Monografia 25 Gestao de Producao

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MARCO ANTONIO DE ALMEIDA

GESTÃO DA PRODUÇÃO E ENTREGA DE MUDAS DE EUCALIPTO


CLONAL UTILIZANDO CONCEITOS DE MRP

Monografia apresentada como requisito


parcial para a obtenção do título de Especialista
em Agronegócio no curso de Pós-Graduação em
Agronegócio, Departamento de Economia Rural
e Extensão, Setor de Ciências Agrárias,
Universidade Federal do Paraná.

Orientador Prof. Dr. Vitor Afonso Hoeflich

CURITIBA
2010
Dedico a minha esposa Vanessa, meu filho
Marco Júnior e minha filha Maria Eduarda, pelo
incentivo e pela compreensão enquanto estive
dedicando-me aos estudos.

Dedico também à minha mãe Adelina e a


meu pai Geraldo, que apesar de não estarem
presentes, serviram de motivação para que eu
pudesse prosseguir.

Agradeço a Deus pela oportunidade.


SUMÁRIO

Introdução........................................................................................................ 07

PARTE I – Revisão da Literatura e Metodologia de Pesquisa.................... 09


1. Sistema Agroindustrial.................................................................................. 10
1.1. Conceituação inicial.................................................................................... 10
1.2. O reflorestamento no setor de papel e celulose.......................................... 12

2. Sistemas Produtivos....................................................................................... 13
2.1. Conceituação inicial.................................................................................... 13
2.2. Classificação e seleção de sistemas produtivos.......................................... 14

3. Gestão da Produção....................................................................................... 16
3.1. Conceituação inicial.................................................................................... 16
3.2. Planejamento e controle da produção......................................................... 17

4. O conceito MRP............................................................................................. 20
4.1. Conceituação inicial.................................................................................... 20
4.2. Dinâmica MRP........................................................................................... 21
4.3. Componentes de um sistema MRP............................................................. 23
4.3.1. Entradas (Inputs)...................................................................................... 23
4.3.2. Saídas (Outputs)....................................................................................... 24

5.Tecnologia de informação de difusão do conhecimento................................ 25

6. Metodologia de pesquisa............................................................................... 26

PARTE II – Estudo de Caso e Modelagem do Sistema 28


7. Estudo de caso............................................................................................... 29
7.1. Apresentação da organização...................................................................... 29
7.2. Sistema produtivo de mudas florestais....................................................... 31
7.3. Planejamento da produção de mudas florestais.......................................... 34
7.4. O fator conhecimento na organização......................................................... 35

8. Modelagem do Sistema.................................................................................. 36

PARTE III – Apresentação do Sistema......................................................... 39


9. Adaptação de um modelo para a produção de mudas florestais.................... 40
10. Detalhamento do funcionamento do sistema............................................... 43
10.1 Portal.......................................................................................................... 43
10.2 Sistema MRP............................................................................................. 44
10.3 Fluxograma do viveiro florestal................................................................. 46
10.4 Abertura do sistema................................................................................... 47
10.5 Entradas (Inputs)........................................................................................ 48
10.6 Saídas (Outputs)......................................................................................... 67

Considerações Finais....................................................................................... 94
Bibliografia....................................................................................................... 95
Anexos............................................................................................................... 97
RESUMO

O objetivo desse trabalho foi desenvolver um sistema de gestão de produção e


entrega de mudas, utilizando aplicativo simples que é o Excel, para que o usuário
possua familiaridade na utilização, além de subsidiar de forma adequada a atividade de
planejamento da produção, aumentando a confiabilidade da função produção e, como
conseqüência, reduzir os riscos de não atendimento da demanda, além de estar
difundindo o conhecimento, dada a complexidade do processo produtivo de mudas
florestais bem como sua importância na cadeia produtiva florestal.
Foi desenvolvido um software que podemos visualizar todo o sistema produtivo,
levando em consideração cada elo, cada processo e memória de cálculo, preocupando-se
com a cadeia de suprimentos - “Suplly Chain Management” e com mecanismos
eletrônicos confiáveis, cada alteração no fluxo da rede, pode ser absorvida de forma e
no momento adequado, permitindo as correções necessárias.
O sistema de gestão para a produção e entrega de mudas florestais, traz a
confiabilidade para os clientes e para a cadeia produtiva florestal, operacionalizado de
forma simples, com a utilização de recursos como as planilhas eletrônicas do tipo Excel
e atende principalmente a necessidade de gestão de produção de mudas para fins
comerciais, pois com base no conceito do MRP - Material Requirements Planning -
Planejamento das Necessidades de Materiais – podemos perceber que o sistema avalia
as necessidades para poder gerar o resultado com as possibilidades de compromissos de
entregas de mudas, possibilitando o cumprimento de prazos, e conseqüentemente
refletindo na agilidade e assertividade das decisões operacionais.

Palavras-chave: mudas, eucalipto, planejamento, software, MRP.


