Cabala - Roland Goetschel
Cabala - Roland Goetschel
Cabala - Roland Goetschel
A NATUREZA DA CABALA
1. O termo “cabala”, do hebraico Qabbalah, é geralmente utilizado
para definir a mística judaica e as tradições esotéricas do judaísmo.
Entretanto, é conveniente esclarecer-se que, na linguagem
talmúdica, Qabbalah significa simplesmente “tradição”, e designa os
textos proféticos e hagiográficos da Bíblia sem nenhuma conotação
mística ou esotérica (Cf. b. Ta’anit, 17b, e Hagigah, 12b).
O termo só começa a ter um sentido esotérico na Idade Média,
especialmente na escola de Isaac l’Aveugle no século XII na
Provença, onde ele define o campo da mística teosófica que resulta
da seguinte definição formulada por Meir Salomon Ibn Sahula
(1330):
A glória divina estava instalada, suas vestes mais fulgurantes que o sol e mais
brancas que a neve. (En. XIV, 21)
Caí com o rosto no solo, e todo meu corpo e meu espírito foram transformados, e
gritei com voz forte, espírito potente, e louvava, bendizia e exaltava, e as bênçãos
que saíam de minha boca pareciam aprovadas pelo Ancião dos Dias. (En. LXXI, 11-
14)
Pode-se notar que é Enoc quem entoa esse hino e não os anjos,
como em geral acontece. No Apocalipse de Abraão, é o anjo Yaoel
que intima Abraão a cantar um hino sem parar, provavelmente
durante o tempo de sua ascensão.2
Nosso exame da apocalíptica forneceu-nos três elementos que
reaparecerão mais tarde na literatura da Merkabah:
– o motivo da viagem celeste do visionário e de sua
transfiguração;
– a visão do trono divino;
– o tema dos hinos proferidos ante o espetáculo do trono divino,
ora pela corte celeste, ora pelo próprio visionário.
II. O testemunho de Qumran
A descoberta dos manuscritos do Mar Morto permitiram um
progresso considerável em nosso conhecimento do judaísmo da
época helenística, especialmente no que tange à história da mística
judaica. Ainda que os pergaminhos de Qumran não sejam
documentos místicos e que não se descubra neles experiência
desse gênero, eles nos fornecem dados importantes para o
conhecimento do meio em que se elabora aos poucos esse
esoterismo.
É preciso notar em primeiro lugar a presença de numerosos
textos apocalípticos em Qumran, tais como o Livro dos jubileus em
hebraico, o Testamento de Levi, os fragmentos de Enoc em
aramaico e também os textos até então desconhecidos, como uma
Visão de Amram e um Livro dos mistérios. Portanto, não se pode
duvidar que os membros da seita alimentavam-se de literatura
apocalíptica.
Outro elemento importante que Qumran nos fornece diz respeito a
uma liturgia angélica descoberta na gruta IV, que J. Strugnell
publicou sob o título de “The Angelic Liturgy at Qumran-4 Q Serek
Sirot ‘Olat Hasabat”.3
O primeiro fragmento fala dos sete príncipes-em-chefe, isto é, os
arcontes celestes aqui denominados Nesi’ey Rosh. Constata-se que
o número sete tem nesse fragmento uma grande importância: há
sete príncipes-em-chefe, sete príncipes de segunda linha, Deus é
abençoado por sete expressões de louvor etc.
O segundo fragmento dessa liturgia angélica tem uma importância
maior ainda. De fato, trata-se da descrição de uma liturgia angélica
desenrolando-se no Templo celeste. Nela vemos os querubins
abençoarem “a imagem do trono do carro”, e o trecho interior é uma
descrição desse trono divino. Os espíritos angélicos se movem com
a multidão dos carros da Glória enquanto entoam louvores e
bênçãos. O conjunto do vocabulário e do estilo dessa passagem
tem muito em comum com o da literatura dos Heykhalot, o que levou
G. Scholem a escrever a respeito:
Esses fragmentos eliminam toda dúvida quanto às relações entre os mais antigos
textos da Merkabah conservados em Qumran e o desenvolvimento posterior do
misticismo da Merkabah tal como é preservado nos textos dos Heykhalot.4
Não se explica o capítulo dos incestos diante de três pessoas, nem a obra do
começo (Gen. 1) diante de duas, nem o capítulo do carro (Ez. 1) diante de uma só, a
não ser que ela seja sábia e entenda por si mesma. Qualquer um que investigue
essas quatro coisas – o que está em cima, o que está em baixo, o que está na frente,
o que está atrás – seria melhor não ter vindo ao mundo. Seria melhor não ter vindo
ao mundo quem não tem consideração com a Glória de seu “Criador”. (Hagigah, II, 1)
Simon Ben Zoma já estava errado. O rabino Josué passou e o saudou duas vezes
mas Simon não respondeu à sua saudação. O rabino perguntou: “O que há, Ben
Zoma, de onde te trouxeram teus pés?” E Simon respondeu: “Eu meditava.” O rabino
Josué exclamou: “Tomo os céus e a terra em testemunho que não me mexerei daqui
até que tenhas me dito de onde vens.” O outro respondeu: “Eu contemplava Ma‘aseh
Bereshit.” E não havia mais do que dois ou três dedos entre as águas superiores e
inferiores. Não está escrito O espírito de Deus soprava e sim “O espírito de Deus
planava” (Gen. I, 2) como um pássaro planando com suas asas que roçam o ninho.
