Fundamentos Pne

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Fundamentos para

Atenção à Pessoa
com Deficiência e
Grupos Especiais
© 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Presidente
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Vice-Presidente Acadêmico de Graduação e de Educação Básica


Mário Ghio Júnior

Conselho Acadêmico
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Camila Cardoso Rotella
Danielly Nunes Andrade Noé
Grasiele Aparecida Lourenço
Isabel Cristina Chagas Barbin
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro

Revisão Técnica
Silvana Pasetto

Editorial
Camila Cardoso Rotella (Diretora)
Lidiane Cristina Vivaldini Olo (Gerente)
Elmir Carvalho da Silva (Coordenador)
Letícia Bento Pieroni (Coordenadora)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Salmon, Cristiane Ribeiro


S172f Fundamentos para atenção à pessoa com deficiência e
grupos especiais / Cristiane Ribeiro Salmon, Alessandra
Nogueira Porto Neves. – Londrina : Editora e Distribuidora
Educacional S.A., 2018.
200 p.

ISBN 978-85-522-0755-9

1. Necessidades Especiais. I. Salmon, Cristiane Ribeiro


II. Neves, Alessandra Nogueira Porto. III. Título.

CDD 610
Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1 | Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 7

Seção 1.1 - Conceito e classificação de PCD para odontologia


e situações clínicas especiais na assistência
odontológica. Distúrbios neuropsicomotores 9
Seção 1.2 - Pacientes sistemicamente comprometidos e suas
implicações na assistência odontológica 23
Seção 1.3 - Anomalias congênitas e a odontologia 40

Unidade 2 | Abordagem odontológica e manejo de PCD 61

Seção 2.1 - Possibilidades de assistência odontológica à PCD 63


Seção 2.2 - Adequação do plano de tratamento odontológico
à pessoa com deficiência - PCD 76
Seção 2.3 - Urgências e emergências durante o tratamento
odontológico de pacientes com necessidades
especiais 90

Unidade 3 | Envelhecimento humano e saúde do idoso 109

Seção 3.1 - Fisiologia do envelhecimento: teorias do


envelhecimento humano; legislação da pessoa idosa:
cartilha do idoso; delegacias do idoso; Estatuto do
Idoso; aspectos psicológicos no atendimento ao
paciente geriátrico 111
Seção 3.2 - Odontologia geriátrica: abordagem dos problemas
clínicos de idosos e avaliação sistêmica do paciente
idoso 123
Seção 3.3 - Odontologia geriátrica: medicamentos e nutrição do
idoso; métodos de comunicação com o idoso e seu
cuidador 137

Unidade 4 | Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 151

Seção 4.1 - Alterações bucais decorrentes do processo de


envelhecimento humano: repercussões das condições
biossomáticas e sistêmicas na saúde do sistema
estomatognático; interferências na condição clínica 153
Seção 4.2 - Abordagem e manejo do paciente idoso; aspectos
psicológicos interferentes no tratamento odontológico 167
Seção 4.3 - Medidas preventivas e autocuidado, terapia de suporte
e proservação de paciente idoso 179
Palavras do autor
Caro aluno, seja bem-vindo à disciplina Fundamentos para
Atenção ao Idoso e ao Paciente Especial. A importância dos cuidados
na odontologia para com os pacientes especiais e pessoas com
deficiências (PCDs) envolve o conhecimento do cirurgião-dentista
frente aos problemas psicossociais que possam interferir no processo
de colaboração do paciente com a assistência odontológica. Esses
pacientes constituem um grupo que pode ser considerado de alto
risco para o desenvolvimento de doenças bucais, de acordo com
o tipo de patogenia sistêmica. Nesta disciplina, serão abordados
conteúdos relacionando às PCDs, ao idoso e à odontologia. O
objetivo é oferecer ao aluno uma visão geral das peculiaridades dos
pacientes com necessidades especiais, compreendendo o nível
de complexidade compatível com o atendimento integral e, por
fim, fornecer os conhecimentos dos aspectos do envelhecimento
que possibilitem a realização de tratamento e procedimentos
odontológicos nos pacientes idosos.
Na Unidade 1, aprenderemos sobre PCD, os conceitos, as
características, as implicações na assistência odontológica dos
pacientes sistemicamente comprometidos e sobre as anomalias
congênitas e a odontologia. Na Unidade 2, abordaremos as
possibilidades de assistência odontológica às PCDs, assim como
a adequação do plano de tratamento para esses pacientes e as
intercorrências de urgência e emergência que podem ocorrer
durante o tratamento odontológico. Na Unidade 3, iniciaremos
o estudo sobre o envelhecimento humano e a saúde do idoso.
Aprenderemos como abordar importantes temas, como a fisiologia
do envelhecimento, a legislação e os aspectos psicológicos voltados
ao atendimento do paciente idoso e a abordagem dos problemas
clínicos, os medicamentos, a nutrição e a comunicação com o
paciente e seus cuidadores na odontologia geriátrica. Na última
unidade desta disciplina, a Unidade 4, trataremos especificamente
da saúde do idoso, para conhecer as alterações bucais no
envelhecimento, a abordagem e o manejo adequado ao idoso e as
medidas preventivas e terapia de suporte para garantir a saúde do
paciente durante o processo de envelhecimento.
Caro aluno, é muito importante que você acompanhe todo o
conteúdo do livro didático e busque se aprofundar em cada assunto,
utilizando as referências apresentadas ao final de cada unidade e
as fontes que respondam aos seus próprios questionamentos e
curiosidades.
Unidade 1

Introdução ao estudo da
atenção odontológica para
PCD
Convite ao estudo
Bem-vindo à Unidade 1 da nossa disciplina! Odontologia
para pacientes de grupos especiais e pessoas com deficiência
(PCDs) é a especialidade que tem por objetivo o diagnóstico,
a prevenção, o tratamento e o controle das doenças bucais
de pacientes que tenham alguma alteração no seu sistema
biopsicossocial. Aqui faremos uma “introdução ao estudo da
atenção odontológica para as PCDs”, em que você aprenderá
o conceito e a classificação de PCD em uma visão voltada
para a odontologia. Além disso, abordaremos o importante
tema sobre as situações clínicas especiais na assistência
odontológica às PCDs e iniciaremos nossa discussão sobre
pacientes com distúrbios neuropsicomotores. Refletiremos
sobre algumas situações especiais que nos ajudarão a alcançar
a capacidade para elaborar e desenvolver planejamentos de
assistência integral aos pacientes de grupos especiais e com
deficiência em um ambiente odontológico, analisando a
situação hipotética apresentada a seguir.
Em uma unidade de atendimento odontológico para
pacientes de grupos especiais e pessoas com deficiências,
alguns alunos se apresentam como estagiários a cada ano e
acompanham os atendimentos desde a triagem dos pacientes
até o tratamento. Dentre os procedimentos iniciais de
atendimento à PCD, a anamnese deve servir como guia para
o profissional, para a adoção de um protocolo de atendimento
mais adequado para cada caso. A estudante Maria Eduarda
iniciou seu estágio recentemente e colabora na anamnese
dos pacientes e no direcionamento deles ao setor adequado
de atendimento dentro da unidade. A estagiária sabe que
algumas condições sistêmicas e sindrômicas exigem um
tratamento diferenciado e espera ser capaz de aplicar seu
aprendizado futuramente em seu consultório. Durante seu
estágio, a aluna fez o atendimento de três casos distintos: o
paciente J.C., 12 anos, com diagnóstico de paralisia cerebral;
o paciente P.M., de 69 anos, diabético, e a paciente A.C., de
3 anos, que possui fissura labiopalatina. O atendimento desses
três pacientes em condições tão distintas ajudou a aluna
a pensar sobre diferentes abordagens e tratamentos para
casos específicos de PCD. Ajude a estagiária Maria Eduarda a
resolver essas situações, para tanto, na Seção 1.1, estudaremos
os conceitos e a classificação de PCD e as situações clínicas
especiais no atendimento odontológico de pacientes com
distúrbios neuropsicomotores. Na Seção 1.2, aprenderemos
sobre os pacientes sistematicamente comprometidos e as
implicações na sua assistência odontológica, e na Seção 1.3,
falaremos sobre as anomalias congênitas e sua relação com a
odontologia. Em cada seção, você acompanhará Maria Eduarda
nos desafios vivenciados e a ajudará a resolver as situações dos
pacientes. Então anime-se, porque nesta unidade de ensino
trabalharemos para identificar as peculiaridades dos portadores
de necessidades especiais (PNE) e buscaremos, juntos, elaborar
os procedimentos odontológicos mais adequados para o
atendimento de cada caso e que pode acontecer na realidade,
no consultório odontológico. Vamos começar!
Seção 1.1
Conceito e classificação de PCD para odontologia
e situações clínicas especiais na assistência
odontológica. Distúrbios neuropsicomotores

Diálogo aberto
Você já parou para pensar nas várias situações especiais de
assistência odontológica que podem ocorrer no atendimento
de PCDs? Você saberia identificar quais indivíduos podem ser
considerados como membros deste grupo distinto de pacientes? Veja
como é importante conhecer bem o conceito e a classificação de
PCD para a odontologia. Iniciaremos nossa discussão abordando um
grande grupo de pacientes especiais. Distúrbios neuropsicomotores
podem implicar defeitos ou desvios de inteligência, físicos, psíquicos,
estados filológicos especiais, e geram situações clínicas especiais na
assistência odontológica. Esses PCDs podem ter níveis diferentes de
comprometimento motor e de inteligência. Por exemplo, pacientes
com doença de Parkinson, uma condição neurológica lentamente
progressiva, possuem basicamente desordens da motricidade e
passam por vários estágios de severidade. Já o paciente J.C., de 12
anos, atendido por Maria Eduarda, possui comprometimento motor
em várias partes do corpo, incluindo contrações nas articulações,
e desvio de inteligência, causados pela paralisia cerebral.
Com base nesses diferentes aspectos de PCD com distúrbios
neuropsicomotores, é possível estabelecer um atendimento padrão
para pacientes portadores de distúrbios neuropsicomotores? Quais
seriam as possíveis situações clínicas especiais com as quais a aluna
pode se deparar no atendimento do seu paciente J.C.? Qual deve
ser a conduta mais adequada para o atendimento dos pacientes
com comprometimento motor e de inteligência?

Não pode faltar

Conceito de PCD para a odontologia: a odontologia é uma área


muito importante para a nossa sociedade. Afinal, muitas doenças e

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 9


problemas sérios de saúde são prevenidos e tratados por cirurgiões-
dentistas (CDs) que se dedicam à saúde bucal e ao bem-estar
dos pacientes, e para contribuir também com a saúde geral das
pessoas. A assistência odontológica deve ser inclusiva, isto é, deve
alcançar não só os pacientes com necessidades de atendimento
convencional, mas também aqueles que precisam de atendimento
odontológico diferenciado, como PCDs. Vamos entender melhor
e manter em mente o conceito de PCD na odontologia. Leve em
consideração que existe uma dificuldade de se estabelecer um
conceito único e imutável sobre os PCDs. Então, utilizaremos aqui
o conceito do estatuto federal de 2015 sobre PCD:

É aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza


física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação
com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas (BRASIL, 2009).

Assimile
Antes de ser instituído o termo PCD, era utilizado o termo pacientes
com necessidades especiais (PNE) na odontologia “todo usuário que
apresenta uma ou mais limitações, temporárias ou permanentes,
de ordem mental, física, sensorial, emocional, de crescimento ou
médica, que o impeça de ser submetido a uma situação odontológica
convencional” (CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA, 2006).

Entre os pacientes de grupos especiais, podemos citar os idosos,


os pacientes sistematicamente comprometidos, grávidas, pacientes
com demência.
Como apresentado, as pessoas com deficiências apresentam
limitações que podem ser de ordem física, sensorial, intelectual,
emocional, de crescimento ou médica, como diabetes, cardiopatias
e hipertensão. É muito importante que o CD seja capacitado a acolher
esses pacientes, prestar assistências às suas queixas principais, solicitar
exames complementares, medicar e acompanhar a evolução dos
casos. Portanto, o CD deve reconhecer as necessidades especiais de
seus pacientes e, caso necessário, encaminhá-los a um especialista
em PCDs ou a uma unidade de atenção especializada.

10 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


O atendimento a PCDs exige que o CD possua um amplo
conhecimento para prestar um atendimento específico e de alta
qualidade para cada caso, no ambiente do consultório, no âmbito
hospitalar ou domiciliar. A especialidade: Odontologia para Pacientes
com Necessidades Especiais é ainda nova, teve seu regulamento
aprovado em 2001, pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO).
No Brasil, o número de especialistas em PCD/PNE inscritos, até
janeiro de 2014, somava 535 cirurgiões-dentistas (CROSP, 2017)
para atender a um universo de aproximadamente 45,6 milhões de
pessoas declaradas com necessidades especiais, ou seja, 23,91%
da população brasileira, segundo o censo realizado em 2010 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O censo de 2010
também mostrou que 12,7 milhões de pessoas (6,7% da população)
possuem alguma deficiência severa. Esses dados enfatizam uma
carência de profissionais especializados na odontologia para PCDs.

Pesquise mais
Para conhecer melhor a distribuição de pessoas com deficiência no
Brasil, você pode acessar os resultados do censo 2010 (IBGE, 2011,
p. 71-73; 114-120). Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/
visualizacao/periodicos/94/cd_2010_religiao_deficiencia.pdf>.
Você também pode acessar os resultados do Censo 2010, navegar
pelos mapas interativos e cartogramas no endereço a seguir. Disponível
em: <https://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html>. Acesso em: 27
out. 2017. Ao acessar esse site, veja também os “Resultados gerais da
amostra - características gerais da população, religião e pessoas com
deficiência - 29 jun. 2012”.

Classificação de PCD para odontologia


A classificação das deficiências tem como objetivo geral
proporcionar uma linguagem padronizada para definição e descrição
de estados de saúde. Além disso, a classificação dos pacientes ajuda
a estabelecer uma didática na prática clínica na qual o CD pode fazer
um plano de tratamento mais qualificado e orientado. Entretanto,
a classificação das PCDs é complexa, e vários autores/entidades
propõem diferentes formas de agrupar esses pacientes em categorias,
levando em consideração diferentes variáveis.

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 11


A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu a Classificação
Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde (CIF), em 2001
(OMS, 2004). A CIF leva em consideração fatores pessoais e ambientais
que afetam a saúde, uma abordagem psicossocial que avalia os
indivíduos a partir de sua funcionalidade, e é organizada em três áreas:
1) alterações das estruturas e funções corporais; 2) limitações e 3)
restrições à participação em algumas atividades.
No Brasil, as deficiências são classificadas em cinco categorias,
Decreto nº 5.296 (BRASIL, 2004), veja alguns exemplos de cada:
1. Deficiência física: paralisia cerebral e infantil, osteogênese
imperfeita, artrite, acidente vásculo-encefálico, distrofia muscular,
escoliose, lesão medular.
2. Deficiência auditiva.
3. Deficiência visual.
4. Deficiência intelectual: superdotados, limítrofes, infradotados, autismo.
5. Deficiência múltipla (duas ou mais deficiências associadas).

Reflita
Caro aluno, aproveite este momento para discutir com seus colegas
sobre outras alterações das condições de saúde que poderiam ser
adicionadas em cada grupo de deficiências apresentado. Reflita sobre
a importância do conhecimento do cirurgião-dentista sobre todas
essas condições de saúde e como elas poderiam interferir no plano de
tratamento da pessoa com deficiência.

Situações clínicas especiais na assistência odontológica


Atenção inicial na assistência odontológica: como vimos até aqui,
existem vários tipos de deficiência e condições de saúde que podem
limitar o atendimento odontológico ou exigir uma conduta específica
no atendimento de cada caso de PCD e pacientes de grupos especiais.
Em todos os casos, o CD deve inicialmente acolher e conhecer seu
paciente. A anamnese meticulosa e o exame físico criterioso devem
ser realizados com o intuito de colher o máximo de informações
úteis sobre os pacientes, como o conhecimento de suas condições
médicas preexistentes. Além disso, o dentista deverá realizar o exame
bucal, bem como avaliar o comportamento do paciente, de seus
familiares e o relacionamento de ambos e conversar com o cuidador.

12 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


O importante papel dos familiares/responsável/cuidadores:
é importante lembrar que as PCDs podem ter um alto grau de
dependência de seus familiares ou cuidadores e esses, muitas
vezes, responderão pelo paciente. Então, o atendimento das PCDs
será sempre realizado em conjunto com a família. A abordagem
correta do paciente e/ou dos seus cuidadores é crucial. Esse passo
realizado em um momento inicial do atendimento colaborará
com o diagnóstico das possíveis desordens, com a identificação
das experiências anteriores na assistência odontológica e com
que se faça um bom planejamento do tratamento. Os familiares
devem receber atenção especial, pois serão eles os recebedores
das informações sobre todos os passos a serem realizados antes e
depois das intervenções. Eles serão os colaboradores nos cuidados
da PCD, na prevenção e durante o tratamento.
O ambiente de atendimento: em odontologia, deve ser preparado
de forma organizada, limpa, agradável e harmônica, isso é importante
para impressionar positivamente o paciente e seus responsáveis
desde o momento de sua chegada. O profissional deve garantir
a acessibilidade ao ambiente de atendimento odontológico, aos
pacientes de grupos especiais e às PCDs. Algumas medidas, como
rampas de acesso, barras de apoio, disposição dos equipamentos de
forma a permitir a livre circulação de pessoas, entre outras, podem
ser tomadas para tornar a estrutura física do ambiente mais segura e
permitir um completo atendimento dos pacientes com deficiência.
Os pacientes, de forma geral, aguardam uma visita ao dentista com
ansiedades em graus variados, pois têm uma imagem pré-formada
do ambiente do consultório que contribui para aumentar seus
medos, desconfortos psíquicos e suas dores. A maioria dos pacientes
com deficiência tem um grande senso de observação e, por isso, o
ambiente odontológico deve ser calmo, relaxante e informal. Alguns
cuidados simples podem influenciar os pacientes a colaborarem
mais efetivamente durante as consultas, como: reduzir o tempo
de espera ao máximo; abafar ruídos, como o da alta rotação e do
sugador de saliva; evitar odores fortes. Para uma maior otimização
do tempo de atendimento odontológico, o CD também deve tomar
algumas medidas, como deixar preparado todo o instrumental e
material para o atendimento, dando maior organização ao ambiente
e permitindo um maior rendimento profissional. Um cuidado
importante para evitar medo e ansiedade no atendimento é evitar

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 13


que materiais e instrumentais sejam mantidos à vista do paciente.
Quanto mais simplificado for o ambiente sensorial do paciente,
mais fácil será para ele focar em interações sociais e no aprendizado
de novas habilidades!

Exemplificando

Figura 1.1 | Alguns exemplos de medidas a serem tomadas para o atendimento


de PCD no consultório odontológico

Fonte: Caldas Jr. e Machiavelli (2015, p. 82).

Atendimento odontológico em PCD: segundo Gargione (1998),


há três modalidades de atendimento odontológico para as PCDs:
1) normal, quando existe a cooperação do paciente, modificando
apenas o tipo de ambiente, instrumental e o material odontológico a
ser utilizado; 2) condicionado, quando há necessidade da utilização
de técnicas de demonstração ao paciente de todo o aparato
odontológico, incluindo os de vibrações e ruídos, para que ele
saiba tudo que será utilizado em sua boca, antes do atendimento;
3) sob restrição, quando o paciente apresenta problemas graves

14 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


na cooperação e manejo no atendimento. A restrição pode ser
mecânica (estabilizador), química (com uso de fármacos), hipnose,
que somente devem ser utilizadas diante de ineficácia dos métodos
psicológicos e sob autorização formal dos responsáveis.

Assimile
Pessoas com deficiências necessitam de maior atenção nos cuidados
odontológicos preventivos, pois a maioria não é capaz de efetuar seus
cuidados bucais, necessitando da ajuda dos seus responsáveis.

Higiene bucal: o tipo de dieta pode interferir no risco e no curso


do desenvolvimento de algumas doenças bucais, como cárie e
doença periodontal. Algumas situações clínicas de PCD favorecem
o aparecimento de problemas bucais, por exemplo, as condições
de saúde que limitam o indivíduo a uma dieta pastosa e/ou rica em
carboidratos e que, por vezes, utilizam medicamentos adocicados.
Pacientes com alterações graves de mobilidade, como movimentos
involuntários, reflexo de engasgar e cerramento de boca, podem
dificultar a manutenção da higiene bucal até mesmo pelos seus
cuidadores. O CD e membros da equipe de saúde devem alertar
os responsáveis pela PCD sobre a importância da higiene após a
alimentação e orientá-los a seguir algumas regras de higiene bucal:
• Colocar pouco creme dental na escova.
• Usar o fio dental.
• Utilizar escovas dentais pequenas e macias ou extramacias.
• Introduzir alimentos adstringentes na dieta, como maçãs.
• Massagear as gengivas com gaze umedecida em pacientes
que não mastigam.
• Escovar bem todas as faces dos dentes.

Dica
Acesse “Os 10 mandamentos dos cuidados que os pacientes com
necessidades especiais necessitam”, que foram apresentados, em 2014,
pela Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes com Necessidades
Especiais e o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp).
Disponível em: <https://goo.gl/zByicr>. Acesso em: 17 set. 2017.

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 15


Distúrbios neuropsicomotores
Pacientes com distúrbios neuropsicomotores apresentam
determinados desvios dos padrões de normalidade e necessitam
de atenção e abordagem especial, que podem ser temporárias
ou definitivas. Esses pacientes podem ter um alto risco para o
desenvolvimento de doenças bucais, dependendo do tipo de
alteração sistêmica presente, como alteração salivar, alterações
musculares, dificuldade motora para higienização e dificuldade em
manter uma dieta não cariogênica. Assim, os cuidados odontológicos
com pacientes portadores de distúrbios neuropsicomotores devem
envolver o conhecimento do cirurgião-dentista sobre as disfunções
psicossociais que podem interferir, por exemplo, no diagnóstico
de sinais e sintomas, e as prováveis complicações que poderão
acontecer na hora de uma intervenção e dificultar a colaboração
do paciente durante o seu atendimento. Geralmente, o tratamento
desses pacientes exige uma equipe multiprofissional.
Os distúrbios neuropsicomotores são classificados como desvios
de inteligência, físicos, congênitos, comportamentais, psíquicos,
deficiência sensorial e de radiocomunicação, doenças sistêmicas
crônicas, doenças endócrinas metabólicas e estados fisiológicos
especiais (MUGAYAR, 2000).
Desvio de inteligência: é uma alteração anormal da capacidade
intelectual, social e comportamental de um indivíduo, podendo
ser classificada, conforme o grau de sua deficiência, como: leve,
indivíduos integrados socialmente, que constituem o maior grupo;
moderada, quando há a possibilidade de o indivíduo adquirir hábitos
de autonomia e frequentar lugares ocupacionais quando adulto;
profunda, em que o indivíduo apresenta incapacidade mental de
autonomia, incluindo estado vegetativo; e severa, que constitui um
índice pouco significativo do grupo de deficientes mentais, possui
capacidade de comunicação muito limitada (VARELLIS, 2013).
Defeito físico: está associado a toda alteração da capacidade
motora do ser humano e pode ser classificado de acordo como
envolvimento do sistema nervoso central (SNC), como ocorre na
paralisia cerebral, mal de Parkinson e no acidente vascular cerebral
(AVC); comprometimento musculoesquelético, como nas distrofias
musculares de caráter progressiva e na miastenia grave.
A paralisia cerebral é considerada uma alteração cerebral crônica,

16 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


mas não progressiva, que compromete várias partes do corpo ou
paralisia em um único membro. Geralmente, o paciente possui
múltiplas inaptidões que acometem o controle do corpo, retardo
mental (desvio de inteligência), disfunções sensoriais, problemas com
fala, convulsões, falta de coordenação com contrações articulares.
A doença de Parkinson também é uma afecção do sistema nervoso
central, uma alteração neurológica irreversível, crônica, e tem sua
etiologia em um processo degenerativo e progressivo das células
nervosas, que basicamente resulta em desordem da motricidade. Os
pacientes apresentam tremores e rigidez muscular, que favorecem
uma deglutição atípica com sialorreia persistente (saída de saliva
pela comissura labial) nos casos mais graves. Os pacientes também
podem ter bradicinesia (lentidão de reações físicas e mentais),
instabilidade postural e para andar e declínio do intelecto (VARELLIS,
2013). O AVC, por sua vez, é causado por uma interrupção súbita do
suprimento sanguíneo ao cérebro devido à hemorragia intracerebral
espontânea, que resulta na incapacidade permanente do paciente.
O indivíduo que sofre um AVC pode apresentar crises epiléticas,
deficiência visual, problemas com fala, incoordenações motoras e
mudança de personalidade.
Nos defeitos congênitos o que apresenta maior prevalência e
tem grande relevância na odontologia é a síndrome de Down, que é
causada por uma anomalia genética do cromossomo 21 (provocando
uma trissomia). Essa alteração acontece durante a formação
do zigoto, onde todas as células do indivíduo passam a ter 47
cromossomos e não os 46 normais. A síndrome de Down relaciona-
se a algum grau de deficiência mental e podem ser observadas
deformidades craniofaciais. Dificuldades generalizadas, afetando a
capacidade de aprendizagem, linguagem, autonomia, motricidade
e interação social, são resultados de um desenvolvimento funcional
incompleto do cérebro de crianças com síndrome de Down (SILVA;
CRUZ, 2009). Esses pacientes possuem um hipodesenvolvimento
do terço médio da face e podem apresentar algumas manifestações
sistêmicas, tais como: epilepsia associada ou não a crises convulsivas;
desvio de inteligência (50% dos casos); deficiência visual precoce;
dificuldades de aprendizagem na fala e alimentação, que dependerá
de um estímulo para ajudar a integrar-se na sociedade.
Defeitos comportamentais, desvio psíquico e social
compreendem as pessoas que possuem atitudes que não são comuns

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 17


em indivíduos ditos normais. Um dos exemplos é o autismo, que é
uma síndrome de comportamento, com inúmeras etiologias que se
caracterizam pela pouca/falta de capacidade qualitativa em interagir
socialmente. Outras condições que podem ser incluídas no grupo
de distúrbios comportamentais: desvio psíquico e social, como os
distúrbios alimentares, como anorexia nervosa, bulimia nervosa e
compulsão alimentar. Esses distúrbios geralmente coexistem com
outras doenças, como a depressão, o abuso de substâncias ou a
ansiedade. O desvio psíquico pode estar presente devido à carência
afetiva, por consequência do desvio social que os impedem de se
socializarem. Há diversas razões que podem relacionar os distúrbios
neurológicos ao desvio social, dentre elas, podemos citar o fator
socioeconômico, a falta de orientação, a desnutrição e o estresse
emocional que também provocam uma alteração comportamental.
Manifestações bucais: as pessoas com deficiências, portadoras
de distúrbios neuropsicomotores, apresentam um índice alto
de cárie, gengivite e periodontite, devido à falta de higienização
correta, seja por limitações motoras ou mentais dos pacientes ou
pela conduta dos responsáveis no auxílio do controle preventivo
de doenças orais, incluindo más oclusões decorrentes de hábitos
deletérios, como o bruxismo, que são ocasionados devido à
contração muscular. As hiperplasias gengivais também são
manifestações comuns em pacientes com doença mental associada
a crises de epilepsia, causadas pelo acúmulo de placa bacteriana
e pelo uso de algumas drogas que contenham difenilidantoína,
fenobarbital, ácido valproico e hidantoína (GUEDES PINTO, 2003).
Outro fator que favorece a dificuldade de higienização é o tipo de
dieta desses pacientes, que têm dificuldade em usar alimentos mais
consistentes. Os pacientes portadores de síndrome de Down, em
especial, apresentam índice de cárie dental relativamente baixo.
No entanto, mostram alterações bucais, como o palato em ogiva,
língua fissurada, macroglossia, subdesenvolvimento da maxila
com protrusão da língua, microdentes, tanto os decíduos como
os permanentes, ausência dos segundos pré-molares, atraso
no processo eruptivo, hipoplasia e hipocalcificação do esmalte
dentário, além de anomalias de forma, tamanho e número.
Caro aluno, como vimos, o cirurgião-dentista deve ter um
vasto conhecimento das alterações e manifestações especiais que
acometem esses pacientes especiais para uma melhor abordagem

18 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


do paciente e de seus familiares, um diagnóstico correto e
atendimento especializado que garanta um tratamento contínuo de
qualidade. Portanto, dedique-se, estude e pesquise mais sobre esses
assuntos tão importantes para o seu futuro profissional.

Sem medo de errar


Vamos relembrar o paciente J.C., atendido por Maria Eduarda.
J.C., um menino de 12 anos, possui paralisia cerebral e apresenta
desvio de inteligência e comprometimento motor em várias partes
do corpo com contrações nas articulações. As suas limitações
são diferentes das de outros pacientes afetados pela mesma
condição de saúde, a paralisia cerebral, e diferem ainda mais de
outras doenças relacionadas a distúrbios neuropsicomotores,
como a doença de Parkinson. Então, perguntamos: seria possível
estabelecer um atendimento padrão para pacientes portadores
de distúrbios neuropsicomotores? Podemos perceber que cada
paciente necessita de uma atenção personalizada decorrente do
grau de comprometimento de sua deficiência física e psíquica. É
muito importante na prática clínica conhecer as experiências prévias
de atendimento de PCD. Se J.C. teve uma experiência positiva
ou negativa anterior no atendimento odontológico, os passos de
condicionamento do paciente e seus responsáveis devem seguir
diferentes abordagens. Assim, torna-se complexo estabelecer um
padrão de atendimento para todas as PCDs.
Quais seriam as situações clínicas especiais com as quais Maria
Eduarda pode se deparar no atendimento de J.C.? Existem várias
situações possíveis, e elas estariam relacionadas às várias etapas de
atendimento, como uma anamnese minuciosa para se conhecer
o paciente e seu relacionamento com a família. Dessa forma,
entendendo qual seria a melhor abordagem a ser adotada para
tornar o paciente e os responsáveis colaboradores na prevenção
e no atendimento do paciente. Então, qual seria a conduta mais
adequada para o atendimento dos pacientes com comprometimento
motor e de inteligência?
Neste caso, o paciente J.C. tem uma grande dependência de
seus familiares e cuidadores, o primeiro estágio do atendimento é a
conscientização dos responsáveis pelos cuidados da higiene bucal.
Uma estratégia de abordagem e orientação para essas pessoas

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 19


deve ser usada. O atendimento deve seguir o condicionamento
do paciente ao ambiente odontológico e ser realizado no menor
tempo possível, com os procedimentos planejados e os materiais
preparados previamente para se evitar atrasos. O cirurgião-
dentista e sua equipe devem avaliar a necessidade de contenção
do paciente e o tipo a ser adotado, para garantir a segurança e
a qualidade do atendimento odontológico. Assim, é possível
elaborar um protocolo para atendimento de PCD observando-se
as peculiaridades de cada caso.

Avançando na prática
Atendimento odontológico para paciente com
síndrome de Down

Descrição da situação-problema
Após as reflexões sobre o atendimento do menino J.C., Maria
Eduarda lembrou-se de Ana, uma menina com a mesma idade
de J.C., com síndrome de Down. Ana recebeu um tratamento
especializado durante a infância com muitos estímulos para
melhorar suas dificuldades com linguagem e algumas dificuldades
motoras. Hoje, Ana consegue se comunicar e compreender bem
as orientações da equipe de assistência odontológica. Assim,
como deveria ser direcionado o condicionamento e o tratamento
odontológico de Ana? A abordagem da paciente e dos familiares e
o planejamento dos procedimentos seriam os mesmos utilizados
com J.C.?

Resolução da situação-problema
A paciente Ana, 12 anos, com síndrome de Down, é capaz de
se comunicar bem e desenvolveu certa habilidade motora. Dessa
forma, ela é capaz de absorver as informações da equipe de
atendimento odontológico e responder com certa independência
a algum questionamento. A abordagem, nesse caso, pode ser
feita de forma direcionada ao paciente, e não somente aos seus
responsáveis. É importante ressaltar aqui que a pessoa com síndrome
de Down, sempre que possível, deve ser responsável pelos seus
cuidados pessoais, para lhe garantir autonomia e autoconfiança.

20 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Esta é uma situação muito diferente da de J.C., com paralisia
cerebral, pois ele possui limitações permanentes e um grau elevado
de dependência de seus responsáveis. É importante salientar,
entretanto, que pacientes com síndrome de Down são comumente
acometidos por doenças sistêmicas, como cardiopatias congênitas
e alterações hematológicas e imunológicas. Também apresentam
frequentemente alterações bucais, como palato em ogiva, dentes
com alterações de forma, tamanho e número e alta prevalência
de doença periodontal. Então, novamente ressaltaremos o quanto
é importante o conhecimento amplo do cirurgião-dentista sobre
as várias características diferenciadas em cada caso de PNE, para
que ele seja capaz de realizar um bom diagnóstico, um plano de
tratamento e a execução do atendimento desse paciente com a
máxima qualidade.

Faça valer a pena


1. O conceito de paciente com necessidades especiais ainda tem uma
definição variada em diferentes instituições. Nesta disciplina, adotamos
para fins didáticos o conceito de PNE descrito nos Cadernos de Atenção
Básica do Ministério da Saúde (2006) que afirma que PNE é “todo usuário
que apresenta______________”, que o impeça de ser submetido a uma
situação odontológica convencional.

Sobre PNE, assinale a alternativa que corretamente preenche a lacuna:

a) Uma única limitação, temporária ou permanente.


b) Uma única limitação permanente.
c) Limitações apenas temporárias.
d) Uma ou mais limitações, temporárias ou permanentes.
e) Uma ou mais limitações apenas permanentes.

2. O ambiente de atendimento odontológico à pessoa com deficiência


(PCD) deve ter algumas características que garantam maior segurança e
conforto durante a assistência para a saúde bucal do paciente e também
para seus familiares ou responsáveis.

Dentre essas características para o atendimento à PCD, podemos afirmar que:

a) O ambiente de atendimento deve ser cheio de elementos que chamem a


atenção do paciente.

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 21


b) O ambiente deve proporcionar calma e relaxamento ao paciente.
c) O ambiente deve conter elementos sonoros para distrair o paciente.
d) O ambiente deve ser preparado após a entrada do paciente para o
atendimento.
e) No ambiente de atendimento, deve estar somente o material previsto para
o atendimento.

3. Dentre os distúrbios neuropsicomotores, estão os distúrbios


comportamentais e o desvio psíquico e social. O autismo é um exemplo
de desvio comportamental e que apresenta múltiplas etiologias, enquanto
o desvio psíquico pode estar presente devido à carência afetiva. Outras
condições podem ser incluídas no grupo de distúrbios comportamentais,
desvio psíquico e social.

Que outra condição pode ser incluída no grupo de distúrbios


comportamentais, psíquico e social?

a) Síndrome de Down.
b) Deficiência visual.
c) Doença de Parkinson.
d) Paralisia cerebral.
e) Distúrbio alimentar.

22 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Seção 1.2
Pacientes sistemicamente comprometidos e suas
implicações na assistência odontológica

Diálogo aberto
Caro aluno, seja bem-vindo à Seção 1.2.
O atendimento odontológico de pacientes sistematicamente
comprometidos é relativamente frequente. Dentre as condições
sistêmicas que afetam o atendimento odontológico estão o diabetes,
os problemas cardíacos, renais e neurológicos. Nesta seção, fique
atento para perceber como essas doenças se relacionam, quais são
as causas comuns entre elas, quais são os aspectos comuns no
tratamento e as condutas específicas na assistência odontológica de
cada condição sistêmica. Para melhor compreender o atendimento
desses pacientes sistemicamente comprometidos, relembraremos o
caso em que Maria Eduarda, aluna estagiária do curso de odontologia
que atendeu pacientes especiais distintos. O paciente P.M., de
69 anos, possui diabetes mellitus. Como Maria Eduarda sabe que
essas condições médicas podem afetar o tratamento odontológico
dos pacientes, já que eles são mais susceptíveis a infecções e
alterações do seu estado de saúde, ela se questionou: qual seria a
importância do estabelecimento de condutas comprovadas para o
controle da infecção e outras alterações na prática odontológica?
Leia atentamente o quadro “Não pode faltar”, no qual você adquirirá
novos conhecimentos e poderá ajudar a aluna Maria Eduarda a
responder ao questionamento feito.

Não pode faltar


Caro aluno, anime-se, você tem muito a aprender, essa disciplina
é muito importante para a sua vida profissional!

Pacientes sistemicamente comprometidos


Existem vários problemas que podem comprometer
sistematicamente as pessoas, como o diabetes mellitus (DM),

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 23


uma doença crônica que apresenta um conjunto de desordens
metabólicas, é causada pela falta de produção ou ineficácia na
ação da insulina circulante ou, ainda, uma associação desses dois
fatores. A insulina é o hormônio que controla o nível de glicose
no sangue e nosso corpo precisa dela para absorver a glicose,
que obtemos dos alimentos, como fonte de energia. O diabetes é
principalmente caracterizado por um quadro de hiperglicemia, ou
seja, uma quantidade aumentada de glicose no sangue. Quando o
nível de glicose no sangue fica alto por longos períodos, pode haver
danos em órgãos, nervos, vasos sanguíneos e levar até a um quadro
chamado cetoacidose diabética, que pode ser fatal.
Entenderemos melhor a importância desta doença. O diabetes
mellitus é uma doença de alta prevalência na população mundial.
No Brasil, mais de 13 milhões de pessoas, ou aproximadamente
6,9% da população, já foram diagnosticadas com DM, e a incidência
do diabetes aumenta a cada ano (SBD, 2017). Pelo fato de muitos
pacientes com DM não terem um diagnóstico, os profissionais
de saúde bucal devem conhecer e ficar atentos aos sinais e aos
sintomas de diabetes nos seus pacientes.
Podemos citar três tipos de diabetes: DM tipo 1, DM tipo 2 e DM
gestacional (ADA, 2017).
Diabetes tipo 1 - resultante da pouca ou nenhuma produção de
insulina, causada pela destruição autoimune das células beta do
pâncreas, que produzem esse hormônio. A instalação da doença
geralmente ocorre na infância e em adultos jovens. Os pacientes
portadores de DM tipo 1 precisam receber injeções diárias de insulina
exógena e são, portanto, insulinodependentes. Aproximadamente
5% dos casos de DM são do tipo 1.
Diabetes tipo 2 - ocorre a diminuição da produção de insulina
e/ou uma resistência dos tecidos do corpo à ação da insulina. Em
geral, o DM tipo 2 acomete pessoas após os 40 anos de idade, e
os indivíduos podem não ser insulinodependentes, necessitando
apenas de um controle rigoroso da dieta e/ou uso de medicamentos
ministrados por via oral. Aproximadamente 90% dos casos de DM
são do tipo 2.
Diabetes gestacional - doença metabólica transitória, causada
por alterações na ação da insulina provocadas por hormônios
liberados durante a gravidez.

24 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Caro aluno, é importante que você conheça os principais sinais
e os sintomas do diabetes, pois você pode detectar a doença em
pacientes que desconhecem a sua condição:

Quadro 1.1 | Principais sintomas do diabetes

Os pacientes podem ainda


Os sintomas clássicos:
apresentar:
• Fadiga.
• Poliúria (volume aumentado da
• Alterações visuais, como visão
urina).
turva.
• Polidipsia (sede aumentada).
• Impotência sexual.
• Polifagia (fome aumentada).
• Feridas que demoram a cicatrizar.
• Glicosúria (glicose na urina).
• Cetoacidose.
• Perda rápida de peso.
• Síndrome hiperosmolar
hiperglicêmica não cetônica.
Fonte: elaborada pela autora.

Como fatores de risco para o diabetes, podemos citar:


• Sobrepeso/obesidade (inclusive em crianças), principal fator
de risco para a DM (WHO, 2016).
• Níveis altos de colesterol e triglicérides no sangue.
• Hipertensão (pressão alta).
• Hereditariedade.
• Etnia (latino-americanos, afro-americanos).
• Falta de atividade física regular.
• Idade acima dos 40 anos (para o diabetes tipo 2).
• Medicamentos, como aqueles à base de cortisona.
• Estresse emocional.
O diagnóstico do diabetes consiste basicamente em verificar os
níveis de glicose no sangue:
Normal (sem diabetes) - 70 mg/dL e 99 mg/dL em jejum de
8 horas e entre 100 mg/dL e 140 mg/dL pós-prandial (depois de
comer). Níveis alterados desses valores podem sugerir crises hipo
ou hiperglicêmicas.
Pré-diabetes - pós-prandial entre 140 mg/dL e 200 mg/dL.
Diabetes mellitus - mais de 200 mg/dL;
Diabetes gestacional - mais de 100 mg/dL em jejum 8 horas.

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 25


Quadro 1.2 | Principais complicações sistêmicas e bucais que podem decorrer do
diabetes

Complicações sistêmicas Complicações bucais


• Gengivites
• Doenças cardíacas
• Doença periodontal
• Acidentes vasculares
• Mucosite e peri-implantite
• Doenças renais
• Susceptibilidade a infecções
• Neuropatias
bucais
• Problemas nos pés
• Xerostomia (boca seca)
• Retinopatias
• Síndrome de ardência bucal
• Cicatrização lenta
• Alterações de paladar

Fonte: elaborada pela autora.

Como você observou, existem várias complicações do diabetes


com manifestações bucais. A doença periodontal, em especial,
tem uma forte associação com o diabetes, sendo a complicação
bucal mais frequente. É uma desordem imunoinflamatória que se
inicia com o acúmulo de biofilme na margem gengival, causando
sangramento, edema e coloração na gengiva avermelhada (gengivite).
Quando não tratada, a gengivite pode evoluir para periodontite,
o que é caracterizada pela perda dos tecidos de suporte dental
(osso, cemento e ligamento periodontal) com migração apical do
epitélio juncional, formação de bolsa periodontal, podendo ocorrer
retração gengival (Figura 1.2). A doença periodontal tende a ser
mais extensa e severa em pacientes com diabetes do tipo 1 que não
mantêm um rigoroso controle glicêmico. Por que isso acontece?
O diabetes causa alterações na resposta do hospedeiro e aumento
nos níveis séricos de citocinas pró-inflamatórias, como TNFα e
IL-1β, as mesmas alterações encontradas na periodontite. Além
disso, o DM pode aumentar o nível de glicose na saliva, fornecendo
mais substrato para o crescimento bacteriano e também inibindo
fibroblastos que ajudam na recuperação periodontal. Por outro
lado, a doença periodontal pode piorar o controle da glicemia,
pois as infecções sistêmicas aumentam a resistência à insulina
nos tecidos. Desse modo, a inter--relação entre diabetes e doença
periodontal é bidirecional, ou seja, a doença sistêmica (diabetes)
pode predispor uma infecção oral, e a infecção oral (periodontite)
pode exacerbar uma condição sistêmica. O tratamento periodontal
pode ter um efeito benéfico no controle glicêmico de pacientes
com DM tipo 1 e 2.

26 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Exemplificando

Figura 1.2 | Pacientes diabéticos apresentando gengivite (A), caracterizada


por áreas avermelhadas e edema (setas), e sangramento à sondagem; e
periodontite (B) nos dentes anteriores com perda óssea e retração gengival
(cabeças de seta)

Fonte: acervo pessoal da autora.

Pesquise mais
Caro aluno, como vimos, a relação entre a doença periodontal e o
diabetes mellitus é de grande importância na odontologia. Aumente
seus conhecimentos sobre esse assunto por meio da leitura deste artigo
recomentado: “Doença periodontal e diabetes mellitus. Disponível
em: <http://www.herrero.com.br/revista/edicao16/16Ed_n02_p32-
41OLIVEIRA.pdf>. Acesso em: 14 set. 2017.