INTRODUÇÃO

O objetivo desse trabalho foi desenvolver um sistema de gestão de produção e


entrega de mudas, utilizando aplicativo simples que é o Excel, para que o usuário
possua familiaridade na utilização, além de subsidiar de forma adequada a atividade de
planejamento da produção, aumentando a confiabilidade da função produção e, como
conseqüência, reduzir os riscos de não atendimento da demanda, além de estar
difundindo o conhecimento, dada a complexidade do processo produtivo de mudas
florestais bem como sua importância na cadeia produtiva florestal.
A principal motivação para o desenvolvimento deste trabalho foi à inexistência,
por parte das empresas florestais, de sistemas formais para o planejamento de viveiro
florestal, mais especificamente, para o caso de gestão da produção de mudas e
principalmente no caso de produção de mudas para fins comerciais. Neste ramo de
atividade existem informações necessárias para a tomada da decisão mais adequada com
relação ao gerenciamento das atividades do processo de produção das mudas. Elas
podem também ser utilizadas no caso de decisões de níveis mais abrangentes, que
necessariamente deverão exigir a utilização de ferramentas computacionais para o
cálculo e processamento dos dados.
Como em todo planejamento, fatores como flexibilidade do sistema operacional,
rapidez na atualização de dados, confiabilidade e objetividade das informações geradas,
são de grande importância para subsidiar o processo de tomada de decisão neste ramo
de atividade.
Normalmente, os profissionais atuantes na área acabam por desenvolver planilhas
individuais, geralmente específicas e fragmentadas. Em muitas oportunidades estas
planilhas tornam-se ou demasiadamente complexas ou muito superficiais. Em ambos os
casos, acabam sendo inadequadas para dar um melhor respaldo à tomada de decisão no
âmbito da produção de mudas, aumentando o risco da ocorrência de falhas operacionais
que possam comprometer a cadeia produtiva desde o seu início.
No mercado, já existem alguns softwares que fazem apenas o controle das
operações, mas que não utilizam o conceito MRP (tanto na forma de Material
Requirement Planning – MRPI quanto na forma de Manufacturing Resources Planning
– MRPII, que possibilitam que os recursos produtivos estejam disponíveis na
quantidade adequada e no momento adequado). O desenvolvimento de um software
com base neste conceito (mais simples, mais “amigável”, com uso de tecnologia mais
acessível) é uma alternativa para viabilizar a elaboração de um modelo de planejamento
operacional para os viveiros florestais, visando atender a maioria das necessidades dos
mesmos.
A formalização de procedimentos e conhecimentos necessários para
operacionalizar tal modelo (fruto de experiências individuais) possibilita, também,
maior disponibilidade e facilidade de acesso ao conhecimento, potencializando a
difusão do mesmo.
Inicialmente, este trabalho apresenta noções sobre os seguintes tópicos:
• Sistema agroindustrial;
• Sistema produtivo;
• Gestão da produção;
• Metodologia MRP;
• Tecnologia de informação e difusão de conhecimento.
Estes conceitos estão colocados de forma resumida, com a exemplificação dos
mesmos, na etapa seguinte, momento em que será caracterizada uma organização
atuante no ramo de produção de mudas, com detalhamento de sua produção de mudas
florestais (e apresentação de especificidades e necessidades deste tipo de atividade).
Finalmente, será apresentada a dinâmica do modelo de gestão da produção, como
apoio ao planejamento específico para a área de produção de mudas de espécies
florestais.
PARTE I

REVISÃO DE LITERATURA

METODOLOGIA DE PESQUISA
1. Sistema Agroindustrial

1.1 Conceituação inicial

A evolução da economia tornou obsoleta a noção da agricultura baseada em


“atividade do setor primário”. Atualmente, como coloca Araújo (2003, p.16), “existe
todo um complexo de bens, serviços e infra-estrutura que envolve agentes diversos e
interdependentes”. Esta visão mais abrangente começa a tomar corpo, em nível mundial,
ao final da década de 50 e, no Brasil, na década de 80.
A abrangência desta nova visão, agora denominada como “Complexo
Agroindustrial”, “Agribusiness”, “Cadeia Agroeconômica” ou “Sistema Agroindustrial”
pode ser mais bem entendida com a seguinte conceituação:

“Todos os participantes envolvidos na produção,


processamento e marketing de um produto específico. Inclui o
suprimento das fazendas, as fazendas, operações de
estocagens, processamento, atacado e varejo envolvidos em um
fluxo desde a produção de insumos até o consumidor final.
Inclui as instituições que afetam e coordenam os estágios
sucessivos do fluxo do produto, tais como governo,
associações e mercados futuros” (Araújo (2003, p.16)).

Para este trabalho, em específico, faz-se necessário o detalhamento do conceito de


Sistema Agroindustrial utilizado pelo autor e em acordo com a Associação Brasileira da
Indústria de Alimentação – ABIA, datada de 1993:

• Sistema Agroalimentar, como “o conjunto das atividades que concorrem


à formação e à distribuição dos produtos alimentares” (p.20);
• Sistema Agroindustrial Não Alimentar, como “o conjunto das atividades
que concorrem à obtenção de produtos oriundos da agropecuária,
florestas e pesca não destinada à alimentação, mas aos sistemas
energéticos, madeireiro, couro e calçados, papel, papelão e têxtil” (p.20).
O autor ressalta também a importância de algumas especificidades da produção
agropecuária, que a diferencia da produção de outros bens manufaturados: A
sazonalidade da produção (como conseqüência das condições climáticas), a influência
de fatores biológicos (como doenças e pragas) e, em muitos casos, a rápida
perecibilidade.
Uma última conceituação apresentada por Araújo (2003) a ser utilizada neste
trabalho refere-se aos setores “antes da porteira (ou a montante da produção
agropecuária)”, “dentro da porteira (produção agropecuária propriamente dita)” e “após
a porteira (a jusante da produção agropecuária)”. O primeiro setor é composto
basicamente pelos fornecedores de insumos e serviços, o segundo setor é o conjunto de
atividades desenvolvidas dentro das unidades produtivas agropecuárias, e o último setor
corresponde às atividades de armazenamento, beneficiamento, industrialização,
embalagens, distribuição e consumo.

1.2 O reflorestamento no Brasil

O plantio de florestas no Brasil tem aumentado muito, tendo como explicação a


escassez de madeira, principalmente de cerrados, florestas nativas, que foram sendo
substituídas por reflorestamento principalmente de eucalipto e pinus, além das restrições
legais a extração de florestas nativas.
A área reflorestada com eucaliptos ocupa 4,2 milhões de hectares, ou 65% da área
total de florestas plantadas, que é de 6,6 milhões de hectares. O crescimento médio
desta cultura no país é de 7,5% ao ano.
É importante destacar que apesar das florestas de eucalipto representar no Brasil
uma das maiores áreas plantadas no mundo, ou seja, aproximadamente 21% dos 20
milhões de hectares de eucaliptos plantados no mundo segundo estimativas da Unicamp
– Universidade de Campinas, esta ocupação corresponde a apenas 0,6% do território
brasileiro, cuja dimensão é de 8,5 milhões de km². Alia-se a este cenário, a alta taxa de
produtividade obtida pelo eucalipto no Brasil em relação a outros países do mundo.
2. Sistemas Produtivos

2.1 Conceituação inicial

De acordo com Harding (1987), “sistema” pode ser entendido como uma atividade
contínua envolvendo um conjunto de partes inter-relacionadas, as quais atuam de acordo
com padrões estabelecidos (regras de operações) sobre inputs (entradas) no sentido de
produzir outputs (saídas).
A dinâmica da produção pode ser entendida pela figura a seguir:

