COLUNA LOMBAR - Avaliação Da Fisioterapia - Isabel Bastos de Almeida 8 Março 21
COLUNA LOMBAR - Avaliação Da Fisioterapia - Isabel Bastos de Almeida 8 Março 21
COLUNA LOMBAR - Avaliação Da Fisioterapia - Isabel Bastos de Almeida 8 Março 21
Avaliação da Fisioterapia
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Relação entre Movimento e Sintoma, retirado de (Magee D. , 2006)* ...................................................... 27
Tabela 2: Diagnóstico Diferencial da dor mecânica Lombar retirado de (Magee D. , 2006)* ................................... 29
Tabela 3:Categorias de dor lombar segundo Hall, retirado de (Magee D. , 2006)* ................................................... 33
Tabela 4: Precauções e contraindicações na mobilização da coluna ........................................................................ 39
Tabela 5: Miotomas das raízes lombo-sagradas e músculos enervados ................................................................... 62
* Com permissão de republicação pela fonte: ORTHOPEDIC PHYSICAL ASSESSMENT,
DAVID MAGEE . 4 EDITION Copyright 2006, Elsevier Sciences (USA). ISBN 10: 1·4160-3I09-
X ISBN 13: 978- 1-4160-3109-3
Este texto deriva da convicção da autora de que a excelência no tratamento de disfunções neuro
músculo esqueléticas só poderá ser atingida com a aplicação de uma lógica cuidada e
sistemática que assente num raciocínio clínico elaborado e permita a identificação dos
problemas sentidos e narrados pelos utentes, através da avaliação subjetiva e objetiva que for
efetuada. Entenda-se raciocínio clínico pela parte do fisioterapeuta, como o processo de recolha
de informação e sua análise, em colaboração com o utente e seu contexto por forma a melhor
entender o problema clínico e guiar uma pratica baseada na evidência, (Jones & Darren Rivett,
2019).
Vem no decurso das experiências de ensino aprendizagem na Escola Superior de Saúde do
Instituto Politécnico de Setúbal em Fisioterapia em Condições Músculo Esqueléticas, ao nível
da licenciatura e do mestrado, associadas às experiências decorridas da Prática Clínica nesta
mesma área de intervenção.
Este livro surge da necessidade de desenvolver e aprofundar um conjunto de materiais
pedagógicos outrora elaborados para dar suporte a diversas Unidades Curriculares na área das
condições músculo esqueléticas.
A reflexão e temas aqui apresentados, são também fruto das dúvidas e da pertinência das
questões levantadas pelos estudantes em sala de aula, tanto a nível teórico como a nível prático.
De facto, a maior dificuldade ao tratar utentes com dor é relacionar as diversas teorias e filosofias
subjacentes à terapia manual, terapias ortopédicas e músculo esqueléticas de modo a formar
um todo coeso e com sentido que permita uma melhor compreensão dos nossos utentes, e que
ao mesmo tempo seja baseado na melhor e mais atual evidência científica.
Não é intenção da autora criar um sistema de avaliação, até porque ele está sobejamente
descrito por vários peritos internacionais, como Bogduk, Butler, Cyriax, Edwards, Elvey, Grieve,
Jull, Kaltenborn, McConell, McKenzie, Maitland, Magee; Moore, Mulligan, Richardson, Petty,
Sahrmann; Stoddard além de outros investigadores mais recentes. Foram eles a base
bibliográfica destas matérias.
O objetivo deste texto é apoiar os fisioterapeutas Portugueses recém formados, e estudantes
de fisioterapia que se encontram na fase inicial da sua intervenção clínica, desafiando-os a
refletir constantemente sobre as suas competências na área da avaliação destas condições e
sobre o seu desenvolvimento profissional.
Poderá ainda constituir-se como ponto de partida para desenvolver outras temáticas
relacionadas dentro da avaliação músculo esquelética.
Hoje em dia a “dor lombar” é considerada um problema social dado que tem vindo a aumentar
em incidência e grau de incapacidade.
Acrescem os encargos decorrentes do absentismo laboral, despesas em exames
complementares de diagnóstico e procedimentos terapêuticos, reformas antecipadas e
indemnizações. A lombalgia é atualmente a principal causa de incapacidade no mundo afetando
aproximadamente cerca de 632 milhões de pessoas (WHO). Em Portugal é a patologia
reumática e músculo esquelética mais prevalente.
Os cientistas não consideram a lombalgia uma doença, mas um sintoma proveniente de um
estilo de vida com más posturas e até mesmo de fontes psicológicas, como stresse e depressão.
Assim sendo, é de extrema importância uma adequada avaliação da coluna lombar e seu
tratamento. Este capítulo visa fornecer ao futuro fisioterapeuta ou ao recém-formado uma
ferramenta de consulta para uma melhor avaliação de problemas músculo esqueléticos que
possam ocorrer a este nível.
Inicialmente o leitor será guiado por uma breve revisão de alguns dos aspetos morfofisiológicos
e direcionado para onde possa aprofundar esses aspetos.
O conjunto das vertebras lombares fornece ao corpo um eixo semi-rígido, que capacita a posição
ortostática e permite pontos de inserção aos músculos que movimentam os membros. Em
simultâneo protege a medula no interior do canal medular. (Grieve´s, 2015)
Este segmento da coluna consegue, no seu conjunto, dobrar e rodar porque os seus corpos,
embora rígidos, estão separados por discos intervertebrais deformáveis. Contudo, apenas
existem pequenos movimentos a nível intervertebral: cerca de 13º de Flexão/extensão; 4º de
flexão lateral para cada lado e 1 a 2 graus de rotação axial. Existe mais movimento na coluna
cervical e menos na dorsal, principalmente devido às diferentes proporções de altura entre
corpos e discos intervertebrais, para além da existência da caixa torácica.
Os corpos vertebrais crescem em altura mais rapidamente que os discos intervertebrais
provocando uma diminuição de movimento durante o período do crescimento humano. Após a
maturidade óssea, a diminuição progressiva do movimento será atribuída a alterações
bioquímicas no colagéneo constituinte dos tecidos, próprias do envelhecimento. (Grieve´s,
2015)
A constituição das curvaturas sagitais da coluna vertebral leva à sua tão conhecida forma de S
no adulto. Estas curvas sagitais representam um papel importante na absorção do choque e
conservação de energia durante a locomoção, pois aumentam quando o corpo afunda na fase
de apoio e diminuem quando o corpo se ergue na fase de propulsão da marcha.
Os ligamentos vertebrais, os discos e especialmente os tendões e músculos do tronco, resistem
às mudanças das curvaturas armazenando energia à medida que estas se deformam e
libertando-a de seguida no ciclo da marcha, Michael Adams, Patrícia Dolan em (Grieve´s, 2015)
O corpo vertebral juntamente com os discos intervertebrais resiste às forças compressivas que
atuam ao longo do eixo da coluna. A estrutura trabécular do corpo vertebral facilita o transporte
de nutrientes ao disco intervertebral. Tem uma rica vascularização e enervação. Através de
ramos centrais derivados de vasos externos à coluna e de ramos laminares derivados de ramos
espinais que entram no canal raquidiano pelo foramen intervertebral. A enervação é efetuada
pelos nervos sino-vertebrais que igualmente entram no canal raquidiano pelo foramen
intervertebral.
O arco neural, que é maioritariamente osso cortical, contem mais de 50% do conteúdo mineral
de toda a vertebra. Este arco, juntamente com a face posterior do corpo da vertebra, os
pedículos e as lâminas forma um anel ósseo. O seu somatório ao longo de todos os níveis
vertebrais vai constituir o canal raquidiano. Este protege a medula espinal, os radicelos
nervosos, bem como os vasos e nervos, localizados no seu interior. As suas apófises servem
de inserção a músculos e ligamentos que têm como função efetuar e limitar movimentos.
figura 2:Distribuição de carga na lombar (Canas, 2009)
O núcleo pulposo é bem desenvolvido nas colunas cervical e lombar. Nesta última situa-se
ligeiramente posterior ao centro de rotação do disco.
Quando nascemos é constituído por um tecido mucoide hidrófilo, que com o tempo vai sendo
gradualmente substituído por fibrocartilagem assemelhando-se cada vez mais ao anel fibroso.
A capacidade de fixação de água do disco diminui com a idade e as alterações degenerativas
(espondilose) começam a ocorrer na segunda década de vida. Além disso o disco contém uma
alta proporção de mucopolissacarídeos (atuam como um líquido incompressível) que também
diminuem com a idade sendo substituídos por colagéneo.
As estruturas que podem ser sensíveis à dor nesta região são: o ligamento longitudinal comum
anterior e o ligamento longitudinal comum posterior, o corpo vertebral, a raiz nervosa e a
cartilagem da articulação facetária.
Durante o movimento, a pressão sobre o disco diminui à medida que a pessoa assume a postura
lordótica natural da coluna lombar. A pressão vertical direta sobre o disco pode produzir um
efeito de bombeamento de líquido para dentro do corpo vertebral. Se essa pressão for
suficientemente grande em idades jovens, podem ocorrer defeitos no “end plate”, resultando
nos chamados nódulos de Schmorl. Correspondem a pequenas hérnias do núcleo pulposo para
dentro do corpo vertebral. (Bogduk, The innervation of the lumbar spine, 1983)
A lesão no disco, pode ocorrer em quatro estadíos:
Protusão - movimento posterior do núcleo sem rotura do anel fibroso.
Prolapso - quando somente as fibras mais externas do anel contêm o núcleo.
Extrusão - quando o anel fibroso rompe e há material do núcleo pulposo deslocado para dentro
do espaço epidural.
figura 3: Lesões no disco: A Protusão; B Prolapso; C Extrusão: D Sequestro, retirado de (Magee, 2006)*
A degenerescência, eventualmente provocada por trauma poderá levar a lesões que no caso
de acontecerem a nível do disco se denominam de espondilose. Caso se localizem no par
interarticular do arco tomam o nome de espondilolise, ou ainda espondilolistesis, quando há
desvio de uma vertebra para a frente relativamente à que esse encontra imediatamente abaixo
(figura 4)
figura 4: Espondilolistesis
As raízes nervosas emergem através dos buracos de conjugação e na coluna lombar cada
uma recebe o nome da vertebra de cima. Por exemplo a raiz nervosa de L4 sai entre as vertebras
L4 e L5. (figura 5)
Em virtude do disco se situar na parte mais antero-inferior do buraco de conjugação a raiz desse
nível vai sair acima do disco, pelo que não sofre compressão. Devido à existência da cauda
equina no canal raquidiano lombar, esse disco terá tendência para comprimir a raiz que irá sair
no nível imediatamente abaixo.
Outros músculos mais afastados como os glúteos e o grande dorsal também afetam a coluna
lombar por terem ligações à fascia dorso-lombar e à bainha de tecido conjuntivo que é superficial
aos músculos posteriores. Esta pode ajudar na extensão da coluna a partir de uma posição de
flexão. (Grieve´s, 2015)
Dor nociceptiva.