Outras complicações bucais: em pacientes diabéticos também


pode ocorrer um aumento da suscetibilidade para infecções
bucais agudas bacterianas, viróticas ou por fungos. As infecções
virais devem ser tratadas o mais rápido possível, por exemplo, a
causada pelo vírus herpes simples. O antivírus oral Aciclovir pode
ser usado para o tratamento e a profilaxia das manifestações que
causem incômodo ao paciente, entretanto, essa medicação deve
ser evitada em pacientes com insuficiência renal em função de
seu potencial de nefrotoxicidade. Infecções causadas por fungos,
como a candidíase, podem ser tratadas com agentes fungicidas
tópicos ou sistêmicos, mas deve-se evitar medicamentos com alto
conteúdo de açúcares, como o Itraconazol. A xerostomia, ou boca
seca, aumenta a suscetibilidade a cáries dentárias e infecções por
cândida, inflamação da língua e úlceras. Outra complicação do
diabetes é a síndrome de ardência bucal, caracterizada por dor ou

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 27


sensação de ardência, que podem ser intensas, mas geralmente
sem lesões aparentes. A causa pode estar relacionada à xerostomia,
à candidíase ou a alterações neurológicas, como a depressão, e
seus sintomas podem desaparecer após o controle da glicemia ou
após o tratamento da causa.
Complicações sistêmicas do diabetes: os problemas cardíacos,
renais e neurológicos têm uma estreita relação com o DM. Essas
doenças podem estar inter-relacionadas e influenciar o risco para a
instalação e a evolução umas das outras e de outras doenças como
complicação.

Pacientes sistemicamente comprometidos: problemas cardíacos


Devido ao número crescente de pessoas portadoras de
cardiopatias, é importante que o cirurgião-dentista conheça as
principais doenças cardiovasculares que podem interferir na
assistência odontológica e proporcionar um atendimento seguro a
esses pacientes.
As doenças cardiovasculares (DCVs) são hoje a principal
causa de morte no mundo. No Brasil, em 2016, foram estimadas
349.938 mortes por DCV (SBC, 2017). Vamos então conhecer os
principais comprometimentos cardiovasculares de importância na
odontologia.
Na doença cardíaca isquêmica, ocorre a obstrução gradual das
artérias coronárias (formação de placas de gordura (ateromas) que
levam sangue ao coração. Por exemplo, em uma situação de estresse
emocional, o fluxo sanguíneo diminuído pode não conseguir levar
oxigênio suficiente ao coração e causar isquemia (falta de oxigênio)
no miocárdio. A isquemia transitória no miocárdio (duração de 5 a
20 minutos) é chamada de angina do peito e é caracterizada por dor,
queimação ou pressão localizada atrás do osso esterno, podendo
irradiar para o ombro, braço esquerdo, mandíbula, língua e para o
epigástrico; após repouso, a dor é aliviada. Quando os sintomas
de angina não desaparecem com o repouso e nem com o uso de
medicação (vasodilatadores coronarianos), a angina é considerada
instável e causa risco iminente de infarto do miocárdio e deve ser
tratada como emergência médica. A obstrução por aterosclerose
também pode ocorrer em vasos que levam sangue ao cérebro. Os
eventos de isquemia cerebral podem levar a uma condição aguda

28 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


chamada de acidente vascular cerebral (AVC). A causa de infartos
cardíacos e AVCs pode ser uma combinação de fatores de risco,
como o uso de tabaco, do álcool, a obesidade, o sedentarismo, a
hipertensão, o diabetes e a hiperlipidemia.
A hipertensão arterial é a elevação persistente da pressão arterial
sanguínea (PA), com valores iguais ou acima de 140/90 mmHg e
atinge grande parte da população. É um importante fator de risco
e exacerbação de várias doenças graves, como a arritmia cardíaca,
a insuficiência cardíaca, a insuficiência renal crônica, o aneurisma
arterial, doença arterial periférica, e é responsável pela maioria dos
casos de AVC e infarto agudo do miocárdio. A maioria dos casos
de hipertensão arterial não tem causa aparente, e a doença não
tem cura. O tratamento da hipertensão depende da gravidade das
variações nos níveis de PA. Os sintomas, como dores no peito,
zumbido no ouvido, dores de cabeça, tonturas, entre outros,
costumam aparecer somente quando a pressão sobe muito. É muito
importante que o CD afira a pressão arterial dos pacientes e fique
atento quando for usar a anestesia local em pacientes hipertensos.
A insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é uma doença na qual
ocorre uma diminuição na capacidade de contração do músculo
cardíaco, que não tem força suficiente para bombear o volume
normal de sangue. Dessa forma, o coração não consegue fornecer
a quantidade adequada de sangue/oxigênio aos órgãos.
As arritmias são distúrbios do ritmo normal do coração, podendo
apresentar ou não sintomas, como palpitação e síncope (desmaio),
e ter vários graus de severidade. As arritmias podem ser exacerbadas
pela ansiedade e o estresse e devem ser levadas em consideração
nos atendimentos odontológicos.
A endocardite infecciosa (EI) é uma infecção severa das valvas
cardíacas ou na superfície do endocárdio. Os sinais e os sintomas
da EI incluem febre baixa, sudorese, dores nas articulações,
fadiga e perda de peso. Os estreptococos e os estafilococos são
bactérias responsáveis por 80% dos casos de EI, e a Aggregatibacter
actinomycetemcomitans (Aa), implicada na etiopatogenia da doença
periodontal agressiva, também pode provocar EI. As intervenções
odontológicas são as principais causas de bacteremia transitória, pois
bactérias presentes na boca entram na corrente sanguínea e podem
colonizar valvas cardíacas danificadas ou anormais e o endocárdio

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 29


próximo a defeitos anatômicos, resultando em EI. Os riscos de uma
bacteremia de origem bucal dependem da extensão do traumatismo
aos tecidos moles durante o procedimento odontológico e o grau
de inflamação preexistente na boca. Pode ocorrer após exodontia,
raspagem periodontal, cirurgias periodontais, manipulação
endodôntica, profilaxia e escovação. Em qualquer procedimento
odontológico com risco de sangramento, deve ser avaliada a
necessidade de profilaxia com antibióticos em pacientes susceptíveis
ao desenvolvimento de endocardite bacteriana.

Doença periodontal e as doenças cardiovasculares


Atualmente, a doença periodontal tem sido apontada como um
fator de risco para várias doenças sistêmicas, incluindo algumas
DCVs. Como vimos anteriormente, a infecção bacteriana na
periodontite aumenta a liberação de mediadores inflamatórios e
provoca bacteremia sanguínea, aumentando o risco para o infarto
do miocárdio (SHI, 2016) e endocardite infecciosa em pacientes
susceptíveis (TUBIANA et al., 2017). O tratamento periodontal,
quando bem planejado, pode reduzir o risco às doenças
cardiovasculares e melhorar as condições da saúde geral de
pacientes susceptíveis a complicações.

Dica

Caro aluno, acesse o link e aprenda mais sobre os comportamentos que


ajudam a evitar doenças cardiovasculares. Disponível em: <https://biosom.
com.br/blog/saude/doencas-cardiovasculares/>. Acesso em: 27 out. 2017.

Pacientes sistemicamente comprometidos: doenças renais e


neurológicas
A doença renal crônica (DRC) consiste em uma perda lenta,
progressiva e irreversível da função renal, acarretando em diminuição
da filtração glomerular. A morbidade por insuficiência renal é alta e,
em fase avançada, pode ser necessária a realização de transplante de
rim. Os pacientes portares de DRC apresentam alterações metabólicas
e de volemia, com restrições ao uso de alguns medicamentos. Por
isso, as doenças renais têm implicações na prática odontológica. A
DRC influencia o volume salivar, causando xerostomia, sensação

30 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


de gosto amargo na boca e alterações do hálito e do paladar, e a
xerostomia pode causar maior susceptibilidade a doenças bucais.
Conforme a DRC torna-se mais severa e os pacientes tornam-se mais
imunossuprimidos, as manifestações bucais tornam-se mais comuns.
Dentre elas, estomatites, queilite angular, hiperplasia gengival
medicamentosa, infecções fúngicas, como candidíase, entre outras.
Os fatores de risco para a DRC coincidem com vários fatores para
a doença periodontal, como o tabagismo e o diabetes mellitus. Os
microrganismos relacionados com a periodontite e o tipo de resposta
de citocinas pró-inflamatórias afetam o fluxo sanguíneo e aceleram
doenças sistêmicas. Além da periodontite, cáries, lesões endodônticas
e mucosites também servem como porta de entrada de patógenos
no sangue, aumentando a morbimortalidade de pacientes DRC
(SEDÝ, 2010). Portanto, veja como a atuação do CD é importante no
controle da saúde bucal e geral dos pacientes com doenças renais.
A neuropatia diabética é uma das complicações crônicas mais
comuns e incapacitantes do diabetes. Aproximadamente 50% dos
diabéticos apresentam alguma forma de neuropatia. Quando o
DM não é adequadamente controlado, o excesso de glicose no
sangue causa a oxidação da bainha de mielina e lesiona a estrutura
de nervos periféricos. Então, esse é um processo degenerativo dos
nervos, que além de prejudicar a comunicação entre os neurônios,
causa dor e pode até levar à amputação de membros.

Abordagem na assistência odontológica para pacientes


sistemicamente comprometidos
Nos dias de hoje, um número considerável e crescente de
pessoas portadoras de doenças sistêmicas procura tratamento
odontológico. Esse fato deve estimular alunos e o CD a buscarem
novos conhecimentos para que a conduta do CD e o atendimento
a esses pacientes sejam feitos com maior segurança.

Reflita
Você saberia identificar e agir caso um paciente diabético entrasse
em estado hiperglicêmico ou hipoglicêmico durante um atendimento
odontológico? Qual seria a melhor conduta a ser tomada pelos
profissionais de saúde bucal frente a uma emergência com um
paciente diabético?

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 31


A anamnese completa de qualquer paciente que procure
atendimento odontológico deve ser uma rotina na abordagem inicial
do cirurgião-dentista. Lembre-se de que o atendimento odontológico
pode interferir no curso de certas doenças sistêmicas, entretanto,
algumas delas podem ser assintomáticas e o próprio paciente pode
desconhecer sua real condição de saúde. A anamnese deve incluir
o questionamento sobre o histórico de saúde detalhado do paciente
e o histórico familiar de doenças sistêmicas; avaliar seu estado atual
de saúde, o(s) tipo(s) de doença(s) presente(s), quando foi feito o
diagnóstico, quando iniciou o tratamento e os medicamentos em
uso, e a existência de complicações sistêmicas adquiridas. Também
devem ser avaliadas as questões comportamentais, que podem ser
fatores de risco a doenças sistêmicas, como: dieta, sedentarismo,
tabagismo, uso de drogas, ansiedade e medo, hábitos de higiene
bucal etc. O CD deve avaliar os sinais vitais do paciente, pulsação
e pressão arterial na primeira consulta e antes de procedimentos.
Após essas avaliações, o CD deve fazer o planejamento do seu
atendimento de forma individualizada e adotar medidas preventivas,
evitando intercorrências no atendimento. Quando necessário, deve
haver interação do CD com a equipe multiprofissional responsável
pelo tratamento do paciente.
Controle da ansiedade dos pacientes: é muito comum que
o tratamento odontológico induza um quadro de ansiedade e
apreensão nos pacientes. O próprio ambiente do consultório pode
gerar estresse ao paciente. O CD deve estar atento e dedicar-se
a minimizar os fatores causadores de estresse. Em especial, os
pacientes com doenças cardiovasculares apresentam sintomas
exacerbados pelo estresse e a ansiedade, que, se não controlados,
podem levar a situações de emergência no atendimento, como
angina, arritmias, crises hipertensivas arteriais e infarto do miocárdio.
O estresse também pode desencadear um aumento da glicemia
no sangue de pacientes diabéticos. A dor e a ansiedade podem ser
controladas com uso de sedação pré e transoperatórios, anestesia
local eficiente e analgesia pós-operatória. A sedação consciente
pode ser feita por prescrição de um benzodiazepínico, como
diazepam (de 5 mg a 10 mg), ou lorazepam (de 1 mg a 2 mg), ou
midazolam (7,5 mg), em dose única administrada 30 a 45 minutos
antes do atendimento. O lorazepam deve ser tomado 2 horas antes
do procedimento, pois tem ação mais lenta (ANDRADE, 2014).

32 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Devido ao tempo de atendimento, os pacientes devem ser
orientados a tomarem seus medicamentos e se alimentarem
corretamente antes das consultas. Em geral, as consultas dos
pacientes com comprometimento sistêmico devem ser tão curtas
quanto possível (de 30 a 40 minutos), marcadas de preferência por
volta das 10h da manhã, para evitar alterações da glicemia durante
o procedimento em diabéticos, e da pressão arterial e arritmias em
pacientes com DCV. O CD deve monitorar a glicemia, a pressão
arterial e a frequência cardíaca nas consultas.

Assimile
Os pacientes com o diabetes bem controlado e sem complicações
podem ser tratados da mesma forma que os pacientes não
diabéticos. O atendimento odontológico em pacientes diabéticos
descompensados é recomendado apenas em casos de urgência e
necessita de cuidados especiais!

Profilaxia antibiótica: pacientes susceptíveis a infecções devem


ser avaliados para o risco de bacteremias e infecções a distância.
Como rotina no consultório, é recomendável instituir-se o uso de
bochechos de digluconato de clorexidina 0,12% por 1-2 minutos
previamente a qualquer procedimento para reduzir a carga bacteriana
na boca. Em pacientes com diabetes descompensados, recomenda-
se adotar uma profilaxia antibiótica (prévia ao procedimento) para
evitar bacteremia transitória, mas o atendimento de pacientes
descompensados só deve ser feito em casos de urgência. A
recomendação da American Heart Association (ANDRADE, 2014)
para o uso de profilaxia antibiótica da endocardite infecciosa antes
dos procedimentos dentais é somente para pacientes com alto
risco cardíaco (2 g de amoxicilina em dose única 1 hora antes do
procedimento): pacientes com prótese nas valvas cardíacas, com
histórico prévio de endocardite, com coração transplantado e com
função anormal de valva cardíaca e alguns defeitos congênitos.
Pacientes com doenças renais não controladas devem seguir as
orientações do médico para o controle de infecções e devem
evitar o uso de tetraciclinas e cefalosporinas, devido ao potencial
nefrotóxico dessas drogas.
Os anestésicos locais com vasoconstritores adrenérgicos podem
ser usados em pacientes com DM. A epinefrina, que produz um efeito

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 33


contrário à insulina, se injetada diretamente na corrente sanguínea,
pode ser utilizada contanto que na mínima dose necessária para uma
anestesia eficaz. Deve-se ter um cuidado redobrado para evitar injeção
intravascular de anestésicos locais com vasoconstritor em pacientes
com DCV. Pacientes hipertensos, com DCV ou insuficiência renal
podem receber injeções de anestésicos locais nos atendimentos
de urgência, com atenção ao limite de anestésico que pode ser
usado, como a lidocaína 2% ou articaína 4% associados à epinefrina
1:100.000 ou 1:200.000 (máximo dois tubetes), ou prilocaína 3%
com felipressina 0,03 UI/mL (dois a três tubetes). Nas arritmias
cardíacas, deve-se evitar a epinefrina, e o anestésico de escolha
pode ser a mepivacaína 3% sem vasoconstritor. Nas doenças renais,
deve-se evitar o uso de mepivacaína pelo seu tempo mais longo de
metabolização (ANDRADE, 2014).
Analgesia: o efeito de alguns hipoglicemiantes orais dos pacientes
com DM pode ser potencializado pelo ácido acetilsalicílico (AAS) e
anti-inflamatórios não esteroides (AINEs). Para pacientes com DCV
e renais, é recomendável o uso de analgésicos comuns, como a
dipirona e o paracetamol, ou o uso de corticosteroides (4 mg
dexametasona ou betametasona) em dose única para o controle da
dor, em caso de procedimentos invasivos.
A educação de higiene oral aos pacientes com DM é
imprescindível. Os profissionais devem orientar seus pacientes
sobre as técnicas de escovação mais adequadas, tipo de escova,
uso do fio dental e de dispositivos acessórios, como escovas
interdentais e raspadores de língua. Como esses pacientes têm
maior susceptibilidade à doença periodontal e predisposição à cárie
dentária devido à xerostomia, pode-se indicar o uso de clorexidina
0,12% e fluoreto de sódio, respectivamente, como adjuvantes na
prevenção dessas duas patologias. O CD deve indicar a frequência
dos retornos para a manutenção do tratamento ao paciente.
O cirurgião-dentista deve estar atento às contraindicações do
atendimento odontológico:
• Pacientes diabéticos descompensados apresentando
cetoacidose sanguínea só devem receber atendimento
odontológico em casos de urgência.
• Angina do peito com relato de crises de dor com aumento
de intensidade e/ou frequência que não cede no repouso ou

34 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


com uso de vasodilatadores indica que a doença é instável e
aumenta o risco iminente de infarto do miocárdio.
• Pacientes com pressão arterial em níveis maiores que 180
mmHg/110 mmHg. Em caso de urgências, o atendimento
deve ser feito em ambiente hospitalar.
• Pacientes que tiveram infarto do miocárdio não devem ser
submetidos à cirurgia eletiva antes de 4 a 6 semanas do
evento agudo para evitar recidiva.
• Pacientes com marca-passo não devem ser submetidos a
tratamentos que utilizem aparelhos que criam corrente
eletromagnética.
Tratamento da doença periodontal e condições sistêmicas:
devido ao aumento da prevalência da doença periodontal nos
pacientes diabéticos e ao seu impacto no controle da glicemia,
além da associação da periodontite com as DCVs e doenças renais,
o tratamento periodontal preventivo deveria ser enfatizado na
população. Caso a doença periodontal se desenvolva, o tratamento
não cirúrgico da periodontite é o mais recomendado, pois os
procedimentos cirúrgicos podem ter lenta cicatrização e a cirurgia
pode requerer alteração dos medicamentos habituais.
Situações de emergência: fique atento aos sinais e aos sintomas
que acontecem de forma muita rápida. Na hipoglicemia, ocorrem
náusea, sudorese, taquicardia, desorientação e confusão mental e,
como efeitos mais graves, hipotensão, hipotermia, inconsciência,
convulsões, podendo levar à morte. O CD deve interromper o
atendimento e oferecer de 10 g a 20 g de carboidrato (alimento ou
bebida) para o paciente ingerir. Não administrar insulina! Se o paciente
não se recuperar ou estiver inconsciente, acionar socorro médico e
monitorar os sinais vitais. Na hiperglicemia, o paciente apresenta hálito
cetônico, respiração profunda e rápida, taquicardia e hipotensão, pele
seca (desidratação) e quente. Colocar o paciente em posição supina,
solicitar serviço de emergência e monitorar os sinais vitais.
• Emergência com pacientes cardiopatas e/ou hipertensos: caso
o paciente sinta dor no peito e for identificada como angina, o
tratamento deve ser suspenso e o paciente colocado reclinado a 45°
para verificação da sua pressão sanguínea (PA). Se a PA sistólica for
menor do que 100, o paciente deve abaixar a cabeça, ser tranquilizado
e administrar nitroglicerina via sublingual. Se a dor da angina não aliviar

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 35


em 5 ou 10 minutos, há risco de infarto do miocárdio ou de angina
pré-infarto, e o paciente deve ser transportado imediatamente para o
hospital. É preciso verificar os sinais vitais em pacientes inconscientes
e, caso a pulsação não for mais detectada, o cirurgião-dentista
deve estar preparado para os procedimentos de ressuscitação
cardiopulmonar (TEIXEIRA et al., 2008).

Exemplificando

Figura 1.3 | Exemplos de conduta que o CD deve ter no atendimento de


pacientes com comprometimento sistêmico. Monitoramento do paciente
durante o atendimento e preparo para situações de emergência

Fontes: A: <http://www.infohoje.com.br/hipoglicemia-sintomas-causas-tratamento.html>;
B: <http://urgenciasfamiliares.com/abc-da-ressuscitacao/>;
C: <http://apufpr.org.br/projeto-torna-obrigatorio-fornecimento-de-aparelhos-de-pressao-pelo-sus/>;
D: <http://www.samu192df.com.br/site/sobre_samu.htm>. Acesso em: 27 out. 2017.

Sem medo de errar


A estagiária Maria Eduarda fez o atendimento do paciente P.M.,
de 69 anos, iniciando com a realização de uma anamnese completa.
Assim, foi possível identificar que o paciente P.M. tinha diabetes do
tipo 2. O que muda no atendimento odontológico desse paciente? É
necessário adotar um protocolo especial para P.M.? Com a informação
do paciente sobre seu diabetes, Maria Eduarda deve investigar se
ele possui também alguma complicação, como problemas renais e
cardíacos, que possa exigir procedimentos especiais no atendimento
odontológico. Maria Eduarda deve perguntar ao paciente como está

36 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


o controle da sua glicemia: qual método e frequência ele usa para
verificar a sua glicemia, qual é a média recente dos valores glicêmicos
e se ele toma seus remédios de acordo com as recomendações
médicas. Se o paciente P.M. estiver com o diabetes controlado,
Maria Eduarda pode realizar o atendimento usando os mesmos
procedimentos usados para um paciente saudável. Entretanto, se
a glicemia de P.M. estiver descontrolada, procedimentos cirúrgicos
e invasivos devem ser evitados, o paciente deve ser direcionado
ao médico para o controle da glicemia antes do tratamento
odontológico. Em caso de situações de emergência, o paciente
diabético descompensado pode ser mais susceptível a infecções e
um protocolo de profilaxia antibiótica pode ser adotado.

Avançando na prática
Atendimento odontológico de paciente diabético com
complicações cardíacas

Descrição da situação-problema
O paciente M.G., de 52 anos, procurou atendimento odontológico
com queixa de dor intensa em um dente posterior. Além disso, M.G.
contou que sentia dor de cabeça, tontura e sinais de taquicardia.
A estagiária Maria Eduarda verificou que M.G. era diabético tipo
1 e tinha complicação cardíaca, mas tanto o diabetes quanto os
problemas cardiovasculares do paciente estavam controlados e
sendo monitorados pelo seu médico especialista. Maria Eduarda
aferiu a pressão arterial (PA) de M.G., que era de 160/90 mmHg.
O exame intrabucal e radiográfico mostrou a necessidade de
exodontia do dente afetado, mas Maria Eduarda percebeu que M.G.
apresentava sudorese e um grau elevado de estresse causado pela
dor e ansiedade. Diante do quadro desse paciente, qual seria o
melhor protocolo de atendimento para ele?

Resolução da situação-problema
É importante lembrar que o atendimento odontológico de
pacientes sistemicamente comprometidos deve seguir protocolos
que ofereçam maior segurança para benefício do paciente.
Durante o atendimento inicial de M.G., Maria Eduarda percebeu a

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 37


necessidade de um atendimento cirúrgico de urgência. Entretanto,
M.G. apresentou sinais e sintomas importantes para a tomada de
decisão sobre o atendimento. A PA do paciente estava em um nível
muito alto (160/90 mmHg), coincidindo com os sintomas de dor
de cabeça e tontura, histórico de doença cardiovascular prévia,
sudorese e taquicardia. Além disso, o estresse e a ansiedade do
paciente durante o atendimento podem agravar esse quadro e
interferir na taxa glicêmica do paciente. Neste caso, mesmo em
situação de urgência, o atendimento odontológico no consultório
está contraindicado. Então, qual é a melhor conduta que Maria
Eduarda pode adotar na assistência de M.G.? O CD pode tomar
algumas condutas para evitar a piora dos sinais e sintomas do
paciente, como controlar sua ansiedade, dando a ele segurança e
tranquilidade. O CD pode interferir no processo de dor medicando
o paciente com analgésicos comuns e/ou sedação e encaminhar
o paciente para a realização do procedimento de urgência em
ambiente hospitalar. Se os sinais e os sintomas do paciente se
agravarem durante o atendimento, como dor no peito, arritmia e
dificuldade de respirar, o CD e sua equipe devem estar prontos para
agir rapidamente e chamar o serviço de urgência.

Faça valer a pena


1. O diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica que apresenta um
conjunto de desordens metabólicas, é causado pela falta de produção ou
ineficácia na ação da insulina circulante ou, ainda, uma associação desses
dois fatores. Analise as colunas e faça a correlação entre as principais
complicações sistêmicas e bucais:

Complicações sistêmicas Complicações bucais

a. Doença periodontal
1. Doenças cardíacas
b. Susceptibilidade a infecções
2. Doenças renais
bucais
3. Diabetes
c. Mucosite e peri-implantite
4. Neuropatias
d. Gengivites

Após a análise das colunas sobre as principais complicações sistêmicas


e bucais que podem decorrer do diabetes, assinale a alternativa correta:
a) 1-a; 2-b; 3-c; 4-d. d) 1-c; 2-d; 3-a; 4-b.
b) 1-d; 2-c; 3-a; 4-b. e) 1-d; 2-a; 3-b; 4-c.
c) 1-b; 2-a; 3-c; 4-d.

38 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


2. A doença periodontal tem uma forte associação com o diabetes, sendo
a complicação bucal mais frequente. É uma desordem imunoinflamatória
que se inicia com acúmulo de ________________, causando sangramento,
edema e coloração na gengiva avermelhada (gengivite).

Assinale a alternativa que corretamente completa a lacuna:

a) Biofilme na margem gengival.


b) Biofilme na câmara pulpar.
c) Cândida albicans no ápice radicular.
d) Cândida albicans e biofilme no ápice radicular.
e) Biofilme no ligamento periodontal.

3. O cirurgião-dentista deve estar atento às contraindicações


do atendimento odontológico. Analise as afirmativas sobre essas
contraindicações:

I. Pacientes diabéticos descompensados apresentando cetoacidose


sanguínea só devem receber atendimento odontológico em casos de
urgência.
II. Angina do peito com relato de crises de dor com aumento de intensidade
e/ou frequência que não cede no repouso ou com uso de vasodilatadores
indica que a doença é instável e aumenta o risco iminente de infarto do
miocárdio.
III. Pacientes com pressão arterial em níveis maiores que 180 mmHg//110
mmHg, com ou sem sintomas.
IV. Pacientes que tiveram infarto do miocárdio não devem ser submetidos
à cirurgia eletiva antes de 4 a 6 semanas do evento agudo para evitar
recidiva.

Após análise das afirmativas sobre as contraindicações do atendimento


odontológico, é correto o que se afirma em:

a) Apenas I e II.
b) Apenas II e III.
c) Apenas I e IV.
d) I, II, III e IV.
e) Apenas III e IV.

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 39


Seção 1.3
Anomalias congênitas e a odontologia
Diálogo aberto
Caro aluno, bem-vindo! Você chegou à última seção da Unidade
1 desta disciplina.
Nesta Seção 1.3, abordaremos o tema sobre as anomalias
congênitas e a sua relação com a odontologia. Falaremos sobre as
repercussões genéticas das principais síndromes e malformações
congênitas que afetam a região orofacial e como elas afetam o
tratamento odontológico de pacientes de grupos especiais (idosos,
sistematicamente comprometidos, entre outros) e pacientes com
deficiências (PCDs). As fissuras labiopalatinas serão discutidas
considerando suas implicações físicas e psicossociais, e como o
atendimento odontológico deve ser dirigido a esses pacientes.
As malformações congênitas orofaciais, como as fissuras, são
anomalias que requerem múltiplos procedimentos reabilitadores,
como a intervenção cirúrgica, médica, odontológica, nutricional,
fonoaudiológica e psicológica, ou seja, exige uma equipe
multidisciplinar para o seu tratamento. Para que você compreenda
melhor, pensaremos, por exemplo, na paciente A.C., uma criança
de 3 anos que foi atendida pela Maria Eduarda durante seu estágio.
A paciente A.C. nasceu com uma fissura labiopalatina que resultou
em sequelas bucais, já que as fissuras afetam o desenvolvimento
de dentes decíduos e permanentes. Maria Eduarda observou que
A.C. tinha uma fissura no lábio e durante o atendimento inicial
percebeu que a criança tinha uma fala anasalada, pois a fissura se
estendia até a região palatina. Maria Eduarda então refletiu como
deveria fazer a abordagem para a assistência odontológica de
A.C. Assim como a Maria Eduarda, pense: de que forma as fissuras
labiopalatinas podem afetar o curso da assistência odontológica
desses pacientes especiais? Como deve ser a abordagem desses
pacientes e de sua família/cuidadores para o oferecimento de um
atendimento adequado? Reflita e discuta sobre como elaborar
um protocolo para atendimento de pacientes de grupos especais
com malformações congênitas orofaciais e um protocolo para
atendimento de pacientes sistematicamente comprometidos.

40 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Não pode faltar

As repercussões genéticas nos pacientes de grupos especiais e


PCDs: sindromologia relacionada à odontologia para PNEs
As síndromes genéticas ou cromossômicas são caracterizadas
por um conjunto específico de sinais e sintomas, uma combinação
padrão de anomalias múltiplas no organismo de um indivíduo,
de causa genética (mutação, deleção, duplicação, entre outras)
e que pode envolver um ou mais cromossomos ou genes. As
síndromes genéticas afetam o indivíduo durante a sua formação
embriológica, ou seja, durante o desenvolvimento do embrião ou
feto. As anormalidades que eventualmente ocorrem em um período
embrionário podem afetar vários sistemas que estão se desenvolvendo
ao mesmo tempo. Por isso, as associações entre anomalias orofaciais
e malformações congênitas podem ser observadas em várias
síndromes gênicas ou cromossômicas. Assim, é importante que
a atenção odontológica especializada leve em consideração que
pacientes com malformações orofaciais podem apresentar risco
sistêmico e devem ser considerados como pacientes especiais.
Existem incontáveis síndromes genéticas conhecidas e, apesar
de raras, muitas delas apresentam manifestações clínicas orofaciais
que repercutem na odontologia, pois podem causar alterações da
estrutura, forma, tamanho e de número dos dentes, erupção dental
anormal e defeitos ósseos, como as fissuras orofaciais. Vamos
ver alguns exemplos de síndromes com anomalias no número de
cromossomos e outras com aberrações em genes dominantes ou
recessivos, que apresentam manifestações orofaciais.
A síndrome de Down ocorre por uma alteração genética, com
a presença de um cromossomo a mais total ou parcialmente,
conhecido como trissomia do cromossomo 21. Os indivíduos com
síndrome de Down apresentam características (fenótipo) físicas
associadas: olhos amendoados, uma única prega palmar, maior
propensão ao desenvolvimento de doenças cardíacas, respiratórias,
entre outras, hipotonia muscular, baixa estatura, desenvolvimento
físico e mental mais lentos e deficiência intelectual, que podem
variar em sua gravidade de uma pessoa para outra. As manifestações
bucais comuns na síndrome de Down são: a protrusão da língua
causada pela hipotonia e pelo tamanho reduzido da cavidade oral,

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 41


palato ogival, erupção dental irregular e com atraso, alterações
dentais, como hipodontia, microdontia e outras alterações de
forma, hipocalcificação do esmalte e defeitos de oclusão dental, às
vezes causados por hipoplasia da maxila.
A síndrome de Klinefelter é causada por um aumento do número
de cromossomos sexuais X em indivíduos do sexo masculino (47XXY,
48XXXY, 49XXXXY). Quanto maior o número de cromossomos
extras, mais grave será o comprometimento, que se caracteriza por:
estatura aumentada, hipogonadismo, silhueta ginecoide, obesidade
centrípeta, pênis pequeno, ginecomastia, comprometimento
intelectual e hipoplasia testicular, levando à esterilidade. Os aspectos
orais são: fenda ou fissura palatina, agenesias dentais, dentes
impactados, mordida aberta anterior e mordida cruzada, prognatia,
hipoplasia dentinária.
A síndrome de Turner é causada por uma monossomia do
cromossomo X (45XO) que compromete as pessoas do sexo
feminino, apresentando: baixa estatura, pescoço alado, infantilismo
sexual, ovários rudimentares, amenorreia primária. Essa síndrome
apresenta muitos aspectos orais: hipodontia, taurodontia, doenças
periodontais, palato alto, micrognatia, microdontia, macroglossia,
hipoplasia maxilar e mandibular, má oclusão, depressão nos cantos
da boca, esmalte irregular, agenesia, curva de Spee assimétrica.
A síndrome de Treacher Collins ou disostose mandibulofacial
tem um padrão de herança autossômico dominante e os indivíduos
afetados apresentam: posição antimongoloide dos olhos,
malformação da pálpebra inferior, microtia comprometendo a
acuidade auditiva, fissura palatina, hipoplasia dos ossos faciais, como
malar, maxila e mandíbula, dando ao paciente uma fisionomia de
“face de peixe”.
A hipofosfatasia é uma aberração causada pela falta da enzima
fosfatase alcalina que participa do processo de biomineralização.
Na sua ausência, a calcificação defeituosa provoca anormalidades
esqueléticas, queda precoce da primeira dentição, dentina e
cemento defeituosos e inflamação periodontal.
O raquitismo resistente à vitamina D (hipofosfatemia) é uma
doença ligada ao cromossomo X, onde ocorre comprometimento
dos ossos e dos dentes que apresentam hipoplasia do esmalte e
câmara pulpar grande.

42 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Pesquise mais
As alterações cromossômicas são responsáveis por cerca de 60
síndromes diferentes. Caro aluno, você pode aprofundar seus
conhecimentos sobre as síndromes relacionadas à odontologia lendo
separadamente os conteúdos do capítulo 19 - Odontologia e Genética,
do livro Genética baseada em evidências - síndromes e heranças.
Disponível em: <http://www.sindromededown.com.br/?p=498>.
Acesso em: 1 nov. 2017. (CEPEC-SP, 2104). Anormalidades da erupção:
p. 4-9; Anomalias hereditárias da boca e dentes: p. 9-17; Aberrações
causadas por genes recessivos e ligados ao sexo: p. 17-21. Veja
também as aberrações causadas por poligenes: p. 21-32; Anomalias
cromossômicas: p. 32-42.
Estude com afinco e entenda como diferentes síndromes podem
afetar o atendimento odontológico aos pacientes especiais.

As repercussões genéticas nos pacientes de grupos especiais


e PCDs: malformações congênitas orofaciais relacionadas à
odontologia para PNEs
As malformações congênitas podem ser definidas como "todo
defeito na constituição de algum órgão ou conjunto de órgãos,
que determine uma anomalia morfológica estrutural presente no
nascimento devido à causa genética, ambiental ou mista” (OPAS,
1984). Transtornos do desenvolvimento durante a vida fetal são
a causa das malformações congênitas, que se tornam visíveis ao
nascimento. Anteriormente, vimos que algumas malformações
congênitas estão associadas a anormalidades cromossômicas e
casos de síndromes, mas uma porcentagem delas também pode ser
causada por fatores ambientais, físicos ou químicos, como uso de
drogas, tabaco, consumo excessivo de álcool, medicamentos, como
a hidantoína e tetraciclinas, infecções viróticas e doenças contraídas
durante o período da gravidez, como rubéola, toxoplasmose e
diabetes; deficiências nutricionais e, ainda, por causas desconhecidas.
O desenvolvimento e o crescimento do crânio e da face
possuem uma notável estabilidade metabólica. Os dentes decíduos
são registros permanentes dos distúrbios metabólicos que podem
ter ocorrido desde o 2º trimestre gestacional, enquanto a dentição
permanente registra os distúrbios que ocorreram na formação,
desde o nascimento até o 12º ano de vida. A formação definitiva
dos dentes decíduos ocorre por volta do 60º dia de gestação, e o

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 43


primeiro sinal de calcificação acontece nos incisivos centrais entre o
3º e o 4º mês gestacional. Aos seis meses de vida intrauterina, todos
os dentes decíduos com o 1º molar permanente já iniciaram sua
calcificação. Anormalidades durante as fases de formação dos dentes
podem causar alterações na forma, tamanho, número e estrutura
e na velocidade de erupção dos dentes, e a identificação dessas
alterações no paciente permite correlacionar em quais momentos
do desenvolvimento ocorreram as perturbações metabólicas.
A maioria das malformações bucomaxilofaciais de interesse
odontológico está relacionada a defeitos congênitos hereditários.
Conheceremos algumas das manifestações orofaciais relacionadas
a malformações congênitas:
Agenesia: é a ausência total ou parcial dos dentes, geralmente
atingindo os 3ºs molares, incisivos laterais superiores e pré-molares
inferiores. Tem um caráter hereditário autossômico dominante
e pode ou não estar relacionada a síndromes, como a displasia
ectodérmica, a picnodisostose de Maroteaux-Lamy, a síndrome de
Down, entre outras.
Hiperdontia: é caracterizada pela presença de dentes
supranumerários que muitas vezes não erupcionam, principalmente
na dentição permanente, comprometendo a erupção e o
posicionamento dos dentes nas arcadas. Dentes supranumerários
ocorrem na síndrome de Garder, síndrome de Hallerman-Streiff,
Ellis-Van-Creveld, disostose cleidocraniana e mais frequentemente
na paquioníquia congênita.
Hipoplasia do esmalte e da dentina: ocorre um defeito na
estrutura do esmalte e da dentina por falhas na mineralização que
se manifesta como manchas e até erosões no esmalte e pode
ser encontrado em síndromes, como de Goltz e osteogênese
imperfeita.
Microdontia e macrodontia: são alterações no tamanho dos
dentes e estão relacionadas a síndromes, como a de Down e de
Turner, e doença de Crouzon.
Taurodontia: é o aumento da coroa do dente com uma câmara
pulpar ampla, mas raízes pequenas.
Dens in dente: é uma condição autossômica dominante, mais
frequente em incisivos laterais superiores, em que ocorre uma
invaginação da superfície externa do dente e que pode favorecer o
surgimento de cáries.

44 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Fusão: é transmitido por gene dominante. Ocorre quando dois
germes dentários se unem formando uma única coroa, geralmente
entre os incisivos, que podem ter duas raízes ou uma raiz sulcada.
Fissuras labiopalatinas: são fendas chamadas popularmente de
“lábio leporino” que podem acometer o lábio ou o palato ou os dois
ao mesmo tempo. A origem das fissuras ainda não está totalmente
esclarecida, mas admite-se que elas podem ser causadas por
vários fatores, como genéticos, que contribuem para a formação
de fissuras labiopalatinas em casos sindrômicos, como a síndrome
de Pierre Robin, síndrome de Treacher Collins, síndrome de Apert,
alguns casos de síndrome de Down, mas também ocorrem sem
associação com síndromes, por erros herdáveis no desenvolvimento.
Diversos genes sindrômicos e não sindrômicos estão associados à
formação de fendas ou fissuras labiopalatinas, incluindo cleft lip and
palate transmembrane protein 1 (CLPTM1) e GAD1, que interagem
para a correta oclusão dos tecidos do palato. Mutações no gene
HYAL2 foram associadas à formação de lábio e palato fendidos, e
variações nos genes IRF6, PVRL1 e MSX1 estão associadas a casos
sindrômicos de fissuras. Além de fatores genéticos, influências
ambientais também podem causar fissuras labiopalatais, como
ingestão de bebidas alcóolicas e tabagismo durante os primeiros
estágios da gestação. A alimentação durante a gravidez também é
outro fator que contribui para a malformação do palato. O modelo de
herança das fissuras não sindrômicas pode ser, então, considerado
como multifatorial, ou seja, a ocorrência da doença dependerá da
interação entre fatores genéticos e ambientais.
As fissuras labiopalatinas são defeitos congênitos comuns que
resultam em malformações que atingem a face. Estima-se que,
no Brasil, a incidência de fissuras labiopalatinas oscile em torno de
1:650. Como vimos anteriormente, essas malformações têm uma
etiologia complexa e multifatorial, podem incluir predisposições
genéticas, como hereditariedade e quadros sindrômicos, além de
fatores teratogênicos ambientais, como uso de bebida alcoólica,
cigarros, medicamentos anticonvulsivantes e corticoides. Esses
fatores causam defeitos ou ausência total de fusão das estruturas
embrionárias que se unem para formar o lábio e o palato.
A formação da face e do palato acontece precocemente na
vida intrauterina (IU) com início na 4ª semana gestacional. Na 8ª
semana, os processos faciais embrionários já estão fusionados e,
na 12ª semana, os processos palatinos se completam, formando

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 45


a coalescência, separando as cavidades bucal e nasal. Veja como
é rápida a formação da face e do palato, e é nessa fase do período
embrionário ou no início do período fetal que podem ocorrer as
malformações. As fissuras de lábio e de rebordo alveolar se formam
até a 8ª semana, enquanto as fissuras de palato são estabelecidas
até a 12ª semana gestacional.
A partir do nascimento, as fissuras podem ser diagnosticadas
e tratadas de forma correta. O tratamento geralmente inclui
cirurgias e procedimentos extracirúrgicos, em épocas oportunas do
crescimento da criança, e tem como objetivo a reconstrução ou a
correção do defeito anatômico, a recuperação estética e funcional
para que o indivíduo possa alcançar a integração e a realização
psicossociais (TRINDADE, 2007). A reabilitação total do paciente
pode requerer muitos anos de tratamento e se estender até a
maturidade esquelética. O protocolo de tratamento mais adequado
das malformações e seu prognóstico dependerá do tipo de fissura
e sua extensão. As fissuras labiopalatinas podem ocorrer com
uma grande variedade de formas e extensão das malformações.
Para facilitar seu diagnóstico, prognósticoe a escolha do melhor
plano de tratamento, pode-se adotar um sistema de classificação
das fissuras labiopalatinas. Adotaremos aqui a classificação de
Spina (1972), modificada por Silva Filho et al. (1992), que considera
as estruturas embrionárias afetadas e o forame incisivo como
referência anatômica. Veja a figura a seguir para entender melhor os
tipos possíveis de fissuras e em seguida a classificação delas:

Figura 1.4 | A) Ilustração esquemática representado a maxila e o forame incisivo


como referência anatômica para a classificação de Spina. B) Origens embrionárias
da maxila: palatos primário e secundário. O forame incisivo delimita a formação
embrionária das estruturas maxilares
Palato primário
Lábio

Forame Forame
incisivo incisivo

Palato secundário
A B
Fonte: Trindade (2007, p. 19).

46 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Fissuras pré-forame incisivo: envolvem somente o palato
primário, ou seja, afetam o lábio e/ou o rebordo alveolar até o
forame incisivo. A fissura pode ser incompleta, como um pequeno
corte no vermelho do lábio, ou completa, atingindo toda a extensão
do palato primário, separando a pré-maxila e rompendo o assoalho
nasal. Podem ocorrer só de um lado (unilateral) ou dos dois lados
(bilateral) ou no meio (mediana).
Fissuras transforame incisivo: são fissuras que envolvem
totalmente o palato primário e o palato secundário, atravessando
o rebordo alveolar desde o lábio até a úvula. Também podem ser
unilaterais, bilaterais ou medianas.
Fissuras pós-forame incisivo: envolvem apenas o palato. O lábio
e os dentes não são afetados. Podem ser fissuras completas, quando
atingem o palato duro e mole na região posterior do forame incisivo.
Fissura submucosa: esse tipo de malformação é considerado
como uma forma subclínica, pois a camada da mucosa do palato
permanece íntegra. Ocorre no palato secundário um defeito na
musculatura do palato mole e/ou no tecido ósseo do palato duro,
mas pode ocorrer também associada à fissura de palato primário ou
a síndromes.
Fissuras raras de face: são fissuras muito incomuns que ocorrem
na bochecha, pálpebras, orelha, nariz e ossos do crânio e face.
Veja na Figura 1.5 casos representando a diversidade de formas e
amplitudes das fissuras labiopalatinas.

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 47


Exemplificando

Figura: 1.5 | Fissuras labiopalatinas

Fonte: <http://www.crechesegura.com.br/wp-content/uploads/2016/11/TIPOS-DE-FISSURA-LABIAL-E-
FENDA-PALATINA.jpg>. Acesso em: 31 out. 2017.

As fissuras labiais implicam alteração estética e de fala,


dependendo da amplitude da fissura, que pode se estender até a fossa
nasal, comprometendo também a simetria do nariz. As fissuras que
atingem o rebordo alveolar comprometem não só a estrutura óssea,
mas, geralmente, também influenciam a condição odontogênica.
Os incisivos laterais superiores do lado da fissura são comumente
afetados, podendo ocorrer agenesia e a presença de um dente
supranumerário chamado pré-canino. Os defeitos ósseos também
podem comprometer o periodonto de outros dentes adjacentes à
fissura e levar à perda do elemento dental. Além disso, as fissuras
mais extensas, como as fissuras completas, podem causar alterações
nos músculos da face, abertura da mandíbula, desvios do septo e
achatamento da cartilagem alar nasal. Implicações mais importantes

48 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


das fissuras completas do palato são os comprometimentos
funcionais velofaríngeos, que geralmente causam lentidão na
amamentação por dificuldade em sucção, dificuldade de ingestão
de alimentos e refluxo nasal de alimentos durante a deglutição,
alterações na fala, além de comprometimento otológico e auditivo.
As alterações de fala comuns são a hipernasalidade do som, a
emissão nasal de ar e a articulação compensatória.