Materiais, informações e consumidores Instalações, pessoal Bens e serviços produzidos


INPUT PROCESSAMENTO OUTPUT

Fig.1: Dinâmica da produção. Fonte: Yokoyama (2004))

Já um exemplo da inter-relação entre as diversas atividades pertinentes à produção


de bens e serviços pode ser visualizado na seguinte figura:

Desenvolvimento de Engenharia de suporte Marketing


produto/serviço técnico

Produção

Recursos Humanos Contabilidade e Compras


Finanças

Fig.2: Um enfoque sistêmico para a função produção. Fonte: Yokoyama (2004)

Neste sentido, “sistema produtivo”, ou a “função produção” (conceito utilizado por


Slack (2002) tem uma abrangência muito maior do que um “processo de
transformação”. Esta noção ampliada leva em consideração todas as áreas de uma
organização que atuam de forma integrada e coordenada para agregar valor (transformar
inputs em outputs e, neste processo, agregar valor).

2.2 Classificação e seleção de sistemas produtivos

Uma classificação tradicional de sistemas de produção é fornecida por Moreira


(2002):

• Sistema de Produção Contínua ou de Fluxo em Linha;


• Sistema de Produção por Lotes ou por Encomenda (Fluxo Intermitente);
• Sistema de Produção de Grandes Projetos sem Repetição.
Slack (1999) apresenta uma versão mais abrangente, ao inserir a categoria de
serviços, como pode ser observado na tabela a seguir:

Processos em manufatura Processos em Serviços

Processo de Projeto Serviços Profissionais

Processo de Jobbing

Processo em Lotes ou Bateladas Loja de Serviços

Processo de Produção em Massa

Processos Contínuos Serviços de Massa

Tab.1: Tipos de Processos Fonte: Slack (1999)

Ressalte-se que cada “tipo” de sistema produtivo possui características distintas:


lay-out, equipamentos, mão-de-obra, mix/volume de produção, programação da
produção, grau de contato com o consumidor, etc.
A seleção do tipo de processo mais adequado deve levar em consideração os
objetivos da função produção que, baseando-se em Slack (2002) podem ser agrupados
em: Qualidade, Velocidade, Confiabilidade (ou Pontualidade), Flexibilidade e Custo (ou
Preço). Para alguns autores, de forma alternativa, estes objetivos podem ser agrupados
em Qualidade, Tempo, Flexibilidade e Custo.
Como decorrência destes objetivos, os fatores variedade e volume de produção
afetam diretamente a seleção dos processos, numa relação que pode ser exemplificada
na figura a seguir:

Fig.3: Relação Mix/Volume e Processo em Manufatura Fonte: Slack (1999, p.135)

Pode-se observar que componente mix diminui com o aumento da escala de


produção, resultando produtos mais padronizados. De acordo com Mayer (1986) os
produtos padronizados são aqueles que a empresa produz para estoque. Segundo o autor
é possível fazê-lo porque há demanda contínua para esses produtos, além disso, suas
especificações são, de certo modo, previsíveis.
Finalmente, ressalte-se que a classificação de sistemas produtivos apresentada deve
ser utilizada como uma orientação sendo que na prática, é usual a utilização de modelos
mistos de processos de manufatura.
3. Gestão da produção

3.1. Conceituação inicial

Conceituação inicial, iniciando pelas responsabilidades de acordo com Slack


(1999):

Indiretas:
• interagir com outros setores da organização para benefício mútuo;
Diretas:
• entender os objetivos estratégicos da produção;
• desenvolver estratégia de produção;
• projetar processos de produção;
• planejar e controlar a produção;
• melhorar o desempenho da produção.
Complementando, em relação às atividades de planejamento / tomada de decisão,
Moreira (2002) classifica-as pelo critério de prazo e risco:

• Nível Estratégico: prazo e risco elevados;


• Nível Tático: prazo médio, risco moderado;
• Nível Operacional: curto prazo, baixo risco (decisões de rotina).
Ainda, ao se tratar da administração da produção pela abordagem sistêmica,
também fica claro que ela é uma atividade que está totalmente dependente de muitos
outros sistemas que operam na empresa.

