E-Book - Estruturas Ambientais Urbanas e A Ambiência

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Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 1

Organizadoras
Sandra Medina Benini
Geise Brizotti Pasquotto
Jeane Aparecida Rombi de Godoy

1ª Edição

ANAP
Tupã/SP
2021
2

EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
www.editoraanap.org.br
[email protected]

Revisão Ortográfica - Smirna Cavalheiro

Ficha Catalográfica

B467e Estruturas ambientais urbanas e a ambiência / Sandra Medina Benini,


Geise Brizotti Pasquotto e Jeane Aparecida Rombi de Godoy (orgs). 1.
ed. – Tupã: ANAP, 2021.
159 p; il.; 14.8 x 21cm

Requisitos do Sistema: Adobe Acrobat Reader


ISBN 978-65-86753-45-5

1. Cidade Contemporânea 2. Planejamento 3. Ambiente


I. Título.

CDD: 710
CDU: 710/49

Índice para catálogo sistemático


Brasil: Planejamento Urbano
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 3

Conselho Editorial

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6
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 7

SUMÁRIO
PREFÁCIO ....................................................................................... 09
Geise Brizotti Pasquotto

Capítulo 1 ......................................................................................... 13
CLASSIFICAÇÃO DOS PARQUES URBANOS: ANÁLISE E
PROPOSTA CONCEITUAL
Larissa Fernanda Vieira Martins

Capítulo 2 ......................................................................................... 33
ÁREAS VERDES URBANAS PROTEGIDAS: CONSEQUÊNCIAS
DA PRESSÃO ANTRÓPICA
Cátia Araújo Farias
Celso Maran de Oliveira

Capítulo 3 ......................................................................................... 59
VEGETAÇÃO NA CIDADE: UM OLHAR INTERDISCIPLINAR
PARA SUB-BACIA DO CASSANDOCA
Ana Maria Antunes Coelho
Luis Octavio de Faria e Silva
Rebeca Pegoraro Heredia
Renata Ferraz de Toledo
Sidney Carneiro de Mendonça Fernandes

Capítulo 4 ....................................................................................... 87
ANÁLISE QUALITATIVA DAS ÁREAS VERDES PÚBLICAS NA
ZONA NORTE DA CIDADE DE CUIABÁ-MT
Sandra Medina Benini
Jeane Aparecida Rombi de Godoy
8

Capítulo 5 ........................................................................................ 107


OCUPAÇÃO TERRITORIAL E MICROCLIMA URBANO - UMA
PROPOSTA PARA ESTABELECIMENTO DE PADRÕES DE
REFERÊNCIA
Marcius Carvalho
Cláudia Cotrim Pezzuto

Capítulo 6 ........................................................................................ 125


APLICAÇÃO DE PAVIMENTOS FRIOS COMO ESTRATÉGIA DE
MITIGAÇÃO DAS ILHAS DE CALOR: MAPEAMENTO
SISTEMÁTICO DA LITERATURA
Nicolas Jorge Vianna
Regina Marcia Longo

Capítulo 7 ........................................................................................ 141


IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO DESEMPENHO
TÉRMICO DE COBERTURAS COM USO DE ISOLAMENTO
Emeli Lalesca Aparecida da Guarda
Luciane Cleonice Durante
Elaise Gabriel
Renata Mansuelo Alves Domingos
Ivan Julio Apolonio Callejas
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 9

PREFÁCIO

A maior parte da espécie humana vive hoje em cidades. Dentre as


consequências da urbanização estão a redução de espaço verdes, mudança no
uso do solo e perda de biodiversidade. Dentre as estruturas ambientais
urbanas tem-se a vegetação distribuída na arborização de ruas e calçadas,
como em locais como parques e praças. Os parques são locais de grande
extensão nas cidades que contemplam funções ecológicas, de lazer e estética,
proporcionando o contato com a natureza. Dependendo da sua localização e
infraestrutura, os parques são utilizados de formas diferentes pela população
e são conhecidos como Naturais, Históricos, Lazer ou Lineares. Há, ainda,
outras tipologias que o capítulo 1 traz como contribuições, como parques
esportivos, parques comunitários e parques escola.
A pandemia COVID-19 interferiu no acesso a parques e espaços verdes
para a população entre 2020 e 2021. A construção de uma infraestrutura mais
forte em parques e espaços verdes em todo o país ajuda a limitar o impacto de
futuros desastres de saúde pública. Estudos realizados durante a
recomendação de isolamento social na pandemia demonstram que o
distanciamento físico de espaços verdes é percebido como negativo pela
população. As pessoas apresentaram maiores sintomas de depressão e
ansiedade em condições de bloqueio, em que não foi permitido o contato com
espaços naturais ao ar livre, principalmente no primeiro período da pandemia
no Brasil (março/2020 a junho/2020).
A redução de áreas verdes como consequência da pressão antrópica
implica em danos ambientais durante o crescimento das cidades, o que é
abordado pelos autores do capítulo 2. Os desafios do planejamento urbano
para aumentar a cobertura vegetal tem sido foco de atenção principalmente
em grandes centros urbanos. A cobertura vegetal oferece muitos benefícios
para a população desde qualidade de vida até espaço de lazer, o que está
relacionado com a saúde mental.
A cobertura vegetal é um indicador de qualidade de vida nos municípios.
Morar próximo a um espaço verde e/ou ter 16 m2 de áreas verdes por
habitantes no município, é o recomendado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), no entanto, são tolerados 12 m2/hab. Cabe ressaltar que estas áreas
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verdes precisam estar bem distribuídas nas cidades, para proporcionar os


mesmos benefícios a todos os munícipes. No capítulo 4, as autoras trazem o
Índice de Área Verde Pública Urbanizada por bairro (IAPVU), em que aplicaram
em uma região da cidade de Cuiabá, MT; no capítulo 5, os autores trazem uma
abordagem sobre microclima urbano, e no capítulo 6, estratégias de mitigação
das ilhas de calor. Para somar, no capítulo 7 os autores trazem uma análise
sobre os efeitos do aquecimento global no consumo energético de um
conjunto habitacional.
Por fim e não menos importante, cabe destacar o capítulo 3, em que os
autores abordam diferentes percepções e usos sobre arborização. A percepção
e usos de espaços são resultados que envolvem vários estímulos, como visão,
audição, tato e olfato. Assim, o contato estreita nossa relação com o mundo
natural por meio da aproximação com a natureza, com infraestruturas verdes
e azuis.
Os olhos obtêm informações mais precisas e detalhadas sobre o meio
ambiente, entretanto, nossa visão é seletiva, pois reflete experiências vividas,
e nossa percepção da paisagem também se torna simplificada. A percepção é
uma ferramenta muito importante para a gestão pública e planejamento
urbano, pois por meio dela pode-se ter um diagnóstico sobre o uso e a relação
com os espaços verdes e públicos e a partir disso propor soluções que
envolvam os diferentes stakeholders (frequentadores, gestores e outros
tomadores de decisão).
Este e-book traz contribuições sobre estudos e informações referentes
à vegetação urbana e às implicações de sua redução na vida dos citadinos.
Como já mencionado, existem evidências crescentes de que os serviços
ecossistêmicos proporcionados pelos espaços verdes e, em especial, a
exposição a ambiente natural, têm benefícios potenciais para a saúde mental
e o bem-estar.
O acesso a espaços verdes é de vital importância para a saúde e o bem-
estar dos indivíduos e levará a populações mais saudáveis. Os problemas
humanos estão conectados aos problemas ambientais, ou seja, a qualidade de
vida e saúde estão relacionados à urbanização, ao planejamento das cidades e
aos espaços verdes.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 11

Finalizo agradecendo a oportunidade de prefaciar este trabalho com


7 capítulos que reforçam a importância de se discutir o planejamento urbano,
envolvendo as atividades humanas, saúde e ambiência.

Boa leitura!

Ana Paula Branco do Nascimento1

1 Doutora em Ecologia Aplicada pela Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Professora


permanente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade São Judas Tadeu
(USJT) e do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Gestão Ambiental da UFSCar-So.
E-mail: [email protected]
12
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 13

Capítulo 1

CLASSIFICAÇÃO DOS PARQUES URBANOS: ANÁLISE E


PROPOSTA CONCEITUAL

Larissa Fernanda Vieira Martins2

INTRODUÇÃO

Os parques urbanos são espaços públicos com área legalmente


delimitada, com a predominância de vegetação de porte arbóreo-arbustivo e
áreas permeáveis (MARTINS, VENTURI; WINGTER, 2019). Eles exercem funções
estéticas, ecológicas e sociais (KLIASS, 1993; OLIVEIRA, 2007; SOLECKI; WECH,
1995; SORENSEN et al., 1998).
Tais espaços são considerados referência para a qualidade de vida, pois
são os principais ambientes da interação entre homem e natureza inseridos na
malha urbana (COSTA, 2011).
O principal uso dessas áreas são as atividades humanas de recreação e
lazer, sendo estas as principais distinções entre um parque urbano e um parque
categorizado como Unidade de Conservação (UC) – previsto pelo Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), conforme a Lei Federal
9.985/2000 (MARTINS, 2014). Enquanto os Parques Urbanos são projetados
para atender às necessidades de lazer e recreação ao ar livre das populações
citadinas, as UCs são concebidas e destinadas à preservação, conservação e
manutenção dos sistemas naturais in situ (OLIVEIRA, 2007; OLIVEIRA; BITAR,
2009).
O arquétipo do parque como conhecemos é um elemento típico das
grandes cidades e apresenta constante processo de recodificação (MACEDO;
SAKATA, 2003). Devido às necessidades atuais e à demanda por áreas verdes,
Martins (2014) destaca que:

[...] o parque da cidade contemporânea tem o papel de amenizar potenciais

2Doutora em Ciências (Geografia Física) – Universidade de São Paulo (USP). Professora doutora,
Centro Universitário das Américas (FAM). E-mail: [email protected]
14

problemas, podendo assumir função similar ao parque categorizado como


Unidade de Conservação (UC). Este fator é evidenciado em parques urbanos
que visam proteger áreas frágeis (encostas e fundos de vale) e conservar
fragmentos florestais [...]. (MARTINS, 2014, p. 28-29)

Um bom planejamento deve aproveitar as aptidões paisagísticas do sítio


urbano para a destinação dos parques, além de estabelecer potenciais áreas
para suprir as futuras demandas por áreas verdes (KLIASS, 1993).
Inserida neste contexto, a classificação sistematizada dos parques
urbanos permite identificar a melhor configuração paisagística, segundo as
aptidões naturais do sítio geográfico e necessidades da população citadina,
bem como nortear a gestão destes ambientes.

OBJETIVOS

Com intuito de buscar uniformidade nas classificações dos Parque


Urbanos, esta pesquisa tem por objetivo apresentar uma breve revisão das
classificações descritas na literatura atual e propor uma nova classificação, que
visa a agrupar e sintetizar as tipologias identificadas.

METODOLOGIA

Método

Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizou-se o método hipotético-


dedutivo proposto por Popper em 1975 e descrito por Marconi e Lakatos
(2021). De acordo com as referidas autoras, o método é concebido a partir de
um pré-conhecimento da realidade, no qual são identificados problemas e
criadas conjecturas, as quais são submetidas a testes com o intuito de
corroborá-las ou falseá-las (Figura 1).

Figura 1 – Síntese do método – hipotético-dedutivo

Fonte: Marconi e Lakatos (2021).


Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 15

Desta forma, identificou-se:


• Problema: ambiguidade na classificação de parques urbanos.
• Conjecturas: existem inúmeras classificações, as quais utilizam
diferentes terminologias destinas ao mesmo objeto. Assim, faz-se
necessário um grupo de termos que tenha por objetivo unificar e
simplificar as terminologias já existentes.

Partindo das premissas iniciais, realizou-se um levantamento literário


para reunir e verificar as terminologias atualmente empregadas com o intuito
de verificar se ocorre ambiguidade e termos distintos.

Procedimentos técnico-operacionais

Este estudo adotou a técnica de pesquisa bibliográfica com tipologia


descritiva por meio de dados secundários.
Para Marconi e Lakatos (2021), a pesquisa bibliográfica por meio de
dados secundários

[...] abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de


estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses, artigos científicos impressos ou eletrônicos
[...]. (MARCONI; LAKATOS, 2021, p. 213).

A tipologia descritiva tem por objetivo determinar a extensão do


atendimento por parte das publicações empíricas disponíveis sobre
determinado assunto aos padrões e tendências em relação às proposições
preexistentes; para assegurar a generalização dos resultados, as revisões
descritivas coletam, codificam e analisam dados que refletem a frequência de
determinados tópicos (ZOMER; CAUCHICK-MIGUEL; CARVALHO, 2017).
Desta forma, realizou-se levantamento literário em sítios eletrônicos e
meios impressos, buscando por palavras-chave tais como: “parques urbanos”,
“parques da cidade”, “parques lineares”, “parques ecológicos”, “áreas
protegidas urbanas”. As principais bases de pesquisa utilizadas foram: Science
direct https://www.sciencedirect.com/); Scientific Eletronic Library Online
(SciELO) (https://www.scielo.org/); Biblioteca Virtual Brasileira de Teses e
Dissertações (https://bdtd.ibict.br/vufind/); Google acadêmico
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(https://scholar.google.com.br/); portal de periódicos da Capes (https://www-


periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/); livros impressos e
digitais.
Os dados obtidos foram analisados e sistematizados por meio de
redação, a qual visou a organizar as diferentes tipologias de parques
empregados na atualidade.
Após a exposição das principais classificações empregadas, estas foram
sintetizadas em uma nova proposta, estabelecendo cinco novas classes
tipológicas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antes de imergirmos nas classificações existentes, é importante


destacar as principais funções dos Parques Urbanos para que se possa
compreender a real contribuição destas áreas no ambiente citadino.
Segundo Alvarez (2004), os parques devem satisfazer as funções de
lazer, ecológica e estética (Figura 2, Quadro 1).

Figura 2 – Tríade das funções do parque urbano

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

Quadro 1 – Funções dos parques urbanos, segundo Alvarez (2004)


Função Características
Deve satisfazer as necessidades humanas de lazer física, psicológica e/ou
Lazer
social.
Deve fomentar a melhoria da qualidade de vida, bem como, melhorias
Ecológica
microclimáticas, conservação e proteção dos recursos naturais.
Deve modelar a estrutura urbana, integrar usos conflitantes e propiciar
Estética
cenários culturais e diversificação da paisagem citadina.
Fonte: Organizado pela autora (2021).
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 17

Para que tais funções sejam alcançadas, o parque deve possuir: a)


elementos de ordem material, tais como mobiliários e equipamentos de lazer;
b) elementos de ordem natural, como a vegetação e recursos hídricos; e c)
elementos de ordem imaterial, associados à capacidade do espaço em
propiciar emoções, vivência social, identidades de grupo, e outros (NUNES
JÚNIOR, 2011).
Pesquisa desenvolvida por Whately et al. (2008), referente aos anseios
e aspirações dos usuários dos parques urbanos da cidade de São Paulo,
identificou a busca pelos seguintes usos: a) atividades físicas, b) lazer, c)
cultura; d) descanso e relaxamento, e e) atividades de recreação, cultura e lazer
promovidas pela gestão do parque.
A contribuição para a melhoria da qualidade urbana e da qualidade de
vida pode não ser assegurada devido à alta demanda e à carência de parques
no tecido urbano, bem como à má gestão (MARTINS, 2014). Estudo conduzido
por Philippi Júnior e Rodrigues (2006) sobre a gestão de parques urbanos na
cidade de São Paulo relata que

[...] são tão poucas as áreas verdes públicas nesta cidade, que acaba
ocorrendo excesso de visitação [...] as multidões de visitantes criam um
ambiente ruidoso e estressante, às vezes quase tão desagradável quanto os
congestionamentos de trânsito, do que aqueles visitantes buscam escapar
ao visitar um parque [...], ao invés de encontrar tranquilidade e contato com
a natureza, o visitante encontra barulho, poluição, trânsito, violência, todos
aqueles malefícios da grande metrópole que eles procuram esquecer através
da fruição da área verde. (PHILIPPI JÚNIOR; RODRIGUES, 2006,
p. 322-323).

Desta forma, a necessidade de sistematizar a classificação dos parques


pode contribuir com a gestão pública no que tange ao manejo dessas áreas,
bem como a necessidade de estabelecer novos parques de acordo com as
necessidades regionais e disposição no tecido urbano.

Classificação existente na literatura

A literatura referente à classificação e tipologias de parques urbanos é


incipiente e ambígua; diferentes autores conceituam distintamente parques
urbanos destinados ao mesmo tipo de uso e função (MARTINS, 2014).
Mantovani (2005) classifica os parques em três tipologias: a) Parques
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Tecnológicos; b) Parques Jardins; e c) Parques Ecológicos (Quadro 2).

Quadro 2 – Classificação proposta por Mantovani (2005) segundo tipologia e características


Tipologia Características
São constituídos por mobiliários e equipamentos de uso público, com amplas
Parques áreas destinadas à recreação e lazer, não possuem elementos naturais e/ou
Tecnológicos biológicos marcantes, muitas vezes não apresentam nenhuma característica
natural e tendem a ocupar pequenas áreas.

Os elementos biológicos são manejados continuamente, tais como cortes e


Parques
podas; costumam apresentar inúmeras espécies exóticas amplamente
Jardins
utilizadas no paisagismo, raramente são constituídos por espécies nativas.

Parques A principal característica associa-se à conservação e manutenção dos


Ecológicos ecossistemas integrado ao uso público.
Fonte: Organizado pela autora (2021).

Nota-se que a classificação apresentada por Mantovani (2005) sintetiza


a tipologia dos parques de acordo com a função da vegetação. Dessa forma, o
Parque Tecnológico não apresenta vegetação marcante; o Parque Jardim
apresenta vegetação para fins paisagísticos, fato que é justificado pelo manejo
contínuo e espécies exóticas apreciadas pelos paisagistas, este tipo de parque
tende a ser projetado; e o Parque Ecológico apresenta vegetação marcante,
com espécies vegetais nativas, tipologia que está associada à conservação de
fragmentos florestais.
Bonduki e Ferreira (2006) apresentam as seguintes tipologias: a)
Parques Nucleares Intraurbanos; b) Parques da Cidade; e c) Parques Lineares
(Quadro 3).
Verifica-se, na classificação proposta por Bonduki e Ferreira (2006), que
a tipologia dos parques associa a sua localização no tecido urbano.
Lira (2001) apresenta seis classes para os parques urbanos em função
do seu uso principal: a) Parques de Preservação Ambiental – UCs categorizadas
pelo SNUC (BRASIL, 2000); b) Parques Especiais – viveiros de mudas, jardins
botânicos, zoológicos; c) Parques de Recreação e Lazer – destinados a todas as
faixais etárias; d) Parques de Vizinhança – destinados principalmente à
recreação infantil; e) Parques de Bairro – espaços com tamanho médio, com
infraestrutura de recreação e lazer; e f) Parques Setoriais/Metropolitanos –
áreas amplas com vegetação marcante, área permeável e diversidade de
equipamentos e mobiliários para recreação e lazer.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 19

Quadro 3 – Classificação proposta por Bonduki e Ferreira (2006) segundo tipologia e


características
Tipologia Características
Apresentam como principal objetivo a promoção de atividades de recreação
Parques e lazer em espaços vegetados com área permeável.
Nucleares São bem delimitados e apresentam subcategorias de acordo com as
Intraurbanos dimensões espaciais e inserção na malha urbana, são elas: a) Parques de
Vizinhança, b) Parques de Bairro, e c) Parques Regionais.
Parques da Apresentam grandes dimensões e diversidade de equipamentos, mobiliários
Cidade e atividades destinados à recreação, lazer, cultura e educação.
Área verde lindeira à margem hídrica; pode ser composto constituído por: a)
Área Core, que consiste na Área de Preservação Permanente (APP), definida
Parque
pela legislação vigente; b) Zona de Amortecimento, representa a transição
Lineares
entre a Área Core e a Zona Equipada; e c) Zona Equipada, composta por
equipamentos de recreação e lazer.
Fonte: Organizado pela autora (2021).

Kliass e Magnoli (2006) apresentam uma classificação estruturada no


raio de atendimento do parque na malha urbana (Quadro 4).

Quadro 4 – Classificação proposta por Kliass e Magnoli (2006) segundo tipologia e características
do parque
Tipologia Características
Parque de Parque destinado à recreação infantil com um raio de atendimento de
Vizinhança aproximadamente 500 metros, sem travessia de ruas de trânsito.
Parque de Espaços destinados à recreação de jovens de 11 a 24 anos; seu raio máximo
Bairro de atendimento é de mil metros.
Área destinada à recreação de toda a população, dotada de equipamentos
Parque Setorial
de uso comunitário, com um raio de atendimento máximo de 5 mil metros.
Parques Áreas destinadas à recreação de toda a população da região, localizadas nas
Metropolitanos reservas florestais, junto a represas e elementos naturais marcantes.
Fonte: Organizado pela autora (2021).

Whately et al. (2008) apresentam uma classificação segundo os usos


preponderantes do parque (Quadro 5).
Estudos conduzidos por Ibes (2015) em Fênix-Arizona (EUA) propõem
uma classificação para os parques urbanos que consideram os seguintes
atributos: tamanho do parque, equipamentos e instalações, distância do
centro da cidade, combinação de cobertura do solo, nível de verde e usos do
solo no entorno. Embasando-se em tais atributos são criadas cinco categorias
de parques urbanos (Quadro 6).
20

Quadro 5 – Classificação proposta por Whately et al. (2008) segundo tipologia e características
do parque
Tipologia Características
Naturais Áreas com o objetivo de proteger, conservar e recuperar os sistemas naturais.
Áreas com relevante interesse histórico, tais como museus e patrimônios
Históricos
tombados.
Áreas dotadas de equipamentos e mobiliários para recreação e lazer; comumente
Lazer
com poucas ou nenhum espaço com elementos naturais.
Lineares Área longilínea a rede hídrica.
Fonte: Organizado pela autora (2021).

Quadro 6 – Classificação proposta por Ibes (2015) segundo tipologia e características


Tipologia Características
Apresentam ampla variedade de equipamentos de uso comunitário, tais
Parque de como playgrounds, áreas de piquenique, banheiros, estruturas de sombra,
Subúrbio com piscinas, e recursos hídricos; localizam-se a uma média de 10,9 km do centro
Equipamentos da cidade e tendem a conter mais árvores e cobertura impermeável. Os
bairros circundantes são de baixa densidade urbana.
É a tipologia com menor área dentre os parques urbanos. A cobertura do solo
desses parques é dominada por grama e árvores. Esses locais têm
Miniparques
estatisticamente menos mobiliários para recreação e lazer, raramente
Verdes
apresentam recursos hídricos. Esses espaços tendem a estar dispostos nas
áreas centrais e entorno das áreas mais populosas.
Esta categoria é representada pelos parques mais distantes do centro da
cidade, com uma média de 22,59 km.
Reservas
Estes locais são significativamente maiores, apresentam menor alteração
Nativas do
antrópica, contêm mais caminhos e trilhas e são dominados por solo com
Deserto
pouca vegetação (característica dominante na região do estudo, Arizona –
EUA).
Parques Esta categoria representa as áreas com a maior proporção de árvores. Esses
Verdes de parques suportam a combinação menos diversificada de equipamentos
Vizinhança públicos.
Esses parques concentram-se próximos aos centros urbanos, com a menor
distância média de 4,04 km.
Parques
Os parques neste grupo apresentam centros recreativos e quadras. Os bairros
Centrais
vizinhos apresentam alto adensamento, com as maiores concentrações de
usos comerciais e industriais.
Fonte: Adaptado de Ibes (2015).

Verifica-se que a classificação proposta por Ibes (2015) leva em


consideração as peculiaridades da região de estudo, tais como os parques de
deserto. Ao tecer uma comparação com os parques brasileiros, verifica-se que
o “parque de subúrbio com equipamentos” é equiparável aos “parques
nucleares intraurbanos”, citados por Bonduki e Ferreira (2006), e aos “parques
de lazer”, citados por Whately et al. (2008). A tipologia “reservas nativas do
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 21

deserto” equipara-se à categoria “parques ecológicos” descrita por Mantovani


(2005), uma vez que as características biogeográficas da região do Arizona
(EUA) são de deserto, e os parques inseridos nesta categoria apresentam
predominância de elementos naturais assim como os parques ecológicos.
Brown, Rhodes e Dade (2018), ao realizarem um estudo em Brisbane,
capital de Queensland – Austrália, propõem uma adaptação da classificação
utilizada pela National Recreation and Park Association, nos Estados Unidos
(MERTES; HALL, 1996), e realizam associações entre a tipologia de parque e o
potencial benefício proporcionado às populações (Quadro 7).

Quadro 7 – Classificação empregada por Brown, Rhodes e Dade (2018), segundo tipologia,
características e tamanho da área
Tipologia Características Área (ha)
Usado para atender às necessidades recreativas limitadas, isoladas
Miniparque ≤4
ou únicas de pequenos grupos populacionais.
Parque de Principal área de lazer e recreação da vizinhança. Propícia à
0,4 ¬ 4
vizinhança recreação ativa e passiva.
Parque Visa a atender às necessidades recreacionais da comunidade, bem
4 ¬ 20
Comunitário como preservar paisagens únicas e espaços abertos.
Parque São áreas espacialmente mais amplas que os parques
Urbano comunitários destinados a atender às necessidades recreacionais 20 ¬ 50
Grande da população e conservação da paisagem natural.
Junção de parques com escolas em um mesmo espaço, para
Parque- atender às necessidades da comunidade. Pode apresentar
Variável
escola características de outros parques, como vizinhança, comunidade,
complexo esportivo e uso especial.
Áreas projetadas para atender às necessidades recreacionais
Parque
associadas a práticas esportivas. Devem ser dotadas de quadras e ≥ 10
Esportivo
equipamentos que permitam tal finalidade.
Parque Áreas destinadas à preservação dos recursos naturais,
> 50
Natural remanescentes de vegetação e paisagens cênicas.
Áreas multifuncionais com configuração linear, principalmente
Parques
lindeiras aos cursos hídricos, destinadas à recreação e conservação Variável
Lineares
ambiental.
Fonte: Adaptado de Mertes e Hall (1996) e Brown, Rhodes e Dade (2018).

O estudo realizado por Brown, Rhodes e Dade (2018) apresenta


importantes contribuições quanto aos benefícios atrelados a cada tipologia de
parque. Segundo os referidos autores: a) Parques lineares foram associados às
atividades físicas de maior intensidade; b) parques naturais foram associados
aos benefícios ambientais; c) parques comunitários foram associados aos
benefícios da interação social; e d) parques de bairro associados aos benefícios
psicológicos.
22

Independentemente da classificação e nomenclatura que o parque


receba, o importante é que este cumpra com o seu propósito inicial.

Proposta sintética para a classificação de parques urbanos

Com o intuito de sistematizar as classificações existentes, embasando-


se na leitura apresentada, esta pesquisa propõe uma classificação sintética que
visa a englobar as principais características evidenciadas na literatura, em cinco
tipologias, são elas: Parque de Vizinhança; Parque Ecológico; Parque Linear
Ecológico; Parque Linear Saneador e Parque Central.

Parque de Vizinhança

Engloba os parques dotados de equipamentos para usos recreacionais


e de lazer, com o intuito de promover o convívio social e atividades ao
ar livre. Sua principal característica é a presença de equipamentos de
lazer, como playgrounds, pista para práticas esportivas (caminhadas,
skate, corrida), quadras poliesportivas. A área destinada a este parque
pode variar dependendo do espaço físico disponível. Este modelo de
parque deve ocorrer em localidades afastadas das áreas centrais, cujo
público-alvo é população do seu entorno direto e indireto. A vegetação
se apresenta com um elemento secundário, apresentando funções
estéticas e harmonização da paisagem, portanto, para cumprir tal
função deve ser manejada com alta frequência.

Parque Ecológico

São parques destinados à conservação ambiental em áreas com


remanescentes florestais e/ou paisagens geológicas. O principal
objetivo desta área deve ser a conservação dos recursos naturais
existentes no sítio ambiental. O manejo aplicado deve ser destinado à
condução dos processos de regeneração natural. Deve propiciar
interação da população com a natureza por meio de trilhas
interpretativas e educação ambiental; seu acesso deve ser controlado.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 23

Parque Linear Ecológico

Devem ser implementados em espaços lindeiros aos rios urbanos, cujo


objetivo principal é atender à integridade física e ecológica do fundo de
vale. Para que esse objetivo seja atingido a área deve dispor de mata
ciliar, deve-se adotar como referência a lei de proteção da vegetação
nativa (BRASIL, 2012), que estabelece uma margem com no mínimo 30
metros para rios com até 10 metros de largura e aumenta
proporcionalmente em função da largura do leito do rio de acordo com
a legislação vigente (Lei Federal 12.651/2012). A partir desta faixa, caso
haja espaço, podem ser dispostos mobiliários e equipamentos para
contemplação paisagística e/ou atividades recreacionais passivas. O
contato da população com a várzea deve ser baixo, com o intuito de
evitar possíveis impactos como compactação do solo pelo pisoteio e a
degradação da vegetação.