O rabino Josué voltou-se para seus alunos e disse: “Ben Zoma se foi.” Pouco tempo
depois, “Ben Zoma morreu”. (Gênesis Rabbah, II, 4).
Ezequiel teve uma visão e descobriu as diferentes ordens do carro. (Ben Sira, XLIX,
8)
R. Yehuda ensina: “Aquele que jamais viu as luminárias não recita o Sema”. Ao que
lhe objetaram: “Muitos comentam a Merkabah e jamais a viram em sua vida”.
(Tosephta Megillah, III, 17)
Quatro entraram no Pardes [pomar]: Ben Azzaï, Ben Zoma, Aher e r. Aqiba. Um
contemplou e morreu. O outro viu e padeceu com o que viu. Outro contemplou e
devastou as plantações. E houve um que se elevou em paz e desceu em paz. Ben
Azzaï contemplou e morreu, e é a respeito dele que se diz (Ps. CXVI, 15): Preciosa é
a morte de seus fiéis aos olhos do Senhor. Ben Zoma viu e padeceu com o que viu. A
respeito dele a Escritura diz (Prov. XXV, 16): Encontraste mel? Come dele o que te
baste; do contrário, saciado, tu o vomitarás. Elisha viu e devastou as plantações; a
seu respeito diz a Escritura (Ecl. V, 5): Que tua boca não se dedique a fazer tua
carne errar. O rabino Aqiba se elevou em paz e desceu em paz, e a seu respeito está
escrito (Ct. I, 4): Leve-me contigo, corramos, o rei me faz entrar em seus aposentos.
(Tosephta Hagigah, II, 3)
Assim que se aproximarem das pedras de mármore puro, cuidado para não dizerem:
água, água. Pois está dito (Ps. CI, 7): “Aquele que mente não se sustentará diante de
mim”. (b. Hagigah, 14b)
R. Ismael disse: “Assim que r. Nehûniah ben ha-Qanah viu o romano ímpio informar-
se sobre os grandes de Israel para exterminá-los, ele se ergueu e revelou o segredo
do mundo, sôdô shel ‘ôlam: a medida que corresponde àquele que merece
contemplar o Rei e o trono em Seu brilho e em Sua beleza, os animais santos, os
querubins indispensáveis, as rodas da divina presença (Shekhinah), o raio
aterrorizante, o temível hashmal, a lava que cerca o trono, as pontes e as chamas
que crescem e jorram entre as pontes, o pó e a fumaça, assim como o odor que todo
o pó solta dos carvões ardentes e que envolve e recobre todas as câmaras do
palácio do firmamento Arabôt, as nuvens densas das brasas, e Soriah, príncipe da
Face, servidor de Totrokiel YWY, o altivo”.16
A altura de Sua nuca é de treze mil vezes dez mil e oitocentas parasangas.
Cabe a nós louvar o Mestre do todo ‘Aleynû le-shabbeah la-‘Adon ha-kol, conferir a
grandeza ao Formador do começo latet Gedûllah le-Yôtser Bereshit.
Assim, declara-se, ao fim dos Heykhalot Rabbati, que o esplendor e a glória da Torá,
entendida assim como a Lei oral, só foram revelados na época do Segundo Templo
no momento em que a Shekina residia nele, e cuja santidade prevalece sobre a do
Primeiro Templo. Essa concepção vai ao encontro de inúmeras afirmações rabínicas
segundo as quais a Shekina jamais residiu no Segundo Templo. Assim, certos
místicos da Merkabah tiveram uma atitude diferente da literatura mishínica em
relação ao Segundo Templo. Outro ponto interessante: aqui, é o conjunto da
comunidade de Israel que toma a palavra, não apenas um único indivíduo.
V. A mística da Merkabah e o gnosticismo
É preciso mencionar aqui resumidamente um problema dos mais
complexos: o das relações entre a literatura da Merkabah e o
gnosticismo. Lembremos que se chama de “gnose” o conhecimento
dos mistérios divinos reservado a uma elite. Por “gnosticismo” se
entende um determinado número de sistemas do século II fundados
na idéia de um conhecimento salvador por conaturalidade com o
divino que implica, de um lado, uma degradação do divino e, de
outro, um dualismo que se manifesta por uma polêmica anticósmica
e antidemiúrgica. Historicamente, os primeiros textos gnósticos aos
quais tivemos acesso são de heréticos cristãos, sendo
caracterizados por um anti-semitismo metafísico muito rigoroso na
medida em que o demiurgo criador desse mundo e principal
obstáculo à salvação é identificado com o deus de Israel. Para além
desse significado propriamente histórico do termo “gnosticismo”,
contudo, pode-se estender seu sentido – procedimento praticado em
especial por H. Jonas colocando-se em uma perspectiva
fenomenológica – a toda a estrutura do pensamento com
características semelhantes. Nessa perspectiva, podemos falar do
gnosticismo dos bogomilos ou dos cátaros, ou mesmo do
gnosticismo de certas correntes do existencialismo contemporâneo.
