Os Votos
Os Votos
Os Votos
UM CHAMADO À TRANSFORMAÇÃO
Quinn R. Conners, O. Carm.
projeto diretório
OS VOTOS
UM CHAMADO À TRANSFORMAÇÃO
Quinn R. Conners, O. Carm.
Comunicações Carmelitanas
Melbourne Austrália
1999
3
HORIZONTES:
internacional. Este projeto, que já produziu alguns frutos concretos com a publicação de
subsídios para estudo, a promoção de cursos e outras iniciativas, foi confirmado pelo
- promover uma nova descoberta e uma nova vivência dos valores específicos do carisma
carmelitano;
nossa espiritualidade.
Diretório Espiritual Carmelitano. Ele pretende ser uma síntese atual de nossa tradição e de
compreensão de nossas fontes e de nossos valores, que devemos ler com sensibilidade
eclesial e cultural, inspiradas pelo Evangelho. Seria destinado ao uso de nossos formadores
os leigos que desejam beber de nossa espiritualidade para um melhor serviço na Igreja.
nós pelo dom do Espírito. É neste contexto dinâmico e comunitário que queremos situar o
esforço na elaboração do novo Diretório. Tomara que o Projeto do Diretório possa atrair
uma ampla participação dos membros da Ordem da Família Carmelitana. (De fato, o
características específicas dos diferentes grupos e elucidar alguns problemas que nos são
propostos, como por exemplo, a relação entre carisma e espiritualidade, a relação entre os
O Projeto do Diretório
formação, as monjas e as irmãs e vários peritos, a Comissão decidiu não prosseguir com a
preparação imediata do Diretório, e sim fazer circular primeiro uma série de livretos.
Primeiramente, eles buscam ser úteis no processo de formação. Em segundo lugar, querem
Na preparação dos livretos, que estão relacionados abaixo, a Comissão sugeriu que
cada autor respeite certos critérios que foram considerados essenciais ao projeto:
- interdisciplinariedade;
- histórica e fenomenológica
- bíblica e teológica
- espiritual
- antropológica
- hermenêutica
- pedagógica;
sugestões para lectio divina, textos de orações, etc.), e através do estudo pessoal e
6
discussão);
- a linguagem deve ser simples sem ser simplista e num estilo discursivo-sapiencial.
Os temas escolhidos para os livretos terão em vista o Diretório, mas não aparecerão
Trindade, que manifesta seu amor e o impulsiona através do dom do Espírito como uma
- dever-se-á levar em conta as diferentes situações nas quais esses valores são vividos nos
Eis os temas dos livretos planejados no momento, embora outros possam ser
1. A Regra do Carmelo
5. O profeta Elias
ordem citada. O trabalho é planejado para quatro anos. É importante enfatizar que os
livretos são manuais. Não são definitivos ou perfeitos, mas visam ser um meio de trabalho
baseadas na experiência daqueles que os manuseiam. Seria bom se fossem usados acima de
- indicação, se necessário, do que está faltando no livreto, ou dos assuntos que precisam
- sugerir meios pelos quais nossa experiência hoje possa ser incorporada ao Projeto do
Diretório, para enriquecer e desenvolver nossa tradição (supondo que esta tradição seja
- oferecer uma avaliação do material como um todo: o que precisa ser acrescentado?
que esses livretos podem ser usados tanto na formação inicial quanto na formação contínua.
Seu uso efetivo deveria provocar reações e contribuições que nos ajudarão a melhorá-los
dinâmico, que é sem dúvida ambicioso, mas que está cheio de grande esperança. À medida
que novas tecnologias tornam-se mais disponíveis, esperamos que elas possam fornecer
permitindo elaborar um novo Diretório que deve ser fiel tanto à nossa tradição antiga
trabalhos da Comissão.
00184 Roma
Itália
e-mail: [email protected].
Numeração da Regra
Prólogo nn.1-3
Cap. 1 n.4
Cap. 2 n.5
Cap. 3 n.6
Cap. 4 n.7
Cap. 5 n.8
Cap. 6 n.9
Cap. 7 n.10
Cap. 8 n.11
Cap. 9 nn.12-13
Cap. 10 n.14
Cap. 11 n. 15
Cap. 12 n. 16
Cap. 13 n.17
Cap. 14 nn.18-19
11
Cap. 15 n.20
Cap. 16 n.21
Cap. 17 n.22
Cap. 18 n.23
Epílogo n.24
Quando há referência à Regra nas notas de rodapé, ela é apresentada pela abreviação
Referências Bíblicas
Índice
1. Introdução
2. História
3. Os Votos
3.2.1 Partilhar
3.3.3 Oração
4. Conclusão
1. Introdução
determinado contexto. Os votos são uma realidade vivida. São valores evangélicos
menos como um ideal, ou um estado de perfeição para o qual trabalhamos, do que como um
contexto ou uma condição para seguir Jesus Cristo hoje. Eles apontam para o futuro, para o
eskáton. No entanto, eles também são um modo de viver e testemunhar hoje a presença
dos votos, dando uma ênfase ao relacionamento espiritual com Cristo e com o mundo. Este
almas escolhidas com a pretensa superioridade do estado religioso definido mais tarde
como o estado da perfeição. Por outro lado, uma teologia inserida vê Jesus Cristo como a
encarnação do amor de Deus por nós. A realidade histórica de Jesus, e a entrada de Deus na
história humana através dele, mudou a forma de experimentarmos Deus. Por ter sido
agraciada por Deus em Jesus, a experiência humana é o principal veículo para a experiência
do amor de Deus. Então, no contexto dos votos, devemos encará-los como um meio
14
chamados a viver os votos. A busca pela face de Deus2 no contexto da vida comunitária3 e
evangélicos.
nossos relacionamentos com Deus. Ele é uma expressão do que significa seguir Jesus.