A dor nociceptiva resulta da ativação do sistema nociceptivo devido a uma lesão atual ou
potencial, IASP, (2011).
Os estímulos que provocam a ativação dos nociceptores podem classificar-se em mecânicos,
térmicos ou químicos.
Existem várias classificações dos nociceptores (neurónios do sistema nervoso periférico
responsáveis pela detecção e transmissão dos estímulos dolorosos), de acordo com a
modalidade de estímulo a que são sensíveis.
De acordo com o diâmetro, mielinização e velocidade de condução as fibras sensitivas
cutâneas, dividem-se em três grupos : A beta, A delta e C polimodais.
Em condições fisiológicas, qualquer destes tipos de fibras podem transmitir informação inócua,
mas apenas as fibras C e A delta transmitem informação nociceptiva. Quando um estímulo
nociceptivo é aplicado à pele, os nociceptores A delta são responsáveis pela dor aguda imediata.
Esta é seguida por uma dor mais difusa provocada pela activação dos nociceptores C de
condução mais lenta (Caseiro, 1997).
Vários estudos concluíram que cerca de 10-20% das fibras C da pele, articulações e vísceras,
não respondem a qualquer tipo de estímulo em condições fisiológicas. São os chamados
nociceptores silenciosos. No entanto, quando estes nociceptores são sensibilizados por
mediadores químicos presentes nos tecidos inflamados, passam a responder a diversos
estímulos, podendo mesmo tornar-se espontaneamente ativos. Estes nociceptores foram
particularmente bem estudados nas articulações artríticas, pensando-se que sejam
responsáveis por uma grande parte da sintomatologia dolorosa que acompanha a patologia
articular inflamatória (Caseiro, 1997).
Será esta classificação a base que deverá determinar o processo de raciocínio clínico na
colocação das hipóteses preliminares sobre o problema do utente, seu diagnóstico em
fisioterapia bem como sobre a tomada de decisão acerca dos procedimentos terapêuticos
subsequentes.
Se ela for de natureza mecânica podemos esperar que seja localizada; tenha uma
característica intermitente; piore durante o dia; e não tenha sofrido grandes alterações desde
o seu surgimento (que deverá ser recente).
Se ela for de natureza inflamatória podemos esperar que seja generalizada numa região;
apresente rubor e calor; piore de manhã com rigidez e espasmo; piore com a pressão
tecidular e com o movimento e melhore com medicação anti-inflamatória (não esteroide).
Se ela for de natureza isquémica podemos esperar que seja associada a posturas mantidas;
piore com o decorrer do dia; melhore com o movimento; não responda a medicação e que
vulnerabilize mais uns tecidos que outros, exe. Músculo.
Saber mais sobre a dor nociceptiva em (Butler & Moseley, Explain pain, 2003) (Caseiro, 1997).
Dor neuropática
A dor neuropática é, por definição, uma dor que resulta de lesão ou disfunção do sistema
nervoso central ou periférico (Caseiro, 1997).
São vários os mecanismos que podem contribuir para o aparecimento de sintomatologia
dolorosa associada a neuropatias periféricas: uma regeneração nervosa anormal; o aumento
da expressão da membrana dos canais de sódio; alterações do sistema modulatório; ou
diminuição da expressão dos recetores opióides.
Regeneração nervosa anormal: Após uma lesão do nervo periférico pode ocorrer um processo
de regeneração anormal que conduza à formação de um neuroma no tronco nervoso -. Neste
caso o espessamento da baínha do nervo pode gerar descargas eléctricas espontâneas, que
conduzem à sensação de dor.
As alterações do sistema modulatório dão-se por perda dos mecanismos inibitórios após
lesão do nervo periférico. Estas podem levar a um aumento da sensibilidade e dor. Após lesão
do nervo periférico pode ocorrer morte seletiva dos neurónios GABA no corno posterior da EM,
conduzindo à incapacidade de inibição dos sinais de dor a esse nível e dessa forma reduzir o
limiar de dor percebida. Além disso, a presença de células inflamatórias que rodeiam a área de
tecido lesado, produzem citoquinas e quimiocinas, habitualmente associadas à mediação do
processo de regeneração tecidular. Estes agentes químicos (ex. citoquina) são irritantes e
podem alterar as propriedades dos neurónios sensoriais primários em torno da área lesada,
Assim a dor neuropática poderá ser produzida por ação diferenciada de dois tipos de estímulos:
1 mecânicos repetidos que conduzem a um congestionamento venoso e a uma alteração da
circulação axoplasmática e
2 químicos provenientes de lesão nos tecidos não neurais. Qualquer deles provoca uma
resposta inflamatória do tronco nervoso e raízes nervosas, com ativação celular imunológica,
edema intraneural, congestionamento venoso e alteração da circulação axoplasmática levando
a desmielinização progressiva e degeneração axonal.
Todo este processo leva à sensitização dos nociceptores do tecido conjuntivo envolvente do
tecido nervoso e formação de locais de atividade ectópica do nervo. Corresponde a um aumento
do input nociceptivo na resposta a estímulos mecânicos e químicos, contribuindo para a
sensitização do sistema nervoso central. (Caseiro, 1997)
1 Ter distribuição cutânea periférica sentida na região da distribuição de uma raiz ou nervo
periférico;
2 poder haver défices motores correspondentes;
3 A dor distal ser mais intensa que a proximal;
4 Poder haver alodínia;
5 Apresentar sensações anormais (parestesias).
A dor é aguda, espasmódica do tipo queimadura ou choque eléctrico, ou como se fosse um “tiro”
(nervo cutâneo); piora com o movimento, estiramento e palpação do nervo; apresenta grandes
variações na sua severidade; quase sempre constante (pior durante a noite/manhã); apresenta
sintomas noturnos; descrita como um desconforto profundo, similar a uma dor de dentes; piora
com estados emocionais negativos e é difícil de aliviar com medicação e repouso.
Saber mais sobre a dor neuropática em (Butler & Moseley, Explain pain, 2003) (Caseiro, 1997).
Saber mais sobre a dor central em (Butler & Moseley, Explain pain, 2003) (Caseiro, 1997).
Tendo em conta que neste livro a abordagem à dor lombar se refere à dor nociceptiva e
neuropática periférica, ficam aqui apenas os indicadores clínicos da presença de dor central,
que o fisioterapeuta deverá conhecer:
Padrão de dor imprevisível e sem relação mecânica proporcional face aos factores que
aliviam/agravam os sintomas e aos testes de movimento;
Presença de hiperalgesia primária, secundária, alodínia e hiperpatia;
Presença de dor e rigidez à palpação em áreas anatómicas difusas;
Identificação de factores psicossociais (catastrofização, medo do movimento);
Níveis de dor desproporcionados face à natureza da lesão;
História de intervenções prévias sem sucesso, (Smart, 2010)
Importa referir, que atualmente existe já investigação relativa à dor crónica lombar tornando
possível reconhecer através de instrumentos cientificamente validados (questionários aos
utentes e outros) as diferenças clínicas entre a sensitização central e a dor neuropática
periférica, com critérios de diferenciação devidamente estudados (figura 6). Será o caso da
figura 6: Critérios de diferenciação entre dor neuropática periférica e sensitização central (não neuropática)
figura 7: Pain Detect Questionaire
O Exame Subjetivo de um utente é o passo mais importante de toda a construção da sua história
clínica, pois dele depende uma adequada colocação de hipóteses para as causas do problema
e consequentemente a escolha acertada dos testes físicos a realizar.
É muito difícil determinar a patologia exata no caso das condições músculo esqueléticas pois
não há questões nem testes diretos que nos deem a informação de que necessitamos para fazer
um diagnóstico adequado em fisioterapia.
Na coluna lombar um utente que apresente um determinado conjunto de sinais e sintomas
sugerindo irritação de uma raiz nervosa, poderá ter um de seis diagnósticos diferentes
confirmados cirurgicamente. Inversamente um utente com um diagnóstico confirmado em
cirurgia pode ter apresentado um de vários conjuntos de sinais e sintomas, Macnab 1971, citado
por (Petty N. , 2006) .
Este aspecto levou Maitland a criar o Conceito da “Brick wall” que envolve um modelo de
raciocínio clínico dividido em dois compartimentos. Estes claramente separam a apresentação
clínica dos pressupostos teóricos e do conhecimento. A dita parede é permeável de forma a
permitir que a apresentação das condições clínicas seja suportada pelo conhecimento e
evidência científica. Contudo há casos em que não se consegue encontrar fundamento teórico
para o conjunto de sinais e sintomas, tornando o diagnóstico extremamente difícil.
No final do exame subjetivo é mandatório a decisão sobre qual a fonte dos sintomas, isto é o
tipo de dor e quais as estruturas responsáveis; que fatores contribuem para a condição
(ambientais, comportamentais, emocionais, físicos e biomecânicos); se existem precauções ou
contraindicações ao exame físico; o prognóstico da condição e a melhor forma de lidar com ela.
Ou seja, ter em mente uma proposta terapêutica.
Este capítulo auxilia-nos na condução do exame subjetivo, a entrevista ao utente. A ordem das
questões poderá ser alterada consoante a narrativa. Contudo é importante não deixar
informação por recolher.
Recolha de informação: Pontos relevantes da entrevista ao utente:
Os resultados mais significativos do exame subjetivo, ou seja, as atividades que o utente refere
melhor reproduzirem os seus sintomas devem ser assinaladas com asteriscos (*). Nos casos de
dores nociceptivas principalmente de ordem mecânica, servirão como referências nas
reavaliações seguintes de forma a avaliar os efeitos da intervenção e do tempo decorrido.
A construção de um body chart deverá ser de tal forma específica que nos indique o local dos
diferentes sintomas em ordem de importância para o utente (1, 2..., 3). Para cada um deles,
algumas das suas características como sejam o descritor referido pelo utente (por exe.: picada,
queimadura, etc.) a sua intensidade na escala numérica de dor, END; a sua profundidade e
se é constante ou intermitente (figura 1)
A centralização da dor implica que esta seja cada vez mais sentida apenas na região lombar, à
medida que o episódio progride. A periferalização implica que a dor esteja cada vez mais a ser
sentida na perna, com maior área de irradiação (figura 9). Será conveniente o fisioterapeuta
possuir um bom conhecimento dos dermatomas e sua correlação com a área de dor.
Alguns autores (Hall, 1993) defendem que o diagnóstico clínico de hérnia discal implica dor
neuropática sentida abaixo do joelho. Isto significa que apesar de haver dor quer lombar quer
na perna, ela é predominantemente periférica. Dor na zona anterolateral da coxa é altamente
sugestiva de problemas no disco de L4-L5, enquanto que dor irradiada à zona posterior do pé é
sugestiva de problemas no disco de L5-S1, nos casos em que a história sugira envolvimento
discal. Contudo, deveremos ter cuidado para não considerarmos que os problemas lombares
têm sempre uma causa discal. Foi referido que apenas 5% das lombalgias são de origem discal,
(Magee D. , 2013)
Muito importante será perceber a relação entre os vários sintomas: se quando uma dor
aumenta surge outra, ou se quando uma dor piora se torna irradiada. Por exemplo um utente
pode ter dor na virilha sem ter dor lombar ou pelo contrário a dor na virilha surgir quando a dor
lombar aumenta.