Essa é a explicação para que G. Scholem tenha sido levado a usar
o termo gnosticismo para qualificar diferentes correntes ou doutrinas
da mística judaica, em primeiro lugar no que diz respeito à mística
da Merkabah, que ele qualifica numerosas vezes de “gnosticismo
judaico”. O segundo capítulo de seu Grands courants de la mystique
juive [Grandes correntes da mística judaica] é intitulado “A mística
da Merkabah e a gnose judaica”. Afirma, entre outras coisas, que a
mística do trono representa para o místico judeu o que o pleroma
com seus éons, suas potências e seus arcontes representa para o
gnóstico. A ascensão do visionário da Merkabah aparece em
Scholem como uma variante judaica da principal preocupação dos
gnósticos e dos herméticos dos séculos II e III, isto é, a ascensão da
alma a partir da terra através da esfera dos anjos planetários, as
esferas do demiurgo e do cosmos, e o retorno à sua divina morada
na plenitude e na luz de Deus, retorno que, para o espírito do
gnóstico, significa a redenção. Scholem acentuou ainda essa
identificação em sua obra Jewish Gnosticism, Merkabah Mysticism
and Talmudic Tradition [Gnosticismo judaico, misticismo da
Merkabah e a tradição talmúdica], cujo próprio título já é
significativo. Ele reconhece que o uso que faz disso extrapola o dos
diversos grupos ou tendências às quais se aplica o termo. Mas
acrescenta:
No entanto, isso não deve colocar obstáculo ao uso desse termo adequado ao
movimento religioso que proclamava um esoterismo místico para eleitos fundado na
iluminação e na aquisição de um conhecimento mais elevado das coisas celestes e
divinas. É a esse conhecimento que faz alusão o termo grego gnosis, significando
“conhecimento”, isto é, conhecimento tendo um caráter ao mesmo tempo esotérico e
soteriológico (redentor). (p.1)
Se o que esses textos apresentam é gnosticismo, e seu caráter gnóstico não pode,
na minha opinião, ser contestado, trata-se na verdade de uma gnose rabínica, e as
iluminações e revelações com que seus adeptos são gratificados são tais que se
conformam à visão judaica da hierarquia dos existentes. Realmente todos esses
textos vão muito longe para destacar sua estrita conformidade, mesmo no menor
detalhe, com o judaísmo halákico e suas prescrições. (p.10)
A terminologia utilizada por Scholem e as idéias que a subentendem, contudo, não
têm recebido a adesão de todos os pesquisadores. Alguns deles, como D. Flusser e
I. Gruenwald, realizaram um exame crítico das idéias de G. Scholem nessa questão.
O primeiro destaca a que ponto o gnosticismo, tal como existiu historicamente,
implicava um dualismo entre o mundo divino e o mundo inferior, entre o deus de
Israel identificado com uma divindade má e seu oposto, o Deus desconhecido, bom e
generoso. O gnosticismo supõe uma denegação radical desse mundo e uma
verdadeira revolta contra o deus de Israel. I. Gruenwald, por sua vez, sublinha, no
que tange ao tema da viagem celeste presente ao mesmo tempo nos gnósticos, na
apocalíptica judaica e na Merkabah, que se tratava de um tema já presente na
religião persa e no xamanismo, não se podendo, portanto, deduzir daí o caráter
gnóstico da literatura da Merkabah. No gnosticismo, a alma busca escapar dos
arcontes que a impedem de recobrar o pleroma, enquanto que na literatura da
Merkabah os anjos guardiões de cada palácio examinam os méritos do iniciado e, se
ele é digno disso, ajudam-no a realizar sua ascensão. Em suma, a viagem celeste da
alma é, no gnosticismo, um retorno dessa para sua fonte divina, ocorrido após a
morte, enquanto que a viagem da alma na literatura dos Heykhalot apresenta-se
como uma experiência mística que acontece durante a vida do indivíduo. Pode-se
notar, por outro lado, que na maior parte dos textos dos Heykhalot o caráter
soteriológico não está no primeiro plano, enquanto que a função soteriológica da
gnose está no próprio coração do gnosticismo. Não se encontra também na literatura
da Merkabah traço de erotismo e nenhuma parte dessa literatura trata da natureza
divina da alma e de sua reunificação com o Deus do qual ela procede.
O Sefer Yetsirah nos chegou em duas versões, uma longa e outra breve. Mas
mesmo em sua versão mais longa ele não comporta mais de 1.600 palavras. Seu
estilo é verborrágico e solene, mas ao mesmo tempo lacônico no que diz respeito às
idéias fundamentais que exprime. O conjunto do livro apresenta-se em seis capítulos,
cujo material pode ser dividido em duas partes principais:
– A primeira parte, que coincide com o primeiro capítulo, consiste de uma introdução
seguida de um desenvolvimento sobre as dez sefirōt a partir das quais o mundo foi
produzido.