Parque Linear Saneador

Esta tipologia de parque tem por objetivo amenizar os conflitos


existentes entre a interação homem e fundo de vale. Devido ao fato de
estas áreas estarem suscetíveis a inundações periódicas durante as
cheias, acabam ocasionando enchentes com transtornos sociais,
econômicos e saúde pública. Nas áreas densamente urbanizadas, no
fundo de vale, como o leito maior e a planície de inundação dos rios já
se encontram ocupados por vias públicas, loteamentos regulares e
irregulares, muitas vezes torna-se “quase impossível” sua recuperação
devido a fatores políticos, econômicos e sociais. Desta forma, a
implementação de parques lineares destinados à recreação e ao lazer
permite que tais áreas recebam melhor ocupação sob a ótica ambiental,
evitando transtornos à população e à gestão pública. Dessa forma, o
parque assume o papel de medida saneadora, ao amortecer os picos de
cheia e evitar que essas áreas (a várzea) recebam ocupações irregulares.
24

Parque Central

São espaços abertos que ocupam grandes áreas, destinadas à recreação


e lazer, devem possuir equipamentos urbanos para práticas
recreacionais, esportivas e culturais. A vegetação é elemento
secundário, pode ser composta de vegetação rasteira até pequenos
maciços arbóreos. Nestes espaços há necessidade de manejo contínuo
com o objetivo de evitar espaços que possam expor a população ao
perigo. São parques que podem atrair a população de toda cidade e até
de municípios vizinhos.

Nesta pesquisa adotou-se a premissa de que os parques urbanos são


espaços destinados à população para recreação e lazer, com a presença de
vegetação. Dessa forma, os parques tecnológicos, parques esportivos, e outras
tipologias, cuja finalidade se atrele somente à recreação, ao lazer e ao convívio
social e cultural, não foram contempladas. Assim, sugere-se que estas áreas
sejam enquadradas em outras tipologias de áreas livres urbanas.
As tipologias aqui propostas podem ser aplicadas a diversos parques
urbanos.
Para a tipologia “Parque de vizinhança” podemos enquadrar o “Parque
Gabriel Chucre” (Figura 3) em Carapicuíba-SP. É uma área sob gestão do
Estado, de acordo com São Paulo (2021a), possui 134.000 m², foi construído
sob termo de compensação ambiental e inaugurado em 2012.

Figura 3 – Vista parcial dos equipamentos para lazer e recreação no Parque Gabriel Chucre,
Carapicuíba-SP: (a) pista de para múltiplas atividades; e (b) quadra poliesportiva

(a) (b)
Fonte: São Paulo (2021a).
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 25

Corresponde a uma antiga área degradada próxima a uma remota cava


de mineração e lixão, inserida na bacia hidrográfica do alto Tietê (SÃO PAULO,
2021b).
O parque é constituído por inúmeros equipamentos de lazer e
recreação como pistas de skate, caminhadas, playground, caixas de areia,
quadras poliesportivas, dentre outros; abriga uma Unidade Básica de Saúde
(UBS) e promove atividades lúdicas e educacionais referente ao rio Tietê (SÃO
PAULO, 2021a).
O Parque Cemucam (Centro Municipal de Campismo) (Figura 4) é uma
área sob gestão da prefeitura de São Paulo-SP, porém localiza-se no município
de Cotia-SP. O parque foi inaugurado em 1968 e abriga remanescentes da Mata
Atlântica, um viveiro que fornece mudas para a arborização urbana da cidade
de São Paulo e é equipado com mobiliários para lazer e recreação como
playgrounds, sanitários, churrasqueiras, trilhas para caminhadas, dentre
outros.

Figura 4 – Vista parcial das infraestruturas do Parque CEMUCAM (Cotia-SP): (a) trilha bucólica; (b)
playground; e (c) escadaria rústica de madeira em meio a vegetação

(a) (b) (c)


Fonte: São Paulo (2021c).

De acordo com o inventário da vegetação atualizado em 2020, o Parque


abriga espécies ameaçadas de extinção, enquadradas como vulneráveis, em
perigo de extinção, criticamente em perigo e/ou presumivelmente extinta
(Quadro 8). Dessa forma podemos classificá-lo em “Parque Ecológico”, devido
à importância ambiental dos remanescentes da floresta atlântica e a fragilidade
ambiental deste ecossistema.
São raros os Parques Lineares que podem ser enquadrados na tipologia
26

ecológica. Desta forma, propõe-se um modelo conceitual (Figura 5) da


aplicação de um Parque Linear Ecológico. Este espaço deve visar a proteção
única e exclusiva das dinâmicas físicas e ecológicas da várzea, dessa forma não
devem ocorrer atividades recreacionais passivas e/ou ativas no mínimo em 30
metros a partir do leito do rio. Estes espaços devem ser criados e concebidos
preferivelmente antes da expansão da malha urbana.

Quadro 8 – Suscetibilidade das espécies da flora ameaçadas de extinção no Parque CEMUCAM,


segundo nome científico, nome popular e status de conservação
Nome científico Nome popular Status de conservação
Euterpe edulis Mart. Palmito Jussara Vulnerável
Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Espinheira santa Vulnerável
Sloanea obtusifolia (Moric.) K. Schum Sapopemba Em perigo
Dalbergia nigra (Vell.) Allemão ex Benth. jacarandá-da-Bahia Criticamente em perigo
Paubrasilia echinata (Lam.) E. Gagnon, H.
Pau-Brasil Em perigo
C. Lima, G. P. Lewis
Rhynchosia reticulata (Sw.) DC. Favinha-branca Presumivelmente extinta
Nectandra barbellata Coe-Teix. Canela-amarela Vulnerável
Cedrela fissilis Vell. Cedro Vulnerável
Plinia edulis (Vell.) Sobral Cambucá Vulnerável
Pouteria bullata (S. Moore) Baehni Guapeva Em perigo
Fonte: São Paulo (2021c).

Figura 5 – Modelo conceitual de um Parque Linear Ecológico

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

Como supramencionado, o “Parque Linear Saneador” visa a dar uma


Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 27

nova habilidade, uma ocupação menos impermeável para a beira do rio e


mitigar problemas associados às enchentes, propiciando uma nova
estabilidade física para esta área e inserir a população neste processo.
Pode-se enquadrar nesta classe o Parque Linear Aricanduva (Figura 6),
localizado na zona leste da cidade de São Paulo, às margens do rio Aricanduva.
Segundo a Secretaria do Verde e Meio e Meio Ambiente (SVMA) (SÃO PAULO,
2021d), o parque foi inaugurado em 2012 e contou com intervenções de
contenção das margens e plantio de espécies nativas. Oferece à população
equipamentos como quadras poliesportivas, playgrounds, caminhos, áreas de
estar e pista de skate. Este parque foi implementado em uma área totalmente
antropizada para amortecer os picos de cheia no rio Aricanduva.

Figura 6 – Vista parcial do Parque Linear Aricanduva, em São Paulo-SP: (a) playground; (b)
paisagismo e (c) mobiliário para convívio social

(a) (b) (c)


Fonte: São Paulo (2021d).

O Parque Ibirapuera (Figura 7) é um bom exemplo de “Parques


Centrais”, pois permite a junção, em um único espaço, entre atividades
culturais, vegetação, fauna, lazer e recreação. Foi construído em uma antiga
área de cava de mineração e hoje é um dos principais parques da cidade, além
de receber visitantes da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). O parque
foi inaugurado em 1954 e representa a área verde mais icônica da cidade de
São Paulo.
Cabe destacar que, segundo Magalhães (2020), devido ao tamanho da
cidade e da população de São Paulo, deveriam existir dez vezes mais áreas
verdes do que existe atualmente; tal problema é evidente nos fins de semana,
quando pedestres, ciclistas e corredores disputam acirradamente as vias
28

internas do parque; o Parque Ibirapuera é, na verdade, muito pequeno para a


cidade, que deveria ter outros tantos “Ibirapueras” espalhados.
Tal exposição elucida bem a classificação da tipologia de Parques
Centrais, ou seja, são parques maiores, que devem exercer múltiplas funções e
estarem dispostos estrategicamente no tecido urbano.

Figura 7 – Vista aérea do Parque Ibirapuera em São Paulo-SP

Fonte: Magalhães (2021). Autor da imagem desconhecido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa apresentou as principais tipologias de parques urbanos


referenciadas na literatura disponível.
Nota-se que não existe um consenso entre os autores, pois parques com
a mesma finalidade recebem diferentes nomeações.
Assim, faz-se necessário um consenso na literatura com o intuito de
auxiliar os sistemas de gestão pública na definição de objetivos e harmonização
desses espaços, bem como nortear os critérios a serem estabelecidos para a
criação de novos parques.
Este artigo não buscou esgotar o assunto, mas apresentar uma
contribuição em busca da padronização das terminologias já empregadas.
Assim, foram criadas cinco classes de parques, que visaram a reunir e sintetizar
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 29

as classes apresentadas na literatura disponível.


As classes propostas foram: parque de vizinhança, parque ecológico,
parque linear ecológico, parque linear saneador, e parques centrais. As
categorias propostas foram submetidas a testes com o intuito de verificar a
compatibilidade das tipologias com os parques existentes nas cidades
brasileiras.
Para a tipologia parque Linear Ecológico, não se evidenciou nenhum
parque com essa finalidade exclusiva (foram buscados parques na cidade de
São Paulo); dentro da malha urbana de São Paulo-SP, existem rios com cursos
d’água protegidos, mas estão dentro de Unidades de Conservação, como
exemplo as nascentes no Parque Natural Municipal do Carmo, mas esta
categoria não abrange os parques urbanos retratados neste estudo. Acredita-
se que em áreas menos adensadas possam existir espaços com tais
características e com potencial para implementação de Parque Lineares
Ecológicos.
Para estudos futuros sugere-se uma investigação das terminologias
adotadas pelo setor público em diferentes localidades brasileiras, bem como
identificar se a gestão aplicada nesses espaços é compatível com a classificação
da área.
Por fim, acredita-se que a principal contribuição desta pesquisa reside
no fato de reunir em um único documento classificações propostas para
parques urbanos por diferentes autores em distintas localidades e a proposta
de uma simplificação para as terminologias dos parques da atualidade.

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32
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 33

Capítulo 2

ÁREAS VERDES URBANAS PROTEGIDAS: CONSEQUÊNCIAS DA


PRESSÃO ANTRÓPICA

Cátia Araújo Farias3


Celso Maran de Oliveira4

INTRODUÇÃO

Ao analisar as relações conceituais entre as políticas públicas ambientais


e as leis regulamentadoras sobre suas aplicabilidades no domínio geográfico
denominado áreas verdes, mais especificamente as Áreas de Preservação
Permanentes (APP) urbanas, observa-se que ambas contribuem para a
delimitação dessas áreas no planejamento territorial local e,
consequentemente, a criação de ambientes de valoração da qualidade de vida,
bem como na perspectiva de proteção e manutenção do meio ambiente, em
alinhamento aos preceitos constitucionais.
Porém, na gestão ambiental local desses espaços há ainda desafios a
serem vencidos relacionados à construção de interfaces entre os instrumentos
da política ambiental nacional e da política urbana (BATISTELA, 2007; BRASIL,
1981). Nesse sentido, a adoção de cuidados diferenciados de tais espaços
urbanos faz-se necessária nos documentos de gestão pública local, uma vez
que esses locais possuem atributos ambientais relevantes, tanto que estão
presentes como tema de objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda
2030, especificamente do objetivo 11: tornar as cidades e os assentamentos
humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis (ONU, 2021).
Segundo Steiner e Rückert (2013), as políticas públicas como as
ambientais e urbanísticas não influenciam diretamente as áreas verdes

3 Doutora em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa, professora titular do Curso de


Especialização em Perícia Ambiental e Auditorias do UNIFESO, pós-doutoranda do Programa de
Pós-Graduação em Ciências Ambientais do Departamento e Ciências Ambientais da UFSCar. E-mail:
[email protected]
4 Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental pela USP, professor associado do Departamento

de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos. E-mail: [email protected]


34

urbanas tanto quanto as leis regulamentadoras e certos instrumentos de


gestão ambiental, como o zoneamento ecológico-econômico (ZEE) (BRASIL,
2002), no âmbito do planejamento urbano estabelecido no Plano Diretor. De
certo que, as políticas públicas ambientais contribuem no norteamento do
espaço territorial protegido, a partir dos seus instrumentos reguladores, assim
como aqueles de democratização da gestão urbana, assim como preconizado
pelo Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001). Contudo, as observações qualificadas
desses espaços ainda se destoam do preconizado por tais documentos de
controle e comando, sobretudo quanto à definição de áreas livres para uso
recreativo e lazer da população.
A atenção dada aos atributos dessas áreas no ordenamento territorial
urbano por meio do Plano Diretor deve ser diligente para que os setores de
fiscalização e tributos das administrações públicas locais empreguem eficiência
e eficácia na delimitação e atribuição dos espaços verdes urbanos, evitando a
adoção de conceituação e definição equivocadas daquelas já definidas nas
políticas públicas e seus instrumentos, de modo a evitar divergências legais
quanto ao uso e manejo desses espaços.
Segundo a concepção sobre áreas verdes e espaços livres, há ainda
divergências de conceitos entre os profissionais urbanísticos sobre tais
ambientes. De qualquer maneira, com o novo Código Florestal (BRASIL, 2012),
percebe-se uma tentativa de convergência desses conceitos técnicos sobre as
áreas verdes urbanas, embora sua existência material esteja delimitada em
porcentagem mínima nos documentos legais, como no Plano Diretor das
municipalidades e, ainda assim, sob abordagens como de espaço para o lazer,
de conservação ou de educação ambiental (MORERO; SANTOS; FIDALGO,
2007).
O conceito adotado para esses espaços encontra-se definido no Plano
Diretor da cidade, quase sempre para corrigir ou adequar a forma de uso e
ocupação adotados quando da expansão urbana pretérita às leis
regulamentadoras. De qualquer forma, o planejamento urbano materializado
com o Plano Diretor vem ao encontro das premissas dos documentos
reguladores ambientais, por corresponder a um instrumento básico da política
de desenvolvimento e expansão urbana (BRASIL, 2001), objetivando a
promoção do desenvolvimento das funções sociais de uma cidade, de maneira
a garantir o bem-estar de seus habitantes, definindo as exigências
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 35

fundamentais de ordenação espacial, fazendo cumprir, portanto, a função


social da propriedade urbana (OLIVEIRA; MELNICKY, 2017), conforme
estabelecido na Constituição Federal (BRASIL, 1988, art. 182, § 1º e 2º, bem
como no Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001, art. 40 , § 1º).
A organização desse espaço físico-territorial necessariamente precisa
partir de um planejamento integrado e participativo, considerando os atores
sociais que compõem a comunidade local, de maneira a atender não apenas às
premissas legais, devidamente evidenciadas na Constituição (BRASIL, 1988, art.
29) e Estatuto da Cidade (art. 40, § 4º), como também ao desenvolvimento
integrado dos planos e projetos urbanísticos alinhados às normas de controle
do uso e ocupação do solo.
Nesse aspecto, os “gaps” que existem em decorrência de ocupações de
áreas especialmente protegidas quando realizadas para possibilitar o processo
de urbanização territorial, anteriores à legislação, ou das normativas
ambientais existentes, precisam ser analisadas e reorganizadas considerando
a regulação por meio de normas jurídicas com a finalidade de recolocação e
controle das necessidades básicas hodiernas, por intermédio de adoção de
medidas corretivas ou compensatórias para os equívocos de ordem
interpretativa de tais espaços, balizados por uma legislação ambiental anterior
(FARIAS; COUTINHO, 2010).
Assim, têm-se as áreas verdes denominadas APPs urbanas que,
consideradas como áreas de preservação ambiental permanente em todos os
documentos de organização espacial, conforme a lei determina, são
frequentemente interpretadas pela comunidade local como áreas de direito à
moradia e à propriedade. Tal entendimento advindo, possivelmente, da pouca
visibilidade e de informação sobre a conceituação/definição da APP, na grande
maioria dos casos parece ser de ordem endêmica nos municípios, tendo em
vista ações civis públicas ajuizadas para corrigir tais “gaps” que surgem como
consequência desses equívocos.
O presente trabalho objetiva analisar as consequências de dano
ambiental em uma APP urbana no município de São Carlos-SP, quando em
vistoria pericial ambiental, em decorrência de equívocos de uso e ocupação
territorial.
36

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a presente pesquisa utilizou-se do método de inspeção ambiental


a partir da análise dos elementos divergentes (“gaps”) contidos nos
documentos dos autos do processo judicial, bem como o levantamento de
documentos sobre as atividades pretéritas do local vistoriado e seu entorno,
por meio de imagens aéreas (GOOGLE EARTH, 2020).
Além disso, realizou-se o registro fotográfico da área (vegetação, solo,
canalização de águas pluviais, vizinhança da área) para verificação técnica e
diagnóstico de impactos ambientais sobre os recursos edáficos, a partir da
avaliação de impacto ambiental, conforme Sanchez (2008). Para tanto,
percorreu-se toda área, registrando as diversas situações evidenciadas,
conforme a Norma de Inspeção Ambiental Imobiliária ditada pelo IBAPE-SP
(1996) e procedimentos estabelecidos pelas Resoluções do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (BRASIL, 1986; 2002; 2006), bem como a Resolução
conjunta SMA IBAMA/SP (SÃO PAULO, 1994).
O critério adotado consistiu na utilização da técnica de pesquisa do tipo
desk research sobre os laudos apresentados no processo. Em campo, ou seja,
na vistoria, buscou-se o emprego da técnica da listagem de controle, check lists,
comumente empregada na leitura de campo, para efetuar uma listagem de
impactos ambientais relevantes (SANCHEZ, 2008) que, juntamente com o
registro fotográfico, serviram de apoio à adoção de método de análise de
impacto ambiental que contribui na elaboração do diagnóstico ambiental. Por
meio dessa ferramenta de gestão ambiental, buscou-se identificar e
interpretar os impactos decorrentes de danos ambientais antropogênicos.
Esta linha metodológica apresentou-se como vantajosa devido à
resposta imediata na avaliação qualitativa de impactos mais relevantes
observados. Para tanto, estabeleceram-se alguns critérios de análise na
inspeção, considerando os seguintes tópicos:
1º – Constatação do atendimento ao Termo de Compromisso de
Recuperação Ambiental (TCRA) – verificação do plantio, estágio de
desenvolvimento das espécies plantadas na área de APP, fitossociologia
do remanescente.
2º – Análise do sistema de microdrenagem no local, responsável pela
coleta e afastamento das águas superficial (águas pluviais).
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 37

3º – Análise de indicadores de pressão ambiental no local (pressão


exercida pelas atividades antrópicas).
Mediante isso, em vistoria, as análises dos impactos recaíram-se sobre
o meio físico: diagnóstico ambiental por meio do instrumento de gestão
ambiental de AIA, conforme Sanchez (2008); percepção ambiental associada
ao grau de educação ambiental (BRASIL, 1999); sobre o objeto de perícia,
apoiando-se na norma NBR 13.752/96 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMA
TÉCNICA, 1996); Norma de Inspeção Ambiental Imobiliária e Norma Básica para
Perícias de Engenharia (INSTITUTO BRASILEIRO DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE
ENGENHARIA DE SÃO PAULO, 1996; 2002); e nas diretrizes de projetos do
Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAAE), órgão gestor dos recursos
hídricos do Estado de São Paulo: Guia Prático para Projetos de Pequenas Obras
Hidráulicas (DAEE, 1980), e de Drenagem Urbana: Manual de Projeto (DAE-
CETESB, 1980).

ESTUDO DE CASO

A área objeto de estudo corresponde à APP urbana localizada entre os


bairros Boa Vista e Bicão no município de São Carlos (Figura 1). Conforme Lei
Municipal à época do conflito institucionalizado, Lei 13.691/2005 (que instituiu
o Plano Diretor de São Carlos-SP), a área encontra-se inserida na “Zona 2 de
ocupação condicionada”, sendo classificada como Áreas Especiais de Interesse
(AEI) Ambiental. No Plano Diretor, essas áreas são definidas como:

[...] áreas especiais destinadas a proteger e recuperar os mananciais,


nascentes e corpos d’água, a preservação de áreas com vegetação
significativa e paisagens naturais notáveis; áreas de reflorestamento e de
conservação de parques e fundos de vale. (SÃO CARLOS, 2005, p. 18).
38

Figura 1. Área de APP urbana

Fonte: Imagem capturada pelo app Google Earth (2012), registro imagem de 7/01/2004.
Disponível em: http://www.saocarlos.sp.gov.br/plano-diretor.html

O relevo do entorno da APP apresenta-se caracterizado como suave


ondulado, com declividades médias em torno de 12% (EMBRAPA, 1999),
constituído de quadras urbanizadas pertencentes aos loteamentos Jardim
Bicão e Prolongamento do Jardim Medeiros que originaram os bairros. No
histórico de uso e ocupação, a área era destinada à pastagem, uso comum na
maioria da região.
Desde 2002 a APP localizada entre a av. Maria Consuelo Brandão
Tolentino e o bairro Jardim das Torres, com frente para a av. José Pereira Lopes
– imóvel Mat. nº 89.557 do CRI local (Figura 1), vem sendo acompanhada pelo
Ministério Público (MP) de São Paulo, uma vez que foi constatada na área a
necessidade de realizar a recuperação dos danos ambientais ocasionados pela
implantação do loteamento alcançando a APP, impactando a vegetação ciliar
do córrego Medeiros5.
Na ocasião, o Poder Público local firmou com a Secretaria do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo, por meio da sua agência supervisora
regional, em São Carlos-SP, o documento oficial TCRA correspondente à APP
urbana afetada. No referido documento, o infrator obrigou-se a atender as
medidas de recuperação ambiental e/ou recomposição da vegetação nativa.
Para tanto, foram elencados os procedimentos técnicos de recomposição da
vegetação, atendendo às regras de plantio quanto a espaçamento e tratos

5
A Prefeitura Municipal de São Carlos construiu como parte do sistema viário da região a avenida
“A”, denominada como Av. Maria Consuelo Brandão Tolentino, na margem esquerda do córrego
Medeiros, antes da implantação do referido loteamento.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 39

culturais, bem como outras de manutenção do dossel. Mediante o


descumprimento de alguns dos requisitos do referido documento, foi
instaurada a ação civil pública pelo MP contra o município de São Carlos-SP,
justamente sobre as deliberações firmadas no TCRA.
Em decorrência disso, novas diligências oficiais foram determinadas e
iniciadas com a análise dos documentos acostados aos autos, de maneira a
verificar os eventuais danos ambientais na APP ainda existentes e as possíveis
reparações/compensações ambientais delineadas, incluindo a verificação da
exata localização e autonomia da área em estudo.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Em 2009, ao visitar a área, constatou-se que o projeto urbanístico


aprovado pelo poder público local não contemplava o uso e/ou intervenções
nas margens do córrego Medeiros e que as diretrizes urbanísticas para o
loteamento haviam sido executadas considerando o manual do GRAPOHAB –
Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais do Estado de São
Paulo6 (SÃO PAULO, 2007), responsável por centralizar e agilizar os
procedimentos administrativos para a implantação de empreendimentos de
parcelamentos do solo para fins residenciais, conjuntos e condomínios
habitacionais, públicos ou privados (SÃO PAULO, 2011), que nortearam a
execução dos projetos de expansão urbana do município. A partir de então,
todas as intervenções realizadas nas margens e no canal do córrego Medeiros
estão vinculadas às ações do Poder Público local. Naquela ocasião, constatou-
se a persistência do dano ambiental deflagrado em 2002 e, com o passar dos
anos, outros surgiram em consequência dos anteriores.
Em 2012, procedeu-se nova verificação das tratativas já mencionadas,
com base na metodologia empregada para inspeção ambiental. Naquela
oportunidade, buscou-se analisar os aspectos do uso e manejo do local objeto
de inspeção, considerando aqueles relevantes quanto à leitura ambiental
sobre as determinações estabelecidas no TCRA e recomendações aludidas nos
laudos periciais acostados aos autos.

6 Reestruturado por meio do Decreto Estadual 52.053/2007.


40

Constatou-se que a vegetação ciliar se encontrava descaracterizada,


fragmentada, apresentando na maior parte da área trechos com a largura
destinada à APP abaixo das metragens especificadas pelo Código Florestal.
Além disso, a presença de espécies introduzidas em tentativa de
reflorestamento pretérita, apresentavam-se com deficiência de tratos
culturais, sobretudo na manutenção e reposição de adubação e irrigação nas
áreas de talude do córrego, apresentando poucos indivíduos arbóreos
remanescentes, a maioria com troncos retilíneos e alturas variando entre 4 e
10 metros. Constatou-se, ainda, que na APP não existiam condições propícias
para a ocorrência de indivíduos regenerantes, sendo a exuberância de copa
riqueza e densidade baixas, tendo em vista a pressão antrópica no local, com
possibilidade de circulação e a introdução de equino em regime de
confinamento permanente.
Na Figura 2, tem-se o registro de processos erosivos, agravados pela
canalização direta das águas pluviais do entorno, o que pode levar ao gradativo
empobrecimento do solo e comprometimento da calha do córrego pelo
acúmulo de sedimentos no mesmo. Tais ocorrências favorecem a
desregularização da vazão do córrego, vindo a ocasionar enchentes no período
chuvoso.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 41

Figura 2. Fotos dos processos erosivos da área estudada

Fonte: Elaboração própria (2021).

A foto à esquerda acima mostra o talude do córrego à esquerda, sentido


saída do bairro, que se encontra com poucas espécies arbóreas com indícios
de supressão antrópica; e na da direita, o talude encontra-se com processo de
erosão por solapamento de encosta. A foto a seguir, em determinado trecho,
apresenta formação de bermas (em destaque), possivelmente por algum
deslizamento no pretérito, evidenciando a presença de tais taludes.
A vegetação na área, em alguns pontos, apresentava-se com moderada
densidade arbórea e fragmentada, constituída de espécies de estrato
arbustivo-arbóreo. As informações relativas aos indivíduos arbóreos presentes,
bem como sobre a profundidade da serrapilheira, a presença de árvores com
tronco retilíneo, a altura dos indivíduos, são algumas das características que
identificam a formação vegetal (mata estacional ou vegetação de cerrado), o
estágio de regeneração atual, a produtividade e a sustentabilidade relativa da
42

estrutura florestal, consubstanciada pelas espécies arbóreas ocorrentes


(Figura 3).
Conforme Finger (1992) e Machado e Figueiredo Filho (2003), valores
de área basal para florestas tropicais geralmente estão entre 20 e 45 m2 ha-1 e,
com base nas espécies arbóreas encontradas, a vegetação pode representar-
se como típica floresta tropical, neste caso, uma mata ripária ou de galeria
(floresta estacional semidecídua) que se desenvolve em área de contato com
o Bioma Cerrado Paulista; desde que a pressão antrópica diminua. Constatou-
se, ainda, a presença de braquiária (Brachiaria decumbens), uma gramínea
africana nas áreas menos sombreadas.
Os remanescentes arbóreos, porém, estão expostos à movimentação
do terreno que expõe suas raízes, reduz a sustentação, o que pode levar a
quedas dos mesmos dentro da calha. Tal remanescente, uma mata secundária
sobrevivente, apresenta estágio de regeneração fortemente perturbado e com
futuro incerto, caso os impactos ambientais negativos advindos da pressão
antrópica na área não sejam suprimidos. A identificação do estágio toma como
base as diretrizes estabelecidas pela Resolução do Conama 1 (BRASIL, 1994) e
SMA-55 (SÃO PAULO, 1995). A formação florestal estacional semidecidual está
inserida no domínio Mata Atlântica, confirmando dados do estudo de
remanescentes realizado pelo SOS Mata Atlântica (2019).
A vegetação que ainda se encontra no local representa a resiliência
natural das espécies, fruto de uma oscilação entre a força da regeneração
natural intrínseca aos componentes botânicos estruturais, bem como possíveis
tentativas de reposição florestal pretérita e a paulatina inibição causada pelas
condições adversas do entorno, fruto da pressão antrópica.
Às margens do córrego Medeiros, ainda sob domínio de preservação
permanente, não existem condições propícias para a ocorrência de indivíduos
regenerantes, sendo a riqueza e densidade destes muito baixos, tendo em vista
a invasão humana, utilizando-a para área de lazer (Figura 3). Portanto, a área
de entorno da APP, de influência direta, apresenta forte pressão antrópica, em
decorrência de uma sobrecarga na infraestrutura urbana.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 43

Figura 3. Fotos das margens do córrego Medeiros

Fonte: Elaboração própria (2021).

