrever. Ditar um duzir outras escritas. A instituição de educação infantil
texto para o professor, para outra criança ou para ser deve preocupar-se em marcar os pertences, os objetos
gravado em fita cassete é uma forma de viabilizar a pro- pessoais e as produções das crianças com seus nomes.
dução de textos antes de as crianças saberem grafá-los. É importante realizar um trabalho intencional que leve
É em atividades desse tipo que elas começam a participar ao reconhecimento e reprodução do próprio nome para
de um processo de produção de texto escrito, construin- que elas se apropriem progressivamente da sua escrita
do conhecimento sobre essa linguagem, antes mesmo convencional. A coleção dos nomes das crianças de um
que saibam escrever autonomamente. mesmo grupo, registrados em pequenas tiras de papel,
Ao participar em atividades conjuntas de escrita a pode estar afixada em lugar visível da sala. Os nomes po-
criança aprende a: dem estar escritos em letra maiúscula, tipo de imprensa
(conhecida também como letra de fôrma), pois, para a
criança, inicialmente, é mais fácil imitar esse tipo de letra.
Trata-se de uma letra mais simples do ponto de vista grá-
fico que possibilita perceber cada caractere, não deixando
dúvidas sobre onde começa e onde termina cada letra.
As atividades de reescrita de textos diversos devem
se constituir em situações favoráveis à apropriação das
características da linguagem escrita, dos gêneros, con-
venções e formas. Essas situações são planejadas com
o objetivo de eliminar algumas dificuldades inerentes à
produção de textos, pois consistem em recriar algo a par-
tir do que já existe.
Essas situações são aquelas nas quais as crianças
reescrevem um texto que já está escrito por alguém e
que não é reprodução literal, mas uma versão própria de
um texto já existente.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Podem reescrever textos já escritos e para tal pre-


cisam retirar ou acrescentar elementos com relação ao
texto original. Pode-se propor às crianças que reescre-
vam notícias da atualidade que saíram no jornal que lhes
interessou, ou uma lenda, uma história etc.
O professor pode chamar a atenção sobre a estrutura Nas atividades de escrita, parte-se do pressuposto
do texto, negociar significados e propor a substituição que as crianças se apropriam dos conteúdos, transfor-
do uso excessivo de “e”, “aí”, “daí” por conectivos mais mando-os em conhecimento próprio em situações de
adequados à linguagem escrita e de expressões que uso, quando têm problemas a resolver e precisam colo-
marcam temporalidade, causalidade etc., como “de re- car em jogo tudo o que sabem para fazer o melhor que
pente”, “um dia”, “muitos anos depois” etc. A reelabora- podem.

79
As crianças que não sabem escrever de forma con-
vencional, ao receberem um convite para fazê-lo, estão
diante de uma verdadeira situação-problema, na qual se
pode observar o desenvolvimento do seu processo de
aprendizagem. Tal prática deve favorecer a construção de
escritas de acordo com as ideias construídas pelas crian-
ças e promover a busca de informações específicas de
que necessitem, tanto nos textos disponíveis como re-
correndo a informantes (outras crianças e o professor). O
fato de as escritas não convencionais serem aceitas não
significa ausência de intervenção pedagógica. O conhe-
cimento sobre a natureza e o funcionamento do sistema
de escrita precisa ser construído pelas crianças com a
ajuda do professor. Para que isso aconteça é preciso que
ele considere as ideias das crianças ao planejar e orientar Orientações gerais para o professor
as atividades didáticas com o objetivo de desencadear
e apoiar as suas ações, estabelecendo um diálogo com Ambiente alfabetizador
elas e fazendo-as avançar nos seus conhecimentos. As Diz-se que um ambiente é alfabetizador quando pro-
crianças podem saber de cor os textos que serão escritos, move um conjunto de situações de usos reais de leitura
como, por exemplo, uma parlenda, uma poesia ou uma e escrita nas quais as crianças têm a oportunidade de
letra de música. participar. Se os adultos com quem as crianças convivem
Nessas atividades, as crianças precisam pensar sobre utilizam a escrita no seu cotidiano e oferecem a elas a
quantas e quais letras colocar para escrever o texto, usar oportunidade de presenciar e participar de diversos atos
o conhecimento disponível sobre o sistema de escrita, de leitura e de escrita, elas podem, desde cedo, pensar
buscar material escrito que possa ajudar a decidir como sobre a língua e seus usos, construindo ideias sobre
grafar etc. como se lê e como se escreve.
As crianças de um grupo encontram-se, em geral, Na instituição de educação infantil, são variadas as
em momentos diferentes no processo de construção situações de comunicação que necessitam da media-
da escrita. Essa diversidade pode resultar em ganhos ção pela escrita. Isso acontece, por exemplo, quando se
no desenvolvimento do trabalho. Daí a importância de recorre a uma instrução escrita de uma regra de jogo,
uma prática educativa que aceita e valoriza as diferenças quando se lê uma notícia de jornal de interesse das crian-
individuais e fomenta a troca de experiências e conhe- ças, quando se informa sobre o dia e o horário de uma
cimentos entre as crianças. As atividades de escrita e de festa em um convite de aniversário, quando se anota
produção de textos são muito mais interessantes, por- uma idéia para não esquecê-la ou quando o professor
tanto, quando se realizam num contexto de interação. envia um bilhete para os pais e tem a preocupação de
No processo de aprendizagem, o que num dado mo- lê-lo para as crianças, permitindo que elas se informem
mento uma criança consegue realizar apenas com ajuda, sobre o seu conteúdo e intenção.
posteriormente poderá ser feito com relativa autonomia. Todas as tarefas que tradicionalmente o professor
A criação de um clima favorável para o trabalho realizava fora da sala e na ausência das crianças, como
em grupo possibilita ricos intercâmbios comunicativos preparar convites para as reuniões de pais, escrever uma
de enorme valor social e educativo. Para que a intera- carta para uma criança que está se ausentando, ler um
ção grupal cumpra seu papel, é preciso que as crianças bilhete deixado pelo professor do outro período etc., po-
aprendam a trabalhar juntas. Para que desenvolvam essa dem ser partilhadas com as crianças ou integrarem ati-
capacidade, é necessário um trabalho intencional e sis- vidades de exploração dos diversos usos da escrita e da
temático do professor para organizar as situações de leitura.
interação considerando a heterogeneidade dos conhe- A participação ativa das crianças nesses eventos de
cimentos das crianças. Além disso, é importante que o letramento configura um ambiente alfabetizador na
professor escolha as crianças que possam se informar instituição. Isso é especialmente importante quando as
mutuamente, favoreça os intercâmbios, pontue as difi- crianças provêm de comunidades pouco letradas, em
culdades de entendimento, ajude a percepção de deta- que têm pouca oportunidade de presenciar atos de lei-
lhes do texto etc. Deixando de ser o único informante, o tura e escrita junto com parceiros mais experientes. Nes-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

professor pode organizar grupos, ou duplas de crianças se caso, o professor torna-se uma referência bastante
que possuam hipóteses diferentes (porém próximas) so- importante. Se a educação infantil trouxer os diversos
bre a língua escrita, o que favorece intercâmbios mais fe- textos utilizados nas práticas sociais para dentro da ins-
cundos. As crianças podem utilizar a lousa ou letras mó- tituição, estará ampliando o acesso ao mundo letrado,
veis e, ao confrontar suas produções, podem comparar cumprindo um papel importante na busca da igualdade
suas escritas, consultarem-se, corrigirem-se, socializarem de oportunidades.
ideias e informações etc. Algumas vezes, o termo “ambiente alfabetizador” tem
Para favorecer as práticas de escrita, algumas condi- sido confundido com a imagem de uma sala com pare-
ções são consideradas essenciais. São elas: des cobertas de textos expostos e, às vezes, até com eti-
quetas nomeando móveis e objetos, como se esta fosse
uma forma eficiente de expor as crianças à escrita. É ne-

80
cessário considerar que expor as crianças às práticas de Organização do tempo
leitura e escrita está relacionada com a oferta de oportu-
nidades de participação em situações nas quais a escrita Atividades permanentes
e a leitura se façam necessárias, isto é, nas quais tenham Contar histórias costuma ser uma prática diária nas
uma função real de expressão e comunicação. instituições de educação infantil. Nesses momentos,
A experiência com textos variados e de diferentes gê- além de contar, é necessário ler as histórias e possibilitar
neros é fundamental para a constituição do ambiente de seu reconto pelas crianças. É possível também a leitura
letramento. A seleção do material escrito, portanto, deve compartilhada de livros em capítulos, o que possibilita
estar guiada pela necessidade de iniciar as crianças no às crianças o acesso, pela leitura do professor, a textos
contato com os diversos textos e de facilitar a observa- mais longos.
ção de práticas sociais de leitura e escrita nas quais suas Outra atividade permanente interessante é a roda de
diferentes funções e características sejam consideradas. leitores em que periodicamente as crianças tomam em-
Nesse sentido, os textos de literatura geral e infantil, jor- prestado um livro da instituição para ler em casa. No dia
nais, revistas, textos publicitários etc. são os modelos que previamente combinado, as crianças podem relatar suas
se pode oferecer às crianças para que aprendam sobre a impressões, comentar o que gostaram ou não, o que
linguagem que se usa para escrever. pensaram, comparar com outros títulos do mesmo autor,
O professor, de acordo com seus projetos e objetivos, contar uma pequena parte da história para recomendar
pode escolher com que gêneros vai trabalhar de forma o livro que a entusiasmou às outras crianças.
mais contínua e sistemática, para que as crianças os co- A leitura e a escrita também podem fazer parte das
nheçam bem. Por exemplo, conhecer o que é uma receita atividades diversificadas, por meio de ambientes orga-
culinária, seu aspecto gráfico, formato em lista, combi- nizados para:
nação de palavras e números que indicam a quantidade
dos ingredientes etc., assim como as características de
uma poesia, histórias em quadrinhos, notícias de jornal
etc.

Projetos

Os projetos permitem uma interseção entre conteú-


dos de diferentes eixos de trabalho. Há projetos que vi-
sam o trabalho específico com a linguagem, seja oral ou
escrita, levando em conta as características e função pró-
prias do gênero. Nos projetos relacionados aos outros
eixos de trabalho, é comum que se faça uso do registro
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Alguns textos são adequados para o trabalho com a escrito como recurso de documentação. Elaborar um li-
linguagem escrita nessa faixa etária, como, por exemplo, vro de regras de jogos, um catálogo de coleções ou um
receitas culinárias; regras de jogos; textos impressos em fascículo informativo sobre a vida dos animais, por exem-
embalagens, rótulos, anúncios, slogans, cartazes, folhe- plo, podem ser produtos finais de projetos.
tos; cartas, bilhetes, postais, cartões (de aniversário, de Da mesma forma, preparar uma entrevista ou uma
Natal etc.); convites; diários (pessoais, das crianças da sala comunicação oral, como um convite para que outro gru-
etc.); histórias em quadrinhos, textos de jornais, revistas e po venha assistir a uma apresentação, são atividades que
suplementos infantis; parlendas, canções, poemas, qua- podem integrar projetos de diversas áreas. Os projetos
drinhas, adivinhas e trava-línguas; contos (de fadas, de de linguagem oral podem propor, por exemplo, a grava-
assombração etc.); mitos, lendas, “causos” populares e ção em fita cassete de histórias contadas pelas famílias
fábulas; relatos históricos; textos de enciclopédia etc. para fazer uma coleção para a sala, ou de parlendas, ou,

81
ainda, de brincadeiras cantadas para o acervo de brinca- Sequência de atividades
deiras da instituição ou para outro lugar a ser definido
pelo professor e pelas crianças. A pesquisa e o reconto Nas atividades sequenciadas de leitura, pode-se ele-
de casos ou histórias da tradição oral envolvendo as fa- ger temporariamente, textos que propiciem conhecer
mílias e a comunidade, que contarão sobre as histórias a diversidade possível existente dentro de um mesmo
que povoam suas memórias, é outro projeto que oferece gênero, como por exemplo, ler o conjunto da obra de
ricas possibilidades de trabalho com a linguagem oral. um determinado autor ou ler diferentes contos sobre sa-
Pode-se também organizar saraus literários nos quais ci-pererê, dragões ou piratas, ou várias versões de uma
as crianças escolhem textos (histórias, poesias, parlen- mesma lenda etc.
das) para contar ou recitar no dia do encontro. Elaborar
um documentário em vídeo ou exposição oral sobre o
que as crianças sabem de assuntos tratados num proje-
to de outro eixo, como, por exemplo, instruções sobre
como se faz uma pipa.
No que se refere à linguagem escrita, os projetos fa-
vorecem o planejamento do texto por meio da elabora-
ção de rascunhos, revisão (com ajuda) e edição (capa, de-
dicatória, índice, ilustrações etc.), na busca de uma bem
cuidada apresentação do produto final.
Os diversos textos que podem ser produzidos em
cada projeto devem utilizar modelos de referência cor-
respondentes aos gêneros com os quais se está traba-
lhando. É aconselhável que sejam apresentados textos
impressos de diferentes autores. Se o texto for um cartaz,
devem-se apresentar às crianças alguns cartazes sobre
Os recursos didáticos e sua utilização
diversos assuntos, para que elas possam perceber como
são organizados, como o texto é escrito, como são as
Dentre os principais recursos que precisam estar dis-
imagens etc. Se for um jornal, é necessário que as crian-
poníveis na instituição de educação infantil estão os tex-
ças possam identificar, entre outras coisas, as diversas se-
tos, trazidos para a sala do grupo nos seus portadores de
ções que o compõem, como se caracteriza uma manche-
origem, isto é, nos livros, jornais, revistas, cartazes, cartas
te, uma propaganda, uma seção de classificados etc. Para
etc. É necessário que esses materiais sejam colocados à
se montar uma história em quadrinhos, é necessário o disposição das crianças para serem manuseados. Algu-
conhecimento de vários tipos de histórias em quadrinhos mas vezes, por medo de que os livros se estraguem, aca-
para que as crianças conheçam melhor suas característi- ba-se restringindo o acesso a eles. Deve-se lembrar, no
cas. Pode-se identificar os principais temas que envolvem entanto, que a aprendizagem em relação aos cuidados
cada personagem, os recursos de imagens usadas etc. no manuseio desses materiais implica em procedimentos
Assim, se amplia o repertório em uso pelas crianças e e valores que só poderão ser aprendidos se as crianças
elas avançam no conhecimento desse tipo de texto. Ao puderem manuseá-los.
final, as crianças podem produzir as próprias histórias em Além disso, sempre que possível, a organização do
quadrinhos. espaço físico deve ser aconchegante, com almofadas, ilu-
Os projetos que envolvem a escrita podem resultar minação adequada e livros, revistas etc. organizados de
em diferentes produtos: uma coletânea de textos de um modo a garantir o livre acesso às crianças. Esse acervo
mesmo gênero (poemas, contos de fadas, lendas etc.); deve conter textos dos mais variados gêneros, oferecidos
um livro sobre um tema pesquisado (a vida dos tubarões, em seus portadores de origem: livros de contos, poesia,
das formigas etc.); um cartaz sobre cuidados com a saúde enciclopédias, dicionários, jornais, revistas (infantis, em
ou com as plantas, para afixar no mural da instituição; um quadrinhos, de palavras cruzadas), almanaques etc. Tam-
jornal; um livro das receitas aprendidas com os pais que bém aqueles que são produzidos pelas crianças podem
estiverem dispostos a ir preparar um prato junto com as compor o acervo: coletâneas de contos, de trava-línguas,
crianças; produção de cartas para correspondência com de adivinhas, brincadeiras e jogos infantis, livros de nar-
outras instituições etc. rativas, revistas, jornais etc. Se possível, é interessante ter
Pode-se planejar projetos específicos de leitura, arti- também vários exemplares de um mesmo livro ou gibi.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

culados ou não com a escrita: produzir uma fita cassete Isso facilita os momentos de leitura compartilhada com o
de contos ou poesias recitadas por um grupo, para ouvir professor ou entre as crianças.
em casa ou para enviar a uma turma de outra instituição; O gravador é um importante recurso didático por
elaborar um álbum de figuras (de animais ou de plantas, permitir que se ouça posteriormente o que se falou. Pode
de fotos, de ícones diversos, de logotipos da publicidade ser usado para a organização de acervos ou coletâneas
ou marcas de produtos etc.) colecionadas pelas crianças; de histórias, poesias, músicas, “causos” etc.; para viabili-
elaborar uma antologia de letras das músicas prediletas zar o diálogo entre interlocutores distantes ou que não
do grupo, para recordá-las e poder cantá-las; elaborar se encontram no mesmo ambiente; para realizar entre-
uma coletânea de adivinhas para “pegar” os pais e ir- vistas; para troca de informações, entre outras possibili-
mãos etc. dades. Pode ser utilizado para gravar histórias contadas
pelas crianças por meio de um rodízio de contadores.

82
Nessa situação, as crianças podem observar o tom e professor, ter acesso a diversos materiais escritos, como
o ritmo de suas falas, refletir sobre a melhor entonação a livros, revistas, embalagens etc. Há um conjunto de in-
ser dada em cada momento da história etc. dícios que permitem observar se as oportunidades ofe-
Outra possibilidade interessante é utilizar a gravação recidas para as crianças dessa faixa etária têm sido su-
das rodas de conversa ou outras situações de interlocu- ficientes para que elas se familiarizem com as práticas
ção. Com isso, o professor pode promover novas ativi- culturais que envolvem a leitura e a escrita. Por exemplo,
dades para que as crianças reformulem suas perguntas, se a criança pede que o professor leia histórias, se procu-
justifiquem suas opiniões, expliquem a informação que ra livros e outros textos para ver, folhear e manusear, se
possuem, explicitem desacordos. brinca imitando práticas de leitura e escrita. O professor
Além disso, o gravador é também um excelente ins- pode também observar se a criança reconhece e utiliza
trumento para que o professor tenha documentado o gestos, expressões fisionômicas e palavras para comuni-
que aconteceu e possa a partir daí, refletir, avaliar e reo- car-se e expressar-se; se construiu um repertório de pa-
rientar sua prática. lavras, frases e expressões verbais para fazer perguntas
O trabalho com a escrita pode ser enriquecido por e pedidos; se é capaz de escutar histórias e relatos com
meio da utilização do computador. Ainda são poucas as atenção e prazer etc.
instituições infantis que utilizam computadores na sua A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que
prática, mas esse recurso, quando possível, oferece opor- tenham tido muitas oportunidades na instituição de
tunidades para que as crianças tenham acesso ao manu- educação infantil de vivenciar experiências envolvendo
seio da máquina, ao uso do teclado, a programas simples a linguagem oral e escrita, pode-se esperar que as crian-
de edição de texto, sempre com a ajuda do professor. ças participem de conversas, utilizando-se de diferentes
recursos necessários ao diálogo; manuseiem materiais
Observação, registro e avaliação formativa escritos, interessando-se por ler e por ouvir a leitura
de histórias e experimentem escrever nas situações nas
A avaliação é um importante instrumento para que o quais isso se faça necessário, como, por exemplo, marcar
professor possa obter dados sobre o processo de apren- seu nome nos desenhos. Para que elas possam vivenciar
dizagem de cada criança, reorientar sua prática e elabo- essas experiências, é necessário oferecer oportunidades
rar seu planejamento, propondo situações capazes de para que façam perguntas; elaborem respostas; ouçam
gerar novos avanços na aprendizagem das crianças. as colocações das outras crianças; tenham acesso a di-
A avaliação deve se dar de forma sistemática e con- versos materiais escritos e possam manuseá-los, apre-
tínua ao longo de todo o processo de aprendizagem. É ciá-los e incluí-los nas suas brincadeiras; ouçam histórias
aconselhável que se faça um levantamento inicial para lidas e contadas pelo professor ou por outras crianças;
obter as informações necessárias sobre o conhecimento possam brincar de escrever, tendo acesso aos materiais
prévio que as crianças possuem sobre a escrita, a leitu- necessários a isso.
ra e a linguagem oral, sobre suas diferenças individuais, Em relação às práticas de oralidade pode-se observar
sobre suas possibilidades de aprendizagem e para que, também se as crianças ampliaram seu vocabulário, incor-
com isso, se possa planejar a prática, selecionar conteú- porando novas expressões e utilizando de expressões de
dos e materiais, propor atividades e definir objetivos com cortesia; se percebem quando o professor está lendo ou
uma melhor adequação didática. falando e se reconhecem o tipo de linguagem escrita ou
As situações de avaliação devem se dar em atividades falada.
contextualizadas para que se possa observar a evolução Em relação às práticas de leitura, é possível observar
das crianças. É possível aproveitar as inúmeras ocasiões se as crianças pedem que o professor leia; se procuram
em que as crianças falam, leem e escrevem para se fazer livros de histórias ou outros textos no acervo; se con-
um acompanhamento de seu progresso. A observação é sideram as ilustrações ou outros indícios para antecipar
o principal instrumento para que o professor possa ava- o conteúdo dos textos; se realizam comentários sobre o
liar o processo de construção da linguagem pelas crian- que “leram” ou escutaram; se compartilham com os ou-
ças. tros o efeito que a leitura produziu; se recomendam a
Em uma avaliação formativa é importante a devolu- seus companheiros a leitura que as interessou.
ção do processo de aprendizagem à criança, isto é, o re- Em relação às práticas de escrita e de produção de
torno que o professor dá para as crianças a respeito de textos pode-se observar se as crianças se interessam por
suas conquistas e daquilo que já aprenderam. Por exem- escrever seu nome e o nome de outras pessoas; se recor-
plo: “Você já sabe escrever o seu nome”, “Você já conse- rem à escrita ou propõem que se recorra quando têm de
gue falar o nome do seu amigo”, “Você já consegue ler o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

se dirigir a um destinatário ausente.


nome de fulano” etc. É imprescindível que os parâmetros O professor deve colecionar produções das crianças,
de avaliação tenham estreita relação com as situações como exemplos de suas escritas, desenhos com escrita,
didáticas propostas às crianças. ensaios de letras, os comentários que fez e suas próprias
São consideradas experiências prioritárias para as anotações como observador da produção de cada uma.
crianças de zero a três anos a utilização da linguagem Com esse material, é possível fazer um acompanhamen-
oral para se expressar e a exploração de materiais es- to periódico da aprendizagem e formular indicadores
critos. Para isso, é preciso que as crianças participem de que permitam ter uma visão da evolução de cada criança.
situações nas quais possam conversar e interagir ver- Mesmo sem a exigência de que as crianças estejam
balmente, ouvir histórias contadas e lidas pelo profes- alfabetizadas aos seis anos, todos os aspectos envolvi-
sor, presenciar diversos atos de escrita realizados pelo dos no processo da alfabetização devem ser considera-

83
dos. Os critérios de avaliação devem ser compreendidos do trabalho voltado para o desenvolvimento motor e de
como referências que permitem a análise do seu avanço hábitos e atitudes, no qual é fundamental a aquisição de
ao longo do processo, considerando que as manifesta- procedimentos como copiar, repetir e colorir produções
ções desse avanço não são lineares, nem idênticas entre prévias (desenhos, exercícios etc.).
as crianças. Algumas práticas valorizam atividades com festas do
calendário nacional: o Dia do Soldado, o Dia das Mães,
Natureza e sociedade o Dia do Índio, o Dia da Primavera, a Páscoa etc. Nessas
ocasiões, as crianças são solicitadas a colorir desenhos
mimeografados pelos professores, como coelhinhos, sol-
dados, bandeirinhas, cocares etc., e são fantasiadas e en-
feitadas com chapéus, faixas, espadas e pinturas. Apesar
de certas ocasiões comemorativas propiciarem aberturas
para propostas criativas de trabalho, muitas vezes os te-
mas não ganham profundidade e nem o cuidado neces-
sário, acabando por difundir estereótipos culturais e fa-
vorecendo pouco a construção de conhecimentos sobre
a diversidade de realidades sociais, culturais, geográficas
e históricas. Em relação aos índios brasileiros, por exem-
plo, as crianças, em geral, acabam desenvolvendo uma
noção equivocada de que todos possuem os mesmos
hábitos e costumes: vestem-se com tangas e penas de
aves, pintam o rosto, moram em ocas, alimentam-se de
mandioca etc. As crianças ficam sem ter a oportunidade
de saber que há muitas etnias indígenas no Brasil e que
Introdução há grandes diferenças entre elas.
Outra proposta comum nas instituições de educação
O mundo onde as crianças vivem se constitui em um infantil são as atividades voltadas para o desenvolvimen-
conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis to da noção de tempo e espaço. Nessas práticas, geral-
diante do qual elas se mostram curiosas e investigativas. mente, os conteúdos são tratados de forma desvinculada
Desde muito pequenas, pela interação com o meio na- de suas relações com o cotidiano, com os costumes, com
tural e social no qual vivem, as crianças aprendem sobre a História e com o conhecimento geográfico construído
o mundo, fazendo perguntas e procurando respostas às na relação entre os homens e a natureza. Em algumas
suas indagações e questões. Como integrantes de gru- práticas, tem sido priorizado o trabalho que parte da
pos socioculturais singulares, vivenciam experiências e ideia de que a criança só tem condições de pensar sobre
interagem num contexto de conceitos, valores, ideias, aquilo que está mais próximo a ela e, portanto, que seja
objetos e representações sobre os mais diversos temas a materialmente acessível e concreto; e também da ideia
que têm acesso na vida cotidiana, construindo um con- de que, para ampliar sua compreensão sobre a vida em
junto de conhecimentos sobre o mundo que as cerca. sociedade, é necessário graduar os conteúdos de acordo
Muitos são os temas pelos quais as crianças se inte- com a complexidade que apresentam. Assim, para que
ressam: pequenos animais, bichos de jardim, dinossau- elas possam conhecer algo sobre os diferentes tipos de
ros, tempestades, tubarões, castelos, heróis, festas da ci- organização social, devem centrar sua aprendizagem,
dade, programas de TV, notícias da atualidade, histórias primeiro sobre os grupos menores e com estruturas mais
de outros tempos etc. As vivências sociais, as histórias, os simples e, posteriormente, sobre as organizações sociais
modos de vida, os lugares e o mundo natural são para as maiores e mais complexas. Dessa forma, desconsideram-
crianças parte de um todo integrado. -se o interesse, a imaginação e a capacidade da criança
O eixo de trabalho denominado Natureza e Socieda- pequena para conhecer locais e histórias distantes no es-
de reúne temas pertinentes ao mundo social e natural. A paço e no tempo e lidar com informações sobre diferen-
intenção é que o trabalho ocorra de forma integrada, ao tes tipos de relações sociais.
mesmo tempo em que são respeitadas as especificidades Propostas e práticas escolares diversas que partem
das fontes, abordagens e enfoques advindos dos dife- fundamentalmente da ideia de que falar da diversidade
rentes campos das Ciências Humanas e Naturais. cultural, social, geográfica e histórica significa ir além da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

capacidade de compreensão das crianças têm predo-


Presença dos conhecimentos sobre natureza e so- minado na educação infantil. São negadas informações
ciedade na educação infantil: ideias e práticas corren- valiosas para que as crianças reflitam sobre paisagens
tes variadas, modos distintos de ser, viver e trabalhar dos
povos, histórias de outros tempos que fazem parte do
Determinados conteúdos pertinentes às áreas das seu cotidiano.
Ciências Humanas e Naturais sempre estiveram presen- No trabalho com os conteúdos referentes às Ciências
tes na composição dos currículos e programas de edu- Naturais, por sua vez, algumas instituições limitam-se
cação infantil. Na maioria das instituições, esses conteú- à transmissão de certas noções relacionadas aos seres
dos estão relacionados à preparação das crianças para vivos e ao corpo humano. Desconsiderando o conheci-
os anos posteriores da sua escolaridade, como no caso mento e as ideias que as crianças já possuem, valorizam a

84
utilização de terminologia técnica, o que pode constituir O conhecimento científico socialmente construído e
uma formalização de conteúdos não significativa para as acumulado historicamente, por sua vez, apresenta um
crianças. Um exemplo disso são as definições ensinadas modo particular de produção de conhecimento de indis-
de forma descontextualizadas sobre os diversos animais: cutível importância no mundo atual e difere das outras
“são mamíferos” ou “são anfíbios” etc., e as atividades de formas de explicação e representação do mundo, como
classificar animais e plantas segundo categorias definidas as lendas e mitos ou os conhecimentos cotidianos, ditos
pela Zoologia e pela Biologia. Desconsidera-se assim a de “senso comum”. Por meio da ciência, pode-se saber,
possibilidade de as crianças exporem suas formulações por exemplo, que a Terra é esférica, ligeiramente acha-
para posteriormente compará-las com aquelas que a tada nos polos. As descobertas científicas, ao longo da
ciência propõe. história, marcaram a relação entre o homem e o mundo.
Algumas práticas também se baseiam em ativida- Se por um lado o conhecimento científico imprime novas
des voltadas para uma formação moralizante, como no possibilidades de relação do homem com o mundo, por
caso do reforço a certas atitudes relacionadas à saúde outro, as transformações dessa relação permitem que al-
e à higiene. Muitas vezes nessas situações predominam gumas ideias sejam modificadas e que novas teorias e
valores, estereótipos e conceitos de certo/errado, feio/ novos conhecimentos sejam produzidos. Ainda que re-
bonito, limpo/sujo, mau/bom etc., que são definidos e vistos e modificados ao longo do tempo e em função
transmitidos de modo preconceituoso. de novas descobertas, algumas ideias, hipóteses e teo-
Outras práticas de Ciências realizam experiências rias e alguns diagnósticos produzidos em diferentes mo-
pontuais de observação de pequenos animais ou plantas, mentos da história possuem uma inegável importância
cujos passos já estão previamente estabelecidos, sendo no processo de construção do conhecimento científico
conduzidos pelo professor. Nessas atividades, a ênfase atual.
recai apenas sobre as características imediatamente per- O trabalho com este eixo, portanto, deve propiciar
ceptíveis. Em muitas situações, os problemas investiga- experiências que possibilitem uma aproximação ao co-
dos não ficam explícitos para as crianças e suas ideias nhecimento das diversas formas de representação e ex-
sobre os resultados do experimento, bem como suas ex- plicação do mundo social e natural para que as crianças
plicações para os fenômenos, não são valorizadas. possam estabelecer progressivamente a diferenciação
O trabalho com os conhecimentos derivados das que existe entre mitos, lendas, explicações provenientes
Ciências Humanas e Naturais deve ser voltado para a am- do “senso comum” e conhecimentos científicos.
pliação das experiências das crianças e para a construção
de conhecimentos diversificados sobre o meio social e Criança, a natureza e a sociedade
natural. Nesse sentido, refere-se à pluralidade de fenô-
menos e acontecimentos — físicos, biológicos, geográfi- As crianças refletem e gradativamente tomam cons-
cos, históricos e culturais —, ao conhecimento da diver- ciência do mundo de diferentes maneiras em cada etapa
sidade de formas de explicar e representar o mundo, ao do seu desenvolvimento. As transformações que ocor-
contato com as explicações científicas e à possibilidade rem em seu pensamento se dão simultaneamente ao de-
de conhecer e construir novas formas de pensar sobre os senvolvimento da linguagem e de suas capacidades de
eventos que as cercam. expressão. À medida que crescem se deparam com fenô-
É importante que as crianças tenham contato com menos, fatos e objetos do mundo; perguntam, reúnem
diferentes elementos, fenômenos e acontecimentos do
informações, organizam explicações e arriscam respos-
mundo, sejam instigadas por questões significativas para
tas; ocorrem mudanças fundamentais no seu modo de
observá-los e explicá-los e tenham acesso a modos va-
conceber a natureza e a cultura.
riados de compreendê-los e representá-los.
Nos primeiros anos de vida, o contato com o mundo
Os conhecimentos socialmente difundidos e as cultu-
permite à criança construir conhecimentos práticos sobre
ras dos diversos povos do presente e de outras épocas
seu entorno, relacionados à sua capacidade de perceber
apresentam diferentes respostas para as perguntas sobre
a existência de objetos, seres, formas, cores, sons, odo-
o mundo social e natural. Por exemplo, para os antigos
hindus, a Terra tinha a forma plana e era sustentada por res, de movimentar-se nos espaços e de manipular os
diversos animais. Para os ianomâmis, o mundo está divi- objetos. Experimenta expressar e comunicar seus desejos
dido em três terras: a “terra de cima”, que é muito velha e e emoções, atribuindo as primeiras significações para os
cheia de rachaduras por onde escoam as águas dos rios elementos do mundo e realizando ações cada vez mais
e dos lagos, formando a chuva que cai sobre a “terra do coordenadas e intencionais, em constante interação com
meio”, que é o lugar onde vivem os seres humanos; e a outras pessoas com quem compartilha novos conheci-
mentos.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

“terra de baixo”, que, mais recente, está sob nossos pés.


Para algumas crianças, na perspectiva da superfície Ao lado de diversas conquistas, as crianças iniciam o
terrestre, a Terra pode parecer um grande disco plano reconhecimento de certas regularidades dos fenômenos
recoberto por um gigantesco guarda-chuva — o céu. As- sociais e naturais e identificam contextos nos quais ocor-
sim, diferentes formas de compreender, explicar e repre- rem.
sentar elementos do mundo coexistem e fazem parte do Costumam repetir uma ação várias vezes para cons-
repertório sociocultural da humanidade. Os mitos e as tatar se dela deriva sempre a mesma consequência. Inú-
lendas representam uma das muitas formas de explicar meras vezes colocam e retiram objetos de diferentes
os fenômenos da sociedade e da natureza e permitem tamanhos e formas em baldes cheios d’água, consta-
reconhecer semelhanças e diferenças entre conhecimen- tando intrigadas, por exemplo, que existem aqueles que
tos construídos por diferentes povos e culturas. afundam e aqueles que flutuam. Observam, em outros

85
momentos, a presença da lua em noites de tempo bom A forma peculiar de elaboração das regularidades
e fazem perguntas interessantes quando a localizam no dos objetos e fenômenos, porém, não significa que a for-
céu durante o dia. mação de conceitos, pela criança, comece forçosamente
Movidas pelo interesse e pela curiosidade e confron- do concreto, do particular ou da observação direta de
tadas com as diversas respostas oferecidas por adultos, objetos e fenômenos da realidade. A formação de con-
outras crianças e/ou por fontes de informação, como li- ceitos pelas crianças, ao contrário, se apoia em concep-
vros, notícias e reportagens de rádio e TV etc., as crianças ções mais gerais acerca dos fenômenos, seres, e objetos
podem conhecer o mundo por meio da atividade física, e, à medida que elas crescem, dirige-se à particulariza-
afetiva e mental, construindo explicações subjetivas e in- ção. Nesse processo, as crianças procuram mencionar os
dividuais para os diferentes fenômenos e acontecimen- conceitos e modelos explicativos que estão construindo
tos. em diferentes situações de convivência, utilizando-os em
Quanto menores forem as crianças, mais suas repre- momentos que lhes parecem convenientes e fazendo
sentações e noções sobre o mundo estão associadas di- uso deles em contextos significativos, formulando-os e
retamente aos objetos concretos da realidade conhecida, reformulando-os em função das respostas que recebem
observada, sentida e vivenciada. O crescente domínio e às indagações e problemas que são colocados por elas
uso da linguagem, assim como a capacidade de intera- e para elas. Isso significa dizer que a aprendizagem de
ção, possibilitam, todavia, que seu contato com o mundo fatos, conceitos, procedimentos, atitudes e valores não
se amplie, sendo cada vez mais mediado por representa-
se dá de forma descontextualizada. O acesso das crianças
ções e por significados construídos culturalmente.
ao conhecimento elaborado pelas ciências é mediado
Na medida em que as experiências cotidianas são
pelo mundo social e cultural.
mais variadas e os seus critérios de agrupamento não
dão mais conta de explicar as relações, as associações Assim, as questões presentes no cotidiano e os pro-
passam a serem revistas e reconstruídas. Nesse processo blemas relacionados à realidade, observáveis pela expe-
constante de reconstrução, as estruturas de pensamen- riência imediata ou conhecidos pela mediação de relatos
to das crianças sofrem mudanças significativas que re- orais, livros, jornais, revistas, televisão, rádio, fotografias,
percutem na possibilidade de elas compreenderem de filmes etc., são excelentes oportunidades para a constru-
modo diferenciado tanto os objetos quanto a linguagem ção desse conhecimento. É também por meio da pos-
usada para representá-los. sibilidade de formular suas próprias questões, buscar
O brincar de faz-de-conta, por sua vez, possibilita respostas, imaginar soluções, formular explicações, ex-
que as crianças reflitam sobre o mundo. Ao brincar, as pressar suas opiniões, interpretações e concepções de
crianças podem reconstruir elementos do mundo que as mundo, confrontar seu modo de pensar com os de ou-
cerca com novos significados, tecer novas relações, des- tras crianças e adultos, e de relacionar seus conhecimen-
vincular-se dos significados imediatamente perceptíveis tos e ideias a contextos mais amplos, que a criança po-
e materiais para atribuir-lhes novas significações, impri- derá construir conhecimentos cada vez mais elaborados.
mir-lhes suas ideias e os conhecimentos que têm sobre si Esses conhecimentos não são, porém, proporcionados
mesma, sobre as outras pessoas, sobre o mundo adulto, diretamente às crianças. Resultam de um processo de
sobre lugares distantes e/ou conhecidos. construção interna compartilhada com os outros, no qual
Na medida em que se desenvolve e sistematiza co- elas pensam e refletem sobre o que desejam conhecer.
nhecimentos relativos à cultura, a criança constrói e re- É preciso reconhecer a multiplicidade de relações que
constrói noções que favorecem mudanças no seu modo se estabelecem e dimensiona-las, sem reduzi-las ou sim-
de compreender o mundo, permitindo que ocorra um plificá-las, de forma a promover o avanço na aprendi-
processo de confrontação entre suas hipóteses e expli- zagem das crianças. É preciso também considerar que a
cações com os conhecimentos culturalmente difundidos complexidade dos diversos fenômenos do mundo social
nas interações com os outros, com os objetos e fenôme- e natural nem sempre pode ser captada de forma ime-
nos e por intermédio da atividade interna e individual. diata. Muitas relações só se tornam evidentes na medida
Nesse processo, as crianças vão gradativamente per-
em que novos fatos são conhecidos, permitindo que no-
cebendo relações, desenvolvendo capacidades ligadas
vas ideias surjam. Por meio de algumas perguntas e da
à identificação de atributos dos objetos e seres, à per-
colocação de algumas dúvidas pelo professor, as crianças
cepção de processos de transformação, como nas expe-
riências com plantas, animais ou materiais. Valendo-se poderão aprender a observar seu entorno de forma mais
das diferentes linguagens (oral, desenho, canto etc.), no- intencional e a descrever os elementos que o caracteri-
meiam e representam o mundo, comunicando ao outro zam, percebendo múltiplas relações que se estabelecem
e que podem, igualmente, ser estabelecidas com outros
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

seus sentimentos, desejos e conhecimentos sobre o meio


que observam e vivem. lugares e tempos.
No que se refere ao pensamento, uma das caracte- Dada a grande diversidade de temas que este eixo
rísticas principais nesta fase é a tendência que a criança oferece, é preciso estruturar o trabalho de forma a es-
apresenta para eleger alguns aspectos de cada situação, colher os assuntos mais relevantes para as crianças e o
construindo uma lógica própria de interpretação. As seu grupo social. As crianças devem, desde pequenas, ser
hipóteses que as crianças se colocam e a forma como instigadas a observar fenômenos, relatar acontecimentos,
resolvem os problemas demonstram uma organização formular hipóteses, prever resultados para experimentos,
peculiar em que as associações e as relações são esta- conhecer diferentes contextos históricos e sociais, ten-
belecidas de forma pouco objetiva, regidos por critérios tar localizá-los no espaço e no tempo. Podem também
subjetivos e afetivamente determinados. trocar ideias e informações, debatê-las, confrontá-las,

86
distingui-las e representa-las, aprendendo, aos poucos, Propõe-se que os conteúdos sejam trabalhados junto
como se produz um conhecimento novo ou por que as às crianças, prioritariamente, na forma de projetos que
ideias mudam ou permanecem. integrem diversas dimensões do mundo social e natural,
Contudo, o professor precisa ter claro que esses do- em função da diversidade de escolhas possibilitada por
mínios e conhecimentos não se consolidam nesta etapa este eixo de trabalho.
educacional. São construídos, gradativamente, na medi-
da em que as crianças desenvolvem atitudes de curiosi- Crianças de zero a três anos
dade, de crítica, de refutação e de reformulação de expli- O trabalho nessa faixa etária acontece inserido e inte-
cações para a pluralidade e diversidade de fenômenos e grado no cotidiano das crianças. Não serão selecionados
acontecimentos do mundo social e natural. blocos de conteúdos, mas destacam-se ideias relaciona-
das aos objetivos definidos anteriormente e que podem
Objetivos estar presentes nos mais variados contextos que inte-
gram a rotina infantil, quais sejam:
Crianças de zero a três anos
A ação educativa deve se organizar para que as crian-
ças, ao final dos três anos, tenham desenvolvido as se-
guintes capacidades:

Crianças de quatro a seis anos


Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a fai-
xa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados Orientações didáticas
e ampliados, garantindo-se, ainda, oportunidades para
que as crianças sejam capazes de: A observação e a exploração do meio constituem-se
duas das principais possibilidades de aprendizagem das
crianças desta faixa etária. É dessa forma que poderão,
gradualmente, construir as primeiras noções a respeito
das pessoas, do seu grupo social e das relações huma-
nas. A interação com adultos e crianças de diferentes
idades, as brincadeiras nas suas mais diferentes formas,
a exploração do espaço, o contato com a natureza, se
constituem em experiências necessárias para o desenvol-
vimento e aprendizagem infantis.
O contato com pequenos animais, como formigas
e tatus-bola, peixes, tartarugas, patos, passarinhos etc.
pode ser proporcionado por meio de atividades que en-
volvam a observação, a troca de ideias entre as crianças,
o cuidado e a criação com ajuda do adulto. O professor
Conteúdos pode, por exemplo, promover algumas excursões ao es-
paço externo da instituição com o objetivo de identificar
Os conteúdos aqui indicados deverão ser organiza- e observar a diversidade de pequenos animais presentes
dos e definidos em função das diferentes realidades e ali.
necessidades, de forma a que possam ser de fato signifi- A criação de alguns animais na instituição, como tar-
cativos para as crianças. tarugas, passarinhos ou peixes, também pode ser reali-
Os conteúdos deverão ser selecionados em função zada com a participação das crianças nas atividades de
dos seguintes critérios: alimentação, limpeza etc. Por meio desse contato, as
crianças poderão aprender algumas noções básicas ne-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cessárias ao trato com os animais, como a necessidade


de lavar as mãos antes e depois do contato com eles, a
possibilidade ou não de segurar cada animal e as formas
mais adequadas para fazê-lo, a identificação dos perigos
que cada um oferece, como mordidas, bicadas etc.
Cuidar de plantas e acompanhar seu crescimento po-
dem se constituir em experiências bastante interessan-
tes para as crianças. O professor pode cultivar algumas
plantas em pequenos vasos ou floreiras, propiciando às
crianças acompanhar suas transformações e participar
dos cuidados que exigem, como regar, verificar a pre-

87
sença de pragas etc. Se houver possibilidade, as crianças dos diferentes conhecimentos e conteúdos. Deve-se ter
poderão, com o auxílio do professor, participar de partes claro, no entanto, que essa divisão é didática, visando a
do processo de preparação e plantio de uma horta cole- facilitar a organização da prática do professor. Os con-
tiva no espaço externo. teúdos, sempre que possível, deverão ser trabalhados
O trabalho com as brincadeiras, músicas, histórias, de maneira integrada, evitando-se fragmentar a vivência
jogos e danças tradicionais da comunidade favorece a das crianças.
ampliação e a valorização da cultura de seu grupo pelas Os procedimentos indispensáveis para a aprendiza-
crianças. O professor deve propiciar o acesso das crian- gem das crianças neste eixo de trabalho e que se aplicam
ças a esses conteúdos, inserindo-os nas atividades e no a todos os blocos foram abordados de forma destacada.
cotidiano da instituição. Fazer um levantamento das mú- São eles:
sicas, jogos e brincadeiras do tempo que seus pais e avós
eram crianças pode ser uma atividade interessante que
favorece a ampliação do repertório histórico e cultural
das crianças.
Para desenvolver noções relacionadas às proprie-
dades dos diferentes objetos e suas possibilidades de
transformação, é necessário que as crianças possam,
desde pequenas, brincar com eles, explorá-los e utilizá-
-los de diversas formas. As crianças devem ter liberdade
para manusear e explorar diferentes tipos de objetos. O
professor pode colocar diversos materiais e objetos na
sala, dispostos de forma acessível: objetos que produzem
sons, como chocalhos de vários tipos, tambores com ba-
quetas etc.; brinquedos; livros; almofadas; materiais para
construção, que possam ser empilhados e justapostos
etc. As atividades que permitem observar e lidar com
transformações decorrentes de misturas de elementos e
materiais são sempre interessantes para crianças peque-
nas. Elaborar receitas culinárias, fazer massas caseiras,
tintas que não sejam tóxicas ou as mais diversas misturas
pelo simples prazer do manuseio são possibilidades de
trabalho. Portanto, oferecer diversos materiais, como ter-
ra, areia, farinha, pigmentos etc., que, misturados entre
si ou com diferentes meios, como água, leite, óleo etc.,
passam por processos de transformação, ocasionando
diferentes resultados, proporciona às crianças experiên-
cias interessantes.
As crianças podem gradativamente desenvolver uma Organização dos grupos e seu modo de ser, viver
percepção integrada do próprio corpo por meio de seu e trabalhar
uso na realização de determinadas ações pertinentes ao
cotidiano. Devem ser evitadas as atividades que focali- As crianças, desde que nascem, participam de diver-
zam o corpo de forma fragmentada e desvinculada das sas práticas sociais no seu cotidiano, dentro e fora da
ações que as crianças realizam. É importante que elas instituição de educação infantil. Dessa forma, adquirem
possam perceber seu corpo como um todo integrado conhecimentos sobre a vida social no seu entorno. A fa-
que envolve tanto os diversos órgãos e funções como as mília, os parentes e os amigos, a instituição, a igreja, o
sensações, as emoções, os sentimentos e o pensamento. posto de saúde, a venda, a rua entre outros, constituem
A aprendizagem dos nomes das partes do corpo e de espaços de construção do conhecimento social. Na ins-
algumas de suas funções também deve ser feita de forma tituição de educação infantil, a criança encontra possibi-
contextualizada, por meio de situações reais e cotidianas. lidade de ampliar as experiências que traz de casa e de
outros lugares, de estabelecer novas formas de relação
Crianças de quatro a seis anos e de contato com uma grande diversidade de costumes,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

hábitos e expressões culturais, cruzar histórias individuais


Nesta faixa etária aprofundam-se os conteúdos indi- e coletivas, compor um repertório de conhecimentos co-
cados para as crianças de zero a três anos, ao mesmo muns àquele grupo etc.
tempo em que outros são acrescentados. Os conteúdos Os conteúdos deste bloco são:
estão organizados em cinco blocos: “Organização dos
grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar”; “Os lugares
e suas paisagens”; “Objetos e processos de transforma-
ção”; “Os seres vivos” e “Fenômenos da natureza”.
A organização dos conteúdos em blocos visa assim a
contemplar as principais dimensões contidas neste eixo
de trabalho, oferecendo visibilidade às especificidades

88
Orientações didáticas Orientações didáticas

O trabalho com estes conteúdos pode fomentar, en- A percepção dos componentes da paisagem local
tre as crianças, reflexões sobre a diversidade de hábitos, e de outras paisagens pode se ampliar na medida em
modos de vida e costumes de diferentes épocas, luga- que as crianças aprendem a observá-los de forma inten-
res e povos, e propiciar o conhecimento da diversidade cional, orientada por questões que elas se colocam ou
de hábitos existentes no seu universo mais próximo (as que os adultos à sua volta lhes propõem. Elas podem ser
crianças da própria turma, os vizinhos do bairro etc.). Esse convidadas a reconhecer os componentes da paisagem
trabalho deve incluir o respeito às diferenças existentes por meio de algumas questões colocadas pelo professor,
entre os costumes, valores e hábitos das diversas famílias realizadas em função do tema que está sendo trabalha-
e grupos, e o reconhecimento de semelhanças. Deve se do: “Que animais e plantas convivem conosco?”, “Existem
ter sempre a preocupação para não expor as crianças a animais e plantas que só podemos perceber em determi-
constrangimentos e não incentivar a discriminação. nadas épocas do ano?”, “Quais os sons que marcam este
O professor deve eleger temas que possibilitem tan- lugar?”. Temas relacionados ao relevo, ao clima, à pre-
to o conhecimento de hábitos e costumes socioculturais
sença da água nos rios, lagos ou no mar, às construções,
diversos quanto a articulação com aqueles que as crian-
ao trabalho, aos meios de transporte e de comunicação,
ças conhecem, como tipos de alimentação, vestimentas,
à vida no campo e na cidade podem ser abordados com
músicas, jogos e brincadeiras, brinquedos, atividades de
as crianças, em função dos significados que podem ter
trabalho e lazer etc. Assim, as crianças podem aprender a
para elas e das intenções pedagógicas definidas pelo
estabelecer relações entre o seu dia-a-dia e as vivências
professor. É fundamental, porém, que as crianças pos-
socioculturais, históricas e geográficas de outras pessoas,
sam estabelecer relações entre os temas tratados e o seu
grupos ou gerações.
cotidiano, vinculando aspectos sociais e naturais. “Como
É importante que as crianças possam também apren-
der a indagar e a reconhecer relações de mudanças e será a vida das crianças que moram na praia, perto de
permanências nos costumes. Para isso, as vivências de um grande rio ou floresta?”, “Como é viver em uma cida-
seus pais, avós, parentes, professores e amigos podem de muito grande ou muito pequena?”, “Será que todas
ser de grande ajuda. Nesse caso, a intenção é que refli- as crianças utilizam os mesmos meios de transporte que
tam sobre o que é específico da época em que vivem e utilizamos? Será que elas brincam das mesmas brinca-
da cultura compartilhada no seu meio social. deiras? Quais serão os alimentos preferidos delas?” são
algumas das questões que se pode tentar responder ao
Os lugares e suas paisagens desenvolver um trabalho sobre a vida das pessoas em
diferentes paisagens brasileiras
Os componentes da paisagem são tanto decorren- Outro aspecto que pode ser trabalhado está relacio-
tes da ação da natureza como da ação do homem em nado com as mudanças que ocorrem na paisagem local,
sociedade. A percepção dos elementos que compõem conforme a variação do dia e da noite, a sucessão das es-
a paisagem do lugar onde vive é uma aprendizagem tações do ano, a passagem dos meses e dos anos, à épo-
fundamental para que a criança possa desenvolver uma ca das festas etc. A paisagem é dinâmica e observar as
compreensão cada vez mais ampla da realidade social e mudanças e as permanências que ocorrem no lugar onde
natural e das formas de nela intervir. Se por um lado, os as crianças vivem é uma estratégia interessante para que
fenômenos da natureza condicionam a vida das pessoas, elas percebam esse dinamismo. Aqui também é funda-
por outro lado, o ser humano vai modificando a paisa- mental que elas aprendam a estabelecer relações entre
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

gem à sua volta, transformando a natureza e construindo essas mudanças, reconhecendo os vínculos que existem,
o lugar onde vive em função de necessidades diversas por exemplo, entre a época do ano e a vida das plantas,
— para morar, trabalhar, plantar, se divertir, se deslocar dos animais e das pessoas de uma forma geral.
etc. O fato da organização dos lugares ser fruto da ação Ao observar a paisagem, as crianças poderão também
humana em interação com a natureza abre a possibili- constatar as variações decorrentes da ação humana, ob-
dade de ensinar às crianças que muitas são as formas de servando, por exemplo, as construções do lugar onde vi-
relação com o meio que os diversos grupos e sociedades vem: “Para que e quando foram feitas?”, “Com que mate-
possuem no presente ou possuíam no passado. São con- riais?”, “O que existe de semelhante e de diferente entre
teúdos deste bloco: elas?”, “Elas sempre foram assim ou sofreram transfor-
mações?”, “Como são as construções de outros lugares?”,
“As pessoas utilizam-nas com as mesmas finalidades?”.

89
Questões semelhantes poderão ser feitas focando outros Orientações didáticas
temas, como o trabalho, a origem e produção dos ali-
mentos, as festas e comemorações etc. Para que os objetos possam ser utilizados como
No trabalho com este bloco de conteúdos, o professor fonte de conhecimentos para as crianças, é necessário
poderá recorrer a diferentes encaminhamentos. Poderá con- criar situações de aprendizagem nas quais seja possível
versar com as crianças utilizando como suporte fotografias, observar e perceber suas características e propriedades
cartões postais e outros tipos de imagens que retratem as não evidentes. Para que isso ocorra é preciso oferecer às
paisagens variadas. Poderá também trabalhar com textos crianças novas informações e propiciar experiências di-
informativos e literários, músicas, documentários e filmes versas. O professor pode organizar uma atividade para a
que façam referências a outras paisagens. A conversa com confecção de objetos variados, como brinquedos feitos
pessoas da comunidade é outro recurso que pode ser uti- de madeira, tecido, papel e outros tipos de materiais, al-
lizado, principalmente com aquelas que testemunharam as guns jogos de tabuleiro e de mesa, como dama ou domi-
transformações pelas quais a paisagem do lugar já passou. nó, ou objetos para uso cotidiano feitos de embalagens
As vivências e percepções dessas pessoas é uma im- de papelão e plástico, por exemplo. Pode também ofe-
portante fonte de informação que o professor poderá recer às crianças diferentes tipos de materiais (pedaços
resgatar convidando-as para compartilharem com as de madeira, tecidos, cordas, embalagens etc.) e propor
crianças suas lembranças e experiências de vida. alguns problemas para as crianças resolverem e pode-
O contato com representações como as plantas de rem aplicar os conhecimentos que possuem, como, por
rua, os mapas, globos terrestres e outros tipos de repre- exemplo, construir uma ponte de modo que ela não caia,
sentação, como os desenhos feitos pelos adultos para montar uma cabana, descobrir se um barco feito de pe-
indicar percursos (chamados croquis) poderá ocorrer daços de madeira ou de papel flutua etc.
com a mediação do professor. Esse contato permitirá às As crianças podem ser convidadas a conhecer dife-
crianças reconhecerem a função social atribuída a essas rentes objetos e modos de usá-los por meio de fontes
representações nos contextos cotidianos e de trabalho, e escritas, ilustrações ou de entrevistas com pessoas da co-
se aproximarem das características da linguagem gráfica
munidade. Também poderão ser realizadas perguntas e
utilizada pela cartografia. Algumas brincadeiras, como
colocações relacionadas ao uso que é dado a diferentes
caça ao tesouro, por exemplo, apresentam desafios rela-
objetos pelas crianças e pelos adultos; às transformações
cionados à representação gráfica do espaço e podem ser
pelas quais passam ao longo do tempo; aos materiais de
desenvolvidas com as crianças desta faixa etária.
que são feitos; à sua confecção em outros tempos ou
ainda àqueles objetos feitos por grupos que vivem em
Objetos e processos de transformação
outros lugares ou viveram em outros tempos.
Há uma grande variedade de objetos presentes no O professor deverá também trabalhar de forma cons-
meio em que a criança está inserida, com diferentes ca- tante e permanente com as atitudes de cuidado neces-
racterísticas, naturalmente constituídos ou elaborados sárias para lidar com os diferentes objetos, de forma a
em função dos usos e estéticas de diferentes épocas, evitar o desperdício, conservá-los e prevenir acidentes.
com maior ou menor resistência, que se transformam Para isso é necessário que as crianças possam interagir
ao longo do tempo, que reagem de formas diferentes às com os diferentes objetos, fazer uso deles e receber do
ações que lhes são impressas, que possuem mecanismos professor as informações sobre suas características, fun-
que consomem energia etc. ções e usos em contextos significativos para elas.
Conhecer o mundo implica conhecer as relações entre
os seres humanos e a natureza, e as formas de transfor- Os seres vivos
mação e utilização dos recursos naturais que as diversas
culturas desenvolveram na relação com a natureza e que O ser humano, os outros animais e as plantas pro-
resultam, entre outras coisas, nos diversos objetos dispo- vocam bastante interesse e curiosidade nas crianças:
níveis ao grupo social ao qual as crianças pertencem, se- “Por que a lagartixa não cai do teto?”, “Existem plantas
jam eles ferramentas, máquinas, instrumentos musicais, carnívoras?”, “Por que algumas flores exalam perfume e
brinquedos, aparelhos eletrodomésticos, construções, outras não?”, “O que aconteceria se os sapos comessem
meios de transporte ou de comunicação, por exemplo. insetos até que eles acabassem?”. São muitas as ques-
São conteúdos deste bloco: tões, hipóteses, relações e associações que as crianças
fazem em torno deste tema. Em função disso, o trabalho
com os seres vivos e suas intricadas relações com o meio
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

oferece inúmeras oportunidades de aprendizagem e de


ampliação da compreensão que a criança tem sobre o
mundo social e natural. A construção desse conhecimen-
to também é uma das condições necessárias para que
as crianças possam, aos poucos, desenvolver atitudes de
respeito e preservação à vida e ao meio ambiente, bem
como atitudes relacionadas à sua saúde.

90
São conteúdos deste bloco: pode fazer perguntas instigantes e oferecer meios para
que as crianças busquem maiores informações e possam
reformular suas ideias iniciais.
Ao conhecer o funcionamento do corpo, as crianças
poderão aprender também a cuidar de si de forma a evi-
tar acidentes e manter a saúde: “Que cuidados ter para
não se machucar durante uma brincadeira?”, “Por que é
importante tomar água após um esforço físico prolon-
gado?”. O trabalho com este bloco de conteúdo poderá
ocorrer de forma concomitante ao trabalho com os con-
teúdos propostos no documento de Identidade e Auto-
nomia, no capítulo que se refere à Saúde, promovendo
aprendizagens relacionadas aos cuidados com o corpo, à
prevenção de acidentes, à saúde e ao bem-estar.

Os fenômenos da natureza

A seca, as chuvas e as tempestades, as estrelas e os


planetas, os vulcões, os furacões etc. são assuntos que
despertam um grande interesse nas crianças. Alguns são
fenômenos presenciados e vividos pelas crianças, outros
Orientações didáticas são conhecidos por serem comumente veiculados pelos
meios de comunicação e outros por estarem presentes
O contato com animais e plantas, a participação em no imaginário das pessoas e nos mitos, nas lendas e nos
práticas que envolvam os cuidados necessários à sua contos. Algumas perguntas, como “Por que as sombras
criação e cultivo, a possibilidade de observá-los, compa- dos objetos mudam de lugar ao longo do dia?”, “As es-
rá-los e estabelecer relações é fundamental para que as trelas são fixas no céu ou será que elas se movimentam?”,
crianças possam ampliar seu conhecimento acerca dos “Como fica a cidade depois de uma pancada forte de chu-
seres vivos. O professor pode criar situações para que va?”, ou “O que acontece quando fica muito tempo sem
elas percebam os animais que compartilham o mesmo chover?”, podem desencadear um trabalho intencional,
espaço que elas: “Quais são esses animais?”, “Onde vi- favorecendo a percepção sobre a complexidade e diver-
vem?”, “Existem épocas em que eles desaparecem?”, sidade dos fenômenos da natureza e o desenvolvimento
“Nas árvores da redondeza vivem muitos bichos?”, “E nas de capacidades importantes relacionadas à curiosidade,
ruas, que tipos de animais se encontram?”, “Eles podem à dúvida diante do evidente, à elaboração de perguntas,
ser vistos de noite e de dia?”. Formigas, caracóis, tatus- ao respeito ao ambiente etc.
-bola, borboletas, lagartas etc. podem ser observados no A compreensão de que há uma relação entre os fenô-
jardim da instituição, pesquisados em livros ou manti- menos naturais e a vida humana é um importante apren-
dos temporariamente na sala. Oferecer oportunidades dizado para a criança. A partir de questionamentos sobre
para que as crianças possam expor o que sabem sobre tais fenômenos, as crianças poderão refletir sobre o fun-
os animais que têm em casa, como cachorros, gatos etc., cionamento da natureza, seus ciclos e ritmos de tempo
também é uma forma de promover a aprendizagem so- e sobre a relação que o homem estabelece com ela, o
bre os seres vivos. O cultivo de plantas também pode ser que lhes possibilitará, entre outras coisas, ampliar seus
realizado por meio da manutenção de pequenos vasos conhecimentos, rever e reformular as explicações que
na sala ou do cultivo de uma horta no espaço externo da possuem sobre eles.
instituição. Algumas hortaliças e plantas frutíferas podem São conteúdos deste bloco:
ser cultivadas em vasos, como é o caso do tomate, do
morango, da pimenta, da salsinha e de vários temperos.
No caso de haver possibilidade de se manter pequenos
animais e plantas no espaço da sala, as atividades de
observação, registro etc. podem integrar a rotina diária.
Da mesma forma, se for possível manter uma horta na
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

instituição, as crianças também podem observar o cres-


cimento das hortaliças e vegetais, além de aproveitá-los
nas refeições. Cabe ao professor planejar os momentos
de visita e de cuidados, integrando-os na rotina como Orientações didáticas
atividades permanentes.
Na educação infantil, é possível realizar um trabalho As atividades relacionadas com os fenômenos da na-
por meio do qual as crianças possam conhecer o seu tureza, além de tratarem de um tema que desperta bas-
corpo, e o que acontece com ele em determinadas si- tante interesse nas crianças, permitem que se trabalhe
tuações, como quando correm bastante, quando ficam de forma privilegiada a relação que o homem estabelece
muitas horas sem comer etc. Partindo sempre das ideias com a natureza. Podem ser trabalhados por meio da ob-
e representações que as crianças possuem, o professor servação direta quando ocorrem na região onde se situa

91
a instituição de educação infantil, como as chuvas, a seca, superfícies que não permitem a passagem da luz, como
a presença de um arco-íris etc., ou de forma indireta, por panos grossos; se querem modificar a cor da luz, pode-
meio de fotografias, filmes de vídeo, ilustrações, jornais rão escolher tecidos e papéis translúcidos e coloridos etc.
e revistas etc. que tragam informações a respeito do as- As crianças poderão observar como se faz para a som-
sunto. Sair para um passeio na região próxima à institui- bra crescer ou diminuir na parede e observar como isso
ção após uma pancada de chuva, para observar os efeitos também ocorre em função da posição do sol, durante o
causados na paisagem, por exemplo, pode ser bastante dia. O professor deve buscar informações que possam
interessante. Ao mesmo tempo em que se destaca um ser úteis para essa aprendizagem.
fenômeno natural, permitindo que as crianças reflitam
sobre como ele ocorre, pode-se também observar a sua Orientações gerais para o professor
interferência na vida humana e as suas consequências,
como a situação das ruas, das plantas e das árvores, os Ampliar o conhecimento das crianças em relação a
odores, o movimento das pessoas, a erosão causada nos fatos e acontecimentos da realidade social e sobre ele-
locais onde há terra descoberta etc. Da mesma forma, mentos e fenômenos naturais requer do professor tra-
pode-se trazer, para conhecimento das crianças, livros, balhar com suas próprias ideias, conhecimentos e re-
fotos e ilustrações de diversos fenômenos ocorridos em presentações sociais acerca dos assuntos em pauta. É
outras regiões e suas consequências, como, por exemplo, preciso, também, que os professores reflitam e discutam
a neve, os furacões, os vulcões etc. sobre seus preconceitos, evitando transmiti-los nas rela-
O trabalho com os fenômenos naturais também é ções com as crianças. Todo trabalho pedagógico implica
uma excelente oportunidade para a aprendizagem de al- transmitir, conscientemente ou não, valores e atitudes
guns procedimentos, como a observação, a comparação relacionados ao ato de conhecer. Por exemplo, o respei-
e o registro, entre outros. to pelo pensamento do outro e por opiniões divergen-
tes, a valorização da troca de ideias, a posição reflexiva
diante de informações são algumas entre outras atitudes
que o professor deve possuir. É preciso também avançar
para além das primeiras ideias e concepções acerca dos
assuntos que se pretende trabalhar com as crianças. A
atuação pedagógica neste eixo necessita apoiar-se em
conhecimentos específicos derivados dos vários campos
de conhecimento que integram as Ciências Humanas e
Naturais. Buscar respostas, informações e se familiarizar
com conceitos e procedimentos dessas áreas se faz ne-
cessário.
Para que a criança avance na construção de novos co-
nhecimentos é importante que o professor desenvolva
algumas estratégias de ensino:

Há muitas atividades que podem ser desenvolvidas


com as crianças que permitem a observação dos efeitos
de luz, calor, força e movimento. As atividades de co-
zimento de alimentos, por exemplo, oferecem uma óti-
ma oportunidade para que as crianças possam observar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

as transformações ocasionadas pelo calor. Um trabalho


interessante para se desenvolver junto com as crianças
são os jogos que envolvem luz e sombra. Por meio de
diferentes atividades, as crianças poderão refletir sobre
as diversas fontes de luz possíveis de serem utilizadas
— desde a luz natural do dia ou aquela proveniente do
fogo, até as artificiais originadas por lanternas ou aba-
jures. Poderão também perceber quais são os materiais
que permitem ou não a passagem da luz e selecioná-los
em função da atividade que desejam realizar: se querem
ver as sombras projetadas, deverão escolher materiais ou

92
Diversidade de recursos materiais

Os recursos materiais usados pelo professor não pre-


cisam ser necessariamente materiais didáticos tampouco
circunscritos àquilo que a instituição possui. Há várias or-
ganizações governamentais e não governamentais que
dispõem de um acervo de livros, filmes etc. e que podem
ser requisitados para empréstimo.
É importante que o professor considere as pessoas
da comunidade, principalmente as mais idosas, como
importantes fontes de informação e convide-as para
compartilhar com as crianças os conhecimentos que
possuem a respeito do modo de ser, viver e trabalhar
da comunidade local, das características de paisagens
distantes, daquilo que se transformou no lugar onde as
crianças vivem.
É interessante que os materiais informativos e expli-
cativos, trabalhados como fontes de informação — se-
jam eles textos, imagens, filmes, objetos, depoimentos
de pessoas etc. —, apresentem informações divergentes
ou complementares na maneira como explicam o assun-
to abordado. Isso será especialmente importante para as
crianças, que a partir de informações diversas poderão
ter mais elementos sobre os quais refletir.
As fontes de informação devem ser apresentadas, de-
batidas ou pesquisadas quanto ao lugar em que foram
obtidas, sua autoria e a época em que foram feitas. É im-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

portante que as crianças tenham a oportunidade de sa-


ber que existem estudiosos, jornalistas, artistas, fotógra-
fos, entre outros profissionais, que produzem as versões,
as explicações, as representações e diferentes registros.
Ou seja, que as fontes de informação também são pro-
dutos da pesquisa e do trabalho de muitas pessoas.
É possível montar junto com as crianças um acervo
dos materiais obtidos — cartazes, livros, objetos etc. —
sobre os diversos assuntos, para que possam recorrer a
eles se precisarem ou se interessarem.

93
Diferentes formas de sistematização dos conheci- Jogos e brincadeiras
mentos
Os momentos de jogo e de brincadeira devem se
O processo de investigação de um tema, por meio constituir em atividades permanentes nas quais as crian-
dos problemas identificados, da coleta de dados e da ças poderão estar em contato também com temas rela-
busca de informações para confirmá-las, refutá-las ou cionados ao mundo social e natural. O professor poderá
ampliá-las, resulta na construção de conhecimentos ensinar às crianças jogos e brincadeiras de outras épocas,
que devem ser organizados e registrados como produ- propondo pesquisas junto aos familiares e outras pes-
tos concretos dessa aprendizagem. O registro pode ser soas da comunidade e/ ou em livros e revistas. Para a
apresentado em diferentes linguagens e formas: textos criança é interessante conhecer as regras das brincadei-
coletivos ou individuais, murais ilustrados, desenhos, ras de outros tempos, observar o que mudou em relação
maquetes, entre outros. A sistematização acontece não às regras atuais, saber do que eram feitos os brinquedos
só ao final do processo, mas principalmente no decorrer etc.
dele. É possível planejar situações em que os resultados
de uma pesquisa de um grupo de crianças possam ser Projetos
socializados também para outros grupos da instituição.
Nesse momento, as crianças recuperam todas as etapas A elaboração de projetos é, por excelência, a forma
do processo vivido para poderem construir seu relato de organização didática mais adequada para se traba-
sobre ele, selecionam materiais a serem expostos e deci- lhar com este eixo, devido à natureza e à diversidade dos
dem sobre a configuração da mostra. conteúdos que ele oferece e também ao seu caráter in-
É interessante também que o professor organize re- terdisciplinar.
gistros coletivos do trabalho realizado, confeccionando, A articulação entre as diversas áreas que compõem
com as crianças, álbuns, diários ou cadernos de anota- este eixo é um dos fatores importantes para a aprendi-
ções de campo nos quais elas possam escrever ou de- zagem dos conteúdos propostos. A partir de um projeto
senhar aquilo que aprenderam durante o trabalho. O re- sobre animais, por exemplo, o professor pode ampliar o
gistro escrito poderá ser feito em diferentes momentos trabalho, trazendo informações advindas do campo da
da pesquisa, com o objetivo de relembrar as informações História ou da Geografia.
obtidas e as conclusões a que as crianças chegaram. Inúmeras culturas atribuem a certos animais valores
simbólicos (míticos e religiosos) e existem muitas his-
Cooperação tórias a respeito. A partir de uma pergunta, como, por
exemplo, “Qual o maior animal existente na terra?”, as
Considerando que o desenvolvimento de atitudes crianças, além de exporem suas ideias, poderão pesqui-
cooperativas e solidárias, entre outras, é um dos obje- sar o que pensam as outras crianças, os adultos da insti-
tivos da educação infantil, e considerando as especifici- tuição, os familiares etc. As lendas, as fábulas e os contos
dades da faixa etária abrangida, torna-se imprescindível sobre grandes animais, presentes nos repertórios e me-
que a instituição trabalhe para propor à criança a coo- mórias populares, podem se tornar excelentes recursos
peração como desafio, de forma que ela reconheça seus para confronto de ideias. Os conhecimentos científicos
limites como próprios dessa idade, ao mesmo tempo em sobre animais pré-históricos e sobre os animais de gran-
que se sinta instigada a ultrapassá-los. Nesse sentido, o de porte existentes hoje, sua relação com a vida humana,
trabalho com este eixo pode promover a capacidade das onde e como vivem, a necessidade de sua preservação
crianças para cooperarem com seus colegas, por meio etc. são informações valiosas para que as crianças pos-
das situações de explicação e argumentação de ideias e sam pensar sobre o assunto. Ao final, as crianças pode-
opiniões, bem como por meio dos projetos, nos quais rão desenhar coletivamente, por etapas, um animal entre
a participação de cada criança é imprescindível para a aqueles que passaram a conhecer. Este produto final é
realização de um produto coletivo. interessante, pois envolve pesquisar medidas, formas de
trabalhar para fazer desenhos grandes, envolve a coope-
Atividades permanentes ração de adultos da instituição para ver onde expor etc.
Pode-se também desenvolver um projeto sobre o
Atividades permanentes que podem ser desenvolvi- modo de ser, viver e trabalhar das pessoas de épocas
das referem-se principalmente aos cuidados com os ani- passadas. Para isso, podem-se propor entrevistas com
mais e plantas criados e cultivados na sala ou no espaço os pais e avós, pesquisas sobre as brincadeiras que as
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

externo da instituição. O professor pode estabelecer um crianças faziam, sobre a alimentação etc. Também se
rodízio ou marcar um horário diário para que se possa pode desenvolver um projeto semelhante sobre a vida
aguar as plantas, dar comida aos animais, observá-los, das crianças de uma determinada região do Brasil ou de
fazer a limpeza necessária no local etc. uma cultura específica, como a indígena, por exemplo.
Outro exemplo de atividade permanente são os cui-
dados com o meio ambiente, relacionados à organização Organização do espaço
e conservação dos materiais e espaços coletivos, à co-
leta seletiva de lixo, à economia de energia e água etc. O espaço da sala deve ser organizado de modo a
Diariamente, o professor poderá organizar o grupo para privilegiar a independência da criança no acesso e ma-
recolher o lixo produzido nas brincadeiras e atividades. nipulação dos materiais disponíveis ao trabalho, e deve
traduzir, na forma como é organizado, a memória do tra-

94
balho desenvolvido pelas crianças. Tudo aquilo que foi A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que
produzido, trazido ou coletado pelo grupo deve estar ex- tenham tido muitas oportunidades na instituição de
posto e ao alcance de todos, constituindo-se referência educação infantil de vivenciar experiências envolvendo
para outras produções e encaminhamentos. aprendizagens significativas relacionadas com este eixo,
O grupo deverá participar tanto da montagem e or- pode-se esperar que as crianças conheçam e valorizem
ganização do espaço quanto da sua manutenção. As pro- algumas das manifestações culturais de sua comunidade
duções expostas, sempre referentes ao momento vivido e manifestem suas opiniões, hipóteses e ideias sobre os
e/ou temas pesquisados, podem ser recolhidas ao térmi- diversos assuntos colocados. Para tanto, é preciso que o
no do projeto e levadas pelas crianças para casa, que po- professor desenvolva atividades variadas relacionadas a
derão compartilhá-las, recuperando a história das etapas festas, brincadeiras, músicas e danças da tradição cultu-
vividas junto a seus familiares. ral da comunidade, inserindo-as na rotina e nos projetos
que desenvolve junto com as crianças. Por meio dessas
Observação, registro e avaliação formativa atividades, elas poderão conhecer e aprender a valori-
zar sua cultura. Vale lembrar que os valores se concreti-
O momento de avaliação implica numa reflexão do zam na prática cotidiana e são construídos pelas crianças
professor sobre o processo de aprendizagem e sobre as também por meio do convívio social. Assim, o professor
condições oferecidas por ele para que ela pudesse ocor- e a instituição devem organizar sua prática de forma a
rer. Assim, caberá a ele investigar sobre a adequação dos manter a coerência entre os valores que querem desen-
conteúdos escolhidos, sobre a adequação das propostas volver e a ação cotidiana.
lançadas, sobre o tempo e ritmo impostos ao trabalho, O contato com a natureza é de fundamental impor-
tanto quanto caberá investigar sobre as aquisições das tância para as crianças e o professor deve oferecer opor-
crianças em vista de todo o processo vivido, na sua rela- tunidades diversas para que elas possam descobrir sua
ção com os objetivos propostos. riqueza e beleza.
A avaliação não se dá somente no momento final do Fazer passeios por parques e locais de área verde,
trabalho. É tarefa permanente do professor, instrumento manter contato com pequenos animais, pesquisar em
indispensável à constituição de uma prática pedagógi- livros e fotografias a diversidade da fauna e da flora,
ca e educacional verdadeiramente comprometida com o principalmente brasileira, são algumas das formas de se
desenvolvimento das crianças. promover o interesse e a valorização da natureza pela
A observação também deve ser planejada para que o criança.
professor possa perceber manifestações importantes das Para que se sintam confiantes para expor suas ideias,
crianças. Por meio dela, pode-se conhecer mais acerca hipóteses e opiniões é preciso que o professor promo-
do que as crianças sabem fazer, do que pensam a res- va situações significativas de aprendizagem nas quais
peito dos fenômenos que observam, do que ainda lhes as crianças possam perceber que suas colocações são
é difícil entender, assim como conhecer mais sobre os acolhidas e contextualizadas e ofereça atividades que
interesses que possuem. A prática de observar as crian- as façam avançar nos seus conhecimentos por meio de
ças indica caminhos para selecionar conteúdos e propor problemas que sejam ao mesmo tempo desafiadores e
desafios, a partir dos objetivos que se pretende alcançar possíveis de serem resolvidos.
por meio deles. O trabalho de reflexão do professor se
faz pela observação e pelo registro.
O registro é entendido aqui como fonte de informa- MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO.
ção valiosa sobre as crianças, em seu processo de apren-
der, e sobre o professor, em seu processo de ensinar. O
registro é o acervo de conhecimentos do professor, que O Processo de Alfabetização
lhe possibilita recuperar a história do que foi vivido, tanto
quanto lhe possibilita avaliá-la propondo novos encami- O processo de alfabetização tem sido um grande de-
nhamentos. safio a ser enfrentado pelo professor-alfabetizador e pela
No que se refere à aprendizagem neste eixo, são con- sociedade que almeja uma educação de qualidade em
sideradas como experiências prioritárias para as crianças nossas escolas. Uma grande quantidade de nossos alu-
de zero a três anos participar das atividades que envol- nos tem demonstrado muita deficiência na leitura, inter-
vam a exploração do ambiente imediato e a manipulação pretação e redação de textos. Apesar da importância dos
de objetos. movimentos de renovação da educação, as avaliações
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Para tanto, é preciso que sejam oferecidas a elas mui- nacionais e regionais noticiadas para todos nós eviden-
tas oportunidades de explorar o ambiente e manipular ciam um quadro não muito diferente do que já existia
objetos desde o momento em que ingressam na insti- nas décadas passadas. Se antes a grande preocupação
tuição. Andar, engatinhar, rastejar, rolar, interagir com era a evasão escolar, hoje são as imensas dificuldades
outras crianças e adultos, brincar etc. são algumas das de leitura e o baixo índice de competências nas séries
ações que lhes permitirão explorar o ambiente e adquirir iniciais e até mesmo no ensino fundamental e médio. As
confiança nas suas capacidades. crianças necessitam do professor-alfabetizador experien-
A oferta de materiais diversificados que possibilitem te e competente, que venha contribuir para a prática de
diferentes experiências e a proposta de atividades inte- um ensino interativo, contextualizado e muito bem pla-
ressantes também são condições necessárias que incen- nejado.’
tivam as ações exploratórias das crianças.

95
Assim, de posse dos conhecimentos e conteúdos ne- tualizado e muito bem planejado. Por isso, precisamos
cessários, ele incentiva a compreensão e produção de conhecer os métodos de alfabetização e suas respectivas
novos conhecimentos, contribuindo na formação de se- características, comparar e avaliar o desempenho dos
res humanos capazes de gerar a construção dos saberes, alunos alfabetizados com métodos diferentes e analisar
a partir de suas reflexões e ações e da realidade que os a maneira que se processa a alfabetização no processo
cerca. Diante dos problemas que se enfrenta no processo ensino-aprendizagem.
educacional, especialmente na alfabetização das séries Para Emília Ferreiro, “os saberes que o aluno traz
iniciais, depara-se com a urgência de soluções que con- para a escola e como eles devem ser trabalhados pelos
tribuam na construção do saber. Competir e estar aber- professores, fazem parte da linguagem no processo de
to a todas as possibilidades que fazem parte do apren- alfabetização”. Diante disso, podemos observar que os
dizado para a vida é um direito de todos e dever dos processos de aquisição da leitura e da língua escrita no
educadores na escola e na sociedade, pois uma criança contexto escolar devem considerar o desenvolvimento
aprende por meio das relações que estabelece com seu das crianças, pois este começa muito antes da escolari-
ambiente. Assim acontece no processo de alfabetização zação. É útil se perguntar através de que tipo de práticas
e aquisição de novos conhecimentos. É tarefa primordial a criança é introduzida na língua escrita, e como se apre-
do professor como mediador do conhecimento refletir senta este objeto no contexto escolar. Há práticas que le-
sobre a metodologia ideal que leva as crianças a com- vam a criança à convicção de que o conhecimento é algo
preenderem o funcionamento da língua e saber utilizá-la que os outros possuem e que só se pode obter da boca
cada vez melhor. dos outros, sem nunca ser participante na construção do
Para quem pretende assumir os riscos dessa perma- conhecimento.
nente revisão sobre o processo de alfabetização, é funda- Nos dias de hoje, em que a sociedade do mundo
mental que não deixe de ser sensível, e também criativo e inteiro está cada vez mais centrada na escrita, ser al-
crítico, pois há muitos aspectos específicos a considerar e fabetizado, isto é, saber ler e escrever tem se revelado
não se deve supor que todas as informações necessárias condição insuficiente para responder adequadamente
à prática docente já estejam catalogadas e analisadas. É às demandas da sociedade contemporânea. É preciso ir
essencial que se continue a pesquisar e experimentar no- além da simples aquisição do código escrito e fazer uso
vos caminhos. O interesse despertado pelo tema da alfa- da leitura e da escrita no cotidiano apropriando-se da
betização vem produzindo um aumento significativo de função social dessas duas práticas.
pesquisas, seminários, livros, artigos e teses. Isso mostra Enfim, é preciso letrar-se, isto é, buscar por meio de
que é preciso renunciar à ideia de que já sabemos tudo pesquisas e cursos de formação, as ações pedagógicas
e podemos fazer tudo, ou não sabemos nada e nada po- de reorganização do ensino e reformulação dos modos
demos fazer. De acordo com as valiosas experiências de de ensinar e fazê-las acontecer na prática em sala de
educadores que fizeram diferença aula. Segundo a professora Magda Becker Soares, “letrar
Em nossa sociedade, entende-se que se faz neces- é mais que alfabetizar”. Portanto, competir e estar aberto
sário aceitar a frustração e deve-se perder o medo do a todas as possibilidades que fazem parte do aprendiza-
fracasso e do desconhecido. Conhecendo de perto os do para a vida são quesitos essenciais na formação esco-
métodos de alfabetização e suas respectivas característi- lar, pois uma criança aprende por meio das relações que
cas, comparando e avaliando o desempenho dos alunos estabelece com seu ambiente.
alfabetizados com métodos diferentes, e também ana- Assim acontece no processo de alfabetização e aqui-
lisando a maneira que se processa a alfabetização nas sição de novos conhecimentos. A cada momento, multi-
séries iniciais, pode-se definir com mais clareza porque plicam-se as demandas por práticas de leitura e de es-
acontece a defasagem na leitura, na escrita e na inter- crita, não só no papel, mas também através dos meios
pretação textual que estão presentes em muitos alunos. eletrônicos. Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de
ler um livro, uma revista ou um jornal e se sabe escrever
Alfabetização em processo palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta,
ela é alfabetizada, mas não é letrada. Desde os tempos
Muito se tem falado a respeito do fracasso da alfabe- do Brasil Colônia, e até muito recentemente, o proble-
tização em grande parte das nossas escolas. Verificando ma que enfrentávamos em relação à cultura escrita era
o resultado das avaliações nacionais podemos compro- o analfabetismo. Esse problema foi relativamente supe-
var os sérios problemas de aprendizagem existentes em rado nas últimas décadas, ou seja, foi vencido de forma
grande parte das escolas de nosso país. Segundo alguns pelo menos razoável. É necessário, portanto, não desme-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pesquisadores, muitas publicações importantes sobre recer a importância de ensinar a ler e a escrever, reco-
esse assunto não conseguiram uma entrada mais efe- nhecendo que isso não basta. Mas isso não quer dizer
tiva nas ações escolares, mas tiveram algumas de suas que os dois processos, alfabetização e letramento sejam
versões tomadas como referências fundamentais na processos distintos; na verdade, não se distinguem, de-
elaboração de programas nacionais e regionais, como ve-se alfabetizar letrando. Alfabetização e letramento se
o Programa Nacional do Livro Didático e os Parâmetros somam. Ou melhor, a alfabetização é um componente
Curriculares Nacionais. Necessitamos compreender o do letramento. Analisando as experiências de Eglê Pontes
que está acontecendo com o processo de alfabetização Franchi, professora e pesquisadora, autora recomenda-
de nossos alunos das séries iniciais. Sabe-se que eles ne- da pelo Professor Paulo Freire, conhecida por sua expe-
cessitam de mediadores do conhecimento que venham riência com a alfabetização de crianças e também com
contribuir para a prática de um ensino interativo, contex- a formação de professores, compreendemos melhor o

96
processo de alfabetizar. Como muitos educadores, ela como letras, sons ou sílabas, para depois combiná-los
verificou na prática, como age na sociedade a criança em palavras. A ênfase é a correspondência som-símbo-
que é alfabetizada com a utilização de tudo o que ela já lo. A orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais
conhece e como isso se reflete na vida familiar e social enfatiza que é necessário se fazer um diagnóstico prévio
na qual ela convive. do aluno antes de optar por qualquer método. Algumas
Os alfabetizandos, enquanto operam sobre a desco- crianças entram na primeira série sabendo ler. O profes-
berta das letras, das sílabas e das palavras iniciais de seu sor lê textos em voz alta e é acompanhado pela classe.
vocabulário escrito, já dominam amplamente a lingua- Os alunos são estimulados a copiar textos com base em
gem rica e variada de que se servem na conversação e no uma situação social pré-existente. A leitura em voz alta
diálogo. Por isso, a alfabetização deve nascer com fortes por parte dos estudantes é substituída por encenações
marcas da oralidade, ancorando-se na linguagem que as de situações que foram lidas ou desenhos que ilustram
crianças dominam. “Trata-se de considerar a prática oral os trechos lidos.
das crianças como o contexto em que as primeiras pala- As crianças aprendem a escrever em letra de forma
vras e as primeiras frases escritas ganham naturalidade”. e a consciência fônica é uma consequência. Com base
nas pesquisas e experiências de Emília Ferreiro, podemos
Métodos e técnicas de alfabetização discutir e analisar que a prática alfabetizadora tem se
centrado na polêmica sobre os métodos utilizados. Po-
Nas últimas décadas assistiu-se a um abandono na rém, nenhuma dessas discussões levou em conta o co-
discussão sobre a eficácia de processos e métodos de nhecimento que as crianças já apresentam antes mesmo
alfabetização, que passaram a ser identificados como do início da escolarização. Se aceitarmos que a criança
propostas tradicionais, e passou-se a discutir e analisar não é uma tábua rasa onde se inscrevem as letras e as
uma abordagem construtivista de grande impacto con- palavras segundo determinado método; se aceitarmos
ceitual nessa área. Assim, valorizar o diagnóstico dos co- que o “fácil” e o “difícil” não podem ser definidos a partir
nhecimentos prévios dos alunos e a análise de seus erros da perspectiva do adulto, mas da de quem aprende; se
como indicadores construtivos do processo de aprendi- aceitarmos que qualquer informação deve ser assimilada,
zagem, como também inserir a criança em práticas so- e portanto transformada, para ser operante, então deve-
ciais que envolvem a escrita e a leitura, é a realização efe- ríamos também aceitar que os métodos (como conse-
tiva de práticas docentes que defendem uma educação quência de passos ordenados para chegar a um fim) não
de qualidade e que preparam o ser humano para a vida. oferecem mais do que sugestões, incitações, quando não
Para Sanz “método é a palavra grega para perseguição e práticas rituais ou conjunto de proibições.
prosseguimento, com o sentido de esforço para alcançar O método não pode criar conhecimento. Tendo em
um fim, investigação. O que nos permite compreendê-lo conta a complexidade da realidade brasileira, pode-se
como caminho para atingir um resultado”. Ele ainda diz observar que já aconteceram muitas coisas para viabi-
que “o método, como estratégia, e a técnica, como tática, lizar melhorias em todos os setores do processo ensi-
formam um par nobre”. Desta forma, é essencial que se no-aprendizagem, principalmente nas escolas públicas,
conheça um pouco mais sobre os métodos utilizados pe- que necessitam de maior atenção na alfabetização das
los alfabetizadores, como também as pesquisas e expe- séries iniciais. Muitas mudanças em relação à escolari-
riências de quem já têm uma larga trajetória nessa área, zação vêm ocorrendo e mais crianças em idade escolar
a fim de analisar com cuidado o que se deve buscar para estão nas salas de aula. Esse é o primeiro passo. Em se-
alfabetizar nossas crianças. guida vem o desafio da qualidade da aprendizagem. As
- O Método Fônico enfatiza as relações símbolo-som, mudanças têm se revelado muito lentas, pois convive-
sendo que na linha sintética o aluno conhece os sons mos principalmente com sistemas educativos municipais
representados pelas letras e combina esses sons para e estaduais que tornam ainda mais difícil a ocorrência
pronunciar palavras e, na linha analítica o aluno antes de evoluções e transformações no processo educacional.
aprende uma série de palavras e depois parte para a as- Dentre as várias mudanças que ocorreram estão o in-
sociação entre o som e as partes das palavras. centivo à formação continuada dos profissionais da edu-
- O Método da Linguagem Total defende que os sis- cação e a implantação do Ensino Fundamental de nove
temas linguísticos estão interligados e que a relação en- anos. Este, aprovado em fevereiro de 2006, com base na
tre imagens e sons deve ser evitada. Neste, são apresen- Lei 11.274/2006, que incentiva nove anos de escolarida-
tados textos inteiros, porque acredita-se que se aprende de obrigatória, com a inclusão das crianças de seis anos.
lendo. O professor lê textos para os alunos que o acom- Ressalte-se que o ingresso da criança de seis anos no
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

panham, assim se familiarizando com a linguagem escri- ensino fundamental não pode constituir uma medida
ta, para posteriormente aprender palavras, em seguida meramente administrativa.
as sílabas e depois as letras. É preciso atenção ao processo de desenvolvimento e
- O Método Alfabético faz com que os alunos pri- aprendizagem das crianças, o que implica conhecimento
meiro identifiquem as letras pelos nomes, depois sole- e respeito às suas características etárias, sociais, psico-
trem as sílabas e, em seguida, as palavras antes de le- lógicas e cognitivas. Não foi de um momento para ou-
rem sentenças curtas e, finalmente, histórias. Quando os tro que essas transformações ocorreram, e nem foi pela
alunos encontram palavras desconhecidas, as soletram vontade de um único legislador ou de um determinado
até decodificá-las. O Analítico parte de uma visão global governo que as mudanças se processaram. Todo esse
para depois deter-se nos detalhes, e o Sintético come- processo vem acontecendo com base em muita pesqui-
ça a ensinar por partes ou elementos das palavras, tais sa e dedicação de profissionais que convivem nessa so-

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ciedade tão carente de educação. Tanto as crianças das Nesse sentido, é importante lembrar que a popula-
camadas favorecidas quanto as das camadas populares ção brasileira fala de diferentes formas, em função dos
convivem diariamente com práticas de leitura e escrita, espaços geográficos que ocupa, da classe social, da ida-
ou seja, vivem em ambientes de letramento. A diferença de e do gênero a que pertence. Analisadas do ponto de
é que as crianças das classes mais favorecidas têm um vista linguístico, todas essas variedades são legítimas e
convívio frequente e mais intenso com material escrito corretas, já que não temos uma gramática normativa da
e com práticas de leitura e de escrita. Diante dessa rea- linguagem oral como a que existe para a linguagem es-
lidade é necessário propiciar igualmente, a todas elas, o crita. A escola, incorporando esse comportamento pre-
acesso ao letramento num processo que prossiga por conceituoso da sociedade em geral, também rotula seus
toda a vida. A formação continuada do professor vai alunos pelos modos diferentes de falar. (...) Em outras
muito além dos saberes teóricos em sala de aula. O co- palavras, um se torna o aluno “certinho” porque é falan-
nhecimento das questões históricas, sociais e culturais te do dialeto de prestígio, o outro é um aluno carente
que envolvem a prática educacional, o desenvolvimento (“burro”) porque é falante de um dialeto estigmatizado
dos alunos nos aspectos afetivo, cognitivo e social, bem pela sociedade.
como a reflexão crítica sobre o seu papel diante dos alu- Para que a escola possa efetivamente contribuir para
nos e da sociedade, são elementos indispensáveis no a continuidade do processo de aprendizagem das crian-
processo de alfabetização. ças e, ao mesmo tempo, considerar alguns paradigmas
da educação brasileira, como a inclusão e o reconheci-
A linguagem escrita no processo de alfabetização mento à diversidade, é necessário livrar-se de preconcei-
tos relativos à fala das camadas populares e acolher as
Por tudo o que foi analisado e refletido até aqui deve crianças com toda a bagagem cultural que trazem para
ter ficado claro que o trabalho do professor-alfabeti- a escola.
zador no primeiro ano de escolaridade obrigatória não
deve significar a antecipação da aprendizagem da leitura Fonte
e da escrita pelas crianças, e muito menos a aceleração FASSBINDER, I., FASSBINDER, P., LEITE, R. C. e LOVI-
desse processo. Mesmo sabendo que elas estão cons- SON, C. C..
truindo a linguagem da escrita.
Entre as suas múltiplas linguagens, essa não é a única
maneira de a criança partilhar significados e se inserir na
cultura e deve ser ensinada no contexto das demais lin- EXERCÍCIOS COMENTADOS
guagens. Muito antes de serem capazes de ler, no senti-
do convencional do termo, as crianças tentam interpretar 1. Quanto às propostas pedagógicas das escolas dian-
os diversos textos que encontram ao seu redor (livros, te da nova organização do ensino fundamental, a única,
embalagens comerciais, cartazes de rua), títulos (anún- entre as enumeradas a seguir, que não pode ser conside-
cios de televisão, estórias em quadrinhos, etc.). rada benéfica é:
Letramento seria é o estado ou a condição de quem a) Torná-la mais lúdica.
não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva as práticas b) Romper a articulação com o trabalho realizado na
sociais que usam a escrita. Seria, portanto, o uso compe- educação infantil.
tente da tecnologia da escrita nas situações de leitura e c) Não reservar apenas o primeiro ano para a alfabeti-
produção de textos reais, com sentido e significado para zação.
quem lê e escreve. As crianças descobrem sobre a língua d) Readequar espaços e mobiliário para o público que
escrita antes de aprender a ler. Essa afirmativa se baseia ingressa na escola.
em estudos nos quais estabelece comparação entre a e) Propor ciclos ou outra forma de organização do tempo
aquisição da linguagem oral e da linguagem escrita. As- escolar.
sim como as crianças adquirem a linguagem oral quando
envolvida sem contextos comunicativos em que essa lin- Resposta: Letra B. Dedicar o tempo necessário à alfa-
guagem é significativa para elas, da mesma forma o uso betização, propor ciclos ou outra forma de organiza-
constante e significativo da linguagem escrita possibilita ção do tempo escolar e readequar espaços e mobiliá-
e enriquece o seu processo de alfabetização. rios para o público que ingressa na escola estão entre
as propostas amplamente discutidas para tornar mais
A linguagem oral no processo de alfabetização eficiente a educação fundamental dentro das perspec-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tivas atuais.
A linguagem oral que abrange a fala, a escuta e a
compreensão acompanha todas as interações estabele- 2. Sobre a pedagogia de Paulo Freire, grande educador
cidas pelas crianças em suas práticas sociais. É assim que e pensador da educação brasileira, é incorreto afirmar:
meninos e meninas se apropriam da cultura escolar, des-
de o ingresso na instituição. É também por meio da fala a) A educação bancária e conservadora deve ser substi-
que as crianças adentram na escola, levando consigo as tuída por uma educação problematizadora;
marcas de sua classe social, de sua origem e identidade b) O mais importante para o oprimido é a tomada de
cultural, constituída por conhecimentos, crenças e valo- poder da classe opressora para se libertar da explo-
res. Trazem, portanto, a variedade linguística do grupo ração política e econômica, passando de explorado a
social a que pertencem. explorador;

98
c) Os temas geradores na alfabetização devem partir de 4. De acordo com Paulo Freire quando trata da importân-
problemas reais e concretos dos alunos; cia do ato de ler, para a construção da visão crítica são
d) A pedagogia do oprimido tem por base o diálogo e a indispensáveis:
conscientização de classe;
e) Na pedagogia da autonomia, ética, bom senso e ale- a) Trabalhar a alfabetização espontânea, totalmente liga-
gria são saberes necessários à prática educativa. da aos setores político e social.
b) Trabalhar a alfabetização, neutralizando a política e as
Resposta: Letra B. Ao fazer-se opressora, a realidade classes sociais.
implica na existência dos que oprimem e dos que são c) Trabalhar a alfabetização, considerando a política com
oprimidos. Estes, a quem cabe realmente lugar por coerência, vivenciando, na prática, o reconhecimento
sua libertação juntamente com os que com eles em óbvio, sabendo ouvir, falar e assumindo a ingenuidade
verdade se solidarizam, precisam ganhar a consciência dos educandos para poder saber o que estão apren-
crítica da opressão, na práxis desta busca. dendo.
Este é um dos problemas mais graves que se põem d) Trabalhar a alfabetização, assumindo a ingenuidade dos
à libertação. É que a realidade opressora, ao consti- educandos, partindo do ensino da realidade social de seus
tuir-se como um quase mecanismo de absorção dos alunos para, posteriormente, ensinar o desconhecido.
que nela se encontram, funciona como uma força de
imersão das consciências. Resposta: Letra C. Para Paulo Freire, a leitura do mun-
do precede a leitura da palavra, daí que a posterior
3. Sobre a alfabetização, NÃO podemos afirmar que leitura desta não possa prescindir da continuidade da
leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem
a) É um fato contestável, que só a partir da descoberta dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcan-
do princípio alfabético e das convenções ortográficas, çada por sua leitura crítica implica a percepção das
que formamos um leitor e escritor autônomo. relações entre o texto e o contexto.
b) Ler e escrever são atividades comunicativas e que de-
vem, portanto, ocorrer através de textos reais.
c) É importante as experiências com a leitura de histórias TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS. PAPEL
para crianças de pré-escola para o posterior sucesso DO PROFESSOR. DECROLY, MARIA
escolar das crianças com a leitura e a escrita. MONTESSORI, FREINET, ROUSSEAU,
d) Se considerarmos que o desenvolvimento da cons- VYGOTSKY, PIAGET, PAULO FREIRE E
ciência fonológica é um facilitador da evolução psi-
HERBART. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO.
cogenética e da aprendizagem da leitura e da escrita
devemos transformar este tipo de reflexão num alvo PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO
pedagógico durante o processo de alfabetização. DESENVOLVIMENTO.
e) A proposta construtivista defende uma alfabetização
contextualizada e significativa através da transposição
didática das práticas sociais da leitura e da escrita para Tendências pedagógicas e o pensamento pedagógico
a sala de aula. brasileiro

Resposta: Letra B. A aprendizagem é um processo O ofício de professor deve consagrar temas como a
contínuo de construção e superação. É fundamental prática educativa, a profissionalização docente, o traba-
ao educador conhecer a bagagem que cada sujeito lho em equipe, projetos, autonomia e responsabilidades
cognitivo construiu, para compreender suas estrutu- crescentes, pedagogias diferenciadas, e propostas concre-
ras mentais e seu modo de reflexão, tentando evoluir tas. O autor toma como referencial de competência ado-
de um quadro mais simples e menos consistente para tado em Genebra, 1996, para uma formação contínua. O
elaborações superiores. Esta construção de conheci- professor deve dominar saberes a serem ensinados, ser
mento implica numa inter-relação entre sujeitos, para capaz de dar aulas, de administrar uma turma e de ava-
que, num espaço de confiança, juntos possam recriar liar. Ressalta a urgência de novas competências, devido às
o conhecimento. transformações sociais existentes. As tecnologias mudam
Cada aluno possui diferentes interações com o códi- o trabalho, a comunicação, a vida cotidiana e mesmo o
go escrito e, dependendo do seu uso social, a criança pensamento. A prática docência tem que refletir sobre o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

elabora hipóteses que juntamente com as experiên- mundo. Os professores são os intelectuais e mediadores,
cias vividas, enriquecem e significam o processo. É por intérpretes ativos da cultura, dos valores e do saber em
isso que se enfatiza a importância de que as crianças transformação. Se não se perceberem como depositários
entrem em contato com o uso social da leitura e da da tradição ou percursos do futuro, não serão desempe-
escrita, reconhecendo a função social da linguagem. nhar esse papel por si mesmos. O currículo deve ser orien-
tado para se designar competências, a capacidade de mo-
bilizar diversos recursos cognitivos (saberes, capacidades,
informações, etc.) para enfrentar, solucionar uma série de
situações. Dez domínios de competências reconhecidas
como prioritárias na formação contínua das professoras e
dos professores do ensino fundamental.

