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Resumos Ética

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Ética 

– Aula 1 – Origem, tendência e questões actuais na bioética. Factos, valores e deveres. Ensinar a 
deliberar sobre os valores e a tomar decisões autónomas 

A ÉTICA é um conjunto de valores que visa a excelência/ o óptimo (to ariston) e não a suficiência do que é Bem  “a arte de 
eleger  a  melhor  conduta”.  O  objectivo  da  ética  passa  por  ensinar  a  conhecer  factos,  deveres  e  sobretudo  valores  para  que 
tomemos decisões autónomas.  

 FACTOS 
 DEVERES ‐ A experiência do dever é primária e consubstancial a qualquer ser humano. 
o Há deveres que geram direitos correlativos: deveres perfeitos (ou de justiça);  
o Há  deveres  que não  geram direitos: deveres  imperfeitos  (ou de  beneficiência)  – deixa‐se  ao nosso arbítrio as 
ocasiões particulares em que os realizamos: caridade, beneficência;  
o O âmbito do dever é + amplo que o do direito, e só certos deveres geram direitos correlativos;  
 VALORES  ‐  São  subjectivos;  Dependem  das  emoções,  desejos,  educação,  tradição,  crenças;  Vão‐se  construindo  (e  o 
inverso); e são os motivos fundamentais das nossas decisões; Não podemos viver sem valores, sem valorizar;  
o Conjunto de valores intrínsecos: valor intrínseco se e só se for valioso em si mesmo e não por referência a outra 
coisa,  dando  sentido  à  nossa  vida  o  conjunto  de  valores  intrínsecos  define  a  cultura    de  um  indivíduo   
exemplo: um ser humano, por ser uma pessoa e ter dignidade, é um fim em si, tem valor intrínseco 
o Conjunto de valores instrumentais: Uma coisa, acção ou objecto, ou seja, produtos da técnica e da ciência que 
são  meios  que  servem  para  atingir  certo  fim;  valem  por  referência  a  outra  coisa    o  conjunto  de  valores 
instrumentais  define  a  civilização    exemplo:  O  dinheiro,  fármacos,  automóveis  têm  claramente  valor 
instrumental. 
Toda e qualquer pessoa dá mais importância a determinados valores em relação a outros, estabelecendo‐se 
assim uma espécie de hierarquia de valores. Os valores a que cada pessoa confere mais importância vão 
reflectir‐se nas suas acções e decisões, vão de certa forma organizar e orientar toda a sua conduta futura. 
Muita civilização e pouca cultura: perversão axiológica ‐ pares dos valores opostos 
A saúde depende de valores intrínsecos e instrumentais.  
 
 
 
 
 
 
 
 
NOTA: O paradoxo da erosão ética reflecte‐se muito na Medicina: à medida que os estudantes de medicina se tornam 
médicos com mais anos de trabalho têm tendência a diminuir a sua sensibilidade ética.  
 
 
Ética e Deontologia Médica: aspectos históricos 
 Código de Hammurabi: 1750 AC (Babilónia) 
 Juramento de Hipócrates ‐ Triplo sentido para a história da Ética Médica ocidental 
 primado do princípio da beneficência 
 santidade da vida humana (proibição na indução do aborto e da eutanásia) 
 respeito pelos professores 
 Cristianismo 
 amor ao próximo; 
 considerar necessidades físicas e espirituais; 
 compaixão (sofrer com) e caridade para com os que sofrem; 
 os  mosteiros  enquanto  hospícios‐hospitais  e  lugar  de  aceitação/depósito  dos  doentes  e 
desafortunados (“Misericórdias”); 
 S. Tomás de Aquino (sec. XIII): é pecado um médico pedir demasiado dinheiro ou recusar tratamento 
gratuito a quem morrer se o não receber. 
 Thomas  Percival  (1803)  ‐  Medical  Ethics:  a  code  for  institutes  and  perceptors  adapted  to  the  professional  conduct  of 
physicians and surgeons 
 deveres dos médicos entre si; 
 desempenho nas instituições de   saúde; 
 áreas de competência dos médicos,         cirurgiões e farmacêuticos. 
 relações entre os médicos mais novos e os mais velhos 
 conduta entre colegas 
 manter as divergências entre colegas fora do conhecimento de terceiros 
 American Medical Association (AMA) ‐ 1º Código de Ética Médica – 1847 
 Barahona Fernandes (1956) 
 antropoética , medicina humanizada “todo o médico digno deste 
nome – e não só o psiquiatra – encara hoje os seus enfermos na 
tripla  perspectiva  do  orgânico,  do  psíquico  e  do  cultural.  Numa 
síntese que nos é cara –  a Vida, a Mente e o Espírito” .  
 Miller Guerra (1965) 
 aspectos deontológicos da contracepção ‐ defende que a Igreja Católica aprove o uso da “pílula”. 
 
 ANOS 60 ‐  avanços técnico  (por  exemplo,  Diálise,  Ventiladores,  Transplante  de  órgãos  (coração:  1967),  Contracepção  segura:  sexualidade  ≠ 
risco de gravidez involuntária) +  Movimentos sócio‐culturais  (direitos cívicos, direitos reprodutivos, feminismo, direitos dos doentes: crítica 
das doentes e famílias à obsoleta e desfigurante mastectomia radical)         

   
 
 ANOS 70 ‐ Comissões de Ética hospitalares (1970):   doentes  terminais  e  técnicas  de  reanimação;  Aborto  seguro; 
Eutanásia  (em  1968  introduzira‐se  o  conceito  de  morte  irreversível  ‐  EEG);  Escassez  de  recursos  médicos;  Direitos  do 
animal; Fertilização in Vitro (FIV): 1978 

BIOÉTICA:  Van  Rensselaer  Potter  (1970)  Inicialmente  propôs  a  designação  “science  of  survival”  no  sentido  ecológico  –  ie,  uma 
disciplina interdisciplinar que visa a preservação da bioesfera/ regulação de todos os seres vivos  “saber trans disciplinar que 
planeia as atitudes que a humanidade deve tomar ao interferir com o nascer, o morrer, a qualidade de vida e a interdependência 
de todos os seres vivos. É a expressão da consciência pública da humanidade”.  Para Van Potter, a Bioética deve lidar com Toda a 
Vida e Todas as Vidas: 

1. Ética Médica. 

      2. Ética animal.             

      3. Ética do ambiente. 

A Bioética não se limita às relações médico‐doente porque a técnica humana interfere na natureza e no mundo animal. 

2013, Diego Grácia ‐ “A Bioética tem que sair dos hospitais; tem mesmo que sair do mundo sanitário, das mãos dos médicos e dos 
profissionais  de  saúde,  para  se  converter  num  tipo  de  mentalidade,  numa  cultura,  numa  nova  cultura,  a  cultura  da  vida  e  da 
qualidade da vida dos seres humanos. ”. “Os maiores problemas que hoje enfrenta a Bioética já não estão relacionados com o 
poder da ciência e da tecnologia. Hoje em dia as questões bioéticas mais importantes têm a ver com o dinheiro e as condições 
sócio‐económicas. Grande parte da população de um importante número de países não tem acesso aos benefícios do progresso 
científico e tecnológico. ” “(...) Padecem de doenças tratáveis, mas sem acesso à medicação necessária. Necessitam submeter‐se a 
intervenções cirúrgicas, mas não têm possibilidade de aceder a elas. Precisam de cuidados médicos que não podem pagar. Não 
podem  cuidar  dos  seus  filhos  doentes,  porque  trabalham  em  lugares  longe  das  suas  casas.  Não  podem  alimentar‐se 
adequadamente  nem  alimentar  as  famílias.  Tudo  isto  fez  com  que  o  processo  de  globalização  tenha  posto  em  relevo  a 
necessidade de uma Bioética realmente global” 

  É importante reter que a evolução que se verifica na ética depende da evolução do contexto social, político e religioso.
   

 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
Ética e Deontologia Médica: teorias e princípios éticos 
 Ética → Propõe (o óptimo!). É “a arte de eleger a melhor conduta” e procura valores permanentes, ou seja, com carácter 
universal e intemporal = convicção individual 
Em  ética  médica,  por  mais  que  queiramos  justificar  racionalmente  as  nossas  decisões,  por  vezes  tal  não  é  possível. 
Muitas das escolhas éticas não têm apenas a ver com a razão mas também com a emoção.  
 Moral  →  Norma va.  Normas  e  costumes  sociais  actualmente  aceites  e  seguidas  por  indivíduos  ou  grupos.  São 
influenciados  pela  relatividade  cultural  e  histórica  num  momento.  Por  exemplo:  hoje  é  moralmente  aceite  relações 
sexuais antes do casamento mas há 50 anos não o era = convenção social 
 Lei → Impõe (Pune) 

“A ética não pode prescindir da moral, tal como a moral somente se torna fera amansada se se desligar da ética” 

 
PRINCIPAIS TEORIAS ÉTICAS: 
 
1. Consequencialismo  ‐  “The  greatest  good  for  the  greatest 
number”/  o  maior  bem  para  o  maior  número  de  pessoas.  As 
melhores consequências para o maior número possível / maximizar 
o bem. O Utilitarismo é a teoria consequencialista actualmente mais 
prevalente:  As  consequências  de  uma  acção  determinam  a  sua 
bondade e correcção. 
 o  melhor benefício para o maior número possível 
 avaliam‐se  os  efeitos  previsíveis:  os  resultados 
obtidos  para  o  doente  determinam  se  o  acto  foi  correcto  ou 
incorrecto 

As  principais  críticas  passam  pelos  direitos  das  minorias  serem 


menosprezados;  pelo  facto  de  que  nem  sempre  aquilo  que  se  prevê  reflectir  aquilo  que  efectivamente  acontece,  ou  seja, 
ninguém consegue verdadeiramente prever todas as consequências de uma intervenção; também se questiona acerca do facto 
de uma acção poder ter várias consequências (por exemplo da FIV  bebé vivo, embriões abandonados e congelados) e neste 
caso,  basear  a  correcção  da  acção  apenas  nas  suas  consequências  não  faz  sentido;  e  a  última  crítica  passa  pela  dificuldade  de 
definir o que é de verdade o melhor, qual é o maior número de pessoas que deve beneficiar, entre outras. 

2. Kant e a teoria deontológica (dos deveres) – o imperativo categórico da teoria de Kant passa por agir como se a máxima da tua 
acção  se  pudesse  tornar  lei  universal  essencialmente  pautando  para  que  o  dever  (intenção)  seja  mais  importante  que  a 
consequência.  Uma  intervenção  será  correcta  se  corresponder  à  satisfação  do  dever,  quaisquer  que  sejam  as  suas 
consequências. Kant defende ainda neste contexto que devemos tratar as pessoas como fins em si mesmos, nunca apenas 
como meios.  
 
3. Principiologia  (Beauchamp  &  Childress)  ‐  reclamava  brotar  da  charneira 
entre  o  utilitarismo  e  a  ética  deontológica  kantiana.  Os  princípios  são 
consequência dos VALORES, e nunca o inverso.  Os princípios são conceitos que, se correctamente usados, servem como 
“checkpoints”  no  exame  de  casos  concretos.  Cada  um  destes  princípios  é  essencial  à  ética  médica.  Nenhum  destes 
princípios é único; tem primazia sobre os outros; ou se sobrepõe a priori a qualquer outro, ou seja, perante um problema 
ético devemos considerar os quatro. Todavia a beneficência constitui a razão de ser e o objectivo primeiro da Medicina e 
dos cuidados de saúde. 
 Beneficência: Obrigação de agir em benefício do doente e de forma a que sejam atendidos os seus interesses mais 
importantes  e  legítimos.  Todas  as  formas  de  acções  com  intuito  de  beneficiar  outros.  Bondade,  generosidade, 
caridade. Obrigação moral de actuar em benefício de/dos outros.  
Por  vezes  é  necessário  estender  o  princípio  da  beneficência  pois  não  é  possível  às  vezes  produzir  benefícios  ou 
eliminar  danos  sem  criar  riscos  ou  incorrer  em  custos.  A  opção nestes casos  passa por  garantir que  os  benefícios 
criados são suficientes para compensar os riscos e custos (Princípio da utilidade = proporcionalidade) 
O Porquê da relatividade do PB: 
 Altruísmo extremo pode implicar sacrifício (por exemplo, doar um rim só porque somos HLA compatíveis) e 
nós  não  somos  moralmente  obrigados  a  beneficiar  as  pessoas  em  todas  as  ocasiões,  mesmo  que  o 
possamos fazer  Não é possível actuar com total beneficência em relação a todos! 
 Profissionalmente temos obrigações mas não necessariamente emulações (acto de uma pessoa se sacrificar 
em extremo pelas outras, ou seja, agir para lá da sua obrigação) – obrigações correntes > obrigações morais 
> emulação 
 Questiona‐se  também  se  este  principio  da  beneficência  se  aplica  de  igual  forma  às  pessoas  de  quem 
gostamos vs as de quem não gostamos. 
 Os  profissionais  de  saúde  são  obrigados  a  aceitar  riscos  extraordinários  ao  cuidar  de  doentes  difíceis  ou 
contagiosos ? 
 Quem ajuíza o que é o melhor para o doente? 
 Estamos moralmente proibidos de causar dano a quem quer que seja (principio da não maleficência é uma 
obrigação perfeita); mas somos parciais na beneficência (obrigação imperfeita). 
 
 
 Autonomia:  auto  governo  →  escolha  individual  por 
parte  de  cidadãos  autónomos,  críticos  e  responsáveis. 
Permite  que  as  pessoas  sejam  responsáveis  pelas  suas 
escolhas e decisões. O respeito e exercício da autonomia 
supõe:  reconhecimento  do  direito  dos  doentes; 
obrigação  médica  em  revelar/informar  com  verdade; 
protecção  da  confidencialidade;  respeito  pela 
privacidade;  consentimento  do  doente  para  o  médico 
poder  intervir  (consentimento  informado  =  autorização 
para realização de ato médico).  
 
O  respeito  pela  autonomia  não  implica  sempre  uma 
visão: individualista (família e sociedade podem intervir 
na escolha), exclusivamente racional nem legalista. Adicionalmente, o direito de autonomia é diferente de haver um 
dever de autonomia (o doente pode exercer o seu direito de autonomia mas também pode escolher a ignorância, 
não aceitação da informação ou desistência de ser informado).  
Se  o  doente,  ainda  que  competente,  não  compreende  terapêuticas  ou  procedimentos  implicados  na  sua  situação 
clínica; ou a situação de morte próxima pode condicionar a capacidade de decisão do doente  pode ser necessário 
um Paternalismo “Aceitável” – aquele em que o médico insiste para o doente o que é melhor para ele, ou então que 
tenta  encontrar  um  compromisso  entre  a  vontade  do  doente  e  o  que  é  melhor  para  ele  ||  Paternalismo 
“Inaceitável”  –  em  que  o  médico  ignora  a  recusa  do  doente,  ou  em  que  nem  lhe  explica  as  suas  opções  de 
tratamento, e simplesmente faz o que assume ser melhor para o doente 
 
Constituem excepções ao princípio da autonomia: Crianças < 14 anos; Doentes mentalmente incapacitados; Suicidas 
irracionais; Toxicómanos; Prisioneiros; Doentes em coma / EVP. Além destas excepções devemos estar atentos aos 
excessos: Subestimação do direito do embrião e do feto (= pessoa ?); Aceitação automática das “advance directives” 
(testamentos vitais); Sobrevalorizar opiniões de doentes com capacidade mental limite. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Justiça distributiva: equidade na distribuição de bens e de benefícios, ou seja, doentes em condições semelhantes 
devem  ter  acesso  a  semelhantes  cuidados  de  saúde  mas  ao  mesmo  tempo,  a  escolha  dos  recursos  de  saúde 
dispensados a um doente deve ter em atenção a disponibilidade dos recursos necessários a outros doentes. 
 Não  maleficência:  Primum  non  nocere.  Não  causar  mal,  dano  aos  doentes.  Não  submeter  os  doentes  a  riscos 
desnecessários.  Devem ser seguidas imparcialmente… quando não o são, constituem razões morais que justificam 
punições  legais  de  certas  condutas.  Há  quem  considere  este  princípio  a  outra  face  da  moeda  do  PB,  não  sendo 
muitas vezes fácil traçar a respectiva divisória. 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
4. Ética da virtudes (aristotélica) – Esta teoria surge por insatisfação face às teorias clássicas que são demasiado abstractas e 
dão  demasiado  ênfase  no  que  se  deve  fazer,  em  detrimento  da  análise  de  questões  como  que  espécie  de  pessoa 
devemos ser e que tipo de vida devemos levar. Esta teoria coloca a tónica na boa formação do carácter e personalidade 
das pessoas ou profissionais. Ou seja, apoia que deve existir virtude moral, um traço de carácter moralmente valioso que 
englobe compaixão, confiança, consciência, discernimento e integridade. Segundo esta teoria, uma acção é correcta se 
corresponde ao que o virtuoso teria feito em todas as circunstâncias;  A bondade precede a correcção;  As virtudes são 
bens intrínsecos e plurais; As virtudes são objectivamente boas; Algumas virtudes intrínsecas são relativas a quem age; A 
acção correcta não exige que se maximize o bem.  
As principais críticas passam pelas questões que ainda se levantam: As virtudes ensinam‐se ?  treinam‐se ? herdam‐se ? 
praticam‐se ? Pode ensinar‐se um estudante de medicina a ser virtuoso ? Ou este deveria ser um critério de escolha dos 
futuros médicos? 