A dor é o sintoma mais importante e mais referido pelos utentes com disfunções da coluna
lombar. Tipicamente, a dor associada a lesão aguda tecidular, infeção ou trauma, é de curta
duração e normalmente resolve com tratamento adequado. Contudo, em muitos casos a dor
persiste ou torna-se recorrente após a lesão inicial ter desaparecido. É comum ouvir histórias
em que a dor tem início sem uma razão aparente e onde a narrativa constitui um puzzle de difícil
interpretação.
Daí a enorme importância na avaliação da informação recolhida, uma vez que a dor é sempre
subjetiva, real e multifatorial. Compete ao fisioterapeuta promover a prestação de cuidados
personalizados e centrados na melhor evidência científica disponível, (https://www.iasp-
pain.org/Education/CurriculumDetail.aspx?ItemNumber=2055). Esta diz-nos, de uma forma ampla e consistente, que nem
A intensidade da dor pode ser medida por vários instrumentos, sendo o mais comum a escala
visual análoga (EVA) na quantificação da intensidade da dor. Pede-se ao utente que determine
o numero que melhor caracteriza a intensidade da sua dor, entre zero significando ausência e
10, a máxima dor sentida.
O questionário de McGuill (Melzack, 1975) (Petty N. , 2006) é outro instrumento que pode ser
utilizado na avaliação das dimensões sensitivo-discriminativa, afetiva-motivacional e cognitiva
da dor. Pede-se ao utente que determine a palavra que melhor descreve a sua dor quando está
pior e melhor.
Para referências comparativas, pede-se ao utente que utilize a sua pior dor de dentes, de cabeça
ou de estômago.
A avaliação da intensidade da dor pode ser repetida diversas vezes ao longo do dia e/ou ao
longo do período de tratamento pedindo-se ao utente que construa um diário da dor. Este diário
pode constituir um instrumento importante para determinar o perfil e comportamento da dor, ou
mesmo os efeitos do tratamento.
As áreas com sensações anormais devem ser assinaladas no “Body Chart”. Estas situações
incluem parestesias (sensações anormais), anestesia (perda de sensibilidade), hipostesia
(diminuição da sensibilidade táctil, ou a necessidade de um estimulo de maior intensidade que
o normal, para provocar uma sensação), hiperestesia (aumento da sensibilidade ao toque),
analgesia (ausência de sensibilidade dolorosa), hipoalgesia (redução da sensibilidade
dolorosa), hiperalgesia (aumento da sensibilidade a estímulos dolorosos)e disestesia (redução
de sensibilidade táctil)
A parestesia inclui sensações de encortiçamento, formigueiros, edema num membro, aperto em
volta de certas zonas do corpo e “água a correr” sob a pele. A sensação comum de
formigueiro(s) e encortiçamento indica isquémia dos nervos periféricos (Walton, 1989) (Petty N.
, 2006) e pode ocorrer sempre que um nervo é comprimido. Todas estas alterações de
sensibilidade se devem a lesões dos nervos sensitivos em alguma parte do seu trajeto, desde
a raiz espinhal até às suas terminações na pele. O conhecimento da distribuição cutânea das
raízes nervosas (dermatomas), dos plexos lombar e lombo-sagrado, bem como dos nervos
periféricos permite, na clínica, distinguir se a perda de sensibilidade é devida a lesão da raiz
nervosa ou a lesão do nervo periférico.
As hipóteses geradas através do "body chart" devem ser confirmadas ou negadas pela sua
correlação com o resto da avaliação. O comportamento dos sintomas fornece uma
contribuição importante para o exame subjetivo do utente.
Nesta parte da entrevista, o foco é determinar como os sintomas se comportam relativamente
ao tempo, à postura e à atividade. Pretende-se perceber se a situação é irritável ou seja se os
sintomas exacerbam com o movimento ou com o tempo. Como se comportam ao longo das 24h
diárias, e que atividades interferem nos sintomas. Com estas informações poderemos colocar
hipóteses relativamente à neurofisiologia da dor do nosso utente. Pretendemos saber que
atividades diárias estão comprometidas e em que estadio (fase do processo de remodelação
tecidular) se encontra a situação.
Assim necessitamos saber quais os fatores que agravam os sintomas para cada área de dor,
em termos de movimentos ou posturas do dia à dia, exe.: o que faz os sintomas surgirem ou
piorarem, quanto tempo demoram a piorar ou o que acontece a um sintoma quando outro surge
ou agrava.
O fisioterapeuta deve questionar o utente sobre os movimentos mais prováveis de agravarem a
sua dor lombar.
Os fatores que mais frequentemente agravam a dor lombar mecânica são a flexão (dobrar o
tronco para calçar as meias); estar sentado (enrolado no sofá); estar em pé (parado); andar;
correr; sentar-se ou levantar–se; conduzir; tossir ou espirrar. Se a dor for predominantemente
inflamatória, serão necessários ainda menos movimentos ou menor tempo para a provocar ou
exacerbar.
Igualmente necessitamos de saber os fatores que melhoram os sintomas, na medida em que
a postura que alivia as queixas do utente poderá vir a ser uma referência para o planeamento
da intervenção.
Nesta fase do exame subjetivo o fisioterapeuta deverá colocar questões específicas para obter
informação quanto a cada um desses aspectos.
A dor nociceptiva de origem na coluna quase sempre é influenciada pela postura ou movimento.
Os fatores que agravam a sintomatologia indicam hipóteses relativas aos movimentos
envolvidos na disfunção do utente. Igualmente, estes fatores devem relacionar as dores
referidas no "body chart" com as limitações aos movimentos ativos observadas no exame
objetivo (Maitland J. , 2013)
Os fatores que agravam ou aliviam a sintomatologia devem ser questionados para cada área
sintomática, se porventura não fizerem parte do relato da história narrada pelo utente. Desta
forma apercebemo-nos das relações entre sintomas (exemplo: quando um agrava também há
outro que agrava), sugerindo a possibilidade de serem provocados pela mesma estrutura.
Que atividades agravam a dor? A resposta a esta questão ajuda no planeamento do exame
objetivo. Muitas posições da vida diária são semelhantes às dos testes de diagnóstico. Por
exemplo entrar e sair de um carro é semelhante ao teste de slump e ao SLR. Sentar na cama a
ler é semelhante ao SLR.
Os movimentos e posições aumentam a sintomatologia porque colocam em stress várias
estruturas na coluna lombar (tabela 1).
Tossir/espirrar aumentam Aumento da pressão no espaço sub aracnoideu. Aumento da pressão intratectal.
“Jarring” mecânico de movimento repentino e incontrolado.
A B C
A: hérnia entre L4 e L5 a comprimir a raiz de L5. B grande hérnia do disco L5 S1 a comprimir não apenas a raiz de L5, mas também a de
S1. C sequestro massivo do disco L4-L5 a envolver todas as raízes da cauda equina. (Borenstein, Wiesel, & Boden, 1995)
A dor mecânica, tende a aumentar com a atividade e diminuir com o repouso. Que movimentos
provocam dor? Apesar de atualmente a evidência sugerir ser difícil relacionar estruturas a
patologias passiveis de provocar dor lombar, a tabela 2 pretende ilustrar algumas possíveis
causas da dor lombar mecânica, nos casos com patologia. Apresenta uma relação entre vários
fatores subjetivos e agravantes da dor por ligação à patologia. O fisioterapeuta deve ajudar o
utente a diferenciar entre dor e desconforto provocado por alongamento de estruturas.
Diagnóstico Diferencial da dor mecânica Lombar
A dor que agrava com o movimento e alivia com o repouso normalmente sugere um problema
mecânico do sistema neuro-músculo-esquelético (Maitland J. , 2013) .
A dor lombar mecânica apresenta algumas características típicas: é normalmente cíclica; por
vezes referida à nádega ou coxa, associada a rigidez matinal, relacionada com o movimento, à
flexão e por vezes no retorno à posição inicial. Pode ser agravada pela extensão, flexão lateral,
rotação, posturas em pé. Andar, sentar e no exercício em geral. Piora com o decorrer do dia,
alivia com a mudança de posição e melhora com decúbito em posição fetal (Magee D. , 2013).
A osteoartrose das facetas articulares leva a rigidez e dor matinal que melhora com a atividade
ao longo do dia.
O utente descreve um arco de dor ao movimento de flexão ou de flexão lateral? Isso poderá
significar uma protrusão discal sobre o percurso de uma raiz nervosa, ou instabilidade durante
a amplitude de movimento. (Magee D. , 2013)
Há queixas de diminuição de força? Isso pode ser devido a lesão muscular, nervosa ou inibição
reflexa pela dor. (Magee D. , 2013).
Convém ter presente a diferença entre dor radicular que é um sintoma ao longo do território de
uma raiz (eventual compressão dessa raiz) e radiculopatia significando esta última inflamação
neurogénica. Neste caso verifica-se um transporte axonal deficitário, alterações iónicas e
ativação das células imunitárias e degeneração axonal. A presença e predominância destes
vários mecanismos varia com os doentes, o que explica a variabilidade de apresentações
clínicas. É pois muito importante a distinção clínica entre ter apenas dor ao longo do território
da raiz e a existência de lesões mais sérias no interior da mesma.
As alterações mantidas nos nervos periféricos provocam alterações centrais que podem incluir
reações imuno inflamatórias a nível medular e dos centros superiores da dor; sensitização
central e alterações das representações corticais, dando início a um circulo vicioso (Grieve´s,
2015).
Estes fatores englobam os movimentos ou posturas que aliviam os sintomas do utente. Tal como
nos fatores que agravam os sintomas, também aqui é determinante identificar com exatidão
quais os movimentos e/ou posturas que os aliviam e o tempo que demora a obter esse alívio.
Estes dados ajudam o fisioterapeuta a antecipar alguns aspectos que irão surgir no exame
objetivo, nomeadamente a facilidade ou dificuldade com que se obtém o alívio dos sintomas.
Tal fornece informação que facilita a escolha da intervenção. Sintomas que aliviem rapidamente
sugerem que o tratamento terá resultados mais rápidos, enquanto que sintomas mais
demorados sugerem períodos mais prolongados de tratamento.
Para além deste aspecto, tal como nos fatores agravantes, a análise do movimento ou da
postura permite estabelecer ou testar hipóteses sobre as estruturas envolvidas na
sintomatologia do utente. Os fatores de agravamento ou de alívio das queixas do utente são um
instrumento de reavaliação importante na medida em que nos indicam a evolução da sua
condição. O tempo que a dor leva a surgir e a desaparecer, a sua severidade, a sua distribuição,
e o número de repetições necessárias para a produzir ao realizar determinada atividade, são
indicadores do estado da condição.
O comportamento da dor num determinado período de tempo pode fornecer informação acerca
da presença de inflamação e irritação mecânica. As condições inflamatórias tendem a piorar à
noite e são usualmente acompanhadas por rigidez matinal, que perdura mais de meia hora.