3.2. Planejamento e controle da produção

De acordo com Harding (1987), o objetivo do planejamento de produção é atender


os prazos de entregas aos clientes com o mínimo custo, via planejamento da seqüência
das atividades de produção; ou de forma resumida, segundo Slack (2002), planejamento
e controle é a atividade de se decidir sobre o melhor emprego dos recursos de produção,
assegurando assim, a execução do que foi previsto.
Harding (1987) coloca que o planejamento é necessário, pois em toda unidade de
produção há pessoas, maquinários e materiais, recursos dispendiosos, que devem ser
usados da melhor maneira a fim de torná-la mais lucrativa. Ainda, o autor complementa
que a moderna produção é complexa, tecnológica e deve, portanto, ser planejada
cuidadosamente para levar em conta todas as possíveis restrições.
Zaccarelli (1999; p.71) coloca que “o trabalho do planejamento direta ou
indiretamente, afeta toda a organização, como conseqüência dos documentos utilizados
no planejamento (roteiro de produção, detalhes de cada operação, tempo de preparação,
etc.), ferramentas, estimativas, etc.”.
Ainda segundo Harding (1987), para realizarmos o planejamento, precisamos de
uma programação (listagem de produtos que deve ser realizada em determinado período
de tempo e que é usualmente disposta numa seqüência de prioridade). Normalmente ela
é baseada numa previsão de demanda. De acordo com Machline (1990), esta previsão
pode ser baseada nos pedidos recebidos dos clientes, nas previsões de vendas, ou em
ambas.
Marinho (2001) reforça a idéia de que o planejamento da produção praticamente se
inicia com dados que estipulam quais e quantos produtos devem ser produzidos e
quando eles devem estar concluídos; além disso, coloca que, tradicionalmente, nos
sistemas produtivos que produzem sob encomenda (make-to-order), esses dados
aparecem durante o processo de venda do produto.
Slack (2002) cita o exemplo de um construtor de casas que tenha projetos
padronizados; ele pode optar por construir cada casa somente quando um consumidor
tenha colocado um pedido firme. Neste caso, a operação precisaria de um planejamento
e controle do tipo fazer-contra-pedido (make-to-order).
Slack (2002) apresenta também o conceito de sistema de planejamento e controle
puxado, onde o passo e as especificações do que é feito são estabelecidos pelo cliente
(interno ou externo) que “puxa” o trabalho dos fornecedores (internos ou externos).
Assim, o consumidor atua como um “gatilho” da produção e da movimentação. Se uma
“requisição” não é passada para trás pelo consumidor para o fornecedor, o fornecedor
não é autorizado a produzir qualquer coisa ou mover qualquer material.
De forma mais detalhada, Slack (2002) menciona que o planejamento e o controle
requerem a conciliação do suprimento e da demanda em termos de volume, tempo e
qualidade. Para conciliar o volume e o tempo, quatro atividades justapostas são
desempenhadas:
• Carregamento: a quantidade de trabalho alocado para um centro de
trabalho;
• Sequenciamento: quando o trabalho chega, decisões devem ser tomadas
sobre a ordem em que as tarefas serão executadas;
• Programação é quando ao determinar a seqüência em que o trabalho será
desenvolvido algumas operações requerem um cronograma detalhado,
mostrando em que momento os trabalhos devem começar e quando eles
devem terminar;
• Controle: intervenção periódica nas atividades da operação.
Como exemplo de sequenciamento, de acordo com Slack (2002), algumas
operações servem ao consumidor na exata seqüência de suas chegadas, na forma Firts
In First Out (Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair - FIFO).
Ainda segundo o autor, a divisão entre planejamento e controle não é clara, nem na
teoria, nem na prática. Todavia, há algumas características gerais que ajudam a
distinguir os dois. Um plano é uma formalização do que se pretende que aconteça em
determinado momento no futuro. Um plano não garante que um evento vá realmente
acontecer, é a declaração de intenção de que aconteça. O controle é o processo de lidar
com as variações, podendo significar que os planos precisem ser redesenhados em curto
prazo.
O planejamento engloba também o controle de estoques. No caso de mudas
florestais, o estoque serve para suprir uma eventual oscilação da demanda, pois apesar
da demanda ser previsível e de uma garantia de retirada das mudas, a existência de um
estoque é importante principalmente em virtude da possibilidade de ocorrência de
algum problema operacional e fisiológico, visto a complexidade do trabalho com
clones.
Complementando, de acordo com Riggs (1981), os métodos quantitativos voltados
ao planejamento devem ser utilizados para subsidiar a tomada de decisão, e não como
soluções prontas para as questões os problemas de produção.

Finalmente, é difícil imaginar uma empresa não fazendo parte de uma rede
produtiva maior. Neste contexto, são válidos os conceitos pertinentes ao Suplly Chain
Managment (ou Gestão Integrada de Cadeia de Suprimentos), que de acordo com Ching
(2001), é todo esforço envolvido nos diferentes processos e atividades empresariais que
criam valor na forma de produtos e serviços para o consumidor final.

Um exemplo de cadeia de suprimentos é fornecido pela figura a seguir:

Informações e Recursos

Produtos e Serviços

Fontes de
Suprimento Fornecedores Empresa Distribuidores Consumidores

Logística de Logística de Logística de


suprimentos produção distribuição

Fig.4: Estrutura de cadeia logística integrada Fonte: Ching (2001, p.91)

Na prática, é uma forma integrada de planejar e controlar o fluxo de mercadorias,


informações e recursos, desde os fornecedores até o cliente final, procurando
administrar as relações na cadeia logística de forma cooperativa e para o benefício de
todos os envolvidos.
Ou seja, cada elo da cadeia deve realizar o seu planejamento de formar coordenada
com os outros elos da cadeia. Ao visualizar o sistema produtivo como um todo, cada elo
poderá, através de mecanismos de controles confiáveis, fazer as correções necessárias
frente às possíveis alterações de fluxo na rede. Desta forma, poderá colaborar de modo
eficaz para que a cadeia possa atingir os seus objetivos.
4. O conceito MRP

4.1 Conceituação inicial

A conceituação foi baseada em Slack (2002), Moreira (2002), Stevenson (2001),


Goodfellow (1996), Gaither (2001), Mark (2001) e Martins & Laugeni (1999).
Os sistemas MRP, como atualmente são conhecidos, foram viabilizados na década de
1960 a partir do desenvolvimento da capacidade de processamento dos computadores.
Inicialmente, foram utilizados como ferramenta de apoio a sistemas de controle de
estoques, para itens de demanda dependente (itens que dependem da demanda de
produtos finais; as partes componentes), e denominados Material Requirement Planning
(Planejamento das Necessidades de Materiais).
A partir da década de 1980 estes sistemas tornaram-se mais abrangentes,
integrando áreas como a financeira e a engenharia das empresas. Assim, além dos
materiais que já eram tratados, passou-se a considerar também outros insumos como
mão-de-obra, equipamentos, espaços disponíveis para estocagem, instalações, etc.
Os softwares com tais capacidades de processamento passaram a ser denominados
Manufacturing Resources Planning (Planejamentos dos Recursos de Manufatura).
Como as iniciais de Manufacturing Resources Planning são as mesmas de Material
Requirement Planning , convencionou-se chamar o primeiro de MRPII e o segundo de
MRPI. Hoje em dia é cada vez maior o número de autores que chamam o MRP II de
ERP (iniciais de Enterprise Resource Planning, ou seja, Planejamento dos Recursos da
Empresa).
Desta forma, ao longo do tempo o conceito MRP desenvolveu-se de um foco na
gestão de operações que auxiliava o e planejamento e o controle das necessidades de
materiais para se tornar, em anos mais recentes, um sistema corporativo que apóia o
planejamento de todas as necessidades de recursos do negócio.
Atualmente, o conceito MRP é extremamente difundido entre os profissionais que
direta ou indiretamente lidam com os processos de produção (principalmente de alto
volume), tanto de tangíveis (bens) quanto de intangíveis (serviços).
4.2 Dinâmica MRP

A familiarização com o sistema montado é primordial para a sua


operacionalização. Conforme Stevenson (2001), os gerentes precisam estar
familiarizados com os principais detalhes dos inputs, dos outputs e do processamento do
MRP.
A partir da data e da quantidade em que um produto final é necessário, obtém-se as
datas e as quantidades em que suas partes componentes (itens de demanda dependente)
são necessárias. Assim, os sistemas MRP podem ser entendidos não só como uma
técnica de controle de estoque, mas também como uma ferramenta de programação da
produção, já que determina quanto deve ser reposto de cada item (adquirido ou
processado) e a data que cada item deve estar disponível.
Os sistemas MRP permitem estes cálculos com base nos pedidos em carteira, assim
como uma previsão para os pedidos que a empresa imagina receber. Na seqüência,
verificam, então, todos os ingredientes ou componentes que são necessários para
completar esses pedidos, garantindo que sejam providenciados a tempo. A dinâmica de
um sistema MRPI pode ser visualizada na figura a seguir:

Fig.5: MRPI Fonte: Martins & Laugeni (1999, p. 223)


Já a dinâmica de um sistema MRPII, mais abrangente, pode ser observada na
figura a seguir:

Fig.6: MRPII Fonte: Martins & Laugeni (1999, p.219)

As entradas e saídas destes sistemas serão detalhadas nos capítulos a seguir.