NÃO ESQUECER QUE AS VÁRIAS TEORIAS ÉTICAS NÃO SE EXCLUEM NECESSÁRIAMENTE. 
Ética ‐ Aula 2 – Questões Éticas no início da vida. IVG, objecção de consciência, princípio do 
plano inclinado e de duplo efeito. Colaboração material e formal. 
O início da vida humana levanta muitas questões:  
 Cerca  de  70%  das  gravidezes  acabam  por  desaparecer,  ou 
1. Será um embrião fecundado igual a um embrião implantado?  seja,  existem  valores  laboratoriais  que  comprovam  a 
gravidez contudo, por algum motivo, esta não chegará a ser 
uma  gravidez  evolutiva,  não  havendo  atraso  menstrual  e 
  portanto muitas vezes a mulher não sabe que esteve grávida 
(CURIOSIDADE:  qualquer  mulher  que  tenha  estado  grávida, 
mesmo  que  a  gravidez  não  tenha  evoluído,  tem  DNA  fetal 
  em circulação até ao fim da sua vida. 
 Até  ao  5º  dia  (blastocisto)  não  é  seguro  que  haja  Massa 
Celular Interna: Embrioblasto. Se só trofoectoderme: Amnios 
  &  placenta  →    ß  HCG    Ex:  gravidez  anembriónica  (“ovo 
cego”) 
 Até ao 8º‐12º dia pode: 
    1 → 2 (gravidez múl pla)     
2 → 1 (quimera) 

  Individuação  (só  certa  após  12º  dia)  leva  ao  início  da 
formação do Sistema Nervoso – Sensibilidade, Vida cerebral 
e espiritual, Consciência, Comunicação   
   

2. O que é a vida humana? Quando se inicia? 

 
Pessoa humana é um conceito moral e filosófico mas não pode ignorar os dados científicos: há momentos cruciais no 
desenvolvimento de um embrião e que podem ajudar na definição de determinadas questões éticas: por exemplo, existem leis no 
RU e Holanda que permitem a interrupção voluntária da gravidez até às 24 semanas justificando que este é o limite da viabilidade 
extra‐uterina; outros acham que o grande momento que divide a gestação é o aparecimento dos primeiros movimentos fetais; 
outros pensam que o grande momento é o início da actividade cerebral (8ª‐10ª semana), facto que terá sido o argumento mais 
utilizado para delimitar a lei da interrupção voluntária em Portugal. 

Estatuto moral do embrião: Para alguns cientistas da área da embriologia humana, a vida humana começa com a fecundação, uma 
vez que é a partir desse momento que surge um mecanismo novo, intrı ́nseco e autónomo que, na ausência de patologia, culmina 
no desenvolvimento embrionário normal. Se a definição de vida humana, em termos biológicos, não é  consensual, menos o é  a 
definição do seu estatuto moral: 

 Tese concepcionista ‐ O embrião deve ser tratado como se fosse uma pessoa humana desde a concepção. O embrião 
tem  sempre  o  mesmo  estatuto  à  medida  que  evolui,  rejeitando  o  uso  do  DIU,  da  pílula  do  dia  seguinte  ou  do  aborto 
considerando que todas destroem da mesma forma a vida humana e que são iguais a um homicídio. 
 Tese  gradual  –  Defende  que  a  vida  intra‐uterina  viável  é  sempre  merecedora  de  respeito  pela  sua  dignidade  (é  vida 
humana) e que vai‐se tornando pessoa humana ao longo da gestação (quando?). Apesar de não definir exactamente um 
instante crucial deste desenvolvimento que marque a passagem a pessoa humana, esta tese realça a diferença existente 
entre as várias fases do desenvolvimento, sobretudo a partir do momento em que surge a vida espiritual do embrião, 
que se admite aparecer quando o SNC já é capaz de proporcionar um certo grau de consciência. 
Ou seja, a posição que tomamos relativamente ao estatuto do embrião influencia a nossa posição relativamente a determinadas 
questões:  aceitar  ou  não  a  pílula  do  dia  seguinte,  o  aborto  e  o  DIU?  Aceitar  ou  não  a  investigação  em  células  estaminais 
embrionárias descongeladas e sem projecto parental? 

A tese gradual, por defender o carácter progressivo do desenvolvimento da pessoa humana, ressalva também a importância da 
distinção entre embriões intra e extra uterinos e dentro destes, in vivo ou in vitro. Dá ainda particular interesse à mulher grávida, 
apoiando a importância única e determinante da mulher grávida na identidade de cada pessoa humana: 

 regulação dos genes de embrião/feto (epigenética) 
 ambiente hormonal específico (unidade feto‐placentária) 
 diferente contexto imunológico 
 contexto bioquímico e metabólico 
 contexto emocional 

Por todas estas questões a gravidez de substituição é contemplada na legislação Portuguesa mas ainda não é permitida (“seriamos 
muito diferentes se fossemos gerados noutro útero”): Atualmente em Portugal a maternidade de substituição é ilegal. Segundo a 
Lei da Procriação medicamente assistida (Lei nº 32/2006, de 26 de Julho): “São nulos os negócios jurídicos, gratuitos ou onerosos, 
de  maternidade  de  substituição”  (Artigo  8.º).  Existem  vários  argumentos  a  favor  desta  legalização:  importância  para  o  casal 
infértil; permitir a uma mulher com ovários e óvulos que exerça o seu direito à maternidade, sem que este seja impedido pelo 
facto  de  não  ter  útero/  ter  patologia  uterina;  mas  sobretudo  existem  vários  factores  contra:  quais  as  consequências  da 
dissociação entre a maternidade genética e a maternidade gestacional no desenvolvimento da criança? Perder o vínculo que se 
estabelece entre a mãe de substituição e a criança, durante os 9 meses de gravidez, terá repercussões no seu desenvolvimento? A 
mãe  de  substituição  terá  de  amar  a  criança  o  suficiente  para  não  prejudicar  o  seu  desenvolvimento  intra‐uterino;  mas  em 
simultâneo terá de se distanciar de laços afectivos para que esteja consciente de que terá de entregar o bebé? É possível antever 
que uma mulher, que aceita ser mãe de substituição, não muda a sua atitude ao longo da gestação e parto? Esta prática deve ser 
regulamentada mas em simultâneo questiona‐se se deve o ser humano ser considerado um valor instrumental, passível de ser 
comprado ou negociado num contrato.  

Novos desafios… 

 Reprodução medicamente assistida (FIV ou injecção citoplasmática intraovocitária de espermatozóides) – em Portugal ≈ 
100 crianças e ≈ 1% dos partos/ ano ocorrem por procriação medicamente assistida. 
 Clonagem por transferência nuclear de célula somática 
 Clonagem reprodutiva em mamíferos (1997 – Dolly) 
 Consenso bioético: 
 Total condenação da clonagem reprodutiva 
 Controvérsia  ética  no  Apoio  à  clonagem  para  investigação  (ex:  compreensão  de  mecanismos  de 
doenças) 
 Investigação com células estaminais embrionárias 
 A  Lei  de  PMA  (2006)  autoriza:  descongelar  embriões  (D  3‐5)  e  sem  projecto  parental  após  3  anos.  Poderiam 
estes  embriões  excedentários  ter  utilidade?  Por  exemplo,  para  compreensão  de  mecanismos  de  doenças, 
eventual terapêutica futura? Não há consenso bioético.  
 Células estaminais do cordão umbilical 
 Estatal ou privado ? só para o próprio ?  todos para todos? 
 Congelamento dos ovocitos para posterior utilização 
 Indicações médicas? Familiares? Profissionais? Estatal ou privado? 

As respostas a estas questões éticas dividem‐se e dependem de questões morais, religiosas, filosóficas, emocionais e científicos. 
Aspectos éticos na interrupção de gravidez 
Antes de falarmos sobre interrupção da gravidez é necessário clarificar alguns conceitos (equivocidade conceptual): 

 Definição de início de gravidez: implantação. Só após a fecundação e a implantação se considera que há gravidez. 
 Definição de aborto (= interrupção de gravidez) 
 Consequências práticas: “pílula do dia seguinte”, DIU: abortivos ou anti‐nidatórios? 

NOTA: A necessidade de contracepção de emergência tem vindo a aumentar bastante nos últimos anos. 

A lei e suas interpretações: A actual lei regulamenta a interrupção voluntária da gravidez e foi em 2007 sujeita a referendo, que 
conduziu à sua actualização. 

Esta  lei  tem  várias  interpretações,  o  que  permite  que  o  mesmo  texto  possa  dar  origem  a  diferentes  ideias  do  que  é  legal  da 
interrupção da gravidez  SUBJECTIVA. Adicionalmente, a lei portuguesa, além de subjectiva, é sujeita à objecção de consciência 
por  parte  dos  médicos,  o  que  lhes  permite  que,  mesmo  que  esteja  contemplada  na  lei,  possam  não  realizar  a  interrupção  da 
gravidez. Assim, as diferentes interpretações à lei portuguesa por vezes necessitam que sejam consideradas: 

 Comissões  Técnicas  nos  diferentes  hospitais  –  ajuda  a  determinar  se  é  legitimo  ou  não  a  interrupção  voluntária  da 
gravidez caso a caso. A comissão é constituída por 5 a 6 pessoas (obstetras, ecografistas, neonatologistas e pediatras) e 
avalia  caso  a  caso,  os  pedidos  de  interrupção  voluntária  de  gravidez.  É  por  isso  possível  que,  considerando  o  risco  de 
diferentes desfechos em casos análogos, um pedido semelhante e no mesmo enquadramento legal, tenha uma solução 
diferente.  A  DECISÃO  DE  REALIZAR  INTERRUPÇÃO  VOLUNTÁRIA  DA  GRAVIDEZ  NÃO  É  INDIVIDUAL,  PASSANDO  SEMPRE 
PELA COMISSÃO TÉCNICA [EXCEPTO A ALINEA a) e e)]. Adicionalmente, para quase todas as situações, a IVG prevê um 
período de reflexão de 3 dias e ao longo destes 3 dias havendo uma consulta de aconselhamento mas isto não ficou bem 
claro na lei Portuguesa. 
 

Referendo de Fevereiro de 2007: Questionou a população portuguesa se Concorda com a despenalização da 
interrupção  voluntária  da  gravidez,  se  realizada  por  opção  da  mulher  nas  primeiras  10  semanas,  em 
estabelecimento de saúde legalmente autorizado ?  

Porquê 10 semanas? Admite‐se que antes disto não há actividade do SNC e é mais fácil admitir para 
a maioria que nestas circunstâncias ainda não há pessoa humana. Mas cuidado com o princípio do 
Plano inclinado !!!  entramos num plano inclinado quando vamos admitindo excepções (por exemplo, 10 
semanas + 2 dias; depois já admitimos 10 semanas + 4 dias; etc) facto que nos leva a “ir escorregando” por este plano inclinado. 
Neste sentido, foi introduzido na legislação portuguesa: 

O número de abortos está relativamente estável nos últimos anos em Portugal mas aumentou consideravelmente relativamente 
aos dados obtidos antes da despenalização. Em Portugal realizam‐se 7,34 INTERRUPÇÕES GRAVIDEZ LEGAIS POR MIL MULHERES 
EM IDADE FÉRTIL sendo dos países europeus com menor taxa de interrupções legais e estando abaixo da média da união europeia 
(10,0).  

Código  Deontológico  da  Ordem  dos  Médicos  (2008):  Paralelamente  à  lei  Portuguesa  o  código  deontológico  da  Ordem  dos 
Médicos  também  regulamenta  a  interrupção  da  gravidez,  não  defendendo  o  aborto  voluntário,  excepto  em  condições 
terapêuticas. Mesmo depois de aprovada a lei de despenalização do aborto, o código deontológico continua a condenar a prática. 
Acentua assim a importância da reflexão ética do médico à luz das suas convicções, dos conhecimentos científicos mais actuais e 
dos  valores  em  presença,  dando‐lhe  a  possibilidade  de  ser objector  de consciência.  Ou  seja,  neste  momento  existe  um  conflito 
entre a lei e a deontologia.  

 
 

Cerca de 70% dos médicos são objectores de consciência para a IVG. Tipos de Objecção de Consciência: 

 Selectiva : caso a caso…     subjectividade pura ? (situação nacional para a prática do testamento vital) 
 Geral: objector em 1 caso →  objector em todos os casos (situação nacional para a IVG), ou seja, em Portugal, o médico 
não pode realizar aborto em alguns casos e recusar‐se a fazê‐lo por objecção de consciência noutros casos. Além disto é 
formal, devendo o médico entrar um papel na ordem dos Médicos e na instituição clínica em que exerce, declarando‐se 
objector. 

Podemos ser objectores de consciência mas temos de actuar em situações de urgência se não existir mais nenhum profissional 
que o possa fazer; e mostrar cumplicidade moral: por exemplo, indicando alternativas ou através de colaboração material (p.e. 
fazer a ecografia que data a idade gestacional). 

Outras situações previstas na lei que permitem a objecção de consciência: IVG e testamento vital. 

Embriões Excedentários 
As modernas técnicas de reprodução medicamente assistida produzem um número de embriões humanos mais elevado do que 
aqueles  que  são  implantados.  Estes  embriões  são  criopreservados  para  tentativas  futuras  de  implantação  e  tornam‐se 
excedentários  quando,  situação  mais  frequente,  o  casal  consegue  o  número  de  filhos  desejado  ou  se  desfaz.  O  que  fazer  com 
estes embriões excedentários criopreservados? 

A forma como se encara a problemática dos embriões excedentários e as suas resoluções estão inevitavelmente relacionadas com 
a definição biológica do embrião (quando aceitamos que começa a vida humana) e o seu estatuto moral de pessoa humana (tese 
concepcionista?  Tese  gradual?).  Os  embriões  criopreservados  são  considerados  como  sendo  já  uma  pessoa,  ou  são  apenas 
potencialmente  uma  pessoa?...  ou  serão  apenas  um  agregado  de  células?  Para  muitos  esta  é  a  reflexão  ética  que  deve  ser 
realizada,  e  será  com  base  nesta  definição,  que  deverão  ser  estabelecidas  as  polı ́ticas  institucionais  de  permitir  ou  não  a 
criopreservação de embriões, e decidir do seu destino.  