Assistência odontológica ao paciente com fissura labiopalatina


A reabilitação das fissuras labiopalatinas é um processo contínuo,
multidisciplinar e individualizado, em que é adotada uma conduta
terapêutica específica para cada paciente, pois cada caso é um caso.
A forma dos tratamentos necessários para conduzir a reabilitação
variará de um paciente para outro, considerando alguns aspectos,
como: o tipo de fissura, a indicação ou não de cirurgias, a presença
de cáries, a expectativa do paciente ou da família e a possibilidade
de acompanhamento do tratamento. De forma geral, as fissuras
orais mais simples normalmente requererão um tratamento mais
simplificado, enquanto as mais complexas exigirão terapias mais
intensas e de longa duração.

Assimile
As diferentes formas de fissuras labiopalatinas e suas implicações
representam a singularidade de cada caso, que determinará o tipo de
tratamento necessário à recuperação de cada indivíduo. Os recursos
odontológicos utilizados no processo reabilitador dos pacientes com
fissura labiopalatina poderão ser simples ou complexos, a reabilitação
odontológica é individual, extensa e essencial para o resultado final.

A odontologia tem um papel importante no processo de


reabilitação das fissuras na cavidade bucal, já que elas têm uma
relação estreita com os dentes e seus tecidos de suporte. Como
membro da equipe de reabilitação, o CD deve acompanhar o
paciente com fissura oral mesmo antes das cirurgias de correção,
atuando na prevenção, obtenção e manutenção da saúde bucal
durante todas as fases do tratamento. O odontopediatra tem um
papel importante desde a fase inicial do tratamento até a aquisição
da dentição permanente completa, fazendo o acompanhamento

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 49


odontológico dessas crianças, na preservação dos dentes e
seguindo o crescimento craniofacial. O controle da cárie dentária
é um aspecto extremamente importante para a reabilitação de
pacientes com fissuras orais. A prevenção da cárie tem início antes
da irrupção dos dentes, quando o CD ajuda a instituir um hábito
saudável nos bebês, orientando a limpeza da boca com fralda ou
gaze e água filtrada, e após a erupção dos dentes, orientando a
escovação, que deve ser supervisionada pelos responsáveis dos
pacientes enquanto crianças. A cárie pode causar contaminação
em áreas cirúrgicas, infecção, dor no pós-operatório e interferir
na cicatrização, então, deve ser totalmente removida e os dentes
restaurados com material definitivo. O posicionamento dos dentes
nas arcadas e as correções dos maxilares durante o crescimento
podem indicar a necessidade ou não do uso de ortopedia maxilar
pré-cirúrgica ativa ou passiva. A ortopedia ativa utiliza elásticos, faixas,
esparadrapos, especialmente para reposicionar a porção anterior da
maxila ou da pré-maxila, antes da queiloplastia (plástica do lábio),
mas pode não ser necessária, pois a própria cirurgia funciona como
uma cinta muscular, que retrai gradualmente a região anterior à
maxila e rearranja os segmentos palatinos. A ortopedia passiva usa
placas acrílicas no palato, previamente à palatoplastia (plástica do
palato), e pode ajudar a eliminar a interferência da língua na região
da fissura e permitir a horizontalização das lâminas palatinas, além
de tranquilizar a mãe durante a alimentação.
O tratamento ortodôntico na dentadura decídua é indicado
em casos de alterações funcionais ou quando é necessário obter
estabilidade de movimento. No período de dentadura mista, o
tratamento ortodôntico tem a função de corrigir os problemas
mais comuns, como a atresia maxilar e a discrepância maxilar
anteroposterior, e deve ser feito antes da realização de enxerto
ósseo alveolar secundário, nos casos indicados. Entretanto, para
a decisão de se usar o tratamento ortodôntico em crianças com
fissura oral, deve-se levar em consideração a importância da adesão
do paciente e da família, a maturidade da criança e a possibilidade
de acompanhamento do tratamento, pois o aparelho ortodôntico
pode dificultar a higienização e aumentar o risco à carie.
O enxerto ósseo alveolar secundário é indicado para o reparo
da fissura óssea. Ele tem a função de corrigir cirurgicamente o
defeito anatômico, utilizando tecido ósseo da crista ilíaca do próprio

50 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


indivíduo ou um material à base de proteína morfogenética óssea
(BMP). A correção da fissura com enxerto ósseo permite que a
irrupção e a movimentação ortodôntica dos dentes possam ocorrer
na região corrigida. A idade ideal para sua realização é por volta dos
9 aos 11 anos, antes da irrupção do canino permanente. A ortodontia
corretiva faz a finalização do tratamento, nivelando e alinhando
os dentes da maxila e mandíbula em suas bases ósseas e entre si.
Quando ocorre uma discrepância entre maxila e mandíbula sem
a possibilidade de correção por meio de ortodontia ou ortopedia,
pode ser indicada a realização de cirurgia ortognática para reparar
esta diferença. A cirurgia ortognática é um procedimento extenso e
deve ser realizada após o término do crescimento.
A finalização do tratamento odontológico em paciente com
fissuras orais se dá com a reabilitação estética. Vários procedimentos
podem ser indicados, dependendo da necessidade de cada paciente.
Por exemplo, pode ser necessária a transformação anatômica
de dentes anteriores, principalmente de caninos em incisivos, a
utilização de próteses ou implantes dentários para reposição de
dentes ausentes na área do enxerto e cirurgias periodontais para
melhora nas funções e na estética gengival e dos tecidos de suporte
dos dentes. Em alguns casos de pacientes com fissura labiopalatina
não é possível realizar a correção cirúrgica. Os motivos podem ser
a recusa do paciente em fazer a cirurgia ou porque não é possível
realizar a reparação adequada, pois os recursos cirúrgicos são
limitados, por exemplo, por ausência de tecido palatino, palato
insuficiente e sequelas. Esses casos podem requerer a reabilitação
odontológica tanto para aspectos estéticos como funcionais, como
a confecção de prótese de palato para restaurar o defeito anatômico
e melhorar a condição da fala. Esse procedimento necessita que
protesista e fonoaudiólogo trabalhem em conjunto para obtenção
de melhores resultados.

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 51


Exemplificando

Figura 1.6 | Exemplos de intervenções odontológicas para reabilitação


estética e funcional de pacientes com fissuras orais

Fonte: <http://www.faceamiga.org.br/index.php?page=casos>. Acesso em: 31 out. 2017.

Reflita
Caro aluno, você saberia para onde encaminhar um paciente com
fissura labiopalatina para receber atendimento especializado? Reflita
sobre a importância do tratamento precoce desses casos para a
integração psicossocial do indivíduo e veja a localização de uma das 28
unidades de saúde credenciadas no Sistema Único de Saúde (SUS) para
o atendimento de pacientes com fissura labiopalatina. Disponível em:
<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/
secretarias/898-sas-raiz/daet-raiz/media-e-alta-complexidade/l3-
media-e-alta-complexidade/12824-estabelecimentos-de-saude-
habilitados-fissura-labiopalatal>. Acesso em: 31 out. 2017. (Portal da
Saúde do SUS).

Sem medo de errar


Caro aluno, relembraremos agora o caso da paciente A.C., uma
criança de 3 anos que foi atendida pela Maria Eduarda durante
seu estágio. A criança A.C. nasceu com uma fissura labiopalatina
que resultou em sequelas bucais, já que as fissuras afetam o
desenvolvimento de dentes decíduos e permanentes. As primeiras
observações de Maria Eduarda no atendimento inicial foi que
A.C. possuía fissura no lábio superior esquerdo e emitia um som

52 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


anasalado ao falar. Qual seria a melhor conduta para a assistência
odontológica de A.C.?
Inicialmente, devemos sempre considerar a importância de uma
anamnese completa para o atendimento de qualquer paciente
que busca tratamento odontológico. Durante a anamnese de A.C.,
Maria Eduarda questionou os pais sobre o histórico de saúde e os
tratamentos prévios que a criança recebeu. Após a anamnese, Maria
Eduarda foi capaz de entender que A.C. nasceu com uma fissura
labiopalatina, mas ainda não havia recebido o tratamento adequado,
que geralmente deve iniciar na criança enquanto ainda bebê. O
exame intraoral deve ser realizado em seguida, e solicitados os
exames complementares para o diagnóstico correto e a elaboração
de um plano de tratamento adequado. Durante o exame clínico, Maria
Eduarda percebeu que A.C. tinha, além da fissura labial, uma fissura no
palato do lado esquerdo, que se comunicava com a cavidade nasal,
dentes mal posicionados e a falta do incisivo lateral do lado da fissura.
A não realização da cirurgia de correção da fissura palatina causou
alterações na erupção dental e de posicionamento dos dentes de A.C.
Frente a esses fatos, reflita: como esse quadro pode afetar o curso da
assistência odontológica desses PNEs? Como deve ser a abordagem
desses pacientes? Como deve ser a abordagem desses pacientes e
de sua família/cuidadores para o oferecimento de um atendimento
adequado? É possível elaborar um protocolo para atendimento de
pacientes com malformações congênitas orofaciais?
Os casos de fissuras labiopalatinas possuem muitas variáveis.
O planejamento do tratamento de fissuras labiopalatinas depende
inicialmente do tipo de fissura e de sua extensão. Também é
importante saber se a fissura é uma condição isolada ou associada a
outras condições sistêmicas que poderiam complicar o tratamento.
Os casos como de A.C. devem ser encaminhados para centros
especializados em tratamento de fissuras labiopalatinas, pois
esses pacientes necessitam de uma equipe multidisciplinar para a
resolução completa dessa malformação congênita. Maria Eduarda
deve ser capaz de orientar os pais de A.C. quanto às possibilidades
de tratamento nesses centros especializados e encaminhá-los para
a realização das cirurgias corretivas das fissuras e para a reabilitação
oral. Entretanto, é possível e indicado que a paciente A.C. e seus
pais recebam as orientações quanto à higiene oral da criança,
para evitar o surgimento de cáries e gengivite. O tratamento das
fissuras labiopalatinas geralmente se inicia logo após o nascimento

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 53


e a reabilitação completa pode levar anos, até a adolescência
do paciente. Entretanto, cada caso deve ser tratado de forma
individualizada, dificultando, assim, a proposição de um protocolo
de atendimento para todos os casos de fissura labiopalatina.

Avançando na prática
Fissura labiopalatina bilateral

Descrição da situação-problema
A paciente A.S., de 7 anos, portadora de fissura (fenda
labiopalatina), foi encaminhada para o centro de referência no
tratamento de defeitos da face do seu estado, para tratamento. Na
anamnese, os pais relataram que sua prima G.D., recém-nascida,
residente no mesmo sítio, também apresenta malformação na região
labial. A mãe relatou não ter feito uso de bebida alcoólica, tabaco
e medicamentos sem prescrição, no entanto, como trabalhadora
rural, teve contato com pesticidas utilizados na lavoura, nunca usou
proteção, porque não sabia que era importante. Relatou ainda que
a criança tinha dificuldade para se alimentar e que não queria ir à
escola, pois tinha vergonha. Ao exame clínico, constatou-se que a
menina apresenta fissura labiopalatina bilateral. Diante do exposto,
qual é o procedimento a ser seguido? É possível que o agrotóxico
utilizado tenha influenciado o desenvolvimento da malformação?

Resolução da situação-problema
Caro aluno, diante de tudo o que você estudou sobre fissuras
(fendas) labiopalatais, elas são consideradas multifatoriais, podem
ser desencadeadas por alterações genéticas, como também por
fatores extrínsecos. É importante que se realize o aconselhamento
genético para que sejam avaliados os riscos familiares. O pesticida
é um fator extrínseco, que é considerado teratogênico, mas há
a necessidade dos exames genéticos para descartar a alteração
genética e a possibilidade de alterações devido ao uso de agrotóxicos
piretroides. A criança deve ser encaminhada para acompanhamento
psicológico e cirúrgico. O planejamento do tratamento deve
considerar todas as fases para a reabilitação oral, pois a paciente
necessita de cirurgias que visam restabelecer a estética e as funções
orais com equipe multidisciplinar.

54 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


Faça valer a pena
1. A síndrome de Down ocorre por uma alteração genética com a
presença de um cromossomo a mais, total ou parcialmente, conhecido
como trissomia do cromossomo 21. Os indivíduos com síndrome de
Down apresentam um conjunto de sinais e sintomas específicos e
manifestações bucais comuns. São características da síndrome de Down:
_______________________.

Assinale a única alternativa correta que completa a frase:

a) Olhos amendoados, deficiência intelectual e dentição normal.


b) Hipotonia muscular, doença cardíaca congênita e erupção dental
regular.
c) Olhos amendoados, doença cardíaca congênita e palato ogival.
d) Olhos amendoados, erupção dental regular e fissura labiopalatina.
e) Hipotonia muscular, macrodontia e erupção dental regular.

2. As malformações congênitas podem ser definidas como “todo defeito


na constituição de algum órgão ou conjunto de órgãos que determine
uma anomalia morfológica estrutural presente no nascimento devido à
causa_____________, ___________ou mista” (OPAS, 1984).

Assinale a alternativa que corretamente completa as lacunas:

a) Ambiental, teratogênica.
b) Genética, sindrômica.
c) Sindrômica, cromossômica.
d) Genética, ambiental.
e) Cromossômica, ambiental.

3. Sobre as fissuras labiopalatinas:

I - O modelo de herança das fissuras não sindrômicas é considerado como


multifatorial, ou seja, a ocorrência da doença dependerá da interação
entre fatores genéticos e ambientais.
II - Fatores genéticos contribuem para formação de fissuras labiopalatinas
e não ocorrem sem associação com síndromes.
III - As fissuras labiais implicam alteração estética e de fala, dependendo
da amplitude da fissura, que pode se estender até a fossa nasal,
comprometendo também a simetria do nariz.

U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD 55


IV - As fissuras que atingem o rebordo alveolar comprometem só a
estrutura óssea, mas não influenciam a condição odontogênica.
V - O protocolo de tratamento mais adequado das malformações e seu
prognóstico dependerão do tipo de fissura e sua extensão.

Após análise das afirmativas sobre as fissuras labiopalatinas, é correto


apenas o que se afirma em:

a) I e IV.
b) I e III.
c) I, II, III e V.
d) II, III e V
e) I, III e V.

56 U1 - Introdução ao estudo da atenção odontológica para PCD


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2017.
Unidade 2

Abordagem odontológica e
manejo de PCD
Convite ao estudo
Caro aluno, estamos iniciando a Unidade 2 da nossa
disciplina. Nesta unidade, daremos continuidade ao aprendizado
adquirido na unidade anterior, na qual discutimos sobre os
assuntos introdutórios ao estudo da atenção odontológica para
o idoso e o PCD (pessoa com deficiência). Aqui abordaremos
as possibilidades de assistência odontológica à PCD,
considerando a adequação do plano de tratamento de acordo
com as limitações desses pacientes e as possíveis situações de
urgências e emergências relacionadas às condições especiais
do PCD no atendimento odontológico. Ressaltaremos
aqui o importante papel do cirurgião-dentista na equipe
multidisciplinar de assistência à saúde do PCD. Discutiremos
como o conhecimento ajuda o profissional a ter confiança e
segurança na abordagem ao paciente especial e seus familiares,
na escolha e na execução dos procedimentos mais adequados
para o tratamento individualizado para cada caso.
Para a reflexão e a análise do tema desta unidade,
apresentaremos uma situação hipotética a seguir.
O plano de tratamento odontológico é uma importante
etapa no atendimento dos pacientes. Ele define os
procedimentos mais adequados para cada caso e é
fundamental no atendimento ao paciente com deficiência.
Em uma clínica odontológica, o atendimento é realizado de
forma multidisciplinar. Orlando e Juliana trabalham na clínica e
receberam Tiago, um rapaz de 34 anos que busca tratamento
odontológico, e sua acompanhante. Na primeira consulta,
foi possível observar que Tiago tinha dificuldades motoras.
A anamnese de Tiago mostrou que ele havia sofrido um
grave acidente que o deixou sistemicamente comprometido,
incluindo problemas neurológicos e hematológicos. Tiago
toma medicações controladas prescritas pelo seu médico.
Devido às dificuldades motoras, Tiago não consegue fazer
uma higiene bucal adequada e precisa se submeter a vários
procedimentos odontológicos. Diante dessa situação, como
Orlando e Juliana devem planejar o tratamento de Tiago para
restabelecer sua saúde bucal?
No decorrer desta unidade, nos confrontaremos com
situações complexas no atendimento à PCD que pode apresentar
periodontite, problemas neurológicos e hematológicos e,
juntos, elaboraremos o plano de tratamento odontológico e
as soluções para possíveis situações de urgência e emergência
na assistência à PCD; portanto, estude com muita atenção
o quadro “Não pode faltar”, para que você adquira novos
conhecimentos que podem o ajudar nessas questões.
Seção 2.1
Possibilidades de assistência odontológica à PCD

Diálogo aberto
Caro aluno, a escolha de um plano de tratamento odontológico
é uma importante etapa no atendimento dos pacientes. Ele define
os procedimentos mais adequados para cada caso e é fundamental
no atendimento à pessoa com deficiência. O paciente com
deficiência necessita que o seu atendimento seja realizado de forma
multidisciplinar. Tiago, por exemplo, um rapaz de 34 anos, buscou
tratamento odontológico acompanhado de um familiar. Orlando e
Juliana receberam-no em sua primeira consulta na clínica. Nesse
primeiro contato, já foi possível perceber que Tiago tinha dificuldades
motoras, e a anamnese revelou que Tiago havia sofrido um grave
acidente que o deixou sistemicamente comprometido, incluindo
problemas neurológicos e hematológicos. Tiago tem que tomar
medicações controladas, prescritas pelo seu médico e, devido às
suas dificuldades motoras, como tremores e dificuldade para manter
a abertura de boca, ele não consegue fazer uma higiene bucal
adequada. Por isso, ele apresenta doenças bucais que precisam de
tratamento. Orlando e Juliana devem, juntos, planejar o tratamento
de Tiago para restabelecer sua saúde bucal. O exame radiográfico
complementar de Tiago revelou um quadro de periodontite com
perda óssea severa e presença de exsudato em alguns dentes, cuja
indicação de tratamento seria a exodontia. O dente 25 possuía uma
lesão periapical extensa relacionada à destruição da coroa do dente
por cárie. Sistemicamente, Tiago apresentava ainda um quadro
crônico de anemia. Conhecendo o quadro de saúde geral, bucal
e comportamental do paciente, quais seriam as possibilidades de
assistência odontológica para Tiago? Quais possíveis procedimentos
e equipamentos acessórios poderiam ser utilizados para viabilizar o
atendimento da PCD com dificuldades motoras como as de Tiago?

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 63


Não pode faltar

Possibilidades de assistência odontológica à PCD:


Inicialmente, relembraremos o conceito de PCD:

é a pessoa que tem impedimento de longo prazo de


natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas. (Art. 2º Decreto no
6.949, de 25 de agosto de 2009; Lei nº 13.146, de 6 de julho
de 2015).

As limitações podem ser de ordem mental, física, sensorial,


emocional, de crescimento ou médica, temporárias ou permanentes,
e impedem o paciente de ser submetido à assistência odontológica
convencional (BRASIL, 2006). Devido às suas limitações, muitas
PCD pertencem ao grupo de alto risco para a cárie e a doença
periodontal, isso, geralmente, quando apresentam características,
como a falta de habilidade motora para manutenção de sua
saúde bucal e redução do fluxo salivar causada pelo uso de certos
medicamentos. Por isso, o acompanhamento odontológico tem
grande importância na manutenção da saúde bucal dos PCD.
Os procedimentos odontológicos realizados em pacientes com
necessidades especiais não são diferentes dos procedimentos
feitos em pacientes sem necessidades especiais. A diferença
está na abordagem, no conhecimento da deficiência e algumas
particularidades técnicas que auxiliam o atendimento. Dependendo
do tipo de deficiência, do nível de colaboração do paciente e de
sua condição física e sistêmica, é possível realizar procedimentos,
como prótese, dentística, periodontia e endodontia em PCD.
O atendimento à PCD pode ser ambulatorial (no consultório)
ou em ambiente hospitalar, quando é necessária anestesia geral.
Certamente, a escolha do tratamento deve sempre buscar o
benefício do paciente, considerando os aspectos comportamentais,
de ordem geral e sua condição bucal. Independentemente do tipo
de atendimento, ambulatorial ou hospitalar, são necessários uma
anamnese e um exame físico criteriosos, e o conhecimento do
diagnóstico do laudo médico do paciente, para que seja feito o

64 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


correto estabelecimento do plano de tratamento odontológico. O
plano de tratamento deve sempre buscar o benefício do paciente e
considerar o aspecto comportamental, o volume de necessidades
odontológicas e o risco sistêmico e de morte do paciente.

Assimile
O plano de tratamento odontológico, seja ele realizado em
ambiente ambulatorial ou hospitalar, será sempre elaborado de
forma individualizada, mesmo para PCD com o mesmo diagnóstico,
pois cada caso apresenta peculiaridades na sua condição geral,
comportamental e bucal.

O atendimento odontológico ambulatorial à pessoa com


deficiência inicia-se pelo acolhimento, passando tranquilidade e a
formação do vínculo com a família e o paciente, no qual a forma
de abordagem é essencial. A abordagem deve ser adequada à faixa
etária e aos problemas do paciente, mas o cirurgião-dentista (CD)
deve estar atento para não subestimar a capacidade intelectual
dos pacientes, pois muitos possuem apenas problemas físicos.
Após anamnese minuciosa, o CD deve conhecer as experiências
odontológicas anteriores, o diagnóstico médico e as peculiaridades
que podem interferir no tratamento. Também deve buscar
integração com a equipe multiprofissional, já que a atenção integral
à PCD é alcançada com a atuação interdisciplinar.
O atendimento hospitalar sob anestesia geral à pessoa
com deficiência inclui, na maioria das vezes, os pacientes que
não colaboram no atendimento ambulatorial e, nesse caso, o
atendimento sob anestesia geral (AG) torna-se a única opção. As
intervenções realizadas sob AG minimizam os riscos de acidentes
ao paciente e ao profissional, e asseguram a execução da técnica
correta de múltiplos procedimentos odontológicos necessários em
um único momento. Isso permite a resolução rápida de agravos
e a inclusão do paciente em um nível de cuidados preventivos
pela redução ou eliminação de doenças. Outros candidatos ao
atendimento hospitalar são os pacientes dos grupos especiais como
os que apresentam doenças sistêmicas graves, como alterações
hemostáticas, ou com altos níveis de ansiedade e estresse e que
necessitam de tratamento odontológico cirúrgico. Mesmo que eles
sejam colaboradores, esses pacientes correm riscos complexos

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 65


e precisarão de monitoração médica preventiva e/ou de suporte.
Previamente à intervenção odontológica sob AG, o paciente deve
ser submetido a exames laboratoriais pré-cirúrgicos (exame de
sangue, níveis de hemostasia, função renal e hepática), exame
médico clínico e exames complementares específicos, para a
verificação da sua condição geral e aptidão ao procedimento de AG.
Posteriormente à intervenção hospitalar, os pacientes devem fazer
retornos periódicos de acordo com as necessidades individuais,
receber educação em saúde e riscos para o desenvolvimento de
doenças bucais.

Exemplificando

Veja este exemplo de atendimento odontológico restaurador realizado


em centro cirúrgico hospitalar.
Figura 2.1 | A) Atendimento de PCD em bloco cirúrgico sob anestesia geral com
intubação nasotraqueal. B) Antes do procedimento restaurador, lesões de cárie
nos dentes anteroinferiores. C) Após procedimento restaurador realizado com
resina composta

Fonte: Schardosim, Costa e Azevedo (2015, p. 8).

Manobras de condicionamento para assistência odontológica


à PCD
Como vimos anteriormente, o atendimento odontológico da
pessoa com deficiência é individualizado e não segue um protocolo
padrão, mas depende das peculiaridades de cada caso. A idade, o
tipo de deficiência, o comportamento e as limitações da PCD e
pacientes de grupos especiais ditarão as formas de abordagem e de
atendimento específico do paciente.
No atendimento de crianças, sejam elas portadoras ou não de
deficiência da função intelectual, o aspecto comportamental mais
ou menos colaborativo do paciente influenciará os procedimentos
odontológicos. O paciente colaborativo conversa com o dentista,

66 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


expressa sua curiosidade, compreende os procedimentos que serão
realizados e responde positivamente às instruções dadas durante a
consulta. A cooperação da criança depende de como ela é preparada
para os procedimentos clínicos, entretanto, o CD não deve esperar
uma colaboração incondicional do paciente e deve estar preparado
para eventuais mudanças de comportamento, pois um mesmo
paciente pode se comportar de forma diferente nas várias sessões.
O CD poderá utilizar algumas das várias técnicas de manobras de
condicionamento existentes, como o condicionamento lúdico-
psicológico, com o objetivo de ampliar os recursos para instalar,
manter ou aumentar a frequência de comportamentos colaborativos
dos pacientes. As técnicas são eficazes desde que haja uma boa
vinculação com seu paciente e sua família.
Os primeiros encontros com o paciente de grupo especial e/
ou com deficiência serão importantes para o estabelecimento do
vínculo do CD com o paciente e sua família. Como cuidados iniciais,
o CD realizará as entrevistas com os pais e os pacientes, fazer a
apresentação do consultório, dos instrumentais e equipamentos,
tornando esses elementos familiares ao paciente, transmitindo
segurança e estabelecendo uma relação de confiança com esse
paciente e sua família. O manejo comunicativo é importante nesse
processo, devendo ser adequado à capacidade de compreensão
do paciente. As explicações e as instruções devem ser dadas calma
e vagarosamente, e devem ser repetidas sempre que necessário,
para diminuir o medo e a ansiedade do paciente, permitindo sua
aceitação do tratamento dentário.
A técnica do “diga-mostre-faça” (tell-show-do), preconizada
por Addelson em 1959 (MUGAYAR, 2000), pode ser adotada para
conscientizar a criança com relação aos elementos do consultório e
fazer associações mais positivas com os elementos odontológicos.
As explicações sobre os equipamentos e os instrumentos e para
que servem devem ser feitas de forma gradativa, sempre partindo
do mais simples para os mais complexos, como o funcionamento
da cadeira, da seringa de ar e água, cuspideira, sugador, do espelho
e explorador clínico, do motor de alta rotação etc. Durante os
procedimentos odontológicos, o CD pode empregar a técnica de
distração como método para obter maior colaboração do paciente,
utilizando, por exemplo, a projeção de filmes e desenhos e uso
de música suave. A técnica do reforço positivo também pode ser

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 67


empregada para melhorar a colaboração da PCD e/ou paciente
de grupo especial ao tratamento. O paciente é recompensado
pela colaboração, seja de forma verbal com elogios ou brindes e
prêmios, no caso de crianças, ao final da sessão.
Alguns métodos de manejo aversivos podem ser empregados
pelo CD em pacientes pouco colaborativos; é especialmente útil
para PCD que apresentam movimentos corporais involuntários e
deficiências mentais que limitem severamente sua capacidade de
compreensão e comunicação. Um método é o uso de contenções,
que podem ser feitas por meio de dispositivos pré-fabricados e ainda
com a ajuda dos pais e auxiliares. Uma vantagem das contenções é
evitar o uso de métodos farmacológicos, entretanto elas só devem
ser usadas para procedimentos rápidos e sem muita demanda
técnica, deve visar ao conforto e à segurança do paciente, e nunca
deverá ter caráter punitivo. Essa prática é controversa e pouco
utilizada. Já o uso da técnica de “mão sobre a boca” (preconizado,
mas pouco utilizado em odontopediatria) é controverso e não deve
ser utilizada em PCD, pois o paciente especial pode não entender o
que está acontecendo e assimilar o fato como uma agressão.
O controle do estresse e da ansiedade de crianças e adultos para o
atendimento odontológico deve ser sempre considerado. Entretanto,
atenção especial deve ser dada a pacientes com desordens de
ansiedade e fobia, pois essas situações podem ser complicadoras
na assistência à pessoa com deficiência e aos pacientes de grupo
especial. A ansiedade é caracterizada como uma doença quando
ela causa muito sofrimento para o indivíduo. Pacientes com essa
desordem são tensos e dificilmente desligam-se de suas preocupações
excessivas e incontroláveis, apresentam sintomas, como cansaço,
estresse muscular, irritabilidade, enxaquecas e bruxismo. A aceitação
do tratamento odontológico pelos pacientes com ansiedade exige
o alívio dos principais sintomas da ansiedade generalizada. A fobia
é outra condição que demanda atenção pelo CD, caracterizada por
um medo incessante inexplicável, que leva ao descontrole da razão/
emoção frente à causa do medo.
Nos casos de ansiedade generalizada e fobia, quando associados
a problemas sistêmicos, como doenças cardiovasculares, podem
ainda colocar a vida do paciente em risco durante o atendimento
se o objeto de medo for o tratamento odontológico. Os pacientes
ansiosos podem ser condicionados com técnicas similares às usadas

68 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


em odontopediatria. O CD deve tentar usar técnicas verbais e de
distração, exercícios de relaxamento, para tentar tranquilizar o paciente,
ou optar pela sedação medicamentosa com benzodiazepínicos,
geralmente uma hora antes das consultas, como diazepam 5 mg para
adultos, ou a sedação inalatória com óxido nitroso.

Uso de sedativos para assistência odontológica à PCD


A sedação compreende um estado moderado de depressão
do córtex cerebral, em que o paciente está calmo e tranquilo, mas
permanece acordado. Várias técnicas estão disponíveis para que o
CD possa controlar a dor, o medo, a ansiedade e os movimentos
descoordenados de algumas PCD, como alguns pacientes com
deficiências mentais. O profissional que tem o conhecimento e
o treinamento das técnicas de sedação poderá usar mais de uma
técnica para não falhar no controle da dor e da ansiedade, e também
para que o procedimento seja seguro e eficaz. Vejamos algumas das
técnicas de sedação:
Iatrossedação é a simples tranquilização verbal adquirida pela
comunicação do profissional e o paciente. O CD deve ser capaz
de transmitir tal confiança e segurança ao paciente, que torna
desnecessária a associação de outra técnica de sedação ou a
possibilidade de reduzir a quantidade de droga administrada. A
psicossedação trata-se do uso de técnicas, como a hipnose, a
acupuntura, a eletroanalgesia e a eletrossedação.
A farmacossedação inclui a administração de alguma droga para
que se alcance o controle da ansiedade, que pode ser administrada
por diferentes vias. Dentre as vias de administração de drogas mais
usadas na odontologia, podemos citar:
• Tópico: com o exemplo mais comum o uso de benzocaína
como anestésico local.
• Via oral: a mais fácil e mais usada. Entretanto, essa via exige
um período de latência para que a droga faça seu efeito,
devendo ter atenção aos possíveis efeitos colaterais, alergias
e superdosagem. Os benzodiazepínicos (BDZ) são os
ansiolíticos mais empregados na clínica odontológica para
se obter a sedação mínima por via oral. Os BDZ controlam
a ansiedade do paciente, reduzem o fluxo salivar e o reflexo
de vômito, além do relaxamento dos músculos. Podem ser

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 69


usados em pacientes hipertensos, com história de asma e
distúrbios convulsivos. Apresentam poucos efeitos colaterais,
como a sonolência. Veja na Quadro 2.1 exemplos de BDZ
utilizados em odontologia.

Exemplificando
Quadro 2.1 | Benzodiazepínicos de maior uso em odontologia

Nome genérico Início de ação (min) Duração do efeito (h)

Diazepam 60 12-24
Lorazepam 120 2-3
Alprazolam 60 1-2
Midazolam 30 1-2

Fonte: adaptada de Andrade (2014, p. 26).

• Intramuscular: permite que uma maior quantidade da droga


seja absorvida, tem rápido período de latência e efeito
prolongado. Exige treinamento e acompanhamento do
profissional.
• Intranasal: o pico plasmático é alcançado após 10 minutos
da administração. Ex.: midazolan, um benzodiazepínico
hidrossolúvel, sedativo e indutor rápido do sono em adultos.
• Intravenosa: apresenta rápida ação e reversão, mas é
necessário treinamento e gera mais ansiedade no paciente,
que geralmente não aceita o método.
• Anestesia geral (AG): é a perda da sensibilidade dolorosa,
dos reflexos vitais e da consciência pela depressão do
sistema nervoso central. É indicada para os pacientes
não cooperadores, muito agitados ou agressivos, com
movimentos involuntários bruscos, vômito excessivo,
susceptíveis a crises convulsivas, além de pacientes sensíveis
ou alérgicos a anestésicos locais, como traumas ou com
necessidade de cirurgias de grande porte. A anestesia geral
pode ser a única opção para pacientes altamente fóbicos, ou
seja, pacientes extremamente nervosos para intervenções
odontológicas. Ela é restrita ao ambiente hospitalar,
necessita da presença do anestesista especialista e tem um

70 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


risco relativamente alto para o paciente. Essas caraterísticas
também aumentam o custo do procedimento e colocam
o cirurgião-dentista em um ambiente em que não tem
familiaridade, o da rotina hospitalar. Esses motivos levam à
tentativa de outras formas de atendimento com sedação
antes de se indicar a anestesia geral como escolha para a
realização do tratamento. Como alternativa, a sedação
inalatória consciente é uma via simples e eficaz no controle
da dor, medo e ansiedade, indicada especialmente para uso
em pacientes de grupo especial e PCD para atendimento no
consultório odontológico.
• Inalação: tem ação rápida no controle da dor e ansiedade e
o efeito também pode ser rapidamente revertido. O CD deve
realizar um treinamento específico e a técnica só é indicada
para pacientes colaboradores.
A sedação inalatória com mistura de óxido nitroso/oxigênio
(N2O/O2) é uma técnica segura no controle do medo e da
ansiedade em ambiente ambulatorial na área de saúde, incluindo o
consultório odontológico. O óxido nitroso, por suas características
físico-químicas, permite o uso seguro em qualquer tio de paciente,
como diabéticos, hipertensos, coronariopatas, idosos, crianças e
deficientes mentais. O óxido nitroso tem ação muito rápida, em
poucos minutos a sedação pode ser controlada pela administração
crescente de pequenas quantidades da droga, até se alcançar o
efeito clínico final. O uso de óxido nitroso está sempre associado a
concentrações de, no mínimo, 30% de oxigênio, evitando situações
de hipoxemia, ou falta de oxigênio no sangue. Assim, a via inalatória
é a única que permite ajustes das ações de uma droga no decorrer
do atendimento. Na sedação inalatória, a respiração, o pulso, a
pressão arterial, o tônus muscular, a pupila, os movimentos do
globo ocular e das pálpebras, e a cor da pele permanecem com
reações normais. O paciente permanece monitorado durante todo
o tempo da sedação, por meio da observação da respiração, uso
de termômetro, aparelho para medição de pressão e oxímetro, que
determina a saturação de oxigênio.
O uso da analgesia com N2O/O2 deve ser empregado com
as técnicas de condicionamento psicológico do paciente, já que
este permanece consciente durante a sedação. Para pacientes
considerados especiais, a sedação inalatória é uma alternativa

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 71


especialmente simples, eficaz e segura no atendimento
odontológico, como uma ferramenta para o controle da dor, do
medo e ansiedade (VARELLIS, 2005).

Uso de abridores de boca para assistência odontológica à PCD


Uma tecnologia bastante usada nas consultas odontológicas
da PCD são os abridores de boca. Eles podem ser usados em
crianças muito pequenas, em pacientes de grupo especial e PCD
com pouca capacidade de comunicação e entendimento, e ainda
em pacientes com limitações motoras e com paralisia cerebral. O
uso de abridores de boca auxilia e facilita a visualização do campo
operatório, evita acidentes e permite que os procedimentos sejam
realizados com mais segurança, tanto para o paciente quanto para o
profissional e os auxiliares. Para pacientes com deficiência física ou
paralisia cerebral, o uso de abridor de boca minimiza os movimentos
involuntários da mandíbula. Com materiais rotineiramente usados
no consultório, é possível confeccionar rapidamente abridores de
boca, utilizando-se afastadores de língua ou sugadores, ou bocas
de garrafa pet, por exemplo. Esses artefatos são também indicados
para uso domiciliar pela família, para realizar a higienização bucal
diária. O CD deve orientar os familiares sobre os cuidados quanto à
higienização oral, utilizando os abridores de boca, e também como
devem confeccioná-los. O emprego de abridores de boca para
uso domiciliar ainda é pouco divulgado e pode ser indicado para
algumas pessoas com deficiências.

Pesquise mais
Veja algumas ideias para confecção de abridores de boca utilizando
materiais facilmente encontrados no consultório e de baixo custo
acessando os artigos:
HARTWIG, A. D. et al. Recursos e técnicas para a higiene bucal de
pacientes com necessidades especiais. 2015. Disponível em: <http://
www.rvacbo.com.br/ojs/index.php/ojs/article/view/272>. Acesso em:
17 nov. 2017.
CALDAS JR., A. de F. Atenção e cuidado da saúde bucal da pessoa
com deficiência. 2015. Disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/
acervo/bitstream/handle/ARES/2656/acpd_vol3.pdf?sequence=1>.
Acesso em: 17 nov. 2017.

72 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


Reflita
Muitas PCD e pacientes de grupos especiais são encaminhados para
centros especializados para tratamento odontológico, mas muitas
vezes suas condições físicas e mentais permitem o atendimento em
um Posto de Saúde em seu bairro ou em consultório. Reflita sobre
as causas desse fenômeno e, mais especificamente, como, mesmo
diante dos recursos existentes para o condicionamento de PCD para
o atendimento odontológico, a assistência a esses pacientes ainda
gera ansiedade, desconforto e insegurança em cirurgiões-dentistas,
geralmente causados pela falta de conhecimento e treinamento para o
atendimento desses pacientes.

Sem medo de errar


No início desta seção, você conheceu o caso de Tiago, um
rapaz de 34 anos que havia sofrido um grave acidente que o deixou
sistemicamente comprometido, incluindo problemas neurológicos
e hematológicos. Tiago não possui total controle das suas funções
motoras, apresenta tremores e dificuldade de manter a boca aberta.
Sistemicamente, Tiago apresentava ainda um quadro crônico de
anemia e toma medicações controladas prescritas pelo seu médico.
Orlando e Juliana diagnosticaram, pelos exames clínico e
radiográfico de Tiago, dentes com periodontite avançada, com
grande destruição óssea e exsudato, cuja indicação de tratamento
seria a exodontia. O dente 25 possuía uma lesão periapical extensa
relacionada à destruição da coroa do dente por cárie, portanto
necessita de tratamento endodôntico. Diante do quadro de
saúde geral, bucal e comportamental do paciente, quais seriam
as possibilidades de assistência odontológica para Tiago? Quais
possíveis procedimentos e equipamentos acessórios poderiam ser
utilizados para possibilitar o atendimento de PCD com dificuldades
motoras como as de Tiago?
Inicialmente, analisaremos bem as condições bucais e sistêmicas
de Tiago para definirmos um plano de tratamento odontológico
mais adequado, escolhendo desde o melhor ambiente para seu
atendimento, as técnicas de condicionamento, os equipamentos
e os instrumentos acessórios que podem ser úteis na assistência
ao paciente. Sistemicamente, Tiago tem uma condição de anemia

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 73


crônica. A gravidade dessa condição pode ser um fator de risco da
vida do paciente, então, antes de qualquer procedimento, o CD
deve entrar em contato com o médico para conhecer os riscos
e os cuidados necessários para o atendimento das urgências
cirúrgicas do paciente. Caso a condição hematológica do paciente
não esteja controlada e ofereça riscos ao paciente, o atendimento
odontológico de urgência deverá ser realizado em centro cirúrgico
hospitalar sob anestesia geral (AG) e monitorado pelo médico.
Os procedimentos técnicos odontológicos não diferem entre
pacientes com e sem necessidades especiais, mas o maior volume
possível de procedimentos odontológicos deve ser executado
em uma única intervenção sob AG. Por outro lado, se a condição
sistêmica do paciente permitir, o atendimento poderá ser feito
em ambiente ambulatorial. O CD poderá solicitar ao médico a
indicação de medicação, como benzodiazepínicos para o controle
da ansiedade e dos movimentos involuntários do paciente, para sua
proteção e da equipe profissional, permitindo a realização adequada
dos procedimentos. A sedação inalatória com mistura de óxido
nitroso/oxigênio é uma boa alternativa nesse caso. As técnicas de
contenção do paciente também poderão ser usadas, e a utilização
do abridor de boca seria indispensável para o atendimento de
Tiago. Podemos aqui enfatizar que todos os procedimentos
planejados devem ser pensados primeiramente para o maior
benefício do paciente. No caso apresentado, o paciente entende
suas necessidades de tratamento e pode ser orientado e preparado
para os atendimentos. Um plano de tratamento bem pensado traz
segurança e confiança para o paciente, o cirurgião-dentista e sua
equipe na realização do tratamento odontológico.

Faça valer a pena


1. Dentre os vários métodos de manejo para condicionamento do paciente
para a assistência odontológica, a _______________ não é indicada para
ser utilizada em PCD.

Sobre PCD, assinale a alternativa que corretamente preenche a lacuna:

a) Técnica do “diga-mostre-faça”. d) Técnica do reforço positivo.


b) Técnica de “mão sobre a boca”. e) Contenção.
c) Técnica da distração.

74 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


2. As intervenções realizadas sob anestesia geral minimizam os riscos
de acidentes ao paciente e ao profissional, e asseguram a execução da
técnica correta de múltiplos procedimentos odontológicos necessários
em um único momento. Isso permite a resolução rápida de agravos e a
inclusão do paciente em um nível de cuidados preventivos pela redução
ou eliminação de doenças.

Sobre as indicações para o atendimento odontológico em ambiente


hospitalar, podemos citar:

a) Deficiência física e ausência de colaboração ao atendimento ambulatorial.


b) Deficiência intelectual.
c) Deficiência motora.
d) Ausência de colaboração ao atendimento ambulatorial e doenças
sistêmicas graves.
e) Deficiência intelectual e ausência de colaboração ao atendimento
ambulatorial.

3. A sedação inalatória com mistura de óxido nitroso/oxigênio (N2O/O2)


é usada para o controle do medo e ansiedade em ambiente ambulatorial
na área de saúde, incluindo o consultório odontológico. Sobre a sedação
inalatória citada, analise as afirmativas a seguir:

I. É uma técnica segura, tem ação muito rápida, a sedação pode ser
controlada.
II. É indicada para uso somente em ambiente hospitalar.
III. As características físico-químicas do óxido nitroso não permitem seu
uso em hipertensos.
IV. Permite ajustes das ações de uma droga no decorrer do atendimento.
V. O paciente permanece consciente durante a sedação, ocorre o controle
da dor, do medo e da ansiedade.

Sobre a sedação inalatória com mistura de óxido nitroso/oxigênio (N2O/


O2), é correto apenas o que se afirma em:

a) II, IV e V.
b) II, III e V.
c) I, III e V.
d) I, II e V.
e) I, IV e V.