As fotos da Figura 3, nas margens do córrego Medeiros, demonstram a


situação atual do solo, evidenciando a prática de caminhamento sobre as
espécies arbóreas, levando a perda de serrapilheira, bem como outros tipos de
agressão às mesmas, como pinturas em seus troncos.
Para Crestana (2006, p. 97),

[...] a escolha do método de recomposição florestal mais adequado para uma


determinada área vai depender de vários fatores, como: o grau de
degradação da área, o histórico da área, a disponibilidade de sementes e
mudas no mercado, a existência de máquinas e implementos agrícolas e dos
recursos financeiros disponíveis para tal fim.

Neste aspecto, informa que é necessário

[...] ter sempre como referência os processos naturais de recuperação da


floresta e que o modelo de revegetação a ser adotados não implica,
necessariamente, no plantio de mudas. Em muitos casos, o simples
isolamento da área já e suficiente para que ela se recupere gradual e
naturalmente. Além disso, espera-se que com o tempo, a entrada natural de
sementes no sistema se encarregue de aumentar sua diversidade. Nesse
modelo de plantio as pioneiras e não-pioneiras pode ser realizado
simultaneamente ou em diferentes épocas. (CRESTANA, 2006, p. 99).

Conforme Santana (2009 apud SANTANA et al., 2014, p.706):


44

[...] nos locais onde a vegetação primitiva foi eliminada é possível inverter a
situação por meio de diversos processos de recuperação de florestas,
buscando restaurar o meio biofísico local no tocante à flora. Embora a mata
recomposta dificilmente atinja a mesma diversidade da mata original, a
revegetação tem a capacidade de mitigar uma série de efeitos e impactos
ambientais, permitindo o restabelecimento de algumas características
primitivas da área.

Pelas informações na literatura científica consultada a respeito do


processo de revegetação, é sabido que nas florestas tropicais, a sucessão
florestal desenvolve por meio de um processo gradativo, ou seja, primeiro
instalam-se as espécies pioneiras, que darão condições para o surgimento das
espécies secundárias, e essas proporcionarão as condições para as espécies
mais tolerantes, as chamadas espécies clímax. Todo esse processo depende de
vários fatores, entre eles os mecanismos de dispersão (CHAZDON, 2016;
DURIGAN, 2009; GUARIGUATA; OSTERTAG, 2001; MARTINS, 2012; VIVIANI,
RIOS, OLIVEIRA et al., 2015).
Segundo Durigan e Nogueira (1990 apud GONÇALVES et al., 2005),

[...] recomposição de matas ciliares deve partir de um planejamento prévio”;


com estudos para os procedimentos do que e como plantar. Outro aspecto
fundamental é a escolha das espécies a serem plantadas, de preferência
aquelas que ocorrem naturalmente em condições de clima, solo e umidade
semelhantes às da área a ser reflorestada. (GONÇALVES et al., 2005, p. 74).

Pelo observado, houve a preocupação de atender às sugestões


metodológicas para a APP, conforme Quadro 1, atendendo possivelmente a
três categorias: espécies pioneiras, espécies de “estrutura” e espécies de
“diversidade”, com base em características sucessionais de algumas espécies
e, principalmente, na estrutura qualitativa e quantitativa das florestas da
região (AGUIAR et al., 1997; AOKI et al., 2001; ARRUDA; SAZIMA, 1996),
conforme esquema ilustrativo na Figura 4.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 45

Figura 4 – Esquema ilustrativo

Fonte: Elaboração própria (2021).

Nesse esquema a letra "P" é utilizada para espécies pioneiras; "E" para
espécies de “estrutura”; e "D" para espécies de “diversidade”. Em geral, os
modelos propostos para a revegetação de uma área procuram restaurar a
estrutura e a dinâmica da vegetação original, resguardando a diversidade das
espécies e a representatividade de suas populações (MACEDO, 1993).
Contudo, as espécies selecionadas não foram encontradas no local, apenas
evidências de terem sido plantadas. A falta de tratos culturais quando da
semeadura ou replantio de mudas conduziram à morte prematura dessas
espécies.

Quadro 1. Espécies selecionadas para o atendimento ao TCRA

Astronium graveolens Guaritá


Tapirira guianensis Peito-de-pomba
Annona cacans Araticum
Duguetia lanceolata Pindaíva
Aspidosperma cylindrocarpon Peroba-poca
Aspidosperma polyneuron Peroba-rosa
Tabebuia ochracea Ipê-amarelo-do-cerrado
Chorisia speciosa Paineira
Cordia superba Babosa-branca
Patagonula americana Guaiuvira
Croton urucurana Sangra-d'água
Cariniana estrellensis Jequitibá-branco
Cariniana legalis Jequitibá-vermelho
Copaifera langsdorffii Copaíba
Schizolobium parahyba Guapuruvu
Albizia hasslerii Farinha-seca
46

Anadenanthera colubrina Angico-branco


Enterolobium contortisiliquum Orelha-de-negro
Cedrela fissilis Cedro-rosa
Ficus guaranítica Figueira-branca
Colubrina glandulosa Saguaragi
Genipa americana Genipapo
Gallesia integrifolia Pau-d'alho
Myrciaria tenella Cambuí
Miconia candolleana Jacatirão
Inga laurina Ingá-mirim
Tabebuia ochracea Ipê-amarelo-do-cerrado
Fonte: Ação Civil Pública n. 0011794-62.2006.8.26.0566.

Esse panorama de impactos ambientais negativos sobre a APP urbana,


todos relacionados à pressão das atividades antrópicas do entorno,
potencializados pelo planejamento urbano adotado, dificulta o
estabelecimento efetivo do processo de regeneração local estabelecido no
TCRA. Tais impactos observados podem levar a uma degradação maior da área
em tempo menor de ocorrência, tendo em vista que a declividade natural dos
taludes margeantes do córrego Medeiros, que favorece o processo erosivo
estabelecido, tende a evoluir se medidas corretivas da drenagem superficial
não forem tomadas, bem como o isolamento da área e replantio das espécies
(Quadro 1) nas áreas de falha fitossociológicas.
Conforme Andrade e Romero (2005), a existência de APPs em área
urbana contribui de forma efetiva no controle climático local,

[...] na qualidade do ar, na manutenção dos mananciais, bem como no bem-


estar humano, além de desempenhar um papel ecológico importante como
na estabilidade geomorfológica, na amenização da poluição e na
manutenção da flora e fauna locais. (ANDRADE; ROMERO, 2005, p. 751).

Tais benefícios são observados no longo prazo, o que dificulta a adoção


de práticas conservacionistas por grande parte da população de modo geral.
Todavia, os impactos ambientais negativos oriundos da não adoção das
medidas estabelecidas na legislação sobre as APPs são quase sempre
imediatos, como os observados quando em períodos de elevadas
pluviometrias, pelos transbordamentos dos mananciais, solapamentos de
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 47

encostas, dentre outros. Na APP vistoriada, os impactos ambientais negativos


observados estão relacionados às atividades antrópicas pelas proximidades
dos equipamentos urbanos. Os mais relevantes, configuram-se:
a) em relação à fase de implantação de loteamentos: i) possível
supressão de algumas espécies vegetais, pela derrubada da flora
terrestre quando da implantação dos loteamentos; ii) possível
alteração da microfauna e microflora do solo quando da remoção
da serrapilheira, ou seja, dos resíduos vegetais e matéria orgânica
do solo; iii) possível redução da capacidade produtiva do sítio, pela
remoção em parte da camada fértil do solo, decorrente do processo
de exposição do solo; iv) danos mecânicos ao banco de propágulos
vegetais do solo, quando do processo de alteração da camada fértil
do solo.
Tais impactos conduziram a uma área descaracterizada sobre sua
vegetação original. Em decorrência desses, outros se apresentaram
ao longo dos anos, após a implantação de loteamentos, como:
impacto visual, quando da disposição inadequada de resíduo sólido
junto à área; depreciação da qualidade do ar, devido à prática de
queima dos resíduos sólidos dispostos de forma inadequada;
depreciação da qualidade paisagística, decorrente de resíduo sólido
junto à área; possibilidade de ocorrência de acidentes com animais
peçonhentos, pelo aumento da população destes animais nos locais
de deposição dos resíduos; afugentamento e consequente estresse
na fauna terrestre silvestre em virtude da geração de ruídos
decorrentes do movimento de humanos e animais na área;

b) em relação à drenagem superficial: i) surgimento de pontos de


concentração das águas pela criação de valas de acúmulo; ii)
aumento pontual da concentração das águas, pelo escoamento
superficial a partir da microdrenagem; iii) redução da capacidade
de sustentação da área, pela eliminação da camada fértil do solo,
devido ao encharcamento do solo e deposição de partículas
carreadas; iv) estreitamento da base genética das espécies vegetais
nativas, pela diminuição da flora terrestre, com o processo de
deposição de partículas carreadas; v) redução da capacidade
48

produtiva do sítio, pelo surgimento de fenômenos erosivos,


decorrentes do processo de solapamento e ravinamento.

c) Em relação à pressão antrópica: i) deposição inadequada de


resíduos sólidos domiciliares (lixo) junto à área; ii) impacto visual
quando do acúmulo inadequado de lixo junto à área; iii)
depreciação da qualidade paisagística, decorrente do acúmulo de
lixo junto à área; iv) possibilidade de ocorrência de acidentes com
animais peçonhentos pelo aumento da população destes animais
nos locais de deposição de lixo; v) afugentamento e consequente
estresse na fauna terrestre silvestre em virtude da geração de
ruídos decorrentes do movimento de humanos e animais de grande
porte na área.

A APP estudada apresenta características de degradação diversas em


decorrência da adoção do planejamento urbano executado que inviabiliza
medidas corretivas de reapropriação da área de entorno destinada à classe do
córrego Medeiros, segundo o Código Florestal, tendo em vista as restrições de
ocupação antrópica nesses locais, conforme estabelecidas nas leis ambientais
brasileiras. Além disso, a pressão antrópica evidenciada potencializa tais danos
pelo uso empregado pelos locais na disposição inadequada de resíduos sólidos
urbanos, descarga clandestina de água residuária doméstica e utilização do
local como área de lazer.
A adoção de medidas reparadoras para mitigação dos danos ambientais
é necessária para que haja uma recondução do ambiente a um estágio de
resiliência, como: isolamento da área com a finalidade de evitar a entrada de
animais e humanos, tendo em vista que ambos contribuem para redução da
cobertura vegetal, sobretudo as pioneiras (Figura 5). Para este isolamento
recomendam-se telas protetoras tipo alambrado ou tela soldada, com
construção de muretas; plantio de espécies vegetais resistentes na borda do
talude natural do córrego Medeiros, de maneira a evitar impactos ambientais
negativos sobre a APP advindos dos processos de solapamento. Tal medida
obstaculiza o escoamento superficial e favorece a infiltração do escoamento
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 49

superficial em percurso, garantindo a contenção de erosão na borda da calha


já existente.
Além disso, faz-se necessário o acompanhamento do desenvolvimento
das espécies, não descuidando dos tratos culturais, sobretudo nos períodos
sazonais do clima, tendo em vista a baixa fertilidade natural do solo no local;
adoção de medidas proibitivas quanto ao lançamento de resíduos sólidos
domiciliares, tendo em vista que tais resíduos favorecem a contaminação do
solo e da água e o impedimento do desenvolvimento das espécies vegetais,
bem como da deposição de resíduos inertes que geram impacto ambiental
cênico. Quanto à rede de drenagem superficial advindas da infraestrutura
urbana, faz-se necessário o estabelecimento de estruturas de obras hidráulicas
para evitar processos erosivos quando do escoamento de águas superficiais em
períodos de chuvas intensas7.
Com a promulgação da Lei 13.944/2006, que dispõe sobre a criação das
Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais do Município (APREM), na
Seção III, que trata das áreas de recuperação ambiental (ARA), há a
determinação de intervenção de caráter corretivo para mitigação dos impactos
ambientais ocasionados pelo uso e ocupação que estejam comprometendo a
“fluidez, a potabilidade, a quantidade ou a qualidade dos mananciais” de que
trata a referida Lei.

[...] consideram-se ARA: I – de uso urbano ou não, desprovidas de


infraestrutura de saneamento ambiental, onde o Poder Público deverá
promover programas ou exigir as intervenções necessárias para a
recuperação ambiental; II – degradadas, urbanas e rurais, decorrentes de
empreendimentos e ocupações públicas ou privadas, para as quais serão
exigidas dos responsáveis ações de recuperação imediata dos danos
ambientais, até torná-las adequadas às suas finalidades ecológico-
ambientais. (SÃO CARLOS, 2006, p. 11, grifo nosso).

7O escoamento superficial é gerado a partir do excesso de precipitação das águas pluviais que não
se infiltra no solo, em decorrência da saturação do mesmo. É sempre impulsionado pela gravidade
para as cotas mais baixas vencendo, principalmente, o atrito com a superfície do solo. Este
escoamento vai se moldar ao microrrelevo do solo e, aliado à topografia preexistente conduzir-se por
microrrede de drenagem efêmera que convergirá para a rede de cursos de água mais próxima e
estável nas cotas baixas. (LIMA, 2008; PRUSKI et al., 2010; VILLELA; MATTOS, 1975).
50

A APP vistoriada pertence à Zona 2 – Ocupação Condicionada,


enquadrada como área de interesse ambiental e, dessa forma, requer atenção
quanto às recomendações para reconduzi-la a uma condição menos
impactante de outrora. Todavia, a adoção dessas recomendações não a
distancia dos danos ambientais relacionados à pressão antrópica local. Essa
pressão antrópica poderá ser minimizada com a adoção do isolamento da área
e execução de obras de drenagem superficial nas saídas das tubulações junto
ao talude do córrego Medeiros, sobretudo as recomendadas pelo DAAE (2005)
e DAAE-CETESB (1980).
Nos taludes do córrego Medeiros faz-se necessária a introdução de
espécies nativas que auxiliarão na reconstituição da base genética biótica local
em médio prazo.

Figura 5. Situação da área de APP do córrego Medeiros – Jardim Bicão

Fonte: Elaboração própria (2021).

Em 2020, em retorno à área, foi observado que as medidas estruturais


propostas anteriormente como o isolamento da área, evitando o acesso de
animais e humanos, bem como a disposição inadequada de resíduos sólidos
urbanos (lixo); o plantio de espécies arbóreas e arbustivas para aumento da
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 51

densidade e diversidade arbórea que reverbera no controle de processos


erosivos; a construção das escadas d´água, alterando o comportamento do
fluxo hidráulico e sua habilidade de erodir nos períodos chuvosos foram
atendidas em sua totalidade em apenas em um talude do córrego Medeiros,
contíguo à av. Maria Consuelo Brandão Tolentino no bairro Bicão.
Aliada a essas ações, observou-se ainda que as medidas não estruturais
foram potencializadoras de mudança de comportamento dos locais quanto à
disposição inadequada de resíduos pelos indivíduos da localidade, a partir do
emplacamento explicativo da importância ambiental do local. Portanto, a
impossibilidade de acesso, ocasionada pelo isolamento proporcionado com a
barreira de alambrado na área possibilitou a minimização dos impactos
antropogênicos, favorecendo o desenvolvimento vegetativo natural das
espécies introduzidas e as existentes, assim como a proteção do talude natural
do canal do córrego, pelo amortecimento do impacto da gota de água da chuva
diretamente no solo e redução do escoamento superficial. Dessa forma, a APP
urbana está sendo beneficiada pela presença de pássaros como o sabiá-
laranjeira ao lado de bem-te-vis, maritacas, pardais, entre outros, ora pela
possibilidade de encontrar alimentos, ora pelo refúgio que o fragmento vem
oferecendo. Tais espécies estão contribuindo na dispersão de sementes e
reflorestamento natural.
Além disso, com a introdução das espécies contribuindo para o
aumento do adensamento florestal (Figura 6), é de se esperar que a área ganhe
destaque paisagístico e cumpra com parte de sua função de serviços
ambientais, tendo em vista as poucas áreas verdes na localidade. Assim sendo,
a partir de medidas de monitoramento e fiscalização, a APP tende a atingir o
estágio de recuperação natural, ainda que leve mais algum tempo, uma vez
que o limite de resiliência ainda não foi atingido.
52

Figura 6. Imagem da área em 2004 e 2020, respectivamente

Fonte: Imagem capturada pelo app Google Earth (2021), registro imagem 7/01/2004 e
7/05/2020, respectivamente.

CONCLUSÃO

As APPs em área urbana apresentam diversos benefícios, no longo


prazo, como controle climático local, melhora da qualidade do ar, manutenção
dos mananciais, estabilidade geomorfológica, amenização da poluição,
manutenção da flora e fauna e, de modo geral, proporciona bem-estar
humano. Por esses motivos que essas importantes áreas precisam ser
conservadas.
Se os impactos benéficos ocorrem no longo prazo, os impactos
maléficos contrariamente ocorrem normalmente de modo imediato, e
geralmente são ocasionados por atividades antrópicas pelas proximidades dos
equipamentos urbanos, como observado na presente pesquisa.
Essas pressões antrópicas proporcionaram uma miríade de impactos
negativos, desde a fase de implantação dos loteamentos, que conduziram a
uma área descaracterizada sobre sua vegetação original, com forte potencial
de: supressão da flora terrestre; alteração da microfauna e da microflora;
redução da capacidade produtiva do sítio; e danos mecânicos ao banco de
propágulos vegetais do solo. E como consequência em cadeia, outros impactos
sobrevieram, mesmo após a implantação de loteamentos, como: impacto
visual; depreciação da qualidade do ar; depreciação da qualidade paisagística;
possibilidade de ocorrência de acidentes com animais peçonhentos;
afugentamento e consequente estresse na fauna terrestre silvestre.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 53

Quando se observa a drenagem superficial, outros impactos são


constatados, como: surgimento de pontos de concentração das águas;
aumento pontual da concentração das águas; redução da capacidade de
sustentação da área; estreitamento da base genética das espécies vegetais
nativas; redução da capacidade produtiva do sítio.
Em relação à pressão antrópica propriamente dita, os impactos foram:
deposição inadequada de resíduos sólidos domiciliares; impacto visual;
depreciação da qualidade paisagística; possibilidade de ocorrência de
acidentes com animais peçonhentos; afugentamento e, consequente estresse
na fauna terrestre silvestre.
Todos esses danos ambientais podem ser minimizados por meio da
adoção de medidas estruturais e não estruturais do poder público local, para
que a APP urbana possa desempenhar sua importante função ecológica.

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58
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 59

Capítulo 3

VEGETAÇÃO NA CIDADE: UM OLHAR INTERDISCIPLINAR PARA


SUB-BACIA DO CASSANDOCA

Grupo de Estudos e Práticas Camboatã Território – Natureza


Ana Maria Antunes Coelho8
Luis Octavio de Faria e Silva9
Rebeca Pegoraro Heredia10
Renata Ferraz de Toledo11
Sidney Carneiro de Mendonça Fernandes12

A partir de uma perspectiva interdisciplinar, integrando as áreas da


arquitetura, urbanismo, ciências ambientais e saúde, o presente texto objetiva
promover reflexões sobre as diferentes funções da vegetação na área urbana
das cidades, suas potencialidades e desafios. Desenvolvido a partir da
interação de integrantes do Grupo de Estudos e Práticas Camboatã Território-
Natureza, no âmbito da Universidade São Judas Tadeu, parte-se de uma
abordagem histórica da relação saúde e ambiente, e do reconhecimento da
importância da criação e manutenção de ambientes favoráveis à saúde, assim
como de políticas públicas saudáveis, dentre elas, a de arborização urbana,
como determinante das condições e da qualidade de vida nas cidades. Em
seguida, trazemos uma representação ampliada e sensível às inúmeras
contribuições, caminhos e possibilidades de interação da vegetação com a
cidade e de se ressignificar como um continuum a relação quintal-roça-floresta.
As diferentes percepções e usos atribuídos para os espaços das ruas e
calçadas, em sua relação com a arborização, são também tratados neste texto,

8 Doutora, gerente de projetos CDHU. E-mail: [email protected]


9
Doutor, Programa de Pós– Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas
Tadeu – PGAUR/USJT Escola da Cidade. E-mail: [email protected]
10 Arquiteta, mestranda PGAUR/USJT. E-mail: [email protected]
11 Doutora, PGAUR/USJT e Programa de Pós– Graduação em Educação Física. E-mail:

[email protected]
12 Geocientista, mestrando PGAUR/USJT. E-mail: [email protected]
60

no qual novamente destacamos sua relevância como promotora da qualidade


de vida, muito além das funções de regulação e controle impostas muitas vezes
pelo poder público. Nessa mesma direção, seguimos fortalecendo a
importância dos espaços públicos verdes na perspectiva dos seus serviços
ecossistêmicos, especialmente no contexto de bacias hidrográficas e
compartimentos ambientais que são entendidos e defendidos como base para
o planejamento urbano-ambiental.
O texto apresenta, como um caminho possível de aplicação da
perspectiva nele defendida, um ensaio de inserção de vegetação na bacia
hidrográfica do Cassandoca, na zona leste paulistana, a partir da consolidação
de ruas bioconectoras entre áreas com presença significativa de massa
arbórea, tratadas como sistema de dispositivos de infraestrutura ecológica. A
expectativa é de que o ensaio aqui apresentado seja exemplo para a replicação
de seus conceitos base em outras bacias e que possa servir de apoio em
investigações propositivas participativas, a partir da interação com ativistas
locais, poder público, instituições de ensino e de saúde e de todos os agentes
envolvidos na construção do lugar comum urbano paulistano.

RELAÇÃO SAÚDE-AMBIENTE: “DOS ARES, ÁGUAS E LUGARES” À CRIAÇÃO DE


AMBIENTES FAVORÁVEIS À SAÚDE

Sem a pretensão de reconstruir aqui uma abordagem histórica


completa, que contemple todos os períodos e aspectos da relação saúde e
ambiente, diferentes olhares e interpretações podem ser identificados ao
longo dos tempos, os quais, evidentemente, influenciaram diretamente a
tomada de decisão e a forma como interagimos com o espaço urbano.
As primeiras conexões entre o espaço físico, o meio social e a saúde
humana estão na clássica obra de Hipócrates, em 400 a.C., “Dos Ares, Águas e
Lugares”, em que foram feitas suposições de uma possível influência do clima,
da água, do solo, da alimentação e do modo de vida em geral na produção de
doenças (SOBRAL; FREITAS, 2010). Entretanto, seguimos por um longo período
de interpretação desse processo, considerado “período miasmático”,
associado apenas a crenças, religião, misticismo, ou seja, a “forças externas
desconhecidas” e que, possivelmente, a origem das doenças estava no ar,
como relatado neste edital de 1831, do respeitado periódico The Lancet:
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 61

“Podemos apenas supor a existência de um veneno que progride a despeito do


vento, do solo, de todas as condições do ar, e da barreira do mar” (JOHNSON,
2008).
Ainda no século XIX, os importantes estudos de John Snow, em 1854,
mapeando no tempo e no espaço casos de cólera em um bairro de Londres,
levantaram suspeitas para uma possível transmissão da doença pela água. E,
posteriormente, junto à descoberta de agentes transmissores de doenças, no
final do século XIX, o modo de “sanear” e “limpar” as ruas mudou,
reconhecendo-se a necessidade de afastar, por exemplo, o esgoto e criar
sistemas de drenagem. O foco passa a ser, portanto, o combate aos micróbios,
inaugurando o chamado “período bacteriológico”, levando, novamente, a uma
interpretação muito limitada da relação saúde-ambiente. Esse período traz
consigo não apenas um modelo higienista de cidades, mas também uma
proposta de educação sanitária “culpabilizadora” do indivíduo, minimizando,
de certa forma, a responsabilidade do Estado e desconsiderando, portanto,
toda a complexidade de situações de vulnerabilidade socioambiental.
Já no século XX se reconhece um outro percurso em direção a uma visão
mais ampla de saúde, como produção social, e da sua relação com o ambiente,
a começar pela própria definição de saúde proposta pela Organização Mundial
de Saúde (OMS), em 1948, como sendo o “estado de mais completo bem-estar
físico, mental e social, e não apenas ausência de enfermidade”. Mas podemos
dizer que foi a partir das primeiras reflexões em torno do que depois foi
chamado de Movimento da Promoção da Saúde, que aspectos relacionados ao
ambiente e ao espaço ocupado pelas pessoas foram considerados como
determinantes da saúde, como indicado no Relatório Lalonde, de 1974, que
destaca a poluição e agravos ambientais como importantes condicionantes do
processo saúde-doença. Na Conferência de Alma-Ata (1978), a saúde é
reconhecida como indispensável ao desenvolvimento integral do ser humano,
sendo proposta a Meta “Saúde para todos no Ano 2000”. Entretanto, já
estamos na segunda década do século XXI sem alcançarmos essa meta.
No contexto do Brasil, esse reconhecimento da relação saúde-ambiente
tem destaque na definição de saúde proposta na VIII Conferência Nacional de
Saúde, em 1986, a qual foi determinante para a instituição do Sistema Único
de Saúde (SUS). Nesta propõe-se a saúde como “resultante das condições de
alimentação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego,
62

lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”. Neste


mesmo ano, ocorre no Canadá, na cidade de Ottawa, a Primeira Conferência
Internacional de Promoção da Saúde, conectando-a de forma contundente à
qualidade e condições de vida dos indivíduos e grupos sociais, sendo
estabelecidos cinco campos de atuação: a elaboração e implementação de
políticas públicas saudáveis; a criação de ambientes favoráveis à saúde; o
reforço da ação comunitária; o desenvolvimento de habilidades pessoais; e a
reorientação dos sistemas de saúde. Vale ressaltar aqui que consideramos
como ambientes favoráveis à saúde os aspectos físicos e sociais, ou seja, a
comunidade, as casas, o trabalho, os espaços educacionais e culturais, os
ambientes de lazer e demais espaços públicos em geral (BRASIL, 2002).
Mas, afinal, o que torna um ambiente favorável à saúde? Que
elementos desses diferentes espaços e, especialmente, dos espaços públicos,
foco deste ensaio, os fazem ambientes favoráveis à saúde? E, dentre esses
elementos, que destaque ganha a arborização urbana?
Antes de avançarmos nas reflexões em busca dessas respostas e na
expectativa de “concluir” essa abordagem histórica da relação saúde-
ambiente, não podemos deixar de apresentar aqui o modelo mais
contemporâneo que vem sendo adotado pela OMS, desde 2005, com a criação
da Comissão Mundial sobre os Determinantes Sociais da Saúde, a qual
reconhece que a saúde depende das diversas condições socioambientais em
que as pessoas nascem, crescem, vivem e envelhecem, sendo fundamental,
portanto, conhecer quais são os determinantes sociais da saúde (DSS) e como
operam na geração de iniquidades em saúde, a fim de combatê-las (CSDH,
2008).
Ao analisarmos os DSS e já buscando refletir sobre as questões
colocadas anteriormente, reconhecemos que a arborização urbana figura
tanto como um determinante de nível social/intermediário, como de nível
macroestrutural/distal, já que a paisagem urbana e sua relação com a
vegetação é certamente determinada pelas políticas públicas com este
enfoque.
Nesse sentido, vale ainda retomar a relevância do Movimento da
Promoção da Saúde enquanto impulsionador da elaboração de políticas
públicas saudáveis e à criação de ambientes favoráveis à saúde. Isso porque,
na Conferência de Alma-Ata de 1978, se estabeleceu como Meta “Saúde para
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 63

Todos no Ano 2000”, já em 2013, na 8ª Conferência Internacional de Promoção


da Saúde, realizada em Helsinque, na Finlândia, se propõe como lema “Saúde
em Todas as Políticas”, reconhecendo-se que qualquer decisão política pode
impactar a saúde da população (PAHO, 2013). Essa constatação se torna
evidente também no espaço urbano, já que não há mais dúvidas sobre a
influência direta de políticas habitacionais, de saneamento, de mobilidade, de
arborização, entre outras, na qualidade de vida.
Nesta mesma direção estão as associações e constatações do médico
Paulo Saldiva (2018), ao comparar o metabolismo do corpo humano e o
“metabolismo” das cidades. Para ele, assim como bactérias e vírus se agrupam,
as pessoas também o fazem em comunidades. Mas nos grandes centros
urbanos a forma como as pessoas vivem e se organizam na atualidade não tem
favorecido a qualidade de vida. Para exemplificar, o professor apresenta três
graves problemas de saúde pública e sua forte relação com as cidades: a
obesidade, a saúde mental e o câncer. Os limites impostos pelas cidades
dificultam, muitas vezes, a prática de atividades físicas, a produção de
alimentos frescos e o “encontro das pessoas” para um convívio social com a
diversidade. Além disso, há nos grandes centros o estímulo ao uso de
transporte automatizado, agravando a poluição atmosférica, sendo seus
efeitos sentidos mais fortemente por aqueles que passam, por exemplo, horas
no transporte público para se deslocar – “a cidade é, portanto, desigual”
(SALDIVA, 2018), e é urgente repensá-la.