O  Conselho    Nacional    de    Procriação    Medicamente  Assistida,      adiante    designado    por      CNPMA,    ao    qual    compete, 
genericamente, pronunciar‐se sobre as questões éticas, sociais e legais da PMA: 

 
 

O destino dos embriões previsto no número anterior só pode verificar‐se mediante o consentimento dos beneficiários  originários 
ou do que seja sobrevivo (…): 

 Inicialmente, 60% a 80% pretende utilizar embriões em futuro projecto parental 
 Contudo,  longo  prazo  a  maioria  opta  por  destruição  e  só  uma  minoria  tem  outros  destinos:  Doação  a  outros  casais 
inférteis (maioria não concretiza ) e ≈ 20% dispostos a doá‐los à ciência 

Só poderão ser submetidos a investigação embriões criopreservados sem projecto parental; embrioes que não possam servir para 
PMA; embrioes que possuam anomalias genéticas graves ou obtido sem recurso à fecundação por espermatozóide. O recurso a 
embriões nas condições das alíneas a) e c) do número anterior depende  da   obtenção   de   prévio   consentimento,   expresso,   
informado   e consciente dos beneficiários aos quais se destinavam. 

 
Ética ‐ Aula 3 – Questões éticas em fim de vida: testamento vital, procurador de cuidados de 
Saúde, eutanásia e morte assistida. Situação Nacional 
A Morte pode ser definida como a “Interrupção irreversível das Funções Vitais”. A Morte Cerebral  pode ser definida pela “perda 
total e irreversível das funções cerebrais”. 

Estes temas têm particular relevo dado o Envelhecimento Social e Senilidade. 

TOMADA DE DECISÃO EM CUIDADOS EM FIM DE VIDA 
As decisões em final de vida devem‐se basear nestes 3 princípios: 

 Critério  da  autonomia  ‐  apenas  se  aplica  a  doentes  competentes  ou,  no  caso  de  se  tratar  de  doentes  incompetentes, 
devem‐se respeitar as decisões autónomas manifestadas no passado. Sempre que as decisões prévias sejam conhecidas 
e estejam directamente relacionadas com uma situação de saúde específica, devem ser respeitadas 
 Critério  do  melhor  interesse  para  o  doente  ‐  No  caso  de  um  doente  não  competente,  e  de  não  serem  conhecidas  as 
preferências  de  tratamento  face  a  uma  determinada  situação  clínica,  o  mais  adequado  é  utilizar  o  critério  do  melhor 
interesse ou seja, a maximização a decisão de abordagem de forma a pretender o melhor para o doente. 
 O critério do juízo substitutivo ‐ O critério do juízo substitutivo só deverá ser aplicado em doentes não competentes em 
que  existam  razões  suficientes  para  acreditar  que  um  substituto  possa  tomar  uma  decisão  que  a  pessoa  em  causa 
também tomaria. Neste caso, o substituto deveria ter uma relação íntima com a pessoa em causa, conhecendo as suas 
opiniões e os seus valores, de modo a responder à pergunta: Que desejaria o doente nestas condições? 1º família; 2º 
profissionais de saúde 
 Em algumas situações podem ser preteridos outros princípios éticos como a beneficência, não maleficência e a justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Que “armas” podemos utilizar para esta tomada de decisão quando o 
doente está capaz de exprimir as suas opiniões, desejos e objectivos? 
Consentimento  informado  é  um  meio  através  do  qual  o  doente 
pode conhecer as terapêuticas que irá realizar, bem como os riscos 
associados  e  benefícios,  podendo  ele  escolher  de  acordo  com  os 
seus valores se aceita ou não determinadas terapêuticas. 
 “…acto  de  decisão  livre  e  voluntária  realizado  por  uma 
pessoa  autónoma,  após  um  processo  no  qual  lhe  foi 
concedida  informação  por  ela  compreendida,  no  sentido 
de  aceitar  ou  recusar  um  tratamento  proposto, 
conhecendo a natureza do mesmo, as suas consequências 
e os seus riscos” 
 Nestas  condições,  a  recusa  de  tratamentos  não  pode  ser 
vista  como  uma  tentativa  de  suicídio  ou  como  eutanásia, 
pois uma tal decisão apenas permitirá que a doença siga o seu curso natural. 
 Excepções ao consentimento informado: emergências  

 
E quando o doente não está capaz de decidir? 

Tendo  em  vista  esta  preocupação,  foi  elaborado  o  Artigo  9.°  da  Convenção  para  a  protecção  dos  Direitos  do  Homem  e  da 
Dignidade do ser humano face às aplicações da biologia e Medicina, apoiando que: "a vontade anteriormente manifestada no que 
diz  respeito  a  uma  intervenção  médica  por  um  doente  que,  no  momento  da  intervenção,  não  se  encontre  em  condições  de 
expressar a sua vontade, será tomada em conta" (Conselho da Europa, 1997a, p.4) – autonomia prospectiva.  

Este principio conduziu, anos mais tarde à introdução do conceito de directiva antecipada da vontade. 

Quando se considerar que as decisões dos representantes legais ou dos familiares são contrárias aos melhores interesses do 
doente, os médicos devem requerer o suprimento judicial de consentimento para salvaguardar os interesses e defender o doente. 

DIRECTIVAS ANTECIPADAS DA VONTADE 
Durante muitas décadas a medicina limitava a autonomia do doente 
achando  que  o  paternalismo  médico  era  desejável,  ou  seja,  os 
profissionais  de  saúde  consideravam  saber  o  que  é  melhor  para  o 
doente,  respeitando  mais  o  princípio  da  beneficência.  No  entanto, 
nos  anos  70,  este  panorama  começou  a  alterar‐se  e  exaltou‐se  a 
importância do princípio da autonomia. 

O conceito de directiva antecipada da vontade remonta a 1976, onde 
no Estado Norte‐Americano da  Califórnia "The Natural  Dead  Act" foi 
legalmente  reconhecido;  mas  só  em  2012  foi  reconhecido  na  lei 
portuguesa como uma directiva com valor legal. 

É uma instrução que informa o profissional de saúde sobre os tratamentos (ou outras intervenções) que a pessoa que a escreve 
deseja  ou  não  para  si  própria,  ou  seja,  permite  que  a  pessoa  planeie  os  seus  de  cuidados  de  saúde  para  o  futuro,  perante  a 
eventualidade de se tornar incapaz de tomar as suas decisões, respeitando o principio da autonomia da pessoa doente. As DAV 
são a expressão do princípio de autonomia aplicado enquanto a autodeterminação ainda está mantida.  

Existem sob a forma de testamento vital (As nossas vontades escritas em respeito pela autonomia, para quando as não pudermos 
expressar) e sob a forma de substituto legal (Delegar a nossa autonomia noutra pessoa). Delegar um representante legal pode ser 
um complemento ou uma alternativa ao testamento vital. No caso de conflito entre as disposições no documento das DAV e a 
vontade do procurador, prevalece a primeira.  

Embora a legislação já conte com a utilização das DAV desde 2012, apenas em 2014 surgiu um modelo aprovado para a criação da 
directiva antecipada da vontade; e o RENTEV (Registo Nacional de Testamentos Vitais) que permite a submissão, actualização e 
consulta das DAV por parte do doente, do representante e dos profissionais de saúde 

“Na  ausência  de  DAV  pode  ser  muito  difícil  determinar  quem  tem  a  autoridade  para  tomar  decisões  sobre  um  doente  não 
competente”.  Estas  constituem  um  importante  instrumento  no  diálogo  estruturado  entre  profissionais  de  saúde,  o  doente  e 
família. A implementação das DAV são um estímulo para universalizar bons cuidados em fim de vida. 

Vários  bioeticistas  defendem  que  a  história  dos  valores  de  um  doente  seja  incluída  na  anamnese,  sobretudo  em  doentes 
terminais. Os melhores cuidados de saúde em fim de vida são conseguidos aprofundando a história dos valores de cada doente, e 
conjugá‐la com o Testamento vital e com o Procurador dos cuidados de saúde. 

Ainda assim, como estas questões são muito complexas definiu‐se que: 

 Uma das condições para a implementação das directivas antecipadas de vida é a transparência da informação medico‐
doente, necessária para que o exercício da autonomia seja informado 
 As DAV têm de respeitar a legislação Portuguesa: Podem ser consideradas juridicamente inexistentes se forem contrárias 
à lei ou às boas práticas; caso o seu cumprimento possa provocar deliberadamente a morte não natural e evitável; e caso 
o outorgante não tenha expressado, clara e inequivocamente, a sua vontade. 
 As  DAV  têm  valor  ético  mas  também  valor  legal  e  a  lei  é  vinculativa  para  os  profissionais  de  saúde,  ou  sejam  a  única 
forma de não as aplicar é por objecção de consciência (contrariamente aquilo que acontecia se a lei fosse indicativa, pois 
neste caso as DAV seriam apenas uma indicação daquilo que o doente gostaria que lhe fosse feito e não uma obrigação). 
 Em caso de dúvida, não aplicar 
 Válida  durante  5  anos  tendo  de  ser  posteriormente  revogada  mas  pode  ser  revogável  sempre  que  o  doente  quiser, 
enquanto o indivíduo estiver competente.  

COMO REALIZAR UMA DAV? 

O utente pode informar‐se junto do seu médico assistente durante o processo de preparação da DAV. São formalizadas através de 
um  documento  escrito.  É  recomendável  a  utilização  de  um  modelo  disponibilizado  em  várias  plataformas,  como  o  portal  do 
Utente,  ARS,  DGS  e  Portal  da  Saúde  (este  documento  é  facultativo  mas  a  sua  utilização  é  fortemente  recomendada).  Este 
documento contém identificação, nomeação do procurador de cuidados de saúde, situações clinicas em que as DAV têm efeito e 
cuidados que quer/não quer receber. Deve ser posteriormente assinada presencialmente (ou reconhecida por notário) perante 
um funcionário devidamente habilitado do RENTEV que se encontram em algumas ACES  (agrupamentos de centros de saúde) ou 
Unidade Local de Saúde da área de residência – consultar listagem dos locais disponíveis nos sites já referidos 

Terminado o processo de registo e submissão, dá‐se início à fase de validação da informação clínica pelo presidente do conselho 
clínico  do  ACES,  que  tem  como  objectivo  garantir  que  não  existem  inconsistências  clínicas  nos  documentos,  que  impeçam  o 
cumprimento das vontades descritas.  

Se as DAV forem consideradas válidas é feito a introdução no RENTEV (este processo deve ter uma duração inferior a 10 dias úteis 
desde a apresentação dos documentos à validação pelo presidente do conselho clínico) (caso esteja tudo bem o sistema informa 
automaticamente o doente da conclusão do processo; caso seja rejeitada o doente tem 10 dias úteis para correcção das DAV) 

O  RENTEV é  suportado  por uma  plataforma  de  dados  de  saúde  que  centraliza e  mantém atualizados  as  DAV. Estes  podem ser 
consultados quer pelos cidadãos (e respetivo procurador de cuidados de saúdo, se existir) através do Portal do Utente, quer pelos 
médicos responsáveis pela prestação de cuidados através do Portal do Profissional 

AS DAV PODEM NÃO SER RESPEITADAS SE:  

a) Se comprove que o outorgante não desejaria mantê‐las; 

b) Se verifique evidente desatualização da vontade do outorgante face ao progresso dos meios terapêuticos; 

c) Não correspondam às circunstâncias de facto que o outorgante previu no momento da sua assinatura; 

d) Em caso de urgência ou de perigo imediato para a vida do paciente, a equipa responsável pela prestação de cuidados de saúde 
não tem o dever de ter em consideração as diretivas antecipadas de vontade, no caso de o acesso às mesmas poder implicar uma 
demora que agrave, previsivelmente, os riscos para a vida ou a saúde do outorgante. Perante situação urgente o médico tem de 
seguir o protocolo normal. Só depois o médico deve consultar directiva. 

Em todas as outras situações há obrigação legal de as cumprir. A lei aplicada em Portugal é vinculativa… a única maneira que o 
médico e enfermeiro terão de não as aplicar é a objecção de consciência. A Objecção de consciência no testamento vital é relativa 
e não é necessário dar decisão à ordem dos médicos (contrariamente à IVG onde é absoluta). 

NOTA:  Podemos  ter  problemas  de  moralidade  intrínsecos  (opinião  face  ao  problema  em  sí)  ou  problemas  de  moralidade 
extrínsecos (discordar acerca da forma como o problema em si é feito). 

LIMITAÇÕES AO USO ROTINEIRO DAS DAV EM PORTUGAL: 

 A principal limitação das DAV é o facto de ainda ser uma realidade pouco fomentada em Portugal: só aproximadamente 
500 pessoas preencheram as DAV e a maioria dos profissionais médicos ainda não sabe utilizar o RENTEV 
 Outra limitação é o facto de ser prevista na lei desde 2012 mas só em 2014 surgiu regulamentação e maior facilidade em 
submeter o documento 
 Outra limitação é o facto de ser pró‐activo, ou seja, cada pessoa tem de procurar a sua realização (contrariamente aquilo 
que acontece com o acto de ser dador de órgãos em que, se não queremos, temos de nos increver na RENNDA) 
 Outra limitação é a questão da transparência da informação ser ainda, em grande parte das vezes, utópica…e  sem esta 
transparência de informação o exercício de autonomia é uma ilusão 
 Serem confundidas com eutanásia ou pensar que servem como um plano inclinado para a eutanásia ?  Historicamente 
quem  defende  a  eutanásia,  começa  por  defender  as  directivas  antecipadas    Mais  frequentes  nos  países  em  que  a 
eutanásia está despenalizada. MAS ATENÇÃO! Pode defender‐se as directivas antecipadas e recusar a eutanásia 
 A diferença entre o momento em que são redigidas e o momento em que são necessárias: os valores e as preferências são 
mutáveis  e  nem  sempre  são  actualizadas;  a  terapêutica  pode  evoluir;  ausência  de  autoridade  moral  para  exercer 
controlo sobre o nosso eu futuro [se um doente perdeu a capacidade mental de perceber e reafirmar os seus interesses, 
preferências  ou  valores  expressos  na  DAV,  estes  interesses  e  valores  já  não  podem  ser  atribuídos  àquele  doente  e 
portanto não temos nenhuma obrigação moral de os respeitar. Deveríamos, então, promover e respeitar os interesses 
actuais do doente (que geralmente são vontades de bem‐estar, de evitar a dor e o sofrimento)] 
 Compreensão  insuficiente  de  quem  redige  /  assina  ‐  a  maioria  das  pessoas  leigas  não  compreende  a  complexidade 
técnica  dos  riscos  e  incertezas  associados,  no  presente  e  futuro    nem  sempre  os  desejos  expressos  reflectem  os 
valores de cada um. 

PRINCIPAIS DÚVIDAS ACERCA DAS DAV: 

 Qual  o  prazo  de  eficácia  da  DAV?  tem  eficácia  durante  5  anos,  depois  da  data  de  ativação.  Se  o  utente  pretender 
continuar com a mesma DAV (ou desejar realizar um diferente) deverá repetir o processo completo. 
  Como  é  que  se  cancela  uma  DAV?  A  qualquer  momento  o  utente  poderá  cancelar  a  sua  DAV;  para  isso  bastará  uma 
declaração assinada pelo utente a declarar a anulação da DAV e a validação dessa declaração nos mesmos moldes da 
DAV inicial. O Funcionário RENTEV irá aceder à DAV ativa do utente e inativá‐lá. 
 O uso do Modelo de DAV publicado na Portaria n.º104/2014 é obrigatório? Não. A Lei n.º25/2012 não obriga ao uso do 
modelo de DAV, mas o seu uso é altamente recomendado 
 Caso a DAV de um Utente identifique um conjunto de Cuidados de Saúde e um PCS com propostas contrárias qual é a 
decisão que prevalece? A decisão que prevalece é sempre a do Utente, expressa anteriormente na DAV 
 A DAV produz efeitos apenas em território nacional? Sim. A DAV apenas é válida em território português; em casos de 
emigração ou situações de estada temporária (turismo, por exemplo) noutros países, a legislação aplicável é a do país de 
destino e não a do país de origem. 