Para além destes aspectos, a medicação que vulgarmente se utiliza, (os anti inflamatórios não
esteroides, como exemplo) pode estar correlacionada com a presença ou ausência de
inflamação não neurogénica. O comportamento da dor ao longo de 24 horas pode confirmar a
relação entre as várias dores referidas pelo utente, e ser um instrumento de reavaliação bastante
útil (exe. a dor 1 surge por volta das 14.00h em vez de surgir por volta das 10.00 h como
anteriormente e/ou já não é acompanhada pelas dores 2, 3, 4, etc.).
Nas questões relativas ao comportamento da dor ao longo das 24 horas o fisioterapeuta deve
obter informação sobre a existência de sintomas noturnos. Se sim, como se comportam?
Podemos fazer uma série de perguntas que nos ajudem a esclarecê-los.
O utente tem dificuldade em adormecer por causa dos seus sintomas?
A posição em decúbito pode alterar a carga sobre as estruturas lesadas e fazer surgir a dor. Por
exemplo articulações como a coluna lombar, sacro-ilíacas, ancas, joelhos ou tíbio-társicas têm
menos força compressiva em posição de deitado comparativamente à postura de pé ou sentado.
Dessa forma, caso a carga aumente a dor, será que deveremos esperar uma melhoria dos
sintomas em decúbito?
Quais são as posições em que o utente se sente mais e menos confortável para
adormecer?
Os sintomas que o utente refere no inicio do dia devem ser comparados com os do final do dia,
os quais podem também estar dependentes do tipo e carga nas atividades profissionais
realizadas ao longo do dia.
Para determinar o ciclo típico da dor (24 horas), o utente poderá responder a esta check list de
questões cujas respostas serão um indicador do tipo de dor encontrada: nociceptiva mecânica,
inflamatória ou química; neuropática ou outra.
Segundo Hall, a dor lombar divide-se em quatro categorias, (Hall, 1993). Duas delas
maioritariamente localizadas na região lombar e as outras duas maioritariamente localizadas no
membro inferior (tabela 3).
Dor Padrão Onde dor piora Movimento Movimento que Início do Duração Causa provável
dominante que agrava melhora episódio
Lombar 1 Lombar/nádegas (>90% dor Flexão Extensão Horas a Dias a meses Envolvimento discal
dominante/ lombar). Miotomas raramente dias
afetados. Dermatomas não
Rigidez (repentino ou (ligeira herniação; espondilose,
afetados
causa matinal gradual) distensão. )
mecânica 2 Lombar/nádegas. Miotomas Extensão Flexão Minutos a Dias a semanas Envolvimento facetário
raramente afetados. com rotação horas
Dermatomas não afetados
(repentino)
Dor na perna 3 Perna (habitualmente abaixo do Flexão Extensão Horas a Semanas a Irritação da raiz
dominante/ joelho). Miotomas afetados dias meses nervosa(provavelmente de
(principalmente nos crónicos). causa discal)
Dor nos dermatomas.
causa não
mecânica 4 Perna (habitualmente abaixo do Andar Repouso(sentado) Ao andar indeterminada Claudicação Neurogénica
joelho) (pode ser bilateral). (Extensão) intermitente.
Miotomas afetados
e/ou alteração da
(principalmente nos crónicos).
postura. (estenose)
Dor nos dermatomas.
Tabela 3:Categorias de dor lombar segundo Hall, retirado de (Magee D. , 2006)*
O padrão um sugere envolvimento do disco enquanto o padrão dois sugere envolvimento das
facetas articulares. O padrão três sugere envolvimento da raiz nervosa (eventualmente causada
por disco ou outra estrutura a ocupar espaço no buraco de conjugação). Ainda devido a edema
inflamatório provocado por lesão. O padrão quatro sugere claudicação neurogénica intermitente
(pressão na cauda equina).
A história atual pode ajudar a identificar a extensão da lesão, correlacionando o episódio com
as várias dores assinaladas no "Body Chart"; o agravamento ou alivio das dores; o seu
comportamento ao longo de 24 horas.
Pode também fornecer informação acerca do mecanismo de lesão (movimentos específicos,
grau de força envolvida, etc.). Ou seja, é com a história narrada pelo utente que inter-
relacionamos a informação relevante.
Hoje em dia, a dor lombar crónica é considerada um problema de saúde pública, pela sua
prevalência e pela incapacidade provocada, apesar da lombalgia aguda ter uma duração curta
e um prognóstico favorável. Cerca de 90% dos utentes recuperam num período de 6 semanas,
independentemente do tipo de tratamento. Contudo, os que mantêm dor lombar prolongada no
tempo ou em episódios recorrentes, desenvolvem custos elevados na medida da sua
incapacidade auto reportada, diminuição da qualidade de vida, ansiedade e sintomas
depressivos e um maior consumo de recursos de saúde. Assim, é de extrema importância o
rastreamento do risco de desenvolvimento de dor lombar crónica (DLC) nos utentes que surgem
pela primeira vez com lombalgia.
No projeto SPLIT recorrendo à mais recente evidência científica, sugere-se avaliação do risco
de cronicidade através de uma primeira consulta rigorosa e do preenchimento dum
questionário: o Start Back Screening Tool que determina o nível de risco que o utente tem de
desenvolver DLC. Identificado o risco torna-se mais fácil decidir sobre qual a intervenção mais
adequada (Hill, 2008).
A história clínica anterior ajuda a estabelecer relações entre os vários fatores contribuintes para
a história atual. Por exemplo a história de uma lesão discal, tende a ser reportada com episódios
recorrentes de dor lombar progressivamente mais frequentes e severos na sua intensidade.
A estabilidade da condição clínica, os dados obtidos no exame subjetivo, as hipóteses
estabelecidas, e ainda o prognóstico acerca dos resultados de tratamentos anteriormente
efetuados, são aspetos que o fisioterapeuta deverá ter em conta quando delinear os objetivos
da intervenção atual.
A estabilidade da condição clínica diz respeito à frequência dos sintomas, intensidade de
atividade necessária para desencadear a sintomatologia, resultado dos tratamentos prévios, etc.
O facto de o utente não ter melhorado com tratamentos efetuados anteriormente (devido a
procedimentos inapropriados, ou devido à extensão da lesão), pode ajudar na formulação do
prognóstico. É o caso de estar a piorar ao longo do tempo desde o primeiro episódio.
Há quanto tempo foi o seu primeiro episódio de dor lombar? Foi traumático? Houve mais
recidivas entre essa primeira vez e a atual? Se sim qual a sua frequência?
Quanto tempo duraram os episódios de dor lombar? Dias? Semanas?
Recorreu a ajuda médica e do fisioterapeuta?
Que tratamentos efetuou e qual foi o seu resultado?
O fisioterapeuta deve estar consciente de que, apesar de na maioria dos casos os utentes com
dor lombar terem problemas mecânicos simples, os problemas de raízes lombares que
envolvem os discos, podem resultar de patologia vertebral mais grave.
Waddell determina sinais e sintomas que podem levar o fisioterapeuta a concluir ou pesquisar
se estão ou não presentes condições ou patologias mais graves, (Magee D. , 2013): Dificuldade
em urinar; Perda de tónus no esfíncter anal ou incontinência fecal; Anestesia anal ou perineal
alargada (>uma raiz nervosa); Fraqueza motora progressiva nos membros inferiores; Alterações
da marcha. Ainda Trauma violento como queda de uma altura ou acidente automóvel; Dor
constante; Dor torácica; História prévia de neoplasia; Abuso de esteroides, HIV, perda de peso
involuntária e sistemática; Restrição severa e persistente da flexão lombar; Sinais neurológicos
disseminados e Deformidade estrutural.
Mais recentemente a IFOMT leva a cabo um consenso para ajudar na pratica clínica a avaliar e
lidar com os utentes que possam sofrer de patologia grave na coluna. Embora rara, a patologia
séria leva a alterações de vida e a consequências drásticas. Deve por isso ser identificada
precocemente. As Red Flags (sinais e sintomas que levantem suspeitas de patologias graves)
historicamente têm vindo a ser utilizadas ao longo dos tempos para identificar essas patologias.
Atualmente existe uma falta de evidência científica de alta qualidade no diagnóstico rigoroso da
maioria das red flags, o que veio suportar a necessidade deste trabalho. Ele teve como objetivo
fornecer um caminho que clarificasse o papel das red flags. Por este motivo é altamente
aconselhada a sua leitura: International Framework For Red Flags for Potential Serious Spinal
Pathologies (IFOMT, 2020).
Estas questões relacionam-se com o despiste de patologias mais graves que possam vir a
constituir uma contraindicação para o tratamento através de terapia manual.
A International Framework For Red Flags for Potential Serious Spinal Pathologies (IFOMT,
2020) construiu um instrumento de decisão que auxilia os clínicos na identificação adequada
das red flags ou seja patologias graves da coluna, baseada na evidência científica.
A base da construção desse instrumento teve em consideração três passos:
Passo 1 - Determinação do nível de preocupação (figura 11). Considerar a evidência que suporta
as red flags associada ao perfil determinante de saúde do indivíduo (ex. idade e sexo). Decidir
o nível de preocupação do fisioterapeuta (índice de suspeita) da presença de patologia grave.
figura 12: Nível de Preocupação RED FLAGS (IFOMT, 2020)
Passo 3 – Considerar o caminho a seguir em caso de emergência ou urgência na referência
do utente a outros profissionais de saúde. (figura 13).
figura 13: Critérios de referenciação RED FLAGS (IFOMT, 2020)
Gravidez - Técnicas que envolvam pressão podem ser utilizadas até aos seis
Patologia óssea ao nível da coluna vertebral.
meses e as rotações até aos 8 meses.
Patologia maligna prévia noutros locais que não os tecidos moles não é
contraindicação para a mobilização das articulações da coluna. A possibilidade de
metástases precisa de ser excluída.
Polimialgia reumática - Esta condição deve ser encarada como uma artrite
inflamatória.
Tabela 4: Precauções e contraindicações na mobilização da coluna
Apesar da evidência mais atual considerar que a manifestação de alguns sintomas isolados são
de baixo risco para serem relacionados com condições específicas acima referidas como por
exemplo as lesões da cauda equina, achamos de relevância que essas questões sejam
despistadas numa primeira avaliação ao utente.
O estado geral de saúde pode indicar uma patologia sistémica. O fisioterapeuta deve perguntar
ao utente se este se sente fatigado, com febre, náuseas ou vómitos, “stress”, ansiedade
ou depressão. A sensação de “não se sentir bem” é comum nas neoplasias enquanto que a
fadiga e a depressão podem estar associadas a doenças sistémicas como a artrite reumatoide.
O utente perdeu peso recentemente? Se não existe nenhuma explicação para uma brusca
perda de peso, isso pode indicar uma situação maligna.
O utente foi alguma vez diagnosticado como tendo artrite reumatoide? Verificar também se
existe essa condição nos seus familiares, já que se trata de uma patologia hereditária e o utente
pode apenas apresentar os primeiros sinais.