VEGETAÇÃO E CIDADE: A POSSIBILIDADE DE INTERAÇÃO ROÇA-QUINTAL-


FLORESTA NA PAISAGEM URBANA

Na sombra das árvores a temperatura é mais amena, nela podemos


perceber as correntes de ar, mensurar o movimento das nuvens e encontrar
abrigo para observar/acompanhar as vibrações da biosfera. Arbustos nos
permitem uma visão como de um gigante sobre a trama que compõe o
crescimento vegetal e sua interação com a fauna, sobretudo a microfauna. Há
também as plantas de porte médio que nos envolvem e junto às quais ficamos
como que mergulhados e à deriva. A vegetação rasteira completa o quadro
com seu chamado à terra e misterioso convite à procura por caminhos.
64

A floresta compõe os vários portes e estratos acima insinuados,


sobretudo a por assim dizer arquetípica floresta tropical ou equatorial densa,
mas também nos cerrados, com seus descampados entremeados por veredas
florestadas e mesmo a floresta branca nordestina, a caatinga, sem falar dos
capões aqui e acolá nas campinas e pantanais, e das florestas frias onde reinam
pinheiros e decíduas.
E quanto à presença das árvores, das plantas, da floresta, no habitat
humano urbano? “Devemos começar a entender que a cidade se parece muito
mais com um jardim do que com um conjunto de objetos minerais que podem
ser abandonados depois de construídos: portanto, a cidade é antes de tudo um
espaço de encontro para os viventes” (COCCIA, 2021, transcrição, adaptação à
linguagem escrita e tradução do autor).
Ainda que nas palavras de Coccia a cidade pareça muito mais um jardim
que um conjunto mineral, o habitat humano por ela representado se afastou
da floresta, do mundo vegetal, a ponto de poder ser observada como um
fenômeno de desertificação, como um processo de extinção da vida.
Na região da cidade de São Paulo, originalmente uma interessante
intersecção de biomas, a ocupação humana, sobretudo desde o final do século
XIX, tem sido pouco adepta da interação com a vegetação, vista ora como
amenidade complementar sem protagonismo no âmbito de um projeto
tecnocientífico moderno em crise, ora como evidência de resquícios de
cenários incultos aguardando a irrefreável e oportuna marcha de um suposto
progresso, cujos rastros são frequentemente o aprofundamento da
desintegração e redução de biodiversidade. Nessa chave, Edgar Morin convoca
que se controle o “frenesi tecno econômico mundial” (MORIN, 2020, p. 72-73)
da globalização preponderante – expressão hiperbólica da experiência
moderna – e nos mostra, ao refletir sobre a pandemia deflagrada em 2020, que
o mito ocidental do homem cujo destino é tornar-se “senhor e dono da
Natureza” teria desmoronado completamente diante do coronavírus. “Esse
mito já tinha sido ferido no coração pela consciência ecológica que vem
demonstrando há algumas décadas que quanto mais senhores nos tornamos
da biosfera, mais nos tornamos dependentes dela; quanto mais a degradamos,
mais degradamos nossa vida” (MORIN, 2020, p. 21).
A zona leste paulistana representa esse duplo movimento de forma
exemplar e extrema. Uma verdadeira “chapa quente” se sobrepôs ali à base
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 65

geofísica existente, removendo-se interações bioquímicas que dão base à vida,


à medida que se abafaram ecossistemas presentes, sufocados pelo concreto,
pelo asfalto e outros produtos petroquímicos lançados indiscriminadamente
no solo, no ar e nas águas.
A arborização urbana, os parques e espaços públicos vegetados na zona
leste da cidade são lembranças de resistências quanto ao processo acima
exposto, mas também da inadequação que se percebe na relação com ciclos
naturais, resultado do que com algum constrangimento nos referimos como
desenho urbano paulistano, refém do rodoviarismo e das contradições de um
suicida hipermodernismo, de saída desconectado e cego, como expresso no
mito fáustico – recontado e desvendado no início do século XIX por Goethe
(2007) – em um movimento destruidor da biodiversidade em nome de um
suposto controle que sabemos desconexo e, para dizer o mínimo,
contraproducente.
Nesse quadro inquietante, uma reinvenção da presença da vegetação
na cidade será um dispositivo de regeneração e fomento à biodiversidade, algo
que ecoa o questionamento de Daniel Wahl quanto à perspectiva de uma
Cultura Regenerativa, na qual:

Aprender a projetar sabiamente como natureza é uma peregrinação e um


aprendizado que nunca terminará. Como podemos medir nosso sucesso?
Estamos indo bem se observarmos um aumento na prosperidade humana e
na bioprodutividade planetária, uma redução na concentração de gases de
efeito estufa na atmosfera e a disseminação de comunidades alinhadas e
adaptadas regionalmente, de uma diversidade biocultural vibrante, em
colaboração e solidariedade global. (WAHL, 2019, p. 198).

Entrelaçado e associado com os quintais e espaços da cidade, sendo


esta recuperada (ou reinventada) como um lugar de aprofundamento de
saberes e cultivo da diversidade biocultural, onde (e aqui tomamos emprestada
a imagem do autor quanto a povos originários amazônicos) se poderá praticar.

Uma relação positiva entre humanos e animais como sujeitos interativos e


beneficiários na propagação de plantas e na construção das paisagens, numa
perspectiva não hierárquica ou excludente entre esses diferentes atores, que
não situa, de um lado, o silvestre e o selvagem e, do outro, o doméstico e o
consciente no protagonismo do ‘cultivo da floresta’. (SANTOS, 2020, p. 137).
66

Ecoando uma possível condição aqui defendida de cidade-floresta, com


uma experiência recomposta a partir de práticas de culturas originárias.
A perspectiva, nesse sentido, é de a cidade favorecer a articulação entre
humanos e outros seres não humanos, todos entendidos como sujeitos
interativos e beneficiários, tendo como uma expressão fundamental a
propagação de plantas e a construção de paisagens biodiversas. A vida na
cidade, assim, poderá espelhar uma conexão maior com a terra, ser indicadora
de uma cultura enraizada em paisagens multiespécies, com saberes e técnicas
específicas em prol do aumento da biodiversidade, com a acima convocada
interação quintal-roça-floresta como um continuum, um constructo: como um
conjunto. Pode-se entrever, nesse sentido, uma consciência citadina plena que
se efetiva com uma relação consciente com as plantas, com a fauna e, por
extensão, com os ciclos naturais.

Ao invés de forçar um mundo natural a se afastar de nós, para atender às


nossas necessidades humanas, como a narrativa da separação nos faria,
temos que nos integrar como uma espécie que tem muito a aprender com o
resto da natureza na tentativa de discernir quais os projetos que melhor
atendem a todo o sistema. (WAHL, 2019, p. 197).

Em sintonia com que se coloca acima, a vegetação na cidade deve ser


entendida como infraestrutura para a manutenção dos corpos d’água, dentre
algumas razões por promover a filtragem das águas que escorrem
superficialmente (fitodepuração) e fazer, assim, com que os aquíferos sejam
recarregados após a retenção de substâncias impróprias. Indissociável da micro
e macrofauna, a vegetação também tem papel central na garantia da qualidade
do ar e do solo, à medida que evapotranspira e mantém umidade, troca
nutrientes e cria condições de aumento da biodiversidade, base para a
manutenção da salubridade na vida. Trata-se, assim, de infraestrutura básica
em um pretendido cenário de salubridade e regeneração.

RUAS, CALÇADAS E ARBORIZAÇÃO: DIFERENTES PERCEPÇÕES E USOS

As ruas e suas variadas classificações são percebidas de forma diferente


de acordo com a escala em que as observamos ou as vivenciamos (COELHO,
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 67

2006). Se considerarmos a escala do planejamento urbano, ela é percebida a


partir de suas possibilidades de conexões, ainda com o viés na lógica da
locomoção e transporte, apesar de hoje termos exemplos difundidos de
redesenho de ruas, como os manuais desenvolvidos pela NACTO, mas que em
nossas cidades ainda estão em geral restritos a experiências e aplicações
localizadas.
No jogo das escalas, como aquela do planejamento urbano, a linha da
calçada não existe, não há diferenciação entre o que se imagina como função
da rua no sistema de circulação e como as pessoas utilizam esses mesmos
lugares. Na abstração do desenho, esses espaços tratados como
“insignificantes”, deixam de existir como lugares e passam a ser
regulamentados por meio de índices, coeficientes e usos. Em contraposição, na
escala do real, o somatório de atividades aí desenvolvidas significa parte
considerável da presença humana na cidade. Por meio das visões, dos
percursos, da circulação, das emoções, dos espetáculos, que conhecemos e nos
apropriamos dos vários lugares da cidade e pertencemos de forma diferente a
cada um deles. Seu uso está vinculado a intenções de outras atividades, o que
não impede que também seja apropriada como percursos necessários ou de
lazer, encontro ou fruição, ainda que espontâneo e inconsciente.
O parcelamento do conhecimento e da forma como organizamos o
pensamento, tende a classificar e separar os temas, os órgãos de gestão
pública, as legislações, entre outros (LEFEBVRE, 1971). Nesse sentido, a cidade,
entendida como um artefato humano, tende a se concentrar na sua própria
produção, nas soluções racionais e de curto prazo e desprezar aqueles
elementos que são imponderáveis e dinâmicos. Aquilo que classificamos como
elementos da Natureza presentes na cidade trazem essa incerteza e a sensação
de falta de controle que exaspera as ciências exatas com seus vários
coeficientes de segurança.

Se, portanto, a ciência de hoje, em sua perplexidade, aponta as conquistas da


técnica para "provar" que estamos lidando com uma "ordem autêntica" dada
na natureza, parece ter caído num círculo vicioso: os cientistas formulam
hipóteses para conciliar seus experimentos e em seguida empregam esses
experimentos para verificar as hipóteses; e é óbvio que, durante todo o tempo,
estão lidando com uma natureza hipotética. (ARENDT, 2002, p. 300).
68

No entanto, quando falamos de qualidade urbana, são esses elementos


que nos trazem a sensação de conforto, da fruição do espaço, da sombra, do
calor, da umidade e de nossa conexão como seres participantes dessa
Natureza.
Na arborização urbana ainda nos prendemos à utilização de espécies
que não trazem risco para a fiação, para a calçada, que não cresçam demais,
que os frutos não caiam no chão e uma infinidade de critérios para que não se
atrapalhe a cidade higienizada, funcional na sua dinâmica e lógica
administrativa. Com essa perspectiva, limitamos a utilização na arborização
urbana a um número insignificante de espécies, como um consolo e uma
concessão urbana.
Na lógica da cidade, a presença percebida e estimulada desse elemento
incontrolável e vivo, está ligado mais aos parques e algumas praças. No
entanto, se considerarmos que as ruas e suas calçadas permeiam toda a cidade,
temos aí um elemento agregador e de conexão, com potencial extremamente
democrático para inserir a vegetação como indicador de qualidade, que faz a
conexão com habitats existentes nas várias escalas, com a qualidade do solo,
do ar, da água e das espécies que criam e se adaptam à cidade como seu
habitat, demonstrado por Schilthuizen (2018).
Ao utilizar também como critério maior diversidade urbana, temos aí
um campo imenso de pesquisa a ser desenvolvido para uma cidade como um
artefato humano que faz parte da Natureza e que está ligado a ela
intrinsecamente e na proximidade do cotidiano. O conhecimento da
biodiversidade, das interações entre a vegetação e seus vários estratos com a
fauna, representada por inúmeras espécies, além da avifauna que tende a ser
mais cultuada, pode trazer mais elementos para compor a beleza da
multiplicidade que a rua protagoniza. Nesse sentido, a possibilidade de
utilização da infraestrutura verde, além de novas formas de tratar o
escoamento da drenagem urbana, traz também a possibilidade de abertura de
novos espaços permeáveis que possam alimentar e dar suporte às diversas
espécies vegetais para criar o mosaico dos estratos apontado pelos biólogos na
composição urbana.
É nesse sentido que os órgãos que compõem o Poder Público, além de
suas características de regulação e controle, têm papel fundamental como
agentes promotores de qualidade. Ainda que seja possível imaginar a
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 69

arborização urbana como atividade pontual, se estiver pensada como


componente que traz a diversidade para o espaço urbano, é possível organizar
manchas de composição de habitats a serem implantados ou grandes conexões
entre habitats existentes, que podem ser introduzidos ou incrementados no
dia a dia e ao longo do tempo e de forma muito próxima da população.
A arborização urbana na sua implantação e manutenção traz consigo
também a questão do limiar entre o público e privado, assim como acontece
com as calçadas, que existem em todos os lugares: ricos, pobres, sofisticados,
vulgares, junto a monumentos, a grandes edifícios ou à casa autoconstruída,
guardando sempre a escala humana na cidade. Ambas têm o Poder Público
como o regulador dessa qualidade, mas pelo seu caráter ligado ao proprietário
do lote, permitem também movimentos de grupos ou particulares, já que cada
indivíduo pode colaborar de forma simples e de baixo custo, com o plantio na
frente do seu lote. Movimentos educativos têm a possibilidade de engajar a
população para atuar na melhoria da qualidade urbana. Pensemos nas grandes
manchas urbanas carentes de arborização e que poderiam ter movimentos de
plantio em suas ruas desérticas.
Isso abre a consciência de quanto é necessário de área impermeável nas
calçadas para que o lote seja acessado, a possibilidade de redesenho de
acessos, da calçada e do que entendemos como rua, em movimentos de
conscientização nas várias escalas que podem construir esse potencial.
O redesenho de ruas e a hierarquização do viário são elementos
fundamentais para valorização do pedestre e apropriação do espaço urbano.
Para ilustrar a ideia de ruas bioconectoras, em uma infraestrutura já existente,
avaliamos de forma preliminar as características de conexão viária das ruas do
recorte proposto na bacia do Cassandoca, com as seguintes características:
ruas compartilhadas, ruas locais e ruas de ligação.
A fim de criar espaços mais generosos para o plantio da vegetação,
partimos do pior caso, com ruas com 10 m de largura e testadas dos lotes de 5
metros. Dessa forma, situações mais favoráveis tanto na largura da rua quanto
da testada, podem trazer maior amplitude na proposta.
Para as ruas de ligação, propomos rebaixamento de guia mínimo de 2,5
m para acesso de veículos em cada lote, de modo que os jardins de chuva
possam se agrupar e ter 1,0 X 5,0 m, o que fornece maior área de infiltração e
70

maior possibilidade de solo para o plantio das árvores, mantendo-se largura de


leito carroçável de no mínimo 6,0 metros.

Figura 1 – Representação 3D exemplificando proposta para ruas de ligação

Fonte: Imagem produzida pelos autores (2021).

Figura 2 – Representação em planta exemplificando proposta para ruas de ligação

Fonte: Imagem produzida pelos autores (2021).

Para as ruas locais, com o uso de redesenho da via é possível manter as


dimensões descritas com a inclusão da sinuosidade no leito carroçável para
redução da velocidade dos veículos e, quando possível, com o alargamento das
calçadas (para ruas com mais de 10 m de largura).

Figura 3 – Representação 3D exemplificando proposta para ruas locais

Fonte: Imagem produzida pelos autores (2021).


Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 71

Figura 4 – Representação em planta exemplificando proposta para ruas locais

Fonte: Imagem produzida pelos autores (2021).

As ruas compartilhadas pressupõem apenas o acesso aos imóveis, sem


distinção entre leito carroçável e calçada, já que a prioridade é do pedestre,
com faixas de no mínimo 4,0 m de largura para acesso aos lotes, área central
com jardins de chuva com no mínimo 2,0 m de largura por toda a extensão da
rua, interceptadas por passagens intervaladas. Para ruas com comprimento
superior a 40 m é necessária a previsão de hidrantes, para a segurança a
incêndio. Dessa forma, pressupõe-se que a arborização poderá contar com
maior área de solo permeável, além de se associarem aos estratos arbustivos
e de forração, trazendo maior diversidade e possibilidades de associação com
a fauna.

Figura 5 – Representação 3D exemplificando proposta para ruas compartilhadas

Fonte: Imagem produzida pelos autores (2021).


72

Figura 6 – Representação em planta exemplificando proposta para ruas compartilhadas

Fonte: Imagem produzida pelos autores (2021).

ESPAÇOS PÚBLICOS VEGETADOS COMPREENDIDOS COMO SERVIÇOS


ECOSSISTÊMICOS NO ÂMBITO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS ONDE SE
ENCONTRAM

Os espaços públicos verdes são os componentes urbanos mais próximos


que temos do habitat natural em que o ser humano se originou e do qual
sempre dependerá. O habitat humano urbano construído por séculos trouxe
problemas que poderiam ser amenizados e/ou sanados por meio de uma
abordagem projetual e de ação envolvendo uma análise dos serviços
ecossistêmicos prestados.
Complementar aos serviços ambientais, que são os serviços da
sociedade para com o meio ambiente, e denominados pela Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como “benefícios ambientais resultantes
de intervenções intencionais da sociedade na dinâmica dos ecossistemas, tais
como as atividades humanas para a manutenção ou a recuperação dos
componentes dos ecossistemas” (EMBRAPA, 2015), os serviços ecossistêmicos
de que se trata aqui também incluem os benefícios para os seres humanos do
manejo de ecossistemas naturais, ou seja, conforme caracterizados por
Constanza (1997), são aquelas “funções ou processos que contribuem direta
ou indiretamente para o bem-estar humano”, benefícios que as pessoas
podem obter a partir do funcionamento dos ecossistemas saudáveis.
Na Avaliação Ecossistêmica do Milênio (Millennium Ecosystem
Assessment), organizada por Kofi Annan, Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas, em 2005, os serviços ecossistêmicos podem ser classificados
em quatro categorias: provisão, regulação, suporte e cultural. O serviço de
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 73

suporte é o único que está diretamente ligado aos outros três por oferecer,
como a própria designação, suporte para que os outros aconteçam,
envolvendo a manutenção do meio de fornecimento, a exemplos de qualidade
do solo, garantia de biodiversidade, polinização. O serviço de provisão envolve
o fornecimento de matérias-primas básicas e suprimentos como comida e
água. O serviço de regulação trata, por exemplo, da qualidade climática
(temperatura, ar, chuva) e o serviço cultural oferece lazer, saúde mental e
física, além de cultura (MEA, 2005).
Segundo Bolund e Hunhammar (1999), ao menos 6 dos 17 serviços
apresentados por Constanza são considerados de maior relevância nos espaços
verdes, a saber: filtragem do ar, regulação do microclima, regulação de ruído,
drenagem de águas pluviais, tratamento de esgoto, recreação e cultura estes
definidos por eles como no Quadro 1 a seguir:

Quadro 1 – Relação de serviços prestados com benefícios ao bem-estar humano


BENEFÍCIO AO BEM-ESTAR HUMANO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO PRESTADO
FILTRAGEM DE AR As plantas têm uma alta capacidade de remoção de
particulados.
REGULAÇÃO DO MICROCLIMA Através da evapotranspiração, promove
resfriamento e a sombra projetada das copas que
diminui a temperatura ambiente.
REDUÇÃO DE RUÍDO Capacidade de absorção do som e retardamento da
velocidade do vento.
DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS Potencial de absorção diminuição da proporção e
quantidade de alagamentos, inundações e erosões.
TRATAMENTO DE ESGOTO Capacidade de retenção de nitrogênio e fósforo.
RECREAÇÃO E CULTURA Redução de estresse, bem-estar físico-emocional.
Fonte: Tradução própria quadro disponível em Bolund e Hunhammar (1999).

Na perspectiva de busca de maior harmonia para com os ciclos naturais


e a qualidade de vida humana e de todos os seres, a avaliação do cenário com
o qual se vai interagir será facilitadora quando se der por meio da observação
sistêmica de uma unidade ambiental, por exemplo, de uma bacia hidrográfica,
em uma estratégia de investigação e identificação de oportunidades para
potencializar a função dos espaços livres públicos verdes na cidade.
A bacia hidrográfica é entendida como um compartimento ambiental,
nos termos utilizados por Schutzer (2012) em uma análise que não somente
74

leva em contrapartida as condições topográficas, mas também as sociais como


cita a seguir:

A compartimentação ambiental, na forma aqui analisada, visa associar, ao


compartimento de relevo, sua aptidão ou fragilidade em responder às
funções urbanas que lhe quer dar a sociedade. Portanto, trata-se de um
conceito de cunho eminentemente urbano, operacional, para avaliar e
planejar a urbanização de um território. (SCHUTZER, 2012, p. 19).

Assim, analisamos as sub-bacias escolhidas a partir de metodologia que


envolve, sobretudo, dois elementos na análise ambiental: o fluxo das águas e
a morfologia do terreno e dois elementos na análise social: espaços livres
verdes e arborização urbana no sistema viário.
Essa sobreposição traz informações esclarecedoras formalizando um
estudo socioambiental que aponta nível de impermeabilização, velocidade das
águas, geomorfologia, áreas mais ou menos vegetadas, estrutura da
morfologia urbana e as suas consequências diretas, como pontos de
alagamento, altos índices de temperatura, direção e velocidade dos ventos.
Dados que nos fornecem o embasamento necessário para consolidar uma
possível estratégia de promoção e potencialização dos serviços ecossistêmicos.
No caso da sub-bacias Cassandoca, para sua jusante e área de
contribuição sobrepusemos quatros elementos para análise socioambiental e
estratégia propositiva, sendo eles:
a) hierarquia de vias: para uma análise de possíveis ruas para
arborização viária;
b) topografia e hidrografia: para uma análise ambiental;
c) pontos nodais: áreas verdes destacadas no recorte deste tecido
urbano;
d) sobreposição destes três elementos para proposta de intervenção.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 75

VEGETAÇÃO NA ZONA LESTE PAULISTANA: HISTÓRICO, CONDIÇÃO ATUAL E


POSSIBILIDADES

Para entender a vegetação no município de São Paulo é preciso


refletir sobre o processo de sua retirada, sobretudo a partir de meados do
século XX, da qual se tem um registro de perdas bastante documentadas, ao
longo de um movimento colonizador com a prerrogativa de que a natureza
precisava ser dominada.
Os registros da supressão da vegetação na região se iniciam com os
naturalistas (como eram designados os cientistas do século XIX) e se
intensificam ao longo do século XX em um processo em que a ocupação
paulistana se expandiu transformando significativamente as características
geoecológicas do seu sítio urbano e vários estudos sobre a expansão urbana
demonstram o espalhamento da cidade por todos os tipos de terrenos
(FURLAN, 2009 apud LIMNIIOS; FURLAN, 2013).
76

Silva define que município de São Paulo se localiza em terrenos de


uma bacia sedimentar de relevo colinoso, cercada por morros e serras do
embasamento cristalino e drenada por 3.200 km de cursos d’água. “Sobre
esses terrenos pouco férteis, à exceção das várzeas, desenvolvia-se uma
vegetação diversa, formada por matas de terra firme e de galeria; brejos e
campos naturais” (SILVA, 2005). Limnios, observando o potencial benefício dos
parques em seu entorno, realizou destacável trabalho, no qual investiga as
perdas de área verde no município: “O rápido crescimento da área urbana de
São Paulo, notadamente a partir do início do século XX, não foi acompanhado
por um plano de áreas verdes que atendesse à demanda social por espaços de
recreação, lazer e descanso, além das funções culturais, ambientais e sociais
intrínsecas das áreas verdes urbanas” (LIMNIOS; FURLAN, 2013, p. 1 ). A perda
de cobertura vegetal sofreu segundo Silva, um processo contínuo de redução,
de fragmentação e de alteração da sua composição florística. A narrativa
representa o que se vê nos mapas de vegetação atuais: a vegetação figura cada
vez mais nas bordas das áreas urbanizadas ou como enclave do tecido urbano,
situação em que diminui sua capacidade de autossustentação e de sustentação
de fauna expressiva, diminuindo o contato diário das pessoas com elementos
e processos naturais (SILVA, 2005).
Um retrato claro da fisionomia da vegetação paulistana, visível até a
década de 1950, foi feito por França, destacando a vegetação especializada de
terrenos úmidos: “Ao percorrer a região onde se encontra a cidade de São
Paulo, percebe-se algumas formações vegetais típicas. Nas encostas da Serra
da Cantareira ou nas vizinhanças da escarpa do Planalto, observam-se extensas
áreas recobertas com formações florestais. Nas grandes várzeas – como as do
Tietê, do Pinheiros e outros afluentes – têm-se diante dos olhos formações
arbustivas próprias dos terrenos inundáveis.” (FRANÇA, 1958).
É preciso, definitivamente, entender o papel da vegetação, mais
precisamente da arborização urbana em seu papel de indutora dos processos
de evapotranspiração, infiltração de águas pluviais no solo, e retenção foliar
tanto das águas pluviais quanto de partículas suspensas.
Em bairros da zona leste paulistana, seja pela precariedade das
moradias de populações vulneráveis, muitas vezes agravado pela falta de
infraestrutura, seja no modelo de ocupação do espaço urbano em áreas mais
nobres, através de um processo especulativo típico do mercado imobiliário,
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 77

gerador de apropriação de espaços preciosos da paisagem, a vegetação tem


sido sistematicamente retirada e pouco percebida no que diz respeito aos
serviços ecossistêmicos que presta.
Nas sub-bacias do Alto Tietê da Zona Leste, são questões
identificáveis a vegetação escassa, abaixo do índice mínimo recomendado pela
OMS, vias arteriais produtoras de altas cargas de material poluente expelido
por veículos de diversos portes, alto índice de impermeabilização superficial,
gerando média superior de temperatura se comparado a outras regiões e
problemáticas quanto à questão das enchentes do Alto Tietê. Apesar da
presença de importantes fragmentos vegetados na região como o Parque do
Carmo e a mata do Iguatemi, é visível a carência de fragmentos de grande porte
na zona leste paulistana. Pouquíssima vegetação na bacia do Tamanduateí e,
na bacia do Aricanduva, nota-se um processo incessante de fragmentação da
vegetação da APA do Iguatemi, que ainda não está protegida efetivamente. Na
zona leste como um todo, percebem-se grandes extensões áridas, com poucos
parques de porte médio e pequeno.

Figura 11 – Desenho sem escala – possibilidades para as vias de fluxo pesado da Zona Leste. Av.
Alcântara Machado

Fonte: Imagem produzida pelos autores (2021).