– A segunda parte vai do capítulo dois ao capítulo seis, e trata das 22 consoantes do
alfabeto em sua função demiúrgica.
Disso resulta que toda criatura e toda palavra procede de um único nome.
Pode-se dizer que essa obra teve uma sorte singular, pois serviu,
praticamente, com a Bíblia e a literatura talmúdica, de terceiro texto
fundador para a quase totalidade dos escritos especulativos
judaicos da Idade Média em sua confrontação com a fonte grega. E
isso é válido tanto para os filósofos quanto para os adeptos da
cabala. Tal constatação se faz com Saadia Gaon em Bagdá tão bem
quanto em Dunash ben Tamin, o discípulo de Isaac Israeli em
Kairuan. Depois foi a vez de Juda Hallevi comentar o Sefer Yetsirah
na quarta parte de seu Kūzari, assim como Juda Ben Barzillai, em
Barcelona. No Sul da Itália, Sabbatai Donnolo redigiu também um
comentário em que surge uma primeira leitura teosófica da obra,
antecipando a leitura que farão dela Isaac l’Aveugle e seus
sucessores. Tendo conhecimento de uma parte dos textos que
mencionamos, os pietistas alemães também redigiram vários
comentários sobre o Sefer Yetsirah. Para eles, esse não era apenas
um dos livros de referência de sua teologia esotérica, mas também
um manual tendo em vista a fabricação do Golem (homunculus).
Muitos cabalistas, enfim, de Isaac l’Aveugle a Elias de Vilna, no
século XVIII, passando pelos geroneses e Abraham Abulafia,
comentaram sucessivamente o Sefer Yetsirah. Que espíritos tão
diferentes tenham podido decifrar seu próprio sistema nesse livro
indica o prestígio e a autoridade dos quais a obra se beneficiou ao
longo dos séculos.
Sete middōt servem ante o trono da Glória: são elas a Sabedoria, a Justiça, o Direito,
a Graça, a Misericórdia, a Verdade e a Paz.
Pois o Criador está presente para todos e mais próximo a todos do que a alma está
do corpo, ainda que ele não tenha imagem.
Mas a unidade do Criador não muda, não se modifica nem é modificada. Entretanto,
a visão de Sua Glória corresponde a seu conteúdo, e do fulgor do fogo de sua
magnificência tudo é manifestado; quando ele se irrita, a visão reflete a cólera, e tudo
está na nuvem da glória diante dele.
Eu, Eleazar o pequeno, recebi o arranjo das preces qibbalti tiqqūn tefillōt de meu pai
e mestre, r. Yejuda bar Kalonymos...
Vou colocar por escrito o mistério das preces a fim de que todo homem conheça o
mistério das bençãos e oriente seu coração para servir a Deus por medo e a tremer...
pois aquele que contesta nesse domínio é como o que questiona as palavras da Torá
reveladas no Sinai; pois o mistério das preces que recebemos remonta de mestre em
mestre até aos profetas, anciãos, devotos, homens da Grande Assembléia que as
estabeleceram. Aquele que acrescenta ou retira uma única letra ou palavra que seja
desgraçado agora e no futuro!
Se ocorresse, como quer Saadia Gaon, que a Glória fosse criada, poderíamos dizer
a respeito da Glória criada: Ele é nosso Deus.
Isso dá a entender que, para Juda, a intenção da prece deve se
dirigir à Glória. Ele também polemiza contra a opinião que pretende
que a Glória seja apenas uma representação interior nos profetas.
Ao contrário, ele acha que
O Santo Bendito Seja cria uma luz mais brilhante do que tudo que brilha... que é a
Glória do Deus de Israel... E é a partir dela que ele acende as lâmpadas, isto é, os
esquadrões infinitos de anjos e espíritos...
As criaturas louvam a Shekinah porque ela é criada, mas no final dos tempos se
louvará o Santo Bendito Seja em pessoa!
O Deus antigo é um refúgio (Dt. XXXIII, 27) nos céus. É o local da santidade para as
criaturas no céu como nosso santuário que nos ordenou o Criador. O querubim que
está acima da cabeça dos Hayyot é o querubim do santuário...
A penitência quanto ao imediato, Teshūbat haba‘a, que significa que, quando alguém
pecou pela primeira vez, pode, quando a ocasião de pecar se renova, proibir-se de
cometer a falta novamente.
A penitência segundo a Escritura, Teshūbat hakatub, em que o penitente é tão
rigoroso consigo mesmo a ponto de se infligir a punição prevista pelo texto bíblico.
A penitência enquanto limitação, Teshūbat ha-gader, que se define como um sistema
de interdições que o penitente estabelece para não ter oportunidade de pecar de
novo.