Então, os três votos tornam-se uma outra maneira de ajudar nesta experiência contínua de
conversão. Uma vida de oração, vivida em comunidade e no serviço aos outros, torna-se o
contexto para a vivência dos votos como religiosos. Os votos, vividos no contexto
carmelitano, deveriam nos ajudar no processo que “nos transforma na existência amorosa
de Deus”.5
Finalmente, o terceiro ponto para nossa discussão dos votos é o contexto cultural
que cada um de nós, incluindo este autor, leva para a vivência dos votos. Sou um homem
carmelitano que tem vivido os votos por quase trinta anos aqui na América do Norte. Estes
influenciaram necessariamente minha perspectiva. Espero que estes fatores não interfiram
com sua capacidade de estudar este material e que o ajudem a crescer na compreensão e na
vivência destes votos. O desafio para cada um de nós é viver os votos em nosso próprio
15
sacramento para nós. América do Norte e América do Sul, Europa ocidental e oriental,
carmelitana dos votos. Esperemos que nossa resposta a Jesus Cristo, sendo carmelitas em
qualquer contexto, seja uma fonte de vida, de energia e de testemunho para a benevolência
2. História6
A história dos votos religiosos nos mostra uma evolução na vida da igreja. Ao
longo da história da Igreja, a forma e o conteúdo dos votos mudam de acordo com as
sempre foi identificada com os três conselhos evangélicos, tais como os conhecemos hoje.
Enquanto a castidade, que possuía uma ênfase mais unitiva e mística, era a virtude
característica das mulheres que faziam votos ao serviço de Deus na Igreja, a virtude que
caracterizava a vida monástica era a obediência, que possuía uma ênfase mais ascética. Um
monge, por exemplo, ia para o deserto e colocava-se sob a obediência de um pai espiritual.
Este pai espiritual o guiaria em sua jornada espiritual e no desenvolvimento das outras
monástica, mas nos primeiros anos do século VI, o abade não era visto simplesmente como
o guia espiritual, mas como aquele que está no lugar de Cristo, dirigindo a família
monástica de fé.
Com a Regra de São Bento foram introduzidas outras promessas. Bento exigiu que
castidade apenas uma vez como um dos setenta e dois Instrumentos das Obras de Caridade
17
no capítulo quatro de sua Regra. Caso o monge ainda não tivesse renunciado à sua
propriedade antes de entrar para o mosteiro, ele deveria doá-la ao mosteiro “não retendo
nada para si, sabendo com isso que, deste dia em diante, não seria dono nem de seu próprio
corpo”.8
Durante as Reformas Carolíngias, entre o fim do século VIII e início do século IX,
a Regra de São Bento tornou-se a regra normativa para os monges na Igreja ocidental.
VIII até o século XI, muitas das abadias cresceram e se tornaram estabelecimentos muito
prósperos.
ocidental ao longo do século IX, surgiu uma forma alternativa de vida religiosa que
seguindo a Regra Agostiniana, que se desenvolveu no início do século XI, optaram por ser
estilo de vida mais simples. O século XII foi um período de revolução econômica na qual a
medida em que as pessoas viam a ordem estabelecida sucumbir e ser substituída. Nesta
especialmente este último grupo. Nasceu assim o movimento mendicante: uma proposta
A Regra que Alberto de Jerusalém deu aos primeiros carmelitas exigia que os
eremitas professassem apenas a obediência.9 Nesta ocasião a autoridade era vista cada vez
mais como algo adquirido pelos cidadãos que escolhiam seus líderes para governar, a partir
de um consenso entre o povo. Esta mudança social se refletia num novo estilo de liderança
governo abacial em favor dos priores que governavam suas comunidades com o
novo espírito ao exigir consistentemente assensus aliorum fratrum, vel sanioris partis.
Inocêncio IV. Uma das modificações era expressar diretamente que os carmelitas
professam “obediência – que, ao prometer, o carmelita deve tentar fazer de seu ato uma
observar que a fórmula de profissão não foi mudada para mencionar a castidade e a
A razão precisa para esta mudança, que afetou todos os mendicantes, não está
estabilidade era contrária à visão de Francisco, que queria que seus frades pregassem o
evangelho de cidade em cidade. De fato, para Francisco o que substituía a estabilidade era a
possuíssem aquela santidade testemunhada pela pobreza. A pobreza dos valdenses (um
rigorosa dos cátaros (um grupo radical no movimento de vita apostolica) exigia que estas
virtudes fossem intensamente vividas pelos frades. Portanto, faz sentido que a Igreja tenha
de pobreza. Não significava simplesmente que o indivíduo não tinha qualquer bem pessoal,
mas também obrigava a própria comunidade à pobreza. As ricas abadias não eram mais o
desta pobreza comum. Embora nenhum dos dois possuísse propriedades de produção de
forneciam alimento para sua mesa, ao passo que os franciscanos não possuíam nem o título
de suas casas. Gregório IX impôs um estilo de pobreza franciscana aos carmelitas em sua
“... proibimos estritamente de qualquer forma que vocês aceitem ou ousem manter
como sua propriedade tanto suas ermidas ou bens ou casas ou outra renda...”
ele impor o ideal de Francisco como o modelo a partir do qual os outros religiosos
deveriam se confrontar. No entanto, tal idealismo não resistiu ao século. Na verdade, nas
últimas décadas do século XIII as comunidades carmelitanas não apenas possuíam seus
conventos e hortas, mas também propriedades com produção de renda, tais como casas
Assim, os votos têm sido uma realidade que evoluiu na vida religiosa. A forma
tríplice tem se mantido em vigor desde o século XIII. Contudo, está claro que seu papel na
vida religiosa e o significado dos votos particulares mudou através de toda história da vida
eles querem ser uma personificação de um valor evangélico vivido num determinado
momento histórico. Eles precisam falar com renovado vigor em cada situação nova que os
religiosos e suas comunidades enfrentam. A história nos ensina que apenas as coisas que
estão abertas para um renovador significado e para uma compreensão nova, sobrevivem de
3. Os Votos
Os três votos professados por religiosos e religiosas estão enraizados nas Escrituras.