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 75


Seção 2.2
Adequação do plano de tratamento odontológico
à pessoa com deficiência - PCD
Diálogo aberto
Caro aluno, estamos começando a Seção 2.2. Bem-vindo!
Nesta seção, falaremos sobre vários aspectos de uma etapa
muito importante do tratamento odontológico: o planejamento do
tratamento. O plano de tratamento odontológico é essencial para
um atendimento de qualidade, especialmente no atendimento da
PCD. Ele define os procedimentos mais adequados para cada caso,
já que o atendimento ao PCD deve ser individualizado.
Para que você assimile a importância do plano de tratamento,
pensaremos em algumas situações de atendimento realizado de
forma multidisciplinar em uma clínica odontológica. Orlando e
Juliana trabalham na clínica e receberam o Tiago, um rapaz de 34
anos que busca tratamento odontológico, e sua acompanhante. Na
primeira consulta, foi possível observar que Tiago tinha dificuldades
motoras. A anamnese de Tiago mostrou que ele havia sofrido
um grave acidente que o deixou sistemicamente comprometido,
incluindo problemas neurológicos e hematológicos. Tiago toma
medicações controladas prescritas pelo seu médico. Devido às
dificuldades motoras, Tiago não consegue fazer uma higiene
bucal adequada e precisa se submeter a vários procedimentos
odontológicos. Orlando e Juliana devem juntos planejar o tratamento
de Tiago para restabelecer sua saúde bucal. Eles identificaram as
principais dificuldades para o atendimento de Tiago, que possuía
alterações motoras, como tremores e dificuldades para manter a
abertura de boca. O exame radiográfico de Tiago revelou um quadro
de periodontite com perda óssea severa e presença de exsudato
em alguns dentes, cuja indicação de tratamento seria a exodontia.
O dente 25 possuía uma lesão periapical extensa, relacionada à
destruição da coroa do dente por cárie. Sistemicamente, Tiago
apresentava ainda um quadro crônico de anemia.
Durante o estudo desta seção, pense sobre essas características
de saúde de Tiago e, ao final, você deverá ser capaz de elaborar seu

76 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


plano de tratamento odontológico. Leia com atenção o quadro “Não
pode faltar”, reflita sobre as questões a seguir e entenda como Orlando
e Juliana poderiam ajudar Tiago. Quais seriam as possibilidades
de utilização de procedimentos e equipamentos acessórios para
viabilizar o atendimento da PCD com alterações neurológicas? Frente
às condições bucais e necessidades de tratamento de Tiago, como
seria a adequação do plano de tratamento odontológico da PCD,
desde o atendimento das condições mais urgentes à reabilitação oral
de paciente, levando em consideração suas condições sistêmicas?
Bom estudo!

Não pode faltar


1. Adequação do plano de tratamento odontológico à PCD:
periodontia em pacientes com alteração neurológica
O grupo de PCD neurológica requer considerações especiais no
manejo para o tratamento odontológico. Essas considerações incluem
o pré-tratamento do paciente, o planejamento adequado do tratamento,
as técnicas terapêuticas e a necessidade de pós-tratamento.
São várias as condições neurológicas que o cirurgião-
dentista pode enfrentar no atendimento odontológico, incluindo
anormalidades associadas aos nervos cranianos, perda sensorial
facial, paralisia facial e condições, como epilepsia, doença de
Parkinson e Alzheimer, esclerose múltipla, acidente vascular cerebral
(AVC), miastenia gravis, paralisia cerebral.
As pessoas com doenças neurológicas têm uma maior
susceptibilidade a desenvolver doenças bucais, como cáries e
doença periodontal, pois, geralmente, esses pacientes apresentam
dificuldade motora e, às vezes, deficiência intelectual, que dificultam
a higiene bucal, além da redução do fluxo salivar, causada por
respiração bucal ou por medicamentos comumente usados por
esses pacientes.
É muito importante que os profissionais tenham em mente que
cada paciente neurológico exigirá uma atenção individualizada,
pois suas condições variam de caso para caso, dependendo da
severidade da deficiência, da associação com doenças sistêmicas,
das suas condições psicossociais e familiares, da experiência
prévia com o atendimento odontológico, das suas condições
comportamentais e bucais. Portanto, é inadequado pensarmos na

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 77


adoção de um atendimento padrão ou um protocolo a ser seguido
para o atendimento de pacientes neurológicos.
Tecnicamente, os procedimentos odontológicos são os
mesmos utilizados para todos os pacientes, e toda a tecnologia
conhecida pode e deve ser empregada na assistência odontológica
às PCD, desde que suas condições permitam e sejam para o melhor
benefício do paciente. O que difere no atendimento às PCD é a
abordagem ao paciente e à família e o manejo do paciente durante
o tratamento.

Assimile
O plano de tratamento e o atendimento odontológico à pessoa com
deficiência deve ser sempre adaptado às suas necessidades e para
o maior benefício do paciente. A PCD a pode ter acesso a qualquer
procedimento odontológico clássico, desde que tenha o perfil
para receber os procedimentos e o profissional saiba adequá-los às
peculiaridades de cada caso.

A gengivite e a periodontite são de alta incidência entre


os pacientes neurológicos. O planejamento do tratamento
periodontal inicia-se na primeira consulta, quando, por meio de
uma anamnese criteriosa e abordagem inicial, o CD conhece as
condições comportamentais do paciente e seu histórico médico,
percebe suas limitações e inicia o vínculo entre profissional/
paciente/familiar. O profissional analisa as condições de higiene
bucal do paciente, sua dieta e a capacidade de colaboração tanto
da pessoa com deficiência quanto da família e cuidadores. O CD
realiza o exame clínico e periodontal, que pode ser um periograma
parcial ou completo, se as condições do paciente permitem, e
solicita exames complementares.
O tratamento periodontal pode ser realizado no consultório na
maioria dos casos, quando o paciente é colaborador. A primeira
etapa do tratamento é a estabilização do paciente na cadeira
odontológica. Para os pacientes que apresentam dificuldades de se
posicionarem na cadeira ou movimentos involuntários, podem ser
adotadas técnicas de estabilização física, como o uso de almofadas,
roletes de toalhas, faixas, e a ajuda de auxiliar ou familiares, para
garantir maior conforto e segurança ao paciente e, também, à

78 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


equipe profissional. Para abertura da boca, podem ser usados
abridores de boca adequados ou dedeiras confeccionadas em
resina. A raspagem e o alisamento dos dentes podem ser feitos de
forma manual ou utilizando aparelhos ultrassônicos. Estes agilizam
o atendimento, entretanto, podem ser contraindicados para os
pacientes com dificuldade de deglutição ou pacientes que não
reajam bem ao ruído do equipamento, como os pacientes autistas.
O uso de anestésicos locais deve ser avaliado quanto ao risco de
interação com medicamentos usados pelo paciente e pode ser
discutido com o médico, e ainda pode considerar o uso de sedação
inalatória para a realização dos procedimentos, com exceção aos
pacientes com dificuldades respiratórias.
Em caso de tratamento extenso, com necessidade de intervenções
cirúrgicas periodontais e exodontias, procedimentos de urgência
para remoção de focos de infecção, o CD deve analisar o custo-
benefício para o paciente e realizar o máximo de procedimentos
em uma única sessão sob anestesia geral em ambiente hospitalar.
Para garantir o sucesso do tratamento periodontal, os pacientes
e os familiares devem ser instruídos quanto à importância da boa
higienização bucal da pessoa com deficiência. O CD deve orientar os
pacientes/familiares sobre a melhor estratégia para a higiene bucal,
indicando o tipo de escova e a forma de escovação, a quantidade
correta de creme dental, o uso do fio dental e enxaguantes bucais,
de acordo com as limitações do paciente. As escovas elétricas
podem ser indicadas para os pacientes com dificuldades motoras,
assim como o uso de adaptadores de escova para melhorar a
empunhadura. Outros acessórios, como adaptadores de fio dental,
escovas interdentais, raspadores de língua, podem ser sugeridos.
A clorexidina pode ser usada na forma de bochechos, quando o
paciente é capaz, ou em gaze, quando o cuidador deve massagear
as gengivas e remover restos de alimentos e placa bacteriana. O
CD também fornece orientações sobre a introdução de alimentos
mais duros e adstringentes na dieta do paciente e a importância da
redução da ingestão de carboidratos.

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 79


Exemplificando

Figura 2.2 | Exemplos de acessórios adaptados para a higienização bucal

Fonte: Perlman, Friedman e Fenton (2008, p. 8-10).

A - extensão do cabo da escova de dentes como uma régua ou um


abaixador de língua para um indivíduo que não pode elevar a mão ou
braço. B - aumentar a largura do cabo da escova de dentes usando uma
bola, esponja ou protetor de guidão de bicicleta, para um indivíduo que
não tem boa capacidade de agarrar. C - suporte de boca feito com 3
ou 4 abaixadores de língua enrolados com gaze e presos com uma
fita, para pessoas com dificuldade de manter a boca aberta durante
a escovação. D - suportes para fio dental para ajudar a coordenação.

2. Adequação do plano de tratamento odontológico à PCD:


periodontia em pacientes com doenças hematológicas
As doenças hematológicas ou hemopatias são doenças
sanguíneas e compreendem qualquer condição anormal do
sangue ou dos tecidos hematopoiéticos, de natureza congênita
ou adquirida. Qual a importância do conhecimento das doenças
hematológicas pelo cirurgião-dentista?
Os tecidos da boca possuem uma rica rede de vasos que garantem
o seu suprimento sanguíneo, por isso, é comum que doenças
hematológicas apresentem-se com manifestações na cavidade
bucal. Os pacientes com gengivite ou doença periodontal são mais
vulneráveis às doenças do sangue, por causa da vascularização mais

80 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


aumentada que ocorre na inflamação. Além disso, as células do
sangue são essenciais para a manutenção de saúde do periodonto.
As células brancas do sangue, os leucócitos, são responsáveis
pela defesa contra os microrganismos e pela reação inflamatória.
As células vermelhas, as hemácias, transportam o oxigênio e os
nutrientes até os tecidos, enquanto as plaquetas são necessárias
para a hemostasia e a cicatrização normal. Assim, desordens de
qualquer tipo de célula do sangue ou dos órgãos formadores de
sangue, podem ter um efeito profundo no periodonto.
As doenças hematológicas podem ser derivadas de desordens
vasculares, desordens de plaquetas e desordens da coagulação. A
telangiectasia hemorrágica hereditária é um exemplo de desordem
vascular que produz lesões que sangram facilmente quando
traumatizadas. As púrpuras são desordens de plaquetas que podem
estar associadas a doenças autoimunes, como lúpus eritematoso e
com complicações da infecção por HIV. As desordens de plaquetas
podem ser provocadas por alguma condição, como quimioterapia,
doença renal e hepática graves, uso de drogas antineoplásicas e anti-
inflamatórios não esteroides, que deprima a função da medula ou que
aumente a destruição das plaquetas, causando uma trombocitopenia.
A maioria das desordens de coagulação são causadas por
doenças congênitas, como a hemofilia A e B, por doenças hepáticas,
como cirrose e hepatite, que podem ter síntese reduzida de vários
fatores de coagulação do sangue, e apresentar sangramentos
espontâneos nas mucosas e a hemorragia pode ser fatal em casos
graves. Além disso, um grande número de pacientes com problemas
cardíacos, como trombose venosa, isquemias, AVC e com prótese
cardíaca valvar, recebem tratamento com anticoagulantes,
antiagregantes plaquetários ou drogas antitrombóticas. Pacientes
com coagulopatias podem negligenciar sua saúde bucal devido ao
medo de sangramento durante a escovação dos dentes e uso de fio
dental, o que leva ao aumento da gengivite, periodontite e cáries.
Para o tratamento periodontal, muitos procedimentos necessitam
que o sistema de coagulação do sangue esteja intacto, para que ocorra
a hemostasia (parar a hemorragia) normal para serem realizados com
segurança para o paciente. Procedimentos, como a raspagem e o
alisamento radicular extensos, as cirurgias periodontais, as exodontias
e as biópsias em pacientes com distúrbios no sangue podem causar

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 81


hemorragias, por isso o CD deve ter um bom conhecimento sobre
os mecanismos para alcançar a hemostasia e como manipular
adequadamente esses pacientes. A sondagem periodontal, a raspagem
e o polimento supragengivais podem ser feitos normalmente sem
o risco de sangramento. A raspagem subgengival e o alisamento da
raiz devem ser feitos com muito cuidado, de preferência usando
instrumentos ultrassônicos, que resultam em menos trauma tecidual.
Para os tecidos muito inflamados, é indicado o tratamento inicial com
bochechos com gluconato de clorexidina 0,12% e o debridamento
grosseiro é recomendado para reduzir a inflamação antes da
raspagem profunda.
A reposição de fatores de coagulação pode ser necessária
antes da extensa cirurgia periodontal e deve ser avaliada e prescrita
pelo médico do paciente. Os agentes antifibrinolíticos podem ser
incorporados aos curativos periodontais e os enxaguatórios bucais
usados no pós-operatório são geralmente eficazes no controle da
hemorragia prolongada (GUPTA et al., 2007).
A identificação dos pacientes com potenciais defeitos na
hemostasia se dá principalmente durante a anamnese, quando
o CD deve perguntar ao paciente se ele teve algum episódio de
sangramento anormal. Sempre o CD deve investigar melhor as
condições de saúde do paciente e encaminhá-lo a um médico para
avaliação de seu estado de saúde geral e testes laboratoriais antes
de fazer o planejamento do tratamento odontológico.
Os exames intra e extrabucal também são importantes para o
descobrimento de sinais clínicos de desordens hematológicas,
entretanto os sinais na boca podem ser variados e geralmente
não são específicos de um único tipo de desordem do sangue. Os
procedimentos cirúrgicos não devem ser feitos em pacientes com
problemas de coagulação em ambiente ambulatorial.

Reflita
A prevenção de ocorrência de sangramento é a melhor forma de
tratamento. Entretanto, o paciente com desordem de coagulação pode
não saber de sua condição e não apresentar nenhum sinal e sintomas
da doença. Pode acontecer que a primeira indicação do problema seja
o sangramento prologado após um tratamento odontológico. Então,
qual a conduta do CD para controlar a hemorragia?

82 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


Durante o tratamento periodontal, caso ocorra uma situação
inesperada de hemorragia, o CD deve tomar algumas medidas
para controlar o sangramento anormal. Antes de iniciar qualquer
medida, é preciso localizar a origem do sangramento e entender
a sua gravidade. As medidas locais são as primeiras no controle
da hemorragia. A primeira delas é a aplicação de pressão manual
firme sobre a área, usando uma gaze umedecida por 5 minutos.
A utilização de suturas absorvíveis ou não nas margens da ferida
também fornecem pressão nos tecidos e estabilização do coágulo.
A injeção de anestésico local com vasoconstrictor também pode
ajudar no controle da hemostasia. Para a confirmação da hemostasia,
o paciente deve ser observado por mais 5 a 10 minutos e, depois,
ele deve receber as instruções pós-operatórias, deixando claro o
que fazer para prevenir o sangramento.
Quando a pressão local falhar em controlar o sangramento,
o clínico pode utilizar agentes hemostáticos tópicos. Estes são
agentes químicos compostos de matriz de gelatina ou de celulose,
que absorve o sangue, forma uma malha que agrega as plaquetas e
um coágulo estável. São exemplos de agentes hemostáticos tópicos
o Oxycel® e o Surgicel®, que devem ser colocados sobre o local de
sangramento sem pressão e mantidos no lugar com uma gaze por
até 8 minutos. Eles podem ainda ser usados em associação com
agentes ativos, como a trombina (Thrombogen®), na forma de pó
estéril, que ajuda na coagulação do sangue (MCCORMICK; MOORE;
MECHAN, 2014). Existem, ainda, outros produtos do colágeno
bovino reabsorvível que podem ser utilizados, como esponjas
flexíveis, altamente absorventes, que mantêm o coágulo e podem
ser usados para controlar o sangramento persistente do alvéolo em
caso de exodontia. O CD deve ser preparado para lidar com uma
hemorragia e garantir que a cirurgia seja adequadamente equipada
para lidar com cenários como esse.

3. Como e quando fazer próteses em PCD


As lesões cariosas, as doenças periodontais, a má oclusão e
o bruxismo são alterações prevalentes na população geral. Essas
doenças e condições orais são geralmente exacerbadas em
pacientes com necessidades especiais, principalmente naqueles
com deficiências motoras, intelectuais, comportamentais e

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 83


sistêmicas, que dificultam a higienização bucal e a manutenção da
saúde oral. Além disso, as condições socioeconômicas e culturais,
bem como a falta de consciência do cuidador sobre a higiene bucal
destes pacientes, são fatores agravantes, que fazem com que as
pessoas com deficiência apresentem um comprometimento oral
severo, que muitas vezes leva à infecção e à perda de dentes.
A substituição dos dentes perdidos por meio da reabilitação
protética poderá melhorar a qualidade de vida desses pacientes,
fornecendo eficiência mastigatória, dando maior independência
ao paciente, melhorando sua interação social e aumentando a
sua autoestima (DERCELI et al., 2015). O CD deverá analisar a
necessidade da confecção de prótese e estar ciente de como
proceder quando confrontado com a PCD que necessita de
reabilitação oral. Devemos ressaltar novamente que o tratamento
odontológico deve ser sempre individualizado, considerando as
peculiaridades e as limitações específicas de cada paciente. Assim,
desde a abordagem, passando pelo plano de tratamento, o manejo
do paciente e a execução dos procedimentos, o profissional e sua
equipe trabalharão para o maior benefício do paciente.
Algumas características especiais da pessoa com deficiência
devem ser consideradas para o planejamento de próteses dentárias.
Pacientes com comprometimento motor, da fala, da mastigação
e deglutição, podem dificultar a execução de procedimentos,
como a moldagem para a confecção de próteses, e ter dificuldade
de adaptação, por exemplo, às próteses removíveis e acabar
abandonando o uso. O CD deve escolher no plano de tratamento
qual a melhor opção de prótese para a reabilitação da PCD, levando
em conta a possibilidade de execução do tratamento, a segurança
e o conforto do paciente, a expectativa do paciente consciente
e sua colaboração para a manutenção da saúde oral. Sobre esse
aspecto, o cuidado na fabricação da prótese é essencial, de modo a
fornecer o controle adequado de microrganismos para evitar danos
à mucosa bucal e permitir a integração biológica da prótese sem
comprometer a longevidade dos dentes pilares.
No caso de indicação de confecção de próteses totais, deve haver
um grande cuidado com possíveis traumas causados pela própria
prótese e, mais uma vez, a boa higienização deve ser alcançada, pois
o uso da prótese associado à higienização pobre pode predispor

84 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


ao desenvolvimento de candidíase oral, por exemplo. As infecções
causadas por Candida albicans são os distúrbios orais mais comuns
em portadores de próteses dentárias e sua gravidade depende do
estado de saúde sistêmico e de higiene dentária. Assim, dentistas,
cuidadores e outros provedores devem ter especial atenção à saúde
bucal das pessoas com deficiência.
Quando as próteses convencionais não podem ser usadas, a
reabilitação pode ainda ser alcançada por meio da colocação de
implantes orais osseointegrados como opção terapêutica para as
PCD com comprometimento físico ou psicológico. O sucesso de
uma reabilitação oral depende, principalmente, de uma seleção
adequada dos pacientes; por exemplo, o bruxismo e a falta
de higiene oral podem contraindicar a colocação do implante
(ROMERO-PÉREZ et al., 2014). O procedimento de instalação do
implante pode ser realizado no paciente sob anestesia local ou sob
medicação ansiolítica, sedação intravenosa profunda ou anestesia
geral, dependendo do grau de cooperação do paciente e da
dificuldade e duração do tratamento.

4. Endodontia em pacientes com distúrbios neuropsicomotores


Como vimos anteriormente, as pessoas com deficiência podem
ter maior susceptibilidade a lesões de cárie devido à higiene bucal
ineficaz, consequentemente apresentam dor, desconforto e
necrose pulpar. Além disso, pacientes com dificuldades motoras
têm uma propensão para quedas, levando a um risco aumentado
de trauma dental e dano pulpar. Infelizmente, o protelamento para
levar a pessoa com deficiência ao dentista, a falta de profissionais
especializados e a carência na orientação das famílias para a
prevenção das doenças bucais desde a infância leva esses pacientes
a apresentarem problemas orais mais graves.
Apesar da tecnologia e do conhecimento disponíveis, o
tratamento endodôntico de PCD ainda é realizado, na maioria das
vezes, por profissionais especialistas em PCD e endodontistas, mas
raramente pelo clínico geral. A desmistificação do atendimento às
pessoas com deficiência é, com certeza, de grande importância
para facilitar o acesso desses pacientes à assistência odontológica,
tanto preventiva quanto terapêutica, e merece um maior esforço
para melhorar a sua qualidade de vida.

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 85


O motivo mais comum que impede o CD de executar o tratamento
endodôntico em pessoas com deficiência é a cooperação limitada
de indivíduos com deficiência intelectual grave, deficiência de
desenvolvimento, comprometimento cognitivo, medo e ansiedade.
O tratamento endodôntico requer, por exemplo, a utilização de
barreira de isolamento, como dique de borracha, sessões extensas e,
às vezes, múltiplas sessões. Entretanto, alguns indivíduos não toleram
o dique de borracha, como pacientes autistas, e outros dificultam
os procedimentos precisos por causa de movimentos involuntários,
como pacientes encefalopatas. Assim, o nível de cooperação tem
sido um importante fator na determinação do tipo de procedimento
a ser realizado e, por isso, muitas vezes, a extração dental é mais
indicada que a execução de procedimentos restauradores, já que a
preocupação maior do CD deve ser a remoção da dor e a remoção
de foco infeccioso do paciente.
Em casos de urgência, o tratamento endodôntico dos pacientes
com cooperação limitada pode ser inviável, pois não há tempo para
o condicionamento do paciente, e então, o atendimento pode ser
realizado sob sedação ou anestesia geral em uma única sessão (YAP et
al., 2014). Nesse caso, o CD deve realizar o máximo de procedimentos
que o paciente precisa, como tratamento periodontal, exodontias e
endodontia. Para o tratamento endodôntico, o CD tem disponíveis
tecnologias que ajudam a viabilizar o tratamento em sessão única,
como o uso de localizadores do ápice, a radiografia digital e os
instrumentos rotatórios. Após resolver as urgências, o CD poderá
condicionar o paciente para fazer a reabilitação oral.

Pesquise mais
Veja o atendimento e o depoimento de uma cirurgiã-dentista sobre:
“Atenção e cuidado da saúde bucal da pessoa com deficiência”,
assistindo ao vídeo a partir de 40’’ até 13’40’’. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=VqemUfJxZ3A>. Acesso em: 12 nov. 2017.

Sem medo de errar


Orlando e Juliana receberam o Tiago e sua acompanhante
na clínica odontológica. Tiago tem problemas neurológicos e
apresenta tremores e dificuldades para manter a abertura de boca

86 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


e, por isso, não consegue fazer uma higiene bucal adequada. Ele
também tem um quadro de anemia crônica em tratamento médico
e precisa se submeter a vários procedimentos odontológicos. Os
exames de Tiago revelaram periodontite com perda óssea severa
e presença de exsudato em alguns dentes, cuja indicação de
tratamento seria a exodontia. O dente 25 tinha extensa lesão cariosa
e uma lesão periapical. Quais seriam as possibilidades de utilização
de procedimentos e equipamentos acessórios para possibilitar
o atendimento de PCD com alterações neurológicas? Frente às
condições bucais e às necessidades de tratamento de Tiago, como
seria a adequação do plano de tratamento odontológico às PCD,
desde o atendimento das condições mais urgentes à reabilitação oral
do paciente, levando em consideração suas condições sistêmicas?
Diante da anamnese minuciosa, dos exames clínicos e
radiográficos, Orlando e Juliana obtiveram as informações
necessárias para elaborar o plano de tratamento de Tiago. Ele
precisará se submeter a vários procedimentos, incluindo cirurgia
para exodontias, raspagem e alisamento radicular e a endodontia de
dente 25. Como a condição sistêmica do paciente pode fornecer
riscos à vida de Tiago, Orlando e Juliana devem entrar em contato
com o médico para saber sua real situação, se há controle da
anemia, quais as recomendações quanto à medicação e a avaliação
dos riscos para a realização dos procedimentos.
Por causa dos movimentos involuntários de Tiago, sua
dificuldade de abertura de boca, sua condição médica que merece
acompanhamento, e a extensão do seu tratamento odontológico
cirúrgico, é indicado que o máximo de procedimentos odontológicos
sejam realizados em ambiente hospitalar sob anestesia geral e sob
acompanhamento do médico, como as exodontias, o tratamento
periodontal e a endodontia, deixando para o consultório os
procedimentos para a reabilitação oral. Nesse momento, o paciente
pode receber sedação farmacológica e estabilização na cadeira
odontológica, além do uso de acessórios, como abridores de boca
para facilitar o atendimento em seções curtas. O paciente e sua
acompanhante cuidadora devem ser orientados quanto à higiene
bucal e ao uso dos acessórios para ajudar com os cuidados em
domicílio e sobre a importância da manutenção do tratamento em
visitas programadas.

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 87


Faça valer a pena
1. A gengivite e a periodontite são de alta incidência entre os pacientes
neurológicos. O planejamento do tratamento periodontal inicia-se
na primeira consulta, quando, por meio de uma anamnese criteriosa
e abordagem inicial, o CD conhece as condições comportamentais do
paciente e seu histórico médico, percebe suas limitações e inicia o vínculo
entre profissional/paciente/familiar. O profissional analisa as condições
de higiene bucal da pessoa com deficiência, sua dieta e a capacidade
de colaboração tanto da pessoa com deficiência quanto da família e
cuidadores. O CD realiza o exame clínico e periodontal, que pode ser um
periograma parcial ou completo, se as condições do paciente permitem, e
solicita exames complementares.

Assinale a única alternativa correta que completa a frase: O tratamento


periodontal de pacientes neurológicos pode _____________.

a) Ser realizado somente com anestesia geral.


b) Incluir raspagem dos dentes somente com instrumento manual.
c) Incluir raspagem dos dentes somente com aparelho ultrassônico.
d) Ser realizado no consultório com estabilização do paciente na cadeira.
e) Ser realizado somente no consultório com paciente colaborador.

2. Durante o tratamento periodontal, caso ocorra uma situação


inesperada de hemorragia, o CD deve tomar algumas medidas para
controlar o sangramento anormal. Entre as medidas locais para controle
da hemorragia, podemos citar _____________ e _____________.

Assinale a alternativa que corretamente completa a lacuna:

a) A aplicação de pressão e a aspiração constante.


b) A aplicação de pressão e a irrigação da área.
c) A aplicação de pressão e a realização de suturas.
d) As suturas e a aspiração por 5 minutos.
e) Os agentes hemostáticos e a aspiração.

3. A substituição dos dentes perdidos por meio da reabilitação protética


poderá melhorar a qualidade de vida da pessoa com deficiência,
fornecendo eficiência mastigatória, dando maior independência ao
paciente, melhorando sua interação social e aumentando a sua autoestima.
O CD deverá analisar a necessidade da confecção de prótese e estar

88 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


ciente de como proceder quando confrontado com PCD que necessita
de reabilitação oral.

Sobre a confecção de prótese dentária para a pessoa com deficiência,


assinale a alternativa correta:

a) Deve ser adotado um protocolo padrão para todos os pacientes.


b) O procedimento de moldagem pode ser difícil em pacientes com
dificuldade de deglutição.
c) Deve ser realizada com paciente sob anestesia geral.
d) A prótese fixa é a melhor alternativa de reabilitação do paciente
parcialmente edêntulo.
e) Os implantes dentários são contraindicados para a pessoa com
deficiência.

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 89


Seção 2.3
Urgências e emergências durante o tratamento
odontológico de pacientes com necessidades
especiais
Diálogo aberto
Caro aluno, iniciaremos a seção 2.3. Bem-vindo!
Nesta seção, discutiremos sobre as urgências e as emergências
médicas no atendimento odontológico à PCD. As urgências e as
emergências no consultório odontológico podem ocorrer no
cotidiano profissional. O cirurgião-dentista (CD) e sua equipe
devem estar preparados para prevenir e socorrer o paciente nesses
casos. É muito importante que você, aluno, entenda que o CD,
como profissional de saúde, tem por obrigação estar preparado
para agir em caso de urgências em emergências no consultório
odontológico. Assim, estude, aprimore-se, e não tenha medo, você
será um profissional capaz!
Pensaremos em algumas situações de atendimento realizado
de forma multidisciplinar em uma clínica odontológica. Orlando e
Juliana trabalham na clínica e receberam o Tiago, um rapaz de 34
anos que busca tratamento odontológico, e sua acompanhante. Na
primeira consulta, foi possível observar que Tiago tinha dificuldades
motoras. A anamnese de Tiago mostrou que ele havia sofrido um
grave acidente que o deixou sistemicamente comprometido,
incluindo problemas neurológicos e hematológicos. Tiago toma
medicações controladas prescritas pelo seu médico. Devido às
dificuldades motoras, Tiago não consegue fazer uma higiene
bucal adequada e precisa submeter-se a vários procedimentos
odontológicos. Orlando e Juliana devem juntos planejar o
tratamento de Tiago para restabelecer sua saúde bucal. Eles
identificaram as principais dificuldades para o atendimento de
Tiago que, devido às alterações motoras, apresentava tremores e
dificuldades para manter a abertura de boca. O exame radiográfico
de Tiago revelou um quadro de periodontite com perda óssea
severa e presença de exsudato em alguns dentes, cuja indicação
de tratamento seria a exodontia. O dente 25 possuía uma lesão

90 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


periapical extensa, relacionada à destruição da coroa do dente
por cárie. Sistemicamente, Tiago apresentava ainda um quadro
crônico de anemia.
Durante o estudo desta seção, pense sobre essas características
de saúde de Tiago e, ao final, você deverá ser capaz de elaborar
seu plano de tratamento odontológico. Leia com atenção sobre
as urgências e as emergências específicas para pacientes especiais
e PCD, como síncope, parada cardíaca, anafilaxia, hipoglicemia
e convulsão; a interação medicamentosa de importância para a
assistência odontológica a esses pacientes e o suporte básico de
vida nas emergências odontológicas. Todas essas informações
estão no quadro “Não pode faltar”. Reflita sobre quais seriam os
possíveis riscos de urgência e emergência no atendimento da PCD
como Tiago. Bom estudo!

Não pode faltar


1- Urgências e emergências específicas para PCD: identificação
dos deflagradores de emergências na assistência odontológica à
PCD
As urgências e as emergências no consultório odontológico
podem ocorrer no cotidiano profissional, especialmente no
atendimento à PCD e pacientes de grupos especiais (como grávidas,
sistemicamente comprometidos, entre outros). O CD e sua equipe
devem estar preparados para prevenir e socorrer o paciente nesses
casos. Para isso, é muito importante que os profissionais tenham o
conhecimento prévio das possíveis intercorrências e das medidas
a serem adotadas para resolver as urgências e as emergências na
assistência odontológica.
Devemos novamente destacar a importância da realização
da anamnese minuciosa de todos os pacientes. Ela permite
a identificação das necessidades especiais de pacientes
sistemicamente comprometidos, seja por defeitos congênitos ou
adquiridos. Assim, o CD pode prever as situações de risco, orientar o
paciente e seus familiares a adotarem medidas preventivas, e manter
equipamentos e medicamentos necessários para a assistência em
casos de urgência e emergência no consultório odontológico.
Entenderemos o que são urgências e emergências. Urgências
são os casos em que o paciente necessita de atendimento rápido,

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 91


mas não corre o risco de morrer, enquanto as emergências são
situações críticas, súbitas e perigosas, casos imprevisíveis, em que a
vida do paciente está em risco imediato.
As emergências durante a assistência odontológica da pessoa
com deficiência ou paciente de grupos especiais (sistemicamente
comprometidos, grávidas, entre outros) podem estar ligadas a várias
causas diferentes, dependendo do tipo de limitação do paciente e
sua condição médica.
O tratamento odontológico causa níveis variados de ansiedade
nos pacientes. O estresse e o medo são as principais causas de
emergência no atendimento odontológico, pois podem mudar
subitamente o quadro clínico do paciente. A ansiedade, o medo
e o estresse podem interferir tanto no fator comportamental da
pessoa com deficiência, quanto alterar as condições de pacientes
sistemicamente comprometidos, como cardiopatas, diabéticos
e hipertensos. Nesses pacientes, o estresse pode levar a quadros
de taquicardia, arritmia, bradicardia, hipertensão arterial, crise de
hipoglicemia ou hiperglicemia, e a situações de emergências graves,
que impedem o tratamento e podem causar risco à vida do paciente.
A suspensão de medicamentos por conta própria do paciente ou a
automedicação sem comunicação ao dentista, também podem levar
a situações de emergência no consultório. As reações psicogênicas
podem causar lipotimia e/ou síncope (desmaio) nos pacientes mais
ansiosos, apenas pela visualização de instrumentos, agulhas, sangue
etc., ou por ruídos, como do motor de alta rotação, a luz do refletor.
Esses fatores podem ser ainda mais importantes como deflagradores
de emergências para pacientes com distúrbios neurológicos.
O fator idade também está relacionado ao aumento das
emergências médicas, principalmente em pacientes muito
jovens ou muito idosos, nos quais os riscos são ligados ao uso
dos medicamentos, como anestésicos locais usados pelo CD no
consultório. Existem drogas com potencial de causar reações
alérgicas que frequentemente são usadas em odontologia, como
anestésicos locais e antibióticos, podendo causar emergência
durante o atendimento e levar até a situações graves de anafilaxia.
Alguns fatores, como privação de sono, febre alta, ingestão excessiva
de álcool, processos infecciosos, podem levar a crises convulsivas e
outros sintomas em uma situação de emergência.
Para o imediato controle de emergências médicas em

92 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


consultório odontológico, o CD deve usar medidas preventivas
essenciais: anamnese minuciosa, exame físico bem conduzido,
ter conhecimento sobre a administração de medicamentos. Além
disso, o CD deve ser capaz de controlar a ansiedade do paciente
previamente e durante o atendimento odontológico, especialmente
os procedimentos invasivos e de longa duração, minimizando as
emergências médicas no consultório odontológico. O cirurgião
dentista deve estar apto para prestar atendimento imediato ao
paciente caso as emergências médicas ocorram (PIMENTEL, 2014).

2- Urgências e emergências específicas para PCD: síncope,


parada cardíaca, anafilaxia, hipoglicemia e convulsão
Qualquer atendimento emergencial exige um rápido diagnóstico
da gravidade da situação, o conhecimento da conduta e a rapidez
na execução dos procedimentos. O CD deve conhecer os
principais procedimentos a serem adotados em casos de acidentes
decorrentes do atendimento odontológico ou em situações de
mal-estar súbito, que podem acometer pacientes com deficiência e
pacientes de grupo especial. Algumas dessas situações de urgência
e emergência são comuns e sem maiores consequências, enquanto
outras podem colocar a vida do paciente em risco.
Síncope, popularmente chamada de desmaio, é uma situação
pouco comum no consultório dentário, e pode ter consequências
imprevisíveis, tendo caráter benigno ou grave. A causa mais comum
de desmaio, ou síncope vasovagal, no consultório odontológico, é
o fator emocional, geralmente relacionado ao medo ou ao estresse
provocado pelo tratamento dentário.
A visão dos instrumentos e de sangue, barulhos e cheiros
característicos do ambiente do consultório, associado a experiências
anteriores de dor, por exemplo, podem dar origem ao desmaio. Isso
ocorre porque esses estímulos excitam excessivamente o córtex
cerebral, e a excitação é transmitida para o centro vasomotor
e para os centros reguladores do sistema nervoso simpático e
parassimpático no hipotálamo, que atuam ao mesmo tempo para
regular a pressão arterial (PA) e a atividade cardíaca. O simpático
estimula o sistema cardiovascular e o parassimpático o deprime. Na
síncope vasovagal, ocorre um breve período de inicial apreensão
e ansiedade, que pode aumentar a PA e a frequência cardíaca, e
o paciente apresenta sintomas, como debilidade, ânsia de vômito,

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 93


sensação de calor, sudorese, frio nas extremidades, palpitações e
dor de cabeça, característicos do predomínio do simpático. Na fase
seguinte, de domínio do parassimpático, o paciente pode apresentar
salivação, mal-estar epigástrico, escurecimento visual, vômitos,
dilatação pupilar, uma poderosa vasodilatação, bradicardia e queda
imediata da PA do paciente, podendo levar à perda de consciência.
Como tratamento do desmaio, o primeiro procedimento é colocar
o paciente em posição supina, ou seja, a sua cabeça deve estar em
nível inferior à dos pés, apenas inclinando a cadeira odontológica.
Geralmente, essa manobra é suficiente para o paciente recobrar
a consciência, caso contrário, é necessário avaliar a respiração, a
pulsação e a pressão arterial do paciente e acompanhá-la até voltar
à normalidade.
A parada cardíaca é a interrupção abrupta e inesperada da
circulação sanguínea, causada pela parada dos batimentos cardíacos.
Quando ocorre uma parada cardíaca, geralmente também ocorre a
parada respiratória, e vice-versa, por isso, o evento recebe o nome
de parada cardiorrespiratória (PCR). A PCR é uma situação que pode
levar à morte em poucos minutos, se não for tratada rapidamente,
usando manobras de ressuscitação do Suporte Básico de Vida (SBV).
São muitas as possíveis causas de uma PCR, dentre as principais
podemos citar as doenças cardíacas, como infarto, arritmia e
insuficiência cardíaca, outras doenças, como a insuficiência
respiratória e AVC, choque elétrico, choque hipovolêmico (perda
grande de sangue), choque séptico (infecção grave), afogamento,
overdose, engasgo, traumas, entre outras. O conhecimento do CD
a respeito das condições gerais de saúde do paciente por meio de
anamnese criteriosa pode identificar os potenciais riscos de uma
parada cardíaca durante o atendimento odontológico e permitir
medidas preventivas.
Os sinais e os sintomas que antecedem uma PCR são: dor forte
no peito, abdome e nas costas, dor forte de cabeça, falta de ar ou
dificuldade em respirar, enrolar a língua, apresentando dificuldade
em falar, dor ou formigamento no braço esquerdo, palpitações
fortes. O indivíduo perde a consciência dentro de 10 a 15 segundos,
pela falta de sangue no cérebro. O reconhecimento do estado de
PCR deve ser feito com muita rapidez pela verificação da ausência
de pulsos carotídeos e de respiração, perda da consciência, palidez,
cianose e pele marmórea.

94 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


O tratamento imediato da PCR é fazer o coração voltar a bater
por meio de manobras de ressuscitação do SBV, como a massagem
cardíaca e/ou uso de um aparelho desfibrilador, e o uso de
medicações vasopressoras (epinefrina, adrenalina e vasopressina). O
tecido nervoso tolera a falta de oxigênio por 4 a 5 minutos no máximo
e, depois desse tempo, ocorre a paralização da atividade das células,
levando o organismo à morte. Assim, o êxito do tratamento com
SBV está estritamente relacionado ao tempo em que ocorreu a PCR
e o início das manobras (1 a 5 minutos), e ao tempo que levou para
iniciar os cuidados avançados por parte da equipe médica. Por isso,
é tão importante o reconhecimento precoce da PCR e da imediata
execução precisa das manobras de RCP. Conheça detalhadamente,
no item 4 desta seção, o conjunto de procedimentos do SBV,
que visam à liberação das vias aéreas e à execução de assistência
ventilatória e circulatória que os profissionais devem realizar em
caso de emergência envolvendo a PCR.
A anafilaxia ou choque anafilático é um acidente grave causado
por uma reação muito intensa do tipo antígeno/anticorpo em
paciente com alta sensibilidade a um determinado alérgeno. Nessa
reação alérgica imediata, ocorre a liberação de grande quantidade
de histamina, bradicinina e outras substâncias que causam o
colapso do sistema circulatório e respiratório do paciente, levando
ao broncoespasmo, edema de glote, asfixia e morte. Por isso, é
tão importante saber reconhecer os primeiros sinais e sintomas da
anafilaxia e iniciar os procedimentos de salvamento de imediato.
Após o contato com o alérgeno (alguns segundos a minutos),
o paciente fica muito agitado, com mal-estar e angústia violenta,
rubor ou palidez, suores intensos, sofre queda da pressão arterial, a
pulsação fica rápida e fina. O paciente pode ter convulsões, vômito,
edema de glote com tosse profusa e cianose, perda da consciência
e coma. O episódio pode culminar na parada cardíaca, respiratória e
morte. Em casos como esse, o CD deve primeiro, colocar o paciente
em posição supina e depois providenciar a sua rápida remoção
para um hospital. O atendimento em casos de anafilaxia deve ser
extremamente rápido, os primeiros socorros devem ser iniciados
imediatamente, fazendo a oxigenação e injetando via intravenosa
0,5 mL de adrenalina ou noradrenalina a 1:1000 e o mesmo volume
subcutaneamente, que aumentará a pressão arterial e fará uma
broncodilatação. Depois, deve-se injetar uma ampola de anti-
histamínico, 100 mg de hidrocortisona via intramuscular, enquanto

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 95


se faz o transporte urgente do paciente a um centro de reanimação.
O cirurgião-dentista geralmente não dispõe dos meios eficientes
para realizar o salvamento do paciente em seu consultório e, por
isso, esse evento é tão temido.
Apesar de não existirem meios seguros para se prevenirem as
reações alérgicas, mais uma vez reforçamos que uma boa anamnese
pode diminuir consideravelmente os riscos.
A hipoglicemia é uma condição em que a taxa de glicose no
sangue diminui para valores inferiores ao normal, geralmente abaixo
de 70 mg/dl. A hipoglicemia pode ser causada, por exemplo, pelo
consumo de álcool, jejum prolongado, após esforço físico intenso,
e uso de medicamentos, como aspirina, alguns anti-inflamatórios
não esteroides, betabloqueadores. Entretanto, a hipoglicemia está
principalmente relacionada às pessoas diabéticas e sua causa mais
comum é o uso inadequado de medicamentos antidiabéticos,
como a insulina e as sulfonilureias. Atenção deve ser dada aos sinais
e aos sintomas dos episódios de hipoglicemia.

Exemplificando
Figura 2.3 | Exemplos dos sintomas mais comuns da hipoglicemia

Fonte: <http://www.apdp.pt/images/a-diabetes/Risco-e-Prevencao-da-Diabetes/Tratamento/tratar-
hipoglicemia-03.png>. Acesso em: 4 dez. 2017.

96 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


Além dos sintomas mostrados na Figura 2.3, as pessoas com
hipoglicemia podem ainda apresentar: náusea, sonolência, visão
embaçada, dor de cabeça, sudorese, taquicardia, desorientação
e confusão mental, e como efeitos mais graves, hipotensão,
hipotermia, convulsões, podendo levar à morte. Nem todos os
sintomas aparecem ao mesmo tempo e nem há uma ordem certa
para o aparecimento deles. Os sintomas variam com a idade e com
a severidade da hipoglicemia. A única maneira de ter certeza se
a taxa de glicose está muito baixa, é checá-la usando o aparelho
chamado glicosímetro. Quando a hipoglicemia ocorrer durante o
atendimento odontológico, o CD deve interromper o atendimento
e oferecer de 15-20 g de carboidrato (alimento ou bebida) para o
paciente ingerir. Não administrar insulina. Quando ocorre desmaio
e convulsão, pode ser injetado glucagon. Se o paciente não se
recuperar ou estiver inconsciente, acionar socorro médico e
monitorar os sinais vitais (SBD, 2017).
A convulsão ocorre quando há uma atividade elétrica anormal
do cérebro que pode ou não ser percebida e, em casos mais graves,
pode levar à perda da consciência, acompanhada de espasmos
musculares involuntários. Os episódios convulsivos geralmente
ocorrem de repente e têm gravidade e duração variáveis, podendo
ocorrer com um evento único ou acontecer repetidas vezes, por
exemplo, em pacientes com epilepsia. Entretanto, as convulsões
não ocorrem exclusivamente em pessoas epiléticas, elas podem
ter várias outras causas, como níveis anormais de sódio ou glicose
no sangue, meningite, lesão ou tumor cerebral, asfixia, abuso de
drogas, febre alta, AVC, entre outras.

Pesquise mais
Aprenda mais sobre “Convulsão: tratamentos e causas” e “Epilepsia:
como ajudar uma pessoa com convulsão” acessando o link a seguir.
Disponível em: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/
convulsao>. Acesso em: 4 dez. 2017.