Que medicação está a tomar? Esta informação pode ser útil em termos da compreensão do
processo patológico e da forma como pode afetar o tratamento (ex. a dose de analgésicos pode
ser um indicador acerca da intensidade da dor). É preciso ter atenção aos utentes que vêm fazer
tratamento ou ser avaliados sob o efeito de analgésicos, já que a dor pode ser temporariamente
mascarada e surgir uma reação de exacerbação dos sintomas depois da avaliação ou
tratamento.
Verificar também se existem efeitos secundários na medicação que o utente toma e que possam
interferir com a intervenção da fisioterapia.
Toma esteroides com regularidade? Doses elevadas de corticosteroídes durante períodos
longos (> 6 meses) podem causar osteoporose.
Toma anticoagulantes? Se sim, é necessário ter cuidado durante o exame objetivo e futuros
tratamentos de forma a evitar que ocorram situações traumáticas nos tecidos com
consequente derrame.
Tem Exames Complementares de diagnóstico ?
Verificar se o utente tem algum tipo de exames complementares. Podem ser úteis em
determinados tipos de patologias ou para ajudar a compreender a extensão da lesão.
No entanto, os resultados de exames complementares (ex. RX, TAC ou RM) não devem ser
considerados como evidência definitiva de presença ou ausência de patologia ou disfunção. A
presença de alterações neste tipo de exames mesmo com sintomas clínicos, ou alterações na
função podem ter pouco ou nenhum valor na compreensão do problema do utente ou dos efeitos
do tratamento.
Estudos efetuados em sujeitos assintomáticos (n=1172) revelaram uma grande variedade de
situações anormais (683 sujeitos) (Placeholder1).O facto de se detectarem estas situações na
população normal pode ter pouca, ou nenhuma relação entre a configuração óssea da coluna e
os sinais e sintomas referidos pelos utentes.
Estes e outros resultados levaram o Clinical Standards Advisory Board a considerar que o RX
de rotina não é necessário antes de qualquer tratamento (Wiesel, 1984) conservador uma vez
que apenas identifica alterações degenerativas relacionadas com a idade que não se
Neste item devem ser questionados aspectos relevantes acerca da história familiar e social,
como por exemplo, idade, tipo de emprego, atividades de lazer, suporte familiar, etc. Este tipo
de informação permite conhecer melhor aspectos do contexto do indivíduo que ajudem a planear
a intervenção. Compreender a adesão do utente ao tratamento, e orientar o aconselhamento de
forma a melhorar a condição atual e prevenir possíveis recorrências e o desenvolvimento de
dor persistente e incapacitante.
Com esta informação o exame subjetivo fica completo. O fisioterapeuta deverá resumir os
aspectos mais relevantes, definir o sinal comparável e equacionar o que espera encontrar no
exame objetivo. Neste irá ajudar a confirmar ou rejeitar as hipóteses colocadas acerca do
problema do utente.
1.Postura
Foi com a adoção da posição bípede que tudo se alterou na coluna vertebral do ser humano. A
marcha sem a utilização dos membros anteriores, e a horizontalização da visão, permitiu a
evolução do homo sapiens. Essa alteração libertou os braços para a realização de outras tarefas
como recolher alimentos, fazer sinais, criar e lançar armas progressivamente mais sofisticadas.
A postura é a posição relativa do corpo. É o conjunto das diferentes posições das articulações
num determinado momento. A posição de cada articulação vai ter efeito sobre a posição das
outras. Classicamente e na visão lateral, o alinhamento postural ideal é definido por uma linha
reta vertical (linha da gravidade ou prumo) que passa através do lobo da orelha, dos corpos
vertebrais cervicais, do limite externo do ombro, na linha média do tórax, através dos corpos
vertebrais lombares, ligeiramente posterior à articulação da anca, ligeiramente anterior ao eixo
da articulação do joelho e imediatamente anterior ao maléolo externo.
A postura ideal será aquela em que cada articulação sofre o mínimo de stress e para a qual seja
necessário a mínima atividade muscular.
Qualquer posição que aumente o stress sobre as articulações pode ser considerada disfuncional
ou defeituosa. A patologia pode derivar do efeito cumulativo de pequenos stresses repetidos
sobre as articulações e músculos durante um período de tempo prolongado ou de um stress
maior mas constante durante um curto período de tempo. Os stresses crónicos podem provocar
o mesmo efeito que apenas um, mais súbito e agudo. Como consequência surge desgaste
excessivo das superfícies articulares, produção de osteófitos ou esporões de tração,
representando uma tentativa do corpo para se acomodar a essas posições. O surgimento
inesperado de um stress agudo pode originar sintomas que levem o utente a procurar auxílio.
(Magee D. , 2013)
figura 15: Ângulos normais da coluna e sacro. a)ângulo lombo sagrado (140º); b) lordose lombar(50º) c)ângulo sagrado
(30º);ângulo pélvico (30º) retirado de (Magee D. , 2006)*
Os músculos posturais ou tónicos (ex. psoas ilíaco) tendem a responder à patologia com
encurtamento sob forma de espasmo. Os músculos dinâmicos ou fásicos (exe. os abdominais)
tendem a responder com atrofia. A patologia quando afeta os dois tipos de músculos pode levar
ao chamado “pelvic cross síndrome”.
Observação da Postura
Na visão lateral (figura 17) É esperado que o lobo da orelha esteja alinhado no mesmo plano
frontal com o acrómio e com a crista ilíaca. Este plano divide o corpo em duas metades, anterior
e posterior. Verificar se as curvaturas antero posteriores da coluna são exageradas ou
diminuídas. Há aumento da lordose ou cifose? Os ombros estão anteriorizados? Quando o
queixo está anteriorizado haverá uma tendência para um aumento da lordose lombar para
compensar a posição do centro de gravidade. Cada segmento da coluna vertebral tem uma
curvatura normal e por exemplo uns glúteos exageradamente grandes ou com gordura podem
sugerir uma lordose lombar aumentada, sem que seja real. Da mesma forma, umas omoplatas
muito afastadas da linha média podem sugerir erradamente um aumento da cifose torácica.
Habitualmente as espinhas ilíacas ântero-superiores EIAS estão mais baixas que as espinhas
ilíacas póstero-superiores EIPS, ou ao mesmo nível. Os joelhos devem ser retilíneos, com cerca
de 5º de flexão, e não deve haver hiperextensão ou recurvatum nem flexos. A hiperextensão
figura 17: Observação da postura, Visão lateral
Na visão posterior devemos observar o nível dos ombros, das espinhas e ângulos inferiores
das omoplatas que se espera estarem ao mesmo nível. Verificar se existem deformidades. É
esperado que as espinhas e ângulos inferiores das omoplatas estejam nivelados e os dois
bordos internos das omoplatas devem estar equidistantes da coluna torácica. Se isto não
acontecer é porque uma das omoplatas tem uma disfunção postural.
Qualquer curvatura lateral (escoliose) deve ser anotada. Uma linha vertical deverá passar entre
o sulco glúteo (linha posterior de referência). Os ângulos ílio costais devem ser iguais dos dois
lados, como no aspeto anterior. Os braços equidistantes do corpo (figura 18). É esperado que as
EIPS estejam niveladas, assim como as pregas glúteas e poplíteas. Se uma EIPS for mais alta
do que a outra podemos estar na presença de uma diferença de comprimento de membros ou
de rotação da pélvis.
As EIPS estão relacionadas com as EIAS: se a EIAS de um lado e a EIPS do outro lado estão
mais altas, então temos uma deformidade em torsão (anterior ou posterior) na articulação sacro
ilíaca. Se a EIAS e a EIPS dum lado estiverem mais altas que a EIAS e a EIPS do outro lado
pode haver uma disfunção da sacro ilíaca desse lado (deslizamento superior desse ilíaco).
(Magee D. , 2013)
Devemos notar qualquer alteração nas costelas, nomeadamente um arqueamento ósseo. Os
contornos ósseos e dos tecidos moles devem ser simétricos. Os tendões de Aquiles e
calcanhares devem ser retos.
Visão Posterior
• Posição da cabeça.
• Nivelamento dos ombros (elevação/depressão)
• Nivelamento das omoplatas (distância à coluna dorsal; simetria do ângulo
inferior).
• Simetria das pregas ílio-costais
• Simetria dos ângulos ílio-costais.
• Nivelamento das pregas glúteas.
• Alinhamento dos joelhos (valgismo/varismo).
• Alinhamento das articulações tíbio-társicas (inversão/eversão)
• Posicionamento do arco interno dos pés (pé em apoio).
Qualquer assimetria postural (desvio do normal) deve ser corrigida passivamente de forma a
determinar a sua relevância para o problema do utente.
Os movimentos ativos são executados com o utente em pé. O fisioterapeuta estará atento
às diferenças de amplitude e à vontade/capacidade do utente para se movimentar. Os
movimentos mais dolorosos devem ser os últimos a realizar. Se o utente atingir a amplitude total
esperada sem sintomas, para cada movimento, será então aplicada uma suave pressão
adicional no final desse movimento. Isto apenas se for indolor. A pressão adicional deve ser
aplicada com muita atenção pois o peso da parte superior do tronco já está a ser suportado pela
coluna lombar.
Se a queixa do utente for em posturas mantidas, sugere-se a manutenção do movimento
provocatório cerca de 10 a 20 segundos no final da sua amplitude para verificar se os sintomas
surgem ou aumentam.
• A qualidade do movimento
• A quantidade de amplitude disponível
• O comportamento da dor ao longo da amplitude e no seu final
• A resistência do movimento ao longo da amplitude e no seu final
• O surgimento de espasmo muscular
Esta informação deverá ser registada de forma que fique perceptível a ocorrência dos fatores
limitantes ao movimento, podendo ser realizado um diagrama de movimento.
Deve-se avaliar a flexão diferenciando o movimento que realmente ocorre na coluna lombar e
excluindo o que acontece nas ancas e coluna torácica. Devemos medir esse movimento pela
distância das mãos ao chão.
É importante perceber que é possível para algumas pessoas chegar com as mãos ao chão
através do movimento de flexão das ancas, sem que ocorra movimento na coluna lombar.
No movimento de flexão, espera-se que a coluna lombar se mova de uma posição lordótica para
uma curvatura contrária ou pelo menos retificada. Se esta alteração não acontecer significa que
estamos perante hipomobilidade podendo esta ser devida a encurtamento de estruturas, a
espasmo muscular ou alguma lesão estrutural.
O grau e o estadio de lesão ocorrida também será um fator limitante ao movimento. Assim,
quanto maior e mais recente for o grau da lesão de um disco intervertebral maior será a limitação
do movimento.