CUIDADOS CONTINUADOS: 
 Cuidados Continuados 
 Cuidados paliativos ‐ destinam‐se a doentes que cumulativamente: 
não têm perspectiva de tratamento curativo; têm rápida progressão 
da  doença  e  com  expectativa  de  vida  limitada;  têm  intenso 
sofrimento; têm problemas e necessidades de difícil resolução que 
exigem apoio específico, organizado e interdisciplinar. 
 Cuidados Terminais 
 Cuidados Agónicos 

CUIDADOS PALIATIVOS são uma “Abordagem que visa melhorar a qualidade 
de  vida  dos  doentes  e  seus  familiares  face  aos  problemas  associados  à 
doença  terminal,  através  da  prevenção  e  alívio  do  sofrimento  físico, 
psicossocial e espiritual.” Procuram a Afirmação da vida e aceitação da morte 
como processo natural da vida, podendo também influenciar positivamente 
o curso da doença mas não têm como objectivo acelerar ou adiar a morte. 

A doentes que: 

 não têm perspectiva de tratamento curativo; 
 têm rápida progressão da doença e com expectativa de vida limitada; 
 têm intenso sofrimento; 
 têm problemas e necessidades de difícil resolução, decorrentes da situação de doença avançada e/ou grave e que, pela 
sua complexidade, exigem apoio específico, organizado e interdisciplinar. 

NOTA:  a  Pirâmide  de  Maslow  representa  a  hierarquia  das  necessidades  humanas,  começando  pela  fisiologia,  seguida  de 
segurança, relacionamentos/amor, Auto‐estima e por ultimo, realização pessoal. 

CUIDADOS ORDINÁRIOS VS CUIDADOS EXTRAORDINÁRIOS:  
Cuidados ordinários de manutenção da vida são todas as intervenções imprescindíveis à 
vida,  que  não  causam  despesa,  sofrimento  e  outros  incómodos  ao  doente  e  que  lhe 
apresentam  uma  esperança  razoável  de  benefícios.  Os  meios  extraordinários  de 
manutenção da vida são todos aqueles que não apresentam uma esperança razoável de 
benefícios. Um tratamento ordinário pode passar a extraordinário, ou seja, os cuidados 
não  são  ordinários  (proporcionados)  ou  extraordinários  (desproporcionados)  em  si 
mesmos… Dependem da situação clínica, sua evolução e prognóstico.  Há  aqui  uma  margem  de  susceptibilidade.  Os  mesmos 
cuidados,  a  mesma  intervenção,  a  mesma  atitude,  a  mesma  medicação  pode  ser  Ordinária  ou  Extraordinária,  consoante  o 
contexto  clínico  e  prognóstico.  EXEMPLO:  ventilação  artificial  num  homem  de  89  anos  com  pneumonia  bilateral,  carcinoma 
metastático  da  próstata  e  demência  de  Alzheimer  avançada    Vs  ventilação  artificial  num  jovem  de  25  anos  com  pneumonia 
bilateral mas sem qualquer patologia subjacente. 

Concluindo, a obstinação terapêutica é o recurso a formas de tratamento cujo efeito é mais nocivo do que o benefício. Associado 
a este conceito temos o conceito de distanásia, o prolongar a fase final da vida tornando‐a num longo e doloroso processo de 
morrer.  Assim,  em  caso  de  doença  comportando  prognóstico  seguramente  infausto,  o  médico  deve  limitar  a sua  actuação  aos 
cuidados  ordinários,  capazes  de  poupar  o  doente  a  sofrimento  inútil.  Os  médicos  são  sempre  obrigados  a  prestar  cuidados 
ordinários porém, todos os cuidados extraordinários são má prática! Ainda assim, os tratamentos fúteis (cuidados extraordinários) 
vão  sempre  existir  porque  há  situações  limite  que  levantam  dúvidas  e  os  médicos  não  são  perfeitos.  Ainda  assim  as  directivas 
antecipadas da vontade procuram, entre outras coisas, acabar com a realização de tratamentos fúteis.  

 
 

OUTROS CONCEITOS:  

 
 

EUTANÁSIA E SUICÍDIO MEDICAMENTE ASSISTIDO: 
Nas directivas antecipadas da vontade o doente apenas diz quais é que para si são tratamentos e intervenções fúteis, que não 
quer  receber.  Na  eutanásia  há  antecipação  da  morte  por  vontade  do  doente.  São  coisas  diferentes  mas  na  prática,  situações 
muito tangenciais. 
A eutanásia pode ser definida como o uso de procedimentos que permitem, sem sofrimento, pôr termo à vida de outra pessoa a 
seu pedido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apesar disto, o conceito de eutanásia diz respeito sobretudo à forma activa e voluntária porque quando activa e involuntária é 
considerada  homicídio;  e  quando  passiva  confunde‐se  com  suspensão  de  tratamento  de  suporte  de  vida.  No  suicídio 
medicamente assistido a morte é provocada pelo próprio doente, com meios fornecidos ou prescritos pelo médico, contrastando 
com a eutanásia em que o procedimento é realizado pelo próprio médico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARGUMENTOS A FAVOR: 
 Forma de evitar a dor e o sofrimento provocados por doença terminal 
 Direito à escolha da própria morte 
 A sua legalização ou despenalização combateria excessos cometidos na clandestinidade 

ARGUMENTOS CONTRA: 

 Causar a morte em situações de erros de diagnóstico e prognóstico 
 Argumentos religiosos, relacionados com a defesa do direito à vida 
 O médico “não pode ser o juiz da vida ou da morte” 
 O  código  penal  condena  qualquer  acto  antinatural  de  extinção  de  uma  vida,  inclusivamente  o  homicídio  a  pedido  da 
vítima 
 
CÓDIGO DEONTOLÓGICO: 
O médico deve guardar sempre o respeito pela vida humana, representando uma falha deontológica grave a prática de eutanásia.  
A abstenção terapêutica não é considerada eutanásia se resultar de opção livre e consciente do doente ou do seu representante 
legal… Aliás, o médico deve evitar obstinação terapêutica sem esperança. 
 
PARECER DA COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA E CIÊNCIAS DA VIDA 
 não há nenhum argumento ético, social, moral, jurídico ou da deontologia das profissões de saúde que justifique em tese 
vir a tornar possível por lei a morte intencional de doente por decisão médica, ainda que a título de "a pedido" e/ou de 
"compaixão"; 
 pelo respeito devido à pessoa humana e à vida, não há nenhum argumento que justifique os actos de eutanásia; 
 é ética a interrupção de tratamentos desproporcionados e ineficazes, mais ainda quando causam incómodo e sofrimento 
ao doente, pelo que essa interrupção, ainda que vá encurtar o tempo de vida, não pode ser considerada eutanásia; 
 é ética a aplicação de medicamentos destinados a aliviar a dor do paciente, ainda que possa ter, como efeito secundário, 
redução de tempo previsível de vida, atitude essa que não pode também ser considerada eutanásia; 
 que a aceitação da eutanásia pela sociedade civil, e pela lei, levaria à quebra da confiança que o doente tem no médico e 
nas equipas de saúde e poderia levar a uma liberalização incontrolável de "licença para matar” e à barbárie; 

CONCLUSÃO: A eutanásia activa e o suicídio medicamente assistidos são reprovados pela comissão nacional de ética e pelo código 
deontológico em Portugal. No entanto, a abstenção terapêutica e a abstenção de outras medidas que, face a situação clínica e o 
prognóstico  em  questão,  podem  ser  consideradas  fúteis/  extraordinárias  são  previstas  e  até  mesmo  desejadas  nestes 
documentos. Se tivermos em conta que estas medidas são formas de eutanásia passiva, até que ponto esta deve ser considerada 
como uma forma de eutanásia? 

 
Ética – Aula 4 – Conflitos de Interesses 
Um conflito de interesse engloba um conjunto de condições em que um interesse primário (como o bem estar do doente ou os 
resultados de determinada investigação científica) pode ser indevidamente influenciada por um interesse secundário (tal como o 
ganho financeiro ou lucro)  CONFRONTO de COMPROMISSOS ANTAGÓNICOS, isto é, há dois interesses contrários um ao outro: 
um Interesse Primário e um Interesse Secundário que, de forma declarada ou oculta influencia o interesse primário, ou seja, se 
sobrepõe ao interesse primário ou cria a aparência de que isso pode de facto acontecer.  

O interesse primário é determinado por valores morais superiores: a ética profissional de um médico, de um investigador, de um 
professor, ou de um outro profissional especializado. O interesse secundário pode: 

 não ser ilegítimo em si mesmo e ser até parte integrante da própria profissão sem que o peso relativo destes interesses 
secundários na decisão final, coloque em causa o interesse primário em questão 
 censuráveis quando adquirem um peso maior do que o interesse principal na tomada de decisão profissional.  

O  interesse  secundário  relacionado  com  a  componente  financeira  tem  representado  a  componente  mais  visível  desta 
problemática.  No  entanto,  existem  outros  interesses  secundários:  o  favorecimento  de  familiares  ou  amigos,  a  vontade  de 
prestígio e poder, ambição, politica, rivalidades  pessoais, segurança académica, prémios e recompensas, desejo de agradar a 
colegas. 

Concluindo, a existência de um conflito de interesses não é necessariamente sinónima de um comportamento censurável. Se o 
indivíduo acha que, apesar do interesse secundário, está mesmo a agir pelo melhor então falamos em conflito de interesses; Se 
por outro lado, o indivíduo sabe não estar a fazer o melhor mas continua, pelo interesse secundário, então falamos em conflito de 
interesses com má prática.  

Há vários tipos de conflitos de interesses: 

 Prática  Clínica:  A  prática  clínica  é  uma  actividade  em  que  o  problema  do  conflito  de  interesse  assume  particular 
delicadeza, porque é aí que se consubstancia a essência moral do acto médico e onde a primazia do interesse do doente 
deve  ser  mais  claramente  afirmada.  Exemplos:  dádivas  e  compromissos  financeiros,  mesmo  considerados  “minor”, 
influenciam  o comportamento  prescritivo e  promovem  enviesamentos || ensaios  clínicos ||  indústria  farmacêutica || 
referência (ex: análises, eco, ECG, etc.), isto é, por exemplo, um ginecologista tem uma grávida na consulta do hospital, 
vê que não tem vaga para fazer a ecografia e diz‐lhe que se ela quiser poderá fazer ecografia no seu consultório 
 Ensino: Relações familiares, p.e. pode‐se dar aulas e fazer exame a um filho? Não há nenhuma lei que proíba mas seria 
um conflito de interesses || Escolas concorrentes 
 Conflito de Obrigações: por exemplo, dar aula na mesma hora em que temos prática clínica. 
 Investigação:  Aqui o primeiro interessado é a verdade científica. O problema é que diversas vezes a verdade científica é 
enviesada  devido  a  outros  interesses  dos  cientistas.  É  o  conflito  da  verdade  científica  versus  interesses  pessoais   
Existem conflitos de interesses na investigação se o investigador tem interesses secundários, sobretudo financeiros, que 
interfiram ou possam interferir com os resultados da investigação. 
A Ciência não existe até ser publicada e, por conflitos de interesses, nem toda a verdade é sempre publicada e nem tudo 
o que é publicado é verdade e há obviamente limitações da liberdade académica. 
Exemplo  de  conflito  de  interesses  em  investigação:  O  “peer  review”,  pois  o  juiz  (“referee”)  pode  estar  associado  de 
forma  mais  ou  menos  indirecta  aos  autores  do  artigo  (antigos  alunos  ou  colaboradores)  ou,  pelo  contrário,  estar 
envolvido em projectos de investigação semelhantes ou rivais. É hoje considerado indispensável a declaração expressa 
dos conflitos de interesse quando se aceita rever um artigo científico. 
 

A honestidade e a integridade são essenciais para protecção dos doentes e para 
a validade da ciência. A responsabilidade é de todos: investigadores, comissões 
de ética, editores e patrocinadores. 

 
Declaração de Helsinque expõe no princípio 30 que ''fontes de fomento, afiliações 
institucionais e conflitos de interesse devem ser declarados na publicação'' 

 
Declaração de conflito de interesses 

 Reconhecê‐los e declará‐los é uma das formas de diminuir suas consequências e manter a integridade da profissão  
 Espontânea, Obrigatória e Sistemática 
 Exemplo: obrigação de comunicação ao INFARMED de subsídios, patrocínios, subvenções ou quaisquer outros valores, 
bens ou direitos avaliáveis em dinheiro no âmbito de actividades de promoção e publicidade de medicamentos: 25 euros 
é o valor mínimo a partir do qual são obrigatórias as comunicações ao Infarmed. 
 Não esquecer os conflitos de interesse não monetários 
 A declaração de conflitos de interesses é insuficiente para aumentar a transparência e diminuir a corrupção mas é um 
bom primeiro passo 

Conflitos de Interesse históricos: 

 Condenação de um ex‐comissário da Food and Drug Administration por não ter revelado o facto de possuir acções de 
companhias reguladas por aquela entidade 
 Jon Sudbø: dentista em 1985 e médico em 1994; era Professor na Universidade de Oslo com 38 artigos em revista com 
peer‐reviewed  e  em  2006  descobriu‐se  que  tinha  cometido  uma  grave  fraude  tendo‐lhe  sido  retirada  a  licença  de 
medicina e foi preso. Este homem tinha publicado vários artigos no NEJM e Lancet sobre neoplasia oral contudo, uma 
colega de trabalho que suspeitava da veracidade das suas investigações descobriu que estas eram falsas. 
 Hwang, que publicou durante cerca de dois ou três anos numa revista muito conceituada (Nature), estudos sobre células 
estaminais.  Vários  foram  os  investigadores  que  saíram  dos  Estados  Unidos  para  ir  trabalhar  com  ele  mas,  mais  tarde 
descobriu‐se que tudo o que ele publicava era falso. 
 HARUKO OBOKATA, Nature, 2014 ‐ – fraude com células estaminais 

Conclusão: 4 exemplos de conflitos de interesses 

1. dádivas  e  outros  compromissos  financeiros,  mesmo  considerados  “minor”,  possam  influenciar  o  comportamento 
prescritivo e promovem enviesamentos 
2. um ginecologista tem uma grávida na consulta do hospital, vê que não tem vaga para fazer a ecografia e diz‐lhe que se 
ela quiser poderá fazer ecografia no seu consultório 
3. juiz de “peer‐review” (“referee”) pode estar associado de forma mais ou menos indirecta aos autores do artigo ou, pelo 
contrário, estar envolvido em projectos de investigação semelhantes ou rivais 
4. Investigador que não declara o facto de possuir acções de companhias relacionadas com os promotores do estudo 
 

Confidencialidade e Sigilo Médico 
O  sigilo  médico  é  o  dever  do  médico  de  guardar  segredo  sobre 
detalhes da vida pessoal e do estado de saúde dos seus doentes, 
que é até hoje o cerne da relação médico‐doente e da relação de 
confiança  absolutamente  necessária  ao  exercício  das  funções  de 
um médico. Escusado será dizer que também se aplica a qualquer 
outro profissional de saúde.  

O  conceito  de  Sigilo  Médico  já  remonta  ao  juramento  de 


Hipócrates  mas  são  várias  as  entidades  que,  internacionalmente 
ou  a  nível  europeu,  mencionam  o  sigilo  médico  como  direito  de 
todos os doentes, como a ONU, a OMS e a UNESCO. 

Em Portugal, o sigilo médico está abrangido em vários artigos da Constituição da RP e existem outros documentos e diplomas em 
saúde  que,  não  sendo  vinculativos  (não  sei  leis),  sintetizam  de  forma  clara  os  direitos  dos  pacientes,  entre  eles  o  sigilo  (Lei  de 
Bases da Saúde ‐ Cuidados de saúde primários ‐ Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes ‐ Carta dos Direitos do Doente Internado 
‐ Lei de Saúde Mental).  Um desses documentos é o Código Deontológico da Ordem dos Médicos, que abrange todas as normas 
recomendáveis  de  orientação  nas  diferentes  circunstâncias  da  actividade  profissional  de  um  médico. Existe  um  capítulo  deste 
Código dedicado ao Segredo Médico: 
 O  médico  tem  obrigação  de  não  revelar  as  informações 
cobertas  pelo  sigilo  profissional  a  terceiros  e  de  tomar 
precauções para que outras pessoas não tenham acesso 
a estas informações. 
 “O segredo médico impõe‐se em todas as circunstâncias 
dado  que  resulta  de  um  direito  inalienável  de  todos  os 
doentes.”  