Eles são uma expressão dos valores do Evangelho. Contudo, eles se encarnam num
psicológicas e espirituais das pessoas e do tempo em que vivem. Nossa discussão sobre
Reconhecemos que os votos não são entidades autônomas. Cada voto tenta exaltar
um lado distinto da vida humana, dos valores evangélicos, da vida cristã e carmelitana. No
entanto, cada voto está relacionado intimamente ao outro. A partir de nossa breve
voto de obediência. Este inter-relacionamento dos votos fica evidente quando tentamos
A forma mais radical de obediência na Bíblia é a escuta fiel da voz de Deus que
vem a nós através da comunidade, através de nossos mestres e líderes e através dos fatos da
Ouça, Israel! Javé nosso Deus é o único Javé. Portanto, ame a Javé seu Deus com
todo o seu coração, com toda a sua alma e com toda a sua força. Que estas palavras, que
hoje eu lhe ordeno, estejam em seu coração. Você as inculcará em seus filhos, e delas
falará sentado em sua casa e andando em seu caminho, estando deitado e de pé. Você
também as amarrará em sua mão como sinal, e elas serão como faixa entre seus olhos.
Este credo, o famoso Shema, capta concisamente a noção judaica de como a vida
dos judeus é totalmente centrada em Deus. Por Israel estar tão convencido da presença
amorosa de Deus na história, por estar tão agarrada à realidade de Deus, sua única resposta
diariamente.
As grandes figuras do Antigo Testamento nos mostram que este tipo de obediência é
um desafio. O exemplo de obediência radical destas figuras pode coexistir com a confusão
e a ira diante dos caminhos misteriosos de Deus. Por exemplo, Moisés, que tira suas
sandálias em reverência diante da presença de Deus na sarça ardente, também pode quebrar
as tábuas de Deus com ira diante da estupidez do povo de Deus e dos confusos caminhos de
Deus. O Salmista, cuja poesia lírica louva o poder e a grandeza criadora de Deus, também
pode captar a raiva e a frustração diante das exigências de Deus. Jeremias, o profeta que
fala de Deus como um fogo ardente em seus ossos, também pode chamar Deus de um rio
enganador que corre para o deserto apenas para desaparecer em terras áridas. A obediência
o poder da fé bíblica. Jesus foi o único Filho em quem Deus permaneceu. Ele foi
23
plenificado com o Espírito de Deus, buscando muitas vezes a comunhão silenciosa com seu
“Abba”. No evangelho de João ouvimos muitas vezes sua confiança de conhecer Deus e de
ser conhecido por Deus. Contudo, antes do mistério da paixão e da morte, Jesus também se
voz de Deus: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Sl 22,1).
Jesus lutou para ser fiel ao Pai: “Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser
obediente através de seus sofrimentos” (Hb 5,8). Ele fez muitas orações para se tornar
capaz de conquistar esta posição (Hb 5,7; Lc 22,41-6). Mas ele não foi conquistado.
Ninguém, nenhuma autoridade em qualquer época foi capaz de interferir neste segredo
mais profundo de Jesus. Aqueles que tentaram interferir chocaram-se com uma parede
impenetrável. Ele foi obediente até a morte, e morte de cruz (Fl 2,8).
A comunhão entre Jesus e o Pai não foi automática, mas sim o fruto da luta que
Jesus travou dentro de si mesmo para obedecer ao Pai em tudo e para estar sempre unido a
ele. Jesus disse: “Eu não posso fazer nada por mim mesmo. Eu julgo conforme o que
escuto” (Jo 5,30). “O Filho não pode fazer nada por sua própria conta; ele faz apenas o que
vê o Pai fazer” (Jo 5,19). Como e onde Jesus viu e ouviu o que o Pai queria dele? Como a
pobre. O que para alguns era a condenação do destino, para Jesus era a manifestação da
vontade do Pai. Jesus nasceu pobre. Continuar ao lado dos pobres foi a decisão do Filho
história de seu povo. Jesus buscou as Escrituras como a fonte da autoridade (Lc 4,18). Ele
se orientou através das profecias do Servo de Deus e do Filho do Homem para realizar sua
24
missão como Messias (Mc 1,11; 8,31). Foi nas Escrituras que ele encontrou as respostas
contra as tentações que experimentou. “Não faço nada por mim mesmo, pois falo apenas
aquilo que o Pai me ensinou” (Jo 8,28). A Boa Nova do Reino foi e continua sendo, antes
de mais nada, a face do Pai a ser revelada ao povo, especialmente aos pobres.
sofrimento, as frustrações, a aridez espiritual, são preços a serem pagos. Mas o povo das
história pessoal.