99
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. 4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em
- Conhecer, para determinada disciplina, os conteú- seu trabalho.
dos a serem ensinados e sua tradução em obje- - Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação
tivos de aprendizagem: nos estágios de planeja- com o saber, o sentido do trabalho escolar e de-
mento didático, da análise posterior e da avaliação. senvolver na criança a capacidade de auto ava-
- Trabalhar a partir das representações dos alunos: liação. O professor deve ter em mente o que é
considerando o conhecimento do aluno, colocan- ensinar, reforçar a decisão de aprender, estimu-
do-se no lugar do aprendiz, utilizando se de uma lar o desejo de saber, instituindo um conselho de
competência didática para dialogar com ele e fazer alunos e negociar regras e contratos;
com que suas concepções se aproxime dos conhe- - Oferecer atividades opcionais de formação, à la
cimentos científicos; carte;
- Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à - Favorecer a definição de um projeto pessoal do
aprendizagem: usando de uma situação-proble- aluno, valorizando-os e reforçando-os a incitar o
ma ara transposição didática, considerando o erro, aluno a realizar projetos pessoais, sem retornar
como ferramenta para o ensino. isso um pré-requisito.
- Construir e planejar dispositivos e sequências didá-
ticas; 5. Trabalhar em equipe.
- Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em - Elaborar um projeto de equipe, representações co-
projetos de conhecimento. muns;
- Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões;
2. Administrar a progressão das aprendizagens. - Formar e renovar uma equipe pedagógica;
- Conceber e administrar situações-problema ajusta- - Enfrentar e analisar em conjunto situações comple-
das ao nível e as possibilidades dos alunos: em xas, práticas e problemas profissionais.
torno da resolução de um obstáculo pela classe, - Administrar crises ou conflitos interpessoais.
propiciando reflexões, desafios, intelectuais, con-
6. Participar da administração da escola.
flitos sociocognitivos;
- Elaborar, negociar um projeto da instituição;
- Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do
- Administrar os recursos da escola;
ensino: dominar a formação do ciclo de apren-
- Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus
dizagem, as fases do conhecimento e do desen-
parceiros (serviços para escolares, bairro, associa-
volvimento intelectual da criança e do adolescen-
ções de pais, professores de línguas e cultura de
te, além do sentimento de responsabilidade do
origem);
professor pleno conjunto da formação do ensino - Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a
fundamental; participação dos alunos.
- Estabelecer laços com as teorias subjacentes às ati-
vidades de aprendizagens; 7. Informar e envolver os pais.
- Observar e avaliar os alunos em situações de - Dirigir reuniões de informação e de debate;
aprendizagens; - Fazer entrevistas;
- Fazer balanços periódicos de competências e to- - Envolver os pais na construção dos saberes.
mar decisões de progressão;
- Rumar a ciclos de aprendizagem: interagir grupos 8. Utilizar novas tecnologias.
de alunos e dispositivos de ensino-aprendizagem. As novas tecnologias da informação e da comunica-
ção transformam as maneiras de se comunicar, de traba-
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de di- lhar, de decidir e de pensar. O professor predica usar edi-
ferenciação. tores de textos, explorando didáticas e programas com
- Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma objetivos educacionais.
turma, com o propósito de grupos de necessida- - Discutir a questão da informática na escola;
des, de projetos e não de homogeneidade; - Utilizar editores de texto;
- Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço - Explorar as potencialidades didáticas dos progra-
mais vasto, organizar para facilitar a cooperação e mas em relação aos objetivos do ensino;
a geração de grupos utilidades; - Comunicar-se à distância por meio da telemática;
- Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos - Utilizar as ferramentas multimídia no ensino.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

portadores de grandes dificuldades, sem todavia


transforma-se num psicoterapeuta; Assim, quanto à oitava competência de Perrenoud,
- Desenvolver a cooperação entre os alunos e cer- que trabalho nessa pesquisa, a Informática na Educação,
tas formas simples de ensino mútuo, provocando nos fez perceber que cada vez mais precisamos do com-
aprendizagens através de ações coletivas, criando putador, porque estamos na era da informatização e por
uma cultura de cooperação através de atitudes e isso é primordial que nós profissionais da educação es-
da reflexão sobre a experiência. tejamos modernizados e acompanhando essa tendência,
visto que assim como um simples pagamento no ban-
co, utilizamos o computador, para estarmos atualizados
necessitamos obter mais esta competência para se fazer
uma docência de qualidade.

100
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da pro- consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a
fissão. ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta
- Prevenir a violência na escola e fora dela; a desigualdade de condições.
- Lutar contra os preconceitos e as discriminações se-
xuais, étnicas e sociais; Tendência Liberal Tradicional
- Participar da criação de regras de vida comum refe-
rente á disciplina na escola, às sanções e à aprecia- Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tra-
ção da conduta; dicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico,
- Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a co- de cultura geral. De acordo com essa escola tradicional,
municação em aula; o aluno é educado para atingir sua plena realização atra-
- Desenvolver o senso de responsabilidade, a solida- vés de seu próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de
riedade e o sentimento de justiça. classe social não são consideradas e toda a prática esco-
lar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno.
10. Administrar sua própria formação contínua. Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia
- Saber explicitar as próprias práticas; de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos
- Estabelecer seu próprio balanço de competência e para o espírito da criança é acompanhada de outra: a de
seu programa pessoa de formação contínua; que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à
- Negociar um projeto de formação comum com os do adulto, sem levar em conta as características próprias
colegas (equipe, escola, rede); de cada idade. A criança é vista, assim, como um adulto em
- Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de miniatura, apenas menos desenvolvida.
ensino ou do sistema educativo; No ensino da língua portuguesa, parte-se da concep-
- Acolher a formação dos colegas e participar dela. ção que considera a linguagem como expressão do pensa-
mento. Os seguidores dessa corrente linguística, em razão
Conclusão: Contribuir para o debate sobe a sua pro- disso, preocupam-se com a organização lógica do pensa-
fissionalização, com responsabilidade numa formação mento, o que presume a necessidade de regras do bem
contínua.1 falar e do bem escrever. Segundo essa concepção de lin-
guagem, a Gramática Tradicional ou Normativa se constitui
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio- no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê nessa
nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes gramática uma perspectiva de normatização linguística,
concepções de homem e de sociedade e, consequente- tomando como modelo de norma culta as obras dos nos-
mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e sos grandes escritores clássicos. Portanto, saber gramática,
da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente teoria gramatical, é a garantia de se chegar ao domínio da
estudo, tendo em vista que o modo como os professores língua oral ou escrita.
realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o ensi-
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente. no da gramática pela gramática, com ênfase nos exercícios
repetitivos e de recapitulação da matéria, exigindo uma
O objetivo deste artigo é verificar os pressupostos de atitude receptiva e mecânica do aluno. Os conteúdos são
aprendizagem empregados pelas diferentes tendências peda- organizados pelo professor, numa sequência lógica, e a
gógicas na prática escolar brasileira, numa tentativa de contri- avaliação é realizada através de provas escritas e exercícios
buir, teoricamente, para a formação continuada de professores. de casa.
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio-
nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes Tendência Liberal Renovada Progressivista
concepções de homem e de sociedade e, consequente-
mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a ten-
da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente dência liberal renovada (ou pragmatista) acentua o sentido
estudo, tendo em vista que o modo como os professores da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais.
realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para
assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessida-
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente.
des do educando ao meio social, por isso ela deve imitar a
vida. Se, na tendência liberal tradicional, a atividade peda-
Tendências Pedagógicas Liberais
gógica estava centrada no professor, na escola renovada
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

progressivista, defende-se a ideia de “aprender fazendo”,


Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sus-
portanto centrada no aluno, valorizando as tentativas ex-
tenta a ideia de que a escola tem por função preparar
perimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio
os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de
natural e social, etc, levando em conta os interesses do
acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o
aluno.
indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigen- Como pressupostos de aprendizagem, aprender se
tes na sociedade de classe, através do desenvolvimento torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendi-
da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto zagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador.
cultural, as diferenças entre as classes sociais não são Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno,
1 Fonte: Perrenoud, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar.
através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa
Porto Alegre: ARTMED, 2000. Reimpressão 2008 a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em no-

101
vas situações. É a tomada de consciência, segundo Piaget. contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu
No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não superar os equívocos apresentados pelo ensino da lín-
trouxeram maiores consequências, pois esbarraram na gua centrado na gramática normativa. Em parte, esses
prática da tendência liberal tradicional. problemas ocorreram devido às dificuldades de o pro-
fessor assimilar as novas teorias sobre o ensino da língua
Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva materna.

Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na for- Tendências Pedagógicas Progressistas


mação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preo-
cupada com os problemas psicológicos do que com os Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa
pedagógicos ou sociais. Todo o esforço deve visar a uma as tendências que, partindo de uma análise crítica das
mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma adequação realidades sociais, sustentam implicitamente as finalida-
pessoal às solicitações do ambiente. des sociopolíticas da educação.
Aprender é modificar suas próprias percepções. Ape-
nas se aprende o que estiver significativamente relacio- Tendência Progressista Libertadora
nado com essas percepções. A retenção se dá pela rele-
vância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna a As tendências progressistas libertadoras e libertárias
avaliação escolar sem sentido, privilegiando-se a auto-a- têm, em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o
valiação. Trata-se de um ensino centrado no aluno, sendo antiautoritarismo. A escola libertadora, também conhecida
o professor apenas um facilitador. No ensino da língua, como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação à
tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as ideias luta e organização de classe do oprimido. Segundo GA-
da escola renovada não-diretiva, embora muito difundi- DOTTI (1988), Paulo Freire não considera o papel informati-
das, encontraram, também, uma barreira na prática da vo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas insis-
tendência liberal tradicional. te que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto
deste, não se elabora uma nova teoria do conhecimento e
Tendência Liberal Tecnicista se os oprimidos não podem adquirir uma nova estrutura
do conhecimento que lhes permita reelaborar e reordenar
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento seus próprios conhecimentos e apropriar-se de outros.
da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulan- Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes,
do-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, o saber mais importante para o oprimido é a descoberta
emprega a ciência da mudança de comportamento, ou da sua situação de oprimido, a condição para se libertar da
seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse princi- exploração política e econômica, através da elaboração da
pal é, portanto, produzir indivíduos “competentes” para consciência crítica passo a passo com sua organização de
o mercado de trabalho, não se preocupando com as mu- classe. Por isso, a pedagogia libertadora ultrapassa os limi-
danças sociais. tes da pedagogia, situando-se também no campo da eco-
Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada nomia, da política e das ciências sociais, conforme Gadotti.
na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depo- Como pressuposto de aprendizagem, a força motiva-
sitário passivo dos conhecimentos, que devem ser acu- dora deve decorrer da codificação de uma situação-pro-
mulados na mente através de associações. Skinner foi o blema que será analisada criticamente, envolvendo o exer-
expoente principal dessa corrente psicológica, também cício da abstração, pelo qual se procura alcançar, por meio
conhecida como behaviorista. Segundo RICHTER (2000), de representações da realidade concreta, a razão de ser
a visão behaviorista acredita que adquirimos uma língua dos fatos. Assim, como afirma Libâneo, aprender é um ato
por meio de imitação e formação de hábitos, por isso a de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situa-
ênfase na repetição, nos drills, na instrução programada, ção real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta
para que o aluno forme “hábitos” do uso correto da lin- de uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o
guagem. conhecimento que o educando transfere representa uma
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, resposta à situação de opressão a que se chega pelo pro-
que implantou a escola tecnicista no Brasil, preponde- cesso de compreensão, reflexão e crítica.
raram as influências do estruturalismo linguístico e a No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista,
concepção de linguagem como instrumento de comu- sintetiza sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto cari-
nicação. A língua – como diz TRAVAGLIA (1998) – é vista nhosamente. De modo geral, simbolicamente, eu puxo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como um código, ou seja, um conjunto de signos que se uma cadeira e convido o autor, não importa qual, a travar
combinam segundo regras e que é capaz de transmitir um diálogo comigo”.
uma mensagem, informações de um emissor a um re-
ceptor. Portanto, para os estruturalistas, saber a língua é, Tendência Progressista Libertária
sobretudo, dominar o código.
No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa con- A escola progressista libertária parte do pressuposto
cepção de linguagem, o trabalho com as estruturas lin- de que somente o vivido pelo educando é incorporado
guísticas, separadas do homem no seu contexto social, e utilizado em situações novas, por isso o saber sistema-
é visto como possibilidade de desenvolver a expressão tizado só terá relevância se for possível seu uso prático. A
oral e escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma, ênfase na aprendizagem informal via grupo, e a negação
uma modernização da escola tradicional e, apesar das de toda forma de repressão, visam a favorecer o desen-

102
volvimento de pessoas mais livres. No ensino da língua, Já as tendências pedagógicas progressistas, em opo-
procura valorizar o texto produzido pelo aluno, além da sição às liberais, têm em comum a análise crítica do sis-
negociação de sentidos na leitura. tema capitalista. De base empirista (Paulo Freire se pro-
clamava um deles) e marxista (com as ideias de Gramsci),
Tendência Progressista Crítico-Social Dos Conteúdos essas tendências, no ensino da língua, valorizam o texto
produzido pelo aluno, a partir do seu conhecimento de
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-so- mundo, assim como a possibilidade de negociação de
cial dos conteúdos, diferentemente da libertadora e liber- sentido na leitura.
tária, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as di-
com as realidades sociais. A atuação da escola consiste na fusões das ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa
preparação do aluno para o mundo adulto e suas con- perspectiva sócio-histórica, essas teorias buscam uma
tradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio aproximação com modernas correntes do ensino da lín-
da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma gua que consideram a linguagem como forma de atua-
participação organizada e ativa na democratização da ção sobre o homem e o mundo, ou seja, como processo
sociedade. de interação verbal, que constitui a sua realidade fun-
Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o damental.
princípio da aprendizagem significativa, partindo do que
o aluno já sabe. A transferência da aprendizagem só se Tendências Pedagógicas Brasileiras
realiza no momento da síntese, isto é, quando o aluno
supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão As tendências pedagógicas brasileiras foram muito
mais clara e unificadora. influenciadas pelo momento cultural e político da socie-
dade, pois foram levadas à luz graças aos movimentos
Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96 sociais e filosóficos. Essas formaram a prática pedagógi-
ca do país.
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) pro-
de n.º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vy- põem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mos-
gotsky e Wallon. Um dos pontos em comum entre esses trando que as principais tendências pedagógicas usadas
psicólogos é o fato de serem interacionistas, porque con- na educação brasileira se dividem em duas grandes li-
cebem o conhecimento como resultado da ação que se nhas de pensamento pedagógico. Elas são: Tendências
passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com Aranha Liberais e Tendências Progressistas.
(1998), o conhecimento não está, então, no sujeito, como Os professores devem estudar e se apropriar dessas
queriam os inatistas, nem no objeto, como diziam os em- tendências, que servem de apoio para a sua prática pe-
piristas, mas resulta da interação entre ambos. dagógica. Não se deve usar uma delas de forma isolada
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo em toda a sua docência. Mas, deve-se procurar analisar
essa perspectiva interacionista, a leitura como processo cada uma e ver a que melhor convém ao seu desem-
permite a possibilidade de negociação de sentidos em sala penho acadêmico, com maior eficiência e qualidade de
de aula. O processo de leitura, portanto, não é centrado no atuação. De acordo com cada nova situação que surge,
texto, ascendente, bottom-up, como queriam os empiris- usa-se a tendência mais adequada. E observa-se que
tas, nem no receptor, descendente, top-down, segundo os hoje, na prática docente, há uma mistura dessas tendên-
inatistas, mas ascendente/descendente, ou seja, a partir de cias.
uma negociação de sentido entre enunciador e receptor. Deste modo, seguem as explicações das caracterís-
Assim, nessa abordagem interacionista, o receptor é retira- ticas de cada uma dessas formas de ensino. Porém, ao
do da sua condição de mero objeto do sentido do texto, de analisá-las, deve-se ter em mente que uma tendência
alguém que estava ali para decifrá-lo, decodificá-lo, como não substitui totalmente a anterior, mas ambas convive-
ocorria, tradicionalmente, no ensino da leitura. ram e convivem com a prática escolar.
As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao
encontro da concepção que considera a linguagem Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo
como forma de atuação sobre o homem e o mundo e aberto ou democrático, mas com uma instigação da so-
das modernas teorias sobre os estudos do texto, como ciedade capitalista ou sociedade de classes, que susten-
a Linguística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica ta a ideia de que o aluno deve ser preparado para papéis
Argumentativa e a Pragmática, entre outros. sociais de acordo com as suas aptidões, aprendendo a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

De acordo com esse quadro teórico de José Carlos viver em harmonia com as normas desse tipo de socie-
Libâneo, deduz-se que as tendências pedagógicas libe- dade, tendo uma cultura individual.
rais, ou seja, a tradicional, a renovada e a tecnicista, por Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil
se declararem neutras, nunca assumiram compromisso por motivos históricos. Nesta tendência o professor é a
com as transformações da sociedade, embora, na prá- figura central e o aluno é um receptor passivo dos co-
tica, procurassem legitimar a ordem econômica e social nhecimentos considerados como verdades absolutas. Há
do sistema capitalista. No ensino da língua, predomina- repetição de exercícios com exigência de memorização.
ram os métodos de base ora empirista, ora inatista, com
ensino da gramática tradicional, ou sob algumas as in- Renovadora Progressiva - Por razões de recomposi-
fluências teóricas do estruturalismo e do gerativismo, a ção da hegemonia da burguesia, esta foi a próxima ten-
partir da Lei 5.692/71, da Reforma do Ensino. dência a aparecer no cenário da educação brasileira. Ca-

103
racteriza-se por centralizar no aluno, considerado como dos e alunos. O ensino/aprendizagem tem como centro
ser ativo e curioso. Dispõe da ideia que ele “só irá apren- o aluno. Os conhecimentos são construídos pela expe-
der fazendo”, valorizam-se as tentativas experimentais, riência pessoal e subjetiva.
a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
social. Aprender se torna uma atividade de descoberta, (LDB 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon
é uma autoaprendizagem. O professor é um facilitador. foram muito difundidas, tendo uma perspectiva sócio-
-histórica e são interacionistas, isto é, acreditam que o
Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Tei- conhecimento se dá pela interação entre o sujeito e um
xeira foi o grande pioneiro da Escola Nova no Brasil. É objeto.
um método centrado no aluno. A escola tem o papel de Alguns dos principais expoentes da história educa-
formadora de atitudes, preocupando-se mais com a par- cional nacional e internacional debruçaram-se sobre a
te psicológica do que com a social ou pedagógica. E para questão das tendências pedagógicas. Autores como Pau-
aprender tem que estar significativamente ligado com lo Freire, Luckesi, Libâneo, Saviani e Gadotti, entre outros
suas percepções, modificando-as.
Tecnicista – Skinner foi não menos importantes, dedicaram grande parte de suas
o expoente principal dessa corrente psicológica, também vidas a estudos que pudessem contribuir para o avanço
conhecida como behaviorista. Neste método de ensino o da Educação, desenvolvendo teorias para nortear as prá-
aluno é visto como depositário passivo dos conhecimen- ticas pedagógicas, objetivando melhorar a qualidade do
tos, que devem ser acumulados na mente através de as- ensino que é aplicado nas escolas. Essa é a função das
sociações. O professor é quem deposita os conhecimen- tendências pedagógicas no universo educacional. O que
tos, pois ele é visto como um especialista na aplicação se pretende neste trabalho é justamente trazer à tona
de manuais; sendo sua prática extremamente controlada. essa questão, erguendo a bandeira das tendências pe-
Articula-se diretamente com o sistema produtivo, com o dagógicas contemporâneas, buscando, assim, contribuir
objetivo de aperfeiçoar a ordem social vigente, que é o para uma melhor assimilação delas por parte de alguns
capitalismo, formando mão de obra especializada para o professores de escolas públicas.
mercado de trabalho.
A relação entre as tendências pedagógicas e a prá-
Tendências Progressistas - Partem de uma análise tica docente
crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente
as finalidades sociopolíticas da educação e é uma ten- As tendências pedagógicas são de extrema relevân-
dência que condiz com as ideias implantadas pelo capi- cia para a Educação, principalmente as mais recentes,
talismo. O desenvolvimento e popularização da análise pois contribuem para a condução de um trabalho do-
marxista da sociedade possibilitou o desenvolvimento da cente mais consciente, baseado nas demandas atuais da
tendência progressista, que se ramifica em três correntes: clientela em questão. O conhecimento dessas tendências
e perspectivas de ensino por parte dos professores é
Libertadora – Também conhecida como a pedagogia fundamental para a realização de uma prática docente
de Paulo Freire, essa tendência vincula a educação à luta realmente significativa, que tenha algum sentido para o
e organização de classe do oprimido. Onde, para esse, o aluno, pois tais tendências objetivam nortear o trabalho
saber mais importante é a de que ele é oprimido, ou seja, do educador, ajudando-o a responder a questões sobre
ter uma consciência da realidade em que vive. Além da as quais deve se estruturar todo o processo de ensino,
busca pela transformação social, a condição de se libertar tais como: o que ensinar? Para quem? Como? Para quê?
através da elaboração da consciência crítica passo a pas- Por quê?
so com sua organização de classe. Centraliza-se na dis- E para que a prática pedagógica em sala de aula al-
cussão de temas sociais e políticos; o professor coordena cance seus objetivos, o professor deve ter as respostas
atividades e atua juntamente com os alunos. para essas questões, pois, como defende Luckesi (1994),
“a Pedagogia não pode ser bem entendida e praticada na
Libertária – Procura a transformação da personali- escola sem que se tenha alguma clareza do seu significa-
dade num sentido libertário e autogestionário. Parte do do. Isso nada mais é do que buscar o sentido da prática
pressuposto de que somente o vivido pelo educando é docente”.
incorporado e utilizado em situações novas, por isso o Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo
saber sistematizado só terá relevância se for possível seu dos tempos por diversos teóricos que se debruçaram
uso prático. Enfoca a livre expressão, o contexto cultural, sobre o tema, foram concebidas com base nas visões
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a educação estética. Os conteúdos, apesar de disponibili- desses pensadores em relação ao contexto histórico das
zados, não são exigidos pelos alunos e o professor é tido sociedades em que estavam inseridos, além de suas con-
como um conselheiro à disposição do aluno. cepções de homem e de mundo, tendo como principal
“Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Críti- objetivo nortear o trabalho docente, modelando-o a
ca” - Tendência que apareceu no Brasil nos fins dos anos partir das necessidades de ensino observadas no âmbito
70, acentua a prioridade de focar os conteúdos no seu social em que viviam.
confronto com as realidades sociais, é necessário enfa- Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pe-
tizar o conhecimento histórico. Prepara o aluno para o dagógicas por parte dos professores, principalmente as
mundo adulto, com participação organizada e ativa na mais recentes, torna-se de extrema relevância, visto que
democratização da sociedade; por meio da aquisição de possibilitam ao educador um aprofundamento maior
conteúdos e da socialização. É o mediador entre conteú- sobre os pressupostos e variáveis do processo de ensi-

104
no-aprendizagem, abrindo-lhe um leque de possibilida- Em consonância com estas leituras filosóficas so-
des de direcionamento do seu trabalho a partir de suas bre as relações entre educação e sociedade, Libâneo
convicções pessoais, profissionais, políticas e sociais, (1985), ao realizar uma abordagem das tendências pe-
contribuindo para a produção de uma prática docente dagógicas, organiza as diferentes pedagogias em dois
estruturada, significativa, esclarecedora e, principalmen- grupos: Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressivista.
te, interessante para os educandos. A Pedagogia Liberal é apresentada nas formas Tradicio-
A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar nal; Renovada Progressivista; Renovada Não diretiva; e
motivos para que o aluno vá para os bancos escolares Tecnicista. A Pedagogia Progressivista é subdividida em
com satisfação, alegria. Existem escolas esperançosas, Libertadora; Libertária; e Crítico-social dos Conteúdos.2
com gente animada, mas existe um mal-estar geral na
maioria delas. Não acredito que isso seja trágico. Essa PENSADORES
insatisfação deve ser aproveitada para dar um salto. Se
o mal-estar for trabalhado, ele permite avanços. Se for Neste texto objetiva-se sistematizar as característi-
aceito como fatalidade, ele torna a escola um peso morto cas do pensamento pedagógico de diferentes autores
na história, que arrasta as pessoas e as impede de so- sobre a contextualização dos ambientes educativos de
nhar, pensar e criar (Moacir Gadotti, em entrevista para a onde emergem a compreensão de homem, mundo e
revista Nova Escola, edição de novembro/2000). sociedade; compreender o papel do professor, do alu-
Desse modo, creio que seja essencial que todos os no, da escola e dos elementos que compõem o am-
professores tenham um conhecimento mais aprofunda- biente escolar; estabelecer relação entre as tendências
do das tendências pedagógicas, pois elas foram conce- pedagógicas e a prática docente que os professores
bidas para nortear as práticas pedagógicas. O educador adotam na sala de aula. Além disso, busca-se verificar
deve conhecê-las, principalmente as mais recentes, ainda os pressupostos de aprendizagem empregados pelas
que seja para negá-las, mas de forma crítica e conscien- diferentes tendências pedagógicas na prática escolar
te, ou, quem sabe, para utilizar os pontos positivos ob- brasileira, numa tentativa de contribuir, teoricamente,
servados em cada uma delas para construir uma base para a formação continuada de professores.
pedagógica própria, mas com coerência e propriedade. As tendências pedagógicas definem o papel do ho-
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível mem e da educação no mundo, na sociedade e na esco-
“pensar que se pode abrir um caminho a uma peda- la, o que repercute na prática docente em sala de aula
gogia atual; que venha fazer a síntese do tradicional e graças a elementos constitutivos que envolvem o ato de
do moderno: síntese e não confusão”. O importante é ensinar e de aprender.
que se busque tirar a venda dos olhos para enxergar, A seguir, serão apresentados, os pensamentos pe-
literalmente, o alunado e assim poder dar um sentido dagógicos dos estudiosos Paulo Freire, José Carlos Li-
político e social ao trabalho que está sendo realizado, bâneo, Fernando Becker e Maria das Graças Nicoletti
pois, como afirma Libâneo, aprender é um ato de co- Mizukami.
nhecimento da realidade concreta, isto é, da situação
real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta a) Paulo Freire: Educação Bancária e Problemati-
de uma aproximação crítica dessa realidade, o que está zadora
em consonância com o que diz Saviani (1991): a Peda- Abordar o pensamento pedagógico de Paulo Freire
gogia Crítica implica a clareza dos determinantes sociais não significa enquadrá-lo em um campo teórico deter-
da educação, a compreensão do grau em que as contra- minado nem testar a validade científica da sua peda-
dições da sociedade marcam a educação e, consequen- gogia. Todavia, é de fundamental importância para a
temente, como é preciso se posicionar diante dessas formação de qualquer profissional de Educação que se
contradições e desenredar a educação das visões am- faça uma leitura e reflexão sobre sua obra, buscando
bíguas para perceber claramente qual é a direção que estabelecer uma vivência teórico-prática durante toda
cabe imprimir à questão educacional. a nossa ação docente. A esse respeito, o próprio Freire
Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir sempre chamava a atenção para um novo conhecimen-
de uma posição filosófica definida”. Em seu livro Filoso- to que é gerado e produzido na tensão entre a prática
fia da Educação, o autor discorre sobre a relação exis- e a teoria.
tente entre a Pedagogia e a Filosofia e busca clarificar as A história de Paulo Freire nos deixa uma grande
perspectivas das relações entre educação e sociedade. herança: a sua práxis político-pedagógica e a luta pela
No seu trabalho, Luckesi apresenta três tendências fi- construção de um projeto de sociedade inclusiva. Dis-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

losóficas responsáveis por interpretar a função da edu- cutir a sua pedagogia é um compromisso de todos nós
cação na sociedade: a Educação Redentora, a Educação que lutamos por inclusão social, por ética, por liberda-
Reprodutora e a Educação Transformadora da socieda- de, por autonomia, pela recuperação da memória cole-
de. A primeira é otimista, acredita que a educação pode tiva e pela construção de um projeto para uma escola
exercer domínio sobre a sociedade (pedagogias libe- cidadã.
rais). A segunda é pessimista, percebe a educação como Em Pedagogia do Oprimido (1982), Paulo Freire fala so-
sendo apenas reprodutora de um modelo social vigen- bre a prática docente sob a forma de Educação Bancária e
te, enquanto a terceira tendência assume uma postura Educação Problematizadora – também chamada de Liber-
crítica com relação às duas anteriores, indo de encontro tadora, pois se propõe a conscientizar o educando de sua
tanto ao “otimismo ilusório” quanto ao “pessimismo realidade social. Para Freire, há duas concepções de educa-
imobilizador” (Pedagogias Progressivistas).
2 Por Délcio Barros da Silva

105
ção: uma bancária, que serve à dominação e outra, problematizadora, que serve à libertação. Nesse sentido, faz uma opção
pela educação problematizadora que desde o início busca a superação educador-educando. Isso nos leva a compreender
um novo termo: educador-educando com educando-educador.
Quadro-síntese da concepção da Educação Bancária e Educação Problematizadora de Paulo Freire (1982).

Educação Bancária Educação Problematizadora


O aluno é o banco em que o mestre deposita o “Para o educador-educando [...] o conteúdo progra-
seu saber que vai render largos juros, em favor mático da educação não é uma doação ou impo-
Ensino da ordem social que o professor representa. sição, mas a revolução organizada, sistematizada e
acrescentada ao povo daqueles elementos que este
lhe entregou de forma desestruturada”.
A narração é a técnica utilizada pelo educador Reforça a imprescindibilidade de uma educação
para depositar conteúdo nos educandos e con- realmente dialógica, problematizadora e marcada-
Método duzi-los à memorização mecânica. mente reflexiva, combinações indispensáveis para o
desvelamento da realidade e sua apreensão cons-
ciente pelo educando.
O saber é uma doação dos que se julgam sá- A ação dialógica se dá entre os sujeitos “ainda que
bios aos que julgam nada saber. Doação que se tenham níveis distintos de função, portanto, de res-
Professor-
funda numa das manifestações instrumentais ponsabilidade somente pode realizar-se na comu-
-aluno
da ideologia da opressão – a absolutização da nicação”. Abomina, dentre outras coisas, a depen-
ignorância. dência dominadora.
Aprendi- Conhecimento é algo que, por ser imposto, pas- O comprometimento com a transformação social é
zagem sa a ser absorvido passivamente. a premissa da educação Libertadora.

A partir desse quadro-síntese constata-se que a Educação Bancária fundamenta-se numa prática narradora, sem
diálogo, para a transmissão e avaliação de conhecimento numa relação vertical – o saber é fornecido de cima para
baixo – e autoritária, pois manda aquele que sabe.
O método da concepção bancária é a opressão, o antidiálogo. Configura-se então a educação exercida como uma
prática da dominação, “em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos,
guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam”.

Na educação problematizadora, o conhecimento deve vir do contato do homem com o seu mundo, que é dinâmico,
e não como um ato de doação. Supera-se, pois a relação vertical e se estabelece a relação dialógica, que supõe uma
troca de conhecimento.
Freire (1982) destaca que o “educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em
diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa”. Para o autor a dialogicidade é a essência da Educação
Libertadora. Além disso, outras características são necessárias para que ela se concretize tais como: colaboração, união,
organização e síntese cultural.
Ao desenvolver uma epistemologia do conhecimento, Freire parte de uma reflexão acerca de uma experiência con-
creta para desenvolver sua metodologia dialética: ação-reflexão- ação. Metodologia que parte da problematização da
prática concreta, vai à teoria estudando-a e reelaborando-a criticamente e retorna à prática para transformá-la. Nesta
concepção, o diálogo se apresenta como condição fundamental para sua concretização.
Ele nos apresenta sua teoria metodológica a partir da sua prática refletida na alfabetização de jovens e adultos,
iniciada na década de 1960. O trabalho, que foi denominado como “método Paulo Freire”, ou “método de conscienti-
zação” foi desenvolvido, a partir de uma leitura de mundo, em cinco fases: levantamento do universo vocabular, temas
geradores e escolha de palavras geradoras, criação de situações existenciais típicas do grupo, elaboração de fichas-ro-
teiro e leitura de fichas com a decomposição das famílias fonêmicas. Apesar do reconhecimento da qualidade eman-
cipatória do processo de alfabetização divulgada e experienciada em vários países, Freire insistiu que as experiências
não podem ser transplantadas, mas reinventadas. Nesse sentido, o da reinvenção, é que acreditamos nas possibilidades
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

didáticas das experiências com a pedagogia freireana.


Ele reforça a importância da participação democrática e o exercício da autonomia para construção dos projetos po-
líticopedagógicos. Em oposição, condena os novos pacotes pedagógicos impostos sem a participação da comunidade
escolar e incentiva a incorporação de múltiplos saberes necessários à prática de educação crítica. Para isso, referencia o
respeito aos saberes socialmente construídos na prática comunitária e sugere que se discuta com os alunos a razão de
ser de alguns desses saberes em relação ao ensino dos conteúdos e às razões políticas ideológicas.

b) José Carlos Libâneo: Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressista


Libâneo classifica as tendências pedagógicas, segundo a posição que adotam em relação aos condicionantes socio-
políticos da escola, em Pedagogia Liberal – subdividida em tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva
e tecnicista – e Pedagogia Progressista – que se subdivide em libertadora, libertária e críticossocial dos conteúdos.

106
Segundo LIBÂNEO (1994), a pedagogia liberal sus- O conteúdo a ser ensinado é tratado isoladamente,
tenta a ideia de que a escola tem por função preparar isto é, desvinculado dos interesses dos alunos e dos pro-
os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de blemas reais da sociedade e da vida. O método de ensino
acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o é dado pela lógica e sequência do assunto, modo pelo qual
indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigen- o professor se apoia para comunicar-se desconsiderando o
tes na sociedade de classe, através do desenvolvimento processo cognitivo desenvolvido pelos alunos para apren-
da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto der. Todavia, alguns 5 métodos intuitivos foram incorpo-
cultural, as diferenças entre as classes sociais não são rados ao ensino tradicional, baseando-se na apresentação
consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a de dados ligados à sensibilidade dos alunos de modo que
ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta eles pudessem observá-los e, a partir daí, formar imagens
a desigualdade de condições. mentais. Muitos professores ainda acham que “partir do
As Tendências Pedagógicas Liberais tiveram seu início concreto” constitui-se na chave do ensino atualizado. Essa
no século XIX, tendo recebido as influências do ideário ideia, entretanto, já fazia parte da Pedagogia Tradicional
da Revolução Francesa (1789), de “igualdade, liberdade, porque o concreto (mostrar objetos, ilustrações, gravuras,
fraternidade”, que foi, também, determinante do libera- entre outros) serve apenas para que o aluno grave na men-
lismo no mundo ocidental e do sistema capitalista, onde te o que é captado pelos sentidos. O material concreto é
estabeleceu uma forma de organização social baseada mostrado, demonstrado, manipulado, mas o aluno não lida
na propriedade privada dos meios de produção, o que mentalmente com ele, não o repensa, não o reelabora com
se denominou como sociedade de classes. Sua preocu- o seu próprio pensamento. A aprendizagem é, portanto,
pação básica é o cultivo dos interesses individuais e não- receptiva, automática, não mobilizando a atividade mental
-sociais. Para essa tendência educacional, o saber já pro- do aluno e o desenvolvimento de suas capacidades inte-
duzido (conteúdos de ensino) é muito mais importante lectuais, embora tenham surgido nos últimos anos inúme-
que a experiência do sujeito e o processo pelo qual ele ras propostas de renovação das abordagens do processo
aprende, mantendo o instrumento de poder entre domi- ensinoaprendizagem, como as sugestões presentes nos
nador e dominado. atuais Parâmetros Curriculares Nacionais.
Na Tendência Liberal Tradicional, é tarefa do educa- A Pedagogia Renovada, por outro lado, retoma aspec-
dor fazer com que o educando atinja a realização pes- tos referentes às perspectivas progressivistas baseadas
soal através de seu próprio esforço. O cultivo do intelec- em John Dewey, bem como a não-diretiva inspirada em
to é descontextualizado da realidade social, com ênfase Carl Rogers, a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e
para o estudo dos clássicos e das biografias dos grandes outras. Todavia, o que caracteriza fortemente os conheci-
mestres. A transmissão é feita a partir dos conteúdos mentos e a experiência da Didática brasileira vem, em sua
acumulados historicamente pelo homem, num proces- maioria, do movimento da Escola Nova (entendida como
so cumulativo, sem reconstrução ou questionamento. A “direção da aprendizagem” e que considera o aluno como
aprendizagem se dá de forma receptiva, automática, sem sujeito da aprendizagem). Nessa concepção pedagógica, o
que seja necessário acionar as habilidades mentais do professor deve deixar o aluno em condições mais adequa-
educando além da memorização. das possíveis para que possa partir das suas necessidades
Seu método enfatiza a transmissão de conteúdos e a e ser estimulado pelo ambiente para vivenciar experiências
assimilação passiva. É ainda intuitivo, baseado na estimu- e buscar por si mesmo o conhecimento.
lação dos sentidos e na observação. Através da memo- Segundo Libâneo (1994), essa tendência, no Brasil, se-
rização, da repetição e da exposição verbal, o educador gue duas versões distintas: a Renovada Progressivista (que
chega a um interrogatório (tipo socrático), estimulando o se refere a processos internos de desenvolvimento do in-
individualismo e a competição. Envolve cinco passos que, divíduo; não confundir com progressista, que se refere a
segundo Friedrich Herbart, são os seguintes: preparação, processos sociais) ou Pragmatista, inspirada nos Pioneiros
recordação, associação, generalização e aplicação. da Escola Nova, e a Tendência Renovada não-Diretiva, ins-
Libâneo (1994) afirma ainda que o ensino é centrado pirada em Carl Rogers e A. S. Neill, que se volta muito mais
no professor que expõe e interpreta o conhecimento. Às para os objetivos de desenvolvimento pessoal e relações
vezes, o conteúdo de ensino é apresentado com auxí- interpessoais (sendo que este último não chegou a desen-
lio de objetos, ilustrações ou exemplos, embora o meio volver um sistema a respeito dos métodos da educação).
principal seja a palavra, a exposição oral. Supõe-se que Seu método de ensino é o ativo, que inicialmente se ca-
ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos “gra- racteriza pelo método “aprender fazendo” e, após a jun-
vam” o assunto para depois reproduzi-lo quando forem ção dos cinco passos propostos por Dewey (experiência,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

interrogados pelo professor ou através das provas. Para problema, pesquisa, ajuda discreta do professor, estudo do
isso, é importante que o aluno “preste atenção” para que meio natural e social), desenvolve o “aprender a aprender”,
possa registrar mais facilmente, na memória, o que é que, privilegiando os estudos independentes e também os
transmitido. estudos em grupo, seleciona uma situação vivida pelo edu-
Desse modo, o aluno é um recebedor do conteúdo, cando que seja desafiante e que careça de uma solução
cabendo-lhe a obrigação de memorizá-lo. Os objetivos para um problema prático. Para Saviani, por estes motivos
das aulas, explícitos ou não no planejamento dos pro- e outros de ordem política, a Escola Nova, seguidora des-
fessores, referem-se à formação de um aluno ideal, des- sas vertentes, acaba por aprimorar o ensino das elites e
vinculado da sua realidade concreta. O professor tende rebaixar o das classes populares. Mas, mesmo recebendo
a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem esse tipo de crítica, podemos considerá-la como o mais
que nada tem a ver com a vida presente e futura. forte movimento “renovador” da educação brasileira.

107
Para a tendência renovada, o papel da educação é trial. Muitas propostas surgem como enfoque sistêmico,
o de atender as diferenças individuais, as necessidades o microensino, o tele-ensino, a instrução programada,
e interesses dos educandos, enfatizando os processos entre outras. Subordina a educação à sociedade, tendo
mentais e 6 habilidades cognitivas necessárias à adapta- como função principal a produção de indivíduos compe-
ção do homem ao meio social. O educando é, portanto, tentes, ou seja, a preparação da mão-de-obra especiali-
o centro e sujeito do conhecimento. zada para o mercado de trabalho a ser consolidado. Nes-
Nessa perspectiva, Libâneo (1994) afirma que o aluno te contexto, a pedagogia tecnicista termina contribuindo
aprende melhor tudo o que faz por si próprio. Não se tra- ainda mais para o caos no campo educativo, gerando,
ta apenas de aprender fazendo, no sentido de trabalho assim, a inviabilidade do trabalho pedagógico.
manual, de ações de manipulação de objetos. Trata-se Seu método é o da transmissão e recepção de infor-
de colocar o aluno frente a situações que mobilizem suas mações. Nele, o educando é submetido a um processo
habilidades intelectuais de criação, de expressão verbal, de controle do comportamento, a fim de que os objeti-
escrita, plástica, entre outras formas de exercício cogniti- vos operacionais previamente estabelecidos possam ser
vo. O centro da atividade escolar, portanto, não é o pro- atingidos. Trata-se do “aprender fazendo”.
fessor nem a matéria, mas o aluno em seu caráter ativo e Trata-se de uma tendência pedagógica que ganhou
investigador. O professor incentiva, orienta, organiza as certa autonomia quando se constituiu especificamen-
situações de aprendizagem, adequando-as às capacida- te como tendência independente, inspirada na teoria
des de características individuais dos alunos. behaviorista da aprendizagem. De acordo com Libâneo
Assim, essa didática ativa valoriza métodos e técnicas (1994), essa orientação acabou sendo imposta às escolas
como o trabalho em grupo, as atividades cooperativas, pelos organismos oficiais ao longo de boa parte das dé-
o estudo individual, as pesquisas, os projetos, as expe- cadas que constituíram o regime militar de governo, por
rimentações, dentre outros, bem como os métodos de ser compatível com a orientação econômica, política e
reflexão e método científico de descobrir conhecimen- ideológica desse regime político, então vigente.
tos. Tanto na organização das experiências de aprendiza- Atualmente, ainda percebemos a predominância des-
gem como na seleção de métodos, importa o processo sas características tecnicistas em alguns cursos de forma-
de aprendizagem e não diretamente o ensino. O melhor ção de professores, principalmente das áreas de Ciências
método é aquele que atende às exigências psicológicas e Matemática, com relação ao uso de manuais didáticos
do aprender. com essas características (tecnicistas), especificamente
Em síntese, a tendência dessa escola é deixar os co- instrumentais. Essa tendência didática tem como objeti-
nhecimentos sistematizados em segundo plano, valori- vo a racionalização do ensino, o uso de meios e técnicas
zando mais o processo de aprendizagem e os fatores que mais eficazes, cujo sistema de instrução é composto de:
possibilitam o desenvolvimento das capacidades e habi- - Especificação de objetivos instrucionais a serem
lidades intelectuais de quem aprende. Desse modo, os operacionalizados;
adeptos dessa tendência didática acreditam que o pro- - Avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré-re-
fessor não ensina, mas orienta o aluno durante o proces- quisitos visando alcançar os objetivos;
so de aprendizagem, sugerindo assim uma didática não - Ensino ou organização das experiências de apren-
diretiva no ensinoaprendizagem. Isso porque o conhe- dizagem;
cimento ocorre a partir de um processo ativo de busca - Avaliação dos alunos relativa ao que se propôs nos
do aprendiz e orientado pelo professor, constituindo-se, objetivos iniciais.
então, o eixo norteador da ação educativa, centrada nas
atividades de investigação. O arranjo mais simplificado dessa sequência resultou
A Tendência Liberal Tecnicista tem seu início com o na seguinte sequência: objetivos, conteúdos, estratégias,
declínio, no final dos anos 60, da Escola Renovada, quan- avaliação. O professor é um administrador e executor
do, mais uma vez, sob a instalação do regime militar no do planejamento, o meio de previsão das ações a serem
país, as elites dão ênfase a um outro tipo de educação executadas e dos meios necessários para se atingir os
direcionada às massas, a fim de conservar a posição de objetivos. De acordo com essa tendência, os livros didá-
dominação, ou seja, manter o status quo dominante. ticos usados nas escolas eram, e ainda são, elaborados,
Atendendo os interesses da sociedade capitalista, em sua maioria, com base na tecnologia da instrução,
inspirada especialmente na teoria behaviorista, corrente ou seja, sob a forma de atividades dirigidas nas quais os
comportamentalista organizada por Skinner e na abor- alunos seguem etapas sequenciadas que os levem ao al-
dagem sistêmica de ensino, traz como verdade absoluta cance dos objetivos previamente estabelecidos, sem que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a neutralidade científica e a transposição dos aconteci- possam exercitar a sua criatividade cognitiva.
mentos naturais à sociedade.
Negando os determinantes sociais, o tecnicismo tinha Se, nas Tendências Liberais, a escola possuía uma fun-
como princípios a racionalidade, a eficiência, a produtivi- ção equalizadora, nas Tendências Progressistas, derivada
dade e a neutralidade científica, produzindo, no âmbito das teorias críticas, ela passa a ser analisada como re-
educacional, uma enorme distância entre o planejamen- produtora das desigualdades de classe e reforçadora do
to - preparado por especialistas e não por educadores, modo de produção capitalista.
seus meros executores - e a prática educativa. Tendo surgido na França a partir de 1968 e no Brasil
Nesse período, a educação passa a ter seu trabalho com a Revolução Cultural, nas Tendências Progressistas,
parcelado, fragmentado, a fim de produzir determinados a escola passa a ser vista não mais como redentora, mas
produtos desejáveis pela sociedade capitalista e indus- como reprodutora da classe dominante. Snyders (1994)

108
foi o primeiro a usar o termo “Pedagogia Progressista”, ação conjunta dele e dos alunos. Não há, portanto, uma
partindo de uma análise crítica da realidade social, sus- proposta explícita de Didática e muitos dos seus segui-
tentando, implicitamente, as finalidades sociais e políti- dores, entendendo que toda didática resumir-se-ia ao
cas da educação. seu caráter tecnicista, instrumental, meramente prescri-
Nessa perspectiva, Libâneo (1994), designa à Pedago- tivo, até recusam admitir o papel dessa disciplina na for-
gia Progressista três tendências: mação dos professores.
A Pedagogia Progressista Libertadora que, partindo Há, nessa perspectiva pedagógica, uma didática im-
de uma análise crítica das realidades sociais, sustenta os plícita na orientação das atividades escolares de modo
fins sociopolíticos da educação. Teve seu início com Pau- que o professor se coloque diante de sua classe como
lo Freire, nos anos 60, rebelando-se contra toda forma de um orientador da aprendizagem dos seus alunos. Entre-
autoritarismo e dominação, defendendo a conscientiza- tanto, essas atividades estão centradas na discussão de
ção como processo a ser conquistado pelo homem, atra- temas sociais e políticos, ou seja, o foco do ensino é a
vés da problematização de sua própria realidade. Sendo realidade social, em que o professor e os alunos estão
revolucionária, ela preconizava a transformação da so- envolvidos. Assim, eles analisam os problemas da rea-
ciedade e acreditava que a educação, por si só, não faria lidade do contexto socioeconômico e cultural da sua
tal revolução, embora fosse uma ferramenta importante comunidade com seus recursos e necessidades, visando
e fundamental nesse processo. ao desenvolvimento de ações coletivas para a busca de
A teoria educacional freireana é utópica, em seu sen- descrição, análise e soluções para os problemas extraídos
tido de vir-a-ser, de inédito viável, expressões usadas por da realidade.
Freire, e esperançosa, porque deposita na transformação As atividades escolares não se constituem meramen-
do homem a ideia de que mudar é possível e de que te da exploração dos conteúdos de ensino, já sistemati-
não estamos necessariamente imobilizados por estarmos zados nos livros didáticos ou previstos pelos programas
submetidos a papéis pré-determinados em uma socie- oficiais, mas sim em um processo de participação ativa
dade de classes. Segundo ele, apesar de os seguidores nas discussões e nas ações práticas sobre as questões da
dessa tendência não terem tido a preocupação com uma realidade social de todos os envolvidos. Nesse processo,
proposta pedagógica explícita, havia uma didática implí- a discussão, os relatos da experiência vivida, a socializa-
cita em seus “círculos de cultura”, sendo cerne da ativida- ção das informações, a pesquisa participante, o trabalho
de pedagógica a discussão de temas sociais e políticos, de grupo, entre outros atos educativo-reflexivos, fazem
que a nós parece ser claro o método dialógico, usado emergir temas geradores que podem ser sistematizados
para o despertar da consciência política. de modo a consolidar o conhecimento pelo aluno, com
A Pedagogia Progressista Libertária tem como ideia as orientações do professor.
básica modificações institucionais, que, a partir dos níveis A tendência libertadora tem sido a perspectiva didá-
subalternos, vão “contaminando” todo o sistema, sem tica mais praticada com muito êxito em vários setores
modelos e recusando-se a considerar qualquer forma de dos movimentos sociais, como sindicatos, associações de
poder ou autoridade. bairro, comunidades religiosas, entre outros. Parte desse
Percebemos esta tendência como decorrência de êxito deve-se ao fato de tal tendência ser utilizada entre
uma abertura para uma sociedade democrática, que vai adultos que vivenciam uma prática política e em situa-
se firmando lentamente a partir do início dos anos 80, ções nas quais o debate sobre a problemática econômi-
com a volta dos exilados políticos e a liberdade de ex- ca, social e política pode ser aprofundado com a orien-
pressão nos meios acadêmicos, políticos e culturais do tação de intelectuais comprometidos com os interesses
país. Firmando-se os interesses por escolas realmente populares.
democráticas e inclusivas e a ideia do projeto políticope- A Pedagogia Progressista Críticossocial dos Conteú-
dagógico da escola como forma de identificação política dos, tendo sido fortalecida a princípio na Europa e de-
que atenda aos interesses locais e regionais, primando pois no Brasil, a partir da década de 80, foi considerada
por uma educação de qualidade para todos. A partici- como sinônimo de pedagogia dialética, no sentido da
pação em grupos e movimentos sociais na sociedade, “dialógica”. Firmando-se como teoria que busca captar o
além dos muros escolares, é incentivada e ampliada, tra- movimento objetivo do processo histórico, uma vez que
zendo para dentro dela a necessidade de concretizar a concebe o homem através do materialismo histórico-
democracia, através de eleições para conselhos, direção -marxista, trata-se de uma síntese superadora do que há
da escola, grêmios estudantis e outras formas de gestão de significado na Pedagogia Tradicional e na Escola Nova,
participativa. direcionando o ensino para a superação dos problemas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

No Brasil, os libertários recebem a influência do pen- cotidianos da prática social e, ao mesmo tempo, buscan-
samento de Celestin Freinet e suas técnicas nas quais os do a emancipação intelectual do educando, 10 conside-
próprios alunos organizavam os seus planos de trabalho. rado um ser concreto, inserido num contexto de relações
O método de ensino é a própria autogestão, tornando o sociais. Da articulação entre a escola e a assimilação dos
interesse pedagógico dependente de suas necessidades conteúdos por parte deste aluno concreto é que resulta
ou do próprio grupo. o saber criticamente elaborado (Libâneo, 1990).
Para Libâneo (1994), na didática centrada na Peda- Essa tendência prioriza o domínio dos conteúdos
gogia Libertadora, o professor busca desenvolver o pro- científicos, os métodos de estudo, habilidades e hábitos
cesso educativo como tarefa que se dá no interior dos de raciocínio científico, como modo de formar a cons-
grupos sociais e, por isso, ele é o coordenador ou o ciência crítica face à realidade social, instrumentalizando
animador das atividades que se organizam sempre pela o educando como sujeito da história, apto a transformar

109
a sociedade e a si próprio. Seu método de ensino parte Segundo Becker (2001), o professor que segue essa
da prática social, constituindo tanto o ponto de partida epistemologia apriorista renuncia àquilo que seria a ca-
como o ponto de chegada, porém, melhor elaborado racterística fundamental da ação docente: a intervenção
teoricamente. no processo de aprendizagem do aluno.

c) Fernando Becker: Pedagogia Diretiva, Pedago- A P


gia Não-Diretiva e Pedagogia Relacional
Fernando Becker (2001) desenvolveu a ideia de mo- Pedagogia Relacional
delos pedagógicos e modelos epistemológicos para ex-
plicar os pressupostos pelos quais cada professor atua. O professor admite que tudo que o aluno construiu
Apresenta, então, três modelos: Pedagogia Diretiva, Pe- até hoje em sua vida serve de patamar para construir
dagogia Não-Diretiva e Pedagogia Relacional. novos conhecimentos. Para esse professor, o aluno tem
uma história de conhecimento percorrida e é capaz de
Pedagogia Diretiva aprender sempre. A disciplina rígida e a postura autori-
tária do professor são superadas através da construção
Na Pedagogia Diretiva o professor acredita que o de uma disciplina intelectual e regras de convivência que
conhecimento é transmitido para o aluno. Este por sua permitam criar um ambiente favorável à aprendizagem.
vez, não tem nenhum saber, não o tinha no nascimento O professor acredita que o aluno aprenderá novos
e não o tem a cada novo conteúdo. O professor, com conhecimentos se ele agir e problematizar sua ação. Para
essa prática, fundamenta-se numa epistemologia pela que isso aconteça, torna-se necessário que o aluno aja
qual o sujeito é o elemento conhecedor, totalmente de- (assimilação) sobre o material que o professor traz para
terminado pelo mundo do objeto ou pelos meios físicos a sala de aula e considera significativo para sua apren-
e sociais. Essa epistemologia é representada da seguin- dizagem que o aluno responda para si mesmo às per-
te forma: turbações (acomodação) provocadas pela assimilação do
material.
S O
S O
O professor representa esse mundo na sala de aula,
entendendo que somente ele, o professor, é o detentor O sujeito constrói seu conhecimento nas dimensões
do saber e pode produzir algum conhecimento novo ao do conteúdo e da forma ou estrutura como condição
aluno. Cabe ao aluno ouvir, prestar atenção, permane- prévia de assimilação. Nessa tendência, o professor além
cer quieto e em silêncio e repetir, quantas vezes forem de ensinar, passa a aprender e o aluno, além de aprender,
necessárias, escrevendo, lendo, até aderir ao que o pro- passa a ensinar.
fessor deu como conteúdo.
Traduzindo o modelo epistemológico em modelo A P
pedagógico temos:
d) Maria da Graça Nicoletti Mizukami: tendên-
A P
cias pedagógicas e processo de ensino e aprendizagem
Mizukami (1986) classifica o processo de ensino nas se-
Assim, o professor ensina e o aluno aprende. Nesse
guintes abordagens:
modelo, nada de novo acontece na sala de aula, e se
Abordagem tradicional A abordagem tradicional
caracteriza por ser reprodução de ideologia e repetição.
trata-se de uma concepção e uma prática educacional
que persiste no tempo, em suas diferentes formas, e que
Pedagogia Não-Diretiva
passaram a fornecer um quadro diferencial para todas as
demais abordagens que a ela se seguiram. Na concepção
O professor torna-se um facilitador da aprendiza-
gem, um auxiliar do aluno. O educando já traz um saber tradicional, o ensino é centrado no professor. O aluno
e é preciso apenas organizá-lo ou recheá-lo de conteú- apenas executa prescrições que lhe são fixadas por auto-
do. O professor deve interagir o mínimo possível, pois ridades exteriores.
acredita que o aluno aprende por si mesmo. A episte- A construção do conhecimento parte do pressuposto
mologia que fundamenta essa postura pedagógica é de que a inteligência seja uma faculdade capaz de acu-
mular/armazenar informações. Aos alunos são apresen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

apriorista: 11
tados somente os resultados desse processo, para que
S O sejam armazenados. Evidencia-se o caráter cumulativo
do conhecimento humano, adquirido pelo indivíduo por
Apriorismo vem de a priori, o que significa que aqui- meio de transmissão, de onde se supõe o papel impor-
lo que é posto antes vem como condição do que vem tante da educação formal e da instituição escola. Atribui-
depois. Essa epistemologia sustenta a ideia de que o ser -se ao sujeito um papel insignificante na elaboração e
humano nasce com o conhecimento já programado na aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que está “ad-
sua herança genética, bastando o mínimo de interferên- quirindo” conhecimento compete memorizar definições,
cia do meio físico ou social para o seu desenvolvimento. anunciando leis, sínteses e resumos que lhes são ofereci-
dos no processo de educação formal.

110
A educação é entendida como instrução, caracteriza- sua capacidade de atuar como uma pessoa integrada. O
da como transmissão de conhecimentos e restrita à ação professor em si não transmite o conteúdo, dá assistência
da escola. Às vezes, coloca-se que, para que o aluno pos- sendo facilitador da aprendizagem. O conteúdo advém
sa chegar, e em condições favoráveis, há uma confron- das próprias experiências do aluno o professor não ensi-
tação com o modelo, é indispensável uma intervenção na: apenas cria condições para que os alunos aprendam.
do professor, uma orientação do mestre. Trata-se, pois, Trata-se da educação centrada na pessoa, já que nes-
da transmissão de ideias selecionadas e organizadas lo- sa abordagem o ensino será centrado no aluno. A educa-
gicamente. ção tem como finalidade primeira a criação de condições
No processo de ensino-aprendizagem a ênfase é que facilitam a aprendizagem de forma que seja possí-
dada às situações de sala de aula, onde os alunos são vel seu desenvolvimento tanto intelectual como emo-
“instruídos” e “ensinados” pelo professor. Os conteúdos cional seria a criação de condições nas quais os alunos
e as informações têm de ser adquiridos, os modelos imi- pudessem tornar-se pessoas de iniciativas, de responsa-
tados. Seus elementos fundamentais são imagens estáti- bilidade, autodeterminação que soubessem aplicar-se a
cas que progressivamente serão “impressas” nos alunos, aprendizagem no que lhe servirão de solução para seus
cópias de modelos do exterior que serão gravadas nas problemas servindo-se da própria existência. Nesse pro-
mentes individuais. Uma das decorrências do ensino tra- cesso os motivos de aprender deverão ser do próprio
dicional, já que a aprendizagem consiste em aquisição aluno. Autodescoberta e autodeterminação são caracte-
de informações e demonstrações transmitidas, é a que rísticas desse processo.
propicia a formação de reações estereotipadas, de au- Cada professor desenvolverá seu próprio repertório
tomatismos denominados hábitos, geralmente isolados de uma forma única, decorrente da base percentual de
uns dos outros e aplicáveis, quase sempre, somente às seu comportamento. O processo de ensino irá depender
situações idênticas em que foram adquiridos. O aluno do caráter individual do professor, como ele se relaciona
que adquiriu o hábito ou que “aprendeu” apresenta, com com o caráter pessoal do aluno. Assume a função de fa-
frequência, compreensão apenas parcial. Ignoram-se as cilitador da aprendizagem e nesse clima entrará em con-
diferenças individuais. tato com problemas vitais que tenham repercussão na
A relação professor-aluno é vertical, sendo que (o existência do estudante.
professor) detém o poder decisório quanto a metodolo- Isso implica que o professor deva aceitar o aluno tal
gia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula etc. como é e compreender os sentimentos que ele possui. O
O professor detém os meios coletivos de expressão. A aluno deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes
maior parte dos exercícios de controle e dos de exames a aprendizagem que tem significado para eles. As quali-
se orienta para a reiteração dos dados e informações an- dades do professor podem ser sintetizadas em autenti-
teriormente fornecidos pelos manuais. cidade compreensão empática, aceitação e confiança no
A metodologia se baseia na aula expositiva e nas de- aluno.
monstrações do professor a classe, tomada quase como Não se enfatiza técnica ou método para facilitar a
auditório. O professor já traz o conteúdo pronto e o alu- aprendizagem. Cada educador eficiente deve elaborar a
sua forma de facilitar a aprendizagem no que se refere ao
no se limita exclusivamente a escutá-lo.
que ocorre em sala de aula é a ênfase atribuída a relação
pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento
Abordagem comportamentalista
das pessoas que possibilite liberdade para aprender.
O conhecimento é uma “descoberta” e é nova para
Abordagem Cognitivista
o indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já
se encontrava presente na realidade exterior. Os com- A organização do conhecimento, processamento de
portamentalistas consideram a experiência ou a experi- informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
mentação planejada como a base do conhecimento, o comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.
conhecimento é o resultado direto da experiência. O conhecimento é considerado como uma cons-
Aos alunos caberia o controle do processo de apren- trução contínua. A passagem de um estado de desen-
dizagem, um controle científico da educação, o profes- volvimento para o seguinte é sempre caracterizada por
sor teria a responsabilidade de planejar e desenvolver formação de novas estruturas que não existiam anterior-
o sistema de ensinoaprendizagem, de forma tal que o mente no indivíduo.
desempenho do aluno seja maximizado, considerando- O processo educacional, consoante a teoria de de-
-se igualmente fatores tais como economia de tempo, senvolvimento e conhecimento, tem um papel importan-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

esforços e custos. te, ao provocar situações que sejam desequilibradoras


Nessa abordagem, se incluem tanto a aplicação da para o aluno, desequilíbrios esses adequados ao nível
tecnologia educacional e estratégias de ensino, quanto de desenvolvimento em que a criança vive intensamente
estratégias de reforço no relacionamento professor-aluno. (intelectual e afetivamente) cada etapa de seu desenvol-
vimento.
Abordagem Humanista Segundo Piaget, a escola deveria começar ensinando
a criança a observar. A verdadeira causa dos fracassos
Nesta abordagem é dada a ênfase no papel do sujei- da educação formal, diz, decorre essencialmente do fato
to como principal elaborador do conhecimento humano. de se principiar pela linguagem (acompanhada de dese-
Da ênfase ao crescimento que dela se resulta, centrado nhos, de ações fictícias, narradas etc.) ao invés do fazer
no desenvolvimento da personalidade do indivíduo na pela ação real e material.

111
Nesta abordagem, o ensino procura desenvolver a in-
teligência priorizando as atividades do sujeito, conside- CONSTITUIÇÃO FEDERAL REFERENTE A
rando-o inserido numa situação social. Caberá ao profes- EDUCAÇÃO.
sor criar situações, propiciando condições onde possam
se estabelecer reciprocidade intelectual e cooperação ao
mesmo tempo moral e racional. CAPÍTULO III
Uma das implicações fundamentais para o ensino é DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
a de que a inteligência se constrói a partir da troca do
organismo como o meio, por meio das ações do indi- Seção I
víduo. A ação do indivíduo, pois, é centro do processo DA EDUCAÇÃO
e o fator social ou educativo constitui uma condição de
desenvolvimento. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado
e da família, será promovida e incentivada com a cola-
Abordagem Sociocultural boração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimen-
to da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania
Podemos situar Paulo Freire com sua obra, enfati- e sua qualificação para o trabalho.
zando aspectos sócio-político-cultural, havendo uma
grande preocupação com a cultura popular, sendo que Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguin-
tal preocupação vem desde a II Guerra Mundial com um tes princípios:
aumento crescente até nossos dias. Toda ação educativa, I - igualdade de condições para o acesso e permanência
para que seja válida, deve, necessariamente, ser precedi- na escola;
da tanto de uma reflexão sobre o homem como de uma II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
análise do meio de vida desse homem concreto, a quem o pensamento, a arte e o saber;
se quer ajudar para que se eduque. III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
Logo, a escola deve ser um local onde seja possível o e coexistência de instituições públicas e privadas de
crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no pro- ensino;
cesso de conscientização o que indica uma escola dife- IV - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
rente de que se tem atualmente, coma seus currículos tos oficiais;
e prioridades. A situação de ensino-aprendizagem deve- V - valorização dos profissionais da educação escolar,
rá procurar a superação da relação opressor-oprimido. garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com
A estrutura de pensar do oprimido está condicionada ingresso exclusivamente por concurso público de pro-
pela contradição vivida na situação concreta, existencial vas e títulos, aos das redes públicas;
em que o oprimido se forma. Nesta situação, a relação VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
professor-aluno é horizontal, sendo que o professor se VII - garantia de padrão de qualidade.
empenhará numa prática transformadora que procurará VIII - piso salarial profissional nacional para os pro-
desmitificar e questionar, junto com o aluno. fissionais da educação escolar pública, nos termos de
lei federal.
Referências Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de
BECKER, Fernando. Educação e construção do conhe- trabalhadores considerados profissionais da educação
cimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: adequação de seus planos de carreira, no âmbito da
Vozes, 1982. União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez,
1994. Art. 207. As universidades gozam de autonomia didá-
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abor- tico-científica, administrativa e de gestão financeira e
dagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissocia-
bilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
§ 1º É facultado às universidades admitir professores,
técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. (In-
DIDÁTICA GERAL. cluído pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições
de pesquisa científica e tecnológica. (Incluído pela
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Prezado candidato, o tópico acima foi abordado Emenda Constitucional nº 11, de 1996)
ao decorrer do conteúdo.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efe-
tivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada in-
clusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gra-
tuito;

112
III - atendimento educacional especializado aos por- - “pluralismo de ideias e de concepções pedagógi-
tadores de deficiência, preferencialmente na rede re- cas, e coexistência de instituições públicas e pri-
gular de ensino; vadas de ensino”, de modo que não se entende
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às haver um único método de ensino, uma única ma-
crianças até 5 (cinco) anos de idade; neira de aprender, permitindo a exploração das
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- atividades educacionais também por instituições
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de privadas. A respeito das instituições privadas, o
cada um; artigo 209, CF prevê que “o ensino é livre à ini-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às ciativa privada, atendidas as seguintes condições:
condições do educando; I - cumprimento das normas gerais da educação
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da nacional; II - autorização e avaliação de qualidade
educação básica, por meio de programas suplementa- pelo Poder Público”;
res de material didático escolar, transporte, alimenta- - “gratuidade do ensino público em estabelecimen-
ção e assistência à saúde. tos oficiais”, sendo esta a principal vertente de im-
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito plementação do direito à educação pelo Estado;
público subjetivo. - “valorização dos profissionais da educação esco-
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo lar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira,
Poder Público, ou sua oferta irregular, importa respon- com ingresso exclusivamente por concurso públi-
sabilidade da autoridade competente. co de provas e títulos, aos das redes públicas”,
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educan- bem como “piso salarial profissional nacional para
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e os profissionais da educação escolar pública, nos
zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência termos de lei federal”, pois sem a valorização dos
à escola. profissionais responsáveis pelo ensino será ina-
tingível o seu aperfeiçoamento. Além disso, “a
[...] lei disporá sobre as categorias de trabalhadores
O artigo 6º da Constituição Federal menciona o considerados profissionais da educação básica
direito à educação como um de seus direitos sociais. e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou
A educação proporciona o pleno desenvolvimento da adequação de seus planos de carreira, no âmbito
pessoa, não apenas capacitando-a para o trabalho, mas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
também para a vida social como um todo. Contudo, a Municípios” (artigo 206, parágrafo único, CF);
educação tem um custo para o Estado, já que nem to- - “gestão democrática do ensino público, na forma
dos podem arcar com o custeio de ensino privado. da lei”, remetendo ao direito de participação po-
No título VIII, que aborda a ordem social, delimita-se pular na tomada de decisões políticas referentes
a questão da obrigação do Estado com relação ao direi- às atividades de ensino; e
to à educação, assim como menciona-se quais outros - “garantia de padrão de qualidade”, posto que sem
agentes responsáveis pela efetivação deste direito. qualidade de ensino é impossível atingir uma me-
Neste sentido, o artigo 205, CF, prevê: “A educação, lhoria na qualificação pessoal e profissional dos
direito de todos e dever do Estado e da família, será nacionais.
promovida e incentivada com a colaboração da socie-
dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu Enquanto que os artigos 205 e 206 da Constituição
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação possuem uma menor densidade normativa, colacionan-
para o trabalho”. do princípios diretores e ideias basilares, o artigo 208
Resta claro que a educação não é um dever exclusivo volta-se à regulamentação do modo pelo qual o Estado
do Estado, mas da sociedade como um todo e, princi- efetivará o direito à educação.
palmente, da família. Depreende-se que educação vai Interessante notar, em primeira análise, que o Estado
além do mero aprendizado de conteúdos e envolve a se exime da obrigatoriedade no fornecimento de edu-
educação para a cidadania e o comportamento ético cação superior, no art. 208, V, quando assegura, apenas,
em sociedade – a educação da qual o constituinte fala o “acesso” aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa
não é apenas a formal, mas também a informal. e criação artística. Fica denotada ausência de compro-
Por seu turno, o artigo 206 da Constituição estabele- metimento orçamentário e infraestrutural estatal com
ce os princípios que devem guiar o ensino: um número suficiente de universidades/faculdades
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- “igualdade de condições para o acesso e perma- públicas aptas a recepcionar o maciço contingente de
nência na escola”, que significa a compreensão alunos que saem da camada básica de ensino, sendo,
de que a educação é um direito de todos e não pois, clarividente exemplo de aplicação da reserva do
apenas dos mais favorecidos, cabendo ao Estado possível dentro da Constituição. Ainda, é preciso ob-
investir para que os menos favorecidos ingressem servar que se utiliza a expressão “segundo a capacida-
e permaneçam na escola; de de cada um”, de forma que o critério para admissão
- “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e di- em universidades/faculdades públicas é, somente, pelo
vulgar o pensamento, a arte e o saber”, de forma preparo intelectual do cidadão, a ser testado em avalia-
que o ensino tem um caráter ativo e passivo, indo ções com tal fito, como o vestibular e o exame nacional
além da compreensão de conteúdos dogmático do ensino médio.
se abrangendo também os processos criativos;

113
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no en-
#FicaDica sino fundamental e na educação infantil.  (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
A abrangência do dever do Estado em rela- § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão priorita-
ção à educação, nos termos do artigo 208, riamente no ensino fundamental e médio.  (Incluído
CF, envolve: pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
- educação básica obrigatória e gratuita dos § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a
4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade; União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
- universalização progressiva do ensino mé- definirão formas de colaboração, de modo a assegu-
dio gratuito; rar a universalização do ensino obrigatório.(Redação
- atendimento educacional especializado aos dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
portadores de deficiência; § 5º A educação básica pública atenderá priorita-
- educação infantil às crianças até 5 (cinco) riamente ao ensino regular.  (Incluído pela Emenda
anos de idade; Constitucional nº 53, de 2006)
- acesso aos níveis mais elevados do ensino, Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca me-
da pesquisa e da criação artística (entra aqui nos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da
o ensino superior);
receita resultante de impostos, compreendida a pro-
- oferta de ensino noturno;
veniente de transferências, na manutenção e desen-
- atendimento por programas suplementares volvimento do ensino.
de material didático escolar, transporte, ali- § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferi-
mentação e assistência à saúde; da pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos
- zelo, junto aos pais, da frequência dos alu- Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municí-
nos do ensino fundamental. pios, não é considerada, para efeito do cálculo pre-
*** Apenas a educação básica – ensino fun- visto neste artigo, receita do governo que a transferir.
damental – é obrigatória e gratuita de forma § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no
universal – CONSIDERA-SE DIREITO PÚBLICO «caput» deste artigo, serão considerados os sistemas
SUBJETIVO, sendo que seu não oferecimento de ensino federal, estadual e municipal e os recursos
gera responsabilidade do administrador. aplicados na forma do art. 213.
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará
prioridade ao atendimento das necessidades do en-
sino obrigatório, no que se refere a universalização,
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendi- garantia de padrão de qualidade e equidade, nos ter-
das as seguintes condições: mos do plano nacional de educação. (Redação dada
I - cumprimento das normas gerais da educação na- pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
cional; § 4º Os programas suplementares de alimentação e
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão
Público. financiados com recursos provenientes de contribui-
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o en- ções sociais e outros recursos orçamentários.
sino fundamental, de maneira a assegurar formação § 5º A educação básica pública terá como fonte adi-
básica comum e respeito aos valores culturais e artís- cional de financiamento a contribuição social do sa-
ticos, nacionais e regionais. lário-educação, recolhida pelas empresas na forma
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
constituirá disciplina dos horários normais das esco- 53, de 2006)
las públicas de ensino fundamental. § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecada-
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado ção da contribuição social do salário-educação serão
em língua portuguesa, assegurada às comunidades distribuídas proporcionalmente ao número de alunos
indígenas também a utilização de suas línguas ma- matriculados na educação básica nas respectivas re-
ternas e processos próprios de aprendizagem. des públicas de ensino. (Incluído pela Emenda Cons-
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os titucional nº 53, de 2006)
Municípios organizarão em regime de colaboração Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às
seus sistemas de ensino. escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas co-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e munitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas


o dos Territórios, financiará as instituições de ensino em lei, que:
públicas federais e exercerá, em matéria educacional, I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem
função redistributiva e supletiva, de forma a garantir seus excedentes financeiros em educação;
equalização de oportunidades educacionais e padrão II - assegurem a destinação de seu patrimônio a ou-
mínimo de qualidade do ensino mediante assistência tra escola comunitária, filantrópica ou confessional,
técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e ou ao Poder Público, no caso de encerramento de
aos Municípios; (Redação dada pela Emenda Consti- suas atividades.
tucional nº 14, de 1996) § 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão
ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fun-
damental e médio, na forma da lei, para os que de-

114
monstrarem insuficiência de recursos, quando hou- No título III, Do Direito à Educação e do Dever de
ver falta de vagas e cursos regulares da rede pública Educar, art. 4o, IV, se afirma que: “O dever do Estado com
na localidade da residência do educando, ficando o educação escolar pública será efetivado mediante a ga-
Poder Público obrigado a investir prioritariamente na rantia de (..) atendimento gratuito em creches e pré-es-
expansão de sua rede na localidade. colas às crianças de zero a seis anos de idade”. Tanto as
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estí- creches para as crianças de zero a três anos como as pré-
mulo e fomento à inovação realizadas por universi- -escolas, para as de quatro a seis anos, são consideradas
dades e/ou por instituições de educação profissional como instituições de educação infantil. A distinção entre
e tecnológica poderão receber apoio financeiro do ambas é feita apenas pelo critério de faixa etária.
Poder Público.   (Redação dada pela Emenda Consti- A educação infantil é considerada a primeira etapa
tucional nº 85, de 2015) da educação básica (título V, capítulo II, seção II, art. 29),
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu- tendo como finalidade o desenvolvimento integral da
cação, de duração decenal, com o objetivo de arti- criança até seis anos de idade. O texto legal marca ainda
cular o sistema nacional de educação em regime a complementaridade entre as instituições de educação
de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas infantil e a família.
e estratégias de implementação para assegurar a Outras questões importantes para este nível de edu-
manutenção e desenvolvimento do ensino em seus cação são tratadas na LDB, como as que se referem à for-
diversos níveis, etapas e modalidades por meio de mação dos profissionais, as relativas à educação especial
ações integradas dos poderes públicos das diferentes e à avaliação.
esferas federativas que conduzam a: (Redação dada Considerando a grande distância entre o que diz o
pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) texto legal e a realidade da educação infantil, a LDB dis-
I - erradicação do analfabetismo; põe no título IX, Das Disposições Transitórias, art. 89, que:
II - universalização do atendimento escolar; “As creches e pré-escolas existentes ou que venham a
III - melhoria da qualidade do ensino; ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da
IV - formação para o trabalho; publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema
V - promoção humanística, científica e tecnológica de ensino”.
do País. No título IV, que trata da organização da Educação
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recur- Nacional, art. 11, V, considera-se que: “Os Municípios
sos públicos em educação como proporção do produ- incumbir-se-ão de: (..) oferecer a educação infantil em
to interno bruto. (Incluído pela Emenda Constitucio- creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino funda-
nal nº 59, de 2009) mental, permitida a atuação em outros níveis de ensino
quando estiverem atendidas plenamente as necessida-
des de sua área de competência e com recursos acima
dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição
REFERÊNCIAS CURRICULARES NACIONAIS Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino”.
PARA EDUCAÇÃO INFANTIL. Porém, reafirma, no art. 9º, IV, que: “A União incum-
bir-se-á de (..) estabelecer, em colaboração com os Esta-
dos, o Distrito Federal e os Municípios, competências e
A expansão da educação infantil no Brasil e no mun- diretrizes para a educação infantil (..) que nortearão os
do tem ocorrido de forma crescente nas últimas décadas, currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegu-
acompanhando a intensificação da urbanização, a par- rar formação básica comum”.
ticipação da mulher no mercado de trabalho e as mu- De acordo com a LDB e considerando seu papel e sua
danças na organização e estrutura das famílias. Por outro responsabilidade na indução, proposição e avaliação das
lado, a sociedade está mais consciente da importância políticas públicas relativas à educação nacional, o Minis-
tério da Educação e do Desporto propõe, por meio deste
das experiências na primeira infância, o que motiva de-
documento, um Referencial Curricular Nacional para a
mandas por uma educação institucional para crianças de
Educação Infantil.
zero a seis anos.
A conjunção desses fatores ensejou um movimento
Características do Referencial Curricular Nacional
da sociedade civil e de órgãos governamentais para que
para a Educação Infantil
o atendimento às crianças de zero a seis anos fosse re-
conhecido na Constituição Federal de 1988. A partir de
Este documento constitui-se em um conjunto de re-
então, a educação infantil em creches e pré-escolas pas-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ferências e orientações pedagógicas que visam a contri-


sou a ser, ao menos do ponto de vista legal, um dever do buir com a implantação ou implementação de práticas
Estado e um direito da criança (artigo 208, inciso IV). O educativas de qualidade que possam promover e ampliar
Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, destaca as condições necessárias para o exercício da cidadania
também o direito da criança a este atendimento. das crianças brasileiras.
Reafirmando essas mudanças, a Lei de Diretrizes e Sua função é contribuir com as políticas e programas
Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, promulgada de educação infantil, socializando informações, discus-
em dezembro de 1996, estabelece de forma incisiva o sões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de
vínculo entre o atendimento às crianças de zero a seis técnicos, professores e demais profissionais da educação
anos e a educação. Aparecem, ao longo do texto, diver- infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais e
sas referências específicas à educação infantil. municipais.

115
Considerando-se as especificidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças de zero a seis anos, a
qualidade das experiências oferecidas que podem contribuir para o exercício da cidadania devem estar embasadas nos
seguintes princípios:
- o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômi-
cas, culturais, étnicas, religiosas etc.;
- o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil;
- o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas
à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética;
- a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem
discriminação de espécie alguma;
- o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade.

A estes princípios cabe acrescentar que as crianças têm direito, antes de tudo, de viver experiências prazerosas nas
instituições. O conjunto de propostas aqui expressas responde às necessidades de referências nacionais, como ficou
explicitado em um estudo recente elaborado pelo Ministério da Educação e do Desporto, que resultou na publicação
do documento “Proposta pedagógica e currículo em educação infantil: um diagnóstico e a construção de uma me-
todologia de análise. Nesse documento, constatou-se que são inúmeras e diversas as propostas de currículo para a
educação infantil que têm sido elaboradas, nas últimas décadas, em várias partes do Brasil. Essas propostas, tão diver-
sas e heterogêneas quanto é a sociedade brasileira, refletem o nível de articulação de três instâncias determinantes na
construção de um projeto educativo para a educação infantil. São elas: a das práticas sociais, a das políticas públicas e
a da sistematização dos conhecimentos pertinentes a essa etapa educacional. Porém, se essa vasta produção revela a
riqueza de soluções encontradas nas diferentes regiões brasileiras, ela revela, também, as desigualdades de condições
institucionais para a garantia da qualidade nessa etapa educacional.
Considerando e respeitando a pluralidade e diversidade da sociedade brasileira e das diversas propostas curricu-
lares de educação infantil existentes, este Referencial é uma proposta aberta, flexível e não obrigatória, que poderá
subsidiar os sistemas educacionais, que assim o desejarem, na elaboração ou implementação de programas e currículos
condizentes com suas realidades e singularidades. Seu caráter não obrigatório visa a favorecer o diálogo com propos-
tas e currículos que se constroem no cotidiano das instituições, sejam creches, pré-escolas ou nos diversos grupos de
formação existentes nos diferentes sistemas.
Nessa perspectiva, o uso deste referencial só tem sentido se traduzir a vontade dos sujeitos envolvidos com a edu-
cação das crianças, sejam pais, professores, técnicos e funcionários de incorporá-lo no projeto educativo da instituição
ao qual estão ligados.
Se por um lado, o Referencial pode funcionar como elemento orientador de ações na busca da melhoria de qua-
lidade da educação infantil brasileira, por outro, não tem a pretensão de resolver os complexos problemas dessa
etapa educacional. A busca da qualidade do atendimento envolve questões amplas ligadas às políticas públicas, às
decisões de ordem orçamentária, à implantação de políticas de recursos humanos, ao estabelecimento de padrões de
atendimento que garantam espaço físico adequado, materiais em quantidade e qualidade suficientes e à adoção de
propostas educacionais compatíveis com a faixa etária nas diferentes modalidades de atendimento, para as quais este
Referencial pretende dar sua contribuição.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

116
Algumas considerações sobre creches e pré-esco- resultou em propostas nas quais, principalmente nas cre-
las ches, os profissionais deveriam atuar como substitutos
maternos.
O atendimento institucional à criança pequena, no Outra tendência foi usar o espaço de educação infan-
Brasil e no mundo, apresenta ao longo de sua história til para o desenvolvimento de uma pedagogia relacional,
concepções bastante divergentes sobre sua finalidade baseada exclusivamente no estabelecimento de relações
social. Grande parte dessas instituições nasceram com o pessoais intensas entre adultos e crianças. Desenvolvi-
objetivo de atender exclusivamente às crianças de baixa mento cognitivo é outro assunto polêmico presente em
renda. O uso de creches e de programas pré-escolares algumas práticas.
como estratégia para combater a pobreza e resolver pro- O termo “cognitivo” aparece ora especificamente li-
blemas ligados à sobrevivência das crianças foi, durante gado ao desenvolvimento das estruturas do pensamen-
muitos anos, justificativa para a existência de atendimen- to, ou seja, da capacidade de generalizar, recordar, for-
tos de baixo custo, com aplicações orçamentárias insufi- mar conceitos e raciocinar logicamente, ora se referindo
cientes, escassez de recursos materiais; precariedade de a aprendizagens de conteúdos específicos. A polêmica
instalações; formação insuficiente de seus profissionais e entre a concepção que entende que a educação deve
alta proporção de crianças por adultos. principalmente promover a construção das estruturas
Constituir-se em um equipamento só para pobres, cognitivas e aquela que enfatiza a construção de conhe-
principalmente no caso das instituições de educação in- cimentos como meta da educação, pouco contribui por-
fantil, financiadas ou mantidas pelo poder público, signi- que o desenvolvimento das capacidades cognitivas do
ficou em muitas situações atuar de forma compensatória pensamento humano mantém uma relação estreita com
para sanar as supostas faltas e carências das crianças e de o processo das aprendizagens específicas que as expe-
suas famílias. A tônica do trabalho institucional foi pau- riências educacionais podem proporcionar. Polêmicas
tada por uma visão que estigmatizava a população de sobre cuidar e educar, sobre o papel do afeto na relação
baixa renda. Nessa perspectiva, o atendimento era en- pedagógica e sobre educar para o desenvolvimento ou
tendido como um favor oferecido para poucos, selecio- para o conhecimento tem constituído, portanto, o pano-
nados por critérios excludentes. A concepção educacio- rama de fundo sobre o qual se constroem as propostas
nal era marcada por características assistencialistas, sem em educação infantil.
considerar as questões de cidadania ligadas aos ideais de A elaboração de propostas educacionais veicula ne-
liberdade e igualdade.
cessariamente concepções sobre criança, educar, cuidar
Modificar essa concepção de educação assistencialis-
e aprendizagem, cujos fundamentos devem ser conside-
ta significa atentar para várias questões que vão muito
rados de maneira explícita.
além dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assu-
mir as especificidades da educação infantil e rever con-
A criança
cepções sobre a infância, as relações entre classes sociais,
as responsabilidades da sociedade e o papel do Estado
A concepção de criança é uma noção historicamente
diante das crianças pequenas.
construída e consequentemente vem mudando ao longo
Embora haja um consenso sobre a necessidade de
que a educação para as crianças pequenas deva promo- dos tempos, não se apresentando de forma homogênea
ver a integração entre os aspectos físicos, emocionais, nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e épo-
afetivos, cognitivos e sociais da criança, considerando ca. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma
que esta é um ser completo e indivisível, as divergências cidade existam diferentes maneiras de se considerar as
estão exatamente no que se entende sobre o que seja crianças pequenas dependendo da classe social a qual
trabalhar com cada um desses aspectos. pertencem do grupo étnico do qual fazem parte. Boa
Há práticas que privilegiam os cuidados físicos, par- parte das crianças pequenas brasileiras enfrenta um coti-
tindo de concepções que compreendem a criança pe- diano bastante adverso que as conduz desde muito cedo
quena como carente, frágil, dependente e passiva, e que a precárias condições de vida e ao trabalho infantil, ao
levam à construção de procedimentos e rotinas rígidas, abuso e exploração por parte de adultos. Outras crianças
dependentes todo o tempo da ação direta do adulto. são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas
Isso resulta em períodos longos de espera entre um cui- famílias e da sociedade em geral todos os cuidados ne-
dado e outro, sem que a singularidade e individualidade cessários ao seu desenvolvimento. Essa dualidade revela
de cada criança seja respeitada. Essas práticas tolhem a a contradição e conflito de uma sociedade que não re-
solveu ainda as grandes desigualdades sociais presentes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

possibilidade de independência e as oportunidades das


crianças de aprenderem sobre o cuidado de si, do ou- no cotidiano.
tro e do ambiente. Em concepções mais abrangentes os A criança como todo ser humano, é um sujeito social
cuidados são compreendidos como aqueles referentes à e histórico e faz parte de uma organização familiar que
proteção, saúde e alimentação, incluindo as necessida- está inserida em uma sociedade, com uma determinada
des de afeto, interação, estimulação, segurança e brin- cultura, em um determinado momento histórico. É pro-
cadeiras que possibilitem a exploração e a descoberta. fundamente marcada pelo meio social em que se desen-
Outras práticas têm privilegiado as necessidades volvem, mas também o marca. A criança tem na família,
emocionais, apresentando os mais diversos enfoques ao biológica ou não, um ponto de referência fundamental,
longo da história do atendimento infantil. A preocupação apesar da multiplicidade de interações sociais que esta-
com o desenvolvimento emocional da criança pequena belece com outras instituições sociais.