E QUANDO EXISTEM DADOS REVELADOS SOB SIGILO MÉDICO QUE SÃO IMPORTANTES PARA TERCEIROS? 

 CÓDIGO  DEONTOLÓGICO:  Apesar  de  se  prever  o 


segredo  médico  como  imposição  em  qualquer 
circunstância… Prevêm‐se também algumas precauções 
que  não  violam  o  segredo  médico.  Assim  sendo,  o 
segredo médico não impede que o médico salvaguarde 
a vida e saúde de outras pessoas que contactem com o 
doente,  pois  a  preservação  da  vida  é  tido  como  um 
valor  fundamental.  Ou  seja,  o  Código  Deontológico 
salvaguarda,  nesta  situação,  o  Princípio  da  Não‐
Maleficiência  e  não  se  considera  esta  situação 
abrangida pelo sigilo médico. 
 CÓDIGO  PENAL:  Em  termos  legais,  de  acordo  com  o 
código  penal,  pode‐se  invocar  nesta  situação  o  direito 
de necessidade. Este artigo prevê que alguns actos são 
válidos  se  forem  executados  no  sentido  de  proteger 
interesses  superiores  a  outros  interesses  que  estão  a 
ser sacrificado. 
 
 
 
PODE  UM  EMPREGADOR  REQUERER  INFORMAÇÃO  DE  SAÚDE 
SOBRE UM CANDIDATO OU EMPREGADO? 
O Código do Trabalho é claro: todos os trabalhadores têm direito 
à  reserva  da  sua  vida  privada  e  do  seu  estado  de  saúde,  e  um 
empregador não pode exigir qualquer tipo de informação relacionada com o seu estado de saúde, quer em contexto de admissão 
ou em contexto de permanência no emprego. Num contexto de consulta de Medicina do Trabalho, o médico responsável apenas 
deve  informar  se  o  doente  está  APTO  ou  NÃO  APTO  para  exercer  a  profissão  em  causa,  sem  entrar  em  detalhes  sobre  as 
informações do estado de saúde dos empregados. 
 
SIGILO MÉDICO E DOENTES MENORES: 
A idade a partir da qual será legítimo considerar uma pessoa autónoma perante as decisões que dizem respeito à sua saúde são 
os 16 anos: 
 Abaixo dos 16 anos, só se considera a quebra do sigilo profissional quando, não o fazendo, possam resultar riscos para a 
saúde DO PRÓPRIO OU TERCEIROS 
 Acima dos 16 anos, considera‐se a quebra do sigilo apenas quando, não o fazendo, possam resultar riscos para a saúde 
DE  TERCEIROS  (artigo  89º  do  código  deontológico)  ou  DO  PRÓPRIO  (se  declarado  incapaz  de  discernimento)    POR 
EXEMPLO: Uma mulher é legalmente autónoma para pedir uma IVG a partir dos 16 anos (Artigo 142º Código Penal). 

SIGILO MÉDICO E O CRIME SEXUAL: 

A violação em Portugal é um crime semi‐público, pelo que é necessária uma queixa da vítima para que o Ministério Público possa 
iniciar  um  inquérito.  "Deverá  ser  à  vítima  que  deve  caber  sempre  a  decisão  sobre  se  pretende  que  a  acção  penal  se  inicie  e 
desenvolva,  ponderando  esta  ‐  e  não  um  terceiro  por  si  (o  Ministério  Público)  ‐  os  prós  e  os  contras  de  um  processo  e  de  um 
julgamento por um crime sexual, com tudo o que de negativo nele se contém". 

CONLUINDO, CASOS EM QUE O SIGILO PODE SER QUEBRADO: 

Na esmagadora maioria das situações e mesmo em caso de dúvida ou situação insólita, o sigilo médico é a regra a aplicar. Mas 
como vimos anteriormente, o sigilo médico não é absoluto. Em geral, existe um interesse social em que o segredo seja mantido, 
mas existem algumas excepções. “O médico está dispensado de guardar segredo profissional (…): 

 em caso das doenças de declaração obrigatória 
 COM consentimento do doente (ou representante legal) 
 menores de 16 que estão a tomar decisões que implicam riscos para a sua saúde e para a de terceiros 
 Revelação de um nascimento ou óbito 
 Por Direito de Necessidade: 
o administração de justiça penal ‐ Perigo fundamentado de repetição de prática de ilícitos penais graves; Quando 
seja necessário para evitar a condenação de um inocente; em caso de suspeitar de crime público, a não ser que 
o doente possa incorrer em processo penal. 
o protecção de interesse de terceiros – por exemplo, Informação a um familiar que coabite com o paciente dos 
perigos  de  infecção  de  uma  doença  grave  ||  Médico  que  informa  as  autoridades  de  trânsito  sobre  a  doença 
grave e permanente de que alguém é portador, porque devido a ela o doente constitui um perigo real para a 
segurança rodoviária 
o defesa  dos  interesses  do  próprio  médico  ‐  salvaguarda  dos  legítimos  interesses  do  médico  também  pode 
justificar a quebra do sigilo. O médico poderá, após consulta ao Presidente da Ordem, quebrar o sigilo a que se 
encontra  vinculado  nos  casos  em  que  isso  seja  absolutamente  necessário  à  defesa  da  sua  dignidade,  da  sua 
honra e dos seus legítimos interesses. Um exemplo será no âmbito de um processo de responsabilidade médica 
movido pelo paciente contra o médico, este vir a juízo defender‐se. Assim, a quebra do sigilo é legítima para 
afastar a imputação desonrosa feita ao médico. 

SE O SIGILO FOR QUEBRADO NOUTRAS CIRCUNSTÂNCIAS: 

 
Ética 5 – Aspectos Éticos da Experimentação Humana. Enhancement e os seus limites. 
Enhancement é a utilização de técnicas para melhoramento humano, ou seja, em indivíduos saudáveis utilizam‐se técnicas 
terapêuticas que neste contexto têm uma intenção diferente. Pode ser conseguido através de suplementos, Fármacos, Cirurgias 
ou Intervenções Genéticas. 

EXEMPLOS:  nadadores  com  a  utilização  de  fatos  que  diminuem  o  atrito  na  água;  utilização  de  eritropoetina  para  aumentar  a 
capacidade de transporte de oxigénio e assim a performance;  a cirurgia estética é um dos pontos onde o enhancement é mais 
usado. 

O tratamento constitui um restitutio ad integram (restituir até à integridade), enquanto o enhancement é um transformation ad 
optimum (transformação para o óptimo)  enhancement é aumentar a capacidade para além da normalidade 

Vários são os argumentos usados em defesa do enhancement: 

 Incoerência – se não há base racional para distinguir entre meios de melhoramento aceitáveis e inaceitáveis porque é 
que é permitido melhorar a condição de uma forma mas não se pode melhorar recorrendo a outra forma diferente? 
o Críticas  a  este  argumento:  há  outras  questões  para  além  da  intenção  que  contribuem  para  a  definição  em 
moralmente  válida  ou  inválida  –  os  fatos  de  atrito  nulo  não  têm  riscos  para  o  indivíduo  enquanto,  que  os 
esteróides têm; nem todas as pessoas são nadadoras e, não estamos só a usar esteróides anabolizantes nestas 
situações. 
 Liberdade – deve ver respeitada a autonomia do doente já que a liberdade é essencial à integridade, dignidade e justiça. 
o Críticas a este argumento: liberdade não é um justificativo ético moral de uma decisão, isto é, não é por sermos 
livres que as nossas acções são éticas ou morais; liberdade necessita de informação e capacidade de decisão;  
 Resistance is Futile ‐ lutar contra o progresso é um acto designado a falhar. Não vale a pena discutir porque “the show is 
already on” 
o Críticas a este argumento: não é um argumento moral, ou seja, este argumento não afirma que as formas de 
enhancement são moralmente desejáveis ou defensáveis. 
 Direito  ao  corpo  –  esculpir  as  características  humanas  é  um  acto  de  criação  humana  adquirindo  por  isso  valor  moral; 
“esculpir‐me pode ser o meu projecto de vida”. 
o Críticas a este argumento: o corpo enquanto agente e objecto dos impulsos de criação pode levar a actos como 
a anorexia . 
 Devemos considerar o que é moralmente válido o que é natural? Então e o uso de óculos? Usamos óculos para combater 
o nosso défice de visão, e isso é uma técnica de enhancement moralmente válida. 

Factores utilizados contra o enhancement  

 Perda da natureza humana ‐ Estaremos a ver as pessoas como pessoas ou como objecto que podem ser melhorados?  
 Perda da individualidade 
 Questões de segurança (por exemplo, efeitos adversos) (os fármacos estimulantes tornam‐nos mais produtivos, mas por 
outro lado podem provocar taquicardia e tremor ligeiro, criar dependência física e emocional e alterações do  
 Como seria feito o controlo dos resultados? Risco de cair na tirania e coerção, ou seja, se estas técnicas demonstrassem 
uma  melhoria  significativa  da  performance  poderá  haver  pressão  da  sociedade  para  que  todos  se  submetam  ao 
enhancement. 
 desperdício de recursos – uma pessoa começa por fazer algo para ser melhor que o resto. Se todos fizerem o mesmo 
passam a ser todos iguais na mesma com a diferença de que a media se altera. Desta forma não há vantagem nenhuma, 
apenas um gasto desnecessário de recursos 
 Não haver equidade e justiça na sua distribuição 

NOTA: IGUALDADE, EQUIDADE E JUSTIÇA SOCIAL 

A igualdade de direitos e deveres é atingida quando todos os indivíduos são 
iguais  perante  a  lei  que,  em  princípio,  deve  ser  igual  para  todos.  Mas  a 
igualdade de direitos e deveres não assegura a igualdade de oportunidades. 
Para  que  as  sociedades  assegurem  aos  cidadãos  uma  real  igualdade  de 
oportunidades, é necessário que protejam aqueles cuja situação individual e 
social  reduziu  essa  “capacitação”.  Equidade  passa  por  tratar  de  forma 
diferente  indivíduos  que  são  diferentes  e  este  conceito  está  subordinado  à 
ideia  de  justiça  social  que  encarada  como  um  ideal  a  repartição  equitativa 
dos recursos. Assim, justiça social e equidade têm sentidos próximos.  
 Concluindo,  a  justiça  social  demonstra  que  certas  desigualdades  são 
aceitáveis,  justas,  legítimas,  se  estiverem  presentes  respeitando  o  princípio 
da equidade dando igual acesso às posições sociais através de estratégias que 
beneficiam os mais desfavorecidos.  

ENHANCEMENT NEUROCOGNITIVO  

Procedimentos  biotecnológicos  que  visam  melhorar  directamente  a  função  cognitiva  em  indivíduos  Tipos
cognitivamente  saudáveis.  Pode  ser  conseguido  através  de  psicofármacos,  exercícios  cognitivos,  • Potenciar memória;
• Apagar memórias;
neurocirurgia, manipulação cerebral não invasiva  • Aumento funções executivas;
• Regular cansaço e 
Verificou‐se que cerca de 8,9% dos cirurgiões admitiram já ter utilizado uma droga ilícita ou prescrita  impulsividade.

exclusivamente para enhancement cognitivo, pelo menos uma vez na vida, sendo a idade média da primeira utilização 24 anos. 
Fármacos como a ritalina (metilfenidato) e anfetaminas são os mais utilizados. Dentro das substâncias ilícitas a cocaína foi a mais 
utilizada.  

INVESTIGAÇÃO EM MEDICINA 

A  história  da  investigação  em  humanos  mostra  múltiplos  exemplos  de  experiências  em  que  não  foram  respeitados  os  direitos 
mínimos e fundamentais dos indivíduos obrigando à formulação de imperativos éticos aplicáveis à investigação humana com o 
objectivo de proteger os sujeitos e a garantir o respeito e autonomia: 

 Código  de  Nuremberga  ‐  declaração  contendo  10  pontos,  que  resumem  aquilo  que  seria  permitido  em  investigações 
médicas  com  participantes  humanos.  Foi  o  primeiro  de  uma  série  de  documentos  que  procuram  regulamentar 
eticamente as pesquisas clínicas, feito e promulgado em Nuremberga (1946), com vista a julgar experiências nazis em 
seres humanos com critérios científicos mais que duvidosos, com resultados graves e fatais.  
Determinou que as experiências tivessem que apresentar resultados vantajosos; exigia a realização da experimentação 
em  animais  antes  de  ser  feita  em  humanos;  que  os  sujeitos  da  pesquisa  tivessem  as  informações  essenciais  do 
desenvolvimento  desta;  que  houvesse  consentimento 
voluntário da participação na pesquisa; que o sofrimento 
deveria  ser  evitado  e  o  risco  minimizado;  e  que  na 
possibilidade  de  morte,  o  projecto  não  deveria  ser 
realizado;  investigação  deve  ser  conduzido  apenas  por 
pessoas cientificamente qualificadas; Durante o curso do 
experimento, o participante deve ter plena liberdade de 
se  retirar,  caso  ele  sinta  que  há  possibilidade  de  algum 
dano  com  a  sua  continuidade;  Durante  o  curso  do 
experimento,  o  pesquisador  deve  estar  preparado  para 
suspender os procedimentos em qualquer estágio, se ele 
tiver razoáveis motivos para acreditar que a continuação 
do  experimento  causará  provável  dano,  invalidez  ou 
morte para o participante. 
 
 
 Declaração de Helsínquia  

 Relatório  de  Belmonte  ‐  The  Belmont  Report 


attempts  to  summarize  the  basic  ethical  principles 
identified  by  the  Commission  in  the  course  of  its 
deliberations. 
 
 Diretrizes  Éticas  Internacionais  para  Pesquisas 
Biomédicas Envolvendo Seres Humanos (1993) 
 
 Convencção  sobre  os  Direitos  do  Homem  e  a 
Biomedicina (1997) 

 
 

CONSENTIMENTO  INFORMADO:  “É  absolutamente  essencial    obter    o  consentimento  voluntário  do  paciente.”  código  de 
Nuremberga.  Parte  da  validade  de  um  ensaio  clínico  em  humanos  deriva  do  facto  dos  doentes  compreenderem  os  potenciais 
riscos e benefícios do estudo, e decidirem participar de forma livre e autónoma. A maneira universalmente aceite para assegurar 
isto é obter um consentimento informado de cada participante antes do início do estudo. Quando utilizado em investigação deve 
ser escrito e deve conter Objectivo, Planeamento, Possíveis riscos, Possíveis benefícios e Opinião do comité de ética.  Podem ser 
estabelecidas exigências adicionais quando se trata de pessoas incapazes de consentir, de mulheres grávidas ou em período de 
aleitamento, de situações de emergência clínica ou de pessoas privadas de liberdade. 

O consentimento informado tem diversas limitações, sobretudo em pessoas fora da posse das suas capacidades; quando o estudo 
implica informação que também depende de terceiros; em situações de emergência; e em situações de grupos facilmente sujeitos 
a  coação  (por  exemplo,  prisioneiros).  Mesmo  fora  destes  casos,  o  consentimento  informado  é  débil:  apenas  62%  responde 
correctamente à questão "Está a participar num ensaio clínico?", indicando que quase 40% não estavam cientes de que estavam a 
participar. 