A penitência segundo a medida, Teshūbat ha-mishqal, consiste a impor a si mesmo
um sofrimento que venha compensar exatamente a soma de prazer trazida pelo
pecado.33
26. O conjunto dessa literatura foi editado por Y. Eben-Shemuel em seus Midrashey ha-
Ge’ūūllah, Jerusalém, 1954. (N.A.)
27. A edição póstuma da Habdala de r. Aqiba, por G. Scholem, foi publicada em Tarbiz, vol.
L, 1981, p.243-281. (N.A.)
28. Ver G. Scholem, Les origines de la Kabbale, p.118-136, e Reshit ha-Quabbalah,
Jerusalém, 1944, p.195-238. (N.A.)
29. Sobre a história do sufismo judeu, ver a introdução de P. Fenton para a edição e
tradução do Al-Maqala al-Hawdiyya, de Obadias Maimônides, Londres, 1981. (N.A.)
30. Ver H. Soloveitchik, “Three themes in the Sefer Hasidim”, AJS Review, I (1976), p.311-
357. (N.A.)
31. Segundo b. Berakot, 17a : “Que o homem seja sempre advertido no temor”. (N.A.)
32. Segundo ‘Abot V, 26. (N.A.)
33. Sefer Hasidim, § 37. (N.A.)
CAPÍTULO III
O MOVIMENTO CABALISTA DE 1150 A 1492
É possível abarcar a história da cabala a partir de meados do
século XII até o final do século XV discernindo-se quatro momentos
sucessivos:
E logo que Moisés elevou as mãos e dirigiu a concentração de seu coração para
essa middah denominada Israel e que guarda a Torá verdadeira, ele indicou com os
dez dedos das mãos que tal middah fortalece os dez (logoi) de modo que, se ela não
ajudasse Israel, os dez logoi não se manteriam dia após dia – então Israel obteve a
vitória.
Quando os israelitas oferecem um sacrifício ante seu Pai que está nos céus, eles se
juntam num grupo, e é isso a unificação de nosso Deus.38 Por que é denominado
sacrifício gorban? Apenas porque chega mais perto de she-meqareb, as formas
santas!
– ’En Sōf;
– o pensamento;
– a palavra.
essências íntimas e sutis que escapam à meditação de toda criatura, exceto daquele
que aspira seu suco, o que está na via da meditação pelo caminho da sucção,
yeniqah, e não pelo caminho do conhecimento. (Comentário do Sefer Yetsirah, I, 1)
A partir das essências formadas, chega-se a uma meditação sobre as essências não
formadas, e da interioridade da percepção do pensamento que as concerne chega-se
à sua causa em ’En Sof. (ibid., 1, 3)
A partir das essências espirituais íntimas que não são apreensíveis, Ele cinzelou e
fez emanar delas essências materiais apreensíveis.
Livro da Especulação do Grande Mestre Rab Hammay, chefe dos que falam das
sefirōt interiores, tendo desvendado nele o essencial de toda realidade da glória
escondida, cuja existência nenhuma criatura pode compreender verdadeiramente, e
a qüididade tal como ela (Kabōd) existe na unidade indiferenciada, ba-’ahadūt ha-
shawah, na perfeição da qual se unem o superior e o inferior; ela (a Glória) é o
fundamento de tudo que está escondido e manifesto, dali sai tudo o que emanou da
maravilha da unidade.
O Nome bendito que é honrado na potência, o Um que se une a todos aos seus
poderes como a chama está unida a todas as suas cores. Da mesma forma que suas
forças emanam de sua unidade como a luz do olho sai do negro do olho, elas são
todas emanadas uma da outra como o perfume do perfume e a luz da luz, pois uma
emana da outra e assim sucessivamente; a força do emanante está no emanado
sem que o emanante seja diminuído dela.
Um tema importante dessa mística é o das treze middōt, cujo
motivo é tomado de empréstimo de Ex. XXXIV, 6, e que substitui
amplamente nos textos do grupo a temática das dez sefirōt
entendidas como entidades no sentido do Bahir e de Isaac
L’Aveugle. As middōt não são entidades ou éons e sim forças ou
modos de ação que se originam da Glória escondida.
Outro tema importante nos escritos do grupo, também saído de
Saadia, é o do éter primordial, ’awir qadmōn, que ocupa um lugar
importante sem que sua categoria seja a mesma em todos os textos
do círculo. Assim é que, no Mayan ha-Hōkmah, o éter primordial é a
fonte de um movimento que cresce no seio de treze pares de
oposições que são ao mesmo tempo as treze middōt do governo
divino. O nome de Deus é a unidade do movimento da linguagem
que sai dessa raiz primordial e que se ramifica. O éter primordial é o
substrato do mundo e é considerado um fogo espiritual de onde tudo
provém e para o qual tudo retorna.