O paciente pode perceber alguns sinais de alerta para o início


de uma crise convulsiva: medo e ansiedade súbitos, mal-estar
estomacal, tontura e visão turva. Durante a crise convulsiva,
pode ocorrer: perda de consciência, confusão mental, espasmos

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 97


musculares incontroláveis, babar ou espumar pela boca, cerrar
os dentes, morder a língua, cair, perder o controle da bexiga ou
intestino e mudança súbita de humor. Muitos fatores podem levar
a uma crise convulsiva, e o CD e sua equipe devem conhecê-los,
diagnosticar rapidamente o problema e estarem preparados para
lidar com possíveis episódios que possam acontecer durante o
atendimento odontológico.
Os primeiros socorros a um paciente em convulsão exige que o
socorrista, antes de tudo, mantenha a calma e chame de imediato
um serviço de emergência. A pessoa em convulsão, com espasmos
involuntários, deve ser protegida de sofrer lesões, então, deve-se
repousar a pessoa no chão, colocar algo macio embaixo de sua
cabeça, afastar móveis e objetos, virar a pessoa de lado, não colocar
nada na boca da pessoa em convulsão, pois pode causar lesões nas
mucosas e fraturas dentárias e até da mandíbula. Limpe suavemente
a boca do paciente para remover saliva ou vômito, afrouxe roupas
apertadas no pescoço e cintura e deixe a pessoa descansar, sem
oferecer água ou comida até que ela esteja normal.

3 - Interação medicamentosa de importância para assistência


odontológica à PCD e paciente de grupo especial
As interações medicamentosas ou farmacológicas são
alterações da resposta de um fármaco devido à ingestão simultânea
de outro fármaco, de álcool ou de alguns alimentos. A resposta
do fármaco pode ser potencializada ou reduzida, na intensidade e
duração, com prejuízo ao tratamento. A prescrição concomitante
de vários medicamentos deve ser evitada, entretanto, muitas vezes,
é necessária em pacientes que apresentam diferentes condições
sistêmicas, como diabetes, hipertensão arterial, doenças renais,
entre outras, e pacientes com deficiências, como paralisia cerebral.
Na clínica odontológica, o cirurgião dentista deve ter cuidados
adicionais com esses pacientes que fazem uso contínuo de vários
medicamentos. Todas as interações medicamentosas podem ser
evitadas e medidas preventivas, como a anamnese minuciosa antes
de iniciar qualquer tratamento, é imprescindível, pois possibilita ao
dentista conhecer o perfil de saúde geral do paciente, e o contato
com o médico do paciente para a troca de informações sobre o
risco/benefício do emprego de medicações que podem causar

98 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


interações adversas. O CD deve entender que ele é o responsável
por selecionar a solução anestésica local e os outros medicamentos
para seu paciente, em determinada intervenção odontológica,
e essa responsabilidade não pode ser transferida para o médico.
Assim, deve-se conhecer as interações farmacológicas que podem
ocorrer na rotina do atendimento odontológico, e aqui falaremos das
principais interações de importância no atendimento odontológico
da pessoa com deficiência ou do paciente de grupo especial.
As interações farmacológicas com os vasoconstrictores dos
anestésicos locais podem ser uma das interações mais comuns.
Os vasoconstrictores, como epinefrina, noradrenalina, corbadrina
e fenilefrina, podem provocar reações indesejáveis, principalmente
quando administradas em volumes excessivos de tubetes ou em altas
concentrações, ou injetadas diretamente em um vaso sanguíneo.
Os vasoconstrictores podem reagir com fármacos, como os
betabloqueadores, usados para tratamento da hipertensão arterial,
arritmia cardíaca e angina do peito (são exemplos desses fármacos:
propranolol, nadolol, atenolol, metoprolol, carvedilol, labetalol,
entre outros) e betabloqueadores são usados no tratamento de
enxaquecas e tremores involuntários. O CD deve estar atento, pois
a interação da epinefrina com betabloqueadores pode provocar
a elevação da pressão arterial, taquicardia inicial, seguida de
bradicardia compensatória, que podem ser efeitos graves quando
ocorre a injeção intravascular acidental.
As interações com ansiolíticos, como os benzodiazepínicos
usados para sedação mínima do paciente para o tratamento
odontológico também podem ocorrer, apesar de serem geralmente
administrados em dose única pré-operatória. Os benzodiazepínicos,
como diazepam, midazolam, alprazolam, lorazepam, entre outros,
podem potencializar o efeito de fármacos depressores do sistema
nervoso central (SNC), como hipnóticos, anticonvulsivantes,
neurolépticos e analgésicos de ação central, e ainda causar possível
risco de depressão respiratória. O CD também deve estar atento
para a interação dos benzodiazepínicos com os anestésicos
locais, pois todos são também depressores do SNC. A prescrição
dos benzodiazepínicos deve sempre ser feita com um alertar ao
paciente quanto ao risco de interação com álcool no período de
24 horas antes e depois da ingestão da medicação, pois o álcool
também é depressor do SNC.

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 99


As interações com anti-inflamatórios não esteroides (AINES)
são de importância para o CD, já que este grupo de medicamentos
são prescritos com frequência na prática odontológica para o
controle da dor e do edema. Os AINES podem interagir com
fármacos, como os anticoagulantes, principalmente a varfarina, e
antiagregantes plaquetários, como a aspirina e o clopidogrel, que
são comumente usados na profilaxia do infarto do miocárdio,
tromboembolismo cerebral e acidente vascular cerebral, e nas
tromboses venosas profundas. A varfarina também pode interagir
com o paracetamol, um analgésico de uso comum na odontologia,
provocando um aumento do efeito anticoagulante da varfarina.
Essas interações citadas podem predispor o paciente a hemorragias
durante ou após procedimento cirúrgico. Os AINES também podem
ter uma reação adversa importante com alguns medicamentos
anti-hipertensivos, que têm o mecanismo de ação dependente
da síntese de prostaglandinas pelos rins, como captopril, enalapril,
hidroclorotiazida, propranolol, nadolol, entre outros. Como os
AINES reduzem a produção de prostaglandinas, eles podem
interferir na homeostasia renal e provocar um aumento da pressão
arterial. Os pacientes diabéticos que fazem uso de medicamentos
hipoglicemiantes orais podem sofrer episódios de hipoglicemia
como consequência do uso de AINES, pois estes competem pelas
ligações com as proteínas plasmáticas, como a clorpropamida e
glibenclamida. Assim, essa interação pode limitar o uso de AINES
em diabéticos (ANDRADE, 2014).

Reflita
Veja como interações dos AINES com fármacos anticoagulantes,
antiagregantes plaquetários, alguns anti-hipertensivos e
hipoglicemiantes podem ser importantes na prática odontológica. A
prescrição de AINES, mesmo por curto espaço de tempo, 2-3 dias,
deve ser evitada, e o CD deve refletir sobre sua substituição por
corticosteroides, como a dexametasona ou betametasona, em dose
única, para pacientes cardiopatas, hipertensos e diabéticos. Para os
pacientes em tratamento com varfarina ou clopidogrel, o paracetamol
deve ser evitado e substituído por dipirona.

100 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


4 - Suporte básico de vida nas emergências odontológicas
O Suporte Básico de Vida (SBV) constituiu os procedimentos
que garantem a circulação sanguínea e a ventilação pulmonar
em uma situação de emergência médica. O conceito de SBV é
um consenso mundial que foi criado e formalizado como um
protocolo padronizado para ressuscitação de vítimas de parada
cardiorrespiratória (PCR) e é revisado a cada cinco anos pela
Aliança Internacional dos Comitês de Ressuscitação (ILCOR). Os
primeiros socorros e a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) são
procedimentos que podem ser realizados até por pessoas leigas
que tenham recebido o treinamento adequado, podendo salvar
uma vida. Os profissionais de saúde, incluindo o cirurgião-dentista,
devem estar preparados para prestar os primeiros socorros e a RCP
em caso de emergência (ANDRADE, 2011).

Passos do Suporte Básico de Vida para adultos (SBV, 2015):


1) Avaliar riscos no ambiente: o socorrista deve examinar o
ambiente e se certificar que não há risco para ele e para a vítima, o
que geralmente não ocorre no consultório odontológico.
2) Avaliar se a vítima responde: o socorrista deve segurar os ombros
da vítima com uma mão de cada lado e fazer estímulo suave e, ao
mesmo tempo perguntar “você está bem?” e verificar se há alguma
resposta que indique consciência, respiração e pulso na vítima.
3) Liberar as vias aéreas, colocando a mão sobre a testa da vítima,
fazendo a hiperextensão do pescoço. Colocar uma almofada ou
blusa dobrada sob as costas para ajudar a manter a posição da
cabeça e a hiperextensão do pescoço. Remover qualquer objeto,
alimento que estiver na boca que esteja impedindo a passagem
de ar e remover ou afrouxar as roupas que estejam apertando o
pescoço ou o abdome.
4) Avaliar rapidamente a respiração, aproximando o rosto da
região da boca e do nariz da vítima, tentar sentir fluxo de ar, ouvir
os ruídos da respiração e observar os movimentos do tórax. Se após
10 segundos de avaliação o socorrista ainda tiver dúvidas, ele deve
concluir que não há respiração e iniciar a RCP.
5) Chamar imediatamente um serviço de emergência (ligar 192
- SAMU ou 193 -Bombeiros) se a vítima está inconsciente e não

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 101


respira ou tem respiração agônica. Se o socorrista estiver sozinho,
ele deve chamar o socorro antes de iniciar a RCP em adultos, pois
uma vez iniciada, ela não pode ser interrompida.
6) Iniciar a RCP: o socorrista deve deitar a vítima de barriga para
cima sobre uma superfície plana e firme, ajoelhar-se ao lado dos
ombros da vítima e posicionar o queixo dela para cima e a boca
aberta para facilitar a respiração. Remova as roupas que cobrem
o tórax da vítima. No centro de uma linha imaginária que liga os
mamilos, deve-se apoiar a base de uma das mãos sobre o terço
inferior do osso esterno, colocar a outra mão sobre a primeira,
entrelaçando os dedos, deixando seus braços retos, e empurrar o
peito da vítima para baixo com força e rapidez, usando o peso do
seu corpo. As compressões devem ser rítmicas e seriadas, realizando
100 a 120 compressões por minuto, ou 2 compressões por segundo,
essas compressões devem deslocar o peito 5 cm para baixo. Deve-
se permitir o retorno total do tórax após cada compressão.
7) Aplicar a ventilação (boca a boca): deve ser alternada com a
compressão torácica, 30 compressões e 2 respirações. Para fazer
a respiração boca a boca, mantenha a manobra de hiperextensão
do pescoço, comprima firmemente as narinas com os dedos da
mão que está sobre a testa, respire, coloque seus lábios ao redor da
boca da vítima, fechando hermeticamente. Aplique uma ventilação
soprando por 1 segundo e observe a elevação do tórax, espere o
tórax baixar, então inspire novamente e aplique a segunda ventilação.

Atenção
Se a pessoa que dá os primeiros socorros não sabe ou não se sente
confortável para realizar a respiração boca a boca, ela deve fazer só
as compressões torácicas sem interrupção até a vítima reagir ou o
socorro chegar. Se for necessário realizar a ventilação boca a boca,
o CD pode ter em seu consultório, acessórios simples de proteção,
como máscaras descartáveis ou reutilizáveis, que impedem o contato
direto com as secreções do paciente, e ainda uma bolsa de Ambu-
Rubem.

8) Verifique o pulso, colocando o dedo médio e o indicador sobre


a artéria carótida, e se a pessoa respira, faça isso a cada 2 minutos,
se não obtiver resposta, continue as massagens até a chegada da

102 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


ambulância, e, se possível, revezando com outro socorrista quando
cansar.
Em crianças, o SBV tem algumas peculiaridades: a ventilação de
1 segundo deve ser mais suave; a compressão torácica pode ser
executada apenas com uma das mãos, dependendo do tamanho
da criança; caso haja dois socorristas, o RCP deve ser realizado na
frequência de 15 compressões e 2 ventilações.

Assimile
Assimile melhor os procedimentos de ressuscitação, assistindo ao
vídeo “How to Perform CPR video” ou “Como fazer ressuscitação
cardiopulmonar vídeo”. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=cosVBV96E2g>. Acesso em: 4 dez. 2017. Este vídeo está em
inglês, mas você pode ativar as legendas ocultas e configurá-las, clicando
em: Detalhes > Legendas/CC > Traduzir automaticamente > Português.
Você também pode assistir ao vídeo: Protocolo RCP. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=sBHzOB74KuY>. Acesso em: 4
dez. 2017.

Caro aluno, os conteúdos dessa unidade são de extrema


importância no seu dia a dia profissional, portanto aproveite e
debata sobre esses assuntos com seus professores e colegas de
classe. Assim, você tirará possíveis dúvidas e aprenderá ainda mais.

Sem medo de errar


Tiago e sua acompanhante foram recebidos por Orlando e Juliana
na clínica. Relembraremos as condições médicas e odontológicas
de Tiago: ele tem problemas neurológicos e apresenta tremores
e dificuldades para manter a abertura de boca e, por isso, não
consegue fazer uma higiene bucal adequada; tem um quadro de
anemia crônica em tratamento médico; apresenta periodontite com
perda óssea severa e exsudato em alguns dentes, com indicação de
exodontia; dente 25 com cárie extensa e lesão periapical. Diante do
quadro de saúde geral e bucal, quais seriam os possíveis riscos de
urgência e emergência no atendimento à PCD?
Após uma anamnese minuciosa, Orlando e Juliana devem obter
todas as informações possíveis para traçar o perfil de saúde de Tiago,

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 103


incluindo os medicamentos administrados pelo médico. Tiago tem
distúrbios hematológicos e faz tratamento e uso de medicação. A
primeira ação do CD deve ser o contato e troca de informação com
seu médico para definir os riscos no atendimento e um bom plano
de tratamento, prevenindo as situações de emergência. A prescrição
de antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios será necessária para
o controle da infecção, do edema e da dor, mas deve considerar o
risco de possíveis interações medicamentosas com os fármacos que
Tiago já faz uso. A decisão da melhor opção para administração da
medicação pode ser tomada com o médico. Devido aos problemas
hematológicos de Tiago, é necessário avaliar o risco de hemorragias
no atendimento odontológico, principalmente durante e após as
intervenções cirúrgicas. Somente após conversar com o médico do
paciente Orlando e Juliana planejarão e executarão o tratamento.
Agora que você já estudou essa unidade, qual é a melhor conduta
para o tratamento da periodontite e para executar as exodontias
necessárias? Se for necessário, releia e, em seguida, discuta com
seus colegas para responder.

Faça valer a pena


1. As urgências e as emergências no consultório odontológico podem
ocorrer no cotidiano profissional, especialmente no atendimento
à PCD. As emergências durante a assistência odontológica da PCD
podem estar ligadas a várias causas diferentes, dependendo do tipo de
limitação do paciente e sua condição médica. O estresse e o medo são
as principais causas de emergência no atendimento odontológico, pois
podem mudar subitamente o quadro clínico do paciente e provocar
__________________.

Escolha a única alternativa correta que completa a frase:

a) Aumento da pressão arterial em pacientes hipertensos.


b) Reação alérgica em paciente hipertenso.
c) Convulsões em pacientes hipertensos.
d) Hiperglicemia em pacientes epiléticos.
e) Hiperglicemia em pacientes hipertensos.

2. A parada cardíaca é a interrupção abrupta e inesperada da circulação


sanguínea causada pela parada dos batimentos cardíacos. Quando

104 U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD


ocorre uma parada cardíaca, geralmente também ocorre a parada
respiratória, e vice-versa e, por isso, o evento recebe o nome de parada
cardiorrespiratória (PCR).

Sobre as manobras de ressuscitação, é correto afirmar:

a) Deve-se começar pela respiração boca a boca, pois é mais importante.


b) Quando o paciente recobrar a consciência, deve-se chamar o SAMU.
c) Iniciar imediatamente 30 compressões sobre o esterno alternadas com
2 respirações.
d) Deve-se verificar o pulso quando o paciente recobrar a consciência.
e) Deve-se esperar o serviço de emergência chegar.

3. As interações com anti-inflamatórios não esteroides (AINES) são de


importância para o CD, já que este grupo de medicamentos é prescrito
com frequência na prática odontológica para o controle da dor e do
edema.

Sobre as interações farmacológicas com anti-inflamatórios não esteroides,


é correto afirmar que:

a) O risco de interação com anticoagulantes é nulo quando os AINES são


usados por tempo curto.
b) A interação com hipoglicemiantes, como a varfarina, causa hiperglicemia.
c) Os AINES podem causar hipotensão arterial no paciente que toma anti-
hipertensivos.
d) Os AINES devem ser substituídos por corticosteroides para pacientes
diabéticos.
e) Um AINE como o paracetamol deve ser substituído por dipirona em
pacientes que usam varfarina.

U2 - Abordagem odontológica e manejo de PCD 105


Referências
AGÊNCIA LOCAL DE EMPLEO. Protocolo RCP. 2014. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=sBHzOB74KuY>. Acesso em: 27 nov. 2017.

AHA - American Heart Association (Org.). Destaques da American Heart


Association 2015: atualização das diretrizes de RCP e ACE. Dallas: American Heart
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ANDRADE, E. D. Terapêutica medicamentosa em odontologia. 3. ed. São Paulo:


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ANDRADE, E. D. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. 3. ed. São Paulo:


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acpd_vol3.pdf?sequence=1>. Acesso em: 31 out. 2017.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso
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prático. 2. ed. São Paulo: Santos, 2013.

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4, p. 351-361, 2015.
Unidade 3

Envelhecimento humano e
saúde do idoso
Convite ao estudo
Estimados alunos, na Unidade 3 desta disciplina, você
conhecerá os principais aspectos do envelhecimento humano
que são importantes para um tratamento odontológico
adequado e integral aos indivíduos idosos. O envelhecimento
constitui um processo fisiológico que se caracteriza pelas
mudanças orgânicas em que ocorre uma diminuição das
faculdades psicológicas, comportamentais e físicas. Todas
as funções vitais, com a idade, passam por um processo de
degeneração, apresentando desordens de menor a maior
gravidade. O atendimento por uma equipe multiprofissional
determina uma atenção diferenciada, tendo o cirurgião dentista
um papel importante na equipe de trabalho em relação à saúde
do idoso. Devido ao crescimento da população idosa no país,
devemos estar capacitados a assisti-los adequadamente.
Para auxiliar o estudo e o entendimento das situações do
dia a dia na Clínica Odontológica da Universidade, vamos
acompanhar os alunos do oitavo semestre de Odontologia,
Maria e Francisco, no atendimento dos pacientes. Vamos
começar pela paciente Joana (80 anos), a qual compareceu
à clínica para consulta odontológica acompanhada de sua
filha. Durante o atendimento, a paciente se mostrou um
tanto confusa nas respostas durante a anamnese e foram
observados grandes tremores nas mãos, fato que a paciente
relatou ter sido diagnosticada com Mal de Parkinson. Ao exame
clínico bucal, foram diagnosticadas alterações/patologias
dentárias, como raízes residuais e dentes com mobilidade
devido à doença periodontal avançada; a paciente também
faz uso de próteses parciais removíveis mal adaptadas. Maria
e Francisco conversaram longamente com a filha da paciente,
notando que ela era muito impaciente e severa com a mãe. A
filha relatou que a mãe tinha muito medo de dentista, pois o
anterior a tinha traumatizado.
Ajude os alunos Maria e Francisco a pensarem na melhor
solução para iniciar uma abordagem no primeiro atendimento
a Joana. Existe uma forma fácil de explicar sobre o processo
de envelhecimento que todos nós passamos? Qual é a melhor
abordagem psicológica para o atendimento dessa paciente,
para que ela possa sentir confiança nos alunos? E, desta forma,
eles possam iniciar os procedimentos reabilitadores?
Na Seção 3.1, abordaremos os principais pontos da fisiologia
do envelhecimento humano e suas teorias de envelhecimento:
teoria dos radicais livres, teoria da glicosilação e teoria do
envelhecimento programado; estudaremos a legislação do
idoso, a cartilha do idoso e a delegacia e o Estatuto do Idoso;
e, por fim, estudaremos sobre os aspectos psicológicos do
atendimento ao idoso com abordagem para o tratamento
odontológico. Em cada seção, você ajudará os alunos Maria
e Francisco a resolverem os desafios vivenciados diante da
situação apresentada pelo paciente.
Seção 3.1
Fisiologia do envelhecimento: teorias do
envelhecimento humano; legislação da pessoa
idosa: cartilha do idoso; delegacias do idoso;
Estatuto do Idoso; aspectos psicológicos no
atendimento ao paciente geriátrico
Diálogo aberto
Estimado aluno, estudaremos, nesta seção, os aspectos do
processo fisiológico do envelhecimento humano e suas teorias. O
Brasil vem tendo um aumento significativo da população idosa ao
longo da última década e, ao mesmo tempo, a expectativa média
de vida do brasileiro também subiu para 75,5 anos (IBGE, 2015).
Com isso, essas mudanças deverão provocar um grande impacto
no sistema de saúde, pois há a necessidade de uma visão global
do envelhecimento humano e uma abordagem diferenciada com
interação de diversos profissionais da área da saúde, visando à
promoção de medidas preventivas específicas e à reabilitação
desses indivíduos, ações que são de extrema importância.
Esse aprendizado dará suporte para entender e ajudar Maria
e Francisco, alunos do quinto ano, a atenderem a Sra. Joana, 80
anos, que compareceu à clínica de odontologia para atendimento.
A paciente demonstrou certa dificuldade em responder a algumas
perguntas da anamnese e relatou ter o diagnóstico de Mal de
Parkinson. Ao exame clínico, verificou-se mobilidade dentária,
raízes residuais e prótese parcial removível mal adaptada; e durante
o atendimento, os alunos notaram uma certa agressividade da filha,
que era a acompanhante da idosa.
Antes de iniciar o planejamento do tratamento reabilitador da
cavidade bucal, o que é preciso fazer? Quais medidas devem ser
tomadas antes de dar início ao tratamento propriamente dito? Quais
são os pontos a serem observados durante o exame da paciente?
Para que você consiga ajudar os alunos a responderem aos
questionamentos elencados, serão apresentados, de forma
contextualizada, no item “Não pode faltar”, os conteúdos sobre os
aspectos do envelhecimento humano da cavidade bucal.

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 111


Não pode faltar
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015), em
uma projeção dos próximos 30 anos, a população idosa no
mundo (acima de 60 anos) passará dos 841 milhões para 2 bilhões,
trazendo grandes mudanças para a saúde pública mundial e na
forma de tratar as doenças crônicas. Envelhecer é um processo
individual que ocorre desde o momento do nascimento de forma
irreversível, levando a um desgaste não patológico do organismo,
o qual, com o passar dos anos, debilita o indivíduo, levando-o à
morte. Evidentemente, o meio ambiente interfere nesse processo
de envelhecer. Baseando-se no Estatuto do Idoso, indivíduos
com 60 anos ou mais, independentemente de sexo e raça, são
considerados idosos no Brasil.
A Organização das Nações Unidas (ONU, 2014) leva em
consideração o desenvolvimento econômico de cada país para
definir a faixa etária da população idosa. Nos países desenvolvidos,
são considerados idosas as pessoas com idade a partir de 65 anos,
e nos países em desenvolvimento, as pessoas com 60 anos.
O Brasil vem modificando o seu perfil populacional nas últimas
décadas, e isso vem ocorrendo devido a uma diminuição das
taxas de nascimento de crianças e da mortalidade, aumentando a
expectativa de vida do brasileiro. A projeção é que até 2025, no
Brasil, teremos uma população idosa de, aproximadamente, 31,8
milhões de pessoas, dado que nos faz refletir sobre o impacto e as
mudanças que isso trará para o país no âmbito de saúde pública,
socioeconômico, trabalhista, de qualidade de vida e na forma de
conviver e cuidar dessa população (OMS, 2015).
Fisiologia do envelhecimento: teorias do envelhecimento
humano
Todo ser vivo multicelular possui um tempo determinado de
vida, e mudanças fisiológicas acontecem ao longo desse tempo. A
vida do ser humano pode ser dividida em três fases: crescimento/
desenvolvimento, reprodutiva e envelhecimento. Inicialmente,
acontece o desenvolvimento dos órgãos especializados e seu
crescer até tornar-se capaz de se reproduzir, o que caracteriza
a segunda fase. A terceira fase acontece com a diminuição da
função, levando a uma degradação crescente do organismo. As

112 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


pessoas envelhecem de formas variadas e distintas, portanto a idade
cronológica pode ser diferente da idade psicológica, da idade social
e, inclusive, da idade biológica.
A idade biológica está relacionada ao envelhecimento orgânico,
com o tempo, os órgãos sofrem alterações que limitam o seu
funcionamento, tornando-os menos eficazes.
A idade social diz respeito aos hábitos da pessoa em relação ao
convívio com os outros, muitas vezes, influenciada pela cultura e
história do país onde vive.
A idade psicológica está relacionada às competências
comportamentais, incluindo a memória, a inteligência e a motivação.
O ser humano sofre o desgaste natural e progressivo dos aspectos
físicos e cognitivos do organismo, assim como todas as espécies
sofrem alterações notáveis e envelhecem do nascer até o momento
da morte. Existem inúmeras teorias sobre o envelhecimento, como
a teoria genética, a imunológica, a do acúmulo de danos, a dos
radicais livres, entre outras. Entretanto, muitas pesquisas ainda são
realizadas na busca de conhecimentos sobre esse processo.
Existem classificações que advêm da teoria do envelhecimento
biológico, as quais se dividem em dois grupos: teoria programada e
teoria estocástica.
A teoria programada acredita no “relógio biológico” que controla
todo o nosso crescer, desenvolver, envelhecer e morrer.
A ideia básica das teorias estocásticas é a verificação de situações
desfavoráveis que levam a modificações progressivas celulares e até
moleculares. Iremos, a seguir, estudar algumas dessas teorias.

Assimile
Estimado aluno, amplie seus conhecimentos com o artigo a seguir.

LUSTOSA, M. A. Atendimento ao paciente idoso. Rev. SBPH, Rio de


Janeiro, v. 10, n. 2, 2007. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/
pdf/rsbph/v10n2/v10n2a03.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2018.

Teoria do envelhecimento programado


Segundo a teoria do envelhecimento programado, a qual está
ligada à idade biológica, o envelhecimento ocorre unicamente

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 113


por fatores genéticos, ou seja, as células do organismo estão
programadas geneticamente para degenerar após um determinado
número de divisões celulares. Uma vez atingido esse número,
desencadeia-se o processo de morte. Ao ocorrer a morte celular, há
um colapso dos órgãos, gerando uma desestabilização das funções
básicas biológicas para manter a vida do indivíduo.

Teoria da glicosilação
A teoria da glicosilação advém da classificação estocástica do
envelhecimento, a qual afirma que alterações que acontecem
nas proteínas através da glicólise provocam a síntese de ligações
cruzadas no colágeno, desencadeando, no indivíduo idoso, um
colapso na função e na estrutura tecidual dele. Como já sabemos,
o nível de glicemia no idoso tende a ser maior do que no indivíduo
adulto-jovem, devido a uma menor resistência dos tecidos à insulina.
Com isso, os tecidos não conseguem captar adequadamente a
glicólise, juntando-se, no tecido conjuntivo, a receptores proteicos
de macromoléculas. O transporte intracelular sofre interferência
devido à deficiência de glicosilação dos tecidos, levando a uma
menor elasticidade, desencadeando um colapso tecidual.
Até que ponto as proteínas que apresentam períodos longos de
vida podem apresentar uma elevação progressiva da glicosilação
que esteja relacionada com o envelhecimento natural (idade), como
é observado em estudos com colágeno humano? Essa é a polêmica
desta teoria.

Teoria dos radicais livres


Esta teoria afirma que as células envelhecem em resposta aos
danos acumulados em seu interior, e esses danos são causados
por reações químicas, as quais têm como resultado a formação de
radicais livres, moléculas capazes de danificar as células. Como os
radicais livres são produzidos por um mecanismo oxidativo, quanto
mais um ser humano é exposto a radiações, como raios ultravioletas,
tabaco, entre outros, maior será a formação desses radicais.
Os radicais livres são assim chamados pelo fato de possuírem
um número ímpar de elétrons, isto é, um elétron desemparelhado.
Possuem muita energia livre, tornando-se instáveis, e na busca de

114 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


tornarem-se estáveis, reagem com outras moléculas na tentativa
de emparelhar o seu elétron livre, e isso lhes confere grande
capacidade de ligação aos tecidos. Os radicais livres oxidam os
elementos celulares, levando a modificações e disfunções que
vão se acumulando até provocar a morte da própria célula. Com o
passar do tempo/envelhecimento, isso tende a acontecer em mais
e mais células, por efeito acumulativo. Uma das consequências dos
radicais livres é a elevação das taxas de peroxidação lipídica, que
danifica as enzimas mitocondriais e a membrana plasmática. Essa
teoria é confirmada por diversos trabalhos científicos que acreditam
no envolvimento dos radicais livres em doenças típicas da idade,
como: doenças neurodegenerativas, hipertensão, arteriosclerose,
catarata, doenças coronarianas, entre outras.
Hoje, sabe-se que as vitaminas C e E funcionam como
antioxidantes, isto é, podem diminuir a formação de radicais livres,
portanto uma alimentação rica nessas vitaminas ou a ingestão delas
pode reduzir a oxidação celular. Os radicais livres afetam todos os
tipos de células, por exemplo, as células nervosas. Ao longo dos
anos, pode provocar uma diminuição da capacidade funcional do
indivíduo, podendo até levar à morte.

Pesquise mais
Para entender com mais profundidade a respeito do envelhecimento
fisiológico humano, leia o artigo a seguir:

SILVA, E. M. M. et al. Mudanças fisiológicas e psicológicas na velhice


relevantes no tratamento odontológico. Revista Ciência em Extensão, v.
2, n. 1, p. 62-74, 2005. Disponível em: <http://www.unesp.br/proex/revista/
artigos_pdf/revista_ce_v2n1_revisao24.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2018.

O processo de envelhecimento é complexo e não pode


ser resumido em uma teoria, pois são muitas as variáveis e os
aspectos que devem ser levados em consideração para o estudo
desse processo. Entretanto, é normal as pessoas focarem o olhar
do envelhecer apenas nos aspectos biológicos, por serem mais
observáveis e fáceis de serem medidos e quantificados.
Envelhecer não é sinônimo de doença, mas um processo
de transformação desde a estrutura orgânica, a alteração do

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 115


metabolismo onde este se torna mais lento, a fragilização do sistema
imune do organismo, as modificações nos hábitos alimentares e o
avanço nas alterações das condições intelectual, social e emocional.
Com o aumento da demanda da população idosa, os profissionais
da saúde devem buscar se aperfeiçoar no atendimento a essa
população, pois há necessidade de uma escuta mais cuidadosa,
uma abordagem durante o tratamento que respeite o tempo e as
limitações do idoso, buscando dar autonomia, além de estimular a
independência dessas pessoas. Essa mudança comportamental dos
profissionais se faz necessária para gerar um melhor atendimento,
visando melhorar a qualidade de vida da população idosa.
A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1990) assegura os
direitos dos idosos, mas devido à desinformação desses direitos
ou à negligência por parte da população, eles não são aplicados. A
Constituição Federal, em seu artigo 230, afirma que:

[...] a família, a sociedade e o Estado têm o dever de


amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação
na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e
garantindo-lhes o direito à vida. (BRASIL, 1990, [s.p.])

Uma população deve ter conhecimento dos seus direitos para


poder exigi-los quando necessário. Para tanto, viu-se a necessidade
de criar o Estatuto do Idoso através da Lei nº 10.741/2003, o qual
é a legislação que contém o maior número de direitos aos idosos.
Ele dispõe sobre papel o da família, da comunidade, da sociedade
e do Poder Público de assegurar ao idoso, com absoluta prioridade,
a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade,
à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária
(BRASIL, 2003).
Além dos direitos básicos de uma pessoa, o idoso também usufrui
dos direitos à proteção integral, que são: o direito à vida, à liberdade,
ao respeito, à dignidade, a alimentos, à saúde, à educação, à cultura,
ao esporte, ao lazer, à profissionalização, ao trabalho, à previdência
social, à assistência social, à habitação, ao transporte, ao acesso à
justiça, entre outros (BRASIL, 2003).
O paciente idoso deve ser tratado com respeito, e cabe ao
profissional da saúde explicar com calma e detalhadamente sobre

116 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


a sua condição de saúde e lhe dar o direito de participação na
evolução e na escolha do tratamento a ser executado.
Apesar das leis que protegem os idosos, estudos relatam que
estes, normalmente, sofrem violência dentro da própria casa, e os
atos violentos são praticados por seus familiares, principalmente por
filhos, noras, genros e cônjuges. Diversos são os motivos que levam
os idosos a sofrerem atos violentos ou negligencias, como diferenças
de pensamento de uma geração para a outra, problemas financeiros
ou falta de espaço físico, situação em que o idoso, muitas vezes, é
tratado como um peso, um fardo. A violência sofrida pelo idoso pode
ser de diversas formas, por exemplo, violência psicológica/emocional,
financeira/econômica, física, negligencial e até abandono.
Visando ampliar os cuidados voltados aos idosos no Brasil, está
tramitando na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 8.355/2017,
o qual tornará obrigatória a construção de delegacias especiais
para o atendimento ao idoso nos municípios com mais de cem mil
habitantes, pois acredita-se que o atendimento a essa população
deve ser especializado, pois precisa de um tempo e de uma escuta
diferenciados. Algumas cidades brasileiras já possuem essas delegacias,
as quais dão prioridade ao idoso que sofreu algum tipo de violência
(física ou abuso econômico), prestando um trabalho de apoio
psicológico e estrutura física diferenciada para adequado atendimento
a esse grupo que, muitas vezes, possui dificuldade de mobilidade.
A Cartilha do Idoso (BRASIL, 2006) é outro recurso que tem por
objetivo aumentar o entendimento de todos nós acerca dos direitos
do idoso que constam na Constituição Federal e no Estatuto do
Idoso e que devem ser cumpridos por toda a sociedade e pela
família. A cartilha norteia os idosos em relação às informações
acerca dos seus direitos sobre serviços, procedimentos de saúde,
atendimento prioritário e benefícios especiais, além de tudo sobre
as leis que os protegem.
Para que cada vez mais aconteça a inclusão dos idosos na
sociedade, é necessário estimulá-los a saírem das suas casas e
valorizar as suas experiências, buscando uma melhor qualidade
de vida. Devemos respeitar sua autonomia, a sua prioridade no
atendimento, o seu direito de ir e vir sem restrições, as quais podem
ocorrer devido a dificuldades arquitetônicas ou de transporte, o que
dificulta ou impossibilita a sua locomoção.

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 117


Reflita
Na sua opinião, os direitos dos idosos são respeitados? O que cada um
de nós poderia fazer para melhorar a condição do idoso no nosso país?

Para mais informações, acesse o material a seguir:

DEFENSORIA PÚBLICA DO MATO GROSSO DO SUL. Direitos da


pessoa idosa. 2017. Disponível em: <www.defensoria.ms.def.br/
images/conteudo/outros/2016_Direitos_Pessoa_Idosa.pdf>. Acesso
em: 19 fev. 2018.

Pesquise mais
Estimado aluno, é muito importante que você conheça com mais
detalhes e reflita sobre a importância de saber a respeito dos direitos dos
idosos, por isso acesse este link e leia sobre os direitos da pessoa idosa.

BRASIL. Cartilha do Idoso – Guia para viver mais e melhor. 2006.


Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_
viver_mais_melhor_melhor_2006.pdf>. Aceso em: 20 fev. 2018.

Aspectos psicológicos no atendimento do paciente geriátrico


Com o passar dos anos, o envelhecimento acarreta uma redução
das funções fisiológicas e biológicas, levando a disfunções no
organismo e, com isso, aparecem as doenças. Paralelo a isso, podem
ocorrer mudanças psicoemocionais que levam a uma baixa-estima
e à tendência ao isolamento, modificando o comportamento social.
Portanto, durante o atendimento clínico do idoso, devemos
verificar se ele demonstra medo do cuidador ou de seu familiar; ou
se ocorre alteração de atitude na presença do cuidador; ou ainda,
se a cada resposta a ser dada ele olha para o cuidador e se mostra
exagerado respeito ao cuidador/familiar.
Durante a conversa com o cuidador ou o familiar, devemos
analisar alguns aspectos, como: se ele demonstra desgaste
emocional e se sente sobrecarregado em cuidar do idoso; não deixa
o idoso responder às perguntas, mesmo ele sendo capaz de fazer;
não deixa o idoso sozinho com o profissional da saúde e está a todo
momento na defensiva; se e culpa o idoso por todos os problemas,
inclusive pelas suas condições de saúde.

118 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


Importante ressaltar que, ao conversar com o idoso na anamnese
e durante todo o tratamento, devemos estabelecer um vínculo de
confiança, respeitando suas limitações e não o culpar pela situação
atual, mas, ao mesmo tempo, não transmitir falsas expectativas e fazer
toda a orientação em relação ao tratamento e aos seus cuidados.
Ao observamos todos esses detalhes durante o nosso
atendimento odontológico, como profissionais da área da
saúde, devemos conhecer os trâmites legais a serem seguidos
quando suspeitamos de algum tipo de violência ou negligência,
como: registro de ocorrência, oitiva, perícias ou instauração de
procedimento, e é de fundamental importância conhecer os locais
específicos para onde o idoso poderá ser encaminhado. Existem
locais de assistência social, como os prestados pelos Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS), os quais recebem
encaminhamentos de casos de vulnerabilidade do idoso que
requerem ações no âmbito da assistência social (acompanhamento,
acolhimento institucional, benefícios previdenciários). Existem os
serviços de saúde do município e do Ministério Público Estadual,
que acolhem casos de violência física, e a Defensoria Pública, que
trabalha no sentido de orientar e entrar com ações de pedidos de
medicamentos, cirurgias e até internações, bem como ações na
área civil, familiar e previdenciária.
Frisamos a importância que, durante o atendimento odontológico
ao idoso, devemos estar atentos e observarmos detalhadamente o
paciente, e uma vez suspeitando que ele vem sofrendo algum tipo
de violência ou negligência, não podemos nos omitir, devemos
comunicar aos órgãos competentes: polícia, Ministério Público,
Conselho Nacional, Estadual ou Municipal do Idoso.
Você, como futuro profissional da área da saúde, sabe que a
boca possui um papel importante na qualidade de vida de qualquer
pessoa, e na do idoso não é diferente. Um sorriso agradável atrai
amigos, enquanto uma boca com halitose afasta; um indivíduo
com ausência de saúde bucal pode apresentar dificuldades em se
alimentar, em deglutir, em falar, e isso refletirá negativamente na sua
vida familiar e social.
Durante o atendimento ao idoso, devemos trabalhar buscando
estabelecer um vínculo de amizade e confiança, escutando
pacientemente, no tempo do idoso, sem críticas e explicando a todo

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 119


momento, de forma simples, o passo a passo, evitando, desta forma,
termos técnicos para que realmente ele consiga compreender o
que está sendo dito.
No momento do atendimento clínico, devemos, portanto, avaliar
o idoso de forma global, traçando um perfil emocional, obter um
relato completo do seu estado de saúde física e saber sobre os
medicamentos utilizados, e para todos esses detalhes, muitas vezes,
o cuidador ou o familiar deve participar desse momento.
Envelhecer é um processo natural, pelo qual todos passaremos,
portanto devemos buscar e oferecer um atendimento diferenciado
e integral para o idoso, para que ele possa se sentir bem, para se
alimentar, para falar e para viver em sociedade com dignidade.
Carinho e respeito devem fazer parte do nosso dia a dia!

Exemplificando
As delegacias especializadas no atendimento ao idoso são de
fundamental importância, devido ao aumento significativo dessa
população no Brasil e por ser, muitas vezes, alvo fácil para os criminosos
(devido a limitações locomotoras ou dificuldade com ferramentas
de comunicação), sofrendo fraudes financeiras, violência física e até
sexual. Os idosos necessitam de uma atenção especializada, que
possa fazer o acolhimento e a escuta apropriada, a fim de orientar e
encaminhar para os órgãos competentes para solução dos ilícitos.

Sem medo de errar


Agora que estudamos a respeito do envelhecimento humano e
sobre a legislação do idoso no Brasil, vamos ajudar Maria e Francisco
no atendimento a Joana, respondendo às seguintes perguntas: antes
de iniciar o planejamento do tratamento reabilitador da cavidade
bucal, o que é preciso fazer? Durante a anamnese, a abordagem
dos alunos deve ser com uma fala clara, calma e atenciosa ao
idoso, explicando a cada detalhe o que será realizado e explicando
as necessidades do tratamento. Caso a paciente não consiga
responder adequadamente sobre algo em relação à saúde, a sua
acompanhante (filha) deve ser questionada.
Quais medidas devem ser tomadas antes de dar início ao
tratamento propriamente dito? Quais são os pontos a serem

120 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


observados durante o exame da paciente? Durante o atendimento,
observar o idoso como um todo, na presença e na ausência da
sua cuidadora, verificando os aspectos físicos e emocionais. Neste
momento, é importante explicar ao idoso sobre os seus direitos,
falar sobre o Estatuto do Idoso e até entregar na sua mão a Cartilha
do Idoso. Em relação à doença diagnosticada de Mal de Parkinson,
é importante explicar para a paciente que é normal sentir uma certa
dificuldade durante a higienização dos dentes devido à dificuldade
nos movimentos durante a escovação; importante dizer também
que uma alternativa para auxiliar nesta dificuldade será o uso de
escovas elétricas e porta passa fio, com isso o idoso se sentirá mais
autossuficiente em realizar sua higiene pessoal. Quando a doença
estiver em um estado mais avançado, é importante conversar
com a cuidadora sobre como ela deve realizar essa higienização,
ressaltando a utilização de escovas de cerdas macias para a
escovação dos dentes, e no caso da higienização das próteses
parciais removíveis ou totais, removê-las diariamente para escovar
com escovas adequadas, e ao dormir, remover a prótese, para evitar
o aparecimento de candidíase.

Faça valer a pena


1. Pela definição da Organização das Nações Unidas, será considerado
idoso aquele com mais de ____ anos, para os países em ___________;
onde a expectativa é menor, adotam-se os ____ anos como idade de
transição das pessoas para o segmento idoso da população.

Leia com atenção a afirmativa acima e assinale a alternativa que completa


corretamente as lacunas.

a) 60; subdesenvolvimento; 65.


b) 65; subdesenvolvimento; 60.
c) 65; desenvolvimento; 60.
d) 55; desenvolvimento; 60.
e) 60; desenvolvimento; 65.

2. A vida do ser humano pode ser dividida em três fases: crescimento/


desenvolvimento, reprodutiva e envelhecimento. Na primeira fase, ocorre o
desenvolvimento e crescimento dos órgãos especializados, e o organismo
vai crescendo, se desenvolvendo e tornando-se apto a se reproduzir,

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 121


o que caracteriza a segunda fase. A terceira fase, do envelhecimento, é
caracterizada pelo declínio da capacidade funcional do organismo, uma
degradação progressiva. As pessoas envelhecem de formas diversas e, a
esse respeito, podemos falar de idades psicológica, social e biológica, que
podem ser diferentes da idade cronológica.

Assinale a alternativa correta sobre o processo de envelhecimento.

a) As idades biológica e social acompanham sempre a idade cronológica.


b) As idades biológica e social estão vinculadas ao envelhecimento
orgânico.
c) A idade social diz respeito aos hábitos do indivíduo e é influenciada
pela cultura e a história do local onde o idoso vive.
d) O envelhecimento é uma diminuição da capacidade funcional do
organismo, levando a uma degradação progressiva de forma padrão em
todos os indivíduos.
e) A memória é a única competência relacionada à idade psicológica.

3. O idoso usufrui dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana.


Além disso, tem direito à proteção integral, sobre a qual trata o Estatuto do
Idoso. São direitos básicos da pessoa idosa: o direito à vida, à liberdade, ao
respeito, à dignidade, a alimentos, à saúde, à educação, à cultura, ao esporte,
ao lazer, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à assistência
social, à habitação, ao transporte, ao acesso à justiça, entre outros.

Como devem proceder os profissionais da área da saúde ao suspeitarem de


uma violência praticada contra o seu paciente idoso? Assinale a alternativa
correta.

a) Durante o atendimento odontológico, caso o cirurgião dentista suspeite


de atos violentos ocorridos ao paciente idoso, deve evitar de comentar
sobre o fato, pois não se deve invadir a privacidade ou se envolver nos
problemas dos pacientes.
b) O cirurgião dentista deve encaminhar o paciente idoso para tratamento
psicológico.
c) Notificar o órgão competente da sua cidade: autoridade policial
(delegacia), Ministério Público ou Conselho Municipal ou Estadual do Idoso.
d) O profissional da saúde deve somente conversar com a família sobre a
agressão, explicar sobre o Estatuto do Idoso e tentar resolver o problema.
e) O profissional da saúde deve conversar com o idoso para que ele
colabore mais com a família.