UTILIZAÇÃO  DE  PESSOAS  VULNERÁVEIS:  Vulnerable  persons  are  those  who  are  relatively  (or  absolutely)  incapable  of  protecting 
their  own  interests.  More  formally,  they  may  have  insufficient  power,  intelligence,  education,  resources,  strength,  or  other 
needed attributes to protect their own interests.” Muitas empresas foram aos países do Leste europeu, África e América latina 
ensaiar os seus produtos na fase de voluntários sãos e pagaram aos responsáveis políticos desses Estados para poderem dispor de 
“voluntários”, aos quais não era dada informação sobre o facto de estarem a ser usados num processo de investigação de novos 
medicamentos. Isto preocupou a OMS, que elaborou uma lista de populações vulneráveis que inclui: mulheres grávidas, crianças, 
adolescentes,  idosos,  refugiados,  presos;  inconscientes  e  pessoas  com  perturbações  mentais/comportamentais.  Manifestou‐se 
ainda acerca dos ensaios em países em desenvolvimento exigindo um protocolo que respeite as exigências éticas de protecção 
das pessoas nesses ensaios, e não apenas as leis do próprio país porque as leis destes países são vulneráveis e débeis.  É ainda 
necessário que sejam cumpridas as obrigações pós‐ensaio (durante pelo menos 10 anos o fármaco será gratuito e os aparelhos 
permanecem no país em questão). 

Exploração  ‐  Quando indivíduos  ou agencias  ricas/poderosas  tiram  proveito da  pobreza,  ausência  de poder  ou  dependência de 
outros, usando‐os para servir ou seus próprios interesses, sem benefícios compensatórios adequados para os grupos/indivíduos 
em desvantagem. São exemplos de exploração da investigação cientifica: 

 Ensaios levados a cabo sem o conhecimento e o consentimento informado dos sujeitos da investigação 
 Investigação  básica  conduzida  num  país  industrializado  sobre  um  problema  clínico  existente  nos  dois  países,  o  ensaio 
clínico  é  feito  apenas  no  país  em  desenvolvimento  simplesmente  por  ser  mais  barato.  O  produto  torna‐se  disponível 
imediatamente no pais desenvolvido mas só apenas 15 ou mais anos depois no país em desenvolvimento. 
 O ensaio clínico é conduzido num país em desenvolvimento por não ser permitido, eticamente, no país desenvolvido  
 Os ensaios clínicos são conduzidos em ambos os tipos de países, com ambos os grupos de controlo a receber o melhor 
tratamento disponível. O produto resultante, de sucesso, torna‐se disponível apenas no país industrializado porque nem 
o governo nem a maioria das populações do país em desenvolvimento pode suportar o produto. 

USO  DE  PLACEBO:  EM  QUE  SITUAÇÕES  É  JUSTIFICÁVEL  UTILIZAR  PLACEBO  EM  ENSAIOS  CLÍNICOS?  Quando  não  existe  nenhum 
tratamento viável para a doença e nesse caso comparamos o fármaco novo com placebo; ou quando a doença não é grave nem 
condiciona alterações significativas e queremos discernir sobre o efeito placebo. 

EQUIPOISE  –  incerteza  ou  falácia:  Estado  de  incerteza  no  qual  se  acredita  que  nenhum 
braço do estudo tem vantagens ou desvantagens (em termos de benefícios ou malefícios) 
em relação aos outros. Para que um determinado estudo seja moralmente ou eticamente 
válido precisamos que exista equipoise, ou seja, Ninguém sabe à priori se é mais vantajoso 
estar  no  grupo  controlo  ou  no  grupo  experimental  e  nenhum  paciente  receberá 
tratamento que se saiba ser menos eficaz ou mais perigoso que a alternativa disponível. A 
equipoise  é  a  incerteza  que  é  a  base  para  a  investigação  em  medicina  pois  sem  ela  o 
melhor  tratamento  deve  ser  realizado.  É  o  motor  das  bases  éticas  para  a  investigação. 
Existem três objecções principais contra à equipoise: 
 Objecções à Indeterminação – Afinal quem está incerto e do quê? Equipoise teórica ou clínica? Equipoise individual ou 
comunitária? Qual o limiar espistemiologicamente relevante para a equipoise? 
 Objecções ao Fundamento Moral – A equipoise é uma condição necessária mas não suficiente para definir o fundamento 
moral de um estudo clínico. O facto de estarmos incertos de alguma coisa não nos diz que o estudo é moralmente válido 
ou  inválido.  Para  isso há sete  condições  que  têm  que ser  cumpridas para além  da  equipoise:  Valor Social  e  Científico; 
Validade  científica;  Critérios  de  inclusão  e  exclusão  justos;  Risco  Benefício  Favoráveis;  Revisões  Independentes; 
Consentimento Informado; e Respeito Pelos Participantes 
 Objecções ao Utilitarismo – Dever do profissional de Saúde de salvaguardar os interesses do participante VS Necessidade 
de Dados Fiáveis e Generalizáveis 
 
 

INTERESSES FINANCEIROS: Muitas empresas farmacêuticas tendem a pagar aos médicos que realizam os ensaios e aos doentes ou 
aos voluntários sãos usados nos ensaios clínicos.  O Research Ethics Review Committee da WHO estabelece que os participantes 
voluntários  nos projectos de  empresas  farmacêuticas podem ser reembolsados  de despesas  resultantes da  sua  participação na  
investigação e do tempo de trabalho perdido. Mas não aceita qualquer tipo de compensação que sirva para induzir a pessoa a 
participar e que lhe retirará a capacidade de decidir livremente  o pagamento aos investigadores clínicos envolvidos deve estar 
expresso, de forma clara e quantificada, na proposta da entidade promotora para ser ponderado pela comissão de revisão ética. 

CONFLITO MÉDICO‐INVESTIGADOR: Pode haver diferentes conflitos de interesses na investigação. É permanente e até desgastante 
o conflito entre o médico e investigador  dever de lealdade, protecção e ajuda a cada doente e o dever de estudar, aprender, 
investigar,  aprimorar  o  seu  conhecimento  para  melhor  servir  o  conjunto  incógnito  de  futuras  gerações  de  doentes.  A 
responsabilidade do clínico para com a sociedade não deve sobrepor‐se à relação clínica entre o médico e o doente.  

Os conflitos de interesse podem contudo ser minimizados ou anulados da seguinte forma:  

• estudos desenhados de forma aleatorizada e duplamente cega;  
• avaliação por pares (análises intermediárias dos resultados);  
• acesso irrestrito aos dados primários e análises estatística;  
• liberdade de publicação dos dados, designadamente quando estes são inesperados;  
• explicitação ou eliminação dos interesses em conflito 
Ética – Aula 6 – Apresentações 

Transmissão de Más Noticias em Medicina 
Qualquer  informação  que  altere  de  forma  drástica  e  negativa  a  visão  do  doente  sobre  o  seu  futuro.  Qualquer  informação  que 
resulta num  défice  cognitivo,  comportamental    ou  emocional  na  pessoa  que  recebe as noticias, que  persiste  por algum  tempo 
após estas terem sido dadas. “A comunicação de más noticias não é uma habilidade opcional, é uma parte essencial da prática 
profissional” 

 Cohen e o plano de vida: existem vários pontos importantes ao longo da nossa vida, e que fazem parte do plano que cada 
um de nós tem, no geral, para a sua vida: nascimento, estudar, ter uma profissão, constituir familia, progredir, viajar, ter 
uma boa velhice e só depois morrer. Acontece que quando surge a doença a pessoa tem noção que todos os planos que 
fez para a sua vida futura podem não mais existir  O impacto da má noticia depende da diferença entre as expectativas 
futuras do paciente (ambições e planos), de como ele se sente e do que ele suspeita ou já sabe sobre o seu estado de 
saúde. 

Aspectos da transmissão de más notícias (Médico) 

 Dizer a verdade: Nos anos 50‐60 a comunicação de um prognóstico reservado ao doente era considerada desumana e 
lesiva,  sendo  que  90%  dos  medicos  omitia  a  verdade  aos  doentes.  A  partir  dos  anos  70,  90%  dos  medicos  afirmam 
revelar o diagnóstico, apesar de acreditarem que a informação fornecida deve ser individualizada em função dos desejos 
e necessidades do doente 
 Modelos  de  Comunicação:  modelo  mais  consensual  actualmente  é  o 
compartilhado,  em  que  é  dada  ao  doente  a  opção  de  escolher  qual  o 
tratamento que prefere de entre os que lhe são apresentados 
 Todos  os  doentes  mentalmente  competentes  têm  direitos  absolutos 
(éticos, morais e legais) a qualquer informação médica que solicitarem. 
 O  segredo  médico  impõe‐se  em  todas  as  circunstâncias  dado  que 
resulta de um direito inalienável de todos os doentes 
 PRINCÍPIO  DE  NÃO  MALEFICÊNCIA:  não  causar  mal  e/ou  danos  a  seu 
paciente (primum non nocere) ou garantir que se há dano, o benefício 
esperado com o resultado deve ser maior.  Trata‐se, portanto, de um mínimo ético, um dever profissional, que, se não 
cumprido, coloca o profissional de saúde numa situação de má‐prática ou prática negligente 
 PRINCÍPIO  DE  BENEFICÊNCIA:  obrigação  moral  de  agir  para  o  benefício  do  outro.  É  usar  todos  os  conhecimentos  e 
habilidades  profissionais  a  serviço  do  paciente,  considerando,  na  tomada  de  decisão,  a  minimização  dos  riscos  e  a 
maximização dos benefícios. 
 Princípio da autonomia ‐ Capacitar o doente para decidir aquilo que ele julga ser o melhor para si mesmo. 
 Princípio  da  Justiça  ‐  preocupa‐se  com  a  equidade  na  distribuição  de  bens  e  recursos  considerados  comuns,  numa 
tentativa de obter igualdade de oportunidades 
 Receios  do  médico:  Medo  do  desconhecido  e  do  não‐aprendido;  Medo  da  reacção  emocional  do  doente  e  familiares; 
Medo de retirar a esperança do doente; Medo de não saber todas as respostas; Medo pessoal de morte e doença; Medo 
de  expressar  emoção;  Medo  de  ser  culpado  (O  acto  de  lhe  imputar  culpa  é  uma  reacção  comum  e  que  não  deve  ser 
levada pessoalmente. O médico deve ter presente que a responsabilidade do aparecimento da doença não é sua) 
 Transmissão de Esperança: Realista, Orientada para objectivos, Dirigida a objectivos alcançáveis 

Aspectos da transmissão de más notícias (Doente) 

 Receios comuns acerca da doença terminal e morte 
 Factores  relacionados  com  o  descontentamento  dos  doentes:  Uma  comunicação  apressada;  Dificuldade  em    utilizar  as 
palavras  apropriadas;  Não  lhes  ser  dado  tempo  para  falar  ou  colocar  questões;  Pouca  disponibilidade  do  médico  para 
ouvir 
 Preferências dos doentes 
o A maioria dos doentes quer que os médicos sejam: honestos, directos, sensíveis e valorizem a esperança 
o O tipo de informação privilegiada varia de doente para doente (uns querem informação extensa, outros querem 
informação básica, outros não querem ser informados) 
 Aspectos Transculturais 
 
O médico enfrenta o desafio de individualizar a maneira de dar más noticias consoante o doente que tem à frente 

Existem protocolos que nos ajudam como abordar estas questões, apesar de não existirem evidencias cientificas dos mesmos: 

1. Setting  Up  the  Interview/  Preparação:  Pensar  antecipadamente  no  doente;  Local  privado  e  confortável;  Garantir 
privacidade;  Garantir  que  há  tempo  necessário  e  que  não  há  interrupções;  Ficar  disponível  para  o  paciente;  Estar 
familiarizado com a informação clínica relevante; Doente pode fazer‐se acompanhar de pessoas importantes se assim o 
pretender; contribuir para a conexão e relacionamento. 
2. Perception / Percepção: Usar questões abertas para perceber o que o doente sabe; procurar saber se o paciente percebe 
a sua situação; Ouvir/Compreender; Aceitar/Não confrontar 
3. Invitation / Convidar o doente a saber mais: Quer ou não saber? 
a. Aceitar  se  não  quiser  e  Oferecer  para  responder  noutra  altura  futuro  ou  prestar  esclarecimentos  a  familiar 
(Embora  a  maioria  dos  doentes  expresse  a  vontade  de  saber  toda  a  informação  acerca  do  seu  diagnóstico, 
prognóstico e detalhes da doença, alguns doentes preferem não o saber.) 
b. Determinar quanto o doente quer saber 
4. Knowledge  /  Conhecimento:  Alertar  o  doente  para  o  facto  de  que  serão  dadas  más  notícias  diminui  o  choque  que  se 
segue  à  revelação  dos  dados  e  facilita  o  processamento  da  informação;  Linguagem  inteligível;  considerando  o  nível 
educacional, cultural e estado emocional actual; Evitar termos técnicos; informação gradual; Aspectos positivos primeiro; 
verificar  se  entendeu;  responder  às  reacções;  Falar  com  franqueza,  evitando  no  entanto  ser  exclusivamente  factual  e 
sem afecto; Não recear o uso das palavras “cancro” ou “morte”; Permitir o silêncio e as lágrimas; Oferecer esperança 
realista. 
5. Emotions/ Emoções e empatia: Identificar as emoções; identificar a razão para aquela emoção; Tempo para expressar‐se; 
oferecer apoio e solidariedade ao doente através de uma resposta empática 
6. Strategy and Summary/ Estratégia e Sumário: Os doentes que têm um plano claro para o futuro apresentam níveis mais 
baixos de ansiedade; Agendar consulta de seguimento; Sumário; Últimos esclarecimentos; Terminar;  

Evidência que a atitude e a boa comunicação influencia positivamente o modo como o doente lida com as más noticias 

Melhor treino clinico para dar más noticias beneficia tanto os médicos como os doentes 

Limites da medicina implicam que nem sempre haja cura 

É nestes momentos que o médico é mais essencial 

As preferências do doente devem sempre ser tidas em conta 

Doação de Gâmetas 
Passámos de um panorama de clínicas privadas e importação de esperma para um panorama público: em 2011 surgiu o BANCO 
PÚBLICO  DE  GÂMETAS  no  Centro  Hospitalar  do  Porto  que  permitiu  reduzir  os  custos  deste  procedimento,  melhorar  a 
acessibilidade à técnica e torna‐la possível fora de entidades privadas. 
PARA O DADOR: 

 A  dádiva  de  células  e  tecidos  é  voluntária,  altruísta  e  solidária,  não  podendo  haver,  em  circunstância  alguma,  lugar  a 
qualquer  compensação  económica  ou  remuneração,  quer  para  o  dador  quer  para  qualquer  indivíduo  ou  entidade.  Os 
dadores  vivos  podem  receber  uma  compensação  estritamente  limitada  ao  reembolso  das  despesas  efetuadas  ou  dos 
prejuízos imediatamente resultantes da dádiva [Ovócitos: 628,83 euros por ciclo; Esperma: 41,92 euros por recolha] 
 O dador não pode ser havido como pai/mãe da criança que vier a nascer, não lhe cabendo quaisquer poderes ou deveres 
em relação a ela 
 O consentimento do dador deve ser livre, esclarecido, informado e inequívoco, prestado perante médico e por escrito. 
 Têm de ter determinadas características: 

PARA OS BENEFICIÁRIOS: 

 Beneficiários:> 18 anos, sem anomalia psíquica e só as pessoas casadas ou as que, sendo de sexo diferente, vivam em 
condições análogas às dos cônjuges há pelo menos dois anos. Exclui pessoas singulares e casais homossexuais 
o Procriação medicamente assistida é permitida:  Mediante diagnóstico de infertilidade ou ainda, para tratamento 
de  doença  grave  ou  do  risco  de 
transmissão  de  doenças  de  origem 
genética. Não podem ser utilizados para 
melhorar  determinadas  características 
não  médicas  do  nascituro, 
designadamente a escolha do sexo. 
 Doação de gâmetas restrita aos 
casos  em  que,  face  aos 
conhecimentos  médico‐
científicos  objectivamente 
disponíveis, não possa obter‐se 
gravidez  através  do  recurso  a 
qualquer  outra  técnica  que 
utilize  os  gâmetas  dos 
beneficiários 

PARA TODOS: 

 É proibida a compra ou venda de óvulos, sémen ou embriões ou de qualquer material biológico decorrente da aplicação 
de técnicas de PMA 
 Todos  os  intervenientes  estão  obrigados  a  manter  sigilo  sobre  a  identidade  dos  mesmos  e  sobre  o  próprio  acto:  Os 
nascidos com recurso a dádiva de gâmetas podem, junto dos competentes serviços de saúde, obter as informações de 
natureza  genética  que  lhes  digam  respeito,  mantendo‐se  a  confidencialidade  acerca  da  identidade  do  dador  (por 
exemplo, podem procurar a eventual existência de impedimento legal a projectado casamento) 
 A identidade do dador só pode ser conhecida de duas formas: 
o Por razões ponderosas reconhecidas por sentença judicial 
o  Se este expressamente o permitir 

QUESTÕES ÉTICAS: 

 Deve existir anonimato? 