O lugar ocupado nesse cenáculo pelas treze middōt reveste-se de
uma importância maior para o historiador da mística judaica; ele
demonstra de algum modo in vivo a existência de uma alternativa à
cabala das dez sefirōt entendidas em seu sentido teosófico. Mesmo
que a cabala das dez sefirōt tenha prevalecido em seguida, a
evolução da mística judaica pôde-se fazer de modo diferente,
centrando-se em torno das treze middōt. Os esotéricos estavam
muito conscientes desse problema, e os escritos do grupo
testemunham várias tentativas para harmonizar a doutrina das treze
middōt com a doutrina das dez sefirōt. A tentativa mais importante é
a veiculada pela famosa missiva pseudo-epigráfica de Gaon Hay,
provavelmente redigida na Provença em 1230. Ao contrário da
hipótese dos que querem colocar abaixo da décima entidade três
poderes suplementares, o pseudo-Hay coloca acima da primeira
sefirah, na Raiz das Raízes, três luzes escondidas denominadas
respectivamente ’Or penimi qadmōn, luz primordial íntima, ’Or
metsūhtsah, luz transparente, ’Or tsah, luz clara. No âmago da
divindade existe então uma tríade de luzes escondidas de onde
emanaram as três sefirōt superiores.
Outro traço neoplatônico é encontrado na identificação das sefirōt
com as sendas da sabedoria ou com os mundos espirituais.
É preciso também destacar o lugar ocupado pela vontade em
relação ao pensamento puro. Assim, no Livro da unidade, do
pseudo-Hammay, trata-se da vontade do primeiro agente que ocupa
igualmente um lugar primordial no Midrash de Simon, o Justo. No
entanto, no encontro com o neoplatonismo da Antigüidade, um
estatuto positivo é concedido à hyle. Ela tem seu lugar como
hipóstase entre as potências cósmicas e não é considerada a raiz
do mal – isso apesar das flutuações encontradas em cada texto no
que diz respeito ao lugar exato dessa hyle.
Em todo caso, não se pode duvidar que esses escritos sejam a
expressão de experiências místicas autênticas que seus autores
esforçam-se por traduzir de modo mais ou menos feliz em conceitos
filosóficos. O que é testemunhado por esse breve extrato do Mayan
ha-Hōkhmah, em que a meditação sobre as letras do tetragrama é
apresentada como a via mystica por excelência:
Como resultado das perseguições, não haverá mais obras importantes escritas na
Espanha no século XV, apesar da atividade de numerosos cabalistas. Pode-se
assinalar os dezoito responsa sobre temas esotéricos, redigidos por Joseph Alcastiel
de Jativa, assim como as duas cartas sobre a emanação, redigidas por Isaac Mar
Hayyim em 1491 no decorrer de sua viagem à Palestina. Joseph ibn Shraga e Juda
Hayyat, autor do Minhat Yehūda, comentário sobre o Ma‘areket ha-’Elōhūt, são os
dois esotéricos que desempenharão o papel mais importante na transmissão da
cabala da Espanha para a Itália.
No decorrer do século XVI, a cabala se expandirá neste último país através de
personalidades como Reuben Zarfati. Joseph Alemano, cuja obra mescla cabala e
filosofia, desempenhará também um papel importante nessa difusão. A união do
platonismo e da cabala é encontrada ainda em Juda ben Jessiel Messer-Leon de
Mântua.
Nessa região, a cabala é apresentada como um antigo saber judaico-esotérico em
sua expressão histórica, mas podendo ser compreendida e explicada de maneira
filosófica. Alguns concebem a cabala como um saber mágico, isto é, como uma
técnica destinada a atrair para baixo o fluxo sobrenatural originário das sefirōt a fim
de recolhê-lo e usá-lo, ao contrário da orientação teúrgica da cabala teosófica.
Considera-se igualmente legítimo difundir esse saber a um grande público. Essa
cabala fortemente tingida de platonismo será conhecida pelos cabalistas e
humanistas italianos, especialmente por Marsílio Ficino e Picco della Mirandola. A
cabala cristã constituirá uma das grandes orientações do humanismo e do
Renascimento. Ainda na Itália, o poeta Moisés Rieti consagra à cabala uma parte de
seu poema Miqdash Me‘at, enquanto seu filho mais moço, Élie Hayyini de
Gennazano, escreve uma introdução à cabala intitulada ‘Iggeret Hammudot.47
34. Ver G. Scholem. Les Origines de la Kabbale, Paris, 1966, p.108-136. (N.A.)
35. O Bahir, § 5 (Jerusalém, Ed. Margalioth, 1951), utiliza até a expressão ha-Male, a
plenitude que se acha identificada, em relação à simbologia da Torá, com a fonte
primordial. (N.A.)
36. Bahir, § 119. (N.A.)
37. Plural de sefirah. (N.T.)
38. O sacrifício acha-se também relacionado ao Shemah no § 114. (N.A.)
39. Esse caráter gnóstico do Bahir não escapou aos adversários da nova cabala, cf. a carta
de Meir ben Simon de Narbonne em G. Scholem, Les origines de la Kabbale, p.421-423.
(N.A.)
40. Os cabalistas conheciam as doutrinas cátaras, mas permaneciam muito afastados
delas devido ao dualismo fundamental do catarismo, mesmo que a teoria da transmigração
fosse encontrada nas duas correntes de pensamento. (N.A.)