122 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


Seção 3.2
Odontologia geriátrica: abordagem dos
problemas clínicos de idosos e avaliação sistêmica
do paciente idoso

Diálogo aberto
Caro aluno, nesta seção, aprenderemos os principais problemas
clínicos de saúde do idoso e os critérios que devemos ter para avaliar
as condições sistêmicas e análise dos exames complementares da
população idosa, realizando uma odontologia geriátrica voltada
para a prática clínica integrada.
Buscar uma avaliação integrada, entendendo que a odontologia
que analisava apenas a boca não pode mais existir na nossa prática
diária, pois sabemos que o organismo funciona integralmente e
devemos buscar a saúde em todos os aspectos do corpo, da boca
e da mente. Com essa avaliação, buscamos melhorar a qualidade
de vida dos nossos pacientes.
Com esse aprendizado você, aluno, poderá ajudar Maria e
Francisco no atendimento à Sra. Joana, de 80 anos. Você se lembra
de que a paciente demonstrou certa dificuldade em responder a
algumas perguntas da anamnese e relatou ter o diagnóstico de Mal
de Parkinson? Ao exame clínico, verificou-se mobilidade dentária,
raízes residuais e prótese parcial removível mal adaptada.
Baseado no caso descrito sobre a paciente Joana, quais alterações
e/ou doenças sistêmicas você anotaria na anamnese? Você
solicitaria algum pedido de exame complementar para a paciente?
Caso sim, qual e por quê? Você solicitaria algum encaminhamento?
Sim? Não? Por quê? Qual?
Para que você consiga ajudar os alunos a responderem aos
questionamentos elencados, serão apresentados, de forma
contextualizada, no item “Não pode faltar”, os conteúdos sobre
avaliação sistêmica dos pacientes idosos.

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 123


Não pode faltar
Abordagem dos problemas clínicos de idosos
Os pacientes idosos necessitam de um atendimento integrado
e multidisciplinar, pois o processo de envelhecimento traz
mudanças biológicas, fisiológicas e psicológicas, as quais, ao
longo do tempo, resultam em patologias normalmente crônicas,
que, consequentemente, necessitam do uso de medicações para
o tratamento. As doenças crônicas prejudicam ações funcionais
rotineiras, afetando a qualidade de vida do idoso e sua vida social,
levando-o, muitas vezes, ao isolamento e à depressão.
Para se obter um diagnóstico correto, planejamento e tratamento
ideais, é fundamental compreender as diversas doenças médicas
mais prevalentes na população idosa.
Para um atendimento diferenciado, devemos pensar, inclusive,
na estrutura física adequada do consultório, pois os idosos, muitas
vezes, fazem uso de andadores e cadeiras de roda, portanto se
faz necessária uma adequação arquitetônica com acessibilidade,
rampas, piso antiderrapante, banheiros adaptados, barras de apoio,
corrimão, enfim, um local seguro e confortável, inclusive com
temperatura agradável.
Tendo o consultório adaptado para esses pacientes de
grupos especiais, é importante que os exames sejam realizados
minuciosamente. O exame clínico pode ser dividido em três partes:
anamnese, exame físico e complementar.
Anamnese: no primeiro atendimento, devemos colher
informações durante a anamnese sobre todo o histórico médico, as
internações sofridas, as medicações em uso, buscar saber da rotina
do idoso, com quem ele vive, quem cuida dele, quem o sustenta
financeiramente ou se é ele quem sustenta sua família, quando foi o
último atendimento odontológico e como foi o tratamento.
Durante o atendimento, busque sempre olhar o paciente de
frente, mantendo o contato visual, além de diminuir a presença de
barulho no consultório, falar claro, calmamente, sem gritar e sorrir.
Caso necessite escrever algo, faça letra legível e grande para facilitar
a leitura para o idoso.
Devemos ter em mente que a consulta de um idoso requer um
maior tempo de avaliação, pois esse paciente gosta de conversar

124 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


e necessita de maior atenção; também, evite que ele aguarde
muito tempo na recepção e sempre ofereça ajuda ou suporte,
dando-lhe a mão.
A anamnese é imprescindível, e não consiste em apenas
perguntas e respostas, mas no ato do profissional de observar o
paciente desde o momento que ele adentra o consultório até
na hora de ir embora, prestando atenção na expressão facial, na
postura, na forma de andar, se está em tratamento com algum
médico, nas doenças passadas, se faz uso de algum medicamento
atualmente, no histórico e nas internações e/ou cirurgias. Também,
é importante colhermos informações sobre a história social do
paciente idoso, pois, assim, podemos traçar o perfil do seu estado
mental e emocional, perguntando sobre seu estado conjugal, se
fuma, bebe e se tem dificuldades para dormir. Finalizados todos os
questionamentos da ficha clínica (dados do paciente), perguntamos:
qual é o motivo da consulta? Devemos deixar o paciente falar à
vontade. Em seguida, pedimos para que ele sente na cadeira
odontológica e, caso precise de ajuda, o auxiliamos e explicamos
que iremos a cadeira. Neste momento, observamos as atitudes do
paciente, se ele se mantém tranquilo ou se ele se mostra tenso,
segurando com força os braços da cadeira.
É interessante dizermos ao paciente: irei apenas avaliar as
condições bucais e será bem tranquilo, realmente é normal ficar
um pouco tenso. Afinal, só de sentar na cadeira nos lembramos do
barulho do motorzinho e deste ninguém gosta mesmo! Inclusive
nós, dentistas.
Dessa forma, tentamos descontrair e buscamos construir um
laço de amizade e confiança.
Durante todo o tratamento, os atendimentos devem ser
explicados de forma clara, objetiva e sem criar expectativas irreais.
Os retornos periódicos devem ser planejados de acordo com a
necessidade individual de cada paciente, levando em consideração
os aspectos de saúde, da vida do idoso e os fatores de risco.

Exemplificando
Baseado em tudo o que estudamos até aqui sobre a anamnese, vale
lembrar a importância de retomarmos a anamnese todas as vezes que

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 125


os nossos pacientes retornarem para as consultas de manutenções
periódicas, pois ao longo desse tempo sem o atendimento o paciente
pode ter passado por alguma cirurgia, ou problemas de saúde, com
a necessidade de ingestão de outras medicações. Portanto, para
não passarmos por nenhuma situação desagradável, como reações
alérgicas, interações medicamentosas ou até mesmo bacteremia,
é fundamental, antes do atendimento, atualizarmos a anamnese no
prontuário, datar e pedir para o paciente assinar.

Prevenir sempre é a melhor conduta, portanto nada de pressa!

Exame físico: durante o atendimento inicial, devemos realizar a


avaliação da ectoscopia, que nada mais é que uma avaliação global
do paciente, a qual deve contemplar os seguintes passos:
1) Avaliação da orientação e do estado de consciência.
2) Avaliação da postura do paciente: passiva, ativa ou de dor.
3) Observar a higiene em que ele se apresenta.
4) Avaliar a fala, a coerência na conversa durante o atendimento.
5) Observar o biotipo da pessoa, a pele e as mucosas, se
apresenta uma magreza exacerbada ou excesso de peso, pele
normocorada ou não, pele hidratada ou ressecada (essa avaliação é
relevante porque são muitos os casos de desidratação em idosos).
6) Verificar o fluxo salivar, perguntar ao paciente se ele sente
a boca seca, observar se o fluxo está normal ou diminuído, pois
muitas medicações sistêmicas influenciam na produção da saliva,
levando à xerostomia.
7) Observar a face do paciente, pois no idoso é comum a
depressão, desta forma, pode apresentar um olhar introspectivo e
um rosto triste. No indivíduo com Mal de Parkinson, é frequente
observarmos a ausência de expressividade e pálpebras imóveis;
outra doença bastante comum na população idosa é a paralisia
facial, na qual verificamos uma assimetria, que leva a uma alteração
da comissura labial e maior fenda palpebral.
8) Pedir para o paciente abrir e fechar a boca, perguntando se
ele sente algum desconforto nesse ato, e prestar atenção se faz
algum som, como algum estalido; na palpação da articulação
temporomandibular (ATM), perceber se há algum tipo de crepitação;

126 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


a oclusão também deve ser analisada, pois, segundo a literatura, é
alta a prevalência na população idosa de limitações de abertura bucal.
9) Avaliar os sinais vitais, como temperatura, pulso (normalmente,
de 60 a 80 batimentos por minuto) e pressão arterial (normalmente,
120/80 mm/Hg).
Figura 3.1 | Etapas do exame físico

Fonte: adaptado de Caldas Jr. e Machiavelli (2015, p. 76).

Durante a avaliação clínica do idoso, é necessário fazer uma


revisão dos sistemas detalhadamente, pois uma vez observada
alguma alteração ou suspeita, o paciente deve ser encaminhado
para o especialista, e um parecer sobre a situação do idoso deve ser
solicitado antes de iniciar o tratamento odontológico.
Exame clínico bucal: primeiramente, devemos solicitar ao nosso
paciente que remova as próteses removíveis, para iniciarmos o
exame clínico bucal, no qual avaliaremos toda a condição dentária,
gengival, rebordo alveolar, mucosa jugal, palato duro e mole, porção
visível da faringe, fundo de sulco, lábio, língua e assoalho de língua.
Realizaremos a palpação dos músculos da face e perguntaremos
sobre alguma sintomatologia de dor.
Avaliação sistêmica do paciente idoso: devido ao aumento da
população de idosos com complicações múltiplas e à necessidade
de realização de uma odontologia com ênfase no tratamento do
paciente como um todo, o conhecimento das doenças crônicas
presentes torna-se de fundamental importância para o bem-estar

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 127


do paciente, a confiança no profissional e o sucesso do tratamento.
Tais doenças não devem ser encaradas como uma decorrência
natural da idade, mas como processos patológicos, muitas vezes,
passíveis de controle.
As doenças crônicas que mais acometem a população idosa
são as cardiorrespiratórias (acidente vascular cerebral, pressão alta,
infarto e insuficiência cardíaca), problemas degenerativos (Mal de
Parkinson, Alzheimer e osteoporose/artrose), problemas renais,
doenças pulmonares (gripe, bronquite, pneumonia e enfisema),
câncer, distúrbios psicológicos e diabetes mellitus. Cerca de 85%
da população idosa possuem uma doença crônica e 10% possuem,
ao menos, cinco 5 dessas enfermidades citadas anteriormente
(SANTOS et al., 2012).

Reflita
A odontogeriatria é um campo vasto a ser explorado dentro da
odontologia, que deve ser aproveitado e explorado nos cursos de
graduação e pós-graduação, a fim de, cada vez mais, capacitar
o cirurgião-dentista no atendimento à população com doenças
sistêmicas com repercussões na cavidade bucal. A odontologia
geriátrica não se limita ao consultório, ela se estende ao atendimento
domiciliar e hospitalar e a cada dia mais se torna realidade dentro dos
hospitais, melhorando a qualidade de vida do idoso hospitalizado.
Você acredita que é importante a presença do cirurgião-dentista
no ambiente hospitalar acompanhando os idosos? Vamos refletir
sobre a odontogeriatria atual? Para isso, é importante debater sobre
o artigo a seguir:

ROSA, L. B. et al. Odontogeriatria – a saúde bucal na terceira idade.


RFO, v. 13, n. 2, p. 82-86, 2008. Disponível em: <download.upf.br/
editora/revistas/rfo/13-02/15.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2018.

Análise dos exames complementares do paciente idoso


Frequentemente, após a anamnese e o exame clínico, ainda
podem restar lacunas para chegar a um diagnóstico correto, então,
neste momento, podemos lançar mão dos exames complementares,
como exames radiográficos (periapical, oclusal e panorâmica),
tomografias, exames laboratoriais, citologia esfoliativa e biópsias,
quando necessário.

128 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


As radiografias odontológicas são um recurso auxiliar útil
no diagnóstico e no plano de tratamento de problemas bucais,
principalmente lesões cariosas, doença periodontal e lesões bucais.
Na odontologia, podemos realizar exames intrabucais (raio-Xx
interproximal, oclusal e periapical) e extrabucais (panorâmica, raio-X
da ATM e telerradiografia frontal e lateral).
Radiografias interproximais: são empregadas na região dos
dentes pré-molar e molar, para investigar cáries nas coroas e,
principalmente, entre os dentes. Esse tipo de raio-X não é muito
empregado no idoso devido às múltiplas ausências de dentes
posteriores comum nesta população.
Radiografias oclusais: são utilizadas para auxiliar na localização
de dentes inclusos, supranumerários e na análise de lesões na
mandíbula e maxila. Essa radiografia é bastante utilizada em idosos
desdentados totais, a fim de investigar restos radiculares e/ou lesões.
Radiografias periapicais: são utilizadas para regiões determinadas
da boca. O conjunto completo do levantamento periapical consiste
em 14 radiografias. Esse tipo de exame é empregado para tratamento
periodontal, extrações e visualização de detalhes do dente e das
estruturas correlatas.
Radiografia panorâmica: mostra um aspecto geral de todo o arco
dentário, dentes, maxila, mandíbula e ATM. No paciente idoso, é um
recurso interessante para solicitarmos e analisarmos a presença de
raízes residuais sepultadas e de lesões em áreas desdentadas.
Exame radiográfico da ATM: é um auxiliar no diagnóstico. Deve-se
buscar imagens criteriosas, pois essa área é de difícil análise devido
à sobreposição de estruturas, por isso, normalmente, são realizadas
três tomadas radiográficas com o côndilo em posições diferentes:
dentro da cavidade articular posição de repouso, relação cêntrica,
oclusão e protrusão. Com o advento da tomografia e ressonância,
o diagnóstico da ATM foi facilitado, apesar de esses exames terem
um custo elevado.
Telerradiografia frontal e lateral: radiografias do crânio e face
realizadas frontal ou lateralmente, utilizadas para realização dos
traçados cefalométricos em tratamentos ortodônticos e cirurgias
bucomaxilofaciais.

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 129


Portanto, a solicitação de exames complementares, como a
radiografia periapical e a radiografia panorâmica, representa um
excelente recurso auxiliar de diagnóstico, para analisar de forma geral
a condição bucal do indivíduo, verificando, por exemplo, a presença
de cistos e tumores; também, nos possibilita estudar a condição
óssea, periodontal e dentária, a fim de facilitar a confecção do
planejamento e do plano de tratamento. Quando necessitarmos de
maior detalhamento de estruturas, devemos solicitar tomografias,
as quais, por exemplo, são amplamente utilizadas na implantodontia
e para diagnóstico de lesões, fraturas e tumores.
A citopatologia analisa as estruturas morfológicas das células
que se destacam do epitélio, devido a uma constante esfoliação/
renovação das células. De acordo com as alterações visualizadas,
sugere-se um diagnóstico. Esse exame é interessante tanto na
análise inicial de lesões quanto para acompanhar regiões que
já passaram por ressecções. Diversas formas para coleta dessas
células são descritas na literatura, entretanto a citologia esfoliativa
convencional e em base líquida são as mais empregadas.
A biópsia é um procedimento em que ocorre a remoção de
um tecido vivo para análise microscópica. Lesões com etiologia
desconhecida persistente por mais de 15 dias devem/podem ser
analisadas por exames complementares, como citologia esfoliativa
e/ou biópsia.
Existem dois tipos de biópsia: incisional, na qual se faz a remoção
de uma parte da lesão para análise histopatológica, e é indicada em
lesões grandes e suspeita de malignidade; e excisional, na qual se
faz a remoção total da lesão, e é indicada para lesões com aspecto
benigno e menores que 1 cm.

Pesquise mais
Para entender com mais profundidade a respeito da doença periodontal
no paciente idoso, leia o artigo a seguir:

FIDEL JÚNIOR, R. A. S.; LOURENÇO, R. A.; FISCHER, R. G. A doença


periodontal e o idoso frágil. Revista do Hospital Universitário Pedro
Ernesto, v.12, n.1, p. 92-100, 2013. Disponível em: <revista.hupe.uerj.br/
detalhe_artigo.asp?id=385>. Acesso em: 19 jan. 2018.

130 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


O hemograma pode ser outro recurso utilizado pelo cirurgião
dentista, principalmente antes de procedimentos cirúrgicos, com
o propósito de analisar alterações, como anemia (série vermelha),
infecções (série branca) e alterações plaquetárias que modulam o
tampão plaquetário. Uma vez notada alguma alteração, devemos
realizar o encaminhamento ao médico.
Para evitarmos complicações durante a cirurgia, nós,
cirurgiões-dentistas, devemos saber solicitar e compreender os
exames laboratoriais.
Vamos estudar o quadro a seguir, a respeito dos valores de
referência dos exames.
Quadro 3.1 | Valores de referência do hemograma do indivíduo adulto

Série Vermelha
Eritrócitos De 3,90 a 5 milhões por mm3 de sangue
Hemoglobina De 12 a 15,5 g/dL de sangue
De 35 a 45 mL de eritrócitos/dL de
Hematócrito
sangue
Hemoglobina corpuscular Média de 31 a 36 picogramas
Volume corpuscular Média de 82 a 98 femtolitros
Caracteres morfológicos Normais

Série Branca
Leucócitos De 3.500 a 10.500 por mm3 de sangue
Neutrófilos De 1.700 a 8.000 por mm3 de sangue
Eosinófilos De 50 a 500 por mm3 de sangue
Basófilos De 0 a 100 por mm3 de sangue
Linfócitos De 900 a 2.900 por mm3 de sangue
Monócitos De 300 a 900 por mm3 de sangue

Plaquetas
Plaquetas De 150.000 a 450.00 por mm3 de sangue

Fonte: adaptado de Boraks (2011, p. 79).

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 131


Assimile
Estimado Aluno, vamos ampliar os conhecimentos sobre exames
laboratoriais? Importante que você adquira mais conhecimentos sobre
esse assunto, lendo o artigo a seguir.
AMARALA, O. F. Bases para Interpretação de Exames Laboratoriais na
Prática Odontológica. UNOPAR Cient Ciênc Biol Saúde, v. 16, n. 3, p.
229-237, 2014. Disponível em: <www.pgsskroton.com.br/seer/index.
php/JHealthSci/article/view/459>. Acesso em: 19 jan. 2018.

Odontologia geriátrica e sua prática clínica


Agora, estudaremos um pouco de algumas doenças, mas com
foco voltado para a odontologia. Começaremos pelas doenças
cardíacas com alta prevalência na população idosa. É de suma
importância para o nosso atendimento saber todo o histórico
passado e atual do idoso sobre essa doença, por exemplo, se
precisou passar por algum procedimento cirúrgico e quanto tempo
faz que isso ocorreu, pois, quando necessitarmos fazer algum tipo
de procedimento odontológico mais invasivo, devemos fazer um
encaminhamento ao médico do idoso solicitando parecer e conduta,
porque, muitas vezes, se faz necessário realizar antibioticoterapia
profilática, a fim de prevenir bacteremia, além de que devemos
tomar bastante cuidado com interações medicamentosas.
Também, precisamos tentar atender esses pacientes no período da
manhã, em atendimentos curtos e sem estresse, assim como nos
preocuparmos em prevenir hemorragias.
Em relação às doenças reumáticas, na odontologia, tem sido
descrito o envolvimento da articulação temporomandibular com
relatos de dor, eritema e trismo. Devido à atrofia das articulações,
essa doença afeta as mãos também, assim, podemos verificar
dificuldade da higienização da boca.
O acidente vascular cerebral é a grande causa de limitação
motora e mental dos idosos, podendo levar ao óbito. O cérebro
precisa de oxigênio para viver, então, quando acontece um AVC, há
uma interrupção da corrente sanguínea para uma área do cérebro,
levando à morte de células e desencadeando problemas na fala, na
alimentação e paralisias. O cirurgião-dentista deve avaliar a questão
motora da dificuldade em realizar a higienização e verificar o fluxo
salivar do paciente.

132 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


Outra doença bastante comum após os 50 anos é o Mal de
Parkinson, que é caraterizada por uma degeneração, fruto da
diminuição da dopamina no cérebro. É uma doença de evolução
lenta e, a princípio, acomete as mãos (tremor rítmico), progredindo
para a boca, podendo apresentar dificuldade na fala, olhar parado
e salivação excessiva. A rigidez do corpo dificulta os movimentos e
o equilíbrio, e isso é verificado na fase mais avançada da doença.
As repercussões odontológicas nos indivíduos com essa doença se
refletem na dificuldade motora em realizar a escovação e a utilização
do fio dental, e os efeitos da medicação podem levar à xerostomia.
Como já citado em outra seção, o cirurgião-dentista deve orientar
sobre a utilização de escovas elétricas e porta fio dental, a fim de
auxiliar o paciente e de tentar manter uma rotina com autonomia
para ele, e uma vez a doença progredindo, o profissional deve
conversar com o cuidador do idoso e explicar como ele deve
realizar a escovação dentária, o uso do fio dental, a higienização da
língua e a remoção das próteses removíveis ou totais para dormir.
O Mal de Alzheimer, também comum no idoso, afeta as células
do cérebro, levando à confusão mental e à perda de memória –
normalmente, as memórias mais recentes. Uma vez constatada
na anamnese a dificuldade em responder às perguntas, devemos
sempre conversar com o acompanhante, para que possamos
colher o maior número de informações possíveis e confiáveis, mas
nunca podemos excluir o paciente desse processo, sempre o trate
com muito carinho.
O diabetes mellitus é um distúrbio metabólico, frequente com o
envelhecimento, no qual ocorre um déficit total ou parcial da insulina.
Uma vez que o paciente relatar ter diabetes, devemos questionar
se ele dependente ou não de insulina. Os indivíduos com diabetes
são mais acometidos por infecções, portanto, antes de realizarmos
procedimentos odontológicos invasivos, devemos verificar a taxa de
glicose do paciente, a qual, normalmente, varia entre 70 a 110mg/dl.
Devemos ter bastante cuidado na instalação de próteses novas em
indivíduos não compensados, para que não machuquem, evitando,
dessa forma, necroses teciduais. O paciente diabético não compensado,
frente à presença do biofilme bacteriano, tem uma resposta inflamatória
exacerbada do periodonto, o que leva a um aumento da severidade da
doença periodontal; nesses pacientes, também notamos xerostomia,
ardência nos lábios e na língua e alteração papilar da língua.

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 133


Como cirurgião-dentista, você precisa ter esses conhecimentos,
pois algumas doenças influenciam a cavidade bucal, principalmente
o periodonto. Algumas medicações de uso sistêmico podem
provocar hiperplasia gengival, interferindo na saúde bucal, dentre
elas podemos citar os anticonvulsivantes, os imunossupressores
e os bloqueadores dos canais de cálcio. Compreender que a
saúde bucal interfere na saúde geral dos pacientes, e vice-versa, é
imprescindível para um correto diagnóstico e planejamento, desta
forma, tratar o idoso requer amplo estudo e multidisciplinaridade.
Devemos conversar com os nossos pacientes sobre o cuidado
da automedicação, a fim de evitar efeitos colaterais. Muitas vezes,
eles não sabem que alguns remédios podem refletir negativamente
na cavidade bucal, levando a hiperplasias gengivais, hipossalivação
e hipersalivação.
Para medicarmos uma pessoa idosa, devemos verificar a
anamnese, para observarmos se existe alguma alteração sistêmica
e/ou comprometimento de algum órgão, para que façamos a
prescrição de um medicamento que não sobrecarregará o órgão
afetado pela excreção do medicamento. Portanto, o conhecimento
das doenças mais prevalentes no idoso, dos efeitos e das possíveis
interações com medicamentos se faz fundamental para o
odontólogo prestar um bom e eficaz tratamento.
Como sabemos, a odontogeriatria, que cuida dos pacientes
idosos, é uma área relativamente nova, mas de extrema importância.
Os odontogeriatras precisam ter conhecimento sobre os aspectos
biopsicossociais desses pacientes e, por meio de estratégias
preventivas, devem promover a saúde, visando melhorar a qualidade
de vida deles.
Caro aluno, tudo o que foi abordando nesta seção é muito
importante para seu desenvolvimento pessoal e profissional, mas
não pare por aqui, busque mais informações, debata com seus
colegas e professores, assim, certamente, você será um profissional
diferenciado no mercado de trabalho.

Sem medo de errar


Agora que você já aprendeu mais sobre os idosos, ajude Maria
e Francisco no atendimento a Joana, respondendo às seguintes
perguntas: como deve ser a abordagem e conduta dos alunos frente
às respostas confusas durante a anamnese da paciente?

134 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


Durante o primeiro atendimento da paciente, no momento
da anamnese, caso seja notado que ela apresenta dificuldade em
responder às perguntas, seja por esquecimento ou até mesmo por
dificuldade na fala, devemos chamar o acompanhante, pedindo a
sua ajuda quando necessário, porém devemos ter bastante cuidado
em não excluir o idoso neste momento, principalmente se o motivo
for pressa durante o atendimento, pois, conforme já estudamos, a
consulta de um idoso é mais longa e demorada quando comparada
a pacientes jovens.
O que você poderia explicar sobre a doença de Mal de Parkinson?
A respeito da doença de Mal de Parkinson, é sabido que, na fase
inicial, acarreta tremores nas mãos, e no estágio avançado, pode
acometer a boca e levar a uma rigidez do corpo todo, trazendo a
este paciente uma dificuldade de locomoção e falta de equilíbrio,
predispondo-o a quedas. Os tremores das mãos e a rigidez do corpo
resultam em uma dificuldade em realizar sua higiene bucal, portanto
os familiares ou o cuidador devem estar cientes das condições e
ajudar na higienização.
Quais orientações você daria sobre higienização das próteses
parciais removíveis para a Sra. Joana? Sobre a higienização das
próteses parciais removíveis, devemos explicar que a paciente
deve removê-las da boca ao fazer a escovação dos dentes e, com
uma escova específica para prótese, deve realizar a higienização
delas. Devemos orientar também sobre a importância de não
dormir utilizando a prótese, a fim de aliviar as mucosas e prevenir o
aparecimento de lesões, como de candidíase.

Faça valer a pena


1. Na consulta do paciente idoso, devemos buscar um atendimento
diferenciado tanto na estrutura física do consultório quanto na postura do
profissional e da sua equipe. Devemos conversar com o paciente mantendo
o contato__________, com uma fala __________. O consultório deve ter
uma adequação arquitetônica, propiciando __________ ao paciente.

Leia com atenção a afirmativa acima e assinale a alternativa que completa


as lacunas corretamente.

a) de corpo; baixa; decoração. d) visual; alta; acessibilidade.


b) de corpo; alta; decoração. e) visual; clara; acessibilidade.
c) visual; baixa; acessibilidade.

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 135


2. Baseados no nosso aprendizado da seção, verificamos que existem
medicamentos usados pelos pacientes que podem induzir a uma resposta
gengival exacerbada frente à presença do biofilme bacteriano.

Sobre os medicamentos que podem induzir uma resposta gengival


exacerbada, assinale a alternativa correta.

a) Antibiótico e anticonvulsivante.
b) Anti-inflamatório e analgésico.
c) Anticonvulsivante e bloqueadores dos canais de cálcio.
d) Antibiótico e bloqueadores dos canais de cálcio.
e) Analgésico e imunossupressor.

3. As doenças crônicas que mais acometem a população idosa são as


cardiorrespiratórias (acidente vascular cerebral, pressão alta, infarto e
insuficiência cardíaca), problemas degenerativos (Alzheimer e osteoporose/
artrose) problemas renais, doenças pulmonares (gripe, bronquite,
pneumonia e enfisema), câncer, distúrbios psicológicos, diabetes mellitus,
entre outras. Cerca de 85% da população idosa possuem uma doença
crônica e 10% possuem, ao menos, cinco dessas enfermidades citadas
anteriormente.

Em relação às doenças sistêmicas que podem afetar a população idosa,


assinale a alternativa correta.

a) É importante sabermos o histórico de problemas cardíacos dos


pacientes idosos, pois, muitas vezes, antes de procedimentos odontológicos
invasivos, devemos indicar a prescrição de antibioticoterapia profilática.
b) Sobre pacientes com problemas reumáticos, a literatura vem mostrando
que não existe nenhum tipo de comprometimento na face do paciente.
c) O diabetes mellitus, apesar de ser uma doença que causa alguns
envolvimentos sistêmicos, na boca, notamos que ela altera apenas a
estrutura dentária.
d) Com o passar dos anos, o envelhecimento vai levando a complicações
múltiplas e acometendo esses indivíduos com doenças graves e morte
rápida.
e) A doença de Mal de Parkinson causa nos pacientes uma perda de
memória recente e lembrança frequente do passado.

136 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


Seção 3.3
Odontologia geriátrica: medicamentos e nutrição
do idoso; métodos de comunicação com o idoso
e seu cuidador

Diálogo aberto
Caro aluno, nesta seção, aprenderemos a importância da
nutrição dos idosos com considerações voltadas ao atendimento do
cirurgião-dentista, bem como ampliaremos o nosso conhecimento
sobre as particularidades de medicações nesta população, visando
a um atendimento e à comunicação efetiva com o idoso e seu
cuidador. Esse aprendizado dará suporte para ajudar os alunos
Maria e Francisco e entenderem o caso da Sra. Joana, 80 anos, que
compareceu à clínica de odontologia para atendimento. A paciente
demonstrou certa dificuldade em responder a algumas perguntas
da anamnese e relatou ter o diagnóstico de Mal de Parkinson. Ao
exame clínico, verificou-se mobilidade dentária, raízes residuais e
prótese parcial removível mal adaptada.
Baseado no diagnóstico de Mal de Parkinson, quais perguntas
você elencaria em relação à nutrição e às medicações? Quais
orientações você passaria para a Sra. Joana a respeito da alimentação
x sua condição bucal?
Para que você consiga ajudar os alunos a responderem aos
questionamentos elencados, serão apresentados, de forma
contextualizada, na seção “Não pode faltar”, os conteúdos sobre os
aspectos da nutrição e medicação na população idosa.

Não pode faltar


Medicamentos do idoso
Caro aluno, compreender sobre a farmacologia se faz
necessário, pois cada pessoa responde de uma forma frente a um
determinado fármaco. Portanto, como já explicado anteriormente,
a avaliação global do nosso paciente é fundamental, o cirurgião-
dentista deve conhecer sobre todo o histórico de doenças e

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 137


medicamentos utilizados para estabelecer o melhor plano de
tratamento odontológico.
A prescrição medicamentosa no idoso deve ser bem mais
criteriosa, devido à possibilidade de reações adversas que são comuns
e, muitas vezes, severas, necessitando de internações. O maior risco
de reações adversas a medicamentos se dá devido a mudanças
fisiológicas ocorridas durante o processo de envelhecimento.
Dentre as reações, podemos citar: redução da atividade metabólica
hepática (que modifica a biodiversidade da medicação), redução
do fluxo sanguíneo hepático (que pode modificar o metabolismo
das medicações), diminuição do fluxo sanguíneo renal (que pode
alterar a eliminação do medicamento), diminuição da albumina
plasmática (que prejudica a distribuição do medicamento) e outras
modificações que ocorrem no idoso e que podem interferir na
qualidade de vida e no tratamento dele.
Dentre os fatores farmacológicos, a distribuição e a metabolização
são os mais prejudicados pelo envelhecimento do organismo. O
idoso apresenta uma menor quantidade de água no corpo, que leva
a um menor volume de distribuição, com isso a biodisponibilidade
de medicamentos hidrossolúveis pode estar aumentada. Já o fluxo
sanguíneo hepático costuma ser menor, levando a uma diminuição
do metabolismo de primeira passagem dos fármacos. Remédios
lipossolúveis, como o Diazepam, podem acarretar um aumento no
volume de distribuição no idoso, se este tiver maior quantidade de
tecido adiposo.
A ação de um medicamento pode ser dividida em três etapas:
Fase farmacêutica: ocorre a desintegração do fármaco/
medicamento (como comprimidos) e a dissolução do princípio ativo.
Fase farmacocinética: ocorre absorção, distribuição,
metabolização e excreção.
Fase farmacodinâmica: ocorre a interação do princípio altivo do
medicamento com um alvo terapêutico e a consequente produção
do efeito farmacológico.
Um ponto importante para observamos na prescrição
medicamentosa ao idoso que relata possuir xerostomia e, com isso,
dificuldade em engolir é observar as diversas formas de apresentação
do medicamento, como comprimido, drágeas e cápsulas, e indicar
a forma que for mais adequada para esse paciente.

138 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


Os comprimidos têm aspecto compacto, pois associam o
princípio ativo com outras substancias; já as drágeas são parecidas
com os comprimidos, mas possuem uma película externa; e as
cápsulas possuem um material gelatinoso que protege o conteúdo
de dentro e, por essa razão, facilita a deglutição.
Outro fator relevante é ponderar o risco versus o benefício do
medicamento que gostaríamos de prescrever ao paciente, pois,
muitas vezes, os malefícios desencadeados podem ser maiores
do que o ganho que o medicamento traria naquela situação. A
interação medicamentosa pode ser definida como modificações
nos efeitos de um medicamento, em virtude do uso conjunto de
outro medicamento ou nutriente. Ela ocorre com frequência, e
pode ser grave ou até mesmo fatal.
Vamos, então, estudar algumas medicações que devemos ter
cuidado na prescrição.
O uso contínuo de antidepressivos tem sido amplamente visto
no mundo todo, e são frequentemente utilizados pelos idosos,
os quais, por sua vez, são sensíveis aos efeitos adversos dessas
drogas. Interações medicamentosas associadas a antidepressivos
são muito comuns, principalmente relacionadas a doenças
degenerativas e demência.
Os anticoagulantes são amplamente utilizados pela população
idosa para o controle da coagulação do sangue, prevenindo
problemas de sangramentos e formação de trombos. Essa
medicação, normalmente, é usada por longo período, por isso
devemos alertar os pacientes da possibilidade de interações
com outros medicamentos, que podem aumentar ou diminuir
o efeito do anticoagulante, por exemplo, antiácidos, antibióticos
e, principalmente, aspirinas (anti-inflamatório não esteroidal),
aumentando a chance de sangramento.
Os anticoagulantes e as sulfamidas antidiabéticas se
potencializam mutuamente, necessitando de quantidades
menores de ambas as drogas quando juntas. Vitaminas, como a
vitamina K, potencializam o efeito do anticoagulante e, por esse
motivo, devem ser evitadas.
Os anestésicos locais, na odontologia, são, basicamente,
representados pela prilocaína, lidocaína, articaína, bupivacaína e
mepivacaína, que são biotransformados no fígado, exceto a articaína

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 139


e a prilocaína. Portanto, a função/perfusão do fígado interfere na
rapidez da biotransformação do anestésico, determinando uma
toxidade maior na população idosa.
Os anestésicos locais são excretados pelos rins, assim, um rim
debilitado faz com que a pessoa tenha maior propensão à toxicidade.
As doses dos anestésicos locais são indicadas em miligramas de sal
anestésico por quilograma de peso corporal (mg/kg).
Segundo Souza, Ramacciato e Motta (2011), a mepivacaína é o
anestésico mais indicado para os idosos, seguido pela lidocaína,
pela prilocaína ou articaína e, por último, a bupivacaína.

Pesquise mais
Para entender com mais profundidade a respeito de anestésicos locais
na odontologia voltada para o idoso, leia o artigo a seguir:

SOUZA, L. M. A.; RAMACCIATO, J. C.; MOTTA, R. H. L. Uso de anestésicos


locais em pacientes idosos. RGO – Rev. Gaúcha Odontol., Porto Alegre,
v. 59, suplemento 0, p. 25-30, jan./jun. 2011. Disponível em: <http://
revodonto.bvsalud.org/pdf/rgo/v59s1/a04v59s1.pdf>. Acesso em: 24
jan. 2018.

Uma das reações adversas dos medicamentos (antidepressivos,


controladores de apetite, quimioterapia, etc.) na cavidade oral, que
causa bastante desconforto, é a xerostomia, pois a sensação de
boca seca dificulta a permanência da prótese na boca, dificultando
a mastigação através da alteração da formação e do umedecimento
do bolo alimentar. Essa diminuição salivar aumenta o aparecimento
de cáries de raiz e lesões na mucosa abaixo dos braços metálicos
das próteses removíveis.
Portanto, a indicação indevida de medicamentos a idosos
configura-se em um problema de saúde pública, devido às reações
adversas aos medicamentos, as quais, por sua vez, reflete em alto
índice de morbidade.

Nutrição do idoso
Com o aumento da expectativa de vida da população brasileira,
faz-se necessário que todos nós, profissionais da saúde, fiquemos
atentos às variações biológicas, fisiológicas e psicológicas que

140 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


ocorrem na população idosa, a fim de buscar uma qualidade no
envelhecimento através de um estilo de vida melhor, com saúde
bucal, exercício físico e dieta saudável.
Uma alimentação saudável durante toda a vida influencia na
qualidade de vida e repercute positivamente na velhice. Alimentação
deficiente leva a uma condição nutricional ineficiente, que aumenta
os problemas de saúde. O estado nutricional pode ser influenciado
por fatores, como: condição socioeconômica, medicamentos,
condição bucal, problemas mentais e fatores de saúde geral.
Doenças degenerativas que acometem os idosos e que envolvem
o comprometimento motor, com perda da autonomia, têm sido
correlacionadas à desnutrição, bem como algumas outras doenças,
como diabetes tipo 2, osteoporose, obesidade, hipertensão
e dislipidemias, as quais têm sido o foco dos nutricionistas na
prevenção para os idosos.
Existem algumas mudanças fisiológicas que interferem
no hábito alimentar dos idosos, dentre elas, podemos citar o
comprometimento bucal através da doença periodontal até a perda
dentária, a diminuição do metabolismo, a redução do paladar para
gosto primário e o uso de diversos medicamentos decorrente de
doenças crônicas.
Como sabemos, a digestão inicia-se pela boca, portanto, a
eficácia da mastigação depende dos arcos dentários, isto é, da
quantidade de dentes e da oclusão deles, bem como de saliva.
Dependendo do alimento e da sua dureza, existe uma quantidade
ideal de mastigações.
A perda dentária nos países em desenvolvimento tem sido
associada a questões financeiras, ao baixo nível educacional e
ao hábito do fumo. A perda dos dentes ao longo do tempo se
reflete na diminuição da capacidade mastigatória, assim, um idoso
com poucos dentes terá dificuldades para triturar os alimentos,
engolindo-os em pedaços maiores, o que dificultará na correta
absorção dos nutrientes.
Outro fator que traz desconforto e dor são as próteses mal
ajustadas, que levam a lesões na mucosa durante a mastigação,
fazendo com que o idoso remova a prótese para se alimentar e
buscando alimentos mais macios ou pastosos, para tornar mais
confortável sua mastigação, mas colocando em risco a qualidade

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 141


dessa alimentação, pois, muitas vezes, ocorre a substituição por
alimentos ricos em carboidratos e açúcares. A eficiência mastigatória
de uma pessoa com todos os dentes é em torno de 100%, enquanto
que de uma pessoa com prótese apresenta uma eficiência bastante
reduzida devido a fatores sensoriais e mecânicos.
É comum verificarmos grande presença de biofilme bacteriano
nos pacientes idosos, isso é decorrente, principalmente, da
redução na capacidade física/manual em escovar os dentes e
utilizar o fio dental, diminuição da percepção sensorial, cognitiva e
falta de motivação.
O comprometimento da cavidade oral tem uma relação direta
com a alimentação nesses indivíduos, pois, quando o idoso
apresenta doença periodontal avançada, com mobilidade dentária,
ele encontra dificuldade em mastigar, porque os dentes amolecidos
desencadeiam dor durante a mastigação, e é comum o sangramento
gengival, causando uma alteração no paladar.
A salivação no idoso, normalmente, apresenta-se mais baixa
devido ao uso de diversas medicações. Sabemos que a saliva auxilia
na formação do bolo alimentar e neutraliza o metabolismo dos
ácidos através da sua capacidade tampão. Uma vez que o paciente
relata sentir a boca seca com frequência, devemos já suspeitar da
ocorrência de lesões cariosas e da presença de doença periodontal e,
então, o paciente deve ser orientado e, se necessário, encaminhado
para especialistas. Neste caso, o uso de saliva artificial pode ajudar.
Em uma alimentação rica em açúcar, o risco de desenvolvimento
de lesões cariosas aumenta, portanto devemos orientar nossos
pacientes em relação ao consumo controlado do açúcar e, mais
uma vez, falar da higiene oral.

Exemplificando
A população idosa apresenta tendência à secura da cavidade oral
também em processos inflamatórios, que podem estar associados
à atrofia das glândulas salivares e até da mucosa oral. Para um bom
diagnóstico, muitas vezes, é necessário solicitar exames, como a
sialografia (para glândulas salivares), estudos hematológicos, entre
outros.

142 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


Nas ausências dentárias, a capacidade mastigatória deve ser
restabelecida através de tratamento reabilitador, protético e/ou
implante, para devolver ao paciente sua capacidade mastigatória,
deglutição, fonação e estética, dessa forma, melhorando a qualidade
de vida dele.
A população idosa também pode ter seu paladar e olfato
alterados. As papilas gustativas podem ter seu número diminuído,
alterando, dessa forma, a sensibilidade para os sabores doce, ácido,
salgado e amargo, assim, a alimentação se torna menos atrativa,
podendo prejudicar o estado nutricional dos idosos.
A respeito das alterações metabólicas gastrointestinais, estas
acontecem pela mudança da função e estrutura do estômago,
com uma diminuição da motilidade gástrica e redução do suco
e de enzimas gástricas, podendo levar à constipação intestinal e
diverticulite, principalmente nos idosos com alimentação pobre em
fibras. Todo esse processo de alterações resulta em um déficit de
absorção de nutrientes, alterando, consequentemente, a condição
geral de saúde.
Outro problema que os idosos podem enfrentar está relacionado
à diminuição da função renal, pois ocorre uma sobrecarga
no mecanismo de eliminação das proteínas. Esse problema é
importante e deve ser cuidadosamente avaliado quando se fizer a
prescrição de medicamentos.
Então, como já explicado, o estado nutricional do idoso está
relacionado ao seu estado geral de saúde, e alterações bucais, bem
como alterações no processo digestivo, metabólicos, entre outros,
podem deixar o idoso debilitado.
Existem avaliações nutricionais para identificar as necessidades
do idoso: antropométrica, bioquímico e inquérito alimentar. Essas
avaliações são realizadas pelo nutricionista ou médico. O cirurgião-
dentista também deve fazer uma avaliação da dieta do paciente, a
fim de orientá-lo, baseado nas características bucais individuais de
cada paciente, pois, na presença de próteses totais e/ou parciais,
certos alimentos devem ser evitados, pois ele terá dificuldades na
mastigação e pode até ter danos nas mucosas adjacentes.
Outro questionamento importante é em relação ao consumo
diário de água do idoso, que deve ser, no mínimo, de 30 ml por
kg, pois, desta forma, diminuímos a ocorrência de desidratação,

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 143


que pode levar ao aumento da temperatura corporal, à secura
das mucosas, à redução da urina, à presença de constipações e à
hipertensão arterial.
A alimentação mundial vem sofrendo um processo de
substituição dos alimentos saudáveis (cerais, legumes, vegetais,
frutas e fibras) por uma dieta rica em gordura saturada e processada
com baixo valor nutricional, aumentando, com isso, a prevalência
de doenças cardiovasculares na população adulta, portanto cabe
aos profissionais orientarem os idosos e seus familiares sobre uma
alimentação adequada.

Reflita
A doença de Mal de Alzheimer está cada vez mais presente nos lares
devido ao aumento da longevidade das pessoas. Qual seria sua conduta
no atendimento a um paciente com diagnóstico de Alzheimer? Leia o
artigo a seguir para auxiliá-lo a refletir sobre o questionamento.

MIRANDA, A. F. et al. Doença de Alzheimer: características e


orientações em odontologia. RGO, Porto Alegre, v. 58, n.1, p. 103-
107, jan./mar. 2010. Disponível em: <http://www.repositorio.unb.br/
bitstream/10482/14098/1/ARTIGO_DoencaAlzheimerCaracteristicas.
pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018.