Acerca desta questão a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia propôs o conceito de DOUBLE TRACK: O facto 
de existirem teses a defender o anonimato e outras, a sua quebra levou ao aparecimento de um sistema de dupla via, em que 
ficava  ao  critério  dos  beneficiários  escolher  os  gâmetas  de  dadores  que  quisessem  manter  o  anonimato  ou  dos  que  não  o 
quisessem manter: 

No momento do processo de doação, os programas também devem deixar claro que a lei e as circunstâncias podem mudar e que 
as promessas de anonimato ou contacto futuro não pode ser garantida. 

A remoção da clausura do anonimato (como já acontece no Reino Unido) poderia levar à diminuição de dádivas. 

A maioria dos dadores gostaria de ser informado se o processo foi concluído com sucesso. 

 Justifica‐se a questão da “infertilidade social”  discriminação de acordo com orientação sexual e estado civil 
 Devemos  impedir/  condenar  quem,  apesar  de  não  cumprir  as  condições  de  acessibilidade  previstas  na  lei,  financia  o 
tratamento com os próprios recursos? 

Gestão Sustentada em Saúde 
Desde 1980 tem‐se verificado um aumento da despesa total em saúde, com importância crescente em termos do produto interno 
bruto  desde  esta  data.  Percebendo  que  este  crescimento  não  podia  continuar  indefinidamente  foram  introduzidas  algumas 
reformas na saúde e desde 2010 que se verifica uma ligeira inversão desta situação  é necessária a existência de um modelo de 
gestão  sustentada,  que  diminua  a  despesa  de  forma  a  garantir  o  futuro  do  SNS  mas  mantendo  a  tendência  de  melhoria  dos 
indicadores de saúde  Tal só é possível através da utilização da medicina baseada na evidência e atentando aos questões éticas 
associados: 

 Dignidade da pessoa humana à qual nenhuma outra consideração pode sobrepor‐se 
 O princípio da participação, isto é, indivíduo tem um lugar central na gestão da própria saúde 
 O  princípio  da  equidade  afirma  a  igualdade  de  oportunidades  a  todos  os  seres  humanos  priorizando  os  mais 
desprotegidos 
 Solidariedade, princípio ético fundamental da vida em sociedade 

A  responsabilidade  financeira  do  médico  está  prevista  no  artigo  111º  do  código  deontológico  médico,  da  ordem  dos  médicos. 
Destacamos  a  necessidade  de  atitude  responsável  perante  a  despesa  e  o  dever  de  prestar  os  melhores  cuidados  no 
condicionalismo financeiro que, como sabemos, é actualmente difícil. 

Há relações importantes entre a saúde, economia e educação: 

 Uma  população  saudável  prestam  múltiplas  e  significativas  contribuições  à  economia  cujo  crescimento  aumenta 
permitindo gastar mais na saúde. 
 Se promovermos a literacia das populações contribuímos para a prevenção de patologias relacionadas com o estilo de 
vida 
 São muitos e diversos os factores que influem na saúde: desde a educação, o ambiente e a economia até à qualidade dos 
serviços e às competências dos seus profissionais 

Marketing Farmacêutico 
Será  ético  falar  com  um  Delegado  de  Informação  Médica,  sabendo  que  estes  são  funcionários  de  uma  indústria  cujo  principal 
objectivo é aumentar o número de fármacos vendidos, não tendo como principal objectivo a saúde do doente? 

 A  indústria  defende  que  é  devido  a  esta  interacção  mediada  pelos  DIM  que  há  uma  maior  consciência  dos  novos 
fármacos e que esta prática acaba por influenciar os doentes. Apesar disso não há evidência desta assunção, antes pelo 
contrário:  estudos  sugerem  que  quanto  mais  os  médicos  dependem  da  informação  dada  pelos  DIM,  menor  é  a 
probabilidade de prescreverem fármacos de acordo com as verdadeiras necessidades do doente.  As interacções entre 
DIM de diferentes companhias farmacêuticas também têm impacto na prescrição em termos de custo, preferência pela 
prescrição de novos fármacos e diminuição da prescrição de genéricos  prescrição não racional!  
o Por exemplo: Num evento de formação médica contínua, demonstrou‐se que os fármacos desse patrocinador 
eram  preferencialmente  salientados  durante  o  evento.  ||  A  participação  em  simpósios  pagos  por  uma 
farmacêutica está associada ao aumento da requisição do fármaco patrocinado nos formulários hospitalares || 
Em quantos mais almoços participavam, mais os médicos pediam essas requisições. || Mudança nas prescrições 
a favor do medicamento patrocinado também foram demonstradas. 
 Devemos  reparar  no  que  nos  indicam  algumas  das  cadeiras  que  DIM  têm  na  sua  formação.  O  que  vemos  é  que  tem 
formação sobre técnicas de vendas tendo como objectivo único mudar os padrões de prescrição dos médicos. Mesmo 
sendo apenas um bloco de 35 horas, acontece que os médicos têm 0 horas sobre como lidar com estas técnicas.  
 A  publicidade  entra  da  vida  do  médico  por  várias  formas:  Formação  Médica  Contínua;  Presentes/Amostras/Refeições; 
Apoio  à  Investigação  Médica.  Os  médicos  também  são  influenciados  pela  publicidade  e 
qualquer indústria que se baseie em vendas e lucro, sabe disto e aposta na publicidade. 
 Há momentos em que os médicos estão mais susceptíveis 
 72% dos médicos acham que a informação dada pelos DIM é relativamente precisa 
  94%  dos  médicos  já  receberam  benefícios  da  indústria  farmacêutica.  A  maioria  dos 
médicos considera ético aceitar estes benefícios. 

QUAIS AS SOLUÇÕES APRESENTADAS PARA COMBATER ESTA REALIDADE? 

 Manter uma postura ativa durante a visita; 
 Reconhecer os objetivos das visitas dos DIM; 
 Relevância da informação para a prática clínica (endpoints); 
 Atenção à análise dos comparadores estatísticos; 
 Prestar atenção à metodologia e aos resultados; 
 Reconhecer e desvalorizar técnicas de promoção; 
 Reduzir o número de visitas mensais dos DIM; 
 Sensibilização dos médicos e estudantes de medicina; 
 Regulamentação: 
o (…)  só  podem  organizar  ou  apoiar  ações  de  divulgação  de  medicamentos  e  de  formação  científica,  tais  como 
congressos e simpósios, que contribuam reconhecidamente para um aperfeiçoamento profissional dos médicos. 
o (…) oferta gratuita de artigos de promoção de valor intrínseco insignificante (não ultrapasse os 60 euros), desde 
que estejam relacionados com a atividade de cuidados de saúde, ou envolvam benefício para o doente. 
o (…) oferta de textos, livros de referência, ou qualquer outra informação ou material com fins formativos. 
 Apostar na formação médica 

Nunca nos devemos esquecer daquilo que juramos à saída da faculdade. Nós assumimos um compromisso para com os doentes, 
dos quais somos os maiores advogados, não com as indústrias e as suas várias fontes de enviesamento. 

Bebés‐medicamento 
Ser humano concebido por procriação medicamente assistida e geneticamente seleccionado para ser capaz de doar tecidos ou 
órgãos  a  um  irmão  com  uma  doença  genética  grave    Após  estimulação  ovárica,  os  óvulos  produzidos  são  unidos  aos 
espermatozóides através fertilização in vitro ou  ICSI (Intracytoplasmic sperm injection). Através destes procedimentos são criados 
em  média  12  embriões.  Três  dias  após  a  fecundação  é  retirada  uma  a  duas  células  aos  embriões  para  a  análise  genética  – 
Diagnóstico  pré‐implantatório  e  tipagem  HLA.  Assim,  são  selecionados  os  embriões  não  portadores  da  patologia  em  causa  e 
compatíveis com o irmão. Um ou dois embriões são implantados no útero da mãe. Após o nascimento do “bébé medicamento” é 
colhido o sangue do cordão umbilical e faz‐se o transplante para o irmão. 

INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS 

 Leucemias ( L. Linfoblástica aguda; L. Mieloblástica aguda; L. Mielóide Crónica, …) 
 Linfoma de Hodgkin 
 Síndrome Mielodisplásico 
 NÃO  NEOPLÁSICAS:  Aplasia  medular,  Hemoglobinúria  paroxística  nocturna,  Imunodeficiência  congénita  combinada, 
Anemia  de  Fanconi,  Anemia  de  Blackfan  Diamond;  Talassémia  major,  Drepanocitose,  Osteopetrose/Doença  de  
Albers‐Schonberg, Síndrome linfoproliferativo ligado ao Cromosoma X/Síndrome de Duncan 

ARGUMENTOS A FAVOR DO BEBÉ‐MEDICAMENTO 

o Salvar uma vida – princípio da beneficência 
o Estabilidade familiar e aumento das relações afectivas entre a criança, o irmão doente e os pais 
o Situação é controlada por legislação 
o Não podemos argumentar perante a possibilidade de criação de uma nova vida 
o Será uma pessoa com mesmos direitos que todas as outras 
 

CONSEQUÊNCIAS PARA O BEBÉ MEDICAMENTO? ARGUMENTOS CONTRA 

 DGPI  ‐  Reduz  viabilidade  do  embrião;  Desconhecidos  os  efeitos  a  longo  prazo.  SERÁ  ÉTICO  SUBMETER  O  EMBRIÃO  A 
TÉCNICAS QUE REDUZEM A VIABILIDADE, QUANDO ESTA MANIPULAÇÃO NEM É PARA SEU PRÓPRIO BEM? 
 FIV ‐ Alguns estudos indicam que bebés nascidos de FIV têm mais problemas físicos e psicológicos. SERÁ ÉTICO CORRER O 
RISCO DE FAZER NASCER UMA CRIANÇA COM PROBLEMAS DE SAUDE EM PROL DA SAUDE DE OUTRA? 
o Problemas congénitos cardíacos, fenda labial, atresia esofágica, alterações urogenitais e ano‐rectais  
o Maior risco de prematuridade ou bebé com baixo peso 
 A criança poderá vir a sofrer danos psicológicos quando vier a saber a razão da sua geração. 
 Instrumentalização do Ser humano ‐ Bebé é produzido não pensando no seu próprio bem mas num bem diferente. Salvar 
o outro filho não pode ser o único propósito da concepção.  
 Plano inclinado ‐ Abre precedentes perigosos para determinar outros tipos de características com fins menos nobres 
 Qual o futuro dos embriões excedentários? 
 
ALTERNATIVA APRESENTADA: BIOBANCOS COM SANGUE DE CORDÃO UMBILICAL!!! 

LEGISLAÇÃO PORTUGUESA: 

 As técnicas de PMA são um método subsidiário, e não alternativo, de procriação, ou seja, a utilização de técnicas de PMA 
só pode verificar‐se mediante diagnóstico de infertilidade ou ainda, sendo caso disso, para tratamento de doença grave 
ou do risco de transmissão de doenças de origem genética, infecciosa ou outras 
 É proibida a clonagem reprodutiva; não podem ser utilizadas para conseguir melhorar determinadas características não 
médicas  do  nascituro,  designadamente  a  escolha  do  sexo;  não  podem  ser  utilizadas  com  o  objectivo  de  originarem 
quimeras ou híbridos 
 Exceptuam‐se do disposto no número anterior os casos em que haja risco elevado de doença genética ligada ao sexo, e 
para a qual não seja ainda possível a detecção directa por diagnóstico pré‐natal ou diagnóstico genético pré‐implantação, 
ou  quando  seja  ponderosa  a  necessidade  de  obter  grupo  HLA  (human  leukocyte  antigen)  compatível  para  efeitos  de 
tratamento de doença grave. 
 Uma  das  funções  do  Conselho Nacional  de  Procriação Medicamente  assistida  passa  por  “Deliberar  caso  a  caso  sobre  a 
utilização das técnicas de PMA para selecção de grupo HLA compatível para efeitos de tratamento de doença grave.” 

CÓDIGO DEONTOLÓGICO: 

 Estas  técnicas  deverão  ser  utilizadas  como  auxiliares  da  concretização  de  um  projecto  parental,  o  que  implica  a 
consideração não só do desejo dos candidatos a pais, mas sobretudo dos interesses do futuro ser humano que vier a ser 
concebido através da procriação medicamente assistida. 

Ética na Reanimação Cardiovascular 
Reanimação Cardiovascular é uma intervenção para salvar a vida humana numa condição de paragem cardíaca que pode ter como 
base várias causas. Como manobra de Emergência a RCP não requer consentimento informado e é executada segundo o princípio 
da  beneficência.  Por  defeito  definida  para  ser  utilizada  sempre  quando  ocorre  uma  paragem  cardíaca  excepto  se  existir  um 
documento assinado pelo doente em que confirma que não deseja ser reanimado em caso de paragem cardíaca DNR (do not 
ressucitate) 

Decisão  de  não  reanimar  –  É  uma  orientação  escrita  no  processo 


clínico  do  doente,  pelo  médico  assistente,  que  recomenda  a  não 
utilização  de  manobras  de  reanimação,  em  caso  de  RCP  em 
doentes  com  doença  aguda  ou  crónica  grave,  presumivelmente 
irreversível. A DNR aplica‐se, exclusivamente à RCP e não impede 
outras  manobras  terapêuticas  consideradas  indicadas  que 
permitem maior conforto ao doente. 

Artigo 59º “O uso de meios extraordinários de manutenção da vida não deve ser iniciado ou continuado contra a vontade do 
doente.”” In código deontológico 

A  ordem  de  não  reanimação  é  sobretudo  relevante  a  nível  dos 


cuidados  paliativos:  Nestes,  a  reanimação  cardiopulmonar  é 
considerada uma terapêutica fútil.  DNR são eticamente legítimas se 
as  manobras  de  reanimação  propostas  forem  interpretadas  como 
uma intervenção desproporcionada. 

A tomada de decisão é efectuada pelo médico assistente e restante 
equipa  médica.  Em  menor  frequência,  participação  do  doente 
(quando  se  encontra  competente)  e  sua  família.  Ou  seja,  esta 
tomada de decisão dispensa consentimento do doente! 