Os carmelitas entram nesta tradição bíblica da obediência em seu voto. Pelo voto,
que está enraizado no chamado para a obediência absoluta dirigida igualmente a cada
cristão no batismo, o religioso carmelitano situa seu total compromisso com a vontade de
Deus no contexto de uma comunidade que caminha nas pegadas de Jesus Cristo.
A Regra (n.º 22 e n.º 23) propõe como assumir esta obediência. Alberto se refere ao
ofício do prior, que é apresentado primeiramente no n.º 4. Aqui o ofício do prior foi
estabelecido num nível estrutural para a boa ordem da comunidade. Contudo, nos nn. 22 e
obediência”.12 Alberto nos recomenda ver Jesus Cristo como o único centro de nossas
nada, experimentamos como Jesus não possuía lugar para recostar sua cabeça. Celebrando
juntos a Eucaristia, nos tornamos pedras vivas com Cristo como a pedra fundamental.
Quando nos reunimos no capítulo e na correção fraterna, ele está em nosso meio.13
poder e nossa liberdade, tanto comunitária como pessoalmente. A última metade do século
XX viu a queda do patriarcado como vimos nos anos 60 e 70 com as revoltas estudantis,
nos blocos comerciais unindo muitas nações ocidentais, o fim dos regimes coloniais,
este período também testemunhou um individualismo excessivo e uma obsessão pela auto-
partes do mundo.
poder,14 a esfera política da vida, que interfere no voto de obediência. Ao assumir este voto
nos confrontamos com as mesmas perguntas que qualquer outro ser humano faz. Que poder
tenho sobre os outros? Que esforço comum posso utilizar? Qual minha contribuição para a
comuns? Embora todos os cristãos se engajem nestas questões, o contexto em que elas se
realizam varia muito. Para os religiosos, o contexto é a comunidade com a qual estão
comprometidos.
dialogar com os outros na busca pela vontade de Deus. O poder deles é mais humano e
eficaz quando ouvem e agem de acordo com as inspirações pessoais que Deus lhes oferece.
Estas inspirações vêm através de muitos meios. Basicamente, a obediência vem pela
acordo com nossos irmãos e irmãs no Carmelo e com aqueles que escolhemos para liderar a
comunidade.
26
como Deus se comunicou com seu povo e é uma fonte de discernimento da presença de
Deus entre nós hoje. Devemos conhecer as Escrituras com nossos corações e nossas mentes
Em segundo lugar, a vontade de Deus também está presente nos sinais dos tempos.
A meditação da Palavra de Deus deve ser feita no contexto de nossa realidade para
Escrituras, para discernirmos o lugar para onde a obediência nos chama. Estas
destas áreas pode exigir mais atenção e significado numa determinada hora, dependendo da
Num terceiro ponto vemos que a obediência se realiza no diálogo com nossa
carisma carmelitano. Desse modo, acreditamos que o Espírito de Deus se move através da
femininas, estão trabalhando rumo a estruturas mais participativas. Surgem novos modelos
27
de governo, tais como grupos regionais que se encontram regularmente, capítulos onde
tomar decisões. Desta forma, eles revelam uma maneira diferente de exercer o poder e a
permitem que cada membro possa discernir a vontade de Deus assim como exercer o poder
coletivo na comunidade.
conduzir a atenção da comunidade para uma visão partilhada que unirá os esforços
formular estratégias para alcançar tudo isso.15 Esta liderança pede a habilidade de entender
ponto ao outro.
Esta união se torna a base de todas as nossas escolhas que, por sua vez, nos une
começamos a ver tudo com os olhos de Deus e a buscar a verdade no amor. Em muitas
circunstâncias pode existir apenas uma escolha para nós. No entanto, em outras situações
podem existir várias escolhas. Nem sempre existe uma escolha que é melhor do que as
outras. Nem é o caso de Deus ter pré-julgado o que devemos fazer. Buscar a vontade de
Deus, obedecer a Deus é fazer as escolhas e tomar a decisão mais amorosa que podemos
Como carmelitas caminhando nas pegadas de Jesus Cristo, a obediência deveria nos
levar à liberdade para escolher a vida como Jesus o fez. Em qualquer circunstância em que
morte de seu amigo Lázaro ou na sua própria morte – ele escolheu fazer a vontade de seu
Pai, mesmo quando ele não a compreendia. O contexto no qual buscamos a vontade de
esforço. Obediência é uma palavra bíblica bem comum, enquanto que pobreza ocorre com
menos freqüência. Contudo, a chave para a pobreza é a consciência de que ela deve estar
enraizada na fé e no amor que nos une a Deus. De fato, num sentido bíblico a pobreza e a
bens materiais são apresentados de uma maneira positiva. Eles são um dom de Deus,
reflexo da criação de Deus. Por outro lado, a pobreza e a espoliação não são boas. Elas
Aliança era que todos mereciam atenção: ninguém deveria passar necessidades, ninguém
deveria ser pobre. Quando Lucas retrata a comunidade de Jerusalém após a Páscoa, ele a
descreve precisamente nestes termos como a realização da comunidade ideal ansiada por
Israel: “Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas...
ter tantos bens. As divisões entre os ricos e os pobres emergiram desde cedo na história de
poderosos porque eles maltratavam os indefesos. Amós e Oséias denunciavam os ricos por
ignorarem os pobres.