Comunicação com o idoso e com seu cuidador


Conforme envelhecemos, a necessidade de atenção permanente
se faz necessária, e os cuidados com a boca se incluem nesta
abordagem, pois existe uma tendência na deficiência da higiene
bucal e, com isso, um aumento de doenças nessa região, devido ao
declínio da parte motora, ao comprometimento da audição e visão,
à baixa estima e à menor habilidade cognitiva no idoso.
Algumas características devem ser observadas durante o
atendimento ao idoso. Em relação a alterações visuais, devemos
observar se o nosso paciente usa óculos, sempre buscarmos
contato olho a olho e, caso necessitarmos escrever algo, fazer com
letra legível e com letras grandes.
Alterações auditivas são frequentes nos idosos, portanto
devemos observar se o paciente faz uso de algum aparelho auditivo,
falar pausadamente e claro, usar frases curtas, falar um pouco mais

144 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


alto que o normal, mas sem gritar, e aguardar a resposta do idoso,
pois isso transmite confiança e mostra que você dá importância ao
que ele está dizendo. Caso o idoso não entenda o que você disse,
repita de outra forma. Não fale usando a máscara e tente diminuir o
máximo possível o barulho no consultório.
As implicações cognitivas no idoso são variáveis, mas é fato
que eles necessitam de um tempo maior para aprender algo e,
normalmente, há necessidade de repetir para completa assimilação.
Portanto, o paciente idoso terá um pouco de dificuldade
em compreender as explicações sobre o tratamento, e você,
profissional, muitas vezes, terá dificuldade em compreender
esse paciente. O mais importante é ter paciência e ser amável
e ter cuidado com a expressão facial e a postura corporal, para
que não pareçam ameaçadoras. Se necessário, para melhor
compreensão por parte do paciente, você pode fazer uma mímica
que corresponda ao que você disse.
Lembre-se de que, quando o idoso ainda é capaz de realizar a sua
própria higiene bucal e possui autonomia para executar seus afazeres
diários, a família ou o cuidador devem somente acompanhar, mas,
quando isso não é mais possível, se faz necessária a presença deles.
O cuidador é a pessoa responsável diretamente pelos cuidados
do idoso, nas suas atividades diárias (medicações, higiene pessoal,
alimentação e acompanhamento ao médico). Logo, a presença de
um cuidador, com conhecimento da importância do cuidado com
a saúde bucal, é fundamental para a higiene diária e com qualidade.
O cirurgião-dentista deve conversar com o cuidador e explicar
a importância da saúde bucal, orientando-o sobre a alimentação,
pois deve-se estabelecer horários fixos para se alimentar e, após
finalizada a alimentação, realizar a higienização dos dentes, através
do fio dental e da escovação dentária. Caso o paciente faça uso de
próteses removíveis, elas devem ser removidas durante a escovação
e, com uma escova própria, deve ser realizada a higienização.
Lembre-o de que a língua também deve ser higienizada, pois a
saburra lingual é a maior causadora de mau hálito.
É importante relatar sobre a importância do controle de ingestão
do açúcar para evitar o aparecimento de cáries. Informar, caso o
paciente seja desdentado total, que deve ser realizada a remoção do
biofilme bucal no rebordo gengival, mucosa jugal e escovação da

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 145


língua. O paciente não deve dormir com a prótese na boca, a fim de
aliviar a mucosa e não ocorrer a proliferação de bactérias, fungos, etc.
O grande desafio na atenção da população idosa é melhorar sua
condição, redescobrindo e reinventando sua vida com uma maior
qualidade, e para que isso aconteça, tanto a sociedade quanto a
família devem valorizar a importância do idoso no nosso país.
A pessoa idosa busca qualidade de vida e assistência à saúde, além
de acolhimento em uma equipe que o atenderá em um ambiente
físico adequado à sua condição e com uma comunicação e escuta
diferenciadas, para se obter um tratamento com resolubilidade e
que ela se sinta parte deste processo.

Assimile
O envelhecer vem trazendo mudanças funcionais, cognitivas,
diminuição da visão, da audição, entre outras alterações que vão
fragilizando o indivíduo e levando a limitações nas atividades rotineiras.
Uma vez que o idoso não consegue realizar as atividades comuns,
como se alimentar, tomar banho e caminhar, há a necessidade de
ser auxiliado por um cuidador. O ideal é que este cuidador tenha
formação específica para tal, mas, na realidade, sabemos que o
cuidador, normalmente, é um parente que mora com o idoso. Esse
tipo de situação reflete diretamente na qualidade de vida do idoso,
pois cuidar bem do outro requer conhecimento técnico, e não apenas
carinho e amor. Portanto, diante desta realidade, é fundamental,
durante a anamnese conseguirmos verificar qual o grau de parentesco
do cuidador e o idoso, se ele possui algum curso para este serviço,
pois desta forma traçaremos o perfil deste cuidador, a fim de, ao final
da nossa avaliação clínica, fazer toda uma orientação detalhada sobre
como manter a saúde bucal do idoso.

Sem medo de errar

Agora que você já aprendeu mais sobre os idosos, ajude Maria e


Francisco no atendimento à Sra. Joana, respondendo às seguintes
perguntas:
Baseado no diagnóstico de Mal de Parkinson, quais perguntas
você elencaria em relação à nutrição e às medicações?

146 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


Sobre a alimentação, importante pedir para a Sra. Joana, com
o auxílio de sua cuidadora, relatar o que ela come durante um dia
inteiro (diário alimentar), para que se possa avaliar a quantidade de
consumo de açúcar, de ingestão de água, de tipos de alimentos (mais
pastosos, frutas, carne, etc.), a fim de verificar se ela tem predileção
por um tipo de alimento devido a alguma limitação mastigatória.
Sobre o histórico de medicamentos, é importante verificar se algum
remédio que a Sra. Joana utiliza predispõe a alterações de fluxo
salivar, para, então, orientar na questão de aumento do consumo
diário de água ou até mesmo indicação de saliva artificial.
Quais orientações você passaria a Sra. Joana a respeito da
alimentação versus sua condição bucal?
Importante explicar que, uma vez realizado todo o tratamento
odontológico indicado para restabelecer a saúde bucal, com a
remoção das raízes residuais, tratamento periodontal adequado e
confecção de novas próteses removíveis, ela conseguirá melhorar
a qualidade da sua alimentação, uma vez que não mais sentirá os
dentes moles, sangrantes e com a prótese machucando. Entretanto,
será fundamental que ela, com o auxílio da cuidadora, mantenha
a saúde bucal através da higienização adequada e com retornos
periódicos junto ao cirurgião-dentista.

Faça valer a pena


1. O cuidador é a pessoa responsável diretamente pelos cuidados do
idoso nas suas atividades ________ (medicações, ______________,
alimentação e acompanhamento ao médico). Portanto, a presença
de um cuidador com conhecimento da importância do cuidado da
____________ é de fundamental importância para um cuidado diário e
com qualidade.

Leia com atenção a afirmativa acima e assinale a alternativa que completa


as lacunas corretamente.

a) semanais; escovação dentária; saúde bucal.


b) quinzenais; higiene pessoal; saúde.
c) diárias; higiene pessoal; saúde bucal.
d) semanais; sonoterapia; saúde.
e) diárias; escovação dentária; saúde.

U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso 147


2. Uma alimentação saudável influencia na qualidade de vida e repercute
positivamente na velhice. Alimentação deficiente leva a uma condição
nutricional ineficiente, que aumenta os problemas de saúde. O estado
nutricional pode ser influenciado por vários fatores.

Após a análise do texto sobre nutrição, assinale a alternativa correta.

a) O estado nutricional é influenciado apenas pela condição bucal e pelo


status socioeconômico.
b) Os medicamentos não possuem nenhuma interferência na condição
bucal e nutricional.
c) Doenças degenerativas que acometem os idosos e que envolvem
o comprometimento motor com perda da autonomia têm sido
correlacionadas com a desnutrição.
d) Com a perda de dentes, não ocorre declínio da função mastigatória.
e) A alteração do olfato e da gustação no idoso não afeta a alimentação
do idoso.

3. A prescrição de medicamentos para o idoso deve ser bem mais


criteriosa devido à possibilidade de reações adversas, as quais são comuns
e, muitas vezes, severas, necessitando de internações. O maior risco de
reações adversas a medicamentos se dá devido a mudanças fisiológicas
ocorridas durante o processo de envelhecimento.

Sobre os medicamentos no idoso, assinale a alternativa correta.

a) Dentre os fatores farmacológicos, a distribuição e a metabolização são


os mais prejudicados pelo envelhecimento do organismo.
b) O idoso apresenta uma maior quantidade de água no corpo, o que leva
a um menor volume de distribuição e, com isso, a biodisponibilidade de
remédios hidrossolúveis pode estar aumentada.
c) As formas de apresentação farmacêuticas, como comprimido, drágeas
e cápsulas. não se diferem na ingestão para o idoso.
d) Nenhum alimento possui a capacidade de potencializar o efeito do
anticoagulante.
e) O idoso possui facilidade a reações e interações medicamentosas,
porém os anestésicos locais podem ser utilizados sem preocupação de
composição e quantidade.

148 U3 - Envelhecimento humano e saúde do idoso


Referências
AMARAL, O. F. Bases para Interpretação de Exames Laboratoriais na Prática
Odontológica. UNOPAR Cient Ciênc Biol Saúde, v. 16, n. 3, p. 229-237, 2014. Disponível
em: <www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/JHealthSci/article/view/459>. Acesso
em: 19 jan. 2018.
BORAKS, S. Medicina Bucal. São Paulo: Editora Artes Médicas, 2011. 591p.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:
promulgada em 05 de outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. (Série
Legislação Brasileira).
_______. Lei nº 10.741, de 1ª de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso
e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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_______. Política Nacional do Idoso. Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Brasília:
Ministério da Justiça; Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, 2010. Disponível em:
<http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/
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_______. Cartilha do Idoso. Um guia para viver mais e melhor. Ministério da Saúde.
Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas.
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revodonto.bvsalud.org/pdf/rgo/v59s1/a04v59s1.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018.
Unidade 4

Fundamentos para atenção ao


idoso e ao paciente especial
Convite ao estudo
Caro aluno, na Unidade 4 desta disciplina, você estudará as
alterações bucais decorrentes do processo de envelhecimento
humano, com suas repercussões nas condições biossomáticas
e sistêmicas na saúde do sistema estomatognático, bem como
suas interferências na conduta clínica. O envelhecimento
constitui um processo fisiológico que se caracteriza pelas
mudanças orgânicas, em que ocorre uma diminuição das
faculdades psicológicas, comportamentais e físicas. Todas
as funções vitais, com a idade, passam por um processo de
degeneração, apresentando desordens de menor a maior
gravidade. O atendimento por uma equipe multiprofissional
determina uma atenção diferenciada, tendo o cirurgião-
dentista um papel importante na equipe de trabalho em
relação à saúde bucal do idoso, porém, para assistir este
adequadamente, o profissional precisa estar capacitado.
Para auxiliar o estudo e o entendimento das situações
do dia a dia na clínica odontológica da universidade, vamos
acompanhar os alunos do oitavo semestre de Odontologia,
Alice e Lucas, no atendimento dos pacientes. Vamos começar
pelo paciente Erasmo (70 anos), que compareceu na clínica
para consulta odontológica acompanhado de sua cuidadora.
Durante o atendimento, a cuidadora relatou que o Sr. Erasmo
foi diagnosticado com Doença de Alzheimer recentemente.
Durante a anamnese, o paciente relatou com facilidade todo o
seu histórico passado de doenças, internações e tratamentos
sofridos que fez, inclusive, relatou ser diabético e falou sobre
um tratamento de câncer na garganta há 10 anos. Ao exame
clínico bucal, foi diagnosticada a presença de lesões cariosas
radiculares nos elementos 37, 46 e 47; raiz residual do dente
35 e 36; dentes com mobilidade devido à doença periodontal
avançada; presença de prótese total superior; e lesões
avermelhadas no palato. O paciente relatou que a prótese foi
confeccionada há 15 anos e se encontrava frouxa na boca.
Alice e Lucas conversaram longamente com a cuidadora, a
qual relatou que o Sr. Erasmo tinha alguns momentos difíceis
durante o dia, com lapsos de memória, e que em outros
momentos estava tudo bem, recordando de tudo e todos.
Diante do exposto, ajude os alunos a pensarem na melhor
estratégia para iniciar o tratamento do Sr. Erasmo.
Quais alterações bucais são mais frequentes durante
o processo de envelhecimento humano? Quais são as
repercussões das condições biossomáticas e sistêmicas na
saúde? Quais são as possíveis interferências na conduta clínica?
Na Seção 4.1, abordaremos as principais alterações bucais
decorrentes do envelhecimento: alterações da face, das
glândulas salivares, mucosa bucal, língua, ossos maxilares,
periodonto, dentes e algumas doenças que ocorrem na
boca do indivíduo idoso; e compreenderemos a repercussão
das condições biossomáticas e sistêmicas na saúde e suas
interferências na conduta clínica. Na Seção 4.2, estudaremos
sobre a abordagem e o manejo do paciente idoso e
seus aspectos psicológicos interferentes no tratamento
odontológico. E na Seção 4.3, abordaremos as medidas
preventivas e o autocuidado no idoso e as terapias de suporte
e proservação.
Em cada seção, você ajudará os alunos Alice e Lucas a
resolverem os desafios vivenciados diante das situações e dos
problemas apresentados pelo paciente.
Seção 4.1
Alterações bucais decorrentes do processo de
envelhecimento humano: repercussões das
condições biossomáticas e sistêmicas na saúde
do sistema estomatognático; interferências na
condição clínica
Diálogo aberto
Caro aluno, nesta seção, aprenderemos sobre as alterações
bucais que ocorrem durante o processo de envelhecimento e suas
repercussões nas condições biossomáticas e sistêmicas na saúde
que podem interferir durante a nossa conduta clínica no consultório
odontológico.
Esse aprendizado dará suporte para entender e ajudar os alunos
Alice e Lucas. Lembre-se de que o Sr. Erasmo, 70 anos, compareceu
à clínica de odontologia para atendimento. Durante a anamnese, a
cuidadora informou que o paciente possui Alzheimer e é diabético
insulino dependente. Ao exame clínico, verificou-se doença
periodontal avançada com mobilidade dentária, raízes residuais,
lesões cariosas radiculares e prótese total antiga e frouxa na boca e
com lesões avermelhadas no palato.
Baseado no diagnóstico da Doença de Alzheimer, qual é a sua
conduta clínica para o tratamento odontológico deste paciente?
Quais cuidados os alunos deverão ter durante o tratamento,
devido ao Sr. Erasmo ser diabético? Como você explicaria sobre as
alterações no palato observadas neste paciente?
Para que você consiga ajudar os alunos a responderem aos
questionamentos elencados, serão apresentados, de forma
contextualizada, no item “Não pode faltar”, os conteúdos sobre os
aspectos das repercussões biossomáticas e sistêmicas na saúde que
podem interferir na conduta clínica odontológica.
Todas essas informações são muito importantes para o seu
desenvolvimento profissional. Você ficará fascinado pelo assunto.
Bons estudos!

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 153


Não pode faltar
Doenças específicas bucais relacionadas à velhice não existem,
mas algumas alterações sofridas no organismo devido ao processo
do envelhecimento afetam a cavidade bucal de forma negativa,
prejudicando a saúde geral do indivíduo.
Sabemos que a saúde da cavidade oral não se dissocia da
saúde como um todo; fatores gerais intrínsecos do indivíduo e do
ambiente podem afetar o sistema estomatognático, e vice-versa,
assim, conhecer essas interações se torna imprescindível para o
correto diagnóstico das prioridades e necessidades do idoso, e
também para o melhor delineamento do plano de ação/tratamento.
O sistema estomatognático é formado por estruturas ósseas,
dentes, músculos, glândulas salivares, entre outros, os quais estão
envolvidos, por exemplo, no processo mastigatório. Durante o
processo natural de envelhecimento, esse sistema também é
afetado, e pode resultar em consequências tanto nas áreas psíquicas
como funcionais, sociais e da saúde em geral.
Conhecer as estruturas anatômicas e os padrões de normalidade
do sistema estomatognático é importante para diferenciar as
alterações e as patologias que podem ocorrer durante o processo
de envelhecimento humano.
De forma geral, o envelhecimento pode provocar mudanças
significativas no sistema estomatognático, como a redução do
tônus muscular, desgastes e abrasões dentárias, alterações na
ATM (articulação temporomandibular), dificuldade mastigatória,
deglutição, entre outras alterações.

Reflita
Sobre a articulação temporomandibular (ATM), você sabe dizer quais
são as estruturas que a compõem? Quais estruturas podem ser
prejudicadas com o envelhecimento?

Se a mastigação for comprometida por alterações anatômicas,


poderão ocorrer desordens temporomandibulares, as quais
podem interferir na nutrição dos idosos, dessa forma, deixando-os
sistemicamente mais vulneráveis. O processo de envelhecimento

154 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


pode levar a alterações na deglutição. A perda de dentes ou próteses
mal adaptadas estão relacionadas às alterações das funções
mastigatória e da própria deglutição.
Portanto, para conhecer e compreender as alterações na região
oral, faz-se importante a realização de uma anamnese minuciosa,
na qual se deve verificar as condições sistêmicas do indivíduo,
perguntar a respeito dos medicamentos que ele utiliza, com qual
frequência vai ao médico, quando foi o último exame de sangue
realizado, entre outros detalhes, pois, desta forma, já se tem uma
previsão de algumas possíveis alterações bucais que o paciente pode
apresentar; em seguida, realizar a avaliação clínica odontológica
para, posteriormente, traçar o plano de tratamento.
A boca tem interação com o paladar, o olfato, o processo
respiratório e a fonação, além de ser fundamental na alimentação.
O ecossistema bucal, durante a vida, passa por três fases:
1. Na ausência de dentes (infância), com alimentação à base
de leite, é observada uma microbiota aeróbia/fermentativa.
2. Na presença de dentes e de uma dieta alimentar tradicional
(carboidrato, proteínas, fibras, etc.), são observados
microrganismos anaeróbios e microaerófilos.
3. Na ausência de dentes (idade adulta/idoso), a flora bacteriana
retorna a ser aeróbica, e uma vez presente a prótese total,
pode abrigar outras bactérias e fungos (Candida sapiens) nas
porosidades do acrílico.

Exemplificando
Dependendo da condição do periodonto (se está saudável ou doente),
o biofilme bacteriano está presente, entretanto a doença periodontal
possui interferências multifatoriais, relacionadas ao hospedeiro (genética
e hábitos, como o fumo) e a doenças sistêmicas. Conhecer os aspectos
anatômicos normais da cavidade bucal e compreender a colonização
bacteriana é importante para entendermos o processo saúde
versus doença. Já foram verificados mais de 500 tipos diferentes de
microrganismos na boca, entre bactérias, vírus, protozoários e fungos.
O biofilme é formado, a princípio, por glicoproteínas e anticorpos
salivares, os quais criam uma película, inicialmente colonizado por
cocos Gram-positivos anaeróbios facultativos. Posteriormente,

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 155


são colonizados por bastonetes Gram-positivos, seguidos por
microrganismos Gram-negativos anaeróbios. Ele tem sido
amplamente associado a doenças periodontais mais avançadas, como
Aggregatibacter actinomycetemcomitans, Prevotella intermedia,
Porphyromonas gingivalis e Bacteroides forsythus.
Lembrando que, no idoso, todas essas informações são importantes,
uma vez que sabemos da dificuldade motora e/ou visual que ele
pode apresentar, a qual pode desencadear uma higienização bucal
deficiente, levando a inflamações no periodonto. Devemos orientar e
motivar o idoso sobre a importância da higienização. Caso ele não
consiga mais fazer a própria higiene bucal, devemos ensinar o cuidador
como realizar a escovação dos dentes, da língua e a utilizar o fio dental.

Para facilitar a leitura, vamos abordar por tópicos algumas das


alterações da face e da boca que decorrem do envelhecimento:
Face: com o passar dos anos, ocorre a perda da elasticidade da
pele, a qual se torna mais fina e seca, com diminuição do tônus
muscular. Com a perda de dentes, extrusões dentárias e abrasão
das coroas dentárias remanescentes, desencadeia-se perda da
dimensão vertical de oclusão, a ponta do nariz fica mais próxima do
mento e pode aparecer a queilite angular, que é mais comum no
idoso devido a essa perda de dimensão vertical.
Ossos maxilares: com o envelhecimento, a neoformação
óssea é menor, e ocorre a redução no depósito do cálcio no
osso, tornando-o menos mineralizado. Em pacientes com perdas
dentárias, verifica-se uma diminuição da espessura e da altura do
rebordo alveolar, dificultando, desta forma, a instalação de próteses
e de implante devido à falta de suporte ósseo. Observa-se rigidez
do disco articular com diminuição/perda do líquido sinovial, sendo
que essas condições podem ser agravadas na presença de doenças
degenerativas e artrite. Indivíduos com histórico de câncer e com
necessidade de radioterapia e/ou quimioterapia podem ser mais
predispostos a osteorradionecrose.
Glândulas salivares: o fluxo salivar no idoso pode estar alterado
devido a uma menor celularidade dos ácinos, estreitamento dos ductos
salivares, utilização de alguns medicamentos e maior viscosidade da
saliva, que prejudica a deglutição durante a alimentação.

156 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Língua: com a ausência ou redução da quantidade de dentes,
a língua desenvolve um papel importante, entretanto, com o
envelhecimento, ocorre uma alteração e diminuição das papilas e
dos botões gustativos, desencadeando um prejuízo no prazer do
idoso em se alimentar, devido à alteração no paladar. As varicosidades
e a língua saburrosa também são condições observadas nos idosos,
sendo que a saburra é a condição com maior associação da halitose,
e também está associada à diminuição do paladar, devido às papilas
gustativas ficarem obstruídas por essa camada de saburra.

Pesquise mais
Varicosidades são dilatações dos vasos sanguíneos de pequeno e
médio calibres, resultado da redução da elasticidade da parede do
vaso, que ocorre com o envelhecimento ou devido a um bloqueio
interno do vaso.
Saburra lingual é formada por restos de alimentos, bactérias e células
mortas.

Mucosa oral: a ocorrência de úlceras traumáticas e de


erosões é relativamente comum nos idosos, devido a uma menor
quantidade hídrica e de elasticidade da mucosa; também podem
ser desencadeadas por mordeduras na bochecha causadas pelos
dentes e pelas próteses. Outro fator comum no aparecimento de
mucosites são as radioterapias.
Periodonto: com a dificuldade motora e a destreza manual
afetada, o idoso tem dificuldade em controlar o biofilme dental
através da escovação e do uso do fio dental, com isso uma microbiota
mais agressiva começa a ser formada, destruindo o periodonto de
proteção (inicialmente, gengivite) e, posteriormente, o periodonto
de sustentação (destruindo osso alveolar, cemento e ligamento
periodontal). Para o diagnóstico das alterações do periodonto,
verificamos sangramento gengival, presença de cálculo, aumento
da profundidade de sondagem e perda do nível de inserção. As
principais modificações verificadas no periodonto do idoso são:
reabsorção óssea, diminuição da queratinização, retração gengival,
inflamação gengival, mobilidade dental e diminuição da celularidade
do tecido conjuntivo.

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 157


Dentes: no idoso, é comum verificarmos a presença de desgastes
na cervical dos dentes, resultado de anos de escovação vigorosa
associada à escova dentária de cerdas duras. Outra condição
frequente é o desgaste na incisal ou oclusal dos dentes, resultado
de bruxismo, além de perdas dentárias e perda de dimensão oclusal.
Cáries radiculares também são frequentes nos idosos.

Assimile
Caro aluno, é sempre importante atender o indivíduo idoso lembrando
de todas as particularidades sistêmicas sofridas com o passar dos anos,
devido ao envelhecimento, tratando-o com atenção e respeito. Uma
análise que o profissional deve realizar é verificar a condição e o padrão
ósseo dos maxilares, para, se possível, indicar a reabilitação com
implantes dentários. Hoje, os implantes são uma realidade muito mais
acessível financeiramente, e uma forma de reabilitação mais efetiva e
confortável, a qual, muitas vezes, devolve ao paciente a autoestima e o
prazer em se alimentar.

Pesquise mais
Você quer saber mais sobre as alterações orais decorrentes do
processo de envelhecimento? Acesse o link a seguir!
FERNANDES-COSTA, A. N. et al. As principais modificações orais que
ocorrem durante o envelhecimento. Revista Brasileira de Ciências da
Saúde, v. 17, n. 3, p. 293-300, 2013. Disponível em: <periodicos.ufpb.br/
index.php/rbcs/article/viewFile/13650/9813>. Acesso em: 10 fev. 2018.

Doenças bucais frequentes no idoso


Com o envelhecimento, surgem as doenças crônicas ou agudas,
as quais debilitam o indivíduo, podendo levar a mudanças mentais,
comportamentais e físicas.
Estudaremos, agora, algumas doenças que são importantes na
área da Odontologia:
Líquen plano: são lesões atribuídas a problemas emocionais;
como o idoso, às vezes, apresenta-se emocionalmente instável,
essas lesões são cíclicas. O indivíduo relata queimação na mucosa
jugal, na qual podem ser visualizadas placas brancas em forma
reticular, e também podem ter aspecto de úlceras avermelhadas. O

158 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


dorso da língua também pode ser afetado em forma de pequenas
placas arredondadas. O diagnóstico deve ser confirmado por meio
do exame histopatológico. O tratamento ainda não é bem definido,
mas tem sido empregados corticoides, que aliviam a dor e a
sensação de queimação.
Candidíase: os agentes etiológicos desta doença são fungos:
Candida albicans e Candida tropicalis, estes acometem o idoso em
grande frequência. A causa da candidíase pode estar relacionada
ao estresse, à imunodepressão, às neoplasias, aos corticoides, aos
antibióticos, às drogas imunodepressoras, entre outros fatores. O
diagnóstico pode ser realizado através de citologia esfoliativa ou
biópsia, e o tratamento é tópico, à base de nistatina (micostatin, 4x
ao dia, por uma semana). A associação com miconazol (daktarin gel,
4x ao dia, por uma semana) também tem sido sugerida.
A utilização de próteses totais/parciais, com uso contínuo (sem
remover para dormir), e a não higienização tem sido frequentemente
associadas ao aparecimento de candidíase. Recomenda-se
escovação das próteses com escova específica e pode-se deixá-las
embebidas em solução de nistatina durante a noite.
Lesões de cárie radicular: são lesões que se iniciam na junção
esmalte-cemento ou abaixo dela, amolecidas, de coloração
amarronzada, recobertas por biofilme bacteriano; são frequentes
nos idosos, devido à escovação traumática e à perda óssea
generalizada que ocorre ao longo dos anos.
Xerostomia: pode ser ocasionada por problemas sistêmicos ou
algumas medicações. Quando a saliva estiver reduzida ou ausente,
podem ser prescritos saliva artificial e/ou estimuladores de saliva,
como: gomas de mascar de xilitol, de 3 a 5 x ao dia; gomas à base de
clorexidina; e alimentos ricos em fibras. Pacientes com xerostomia
são mais predispostos a lesões cariosas, doença periodontal e
halitose.
Complexo dentina-polpa: com o envelhecimento, o volume
da polpa é diminuído em decorrência da deposição contínua de
dentina em suas paredes, com mais frequência no teto, resultando
em dificuldades na localização da entrada dos canais radiculares,
com isso, aumentando o risco de perfurações. Na dentina, notamos
um fechamento parcial ou total dos canalículos dentinários e um
aumento da dentina secundária.

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 159


Doença periodontal: com o avanço da idade, notamos a presença
de recessões gengivais; a gravidade e a prevalência da periodontite
aumentam com o passar dos anos, podendo desencadear perdas
dentárias. Portanto, pacientes idosos precisam de atenção especial
e individualizada em relação aos cuidados de higiene oral.
Halitose: o mau hálito, muitas vezes, pode estar presente na
população idosa quando ocorre déficit motor (dificuldade em
escovar os dentes e a língua e utilizar o fio dental) ou em casos de
doenças degenerativas, como a demência. Com a não remoção do
biofilme bacteriano, ocorre a formação do tártaro, o qual avança,
destruindo o periodonto de sustentação e proteção, e também é um
dos causadores do mau hálito. A língua saburrosa é o fator etiológico
principal do mau hálito, desencadeada por retenção de bactérias e
restos alimentares, sendo removida através de limpadores linguais
ou com a própria escova dental.
Câncer: é a segunda doença que mais mata pacientes idosos
no mundo. O câncer bucal (75%) está ligado ao fumo e ao álcool.
Durante o atendimento ao paciente com câncer, deve-se buscar uma
integração do médico e do cirurgião dentista, pois é fundamental
um cuidado com a boca antes, durante e após iniciar o tratamento
(radioterapia/quimioterapia) oncológico.
Inicialmente, deve-se realizar a anamnese detalhada do idoso e
buscar informações sobre o diagnóstico do tumor, a qual o tipo de
ele que será submetido, em qual região será a radiação e a quantidade
total de radioterapia a ser empregada no tratamento. Com essas
informações, poderemos montar o nosso plano de tratamento,
a fim de remover todo foco possível de infecção (remoção de
raízes residuais, cáries, lesões endodônticas, doença periodontal);
além disso, para auxiliar no nosso diagnóstico, podemos solicitar
radiografias periapicais e panorâmicas. Todo dente infectado ou
com prognóstico duvidoso deve ser extraído.
Após finalizado o tratamento, deve-se orientar o paciente sobre
a importância do controle do biofilme bacteriano durante todo o
tratamento oncológico, a fim de evitar futuros problemas, e ressaltar
que o tratamento leva a uma secura da boca, o que predispõe ao
risco à doença cárie e gengival. Durante o tratamento oncológico, é
normal o aparecimento de lesões, como as mucosites, que causam
grande desconforto ao paciente. Nessa situação, podemos aplicar

160 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


sessões de laser de baixa potência, com o propósito de aliviar e
melhorar a condição do paciente.
Carcinoma epidermoide: é uma neoplasia epitelial maligna. Na
boca, é o tumor maligno mais frequente. Podem ser considerados
como fatores etiológicos: álcool, fumo, radiação solar, deficiência
de vitamina A e ferro. Afeta, principalmente, idosos/adultos homens.
Os locais mais acometidos são palato mole, gengiva, mucosa jugal,
labial e palato duro.
Leucoplasia: acomete indivíduos acima de 40 anos, e é
caracterizada por lesão branca homogênea ou nodular na mucosa,
que não sai com raspagem, além de lesão pré-maligna, a qual
pode ocorrer na mucosa labial, jugal, gengiva, língua e assoalho de
boca. O diagnóstico é realizado através de biópsia, e o tratamento
indicado é o cirúrgico completo.
Hiperplasia fibrosa inflamatória: frequente em idosos que utilizam
próteses mucossuportadas, é uma lesão proliferativa não neoplásica,
na qual a mucosa se apresenta avermelhada. Recomenda-se
suspender o uso da prótese alguns dias para, depois, executar a
ressecção cirúrgica, se necessária.
Neuralgia do trigêmeo: condição dolorosa na forma de choque,
lacinante, repentina, ela acomete um lado da face e segue as divisões
do nervo trigêmeo. Sua causa é desconhecida. O tratamento deve
ser feito com a supervisão de um neurologista e, usualmente, é
utilizado o medicamento carbamazepina.

Pesquise mais
Para entender com mais profundidade a respeito da doença periodontal
no idoso, leia o artigo:

FIDEL JÚNIOR, R. A. S.; LOURENÇO, R. A.; FISCHER, R. G. A doença


periodontal e o idoso frágil. Revista do Hospital Universitário Pedro
Ernesto, n. 1, v. 12, p. 94-100, 2013. Disponível em: <http://revista.hupe.
uerj.br/detalhe_artigo.asp?id=385>. Acesso em: 10 fev. 2018.

Interferências nas condições clínicas odontológicas


Doenças crônicas em idoso, principalmente hipertensão
e diabetes, desencadeiam a necessidade de tratamento com

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 161


medicamentos específicos e um controle mais frequente com
exames, visando a uma melhora na qualidade de vida do paciente.
Diabetes mellitus: é uma doença que acomete 9,3% dos indivíduos
acima dos 65 anos. O enfoque odontológico desta doença é
importante para a nossa clínica diária, pois esses pacientes possuem
alta prevalência de problemas odontológicos: xerostomia, candidíase,
cárie, abscessos gengivais recorrentes e doença periodontal. Portanto,
recomenda-se encaminhar o paciente ao médico, solicitando
avaliação e conduta, descrever os procedimentos odontológicos que
serão necessários de serem realizados no paciente e solicitar se há
alguma consideração especial para este atendimento. Procedimentos
invasivos devem ser evitados quando o paciente não estiver com o
nível glicêmico controlado no sangue, a fim de evitar problemas de
infecção devido ao retardo na cicatrização que ele apresenta. Alguns
estudos afirmam que o diabetes é um fator de risco para a doença
periodontal, uma vez que o controle metabólico alterado tende
a propiciar a retenção do biofilme bacteriano e a desencadear o
processo inflamatório do periodonto.
Osteoporose: a osteoporose é a doença mais comum do
metabolismo ósseo. Considerada crônica, ela retira o cálcio do
osso, e caracteriza-se por não ter sintomas, ser lenta, progressiva
e particularmente comum nos idosos e nos indivíduos com
imobilização prolongada. A melhor forma de evitá-la é o diagnóstico
precoce do enfraquecimento ósseo, e as fraturas são as principais
manifestações. Tem sido amplamente estudada a associação de
osteoporose e periodontite devido à reabsorção óssea das doenças
periodontais, entretanto a correlação ainda precisa de mais estudos,
pois são muitos os fatores externos que influenciam essas duas
doenças. Mudanças de hábitos, como não fumar, evitar bebidas
alcoólicas, ingerir uma dieta rica em cálcio e atividade física, são
recomendações para prevenir a osteoporose.
Artrite reumatoide: é uma inflamação crônica, debilitante, que
provoca mudanças na estrutura das articulações, diminuindo
a mobilidade do indivíduo. Com o passar dos anos, o paciente
aumenta cada vez mais o consumo de medicamentos, a fim de
aliviar as dores, e esse excesso pode se refletir na cavidade bucal
na forma de ulcerações, boca seca e estomatites associadas a
hemorragias gástricas. O cirurgião-dentista deve estar atento

162 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


durante o atendimento a esses pacientes, principalmente em
procedimentos invasivos, pois, como já foi explicado, deve-se
evitar bacteremia, sendo necessário, em alguns casos, o uso de
antibioticoterapia profilática, mas isso deve ser conversado caso a
caso com o médico do paciente. O tratamento odontológico deve
ser planejado em consultas curtas, pois, muitas vezes, o paciente
tem dificuldades de permanecer longos períodos de boca aberta.
Desordem temporomandibular (DTM): distúrbios na ATM
podem gerar grande desconforto, dores orofaciais com restrições
na alimentação, fonação e abertura bucal, afetando a rotina e a
vida social do indivíduo. O diagnóstico correto multiprofissional
é determinante para o sucesso do tratamento, sendo necessário,
muitas vezes, fisioterapia, aplicações, placas miorrelaxantes, etc.
para o alivio dos sintomas. O indivíduo procura se adaptar a essa
doença, porque interfere nas atividades básicas.
Alzheimer: é uma doença progressiva do sistema nervoso
central, caracterizada pelo esquecimento e pela perda de memória.
A repercussão odontológica se mostra alterada conforme a doença
avança e o idoso perde a autonomia e não consegue mais realizar
sua higiene bucal, portanto devemos conversar com a cuidadora e
explicar sobre os cuidados com a higienização.
Por tudo que foi exposto até aqui, ratificamos a importância
de tratar a pessoa idosa como um todo, visando aos aspectos
financeiros, sociais, emocionais, psicológicos e biológicos em
toda a sua integralidade. O cirurgião-dentista deve buscar cada vez
mais aprofundar os seus conhecimentos técnicos científicos, com
abrangência, buscando se relacionar com os demais profissionais
da área saúde, a fim de oferecer um tratamento diferenciado à
população idosa.

Sem medo de errar


Agora que você já aprendeu mais sobre os idosos, ajude Alice
e Lucas no atendimento ao Sr. Erasmo, respondendo às seguintes
perguntas:
Baseado no diagnóstico da doença de Alzheimer, qual é a sua
conduta clínica para o tratamento odontológico deste paciente?

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 163


Devemos conversar com o Sr. Erasmo a respeito da importância
da sua saúde bucal para o seu organismo, que serão necessárias
algumas intervenções odontológicas para devolver a saúde bucal
a ele e que, a partir daquele momento, a cuidadora o auxiliará na
higienização bucal (escova e fio dental), para que se consiga manter
a saúde bucal com melhora na qualidade de vida dele.
Quais cuidados os alunos devem ter durante o tratamento,
devido ao Sr. Erasmo ser diabético?
Sobre o diabetes, é importante solicitar uma avaliação e conduta
do médico por escrito, dizendo que serão realizados procedimentos
invasivos no ambulatório (extrações radiculares e raspagem
subgengival). Uma vez o Sr. Erasmo estando com o diabetes
controlado, as consultas serão marcadas no meio da manhã, com
o atendimento não muito longo, a fim de evitar que ele permaneça
muito tempo sem se alimentar.
Como você explicaria sobre as alterações no palato observadas
neste paciente?
Sobre as lesões no palato, deve-se suspeitar de candidíase, que é
uma lesão causada por fungos. Para o diagnóstico, pode-se realizar
uma citologia esfoliativa. Uma vez confirmada, deve-se prescrever
antifúngico de ação tópica e pedir ao paciente para dormir sem a
prótese, além de ensiná-lo a realizar a higienização da prótese e a
moldagem para confecção de nova PT.

Faça valer a pena


1. Com o envelhecimento, surgem as doenças crônicas ou agudas,
as quais debilitam o indivíduo, levando a mudanças sociais, mentais,
comportamentais e físicas.

Em relação às doenças que envolvem o processo de envelhecimento,


assinale a alternativa correta:

a) Na ausência de dentes, a flora bacteriana é anaeróbia e a prótese total


tem menor predisposição para abrigar bactérias e fungos (Candida sapiens)
nas porosidades do acrílico.
b) O biofilme é formado, inicialmente, por glicoproteínas e anticorpos
salivares, os quais criam uma película e são colonizados, em um primeiro

164 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


momento, por cocos Gram-positivos anaeróbios facultativos e, conforme
vai aumentando o biofilme, a colonização passa a ser por microrganismos
Gram-negativos anaeróbios.
c) Indivíduos com histórico de câncer e com necessidade de radioterapia
e/ou quimioterapia podem ser menos predispostos à osteorradionecrose.
d) Com a ausência de dentes e o envelhecimento, na língua, ocorre uma
alteração e um aumento das papilas e dos botões gustativos, desencadeando
um prejuízo no prazer do idoso em se alimentar.
e) A radioterapia, quando necessária ao tratamento do câncer, estimula as
glândulas salivares, fazendo com que ocorra uma hipossalivação.

2. As alterações da cavidade oral produzidas pelo aumento da idade


acarretam alterações fisiológicas que predispõem o idoso a apresentar
condições patológicas típicas do envelhecimento. Neste caso, a doença
periodontal gera modificações gengivais e ósseas comumente encontradas
nos pacientes idosos.

Sobre a doença periodontal no idoso, assinale a alternativa correta:

a) Na fase da adolescência, a presença de recessões gengivais e a gravidade


da periodontite podem desencadear perdas dentárias.
b) O aumento na capacidade de defesa do sistema imunológico e o
envelhecimento das células do periodonto tornam o processo de inflamação
gengival mais acelerado no idoso.
c) A diminuição da destreza manual e da acuidade visual é um fator que
predispõe o idoso a não conseguir controlar o biofilme bacteriano e a
desenvolver a doença periodontal.
d) Devido à dificuldade motora durante a escovação, podemos substituir
esta por soluções de bochecho.
e) O indivíduo com diabetes não compensado tem o aspecto do periodonto
de proteção e sustentação normal sem nenhuma alteração significativa
quando comparado ao indivíduo saudável.

3. Em um passado recente, o acesso ao cirurgião-dentista, à pasta dental e


à escova não era possível à população brasileira, isso resultou em um grande
número de indivíduos desdentados. Muitas vezes, o dentista era procurado
em casos de emergência, portanto o resultado da condição bucal do idoso,
hoje, é fruto de um passado em que o indivíduo não tinha acesso adequado
ao serviços odontológicos.

Em relação ao edentulismo, assinale a alternativa correta:

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 165


a) O edentulismo parcial ou total exerce forte impacto sobre a vida do
idoso, tanto em termos orgânicos quanto psicológicos.
b) Com o uso de próteses, ocorre uma facilidade na mastigação de qualquer
alimento.
c) Pacientes que utilizam próteses totais ou removíveis não as devem retirar
durante a escovação e higienização delas.
d) Devemos orientar os indivíduos que usam próteses totais à higienização
adequada delas com escova específicas, e os pacientes podem usá-las em
tempo integral, desde que estejam limpas.
e) Para pacientes diagnosticados com candidíase, devemos prescrever anti-
inflamatórios de uso tópico.

166 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Seção 4.2
Abordagem e manejo do paciente idoso; aspectos
psicológicos interferentes no tratamento
odontológico
Diálogo aberto
Nesta seção, estudaremos sobre a abordagem e o manejo
do paciente idoso e os aspectos psicológicos que interferem no
tratamento odontológico. Esse aprendizado lhe dará suporte para
auxiliar os alunos Alice e Lucas no atendimento ao Sr. Erasmo, de 70
anos. Você se lembra que ele compareceu à clínica de odontologia
para atendimento? Durante a anamnese, a cuidadora informou
que o paciente foi diagnosticado com Alzheimer e é diabético,
dependente de insulina. Ao exame clínico, verificou-se doença
periodontal avançada com mobilidade dentária, raízes residuais,
lesões cariosas radiculares e prótese total antiga e frouxa na boca,
com lesões avermelhadas no palato.
Baseado nas informações coletadas durante a anamnese e o
exame clínico, quais dificuldades você espera encontrar durante
este atendimento e como agirá para superá-las?
Descreva os aspectos psicológicos a serem considerados no Sr.
Erasmo que podem interferir no seu tratamento.
Para que você consiga ajudar os alunos a responderem aos
questionamentos elencados, serão apresentados, de forma
contextualizada, no item “Não pode faltar”, os conteúdos sobre a
abordagem e o manejo do paciente idoso e os aspectos psicológicos
que interferem no tratamento odontológico.
Todas essas informações são muito importantes para o seu
desenvolvimento profissional, portanto anime-se, você ficará
fascinado pelo assunto!

Não pode faltar


Abordagem e manejo do paciente idoso
O envelhecimento da população brasileira configura um desafio
para a política de saúde pública, pois o idoso, ao longo do tempo,

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 167


pode desenvolver doenças múltiplas e crônicas, por isso utiliza
mais serviços na área da saúde, exigindo, dessa forma, equipes
multidisciplinares e acompanhamento frequente.

As doenças crônicas compõem o conjunto de condições


crônicas. Em geral, estão relacionadas a causas múltiplas,
são caracterizadas por início gradual, de prognóstico
usualmente incerto, com longa ou indefinida duração.
Apresentam curso clínico que muda ao longo do tempo,
com possíveis períodos de agudização, podendo gerar
incapacidades. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013, p. 5)

Normalmente, as doenças crônicas são continuamente


controladas por medicamentos e pela aquisição de novos hábitos
saudáveis, mas nem sempre ocorre a cura.
Um grande desafio da atualidade na saúde é a abordagem do
idoso, pois o nível de vulnerabilidade durante o envelhecimento é
muito heterogêneo e necessitamos conhecer essas diferenças para
ampliar os nossos conhecimentos.
Os estudos mostram que tratar o idoso de maneira fragmentada
e sem entender a repercussão do envelhecimento no eixo saúde-
doença reflete negativamente na saúde. A saúde, neste caso, deve
ser entendida mais amplamente como um bem-estar biológico,
psicológico e social, e não apenas a ausência da doença. Portanto,
o atendimento ao idoso deve ser, de forma individualizada e
com atenção, voltada para a complexidade clínica, levando em
consideração a vulnerabilidade física e seus mecanismos de
adaptação, a presença de doenças atípicas, as mudanças sociais/
comportamentais e maior propensão a iatrogenias.
A abordagem ao idoso deve consistir na compreensão das
condições de como o idoso vive, como é o seu ambiente familiar.
Como já explicado nas seções anteriores, é importante saber escutar
e evitar o monólogo; realizar um planejamento que condiz com a
realidade funcional, estética e financeira do paciente, bem como buscar
um canal aberto de comunicação com o(s) médico(s) que atende(m)
esse paciente e ter domínio no conhecimento de medicamentos que
o paciente utiliza e suas interações. Fundamental para o sucesso do
manejo ao idoso é o controle periódico para preservação dos dentes,
para que não ocorra maior depreciação da condição bucal.