A Bacia do Cassandoca é uma sub-bacia do Tamanduateí, no início da zona


leste paulistana, onde está o campus Mooca da Universidade São Judas Tadeu,
base do Grupo de Estudos e Práticas Camboatã Território-Natureza, no âmbito
do qual ocorrem os estudos que são base para o presente texto.
O córrego do Cassandoca, afluente da margem direita do rio Tamanduateí
que neste deságua próximo ao rio Tietê, foi profundamente transformado ao
longo da ocupação urbana intensificada sobretudo a partir da instalação da
ferrovia no final do século XIX e bairros industriais a ela associados, com antigas
áreas de instalações fabris que têm sido recompostas e são atualmente objeto
78

de disputa em função de interesses imobiliários. O alto Cassandoca e parte do


seu curso médio foram, inclusive, desviados e atualmente um canal
subterrâneo conduz suas águas até o Tamanduateí a montante do Parque D.
Pedro II, enquanto as águas de parte de seu original curso médio e baixo
Cassandoca seguem para um deságue à jusante do mesmo parque. Tanto o rio
Tamanduateí como o Tietê foram retificados em canais cujos percursos muito
se diferenciam da original condição de cursos meandrados, com várzeas
intermitentemente alagáveis, frequentemente com lagoas resultantes de
antigos meandros bloqueados naturalmente depois de cheias, o que impede
uma definição com maior precisão quanto ao que teria sido o aspecto natural
do Cassandoca e da região.
Na área a que nos referimos como parte do médio e o alto Cassandoca e
na área de contribuição difusa da bacia do Tamanduateí, a Mooca de Baixo
(industrial), identificam-se algumas áreas vegetadas que poderão ter um papel
de focos em estratégia de intensificação de vegetação entendida como
infraestrutura promotora de serviços ecossistêmicos. São essas áreas o Centro
de Educacional e Esportivo da Mooca (CEE Mooca), jardins do Conjunto
Residencial da Mooca (IAPI, 1946) e do Núcleo Residencial da Mooca (Instituto
de Aposentadoria e Pensão dos Trabalhadores em Transportes de Carga –
IAPETEC, 1947), o terreno em disputa no limite com área industrial em intensa
transformação onde se pleiteia a instalação do chamado Parque da Mooca,
além de clubes e praças nas suas imediações.
Observando conceitos da ecologia da paisagem (LIMNIOS, 2006), é
possível elaborar ensaios e projeções tendo o meio urbano como matriz da
paisagem, seja ela vegetada ou densamente urbanizada (árida). E a
conectividade surge como chave para um programa de recuperação de áreas
degradadas, para garantir “continuidade espacial do habitat ou tipo de
cobertura sobre a paisagem” (TURNER, 2001 apud LIMNIOS, 2006).
Na bacia do Cassandoca, percebe-se um grande potencial nas relações de
conectividade entre parques municipais urbanos e espaços vegetados de
diferentes escalas, como parques de vizinhança, lineares, arboretos, praças,
tendo a arborização viária como um dos elementos de conexão entre tipos de
vegetação. Após mais de três décadas de plantio de diversas espécies nativas
e exóticas, por sucessivas administrações municipais, buscando-se melhorar a
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 79

qualidade de vida dos paulistanos – a partir de variados programas de fomento


– vale refletir sobre a forma de se pensar os recursos em escalas mais locais.
Para um aprofundamento do ensaio aqui apresentado, assim, partiu-se
de um polígono no bairro da Mooca (ver figuras na seção de mapas) como
piloto e alguns tipos de vias foram escolhidos para uma investigação
propositiva a partir do conceito de floresta urbana e serviços ecossistêmicos
resultantes da interação com ciclos naturais – climáticos, referentes ao solo, à
flora, fauna, e quanto aos habitantes do trecho urbano em questão (FAO,
2017).
Segundo o documento Directrices para la silvicultura urbana y
periurbana, da FAO, a floresta urbana pode mediar as questões de ocupação
do território e suas consequências, culminando em benefícios socioambientais:
Los bosques urbanos, si están bien diseñados y distribuidos, pueden tener
funciones clave para aumentar la igualdad social, promover un sentido de
comunidad entre los residentes y garantizar el mantenimiento de los valores
culturales locales (FAO, 2017, p. 56).
A partir da perspectiva aqui defendida, de uma visão sistêmica quanto à
vegetação na cidade, as áreas vegetadas habitualmente vistas em São Paulo,
que têm um papel limitado quando pensadas individualmente, poderão ter sua
função intensificada com a ressignificação das ruas que as conectam entre si
como parte do sistema de áreas verdes urbanas, o que justifica a sua
redefinição como elemento bioconector.

A IDEIA DE RUAS BIOCONECTORAS – UM ENSAIO PARA A BACIA DO


CASSANDOCA E ARREDORES, NA MOOCA, SÃO PAULO

O ensaio aqui apresentado para parte da bacia do Cassandoca e


arredores, investiga a perspectiva de espaços urbanos vegetados de forma
difusa, não exclusivamente concentrada, como ocorre de forma geral na cidade
de São Paulo.
80

Figura 12 – Desenho sem escala – ruas bioconectoras – intervalos (estimados) de 4 a 6 metros


entre os espécimes (seja mantendo intervalo entre o acesso de veículos em residências, seja ao
longo de um passeio numa via local)

Fonte: Imagem produzida pelos autores (2021).

De baixo para cima: a representação do enraizamento das três árvores


indica o potencial de ancoragem de espécies nativas, e sua ocupação desejável
em termos de eficiência num jardim de chuva. Setas vermelhas grossas:
indicam o trajeto e altura usual das espécies de avifauna, usando um corredor
de alimentação, por exemplo. As setas vermelhas mais finas, indicam os
trajetos usuais de predação de pássaros insetívoros a partir de poleiros a partir
das árvores. As setas vermelhas pontilhadas representam os trajetos usuais dos
insetos polinizadores, entre a camada herbácea, arbustiva e arbórea.
A perspectiva é a de conexão de áreas vegetadas existentes e
intensificação da arborização em ruas ressignificadas como bioconectoras,
levando em consideração questões centrais em relação à ecologia da paisagem
ali presente: biomas locais (Domínio da Floresta Atlântica), solo e seus ciclos
bioquímicos, vegetação (árvores, arbustos, herbáceas) com microfauna
associada e matéria orgânica resultante, ciclo da água (no subsolo, em
associação à vegetação, na umidade do ar, como fator de saúde pública),
sempre em face da morfologia urbana existente e programas socioambientais
a serem estimulados. A expectativa é a de cultivar coletivamente uma floresta
urbana que aponte para a recuperação da paisagem.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 81

Figura 13 – Desenho sem escala – ruas bioconectoras – Na bacia do Cassandoca, uma breve
análise do potencial de uma via importante no complexo viário dentro do recorte

Fonte: Imagem produzida pelos autores (2021).

Um ensaio sobre a posição da avenida Paes de Barros no dorso de seu


espigão num dos pontos mais altos da via, a cerca de 788 metros. As colinas e
rebordos aqui simulados receberiam jardins potencialmente indicados para
infiltração, aplicáveis em vertente na infraestrutura verde. As setas azuis
ascendentes e descendentes indicam a ação ativadora do ciclo da água no meio
urbano.
A partir da interação com esses princípios, as ruas bioconectoras
poderão ser implantadas no âmbito de programas de arborização associados à
infraestrutura verde-azul, com jardins de chuva que articulam coleta de água
que fazem frente a enchentes ao mesmo tempo que representam aumento da
área vegetada.
Reforça-se aqui o potencial presente no espaço das ruas, que são pouco
ou nada consideradas no raciocínio mais abrangente sobre a vegetação na
cidade. Defende-se sua classificação em categorias compatíveis com seus usos
atuais, tratadas assim como elementos bioconectores da estrutura urbana, em
outras palavras, sendo entendidas como o que denominamos de ruas
bioconectoras.
A expectativa neste texto é a de ensaiar a possibilidade do
planejamento da utilização das calçadas das ruas de forma sistêmica – em um
cenário de ação imediata, uma otimização da arborização urbana como parte
de uma espécie de parque difuso em que se transformam os bairros a partir
desse tipo de ação e, em um momento posterior, a perspectiva de uma
ampliação das áreas vegetadas no âmbito das ruas, conquistando faixa de
estacionamentos em nome da visão renovada da vegetação urbana como
82

infraestrutura verde, com serviços ecossistêmicos valorizados e apontando


para uma condição regenerativa

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar as ruas e calçadas como o espaço público do cotidiano da cidade


coloca luz sobre as possibilidades que esses espaços podem protagonizar na
relação intrínseca da fruição e uso da cidade com os elementos da Natureza,
na conexão com todas as espécies de vida que estão ao nosso redor e no papel
que temos como agentes que impactam e são impactados de uma forma mais
virtuosa, seja no planejamento e projeto ou na concretude da vida local.
Imaginar a multiplicidade do conhecimento amalgamado na soleira das portas,
que traz saúde, ar mais puro e respirável em meio à dinâmica da vida que
explode em cores, cheiros e texturas, traz mais a ideia da cidade como um
grande jardim ou quem sabe a roça.
A possibilidade de uso da quantidade incrível de espécies que estão
presentes nestes nossos ares, pode trazer para a arborização urbana uma outra
perspectiva de infraestrutura, conectada por meio de ramificações de um
sistema que carrega a vida e a diversidade tão almejada, permeando toda a
cidade, ora com ligações mais estruturais e compactas, ora com possibilidades
menos pretensiosas e tênues, mas que têm seu papel no grande mosaico.
Poder contar com um poder público mais propositivo na escala do
planejamento, que define grandes manchas de diversidade e conexões, pode
orientar na escala local a implementação de políticas de arborização e
revegetação que aconteçam tanto em intervenções de obras públicas, como
de comunidades e até do indivíduo. Essa proximidade de intervenção na cidade
que se arvora pode trazer maior compreensão do papel que cada um exerce
na construção do nosso espaço, seja no limiar do público ou que adentra para
a privacidade do lote.

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86
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 87

Capítulo 4

ANÁLISE QUALITATIVA DAS ÁREAS VERDES PÚBLICAS NA ZONA


NORTE DA CIDADE DE CUIABÁ-MT

Sandra Medina Benini13


Jeane Aparecida Rombi de Godoy14

INTRODUÇÃO

O contexto das cidades, particularmente no Brasil, a carência de espaços


públicos destinados ao lazer e recreação assume o debate em diversas áreas
do conhecimento. As Áreas Verdes Públicas Urbanizadas (AVPUs) são bem
conhecidas pelos benefícios ambientais, tais como: combate à poluição do ar;
regulação da umidade e temperatura do ar; contribuição à permeabilidade,
fertilidade e umidade do solo, protegendo contra processos erosivos; redução
dos níveis de ruído servindo como amortecedor do barulho nas cidades, dentre
outros. Em síntese, contribuem para conforto ambiental dos locais onde estão
inseridas. Somam-se a essas funções a de embelezamento da cidade, bem
como a função do lazer.
Diante da importância da temática proposta, optou-se pela realização
desta análise qualitativa das AVPUs, tendo como recorte espacial a zona norte
da cidade de Cuiabá-MT, a qual se justifica pelos aspectos ambientais do sítio,
bem como pela carência de espaços públicos destinado ao lazer e recreação à
população.

13 Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela UPM com Pós-Doutorado em Arquitetura e


Urbanismo pela FAAC/UNESP; Pesquisadora da ANAP. E-mail: [email protected]
14 Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela UPM com Pós-Doutorado em Arquitetura e

Urbanismo pela FAAC/UNESP, Docente da UNIVAG-MT. E-mail: [email protected]


88

ESTADO DA ARTE

Para apresentar o estado da arte sobre o tema, parte-se do pressuposto


de que as áreas verdes urbanas podem ser integradas à categoria de espaços
livres na cidade, com características voltadas a recompor os elementos
naturais, independente do porte de vegetação (MILANO, 1993). Nesse mesmo
sentido, Cavalheiro et al. (1999) afirmam que área verde é “um tipo especial
de espaços livres onde o elemento fundamental de composição é a vegetação”.
Sob este enfoque, Lima et al. (1994, p. 549) tecem uma complementação, em
que área verde é uma categoria de espaço livre, desde que haja predominância
de vegetação arbórea, a exemplo das “praças, jardins públicos e parques
urbanos”.
Por sua vez, Nucci (2008, p. 120), ao discutir a questão, aborda a
importância das funções desempenhadas pelos espaços vegetados, ao
considerar que para uma área ser identificada como área verde deve haver a
“predominância de áreas plantadas e que deve cumprir três funções (estética,
ecológica e lazer)”, além de apresentar uma cobertura vegetal e “solo
permeável (sem laje) que devem ocupar, pelo menos, 70% da área”.
Independentemente de seu enquadramento quanto a titulação, sejam
as áreas verdes de propriedade pública ou privada, quaisquer das duas
categorias devem apresentar algum tipo de vegetação (não somente árvores)
com dimensão vertical significativa, tornando-se relevante que as mesmas
sejam utilizadas com objetivos sociais, ecológicos, científicos ou culturais
(NOGUEIRA; WANTUELFER, 2002).
Para tanto, no âmbito desta pesquisa, considera-se área verde pública
o conteúdo expresso no conceito, para o qual

[...] todo espaço livre (área verde / lazer) que foi afetado como de
uso comum e que apresente algum tipo de vegetação (espontânea ou
plantada), que possa contribuir em termos ambientais (fotossíntese,
evapotranspiração, sombreamento, permeabilidade, conservação da
biodiversidade e mitigue os efeitos da poluição sonora e atmosférica) e que
também seja utilizado com objetivos sociais, ecológicos, científicos ou
culturais. (BENINI, 2009, p. 71).
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 89

Como esses espaços são de uso comum do povo, impõe à Administração


Municipal, bem como à “coletividade (a sociedade como um todo) o dever de
defender e preservar tais espaços (áreas verdes públicas), visto que os mesmos
podem contribuir para a sadia qualidade de vida e, consequentemente, para a
qualidade ambiental” (BENINI, 2009).
Os estudos elaborados por Nucci (2008, p. 109) dão ênfase às condições
de conforto propiciadas pelas áreas verdes, onde é comum encontrar um
ambiente agradável, afastando a “angústia” da cidade, possibilitando ao
indivíduo uma interação com a natureza.

Esses ambientes devem ser agradáveis e estéticos, com acomodações e


instalações variadas de modo a facilitar a escolha individual. Devem ser livres
de monotonia e isentos das dificuldades de espaço e da angústia das
aglomerações urbanas. Principalmente para as crianças é fundamental que
o espaço livre forneça a possibilidade de experimentar sons, odores,
texturas, paladar da natureza; andar descalço pela areia, gramado; ter
contato com animais como pássaros, pequenos mamíferos e insetos, etc.
(NUCCI, 2008, p. 109).

Gomes (2005, p. 57) complementa a afirmação de Nucci (2008, p. 109),


apontando que as áreas verdes, “do ponto de vista psicológico e social,
influenciam o estado de ânimo dos indivíduos massificados com o transtorno
das grandes cidades”. O autor também afirma que a vegetação oferece
benefícios ambientais como, por exemplo, combate à poluição do ar15 através
da fotossíntese16; “regula a umidade e temperatura do ar; mantém a
permeabilidade, fertilidade e umidade do solo e protege-o contra a erosão e;
reduz os níveis de ruído servindo como amortecedor do barulho das cidades”.

15 “Gases venenosos em suspensão no ar acima da rua e a poeira tóxica cobrem a via carroçável e
as calçadas. Automóveis, ônibus e caminhões congestionam as ruas, acelerando e freando,
emitindo torrentes de monóxidos de carbono, óxidos de nitrogênio e partículas de chumbo e de
combustível não queimado. O pára-e-anda do tráfego, característico de uma rua movimentada,
produz mais poluentes do que um tráfego que flui suavemente a uma velocidade constante ao
longo de uma rodovia, porque a concentração de fumaça dos escapamentos é maior, numa taxa
irregular de combustão. Gotículas de óleo dos motores se transformam num fino aerossol;
asbestos desprendem-se dos freios; a pavimentação das ruas literalmente tritura a borracha dos
pneus em uma poeira fina” (SPIRN, 1995, p. 71).
16 “A fotossíntese auxilia na umidificação do ar, consequente resfriamento evaporativo.”

(BARBIRATO; SOUZA; TORRES, 2007, p. 113-114).


90

Troppmair e Galina (2003) acrescentam, enfatizando as vantagens das


áreas verdes:

a) Criação de microclima mais ameno que exerce função de centro de alta


pressão e se reflete de forma marcante sobre a dinâmica da ilha de calor [...];
b) Despoluição do ar de partículas sólidas e gasosas, dependendo do
aparelho foliar, rugosidade da casca, porte e idade das espécies arbóreas;
c) Redução da poluição sonora, especialmente por espécies aciculiformes
(pinheiros) que podem acusar redução de 6 a 8 decibéis;
d) Purificação do ar pela redução de microorganismos. Foram medidos 50
microorganismos por metro cúbico de ar de mata e até 4.000.000 por metro
cúbico em shopping centers;
e) Redução da intensidade do vento canalizado em avenidas cercadas por
prédios;
f) Vegetação como moldura e composição da paisagem junto a monumentos
e edificações históricas.

Neste contexto analítico, Loboda e Angelis (2005) afirmam que as áreas


verdes urbanas contribuem para a melhoria da qualidade de vida nas cidades.
Segundo Gomes (2005, p. 115), as áreas verdes podem proporcionar conforto
térmico17, visto que essas superfícies verdes interferem na formação de
microclimas18. Spirn (1995, p. 68-69) explica que as áreas verdes diferem da

17
“Conforto térmico – Engloba as componentes termodinâmicas que, em suas relações, se
expressam através do calor, ventilação e umidade nos referenciais básicos a esta noção. É um filtro
perceptivo bastante significativo, pois afeta a todos permanentemente. Constitui, seja na
climatologia médica, seja na tecnologia habitacional, assunto de investigação de importância
crescente” (MONTEIRO, 2003, p. 24). “A sensação de conforto térmico está associada com o ritmo
de troca de calor entre o corpo e o meio ambiente, sendo assim, o desempenho humano durante
qualquer atividade pode ser otimizado, desde que o ambiente propicie condições de conforto e
que sejam evitadas sensações desagradáveis, tais como: dificuldade de eliminar o excesso de calor
produzido pelo organismo; perda exagerada de calor pelo corpo e desigualdade de temperatura
entre as diversas partes do corpo.” (BARBIRATO; SOUZA; TORRES, 2007, p. 144).
18
“Cada cidade é composta por um mosaico de microclimas radicalmente diferentes, os quais são
criados pelos mesmos processos que operam na escala geral da cidade. Os mesmos fenômenos
que caracterizam o mesoclima urbano existem em miniatura por toda a cidade – pequenas ilhas
de calor, microinversões, bolsões de grave poluição atmosférica e diferenças locais no
comportamento dos ventos.” (SPIRN, 1995, p. 71).
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 91

paisagem de concreto, pela sua capacidade de dispersar a radiação solar,


através da evaporação e transpiração.

Na cidade, concreto, pedra, tijolo e asfalto substituem a cobertura vegetal


natural do campo. Esses materiais absorvem o calor mais rapidamente e o
mantém em maiores quantidades do que as plantas, o solo e a água. [...]
Durante o dia todo, o calçamento, as paredes e os telhados absorvem e
conservam o calor da irradiação solar. Embora a água e as plantas absorvam
também a radiação solar, a maior parte dessa energia é gasta na evaporação
e transpiração – resultando numa perda de calor maior do que é absorvido.
[...] A cidade esfria mais lentamente: ela absorveu mais calor, e a irradiação
desse calor para o céu noturno é inibida pelas paredes dos edifícios. (SPIRN,
1995, p. 68-9).

Do mesmo modo, Danni-Oliveira (2003, p. 157), com base nos estudos


de climatologia urbana, afirma que as áreas residenciais, quando “ladeadas por
áreas verdes”, recebem “incidência da radiação solar”, através das “trocas dos
fluxos de calor e de umidade, bem como a dispersão de poluentes”.
Num contexto mais amplo, as relevâncias das áreas verdes públicas
presentes no tecido urbano reiteram a necessidade de incorporar os princípios
de preservação e conservação, de onde emerge o conceito de sustentabilidade
urbana, o qual pode interferir favoravelmente não apenas na melhoria da
qualidade ambiental, mas principalmente na qualidade de vida urbana.
A oferta de espaços públicos é um dos requisitos para a efetivação ao
direito a cidade, uma vez que esses locais agregam “valores visuais ou
paisagísticos, valores recreativos e valores ambientais” no ambiente urbano e
que “uma boa qualidade do espaço público pode fornecer a permanência em
uma espacialidade tranqüila, o desenvolvimento de atividades sociais e,
consequentemente, vitalidade urbana” (BARBIRATO; SOUZA; TORRES, 2007,
p.144).
Nesse contexto, as áreas verdes públicas, ou seja, jardins19 e parques
urbanos20 vêm “exercer um importante papel na identidade dos lugares,

19 Um jardim público compreende aqueles cuja manutenção fica ao encargo dos poderes públicos
e se destinam ao uso e gozo da população em geral, com as limitações necessárias à sua função
[...] (NIEMEYER, 2005, p.10).
20 “Considera como parque todo espaço de uso público destinado à recreação de massa, qualquer

que seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de conservação e cuja estrutura morfológica é
92

muitas vezes ressaltando as características físicas do sítio” urbano (PISSOL,


2006, p. 2). A implantação de um jardim ou parque urbano contribui para a
humanização da cidade.

Os parques e jardins – As mais belas realizações da humanidade são produtos


do ideal. Basta recordar os maravilhosos parques, jardins e monumentos
sobreviventes de todas as grandes civilizações, para se compreender a força
criadora de uma visão de longo alcance, capaz de dar forma e beleza aos
elementos mais diversos, a fim de legá-los à posteridade. (LOUREIRO, 1979,
p. 24).

A criação, produção e reprodução desses espaços no tempo agregam


valores urbanísticos, essenciais ao arranjo espacial do sítio urbano. Loureiro
(1979, p. 33) afirma que a cidade deve ser pensada e produzida, considerando
as áreas verdes púbicas como requisito básico à qualidade urbana. Para Robba
e Macedo (2003, p. 44-45), essa qualidade urbana está implícita nos valores
ambientais, funcionais, estéticos e simbólicos dessas áreas.

METODOLOGIA

Para a delimitação do universo a ser estudado optou-se por uma


pesquisa qualitativa, em que os procedimentos tiveram uma base lógica que
consistiu na investigação dividida em três fases: “aberta ou exploratória”,
“coleta de dados” e “análise e interpretação sistemática dos dados” (LÜDKE;
ANDRÉ, 1986, p. 21).
A primeira fase da pesquisa, conhecida como aberta ou exploratória,
consistiu do exame da literatura pertinente a livros, teses, dissertações, artigos,
etc., sobre a temática, com repetição constante dos mesmos referenciais
bibliográficos, sem apresentação de novas proposituras que viessem a ampliar
a discussão teórica.
A segunda fase da pesquisa consistiu na coleta dos dados in loco
(realizada 2019 e tabulação em 2020), tendo como subsídio os trabalhos de
Angelis, Castro e Angelis Neto (2004), Santiago, Santiago e Soares (2016) e na

auto-suficiente, isto é, não é diretamente influenciada em sua configuração por nenhuma


estrutura construída em seu entorno” (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 14).
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 93

NBR 9050/2015, para a definição dos procedimentos metodológicos


necessários. Nesta fase foram utilizados a base cartográfica da Prefeitura
Muncipal de Cuiabá e os dados do IBGE (2010).
A terceira fase consistiu da inserção do objeto de pesquisa dentro de
um quadro de referenciais teóricos, concomitantemente com a construção
empírica, o que permitiu a obtenção dos produtos desta pesquisa.

PROCEDIMENTOS PARA AVALIAÇÃO DAS AVPUs

Uma vez verificada a implantação das AVPUs no bairro, consideraram-


se os seguintes requisitos para análise: acessibilidade, vegetação, quantidade
e qualidade dos mobiliários implantados e a oferta dos serviços públicos. Para
a construção da pesquisa empírica, foram considerados atributos e variáveis
preestabelecidas, conforme apresentado a seguir:

a) para aferir a qualidade da acessibilidade nas AVPUs, foram


considerados o estado de conservação do piso, a existência e o
dimensionamento das rotas de circulação, barreiras naturais que
pudessem comprometer a acessibilidade, a oferta de rampa e piso
tátil de alerta e direcionamento, bem como a oferta de
estacionamento, inclusive para idosos (Quadro 1):
94

Quadro 1 – Atribuição de peso (valor) à acessibilidade na AVPU

ATRIBUTO VARIÁVEIS SITUAÇÃO PESO


bom 2
Estado de conservação do piso no espaço
razoável 1
(AVPU)
ruim 0
As rotas de circulação são inferiores a sim 0
1,20 metro não 2
Existência de pelo menos uma rota sim 2
acessível no interior do espaço (AVPU) não 0
A vegetação do espaço (AVPU) sim 0
interrompe a rota acessível não 2
Acessibilidade sim 2
Tem rampa de acesso
não 0
sim 2
Tem piso tátil de alerta e direcional
não 0
No entorno do espaço (AVPU) há vagas sim 2
reservadas para pessoas com deficiência não 0
No entorno da praça (AVPU) há vagas sim 2
reservadas para idosos não 0
sim 2
Estacionamento
não 0

Fonte: Benini (2020).

b) a qualidade do atributo “vegetação” foi mensurado, considerando


critérios com a oferta de espaços arborizados e vegetação rasteira,
o tratamento paisagístico, bem como o percentual de
permeabilidade nas AVPUs (Quadro 2):

Quadro 2 – Atribuição de peso (valor) à vegetação na AVPU

ATRIBUTO VARIÁVEIS SITUAÇÃO PESO


sim 3
Espaço é arborizado
não 0
sim 3
Espaço tem vegetação rasteira
não 0
sim 3
Vegetação O espaço tem tratamento paisagístico
não 0
superior a 75% 3
de 50 a 75% 2
Permeabilidade (%)
de 25 a 49% 1
inferior a 25% 0

Fonte: Benini (2020).


Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 95

c) Para avaliar a qualidade dos mobiliários destinados à recreação,


foram considerados a oferta de parque infantil, equipamentos de
exercício (academia ao ar livre), equipamentos de ginástica para
terceira idade, bem como se nas AVPUs havia a instalação de
quadra esportiva (Quadro 3).

Quadro 3 – Atribuição de peso (valor) aos mobiliários destinados à recreação na AVPU

ATRIBUTO VARIÁVEIS SITUAÇÃO PESO


sim 3
Parque infantil
não 0
Equipamentos de exercícios – sim 3
Mobiliários
Academia ao ar livre não 0
destinados à
Equipamentos de ginástica para sim 3
recreação
terceira idade não 0
sim 3
Quadra esportiva
não 0

Fonte: Benini (2020).

d) dentre os atributos avaliados, na questão cultural foram


considerados a instalação de palco para apresentação artísticas,
chafariz e espelho d’água e exposição de obras de arte, a exemplo
de esculturas, bustos, entre outros (Quadro 4):

Quadro 4 – Atribuição de peso (valor) aos mobiliários destinados à cultura na AVPU

ATRIBUTO VARIÁVEIS SITUAÇÃO PESO


sim 2
Palco
não 0
Obra de arte sim 2
Cultura
não 0
sim 2
Chafariz / espelho d’água
não 0
Fonte: Benini (2020).
96

e) a qualidade do mobiliário em geral, considerou o valor/peso


atribuído para cada variável do Quadro 5, de modo a permitir uma
análise sistemática das AVPUs:

Quadro 5 – Atribuição de peso (valor) aos mobiliários em geral na AVPU

ATRIBUTO VARIÁVEIS SITUAÇÃO PESO


sim 3
Bancos
não 0
sim 3
Bebedor
não 0
sim 3
Iluminação alta
não 0
sim 3
Iluminação baixa
não 0
sim 3
Lixeira
não 0
Mobiliário em sim 2
Sanitário
geral não 0
sim 1
Ponto de ônibus
não 0
sim 1
Ponto de táxi
não 0
sim 1
Banca de revista
não 0
sim 1
Telefone público
não 0
sim 1
Quiosque
não 0

Fonte: Benini (2020).

f) Ademais, a pesquisa contemplou a avaliação dos serviços públicos


ofertados nas AVPUs, tais como conservação e limpeza do espaço.
Nesta etapa, também foi considerada a oferta de segurança (vigia)
no local (Quadro 6):
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 97

Quadro 6 – Atribuição de peso (valor) a oferta de serviço público na AVPU

ATRIBUTO VARIÁVEIS SITUAÇÃO PESO


bom 2
Conservação do espaço razoável 1
ruim 0
Serviço público bom 2
Limpeza no espaço razoável 1
ruim 0
sim 1
Tem segurança (vigia) no local
não 0

Fonte: Benini (2020).

A conjugação desses atributos apresentados, considerando suas


variáveis, permitiu que fossem gerados alguns produtos de análises, como
tabelas e mapas, os quais permitiram especializar a qualidade das AVPUs.
A partir desses dados foi aferido o Índice de Área Verde Pública
Urbanizada (IAVPU) por bairro da zona oeste da cidade de Cuiabá, por
intermédio da interpolação de dados na seguinte fórmula:

IAVPU = Índice de Área Verde Pública Urbanizada por bairro


∑ { AVP Urbanizada : hab } = IAVPU (m²/hab)

Assim, considerando a metodologia apresentada, destaca-se ainda que


a mesma pode ser replicada não só nas demais zonas da cidade de Cuiabá, mas
em qualquer cidade do território brasileiro.

ESTUDO DE CASO

Para o desenvolvimento deste trabalho, optou-se como recorte espacial


a Zona Norte da cidade Cuiabá, Estado do Mato Grosso, que possui área de
3.538,17 km², correspondendo a 254,57 m² à área urbana e 3.283,60 km² à
área rural. Faz divisa com os municípios de Acorizal, Rosário Oeste, Chapada
dos Guimarães, Santo Antônio do Leverger e Várzea Grande (Figura 1).
98

Figura 1 – Localização de Cuiabá-MT

Fonte: Ávila (2015, p. 4).