117
As crianças possuem uma natureza singular, que as de ser e estar com os outros em uma atitude básica de
caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crian-
de um jeito muito próprio. Nas interações que estabele- ças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social
cem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar
e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu o desenvolvimento das capacidades de apropriação e
esforço para compreender o mundo em que vivem, as conhecimento das potencialidades corporais, afetivas,
relações contraditórias que presenciam e, por meio das emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contri-
brincadeiras, explicitam as condições de vida a que es- buir para a formação de crianças felizes e saudáveis.
tão submetidas e seus anseios e desejos. No processo
de construção do conhecimento, as crianças se utilizam Cuidar
das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade
que possuem de terem ideias e hipóteses originais so- Contemplar o cuidado na esfera da instituição da
bre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva as educação infantil significa compreendê-lo como parte
crianças constroem o conhecimento a partir das intera- integrante da educação, embora possa exigir conheci-
ções que estabelecem com as outras pessoas e com o mentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a di-
meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em mensão pedagógica. Ou seja, cuidar de uma criança em
cópia da realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho um contexto educativo demanda a integração de vários
de criação, significação e ressignificação. campos de conhecimentos e a cooperação de profissio-
Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particu- nais de diferentes áreas.
lar das crianças serem e estarem no mundo é o grande A base do cuidado humano é compreender como aju-
desafio da educação infantil e de seus profissionais. Em- dar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar
bora os conhecimentos derivados da psicologia, antro- significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O
pologia, sociologia, medicina etc. possam ser de grande cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que
valia para desvelar o universo infantil apontando algu- possui uma dimensão expressiva e implica em procedi-
mas características comuns de ser das crianças, elas per- mentos específicos.
manecem únicas em suas individualidades e diferenças. O desenvolvimento integral depende tanto dos cuida-
dos relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos
Educar cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a
qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde,
Nas últimas décadas, os debates em nível nacional quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e
e internacional apontam para a necessidade de que as das oportunidades de acesso a conhecimentos variados.
instituições de educação infantil incorporem de maneira As atitudes e procedimentos de cuidado são in-
integrada as funções de educar e cuidar, não mais dife- fluenciados por crenças e valores em torno da saúde,
renciando nem hierarquizando os profissionais e institui- da educação e do desenvolvimento infantil. Embora as
ções que atuam com as crianças pequenas e/ou aqueles necessidades humanas básicas sejam comuns, como ali-
que trabalham com as maiores. As novas funções para mentar-se, proteger-se etc. as formas de identificá-las,
a educação infantil devem estar associadas a padrões valorizá-las e atendê-las são construídas socialmente. As
de qualidade. Essa qualidade advém de concepções de necessidades básicas podem ser modificadas e acresci-
desenvolvimento que consideram as crianças nos seus das de outras de acordo com o contexto sociocultural.
contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concreta- Pode-se dizer que além daquelas que preservam a vida
mente, nas interações e práticas sociais que lhes forne- orgânica, as necessidades afetivas são também base para
cem elementos relacionados às mais diversas linguagens o desenvolvimento infantil.
e ao contato com os mais variados conhecimentos para a A identificação dessas necessidades sentidas e ex-
construção de uma identidade autônoma. pressas pelas crianças, depende também da compreen-
A instituição de educação infantil deve tornar aces- são que o adulto tem das várias formas de comunicação
sível a todas as crianças que a frequentam, indiscrimi- que elas, em cada faixa etária possuem e desenvolvem.
nadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu Prestar atenção e valorizar o choro de um bebê e respon-
desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel so- der a ele com um cuidado ou outro depende de como é
cializador, propiciando o desenvolvimento da identidade interpretada a expressão de choro, e dos recursos exis-
das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, tentes para responder a ele. É possível que alguns adul-
realizadas em situações de interação. tos conversem com o bebê tentando acalmá-lo, ou que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer peguem-no imediatamente no colo, embalando-o. Em


às crianças condições para as aprendizagens que ocor- determinados contextos socioculturais, é possível que o
rem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações adulto que cuida da criança, tendo como base concep-
pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas ções de desenvolvimento e aprendizagem infantis, de
pelos adultos. É importante ressaltar, porém, que essas educação e saúde, acredite que os bebês devem apren-
aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira der a permanecer no berço, após serem alimentados e
integrada no processo de desenvolvimento infantil. higienizados, e, portanto, não considerem o embalo
Educar significa, portanto, propiciar situações de cui- como um cuidado, mas como uma ação que pode “acos-
dados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de for- tumar mal” a criança. Em outras culturas, o embalo tem
ma integrada e que possam contribuir para o desenvol- uma grande importância no cuidado de bebês, tanto que
vimento das capacidades infantis de relação interpessoal, existem berços próprios para embalar.

118
O cuidado precisa considerar, principalmente, as ne- O principal indicador da brincadeira, entre as crianças,
cessidades das crianças, que quando observadas, ouvi- é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar
das e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à
a qualidade do que estão recebendo. Os procedimen- realidade de maneira não-literal, transferindo e substi-
tos de cuidado também precisam seguir os princípios de tuindo suas ações cotidianas pelas ações e características
promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos cuida- do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.
dos com a preservação da vida e com o desenvolvimento A brincadeira favorece a autoestima das crianças, au-
das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e xiliando-as a superar progressivamente suas aquisições
procedimentos estejam baseados em conhecimentos es- de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interio-
pecíficos sobre o desenvolvimento biológico, emocional, rização de determinados modelos de adulto, no âmbito
e intelectual das crianças, levando em consideração as de grupos sociais diversos.
diferentes realidades socioculturais. Essas significações atribuídas ao brincar transfor-
Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprome- mam-no em um espaço singular de constituição infantil.
tido com o outro, com sua singularidade, ser solidário Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhe-
com suas necessidades, confiando em suas capacidades. cimentos que já possuíam anteriormente em conceitos
Disso depende a construção de um vínculo entre quem gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir
cuida e quem é cuidado. um determinado papel numa brincadeira, a criança deve
Além da dimensão afetiva e relacional do cuidado, é conhecer alguma de suas características.
preciso que o professor possa ajudar a criança a identi- Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém
ficar suas necessidades e priorizá-las, assim como aten- ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na fa-
dê-las de forma adequada. Assim, cuidar da criança é mília ou em outros ambientes, do relato de um colega ou
sobretudo dar atenção a ela como pessoa que está num de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema
contínuo crescimento e desenvolvimento, compreen- ou narradas em livros etc. A fonte de seus conhecimen-
dendo sua singularidade, identificando e respondendo tos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmen-
tados. É no ato de brincar que a criança estabelece os
às suas necessidades. Isto inclui interessar-se sobre o que
diferentes vínculos entre as características do papel assu-
a criança sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o
mido, suas competências e as relações que possuem com
mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de
outros papéis, tomando consciência disto e generalizan-
suas habilidades, que aos poucos a tornarão mais inde-
do para outras situações.
pendente e mais autônoma.
Para brincar é preciso que as crianças tenham certa
independência para escolher seus companheiros e os
Brincar
papéis que irão assumir no interior de um determinado
tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem uni-
Para que as crianças possam exercer sua capacidade camente da vontade de quem brinca.
de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imagi-
nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições, nativas e criadas por elas mesmas, as crianças podem
sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendi- acionar seus pensamentos para a resolução de proble-
zagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta. mas que lhe são importantes e significativos. Propician-
A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém do a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no qual
um vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. as crianças podem experimentar o mundo e internalizar
Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da uma compreensão particular sobre as pessoas, os senti-
imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o mentos e os diversos conhecimentos.
domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é O brincar apresenta-se por meio de várias categorias
preciso haver consciência da diferença existente entre de experiências que são diferenciadas pelo uso do mate-
a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu rial ou dos recursos predominantemente implicados. Es-
conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é sas categorias incluem: o movimento e as mudanças da
preciso apropriar-se de elementos da realidade imedia- percepção resultantes essencialmente da mobilidade físi-
ta de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa ca das crianças; a relação com os objetos e suas proprie-
peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articu- dades físicas assim como a combinação e associação en-
lação entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda tre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários
brincadeira é uma imitação transformada, no plano das níveis de organização a serem utilizados para brincar; os
emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e ati-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vivenciada. tudes que se referem à forma como o universo social se


Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate constrói; e, finalmente, os limites definidos pelas regras,
ritmicamente com os pés no chão e imagina-se caval- constituindo-se em um recurso fundamental para brin-
gando um cavalo, está orientando sua ação pelo signi- car. Estas categorias de experiências podem ser agrupa-
ficado da situação e por uma atitude mental e não so- das em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de
mente pela percepção imediata dos objetos e situações. faz-de-conta ou com papéis, considerada como atividade
No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os fundamental da qual se originam todas as outras; brincar
espaços valem e significam outra coisa daquilo que apa- com materiais de construção e brincar com regras.
rentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de cons-
os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que trução e aqueles que possuem regras, como os jogos de
estão brincando. sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro),

119
jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a isso, o professor deve conhecer e considerar as singula-
ampliação dos conhecimentos infantis por meio da ati- ridades das crianças de diferentes idades, assim como a
vidade lúdica. diversidade de hábitos, costumes, valores, crenças, etnias
É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na etc. das crianças com as quais trabalha respeitando suas
instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brin- diferenças e ampliando suas pautas de socialização.
cadeiras na vida das crianças. Consequentemente é ele
que organiza sua base estrutural, por meio da oferta de Nessa perspectiva, o professor é mediador entre as
determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, crianças e os objetos de conhecimento, organizando e
da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para propiciando espaços e situações de aprendizagens que
brincar. articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais,
Por meio das brincadeiras os professores podem ob- sociais e cognitivas de cada criança aos seus conheci-
servar e constituir uma visão dos processos de desen- mentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferen-
volvimento das crianças em conjunto e de cada uma em tes campos de conhecimento humano. Na instituição de
particular, registrando suas capacidades de uso das lin- educação infantil o professor constitui-se, portanto, no
guagens, assim como de suas capacidades sociais e dos parceiro mais experiente, por excelência, cuja função é
recursos afetivos e emocionais que dispõem. propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, sau-
A intervenção intencional baseada na observação das dável e não discriminatório de experiências educativas e
brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material ade- sociais variadas.
quado, assim como um espaço estruturado para brincar
permite o enriquecimento das competências imaginati- Para que as aprendizagens infantis ocorram com su-
vas, criativas e organizacionais infantis. Cabe ao profes- cesso, é preciso que o professor considere, na organiza-
sor organizar situações para que as brincadeiras ocor- ção do trabalho educativo:
ram de maneira diversificada para propiciar às crianças a - a interação com crianças da mesma idade e de ida-
possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e des diferentes em situações diversas como fator de
companheiros com quem brincar ou os jogos de regras promoção da aprendizagem e do desenvolvimen-
e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e to e da capacidade de relacionar-se;
independente suas emoções, sentimentos, conhecimen- - os conhecimentos prévios de qualquer natureza,
tos e regras sociais. que as crianças já possuem sobre o assunto, já que
É preciso que o professor tenha consciência que na elas aprendem por meio de uma construção inter-
brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que na ao relacionar suas ideias com as novas infor-
sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimen- mações de que dispõem e com as interações que
to, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa estabelece;
perspectiva não se deve confundir situações nas quais - a individualidade e a diversidade;
se objetiva determinadas aprendizagens relativas a con- - o grau de desafio que as atividades apresentam e o
ceitos, procedimentos ou atitudes explícitas com aquelas fato de que devam ser significativas e apresenta-
nas quais os conhecimentos são experimentados de uma das de maneira integrada para as crianças e o mais
maneira espontânea e destituída de objetivos imediatos próximas possíveis das práticas sociais reais;
pelas crianças. Pode-se, entretanto, utilizar os jogos, es- - a resolução de problemas como forma de aprendi-
pecialmente aqueles que possuem regras, como ativida- zagem.
des didáticas. É preciso, porém, que o professor tenha
consciência que as crianças não estarão brincando livre- Essas considerações podem estruturar-se nas seguin-
mente nestas situações, pois há objetivos didáticos em tes condições gerais relativas às aprendizagens infantis a
questão. serem seguidas pelo professor em sua prática educativa.

Aprender em situações orientadas Interação

A organização de situações de aprendizagens orien- A interação social em situações diversas é uma das
tadas ou que dependem de uma intervenção direta do estratégias mais importantes do professor para a promo-
professor permite que as crianças trabalhem com diver- ção de aprendizagens pelas crianças. Assim, cabe ao pro-
sos conhecimentos. Estas aprendizagens devem estar fessor propiciar situações de conversa, brincadeiras ou
baseadas não apenas nas propostas dos professores, de aprendizagens orientadas que garantam a troca entre
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mas, essencialmente, na escuta das crianças e na com- as crianças, de forma a que possam comunicar-se e ex-
preensão do papel que desempenham a experimentação pressar-se, demonstrando seus modos de agir, de pensar
e o erro na construção do conhecimento. e de sentir, em um ambiente acolhedor e que propicie a
A intervenção do professor é necessária para que, na confiança e a autoestima. A existência de um ambiente
instituição de educação infantil, as crianças possam, em acolhedor, porém, não significa eliminar os conflitos, dis-
situações de interação social ou sozinhas, ampliar suas putas e divergências presentes nas interações sociais, mas
capacidades de apropriação dos conceitos, dos códigos pressupõe que o professor forneça elementos afetivos e
sociais e das diferentes linguagens, por meio da expres- de linguagem para que as crianças aprendam a conviver,
são e comunicação de sentimentos e ideias, da experi- buscando as soluções mais adequadas para as situações
mentação, da reflexão, da elaboração de perguntas e res- com as quais se defrontam diariamente. As capacidades
postas, da construção de objetos e brinquedos etc. Para de interação, porém, são também desenvolvidas quando

120
as crianças podem ficar sozinhas, quando elaboram suas Aprendizagem significativa e conhecimentos pré-
descobertas e sentimentos e constroem um sentido de vios
propriedade para as ações e pensamentos já comparti-
lhados com outras crianças e com os adultos, o que vai Os assuntos trabalhados com as crianças devem
potencializar novas interações. Nas situações de troca, guardar relações específicas com os níveis de desenvol-
podem desenvolver os conhecimentos e recursos de que vimento das crianças em cada grupo e faixa etária e, tam-
dispõem, confrontando-os e reformulando-os. bém, respeitar e propiciar a amplitude das mais diversas
Nessa perspectiva, o professor deve refletir e discutir experiências em relação aos eixos de trabalho propostos.
com seus pares sobre os critérios utilizados na organi- O processo que permite a construção de aprendi-
zação dos agrupamentos e das situações de interação, zagens significativas pelas crianças requer uma intensa
mesmo entre bebês, visando, sempre que possível, a atividade interna por parte delas. Nessa atividade, as
auxiliar as trocas entre as crianças e, ao mesmo tempo, crianças podem estabelecer relações entre novos con-
garantir-lhes o espaço da individualidade. Assim, em de- teúdos e os conhecimentos prévios (conhecimentos
terminadas situações, é aconselhável que crianças com que já possuem), usando para isso os recursos de que
níveis de desenvolvimento diferenciados interajam; em dispõem. Esse processo possibilitará a elas modificarem
outras, deve-se garantir uma proximidade de crianças seus conhecimentos prévios, matizá-los, ampliá-los ou
com interesses e níveis de desenvolvimento semelhan- diferenciá-los em função de novas informações, capa-
tes. Propiciar a interação quer dizer, portanto, considerar citando-as a realizar novas aprendizagens, tornando-as
que as diferentes formas de sentir, expressar e comunicar significativas.
a realidade pelas crianças resultam em respostas diver- É, portanto, função do professor considerar, como
sas que são trocadas entre elas e que garantem parte ponto de partida para sua ação educativa, os conhe-
significativa de suas aprendizagens. Uma das formas de cimentos que as crianças possuem, advindos das mais
propiciar essa troca é a socialização de suas descobertas, variadas experiências sociais, afetivas e cognitivas a que
quando o professor organiza as situações para que as estão expostas. Detectar os conhecimentos prévios das
crianças compartilhem seus percursos individuais na ela- crianças não é uma tarefa fácil. Implica que o professor
boração dos diferentes trabalhos realizados. estabeleça estratégias didáticas para fazê-lo. Quanto
Portanto, é importante frisar que as crianças se de- menores são as crianças, mais difícil é a explicitação de
senvolvem em situações de interação social, nas quais tais conhecimentos, uma vez que elas não se comunicam
conflitos e negociação de sentimentos, ideias e soluções verbalmente. A observação acurada das crianças é um
são elementos indispensáveis. instrumento essencial nesse processo. Os gestos, movi-
O âmbito social oferece, portanto, ocasiões únicas mentos corporais, sons produzidos, expressões faciais, as
para elaborar estratégias de pensamento e de ação, brincadeiras e toda forma de expressão, representação
possibilitando a ampliação das hipóteses infantis. Pode- e comunicação devem ser consideradas como fonte de
-se estabelecer, nesse processo, uma rede de reflexão e conhecimento para o professor sobre o que a criança já
construção de conhecimentos na qual tanto os parceiros sabe. Com relação às crianças maiores, podem-se tam-
mais experientes quanto os menos experientes têm seu bém criar situações intencionais nas quais elas sejam
papel na interpretação e ensaio de soluções. A interação capazes de explicitar seus conhecimentos por meio das
permite que se crie uma situação de ajuda na qual as diversas linguagens a que têm acesso.
crianças avancem no seu processo de aprendizagem.
Resolução de Problemas
Diversidade e Individualidade
Nas situações de aprendizagem o problema adquire
Cabe ao professor a tarefa de individualizar as situa- um sentido importante quando as crianças buscam solu-
ções de aprendizagens oferecidas às crianças, conside- ções e discutem-nas com as outras crianças. Não se trata
rando suas capacidades afetivas, emocionais, sociais e de situações que permitam “aplicar” o que já se sabe,
cognitivas assim como os conhecimentos que possuem mas sim daquelas que possibilitam produzir novos co-
dos mais diferentes assuntos e suas origens sociocultu- nhecimentos a partir dos que já se tem e em interação
rais diversas. Isso significa que o professor deve planejar com novos desafios. Neste processo, o professor deve
e oferecer uma gama variada de experiências que res- reconhecer as diferentes soluções, socializando os resul-
ponda, simultaneamente, às demandas do grupo e às tados encontrados.
individualidades de cada criança.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Considerar que as crianças são diferentes entre si, im- Proximidade com as práticas sociais reais
plica propiciar uma educação baseada em condições de
aprendizagem que respeitem suas necessidades e ritmos A prática educativa deve buscar situações de aprendi-
individuais, visando a ampliar e a enriquecer as capaci- zagens que reproduzam contextos cotidianos nos quais,
dades de cada criança, considerando as como pessoas por exemplo, escrever, contar, ler, desenhar, procurar
singulares e com características próprias. Individualizar a uma informação etc. tenha uma função real. Isto é, es-
educação infantil, ao contrário do que se poderia supor, creve-se para guardar uma informação, para enviar uma
não é marcar e estigmatizar as crianças pelo que diferem, mensagem, contam-se tampinhas para fazer uma cole-
mas levar em conta suas singularidades, respeitando-as ção etc.
e valorizando-as como fator de enriquecimento pessoal
e cultural.

121
Educar crianças com necessidades especiais No mundo inteiro tem se observado iniciativas no
sentido da inclusão cada vez maior das crianças com ne-
As pessoas que apresentam necessidades especiais cessidades especiais nos mais diversos espaços sociais,
(portadores de deficiência mental, auditiva, visual, física o que culmina hoje com a Declaração de Salamanca, de
e deficiência múltipla, e portadores de altas habilidades) princípios, política e prática das necessidades educativas
representam 10% da população brasileira e possuem, em especiais. Este documento se inspira “no princípio de in-
sua grande maioria, uma vasta experiência de exclusão tegração e no reconhecimento da necessidade de ação
que se traduz em grandes limitações nas possibilidades para conseguir escola para todos, isto é, escolas que in-
de convívio social e usufruto dos equipamentos sociais cluam todo mundo e conheçam as diferenças, promo-
(menos de 3% têm acesso a algum tipo de atendimento), vam a aprendizagem e atendam às necessidades de cada
além de serem submetidas a diversos tipos de discrimi- um”. A realidade brasileira, de uma forma geral, exige
nação. que se busque alternativas para a integração do portador
Uma ação educativa comprometida com a cidadania de deficiência, de maneira a garantir-lhe uma convivên-
e com a formação de uma sociedade democrática e não cia participativa.
excludente deve, necessariamente, promover o convívio A Escola Inclusiva é uma tendência internacional deste
com a diversidade, que é marca da vida social brasileira. final de século. É considerada Escola Inclusiva aquela que
Essa diversidade inclui não somente as diversas culturas, abre espaço para todas as crianças, abrangendo aque-
os hábitos, os costumes, mas também as competências, las com necessidades especiais. O principal desafio da
as particularidades de cada um. Escola Inclusiva é desenvolver uma pedagogia centrada
Aprender a conviver e relacionar-se com pessoas que na criança, capaz de educar a todas, sem discriminação,
respeitando suas diferenças; uma escola que dê conta da
possuem habilidades e competências diferentes, que
diversidade das crianças e ofereça respostas adequadas
possuem expressões culturais e marcas sociais próprias,
às suas características e necessidades, solicitando apoio
é condição necessária para o desenvolvimento de valo-
de instituições e especialistas quando isso se fizer neces-
res éticos, como a dignidade do ser humano, o respeito
sário. É uma meta a ser perseguida por todos aqueles
ao outro, a igualdade e a equidade e a solidariedade. A comprometidos com o fortalecimento de uma sociedade
criança que conviver com a diversidade nas instituições democrática, justa e solidária. As alternativas de atendi-
educativas, poderá aprender muito com ela. Pelo lado mento educacional às crianças que apresentam necessi-
das crianças que apresentam necessidades especiais, dades educativas especiais, no Brasil, vão desde o aten-
o convívio com as outras crianças se torna benéfico na dimento em instituições especializadas até a completa
medida em que representa uma inserção de fato no uni- integração nas várias instituições de educação.
verso social e favorece o desenvolvimento e a aprendiza- A qualidade do processo de integração depende da
gem, permitindo a formação de vínculos estimuladores, estrutura organizacional da instituição, pressupondo
o confronto com a diferença e o trabalho com a própria propostas que considerem:
dificuldade. - grau de deficiência e as potencialidades de cada
Os avanços no pensamento sociológico, filosófico e criança;
legal vêm exigindo, por parte do sistema educacional - idade cronológica;
brasileiro, o abandono de práticas segregacionistas que, - disponibilidade de recursos humanos e materiais
ao longo da história, marginalizaram e estigmatizaram existentes na comunidade;
pessoas com diferenças individuais acentuadas. A LDB, - condições socioeconômicas e culturais da região;
no seu capítulo V, Da Educação Especial, parágrafo 3o, - estágio de desenvolvimento dos serviços de educa-
determina que: “A oferta de educação especial, dever ção especial já implantado nas unidades federadas.
constitucional do Estado, tem início na faixa etária de
zero a seis anos, durante a educação infantil”. Para que o processo de integração dessas crianças
A Educação Especial, termo cunhado para a educa- possa acontecer de fato, há que se envolver toda a co-
ção dirigida aos portadores de deficiência, de condutas munidade, de forma a que o trabalho desenvolvido te-
típicas e de altas habilidades, é considerada pela Cons- nha sustentação. É preciso considerar este trabalho como
tituição brasileira, como parte inseparável do direito à parte do projeto educativo da instituição.
educação. A posição da UNESCO, considera a educação
O Professor de Educação Infantil
especial como uma forma enriquecida de educação em
geral, que deve contribuir para a integração na socieda-
Embora não existam informações abrangentes sobre
de dos portadores de deficiência, de condutas típicas e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

os profissionais que atuam diretamente com as crianças


de altas habilidades. O Estatuto da Criança e do Adoles- nas creches e pré-escolas do país, vários estudos têm
cente, em seu art. 54, III, afirma que: “É dever do esta- mostrado que muitos destes profissionais ainda não
do assegurar à criança e ao adolescente (..) atendimento têm formação adequada, recebem remuneração baixa e
educacional especializado aos portadores de deficiência, trabalham sob condições bastante precárias. Se na pré-
preferencialmente na rede regular de ensino”. O MEC de- -escola, constata-se, ainda hoje, uma pequena parcela
senvolve, por intermédio de sua Secretaria de Educação de profissionais considerados leigos, nas creches ainda
Especial (SEESP) uma política visando à integração das é significativo o número de profissionais sem formação
crianças portadoras de necessidades especiais ao siste- escolar mínima cuja denominação é variada: berçarista,
ma de ensino, propondo a inclusão destas crianças nas auxiliar de desenvolvimento infantil, babá, pajem, moni-
instituições de educação infantil. tor, recreacionista etc.

122
A constatação dessa realidade nacional diversa e de- conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde
sigual, porém, foi acompanhada, nas últimas décadas, cuidados básicos essenciais até conhecimentos especí-
de debates a respeito das diversas concepções sobre ficos provenientes das diversas áreas do conhecimen-
criança, educação, atendimento institucional e reorde- to. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma
namento legislativo que devem determinar a formação formação bastante ampla do profissional que deve tor-
de um novo profissional para responder às demandas nar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constan-
atuais de educação da criança de zero a seis anos. As temente sobre sua prática, debatendo com seus pares,
funções deste profissional vêm passando, portanto, por dialogando com as famílias e a comunidade e buscando
reformulações profundas. O que se esperava dele há al- informações necessárias para o trabalho que desenvol-
gumas décadas não corresponde mais ao que se espera ve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a
nos dias atuais. Nessa perspectiva, os debates têm indi- prática direta com as crianças a observação, o registro, o
cado a necessidade de uma formação mais abrangente planejamento e a avaliação.
e unificadora para profissionais tanto de creches como A implementação e/ou implantação de uma propos-
de pré-escolas e de uma restruturação dos quadros de ta curricular de qualidade depende, principalmente dos
carreira que leve em consideração os conhecimentos já professores que trabalham nas instituições. Por meio de
acumulados no exercício profissional, como possibilite a suas ações, que devem ser planejadas e compartilhadas
atualização profissional. com seus pares e outros profissionais da instituição, po-
Em resposta a esse debate, a LDB dispõe, no título VI, de-se construir projetos educativos de qualidade junto
art. 62 que: “A formação de docentes para atuar na edu- aos familiares e às crianças. A ideia que preside a cons-
cação básica far-se-á em nível superior, em curso de li- trução de um projeto educativo é a de que se trata de um
cenciatura, de graduação plena, em universidades e insti- processo sempre inacabado, provisório e historicamente
tutos superiores de educação, admitida, como formação contextualizado que demanda reflexão e debates cons-
mínima para o exercício do magistério na educação in- tantes com todas as pessoas envolvidas e interessadas.
fantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamen- Para que os projetos educativos das instituições pos-
tal, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal”. sam, de fato, representar esse diálogo e debate constan-
Considerando a necessidade de um período de transição te, é preciso ter professores que estejam comprometidos
que permita incorporar os profissionais cuja escolaridade com a prática educacional, capazes de responder às de-
ainda não é a exigida e buscando proporcionar um tem- mandas familiares e das crianças, assim como às ques-
po para adaptação das redes de ensino, esta mesma Lei tões específicas relativas aos cuidados e aprendizagens
dispõe no título IX, art. 87, § 4º que: “até o fim da década infantis.
da Educação somente serão admitidos professores habi-
litados em nível superior ou formados por treinamento Organização do referencial curricular nacional
em serviço”.
para a educação infantil
Isto significa que as diferentes redes de ensino deve-
rão colocar-se a tarefa de investir de maneira sistemática
A partir do diagnóstico realizado pela COEDI/DPE/
na capacitação e atualização permanente e em serviço
SEF/MEC das propostas pedagógicas e dos currículos de
de seus professores (sejam das creches ou pré-escolas),
educação infantil de vários estados e municípios brasi-
aproveitando as experiências acumuladas daqueles que
leiros em 1996, pode-se observar alguns dados impor-
já vêm trabalhando com crianças há mais tempo e com
tantes que contribuem para a reflexão sobre a organiza-
qualidade. Ao mesmo tempo, deverão criar condições de
formação regular de seus profissionais, ampliando-lhes ção curricular e seus componentes. Essa análise aponta
chances de acesso à carreira como professores de edu- para o fato de que a maioria das propostas concebe a
cação infantil, função que passa a lhes ser garantida pela criança como um ser social, psicológico e histórico, tem
LDB, caso cumpridos os pré-requisitos. Nessa perspecti- no construtivismo sua maior referência teórica, aponta
va, faz-se necessário que estes profissionais, nas institui- o universo cultural da criança como ponto de partida
ções de educação infantil, tenham ou venham a ter uma para o trabalho e defende uma educação democrática
formação inicial sólida e consistente acompanhada de e transformadora da realidade, que objetiva a formação
adequada e permanente atualização em serviço. Assim, de cidadãos críticos. Ao mesmo tempo, constata-se um
o diálogo no interior da categoria tanto quanto os in- grande desencontro entre os fundamentos teóricos ado-
vestimentos na carreira e formação do profissional pelas tados e as orientações metodológicas. Não são explici-
redes de ensino é hoje um desafio presente, com vista à tadas as formas que possibilitam a articulação entre o
profissionalização do docente de educação infantil. universo cultural das crianças, o desenvolvimento infantil
Em consonância com a LDB, este Referencial utiliza a e as áreas do conhecimento.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

denominação “professor de educação infantil” para de- Com o objetivo de tornar visível uma possível forma
signar todos os/as profissionais responsáveis pela educa- de articulação, a estrutura do Referencial Curricular Na-
ção direta das crianças de zero a seis anos, tenham eles/ cional para a Educação Infantil relaciona objetivos gerais
elas uma formação especializada ou não. e específicos, conteúdos e orientações didáticas numa
perspectiva de operacionalização do processo educativo.
Perfil profissional Para tanto estabelece uma integração curricular na
qual os objetivos gerais para a educação infantil norteiam
O trabalho direto com crianças pequenas exige que a definição de objetivos específicos para os diferentes ei-
o professor tenha uma competência polivalente. Ser po- xos de trabalho. Desses objetivos específicos decorrem
livalente significa que ao professor cabe trabalhar com os conteúdos que possibilitam concretizar as intenções

123
educativas. O tratamento didático que busca garantir a educativo para que o professor possa organizar sua prá-
coerência entre objetivos e conteúdos se explicita por tica e refletir sobre a abrangência das experiências que
meio das orientações didáticas. propicia às crianças.
Essa estrutura se apoia em uma organização por ida- O Referencial Curricular Nacional para a Educação In-
des — crianças de zero a três anos e crianças de quatro fantil define dois âmbitos de experiências: Formação Pes-
a seis anos — e se concretiza em dois âmbitos de expe- soal e Social e Conhecimento de Mundo. É preciso ressal-
riências — Formação Pessoal e Social e Conhecimento tar que esta organização possui um caráter instrumental
de Mundo — que são constituídos pelos seguintes eixos e didático, devendo os professores ter consciência, em
de trabalho: Identidade e autonomia, Movimento, Artes sua prática educativa, que a construção de conhecimen-
visuais, Música, Linguagem oral e escrita, Natureza e so- tos se processa de maneira integrada e global e que há
ciedade, e Matemática. inter-relações entre os diferentes âmbitos a serem traba-
Cada documento de eixo se organiza em torno de lhados com as crianças.
uma estrutura comum, na qual estão explicitadas: as O âmbito de Formação Pessoal e Social refere-se às
ideias e práticas correntes relacionadas ao eixo e à crian- experiências que favorecem, prioritariamente, a constru-
ça e aos seguintes componentes curriculares: objetivos; ção do sujeito. Está organizado de forma a explicitar as
conteúdos e orientações didáticas; orientações gerais complexas questões que envolvem o desenvolvimento
para o professor e bibliografia. de capacidades de natureza global e afetiva das crianças,
seus esquemas simbólicos de interação com os outros e
Organização por idade com o meio, assim como a relação consigo mesmas. O
trabalho com este âmbito pretende que as instituições
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de possam oferecer condições para que as crianças apren-
1996, explicita no art. 30, capítulo II, seção II que: “A edu- dam a conviver, a ser e a estar com os outros e consigo
cação infantil será oferecida em: I - creches ou entidades mesmas em uma atitude básica de aceitação, de respeito
equivalentes para crianças de até três anos de idade; II - e de confiança.
pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos”. Este âmbito abarca um eixo de trabalho denominado
Este Referencial Curricular Nacional para a Educação Identidade e autonomia. O âmbito de Conhecimento de
Mundo se refere à construção das diferentes linguagens
Infantil adota a mesma divisão por faixas etárias con-
pelas crianças e às relações que estabelecem com os ob-
templada nas disposições da LDB. Embora arbitrária do
jetos de conhecimento. Este âmbito traz uma ênfase na
ponto de vista das diversas teorias de desenvolvimento,
relação das crianças com alguns aspectos da cultura.
buscou-se apontar possíveis regularidades relacionadas
A cultura é aqui entendida de uma forma ampla e plu-
aos aspectos afetivos, emocionais, cognitivos e sociais
ral, como o conjunto de códigos e produções simbólicas,
das crianças das faixas etárias abrangidas. No entanto,
científicas e sociais da humanidade construído ao longo
em alguns documentos fez-se uma diferenciação para os
das histórias dos diversos grupos, englobando múltiplos
primeiros 12 meses de vida da criança, considerando-se aspectos e em constante processo de reelaboração e res-
as especificidades dessa idade. significação. Esta ideia de cultura transcende, mas englo-
A opção pela organização dos objetivos, conteúdos e ba os interesses momentâneos, as tradições específicas e
orientações didáticas por faixas etárias e não pela desig- as convenções de grupos sociais particulares. O domínio
nação institucional — creche e pré-escola — pretendeu progressivo das diferentes linguagens que favorecem a
também considerar a variação de faixas etárias encontra- expressão e comunicação de sentimentos, emoções e
das nos vários programas de atendimento nas diferentes ideias das crianças, propiciam a interação com os outros
regiões do país, não identificadas com as determinações e facilitam a mediação com a cultura e os conhecimentos
da LDB. constituídos. Incide sobre aspectos essenciais do desen-
volvimento e da aprendizagem e engloba instrumentos
Organização em âmbitos e eixos fundamentais para as crianças continuarem a aprender
ao longo da vida.
Frente ao mundo sociocultural e natural que se apre- Destacam-se os seguintes eixos de trabalho: Movi-
senta de maneira diversa e polissêmica optou-se por um mento, Artes visuais, Música, Linguagem oral e escrita,
recorte curricular que visa a instrumentalizar a ação do Natureza e sociedade, Matemática.
professor, destacando os âmbitos de experiências es- Estes eixos foram escolhidos por se constituírem em
senciais que devem servir de referência para a prática uma parcela significativa da produção cultural humana
educativa. Considerando-se as particularidades da faixa que amplia e enriquece as condições de inserção das
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

etária compreendida entre zero e seis anos e suas formas crianças na sociedade.
específicas de aprender criou-se categorias curriculares
para organizar os conteúdos a serem trabalhados nas Componentes curriculares
instituições de educação infantil. Esta organização visa a
abranger diversos e múltiplos espaços de elaboração de Objetivos
conhecimentos e de diferentes linguagens, a construção
da identidade, os processos de socialização e o desen- Os objetivos explicitam intenções educativas e esta-
volvimento da autonomia das crianças que propiciam, belecem capacidades que as crianças poderão desenvol-
por sua vez, as aprendizagens consideradas essenciais. ver como consequência de ações intencionais do pro-
Os âmbitos são compreendidos como domínios ou cam- fessor. Os objetivos auxiliam na seleção de conteúdos e
pos de ação que dão visibilidade aos eixos de trabalho meios didáticos.

124
A definição dos objetivos em termos de capacidades senvolvimento e socialização do ser humano, ressignifi-
— e não de comportamentos — visa a ampliar a possi- cando o papel dos conteúdos nos processos de apren-
bilidade de concretização das intenções educativas, uma dizagem.
vez que as capacidades se expressam por meio de diver- Muitas das pautas culturais e saberes socialmente
sos comportamentos e as aprendizagens que convergem constituídos são aprendidos por meio do contato direto
para ela podem ser de naturezas diversas. Ao estabelecer ou indireto com atividades diversas, que ocorrem nas di-
objetivos nesses termos, o professor amplia suas possibi- ferentes situações de convívio social das quais as crianças
lidades de atendimento à diversidade apresentada pelas participam no âmbito familiar e cotidiano.
crianças, podendo considerar diferentes habilidades, in- Outras aprendizagens, no entanto, dependem de si-
teresses e maneiras de aprender no desenvolvimento de tuações educativas criadas especialmente para que ocor-
cada capacidade. ram. O planejamento dessas situações envolve a seleção
Embora as crianças desenvolvam suas capacidades de de conteúdos específicos a essas aprendizagens.
maneira heterogênea, a educação tem por função criar Nessa perspectiva, este Referencial concebe os con-
condições para o desenvolvimento integral de todas as teúdos, por um lado, como a concretização dos propósi-
crianças, considerando, também, as possibilidades de tos da instituição e, por outro, como um meio para que
aprendizagem que apresentam nas diferentes faixas etá- as crianças desenvolvam suas capacidades e exercitem
rias. Para que isso ocorra, faz-se necessário uma atuação sua maneira própria de pensar, sentir e ser, ampliando
que propicia o desenvolvimento de capacidades envol- suas hipóteses acerca do mundo ao qual pertencem e
vendo aquelas de ordem física, afetiva, cognitiva, ética, constituindo-se em um instrumento para a compreen-
estética, de relação interpessoal e inserção social. são da realidade. Os conteúdos abrangem, para além de
As capacidades de ordem física estão associadas à
fatos, conceitos e princípios, também os conhecimentos
possibilidade de apropriação e conhecimento das po-
relacionados a procedimentos, atitudes, valores e nor-
tencialidades corporais, ao autoconhecimento, ao uso do
mas como objetos de aprendizagem. A explicitação de
corpo na expressão das emoções, ao deslocamento com
segurança. conteúdos de naturezas diversas aponta para a neces-
As capacidades de ordem cognitiva estão associadas sidade de se trabalhar de forma intencional e integrada
ao desenvolvimento dos recursos para pensar, o uso e com conteúdos que, na maioria das vezes, não são trata-
apropriação de formas de representação e comunicação dos de forma explícita e consciente.
envolvendo resolução de problemas. Esta abordagem é didática e visa a destacar a im-
As capacidades de ordem afetiva estão associadas à portância de se dar um tratamento apropriado aos di-
construção da autoestima, às atitudes no convívio social, ferentes conteúdos, instrumentalizando o planejamento
à compreensão de si mesmo e dos outros. do professor para que possa contemplar as seguintes
As capacidades de ordem estética estão associadas categorias: os conteúdos conceituais que dizem respei-
à possibilidade de produção artística e apreciação desta to ao conhecimento de conceitos, fatos e princípios; os
produção oriundas de diferentes culturas. conteúdos procedimentais referem-se ao “saber fazer” e
As capacidades de ordem ética estão associadas à os conteúdos atitudinais estão associados a valores, ati-
possibilidade de construção de valores que norteiam a tudes e normas.
ação das crianças. Nos eixos de trabalho, estas categorias de conteúdos
As capacidades de relação interpessoal estão asso- estão contempladas embora não estejam explicitadas de
ciadas à possibilidade de estabelecimento de condições forma discriminada.
para o convívio social. Isso implica aprender a conviver A seguir, as categorias de conteúdos serão melhor ex-
com as diferenças de temperamentos, de intenções, de plicadas de forma a subsidiar a reflexão e o planejamento
hábitos e costumes, de cultura etc. do professor.
As capacidades de inserção social estão associadas à Os conteúdos conceituais referem-se à construção
possibilidade de cada criança perceber-se como membro ativa das capacidades para operar com símbolos, ideias,
participante de um grupo de uma comunidade e de uma imagens e representações que permitem atribuir sentido
sociedade. à realidade.
Para que se possa atingir os objetivos é necessário Desde os conceitos mais simples até os mais com-
selecionar conteúdos que auxiliem o desenvolvimento
plexos, a aprendizagem se dá por meio de um processo
destas capacidades.
de constantes idas e vindas, avanços e recuos nos quais
as crianças constroem ideias provisórias, ampliam-nas e
Conteúdos
modificam-nas, aproximando-se gradualmente de con-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As diferentes aprendizagens se dão por meio de su- ceitualizações cada vez mais precisas.
cessivas reorganizações do conhecimento, e este pro- O conceito que uma criança faz do que seja um ca-
cesso é protagonizado pelas crianças quando podem chorro, por exemplo, depende das experiências que ela
vivenciar experiências que lhes forneçam conteúdos tem que envolvam seu contato com cachorros. Se num
apresentados de forma não simplificada e associados a primeiro momento, ela pode, por exemplo, designar
práticas sociais reais. É importante marcar que não há como “Au-Au” todo animal, fazendo uma generalização
aprendizagem sem conteúdos. provisória, o acesso a uma nova informação, por exem-
Pesquisas e produções teóricas realizadas, principal- plo, o fato de que gatos diferem de cachorros, permite-
mente durante a última década, apontam a importância -lhe reorganizar o conhecimento que possui e modificar
das aprendizagens específicas para os processos de de- a ideia que tem sobre o que é um cachorro. Esta con-

125
ceitualização, ainda provisória, será suficiente por algum Para que as crianças possam aprender conteúdos ati-
tempo — até o momento em que ela entrar em contato tudinais, é necessário que o professor e todos os profis-
com um novo conhecimento. sionais que integram a instituição possam refletir sobre
Assim, deve-se ter claro que alguns conteúdos con- os valores que são transmitidos cotidianamente e sobre
ceituais são possíveis de serem apropriados pelas crian- os valores que se quer desenvolver. Isso significa um po-
ças durante o período da educação infantil. Outros não, sicionamento claro sobre o quê e o como se aprende nas
e estes necessitarão de mais tempo para que possam ser instituições de educação infantil.
construídos. Isso significa dizer que muitos conteúdos Deve-se ter em conta que, por mais que se tenha a
serão trabalhados com o objetivo apenas de promover intenção de trabalhar com atitudes e valores, nunca a
aproximações a um determinado conhecimento, de co- instituição dará conta da totalidade do que há para en-
laborar para elaboração de hipóteses e para a manifesta- sinar. Isso significa dizer que parte do que as crianças
ção de formas originais de expressão. aprendem não é ensinado de forma sistemática e cons-
Os conteúdos procedimentais referem-se ao saber ciente e será aprendida de forma incidental. Isso amplia a
fazer. A aprendizagem de procedimentos está direta- responsabilidade de cada um e de todos com os valores
mente relacionada à possibilidade de a criança construir e as atitudes que cultivam.
instrumentos e estabelecer caminhos que lhes possibili-
tem a realização de suas ações. Longe de ser mecânica Organização dos conteúdos por blocos
e destituída de sentido, a aprendizagem de procedimen-
tos constitui-se em um importante componente para o Os conteúdos são apresentados nos diversos eixos de
desenvolvimento das crianças, pois relaciona-se a um trabalho, organizados por blocos. Essa organização visa a
percurso de tomada de decisões. Desenvolver procedi- contemplar as dimensões essenciais de cada eixo e situar
mentos significa apropriar-se de “ferramentas” da cultura os diferentes conteúdos dentro de um contexto organi-
humana necessárias para viver. No que se refere à edu- zador que explicita suas especificidades por um lado e
cação infantil, saber manipular corretamente os objetos aponta para a sua “origem” por outro. Por exemplo, é im-
de uso cotidiano que existem à sua volta, por exemplo, é portante que o professor saiba, ao ler uma história para
um procedimento fundamental, que responde às neces- as crianças, que está trabalhando não só a leitura, mas
sidades imediatas para inserção no universo mais pró- também, a fala, a escuta, e a escrita; ou, quando organiza
ximo. É o caso de vestir-se ou amarrar os sapatos, que uma atividade de percurso, que está trabalhando tanto a
constituem-se em ações procedimentais importantes no percepção do espaço, como o equilíbrio e a coordenação
processo de conquista da independência. Dispor-se a da criança.
perguntar é uma atitude fundamental para o processo Esses conhecimentos ajudam o professor a dirigir sua
de aprendizagem. Da mesma forma, para que as crianças ação de forma mais consciente, ampliando as suas possi-
possam exercer a cooperação, a solidariedade e o res-
bilidades de trabalho.
peito, por exemplo, é necessário que aprendam alguns
Embora estejam elencados por eixos de trabalho,
procedimentos importantes relacionados às formas de
muitos conteúdos encontram-se contemplados em mais
colaborar com o grupo, de ajudar e pedir ajuda etc.
de um eixo. Essa opção visa a apontar para o tratamen-
Deve-se ter em conta que a aprendizagem de proce-
to integrado que deve ser dado aos conteúdos. Cabe ao
dimentos será, muitas vezes, trabalhada de forma articu-
professor organizar seu planejamento de forma a apro-
lada com conteúdos conceituais e atitudinais.
veitar as possibilidades que cada conteúdo oferece, não
Os conteúdos atitudinais tratam dos valores, das normas
e das atitudes. Conceber valores, normas e atitudes como restringindo o trabalho a um único eixo, em fragmentan-
conteúdos implicam torná-los explícitos e compreendê-los do o conhecimento.
como passíveis de serem aprendidos e planejados.
As instituições educativas têm uma função básica Seleção de conteúdos
de socialização e, por esse motivo, têm sido sempre um
contexto gerador de atitudes. Isso significa dizer que os Os conteúdos aqui elencados pretendem oferecer
valores impregnam toda a prática educativa e são apren- um repertório que possa auxiliar o desenvolvimento das
didos pelas crianças, ainda que não sejam considerados capacidades colocadas nos objetivos gerais. No entanto,
como conteúdos a serem trabalhados explicitamente, considerando as características particulares de cada gru-
isto é, ainda que não sejam trabalhados de forma cons- po e suas necessidades, cabe ao professor selecioná-los
ciente e intencional. A aprendizagem de conteúdos deste e adequá-los de forma que sejam significativos para as
tipo implica uma prática coerente, onde os valores, as crianças.
Deve se ter em conta que o professor, com vistas a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

atitudes e as normas que se pretende trabalhar estejam


presentes desde as relações entre as pessoas até a se- desenvolver determinada capacidade, pode priorizar
leção dos conteúdos, passando pela própria forma de determinados conteúdos; trabalhá-los em diferentes
organização da instituição. A falta de coerência entre o momentos do ano; voltar a eles diversas vezes, aprofun-
discurso e a prática é um dos fatores que promove o fra- dando-os a cada vez etc. Como são múltiplas as possibili-
casso do trabalho com os valores. dades de escolha de conteúdos, os critérios para selecio-
Nesse sentido, dar o exemplo evidencia que é possí- ná-los devem se atrelar ao grau de significado que têm
vel agir de acordo com valores determinados. Do contrá- para as crianças. É importante, também, que o professor
rio, os valores tornam-se vazios de sentido e aproximam- considere as possibilidades que os conteúdos oferecem
-se mais de uma utopia não realizável do que de uma para o avanço do processo de aprendizagem e para a
realidade possível. ampliação de conhecimento que possibilita.

126
Integração dos conteúdos com um encadeamento de ações que visam a desenvol-
ver aprendizagens específicas. Estas estruturas didáticas
Os conteúdos são compreendidos, aqui, como instru- contêm múltiplas estratégias que são organizadas em
mentos para analisar a realidade, não se constituindo um função das intenções educativas expressas no projeto
fim em si mesmos. Para que as crianças possam com- educativo, constituindo-se em um instrumento para o
preender a realidade na sua complexidade e enriquecer planejamento do professor. Podem ser agrupadas em
sua percepção sobre ela, os conteúdos devem ser tra- três grandes modalidades de organização do tempo. São
balhados de forma integrada, relacionados entre si. Essa elas: atividades permanentes, sequência de atividades e
integração possibilita que a realidade seja analisada por projetos de trabalho.
diferentes aspectos, sem fragmentá-la. Um passeio pela
rua pode oferecer elementos referentes à análise das Atividades permanentes
paisagens, à identificação de características de diferentes
grupos sociais, à presença de animais, fenômenos da na- São aquelas que respondem às necessidades básicas
tureza, ao contato com a escrita e os números presentes de cuidados, aprendizagem e de prazer para as crianças,
nas casas, placas etc., contextualizando cada elemento na cujos conteúdos necessitam de uma constância. A es-
complexidade do meio. colha dos conteúdos que definem o tipo de atividades
O mesmo passeio envolve, também, aprendizagens permanentes a serem realizadas com frequência regular,
relativas à socialização, mobilizam sentimentos e emo- diária ou semanal, em cada grupo de crianças, depende
ções constituindo-se em uma atividade que pode contri- das prioridades elencadas a partir da proposta curricular.
buir para o desenvolvimento das crianças. Consideram-se atividades permanentes, entre outras:
- brincadeiras no espaço interno e externo;
Orientações Didáticas - roda de história;
- roda de conversas;
Os conteúdos estão intrinsecamente relacionados - ateliês ou oficinas de desenho, pintura, modelagem
com a forma como são trabalhados com as crianças. Se, e música;
de um lado, é verdade que a concepção de aprendiza- - atividades diversificadas ou ambientes organizados
gem adotada determina o enfoque didático, é igualmen- por temas ou materiais à escolha da criança, in-
te verdade, de outro lado, que nem sempre esta relação cluindo momentos para que as crianças possam
se explicita de forma imediata. A prática educativa é bas- ficar sozinhas se assim o desejarem;
tante complexa e são inúmeras as questões que se apre- - cuidados com o corpo.
sentam no cotidiano e que transcendem o planejamento
didático e a própria proposta curricular. Na perspectiva Sequência de atividades
de explicitar algumas indicações sobre o enfoque didáti-
co e apoiar o trabalho do professor, as orientações didá- São planejadas e orientadas com o objetivo de pro-
ticas situam-se no espaço entre as intenções educativas mover uma aprendizagem específica e definida. São
e a prática. As orientações didáticas são subsídios que sequenciadas com intenção de oferecer desafios com
remetem ao “como fazer”, à intervenção direta do pro- graus diferentes de complexidade para que as crianças
fessor na promoção de atividades e cuidados alinhados possam ir paulatinamente resolvendo problemas a partir
com uma concepção de criança e de educação. de diferentes proposições. Estas sequências derivam de
Vale lembrar que estas orientações não representam um conteúdo retirado de um dos eixos a serem traba-
um modelo fechado que define um padrão único de lhados e estão necessariamente dentro de um contexto
intervenção. Pelo contrário, são indicações e sugestões específico. Por exemplo: se o objetivo é fazer com que as
para subsidiar a reflexão e a prática do professor. crianças avancem em relação à representação da figura
Cada documento de eixo contém orientações didá- humana por meio do desenho, pode-se planejar várias
ticas gerais e as específicas aos diversos blocos de con- etapas de trabalho para ajudá-las a reelaborar e enri-
teúdos. Nas orientações didáticas gerais explicitam-se quecer seus conhecimentos prévios sobre esse assunto,
condições relativas à: princípios gerais do eixo; organi- como observação de pessoas, de desenhos ou pinturas
zação do tempo, do espaço e dos materiais; observação, de artistas e de fotografias; atividades de representação
registro e avaliação. a partir destas observações; atividades de representação
a partir de interferências previamente planejadas pelo
Organização do tempo educador etc.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A rotina representa, também, a estrutura sobre a qual Projetos de trabalho


será organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de
trabalho educativo realizado com as crianças. A rotina Os projetos são conjuntos de atividades que traba-
deve envolver os cuidados, as brincadeiras e as situações lham com conhecimentos específicos construídos a partir
de aprendizagens orientadas. A apresentação de novos de um dos eixos de trabalho que se organizam ao redor
conteúdos às crianças requer sempre as mais diferen- de um problema para resolver ou um produto final que
tes estruturas didáticas, desde contar uma nova história, se quer obter. Possui uma duração que pode variar con-
propor uma técnica diferente de desenho até situações forme o objetivo, o desenrolar das várias etapas, o desejo
mais elaboradas, como, por exemplo, o desenvolvimento e o interesse das crianças pelo assunto tratado. Compor-
de um projeto, que requer um planejamento cuidadoso tam uma grande dose de imprevisibilidade, podendo ser

127
alterado sempre que necessário, tendo inclusive modi- Organização do espaço e seleção dos materiais
ficações no produto final. Alguns projetos, como fazer
uma horta ou uma coleção, podem durar um ano inteiro, A organização dos espaços e dos materiais se cons-
ao passo que outros, como, por exemplo, elaborar um titui em um instrumento fundamental para a prática
livro de receitas, podem ter uma duração menor. educativa com crianças pequenas. Isso implica que, para
Por partirem sempre de questões que necessitam ser cada trabalho realizado com as crianças, deve-se planejar
respondidas, possibilitam um contato com as práticas so- a forma mais adequada de organizar o mobiliário dentro
ciais reais. Dependem, em grande parte, dos interesses da sala, assim como introduzir materiais específicos para
das crianças, precisam ser significativos, representar uma a montagem de ambientes novos, ligados aos projetos
questão comum para todas e partir de uma indagação em curso. Além disso, a aprendizagem transcende o es-
da realidade. É importante que os desafios apresenta- paço da sala, toma conta da área externa e de outros
dos sejam possíveis de serem enfrentados pelo grupo de espaços da instituição e fora dela. A pracinha, o super-
crianças. Um dos ganhos de se trabalhar com projetos mercado, a feira, o circo, o zoológico, a biblioteca, a pa-
é possibilitar às crianças que a partir de um assunto re- daria etc. são mais do que locais para simples passeio,
lacionado com um dos eixos de trabalho, possam esta- podendo enriquecer e potencializar as aprendizagens.
belecer múltiplas relações, ampliando suas ideias sobre
um assunto específico, buscando complementações com Observação, registro e avaliação formativa
conhecimentos pertinentes aos diferentes eixos. Esse
aprendizado serve de referência para outras situações, A observação e o registro se constituem nos princi-
permitindo generalizações de ordens diversas. pais instrumentos de que o professor dispõe para apoiar
A realização de um projeto depende de várias etapas sua prática. Por meio deles o professor pode registrar
de trabalho que devem ser planejadas e negociadas com contextualmente, os processos de aprendizagem das
as crianças para que elas possam se engajar e acompa- crianças; a qualidade das interações estabelecidas com
nhar o percurso até o produto final. O que se deseja al- outras crianças, funcionários e com o professor e acom-
cançar justifica as etapas de elaboração. O levantamento panhar os processos de desenvolvimento obtendo infor-
dos conhecimentos prévios das crianças sobre o assunto mações sobre as experiências das crianças na instituição.
em pauta deve se constituir no primeiro passo. A sociali- Esta observação e seu registro fornecem aos profes-
zação do que o grupo já sabe e o levantamento do que sores uma visão integral das crianças ao mesmo tempo
desejam saber, isto é, as dúvidas que possuem, pode se em que revelam suas particularidades. São várias as ma-
constituir na outra etapa. neiras pelas quais a observação pode ser registrada pelos
Onde procurar as informações pode ser uma decisão professores.
compartilhada com crianças, familiares e demais funcio- A escrita é, sem dúvida, a mais comum e acessível. O
nários da instituição. Várias fontes de informações po- registro diário de suas observações, impressões, ideias
derão ser usadas, como livros, enciclopédias, trechos de etc. pode compor um rico material de reflexão e ajuda
filmes, análise de imagens, entrevistas com as mais dife- para o planejamento educativo. Outras formas de regis-
rentes pessoas, visitas a recursos da comunidade etc. O tro também podem ser consideradas, como a gravação
registro dos conhecimentos que vão sendo construídos em áudio e vídeo; produções das crianças ao longo do
pelas crianças deve permear todo o trabalho, podendo tempo; fotografias etc.
incluir relatos escritos, fitas gravadas, fotos, produção A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada
das crianças, desenhos etc. Os projetos contêm sequên- em dezembro de 1996, estabelece, na Seção II, referente
cias de atividades e pode-se utilizar atividades perma- à educação infantil, artigo 31 que: “.. a avaliação far-se-á
nentes já em curso. mediante o acompanhamento e registro do seu desen-
A característica principal dos projetos é a visibilida- volvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o
de final do produto e a solução do problema comparti- acesso ao ensino fundamental”.
lhado com as crianças. Ao final de um projeto, pode-se Existem ainda no Brasil práticas na educação infantil
dizer que a criança aprendeu porque teve uma intensa que possuem um entendimento equivocado da avaliação
participação que envolveu a resolução de problemas de nessa etapa da educação, o que vem gerando sérios pro-
naturezas diversas. Soma-se a todas essas características blemas, com consequências preocupantes, sobretudo,
mais uma, ligada ao caráter lúdico que os projetos na para as crianças de determinadas camadas da sociedade.
educação infantil têm. Se o projeto é sobre castelos, reis, A mais grave é a existência das chamadas “classes de alfa-
rainhas, as crianças podem incorporar em suas brincadei- betização” que conferem à educação infantil o caráter de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ras conhecimentos que foram construindo, e o produto terminalidade. São classes que atendem crianças a partir
final pode ser um baile medieval. Há muitos projetos que de seis anos, retendo-as até que estejam alfabetizadas.
envolvem a elaboração de bonecos do tamanho de adul- As crianças que frequentam essas classes não ingressam
tos, outros a construção de circos, de maquetes, produ- na primeira série do ensino fundamental, até que tenham
tos que por si só já representam criação e diversão para atingido os padrões desejáveis de aprendizagem da lei-
as crianças, sem contar o prazer que lhes dá de conhecer tura e escrita. A essas crianças têm sido vedado, assim, o
o mundo. direito constitucional de serem matriculadas na primei-
ra série do ensino fundamental aos sete anos de idade.
Outras práticas de avaliação conferem às produções das
crianças: notas, conceitos, estrelas, carimbos com dese-
nhos de caras tristes ou alegres conforme o julgamento

128
do professor. A avaliação nessa etapa deve ser proces- pode selecionar determinadas produções das crianças ao
sual e destinada a auxiliar o processo de aprendizagem, longo de um período para obter com mais precisão infor-
fortalecendo a autoestima das crianças. mações sobre sua aprendizagem. Os pais, também, têm
Neste documento, a avaliação é entendida, priorita- o direito de acompanhar o processo de aprendizagem
riamente, como um conjunto de ações que auxiliam o de suas crianças, se inteirando dos avanços e conquistas,
professor a refletir sobre as condições de aprendizagem compreendendo os objetivos e as ações desenvolvidas
oferecidas e ajustar sua prática às necessidades coloca- pela instituição.
das pelas crianças. É um elemento indissociável do pro-
cesso educativo que possibilita ao professor definir cri- Objetivos gerais da educação infantil
térios para planejar as atividades e criar situações que
gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem como A prática da educação infantil deve se organizar de
função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse modo que as crianças desenvolvam as seguintes capa-
processo como um todo. No que se refere às crianças, a cidades:
avaliação deve permitir que elas acompanhem suas con- - desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de
quistas, suas dificuldades e suas possibilidades ao longo forma cada vez mais independente, com confiança
de seu processo de aprendizagem. Para que isso ocorra, em suas capacidades e percepção de suas limita-
o professor deve compartilhar com elas aquelas observa- ções;
ções que sinalizam seus avanços e suas possibilidades de - descobrir e conhecer progressivamente seu próprio
superação das dificuldades. corpo, suas potencialidades e seus limites, desen-
São várias as situações cotidianas nas quais isso já volvendo e valorizando hábitos de cuidado com a
ocorre, como, por exemplo, quando o professor diz: própria saúde e bem-estar;
“Olhe que bom, você já está conseguindo se servir sozi- - estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos
nho”, ou quando torna observável para as crianças o que e crianças, fortalecendo sua autoestima e amplian-
elas sabiam fazer quando chegaram na instituição com do gradativamente suas possibilidades de comuni-
o que sabem até aquele momento. Nessas situações, o cação e interação social;
retorno para as crianças se dá de forma contextualizada, - estabelecer e ampliar cada vez mais as relações so-
o que fortalece a função formativa que deve ser atribuída ciais, aprendendo aos poucos a articular seus inte-
à avaliação. Além dessas, existem outras situações que resses e pontos de vista com os demais, respeitando
podem ser aproveitadas ou criadas com o objetivo de a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e
situar a criança frente ao seu processo de aprendizagem. colaboração;
É importante que o professor tenha consciência disso, - observar e explorar o ambiente com atitude de curio-
para que possa atuar de forma cada vez mais intencional. sidade, percebendo-se cada vez mais como inte-
Isso significa definir melhor a quem se dirige a avaliação grante, dependente e agente transformador do meio
— se ao grupo todo ou às crianças em particular; qual o ambiente e valorizando atitudes que contribuam
melhor momento para explicitá-la e como deve ser feito. para sua conservação;
Esses momentos de retorno da avaliação para a criança - brincar, expressando emoções, sentimentos, pensa-
devem incidir prioritariamente sobre as suas conquistas. mentos, desejos e necessidades;
Apontar aquilo que a criança não consegue realizar ou - utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical,
não sabe, só faz sentido numa perspectiva de possível plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes inten-
superação, quando o professor detém conhecimento so- ções e situações de comunicação, de forma a com-
bre as reais possibilidades de avanço da criança e sobre preender e ser compreendido, expressar suas ideias,
as possibilidades que ele tem para ajudá-la. Do contrá- sentimentos, necessidades e desejos e avançar no
rio, ao invés de potencializar a ação das crianças e forta- seu processo de construção de significados, enrique-
lecer a sua autoestima, a avaliação pode provocar-lhes cendo cada vez mais sua capacidade expressiva;
um sentimento de impotência e fracasso. Outro ponto - conhecer algumas manifestações culturais, demons-
importante de se marcar refere-se à representação que trando atitudes de interesse, respeito e participação
a criança constrói sobre a avaliação. O professor deve frente a elas e valorizando a diversidade.
ter consciência de que a forma como a avaliação é com-
preendida, na instituição e por ele próprio, será de fun- A instituição e o projeto educativo
damental importância para que a criança possa construir
uma representação positiva da mesma. O Referencial Curricular propõe um diálogo com pro-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A avaliação também é um excelente instrumento para gramas e projetos curriculares de instituições de educa-
que a instituição possa estabelecer suas prioridades para ção infantil, nos estados e municípios. Este diálogo supõe
o trabalho educativo, identificar pontos que necessitam atentar para duas dimensões complementares que pos-
de maior atenção e reorientar a prática, definindo o que sam garantir a efetividade das propostas: uma de nature-
avaliar, como e quando em consonância com os princí- za externa; outra, interna às instituições.
pios educativos que elege.
Para que possa se constituir como um instrumento Condições externas
voltado para reorientar a prática educativa, a avaliação
deve se dar de forma sistemática e contínua, tendo como As particularidades de cada proposta curricular de-
objetivo principal a melhoria da ação educativa. O pro- vem estar vinculadas principalmente às características
fessor, ciente do que pretende que as crianças aprendam, socioculturais da comunidade na qual a instituição de

129
educação infantil está inserida e às necessidades e ex- sempre maiores oportunidades de aprendizagem para as
pectativas da população atendida. Conhecer bem essa crianças e não apenas a oferta de atividades para passar
população permite compreender suas reais condições de o tempo ou muito menos longos períodos de espera.
vida, possibilitando eleger os temas mais relevantes para Em alguns municípios, existe um tipo de prática em
o processo educativo de modo a atender a diversidade que as crianças ficam um período na creche e o outro na
existente em cada grupo social. pré-escola. Nestes casos ou ainda naqueles onde há tro-
Nos diferentes municípios, existe um conjunto de co- ca de turnos de professores entre os períodos da manhã
nhecimentos, formas de viver e de se divertir, de se ma- e da tarde, é necessário um planejamento em conjunto,
nifestar religiosamente, de trabalhar etc. que se constitui evitando repetições de atividades ou lacunas no trabalho
em uma cultura própria. A valorização e incorporação com as crianças. Não é desejável que a creche seja consi-
desta cultura no currículo das instituições é fonte valiosa derada apenas um espaço de cuidados físicos e recreação
para a intervenção pedagógica. Além disso, o conheci- e a pré-escola o local onde se legitima o aprendizado.
mento das questões específicas de cada região, sejam A elaboração da proposta curricular de cada institui-
elas de ordem econômica, social ou ambiental permite a ção se constitui em um dos elementos do projeto educa-
elaboração de propostas curriculares mais significativas. tivo e deve ser fruto de um trabalho coletivo que reúna
A problemática social de muitas das comunidades professores, demais profissionais e técnicos. Outros as-
brasileiras faz com que os profissionais e as instituições pectos são relevantes para o bom desenvolvimento do
de educação infantil tenham que considerar questões projeto pedagógico e devem ser considerados, abran-
bastante complexas que não podem ser ignoradas, pois gendo desde o clima institucional, formas de gestão,
afetam diretamente a vida das crianças pequenas. A des- passando pela organização do espaço e do tempo, dos
nutrição, a violência, os abusos e maus tratos, os proble- agrupamentos, seleção e oferta dos materiais até a par-
mas de saúde etc. que algumas crianças sofrem não são ceria com as famílias e papel do professor.
questões que só a instituição de educação infantil pode
resolver isoladamente. Só uma ação conjunta entre os Ambiente Institucional
diversos recursos da comunidade como as associações
civis e os conselhos de direitos das crianças, as organi- O ambiente de cooperação e respeito entre os pro-
zações governamentais e não-governamentais ligadas à fissionais e entre esses e as famílias favorece a busca
saúde, à assistência, à cultura etc. pode encaminhar so- de uma linha coerente de ação. Respeito às diferenças,
luções mais factíveis com a realidade de cada situação. explicitação de conflitos, cooperação, complementação,
negociação e procura de soluções e acordos devem ser a
Condições internas base das relações entre os adultos.
Em se tratando de crianças tão pequenas, a atmosfe-
As creches e pré-escolas existentes no Brasil se cons- ra criada pelos adultos precisa ter um forte componente
tituíram de forma muito diversa ao longo de sua história, afetivo. As crianças só se desenvolverão bem, caso o cli-
ma institucional esteja em condições de proporcionar-lhes
se caracterizando por uma variedade de modalidades de
segurança, tranquilidade e alegria. Adultos amigáveis, que
atendimento. Há creches funcionando em período inte-
escutam as necessidades das crianças e, com afeto, aten-
gral entre 8 e 12 horas por dia, que atendem o ano todo
dem a elas, constituem-se em um primeiro passo para
sem interrupção; outras fecham para férias; há creches de
criar um bom clima. As crianças precisam ser respeitadas
meio período; há creches que atendem 24 horas por dia;
em suas diferenças individuais, ajudadas em seus conflitos
há pré-escolas funcionando de 3 a 4 horas e há inclusive
por adultos que sabem sobre seu comportamento, enten-
as que atendem em período integral.
dem suas frustrações, possibilitando-lhes limites claros. Os
Ao se pensar em uma proposta curricular deve-se le-
adultos devem respeitar o desenvolvimento das crianças e
var em conta não só o número de horas que a criança encorajá-las em sua curiosidade, valorizando seus esforços.
passa na instituição, mas também a idade em que come-
çou a frequentá-la e quantos anos terá pela frente. Estas Formação do coletivo institucional
questões acabam influindo na seleção dos conteúdos a
serem trabalhados com as crianças, na articulação curri- Elaborar e implantar um projeto educativo requer das
cular de maneira a garantir um maior número de expe- equipes de profissionais das instituições um grande es-
riências diversificadas a todas as crianças que a frequen- forço conjunto. A direção da instituição tem um papel
tam. Muitas instituições de educação infantil têm a tarefa chave neste processo quando auxilia a criação de um cli-
complexa de receber crianças a qualquer tempo e idade.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ma democrático e pluralista. Deve incentivar e acolher as


É possível, por exemplo, que crianças ingressem com seis participações de todos de modo a possibilitar um projeto
meses, com dois anos ou cinco anos. Esta especificidade que contemple a explicitação das divergências e das ex-
da educação infantil exige uma flexibilidade em relação pectativas de crianças, pais, docentes e comunidade.
às propostas pedagógicas e em relação aos objetivos O coletivo de profissionais da instituição de educação
educacionais que se pretende alcançar. infantil, entendido como organismo vivo e dinâmico é
O fato de muitas instituições atenderem em horário o responsável pela construção do projeto educacional e
integral implica uma maior responsabilidade quanto ao do clima institucional. A tematização da prática, o com-
desenvolvimento e aprendizagens infantis, assim como partilhar de conhecimentos são ações que conduzidas
com a oferta de cuidados adequados em termos de saú- com intencionalidade, formam o coletivo criando con-
de e higiene. Estes horários estendidos devem significar dições para que o trabalho desenvolvido seja debatido,

130
compreendido e assumido por todos. Compartilhar é um os primeiros passos, brincar, interagir com outras crian-
processo que contribui para que a instituição se consti- ças, repousar quando sentirem necessidade etc. Os vá-
tua como unidade educacional no qual são expressas as rios momentos do dia que demandam mais espaço livre
teorias e os saberes que sustentam a prática pedagógica. para movimentação corporal ou ambientes para acon-
Esse processo tece a unidade do projeto educativo que chego e/ou para maior concentração, ou ainda, ativida-
embora traduzida pelos diferentes indivíduos do coleti- des de cuidados implicam, também, planejar, organizar e
vo, parte de princípios comuns. A unidade é, portanto, mudar constantemente o espaço. Nas salas, a forma de
construída dinamicamente. organização pode comportar ambientes que permitem
o desenvolvimento de atividades diversificadas e simul-
Espaço para formação continuada tâneas, como, por exemplo, ambientes para jogos, artes,
faz-de-conta, leitura etc.
O coletivo, segundo as características apontadas aci- Pesquisas indicam que ambientes divididos são mais
ma, não pode prescindir da formação continuada que indicados para estruturar espaços para crianças peque-
deve fazer parte da rotina institucional e não pode ocor- nas ao invés de grandes áreas livres. Os pequenos in-
rer de forma esporádica. teragem melhor em grupos quando estão em espaços
Hora e lugar especialmente destinado à formação de- menores e mais aconchegantes de onde podem visua-
vem possibilitar o encontro entre os professores para a lizar o adulto. Os elementos que dividem o espaço são
troca de ideias sobre a prática, para supervisão, estudos variados, podendo ser prateleiras baixas, pequenas casi-
sobre os mais diversos temas pertinentes ao trabalho, nhas, caixas, biombos baixos dos mais diversos tipos etc.
organização e planejamento da rotina, do tempo e ati- Esse tipo de organização favorece à criança ficar sozinha,
vidades e outras questões relativas ao projeto educativo. se assim o desejar.
A instituição deve proporcionar condições para que Na área externa, há que se criar espaços lúdicos que
todos os profissionais participem de momentos de for- sejam alternativos e permitam que as crianças corram,
mação de naturezas diversas como reuniões, palestras, balancem, subam, desçam e escalem ambientes diferen-
visitas, atualizações por meio de filmes, vídeos etc. ciados, pendurem-se, escorreguem, rolem, joguem bola,
brinquem com água e areia, escondam se etc.
Espaço físico e recursos materiais
Os recursos materiais
A estruturação do espaço, a forma como os materiais
estão organizados, a qualidade e adequação dos mes- Recursos materiais entendidos como mobiliário, es-
mos são elementos essenciais de um projeto educativo. pelhos, brinquedos, livros, lápis, papéis, tintas, pincéis,
Espaço físico, materiais, brinquedos, instrumentos sono- tesouras, cola, massa de modelar, argila, jogos os mais
ros e mobiliários não devem ser vistos como elementos diversos, blocos para construções, material de sucata,
passivos, mas como componentes ativos do processo roupas e panos para brincar etc. devem ter presença
educacional que refletem a concepção de educação as- obrigatória nas instituições de educação infantil de for-
sumida pela instituição. Constituem-se em poderosos ma cuidadosamente planejada.
auxiliares da aprendizagem. Sua presença desponta Os materiais constituem um instrumento importan-
como um dos indicadores importantes para a definição te para o desenvolvimento da tarefa educativa, uma vez
de práticas educativas de qualidade em instituição de que são um meio que auxilia a ação das crianças. Se de
educação infantil. No entanto, a melhoria da ação edu- um lado, possuem qualidades físicas que permitem a
cativa não depende exclusivamente da existência destes construção de um conhecimento mais direto e baseado
objetos, mas está condicionada ao uso que fazem deles na experiência imediata, por outro lado, possuem qua-
os professores junto às crianças com as quais trabalham. lidades outras que serão conhecidas apenas pela inter-
Os professores preparam o ambiente para que a criança venção dos adultos ou de parceiros mais experientes. As
possa aprender de forma ativa na interação com outras crianças exploram os objetos, conhecem suas proprieda-
crianças e com os adultos. des e funções e, além disso, transformam-nos nas suas
brincadeiras, atribuindo-lhes novos significados.
Versatilidade do espaço Os brinquedos constituem-se, entre outros, em obje-
tos privilegiados da educação das crianças. São objetos
O espaço na instituição de educação infantil deve que dão suporte ao brincar e podem ser das mais diver-
propiciar condições para que as crianças possam usufruí- sas origens materiais, formas, texturas, tamanho e cor.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

-lo em benefício do seu desenvolvimento e aprendiza- Podem ser comprados ou fabricados pelos professores
gem. Para tanto, é preciso que o espaço seja versátil e e pelas próprias crianças; podem também ter vida curta,
permeável à sua ação, sujeito às modificações propostas quando inventados e confeccionados pelas crianças em
pelas crianças e pelos professores em função das ações determinada brincadeira e durar várias gerações, quando
desenvolvidas. transmitidos de pai para filho. Nessa perspectiva, as ins-
Deve ser pensado e rearranjado, considerando as di- tituições devem integrá-los ao acervo de materiais exis-
ferentes necessidades de cada faixa etária, assim como tentes nas salas, prevendo critérios de escolha, seleção
os diferentes projetos e atividades que estão sendo de- e aquisição de acordo com a faixa etária atendida e os
senvolvidos. Particularmente, as crianças de zero a um diferentes projetos desenvolvidos na instituição.
ano de idade necessitam de um espaço especialmente
preparado onde possam engatinhar livremente, ensaiar

131
Acessibilidade dos materiais tato entre estas crianças de diferentes faixas etárias e
com diferentes capacidades deve ser planejado. Isto quer
Outro ponto importante a ser ressaltado diz respeito dizer que é interessante prever constantes momentos na
à disposição e organização dos materiais, uma vez que rotina ou planejar projetos que integrem estes diferentes
isso pode ser decisivo no uso que as crianças venham a agrupamentos.
fazer deles. Os brinquedos e demais materiais precisam Tão importante quanto pensar nos agrupamentos por
estar dispostos de forma acessível às crianças, permitin- faixa etária é refletir sobre o número de crianças por gru-
do seu uso autônomo, sua visibilidade, bem como uma pos e a proporção de adulto por crianças. Quanto me-
organização que possibilite identificar os critérios de or- nores as crianças, mais desaconselhados são os grupos
denação. muito grandes, pois há uma demanda de atendimento
É preciso que, em todas as salas, exista mobiliário individualizado. Até os 12 meses, é aconselhável não ter
adequado ao tamanho das crianças para que estas dis- mais de 6 crianças por adulto, sendo necessária uma aju-
ponham permanentemente de materiais para seu uso es- da nos momentos de maior demanda, como, por exem-
pontâneo ou em atividades dirigidas. Este uso frequente plo, em situações de alimentação. Do primeiro ao se-
ocasiona, inevitavelmente, desgaste em brinquedos, li- gundo ano de vida, aproximadamente, aconselha-se não
vros, canetas, pincéis, tesouras, jogos etc. Esta situação mais do que 8 crianças para cada adulto, ainda com ajuda
comum não deve ser pretexto para que os adultos guar- em determinados momentos. A partir do momento no
dem e tranquem os materiais em armários, dificultando qual as crianças deixam as fraldas até os 3 anos, pode-se
seu uso pelas crianças. Usar, usufruir, cuidar e manter os organizar grupos de 12 a 15 crianças por adulto. Quando
materiais são aprendizagens importantes nessa faixa etá- as crianças adquirem maior autonomia em relação aos
ria. A manutenção e reposição destes materiais devem cuidados e interagem de forma mais independente com
fazer parte da rotina das instituições e não acontecer de seus pares, é possível pensar em grupos maiores, mas
forma esporádica. que não ultrapassem 25 crianças por professor.
A razão adulto/criança, porém, não pode ser um cri-
tério isolado. Mesmo quando as proporções acima indi-
Segurança do espaço e dos materiais
cadas são respeitadas, há de se considerar que grupos
com muitas crianças e muitos professores não resolvem
Para as crianças circularem com independência no es-
as necessidades de um trabalho mais individualizado e
paço, é necessário um bom planejamento que garanta as
cria um ambiente inadequado.
condições de segurança necessárias. É imprescindível o
uso de materiais resistentes, de boa qualidade e testados
Organização do tempo
pelo mercado, como vidros e espelhos resistentes, ma-
teriais elétricos e hidráulicos de comprovada eficácia e A rotina na educação infantil pode ser facilitadora ou
durabilidade. É necessária, também, proteção adequada cerceadora dos processos de desenvolvimento e apren-
em situações onde exista possibilidade de risco, como dizagem.
escadas, varandas, janelas, acesso ao exterior etc. Os Rotinas rígidas e inflexíveis desconsideram a criança,
brinquedos devem ser seguros (seguindo as normas do que precisa adaptar-se a ela e não o contrário, como de-
Inmetro), laváveis e necessitam estar em boas condições. veria ser; desconsideram também o adulto, tornando seu
Os brinquedos de parque devem estar bem fixados em trabalho monótono, repetitivo e pouco participativo.
área gramada ou coberta com areia e não sobre área ci- O número de horas que a criança permanece na ins-
mentada. tituição, a amplitude dos cuidados físicos necessários ao
atendimento, os ritmos e diferenças individuais e a especi-
Critérios para formação de grupos de crianças ficidade do trabalho pedagógico demandam um planeja-
mento constante da rotina. A organização do tempo deve
As diferenças que caracterizam cada fase de desen- prever possibilidades diversas e muitas vezes simultâneas
volvimento são bastante grandes, o que leva, muitas ve- de atividades, como atividades mais ou menos movimen-
zes, as instituições a justificar os agrupamentos homo- tadas, individuais ou em grupos, com maior ou menor grau
gêneos por faixa etária. Esta forma de agrupamento está de concentração; de repouso, alimentação e higiene; ativi-
relacionada muito mais a uma necessidade do trabalho dades referentes aos diferentes eixos de trabalho.
dos adultos do que às necessidades da criança. Se, de um Considerada como um instrumento de dinamização
lado, isto facilita a organização de algumas atividades e da aprendizagem, facilitador das percepções infantis so-
o melhor aproveitamento do espaço físico disponível, de bre o tempo e o espaço, uma rotina clara e compreensí-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

outro, dificulta a possibilidade de interação que um gru- vel para as crianças é fator de segurança. A rotina pode
po heterogêneo oferece. orientar as ações das crianças, assim como dos professo-
Não há uma divisão rígida, mas é comum que bebês res, possibilitando a antecipação das situações que irão
fiquem em um mesmo grupo até conseguirem andar. As acontecer.
crianças que já andam bem e estão iniciando o contro-
le dos esfíncteres costumam ser concentradas em outro Ambiente de cuidados
agrupamento. Após a retirada das fraldas, as crianças
costumam ser agrupadas por idade, isto é, em turmas de A instituição necessita criar um ambiente de cuida-
três, quatro, cinco e seis anos de idade. Numa concepção do que considere as necessidades das diferentes faixas
de educação e aprendizagem que considera a interação etárias, das famílias e as condições de atendimento da
como um elemento vital para o desenvolvimento, o con- instituição.

132
Como as crianças pequenas se caracterizam por um vel muito mais por um afastamento das duas instituições
ritmo de crescimento e desenvolvimento físico variado do que por um trabalho conjunto em prol da educação
os cuidados devem incluir o acompanhamento deste das crianças.
processo. Visões mais atualizadas sobre a instituição familiar
É possível, principalmente na creche, que alguns gru- propõem que se rejeite a ideia de que exista um único
pos iniciem o ano com determinadas características e ne- modelo. Enfoques teóricos mais recentes procuram en-
cessidades, que estarão modificadas no final do primeiro tender a família como uma criação humana mutável, su-
trimestre. Algumas crianças começam a frequentar o pri- jeita a determinações culturais e históricas que se consti-
meiro grupo das creches ainda no seu primeiro mês de tui tanto em espaço de solidariedade, afeto e segurança
vida, outras serão matriculadas próximo ao quarto mês como em campo de conflitos, lutas e disputa.
ou no final do primeiro ano. Assim nas instituições que A valorização e o conhecimento das características ét-
atendem bebês e crianças pequenas, não se pode prever nicas e culturais dos diferentes grupos sociais que com-
uma organização do cotidiano de forma homogênea e põem a nossa sociedade, e a crítica às relações sociais
que se mantenha o ano todo sem alterações. discriminatórias e excludentes indicam que, novos cami-
A organização dos momentos em que são previstos nhos devem ser trilhados na relação entre as instituições
cuidados com o corpo, banho, lavagem de mãos, higie- de educação infantil e as famílias.
ne oral, uso dos sanitários, repouso e brincadeiras ao ar
livre, podem variar nas instituições de educação infantil, Respeito aos vários tipos de estruturas familiares
segundo os grupos etários atendidos, o tempo de per-
manência diária das crianças na instituição e os acordos Constate-se que as famílias independente da classe
estabelecidos com as famílias. social a qual pertencem se organizam das mais diversas
As atividades de cuidado das crianças se organizam maneiras. Além da família nuclear que é constituída pelo
em função de suas necessidades nas 24 horas do dia. Isto pai, mãe e filhos, proliferam hoje as famílias mono paren-
exige uma programação conjunta com as famílias para tais, nas quais apenas a mãe ou o pai está presente. Exis-
divisão de responsabilidades, evitando-se a sobreposi- tem, ainda, as famílias que se reconstituíram por meio de
ção ou a ausência de alguns dos cuidados essenciais. novos casamentos e possuem filhos advindos dessas re-
O planejamento dos cuidados e da vida cotidiana na lações. Há, também, as famílias extensas, comuns na his-
instituição deve ser iniciado pelo conhecimento sobre tória brasileira, nas quais convivem na mesma casa várias
a criança e suas peculiaridades, que se faz pelo levan- gerações e/ou pessoas ligadas por parentescos diversos.
tamento de dados com a família no ato da matrícula e É possível ainda encontrar várias famílias coabitando em
por meio de um constante intercâmbio entre familiares uma mesma casa. Enfim, parece não haver limites para os
e professores. Algumas informações podem ser colhidas arranjos familiares na atualidade.
previamente à sua entrada na instituição, como os es- As crianças têm direito de ser criadas e educadas no
quemas, preferências e intolerância alimentar; os hábitos seio de suas famílias. O Estatuto da Criança e do Adoles-
de sono e de eliminação; os controles e cuidados espe- cente reafirma, em seus termos, que a família é a primeira
ciais com sua saúde. Outras serão conhecidas na própria instituição social responsável pela efetivação dos direitos
interação com a criança e sua família, ao longo do tempo. básicos das crianças. Cabe, portanto, às instituições es-
tabelecerem um diálogo aberto com as famílias, consi-
Parceria com as famílias derando-as como parceiras e interlocutoras no processo
educativo infantil.
As características da faixa etária das crianças atendi-
das, bem como as necessidades atuais de construção de Acolhimento das diferentes culturas, valores e
uma sociedade mais democrática e pluralista apontam crenças sobre educação de crianças
para a importância de uma atenção especial com a rela-
ção entre as instituições e as famílias. A pluralidade cultural, isto é, a diversidade de etnias,
Constata-se em muitas instituições que estas relações crenças, costumes, valores etc. que caracterizam a popu-
têm sido conflituosas, baseadas numa concepção equi- lação brasileira marca, também, as instituições de educa-
vocada de que as famílias dificultam o processo de so- ção infantil.
cialização e de aprendizagem das crianças. No caso das O trabalho com a diversidade e o convívio com a dife-
famílias de baixa renda, por serem consideradas como rença possibilitam a ampliação de horizontes tanto para
portadoras de carências de toda ordem. No caso das fa- o professor quanto para a criança. Isto porque permite
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mílias de maior poder aquisitivo, a crítica incide na rela- a conscientização de que a realidade de cada um é ape-
ção afetiva estabelecida com as crianças. Esta concepção nas parte de um universo maior que oferece múltiplas
traduz um preconceito que gera ações discriminatórias, escolhas. Assumir um trabalho de acolhimento às dife-
impedindo o diálogo. Muitas instituições que agem em rentes expressões e manifestações das crianças e suas
função deste tipo de preconceito têm procurado implan- famílias significa valorizar e respeitar a diversidade, não
tar programas que visam a instruir as famílias, especial- implicando a adesão incondicional aos valores do outro.
mente as mães, sobre como educar e criar seus filhos Cada família e suas crianças são portadoras de um vasto
dentro de um padrão preestabelecido e considerado repertório que se constitui em material rico e farto para
adequado. Essa ação, em geral moralizadora, tem por o exercício do diálogo, aprendizagem com a diferença,
base o modelo de família idealizada e tem sido responsá- a não discriminação e as atitudes não preconceituosas.

133
Estas capacidades são necessárias para o desenvol- mente à medida das necessidades. As reuniões para dis-
vimento de uma postura ética nas relações humanas. cussão sobre o andamento dos trabalhos com as crianças
Nesse sentido, as instituições de educação infantil, por são sempre bem-vindas e se constituem em um direito
intermédio de seus profissionais, devem desenvolver a dos pais.
capacidade de ouvir, observar e aprender com as famí-
lias. No entanto, a participação das famílias não deve estar
Acolher as diferentes culturas não pode se limitar às sujeita a uma única possibilidade. As instituições de edu-
comemorações festivas, a eventuais apresentações de cação infantil precisam pensar em formas mais variadas
danças típicas ou à experimentação de pratos regionais. de participação de modo a atender necessidades e inte-
Estas iniciativas são interessantes e desejáveis, mas não resses também diversificados.
são suficientes para lidar com a diversidade de valores e
crenças. Os pais, também, devem ter acesso à:
Compreender o que acontece com as famílias, en- - filosofia e concepção de trabalho da instituição;
tender seus valores ligados a procedimentos disciplina- - informações relativas ao quadro de pessoal com as
res, a hábitos de higiene, a formas de se relacionar com qualificações e experiências;
as pessoas etc. pode auxiliar a construção conjunta de - informações relativas à estrutura e funcionamento
ações. De maneira geral, as instituições de educação de- da creche ou da pré-escola;
vem servir de apoio real e efetivo às crianças e suas fa- - condutas em caso de emergência e problemas de
mílias, respondendo às suas demandas e necessidades. saúde;
Evitar julgamentos moralistas, pessoais ou vinculados a - informações quanto a participação das crianças e
preconceitos é condição para o estabelecimento de uma famílias em eventos especiais.
base para o diálogo.
As orientações podem ser modificadas caso haja um
Estabelecimento de canais de comunicação trabalho coletivo envolvendo as famílias e o coletivo de
profissionais por meio de consultas e negociações per-
Existem oportunidades variadas de incluir as famílias manentes.
no projeto institucional. Há experiências interessantes As trocas recíprocas e o suporte mútuo devem ser a
de criação de conselhos e associações de pais que são tônica do relacionamento. Os profissionais da instituição
canais abertos de participação na gestão das unidades devem partilhar, com os pais, conhecimentos sobre de-
educacionais. senvolvimento infantil e informações relevantes sobre
A comunicação mais individualizada entre as famílias as crianças utilizando uma sistemática de comunicações
e as instituições de educação infantil deve ocorrer desde regulares.
o início de forma planejada. Após os primeiros contatos,
a comunicação entre as famílias e os professores pode se
Inclusão do conhecimento familiar no trabalho
tornar uma rotina mais informal, mas bastante ativa. En-
educativo
trar todos os dias até a sala onde sua criança está, trocar
algumas palavras com o professor pode ser um fator de
É possível integrar o conhecimento das famílias nos
tranquilidade para muitos pais. Quanto menor a criança,
projetos e demais atividades pedagógicas. Não só as
mais importante essa troca de informações. Este contato
questões culturais e regionais podem ser inseridas nas
direto não deve ser substituído por comunicações im-
programações por meio da participação de pais e demais
pessoais, escritas de maneira burocrática. Oportunidades
de encontros periódicos com os pais de um mesmo gru- familiares, mas também as questões afetivas e motiva-
po por meio de reuniões, ou mesmo contatos individuais ções familiares podem fazer parte do cotidiano peda-
fazem parte do cotidiano das instituições de educação gógico. Por exemplo, a história da escolha do nome das
infantil. crianças, as brincadeiras preferidas dos pais na infância,
Em geral, a troca de informações é diária com as fa- as histórias de vida etc. podem tornar-se parte integrante
mílias, principalmente quando há cuidados especiais que de projetos a serem trabalhados com as crianças.
a criança esteja necessitando. Assim, para que o profes-
sor não fique sobrecarregado pela necessidade de dar Acolhimento das famílias e das crianças na insti-
atenção às famílias e crianças ao mesmo tempo, o plane- tuição
jamento deste momento — em conjunto com os pais e
a ajuda de outros funcionários — é fundamental para o A entrada na instituição
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

relacionamento de todos os envolvidos.