41. Les origines da la Kabbale, p.258. (N.A.)
42. Cf. Kuzari, II, 7 e IV, 3. (N.A.)
43. Parece que na mesma época um grupo de místicos próximo dos pietistas renanos
desdobrava suas atividades em Corbeil, no norte da França, em torno de Elhanan de
Dampierre (morto em 1195) e de Jacob de Corbeil. (N.A.)
44. O comentário de Isaac l’Aveugle foi editado por G. Scholem num apêndice a seu curso
policopiado sobre a Cabala na Provença, Jerusalém, 1970. (N.A.)
45. Ver H. Pedaya, “Ruptura e reparação do divino na cabala de r. Isaac l’Aveugle” (em
hebraico), no volume The Beginnings of Jewish Mysticism in Europe (ed. J. Dan),
Jerusalém, 1987, p.157-285. (N.A.)
46. Cf. o artigo de M. R. Hayoun, “Moisés de Narbonne sobre as Sefirōt”, no The Jewish
Quarterly Review, LXXVI, no 2 (outubro 1985), p.97-148. (N.A.)
47. Sobre esse autor, ver nosso artigo “Élie Hayyim de Gennazano et a Kabbale”, na Revue
des Études juives. t. CXLII (I-2), 1983, p.91-108; A. Altmann, “Au-delà du domaine de la
philosophie: la figure do kabbaliste Élie Hayyim de Gennazano (em hebraico), em
Mehqarey Yerushalayim be-Mahashabat Yisrael (vol.7), Mélanges Pines, I, p.61-101.
(N.A.)
CAPÍTULO IV
A VISÃO DE MUNDO DA PRIMEIRA CABALA
O percurso das principais etapas da cabala desde a época do
Bahir até o fim do século XV nos permite captar o significado e o
alcance das principais concepções com que concordam globalmente
os adeptos dessa primeira cabala, mesmo que haja divergências
sobre algum ponto particular.
A mística judaica medieval surge ao lado da filosofia como uma
das grandes tentativas do judaísmo (no exílio) de redefinir-se com a
ajuda de categorias adaptadas a uma experiência que obrigava a
uma leitura nova dos textos fundadores bíblicos e rabínicos. O
problema básico em torno do qual parece girar o pensamento da
época, depois do encontro entre o monoteísmo bíblico e o
pensamento grego, é o dos atributos de Deus. Que relação
estabelecer entre a idéia de Deus concebida pelos filósofos (quer se
trate da causa primeira de Aristóteles ou do Um de Plotino), cujas
realidades são provenientes da necessidade, e o Deus pessoal da
religião, Criador do mundo e da providência? A doutrina dos
atributos divinos responde a essa dificuldade: o que é possível
afirmar sobre Deus?
A resposta a essa pergunta em geral tem sido: muito pouco. A tal
ponto que Maimônides, em seu Guia dos desgarrados, afirma que
nenhum atributo positivo poderia ser predicado de Deus, pois todo
atributo positivo introduziria a multiplicidade e a mudança em Deus,
extraindo-se daí a conseqüência de que só podemos nos exprimir
sobre Deus por meio de negações (I, LVIII)! Maimônides admite,
contudo, atributos de ação que não nos ensinam nada sobre a
essência de Deus, mas que nos descrevem as diferentes relações
que Ele mantém com suas criaturas (I, LIII).
Apesar da diferença existente entre os filósofos e os cabalistas,
os últimos têm a preocupação de elevar Deus acima de tudo que
possa rebaixá-Lo ao excessivamente humano, mas também a
preocupação de não fazer com que se perca Deus tal como se
manifesta e age entre os homens. É a essa dupla reivindicação do
pensamento especulativo e do pensamento religioso que responde
a distinção fundamental entre ’En Sōf, enquanto transcendência
absoluta, escondida e infinita, e as dez sefirōt que denotam a
divindade na medida em que ela entra em relação com as criaturas.
É a esse segundo aspecto do divino que se referem, para os
cabalistas, os nomes, alcunhas e qualidades divinas em que a Bíblia
e o Midrash são abundantes. Em relação ao Deus escondido, a
emanação é como a “chama em relação à brasa”, pois a chama não
tem existência separada do carvão.
A ocultação de ’En Sōf tem um duplo significado. Ela mostra de
início que sua essência não transgride os limites de sua ocultação e
que ela não está em relação com o que quer que seja. Pressupõe
em seguida que sua natureza não é apreendida e não poderia sê-lo
por nenhum pensamento, inclusive o das sefirōt nas quais ’En Sōf
está presente. A partir daí, compreende-se que a intenção das
preces e a dos preceitos não tenha mais sido dirigida ao ’En Sōf e
sim à sua manifestação através das sefirōt.