Assim, surgem duas correntes bíblicas sobre os bens nas escrituras hebraicas e
persistem até o Novo Testamento. Primeiramente, os bens são bons quando servem como
O Novo Testamento também tem uma visão prática dos bens. Uma grande riqueza é
vista com ceticismo que nasceu da experiência. Jesus viveu num tempo onde existia uma
grande divisão entre ricos e pobres. Ter muitos bens exige sua atenção nas coisas, não em
Deus. “Onde está o seu tesouro, está o seu coração”. As pessoas que possuem muita
colheita necessitam construir muitos celeiros, em vez de pensarem sobre o destino de suas
almas. Aqueles que pisam em Lázaro e em suas feridas para entrarem nos salões do
banquete estão também muito preocupados para ouvirem a voz da profecia. Aqueles que
encontram conforto e poder naquilo que possuem podem estar cultuando a riqueza como se
Estes são os exemplos de Jesus sobre riqueza e bens. Eles são pragmáticos e
baseados na experiência. “Algumas de suas intuições mais explícitas sobre os bens são
Muita riqueza é simplesmente muita bagagem. O jovem rico foi embora muito triste – tinha
livres para esta jornada. Esta realidade influencia as parábolas de Jesus sobre os bens:
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois,
quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de mim
e da Boa Notícia, vai salvá-la. Com efeito, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro,
Pedro começou a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. Jesus
respondeu: “Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, filhos,
campos, por causa de mim e da Boa Notícia, vai receber cem vezes mais. Agora, durante
esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mãe, filhos e campos, junto com perseguições.
que os evangelhos chamam de colocar de lado qualquer coisa que nos impeça de seguir
31
Jesus. Jesus era totalmente livre, livre para seguir a orientação do Espírito, livre para trilhar
pelas margens da sociedade de seu tempo, livre para estar em comunhão com os pobres,
livre para tocar naqueles que precisavam de cura, livre para acolher a raiva e a violência,
A Bíblia fala positivamente do pobre, mas não da pobreza. Os pobres são o objeto
da compaixão de Deus e, por isso, deveriam ser do interesse do povo de Deus. Aos olhos da
Bíblia os pobres têm uma vantagem sobre os ricos: é menos provável que eles sejam
seduzidos por uma profusão de bens. Por estarem indefesos e vulneráveis sua única força é
Deus.
porque deles é o reino de Deus. Bem-aventurados os que têm fome de Deus e de seu reino
que colocam de lado todos os empecilhos, toda bagagem e seguem Jesus para a realização
de suas esperanças.
Existem duas motivações bíblicas óbvias para deixarmos de lado os bens. Primeiro,
disposição dos necessitados. Segundo, o voto nos torna livres daquelas posses que
apostólicas cujo objetivo é preservar o bem comum. A pobreza em si não é o ideal. O bem
de todos os irmãos e irmãs é o ideal. Portanto, partilhamos o que temos uns com os outros
de modo que a singularidade de cada pessoa se perca ou desapareça sob uma monotonia ou
O voto, em seu ideal e em sua realidade, nos une à esfera econômica da vida
humana. Cada ser humano estabelece algum tipo de relacionamento com o mundo
dominado pelo mundo que me rodeia? A minha doação é benéfica ou maléfica, libertadora
ou escravizante?
representam. Estamos simplesmente dizendo que, através de nossa profissão para ser
pobres de fato.
3.2.1 Partilhar
prática que nos une e nos ensina sobre nossa dependência de Deus e dos outros. A solidão e
a indiferença mútua que experimentamos algumas vezes na vida comunitária estão muitas
– tudo isso proporciona várias oportunidades para aquele apoio e desafio que são a essência
da vida comunitária. A partilha dos bens por sua vez, proporciona um meio de também
bens materiais podem nos provocar o esquecimento de quem nos fez e do porquê estamos
aqui. Uma vida mais austera abre perspectivas, novas ou esquecidas no conhecimento de
Deus. Libertados das distrações e da busca ilusória de nossos pequenos confortos e luxos,
permanecemos diante de Deus um pouco mais como somos – como seres humanos com
Cada grupo etário, cada tipo de personalidade, cada cultura humana tem seus pontos fortes
e suas fraquezas neste domínio. É um desafio avaliar continuamente nosso estilo de vida,
com respeito uns pelos outros e fazer cada vez as mudanças necessárias que nos levarão
para mais perto de Deus, dos outros e do povo de Deus ao nosso redor.
34
suspeito. Contudo, a observância fiel do voto não pode ser medida em termos puramente
desapego, tanto espiritual como material. Nos capítulos 1-8 de seu livro Noite Escura, João
da Cruz descreve enfaticamente a transformação a qual Deus nos chama através deste
espírito de desprendimento.
funções, hábitos, tarefas, pessoas e lugares. É normal para nós reafirmarmos nossos
instituições que controlamos, ou em lugares especiais dos quais pensamos não poder nos
afastar. Tais ligações são geralmente o resultado de grande dedicação e compromisso. Mas
o compromisso paralisa quando não está aberto à mudança. O que começou como um bem
torna-se prejudicial – para nós pessoalmente e para a missão de nossa comunidade. Ele nos
excessiva com um bem muitas vezes não nos deixa livres para muitos outros bens.
espírito de obediência nos desafia a ouvir os outros quando eles nos questionam. O espírito
de pobreza nos desafia a deixar tais posições e nos promete uma nova liberdade.