É preciso combinar formas de comunicação para tro- O ingresso das crianças nas instituições pode criar
cas específicas de informações, como uso de medica- ansiedade tanto para elas e para seus pais como para os
mentos, que precisam ser dados em doses precisas, de professores. As reações podem variar muito, tanto em
acordo com receita do médico, ou eventos ligados à saú- relação às manifestações emocionais quanto ao tempo
de e alimentação. Isso evita esquecimentos que podem necessário para se efetivar o processo.
ser prejudiciais para a saúde da criança e facilita a vida do Algumas crianças podem apresentar comportamen-
professor e da família. tos diferentes daqueles que normalmente revelam em
Com as famílias de crianças maiores, a comunicação é seu ambiente familiar, como alterações de apetite; re-
de natureza diferente. As informações entre as famílias e torno às fases anteriores do desenvolvimento (voltar a
a instituição podem ser mais esporádicas, ocorrendo so- urinar ou evacuar na roupa, por exemplo).

134
Podem, também, adoecer; isolar-se dos demais e criar quem se sinta segura. Quando tiver estabelecido um vín-
dependência de um brinquedo, da chupeta ou de um pa- culo afetivo com o professor e com as outras crianças, é
ninho. As instituições de educação infantil devem ter fle- que ela poderá enfrentar bem a separação, sendo capaz
xibilidade diante dessas singularidades ajudando os pais de se despedir da pessoa querida, com segurança e des-
e as crianças nestes momentos. prendimento.
A entrevista de matrícula pode ser usada para apre- Este período exige muita habilidade, por isso, o pro-
sentar informações sobre o atendimento oferecido, os fessor necessita de apoio e acompanhamento, especial-
objetivos do trabalho, a concepção de educação adota- mente do diretor e membros da equipe técnica uma vez
da. Esta é uma boa oportunidade também para que se que ele também está sofrendo um processo de adapta-
conheça alguns hábitos das crianças e para que o pro- ção. Os professores precisam ter claro qual é o papel da
fessor estabeleça um primeiro contato com as famílias. mãe (ou de quem estiver acompanhando a criança) em
Quanto mais novo o bebê, maior a ligação entre mãe seus primeiros dias na instituição.
e filho. Assim, não é apenas a criança que passa pela Os pais podem encontrar dificuldades de tempo para
adaptação, mas também a mãe. Dependendo da famí- viver este processo por não poderem se ausentar muitos
lia e da criança, outros membros como o pai, irmãos, dias no trabalho. Neste caso, seria importante que pu-
avós poderão estar envolvidos no processo de adapta- dessem estar presentes, ao menos no primeiro dia, e que
ção à instituição. A maneira como a família vê a entrada depois pudessem ser substituídos por alguém da con-
da criança na instituição de educação infantil tem uma fiança da criança.
influência marcante nas reações e emoções da criança O choro da criança, durante o processo de inserção,
durante o processo inicial. Acolher os pais com suas dú- parece ser o fator que mais provoca ansiedade tanto nos
vidas, angústias e ansiedades, oferecendo apoio e tran- pais quanto nos professores. Mas parece haver, também,
quilidade, contribui para que a criança também se sinta uma crença de que o choro é inevitável e que a criança
menos insegura nos primeiros dias na instituição. Reco- acabará se acostumando, vencida pelo esgotamento fí-
nhecer que os pais são as pessoas que mais conhecem sico ou emocional, parando de chorar. Alguns acreditam
as crianças e que entendem muito sobre como cuidá-las que, se derem muita atenção e as pegarem no colo, as
pode facilitar o relacionamento. Antes de tudo, é preci- crianças se tornarão manhosas, deixando-as chorar. Essa
so estabelecer uma relação de confiança com as famílias, experiência deve ser evitada. Deve ser dada uma atenção
deixando claro que o objetivo é a parceria de cuidados especial às crianças, nesses momentos de choro, pegan-
e educação visando ao bem-estar da criança. Quando há do no colo ou sugerindo-lhes atividades interessantes.
um certo número de crianças para ingressar na institui- O professor pode planejar a melhor forma de organi-
ção, pode-se fazer uma reunião com todos os pais novos zar o ambiente nestes primeiros dias, levando em consi-
para que se conheçam e discutam conjuntamente suas deração os gostos e preferências das crianças, repensan-
dúvidas e preocupações. do a rotina em função de sua chegada e oferecendo-lhes
atividades atrativas. Ambientes organizados com mate-
Os primeiros dias rial de pintura, desenho e modelagem, brinquedos de ca-
sinha, baldes, pás, areia e água etc., são boas estratégias.
No primeiro dia da criança na instituição, a atenção As orientações acima são válidas também para os
do professor deve estar voltada para ela de maneira es- primeiros dias do ano ou do semestre, quando todas as
pecial. Este dia deve ser muito bem planejado para que a crianças e funcionários estão em período de adaptação.
criança possa ser bem acolhida. É recomendável receber É necessário um período de planejamento da equipe
poucas crianças por vez para que se possa atendê-las de para organizar a entrada e a rotina das crianças.
forma individualizada. Com os bebês muito pequenos, o
principal cuidado será preparar o seu lugar no ambiente, Passagem para a escola
o seu berço, identificá-lo com o nome, providenciar os
alimentos que irá receber, e principalmente tranquilizar Com a saída das crianças, as famílias enfrentam no-
os pais. A permanência na instituição de alguns objetos vamente grandes mudanças. A passagem da educação
de transição, como a chupeta, a fralda que ele usa para infantil para o ensino fundamental representa um marco
cheirar, um mordedor, ou mesmo o bico da mamadeira significativo para a criança podendo criar ansiedades e
a que ele está acostumado, ajudará neste processo. Po- inseguranças. O professor de educação infantil deve con-
de-se mesmo solicitar que a mãe ou responsável pela siderar esse fato desde o início do ano, estando disponí-
criança venha, alguns dias antes, ajudar a preparar o ber- vel e atento para as questões e atitudes que as crianças
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ço de seu bebê. possam manifestar. Tais preocupações podem ser apro-


Quando o atendimento é de período integral, é re- veitadas para a realização de projetos que envolvam vi-
comendável que se estabeleça um processo gradual de sitas a escolas de ensino fundamental; entrevistas com
inserção, ampliando o tempo de permanência de manei- professores e alunos; programar um dia de permanên-
ra que a criança vá se familiarizando aos poucos com o cia em uma classe de primeira série. É interessante fazer
professor, com o espaço, com a rotina e com as outras um ritual de despedida, marcando para as crianças este
crianças com as quais irá conviver. momento de passagem com um evento significativo. Es-
É importante que se solicite, nos primeiros dias, e até sas ações ajudam a desenvolver uma disposição positiva
quando se fizer necessário, a presença da mãe ou do pai frente às futuras mudanças demonstrando que, apesar
ou de alguém conhecido da criança para que ela pos- das perdas, há também crescimento.
sa enfrentar o ambiente estranho junto de alguém com

135
Acolhimento de famílias com necessidades espe- subsidiando a participação de técnicos e professores
ciais brasileiros, principalmente daqueles que se encontram
mais isolados, com menor contato com a produção pe-
Algumas famílias enfrentam problemas sérios ligados dagógica atual.
ao alcoolismo, violência familiar ou problemas de saúde Por sua natureza aberta, configuram uma proposta
e desnutrição que comprometem sua atuação junto às flexível, a ser concretizada nas decisões regionais e locais
crianças. sobre currículos e sobre programas de transformação da
Apenas quando a sobrevivência física e mental está realidade educacional empreendidos pelas autoridades
seriamente comprometida pela conduta familiar, ou governamentais, pelas escolas e pelos professores. Não
quando a criança sofre agressão sexual, é possível pensar configuram, portanto, um modelo curricular homogêneo
em uma ação mais enérgica para a interrupção imediata e impositivo, que se sobreporia à competência político-
do comportamento agressor, admitindo-se, em casos ex- -executiva dos Estados e Municípios, à diversidade socio-
tremos, o encaminhamento de crianças para instituições cultural das diferentes regiões do País ou à autonomia de
especializadas longe do convívio familiar. professores e equipes pedagógicas.
No geral, as famílias que, porventura, tiverem dificul- O conjunto das proposições aqui expressas responde
dades em cumprir qualquer uma de suas funções para à necessidade de referenciais a partir dos quais o sistema
com as crianças deverão receber toda ajuda possível das educacional do País se organize, a fim de garantir que,
instituições de educação infantil, da comunidade, do po- respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas,
der público, das instituições de apoio para que melho- religiosas e políticas que atravessam uma sociedade múl-
rem o desempenho junto às crianças. tipla, estratificada e complexa, a educação possa atuar,
decisivamente, no processo de construção da cidadania,
Referências tendo como meta o ideal de uma crescente igualdade
Referencial Curricular Nacional para a Educação In- de direitos entre os cidadãos, baseado nos princípios
fantil volume 1. democráticos. Essa igualdade implica necessariamente o
acesso à totalidade dos bens públicos, entre os quais o
conjunto dos conhecimentos socialmente relevantes.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Entretanto, se estes Parâmetros Curriculares Nacio-
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL; nais podem funcionar como elemento catalisador de
ações na busca de uma melhoria da qualidade da educa-
ção brasileira, de modo algum pretendem resolver todos
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS os problemas que afetam a qualidade do ensino e da
aprendizagem no País. A busca da qualidade impõe a ne-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são a cessidade de investimentos em diferentes frentes, como
referência básica para a elaboração das matrizes de refe- a formação inicial e continuada de professores, uma polí-
rência. Os PCNs foram elaborados para difundir os prin- tica de salários dignos, um plano de carreira, a qualidade
cípios da reforma curricular e orientar os professores na do livro didático, de recursos televisivos e de multimídia,
busca de novas abordagens e metodologias. Eles traçam a disponibilidade de materiais didáticos. Mas esta quali-
um novo perfil para o currículo, apoiado em competên- ficação almejada implica colocar também, no centro do
cias básicas para a inserção dos jovens na vida adulta; debate, as atividades escolares de ensino e aprendiza-
orientam os professores quanto ao significado do co- gem e a questão curricular como de inegável importân-
nhecimento escolar quando contextualizado e quanto à cia para a política educacional da nação brasileira.
interdisciplinaridade, incentivando o raciocínio e a capa-
cidade de aprender. BREVE HISTÓRICO
Segundo as orientações dos PCNs o currículo está
sempre em construção e deve ser compreendido como Até dezembro de 1996 o ensino fundamental este-
um processo contínuo que influencia positivamente a ve estruturado nos termos previstos pela Lei Federal n.
prática do professor. Com base nessa prática e no pro- 5.692, de 11 de agosto de 1971. Essa lei, ao definir as di-
cesso de aprendizagem dos alunos os currículos devem retrizes e bases da educação nacional, estabeleceu como
ser revistos e sempre aperfeiçoados. objetivo geral, tanto para o ensino fundamental (primeiro
A opção teórica adotada é a que pressupõe a exis- grau, com oito anos de escolaridade obrigatória) quan-
tência de competências cognitivas e habilidades a serem to para o ensino médio (segundo grau, não obrigatório),
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

desenvolvidas pelo aluno no processo de ensino-apren- proporcionar aos educandos a formação necessária ao
dizagem. desenvolvimento de suas potencialidades como elemen-
to de auto realização, preparação para o trabalho e para
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES: O QUE SÃO OS o exercício consciente da cidadania.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS? Também generalizou as disposições básicas sobre o
currículo, estabelecendo o núcleo comum obrigatório
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um em âmbito nacional para o ensino fundamental e mé-
referencial de qualidade para a educação no Ensino Fun- dio. Manteve, porém, uma parte diversificada a fim de
damental em todo o País. Sua função é orientar e garantir contemplar as peculiaridades locais, a especificidade dos
a coerência dos investimentos no sistema educacional, planos dos estabelecimentos de ensino e as diferenças
socializando discussões, pesquisas e recomendações, individuais dos alunos. Coube aos Estados a formulação

136
de propostas curriculares que serviriam de base às esco- maior flexibilidade no trato dos componentes curricu-
las estaduais, municipais e particulares situadas em seu lares, reafirmando desse modo o princípio da base na-
território, compondo, assim, seus respectivos sistemas de cional comum (Parâmetros Curriculares Nacionais), a ser
ensino. Essas propostas foram, na sua maioria, reformu- complementada por uma parte diversificada em cada sis-
ladas durante os anos 80, segundo as tendências educa- tema de ensino e escola na prática, repetindo o art. 210
cionais que se generalizaram nesse período. da Constituição Federal.
Em 1990 o Brasil participou da Conferência Mundial Em linha de síntese, pode-se afirmar que o currículo,
de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, con- tanto para o ensino fundamental quanto para o ensino
vocada pela Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial. médio, deve obrigatoriamente propiciar oportunidades
Dessa conferência, assim como da Declaração de Nova para o estudo da língua portuguesa, da matemática, do
Delhi — assinada pelos nove países em desenvolvimento mundo físico e natural e da realidade social e política,
de maior contingente populacional do mundo —, resul- enfatizando-se o conhecimento do Brasil. Também são
taram posições consensuais na luta pela satisfação das áreas curriculares obrigatórias o ensino da Arte e da
necessidades básicas de aprendizagem para todos, ca- Educação Física, necessariamente integradas à propos-
pazes de tornar universal a educação fundamental e de ta pedagógica. O ensino de pelo menos uma língua es-
ampliar as oportunidades de aprendizagem para crian- trangeira moderna passa a se constituir um componente
ças, jovens e adultos. curricular obrigatório, a partir da quinta série do ensino
Tendo em vista o quadro atual da educação no Bra- fundamental (art. 26, § 5o). Quanto ao ensino religioso,
sil e os compromissos assumidos internacionalmente, sem onerar as despesas públicas, a LDB manteve a orien-
o Ministério da Educação e do Desporto coordenou a tação já adotada pela política educacional brasileira, ou
elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos seja, constitui disciplina dos horários normais das escolas
(1993-2003), concebido como um conjunto de diretrizes públicas, mas é de matrícula facultativa, respeitadas as
políticas em contínuo processo de negociação, voltado preferências manifestadas pelos alunos ou por seus res-
para a recuperação da escola fundamental, a partir do ponsáveis (art. 33).
compromisso com a equidade e com o incremento da
qualidade, como também com a constante avaliação dos O ensino proposto pela LDB está em função do obje-
sistemas escolares, visando ao seu contínuo aprimora- tivo maior do ensino fundamental, que é o de propiciar a
mento. todos formação básica para a cidadania, a partir da cria-
O Plano Decenal de Educação, em consonância com ção na escola de condições de aprendizagem para:
o que estabelece a Constituição de 1988, afirma a neces- “I- o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
sidade e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
claros no campo curricular capazes de orientar as ações escrita e do cálculo;
educativas do ensino obrigatório, de forma a adequá-lo II- a compreensão do ambiente natural e social, do
aos ideais democráticos e à busca da melhoria da quali- sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
dade do ensino nas escolas brasileiras. em que se fundamenta a sociedade;
Nesse sentido, a leitura atenta do texto constitucio- III- o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
nal vigente mostra a ampliação das responsabilidades gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e
do poder público para com a educação de todos, ao habilidades e a formação de atitudes e valores;
mesmo tempo que a Emenda Constitucional n. 14, de 12 IV- o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
de setembro de 1996, priorizou o ensino fundamental, de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
disciplinando a participação de Estados e Municípios no que se assenta a vida social” (art. 32).
tocante ao financiamento desse nível de ensino.
Verifica-se, pois, como os atuais dispositivos relativos
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional à organização curricular da educação escolar caminham
(Lei Federal n. 9.394), aprovada em 20 de dezembro de no sentido de conferir ao aluno, dentro da estrutura fe-
1996, consolida e amplia o dever do poder público para derativa, efetivação dos objetivos da educação democrá-
com a educação em geral e em particular para com o tica.
ensino fundamental. Assim, vê-se no art. 22 dessa lei que
a educação básica, da qual o ensino fundamental é parte O processo de elaboração dos Parâmetros Curricu-
integrante, deve assegurar a todos “a formação comum lares Nacionais
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos O processo de elaboração dos Parâmetros Curricula-
posteriores”, fato que confere ao ensino fundamental, ao res Nacionais teve início a partir do estudo de propos-
mesmo tempo, um caráter de terminalidade e de conti- tas curriculares de Estados e Municípios brasileiros, da
nuidade. análise realizada pela Fundação Carlos Chagas sobre os
Essa LDB reforça a necessidade de se propiciar a to- currículos oficiais e do contato com informações relati-
dos a formação básica comum, o que pressupõe a for- vas a experiências de outros países. Foram analisados
mulação de um conjunto de diretrizes capaz de nortear subsídios oriundos do Plano Decenal de Educação, de
os currículos e seus conteúdos mínimos, incumbência pesquisas nacionais e internacionais, dados estatísticos
que, nos termos do art. 9º, inciso IV, é remetida para a sobre desempenho de alunos do ensino fundamental,
União. Para dar conta desse amplo objetivo, a LDB con- bem como experiências de sala de aula difundidas em
solida a organização curricular de modo a conferir uma encontros, seminários e publicações.

137
Formulou-se, então, uma proposta inicial que, apre-
sentada em versão preliminar, passou por um processo
de discussão em âmbito nacional, em 1995 e 1996, do
qual participaram docentes de universidades públicas
e particulares, técnicos de secretarias estaduais e mu-
nicipais de educação, de instituições representativas de
diferentes áreas de conhecimento, especialistas e edu-
cadores. Desses interlocutores foram recebidos aproxi-
madamente setecentos pareceres sobre a proposta ini-
cial, que serviram de referência para a sua reelaboração.
A discussão da proposta foi estendida em inúmeros
encontros regionais, organizados pelas delegacias do
MEC nos Estados da federação, que contaram com a par- A maioria absoluta dos alunos frequentava escolas
ticipação de professores do ensino fundamental, técni- públicas (88,4%) localizadas em áreas urbanas (82,5%),
cos de secretarias municipais e estaduais de educação, como resultado do processo de urbanização do País nas
membros de conselhos estaduais de educação, represen- últimas décadas, e da crescente participação do setor
tantes de sindicatos e entidades ligadas ao magistério. público na oferta de matrículas. O setor privado respon-
Os resultados apurados nesses encontros também con- de apenas por 11,6% da oferta, em consequência de sua
tribuíram para a reelaboração do documento. participação declinante desde o início dos anos 70.
Os pareceres recebidos, além das análises críticas e No que se refere ao número de estabelecimentos de
sugestões em relação ao conteúdo dos documentos, ensino, ao todo 194.487, mais de 70% das escolas são
em sua quase-totalidade, apontaram a necessidade de rurais, apesar de responderem por apenas 17,5% da de-
uma política de implementação da proposta educacional manda de ensino fundamental. Na verdade, as escolas ru-
inicialmente explicitada. Além disso, sugeriram diversas rais concentram-se sobretudo na região Nordeste (50%),
possibilidades de atuação das universidades e das facul- não só em função de suas características socioeconômi-
dades de educação para a melhoria do ensino nas séries cas, mas também devido à ausência de planejamento do
iniciais, as quais estão sendo incorporadas na elaboração processo de expansão da rede física (gráfico 2).
de novos programas de formação de professores, vin-
culados à implementação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais. 

A proposta dos parâmetros curriculares nacionais
em face da situação do ensino fundamental

Durante as décadas de 70 e 80 a tônica da políti-


ca educacional brasileira recaiu sobre a expansão das
oportunidades de escolarização, havendo um aumento
expressivo no acesso à escola básica. Todavia, os altos
índices de repetência e evasão apontam problemas que
evidenciam a grande insatisfação com o trabalho realiza-
do pela escola.
Indicadores fornecidos pela Secretaria de Desenvol-
vimento e Avaliação Educacional (Sediae), do Ministério
da Educação e do Desporto, reafirmam a necessidade de
revisão do projeto educacional do País, de modo a con-
centrar a atenção na qualidade do ensino e da aprendi-
zagem.

Número de alunos e de estabelecimentos

A oferta de vagas está praticamente universalizada no


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

País. O maior contingente de crianças fora da escola en-


contra-se na região Nordeste. Nas regiões Sul e Sudeste
há desequilíbrios na localização das escolas e, no caso A situação mostra-se grave ao se observar a evolução
das grandes cidades, insuficiência de vagas, provocando da distribuição da população por nível de escolaridade.
a existência de um número excessivo de turnos e a cria- Se é verdade que houve considerável avanço na esco-
ção de escolas unidocentes ou multisseriadas. laridade correspondente à primeira fase do ensino fun-
Em 1994, os 31,2 milhões de alunos do ensino fun- damental (primeira a quarta séries), é também verdade
damental concentravam-se predominantemente nas que em relação aos demais níveis de ensino a escolari-
regiões Sudeste (39%) e Nordeste (31%), seguidas das dade ainda é muito insuficiente: em 1990, apenas 19%
regiões Sul (14%), Norte (9%) e Centro-Oeste (7 %), con- da população do País possuía o primeiro grau completo;
forme indicado no gráfico 1. 13%, o nível médio; e 8% possuía o nível superior. Con-

138
siderando a importância do ensino fundamental e médio
para assegurar a formação de cidadãos aptos a participar
democraticamente da vida social, esta situação indica a
urgência das tarefas e o esforço que o estado e a socie-
dade civil deverão assumir para superar a médio prazo o
quadro existente.
Além das imensas diferenças regionais no que con-
cerne ao número médio de anos de estudo, que apon-
tam a região Nordeste bem abaixo da média nacional,
cabe destacar a grande oscilação deste indicador em re-
lação à variável cor, mas relativo equilíbrio do ponto de
vista de gênero.

Com efeito, mais do que refletir as desigualdades


regionais e as diferenças de gênero e cor, o quadro de
escolarização desigual do País revela os resultados do
processo de extrema concentração de renda e níveis ele-
vados de pobreza.

Promoção, repetência e evasão

Em relação às taxas de transição, houve substancial


melhoria dos índices de promoção, repetência e evasão
do ensino fundamental. Verifica-se, no período de 1981-
92, tendência ascendente das taxas de promoção — so-
bem de 55% em 1984, para 62% em 1992 — acompa-
nhada de queda razoável das taxas médias de repetência
e evasão, que atingem, respectivamente, 33% e 5% em Do ponto de vista regional, com exceção do Norte e
1992. do Nordeste, as demais regiões apresentam tendência à
Essa tendência é muito significativa. Estudos indicam elevação das taxas médias de promoção e à queda dos
que a repetência constitui um dos problemas do quadro índices de repetência (gráficos 6 e 7), indicando relativo
educacional do País, uma vez que os alunos passam, em processo de melhoria da eficiência do sistema. Ressalta-
média, 5 anos na escola antes de se evadirem ou levam -se, contudo, tendência à queda das taxas de evasão nas
cerca de 11,2 anos para concluir as oito séries de esco- regiões Norte e Nordeste que, em 1992, chegam muito
laridade obrigatória. No entanto, a grande maioria da próximas da média nacional (gráfico 8).
população estudantil acaba desistindo da escola, deses-
timulada em razão das altas taxas de repetência e pres-
sionada por fatores socioeconômicos que obrigam boa
parte dos alunos ao trabalho precoce.
Apesar da melhoria observada nos índices de evasão,
o comportamento das taxas de promoção e repetência
na primeira série do ensino fundamental está ainda lon-
ge do desejável: apenas 51% do total de alunos são pro-
movidos, enquanto 44% repetem, reproduzindo assim
o ciclo de retenção que acaba expulsando os alunos da
escola (gráficos 3, 4 e 5).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

139
temática, tanto no ensino fundamental como no médio.
A repetência, portanto, parece não acrescentar nada ao
processo de ensino e aprendizagem.

Desempenho

O perfil da educação brasileira apresentou significati-


vas mudanças nas duas últimas décadas.
Houve substancial queda da taxa de analfabetismo,
aumento expressivo do número de matrículas em todos
os níveis de ensino e crescimento sistemático das taxas
de escolaridade média da população.
A progressiva queda da taxa de analfabetismo, que
passa de 39,5% para 20,1% nas quatro últimas décadas,
foi paralela ao processo de universalização do atendi-
As taxas de repetência evidenciam a baixa qualidade mento escolar na faixa etária obrigatória (sete a quatorze
do ensino e a incapacidade dos sistemas educacionais e anos), tendência que se acentua de meados dos anos 70
das escolas de garantir a permanência do aluno, penali- para cá, sobretudo como resultado do esforço do setor
zando principalmente os alunos de níveis de renda mais público na promoção das políticas educacionais.
baixos. Esse movimento não ocorreu de forma homogênea.
O “represamento” no sistema causado pelo número Ele acompanhou as características de desenvolvimento
excessivo de reprovações nas séries iniciais contribui de socioeconômico do País e reflete suas desigualdades.
forma significativa para o aumento dos gastos públicos, Por outro lado, resultados obtidos em pesquisa reali-
ainda acrescidos pela subutilização de recursos humanos zada pelo SAEB/95, baseados em uma amostra nacional
e materiais nas séries finais, devido ao número reduzido que abrangeu 90.499 alunos de 2.793 escolas públicas
de alunos. e privadas, reafirmam a baixa qualidade atingida no de-
Uma das consequências mais nefastas das elevadas sempenho dos alunos no ensino fundamental em relação
taxas de repetência manifesta-se nitidamente nas acen- à leitura e principalmente em habilidade matemática.
tuadas taxas de distorção série/idade, em todas as séries
do ensino fundamental (gráfico 9). Apesar da ligeira que- Os resultados de desempenho em matemática mos-
da observada em todas as séries, no período 1984-94, a tram um rendimento geral insatisfatório, pois os per-
situação é dramática: centuais em sua maioria situam-se abaixo de 50%. Ao
- mais de 63% dos alunos do ensino fundamental têm indicarem um rendimento melhor nas questões classifi-
idade superior à faixa etária correspondente a cada cadas como de compreensão de conceitos do que nas de
série; conhecimento de procedimentos e resolução de proble-
- as regiões Sul e Sudeste, embora situem-se abaixo mas, os dados parecem confirmar o que vem sendo am-
da média nacional, ainda apresentam índices bas- plamente debatido, ou seja, que o ensino da matemática
tante elevados, respectivamente, cerca de 42% e ainda é feito sem levar em conta os aspectos que a vin-
de 54%; culam com a prática cotidiana, tornando-a desprovida de
- as regiões Norte e Nordeste situam-se bem acima significado para o aluno. Outro fato que chama a atenção
da média nacional (respectivamente, 78% e 80%). é que o pior índice refere-se ao campo da geometria.
Os dados apresentados pela pesquisa confirmam a
necessidade de investimentos substanciais para a melho-
ria da qualidade do ensino e da aprendizagem no ensino
fundamental.
Mesmo os alunos que conseguem completar os oito
anos do ensino fundamental acabam dispondo de me-
nos conhecimento do que se espera de quem concluiu
a escolaridade obrigatória. Aprenderam pouco, e muitas
vezes o que aprenderam não facilita sua inserção e atua-
ção na sociedade. Dentre outras deficiências do processo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de ensino e aprendizagem, são relevantes o desinteresse


geral pelo trabalho escolar, a motivação dos alunos cen-
Para reverter esse quadro, alguns Estados e Municí- trada apenas na nota e na promoção, o esquecimento
pios começam a implementar programas de aceleração precoce dos assuntos estudados e os problemas de dis-
do fluxo escolar, com o objetivo de promover, a médio ciplina.
prazo, a melhoria dos indicadores de rendimento escolar. Desde os anos 80, experiências concretas no âmbi-
São iniciativas extremamente importantes, uma vez que a to dos Estados e Municípios vêm sendo tentadas para a
pesquisa realizada pelo MEC, em 1995, por meio do Sis- transformação desse quadro educacional mas, ainda que
tema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) tenham obtido sucesso, são experiências circunscritas a
mostra que quanto maior a distorção idade/série, pior realidades específicas.
o rendimento dos alunos em Língua Portuguesa e Ma-

140
Professores que considere os interesses e as motivações dos alunos e
garanta as aprendizagens essenciais para a formação de
O desempenho dos alunos remete-nos diretamente cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de
à necessidade de se considerarem aspectos relativos à atuar com competência, dignidade e responsabilidade na
formação do professor. Pelo Censo Educacional de 1994 sociedade em que vivem.
foi feito um levantamento da quantidade de professo- O exercício da cidadania exige o acesso de todos à
res que atuam no ensino fundamental, bem como grau totalidade dos recursos culturais relevantes para a in-
de escolaridade. Do total de funções docentes do ensino tervenção e a participação responsável na vida social. O
fundamental (cerca de 1,3 milhão), 86,3% encontram-se domínio da língua falada e escrita, os princípios da refle-
na rede pública; mais de 79% relacionam-se às escolas da xão matemática, as coordenadas espaciais e temporais
área urbana e apenas 20,4% à zona rural. que organizam a percepção do mundo, os princípios da
explicação científica, as condições de fruição da arte e
A exigência legal de formação inicial para atuação das mensagens estéticas, domínios de saber tradicional-
no ensino fundamental nem sempre pode ser cumprida, mente presentes nas diferentes concepções do papel da
em função das deficiências do sistema educacional. No educação no mundo democrático, até outras tantas exi-
entanto, a má qualidade do ensino não se deve simples- gências que se impõem no mundo contemporâneo.
mente à não formação inicial de parte dos professores, Essas exigências apontam a relevância de discussões
resultando também da má qualidade da formação que sobre a dignidade do ser humano, a igualdade de di-
tem sido ministrada. Este levantamento mostra a urgên- reitos, a recusa categórica de formas de discriminação,
cia de se atuar na formação inicial dos professores. a importância da solidariedade e do respeito. Cabe ao
Além de uma formação inicial consistente, é preciso campo educacional propiciar aos alunos as capacidades
considerar um investimento educativo contínuo e siste- de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolí-
mático para que o professor se desenvolva como profis- tica e cultural. Apresenta-se para a escola, hoje mais do
sional de educação. O conteúdo e a metodologia para que nunca, a necessidade de assumir-se como espaço
essa formação precisam ser revistos para que haja pos- social de construção dos significados éticos necessários e
sibilidade de melhoria do ensino. A formação não pode constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania.
ser tratada como um acúmulo de cursos e técnicas, mas
sim como um processo reflexivo e crítico sobre a prática No contexto atual, a inserção no mundo do trabalho
educativa. Investir no desenvolvimento profissional dos e do consumo, o cuidado com o próprio corpo e com a
professores é também intervir em suas reais condições saúde, passando pela educação sexual, e a preservação do
de trabalho. meio ambiente são temas que ganham um novo estatuto,
num universo em que os referenciais tradicionais, a partir
Princípios e Fundamentos dos Parâmetros Curri- dos quais eram vistos como questões locais ou individuais,
culares Nacionais já não dão conta da dimensão nacional e até mesmo in-
ternacional que tais temas assumem, justificando, portanto,
Na sociedade democrática, ao contrário do que ocor- sua consideração. Nesse sentido, é papel preponderante da
re nos regimes autoritários, o processo educacional não escola propiciar o domínio dos recursos capazes de levar à
pode ser instrumento para a imposição, por parte do go- discussão dessas formas e sua utilização crítica na perspec-
verno, de um projeto de sociedade e de nação. Tal pro- tiva da participação social e política.
jeto deve resultar do próprio processo democrático, nas Desde a construção dos primeiros computadores, na
suas dimensões mais amplas, envolvendo a contraposi- metade deste século, novas relações entre conhecimen-
ção de diferentes interesses e a negociação política ne- to e trabalho começaram a ser delineadas. Um de seus
cessária para encontrar soluções para os conflitos sociais. efeitos é a exigência de um reequacionamento do pa-
Não se pode deixar de levar em conta que, na atual pel da educação no mundo contemporâneo, que coloca
realidade brasileira, a profunda estratificação social e a para a escola um horizonte mais amplo e diversificado
injusta distribuição de renda têm funcionado como um do que aquele que, até poucas décadas atrás, orienta-
entrave para que uma parte considerável da população va a concepção e construção dos projetos educacionais.
possa fazer valer os seus direitos e interesses fundamen- Não basta visar à capacitação dos estudantes para futu-
tais. Cabe ao governo o papel de assegurar que o pro- ras habilitações em termos das especializações tradicio-
cesso democrático se desenvolva de modo a que esses nais, mas antes trata-se de ter em vista a formação dos
entraves diminuam cada vez mais. É papel do Estado estudantes em termos de sua capacitação para a aqui-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

democrático investir na escola, para que ela prepare e sição e o desenvolvimento de novas competências, em
instrumentalize crianças e jovens para o processo demo- função de novos saberes que se produzem e demandam
crático, forçando o acesso à educação de qualidade para um novo tipo de profissional, preparado para poder lidar
todos e às possibilidades de participação social. com novas tecnologias e linguagens, capaz de responder
Para isso faz-se necessária uma proposta educacional a novos ritmos e processos. Essas novas relações entre
que tenha em vista a qualidade da formação a ser ofere- conhecimento e trabalho exigem capacidade de iniciati-
cida a todos os estudantes. O ensino de qualidade que a va e inovação e, mais do que nunca, “aprender a apren-
sociedade demanda atualmente expressa-se aqui como der”. Isso coloca novas demandas para a escola. A educa-
a possibilidade de o sistema educacional vir a propor ção básica tem assim a função de garantir condições para
uma prática educativa adequada às necessidades sociais, que o aluno construa instrumentos que o capacitem para
políticas, econômicas e culturais da realidade brasileira, um processo de educação permanente.

141
Para tanto, é necessário que, no processo de ensino São uma referência nacional para o ensino funda-
e aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de mental; estabelecem uma meta educacional para a qual
metodologias capazes de priorizar a construção de es- devem convergir as ações políticas do Ministério da Edu-
tratégias de verificação e comprovação de hipóteses na cação e do Desporto, tais como os projetos ligados à sua
construção do conhecimento, a construção de argumen- competência na formação inicial e continuada de pro-
tação capaz de controlar os resultados desse processo, o fessores, à análise e compra de livros e outros materiais
desenvolvimento do espírito crítico capaz de favorecer a didáticos e à avaliação nacional. Têm como função sub-
criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógi- sidiar a elaboração ou a revisão curricular dos Estados e
cos das explicações propostas. Além disso, é necessário Municípios, dialogando com as propostas e experiências
ter em conta uma dinâmica de ensino que favoreça não já existentes, incentivando a discussão pedagógica in-
só o descobrimento das potencialidades do trabalho in- terna das escolas e a elaboração de projetos educativos,
dividual, mas também, e sobretudo, do trabalho coletivo. assim como servir de material de reflexão para a prática
Isso implica o estímulo à autonomia do sujeito, desen- de professores.
volvendo o sentimento de segurança em relação às suas Todos os documentos aqui apresentados configuram
próprias capacidades, interagindo de modo orgânico e uma referência nacional em que são apontados conteú-
integrado num trabalho de equipe e, portanto, sendo ca- dos e objetivos articulados, critérios de eleição dos pri-
paz de atuar em níveis de interlocução mais complexos meiros, questões de ensino e aprendizagem das áreas,
e diferenciados. que permeiam a prática educativa de forma explícita ou
implícita, propostas sobre a avaliação em cada momento
Natureza e função dos Parâmetros Curriculares da escolaridade e em cada área, envolvendo questões re-
Nacionais lativas a o que e como avaliar. Assim, além de conter uma
exposição sobre seus fundamentos, contém os diferentes
Cada criança ou jovem brasileiro, mesmo de locais elementos curriculares — tais como Caracterização das
com pouca infraestrutura e condições socioeconômi- Áreas, Objetivos, Organização dos Conteúdos, Critérios
cas desfavoráveis, deve ter acesso ao conjunto de co- de Avaliação e Orientações Didáticas —, efetivando uma
nhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos proposta articuladora dos propósitos mais gerais de for-
como necessários para o exercício da cidadania para mação de cidadania, com sua operacionalização no pro-
deles poder usufruir. Se existem diferenças sociocultu- cesso de aprendizagem.
rais marcantes, que determinam diferentes necessidades Apesar de apresentar uma estrutura curricular com-
de aprendizagem, existe também aquilo que é comum pleta, os Parâmetros Curriculares Nacionais são abertos e
a todos, que um aluno de qualquer lugar do Brasil, do flexíveis, uma vez que, por sua natureza, exigem adapta-
interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da zona ções para a construção do currículo de uma Secretaria ou
rural, deve ter o direito de aprender e esse direito deve mesmo de uma escola. Também pela sua natureza, eles
ser garantido pelo Estado. não se impõem como uma diretriz obrigatória: o que se
Mas, na medida em que o princípio da equidade re- pretende é que ocorram adaptações, por meio do diá-
conhece a diferença e a necessidade de haver condições logo, entre estes documentos e as práticas já existentes,
diferenciadas para o processo educacional, tendo em vis- desde as definições dos objetivos até as orientações di-
ta a garantia de uma formação de qualidade para todos, dáticas para a manutenção de um todo coerente.
o que se apresenta é a necessidade de um referencial
comum para a formação escolar no Brasil, capaz de indi- Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão situados
car aquilo que deve ser garantido a todos, numa realida- historicamente — não são princípios atemporais. Sua
de com características tão diferenciadas, sem promover validade depende de estarem em consonância com a
uma uniformização que descaracterize e desvalorize pe- realidade social, necessitando, portanto, de um processo
culiaridades culturais e regionais. periódico de avaliação e revisão, a ser coordenado pelo
É nesse sentido que o estabelecimento de uma re- MEC.
ferência curricular comum para todo o País, ao mesmo O segundo nível de concretização diz respeito às pro-
tempo que fortalece a unidade nacional e a responsabili- postas curriculares dos Estados e Municípios. Os Parâme-
dade do Governo Federal com a educação, busca garan- tros Curriculares Nacionais poderão ser utilizados como
tir, também, o respeito à diversidade que é marca cultural recurso para adaptações ou elaborações curriculares rea-
do País, mediante a possibilidade de adaptações que in- lizadas pelas Secretarias de Educação, em um processo
tegrem as diferentes dimensões da prática educacional. definido pelos responsáveis em cada local.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Para compreender a natureza dos Parâmetros Cur- O terceiro nível de concretização refere-se à elabo-
riculares Nacionais, é necessário situá-los em relação a ração da proposta curricular de cada instituição escolar,
quatro níveis de concretização curricular considerando contextualizada na discussão de seu projeto educativo.
a estrutura do sistema educacional brasileiro. Tais níveis Entende-se por projeto educativo a expressão da iden-
não representam etapas sequenciais, mas sim amplitudes tidade de cada escola em um processo dinâmico de dis-
distintas da elaboração de propostas curriculares, com cussão, reflexão e elaboração contínua. Esse processo
responsabilidades diferentes, que devem buscar uma in- deve contar com a participação de toda equipe pedagó-
tegração e, ao mesmo tempo, autonomia. gica, buscando um comprometimento de todos com o
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem o trabalho realizado, com os propósitos discutidos e com a
primeiro nível de concretização curricular. adequação de tal projeto às características sociais e cul-
turais da realidade em que a escola está inserida. É no

142
âmbito do projeto educativo que professores e equipe A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixa
pedagógica discutem e organizam os objetivos, conteú- evidente a influência dos grandes movimentos educacio-
dos e critérios de avaliação para cada ciclo. nais internacionais, da mesma forma que expressam as
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as propostas especificidades de nossa história política, social e cultu-
das Secretarias devem ser vistos como materiais que sub- ral, a cada período em que são consideradas. Pode-se
sidiarão a escola na constituição de sua proposta educa- identificar, na tradição pedagógica brasileira, a presença
cional mais geral, num processo de interlocução em que de quatro grandes tendências: a tradicional, a renovada,
se compartilham e explicitam os valores e propósitos que a tecnicista e aquelas marcadas centralmente por preo-
orientam o trabalho educacional que se quer desenvol- cupações sociais e políticas. Tais tendências serão sinte-
ver e o estabelecimento do currículo capaz de atender às tizadas em grandes traços que tentam recuperar os pon-
reais necessidades dos alunos. tos mais significativos de cada uma das propostas. Este
documento não ignora o risco de uma certa redução das
O quarto nível de concretização curricular é o mo- concepções, tendo em vista a própria síntese e os limites
mento da realização da programação das atividades de desta apresentação.
ensino e aprendizagem na sala de aula. É quando o pro- A “pedagogia tradicional” é uma proposta de educa-
fessor, segundo as metas estabelecidas na fase de con- ção centrada no professor, cuja função se define como
cretização anterior, faz sua programação, adequando-a a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a
àquele grupo específico de alunos. A programação deve matéria.
garantir uma distribuição planejada de aulas, distribui- A metodologia decorrente de tal concepção baseia-
ção dos conteúdos segundo um cronograma referencial, -se na exposição oral dos conteúdos, numa sequência
definição das orientações didáticas prioritárias, seleção predeterminada e fixa, independentemente do contexto
do material a ser utilizado, planejamento de projetos e escolar; enfatiza-se a necessidade de exercícios repetidos
sua execução. Apesar de a responsabilidade ser essen- para garantir a memorização dos conteúdos. A função
cialmente de cada professor, é fundamental que esta seja primordial da escola, nesse modelo, é transmitir conhe-
compartilhada com a equipe da escola por meio da cor- cimentos disciplinares para a formação geral do aluno,
responsabilidade estabelecida no projeto educativo. formação esta que o levará, ao inserir-se futuramente
Tal proposta, no entanto, exige uma política educa- na sociedade, a optar por uma profissão valorizada. Os
cional que contemple a formação inicial e continuada conteúdos do ensino correspondem aos conhecimentos
dos professores, uma decisiva revisão das condições sa- e valores sociais acumulados pelas gerações passadas
lariais, além da organização de uma estrutura de apoio como verdades acabadas, e, embora a escola vise à pre-
que favoreça o desenvolvimento do trabalho (acervo de paração para a vida, não busca estabelecer relação entre
livros e obras de referência, equipe técnica para super- os conteúdos que se ensinam e os interesses dos alunos,
visão, materiais didáticos, instalações adequadas para a tampouco entre esses e os problemas reais que afetam a
realização de trabalho de qualidade), aspectos que, sem sociedade. Na maioria das escolas essa prática pedagó-
dúvida, implicam a valorização da atividade do professor. gica se caracteriza por sobrecarga de informações que
são veiculadas aos alunos, o que torna o processo de
FUNDAMENTOS DOS PARÂMETROS CURRICULA- aquisição de conhecimento, para os alunos, muitas vezes
RES NACIONAIS burocratizado e destituído de significação. No ensino dos
conteúdos, o que orienta é a organização lógica das dis-
A tradição pedagógica brasileira ciplinas, o aprendizado moral, disciplinado e esforçado.
Nesse modelo, a escola se caracteriza pela postura
A prática de todo professor, mesmo de forma incons- conservadora. O professor é visto como a autoridade
ciente, sempre pressupõe uma concepção de ensino e máxima, um organizador dos conteúdos e estratégias de
aprendizagem que determina sua compreensão dos pa- ensino e, portanto, o guia exclusivo do processo educa-
péis de professor e aluno, da metodologia, da função tivo.
social da escola e dos conteúdos a serem trabalhados. A “pedagogia renovada” é uma concepção que inclui
A discussão dessas questões é importante para que se várias correntes que, de uma forma ou de outra, estão li-
explicitem os pressupostos pedagógicos que subjazem à gadas ao movimento da Escola Nova ou Escola Ativa. Tais
atividade de ensino, na busca de coerência entre o que correntes, embora admitam divergências, assumem um
se pensa estar fazendo e o que realmente se faz. Tais prá- mesmo princípio norteador de valorização do indivíduo
ticas se constituem a partir das concepções educativas como ser livre, ativo e social. O centro da atividade es-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e metodologias de ensino que permearam a formação colar não é o professor nem os conteúdos disciplinares,
educacional e o percurso profissional do professor, aí mas sim o aluno, como ser ativo e curioso. O mais impor-
incluídas suas próprias experiências escolares, suas ex- tante não é o ensino, mas o processo de aprendizagem.
periências de vida, a ideologia compartilhada com seu Em oposição à Escola Tradicional, a Escola Nova destaca
grupo social e as tendências pedagógicas que lhe são o princípio da aprendizagem por descoberta e estabele-
contemporâneas. ce que a atitude de aprendizagem parte do interesse dos
As tendências pedagógicas que se firmam nas escolas alunos, que, por sua vez, aprendem fundamentalmente
brasileiras, públicas e privadas, na maioria dos casos não pela experiência, pelo que descobrem por si mesmos.
aparecem em forma pura, mas com características par- O professor é visto, então, como facilitador no pro-
ticulares, muitas vezes mesclando aspectos de mais de cesso de busca de conhecimento que deve partir do alu-
uma linha pedagógica. no. Cabe ao professor organizar e coordenar as situações

143
de aprendizagem, adaptando suas ações às característi- A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” que surge
cas individuais dos alunos, para desenvolver suas capaci- no final dos anos 70 e início dos 80 se põe como uma
dades e habilidades intelectuais. reação de alguns educadores que não aceitam a pouca
A ideia de um ensino guiado pelo interesse dos alu- relevância que a “pedagogia libertadora” dá ao apren-
nos acabou, em muitos casos, por desconsiderar a neces- dizado do chamado “saber elaborado”, historicamente
sidade de um trabalho planejado, perdendo-se de vista o acumulado, que constitui parte do acervo cultural da hu-
que deve ser ensinado e aprendido. Essa tendência, que manidade.
teve grande penetração no Brasil na década de 30, no A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” assegura
âmbito do ensino pré-escolar (jardim de infância), até a função social e política da escola mediante o trabalho
hoje influencia muitas práticas pedagógicas. com conhecimentos sistematizados, a fim de colocar as
classes populares em condições de uma efetiva partici-
Nos anos 70 proliferou o que se chamou de “tecnicis- pação nas lutas sociais. Entende que não basta ter como
mo educacional”, inspirado nas teorias behavioristas da conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas que é
aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, que necessário que se tenha domínio de conhecimentos, ha-
definiu uma prática pedagógica altamente controlada e bilidades e capacidades mais amplas para que os alunos
dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseri- possam interpretar suas experiências de vida e defender
das numa proposta educacional rígida e passível de ser seus interesses de classe.
totalmente programada em detalhes. A supervalorização
da tecnologia programada de ensino trouxe consequên- As tendências pedagógicas que marcam a tradição
cias: a escola se revestiu de uma grande autossuficiência, educacional brasileira e aqui foram expostas sintetica-
reconhecida por ela e por toda a comunidade atingida, mente trazem, de maneira diferente, contribuições para
criando assim a falsa ideia de que aprender não é algo uma proposta atual que busque recuperar aspectos po-
natural do ser humano, mas que depende exclusiva- sitivos das práticas anteriores em relação ao desenvolvi-
mente de especialistas e de técnicas. O que é valorizado mento e à aprendizagem, realizando uma releitura des-
nessa perspectiva não é o professor, mas a tecnologia; o sas práticas à luz dos avanços ocorridos nas produções
professor passa a ser um mero especialista na aplicação teóricas, nas investigações e em fatos que se tornaram
de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites pos- observáveis nas experiências educativas mais recentes
síveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno realizadas em diferentes Estados e Municípios do Brasil.
é reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de No final dos anos 70, pode-se dizer que havia no Bra-
forma a corresponder às respostas esperadas pela escola, sil, entre as tendências didáticas de vanguarda, aquelas
para ter êxito e avançar. Seus interesses e seu processo que tinham um viés mais psicológico e outras cujo viés
particular não são considerados e a atenção que recebe era mais sociológico e político; a partir dos anos 80 sur-
é para ajustar seu ritmo de aprendizagem ao programa ge com maior evidência um movimento que pretende
que o professor deve implementar. Essa orientação foi a integração entre essas abordagens. Se por um lado
dada para as escolas pelos organismos oficiais durante não é mais possível deixar de se ter preocupações com
os anos 60, e até hoje está presente em muitos materiais o domínio de conhecimentos formais para a participação
didáticos com caráter estritamente técnico e instrumen- crítica na sociedade, considera-se também que é neces-
tal. sária uma adequação pedagógica às características de
um aluno que pensa, de um professor que sabe e aos
No final dos anos 70 e início dos 80, a abertura polí- conteúdos de valor social e formativo.
tica decorrente do final do regime militar coincidiu com Esse momento se caracteriza pelo enfoque centrado
a intensa mobilização dos educadores para buscar uma no caráter social do processo de ensino e aprendizagem
educação crítica a serviço das transformações sociais, e é marcado pela influência da psicologia genética.
econômicas e políticas, tendo em vista a superação das O enfoque social dado aos processos de ensino e
desigualdades existentes no interior da sociedade. Ao aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspec-
lado das denominadas teorias crítico-reprodutivistas, fir- tos de extrema relevância, em particular no que se refe-
ma-se no meio educacional a presença da “pedagogia re à maneira como se devem entender as relações entre
libertadora” e da “pedagogia crítico-social dos conteú- desenvolvimento e aprendizagem, à importância da rela-
dos”, assumida por educadores de orientação marxista. ção interpessoal nesse processo, à relação entre cultura e
A “pedagogia libertadora” tem suas origens nos mo- educação e ao papel da ação educativa ajustada às situa-
vimentos de educação popular que ocorreram no final ções de aprendizagem e às características da atividade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dos anos 50 e início dos anos 60, quando foram inter- mental construtiva do aluno em cada momento de sua
rompidos pelo golpe militar de 1964; teve seu desen- escolaridade.
volvimento retomado no final dos anos 70 e início dos
anos 80. Nessa proposta, a atividade escolar pauta-se em A psicologia genética propiciou aprofundar a com-
discussões de temas sociais e políticos e em ações sobre preensão sobre o processo de desenvolvimento na cons-
a realidade social imediata; analisam-se os problemas, trução do conhecimento. Compreender os mecanismos
seus fatores determinantes e organiza-se uma forma de pelos quais as crianças constroem representações inter-
atuação para que se possa transformar a realidade social nas de conhecimentos construídos socialmente, em uma
e política. O professor é um coordenador de atividades perspectiva psicogenética, traz uma contribuição para
que organiza e atua conjuntamente com os alunos. além das descrições dos grandes estágios de desenvol-
vimento.

144
A pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita che- como instrumentos para o desenvolvimento, a socializa-
gou ao Brasil em meados dos anos 80 e causou grande ção, o exercício da cidadania democrática e a atuação
impacto, revolucionando o ensino da língua nas séries no sentido de refutar ou reformular as deformações dos
iniciais e, ao mesmo tempo, provocando uma revisão do conhecimentos, as imposições de crenças dogmáticas e
tratamento dado ao ensino e à aprendizagem em outras a petrificação de valores. Os conteúdos escolares que são
áreas do conhecimento. Essa investigação evidencia a ati- ensinados devem, portanto, estar em consonância com
vidade construtiva do aluno sobre a língua escrita, objeto as questões sociais que marcam cada momento histórico.
de conhecimento reconhecidamente escolar, mostrando Isso requer que a escola seja um espaço de forma-
a presença importante dos conhecimentos específicos ção e informação, em que a aprendizagem de conteúdos
sobre a escrita que a criança já tem, os quais, embora deve necessariamente favorecer a inserção do aluno no
não coincidam com os dos adultos, têm sentido para ela. dia-a-dia das questões sociais marcantes e em um uni-
A metodologia utilizada nessas pesquisas foi muitas verso cultural maior. A formação escolar deve propiciar o
vezes interpretada como uma proposta de pedagogia desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer
construtivista para alfabetização, o que expressa um du- a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e
plo equívoco: redução do construtivismo a uma teoria culturais, assim como possibilitar aos alunos usufruir das
psicogenética de aquisição de língua escrita e transforma- manifestações culturais nacionais e universais.
ção de uma investigação acadêmica em método de ensi- No contexto da proposta dos Parâmetros Curriculares
no. Com esses equívocos, difundiram-se, sob o rótulo de Nacionais se concebe a educação escolar como uma prá-
pedagogia construtivista, as ideias de que não se devem tica que tem a possibilidade de criar condições para que
corrigir os erros e de que as crianças aprendem fazendo todos os alunos desenvolvam suas capacidades e apren-
“do seu jeito”. Essa pedagogia, dita construtivista, trouxe dam os conteúdos necessários para construir instrumen-
sérios problemas ao processo de ensino e aprendizagem, tos de compreensão da realidade e de participação em
pois desconsidera a função primordial da escola que é relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada
ensinar, intervindo para que os alunos aprendam o que, vez mais amplas, condições estas fundamentais para o
sozinhos, não têm condições de aprender. exercício da cidadania na construção de uma sociedade
democrática e não excludente.
A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares A prática escolar distingue-se de outras práticas edu-
Nacionais reconhece a importância da participação cons- cativas, como as que acontecem na família, no trabalho,
trutiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do na mídia, no lazer e nas demais formas de convívio social,
professor para a aprendizagem de conteúdos específicos por constituir-se uma ação intencional, sistemática, pla-
que favoreçam o desenvolvimento das capacidades ne- nejada e continuada para crianças e jovens durante um
cessárias à formação do indivíduo. Ao contrário de uma período contínuo e extenso de tempo. A escola, ao tomar
concepção de ensino e aprendizagem como um proces- para si o objetivo de formar cidadãos capazes de atuar
so que se desenvolve por etapas, em que a cada uma com competência e dignidade na sociedade, buscará ele-
delas o conhecimento é “acabado”, o que se propõe é ger, como objeto de ensino, conteúdos que estejam em
uma visão da complexidade e da provisoriedade do co- consonância com as questões sociais que marcam cada
nhecimento. De um lado, porque o objeto de conheci- momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são
mento é “complexo” de fato e reduzi-lo seria falsificá-lo; as consideradas essenciais para que os alunos possam
de outro, porque o processo cognitivo não acontece por exercer seus direitos e deveres. Para tanto ainda é neces-
justaposição, senão por reorganização do conhecimento. sário que a instituição escolar garanta um conjunto de
É também “provisório”, uma vez que não é possível che- práticas planejadas com o propósito de contribuir para
gar de imediato ao conhecimento correto, mas somente que os alunos se apropriem dos conteúdos de manei-
por aproximações sucessivas que permitem sua recons- ra crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição
trução. social com propósito explicitamente educativo, tem o
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto nos ob- compromisso de intervir efetivamente para promover o
jetivos educacionais que propõem quanto na conceitua- desenvolvimento e a socialização de seus alunos.
lização do significado das áreas de ensino e dos temas Essa função socializadora remete a dois aspectos: o
da vida social contemporânea que devem permeá-las, desenvolvimento individual e o contexto social e cultural.
adotam como eixo o desenvolvimento de capacidades É nessa dupla determinação que os indivíduos se cons-
do aluno, processo em que os conteúdos curriculares troem como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, di-
atuam não como fins em si mesmos, mas como meios ferentes de todas as outras. Iguais por compartilhar com
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para a aquisição e desenvolvimento dessas capacidades. outras pessoas um conjunto de saberes e formas de co-
Nesse sentido, o que se tem em vista é que o aluno possa nhecimento que, por sua vez, só é possível graças ao que
ser sujeito de sua própria formação, em um complexo individualmente se puder incorporar. Não há desenvol-
processo interativo em que também o professor se veja vimento individual possível à margem da sociedade, da
como sujeito de conhecimento. cultura. Os processos de diferenciação na construção de
uma identidade pessoal e os processos de socialização
Escola e constituição da cidadania que conduzem a padrões de identidade coletiva consti-
tuem, na verdade, as duas faces de um mesmo processo.
A importância dada aos conteúdos revela um com- A escola, na perspectiva de construção de cidadania,
promisso da instituição escolar em garantir o acesso aos precisa assumir a valorização da cultura de sua própria
saberes elaborados socialmente, pois estes se constituem comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus

145
limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferen- Em síntese, as escolas brasileiras, para exercerem a
tes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz função social aqui proposta, precisam possibilitar o cul-
respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da tivo dos bens culturais e sociais, considerando as ex-
cultura brasileira no âmbito nacional e regional como no pectativas e as necessidades dos alunos, dos pais, dos
que faz parte do patrimônio universal da humanidade. membros da comunidade, dos professores, enfim, dos
O desenvolvimento de capacidades, como as de re- envolvidos diretamente no processo educativo. É nesse
lação interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as motoras, universo que o aluno vivencia situações diversificadas
as éticas, as estéticas de inserção social, torna-se possí- que favorecem o aprendizado, para dialogar de manei-
vel mediante o processo de construção e reconstrução ra competente com a comunidade, aprender a respeitar
de conhecimentos. Essa aprendizagem é exercida com o e a ser respeitado, a ouvir e a ser ouvido, a reivindicar
aporte pessoal de cada um, o que explica por que, a par- direitos e a cumprir obrigações, a participar ativamente
tir dos mesmos saberes, há sempre lugar para a constru- da vida científica, cultural, social e política do País e do
ção de uma infinidade de significados, e não a uniformi- mundo.
dade destes. Os conhecimentos que se transmitem e se
recriam na escola ganham sentido quando são produtos Escola: uma construção coletiva e permanente
de uma construção dinâmica que se opera na interação
constante entre o saber escolar e os demais saberes, en- Nessa perspectiva, é essencial a vinculação da escola
tre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz com as questões sociais e com os valores democráticos,
para a escola, num processo contínuo e permanente de não só do ponto de vista da seleção e tratamento dos
aquisição, no qual interferem fatores políticos, sociais, conteúdos, como também da própria organização esco-
culturais e psicológicos. lar. As normas de funcionamento e os valores, implícitos
As questões relativas à globalização, as transforma- e explícitos, que regem a atuação das pessoas na escola
ções científicas e tecnológicas e a necessária discussão são determinantes da qualidade do ensino, interferindo
ético-valorativa da sociedade apresentam para a escola de maneira significativa sobre a formação dos alunos.
a imensa tarefa de instrumentalizar os jovens para parti-
cipar da cultura, das relações sociais e políticas. A esco- Com a degradação do sistema educacional brasilei-
la, ao posicionar-se dessa maneira, abre a oportunidade ro, pode-se dizer que a maioria das escolas tende a ser
para que os alunos aprendam sobre temas normalmente apenas um local de trabalho individualizado e não uma
excluídos e atua propositalmente na formação de valores organização com objetivos próprios, elaborados e mani-
e atitudes do sujeito em relação ao outro, à política, à festados pela ação coordenada de seus diversos profis-
economia, ao sexo, à droga, à saúde, ao meio ambiente, sionais.
à tecnologia, etc. Para ser uma organização eficaz no cumprimento de
Um ensino de qualidade, que busca formar cida- propósitos estabelecidos em conjunto por professores,
dãos capazes de interferir criticamente na realidade para coordenadores e diretor, e garantir a formação coeren-
transformá-la, deve também contemplar o desenvolvi- te de seus alunos ao longo da escolaridade obrigatória,
mento de capacidades que possibilitem adaptações às é imprescindível que cada escola discuta e construa seu
complexas condições e alternativas de trabalho que te- projeto educativo.
mos hoje e a lidar com a rapidez na produção e na circu- Esse projeto deve ser entendido como um processo
lação de novos conhecimentos e informações, que têm que inclui a formulação de metas e meios, segundo a
sido avassaladores e crescentes. A formação escolar deve particularidade de cada escola, por meio da criação e da
possibilitar aos alunos condições para desenvolver com- valorização de rotinas de trabalho pedagógico em grupo
petência e consciência profissional, mas não restringir-se e da corresponsabilidade de todos os membros da co-
ao ensino de habilidades imediatamente demandadas munidade escolar, para além do planejamento de início
pelo mercado de trabalho. de ano ou dos períodos de “reciclagem”.
A discussão sobre a função da escola não pode igno- A experiência acumulada por seus profissionais é
rar as reais condições em que esta se encontra. A situa- naturalmente a base para a reflexão e a elaboração do
ção de precariedade vivida pelos educadores, expressa projeto educativo de uma escola. Além desse repertório,
nos baixos salários, na falta de condições de trabalho, de outras fontes importantes para a definição de um proje-
metas a serem alcançadas, de prestígio social, na inér- to educativo são os currículos locais, a bibliografia espe-
cia de grande parte dos órgãos responsáveis por alterar cializada, o contato com outras experiências educacio-
esse quadro, provoca, na maioria das pessoas, um des- nais, assim como os Parâmetros Curriculares Nacionais,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

crédito na transformação da situação. Essa desvaloriza- que formulam questões essenciais sobre o que, como e
ção objetiva do magistério acaba por ser interiorizada, quando ensinar, constituindo um referencial significativo
bloqueando as motivações. Outro fator de desmotivação e atualizado sobre a função da escola, a importância dos
dos profissionais da rede pública é a mudança de rumo conteúdos e o tratamento a ser dado a eles.
da educação diante da orientação política de cada gover- Ao elaborar seu projeto educativo, a escola discute e
nante. Às vezes as transformações propostas reafirmam explicita de forma clara os valores coletivos assumidos.
certas posições, às vezes outras. Esse movimento de vai e Delimita suas prioridades, define os resultados desejados
volta gera, para a maioria dos professores, um desânimo e incorpora a auto avaliação ao trabalho do professor.
para se engajar nos projetos de trabalho propostos, mes- Assim, organiza-se o planejamento, reúne-se a equipe
mo que lhes pareçam interessantes, pois eles dificilmente de trabalho, provoca-se o estudo e a reflexão contínuos,
terão continuidade. dando sentido às ações cotidianas, reduzindo a impro-

146
visação e as condutas estereotipadas e rotineiras que, do por meio de cópia do real, tampouco como algo que
muitas vezes, são contraditórias com os objetivos educa- o indivíduo constrói independentemente da realidade
cionais compartilhados. exterior, dos demais indivíduos e de suas próprias capa-
cidades pessoais. É, antes de mais nada, uma construção
A contínua realização do projeto educativo possibi- histórica e social, na qual interferem fatores de ordem
lita o conhecimento das ações desenvolvidas pelos di- cultural e psicológica.
ferentes professores, sendo base de diálogo e reflexão A atividade construtiva, física ou mental, permite in-
para toda a equipe escolar. Nesse processo evidencia-se terpretar a realidade e construir significados, ao mesmo
a necessidade da participação da comunidade, em espe- tempo que permite construir novas possibilidades de
cial dos pais, tomando conhecimento e interferindo nas ação e de conhecimento.
propostas da escola e em suas estratégias. O resultado Nesse processo de interação com o objeto a ser
que se espera é a possibilidade de os alunos terem uma conhecido, o sujeito constrói representações, que fun-
experiência escolar coerente e bem-sucedida. cionam como verdadeiras explicações e se orientam
Deve ser ressaltado que uma prática de reflexão co- por uma lógica interna que, por mais que possa pare-
letiva não é algo que se atinge de uma hora para outra e cer incoerente aos olhos de um outro, faz sentido para
a escola é uma realidade complexa, não sendo possível o sujeito. As ideias “equivocadas”, ou seja, construídas
tratar as questões como se fossem simples de serem re- e transformadas ao longo do desenvolvimento, fruto de
solvidas. Cada escola encontra uma realidade, uma tra- aproximações sucessivas, são expressão de uma constru-
ma, um conjunto de circunstâncias e de pessoas. É pre- ção inteligente por parte do sujeito e, portanto, interpre-
ciso que haja incentivo do poder público local, pois o tadas como erros construtivos.
desenvolvimento do projeto requer tempo para análise, A tradição escolar — que não faz diferença entre er-
discussão e reelaboração contínua, o que só é possível ros integrantes do processo de aprendizagem e simples
em um clima institucional favorável e com condições ob- enganos ou desconhecimentos — trabalha com a ideia
jetivas de realização. de que a ausência de erros na tarefa escolar é a mani-
festação da aprendizagem. Hoje, graças ao avanço da in-
Aprender e ensinar, construir e interagir vestigação científica na área da aprendizagem, tornou-se
possível interpretar o erro como algo inerente ao proces-
Por muito tempo a pedagogia focou o processo de so de aprendizagem e ajustar a intervenção pedagógica
ensino no professor, supondo que, como decorrência, para ajudar a superá-lo. A superação do erro é resulta-
estaria valorizando o conhecimento. O ensino, então, ga- do do processo de incorporação de novas ideias e de
nhou autonomia em relação à aprendizagem, criou seus transformação das anteriores, de maneira a dar conta das
próprios métodos e o processo de aprendizagem ficou contradições que se apresentarem ao sujeito para, assim,
relegado a segundo plano. Hoje sabe-se que é necessá- alcançar níveis superiores de conhecimento.
rio ressignificar a unidade entre aprendizagem e ensino,
uma vez que, em última instância, sem aprendizagem o O que o aluno pode aprender em determinado mo-
ensino não se realiza. mento da escolaridade depende das possibilidades de-
A busca de um marco explicativo que permita essa lineadas pelas formas de pensamento de que dispõe
ressignificação, além da criação de novos instrumentos naquela fase de desenvolvimento, dos conhecimentos
de análise, planejamento e condução da ação educativa que já construiu anteriormente e do ensino que recebe.
na escola, tem se situado, atualmente, para muitos dos Isto é, a intervenção pedagógica deve-se ajustar ao que
teóricos da educação, dentro da perspectiva construti- os alunos conseguem realizar em cada momento de sua
vista. aprendizagem, para se constituir verdadeira ajuda edu-
A perspectiva construtivista na educação é configu- cativa. O conhecimento é resultado de um complexo e
rada por uma série de princípios explicativos do desen- intrincado processo de modificação, reorganização e
volvimento e da aprendizagem humana que se comple- construção, utilizado pelos alunos para assimilar e inter-
mentam, integrando um conjunto orientado a analisar, pretar os conteúdos escolares.
compreender e explicar os processos escolares de ensino Por mais que o professor, os companheiros de classe
e aprendizagem. e os materiais didáticos possam, e devam, contribuir para
A configuração do marco explicativo construtivista que a aprendizagem se realize, nada pode substituir a
para os processos de educação escolar deu-se, entre ou- atuação do próprio aluno na tarefa de construir signifi-
tras influências, a partir da psicologia genética, da teoria cados sobre os conteúdos da aprendizagem. É ele quem
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sociointeracionista e das explicações da atividade signi- modifica, enriquece e, portanto, constrói novos e mais
ficativa. Vários autores partiram dessas ideias para de- potentes instrumentos de ação e interpretação.
senvolver e conceitualizar as várias dimensões envolvidas
na educação escolar, trazendo inegáveis contribuições à Mas o desencadeamento da atividade mental cons-
teoria e à prática educativa. trutiva não é suficiente para que a educação escolar al-
O núcleo central da integração de todas essas contri- cance os objetivos a que se propõe: que as aprendizagens
buições refere-se ao reconhecimento da importância da estejam compatíveis com o que significam socialmente.
atividade mental construtiva nos processos de aquisição O processo de atribuição de sentido aos conteúdos
de conhecimento. Daí o termo construtivismo, denomi- escolares é, portanto, individual; porém, é também cultu-
nando essa convergência. Assim, o conhecimento não é ral na medida em que os significados construídos reme-
visto como algo situado fora do indivíduo, a ser adquiri- tem a formas e saberes socialmente estruturados.

147
Conceber o processo de aprendizagem como pro- A aprendizagem é condicionada, de um lado, pelas
priedade do sujeito não implica desvalorizar o papel de- possibilidades do aluno, que englobam tanto os níveis
terminante da interação com o meio social e, particular- de organização do pensamento como os conhecimentos
mente, com a escola. Ao contrário, situações escolares de e experiências prévias, e, de outro, pela interação com os
ensino e aprendizagem são situações comunicativas, nas outros agentes.
quais os alunos e professores atuam como corresponsá- Para a estruturação da intervenção educativa é fun-
veis, ambos com uma influência decisiva para o êxito do damental distinguir o nível de desenvolvimento real do
processo. potencial. O nível de desenvolvimento real se determina
A abordagem construtivista integra, num único es- como aquilo que o aluno pode fazer sozinho em uma
quema explicativo, questões relativas ao desenvolvimen- situação determinada, sem ajuda de ninguém. O nível
to individual e à pertinência cultural, à construção de co- de desenvolvimento potencial é determinado pelo que
nhecimentos e à interação social. o aluno pode fazer ou aprender mediante a interação
Considera o desenvolvimento pessoal como o pro- com outras pessoas, conforme as observa, imitando, tro-
cesso mediante o qual o ser humano assume a cultura cando ideias com elas, ouvindo suas explicações, sendo
do grupo social a que pertence. Processo no qual o de- desafiado por elas ou contrapondo-se a elas, sejam essas
senvolvimento pessoal e a aprendizagem da experiência pessoas o professor ou seus colegas. Existe uma zona de
humana culturalmente organizada, ou seja, socialmente desenvolvimento próximo, dada pela diferença existente
produzida e historicamente acumulada, não se excluem entre o que um aluno pode fazer sozinho e o que pode
nem se confundem, mas interagem. Daí a importância fazer ou aprender com a ajuda dos outros. De acordo
das interações entre crianças e destas com parceiros ex- com essa concepção, falar dos mecanismos de interven-
perientes, dentre os quais destacam-se professores e ou- ção educativa equivale a falar dos mecanismos interati-
tros agentes educativos. vos pelos quais professores e colegas conseguem ajustar
sua ajuda aos processos de construção de significados
O conceito de aprendizagem significativa, central na realizados pelos alunos no decorrer das atividades esco-
perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o lares de ensino e aprendizagem.
trabalho simbólico de “significar” a parcela da realidade Existem ainda, dentro do contexto escolar, outros
que se conhece. As aprendizagens que os alunos realizam mecanismos de influência educativa, cuja natureza e fun-
na escola serão significativas à medida que conseguirem cionamento em grande medida são desconhecidos, mas
estabelecer relações substantivas e não-arbitrárias entre que têm incidência considerável sobre a aprendizagem
os conteúdos escolares e os conhecimentos previamen- dos alunos. Dentre eles destacam-se a organização e o
te construídos por eles, num processo de articulação de funcionamento da instituição escolar e os valores im-
novos significados. plícitos e explícitos que permeiam as relações entre os
Cabe ao educador, por meio da intervenção peda- membros da escola; são fatores determinantes da qua-
gógica, promover a realização de aprendizagens com lidade de ensino e podem chegar a influir de maneira
o maior grau de significado possível, uma vez que esta significativa sobre o que e como os alunos aprendem. Os
nunca é absoluta — sempre é possível estabelecer algu- alunos não contam exclusivamente com o contexto es-
ma relação entre o que se pretende conhecer e as pos- colar para a construção de conhecimento sobre conteú-
sibilidades de observação, reflexão e informação que o dos considerados escolares. A mídia, a família, a igreja, os
sujeito já possui. amigos, são também fontes de influência educativa que
A aprendizagem significativa implica sempre alguma incidem sobre o processo de construção de significado
ousadia: diante do problema posto, o aluno precisa ela- desses conteúdos. Essas influências sociais normalmente
borar hipóteses e experimentá-las. Fatores e processos somam-se ao processo de aprendizagem escolar, con-
afetivos, motivacionais e relacionais são importantes tribuindo para consolidá-lo; por isso é importante que
nesse momento. Os conhecimentos gerados na histó- a escola as considere e as integre ao trabalho. Porém,
ria pessoal e educativa têm um papel determinante na algumas vezes, essa mesma influência pode apresentar
expectativa que o aluno tem da escola, do professor e obstáculos à aprendizagem escolar, ao indicar uma di-
de si mesmo, nas suas motivações e interesses, em seu reção diferente, ou mesmo oposta, daquela presente no
autoconceito e em sua autoestima. Assim como os sig- encaminhamento escolar. É necessário que a escola con-
nificados construídos pelo aluno estão destinados a ser sidere tais direções e forneça uma interpretação dessas
substituídos por outros no transcurso das atividades, as diferenças, para que a intervenção pedagógica favoreça
representações que o aluno tem de si e de seu processo a ultrapassagem desses obstáculos num processo articu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de aprendizagem também. É fundamental, portanto, que lado de interação e integração. Se o projeto educacional
a intervenção educativa escolar propicie um desenvolvi- exige ressignificar o processo de ensino e aprendizagem,
mento em direção à disponibilidade exigida pela apren- este precisa se preocupar em preservar o desejo de co-
dizagem significativa. nhecer e de saber com que todas as crianças chegam à
Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso, escola. Precisa manter a boa qualidade do vínculo com o
o aluno constrói uma representação de si mesmo como conhecimento e não destruí-lo pelo fracasso reiterado.
alguém capaz. Se, ao contrário, for uma experiência de Mas garantir experiências de sucesso não significa omitir
fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar ou disfarçar o fracasso; ao contrário, significa conseguir
em ameaça, e a ousadia necessária se transformará em realizar a tarefa a que se propôs. Relaciona-se, portanto,
medo, para o qual a defesa possível é a manifestação de com propostas e intervenções pedagógicas adequadas.
desinteresse.

148
O professor deve ter propostas claras sobre o que, ciais relevantes, reafirma-se a necessidade de sua proble-
quando e como ensinar e avaliar, a fim de possibilitar o matização e análise, incorporando-as como temas trans-
planejamento de atividades de ensino para a aprendi- versais. As questões sociais abordadas são: ética, saúde,
zagem de maneira adequada e coerente com seus ob- meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural.
jetivos. É a partir dessas determinações que o professor Quanto ao modo de incorporação desses temas no
elabora a programação diária de sala de aula e organiza currículo, propõe-se um tratamento transversal, tendên-
sua intervenção de maneira a propor situações de apren- cia que se manifesta em algumas experiências nacionais
dizagem ajustadas às capacidades cognitivas dos alunos. e internacionais, em que as questões sociais se integram
Em síntese, não é a aprendizagem que deve se ajus- na própria concepção teórica das áreas e de seus com-
tar ao ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a ponentes curriculares.
aprendizagem. De acordo com os princípios já apontados, os conteú-
dos são considerados como um meio para o desenvolvi-
Organização dos parâmetros curriculares nacio- mento amplo do aluno e para a sua formação como ci-
nais dadão. Portanto, cabe à escola o propósito de possibilitar
aos alunos o domínio de instrumentos que os capacitem
A análise das propostas curriculares oficiais para o a relacionar conhecimentos de modo significativo, bem
ensino fundamental, elaborada pela Fundação Carlos como a utilizar esses conhecimentos na transformação e
Chagas, aponta dados relevantes que auxiliam a reflexão construção de novas relações sociais.
sobre a organização curricular e a forma como seus com- Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam os
ponentes são abordados. conteúdos de tal forma que se possa determinar, no mo-
Segundo essa análise, as propostas, de forma geral, mento de sua adequação às particularidades de Estados
apontam como grandes diretrizes uma perspectiva de- e Municípios, o grau de profundidade apropriado e a sua
mocrática e participativa, e que o ensino fundamental melhor forma de distribuição no decorrer da escolarida-
deve se comprometer com a educação necessária para de, de modo a constituir um corpo de conteúdos consis-
a formação de cidadãos críticos, autônomos e atuantes. tentes e coerentes com os objetivos.
No entanto, a maioria delas apresenta um descompasso A avaliação é considerada como elemento favorece-
entre os objetivos anunciados e o que é proposto para dor da melhoria de qualidade da aprendizagem, deixan-
alcançá-los, entre os pressupostos teóricos e a definição do de funcionar como arma contra o aluno. É assumida
de conteúdos e aspectos metodológicos. como parte integrante e instrumento de auto-regulação
do processo de ensino e aprendizagem, para que os ob-
A estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais jetivos propostos sejam atingidos. A avaliação diz res-
buscou contribuir para a superação dessa contradição. A peito não só ao aluno, mas também ao professor e ao
integração curricular assume as especificidades de cada próprio sistema escolar.
componente e delineia a operacionalização do proces-
A opção de organização da escolaridade em ciclos,
so educativo desde os objetivos gerais do ensino fun-
tendência predominante nas propostas mais atuais, é
damental, passando por sua especificação nos objetivos
referendada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. A
gerais de cada área e de cada tema transversal, deduzin-
organização em ciclos é uma tentativa de superar a seg-
do desses objetivos os conteúdos apropriados para con-
mentação excessiva produzida pelo regime seriado e de
figurar as reais intenções educativas. Assim, os objetivos,
buscar princípios de ordenação que possibilitem maior
que definem capacidades, e os conteúdos, que estarão a
integração do conhecimento.
serviço do desenvolvimento dessas capacidades, formam Os componentes curriculares foram formulados a
uma unidade orientadora da proposta curricular. partir da análise da experiência educacional acumulada
Para que se possa discutir uma prática escolar que em todo o território nacional. Pautaram-se, também, pela
realmente atinja seus objetivos, os Parâmetros Curricula- análise das tendências mais atuais de investigação cientí-
res Nacionais apontam questões de tratamento didático fica, a fim de poderem expressar um avanço na discussão
por área e por ciclo, procurando garantir coerência entre em torno da busca de qualidade de ensino e aprendiza-
os pressupostos teóricos, os objetivos e os conteúdos, gem.
mediante sua operacionalização em orientações didáti-
cas e critérios de avaliação. Em outras palavras, apontam A organização da escolaridade em ciclos
o que e como se pode trabalhar, desde as séries iniciais,
para que se alcancem os objetivos pretendidos. Na década de 80, vários Estados e Municípios reestru-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As propostas curriculares oficiais dos Estados estão turaram o ensino fundamental a partir das séries iniciais.
organizadas em disciplinas e/ou áreas. Apenas alguns Esse processo de reorganização, que tinha como objetivo
Municípios optam por princípios norteadores, eixos ou político minimizar o problema da repetência e da evasão
temas, que visam tratar os conteúdos de modo interdis- escolar, adotou como princípio norteador a flexibilização
ciplinar, buscando integrar o cotidiano social com o sa- da seriação, o que abriria a possibilidade de o currículo
ber escolar. ser trabalhado ao longo de um período de tempo maior
e permitiria respeitar os diferentes ritmos de aprendiza-
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, optou-se por gem que os alunos apresentam.
um tratamento específico das áreas, em função da im- Desse modo, a seriação inicial deu lugar ao ciclo bá-
portância instrumental de cada uma, mas contemplou-se sico com a duração de dois anos, tendo como objetivo
também a integração entre elas. Quanto às questões so- propiciar maiores oportunidades de escolarização vol-

149
tada para a alfabetização efetiva das crianças. As expe- cos, com a concepção de conhecimento e da função da
riências, ainda que tenham apresentado problemas es- escola que estão explicitados no item Fundamentos dos
truturais e necessidades de ajustes da prática, acabaram Parâmetros Curriculares Nacionais.
por mostrar que a organização por ciclos contribui efeti-
vamente para a superação dos problemas do desenvol- Os conhecimentos adquiridos na escola passam por
vimento escolar. Tanto isso é verdade que, onde foram um processo de construção e reconstrução contínua e
implantados, os ciclos se mantiveram, mesmo com mu- não por etapas fixadas e definidas no tempo. As apren-
danças de governantes. dizagens não se processam como a subida de degraus
Os Parâmetros Curriculares Nacionais adotam a pro- regulares, mas como avanços de diferentes magnitudes.
posta de estruturação por ciclos, pelo reconhecimento de Embora a organização da escola seja estruturada em
que tal proposta permite compensar a pressão do tem- anos letivos, é importante uma perspectiva pedagógica
po que é inerente à instituição escolar, tornando possível em que a vida escolar e o currículo possam ser assumi-
distribuir os conteúdos de forma mais adequada à natu- dos e trabalhados em dimensões de tempo mais flexíveis.
reza do processo de aprendizagem. Além disso, favorece Vale ressaltar que para o processo de ensino e aprendiza-
uma apresentação menos parcelada do conhecimento e gem se desenvolver com sucesso não basta flexibilizar o
possibilita as aproximações sucessivas necessárias para tempo: dispor de mais tempo sem uma intervenção efe-
que os alunos se apropriem dos complexos saberes que tiva para garantir melhores condições de aprendizagem
se intenciona transmitir. pode apenas adiar o problema e perpetuar o sentimento
Sabe-se que, fora da escola, os alunos não têm as negativo de autoestima do aluno, consagrando, da mes-
mesmas oportunidades de acesso a certos objetos de ma forma, o fracasso da escola.
conhecimento que fazem parte do repertório escolar. A lógica da opção por ciclos consiste em evitar que
Sabe-se também que isso influencia o modo e o proces- o processo de aprendizagem tenha obstáculos inúteis,
so como atribuirão significados aos objetos de conheci- desnecessários e nocivos. Portanto, é preciso que a equi-
mento na situação escolar: alguns alunos poderão estar pe pedagógica das escolas se co-responsabilize com o
mais avançados na reconstrução de significados do que processo de ensino e aprendizagem de seus alunos. Para
outros. a concretização dos ciclos como modalidade organiza-
Ao se falar em ritmos diferentes de aprendizagem, é tiva, é necessário que se criem condições institucionais
preciso cuidado para não incorrer em mal-entendidos que permitam destinar espaço e tempo à realização de
perigosos. Uma vez que não há uma definição precisa e reuniões de professores, para discutir os diferentes as-
clara de quais seriam esses ritmos, os educadores podem pectos do processo educacional.
ser levados a rotular alguns alunos como mais lentos que Ao se considerar que dois ou três anos de escolari-
outros, estigmatizando aqueles que estão se iniciando na dade pertencem a um único ciclo de ensino e aprendi-
interação com os objetos de conhecimento escolar. zagem, podem-se definir objetivos e práticas educativas
que permitam aos alunos avançar continuadamente na
No caso da aprendizagem da língua escrita, por concretização das metas do ciclo. A organização por ci-
exemplo, se um aluno ingressa na primeira série sabendo clos tende a evitar as frequentes rupturas e a excessiva
escrever alfabeticamente, isso se explica porque seu rit- fragmentação do percurso escolar, assegurando a conti-
nuidade do processo educativo, dentro do ciclo e na pas-
mo é mais rápido ou porque teve múltiplas oportunida-
sagem de um ciclo ao outro, ao permitir que os professo-
des de atuar como leitor e escritor? Se outros ingressam
res realizem adaptações sucessivas da ação pedagógica
sem saber sequer como se pega um livro, é porque são
às diferentes necessidades dos alunos, sem que deixem
lentos ou porque estão interatuando pela primeira vez
de orientar sua prática pelas expectativas de aprendiza-
com os objetos com que os outros interatuam desde que
gem referentes ao período em questão.
nasceram? E, no caso desta última hipótese, por mais rá-
pidos que possam ser, será que poderão em alguns dias
Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão organi-
percorrer o caminho que outros realizaram em anos?
zados em ciclos de dois anos, mais pela limitação con-
Outras vezes, o que se interpreta como “lentidão” é a juntural em que estão inseridos do que por justificativas
expressão de dificuldades relacionadas a um sentimento pedagógicas. Da forma como estão aqui organizados,
de incapacidade para a aprendizagem que chega a cau- os ciclos não trazem incompatibilidade com a atual es-
sar bloqueios nesse processo. trutura do ensino fundamental. Assim, o primeiro ciclo
É fundamental que se considerem esses aspectos e é se refere às primeira e segunda séries; o segundo ciclo,
necessário que o professor possa intervir para alterar as
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

à terceira e à quarta séries; e assim subsequentemente


situações desfavoráveis ao aluno. para as outras quatro séries.
Em suma, o que acontece é que cada aluno tem, ha- Essa estruturação não contempla os principais pro-
bitualmente, desempenhos muito diferentes na relação blemas da escolaridade no ensino fundamental: não une
com objetos de conhecimento diferentes e a prática es- as quarta e quinta séries para eliminar a ruptura desas-
colar tem buscado incorporar essa diversidade de modo trosa que aí se dá e tem causado muita repetência e eva-
a garantir respeito aos alunos e a criar condições para são, como também não define uma etapa maior para o
que possam progredir nas suas aprendizagens. início da escolaridade, que deveria (a exemplo da imensa
A adoção de ciclos, pela flexibilidade que permite, maioria dos países) incorporar à escolaridade obrigató-
possibilita trabalhar melhor com as diferenças e está ple- ria as crianças desde os seis anos. Portanto, o critério de
namente coerente com os fundamentos psicopedagógi- dois anos para a organização dos ciclos, nos Parâmetros

150
Curriculares Nacionais, não deve ser considerado como cificando Objetivos e Conteúdos, bem como Critérios de
decorrência de seus princípios e fundamentações, nem Avaliação, Orientações para Avaliação e Orientações Di-
como a única estratégia de intervenção no contexto atual dáticas.
da problemática educacional. Se a escola pretende estar em consonância com as
demandas atuais da sociedade, é necessário que trate
A organização do conhecimento escolar: Áreas e de questões que interferem na vida dos alunos e com
Temas Transversais as quais se veem confrontados no seu dia-a-dia. As te-
máticas sociais, por essa importância inegável que têm
As diferentes áreas, os conteúdos selecionados em na formação dos alunos, já há muito têm sido discutidas
cada uma delas e o tratamento transversal de questões e frequentemente incorporadas aos currículos das áreas
sociais constituem uma representação ampla e plural dos ligadas às Ciências Naturais e Sociais, chegando até mes-
campos de conhecimento e de cultura de nosso tempo, mo, em algumas propostas, a constituir novas áreas.
cuja aquisição contribui para o desenvolvimento das ca- Mais recentemente, algumas propostas indicaram
pacidades expressas nos objetivos gerais. a necessidade do tratamento transversal de temáticas
O tratamento da área e de seus conteúdos integra sociais na escola, como forma de contemplá-las na sua
uma série de conhecimentos de diferentes disciplinas, complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma
que contribuem para a construção de instrumentos de única área.
compreensão e intervenção na realidade em que vivem Adotando essa perspectiva, as problemáticas sociais
os alunos. A concepção da área evidencia a natureza dos são integradas na proposta educacional dos Parâmetros
conteúdos tratados, definindo claramente o corpo de co- Curriculares Nacionais como Temas Transversais. Não
nhecimentos e o objeto de aprendizagem, favorecendo constituem novas áreas, mas antes um conjunto de temas
aos alunos a construção de representações sobre o que que aparecem transversalizados nas áreas definidas, isto
estudam. Essa caracterização da área é importante tam- é, permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos
bém para que os professores possam se situar dentro de e as orientações didáticas de cada área, no decorrer de
um conjunto definido e conceitualizado de conhecimen- toda a escolaridade obrigatória. A transversalidade pres-
tos que pretendam que seus alunos aprendam, condição supõe um tratamento integrado das áreas e um compro-
necessária para proceder a encaminhamentos que auxi- misso das relações interpessoais e sociais escolares com
liem as aprendizagens com sucesso. as questões que estão envolvidas nos temas, a fim de
Se é importante definir os contornos das áreas, é que haja uma coerência entre os valores experimentados
também essencial que estes se fundamentem em uma na vivência que a escola propicia aos alunos e o contato
concepção que os integre conceitualmente, e essa inte- intelectual com tais valores.
gração seja efetivada na prática didática. Por exemplo, As aprendizagens relativas a esses temas se expli-
ao trabalhar conteúdos de Ciências Naturais, os alunos citam na organização dos conteúdos das áreas, mas a
buscam informações em suas pesquisas, registram ob- discussão da conceitualização e da forma de tratamento
servações, anotam e quantificam dados. Portanto, utili- que devem receber no todo da ação educativa escolar
zam-se de conhecimentos relacionados à área de Língua está especificada em textos de fundamentação por tema.
Portuguesa, à de Matemática, além de outras, dependen-
O conjunto de documentos dos Temas Transversais
do do estudo em questão. O professor, considerando a
comporta uma primeira parte em que se discute a sua
multiplicidade de conhecimentos em jogo nas diferentes
necessidade para que a escola possa cumprir sua função
situações, pode tomar decisões a respeito de suas inter-
social, os valores mais gerais e unificadores que definem
venções e da maneira como tratará os temas, de forma a
todo o posicionamento relativo às questões que são tra-
propiciar aos alunos uma abordagem mais significativa e
tadas nos temas, a justificativa e a conceitualização do
contextualizada.
tratamento transversal para os temas sociais e um docu-
mento específico para cada tema: Ética, Saúde, Meio Am-
Para que estes parâmetros não se limitassem a uma biente, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual, eleitos
orientação técnica da prática pedagógica, foi considera- por envolverem problemáticas sociais atuais e urgentes,
da a fundamentação das opções teóricas e metodológi- consideradas de abrangência nacional e até mesmo de
cas da área para que, a partir destas, seja possível instau- caráter universal.
rar reflexões sobre a proposta educacional indicada. Na A grande abrangência dos temas não significa que
apresentação de cada área são abordados os seguintes devam ser tratados igualmente; ao contrário, exigem
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

aspectos: descrição da problemática específica da área adaptações para que possam corresponder às reais ne-
por meio de um breve histórico no contexto educacional cessidades de cada região ou mesmo de cada escola. As
brasileiro; justificativa de sua presença no ensino funda- características das questões ambientais, por exemplo,
mental; fundamentação epistemológica da área; sua re- ganham especificidades diferentes nos campos de serin-
levância na sociedade atual; fundamentação psicopeda- ga no interior da Amazônia e na periferia de uma grande
gógica da proposta de ensino e aprendizagem da área; cidade.
critérios para organização e seleção de conteúdos e ob- Além das adaptações dos temas apresentados, é im-
jetivos gerais da área para o ensino fundamental. portante que sejam eleitos temas locais para integrar o
A partir da Concepção de Área assim fundamentada, componente Temas Transversais; por exemplo, muitas
segue-se o detalhamento da estrutura dos Parâmetros cidades têm elevadíssimos índices de acidentes com víti-
Curriculares para cada ciclo (primeiro e segundo), espe- mas no trânsito, o que faz com que suas escolas necessi-

