Filosofia - Resumos - David Hume
Filosofia - Resumos - David Hume
Filosofia - Resumos - David Hume
Críticas a Descartes
• O racionalismo cartesiano é exclusivista pois a única fonte de conhecimento é a
priori.
Descartes afirma que uma mente vazia de conteúdos da experiência poderá ser o
ponto de partida para o conhecimento significativo.
No entanto, os céticos defendem que isso não é possível.
As afirmações verdadeiras sobre questões de facto poderiam ter sido falsas, ao passo
que as afirmações verdadeiras sobre relações de ideias não poderiam ter sido falsas.
• Ao que é verdadeiro, mas poderia ter sido falso damos o nome de verdade
contingente.
• Ao que é verdadeiro, mas não poderia ter sido falso damos o nome de verdade
necessária.
Por exemplo: é uma verdade contingente que um pedaço de metal dilatou ao ser
aquecido, pois poderia ter sido de outro modo se o mundo fosse diferente; mas é uma
verdade necessária que um triangulo tem três lados, seja como o mundo for, pois é
impossível que um triangulo tenha outro número de lados.
A priori e a posteriori
Mas será que podemos conhecer apenas pelo pensamento (a priori) verdades
contingentes? Se são contingentes, poderiam não ser verdades. As verdades
contingentes só podem ser conhecidas recorrendo à experiência (a posteriori).
Hume dá o exemplo das verdades matemáticas. Estas são sobre relações de ideias
podendo ser demonstradas apenas pelo raciocínio dedutivo. Já o raciocínio usado nas
questões de facto é diferente, tratando-se do raciocínio indutivo: observamos pegadas
no chão e inferimos que passou por ali alguma pessoa.
Hume quer mostrar que o conhecimento a priori, apesar de certo, não é acerca do
mundo. Hume reconhece que há conhecimento a priori, mas acrescenta que este
conhecimento não é substancial, ou seja, não nos diz nada sobre o que existe fora do
pensamento nem como são as coisas no mundo. Isso é algo que só podemos saber a
posteriori. Daí que todo o conhecimento substancial (acerca do mundo) encontre nos
sentidos a sua única fonte de justificação.
Causalidade
Por exemplo:
Conjunção constante
Hume defende que quando observamos uma conjunção constante entre dois tipos de
acontecimentos temos tendência para concluir que há uma relação de causalidade entre
eles.
Mas o que nos garante que a conjunção constante observada no passado entre certos
acontecimentos ou objetos se venha a verificar também no futuro? O que garante que,
além de uma conjunção constante realmente observada por nós há uma causalidade
entre os acontecimentos, coisa que nunca observamos efetivamente?
A resposta tradicional (anterior a Hume) é a de que há uma conexão necessária entre
causa e efeito. Uma conexão necessária é algo mais do que uma conjunção constante.
Afirmar que há uma conexão necessária entre causa e efeito é supor que um
acontecimento produz outro; não é apenas uma questão de verificar que sempre que
ocorreu um, ocorreu também o outro.
Hume levanta, então, uma questão: como podemos saber que há uma conexão
necessária entre causa e efeito? Como vimos, Hume considera que os sentidos não
permitem ver nos objetos as causas que os produziram nem os efeitos que deles
resultam. E considera que, pela razão, também não podemos ter qualquer
conhecimento de causas e efeitos. Onde fomos, então, buscar essa ideia?
Hábito
A resposta que Hume encontra à sua própria pergunta é a seguinte: ao observarmos
repetidamente uma conjunção constante entre certos acontecimentos ou objetos,
gera-se em nós a expectativa de que o mesmo ocorra no futuro. Assim, a nossa crença
de que há uma conexão necessária entre acontecimentos decorre simplesmente do
hábito que é uma espécie de sentimento ou tendência psicológica. É o hábito que leva
a nossa mente a projetar no mundo a ideia de conexão necessária entre
acontecimentos. Esta conexão não existe na realidade, apenas existe na nossa mente.
Portanto, a causalidade não passa de algo que existe apenas na nossa mente e não
algo que possa ser observado no mundo.
O ceticismo de Hume
A conclusão anterior parece uma cedência ao ceticismo. Hume admite que a noção de
causalidade é fundamental para o conhecimento dos fenómenos do mundo. As ciências
empíricas, como a física ou a biologia, dependem do raciocínio causal: inferimos causas
e prevemos efeitos.
Contudo, a causalidade não pode ser diretamente observada nem pode ser inferida com
base apenas na razão. Tudo o que podemos dizer é que temos uma predisposição para
projetar relações causais no mundo – mas não podemos realmente saber se tais
relações existem.
Logo, Hume pensa que o cético tem razão, pelo menos em parte: muito do que
pensamos saber é uma ilusão.
O problema da indução
Sempre que vemos nascer o Sol confirmamos a previsão de que o Sol vai nascer amanhã.
O tipo de raciocínio aqui usado é a indução. Baseamo-nos em muitas observações
anteriores para inferirmos que o mesmo que ocorreu no passado ocorrerá também no
futuro. Confiar na ideia de que o Sol vai nascer amanhã é confiar no raciocínio indutivo.
Mas como podemos estar seguros disso? Que razões temos para pensar que o futuro
será como o passado, como é exigido pela indução? Hume considera que só podemos
confiar na indução se partirmos do princípio de que a natureza é uniforme e regular,
funcionando sempre da mesma maneira, sem surpresas. Portanto, a indução só é fiável
porque partimos do princípio da uniformidade da natureza.
• O princípio da uniformidade da natureza é o pressuposto de que a natureza é
uniforme e regular, comportando-se sempre da mesma maneira.
Mas onde fomos nós buscar tal princípio? Que justificação temos para acreditarmos que
a natureza é uniforme e, portanto, que a indução é fiável?
Segundo Hume, a resposta só pode ser uma: justificamos a nossa crença de que a
natureza é uniforme com base no que temos observado até aqui. Vimos acontecer as
mesmas coisas repetidamente e concluímos que a natureza é sempre regular e
uniforme. Mas isto é mais uma vez raciocinar indutivamente. Estamos a justificar a nossa
confiança na indução com base num princípio estabelecido indutivamente. Ora,
justificar a nossa confiança num tipo de raciocínio com base num raciocínio do mesmo
tipo é andar aos círculos e deixar tudo como estava no início. Sendo circular, a
justificação nada justifica. Isto leva Hume a concluir que todas as afirmações baseadas
no raciocínio indutivo são injustificadas. Logo, quase toas as afirmações das ciências
empíricas são injustificadas.
Como vimos, Hume defende que na nossa mente apenas temos perceções, sendo elas
a origem do nosso conhecimento do mundo. Porém, não podemos confundir a perceção
de um objeto com esse objeto. Por exemplo, as nossas perceções de uma árvore são
diferentes consoante nos aproximamos ou afastamos dela, mas não acreditamos que a
própria árvore mude de tamanho à medida que nos aproximamos ou afastamos dela.
Isto mostra que a perceção da árvore e a própria árvore não são a mesma coisa.