A cidade Cuiabá esta localizada na baixada cuiabana, onde, segundo


Ávila (2015, p. 4), na região há predominância de um “clima Tropical
Continental, sem influência marítima, onde já foi detectada a interferência do
uso do solo urbano na ocorrência de ilhas de calor”, a região “apresenta baixa
frequência e velocidade média dos ventos, que torna a influência do espaço
construído sobre a temperatura do ar mais perceptível, já que as trocas
térmicas por convecção são minimizadas”, deste modo tem-se a
predominância de temperaturas elevadas, com chuva no verão e inverno com
clima seco.
Segundo dados do Censo IBGE (2010), 36,41% da população da zona
norte da cidade de Cuiabá encontram-se na faixa de 0 a 19 anos (crianças e
adolecentes), dados estes que denotam a necessidade de implantação de
políticas públicas para atendimento deste público (Tabela 1).
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 99

Tabela 1 - População (crianças e adolecentes) da Zona Norte da Cidade de Cuiabá-MT

GRUPOS ETÁRIOS (%)


Cd. BAIRRO ZONA NORTE POPULAÇÃO 0a4 5a9 10 a 14 16 a
(1)
anos anos anos 19
anos
25 JARDIM FLORIANÓPOLIS 4.824 9,12 8,46 10,84 11,40
26 JARDIM VITÓRIA 8.966 9,21 8,20 10,86 11,97
27 PARAÍSO 5.655 9,07 10,45 10,75 10,80
28 NOVA CONQUISTA 855 8,77 7,37 10,18 10,53
29 PRIMEIRO DE MARÇO 7.457 8,65 9,59 10,57 11,30
30 TRÊS BARRAS 9.926 9,96 9,30 10,36 10,71
31 MORADA DA SERRA 56.066 6,50 6,38 7,43 8,62
32 MORADA DO OURO 5.824 5,25 6,06 6,71 8,46
33 CENTRO POLÍTICO 5.434 9,83 9,49 9,60 10,09
ADMINISTRATIVO
34 PAIAGUÁS 4.743 7,72 7,97 8,24 8,67
117 ÁREA DE EXPANSÃO 11.164 9,57 9,16 9,04 7,32
URBANA
1 - População segundo dados coletados pelo Censo IBGE (2010).
Fonte: IBGE (2010), organizado pelas autoras (2021).

Ao observar os dados econômicos, verificou-se que o rendimento médio


da população na região é baixo, comprometendo assim a qualidade de vida de
seus moradores. Fato este que reforça a importância da oferta de espaços
públicos para esses moradores, destinados ao lazer e recreação, considerando
que muitos não tem acesso a clubes, shopping, academias, etc.
100

Tabela 2 - Rendimento médio da população na zona norte da cidade de Cuiabá-MT

Cd. BAIRRO POPULAÇÃO (1) RENDIMENTO MÉDIO (SM) (2)


25 JARDIM FLORIANÓPOLIS 4.824 2,25
26 JARDIM VITÓRIA 8.966 2,24
27 PARAÍSO 5.655 2,41
28 NOVA CONQUISTA 855 2,41
29 PRIMEIRO DE MARÇO 7.457 2,59
30 TRÊS BARRAS 9.926 2,41
31 MORADA DA SERRA 56.066 5,18
32 MORADA DO OURO 5.824 11,69
33 CENTRO POLÍTICO 5.434 2,72
ADMINISTRATIVO
34 PAIAGUÁS 4.743 6,03
117 ÁREA DE EXPANSÃO URBANA 11.164 -
1 - População segundo dados coletados pelo Censo IBGE (2010).
2 - Rendimentos Médios (SM) - como base para este trabalho utilizaram-se os dados da tabela
“Valor do rendimento nominal médio mensal, valor do rendimento nominal mediano mensal das
pessoas com rendimento, responsáveis pelos domicílios particulares permanentes, segundo os
bairros” do Censo Demográfico2000 (resultados do universo), divulgado pelo IBGE.
Fonte: IBGE (2010), organizado pelas autoras (2021).

RESULTADOS

Durante a realização desta pesquisa verificou-se uma carência na oferta


de AVPUs na zona norte da cidade de Cuiabá, apresentando assim um
descompasso com a Lei de Parcelamento de Solo (Lei 6.766/1979), a qual
determina em seu art. 22 quais os equipamentos urbanos (vias e praças, os
espaços livres e as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos
urbanos) que, após o registro do loteamento, passam a integrar os bens de
domínio público.
Sabe-se que as Administrações Públicas têm restrições orçamentárias
para atender a todas as demandas urbanas (saúde, educação, serviços sociais,
entre outros), e por esta razão acaba sendo destinado um valor insuficiente do
orçamento para implantação desses espaços.
Os resultados obtidos pela análise qualitativa das AVPUs,
demonstraram que os bairros que obtiveram uma pontuação elevada, com
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 101

exceção do Centro Político Admininstrativo, são bairros de classe média


segundo o IBGE (2010), a exemplo da Morada do Ouro e Bairro Paiaguais.

Tabela 3 – Síntese da avaliação qualitativa das AVPU da zona norte da cidade de Cuiabá-MT

Cd. BAIRRO DA ÁREA VERDE PÚBLICA


M² QUALIDADE (1) MÉDIA Q. (2)
ZONA NORTE URBANIZADA
Jardim Praça Arquiteto Júlio de
25 2.427,98 27
Florianópolis Lamonica Freire 27
Praça Residencial Nova
3.049,35 39
Canaã 26,6
30 Três Barras
Praça Jardim Umurana 1.980,32 20
Praça Três Barras 2.074,98 21
Espaço sem denominação 15.540,95 40
Praça de Esporte e Lazer
Ermes do Nascimento 4.995,49 31
Justino
Praça da Caixa D'água 1.982,70 31
31 Morada da Serra Espaço sem denominação 2.1744,93 33
27,3
Praça do CPA I 2.340,16 11
Praça do Ginásio Verdinho 9.337,54 35
Espaço sem denominação 3.124,49 20
Parque Municipal Lagoa
3.519,00 18
Encantada
Praça Cultural Morada do 38
32 Morada do Ouro 3.641,00 38
Ouro
Praça Sem. Jonas Pinheiro 11.336,00 38
Parque Massairo Okamura 540.000,00 50
Centro Político
33 Praça Monumento Ulisses
Administrativo 8.148,00 33 45
Guimarães
Parque das Águas 270.000,00 59

34 Bairro Paiaguais Espaço sem denominação 4094,95 43 43


1 - Qualidade das AVPU - Área Verde Pública Urbanizada (praças, jardins e parques).
2 - Média da qualidade aferida por bairro.
Fonte: Organizado pelas autoras (2021).

A Figura 2 demonstra a contradição presente na implantação de


políticas públicas destinado ao lazer e recreação na região, pois onde há
102

população tem menor rendimento, a qualidade das AVPUs é baixa, ou


simplesmente não foram implantadas, a exemplo do Jardim Vitória, Paraiso e
Nova Conquista, Primeiro de Março.

Figura 2 - Mapa da avaliação qualidade das AVPU da zona Norte da Cidade de Cuiabá-MT

Fonte: Organizado pelas autoras (2021).

A Tabela 4 apesenta o Índice de Área Verde Urbanizada (IAVP), o qual


tem sua base de cálculo na disponibilidade de AVPU para cada habitante do
bairro. Segundo Troppmair e Galina (2003), a ONU recomenda que sejam
adotados “12 metros quadrados de área verde por habitante para que haja
equilíbrio entre a quantidade de oxigênio e gás carbônico”.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 103

Tabela 4 - IAVPU da zona norte da cidade de Cuiabá-MT

Cd. BAIRRO DA ZONA NORTE POPULAÇÃO(1) AVPU /M2(2) IAVPU(3)


25 Jardim Florianópolis 4.824 2.427,98 0,50
26 Jardim Vitória 8.966 0 0
27 Paraíso 5.655 0 0
28 Nova Conquista 855 0 0
29 Primeiro de Março 7.457 0 0
30 Três Barras 9.926 7.104,65 0,71
31 Morada da Serra 56.066 62.585,26 1,11
32 Morada do Ouro 5.824 3.641,00 0,62
33 Centro Político 5.434 829.484,00 152,64
Administrativo
34 Paiaguás 4.743 4.094,95 0,86
117 Área de Expansão Urbana 11.164 0 0
1 - População segundo dados coletados pelo Censo IBGE (2010).
2 - AVPU/M2 – Área Verde Pública Urbanizada por metro quadrado.
3 - IAVPU – Índice de Área Verde Pública Urbanizada.

Figura 3 - Mapa do IAVPU por loteamento na zona norte da cidade de Cuiabá-MT

Fonte: Organizado pelas autoras (2021)


104

A espacialização do IAVPU da zona norte de Cuiabá na Figura 3, permite


verificar que, apesar da predominância da altas temperaturas na região, o que
demandaria a oferta de mais áreas verdes, a maior parte da área estuda
apresenta um índice abaixo do ideal recomendado pela ONU.

CONCLUSÃO

O conteúdo apresentado neste artigo evidencia que a zona norte da


cidade de Cuiabá apresenta uma carência, não só na quantidade de espaços
públicos destinados ao lazer e recreação, como da qualidade desses espaços, o
que denota a ausência de politicas públicas direcionadas à população de menor
poder aquisitivo.
Ao mensurar o IAVPU, verificou-se a necessidade de implantação de
novos espaços, com observância a Lei de Parcelamento de Solo, de modo
melhorar de uma qualidade ambiental da população.

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Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 105

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Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 107

Capítulo 5

OCUPAÇÃO TERRITORIAL E MICROCLIMA URBANO -


UMA PROPOSTA PARA ESTABELECIMENTO DE PADRÕES DE
REFERÊNCIA

Marcius Carvalho21
Cláudia Cotrim Pezzuto16

INTRODUÇÃO

O ecossistema urbano é dinâmico, resultante de combinações no tempo


e no espaço de diferentes ecossistemas naturais e artificiais, no qual as pessoas
constroem seus assentamentos sobre os remanescentes do ecossistema
natural formando uma estrutura complexa. Esta dinâmica transforma o
ambiente físico, desencadeando mudanças na paisagem, na meteorologia e o
clima da cidade.
Neste contexto, discutir e avaliar a forma de ocupação do espaço
urbano pode contribuir para o uso equilibrado dos recursos naturais buscando
orientar decisores públicos na proposição de um planejamento urbano
adequado a partir de diferentes visões.
Este capítulo apresenta uma metodologia para avaliar espaços urbanos
a partir do método multicritério de organização de classificação de preferência
para o enriquecimento de avaliações (PROMETHEE). O primeiro passo para
aplicação do método, após a definição do espaço urbano em estudo e seus
subespaços, é estabelecer os critérios de análise e representá-los por
indicadores. Esses indicadores devem expressar as implicações sociais,
econômicas e ambientais da ocupação urbana indicando espaços a evoluírem
no sentido de se tornarem mais sustentáveis ou serem tomados como
referências no sentido de apoiar o setor público no desenvolvimento de novos

21 Programa de Pós-Graduação em Infraestrutura Urbana PUC- Campinas, SP


108

projetos de ocupação equilibrada. Alguns desses indicadores são: variação de


temperatura do ar (representada pela amplitude térmica), fração de superfície
permeável e impermeável e presença de corpo d’água. Considerando que o
microclima urbano é resultado do conjunto de critérios e que cada critério
contribui de forma diferenciada para um ambiente urbano confortável
termicamente, portanto diferentes pesos devem ser atribuídos a cada um na
composição de um índice final. Portanto, devem ser gerados cenários com
variação dos pesos para avaliação da influência de cada um dos critérios no
desempenho climático do subespaço analisado. Esta proposição permite o
estabelecimento de um padrão de referência, benchmarking, que pode auxiliar
o administrador público no planejamento e em estabelecimento de
regulamentações para constituição de ocupações futuras sustentáveis, ou
mesmo melhorias das atuais, com relação ao microclima.
Espera-se que as decisões tomadas pelo setor público sejam mais
eficazes e producentes para o microclima de uma região quando apoiadas em
resultados quantitativos, obtidos pala análise multicritério proposta por este
trabalho.

METODOLOGIA

Uma pesquisa de ocupação territorial e microclima urbano deve ser


estruturada em uma série de etapas representadas desde a delimitação da
área de estudo até identificação das variáveis urbanas que interferem nas
condições climáticas. O processo metodológico consistiu nas seguintes etapas
(Figura 1).
• Delimitação da área de pesquisa: Compreende a definição da área
urbana a ser pesquisada, identificação dentro desta área dos
espaços a serem considerados para o estudo e escolha dos
indicadores para a avalição de desempenho.
• Coleta e tratamento dos dados: Coleta e tratamento de dados
ambientais da área de estudo e espacialização em um Sistema de
Informação Geográfica e escolha dos critérios para análise
representados por seus indicadores (fração de superfície
permeável, fração de superfície impermeável e presença de corpo
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 109

d’água, e temperatura do ar). Nesta fase é importante a percepção


do cidadão e o ponto de vista do Gestor Público.
• Aplicação do Método multicritério PROMETHEE para comparação
par a par de indicadores entre cada critério e estabelecimento da
classificação dos espaços em estudo com identificação de padrão
de referência. Ainda, é de grande importância a avaliação da
sensibilidade aos pesos atribuídos aos critérios no sentido de
considerar diferentes visões: visão que privilegia o cidadão, visão
que atende os objetivos do setor público.
• Análise e conclusões

Figura 1 – Fluxograma dos principais passos da metodologia

Descrição da área de estudo

Para aplicação da metodologia foi selecionado um recorte urbano na


porção noroeste na cidade de Campinas, SP, Figura 2. O município de Campinas
(S 22°48' 57" S, O 47°03' 33" O, altitude média 680 m) está localizado no
110

sudeste do Brasil, ocupando uma área de aproximadamente 794 km2 com


população total estimada de aproximadamente 1.223.113 habitantes,
densidade demográfica de 1.359,60 hab/km² (IBGE, 2021). O clima da cidade é
tropical de altitude (Cwa de acordo com a classificação de Köppen) com verão
quente e úmido, inverno ameno e seco e ventos predominantes sudeste. A
temperatura média anual é de 22,40 °C, média máxima 32,5 °C, média mínima
12,3 °C.

Figura 2 – Área de estudo

Fonte: Adaptado Google-Earth (2021).

O estudo considera oito espaços urbanos para coleta de dados de


temperatura do ar e parâmetros morfológicos, que representam diferentes
padrões de ocupação urbana (Figura 1 e Quadro 1). A partir desses espaços
urbanos foi adotado um ponto de coleta no centro de cada área. Os dados
foram coletados durante sete dias do período de inverno de 2013 em dias sem
precipitação e condições de calmaria. Os instrumentos (TESTO 174h) foram
instalados dentro de protetores contra intempéries e incidência direta (HOBO
RS1), em locais sem obstruções e a uma altura aproximada de 3 metros. A
Figura 1 e Quadro 1 mostram a localização e caracterização dos pontos de
coleta.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 111

Quadro 1 – Caracterização dos pontos amostrais


Imagem Descrição da subárea
EU1: Ponto inserido no interior de um parque urbano com
proximidade de uma lagoa e extensa área verde.

EU2: Área predominantemente residencial com edificações


baixas (1 ou 2 pavimentos). Arborização viária média a alta,
proximidade de Parque Urbano. Cobertura do solo
predominantemente pavimentada.

EU 3: Área de uso misto, edificações baixas (1 a 2 pavimentos) e


altas (até 12 pavimentos), pouca arborização viária e cobertura
do solo predominantemente pavimentada.

EU 4: Área de uso misto, edificações predominantemente baixas


(1 a 2 pavimentos), presença de edifícios altos no entorno da
área, pouca arborização viária e cobertura do solo
predominantemente pavimentada.

EU 5: Área de uso misto, edificações baixas (1 a 2 pavimentos),


presença e edifícios altos no entorno da área e proximidade de
rodovia e áreas permeáveis.

EU 6: Área predominantemente residencial (1 a 2 pavimentos),


proximidade de área de fundos de vale e presença de corpo
hídrico e proximidade de rodovia e áreas permeáveis.

EU 7: Área predominantemente residencial (1 a 2 pavimentos),


pouca arborização viária, e cobertura do solo pavimentada.

EU 8: Proximidade de área de pastagem e rodovia e cobertura do


solo predominantemente permeável.
112

Seleção dos indicadores para análise do microclima urbano

Este estudo considera que as seguintes variáveis estão fortemente


relacionadas com o microclima urbano: fração de superfície impermeável (SI -
Relação da área do plano de construção/áreas pavimentadas com a área total
de estudo - %), fração de superfície permeável (SP - Relação da área do plano
de vegetação (área de projeção horizontal das copas das árvores), e das áreas
permeáveis - %), Fração de superfície do Corpo d’Água (CA - relação da área do
corpo d’água - %) e sugere que sejam transformadas nos seguintes indicadores:
porcentagem de superfície impermeável, porcentagem de superfície
permeável e porcentagem de corpo d’água e variação da temperatura do ar,
expressos em percentagem como:

Fração de Superfície Impermeável - % (SI)


%SE = (SI/AT)*100 (1)
Fração de Superfície Permeável - % (SP)
% SP = (SP/AT)*100 (2)
Fração de Corpo D’água - % (CA)
% EN = (CA/AT)*100 (3)
Variação de Temperatura - %
%VT = (Vmax - Vmin)*100 (4)

AT nas equações de 1 a 3 representa a Área Total (utilizando um raio de


500 m), na equação 4 a variável Vmax representa a temperatura máxima do ar
do local e Vmin a temperatura mínima do ar.
Para caracterização dos espaços urbanos selecionados, estudos indicam
delimitar um raio de influência em torno da área de estudo. A abrangência do
raio depende da rugosidade da superfície, geometria das edificações,
condições de estabilidade da atmosfera e escala de análise (LECONTE et al.,
2015; NDUKA and ABDULHAMED, 2011; STEWART and OKE, 2012). Para este
estudo adota-se um raio de 500 metros a partir do ponto de coleta, identificado
por meio de visualização de uma Imagem Satélite GeoEye. A partir deste raio
são digitalizados os indicadores de estudo: Fração de Superfície Impermeável,
Fração de Superfície Permeável, Fração de Corpo D’água. A variação da
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 113

temperatura do ar foi coletada no ponto fixo de medição no centro de cada


área de estudo.

Análise multicritério para avaliação climática

Para que as decisões do setor público se tornem eficazes devem estar


apoiadas em ferramentas integradas de avaliação de desempenho com a
análise do trade-off entre os diferentes critérios de avaliação de um projeto, o
que é possível pelo emprego de análise multicritério. Conhecida como MCDM
(Multi-Criteria-Decision Making), cada vez mais é usada na avaliação de
políticas ambientais (TURCKSIN; BERNARDINI; MACHARIS, 2011). O apoio à
decisão pelo enfoque multicritério apresenta como propriedades:
a) a possibilidade de lidar com questões complexas;
b) a incorporação de critérios que são difíceis de monetizar;
c) a representação uma visão holística incorporando aspectos
tangíveis, bem como intangíveis, muitas vezes negligenciados por
outros métodos de avaliação;
d) a inclusão de partes interessadas no processo de tomada de decisão,
por atribuição de pesos aos critérios.
Existem várias técnicas para conduzir uma MCDA e entre elas duas
largamente utilizadas são o Processo Analítico Hierarquico (AHP - Analytical
Hierarchy Process) e o Preference Ranking Organization Method for
Enrichment Evaluations (PROMETHEE) que se baseiam na comparação par a
par entre critérios e alternativas (BALALI; ZAHRAIE; ROOZBAHANI, 2014;
BEHZADIAN et al., 2010; PAULA; CERRI, 2012). Um enfoque conveniente é a
integração do método AHP com o método PROMETHEE como sugerido em
(MACHARIS et al., 2004) por permitir a participação do decisor estabelecendo
os pesos para ponderação dos critérios e avaliação quantitativa por meio dos
indicadores de cada critério.

O método multicritério PROMETHEE

Os métodos multicritérios de auxílio à decisão se propõem ao


ordenamento completo de um conjunto finito de alternativas da melhor para
a pior em problemas com múltiplos critérios conflitantes (BEHZADIAN et al.,
114

2010). O PROMETHEE pertence a uma família de métodos de análise de


problemas com multicritérios que auxilia ao tomador de decisão a encontrar a
melhor entre um conjunto de possíveis alternativas. Esta família de métodos,
classificados como métodos de superação, tem sido aplicada em inúmeros
campos de pesquisa e seu sucesso é basicamente devido às propriedades
matemáticas e particular facilidade de uso. É tido como um método muito
simples de ordenação em termos de conceito e aplicação, comparado com
outros métodos multicritérios, baseando-se na comparação par a par das
alternativas ao longo de cada critério. As alternativas são avaliadas de acordo
com diferentes critérios que podem ser maximizadas ou minimizadas. A sua
implementação requer dois principais passos: a determinação dos pesos para
cada um dos critérios e a escolha e aplicação de uma função de preferência.

Determinação dos pesos

A primeira etapa consiste em atribuir pesos de acordo com a


importância de cada critério adotado na análise. Esta definição conta com
participação dos decisores assumindo que estes podem estabelecer esta
ponderação adequadamente, pelo menos quando o número de critérios não
for muito grande (MACHARIS; VERBEKE; DE BRUCKER, 2004). Entretanto, é
conveniente uma análise de sensibilidade dos resultados em relação aos pesos
inicialmente estabelecidos, no sentido da avaliar se há diferença significativa
por variações incrementais na ponderação, identificando-as e analisando-as.

A função de preferência

A função de preferência (ou superação), utilizada para ordenar as


alternativas segundo o conceito de dominância, transforma a diferença obtida
entre duas alternativas em um grau de preferência que está na faixa entre 0 e
1. Brans and Vincke (1985) propuseram cinco diferentes tipos de funções de
preferência de fácil aplicação sendo que para cada critério existe um valor “q”
para a indiferença, um valor “p” para a preferência explícita e um valor
intermediário “d” entre “p” e “q” que representa a diferença entre duas ações
para um determinado critério. Neste trabalho será utilizada a função linear
(Eq.1) definida como:
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 115

0, se dj < qj
dj − qj
Pj (a, b) = , se qj < dj < pj (Eq. 1)
pj −qj

{ 1, se dj > pj

A seguir são apresentados os principais passos para a aplicação do


método PROMETHEE.

Passo 1: Determinação do desvio - comparação par a par (Eq. 2),


dj(a,b) = gj(a) - gj(b) (Eq. 2)

onde dj(a,b) define a diferença entre a avaliação de a e de b em cada critério.

Passo 2: Aplicação da função preferência (Eq. 3),


Pj(a,b) = Fj[dj(a,b)] j=1,...k (Eq. 3)

onde Pj (a,b) denota a preferência da alternativa a em relação a alternativa b


em cada critério, em função de dj(a,b).

Passo 3: Cálculo da preferência global (Eq. 4),


π(a. b) = ∑kj=1 wj × Pj (a, b) ∀a, b ∈ A (Eq. 4)

onde π (a,b) de a sobre b é definido como o a soma ponderada p(a,b) para cada
critério, e wj e o peso associado ao j-ésimo critério.

Passo 4: Cálculo da classificação parcial (Eq. 5 e 6),


1
ϕ+ (a) = ∑x∈A π(a, x)(Eq. 5)
n+1
1
ϕ− (a) = ∑x∈A π(x, a) (Eq. 6)
n+1
onde ϕ+(a) e ϕ-(a) são fluxos positivos e negativos para cada alternativa,
respectivamente.

Passo 5: Cálculo do PROMETHEE ranking completo (Eq. 7),


ϕ(a) = ϕ+ (a) − ϕ− (a) (Eq. 7)
116

Em que: ϕ+ (a) determina quanto a alternativa A domina as outras


alternativas; ϕ− (a) determina quanto as outras alternativas dominam a
alternativa A, enquanto ϕ(a) denota o fluxo de saída para cada alternativa.

A execução do algoritmo até a eq.5 do Passo 4 constitui-se no


PROMETHEE I e fornece ranking parcial de alternativas. O PROMETHEE II
fornece uma classificação completa das alternativas, desde as melhores até as
piores, classificação baseada no fluxo líquido. A alternativa classificada como a
melhor pode ser considerada a benchmarking, aquela definida como referência
segundo o conjunto de critérios previamente estabelecidos.

AVALIAÇÃO DO ESPAÇO URBANO SOB ESTUDO

Coleta e tratamento dos dados

A Tabela 1 apresenta os valores das temperaturas média, mínima e


máxima além da amplitude térmica no período de inverno para oito Espaços
Urbanos (EU).

Tabela 1 – Valores médios de temperatura do ar. Período de coleta. Espaços Urbanos (EUs)

Temperatura Temperatura Temperatura


Pontos
Média ar (°C) Mín ar (°C) Máx ar (°C) ∆ Temperatura (°C)
EU1
19,3 11,6 27,3 15,7
EU2
19,7 11,0 28,1 17,1
EU3
20,4 12,9 27,9 15,0
EU4
20,3 12,3 28,2 15,9
EU5
20,1 11,4 27,8 16,4
EU6
19,0 8,9 29,4 20,5
EU7
20,0 10,8 28,4 17,6
EU8
19,1 10,2 28,0 17,8

A temperatura média do ar apresentou diferenças de aproximadamente


1,4 °C, entre o espaço EU6 (19,0 °C) e o espaço EU3 (20,4 °C). Para os valores
de temperatura do ar média máxima foi registrada uma variação máxima
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 117

aproximadamente de 2,1 °C, entre o espaço EU6 (29,4 °C) e o espaço EU1
(27,3°C). A localização do espaço EU6 em área residencial, com proximidade de
região de fundo de vale e áreas abertas contribuiu para o aquecimento diurno.
Já o espaço EU1, localizado no interior do Parque Urbano, apresentou menores
valores, justificado pela obstrução do céu pelas copas das árvores.
Cao et al. (2010) relatam que o efeito do resfriamento dos parques
depende da forma e áreas, de árvores e arbustos, e da condição de radiação
solar sazonal. Os outros espaços apresentaram valores muito próximos,
diferenças entre 0,5 °C. Além de apresentar a maior temperatura máxima, o
ponto EU6 apresentou o menor valor de temperatura do ar mínima (8,9 °C).
Em contrapartida, o espaço EU3 apresentou o maior valor (12,9 °C), diferença
de aproximadamente 4,0 °C, entre o espaço mais frio, EU6. As maiores
diferenças encontradas referem-se à amplitude térmica, entre os pontos EU6
(20,5 °C) e o espaço EU3 (15,0 °C), diferença aproximada de 5,5 °C. O espaço 3
localiza-se em região residencial de baixa densidade, porém com alta taxa de
área construída e pavimentada e baixa taxa de porcentagem de espaço natural
(vegetação, corpo hídrico e solo exposto). Destaca-se também a baixa
amplitude do espaço EU1, 15,7 °C.
A análise descritiva acima caracteriza um problema com múltiplos
critérios, com situação conflitante entre os critérios, de natureza complexa,
subjetiva e mal estruturado para um processo de avaliação. Esta constatação
leva a aplicação do método PROMETHEE como uma forma de estabelecer um
ranking para classificação dos espaços segundo os critérios adotados para
definição do desempenho térmico de um espaço urbano.
A Tabela 2 apresenta os pontos de estudo distribuídos por quatro
critérios; amplitude de temperatura, percentagem de corpo d´água,
percentagem de superfície permeável e percentagem de área superfície
impermeável. Mostra também a maior diferença entre as medidas de cada
critério e o que será considerado como parâmetro de indiferença, tomado
como 10% da maior diferença. Por exemplo, a maior diferença entre a maior
medida de temperatura e (20,5 oC) e a menor (15 oC) é de 5,5 oC. A indiferença,
é o valor que traduz a incerteza de qual espaço é predominante em relação ao
outro e foi tomada como 10% da maior amplitude entre as medidas para os
três primeiros critérios e como 2% para Área Impermeável.
118

Tabela 2 – Caracterização dos espaços em estudo

% Área
EU
∆ Temperatura % Corpo Água % Área Permeável Impermeável
EU1 15,7 16,5 38,5 45
EU2 17,1 6 50 44
EU3 15 0 10 90
EU4 15,9 4,5 18 77,5
EU5 16,4 0 57
43
EU6 20,5 2 63
35
EU7 17,6 0 27,5
72,5
EU8 17,8 0 94
6
Maior Difer. 5,50000 16,50000 84,00000 84
Indiferença 0,55000 1,65000 8,40000 2

Critérios de avaliação

Seguindo a literatura, tomou-se como critérios de avaliação a variação


da temperatura (representada pela Amplitude Térmica), a fração de áreas
permeáveis, a fração de áreas impermeáveis e a fração de corpo d´água, como
mostrado na Tabela 2. Estudos indicam que a presença de corpos d’água no
ambiente são responsáveis pelo resfriamento evaporativo, reduzindo assim o
efeito de aquecimento (GUPTA; MATHEW; KHANDELWAL, 2018; MASIERO;
SOUZA, 2013).
Por outro lado, a maior variação de temperatura do ar (∆ temp.) e maior
fração de corpo d’água foram considerados como elementos que contribuem
para o resfriamento urbano. Por outro lado, o incremente de áreas verdes
contribui para a mitigação do efeito da ilha de calor urbana (ALCHAPAR et al.,
2017; BOWLER et al., 2010; CHANG; LI, 2014; PEZZUTO et al., 2015). Em
contrapartida, o incremento da temperatura do ar é influenciado pela relação
da geometria urbana e estrutura. Entre elas as estruturas ao nível do solo tais
como, paredes, superfícies de telhados, áreas pavimentadas, entre outros
(RIZWAN; DENNIS; LIU, 2008).
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 119

Neste sentido, o aumento de as áreas impermeáveis (somatória da área


pavimentada e edificada) foi tomado como fator negativo às condições
climáticas ideais.
O método PROMETHEE faz a comparação par a par das alternativas em
cada critério. Tomando como exemplo, a comparação entre EU1 e EU2 é
apresentada na Tabela 3.