151
tem incorporar a educação para o trânsito em seu currí- situações da vida, os valores e opções que envolvem. A
culo. Além deste, outros temas relativos, por exemplo, à construção interna, pessoal, de princípios considerados
paz ou ao uso de drogas podem constituir subtemas dos válidos para si e para os demais implica considerar-se
temas gerais; outras vezes, no entanto, podem exigir um um sujeito em meio a outros sujeitos. O desenvolvimen-
tratamento específico e intenso, dependendo da realida- to dessa capacidade permite considerar e buscar com-
de de cada contexto social, político, econômico e cultu- preender razões, nuanças, condicionantes, consequên-
ral. Nesse caso, devem ser incluídos como temas básicos. cias e intenções, isto é, permite a superação da rigidez
moral, no julgamento e na atuação pessoal, na relação
Objetivos interpessoal e na compreensão das relações sociais. A
ação pedagógica contribui com tal desenvolvimento, en-
Os objetivos propostos nos Parâmetros Curriculares tre outras formas afirmando claramente seus princípios
Nacionais concretizam as intenções educativas em ter- éticos, incentivando a reflexão e a análise crítica de valo-
mos de capacidades que devem ser desenvolvidas pelos res, atitudes e tomadas de decisão e possibilitando o co-
alunos ao longo da escolaridade. nhecimento de que a formulação de tais sistemas é fruto
A decisão de definir os objetivos educacionais em de relações humanas, historicamente situadas. Quanto à
termos de capacidades é crucial nesta proposta, pois as capacidade de inserção social, refere-se à possibilidade
capacidades, uma vez desenvolvidas, podem se expres- de o aluno perceber-se como parte de uma comunidade,
sar numa variedade de comportamentos. O professor, de uma classe, de um ou vários grupos sociais e de com-
consciente de que condutas diversas podem estar vin- prometer-se pessoalmente com questões que considere
culadas ao desenvolvimento de uma mesma capacidade, relevantes para a vida coletiva. Essa capacidade é nuclear
tem diante de si maiores possibilidades de atender à di- ao exercício da cidadania, pois seu desenvolvimento é
versidade de seus alunos. necessário para que se possa superar o individualismo e
Assim, os objetivos se definem em termos de capaci- atuar (no cotidiano ou na vida política) levando em conta
dades de ordem cognitiva, física, afetiva, de relação inter- a dimensão coletiva. O aprendizado de diferentes formas
e possibilidades de participação social é essencial ao de-
pessoal e inserção social, ética e estética, tendo em vista
senvolvimento dessa capacidade.
uma formação ampla.
Para garantir o desenvolvimento dessas capacidades
A capacidade cognitiva tem grande influência na pos-
é preciso uma disponibilidade para a aprendizagem de
tura do indivíduo em relação às metas que quer atingir
modo geral. Esta, por sua vez, depende em boa parte da
nas mais diversas situações da vida, vinculando-se direta-
história de êxitos ou fracassos escolares que o aluno traz
mente ao uso de formas de representação e de comuni-
e vão determinar o grau de motivação que apresentará
cação, envolvendo a resolução de problemas, de maneira em relação às aprendizagens atualmente propostas. Mas
consciente ou não. A aquisição progressiva de códigos depende também de que os conteúdos de aprendizagem
de representação e a possibilidade de operar com eles tenham sentido para ele e sejam funcionais. O papel do
interfere diretamente na aprendizagem da língua, da professor nesse processo é, portanto, crucial, pois a ele
matemática, da representação espacial, temporal e grá- cabe apresentar os conteúdos e atividades de aprendiza-
fica e na leitura de imagens. A capacidade física engloba gem de forma que os alunos compreendam o porquê e o
o autoconhecimento e o uso do corpo na expressão de para que do que aprendem, e assim desenvolvam expec-
emoções, na superação de estereotipias de movimentos, tativas positivas em relação à aprendizagem e sintam-se
nos jogos, no deslocamento com segurança. A afetiva motivados para o trabalho escolar.
refere-se às motivações, à autoestima, à sensibilidade Para tanto, é preciso considerar que nem todas as
e à adequação de atitudes no convívio social, estando pessoas têm os mesmos interesses ou habilidades, nem
vinculada à valorização do resultado dos trabalhos pro- aprendem da mesma maneira, o que muitas vezes exi-
duzidos e das atividades realizadas. Esses fatores levam ge uma atenção especial por parte do professor a um
o aluno a compreender a si mesmo e aos outros. A capa- ou outro aluno, para que todos possam se integrar no
cidade afetiva está estreitamente ligada à capacidade de processo de aprender. A partir do reconhecimento das
relação interpessoal, que envolve compreender, conviver diferenças existentes entre pessoas, fruto do processo de
e produzir com os outros, percebendo distinções entre socialização e do desenvolvimento individual, será pos-
as pessoas, contrastes de temperamento, de intenções sível conduzir um ensino pautado em aprendizados que
e de estados de ânimo. O desenvolvimento da inter-re- sirvam a novos aprendizados.
lação permite ao aluno se colocar do ponto de vista do
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

outro e a refletir sobre seus próprios pensamentos. No A escola preocupada em fazer com que os alunos de-
trabalho escolar o desenvolvimento dessa capacidade é senvolvam capacidades ajusta sua maneira de ensinar e
propiciado pela realização de trabalhos em grupo, por seleciona os conteúdos de modo a auxiliá-los a se ade-
práticas de cooperação que incorporam formas partici- quarem às várias vivências a que são expostos em seu
pativas e possibilitam a tomada de posição em conjunto universo cultural; considera as capacidades que os alu-
com os outros. A capacidade estética permite produzir nos já têm e as potencializa; preocupa-se com aqueles
arte e apreciar as diferentes produções artísticas produ- alunos que encontram dificuldade no desenvolvimento
zidas em diferentes culturas e em diferentes momentos das capacidades básicas.
históricos. A capacidade ética é a possibilidade de reger Embora os indivíduos tendam, em função de sua
as próprias ações e tomadas de decisão por um sistema natureza, a desenvolver capacidades de maneira hete-
de princípios segundo o qual se analisam, nas diferentes rogênea, é importante salientar que a escola tem como

152
função potencializar o desenvolvimento de todas as visto como fim em si mesmo, o que se propõe é um ensi-
capacidades, de modo a tornar o ensino mais humano, no em que o conteúdo seja visto como meio para que os
mais ético. alunos desenvolvam as capacidades que lhes permitam
produzir e usufruir dos bens culturais, sociais e econô-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, na explicitação micos.
das mencionadas capacidades, apresentam inicialmente A tendência predominante na abordagem de conteú-
os Objetivos Gerais do ensino fundamental, que são as dos na educação escolar se assenta no binômio trans-
grandes metas educacionais que orientam a estrutura- missão-incorporação, considerando a incorporação de
ção curricular. A partir deles são definidos os Objetivos conteúdos pelo aluno como a finalidade essencial do
Gerais de Área, os dos Temas Transversais, bem como o ensino. Existem, no entanto, outros posicionamentos: há
desdobramento que estes devem receber no primeiro e quem defenda a posição de indiferença em relação aos
no segundo ciclos, como forma de conduzir às conquis- conteúdos por considerá-los somente como suporte ao
tas intermediárias necessárias ao alcance dos objetivos desenvolvimento cognitivo dos alunos e há ainda quem
gerais. Um exemplo de desdobramento dos objetivos é o acuse a determinação prévia de conteúdos como uma
que se apresenta a seguir. afronta às questões sociais e políticas vivenciadas pelos
- Objetivo Geral do Ensino Fundamental: utilizar di- diversos grupos.
ferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, No entanto, qualquer que seja a linha pedagógica,
plástica, corporal — como meio para expressar e professores e alunos trabalham, necessariamente, com
comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das conteúdos. O que diferencia radicalmente as propostas
produções da cultura. é a função que se atribui aos conteúdos no contexto es-
- Objetivo Geral do Ensino de Matemática: analisar in- colar e, em decorrência disso, as diferentes concepções
formações relevantes do ponto de vista do conhe- quanto à maneira como devem ser selecionados e tra-
cimento e estabelecer o maior número de relações tados.
entre elas, fazendo uso do conhecimento matemá- Nesta proposta, os conteúdos e o tratamento que
tico para interpretá-las e avaliá-las criticamente. a eles deve ser dado assumem papel central, uma vez
- Objetivo do Ensino de Matemática para o Primeiro que é por meio deles que os propósitos da escola são
Ciclo: identificar, em situações práticas, que muitas operacionalizados, ou seja, manifestados em ações pe-
informações são organizadas em tabelas e gráficos dagógicas. No entanto, não se trata de compreendê-los
para facilitar a leitura e a interpretação, e construir da forma como são comumente aceitos pela tradição
formas pessoais de registro para comunicar infor- escolar. O projeto educacional expresso nos Parâmetros
mações coletadas. Curriculares Nacionais demanda uma reflexão sobre a
seleção de conteúdos, como também exige uma ressig-
Os objetivos constituem o ponto de partida para se nificação, em que a noção de conteúdo escolar se amplia
refletir sobre qual é a formação que se pretende que para além de fatos e conceitos, passando a incluir pro-
os alunos obtenham, que a escola deseja proporcionar cedimentos, valores, normas e atitudes. Ao tomar como
e tem possibilidades de realizar, sendo, nesse senti- objeto de aprendizagem escolar conteúdos de diferentes
do, pontos de referência que devem orientar a atuação naturezas, reafirma-se a responsabilidade da escola com
educativa em todas as áreas, ao longo da escolaridade a formação ampla do aluno e a necessidade de interven-
obrigatória. Devem, portanto, orientar a seleção de con- ções conscientes e planejadas nessa direção.
teúdos a serem aprendidos como meio para o desenvol-
vimento das capacidades e indicar os encaminhamentos Neste documento, os conteúdos são abordados em
didáticos apropriados para que os conteúdos estudados três grandes categorias: conteúdos conceituais, que en-
façam sentido para os alunos. Finalmente, devem cons- volvem fatos e princípios; conteúdos procedimentais e
tituir-se uma referência indireta da avaliação da atuação conteúdos atitudinais, que envolvem a abordagem de
pedagógica da escola. valores, normas e atitudes.
Conteúdos conceituais referem-se à construção ativa
As capacidades expressas nos Objetivos dos Parâme- das capacidades intelectuais para operar com símbolos,
tros Curriculares Nacionais são propostas como referen- ideias, imagens e representações que permitem organi-
ciais gerais e demandam adequações a serem realizadas zar a realidade. A aprendizagem de conceitos se dá por
nos níveis de concretização curricular das secretarias es- aproximações sucessivas. Para aprender sobre digestão,
taduais e municipais, bem como das escolas, a fim de subtração ou qualquer outro objeto de conhecimento,
atender às demandas específicas de cada localidade. Essa
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

o aluno precisa adquirir informações, vivenciar situações


adequação pode ser feita mediante a redefinição de gra- em que esses conceitos estejam em jogo, para poder
duações e o reequacionamento de prioridades, desen- construir generalizações parciais que, ao longo de suas
volvendo alguns aspectos e acrescentando outros que experiências, possibilitarão atingir conceitualizações
não estejam explícitos. cada vez mais abrangentes; estas o levarão à compreen-
são de princípios, ou seja, conceitos de maior nível de
Conteúdos abstração, como o princípio da igualdade na matemática,
o princípio da conservação nas ciências, etc. A aprendi-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem uma zagem de conceitos permite organizar a realidade, mas
mudança de enfoque em relação aos conteúdos curri- só é possível a partir da aprendizagem de conteúdos re-
culares: ao invés de um ensino em que o conteúdo seja ferentes a fatos (nomes, imagens, representações), que

153
ocorre, num primeiro momento, de maneira eminente- vistas e organizar os dados obtidos, procurar referências
mente mnemônica. A memorização não deve ser enten- em diferentes jornais, em filmes, comparar as informa-
dida como processo mecânico, mas antes como recurso ções obtidas para apresentá-las num seminário, produzir
que torna o aluno capaz de representar informações de um texto. Ao exercer um determinado procedimento, é
maneira genérica — memória significativa — para poder possível ao aluno, com ajuda ou não do professor, ana-
relacioná-las com outros conteúdos. lisar cada etapa realizada para adequá-la ou corrigi-la,
Dependendo da diversidade presente nas atividades a fim de atingir a meta proposta. A consideração dos
realizadas, os alunos buscam informações (fatos), notam conteúdos procedimentais no processo de ensino é de
regularidades, realizam produtos e generalizações que, fundamental importância, pois permite incluir conheci-
mesmo sendo sínteses ou análises parciais, permitem ve- mentos que têm sido tradicionalmente excluídos do en-
rificar se o conceito está sendo aprendido. Exemplo 1: sino, como a revisão do texto escrito, a argumentação
para compreender o que vem a ser um texto jornalístico construída, a comparação dos dados, a verificação, a do-
é necessário que o aluno tenha contato com esse texto, cumentação e a organização, entre outros.
use-o para obter informações, conheça seu vocabulário,
conheça sua estrutura e sua função social. Exemplo 2: a Ao ensinar procedimentos também se ensina um cer-
solidariedade só pode ser compreendida quando o alu- to modo de pensar e produzir conhecimento. Exemplo:
no passa por situações em que atitudes que a suscitem uma das questões centrais do trabalho em matemática
estejam em jogo, de modo que, ao longo de suas ex- refere-se à validação.
periências, adquira informações que contribuam para a Trata-se de o aluno saber por seus próprios meios se
construção de tal conceito. Aprender conceitos permite o resultado que obteve é razoável ou absurdo, se o pro-
atribuir significados aos conteúdos aprendidos e relacio- cedimento utilizado é correto ou não, se o argumento de
ná-los a outros. seu colega é consistente ou contraditório.
Tal aprendizado está diretamente relacionado à se- Já os conteúdos atitudinais permeiam todo o conhe-
gunda categoria de conteúdos: a procedimental. Os cimento escolar. A escola é um contexto socializador,
procedimentos expressam um saber fazer, que envolve gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao pro-
tomar decisões e realizar uma série de ações, de forma fessor, aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à socie-
ordenada e não aleatória, para atingir uma meta. Assim, dade. A não-compreensão de atitudes, valores e normas
os conteúdos procedimentais sempre estão presentes como conteúdos escolares faz com estes sejam comu-
nos projetos de ensino, pois uma pesquisa, um experi- nicados sobretudo de forma inadvertida — acabam por
mento, um resumo, uma maquete, são proposições de ser aprendidos sem que haja uma deliberação clara so-
ações presentes nas salas de aula. bre esse ensinamento. Por isso, é imprescindível adotar
No entanto, conteúdos procedimentais são abor- uma posição crítica em relação aos valores que a escola
dados muitas vezes de maneira equivocada, não sendo transmite explícita e implicitamente mediante atitudes
tratados como objeto de ensino, que necessitam de in- cotidianas. A consideração positiva de certos fatos ou
tervenção direta do professor para serem de fato apren- personagens históricos em detrimento de outros é um
didos. O aprendizado de procedimentos é, por vezes, posicionamento de valor, o que contradiz a pretensa
considerado como algo espontâneo, dependente das neutralidade que caracteriza a apresentação escolar do
habilidades individuais. Ensinam-se procedimentos acre- saber científico.
ditando estar-se ensinando conceitos; a realização de um Ensinar e aprender atitudes requer um posicionamen-
procedimento adequado passa, então, a ser interpretada to claro e consciente sobre o que e como se ensina na
como o aprendizado do conceito. O exemplo mais evi- escola. Esse posicionamento só pode ocorrer a partir do
dente dessa abordagem ocorre no ensino das operações: estabelecimento das intenções do projeto educativo da
o fato de uma criança saber resolver contas de adição escola, para que se possam adequar e selecionar conteú-
não necessariamente corresponde à compreensão do dos básicos, necessários e recorrentes.
conceito de adição. É sabido que a aprendizagem de valores e atitudes é
de natureza complexa e pouco explorada do ponto de
É preciso analisar os conteúdos referentes a pro- vista pedagógico. Muitas pesquisas apontam para a im-
cedimentos não do ponto de vista de uma aprendiza- portância da informação como fator de transformação
gem mecânica, mas a partir do propósito fundamental de valores e atitudes; sem dúvida, a informação é ne-
da educação, que é fazer com que os alunos construam cessária, mas não é suficiente. Para a aprendizagem de
instrumentos para analisar, por si mesmos, os resultados atitudes é necessária uma prática constante, coerente e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que obtêm e os processos que colocam em ação para sistemática, em que valores e atitudes almejados sejam
atingir as metas a que se propõem. Por exemplo: para expressos no relacionamento entre as pessoas e na es-
realizar uma pesquisa, o aluno pode copiar um trecho colha dos assuntos a serem tratados. Além das questões
da enciclopédia, embora esse não seja o procedimento de ordem emocional, tem relevância no aprendizado dos
mais adequado. É preciso auxiliá-lo, ensinando os pro- conteúdos atitudinais o fato de cada aluno pertencer a
cedimentos apropriados, para que possa responder com um grupo social, com seus próprios valores e atitudes.
êxito à tarefa que lhe foi proposta. É preciso que o aluno
aprenda a pesquisar em mais de uma fonte, registrar o Embora esteja sempre presente nos conteúdos espe-
que for relevante, relacionar as informações obtidas para cíficos que são ensinados, os conteúdos atitudinais não
produzir um texto de pesquisa. Dependendo do assunto têm sido formalmente reconhecidos como tal. A análise
a ser pesquisado, é possível orientá-lo para fazer entre- dos conteúdos, à luz dessa dimensão, exige uma toma-

154
da de decisão consciente e eticamente comprometida, mesmo conteúdo — adição e subtração — para ser com-
interferindo diretamente no esclarecimento do papel da preendido requer uma abordagem mais ampla dos con-
escola na formação do cidadão. Ao enfocar os conteúdos ceitos que o envolvem. Com esses exemplos buscou-se
escolares sob essa dimensão, questões de convívio social apontar também que situações aparentemente fáceis e
assumem um outro status no rol dos conteúdos a serem simples são complexas tanto do ponto de vista do objeto
abordados. como da aprendizagem. No problema 2 a variação no
Considerar conteúdos procedimentais e atitudinais local da incógnita solicita um tipo de raciocínio diferente
como conteúdos do mesmo nível que os conceituais não do problema. A complexidade dos próprios conteúdos e
implica aumento na quantidade de conteúdos a serem as necessidades das aprendizagens compõem um todo
trabalhados, porque eles já estão presentes no dia-a- dinâmico, sendo impossível esgotar a aprendizagem em
-dia da sala de aula; o que acontece é que, na maioria um curto espaço de tempo. O conhecimento não é um
das vezes, não estão explicitados nem são tratados de bem passível de acumulação, como uma espécie de doa-
maneira consciente. A diferente natureza dos conteúdos ção da fonte de informações para o aprendiz.
escolares deve ser contemplada de maneira integrada no Para o tratamento didático dos conteúdos é preciso
processo de ensino e aprendizagem e não em atividades considerar também o estabelecimento de relações inter-
específicas. nas ao bloco e entre blocos. Exemplificando: os blocos
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os conteúdos de conteúdos de Língua Portuguesa são língua oral, lín-
referentes a conceitos, procedimentos, valores, normas e gua escrita, análise e reflexão sobre a língua; é possível
atitudes estão presentes nos documentos tanto de áreas aprender sobre a língua escrita sem necessariamente es-
quanto de Temas Transversais, por contribuírem para a tabelecer uma relação direta com a língua oral; por outro
aquisição das capacidades definidas nos Objetivos Gerais lado, não é possível aprender a analisar e a refletir sobre
do Ensino Fundamental. A consciência da importância a língua sem o apoio da língua oral, ou da escrita. Dessa
desses conteúdos é essencial para garantir-lhes trata- forma, a inter-relação dos elementos de um bloco, ou
mento apropriado, em que se vise um desenvolvimento entre blocos, é determinada pelo objeto da aprendiza-
amplo, harmônico e equilibrado dos alunos, tendo em gem, configurado pela proposta didática realizada pelo
vista sua vinculação à função social da escola. Eles são professor.
apresentados nos blocos de conteúdos e/ou organiza-
ções temáticas. Dada a diversidade existente no País, é natural e de-
sejável que ocorram alterações no quadro proposto. A
Os blocos de conteúdos e/ou organizações temáticas definição dos conteúdos a serem tratados deve consi-
são agrupamentos que representam recortes internos derar o desenvolvimento de capacidades adequadas às
à área e visam explicitar objetos de estudo essenciais à características sociais, culturais e econômicas particulares
aprendizagem. Distinguem as especificidades dos con- de cada localidade.
teúdos, para que haja clareza sobre qual é o objeto do Assim, a definição de conteúdos nos Parâmetros Cur-
trabalho, tanto para o aluno como para o professor — é riculares Nacionais é uma referência suficientemente
importante ter consciência do que se está ensinando e aberta para técnicos e professores analisarem, refletirem
do que se está aprendendo. Os conteúdos são organi- e tomarem decisões, resultando em ampliações ou redu-
zados em função da necessidade de receberem um tra- ções de certos aspectos, em função das necessidades de
tamento didático que propicie um avanço contínuo na aprendizagem de seus alunos.
ampliação de conhecimentos, tanto em extensão quanto
em profundidade, pois o processo de aprendizagem dos Avaliação
alunos requer que os mesmos conteúdos sejam tratados
de diferentes maneiras e em diferentes momentos da A concepção de avaliação dos Parâmetros Curricula-
escolaridade, de forma a serem “revisitados”, em função res Nacionais vai além da visão tradicional, que focaliza o
das possibilidades de compreensão que se alteram pela controle externo do aluno mediante notas ou conceitos,
contínua construção de conhecimentos e em função da para ser compreendida como parte integrante e intrínse-
complexidade conceitual de determinados conteúdos. ca ao processo educacional.
Por exemplo, ao apresentar problemas referentes às ope- A avaliação, ao não se restringir ao julgamento sobre
rações de adição e subtração. sucessos ou fracassos do aluno, é compreendida como
um conjunto de atuações que tem a função de alimentar,
Exemplo 1: Pedro tinha 8 bolinhas de gude, jogou sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Aconte-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

uma partida e perdeu 3. Com quantas bolinhas ficou? (8 ce contínua e sistematicamente por meio da interpreta-
- 3 = 5 ou 3 + ? = 8). Exemplo 2: Pedro jogou uma par- ção qualitativa do conhecimento construído pelo aluno.
tida de bolinha de gude. Na segunda partida, perdeu 3 Possibilita conhecer o quanto ele se aproxima ou não da
bolinhas, ficando com 5 no final. Quantas bolinhas Pedro expectativa de aprendizagem que o professor tem em
ganhou na primeira partida? (? - 3 = 5 ou 8 - 3 = 5 ou determinados momentos da escolaridade, em função da
3 + ? = 8). O problema 1 é resolvido pela maioria das intervenção pedagógica realizada. Portanto, a avaliação
crianças no início da escolaridade obrigatória em função das aprendizagens só pode acontecer se forem relacio-
do conhecimento matemático que já têm; no entanto, nadas com as oportunidades oferecidas, isto é, analisan-
o problema 2 para ser resolvido necessita que o aluno do a adequação das situações didáticas propostas aos
tenha tido diferentes oportunidades para operar com os conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios que
conceitos envolvidos, caso contrário não o resolverá. O estão em condições de enfrentar.

155
A avaliação subsidia o professor com elementos para O processo também contempla a observação dos
uma reflexão contínua sobre a sua prática, sobre a cria- avanços e da qualidade da aprendizagem alcançada pe-
ção de novos instrumentos de trabalho e a retomada de los alunos ao final de um período de trabalho, seja este
aspectos que devem ser revistos, ajustados ou reconhe- determinado pelo fim de um bimestre, ou de um ano,
cidos como adequados para o processo de aprendiza- seja pelo encerramento de um projeto ou sequência
gem individual ou de todo grupo. Para o aluno, é o ins- didática. Na verdade, a avaliação contínua do processo
trumento de tomada de consciência de suas conquistas, acaba por subsidiar a avaliação final, isto é, se o professor
dificuldades e possibilidades para reorganização de seu acompanha o aluno sistematicamente ao longo do pro-
investimento na tarefa de aprender. Para a escola, pos- cesso pode saber, em determinados momentos, o que o
sibilita definir prioridades e localizar quais aspectos das aluno já aprendeu sobre os conteúdos trabalhados. Es-
ações educacionais demandam maior apoio. ses momentos, por outro lado, são importantes por se
Tomar a avaliação nessa perspectiva e em todas es- constituírem boas situações para que alunos e profes-
sas dimensões requer que esta ocorra sistematicamente sores formalizem o que foi e o que não foi aprendido.
durante todo o processo de ensino e aprendizagem e Esta avaliação, que intenciona averiguar a relação entre
não somente após o fechamento de etapas do trabalho, a construção do conhecimento por parte dos alunos e
como é o habitual. Isso possibilita ajustes constantes, os objetivos a que o professor se propôs, é indispensá-
num mecanismo de regulação do processo de ensino e vel para se saber se todos os alunos estão aprendendo
aprendizagem, que contribui efetivamente para que a ta- e quais condições estão sendo ou não favoráveis para
refa educativa tenha sucesso. isso, o que diz respeito às responsabilidades do sistema
O acompanhamento e a reorganização do processo educacional.
de ensino e aprendizagem na escola inclui, necessaria- Um sistema educacional comprometido com o de-
mente, uma avaliação inicial, para o planejamento do senvolvimento das capacidades dos alunos, que se ex-
professor, e uma avaliação ao final de uma etapa de tra- pressam pela qualidade das relações que estabelecem e
balho. pela profundidade dos saberes constituídos, encontra, na
A avaliação investigativa inicial instrumentalizará o avaliação, uma referência à análise de seus propósitos,
professor para que possa pôr em prática seu planejamen- que lhe permite redimensionar investimentos, a fim de
que os alunos aprendam cada vez mais e melhor e atin-
to de forma adequada às características de seus alunos.
jam os objetivos propostos.
Esse é o momento em que o professor vai se informar
Esse uso da avaliação, numa perspectiva democráti-
sobre o que o aluno já sabe sobre determinado conteúdo
ca, só poderá acontecer se forem superados o caráter
para, a partir daí, estruturar sua programação, definindo
de terminalidade e de medição de conteúdos aprendidos
os conteúdos e o nível de profundidade em que devem
— tão arraigados nas práticas escolares — a fim de que
ser abordados. A avaliação inicial serve para o professor
os resultados da avaliação possam ser concebidos como
obter informações necessárias para propor atividades e
indicadores para a reorientação da prática educacional e
gerar novos conhecimentos, assim como para o aluno nunca como um meio de estigmatizar os alunos.
tomar consciência do que já sabe e do que pode ainda Utilizar a avaliação como instrumento para o desen-
aprender sobre um determinado conjunto de conteúdos. volvimento das atividades didáticas requer que ela não
É importante que ocorra uma avaliação no início do ano; seja interpretada como um momento estático, mas antes
o fato de o aluno estar iniciando uma série não é infor- como um momento de observação de um processo dinâ-
mação suficiente para que o professor saiba sobre suas mico e não-linear de construção de conhecimento.
necessidades de aprendizagem. Mesmo que o professor
acompanhe a classe de um ano para o outro, e tenha Em suma, a avaliação contemplada nos Parâmetros
registros detalhados sobre o desempenho dos alunos no Curriculares Nacionais é compreendida como: elemento
ano anterior, não se exclui essa investigação inicial, pois integrador entre a aprendizagem e o ensino; conjunto
os alunos não deixam de aprender durante as férias e de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação da inter-
muita coisa pode ser alterada no intervalo dos períodos venção pedagógica para que o aluno aprenda da melhor
letivos. Mas essas avaliações não devem ser aplicadas forma; conjunto de ações que busca obter informações
exclusivamente nos inícios de ano ou de semestre; são sobre o que foi aprendido e como; elemento de reflexão
pertinentes sempre que o professor propuser novos con- contínua para o professor sobre sua prática educativa;
teúdos ou novas sequências de situações didáticas. instrumento que possibilita ao aluno tomar consciência
de seus avanços, dificuldades e possibilidades; ação que
É importante ter claro que a avaliação inicial não im- ocorre durante todo o processo de ensino e aprendiza-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

plica a instauração de um longo período de diagnóstico, gem e não apenas em momentos específicos caracteri-
que acabe por se destacar do processo de aprendizagem zados como fechamento de grandes etapas de trabalho.
que está em curso, no qual o professor não avança em Uma concepção desse tipo pressupõe considerar tanto
suas propostas, perdendo o escasso e precioso tempo o processo que o aluno desenvolve ao aprender como o
escolar de que dispõe. Ela pode se realizar no interior produto alcançado. Pressupõe também que a avaliação
mesmo de um processo de ensino e aprendizagem, já se aplique não apenas ao aluno, considerando as expec-
que os alunos põem inevitavelmente em jogo seus co- tativas de aprendizagem, mas às condições oferecidas
nhecimentos prévios ao enfrentar qualquer situação di- para que isso ocorra. Avaliar a aprendizagem, portanto,
dática. implica avaliar o ensino oferecido — se, por exemplo,
não há a aprendizagem esperada significa que o ensino
não cumpriu com sua finalidade: a de fazer aprender.

156
Orientações para avaliação condição didática necessária para que construam instru-
mentos de auto regulação para as diferentes aprendiza-
Como avaliar se define a partir da concepção de ensi- gens. A auto avaliação é uma situação de aprendizagem
no e aprendizagem, da função da avaliação no processo em que o aluno desenvolve estratégias de análise e in-
educativo e das orientações didáticas postas em prática. terpretação de suas produções e dos diferentes procedi-
Embora a avaliação, na perspectiva aqui apontada, acon- mentos para se avaliar. Além desse aprendizado ser, em
teça sistematicamente durante as atividades de ensino e si, importante, porque é central para a construção da au-
aprendizagem, é preciso que a perspectiva de cada mo- tonomia dos alunos, cumpre o papel de contribuir com a
mento da avaliação seja definida claramente, para que se objetividade desejada na avaliação, uma vez que esta só
possa alcançar o máximo de objetividade possível. poderá ser construída com a coordenação dos diferentes
Para obter informações em relação aos processos de pontos de vista tanto do aluno quanto do professor.
aprendizagem, é necessário considerar a importância de
uma diversidade de instrumentos e situações, para pos- Critérios de avaliação
sibilitar, por um lado, avaliar as diferentes capacidades e
conteúdos curriculares em jogo e, por outro lado, con- Avaliar significa emitir um juízo de valor sobre a rea-
trastar os dados obtidos e observar a transferência das lidade que se questiona, seja a propósito das exigências
aprendizagens em contextos diferentes. de uma ação que se projetou realizar sobre ela, seja a
propósito das suas consequências.
É fundamental a utilização de diferentes códigos, Portanto, a atividade de avaliação exige critérios cla-
como o verbal, o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, ros que orientem a leitura dos aspectos a serem avalia-
o pictórico, de forma a se considerar as diferentes apti- dos.
dões dos alunos. Por exemplo, muitas vezes o aluno não No caso da avaliação escolar, é necessário que se
domina a escrita suficientemente para expor um racio- estabeleçam expectativas de aprendizagem dos alunos
cínio mais complexo sobre como compreende um fato em consequência do ensino, que devem se expressar nos
histórico, mas pode fazê-lo perfeitamente bem em uma objetivos, nos critérios de avaliação propostos e na de-
situação de intercâmbio oral, como em diálogos, entre- finição do que será considerado como testemunho das
vistas ou debates. Considerando essas preocupações, o aprendizagens.
professor pode realizar a avaliação por meio de: Do contraste entre os critérios de avaliação e os in-
- observação sistemática: acompanhamento do pro- dicadores expressos na produção dos alunos surgirá o
cesso de aprendizagem dos alunos, utilizando alguns juízo de valor, que se constitui a essência da avaliação.
instrumentos, como registro em tabelas, listas de contro- Os critérios de avaliação têm um papel importante,
le, diário de classe e outros; pois explicitam as expectativas de aprendizagem, consi-
- análise das produções dos alunos: considerar a va- derando objetivos e conteúdos propostos para a área e
riedade de produções realizadas pelos alunos, para que para o ciclo, a organização lógica e interna dos conteú-
se possa ter um quadro real das aprendizagens conquis- dos, as particularidades de cada momento da escolari-
tadas. Por exemplo: se a avaliação se dá sobre a compe- dade e as possibilidades de aprendizagem decorrentes
tência dos alunos na produção de textos, deve-se consi- de cada etapa do desenvolvimento cognitivo, afetivo e
derar a totalidade dessa produção, que envolve desde os social em uma determinada situação, na qual os alunos
primeiros registros escritos, no caderno de lição, até os tenham boas condições de desenvolvimento do ponto
registros das atividades de outras áreas e das atividades de vista pessoal e social. Os critérios de avaliação apon-
realizadas especificamente para esse aprendizado, além tam as experiências educativas a que os alunos devem
do texto produzido pelo aluno para os fins específicos ter acesso e são consideradas essenciais para o seu de-
desta avaliação; senvolvimento e socialização. Nesse sentido, os critérios
- atividades específicas para a avaliação: nestas, os de avaliação devem refletir de forma equilibrada os di-
alunos devem ter objetividade ao expor sobre um tema, ferentes tipos de capacidades e as três dimensões de
ao responder um questionário. Para isso é importante, conteúdos, e servir para encaminhar a programação e as
em primeiro lugar, garantir que sejam semelhantes às si- atividades de ensino e aprendizagem.
tuações de aprendizagem comumente estruturadas em
sala de aula, isto é, que não se diferenciem, em sua estru- É importante assinalar que os critérios de avaliação re-
tura, das atividades que já foram realizadas; em segundo presentam as aprendizagens imprescindíveis ao final do
lugar, deixar claro para os alunos o que se pretende ava- ciclo e possíveis à maioria dos alunos submetidos às con-
liar, pois, inevitavelmente, os alunos estarão mais atentos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dições de aprendizagem propostas; não podem, no en-


a esses aspectos. tanto, ser tomados como objetivos, pois isso significaria
um injustificável rebaixamento da oferta de ensino e, con-
Quanto mais os alunos tenham clareza dos conteú- sequentemente, o impedimento a priori da possibilidade
dos e do grau de expectativa da aprendizagem que se de realização de aprendizagens consideradas essenciais.
espera, mais terão condições de desenvolver, com a Os critérios não expressam todos os conteúdos que
ajuda do professor, estratégias pessoais e recursos para foram trabalhados no ciclo, mas apenas aqueles que são
vencer dificuldades. fundamentais para que se possa considerar que um alu-
A avaliação, apesar de ser responsabilidade do profes- no adquiriu as capacidades previstas de modo a poder
sor, não deve ser considerada função exclusiva dele. De- continuar aprendendo no ciclo seguinte, sem que seu
legá-la aos alunos, em determinados momentos, é uma aproveitamento seja comprometido.

157
Os Critérios de Avaliação por Área e por Ciclo, defini- mesmo a solicitação de profissionais externos à escola
dos nestes Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda que para debate sobre questões emergentes ao trabalho. A
indiquem o tipo e o grau de aprendizagem que se espera dificuldade de contar com o apoio institucional para es-
que os alunos tenham realizado a respeito dos diferen- ses encaminhamentos é uma realidade que precisa ser
tes conteúdos, apresentam formulação suficientemente alterada gradativamente, para que se possam oferecer
ampla para ser referência para as adaptações necessá- condições de desenvolvimento para os alunos com ne-
rias em cada escola, de modo a poderem se constituir cessidades diferentes de aprendizagem.
critérios reais para a avaliação e, portanto, contribuírem A aprovação ou a reprovação é uma decisão pedagó-
para efetivar a concretização das intenções educativas gica que visa garantir as melhores condições de apren-
no decorrer do trabalho nos ciclos. Os critérios de ava- dizagem para os alunos. Para tal, requer-se uma análise
liação devem permitir concretizações diversas por meio dos professores a respeito das diferentes capacidades
de diferentes indicadores; assim, além do enunciado que do aluno, que permitirão o aproveitamento do ensino na
os define, deverá haver um breve comentário explicati- próxima série ou ciclo. Se a avaliação está a serviço do
vo que contribua para a identificação de indicadores nas processo de ensino e aprendizagem, a decisão de apro-
produções a serem avaliadas, facilitando a interpretação var ou reprovar não deve ser a expressão de um “castigo”
e a flexibilização desses critérios, em função das caracte- nem ser unicamente pautada no quanto se aprendeu ou
rísticas do aluno e dos objetivos e conteúdos definidos. se deixou de aprender dos conteúdos propostos. Para tal
decisão é importante considerar, simultaneamente aos
Exemplo de um critério de avaliação de Língua Por- critérios de avaliação, os aspectos de sociabilidade e de
tuguesa para o primeiro ciclo: “Escrever utilizando tanto ordem emocional, para que a decisão seja a melhor pos-
o conhecimento sobre a correspondência fonográfica sível, tendo em vista a continuidade da escolaridade sem
como sobre a segmentação do texto em palavras e fra- fracassos. No caso de reprovação, a discussão nos conse-
ses. lhos de classe, assim como a consideração das questões
Com este critério espera-se que o aluno escreva tex- trazidas pelos pais nesse processo decisório, podem sub-
tos alfabeticamente. Isso significa utilizar corretamente sidiar o professor para a tomada de decisão amadurecida
a letra (o grafema) que corresponda ao som (o fonema), e compartilhada pela equipe da escola.
ainda que a convenção ortográfica não esteja sendo
respeitada. Espera-se, também, que o aluno utilize seu Os altos índices de repetência em nosso país têm
conhecimento sobre a segmentação das palavras e de sido objeto de muita discussão, uma vez que explicitam
frases, ainda que a convenção não esteja sendo respeita- o fracasso do sistema público de ensino, incomodando
da (no caso da palavra, podem tanto ocorrer uma escri- demais tanto educadores como políticos. No entanto,
ta sem segmentação, como em ‘derepente’, como uma muitas vezes se cria uma falsa questão, em que a repe-
segmentação indevida, como em ‘de pois’; no caso da tência é vista como um problema em si e não como um
frase, o aluno pode separar frases sem utilizar o siste- sintoma da má qualidade do ensino e, consequentemen-
ma de pontuação, fazendo uso de recursos como ‘e’, ‘aí’, te, da aprendizagem, que, de forma geral, o sistema edu-
‘daí’, por exemplo)”. cacional não tem conseguido resolver.
A definição dos critérios de avaliação deve conside- Como resultado, ao reprovar os alunos que não rea-
rar aspectos estruturais de cada realidade; por exemplo, lizam as aprendizagens esperadas, cristaliza-se uma si-
muitas vezes, seja por conta das repetências ou de um tuação em que o problema é do aluno e não do sistema
ingresso tardio na escola, a faixa etária dos alunos de educacional.
primeiro ciclo não corresponde aos sete ou oito anos. A repetência deve ser um recurso extremo; deve ser
Sabe-se, também, que as condições de escolaridade em estudada caso a caso, no momento que mais se adequar
uma escola rural e multisseriada são bastante singulares, a cada aluno, para que esteja de fato a serviço da escola-
o que determinará expectativas de aprendizagem e, por- ridade com sucesso.
tanto, de critérios de avaliação bastante diferenciados. A permanência em um ano ou mais no ciclo deve ser
A adequação dos critérios estabelecidos nestes parâ- compreendida como uma medida educativa para que
metros e dos indicadores especificados ao trabalho que o aluno tenha oportunidade e expectativa de sucesso e
cada escola se propõe a realizar não deve perder de vista motivação, para garantir a melhoria de condições para
a busca de uma meta de qualidade de ensino e aprendi- a aprendizagem. Quer a decisão seja de reprovar ou
zagem explicitada na presente proposta. aprovar um aluno com dificuldades, esta deve sempre
ser acompanhada de encaminhamentos de apoio e ajuda
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Decisões associadas aos resultados da avaliação para garantir a qualidade das aprendizagens e o desen-
volvimento das capacidades esperadas.
Tão importante quanto o que e como avaliar são as
decisões pedagógicas decorrentes dos resultados da As avaliações oficiais: boletins e diplomas
avaliação, que não devem se restringir à reorganização
da prática educativa encaminhada pelo professor no dia- Um outro lado na questão da avaliação é o aspecto
-a-dia; devem se referir, também, a uma série de medi- normativo do sistema de ensino que diz respeito ao con-
das didáticas complementares que necessitem de apoio trole social. À escola é socialmente delegada a tarefa de
institucional, como o acompanhamento individualizado promover o ensino e a aprendizagem de determinados
feito pelo professor fora da classe, o grupo de apoio, as conteúdos e contribuir de maneira efetiva na formação
lições extras e outras que cada escola pode criar, ou até de seus cidadãos; por isso, a escola deve responder à so-

158
ciedade por essa responsabilidade. Para tal, estabelece No entanto, há determinadas considerações a fazer a
uma série de instrumentos para registro e documentação respeito do trabalho em sala de aula, que extravasam as
da avaliação e cria os atestados oficiais de aproveitamen- fronteiras de um tema ou área de conhecimento. Estas
to. Assim, as notas, conceitos, boletins, recuperações, considerações evidenciam que o ensino não pode estar
aprovações, reprovações, diplomas, etc., fazem parte das limitado ao estabelecimento de um padrão de inter-
decisões que o professor deve tomar em seu dia-a-dia venção homogêneo e idêntico para todos os alunos. A
para responder à necessidade de um testemunho oficial prática educativa é bastante complexa, pois o contexto
e social do aproveitamento do aluno. O professor pode de sala de aula traz questões de ordem afetiva, emocio-
aproveitar os momentos de avaliação bimestral ou se- nal, cognitiva, física e de relação pessoal. A dinâmica dos
mestral, quando precisa dar notas ou conceitos, para acontecimentos em uma sala de aula é tal que mesmo
sistematizar os procedimentos que selecionou para o uma aula planejada, detalhada e consistente dificilmen-
processo de avaliação, em função das necessidades psi- te ocorre conforme o imaginado: olhares, tons de voz,
copedagógicas. manifestações de afeto ou desafeto e diversas outras va-
É importante ressaltar a diferença que existe entre a riáveis interferem diretamente na dinâmica prevista. No
comunicação da avaliação e a qualificação. texto que se segue, são apontados alguns tópicos sobre
Uma coisa é a necessidade de comunicar o que se didática considerados essenciais pela maioria dos profis-
observou na avaliação, isto é, o retorno que o professor sionais em educação: autonomia; diversidade; interação
dá aos alunos e aos pais do que pôde observar sobre e cooperação; disponibilidade para a aprendizagem; or-
o processo de aprendizagem, incluindo também o diá- ganização do tempo; organização do espaço; e seleção
logo entre a sua avaliação e a auto avaliação realizada de material.
pelo aluno. Outra coisa é a qualificação que se extrai
dela, e se expressa em notas ou conceitos, histórico es- Autonomia
colar, boletins, diplomas, e cumprem uma função social.
Se a comunicação da avaliação estiver pautada apenas Nos Parâmetros Curriculares Nacionais a autonomia
em qualificações, pouco poderá contribuir para o avan- é tomada ao mesmo tempo como capacidade a ser de-
ço significativo das aprendizagens; mas, se as notas não senvolvida pelos alunos e como princípio didático geral,
forem o único canal que o professor oferece de comu- orientador das práticas pedagógicas.
nicação sobre a avaliação, podem constituir-se uma re- A realização dos objetivos propostos implica necessa-
ferência importante, uma vez que já se instituem como riamente que sejam desde sempre praticados, pois não
representação social do aproveitamento escolar. se desenvolve uma capacidade sem exercê-la. Por isso
didática é um instrumento de fundamental importância,
Orientações didáticas na medida em que possibilita e conforma as relações que
alunos e educadores estabelecem entre si, com o conhe-
A conquista dos objetivos propostos para o ensino
cimento que constroem, com a tarefa que realizam e com
fundamental depende de uma prática educativa que te-
a instituição escolar. Por exemplo, para que possa refletir,
nha como eixo a formação de um cidadão autônomo e
participar e assumir responsabilidades, o aluno necessi-
participativo. Nessa medida, os Parâmetros Curriculares
ta estar inserido em um processo educativo que valorize
Nacionais incluem orientações didáticas, que são subsí-
tais ações.
dios à reflexão sobre como ensinar.
Este é o sentido da autonomia como princípio didáti-
Na visão aqui assumida, os alunos constroem signifi-
cados a partir de múltiplas e complexas interações. Cada co geral proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais:
aluno é sujeito de seu processo de aprendizagem, en- uma opção metodológica que considera a atuação do
quanto o professor é o mediador na interação dos alunos aluno na construção de seus próprios conhecimentos,
com os objetos de conhecimento; o processo de apren- valoriza suas experiências, seus conhecimentos prévios
dizagem compreende também a interação dos alunos e a interação professor-aluno e aluno-aluno, buscando
entre si, essencial à socialização. Assim sendo, as orienta- essencialmente a passagem progressiva de situações em
ções didáticas apresentadas enfocam fundamentalmente que o aluno é dirigido por outrem a situações dirigidas
a intervenção do professor na criação de situações de pelo próprio aluno.
aprendizagem coerentes com essa concepção.
Para cada tema e área de conhecimento correspon- A autonomia refere-se à capacidade de posicionar-se,
de um conjunto de orientações didáticas de caráter mais elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e coo-
abrangente — orientações didáticas gerais — que indi- perativamente de projetos coletivos, ter discernimento,
organizar-se em função de metas eleitas, governar-se,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cam como a concepção de ensino proposta se estabele-


ce no tratamento da área. Para cada bloco de conteúdo participar da gestão de ações coletivas, estabelecer crité-
correspondem orientações didáticas específicas, que ex- rios e eleger princípios éticos, etc. Isto é, a autonomia fala
pressam como determinados conteúdos podem ser tra- de uma relação emancipada, íntegra com as diferentes
tados. dimensões da vida, o que envolve aspectos intelectuais,
Assim, as orientações didáticas permeiam as explici- morais, afetivos e sociopolíticos. Ainda que na escola se
tações sobre o ensinar e o aprender, bem como as ex- destaque a autonomia na relação com o conhecimento
plicações dos blocos de conteúdos ou temas, uma vez — saber o que se quer saber, como fazer para buscar
que a opção de recorte de conteúdos para uma situação informações e possibilidades de desenvolvimento de tal
de ensino e aprendizagem é também determinada pelo conhecimento, manter uma postura crítica comparando
enfoque didático da área. diferentes visões e reservando para si o direito de con-

159
clusão, por exemplo —, ela não ocorre sem o desen- governar são ainda incipientes. A independência é uma
volvimento da autonomia moral (capacidade ética) e manifestação importante para o desenvolvimento, mas
emocional que envolvem auto respeito, respeito mútuo, não deve ser confundida com autonomia.
segurança, sensibilidade, etc.
Como no desenvolvimento de outras capacidades, Diversidade
a aprendizagem de determinados procedimentos e ati-
tudes — tais como planejar a realização de uma tare- As adaptações curriculares previstas nos níveis de
fa, identificar formas de resolver um problema, formular concretização apontam a necessidade de adequar ob-
boas perguntas e boas respostas, levantar hipóteses e jetivos, conteúdos e critérios de avaliação, de forma a
buscar meios de verificá-las, validar raciocínios, resolver atender a diversidade existente no País. Essas adapta-
conflitos, cuidar da própria saúde e da de outros, colo- ções, porém, não dão conta da diversidade no plano dos
car-se no lugar do outro para melhor refletir sobre uma indivíduos em uma sala de aula.
determinada situação, considerar as regras estabeleci- Para corresponder aos propósitos explicitados nestes
das — é o instrumento para a construção da autonomia. parâmetros, a educação escolar deve considerar a diver-
Procedimentos e atitudes dessa natureza são objeto de sidade dos alunos como elemento essencial a ser tratado
aprendizagem escolar, ou seja, a escola pode ensiná-los para a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem.
planejada e sistematicamente criando situações que au- Atender necessidades singulares de determinados
xiliem os alunos a se tornarem progressivamente mais alunos é estar atento à diversidade: é atribuição do pro-
autônomos. Por isso é importante que desde as séries fessor considerar a especificidade do indivíduo, analisar
iniciais as propostas didáticas busquem, em aproxima- suas possibilidades de aprendizagem e avaliar a eficácia
ções sucessivas, cada vez mais essa meta. das medidas adotadas.
O desenvolvimento da autonomia depende de supor- A atenção à diversidade deve se concretizar em me-
tes materiais, intelectuais e emocionais. didas que levem em conta não só as capacidades inte-
No início da escolaridade, a intervenção do professor lectuais e os conhecimentos de que o aluno dispõe, mas
é mais intensa na definição desses suportes: tempo e for- também seus interesses e motivações. Esse conjunto
ma de realização das atividades, organização dos grupos, constitui a capacidade geral do aluno para aprendizagem
materiais a serem utilizados, resolução de conflitos, cui- em um determinado momento.
dados físicos, estabelecimentos de etapas para a realiza- Desta forma, a atuação do professor em sala de aula
ção das atividades. deve levar em conta fatores sociais, culturais e a história
Também é preciso considerar tanto o trabalho indivi- educativa de cada aluno, como também características
dual como o coletivo-cooperativo. O individual é poten- pessoais de déficit sensorial, motor ou psíquico, ou de
cializado pelas exigências feitas aos alunos para se res- superdotação intelectual. Deve-se dar especial atenção
ponsabilizarem por suas ações, suas ideias, suas tarefas, ao aluno que demonstrar a necessidade de resgatar a
pela organização pessoal e coletiva, pelo envolvimento autoestima. Trata-se de garantir condições de aprendiza-
com o objeto de estudo. gem a todos os alunos, seja por meio de incrementos na
O trabalho em grupo, ao valorizar a interação como intervenção pedagógica ou de medidas extras que aten-
instrumento de desenvolvimento pessoal, exige que os dam às necessidades individuais.
alunos considerem diferenças individuais, tragam contri- A escola, ao considerar a diversidade, tem como valor
buições, respeitem as regras estabelecidas, proponham máximo o respeito às diferenças — não o elogio à desi-
outras, atitudes que propiciam o desenvolvimento da au- gualdade. As diferenças não são obstáculos para o cum-
tonomia na dimensão grupal. primento da ação educativa; podem e devem, portanto,
É importante salientar que a autonomia não é um es- ser fator de enriquecimento.
tado psicológico geral que, uma vez atingido, esteja ga- Concluindo, a atenção à diversidade é um princípio
rantido para qualquer situação. Por um lado, por envolver comprometido com a equidade, ou seja, com o direito de
a necessidade de conhecimentos e condições específicas, todos os alunos realizarem as aprendizagens fundamen-
uma pessoa pode ter autonomia para atuar em determi- tais para seu desenvolvimento e socialização.
nados campos e não em outros; por outro, por implicar
o estabelecimento de relações democráticas de poder e Interação e cooperação
autoridade é possível que alguém exerça a capacidade
de agir com autonomia em algumas situações e não nou- Um dos objetivos da educação escolar é que os alu-
tras, nas quais não pode interferir. É portanto necessário nos aprendam a assumir a palavra enunciada e a convi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que a escola busque sua extensão aos diferentes campos ver em grupo de maneira produtiva e cooperativa. Dessa
de atuação. Para tanto, é necessário que as decisões as- forma, são fundamentais as situações em que possam
sumidas pelo professor auxiliem os alunos a desenvolver aprender a dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a pe-
essas atitudes e a aprender os procedimentos adequa- dir ajuda, aproveitar críticas, explicar um ponto de vis-
dos a uma postura autônoma, que só será efetivamente ta, coordenar ações para obter sucesso em uma tarefa
alcançada mediante investimentos sistemáticos ao longo conjunta, etc. É essencial aprender procedimentos dessa
de toda a escolaridade. natureza e valorizá-los como forma de convívio escolar
É importante ressaltar que a construção da autono- e social. Trabalhar em grupo de maneira cooperativa é
mia não se confunde com atitudes de independência. sempre uma tarefa difícil, mesmo para adultos convenci-
O aluno pode ser independente para realizar uma série dos de sua necessidade.
de atividades, enquanto seus recursos internos para se

160
A criação de um clima favorável a esse aprendizado dessas normas possibilita a compreensão pelos alunos
depende do compromisso do professor em aceitar con- das atitudes de disciplina demonstradas pelos professo-
tribuições dos alunos (respeitando-as, mesmo quando res dentro e fora da classe.
apresentadas de forma confusa ou incorreta) e em fa-
vorecer o respeito, por parte do grupo, assegurando a Disponibilidade para a aprendizagem
participação de todos os alunos.
Assim, a organização de atividades que favoreçam a Para que uma aprendizagem significativa possa acon-
fala e a escrita como meios de reorganização e reconstru- tecer, é necessária a disponibilidade para o envolvimento
ção das experiências compartilhadas pelos alunos ocupa do aluno na aprendizagem, o empenho em estabelecer
papel de destaque no trabalho em sala de aula. A co- relações entre o que já sabe e o que está aprendendo,
municação propiciada nas atividades em grupo levará os em usar os instrumentos adequados que conhece e dis-
alunos a perceberem a necessidade de dialogar, resolver põe para alcançar a maior compreensão possível. Essa
mal-entendidos, ressaltar diferenças e semelhanças, ex- aprendizagem exige uma ousadia para se colocar proble-
plicar e exemplificar, apropriando-se de conhecimentos. mas, buscar soluções e experimentar novos caminhos, de
O estabelecimento de condições adequadas para a maneira totalmente diferente da aprendizagem mecâni-
interação não pode estar pautado somente em questões ca, na qual o aluno limita seu esforço apenas em memo-
cognitivas. Os aspectos emocionais e afetivos são tão rizar ou estabelecer relações diretas e superficiais.
relevantes quanto os cognitivos, principalmente para os A aprendizagem significativa depende de uma mo-
alunos prejudicados por fracassos escolares ou que não tivação intrínseca, isto é, o aluno precisa tomar para si a
estejam interessados no que a escola pode oferecer. A necessidade e a vontade de aprender. Aquele que estuda
afetividade, o grau de aceitação ou rejeição, a compe- apenas para passar de ano, ou para tirar notas, não terá
titividade e o ritmo de produção estabelecidos em um motivos suficientes para empenhar-se em profundidade
grupo interferem diretamente na produção do trabalho. na aprendizagem.
A disposição para a aprendizagem não depende ex-
A participação de um aluno muitas vezes varia em clusivamente do aluno, demanda que a prática didática
função do grupo em que está inserido. garanta condições para que essa atitude favorável se
Em síntese, a disponibilidade cognitiva e emocional manifeste e prevaleça. Primeiramente, a expectativa que
dos alunos para a aprendizagem é fator essencial para o professor tem do tipo de aprendizagem de seus alu-
que haja uma interação cooperativa, sem depreciação nos fica definida no contrato didático estabelecido. Se
do colega por sua eventual falta de informação ou in- o professor espera uma atitude curiosa e investigativa,
compreensão. Aprender a conviver em grupo supõe um deve propor prioritariamente atividades que exijam essa
domínio progressivo de procedimentos, valores, normas postura, e não a passividade. Deve valorizar o processo e
e atitudes. a qualidade, e não apenas a rapidez na realização. Deve
A organização dos alunos em grupos de trabalho in- esperar estratégias criativas e originais e não a mesma
fluencia o processo de ensino e aprendizagem, e pode resposta de todos.
ser otimizada quando o professor interfere na organiza- A intervenção do professor precisa, então, garantir
ção dos grupos. Organizar por ordem alfabética ou por que o aluno conheça o objetivo da atividade, situe-se
idade não é a mesma coisa que organizar por gênero ou em relação à tarefa, reconheça os problemas que a si-
por capacidades específicas; por isso é importante que o tuação apresenta, e seja capaz de resolvê-los. Para tal, é
professor discuta e decida os critérios de agrupamento necessário que o professor proponha situações didáticas
dos alunos. Por exemplo: desempenho diferenciado ou com objetivos e determinações claros, para que os alu-
nos possam tomar decisões pensadas sobre o encami-
próximo, equilíbrio entre meninos e meninas, afinidades
nhamento de seu trabalho, além de selecionar e tratar
para o trabalho e afetividade, possibilidade de coopera-
ajustadamente os conteúdos. A complexidade da ativi-
ção, ritmo de trabalho, etc.
dade também interfere no envolvimento do aluno. Um
Não existe critério melhor ou pior de organização de
nível de complexidade muito elevado, ou muito baixo,
grupos para uma atividade. É necessário que o professor
não contribui para a reflexão e o debate, situação que
decida a forma de organização social em cada tipo de
indica a participação ativa e compromissada do aluno
atividade, em cada momento do processo de ensino e
no processo de aprendizagem. As atividades propostas
aprendizagem, em função daqueles alunos específicos.
precisam garantir organização e ajuste às reais possibili-
Agrupamentos adequados, que levem em conta a diver- dades dos alunos, de forma que cada uma não seja nem
sidade dos alunos, tornam-se eficazes na individualiza-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

muito difícil nem demasiado fácil. Os alunos devem po-


ção do ensino. der realizá-la numa situação desafiadora.
Nas escolas multisseriadas, as decisões sobre agru-
pamentos adquirem especial relevância. É possível reunir Nesse enfoque de abordagem profunda da aprendi-
grupos que não sejam estruturados por série e sim por zagem, o tempo reservado para a atuação dos alunos é
objetivos, em que a diferenciação se dê pela exigência determinante. Se a exigência é de rapidez, a saída mais
adequada ao desempenho de cada um. comum é estudar de forma superficial. O professor preci-
O convívio escolar pretendido depende do estabe- sa buscar um equilíbrio entre as necessidades da apren-
lecimento de regras e normas de funcionamento e de dizagem e o exíguo tempo escolar, coordenando-o para
comportamento que sejam coerentes com os objetivos cada proposta que encaminha.
definidos no projeto educativo. A comunicação clara

161
Outro fator que interfere na disponibilidade do aluno Organização do tempo
para a aprendizagem é a unidade entre escola, socieda-
de e cultura, o que exige trabalho com objetos socio- A consideração do tempo como variável que interfere
culturais do cotidiano extraescolar, como, por exemplo, na construção da autonomia permite ao professor criar
jornais, revistas, filmes, instrumentos de medida, etc., situações em que o aluno possa progressivamente con-
sem esvaziá-los de significado, ou seja, sem que percam trolar a realização de suas atividades. Por meio de erros e
sua função social real, contribuindo, assim, para imprimir acertos, o aluno toma consciência de suas possibilidades
sentido às atividades escolares. e constrói mecanismos de auto-regulação que possibili-
Mas isso tudo não basta. Mesmo garantindo todas tam decidir como alocar seu tempo.
essas condições, pode acontecer que a ansiedade pre- Por essa razão, são importantes as atividades em que
sente na situação de aprendizagem se torne muito in- o professor seja somente um orientador do trabalho, ca-
tensa e impeça uma atitude favorável. A ansiedade pode bendo aos alunos o planejamento e a execução, o que os
estar ligada ao medo de fracasso, desencadeado pelo levará a decidir e a vivenciar o resultado de suas decisões
sentimento de incapacidade para realização da tarefa ou sobre o uso do tempo.
de insegurança em relação à ajuda que pode ou não re- Delegar esse controle não quer dizer, de modo al-
ceber de seu professor, ou de seus colegas, e consolidar gum, que os alunos devam arbitrar livremente a respeito
um bloqueio para aprender. de como e quando atuar na escola. A vivência do con-
Quando o sujeito está aprendendo, se envolve intei- trole do tempo pelos alunos se insere dentro de limites
ramente. O processo, assim como seu resultado, repercu- criteriosamente estabelecidos pelo professor, que se tor-
tem de forma global. Assim, o aluno, ao desenvolver as narão menos restritivos à medida que o grupo desenvol-
atividades escolares, aprende não só sobre o conteúdo va sua autonomia.
em questão mas também sobre o modo como aprende, Assim, é preciso que o professor defina claramente as
construindo uma imagem de si como estudante. Essa au- atividades, estabeleça a organização em grupos, dispo-
toimagem é também influenciada pelas representações nibilize recursos materiais adequados e defina o período
de execução previsto, dentro do qual os alunos serão li-
que o professor e seus colegas fazem dele e, de uma for-
vres para tomar suas decisões. Caso contrário, a prática
ma ou outra, são explicitadas nas relações interpessoais
de sala de aula torna-se insustentável pela indisciplina
do convívio escolar. Falta de respeito e forte competitivi-
que gera.
dade, se estabelecidas na classe, podem reforçar os sen-
Outra questão relevante é o horário escolar, que deve
timentos de incompetência de certos alunos e contribuir
obedecer ao tempo mínimo estabelecido pela legislação
de forma efetiva para consolidar o seu fracasso.
vigente para cada uma das áreas de aprendizagem do
O aluno com um autoconceito negativo, que se con-
currículo. A partir desse critério, e em função das opções
sidera fracassado na escola, ou admite que a culpa é sua do projeto educativo da escola, é que se poderá fazer a
e se convence de que é um incapaz, ou vai buscar ao distribuição horária mais adequada.
seu redor outros culpados: o professor é chato, as lições No terceiro e no quarto ciclos, nos quais as aulas se
não servem para nada. Acaba por desenvolver compor- organizam por áreas com professores específicos e tem-
tamentos problemáticos e de indisciplina. po previamente estabelecido, é interessante pensar que
uma das maneiras de otimizar o tempo escolar é orga-
Aprender é uma tarefa árdua, na qual se convive o nizar aulas duplas, pois assim o professor tem condições
tempo inteiro com o que ainda não é conhecido. Para o de propor atividades em grupo que demandam maior
sucesso da empreitada, é fundamental que exista uma tempo (aulas curtas tendem a ser expositivas).
relação de confiança e respeito mútuo entre professor e
aluno, de maneira que a situação escolar possa dar conta Organização do espaço
de todas as questões de ordem afetiva. Mas isso não fica
garantido apenas e exclusivamente pelas ações do pro- Uma sala de aula com carteiras fixas dificulta o traba-
fessor, embora sejam fundamentais dada a autoridade lho em grupo, o diálogo e a cooperação; armários tran-
que ele representa, mas também deve ser conseguido cados não ajudam a desenvolver a autonomia do aluno,
nas relações entre os alunos. O trabalho educacional in- como também não favorecem o aprendizado da preser-
clui as intervenções para que os alunos aprendam a res- vação do bem coletivo. A organização do espaço refle-
peitar diferenças, a estabelecer vínculos de confiança e te a concepção metodológica adotada pelo professor e
uma prática cooperativa e solidária. pela escola.
Em geral, os alunos buscam corresponder às expec- Em um espaço que expresse o trabalho proposto nos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tativas de aprendizagem significativa, desde que haja um Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso que as car-
clima favorável de trabalho, no qual a avaliação e a ob- teiras sejam móveis, que as crianças tenham acesso aos
servação do caminho por eles percorrido seja, de fato, materiais de uso frequente, as paredes sejam utilizadas
instrumento de auto-regulação do processo de ensino e para exposição de trabalhos individuais ou coletivos, de-
aprendizagem. senhos, murais.
Quando não se instaura na classe um clima favorável Nessa organização é preciso considerar a possibilida-
de confiança, compromisso e responsabilidade, os enca- de de os alunos assumirem a responsabilidade pela de-
minhamentos do professor ficam comprometidos. coração, ordem e limpeza da classe. Quando o espaço
é tratado dessa maneira, passa a ser objeto de aprendi-
zagem e respeito, o que somente ocorrerá por meio de
investimentos sistemáticos ao longo da escolaridade.

162
É importante salientar que o espaço de aprendiza- supervisores, professores polivalentes e especialistas)
gem não se restringe à escola, sendo necessário propor para tomada de decisões sobre aspectos da prática didá-
atividades que ocorram fora dela. A programação deve tica, bem como sua execução. Essas decisões serão ne-
contar com passeios, excursões, teatro, cinema, visitas a cessariamente diferenciadas de escola para escola, pois
fábricas, marcenarias, padarias, enfim, com as possibili- dependem do ambiente local e da formação dos pro-
dades existentes em cada local e as necessidades de rea- fessores.
lização do trabalho escolar. As metas propostas não se efetivarão a curto prazo. É
No dia-a-dia devem-se aproveitar os espaços exter- necessário que os profissionais estejam comprometidos,
nos para realizar atividades cotidianas, como ler, contar disponham de tempo e de recursos. Mesmo em condi-
histórias, fazer desenho de observação, buscar materiais ções ótimas de recursos, dificuldades e limitações sem-
para coleções. Dada a pouca infraestrutura de muitas pre estarão presentes, pois na escola se manifestam os
escolas, é preciso contar com a improvisação de espa- conflitos existentes na sociedade.
ços para o desenvolvimento de atividades específicas de As considerações feitas pretendem auxiliar os profes-
laboratório, teatro, artes plásticas, música, esportes, etc. sores na reflexão sobre suas práticas e na elaboração do
Concluindo, a utilização e a organização do espaço e projeto educativo de sua escola. Não são regras a respei-
do tempo refletem a concepção pedagógica e interferem to do que devem ou não fazer. No entanto, é necessário
diretamente na construção da autonomia. estabelecer acordos nas escolas em relação às estraté-
gias didáticas mais adequadas. A qualidade da interven-
Seleção de material ção do professor sobre o aluno ou grupo de alunos, os
materiais didáticos, horários, espaço, organização e es-
Todo material é fonte de informação, mas nenhum trutura das classes, a seleção de conteúdos e a propo-
deve ser utilizado com exclusividade. É importante haver sição de atividades concorrem para que o caminho seja
diversidade de materiais para que os conteúdos possam percorrido com sucesso.
ser tratados da maneira mais ampla possível.
O livro didático é um material de forte influência na Objetivos gerais do ensino fundamental
prática de ensino brasileira. É preciso que os professores
estejam atentos à qualidade, à coerência e a eventuais Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como
restrições que apresentem em relação aos objetivos edu- objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam
cacionais propostos. Além disso, é importante considerar capazes de:
que o livro didático não deve ser o único material a ser - compreender a cidadania como participação social
utilizado, pois a variedade de fontes de informação é que e política, assim como exercício de direitos e deve-
contribuirá para o aluno ter uma visão ampla do conhe- res políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia,
cimento. atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às
Materiais de uso social frequente são ótimos recur- injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o
sos de trabalho, pois os alunos aprendem sobre algo que mesmo respeito;
tem função social real e se mantêm atualizados sobre o - posicionar-se de maneira crítica, responsável e
que acontece no mundo, estabelecendo o vínculo neces- construtiva nas diferentes situações sociais, utili-
sário entre o que é aprendido na escola e o conhecimen- zando o diálogo como forma de mediar conflitos e
to extraescolar. de tomar decisões coletivas;
A utilização de materiais diversificados como jornais, - conhecer características fundamentais do Brasil nas
revistas, folhetos, propagandas, computadores, calcula- dimensões sociais, materiais e culturais como meio
doras, filmes, faz o aluno sentir-se inserido no mundo à para construir progressivamente a noção de iden-
sua volta. tidade nacional e pessoal e o sentimento de perti-
É indiscutível a necessidade crescente do uso de com- nência ao País;
putadores pelos alunos como instrumento de aprendi- - conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio
zagem escolar, para que possam estar atualizados em sociocultural brasileiro, bem como aspectos socio-
relação às novas tecnologias da informação e se instru- culturais de outros povos e nações, posicionando-
mentalizarem para as demandas sociais presentes e fu- -se contra qualquer discriminação baseada em di-
turas. ferenças culturais, de classe social, de crenças, de
A menção ao uso de computadores, dentro de um sexo, de etnia ou outras características individuais
amplo leque de materiais, pode parecer descabida pe- e sociais;
rante as reais condições das escolas, pois muitas não têm
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- perceber-se integrante, dependente e agente trans-


sequer giz para trabalhar. formador do ambiente, identificando seus elemen-
Sem dúvida essa é uma preocupação que exige posi- tos e as interações entre eles, contribuindo ativa-
cionamento e investimento em alternativas criativas para mente para a melhoria do meio ambiente;
que as metas sejam atingidas. - desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo
e o sentimento de confiança em suas capacidades
Considerações finais afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-
-relação pessoal e de inserção social, para agir
A qualidade da atuação da escola não pode depender com perseverança na busca de conhecimento e no
somente da vontade de um ou outro professor. É preciso exercício da cidadania;
a participação conjunta dos profissionais (orientadores,

163
- conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando explicativo dos conteúdos que abrangem e das princi-
e adotando hábitos saudáveis como um dos as- pais orientações didáticas que envolvem. Nesta primeira
pectos básicos da qualidade de vida e agindo com fase de definição dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde segundo prioridade dada pelo Ministério da Educação e
coletiva; do Desporto, há especificação dos Blocos de Conteúdos
- utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemá- apenas para primeiro e segundo ciclos.
tica, gráfica, plástica e corporal — como meio para A eleição de objetivos e conteúdos de área por ciclo
produzir, expressar e comunicar suas ideias, inter- está diretamente relacionada com os Objetivos Gerais do
pretar e usufruir das produções culturais, em con- Ensino Fundamental e com os Objetivos Gerais de Área,
textos públicos e privados, atendendo a diferentes da mesma forma que também expressa a concepção de
intenções e situações de comunicação; área adotada.
- saber utilizar diferentes fontes de informação e re- Os Critérios de Avaliação explicitam as aprendizagens
cursos tecnológicos para adquirir e construir co- fundamentais a serem realizadas em cada ciclo e se cons-
nhecimentos; tituem em indicadores para a reorganização do processo
- questionar a realidade formulando-se problemas e de ensino e aprendizagem. Vale reforçar que tais critérios
tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pen- não devem ser confundidos com critérios de aprovação e
samento lógico, a criatividade, a intuição, a capaci- reprovação de alunos.
dade de análise crítica, selecionando procedimen- O último item são as Orientações Didáticas, que dis-
tos e verificando sua adequação. cutem questões sobre a aprendizagem de determinados
conteúdos e sobre como ensiná-los de maneira coerente
Estrutura organizacional dos Parâmetros Curricu- com a fundamentação explicitada anteriormente.
lares Nacionais

Todas as definições conceituais, bem como a estru- CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1988: TÍTULO
tura organizacional dos Parâmetros Curriculares Nacio- I (DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS) E
nais, foram pautadas nos Objetivos Gerais do Ensino TÍTULO VIII, CAPÍTULO III (DA EDUCAÇÃO).
Fundamental, que estabelecem as capacidades relativas
aos aspectos cognitivo, afetivo, físico, ético, estético, de
atuação e de inserção social, de forma a expressar a for- DIREITO CONSTITUCIONAL
mação básica necessária para o exercício da cidadania.
Essas capacidades, que os alunos devem ter adquirido ao Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
término da escolaridade obrigatória, devem receber uma união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Dis-
abordagem integrada em todas as áreas constituintes do trito Federal, constitui-se em Estado democrático de
ensino fundamental. A seleção adequada dos elementos direito e tem como fundamentos:
da cultura — conteúdos — é que contribuirá para o de- I - a soberania;
senvolvimento de tais capacidades arroladas como Obje- II - a cidadania;
tivos Gerais do Ensino Fundamental. III - a dignidade da pessoa humana;
Os documentos das áreas têm uma estrutura comum: IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
iniciam com a exposição da Concepção de Área para V - o pluralismo político.
todo o ensino fundamental, na qual aparece definida a Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o
fundamentação teórica do tratamento da área nos Parâ- exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
metros Curriculares Nacionais. mente, nos termos desta Constituição.
Os Objetivos Gerais de Área, da mesma forma que os Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmô-
Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, expressam ca- nicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
pacidades que os alunos devem adquirir ao final da esco- Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da Repú-
laridade obrigatória, mas diferenciam-se destes últimos blica Federativa do Brasil:
por explicitar a contribuição específica dos diferentes I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
âmbitos do saber presentes na cultura; trata-se, portanto, II - garantir o desenvolvimento nacional;
de objetivos vinculados ao corpo de conhecimentos de III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
cada área. Os Objetivos Gerais do Ensino Fundamental as desigualdades sociais e regionais;
e os Objetivos Gerais de Área para o Ensino Fundamen- IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tal foram formulados de modo a respeitar a diversidade origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for-
social e cultural e são suficientemente amplos e abran- mas de discriminação.
gentes para que possam conter as especificidades locais. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas
O ensinar e o aprender em cada ciclo enfoca as ne- suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
cessidades e possibilidades de trabalho da área no ciclo I - independência nacional;
e indica os Objetivos de Ciclo por Área, estabelecendo as II - prevalência dos direitos humanos;
conquistas intermediárias que os alunos deverão atingir III - autodeterminação dos povos;
para que progressivamente cumpram com as intenções IV - não-intervenção;
educativas gerais. Segue-se a apresentação dos Blocos V - igualdade entre os Estados;
de Conteúdos e/ou Organizações Temáticas de Área por VI - defesa da paz;
Ciclo. Esses conteúdos estão detalhados em um texto VII - solução pacífica dos conflitos;

164
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; Por fim, no artigo 4º encontramos os princípios que
manidade; orientam as relações internacionais entre o Brasil e os de-
X - concessão de asilo político. mais países. Vejamos:
manidade; I - independência nacional;
X - concessão de asilo político. II - prevalência dos direitos humanos;
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil bus- III - autodeterminação dos povos;
cará a integração econômica, política, social e cultural IV - não-intervenção;
dos povos da América Latina, visando à formação de V - igualdade entre os Estados;
uma comunidade latino-americana de nações. VI - defesa da paz;
O art. 1º da CF/88 tem diversos elementos que mere- VII - solução pacífica dos conflitos;
cem atenção face ao conteúdo de valores que carrega. VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
Em primeiro, informa o artigo que a constituição rege IX - cooperação entre os povos para o progresso da
as normas da república federativa do Brasil. O vocá- humanidade;
bulo “república” informa que todo poder vem do povo X - concessão de asilo político.
e como tal deve ser respeitado.
A democracia brasileira é chamada de democracia Cabe também destacar que o parágrafo único do art.
participativa, posto que o povo pode se manifestar di- 4º traz uma incumbência ainda maior para o Brasil no
retamente (plebiscito, referendo, entre outros) ou, em que tange as relações internacionais. O Brasil, também
determinadas situações, por seus representantes legal- tem por princípio buscar a integração econômica, políti-
mente constituídos Exemplo: deputados, senadores, etc). ca, social e cultural dos povos da América Latina, visan-
Também importante destacar que se trata de uma re- do à formação de uma comunidade latino-americana de
pública “federativa”, ou seja, é uma república composta nações.
por estados federados (estados-membros) e municípios
que não podem se dissolver por vontade de quem quer
que seja.
Os fundamentos que regem a República são: sobera- #FicaDica
nia, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores so- Fundamentos: socidivaplu = soberania, ci-
ciais do trabalho de da livre iniciativa, além do pluralismo dadania, dignidade da pessoa humana, va-
político. A soberania tem duplo aspecto, tanto interno lores sociais do trabalho e livre iniciativa,
como externo. pluralismo político.
Do ponto de vista externo, a soberania informa aos
demais países que dentro de nossos limites regem-se
nossas próprias leis e que não serão aceitas interferên-
cias de outros; assim como do ponto de vista interno, EXERCÍCIOS COMENTADOS
têm-se a obrigatoriedade de obediências às nossas leis,
por quem quer que seja, independente de serem brasi-
leiros ou não. 1. (Aplicada em: 2018 Banca: CESPE Órgão: TCM-BA
A cidadania é a manifestação expressa de que todos Prova: Auditor Estadual de Infraestrutura). O princí-
aqueles que estiverem em solo brasileiro terão sua dig- pio fundamental da Constituição que consiste em fun-
nidade respeitada, ainda que aos estrangeiros. Também damento da República Federativa do Brasil, de eficácia
defendemos os valores sociais do trabalho, já que acima plena, e que não alcança seus entes internos é:
de tudo tem sua função econômica, mas também social,
permitindo ao indivíduo se inserir no contexto social. a) o pluralismo político.
O pluralismo político também merece atenção, uma b) a soberania.
vez que a República Federativa do Brasil não adotou uma c) o conjunto dos valores sociais do trabalho e da livre
única ideologia político-partidária. iniciativa.
O artigo 2º traz em seu bojo a teoria da separação de d) a prevalência dos direitos humanos.
poderes. No Brasil, cada um dos três poderes constituí- e) a dignidade da pessoa humana.
dos atuará de forma livre, sem interferência dos demais,
porém, deverão agir harmonicamente entre si. Resposta: Letra B A soberania não se confunde com
Os objetivos da república encontram-se previstos no autonomia. A soberania revela que nosso Estado não
art. 3º e tem por escopo a orientação do legislador no se subordina a nenhum outro país e que, as leis aqui
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tocante a suas ações que refletem diretamente no povo. vigentes não podem sofrer interferência de outros
Podemos, por sinônimo, considerar que os objetivos são países.
metas que nossa República deve alcançar. São eles:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;


II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for-
mas de discriminação.

165
2. Aplicada em: 2018 Banca: CESPE Órgão: CGM de TÍTULO I
João Pessoa - PB Prova: Conhecimentos Básicos - Car- Da Educação
gos: 1, 2 e 3. À luz do disposto na Constituição Federal
de 1988 (CF), julgue o item a seguir, acerca dos princípios Art. 1º A educação abrange os processos formativos
constitucionais e dos direitos fundamentais. Conforme a que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
CF, o poder emana do povo e é exercido por meio de re- humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pes-
presentantes eleitos, não havendo previsão do exercício quisa, nos movimentos sociais e organizações da so-
do poder diretamente pelo povo. ciedade civil e nas manifestações culturais.
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de-
( ) CERTO ( ) ERRADO senvolve, predominantemente, por meio do ensino,
em instituições próprias.
Resposta: Errado O Brasil adota a democracia par- § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo
ticipativa, ou seja, o povo participa diretamente dos do trabalho e à prática social.
rumos do Estado, assim como o faz por seus repre-
sentantes eleitos. A democracia participativa é exata- TÍTULO II
mente a junção da possibilidade de manifestação das Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
decisões pelo próprio povo como por seus represen-
tantes eleitos de forma direta. Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, ins-
pirada nos princípios de liberdade e nos ideais de soli-
dariedade humana, tem por finalidade o pleno desen-
LEI Nº 9.394/96 – LEI DE DIRETRIZES E BASES volvimento do educando, seu preparo para o exercício
DA EDUCAÇÃO NACIONAL (ATUALIZADA); da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin-


A Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional
tes princípios:
- Lei n.°9394 de 20 de dezembro de 1996 (atuali-
I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
zada) e análise do seu significado para a educação
cia na escola;
brasileira;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
A Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/96) - LDB - é a lei
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
orgânica e geral da educação brasileira. Como o próprio
nome diz, dita as diretrizes e as bases da organização IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
do sistema educacional. O mais interessante da LDB é V - coexistência de instituições públicas e privadas de
que ela foge do que é, infelizmente o mais comum na ensino;
legislação brasileira: ser muito detalhista. A LDB não é VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
detalhista, ela dá muita liberdade para as escolas, para os tos oficiais;
sistemas de ensino dos municípios e dos estados, fixando VII - valorização do profissional da educação escolar;
normas gerais. VIII - gestão democrática do ensino público, na forma
A primeira Lei de Diretrizes e Bases foi criada em desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
1961. Uma nova versão foi aprovada em 1971 e a tercei- IX - garantia de padrão de qualidade;
ra, ainda vigente no Brasil, foi sancionada em 1996. X - valorização da experiência extraescolar;
Alguns pontos da LDB vigente, desde então, são con- XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
siderados ganhos importantes para os cidadãos: “a União as práticas sociais.
deve gastar no mínimo 18% e os estados e municípios XII - consideração com a diversidade étnico-racial. 
no mínimo 25% de seus orçamentos na manutenção e XIII - garantia do direito à educação e à aprendiza-
desenvolvimento do ensino público” (art. 69); o Ensino gem ao longo da vida. (Incluído pela Lei nº 13.632,
fundamental passa a ser obrigatório e gratuito (art. 4) e; de 2018)
a educação infantil (creches e pré-escola) se torna oficial-
mente a primeira etapa da educação básica. TÍTULO III
Do Direito à Educação e do Dever de Educar
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi-


Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. ca será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: seguinte forma: 
a) pré-escola; 
b) ensino fundamental; 
c) ensino médio; 
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin-
co) anos de idade; 

166
III - atendimento educacional especializado gratuito Art. 6° É dever dos pais ou responsáveis efetuar a ma-
aos educandos com deficiência, transtornos globais do trícula das crianças na educação básica a partir dos 4
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, (quatro) anos de idade. 
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
preferencialmente na rede regular de ensino;  Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental as seguintes condições:
e médio para todos os que não os concluíram na idade I - cumprimento das normas gerais da educação na-
própria;  cional e do respectivo sistema de ensino;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- II - autorização de funcionamento e avaliação de qua-
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de lidade pelo Poder Público;
cada um; III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às previsto no art. 213 da Constituição Federal.
condições do educando;
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e TÍTULO IV
adultos, com características e modalidades adequadas Da Organização da Educação Nacional
às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se
aos que forem trabalhadores as condições de acesso e Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
permanência na escola; nicípios organizarão, em regime de colaboração, os
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas respectivos sistemas de ensino.
da educação básica, por meio de programas suple- § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional
mentares de material didático-escolar, transporte, ali- de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas
mentação e assistência à saúde;  e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defi- em relação às demais instâncias educacionais.
nidos como a variedade e quantidade mínimas, por § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi-
aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento zação nos termos desta Lei.
do processo de ensino-aprendizagem.
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento)
ensino fundamental mais próxima de sua residência a I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em cola-
toda criança a partir do dia em que completar 4 (qua- boração com os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
tro) anos de idade. nicípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins-
Art. 5° O acesso à educação básica obrigatória é direi- tituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos
to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, gru- Territórios;
po de cidadãos, associação comunitária, organização III - prestar assistência técnica e financeira aos Esta-
sindical, entidade de classe ou outra legalmente cons- dos, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen-
tituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimen-
público para exigi-lo.    to prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo
§ 1o  O poder público, na esfera de sua competência sua função redistributiva e supletiva;
federativa, deverá:  IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes Distrito Federal e os Municípios, competências e dire-
em idade escolar, bem como os jovens e adultos que trizes para a educação infantil, o ensino fundamental
não concluíram a educação básica;  e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus
II - fazer-lhes a chamada pública; conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequ- básica comum;
ência à escola. IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Pú- Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedi-
blico assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino mentos para identificação, cadastramento e atendi-
obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando mento, na educação básica e na educação superior, de
em seguida os demais níveis e modalidades de ensino, alunos com altas habilidades ou superdotação; (Inclu-
conforme as prioridades constitucionais e legais. ído pela Lei nº 13.234, de 2015)
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judi- educação;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ciário, na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição VI - assegurar processo nacional de avaliação do
Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judi- rendimento escolar no ensino fundamental, médio e
cial correspondente. superior, em colaboração com os sistemas de ensino,
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade com- objetivando a definição de prioridades e a melhoria da
petente para garantir o oferecimento do ensino obri- qualidade do ensino;
gatório, poderá ela ser imputada por crime de respon- VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação
sabilidade. e pós-graduação;
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
de ensino, o Poder Público criará formas alternativas instituições de educação superior, com a cooperação
de acesso aos diferentes níveis de ensino, independen- dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este
temente da escolarização anterior. nível de ensino;

167
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda,
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de por se integrar ao sistema estadual de ensino ou com-
educação superior e os estabelecimentos do seu siste- por com ele um sistema único de educação básica.
ma de ensino.      
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
Nacional de Educação, com funções normativas e de normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão
supervisão e atividade permanente, criado por lei. a incumbência de:
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
IX, a União terá acesso a todos os dados e informa- II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais
ções necessários de todos os estabelecimentos e ór- e financeiros;
gãos educacionais. III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser -aula estabelecidas;
delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
mantenham instituições de educação superior. cada docente;
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: V - prover meios para a recuperação dos alunos de
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- menor rendimento;
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino; VI - articular-se com as famílias e a comunidade,
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração criando processos de integração da sociedade com a
na oferta do ensino fundamental, as quais devem as- escola;
segurar a distribuição proporcional das responsabili- VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
dades, de acordo com a população a ser atendida e os filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a
recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre
esferas do Poder Público; a execução da proposta pedagógica da escola;
III - elaborar e executar políticas e planos educacio- VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao
nais, em consonância com as diretrizes e planos na- juiz competente da Comarca e ao respectivo represen-
cionais de educação, integrando e coordenando as tante do Ministério Público a relação dos alunos que
suas ações e as dos seus Municípios; apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e por cento do percentual permitido em lei.
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
educação superior e os estabelecimentos do seu siste- Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
ma de ensino; I - participar da elaboração da proposta pedagógica
V - baixar normas complementares para o seu sistema do estabelecimento de ensino;
de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
prioridade, o ensino médio a todos que o demanda- III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
rem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;  IV - estabelecer estratégias de recuperação para os
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede alunos de menor rendimento;
estadual.  V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabeleci-
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as dos, além de participar integralmente dos períodos
competências referentes aos Estados e aos Municípios. dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desen-
volvimento profissional;
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- cola com as famílias e a comunidade.
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integran-
do-os às políticas e planos educacionais da União e Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
dos Estados; gestão democrática do ensino público na educação
II - exercer ação redistributiva em relação às suas es- básica, de acordo com as suas peculiaridades e con-
colas; forme os seguintes princípios:
III - baixar normas complementares para o seu siste- I - participação dos profissionais da educação na ela-
ma de ensino; boração do projeto pedagógico da escola;
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabele- II - participação das comunidades escolar e local em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cimentos do seu sistema de ensino; conselhos escolares ou equivalentes.


V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es-
colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, per- Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unida-
mitida a atuação em outros níveis de ensino somente des escolares públicas de educação básica que os in-
quando estiverem atendidas plenamente as neces- tegram progressivos graus de autonomia pedagógica
sidades de sua área de competência e com recursos e administrativa e de gestão financeira, observadas as
acima dos percentuais mínimos vinculados pela Cons- normas gerais de direito financeiro público.
tituição Federal à manutenção e desenvolvimento do
ensino. Art. 16. O sistema federal de ensino
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede compreende:(Regulamento)
municipal.  I - as instituições de ensino mantidas pela União;

168
II - as instituições de educação superior criadas e CAPÍTULO II
mantidas pela iniciativa privada; DA EDUCAÇÃO BÁSICA
III - os órgãos federais de educação. Seção I
Das Disposições Gerais
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
Federal compreendem: Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen-
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamen- volver o educando, assegurar-lhe a formação comum
te, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; indispensável para o exercício da cidadania e forne-
II - as instituições de educação superior mantidas pelo cer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
Poder Público municipal; posteriores.
III - as instituições de ensino fundamental e médio
criadas e mantidas pela iniciativa privada; Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe- séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância
deral, respectivamente. regular de períodos de estudos, grupos não-seriados,
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de com base na idade, na competência e em outros cri-
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa térios, ou por forma diversa de organização, sempre
privada, integram seu sistema de ensino. que o interesse do processo de aprendizagem assim o
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreen- recomendar.
dem: § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusi-
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de ve quando se tratar de transferências entre estabele-
educação infantil mantidas pelo Poder Público muni- cimentos situados no País e no exterior, tendo como
cipal; base as normas curriculares gerais.
II - as instituições de educação infantil criadas e man- § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu-
tidas pela iniciativa privada; liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
III – os órgãos municipais de educação. critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso
reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei.
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
classificam-se nas seguintes categorias administrati- Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
vas: (Regulamento) médio, será organizada de acordo com as seguintes
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpo- regras comuns:
radas, mantidas e administradas pelo Poder Público; I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
II - privadas, assim entendidas as mantidas e admi- horas para o ensino fundamental e para o ensino mé-
nistradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito dio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de
privado. efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado
aos exames finais, quando houver; (Redação dada
Art. 20. As instituições privadas de ensino se enqua- pela Lei nº 13.415, de 2017);
drarão nas seguintes categorias: (Regulamento) II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto
I - particulares em sentido estrito, assim entendidas a primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
as que são instituídas e mantidas por uma ou mais a) por promoção, para alunos que cursaram, com
pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria
apresentem as características dos incisos abaixo; escola;
II - comunitárias, assim entendidas as que são institu- b) por transferência, para candidatos procedentes de
ídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais outras escolas;
pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, c) independentemente de escolarização anterior, me-
sem fins lucrativos, que incluam na sua entidade man- diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de
tenedora representantes da comunidade;  desenvolvimento e experiência do candidato e permita
III - confessionais, assim entendidas as que são ins- sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme
tituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou regulamentação do respectivo sistema de ensino;
mais pessoas jurídicas que atendem a orientação con- III - nos estabelecimentos que adotam a progressão
fessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso regular por série, o regimento escolar pode admitir
anterior; formas de progressão parcial, desde que preservada a
IV - filantrópicas, na forma da lei. sequência do currículo, observadas as normas do res-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pectivo sistema de ensino;


TÍTULO V IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com
Dos Níveis e das Modalidades de Educação e En- alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de
sino adiantamento na matéria, para o ensino de línguas es-
CAPÍTULO I trangeiras, artes, ou outros componentes curriculares;
Da Composição dos Níveis Escolares V - a verificação do rendimento escolar observará os
seguintes critérios:
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho
I - educação básica, formada pela educação infantil, do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos
ensino fundamental e ensino médio; sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do
II - educação superior. período sobre os de eventuais provas finais;

169
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a
com atraso escolar; seis horas; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me- II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei nº
diante verificação do aprendizado; 10.793, de 1º.12.2003)
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; III – que estiver prestando serviço militar inicial ou
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre- que, em situação similar, estiver obrigado à prática
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de da educação física; (Incluído pela Lei nº 10.793, de
baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas 1º.12.2003)
instituições de ensino em seus regimentos; IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, outubro de 1969; (Incluído pela Lei nº 10.793, de
conforme o disposto no seu regimento e nas normas 1º.12.2003)
do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência V – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.793, de
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas 1º.12.2003)
letivas para aprovação; VI – que tenha prole. (Incluído pela Lei nº 10.793, de
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir his- 1º.12.2003)
tóricos escolares, declarações de conclusão de série e § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com contribuições das diferentes culturas e etnias para a
as especificações cabíveis. formação do povo brasileiro, especialmente das ma-
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o in- trizes indígena, africana e europeia.
ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progres- § 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do
siva, no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação
devendo os sistemas de ensino oferecer, no prazo má- dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
ximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de § 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
carga horária, a partir de 2 de março de 2017. (Incluí- as linguagens que constituirão o componente curri-
do pela Lei nº 13.415, de 2017) cular de que trata o § 2o deste artigo. (Redação dada
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de pela Lei nº 13.278, de 2016)
educação de jovens e adultos e de ensino noturno re- § 7º A integralização curricular poderá incluir, a cri-
gular, adequado às condições do educando, conforme tério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas en-
o inciso VI do art. 4o. (Incluído pela Lei nº 13.415, de volvendo os temas transversais de que trata o caput.
2017) (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional consti-
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- tuirá componente curricular complementar integrado
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição
de alunos e o professor, a carga horária e as condições obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.
materiais do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 13.006, de 2014)
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de en- § 9º Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
sino, à vista das condições disponíveis e das caracte- prevenção de todas as formas de violência contra a
rísticas regionais e locais, estabelecer parâmetro para criança e o adolescente serão incluídos, como temas
atendimento do disposto neste artigo. transversais, nos currículos escolares de que trata o
caput deste artigo, tendo como diretriz a Lei no 8.069,
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Ado-
lescente), observada a produção e distribuição de ma-
fundamental e do ensino médio devem ter base nacio-
terial didático adequado. (Incluído pela Lei nº 13.010,
nal comum, a ser complementada, em cada sistema
de 2014)
de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
parte diversificada, exigida pelas características regio-
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricu-
nais e locais da sociedade, da cultura, da economia e
lar dependerá de aprovação do Conselho Nacional de
dos educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
Educação e de homologação pelo Ministro de Estado
2013)
da Educação. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem
abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua por- Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamen-
tuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tal e de ensino médio, públicos e privados, torna-se


físico e natural e da realidade social e política, espe- obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasi-
cialmente do Brasil. leira e indígena. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres- 2008).
sões regionais, constituirá componente curricular obri- § 1º O conteúdo programático a que se refere este ar-
gatório da educação básica. (Redação dada pela Lei nº tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura
13.415, de 2017) que caracterizam a formação da população brasileira,
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagó- a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo
gica da escola, é componente curricular obrigatório da da história da África e dos africanos, a luta dos negros
educação básica, sendo sua prática facultativa ao alu- e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e in-
no: (Redação dada pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) dígena brasileira e o negro e o índio na formação da

170
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições I - Avaliação mediante acompanhamento e registro
nas áreas social, econômica e política, pertinentes à do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de
história do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 11.645, promoção, mesmo para o acesso ao ensino funda-
de 2008). mental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro- II - Carga horária mínima anual de 800 (oitocentas)
-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão mi- horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos)
nistrados no âmbito de todo o currículo escolar, em dias de trabalho educacional; (Incluído pela Lei nº
especial nas áreas de educação artística e de litera- 12.796, de 2013)
tura e história brasileiras. (Redação dada pela Lei nº III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
11.645, de 2008). horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas
para a jornada integral; (Incluído pela Lei nº 12.796,
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica de 2013)
observarão, ainda, as seguintes diretrizes: IV - Controle de frequência pela instituição de educa-
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so- ção pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60%
cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao (sessenta por cento) do total de horas; (Incluído pela
bem comum e à ordem democrática; Lei nº 12.796, de 2013)
II - consideração das condições de escolaridade dos V - Expedição de documentação que permita atestar
alunos em cada estabelecimento; os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
III - orientação para o trabalho; criança. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
IV - promoção do desporto educacional e apoio às
práticas desportivas não-formais.
Seção III
Do Ensino Fundamental
Art. 28. Na oferta de educação básica para a popula-
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura-
ção rural, os sistemas de ensino promoverão as adap-
ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, ini-
tações necessárias à sua adequação às peculiaridades ciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo
da vida rural e de cada região, especialmente: a formação básica do cidadão, mediante: (Redação
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas dada pela Lei nº 11.274, de 2006)
às reais necessidades e interesses dos alunos da zona I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
rural; do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
II - organização escolar própria, incluindo adequação escrita e do cálculo;
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às II - a compreensão do ambiente natural e social, do
condições climáticas; sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. em que se fundamenta a sociedade;
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, III - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
indígenas e quilombolas será precedido de manifes- gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e
tação do órgão normativo do respectivo sistema de habilidades e a formação de atitudes e valores;
ensino, que considerará a justificativa apresentada IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
do impacto da ação e a manifestação da comunidade que se assenta a vida social.
escolar. (Incluído pela Lei nº 12.960, de 2014) § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o
ensino fundamental em ciclos.
Seção II § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re-
Da Educação Infantil gular por série podem adotar no ensino fundamental
o regime de progressão continuada, sem prejuízo da
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da edu- avaliação do processo de ensino-aprendizagem, ob-
cação básica, tem como finalidade o desenvolvimento servadas as normas do respectivo sistema de ensino.
integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus as- § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
língua portuguesa, assegurada às comunidades indí-
pectos físico, psicológico, intelectual e social, comple-
genas a utilização de suas línguas maternas e proces-
mentando a ação da família e da comunidade. (Reda-
sos próprios de aprendizagem.
ção dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ensino a distância utilizado como complementação da


Art. 30. A educação infantil será oferecida em: aprendizagem ou em situações emergenciais.
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças § 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri-
de até três anos de idade; gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin- crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei
co) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, no 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatu-
de 2013) to da Criança e do Adolescente, observada a produção
e distribuição de material didático adequado.
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será inclu-
com as seguintes regras comuns: (Redação dada pela ído como tema transversal nos currículos do ensino
Lei nº 12.796, de 2013) fundamental.