O comportamento do movimento de flexão face à dor provocada por uma lesão no disco varia
consoante o grau dessa mesma lesão. No caso de degenerescência discal o movimento
intersegmentar pode até aumentar, dependendo da fase da condição. Kirkaldy-Willis, (1983)
considerou 3 fases neste processo: disfuncional, instável e estável. Durante as duas primeiras
fases foi observado que o movimento inter-segmentar de flexão, rotação e flexão lateral
aumentava e que na fase estável diminuía. (Fujiwara, Lim, & Tanaka, 2000)
A fase instável pode ser muitas vezes observada num ou mais movimentos, especialmente no
retorno à posição neutra, vindo da posição de flexão. (Magee D. , 2013)
Acontece uma ligeira mudança repentina de direção ou uma ondulação no movimento ativo.
Outras vezes o utente reporta que “qualquer coisa saiu do lugar”. (Magee D. , 2013)
Se o utente flete um ou os dois joelhos durante a flexão, devemos pensar em sintomas da raiz
nervosa ou encurtamentos dos ísquio tibiais, especialmente se a flexão diminuir com a extensão
dos joelhos. Nestes dois casos o fisioterapeuta deverá executar testes específicos diferenciais
para determinar a causa do problema.
Ao executar o movimento é pedido ao utente para deslizar as mãos na face posterior das coxas.
Devemos medir essa amplitude de movimento pela distância do terceiro dedo das mãos às
pregas poplíteas.
Para avaliar a capacidade de hiperextensão, podemos pedir ao utente para realizar este
movimento em decúbito ventral, apoiando-se nos antebraços ou nas mãos de modo a ficar na
posição de esfinge. Aguentar esta posição cercar de 10 a 20 segundos e verificar se surgem
sintomas ou se agravam.
É pedido ao utente que leve a sua mão pela face externa da coxa na direção do joelho ipsilateral,
sem se inclinar nem anterior nem posteriormente.
Devemos medir a distância do terceiro dedo ao chão e comparar o movimento existente entre
os dois lados.
Na coluna, o movimento de flexão lateral é conjugado com o de rotação. Normalmente, a curva
da coluna na flexão lateral é suave, sem angulações abruptas. Se ocorrer uma angulação entre
2 níveis pode significar a existência de hipomobilidade abaixo dessa charneira e de
hipermobilidade acima dela.
Se um movimento de flexão lateral para o lado da dor aumentar os sintomas, a lesão será
provavelmente intra-articular, porque os músculos e ligamentos desse lado estarão relaxados.
Se houver uma protrusão discal para esse lado é provável que a dor aumente e ainda que
provoque irradiação por compressão da raiz. (Magee D. , 2013).
Por vezes as pessoas com problemas de disco adotam um desvio lateral do tronco como fuga
à dor. Em alguns, esse desvio é para o lado da lesão e noutros para o lado contrário. Uma das
possíveis causas desse evento é a localização do prolapso discal. Quando este é externo ou
lateral à raiz (A) o desvio protetivo é para o lado oposto à irradiação da dor. Por outro lado,
A rotação esperada para a esquerda e para a direita deve ser igual, sendo acompanhada de um
movimento de ciselamento das vertebras lombares umas sobre as outras.
Pode ser avaliada na posição de pé, ou com o utente sentado de forma a eliminar movimentos
da pélvis e/ou das ancas. Se o utente estiver em pé, o fisioterapeuta deverá prestar atenção a
estas possíveis substituições e estabilizá-las.
Uma vez que os mecanismos de lesão ou dor na região lombar normalmente não ocorrem
apenas por consequência de um movimento puro como a flexão ou extensão isoladas, devemos
incluir a combinação de movimentos na avaliação da coluna lombar. Os movimentos
combinados podem causar sintomas diferentes dos provocados pelos movimentos simples num
só plano e serão indicados nos casos em que o exame subjetivo o sugira. Por exemplo, se
temos como hipótese uma dor lombar de origem facetária, a extensão combinada com a rotação
será o movimento com maior probabilidade de reproduzir as queixas. Outros sintomas que
sugerem envolvimento das facetas são queixas de rigidez lombar com ausência de irradiação
de dor para o membro inferior e de sinais neurológicos.
Nesta fase da avaliação, após se terem observado os movimentos da coluna, deverão ser
excluídas como causas de dor, as articulações periféricas das ancas, joelhos e tíbio társicas.
Podemos fazê-lo de uma forma rápida pedindo ao utente que se coloque de cócoras e balance
lateralmente o peso sobre um e outro pé. Se este teste for negativo, não será necessário testar
cada articulação periférica per si. Contudo devemos ter atenção, pois podemos estar perante
• Flexão lateral esquerda (figuras 22 e 23)
figura 22: Pressão Adicional na Flexão Lateral figura 23: Pressão Adicional na Flexão Lateral
figura 25: Pressão adicional no Quadrante para a direita - Extensão + Flexão lateral direita + Rotação para a direita
Esta teoria é algo simplista e pouco rigorosa à luz do conhecimento atual, já que não clarifica
o verdadeiro mecanismo pelo qual a repetição de movimentos altera os sintomas lombares.
Um estudo em cadáveres, (Shacklock, 2007) contraria esta teoria, referindo que a pressão
no disco durante a flexão é maior na sua região anterior.
- Padrão irregular que ocorre naquelas situações que não são nem de estiramento
nem de compressão e se caracterizam por ter uma resposta irregular. Neste caso os
sintomas tanto surgem quando se estira como quando se comprimem as estruturas
enervadas. (McCarthy, 2010).
Caso haja dúvidas quanto à causa estrutural dos sintomas podemos ainda recorrer aos
testes diferenciais. Estes são úteis por permitirem distinguir entre duas estruturas na
possível origem dos sintomas. A posição que provoca os sintomas deve ser mantida
constante e acrescentado um movimento à distância, que possa causar alteração aos
mesmos (Shacklock, 2007).
Na coluna lombar é muito difícil realizar os movimentos passivos devido ao peso do corpo.
Se o movimento ativo, qualquer que tenha sido a sua amplitude, não despertar dor, o
fisioterapeuta continua-o passivamente para avaliar a “reserva passiva”. Caso não tenha
despertado dor aplica a pressão adicional, já atrás mencionada. (Maitland J. , 2013)
A comparação da resposta entre os movimentos ativos e passivos pode ajudar a determinar se
o que provoca a dor é uma estrutura contrátil (extra-articular) ou não contrátil (articular) (Cyriax
& Cyriax, 1993).
O movimento global na coluna é o somatório dos movimentos intervertebrais existentes entre
cada dois níveis consecutivos.
Será mais fácil executar o movimento passivo inter-segmentar ou intervertebral com o utente
em decúbito lateral. A sensação final será a mesma, mas o fisioterapeuta terá melhor controlo
do utente e há menor probabilidade de forçar excessivamente as articulações.
Os movimentos passivos intervertebrais na coluna lombar são: flexão; extensão; lexão lateral e
rotação .
Em decúbito lateral o fisioterapeuta suporta o peso dos membros inferiores do utente realizando
estes movimentos, enquanto palpa o espaço inter-segmentar entre duas vertebras
consecutivas. Assim fará a flexão/extensão de L5/ S1; L4/L5; L3/L4 e sucessivamente. Repete
o mesmo para cada movimento testado.
São os movimentos passivos fisiológicos intervertebrais (PPIVMs - Passive Physiological
Intervertebral Movements) que detetam a mobilidade entre duas vertebras consecutivas. Os
PPIVMs constítuem um reforço importante para os PAIVMs (Passive Acessory Intervertebral
Movements - movimentos acessórios passivos intervertebrais) na identificação da hipo ou
hipermobilidade segmentar.
Ainda aproveitando esta posição de decúbito lateral podemos fazer os testes de integridade
articular.
Com o utente em decúbito lateral, coluna lombar em posição neutra e ancas flectidas a 90º, o
fisioterapeuta exerce uma força longitudinal cefálica ao longo do eixo femoral ao mesmo tempo
que palpa os espaços intervertebrais entre vértebras consecutivas procurando sentir qualquer
movimento excessivo no sentido antero-posterior.
Utilizando a mesma posição, o fisioterapeuta puxa as coxas do utente em sentido distal ao
mesmo tempo que palpa os espaços intervertebrais entre vértebras adjacentes procurando
sentir qualquer movimento excessivo no sentido póstero-anterior.
Os movimentos acessórios são definidos como movimentos que não podem ser realizados
ativamente, mas podem ser executados no indivíduo por uma força externa (Maitland J. , 2013)
Podem ser executados sob forma de deslizamento das superfícies articulares, tração,
compressão e rotação.
A avaliação dos movimentos acessórios é importante porque eles ocorrem simultaneamente
aos fisiológicos. Para que exista movimento fisiológico será necessário haver deslize entre as
superfícies articulares. Uma limitação na amplitude dos movimentos acessórios, traduz-se numa
diminuição da amplitude disponível dos fisiológicos.
A avaliação dos movimentos acessórios pode ajudar nos seguintes aspectos (Jull 1994),
citada por (Petty N. , 2006)):
O fisioterapeuta deverá decidir se move até ao limite da amplitude (L) ou até à dor (D), conforme
a categoria estabelecida no exame subjetivo.
Coluna Lombar
Sacro
Cóccix
Postero-anterior
Antero-posterior
Para obter mais informações quando se examinam os movimentos acessórios podemos alterar
os seguintes factores:
• Velocidade da aplicação da força.
• Direção da força aplicada.
• Ponto de aplicação da força.
• Posição da articulação.
3.Testes Músculares
Nas queixas nociceptivas e para que se esclareça se existe envolvimento muscular na origem
dos sintomas do utente, testam-se os músculos relacionados com a coluna lombar de uma forma
isométrica.
Com o utente sentado resistem-se os movimentos de flexão, extensão, rotação e flexão lateral.
A coluna lombar deve estar em posição neutra e os movimentos dolorosos deixados para o fim.
A figura seguinte (figura 27) representa os músculos que atuam sobre as vertebras lombares.
figura 27 :Diagrama da relação dos músculos com ação na lombar - retirado de (Magee D. , 2006)*
No sentido de excluir as outras articulações como possíveis causas dos sintomas do utente,
podemos executar testes rápidos (ex. agachamento) que ponham em causa as várias
articulações periféricas dos membros inferiores, podendo assim eliminar a presença de
patologias obvias das extremidades. Qualquer desvio do normal deverá levar o fisioterapeuta a
examinar em pormenor essa articulação específica. Estão em causa as articulações sacro-
ilíacas; ancas; joelhos; tíbio társicas e pés. Os testes iniciam-se pelos movimentos ativos destas
articulações.
4.Testes Neurológicos
O exame físico do sistema nervoso tem como objetivo verificar a condução nervosa, ou seja, se
há integridade na passagem do potencial de ação no interior da fibra nervosa. Algumas das
propriedades deste fenómeno traduzem-se por uma resposta adequada quanto à força
muscular; à sensibilidade cutânea e aos reflexos osteo tendinosos.