4.3 Componentes de um sistema MRP

4.3.1 Entradas (Inputs)

A qualidade dos dados utilizados é fator primordial. Conforme Goodfellow (1996),


a implementação do MRP precisa ser desenvolvida sobre alicerces sólidos de dados
muitos acurados. Os inputs básicos estão listados a seguir:

• Projeção da demanda
A partir de uma previsão de vendas inicial é possível elaborar um roteiro de
produção (denominado de Programa / Plano Mestre de Produção) que determina para
cada tipo de produto fabricado pela empresa, a quantidade e o momento em que ele
deverá estar disponível para se atender esta demanda.
• Estoque: partes e componentes
Em resumo, Slack (2002) define estoque como a acumulação armazenada de
recursos materiais em um sistema de transformação. Complementando, afirma que não
importa o que está sendo armazenado, ou onde ele está posicionado na operação; ele
existirá porque existe uma diferença de ritmo (ou de taxa) entre fornecimento e
demanda. Martins & Laueni (1998) mencionam que a informação sobre os níveis de
estoques para cada item é também essencial para operacionalizar um MRP.

• Restrições: equipamentos e instalações


As restrições de equipamentos e instalações em um sistema têm a preocupação de
listar “gargalos” que podem afetar a capacidade de atendimento das necessidades. Slack
(2002, p.344), coloca que “as partes que estão trabalhando em sua capacidade máxima é
que são as restrições de capacidade de toda a operação”.

• Lista de materiais
A lista de materiais dá a base para a continuidade dos cálculos. De acordo com
Martins & Laugeni (1999, p.231), “é a parte mais difícil e trabalhosa do sistema”.
Todos os produtos da linha de fabricação devem ser subdivididos em todos os seus
componentes, subcomponentes e peças.
De acordo com Slack (2002, p.458), “um sistema MRP necessita de arquivo dos
componentes de cada item, assim como um cozinheiro necessita de uma lista de
ingredientes necessários para preparar um prato”.

4.3.2 Saídas (Outputs)

• Atualização de estoques
O sistema, ao processar os dados referentes ao estoques utilizados,
automaticamente permite uma atualização dos estoques disponíveis.
• Ordens de Produção
Chiavenato (1991, p.97), cita que “Ordem de Produção é a comunicação para
produzir que é enviada para a seção produtiva, autorizando-a a executar determinado
volume de produção”.

• Ordens de compras
De forma análoga às ordens de produção, são todas as ordens geradas solicitando
as compras de materiais, listando o que, quando e quanto, para realização da produção e
cumprimento dos prazos.

• Relatórios gerenciais
O sistema permite a geração de relatórios de apoio ao planejamento das operações.
5. Tecnologia de informação e difusão do conhecimento

Segundo Cruz (2003), tecnologia de informação é todo e qualquer dispositivo que


tenha capacidade para tratar e ou processar dados e ou informações, tanto de forma
sistêmica como esporádica, que esteja aplicada no processo.
Em relação a estes dispositivos, Proença (1995), afirma que os computadores
armazenam e tratam as informações, enquanto as redes de comunicação a transportam.
Desta forma, computadores e redes formam a infra-estrutura de integração básica das
organizações modernas.
Yokoyama (2004) apresenta o Inside-out como uma abordagem atual para a
formulação de estratégia; nesta abordagem (cujos principais autores são Hamel &
Prahalad) a vantagem competitiva é determinada a partir do desenvolvimento, no
interior das organizações, de core competencies (competências essenciais, oriundas de
recursos valiosos, escassos, sem substitutos e de difícil imitação existentes em uma
organização). Neste novo contexto, competência pode ser entendida como o
conhecimento valorizado pelo mercado.
Neste sentido, ainda segundo Yokoyama, a gestão do conhecimento tem papel
essencial, sendo que o desenvolvimento e a difusão do conhecimento são etapas
obrigatórias deste processo. Assim, a tecnologia de informação pode ser considerada um
mecanismo deste processo, ao permitir disponibilizar e difundir o conhecimento nas
organizações.
6. Metodologia de pesquisa

De acordo com Gil (1991), podemos classificar esta pesquisa como “pesquisa
exploratória”, que tem como principal objetivo proporcionar maior familiaridade com o
tema.
Em relação aos procedimentos técnicos utilizados, na primeira parte do trabalho
utilizou-se o recurso de levantamento bibliográfico sobre os tópicos apresentados.
A segunda parte do trabalho baseou-se num estudo de caso, que permite uma
análise mais detalhada com base em um único objeto de estudo.
Nesta parte, para a coleta de dados, recorreu-se ao levantamento documental,
entrevistas informais com profissionais que desempenham atividades na empresa
relacionadas com as atividades objeto de estudo.
Nesta segunda parte, este trabalho pode também ser considerado, como uma
“pesquisa-ação”, visto que o executor atuou como participante cooperador e responsável
pelo processo de desenvolvimento de um novo modelo.
Por se tratar de um novo modelo, a pesquisa tem as características de um estudo
experimental, do tipo antes-depois, já que o modelo foi desenvolvido a partir da
constatação de necessidades específicas, simulado e avaliado para ser incorporado à
rotina das organizações.
Pode-se enquadrar o desenvolvimento deste modelo dentro do ciclo PDCA de
Deming (Martins & Laugeni (1998)): planejar (Plan), fazer (Do), verificar (Check) e
agir (Act).
Finalmente, o desenvolvimento do modelo obedeceu ao seguinte roteiro:
• Caracterizar o processo produtivo de mudas;
• Verificar com usuários as dificuldades e necessidades;
• Após consulta aos usuários, analisar as necessidades específicas de um
planejamento e controle de unidades produtivas de mudas florestais;
• Formalizar lista de materiais em forma de planilhas.
• Formalizar cronograma da seqüência de etapas produtivas (cronograma de
montagem MRP) em forma de planilhas;
• Formalizar sistema MRP piloto;
• Simular funcionamento / analisar funcionalidade / promover melhorias do
sistema em desenvolvimento;
• Buscar tornar “amigável” a interface do sistema com o usuário;
• Apresentar modelo final.
Parte II