171
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, Curricular e ser articulada a partir do contexto histó-
é parte integrante da formação básica do cidadão e rico, econômico, social, ambiental e cultural. (Incluído
constitui disciplina dos horários normais das escolas pela Lei nº 13.415, de 2017)
públicas de ensino fundamental, assegurado o respei- § 2o A Base Nacional Comum Curricular referente
to à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas ao ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e
quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os proce- § 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática
dimentos para a definição dos conteúdos do ensino será obrigatório nos três anos do ensino médio, asse-
religioso e estabelecerão as normas para a habilita- gurada às comunidades indígenas, também, a utiliza-
ção e admissão dos professores. (Incluído pela Lei nº ção das respectivas línguas maternas. (Incluído pela
9.475, de 22.7.1997) Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, § 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obrigato-
constituída pelas diferentes denominações religiosas, riamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar
para a definição dos conteúdos do ensino religioso. outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, pre-
ferencialmente o espanhol, de acordo com a disponi-
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental in- bilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sis-
cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em temas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
sala de aula, sendo progressivamente ampliado o pe- § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da
ríodo de permanência na escola.
Base Nacional Comum Curricular não poderá ser su-
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
perior a mil e oitocentas horas do total da carga ho-
formas alternativas de organização autorizadas nesta
rária do ensino médio, de acordo com a definição dos
Lei.
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progres- sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de
sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas 2017)
de ensino. § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
esperados para o ensino médio, que serão referência
Seção IV nos processos nacionais de avaliação, a partir da Base
Do Ensino Médio Nacional Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº
13.415, de 2017)
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação bá- § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar
sica, com duração mínima de três anos, terá como fi- a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
nalidades: trabalho voltado para a construção de seu projeto de
I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci- vida e para sua formação nos aspectos físicos, cogni-
mentos adquiridos no ensino fundamental, possibili- tivos e socioemocionais. (Incluído pela Lei nº 13.415,
tando o prosseguimento de estudos; de 2017)
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de
do educando, para continuar aprendendo, de modo a avaliação processual e formativa serão organizados
ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas con- nas redes de ensino por meio de atividades teóricas e
dições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; práticas, provas orais e escritas, seminários, projetos e
III - o aprimoramento do educando como pessoa hu- atividades on-line, de tal forma que ao final do ensi-
mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimen- no médio o educando demonstre: (Incluído pela Lei nº
to da autonomia intelectual e do pensamento crítico; 13.415, de 2017)
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecno- I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos
lógicos dos processos produtivos, relacionando a teo- que presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei
ria com a prática, no ensino de cada disciplina. nº 13.415, de 2017)
II - conhecimento das formas contemporâneas de lin-
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá
guagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educa-
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto
ção, nas seguintes áreas do conhecimento: (Incluído
pela Lei nº 13.415, de 2017) pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerá-
rios formativos, que deverão ser organizados por meio
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº


13.415, de 2017) da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme
II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei a relevância para o contexto local e a possibilidade
nº 13.415, de 2017) dos sistemas de ensino, a saber: (Redação dada pela
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído Lei nº 13.415, de 2017)
pela Lei nº 13.415, de 2017) I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído Lei nº 13.415, de 2017)
pela Lei nº 13.415, de 2017) II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o pela Lei nº 13.415, de 2017)
caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação
deverá estar harmonizada à Base Nacional Comum dada pela Lei nº 13.415, de 2017)

172
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação § 11. Para efeito de cumprimento das exigências curri-
dada pela Lei nº 13.415, de 2017) culares do ensino médio, os sistemas de ensino pode-
V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei rão reconhecer competências e firmar convênios com
nº 13.415, de 2017) instituições de educação a distância com notório re-
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e conhecimento, mediante as seguintes formas de com-
das respectivas competências e habilidades será feita provação: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415,
de ensino. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) de 2017)
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
2017) experiência adquirida fora do ambiente escolar; (In-
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de cluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
2017) III - atividades de educação técnica oferecidas em ou-
§ 2º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008) tras instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela
§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser com- Lei nº 13.415, de 2017)
posto itinerário formativo integrado, que se traduz IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu-
na composição de componentes curriculares da Base pacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Nacional Comum Curricular - BNCC e dos itinerários V - estudos realizados em instituições de ensino na-
formativos, considerando os incisos I a V do caput. cionais ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415,
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) de 2017)
§ 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade VI - cursos realizados por meio de educação a distân-
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte cia ou educação presencial mediada por tecnologias.
do ensino médio cursar mais um itinerário formativo (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
de que trata o caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de § 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo
2017) de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação
§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- profissional previstas no caput. (Incluído pela Lei nº
mação com ênfase técnica e profissional considerará: 13.415, de 2017)
Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no Seção IV-A
setor produtivo ou em ambientes de simulação, es- Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio
tabelecendo parcerias e fazendo uso, quando apli-
cável, de instrumentos estabelecidos pela legislação Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste
sobre aprendizagem profissional; (Incluído pela Lei nº Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral
13.415, de 2017) do educando, poderá prepará-lo para o exercício de
II - a possibilidade de concessão de certificados inter- profissões técnicas.
mediários de qualificação para o trabalho, quando a Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho
formação for estruturada e organizada em etapas com e, facultativamente, a habilitação profissional pode-
terminalidade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) rão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos
§ 7º A oferta de formações experimentais relaciona- de ensino médio ou em cooperação com instituições
das ao inciso V do caput, em áreas que não constem especializadas em educação profissional
do Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, depende- Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível mé-
rá, para sua continuidade, do reconhecimento pelo dio será desenvolvida nas seguintes formas: (Incluído
respectivo Conselho Estadual de Educação, no prazo pela Lei nº 11.741, de 2008)
de três anos, e da inserção no Catálogo Nacional dos I - articulada com o ensino médio;
Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos, contados da II - subsequente, em cursos destinados a quem já te-
data de oferta inicial da formação. (Incluído pela Lei nha concluído o ensino médio.
nº 13.415, de 2017) Parágrafo único. A educação profissional técnica de
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que nível médio deverá observar:
se refere o inciso V do caput, realizada na própria ins- I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes cur-
tituição ou em parceria com outras instituições, deve- riculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Na-
rá ser aprovada previamente pelo Conselho Estadual cional de Educação;
de Educação, homologada pelo Secretário Estadual de II - as normas complementares dos respectivos siste-
Educação e certificada pelos sistemas de ensino. (In- mas de ensino;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cluído pela Lei nº 13.415, de 2017) III - as exigências de cada instituição de ensino, nos
§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com termos de seu projeto pedagógico.
validade nacional, que habilitará o concluinte do en-
sino médio ao prosseguimento dos estudos em nível Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível
superior ou em outros cursos ou formações para os médio articulada, prevista no inciso I do caput do art.
quais a conclusão do ensino médio seja etapa obriga- 36-B desta Lei, será desenvolvida de forma:
tória. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con-
§ 10. Além das formas de organização previstas no art. cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado
23, o ensino médio poderá ser organizado em módu- de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional
los e adotar o sistema de créditos com terminalidade técnica de nível médio, na mesma instituição de en-
específica. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) sino, efetuando-se matrícula única para cada aluno;

173
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino CAPÍTULO III
médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrícu- DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
las distintas para cada curso, e podendo ocorrer: Da Educação Profissional e Tecnológica
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
oportunidades educacionais disponíveis; Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cum-
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se primento dos objetivos da educação nacional, integra-
as oportunidades educacionais disponíveis; -se aos diferentes níveis e modalidades de educação e
c) em instituições de ensino distintas, mediante con- às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.
vênios de intercomplementaridade, visando ao plane- § 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica
jamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico poderão ser organizados por eixos tecnológicos, pos-
unificado. sibilitando a construção de diferentes itinerários for-
mativos, observadas as normas do respectivo sistema
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação pro- e nível de ensino.
fissional técnica de nível médio, quando registrados, § 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá
terão validade nacional e habilitarão ao prossegui- os seguintes cursos:
mento de estudos na educação superior. I – de formação inicial e continuada ou qualificação
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional profissional;
técnica de nível médio, nas formas articulada conco- II – de educação profissional técnica de nível médio;
mitante e subsequente, quando estruturados e orga- III – de educação profissional tecnológica de gradua-
nizados em etapas com terminalidade, possibilitarão ção e pós-graduação.
a obtenção de certificados de qualificação para o § 3º Os cursos de educação profissional tecnológica
trabalho após a conclusão, com aproveitamento, de de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no
cada etapa que caracterize uma qualificação para o que concerne a objetivos, características e duração, de
trabalho. acordo com as diretrizes curriculares nacionais esta-
belecidas pelo Conselho Nacional de Educação.
Seção V
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em
Da Educação de Jovens e Adultos
articulação com o ensino regular ou por diferentes es-
tratégias de educação continuada, em instituições espe-
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
cializadas ou no ambiente de trabalho. (Regulamento)
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de
estudos nos ensinos fundamental e médio na idade
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro-
própria e constituirá instrumento para a educação e a
fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá
aprendizagem ao longo da vida. (Redação dada pela
ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação
Lei nº 13.632, de 2018) para prosseguimento ou conclusão de estudos.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os Art. 42. As instituições de educação profissional e tec-
estudos na idade regular, oportunidades educacionais nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão
apropriadas, consideradas as características do aluna- cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada
do, seus interesses, condições de vida e de trabalho, a matrícula à capacidade de aproveitamento e não
mediante cursos e exames. necessariamente ao nível de escolaridade.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
e a permanência do trabalhador na escola, mediante CAPÍTULO IV
ações integradas e complementares entre si. DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
§ 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-
-se, preferencialmente, com a educação profissional, Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
na forma do regulamento. I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
espírito científico e do pensamento reflexivo;
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa- II - formar diplomados nas diferentes áreas de co-
mes supletivos, que compreenderão a base nacional nhecimento, aptos para a inserção em setores pro-
comum do currículo, habilitando ao prosseguimento fissionais e para a participação no desenvolvimento
de estudos em caráter regular. da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar- contínua;


-se-ão: III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
os maiores de quinze anos; tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os modo, desenvolver o entendimento do homem e do
maiores de dezoito anos. meio em que vive;
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu-
educandos por meios informais serão aferidos e reco- rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio
nhecidos mediante exames. da humanidade e comunicar o saber através do en-
sino, de publicações ou de outras formas de comuni-
cação;

174
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos,
cultural e profissional e possibilitar a correspondente bem como o credenciamento de instituições de educa-
concretização, integrando os conhecimentos que vão ção superior, terão prazos limitados, sendo renovados,
sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistema- periodicamente, após processo regular de avaliação.
tizadora do conhecimento de cada geração; (Regulamento)
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun- § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
do presente, em particular os nacionais e regionais, eventualmente identificadas pela avaliação a que se
prestar serviços especializados à comunidade e esta- refere este artigo, haverá reavaliação, que poderá re-
belecer com esta uma relação de reciprocidade; sultar, conforme o caso, em desativação de cursos e
VII - promover a extensão, aberta à participação da habilitações, em intervenção na instituição, em sus-
população, visando à difusão das conquistas e benefí- pensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou
cios resultantes da criação cultural e da pesquisa cien- em descredenciamento.
tífica e tecnológica geradas na instituição. § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimo- responsável por sua manutenção acompanhará o pro-
ramento da educação básica, mediante a formação e cesso de saneamento e fornecerá recursos adicionais,
a capacitação de profissionais, a realização de pesqui- se necessários, para a superação das deficiências.
sas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades § 3º No caso de instituição privada, além das sanções
de extensão que aproximem os dois níveis escolares. previstas no § 1º, o processo de reavaliação poderá
(Incluído pela Lei nº 13.174, de 2015) resultar também em redução de vagas autorizadas,
suspensão temporária de novos ingressos e de oferta
Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes de cursos. (Incluído pela Medida Provisória nº 785, de
cursos e programas:  2017)
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferen- § 4º É facultado ao Ministério da Educação, mediante
tes níveis de abrangência, abertos a candidatos que procedimento específico e com a aquiescência da ins-
atendam aos requisitos estabelecidos pelas institui- tituição de ensino, com vistas a resguardar o interesse
ções de ensino, desde que tenham concluído o ensino dos estudantes, comutar as penalidades previstas nos
médio ou equivalente; § 1o e § 3º em outras medidas, desde que adequadas
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham para a superação das deficiências e irregularidades
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham constatadas. (Incluído pela Medida Provisória nº 785,
sido classificados em processo seletivo; de 2017)
III - de pós-graduação, compreendendo programas § 5º Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fede-
de mestrado e doutorado, cursos de especialização, ral deverão adotar os critérios definidos pela União para
aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos di- autorização de funcionamento de curso de graduação
plomados em cursos de graduação e que atendam às em Medicina. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)
exigências das instituições de ensino;
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular,
aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas insti- independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos
tuições de ensino. dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo
§ 1º. Os resultados do processo seletivo referido no in- reservado aos exames finais, quando houver.
ciso II do caput deste artigo serão tornados públicos § 1º As instituições informarão aos interessados, an-
pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória tes de cada período letivo, os programas dos cursos
a divulgação da relação nominal dos classificados, a e demais componentes curriculares, sua duração, re-
respectiva ordem de classificação, bem como do crono- quisitos, qualificação dos professores, recursos dispo-
grama das chamadas para matrícula, de acordo com níveis e critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir
os critérios para preenchimento das vagas constantes as respectivas condições, e a publicação deve ser feita,
do respectivo edital. (Incluído pela Lei nº 11.331, de sendo as 3 (três) primeiras formas concomitantemen-
2006) (Renumerado do parágrafo único para § 1º pela te: (Redação dada pela lei nº 13.168, de 2015).
Lei nº 13.184, de 2015). I - em página específica na internet no sítio eletrônico
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins- oficial da instituição de ensino superior, obedecido o
tituições públicas de ensino superior darão prioridade seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
de matrícula ao candidato que comprove ter renda fa- a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter
miliar inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor como título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela
lei nº 13.168, de 2015)
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

renda familiar, quando mais de um candidato preen-


cher o critério inicial. (Incluído pela Lei nº 13.184, de b) a página principal da instituição de ensino supe-
2015) rior, bem como a página da oferta de seus cursos aos
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II conside- ingressantes sob a forma de vestibulares, processo se-
rará as competências e as habilidades definidas na letivo e outras com a mesma finalidade, deve conter
Base Nacional Comum Curricular. (Incluído pela lei nº a ligação desta com a página específica prevista neste
13.415, de 2017) inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
c) caso a instituição de ensino superior não possua sí-
Art. 45. A educação superior será ministrada em insti- tio eletrônico, deve criar página específica para divul-
tuições de ensino superior, públicas ou privadas, com gação das informações de que trata esta Lei; (Incluída
variados graus de abrangência ou especialização. pela lei nº 13.168, de 2015)

175
d) a página específica deve conter a data completa de § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe-
sua última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, didos por universidades estrangeiras só poderão ser
de 2015) reconhecidos por universidades que possuam cursos
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mes-
ensino superior, por meio de ligação para a página re- ma área de conhecimento e em nível equivalente ou
ferida no inciso I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) superior.
III - em local visível da instituição de ensino superior e
de fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão
de 2015) a transferência de alunos regulares, para cursos afins,
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anual- na hipótese de existência de vagas, e mediante pro-
mente, de acordo com a duração das disciplinas de cesso seletivo.
cada curso oferecido, observando o seguinte: (Incluído Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão
pela lei nº 13.168, de 2015) na forma da lei. (Regulamento)
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração di-
ferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída Art. 50. As instituições de educação superior, quando
pela lei nº 13.168, de 2015) da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disci-
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do plinas de seus cursos a alunos não regulares que de-
início das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) monstrarem capacidade de cursá-las com proveito,
c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo mediante processo seletivo prévio.
docente até o início das aulas, os alunos devem ser
comunicados sobre as alterações; (Incluída pela lei nº Art. 51. As instituições de educação superior creden-
13.168, de 2015) ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios
V - deve conter as seguintes informações: (Incluído e normas de seleção e admissão de estudantes, leva-
pela lei nº 13.168, de 2015) rão em conta os efeitos desses critérios sobre a orien-
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela institui- tação do ensino médio, articulando-se com os órgãos
ção de ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168,
normativos dos sistemas de ensino.
de 2015)
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curri-
Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli-
cular de cada curso e as respectivas cargas horárias;
nares de formação dos quadros profissionais de nível
(Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cul-
c) a identificação dos docentes que ministrarão as
tivo do saber humano, que se caracterizam por: (Re-
aulas em cada curso, as disciplinas que efetivamen-
gulamento)
te ministrará naquele curso ou cursos, sua titulação,
abrangendo a qualificação profissional do docente e I - produção intelectual institucionalizada mediante o
o tempo de casa do docente, de forma total, contínua estudo sistemático dos temas e problemas mais rele-
ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) vantes, tanto do ponto de vista científico e cultural,
§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita- quanto regional e nacional;
mento nos estudos, demonstrado por meio de provas II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titula-
e outros instrumentos de avaliação específicos, apli- ção acadêmica de mestrado ou doutorado;
cados por banca examinadora especial, poderão ter III - um terço do corpo docente em regime de tempo
abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com integral.
as normas dos sistemas de ensino. Parágrafo único. É facultada a criação de universida-
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, des especializadas por campo do saber. (Regulamento)
salvo nos programas de educação a distância.
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegu-
no período noturno, cursos de graduação nos mesmos radas às universidades, sem prejuízo de outras, as se-
padrões de qualidade mantidos no período diurno, guintes atribuições:
sendo obrigatória a oferta noturna nas instituições
públicas, garantida a necessária previsão orçamentá- I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e
ria. programas de educação superior previstos nesta Lei,
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe- obedecendo às normas gerais da União e, quando for
cidos, quando registrados, terão validade nacional o caso, do respectivo sistema de ensino; (Regulamen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como prova da formação recebida por seu titular. to)


§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão II - fixar os currículos dos seus cursos e programas,
por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por observadas as diretrizes gerais pertinentes;
instituições não-universitárias serão registrados em III - estabelecer planos, programas e projetos de pes-
universidades indicadas pelo Conselho Nacional de quisa científica, produção artística e atividades de ex-
Educação. tensão;
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer- IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci-
sidades estrangeiras serão revalidados por universida- dade institucional e as exigências do seu meio;
des públicas que tenham curso do mesmo nível e área V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos
ou equivalente, respeitando-se os acordos internacio- em consonância com as normas gerais atinentes;
nais de reciprocidade ou equiparação. VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;

176
VII - firmar contratos, acordos e convênios; VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos providências de ordem orçamentária, financeira e pa-
de investimentos referentes a obras, serviços e aqui- trimonial necessárias ao seu bom desempenho.
sições em geral, bem como administrar rendimentos § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão
conforme dispositivos institucionais; ser estendidas a instituições que comprovem alta qua-
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for- lificação para o ensino ou para a pesquisa, com base
ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos res- em avaliação realizada pelo Poder Público.
pectivos estatutos;
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em
cooperação financeira resultante de convênios com seu Orçamento Geral, recursos suficientes para manu-
entidades públicas e privadas. tenção e desenvolvimento das instituições de educa-
§ 1º Para garantir a autonomia didático-científica das ção superior por ela mantidas.
universidades, caberá aos seus colegiados de ensino
e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários Art. 56. As instituições públicas de educação superior
disponíveis, sobre: (Redação dada pela Lei nº 13.490, obedecerão ao princípio da gestão democrática, asse-
de 2017) gurada a existência de órgãos colegiados deliberati-
I - criação, expansão, modificação e extinção de cur- vos, de que participarão os segmentos da comunidade
sos; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) institucional, local e regional.
II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocu-
pela Lei nº 13.490, de 2017) parão setenta por cento dos assentos em cada órgão
III - elaboração da programação dos cursos; (Redação colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem da
dada pela Lei nº 13.490, de 2017) elaboração e modificações estatutárias e regimentais,
IV - programação das pesquisas e das atividades de bem como da escolha de dirigentes.
extensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
V - contratação e dispensa de professores; (Redação Art. 57. Nas instituições públicas de educação supe-
dada pela Lei nº 13.490, de 2017) rior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito ho-
VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela ras semanais de aulas. (Regulamento)
Lei nº 13.490, de 2017)
§ 2º As doações, inclusive monetárias, podem ser diri- CAPÍTULO V
gidas a setores ou projetos específicos, conforme acor- DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
do entre doadores e universidades. (Incluído pela Lei
nº 13.490, de 2017) Art. 58. Entende-se por educação especial, para os
§ 3º No caso das universidades públicas, os recursos efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar
das doações devem ser dirigidos ao caixa único da oferecida preferencialmente na rede regular de ensi-
instituição, com destinação garantida às unidades a no, para educandos com deficiência, transtornos glo-
serem beneficiadas. (Incluído pela Lei nº 13.490, de bais do desenvolvimento e altas habilidades ou super-
2017) dotação.  
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es-
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
pecializado, na escola regular, para atender às pecu-
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial
liaridades da clientela de educação especial.
para atender às peculiaridades de sua estrutura, or-
§ 2º O atendimento educacional será feito em clas-
ganização e financiamento pelo Poder Público, assim
ses, escolas ou serviços especializados, sempre que,
como dos seus planos de carreira e do regime jurídico
em função das condições específicas dos alunos, não
do seu pessoal.
for possível a sua integração nas classes comuns de
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
ensino regular.
ções asseguradas pelo artigo anterior, as universida-
des públicas poderão: § 3º § 3º A oferta de educação especial, nos termos do
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico caput deste artigo, tem início na educação infantil e
e administrativo, assim como um plano de cargos e estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do
salários, atendidas as normas gerais pertinentes e os art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei. (Reda-
recursos disponíveis; ção dada pela Lei nº 13.632, de 2018)
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em confor- Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu-
candos com deficiência, transtornos globais do desen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

midade com as normas gerais concernentes;


III - aprovar e executar planos, programas e projetos volvimento e altas habilidades ou superdotação: 
de investimentos referentes a obras, serviços e aqui- I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
sições em geral, de acordo com os recursos alocados organização específicos, para atender às suas neces-
pelo respectivo Poder mantenedor; sidades;
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais; II - terminalidade específica para aqueles que não
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às puderem atingir o nível exigido para a conclusão do
suas peculiaridades de organização e funcionamento; ensino fundamental, em virtude de suas deficiências,
VI - realizar operações de crédito ou de financiamen- e aceleração para concluir em menor tempo o progra-
to, com aprovação do Poder competente, para aquisi- ma escolar para os superdotados;
ção de bens imóveis, instalações e equipamentos;

177
III - professores com especialização adequada em ní- nham atuado, exclusivamente para atender ao inciso
vel médio ou superior, para atendimento especializa- V do caput do art. 36; (Incluído pela lei nº 13.415, de
do, bem como professores do ensino regular capaci- 2017)
tados para a integração desses educandos nas classes V - profissionais graduados que tenham feito comple-
comuns; mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conse-
IV - educação especial para o trabalho, visando a lho Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415,
sua efetiva integração na vida em sociedade, inclu- de 2017)
sive condições adequadas para os que não revelarem Parágrafo único.  A formação dos profissionais da
capacidade de inserção no trabalho competitivo, me- educação, de modo a atender às especificidades do
diante articulação com os órgãos oficiais afins, bem exercício de suas atividades, bem como aos objetivos
como para aqueles que apresentam uma habilidade das diferentes etapas e modalidades da educação bá-
superior nas áreas artística, intelectual ou psicomo- sica, terá como fundamentos: 
tora; I – a presença de sólida formação básica, que propicie
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais
sociais suplementares disponíveis para o respectivo de suas competências de trabalho; 
nível do ensino regular. II – a associação entre teorias e práticas, mediante es-
tágios supervisionados e capacitação em serviço;
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro III – o aproveitamento da formação e experiências an-
nacional de alunos com altas habilidades ou superdo- teriores, em instituições de ensino e em outras ativi-
tação matriculados na educação básica e na educação dades.
superior, a fim de fomentar a execução de políticas
públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das Art. 62. A formação de docentes para atuar na edu-
potencialidades desse alunado. (Incluído pela Lei nº cação básica far-se-á em nível superior, em curso de
13.234, de 2015) licenciatura plena, admitida, como formação mínima
para o exercício do magistério na educação infantil
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a
estabelecerão critérios de caracterização das institui- oferecida em nível médio, na modalidade normal. (Re-
ções privadas sem fins lucrativos, especializadas e com dação dada pela lei nº 13.415, de 2017)
atuação exclusiva em educação especial, para fins de § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. cípios, em regime de colaboração, deverão promover
Parágrafo único.  O poder público adotará, como al- a formação inicial, a continuada e a capacitação dos
ternativa preferencial, a ampliação do atendimento profissionais de magistério.
aos educandos com deficiência, transtornos globais do § 2º A formação continuada e a capacitação dos pro-
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação fissionais de magistério poderão utilizar recursos e
na própria rede pública regular de ensino, indepen- tecnologias de educação a distância.
dentemente do apoio às instituições previstas neste § 3º  A formação inicial de profissionais de magisté-
artigo.   rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiaria-
mente fazendo uso de recursos e tecnologias de edu-
TÍTULO VI cação a distância.
Dos Profissionais da Educação § 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
cípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação es- permanência em cursos de formação de docentes em
colar básica os que, nela estando em efetivo exercício nível superior para atuar na educação básica pública.
e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são:  § 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
I – professores habilitados em nível médio ou superior nicípios incentivarão a formação de profissionais do
para a docência na educação infantil e nos ensinos magistério para atuar na educação básica pública
fundamental e médio;  mediante programa institucional de bolsa de inicia-
II – trabalhadores em educação portadores de diplo- ção à docência a estudantes matriculados em cursos
de licenciatura, de graduação plena, nas instituições
ma de pedagogia, com habilitação em administração,
de educação superior. 
planejamento, supervisão, inspeção e orientação edu-
§ 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
cacional, bem como com títulos de mestrado ou dou-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mínima em exame nacional aplicado aos concluintes


torado nas mesmas áreas; 
do ensino médio como pré-requisito para o ingresso
III - trabalhadores em educação, portadores de diplo-
em cursos de graduação para formação de docentes,
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica
ouvido o Conselho Nacional de Educação - CNE. 
ou afim;
§ 7o (Vetado). 
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
§ 8o Os currículos dos cursos de formação de docentes
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteú- terão por referência a Base Nacional Comum Curricu-
dos de áreas afins à sua formação ou experiência pro- lar. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) (Vide Lei nº
fissional, atestados por titulação específica ou prática 13.415, de 2017)
de ensino em unidades educacionais da rede pública
ou privada ou das corporações privadas em que te-

178
Art. 62. A-  A formação dos profissionais a que se refe- Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni-
re o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de versidade com curso de doutorado em área afim, po-
conteúdo técnicopedagógico, em nível médio ou supe- derá suprir a exigência de título acadêmico.
rior, incluindo habilitações tecnológicas.  
Parágrafo único.  Garantir-se-á formação continuada Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valoriza-
para os profissionais a que se refere o caput, no local ção dos profissionais da educação, assegurando-lhes,
de trabalho ou em instituições de educação básica e inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de car-
superior, incluindo cursos de educação profissional, reira do magistério público:
cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos I - ingresso exclusivamente por concurso público de
e de pós-graduação.   provas e títulos;
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas com licenciamento periódico remunerado para esse fim;
de educação básica a cursos superiores de pedago- III - piso salarial profissional;
gia e licenciatura será efetivado por meio de processo IV - progressão funcional baseada na titulação ou ha-
seletivo diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de bilitação, e na avaliação do desempenho;
2017) V - período reservado a estudos, planejamento e ava-
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput liação, incluído na carga de trabalho;
VI - condições adequadas de trabalho.
deste artigo os professores das redes públicas munici-
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exer-
pais, estaduais e federal que ingressaram por concurso
cício profissional de quaisquer outras funções de ma-
público, tenham pelo menos três anos de exercício da
gistério, nos termos das normas de cada sistema de
profissão e não sejam portadores de diploma de gra-
ensino.
duação. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) § 2o  Para os efeitos do disposto no  § 5º do art. 40  e
§ 2º As instituições de ensino responsáveis pela oferta no § 8o do art. 201 da Constituição Federal, são consi-
de cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão deradas funções de magistério as exercidas por profes-
critérios adicionais de seleção sempre que acorrerem sores e especialistas em educação no desempenho de
aos certames interessados em número superior ao de atividades educativas, quando exercidas em estabele-
vagas disponíveis para os respectivos cursos. (Incluído cimento de educação básica em seus diversos níveis e
pela Lei nº 13.478, de 2017) modalidades, incluídas, além do exercício da docência,
§ 3º Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem as de direção de unidade escolar e as de coordenação
definidos em regulamento pelas universidades, terão e assessoramento pedagógico.
prioridade de ingresso os professores que optarem por § 3o A União prestará assistência técnica aos Estados,
cursos de licenciatura em matemática, física, quími- ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração
ca, biologia e língua portuguesa. (Incluído pela Lei nº de concursos públicos para provimento de cargos dos
13.478, de 2017) profissionais da educação.  

Art. 63. Os institutos superiores de educação mante- TÍTULO VII


rão:  Dos Recursos financeiros
I - cursos formadores de profissionais para a educação
básica, inclusive o curso normal superior, destinado à Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação
formação de docentes para a educação infantil e para os originários de:
as primeiras séries do ensino fundamental; I - receita de impostos próprios da União, dos Estados,
II - programas de formação pedagógica para portado- do Distrito Federal e dos Municípios;
res de diplomas de educação superior que queiram se II - receita de transferências constitucionais e outras
dedicar à educação básica; transferências;
III - receita do salário-educação e de outras contribui-
III - programas de educação continuada para os pro-
ções sociais;
fissionais de educação dos diversos níveis.
IV - receita de incentivos fiscais;
V - outros recursos previstos em lei.
Art. 64. A formação de profissionais de educação para
administração, planejamento, inspeção, supervisão e Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos
orientação educacional para a educação básica, será de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nicípios, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas
nível de pós-graduação, a critério da instituição de respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, da receita
ensino, garantida, nesta formação, a base comum na- resultante de impostos, compreendidas as transferên-
cional. cias constitucionais, na manutenção e desenvolvimen-
to do ensino público. (Vide Medida Provisória nº 773,
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação de 2017) (Vigência encerrada).
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, tre- § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
zentas horas. pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério nicípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios,
superior far-se-á em nível de pós-graduação, priori- não será considerada, para efeito do cálculo previsto
tariamente em programas de mestrado e doutorado. neste artigo, receita do governo que a transferir.

179
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de III - formação de quadros especiais para a adminis-
impostos mencionadas neste artigo as operações de tração pública, sejam militares ou civis, inclusive di-
crédito por antecipação de receita orçamentária de plomáticos;
impostos. IV - programas suplementares de alimentação, assis-
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológi-
aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada ca, e outras formas de assistência social;
a receita estimada na lei do orçamento anual, ajusta- V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
da, quando for o caso, por lei que autorizar a abertura beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
de créditos adicionais, com base no eventual excesso VI - pessoal docente e demais trabalhadores da edu-
de arrecadação. cação, quando em desvio de função ou em atividade
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previs- alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino.
tas e as efetivamente realizadas, que resultem no não
atendimento dos percentuais mínimos obrigatórios, Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de-
serão apuradas e corrigidas a cada trimestre do exer- senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas
cício financeiro. nos balanços do Poder Público, assim como nos rela-
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do tórios a que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição
caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Federal.
Municípios ocorrerá imediatamente ao órgão respon- Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priorita-
sável pela educação, observados os seguintes prazos: riamente, na prestação de contas de recursos públicos,
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de o cumprimento do disposto no art. 212 da Constitui-
cada mês, até o vigésimo dia; ção Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Consti-
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigé- tucionais Transitórias e na legislação concernente.
simo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o
final de cada mês, até o décimo dia do mês subse-
Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão
quente.
mínimo de oportunidades educacionais para o ensino
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor-
fundamental, baseado no cálculo do custo mínimo por
reção monetária e à responsabilização civil e criminal
aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade.
das autoridades competentes.
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar-
tigo será calculado pela União ao final de cada ano,
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de-
com validade para o ano subsequente, considerando
senvolvimento do ensino as despesas realizadas com
variações regionais no custo dos insumos e as diversas
vistas à consecução dos objetivos básicos das institui-
ções educacionais de todos os níveis, compreendendo modalidades de ensino.
as que se destinam a:
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen- Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e
te e demais profissionais da educação; dos Estados será exercida de modo a corrigir, progres-
II - aquisição, manutenção, construção e conservação sivamente, as disparidades de acesso e garantir o pa-
de instalações e equipamentos necessários ao ensino; drão mínimo de qualidade de ensino.
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a
ao ensino; fórmula de domínio público que inclua a capacidade
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas de atendimento e a medida do esforço fiscal do res-
visando precipuamente ao aprimoramento da quali- pectivo Estado, do Distrito Federal ou do Município em
dade e à expansão do ensino; favor da manutenção e do desenvolvimento do ensino.
V - realização de atividades-meio necessárias ao fun- § 2º A capacidade de atendimento de cada governo
cionamento dos sistemas de ensino; será definida pela razão entre os recursos de uso cons-
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas titucionalmente obrigatório na manutenção e desen-
públicas e privadas; volvimento do ensino e o custo anual do aluno, relati-
VII - amortização e custeio de operações de crédito vo ao padrão mínimo de qualidade.
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste ar- § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e
tigo; 2º, a União poderá fazer a transferência direta de re-
cursos a cada estabelecimento de ensino, considerado
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

VIII - aquisição de material didático-escolar e manu-


tenção de programas de transporte escolar. o número de alunos que efetivamente frequentam a
escola.
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de dos Municípios se estes oferecerem vagas, na área de
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de en- ensino de sua responsabilidade, conforme o inciso VI
sino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento do art. 10 e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número
de sua qualidade ou à sua expansão; inferior à sua capacidade de atendimento.
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de
caráter assistencial, desportivo ou cultural;

180
Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no II - manter programas de formação de pessoal espe-
artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumpri- cializado, destinado à educação escolar nas comuni-
mento pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do dades indígenas;
disposto nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições III - desenvolver currículos e programas específicos,
legais. neles incluindo os conteúdos culturais corresponden-
tes às respectivas comunidades;
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco- IV - elaborar e publicar sistematicamente material di-
las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comuni- dático específico e diferenciado.
tárias, confessionais ou filantrópicas que: § 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribu- de outras ações, o atendimento aos povos indígenas
am resultados, dividendos, bonificações, participações efetivar-se-á, nas universidades públicas e privadas,
ou parcela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou mediante a oferta de ensino e de assistência estudan-
pretexto; til, assim como de estímulo à pesquisa e desenvolvi-
II - apliquem seus excedentes financeiros em educa- mento de programas especiais.
ção;
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra Art. 79-A. (Vetado)
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
Poder Público, no caso de encerramento de suas ati-
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
vidades;
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos re-
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimen-
cebidos.
to e a veiculação de programas de ensino a distância,
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser em todos os níveis e modalidades de ensino, e de edu-
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, cação continuada. (Regulamento)
na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiên- § 1º A educação a distância, organizada com abertura
cia de recursos, quando houver falta de vagas e cursos e regime especiais, será oferecida por instituições es-
regulares da rede pública de domicílio do educando, pecificamente credenciadas pela União.
ficando o Poder Público obrigado a investir priorita- § 2º A União regulamentará os requisitos para a re-
riamente na expansão da sua rede local. alização de exames e registro de diploma relativos a
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e exten- cursos de educação a distância.
são poderão receber apoio financeiro do Poder Públi- § 3º As normas para produção, controle e avaliação
co, inclusive mediante bolsas de estudo. de programas de educação a distância e a autoriza-
ção para sua implementação, caberão aos respectivos
TÍTULO VIII sistemas de ensino, podendo haver cooperação e in-
Das Disposições Gerais tegração entre os diferentes sistemas. (Regulamento)
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento di-
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo- ferenciado, que incluirá:
ração das agências federais de fomento à cultura e de I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais
assistência aos índios, desenvolverá programas inte- de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros
grados de ensino e pesquisa, para oferta de educação meios de comunicação que sejam explorados mediante
escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, autorização, concessão ou permissão do poder público;
com os seguintes objetivos: II - concessão de canais com finalidades exclusiva-
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, mente educativas;
a recuperação de suas memórias históricas; a reafir- III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
mação de suas identidades étnicas; a valorização de Público, pelos concessionários de canais comerciais.
suas línguas e ciências;
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti-
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o
tuições de ensino experimentais, desde que obedeci-
acesso às informações, conhecimentos técnicos e cien-
das as disposições desta Lei.
tíficos da sociedade nacional e demais sociedades in-
dígenas e não-índias. Art. 82.  Os sistemas de ensino estabelecerão as nor-
mas de realização de estágio em sua jurisdição, obser-
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vada a lei federal sobre a matéria.


os sistemas de ensino no provimento da educação in-
tercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
programas integrados de ensino e pesquisa. admitida a equivalência de estudos, de acordo com as
§ 1º Os programas serão planejados com audiência normas fixadas pelos sistemas de ensino.
das comunidades indígenas.
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, inclu- Art. 84. Os discentes da educação superior poderão
ídos nos Planos Nacionais de Educação, terão os se- ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas
guintes objetivos: respectivas instituições, exercendo funções de moni-
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua ma- toria, de acordo com seu rendimento e seu plano de
terna de cada comunidade indígena; estudos.

181
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação § 2º O prazo para que as universidades cumpram o
própria poderá exigir a abertura de concurso públi- disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.
co de provas e títulos para cargo de docente de ins- Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve-
tituição pública de ensino que estiver sendo ocupado nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a
por professor não concursado, por mais de seis anos, contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respec-
ressalvados os direitos assegurados pelos  arts. 41 tivo sistema de ensino.
da Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias. Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o
regime anterior e o que se institui nesta Lei serão re-
Art. 86. As instituições de educação superior constitu- solvidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, me-
ídas como universidades integrar-se-ão, também, na diante delegação deste, pelos órgãos normativos dos
sua condição de instituições de pesquisa, ao Sistema sistemas de ensino, preservada a autonomia univer-
Nacional de Ciência e Tecnologia, nos termos da le- sitária.
gislação específica.
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
TÍTULO IX cação.
Das Disposições Transitórias
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024,
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novem-
um ano a partir da publicação desta Lei. bro de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publi- de novembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de
cação desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, 1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de
o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as demais
para os dez anos seguintes, em sintonia com a Decla- leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer ou-
ração Mundial sobre Educação para Todos.
tras disposições em contrário.
§ 2º (Revogado)
§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, su-
Fonte
pletivamente, a União, devem:
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
I - (Revogado)
constituicao/constituicao.htm
a) (Revogado) 
b) (Revogado) 
c) (Revogado)
II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens LEI Nº 8.069/90 – ESTATUTO DA CRIANÇA E
e adultos insuficientemente escolarizados; DO ADOLESCENTE.
III - realizar programas de capacitação para todos
os professores em exercício, utilizando também, para
isto, os recursos da educação a distância; Noções introdutórias e disciplina constitucional
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino
fundamental do seu território ao sistema nacional de Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado
avaliação do rendimento escolar. assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
§ 4º (Revogado) absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à ali-
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando mentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
a progressão das redes escolares públicas urbanas de à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
ensino fundamental para o regime de escolas de tem- convivência familiar e comunitária, além de colocá-los
po integral. a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, exploração, violência, crueldade e opressão. 
ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos § 1º O Estado promoverá programas de assistência in-
Estados aos seus Municípios, ficam condicionadas ao tegral à saúde da criança, do adolescente e do jovem,
cumprimento do  art. 212 da Constituição Federal  e admitida a participação de entidades não governa-
dispositivos legais pertinentes pelos governos benefi- mentais, mediante políticas específicas e obedecendo
ciados. aos seguintes preceitos: 
I - aplicação de percentual dos recursos públicos desti-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 87.A- (Vetado).   nados à saúde na assistência materno-infantil;


II - criação de programas de prevenção e atendimen-
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os to especializado para as pessoas portadoras de defi-
Municípios adaptarão sua legislação educacional e de ciência física, sensorial ou mental, bem como de inte-
ensino às disposições desta Lei no prazo máximo de gração social do adolescente e do jovem portador de
um ano, a partir da data de sua publicação. deficiência, mediante o treinamento para o trabalho
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus es- e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e
tatutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos ar-
normas dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos quitetônicos e de todas as formas de discriminação. 
por estes estabelecidos.

182
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos cada criança e adolescente deve receber tratamento es-
logradouros e dos edifícios de uso público e de fa- pecial do Estado e ser priorizado em suas políticas públi-
bricação de veículos de transporte coletivo, a fim de cas, pois são o futuro do país e as bases de construção
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de da sociedade.
deficiência. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os se- o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras pro-
guintes aspectos: vidências, seguindo em seus dispositivos a ideologia do
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao princípio da absoluta prioridade.
trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; No §1º do artigo 227 aborda-se a questão da assis-
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; tência à saúde da criança e do adolescente. Do inciso I
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e se depreende a intrínseca relação entre a proteção da
jovem à escola;  criança e do adolescente com a proteção da maternidade
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atri- e da infância, mencionada no artigo 6º, CF. Já do inciso
buição de ato infracional, igualdade na relação pro- II se depreende a proteção de outro grupo vulnerável,
cessual e defesa técnica por profissional habilitado, que é a pessoa portadora de deficiência, valendo lembrar
segundo dispuser a legislação tutelar específica; que o Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, que
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcio- promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultati-
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer vo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007,
medida privativa da liberdade; foi promulgado após aprovação no Congresso Nacional
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência nos moldes da Emenda Constitucional nº 45/2004, tendo
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da força de norma constitucional e não de lei ordinária. A
lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança preocupação com o direito da pessoa portadora de defi-
ou adolescente órfão ou abandonado; ciência se estende ao §2º do artigo 227, CF: “a lei dispo-
VII - programas de prevenção e atendimento especia- rá sobre normas de construção dos logradouros e dos
lizado à criança, ao adolescente e ao jovem dependen- edifícios de uso público e de fabricação de veículos de
te de entorpecentes e drogas afins. transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a pessoas portadoras de deficiência”.
exploração sexual da criança e do adolescente. A proteção especial que decorre do princípio da prio-
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Li-
forma da lei, que estabelecerá casos e condições de ga-se, ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do
sua efetivação por parte de estrangeiros. artigo 227: “A lei punirá severamente o abuso, a violência
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamen- e a exploração sexual da criança e do adolescente”.
to, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualifi- Tendo em vista o direito de toda criança e adolescen-
cações, proibidas quaisquer designações discriminató- te de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo
rias relativas à filiação. 227 da Constituição prevê que “a adoção será assistida
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado- pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá ca-
lescente levar-se-á em consideração o disposto no art. sos e condições de sua efetivação por parte de estran-
2043. geiros”. Neste sentido, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de
§ 8º A lei estabelecerá:  2009, dispõe sobre a adoção.
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os di- A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma
reitos dos jovens;  da Constituição anterior e do até então vigente Código
II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, Civil de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos,
visando à articulação das várias esferas do poder pú- havidos ou não da relação do casamento, ou por ado-
blico para a execução de políticas públicas.  ção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
No caput do artigo 227, CF se encontra uma das prin- quaisquer designações discriminatórias relativas à filia-
cipais diretrizes do direito da criança e do adolescente ção”.
que é o princípio da prioridade absoluta. Significa que Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi-
mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-
3 Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social se-
-á em consideração o disposto no art. 204” tem em vista
rão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social,
a adoção de práticas de assistência social, com recursos
previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base
da seguridade social, em prol da criança e do adolescen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administra-


tiva, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e te.
a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A
estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de as- lei estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado
sistência social; II - participação da população, por meio de orga- a regular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de
nizações representativas, na formulação das políticas e no controle juventude, de duração decenal, visando à articulação
das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Esta-
dos e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e
das várias esferas do poder público para a execução de
promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tribu- políticas públicas”. A Lei nº 12.852, de 5 de agosto de
tária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: 2013, institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os
I - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívida; direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude
investimentos ou ações apoiados.

183
- SINAJUVE. Mais informações sobre a Política menciona- - Programas de prevenção e atendimento especiali-
da no inciso II e sobre a Secretaria e o Conselho Nacional zado à criança, ao adolescente e ao jovem depen-
de Juventude que direcionam a implementação dela po- dente de entorpecentes e drogas afins (inciso VII).
dem ser obtidas na rede4.
Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da
Fundamental, preconiza ser dever da família, da socieda- Constituição, garante o “Princípio da Igualdade entre os
de e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao Filhos”, ao dispor que os filhos, havidos ou não da relação
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, e qualificações, proibidas quaisquer designações discri-
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi- minatórias relativas à filiação.
vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces-
violência, crueldade e opressão. sórios. Não se pode falar em um filho receber metade
A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal da parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”,
permite concluir que se adotou, neste país, a chamada enquanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a
“Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe asse- quantia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho
gurar a absoluta prioridade em políticas públicas, medi- bastardo” pode mais ser utilizada, por representar uma
das sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos hu- forma de discriminação designatória.
manos, e observância da dignidade da pessoa humana. Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre
Neste sentido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar
da Criança e do Adolescente”, prevê que a garantia de e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o
prioridade compreende a primazia de receber proteção dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência
e socorro em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a pre- ou enfermidade. Tal dispositivo, inclusive, permite que os
cedência de atendimento nos serviços públicos ou de re- filhos peçam alimentos aos pais, e que os pais peçam
levância pública (alínea “b”), a preferência na formulação alimentos aos filhos.
e na execução das políticas sociais públicas (alínea “c”), e Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo
a destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas oitavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art.
relacionadas com a proteção à infância e à juventude (alí- 227, da Constituição Federal, segundo o qual a lei es-
nea “d”). tabelecerá o estatuto da juventude, destinado a regular
Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao os direitos dos jovens (inciso I), e o plano nacional de
jovem representa incumbência atribuída não só ao Es- juventude, de duração decenal, visando à articulação das
tado, mas também à família e à sociedade. Sendo assim, várias esferas do poder público para a execução de polí-
há se prestar bastante atenção nas provas de concurso, ticas públicas (inciso II). Nada obstante a exigência cons-
tendo em vista que só se costuma colocar o Estado como titucional desde 2010, somente bem recentemente o Es-
observador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo tatuto da Juventude foi aprovado (Lei nº 12.852/2013),
que isso também compete à família e à sociedade. como visto acima, carecendo, ainda, o Plano Nacional de
Nesta frequência, o direito à proteção especial abran- Juventude de maior regulamentação infraconstitucional.
gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF):
- A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao Evolução histórica
trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na con-
dição de aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, Na Grécia antiga, a criança era colocada numa posi-
XXXIII, CF, pós-alteração promovida pela Emenda ção de inferioridade, tida como um ser irracional, sem ca-
Constitucional nº 20/98); pacidade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se de
- A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas marco da cultura grega, que enxergava apenas poucos
(inciso II); homens de posses como cidadãos. Estes homens con-
- A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e centravam para si o pátrio poder, isto é, o poder do pai.
jovem à escola (inciso III); Devido ao pátrio poder, o pai de família concentrava em
- A garantia de pleno e formal conhecimento da atri- suas mãos plena possibilidade de gerir a vida das crian-
buição do ato infracional, igualdade na relação ças e adolescentes e estes não tinham nenhuma possibi-
processual e defesa técnica por profissional habi- lidade de participar destas decisões. Na Idade Média se
litado, segundo dispuser a legislação tutelar espe- manteve o sistema do “pátrio poder”. As crianças eram
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cífica (inciso IV); submetidas ao absoluto poder do pai e seus destinos se-
- A obediência aos princípios de brevidade, excep- guiam a mesma sorte.
cionalidade e respeito à condição peculiar de pes- A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o
soa em desenvolvimento, quando da aplicação de Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligei-
qualquer medida privativa de liberdade (inciso V); ramente da margem social. A moral da época passa a
- O estímulo do Poder Público, através de assistência impor aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto,
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos a educação costumava ser oferecida apenas aos homens.
da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de Aqueles que possuíam melhores condições enviavam
criança ou adolescente órfão ou abandonado (in- seus filhos para estudarem nas universidades que co-
ciso VI); meçavam a despontar na Europa, aqueles que possuíam
condições piores ao menos passavam a ensinar seus ofí-
4 http://www.juventude.gov.br/politica

184
cios a estes jovens. Já as meninas permaneciam margina- Relações jurídicas no direito da criança e do ado-
lizadas das atividades educacionais e profissionalizantes, lescente
apenas lhes era ensinado como desempenhar atividades
domésticas. “As relações jurídicas são formas qualificadas de rela-
Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque, ções interpessoais, indicando, assim, a ligação entre pes-
a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial- soas, em razão de algum objeto, devidamente regulada
mente os modos e métodos de produção, a criança e pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do Ado-
o adolescente passam a ocupar papel central na socie- lescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa a
dade, desempenhando atividades trabalhistas de caráter disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles-
equivalente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade,
acidentes de trabalho, morriam em meio à insalubridade a sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a
das fábricas, então movidas predominantemente a car- intenção dos doutrinadores e do próprio legislador foi,
vão. Foi apenas com a emergência da Organização Inter- sempre, criar uma doutrina da proteção integral não so-
nacional do Trabalho – OIT, em 1919, que aos poucos se mente para a Criança, como, ainda, para o Adolescente,
consolidou uma consciência a respeito da necessidade ambos ainda em desenvolvimento, posto que, somente
de se limitar a participação das crianças e adolescentes com o término da adolescência é que o menor comple-
no espaço de trabalho. Este foi o estopim para o reco- tará o processo de aquisição de mecanismos mentais re-
nhecimento da condição especial da criança e do ado- lacionados ao pensamento, percepção, reconhecimento,
lescente. classificação etc. [...] Com isso, o Estatuto da Criança e do
Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e Adolescente, sabiamente, se preocupou em envolver não
do adolescente começa a tomar corpo com o reconhe- somente a família, mas, ainda, a comunidade, a socie-
cimento internacional dos direitos humanos e a funda- dade e o próprio Estado, para que todos, em conjunto,
ção da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como exerçam seus direitos e deveres sem oprimir aqueles que,
Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas em condição inferior, viviam a mercê da sociedade. Mas,
para as Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para qual a razão dessa inclusão tão abrangente? Pois bem,
ajudar as crianças da Europa vítimas da II Guerra Mun- a intenção do Estatuto da Criança e do Adolescente foi
dial. No início da década de 50 o seu mandato foi alar- conferir ao menor, de forma integral, todas as condições
gado para responder às necessidades das crianças e das para que o mesmo possa desenvolver-se plenamente,
mães nos países em desenvolvimento. Em 1953, torna-se evitando-se, com isso, que haja alguma deficiência em
uma agência permanente das Nações Unidas, e passa a sua formação. Desta forma, a melhor solução apresen-
ocupar-se especialmente das crianças dos países mais tada pelo legislador foi incluir todos os segmentos da
pobres da África, Ásia, América Latina e Médio Oriente. sociedade, para que ninguém ficasse isento de qualquer
Passa então a designar-se Fundo das Nações Unidas para responsabilidade, uma vez que a doutrina da proteção
a Infância, mas mantém a sigla que a tornara conhecida integral apresentada pelo Estatuto da Criança e do Ado-
em todo o mundo – UNICEF. Desde então, sobrevieram lescente exige a participação de todos, sem qualquer ex-
no âmbito das Nações Unidas documentos bastante re- ceção”6. Com efeito, o objeto formal do direito da criança
levantes sobre a condição jurídica peculiar da criança, já e do adolescente é a proteção jurídica especial da criança
estudados neste material. e do adolescente. Já o objeto material é a própria criança
No Brasil, no final do século XIX e início do século XX, ou adolescente.
foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e
Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público Princípios
nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em
seguida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o go- Não se pode olvidar que os princípios sempre desem-
verno a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à penharam um importante papel social, mas foi somente
Infância Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi apro- na atual dogmática jurídica que eles adquiriram normati-
vado o primeiro Código de Menores. Em 1941, durante vidade. Hoje em dia, os princípios servem para condensar
o governo Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao valores, dar unidade ao sistema e condicionar a ativida-
Menor, cujo fim era dar tratamento penal teoricamen- de do intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não
te diferenciado aos menores (na prática, eram tratados meros conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autô-
como criminosos comuns). Em 1964 surge a Política Na- noma7.
cional do Bem-estar do Menor (Lei nº 4.513/1964), que Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

criou a FUNABEM. Surge novo Código de Menores em fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já
1979 (Lei nº 6.697), cujo objeto era a proteção e vigilân- consolidados: a passagem dos princípios da especulação
cia de crianças e adolescentes em situação irregular. Na metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo
década de 80 começa um movimento de reelaboração do Direito, com baixíssimo teor de densidade normati-
da concepção de infância e juventude. O destaque re- va; a transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga
percute na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto
da Criança e do Adolescente de 1990, que revogou o cente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos
Código de Menores e substituiu a doutrina da situação do Direito)
irregular pela doutrina da proteção integral5. 6 MENDES, Moacyr Pereira. As relações jurídicas decorrentes do Es-
tatuto da Criança e do Adolescente. Âmbito Jurídico, Rio Grande,
5 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo Brandão; XII, n. 70, nov. 2009.
FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e do Adoles- 7 Ibid., p.327.

185
inserção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu que se professe quanto à sua origem. A dignidade re-
ingresso nas Constituições); a suspensão da distinção laciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito
clássica entre princípios e normas; o deslocamento dos como com as condições materiais de subsistência”.
princípios da esfera da jusfilosofia para o domínio da O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira,
Ciência Jurídica; a proclamação de sua normatividade; a do Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante
perda de seu caráter de normas programáticas; o reco- conceito numa das decisões que relatou: “a dignidade
nhecimento definitivo de sua positividade e concretude consiste na percepção intrínseca de cada ser humano a
por obra sobretudo das Constituições; a distinção en- respeito dos direitos e obrigações, de modo a assegurar,
tre regras e princípios, como espécies diversificadas do sob o foco de condições existenciais mínimas, a partici-
gênero norma, e, finalmente, por expressão máxima de pação saudável e ativa nos destinos escolhidos, sem que
todo esse desdobramento doutrinário, o mais significa- isso importe destilação dos valores soberanos da demo-
tivo de seus efeitos: a total hegemonia e preeminência cracia e das liberdades individuais. O processo de valo-
dos princípios8. rização do indivíduo articula a promoção de escolhas,
posturas e sonhos, sem olvidar que o espectro de abran-
No campo do direito da criança e do adolescente, al- gência das liberdades individuais encontra limitação em
guns princípios assumem destaque, entre eles: outros direitos fundamentais, tais como a honra, a vida
privada, a intimidade, a imagem. Sobreleva registrar que
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos essas garantias, associadas ao princípio da dignidade da
artigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever pessoa humana, subsistem como conquista da humani-
de todos – Estado, sociedade, comunidade e fa- dade, razão pela qual auferiram proteção especial con-
mília – assegurar com absoluta prioridade direitos sistente em indenização por dano moral decorrente de
fundamentais às crianças e adolescentes. Por isso, sua violação”10.
estabelece-se com primazia a adoção de políticas Para Reale11, a evolução histórica demonstra o do-
públicas, a destinação de recursos e a prestação de mínio de um valor sobre o outro, ou seja, a existência
serviços essenciais àqueles que se encontram na de uma ordem gradativa entre os valores; mas existem
faixa etária inferior a 18 anos. os valores fundamentais e os secundários, sendo que o
b) Princípio da proteção integral: previsto no arti- valor fonte é o da pessoa humana. Nesse sentido, são
go 1º, ECA estabelece que a proteção da criança e os dizeres de Reale12: “partimos dessa ideia, a nosso ver
do adolescente não pode se restringir às situações básica, de que a pessoa humana é o valor-fonte de todos
de irregularidade, o que teria um caráter estigma- os valores. O homem, como ser natural biopsíquico, é
tizante, mas deve abranger todas as situações de apenas um indivíduo entre outros indivíduos, um ente
vida pelas quais passa a criança e o adolescente, animal entre os demais da mesma espécie. O homem,
mesmo as regulares. Neste sentido, ao se assegu- considerado na sua objetividade espiritual, enquanto
rar direitos na regularidade, evita-se que a criança ser que só realiza no sentido de seu dever ser, é o que
e o adolescente caiam em irregularidade. chamamos de pessoa. Só o homem possui a dignidade
originária de ser enquanto deve ser, pondo-se essencial-
c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A
mente como razão determinante do processo histórico”.
dignidade da pessoa humana é o valor-base de
Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
interpretação de qualquer sistema jurídico, in-
da pessoa humana como um dos fundamentos da Repú-
ternacional ou nacional, que possa se considerar
blica, faz emergir uma nova concepção de proteção de
compatível com os valores éticos, notadamente da
cada membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro
moral, da justiça e da democracia. Pensar em dig-
humanista guia a afirmação de todos os direitos funda-
nidade da pessoa humana significa, acima de tudo,
mentais e confere a eles posição hierárquica superior às
colocar a pessoa humana como centro e norte
normas organizacionais do Estado, de modo que é o Es-
para qualquer processo de interpretação jurídico, tado que está para o povo, devendo garantir a dignidade
seja na elaboração da norma, seja na sua aplicação. de seus membros, e não o inverso.
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou d) Princípio da participação popular: previsto no
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa huma- artigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegu-
na como o principal valor do ordenamento ético e, por ra a participação popular, através de organizações
consequência, jurídico que pretende colocar a pessoa representativas, na elaboração de políticas públi-
humana como um sujeito pleno de direitos e obriga-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cas direcionadas à infância e à juventude.


ções na ordem internacional e nacional, cujo desrespeito e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo
acarreta a própria exclusão de sua personalidade. 227, §3º, V, CF assegura que quando da imposi-
Aponta Barroso9: “o princípio da dignidade da pessoa ção de medida privativa de liberdade esta não será
humana identifica um espaço de integridade moral a ser
assegurado a todas as pessoas por sua só existência no 10 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n.
mundo. É um respeito à criação, independente da crença 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz Bresciani de Fon-
tan Pereira. Brasília, 05 de setembro de 2012j1. Disponível em: www.
8 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. ed. São tst.gov.br. Acesso em: 17 nov. 2012.
Paulo: Malheiros, 2011, p. 294. 11 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva,
9 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constitui- 2002, p. 228.
ção. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382. 12 Ibid., p. 220.

186
imposta a não ser que se trate de um caso excep- plesmente ignorados, como se não existissem, chega-se
cional, em que nenhuma outra medida sócio-edu- ao terceiro e mais importante: a interpretação do concei-
cativa possa ser utilizada. to de autonomia à luz do momento de desenvolvimen-
f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, to em que uma determinada criança ou adolescente se
§3º, V, CF assegura que quando da aplicação de encontra.
medida privativa de liberdade esta não se esten-
derá no tempo, devendo ser a mais breve possível, Nesse sentido, diversas características do desenvolvi-
perdurando apenas pelo prazo necessário para a mento devem ser levadas em consideração:
ressocialização do adolescente. No caso, o ECA 1. Trata-se de um processo que evolui continuamente
limita a aplicação de medidas desta natureza ao à medida que habilidades se aperfeiçoam, novas
prazo máximo de 3 anos. capacidades são adquiridas, novas vivências são
g) Princípio da condição peculiar da pessoa em acumuladas e integradas e, portanto, passível de
desenvolvimento: a criança e o adolescente es- rápidas e extremas mudanças no tempo;
tão em processo de formação e de transformação 2. A aquisição das competências é progressiva, não se
física e psíquica, logo, possuem uma condição pe- dá saltos, como se se tratasse de compartimentos
culiar que deve ser respeitada quando da aplicação estanques, e segue sempre uma ordem preestabe-
da lei. lecida, sendo, portanto, razoavelmente previsível;
3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se
Autonomia da criança e do adolescente processa são muito individualizados, fazendo com
que dois indivíduos de uma mesma idade possam
Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone13 estar em momentos diferentes de desenvolvimen-
em que reflete sobre a construção da autonomia do in- to;
fante: 4. No caso específico da inteligência, o desenvolvi-
“Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia mento é extremamente influenciável por fatores
de uma criança ou de um adolescente só tem sentido se extrínsecos ao indivíduo: as experiências, os estí-
for conduzida a partir do conhecimento da evolução de mulos, o ambiente, a educação, a cultura, etc., o
suas competências nas diferentes idades. É de conheci- que também acaba por reforçar sua evolução ex-
mento de todos que a criança nasce totalmente depen- tremamente individualizada.
dente de cuidados alheios e que passa por um processo
de desenvolvimento progressivo que a leva a alcançar a Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensa-
completa independência na maturidade, o que, nas so- mento concreto estendendo-o à compreensão do outro
ciedades modernas, se situa por volta dos vinte anos de e às possíveis consequências de boa parte dos seus atos
idade. se aperfeiçoa na idade escolar, entre os 6 e os 11 anos de
Entretanto, para que este processo de análise de sua vida. Este amadurecimento se completa na adolescência,
autonomia transcorra de maneira isenta, fundamental- com a capacidade crescente de abstração que a criança
mente centrado nas peculiaridades do desenvolvimento desenvolve nesta fase da existência. Como consequência,
do ser humano, o primeiro ponto a ser considerado é a é possível admitir que é na segunda fase da adolescência,
necessidade de abdicar de alguns conceitos preestabele- em geral a partir dos 15 anos, que o indivíduo atingiria
cidos, como é o caso da atitude paternalista. [...] as competências necessárias para o exercício de sua au-
O segundo ponto a considerar neste percurso, em tonomia, competências estas que necessitariam apenas
geral decorrente do primeiro, é a própria legislação que, serem lapidadas ao longo das vivências e de uma maior
mesmo tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela experiência de vida.
todos os menores a uma mesma condição: a de incapaci- Entretanto, isto não significa que a autonomia da
dade, criando a necessidade de se ter figuras aptas a de- criança e do adolescente só possa (ou deva) ser respeita-
cidir e responder por eles, como se estas figuras fossem da a partir desta fase.
sempre e inevitavelmente imbuídas das melhores inten- Compete ao pediatra e aos demais profissionais de
ções em relação à criança e ao adolescente. saúde, utilizando suas competências profissionais, defi-
No entender de Kopelman, para que toda esta legis- nir já desde os primeiros anos de vida em que etapa a
lação fosse realmente válida seria necessário definir me- criança se encontra ao longo do seu processo evolutivo,
lhor, de maneira bem precisa, o que se entende por um tentando diferenciar se se está diante de uma tomada
padrão mínimo de benefício ou o que é ‘o melhor’ para de decisão ditada apenas pelo receio do desconhecido,
os interesses da criança ou do adolescente, de modo que por um capricho ou vontade decorrente apenas de sua
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a definição não fique em aberto para a interpretação de visão egocêntrica, natural em determinadas idades, ou se
quem detém o poder de decidir em nome deles. Além a mesma já é o resultado de uma reflexão mais amadu-
disso, estas definições deveriam estar em constante revi- recida. São estes extremos que dão a entender a ampla
são, para que não acabem sendo ultrapassadas, frente à gama de estágios de desenvolvimento, portanto de au-
evolução histórico-social dos fatos que geraram a neces- tonomia, que entre eles podem se apresentar. [...]
sidade de sua criação. Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre
Superados estes dois pontos, que apesar de poten- ao se utilizar definições bastante precisas como estas é o
cialmente limitantes do processo de discussão da auto- de acabar classificando um indivíduo de maneira dicotô-
nomia da criança e do adolescente não podem ser sim- mica, no caso específico da autonomia, como sendo ca-
paz ou incapaz, desistindo assim de uma possível análise
13 LEONE, Cláudio. A criança, o adolescente e a autonomia. Revista de sua real capacidade.
Bioética, v. 6, n. 1.

187
Consequentemente, a ausência de uma ou de mais Comentários à lei
das características anteriormente citadas não deve ser
utilizada para qualificar a criança ou o adolescente como Parte geral
incapaz. Deve, isto sim, servir de embasamento para que
se possa tentar entender como suas decisões se origi- Título I
naram. Das Disposições Preliminares
Em face de situações específicas, individualizadas,
como ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à
única forma que o profissional tem de realmente respei- criança e ao adolescente.
tar a autonomia da criança ou do adolescente. O princípio da proteção integral se associa ao princí-
A interpretação adequada da legislação e o dimen- pio da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do
sionamento correto da decisão dos pais ou responsáveis ECA e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse prin-
dependerão fundamentalmente deste tipo de análise da cípio tem-se também a positivação da proteção integral,
autonomia da criança ou adolescente. Deste modo, mes- que se opõe à antiga e superada doutrina da situação
mo que resulte em situações de conflito entre as posi- irregular, que era prevista no antigo Código de Menores
ções, servirá de embasamento para um trabalho, muitas e especificava que sua incidência se restringia aos me-
vezes exaustivo, de apresentação, de reflexão e de dis- nores em situação irregular, apresentando um conjunto
cussão de argumentos e fatos, capaz de conduzir a uma de normas destinadas ao tratamento e prevenção dessas
decisão amadurecida e o mais isenta possível, que, res- situações”14.
peitando a posição da criança ou do adolescente, poderá Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
efetivamente redundar em seu benefício. lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
No leque das diferentes situações da prática pediátri- criança e do adolescente que apenas abordasse situa-
ca, que se estende desde o recém-nascido no limite de ções em que ele estivesse irregular, seja por uma despro-
viabilidade ao qual se quer prestar cuidados intensivos teção, como no caso de abandono, ou pela violação da
de validade questionável naquelas circunstâncias, pas- lei, como nos casos de atos infracionais.
sando pelas pesquisas científicas que envolvem crianças Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar
e adolescentes, até a criança cujo pátrio poder pertence uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado-
a pais adolescentes, portanto autônomos nas decisões lescente, que não apenas abordasse situações de irregu-
que lhes dizem respeito, todas estas situações, onde nem laridade (embora ainda o fizesse), mas que abrangesse
sempre o real interesse que está em jogo é o da criança, todo o arcabouço jurídico protetivo da criança e do ado-
mas sim o dos responsáveis por ela, clarificam que não lescente.
há uma única resposta ou solução mágica, perfeita, para
a questão da autonomia da criança e do adolescente. Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei,
Na realidade, o que deve existir é a construção con- a pessoa até doze anos de idade incompletos, e ado-
junta de uma verdade para aquele momento, amadure- lescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
cida no crescimento e evolução de todos: juízes e legis- Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
ladores, pais ou responsáveis, médicos e profissionais excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre de-
de saúde e, principalmente, a criança ou o adolescente, zoito e vinte e um anos de idade.
como parte de um processo de interação franco, since- O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por ca-
ro, isento e realmente participativo que de fato respeite tegorizar separadamente estas duas categorias de me-
a autonomia, qualquer que seja o nível de competência nores. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na
que a criança ou o adolescente estejam apresentando data de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente),
para tal”. adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na
data de aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em
Imputabilidade penal situações excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18
anos, até os 21 anos de idade, por exemplo, no caso do
Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os meno- menor infrator sujeito a internação em fundação CASA
res de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação que tenha 17 anos e 11 meses na data do ato infracional
especial. poderá ficar detido até o limite de seus 20 anos e 11
O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputá- meses (eis que 3 anos é o tempo máximo de internação).
veis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

legislação especial”. Percebe-se que a normativa não está Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os di-
no rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível reitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
uma emenda constitucional que alterasse a menoridade prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, as-
penal. Inclusive, há projetos de lei neste sentido. segurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas
as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar
o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
social, em condições de liberdade e de dignidade.

14 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo Brandão;


FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e do Adoles-
cente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos
do Direito)

188
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota
aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem uma estrutura que contempla três sistemas de garantia –
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, primário, secundário e terciário.
sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência,
condição pessoal de desenvolvimento e aprendiza- a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – abor-
gem, condição econômica, ambiente social, região e da políticas públicas de atendimento de crianças e
local de moradia ou outra condição que diferencie as adolescentes.
pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.
O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socieda-
criança e do adolescente. Concretização significa viabili- de em geral e do poder público assegurar, com abso-
zação prática, consecução real dos fins que a lei descreve. luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
Como se percebe pela leitura até o momento, o legisla- vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,
dor brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
cujo objetivo é concretizar estes direitos da criança e do ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e co-
adolescente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de in- munitária.
tenções. É necessário colocar seu conteúdo em prática, Parágrafo único. A garantia de prioridade compreen-
porque sozinha ela nada faz. de:
A implementação na prática dos direitos da criança e a) primazia de receber proteção e socorro em quais-
do adolescente depende da adoção de posturas por par- quer circunstâncias;
te de todos aqueles colocados como responsáveis para b) precedência de atendimento nos serviços públicos
tanto: Estado, sociedade, comunidade e família. Especifi- ou de relevância pública;
camente no que se refere ao Estado, mostra-se essencial c) preferência na formulação e na execução das políti-
que ele desenvolve políticas públicas adequadas em res- cas sociais públicas;
peito à peculiar condição do infante. d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con- áreas relacionadas com a proteção à infância e à ju-
dições suficientemente próprias de promoção e concre- ventude.
tização de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idên-
dogmatismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O tico ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra
Direito da Criança e do Adolescente enquanto ramo au- uma das principais diretrizes do direito da criança e do
tônomo do direito é responsável por ressignificar a atua- adolescente que é o princípio da prioridade absoluta.
ção estatal, principalmente no campo das políticas públi- Significa que cada criança e adolescente deve receber
cas e impõe corresponsabilidades compartilhadas”15. tratamento especial do Estado e ser priorizado em suas
Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são políticas públicas, pois são o futuro do país e as bases de
garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos construção da sociedade.
adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos Explica Liberati16: “Por absoluta prioridade, devemos
fundamentais em espécie, abordando-os na vertente da entender que a criança e o adolescente deverão estar em
condição especial dos que pertencem a este grupo. primeiro lugar na escala de preocupação dos governan-
As crianças e adolescentes gozam de igualdade de tes; devemos entender que, primeiro, devem ser atendi-
direitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir das todas as necessidades das crianças e adolescentes
de todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título [...]. Por absoluta prioridade, entende-se que, na área
II os direitos fundamentais da criança e do adolescente, administrativa, enquanto não existirem creches, escolas,
entre eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, postos de saúde, atendimento preventivo e emergencial
dignidade, convivência familiar e comunitária, educação, às gestantes dignas moradias e trabalho, não se deveria
cultura, esporte, lazer, profissionalização e proteção no asfaltar ruas, construir praças, sambódromos monumen-
trabalho. Não se trata de rol taxativo de direitos funda- tos artísticos etc., porque a vida, a saúde, o lar, a preven-
mentais garantidos à criança e ao adolescente, eis que ção de doenças são importantes que as obras de concre-
ele possui todos os direitos humanos e fundamentais to que ficam par a demonstrar o poder do governante”.
que as demais pessoas. O título II do ECA tem por ob- O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangên-
jetivo aprofundar especificidades acerca de algumas das cia da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário
categorias de direitos fundamentais assegurados à crian- conferir atendimento prioritário às crianças e aos adoles-
ça e ao adolescente. centes diante de situações de perigo e risco (como no
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des- salvamento em incêndios e enchentes, etc.), bem como
taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há nos serviços públicos em geral (chegada aos hospitais,
plena igualdade na garantia de direitos entre todas as por exemplo). Além disso, devem ser priorizadas políti-
crianças e adolescentes, não sendo permitido qualquer cas públicas que favoreçam a criança e o adolescente e
tipo de discriminação. também devem ser reservados recursos próprios priori-
A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros tariamente a eles.
dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre-
sença de um tríplice sistema de garantias. Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
I - políticas sociais básicas;
16 LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Criança e do Adoles-
15 http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=2236 cente: Comentários. São Paulo: IBPS.

189
II - serviços, programas, projetos e benefícios de assis- propósito. A responsabilização poderá se dar em qual-
tência social de garantia de proteção social e de pre- quer uma das três esferas, isolada ou cumulativamente:
venção e redução de violações de direitos, seus agra- penal, respondendo por crimes e contravenções penais
vamentos ou reincidências; todo aquele que praticá-lo contra criança e adolescente,
III - serviços especiais de prevenção e atendimento bem como respondendo por atos infracionais as crianças
médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus- e adolescentes que atentarem um contra o outro; civil,
-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão; estabelecendo-se o dever de indenizar por danos cau-
IV - serviço de identificação e localização de pais, res- sados a crianças e a adolescentes, que se estende a toda
ponsável, crianças e adolescentes desaparecidos; e qualquer pessoa física ou jurídica que o faça, inclusive
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa o próprio Estado; e administrativa, impondo-se penas
dos direitos da criança e do adolescente. disciplinares a funcionários sujeitos a regime jurídico ad-
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou ministrativo em trabalhos privados ou em cargos, empre-
abreviar o período de afastamento do convívio fami- gos e funções públicos.
liar e a garantir o efetivo exercício do direito à convi-
vência familiar de crianças e adolescentes; Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em con-
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob for- ta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do
ma de guarda de crianças e adolescentes afastados bem comum, os direitos e deveres individuais e coleti-
do convívio familiar e à adoção, especificamente inter- vos, e a condição peculiar da criança e do adolescente
-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com como pessoas em desenvolvimento.
necessidades específicas de saúde ou com deficiências É pacífico que o processo de interpretação hoje faz
e de grupos de irmãos.  parte do Direito, principalmente se considerada a cons-
O artigo 87 descreve linhas de ação na política de tante evolução da sociedade, demandando diariamente
atendimento, que compõem a delimitação do princípio por novos modos de aplicação das normas. Como a so-
da prioridade absoluta na vertente da priorização na ciedade é dinâmica e o Direito existe para servi-la, cabe a
ele adequar-se às novas exigências sociais, aplicando-se
adoção de políticas públicas e na delimitação de recursos
da maneira mais justa à vasta gama de casos concretos.
financeiros para execução de tais políticas.
Sobre a interpretação, explica Gonçalves17: “Quando o
fato é típico e se enquadra perfeitamente no conceito
b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA –
abstrato da norma, dá-se o fenômeno da subsunção. Há
aborda as medidas de proteção destinadas à crian-
casos, no entanto, em que tal enquadramento não ocor-
ça e ao adolescente em situação de risco pessoal
re, não encontrando o juiz nenhuma norma aplicável à
ou social.
hipótese sub judice. Deve, então, proceder à integração
Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante normativa, mediante o emprego da analogia, dos costu-
neste material. mes e dos princípios gerais do direito. [...] Para verificar
se a norma é aplicável ao caso em julgamento (subsun-
c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as ção) ou se deve proceder à integração normativa, o juiz
medidas socioeducativas, destinadas à responsabi- procura descobrir o sentido da norma, interpretando-a.
lização penal do adolescente infrator, isto é, àquele Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma
entre 12 e 18 anos que comete atos infracionais. jurídica”.
Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas A hermenêutica possui 3 categorias de métodos.
adiante neste material. Quanto às fontes ou origem, a interpretação pode ser
autêntica ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e dou-
O sistema tríplice deve operar de forma harmônica, trinária. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal,
com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa- examinando o texto normativo linguísticamente; lógica
ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema ou racional, apurando o sentido e a finalidade da nor-
primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia ma; sistemática, analisando a lei de maneira compara-
das políticas públicas específicas, deve ser acionado o tiva com outras leis pertencentes à mesma província do
sistema secundário, operado predominantemente pelo Direito (livro, título, capítulo, seção, parágrafo); histórica,
Conselho Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é ne- baseando-se na verificação dos antecedentes do proces-
cessário partir para a adoção de medidas socioeducati- so legislativo; sociológica, adaptando o sentido ou fi-
vas, operadas predominantemente pelo Ministério Públi- nalidade da norma às novas exigências sociais (artigo
co e pelo Judiciário. 5°, LINDB). Quanto aos resultados pode ser declarativa,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

quando o texto legal corresponde ao pensamento do le-


Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto gislador; extensiva ou ampliativa, quando o alcance da lei
de qualquer forma de negligência, discriminação, ex- é mais amplo que o indicado pelo seu texto; e restritiva,
ploração, violência, crueldade e opressão, punido na na qual se limita o campo de aplicação da lei. Nenhum
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, destes métodos se opera isoladamente18.
aos seus direitos fundamentais. O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, ex-
O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do pressa o método de interpretação sociológico, chaman-
ECA: proteger a criança de qualquer forma de negli- do atenção à interpretação da lei levando em conta os
gência, discriminação, exploração, violência, crueldade
17 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 9. ed. São
e opressão. Neste sentido, coloca-se a possibilidade de
Paulo: Saraiva, 2011, v. 1
responsabilização de todos que atentarem contra esse
18 Ibid.

190
seus fins sociais, as exigências do bem comum, os direi- § 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestan-
tos e deveres individuais e coletivos, e vai além: exige que te e à mulher com filho na primeira infância que se
se leve em conta a condição peculiar da criança e do encontrem sob custódia em unidade de privação de
adolescente. Logo, ao se interpretar o ECA não se pode liberdade, ambiência que atenda às normas sanitá-
nunca perder de vista que o seu objeto material, a crian- rias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o
ça e o adolescente, é extremamente peculiar, dotado de acolhimento do filho, em articulação com o sistema
especificidades as quais sempre se deve atentar. de ensino competente, visando ao desenvolvimento
integral da criança.
Título II
Dos Direitos Fundamentais Art. 8º-A. Fica instituída a Semana Nacional de Pre-
venção da Gravidez na Adolescência, a ser realizada
Capítulo I anualmente na semana que incluir o dia 1º de feve-
Do Direito à Vida e à Saúde reiro, com o objetivo de disseminar informações so-
bre medidas preventivas e educativas que contribuam
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a prote- para a redução da incidência da gravidez na adoles-
ção à vida e à saúde, mediante a efetivação de polí- cência. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019)
ticas sociais públicas que permitam o nascimento e
o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o dis-
dignas de existência. posto no caput deste artigo ficarão a cargo do poder
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso público, em conjunto com organizações da socieda-
aos programas e às políticas de saúde da mulher e de de civil, e serão dirigidas prioritariamente ao público
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição ade- adolescente.
quada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao
puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-na- Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega-
tal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde.
dores propiciarão condições adequadas ao aleitamen-
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro-
to materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a
fissionais da atenção primária.
medida privativa de liberdade.
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da ges-
§ 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
tante garantirão sua vinculação, no último trimestre
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou cole-
da gestação, ao estabelecimento em que será reali-
tivas, visando ao planejamento, à implementação e à
zado o parto, garantido o direito de opção da mulher.
avaliação de ações de promoção, proteção e apoio ao
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nas- aleitamento materno e à alimentação complementar
cidos alta hospitalar responsável e contrarreferência saudável, de forma contínua.
na atenção primária, bem como o acesso a outros ser- § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva
viços e a grupos de apoio à amamentação. neonatal deverão dispor de banco de leite humano ou
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistên- unidade de coleta de leite humano.
cia psicológica à gestante e à mãe, no período pré e
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou mino- Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
rar as consequências do estado puerperal. atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares,
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá são obrigados a:
ser prestada também a gestantes e mães que mani- I - manter registro das atividades desenvolvidas, atra-
festem interesse em entregar seus filhos para adoção, vés de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito
bem como a gestantes e mães que se encontrem em anos;
situação de privação de liberdade. II - identificar o recém-nascido mediante o registro de
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) sua impressão plantar e digital e da impressão digital
acompanhante de sua preferência durante o período da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas
do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto ime- pela autoridade administrativa competente;
diato. III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei- pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-
tamento materno, alimentação complementar sau- -nascido, bem como prestar orientação aos pais;
dável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como sobre formas de favorecer a criação de vínculos necessariamente as intercorrências do parto e do de-
afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da senvolvimento do neonato;
criança. V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau- neonato a permanência junto à mãe.
dável durante toda a gestação e a parto natural cui- VI - acompanhar a prática do processo de amamenta-
dadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e ção, prestando orientações quanto à técnica adequa-
outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos. da, enquanto a mãe permanecer na unidade hospita-
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa lar, utilizando o corpo técnico já existente.
da gestante que não iniciar ou que abandonar as con-
sultas de pré-natal, bem como da puérpera que não
comparecer às consultas pós-parto.

191
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cui- cativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de
dado voltadas à saúde da criança e do adolescente, o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal,
por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado e, posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos
o princípio da equidade no acesso a ações e serviços de vida, com orientações sobre saúde bucal.
para promoção, proteção e recuperação da saúde. § 4º A criança com necessidade de cuidados odonto-
§ 1º A criança e o adolescente com deficiência serão lógicos especiais será atendida pelo Sistema Único de
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas Saúde.
necessidades gerais de saúde e específicas de habilita- § 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos
ção e reabilitação. seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen- outro instrumento construído com a finalidade de fa-
te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, cilitar a detecção, em consulta pediátrica de acompa-
próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao nhamento da criança, de risco para o seu desenvolvi-
tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças mento psíquico.
e adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado
voltadas às suas necessidades específicas. Capítulo II
§ 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
frequente de crianças na primeira infância receberão
formação específica e permanente para a detecção de Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber-
sinais de risco para o desenvolvimento psíquico, bem dade, ao respeito e à dignidade como pessoas huma-
como para o acompanhamento que se fizer necessá- nas em processo de desenvolvimento e como sujeitos
rio. de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, Constituição e nas leis.
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva Entre os direitos fundamentais garantidos à criança e
e de cuidados intermediários, deverão proporcionar ao adolescente que são especificados e aprofundados
condições para a permanência em tempo integral de no ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à
um dos pais ou responsável, nos casos de internação dignidade.
de criança ou adolescente.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas- aspectos:
tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
maus-tratos contra criança ou adolescente serão obri- comunitários, ressalvadas as restrições legais;
gatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da II - opinião e expressão;
respectiva localidade, sem prejuízo de outras provi- III - crença e culto religioso;
dências legais. IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse V - participar da vida familiar e comunitária, sem dis-
em entregar seus filhos para adoção serão obrigato- criminação;
riamente encaminhadas, sem constrangimento, à Jus- VI - participar da vida política, na forma da lei;
tiça da Infância e da Juventude. VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de liber-
de entrada, os serviços de assistência social em seu dade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e polí-
componente especializado, o Centro de Referência Es- tica. Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito:
pecializado de Assistência Social (Creas) e os demais liberdade para brincar e divertir-se e liberdade para
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança buscar refúgio, auxílio e orientação, processos estes
e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade essenciais para o desenvolvimento do infante.
ao atendimento das crianças na faixa etária da pri-
meira infância com suspeita ou confirmação de vio- Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
lência de qualquer natureza, formulando projeto tera- de da integridade física, psíquica e moral da criança
pêutico singular que inclua intervenção em rede e, se e do adolescente, abrangendo a preservação da ima-
necessário, acompanhamento domiciliar. gem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias
e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá pro-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

gramas de assistência médica e odontológica para a Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da crian-
prevenção das enfermidades que ordinariamente afe- ça e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tra-
tam a população infantil, e campanhas de educação tamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório
sanitária para pais, educadores e alunos. ou constrangedor.
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a pro-
recomendados pelas autoridades sanitárias. teção da criança e do adolescente em todas facetas de
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção sua integridade: física, psíquica e moral.
à saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma
transversal, integral e intersetorial com as demais li- Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
nhas de cuidado direcionadas à mulher e à criança. ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função edu- ou de tratamento cruel ou degradante, como formas

192
de correção, disciplina, educação ou qualquer outro Os defensores da “Lei da Palmada” utilizam estudos
pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família am- de psicólogos e educadores para argumentar que não é
pliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos exe- necessário utilizar qualquer tipo de agressão física, mes-
cutores de medidas socioeducativas ou por qualquer mo a mais leve, para educar uma criança.
pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-
-los ou protegê-los. Capítulo III
Parágrafo único.  Para os fins desta Lei, considera-se: Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou puni-
tiva aplicada com o uso da força física sobre a criança Seção I
ou o adolescente que resulte em:  Disposições Gerais
a) sofrimento físico; ou
b) lesão; Quando se aborda o direito à convivência familiar e
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma comunitária no ECA confere-se destaque à distinção en-
cruel de tratamento em relação à criança ou ao ado- tre família natural e substituta e aos procedimentos que
lescente que: caracterizam a inserção e a retirada da criança e do ado-
a) humilhe; ou lescente destes ambientes.
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize. Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado
e educado no seio de sua família e, excepcionalmente,
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família amplia- em família substituta, assegurada a convivência fa-
da, os responsáveis, os agentes públicos executores de miliar e comunitária, em ambiente que garanta seu
medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarre- desenvolvimento integral.
gada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá- § 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido
-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo em programa de acolhimento familiar ou institucio-
físico ou tratamento cruel ou degradante como formas nal terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada
de correção, disciplina, educação ou qualquer outro 3 (três) meses, devendo a autoridade judiciária com-
pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras san- petente, com base em relatório elaborado por equipe
ções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplica- interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma
das de acordo com a gravidade do caso: fundamentada pela possibilidade de reintegração fa-
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá- miliar ou pela colocação em família substituta, em
rio de proteção à família; quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi- Lei.
quiátrico; § 2o A permanência da criança e do adolescente em
III - encaminhamento a cursos ou programas de orien- programa de acolhimento institucional não se prolon-
tação; gará por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprova-
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento da necessidade que atenda ao seu superior interesse,
especializado; devidamente fundamentada pela autoridade judiciá-
V - advertência. ria.
Parágrafo único.   As medidas previstas neste artigo § 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou
serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de
adolescente à sua família terá preferência em relação
outras providências legais. 
a qualquer outra providência, caso em que será esta
Os artigos 18-A e 18-B foram incluídos no ECA pela
incluída em serviços e programas de proteção, apoio e
Lei nº 13.010, de 26 de junho de 2014, que estabelece o
promoção, nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I
direito da criança e do adolescente de serem educados e
e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput
cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento
do art. 129 desta Lei. 
cruel ou degradante. Também ficou conhecida como “Lei
§ 4º Será garantida a convivência da criança e do ado-
do Menino Bernardo”19 e “Lei da Palmada”.
Em que pesem as aparentes boas intenções da lei no lescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por
sentido de evitar situações extremas como a do menino meio de visitas periódicas promovidas pelo respon-
Bernardo, assassinado após incontáveis ameaças e agres- sável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional,
sões físicas por parte de seus responsáveis, seu conteúdo pela entidade responsável, independentemente de au-
é bastante criticado. Afinal, é claro que a lei coloca todo torização judicial.
§ 5o Será garantida a convivência integral da criança
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e qualquer tipo de agressão física no mesmo patamar.


Considerado o teor da lei, mesmo uma palmada numa com a mãe adolescente que estiver em acolhimento
criança é proibida. institucional.
Os críticos da “Lei da Palmada” apontam que ela adota § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe espe-
uma posição extrema e impõe uma indevida intervenção cializada multidisciplinar.
do Estado nos ambientes familiares, retirando o poder Como se depreende do artigo 19, a família natural é
disciplinar garantido aos pais na educação de seus filhos. a regra e a família substituta é a exceção. A criança e o
19 O nome da lei é uma homenagem ao menino Bernardo Boldrini, adolescente podem ser inseridos em programa de aco-
morto em abril de 2014, aos 11 anos, em Três Passos (RS). Os acusa- lhimento familiar ou institucional, pelo limite temporal
dos são o pai e a madrasta do menino, com ajuda de uma amiga e de 18 meses, cujo caráter é o de permitir a sua retirada
do irmão dela. Segundo as investigações, Bernardo procurou ajuda de potencial ou efetiva situação de risco. Durante este
para denunciar as ameaças que sofria.

193
programa, reavaliado a cada 3 meses, se verificará se é § 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e pro-
possível a reinserção no ambiente da família natural (o porcionar à criança e ao adolescente vínculos externos
que é preferencial) ou se é o caso de colocação definitiva à instituição para fins de convivência familiar e comu-
em família substituta. nitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos
aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e
Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse financeiro.
em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após § 2o (VETADO).
o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância § 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou
e da Juventude. adolescente a fim de colaborar para o seu desenvol-
§ 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe inter- vimento.
profissional da Justiça da Infância e da Juventude, que § 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apa-
apresentará relatório à autoridade judiciária, conside- drinhado será definido no âmbito de cada programa
rando inclusive os eventuais efeitos do estado gesta- de apadrinhamento, com prioridade para crianças ou
cional e puerperal. adolescentes com remota possibilidade de reinserção
§ 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária po- familiar ou colocação em família adotiva.
derá determinar o encaminhamento da gestante ou § 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento
mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pú- apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude po-
blica de saúde e assistência social para atendimento derão ser executados por órgãos públicos ou por orga-
especializado. nizações da sociedade civil.
§ 3o A busca à família extensa, conforme definida nos § 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamen-
termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respei- to, os responsáveis pelo programa e pelos serviços de
tará o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável acolhimento deverão imediatamente notificar a auto-
por igual período. ridade judiciária competente.
§ 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor Os programas de apadrinhamento visam permitir a
e de não existir outro representante da família exten- convivência comunitária da criança e do adolescente
sa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária que estão no sistema de adoção, especialmente com
competente deverá decretar a extinção do poder fami- relação àqueles que dificilmente sairão dele.
liar e determinar a colocação da criança sob a guarda
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do ca-
provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou
samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
de entidade que desenvolva programa de acolhimento
qualificações, proibidas quaisquer designações discri-
familiar ou institucional.
minatórias relativas à filiação.
§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe
O artigo 20 destaca a igualdade entre todos os filhos,
ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou
sejam eles havidos dentro ou fora do casamento, se-
pai indicado, deve ser manifestada na audiência a que
jam eles inseridos em família natural ou substituta.
se refere o § 1o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo
sobre a entrega. A disciplina sobre a perda e suspensão do poder de
§ 6o (VETADO). família no ECA se encontra em dois blocos, o primeiro
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 do artigo 21 ao 24, que aborda questões materiais, e
(quinze) dias para propor a ação de adoção, contado o segundo do artigo 155 a 163, que foca em questões
do dia seguinte à data do término do estágio de con- procedimentais:
vivência.
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - ma- Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade
nifestada em audiência ou perante a equipe interpro- de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que
fissional - da entrega da criança após o nascimento, dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer de-
a criança será mantida com os genitores, e será de- les o direito de, em caso de discordância, recorrer à
terminado pela Justiça da Infância e da Juventude o autoridade judiciária competente para a solução da
acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento divergência. 
e oitenta) dias.
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nasci- Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda
mento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda,
§ 10. (VETADO). no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O artigo 19-A trata do procedimento aplicável nos cumprir as determinações judiciais.


casos em que a família biológica pretenda entregar Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis,
recém-nascido para adoção, assegurando-se o acom- têm direitos iguais e deveres e responsabilidades com-
panhamento por equipe multidisciplinar e também a partilhados no cuidado e na educação da criança, de-
tomada de providências de busca de pessoa da família vendo ser resguardado o direito de transmissão fami-
extensa apta a assumir o encargo. liar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos
da criança estabelecidos nesta Lei.
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
acolhimento institucional ou familiar poderão partici- Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não
par de programa de apadrinhamento. constitui motivo suficiente para a perda ou a suspen-
são do poder familiar. 