No  caso  de  estarmos  a  falar  de  decisão  de  não  reanimação  em  crianças  a  tomada  de  decisão  é  diferente:  Pais/tutores  legais 
devem tomar a sua decisão de acordo com o interesse superior da criança; A tomada de decisão deve ser acordada entre a equipa 
médica e os pais; À medida que os doentes tornam‐se mais velhos devem ser incluídos no processo de tomada de decisão. 
ÉTICA: COMISSÃO DE ÉTICA PARA A SAÚDE

Comissão de Ética: órgão multidisciplinar de apoio ao conselho de administração que abrange os aspectos
fundamentais dos problemas éticos de um hospital

Composição (art.º 2.º DL97/95): “as CES têm uma composição multidisciplinar e são constituídas por 7 membros
designados de entre médicos, enfermeiros, farmacêuticos, juristas, teólogos, psicólogos, sociólogos ou profissionais
de outras ciências sociais e humanas”

Pode solicitar parecer: Doentes ou seus representantes, profissional de saúde, órgãos de gestão do hospital

Atribuições da CES do HSM:


 Zelar pelo doente, utentes e profissionais de saúde
 Prestar apoio técnico ao Conselho de Administração
 Órgão consultivo, emite apenas pareceres não-vinculativos
 Zelar pela observação dos padrões de ética e respeito de dignidade da pessoa e seus direitos fundamentais
 Independência face aos órgãos de gestão e direcção do hospital
 Promover divulgação dos princípios de bioética no hospital
 Pronunciar-se sobre os protocolos de investigação científica celebrados no âmbito do hospital (ensaios de
diagnóstico/terapêuticos, técnicas experimentais em humanos ou seus produtos biológicos)
 Mandatos de 3 anos renovados por iguais períodos
 Funciona sob direcção de presidente e vice-presidente, designados pelos seus membros
 Reuniões plenárias ordinárias mensais e extraordinárias
 Deliberação em presença de maioria ou, se repetido, de 3 por maioria absoluta.
 Não intervenção em caso de conflito de interesse ou parcialidade

Comissão Ética para a Investigação Clínica (CEIC):


 Responsável por apreciar e emitir parecer de ensaios clínicos com uso de medicamentos em fases I a III
 Processo: investigador  CEIC INFARMED  CES  investigador
 As CES podem decidir autonomamente:
- Estudos clínicos de fase IV
- Estudos que não sejam ensaios clínicos de medicamentos (dispositivos médicos)
- Estudos sem intervenção (epidemiológicos, psicológicos ou sociais)

Código de Nuremberga de 1946 (Pesquisa em Seres Humanos):


 Consentimento voluntário do ser humano é essencial
 Deve produzir resultados vantajosos para a sociedade e ser o único método para tal
 Deve basear-se em resultados conhecidos previamente noutros modelos que justifiquem a experimentação
 Deve evitar todo o sofrimento e danos desnecessários, físicos ou mentais.
 Não deve ser conduzido se existirem razões para possível morte ou invalidez permanente, excepto se do médico
 O risco deve ser limitado pela importância humanitária do problema que o pesquisador se propõe resolver.
 Devem ser tomados cuidados para proteger o participante
 Deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas
 O participante deve ter plena liberdade de se retirar
 O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos em qualquer estágio.

Declaração de Helsínquia de 1964 (Pesquisa em Seres Humanos):


 Não maleficência do participante tem procedência sobre os interesses da ciência
 Placebos: apenas se não há método de tratamento, profilaxia ou diagnóstico provado
 Novo tratamento deve ser comparado com os melhores métodos disponíveis
 Consentimento informado
ÉTICA: GENERALIDADES E PRINCÍPIOS

Ética: (convicção individual proponente) dimensão da filosofia que se ocupa do facto da existência da moral. Está
relacionada com o conjunto de valores pessoais considerados universais, intemporais e permanentes.

Bioética: respeitante a todos os seres vivos, incluindo ética médica, ética animal e ética ambiental

Erosão Ética: diminuição da sensibilidade ética no decurso da formação

Evolução em Ética: depende da evolução do contexto social, político e religioso

Moral: (convicção social normativa) costumes, normas de comportamento actualmente aceites ou seguidas por
grupos. Centra-se na dimensão repetitiva dos actos habituais, está relacionada com a cultura e é relativa/mutável.

Grandes Teorias Éticas:


 Consequencialismo: maximização do bem para o maior número de pessoas, sendo o utilitarismo a teoria
consequencialista predominante. Não prevê direitos das minorias
 Ética Kantiana Deontológica: cuidar da pessoa é fim em si mesmo; dever mais importante que a consequência
 Ética Aristotélica das Virtudes: coloca a tónica na boa formação do carácter e da personalidade das pessoas ou
profissionais. Baseia-se na virtude moral que engloba: compaixão, confiança, consciência, discernimento e
integridade.
 Casualismo
 Principialismo: assenta nos 4 princípios clássicos
- Beneficência: estabelece obrigação moral de agir em benefício do doente de forma a serem atendidos os
interesses importantes e legítimos do indivíduo. Apresenta limites da óptica do binómio Obrigação vs Emulação.
- Não Maleficência: evitar o dano intencional. Segundo a Medicina Hipocrática: “usarei o meu poder para
ajudar os doente com o melhor da minha habilidade e julgamento; abster-me-ei de causar danos ou de enganar
a qualquer homem com ele”
- Justiça Distributiva: equidade na distribuição de bens e benefícios; escolha dos recursos de saúde dispensados
a um doente deve ter em atenção a disponibilidade dos recursos necessários a outros doentes.
- Autonomia e Liberdade: promover comportamentos autónomos por parte dos doentes. Pressupostos:
reconhecimento do direito dos doentes; informação com verdade; protecção da confidencialidade; respeito
pela privacidade; consentimento do doente; direito à ignorância. Excepções: crianças, doentes mentalmente
incapacitados, suicidas irracionais, toxicómanos, prisioneiros, Estado Vegetativo Permanente e Coma, protecção
de suicídio, homicídio, agressões, saúde pública, saúde de alguém. Excessos: subestimação e sobrestimação do
direito do embrião e feto. Paternalismo Médico: presunção do bem-querer do pai para o filho e da sabedoria
para a decisão. Exemplos: testemunhas de jeová e transfusões, suicidas, recusa de laqueação tubária a mulher
jovem e saudável, conselho de vacinação, quebra de confidencialidade para adolescentes. Justifica-se quando:
doente está em risco de dano significativo e evitável, intervenção tem alta probabilidade de evicção do dano;
benefícios esperados ultrapassam possíveis riscos para o doente; adopção de medidas menos restritivas da
autonomia do doente.

Consentimento Informado (Autonomia e Liberdade):


 Expresso Explícito: escrito, oral ou gestual
- Em Menores: documento para a família e outro para a criança, que deve ser consultada a partir dos 7 anos, e
assinar a partir dos 13. A partir dos 14 tem autonomia para decidir sobre procedimentos médicos, e a partir dos
16 autonomia para escolha de religião
- Por proxy: substituto livre de conflito de interesse, familiarizado com valores do doente, indica seu desejo
 Não Expresso:
- Implícito: exemplo do hospital universitário
- Tácito: por omissão
- Presumido: doente incompetente
Princípio do Duplo Efeito: legítima realização em circunstâncias bem definidas de acções das quais resulte um efeito
bom/pretendido e outro mau/tolerado
 O efeito adverso é previsto, mas não pretendido, é meramente tolerado como um risco calculado
 O efeito benéfico tem de ser melhor que o mau efeito para que o benefício não seja suplantado pelo prejuízo
 Não existe outro modo de produzir o efeito benéfico intencional

Slippery Slope: excepção que implica mudança de posição ideológica prévia para nova que se encontra no topo do
“plano inclinado”. Abrindo uma excepção, facilmente surgem outros casos que parecem reunir os mesmos critérios,
sendo na realidade cada vez mais afastados da posição inicial cimeira, e mais próximos do fundo do plano inclinado.

Estranhos Morais: teoria defendida por Engelhardt, questiona o modelo dos quatro princípios como forma de
justificar racionalmente escolhas morais. Ao argumentar a favor de uma "presunção politeísta", ou seja, o
reconhecimento de numerosas perspectivas morais igualmente legítimas, deixa em suspenso a possibilidade de
alcançar um entendimento ético ou uma moralidade comum entre as diversas comunidades morais, de modo que os
conflitos de interesse possam ser resolvidos através de argumentos racionais. Para Engelhardt não existe um “bem”
ou “mal” definido fora de um contexto moral particular em que coexistem “os amigos morais”. Todos os princípios
tais como: o da Beneficência, o da Propriedade Privada, o da Autoridade Política e o da Alocação de recursos à saúde
giram em torno da permissão.

ÉTICA: INÍCIO DA VIDA

Gravidez: apenas após fecundação e implantação

Questões:
 Embrião fecundado é igual a embrião implantado? Ovo fecundado pode originar gravidez evolutiva, bioquímica,
anembriónica ou tumor do trofoblasto.
 Embrião in vivo é igual a embrião in vitro?
 O que é e quando se inicia a vida humana?

Estatuto do Embrião:
 Tese Concepcionista: embrião deve ser tratado como pessoa humana desde a concepção (recusa DIU)
 Tese Gradual:
- Embrião vai-se tornando pessoa humana ao longo da gestação: formação do SNC (3.ª semana), actividade
neurosensorial (8.ª-10.ª semana), movimentos fetais, viabilidade extra-uterina.
- É sempre merecedor de respeito
- Embrião in vivo é diferente de embrião in vitro: importância da mulher grávida na identidade (influência
epigenética, ambiente hormonal, imunológico, bioquímico e metabólico)

Vida, Ser e Pessoa:


 Feto anencefálico: não é pessoa
 Mola hidatiforme: não é ser
 Quimera e Trissomia 21: são pessoa

Questões Éticas em Medicina Perinatal:


 Reanimação e Cuidados Paliativos em Recém-nascidos:
- Dificuldade para os médicos: inexistência de critérios, entretanto definiu-se as 23 semanas e 500g como limite
- Preocupação dos pais: qualidade de vida da criança, possibilidade de melhoria, existência de dor/sofrimento
 Prescrição Farmacológica em Pediatria: fármacos nunca foram testados

Incongruências do Código Deontológico da O.M.:


 Lei permite aborto até às 10 semanas, código proíbe-o
 Lei proíbe maternidade de substituição, código permite-o
ÉTICA: FIM DA VIDA

Problemas Éticos:
 Prolongamento do sofrimento
 Quando deixar de tratar
 Quando não reanimar
 Obstinação terapêutica
 Eutanásia
 Pressão familiar

Ética Relacional: tem como objectivo reequilibrar a relação assimétrica, procurando mutualidade e máximo de
autonomia, plenitude e orgulho existencial ao doente.

Distanásia: transformação da fase final da vida num longo e doloroso processo de morrer.

Eutanásia: pôr termo à vida de outra pessoa a seu pedido.


 Directa: efeito directo do tratamento na morte do doente
 Indirecta: efeito previsto mas não intencionado de alívio sintomático da dor
 Activa: medicação letal
 Passiva: abstenção do tratamento de suporte à vida
 Voluntária: satisfação do desejo de doente mentalmente competente, e cuja vontade tem que ser respeitada
pelo direito à integridade física. Profissional tem dever de informar o doente pelo princípio de autonomia
 Involuntária: contrariando desejo do doente (homicídio)

Sedação paliativa (Eutanásia Activa): administração intencional de sedativos em doses, combinações de doses ou
em escalada, que são as necessárias para reduzir a consciência do doente terminal tanto quanto necessário para
controlar um ou mais sintomas refractários de forma adequada. A adequação e proporcionalidade dos
procedimentos devem ser claramente objectivadas por escrito para que não restem dúvidas sobre a
intencionalidade (limiar da intenção homicida)

ÉTICA: OBSTINAÇÃO TERAPÊUTICA

Futilidade, Obstinação ou Encarnecimento Terapêutico (Eutanásia Passiva):


 Definição: conjunto de intervenções incapazes de alterar prognóstico, sem qualquer benefício no controlo
sintomático e que apenas prolongam o sofrimento no contexto de uma condição clinicamente irreversível.
 Na Medicina Hipocrática: recusar tratar aqueles que estão completamente tomados pelas suas doenças;
 No Código Deontológico: em caso de doença comportando prognóstico seguramente infausto a muito curto
prazo, deve o Médico evitar obstinação terapêutica sem esperança, podendo limitar a sua intervenção à
assistência moral do doente e à prescrição do mesmo de tratamento capaz de o poupar a sofrimento inútil, no
respeito do seu direito a uma morte digna e conforme à sua condição de Ser humano.
 No Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida: não há nenhum argumento que justifique os actos de
eutanásia; é ética a interrupção de tratamentos desproporcionados e ineficazes.
 Meios Extraordinários de manutenção da vida: todos aqueles que não podem ser obtidos sem despesas, dores
excessivas e outros incómodos, ou que não apresentariam esperança razoável de benefícios
 Meios Ordinários = Procedimentos ditos de suporte: ventilação mecânica, hidratação e alimentação artificial,
suporte circulatório farmacológico, suporte transfusional, suporte de função renal, escalada terapêutica, análises
de rotina, monitorização de sinais vitais.
 Critérios de Basel de 1992:
- Rápida deterioração
- Sem possibilidade intervenção curativa ou paliativa
- A morte pode ocorrer a qualquer momento (dias, 2 ou 3 semanas)
- Presumível consentimento do moribundo
ÉTICA: NEGLICÊNCIA E ERRO

Neglicência
 Negligência Médica: erro médico praticado sem o cumprimento das normais regras da leges artis, ausência
intencional e consciente de cuidados adequados

Erro:
 Evento Adverso: lesão causada por acto médico
 Erro Médico: diagnóstico ou tratamento de patologias ou lesões que é incorrecto ou incompleto
 Evento Adverso Evitável: evento adverso atribuível a erro médico

Consequências Legais:
 Homicídio por negligência
 Ofensa à integridade física por negligência
 Intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos violando a leges artis ou arbitrários
 Propagação de doença, alteração de análise ou receituário por neglicência
 Recusa de médico

ÉTICA: MATERNIDADE DE SUBSTITUIÇÃO

Argumentos Favoráveis
 Importância para o casal infértil
 Solidariedade que une os casais e as mulheres que aceitam

Argumentos Contrários
 Alteração da noção tradicional da família
 Exploração e manipulação da mulher
 Imprevisibilidade das atitudes da mãe de substituição
 Consequências desconhecidas no equilíbrio da criança
 Possibilidade de recusa de entrega (conflitos jurídicos)
 Possibilidade de recusa de aceitação por malformação (interesse da criança)

ÉTICA: WITHHOLD & WITHDRAW

General Medical Council: “Where it has been decided that a treatment is not in the best interests of the patient,
there is no ethical or legal obligation to provide it and therefore no need to make a distinction between not starting
the treatment and withdrawing it”. Thus, withholding and withdrawing of life support are entirely compatible with
the ethical principles of beneficence, nonmaleficence, and autonomy. In addition, many state courts have upheld
recently the legality of limiting care that provides no benefit or is not wanted by patients.

Departamento de Ética da Universidade de Oxford:


 Beneficência: Prognóstico é melhor em WD que em SW (RCR após paragem cardíaca)
 Justiça: Opção por WD muitas vezes é motivada por (in)disponibilidade de meios (camas da UCI)
 Autonomia: obedecem ambos a vontade do doente, excepto quando situação é aguda (WH não obedece).
 Crença errónea de que WD será menos grave que WR
ENGELHARDT: ESTRANHOS MORAIS

De acordo com Engelhardt, vivemos num mundo com poucos “amigos morais” (com quem partilhamos um fundo
comum que permita resolver problemas), e em que maioritariamente temos “estranhos morais”, com quem não
partilhamos valores e paradigmas de interpretação de casos, nem tão-pouco a mesma visão da utilização dos
princípios de autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. Em virtude desse facto, resolvemos as discórdias
morais por vontade: um acordo consensual para optar pela solução x, não por crença ou fé nessa solução, mas
porque racionalmente é preferível para o grupo como um todo.

Para Engelhardt, apenas os princípios de Permissão e Beneficência permitem a coabitação num meio de estranhos
morais. A Permissão implica que a autoridade para as nossas acções depende da autorização do outro.
Consequentemente, sem Permissão não há Autoridade, e sem Autoridade a Actuação é punida com a exclusão da
comunidade moral estabelecida entre os ditos “estranhos”. A Beneficência dita que a Moral visa a realização do Bem
e a exclusão do Mal. Mas numa sociedade plural não é possível estabelecer este binómio de forma estanque.
Consequentemente, não existe figura de beneficência à qual se reportar, havendo liberdade para punição variável
consoante as Acções que sejam tomadas como resposta a novos Problemas.

Em conclusão, e armados com estes dois princípios, os “estranhos morais” podem construir regras mutuamente
benéficas desde que obedeçam ao critério primordial de Permissão, admitindo-se a existência de tantos modelos de
Medicinas quantos os grupos de “estranhos”. A Medicina praticada em grupos de “estranhos” será (por oposição à
praticada em grupos de “amigos morais”) menos guiada pela subjectividade e fé humana, e mais norteada pela
racionalidade do grupo. Na prática, será visível a adopção de diferentes acordos entre “estranhos morais”, como em
duas Comissões Éticas de Saúde de hospitais diferentes.

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