35
involuntária experimentada por tanta gente do povo de Deus em nosso planeta. Se estamos
realmente caminhando nas pegadas de Jesus, então o interesse dele pelos pobres, pelos
sofredores e fracos de nosso mundo deve tornar-se também nosso. Jesus viveu no meio de
pessoas que eram consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc
2,16. 1,40; Lc 7,37). Ele reconheceu a riqueza e o valor que os pobres possuíam (Mt 11,25-
6; Lc 21,1-4). Ele os proclamou felizes porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20: Mt
5,3). Ele definiu sua missão como “anunciar a Boa Notícia aos pobres” (Lc 4,18). Ele
mesmo viveu com os pobres, sem possuir nada, nem mesmo uma pedra onde repousar a
cabeça (Lc 9,58). Ele ordenou, a quem quisesse segui-lo, que escolhesse Deus ou o dinheiro
(Mt 6,24). Ele ordenou fazer uma opção pelos pobres (Mc 10,21). Como realizamos isto?
Em primeiro lugar, um grande desafio para nós é redirecionar nosso trabalho nos
ministérios atuais. Justiça para os pobres – aquela justiça que é “parte essencial do
pensamento e a estimular sua boa vontade. Os trabalhos em nossas paróquias, escolas, etc.,
precisam envolver também os participantes ricos, para que eles possam experimentar
pobres. Conviver e olhar nos olhos, uns dos outros, é absolutamente necessário. Podemos
não resolver os problemas das pessoas, mas podemos aprender a ficar mais perto e a sentir
mais profundamente as dores daqueles que não receberam tantos privilégios quanto nós. O
36
tempo real que gastamos trabalhando lado a lado, muitas vezes nos abre os olhos e os
corações para os problemas. Assim, o processo para crescer no amor de Jesus pelos pobres
é, paradoxalmente, aprender como ser pobre com os próprios pobres. Eles podem nos
Provavelmente o modo mais importante de viver este voto é ser solidário com os
pobres. A carência material é um mal. Não queremos idealizá-la, mas superá-la tão
eficazmente quanto possível. Não podemos fingir sermos exatamente como os pobres. Mas
podemos conhecê-los e partilhar seus interesses e seus fardos mais plenamente. Nossa
educação e influência como religiosos podem ajudar a dar voz e compreensão à luta dos
pobres. A experiência única que eles têm de Deus e da divina providência é um presente
para nós. Temos muito a dar e a receber uns aos outros. Este é o significado da
solidariedade – “permanecemos juntos como Maria permaneceu com João aos pés da cruz e
experimentamos uma nova fonte de poder”.23 Tal postura é observada em nossa tradição
esta transformação em nossa solidariedade para com o pobre. Quanto mais estivermos perto
A Bíblia tem uma visão muito positiva da sexualidade. Não no seu sentido
romântico, mas como uma expressão humana vital do poder criador de Deus. A visão
bíblica era “crescer e multiplicar”. Por isso, as crianças – especialmente o filho, numa
37
cultura de aldeia patriarcal – eram não apenas um sinal de bênção e de segurança, mas uma
expressão de obediência.
para alguém ser ridicularizado. A Bíblia não traz hinos sobre a virgindade e poucas
palavras de elogio à vida celibatária. Mais típico é o doloroso quadro de Ana, desfeita em
recorreram a dois textos como a base bíblica para esta decisão. Mateus 19 e 1Coríntios 7.
homem com a mulher é assim, então é melhor não se casar’. Jesus respondeu: ‘Nem todos
entendem isso, a não ser aqueles a quem é concedido. De fato, há homens castrados, porque
nasceram assim; outros, porque os homens os fizeram assim; outros, ainda, se castraram por
causa do Reino do Céu. Quem puder entender, entenda’” (Mt 19,10-12). Ainda que o
estudo bíblico moderno sugira que esta passagem está mais relacionada com o casamento
do que com o celibato, muitos sentem que ela ainda é um importante indício para um
Nesta passagem de Mateus, a frase chave é por causa do Reino do céu. A noção
sugerida no texto grego não é a de que alguém se torna eunuco para ir para o Reino, mas
que o reino fez algo para que a pessoa se tornasse um eunuco. “Em outras palavras, a lei de
Deus – Deus – apodera-se de uma pessoa com uma paixão tão forte, tão dominante que ela
toma conta da vida desta pessoa, a leva a uma decisão que a Bíblia dificilmente pode
aproximarmos do fim dos tempos, “quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor”. Ele
diz isso a eles não para armar uma cilada, mas “para que possam permanecer sem distração
celibatária torna-se uma opção cristã apenas porque a ardente paixão por Deus toma conta
da vida da pessoa.
Tal fundamento lógico tem uma base espiritual sólida. As pessoas estéreis que
lamentam seu vazio e sua esterilidade descobrem que Deus preenche suas vidas. Deus tira a
vergonha de Ana; Deus sopra vida no útero de Isabel; e o Espírito de Deus leva vida ao
útero de Maria. A única paixão que pode substituir a paixão do amor sexual é a paixão da
fé. Assim, as escrituras sugerem que o voto de castidade, como os votos de obediência e de
pobreza, “tira seu significado radical do vibrante elo primordial entre Deus e o fiel”.26
obediência no seguimento de Cristo ipso facto significa viver uma vida casta. A castidade é
escrito, a não ser na passagem do n. 19. O objetivo da Regra é tentar estabelecer estruturas
(por exemplo, silêncio, jejum, autoridade) que sustentarão o discipulado fundamental que
os carmelitas buscam. Caminhar nas pegadas de Jesus nos chama para aquela busca
religiosa que é distinto do caminho para o qual todos os discípulos são chamados. O
celibato religioso foi descrito por Sandra Schneiders28 como um ícone, uma abertura no
mistério de Deus. Este mistério nunca é plenamente revelado nem compreendido. Contudo,
ele transmite aquele Deus misteriosamente presente no mundo. O amor celibatário na sua
39
melhor forma evangeliza por sua absorção total em Deus, e por sua inclusão e seu
íntimos. Que tipo de companheiros tenho e o que significo para eles? Quem conheço e
como? Como me relaciono comigo mesmo e com meu corpo? Meus relacionamentos
genuína luta humana que elas representam. Ao professar buscar este relacionamento
exclusivamente com Deus em sua vida, a pessoa não evita a profunda solidão ou o vazio
que o fato de estar sem um parceiro permanente, ou uma família, carrega em si. Na
verdade, a experiência da castidade celibatária é a de trabalhar com este vazio durante toda
a vida da pessoa. Não é necessário dizer que existem muitos outros tipos de
liberdade que o voto de castidade nos dá. Mas podemos esperar que nosso desejo e nossas
intensos.