194
§ 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa
a decretação da medida, a criança ou o adolescente dos filhos menores:
será mantido em sua família de origem, a qual deverá I – dirigir-lhes a criação e educação;
obrigatoriamente ser incluída em serviços e progra- II – tê-los em sua companhia e guarda;
mas oficiais de proteção, apoio e promoção. III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para
§ 2º  A condenação criminal do pai ou da mãe não casarem;
implicará a destituição do poder familiar, exceto na IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento
hipótese de condenação por crime doloso sujeito à autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o
pena de reclusão contra outrem igualmente titular do sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da
descendente.  vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em
que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
decretadas judicialmente, em procedimento contradi- VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os
tório, nos casos previstos na legislação civil, bem como serviços próprios de sua idade e condição.
na hipótese de descumprimento injustificado dos de- Em relação às suas características, o poder familiar é
veres e obrigações a que alude o art. 22.  indisponível e decorre da paternidade natural ou legal,
O instituto do poder familiar surgiu no direito roma- por isso, não há a possibilidade de seu titular o transferir
no e era conhecido naquela época como pátrio poder, a terceiros por iniciativa própria, tampouco existindo a
pois o pai exercia mais poderes sobre os filhos do que a viabilidade de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O
mãe, o que vinha a representar um poder absoluto por poder familiar é indelegável, sendo, em regra, irrenunciá-
parte do genitor, inclusive sobre a vida e a morte dos vel e sempre intransferível. Logo, não sendo possível ao
próprios filhos20. titular do poder familiar abrir mão de seu dever, a renún-
O Código Civil de 1916 atribuiu o poder familiar ao cia é inviável, existindo apenas uma exceção, qual seja, a
pai, que era considerado o chefe da sociedade conjugal, decorrente da adoção.
e a mãe possuía um papel secundário, conforme apon- Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido
tava o artigo 380 do Código Civil de 1916 que dizia que de colocação do menor em família substituta, disponi-
“durante o casamento compete o pátrio poder aos pais, bilizando o filho para a adoção, caso em que os direitos
exercendo-o o marido com a colaboração da mulher [...]”. e deveres decorrentes do poder familiar serão exercidos
De acordo com Santos Neto21: “[...] o exercício da por novos titulares, ou seja, pelos pais adotivos.
autoridade parental pela mãe era admitido apenas em A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dispos-
caráter excepcional. Ao homem era dada, em condições tos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regulam,
normais, a titularidade exclusiva do direito em pauta. Sua dentre os deveres e poderes decorrentes do poder fa-
vontade prevalecia e contra ela não havia remédio pre- miliar, também os de ordem pessoal, ou seja, o cuida-
visto, salvo, é claro, no caso de comportamento abusivo do existencial do menor, a educação, a correição, e os
e contrário aos interesses dos menores”. de ordem material, que envolvem a administração dos
O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a bens dos filhos. Os principais atributos do poder familiar
toada da Constituição Federal de 1988, trouxe significati- são a guarda, a criação e a educação, que se refletem
vas modificações ao instituto em análise, surgindo então nos deveres dos pais para com os filhos; tanto que, não
o chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem cumprindo algum desses atributos, o detentor do poder
de forma igualitária o poder sobre os filhos menores, poderá sofrer sanções cíveis e até criminais.
equilibrando dessa forma a relação familiar. O poder familiar, conforme disposição do próprio or-
O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po- denamento civil, não é um instituto irrevogável e pode
der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder ser extinto, suspenso ou destituído a qualquer tempo.
familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com- Basicamente, as formas de extinção se aplicam quando
pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade o exercício do poder familiar não é mais necessário; ao
civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º, passo que as regras de perda e suspensão constituem
parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal. casos de privação do exercício do poder familiar pelo
No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA. descumprimento de seus deveres.
O poder familiar, conhecido também como autorida- Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação
de parental, é um conjunto de direitos e deveres que são familiar, com o objetivo de resguardar os interesses do
atribuídos aos pais para que esses administrem de forma menor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titu-
legal a pessoa dos filhos e também de seus bens. lar do poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

“O poder familiar pode ser definido como um con- forma temporária ou até mesmo definitiva.
junto de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens
do filho menor não emancipado, exercido, em igualdade Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua
de condições, por ambos os pais, para que possam de- autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou
sempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requeren-
tendo em vista o interesse e a proteção do filho”22. do algum parente, ou o Ministério Público, adotar a
20 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um Avanço medida que lhe pareça reclamada pela segurança do
para a Família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. menor e seus haveres, até suspendendo o poder fami-
21 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pátrio Poder. São liar, quando convenha.
Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.
22 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 5.

195
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício IV – pela adoção;
do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por V – por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.
sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena A extinção do poder familiar é mais complexa, pois
exceda a dois anos de prisão. nesta situação os pais, extintos do poder, não poderão
Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é ape- requerer a reintegração do poder familiar se houve inter-
nas uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando ferência deles para sua extinção. Na maioria dos casos,
preservar os interesses dos filhos, assim, diante da com- é possível identificar facilmente a existência da extinção
provação de que os problemas que levaram à suspensão do poder familiar, por se tratarem de hipóteses objetivas.
desapareceram, o poder familiar poderá retornar aos ge-
nitores. Seção II
Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exer- Da Família Natural
cer os direitos e deveres decorrentes do poder familiar
quando ficar evidenciado perante a autoridade compe- Dos artigos 25 a 27 o ECA aborda a família natural,
tente o abuso. Como visto, existe, também, a probabili- nos seguintes termos:
dade de se decretar a suspensão do poder familiar, caso
um dos pais seja condenado por crime cuja pena exceda Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade
a dois anos de prisão. formada pelos pais ou qualquer deles e seus descen-
Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do dentes.
poder familiar, que é a sanção mais grave imposta aos Parágrafo único.  Entende-se por família extensa ou
pais que faltarem com os deveres em relação aos filhos: ampliada aquela que se estende para além da unida-
de pais e filhos ou da unidade do casal, formada por
Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fa- parentes próximos com os quais a criança ou adoles-
miliar o pai ou a mãe que: cente convive e mantém vínculos de afinidade e afe-
I – castigar imoderadamente o filho; tividade. 
II – deixar o filho em abandono; A família natural é composta por pais e filhos que for-
III – praticar atos contrários à moral e aos bons cos- mam vínculo entre si desde o nascimento, por questão
tumes; biológica.
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no ar- O conceito de família pode ser visto de uma maneira
tigo antecedente. mais ampla, o que se denomina família extensa ou am-
Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do pliada. Por exemplo, avós e tios que sejam muito próxi-
Estatuto da Criança e do Adolescente, citados anterior- mos e participem diretamente do convívio familiar, for-
mente, além de preverem a suspensão e destituição do mando para com a criança e o adolescente vínculos de
poder familiar, trazem também os motivos que poderão afinidade e afetividade.
acarretá-las.
São bastante frequentes nos casos de pais que per- Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão
dem o poder familiar os atos de violência e espancamen- ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separada-
to; assim como o de abandono, no qual os menores, ao mente, no próprio termo de nascimento, por testa-
se verem abandonados, começam a relacionar-se com mento, mediante escritura ou outro documento públi-
pessoas delinquentes e usuárias de drogas, que não vão co, qualquer que seja a origem da filiação.
colaborar em nada com seu desenvolvimento e cresci- Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
mento. Nessas situações, os detentores do poder familiar nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se
podem sofrer a perda do poder familiar. deixar descendentes.
Cabe aqui consignar que, no caso da perda do poder Como o artigo 20 estabelece a igualdade entre os fi-
familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier a lhos havidos dentro ou fora do casamento, sentido em
ser adotado por outra família e as causas que levaram que se compreende que tanto os filhos inseridos no ma-
a perda do poder desaparecerem, os genitores poderão trimônio quanto os que não o estão fazem parte da famí-
requerer judicialmente a reintegração do poder familiar, lia natural, o artigo 26 tece detalhes sobre a possibilidade
desde que comprovem realmente que o motivo que os de reconhecimento do vínculo de filiação, que pode se
levou a perder esse poder já não existe mais. dar antes mesmo do nascimento do filho ou extrapolar a
Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legisla- sua vida, devendo ser feito em documento público.
ção, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de extin-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ção do poder familiar, em regra, o fez por perceber que a Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é di-
pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu maturidade reito personalíssimo, indisponível e imprescritível, po-
o suficiente para guiar a sua vida, não havendo razão para dendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros,
que permaneça tal vínculo. Há casos, entretanto, que a vio- sem qualquer restrição, observado o segredo de Jus-
lação aos direitos inerentes ao poder familiar tornou irre- tiça.
versível o seu restabelecimento, como ocorre na adoção. O direito à filiação é personalíssimo, indisponível e
imprescritível. Mesmo que um filho passe a vida toda ou
Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela boa parte de sua vida sem buscar o seu reconhecimento,
morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos ele não se perde. Logo, a ação de investigação de pater-
termos do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maio- nidade é imprescritível, pois também o é o vínculo que
ridade; ela reconhece em caso de procedência.

196
Seção III Art. 30. A colocação em família substituta não admiti-
Da Família Substituta rá transferência da criança ou adolescente a terceiros
ou a entidades governamentais ou não-governamen-
Subseção I tais, sem autorização judicial.
Disposições Gerais
Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira
Dos artigos 28 a 32 aborda-se a família substituta, nos constitui medida excepcional, somente admissível na
seguintes termos: modalidade de adoção.

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
mediante guarda, tutela ou adoção, independente- prestará compromisso de bem e fielmente desempe-
mente da situação jurídica da criança ou adolescente, nhar o encargo, mediante termo nos autos.
nos termos desta Lei. Existem três formas de colocação em família substi-
§ 1o  Sempre que possível, a criança ou o adolescente tuta: guarda, tutela e adoção. Neste sentido, a criança
será previamente ouvido por equipe interprofissional, é retirada da esfera do poder familiar de ambos os pais
respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de (o que pode acontecer na tutela e na adoção), ou então
compreensão sobre as implicações da medida, e terá permanece vinculado ao poder familiar de ambos geni-
sua opinião devidamente considerada.  tores enquanto apenas um ou um terceiro exerce a guar-
§ 2o  Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de ida- da (o que ocorre apenas na guarda). Trata-se de situação
de, será necessário seu consentimento, colhido em au- excepcional, eis que em regra a criança deve permanecer
diência.  na família natural, vinculada ao poder familiar atribuído
§ 3o  Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o a ambos os pais.
grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afe- Neste tipo de circunstância, deve-se buscar sempre
tividade, a fim de evitar ou minorar as consequências ouvir a criança ou o adolescente. Caso já possua 12 anos
decorrentes da medida.  completos, a oitiva é obrigatória. Trata-se de respeito à
§ 4o  Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, autonomia da criança e do adolescente.
tutela ou guarda da mesma família substituta, ressal- Os irmãos devem permanecer unidos em qualquer
vada a comprovada existência de risco de abuso ou circunstância, sendo a separação de irmãos medida ex-
outra situação que justifique plenamente a excepcio- cepcional. Por exemplo, se um casal estiver disposto a
nalidade de solução diversa, procurando-se, em qual- adotar 4 filhos e existirem 4 irmãos, será dada prioridade
quer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos a ele, passando na frente dos demais candidatos à ado-
fraternais.  ção.
§ 5o  A colocação da criança ou adolescente em família
substituta será precedida de sua preparação gradativa Subseção II
e acompanhamento posterior, realizados pela equipe Da Guarda
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
Juventude, preferencialmente com o apoio dos técni- Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência
cos responsáveis pela execução da política municipal material, moral e educacional à criança ou adolescen-
de garantia do direito à convivência familiar.  te, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a
§ 6o  Em se tratando de criança ou adolescente indí- terceiros, inclusive aos pais. 
gena ou proveniente de comunidade remanescente de § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,
quilombo, é ainda obrigatório:  podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identida- procedimentos de tutela e adoção, exceto no de ado-
de social e cultural, os seus costumes e tradições, bem ção por estrangeiros.
como suas instituições, desde que não sejam incompa- § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
tíveis com os direitos fundamentais reconhecidos por casos de tutela e adoção, para atender a situações pe-
esta Lei e pela Constituição Federal;  culiares ou suprir a falta eventual dos pais ou respon-
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente sável, podendo ser deferido o direito de representação
no seio de sua comunidade ou junto a membros da para a prática de atos determinados.
mesma etnia;  § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con-
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão dição de dependente, para todos os fins e efeitos de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

federal responsável pela política indigenista, no caso direito, inclusive previdenciários.


de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólo- § 4o  Salvo expressa e fundamentada determinação
gos, perante a equipe interprofissional ou multidisci- em contrário, da autoridade judiciária competente, ou
plinar que irá acompanhar o caso.  quando a medida for aplicada em preparação para
adoção, o deferimento da guarda de criança ou ado-
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substitu- lescente a terceiros não impede o exercício do direito
ta a pessoa que revele, por qualquer modo, incompa- de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar
tibilidade com a natureza da medida ou não ofereça alimentos, que serão objeto de regulamentação espe-
ambiente familiar adequado. cífica, a pedido do interessado ou do Ministério Pú-
blico. 

197
Art. 34.  O poder público estimulará, por meio de as- pais forem culpados pela separação e se a hipótese for
sistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o aco- de ruptura da vida em comum ou de separação por mo-
lhimento, sob a forma de guarda, de criança ou ado- tivo de doença mental. A regra amolda-se ao princípio
lescente afastado do convívio familiar.  do melhor interesse da criança, identificado como direito
§ 1o  A inclusão da criança ou adolescente em pro- fundamental na Constituição Federal (art. 5º, §2º), em ra-
gramas de acolhimento familiar terá preferência a seu zão da ratificação pela Convenção Internacional sobre os
acolhimento institucional, observado, em qualquer Direitos da Criança – ONU/89”25.
caso, o caráter temporário e excepcional da medida, O juiz antes de decidir o mérito de uma ação de guar-
nos termos desta Lei.  da, separação ou divórcio, tem que determinar a guarda
§ 2o  Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal provisória do menor a um dos pais, o qual não se trata
cadastrado no programa de acolhimento familiar po- de um modelo de guarda, mas de definir uma situação
derá receber a criança ou adolescente mediante guar- momentânea em que a prole se encontra. Somente com
da, observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.  o julgamento do mérito será estabelecida a guarda de-
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços de finitiva, que deverá adotar um dos modelos de guarda
acolhimento em família acolhedora como política pú- permitida no ordenamento jurídico brasileiro.
blica, os quais deverão dispor de equipe que organize A guarda definitiva expressa o modelo de guarda
o acolhimento temporário de crianças e de adolescen- adotado pelos pais. Porém, mesmo tratando-se de guar-
tes em residências de famílias selecionadas, capacita- da definitiva, tal modelo poderá ser alterado a qualquer
das e acompanhadas que não estejam no cadastro de tempo, pois o que regula o instituto da guarda é o me-
adoção. lhor interesse do menor e, não sendo isso possível, a
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, esta- guarda é passível de modificação.
duais, distritais e municipais para a manutenção dos
serviços de acolhimento em família acolhedora, facul- a) Guarda Comum ou Guarda Originária
tando-se o repasse de recursos para a própria família A guarda comum ou guarda originária não é uma
acolhedora. guarda judicial, existindo quando os genitores possuem
vínculo matrimonial ou vivem em união estável e moram
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer juntos com seus filhos, situação na qual exercem plena-
tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido mente e simultaneamente todos os poderes inerentes
o Ministério Público. do poder familiar e, consequentemente, a guarda. Não
Na definição de Santos Neto23 a guarda trata-se de existe a figura do guardião e nem arbitramento judicial
um “direito consistente na posse de menor oponível a sobre a questão. Ambos pais exercem juntos a guarda
terceiros e que acarreta deveres de vigilância em relação em plenitude.
a este”.
No entender de Ishida24, a guarda é vinculada ao po- b) Guarda Unilateral ou Guarda Única
der familiar, “todavia, pode ocorrer a separação dos dois Observando-se sempre o princípio do melhor interes-
institutos, por exemplo, com a separação judicial do ma- se do menor, a guarda excepcionalmente poderá ser atri-
rido e da mulher, onde o poder familiar continua per- buída de forma unilateral a uma terceira pessoa quando
tencendo aos dois, no entanto um só poderá ficar com os genitores não estiverem em condições de exercê-la,
a guarda da prole”. ou seja, tanto o pai como a mãe são pois, conforme determina o artigo 1.583, §1º, do Código
detentores do poder familiar mesmo após a separação, Civil, “compreende-se por guarda unilateral a atribuída a
mas nos tipos de guarda comum, apenas um terá a guar- um só dos genitores ou a alguém que o substitua”. Neste
da do filho. viés, dispõe o artigo 1.584, §5º, do mesmo diploma legal:
Logo, a dissolução do vínculo conjugal não exclui o “Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob
poder familiar, mas pode excluir a guarda de um dos a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa
pais, reservando-o apenas o direito de visitas, dependen- que revele compatibilidade com a natureza da medida,
do da modalidade de guarda adotada. Com a dissolução considerados, de preferência, o grau de parentesco e as
da união conjugal, hoje se estabeleceu que a prole po- relações de afinidade e afetividade”. Vale ressaltar que
derá ficar com o genitor que tiver melhor condições de a guarda unilateral também é possível quando nenhum
assistir o filho. dos pais tem condições de exercê-la, por exemplo, atri-
“Mesmo que a mãe seja considerada culpada pela se- buindo a guarda aos avós ou aos tios.
paração, pode o juiz deferir-lhe a guarda dos filhos me- Usualmente, nesse contexto, podemos constatar a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nores, se estiver comprovado que o pai, por exemplo, existência da guarda unilateral, que é atribuída somente
é alcoólatra e não tem condições de cuidar bem deles. a um dos genitores, e da guarda compartilhada, que é
Não se indaga, portanto, quem deu causa à separação e atribuída a ambos, sendo que a previsão das duas moda-
quem é o cônjuge inocente, mas qual deles revela me- lidades de guarda encontra-se no artigo 1.583, da Lei n.
lhores condições para exercer a guarda dos filhos me- 11.698/2008, que constitui que “a guarda será unilateral
nores, cujos interesses foram colocados em primeiro ou compartilhada”.
plano. A solução será, portanto, a mesma se ambos os A Lei alterou a redação do artigo 1.583 e passou a
estabelecer nos incisos do §2º do dispositivo algumas
23 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pátrio Poder. São das situações que deverão ser consideradas pelo magis-
Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.
24 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: 25 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de
Doutrina e Jurisprudência. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Família. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6.

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trado ao atribuir a guarda a um dos genitores: afeto nas jurídico busca com o instituto da guarda compartilhada
relações com o genitor e com o grupo familiar; saúde e evitar prejuízos ainda maiores aos filhos de casal separa-
segurança; e educação. do, que, além de não terem o convívio diário com um dos
Na guarda unilateral atribuída a apenas um dos pais, genitores, têm que vivenciar os problemas conjugais de
apesar de um dos genitores não ser o guardião, conti- seus pais e ainda se tornarem, em muitos casos, vítimas
nuam ambos a exercerem a guarda jurídica. A diferença da Síndrome da Alienação Parental.
é que, em virtude da guarda, o genitor guardião tem o Segundo Akel27, “a guarda compartilhada surgiu da
poder de decisão, enquanto o genitor não guardião tem necessidade de se encontrar uma maneira que fosse ca-
o poder de fiscalização, podendo contestar a decisão do paz de fazer com que os pais, que não mais convivem,
genitor guardião e até mesmo recorrer à justiça, caso e seus filhos mantivessem os vínculos afetivos latentes,
entenda que a decisão tomada não seja a melhor para mesmo após o rompimento”.
a prole, conforme prevê o artigo 1.583, §3º, do Código Com esse propósito, a recente Lei nº 11.698/2008 ins-
Civil: “a guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não tituiu expressamente no ordenamento jurídico o instituto
a detenha a supervisionar os interesses dos filhos”. da guarda compartilhada. Embora tenha sido sancionada
em 13 de junho de 2008 e publicada no Diário Oficial da
c) Guarda Alternada ou Guarda Partilhada União em 16 de junho do mesmo ano, por força da vaca-
Nesse modelo de guarda, cada um dos genitores terá tio legis instituída no artigo 2º, a lei somente entrou em
a possibilidade de ter sobre sua guarda o menor ou ado- vigor no país 60 (sessenta) dias após a sua publicação, ou
lescente de forma alternada e exclusiva, ou seja, o casal seja, em 16 de agosto de 2008 (vide anexo).
determinará o período em que o menor ficará com o pai A nova lei trás em seu bojo o conceito de guarda
ou com a mãe, existindo dessa forma sempre uma alter- compartilhada nos seguintes termos: “compreende-se
nância na guarda jurídica do menor. O período em que a por [...] guarda compartilhada a responsabilização con-
guarda ficará com o pai ou com a mãe na guarda alter- junta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe
nada, poderá ser de um dia, uma semana, uma parte da que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao po-
semana, um mês, um ano, ou até mais, dependendo do der familiar dos filhos comuns”.
acordo dos genitores, sendo que, ao término desse pe- Assim, de acordo com o novo diploma legal, pode-se
ríodo, os papéis se invertem. Os direitos e deveres deste verificar que na guarda compartilhada os pais terão os
modelo de guarda ficarão sempre com o cônjuge que mesmos direitos e deveres com relação ao filho, ou seja,
estiver com a guarda do menor, cabendo ao outro os as tarefas serão divididas de forma igualitária, não sobre-
direitos inerentes do não guardião, ou seja, o de visita e carregando somente um dos genitores.
o de fiscalização26.
Subseção III
d) Guarda Dividida Da Tutela
Na guarda dividida, são os próprios pais que contes-
tam e procuram novos meios de garantir uma maior par- Art. 36.  A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a
ticipação na vida da prole, pois neste modelo o menor pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. 
vive em um lar fixo e determinado e recebe periodica- Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe
mente a visita do pai ou da mãe que não tem a guarda. a prévia decretação da perda ou suspensão do poder
Na guarda dividida o filho tem um lar fixo e recebe familiar e implica necessariamente o dever de guarda.
nele a visita de ambos os genitores em tempos diferen-
tes, sendo que a guarda é exercida por aquele que estiver Art. 37.  O tutor nomeado por testamento ou qualquer
com a criança, o que é diferente da guarda unilateral, documento autêntico, conforme previsto no parágrafo
pois nela a guarda é de um dos genitores e o infante único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro
vai, em dias determinados, receber a visita do outro não de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta)
guardião. dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedi-
do destinado ao controle judicial do ato, observando
e) Guarda por Aninhamento ou Nidação o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. 
A guarda por aninhamento, conhecida também como Parágrafo único.  Na apreciação do pedido, serão ob-
guarda por nidação, ocorre quando a prole possui um lar servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta
fixo e os pais se revezam, mudando-se para a casa do(s) Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada
filho(s) em períodos alternados de tempo, para conviver na disposição de última vontade, se restar comprova-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e atender as suas necessidades. Basicamente, os pais se do que a medida é vantajosa ao tutelando e que não
revezam na residência do filho. existe outra pessoa em melhores condições de assu-
mi-la. 
f) Guarda Compartilhada
Considerando a evolução da família, especialmente a Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no
da mulher na sociedade, bem como o grande número de art. 24.
separações ocorridas nos últimos anos, o ordenamento A tutela é forma de colocação de criança e adolescen-
te em família substituta. Pressupõe, ao contrário da guar-
26 COSTA, Luiz Jorge Valente Pontes. Guarda Conjunta: em busca da, a prévia destituição ou suspensão do poder familiar
do maior interesse do menor. Disponível em: <http://jus.uol.com.
br/revista/texto/13965/guarda-conjunta-em-busca-do-maior-inte- 27 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um Avanço
resse-do-menor/2>. Acesso em: 16 out. 2010. para a Família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

199
dos pais (família natural). Visa essencialmente a suprir sitas e desde que o estágio de convivência tenha sido
carência de representação legal, assumindo o tutor tal iniciado na constância do período de convivência e
munus na ausência dos genitores. Na hipótese de os pais que seja comprovada a existência de vínculos de afini-
serem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos dade e afetividade com aquele não detentor da guar-
do poder familiar, ou houverem aderido expressamente da, que justifiquem a excepcionalidade da concessão.  
ao pedido de colocação em família substituta, este po- § 5o  Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demons-
derá ser formulado diretamente em cartório, em petição trado efetivo benefício ao adotando, será assegurada
assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assis- a guarda compartilhada, conforme previsto no art.
tência por advogado (art. 166, ECA). Em outras circuns- 1.584 da Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Có-
tâncias, deve passar pelo crivo do Judiciário. digo Civil. 
§ 6o  A adoção poderá ser deferida ao adotante que,
Subseção IV após inequívoca manifestação de vontade, vier a fa-
Da Adoção lecer no curso do procedimento, antes de prolatada a
sentença.
A disciplina do ECA a respeito da adoção também se
divide em dois blocos, um voltado a aspectos materiais, Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar
do artigo 39 ao 52-D, e outro voltado a aspectos proce- reais vantagens para o adotando e fundar-se em mo-
dimentais, notadamente no que se refere à habilitação tivos legítimos.
para a adoção, do artigo 197-A a 197-D.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger- e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador
-se-á segundo o disposto nesta Lei. adotar o pupilo ou o curatelado.
§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à
qual se deve recorrer apenas quando esgotados os re- Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais
cursos de manutenção da criança ou adolescente na ou do representante legal do adotando.
família natural ou extensa, na forma do parágrafo § 1º O consentimento será dispensado em relação à
único do art. 25 desta Lei.  criança ou adolescente cujos pais sejam desconheci-
§ 2o É vedada a adoção por procuração.  dos ou tenham sido destituídos do poder familiar.
§ 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do § 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais bio- de idade, será também necessário o seu consentimen-
lógicos, devem prevalecer os direitos e os interesses do to.
adotando.
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de con-
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de- vivência com a criança ou adolescente, pelo prazo
zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a máximo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da
guarda ou tutela dos adotantes. criança ou adolescente e as peculiaridades do caso.
§ 1o  O estágio de convivência poderá ser dispensado
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao ado- se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal
tado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive su- do adotante durante tempo suficiente para que seja
cessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e possível avaliar a conveniência da constituição do vín-
parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. culo. 
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho § 2o  A simples guarda de fato não autoriza, por si só,
do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o a dispensa da realização do estágio de convivência.  
adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os § 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput des-
respectivos parentes. te artigo pode ser prorrogado por até igual período,
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, mediante decisão fundamentada da autoridade judi-
seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, des- ciária.
cendentes e colaterais até o 4º grau, observada a or- § 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente
dem de vocação hereditária. ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência
será de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45
Art. 42.  Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) (quarenta e cinco) dias, prorrogável por até igual pe-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

anos, independentemente do estado civil.  ríodo, uma única vez, mediante decisão fundamenta-
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos da da autoridade judiciária.
do adotando. § 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste arti-
§ 2o  Para adoção conjunta, é indispensável que os go, deverá ser apresentado laudo fundamentado pela
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham equipe mencionada no § 4o deste artigo, que recomen-
união estável, comprovada a estabilidade da família.  dará ou não o deferimento da adoção à autoridade
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos judiciária.
mais velho do que o adotando. § 4o O estágio de convivência será acompanhado pela
§ 4o  Os divorciados, os judicialmente separados e os equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infân-
ex-companheiros podem adotar conjuntamente, con- cia e da Juventude, preferencialmente com apoio dos
tanto que acordem sobre a guarda e o regime de vi- técnicos responsáveis pela execução da política de ga-

200
rantia do direito à convivência familiar, que apresen- § 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia
tarão relatório minucioso acerca da conveniência do consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Mi-
deferimento da medida. nistério Público.
§ 5o O estágio de convivência será cumprido no terri- § 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não
tório nacional, preferencialmente na comarca de resi- satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer
dência da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, das hipóteses previstas no art. 29.
em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, § 3o  A inscrição de postulantes à adoção será precedi-
a competência do juízo da comarca de residência da da de um período de preparação psicossocial e jurídi-
criança. ca, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infân-
cia e da Juventude, preferencialmente com apoio dos
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por senten- técnicos responsáveis pela execução da política mu-
ça judicial, que será inscrita no registro civil mediante nicipal de garantia do direito à convivência familiar. 
mandado do qual não se fornecerá certidão. § 4o  Sempre que possível e recomendável, a prepara-
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes ção referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com
como pais, bem como o nome de seus ascendentes. crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancela- institucional em condições de serem adotados, a ser
rá o registro original do adotado. realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da
§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude,
lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa
sua residência. de acolhimento e pela execução da política municipal
§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po- de garantia do direito à convivência familiar. 
derá constar nas certidões do registro.   § 5o  Serão criados e implementados cadastros esta-
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do ado- duais e nacional de crianças e adolescentes em condi-
tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determi- ções de serem adotados e de pessoas ou casais habili-
nar a modificação do prenome.   tados à adoção. 
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida § 6o  Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, ob- residentes fora do País, que somente serão consulta-
servado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.   dos na inexistência de postulantes nacionais habilita-
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito dos nos cadastros mencionados no § 5o deste artigo. 
em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipó- § 7o  As autoridades estaduais e federais em matéria
tese prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que de adoção terão acesso integral aos cadastros, incum-
terá força retroativa à data do óbito.  bindo-lhes a troca de informações e a cooperação mú-
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a tua, para melhoria do sistema. 
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitin- § 8o  A autoridade judiciária providenciará, no prazo
do-se seu armazenamento em microfilme ou por ou- de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crian-
tros meios, garantida a sua conservação para consulta ças e adolescentes em condições de serem adotados
a qualquer tempo.  que não tiveram colocação familiar na comarca de
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferi-
adoção em que o adotando for criança ou adolescente da sua habilitação à adoção nos cadastros estadual
com deficiência ou com doença crônica. e nacional referidos no § 5o deste artigo, sob pena de
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de ado- responsabilidade. 
ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma § 9o  Compete à Autoridade Central Estadual zelar
única vez por igual período, mediante decisão funda- pela manutenção e correta alimentação dos cadas-
mentada da autoridade judiciária. tros, com posterior comunicação à Autoridade Central
Federal Brasileira. 
Art. 48.  O adotado tem direito de conhecer sua ori- § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência
gem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao de pretendentes habilitados residentes no País com
processo no qual a medida foi aplicada e seus even- perfil compatível e interesse manifesto pela adoção de
tuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.  criança ou adolescente inscrito nos cadastros existen-
Parágrafo único.  O acesso ao processo de adoção po- tes, será realizado o encaminhamento da criança ou
derá ser também deferido ao adotado menor de 18 adolescente à adoção internacional.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e § 11.  Enquanto não localizada pessoa ou casal inte-
assistência jurídica e psicológica.  ressado em sua adoção, a criança ou o adolescente,
sempre que possível e recomendável, será colocado
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o po- sob guarda de família cadastrada em programa de
der familiar dos pais naturais.  acolhimento familiar. 
§ 12.  A alimentação do cadastro e a convocação crite-
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co- riosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
marca ou foro regional, um registro de crianças e ado- Ministério Público. 
lescentes em condições de serem adotados e outro de § 13.  Somente poderá ser deferida adoção em favor
pessoas interessadas na adoção.   de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado
previamente nos termos desta Lei quando: 

201
I - se tratar de pedido de adoção unilateral;  II - se a Autoridade Central do país de acolhida con-
II - for formulada por parente com o qual a criança siderar que os solicitantes estão habilitados e aptos
ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afe- para adotar, emitirá um relatório que contenha in-
tividade;  formações sobre a identidade, a capacidade jurídica
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guar- e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação
da legal de criança maior de 3 (três) anos ou ado- pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos
lescente, desde que o lapso de tempo de convivência que os animam e sua aptidão para assumir uma ado-
comprove a fixação de laços de afinidade e afetivida- ção internacional; 
de, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará
qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 o relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia
desta Lei.  para a Autoridade Central Federal Brasileira; 
§ 14.  Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o IV - o relatório será instruído com toda a documen-
candidato deverá comprovar, no curso do procedimen- tação necessária, incluindo estudo psicossocial elabo-
to, que preenche os requisitos necessários à adoção, rado por equipe interprofissional habilitada e cópia
conforme previsto nesta Lei.  autenticada da legislação pertinente, acompanhada
§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pes- da respectiva prova de vigência; 
soas interessadas em adotar criança ou adolescente V - os documentos em língua estrangeira serão de-
com deficiência, com doença crônica ou com necessi- vidamente autenticados pela autoridade consular,
dades específicas de saúde, além de grupo de irmãos. observados os tratados e convenções internacionais,
e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela público juramentado; 
na qual o pretendente possui residência habitual em VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exi-
país-parte da Convenção de Haia, de 29 de maio de gências e solicitar complementação sobre o estudo
1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Coopera- psicossocial do postulante estrangeiro à adoção, já
ção em Matéria de Adoção Internacional, promulgada realizado no país de acolhida; 
pelo Decreto no 3.087, de 21 junho de 1999, e deseja VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade
adotar criança em outro país-parte da Convenção. Central Estadual, a compatibilidade da legislação es-
§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescente trangeira com a nacional, além do preenchimento por
brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar parte dos postulantes à medida dos requisitos objeti-
quando restar comprovado: vos e subjetivos necessários ao seu deferimento, tanto
I - que a colocação em família adotiva é a solução à luz do que dispõe esta Lei como da legislação do país
adequada ao caso concreto; de acolhida, será expedido laudo de habilitação à ado-
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de co- ção internacional, que terá validade por, no máximo,
locação da criança ou adolescente em família adotiva 1 (um) ano; 
brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado
da inexistência de adotantes habilitados residentes no será autorizado a formalizar pedido de adoção peran-
Brasil com perfil compatível com a criança ou adoles- te o Juízo da Infância e da Juventude do local em que
cente, após consulta aos cadastros mencionados nesta se encontra a criança ou adolescente, conforme indi-
Lei; cação efetuada pela Autoridade Central Estadual. 
III - que, em se tratando de adoção de adolescente, § 1o  Se a legislação do país de acolhida assim o au-
este foi consultado, por meios adequados ao seu está- torizar, admite-se que os pedidos de habilitação à
gio de desenvolvimento, e que se encontra preparado adoção internacional sejam intermediados por orga-
para a medida, mediante parecer elaborado por equi- nismos credenciados. 
pe interprofissional, observado o disposto nos §§ 1o e § 2o  Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira
2o do art. 28 desta Lei.  o credenciamento de organismos nacionais e estran-
§ 2o  Os brasileiros residentes no exterior terão prefe- geiros encarregados de intermediar pedidos de habili-
rência aos estrangeiros, nos casos de adoção interna- tação à adoção internacional, com posterior comuni-
cional de criança ou adolescente brasileiro.  cação às Autoridades Centrais Estaduais e publicação
§ 3o  A adoção internacional pressupõe a intervenção nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio próprio da
das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em ma- internet. 
téria de adoção internacional. 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

§ 3o  Somente será admissível o credenciamento de


organismos que: 
Art. 52.  A adoção internacional observará o procedi- I - sejam oriundos de países que ratificaram a Conven-
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as ção de Haia e estejam devidamente credenciados pela
seguintes adaptações:  Autoridade Central do país onde estiverem sediados e
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em ado- no país de acolhida do adotando para atuar em ado-
tar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular ção internacional no Brasil; 
pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade II - satisfizerem as condições de integridade moral,
Central em matéria de adoção internacional no país competência profissional, experiência e responsabili-
de acolhida, assim entendido aquele onde está situada dade exigidas pelos países respectivos e pela Autori-
sua residência habitual;  dade Central Federal Brasileira; 

202
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua digital do seu polegar direito, instruindo o documento
formação e experiência para atuar na área de adoção com cópia autenticada da decisão e certidão de trân-
internacional;  sito em julgado. 
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordena- § 10.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá,
mento jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas a qualquer momento, solicitar informações sobre a si-
pela Autoridade Central Federal Brasileira.  tuação das crianças e adolescentes adotados. 
§ 4o  Os organismos credenciados deverão ainda:  § 11.  A cobrança de valores por parte dos organis-
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas con- mos credenciados, que sejam considerados abusivos
dições e dentro dos limites fixados pelas autoridades pela Autoridade Central Federal Brasileira e que não
competentes do país onde estiverem sediados, do país estejam devidamente comprovados, é causa de seu
de acolhida e pela Autoridade Central Federal Brasi- descredenciamento. 
leira;  § 12.  Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem
II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifi- ser representados por mais de uma entidade creden-
cadas e de reconhecida idoneidade moral, com com- ciada para atuar na cooperação em adoção interna-
provada formação ou experiência para atuar na área cional. 
de adoção internacional, cadastradas pelo Departa- § 13.  A habilitação de postulante estrangeiro ou do-
mento de Polícia Federal e aprovadas pela Autorida- miciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1
de Central Federal Brasileira, mediante publicação de (um) ano, podendo ser renovada. 
portaria do órgão federal competente;  § 14.  É vedado o contato direto de representantes de
III - estar submetidos à supervisão das autoridades organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com
competentes do país onde estiverem sediados e no dirigentes de programas de acolhimento institucional
país de acolhida, inclusive quanto à sua composição, ou familiar, assim como com crianças e adolescentes
funcionamento e situação financeira;  em condições de serem adotados, sem a devida auto-
IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasilei- rização judicial. 
§ 15.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá
ra, a cada ano, relatório geral das atividades desen-
limitar ou suspender a concessão de novos credencia-
volvidas, bem como relatório de acompanhamento
mentos sempre que julgar necessário, mediante ato
das adoções internacionais efetuadas no período, cuja
administrativo fundamentado. 
cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia
Federal; 
Art. 52-A.  É vedado, sob pena de responsabilidade e
V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Au-
descredenciamento, o repasse de recursos provenien-
toridade Central Estadual, com cópia para a Autori-
tes de organismos estrangeiros encarregados de inter-
dade Central Federal Brasileira, pelo período mínimo
mediar pedidos de adoção internacional a organismos
de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido nacionais ou a pessoas físicas. 
até a juntada de cópia autenticada do registro civil, Parágrafo único.  Eventuais repasses somente pode-
estabelecendo a cidadania do país de acolhida para rão ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança
o adotado;  e do Adolescente e estarão sujeitos às deliberações do
VI - tomar as medidas necessárias para garantir que respectivo Conselho de Direitos da Criança e do Ado-
os adotantes encaminhem à Autoridade Central Fe- lescente. 
deral Brasileira cópia da certidão de registro de nas-
cimento estrangeira e do certificado de nacionalidade Art. 52-B.  A adoção por brasileiro residente no exte-
tão logo lhes sejam concedidos.  rior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo
§ 5o  A não apresentação dos relatórios referidos no processo de adoção tenha sido processado em confor-
§ 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá midade com a legislação vigente no país de residência
acarretar a suspensão de seu credenciamento.  e atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da
§ 6o  O credenciamento de organismo nacional ou es- referida Convenção, será automaticamente recepcio-
trangeiro encarregado de intermediar pedidos de ado- nada com o reingresso no Brasil. 
ção internacional terá validade de 2 (dois) anos.  § 1o  Caso não tenha sido atendido o disposto na Alí-
§ 7o  A renovação do credenciamento poderá ser con- nea “c”  do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá
cedida mediante requerimento protocolado na Auto- a sentença ser homologada pelo Superior Tribunal de
ridade Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias Justiça.  
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

anteriores ao término do respectivo prazo de validade.  § 2o  O pretendente brasileiro residente no exterior em
§ 8o  Antes de transitada em julgado a decisão que país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez
concedeu a adoção internacional, não será permitida reingressado no Brasil, deverá requerer a homologa-
a saída do adotando do território nacional. ção da sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de
§ 9o  Transitada em julgado a decisão, a autoridade Justiça. 
judiciária determinará a expedição de alvará com
autorização de viagem, bem como para obtenção de Art. 52-C.  Nas adoções internacionais, quando o
passaporte, constando, obrigatoriamente, as carac- Brasil for o país de acolhida, a decisão da autorida-
terísticas da criança ou adolescente adotado, como de competente do país de origem da criança ou do
idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, adolescente será conhecida pela Autoridade Central
assim como foto recente e a aposição da impressão Estadual que tiver processado o pedido de habilitação

203
dos pais adotivos, que comunicará o fato à Autorida- sal ou pessoa que deseja adotar, mais da família onde o
de Central Federal e determinará as providências ne- menor vai residir e ter sua formação os documentos pes-
cessárias à expedição do Certificado de Naturalização soais como cópias de certidão de nascimento (quando
Provisório.   solteiros), de certidão de casamento (quando casados),
§ 1o  A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministé- cópias de declaração de período de união estável, Cópias
rio Público, somente deixará de reconhecer os efeitos de Certidão de identidade (RG), Comprovante da renda
daquela decisão se restar demonstrado que a adoção da pessoa ou casal, comprovante que demostre que as
é manifestamente contrária à ordem pública ou não condições vão suprir a necessidade de se incluir mais um
atende ao interesse superior da criança ou do ado- membro naquele lar, comprovante de moradia em que
lescente.  prove a pessoa ter sua residência que acolherá o novo
§ 2o  Na hipótese de não reconhecimento da adoção, integrante.
prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público de- O interessado em adotar deve juntar atestados de
verá imediatamente requerer o que for de direito para saúde física onde a pessoa vai demonstrar ser capaz de
resguardar os interesses da criança ou do adolescente, cuidar e garantir uma boa vida para o adotando e atesta-
comunicando-se as providências à Autoridade Central do de saúde mental, comprovando que a pessoa é capaz
Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Cen- legalmente.
tral Federal Brasileira e à Autoridade Central do país Nos aspectos judiciais inerentes ao caso devem ser
de origem.  juntados Certidão de antecedentes criminais, que de-
mostra conduta legal do indivíduo perante a sociedade,
Art. 52-D.  Nas adoções internacionais, quando o Bra- Certidão negativa de distribuição civil, além da manifes-
sil for o país de acolhida e a adoção não tenha sido tação do M.P (Ministério Público) apresentando quesi-
deferida no país de origem porque a sua legislação a tos a serem respondidos pela equipe interdisciplinar,
delega ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, designação de audiência para oitiva de testemunhas e
mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser requerentes, solicitar juntada de documentos comple-
oriundo de país que não tenha aderido à Convenção mentares que sejam necessários. Deve ser obrigatório o
referida, o processo de adoção seguirá as regras da estudo psicossocial onde se testa a capacidade dos in-
adoção nacional.  divíduos para se tornarem pai ou mãe, o de incluir mais
A adoção no Código Civil de 1916 era tratada em seu um membro junto aos filhos já existente. Os programas
capítulo V. A adoção seguia um critério de ter um filho de capacitação também devem ser aderido a este siste-
para que a família tivesse sucessão e para configurar a ma, levando esclarecimentos aos pretendentes a adoção
família da época que só tinha uma configuração costu- além, de manter contato com a criança em regime de
meira se houvesse pai, mãe e filhos. A idade de 30 (trinta) acolhimento familiar.
anos para que as pessoas pudessem não se arrepender Sendo os adotantes inscritos são chamados por or-
do feito. Quando se falava do casamento criava-se o cri- dem cronológica de acordo com a habilitação, e que só
tério de que tenha se passado 05 (cinco) anos de matri- poderá ser dispensada se for pelo melhor interesse do
mônio para que o casal possa adotar, pois o ideal era que adotando.
os filhos fossem consanguíneos. A adoção poderia se
dissolver por vontade das partes. Caso houvessem filhos Os seguintes princípios e diretrizes devem guiar a de-
naturais reconhecidos ou legitimados os filhos adotivos cisão pela adoção:
não participavam da sucessão além de não se desfazer o - Condição da criança e do adolescente como ser de
vínculo com os parentes naturais, somente no que dizia direitos: As crianças são detentoras de direitos pre-
respeito ao pátrio poder. vistos na lei 8.069/90 e na Constituição Federal de
Houve um grande salto no que concerne a adoção 1988;
que foi a letra trazida pela Constituição Federal de 1988 - Proteção integral e prioritária: Toda e qualquer nor-
em seu artigo 227 e com o ECA, que versa sobre todas as ma contida dentro da lei 8.069/90 deve ser voltada
garantias constitucionais e no que tange a adoção vem a proteção integral dos interesses do menor;
dos artigos 39 ao 52-D falando sobre a regularização da - Responsabilidade primária e solidaria do poder pú-
adoção e traz como princípio basilar o melhor interesse blico: tanto nos casos ressalvados pelo E.C.A (Es-
da criança, além de ter como fundamento o afeto de pai tatuto da Criança e do Adolescente) quanto nos
para filho sem que haja qualquer diferenciação para com casos que a CF/88 (Constituição Federal de 1988)
os filhos biológicos. e demais objetos legais específicos, é, dever dos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Ainda no que concerne a adoção, foi criada para dar três poderes atuarem no que for necessário para a
efetividade ao ECA a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de proteção do menor;
2009, que tem o intuito de alterar o direito à convivên- - Interesse superior da criança e do adolescente: me-
cia familiar mostrando com clareza como deve ocorrer a diante a necessidade da intervenção estatal é ne-
adoção. cessário que se dê privilégio ao interesse do que
Para ser candidato a adoção deve ter cumprido uma for melhor para a criança e/ou adolescente. O pri-
série de requisitos para se tornar hábil, estes requisitos meiro interesse a ser observado é o que trouxer
são elencados na lei. O primeiro deles é a qualificação melhor benefício a estes;
completa: da pessoa que deseja adotar ou das pessoas - Privacidade: A promoção dos direitos deve ser sem-
que desejam no caso de casais juntamente com os dados pre feita respeitando a privação e o direito da ima-
familiares, dados que vão completar não só a ficha do ca- gem, a sua vida privada e a intimidade;

204
- Intervenção precoce: Ao primeiro sinal de perigo e Capítulo IV
risco ao menor, o Estado deve intervir para reverter Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao
a situação presente; Lazer
- Intervenção mínima;
- Proporcionalidade e atualidade: Ser a atitude toma- Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educa-
da de acordo com a proporção de perigo existen- ção, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
te no momento, evitando e revertendo o risco de preparo para o exercício da cidadania e qualificação
morte; para o trabalho, assegurando-se-lhes:
- Responsabilidade parental: a intervenção deve ser a I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
princípio para que os pais tomem responsabilida- cia na escola;
de sobre seus filhos; II - direito de ser respeitado por seus educadores;
- Prevalência da família: Primeiro se dará a preferência III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
a família natural para que a criança continue com recorrer às instâncias escolares superiores;
seus pais depois a preferência vai ser da família IV - direito de organização e participação em entida-
contínua (família natural a primeira e extensa a se- des estudantis;
gunda), em último caso a criança/adolescente vai V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua
ser direcionada a família substituta. residência, garantindo-se vagas no mesmo estabele-
- Obrigatoriedade da informação: respeitando o está- cimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou
gio de desenvolvimento e compreensão da criança ciclo de ensino da educação básica.
ou adolescente, além de seus pais e responsáveis
devem ser informados o motivo em que se dá a Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
intervenção e como esta se processou; ciência do processo pedagógico, bem como participar
- Oitiva obrigatória e participação: a criança ou ado- da definição das propostas educacionais.
lescente separados ou na companhia de seus pais,
responsáveis ou pessoas por ela indicados; bem Art. 53-A. É dever da instituição de ensino, clubes e
como seus pais e responsáveis, tem o direito de agremiações recreativas e de estabelecimentos con-
gêneres assegurar medidas de conscientização, pre-
serem ouvidas e sua opinião deve ser considerada
venção e enfrentamento ao uso ou dependência de
pelas autoridades do judiciário.
drogas ilícitas. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
- Afastamento da criança e do adolescente do con-
vívio familiar: É um processo contencioso que im-
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao
portara aos pais o direito do contraditório e da
adolescente:
ampla defesa, este procedimento é de competên-
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclu-
cia do judiciário (procedimento judicial) artigo 28
sive para os que a ele não tiveram acesso na idade
§§ 1° e 2° do E.C.A; própria;
- Acolhimento familiar: medida de proteção criada II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratui-
para o amparo da criança até que seja resolvida a dade ao ensino médio;
situação; III - atendimento educacional especializado aos por-
- Guia de acolhimento: será elaborado pelo poder Ju- tadores de deficiência, preferencialmente na rede re-
diciário um guia para encaminhar à criança a en- gular de ensino;
tidade de acolhimento (guia deve conter a causa IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças
da retirada e permanência do menor fora da sua de zero a cinco anos de idade;
família natural além de todos os dados) V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
- Plano individual de atendimento: cada criança vai quisa e da criação artística, segundo a capacidade de
ter um plano a ser desenvolvido visando sua adap- cada um;
tação a nova família; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
- Destituição do poder familiar: Promovida pelo M.P condições do adolescente trabalhador;
(Ministério público) sendo para isto necessário VII - atendimento no ensino fundamental, através de
prévio aviso a entidade de acolhimento familiar, programas suplementares de material didático-esco-
ou, responsáveis pela execução da política muni- lar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
cipal de garantia do direito a convivência familiar. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
- Cadastro de crianças a adolescentes à regime insti- público subjetivo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tucional e familiar: é um cadastro para crianças e § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
adolescentes que necessitem de acolhimento fa- poder público ou sua oferta irregular importa respon-
miliar ou institucional devido a algum registro de sabilidade da autoridade competente.
maus tratos. § 3º Compete ao poder público recensear os educan-
A Lei no 13.509 de 22 de novembro de 2017 surgiu dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e
com o propósito de maximizar a efetividade das disposi- zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência
ções do ECA, inclusive no âmbito da adoção, possuindo a à escola.
peculiaridade de ser mais rigorosa no que tange ao cum-
primento de prazos para maior celeridade do processo. Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino.

205
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino II - atividade compatível com o desenvolvimento do
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os ca- adolescente;
sos de: III - horário especial para o exercício das atividades.
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; Aquele que trabalha na condição de menor aprendiz
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão esco- é obrigado a frequentar a escola, devendo ser facilitadas
lar, esgotados os recursos escolares; as condições para que o faça, notadamente pelo estabe-
III - elevados níveis de repetência. lecimento de horário especial de trabalho. Além disso, a
atividade laboral deve ser compatível com as atividades
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, expe- de ensino, até mesmo por se tratar de ensino técnico-
riências e novas propostas relativas a calendário, se- -profissionalizante.
riação, currículo, metodologia, didática e avaliação, Ex.: um jovem pode trabalhar no período matutino,
com vistas à inserção de crianças e adolescentes ex- frequentar o SENAI na parte da tarde e ir ao colégio no
cluídos do ensino fundamental obrigatório. ensino médio noturno.

Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
valores culturais, artísticos e históricos próprios do assegurada bolsa de aprendizagem.
contexto social da criança e do adolescente, garan- Toda criança e adolescente que necessitar receberá fo-
tindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às mento para que não se desvincule das atividades de
fontes de cultura. ensino. Trata-se de incentivo àquele que sem auxílio
acabaria entrando em situação irregular e trabalhan-
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da do.
União, estimularão e facilitarão a destinação de recur-
sos e espaços para programações culturais, esportivas Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze
e de lazer voltadas para a infância e a juventude. anos, são assegurados os direitos trabalhistas e pre-
videnciários.
Uma vez que o adolescente está autorizado a traba-
Capítulo V
lhar, mesmo que na condição de menor aprendiz, pos-
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Tra-
sui direitos trabalhistas e previdenciários.
balho
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é asse-
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de
gurado trabalho protegido.
quatorze anos de idade, salvo na condição de apren-
O adolescente que possui deficiência não pode ser
diz.  exposto a uma situação de risco em decorrência da
Preconiza o artigo 7º, XXXIII, CF a “proibição de tra- atividade laboral.
balho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezes- Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em re-
seis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de gime familiar de trabalho, aluno de escola técnica,
quatorze anos”. assistido em entidade governamental ou não-gover-
Portanto, em decorrência da própria norma constitu- namental, é vedado trabalho:
cional, nenhuma criança ou adolescente pode trabalhar I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de
antes dos 14 anos de idade. Evidentemente que há algu- um dia e as cinco horas do dia seguinte;
mas exceções a esta regra, devidamente fiscalizadas pelo II - perigoso, insalubre ou penoso;
Conselho Tutelar, como é o caso dos artistas mirins. III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e
Entre 14 anos e 16 anos de idade somente será pos- ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
sível o trabalho na condição de menor aprendiz, cuja IV - realizado em horários e locais que não permitam
natureza é de ensino técnico-profissional, viabilizando a a frequência à escola.
futura inserção do adolescente no mercado de trabalho. O menor aprendiz está proibido de trabalhar no pe-
A partir dos 16 anos, o menor pode trabalhar, mas ríodo noturno, em trabalho que o coloque exposto a
não no período noturno ou em condições de periculosi- periculosidade (ex.: em andaimes, em áreas com risco
dade e insalubridade. de incêndio ou choques), insalubridade (ex.: em free-
zers de frigoríficos, expostos a radiação) ou penosida-
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re- de (ex.: excesso de força física exigida).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

gulada por legislação especial, sem prejuízo do dis-


posto nesta Lei. Art. 68. O programa social que tenha por base o tra-
balho educativo, sob responsabilidade de entidade
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação téc- governamental ou não-governamental sem fins lu-
nico-profissional ministrada segundo as diretrizes e crativos, deverá assegurar ao adolescente que dele
bases da legislação de educação em vigor. participe condições de capacitação para o exercício de
atividade regular remunerada.
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade la-
seguintes princípios: boral em que as exigências pedagógicas relativas ao
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en- desenvolvimento pessoal e social do educando preva-
sino regular; lecem sobre o aspecto produtivo.

206
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra- IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução
balho efetuado ou a participação na venda dos produ- pacífica de conflitos que envolvam violência contra a
tos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo. criança e o adolescente;
Os programas sociais voltados à capacitação dos ado- V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que vi-
lescentes devem sempre ter por objetivo educá-lo para sem a garantir os direitos da criança e do adolescente,
que ele adquira condições de inserir-se no mercado desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos
de trabalho. Deve ser ensinado, logo, dele não se deve pais e responsáveis com o objetivo de promover a in-
cobrar tanta produtividade, mas sim deve ser avaliado formação, a reflexão, o debate e a orientação sobre
pelo seu aprendizado. O fato do trabalho ser remune- alternativas ao uso de castigo físico ou de tratamento
rado não desvirtua este propósito. cruel ou degradante no processo educativo;
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização a articulação de ações e a elaboração de planos de
e à proteção no trabalho, observados os seguintes as- atuação conjunta focados nas famílias em situação de
pectos, entre outros: violência, com participação de profissionais de saúde,
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen- de assistência social e de educação e de órgãos de pro-
volvimento; moção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
II - capacitação profissional adequada ao mercado de adolescente.
trabalho. Parágrafo único.  As famílias com crianças e adoles-
Com efeito, profissionalização e proteção no traba- centes com deficiência terão prioridade de atendi-
lho são direitos fundamentais garantidos ao adolescente, mento nas ações e políticas públicas de prevenção e
exigindo-se neste campo que sua condição peculiar ine- proteção.
rente ao processo de aprendizado seja respeitada e que
o trabalho sirva para permitir a sua inserção no mercado Art. 70-B.  As entidades, públicas e privadas, que
de trabalho. atuem nas áreas a que se refere o art. 71, dentre ou-
tras, devem contar, em seus quadros, com pessoas
Título III capacitadas a reconhecer e comunicar ao Conselho
Da Prevenção Tutelar suspeitas ou casos de maus-tratos praticados
contra crianças e adolescentes.
Capítulo I
Parágrafo único.   São igualmente responsáveis pela
Disposições Gerais
comunicação de que trata este artigo, as pessoas en-
carregadas, por razão de cargo, função, ofício, minis-
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de
tério, profissão ou ocupação, do cuidado, assistência
ameaça ou violação dos direitos da criança e do ado-
ou guarda de crianças e adolescentes, punível, na
lescente.
forma deste Estatuto, o injustificado retardamento ou
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os omissão, culposos ou dolosos. 
Municípios deverão atuar de forma articulada na ela-
boração de políticas públicas e na execução de ações Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor-
destinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tra- mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos
tamento cruel ou degradante e difundir formas não e produtos e serviços que respeitem sua condição pe-
violentas de educação de crianças e de adolescentes, culiar de pessoa em desenvolvimento.
tendo como principais ações:
I - a promoção de campanhas educativas permanen- Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem
tes para a divulgação do direito da criança e do ado- da prevenção especial outras decorrentes dos princí-
lescente de serem educados e cuidados sem o uso de pios por ela adotados.
castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im-
dos instrumentos de proteção aos direitos humanos; portará em responsabilidade da pessoa física ou jurí-
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, dica, nos termos desta Lei.
do Ministério Público e da Defensoria Pública, com
o Conselho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Capítulo II
Criança e do Adolescente e com as entidades não go- Da Prevenção Especial
vernamentais que atuam na promoção, proteção e de-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

fesa dos direitos da criança e do adolescente; Seção I


III - a formação continuada e a capacitação dos pro- Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões
fissionais de saúde, educação e assistência social e dos e Espetáculos
demais agentes que atuam na promoção, proteção e
defesa dos direitos da criança e do adolescente para o Art. 74. O poder público, através do órgão competen-
desenvolvimento das competências necessárias à pre- te, regulará as diversões e espetáculos públicos, in-
venção, à identificação de evidências, ao diagnóstico formando sobre a natureza deles, as faixas etárias a
e ao enfrentamento de todas as formas de violência que não se recomendem, locais e horários em que sua
contra a criança e o adolescente; apresentação se mostre inadequada.

207
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e es- IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles
petáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de
fácil acesso, à entrada do local de exibição, informa- provocar qualquer dano físico em caso de utilização
ção destacada sobre a natureza do espetáculo e a fai- indevida;
xa etária especificada no certificado de classificação. V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às di-
versões e espetáculos públicos classificados como ade- Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado-
quados à sua faixa etária. lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos so- congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pe-
mente poderão ingressar e permanecer nos locais de los pais ou responsável.
apresentação ou exibição quando acompanhadas dos
pais ou responsável. Seção III
Da Autorização para Viajar
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exi-
birão, no horário recomendado para o público infanto Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de
juvenil, programas com finalidades educativas, artísti- 16 (dezesseis) anos poderá viajar para fora da comar-
cas, culturais e informativas. ca onde reside desacompanhado dos pais ou dos res-
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresenta- ponsáveis sem expressa autorização judicial. (Redação
do ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
de sua transmissão, apresentação ou exibição. § 1º A autorização não será exigida quando:
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da
Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcio- criança ou do adolescente menor de 16 (dezesseis)
nários de empresas que explorem a venda ou aluguel anos, se na mesma unidade da Federação, ou incluída
de fitas de programação em vídeo cuidarão para que na mesma região metropolitana; (Redação dada pela
não haja venda ou locação em desacordo com a clas- Lei nº 13.812, de 2019)
sificação atribuída pelo órgão competente. b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis)
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deve- anos estiver acompanhado: (Redação dada pela Lei nº
rão exibir, no invólucro, informação sobre a natureza 13.812, de 2019)
da obra e a faixa etária a que se destinam. 1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro
grau, comprovado documentalmente o parentesco;
Art. 78. As revistas e publicações contendo material
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo
impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes
pai, mãe ou responsável.
deverão ser comercializadas em embalagem lacrada,
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou
com a advertência de seu conteúdo.
responsável, conceder autorização válida por dois anos.
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as ca-
pas que contenham mensagens pornográficas ou obs-
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a au-
cenas sejam protegidas com embalagem opaca.
torização é dispensável, se a criança ou adolescente:
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público I - estiver acompanhado de ambos os pais ou respon-
infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, foto- sável;
grafias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas al- II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado
coólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respei- expressamente pelo outro através de documento com
tar os valores éticos e sociais da pessoa e da família. firma reconhecida.

Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que ex- Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne-
plorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere nhuma criança ou adolescente nascido em território
ou por casas de jogos, assim entendidas as que reali- nacional poderá sair do País em companhia de estran-
zem apostas, ainda que eventualmente, cuidarão para geiro residente ou domiciliado no exterior.
que não seja permitida a entrada e a permanência de
crianças e adolescentes no local, afixando aviso para Parte Especial
orientação do público.
Título I
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Seção II Da Política de Atendimento


Dos Produtos e Serviços
Capítulo I
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adoles- Disposições Gerais
cente de:
I - armas, munições e explosivos; Art. 86. A política de atendimento dos direitos da
II - bebidas alcoólicas; criança e do adolescente far-se-á através de um con-
III - produtos cujos componentes possam causar de- junto articulado de ações governamentais e não-go-
pendência física ou psíquica ainda que por utilização vernamentais, da União, dos estados, do Distrito Fe-
indevida; deral e dos municípios.

208
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: IX - formação profissional com abrangência dos diver-
I - políticas sociais básicas; sos direitos da criança e do adolescente que favoreça
II - serviços, programas, projetos e benefícios de assis- a intersetorialidade no atendimento da criança e do
tência social de garantia de proteção social e de pre- adolescente e seu desenvolvimento integral;
venção e redução de violações de direitos, seus agra- X - realização e divulgação de pesquisas sobre desen-
vamentos ou reincidências; volvimento infantil e sobre prevenção da violência.
III - serviços especiais de prevenção e atendimento
médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus- Art. 89. A função de membro do conselho nacional e
-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão; dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da
IV - serviço de identificação e localização de pais, res- criança e do adolescente é considerada de interesse
ponsável, crianças e adolescentes desaparecidos; público relevante e não será remunerada.
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
dos direitos da criança e do adolescente; Capítulo II
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou Das Entidades de Atendimento
abreviar o período de afastamento do convívio fami-
liar e a garantir o efetivo exercício do direito à convi- Seção I
vência familiar de crianças e adolescentes; Disposições Gerais
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob for-
ma de guarda de crianças e adolescentes afastados Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis
do convívio familiar e à adoção, especificamente inter- pela manutenção das próprias unidades, assim como
-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com pelo planejamento e execução de programas de pro-
necessidades específicas de saúde ou com deficiências teção e socioeducativos destinados a crianças e ado-
e de grupos de irmãos. lescentes, em regime de: 
I - orientação e apoio sociofamiliar;
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: II - apoio socioeducativo em meio aberto;
I - municipalização do atendimento; III - colocação familiar;
II - criação de conselhos municipais, estaduais e na- IV - acolhimento institucional;
cional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos V - prestação de serviços à comunidade;
deliberativos e controladores das ações em todos os VI - liberdade assistida;
níveis, assegurada a participação popular paritária VII - semiliberdade; e
por meio de organizações representativas, segundo VIII - internação.
leis federal, estaduais e municipais; § 1o  As entidades governamentais e não governamen-
III - criação e manutenção de programas específicos, tais deverão proceder à inscrição de seus programas,
observada a descentralização político-administrativa; especificando os regimes de atendimento, na forma
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e mu- definida neste artigo, no Conselho Municipal dos Di-
nicipais vinculados aos respectivos conselhos dos di- reitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá
reitos da criança e do adolescente; registro das inscrições e de suas alterações, do que
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade
Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e judiciária.
Assistência Social, preferencialmente em um mesmo § 2o  Os recursos destinados à implementação e ma-
local, para efeito de agilização do atendimento ini- nutenção dos programas relacionados neste artigo se-
cial a adolescente a quem se atribua autoria de ato rão previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos
infracional; públicos encarregados das áreas de Educação, Saúde
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, e Assistência Social, dentre outros, observando-se o
Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e en- princípio da prioridade absoluta à criança e ao ado-
carregados da execução das políticas sociais básicas lescente preconizado pelo caput do art. 227 da Cons-
e de assistência social, para efeito de agilização do tituição Federal e pelo caput e parágrafo único do art.
atendimento de crianças e de adolescentes inseridos 4o desta Lei.
em programas de acolhimento familiar ou institucio- § 3o  Os programas em execução serão reavaliados
nal, com vista na sua rápida reintegração à família de pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamen- Adolescente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, consti-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

te inviável, sua colocação em família substituta, em tuindo-se critérios para renovação da autorização de
quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta funcionamento:
Lei; I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei,
VII - mobilização da opinião pública para a indispen- bem como às resoluções relativas à modalidade de
sável participação dos diversos segmentos da socie- atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de
dade; Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os ní-
VIII - especialização e formação continuada dos profis- veis; 
sionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
à primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Públi-
direitos da criança e sobre desenvolvimento infantil; co e pela Justiça da Infância e da Juventude; 

209
III - em se tratando de programas de acolhimento ins- to institucional e destinados à colocação familiar de
titucional ou familiar, serão considerados os índices de crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder
sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar. 
família substituta, conforme o caso. § 4o  Salvo determinação em contrário da autoridade
judiciária competente, as entidades que desenvolvem
Art. 91. As entidades não-governamentais somente programas de acolhimento familiar ou institucional,
poderão funcionar depois de registradas no Conselho se necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgãos de assistência social, estimularão o contato da
o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à criança ou adolescente com seus pais e parentes, em
autoridade judiciária da respectiva localidade. cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput
§ 1o  Será negado o registro à entidade que:  deste artigo. 
a) não ofereça instalações físicas em condições ade- § 5o  As entidades que desenvolvem programas de
quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e se- acolhimento familiar ou institucional somente pode-
gurança; rão receber recursos públicos se comprovado o aten-
b) não apresente plano de trabalho compatível com os dimento dos princípios, exigências e finalidades desta
princípios desta Lei; Lei. 
c) esteja irregularmente constituída; § 6o  O descumprimento das disposições desta Lei pelo
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. dirigente de entidade que desenvolva programas de
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções acolhimento familiar ou institucional é causa de sua
e deliberações relativas à modalidade de atendimen- destituição, sem prejuízo da apuração de sua respon-
to prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da sabilidade administrativa, civil e criminal. 
Criança e do Adolescente, em todos os níveis. § 7o  Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três)
§ 2o  O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial
anos, cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da atenção à atuação de educadores de referência está-
Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o veis e qualitativamente significativos, às rotinas es-
cabimento de sua renovação, observado o disposto no pecíficas e ao atendimento das necessidades básicas,
§ 1o deste artigo. incluindo as de afeto como prioritárias. 

Art. 92.  As entidades que desenvolvam programas de Art. 93.  As entidades que mantenham programa de
acolhimento familiar ou institucional deverão adotar acolhimento institucional poderão, em caráter excep-
os seguintes princípios: cional e de urgência, acolher crianças e adolescentes
I - preservação dos vínculos familiares e promoção da sem prévia determinação da autoridade competente,
reintegração familiar; fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e qua-
II - integração em família substituta, quando esgota- tro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena
de responsabilidade. 
dos os recursos de manutenção na família natural ou
Parágrafo único.  Recebida a comunicação, a autori-
extensa;
dade judiciária, ouvido o Ministério Público e se neces-
III - atendimento personalizado e em pequenos gru-
sário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará
pos;
as medidas necessárias para promover a imediata re-
IV - desenvolvimento de atividades em regime de coe-
integração familiar da criança ou do adolescente ou,
ducação;
se por qualquer razão não for isso possível ou reco-
V - não desmembramento de grupos de irmãos;
mendável, para seu encaminhamento a programa de
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para
acolhimento familiar, institucional ou a família substi-
outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; tuta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei. 
VII - participação na vida da comunidade local;
VIII - preparação gradativa para o desligamento; Art. 94. As entidades que desenvolvem programas
IX - participação de pessoas da comunidade no pro- de internação têm as seguintes obrigações, entre ou-
cesso educativo. tras:
§ 1o  O dirigente de entidade que desenvolve pro- I - observar os direitos e garantias de que são titulares
grama de acolhimento institucional é equiparado ao os adolescentes;
guardião, para todos os efeitos de direito.  II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
§ 2o  Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

objeto de restrição na decisão de internação;


gramas de acolhimento familiar ou institucional re- III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas
meterão à autoridade judiciária, no máximo a cada unidades e grupos reduzidos;
6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca da si- IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de res-
tuação de cada criança ou adolescente acolhido e sua peito e dignidade ao adolescente;
família, para fins da reavaliação prevista no § 1o do V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
art. 19 desta Lei.  preservação dos vínculos familiares;
§ 3o  Os entes federados, por intermédio dos Poderes VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamen-
Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a te, os casos em que se mostre inviável ou impossível o
permanente qualificação dos profissionais que atuam reatamento dos vínculos familiares;
direta ou indiretamente em programas de acolhimen-

210
VII - oferecer instalações físicas em condições adequa- I - às entidades governamentais:
das de habitabilidade, higiene, salubridade e seguran- a) advertência;
ça e os objetos necessários à higiene pessoal; b) afastamento provisório de seus dirigentes;
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; d) fechamento de unidade ou interdição de programa.
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontoló- II - às entidades não-governamentais:
gicos e farmacêuticos; a) advertência;
X - propiciar escolarização e profissionalização; b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas pú-
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de la- blicas;
zer; c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que deseja- d) cassação do registro.
rem, de acordo com suas crenças; § 1o  Em caso de reiteradas infrações cometidas por
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; entidades de atendimento, que coloquem em risco os
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com inter- direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comu-
valo máximo de seis meses, dando ciência dos resulta- nicado ao Ministério Público ou representado perante
dos à autoridade competente; autoridade judiciária competente para as providências
XV - informar, periodicamente, o adolescente interna- cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou disso-
do sobre sua situação processual; lução da entidade. 
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os § 2o  As pessoas jurídicas de direito público e as or-
casos de adolescentes portadores de moléstias infec- ganizações não governamentais responderão pelos
tocontagiosas; danos que seus agentes causarem às crianças e aos
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences adolescentes, caracterizado o descumprimento dos
dos adolescentes; princípios norteadores das atividades de proteção es-
XVIII - manter programas destinados ao apoio e pecífica. 
acompanhamento de egressos;
XIX - providenciar os documentos necessários ao exer- Título II
cício da cidadania àqueles que não os tiverem; Das Medidas de Proteção
XX - manter arquivo de anotações onde constem data
e circunstâncias do atendimento, nome do adolescen- Capítulo I
te, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, Disposições Gerais
idade, acompanhamento da sua formação, relação de
seus pertences e demais dados que possibilitem sua Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles-
identificação e a individualização do atendimento. cente são aplicáveis sempre que os direitos reconheci-
§ 1o  Aplicam-se, no que couber, as obrigações cons- dos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
tantes deste artigo às entidades que mantêm progra- I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
mas de acolhimento institucional e familiar.  II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon-
sável;
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
III - em razão de sua conduta.
artigo as entidades utilizarão preferencialmente os re-
cursos da comunidade.
Capítulo II
Das Medidas Específicas de Proteção
Art. 94-A.  As entidades, públicas ou privadas, que
abriguem ou recepcionem crianças e adolescentes,
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão
ainda que em caráter temporário, devem ter, em seus
ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como
quadros, profissionais capacitados a reconhecer e re- substituídas a qualquer tempo.
portar ao Conselho Tutelar suspeitas ou ocorrências
de maus-tratos. Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em
Seção II conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se
Da Fiscalização das Entidades aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos fa-
miliares e comunitários.
Art. 95. As entidades governamentais e não-gover- Parágrafo único.  São também princípios que regem a
namentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo aplicação das medidas: 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos I - condição da criança e do adolescente como sujeitos
Tutelares. de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos
direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de Constituição Federal;  
contas serão apresentados ao estado ou ao município, II - proteção integral e prioritária: a interpretação e
conforme a origem das dotações orçamentárias. aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei
deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de aten- direitos de que crianças e adolescentes são titulares;  
dimento que descumprirem obrigação constante do III - responsabilidade primária e solidária do poder
art. 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e crimi- público: a plena efetivação dos direitos assegurados a
nal de seus dirigentes ou prepostos: crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constitui-

211
ção Federal, salvo nos casos por esta expressamente IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co-
ressalvados, é de responsabilidade primária e solidá- munitários de proteção, apoio e promoção da família,
ria das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da da criança e do adolescente;
municipalização do atendimento e da possibilidade V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
da execução de programas por entidades não gover- psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
namentais;   VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi-
intervenção deve atender prioritariamente aos inte- cômanos;
resses e direitos da criança e do adolescente, sem pre- VII - acolhimento institucional;  
juízo da consideração que for devida a outros interes- VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; 
ses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses IX - colocação em família substituta. 
presentes no caso concreto;   § 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fami-
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da liar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis
criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito como forma de transição para reintegração familiar
pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua ou, não sendo esta possível, para colocação em família
vida privada;  substituta, não implicando privação de liberdade. 
VI - intervenção precoce: a intervenção das autorida- § 2o  Sem prejuízo da tomada de medidas emergen-
des competentes deve ser efetuada logo que a situa- ciais para proteção de vítimas de violência ou abuso
ção de perigo seja conhecida;   sexual e das providências a que alude o art. 130 desta
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exer- Lei, o afastamento da criança ou adolescente do con-
cida exclusivamente pelas autoridades e instituições vívio familiar é de competência exclusiva da autorida-
cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos de judiciária e importará na deflagração, a pedido do
direitos e à proteção da criança e do adolescente;  Ministério Público ou de quem tenha legítimo interes-
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção se, de procedimento judicial contencioso, no qual se
deve ser a necessária e adequada à situação de perigo garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício
em que a criança ou o adolescente se encontram no do contraditório e da ampla defesa.
momento em que a decisão é tomada;  § 3o  Crianças e adolescentes somente poderão ser en-
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser caminhados às instituições que executam programas
efetuada de modo que os pais assumam os seus deve- de acolhimento institucional, governamentais ou não,
res para com a criança e o adolescente;  por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela
X - prevalência da família: na promoção de direitos autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente cons-
e na proteção da criança e do adolescente deve ser tará, dentre outros: 
dada prevalência às medidas que os mantenham ou I - sua identificação e a qualificação completa de seus
reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se pais ou de seu responsável, se conhecidos; 
isso não for possível, que promovam a sua integração II - o endereço de residência dos pais ou do responsá-
vel, com pontos de referência; 
em família adotiva;
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o ado-
em tê-los sob sua guarda; 
lescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao
capacidade de compreensão, seus pais ou responsável
convívio familiar. 
devem ser informados dos seus direitos, dos motivos
§ 4o  Imediatamente após o acolhimento da criança ou
que determinaram a intervenção e da forma como
do adolescente, a entidade responsável pelo programa
esta se processa; 
de acolhimento institucional ou familiar elaborará um
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o
plano individual de atendimento, visando à reintegra-
adolescente, em separado ou na companhia dos pais, ção familiar, ressalvada a existência de ordem escrita
de responsável ou de pessoa por si indicada, bem e fundamentada em contrário de autoridade judiciária
como os seus pais ou responsável, têm direito a ser competente, caso em que também deverá contemplar
ouvidos e a participar nos atos e na definição da me- sua colocação em família substituta, observadas as re-
dida de promoção dos direitos e de proteção, sendo gras e princípios desta Lei. 
sua opinião devidamente considerada pela autorida- § 5o  O plano individual será elaborado sob a respon-
de judiciária competente, observado o disposto nos §§ sabilidade da equipe técnica do respectivo programa
1o e 2o do art. 28 desta Lei. 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de atendimento e levará em consideração a opinião


da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas responsável. 
no art. 98, a autoridade competente poderá determi- § 6o  Constarão do plano individual, dentre outros: 
nar, dentre outras, as seguintes medidas: I - os resultados da avaliação interdisciplinar; 
I - encaminhamento aos pais ou responsável, median- II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon-
te termo de responsabilidade; sável; e 
II - orientação, apoio e acompanhamento temporá- III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas
rios; com a criança ou com o adolescente acolhido e seus
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabeleci- pais ou responsável, com vista na reintegração fa-
mento oficial de ensino fundamental; miliar ou, caso seja esta vedada por expressa e fun-

212
damentada determinação judicial, as providências a § 3o  Caso ainda não definida a paternidade, será  de-
serem tomadas para sua colocação em família subs- flagrado procedimento específico destinado à sua ave-
tituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária.  riguação, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de
§ 7o  O acolhimento familiar ou institucional ocorre- dezembro de 1992. 
rá no local mais próximo à residência dos pais ou do § 4o  Nas hipóteses previstas no § 3o  deste artigo, é
responsável e, como parte do processo de reintegração dispensável o ajuizamento de ação de investigação
familiar, sempre que identificada a necessidade, a fa- de paternidade pelo Ministério Público se, após o não
mília de origem será incluída em programas oficiais comparecimento ou a recusa do suposto pai em assu-
de orientação, de apoio e de promoção social, sendo mir a paternidade a ele atribuída, a criança for enca-
facilitado e estimulado o contato com a criança ou minhada para adoção. 
com o adolescente acolhido.  § 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a
§ 8o  Verificada a possibilidade de reintegração fa- qualquer tempo, do nome do pai no assento de nas-
miliar, o responsável pelo programa de acolhimento cimento são isentos de multas, custas e emolumentos,
familiar ou institucional fará imediata comunicação gozando de absoluta prioridade.
à autoridade judiciária, que dará vista ao Ministério § 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re-
Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em querida do reconhecimento de paternidade no assento
igual prazo. de nascimento e a certidão correspondente.
§ 9o  Em sendo constatada a impossibilidade de reinte-
gração da criança ou do adolescente à família de ori- As normas de prevenção do ECA são destinadas a
gem, após seu encaminhamento a programas oficiais crianças e adolescentes em situação de risco. Existirá si-
ou comunitários de orientação, apoio e promoção so- tuação de risco quando a criança ou o adolescente esti-
cial, será enviado relatório fundamentado ao Ministé- verem privados de assistência. Essa assistência pode ser
rio Público, no qual conste a descrição pormenorizada material (quando não se tem onde dormir, o que comer,
das providências tomadas e a expressa recomendação, vestir etc.), moral (quando a criança ou o adolescente
subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis permanece em local inadequado, como locais de prática
pela execução da política municipal de garantia do de jogo, prostituição etc.) ou jurídica (quando não tem
direito à convivência familiar, para a destituição do quem o represente).
poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.  O menor que pratica ato infracional está em situação
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o de risco por estar privado de assistência moral. A situa-
prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação ção de risco pode decorrer de ação ou omissão do Poder
de destituição do poder familiar, salvo se entender ne- Público; ação ou omissão dos pais ou dos responsáveis;
cessária a realização de estudos complementares ou por conduta própria.
de outras providências indispensáveis ao ajuizamento O art. 101 do ECA traz um rol das medidas protetivas
da demanda. diante da situação de risco. Essas medidas poderão ser
§ 11.  A autoridade judiciária manterá, em cada co- aplicadas tanto para a criança quanto para o adolescen-
marca ou foro regional, um cadastro contendo infor- te. São elas:
mações atualizadas sobre as crianças e adolescentes - encaminhamento da criança e do adolescente aos
em regime de acolhimento familiar e institucional sob pais ou responsáveis, mediante termo ou respon-
sua responsabilidade, com informações pormenoriza- sabilidade;
das sobre a situação jurídica de cada um, bem como - orientação, apoio e acompanhamentos temporários
as providências tomadas para sua reintegração fami- por pessoa nomeada pelo Juiz;
liar ou colocação em família substituta, em qualquer - matrícula e frequência obrigatória em estabeleci-
das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.  mento oficial de ensino fundamental (o Juiz deter-
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
mina aos pais a obrigação);
Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social
- inclusão em programa comunitário ou oficial de au-
e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e
xílio à família, à criança e ao adolescente;
do Adolescente e da Assistência Social, aos quais in-
- requisição de tratamento médico, psicológico ou
cumbe deliberar sobre a implementação de políticas
psiquiátrico em regime hospitalar (internação) ou
públicas que permitam reduzir o número de crianças e
ambulatorial (consultas periódicas);
adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar
- abrigo em entidade (não se fala em orfanato). A
o período de permanência em programa de acolhi-
mento. doutrina chama de “Tutela de Estado” quando a
criança está em abrigo sob a proteção do Estado;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 102. As medidas de proteção de que trata este - colocação em família substituta (é utilizada somente
Capítulo serão acompanhadas da regularização do em situações muito graves).
registro civil. 
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o O Juiz pode aplicar essas medidas isolada ou cumu-
assento de nascimento da criança ou adolescente será lativamente. Pode, também, substituir uma medida pela
feito à vista dos elementos disponíveis, mediante re- outra a qualquer tempo (art. 99 do ECA). Antes de aplicar
quisição da autoridade judiciária. qualquer uma dessas medidas, o Juiz deverá ouvir os pais
§ 2º Os registros e certidões necessários à regulariza- ou responsáveis, realizar estudo social do caso e ouvir o
ção de que trata este artigo são isentos de multas, cus- MP. Essa oitiva do MP é obrigatória, sob pena de nulida-
tas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade. de (art. 204 do ECA). Esse rol do art. 101 é taxativo.

213
Título III Capítulo III
Da Prática de Ato Infracional Das Garantias Processuais

Capítulo I Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua li-


Disposições Gerais berdade sem o devido processo legal.

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des- Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre ou-
crita como crime ou contravenção penal. tras, as seguintes garantias:
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de infracional, mediante citação ou meio equivalente;
dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. II - igualdade na relação processual, podendo con-
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser frontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas
considerada a idade do adolescente à data do fato. as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança cor- IV - assistência judiciária gratuita e integral aos neces-
responderão as medidas previstas no art. 101. sitados, na forma da lei;
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
Capítulo II competente;
Dos Direitos Individuais VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou res-
ponsável em qualquer fase do procedimento.
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua li-
berdade senão em flagrante de ato infracional ou por Capítulo IV
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciá- Das Medidas Socioeducativas
ria competente.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi-
Seção I
Disposições Gerais
cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo
ser informado acerca de seus direitos.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a au-
toridade competente poderá aplicar ao adolescente as
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o
seguintes medidas:
local onde se encontra recolhido serão incontinenti
I - advertência;
comunicados à autoridade judiciária competente e à
II - obrigação de reparar o dano;
família do apreendido ou à pessoa por ele indicada. III - prestação de serviços à comunidade;
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob IV - liberdade assistida;
pena de responsabilidade, a possibilidade de liberação V - inserção em regime de semi-liberdade;
imediata. VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em con-
determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco ta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e
dias. a gravidade da infração.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
e basear-se em indícios suficientes de autoria e ma- admitida a prestação de trabalho forçado.
terialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da § 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi-
medida. ciência mental receberão tratamento individual e es-
pecializado, em local adequado às suas condições.
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
será submetido a identificação compulsória pelos ór- Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts.
gãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito 99 e 100.
de confrontação, havendo dúvida fundada.
O adolescente não é preso, é apreendido. Art. 114. A imposição das medidas previstas nos inci-
A internação é a medida mais gravosa para o adoles- sos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas
cente. O ECA permite a internação provisória durante o suficientes da autoria e da materialidade da infração,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

processo. É fixado o prazo máximo de 45 dias. Os funda- ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art.
mentos para que o Juiz decrete essa internação provisó- 127.
ria são: indícios suficientes de autoria e materialidade e Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada
necessidade da medida. sempre que houver prova da materialidade e indícios
Esse prazo de internação provisória será descontado suficientes da autoria.
na internação definitiva. Em nenhuma hipótese a criança As medidas socioeducativas dependem de um proce-
poderá ser internada. Criança, que é todo aquele menor dimento judicial, só podendo ser aplicadas pelo Juiz. O
de 12 anos, não se sujeita a medida sócio-educativa, mas ECA apresenta dois critérios genéricos para a aplicação
apenas a medida de proteção. de medida socioeducativa:
- capacidade do adolescente para cumprir a medida;
- circunstâncias e gravidade da infração.

214
A internação é uma exceção, existindo hipóteses le- tidades assistenciais, hospitais, escolas e outros esta-
gais para sua aplicação. belecimentos congêneres, bem como em programas
A medida de segurança não poderá ser aplicada ao comunitários ou governamentais.
adolescente, tendo em vista ser medida para maior de Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas confor-
idade que apresenta periculosidade. No caso de adoles- me as aptidões do adolescente, devendo ser cumpri-
cente doente mental, será aplicada medida de proteção, das durante jornada máxima de oito horas semanais,
podendo ser requisitado tratamento médico. aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis,
O Juiz poderá cumular medidas socioeducativas, des- de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à
de que sejam compatíveis (ex.: prestação de serviço à jornada normal de trabalho.
comunidade cumulada com reparação de danos). Com Disposta no art. 117 do ECA, o adolescente será obri-
exceção da internação, o Juiz poderá substituir as me- gado a prestar serviços em benefício da coletividade. São
didas socioeducativas de acordo com o caso concreto, tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades as-
visto não haver taxatividade. sistenciais, hospitais, escolas ou estabelecimentos con-
Se o Promotor discordar com a medida socioeducati- gêneres.
va aplicada, deverá entrar com recurso de apelação. Essa Como a medida é mais gravosa, a lei fixa um prazo
apelação do ECA possui juízo de retratação, ou seja, o máximo de 6 meses para essa prestação e um máximo
Juiz pode voltar atrás na decisão. O Tribunal competente de 8 horas semanais. Essas 8 horas poderão ser estabe-
para julgar essa apelação é o TJ. lecidas discricionariamente, desde que não prejudiquem
a frequência ao trabalho e à escola. Deverá ser levada
Seção II em conta a aptidão do adolescente para a aplicação da
Da Advertência medida.

Art. 115. A advertência consistirá em admoestação Seção V


verbal, que será reduzida a termo e assinada. Da Liberdade Assistida
Disposta no art. 115 do ECA, é uma medida sócio-e-
ducativa que consiste em uma admoestação verbal que Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre
é aplicada pelo Juiz ao adolescente e que é reduzida a que se afigurar a medida mais adequada para o fim
termo. É destinada a atos de menor gravidade. de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.
Para a aplicação da advertência, o Juiz deve levar em § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para
consideração a prova da materialidade e indícios sufi- acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada
cientes de autoria. É a única medida que o Juiz poderá por entidade ou programa de atendimento.
aplicar fundamentando-se somente em indícios de au- § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo míni-
toria. mo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser pror-
rogada, revogada ou substituída por outra medida,
Seção III ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.
Da Obrigação de Reparar o Dano
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su-
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com refle- pervisão da autoridade competente, a realização dos
xos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se seguintes encargos, entre outros:
for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova I - promover socialmente o adolescente e sua família,
o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, com- fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se neces-
pense o prejuízo da vítima. sário, em programa oficial ou comunitário de auxílio
e assistência social;
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade,
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento es-
a medida poderá ser substituída por outra adequada.
colar do adolescente, promovendo, inclusive, sua ma-
Obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA). Há
trícula;
um pressuposto: o ato infracional deve ter causado um
III - diligenciar no sentido da profissionalização do
dano à vítima. Essa reparação é para a vítima que sofreu
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;
o dano. É uma medida voltada para o adolescente, então
IV - apresentar relatório do caso.
deve ser estabelecida de acordo com a possibilidade de
É a última medida em que o adolescente permanece
cumprimento pelo adolescente (ex.: devolução da coisa
com sua família. O Juiz irá determinar um acompanha-
furtada, pequenos serviços a título de reparação etc.).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mento permanente ao adolescente, designando, para


A jurisprudência admite que essa reparação de dano isso, um orientador, que poderá ser substituído a qual-
pode ser aplicada à criança (ex.: devolução da coisa fur- quer tempo. A lei fixa um prazo mínimo de 6 meses para
tada). a duração dessa medida. O orientador terá as seguintes
obrigações legais:
Seção IV - promover socialmente o adolescente, bem como
Da Prestação de Serviços à Comunidade a sua família, inserindo-os em programas sociais.
Promover socialmente é fazer com que o adoles-
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste cente realize atividades valorizadas socialmente
na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, (teatro, música etc.);
por período não excedente a seis meses, junto a en-

215
- supervisionar a frequência e o aproveitamento es- Art. 122. A medida de internação só poderá ser apli-
colar do adolescente; cada quando:
- profissionalizar o adolescente (nos termos da EC n. I - tratar-se de ato infracional cometido mediante gra-
20); ve ameaça ou violência a pessoa;
- apresentar relatório do caso ao Juiz. II - por reiteração no cometimento de outras infrações
graves;
Seção VI III - por descumprimento reiterado e injustificável da
Do Regime de Semiliberdade medida anteriormente imposta.
§ 1o  O prazo de internação na hipótese do inciso III
Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determi- deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses,
nado desde o início, ou como forma de transição para devendo ser decretada judicialmente após o devido
o meio aberto, possibilitada a realização de atividades processo legal.
externas, independentemente de autorização judicial. § 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação,
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionali- havendo outra medida adequada.
zação, devendo, sempre que possível, ser utilizados os
recursos existentes na comunidade. Art. 123. A internação deverá ser cumprida em en-
§ 2º A medida não comporta prazo determinado apli- tidade exclusiva para adolescentes, em local distinto
cando-se, no que couber, as disposições relativas à in- daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa se-
ternação. paração por critérios de idade, compleição física e gra-
Disposta no art. 120 do ECA, é uma medida que im- vidade da infração.
porta em privação de liberdade ao adolescente que pra- Parágrafo único. Durante o período de internação, in-
tica um ato infracional mais grave. O adolescente é reti- clusive provisória, serão obrigatórias atividades peda-
rado de sua família e colocado em um estabelecimento gógicas.
apropriado de semiliberdade, podendo realizar ativida-
des externas (estudar, trabalhar etc.) somente com au- Art. 124. São direitos do adolescente privado de liber-
torização do diretor do estabelecimento, não havendo dade, entre outros, os seguintes:
necessidade de autorização judicial. Pode ser usada tanto I - entrevistar-se pessoalmente com o representante
como medida principal quanto como medida progressi- do Ministério Público;
va ou regressiva. II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
A semiliberdade não tem prazo fixado em lei, nem III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
mínimo nem máximo. A doutrina e a jurisprudência de- IV - ser informado de sua situação processual, sempre
terminam a aplicação da medida por analogia dos prazos que solicitada;
da internação, tendo como prazo máximo 3 anos. Há a V - ser tratado com respeito e dignidade;
obrigatoriedade de escolarização e profissionalização na VI - permanecer internado na mesma localidade ou
semiliberdade. naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou
responsável;
Seção VII VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
Da Internação VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e as-
Art. 121. A internação constitui medida privativa da seio pessoal;
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excep- X - habitar alojamento em condições adequadas de
cionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa higiene e salubridade;
em desenvolvimento. XI - receber escolarização e profissionalização;
§ 1º Será permitida a realização de atividades exter- XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
nas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo ex- XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
pressa determinação judicial em contrário. XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua cren-
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, de- ça, e desde que assim o deseje;
vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante de- XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor
cisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. de local seguro para guardá-los, recebendo compro-
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de in- vante daqueles porventura depositados em poder da
ternação excederá a três anos. entidade;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo an- XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu-
terior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos § 2º A autoridade judiciária poderá suspender tempo-
de idade. rariamente a visita, inclusive de pais ou responsável,
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será pre- se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudi-
cedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Pú- cialidade aos interesses do adolescente.
blico.
§ 7o  A determinação judicial mencionada no § 1o po- Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física
derá ser revista a qualquer tempo pela autoridade ju- e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas
diciária. adequadas de contenção e segurança.