ESTUDO DE CASO

MODELAGEM DO SISTEMA
7. Estudo de caso

7.1 Apresentação da organização

• Angicos Comércio de Mudas Florestais e Ornamentais


A Angicos Comércio de Mudas Florestais e Ornamentais, empresa fundada há 5
anos na cidade de Borebi, estado de São Paulo, com capacidade instalada de 40 milhões
de mudas clonais de eucalipto por ano, com aproximadamente 170 funcionários,
entregando mudas em quase todos os estados brasileiros.
A apresentação da empresa encontra-se no anexo 1.

• Consultoria e Assessoria Florestal


Serviços de consultoria e assessoria florestal, na área de produção, planejamento e
manejo de viveiros florestais, com gestão de um total de aproximadamente 120 milhões
de mudas por ano.

O estudo de caso foi realizado no viveiro florestal Angicos e de três outras


Empresas que recebem assessoria, totalizando quatro Empresas no estudo de caso desse
sistema de gestão.

7.2 Sistema produtivo de mudas florestais

A produção de mudas florestais pode ser inserida, de acordo com Araújo (2003),
no Sistema Agroindustrial Não Alimentar, com algumas especificidades que a
diferencia da produção de outros bens manufaturados, algumas delas condizentes com
aquelas citadas anteriormente pelo autor:
• Perecibilidade das mudas;
• Problemas fisiológicos durante o processo de produção que podem afetar
o volume de produção;
• Oscilações no volume de produção como conseqüência da sazonalidade
da demanda;
É uma atividade classificada também, como “dentro da porteira (produção
agropecuária propriamente dita)”, atuando ao mesmo tempo como cliente e fornecedor
na cadeia produtiva florestal.
De uma maneira geral, a produção de mudas florestais ocorre em grande escala (ou
seja, em massa), mas na forma de grandes lotes. Além disto, o fluxo produtivo
assemelha-se muito a um fluxo contínuo. Desta forma, e com base nas classificações
apresentadas por Slack (1999) e Moreira (2002), podemos classificá-la como um
processo de produção do tipo contínuo.
Esta classificação respeita as definições apresentadas por Slack (1999), que cita os
processos contínuos como situados a um passo além dos processos de produção em
massa. Isto pelo fato de operarem em volumes ainda maiores e em geral terem
variedade ainda mais baixa. Assim, em relação ao componente mix, a produção de
mudas resulta em produtos padronizados.
O processo produtivo de mudas pode ser visualizado na figura 7 e no Anexo 1.
O objetivo de desempenho confiabilidade é crítico na produção de mudas,
principalmente porque o cliente que adquire as mudas possui um curto espaço de tempo
para plantá-las no campo, além de sofrer também, interferência das condições climáticas
locais (radiação solar, precipitações, temperatura, ventos, etc.).
Fig.7: Produção de mudas florestais

Finalmente, as especificidades da produção de mudas e de atividades relacionadas


a ela, que são muito minuciosas, devem ser consideradas na elaboração do planejamento
desta produção, principalmente por ser tratar de mudas clonais.
Exemplo disto é fornecido por Gonçalves (2000), que menciona ser o processo da
micro-estaquia, na sua primeira etapa, dependente da existência de laboratórios de
cultura de tecidos, para alcançar um grau de rejuvenescimento rápido e desejável às
plantas, o que encarece a produção de mudas
Na figura 8 podemos observar como exemplo, um modelo da cadeia de suprimento
para a área florestal, onde fica evidenciada a posição do Viveiro Florestal, e a sua
importância na produção de mudas para suprir os elos subseqüentes nessa cadeia
produtiva.
Celulose

Papel de
Imprimir e
Escrever

Indústria Papel
Insumos: Revestido
Fertilizantes, Viveiro
Silvicultura
Defensivos, Florestal
Fornecedores Formação de Distribuidores Consumidores
Substratos, Produção de
Florestas
explantes de Mudas
clones, etc.

Produtos de Madeira
Madeira Serrada

Cavacos

Toras

Fig. 8. Cadeia de Suprimentos da área florestal.


37

7.3 Planejamento da produção de mudas florestais

O planejamento é importante devido a complexidade, escala e custo envolvidos


neste tipo de atividade.
Exemplo disto é a demanda, que possui flutuações acentuadas, pois a área que vai
ser plantada muitas vezes depende da retirada da madeira, aliadas às épocas chuvosas,
para facilitar a sobrevivência das mesmas. Apesar de que atualmente, a silvicultura do
eucalipto tem evoluído para o plantio durante todo o ano e inclusive a noite.
Estas flutuações acabam por interferir no volume de mudas a serem produzidas,
interferindo diretamente na quantidade necessária de mão-de-obra, no volume de
insumos, e na capacidade física da área necessária para o viveiro.
No caso de mudas florestais, o planejamento é do tipo make-to-order (fazer-contra-
pedido), conforme conceituado por Marinho (2001) e exemplificado por Slack (2002).
Utiliza também outro conceito importante apresentado por Slack (2002): é um
sistema de produção puxado, ou seja, quem solicita é o cliente, que em muitos casos vai
precisar retirar o lote que está pronto (puxar) para poder solicitar outro.
O sequenciamento definido para as ordens de produção é de acordo com a data
prevista solicitada para a expedição, ou seja, necessariamente precisa sair um lote para
entrar outro; desta forma, utiliza-se o critério de First In First Out (FIFO), primeiro a
entrar, primeiro a sair.
A movimentação de estoque é feita de acordo com PEPS – primeiro que entra,
primeiro que sai – em virtude do produto ser mudas, considerado perecível.
38