Se houver compressão no tecido nervoso, quer ao nível da raiz quer a nível periférico teremos:
Uma perda de força muscular é indicativo de uma lesão das fibras motoras na enervação do
músculo (pode ocorrer ao longo do trajeto nervoso desde a raiz até ao nervo periférico
responsável pela enervação deste) ou de uma lesão do músculo propriamente dito. Se a lesão
ocorrer ao nível da raiz nervosa, então todos os músculos enervados por essa raiz (miotoma)
estarão afetados. Se a lesão ocorrer no nervo periférico, apenas os músculos enervados por
esse nervo estarão afetados. Convêm lembrar que a maior parte dos músculos dos membros
são enervados por mais de uma raiz nervosa (miotomas).
Assim, o fisioterapeuta deve testar se a diminuição da força muscular está relacionada com
lesão neurológica (tabela 5). As articulações relacionadas com o principal músculo enervado pela
raiz em teste devem ser colocadas em posição neutra ou de repouso e nessa posição pedir uma
contração isométrica resistida. A resistência deve ser mantida pelo menos 5 segundos para
poder surgir qualquer fraqueza. Como o objetivo do teste é comparar alterações na força
muscular entre membros, o fisioterapeuta deverá testar os dois lados simultaneamente sempre
que possível, para comparação. Essa comparação bilateral simultânea não é possível no caso
dos movimentos que envolvem as articulações das ancas e dos joelhos (flexores e extensores
da anca, extensores e flexores do joelho). Neste caso ambos os lados serão testados
individualmente mas logo de seguida. A avaliação dos flexores dorsais deve ser executada com
o joelho ligeiramente fletido (30º) e o pé numa posição neutra, especialmente se o utente tiver
queixas neuropáticas. A flexão dorsal completa é uma manobra de sensitização do tecido
nervoso e com o joelho em extensão aumenta-se a tensão no nervo ciático podendo provocar
um falso positivo em utentes com dor ciática. Neste caso uma eventual fraqueza resultará da
dor desencadeada.
Ao realizar estes testes, e para melhor conforto dos utentes devemos aproveitar as posições de
pé, sentado, decúbitos dorsal e ventral, e executar por esta ordem todos os testes possíveis em
cada posição antes de passar à seguinte.
A flexão dorsal da tíbio társica (miotoma de L4) é testada, com o utente em decúbito dorsal,
pedindo-lhe que resista a uma força no sentido da flexão plantar nos dois pés ao mesmo tempo,
durante 5 segundos, partindo de uma posição de 90º em relação à perna, enquanto o utente
aguenta a posição. Como o teste é realizado nos dois lados ao mesmo tempo, a comparação é
imediata.
A extensão do dedo grande do pé (miotoma de L5) é testada, com o utente em decúbito dorsal,
partindo com os dois halux da posição neutra. O fisioterapeuta aplica uma força em mola,
durante 5 segundos, na ponta de ambos os dedos e compara os dois lados, enquanto o utente
aguenta a posição.
A flexão plantar da tíbio társica (miotoma de S1) é comparada de modo semelhante à flexão
dorsal, mas a resistência é aplicada na planta do pé durante 5 segundos, enquanto o utente
aguenta a posição. Este miotoma pode já ter sido testado na posição de pé pedindo ao utente
que se eleve na ponta do pé 6 vezes em cada membro. Compara-se a qualidade de movimento
e a força entre os membros.
A eversão do tornozelo (miotoma de S1) é testada, com o utente em decúbito dorsal, aplicando
uma força para inversão, durante 5 segundos, enquanto o utente aguenta a posição em
simultâneo nos dois pés e comparando as respostas nos dois membros.
A extensão da anca (miotoma de S1) é testada, com o utente em decúbito ventral. O joelho é
fletido a 90º. O fisioterapeuta eleva ligeiramente a coxa do utente da mesa estabilizando a perna
e exercendo uma força para baixo, durante 5 segundos, enquanto o utente aguenta a posição.
As alterações sensoriais são devidas a lesão das fibras sensitivas podendo surgir em qualquer
local do trajeto nervoso desde a raiz até ao nervo mais periférico. Devemos conhecer a anatomia
do mapeamento das regiões enervadas pelas raízes nervosas (dermatoma) para conseguirmos
perceber caso exista uma alteração da sensibilidade se esta foi devida a lesão da raiz ou do
nervo periférico. Convém lembrar que existe uma grande variabilidade no mapeamento de
dermatomas entre indivíduos, sendo que o território cutâneo dos nervos periféricos tende a ser
mais consistente (figura 28).
A execução dos testes oferece resultados sobre a extensão da área com alterações da
sensibilidade; sobre a sua causa ter sido de raiz nervosa (dermatoma) ou do nervo periférico
(território cutâneo). Auxilia ainda o prognóstico para a função motora, já que a recuperação da
função sensorial precede sempre a da função motora em casos de dor radicular provocada por
compressão da raiz.
Qualquer alteração de sensibilidade deverá ser anotada no body chart e deve ser reavaliada em
cada sessão de tratamento para que possa ser detectada eventual disfunção neurológica que
necessite de encaminhamento médico. Por exemplo, a progressão negativa de sinais e
sintomas neurológicos em presença de uma hérnia discal ou de lesão da cauda equina, poderá
ter indicação cirúrgica. (Roy, Wolf, & Scalzitti, 2005)
Reflexos
A avaliação dos reflexos osteo tendinosos permite obter indicação sobre a integridade do arco
espinal reflexo (neurónio sensorial aferente e neurónio motor eferente) responsável pelo reflexo.
Os reflexos testam as raízes, individualmente.
Em situações de grande compressão na raiz haverá perda da condução nervosa, e ausência de
reflexo (arreflexia). Se a compressão for menos intensa ocorre uma diminuição do reflexo
(hiporreflexia). Já um aumento na resposta reflexa é indicador de uma lesão do primeiro
neurónio. Esta deve ser confirmada através da resposta plantar ou teste de Babinsky.
Os reflexos osteo tendinosos profundos são testados pela percussão repetida sobre os tendões.
Os reflexos avaliados incluem:
- reflexos superficiais
- reflexos osteo-tendinosos (ROT)
- reflexos patológicos
Reflexos superficiais
Os reflexos superficiais são reflexos testados pela pressão deslizante de um objeto afiado ao
longo da pele. Os reflexos superficiais vulgarmente testados estão referidos no esquema que
se segue
Segmento
Reflexo Resposta normal
nervoso
Abdominal superior O umbigo move-se para cima e em direcção à área pressionada T7-T9
Abdominal inferior O umbigo move-se para baixo e em direcção à área pressionada T11-T12
Os reflexos osteo-tendinosos podem, com perícia, ser despertados em quase todos os tendões.
A sua avaliação faz-se com um instrumento denominado martelo de reflexos. O esquema
seguinte apresenta os ROT mais comuns.
Se houver dificuldade em despertar os reflexos, podem-se utilizar manobras de reforço, como
pedir ao utente para cerrar os dentes ou apertar/afastar as mãos para os reflexos dos membros
inferiores, ou o apertar das pernas, para o teste dos ROT dos membros superiores.
Segmento
Reflexo Localização do estímulo Resposta normal
nervoso
Mandibular Mandibula A boca fecha V nervo craneano
Bicipital Tendão do bicípete Contracção do bicípete C5-C6
Tendão do braquio-radial ou
Flexão do cotovelo e/ou
Braquio-radial distalmente à junção músculo- C5-C6
pronação do antebraço
tendinosa
Tendão do tricípete, acima do
Tricipital Extensão do cotovelo C7-C8
olecrâneo
Patelar Tendão patelar Extensão do joelho L3-L4
Isquio-tibial
Tendão do semi-membranoso Flexão do joelho S1-S2
interno
Isquio-tibial
Tendão do bicípete femoral Flexão do joelho S1-S2
externo
Tendão do tibial posterior, atrás do Flexão plantar com
Tibial posterior L4-L5
maléolo interno inversão do pé
Aquiliano Tendão de aquiles Flexão plantar S1-S2
Graduação Interpretação
generalizada: neuropatia periférica
0 – ausente
Isolada: lesão nervosa periférica ou mais vulgarmente da raiz nervosa
(mais difícil em julgar) – neuropatia periférica, doença muscular e síndrome
1 – diminuído
cerebeloso
2 – normal
3 – exagerado/aumentado
lesão do 1º neurónio acima da raiz nervosa correspondente
4 – Clónus, muito vivo
Dos reflexos patológicos existentes, apenas faremos referência aos três que nos parecem mais
relevantes no contexto da avaliação do sistema neuro-músculo-esquelético:
O clónus está associado com uma resposta reflexa exagerada caracterizada pela
contração/relaxamento muscular intermitente produzido pelo alongamento mantido de um
músculo. Normalmente testa-se no membro inferior com a flexão dorsal abrupta da tíbio társica
mantendo o joelho em extensão.
Como já foi dito, uma diminuição dos reflexos pode ocorrer se existir lesão das vias sensoriais
ou motoras. Uma resposta reflexa exagerada sugere lesão do 1º neurónio, e se surgir deve ser
confirmada. Isto implica executar o reflexo de Babinski. Numa resposta normal todos os dedos
do pé se fletem. Numa resposta patológica há extensão do hallux e afastamento dos restantes
dedos.
Contudo, alterações nos reflexos nem sempre indicam envolvimento da raiz nervosa. Estas
alterações, sem que haja anomalias sensoriais ou motoras, não são um dado clínico relevante
na observação do utente. Elas podem inclusivamente ser aumentadas pela tensão muscular ou
ansiedade (Petty N. , 2006).
Para além deste fenómeno, os tecidos neurais movem-se em primeiro lugar no local onde o
movimento é iniciado e à medida que são introduzidos mais componentes ao teste, o tecido
O tecido nervoso pode mover-se num determinado sentido em relação a um segmento do teste
e nos sentido oposto relativamente a outro segmento quando associamos um novo movimento.
Tendo isso em consideração o fisioterapeuta deverá executar os testes sempre com a mesma
sequência para que as reavaliações efetuadas possam ser fiáveis ou comparáveis.
A sensitização consiste num movimento adicional a um teste neuro dinâmico com a finalidade
de transmitir maior tensão ao sistema nervoso. Pode ser acrescentado em qualquer momento
da execução do teste e também serve para confirmar o envolvimento da estrutura neural.
O sistema nervoso acompanha o movimento do corpo adaptando as suas funções mecânicas
de tensão, deslize e compressão de acordo com a interface em causa.
Tem grande capacidade de distensibilidade alongando-se e deslizando longitudinal ou/e
transversalmente, tenso sido comprovado por alguns autores a sua elasticidade bastante
grande. O neuro eixo aumenta aproximadamente 7cm entre a extensão e a flexão. Em sujeitos
hipermóveis esse aumento chega a ser de 10cm. (Butler D. , 1991). O nervo mediano alonga-
se aproximadamente 20% do seu comprimento e tem a capacidade de deslizar
transversalmente cerca de 2cm (Milesi, 1986) (Zoech, 1992).
O movimento também é acompanhado por alterações na pressão. A pressão sobre o nervo
cubital no cotovelo pode duplicar com os movimentos do ombro e cervical, chegando a
quadruplicar quando se associam posições semelhantes à do teste ULTT3 (Pechan e Julis,
1975).
Na realização dos testes neuro dinâmicos o fisioterapeuta deve ter em atenção os seguintes
fatores:
• A qualidade do movimento.