Tabela 3 – Análise comparativa entre EU1 e EU2


% Área
EU
∆ Temperatura %Corpo Água % Área Permeável Impermeável
EU1 15,7 16,5 38,5 45
EU2 17,1 6 50 44
Diferença - 1,4 10,5 11,5 1

Dos resultados da Tabela 3 conclui-se que a EU2 supera a EU1 em


variação de temperatura e área permeável enquanto a EU1 supera a EU2 em
áreas permeáveis verdes.
A diferença em área impermeável não é significativa por ser menor que
o valor de indiferença especificado. A aplicação da eq. 1. Aos resultados obtidos
na Tabela 3 estão apresentados na Tabela 4.

Tabela 4 – Resultado da comparação segundo a função de preferência


% Área
EU
∆ Temperatura % Corpo Água % Área Permeável Impermeável
EU1 0 1 0 0,5
EU2 1 0 1 0,5

Para a avaliação final deve ser atribuído um peso para cada critério
segundo os objetivos do estudo e sustentados pela experiência do decisor. No
sentido de avaliar a sensibilidade à variação dos pesos na classificação final dos
espaços foram propostos quatro diferentes cenários como apresentado na
Tabela 5. O primeiro cenário considera todos os critérios como de mesma
importância, pesos iguais. O segundo cenário atribui maior importância aos
espaços com maior porcentagem de corpo d’água e os outros critérios com
pesos iguais. O terceiro cenário considera como mais importante a variação de
temperatura do ar (maior amplitude térmica) e peso intermediário para a
120

presença de corpo d’água e o quarto considera que a porcentagem de área


permeável e menor porcentagem de área impermeável (somatória da área
pavimentada e área edificada) podem atuar no resfriamento do ambiente
urbano na escala local.

Tabela 5 – Cenários de pesos


Pesos Pesos Pesos Pesos
Cenário ∆ Temperatura do Ar % de Corpo % de Área % de Área
(°C) d’água Permeável Impermeável
1 0,25 0,25 0,25 0,25
2 0,17 0,5 0,17 0,17
3 0,5 0,3 0,1 0,1
4 0,1 0,1 0,4 0,4

A Tabela 6 apresenta os resultados para os quatro cenários propostos


na Tabela 3. Para os três primeiros cenários o espaço com o melhor
desempenho quanto ao clima o foi o EU6. Este resultado deveu-se à existência
de maior variação de temperatura entre todos os espaços em estudo e à
existência de corpo d´água. Este espaço se coloca em segundo lugar mesmo
quando as ponderações para as áreas permeáveis são maiores. O espaço EU8
se destaca para o último cenário, quando foi dada maior ponderação a
existência de áreas permeáveis.
Por outro lado, o espaço EU3 foi o de pior desempenho para todos os
cenários de ponderação. Isto porque apresenta a menor variação de
temperatura, nenhuma percentagem de corpo d´água, a menor percentagem
de área permeável e, por conseguinte, maior percentagem de área
impermeável.
Em conclusão, o melhor espaço para diferentes cenários resultantes de
atribuição de pesos diferentes atribuídos as quatro variáveis consideradas na
análise foi o espaço 6, e este deve ser tomado pelos gestores como
benchmarking para estabelecimentos de políticas públicas de melhoria de
outros espaços ou para novos espaços a serem criados.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 121

Tabela 6 – Resultados da avaliação dos espaços para diferentes pesos


CENÁRIOS
Espaços 1 2 3 4
EU1 0,368 0,490 0,355 0,35832
EU2 0,469 0,525 0,489 0,46412
EU3 0,070 0,098 0,060 0,05667
EU4 0,365 0,462 0,394 0,33423
EU5
0,370 0,294 0,305 0,40565
EU6
0,577 0,534 0,617 0,58408
EU7
0,318 0,275 0,385 0,2974
EU8
0,566 0,426 0,500 0,60292
Máx 0,577 0,534 0,617 0,603
Mín 0,070 0,098 0,060 0,057

CONCLUSÕES

A tomada de decisão da forma de ocupação territorial por um agente


público é função de variáveis qualitativas e quantitativas, influencia no
microclima de uma região e tem reflexo na percepção do conforto térmico de
seus habitantes. A combinação de áreas verdes, superfície asfáltica, espelho
d´água e edificações são variáveis que contribuem para a definição de um
espaço urbano confortável termicamente. Para a análise espacial de cada
espaço as características acima são representadas por indicadores. A
combinação desses indicadores em um índice representa a análise espacial do
ecossistema em estudo e pode revelar informações importantes em relação ao
uso do ecossistema e contribuir para o processo de definição de padrões de
referência de políticas públicas e planejamento dentro de um espaço urbano.

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124
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 125

Capítulo 6

APLICAÇÃO DE PAVIMENTOS FRIOS COMO ESTRATÉGIA DE


MITIGAÇÃO DAS ILHAS DE CALOR: MAPEAMENTO
SISTEMÁTICO DA LITERATURA

Nicolas Jorge Vianna22


Regina Marcia Longo23

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento econômico e social de áreas rurais e urbanas vem


emergindo com o crescimento populacional, provindo assim maior área
pavimentada, como ruas, calçadas, estacionamentos, praças, dentre outros (LI,
2015), as quais podem contabilizar cerca de 29-39% da área urbana total
ocupada (AKBARI; ROSE, 2008). Ademais, grande parte da área pavimentada
possui baixa refletância solar (5-25%), resultando assim em maior absorção e
armazenamento de calor (XIE et al., 2020).
No Brasil, grande parte da malha rodoviária é pavimentada em concreto
asfáltico. Em razão da alta inércia térmica e da superfície escura, esse material
é propício a absorver e armazenar irradiação solar (CHEELA et al., 2021; QUIN,
2015). Em adição, a alteração da ocupação do solo tornaria a sua superfície,
antes permeável, em grande parte dos casos impermeável (DI MARIA et al.,
2013; EPA, 2008a; XIE et al., 2020), alterando, consequentemente, a forma
como ocorrem as trocas de calor entre a superfície e o ambiente (ZHU et al.,
2021).
Portanto, as áreas pavimentadas acabam desempenhando um papel
intrínseco no equilíbrio térmico urbano (XU et al., 2021). Como resultado, este
desenvolvimento contribui para a formação do fenômeno ilhas de calor, nas

22 Engenheiro civil, mestrando em Sistemas de Infraestrutura Urbana pela Pontifícia Universidade


Católica de Campinas. E-mail: [email protected]
23 Professora doutora, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. E-mail: regina.longo@puc-

campinas.edu.br
126

quais áreas urbanas e suburbanas apresentam temperaturas mais elevadas


àquelas regiões rurais ao seu entorno (EPA, 2008a).
Dentre outros fatores contribuintes para a intensificação deste
fenômeno, ressalta-se a carência de áreas verdes e permeáveis (limitando
assim sombras e a evapotranspiração), a utilização de materiais com baixa
refletância solar (albedo), geometrias urbanas que retenham calor e/ou
reduzam a velocidade do vento e a concentração de atividades que liberam
calor devido ao uso de combustíveis fósseis (LI, 2015; WANG; BERARDI;
AKBARI, 2016).
Como consequências da elevada temperatura em centros urbanos,
destacam-se: maior demanda de energia para resfriar prédios e casas durante
o verão, aumento da emissão de poluentes atmosféricos (prejudicando a
qualidade do ar), baixa qualidade da água e, especialmente, desconforto e risco
à saúde humana – risco de morbidade e doenças devido ao calor (LI, 2015;
MOHAJERANI; BAKARIC; JEFFREY-BAILLEY, 2017).
Visto que o sistema de infraestrutura e o ambiente construído
interferem diretamente na economia e no meio ambiente, pesquisas tem
focado nas ciências dos materiais, tecnologias e operações sustentáveis que
visam maximizar a performance econômica e ambiental (LI, 2015).
Distintas técnicas e estratégias de mitigação vêm sendo propostas com
sucesso com o objetivo de resfriar as cidades (SANTAMOURIS, 2013), sendo sua
maioria baseadas em dois aspectos, arborização e vegetação urbana (greening)
e a adoção de materiais frios, cool materials (ZHU et al., 2021).
A aplicação de materiais frios torna-se vantajosa devido à sua fácil
aplicabilidade, a qual pode ser realizada tanto em estruturas novas quanto
naquelas já existentes, estendendo assim a vida útil de projeto (KOLOKOTSA et
al., 2018). A utilização desses materiais é comumente empregada em telhados,
fachadas e pavimentos, sendo este o foco de estudo deste artigo.
Segundo a Environmental Protection Agency (2008b), cool pavements
(pavimentos frios, em português) é uma tecnologia que tende a armazenar
menos calor e apresentam uma temperatura, na superfície, inferior a um
pavimento convencional. Essa tecnologia vem sendo empregada e
desenvolvida com sucesso com o intuito de mitigar o efeito das ilhas de calor,
apesar da ausência de definições oficiais e normas diretrizes (XU et al., 2021).
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 127

Antigamente, esse termo se referia majoritariamente aos pavimentos


reflexivos. Entretanto, com o aumento da popularização dos pavimentos
permeáveis, o termo tornou-se mais abrangente, englobando assim outras
tecnologias que resultam na mesma finalidade (EPA, 2008b). Logo, a
terminologia [cool pavements] engloba distintos pavimentos cuja tecnologias
resultam na modificação da absorção, evaporação e no armazenamento de
calor (QUIN, 2015). Desta forma, poder-se-á classificá-los em três principais
grupos: pavimentos reflexivos, pavimentos evaporativos e pavimentos com
modificação nas propriedades térmicas.
O uso de pavimentos reflexivos são os mais estudados e os que
apresentam maior relação custo-benefício para mitigar as ilhas de calor
(MOHAJERANI; BAKARIC; JEFFREY-BAILLEY, 2017), sendo o seu emprego
recomendado para regiões secas e quentes no verão, com uma grande área
exposta ao sol (QUIN, 2015). Essa tecnologia tem como princípio o
aprimoramento da refletância e do albedo do material, visando assim a reduzir
a temperatura superficial e o calor sensível liberado ao ambiente (XIE et al.,
2019a). Para reduzir a energia solar absorvida, considera-se a aplicação de um
revestimento branco ou de coloração clara e/ou a redução da rugosidade da
superfície (CHEELA et al., 2021).
A aplicação de pavimentos reflexivos acarreta distintas vantagens,
como a redução no uso de energia urbana, melhor qualidade do ar, melhor
iluminação à noite e em situações adversas e reduz as tensões devido aos
diferenciais térmicos nos pavimentos, aumentando, consequentemente, a sua
durabilidade (QUIN, 2015).
Em concordância com Chen, Wang e Zhu (2017), a utilização de
pavimentos reflexivos é pouco efetiva em ruas cercadas por prédios altos. Para
isso, a utilização de pavimentos com modificações nas propriedades térmicas
acaba sendo mais eficaz. Essa modificação realizada ao pavimento pode ser
quanto a capacidade de convecção ou armazenamento de calor.
Sabe-se que as propriedades dos materiais influenciam diretamente no
comportamento térmico do pavimento e, consequentemente, na performance
do ambiente construído (LI, 2015). A condutividade térmica descreve a
velocidade na qual o calor é conduzido à estrutura, influenciando assim na
temperatura ao longo das espessuras do pavimento. A capacidade térmica
128

informa a quantidade de energia que um material pode reter por metro cúbico
(XU et al., 2021).
Em concordância com Xu et al. (2021), pavimentos com alta
condutividade e capacidade térmica são recomendados para centros urbanos
cujo efeito das ilhas de calor é dominante ao longo do dia, enquanto os
pavimentos com baixa condutividade e capacidade térmica possuem sua
aplicação mais plausível naquelas em que o efeito das ilhas de calor é mais
severo à noite.
Por sua vez, pavimentos evaporativos vêm recebendo grande atenção e
estudos em razão de sua função de resfriamento por meio da evaporação
d’água (MOHAJERANI; BAKARIC; JEFFREY-BAILLEY, 2017). Todavia, certa
disponibilidade de água, proveniente das chuvas, é necessária para o
desempenho satisfatório desta tecnologia (XIE et al., 2019a; KUBILAY et al.,
2020), podendo então ser um problema, dependendo da região e da estação
do ano.
Os pavimentos evaporativos, em especial os permeáveis, resultam em
distintos benefícios sociais, como a redução no escoamento superficial e
infiltração das águas provindas das chuvas, redução do barulho (devido à
presença de poros) e melhores condições ao tráfego (QUIN, 2015).

OBJETIVO

O presente artigo teve por objetivo apresentar um mapeamento


sistemático da literatura a respeito do tema “estratégia de mitigação do efeito
ilhas de calor por meio de pavimentos frios” a partir de artigos científicos
publicados, nos últimos dez anos, com o intuito de identificar, no âmbito
acadêmico, os principais desenvolvimentos pertinentes ao tema.

METODOLOGIA

Como proposta metodológica deste trabalho, realizou-se um


mapeamento sistemático da literatura acerca do tema “pavimentos frios (cool
pavements) como estratégia de mitigação das ilhas de calor”. A Figura 1
apresenta, de forma sucinta, o fluxograma empregado no desenvolvimento
deste trabalho, o qual pode ser retratado em quatro partes intrínsecas: a)
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 129

definição da string de busca e suas limitações; b) pesquisa em bases de dados


seguida da eliminação dos artigos em duplicidade; c) triagem dos artigos com
base no título e resumo; e d) análise na íntegra dos artigos selecionados.

Figura 1 – Fluxograma aplicado na metodologia

Fonte: Autoria própria (2021).

Para isso, o mapeamento sistemático da literatura foi realizado com


auxílio das bases de dados Scopus e Science Direct, cujo período de busca foi
compreendido entre os anos de 2011 e 2021. As bases de dados foram
consultadas por meio do portal da Biblioteca da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, a qual se deu no dia 20 de abril de 2021.
Neste artigo, a busca por publicações foi delimitada por meio das
seguintes palavras-chaves (em inglês): heat island effect ou urban heat island
effect; mitigation; e cool pavements ou pavement. A string de busca é
esquematizada na Figura 1, a qual foi aplicada com restrição ao aparecimento
no título do artigo, no resumo e/ou nas palavras-chave. Em adição, filtros de
busca limitando somente a artigos de pesquisa ou revisão, em inglês, foi
adicionado.
130

Obteve-se um total de 59 documentos, sendo 31 e 28 referentes às


bases de dados Scopus e Science Direct, respectivamente. A Tabela 1 apresenta
a quantidade de cada tipo de artigo (pesquisa ou revisão) obtidos.

Tabela 1 – Separação por tipo de documento encontrado no mapeamento sistemático da literatura


Tipo de artigo Scopus Science Direct
Artigos de pesquisa 28 25
Artigos de revisão 3 3
Fonte: Autoria própria (2021).

Os documentos coletados foram posteriormente analisados no


Software Microsoft Excel®. A função “eliminar duplicatas” foi utilizada visando
a excluir artigos em duplicidade que tenham sido obtidos pelas plataformas de
busca. Desta maneira, 13 artigos foram excluídos, totalizando, portanto, 46
artigos, dentre os quais realizou-se uma primeira triagem com base no título e
resumo.
Após a análise, aferiu-se que 36 artigos, do total, enquadram-se na
temática em questão, ou seja, a utilização de pavimentos frios como estratégia
de mitigação do efeito das ilhas de calor. Dentre os motivos de exclusão por
inadequação, cumpre ressaltar artigos que tratavam da mitigação das ilhas de
calor por meio de telhados frios (cool roofs), telhados verdes (green roofs) e/ou
arborização, estudo da refletância de materiais frios voltados a fachadas e
coberturas e, por fim, fluxo de calor em centros urbanos, que, apesar de
apresentar a alternativa de pavimentos refletivos, não era o foco do estudo.
Os artigos selecionados foram avaliados na íntegra, buscando assim
investigar os principais fatores que estão sendo estudados na atualidade. Os
seguintes dados foram coletados: ano de publicação, palavras-chave,
instituição referente ao autor principal e o tipo de pavimento analisado. Para
melhor visualização, empregaram-se recursos gráficos para apresentar os
dados coletados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 2 apresenta as principais palavras-chave referentes aos artigos


analisados. Em razão da grande versatilidade e abrangência do tema, distintas
palavras-chave foram obtidas, destacando-se somente aqueles referentes ao
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 131

tema global, como urban heat island (13 vezes) e cool pavement (5 vezes). As
demais palavras em destaque apresentaram baixa incidência por serem
específicas ao tema abordado em cada artigo. Com isso, palavras tais como
permeable pavement (4 vezes), solar reflectance (4 vezes) e reflective coating
(3 vezes) demonstram a tendência dos estudos que vêm sendo abordados pela
literatura nos últimos anos.

Figura 2 – Wordcloud das principais palavras-chaves encontradas nos artigos analisados

Fonte: Autoria própria (2021).

Como representado no Gráfico 1, o ano de 2021, até a presente data,


foi o que mais resultou em publicações acerca do tema pesquisado (9 artigos,
no total). No período de busca, dentre aqueles com publicações, o ano de 2018
foi o que apresentou menos resultados (uma publicação), seguido então de
anos com expressivo aumento. Logo, as 19 publicações referentes aos últimos
três anos (2019-2021) compreendem cerca 52,77% da quantidade total de
artigos publicados, podendo essa tendência de crescimento ser
profundamente analisada em estudos posteriores.
132

Gráfico 1 – Quantidade de artigos publicados ao longo dos anos

Fonte: Autoria própria (2021).

Analisando o cenário internacional (ver Gráfico 2), obteve-se que o


maior volume de artigos publicados é referente à República Popular da China,
com 15 artigos no total, seguido então dos Estados Unidos e Itália, com 4 e 3
publicações, respectivamente.

Gráfico 2 – Quantidade de artigos referentes aos países dos autores principais

Fonte: Autoria própria (2021).

Tendo em vista a quantidade expressiva de publicações concernentes à


República Popular da China, buscou-se analisar a distribuição de publicações
ao longo de seu território, como indicado na Figura 3. Observa-se que Xangai
foi a província com maior quantidade de publicações, totalizando 6. Ao sul da
República Popular da China, Hunan e Guangdong apresentaram duas
publicações cada. Por fim, as províncias Gansu, Guangxi, Jiangsu, Shaanxi e
Shandong apresentaram uma publicação.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 133

Figura 3 – Quantidade de publicações ao longo do território da República Popular da China

Fonte: Autoria própria (2021).

Em adição, buscou-se analisar o desenvolvimento das publicações


referentes à República Popular da China em comparação com os demais países
(ver Gráfico 3), ao longo dos últimos dez anos. Nota-se que a primeira
publicação, compreendida dentro do período de busca, ocorreu no ano de
2015. Por sua vez, nos anos de 2018 e 2019, a quantidade de publicações
representaram 100,00% do total, enquanto em 2020 e 2021, totalizaram
40,00% e 55,56%, respectivamente, mostrando assim grande impacto e
contribuição científica no cenário mundial.
134

Gráfico 3 – Comparação entre a quantidade de artigos publicados referentes à República Popular


da China e os demais países

Fonte: Autoria própria (2021).

Com base nos artigos selecionados para a análise na íntegra, buscou-se


indicar as principais tecnologias (pavimentos reflexivos, pavimentos
evaporativos ou pavimentos com propriedades térmicas modificadas)
abordadas por cada autor, conforme esquematizado na Tabela 2.
Ademais, o tópico “Outros” foi adicionado para caracterizar os artigos
que abordavam os seguintes assuntos: pavimentos ou materiais frios em geral,
não retratando assim uma tecnologia em específico, estudo das propriedades
térmicas dos materiais, análise de políticas públicas e relação custo-benefício
de ações para a mitigação das ilhas de calor.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 135

Tabela 2 – Análise dos artigos selecionados e tecnologias de pavimentos estudada pelos autores

Tecnologia Total Autores


Cheela et al. (2021), Chen et al. (2021), Xu et al.
(2021), Zhu et al. (2021), Xie et al. (2020), Zhang e
Ayyub (2020), Xie et al. (2019a), Xie et al. (2019b),
You et al. (2019), Mohajerani, Bakaric e Jeffrey-
Pavimentos reflexivos 17
Bailley (2017), Quin (2015), Tukiran, Ariffin e Ghani
(2015), Wang, Berardi e Akbari (2015), Georgakis,
Zoras e Santamouris (2014), Lin e Ichinose (2014),
Rossi et al. (2014), Lee e Kohm (2014).
Ge et al. (2021), Hu, T. Ma e K. Ma (2021), Xu et al.
(2021), Huang e Chen (2020), Kubilay et al. (2020),
Liu, Li e Yu (2020), Xie, Akin e Shi (2019), Wang et
Pavimentos evaporativos 14 al. (2019), Wang et al. (2018), Mohajerani, Bakaric
e Jeffrey-Bailley (2017), Quin (2015), Li, Harvey e
Ge (2014), Takebayashi e Moriyama (2012), Lee e
Kohm (2014).
Pavimentos com propriedades Xie e Wang (2021), Xu et al. (2021), Chen, Wang e
4
térmicas modificadas Zhu (2017), Quin (2015).
Anupam, Anjali Balan e Sharma (2021), Battista,
E.L. Vollaro e R.L. Vollaro (2021), Estrada, Botzen e
Outros 7 Tol (2017), Nasir, Hughes e Calautit (2017), Despini
et al. (2016), Kakoniti et al. (2016), Di Maria et al.
(2013).
Fonte: Autoria própria (2021).

Portanto, nota-se que os pavimentos reflexivos e evaporativos são os


que mais se destacam na literatura, sendo abordados em 47,22 e 38,89% do
total de artigos, respectivamente. Por fim, os pavimentos com modificações
nas propriedades térmicas foram abordados em 11,11% das publicações
analisadas.
Ademais, buscou-se correlacionar a quantidade de publicações quanto
à tecnologia de pavimento estudada e ao país referente à afiliação do autor
principal, como retratado na

Figura 4. Como resultado, nota-se que a República Popular da China se


destacou nas três categorias, apresentando oito publicações abordando sobre
pavimentos reflexivos, oito quanto aos pavimentos evaporativos e três sobre
pavimentos com modificação nas propriedades térmicas.
136

Figura 4 – Comparativo das publicações de cada país acerca das tecnologias de pavimentos
reflexivos, evaporativos e com modificações nas propriedades térmicas

Fonte: Autoria própria (2021).

CONCLUSÃO

Atualmente, pesquisas vêm focando em estratégias passivas para


mitigar o efeito das ilhas de calor, destacando-se então a aplicação de
pavimentos frios. Com isso, este trabalho teve por objetivo levantar um
mapeamento sistemático da literatura acerca deste tema, nos últimos dez
anos, com o intuito de determinar as principais tecnologias e direcionamento
das pesquisas.
Cumpre salientar que os resultados obtidos neste estudo são cabíveis
somente a amostragem obtida pelas bases de dados Science Direct e Scopus.
Ainda assim, as ferramentas mostraram-se adequadas para a busca de
documentos, possibilitando um entendimento mais amplo quanto ao tema
abordado.
A busca por publicações nos bancos de dados resultou em 46 artigos,
sendo que um total de 36 artigos foram analisados na íntegra. A quantidade de
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 137

publicações científicas tivera um crescimento acentuado nos últimos anos


(2019-2021), compreendendo cerca de 52,77% do total.
Com relação aos países referentes aos autores principais, a República
Popular da China destaca-se com relação aos demais, apresentando um total
de 15 publicações, dentre as quais trata-se majoritariamente sobre pavimentos
reflexivos e evaporativos. Destarte, Xangai, Hunan e Guangdong destacaram-
se como as províncias com mais publicações dentro do território da República
Popular da China.
Observou-se que o foco atual nas pesquisas científicas vem sendo
quanto a tecnologia de pavimentos reflexivos e evaporativos, os quais
constatou-se que foram abordados em 47,22 e 38,89% do total de artigos,
respectivamente.
Com respeito aos pavimentos reflexivos, observou-se que estudos têm
focado na aplicação e desenvolvimento de revestimentos e selantes, utilização
de pigmentos coloridos e termocrômico e em determinadas propriedades dos
materiais, como o albedo e a performance térmica.
Devido ao aprimoramento da refletância e do albedo do material, é
possível reduzir a temperatura superficial e o calor sensível liberado ao
ambiente. Contudo, a exposição do pavimento ao clima e ao envelhecimento
podem acabar degradando significativamente a sua performance térmica,
propriedades óticas e, consequentemente, o efeito de resfriamento do
pavimento. Entretanto, o estudo da durabilidade dos materiais ainda se
encontra em um estágio preliminar, sendo cabíveis futuras pesquisas.
Quanto à tecnologia de pavimentos evaporativos, destacam-se os
pavimentos permeáveis, porosos e retentores de água. O aumento da
porosidade permite com que a água infiltre na estrutura, sendo que
juntamente com a absorção de calor (irradiação solar), a água presente nos
poros é evaporada, resultando no resfriamento da estrutura e,
consequentemente, contribuindo na mitigação do efeito das ilhas de calor.
Conclui-se que a aplicação de pavimentos frios, sejam reflexivos,
evaporativos, ou com modificações nas propriedades térmicas, são vantajosos
para o desenvolvimento sustentável de uma sociedade e como estratégia de
mitigação do efeito das ilhas de calor. Entretanto, a análise do cenário no qual
serão empregados é imprescindível para que se possa aplicar o melhor sistema
em termos de desempenho e maximizar a relação custo-benefício.
138

Em razão da quantidade notória de publicações reveladas na República


Popular da China, recomenda-se, como trabalhos futuros, a busca por
incentivos e políticas públicas acerca da aplicação de pavimentos frios, mais
especificamente voltadas aos pavimentos evaporativos e reflexivos. Destarte,
aconselha-se, também, a busca por essas informações nos Estados Unidos da
América e no continente Europeu.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao aporte financeiro concedido pelo Programa


de Suporte à Pós-Graduação de Instituições Comunitárias de Ensino Superior –
PROSUC/CAPES – Código de financiamento 001.