216
Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida tâncias e consequências do fato, ao contexto social,
reservada para os atos infracionais de natureza grave. O bem como à personalidade do adolescente e sua
ECA estabelece princípios específicos para a internação, maior ou menor participação no ato infracional.
pois é medida de privação de liberdade sempre excep- Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão
cional. da remissão pela autoridade judiciária importará na
A internação deve durar o menor tempo possível suspensão ou extinção do processo.
(princípio da brevidade), é uma medida de exceção que
só deverá ser utilizada em último caso (princípio da ex- Art. 127. A remissão não implica necessariamente o
cepcionalidade) e deve seguir o princípio do respeito à reconhecimento ou comprovação da responsabilida-
condição peculiar do adolescente como pessoa em de- de, nem prevalece para efeito de antecedentes, po-
senvolvimento. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada dendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer
à criança. das medidas previstas em lei, exceto a colocação em
regime de semi-liberdade e a internação.
O ECA estabelece hipóteses de internação para: Art. 128. A medida aplicada por força da remissão
- prática de ato infracional mediante grave ameaça ou poderá ser revista judicialmente, a qualquer tempo,
violência à pessoa; mediante pedido expresso do adolescente ou de seu
- reiteração de infrações graves; representante legal, ou do Ministério Público.
- descumprimento reiterado e injustificado da medi- Tem por conceito o perdão, a indulgência ao menor.
da anteriormente imposta (é uma hipótese de re- Podem conceder remissão tanto o MP quanto o Juiz. São
gressão). Neste caso, a internação não pode ultra- hipóteses de natureza jurídica diferentes. A remissão ju-
passar o prazo de 3 meses. dicial é forma de extinção ou de suspensão do processo
(portanto, pressupõe o processo em curso). Já a remissão
Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para ministerial é forma de exclusão do processo (logo, deve
internação é de 3 anos. Por força desse prazo, o ECA po- ser concedida antes do processo - administrativamente).
derá atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medi- Quando a remissão é concedida pelo MP, segue-se o se-
das sócio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos. guinte procedimento:
A medida só poderá ser aplicada com o devido pro- - o menor é ouvido pelo Promotor que concederá a
cesso legal e em nenhuma hipótese poderá ser aplica- remissão;
da à criança. Quando o adolescente completar 21 anos, - o Promotor encaminha a remissão para homologa-
a liberação será obrigatória. Caso o adolescente tenha ção pelo Juiz;
passado por internação provisória, esses dias serão com- - se o Juiz não aceitar a remissão, deverá remeter
putados na internação (detração). A diferença entre se- para o Procurador de Justiça, que poderá insistir
mi-liberdade e internação é que, nesta, o adolescente na remissão ou designar outro representante do
depende de autorização expressa do juiz para praticar MP para apresentar representação contra o menor.
atividades externas, ou seja, o adolescente internado so- Essa remissão concedida pelo MP é causa de exclu-
mente se ausentará do estabelecimento em que se achar são do processo, visto que, ao conceder a remis-
são, inexiste o processo.
se autorizado pelo juiz.
O art. 123 dispõe que o local para a internação deve
Quando a remissão é concedida pelo Juiz, segue-se o
ser distinto do abrigo, devendo-se obedecer a separação
seguinte procedimento:
por idade, composição física (tamanho), sexo e gravida-
- o Promotor oferece a representação;
de do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de
- na audiência de apresentação, o menor será ouvido
realização de atividades pedagógicas.
pelo Juiz, que poderá decidir pela remissão;
- o representante do MP deverá, obrigatoriamente,
O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos ado-
ser ouvido sobre a possibilidade da remissão antes
lescentes: de ela ser aplicada. A remissão concedida pelo Juiz
- entrevista pessoal com o representante do MP; causa extinção do processo. Havendo discordância
- entrevista reservada com seu defensor, dentre ou- por parte do MP, este deverá ingressar com uma
tros. apelação para reformar a decisão do Juiz.
As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o fun- Tanto a doutrina quanto a jurisprudência admitem a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

damento de segurança e proteção do menor, entretanto, cumulação da remissão com uma medida sócio-educa-
em nenhuma hipótese o menor poderá ficar incomuni- tiva que seja compatível (ex.: reparação do dano, adver-
cável. tência etc.). Neste caso, a remissão é causa de suspensão
do processo.
Capítulo V O ECA traz quatro requisitos genéricos para a aplica-
Da Remissão ção da remissão, devendo ficar a critério do membro do
MP ou do Juiz a sua concessão. São eles:
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial - circunstâncias e conseqüências do fato;
para apuração de ato infracional, o representante do - contexto social em que o fato foi praticado;
Ministério Público poderá conceder a remissão, como - personalidade do agente;
forma de exclusão do processo, atendendo às circuns- - maior ou menor participação no ato infracional.

217
A remissão, quer concedida pelo MP quer pelo Juiz, Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
não implica confissão de culpa. Existe uma divergência Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
na doutrina em considerar a remissão como um acordo I - reconhecida idoneidade moral;
ou não. A posição majoritária entende que a remissão II - idade superior a vinte e um anos;
não é um acordo, tendo em vista a lei falar em concessão III - residir no município.
e, ainda, pelo fato de não haver nenhum prejuízo para o
adolescente, não possuindo a remissão nenhum efeito, Art. 134.  Lei municipal ou distrital disporá sobre o
podendo ser concedida quantas vezes forem necessárias. local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tu-
telar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos
Título IV membros, aos quais é assegurado o direito a:
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável I - cobertura previdenciária; 
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou respon- 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal;
sável: III - licença-maternidade;
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais IV - licença-paternidade; 
ou comunitários de proteção, apoio e promoção da V - gratificação natalina. 
família; Parágrafo único.  Constará da lei orçamentária mu-
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de nicipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos
auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi- necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à
cômanos; remuneração e formação continuada dos conselheiros
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi- tutelares.
quiátrico;
IV - encaminhamento a cursos ou programas de Art. 135.  O exercício efetivo da função de conselhei-
orientação; ro constituirá serviço público relevante e estabelecerá
presunção de idoneidade moral. 
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acom-
panhar sua frequência e aproveitamento escolar;
Capítulo II
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescen-
Das Atribuições do Conselho
te a tratamento especializado;
VII - advertência;
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
VIII - perda da guarda;
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses
IX - destituição da tutela;
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas pre-
X - suspensão ou destituição do poder familiar. vistas no art. 101, I a VII;
Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas II - atender e aconselhar os pais ou responsável, apli-
nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o dispos- cando as medidas previstas no art. 129, I a VII;
to nos arts. 23 e 24. III - promover a execução de suas decisões, podendo
para tanto:
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opres- a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu-
são ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsá- cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;
vel, a autoridade judiciária poderá determinar, como b) representar junto à autoridade judiciária nos casos
medida cautelar, o afastamento do agressor da mo- de descumprimento injustificado de suas deliberações.
radia comum. IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato
Parágrafo único.  Da medida cautelar constará, ainda, que constitua infração administrativa ou penal contra
a fixação provisória dos alimentos de que necessitem os direitos da criança ou adolescente;
a criança ou o adolescente dependentes do agressor. V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de
sua competência;
Capítulo I VI - providenciar a medida estabelecida pela autorida-
Disposições Gerais de judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI,
para o adolescente autor de ato infracional;
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e VII - expedir notificações;
autônomo, não jurisdicional, encarregado pela socie- VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de
dade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crian- criança ou adolescente quando necessário;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ça e do adolescente, definidos nesta Lei. IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração


da proposta orçamentária para planos e programas
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Ad- de atendimento dos direitos da criança e do adoles-
ministrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, cente;
1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da X - representar, em nome da pessoa e da família, con-
administração pública local, composto de 5 (cinco) tra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º,
membros, escolhidos pela população local para man- inciso II, da Constituição Federal;
dato de 4 (quatro) anos, permitida recondução por XI - representar ao Ministério Público para efeito das
novos processos de escolha. (Redação dada pela Lei nº ações de perda ou suspensão do poder familiar, após
13.824, de 2019) esgotadas as possibilidades de manutenção da crian-
ça ou do adolescente junto à família natural;

218
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru- Título VI
pos profissionais, ações de divulgação e treinamento Do Acesso à Justiça
para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos
em crianças e adolescentes. Capítulo I
Parágrafo único.  Se, no exercício de suas atribuições, Disposições Gerais
o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento
do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou ado-
ao Ministério Público, prestando-lhe informações so- lescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e
bre os motivos de tal entendimento e as providências ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
tomadas para a orientação, o apoio e a promoção so- § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos
cial da família.  que dela necessitarem, através de defensor público ou
advogado nomeado.
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po- § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da
derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido Infância e da Juventude são isentas de custas e emolu-
de quem tenha legítimo interesse. mentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.

Capítulo III Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre-


Da Competência sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte
e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curado-
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de res, na forma da legislação civil ou processual.
competência constante do art. 147. Parágrafo único. A autoridade judiciária dará cura-
dor especial à criança ou adolescente, sempre que
Capítulo IV os interesses destes colidirem com os de seus pais ou
Da Escolha dos Conselheiros responsável, ou quando carecer de representação ou
assistência legal ainda que eventual.
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, po-
e realizado sob a responsabilidade do Conselho Mu- liciais e administrativos que digam respeito a crianças
nicipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a e adolescentes a que se atribua autoria de ato infra-
fiscalização do Ministério Público.  cional.
§ 1o  O processo de escolha dos membros do Conselho Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato
Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o territó- não poderá identificar a criança ou adolescente, ve-
rio nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro do- dando-se fotografia, referência a nome, apelido, fi-
mingo do mês de outubro do ano subsequente ao da liação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do
eleição presidencial.  nome e sobrenome. 
§ 2o  A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no
dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a
escolha.  que se refere o artigo anterior somente será deferida
§ 3o  No processo de escolha dos membros do Con- pela autoridade judiciária competente, se demonstra-
selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, do o interesse e justificada a finalidade.
prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem O homem necessita do convívio social, não é um ser
pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pe- capaz de viver de maneira autônoma e totalmente des-
queno valor.  vinculada dos demais. Neste sentido, a imposição de re-
gramentos e normas permitiu que a sociedade atingisse
Capítulo V o atual grau de evolução.
Dos Impedimentos Obviamente, no ambiente social surgem conflitos de
interesses. Afinal, nem sempre os bens e valores exis-
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho tem em quantidade suficiente para atender a todas as
marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e pessoas. Inicialmente, estes conflitos eram solucionados
genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, pelos próprios envolvidos, na denominada fase da auto-
tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. tutela.
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Contudo, a solução possibilidade pela autotutela era


lheiro, na forma deste artigo, em relação à autorida- bastante insatisfatória e fazia com que prevalecesse a lei
de judiciária e ao representante do Ministério Público do mais forte. Então, surgiu o Estado apresentando um
com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, melhor sistema para a solução dos conflitos.
em exercício na comarca, foro regional ou distrital. O Estado assumiu para si o poder-dever de dizer o Di-
reito, de solucionar os conflitos, conhecido como jurisdi-
ção. Assim, o Estado irá elaborar as leis (direito material)
e prever como elas serão aplicadas (direito processual). A
autotutela para a ser punida como regra geral e o Estado
exerce a heterotutela por meio da atividade jurisdicional.

219
Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Di- Capítulo II
reito. Sendo assim, trata-se de atividade estatal exercida Da Justiça da Infância e da Juventude
por intermédio de um agente constituído com compe-
tência para exercê-la, o juiz. Seção I
Nos primórdios da humanidade não existia o Direito Disposições Gerais
e nem existiam as leis, de modo que a justiça era feita
pelas próprias mãos, na denominada autotutela. Com Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar
a evolução das instituições, o Estado avocou para si o varas especializadas e exclusivas da infância e da ju-
poder-dever de solucionar os litígios, o que é feito pela ventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua
jurisdição. proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las
O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existin- de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclu-
do uma separação de funções: o Legislativo regulamenta sive em plantões.
normas gerais e abstratas (função legislativa) e o Judiciário
as aplica no caso concreto (função jurisdicional). Seção II
Entretanto, vale destacar que na sociedade contem- Do Juiz
porânea, devido às inúmeras mazelas que se apresen-
taram envolvendo o abarrotamento de processos pelo Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz
Judiciário, passou-se a incentivar a adoção de métodos da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa
de autocomposição, como conciliação, mediação e arbi- função, na forma da lei de organização judiciária lo-
tragem. cal.
Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os
seguintes princípios inerentes à jurisdição: investidura, Art. 147. A competência será determinada:
porque somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
de juiz; aderência ao território, posto que juízes somente II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adoles-
têm autoridade no território nacional e nos limites de sua cente, à falta dos pais ou responsável.
competência; indelegabilidade, não podendo o Poder Ju- § 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas
diciário delegar sua competência; inafastabilidade, pois
as regras de conexão, continência e prevenção.
a lei não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à
nenhuma lesão ou ameaça a direito.
autoridade competente da residência dos pais ou res-
Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários
ponsável, ou do local onde sediar-se a entidade que
é possível classificá-la:
abrigar a criança ou adolescente.
a) quanto ao objeto – penal, trabalhista e civil (a civil
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans-
é subsidiária, envolvendo todo direito material que
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja
não seja penal ou trabalhista, não somente ques- mais de uma comarca, será competente, para aplica-
tões inerentes ao direito civil); ção da penalidade, a autoridade judiciária do local da
b) quanto ao organismo que a exerce – comum (es- sede estadual da emissora ou rede, tendo a sentença
tadual ou federal) ou especial (trabalhista, militar, eficácia para todas as transmissoras ou retransmisso-
eleitoral); ras do respectivo estado.
c) quanto à hierarquia – superior e inferior.
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é com-
Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdi- petente para:
ção, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica, I - conhecer de representações promovidas pelo Minis-
ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competen- tério Público, para apuração de ato infracional atri-
tes em localidades determinadas). A esta distribuição das buído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
parcelas de jurisdição dá-se o nome de competência. II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou
As tutelas jurisdicionais diferenciadas, por sua vez, extinção do processo;
são aquelas que apresentam procedimentos diversos do III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
comum. Possuem procedimentos ditos especiais, os quais IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses
buscam garantir um processo mais rápido e compatível individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao
com as necessidades específicas do direito em discus- adolescente, observado o disposto no art. 209;
são. No âmbito do direito da criança e do adolescente, V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tem-se o estabelecimento de uma tutela jurisdicional di- em entidades de atendimento, aplicando as medidas
ferenciada, eis que existem inúmeras regras específicas cabíveis;
aplicáveis aos processos que envolvem de algum modo VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de
criança ou adolescente. infrações contra norma de proteção à criança ou ado-
A noção de jurisdição inclusiva também se aplica lescente;
à tutela jurisdicional da criança e do adolescente. Basi- VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho
camente, refere-se à propiciação de uma jurisdição que Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.
esteja atenta às peculiaridades das minorias e dos grupos Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado-
vulneráveis. No caso, as crianças e adolescentes são con- lescente nas hipóteses do art. 98, é também compe-
siderados um grupo vulnerável devido à condição espe- tente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim
cial que ocupam. de:

220
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de ser-
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, vidores públicos integrantes do Poder Judiciário res-
perda ou modificação da tutela ou guarda;  ponsáveis pela realização dos estudos psicossociais ou
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o ca- de quaisquer outras espécies de avaliações técnicas
samento; exigidas por esta Lei ou por determinação judicial, a
d) conhecer de pedidos baseados em discordância pa- autoridade judiciária poderá proceder à nomeação de
terna ou materna, em relação ao exercício do poder perito, nos termos do art. 156 da Lei no 13.105, de 16
familiar;  de março de 2015 (Código de Processo Civil).
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil,
quando faltarem os pais; Capítulo III
f) designar curador especial em casos de apresentação Dos Procedimentos
de queixa ou representação, ou de outros procedimen-
tos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses Seção I
de criança ou adolescente; Disposições Gerais
g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri- Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli-
mento dos registros de nascimento e óbito. cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas
na legislação processual pertinente.
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, § 1o É assegurada, sob pena de responsabilidade, prio-
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: ridade absoluta na tramitação dos processos e proce-
I - a entrada e permanência de criança ou adolescen- dimentos previstos nesta Lei, assim como na execução
te, desacompanhado dos pais ou responsável, em: dos atos e diligências judiciais a eles referentes. 
a) estádio, ginásio e campo desportivo; § 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos
b) bailes ou promoções dançantes; seus procedimentos são contados em dias corridos, ex-
c) boate ou congêneres; cluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento,
d) casa que explore comercialmente diversões eletrô- vedado o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o
nicas; Ministério Público.
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e tele-
visão. Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor-
II - a participação de criança e adolescente em: responder a procedimento previsto nesta ou em outra
a) espetáculos públicos e seus ensaios; lei, a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e
b) certames de beleza. ordenar de ofício as providências necessárias, ouvido
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade o Ministério Público.
judiciária levará em conta, dentre outros fatores: Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica
a) os princípios desta Lei; para o fim de afastamento da criança ou do adoles-
b) as peculiaridades locais; cente de sua família de origem e em outros procedi-
c) a existência de instalações adequadas; mentos necessariamente contenciosos. 
d) o tipo de freqüência habitual ao local;
e) a adequação do ambiente a eventual participação Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.
ou freqüência de crianças e adolescentes; A tutela sócio-individual abrange aspectos do direito
f) a natureza do espetáculo. da criança e do adolescente voltado à criança e ao ado-
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar- lescente individualmente concebidos, isto é, pensados
tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas como sujeitos de direitos individuais que possam ser por
as determinações de caráter geral. eles exercidos.
A tutela sócio-educativa abrange aspectos do direito
Seção III da criança e do adolescente voltados às atividades de en-
Dos Serviços Auxiliares sino e aprendizagem, tanto no que se refere à educação
formal quanto em relação à educação informal.
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de A tutela coletiva volta-se à proteção de direitos di-
sua proposta orçamentária, prever recursos para ma- fusos e coletivos da criança e do adolescente. Aos di-
nutenção de equipe interprofissional, destinada a as- reitos difusos e coletivos são conferidos mecanismos de
sessorar a Justiça da Infância e da Juventude.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tutela específicos para sua proteção, bem como atribuí-


da competência para tanto a órgãos determinados que
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre exercerão um papel representativo. No Brasil, destacam-
outras atribuições que lhe forem reservadas pela le- -se instituições como o Ministério Público e a Defensoria
gislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante Pública. Sem prejuízo, como visto, há remédios consti-
laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim tucionais que se voltam à proteção de interesses desta
desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, categoria, como o mandado de segurança coletivo e
encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a ime- a própria ação popular, sem falar na ação civil pública,
diata subordinação à autoridade judiciária, assegura- também mencionada no texto constitucional.
da a livre manifestação do ponto de vista técnico.

221
Considerados os diferentes tipos de tutelas inseridas ocultação, informar qualquer pessoa da família ou,
no direito da criança e do adolescente, justifica-se a tute- em sua falta, qualquer vizinho do dia útil em que vol-
la jurisdicional diferenciada, adaptada à condição em de- tará a fim de efetuar a citação, na hora que designar,
senvolvimento da criança e do adolescente, que deve ser nos termos do art. 252 e seguintes da Lei no 13.105, de
ágil, efetiva, atenta às peculiaridades do caso concreto. 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
Os procedimentos especiais do ECA se referem a: per- § 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em
da e suspensão de poder familiar, destituição de tutela, local incerto ou não sabido, serão citados por edital no
colocação em família substituta, apuração de ato infra- prazo de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensa-
cional atribuído a adolescente, apuração de irregularida- do o envio de ofícios para a localização.
des em atendimento, apuração de infração administrati-
va às normas de proteção da criança e do adolescente e Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de
habilitação em adoção. constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento
e de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe
Seção II seja nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresenta-
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar ção de resposta, contando-se o prazo a partir da inti-
mação do despacho de nomeação.
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado
do  poder familiar  terá início por provocação do Mi- de liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no
nistério Público ou de quem tenha legítimo interesse. momento da citação pessoal, se deseja que lhe seja
nomeado defensor.
Art. 156. A petição inicial indicará:
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re-
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do quisitará de qualquer repartição ou órgão público a
requerente e do requerido, dispensada a qualificação apresentação de documento que interesse à causa, de
em se tratando de pedido formulado por representan- ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério
te do Ministério Público; Público.
III - a exposição sumária do fato e o pedido;
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido
logo, o rol de testemunhas e documentos. concluído o estudo social ou a perícia realizada por
equipe interprofissional ou multidisciplinar, a autori-
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
dade judiciária dará vista dos autos ao Ministério Pú-
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a sus-
blico, por 5 (cinco) dias, salvo quando este for o reque-
pensão do poder familiar, liminar ou incidentalmente,
rente, e decidirá em igual prazo.
até o julgamento definitivo da causa, ficando a crian-
§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requeri-
ça ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante
mento das partes ou do Ministério Público, determina-
termo de responsabilidade. 
rá a oitiva de testemunhas que comprovem a presença
§ 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciá-
de uma das causas de suspensão ou destituição do po-
ria determinará, concomitantemente ao despacho de
citação e independentemente de requerimento do in- der familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no
teressado, a realização de estudo social ou perícia por 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), ou no
equipe interprofissional ou multidisciplinar para com- art. 24 desta Lei.
provar a presença de uma das causas de suspensão ou § 2o (Revogado).
destituição do poder familiar, ressalvado o disposto no § 3o Se o pedido importar em modificação de guarda,
§ 10 do art. 101 desta Lei, e observada a Lei no 13.431, será obrigatória, desde que possível e razoável, a oi-
de 4 de abril de 2017. tiva da criança ou adolescente, respeitado seu estágio
§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades in- de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as
dígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à implicações da medida.
equipe interprofissional ou multidisciplinar referida no § 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles
§ 1o deste artigo, de representantes do órgão federal forem identificados e estiverem em local conhecido,
responsável pela política indigenista, observado o dis- ressalvados os casos de não comparecimento perante
posto no § 6o do art. 28 desta Lei. a Justiça quando devidamente citados.
§ 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberda-
de, a autoridade judicial requisitará sua apresentação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de


dez dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas para a oitiva.
a serem produzidas e oferecendo desde logo o rol de
testemunhas e documentos. Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciá-
§ 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os ria dará vista dos autos ao Ministério Público, por cin-
meios para sua realização. co dias, salvo quando este for o requerente, designan-
§ 2º O requerido privado de liberdade deverá ser cita- do, desde logo, audiência de instrução e julgamento.
do pessoalmente. § 1º (Revogado).
§ 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça § 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério
houver procurado o citando em seu domicílio ou resi- Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se
dência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de oralmente o parecer técnico, salvo quando apresen-

222
tado por escrito, manifestando-se sucessivamente o família substituta, este poderá ser formulado direta-
requerente, o requerido e o Ministério Público, pelo mente em cartório, em petição assinada pelos próprios
tempo de 20 (vinte) minutos cada um, prorrogável por requerentes, dispensada a assistência de advogado. 
mais 10 (dez) minutos. § 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz:
§ 3o A decisão será proferida na audiência, podendo I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes,
a autoridade judiciária, excepcionalmente, designar devidamente assistidas por advogado ou por defensor
data para sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) público, para verificar sua concordância com a ado-
dias. ção, no prazo máximo de 10 (dez) dias, contado da
§ 4o Quando o procedimento de destituição de poder data do protocolo da petição ou da entrega da criança
familiar for iniciado pelo Ministério Público, não have- em juízo, tomando por termo as declarações; e
rá necessidade de nomeação de curador especial em II - declarará a extinção do poder familiar.
favor da criança ou adolescente. § 2o O consentimento dos titulares do poder familiar
será precedido de orientações e esclarecimentos pres-
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do pro- tados pela equipe interprofissional da Justiça da In-
cedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá fância e da Juventude, em especial, no caso de adoção,
ao juiz, no caso de notória inviabilidade de manuten- sobre a irrevogabilidade da medida.
ção do poder familiar, dirigir esforços para preparar a § 3o São garantidos a livre manifestação de vontade
criança ou o adolescente com vistas à colocação em dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo
família substituta. das informações.
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou § 4o O consentimento prestado por escrito não terá
a suspensão do poder familiar será averbada à mar- validade se não for ratificado na audiência a que se
gem do registro de nascimento da criança ou do ado- refere o § 1o deste artigo.
lescente. § 5o O consentimento é retratável até a data da reali-
zação da audiência especificada no § 1o deste artigo, e
Seção III os pais podem exercer o arrependimento no prazo de
Da Destituição da Tutela 10 (dez) dias, contado da data de prolação da senten-
ça de extinção do poder familiar.
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o § 6o O consentimento somente terá valor se for dado
procedimento para a remoção de tutor previsto na lei após o nascimento da criança.
processual civil e, no que couber, o disposto na seção § 7o A família natural e a família substituta receberão
anterior. a devida orientação por intermédio de equipe técnica
A destituição da tutela pode, assim, ser decretada ju- interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
dicialmente, em procedimento contraditório, nos casos Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
previstos na legislação civil, bem como na hipótese de responsáveis pela execução da política municipal de
descumprimento injustificado dos deveres e obrigações. garantia do direito à convivência familiar.
Seção IV Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque-
Da Colocação em Família Substituta rimento das partes ou do Ministério Público, deter-
minará a realização de estudo social ou, se possível,
Dos artigos 165 a 170 estão descritos procedimentos
perícia por equipe interprofissional, decidindo sobre a
adotados na colocação em família substituta:
concessão de guarda provisória, bem como, no caso de
adoção, sobre o estágio de convivência.
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos
Parágrafo único.  Deferida a concessão da guarda pro-
de colocação em família substituta:
I - qualificação completa do requerente e de seu even- visória ou do estágio de convivência, a criança ou o
tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência adolescente será entregue ao interessado, mediante
deste; termo de responsabilidade.  
II - indicação de eventual parentesco do requerente
e de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe-
adolescente, especificando se tem ou não parente vivo; ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o
III - qualificação completa da criança ou adolescente e adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Pú-
de seus pais, se conhecidos; blico, pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade
judiciária em igual prazo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,


anexando, se possível, uma cópia da respectiva certi-
dão; Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela,
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou a perda ou a suspensão do poder familiar  constituir
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente. pressuposto lógico da medida principal de colocação
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar- em família substituta, será observado o procedimento
-se-ão também os requisitos específicos. contraditório previsto nas Seções II e III deste Capítulo.  
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda
Art. 166.  Se os pais forem falecidos, tiverem sido des- poderá ser decretada nos mesmos autos do procedi-
tituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem mento, observado o disposto no art. 35.
aderido expressamente ao pedido de colocação em

223
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se- § 2º Nas localidades onde não houver entidade de
-á o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade
no art. 47. policial. À falta de repartição policial especializada, o
Parágrafo único.  A colocação de criança ou adoles- adolescente aguardará a apresentação em dependên-
cente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de cia separada da destinada a maiores, não podendo,
acolhimento familiar será comunicada pela autorida- em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no pa-
de judiciária à entidade por este responsável no prazo rágrafo anterior.
máximo de 5 (cinco) dias.  
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade
Seção V policial encaminhará imediatamente ao representan-
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ado- te do Ministério Público cópia do auto de apreensão
lescente ou boletim de ocorrência.

Art. 171. O adolescente apreendido por força de or- Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver
dem judicial será, desde logo, encaminhado à autori- indícios de participação de adolescente na prática de
dade judiciária. ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao
representante do Ministério Público relatório das in-
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de vestigações e demais documentos.
ato infracional será, desde logo, encaminhado à auto-
ridade policial competente. Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de
Parágrafo único. Havendo repartição policial espe- ato infracional não poderá ser conduzido ou transpor-
cializada para atendimento de adolescente e em se tado em compartimento fechado de veículo policial,
tratando de ato infracional praticado em co-autoria em condições atentatórias à sua dignidade, ou que
com maior, prevalecerá a atribuição da repartição es- impliquem risco à sua integridade física ou mental,
pecializada, que, após as providências necessárias e sob pena de responsabilidade.
conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição
policial própria. Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante
do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto
de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório po-
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional co-
licial, devidamente autuados pelo cartório judicial e
metido mediante violência ou grave ameaça a pessoa,
com informação sobre os antecedentes do adolescen-
a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos
te, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e,
arts. 106, parágrafo único, e 107, deverá:
em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas
e testemunhas.
e o adolescente;
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o re-
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
presentante do Ministério Público notificará os pais ou
III - requisitar os exames ou perícias necessários à
responsável para apresentação do adolescente, po-
comprovação da materialidade e autoria da infração. dendo requisitar o concurso das polícias civil e militar.
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a
lavratura do auto poderá ser substituída por boletim Art. 180. Adotadas as providências a que alude o ar-
de ocorrência circunstanciada. tigo anterior, o representante do Ministério Público
poderá:
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou respon- I - promover o arquivamento dos autos;
sável, o adolescente será prontamente liberado pela II - conceder a remissão;
autoridade policial, sob termo de compromisso e res- III - representar à autoridade judiciária para aplicação
ponsabilidade de sua apresentação ao representante de medida sócio-educativa.
do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo im-
possível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou
pela gravidade do ato infracional e sua repercussão concedida a remissão pelo representante do Ministério
social, deva o adolescente permanecer sob internação Público, mediante termo fundamentado, que conterá
para garantia de sua segurança pessoal ou manuten- o resumo dos fatos, os autos serão conclusos à autori-
ção da ordem pública.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dade judiciária para homologação.


§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli- autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o
cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao repre- cumprimento da medida.
sentante do Ministério Público, juntamente com cópia § 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa
do auto de apreensão ou boletim de ocorrência. dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a despacho fundamentado, e este oferecerá represen-
autoridade policial encaminhará o adolescente à en- tação, designará outro membro do Ministério Público
tidade de atendimento, que fará a apresentação ao para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a
representante do Ministério Público no prazo de vinte remissão, que só então estará a autoridade judiciária
e quatro horas. obrigada a homologar.

224
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do nomeará defensor, designando, desde logo, audiência
Ministério Público não promover o arquivamento ou em continuação, podendo determinar a realização de
conceder a remissão, oferecerá representação à auto- diligências e estudo do caso.
ridade judiciária, propondo a instauração de procedi- § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado,
mento para aplicação da medida sócio-educativa que no prazo de três dias contado da audiência de apre-
se afigurar a mais adequada. sentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemu-
§ 1º A representação será oferecida por petição, que nhas.
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as teste-
ato infracional e, quando necessário, o rol de teste- munhas arroladas na representação e na defesa pré-
munhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão via, cumpridas as diligências e juntado o relatório da
diária instalada pela autoridade judiciária. equipe interprofissional, será dada a palavra ao re-
§ 2º A representação independe de prova pré-consti- presentante do Ministério Público e ao defensor, su-
tuída da autoria e materialidade. cessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada
um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con- judiciária, que em seguida proferirá decisão.
clusão do procedimento, estando o adolescente inter-
nado provisoriamente, será de quarenta e cinco dias. Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado,
não comparecer, injustificadamente à audiência de
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade ju- apresentação, a autoridade judiciária designará nova
diciária designará audiência de apresentação do ado- data, determinando sua condução coercitiva.
lescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou
manutenção da internação, observado o disposto no Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus-
art. 108 e parágrafo. pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão fase do procedimento, antes da sentença.
cientificados do teor da representação, e notificados a
comparecer à audiência, acompanhados de advogado. Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qual-
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, quer medida, desde que reconheça na sentença:
a autoridade judiciária dará curador especial ao ado- I - estar provada a inexistência do fato;
lescente. II - não haver prova da existência do fato;
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autorida- III - não constituir o fato ato infracional;
de judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido
determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva para o ato infracional.
apresentação. Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o
adolescente internado, será imediatamente colocado
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada
em liberdade.
a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos
pais ou responsável.
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida
de internação ou regime de semi-liberdade será feita:
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
I - ao adolescente e ao seu defensor;
toridade judiciária, não poderá ser cumprida em esta-
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus
belecimento prisional.
pais ou responsável, sem prejuízo do defensor.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac-
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-
terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá -se-á unicamente na pessoa do defensor.
ser imediatamente transferido para a localidade mais § 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente,
próxima. deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles- sentença.
cente aguardará sua remoção em repartição policial,
desde que em seção isolada dos adultos e com insta- Seção V-A
lações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Inves-
máximo de cinco dias, sob pena de responsabilidade. tigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de
Criança e de Adolescente
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou


responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na in-
dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional ternet com o fim de investigar os crimes previstos nos
qualificado. arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do De-
remissão, ouvirá o representante do Ministério Públi- creto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
co, proferindo decisão. Penal), obedecerá às seguintes regras:
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de I – será precedida de autorização judicial devidamente
medida de internação ou colocação em regime de circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os
semi-liberdade, a autoridade judiciária, verificando limites da infiltração para obtenção de prova, ouvido
que o adolescente não possui advogado constituído, o Ministério Público;

225
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú- Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos
blico ou representação de delegado de polícia e conte- eletrônicos praticados durante a operação deverão ser
rá a demonstração de sua necessidade, o alcance das registrados, gravados, armazenados e encaminhados
tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas ao juiz e ao Ministério Público, juntamente com rela-
investigadas e, quando possível, os dados de conexão tório circunstanciado.
ou cadastrais que permitam a identificação dessas Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados ci-
pessoas; tados no caput deste artigo serão reunidos em autos
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, apartados e apensados ao processo criminal junta-
sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o to- mente com o inquérito policial, assegurando-se a pre-
tal não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja servação da identidade do agente policial infiltrado e
demonstrada sua efetiva necessidade, a critério da au- a intimidade das crianças e dos adolescentes envol-
toridade judicial. vidos.
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode-
rão requisitar relatórios parciais da operação de infil- Seção VI
tração antes do término do prazo de que trata o inciso Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
II do § 1º deste artigo. Atendimento
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste
artigo, consideram-se: Art. 191. O procedimento de apuração de irregulari-
I – dados de conexão: informações referentes a hora, dades em entidade governamental e não-governa-
data, início, término, duração, endereço de Protocolo mental terá início mediante portaria da autoridade
de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da co- judiciária ou representação do Ministério Público ou
nexão; do Conselho Tutelar, onde conste, necessariamente,
II – dados cadastrais: informações referentes a nome resumo dos fatos.
e endereço de assinante ou de usuário registrado ou Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a au-
toridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decre-
autenticado para a conexão a quem endereço de IP,
tar liminarmente o afastamento provisório do dirigen-
identificação de usuário ou código de acesso tenha
te da entidade, mediante decisão fundamentada.
sido atribuído no momento da conexão.
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no
será admitida se a prova puder ser obtida por outros
prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo
meios.
juntar documentos e indicar as provas a produzir.
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo ne-
serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável cessário, a autoridade judiciária designará audiência
pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo. de instrução e julgamento, intimando as partes.
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o § 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o
acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministé- Ministério Público terão cinco dias para oferecer ale-
rio Público e ao delegado de polícia responsável pela gações finais, decidindo a autoridade judiciária em
operação, com o objetivo de garantir o sigilo das in- igual prazo.
vestigações. § 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de-
finitivo de dirigente de entidade governamental, a au-
Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta toridade judiciária oficiará à autoridade administra-
a sua identidade para, por meio da internet, colher tiva imediatamente superior ao afastado, marcando
indícios de autoria e materialidade dos crimes previs- prazo para a substituição.
tos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D § 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autori-
desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B dade judiciária poderá fixar prazo para a remoção das
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o
(Código Penal). processo será extinto, sem julgamento de mérito.
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que dei- § 4º A multa e a advertência serão impostas ao diri-
xar de observar a estrita finalidade da investigação gente da entidade ou programa de atendimento.
responderá pelos excessos praticados.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Seção VII
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público Da Apuração de Infração Administrativa às Nor-
poderão incluir nos bancos de dados próprios, me- mas de Proteção à Criança e ao Adolescente
diante procedimento sigiloso e requisição da autori-
dade judicial, as informações necessárias à efetividade Art. 194. O procedimento para imposição de penalida-
da identidade fictícia criada. de administrativa por infração às normas de proteção
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata à criança e ao adolescente terá início por represen-
esta Seção será numerado e tombado em livro espe- tação do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar,
cífico. ou auto de infração elaborado por servidor efetivo ou
voluntário credenciado, e assinado por duas testemu-
nhas, se possível.

226
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, III - requerer a juntada de documentos complementa-
poderão ser usadas fórmulas impressas, especifican- res e a realização de outras diligências que entender
do-se a natureza e as circunstâncias da infração. necessárias. 
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração se-
guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso Art. 197-C.  Intervirá no feito, obrigatoriamente, equi-
contrário, dos motivos do retardamento. pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e
da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial,
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para que conterá subsídios que permitam aferir a capaci-
apresentação de defesa, contado da data da intima- dade e o preparo dos postulantes para o exercício de
ção, que será feita: uma paternidade ou maternidade responsável, à luz
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for la- dos requisitos e princípios desta Lei. 
vrado na presença do requerido; § 1o É obrigatória a participação dos postulantes em
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente programa oferecido pela Justiça da Infância e da Ju-
habilitado, que entregará cópia do auto ou da repre- ventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
sentação ao requerido, ou a seu representante legal, responsáveis pela execução da política municipal de
lavrando certidão; garantia do direito à convivência familiar e dos grupos
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não de apoio à adoção devidamente habilitados perante
for encontrado o requerido ou seu representante legal; a Justiça da Infância e da Juventude, que inclua pre-
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou paração psicológica, orientação e estímulo à adoção
não sabido o paradeiro do requerido ou de seu repre- inter-racial, de crianças ou de adolescentes com de-
sentante legal. ficiência, com doenças crônicas ou com necessidades
específicas de saúde, e de grupos de irmãos.
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo § 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa
legal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do obrigatória da preparação referida no § 1o deste arti-
Ministério Público, por cinco dias, decidindo em igual go incluirá o contato com crianças e adolescentes em
prazo. regime de acolhimento familiar ou institucional, a ser
realizado sob orientação, supervisão e avaliação da
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciá- equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude e
ria procederá na conformidade do artigo anterior, ou, dos grupos de apoio à adoção, com apoio dos técnicos
sendo necessário, designará audiência de instrução e responsáveis pelo programa de acolhimento familiar e
julgamento. institucional e pela execução da política municipal de
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se- garantia do direito à convivência familiar.
-ão sucessivamente o Ministério Público e o procura- § 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes
dor do requerido, pelo tempo de vinte minutos para acolhidos institucionalmente ou por família acolhedo-
cada um, prorrogável por mais dez, a critério da auto- ra sejam preparados por equipe interprofissional antes
ridade judiciária, que em seguida proferirá sentença. da inclusão em família adotiva.

Seção VIII Art. 197-D.  Certificada nos autos a conclusão da par-


Da Habilitação de Pretendentes à Adoção ticipação no programa referido no art. 197-C desta
Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta
Art. 197-A.  Os postulantes à adoção, domiciliados no e oito) horas, decidirá acerca das diligências requeri-
Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:  das pelo Ministério Público e determinará a juntada
I - qualificação completa;  do estudo psicossocial, designando, conforme o caso,
II - dados familiares;  audiência de instrução e julgamento. 
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento Parágrafo único.  Caso não sejam requeridas diligên-
ou casamento, ou declaração relativa ao período de cias, ou sendo essas indeferidas, a autoridade judi-
união estável;  ciária determinará a juntada do estudo psicossocial,
IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca- abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério Público,
dastro de Pessoas Físicas;  por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. 
V - comprovante de renda e domicílio;  Art. 197-E.  Deferida a habilitação, o postulante será
VI - atestados de sanidade física e mental;  inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

VII - certidão de antecedentes criminais;  sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo
VIII - certidão negativa de distribuição cível.  com ordem cronológica de habilitação e conforme a
disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis. 
Art. 197-B.  A autoridade judiciária, no prazo de 48 § 1o A ordem cronológica das habilitações somente
(quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Minis- poderá deixar de ser observada pela autoridade judi-
tério Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:  ciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equi- Lei, quando comprovado ser essa a melhor solução no
pe interprofissional encarregada de elaborar o estudo interesse do adotando.
técnico a que se refere o art. 197-C desta Lei;  § 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos mínimo trienalmente mediante avaliação por equipe
postulantes em juízo e testemunhas;  interprofissional.

227
§ 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova Art. 199-C.  Os recursos nos procedimentos de adoção
adoção, será dispensável a renovação da habilitação, e de destituição de poder familiar, em face da rele-
bastando a avaliação por equipe interprofissional. vância das questões, serão processados com priorida-
§ 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilita- de absoluta, devendo ser imediatamente distribuídos,
do, à adoção de crianças ou adolescentes indicados ficando vedado que aguardem, em qualquer situação,
dentro do perfil escolhido, haverá reavaliação da ha- oportuna distribuição, e serão colocados em mesa
bilitação concedida. para julgamento sem revisão e com parecer urgente
§ 5o A desistência do pretendente em relação à guarda do Ministério Público.  
para fins de adoção ou a devolução da criança ou do
adolescente depois do trânsito em julgado da sentença Art. 199-D.  O relator deverá colocar o processo em
de adoção importará na sua exclusão dos cadastros mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (ses-
de adoção. senta) dias, contado da sua conclusão. 
Parágrafo único.  O Ministério Público será intimado
Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da ha- da data do julgamento e poderá na sessão, se enten-
bilitação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, der necessário, apresentar oralmente seu parecer. 
prorrogável por igual período, mediante decisão fun-
damentada da autoridade judiciária. Art. 199-E.  O Ministério Público poderá requerer a
instauração de procedimento para apuração de res-
Capítulo IV ponsabilidades se constatar o descumprimento das
Dos Recursos providências e do prazo previstos nos artigos anterio-
res.  
Art. 198.  Nos procedimentos afetos à Justiça da In-
fância e da Juventude, inclusive os relativos à execu- Capítulo V
ção das medidas socioeducativas, adotar-se-á o siste- Do Ministério Público
ma recursal da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973
(Código de Processo Civil), com as seguintes adapta- Art. 200. As funções do Ministério Público previstas
ções: (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) nesta Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei
I - os recursos serão interpostos independentemente orgânica.
de preparo;
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de de- Art. 201. Compete ao Ministério Público:
claração, o prazo para o Ministério Público e para a I - conceder a remissão como forma de exclusão do
defesa será sempre de 10 (dez) dias;  (Redação dada processo;
pela Lei nº 12.594, de 2012) II - promover e acompanhar os procedimentos relati-
III - os recursos terão preferência de julgamento e dis- vos às infrações atribuídas a adolescentes;
pensarão revisor; III - promover e acompanhar as ações de alimentos e
VII - antes de determinar a remessa dos autos à supe- os procedimentos de suspensão e destituição do poder
rior instância, no caso de apelação, ou do instrumento, familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e
no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá guardiães, bem como oficiar em todos os demais pro-
despacho fundamentado, mantendo ou reformando a cedimentos da competência da Justiça da Infância e
decisão, no prazo de cinco dias; da Juventude; 
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o es- IV - promover, de ofício ou por solicitação dos inte-
crivão remeterá os autos ou o instrumento à superior ressados, a especialização e a inscrição de hipoteca
instância dentro de vinte e quatro horas, independen- legal e a prestação de contas dos tutores, curadores e
temente de novo pedido do recorrente; se a reformar, quaisquer administradores de bens de crianças e ado-
a remessa dos autos dependerá de pedido expresso da lescentes nas hipóteses do art. 98;
parte interessada ou do Ministério Público, no prazo V - promover o inquérito civil e a ação civil pública
de cinco dias, contados da intimação. para a proteção dos interesses individuais, difusos ou
coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusi-
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no ve os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constitui-
art. 149 caberá recurso de apelação. ção Federal;
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Art. 199-A.  A sentença que deferir a adoção produz instruí-los:


efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será a) expedir notificações para colher depoimentos ou
recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se esclarecimentos e, em caso de não comparecimento
se tratar de adoção internacional ou se houver perigo injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive
de dano irreparável ou de difícil reparação ao ado- pela polícia civil ou militar;
tando.  b) requisitar informações, exames, perícias e docu-
mentos de autoridades municipais, estaduais e fede-
Art. 199-B.  A sentença que destituir ambos ou qual- rais, da administração direta ou indireta, bem como
quer dos genitores do poder familiar fica sujeita a promover inspeções e diligências investigatórias;
apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito c) requisitar informações e documentos a particulares
devolutivo.  e instituições privadas;

228
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências in- Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
vestigatórias e determinar a instauração de inquérito acarreta a nulidade do feito, que será declarada de
policial, para apuração de ilícitos ou infrações às nor- ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer inte-
mas de proteção à infância e à juventude; ressado.
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
legais assegurados às crianças e adolescentes, promo- Art. 205. As manifestações processuais do represen-
vendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; tante do Ministério Público deverão ser fundamenta-
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e das.
habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribu-
nal, na defesa dos interesses sociais e individuais in- Capítulo VI
disponíveis afetos à criança e ao adolescente; Do Advogado
X - representar ao juízo visando à aplicação de pe-
nalidade por infrações cometidas contra as normas Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res-
de proteção à infância e à juventude, sem prejuízo da ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo inte-
promoção da responsabilidade civil e penal do infra- resse na solução da lide poderão intervir nos procedi-
tor, quando cabível; mentos de que trata esta Lei, através de advogado, o
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares qual será intimado para todos os atos, pessoalmente
de atendimento e os programas de que trata esta Lei, ou por publicação oficial, respeitado o segredo de jus-
adotando de pronto as medidas administrativas ou ju- tiça.
diciais necessárias à remoção de irregularidades por- Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária
ventura verificadas; integral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração
dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a
assistência social, públicos ou privados, para o desem- prática de ato infracional, ainda que ausente ou fora-
penho de suas atribuições. gido, será     processado sem defensor.
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no-
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo,
nas mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Consti- constituir outro de sua preferência.
tuição e esta Lei. § 2º A ausência do defensor não determinará o adia-
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não ex- mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz no-
cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade mear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o
do Ministério Público. só efeito do ato.
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercí- § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando
cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído,
se encontre criança ou adolescente. tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a
§ 4º O representante do Ministério Público será res- presença da autoridade judiciária.
ponsável pelo uso indevido das informações e docu-
mentos que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo. Capítulo VII
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci- Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Di-
so VIII deste artigo, poderá o representante do Minis- fusos e Coletivos
tério Público:
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, ins- Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as
taurando o competente procedimento, sob sua presi- ações de responsabilidade por ofensa aos direitos as-
dência; segurados à criança e ao adolescente, referentes ao
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autori- não oferecimento ou oferta irregular:
dade reclamada, em dia, local e horário previamente I - do ensino obrigatório;
notificados ou acertados; II - de atendimento educacional especializado aos
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser- portadores de deficiência;
viços públicos e de relevância pública afetos à criança III - de atendimento em creche e pré-escola às crian-
e ao adolescente, fixando prazo razoável para sua per- ças de zero a cinco anos de idade;
feita adequação. IV - de ensino noturno regular, adequado às condições
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do educando;
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não V - de programas suplementares de oferta de material
for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Públi- didático-escolar, transporte e assistência à saúde do
co na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta educando do ensino fundamental;
Lei, hipótese em que terá vista dos autos depois das VI - de serviço de assistência social visando à proteção
partes, podendo juntar documentos e requerer dili- à família, à maternidade, à infância e à adolescência,
gências, usando os recursos cabíveis. bem como ao amparo às crianças e adolescentes que
dele necessitem;
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qual- VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
quer caso, será feita pessoalmente. VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles-
centes privados de liberdade.

229
IX - de ações, serviços e programas de orientação, Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimen-
apoio e promoção social de famílias e destinados ao to de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá
pleno exercício do direito à convivência familiar por a tutela específica da obrigação ou determinará provi-
crianças e adolescentes.  dências que assegurem o resultado prático equivalen-
X - de programas de atendimento para a execução das te ao do adimplemento.
medidas socioeducativas e aplicação de medidas de § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha-
proteção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)  vendo justificado receio de ineficácia do provimento
§ 1o  As hipóteses previstas neste artigo não excluem final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou
da proteção judicial outros interesses individuais, difu- após justificação prévia, citando o réu.
sos ou coletivos, próprios da infância e da adolescên- § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
cia, protegidos pela Constituição e pela Lei.  ou na sentença, impor multa diária ao réu, indepen-
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças ou dentemente de pedido do autor, se for suficiente ou
adolescentes será realizada imediatamente após noti- compatível com a obrigação, fixando prazo razoável
ficação aos órgãos competentes, que deverão comu- para o cumprimento do preceito.
nicar o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito
e companhias de transporte interestaduais e interna- em julgado da sentença favorável ao autor, mas será
cionais, fornecendo-lhes todos os dados necessários à devida desde o dia em que se houver configurado o
identificação do desaparecido. descumprimento.

Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão pro- Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo
postas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do
ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta Adolescente do respectivo município.
para processar a causa, ressalvadas a competência da § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o
Justiça Federal e a competência originária dos tribu- trânsito em julgado da decisão serão exigidas através
nais superiores. de execução promovida pelo Ministério Público, nos
mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses legitimados.
coletivos ou difusos, consideram-se legitimados con- § 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di-
correntemente: nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial
I - o Ministério Público; de crédito, em conta com correção monetária.
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Fede-
ral e os territórios; Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
III - as associações legalmente constituídas há pelo recursos, para evitar dano irreparável à parte.
menos um ano e que incluam entre seus fins insti-
tucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impu-
por esta Lei, dispensada a autorização da assembleia, ser condenação ao poder público, o juiz determinará
se houver prévia autorização estatutária. a remessa de peças à autoridade competente, para
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi- apuração da responsabilidade civil e administrativa
nistérios Públicos da União e dos estados na defesa do agente a que se atribua a ação ou omissão.
dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em jul-
associação legitimada, o Ministério Público ou outro gado da sentença condenatória sem que a associação
legitimado poderá assumir a titularidade ativa. autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Mi-
nistério Público, facultada igual iniciativa aos demais
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão to- legitimados.
mar dos interessados compromisso de ajustamento de Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pa-
sua conduta às exigências legais, o qual terá eficácia gar ao réu os honorários advocatícios arbitrados na
de título executivo extrajudicial. conformidade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11
de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), quando
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegi- reconhecer que a pretensão é manifestamente infun-
dos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de dada.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ações pertinentes. Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as-


§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as sociação autora e os diretores responsáveis pela pro-
normas do Código de Processo Civil. positura da ação serão solidariamente condenados ao
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade décuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de por perdas e danos.
atribuições do poder público, que lesem direito líquido
e certo previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não
que se regerá pelas normas da lei do mandado de se- haverá adiantamento de custas, emolumentos, hono-
gurança. rários periciais e quaisquer outras despesas.

230
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor públi- Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação
co deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, pública incondicionada.
prestando-lhe informações sobre fatos que constituam
objeto de ação civil, e indicando-lhe os elementos de Seção II
convicção. Dos Crimes em Espécie

Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigen-
tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam te de estabelecimento de atenção à saúde de gestante
ensejar a propositura de ação civil, remeterão peças de manter registro das atividades desenvolvidas, na
ao Ministério Público para as providências cabíveis. forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como
de fornecer à parturiente ou a seu responsável, por
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado ocasião da alta médica, declaração de nascimento,
poderá requerer às autoridades competentes as certi- onde constem as intercorrências do parto e do desen-
dões e informações que julgar necessárias, que serão volvimento do neonato:
fornecidas no prazo de quinze dias. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer
pessoa, organismo público ou particular, certidões, in- Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
formações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
o qual não poderá ser inferior a dez dias úteis. identificar corretamente o neonato e a parturiente,
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas por ocasião do parto, bem como deixar de proceder
as diligências, se convencer da inexistência de funda- aos exames referidos no art. 10 desta Lei:
mento para a propositura da ação cível, promoverá o Pena - detenção de seis meses a dois anos.
arquivamento dos autos do inquérito civil ou das pe- Parágrafo único. Se o crime é culposo:
ças informativas, fazendo-o fundamentadamente. Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de infor-
mação arquivados serão remetidos, sob pena de se Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua li-
incorrer em falta grave, no prazo de três dias, ao Con- berdade, procedendo à sua apreensão sem estar em
selho Superior do Ministério Público. flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem es-
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promo- crita da autoridade judiciária competente:
ção de arquivamento, em sessão do Conselho Superior Pena - detenção de seis meses a dois anos.
do Ministério público, poderão as associações legiti- Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que
madas apresentar razões escritas ou documentos, que procede à apreensão sem observância das formalida-
serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às des legais.
peças de informação.
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
exame e deliberação do Conselho Superior do Ministé- apreensão de criança ou adolescente de fazer imedia-
rio Público, conforme dispuser o seu regimento. ta comunicação à autoridade judiciária competente e
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
promoção de arquivamento, designará, desde logo, Pena - detenção de seis meses a dois anos.
outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento
da ação. Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au-
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a cons-
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber,
trangimento:
as disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Título VII
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou
adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegali-
Capítulo I
dade da apreensão:
Dos Crimes
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Seção I
Disposições Gerais Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixa-
do nesta Lei em benefício de adolescente privado de
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados liberdade:
contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, Pena - detenção de seis meses a dois anos.
sem prejuízo do disposto na legislação penal.
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as judiciária, membro do Conselho Tutelar ou represen-
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao     tante do Ministério Público no exercício de função pre-
processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal. vista nesta Lei:

231
Pena - detenção de seis meses a dois anos.   § 2o  As condutas tipificadas nos incisos I e II do §
1o deste artigo são puníveis quando o responsável le-
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de gal pela prestação do serviço, oficialmente notificado,
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou or- deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que
dem judicial, com o fim de colocação em lar substituto: trata o caput deste artigo. 
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
 Art. 241-B.  Adquirir, possuir ou armazenar, por qual-
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro
pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. envolvendo criança ou adolescente: 
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem ofe-  Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
rece ou efetiva a paga ou recompensa.  § 1o  A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços)
se de pequena quantidade o material a que se refere
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato o caput deste artigo. 
destinado ao envio de criança ou adolescente para o  § 2o  Não há crime se a posse ou o armazenamento
exterior com inobservância das formalidades legais ou tem a finalidade de comunicar às autoridades com-
com o fito de obter lucro: petentes a ocorrência das condutas descritas nos arts.
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a comuni-
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave cação for feita por:
ameaça ou fraude:   I – agente público no exercício de suas funções; 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da  II – membro de entidade, legalmente constituída, que
pena correspondente à violência. inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebi-
mento, o processamento e o encaminhamento de no-
Art. 240.  Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar tícia dos crimes referidos neste parágrafo; 
ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito   III – representante legal e funcionários responsáveis
ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:   de provedor de acesso ou serviço prestado por meio de
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.  rede de computadores, até o recebimento do material
§ 1o  Incorre nas mesmas penas quem agencia, facili- relativo à notícia feita à autoridade policial, ao Minis-
ta, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia tério Público ou ao Poder Judiciário. 
a participação de criança ou adolescente nas cenas  § 3o  As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão
referidas no  caputdeste artigo, ou ainda quem com manter sob sigilo o material ilícito referido. 
esses contracena.  
§ 2o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente Art. 241-C.  Simular a participação de criança ou ado-
comete o crime:   lescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pre-
meio de adulteração, montagem ou modificação de
texto de exercê-la;  
fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de repre-
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabi-
sentação visual: 
tação ou de hospitalidade; ou  
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
III – prevalecendo-se de relações de parentesco con-
Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas quem
sangüíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção,
vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica
de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou
ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou ar-
de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade so-
bre ela, ou com seu consentimento.   mazena o material produzido na forma do caput des-
te artigo. 
Art. 241.  Vender ou expor à venda fotografia, vídeo  Art. 241-D.  Aliciar, assediar, instigar ou constranger,
ou outro registro que contenha cena de sexo explícito por qualquer meio de comunicação, criança, com o
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:  fim de com ela praticar ato libidinoso: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.   Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
 Parágrafo único.  Nas mesmas penas incorre quem: 
Art. 241-A.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,   I – facilita ou induz o acesso à criança de material
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, in- contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com
clusive por meio de sistema de informática ou telemá- o fim de com ela praticar ato libidinoso; 
 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tico, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha


cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo com o fim de induzir criança a se exibir de forma por-
criança ou adolescente:   nográfica ou sexualmente explícita. 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
§ 1o  Nas mesmas penas incorre quem:   Art. 241-E.  Para efeito dos crimes previstos nesta Lei,
I – assegura os meios ou serviços para o armazena- a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica”
mento das fotografias, cenas ou imagens de que trata compreende qualquer situação que envolva criança
o caput deste artigo;  ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma
de computadores às fotografias, cenas ou imagens de criança ou adolescente para fins primordialmente se-
que trata o caput deste artigo. xuais. 

232
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de enti-
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente dade de atendimento o exercício dos direitos constan-
arma, munição ou explosivo: tes nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.  Pena - multa de três a vinte salários de referência,
aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entre-
gar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem auto-
criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem jus- rização devida, por qualquer meio de comunicação,
ta causa, outros produtos cujos componentes possam nome, ato ou documento de procedimento policial,
causar dependência física ou psíquica: administrativo ou judicial relativo a criança ou ado-
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, lescente a que se atribua ato infracional:
se o fato não constitui crime mais grave. Pena - multa de três a vinte salários de referência,
aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou § 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou par-
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescen- cialmente, fotografia de criança ou adolescente envol-
te fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles vido em ato infracional, ou qualquer ilustração que
que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de lhe diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam atri-
provocar qualquer dano físico em caso de utilização buídos, de forma a permitir sua identificação, direta
indevida: ou indiretamente.
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. § 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como neste artigo, a autoridade judiciária poderá determi-
tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostitui- nar a apreensão da publicação ou a suspensão da pro-
ção ou à exploração sexual:  gramação da emissora até por dois dias, bem como
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da publicação do periódico até por dois números. (Ex-
da perda de bens e valores utilizados na prática crimi- pressão declarada inconstitucional pela ADIN 869-2).
nosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do
Adolescente da unidade da Federação (Estado ou Dis- Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária
trito Federal) em que foi cometido o crime, ressalvado de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de
o direito de terceiro de boa-fé. regularizar a guarda, adolescente trazido de outra co-
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge- marca para a prestação de serviço doméstico, mesmo
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a que autorizado pelos pais ou responsável:
submissão de criança ou adolescente às práticas refe- Pena - multa de três a vinte salários de referência,
ridas no caputdeste artigo.  aplicando-se o dobro em caso de reincidência, inde-
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas- pendentemente das despesas de retorno do adoles-
sação da licença de localização e de funcionamento cente, se for o caso.
do estabelecimento. 
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os de-
Art. 244-B.  Corromper ou facilitar a corrupção de me- veres inerentes ao poder familiar  ou decorrente de
nor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração tutela ou guarda, bem assim determinação da autori-
penal ou induzindo-o a praticá-la:  dade judiciária ou Conselho Tutelar: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.  Pena - multa de três a vinte salários de referência,
§ 1o  Incorre nas penas previstas no caput deste artigo aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se
de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de ba- Art. 250.  Hospedar criança ou adolescente desacom-
te-papo da internet.  panhado dos pais ou responsável, ou sem autorização
§ 2o  As penas previstas no caput deste artigo são au- escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel,
mentadas de um terço no caso de a infração cometi- pensão, motel ou congênere: 
da ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei Pena – multa. 
no 8.072, de 25 de julho de 1990.  § 1º  Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena
de multa, a autoridade judiciária poderá determinar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Capítulo II o fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze)


Das Infrações Administrativas dias. 
§ 2º  Se comprovada a reincidência em período infe-
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável rior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definiti-
por estabelecimento de atenção à saúde e de ensi- vamente fechado e terá sua licença cassada. 
no fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar
à autoridade competente os casos de que tenha co- Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual-
nhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83,
maus-tratos contra criança ou adolescente: 84 e 85 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, Pena - multa de três a vinte salários de referência,
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

233
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá- das, de pessoas ou casais habilitados à adoção e de
culo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, crianças e adolescentes em regime de acolhimento
à entrada do local de exibição, informação destacada institucional ou familiar.  
sobre a natureza da diversão ou espetáculo e a faixa
etária especificada no certificado de classificação: Art. 258-B.  Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente
Pena - multa de três a vinte salários de referência, de estabelecimento de atenção à saúde de gestante
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. de efetuar imediato encaminhamento à autoridade
judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer ou gestante interessada em entregar seu filho para
representações ou espetáculos, sem indicar os limites adoção:  
de idade a que não se recomendem: Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
Pena - multa de três a vinte salários de referência, du- (três mil reais). 
plicada em caso de reincidência, aplicável, separada- Parágrafo único.  Incorre na mesma pena o funcioná-
mente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulga- rio de programa oficial ou comunitário destinado à
ção ou publicidade. garantia do direito à convivência familiar que deixa de
efetuar a comunicação referida no caput deste artigo. 
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, es-
petáculo em horário diverso do autorizado ou sem Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no
aviso de sua classificação: inciso II do art. 81:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; du- Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$
plicada em caso de reincidência a autoridade judiciá- 10.000,00 (dez mil reais);
ria poderá determinar a suspensão da programação Medida Administrativa - interdição do estabelecimen-
da emissora por até dois dias. to comercial até o recolhimento da multa aplicada.
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou con- Disposições Finais e Transitórias
gênere classificado pelo órgão competente como ina-
dequado às crianças ou adolescentes admitidos ao Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados
espetáculo: da publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na dispondo sobre a criação ou adaptação de seus órgãos
reincidência, a autoridade poderá determinar a sus- às diretrizes da política de atendimento fixadas no art.
pensão do espetáculo ou o fechamento do estabeleci-
88 e ao que estabelece o Título V do Livro II.
mento por até quinze dias.
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios
promoverem a adaptação de seus órgãos e programas
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita
às diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei.
de programação em vídeo, em desacordo com a clas-
sificação atribuída pelo órgão competente:
Art. 260.  Os contribuintes poderão efetuar doações
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá
determinar o fechamento do estabelecimento por até nacional, distrital, estaduais ou municipais, devida-
quinze dias. mente comprovadas, sendo essas integralmente dedu-
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 zidas do imposto de renda, obedecidos os seguintes
e 79 desta Lei: limites: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido
duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base
prejuízo de apreensão da revista ou publicação. no lucro real; e
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu-
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste
ou o empresário de observar o que dispõe esta Lei so- Anual, observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532,
bre o acesso de criança ou adolescente aos locais de de 10 de dezembro de 1997.
diversão, ou sobre sua participação no espetáculo: § 1º - (Revogado)
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em § 1o-A.  Na definição das prioridades a serem atendi-
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá das com os recursos captados pelos fundos nacional,
estaduais e municipais dos direitos da criança e do
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

determinar o fechamento do estabelecimento por até


quinze dias. adolescente, serão consideradas as disposições do Pla-
no Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direi-
Art. 258-A.  Deixar a autoridade competente de pro- to de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar
videnciar a instalação e operacionalização dos cadas- e Comunitária e as do Plano Nacional pela Primeira
tros previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:  Infância.  
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 § 2o  Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos
(três mil reais).  direitos da criança e do adolescente fixarão critérios
Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas a autori- de utilização, por meio de planos de aplicação, das do-
dade que deixa de efetuar o cadastramento de crian- tações subsidiadas e demais receitas, aplicando neces-
ças e de adolescentes em condições de serem adota- sariamente percentual para incentivo ao acolhimento,

234
sob a forma de guarda, de crianças e adolescentes e I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas
para programas de atenção integral à primeira infân- jurídicas que apuram o imposto trimestralmente; e
cia em áreas de maior carência socioeconômica e em II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual,
situações de calamidade.   para as pessoas jurídicas que apuram o imposto
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério anualmente. 
da Economia, Fazenda e Planejamento, regulamenta- Parágrafo único.  A doação deverá ser efetuada dentro
rá a comprovação das doações feitas aos fundos, nos do período a que se refere a apuração do imposto.
termos deste artigo.
§ 4º O Ministério Público determinará em cada co- Art. 260-C.  As doações de que trata o art. 260 desta
marca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fun- Lei podem ser efetuadas em espécie ou em bens. 
do Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescen- Parágrafo único.  As doações efetuadas em espécie
te, dos incentivos fiscais referidos neste artigo. devem ser depositadas em conta específica, em ins-
§ 5o  Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no tituição financeira pública, vinculadas aos respectivos
9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que fundos de que trata o art. 260.
trata o inciso I do caput: 
I - será considerada isoladamente, não se submetendo Art. 260-D.  Os órgãos responsáveis pela administra-
a limite em conjunto com outras deduções do imposto; ção das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e
e do Adolescente nacional, estaduais, distrital e munici-
II - não poderá ser computada como despesa opera- pais devem emitir recibo em favor do doador, assinado
cional na apuração do lucro real. por pessoa competente e pelo presidente do Conselho
correspondente, especificando:
Art. 260-A.  A partir do exercício de 2010, ano-ca- I - número de ordem; 
lendário de 2009, a pessoa física poderá optar pela II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ)
doação de que trata o inciso II do caput do art. 260 e endereço do emitente; 
diretamente em sua Declaração de Ajuste Anual.  III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF)
§ 1o  A doação de que trata o caput poderá ser de- do doador;
duzida até os seguintes percentuais aplicados sobre o IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
imposto apurado na declaração: V - ano-calendário a que se refere a doação.
I - (VETADO); § 1o  O comprovante de que trata o caput deste artigo
pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os
II - (VETADO); 
valores doados mês a mês. 
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
§ 2o  No caso de doação em bens, o comprovante deve
§ 2o  A dedução de que trata o caput:
conter a identificação dos bens, mediante descrição
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do im-
em campo próprio ou em relação anexa ao compro-
posto sobre a renda apurado na declaração de que
vante, informando também se houve avaliação, o
trata o inciso II do caput do art. 260;
nome, CPF ou CNPJ e endereço dos avaliadores.
II - não se aplica à pessoa física que: 
a) utilizar o desconto simplificado; Art. 260-E.  Na hipótese da doação em bens, o doador
b) apresentar declaração em formulário; ou  deverá:
c) entregar a declaração fora do prazo; I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu-
III - só se aplica às doações em espécie; e  mentação hábil;
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções II - baixar os bens doados na declaração de bens e
em vigor. direitos, quando se tratar de pessoa física, e na escri-
§ 3o  O pagamento da doação deve ser efetuado até a turação, no caso de pessoa jurídica; e
data de vencimento da primeira quota ou quota única III - considerar como valor dos bens doados:
do imposto, observadas instruções específicas da Se- a) para as pessoas físicas, o valor constante da última
cretaria da Receita Federal do Brasil. declaração do imposto de renda, desde que não exce-
§ 4o  O não pagamento da doação no prazo estabe- da o valor de mercado;
lecido no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens.
de dedução, ficando a pessoa física obrigada ao reco- Parágrafo único.  O preço obtido em caso de leilão
lhimento da diferença de imposto devido apurado na não será considerado na determinação do valor dos
Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos legais bens doados, exceto se o leilão for determinado por
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

previstos na legislação.  autoridade judiciária.


§ 5o  A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, Art. 260-F.  Os documentos a que se referem os arts.
no respectivo ano-calendário, aos fundos controlados 260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte
pelos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adoles- por um prazo de 5 (cinco) anos para fins de compro-
cente municipais, distrital, estaduais e nacional con- vação da dedução perante a Receita Federal do Brasil.
comitantemente com a opção de que trata o caput,
respeitado o limite previsto no inciso II do art. 260. Art. 260-G.  Os órgãos responsáveis pela administra-
ção das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e
Art. 260-B.  A doação de que trata o inciso I do art. 260 do Adolescente nacional, estaduais, distrital e munici-
poderá ser deduzida: pais devem:

235
I - manter conta bancária específica destinada exclu- Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos
sivamente a gerir os recursos do Fundo;  da criança e do adolescente, os registros, inscrições e
II - manter controle das doações recebidas; e  alterações a que se referem os arts. 90, parágrafo úni-
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fe- co, e 91 desta Lei serão efetuados perante a autorida-
deral do Brasil as doações recebidas mês a mês, iden- de judiciária da comarca a que pertencer a entidade.
tificando os seguintes dados por doador: Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar
a) nome, CNPJ ou CPF; aos estados e municípios, e os estados aos municípios,
b) valor doado, especificando se a doação foi em es- os recursos referentes aos programas e atividades pre-
pécie ou em bens. vistos nesta Lei, tão logo estejam criados os conselhos
dos direitos da criança e do adolescente nos seus res-
Art. 260-H.  Em caso de descumprimento das obriga- pectivos níveis.
ções previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita
Federal do Brasil dará conhecimento do fato ao Mi- Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute-
nistério Público. lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas
pela autoridade judiciária.
Art. 260-I.  Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais Art. 263. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
divulgarão amplamente à comunidade: 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes
I - o calendário de suas reuniões; alterações:
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de 1) Art. 121 (...)
atendimento à criança e ao adolescente; § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de
III - os requisitos para a apresentação de projetos a se- um terço, se o crime resulta de inobservância de regra
rem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direi- técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente dei-
tos da Criança e do Adolescente nacional, estaduais, xa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
distrital ou municipais; diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-ca- evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio,
lendário e o valor dos recursos previstos para imple- a pena é aumentada de um terço, se o crime é prati-
mentação das ações, por projeto; cado contra pessoa menor de catorze anos.
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva des- 2) Art. 129 (...)
tinação, por projeto atendido, inclusive com cadastra- § 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qual-
mento na base de dados do Sistema de Informações quer das hipóteses do art. 121, § 4º.
sobre a Infância e a Adolescência; e § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficia- art. 121.
dos com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança 3) Art. 136 (...)
e do Adolescente nacional, estaduais, distrital e mu- § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é pra-
nicipais. ticado contra pessoa menor de catorze anos.
4) Art. 213 (...)
Art. 260-J.  O Ministério Público determinará, em cada Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze
Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos in- anos:
centivos fiscais referidos no art. 260 desta Lei. Pena - reclusão de quatro a dez anos.
Parágrafo único.  O descumprimento do disposto nos 5) Art. 214 (...)
arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze
por ação judicial proposta pelo Ministério Público, que anos:
poderá atuar de ofício, a requerimento ou representa- Pena - reclusão de três a nove anos.”
ção de qualquer cidadão.
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezem-
Art. 260-K.  A Secretaria de Direitos Humanos da Pre- bro de 1973, fica acrescido do seguinte item:
sidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secre- “Art. 102 (...)
taria da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro 6º) a perda e a suspensão do pátrio poder.”
de cada ano, arquivo eletrônico contendo a relação
atualizada dos Fundos dos Direitos da Criança e do Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Adolescente nacional, distrital, estaduais e municipais, União, da administração direta ou indireta, inclusive
com a indicação dos respectivos números de inscrição fundações instituídas e mantidas pelo poder público
no CNPJ e das contas bancárias específicas mantidas federal promoverão edição popular do texto integral
em instituições financeiras públicas, destinadas exclu- deste Estatuto, que será posto à disposição das escolas
sivamente a gerir os recursos dos Fundos. e das entidades de atendimento e de defesa dos direi-
tos da criança e do adolescente.
Art. 260-L.  A Secretaria da Receita Federal do Brasil
expedirá as instruções necessárias à aplicação do dis- Art. 265-A.  O poder público fará periodicamente am-
posto nos arts. 260 a 260-K. pla divulgação dos direitos da criança e do adolescen-
te nos meios de comunicação social.

236
Parágrafo único.  A divulgação a que se refere o caput por profissional habilitado, segundo dispuser a legis-
será veiculada em linguagem clara, compreensível e lação tutelar específica; V - obediência aos princípios
adequada a crianças e adolescentes, especialmente às de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
crianças com idade inferior a 6 (seis) anos. peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da
aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua VI - estímulo do Poder Público, através de assistência
publicação. jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da
Parágrafo único. Durante o período de vacância deve- lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança
rão ser promovidas atividades e campanhas de divul- ou adolescente órfão ou abandonado; VII - programas
gação e esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei. de prevenção e atendimento especializado à criança,
ao adolescente e ao jovem dependente de entorpe-
Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e centes e drogas afins”.
6.697, de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores),
e as demais disposições em contrário. 2. (Alternative Concursos/2017 - Prefeitura de Sul
Brasil/SC - Agente Educativo) De acordo com o Estatu-
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência to da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60,
e 102º da República. é proibido qualquer trabalho a menores:

a) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de


aprendiz.
EXERCÍCIOS COMENTADOS b) De quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz.
1. (FCC/2014 - Prefeitura de Recife/PE - Procurador) c) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de
Nos termos do art. 226 da Constituição Federal, “a famí- aprendiz.
lia, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. d) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição de
Entre os aspectos abrangidos pelo direito à proteção es- aprendiz.
pecial, segundo o texto constitucional, encontram-se os e) De dezessete anos de idade, inclusive na condição de
seguintes: aprendiz.

a) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e Resposta: Letra B. Em que pese o teor do art. 64 do
obediência aos princípios de brevidade, excepciona- ECA, que poderia dar a entender que um menor de 14
lidade e respeito à condição peculiar de pessoa em anos pode trabalhar, prevalece o que diz o texto da
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer Constituição Federal: “Art. 7º São direitos dos traba-
medida privativa da liberdade. lhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
b) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e melhoria de sua condição social: [...] XXXIII - proibição
acesso universal à educação infantil, em creche e pré- de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores
-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade. de dezoito e de qualquer trabalho a menores de de-
c) erradicação do analfabetismo; e estímulo do Poder Pú- zesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir
blico, através de assistência jurídica, incentivos fiscais de quatorze anos”. Logo, o menor pode trabalhar em
e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a qualquer serviço, desde que não seja noturno, peri-
forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou goso e insalubre, dos 16 aos 18 anos; e entre 14 e 16
abandonado. anos apenas pode trabalhar como aprendiz.
d) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
sexual da criança e do adolescente; e garantia às pre- 3. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislativo)
sidiárias de condições para que possam permanecer Sobre a adoção, nos termos preconizados pelo Estatuto
com seus filhos durante o período de amamentação. da Criança e do Adolescente,
e) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
sexual da criança e do adolescente; e estímulo do Po- a) o adotante deve ser, no mínimo, 18 anos mais velho
der Público, através de assistência jurídica, incentivos que o adotando.
fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, b) é permitida a adoção por procuração.
sob a forma de guarda, de criança ou adolescente ór- c) se um dos cônjuges adota o filho do outro, mantêm-se
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

fão ou abandonado. os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge do


adotante e os respectivos parentes.
Resposta: Letra A. O artigo 227, §3º, CF fixa os as- d) é vedada a adoção conjunta pelos divorciados, separa-
pectos que abrangem a proteção especial da criança dos judicialmente e pelos ex-companheiros.
e do adolescente: “I - idade mínima de quatorze anos e) o estágio de convivência que precede a adoção não
para admissão ao trabalho, observado o disposto no poderá, em nenhuma hipótese, ser dispensado pela
art. 7º, XXXIII; II - garantia de direitos previdenciários autoridade judiciária.
e trabalhistas; III - garantia de acesso do trabalhador
adolescente e jovem à escola; IV - garantia de pleno Resposta: Letra C. Neste sentido, disciplina o art. 41,
e formal conhecimento da atribuição de ato infracio- § 1º, ECA: “Se um dos cônjuges ou concubinos adota o
nal, igualdade na relação processual e defesa técnica filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre

237
o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de ir,
os respectivos parentes”. A alternativa “a” está errada vir e estar nos logradouros públicos e espaços comu-
porque o adotante deve ser, pelo menos, 16 anos mais nitários, ressalvadas as restrições legais; a liberdade
velho que o adotado e possuir pelo menos 18 anos de opinião e de expressão; a liberdade de brincar e
(art. 42, § 3º, ECA); a alternativa “b” está incorreta por- de praticar esportes, a liberdade de participar da vida
que é vedada a adoção por procuração, pois a adoção familiar e comunitária; a liberdade de buscar refúgio,
é ato personalíssimo (art. 39, § 2º, ECA); a alternativa auxílio e orientação, excetuadas dessa tutela a liberda-
“d” está incorreta porque é possível a adoção conjunta de de crença e culto religioso e de participar da vida
desde que preencha os requisitos de serem casados política.
civilmente ou mantenham união estável, comprovada b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua in-
a estabilidade da família (art. 42, § 1º, ECA); e a alter- tegridade física, psíquica e moral, abrangendo a pre-
nativa “e” está incorreta porque pode ser dispensado servação da imagem, da identidade, da autonomia,
o estágio de convivência quando o adotando já estiver de seus valores, ideias e crenças, excluída a tutela dos
sob a tutela ou guarda do adotante (art. 46, § 1º, ECA). seus espaços e objetos pessoais.
c) de serem educados e cuidados sem o uso de castigo fí-
4. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislativo) sico ou de tratamento cruel ou degradante, como for-
Sobre a prática de ato infracional à luz do Estatuto da mas de correção, disciplina, educação ou a qualquer
Criança e do Adolescente, é INCORRETO afirmar que a outro pretexto, por parte dos pais, de integrantes da
família ampliada, dos responsáveis, dos agentes pú-
a) medida socioeducativa de internação pode ser deter- blicos executores de medidas socioeducativas ou por
minada por descumprimento reiterado e injustificável qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-
da medida anteriormente imposta. -los, educá-los ou protegê-los.
b) internação, antes da sentença, poderá ser determinada d) de serem criados e educados no seio de sua família
pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. biológica, não se admitindo a sua inserção em família
c) medida socioeducativa de internação não poderá ex- substituta, assegurada a convivência familiar e comu-
ceder em nenhuma hipótese três anos, liberando-se nitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimen-
compulsoriamente o menor infrator aos vinte e um to integral.
anos de idade.
d) medida socioeducativa de liberdade assistida será Resposta: Letra C. Nestes termos, preconiza o artigo
fixada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a 18-A do ECA: “A criança e o adolescente têm o direi-
qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substi- to de ser educados e cuidados sem o uso de castigo
tuída por outra medida, ouvido o orientador, o Minis- físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
tério Público e o defensor. formas de correção, disciplina, educação ou qualquer
e) remissão não implica necessariamente o reconheci- outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família
mento ou comprovação da responsabilidade, nem ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos
prevalece para efeito de antecedentes, podendo in- executores de medidas socioeducativas ou por qual-
cluir eventualmente a aplicação de qualquer das me- quer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los,
didas previstas em lei, exceto a colocação em regime educá-los ou protegê-los”. A alternativa “a” está erra-
de semiliberdade e a internação. da porque o artigo 16 do ECA fixa que o direito à liber-
dade envolve os seguintes aspectos: “I - ir, vir e estar
Resposta: Letra D. A lei exige como prazo mínimo de nos logradouros públicos e espaços comunitários, res-
medida socioeducativa o período de 6 meses, confor- salvadas as restrições legais; II - opinião e expressão;
me art. 118, § 2º, ECA, não 30 dias conforme a alter- III - crença e culto religioso; IV - brincar, praticar es-
nativa “d”, razão pela qual está incorreta. A alternativa portes e divertir-se; V - participar da vida familiar e co-
“a” está prevista no art. 122, § 1º, ECA; a alternativa “b” munitária, sem discriminação; VI - participar da vida
está prevista no art. 108 do ECA; a alternativa “c” está política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio
prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a alternativa “e” e orientação”. A alternativa “b” está errada porque o
está prevista no art. 127 ECA. artigo 17 do ECA prevê que “o direito ao respeito con-
siste na inviolabilidade da integridade física, psíquica
5. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guarda e moral da criança e do adolescente, abrangendo a
Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados preservação da imagem, da identidade, da autonomia,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pelo direito hoje vigente como pessoas em desenvolvi- dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos
mento, receberam do direito positivo brasileiro, tutela pessoais”. A alternativa “d” está errada porque o ar-
especial através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, tigo 18 do ECA assegura que “é direito da criança e
mais conhecida como Estatuto da Criança e do Adoles- do adolescente ser criado e educado no seio de sua
cente. Seguindo as diretrizes traçadas pela Constituição família e, excepcionalmente, em família substituta,
de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente trouxe a assegurada a convivência familiar e comunitária, em
previsão normativa da absoluta prioridade e de variados ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”.
direitos fundamentais. Em tal seara, foi determinado que
as crianças e os adolescentes têm direito,

238
6. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) 9. (Câmara dos Deputados - Técnico Legislativo - CES-
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei PE/2014) Paulo e João foram surpreendidos nas depen-
8.069/90), é considerado criança dências da Câmara dos Deputados quando subtraíam
carteiras e celulares dos casacos e bolsas de pessoas que
a) a pessoa até seis anos incompletos de idade. ali transitavam. Paulo tem dezessete anos e teve acesso
b) a pessoa até oito anos incompletos de idade. ao local por intermédio de João, que é servidor da Casa.
c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade. Com base nessa situação hipotética, julgue o item a se-
d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade. guir.
e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não te- As medidas socioeducativas aplicáveis a Paulo incluem a
nha cometido nenhum crime. advertência, a obrigação de reparar o dano e a prestação
de serviços a comunidade.
Resposta: Letra C. O Estatuto da Criança e do Adoles-
cente opta por categorizar separadamente estas duas ( ) CERTO ( ) ERRADO
categorias de menores. Criança é aquele que tem até
12 anos de idade (na data de aniversário de 12 anos, Resposta: Certo. Prevê o artigo 112, ECA: “Verificada
passa a ser adolescente), adolescente é aquele que a prática de ato infracional, a autoridade competente
tem entre 12 e 18 anos (na data de aniversário de 18 poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
anos, passa a ser maior), conforme o artigo 2º do ECA. I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III
- prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade
7. (Câmara dos Deputados - Analista Legislativo - assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade;
CESPE/2014) Julgue o próximo item , referente ao dis- VI - internação em estabelecimento educacional; VII -
posto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e às qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI”.
atribuições do conselho tutelar.
As disposições do ECA aplicam-se apenas a crianças, in-
divíduos até doze anos de idade incompletos, e a ado-
lescentes, indivíduos entre doze e dezoito anos de idade.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Preconiza o artigo 2º, parágrafo


único, ECA: “Nos casos expressos em lei, aplica-se ex-
cepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoi-
to anos e vinte e um anos de idade”.

8. (Câmara dos Deputados - Analista Legislativo - CES-


PE/2014) Acerca de ato infracional e medidas socioe-
ducativas, bem como dos crimes e infrações praticados
contra a criança e o adolescente, julgue o item a seguir.
Caso um adolescente que faça parte de um grupo for-
mado por adultos e que já tenha praticado, comprova-
damente, diversos roubos com uso de arma de fogo seja
apreendido, a ele deverá ser imposta – após o devido
procedimento judicial – a medida socioeducativa deno-
minada liberdade assistida.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Nos termos do artigo 118, ECA, “a


liberdade assistida será adotada sempre que se afigu-
rar a medida mais adequada para o fim de acompa-
nhar, auxiliar e orientar o adolescente”. Ocorre que o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

adolescente praticou crimes com violência ou grave


ameaça, razão pela qual cabe internação, conforme
artigo 122, I, ECA: “A medida de internação só pode-
rá ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional
cometido mediante grave ameaça ou violência a pes-
soa”.

239
5. (DPE-PE - Defensor Público - CESPE/2015) No item
abaixo, é apresentada uma situação hipotética, seguida
HORA DE PRATICAR! de uma assertiva a ser julgada conforme as normas do
ECA e o entendimento do STJ.
1. (TCE-PA - Auditor de Controle Externo - Área Ad- Marcelino, maior imputável, fotografou sua sobrinha,
ministrativa - Serviço Social - CESPE/2016) Julgue o de treze anos de idade, enquanto ela tomava banho.
item subsecutivo, acerca do Estatuto da Criança e do As fotos mostravam as partes íntimas da adolescente e
Adolescente (ECA). algumas imagens mostravam apenas os órgãos geni-
De acordo com o ECA, é considerada criança a pessoa tais da garota. Apurou-se que Marcelino jamais praticou
com até doze anos de idade incompletos. qualquer ato libidinoso com a sobrinha nem divulgou o
material fotográfico obtido e que ele utilizava as fotos
( ) CERTO ( ) ERRADO apenas para satisfazer a própria lascívia. Nessa situação,
Marcelino responderá por crime previsto no ECA, uma
2. (DPU - Assistente Social - CESPE/2016) Segundo as vez que registrou cena pornográfica envolvendo adoles-
normas contidas na legislação social voltada para os di- cente.
reitos sociais e proteção de crianças e adolescentes, jul-
gue o seguinte item. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Para o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo,
é prioritária a aplicação de medidas privativas ou restri- 6. (MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto - MPE-
tivas de liberdade em estabelecimento educacional, de -BA/2018) No que se refere às normas constitucionais
modo a garantir a inclusão social dos egressos do siste- aplicáveis à Educação, analise as assertivas e identifique
ma socioeducativo. com V as verdadeiras e com F as falsas.

( ) CERTO ( ) ERRADO ( ) Recursos públicos podem ser dirigidos a escolas co-


munitárias, desde que assegurem a destinação de seu
3. (TJ-DFT - Analista Judiciário - Judiciária - CES- patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou
PE/2015) Julgue o próximo item, de acordo com o dis- confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerra-
posto no Código de Defesa do Consumidor e no Estatuto mento de suas atividades.
da Criança e do Adolescente (ECA). ( ) A igualdade de condições para o acesso e permanência
De acordo com o ECA, o conselho tutelar pode aplicar, na escola é princípio constitucional aplicável à educação.
conforme a gravidade do caso, medida de encaminha- ( ) Os planos de carreira dos profissionais da educação
mento a tratamento psicológico ou psiquiátrico aos escolar garantirão, no caso das redes públicas, o acesso
pais que apliquem castigo físico ou tratamento cruel ou aos cargos exclusivamente por concurso público de pro-
degradante como formas de disciplina ou correção do vas e títulos, com as exceções previstas em lei.
comportamento de criança ou adolescente. ( ) O atendimento ao educando, em todas as etapas da
educação básica, por meio de programas suplementares
( ) CERTO ( ) ERRADO de material didático escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde constitui dever do Estado.
4. (DPE-PE - Defensor Público - CESPE/2015) No item
abaixo, é apresentada uma situação hipotética, seguida A alternativa que contém a sequência correta, de cima
de uma assertiva a ser julgada conforme as normas do para baixo, é:
ECA e o entendimento do STJ.
Alberto, adolescente condenado a cumprir medida so- a) V, F, V, V.
cioeducativa de internação, diante da inexistência de b) V, F, V, F.
estabelecimento apropriado na cidade de residência de c) V, V, F, V.
seus pais, foi custodiado em unidade distante, em razão d) F, V, F, V.
da superlotação da unidade mais próxima. Nessa situa- e) F, F, V, F.
ção, houve violação ao direito absoluto do adolescente
previsto no ECA: Alberto deveria ter sido enviado para a 7. (SEAD-AP - Assistente Administrativo - FCC/2018)
localidade mais próxima do domicílio dos seus pais, mes- A educação dos portadores de deficiência, segundo a
mo que a unidade de custódia estivesse superlotada. Constituição Federal de 1988, deve se dar:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

( ) CERTO ( ) ERRADO a) em escolas especializadas, públicas ou privadas, prio-


ritariamente.
b) de forma segregada.
c) até os seis anos de idade na rede pública.
d) de modo facultativo, em sistema de cotas.
e) na rede regular de ensino, preferencialmente.

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8. (UFRR - Assistente Social - UFRR/2018) Assinale a d) a educação básica não é obrigatória, nem pode ser
alternativa que não é um princípio da educação nacional: oferecida gratuitamente.
e) não é princípio do ensino a garantia de padrão de qua-
a) Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a lidade.
cultura, o pensamento, a arte e o saber.
b)) Valorização do(a) profissional da educação escolar. 11. (IF-SP - Matemática - IF-SP - 2018) Um campus
c) Desconsideração com a diversidade étnico-racial. do IFSP está discutindo no âmbito do NAPNE (Núcleo
d) Igualdade de condições para o acesso e permanência de apoio às pessoas com necessidades educacionais es-
na escola. pecíficas), as políticas e ações de educação inclusiva. De
e) Garantia de padrão de qualidade. acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional nº 9.394/1996 (LDB), artigo 4º, inciso III, é dever do
9. (IF-MT - Direito - IF-MT - 2018) Embasado na Estado garantir o atendimento educacional especializado
Lei 9.394/1996 e nas alterações introduzidas pela Lei gratuito aos estudantes com deficiência, transtornos glo-
11.741/2008, julgue as sentenças a seguir e, então, assi- bais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdo-
nale a alternativa correta: tação. Este atendimento deve ocorrer:

I - A educação profissional e tecnológica, no cumprimen- a) obrigatoriamente na rede regular de ensino.


to dos objetivos da educação nacional, integra-se apenas b) preferencialmente na rede regular de ensino.
aos cursos de nível superior e às dimensões do trabalho, c) obrigatoriamente em classes, escolas ou serviços es-
da ciência e da tecnologia. pecializados.
II - Os cursos de educação profissional e tecnológica po- d) preferencialmente em classes, escolas ou serviços es-
derão ser organizados por eixos tecnológicos, possibili- pecializados.
tando a construção de diferentes itinerários formativos,
observadas as normas do respectivo sistema e nível de 12. (Prefeitura de Cerquilho - SP - Professor de Ensino
ensino. Fundamental I - MetroCapital Soluções - 2018) O ar-
III - Os cursos de educação profissional tecnológica de tigo 13 da Lei n. 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que Educação) trata das incumbências dos docentes. Assina-
concerne a objetivos, características e duração, de acor- le a alternativa que apresenta uma dessas incumbências
do com as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas previstas no artigo citado:
pelo Ministério da Educação.
IV - A educação profissional será desenvolvida em articu- a) elaborar e executar políticas e planos educacionais na-
lação com o ensino regular ou por diferentes estratégias cionais; coletar e analisar informações sobre educação
de educação continuada, em instituições especializadas superior.
ou no ambiente de trabalho. b) zelar pela aprendizagem dos alunos; participar da ela-
V - As instituições de educação profissional e tecnológi- boração da proposta pedagógica do estabelecimento
ca, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos es- de ensino.
peciais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula c) zelar pela tolerância religiosa e aprimorar ideias de in-
à capacidade de aproveitamento e necessariamente ao tegração social.
nível de escolaridade. d) zelar pela conservação do patrimônio público e cons-
cientizar a comunidade; administrar recursos materiais
a) I e V são verdadeiras. e financeiros do seu município.
b) II, III e IV são falsas. e) colaborar com as atividades de articulação da esco-
c) II e IV são verdadeiras. la com a Secretaria de Ensino Fundamental do MEC;
d) I e II são falsas. baixar normas complementares para o seu sistema de
e) I, III e V são verdadeiras. ensino.

10. (UFRR - Assistente de Tecnologia da Informação 13. (Prefeitura de Piracicaba - SP - Professor de Edu-
- UFRR - 2018) De acordo com as diretrizes e bases da cação Física - RBO - 2017) A diretora da Escola Muni-
educação, assinale a única alternativa correta: cipal de Piracicaba reuniu sua equipe de professores de
Educação Física e lhes informou que, de acordo com a
a) a educação abrange os processos formativos que se Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional (LDB), os
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, docentes desta unidade escolar deverão incumbir-se de:
no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil a) participar da elaboração da proposta pedagógica do
e nas manifestações culturais. estabelecimento de ensino.
b) as atividades de ensino são vedadas à iniciativa pri- b) elaborar e cumprir o plano de trabalho, segundo a
vada. proposta filosófica do Estado.
c) cabe exclusivamente aos Municípios a coordenação da c) comparar graficamente o desempenho dos alunos.
política nacional de educação, articulando os diferen- d) ministrar os dias letivos e horas-aula desejáveis, além
tes níveis e sistemas e exercendo função normativa, de participar opcionalmente dos períodos dedicados
redistributiva e supletiva em relação às demais instân- ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento
cias educacionais. educacional.

241
e) tolher as atividades de articulação da escola com as
famílias e a comunidade.
GABARITO
14. (PC-SP - Oficial Administrativo - VUNESP/2014)
São penalmente inimputáveis os: 1 CERTO
a) maiores de dezesseis anos 2 ERRADO
b) menores de vinte e um anos. 3 ERRADO
c) maiores de vinte e um anos.
4 ERRADO
d) menores de dezoito anos.
e) maiores de dezoito anos. 5 CERTO
6 C
7 E
8 C
9 C
10 A
11 B
12 B
13 A
14 D
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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