As dez sefirōt constituem as dez potências da emanação ou da
manifestação do divino. Um debate divide os cabalistas quanto à
natureza das sefirōt. Para a maioria deles, elas formam a essência
do divino (orientação gnóstica), enquanto para alguns elas são
apenas os instrumentos da atividade divina – em Menahem de
Raqanate, por exemplo. Outros insistem quanto a seu caráter
intermediário entre o infinito e o finito, como no caso de Azriel de
Gerona. No Tiqqûnim e no Rayah Mehemnah, as sefirōt são
consideradas receptáculos para a essência de Deus; tais
receptáculos são distintos mas não inteiramente separados da
unidade indiferenciada de Atsilut. As sefirōt são denominadas
Temûnat ha-Shem, “imagem do divino”, a mediação através da qual
o divino imanente domina todas as dimensões do que existe.
A representação habitual delas é a seguinte:
KETER
BINAH HŌKHMAH
GEBŪRAH GEDŪLLAH
TIF’ERET
HŌD NETSAH
YESŌD
MALKHŪT
A cada uma das sefirōt corresponde igualmente um determinado
nome divino; de fato, a emanação é concebida como a manifestação
progressiva dos nomes divinos. A primeira sefirah, Keter, é, depois
do século XIII, geralmente identificada com a vontade divina
primordial. Sua identidade ou sua não-identidade com ’En Sof é
objeto de discussão entre os cabalistas. O início da existência real
assinala-se em Hōkhmah, que corresponde ao pensamento divino.
Em seu seio, repousam as idéias de tudo que virá a ser. A criação
ex nihilo é reinterpretada pelos esotéricos como a extração a partir
das profundezas do ‘Ayin, o nada divino, outro nome para Keter, do
ser, ou Yesh, correspondente a Hōkhmah. A ordem ainda
dissimulada em Hōkhmah tornou-se manifesta em Binah, a
inteligência. Nela, as essências se tornam distintas. É a partir das
formas impressas em Binah que são emanadas as sete sefirōt
inferiores que constituem o mundo do edifício.
Em Gedūllah, a Grandeza, também denominada Hesed, “graça”,
revela-se a bondade absoluta de Deus, enquanto que Gebūrah, o
rigor, é o instrumento da justiça divina e representa
conseqüentemente a contrapartida de Hesed. A sexta sefirah,
Tif’eret, “beleza”, igualmente chamada Rahamim, realiza a síntese
entre as duas modalidades que a precedem e rege com elas a
ordem ética, assim como as três primeiras entidades articulam a
esfera da intelectualidade. Netsah, Hōd e Yesōd, isto é, a
capacidade de agüentar, a majestade e o fundamento, são como os
rebentos das três precedentes; todas juntas deságuam em Malkhūt,
o Reino, que recebe a influência das outras nove e rege por sua vez
o mundo extradivino. O conjunto das dez sefirōt forma assim uma
totalidade em que a unidade divina se exprime sob uma forma
dinâmica.
Se a emanação primordial é a da vinda à existência das
entidades, é preciso sublinhar que existe também uma espécie de
emanação continuada, pois o divino deve continuamente derramar-
se no mundo para manter os seres na existência.
Para descrever as relações entre ’En Sōf e as sefirōt, assim como
as relações entre as entidades, os cabalistas recorrem a um
superabundante simbolismo. Eles recorrem tanto às metáforas da
água como às da luz: todos os recantos da natureza e todos os
recursos da cultura se acham mobilizados para fornecer uma
inteligibilidade aos mistérios do alto. A mão de Deus deixa de ser
uma alegoria do poder divino para tornar-se o símbolo de um
indizível para o qual aponta um certo uso desse membro
denominado “mão”. Entre os símbolos mais pregnantes, o
simbolismo sexual ocupa um lugar especial, pois exprime na
linguagem do mito a unidade dinâmica do divino, simbolizada pela
união masculino-feminino. É o caso da união do pai e da mãe,
Hōkhmah e Binah, como também a do filho, Tif‘eret, e da filha,
Malkhūt, igualmente denominados Rei e Rainha. No que tange
precisamente ao problema complexo do mito na cabala, encontra-se
uma espécie de oscilação entre textos em que o mito aflora quase a
cada página e outros nos quais espíritos mais especulativos
desmitificam os textos dos primeiros!
50. Rabino (1525-1609) que foi um dos mais importantes pensadores judeus do período
pós-medieval. (N.T.)
51. O Paciente. (N.T.)
52. Becht é a sigla de Ba‘al Shem Tov. (N.A.)
53. Para uma compreensão maior do hassidismo na Europa Oriental, consultar o artigo de
Z. Gries, Hasidism: “The present state of research and some desirable priorities”, em
Numen, vol. XXXIV, 1987, p.97-108 e 179-213. (N.A.)
BIBLIOGRAFIA
1) Reportar-se antes de tudo aos textos e às obras mencionadas neste livro.
2) Consultar regularmente as revistas bibliográficas publicadas pela Biblioteca Nacional e
Universitária de Jerusalém: Qyriat Sefer para os livros e Index of Jewish Studies [RAMBI]
para os artigos.
3) Juntar a isso especialmente:
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Roland Goetschel é professor emérito da Universidade de Paris-Sorbonne.
CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
G546c
Goetschel, Roland, 1930-
Cabala / Roland Goetschel; tradução de Myriam Campello. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2013.