7.4 O fator conhecimento nas organizações

As empresas possuem várias alternativas para difundir o conhecimento, como


Banco de Relatórios, Acervo Técnico, SAP, Funcionários, Internet, Sistemas de
Informações Geográficas e Sistemas Florestais.
O Sistema de Gestão da produção de mudas é mais uma ferramenta para a área
florestal, vindo agregar nessa rede, fornecendo conhecimento e fazendo parte desse
sistema de informação
39

8. Modelagem do sistema

O objetivo básico para o desenvolvimento deste sistema foi subsidiar de forma


adequada a atividade de planejamento da produção, aumentar a confiabilidade da função
produção e, como conseqüência, reduzir os riscos de não atendimento da demanda, além
de estar difundindo o conhecimento, dada a complexidade do processo produtivo de
mudas florestais, como já comentado anteriormente.
Esse trabalho vem para somar ao sistema de informação e a gestão de
conhecimento das Empresas.

• A escolha da utilização da conceituação MRP


Um conceito importante do MRP é a criação de um banco de dados. Outro, é a
criação de um sistema de integração entre os diversos setores de uma empresa. Foram
estes os fatores que determinaram a utilização deste modelo como referência para o
desenvolvimento de um sistema de apoio ao planejamento da produção de mudas
florestais.
O sistema desenvolvido tomou por base os conceitos do MRP I, planejando as
necessidades de materiais (o quê, quando e quanto, para a produção de mudas
florestais), complementada por alguns conceitos do MRP II, levando em consideração a
utilização de alguns recursos considerados importantes para o caso (porém, sem
nenhuma implicação na área financeira, porém mostrando a previsão de faturamento).
Como ressalvas, o sistema desenvolvido não controla estoques, visto que as
empresas possuem softwares específicos para isso. O controle operacional das
operações de produção também não está contemplado nesse trabalho, sendo uma meta
para uma etapa posterior (embora, como coloca Slack (2002), a divisão entre
planejamento e controle não é clara, nem na teoria, nem na prática). O que está
contemplado nesse trabalho é a atualização mensal do estoque de mudas produzidas,
que passa a fazer parte do novo contexto de planejamento.
40

• Levantamentos das planilhas e necessidades


Usualmente, no planejamento da produção, são utilizadas planilhas no formato
Excel, de forma simples e sem vínculos entre os dados.
O Excel é utilizado apenas como uma ferramenta de cálculo, não se explorando o
recurso de deixar montadas às fórmulas, o que facilitaria a existência de um roteiro, ou
seja, uma memória de cálculo, de tal forma que toda vez que fosse digitado um dado,
automaticamente seria apresentada uma resposta. Atualmente, toda vez que as planilhas
são utilizadas necessita-se refazer a memória de cálculo.
Em se tratando de vínculos entre planilhas, a carência é ainda maior; o que existe é
um banco de dados fragmentado, composto de diversas planilhas isoladas.
Estes fatos impedem a obtenção de dados precisos e com a devida rapidez, além
disso, impossibilitam o aproveitamento de conhecimentos e experiências individuais.

• Integração de todas as planilhas de forma didática e objetiva


A utilização da plataforma Excel foi mantida, visto ser uma ferramenta simples
(conhecido pela maioria dos usuários de computadores possui e que pode ser utilizado
em quase todas as marcas e modelos), existindo ainda, mecanismos que permitem a
vinculação de planilhas neste formato. Desta forma, podem-se integrar planilhas
julgadas mais importantes (e, portanto, dados mais importantes).

• Flexibilidade com os dados


Para a entrada dos dados, houve uma preocupação com a flexibilidade de ser
possível alterá-los de acordo com a necessidade.
Foi necessário deixar o prazo para a produção de mudas fixo, visto que o Excel é
uma ferramenta que não permite que trabalhem com variações nesse prazo. O prazo ou
período de tempo, definido para a produção de mudas é de três meses para as mudas
clonais.

• Realização do acabamento da planilha


A memória de cálculo embutida nas planilhas deve ser visualizada pelo usuário do
planejamento, porém, não necessariamente passíveis de alteração, o que poderia alterar
e condenar todo o resultado. Por esse motivo, pode-se utilizar o recurso de senha para
41

alterações nas células que possuem fórmulas e vínculos e, ocultar as que não precisam
ser visualizadas.
A navegação entre as planilhas pode ser realizada por intermédio de botões com
macros associadas, sendo resumidos todos em um “portal”, facilitando assim a
visualização da amplitude do trabalho em uma só página, que passaria a oferecer todas
as alternativas possíveis dos acessos e dos relatórios, o que permite também uma maior
velocidade desta navegação.

• Simulações das planilhas com dados


Para conferir se o trabalho é confiável e para a validação é necessário a simulação
com dados fictícios, o que permite acompanhar o processo do cálculo e os resultados
obtidos para se avaliar a correção e coerência com os valores esperados. Para tanto, essa
simulação necessita ser executada por profissional com intimidade com o manejo de
planilha eletrônica e que também tenha base prática do assunto que está sendo estudado,
evitando dessa forma resultados não desejáveis e/ou que não respondam aos objetivos
esperados no trabalho.
42

PARTE III

APRESENTAÇÃO DO SISTEMA
43

9. Apresentação do Sistema

O Sistema projetado realiza a gestão de produção e entrega de mudas clonais de


eucalipto.
Na figura 10 abaixo, podemos observar a aparência do portal considerando as entradas
(inputs) e as saídas (outputs).

Figura 10: Portal inputs e outputs


44

10. Detalhamento do funcionamento do sistema

10.1 Portal

O sistema compreende arquivos projetados e instalados no Excel.


Para facilitar a navegação entre eles foi criado um portal, conforme figura 11,
considerado como o principal, o qual faz intercâmbio através de macros, com todos os
demais arquivos.
O portal, além de criar esse vínculo entre os arquivos, permite expor de forma
didática o planejamento da produção e entrega de mudas.

Figura 11: Portal para navegação


45

10.2 Sistema de Gestão utilizando conceitos MRP

O sistema de planejamento está composto por Entradas (inputs), processamento


dessas informações – sistema MRP e Saídas (outputs), que automaticamente gera os
dados prontos.

No caso da produção de mudas, o tempo foi pré-definido de três meses para a


produção de mudas clonais.

