384-Texto Completo-699-1-10-20200703
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e a interpretação do sagrado
Resumo:
O artigo ora apresentado busca elucidar questões relacionadas à complexidade
concernente a definição de Religiosidade Popular, por suscitar tal definição, ampla
discussão que envolve a delimitação entre a religiosidade popular e cultura dada
à proximidade entre ambas. Aborda ainda, a forma como a religiosidade popular
propaga-se atendendo a especificidade de cada região, cada país, cada cultura. Tal
abordagem é argumentada a partir da relação entre magia e religião estabelecidas
por Durkheim e Weber. Discorre ainda, sobre a natureza da religiosidade popular
e sua legitimidade a partir do poder simbólico que permeia o comportamento da
sociedade mediante a interpretação do sagrado em consonância com os elementos
culturais de um determinado povo.
Abstract:
The article now presented search elucidate the complex issues surrounding the
definition of Religiosities People, for raising such a definition, broad discussion
concerning demarcation between religion and popular culture given the proximity
between. It still, the way the popular religiosity spreads itself given the specificity
of each region, each country, each culture. This approach is reasoned from the
relationship between magic and religion established by Durkheim and Weber.
Discorre yet on the nature of popular religiosity and its legitimacy from the
symbolic power that permeates the behavior of society through the interpretation
of the sacred in line with the cultural elements of a particular people.
Introdução
pela “mentalidade do povo”. Também não é produto artístico elaborado pelas camadas
populares, mas um projeto político que utiliza a cultura como elemento de sua realização.
O pragmatismo da religiosidade popular, ao utilizar-se dos fatores mágicos, justifica o
poder da divindade que, ao ser invocado em troca de promessas para realização dos
seus pedidos, estabelece um vinculo político, cujo resultado da invocação deve ser atrelado
ao permanente cumprimento da devoção, revelando sobre esse aspecto as trocas
simbólicas (ORTIZ, 1980, p. 72), a exemplo das penitências, das orações escritas, relíquias,
oferendas, velas ou mesmo as esculturas. Nas trocas simbólicas, os objetos são utilizados
para justificar a relação entre o devoto e a divindade. Tais manifestações, para além do
arcabouço cultural, tornam a relação com o sobrenatural mais humanizada.
A agregação dos valores culturais feitas ao sagrado coloca-se em oposição ao
catolicismo formal, na medida em que estas manifestações culturais, legitimadas na
religiosidade popular, acessível e mais humanizada dispensam a figura do sacerdote
como mediador entre o povo e Deus.
A religião é resultante das expressões ideológicas geradora da cultura. Assim,
a religião define uma parte desta experiência através dos deuses que ela cria; reveste-os
com seus atributos peculiares de comportamento e dá aos indivíduos as linhas mestras
de seu comportamento diante da presença e das exigências dos seres espirituais com os
quais devem entrar em contato. Através do ritual e do mito, a religião dá expressão
simbólica que, sutilmente e de maneira total, obriga os participantes e observadores da
sociedade, com um compromisso emocional e intelectual com o sistema de crença
organizado sobre o qual se fundamente a vida deles (FROST, 1976, p. 351).
[...] os santos, cada um com sua “especialidade”, serão os companheiros de jornada nesta
vida, auxiliando ou impedindo projetos e sendo por conseqüência “recompensados”
pelos fiéis com festas, romarias, pagamentos de promessas e procissões, ou então
“punidos”, seja com blasfêmias, seja com “castigos” impetrados nas imagens CÂMARA
NETO, 2007, p. 2).
É possível distinguir a “magia” como coação mágica, daquelas formas de relações com os
poderes supra-sensíveis que se manifestam como “religião” e “culto” em suplicas, sacrifícios
e veneração e, em conformidade com isso, designar como “deuses” aqueles seres
religiosamente venerados e invocados, e como “demônios” aqueles forçados e conjurados
por magia. A distinção quase nunca pode ser feita em profundidade, pois mesmo o
ritual do culto “religioso”, neste sentido, contém quase por toda parte grande número de
componentes mágicos (WEBER, 1994) .
Não existe igreja mágica. Entre o mago e os indivíduos que o consultam, como entre
esses próprios indivíduos, não existem laços duradouros que façam deles membros de
um mesmo corpo moral, comparável ao formado pelos fiéis de um mesmo deus, pelos
praticamente de um mesmo culto. O mago tem clientela, não igreja, e seus clientes
podem muito bem não ter entre si nenhuma relação, ao ponto de ignorarem uns aos
outros (DURKEIM, 1989, p. 76).
Ainda que para Weber e Durkheim a magia se apresente como algo distinto
da religião, devido ao caráter de comunidade da igreja e do clientelismo da magia, por
certo tal analogia não se aplica à religiosidade popular, pois está hibridizada de múltiplos
elementos culturais, constituindo-se num sistema de representações que auxilia na
organização da sociedade a partir da própria organização do homem em torno da sua
crença, de tal forma que não há distinção entre o mágico e o religioso.
Revista Mosaicum, n. 6 - Ago./Dez. 2007 - 71
Jessyluce Cardoso Reis
As noções sobre religião e magia são de que ambos são conceitos baseados
na maneira como o indivíduo se comporta em relação às forças sobrenaturais em que
acredita, constituindo em duas formas da objetivação externa das crenças (FROST,
1976). Tanto a oração como a magia são técnicas básicas do relacionamento com o
sobrenatural. A primeira é o meio de procurar o relacionamento espiritual com base na
subordinação aos seres animistas e a segunda trata-se de uma técnica de conseguir o
controle externo sobre os poderes sobrenaturais, animistas e manaístas. Entretanto, a
religião obedece aos limites impostos pela imaginação e pelo sistema físico humano.
No caso da religiosidade popular, é prudente afirmar que não existe uma
padronização para a religiosidade pelo fato de ela sofrer influências socioculturais de
acordo com a especificidade de cada região. Neste caso, há uma variação de fervor e
devoção. Por conseguinte, a religiosidade popular se apresenta como uma manifestação
regional.
Ao analisar a gênese e estrutura do campo religioso é preciso ter em vista que
Em suma, ninguém pode lucrar com o jogo, nem mesmo os que o dominam sem
envolver no jogo, sem se deixar levar por ele. Isto significa isto que não haveria jogo sem
a crença no jogo e sem asa vontades, as intenções, as aspirações que dão vida aos agentes
e que, sendo produzidos pelo jogo, dependem da sua posição no jogo e, mais exatamente,
do seu poder sobre os títulos objetivados do capital específico – precisamente aquilo que
o rei controla e manipula jogando com a margem que o jogo lhe deixa (BORDIEU,
2005, p. 86).
Conclusão
Notas
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