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Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 141

Capítulo 7
IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO DESEMPENHO
TÉRMICO DE COBERTURAS COM USO DE ISOLAMENTO24

Emeli Lalesca Aparecida da Guarda25


Luciane Cleonice Durante26
Elaise Gabriel27
Renata Mansuelo Alves Domingos28
Ivan Julio Apolonio Callejas29

INTRODUÇÃO

O sistema climático terrestre vem sofrendo transformações


significativas de seu balanço energético em decorrência de fenômenos naturais
e de ações antropogênicas, tais como mudanças nas concentrações
atmosféricas, na cobertura do solo e na radiação solar, impulsionando o
aquecimento global e, consequentemente, as mudanças climáticas (IPCC,
2007). De acordo com Ferreira et al. (2017), mudanças climáticas são
alterações nas variáveis climáticas por meio dos fatores antropogênicos que
resultam em um ajuste natural e dinâmico do sistema climático.
Assim, o Quarto Relatório de Avaliação das Mudanças Climáticas (AR4)
do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), intitulado Fourth
Assessment Report: Climate Change 2007, trouxe como referência modelos de
emissões de Gases de Efeito Estufa e seus respectivos impactos no

24
Artigo publicado no XV Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído (ENCAC) e XI
Encontro Latino-Americano de Conforto no Ambiente Construído (ELACAC).
25 Mestre, doutoranda em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Santa Catarina. E-

mail: [email protected]
26 Doutora, professora adjunta da Universidade Federal do Mato Grosso. E-mail:
[email protected] (professora responsável pela coordenação da pesquisa).
27 Mestre, doutoranda em Engenharia Civil na Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:

[email protected]
28 Mestre, doutoranda em Engenharia Civil na Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:

[email protected]
29 Doutor, professor adjunto na Universidade Federal do Mato Grosso. E-mail:
[email protected]
142

aquecimento global. Os modelos são divididos em quatro famílias,


denominadas cenários A1, A2, B1 e B2, onde A e B significam baixo (otimistas)
e alto (pessimistas) comprometimento com o desenvolvimento sustentável, e
1 e 2, a integração ou fragmentação regional, respectivamente. Essa publicação
destaca que a maior parte dos eventos de aumento de temperatura observada
nos últimos 50 anos foi provocada pelas ações antrópicas, e alerta para o
aumento médio das temperaturas globais de 1,1 a 5,4 °C, podendo atingir 6,4
°C até o ano de 2100, se a população e a economia continuarem em acelerado
crescimento, com consumo intenso de combustíveis fósseis (IPCC, 2007).
Sob a ótica dos edifícios, o fenômeno das mudanças climáticas tem
causado impacto significativo nas demandas energéticas dos edifícios para
garantir o conforto dos usuários nos ambientes internos, o que contribui para
o aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), constituindo-se um
círculo vicioso do processo de aquecimento global. Pesquisas evidenciam que
o aquecimento global tem causado diminuição nas necessidades de
aquecimento e aumento nas necessidades de resfriamento
(ASIMAKOPOULOS et al., 2012; GUARDA; DURANTE; CALLEJAS, 2018; JENTSCH
et al., 2013; WAN; LI; LAM, 2012; ZHU et al., 2013).
Invidiata, Lavagna e Ghisi (2018) investigaram os efeitos das mudanças
climáticas em um edifício multifamiliar de interesse social, localizado em Milão,
para distintos sistemas construtivos de vedações verticais. Os autores
utilizaram a ferramenta CCWorldWeatherGen, desenvolvida para o cenário de
emissões A2 do IPCC, que permite a elaboração dos arquivos climáticos futuros
a partir de arquivos sem a interferência dos fenômenos do aquecimento global
e consideraram as projeções futuras para 2020 (período de 2011-2041), 2050
(período de 2041-2071) e 2080 (período de 2071-2100), denominadas time-
slices. Os resultados demonstraram variação da temperatura do ar de +3,6 °C,
da radiação global horizontal de +7,2 Wh/m² e da umidade relativa do ar de -
5,7% do cenário atual para o cenário de 2080. Em todos os sistemas de
vedação, as horas de desconforto por calor, de conforto e de desconforto por
frio variaram de +185%, 7% e 47% das horas anuais do cenário atual para 2080.
Como consequência, a demanda de energia aumentou, em média, de +13% do
cenário atual para o de 2080, justificada pelo crescimento da necessidade
energética para resfriamento. Os autores concluíram que, ao aplicarem-se
estratégias de projeto aos edifícios, é possível reduzir os impactos ambientais
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 143

da categoria de aquecimento global, destacando a importância dessa avaliação


em todas as fases do ciclo de vida dos edifícios.
Triana, Lamberts e Sassi (2018) investigaram o desempenho
termoenergético de uma habitação de interesse social, denominada Caso Base,
na qual foram implementadas medidas de eficientização energética com
caráter mitigador das mudanças climáticas para as projeções de 2020 (período
de 2011-2040) e 2050 (período de 2041-2070), todas voltadas para a fase
operacional da habitação, nas cidades de São Paulo e Salvador. Os resultados
demonstraram aumento das temperaturas médias do ar de +2 °C, para as duas
cidades. Nas análises de eficiência energética do Caso Base, em ambas as
cidades, apresentaram variação de +5.044 °Ch e de +140%, nos graus horas de
resfriamento (GHR) e no consumo energético para refrigeração,
respectivamente, do cenário atual para o cenário de 2050.
Quanto às medidas mitigadoras, as tipologias de cobertura que
continham isolamento térmico (as de telhas cerâmicas com isolamento e os
forros de laje de concreto com EPS) apresentaram melhor desempenho
térmico. Os autores afirmam que desconsiderar a incorporação de medidas
mitigadoras nos projetos habitacionais construídos atualmente pode resultar
em um aumento significativo de consumo energético associado ao uso do
sistema de condicionamento artificial para resfriamento no futuro. Tem-se,
então, a adoção de materiais isolantes térmicos como uma das formas mais
eficazes de reduzir a taxa de transmissão de calor e o uso de
energia para resfriamento e aquecimento de espaços em edifícios, com o que
corroboram Fang et al. (2014). Desta maneira, o estudo de intervenções
construtivas de projeto em cenários climáticos futuros, considerando a
habitabilidade e a demanda energética, adquire importância para o
planejamento da vida útil dos edifícios.

OBJETIVO

Este trabalho tem por objetivo geral analisar comparativamente os


efeitos do aquecimento global no consumo energético de uma habitação de
interesse social (HIS) localizada na cidade de Cuiabá-MT, considerando o seu
sistema padrão de cobertura (telha cerâmica e forro de PVC) e a substituição
do forro por três tipologias, sendo duas de laje mista (treliças de concreto com
144

preenchimento de placas de poliestireno - EPS) - com e sem lã de vidro


sobreposta, e uma de forro de gesso. Considerou-se o cenário de emissões A2,
do Quarto Relatório (AR4) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) e os time-slices de 2020 (período de 2011-2040), 2050
(período de 2041-2070) e 2080 (período de 2071-2100).

MÉTODO

Definição do objeto de estudo

O objeto de estudo constitui-se de uma habitação residencial


unifamiliar, localizada na cidade de Cuiabá-MT, Zona Bioclimática 7 (ZB7), com
39,18 m² de área total, contendo os ambientes Sala/Cozinha (17,44 m²), Quarto
1 (7,78 m²), Quarto 2 (7,57 m²) e Banheiro (1,75 m²) (Figura 1). A cobertura
possui duas águas com beirais de 30 cm e o pé-direito é de 3,00 m. A edificação
com as características originais de cobertura é doravante denominada Tbase.

Figura 5 – Objeto de Estudo (Tbase): (A) Edificação construída; (B) Corte AA; (C) Corte BB e (D)
planta baixa
(A) (D)

(B)
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 145

(C)

As esquadrias nos quartos e sala são metálicas, do tipo veneziana e


vidro, com dimensões de 1,20 x 1,10m, com quatro folhas (duas fixas e duas de
correr). Na cozinha, são do tipo basculante, com dimensões de 1,20 x 1,10m.
na sala. As portas externas são metálicas e as internas, em madeira. As
propriedades térmicas dos materiais construtivos que compõem os
fechamentos verticais e horizontais foram atribuídas utilizando-se a NBR
15.220 (ABNT, 2005), expressas em termos de absortância, resistência térmica
(R) e transmitância térmica (U) (Tabela 1).

Tabela 3 – Propriedades termo-físicas da envoltória da tipologia Tbase


Resistência Transmitância
Espessura Absortância
Envoltória Composição térmica térmica
(cm) (admensional)
(Rt*, m²K/W) (U, W/m²K)
Argamassa
2,50 0,30
externa
Tijolo
Paredes 9,00 0,85 0,2991** 3,34
Cerâmico
Argamassa
2,50 0,30
interna
Telha
1,00 0,85
Cobertura Cerâmica 0,4795*** 2,08
Forro de PVC 1,00 0,30
*Considerando Resistência Superficial Externa (0,04), **Resistência Superficial Interna - fluxo
horizontal (0,13), ***Resistência Superficial Interna - fluxo ascendente (0,17).
Fonte: Dos autores (2021).

Considerando que a cobertura recebe diretamente a radiação solar


direta e é um componente construtivo importante no desempenho térmico e
energético da habitação, em função de sua posição menos inclinada em relação
à incidência da radiação solar, parte-se do projeto original (Tbase) e alteram-
se as tipologias de forro, de acordo com as seguintes intervenções: i) inserção
de poliestireno expandido (EPS) na laje (T1); ii) inserção de lã de vidro na laje
146

(T2), e iii) inserção de forro de gesso, tipo acartonado (T3). Para a determinação
das propriedades térmicas das tipologias de T1 a T3, adotou-se a resistência
térmica superficial externa igual a 0,04, a resistência térmica superficial interna
para fluxo ascendente igual a 0,17 e a resistência térmica da câmara de ar de
alta emissividade, espessura maior que 5cm, igual a 0,21 m²K/W. (Tabela 2).

Tabela 2 – Propriedades termo físicas da cobertura das tipologias T1 a T3


Composição Espessura (cm) α Rt (m²K/W) U (W/m²K)
Telha cerâmica 1,00 0,85
Concreto 6,00 0,80
T1

1,420 0.704
EPS 4,00 0,30
Acabamento 2,00 0,30
Telha cerâmica 1,00 0,85
Concreto 6,00 0,80
T2

1,310 0,763
Lã de vidro 4,00 0,30
Acabamento 2,00 0,30
Telha cerâmica 1,00 0,85
T3

0,4053 2,467
Forro de gesso 1,25 0,20
Fonte: Dos autores (2021).

Elaboração dos cenários climáticos futuros

A realização de um levantamento das pesquisas publicadas em


plataformas científicas sobre estudos de projeções climáticas futuras
possibilitou a identificação da metodologia indicada pelo IPCC para a
elaboração dos arquivos climáticos sob influência do aquecimento global
(INVIDIATA; GHISI, 2016; SONG; YE, 2017; TRIANA; LAMBERTS; SASSI, 2016;
WANG, LIU; BROWN, 2017). Identificou-se, então, a metodologia “morphing”
publicada por Belcher, Haker e Powell (2005), para a elaboração dos arquivos
climáticos futuros. Essa metodologia modifica um conjunto de variáveis
climáticas históricas (1961-1990) de 8.760 horas anuais, sem a influência dos
efeitos do aquecimento global e os incorpora conforme as premissas do
cenário A2 do Quarto Relatório (AR4) do IPCC, obtendo assim as projeções de
dados climáticos futuros.
O processo é realizado em três etapas: a) desvio no arquivo climático
horário atual e adição da variação média mensal projetada; b) extensão do
atual arquivo climático horário por ordenamento da variação média mensal
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 147

projetada, e c) combinação das etapas anteriores (BELCHER; HACKER; POWELL,


2005).
A percepção do processo empregado por este método evidenciou a
complexidade em elaborar cenários climáticos futuros com a visão de aplicação
em softwares de desempenho termoenergético de habitações. No sentido de
facilitar e consolidar as operações algorítmicas citadas, o grupo de pesquisa
Sustainable Energy Research Group (SERG), da Universidade de Southampton,
no Reino Unido, desenvolveu junto com a Microsoft® a ferramenta Climate
Change World Weather Generator (CCWorldWeatherGen) incorporada ao
Software Excel, disponibilizada gratuitamente e cuja interface é apresentada
na Figura 2.

Figura 2 – Interface da ferramenta CCWorldWeatherGen

Fonte: Jentsch, Bahaj e James (2008).

A ferramenta consiste em uma planilha eletrônica que integra os


arquivos de extensão EPW ao Modelo Climático Global (MCG) Hadley Centre
Coupled Model version 3 (HadCM3), que, por sua vez, consiste em um modelo
acoplado oceano-atmosfera, com resolução de 417 km x 278 km na região do
Equador e de 295 km x 278 km aos 45° de Latitude, para os time-slice 2020
(período de 2011-2040), 2050 (período de 2041-2070) e 2080 (período de
2071-2100).
148

Simulação computacional

Optou-se pela utilização do software EnergyPlus do Departamento de


Energia dos Estados Unidos (DOE), pela possibilidade da inserção dos arquivos
climáticos atual e futuros, além de ser validado pela Standard 140-2004
(ASHRAE, 2004). O software utiliza o arquivo climático (epw) do local de
estudo, contendo uma série de dados, como: temperatura do solo,
propriedades térmicas dos materiais construtivos, rotinas de ventilação natural
e/ou artificial, de ocupação, equipamentos, iluminação e da inserção da
localização geográfica com os dados do dia típico de projeto para o período de
verão e/ou inverno, com a finalidade de representar o clima (RORIZ, 2012).
Possibilita obter os resultados de consumo de energia para resfriamento e/ou
aquecimento e temperatura interna dos ambientes, para avaliação do
desempenho térmico dos sistemas construtivos e de todo o edifício no âmbito
térmico e energético (DOE, 2016).
Para modelagem da geometria da edificação utilizou-se o plugin Open
Studio, onde todos os ambientes foram definidos como uma zona térmica,
inclusive o ático. Foram configuradas previamente as propriedades térmicas
dos materiais construtivos (opacos e transparentes), as paredes, telhado e
aberturas como superfícies expostas ao sol e ao vento e as paredes internas,
sem exposição. Os beirais foram representados no modelo por uma superfície,
caracterizando sombreamento das paredes externas (Figura 3).
Os padrões de ocupação e ganhos internos foram inseridos conforme o
Regulamento Técnico da Qualidade para o nível de Eficiência Energética de
Edificações Residenciais (RTQ-R) (INMETRO, 2012), que especifica os perfis de
ocupação para os dias da semana e finais de semana, como também os
horários de ocupação e uso da iluminação e dos equipamentos. Desta maneira,
foram consideradas duas pessoas em cada quarto e quatro pessoas na sala,
com atividade metabólica de 45 W/m² (atividade dormindo) e de 60 W/m²
(atividade em repouso, sentada), respectivamente. Os padrões de iluminação
foram configurados para os dias de semana e finais de semana (Tabela 3). A
densidade de potência instalada da iluminação recomendada é de 5,0 W/m²
para dormitórios e de 6,0W/m² para sala (INMETRO, 2012). As cargas internas
de equipamentos foram modeladas somente para a sala, com o período de 24
horas e a potência de 1,5 W/m² (INMETRO, 2012). A edificação foi modelada
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 149

como isolada no lote, sem influência de elementos de sombreamento e


ventilação do entorno.

Figura 3 – Modelo da simulação computacional: (A) Fachada frontal; (B) Fachada posterior e (C)
Facha lateral direita
(A) (B) (C)

Fonte: Dos autores (2021).

Tabela 3 - Rotinas de ocupação e iluminação para os dias de semana e finais de semana


Dormitórios Sala/Cozinha
PEI Dia de Finais de Dia de
Finais de Semana
Semana Semana Semana
Ocupação 21 h às 08 h 21 h às 10 h 14 h às 21 h 11 h às 21 h
11 h às 12 h e das 17 h às
Iluminação 21 h às 22 h 21 h às 22 h 17 h às 21 h
21 h
Fonte: Dos autores (2021).

Considerando-se que as temperaturas do solo influenciam


significativamente nos resultados das simulações, optou-se no Cenário Base,
por utilizar o software Slab, auxiliar do EnergyPlus. Nos cenários climáticos
futuros, optou-se pela utilização das temperaturas médias do ar,
disponibilizados pelos arquivos climáticos de 2020, 2050 e 2080, com base em
Alves (2014), que afirma que em profundidades rasas, de 1 a 8 metros em solos
secos ou de 1 a 20 metros em solos pesados, arenosos e úmidos, a temperatura
é próxima da média anual.

Estimativa de consumo energético conforme método do balanço térmico

O consumo energético foi definido como a carga térmica, ou seja, a


quantidade de calor que deve ser retirada do ar, para o caso de resfriamento,
ou adicionada, no caso de aquecimento, com a finalidade de manter condições
de conforto térmico adequadas. Entende-se por balanço térmico, a
quantificação da carga térmica necessária para aquecer ou resfriar um
150

ambiente até uma temperatura de referência, com base no comportamento


térmico e energético das edificações no clima que está inserida (MELO;
LAMBERTS, 2008). O balanço térmico depende, então, da magnitude da carga
interna (ganhos de calor por fontes internas, tais como iluminação, pessoas,
equipamentos, condicionamento artificial (HVAC), ventilação e infiltrações) e
das trocas de calor pelos fechamentos horizontais e verticais (ASHRAE, 2013).
O princípio básico desta metodologia consiste em um balanço de energia para
cada superfície do ambiente e um balanço de energia para o ar interno,
determinando, assim, a parcela dos ganhos de calor, originando as cargas
térmicas para resfriamento e/ou aquecimento (ASHRAE, 2013).
Para a aplicação desta metodologia utilizou-se o software EnergyPlus,
utilizando-se um sistema de condicionamento de ar ideal, pela modelagem do
Input: HVACTemplate: Zone: IdealLoadsAirSystem e retirando-se os valores do
Output: Zone Ideal Loads Zone Total Colling Energy (em J). Os resultados
obtidos do Output foram quantificados em kWh/mês de cada tipologia, sendo
considerada a carga térmica total (iluminação, pessoas, equipamentos e
condicionamento artificial, em kWh). O termostato foi ajustado para a cidade
de Cuiabá, com 22,54 °C e 29,26 °C, para aquecimento e resfriamento,
respectivamente.

RESULTADOS

Arquivos climáticos futuros

Após a execução da ferramenta CCWorldWeatherGen, primeira etapa


metodológica deste trabalho, obtiveram-se os arquivos climáticos na extensão
epw, referentes às três projeções analisadas (2020, 2050 e 2080) para a cidade
de Cuiabá-MT. A partir desses arquivos e do arquivo epw sem a influência do
aquecimento global (período de 1961 a 1990, denominado Cenário Base), foi
possível gerar elementos gráficos das médias mensais das variáveis climáticas
que serão mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global, a saber:
Temperatura de Bulbo Seco (TBS, em °C) e Umidade Relativa do Ar (UR, em %).
Os resultados evidenciaram que os efeitos climatológicos futuros provocaram
aumento das médias mensais de temperatura e diminuição da umidade
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 151

relativa do ar, corroborando com estudos de Rubio-Bellido; Pérez-Fargalho e


Pulido-Arcas (2016), assim como de Triana, Lamberts e Sassi (2018).
A temperatura média anual no cenário atual é de 26,73 °C, passando
para 28,24 °C no time-slice 2020 (2011-2040), para 29,90 °C no time-slice 2050
(2041-2070) e para 32,48 °C no time-slice 2080 (2071-2100), ou seja, aumentou
21,50% do Cenário Base até 2080. Os meses caracterizados como mais quentes
são os meses de outubro, dezembro e janeiro, com médias mensais de 28,89
°C, 27,70 °C e 27,55 °C, respectivamente, aumentando para 30,78 °C (+6,53%),
28,87 °C (+4,16%) e 28,73 °C (+4,30%) no time-slice 2020, para 32,62 °C
(+12,89%), 30,26 °C (+9,21%) e 29,87 °C (+8,42%), no time-slice 2050 e para
35,34 °C (+22,30%), 32,52 °C (+17,52%) e 31,81 °C (+15,47%), no time-slice
2080, respectivamente (Figura 4A).
A umidade relativa do ar anual diminuiu 22% do Cenário Base para o
cenário de 2080. A média anual base é de 69,08%, passando para 64,75% em
2020, 60,41% em 2050 e 53,67% em 2080. Os meses de março, fevereiro e
janeiro são os mais úmidos no Cenário Base, com 78,32%, 76,70% e 75,79%,
respectivamente. Nas projeções futuras, a umidade sofreu redução para
74,33% (-5,08%), 74,68% (-2,63%) e 73,79% (-2,64%) em 2020, para 72,26% (-
7,73%), 71,70% (-6,53%) e 71,79% (-5,28%) em 2050 e para 67,26% (-14,12%),
67,69% (-11,74%) e 68,76% (-9,28) em 2080, respectivamente (Figura 4B).
Ressalta-se que essa redução está relacionada diretamente ao aumento da
temperatura média do ar.

Figura 4 – Arquivos Climáticos Futuros: (A) Temperatura de Bulbo Seco, em °C; (B) Umidade
Relativa do Ar, em %
(A)
37
Temperatura média de

35
Bulbo Seco (°C)

33
31
29
27
25
23
Out.
Jul.

Dez.
Fev.

Abr.
Jan.

Mar.

Mai.

Ago.

Ste.
Jun.

Nov.

Tempo (meses)
Cenário 1961-1990 Cenário 2020
Cenário 2050 Cenário 2080
152

(B)
90
Umidade Relativa do ar (%)

80
70
60
50
40
30

Out.

Dez.
Jul.
Fev.

Abr.
Mar.

Ago.

Ste.
Jan.

Mai.

Jun.

Nov.
Tempo (meses)
Cenário 1961-1990 Cenário 2020
Cenário 2050 Cenário 2080
Fonte: Dos autores (2021).

Essas condições também são encontradas no trabalho de Rubio-Bellido;


Pérez-Fargallo e Pullido-Arcas (2016), que afirmam um aumento de 4 °C para a
temperatura média anual do ar e uma diminuição da umidade relativa do ar
em 5%, em todas as zonas bioclimáticas do Chile, até o cenário de 2080.
Comparando os resultados obtidos entre os autores acima e os do presente
estudo, a diferença entre os aumentos de temperatura média do ar
encontrados é de 1,75 °C (5,75 °C em Cuiabá e 4,0 °C no Chile) e de umidade
relativa do ar é de 11% (-16% em Cuiabá e -5% no Chile). Corroboram com os
resultados deste estudo os encontrados Triana, Lamberts e Sassi (2018) para
as cidades de São Paulo e Salvador, em cenário de 2050 – aumento na
temperatura média do ar de 3 °C e por Yildiz (2015), em três cidades da Turquia,
que concluiu por um aumento da temperatura média anual e a radiação global
horizontal média anual de 4 °C e 7 Wh/m², respectivamente, e pela diminuição
da umidade relativa do ar média anual em 10%, até o cenário de 2080. Também
citam-se Song e Ye (2017) que para a Província de Guangdong, na China,
encontraram um aumento de + 0,82 °C, 1,91 °C e 3,41 °C, em 2020, 2050 e
2080, respectivamente.

Estimativa de consumo energético

O consumo energético mensal das quatro tipologias (Tbase, T1, T2 e T3)


foram quantificados por meio da somatória da carga térmica para resfriamento
(iluminação, pessoas, equipamentos, infiltração e condicionamento artificial
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 153

(HVAC) de cada ambiente de permanência prolongada. Destaca-se que, os


valores de consumo energético tratam da quantidade de carga térmica
necessária para resfriamento e aquecimento de cada ambiente de
permanência prolongada (quartos e sala) de cada tipologia.
As tipologias Tbase e T3 (Figuras 5A e 5D) apresentaram valores de
consumo energético coincidentes e os maiores valores de consumo energético
para resfriamento nos quatro cenários, sendo os maiores valores no mês de
outubro e os menores valores no mês de julho. No mês de outubro, obtiveram
consumo de 482 kWh no Cenário Base, de 705 kWh em 2020, de 858 kWh em
2050 e de 1.096 kWh em 2080, apresentando aumento de 56% do Cenário Base
em relação ao de 2080. Já no mês de julho, obtiveram consumo de 119 kWh
no Cenário Base, de 206 kWh em 2020, de 293 kWh em 2050 e de 463 kWh em
2080, apresentando aumento de 74% do Cenário Base em relação ao de 2080.
As tipologias T1 e T2 (Figuras 5B e 5C) apresentaram comportamento
semelhante, com os maiores e os menores valores de consumo energético nos
meses de outubro e julho, respectivamente, sendo de 479 kWh e 116 kWh no
Cenário Base, de 703 kWh e 203 kWh em 2020, de 857 kWh e 289 kWh em
2050 e de 1.095 kW e 460 kWh em 2080. O aumento no consumo energético
foi de 56% e de 75% para T1 e T2, respectivamente, do Cenário Base para 2080.
O aumento do consumo energético pode ser justificado pelo aumento
da temperatura do ar externo em +5,75 °C do Cenário Base para o cenário de
2080, influenciando diretamente nas condições de conforto térmico no interior
das edificações, sendo necessária a utilização de sistema de condicionamento
artificial para manter as condições de habitabilidade.
As tipologias Tbase e T3, são ambas sem laje e, portanto, de mais fraca
inércia térmica se comparada à das tipologias T2 e T3, ambas sem laje, de
forma que esse agrupamento dos resultados era esperado. No entanto,
observou-se que a inserção do forro em laje, com (T1) e sem isolamento
térmico (T2), não promoveu uma significativa redução na média mensal de
consumo energético em relação às tipologias sem laje (Tbase e T3), sendo
obtidas diferenças entre elas 3,3 kWh no Cenário Base, 2,8 kWh em 2020, 2,2
kWh em 2050 e 1,7 kWh em 2080 (Tabela 4, Figura 6).
154

Figura 5 – Consumo energético para resfriamento no Cenário Base e nos cenários de 2020 e 2050
e 2080: (A) Tbase; (B) T1; (C) T2 e (D) T3
(A)
1200
Consumo Energético (kWh)

1000
800
600
400
200
0

Out.
Jul.
Abr.
Mês

Fev.
Jan.

Mar.

Mai.

Ago.

Set.
Jun.

Nov.
Tempo (meses)
1961-1990 2020 2050 2080

(B)
1200
Consumo Energético (kWh)

1000
800
600
400
200
0
Abr.

Jun.
Mês

Jul.

Ago.

Nov.
Jan.

Fev.

Out.
Mar.

Set.
Mai.

Tempo (meses)
1961-1990 2020 2050 2080

(C)
1200
Consumo Enegergético (kWh)

1000
800
600
400
200
0
Jun.
Mês

Abr.

Jul.

Ago.

Nov.
Jan.

Fev.

Out.
Mar.

Set.
Mai.

Tempo (meses)

1961-1990 2020 2050 2080


Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 155

(D)
1200

Consumo Energético (kWh)


1000
800
600
400
200
0

Abr.

Jun.
Jan.

Jul.
Mês

Ago.

Nov.
Fev.

Mar.

Out.
Set.
Mai.
Tempo (meses)

1961-1990 2020 2050 2080

Fonte: Dos autores (2021).

Tabela 4 – Média mensal do consumo energético (kWh) das tipologias Tbase, T1, T2 e T3 nos
Cenários Base, 2020, 2050 e 2080

Média mensal do consumo energético (kWh)


Cenário Base (1961-1990) Cenário 2020 Cenário 2050 Cenário 2080
Tipologias sem forro
315,08 480,48 603,15 804,81
em laje (Tbase e T3)
Tipologias com
forro em laje (T1 e 311,82 477,83 600,90 803,11
T2)
Diferença (kWh) -3,26 -2,65 -2,25 -1,70
Diferença (%) 1,04% 0,55% 0,37% 0,21%
Fonte: Dos autores (2021).
156

Figura 6 – Consumo energético anual para resfriamento das tipologias Tbase, T1, T2 e T3 no
Cenário Base, 2010, 2050 e 2080

2080
Cenários

2050

2020

Cenário Base

0 2000 4000 6000 8000 10000 12000


Consumo energético anual (kWh)

T3 T2 T1 Tbase

Fonte: Dos autores (2021).

Com as intervenções, as tipologias T1 e T2 obtiveram ligeiro menor


consumo que a TBase e a T3, em todos os cenários. Muito embora o sistema
de cobertura seja o maior responsável pelos ganhos térmicos da envoltória, as
intervenções propostas não são suficientes para melhorar a resiliência da
habitação frente ao fenômeno de aumento da temperatura externa. Essa
constatação aumenta ainda mais a complexidade do problema que se
apresenta, que consiste em uma tendência de aumento progressivo no
consumo energético de resfriamento.
Destaca-se aqui o relatório do International Energy Agency (IEA),
denominado The future of cooling: opportunities for energy – eficiente air
conditioning (IEA, 2018), que cita que o número de unidades de resfriamento
no setor residencial aumentou de 3,4 bilhões, em 2016, para mais de 8,0
bilhões, em 2050, e a taxa média global de posse de condicionamento artificial
aumentou de 30%, em 2016, para 60%, em 2050, e, consequentemente, o
consumo energético para resfriamento cresceu de 2.020 TWh em 2016 para
6.200 TWh em 2050, totalizando 70% de aumento no setor residencial. Esses
aumentos estão relacionados ao aumento das temperaturas do ar, sendo
necessária a utilização de estratégias ativas de condicionamento artificial.
Estruturas ambientais urbanas e a ambiência - 157

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos mostraram que a temperatura de bulbo seco


aumentou em 21,51% no cenário de 2080 em relação ao cenário base e a
umidade relativa do ar reduziu de 22,31% no cenário de 2080 comparando-se
ao cenário base. O consumo energético total sofreu aumento progressivo nos
cenários e nas tipologias. Os maiores valores e aumentos de consumo
energético anual encontrados foram nas tipologias sem laje (Tbase e T3), que
era de 3.781 kWh no cenário base e aumentou para 9.657 kWh, o que equivale
a 60% em 2080. Com a inserção de laje com e sem isolamento térmico (T1 e
T2, respectivamente), houve uma redução de menos de 1% no consumo em
relação às tipologias sem laje, evidenciando que não são suficientes para
melhoria no consumo energético e na resiliência frente às mudanças
climáticas.
Os efeitos do aquecimento global bem como das mudanças climáticas
resultam em um potencial ameaça ao comportamento energético das
habitações. Desta forma, os dados climáticos do local de implantação de uma
habitação são parâmetros importantes para a avaliação deste comportamento,
sendo também necessária a prospecção climática futura para o planejamento
da habitabilidade, das condições de conforto térmico e do consumo
energético. Evidencia-se, assim, que as edificações já sofrem influência das
altas temperaturas da região nos dias atuais, apresentando baixa qualidade
térmica em seu interior e, incorporando os efeitos do aquecimento global, as
condições atuais ficam ainda mais comprometidas, contribuindo
negativamente nas condições de habitabilidade. Desta forma, pauta-se pela
necessidade de que sejam implementadas hoje medidas mitigadoras
integradas com vistas à resiliência das habitações.

REFERÊNCIAS

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160

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