Os religiosos que não vivem um amor intenso por Deus encontrarão o vazio
conforto, bens, relacionamentos que comprometem potencialmente seu voto. Outros ficam
perigoso. David Fleming, S.M., afirma: “Nenhum nível de maturidade, nenhuma técnica de
40
Que oportunidades na vida religiosa estão disponíveis para nos ajudar a viver este
abertura para o relacionamento na sua comunidade e nos ministérios e devem viver uma
Quando nos relacionamos com outras pessoas, sempre o fazemos através de nosso
corpo. É importante para nós voltar ao contato com a expressão natural do corpo e não
negar seu valor como parte da criação de Deus. O voto de castidade não elimina nossa
expressão corporal.
Sentir e tocar (um tapinha nas costas, um abraço, um aperto de mão caloroso, um
beijo) são uma parte natural do relacionamento humano. As culturas variam muito no
significado de tais gestos, mas em toda cultura o corpo exerce um papel importante ao
a inibição, mas um zelo contínuo e respeitoso por nossas necessidades físicas e psíquicas.
Este zelo se manifesta em comportamentos como: uma dieta saudável, exercícios regulares,
repouso adequado, relaxamento e recreação. Quando este zelo é parte da vida celibatária,
nossos corpos se tornam parte de uma pessoa madura, percebida como um todo, como um
criação da santidade unificada à qual somos chamados. Tais atitudes sustentam nossa
vivência do voto em vez de miná-la. Elas são ajudas importantes à castidade. O voto de
castidade não é um voto de ignorar o corpo. “Ele é certamente um voto onde se canalizam
corpos. Este crescimento inclui aceitação e respeito por nossa sexualidade e por nossos
desejos sexuais. Um desafio quando se busca integrar o próprio desejo por uma união
sexual com outra pessoa, desejo este que pode ser muito poderoso. No entanto, tais desejos
são parte da ação de Deus em nós. Eles não podem ser negados ou ignorados sem nos
causarem problemas mais profundos. É valioso para nós refletirmos se existe um medo
reprimir qualquer interesse ou atenção pelo corpo humano (o nosso próprio corpo ou o
corpo de outra pessoa), devemos aprender a sermos gratos e felizes por esta parte da criação
de Deus. O resultado pode ser um relaxamento maior e uma atenção maior ao que nosso
corpo nos diz sobre o todo de nossa natureza corpo-espírito. Se isto ocorreu, então de fato,
Ser íntimo é deixar outra pessoa participar de nossa vida de tal modo que sua presença se
torna uma parte do que somos. Isto aprofunda nossa auto-estima. A intimidade envolve
uma certa morte para o eu e amar nosso próximo como a nós mesmos. Os relacionamentos
são complicados e não saímos bem deles sem cicatrizes. Já que a intimidade é perigosa,
temos muitas maneiras de nos proteger e de nos defender contra ela. Contudo, alguns
relacionamentos íntimos são necessários para uma vida plenamente integrada e generosa.
Quanto mais próximos ficamos de uma pessoa, mais difícil é deixá-la ir. Contudo, o amor
em nossas vidas mas também na boa vontade de deixá-las sair. Já que o processo de deixar
partir é muito doloroso, os religiosos podem ter a tendência de desenvolver uma forte
Além disso, a intimidade por sua própria natureza pede uma expressão física.
num ambiente ministerial pode criar, às vezes, uma tensão com respeito à expressão física
que também será dolorosa e difícil de ser tratada. O que fazer? O caminho mais fácil seria
Jesus não tinha medo da intimidade. Ela estava presente em muitos de seus
incluindo a intimidade com o próprio Senhor, é um fato marcante nas vidas de muitos
santos como Teresa e João da Cruz. O ideal deste voto é valorizar a intimidade com muitas
consciência da sexualidade deve estar integrada com o desejo de viver o amor universal,
3.3.3 Oração
em nossas vidas. Assumir o voto significa que nenhum ser humano é mais importante para
nós do que Deus. É claro que este fato é verdadeiro para todos os seres humanos, mas a
evidente e óbvio.
Uma vida de oração proporciona a oportunidade de experimentar este Deus que nos
chamou a partilhar nosso eu com todos. Vamos para Deus com a experiência deste
chamado em todas as suas ramificações: alegria e sofrimento, intimidade e vazio. Este tipo
de vida é assumido adequadamente apenas na fé, certos de que Deus nos transformará.