168 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Figura 4.1 | Atendimento odontológico de paciente idoso em consultório

Fonte: <https://www.istockphoto.com/br/foto/homem-s%C3%AAnior-do-escrit%C3%B3rio-de-dentista-
gm172428328-23640678>. Acesso em: 8 abr. 2018.

Exemplificando
Os desafios para a manutenção da saúde bucal dos idosos são
mais amplos devido à pouca formação e ao aprendizado na área da
odontologia associados aos demais profissionais, como enfermeiros,
biomédicos e fonoaudiólogos.

A maior parte do ensino ao idoso é fracionado, sem diálogo entre as


profissões, o que dificulta o compartilhamento de conhecimentos.
A grande diferença no tratamento do idoso se dá quando ocorre a
formação e a discussão em equipe multidisciplinar constituída por:
médicos, cirurgiões-dentistas, educadores físicos, nutricionistas,
farmacêuticos, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes
sociais e família, verificando, em conjunto, os problemas e integrando
conhecimentos específicos de áreas diversas, para propor um plano de
tratamento adequado e individualizado.

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 169


O atendimento ao idoso deve ser realizado, na medida do
possível, por um menor número de dentistas, pois, desta forma,
o idoso tende a se sentir mais seguro, uma vez que ele sempre
é tratado pelos mesmos profissionais, sedimentando vínculos de
confiança e carinho. Devemos também ter sempre um bom diálogo
com os familiares e cuidadores.
Na odontologia, o profissional habilitado no atendimento ao
paciente idoso é o odontogeriatra, o qual detém, dentre outros
conhecimentos, manobras de suporte básico à vida, bem como
dos equipamentos acessórios que o consultório deve conter, pois
muitos desses pacientes apresentam risco no atendimento.
No manejo dos pacientes idosos, o cirurgião-dentista deve
estar consciente e seguro do trabalho que executa, diante
disso é importante buscar formas de contornar as alterações
comportamentais, tranquilizando-se, independentemente do
resultado final. Claro que sempre se deve “tratar” o paciente com o
objetivo de ter sucesso, mas, se as estratégias falharem, o profissional
deve buscar alternativas para o melhor tratamento.
O paciente idoso pode encontrar-se de três formas:
1. Pacientes independentes: são os idosos que podem até ter
doenças crônicas, (controladas com medicamentos), mas
vão aos consultórios sozinhos.
2. Pacientes parcialmente dependentes: idosos que possuem
algum tipo de limitação e dependem de terceiros para irem
ao consultório.
3. Pacientes totalmente dependentes: pacientes que perderam
sua autonomia e dependem integralmente de outra pessoa
para suas funções básicas. Neste caso, se necessário, o
cirurgião-dentista deve fazer o atendimento domiciliar.

Baseado nessas condições (paciente independente, parcialmente


dependente, totalmente dependentes), o profissional decidirá o
planejamento para o seu tratamento, levando em consideração
os aspectos sistêmicos (anamnese), bucais (exame clínico e
radiográfico) e psicossociais (avaliação das expectativas e da
motivação para o tratamento, perspectiva de vida, apoio da família
e condição financeira).

170 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Não há uma padronização na abordagem do tratamento
odontológico mais extenso ao idoso, mas podemos buscar uma
roteirização didática deste planejamento em três etapas:
1. Tratamento inicial: primeiramente, com foco para eliminar dores
dentárias e melhorar a parte estética; instrução e motivação da
higiene bucal; tratamento periodontal; cirurgias; endodontias;
restaurações e próteses provisórias; ajuste oclusal.
2. Tratamento final: reabilitação oral – se necessário, fazer a
confecção de próteses totais, próteses parciais removíveis e
implantes.
3. Manutenção: retornos semestrais para o controle da saúde
são recomendados. Em casos de indivíduos com maior grau
de debilidade, deve-se agendar retornos com frequência
mais curta. Orientações sobre a importância da higiene bucal
entregues por escrito, com letras grandes e, se possível, com
ilustrações motivam mais o paciente.
Para os pacientes dependentes e que, normalmente, estão
institucionalizados, o profissional deve considerar três aspectos
fundamentais para o atendimento:
1. Analisar o nível de dependência do idoso e o grau de
debilidade, para instituir um protocolo a ser seguido pelos
auxiliares e/ou cuidadores acerca da higienização bucal
(escovação dos dentes, língua, uso de soluções de bochecho
e fio dental), higienização diária das próteses e remoção
delas ao dormir e deixar a prótese imersa em produtos de
limpeza à base de peróxidos.
2. Integração com a equipe multidisciplinar para avaliação
das condições sistêmicas e discussão com a equipe sobre
procedimentos mais invasivos (cirurgia).
3. Qualidade do tratamento técnico que corresponda ao nível
e à dificuldade de debilidade do paciente idoso.
Os pacientes institucionalizados (residentes em instituições,
como casa/asilo para idosos) ou de atendimento domiciliar
demandam a presença de equipamentos odontológicos portáteis,
os quais possam ser levados nas residências, nestes casos, o
cirurgião-dentista deve levar em consideração que o custo do
tratamento será mais elevado.

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 171


Assimile
O atendimento domiciliar tem suas vantagens e desvantagens ao
paciente e ao cirurgião-dentista.
Vantagens para o paciente: diminuição do medo pelo desconhecido,
uma vez que é tratado no seu ambiente com independência, pois não
necessita do cuidador para levá-lo ao consultório, e há aumento da
autoestima, pois sente que tem um convidado em casa.
Desvantagens para o paciente: o dentista consegue fazer menos
procedimentos. Este serviço ainda é pouco conhecido e, às vezes, o
paciente sente-se invadido na sua privacidade.
Vantagens para o cirurgião-dentista: o idoso sente-se mais seguro,
motivado e relaxado para o tratamento, mostrando, portanto,
maior facilidade de adesão aos cuidados bucais pelos cuidadores e
enfermeiros, e o cirurgião-dentista se sente mais apreciado e valorizado.
Desvantagens para o cirurgião-dentista: maior estresse, pois existe
menor controle dos imprevistos; o trabalho é fora do seu ambiente
normal de atendimento; há menor apoio em caso de urgências; e a
iluminação e a postura não são ideais para o atendimento.

A abordagem e o manejo do paciente idoso também


dependerão se ele possui alguma doença e qual é ela. Por exemplo,
a abordagem e o tratamento do paciente idoso com Alzheimer
devem ser ditados pelas alterações/comprometimentos que ele
apresentar, assim, para o atendimento clínico desse paciente em
estágio inicial da doença, faz-se o manejo e o condicionamento.
Importante, nesta fase, fazer o planejamento preventivo e realizar
todos os procedimentos clínicos odontológicos possíveis. O
profissional pode realizar atividades lúdicas com o paciente, pois
facilitará sua relação com ele e propiciará a formação de vínculos.
Em um estágio intermediário/moderado do desenvolvimento
da doença, o cirurgião-dentista deve fazer o manejo e o
acondicionamento e, se necessário, o atendimento pode ser
domiciliar. Nesta fase, o cirurgião-dentista deve, principalmente,
eliminar qualquer problema que leve à dor, assim como possíveis
focos de infecção, por exemplo, problemas periodontais. Para
procedimentos com sedação, o planejamento deve ser realizado
em conjunto com o médico do paciente.

172 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


E quando o paciente se apresentar com estágio avançado/
terminal da doença, o atendimento deve priorizar as condições
mínimas de saúde bucal. Nesta fase, o cirurgião-dentista deve
unicamente remover os focos infecciosos e a dor. Lembre-se de
que o conforto do paciente é muito importante, portanto ele pode
receber atendimento domiciliar. É importante ressaltar que, nos
pacientes com Alzheimer, as doenças na cavidade bucal se agravam
devido às dificuldades para levá-los ao consultório, muitas vezes,
por não saírem de seus leitos, ou mesmo por não conseguirem
expressar exatamente suas dores e queixas.
É imprescindível que o cirurgião-dentista entenda que, quando
tratamos desses pacientes, os procedimentos odontológicos
considerados simples podem exigir muitas tentativas até serem
finalizados, portanto deve-se buscar o manejo mais adequado para
a conclusão do tratamento.

Reflita
O tratamento odontológico e os cuidados com a saúde bucal em
idosos acamados são mais complexos devido à condição adversa e
debilitada em que o idoso se encontra. Na sua opinião, baseado no
que você estudou, o atendimento se difere em quais aspectos quando
comparado a um idoso não acamado?

Aspectos psicológicos interferentes no tratamento


odontológico
Como já explicado, o idoso deve ser atendido e compreendido
como um todo, verificando as condições físicas, clínicas e
psicoemocionais. Avaliar a interação cultural e social e a família
também é importante como apoio ao tratamento odontológico.
Diversos estudos demonstram que a ausência de dentes desperta
nas pessoas um sentimento de ser velho, além de terem sido relatados
problemas psicológicos devido à saúde bucal deficiente. A perda
de elementos dentários leva a uma depreciação da autoimagem e
autoestima, que se reflete no ambiente familiar, social, profissional e
amoroso. Os pacientes relatam perder a vontade de sorrir e a perda
do prazer em se alimentar, diante disso a perda dos dentes pode até
levar a um quadro de depressão.

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 173


Ao notar perda da capacidade cognitiva do paciente, o profissional
deve utilizar uma linguagem simples e de fácil compreensão, para que
o idoso consiga absorver todas as informações sobre os cuidados
bucais, e o cuidador também deve participar dessas orientações e ser
motivado, pois ele será o multiplicador das instruções.
Um fator importante a ser considerado no plano de tratamento
é avaliar a expectativa de vida do paciente, a fim de planejar um
tratamento que promova uma maior qualidade de vida e conforto
ao idoso. Para pacientes com grandes debilidades e expectativa
de vida curta, o profissional deve ter um cuidado especial, com o
propósito de oferecer o máximo de qualidade possível, aliviando
possíveis incômodos ou dores.
O planejamento deve ser conversado com sinceridade com o
paciente, a fim de compreender as possibilidades financeiras do
idoso, pois, muitas vezes, ele já possui grande comprometimento
financeiro com suas medicações e exames e o cirurgião-dentista
não deve desestabilizar a vida financeira de seus pacientes.
A ansiedade e o medo são questões psicológicas que devemos
observar, pois representam um grande problema no consultório
odontológico, por isso cabe ao profissional identificar e promover
atitudes que passem confiança ao paciente.
O paciente idoso tem uma resistência a mudanças de hábitos, e
frente a essa conduta o profissional tem que se esforçar ainda mais
para conquistar a confiança e quebrar as barreiras das resistências.

Pesquise mais
Para nos auxiliar a refletir sobre o tema da odontogeriatria voltado aos
aspectos psicológicos, leia o artigo a seguir.
SILVA, E. M. M. da et al. Mudanças fisiológicas e psicológicas na velhice
relevantes no tratamento odontológico. Revista Ciência em Extensão,
v. 2 n. 1, 2005. Disponível em: <www.unesp.br/proex/revista/artigos_
pdf/revista_ce_v2n1_revisao24.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2018.

Para que o profissional preste um serviço de qualidade e de


integralidade, é imprescindível conversar e entender o contexto de
como é a vida desse idoso e sua inserção social, como também observar
se o paciente tem tendência à exclusão social ou dependência, pois,

174 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


normalmente, são indivíduos com menor autoestima, o que, muitas
vezes, pode refletir no cuidado de higiene pessoal.
Dentes ausentes influenciam na fala do paciente, na mastigação,
na fonação e até no momento de empregar alguém no mercado
de trabalho, pois, atualmente, uma boa estética é fundamental, e no
mercado de trabalho temos muitas pessoas com mais de 60 anos em
plena atividade. Portanto, buscar a reabilitação funcional e estética
para melhorar a qualidade de vida do idoso é fundamental, mas para
isso deve-se avaliar o perfil bioemocional dos idosos para ficar atento
aos valores que possuem e buscam no seu tratamento odontológico,
para que o profissional consiga satisfazer seus anseios.
Com o avanço da idade, as perdas ocorrem, e com elas vem a
síndrome do ninho vazio, o aparecimento das doenças, da depressão,
a rejeição, tudo isso pode levar ao esgotamento emocional do
idoso. A fala, a atenção e a memória vão se deteriorando com os
anos, e nós, profissionais da saúde, devemos tratá-los com respeito,
paciência e atenção, não valorizando suas limitações, mas as
atitudes positivas que o paciente demonstrar.
Os idosos institucionalizados, segundo os estudos, tendem a ter
mais depressão do que aqueles que residem em suas casas, e a
depressão é maior em indivíduos com alguma limitação funcional.
Quando a depressão se torna profunda, o idoso começa a pensar
que é um estorvo para a família e que não serve para nada, diante
disso o risco de suicídio aumenta e a família deve estar atenta. A
dependência de pessoas ou familiares gera um sentimento de tristeza
e solidão, somado, muitas vezes, à perda de entes queridos, com isso
o idoso tende a se isolar, o que propicia transtornos mentais, como o
Alzheimer, uma doença progressiva e irreversível, conhecida como a
perda da memória, gerando mudanças psicológicas, como a alienação.
O plano de tratamento para esses pacientes dependerá em que
fase a doença se encontra, por isso devemos sempre conversar
com o responsável legal do idoso. No tratamento odontológico
no idoso com Alzheimer em fase inicial é importante estabelecer
uma rotina diária dos cuidados de higiene pessoal, com horários
fixos e roteirização, para facilitar a vida dele e fazer com que não
tenha dificuldade em executar suas atividades rotineiras habituais.
Uma vez que a doença de Alzheimer avança, normalmente,
verificamos um comprometimento e uma deterioração maior do

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 175


periodonto, devido à presença do biofilme bacteriano, com isso é
recomendado retornos periódicos ao cirurgião-dentista, a fim de
controlar o biofilme para manter a saúde bucal. Com pacientes
em estado avançado de demência, muitas vezes, se faz necessário
atendimento com sedação e, quando isso ocorre, no planejamento
consta que se fazer o maior número de procedimentos
odontológicos de uma vez, para aproveitar a internação e, desta
forma, devolver a saúde bucal ao idoso.
É essencial que o paciente faça o retorno regular ao dentista, para
eliminar e evitar o aparecimento de focos de infecção na cavidade
bucal, os quais, geralmente, agravam a saúde sistêmica.
Para a família de um idoso com doenças degenerativas, é
um grande conforto quando o cirurgião-dentista demonstra ter
conhecimento não apenas da normalidade e das alterações da
cavidade oral, mas de toda a inter-relação da saúde sistêmica e
da condição bucal, bem como das interações medicamentosas e
da fragilidade que o idoso apresenta normalmente. Desta forma,
o cirurgião-dentista cada vez mais se torna importante dentro de
uma equipe multiprofissional, que discute e trata os pacientes com
domínio de técnica e com grande capacidade teórica.

Pesquise mais
Vamos pesquisar e estudar um pouco mais sobre o atendimento
odontológico domiciliar aos indivíduos idosos?
ROCHA, D. A.; MIRANDA, A. F. Atendimento odontológico domiciliar
aos idosos: uma necessidade na prática multidisciplinar em saúde. Rev.
Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 181-189, 2013.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbgg/v16n1/a18v16n1.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2018.

Sem medo de errar


Agora que você já aprendeu mais sobre os idosos, ajude Alice
e Lucas no atendimento ao Sr. Erasmo, respondendo às seguintes
perguntas:
Baseado no diagnóstico da doença de Alzheimer, qual é a sua
conduta clínica e os aspectos psicológicos para o tratamento
odontológico deste paciente?

176 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Após ter realizado a anamnese e o exame clínico, é preciso
elaborar um plano de tratamento, o qual será explicado ao Sr. Erasmo,
bem como ao seu acompanhante legal, solicitando assinatura de
concordância ao tratamento proposto. É importante, antes de iniciar
todas as intervenções, explicar com calma, de forma clara, sobre o
tratamento a ser executado no dia. Esclareça todas as dúvidas com
carinho, mesmo que ele esteja repetindo o mesmo questionamento.
Nunca devemos dizer “eu já expliquei isso para o senhor”.
Sobre o diabetes, é importante solicitar uma avaliação e conduta
do médico por escrito, dizendo que serão realizados procedimentos
invasivos no ambulatório (extrações radiculares e raspagem
subgengival). Quando o Sr. Erasmo estiver com o diabetes controlado,
as consultas serão marcadas no meio da manhã, sendo o atendimento
não muito longo, a fim de evitar que ele permaneça muito tempo
sem se alimentar. E devemos esperar uma resposta de cicatrização
um pouco mais lenta do que em pacientes não diabéticos.

Faça valer a pena


1. O envelhecimento da população brasileira configura um desafio para
a política de saúde pública, pois o idoso, ao longo do tempo, desenvolve
doenças _______ e _________, com isso utiliza mais serviços na área da
saúde, exigindo equipes _______ e acompanhamentos _________.

Após análise das alternativas, assinale a que completa as lacunas


corretamente:

a) Agudas; crônicas; individuais; anuais.


b) Graves; agudas; individuais; anuais.
c) Múltiplas; agudas; individuais; semestrais.
d) Múltiplas; crônicas; multidisciplinares; frequentes.
e) Múltiplas; crônicas; multidisciplinares; semanais.

2. Um grande desafio da atualidade na saúde é a abordagem do idoso,


pois o nível de vulnerabilidade durante o envelhecimento é muito
heterogêneo, e necessitamos conhecer essas diferenças para ampliar os
nossos conhecimentos.

Sobre a abordagem saúde versus doença no idoso para o tratamento


odontológico, assinale a alternativa correta:

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 177


a) O planejamento do tratamento do idoso deve ser executado de forma
fragmentada, a fim de refletir positivamente na saúde.
b) Doenças crônicas são situações que se prolongam mais de 15 dias, não
curáveis, progressivas e sempre controladas por medicamentos.
c) A saúde deve ser entendida com um foco voltado para o bem-estar
biológico e físico.
d) O atendimento ao idoso deve ser individualizado, voltado para a
complexidade clínica, levando em consideração a vulnerabilidade física e
seus mecanismos de adaptação.
e) A consulta odontológica deve ser longa e, de preferência, no meio da tarde.

3. O idoso deve ser atendido e compreendido como um todo, verificando


as suas condições físicas, clínicas e psicoemocionais, e avaliando a
interação cultural e social. A família também é importante como apoio ao
tratamento odontológico.

Sobre os aspectos psicológicos interferentes no tratamento odontológico,


assinale a alternativa correta:

a) Durante o planejamento do tratamento odontológico, devemos levar


em consideração apenas as condições bucais do idoso.
b) O cuidador não deve participar do desenvolvimento do tratamento
odontológico, pois devemos respeitar a privacidade do idoso.
c) O paciente idoso tem uma facilidade a mudanças de hábitos, o que se
reflete no tratamento odontológico.
d) Idosos institucionalizados tendem a ter menos depressão do que o
idoso que reside em sua própria casa.
e) A perda de elementos dentários leva a uma depreciação da autoimagem
e autoestima, podendo desencadear uma depressão que reflete no
ambiente familiar, social, profissional e amoroso.

178 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Seção 4.3
Medidas preventivas e autocuidado, terapia de
suporte e proservação de paciente idoso

Diálogo aberto
Nesta seção, estudaremos sobre as medidas preventivas e
o autocuidado que o idoso deve buscar para manter a saúde
bucal, e compreenderemos a importância da terapia de suporte e
proservação para a saúde no indivíduo idoso. Esse aprendizado lhe
dará suporte para auxiliar os alunos Alice e Lucas no atendimento
ao Sr. Erasmo, de 70 anos. Você se lembra que ele compareceu à
clínica de odontologia para atendimento? Durante a anamnese, a
cuidadora informou que o paciente havia sido diagnosticado com
Alzheimer e diabetes, sendo dependente de insulina. Ao exame
clínico, verificou-se doença periodontal avançada, com mobilidade
dentária, raízes residuais, lesões cariosas radiculares e prótese total
antiga e frouxa na boca, com lesões avermelhadas no palato.
Baseado nessas informações, quais medidas preventivas e de
autocuidado sobre a saúde bucal você deve orientar o Sr. Erasmo
e a cuidadora a fazer? Quais aspectos devem ser analisados para
instituir a terapia de suporte e proservação deste paciente?
Para que você consiga ajudar os alunos a responderem aos
questionamentos elencados, serão apresentados, de forma
contextualizada, no item “Não pode faltar”, os conteúdos sobre as
formas de prevenir as doenças bucais e o autocuidado que o idoso
deve ter na sua rotina diária para preservar e manter a saúde bucal
ao longo dos anos.
Todas essas informações são muito importantes para o seu
crescimento profissional, portanto, anime-se, este assunto prenderá
sua atenção!

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 179


Não pode faltar
Medidas preventivas e autocuidado do paciente idoso
Com o envelhecimento, o corpo sofre mudanças psicológicas
e fisiológicas em sua capacidade de responder a um agente
agressor, e essas modificações também afetam a cavidade bucal.
Sabendo que a expectativa de vida tem aumentado no mundo,
buscar uma qualidade de vida melhor para o idoso e manter sua
saúde são objetivos dos profissionais da saúde. Com o aumento da
longevidade da população brasileira, fez-se necessário modificar a
abordagem e o perfil do profissional para diagnosticar e atender o
idoso adequadamente, de forma integral, além de sistematizar sua
terapia de suporte.
A Odontogeriatria veio fortalecer a Odontologia, no sentido
de qualificar o profissional cirurgião-dentista no atendimento
ao idoso, com características de um profissional generalista, o
qual compreende que o tratamento é muito mais complexo do
que tratar apenas a queixa do paciente (sintomas relatados pelo
paciente doente), é necessário e importante, como já citado em
seções anteriores, avaliar esse paciente no seu contexto integral –
econômico, psicológico, cultural, social e toda a sua história médica.
Todos temos que ter autocuidado, o que significa “cuidar de si
próprio”, e é fundamental para manter e promover a saúde. Com
o envelhecimento, muitas vezes, o idoso vai perdendo a confiança
em si mesmo em realizar tarefas rotineiras e básicas, então, cabe
à família e ao cuidador estimular e motivar o idoso, para que ele
mesmo execute a sua higiene bucal ou que, ao menos, ele participe
ativamente desse momento.
A conscientização sobre a importância da escovação/
higienização, a remoção dos fatores retentores do biofilme
bacteriano bucal, a participação em campanhas preventivas de
algumas doenças e a proservação da saúde bucal através da
promoção de saúde nos revelam que ocorreu uma mudança no
perfil do idoso no passar dos anos. Este fato está diretamente
relacionado com a lenta, porém crescente, mudança no processo
de envelhecimento e saúde, relacionando-se com o processo de
alterações fisiológicas, culturais, sociais e psicológicas, que variam
de indivíduo para indivíduo.

180 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Um dos pontos que deve ser levado em consideração na
proservação da saúde bucal nos idosos é em relação à habilidade
motora e psicológica que ele possui para realizar sua higiene, isto é,
se ele mesmo faz sua higienização ou se tem necessidade de auxílio e
acompanhamento, ou se é totalmente dependente de outra pessoa.
Quando falamos de idosos institucionalizados, isto é, que
vivem, por exemplo, em casas de idosos, diversos estudos
demonstram que esses idosos, institucionalizados por longo
período, têm o cuidado da sua saúde bucal negligenciado, seja
por falta de diagnóstico dos problemas bucais, por falta de uma
rotina organizacional com cuidados diários, pela não preocupação
em relação a atividades preventivas nesta população e pela
indisponibilidade ao tratamento reabilitador.
Os cuidadores, tanto nos institutos quanto nas residências, devem
receber uma orientação técnica adequada quanto aos cuidados
rotineiros com a higiene bucal e à observação diária de lesões que
podem surgir, e ao observar alterações, o cuidador deve comunicar
o profissional e solicitar uma avaliação e diagnóstico, para que,
desta forma, se faça o correto tratamento e também a prevenção
de outras lesões. Se o paciente for desdentado, o cirurgião-dentista
pode, por exemplo, explicar sobre como higienizar a mucosa
desdentada, utilizando clorexidina a 0,12% (sem álcool) em gaze,
que pode ser aplicada pelo próprio idoso ou pelo cuidador; também
é importante incentivá-lo a deglutir várias vezes, para evitar restos de
alimentos na cavidade bucal.
Como já explicado anteriormente, a doença periodontal e a cárie
dental são relativamente comuns na cavidade bucal de pessoas
idosas, sendo o biofilme bacteriano o fator etiológico de ambas
doenças, e sua remoção é a forma mais eficaz de controlar essas
patologias. Para o controle do biofilme, é necessária a sistematização
da escovação com cremes dentais, utilização de fio dental, escovas
interproximais (quando houver presença de próteses fixas, implantes)
e escova unitufo (quando houver presença de recessões, dentes
isolados na cavidade bucal, dificultando a higienização com a escova
normal); outro recurso interessante para auxiliar no controle e na
manutenção de uma boa higienização são os evidenciadores de
placa, os quais podem ajudar a visualizar os locais onde há presença
de biofilme bacteriano. Com essa evidenciação da placa, tanto o

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 181


paciente como seu cuidador terão melhor noção das regiões em
que devem melhorar a higienização.
Outro recurso interessante a ser utilizado pelos idosos são as
escovas elétricas, que conseguem remover efetivamente o biofilme
bacteriano, e são indicadas nos casos em que o idoso não possui
dificuldade visual e ainda tem certa destreza manual. É importante
que o idoso sinta que possui certa autonomia e capacidade em
realizar os seus cuidados de higiene pessoal.
A utilização de soluções de bochecho auxiliares para o controle
do biofilme bacteriano tem sido amplamente indicada quando o
idoso possui limitação motora ou psicológica. O digluconato de
clorexidina 0,12% é a mais efetiva das soluções microbianas para o
controle químico do biofilme, pois inibe sua formação e tem ação
antiplaca, antisséptica e anticárie. No entanto, seu uso deve ser
cuidadoso, pois possui efeitos colaterais, como manchamento de
dentes e língua e alterações no paladar.
Como já citado anteriormente, a perda total ou parcial dos
elementos dentários afeta a autoestima e traz consequências
emocionais e na saúde física, podendo desencadear uma
tendência ao isolamento, dificuldade na fala e na alimentação e
até na deglutição, assim, a reabilitação desses pacientes devolve a
autoestima e as condições do sistema estomatognático.

Assimile
Para prevenir a doença periodontal e a cárie, o profissional precisa
saber indicar corretamente a escova, o tipo de fio/fita dental e creme
dental fluoretado, para que o idoso ou o seu cuidador consiga remover
adequadamente o biofilme bacteriano e manter a cavidade bucal
saudável. Ressaltaremos aqui alguns aspectos que devem ser observados:
• Escova dentária: a escova ideal deve possuir cerdas macias, tendo
o tamanho da cabeça pequena e, preferencialmente, com todas
as cerdas do mesmo tamanho.
• Fio/fita dental: fundamental a utilização deste recurso, pois ele
desorganiza o biofilme das faces interproximais, onde a escova não
consegue ter acesso. Deve ser realizado o movimento de fricção
entre as faces (movimento de serra-serra). Tanto o fio quanto a fita
são efetivos, sendo que o fio é mais fino que a fita, então, em dentes
com apinhamento severo, tem maior indicação o uso do fio dental.

182 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


• Creme dental fluoretado: no mercado atual, existe uma oferta
muito grande de pastas, por isso é importante verificar qual a
necessidade de cada paciente, por exemplo: para indivíduos
com maior propensão à doença periodontal, devemos indicar as
pastas antitártaro (que possuem, em sua composição, substâncias
específicas para combater o biofilme bacteriano); para indivíduos
com sensibilidade dentinária, pastas dessensibilizantes (as quais
possuem, em sua maioria, cloreto de estrôncio, que auxilia na
formação dos plugs dentinários), etc.
• Soluções de bochecho: quando indicado, lembrar o paciente
que é um agente auxiliar no combate à formação do biofilme
bacteriano; para pacientes idosos, devemos evitar prescrever
soluções com base alcoólica.
• Pacientes que utilizam próteses fixas e removíveis: orientar a
utilização de escovas específicas para realizar a sua higienização e
utilizar soluções antissépticas.
• Língua: orientar o paciente e seu cuidador da importância de
higienizar a língua, a fim de remover a saburra lingual, causadora do
mal hálito. A higienização pode ser realizada através de limpadores
linguais ou a própria escova dentária.

Como em todo tratamento, o cirurgião-dentista deve buscar


a tríade: prevenir para que a doença não inicie, retardando a sua
progressão e evitando a sua recorrência, tanto da doença periodontal
como da cárie dentária, e também para outros problemas, como
lesões cancerígenas, maloclusão, desordens da ATM e doenças
sistêmicas com manifestações bucais.
É fundamental que o profissional, ao finalizar o tratamento
odontológico, forneça todas as orientações e motive, em relação
aos cuidados, que o idoso ou o seu cuidador tenha uma rotina
com a higiene bucal e com as próteses, para manter a saúde da
cavidade bucal.
Muitas vezes, o cirurgião-dentista falha na fase do
acompanhamento periódico, e com isso alguns pacientes de
próteses parciais removíveis e/ou prótese total sofrem com
desconforto, o qual, geralmente, sentem, porém, por falta de
orientação, acreditam que faz parte da fase de adaptação, e esse
desconforto pode acarretar na desistência da utilização das próteses,

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 183


por não conseguirem se “adaptar”, o que é um equívoco, pois as
próteses devem ser ajustadas até que haja adaptação e o paciente
não sinta mais desconforto.
O profissional deve orientar sobre a higienização das próteses,
pois elas podem exercer um papel de fator de retenção de biofilme
bacteriano e propiciar infecções. O material utilizado para a confecção
das próteses (resina acrílica), quando no meio bucal, absorve e
adsorve fluidos bucais, e associado ao acúmulo de restos alimentares
e biofilme bacteriano, torna-se contaminado, sendo verificada alta
prevalência de microrganismos. Em virtude dos aspectos anatômicos
e microporosidades da resina acrílica, o cuidado diário com a mucosa
e com a prótese é fundamental para a saúde bucal e sistêmica dos
pacientes. Por exemplo, quando o biofilme bacteriano se acumula
sobre a resina acrílica da prótese, pode ocorrer candidíase protética.
A hiperplasia inflamatória também pode ser desencadeada como
resultado de uma má adaptação da prótese.

Figura 4.2 | Candidíase na região de palato relacionada à prótese dentária mal


higienizada; hiperplasia fibrosa inflamatória relacionada à prótese dentária mal
adaptada

Fonte: Brunetti-Montenegro e Marchini (2013, p. 260).

Para prevenir essas intercorrências, o cirurgião-dentista deve


orientar a higienização das próteses por um desses métodos:
mecânico, químico e mecânico-químico.
• Método mecânico: constitui-se em usar escova dental,
creme dental fluoretado (pouco abrasivo, para não desgastar
a resina) e sabão neutro. Os cremes dentais possuem, em sua
composição, agentes abrasivos, os quais têm por objetivo
remover o biofilme bacteriano. Um exemplo de abrasivo que
leva a um menor desgaste é o bicarbonato de sódio solúvel.

184 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Sobre as escovas para a prótese, estas devem ser específicas
para a prótese total, tendo um cabo menor com um tufo
de fibras mais rígidas e grossas, e para a boca, as cerdas
devem ser macias. Usualmente, no Brasil, as pessoas acabam
usando a escova de dentes para a higienização da prótese,
mas o desenho dessa escova não alcança corretamente a
superfície externa e interna das próteses, não conseguindo
uma boa higienização delas. Outra forma de limpeza
mecânica é a utilização de cuba ultrassônica associada a
soluções desinfetantes; é indicada para indivíduos com
dificuldade motora e visual. O inconveniente é o custo alto
para o paciente.
• Método químico: constitui-se na utilização de soluções
químicas (hipocloritos, enzimas, clorexidina, peróxidos
alcalinos e ácidos diluídos), nas quais as próteses ficam
imersas por determinado tempo, conforme orientação do
fabricante. O profissional deve indicar um agente limpador
que seja atóxico para o paciente, tenha sabor agradável,
também remova manchas e tenha preço acessível, para que
o paciente seja motivado a comprar e utilizar com frequência.
Outro fator importante é esse agente não ser capaz de
provocar corrosão no metal das próteses removíveis, ou
ser muito abrasivo, causando desgastes nas próteses e
propiciando maior retenção do biofilme bacteriano nas
ranhuras, perda do brilho e até mesmo alterar a adaptação
da prótese na boca.
Os peróxidos alcalinos são as soluções mais utilizadas para
limpeza das próteses, e podem ser utilizados nas formas de
tabletes ou pó. Quando colocados na água, transformam-
se em peróxido de hidrogênio. A efervescência do peróxido
alcalino propicia a limpeza mecânica, e os agentes oxidantes
têm função antimicrobiana e removem manchas. Entretanto,
esses agentes não são mais efetivos do que a escovação
com sabão. São indicados para higienizar próteses totais e
removíveis, as quais devem permanecer imersas pelo tempo
preconizado pelo fabricante. Após o uso das soluções, deve-
se ter o cuidado de enxaguar bem, para evitar agressão à
mucosa e lesões.

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 185


• Método combinado: como o nome já diz, é uma associação
dos dois métodos citados anteriormente: escova + creme
dental fluoretado + soluções químicas. O diferencial deste
método é propiciar uma higienização efetiva mecânica com
remoção do biofilme e com atividade antimicrobiana, que
atua sobre os microrganismos.

Figura 4.3 | Escovação de prótese total com escova específica

Fonte: Brunetti-Montenegro e Marchini (2013, p. 260).

Terapia de suporte e proservação


As instituições que atendem os idosos (por exemplo, casas de
repouso) devem instituir programas de prevenção e atendimento à
saúde bucal deste idoso institucionalizado, e o cirurgião-dentista deve
orientar e ensinar os cuidadores sobre a importância de se manter a
condição bucal livre do biofilme bacteriano e como ele deve proceder
tecnicamente, com uma rotina diária para esse controle do biofilme.
Entretanto, para executar atividades educacionais, o profissional deve
avaliar o contexto em que o idoso está inserido, conhecer sua rotina
de horários, de refeição, qual apoio ele possui (familiar e/ou cuidador),
para, desta forma, planejar como auxiliar o paciente na melhora da
qualidade da sua saúde bucal.

186 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Reflita
Na sua opinião, quais aspectos da terapia de suporte e proservação
da saúde bucal do indivíduo idoso totalmente dependente de um
cuidador se diferem do caso do paciente Erasmo, que estudamos
nesta unidade?

O conhecimento da importância da saúde bucal por si só não


altera os hábitos, são necessárias a busca e a implementação de uma
atividade educacional de saúde bucal voltadas para a prevenção e
motivação no idoso, orientando e incentivando a escovação e o
uso do fio dental diariamente; o controle do consumo do açúcar; a
remoção mecânica da saburra lingual, para diminuição da halitose;
e verificação do fluxo salivar dos pacientes, visando à preservação e
saúde das estruturas bucais.
É fundamental, visando ao bem-estar social e à qualidade de vida
do idoso, instituir um programa de terapia de suporte, com exames
periódicos realizados pelo cirurgião-dentista, para controle do
biofilme bacteriano, para limpeza e profilaxia dos dentes e, quando
necessário, fazer raspagem e alisamento radicular, como também
realizar avaliações para verificação de possíveis lesões cariosas, de
recessões gengivais e das próteses dentárias.

Exemplificando
Para melhorarmos a qualidade de vida do idoso no aspecto bucal,
são necessários programas efetivos e acesso amplo ao serviço
odontológico, com atendimento integral e humanizado, considerando
os aspectos curativos, educativos e preventivos, junto a uma equipe
multidisciplinar, para buscar o diagnóstico correto e um plano de
tratamento efetivo. Com relação aos problemas mais prevalentes nesta
população, medidas específicas devem ser tomadas para manter a
saúde e a qualidade de vida, destacando: consultas periódicas, cuidado
em manter o fluxo salivar, controle do biofilme bacteriano e cuidados
com a nutrição e dieta.

A saúde bucal é ligada à saúde como um todo. Os fatores ambientais


e os fatores gerais da pessoa afetam o sistema estomatognático, e
vice-versa, portanto conhecer como esses fatores podem interferir

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 187


na saúde do indivíduo é imprescindível para um correto diagnóstico,
tratamento e proservação da saúde do idoso.
A prevenção tem extrema relevância, baseia-se na reorientação
de técnicas de higiene bucal, levando em consideração as limitações
do idoso: indicar e adaptar a escovação (manual versus elétrica),
utilizar instrumentais acessórios que auxiliam a utilização do uso
do fio dental e indicar soluções de bochecho preventivo de cárie
(fluoretos) ou doença periodontal (clorexidina). Outra estratégia
de prevenção é o diagnóstico precoce de doenças bucais, sendo
necessário acompanhamento frequente de médicos, enfermeiros e
cirurgião-dentista. Por exemplo, quando um paciente não é atendido
de forma preventiva, este pode desenvolver periodontopatias, e
estas também parecem estar relacionadas e aumentam o risco de
doenças cardiovasculares, nascimento de crianças prematuras e
com baixo peso, pneumonia aspirativa, entre outros problemas.
Os idosos podem viver com seus familiares ou podem ser
institucionalizados. Como já citado, a saúde bucal de pacientes
institucionalizados, geralmente, é precária, e os cuidados bucais
diários desses pacientes não são sistematizados na maioria das vezes,
ocorrendo, desta forma, envolvimentos maiores com tratamentos
de emergência, refletindo em grande ansiedade ao idoso, pois,
muitas vezes, as experiências passadas no dentista não são positivas.

Pesquise mais
Para buscarmos um atendimento integral e multidisciplinar aos
indivíduos idosos, temos que ter em mente a condição sistêmica do
idoso que pode vir a interferir na condição bucal e com isso modificar
o plano, o tratamento e a indicação da terapia de suporte desses
indivíduos. Faça uma leitura do artigo a seguir para enriquecer os seus
conhecimentos sobre o assunto.

IRINEU, K. N. et al. Saúde do idoso e o papel do odontólogo: inter-


relação entre a condição sistêmica e a saúde bucal. Faculdade de
Odontologia de Lins/Unimep, v. 25, n. 2, p. 41-46, 2015. Disponível
em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-unimep/index.php/
Fol/article/viewFile/2338/1619>. Acesso em: 1º mar. 2018.

188 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


Caro aluno, lembre-se de que, para trabalhar com pacientes
idosos, você precisará conhecer mais do que os fundamentos
reabilitadores, precisará ampliar seus conhecimentos, por isso
busque contemplar esses pacientes como seres biopsicossociais
em constante desenvolvimento, pois o envelhecimento representa
somente mais uma fase da vida do ser humano. Portanto, pesquise
e debata mais com seus colegas e professores, pois, na sua vida
profissional, quanto mais conhecimentos, mais embasamento terá
para atender a esses pacientes tão especiais.

Sem medo de errar


Agora que você já aprendeu mais sobre os idosos, ajude Alice
e Lucas no atendimento ao Sr. Erasmo, respondendo às seguintes
perguntas:
Quais medidas preventivas e de autocuidado sobre a saúde
bucal você deve orientar o Sr. Erasmo e a cuidadora a fazer?
Primeiramente, devemos avaliar o perfil bioemocional do Sr. Erasmo,
pedir para ele, em uma das consultas, trazer a escova de dente que
utiliza para escovar os dentes e a sua prótese e solicitar que ele
demostre como faz a sua higiene bucal com a escova e o fio dental.
Após visualizarmos, verificaremos o padrão da coordenação motora
que ele possui, para avaliarmos se ele é capaz de realizar sozinho
a sua higiene bucal ou se necessitará do auxílio da cuidadora. Feito
isso, iremos motivá-lo na prática, auxiliando-o a escovar os dentes, a
língua e utilizar o fio dental para manter a boca saudável. A cuidadora
deve estar presente, recebendo as orientações e observando a
forma correta de higienizar, pois, quando o Sr. Erasmo tiver alguma
dificuldade, ela poderá auxiliá-lo.
Devemos explicar e mostrar como deve ser executada a
higienização da prótese com escovas específicas e soluções auxiliares
de limpeza, além de reforçar que o idoso deve dormir sem a prótese.
Quais aspectos devem ser analisados para instituir a terapia de
suporte e proservação deste paciente?
Sobre a terapia de suporte, devemos observar a condição bucal
do paciente, neste caso, o Sr. Erasmo apresenta uma condição
desfavorável, com presença de doença periodontal, lesões cariosas,
raízes residuais e próteses mal adaptadas, portanto, uma vez

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 189


finalizado o tratamento, devemos instituir retornos mais frequentes e
com intervalos menores de tempo, a fim de acompanhar a evolução
do paciente em relação ao controle do biofilme bacteriano, e uma
vez notando que ele está conseguindo realizar adequadamente,
podemos espaçar as consultas de retorno.

Faça valer a pena


1. O indivíduo sofre mudanças psicológicas e mudanças _________em sua
capacidade em responder a um agente ___________, e essas alterações
podem acarretar problemas na cavidade bucal. Buscar uma qualidade
de vida melhor para o idoso e manter sua saúde é a incumbência dos
profissionais da saúde. Com o aumento da ___________ da população
brasileira, fez-se necessário modificar a abordagem e o perfil do profissional,
para diagnosticar e atender o idoso adequadamente e ___________ sua
terapia de suporte.

Complete a sentença adequadamente.

a) Emocionais; neurológicas; sofredor; medida; sistematizar.


b) Fisiológicas; opressor; pressão; capacitar.
c) Neurológicas; agressor; pressão; capacitar.
d) Fisiológicas; agressor; longevidade; sistematizar.
e) Físicas; opressor; medida; capacitar.

2. Um dos fatos a se levar em consideração na proservação da saúde bucal


nos idosos é em relação à habilidade motora e psicológica que ele possui
para realizar sua higiene, se ele é independente, se tem necessidade de
auxílio e acompanhamento ou se é totalmente dependente de outra pessoa.

Em relação à habilidade motora para realizar o controle do biofilme


bacteriano, assinale a alternativa correta.

a) A utilização do fio dental é de fundamental importância para a


desorganização do biofilme bacteriano das faces vestibular e lingual.
b) Para a remoção da saburra lingual, podem ser utilizados os limpadores
de língua ou a própria escova dental do paciente.
c) A soluções de bochecho mais indicadas para indivíduos idosos são as
com base alcoólica.
d) A escova dental indicada para os pacientes idosos são as com cerdas de
média dureza e cabeça pequena.

190 U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial


e) Sobre cremes dentais, podemos indicar, para todos os pacientes, um
mesmo tipo, pois não faz diferença, uma vez que todas possuem flúor na
sua composição.

3. A saúde bucal está intrinsecamente relacionada à saúde como um


todo. Os fatores ambientais e os gerais da pessoa podem afetar o sistema
estomatognático, e vice-versa. Conhecer esses mecanismos de inter-
relação (saúde bucal versus saúde sistêmica) é importante no diagnóstico,
no tratamento e na proservação da saúde do idoso.

Sobre a saúde bucal e os fatores que podem afetar o sistema estomatognático,


assinale a alternativa correta:

a) Doenças sistêmicas, como o diabetes, não causam alterações na


cavidade bucal.
b) Para um bom diagnóstico, devemos levar em consideração apenas a
queixa principal do indivíduo.
c) A anamnese deve ser sempre respondida apenas pelo cuidador ou pelo
responsável legal do idoso.
d) Devido ao envelhecimento e à falta de coordenação motora do idosos,
de forma geral, devemos motivar que a higiene bucal deva ser realizada o
mais precocemente pelo cuidador.
e) Para o sucesso da proservação da saúde bucal do idoso, devemos levar
em consideração os aspectos psicológicos, físicos e emocionais do idoso.

U4 - Fundamentos para atenção ao idoso e ao paciente especial 191


Referências
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