• Entradas (Inputs)

Do lado esquerdo estão todas as pastas de entradas (inputs), de acordo com a figura
13.

Figura 13: Entradas (inputs)


46

Dentro de cada pasta de Entradas, é possível inserir dados, de acordo com o planejamento que está sendo realizado, conforme figura 14.

Figura 14: Exemplo da pasta de Entradas


47
De acordo com as setas vermelhas pode ser observada a memória de cálculo,
conforme figura 15.
O Clone 1, na condição de Jardim Clonal 1 possui 81,6 mil cepas (matrizes) com
produção de 7,55 me/mc/mês (microestacas/microcepa/mês) com projeção de produção
de 616 mil me (mil microestacas – mudas ainda não enraizadas). O mesmo raciocínio
para a condição 2 porém com 38,040 mil matrizes. Somando as 2 condições temos 120
mil cepas, com projeção de produção de 654 mil microestacas com % de AF
(aproveitamento final) estimado em 80%, onde se tem uma projeção de produção de 523
mil mudas já enraizadas. Como o ciclo de produção de mudas é de 3 meses, a mudas de
dezembro de 2009 serão expedição em março de 2010.
Na segunda parte temos as Adições no Estoque de mudas, onde a adição foi
projetada no estoque de março de 2010 de acordo com o raciocínio já explicado
anteriormente. Na próxima linha tem o estoque saldo mês anterior mais o estoque
projetado onde vai acumular o saldo mensal com o estoque. Temos também a linha de
Estoque Real, onde mesmo após o planejamento executado, pode ser feito atualização
mensal conforme produção real. E por último a linha saldo de estoque.
Na terceira parte temos os compromissos com os clientes, onde é lançado o cliente,
com o devido tipo de negociação, incluindo preço de mudas, e o volume de mudas de
acordo com cada mês do cronograma. No final dessa listagem temos o total de
expedição, bem como o saldo do estoque geral. Esse saldo do estoque (no caso 23 mil
mudas) é que sobe para o saldo do próximo mês, gerando dessa forma uma vinculação
do estoque versus produções mensais versus expedições mensais.
48

Figura 15: Memória de Cálculo


49

Na célula laranja, podemos observar o valor 1.416 mil mudas que é o saldo de acordo com o raciocínio apresentado até o momento.
Figura 16.
A seguir será apresentada uma simulação de um lançamento de estoque real, deixando de ser uma projeção, mas sim um resultado
operacional já ocorrido.

Figura 16: Exemplo da Visualização Estoque somente com as previsões


50

Na célula laranja, podemos observar agora em vez de o valor 1.416 mil mudas que era o saldo projetado, mas sim o falor de 600 mil
mudas que é o valor lançado na célula anterior como estoque real. Desse ponto em diante, a memória de cálculo vai assumir o valor 600 mil
mudas, desconsiderando o valor 1.416 mil mudas previamente apresentadas. Figura 17.
Importante ressaltar que esse planejamento é realizado por três anos, neste de 2010, 2011 e 2012.

Figura 17: Exemplo da Visualização Estoque Real


51

Saídas (Outputs)

Do lado direito estão todas as pastas de Saídas (outputs), de acordo com a figura 18

Figura 18: Saídas (Outputs)


52

Resultado da composição do volume de matrizes (microcepas), de acordo com a


figura 19.

Figura 19: Saídas – volume de matrizes (microcepas)

Resultado da composição da capacidade de produção de microestacas, de acordo


com a figura 20.

Figura 20: Saídas – capacidade de produção de microestacas

Resultado da composição da capacidade de Expedição de Mudas, de acordo com a


figura 21.

Figura 21: Saídas – capacidade de expedição de mudas


53

Resultado da composição de Expedição de Mudas por clone e mensal, de acordo


com a figura 22.

Figura 22: Saídas – capacidade de expedição de mudas em mil mudas

Resultado da composição de Expedição de Mudas, mensal e por clone, de acordo


com a figura 23.

Figura 23: Saídas – capacidade de expedição de mudas em reais


54

Resultado da composição de Vendas em reais por ano e por clone, de acordo com a
figura 24.

Figura 24: Saídas – composição de vendas em reais por ano e por clone

Resultado da composição de Vendas Realizadas e Estoque Saldo Disponível por


ano, conforme figura 25.

Figura 25: Saídas – composição de vendas realizadas e estoque saldo disponível


por ano.
55

Resultado da composição do Saldo de Estoque por clone por mês e por ano,
conforme figura 26. Essa tela sem dúvida é uma das ferramentas mais importantes na
gestão do viveiro, na tomada de decisões rápidas e mudanças de programação, bem
como para procurar equalizar e atender bem a todos os clientes da melhor forma
possível. Quando o saldo é negativo o número apresenta-se em vermelho.

Figura 26: Saídas – composição saldo de estoque

Resultado da composição dos compromissos de entrega de mudas por cliente por


clone e por mês, conforme figura 27.

Figura 26: Saídas – composição dos compromissos de entrega de mudas por cliente
56

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Visualizando todo o sistema produtivo, levando em consideração cada elo, cada


processo e memória de cálculo, preocupando-se com a cadeia de suprimentos - “Suplly
Chain Management” e com mecanismos eletrônicos confiáveis, cada alteração no fluxo
da rede, pode ser absorvida de forma e no momento adequado, permitindo as correções
necessárias. Desta forma, este conjunto contribui para que a cadeia atinja eficazmente
seus objetivos, além de formar um banco de dados, cujos dados não estão de posse de
uma só pessoa e que, portanto fornecerão a “transmissão de conhecimento”.
A importância de se utilizar o conceito do MRP - Material Requirements Planning
- Planejamento das Necessidades de Materiais – é porque podemos perceber que o
planejamento avalia a necessidades para poder gerar o resultado com as possibilidades
de compromissos de entregas de mudas, possibilitando o cumprimento de prazos, e
conseqüentemente refletindo na agilidade e assertividade das decisões operacionais.
O sistema de gestão para a produção e entrega de mudas florestais, traz a
confiabilidade para os clientes.
Este conceito foi operacionalizado de forma simples, com a utilização de recursos
como as planilhas eletrônicas do tipo Excel.
Esse sistema atende principalmente a necessidade de gestão de produção de mudas
para fins comerciais.
57

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Anexo 1
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