44
Apenas Deus fará de nosso coração uma fonte doadora de vida, desinteressada, aberta ao
amor universal.
desejo que temos por Deus e com o desejo de Deus por nós assim como com as
Basicamente, oramos porque sabemos que precisamos de Deus. Precisamos que Deus nos
preencha e transforme nosso amor, para que ele possa ser libertado para interesses mais
perpétuo, não um voto que é medido apenas pelo fato de sermos ou não castos. É verdade
que a atividade genital é algo que fazemos ou não. Mas, além disso, este voto é um
chamado viver apenas para Deus, crescendo em nossos relacionamentos, tanto com
companheiros religiosos como com o povo a quem servimos, buscando a integração mais
outras pessoas. Tudo isto exige crescimento constante e é uma experiência contínua que
Deus transforma nosso amor pelo bem do reino. Deus usa nosso amor para
transformar o mundo. Este processo não é angelical. É humano. Oramos como pessoas
e no ministério. Levamos todas estas experiências para nosso relacionamento com Deus e é
lá que elas são transformadas na energia e na generosidade que Deus necessita no nosso
mundo.
45
4. Conclusão
Concluirei com três breves reflexões que me ocorreram neste estudo dos votos.
Deus. Este desejo é uma fome que aprisiona o coração de qualquer pessoa chamada à vida
religiosa. É uma fome que consome todos os outros desejos ou paixões em nossas vidas. Os
fome. A santidade de vida é a força que nos guia e os votos dão forma a esta força.
Em segundo lugar nós, como carmelitas, cremos que podemos viver melhor estes
triplo modo de vida proporciona uma estrutura e um meio para satisfazermos esta fome e
importante dom na vida da Igreja por mais de 800 anos, contextualiza estes votos. Ele dá a
Num terceiro ponto vemos que os votos são fundamentalmente uma experiência
evolucionária. Nenhum de nós vive os votos perfeitamente. Cada estágio de nossa vida nos
que o Carmelo tanto é um lugar quanto uma jornada.31 O Carmelo é um lugar onde a
jornada dos votos pode ser vivida, um lugar onde sempre podemos estar no caminho
que a vida no Carmelo nos chama a viver. Os votos tocam em alguns dos mais profundos
anseios humanos presente em nós. Estes anseios são transformados pela graça de Deus nas
lutas que cada um de nós experimenta. Este processo de transformação nos torna
transparentes, de modo que podemos dizer com Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu que
História
3) O que a Igreja e o mundo necessitam neste momento da história dos religiosos que
assumiram os votos?
Obediência
1) Que símbolo, história ou provérbio do Antigo ou do Novo Testamento lhe ocorre como
experiência de outras pessoas lhe ocorre como uma imagem de obediência? Descreva o
Pobreza
1) Que símbolo, história ou provérbio do Antigo ou do Novo Testamento lhe ocorre como
experiência de outras pessoas lhe ocorre como uma imagem da pobreza? Descreva o
Castidade
1) Que símbolo, história ou provérbio do Antigo ou do Novo Testamento lhe ocorre como
uma imagem da intimidade celibatária? Descreva o que isto significa para você.
experiência de outras pessoas lhe ocorre como uma imagem da intimidade celibatária?
1
RA 1-3.
2
RA 10, 11, 21.
3
RA 4-6, 7, 10, 12-13, 15.
4
RA 9, 16, 17.
5
Ratio Institutionis Vitae Carmelitane, 28, Roma, Cúria Geral da Ordem Carmelitana, 1998.
6
Agradeço a Patrick McMahon, O.Carm., Ph.D., membro da Comunidade dos Padres Brancos e membro da
União Teológica de Washington, por esta seção sobre a história dos votos.
7
A Regra Sagrada de nosso Santíssimo Pai São Bento, ed. Monges da Arquiabadia de São Meinrad. São
Meinrad, IN: Grail Publications, 1956, Capítulo 58.
8
Ibid.
9
Carlo Cicconetti, O.Carm., La regola del Carmelo: origine, natura, significato. Roma: Institutum
Carmelitanum, 1973, p. 209.
10
Ibid., p. 202.
11
Ibid., p. 210.
12
Kees Waarjman, O.Carm., A identidade carmelitana a partir da perspectiva da Regra, 13º Conselho das
Províncias (Nantes). Publicações Carmelitanas: Melbourne, 1994, p. 48.
13
Ibid., pp. 48-49.
14
Congregação para Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. Diretivas sobre a
formação nos institutos religiosos, # 12. Origens, 19 (20 de março de 1992).
15
D. Nygren e M. Ukeritis, ‘O futuro das ordens religiosas nos Estados Unidos’. Origens 22 (1992), 267. Os
autores relatam que a incapacidade de formular uma estratégia para alcançar um propósito ou uma missão é a
fraqueza mais surpreendente entre os líderes atuais.
16
S. M. Schneiders, I.H.M. Odres novos: Reimaginando a vida religiosa hoje. Mahwah, NJ: Paulist Press,
1986, p. 142.
17
D. Senior, C. P. “Vivendo neste ínterim: princípio bíblico para a vida religiosa”. Em P. Philibert, O.P.,
(ed.), Vivendo neste ínterim. Mahwah, NJ: Paulist Press, 1994, p. 63.
18
Senior, p. 64.
19
Ibid.
20
Senior, p. 65.
21
RA 12.
22
Justiça no Mundo, Declaração do Sínodo dos Bispos, 1971.
23
D. A. Fleming, S.M. Anotações do peregrino: uma experiência de vida religiosa. Maryknoll, NY: Orbis,
1992, p. 35.
24
Senior, p. 66.
25
Ibid.
26
Ibid, p. 67.
27
RA, 19.
28
Schneiders, pp. 114-136.
29
Fleming, p. 39.
30
Fleming, p. 44.
31
C. Fitzgerald, O.C.D. “Jornada e lugar: Símbolos do mito da vida carmelitana”. Em Atas do 33º Capítulo
Provincial, 1987, p. 12-24, Darien, IL: PCM Province, 1987.