• A amplitude do movimento
• A resistência ao longo da amplitude de movimento e no seu final.
• O comportamento da dor (local e referida) ao longo da amplitude de movimento.
Considera-se que um teste tem uma resposta neural se uma das seguintes condições for
encontrada:
(Shacklock, 2007)
Seguidamente apresentamos a descrição dos testes que se realizam com maior frequência.
Com o utente em decúbito dorsal, na forma mais pura o teste é realizado sem almofada sob a
cabeça, para não influenciar as estruturas neurais intrerraquideanas. Consiste na elevação do
membro inferior com o joelho em extensão. É importante impedir qualquer variação no plano
frontal e transversal, impossibilitando a adução/abdução ou a rotação interna. Isto porque estes
movimentos sensitizam o teste. A resposta normal será sensação de estiramento muscular na
região posterior da coxa e/ou perna. Para uma dor na perna a diferenciação estrutural será a
Slump Test
Este teste foi plenamente descrito por (Maitland,1986) e (Butler D. , 1991).
O slump é utilizado para avaliar a dinâmica das estruturas neurais dos sistemas nervoso central
e periférico, desde o encefalo, ao longo da medula espinal, nervo ciático e suas extensões no
pé. É um teste complexo por isso deve ser executado com atenção e rigor pois a sensibilidade
aos detalhes da técnica é essencial para a sua interpretação.
Preparação:
Utente sentado, com os pés no chão e a parte posterior dos joelhos encostados contra a beira
da marquesa, ficando com as coxas em posição paralela e não aduzidas, para não sensitizar o
• Desconforto na região torácica média, quando faz flexão do tronco ou coluna cervical.
• Desconforto na região poplítea ou nos isquiotibiais, quando associa extensão do joelho;
os sintomas aumentam com a flexão dorsal da tibiotársica.
• Ligeira restrição à extensão do joelho quando o fisioterapeuta faz flexão do tronco ou da
coluna cervical.
• Ligeira restrição à flexão dorsal da tibiotársica após ter executado flexão do tronco, da
coluna cervical e extensão do joelho; esta restrição da mobilidade deve ser simétrica.
• Diminuição do desconforto em uma ou mais áreas com a extensão cervical.
• Aumento da amplitude da extensão do joelho e/ou flexão da dorsal da tíbio társica com a
extensão da coluna cervical.
Precauções Contraindicações
Outras estruturas envolvidas no teste, tais como, discos
Episódio recente ou agravamento de sinais neurológicos.
intervertebrais durante o “Slump test”.
Lesões da cauda equina com alterações no funcionamento da bexiga
Irritabilidade relacionada com o sistema nervoso.
e/ou intestinos ou alteração da sensibilidade no períneo.
No caso de uma condição estar a piorar rapidamente.
Nas condições crónicas monitorizar sempre os sinais
neurológicos.
Problemas gerais de saúde, tais como patologias que
afetem o sistema nervoso (ex. diabetes, esclerose
múltipla, Guillian-Barré, cirurgias recentes, etc).
Tonturas, vertigens.
Perturbações circulatórias, uma vez que os testes
também afetam a circulação.
Pequenas lesões medulares causadores de tetraplegia
transiente.
5.Capacidade Funcional
Uma lesão na coluna lombar pode afetar amplamente a capacidade funcional de uma pessoa.
Tarefas simples, como ficar em pé parado, andar, dobrar-se à frente, levantar-se de uma
cadeira, vestir-se, despir-se viajar e socializar, podem ser perturbadas.
As atividades funcionais podem ter uma dupla função no exame objetivo: Por um lado
demonstrar atividades que desencadeiam ou que aliviam os sintomas do utente (como as
referidas acima) e por outro servir de elemento de reavaliação após o tratamento aplicado.
Existem tabelas com scores numéricos que ajudam a determinar o grau de dor causado pela
patologia ou a incapacidade funcional da coluna lombar.
Devemos escolhe-las adequadamente assegurando que o questionário meça a incapacidade
segundo a perspetiva do utente.
São inúmeros os instrumentos (escalas, questionários, índices, scores) existentes para avaliar
a funcionalidade (limitação funcional e incapacidade), alguns mais gerais, outros mais
específicos e dirigidos para as repercussões funcionais resultantes de determinada disfunção
ou patologia (ex. dor lombar, artrite reumatoide, instabilidade do ombro, dor no joelho). Temos
por exemplo o Oswestry Disability Questionnaire e o Quebec Back Pain Disability
Questionnaire.
Sources: Fairbank JCT & Pynsent, PB (2000) The Oswestry Disability Index. Spine, 25(22):2940-2953.
Davidson M & Keating J (2001) A comparison of five low back disability questionnaires: reliability and
responsiveness. Physical Therapy 2002;82:8-24.
The Oswestry Disability Index (also known as the Oswestry Low Back Pain Disability Questionnaire) is an
extremely important tool that researchers and disability evaluators use to measure a patient's permanent
functional disability. The test is considered the ‘gold standard’ of low back functional outcome tools [1].
Scoring instructions
For each section the total possible score is 5: if the first statement is marked the section score = 0; if the last
statement is marked, it = 5. If all 10 sections are completed the score is calculated as follows:
16 (total scored)
Minimum detectable change (90% confidence): 10% points (change of less than this may be attributable to
error in the measurement)
Interpretation of scores
0% to 20%: minimal disability: The patient can cope with most living activities. Usually no treatment is
indicated apart from advice on lifting sitting and exercise.
21%-40%: moderate disability: The patient experiences more pain and difficulty with sitting, lifting and
standing. Travel and social life are more difficult and they may be
disabled from work. Personal care, sexual activity and sleeping are not
grossly affected and the patient can usually be managed by
conservative means.
41%-60%: severe disability: Pain remains the main problem in this group but activities of daily
living are affected. These patients require a detailed investigation.
61%-80%: crippled: Back pain impinges on all aspects of the patient's life. Positive
intervention is required.
Page 1
I can sit in any chair as long as I like My sex life is normal and causes no extra pain
I can only sit in my favourite chair as long as My sex life is normal but causes some extra
I like pain
Pain prevents me sitting more than one hour My sex life is nearly normal but is very painful
Pain prevents me from sitting more than My sex life is severely restricted by pain
30 minutes
My sex life is nearly absent because of pain
Pain prevents me from sitting more than
10 minutes Pain prevents any sex life at all
Section 10 – Travelling
Section 7 – Sleeping
I can travel anywhere without pain
My sleep is never disturbed by pain
I can travel anywhere but it gives me extra pain
My sleep is occasionally disturbed by pain
Pain is bad but I manage journeys over two
Because of pain I have less than 6 hours sleep hours
Because of pain I have less than 4 hours sleep Pain restricts me to journeys of less than one
hour
Because of pain I have less than 2 hours sleep
Pain restricts me to short necessary journeys
Pain prevents me from sleeping at all under 30 minutes
References
1. Fairbank JC, Pynsent PB. The Oswestry Disability Index. Spine 2000 Nov 15;25(22):2940-52;
discussion 52.
Page 3
O Quebec Back Pain Disability Questionnaire é uma escala de auto-preenchimento que avalia
a incapacidade funcional em indivíduos com dor lombar. Desenvolvida por Kopec et al. (1995),
é constituída por 20 itens, sendo cada um avaliado numa escala de 6 pontos (0- indivíduo sem
qualquer tipo de disfunção, 5 - incapaz de realizar a atividade) sendo o score total calculado
através do somatório do valor de cada item (0 - sem qualquer incapacidade e 100 - totalmente
incapaz) (Demoulin et al., 2010; Yvanes-Thomas, 2002). Caracteriza-se pelo facto de ser de
fácil compreensão e rápido preenchimento. Foi traduzido e adaptado para diversas línguas,
verificando-se nos estudos realizados a existência de boas propriedades psicométricas
(fiabilidade, viabilidade e poder de resposta) (Demoulin et al., 2010; Yvanes-Thomas, 2002). A
validação para a população Portuguesa foi feita por (Vieira & Cruz, 2012). As suas propriedades
psicométricas foram avaliadas tendo em conta o seu papel fulcral no processo de adaptação
cultural, pois permitem retirar ilações relativamente ao papel do instrumento na população.
Apesar da validade e fiabilidade serem classificadas como as propriedades psicométricas mais
importantes dos instrumentos, é necessário que tenham a capacidade para detetar mudanças
no estado de saúde, quando estas se verificam (Beaton, 2001; Lauridsen, Hartvigsen, Manniche,
Korsholm & Grunnet-Nilsson, 2006; Resnik & Dobrzykowski, 2003). Os profissionais de saúde
podem assim interpretar a relevância das variações dos scores após um período de intervenção
(Demoulin et al., 2010; Stratford, Binkley, Riddle & Guyatt, 1998).
Este questionário pretende saber como a dor nas costas afeta a sua vida no dia-a-dia. Pessoas
com dores de costas poderão achar difícil a realização de algumas atividades diárias. Nós
gostaríamos de saber se acha difícil a realização de algumas das atividades listadas abaixo,
devido à sua dor de costas. Para cada atividade há uma escala de 0 a 5.
Por favor escolha uma opção de resposta para cada atividade (preencha todas as atividades)
colocando uma cruz no quadrado que corresponde à sua resposta.
3
0 1 2 4
Com 5
Sem dificuldade Com um mínimo de Com alguma Com muita
Bastante Incapaz de realizar
nenhuma dificuldade dificuldade dificuldade
dificuldade
1 Levantar-se da cama
3 Virar-se na cama
4 Andar de carro
5 Estar de pé durante 20-30 minutos
6 Estar sentado numa cadeira por várias horas
figura 31 : Quebec Back Pain Disability Scale - (versão portuguesa) (Vieira & Cruz, 2012)
6.Palpação
• A temperatura da área.
• Presença de edema.
• Mobilidade e sensação dos tecidos superficiais (ex. gânglios, nódulos, nódulos
linfáticos no triângulo femoral (triangulo de Scarpa).
• Presença de espasmo muscular e contraturas
• Sensibilidade do osso, ligamento, músculo, tendão, bursas (trocantérica e do psoas),
e nervos.
• Aumento ou diminuição das proeminências ósseas.
• Dor que aumenta ou diminui com a palpação.
7.Informação ao Utente
Após terminar o exame objetivo, e/ou uma sessão de tratamento, deve-se informar o utente
acerca dos seguintes aspetos:
A exacerbação dos sintomas num período de 24-48 horas após o exame objetivo ou uma sessão
de tratamento.
Solicitar que o utente registe em detalhe o comportamento dos sintomas entre sessões, através
da sua avaliação do asterisco subjetivo.
Após terminado o exame objetivo, o fisioterapeuta deverá concluir a razão para os sintomas do
utente, o tipo de dor, sua origem e fatores contribuintes para toda a condição clínica. Ou seja,
determinar os principais problemas do utente e assim poder decidir sobre a melhor forma de
intervir através da fisioterapia.
___________________________________________________________________________________________
(s.d.).
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